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1923

Avaliação da descentralização da vigilância epidemiológica

OPINIÃO OPINION
para a Equipe de Saúde da Família

Evaluation of the decentralization of epidemiologic surveillance


to the Team of the Family Health Program

Silvone Santa Bárbara da Silva Santos 1


Cristina Maria Meira de Melo 1

Abstract The aim of this study is to evaluate the Resumo Este estudo avalia a implantação da des-
decentralization of Epidemiologic Surveillance centralização das ações de vigilância epidemioló-
actions to the Family Health Program in a city gica para a equipe do Programa de Saúde da Fa-
in the state of Bahia, Brazil. The research was mília em um município da Bahia. Trata-se de uma
conducted as a case study, using adapted tech- pesquisa avaliativa através de um estudo de caso,
niques of thematic and evaluative analysis. In com uso de técnicas adaptadas de análise temática
face of the need to adopt a model for this analysis, e avaliativa, e adoção do modelo político da análi-
it was decided to adopt the political model of im- se de implantação. Os dados primários foram obti-
plantation analysis. The primary data were col- dos através de entrevista semi-estruturada com os
lected in semi-structured interviews with man- gestores da Secretaria Municipal da Saúde e tra-
agers of the local Health Department and the Fam- balhadores do Programa de Saúde da Família e os
ily Health Team and the secondary data through dados secundários, através da análise de documen-
document analysis. The study demonstrated that tos. A pesquisa demonstrou que a vigilância epide-
Epidemiologic Surveillance is understood in three miológica é compreendida como uma prática vol-
ways: as a kind of medical police action; as an tada para o poder de polícia médica; como uma
instrument of surveillance focused on the control vigilância voltada para o controle das doenças
of transmissible diseases and as surveillance ad- transmissíveis e como vigilância de riscos e danos.
dressing the risk of damages. As refers to the ca- Quanto à capacidade de intervenção, confirma-se
pacity of intervention, although mainly directed um desempenho positivo da equipe no Programa
to disease detection and control, the performance de Saúde da Família, ainda que relacionada à de-
of the Family Health Team was found positive. tecção da doença e adoção de medidas de controle.
We conclude that it is possible to decentralize Conclui-se que é possível descentralizar a vigilân-
Epidemiologic Surveillance to the Family Health cia epidemiológica para a equipe do Programa de
Program but the effective implantation of this Saúde da Família, muito embora esta ainda não
process will depend on the support of health man- tenha ocorrido efetivamente, se caracterizando
agers and professionals and on a political project muito mais como uma desconcentração de ativi-
1
Escola de Enfermagem da assuming the decentralization of epidemiologic dades, por razões políticas.
Universidade Federal da survey a strategy towards reorganization of the Palavras-chave Descentralização, Vigilância epi-
Bahia . Av. Dr. Augusto
healthcare system in the city. demiológica, Equipe de Saúde da Família, Avalia-
Viana s/n, Bairro Canela.
40110-060 Salvador BA. Key words Decentralization, Epidemiologic sur- ção
silvone.s@terra.com.br veillance, Family Health Team, Evaluation
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Silva Santos, S. S. B. & Melo, C. M. M.

Introdução Dado que o PSF foi implementado para mo-


dificar as práticas sanitárias, na medida em que
Este estudo tem como objeto a implantação da as ações operadas estariam direcionadas para as
descentralização da vigilância epidemiológica famílias de cada território, permitindo conhecer
(VE) para a Equipe de Saúde da Família (ESF) mais de perto o estado de saúde da população
num município baiano. Assume como referência local, existem maiores possibilidades da ESF de-
a evolução histórica e conceitual da vigilância senvolver com eficácia as funções inerentes à VE,
epidemiológica, a descentralização da saúde, e os implicando a melhoria dos indicadores de saúde
aspectos conceituais da avaliação. dos grupos populacionais. Parte-se do pressu-
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem como posto de que a ESF convive mais de perto com os
uma das suas diretrizes a descentralização, com problemas de saúde da população e tem condi-
vistas à reorientação do modelo de atenção e ges- ções de intervir oportunamente sobre os fatores
tão. Nesta direção, a estratégia da Saúde da Fa- determinantes do processo saúde-doença.
mília foi concebida com o propósito de reorde- Assim, um grande passo para a reorientação
nar os serviços da rede básica e implantar um das práticas de saúde é a descentralização da VE
novo modelo de atenção. Portanto, descentrali- para a Equipe de Saúde da Família, à medida que
zar a VE para a ESF implica valorizar a realidade os profissionais incorporarem-na como uma
locorregional, identificando problemas e crian- atividade cotidiana do trabalho e desde que o
do possibilidades de aumentar a capacidade de contexto político local seja favorável a este pro-
intervenção sobre estes. cesso de mudanças.
A VE, segundo a Lei Orgânica de Saúde1, é o A descentralização da VE para os municípios
conjunto de ações que proporciona o conheci- ocorre de forma gradual, com repasse das res-
mento, a detecção e a prevenção de qualquer ponsabilidades e também dos recursos da esfera
mudança nos fatores determinantes e condicio- federal para a esfera municipal. Na verdade, este
nantes da saúde individual ou coletiva. Tem como processo representa muito mais uma desconcen-
finalidade recomendar e adotar as medidas de tração de ações, haja vista que a maioria dos
prevenção e controle de doenças ou agravos. Essa municípios não está estruturado para assumir
concepção rompe com um modelo de atenção à efetivamente a descentralização da VE. Devido às
saúde com enfoque biológico e centrado na aten- diferenças políticas regionais, alguns municípios
ção à doença. Adota como paradigma conhecer avançam mais do que outros na implantação da
os fatores que determinam e condicionam o apa- descentralização. Do ponto de vista financeiro,
recimento de um agravo nos espaços coletivos em muitos municípios, os recursos são escassos
para implementar medidas eficazes de controle. ou mal utilizados, produzindo como conse-
Segundo o Ministério da Saúde 2, são funções qüência ações incipientes e de baixo impacto.
da vigilância epidemiológica: a coleta e processa- O lócus desse estudo é o segundo maior mu-
mento de dados; análise e interpretação dos da- nicípio do estado da Bahia e assumiu as ações de
dos processados; recomendação das medidas de VE no ano de 1993, com a criação da Divisão de
controle apropriadas; promoção das ações de Controle Epidemiológico da Secretaria Munici-
controle indicadas; avaliação da eficácia e efetivi- pal da Saúde. Em 2001, inicia-se a implantação
dade das medidas adotadas e divulgação das in- da descentralização das ações de vigilância epide-
formações pertinentes. Portanto, as funções da miológica para as ESF3. Encontra-se habilitado
VE estão pautadas na tríade informação-deci- na Gestão Plena do Sistema Municipal desde
são-ação. Para o seu fortalecimento, é preciso março de 2004. Dispõe de 72 Equipes de Saúde
ampliar o seu escopo de atuação para além do da Família, sendo que dezenove estão localizadas
controle das doenças transmissíveis, com a in- na zona rural e 53 na zona urbana, com cobertu-
clusão de outros agravos relevantes para a saúde ra de 50% do total da população do município.
da população. Assim, a atuação da VE deve ul-
trapassar o enfoque da doença, procurando iden-
tificar os fatores que determinam o processo saú- Evolução histórica
de-doença e, assim, desenvolver práticas volta- da concepção de vigilância epidemiológica
das para a promoção da saúde. Neste campo, o
Programa de Saúde da Família (PSF) assume Nas primeiras décadas do século XX, o Brasil
papel fundamental, na medida em que deve se apresentava um crescimento econômico ao mes-
constituir na porta de entrada do SUS. mo tempo em que convivia com as doenças pes-
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tilenciais que ameaçavam a produção e trocas no mindo como princípios organizacionais a des-
campo da economia. O caráter agro-exportador centralização dos serviços e ações de saúde, a re-
da economia vigente sofria os efeitos do panora- gionalização e a hierarquização da rede e a parti-
ma sanitário da época, principalmente porque cipação popular.
os navios estrangeiros não atracavam nos por-
tos brasileiros evitando que seus tripulantes con-
traíssem doenças4. A descentralização
Buscando reverter esta situação, surgem, da vigilância epidemiológica
como principal medida de intervenção, as cam-
panhas de vacinação, com um caráter de contro- Ao resgatarmos a história do processo de descen-
le de polícia e a obrigatoriedade da vacinação. Na tralização na área de saúde no Brasil, reportamos
década de 1920, foi criado o Departamento Na- ao período compreendido entre o pós 1964 até o
cional de Saúde Pública, sob a direção de Oswal- início da década de 1980, período esse marcado
do Cruz. Este adotou um modelo campanhista pela forte centralização no processo de tomada
de atenção à saúde, direcionado para as cama- de decisão. A política social desta época era carac-
das mais pobres da população, na tentativa de terizada pela excessiva fragmentação das ações,
resolver os problemas de saúde pública5, mode- privatização e maximização de interesses particu-
lo esse ainda presente nos dias atuais. A VE ado- lares em detrimento dos interesses coletivos9.
tava a vigilância de pessoas através do isolamen- Entre o período de 1969 a 1984, com a expan-
to e quarentena, não considerando os fatores de- são de subsídios do governo federal através de
terminantes e condicionantes das doenças6. A financiamento do Banco Mundial, o setor priva-
concepção inicial de vigilância epidemiológica era, do, especialmente na área hospitalar, cresceu em
portanto, a “observação sistemática e ativa de 465%10. Essa aceleração do setor privado refor-
casos suspeitos ou confirmados de doenças trans- çou as propostas do projeto neoliberal também
missíveis e de seus contatos”7. no setor saúde, que estão pautadas na tríade:
A partir da década de 1960, a VE foi solidifi- privatização, focalização e pouca regulação por
cada internacionalmente e compreendida como parte do Estado. O setor privado passou a exer-
o conhecimento da história natural da doença, cer forte pressão no processo de tomada de deci-
assim como dos seus fatores condicionantes, são do governo, estabelecendo um hiato entre o
permitindo indicar medidas eficazes e eficientes que era realmente necessário para a população e
para prevenir e controlar determinadas doenças8. o que era definido como prioridade na política
No Brasil, o Sistema Nacional de Vigilância governamental, gerando forte exclusão e margi-
Epidemiológica é referendado na V Conferência nalidade social.
Nacional de Saúde e formalizado através da Lei A década de 1980 foi marcada por uma grave
no 6.259/75 e suas ações regulamentadas em 1976 crise econômica no país e por forte tensão entre a
para todo o território nacional. população, originando movimentos sociais que
Com a promulgação da Lei Orgânica da Saú- provocaram grandes repercussões na área de saú-
de (Lei no 8.080/90), o conceito de VE foi ampli- de, o que culminou com o movimento da Refor-
ado, envolvendo um “conjunto de saberes e cam- ma Sanitária. Este movimento buscava superar a
pos de ação de epidemiologia (vigilância epide- crise no setor, que não resolvia os problemas de
miológica, vigilância sanitária, programação em saúde da população, impulsionando a realização
saúde, etc.), no sentido de redimensionar o esco- da VIII Conferência Nacional de Saúde em Brasí-
po das intervenções sanitárias”6. Essa nova abor- lia, em 1986, com a formulação e aprovação de
dagem transcende o fazer baseado na história um sistema de saúde universal, integral, igualitá-
natural da doença, em que se busca apenas co- rio, descentralizado e com controle social.
nhecer os integrantes da cadeia epidemiológica. A maioria das propostas da VIII Conferência
Este novo conceito exige o monitoramento cons- Nacional de Saúde foi referendada na Constitui-
tante dos fatores determinantes e condicionan- ção Federal de 1988 e Leis Orgânicas da Saúde
tes do processo saúde-doença. (no 8.080/90 e no 8.142/90). A descentralização
Esta concepção de VE acompanha o contex- passou a ser entendida como uma prioridade
to da reorganização do modelo de atenção à saú- para a consolidação do SUS, uma vez que permi-
de, pautado nos princípios doutrinários do SUS tiria o controle social e romperia com a centrali-
- a universalidade, integralidade e eqüidade no zação das políticas governamentais, envolvendo
acesso aos serviços e à atenção à saúde - assu- redistribuição de poder, competências e recur-
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Silva Santos, S. S. B. & Melo, C. M. M.

sos. Portanto, a descentralização não se constitui põe uma gestão colegiada na saúde, com a demo-
em desconcentração de recursos, pulverização e cratização do poder, descentralização sem buro-
segmentação das ações governamentais11. cratização e manutenção de espaços permanentes
Há de se considerar que a descentralização via de negociação. No entanto, o PSF também pode
municipalização da gestão dos serviços de saúde ser operado para atender aos ajustes neoliberais,
ao longo da década de 1990 se configurou como de forma focalizada e concebido como uma me-
elemento central na agenda do governo federal, dicina de pobres para pobres.
sendo que 99% dos municípios em 2000 estavam Direcionando para a especificidade do siste-
habilitados no Sistema Único de Saúde. Neste as- ma de saúde do município deste estudo, esse apre-
pecto, a descentralização da saúde pode ser consi- senta uma lógica de funcionamento fragmenta-
derada como uma experiência bem-sucedida, uma do, caracterizado pela dicotomia entre o público
vez que transferiu aos municípios responsabili- e privado, não diferindo do sistema de saúde
dades de gestão na prestação de serviços12. Entre- brasileiro, haja vista que a oferta e a produção de
tanto, as disputas de poder e os diferentes interes- serviços ocorrem de forma “discriminatória, se-
ses político-partidários, tanto nos estados como letiva e centrada na atenção médica”14, possuin-
nos municípios, geraram distorções na organiza- do caráter focal.
ção dos serviços, reproduzindo práticas sanitári- A implantação do Programa de Agentes Co-
as focalizadas e burocratizantes, muitas vezes dis- munitários (PACS) no referido município ocor-
tantes das reais necessidades da população. reu em 1992, sendo priorizados para implanta-
Ainda que a descentralização na saúde seja ção os bairros situados na periferia e zona ru-
uma possibilidade de ruptura de um modelo de ral15, onde a população convive com situações
atenção fragmentado e de baixa resolutividade, é bastante adversas para a saúde. O Programa co-
preciso superar algumas contradições explícitas meça a ser implantado no município com utili-
ou implícitas nesse processo. No que diz respeito zação de baixa tecnologia e sem assegurar um
à descentralização da VE, observa-se que foi ne- sistema de referência e contra-referência às ações
cessária a publicação de uma portaria para a de média e alta complexidade. Em 2000, também
adesão dos municípios, o que implica no cum- o PSF é implantado no município, adotando
primento de uma série de requisitos (formaliza- como critério para definição da área de implan-
ção do pleito pelo gestor municipal, comprova- tação grupos mais pobres da população e com
ção de estrutura e equipe, etc.) para a liberação uma proposta focalizada de intervenção16.
do financiamento. Assim, pode-se afirmar que o O Ministério da Saúde estabelece dentre as
processo de descentralização de VE assume certa atribuições dos trabalhadores das ESF: conhecer
verticalidade e centralidade, dado que não é con- a realidade das famílias pelas quais são responsá-
cebida pelo município, ou seja, alguns gestores veis, com ênfase nas suas características sociais,
municipais acabam aderindo aos requisitos da demográficas e epidemiológicas; identificar os
Portaria no 1.399/99 para assegurar mais recur- problemas de saúde prevalentes e situações de ris-
sos e, não necessariamente, com uma intenção co; executar ações básicas de vigilância epidemio-
real de desenvolver com efetividade as ações de lógica e sanitária na sua área de abrangência17.
VE que estão sob a sua responsabilidade. Entendemos que não se trata apenas de re-
passar mais uma função para as equipes do PSF,
e sim de assumir a responsabilidade sanitária
A descentralização sobre a área de abrangência, realizando interven-
da vigilância epidemiológica ções através da articulação intersetorial. Com-
para as Equipes de Saúde da Família preendemos também que os problemas de saú-
de da área de abrangência deverão ser direciona-
O PSF assume, no atual cenário de saúde, papel dos conforme a complexidade e disponibilidade
de destaque, desenhado com a pretensão de rees- de recursos, assegurando a integralidade da aten-
truturar o modelo de atenção à saúde hegemôni- ção e a melhoria dos indicadores de saúde.
co, predominantemente centrado no hospital e No entanto, algumas questões são cruciais
na prática médica, com características assistencial para o êxito da descentralização: a participação
individualizada e curativa. O PSF só poderá cau- dos cidadãos no sistema de saúde, através dos
sar mudanças se for concebido realmente como conselhos municipal e local; a autonomia dos pro-
uma estratégia, onde os atores sociais sejam co- fissionais na realização das ações, avaliando siste-
participantes no modo de fazer saúde. Nessa di- maticamente seus resultados; a utilização de pro-
reção, é interessante citar Campos13, quando pro- tocolos para situações previamente definidas pelo
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Ministério da Saúde e Secretaria Municipal da Saú- Metodologia
de, agregando o conhecimento da clínica; educa-
ção permanente das equipes e, sobretudo, vonta- Este é uma pesquisa avaliativa de natureza quali-
de política do gestor local. Trata-se de um proces- tativa, que responde como ocorre a implantação
so que envolve a dimensão administrativa, técni- da descentralização da VE para a ESF num mu-
ca e política da organização do SUS municipal. nicípio baiano. Em decorrência do objeto de es-
Isto implica assumir que são muitos os desa- tudo, selecionamos dois componentes do mode-
fios para a efetivação da descentralização da VE lo político da análise de implantação: a análise
para a ESF, em particular do município deste estu- dos determinantes contextuais e a análise da in-
do, em que “a implantação do PSF no município fluência da interação entre o contexto da implan-
acabou sendo conformada pelo particularismo e tação e a intervenção sobre os efeitos observados
pelo clientelismo, características do modo de pro- neste processo.
duzir política em municípios oligárquicos”16. Como se trata de um estudo de caso, foi sele-
cionada uma unidade de saúde da família do
município, implantada em maio de 2002. A ESF
Aspectos conceituais selecionada tem sob a sua responsabilidade sete
sobre a avaliação em saúde microáreas, abrangendo 883 famílias.
Os atores da pesquisa foram assim agrupa-
A conotação de avaliação que reportaremos nes- dos: Grupo 1: Trabalhadores da Equipe Saúde
te trabalho será a de pesquisa avaliativa que, na da Família (médico, enfermeira, auxiliar de en-
concepção de Contandriopoulos et al.18 “consiste fermagem a agente comunitário de saúde); Gru-
em fazer um julgamento ex-post de uma inter- po 2: Gestores do âmbito central da Secretaria
venção usando métodos científicos”. Para estes Municipal da Saúde (secretária municipal de saú-
autores, a avaliação pode ser decomposta em seis de, chefe da divisão de vigilância epidemiológica,
tipos de análise: análise estratégica; análise de in- chefe da atenção básica e coordenadores dos pro-
tervenção; análise de produtividade; análise dos gramas de tuberculose e hanseníase). Os coorde-
efeitos; análise de rendimento ou de eficiência e nadores dos programas de controle da hansení-
análise de implantação. Adotamos no estudo o ase e tuberculose foram selecionados no momen-
modelo de análise de implantação, que consiste to exploratório pela constante citação desses agra-
não só em medir a influência que pode ter a vari- vos durante as entrevistas.
ação do grau de implantação de uma interven- Os cinco trabalhadores da saúde entrevista-
ção nos seus efeitos, como também em verificar dos foram selecionados segundo categoria pro-
a influência do ambiente e do contexto no qual a fissional. Como só existe um médico e uma en-
intervenção está sendo implantada. fermeira na equipe, esses foram escolhidos in-
Para realizar a análise de implantação, defi- tencionalmente. Quanto ao auxiliar e o agente
nindo a influência do contexto nos efeitos pro- comunitário de saúde, foram selecionados aque-
duzidos, se faz necessária, a partir das teorias das les que tinham maior tempo de trabalho na uni-
organizações, a adoção de um determinado mo- dade de saúde. No que diz respeito aos cinco ges-
delo. Dentre os modelos existentes (modelo racio- tores entrevistados, foram selecionados aqueles
nal, modelo de desenvolvimento organizacional, que participam do processo de implantação de
modelo psicológico, modelo estrutural e modelo descentralização da VE para as ESF.
político), optamos pelo modelo político. A razão Para a coleta, foi assinado o termo de con-
dessa escolha está apoiada nos fatores utilizados sentimento livre e esclarecido, conforme preco-
pelo modelo político para avaliar a eficácia de niza a Resolução no 196/9620, assegurando, assim,
uma intervenção, o que se coaduna com os obje- o anonimato dos autores e o sigilo das informa-
tivos da pesquisa desenvolvida: o suporte dado à ções relatadas. Além disso, o projeto de pesquisa
intervenção pelos seus agentes; se esses agentes foi submetido a um Comitê de Ética e obteve o
estão aptos a operacionalizar com eficácia a in- consentimento da Secretaria Municipal da Saúde
tervenção; se existe coerência entre os objetivos e pesquisada.
a sustentação que é dada à intervenção19. Para a coleta de dados primários, aplicamos
a entrevista semi-estruturada. O roteiro constou
de informações quanto às concepções dos atores
sobre VE; inserção dos trabalhadores da saúde
na VE; aspectos sobre a implantação da descen-
tralização da VE; facilidades e dificuldades e ava-
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Silva Santos, S. S. B. & Melo, C. M. M.

liação dos atores quanto ao processo de descen- As concepções


tralização da VE. Os dados secundários foram sobre a vigilância epidemiológica
obtidos através da análise de documentos. Tais
fontes de informação, como assevera Yin21, fo- A VE, conforme emerge das entrevistas, é con-
ram úteis para corroborar e valorizar as evidên- cebida de uma forma reducionista, com suas
cias obtidas nas entrevistas. ações direcionadas para o poder de polícia médi-
Para a análise dos achados, utilizamos a téc- ca; ou voltadas para o controle de doenças trans-
nica de análise temática, com base nos fatores missíveis. Identifica-se episodicamente que a atu-
definidos pelo modelo político da análise de im- ação da ESF é pautada no acompanhamento dos
plantação. Também foi utilizada a técnica de aná- agravos e dos fatores condicionantes e determi-
lise de avaliação22, adaptada por Melo23, que nos nantes da saúde da população. Desta concepção,
permitiu analisar as representações dos atores se destacam outras subcategorias de análise des-
da pesquisa na emissão de enunciações avaliati- critas a seguir.
vas sobre a implantação da descentralização das
ações de VE para as ESF. Utilizamos na análise A vigilância epidemiológica
da avaliação uma abordagem multirreferencial, como poder de polícia médica
propícia para contextualizar o fenômeno estu- Os depoimentos, e o tom como foram ditos,
dado, captar suas múltiplas relações e explica- deixam perceber claramente a imposição, pelos
ções para amplamente apreendê-lo, relacionan- profissionais, de normas e medidas às famílias
do-o com o contexto global. ou grupos assistidos pela ESF. O traço marcante
O primeiro movimento de análise foi efetua- desta concepção de vigilância epidemiológica, re-
do a partir dos dados extraídos das entrevistas, correndo a Foucault24, é o controle da vida do
relacionando-os com o contexto organizacional. indivíduo e da família, inclusive sobre seus pro-
Realizamos análise das enunciações avaliativas, blemas mais privados, em nome de um pretenso
que consistiu em identificar juízos de valor dos bem-estar da comunidade. Portanto, as questões
atores em relação à implantação da descentrali- relativas às crianças, grávidas, alimentação, ves-
zação da VE para a ESF. Nesta etapa, classifica- tuário, recreação, higiene deveriam e devem, se-
mos as enunciações como positiva ou negativa gundo os entrevistados, ficar sob a égide da me-
para o processo de descentralização. Elaboramos dicina. Para Focault24, esta concepção “constitui-
três quadros esquemáticos: o primeiro represen- se, igualmente, uma ascendência político-médica
tando as concepções dos atores da pesquisa com sobre uma população que se enquadra em uma
relação à VE (identificando-se a concepção, sua série de prescrições que dizem respeito não só a
descrição e as variáveis e o autor); o segundo doença, mas às formas gerais de existência e de
representando os determinantes contextuais no comportamento”.
processo de implantação da VE para a ESF e a Trata-se de ações restritivas, voltadas exclu-
influência da descentralização na organização da sivamente para o indivíduo, excluindo-se da sua
Unidade de Saúde da Família (identificando-se vida o contexto social onde se insere. O corpo é
tema central e sua descrição e autoria e o valor apenas um instrumento para o exercício do po-
atribuído pelo autor ao processo de descentrali- der técnico. Os depoimentos dos sujeitos da pes-
zação); o terceiro destacando as enunciações ava- quisa configuram um cenário autoritário e inter-
liativas quanto à implantação da descentraliza- vencionista. Do ponto de vista político, conside-
ção da VE para a ESF, segundo ator. ramos este um aspecto negativo para a implan-
O segundo movimento foi realizado após re- tação da descentralização da VE para as ESF, por
visão e análise dos documentos, destacando-se não permitir que a própria população seja ator
as variáveis relativas à estrutura organizacional e relevante na execução das ações de vigilância epi-
administrativa. demiológica. Em pleno século XXI, se reproduz
Identificamos a categoria empírica central: a no SUS a busca pela docilidade dos corpos que
implantação da VE para a ESF, sendo retratada devem, sem discussão, se submeter às determi-
em duas subcategorias: as concepções da VE; o nações técnicas e políticas do sistema de saúde e
contexto da descentralização da VE para a ESF. dos seus trabalhadores.
Na análise dos achados, destacamos alguns as-
pectos, apresentados a seguir. A concepção da vigilância epidemiológica
centrada na doença
As ações de VE, conforme destacado nos de-
poimentos, ainda são predominantemente de
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controle e focadas nas doenças, e estão pautadas atuar de forma integrada com a vigilância sani-
no modelo de atenção biomédico. O modelo bi- tária e ambiental. No entanto, as práticas das
omédico, ainda hegemônico, é centrado no saber vigilâncias no município permanecem segmen-
clínico e privilegia a atenção às pessoas, indepen- tadas e com recortes específicos de atuação, con-
dente dos determinantes e condicionantes sobre forme demonstrado nos relatórios de gestão do
o processo saúde-doença. As ações de prevenção período de 2001 a 2004, em que não se observa
são direcionadas para o estabelecimento de diag- nenhum registro de atuação integrada. Vale des-
nóstico, medidas de isolamento e tratamento. tacar também que em nenhuma entrevista foi
Trata-se de vigilância de casos com o objetivo de enunciada alguma ação da VE integrada com as
quebrar a cadeia epidemiológica da doença. demais vigilâncias.
Durante a realização das entrevistas, vários Tomando por base as enunciações em torno
trechos dos discursos, tanto dos gestores como das concepções de VE, inferimos que o municí-
de profissionais da saúde, apontaram para o pio avança lentamente no processo de implanta-
entendimento de VE como ação de controle, vin- ção da descentralização, dado que os seus res-
culando-a basicamente às doenças infecto-con- ponsáveis concebem as práticas de VE num mo-
tagiosas. Em outras palavras, o objeto da VE no delo que não responde ao perfil epidemiológico
caso estudado é a vigilância de casos em detri- da população local. Isto faz com que a descen-
mento da vigilância dos fatores que determinam tralização, neste contexto, se constitua apenas em
e condicionam o aparecimento das doenças e um processo de repasse das atividades da Divi-
agravos na população. As entrevistas expressam são de Vigilância Epidemiológica da Secretaria
uma prática reducionista e voltada para intervir Municipal da Saúde para as ESF, sem responsa-
sobre a doença. bilidade desta sobre os resultados que as ações
Em estudo realizado por Cerqueira8 sobre as implementadas possam produzir.
práticas da VE do município, este aponta para
um reducionismo das ações de VE, centradas no O contexto da descentralização
controle e prevenção de doenças de notificação da vigilância epidemiológica para a ESF
compulsória. Isto demonstra que, mesmo se pas- Ao analisarmos os dados empíricos, surgi-
sando alguns anos, continua prevalecendo o dis- ram cinco temas relevantes para análise relacio-
curso em torno da prática da VE voltada para o nados ao contexto da implantação da descentra-
controle das doenças transmissíveis. Isto indica lização da VE para as ESF. São eles: planejamen-
também que o processo de descentralização não to; capacitação de recursos humanos; organiza-
leva em conta um investimento continuado na ção do processo de trabalho; articulação intra-
mudança de concepções e práticas dos profissio- institucional; organização da unidade de saúde
nais e gestores, o que influi no modo como com- da família.
partilham a responsabilidade sobre a saúde da Dos gestores emerge uma concepção de pla-
população. nejamento numa concepção centralizada e pon-
Por outro lado, os discursos revelam uma tual. Os trabalhadores da saúde não relatam par-
clara desresponsabilização dos serviços e do sis- ticipação no planejamento, o que pode indicar
tema de saúde e de responsabilização do usuá- que o sujeito que faz a ação não planeja a mesma.
rio, que por outro lado não pode conhecer e de- Verifica-se um paradoxo nos discursos dos en-
cidir sobre sua própria saúde. trevistados, pois ao mesmo tempo em que refor-
çam a centralização do planejamento, defendem
A concepção da vigilância epidemiológica a descentralização da VE. Tal paradoxo pode in-
centrada em riscos e danos dicar que o cenário atual ainda não é favorável ao
Algumas falas revelam uma concepção que desencadeamento de processos de mudanças no
amplia a capacidade de intervenção dos traba- modo de pensar e fazer VE no município.
lhadores da ESF. Contudo, apenas os gestores Quanto à capacitação, esta emerge como uma
percebem a VE centrada na identificação de ris- das principais estratégias utilizadas para a im-
cos e danos. E, ainda assim, apontam para a iden- plantação da descentralização da VE. A capacita-
tificação dos riscos sem indicar que se pode utili- ção é considerada uma ação que resolverá os
zar a situação identificada no sentido de adotar problemas das práticas dos profissionais de saú-
estratégias de ação que possam reduzir os danos de, sem considerar os aspectos quanto à forma-
à saúde da população. ção dos profissionais e as condições de trabalho
É importante salientarmos que, para preve- da ESF. Ainda que os processos de capacitação
nir riscos e danos, a vigilância epidemiológica deve sejam necessários e contribuam positivamente
1930
Silva Santos, S. S. B. & Melo, C. M. M.

para a implantação da descentralização da VE, a A lógica de organização do processo de tra-


análise documental indica que as capacitações balho no PSF exige um trabalho multidiscipli-
realizadas foram direcionadas para a descentra- nar, com compartilhamento do processo decisó-
lização das ações de agravos específicos, a exem- rio, planejamento das ações, organização do tra-
plo da tuberculose, dengue, doenças exantemáti- balho de forma horizontal e efetivo controle so-
cas e hanseníase. Essas capacitações, com foco cial. No caso estudado, podemos inferir que o
na epidemiologia, aspectos clínicos das doenças trabalho tem como ênfase a realização de tare-
e medidas de controle dos agravos, não são sufi- fas, seguindo a abordagem científica da admi-
cientes para mudar as práticas de VE em direção nistração. Os trabalhadores não se percebem
ao paradigma em que a promoção da saúde so- como componentes de uma equipe. Para alguns
breponha a prevenção de doenças. entrevistados, trabalhar em equipe na saúde é
Quanto ao trabalho, no caso estudado, os simplesmente comunicar ao outro a ocorrência
trabalhadores da ESF são contratados através de um fato, para que esse outro defina o que se
de cooperativas, com um vínculo precário de tra- deve fazer. Contudo, trabalhar em equipe é tra-
balho. No entanto, nenhum dos trabalhadores balhar de forma horizontalizada, desenvolven-
entrevistados mencionou a sua vinculação pre- do ações integradas; aglutinando o saber e os
cária no sistema local de saúde. Este fato pode sujeitos desse saber e considerando as singulari-
estar relacionado ao jogo de interesses individu- dades da prática de cada profissão, na perspecti-
ais de cada trabalhador, no sentido da preserva- va de construir propostas e ações coerentes com
ção do seu emprego. Somado a isto, identifica-se as necessidades da população.
uma falta de visão política dos trabalhadores
entrevistados, o que contribui para a manuten- Análise avaliativa da implantação
ção desta relação precária de trabalho. Notada- da descentralização da VE para a ESF
mente, as falas em torno da rotatividade dos pro- As enunciações avaliativas dos entrevistados
fissionais nas ESF se concentraram no grupo de indicam desempenho positivo quanto à capaci-
gestores, demonstrando estes uma forte preocu- dade de intervenção da ESF, ainda que relaciona-
pação com a ruptura no processo de implanta- do sobretudo com a detecção da doença e ado-
ção da descentralização da VE no município. No ção de medidas de controle, o que reforça a aná-
entanto, não foram apontadas propostas pelos lise anterior da existência de uma prática frag-
gestores no sentido de modificar este quadro. mentada na ESF e de uma concepção de VE vol-
Deste modo, podemos inferir que, até o momen- tada para o controle das doenças transmissíveis.
to, o município não adotou uma política que Revela também que o modelo de atenção no
possa reverter esta problemática, até porque as município é centrado na doença, distante da con-
formas de contratação flexíveis parecem atender cepção filosófica que originou o PSF no Brasil.
aos interesses políticos partidários ainda domi- Isto indica que é necessário mais que o com-
nantes nos municípios brasileiros. promisso de alguns atores no processo. A des-
As entrevistas revelam divergência quanto ao centralização da VE exige uma decisão política que
estágio de articulação intra-institucional existente assuma, na prática, a descentralização da VE como
no município. Enquanto na fala do gestor é enfati- uma diretriz da Secretaria Municipal de Saúde.
zada como facilidade a comunicação entre a Divi- Apesar da maioria dos depoimentos aponta-
são de VE com as ESF, para os trabalhadores, a rem os atores locais como favoráveis ao processo
falta de articulação entre a divisão de VE e a ESF de descentralização, o desempenho deste proces-
se constitui em uma dificuldade para operar as so é avaliado como apresentando avanços e re-
intervenções na área de abrangência da USF. Es- trocessos. Os entrevistados não conseguem iden-
sas divergências revelam lógicas diferentes de tra- tificar facilidades no processo, ainda que se posi-
balho, tanto pela equipe que compõe a divisão de cionem a favor da descentralização. Este elemen-
VE do município como pela ESF. O que é identifica- to de análise permite inferir que no caso estudado
do como desarticulação pode ser atribuída, em existe mais uma desconcentração de atividades de
parte, pela forma em que historicamente se organi- VE do que efetivamente sua descentralização.
zou o processo de trabalho da VE no município. Ainda que se declare apoio a esta interven-
Este trabalho é centrado em equipes treinadas ção, tendo em vista que os discursos tanto dos
exclusivamente para o desenvolvimento das ações trabalhadores da saúde, quanto dos gestores, são
de vigilância, delegando-se para os trabalhadores favoráveis à descentralização da VE, as estratégi-
das unidades básicas de saúde apenas a atividade as que foram e estão sendo utilizadas não contri-
de notificação compulsória das doenças. buíram para que esta seja efetivamente imple-
1931

Ciência & Saúde Coletiva, 13(6):1923-1932, 2008


mentada. A inexistência de um projeto político auxiliares de enfermagem, que demonstraram
da descentralização da VE como uma ação estra- pouco entendimento sobre as práticas de vigi-
tégica reflete o descompasso entre o discurso e a lância epidemiológica.
prática dos sujeitos responsáveis pela saúde da A forma como se originou a VE contribuiu
população. para ancorar a representação de que as suas ações
devem ser assumidas por técnicos especializados,
e que as atividades estão restritas ao controle das
Considerações finais doenças. Isso significa que os processos de capa-
citação não levam tal aspecto em conta ou não
Este estudo, ao avaliar como ocorre a implanta- contribuem para remover tal compreensão.
ção da descentralização da VE para a ESF em um Pode-se concluir que a descentralização da VE
município da Bahia, identificou que tanto os tra- para a ESF contribuiu para a melhoria de alguns
balhadores de saúde como os gestores compre- indicadores de saúde, confirmando o pressupos-
endem a VE dentro de três eixos. O primeiro to do estudo quando afirma que descentralizar a
como uma prática voltada para o poder de polí- VE para as ESF implica valorizar a realidade lo-
cia médica; o segundo como uma vigilância vol- corregional, identificando os problemas e crian-
tada para o controle das doenças transmissíveis do possibilidades de aumentar a capacidade de
e o terceiro como uma vigilância de riscos e da- intervenção sobre estes. No entanto, constata-
nos. A prática da VE é centrada no controle de mos também que a descentralização ainda não
doenças e agravos, direcionada para o indivíduo está implantada, se caracterizando muito mais
e operada de modo fragmentado. As ações de como uma desconcentração de atividades.
prevenção da doença se sobrepõem à promoção Realizar este estudo permitiu também avaliar
da saúde, numa clara organização do trabalho que é possível descentralizar a VE para a ESF. No
centrada no atendimento de uma demanda qua- entanto para que ocorra a descentralização de
se sempre espontânea, não se intervindo nos fa- forma efetiva é fundamental o apoio, no proces-
tores determinantes do processo saúde-doença. so de implantação, tanto dos gestores quanto
A concepção e o valor que é dado pela equipe dos profissionais de saúde. É necessário o esta-
quanto ao fazer da VE, na verdade foram consi- belecimento de um projeto político que assuma
derados como uma prática secundária na orga- efetivamente a descentralização da VE como uma
nização do processo de trabalho. estratégia para reorganização da atenção a saúde
As capacitações técnicas foram consideradas no município.
pelos atores da pesquisa como um aspecto posi- O estudo aponta para a necessidade de parti-
tivo para a descentralização. Entretanto, é neces- cipação ativa dos atores no processo de repensar
sário que as capacitações abordem uma dimen- a política de descentralização da VE para um
são coletiva do processo saúde-doença, para que microespaço de intervenção que é o Programa
a compreensão sobre a VE possa ser ampliada, de Saúde da Família, de forma a definir os obje-
no sentido de que se deve percebê-la como uma tivos, as metas, as estratégias de implantação e
prática que permeia todas as outras práticas de os mecanismos de avaliação, buscando identifi-
saúde. É necessário também um investimento car os avanços e superar os entraves numa inter-
continuado e pedagogicamente diferente, especi- venção complexa e fundamental para mudar o
almente para os agentes comunitários de saúde e estado de saúde da população.
1932
Silva Santos, S. S. B. & Melo, C. M. M.

Colaboradores

SSB da Silva Santos elaborou o artigo que faz parte


de sua dissertação de mestrado, intitulada “Avali-
ação da descentralização da Vigilância Epidemio-
lógica para a Equipe de Saúde da Família”. CMM
de Melo foi a orientadora da referida dissertação
e contribuiu com a concepção e revisão crítica.

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