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CENTRO UNIVERSITARIO GERALDO DI BIASE

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Teoria da Arquitetura e Urbanismo

Jean Fonseca de Paula

Volta Redonda, 2021


TMS Casos particulares do Ideológicos na Arquitetura

1. O mito “Forma e Função”

A partir da segunda metade do século XIX a arquitetura tinha uma


nova palavra de ordem: funcionalismo. Que acabou se tornando uma
panacéia e uma etiqueta. em nome da qual se procura desculpar
verdadeiros crimes contra a arquitetura - 'se não fossem, antes, contra o
homem. A fórmula mágica Forma, Estrutura e Função, tal como é proposta
por Nervi, surgia para resolver os problemas da arquitetura, definindo-a e
atribuindo-lhe um domínio específico para, ao final, justificá-Ia.

A teoria da art impliqué (arte implícita) estava sendo formulada: cada


tipo de material traz em si (ou exige) uma nova forma que está implícita nele
(entenda-se: e que não foi usada antes). O ferro, e depois o concreto,
tornaram-se elementos da vida comum da arquitetura: que fazer com eles,
continuar a revesti-los com as formas do Clássico, do Gótico, continuar a
propor sopas de restos arquitetónicos, delírios artístico-sociais a que se
batizava pomposamente de Ecletismo, como a Opéra de Garnier em Paris?
Continuar a propor "neos"? Mas neo-o-quê, a essa altura? Já havia um
neoclássico, e um neogótico: propor o que agora, o neobizantino, o
neofaraõnico, ou neo-neo-gótico (como é, de certa forma, o art noveau)?
Evidentemente, há um limite para tudo, mesmo para a desrazão e o
péssimo gosto. Propõe-se então que cada novo material deve ter uma nova
forma, ditada pela função que exerce, não mais sendo, portanto, gratuita.
Mas quando se insiste muito sobre a necessidade de união entre dois
elementos e na apresentação de soluções onde essa ligação é conseguida,
é porque talvez esses elementos sejam irreconciliáveis, e a ligação, neste
ou naquele caso, inexistente.

As primeiras formas "funcionais" na verdade não o são, mas foram


tomadas como tal na época e até hoje continuam a sê-lo. São enormes
mentiras funcionais. O que interessa então indagar é: o que está por trás
do conceito de funcionalismo? Que significa função e o que significa forma?
Qual a ideologia que está por trás desses conceitos? Qual a possibilidade
efetiva de unir um e outro desses elementos?

Um excelente princípio de resposta é fornecido por Baudrillard.


Forma e função seriam dois valores antitéticos e irreconciliáveis porque
reflexos e portadores de duas ideologias em conflito absoluto: a aristocrata
e a burguesa. Para a determinação do campo desses conceitos remonta-
se à Grécia: sua aristocracia faz do não- -trabalho pessoal uma norma
absoluta de vida.

2. Teoria da produção do espaço: uma formulação


Produzir um espaço, particularmente na arquitetura "pública" e em
urbanística, não é apenas determinar formas, dispor elementos numa
representação desse espaço para a seguir executá-Ia numa prática efetiva.
Esse é um dos aspectos da produção do espaço, que está longe de defini-
Ia inteiramente, e para conhecer a extensão desse conceito é necessário
indagar de início - coisa que não se costuma fazer na prática da arquitetura
- o que vem a ser efetivamente um sistema de produção.

A Produção propriamente dita significa apropriar-se dos produtos da


natureza e dar-Ihes uma forma adequada às necessidades humanas. E a
produção arquitetura I, é a apropriação do espaço e sua. enformação
adequado às necessidades do homem; os formuladores desses conceitos,
em particular Marx, obviamente não tinham em mente a arquitetura quando
os propuseram e, no entanto, nada melhor para uma definição inteiramente
aceitável da prática arquitetura!

A segunda fase do sistema é a distribuição, onde se determina a


proporção em que os indivíduos participam dos resultados dessa produção
inicial, de acordo com as leis sociais, sejam quais forem. A troca, terceira
fase, configura uma distribuição ulterior aquilo que já foi distribuído de
acordo com as necessidades; é a troca que traz aos indivíduos os produtos
particulares de que carecem. E a quarta e última consumo: os produtos
tornam-se objetos de uso e fruição, de apropriação individual; nesta fase,
os produtos saem fora do movimento social (donde a afirmação de que a
sociedade de consumo, aquela em que o único valor é justamente esse, é
eminentemente anti-social).

3. Semantização e dessmantização do espaço


De início, um espaço é semantizado, recebe referências através e a
partir do corpo humano. O inquestionavelmente, a partir do corpo que se
vive um espaço, que se produz um espaço - isto é, que um espaço recebe
uma carga semântica qualquer. Esta é a operação mínima, necessária e
indispensável para a investidura de um léxico sobre um tecido espacial. A
primeira atribuição semântica a um espaço se faz assim a partir de uma
prática do espaço. Mas em consequência do que já foi dito sobre os modos
de significação do espaço é necessário bipartir o conceito de prática do
espaço em dois ramos bem precisos e delimitados que, no entanto,
frequentemente (senão sempre) se apresentam indissoluvelmente ligados
na quotidianeidade: uma prática física do espaço e uma prática imaginária.
Todo texto sobre o espaço ou sobre arquitetura se detém na análise
(quando chegam a fazê-Ia) dessa prática física, muito embora quase nunca
igualmente se preocupem com determinar essa prática a partir da unidade
mínima imprescindível que é o corpo humano.

São os dois modos iniciais de semantização do espaço, e por certo


dependem de uma ideologia e/ou produzem uma ideologia: sua significação
dependerá das relações sociais nele examinadas 12 (das quais se pode
secreta r uma ideologia), de um lado e, do outro, da produção do indivíduo
elaborada por ele isoladamente e a partir de sua relação com os demais.
Obviamente essa semantização - e suas relações com essa ideologia - só
pode ser isolada através da análise específica de cada momento histórico.
A partir desta primeira semantização do espaço pode ele experimentar
mudanças ou acréscimos semânticos - e às vezes se colocam camadas
sobre camadas de significados sobre a carga inicial. Se as simples
modificações semânticas são fáceis de detectar e analisar quando se opera
a partir da prática física do espaço (quando por exemplo se transforma um
centenário moinho industrial em centro coletivo de lazer), as
transformações ao nível da prática do imaginário e as sobressignificações
atribuídas e a um espaço (a proposição de espaços sobressignificantes)
são de detecção e compreensão (portanto revelação) mais trabalhosa,
particularmente para o usuário-tipo do espaço.

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