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RAMOS DE OLIVEIRA Ko A ILUSAO ESPIRITA” TI EDICAO A OF . Waal oF 48a 1951 EDITORA VOZES LIMITADA Petropolis, R. J. Rio de Janeiro Sao Paulo To Me eRe 2 AS ee. POR COMISSAO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO, SR. DOM MANUEL PEDRO. DA CUNHA CINTRA, BISPO DE PE- TROPOLIS, FREI LAURO OSTERMANN 0, F. M., PETROPOLIS, 19-6-1951 NEAT L oO 8 8 T wT MONS, JOS2 PERNA, CENSOR AD HOC BELO HORIZONTE, 15 DE FEV, DE 1943 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS INTRODUCAO Lendo um trabalho de Lucien Roure (Le Merveilleux Spirite), deparei com uma informa- cao (p. 326), que me encheu primeiramente de cepticismo e, apds outras leituras, de preocupa- cao. E’ uma relacaéo do nimero de jornais es- piritas existentes no mundo em 1913, colhida pe- Jo autor no proprio Bureau Internacional da seita em Bruxelas e assim discriminada: France .. Belgique . Pays-Bas Danemark Norvége . Suéde Grande-Bretagne Allemagne - Suisse Italie . Espagne Portugal Brésil Etats-Unis . Autres Pays TOTAL ....----* Referindo-se ao caso, comenta Tristao de Atai- de: “Como se vé, figurava o Brasil 4 testa de to- das as nacdes do mundo no que diz respeito & im- 5 prensa espirita! Pela primeira vez, sem retérica alguma, curvava-se o universo ante o Brasil...” (Contra-revolugao espiritual, p. 75) De principio, me pareceram um tanto fantas- ticos esses 32 jornais espiritas existentes entre nos. Hoje, porém, ante a documentacéo apre- sentada por varios autores, que tém pesquisado © assunto (v. g. O espiritismo no Brasil, por Leo- nidio Ribeiro e Murilo Campos), estou plenamen- te convencido de que os espiritas possuem, no pais, um dos mais vantajosos aparelhamentos de propaganda. Nao sé numerosos periédicos como importante empresa editora, 4 qual, consta, um milionario do Sul legou cinco milhées de cruzeiros para difusio de livros espiritas. Em Sao Paulo, a seita dispde de poderosa es- tacao de radio, de sua propriedade exclusiva, pa- ra divulgacao discreta de suas doutrinas. Surgem, ali, por toda parte, centros espiritas, conforme os registos publicados no Diario Oficial. Na Capital da Republica, 0 ultimo recensea- mento verificou ser notavel o ntimero de espi- ritas. E foi considerando esta triste situacao, esta assustadora expansio das perniciosas doutrinas kardecistas entre ndés, que resolvi estudar mais de- tidamente o assunto, ampliando os conhecimen- tos obtidos rapida e sumariamente no curso do Seminario. Anotando alguns pontos, que me pareceram essenciais, passo a coligi-los em optisculo para que sejam titeis a quem porventura interessem. 6 CAPITULO I OS FENOMENOS ESP{RITAS E O SEU VALOR AUTENTICO Lucien Roure, antigo redator da revista de ciéncias Etudes, tratando dos maravilhosos fe- nomenos espiritas, refere uma observacado de Port Royal, que Ernest Bersot insere em seu livro Mes- mer, Le magnétisme animal: “Quando se trata de procurar as causas de efeitos extraordinarios, é necessario, antes de tudo, examinar se tais efeitos sao verdadeiros, pois muitas vezes nos fatigamos em buscar razdes de coisas que nunca existiram, e ha uma infinidade delas que podem ser resolvidas como Plutarco resolveu essoutra questao, que ele se propés: Por que os potros ja perseguidos pelos lobos sao mais velozes do que os outros? Apés ex- por varias explicagdes como a de que eles adquiri- ram mais habito de correr'ou de que os menos lestos foram devorados, apresenta uma outra so- lugio quicé mais acertada: E’ que talvez isto nao seja verdade”. Be Esta observacgaéo de Port Royal foi ilustrada por Fontenelle, com a sua histéria do dente de Ouro: “E 1593, correu 0 boato de que, na Silésia, nascera 7 um dente de ouro num menino de 7 anos. Horstius, pro- fessor de medicina da Universidade de Helmstad, escre- veu, em 1595, a historia desse dente, pretendendo que ele fosse em parte natural e em parte miraculoso, isto é, concedido por Deus ao menino para consolar os cristios em luta com os turcos. Imagine-se que género de consolo le. varia tal dente aos cristios com relagéo aos turcos. No mesmo ano, para que ao dente nao faltassem historia- dores, Rullandus escreveu-lhe a histéria. Dois anos mais tarde, um outro sabio da época, Inglosteterus, escreven um tratado contestando o parecer de Rullandus sobre o dente de ouro e Rullandus fez-lhe uma réplica formosa e erudita. Um outro grande homem do tempo, chamado Li- bavius, reuniu tudo o que fora escrito sobre o dente e ajuntou seu modo de ver pessoal. Nada faltava a tao dou- tos tratados senfo que o dente fosse realmente de ouro. Quando um ourives o examinou, yerificou ter sido cui- dadosamente aplicada uma folha de ouro sobre o famo- so dente, que em nada diferenciava dos demais. Mas comecou-se por fazer livros e sé depois se consultou o ourives”. Eis por que parece nunca despicienda a ad- verténcia de Ernest Bersot. Nas regides do ma- ravilhoso, sdi a imaginacéo tomar asas e ascen- der A estratosfera do mito, onde nao é possivel manter argumentacfo equilibrada, em ordem ao discernimento da verdade. Em se tratando, pois, de fenémenos espiritas; toda prudéncia é pouca em assentar as bases reais a um estudo seguro e eficiente. Antes de emitir opinido e pronunciar julgamento sobre qualquer fato ou sua origem natural ou preternatural, é mister ter a certeza da realidade do mesmo, para evitar que, depois de expor razdes e combater idéias, deparemos com essa desconcertante répli- ca ou evasiva: Tal fato nunca existiu. 8 CAPITULO IL OS FENOMENOS ESPIRITAS E 0 SEU VALOR PSICOLOGICO Um dos mais ponderosos detrimentos, que en- fraquecem os fenémenos espiritas, é 0 ambien- te psicologico, em que eles se operam. Os “cren- tes”, que se retinem em sessio, estao inabalavel- mente convictos de que assistem a fendmenos ma- ravilhosos e, com tal disposicao de animo, tudo aceitam como provindo de um mundo de além, sem nenhum vislumbre de exame ou critica. Ora, sabemos que a sugestao tem forg¢a quase domi- nadora sobre os sentidos e sobre todo o sistema nervoso. Um sugestionado chega mesmo a sentir sin- tomas de moléstias que nunca teve, bem como pode reagir contra verdadeiras afeccdes nervo- sas (ainda que sem eficiéncia duravel). E que valor objetivo terfio as testemunhas sugestiona- das das sessdes espiritas, sobre 0 que véem, ou- vem ou sentem? Li algures 0 fato de um jovem casal pari- siense, que perdera seu primogénito. O esposo fo- ra levado a tal estado de acabrunhamento com > 0 golpe moral, que o médico lhe aconselhou um passeio a Londres. Ali, folheando um jornal, deu com um antincio singular: Um fotografo compro- metia-se a fotografar o espirito de qualquer de- funto. O inditoso pai correu séfrego a procura-lo. Queria o retrato de seu filhinho. Dados os infor- mes da idade e os demais, que lhe pediu o mara- vilhoso profissional, recebeu a garantia de que, ao terceiro dia, lhe seria entregue 0 extraordinario do- cumento. E’ facil compreender-se 0 anseio com que aguardou o dia aprazado. Contava as horas e os minutos. Ao receber a almejada fotografia, reconheceu a figura do idolatrado ente falecido. E quis fazer sua esposa participante de seu con- solo. Enviou-lhe 0 retrato envolto em palayras de conforto. Mas esta, que nfo se achava nas mesmas disposicdes de Animo e que, sobretudo, nao so- frera aquela preparacdo psicoldgica de trés dias, nada viu na fotografia que se parecesse com seu filho. Era uma fotografia de uma crianca qual- quer, quica da mesma idade, que, na retina de seu aflito e sugestionado marido, se identificava com a imagem daquele, que de fato nao saia de sua imaginagao. Além do parcialissimo estado psicolégico dos assistentes As sessdes espiritas, 0 préprio meio ambiente em que elas se processam ou seja a meia escuridao, prejudica de muito’o valor de seus fendmenos. Um insigne jornalista, em Be- lém do Para (Rey. P. Floréncio Dubois), no aceso de uma polémica, recebeu o repto de assistir a uma sessao espirita, a fim de certificar-se da apa- 10 rico do ectoplasma ou espectro. Aceitou, com a condigio de acender a luz e examinar a apari- cho, Esta condigfio foi recusada. Efetivamente, por que acreditar que 0 vulto luminoso, que passa entre as filas dos assisten- tes iméveis, conduzindo uma crianga, é um es- pectro do outro mundo e nao a mulher do mé- dium vestida com tecidos fosforescentes (como cér- ta vez foi constatado), segurando uma boneca de palha? Simplesmente porque é proibido tocd-lo e examiné-lo, 4 claridade? Diferem muito, na maneira de conceber e ex- plicar os fenémenos espiritas, um crente e um indiferente. Eis como Edmundo Perrier, da Aca- demia de Ciéncias de Franga, relata uma sessao espirita, a que assistira, a convite de um coronel Rocha, na residéncia de certa familia constituida de mae e duas filhas, desejosa de convencé-lo da sobrenaturalidade dos fendmenos. “Antes, uma das filhas dirigiu uma invocacio ao espirito familiar da casa, o sr. X... velho amigo, falecido ha anos, rogando-Ihe que repetisse a sua visita habitual, tomando em conta a presen¢a de um estranho, que desejava instruir-se; e que fizesse como convencé- lo. Fecharam-se as cortinas, apagou-se a luz e, em meio a uma escuridade profunda, comegou-se a sessio. A mesa pos-se a bater, respondendo in- teligentemente as perguntas. Dai a pouco, era com violéncia que ela trabalhava; explicaram-me que era o espirito de Maturin, — um lobo do mar, morto ha tempos — que, no espago, nao deixava o sr. X... Depois, certa mao pequenina comegou a 11 acariciar-me. Pediu-se ao sr. X... que me ser- visse um pouco de acticar. Eu ouvi abrir 0 aguca- reiro e uma tablete de agticar veio pousar exa- tamente nos meus ldbios. Surpreendido, o deixei cair e, desculpando-me, pedi ao sr. X... que nao reparasse meu desleixo. Felizmente — acrescentei — nao era bebida, senfio eu me teria molhado. O coronel obtemperou: Mas pode-se oferecer-Ihe um grogue. Isto nfo estava esperado; o grogue nao estava preparado; houve um momento de hesi- taciio. Depois, comecou-se 0 arranjo; ouvi abrir- se uma gaveta, remexer as colheres, descobrir- se o acucareiro (a cena passava-se na sala de jantar); destampar-se a garrafa de rum; dei- tar-se Agua no copo; em seguida, sempre na mais completa escuridéo, o copo veio se colocar en- tre meus labios, inclinando-se docemente e eu be- bi o grogue sem que se derramasse uma s0 gota. Eu nunca ouvi dizer que Eusapia tivesse dessas hospitalidades... Neste momento cessou todo 0 mo- vimento e o coronel exclamou: “Nao ha mais flui- do”. Fizeram-se algumas massagens no braco da médium e os fendmenos recomecaram. Era um ban- dolim a vibrar fortemente as cordas. Pedi uma dria, e o bandolim, sem hesitar, tocou o carrilhao “Sinos de Corneville”. Nao podendo toca-lo com minhas miaos, pedi que ele viesse colocar-se sob o meu quei- xo; obedeceu, e eu nao percebi nenhum movimen- to, mas, inclinado-me bruscamente, senti com ni- tidez a mao que o sustinha. Declarei isto, mas me explicaram que era a mao de Maturin. Perguntei © que aconteceria se eu tomasse aquela mao e a 12 examinasse 4 luz de uma pequena lanterna elétrica. “Oh! — exclamou 0 coronel — pode acontecer que a médium seja tomada de uma crise violenta, de que venha a morrer!” Eu nao quis colocar em pe- rigo os dias de uma senhora que, em sua casa, me oferecera acticar, um grogue e atracées tio origi- nais... Nao insisti. Quando se acendeu a luz, um dos espiritos, que vagavam no ar, refugiou-se na mao de uma das filhas da médium e lhe fez es- crever, a meu respeito, uma série de profecias agradaveis, que alias nunca se realizaram. . .” (Jux- ta Lucien Roure, op. cit., p. 212 a 214). Edmundo Perrier, fino e galante escritor, com- preendeu o que se passou nesta sessao e oS es- forcos da amavel dona da casa, a procurar, no meio das trevas, dar-Ihe uma impressio agra- davel... Entretanto, um espirita crente sairia di- zendo que viu e ouviu espiritos. . . CAPITULO III OS FENOMENOS ESPIRITAS E 0 SEU VALOR CIENTIFICO Nada menos propicio 4s pesquisas cientificas do que os fenémenos espiritas. E isto por dois mo- tivos ébvios e flagrantes. 1) A condigao primaria para as pesquisas de carater cientifico é a luz, 0 minucioso exame, 0 rigoroso controle do meio, do sujeito e dos ob- jetos, onde e sobre que se fazem as experién- cias, a fim de se colherem resultados nitidos e incontestaveis. Ora, precisamente a condicao imprescindivel para que se produzam os fenémenos espiritas é a escuridao. O cenario das sessdes é invariavelmen- te uma sala escura com cabine secreta dotada de cortinas (aonde aliads nem sempre é impossivel a introducao clandestina de um conivente do mé- dium). Exige-se sobretudo treva: “Meno luce!” — re- petia incessantemente a célebre médium Eusa- pia Paladino. Em Paris, esta fez varias sessdes, no Institut Général Psychologique, sob o controle dos cientistas Youriévitch, Pourtier, d’Arsonval, Charles Richet, Bergson, Curie e sua esposa. Ve- 14 rificaram-se fendmenos esquisitos. Al que se batesse uma fotografia, com uma lampada elétrica, em meio a sessio, mas ela se opés, ale- gando que qualquer luz, naquele momento, the seria prejudicial (De fato...), Entretanto bateu-se a chapa, de surpresa, e ficou demonstrado que era ela mesma quem soer- guia a mesa com quatro dedos, enquanto em sua fi- sionomia tinha um sorriso irénico (Conf. Boletim do Instituto, Noy. e Dez. de 1908). Allan Kardee acha que “lobscurité nécessai- re a la production de certains effets physiques pré- te sans doute a la suspicion, mais ne prouve rien contre la réalité” (Qu’est-ce le Spiritisme? p. 133). Eu lho concedo. Noto, apenas, que tal escuridade destoa dos foros cientificos, que se atribui o espi- ritismo. Alias, nao é meu intuito negar certas rea- lidades espiritas. N. Vaschide, depois de obser- var que as fotografias dos espectros espiritas tém geralmente a inexpressdo das estatuas ou mascaras, quando nao se apresentam com o rosto velado, lembra que, assim como para a revelacao fotogra- fica se faz mister a auséncia de luz, assim tam- bém talvez sejam necessarias trevas 4s materiali- zacoes espiritas. Mas Lucien Roure acha um tanto dificil introduzirem-se, na Ciéncia, esses fantasmas, apés tio mal acabadas experiéncias. E que dizer dos sabios, que, conhecedores dos tramites cientificos, aceitaram tais fendmenos? Uma observacéo parece oportuna, a respeito: O sibio €m qualquer ramo de Ciéncia nao o é, por isto mes- ™o, em outro setor de conhecimentos. Um 6timo iguém propés 15 astronomo bem pode ignorar completamente a me- dicina ou a psicologia. E, sobretudo, qualquer de- les pode desconhecer por inteiro os truques da prestidigitagao. Cita-se frequentemente o caso de William Croo- kes, da Real Sociedade de Londres, ter reconhe- cido o desdobramento pessoal de miss Cook em miss Katie. Quando, porém, se lé a exposigaéo de W. Croo- kes, pasma-se da extrema credulidade do bondoso sabio. Sempre que esti com miss Cook, desapa- rece miss Katie e vice-versa, ou ele escuta apenas a voz da outra. So uma vez esteve diante das duas simultaneamente. Examinou miss Cook, as escu- ras, pegando-lhe na mao e, quando se julga que ele vai examinar a outra figura, ele se retira cui- dadosamente (!). Lucien Roure acha que ele nao poderia ter sido mais “discreto e galante...” Isto talvez o diga por litotes, para nao repetir o que foi dito com certa insisténcia e recato, isto é, que 0 ilustre homem de ciéncia estava enamorado pela jovem. Seja como for, o que nao ha em seu re- latério é a minima alusdo ou suspeita sobre estas coisas muito simples: prestidigitagao, transformis- mo e ventriloquia. E’ de notar o chamariz com que os espiritas arrastam os homens de letras ao seu credo: 0 sentimento. Coelho Neto perde um filho, esta in- consoliyel; o espiritismo Ihe promete constante comunicagio com o ente querido. Mas sentimento € uma explicagio, nao uma razao cientifica. 2) E’ sabido que cada principio de ciéncia re- 16 presenta o resultado de uma série de efeitos idén- ticos produzidos pelas mesmas causas, nas mes- mas cireustancias. Ora, nada mais infinitamente variavel do que os fendmenos espiritas provindos das mesmas cau- sas e nas mesmas circunstincias: mesas que se ar- rastam e que se erguem, objetos que se levantam e que tombam, vozes lancinantes e estridulas, gritos de pavor, desmaios e esgares, instrumentos que vibram, fenédmenos subjetivos do médium, quanto aos quais é bem dificil determinar 0 que é pro- duzido por causa estranha e 0 que deriva de sua vontade ou capricho. As vezes, as mesmas cau- sas Nas mesmas circunstancias nada produzem. Vem a pélo o parecer da comissao delegada pela Academia de Medicina de Paris, a respeito das demonstragdes do dr. Luys, que pretendia efetuar curas 4 distancia com substincias medici- nais, por influéncias meditinicas ou hipnoticas: “La commission estime que les effets produits... paraissent dependre plus des caprices, de la fan- taisie et du souvenir du sujet en experience que des substances médicamenteuses” (Cf. Bulletin de l Académie de Médicine, de 1888). No mesmo engano (de equiparar os fenéme- Nos espiritas aos cientificos) parece ter incidido o - coronel Rocha com a sua teoria da exterioriza- so ou sincronizacio da sensibilidade, utilizando- se de um médium e de uma estatueta. Apés 0 fracasso de uma demonstra¢ao, em sua residéncia, diante de alguns médicos e eclesidsticos por ele con- vidados, explicou terem tais fendmenos resultados A Tusio — 2 17 irregulares, indefinidos e caprichosos, que nao caem sob o controle humano, como a eletricidade e 9 magnetismo, © que os assistentes Ihe concederam graciosamente, evilando fazer qualquer insistén- cia, porque... a cortesia tem suas regras. Mas o que nos interessa principalmente é sa- ber em que os fendmenos espiritas foram tteis a ciéncia. Sendo os espiritos muito superiores aos seres mortais, pois suas faculdades intelectivas nao sofrem os embaragos dos érgaos corpéreos, pos- suem conhecimentos que nos falecem e tém incom- paravel facilidade em captar e resolver os pro- blemas, em que nos debatemos. E, por que, nesse convivio tao familiar das sessdes e evocacées, nao elucidam as grandes questées cientificas que preo- cupam o género humano, como a pluralidade dos mundos habitados, a duracgdo de nosso planeta, a época do aparecimento do homem sobre a terra, o futuro da humanidade, etc.? Allan Kardec (Le livre des Esprits) refere as respostas obtidas a tais perguntas e vé-se que séo menos do que sibilinas — sao evasivas. Nunca um espirito nos veio trazer uma des- coberta cientifica, um esclarecimento histérico, um medicamento para as moléstias havidas por incura- veis. O que indicam as suas mensagens sfo os re- médios do nosso conhecimento (ou do conhecimeD- to do médium), manipulados em nossos laborat& rios. Sera que, no mundo de além, nada se conhe- ga afora os produtos Bayer ou Raul Leite? “Mais, en somme, pergunta Lucien, quel ava tage peut nous procurer leur commerce?” 18 CAPITULO IV OS FENOMENOS ESP{RITAS E O SEU VALOR HISTORICO 0 espiritismo, qua talis, é quase tio antigo co- mo a propria humanidade. Apenas seus fendme- nos tém sofrido alteracdes nominais: Necromancia, magia, goetia (do grego goes, feiticeiro), ou ma- gia negra, teurgia (do grego theds, deus, e ergon, trabalho), isto é, agéo divina ou magia branca, feiticaria, bruxaria, espiritismo, sao tudo denomi- nagées varias, com que através dos séculos se tem significado a mesma coisa, ou seja o comércio com as almas dos mortos ou com espiritos de qualquer casta. Tal comércio se tem feito sempre por inter- médio de alguma pessoa ou objeto, cujas desig- nagdes se sucedem no correr dos tempos, tais co- mo ordculo, mago, pitonisa e, mais modernamente, médium. Se consultarmos a histéria dos povos mais an- tigos, como os babilénios, os persas e os etruscos, verificaremos que eles praticaram a necromancia. Herddoto, Sécrates e Plat&io referem tal comér- cio com as almas dos mortos (Cf. Los fendmenos misteriosos del psiquismo, Poot, p. 249). ea 19 Plutarco narra que Calandas evocou 0 espj. rito de Aquilau, por ele assassinado (De sera Ny. minis vindicta, 17). Cicero informa que seu amigo Apio mantinha relagdes com os mortos (Tuse. 1). Conforme T4. cito (Anais, 11, 28), Druso evocava almas do mun. do inferior e a mesma informagao prestam, de Nero, Sueténio (24) e Plinio Sénior (Hist. Nat, XXX, 5), bem como de Caracala. Lucano (Farsalia, 6) e Dion. Cassio (77, 15) afirmam que Sexto Pompeu consultou o magico Ericto, de Tessdlia, para saber o resultado da luta entre seu pai e César. Horacio faz referén- cias desse género (Sdtiras, 1, 8, 25). ~~ Qutrossim, a Histéria registou a existéncia de célebres oraculos, como o de Tropdzia, da Gré- cia, junto ao rio Aqueronte, e Sibila, de Cumas, nas margens do lago Averno, onde, escreve Cice- ro, emergiam as sombras dos mortos (hoje, espec- tros ou ectoplasmas), ainda ensanguentadas (Tusc. 1, 16). Na india, os ginossofistas evocam as almas dos defuntos, utilizando-se de mesas falantes. Entre os israelitas praticava-se também a ne cromancia (Deut. XVIII, 10; Ley, XX, 21; Liv: dos Reis 1, 28, 7 e 8), nao obstante as sever’ proibigdes divinas (Deut. XIX, 10). Saul, v. esteve com a Pitonisa de Endor, rogando-lhe qué evocasse a alma de Samuel, a fim de saber ° proximo resultado de uma batalha com os fr 20 listeus e recebeu a resposta de que perderia a guerra *. Nos primeiros dias do cristianismo, encontra- mos o caso de Simao Mago, expulso da Igreja, 7 causa de seus sucessos diabdlicos. (Atos dos Apost. VIII, 9-29 e S. Justino, Prim. Apolog. 26). No século II, Tertuliano denuncia praticas es- piritas, que em nada diferem das atuais. Fala dos médiuns, que suscitam espectros (fantasmata edunt) e desrespeitam os mortos (ef jam defunc- torum infamant animas); que produzem transes nas criangas para obter comunicagdes (pueros in eloquium oraculi elidunt); que sabem causar 0 so- no (somnia immittunt) e que, por influéncia dia- bolica, conseguem respostas de mesas e animais (per daemones caprae et mensae devinare con- suerunt). Entretanto, salienta j4 o uso das fraudes (multa miracula circulatoriis praestigiis ludunt). Durante toda a idade média, pompeou a bru- xaria ou feiticaria em todas as classes sociais, sem excetuar a nobreza. No século XVIII, a Europa foi agitada pelos tremores de Cévennes e pelas perturbagoes do cemitério de S. Medardo, em Paris. No meio do século passado (1847), no lugar Hydesville, perto da cidade de Arcadia, Condado — .,,1) Divergem os exegetas na interpretagao deste epi- Sédio. Acham alguns, como S. Jerénimo e Teodureto, que a aparicio foi falsa e que Saul foi enganado. Ou- tros atribuem o fdto a arte diabdlica, como S. Basilio, S. Gregorio de Nissa e Tertuliano. A maioria, porém, julga © fato real, por permissao divina, para confu- S80 © castigo de Saul, tais como Josefo, S. Justino, Ori- Benes e Sto, Ambrosio. 21 de Wayne, Estado de Nova York, nos Estados Unidos, nasceu o espiritismo, na forma atual. Em casa dita “mal assombrada”, residia o pastor pro- testante dr. Joao Fox, casado com Margarida Fox, tendo em sua companhia duas filhas: Margari- da (Maggie), com 16 anos e Catarina (Katie) ainda mais jovem. O casal possuia também dois filhos de idade superior — David e Lia, que residiam fora. Certa noite, as duas meninas ouviram os mesmos ruidos que dali haviam afugentado os antigos inquilinos. Maggie correspondeu com pan- cadas e convidou o agente ignoto a responder a suas perguntas com dois golpes no caso afirmativo e€ com um sé no caso negativo. Encetou-se uma conversacgao em que ficou de- clarado vagar por ali o espirito de Carlos Rayan, assassinado e sepultado na dita casa. Foi decla- rado também o nome do assassino, o qual entre- tanto negou conhecer tal fato, ao ser interrogado pela policia, que tudo investigou e nenhum vesti- gio encontrou do denunciado crime. Tal foi o ini- cio do movimento espirita, que em breve empol- gou todo o pais e, anos mais tarde, se propalou por toda a Europa, com a rapidez das epidemias. : 40 anos depois, Margarida Fox concedeu ao jornal New-York Herald esta entrevista: “Quando © espiritismo principiou, Katie e eu éramos crian- gas € minha irma mais velha servia-se de nés como instrumentos. Nossa mie era simploria e fanatica- Dou-lhe este epiteto, porque de boa fé acreditava nessas coisas. O espiritismo surgiu de um nada- Eramos criancas inocentes. 22 “Que é que sabiamos? Eu sabia, entio, certa- mente que cada fato que nds apresentayamos era pura fraude. Néo obstante, tenho procurado o desconhecido quanto pode fazé-lo a vontade hu- mana. Fui aos mortos a fim de saber deles um in- dicio, por pequeno que fosse. Nunca me veio na- da de 14 — nunca!” E declarou Catarina: “O es- piritismo é um logro do principio ao fim. E’ o maior logro do século! Maggie e eu fizemo-lo surgir quan- do criangas; éramos muito novas e inocentes, para compreender o que faziamos. Nossa irma Lia tinha 23 anos mais do que nés. Achamo-nos no caminho da mistificagaéo e continuamos nele, como era na- tural”. Isto foi em Setembro de 1888. Em Outubro do mesmo ano Maggie apresentou-se no palco da Aca- demia de Musica de Nova York, perante um gran- de puiblico e assim falou: “Estou aqui esta noite, eu, uma das fundadoras do espiritismo, para denun- cia-lo como pura falsidade de principio a fim, co- mo a mais frivola das supersticgdes, como a mais iniqua blasfémia conhecida no mundo”. Em seguida explicou como conseguiam, ela e sua irma, formar os estalidos ou pancadas, ora com os dedos dos pés ou das mfos, ora por meio de macs atadas ocultamente a cordéis. No dia seguinte, o Jornal de Nova York, World, referia o fato: “...Um simples tamborete ou me- Sinha de madeira, descansando sobre 4 pés curtos € tendo as propriedades de uma caixa de resso- nancia, foi colocado diante dela. Tirando o cal- Sado, ela colocou o pé direito sobre a mesinha, os 23 assistentes pareciam conter a respiragao e esse gran- de siléncio foi recompensado por uma quantidade de estalidos breves € sonoros: os tais sons misterio- sos, que, por mais de 40 anos, tém assustado e de- sorientado centenas de milhares de pessoas, em nosso pais e na Europa. Uma comissio composta de trés médicos, escolhidos entre os assistentes, subiu ao palco e examinando o pé durante 0 som das “pancadinhas”, concordou, sem hesitar, que os sons eram produzidos pela acéo da primeira junta do dedo grande do pé”. Todavia, um ano depois, as irmas Fox des- mentiram publicamente sua entrevista, declarando terem agido sob ameacas de personalidades ca- tolicas, que as pretendiam internar num conven- to. Mas, como seu pai e elas morreram por exces- sos alcodlicos, supée-se que talvez se tratasse de coloca-las em algum asilo para mulheres alcodli- cas, Eis o que, de Catarina Fox, disse o Jornal Washington Daily Star, de 7-3-1893. “A casa n. 456 Oeste da rua 57, Nova York, se encontra atual- mente quase deserta. Apenas um de seus quartos esta ocupado; habita-o uma mulher que orca pe- los seus 60 anos; verdadeira ruina mental e fisi- vadkiong ae vive da caridade publica e sé tem Hcores intoxicantes. O rosto, em que Se da idade e de uma vida ae aissa inal ea que a8 mulher foi bela. lacios e as cortes Aan sale Peausiiva 7. a - As faculdades desse espirito fo- 24 ram admiradas e estudadas pelo sibios da Amé. rica e da Europa. O nome dessa mulher tornon-se aiternativamente célebre: cantado ou ridiculari- ado numa dizia de linguas, Esses labios, que, hoje 9 articulam banalidades, promulgaram outrora a doutrina de “religiao nova”, que conta ainda seus adeptos e seus admiradores por dezenas de milhares”. No jornal espirita Medium and Davbreak, de 28-3-1893, léem-se as seguintes palavras sobre Ca- tarina Fox, escritas pelo seu correligionario Ja- mes Burns: “Temos aqui debaixo de nossas vis- tas um espetaculo duplamente surpreendente: uma mulher que transmite aos outros manifestagdes es- pirituais e que, em si mesma, esta, sob 0 aspecto es- piritual, perdida e extraviada. JA nao tem nem sen- so moral, nem dominio sobre seus pensamentos, nem desejos. Em tais circunstancias — sem falarmos da embriaguez, da sensualidade, da degenerescéncia moral sob todas as formas — sera de admirar que “essa espécie de coisa” tenha multiplicado os es- candalos e tenha deixado, no decurso de seus 45 anos, um montiéo de imundicies?” E assim terminaram os seus dias as fundado- ras do moderno espiritismo. CAPITULO V OS FENOMENOS ESPiRITAS E SEU VALOR DOUTRINARIO Apés suas vitorias no Egito, Napolefo foi cha- mado a assumir o governo de sua Patria, a fim de soerguer nova Franca sobre os escombros da revolucao que tudo destruira. Uma de suas primei- ras preocupagées foi dotar o pais com uma re- ligido. O olhar perspicaz do Corso percebeu, de logo, que a religiao é o mais forte liame de ordem e de coesao nacional. Uma dificuldade, porém, o deteve: qual reli- giao adotar? O ministro inglés Pitt propusera-lhe oficializar o protestantismo, prometendo-lhe 0 apoio da Inglaterra. Mas ao consul niio pareceu de bom conselho tal alianga. A “Igreja convencional” fez- The também propostas. E, certo dia, apareceram- lhe os teofilantropos. A teofilantropia era a reli- giao fundada por Laréveillére-Lepeaux, de per- feito acordo com o paladar revolucionario. Sua instituigdo fora muito simples. Robespierre, sobra- cando um “bouquet” de flores, acompanhado de Laréveillére-Lepeaux em vestes brancas, —gra- vara no frontispicio de um templo estas palavras: 26 “Le peuple francais reconnait Vexistence de Supréme”. Entretanto, Laréveillére. xava-se, depois, a Barras do insucesso e nenhum progresso de sua religido, apesar de comoda e atra- ente, pois adotava miisicas alegres, bailados coreo- graficos, etc... Barras deu-lhe um conselho: “Citoyen collé- gue, tenez-vous sérieusement 4 reussir comme Je- sus-Crist? C'est simple, faites comme lui. Faites vous crucifier un vendredi et tachez ressusciter le dimanche”. Uma gargalhada da plebe sepul- tara a nova religiao, e o Imperador nao quis exu- ma-la. Limitou-se a perguntar: Quantos sois? E eles lhe responderam: Quatrocentos. Napoleéo retor- quiu: Como poderei impor ao povo a religiao de apenas quatrocentos adeptos?! E adotou a Re- ligido Catdélica, “por ser a religiado da maioria do povo francés e por ser a minha religiao”. Deste episéddio, pretendo fazer apenas uma observacao, isto é, que Allan Kardec, para fun- dar sua religiao, no seguiu o conselho de Barras. Sua investidura, entretanto, foi bem original. A 30 de Abril de 1856, uma cesta passou-lhe o respectivo diploma de fundador do novo credo, escrevendo, entre outras, estas palavras: “Tout sera détruit... If n’y aura plus religion et il en faudra une, mais vraie, grande, belle e digne du Créateur... Les prémiers fondements en sont déja posés. Toi, Rivail, ta mission est 14”. . Um ano mais tarde, em Maio de 1857, a mé- dium vidente, Mme. de Cardonne, lhe revelou ainda: Etre -Lepeaux quei- 27 “Vous étes plus fail pour devenir le centre de déve- loppement immense, que capable de travaux isolés. .. Vos yeux ont le regard de la pensée... Je vois ici le signe de la tiare spirituelle. I est prononcé... regar- dez”. E refere ele, candidamente: “Je regardai et ne vis rien de particulier”. Apesar disso, perguntou, um tanto céptico ante a estranha tiara, com que se Ihe queria cingir a fronte sonhadora: “Qu’entendez-vous par tiare spirituelle? Voulez-vous dire que je serai pape? Si cela devait étre, ce serait cer- tainement pas dans cette existence”. Mas a vidente explicou-lhe: “Regardez que j’ai dit liare spirituelle, ce qui veut dire autorité morale et religieuse, et non pas souveraineté effective”. E foi assim que Leao Hipdlito Denizart Rivail foi sagrado papa do espiritismo, recebendo a tia- ra espiritual das maos de Madame de Cardonne, e passou a chamar-se Allan Kardec, nome que os espiritos lhe revelaram ou que ele imaginou ter si- do o de sua antiga encarnacio, quando fora um poeta celta (cuja existéncia constitui mera hipo- tese gratuita). _ Nao discuto onde se teria decidido envolver Rivail em assuntos de tao leviana gravidade. 0 certo € que, assumindo o exercicio de suas atribui- oes papais, Allan Kardec tratou de escrever uma serie de livros, codifieando 0s pontos cardeais da ae doutrina ou filosofia, a qual assim pode set ators Deus, para conduzir a humanidade 2° indivi, 10 supremo, fez-lhe trés revelagdes: duas ais e uma coletiva, a saber, a de Moisés, # 28 de Jesus Cristo e a das mensagens ou comunicacdes espiritas. A lei de Jesus ab-rogou a lei de Moisés ¢ as comunicagdes espiritas ab-rogam as leis de Jesus, isto é, as leis da Igreja, porque esta ja niio pode acompanhar o progresso da ciéncia e quer ape- nas dinheiro. Nada de inferno. As almas foram criadas por Deus e langadas no espaco, onde, por sucessivas encarnagées, vio atingindo a per- feicio necessaria para entrar na posse de Deus. Entretanto, elas se comunicam com os homens, a fim de instrui-los e informa-los, através dos médiuns, servindo-se do perispirito ou fluido vital, de que sao revestidas. A tinica lei moral é a cari- dade. Examinemos sucintamente estes pontos doutri- narios do espiritismo e consideremos a sua in- consisténcia légica: 1) As evocagdes. 2) A reen- carnagio. 3) O perispirito ou fluido vital. Antes de entrar na apreciacao dos trés pon- tes baisicos da doutrina espirita, convém notar que, segundo os auxiliares, de que se serviu Allan Kardec para a confecc&io do corpo doutrinario espirita, tais teorias apenas reproduzem as idéias do préprio Kardec e dos ditos auxiliares, isto é, sio frutos de suas leituras e conhecimentos. Nada mais. Nao ha, nas mensagens que a originam, re- velacio de alguma doutrina até entéo desconhe- cida. Diz o médium Douglas Home: “As revelagoes de Kardee niio passam de suas proprias idéias impostas aos médiuns (pois cle era magnetiza- 29 dor) e por ele depois corrigidas” (Cf. Guenon, L'er- reur spirite, p. 34). O dr. Dechambre diz que é manifesta a in- fluéncia de Fourier e Pierre Leroux nas idéias de reencarnagio e evolucionismo, que se encon- tram nas revelagées kardecistas (Ibidem). Num artigo de Flammarion, em Annales poli- tiques et parlamentaires (7-5-1899), lé-se a seguin- te gravissima confissio: “J’ai été moi-méme le médium ect Allan Kardee a publié, dans son livre de la Genése, les dissertations que j’écrivais et que signais Galilée. Elles sont, de toute évidence, le reflet de ce que je savais, de ce que nous pen- sions a cette époque sur les planétes, sur les étoi- les, sur la cosmogonie, ete. Elles n’ont rien appris”. Faz notar que o espirito que se entretinha com Vitor Hugo, em Jersei, sob o nome de Ombre du Sépulcre, era o proprio Vitor Hugo dando respos- tas a si mesmo. Victorien Sardou, que, ao surgir do espiritismo, se entregava avidamente aos estudos de filoso- fia, metafisica e astronomia, tendo-se encontra- do um dia, em Paris, na residénéia de Mme. Ja- phet com Allan Kardec, escreveu: Lorsque, de concert avec lui nous demandames esprit pré- sent de déterminer la base du dogme spirite, c'est moi qui rétablis — guidé par mes lectures — le Sena, sles: renoaags mal interpretées ou obscures ells et je dictai ainsi, en trois’ séances; ero de la doctrine qu’Allan Kardec devait, par la suite, développer”. Com razao observou Lucien Roure; “Au sul 30 plus, c'est par emprunts que le spiritisme doctri- nal c’est constitué, c’est d’emprunts qu'il vit. Avant Allan Kardec et les esprits, Jean Reynant, Pierre Leroux, Charles Fourier, Eugéne Sue ont pro- fessé la métempsycose ou la migration des ames. Le spiritisme les a suivi” (Op. cit., p. 346). Acresce que as nocées de Deus e de alma, eles as colheram na Biblia, deturpando-as. A idéia de Deus juntam nogGes panteistas e a alma, no- goes materialistas, em que pese o seu espiritis- mo. Sobre Deus, disse Léon Dénis, um dos fun- dadores da seita: “Para nés, a idéia de Deus nao exprime a idéia de um ser qualquer, mas a idéia do ser que contém todos os outros seres. O mun- do renova-se incessantemente em suas partes; o todo é eterno....” (Aprés la mort, p. 144, 145). Sobre a alma, disse Allan Kardee: “Nao sabe- mos se 0 principio inteligente tem a mesma ori- gem que a matéria... ou se é uma emanacao da Divindade” (Le livre des Esprits, p. 12). “E’ me- nos exato dizer que os espiritos sao imateriais. . - porque o espirito, sendo uma criacio, deve ser al- guma coisa: é a quinta-esséncia da maléria (Ibi- dem, 78, 82), ne E 0 mais original é que tal doutrina se intitula “Espiritismo”. AS EVOCAGGES. ESPIRITAS A velha pretensio de manter relagdes com 0s mortos nfo encontra base légica nem na ae Necromancia nem no moderno espiritismo, pelas razoes seguintes: 31 1) Sabemos, pela filosofia, que o homem é um composto de duas substancias incompletas e unidas, a saber, alma e corpo. A alma anima 0 corpo, e este, por meio de seus aparelhos orga- nicos (os cincos sentidos externos), fornece a al- ma as imagens ou idéias com que ela forma os seus conhecimentos. O corpo sem a alma é ca- daver. E a alma sem o corpo fica privada de obter novos conhecimentos fisicos ou de entrar em re- lagdo com o mundo fisico, 0 que s6 seria pos- sivel aos puros espiritos, isto é, aos espiritos criados como substincias completas em si mesmas, sem dependéncia de qualquer outra substancia. Digo “novos conhecimentos fisicos”, porque a alma se- parada do corpo podera receber conhecimentos sobrenaturais e os recebe na visao beatifica de Deus. Mas com o mundo material ela sé se po- deria comunicar por especial permissio ou dis- posigio do Criador, de quem exclusivamente pas- sa a depender. A alma separada do corpo, com a morte, no tem, pois, conhecimento do que se passa nas ses- sdes espiritas e muito menos pode a elas com- eae aca corpos € pessoas dotadas de 4 So repugna aos principios filosdfi- cos, que estudamos na antropologia. ee aes espirita colide flagrantemente os espiritas es valle an fy sip eae aa 4 a alma, apés a morte, volta 2 alé aleancas emer aeeneannn sucessivamente to. Ora, se a alina inado grau de aperfeigoamen- * volta a encarnar-se, apos a mor- 32 te, como podera assim reencarnada comparecer is sessdes espiritas e ai cometer as traquinadas que se lhe atribuem? 3) Mas a grande e insoltivel dificuldade das evocagdes espiritas consiste na identificacio des- ses espiritos, que se comunicam. Como identificar que 0 espirito que se diz a alma de A ou de B seja de fato a alma de A ou de B e nfo outro espi- rito? Muito se tem feito para conseguir uma iden- tificacio nitida e incontestavel. Mas, segundo o depoimento de eminentes. espiritas, tudo tem si- do baldado. F. W. Meyers, membro da Sociedade de Pes- quisas Psiquicas de Londres, sentindo-se perto de morrer, escreveu uma mensagem, fechou-a num envelope espesso, selou-o e o entregou a Sir Oliver Lodge, membro da mesma entidade cientifica, ro- gando-Ihe que o guardasse em lugar seguro, pois, apds a morte, viria repetir a mesma mensagem através de um médium e assim se teria uma pro- va irretorquivel de identidade. Lodge depositou o envelope no cofre de um banco de Birmingham, e combinou com Marcel Mangin as precaugdes a serem tomadas para que se efetuasse a prova com absoluta garantia. E’ claro que ninguém sabia o contetido da mensa- gem. Isto foi em 1891. Em 1901 faleceu Meyers. Por varias yezes Lodge tentou comunicar-se com ele, através da médium senhorita Piper, nada con- seguindo. Em Dezembro de 1904, a sra. Verral, que nfo era médium profissional, mas praticava escrita automatica, comunicou ter recebido um ser que A Musio — 3 33 se dizia o falecido Meyers. Sir Oliver Lodge con- yocou uma comissio da S. P. P. e diante dela, es- tando em funciéo a médium, foi aberto o docu- mento de Meyers. Verificaram os presentes que nao havia a mi- nima semelhanca entre a mensagem deixada por Meyers e a escrita automatica de Verral. Lodge desculpou seu amigo Meyers, dizendo que este se esquecera do que havia escrito... Outras tentativas deste género nao tém pro- duzido melhor resultado. Lombroso, v. g., prometeu que, depois da mor- te, traria uma prova de identidade, mas nunca a trouxe, talvez também por esquecimento... 0 caso de Hodgson, que Poot supde verdadeiro, foi desmentido pelo professor Hyslop e por E. Funk (Conf. Grasset, Idées médicales, p. 155). Alias, varios médiuns tém declarado catego- ricamente que nunca se conseguiu identificar es- pirito algum. Oucamo-los. Camilo Flammarion atestou: “Nenhuma iden- tificagao ja se fez satisfatoriamente” (Forgas na- turais desconhecidas, p, 583). “Em vao procurei até aqui prova certa de identidade nas comunica- ges medilinicas” (Ibidem, p. 598). L. P. Jacks, professor de Oxford, presidente da S. P. P., afirmou: “Na minha opiniao, o pro- blema da identidade pessoal completa deve ser examinado e pesado detidamente, antes que C0 mecemos a produzir provas em favor da ide? lidade” (Juxta Godfrey Raupert). A. Conan Doyle observou: “Vés estais numé 34 extremidade do telefone; mas nfo sabeis com cer- teza quem esta na outra extremidade” (The New Revelation, p. 21). Aksad definiu: “A prova ab- soluta de identidade para as personalidades que se manifestam é impossivel” (Animisme et Spi- ritisme, p. 623). Gastio Mery opinou: “Seré possivel que um espirito evocado dé provas de sua identidade? Nao o julgo possivel” (Echo du merveilleuz, p. 63, 1906). 4) Alguns médiuns tém mesmo confessado ine- quivocamente que nao sao almas de mortos que se manifestam nas sessdes espiritas. O célebre médium Daniel Douglas Home, pou- co antes de morrer, esclareceu a seu médico Dr. Filipe David: “A verdade é que essa multidao de espiritos, diante dos quais se ajoelham as almas crédulas e supersticiosas, nunca existiram. Eu, pe- lo menos, nunca os encontrei em meu caminho. Ser- vi-me deles para dar as minhas experiéncias essa aparéncia de mistério que sempre agradou As mas- sas, sobretudo as mulheres, mas nunca acreditei em sua intervencaio nos fendmenos que produzi e que eram atribuidos a influéncias de além-ti- mulo. Como poderia eu acreditar neles? Sempre fiz dizer aos objetos que eu influenciava com 0 meu fluido tudo o que me agradava. Nao, um médium nao pode crer nos espiritos. F’ mesmo ° unico que nfo pode crer neles! Como 0 antigo Drui- da, que se ocultava no tronco do caryalho pare fazer ouvir a voz temida do deus Teutalis, 0 médium nao pode crer em seres que nao exis- ae 35 tem senio por sua vontade” (La fin du monde des esprits, Filipe David, p. 171). Camilo Flammarion nao foi menos explicito: “De que espécie sao esses seres? Nenhuma idéia podemos ter a tal respeito. Almas dos mortos? Estamos longe de dar prova disso. Minhas ob- servagoes de mais de 40 anos provam o contrario” (Op. cit., p. 583). 5) Os proprios espiritos, que se manifestam nas sessdes, mais de uma vez tém afirmado que nao sio almas dos mortos. Refere Godfrey Rau- pert que, estando sériamente preocupado com o problema da identidade dos espiritos manifestan- tes, realizava continuas sessdes em casa amiga, tomadas todas as precaugdes para evitar engano. Certa vez, manifestou-se um espirito dizendo ser o de um seu amigo e conhecido dos presen- tes, T. J. Pelas repetidas comunicagées, todos es- tavam ja suficientemente convencidos da iden- tidade, menos ele, o pesquisador. Em dado mo- mento, o espirito cometeu um equivoco. Raupert demonstrou-lhe a inverdade e, levantando-se, im- pos: “Pergunto-te, em nome de Deus, és realmente o falecido T. J.? A resposta foi imediata: Nao. — Entao, pergunto-te, em nome de Deus: On- de obtiveste informagdes, que te tornaram p0s- sivel esta fraude? — Na propria caixa bronca do vosso pensa- mento. Estais sentados ai como idiotas em situa- Gao passiva e eu leio as vossas idéias quase tao Seguradamente como vés, uma pagina de voss° 36 Novo Testamento (Conf. Raupert, O Espiritismo, p. 30 e 31). : O sr. Dejardins, célebre espirita de Angers, na Franga, narra como abandonou o espiritismo, Fazia ele constantes evocagées por intermédio de sua esposa. Tendo evocado, uma tarde, o espiri- to de sua mae, depois de alguns momentos de con- versa, duvidou da identidade do interlocutor, En- tho perguntou: — Queres me dizer 0 teu nome? — Nao. — Por qué? — Nao. — Forecar-te-ei. — Nao. Depois de alguns esforcos, conseguiu colocar um terco sobre a mesa e o espirito: — Rio-me de teu tergo. — Nao tens medo de meu tergo? — Nao. Ele colocou o terco sobre a mfo da médium, que resistia fortemente e a mesa bateu: — Partir. — Queres partir? — Sim. — Quem te faz sofrer? — Teu tergo. — Tu nfo gostas do tergo? — Nao. — Queres sofrer? — Sim. — Em nome de N. S. Jesus Cristo, ordeno-te que me digas quem és. 37 — Satanas. — Tu és Satanas? — Sim. — Quem te forga a confessar? — Deus, ~ — Entféo cada vez que Mas sessoes espiritas consultamos nossos pais, nossos amigos defuntos, eras tu que, para melhor nos enganar, te mani- festavas? — Sim. — Quais os nomes que tomavas? — Os de teu pai, de tua mie, de teus tios, de tais e tais pessoas... — E eras tu sempre? — Sim. — Qual era o fim que tinhas com isso? — Perder-te, seduzir-te. — Pois estas enganado, salvaste-me. Eu tinha até entaéo algumas dtividas sobre minha religiio, mas hoje acabaram-se. E para melhor te pro- var que perdeste o teu tempo, eu e minha mu- lher iremos nos confessar e comungar pelo Natal (Conf. Astral, O espiritismo idiante da ciéncia, da moral e da religido, p. 33, Baia 1899). A mim mesmo uma piedosa senhora narrou, em Teresina, que, tendo uma sua amiga ingres sado no espiritismo, ela fez-lhe uma visita dU- ponte a qual aconselhou-a encarecidamente a aba ih acta ce pois sio condenadas pela Igre- gao. Mas a cise a so7 st postolado a oy Piritas, falava Se epee Se gS BEE ee ‘ seus parentes e que isto The 38 proporcionava muito consolo, Ela Propés A dissi dente que, quando se manifestasse qualquer eas pirito dizendo-se seu parente, esta rogasse instante- mente a Deus que, a fim de melhor orienté-la no caminho da salvac&o eterna, fizesse declarar sey verdadeiro nome. E assim aconteceu. No momento em que o médium comegou a escrever afirman- do ser o espirito de um seu parente, a transfuga orou, com fervor, a Deus que obrigasse o mes- mo a declarar quem era. Imediatamente o médium interrompeu a escrita e assinou: Satands. Como, pois, acreditar que as almas dos mor- tos se manifestam nas sessdes espiritas, se isto repugna aos principios da filosofia, se esta em conflito com a mesma doutrina do espiritismo, se nunca ninguém conseguiu identificar uma des- sas almas e se os préprios espiritos manifestantes, quando intimados em nome de Deus, confessam que nao sao almas de mortos? A REENCARNACAO Nenhuma teoria religiosa é mais antiga do que a reencarnagdo, que tem recebido no fluir dos séculos varias denominagées, tais como, pa- lingenesia — nova existéncia, metempsicose — transmigracao da alma ou metassomatose _— ma danca de corpo. Pitagoras € Platao figuram e! tre seus mais remotos adeptos; Lessing, Sean Jennyus e Fournier, entre os mals pacenloaiaa ot a este Ultimo que Allan Kardec se filiou pai confeccio de seu sistema doutrinario. 39 Entretanto, nenhuma teoria é menos subsis- tente, pois contradiz os mais comezinhos princi- pios da antropologia (sobretudo no que:concerne a psicologia), da moral, da justiga e da_ prépria Escritura, em que modernamente se tem preten- dido apoiar. 1) A reencarnagio supé6e que a alma existe antes do corpo. Mas a alma humana é uma subs- tancia incompleta, criada para formar, juntamen- te com o corpo a que é destinada, uma _ pessoa, O estado de vida erratica nao condiz com a con- digéio incompleta da alma. Para isso seria neces- sario que alma e corpo fossem substancias com- pletas, as quais, unidas, j4 nao formariam uma pessoa, mas uma sociedade ou agregacao. O ho- mem nfo seria uma pessoa responsdavel, mas dois individuos ou duas substancias, cada uma com a sua responsabilidade. A psicologia também repele a teoria da reen- carnacgéo, pois nenhum homem tem _ conscién- cia de ter existido antes de sua vida atual. Possui- mos, além da memoria sensitiva, extensiva aos animais, a memoria racional, propria da alma espiritual. Ora, essa memoria acompanha a alma, pois 6 uma de suas faculdades essenciais. Ea prova esta em que, com a mudanca sucessiva de nos- sas moléculas, nio perdemos a lembranga de nos- so passado. Um homem de 60 anos nao é mais, fisioldgicamente, o mesmo que era aos 20; todas as suas moléculas foram substituidas, Entretanto, ao consciéncia de stia identidade. Se, pois, ‘os existido em outra fase, teriamos diss0 40 a recordagao. Mas nenhum homem tem tal re- cordacio. Logo, nenhum homem teve outra exis- téncia. 2) Se a alma, com a reencarnaciio, expiasse os pecados, tal expiacao seria automatica e a existén- cia seria um estdgio obrigatério, em que desapare- ceria a responsabilidade ou norma de moral. Irres- ponsavel, o homem se poderia entregar indiferen- temente a todas as praticas, boas ou mas, pois a sua existéncia ou suas existéncias seriam sequéncia inevitavel ou peregrinacéo mecdnica e preestabe- lecida. Isto no caso em que, como dizem alguns espiritas, Deus criasse as almas em estado de im- perfeicdo para que elas, com as reencarnacées, se fossem aperfeigoando ou purificando (explica¢io com que eles respondem A objecao de que a pri- meira existéncia humana seria descabida, pois nao Seria expiagdo de nenhuma outra). Cairiamos no fatalismo. 3) Pessoa é o ser responsavel. Ora, a pessoa humana é composta de alma e corpo. Logo, a responsabilidade humana recai sobre essas subs- tancias incompletas, que unidas formam o homem. A pessoa humana, pois, compete o prémio ou 0 castigo de seus atos. Mas, pela teoria kardecista, uma pessoa sofreria o castigo pelos atos de outras Pessoas, porquanto em cada encarnacao, a alma, unindo-se a um corpo diferente, tornar-se-ia uma Pessoa diferente. Alias toda punigao, para ser cor Tetiva, deve ser consciente, isto é, torna-se ™mIS- ter que o paciente conheca 0 motivo ou o crime Por que é punido. Mas, ninguém tem consciéneia de 41 outra existéncia nem dos atos que teria cometido nela. Logo, a reencarnacao seria sangao injusta ¢ quimérica. 4) A Sagrada Escritura, em que alguns espi- ritas pretendem apoiar sua doutrina, nao con- tém um 86 trecho que demonstre ter 0 homem mais de uma existéncia. Pelo contrario, o que S. Paulo afirma insofis- mavelmente é que “foi estabelecido por Deus que o homem morra uma s6 vez — statutum est omni- bus hominibus semel mori” — e que, “depois da morte, se seguira o Juizo — post hoc autem judi- cium. No Evangelho, Jesus repete frequentemente que todos devem estar preparados para a morte e nao faz a minima referéncia a outra vida terrena. Esclarecendo qualquer dtivida a este respeito, ele explicou a Nicodemos que o homem sé renas- ce espiritualmente, isto é, pelo batismo. Onde os espiritas julgam estar dito que Joao Batista era a reencarnacdo de Elias, nada se po- de aduzir em favor de sua assertiva: a) porque esta na Escritura que Elias nao morreu (Livro dos Reis, V, 2-11); b) porque, no monte Tabor, apareceu Elias, durante a transfiguracdo, tendo ja morrido Joao Batista, o qual era quem deve- ria ter aparecido, se fosse a reencarnacio de Elias; ¢) porque os fariseus perguntaram a Jodo Batista se ele era Elias (Elias es tu?) e ele respondeu peremptoriamente: Nao sou (Non sum). 5) Os proprios espiritas nfo estio concordes neste ponto da reencarnacio. Alguns dela discoT dam. Richet, que os espiritas julgam participar de 42 suas teorias, afirmou: “Sobre a reencarnacio s6 temos dados tao frageis e tio incompletos que, sob 0 ponto de vista cientifico, podemos dizer que estio no vacuo” (Traité de Métapsychique, p. 465). O Congresso Espirita Internacional, reunido em Liége, no ano de 1923, registou o seguinte dia- logo entre dois préceres espiritas: Drouille — Em geral diz-se que a reencarna- cio é uma lei gragas 4 qual o espirito evoluciona e se eleva, expiando as faltas cometidas em exis- téncias precedentes. O que eu queria saber é a razao por que o espirito tem necessidade de ma- téria para evolucionar e elevar-se, e, sobretudo, como pode ser admitido por alguém que, estando apagada a idéia do passado, seja possivel ex- piagdo. A. Dragon — Posso dizer: A reencarnagio, tal como tem sido exposta hoje, nado passa de uma teoria para meninos de escola primaria. O PERISPiRITO Nao é de estranhar a hibridez do vocabulo, pois hibrida é também a idéia, que ele repre- senta. Imagina-se uma substancia, ao mesmo tem- Po corpérea e incorporea, material e imaterial, com figura e sem figura, extensa e inextensa, racio- nal e irracional, simples e composta, isto é, dotada de todos os atributos do corpo e dos da alma — tal seria a estranha subst&ncia, a quem os espiri- tas, por supina infelicidade morfolégica ou igno- rancia de linguistica e semantica, deram essa de- nominagao meio grega e meio latina de peris- 43

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