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Diplomacia 360o – Módulo Atena – Política Internacional – Aula 01

Prof. Paulo Velasco – 01.08.2018

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

As Organizações Internacionais (OIs) são um tipo de instituição internacional.

O conceito de instituição internacional refere-se a todo e qualquer mecanismo ou iniciativa que


regula a relação entre Estados e promove o diálogo entre eles, visando à estabilidade do sistema
internacional.

Exemplos de instituições internacionais:

→ Direito Internacional:
Os princípios, costumes, regras e normas que compõem o Direito Internacional são
considerados uma instituição internacional e destinam-se a buscar alguma estabilidade no
sistema internacional a partir da regulação nas relações entre os Estados.

→ Diplomacia:
Podemos reconhecer que a diplomacia profissional existe desde o final século XVII, quando
passa a haver a figura dos diplomatas residentes. A diplomacia também é uma instituição
internacional, na medida em que ela serve ao propósito de promover ou intensificar o
relacionamento entre os Estados, sempre na busca por construir confiança mútua. A finalidade
maior, mais uma vez, é a estabilidade no sistema internacional.

→ Guerra:
Podemos dizer que a guerra é uma das mais notáveis instituições internacionais, pois é uma
forma de interação entre Estados com a finalidade de introduzir uma ordem – seja a
manutenção de uma realidade que já existe (guerra de status quo) ou para introduzir uma nova
ordem. No estudo da história das relações internacionais, percebe-se que os grandes marcos e
as grandes mudanças na ordem internacional invariavelmente vêm a partir de guerras.

→ Comércio internacional:
O comércio internacional é também uma instituição internacional, na medida em que promove
a interação entre os Estados, ou atores internacionais, buscando a ordem. Sobretudo se
adotarmos uma concepção mais liberal de ordem, pode-se entender que o comércio
internacional serve à causa da paz e do equilíbrio.

Os liberais clássicos (e também os neoliberais) entendem que o livre-comércio cria um jogo de


soma positiva, em que todos estão satisfeitos e no qual todos ganham. O livre-comércio,
segundo a convicção dos liberais, serviria como uma garantia para desestimular guerras. No
contexto do final da Segunda Guerra Mundial, uma das principais preocupações foi criar um
mecanismo multilateral e institucional a serviço do livre-comércio.

Em 1947, criou-se o General Agreement on Trade Tariffs (GATT), que foi o precursor da
Organização Mundial do Comércio (OMC). Juntamente com a ONU, o GATT foi pensado como
um mecanismo institucional a serviço da paz e do equilíbrio.
→ Equilíbrio de poder:
A ideia de equilíbrio de poder é muito cara a uma outra concepção teórica rival da concepção
liberal de mundo: o Realismo. Segundo o paradigma realista, o equilíbrio de poder é a base e a
fundamentação para a manutenção da paz no sistema internacional. Exemplos históricos de
equilíbrio de poder no sistema internacional são a Guerra Fria e o Concerto Europeu.

→ As Organizações Internacionais são um tipo muito particular e especial de instituição


internacional, pois são dotadas de grande institucionalização.

Seguem abaixo elementos institucionais inerentes às Organizações Internacionais:

→ Carta Constitutiva
A Carta Constitutiva nada mais é do que um documento que dá origem a uma Organização
Internacional. No caso de Organizações Intergovernamentais (OIGs), essa Carta Constitutiva
costuma ser um tratado internacional. É o caso das Cartas Constitutivas da ONU (Carta de São
Francisco), da OEA (Carta de Bogotá), da OTAN (Tratado de Washington) e do Mercosul (Tratado
de Assunção).

→ Sede
Toda e qualquer Organização Internacional terá, necessariamente, uma sede. Podem ter,
inclusive, mais de uma sede – a ONU tem 4 sedes oficiais: Nova Iorque, Genebra, Viena e Nairóbi.

→ Orçamento
As Organizações Internacionais estão sempre adstritas a um orçamento, que, via de regra, é
financiado pelas contribuições de seus membros.

→ Aparato burocrático
Sempre haverá nas Organizações Internacionais um aparato burocrático. Estima-se que a ONU
tenha mais de 30.000 funcionários de carreira ao redor do mundo.

As Organizações Internacionais podem ser:


→ Organizações Intergovernamentais (OIGs):
→ Organizações Não Governamentais Internacionais (ONGIs)

Há que se reconhecer que os atores não estatais têm cada vez mais influência nas relações
internacionais, sobretudo em determinadas agendas, como a ambiental internacional. No que
se refere à questão ambiental, a atuação de atores não governamentais é de extrema
importância. Sem a pressão e o empenho desses atores não teríamos presenciado tantos
avanços na agenda ambiental internacional.

De igual maneira, podemos reconhecer a relevância das ONGIs nas agendas internacionais de
direitos humanos e de desenvolvimento.
Cerca de 95% das Organizações Internacionais são Não Governamentais. A quantidade de ONGIs
tem crescido cada vez mais, sobretudo por causa da maior facilidade em criá-las, em
comparação com as OIGs. Não se faz necessário, por exemplo, um tratado internacional.
HISTÓRIA DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

→ 2a metade do século XIX


As uniões públicas internacionais foram as primeiras OIGs da história. A segunda metade do
século XIX, foi já um período de intensa globalização.
Ex.: União Postal Universal (UPU) – 1865 – e União Internacional de Telégrafos (UIT) – 1871.

→ Cruz Vermelha (1864)


- Iniciativa de um banqueiro suíço, Henry Durant.
- Segundo o DIP, há entendimento de que a Cruz Vermelha não seria uma Organização
Internacional. Já a Política Internacional considera que sim.
- Origem: Batalha de Solferino (guerra dramática da Unificação Italiana).
- Soldados e combatentes feridos não recebiam assistência no campo de batalha.
- Henry Durant está associado ao surgimento do Direito Humanitário.
- Hoje o direito humanitário tem seu alcance ampliado, não se limitando mais apenas a guerras.
Obs.: Surge também o Crescente Vermelho, para atuação em países não-cristãos (muçulmanos).

→ PAZ
Entre o final do século XIX e a virada do século XX, organizações surgem com foco na
manutenção da paz. As relações internacionais são, por essência, fundadas na questão de guerra
e paz. O estudo das Relações Internacionais tenta entender o motivo da guerra, no intuito de
promover a paz.

→ Final do século XIX: Conferências de Haia


As Conferências de Haia não foram Organizações Internacionais, mas já eram iniciativas
precursoras para a manutenção da paz.
- 1899
- 1907 – representante brasileiro era Rui Barbosa, a Águia de Haia.
- 1915 – nunca realizada devido à 1a GM.
Objetivo: Discutir a paz em tempos de paz.

Obs.: Rui Barbosa já defendia, em 1907, o princípio da igualdade soberana das nações,
posteriormente consagrado na ONU.

→ LIGA DAS NAÇÕES (1919-1946)


A Liga das Nações foi uma precursora da ONU, que é, por sua vez, herdeira do pensamento
liberal da Liga. A Liga das Nações existiu até após o final da Segunda Guerra Mundial, tendo sido
extinta em 1946 (coexistiu por alguns meses com a ONU). Criada pelo artigo 1o do Tratado de
Versalhes – tratado que buscou regular a ordem mundial ao final da Primeira Guerra Mundial.

A criação das Organizações Internacionais representa a tradição liberal nas Relações


Internacionais, que atribui relevância às essas instituições internacionais. A criação da Liga das
Nações deriva das ideias liberais do presidente dos EUA, Woodrow Wilson. O “wilsonialismo”
teve origem nos “14 Pontos de Wilson”, sendo que o 14a ponto foi justamente a proposta da
criação da Liga das Nações.
→ LIGA DAS NAÇÕES (continuação)

OBJETIVOS:
A Liga das Nações tinha por objetivo a manutenção da paz e da segurança internacionais; evitar
a todo custo os horrores de uma nova “guerra total”. A Primeira Guerra Mundial foi além do
âmbito estritamente militar. Teve repercussões culturais, sociais e econômicas “dantescas”,
com o uso devastador de novos armamentos como tanques, aviões e armas químicas.

COMO?

→ Lógica da segurança coletiva:


Esse conceito está ligado ao multilateralismo que, do ponto de vista teórico, aponta, por
definição, para a noção de indivisibilidade. Na segurança, a agressão contra qualquer parte de
um sistema deve ser interpretada, necessariamente, como um ataque contra todos, devendo
ensejar uma resposta coletiva de todos contra o Estado agressor.

A segurança coletiva tem a finalidade de dissuasão. Trata-se de instrumento dissuasório, que


permite que a agressão seja evitada, convencendo o potencial agressor a não atacar, por saber
que sofrerá uma resposta coletiva de todos. Como a finalidade maior da Liga é manter a paz, e
não agredir, evitar a agressão é essencial.

→ Controle de armamentos:
Evitar novo uso de armas químicas, que haviam sido usadas na Primeira Guerra Mundial.

→ Diplomacia pública com um caminho para a paz (um dos 14 pontos de Wilson):
A Liga das Nações pretendia alcançar o fim da diplomacia secreta. Segundo o pensamento
liberal, a diplomacia pública aponta para uma lógica de transparência e publicidade,
representando um reforço na confiança mútua entre Estados e maior cooperação.

Essa publicidade também contribui para aumentar internamente a confiança da sociedade no


governo, pois, nessa época, a opinião pública já despontava como um fator preponderante para
as decisões dos governos. Indivíduos, em geral, não querem a guerra. Uma exceção a essa lógica
foi a Alemanha dos anos 1930, cuja população apoiava as intenções beligerantes de Hitler.

OUTROS OBJETIVOS DA LIGA DAS NAÇÕES:

→ Controle e combate ao tráfico de drogas:


Houve duas convenções sobre drogas no âmbito da Liga das Nações. Surgiu nesse momento a
lógica do proibicionismo de narcóticos e estupefacientes e é criado o conceito de tráfico.

→ Proteção a minorias étnicas e refugiados:


Com o fim dos impérios russo, austro-húngaro e otomano, ao final da Primeira Guerra Mundial,
aumentam as instabilidades e ascendem cada vez mais movimentos nacionalistas. Nesse
contexto, cresce a perseguição a minorias étnicas. Para a Liga das Nações, proteger essas
minorias é fundamental nesse mecanismo internacional, e ela assume a responsabilidade por
essa proteção.
OUTROS OBJETIVOS DA LIGA DAS NAÇÕES (continuação):

→ Sistema de mandatos:
O sistema de mandatos foi criado no intuito de facilitar a independência de territórios coloniais,
mas fracassou. O sistema de mandatos foi visto como uma grande hipocrisia, pois o que havia
sido pensado como uma forma de facilitar independências acabou, em verdade, se tornando
mais uma forma de expansão dos domínios de França e Grã-Bretanha. A presença de britânicos
e franceses no Oriente Médio, por exemplo, alimentou disputas, tensões e rivalidades que
culminaram em crises que existem até hoje.

FRAGILIDADES – RAZÕES PARA O FRACASSO DA LIGA DAS NAÇÕES:

→ Falta de representatividade
Atores importantes do “jogo” internacional não foram incorporados à Liga das Nações, como os
EUA, apesar de a criação dessa organização ter sido uma proposta de Wilson. A postura do
Senado dos EUA sempre foi muito conservadora, com um apego excessivo em relação à lógica
da soberania. Os EUA nem mesmo chegaram a ratificar o Tratado de Versalhes, pois o Senado
estadunidense tinha o receio de que os EUA perderiam sua soberania, ficando preso a um
sistema de segurança coletiva.

A Alemanha também foi deixada de fora, por influência da França, que sempre temeu o
fortalecimento alemão. Somente em 1926, a Alemanha entrará na Liga das Nações, com a saída
imediata do Brasil, que reivindicava um assento permanente no Conselho da Liga, assento este
que foi concedido à Alemanha, logo após seu ingresso na organização. A União Soviética
também ficou de fora da Liga das Nações.

→ Falta de legitimidade
Faltava legitimidade à Liga das Nações, em decorrência de sua baixa representatividade. A
eficácia da Liga ficou, assim, comprometida.

→ Decisões por consenso


Havia poder de veto para todos. Se qualquer um dos membros do Conselho recusasse, decisão
não era tomada. Esse poder de veto não era apenas para os membros permanentes do
Conselho, o que gerava dificuldades de se chegar a decisões.

→ Resoluções recomendatórias
As decisões da Liga das Nações não tinham efeito vinculante, ao contrário do que hoje ocorre
com as resoluções do Conselho da ONU.

→ TOOTHLESS (banguela)
A Liga das Nações não tinha poder de força para impor decisões.

→ INÉRCIA
A Liga das Nações permaneceu inerte, ao longo de sua existência, sobretudo devido ao
desentendimento progressivo entre a França e a Grã-Bretanha. Durante o Tratado de Versalhes,
o revanchismo dos anfitriões franceses sobrepôs-se a visões conciliatórias. No decurso de alguns
anos, os britânicos deixaram de comprar a ideia revanchista que havia humilhado a Alemanha
em 1919.
O Chanceler britânico Neville Chamberlain criou a Política de Apaziguamento (Appeasement
Policy), que permitiria o avanço da Alemanha, para que ela fosse na direção da URSS, o maior
inimigo do Nazismo e que seria, a princípio, uma ameaça ainda mais grave para os britânicos.

Em verdade, a Liga das Nações nada faz diante do avanço da Alemanha pela Europa. A invasão
e anexação dos Sudetos, na Tchecoslováquia, por exemplo, não ensejou nenhuma reação.

Outros exemplos de inércia da Liga das Nações, foram em relação ao avanço italiano no Norte
da África (invasão da Etiópia) e em relação ao avanço japonês na Ásia, com a invasão da
Manchúria, em 1931, que, para muitos, teria sido o verdadeiro início da Segunda Guerra
Mundial.

A Liga das Nações atuou em questões menores: questões fronteiriças entre Grécia e Bulgária e
a Questão de Letícia, na América do Sul.

→ Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, fica evidente o fracasso da Liga das Nações.

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