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Diplomacia 360o – Módulo Atena – Política Internacional – Aula 03

Prof. Tanguy Baghdadi – 15.08.2018

A ONU NO PÓS-GUERRA FRIA

A estrutura da ONU foi concebida num contexto de Guerra Fria, que foi a maior preocupação
mundial entre 1945 e 1991: era imperativo evitar uma guerra nuclear.

Após o fim da Guerra Fria, a ONU passou por um momento de redefinição de seus objetivos e
funções. Naquele momento, a ONU encontrava-se numa encruzilhada, uma vez que se percebia
uma diminuição da importância de temas relacionados à segurança internacional. Essa
percepção mostrou-se equivocada, já que a década de 1990 foi talvez mais conturbada do que
a década de 1980.

A partir do fim da URSS, a ONU passou a focar nos objetivos universalistas chamados Global
Commons: direitos humanos e meio ambiente, por exemplo. Ao longo da década de 1990, o
mundo verificou uma maior valorização do indivíduo como ator internacional (até então, a ONU
considerava o Estado como o ator internacional fundamental). Ascende a ideia de segurança
humana, considerando-se que o Estado pode ser também uma ameaça para o ser humano.

A concepção de desenvolvimento, por exemplo, sofreu uma mudança de paradigma nos anos
1990. Durante a Guerra Fria, considerava-se o PIB como critério único para medir o
desenvolvimento das nações (enfoque apenas econômico). Com a criação do índice de
desenvolvimento humano (IDH), outras variáveis passaram a ser consideradas, como o acesso à
educação e à saúde, por exemplo.

DÉCADA DAS CONFERÊNCIAS


1990 → Cúpula das Nações Unidas para a Criança (Nova Iorque, EUA).
1992 → Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (RJ, Brasil).
1993 → 2a Conferência Mundial sobre Direitos Humanos (Viena, Áustria).
1994 → Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (Cairo, Egito).
1995 → 4a Conferência Internacional sobre as Mulheres (Pequim, China).
1995 → Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento Social (Copenhague, Dinamarca).
1996 → 2a Conferência Mundial sobre os Assentamentos Humanos (Istambul, Turquia).

Francis Fukuyama: “O Fim da História”.


Argumentos:
→ A história é contada por meio de conflitos.
→ Não há mais alternativas ao modelo democrático-capitalista-liberal.
→ Democracias não entram em guerras entre si.

*Fukuyama tornou-se obsoleto após a escalada de violência ocorrida na década de 1990,


marcada por conflitos sangrentos como a guerra na Iugoslávia e o genocídio em Ruanda,
culminando com o 11 de setembro, em 2001.
OPERAÇÕES DE PAZ

Em 1945, a ONU foi criada com o objetivo fundamental de garantir a paz e segurança no mundo.
Havia um receio de que, caso a ONU repetisse os erros da Liga das Nações, não seria possível
evitar uma nova guerra mundial, que, dessa vez, seria uma catástrofe nuclear. Por isso, a Carta
da ONU previu a criação de um Estado Maior das Nações Unidas.

A ideia inicial da ONU era, de certa maneira, criar um “exército”, mobilizado pelos 5 membros
permanentes do CSNU, que seria usado para atuar em conflitos específicos. Porém, EUA e URSS
discordavam em relação à constituição dessa força militar. Esse debate não será frutífero e não
será concluído a tempo.

1948: Israel x Países Árabes


- Desde 1922, a Palestina estava sob mandato britânico. O Reino Unido fracassou na criação de
mecanismos e instituições para a independência da Palestina. ONU definiu que o mandato
britânico acabaria em maio de 1948. Britânicos simplesmente abandonam a Palestina.

1948: Mandato
- ONU estabelece regras sobre como lidar especificamente sobre a questão Israel x Palestina.
- Monitoramento da ONU: informação como ferramenta na busca de solução.

1949: Índia x Paquistão


- 1a Guerra Indo-Paquistanesa.
- ONU cria novo Mandato (monitoramento e busca de solução).

1956: Crise de Suez


- O presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser (símbolo do nacionalismo árabe), nacionaliza o
Canal de Suez (capital francês e britânico). Houve uma reação muito forte de britânicos,
franceses e israelenses, que atacam o Egito. EUA e URSS interferem, pois esse ataque se
assemelharia demais com o colonialismo. Sugerem, então, a criação de um novo mandato.

United Nations Emergency Force I – UNEF I (1957-1968)


- Após veto do Reino Unido e França no CSNU, EUA e URSS levam questão à AGNU e aprovam a
UNEF I (com base na resolução no 377).
- Primeira grande operação de paz da ONU (aprovada por meio de um mandato, pois não há
menção sobre operações de paz na Carta da ONU).

→ 1a Geração de Operações de Paz: PEACEKEEPING.


- Manutenção da paz → forças só entram após o cessar fogo.
- Necessitam do consentimento das partes (manutenção da soberania).
- Armamentos leves (que possam garantir a segurança das forças de peacekeeping).
- Função de buffering entre os dois lados em conflito.
- Baseadas no capítulo VI da Carta da ONU (solução pacífica de controvérsias).

A partir dos anos 1990...novo cenário da segurança internacional.


- Diminuição da importância do Estado.
- Deslocamento no eixo dos conflitos → nova frente de conflitos entre GRUPOS.
- A lógica tradicional de conflitos interestatais passa a ser intraestatal.

Exemplos: genocídio em Ruanda, guerra na Iugoslávia, surgimento da Al Qaeda.


→ Dificuldade da ONU em lidar com conflitos internacionais com base nos critérios do
peacekeeping.

1992: Boutros Boutros-Ghali aprova a “Agenda para a Paz”.


→ Operações de Paz de primeira geração estariam obsoletas.

Como lidar com operações de paz a partir de agora?


1) Diplomacia preventiva.
2) Peacekeeping operations
3) Peacemaking operations
4) Post-war peacebuilding

→ 2a Geração de Operações de Paz: PEACEMAKING


- Garantir que as partes em conflito concordem em negociar.
- Para que partes TENHAM que negociar, operação irá usar suas forças para estabilizar conflito.
- Ocorrem sem o consentimento das partes.
- Ocorrem durante o conflito (indivíduos precisam de proteção).
- Armamentos pesados.
- Baseadas no capítulo VII da Carta da ONU (intervenções militares).

Critérios:
- Ideia do Estado falido – não é capaz de controlar seu próprio território.
- Soberania tirana – Estado usa sua estrutura para ser a ameaça contra seus cidadãos.

Posição do Brasil:
→ Essas operações banalizariam um tema tão sensível como a violação da soberania, com base
em critérios subjetivos.
→ Qualquer conflito tem motivação econômica e social. Operação estaria apenas maquiando o
problema, em vez de ajudar a resolvê-lo. Quando a ONU sai do país, conflito retorna.
→ Brasil defende que é necessário focar nas operações de peacebuilding.

→ 3a geração de Operações de Paz: PEACEBUILDING


- Exemplo: MINUSTAH – HAITI (liderada pelo Brasil)
- Presença de militares.
- Presença de um batalhão de Engenharia.
- Envio de sanitaristas (cólera).
- Envio de educadores (reestruturar escolas).
- Envio de policiais (preocupação com a estabilização da segurança).

→ Brasil tem flexibilizado sua posição em relação a operações baseadas no capitulo VII, mas
desde que de acordo com os termos do mandato (garantia de peacebuilding).

2000 – Relatório Brahimi


→ Resposta à Agenda para a Paz de 1992.
- Operações com base no capítulo VII podem ocorrer, mas com melhores critérios.

2005 – Responsabilidade de Proteger – responsibility to protect (R2P)


- Lógica: segurança dos indivíduos é responsabilidade do Estado.
- Se Estado não conseguir (falido) ou for o agente da agressão, o sistema internacional deverá
assumir a responsabilidade pela proteção dos indivíduos.
→ Experiência internacional:
- Intervenção na Líbia (2011) – ameaça de massacre da população civil.
- Bombardeios pioraram a situação.
- Inabilidade da intervenção criou instabilidade política (guerra civil hoje na Líbia).

2011 – Responsabilidade ao Proteger – responsibility while protecting (RwP)


- Pensar com cautela em como será feita a intervenção.
- Retomada dos pontos do relatório Brahimi.

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