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São Luís
2011
NAYARA ARAÚJO DOS SANTOS
NAYARA ARAÚJO DOS SANTOS
São Luís
2011
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NAYARA ARAÚJO DOS SANTOS
Aprovada em: / /
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Conceição Carvalho Belfort (Orientadora)
______________________________________________
Profª. Dra. Klautennys Guedes
______________________________________________
Profª. Me. Karoliny Diniz Carvalho
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AGRADECIMENTOS
4
“Gostamos de sair um pouco de nós
mesmos, de viajar, quando lemos”.
Marcel Proust
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RESUMO
Este trabalho visa a compreender a relação entre o turismo cultural e a literatura, tendo
em vista que a literatura mostra que, em muitas de suas obras, a história real mescla-se à
própria narração do livro. Acontecimentos históricos, descrição da cidade, cultura do
povo são, nesse contexto, caracteres de motivação do turismo cultural. Tem-se como
objetivo principal estabelecer a relação entre os bens/espaços simbólicos da obra “Os
tambores de São Luís”, de Josué Montello, a partir de uma pesquisa bibliográfica de
caráter qualitativo e interdisciplinar nas áreas de turismo, literatura e pedagogia através
da discussão da literatura como fator motivador para o turismo cultural. Busca-se
analisar os impactos do turismo cultural assim como identificar os bens/espaços
simbólicos da obra “Os tambores de São Luís”, relacionando a obra literária com o
turismo cultural e percebendo-se pontos que convergem para o fato de que a literatura é
motivadora de viagens desde a Antiguidade, quando a sociedade ficava a par de como
era o mundo afora a partir dos relatos e diários dos viajantes – desta literatura mais
marcante da época, sugeriram-se roteiros, ainda não testados, para a realização do
Turismo Pedagógico. Já que o turismo cultural é a ação de se deslocar para conhecer
outra cultura, a literatura como descritora desses outros povos e sociedade e o Turismo
Pedagógico a tipologia do turismo que tem como objetivo ensinar os alunos a partir do
contato direto com a realidade cultural, traçam-se, assim, pontos de convergência entre
estes. Busca-se, pois, neste trabalho monográfico, compreender a relação da obra “Os
tambores de São Luís” de Josué Montello, com o turismo cultural e estabelecer meios
que tornam a literatura como recurso para o turismo.
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ABSTRACT
This work aims to understand the relationship between literature and cultural tourism,
given that the literature shows many of his works in the real story is that the narration of
the book, such as historical events, description of the city, culture of the people, being
these characters motivation factors of cultural tourism. Its main goal is to establish the
relationship between the goods / symbolic spaces of the book "The drums of St. Louis"
Josué Montello from a literature survey of qualitative and interdisciplinary areas of
tourism, literature and pedagogy through discussion of literature as motivating factor for
cultural tourism, examining the impacts of cultural tourism, identifying the goods /
symbolic spaces of the book "The drums of St. Louis," the literary work relating to
cultural tourism and realizing that converge to points to the fact that literature is travel
purposes since antiquity, in which the company was aware of how the world was from
the reports and diaries of travelers, most remarkable literature of the time, it was
suggested itineraries, untested, to achieve Educational Tourism. As cultural tourism
action to move to learn about another culture, literature as descriptors of these other
people and society and Tourism Pedagogic the typology of tourism which aims to teach
students from direct contact with the cultural reality, draw so points of convergence
between them. We seek to understand well the relationship of the book "The drums of
St. Louis" Josué Montello with cultural tourism and establish ways that make the
literature as a resource for tourism, and motivating the literature of cultural tourism and
also as a key to direct a Pedagogical Tourism based on cultural tourism, since it seeks
knowledge, a feature of cultural tourism.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................09
2. AS RELAÇÕES ENTRE A LITERATURA E A HISTÓRIA....................................13
3. A RELAÇÃO ENTRE A LITERATURA E O TURISMO CULTURAL..................21
3.1 Os textos literários podem motivar a atividade turística...........................................28
4. CONHECENDO A OBRA “OS TAMBORES DE SÃO LUÍS DE JOSUÉ
MONTELLO...................................................................................................................34
4.1 Turismo Pedagógico a partir da obra “Os tambores de São Luís”............................39
4.2 Vida e obra do autor Josué Montello.........................................................................43
4.3 Construindo roteiros turísticos a partir da obra Os tambores de São Luís................47
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................60
REFERÊNCIAS..............................................................................................................61
ANEXOS.........................................................................................................................65
Anexo I............................................................................................................................66
Anexo II...........................................................................................................................71
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1. INTRODUÇÃO
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(transporte, hospedagem, alimentação), mas também informações sobre os hábitos e
lendas da sociedade visitada.
Portanto, é importante perceber que a leitura não só motiva o turista, mas
guia-o pelos lugares apresentados através das palavras. Durante a apreciação do enredo
da história, a pessoa viaja no “mundo das ideias” e, quando se desloca motivada pelo
livro, procura os bens/espaços simbólicos citados na obra. Assim, o turista passa a
vivenciar e interpretar a história do livro, agregando valor ao produto turístico.
Percebe-se, então, que a leitura é um fator motivacional ao turismo cultural.
E, também, importante para a sustentabilidade desta atividade, uma vez que este tipo de
viajante buscará durante sua experiência turística preservar a singularidade e a
identidade do lugar visitado, pois será motivado pelo “espírito cultural” do livro que
tanto lhe chamou atenção.
A motivação para analisar tal tema vem do fato de ser estudante do Curso de
Pedagogia, além de Turismo, e buscar uma relação essas duas áreas para que ambas
encontrem sentido, para que convirjam a um mesmo fim. Portanto, estudar o turismo
como forma de aprendizagem é interessantíssimo – tanto para um estudo mais
aprofundado sobre o assunto, quanto para a própria formação do pedagogo.
O problema da pesquisa é descobrir se a literatura é um fator motivador do
turismo cultural, pois se percebe que a estreita relação entre a literatura e a história faz
com que muitos livros tornem-se verdadeiros guias de viagem. Sendo assim, quando um
turista vai conhecer o que o livro descreve, vai à busca de informações que encontrou no
livro, como sua história, lendas, cultura.
Ressalta-se que o turista, motivado pela literatura, já vem conhecedor da
cultura da cidade a partir do(s) livro(s). Portanto, é necessário que a população esteja
preparada para recebê-lo e, mais relevante ainda, é manter a identidade da cultura local,
pois foi esta que descrita na obra.
Esta pesquisa visa a apontar a relevância da literatura como motivação para o
turismo cultural e a importância da sustentabilidade desta atividade turística, haja vista
que quando um turista é motivado pela leitura, tem mais conhecimento e informação
sobre a cidade e também, a priori, mais respeito à cidade que visita.
Estabelecer a relação entre os bens/espaços simbólicos da obra “Os tambores
de São Luís”, de Josué Montello, com o turismo cultural é o objetivo principal deste
trabalho a fim de que se possa observar o quão a obra pode ser um “guia turístico” da
cidade e poder visualizar como se pode utilizá-la na confecção de roteiros tanto para
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turistas quanto para alunos. Esses roteiros tornarão a visita à cidade e o ensino dos
alunos mais interessantes e estimulantes, além de servir como um meio de propagar a
educação patrimonial, educando os futuros turistas desde cedo.
Para que se estabeleça esta relação, têm-se como objetivos específicos:
Discutir a literatura como fator motivador para o turismo cultural; Analisar os impactos
do turismo cultural para uma região; Identificar os bens/serviços simbólicos citados na
obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello; Relacionar a obra “Os tambores de
São Luís”, de Josué Montello, com o turismo cultural e; Sugerir a utilização de roteiros
pensados a partir da obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, para turistas e,
em especial, a alunos, dando ao roteiro um cunho Pedagógico, caracterizando-o como
Turismo Pedagógico.
Para que se compreenda um pouco do que é um texto literário, mas não
exaurir sua conceituação, cita-se o autor Amora (1973), que elenca no campo do
conteúdo e da forma as seguintes características do texto literário:
Conteúdo: o tipo de conhecimento da realidade que ela transmite –
conhecimento intuitivo e individual, sendo que estes se distinguem por ser
fruto de uma intuição mais profunda e original da realidade;
Forma: é peculiar de cada tipo de obra e fruto do esforço criativo que
a produziu, assim o produtor textual cria diversas expressões.
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Segundo o Ministério do Turismo, o viajante desta modalidade vem em busca de
atrativos como:
sítios históricos – centros históricos, quilombos;
edificações especiais – arquitetura, ruínas;
obras de arte;
espaços e instituições culturais – museus, casas de cultura;
festas, festivais e celebrações locais;
gastronomia típica;
artesanato e produtos típicos;
música, dança, teatro, cinema;
feiras e mercados tradicionais;
saberes e fazeres – causos, trabalhos manuais;
realizações artísticas – exposições, ateliês;
eventos programados – feiras e outras realizações artísticas, culturais,
gastronômicas;
outros que se enquadrem na temática cultural.
12
2 AS RELAÇÕES ENTRE LITERATURA E HISTÓRIA
A literatura no percurso da história foi criando laços cada vez mais estreitos
com a arte. Segundo Coelho (1922), na Antiguidade Clássica, a literatura se confundia
com a gramática; na Era Medieval a literatura era aplicada à gramática; na Era Clássica,
a literatura era a “imitação do real” relacionada ao culto da razão e beleza; na Era
Romântica, passou a ser a expressão do mistério e do enigma da existência e; na Era
Contemporânea, devido às crises de valores morais, a arte e a literatura passaram a ser
um problema a serem resolvidos.
Não existe uma definição exata para o que seja texto literário, haja vista que
esclarecer o sentido deste é um trabalho bastante difícil; apesar de já existirem muitas
interpretações para definir o seu significado, nem todas possuem o mesmo sentido.
Sendo assim, não existe uma verdade única e, portanto, cabe ao pesquisador, a partir das
teorias escolhidas, criar um quadro referencial que possa auxiliá-lo. Entende-se que
Literatura é Arte, é um ato criador que por meio da palavra cria um universo
autônomo, onde os seres, as coisas, os fatos, o tempo e o espaço,
assemelham-se aos que podemos reconhecer no mundo real que nos cerca,
mas que ali – transformados em linguagem – assumem uma dimensão
diferente: pertencem ao universo da ficção. (COELHO, 1922, p. 23)
13
p.02) Entretanto, isso não destitui as demais ciências de criatividade e imaginação.
Segundo Iser (1996, p. 11),
o fictício e o imaginário fazem parte das disposições antropológicas e
existem também na vida real, não se restringindo à literatura. O que
caracteriza a literatura é a articulação organizada do fictício e do imaginário;
dela a literatura emerge e assim se pode diferenciar de outros meios.
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devendo-se muito do que se sabe atualmente sobre estes fatos a esses escritos dos
viajantes.
Encontra-se, ainda, a pintura, que serviu como registro do Brasil colônia.
Como exemplo desta, tem-se Hans Staden, que retratou o canibalismo dos índios,
mesclando o real e o imaginário. Imagens dos quadros trazem o canibalismo como
sendo um fato real, mas a forma como se representa evidencia-se um aspecto imaginário
propiciado pelo etnocentrismo de sua cultura. Até o próprio índio foi representado de
forma a se parecer fisicamente com os europeus e com manifestações emocionais da
cultura branca. Sendo assim, percebe-se a mesclagem do real com o imaginário – deve-
se, aqui, compreender que Hans Staden tinha como interesse construir uma imagem
verossímil.
De acordo com Freitas (1989, p. 109-18), a relação entre a literatura e a
história é tão próxima que chega a não encontrar um limite certo que ponha fim a uma e
início a outra – para tanto, necessita-se de um estudo profundo sobre o caso. A definição
desses limites esbarra em problemas que autora salienta: a existência de certa
correspondência entre evolução histórica e evolução literária; a evidência de que as
grandes mudanças da história provocam em geral inovações na literatura; e a
constatação de que os períodos de maior intensidade literária coincidem com os
períodos de maior intensidade histórica.
É importante também ressaltar a diferença existente entre o que é a história
e a historiografia: a primeira se relaciona ao conjunto de acontecimentos e a segunda
quanto à atividade que organiza e reflete sobre os dados da história. A historiografia é
responsável pela interpretação de forma pessoal da História, ou seja, do acontecimento.
Essa imprecisão de definições pode levar a crer que não exista um limite entre a
literatura e a história.
Por trazerem em suas obras muitos desses acontecimentos históricos, a
história de uma sociedade e muitos textos literários podem ser confundidos com a
historiografia.
A comunicação literária e os seus textos constituem meio e instrumentos
privilegiados de conservação e de contínuo renovamento da informação sobre
o homem, a sociedade e o mundo, tanto sob a perspectiva da instância de
produção como sob a perspectiva das suas inumeráveis e historicamente
diversificadas instâncias de recepção. (SILVA, 2005, p. 333)
15
narrativa, fazem com que ocorra uma maior aproximação da literatura e história, já que
o formato desses relatos se relacionava muito com biografias de grandes personalidades.
Entretanto, o surgimento de novos questionamentos fez com que houvesse a quebra de
paradigmas da historiografia, causando o abandono pela mesma das narrativas
biográficas e passando a buscar uma história problema, na qual os fatos são
problematizados e os objetos são construídos, tornando-se mais próxima da ciência, no
caso, das ciências sociais. Ao incorporar o conceito de estrutura, surge a história serial,
a cliometria e, por último, a história das mentalidades, que veio a caracterizar a Nova
História (BURKE, 1991; DOSSE, 1992). Esse movimento iniciou-se na França e
irradiou-se, em épocas distintas, para o resto do mundo.
O século XIX é caracterizado por Freitas (1989) como o século da história,
pois este foi marcado por inúmeros acontecimentos que trouxeram desenvolvimento à
sociedade e também é conhecido como o “Século do Romance Histórico”. Sendo assim,
a literatura e a história estão mais próximas. Nesse entrelaçamento, o limite entre os
dois passa a ser ameaçado por não se saber ao certo a especificidade de cada um.
Entretanto, com a produção literária influenciada pelos mais variados fatos históricos, a
produção historiográfica não fica marcada somente por esta tendência pois
Alargando-se continuamente o domínio da sua temática, interessando-se pela
psicologia, pelos conflitos sociais e políticos, ensaiando constantemente
novas técnicas narrativas e estilísticas, o romance transformou-se, no
decorrer dos últimos séculos, mas sobretudo a partir do século XIX, na mais
importante e mais complexa forma de expressão literária dos tempos
modernos. De mera narrativa de entretenimento, sem grandes ambições, o
romance volveu-se em estudo da alma humana e das relações sociais, em
reflexão filosófica, em reportagem, em testemunho polêmico, etc. (SILVA,
2005, p. 671)
16
estudo mais profundo. Se apenas aludem a fatos históricos ou apenas situam sua trama
num certo painel histórico como pano de fundo, a análise já não é tão significativa. Esta
relação é particularmente referente ao romance que torna a realidade existente em sua
própria matéria, um elemento integrante da sua estrutura interna, transformada em uma
realidade estética.
Portanto, segundo a interpretação que nossa época aceita para a Arte, esta é
uma espécie de ponte entre a realidade comum que nos rodeia e o mundo
invisível, que escapa à percepção comum: o dos valores ocultos, onde
pressentimos todas as respostas para as indagações que assaltam o homem
quando este toma consciência de ser um Eu situado num universo
incomensurável e incompreensível. (COELHO, 1922, p. 23)
1
Cf. entrevista concedida pelo autor Josué Montello, em São Luís (MA), no dia 23 de fevereiro de 2000,
em sua casa. Fonte: Carvalh, 2001, p.104-8.
17
história sobre o romance, mas sim a história dentro dele, como afirmou Josué Montello,
uma presença transfigurada, relida e revivida na imaginação.
É dentro dessa lógica que Leenhardt (1998) discorre sobre o papel da
literatura e da história na construção da identidade pessoal e social. O autor acredita que
tanto a ciência histórica quanto a literatura possuem papeis fundamentais na construção
do imaginário. Vários teóricos compreendem que a diferença se dá na maneira de como
se realiza a obra, pois a literatura e a historiografia apresentam métodos opostos para
alcançar seus objetivos. Desse modo, o que daria sustentação a esta hipótese é que a
história seria “ciência” por causa da metodologia utilizada, enquanto a literatura seria
ficção, fantasia imaginativa. Mas Leenhardt não defende esta oposição, porque crê que a
oposição deve ser entendida de forma mais complexa. Ficção e método de investigação
histórica têm procedimentos diferentes, entretanto, a oposição quanto ao método não
tem efeito algum na capacidade de preencher uma função. Sendo assim, Leenhardt
entende que a historiografia e a ficção seguem caminhos “distintos”, discursos
diferentes que podem exercer a mesma função social.
Segundo o discurso histórico e ficcional, o verdadeiro e o verossímil são
animados pela “vontade de representar, na linguagem, os fatos e acontecimentos
segundo a modalidade do verossímil” (LEENHARDT, 1998, p. 42), porque o
historiador e o escritor apresentam os acontecimentos de acordo com a realidade, como
se estes tivessem ocorridos daquele jeito. Entretanto, não são todos os pesquisadores do
assunto que concordam com esta suposição, Greimas (1981) é um desses. Tal
contradição pode ser explicada pela forma como ambos interpretam a historiografia,
quanto a esta ser ou não ciência. Leenhardt acredita que a historiografia ou não é uma
ciência, ou é uma tipologia de ciência menor, pois crê se a aceitasse como ciência
estaria colocando a literatura e todas as áreas das ciências humanas no mesmo nível de
substância, já que o que se questiona é o método e não sobre os objetos.
Foucault, assim como Greimas acredita que haja uma distinção entre o
discurso literário e o histórico, entretanto, não aponta uma separação. Para Foucault
(2000, p. 144), quando a história – a “linguagem verdadeira” – aparece nos textos
literários, não tem a finalidade de reproduzir a realidade, mas sim com o intuito de
mostrar que não pertence a esta, rompendo o “espaço da linguagem” dando-lhe uma
“dimensão sagital”.
Entretanto, existem autores que creem no contrário, Esteves (1998, p. 127-
8) que estuda o novo romance histórico brasileiro, diz que o romance que tem como
18
fundamento a história “tende a reconstruir, e reconstrução quer dizer recuperação do
imaginário e das tradições culturais de determinada sociedade”.
19
Percebe-se, ao longo da história da historiografia, que nas técnicas
chamadas de história de vida e história oral, a memória é parte atuante tanto da literatura
quanto da história. Para se conseguir “enxergar” essa divisão entre literatura e história, o
historiador parte de um relato individual por toda a memória, em especial as que se
referem à imaginação do informante. Assim, estabelece um comparativo e reconstrói
um tempo e espaço que só encontramos na memória do ator.
Existe uma memória coletiva que sobrepõe o indivíduo e na qual o
historiador se encontra; portanto, a identidade e a alteridade são aspectos que se definem
a partir da realidade instauradora. Corrobora Carvalho (2001, p.27): “talvez, a diferença
entre o relato histórico e o relato literário consista na forma e no nível de
aprofundamento na substância da vida real, esta, enquanto matéria do artista e do
historiador ao mesmo tempo”. Mas, como diz Iser (1996, p. 7), “a literatura necessita
interpretação, pois o que verbaliza não existe fora dela e só é acessível por ela”.
A literatura abre caminho para que o leitor imagine o que está escrito
“viajando” nas palavras do autor. A literatura estreita relação com o histórico, fator
motivacional do turismo cultural, o leitor pode se tornar turista, a partir da motivação
que o livro deu. Dando a este leitor a oportunidade de criar sua própria interpretação de
acordo com a realidade que vivenciará no local sobressaltado na obra.
20
3 A RELAÇÃO ENTRE A LITERATURA E O TURISMO CULTURAL
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A exigência por mais qualidade e clientes mais bem informados fizeram
com que o turismo cultural alavancasse. Essa tipologia do turismo tem por finalidade
obter mais conhecimento, ampliar sua cultura. Sendo assim, também se percebe que a
literatura é uma das propulsoras desta modalidade. Segundo Chias (2007), essa
fascinação pela história pode ser observada não apenas no turismo cultural, mas também
em outros campos, como o editorial, evidenciado pela tendência de romances históricos
virem se transformando em êxitos mundiais.
A literatura muitas vezes pode servir de guia turístico, uma vez que os livros
trazem, com detalhes, os bens/espaços simbólicos de uma sociedade e por ter toda uma
história por trás desses aguça mais ainda a imaginação e serve como propulsor de uma
viagem.
[...] a literatura é aqui considerada como suscitadora de viagem e, por essa
concepção, guia para roteiros turísticos, na medida em que oferece um
mapeamento de espaços e bens simbólicos, trazidos à cena através de
patrimônios (material e imaterial) que configuram o perfil identitário de um
lugar a ser visitado. (SIMÕES, 2004, p.01)
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A literatura “escapista”, mais conhecida como escapismo, é uma das
características do romantismo, no qual o autor cria mundos imaginários. No caso da
obra “Os tambores de São Luís”³, Josué Montello cria uma ficção em cima de
características da sociedade da época, ao mesmo tempo em que atua no imaginário
também traz características do Estado do Maranhão tanto seus bens culturais materias
quanto imateriais. Sacramento (2004, p. 01) vem nos dizer que “na literatura brasileira,
a cidade foi objeto de tematização desde os românticos, tendo sido elevada à categoria
de personagem”.
No entanto, a obra não serve apenas como um exercício panfletário, no qual
se busca denunciar ou fazer apologia a alguma ideologia, mas também traz a cultura da
cidade como um todo, além de nos levar a fantasiar com a ficção narrada.
O turismo, além de um importante instrumento de promoção social e de
dinamização econômica, é também, e principalmente, uma atividade cultural.
Conhecer lugares, assistir à apresentação de manifestações artísticas, degustar
pratos peculiares de cada região, compartilhar com nativos a experiência de
uma feira local é conhecer elementos que dizem respeito a pessoas e suas
sensibilidades, suas normas e valores, suas emoções. (NEVES apud
MARTINS, 2003, p. 59)
23
torna-se capaz de motivar turistas a conhecer a cidade e sua cultura.
Josué Montello foi um autor que muito retratou São Luís e trouxe sempre
em suas obras a cidade ludovicense como cenário de suas histórias.
Com mais de 70 livros publicados, sendo 8 romances, Josué Montello
considera-se um homem de sua província: sempre retornou ao Maranhão, de
onde, aliás, nunca se desprendeu, quase toda a sua obra traz a marca da
inspiração e da cultura maranhense. (JOSEF, 1980, p. 115)
Muitos autores literários utilizam cenários reais para suas histórias. Jorge
Amado, por exemplo, retratou a cidade de Salvador em suas histórias, exaltando
qualidades desta terra. A descrição das cidades onde se passa a história narrada é uma
grande característica do romantismo. “Os tambores de São Luís” é uma obra romântica,
portanto, percebe-se muito bem este fator. Segundo White (apud LEPECKI, 1984,
p.16), “o principal objetivo do escritor de um romance deve ser igual ao do escritor de
uma história. Ambos desejam sustentar uma imagem verbal da realidade”.
Portanto, o turismo cultural e a literatura estão estritamente ligados, em
especial à modalidade “romantismo”, na qual as cidades se tornam grandes atrações dos
livros, atraindo os leitores tanto pelo romance quanto pela curiosidade de conhecer cada
vez mais a cidade descrita na história. Essa curiosidade, às vezes, se torna tanta que leva
o leitor a se tornar turista.
Ressalta-se que o constante movimento de outras culturas em uma cultura
nativa pode trazer malefícios a esta uma vez que os moradores vão querer “agradar” a
seus visitantes e também podem sentir seu modo de viver inferior a do outro.
Incorporam-se, assim, características “alheias” a sua.
Além do impacto ao meio físico, existe a aculturação da população nativa,
que se deixa influenciar por novos costumes e valores, e substitui as
atividades tradicionais (pesca, artesanato e agricultura) pelo trabalho no setor
turístico, geralmente em funções mal remuneradas, devido à sua baixa
escolaridade; descaracterização do artesanato, que passa a incorporar gostos
dos visitantes; e alterações nos valores morais, através do estímulo à
prostituição, ao uso de drogas e até mesmo mudanças no ato de falar e vestir.
(FERREIRA apud MARTINS, 2003, P. 5)
24
deve estar preparada para receber o contingente de visitantes, tanto na estrutura física
quanto psicológica.
É inegável que exista um conflito latente entre a atividade do turismo, que
provoca o encontro, e as estratégias de preservação do patrimônio cultural.
Se, por um lado, o turismo pode ajudar a dinamizar esse patrimônio, ou parte
dele, também pode contribuir para a sua descaracterização e, até mesmo
destruição. Isso é explícito no caso, por exemplo, de certos bens edificados
tombados que, se visitados de forma abusiva e sem planejamento, poderão vir
a sucumbir. (NEVES apud MARTINS, 2003, p. 59)
25
(2000) assinala alguns desses: a superutilização de sitos culturais e localidades – o
grande número de turistas não adequados a estes espaços podem gerar danos; a falta de
controle local – o governo local e a população ficam de fora do processo e sua
respectiva renda; a trivialização ou perda da autenticidade – as danças tradicionais
podem sofrer alterações tanto no seu calendário quanto na sua estrutura a fim de agradar
o turista; a fossilização de culturas – o desejo de se conservar a cultura tradicional faz
com que a mesma torne-se imutável, o que não é uma característica da cultura, pois esta
é transformada o tempo todo; o turismo polêmico e moralmente problemático – a
atividade esquece-se de propor discussões com a comunidade para que esta se coloque
diante do que está sendo proposto para a mesma.
Acredita-se que turistas atraídos pela literatura sejam, em geral, mais
conscientes, ou seja, têm noção de que é necessário preservar aquela cultura, pois já
possuem outra relação com esta quando visitam a cidade – admiração, valorização à
cultura. Esse turista é incapaz de fazer ações que possam prejudicar a cidade visitada.
Ver a literatura enquanto bem cultural promotor do turismo sustentável
aponta-nos uma saída diante da racionalidade da globalização, assim, local +
cultura + diferença constituem alternativas para um mundo que insiste,
devido à lógica do consumo, na uniformização de modos de ver este mesmo
mundo. (SACRAMENTO, 2011, p.02)
26
A globalização tem aumentado bastante o fluxo de turistas pelo mundo,
estes compreendem desde os que têm como finalidade os negócios quanto famílias que
economizam durante o ano para usufruir as férias com os filhos. Esse fenômeno que fez
com que os meios de comunicação se desenvolvessem bastante e agissem como fortes
meio de divulgação e informação.
A globalização também fez com que os livros transpassassem as barreiras
dos territórios levando informação, com turistas mais informados, que se tornam cada
vez mais exigentes, pois estão cientes do que encontrarão no destino. Sendo assim,
deve-se dar maior atenção à segurança e à qualidade, já que com viajantes deste tipo não
se pode oferecer qualquer serviço. Oferece-se, portanto, sempre “o melhor” para que os
turistas saiam com suas expectativas atendidas e até mesmo superadas.
Entretanto, segundo Beni (2003, p. 30), “o crescimento do turismo conduz
a externalidades positivas e negativas na sociedade, na economia e no ambiente, que
podem fortalecer ou enfraquecer o crescimento no sentido de feedbacks sistêmicos”. Os
malefícios da atividade devem ser previstos no planejamento para que se possam criar
medidas que previnam que o pior aconteça, minimizando os impactos negativos do
turismo.
Uma das mais prejudicadas desse movimento de várias culturais em outra, é
a identidade, que precisa ser fortalecida. Entende-se, aqui, identidade como um
sentimento de pertencimento a um grupo homogêneo e definido – considerado
fundamental para que as pessoas se sintam seguras, confiantes dentro de uma sociedade.
Mas, manter a identidade significa algo vital para que as pessoas se sintam
seguras, unidas por laços extemporâneos a seus antepassados, por um
território, costumes e hábitos que lhes passem segurança, que lhes indique
suas origens, para que lhes referenciem diante de um modelo social tão
diverso. (MARTINS, 2003, p. 46)
27
preservado e não torná-lo útil será apenas um “entulho”. Chias (2007, p.27) afirma que
é preciso “um projeto que transformasse essa história morta em história viva, porque
isso é o que realmente interessa ao público. E não é contraditória com a preservação do
patrimônio, pelo contrário, ajuda a valorizá-lo mais”.
A literatura traz muitos benefícios ao turismo, como a motivação – atraindo
turistas às cidades descritas nas histórias, a sustentabilidade – agindo como educadora
dos turistas e promoção do turismo – divulgando as características, a imagem do Brasil
através dos livros.
28
que ao ler livros que traz para o leitor estes bens culturais, tornando-o interessado nesta
cultura e motivado a conhecê-la.
A literatura, além de propagar a cultura do local, faz com que a população
destas cidades descritas nos livros valorize ainda mais sua cultura. Valorizam-se ainda
mais esses bens materiais e imateriais da cidade ao ler:
Agora, quando as noites se fechavam, estilhaçando-se em estrelas por cima
da cidade adormecida, ouvia-se o som compassado dos zabumbas, das
matracas e dos maracás, madrugada adentro, por cima do baticum ritual dos
tambores da Casa das Minas. Vinha de vários pontos da ilha, sobretudo da
Maioba, do Turu, de Vinhais, do Anil e do Matadouro, e não se limitava à
percussão dos instrumentos, porque trazia consigo a toada dos cantadores,
nos ensaios do bumba-meu-boi. (MONTELLO, 2005, p. 351)
29
A partir da perspectiva dada aos monumentos históricos, estes passaram a
ser um referencial de diferenciação entre o arcaico e o inusitado, o que originou o
pressuposto para sua preservação: a construção da característica histórica, mas
principalmente social e cultural que possui importância inquestionável para a
humanidade.
Após o Renascimento, a Revolução Industrial também contribuiu com essa
nova perspectiva do patrimônio, o homem passou a materializar o passado por meio do
monumento, passando a caracterizá-lo como um memorial identitário. Nesse sentido, o
turismo possui uma dupla função: de atividade cultural e econômica, posto que ao
mesmo tempo em que promove a herança cultural também gera recursos financeiros.
A memória coletiva seleciona e projeta o passado em detrimento do futuro.
Formam-se, assim, as identidades fortalecidas pelo turismo. Tal seleção, ainda que
implícita, diferencia o valor do bem patrimonial. O turismo faz com que se reaviva o
sentimento nostálgico remetendo o leitor e o turista ao passado ainda que este não tenha
sido vivenciado por todos, antes de tudo ele pertence à cultura – um aspecto coletivo.
Os casarões passam a ser interpretados pelos turistas, que foram motivados
pela leitura de algum livro passa a interpretar a história dos bens/espaços citados pelo
enredo da obra. A interpretação transmite a função de um objetivo, da mesma forma o
turismo seleciona os atrativos capazes de suscitar interesses no consumidor.
Se o turismo da cidade estiver planejado adequadamente quando o turista,
motivado a conhecer a cidade pelas de obras literárias que a descrevem, chegar à
localidade, terá suas expectativas bem atendidas. A estrutura turística estará preparada
para receber esses viajantes e saberá exatamente onde levá-los. Com essa (re)
apropriação, intitula-se patrimônio tudo aquilo que é capaz de reunir características
próprias de determinada localidade, explicitando uma formação “identitária” que, ao
longo do tempo, sempre esteve relacionada às elites e as suas produções de saberes
refletidas na cultura e em toda a sua expressão.
Como a cultura é mutável, no decorrer do tempo ela passa por um processo
que envolve as identidades de um povo, suas tradições e os símbolos que os
representam. É nesse sentido que as construções representam um patrimônio cultural, ou
seja, é a união dos valores materiais e imateriais. Portanto, são as diferenças de nação
para nação que suscitam a singularidade.
30
significados possíveis ao legado histórico-cultural e permite a quem usufrui o
conhecimento do patrimônio a possibilidade de criar e dar soluções a
problemas interpretativos. (MENESES, 2004, p. 62)
Como não ler uma passagem dessa e não ficar curioso?! Como será essa
música? Como que a nochê Andreza Maria recebe Toi-Zamadone? O que é nochê? O
que é ogã? Toi-Zamadone é dono do lugar? Como assim? São várias e várias questões
que vão despertando a curiosidade do leitor, que só poderão ser respondidas se ele se
deslocar à cidade na qual a história se passa, pois é lá que encontrará a cultura descrita.
Isso faz levantar outra questão: se essa cultura não fosse singular da cidade
de São Luís, o leitor seria motivado a conhecer a cidade? Daí, conclui-se a importância
e necessidade de se preservar a cidade, pois se todos se tornarem iguais às outras
cidades o que chamará atenção do turista?
O turismo cultural é “todo turismo no qual o principal atrativo não é a
natureza, mas um aspecto da cultura humana, que pode ser a história, o cotidiano, o
artesanato ou qualquer dos aspectos abrangidos pelo conceito de cultura” (BARRETO,
2007, p. 87), é importante frisar a preservação desta cultura para que se possa atrair
turistas.
Entretanto, é importante também ressaltar que, para “agradar” o turista,
muitas localidades turísticas “forçam” criando espaços turísticos artificiais ou então
modificando sua cultura. Como exemplo, tem-se o bumba-meu-boi – muitos grupos já
se modificaram, perderam grande parte do significado do bumba-meu-boi e se
transformaram em grandes espetáculos de teatro. Assim,
Lançando-se um novo olhar sobre a turistificação e seus atores, criam-se
territórios eminentemente turísticos com pouca ou nenhuma integração das
31
populações nativas, marginalizadas com relação ao uso dos recursos. A
natureza, espaço público de bem comum, é transformada em espaço privado,
desrespeitando a legislação ambiental existente e comprometendo os
ecossistemas. Lugares e populações são comercializados como atrativos para
serem consumidos. (FONTELES, 2004, p. 42)
32
estão mais acessíveis a todos as classes. Essa acessibilidade compreende tanto as
informações quanto ao aspecto financeiro.
As experiências poderão ser bem mais prazerosas para o turista motivado
pela leitura de um livro sobre a cidade retratada na obra. O turista contrastará a
realidade com a ficção, sentirá outra emoção, perceberá os bens/espaços apresentados
de outra forma. Diferente de quem nunca leu nada sobre o que está conhecendo, que
está vendo e ouvindo alguma informação sobre este patrimônio.
Portanto, conhecer e vivenciar a cultura torna-se importantíssimo para que o
indivíduo seja parte dela; faz, assim, com que a preservação seja mais efetiva, pois se o
turista se torna ativo, não deixará que ela se extinga com o tempo – consequentemente,
o turismo na cidade se prolongará e trará renda para muitas famílias.
Compreende-se, assim, que a literatura é um grande propulsor do turismo,
pois além de divulgar a cultura dos lugares descritos para outros, faz com que o
sentimento de nacionalismo seja revigorado, dando motivação aos autóctones para que
se preserve a cultura.
33
4 CONHECENDO A OBRA “OS TAMBORES DE SÃO LUÍS”, DE JOSUÉ
MONTELLO
34
passa a relembrar toda a sua história de vida, que se inicia contando a fuga dele, seu pai,
mãe e irmã da fazenda na qual eram escravos.
O Rio Largo, enxameado de piranhas ficava a quatro dias de viagem pelos
meandros da floresta. Para alcançar a vila mais próxima, era preciso passar
para a outra margem, remando contra a correnteza, e andar outros quatro dias,
sempre dentro da mata, por um caminho que só os negros conheciam.
(MONTELLO, 2005, p. 25)
Essa fuga se dá pelo fato do Dr. Lustosa, senhor da fazenda, ter dito que iria
vender Damião, sendo assim, Julião, pai de Damião, resolve fugir para que isso não
ocorra. Após a fuga, constroem um quilombo e, dentro dos casos que vão acontecendo
nesse local, relembra-se a história dos negros no Maranhão – desde a vinda destes da
África, através da história de vida de Julião, é comentado todo o sofrimento que
passaram dentro do navio, como eram as condições destes, o que acontecia com muitos
destes no caminho da viagem, como não aguentavam as condições precárias e
desumanas nesse trajeto e acabavam morrendo.
Ele sabia que vinha de estirpe ilustre, quase toda dizimada na longa viagem
do lerdo navio negreiro que o trouxera da África para o Maranhão, e
guardava, nítidas, as imagens de sua terra e de seu povo, do outro lado das
águas imensas. Se não atirara ao mar, durante a vagarosa travessia, como
muitos dos companheiros de viagem, foi porque a si próprio atribuíra o
comando de outros negros, assim que se lhe ensejasse ocasião propícia para
vingar-se do merecido cativeiro. (MONTELLO, 2005, p. 35)
35
O personagem principal, “Damião”, passou por todos esses maus-tratos na
fazenda onde era escravo do Dr. Lustosa. Após a morte do seu senhor, que morreu
batendo em “Damião”, a sinhá resolveu entregar o escravo ao bispo dom Manuel, no
intuito que se formasse padre e após sua formação rezasse 300 missas em ação de
graças ao seu falecido marido. Sendo assim, foi mandado para a capital, São Luís, no
entanto o preconceito que era e continua estando enraizado na sociedade maranhense
não permitiu que o mesmo se formasse, mesmo sendo o mais inteligente da turma.
Além desse problema da discriminação na capital do Maranhão, o autor continua a
mostrar casos de maus-tratos aos negros: muitos são até mesmo assassinados por causa
de “delitos” cometidos.
Com a chegada de “Damião” a São Luís, o autor descreve todo o trajeto do
mesmo, e o deslumbramento do personagem com a beleza da cidade. Descreve as ruas
por onde passa, os sobrados, os pombos, as praças, as igrejas, a casa das minas, as
praias, o centro da cidade; descreve, portanto, todo seu caminho e tudo que lhe chama
atenção, tornando o livro um importante guia turístico da cidade.
Ainda bem que, não estando o bispo no paço pela manhã, tivera tempo de dar
um giro pelos arredores, levado ainda pelo companheiro, e assim começara a
familiarizar-se com a vida da cidade – o ruído das ruas, as carroças, as pipas
de água, as carruagens, os pregões dos vendedores ambulantes, os sobrados
rente às calçadas, os mirantes, as lojas, as pessoas debruçadas nas janelas, e
tudo o deslumbrara. (MONTELLO, 2005, p. 163-4)
36
As antigas ruas da cidade oferecem-nos um dos mais belos conjuntos da
arquitetura colonial de que São Luís é o mais abundante relicário de todo o
Brasil. As fachadas de azulejo, em soberbos sobradões de três pavimentos, as
sacadas de ferro dos segundos pavimentos e os portais de cantaria dos
pavimentos térreos se sucedem numa extensão admirável. Autenticamente
coloniais, eles nos fazem evocar os costumes de outrora. (CORENJO, 2004,
p. 219)
37
Além desses atrativos que Josué Montello pontuou em sua obra, têm-se
alguns pontos destaques como: A Casa Grande das Minas, o Liceu Maranhense, o
Sobrado de Donana Jansen, o Cais da Sagração, a Fonte do Ribeirão, o Cemitério do
Gavião, o Pelourinho dentre outros que são pontos turísticos da cidade. Sendo assim,
ressalta-se a importância do livro como divulgador da cidade e motivador para a vinda
de turistas.
A obra de Montello ressalta todas as belezas e patrimônios da cidade, chega-
se a conclusão de que, além se ser um grande publicitário do Maranhão e motivador de
turistas, o referido autor pode ser utilizado pelas agências de turismo a fim de se criar
um roteiro para que os turistas possam conhecer a cidade de uma forma mais inovadora
e autêntica. Segundo BRASIL (2005, s/p), “roteiro turístico: itinerário caracterizado por
um ou mais elementos que lhe conferem identidade. É definido e estruturado para fins
de planejamento, gestão, promoção e comercialização turística”.
Esse itinerário é caracterizado por percursos que, ao longo do caminho,
possuem atrativos turísticos e têm algum significado da cidade para que o turista possa
apreciar e criar sua própria interpretação. Esses roteiros, em geral, possuem um tema de
valor identitário para a localidade em que está inserido, facilitando o entendimento do
patrimônio que é mostrado.
A utilização de roteiros é uma estratégia do Plano de Turismo utilizado
atualmente pelo Brasil. Esse Plano tem o intuito de segmentar o mercado fazendo com
que este se fortaleça, pois quando definimos uma ideia/característica/identidade de um
roteiro a ação de promoção e venda agirá de forma mais eficiente, atraindo turistas para
que venham realmente com o intuito de conhecer o que é passado pela
marca/propaganda. No turismo, o “carro chefe” da atividade em São Luís são os roteiros
com segmentação em turismo cultural que apoiariam esta ideia e tornariam significativa
a visitação, pois a experiência de conhecer a cidade através da literatura da mesma é um
diferencial que a torna bem mais interessante.
Salienta-se que um roteiro estruturado em cima de uma obra literária da
região dá uma maior singularidade ao local e à viagem do turista, pois os viajantes, em
geral, são motivados a conhecer o diferente, o novo, o que não encontram em sua
cidade. Segundo Martins (apud BAHL, 2004, p. 796), “o que de verdade dá sentido a
um lugar é um conjunto de significados, os símbolos que a cultura local imprimiu, e é
isso que leva o outro, a sentir, a perceber distinto e especial, o lugar ao qual visita”.
38
4.1 Turismo Pedagógico a partir da obra “Os tambores de São Luís”
39
se bem mais significativo. O aluno terá, assim, a oportunidade de relacionar o assunto
dado na sala de aula com a realidade em que vive (AUSUBEL, 1982), chegando de
forma mais eficaz ao conhecimento, logo, aprendendo. Portanto, as viagens podem ter
essa finalidade educativa:
Dessa forma, os escritores começam a refletir sobre seus escritos e ensaios
sobre a viagem, como é o caso de Montaigne ou de Sir Francis Bacon, que,
em sua obra “Of Travel” (1612), estima que a viagem deve fazer parte da
educação de jovens e da experiência de pessoas com mais idade.
(MONTEJANO, 2001, p. 308)
40
com padre Policarpo até a praça onde o escravo foi enforcado, o mestre poderá
comentar sobre a escravidão no Maranhão, ao longo do roteiro pode, ainda, mostrar o
patrimônio cultural da cidade e discutir com os alunos a importância deste patrimônio,
abordar a literatura do Estado, propiciar aos alunos a oportunidade de conhecer a
cidade/fazer turismo.
O Turismo Pedagógico é uma prática também apoiada pelo PCN –
Parâmetros Curriculares Nacionais, documento que norteia a educação no país,
garantindo que os conteúdos sejam iguais para toda a nação, o mesmo frisa:
É importante salientar que o espaço de aprendizagem não se restringe à
escola, sendo necessário propor atividades que ocorram fora dela. A
programação deve contar com passeios, excursões, teatro, cinema, visitas a
fábricas, marcenarias, padarias, enfim, com as possibilidades existentes em
cada local e as necessidades de realização do trabalho escolar. (BRASIL,
1997, p. 67 – grifos nossos)
41
pedagógico compreende, assim, praticamente uma subdivisão do turismo cultural, pois
ambos têm o mesmo objetivo, apesar de diferirem na finalidade. O turismo cultural só
tem a finalidade de conhecer a cultura do outro e o turismo pedagógico além de
conhecer a cultural ainda tem a finalidade educativa, já que os alunos darão retorno ao
professor do que aprenderam com o passeio através de métodos avaliativos criados pelo
docente.
Outra característica que aproxima o turismo pedagógico do turismo cultural
é o fato de que quando os alunos saem da sala de aula para a realidade, eles já vão com
uma carga de informações, compreendendo que os praticantes do turismo cultural já são
aqueles que vão ao destino com alguma informação sobre o assunto em questão. Nota-
se outro ponto em comum entre essas modalidades, como defende Costa (2009, p. 60):
O senso comum relatado anteriormente sobre o turismo cultural diria que seu
objetivo final é a própria visitação aos bens que compõem o patrimônio
cultural da comunidade receptora. No entanto, a leitura mais atenta do
fenômeno turístico cultural que vem sendo defendida neste estudo indica que
seu principal objetivo é propiciar experiências que dêem origem a um
processo educativo que auxilie no desenvolvimento integral dos visitantes e,
consequentemente, na conservação do recurso cultural visitado.
42
forma na qual a população local fica excluída, pois se utilizam do patrimônio apenas
como atrativo turístico, sem dar àquele uma “função” a sociedade a qual pertence.
Essas “habilidades” adquiridas pelo Turismo Pedagógico têm também um
enfoque na cidadania, pois, a partir de experiências com essa prática, o aluno não será
um mero receptor de conhecimento, mas também agirá e refletirá sobre este.
Para que o turismo cultural tome conotações sustentáveis, ideal do turismo
hodierno, é necessário que haja educação patrimonial para, como já foi citado, a
população se sinta pertencente àquele patrimônio, reconheça-o e se reconheça nele,
dando-lhe valor. Sendo assim, o Turismo Pedagógico, que possui ligações diretas ao
Turismo Cultural, será um meio importantíssimo para que o turismo realizado seja
sustentável, trazendo benefícios para a comunidade e que as gerações futuras possam
usufruir tantos dos benefícios da atividade quanto poder presenciar o patrimônio
existente.
Portanto, a obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, um dos
autores mais renomados do Maranhão, pode ser um meio de criarem-se roteiros
pedagógicos e turísticos.
Para compreendermos a importância da obra é importante conhecermos um
pouco da vida e obra do autor Josué Montello que, ao longo de sua carreira, contribuiu
bastante com a literatura maranhense e brasileira, sendo destaque nacional como
veremos a seguir.
Josué Montello, como foi firmado por José Sarney na citação acima, foi um
dos maiores literatos da história brasileira, ocupante da Cadeira n. 29, em 4 de
novembro de 1954, na sucessão de Cláudio de Sousa, foi recebido em 4 de junho de
1955, pelo acadêmico Viriato Correia.
Filho de Antônio Bernardo Montello e Mância de Souza Montello, Josué
nasceu em São Luís – MA no dia 21 de agosto de 1917 e faleceu em 10 de março de
2006. Entre suas profissões o autor já passou por jornalista, professor, romancista,
43
cronista, ensaísta, historiador, orador, teatrólogo e memorialista. A partir da Biblioteca
Virtual de Literatura e do site da Academia Brasileira de Letras têm-se as seguintes
informações sobre o escritor.
Estudou em São Luís, na escola Modelo Benedito Leite e no Liceu
Maranhense, tendo sido destaque da turma neste último. Deu início à sua carreira
literária no Liceu Maranhense, onde dirigiu um periódico escolar chamado “A
Mocidade”.
Em 1932, Josué Montello integrou a Sociedade Literária Cenáculo Graça
Aranha, tendo colaborado com os principais jornais maranhenses (A Tribuna, Folha do
Povo e O Imparcial) até 1936, quando se mudou para Belém do Pará, onde publicou seu
primeiro livro com a colaboração de Nélio Reis. Aos dezoito anos, foi eleito membro
efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará. Foi transferido no fim de 1936 para
o Rio de Janeiro, onde continuou a colaborar de forma assídua com a literatura
brasileira, integrando-se ao grupo intelectual que fundou o Dom Casmurro.
Em 1937, foi nomeado Inspetor Federal do Ensino Comercial, no Rio de
Janeiro. Em 1939 foi nomeado para o cargo de Técnico de Educação, do Ministério da
Educação, após se inscrever com a tese "O sentido educativo da arte dramática",
obtendo uma das mais destacadas classificações.
Em 1941, publicou seu primeiro romance, “Janelas fechadas”. Em 1943, foi
professor do curso de Organização de Bibliotecas, do Departamento Administrativo do
Serviço Público.
Em 1944, a convite do Dr. Rodolfo Garcia, diretor geral da Biblioteca
Nacional, planejou a reforma geral do principal instituto bibliográfico. Além de ter
instalado em bases modernas os cursos da Biblioteca Nacional, de que foi a princípio
coordenador e a seguir diretor. Foi professor da cadeira de Literatura Portuguesa do
curso superior de Biblioteconomia, logo a seguir.
Em 1946, a convite do governo do Maranhão, fez o plano da reforma do
ensino primário e normal do Estado, que a seguir se converteu em lei. Ao tempo da
interventoria Saturnino Belo, exerceu o cargo de secretário-geral do Maranhão.
Em 1947, foi nomeado diretor geral da Biblioteca Nacional. Exerceu,
cumulativamente, a direção do Serviço Nacional do Teatro.
Em 1953, a convite do Itamaraty, inaugurou e regeu por dois anos a cátedra
de Estudos Brasileiros da Universidade Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, no
Peru. Em 1954, recebeu da mesma universidade o título de seu Catedrático Honorário.
44
A partir de 1954, tornou-se colaborador permanente do Jornal do Brasil, no qual
manteve uma coluna semanal até 1990, e das publicações da Empresa Bloch, sobretudo
na revista Manchete.
Em 1955, o Teatro Universitário da Universidade de San Marcos, por
iniciativa do diretor Pedro Jarque y Leiva, iniciou a temporada com a peça O Verdugo,
especialmente escrita por Josué Montello para o mesmo teatro.
Em 1956, exerceu o cargo de subchefe da Casa Civil do Presidente da
República. Em 1957, convidado pelo Itamaraty, regeu a cátedra de Estudos Brasileiros,
na Universidade de Lisboa e em 1958, regeu a mesma cátedra na Universidade de
Madri. A convite do Instituto de Cultura Hispânica ministrou um curso sobre literatura
brasileira na Cátedra Ramiro de Maeztu.
Organizou e instalou o Conselho Federal de Cultura, sendo o seu primeiro
presidente, em 1967-1968, e membro até 1989, quando o Conselho foi extinto. De 1969
a 1970, foi conselheiro cultural da Embaixada do Brasil em Paris. De volta ao Brasil,
organizou e instalou o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, onde empreendeu a
reforma e instalação da nova Reitoria. De 1985 a 1989, foi embaixador do Brasil junto à
UNESCO.
De janeiro de 1994 a dezembro de 1995, ocupou a presidência da Academia
Brasileira de Letras, realizando uma ampla reforma administrativa na quase centenária
Casa de Machado de Assis.
Josué Montello deu continuidade ao romance citadino machadino, na linha de
Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, Lima Barreto e
tantos outros. Josué iria agregar uma temática nova, da reconstrução do
tempo vinculada à vida cotidiana do Maranhão, com livros extraordinários, o
maior deles “Os tambores de São Luís”, que, com um século de atraso, é o
magistral romance sobre a escravidão. (SARNEY, 2008, p. 42)
45
Josué Montello ainda se sobressai por seus mais diversos prêmios recebidos
ao longo da carreira:
Prêmio “Sílvio Romero” de Crítica e História, da Academia
Brasileira de Letras, 1945. Com a publicação de Histórias da vida
literária;
Prêmio “Artur Azevedo” de Teatro, da Academia Brasileira de
Letras, 1947. Com a publicação de Escola da saudade;
Prêmio “Coelho Neto” de Romance, da Academia Brasileira de
Letras, 1953. Com a publicação de Labirinto de espelhos;
Prêmio “Paula Brito” de Romance, da Prefeitura do Distrito Federal,
1959. Com a publicação de A décima noite;
Prêmio “Fernando Chinaglia” de Romance, da União Brasileira de
Escritores, 1965. Com a publicação de Os degraus do paraíso;
Prêmio “Luísa Cláudio Souza” de Romance, do PEN Clube do
Brasil, 1967. Com a publicação de Os degraus do paraíso;
Prêmio “Intelectual do Ano”, da União Brasileira de Escritores e da
Folha de S. Paulo, 1971. Com a publicação de Cais da Sagração;
Prêmio de Romance da Fundação Cultural de Brasília, 1972. Com a
publicação de Cais da Sagração;
Prêmio de Romance da Associação Paulista de Críticos de Arte,
1978. Com a publicação de Noite sobre Alcântara;
Prêmio Nacional de Romance do Instituto Nacional do Livro, 1979.
Com a publicação de Noite sobre Alcântara;
Prêmio “Personagem Literária do Ano 1982”- da Câmara Brasileira
do Livro, de São Paulo, pelo seu conjunto de obra;
Prêmio Brasília de Literatura para conjunto de obra “1982”, da
Fundação Cultural do Distrito Federal, 1983, para conjunto de obras;
Grande Prêmio da Academia Francesa, 1987;
Prêmio São Sebastião de Cultura, da Associação Cultural da
Arquidiocese do Rio de Janeiro, 1994;
Prêmio Ateneu Rotário do Rotary Clube de São Paulo, ao ser eleito
“Personalidade do Ano” na área de Letras, 1997;
Prêmio Guimarães Rosa, de prosa, do Ministério da Cultura, 1998;
46
Prêmio Oliveira Martins, da União Brasileira de Escritores, pela
publicação de Os inimigos de Machado de Assis, 2000;
Prêmio Ivan Lins (Ensaio) da Academia Carioca de Letras, pela obra
O Juscelino Kubitschek das minhas recordações, 2000.
Através das obras e pela infinidade de prêmios que o escritor Josué
Montello fez e recebeu, destaca-se a importância do mesmo não somente para a
literatura brasileira, mas também para a história do Brasil, pois muito contribuiu com o
país durante sua carreira. Sendo assim, parte-se para sugestões de possíveis roteiros,
pensados a partir dos percursos dos personagens da obra “Os tambores de São Luís”
para que se possa tornar o passeio dos turistas mais interessantes e estimular o
aprendizado de alunos.
4.3 Construindo roteiros turísticos a partir da obra literária “Os tambores de São
Luís
47
A partir da compreensão de que o turismo cultural é, em si, a atividade na
qual o turista se desloca a fim de adquirir conhecimentos, satisfazer a curiosidade, se
informar, e o Turismo Pedagógico sendo:
O turismo pedagógico é uma maneira de oferecer aos estudantes a
oportunidade de conhecer melhor uma determinada região e vivenciar a
história, as tradições, os hábitos e os costumes da população local, por meio
de aulas práticas no próprio destino receptor (MOLETTA, 2003, p. 11)
48
A partir do roteiro com finalidade de Turismo Pedagógico, desenvolveu-se a
criação de três roteiros que podem seguir este fim, que, segundo Álvares, Linhares e
Taveira (apud BAHL, 2004), esse modelo de turismo tem como características:
É uma experiência que serve à escola em suas atividades educativas;
O aluno é colocado temporariamente na condição de turista, num
processo que implica a conversão e reconversão do “olhar turístico”;
Os agentes econômicos que atuam na atividade turística atendem ao
plano pedagógico da escola;
A viagem é definida pela escola seguindo um plano preestabelecido,
no qual as experiências vivenciadas no deslocamento irão integrar-se na ação
educativa;
A viagem é realizada no período letivo e não nas férias escolares;
As experiências vivenciadas durante a viagem são acompanhadas pelo
professor que, poderá contar ou não com a presença de guias de turismo, em
caráter suplementar, jamais substituindo o professor;
Implica preparação e prolongamento, ou seja, requer um plano
contendo planejamento prévio das atividades e intervenções em sala de aula
no retorno da experiência turística.
50
(Disponível em:
<http://dicionario.sensagent.com/tambor+de+mina/pt-pt/>);
Praça da Alegria – Rua de Santana: O local inicialmente foi
chamado de Praça da Forca Velha, porque era lá que se enforcavam
os condenados. Em 1815, uma resolução mudou o nome para Praça
13 de Maio em homenagem à data da abolição da escravatura.
Depois, o nome foi trocado para Praça Saturnino Belo. Ambas as
denominações não vingaram. No ano de 1849, a praça passou a se
chamar como na atualidade. No entanto, em 1868, aconteceu uma
nova mudança. O logradouro foi intitulado de Praça Sotero dos Reis,
por causa do ilustre filósofo que residia no local, que foi o primeiro
diretor do Liceu Maranhense. A troca não demorou muito. No ano
seguinte, o espaço passou a ser chamado novamente de Praça da
Alegria. Apesar da intenção e de todas as tentativas de redimir as
maldades praticadas no logradouro, a atmosfera triste e soturna dos
tempos do velho patíbulo permanece, exatamente como uma espécie
de castigo. (Disponível em:<
http://www.jornalpequeno.com.br/2006/10/30/Pagina44875.htm>);
Igreja de Santana – Rua de Santana: Foi construída em 1794, a
partir de uma iniciativa do cônego João Maria da Luz. É nesta igreja,
precisamente na sacristia, que se encontra o nosso único exemplar
conhecido da azulejaria figurativa sacra, cujo similar existe apenas
em Florença, na Igreja de Nossa Senhora das Flores. Trata-se de um
magnífico painel contendo um medalhão central, no qual figura uma
cena de piedade. É normalmente confundida com a demolida Capela
de Santa da Sagrada Família, popularmente conhecida como Igreja
de Santaninha.
(Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de
Patrimônio de São Luís – Ma);
Teatro João do Vale – Rua da Estrela: O Teatro João do Vale
encontra-se situado na Rua da Estrela, bairro da Praia Grande. Foi
inaugurado no ano de 1995 e é um dos centros culturais mais
importantes da Cidade. Nele se realizam vários espetáculos e
manifestações culturais durante todo o ano, e é sede do 'Festival
51
Estudantil de Teatro', do 'MPM de Cara Nova' e do 'Mastro Junino'.
(Disponível em: http://www.a-brasil.com/saoluis);
Solar dos Vasconcelos – Rua da Estrela: Notável exemplar da
arquitetura portuguesa, localizado na Rua da Estrela, possui balcão
central curvo em cantaria trabalhada. Neste sobrado encontra-se o
Memorial do Centro Histórico com exposição permanente de
maquetes e painéis fotográficos que contam a história da cidade e do
Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São
Luís. É também a sede da Superintendência do Patrimônio Cultural,
órgão estadual responsável pelo monitoramento e controle do Centro
Antigo. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação
Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Feira da Praia Grande – Rua da Estrela: Em 1805, devido à
dificuldade de comercialização de produtos, foi criado o chamado
“Terreiro Público”, com barracas de praça. Em 1820 recebeu o nome
de Casa das Tulhas, uma espécie de mercado modelo. E, 1859, foi
criada a empresa “Confiança Maranhense” que demoliu o que
restava da Casa das Tulhas e erigiu o Mercado da Praia Grande.
(Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de
Patrimônio de São Luís – Ma);
Câmara Municipal de São Luís – Rua da Estrela: A Câmara
Municipal de São Luís ocupou diversos prédios ao longo da história
da cidade. Sua primeira sede foi o atual Palácio de La Ravardiere,
onde hoje está localizada a sede da Prefeitura Municipal. Esteve
também instalada no edifício onde atualmente funciona a Junta
Comercial do Estado do Maranhão. O seu atual prédio foi construído
em 1807, para abrigar a Alfândega. A sua edificação se deu em
grande parte devido às inundações que ocorriam na área em que
funcionava a antiga Aduana. Em 1869, devido ao seu péssimo estado
de conservação, sofreu uma reforma na qual lhe foi restituída a sua
escada principal. Em 22 de fevereiro de 1985 a edificação recebeu a
sede do Poder Legislativo Municipal. (Fonte: Projeto Caminhos da
Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
52
Praça Benedito Leite – Rua de Nazaré: A atual Praça Benedito
Leite já recebeu várias denominações, tais como Largo do João do
Vale (nome de abastado português que ali residia), Largo de João
Velho, João do Val, Praça da Assembléia e Jardim Público 13 de
Maio. Durante algum tempo, ali existiram casebres que foram
derrubados para dar espaço a um gracioso jardim. No meio da Praça,
encontramos a estátua de Benedito Leite, governador do Maranhão
no período de 1906 a 1908, obra do escultor francês Emille
Decorchemont. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação
Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Edifício São Luís – Rua de Nazaré: Construído em três pisos e
duas fachadas, ambas revestidas de azulejos portugueses. É
considerado o maior prédio de azulejos do país em estilo colonial.
Em 1932, João Gomes, interventor militar do Maranhão, nele
instalou um quartel. Em 1969, um violento incêndio destruiu
completamente seu interior, e em 1976 foi adquirido pela Caixa
Econômica Federal que o recuperou, implantando um escritório de
negócios. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação
Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Rua do Giz: Conhecida originalmente como ladeira do Giz, iniciava
na Avenida Maranhense (Dom Pedro II), terminando no tradicional
Largo das Mercês. Sofreu com o passar dos anos sensíveis
modificações, quando o trecho entre a Avenida Maranhense e a Rua
de Nazaré foi aterrado para construir o conjunto da Associação
Comercial. Já foi chamada de Rua Vinte e Oito de Julho, Rua dos
Bancos e, atualmente voltou a ser chamada de Rua do Giz. (Fonte:
Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de
Patrimônio de São Luís – Ma);
Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do
Maranhão – Rua do Giz: Localizado a Rua do Giz, este Centro
além de desenvolver pesquisas, mantém exposições permanentes nas
áreas de Paleontologia e Arqueologia, nas quais se podem observar
fósseis de dinossauros e rochas de cerca de 95 milhões de anos e
53
artefatos produzidos pelos primeiros habitantes do território
maranhense. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação
Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Casa da Fésta – Rua do Giz: Esta casa fica localizada a Rua do
Giz, e foi separada do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira
Filho no na de 2002, recebendo o nome Casa da Fésta em virtude do
nome “fé” no início do nome festa. A casa realiza diversas
exposições baseadas na religiosidade e está subdividida em andares,
onde retrata manifestações da cultural maranhense. (Fonte: Projeto
Caminhos da Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São
Luís – Ma);
Rua Grande: O outrora Caminho Grande, Rua Oswaldo Cruz, ou
mais comumente descrita, a Rua Grande. É a rua mais movimentada
e responsável por praticamente toda a fama de um dos maiores
centros comerciais a céu aberto do Brasil. Mesmo estando incrustada
no Centro Histórico da capital, convive harmonicamente com
empreendimentos comerciais mais modernos e contemporâneos e, ao
longo de mais de três séculos de existência, nunca perdeu o seu
charme e sua importância. (Disponível em:
<http://saoluisemcena.blogspot.com/2009/02/rua-grande-e-sua-
cronologia-urbana.html>);
Casa de Cultura Josué Montello – Rua das Hortas: A Casa de
Cultura Josué Montello tem como objetivo promover estudos,
pesquisas e trabalhos voltados para a Literatura, Artes, Ciências
Sociais, História e Geografia do Maranhão. O seu acervo é composto
por aproximadamente 35 mil peças, entre livros raros, publicações
avulsas, periódicos nacionais e internacionais, fotografias, etc. Este
espaço conta também com a obra completa do escritor, objetos e
documentos pessoais, tais como, medalhas, placas decorativas,
quadros, manuscritos e vasta correspondência. (Fonte: Projeto
Caminhos da Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São
Luís – Ma).
O segundo roteiro refere-se ao caminho realizado pelo cocheiro para levar o
Padre Policarpo ao enforcamento do escravo, a fim de que o este fosse abençoado antes
54
de sua morte. Esse percurso é viável ser feito a pé, porém, também pode ser realizado
com outra forma de locomoção. Neste é válido lembrar somente o horário que será
realizado o percurso, pois se pode notar a falta de segurança em alguns pontos do
trajeto, porém ele é bastante viável. Os atrativos do caminho realizado: Palácio da Sé –
Rua de Nazaré – Largo do João do Vale – Rua da Estrela – Igreja do Desterro
(largo – onde foi enforcado), além dos já citados como a Praça Benedito Leite, o Teatro
João do Vale, Solar dos Vasconcelos e a Feira da Praia Grade, temos:
Igreja da Sé: Os primeiros passos para sua construção foram dados
em 1619 por iniciativa do 3º Capitão-Mor Diogo Machado da Costa,
sendo inaugurada em 1622. A partir de 1762 passou a catedral do
Bispado. Depois de algumas reformas, no ano de 1922 foi
reconstruída a fachada acrescentando outra torre, dando um estilo
neoclássico. Os trabalhos de entalhe do altar-mor foram elaborados a
partir do desenho do padre Bittendorff pelo entalhador português
Manoel Mansos, auxiliador por Diogo de Souza, morador de São
Luís. O retábulo é todo revestido em ouro e foi tombado pelo
IPHAN. As pinturas dos forros são do artista plástico maranhense
João de Deus e datam da década de 50 do século XX. (Fonte: Projeto
Caminhos da Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São
Luís – Ma);
Convento das Mercês: Localizado entre a Rua da Palma e a Rua da
Estrela, este prédio foi fundado pelos mercedários em 1654,
modestamente feito de taipa e coberto de palha, mas não tardou
muito para ser erigido de pedra e cal. Com a independência do
Brasil, o Convento passou por um processo de abandono pelos seus
frades, modificado por D. Luís da C. Saraiva, que depois de ampliar
e recuperar o prédio transformou-o na sede do Seminário Menor
(1863), que virou um importante Instituto de Humanidades. O Bispo,
D. Xisto Albano, o vendeu (1905) para o Governo do Estado, que o
transformou no quartel da Polícia Militar e dos Bombeiros. (Fonte:
Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de
Patrimônio de São Luís – Ma);
Igreja São José do Desterro: A primeira capela edificada neste
mesmo local chamava-se Capela de Nossa Senhora do Desterro,
55
pequena ermida coberta de palha. Durante a invasão holandesa, a
imagem de sua padroeira foi destruída e a capela profanada. Passou
por vários períodos de abandono ao longo dos tempos, sofrendo
deterioração e desmoronamentos. Contudo, a custo de alguns
esforços dos devotos de São José do Desterro a igreja foi reerguida.
A edificação apresenta planta pentagonal distinguindo-se das demais
construídas na região. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da
Fundação Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma).
Além desses atrativos, pode-se incluir a Cafua das Mercês que é uma
edificação tradicional portuguesa, situada na Rua Jacinto Maia, com fachada uniforme e
dois pavimentos, que se destinavam a um suposto mercado de escravos, pois, segundo a
tradição, este prédio era o local onde depositavam os negros quando desembarcavam em
São Luís para serem leiloados. Atualmente é o museu do negro (Fonte: Projeto
Caminhos da Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma).
O terceiro, quarto e quinto roteiros correspondem aos caminhos realizados
pelo Padre Policarpo. O primeiro desses é o percurso do padre para ir ao Seminário dar
aulas aos aspirantes a padre. O segundo o trajeto de volta da Igreja de Santo Antônio,
onde se localizava o Seminário e o terceiro à caminhada do Tracajá, como era
conhecido o padre Policarpo, para a casa onde residia sua filha.
1) IDA: Palácio da Sé – Rua dos Afogados – Rua de São João – Largo
de Santo Antônio
O trajeto é um pouco longo, mas é possível realizá-lo a pé, ou, se preferir,
outra forma de locomoção, exceto ônibus devido à largura das ruas. Neste percurso,
além da já citada nos outros trajetos, a Igreja da Sé, tem-se:
Fonte do Ribeirão – Rua dos Afogados: Recebe este nome por
estar localizada no antigo sítio do Ribeirão. Esta fonte foi construída
no ano de 1796 pelo Tenente-Coronel D. Fernando Antônio de
Noronha, que governou o Maranhão entre 1792 e 1798, e tinha por
finalidade sanear e melhorar o uso das águas daquela localidade.
Possui janelas que dão acesso às lendárias galerias subterrâneas da
cidade. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação
Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Igreja de Santo Antônio – Rua de São João: Possui estilo
manuelino. Foi aberta aos fiéis no ano de 1867. Possui como
56
prolongamento duas capelas de construção bem anteriores: a Capela
do Senhor Bom Jesus da Coluna e a Capela de Bom Jesus dos
Navegantes que ficou imortalizada em nossa história graças ao padre
Antônio Vieira que, do seu púlpito, teria proferido o célebre
“Sermão dos peixes”. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da
Fundação Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Nesse roteiro, também podemos incluir a Igreja de São João Batista
localizada na Rua de São João, que foi construída em 1655, por iniciativa de Ruy Vaz
de Siqueira que governava o Maranhão na época. Conta-se que apaixonado por uma
mulher casada e por temer o escândalo, fez a seguinte promessa a São João Batista:
mandaria construir o templo se o caso não fosse descoberto. Guardou por alguns anos os
restos mortais de Joaquim Silvério dos Reis, o suposto traidor da Inconfidência Mineira
(Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São
Luís – Ma).
58
ele, caracterizando-o como “nosso”. Percebe-se, enfim, o quão Josué Montello estava
certo em sempre lembrar a beleza da nossa cidade em suas obras.
* Visualizar em Anexo II o mapa do Centro Histórico para melhor se localizar nos roteiros.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
59
caráter interdisciplinar, pois o trajeto abre a oportunidade de abordar diversas
disciplinas.
REFERÊNCIAS
ANDRÈS, Luiz Phelipe de Carvalho Castro (coord.). Centro Histórico de São Luís –
Maranhão: patrimônio mundial. São Paulo: Audichromo, 1998.
BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do Turismo. 7. ed. São Paulo: Senac, 2002.
60
BIOGRAFIA DE JOSUÉ MONTELLO. Disponível em:
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=784&sid=284&tpl=
printerview . Acesso em: 03 jun. 2011.
CANDIDO, A. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989.
FISCHER, Almeida. O áspero ofício III. Rio de Janeiro, Cátedra, Brasília INL, 1977.
61
FOUCAULT, M. Linguagem e literatura. In: MACHADO, R. Foucault, a filosofia e a
literatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
62
MONTEJANO, Jordi Montaner. Estrutura do Mercado Turístico. 2. ed. São Paulo-
SP: Editora: Roca, 2001.
RICOEUR, P. Tempo e narrativa. Campinas: Papirus, 1994 (tomo I), 1995 (tomo II).
SARNEY, José. Crônicas do Brasil contemporâneo, VII: sobre isso e aquilo. São
Paulo-SP: Editora Ediouro, 2008.
63
Convergências. 13 a 17 de julho de 2008. USP – São Paulo. Disponível em:
<http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/002/MARIA_SI
MOES.pdf.> Acesso em: 10 maio 2011.
ANEXOS
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ANEXO I
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entrevista para a manhã do dia seguinte. A sensação era de ansiedade; havia muitas
perguntas a serem feitas.
Saí do bairro do Monte Castelo em direção ao centro da cidade para encontrar
com Montello em sua casa. Sentia-me um pouco como Damião, mesmo sabendo que a
ocasião era diferente: ele ia em direção à Gamboa para conhecer o neto; eu ia para
conhecer o autor de uma narrativa que durante um período preencheu meus dias como
pesquisadora.
Era uma manhã ensolarada; uma dessas manhãs em que acordamos com uma
certeza de um dia promissor- eu queria que todas as perguntas fossem respondidas.
Acompanhe conosco o olhar do criador da obra Os Tambores de São Luís:
66
outras palavras, existe um gênero de romance histórico (realidade factual de maneira
objetiva) nos meus romances. A minha experiência é apresentada como uma
cosmovisão. No de número 18, Sempre será Lembrada, eu contrasto o Maranhão novo
com o Maranhão que eu conheci quando menino, e cuja tendência é confrontar ou
assimilar aquilo que está diante de um e de outro, quando não pode confrontar, procura
preservar. Devo acrescentar, ainda, que eu tenho outras experiências; há, por exemplo,
um romance meu que se passa em Paris. Como morei 9 anos em Paris, tenho uma
vivência da cidade, mas eu quis fazer um romance que corresponda ao período da
ocupação alemã; consegui isso porque era uma realidade que, dificilmente, um escritor
francês levaria adiante, porque é o romance em que a França, com todo seu orgulho, é
derrotada, até o momento em que sobreveio a revanche, no final da guerra.
67
porque existe uma junção entre a realidade objetiva e a realidade factual, que, de fato,
mesmo quando se cria uma coisa totalmente imaginária, como o Guarani, termina
sendo uma realidade objetiva. É essa a capacidade que tem o romancista de mentir para
o leitor e o leitor de acreditar na mentira dele, como se fosse verdade. Nos Tambores de
São Luís, são 446 personagens que parecem vivos. Damião, por exemplo, foi inventado,
mas ele é uma figura histórica. É essa realidade que é importante pra mim: nesse
romance, ao invés de considerar que o negro foi escravo, eu considero que ele foi
escravizado.
Qual a diferença?
J.M. - O escravo é aquele que se ajusta a sua condição sem protesto; o escravizado só
pensa na liberdade dele, daí as tentativas de fuga. Esse fato é que constitui a
singularidade da minha narrativa... Que também você encontra nesse novo romance da
transformação de São Luís, que contrasta as duas realidades, do agora e do ontem; essa
é a importância do romance.
68
Quanto ao momento de escrever, como você faz? Reescreve muito, faz planos?
Você tem um método, uma disciplina, escreve x horas por dia?
J.M. Não tenho nenhum método mágico de escrita. Quando trabalhei nOs Tambores,
eu era reitor da universidade, e tinha todos os meses que ir daqui para Brasília; eu ia
para o Rio de Janeiro, pois era presidente de cultura; eu levava comigo o meu caderno,
no avião, na sala de espera, o tempo que eu tivesse... eu ia fazendo o resto na minha
cabeça.
69
ANEXO II – Mapa das ruas do Centro Histórico de São Luís / MA.
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Fonte: ANDRÈS, Luiz Phelipe de Carvalho Castro (coord.). Centro Histórico de São Luís – Maranhão:
patrimônio mundial. São Paulo: Audichromo, 1998.
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