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c) Segundo o texto que vimos na disciplina de M.

Strathern, por que o conceito de


indivíduo é problemático para a antropologia?
Partindo do conceito de sociedade, Marylin Strathern propõe aos estudos antropológicos
a reflexão acerca da abstração do conceito de sociedade e como ele está obsoleto para a
teoria antropológica. Embora tenha ressaltado a sua contribuição para o entendimento
de socialidade, Strathern dialoga com Edmund Leach ao discordar que a sociedade não
pode ser constituída como uma coisa, ou seja, como uma entidade individual, e destaca
como esse conceito é posto de forma dicotômica com outros, isto significa, que é
manifestado de forma oposta a outros conceitos.
Dessa maneira, a utilização da sociedade como entidade propiciou a dissociação entre o
conceito de indivíduo e o conceito de sociedade, e é nesse sentido que consiste um dos
principais problemas com a utilização desse termo. Um desses efeitos é a noção da
sociedade como uma forma de associação, ou seja, a personificação da sociedade,
podendo esta ser contada como coisas unitárias, assim como os indivíduos. A
problemática no conceito de individuo na antropologia consiste no fato deste estar
colocado de maneira oposta ao conceito de sociedade, sendo inserido como membro de
uma sociedade e, essa por sua vez, atua de maneira extrínseca. Assim, há uma confusão
entre os conceitos de “grupo” e “sociedade”, onde as ações de determinados grupos são
interpretadas como ações da sociedade. Segundo a autora, a noção de sociedade se
concretizou como um “mercado”, ou seja, o individuo é visto como consumidor e todos
os empreendimentos se articulam para comportar-se conforme ele. Dessa maneira, ao
haver uma dicotomia entre o individuo e a sociedade, as ações individuais são dadas
como única realidade, e assim, as formações sociais e as relações de poder são ocultas,
isto significa que estamos sob um regime que visa invisibilizar as relações.
Portanto, Strathern corrobora a irrelevância do termo sociedade para os antropólogos,
mas destaca a sua relevância para o entendimento de socialidade, e nesse sentido, ela
pensa as pessoas como seres que estão em um torna-se contínuo através das relações
sociais, ou seja, os indivíduos são formados como sujeitos através dessas relações de
maneira intrínseca. Desta forma, ao elaborar um estudo antropológico, não devemos
pensar as pessoas como entidades individuais, isto significa, como indivíduos isolados
no texto, e sim conceber às relações sociais o caráter primário para a existência humana.
d) a partir do texto de Barth, “A análise da cultura nas sociedades complexas”,
explique o que ele define por “sociedades complexas” e por “cultura”, apontando o
que deve ser feito com as incoerências.
Em “A análise da cultura nas sociedades complexas”, Fredrik Barth analisa a cultura em
Bali, que é uma sociedade que tem muitos grupos culturais que se expressam, de certa
maneira, de forma desconexa, e a considera uma “sociedade verdadeiramente
complexa” constituindo assim um cenário cultural sincrético. Dessa maneira, a
antropologia social para o autor, se baseia em termos muito vagos, como o de cultura e
sociedade, que deixam questões fundamentais de lado, e por consequência disso, os
antropólogos são condicionados a suprimir as incoerências e o multiculturalismo
presente nos grupos sociais tomando-os como aspectos não-essenciais. Assim, o
antropólogo confere um caráter questionável às analises antropológicas à medida que
utiliza a conexão entre instituições discrepantes.
Dito isso, ao discorrer sobre esses diversos grupos culturais presentes em Bali, o autor
propõe aos estudos antropológicos a adequação das teorias antropológicas às esferas
culturais em que os grupos estão inseridos, reconceitualizando a cultura como uma
“colcha de retalhos” e não como algo generalizado e simplesmente coerente. Em vista
disso, segundo Barth, a cultura toma um sentido ambivalente: “por um lado vemos
como algo imensamente intricado, com uma enorme quantidade de detalhes que o
etnógrafo competente demonstrar ter aprendido; por outro há um ideal de ousadia para
abstrair e revelar a essência subjacente a eles” (BARTH, 2000).
Dessa maneira, para Barth, uma sociedade complexa é aquela que possui uma
diversidade cultural desconexa, e nesse sentido, cabe ao antropólogo considerar essa
diversidade em seu relato, evidenciando o multiculturalismo presente em torno desses
grupos sociais. Com isso, há uma multiplicidade de padrões culturais que se
estabelecem em diferentes graus e em diferentes localidades, e é nesse sentido que o
autor propõe que duvidemos, de certa forma, de toda afirmação de coerência.
A cultura, por sua vez, não pode ser tratada como algo homogeneizado e generalizado,
pois se expressa de maneira diferente nos diversos grupos explicitados e não se constitui
de maneira pronta e finalizada. Sendo assim, deve se duvidar das convicções
apresentadas nos discursos, pois elas podem, ao invés de explicar determinadas ações,
tentar justificá-las. Ao antropólogo, compete a tarefa de analisar a interdependência dos
elementos constituintes dessa “colcha de retalhos” e pertencentes a esse pluralismo
cultural, utilizando as incoerências na construção da análise antropológica, tomando
cada uma das correntes culturais presentes como universos de discursos.

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