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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE TURISMO

NAYARA ARAÚJO DOS SANTOS

CAMINHANDO NOS ENCANTOS DE SÃO LUÍS PELOS


TAMBORES DE JOSUÉ MONTELLO

São Luís
2011
NAYARA ARAÚJO DOS SANTOS
NAYARA ARAÚJO DOS SANTOS

CAMINHANDO NOS ENCANTOS DE SÃO LUÍS PELOS


TAMBORES DE JOSUÉ MONTELLO

Monografia apresentada ao Curso de


Turismo da Universidade Federal do
Maranhão para obtenção do grau de
Bacharel em Turismo.

Orientador: Prof.ª Drª Conceição Belfort

São Luís
2011
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NAYARA ARAÚJO DOS SANTOS

CAMINHANDO NOS ENCANTOS DE SÃO LUÍS PELOS


TAMBORES DE JOSUÉ MONTELLO

Monografia apresentada ao Curso de


Turismo da Universidade Federal do
Maranhão para obtenção do grau de
Bacharel em Turismo sob a orientação da
Professora Drª Conceição Belfort

Aprovada em: / /

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Conceição Carvalho Belfort (Orientadora)

______________________________________________
Profª. Dra. Klautennys Guedes

______________________________________________
Profª. Me. Karoliny Diniz Carvalho

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AGRADECIMENTOS

A todos que me ajudaram a alcançar tal conquista.


Em primeiro lugar, a Deus por ter me dado a força, saúde e ter colocado as “pessoas
certas” ao longo do meu caminho.
Aos meus pais, Iêda Araújo e Sebastião Malheiros, por todo o apoio e, em especial,
a minha tia Marineis Merçon que muito tem me ajudado na minha vida escolar e
acadêmica.
A minha queridíssima orientadora, Conceição Belfort, por toda paciência e
ensinamentos que tem me dado na elaboração deste trabalho e durante minha
participação no projeto de extensão ESINT – Espaço Integrado do Turismo.
Também agradeço a todos os colaboradores deste Espaço, em especial, a Édipo
Vinícius, Welyza Carla, Ariane Marina e Sheila Aguiar, pelos momentos de alegria
e incentivo.
À turma de 2006.2, por todos os maravilhosos e únicos momentos da minha vida
acadêmica que passei ao lado destes; em especial, a Weissylanne Mendes, Juliana
Castro, Thais Braz e Jacimary Cristina, que me proporcionaram muitas ocasiões
alegres e divertidas e pela contribuição na academia.
A toda minha família por sempre estar presente, em especial meu irmão, Saulo
Jorge, minha tia/madrinha Marlene Lima, minhas primas, Andréa Sousa, Nadja
Malheiros e Nathalie Malheiros por participarem da minha vida.
Enfim, a todos que participaram e participam da minha vida.
Muito Obrigada!

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“Gostamos de sair um pouco de nós
mesmos, de viajar, quando lemos”.
Marcel Proust

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RESUMO

Este trabalho visa a compreender a relação entre o turismo cultural e a literatura, tendo
em vista que a literatura mostra que, em muitas de suas obras, a história real mescla-se à
própria narração do livro. Acontecimentos históricos, descrição da cidade, cultura do
povo são, nesse contexto, caracteres de motivação do turismo cultural. Tem-se como
objetivo principal estabelecer a relação entre os bens/espaços simbólicos da obra “Os
tambores de São Luís”, de Josué Montello, a partir de uma pesquisa bibliográfica de
caráter qualitativo e interdisciplinar nas áreas de turismo, literatura e pedagogia através
da discussão da literatura como fator motivador para o turismo cultural. Busca-se
analisar os impactos do turismo cultural assim como identificar os bens/espaços
simbólicos da obra “Os tambores de São Luís”, relacionando a obra literária com o
turismo cultural e percebendo-se pontos que convergem para o fato de que a literatura é
motivadora de viagens desde a Antiguidade, quando a sociedade ficava a par de como
era o mundo afora a partir dos relatos e diários dos viajantes – desta literatura mais
marcante da época, sugeriram-se roteiros, ainda não testados, para a realização do
Turismo Pedagógico. Já que o turismo cultural é a ação de se deslocar para conhecer
outra cultura, a literatura como descritora desses outros povos e sociedade e o Turismo
Pedagógico a tipologia do turismo que tem como objetivo ensinar os alunos a partir do
contato direto com a realidade cultural, traçam-se, assim, pontos de convergência entre
estes. Busca-se, pois, neste trabalho monográfico, compreender a relação da obra “Os
tambores de São Luís” de Josué Montello, com o turismo cultural e estabelecer meios
que tornam a literatura como recurso para o turismo.

Palavras-chave: Turismo Cultural. Literatura. História. Turismo Pedagógico.

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ABSTRACT

This work aims to understand the relationship between literature and cultural tourism,
given that the literature shows many of his works in the real story is that the narration of
the book, such as historical events, description of the city, culture of the people, being
these characters motivation factors of cultural tourism. Its main goal is to establish the
relationship between the goods / symbolic spaces of the book "The drums of St. Louis"
Josué Montello from a literature survey of qualitative and interdisciplinary areas of
tourism, literature and pedagogy through discussion of literature as motivating factor for
cultural tourism, examining the impacts of cultural tourism, identifying the goods /
symbolic spaces of the book "The drums of St. Louis," the literary work relating to
cultural tourism and realizing that converge to points to the fact that literature is travel
purposes since antiquity, in which the company was aware of how the world was from
the reports and diaries of travelers, most remarkable literature of the time, it was
suggested itineraries, untested, to achieve Educational Tourism. As cultural tourism
action to move to learn about another culture, literature as descriptors of these other
people and society and Tourism Pedagogic the typology of tourism which aims to teach
students from direct contact with the cultural reality, draw so points of convergence
between them. We seek to understand well the relationship of the book "The drums of
St. Louis" Josué Montello with cultural tourism and establish ways that make the
literature as a resource for tourism, and motivating the literature of cultural tourism and
also as a key to direct a Pedagogical Tourism based on cultural tourism, since it seeks
knowledge, a feature of cultural tourism.

Keywords: Cultural Tourism - Literature - History - Educational Tourism

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................09
2. AS RELAÇÕES ENTRE A LITERATURA E A HISTÓRIA....................................13
3. A RELAÇÃO ENTRE A LITERATURA E O TURISMO CULTURAL..................21
3.1 Os textos literários podem motivar a atividade turística...........................................28
4. CONHECENDO A OBRA “OS TAMBORES DE SÃO LUÍS DE JOSUÉ
MONTELLO...................................................................................................................34
4.1 Turismo Pedagógico a partir da obra “Os tambores de São Luís”............................39
4.2 Vida e obra do autor Josué Montello.........................................................................43
4.3 Construindo roteiros turísticos a partir da obra Os tambores de São Luís................47
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................60
REFERÊNCIAS..............................................................................................................61
ANEXOS.........................................................................................................................65
Anexo I............................................................................................................................66
Anexo II...........................................................................................................................71

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1. INTRODUÇÃO

O que motiva alguém a ler um livro? A capa? O autor? O título? Influência


de amigos? Ou a pura magia de poder “estar” num mundo diferente sem ter que sair do
lugar? Esta última motivação é uma das que mais chamam atenção, uma vez que ao ler
um livro nos tornamos parte dele, imaginando-nos e nos colocando na história narrada.
O turismo e a literatura possuem uma estreita relação. A partir da leitura,
muitos ficam interessados em visitar/conhecer o lugar descrito no livro. Assim, pode-se
perceber que um apoia o outro: ao aguçar a curiosidade da pessoa que lê, a obra dá
motivação ao mesmo.
Assim como os filmes, onde se encontram muitos atrativos que só se
tornaram turísticos após ter aparecido em algum filme, muitos são os livros que levam o
leitor a querer conhecer a cidade em que se passa a história. Portanto, muitos são os
livros que levam a passear, viajar, conhecer algumas cidades, regiões, lugares.
Analisaremos a obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, a fim de mapear os
bens/espaços simbólicos citados no livro, estabelecer sua relação com o turismo cultural
e, enfim, sugerir a utilização de roteiros pensados a partir do livro para a prática do
Turismo Pedagógico ou Turístico.
Ao definir uma tipologia de turismo a este turista, que vem para conhecer a
cidade descrita no enredo da obra, destacamos o turismo cultural, que “compreende as
atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do
patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os
bens materiais e imateriais da cultura” (Marcos Conceituais – Ministério do Turismo).
Sendo o turismo cultural a vertente do turismo em que o turista é motivado a
se deslocar pela cultura do outro, e por estar em voga na sociedade hodierna a prática de
adotar medidas sustentáveis a fim de diminuir os impactos produzidos pela atividade, o
turismo cultural surge como uma atividade menos degradante ao meio.
O turismo cultural é uma modalidade que mais se correlaciona com o
turismo sustentável, pois se podem articular ações como a distribuição dos benefícios do
turismo à população local e a manutenção do controle da atividade realizada no local
são medidas que auxiliariam na sustentabilidade da atividade.
Os turistas motivados ou enquadrados nesta tipologia do turismo são, em
geral, mais informados. Buscam na viagem não apenas a satisfação dos serviços básicos

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(transporte, hospedagem, alimentação), mas também informações sobre os hábitos e
lendas da sociedade visitada.
Portanto, é importante perceber que a leitura não só motiva o turista, mas
guia-o pelos lugares apresentados através das palavras. Durante a apreciação do enredo
da história, a pessoa viaja no “mundo das ideias” e, quando se desloca motivada pelo
livro, procura os bens/espaços simbólicos citados na obra. Assim, o turista passa a
vivenciar e interpretar a história do livro, agregando valor ao produto turístico.
Percebe-se, então, que a leitura é um fator motivacional ao turismo cultural.
E, também, importante para a sustentabilidade desta atividade, uma vez que este tipo de
viajante buscará durante sua experiência turística preservar a singularidade e a
identidade do lugar visitado, pois será motivado pelo “espírito cultural” do livro que
tanto lhe chamou atenção.
A motivação para analisar tal tema vem do fato de ser estudante do Curso de
Pedagogia, além de Turismo, e buscar uma relação essas duas áreas para que ambas
encontrem sentido, para que convirjam a um mesmo fim. Portanto, estudar o turismo
como forma de aprendizagem é interessantíssimo – tanto para um estudo mais
aprofundado sobre o assunto, quanto para a própria formação do pedagogo.
O problema da pesquisa é descobrir se a literatura é um fator motivador do
turismo cultural, pois se percebe que a estreita relação entre a literatura e a história faz
com que muitos livros tornem-se verdadeiros guias de viagem. Sendo assim, quando um
turista vai conhecer o que o livro descreve, vai à busca de informações que encontrou no
livro, como sua história, lendas, cultura.
Ressalta-se que o turista, motivado pela literatura, já vem conhecedor da
cultura da cidade a partir do(s) livro(s). Portanto, é necessário que a população esteja
preparada para recebê-lo e, mais relevante ainda, é manter a identidade da cultura local,
pois foi esta que descrita na obra.
Esta pesquisa visa a apontar a relevância da literatura como motivação para o
turismo cultural e a importância da sustentabilidade desta atividade turística, haja vista
que quando um turista é motivado pela leitura, tem mais conhecimento e informação
sobre a cidade e também, a priori, mais respeito à cidade que visita.
Estabelecer a relação entre os bens/espaços simbólicos da obra “Os tambores
de São Luís”, de Josué Montello, com o turismo cultural é o objetivo principal deste
trabalho a fim de que se possa observar o quão a obra pode ser um “guia turístico” da
cidade e poder visualizar como se pode utilizá-la na confecção de roteiros tanto para

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turistas quanto para alunos. Esses roteiros tornarão a visita à cidade e o ensino dos
alunos mais interessantes e estimulantes, além de servir como um meio de propagar a
educação patrimonial, educando os futuros turistas desde cedo.
Para que se estabeleça esta relação, têm-se como objetivos específicos:
Discutir a literatura como fator motivador para o turismo cultural; Analisar os impactos
do turismo cultural para uma região; Identificar os bens/serviços simbólicos citados na
obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello; Relacionar a obra “Os tambores de
São Luís”, de Josué Montello, com o turismo cultural e; Sugerir a utilização de roteiros
pensados a partir da obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, para turistas e,
em especial, a alunos, dando ao roteiro um cunho Pedagógico, caracterizando-o como
Turismo Pedagógico.
Para que se compreenda um pouco do que é um texto literário, mas não
exaurir sua conceituação, cita-se o autor Amora (1973), que elenca no campo do
conteúdo e da forma as seguintes características do texto literário:
Conteúdo: o tipo de conhecimento da realidade que ela transmite –
conhecimento intuitivo e individual, sendo que estes se distinguem por ser
fruto de uma intuição mais profunda e original da realidade;
Forma: é peculiar de cada tipo de obra e fruto do esforço criativo que
a produziu, assim o produtor textual cria diversas expressões.

Dessas características de uma obra literária, percebe-se o quão apelativa ela


pode se tornar, uma vez que é realizada a partir do usufruto da imaginação do autor,
aguçando ainda mais a nossa curiosidade. Portanto, “O turista lança um olhar particular
sobre a cidade e seus passantes” (SILVEIRA JUNIOR, 2008, p. 12), a partir do que já
foi exposto pela obra lida.
A pesquisa será pelo método qualitativo, iniciando-se com a identificação
dos bens/espaços simbólicos citados na obra “Os tambores de São Luís”, de Josué
Montello, a partir da leitura da referida obra. Logo em seguida, far-se-á a relação entre
esses bens/espaços simbólicos identificados com turismo cultural, uma vez que estes
terão relação direta a esta tipologia de turismo.
O estudo terá um caráter interdisciplinar e explicativo, pois a pesquisa se
dará em torno de bibliografias do turismo, literatura e da pedagogia, além de explicitar
como se dá a relação entre a literatura e o turismo cultural.
A literatura atrai, em especial, o turista que quer conhecer os mistérios, as
lendas, histórias, os prédios históricos, as ruas, tudo aquilo que foi descrito no livro.

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Segundo o Ministério do Turismo, o viajante desta modalidade vem em busca de
atrativos como:
sítios históricos – centros históricos, quilombos;
edificações especiais – arquitetura, ruínas;
obras de arte;
espaços e instituições culturais – museus, casas de cultura;
festas, festivais e celebrações locais;
gastronomia típica;
artesanato e produtos típicos;
música, dança, teatro, cinema;
feiras e mercados tradicionais;
saberes e fazeres – causos, trabalhos manuais;
realizações artísticas – exposições, ateliês;
eventos programados – feiras e outras realizações artísticas, culturais,
gastronômicas;
outros que se enquadrem na temática cultural.

Assim, confirma-se com Simões (2008) se a proposição é a de cultura como


recurso, a literatura enquanto uma expressão da cultura é tomada com o mesmo
propósito; portanto, como recurso estratégico para suscitar o turismo cultural e o
desenvolvimento local.
Portanto, busca-se compreender a relação entre a literatura e o turismo
cultural a partir da obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, e, a partir desta
relação, estabelecer meios que tornam a literatura um recurso para o turismo.

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2 AS RELAÇÕES ENTRE LITERATURA E HISTÓRIA

A literatura no percurso da história foi criando laços cada vez mais estreitos
com a arte. Segundo Coelho (1922), na Antiguidade Clássica, a literatura se confundia
com a gramática; na Era Medieval a literatura era aplicada à gramática; na Era Clássica,
a literatura era a “imitação do real” relacionada ao culto da razão e beleza; na Era
Romântica, passou a ser a expressão do mistério e do enigma da existência e; na Era
Contemporânea, devido às crises de valores morais, a arte e a literatura passaram a ser
um problema a serem resolvidos.
Não existe uma definição exata para o que seja texto literário, haja vista que
esclarecer o sentido deste é um trabalho bastante difícil; apesar de já existirem muitas
interpretações para definir o seu significado, nem todas possuem o mesmo sentido.
Sendo assim, não existe uma verdade única e, portanto, cabe ao pesquisador, a partir das
teorias escolhidas, criar um quadro referencial que possa auxiliá-lo. Entende-se que
Literatura é Arte, é um ato criador que por meio da palavra cria um universo
autônomo, onde os seres, as coisas, os fatos, o tempo e o espaço,
assemelham-se aos que podemos reconhecer no mundo real que nos cerca,
mas que ali – transformados em linguagem – assumem uma dimensão
diferente: pertencem ao universo da ficção. (COELHO, 1922, p. 23)

A literatura, aqui vista como arte, tem o poder de transformar as coisas do


mundo real em ficção através da imaginação, mas sem se desvincular totalmente da
realidade que a cerca.
A estrutura de um texto literário perpassa por dois “mundos”: o real e o
imaginário. A partir desse confronto que se passa a tentar compreender os
conhecimentos ali estabelecidos: os ditos objetivos e os demais caracterizados como
subjetivos. De acordo com Carvalho (2001), em sua dissertação “Sujeito, Espaço e
Tempo: elementos da construção histórica em „Os tambores de São Luís‟, de Josué
Montello”, a arte seria um tipo de relação entre um sujeito cognoscente e um objeto
cognoscível. Na arte, a identidade, os personagens, os espaços, o tempo são
reelaborados pela imaginação e pela emoção. Caracteriza-se, assim, o texto literário
como uma forma de linguagem artística.
A literatura tem uma forma peculiar de empregar a linguagem, ficcional e
imaginativa, dessa maneira, passa a ser entendida como “escrita imaginativa ou criativa,
no sentido de ficção, escrita esta que não é literalmente verídica” (EAGLEATON, 1997,

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p.02) Entretanto, isso não destitui as demais ciências de criatividade e imaginação.
Segundo Iser (1996, p. 11),
o fictício e o imaginário fazem parte das disposições antropológicas e
existem também na vida real, não se restringindo à literatura. O que
caracteriza a literatura é a articulação organizada do fictício e do imaginário;
dela a literatura emerge e assim se pode diferenciar de outros meios.

O fictício e o imaginário não podem ser caracterizados como únicos da


literatura, uma vez que esta se relaciona também diretamente com a “realidade” na qual
ela se situa. Encontram-se diversas formas desta inter-relação (ficção + imaginário +
realidade) que estão historicamente marcadas. Acredita-se, assim, que “o texto literário,
como espaço de jogo, abre-se para a história” (ISER, 1996, p.11).
Coelho (1922, p. 24) elenca seis funções da literatura, dentre estas, destaca-
se a “Função Pragmática” que
Em todas as sociedades tem sido umas das mais importantes. É a que atribui
à literatura uma finalidade prática ou uma utilidade para além de seu valor
estético. Várias podem ser as intenções pragmáticas atribuídas à literatura.
Entre elas: a) Convencer um auditório de alguma coisa (= oratória sacra e
profana). b) Ensinar ou esclarecer um problema (= conferências, ensaios,
etc.). c) Atrair adeptos para uma ideologia (= literatura engajada a serviço da
política ou da religião). d) Difundir um elenco de valores morais ou sociais,
aceitos por determinada sociedade, etc.

No item “Difundir um elenco de valores morais ou sociais aceitos por


determinada sociedade” nos leva a relacionar com o poder da literatura de difundir a
história, entendida como as relações/acontecimentos/costumes de uma sociedade, pelo
mundo. Essa função pragmática, segundo Silva (1983), teve bastante relevância na
comunicação literária devido aos numerosos mecanismos de censura e repressão que
existiam a fim de impedir que os textos literários pudessem exercer seus possíveis
efeitos perlocutivos.
Essa reflexão sobre a relação da literatura e a história vem desde os
pensadores gregos. Nos tempos modernos, estudiosos da literatura e historiadores da
considerada “Nova História” trouxeram questões essenciais para se definir as
características dos gêneros de discurso – das semelhanças e divergências entre o texto
histórico e o texto literário. No Brasil, percebe-se esta relação de forma evidente a partir
do século XVI ao XVIII, quando se constam os primeiros relatos do Descobrimento. A
literatura dos viajantes, como a carta de Pero Vaz de Caminha, exibe claramente a
aproximação entre o texto literário e a narrativa histórica. Este tipo de relação entre a
literatura e a história foi predominante no século XVII, na época das descobertas,

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devendo-se muito do que se sabe atualmente sobre estes fatos a esses escritos dos
viajantes.
Encontra-se, ainda, a pintura, que serviu como registro do Brasil colônia.
Como exemplo desta, tem-se Hans Staden, que retratou o canibalismo dos índios,
mesclando o real e o imaginário. Imagens dos quadros trazem o canibalismo como
sendo um fato real, mas a forma como se representa evidencia-se um aspecto imaginário
propiciado pelo etnocentrismo de sua cultura. Até o próprio índio foi representado de
forma a se parecer fisicamente com os europeus e com manifestações emocionais da
cultura branca. Sendo assim, percebe-se a mesclagem do real com o imaginário – deve-
se, aqui, compreender que Hans Staden tinha como interesse construir uma imagem
verossímil.
De acordo com Freitas (1989, p. 109-18), a relação entre a literatura e a
história é tão próxima que chega a não encontrar um limite certo que ponha fim a uma e
início a outra – para tanto, necessita-se de um estudo profundo sobre o caso. A definição
desses limites esbarra em problemas que autora salienta: a existência de certa
correspondência entre evolução histórica e evolução literária; a evidência de que as
grandes mudanças da história provocam em geral inovações na literatura; e a
constatação de que os períodos de maior intensidade literária coincidem com os
períodos de maior intensidade histórica.
É importante também ressaltar a diferença existente entre o que é a história
e a historiografia: a primeira se relaciona ao conjunto de acontecimentos e a segunda
quanto à atividade que organiza e reflete sobre os dados da história. A historiografia é
responsável pela interpretação de forma pessoal da História, ou seja, do acontecimento.
Essa imprecisão de definições pode levar a crer que não exista um limite entre a
literatura e a história.
Por trazerem em suas obras muitos desses acontecimentos históricos, a
história de uma sociedade e muitos textos literários podem ser confundidos com a
historiografia.
A comunicação literária e os seus textos constituem meio e instrumentos
privilegiados de conservação e de contínuo renovamento da informação sobre
o homem, a sociedade e o mundo, tanto sob a perspectiva da instância de
produção como sob a perspectiva das suas inumeráveis e historicamente
diversificadas instâncias de recepção. (SILVA, 2005, p. 333)

Essa característica de transpor os acontecimentos históricos vivenciados na


época é marcante nos textos literários. Os relatos históricos, percebidos como história

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narrativa, fazem com que ocorra uma maior aproximação da literatura e história, já que
o formato desses relatos se relacionava muito com biografias de grandes personalidades.
Entretanto, o surgimento de novos questionamentos fez com que houvesse a quebra de
paradigmas da historiografia, causando o abandono pela mesma das narrativas
biográficas e passando a buscar uma história problema, na qual os fatos são
problematizados e os objetos são construídos, tornando-se mais próxima da ciência, no
caso, das ciências sociais. Ao incorporar o conceito de estrutura, surge a história serial,
a cliometria e, por último, a história das mentalidades, que veio a caracterizar a Nova
História (BURKE, 1991; DOSSE, 1992). Esse movimento iniciou-se na França e
irradiou-se, em épocas distintas, para o resto do mundo.
O século XIX é caracterizado por Freitas (1989) como o século da história,
pois este foi marcado por inúmeros acontecimentos que trouxeram desenvolvimento à
sociedade e também é conhecido como o “Século do Romance Histórico”. Sendo assim,
a literatura e a história estão mais próximas. Nesse entrelaçamento, o limite entre os
dois passa a ser ameaçado por não se saber ao certo a especificidade de cada um.
Entretanto, com a produção literária influenciada pelos mais variados fatos históricos, a
produção historiográfica não fica marcada somente por esta tendência pois
Alargando-se continuamente o domínio da sua temática, interessando-se pela
psicologia, pelos conflitos sociais e políticos, ensaiando constantemente
novas técnicas narrativas e estilísticas, o romance transformou-se, no
decorrer dos últimos séculos, mas sobretudo a partir do século XIX, na mais
importante e mais complexa forma de expressão literária dos tempos
modernos. De mera narrativa de entretenimento, sem grandes ambições, o
romance volveu-se em estudo da alma humana e das relações sociais, em
reflexão filosófica, em reportagem, em testemunho polêmico, etc. (SILVA,
2005, p. 671)

O escritor do século XIX é tomado pela necessidade de se envolver com sua


realidade social, sendo assim, este se torna cada vez mais engajado e comprometido
com o se tempo. Foi a partir dessa postura que, segundo Freitas (1989), surgiu o
romance engajado e político, criticava a ordem social existente – fato que deu apoio à
burguesia e defendeu uma política socialista.
Segundo Freitas (1989), existem duas maneiras de compreender as relações
existentes entre a literatura e a história: relacionando o texto literário ao contexto
histórico em que ele foi realizado ou analisando a proximidade da literatura com a
temática histórica. As análises das obras dependem de como o autor situa o fato
histórico no texto. Se o assunto histórico é tema do seu enredo, a análise será mais
específica por apresentar complexidades e elementos polêmicos, portanto, merece um

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estudo mais profundo. Se apenas aludem a fatos históricos ou apenas situam sua trama
num certo painel histórico como pano de fundo, a análise já não é tão significativa. Esta
relação é particularmente referente ao romance que torna a realidade existente em sua
própria matéria, um elemento integrante da sua estrutura interna, transformada em uma
realidade estética.
Portanto, segundo a interpretação que nossa época aceita para a Arte, esta é
uma espécie de ponte entre a realidade comum que nos rodeia e o mundo
invisível, que escapa à percepção comum: o dos valores ocultos, onde
pressentimos todas as respostas para as indagações que assaltam o homem
quando este toma consciência de ser um Eu situado num universo
incomensurável e incompreensível. (COELHO, 1922, p. 23)

A arte é uma modalidade do imaginário, e este não reproduz a realidade


comum que nos rodeia, mas a transforma e pode até transfigurá-la. Os autores dos
textos literários procuram falar o que ainda não foi dito, o que é reprimido ou latente,
para explorá-lo nas suas virtualidades e prolongá-las. O leitor e o autor do texto
romanesco devem estabelecer um contrato de ficção para que a ficção e realidade
estabeleçam um pacto narrativo. Em entrevista concedida em 23 de fevereiro de 2000,
encontra-se esta tendência comumente no romance, que, segundo Josué Montello1:
o romance é um gênero que concilia a imaginação e a verdade vivida; nele há
a oportunidade de dar uma autenticidade, o que faz com que o romance tenha
um conteúdo que dá ao leitor a compenetração, muitas vezes, da realidade
factual, que dá a compenetração de que aquilo constitui uma experiência
vivida profundamente. Na verdade, para quem tem a experiência narrativa
que eu tenho, todo romance é uma experiência vivida ou vivida pela sua
imaginação, pois a imaginação completa esse outro lado, o que constitui uma
experiência pessoal, profundamente.

Ao aproximarmos a literatura dos anseios da “Nova História”, Freitas


(1989) afirma que a literatura pode expressar as nostalgias, as frustrações, os temores e
as aspirações daqueles que sentiam a história lhe escapar. Sendo assim, a literatura
torna-se profetizadora de acontecimentos, como os romances, que interpretam de forma
eficaz os motivos sociais e históricos, exprimindo as necessidades de determinado
grupo social, mostrando possíveis ideias para situações ou acontecimentos a que se
referem no texto, tentando fazer com que as perspectivas inerentes à época sejam
realizadas.
Isso implica o estudo das relações entre a literatura e a história, pois não se
trata apenas de analisar o reflexo de uma na outra. A literatura seria o imaginário da
história, antes de ser a imagem. Portanto, percebe-se que não temos uma influência da

1
Cf. entrevista concedida pelo autor Josué Montello, em São Luís (MA), no dia 23 de fevereiro de 2000,
em sua casa. Fonte: Carvalh, 2001, p.104-8.

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história sobre o romance, mas sim a história dentro dele, como afirmou Josué Montello,
uma presença transfigurada, relida e revivida na imaginação.
É dentro dessa lógica que Leenhardt (1998) discorre sobre o papel da
literatura e da história na construção da identidade pessoal e social. O autor acredita que
tanto a ciência histórica quanto a literatura possuem papeis fundamentais na construção
do imaginário. Vários teóricos compreendem que a diferença se dá na maneira de como
se realiza a obra, pois a literatura e a historiografia apresentam métodos opostos para
alcançar seus objetivos. Desse modo, o que daria sustentação a esta hipótese é que a
história seria “ciência” por causa da metodologia utilizada, enquanto a literatura seria
ficção, fantasia imaginativa. Mas Leenhardt não defende esta oposição, porque crê que a
oposição deve ser entendida de forma mais complexa. Ficção e método de investigação
histórica têm procedimentos diferentes, entretanto, a oposição quanto ao método não
tem efeito algum na capacidade de preencher uma função. Sendo assim, Leenhardt
entende que a historiografia e a ficção seguem caminhos “distintos”, discursos
diferentes que podem exercer a mesma função social.
Segundo o discurso histórico e ficcional, o verdadeiro e o verossímil são
animados pela “vontade de representar, na linguagem, os fatos e acontecimentos
segundo a modalidade do verossímil” (LEENHARDT, 1998, p. 42), porque o
historiador e o escritor apresentam os acontecimentos de acordo com a realidade, como
se estes tivessem ocorridos daquele jeito. Entretanto, não são todos os pesquisadores do
assunto que concordam com esta suposição, Greimas (1981) é um desses. Tal
contradição pode ser explicada pela forma como ambos interpretam a historiografia,
quanto a esta ser ou não ciência. Leenhardt acredita que a historiografia ou não é uma
ciência, ou é uma tipologia de ciência menor, pois crê se a aceitasse como ciência
estaria colocando a literatura e todas as áreas das ciências humanas no mesmo nível de
substância, já que o que se questiona é o método e não sobre os objetos.
Foucault, assim como Greimas acredita que haja uma distinção entre o
discurso literário e o histórico, entretanto, não aponta uma separação. Para Foucault
(2000, p. 144), quando a história – a “linguagem verdadeira” – aparece nos textos
literários, não tem a finalidade de reproduzir a realidade, mas sim com o intuito de
mostrar que não pertence a esta, rompendo o “espaço da linguagem” dando-lhe uma
“dimensão sagital”.
Entretanto, existem autores que creem no contrário, Esteves (1998, p. 127-
8) que estuda o novo romance histórico brasileiro, diz que o romance que tem como

18
fundamento a história “tende a reconstruir, e reconstrução quer dizer recuperação do
imaginário e das tradições culturais de determinada sociedade”.

A reprodução de versões sedimentadas da história é um modo dos romances


históricos se oporem às formas de poder e idealizar um futuro. Isso não significa dizer
que o romance histórico seja capaz de criar uma nova sociedade por intermédio do
poder de transformação da palavra literária, “significa muito mais escrever para forjar o
leito de um rio por onde deverá navegar o futuro, no lugar dos desejos humanos”
(ESTEVES, 1998, p. 128), Percebe-se, assim, que Esteves segue a mesma linha de
Leenhardt, mas com uma direção mais humanizadora (no sentido de função
humanizadora² de Antonio Candido).
Segundo Ricoeur (1994) o “mundo da obra” possibilita uma dupla
experiência ao leitor. Essas são: quando o leitor percebe mundos verossímeis, “com
seus laços necessários, mesmo que eles sejam tão diferentes quanto a fábula se distingue
de um relatório policial.”, a arte leva o leitor a reconhecer, conhecer e imaginar o
“mundo da obra”. A segunda experiência compreende o englobamento do leitor num
processo de identificação que se faz conhecer tanto pelo verossímil do “mundo da obra”
quanto pelo texto romanesco ser “constituído por uma narração que coloca em jogo
comportamentos que (eles também) mantêm com o leitor laços de reconhecimento, de
conhecimento e de imaginação”.
É por causa do processo de (re) conhecimento que a literatura se aproxima
do social. A literatura por si só não transmite significações, mas devido aos mais
variados meios de interpretação, que ocasiona um jogo de dimensões dualistas: o real e
o fictício.
A conexão do sujeito social com a literatura faz com que surja uma relação
com a memória, instituindo o rememorável. A obra literária é uma forma de preservar,
conservar o que está e o que foi vivido por uma sociedade, servindo como meio de
recordação. Sendo esta escrita a partir do “eu”, a memória reconstrói a vida (JOSEF,
1980, p. 298). Daí surge outro ponto de afinidade entre a literatura e a história, a
interdependência entre o vivido e o lembrado: a prática de escrever uma lembrança de
um fato passado envolve também um enfrentamento entre o passado da recordação e o
presente da escrita. Sendo assim, torna-se uma tarefa difícil estabelecer os limites entre
a imaginação e a memória.
² Humanizadora quando o autor transcreve o homem rural como um homem escolarizado na sua obra, aproximando-o dos seus
leitores, idealizando um ser que não condizia com a realidade, acabando por destorcer a realidade que se propunham a defender.

19
Percebe-se, ao longo da história da historiografia, que nas técnicas
chamadas de história de vida e história oral, a memória é parte atuante tanto da literatura
quanto da história. Para se conseguir “enxergar” essa divisão entre literatura e história, o
historiador parte de um relato individual por toda a memória, em especial as que se
referem à imaginação do informante. Assim, estabelece um comparativo e reconstrói
um tempo e espaço que só encontramos na memória do ator.
Existe uma memória coletiva que sobrepõe o indivíduo e na qual o
historiador se encontra; portanto, a identidade e a alteridade são aspectos que se definem
a partir da realidade instauradora. Corrobora Carvalho (2001, p.27): “talvez, a diferença
entre o relato histórico e o relato literário consista na forma e no nível de
aprofundamento na substância da vida real, esta, enquanto matéria do artista e do
historiador ao mesmo tempo”. Mas, como diz Iser (1996, p. 7), “a literatura necessita
interpretação, pois o que verbaliza não existe fora dela e só é acessível por ela”.
A literatura abre caminho para que o leitor imagine o que está escrito
“viajando” nas palavras do autor. A literatura estreita relação com o histórico, fator
motivacional do turismo cultural, o leitor pode se tornar turista, a partir da motivação
que o livro deu. Dando a este leitor a oportunidade de criar sua própria interpretação de
acordo com a realidade que vivenciará no local sobressaltado na obra.

20
3 A RELAÇÃO ENTRE A LITERATURA E O TURISMO CULTURAL

A literatura possui uma estreita relação com as viagens desde a Antiguidade,


quando a literatura era baseada nas narrações das primeiras viagens. Essa conexão é
tanta que o primeiro “guia turístico”, de Santiago Compostela, é composto por histórias
que relatam as “jornadas de viagem, as qualidades das terras e pessoas e sua descrição”
(MONTEJANO, 2001, p. 307).
Entendendo-se por turismo cultural a atividade na qual o turista é motivado
a conhecer outro local no intuito de adquirir mais informação, conhecimento e vivenciar
a cultura do outro. Nota-se que a literatura é um meio de motivar turistas para essa
finalidade, ou seja, turismo cultural. Montejano (2001) agrupa as seguintes atividades
que estão relacionadas ao turismo cultural:
a) Entrar em contato com as diferentes épocas históricas, artísticas e
culturais, mediante visita de conjuntos monumentais, museus, rotas e
itinerários histórico-artísticos, monumentais etc.;
b) As manifestações culturais e de espetáculos por meio de festivais de
música, cinema, teatro, representações religiosas, touradas, concertos e ciclos
de ópera, exposições de arte: pintura, escultura, fotografia etc.;
c) Participar de cursos, seminários, simpósios culturais, cursos de idiomas no
estrangeiro – por exemplo, universidades de verão;
d) Manifestações folclóricas, gastronômicas e de artesanato, por meio de
festas importantes e típicas, festivais folclóricos musicais, jornadas
gastronômicas ou cursos de culinária, exposições e cursos de artesanato etc.

A partir dessa variedade de atividades que um turista da modalidade cultural


pode fazer, observa-se uma estreita relação do turismo com a literatura. Os romances
são grandes divulgadores da história e cultura de uma sociedade. Ao ler um livro com
enfoque histórico-cultural, o leitor pode ser motivado a conhecer a cultura descrita na
obra. Além disso, a história pode favorecer a localidade receptora no planejamento de
atividades e roteiros que se relacionem a esta, tornando a atividade mais interessante
para o turista e, quando bem realizada, atrai mais clientes. Destaca-se o fato de que se o
turista tiver sido motivado pela obra a conhecer a cidade, ele sentirá a viagem mais
interessante e terá seu desejo realizado.
Esse tipo de motivação é um fato da sociedade hodierna que possui uma
“gama” de informações disponíveis e acessíveis gerando a formação de cidadãos mais
informados, educados, experientes e até mesmo “espertos”, pois o turista da atualidade
não se deixa enganar por qualquer destino. A globalização fomenta que os viajantes
sejam mais cientes do que os lugares que serão visitados poderão lhes oferecer,
tornando-se, pois, mais exigentes.

21
A exigência por mais qualidade e clientes mais bem informados fizeram
com que o turismo cultural alavancasse. Essa tipologia do turismo tem por finalidade
obter mais conhecimento, ampliar sua cultura. Sendo assim, também se percebe que a
literatura é uma das propulsoras desta modalidade. Segundo Chias (2007), essa
fascinação pela história pode ser observada não apenas no turismo cultural, mas também
em outros campos, como o editorial, evidenciado pela tendência de romances históricos
virem se transformando em êxitos mundiais.
A literatura muitas vezes pode servir de guia turístico, uma vez que os livros
trazem, com detalhes, os bens/espaços simbólicos de uma sociedade e por ter toda uma
história por trás desses aguça mais ainda a imaginação e serve como propulsor de uma
viagem.
[...] a literatura é aqui considerada como suscitadora de viagem e, por essa
concepção, guia para roteiros turísticos, na medida em que oferece um
mapeamento de espaços e bens simbólicos, trazidos à cena através de
patrimônios (material e imaterial) que configuram o perfil identitário de um
lugar a ser visitado. (SIMÕES, 2004, p.01)

Os visitantes impulsionados pela literatura já têm uma ideia de como a


cidade e sua cultura sejam, uma vez que leram no(s) livro(s) como são sua paisagem e
seu cotidiano. Sendo assim, esses leitores que se tornam turistas querem conhecer a
cidade através do(s) livro(s) que lerão, passear pelos mesmos lugares/paisagens que os
personagens passaram e degustar, tocar, sentir, viver as mesmas experiências destes.
Os autores descrevem sua cidade em seus livros, tomando-a como fonte de
inspiração e modelo para sua história, fazendo da literatura uma forma de divulgar e se
fazer conhecer seu local mundo afora.
Para Henrique Medina, um dos 5 autores mais vendidos de 1973, a literatura
é testemunho, visão pessoal da realidade que quer compartilhar através de
uma ficção que não se afasta do curso dos fatos ou do contexto que lhe dá
nascimento. Mas esta tendência – ao mesmo tempo visão crítica da realidade
e de um tempo de literatura escapista – não é necessariamente um exercício
panfletário. Como produto estético imaginário, a narrativa contemporânea
propõe seus próprios enigmas e soluções dentro do universo novelístico,
apoiado numa estrutura lingüística real. (JOSEF, 1980, p. 118 – grifo do
autor)

A literatura tem o poder de transmitir ao leitor tanto a história fictícia dos


personagens quanto a realidade social vivida. Muitos autores são verdadeiros críticos da
política e da sociedade na qual estão inseridos. A partir de seus livros, passam a nós,
leitores, o que se viveu naquela época realmente, como eram as cidades, os
acontecimentos e muitos outros fatos que são tão verdadeiros quanto os escritos nos
livros de história.

22
A literatura “escapista”, mais conhecida como escapismo, é uma das
características do romantismo, no qual o autor cria mundos imaginários. No caso da
obra “Os tambores de São Luís”³, Josué Montello cria uma ficção em cima de
características da sociedade da época, ao mesmo tempo em que atua no imaginário
também traz características do Estado do Maranhão tanto seus bens culturais materias
quanto imateriais. Sacramento (2004, p. 01) vem nos dizer que “na literatura brasileira,
a cidade foi objeto de tematização desde os românticos, tendo sido elevada à categoria
de personagem”.
No entanto, a obra não serve apenas como um exercício panfletário, no qual
se busca denunciar ou fazer apologia a alguma ideologia, mas também traz a cultura da
cidade como um todo, além de nos levar a fantasiar com a ficção narrada.
O turismo, além de um importante instrumento de promoção social e de
dinamização econômica, é também, e principalmente, uma atividade cultural.
Conhecer lugares, assistir à apresentação de manifestações artísticas, degustar
pratos peculiares de cada região, compartilhar com nativos a experiência de
uma feira local é conhecer elementos que dizem respeito a pessoas e suas
sensibilidades, suas normas e valores, suas emoções. (NEVES apud
MARTINS, 2003, p. 59)

Ao ler “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, percebemos que a


obra pode ser uma grande divulgadora do Maranhão e da cidade de São Luís, pois no
decorrer da história “passeamos” pela cidade. Através desse “passeio”, conhecemos as
principais ruas do centro da cidade, os principais atrativos turísticos do Patrimônio
Cultural da Humanidade4 e seus bens imateriais como o tambor de crioula, tombado
como Patrimônio Imaterial Nacional, no ano de 20075.
O turismo cultural é uma atividade na qual o visitante é impulsionado pela curiosidade,
a fim de conhecer o patrimônio cultural. O turista compreende os bens materiais e
imateriais, já que, segundo a Constituição Brasileira de 1988, no artigo 216, seção II –
DA CULTURA, “se incluem: I – Formas de expressão; II – Os modos de criar, fazer e
viver; III – As criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – As obras, objetos
documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-
culturais; V – Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”. A obra “Os tambores de São
Luís” tem assim relação direta com o turismo cultural, uma vez que mostra a cidade e
__________________________________
3Objeto de estudo deste trabalho é a obra “Os tambores de São Luís” de Josué Montello.
4Em 1997, a Unesco concedeu à cidade o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.
5 O tambor de crioula foi reconhecido no dia 18/06/2007 como bem imaterial do Brasil, ao integrar oficialmente o Livro das Formas
de Expressão.

23
torna-se capaz de motivar turistas a conhecer a cidade e sua cultura.
Josué Montello foi um autor que muito retratou São Luís e trouxe sempre
em suas obras a cidade ludovicense como cenário de suas histórias.
Com mais de 70 livros publicados, sendo 8 romances, Josué Montello
considera-se um homem de sua província: sempre retornou ao Maranhão, de
onde, aliás, nunca se desprendeu, quase toda a sua obra traz a marca da
inspiração e da cultura maranhense. (JOSEF, 1980, p. 115)

Muitos autores literários utilizam cenários reais para suas histórias. Jorge
Amado, por exemplo, retratou a cidade de Salvador em suas histórias, exaltando
qualidades desta terra. A descrição das cidades onde se passa a história narrada é uma
grande característica do romantismo. “Os tambores de São Luís” é uma obra romântica,
portanto, percebe-se muito bem este fator. Segundo White (apud LEPECKI, 1984,
p.16), “o principal objetivo do escritor de um romance deve ser igual ao do escritor de
uma história. Ambos desejam sustentar uma imagem verbal da realidade”.
Portanto, o turismo cultural e a literatura estão estritamente ligados, em
especial à modalidade “romantismo”, na qual as cidades se tornam grandes atrações dos
livros, atraindo os leitores tanto pelo romance quanto pela curiosidade de conhecer cada
vez mais a cidade descrita na história. Essa curiosidade, às vezes, se torna tanta que leva
o leitor a se tornar turista.
Ressalta-se que o constante movimento de outras culturas em uma cultura
nativa pode trazer malefícios a esta uma vez que os moradores vão querer “agradar” a
seus visitantes e também podem sentir seu modo de viver inferior a do outro.
Incorporam-se, assim, características “alheias” a sua.
Além do impacto ao meio físico, existe a aculturação da população nativa,
que se deixa influenciar por novos costumes e valores, e substitui as
atividades tradicionais (pesca, artesanato e agricultura) pelo trabalho no setor
turístico, geralmente em funções mal remuneradas, devido à sua baixa
escolaridade; descaracterização do artesanato, que passa a incorporar gostos
dos visitantes; e alterações nos valores morais, através do estímulo à
prostituição, ao uso de drogas e até mesmo mudanças no ato de falar e vestir.
(FERREIRA apud MARTINS, 2003, P. 5)

A aculturação poderá influenciar no movimento de turistas. É importante


que as características das cidades reveladas pelos livros sejam únicas, que tragam
realmente uma identidade. Os turistas são motivados a conhecer o diferente, em especial
os turistas culturais, que saem em busca de viver/olhar/saborear aquilo que não
encontram na sua cultura.
Percebe-se, assim, que o turismo cultural não traz somente benefícios à
sociedade, pois uma vez que a atividade depende do patrimônio cultural da cidade, esta

24
deve estar preparada para receber o contingente de visitantes, tanto na estrutura física
quanto psicológica.
É inegável que exista um conflito latente entre a atividade do turismo, que
provoca o encontro, e as estratégias de preservação do patrimônio cultural.
Se, por um lado, o turismo pode ajudar a dinamizar esse patrimônio, ou parte
dele, também pode contribuir para a sua descaracterização e, até mesmo
destruição. Isso é explícito no caso, por exemplo, de certos bens edificados
tombados que, se visitados de forma abusiva e sem planejamento, poderão vir
a sucumbir. (NEVES apud MARTINS, 2003, p. 59)

A preparação da comunidade para o recebimento de turistas é de


fundamental importância. Quando o local se encontra de “braços abertos” para os
turistas, estes serão bem recebidos e logo retornarão e recomendarão a viagem. Se se
sentirem maltratados, não quererão retornar ou recomendar a outras pessoas – além
desse fator, há o fato de que se a população autóctone não for firme na sua cultura,
poderá extingui-la aos poucos ao incorporar características da cultura dos visitantes.
Dentre quatro características que Ruschmann (apud FERREIRA, 2004, p.
5) destaca como prioridades para que se tenha um turismo menos prejudicial, aponta-se
a 4ª destas, na qual a autora menciona a “formação de um turista mais responsável e
atencioso, receptivo às questões da conservação ambiental e sensível às interações com
as comunidades receptoras”. Esse tipo de turista evitará causar danos tanto aos bens
materiais da cidade quanto aos seus bens imateriais (FERREIRA apud MARTINS,
2003, p. 6).
O turismo cultural é uma das modalidades da atividade que se percebe
menor impacto sobre a localidade turística, pois vê-se o turista cultural como um ser
mais responsável, educados e cientes dos seus deveres e direitos.
O turismo cultural surge como uma alternativa por tratar-se de um turismo de
minorias, cujos protagonistas, que seriam turistas não institucionalizados,
experimentais, experienciais e existenciais, são mais educados e respeitam o
meio ambiente natural e cultural. O turismo cultural de acordo com essa
premissa, teria menos efeitos negativos nos núcleos receptores, e durante um
tempo seu aumento proporcional foi bem recebido. Por outro lado, trata-se de
pessoas que procuram um contato íntimo com a população local, respeitando
seu modo de vida, sem pretender impor seus padrões; são pessoas que se
adaptam com facilidade à cultura local e consomem estados e espírito em
lugar de coisas materiais. Um estudo realizado nos Estados Unidos e no
Canadá confirmou que os “turistas culturais” têm mais dinheiro que outros,
gastam mais e permanecem mais tempo no local; hospedam-se em hotéis,
compram mais, têm nível de educação mais alto, predominando o gênero
feminino e a faixa adulta. (BARRETO, 2007, p. 84)

É necessário valorizar essa modalidade de turismo, pois, além de não


prejudicar a cultura visitada, traz mais renda por serem turistas que consomem mais.
Entretanto, há malefícios que podem advir dessa modalidade de turismo, Swarbrooke

25
(2000) assinala alguns desses: a superutilização de sitos culturais e localidades – o
grande número de turistas não adequados a estes espaços podem gerar danos; a falta de
controle local – o governo local e a população ficam de fora do processo e sua
respectiva renda; a trivialização ou perda da autenticidade – as danças tradicionais
podem sofrer alterações tanto no seu calendário quanto na sua estrutura a fim de agradar
o turista; a fossilização de culturas – o desejo de se conservar a cultura tradicional faz
com que a mesma torne-se imutável, o que não é uma característica da cultura, pois esta
é transformada o tempo todo; o turismo polêmico e moralmente problemático – a
atividade esquece-se de propor discussões com a comunidade para que esta se coloque
diante do que está sendo proposto para a mesma.
Acredita-se que turistas atraídos pela literatura sejam, em geral, mais
conscientes, ou seja, têm noção de que é necessário preservar aquela cultura, pois já
possuem outra relação com esta quando visitam a cidade – admiração, valorização à
cultura. Esse turista é incapaz de fazer ações que possam prejudicar a cidade visitada.
Ver a literatura enquanto bem cultural promotor do turismo sustentável
aponta-nos uma saída diante da racionalidade da globalização, assim, local +
cultura + diferença constituem alternativas para um mundo que insiste,
devido à lógica do consumo, na uniformização de modos de ver este mesmo
mundo. (SACRAMENTO, 2011, p.02)

Valorizar a literatura local seria de grande relevância, pois serviriam como


promotores do turismo na cidade, atraindo os turistas de cunho cultural, portanto os
considerados mais conscientes, educados e os que geram maior dinamização na
economia. Ter esta cultura valorizada também é um meio de garantir a sustentabilidade
da atividade uma vez que, segundo Chias (2007, p.26) “a autenticidade é precisamente a
base de um turismo sustentável”, sendo este o tipo de turismo mais idealizado pelos
planejadores da atividade.
O turismo cultural pode contribuir com a valorização da cultura pela
população local e o fortalecimento da identidade dessa população. “Ressalta-se, em
contrapartida, que o contato entre turistas e residentes pode se tornar prazeroso e
construtivo para ambos, pois é também diante da diferença do outro que se reconhece a
própria cultura” (FRAUCHES, 2007, p.02). Ao perceberem o alto valor e admiração
que outros dão à cultura, gera nestes a necessidade de criar meios para impedir que
fenômenos da sociedade hodierna, como a globalização, façam com que essa se extinga
ao longo do tempo.

26
A globalização tem aumentado bastante o fluxo de turistas pelo mundo,
estes compreendem desde os que têm como finalidade os negócios quanto famílias que
economizam durante o ano para usufruir as férias com os filhos. Esse fenômeno que fez
com que os meios de comunicação se desenvolvessem bastante e agissem como fortes
meio de divulgação e informação.
A globalização também fez com que os livros transpassassem as barreiras
dos territórios levando informação, com turistas mais informados, que se tornam cada
vez mais exigentes, pois estão cientes do que encontrarão no destino. Sendo assim,
deve-se dar maior atenção à segurança e à qualidade, já que com viajantes deste tipo não
se pode oferecer qualquer serviço. Oferece-se, portanto, sempre “o melhor” para que os
turistas saiam com suas expectativas atendidas e até mesmo superadas.
Entretanto, segundo Beni (2003, p. 30), “o crescimento do turismo conduz
a externalidades positivas e negativas na sociedade, na economia e no ambiente, que
podem fortalecer ou enfraquecer o crescimento no sentido de feedbacks sistêmicos”. Os
malefícios da atividade devem ser previstos no planejamento para que se possam criar
medidas que previnam que o pior aconteça, minimizando os impactos negativos do
turismo.
Uma das mais prejudicadas desse movimento de várias culturais em outra, é
a identidade, que precisa ser fortalecida. Entende-se, aqui, identidade como um
sentimento de pertencimento a um grupo homogêneo e definido – considerado
fundamental para que as pessoas se sintam seguras, confiantes dentro de uma sociedade.
Mas, manter a identidade significa algo vital para que as pessoas se sintam
seguras, unidas por laços extemporâneos a seus antepassados, por um
território, costumes e hábitos que lhes passem segurança, que lhes indique
suas origens, para que lhes referenciem diante de um modelo social tão
diverso. (MARTINS, 2003, p. 46)

Com esse sentimento de pertencimento e unidade fortalecido, a preservação


de todo o meio, tanto natural quanto cultural, será uma consequência, trazendo assim
benefícios à cultura, ao meio natural, à sociedade, enfim, ao turismo. Este terá sua
“matéria-prima” preservada para que seja usufruída não somente pela geração hodierna,
mas por todas as gerações futuras, sem que estas percam a beleza e a singularidade
existentes nas gerações das anteriores.
A preservação dos bens históricos é de fundamental importância tanto para a
própria cidade quanto para o turismo, que depende desses para ser realizado. É
necessário também dinamizá-lo, fazer com que se torne funcional, pois se deixá-lo

27
preservado e não torná-lo útil será apenas um “entulho”. Chias (2007, p.27) afirma que
é preciso “um projeto que transformasse essa história morta em história viva, porque
isso é o que realmente interessa ao público. E não é contraditória com a preservação do
patrimônio, pelo contrário, ajuda a valorizá-lo mais”.
A literatura traz muitos benefícios ao turismo, como a motivação – atraindo
turistas às cidades descritas nas histórias, a sustentabilidade – agindo como educadora
dos turistas e promoção do turismo – divulgando as características, a imagem do Brasil
através dos livros.

3.1 Os textos literários podem motivar a atividade turística?

Contudo, o historiador e humanista italiano Pastor afirma que a viagem por


prazer surge a partir do século XVI. Nessa época, surgem os primeiros livros
impressos de viajantes, que ampliaram suas edições desde o final do século
XVI até o século XVIII. (MONTEJANO, 2001, p.307-8)

Ao ler um livro que traga descrições detalhadas da cidade onde se localiza a


história contada, além de se viajar nos fatos, chega-se a imaginar o caminho que o
personagem faz. A partir dessa leitura, torna-se motivado a fazer e conhecer esse trajeto
– como no seguinte fragmento da obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello:
Antes que ele desaparecesse, sempre a enfiar o impresso por baixo das portas,
Damião mudou de calçada, ainda ouvindo o baticum dos tambores. Para trás,
em linha reta, ficava o cemitério do Gavião, com o padre Policarpo, a
Genoveva Pia, a Aparecida, o dr. Celso Magalhães, a dona Bembém, a dona
Páscoa, a dona Calu, o amigo barão, cada qual no seu jazigo ou na sua cova
rasa, na santa paz do Senhor. À frente, era o largo do Quartel; em seguida,
torcendo para a direita, a rua das Hortas, o largo da Cadeia, a praia do
Jenipapeiro e por fim a Gamboa, com a casa de sua bisneta, num cômoro
verde que escorregava para o mar. (MONTELLO, 2005, p.18 – grifos nossos)

O autor, além de nos fazer imaginar a história e o trajeto, coloca o leitor a


par de alguns patrimônios da cidade de São Luís: Cemitério do Gavião, Largo do
Quartel, Rua das Hortas, Largo da Cadeia, Praia do Jenipapeiro e Gamboa, todos
patrimônios culturais. Essa passagem motiva o leitor a conhecer os locais descritos.
Muitos leitores partam à cidade a fim viver/sentir o que os personagens passaram na
história.
O turismo cultural é a atividade na qual o turista é motivado a se deslocar
pela vontade/curiosidade de conhecer o patrimônio cultural da outra cidade,
compreendendo este seus bens materiais (prédios, ruas) e seus bens imateriais
(culinária, danças). A literatura é uma grande motivadora deste movimento, uma vez

28
que ao ler livros que traz para o leitor estes bens culturais, tornando-o interessado nesta
cultura e motivado a conhecê-la.
A literatura, além de propagar a cultura do local, faz com que a população
destas cidades descritas nos livros valorize ainda mais sua cultura. Valorizam-se ainda
mais esses bens materiais e imateriais da cidade ao ler:
Agora, quando as noites se fechavam, estilhaçando-se em estrelas por cima
da cidade adormecida, ouvia-se o som compassado dos zabumbas, das
matracas e dos maracás, madrugada adentro, por cima do baticum ritual dos
tambores da Casa das Minas. Vinha de vários pontos da ilha, sobretudo da
Maioba, do Turu, de Vinhais, do Anil e do Matadouro, e não se limitava à
percussão dos instrumentos, porque trazia consigo a toada dos cantadores,
nos ensaios do bumba-meu-boi. (MONTELLO, 2005, p. 351)

Josué Montello, além de ressaltar bens materiais da cidade de São Luís


como a Casa das Minas, destaca o bumba-meu-boi e o tambor das minas, que são bens
imateriais da capital maranhense. O autor aponta ainda alguns bairros da cidade.
Ao ler esse fragmento, moradores da cidade de São Luís, começam a
imaginar como era a cidade naquela época, com bumba-bois dançando e tocando no
meio das ruas, quando não existia muita violência e, por isso, era comum as pessoas
dançarem despreocupados pelas ruas. Quem não conhece São Luís também passa a
imaginar a cena e quando chega à cidade quer olhar o que leu no livro. Entretanto, como
a cultura não é imutável algumas coisas vão sendo modificadas ao longo do tempo, mas
a memória do cidadão ludovicense é capaz de transmitir ao visitante o que ele veio
conhecer. Os casarões são um dos meios pelo qual a memória é capaz de transmitir o
que se viveu ali nos tempos passados.
Essa memória resguardada nas histórias dos livros é “eficiente”, uma vez
que faz com que os moradores se lembrem de como é/era sua cultura e os leitores que
não conhecem a cidade tenham acesso a este modo de vida a partir da literatura. Quando
chegam ao lugar descrito nos livros, os turistas reconhecem a história nos bens/espaços
citados. Esses monumentos, como integrantes do processo turístico, são símbolos do
passado existentes no cotidiano e fazem com que se instigue a memória coletiva.
Segundo Murta (2002), os monumentos só passaram a ser reconhecidos a
partir do Renascimento, século XIX, quando as construções passaram a possuir valor
estético. Assim, sua preservação e investigação sobre construções históricas passaram a
ser requisitadas por adeptos da história da arte. Além disso, o romantismo deu novo
significado aos bens patrimoniais, o valor artístico.

29
A partir da perspectiva dada aos monumentos históricos, estes passaram a
ser um referencial de diferenciação entre o arcaico e o inusitado, o que originou o
pressuposto para sua preservação: a construção da característica histórica, mas
principalmente social e cultural que possui importância inquestionável para a
humanidade.
Após o Renascimento, a Revolução Industrial também contribuiu com essa
nova perspectiva do patrimônio, o homem passou a materializar o passado por meio do
monumento, passando a caracterizá-lo como um memorial identitário. Nesse sentido, o
turismo possui uma dupla função: de atividade cultural e econômica, posto que ao
mesmo tempo em que promove a herança cultural também gera recursos financeiros.
A memória coletiva seleciona e projeta o passado em detrimento do futuro.
Formam-se, assim, as identidades fortalecidas pelo turismo. Tal seleção, ainda que
implícita, diferencia o valor do bem patrimonial. O turismo faz com que se reaviva o
sentimento nostálgico remetendo o leitor e o turista ao passado ainda que este não tenha
sido vivenciado por todos, antes de tudo ele pertence à cultura – um aspecto coletivo.
Os casarões passam a ser interpretados pelos turistas, que foram motivados
pela leitura de algum livro passa a interpretar a história dos bens/espaços citados pelo
enredo da obra. A interpretação transmite a função de um objetivo, da mesma forma o
turismo seleciona os atrativos capazes de suscitar interesses no consumidor.
Se o turismo da cidade estiver planejado adequadamente quando o turista,
motivado a conhecer a cidade pelas de obras literárias que a descrevem, chegar à
localidade, terá suas expectativas bem atendidas. A estrutura turística estará preparada
para receber esses viajantes e saberá exatamente onde levá-los. Com essa (re)
apropriação, intitula-se patrimônio tudo aquilo que é capaz de reunir características
próprias de determinada localidade, explicitando uma formação “identitária” que, ao
longo do tempo, sempre esteve relacionada às elites e as suas produções de saberes
refletidas na cultura e em toda a sua expressão.
Como a cultura é mutável, no decorrer do tempo ela passa por um processo
que envolve as identidades de um povo, suas tradições e os símbolos que os
representam. É nesse sentido que as construções representam um patrimônio cultural, ou
seja, é a união dos valores materiais e imateriais. Portanto, são as diferenças de nação
para nação que suscitam a singularidade.

A interpretação de patrimônio é modernamente uma atividade de


comunicação destinada à compreensão dos bens culturais. Ela atribui

30
significados possíveis ao legado histórico-cultural e permite a quem usufrui o
conhecimento do patrimônio a possibilidade de criar e dar soluções a
problemas interpretativos. (MENESES, 2004, p. 62)

O turista, que antes foi leitor da cidade pelos livros, interpretará os


bens/espaços da localidade através do olhar que teve da mesma pelo enredo da obra,
procurará compreender a mesma pela visão que o autor lhe passou e fará uma própria
interpretação contrastando a realidade com a ficção.
A obra “Os Tambores de São Luís” ainda traz outra característica muito
marcante na cidade de São Luís, o tambor da Casa-Grande das Minas, este patrimônio
imaterial chama ainda mais atenção do leitor pela forma contagiante e minuciosa com
que descreve a dança.
Até ali os tambores da Casa-Grande das Minas tinham seguido seus passos, e
ele via ainda os três tamboreiros, no canto esquerdo da varanda, rufando forte
os seus instrumentos rituais, com o acompanhamento dos ogãs e das cabaças,
enquanto a nochê Andreza Maria deixava cair o xale para os antebraços,
recebendo Toi-Zamadone, o dono do lugar. (MONTELLO, 2005, p. 15)

Como não ler uma passagem dessa e não ficar curioso?! Como será essa
música? Como que a nochê Andreza Maria recebe Toi-Zamadone? O que é nochê? O
que é ogã? Toi-Zamadone é dono do lugar? Como assim? São várias e várias questões
que vão despertando a curiosidade do leitor, que só poderão ser respondidas se ele se
deslocar à cidade na qual a história se passa, pois é lá que encontrará a cultura descrita.
Isso faz levantar outra questão: se essa cultura não fosse singular da cidade
de São Luís, o leitor seria motivado a conhecer a cidade? Daí, conclui-se a importância
e necessidade de se preservar a cidade, pois se todos se tornarem iguais às outras
cidades o que chamará atenção do turista?
O turismo cultural é “todo turismo no qual o principal atrativo não é a
natureza, mas um aspecto da cultura humana, que pode ser a história, o cotidiano, o
artesanato ou qualquer dos aspectos abrangidos pelo conceito de cultura” (BARRETO,
2007, p. 87), é importante frisar a preservação desta cultura para que se possa atrair
turistas.
Entretanto, é importante também ressaltar que, para “agradar” o turista,
muitas localidades turísticas “forçam” criando espaços turísticos artificiais ou então
modificando sua cultura. Como exemplo, tem-se o bumba-meu-boi – muitos grupos já
se modificaram, perderam grande parte do significado do bumba-meu-boi e se
transformaram em grandes espetáculos de teatro. Assim,
Lançando-se um novo olhar sobre a turistificação e seus atores, criam-se
territórios eminentemente turísticos com pouca ou nenhuma integração das

31
populações nativas, marginalizadas com relação ao uso dos recursos. A
natureza, espaço público de bem comum, é transformada em espaço privado,
desrespeitando a legislação ambiental existente e comprometendo os
ecossistemas. Lugares e populações são comercializados como atrativos para
serem consumidos. (FONTELES, 2004, p. 42)

Essa criação de espaços turísticos considerados como não-lugar,


“caracterizado como a produção de um novo espaço construído a partir da não-
identidade e do não-reconhecimento” (FONTELES, 2004, p. 73), exclui a população
autóctone do processo, não recebendo benefícios da atividade. Além de descaracterizar
a cultura local, que, muitas vezes, não possuem o significado, nem a finalidade atribuída
à cidade no decorrer do tempo.
A literatura faz com que se valorizem os espaços/bens que pertencem à
comunidade, pois faz “olhar com outro olhar”, dando-lhes valor, importância. Assim,
cria-se um sentimento “preservacionismo”, que é preservado e cultivado pela população
e atrairá a atenção de outros povos. “A preservação do patrimônio natural e artificial
ultrapassa o conceito de exótico e torna-se uma questão de sobrevivência para quem
depende deles, principalmente localidades que sobrevivem apenas da atividade
turística” (MARTINS; PEDROSA apud BAHL, 2004, p. 284). O turismo é como
matéria-prima para os bens culturais e naturais da localidade e, se estes não forem
preservados, com o tempo não serão capazes de atrair turistas e, por conseguinte, o
turismo, uma das atividades que mais oportunizam empregos à sociedade, se extinguirá.
A capacidade de atrair turistas faz com que esses bem/espaços, que
pertencem à comunidade, sejam transformados em atrativos turísticos e, com a devida
estrutura proporcionada ao turista e a preservação da população destes patrimônios, se
tornarão bem mais atrativos que lugares turistificados artificialmente. Gera-se, assim,
renda para a população não mais para empresários que muitas vezes não são da
população autóctone.
É importante ressaltar que o turista busca sempre o novo, o diferente, o que
está fora do seu cotidiano. Esse olhar foi sendo modificado ao longo do tempo. Na
época do Grand Tour, os viajantes iam com o intuito de conhecer o desconhecido,
servindo como testemunhas oculares; na sociedade hodierna, os turistas viajam com a
finalidade de contemplar a paisagem, ter novas experiências e até mesmo comprovar as
informações que lhes foram transmitidas – seja pelas propagandas, revistas, livros,
jornais, internet, amigos entre outros meios de divulgação dos destinos turísticos que

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estão mais acessíveis a todos as classes. Essa acessibilidade compreende tanto as
informações quanto ao aspecto financeiro.
As experiências poderão ser bem mais prazerosas para o turista motivado
pela leitura de um livro sobre a cidade retratada na obra. O turista contrastará a
realidade com a ficção, sentirá outra emoção, perceberá os bens/espaços apresentados
de outra forma. Diferente de quem nunca leu nada sobre o que está conhecendo, que
está vendo e ouvindo alguma informação sobre este patrimônio.
Portanto, conhecer e vivenciar a cultura torna-se importantíssimo para que o
indivíduo seja parte dela; faz, assim, com que a preservação seja mais efetiva, pois se o
turista se torna ativo, não deixará que ela se extinga com o tempo – consequentemente,
o turismo na cidade se prolongará e trará renda para muitas famílias.
Compreende-se, assim, que a literatura é um grande propulsor do turismo,
pois além de divulgar a cultura dos lugares descritos para outros, faz com que o
sentimento de nacionalismo seja revigorado, dando motivação aos autóctones para que
se preserve a cultura.

33
4 CONHECENDO A OBRA “OS TAMBORES DE SÃO LUÍS”, DE JOSUÉ
MONTELLO

“Os tambores de São Luís” é romance de fundamentação histórica realizado


sobre pesquisas e estudos de documentos da época. Recriando os fatos em
termos de ficção, Josué Montello atingiu, sem dúvida, seu objetivo, que foi
reviver a saga do negro escravo nas fazendas do Estado e em sua Capital.
(FISCHER, 1977, p. 49)

A obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, possui estreita


relação com a história, pois através da história fictícia do negro “Damião”, o autor
retoma fatos acontecidos no Maranhão na época em que se passa a trajetória de vida do
escravo-personagem. A partir da citação de Fischer, percebe-se que Montello não
inventou o que escreveu “do nada”, mas sim baseado em estudos e pesquisas sobre os
acontecimentos e a vida social da época narrada. É visível a denúncia da escravidão
existente de uma forma geral, contemplando todos os aspectos, desde a vinda do negro
até a vida social do mesmo no Estado.
Ao entrar na Rua de São Pantaleão, já distante do cemitério dos Ingleses,
experimentou de repente uma sensação de frio, que lhe desceu da cabeça aos
pés, como se um sopro gelado o tivesse apanhado por trás, em toda a
extensão do corpo. Respirou fundo, e prosseguiu no seu caminho, sem
aumentar nem diminuir o passo, ao mesmo tempo que procurava convencer-
se de que a rajada viera da Rua da Cotovia. Parou adiante, apalpando os
bolsos da calça, à procura do maço de cigarros. Tinha trazido os cigarros,
mas esquecera a caixa de fósforos. (MONTELLO, 2005, p. 19, grifos nossos)

Além de ser um livro de caráter histórico, a obra “Os Tambores de São


Luís” é praticamente um guia turístico da cidade, uma vez que o autor descreve
minuciosamente, através dos caminhos que o personagem “Damião” percorre, a capital
do Estado do Maranhão. Ruas, praças, igrejas entre outros ícones que compreendem o
patrimônio material da então considerada Patrimônio Cultural da Humanidade são
retratados através das palavras de Montello, que também discorrer sobre o patrimônio
imaterial: as danças do tambor de mina e o bumba-meu-boi.
“Os tambores de São Luís” conta a história de um escravo, “Damião”, e
através da história de vida deste faz uma crítica sobre os costumes, política, escravidão
entre outros modos de vida da sociedade daquela época, 1915, tendo o romance sido
publicado em 1975.
O enredo da história inicia-se com a saída de Damião para a casa de sua
bisneta, a fim de conhecer seu trineto. Nesse percurso, que o protagonista faz a pé, o
escritor descreve todo o caminho percorrido e, após encontrar uma cena de assassinato,

34
passa a relembrar toda a sua história de vida, que se inicia contando a fuga dele, seu pai,
mãe e irmã da fazenda na qual eram escravos.
O Rio Largo, enxameado de piranhas ficava a quatro dias de viagem pelos
meandros da floresta. Para alcançar a vila mais próxima, era preciso passar
para a outra margem, remando contra a correnteza, e andar outros quatro dias,
sempre dentro da mata, por um caminho que só os negros conheciam.
(MONTELLO, 2005, p. 25)

Essa fuga se dá pelo fato do Dr. Lustosa, senhor da fazenda, ter dito que iria
vender Damião, sendo assim, Julião, pai de Damião, resolve fugir para que isso não
ocorra. Após a fuga, constroem um quilombo e, dentro dos casos que vão acontecendo
nesse local, relembra-se a história dos negros no Maranhão – desde a vinda destes da
África, através da história de vida de Julião, é comentado todo o sofrimento que
passaram dentro do navio, como eram as condições destes, o que acontecia com muitos
destes no caminho da viagem, como não aguentavam as condições precárias e
desumanas nesse trajeto e acabavam morrendo.
Ele sabia que vinha de estirpe ilustre, quase toda dizimada na longa viagem
do lerdo navio negreiro que o trouxera da África para o Maranhão, e
guardava, nítidas, as imagens de sua terra e de seu povo, do outro lado das
águas imensas. Se não atirara ao mar, durante a vagarosa travessia, como
muitos dos companheiros de viagem, foi porque a si próprio atribuíra o
comando de outros negros, assim que se lhe ensejasse ocasião propícia para
vingar-se do merecido cativeiro. (MONTELLO, 2005, p. 35)

Josué Montello também descreve na ficção o que os negros, vindos da


África, passavam no Maranhão, como eram tratados pelos seus senhores. Os castigos,
os objetos de tortura, as condições de vida, o trabalho, o sofrimento, os quilombos,
como faziam para fugirem dessas torturas e para conseguirem a alforria. Ilustram-se
essas mazelas na fala de um dos personagens, Chico Sarará, numa conversa com
Damião:
- Tou ficando cansado de ser preto Damião. A gente trabaia, trabaia, e depois
é só chicote e pancada, chicote e pancada, ou então tronco e palmatória. Até
no gosto que a gente tem com as muié, é o branco que sai ganhando, com os
negrinho que vão nascendo. Tu não conheceu o Tonico, meu irmão. Era um
preto bão, só vivia pra ajudar os outro. Se tinha arguém doente, o Tonico tava
do lado, ajudando a sofrer. Não podia haver um coração mio. Mio mesmo, só
Deus. Um dia, o douto cismou com ele, passou a judiar do coitado, cumo ta
fazendo cuntigo. Era ele que enchia o tanque. Cumo era fraco não agüentava
direito a carga. O douto se zangava, metia a taca nele. Tonico acabou
achando que era demais. Uma tarde, desceu pra lagoa, e não vortou. Foi pra
pedreira, e se jogou lá de riba. Quando acharam ele, dentro do mato, já tava
inchado, cum os urubu voando em cima. (MONTELLO, 2005, p. 26)

Percebe-se aí o caráter crítico da obra em relação ao negro, a denúncia feita


pelo autor das condições que o escravo vivia no Maranhão. Evidencia-se, pois, uma das
finalidades do romance: relatar as condições sociais daquela época desumana.

35
O personagem principal, “Damião”, passou por todos esses maus-tratos na
fazenda onde era escravo do Dr. Lustosa. Após a morte do seu senhor, que morreu
batendo em “Damião”, a sinhá resolveu entregar o escravo ao bispo dom Manuel, no
intuito que se formasse padre e após sua formação rezasse 300 missas em ação de
graças ao seu falecido marido. Sendo assim, foi mandado para a capital, São Luís, no
entanto o preconceito que era e continua estando enraizado na sociedade maranhense
não permitiu que o mesmo se formasse, mesmo sendo o mais inteligente da turma.
Além desse problema da discriminação na capital do Maranhão, o autor continua a
mostrar casos de maus-tratos aos negros: muitos são até mesmo assassinados por causa
de “delitos” cometidos.
Com a chegada de “Damião” a São Luís, o autor descreve todo o trajeto do
mesmo, e o deslumbramento do personagem com a beleza da cidade. Descreve as ruas
por onde passa, os sobrados, os pombos, as praças, as igrejas, a casa das minas, as
praias, o centro da cidade; descreve, portanto, todo seu caminho e tudo que lhe chama
atenção, tornando o livro um importante guia turístico da cidade.
Ainda bem que, não estando o bispo no paço pela manhã, tivera tempo de dar
um giro pelos arredores, levado ainda pelo companheiro, e assim começara a
familiarizar-se com a vida da cidade – o ruído das ruas, as carroças, as pipas
de água, as carruagens, os pregões dos vendedores ambulantes, os sobrados
rente às calçadas, os mirantes, as lojas, as pessoas debruçadas nas janelas, e
tudo o deslumbrara. (MONTELLO, 2005, p. 163-4)

É nesse clima de encantamento e “descobrimento” da cidade que o autor


descreve São Luís através dos passos do personagem Damião. Montello apresenta ao
leitor os nomes das ruas da cidade, cemitérios, igrejas, largos, praças, bairros entre
outros. Entre as ruas percorridas pelos personagens da história podemos citar: Rua de
Santana, Rua da Imprensa, Rua de Nazaré, Rua da Palma, Rua Grande, Rua de São
João, Rua da Paz, Rua das Hortas, Rua dos Remédios, Rua dos Afogados, Rua de São
João, Rua do Sol, Rua da Inveja, Rua do Passeio, Rua do Mocambo, Rua de São
Pantaleão, Rua da Cotovia, Rua de Santana, Rua do Outeiro, Rua da Estrela, Rua do
Giz, Rua do Gavião, Rua Formosa, Rua dos Barbeiros, Rua da Palma, Rua de Santa
Rita, Rua do Trapiche, Rua das Barrocas. Essas diversas ruas que compreendem o
Centro da cidade de São Luís são importantíssimas “peças” para o turismo, pois são
nelas que se encontram grande parte do Patrimônio Cultural, sendo assim além de
passagem para a população e turistas também é o próprio atrativo. A partir desses locais,
pode-se relembrar/recordar o que se viveu no passado ali e transmitir aos turistas essa
“áurea” que rescende dessas.

36
As antigas ruas da cidade oferecem-nos um dos mais belos conjuntos da
arquitetura colonial de que São Luís é o mais abundante relicário de todo o
Brasil. As fachadas de azulejo, em soberbos sobradões de três pavimentos, as
sacadas de ferro dos segundos pavimentos e os portais de cantaria dos
pavimentos térreos se sucedem numa extensão admirável. Autenticamente
coloniais, eles nos fazem evocar os costumes de outrora. (CORENJO, 2004,
p. 219)

As ruas destacadas no percurso do personagem Damião fazem parte desta


“coleção” de relicários de São Luís. Neste caminho percorrido, também se encontram
outros patrimônios da cidade ludovicense.
Na obra, destacam-se as igrejas, que são também importantes atrativos
turísticos: Igreja do Carmo, Igreja de Santaninha, Igreja de São Pantaleão, Igreja da Sé,
Igreja de Santo Antônio, Igreja do Rosário, Igreja do Desterro, Igreja de São João,
Igreja da Conceição. Essas igrejas são atrativas pelo fato de muito da nossa história,
tanto de uma forma universal quanto em relação ao Maranhão, uma vez que estas
exerceram um papel influente nas décadas passadas.
Muitas igrejas trazem imensas construções, fruto da riqueza presenciada
pelo lugar onde está localizada e é a partir delas que o turista passa a reconhecer a
história do local visitado; “vivencia-se” um pouco desse passado que está presente nas
construções realizadas ao longo do tempo. Sendo assim, “É indubitável o valor cultural,
além de religioso, das catedrais, igrejas e outros lugares de culto existentes no mundo e
o atrativo que exercem sobre os turistas” (CHIAS, 2007, p. 50).
As praças da cidade de São Luís são importantes pontos de encontro desde
décadas passadas, quando várias figuras importantes relatavam as reuniões realizadas no
local com o intuito de conversar, fofocar, debater com os demais, assuntos relacionados
à sociedade a que pertenciam.
Dentre as praças descritas pelo autor temos: Praça da Alegria, Praça do
Mercado, Praça do Comércio. Além dos largos, que compreendem um tipo de praça da
época: Largo da Cadeia, Largo de Santiago, Largo do Desterro, Largo do Quartel, Largo
de Santo Antônio, Largo do João do Vale, Largo do Palácio, Largo da Cadeia, Largo de
Santiago, Largo de Santo Antônio, Largo do Mercado.
Alguns bairros que existiam naquela época também foram lembrados na
história da obra: Madre Deus, Portinho, Desterro, Praia Grande, Gamboa, Caminho
Grande, Apicum, Centro, Jordoa, Anil, Turu, Vinhais, Maioba e até São José de
Ribamar.

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Além desses atrativos que Josué Montello pontuou em sua obra, têm-se
alguns pontos destaques como: A Casa Grande das Minas, o Liceu Maranhense, o
Sobrado de Donana Jansen, o Cais da Sagração, a Fonte do Ribeirão, o Cemitério do
Gavião, o Pelourinho dentre outros que são pontos turísticos da cidade. Sendo assim,
ressalta-se a importância do livro como divulgador da cidade e motivador para a vinda
de turistas.
A obra de Montello ressalta todas as belezas e patrimônios da cidade, chega-
se a conclusão de que, além se ser um grande publicitário do Maranhão e motivador de
turistas, o referido autor pode ser utilizado pelas agências de turismo a fim de se criar
um roteiro para que os turistas possam conhecer a cidade de uma forma mais inovadora
e autêntica. Segundo BRASIL (2005, s/p), “roteiro turístico: itinerário caracterizado por
um ou mais elementos que lhe conferem identidade. É definido e estruturado para fins
de planejamento, gestão, promoção e comercialização turística”.
Esse itinerário é caracterizado por percursos que, ao longo do caminho,
possuem atrativos turísticos e têm algum significado da cidade para que o turista possa
apreciar e criar sua própria interpretação. Esses roteiros, em geral, possuem um tema de
valor identitário para a localidade em que está inserido, facilitando o entendimento do
patrimônio que é mostrado.
A utilização de roteiros é uma estratégia do Plano de Turismo utilizado
atualmente pelo Brasil. Esse Plano tem o intuito de segmentar o mercado fazendo com
que este se fortaleça, pois quando definimos uma ideia/característica/identidade de um
roteiro a ação de promoção e venda agirá de forma mais eficiente, atraindo turistas para
que venham realmente com o intuito de conhecer o que é passado pela
marca/propaganda. No turismo, o “carro chefe” da atividade em São Luís são os roteiros
com segmentação em turismo cultural que apoiariam esta ideia e tornariam significativa
a visitação, pois a experiência de conhecer a cidade através da literatura da mesma é um
diferencial que a torna bem mais interessante.
Salienta-se que um roteiro estruturado em cima de uma obra literária da
região dá uma maior singularidade ao local e à viagem do turista, pois os viajantes, em
geral, são motivados a conhecer o diferente, o novo, o que não encontram em sua
cidade. Segundo Martins (apud BAHL, 2004, p. 796), “o que de verdade dá sentido a
um lugar é um conjunto de significados, os símbolos que a cultura local imprimiu, e é
isso que leva o outro, a sentir, a perceber distinto e especial, o lugar ao qual visita”.

38
4.1 Turismo Pedagógico a partir da obra “Os tambores de São Luís”

A obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, é um livro


riquíssimo para se criar roteiros, pois temos vários percursos detalhados na história: o
caminho de Damião até a casa da bisneta, do padre Policarpo para ir até ao Convento de
Santo Antônio (Seminário) dar aula, o percurso de Damião de “descobrimento” de São
Luís, os passos de Damião e padre Policarpo até o Largo da Cadeia onde o escravo foi
enforcado entre outros, que também podem ser utilizados com a finalidade de ensinar.
Destaca-se, assim, o Turismo Pedagógico que segundo Álvares, Linhares e
Taveira (apud BAHL, 2004) é uma atividade que se inicia e termina na escola cuja
coordenação pedagógica e o professor criarão um roteiro no qual os alunos poderão
identificar o conteúdo através do trajeto realizado. A finalidade e os objetivos a serem
alcançados por essa atividade serão definidos pelos “pensadores” do roteiro, esta
modalidade é caracterizada segundo esses autores citados como:
Uma atividade educativa sob a forma de experiência turística, na qual os
alunos assumem a condição temporária de turistas, segundo um plano
pedagógico definido pela escola para melhor exploração de conhecimentos
aproveitando-se da riqueza do meio ambiente. (Alavares, Linhares e Taveira
apud Bahl, 2004, p. 143)

Esta prática de turismo também é caracterizada por Beni (2002), ao mostrar


que não é uma realidade moderna, mas que vem desde a época do Grand Tour, quando
os jovens filhos de pais com boas condições financeiras eram enviados a outros países
para que complementassem seus estudos.
Retomada da antiga prática amplamente utilizada na Europa e principalmente
nos Estados Unidos por colégios e Universidades particulares, e também
adotada no Brasil por algumas escolas de elite, que consistia na organização
de viagens culturais mediante o acompanhamento de professores
especializados da própria instituição de ensino com programa de aulas e
visitas a pontos históricos ou de interesse para o desenvolvimento
educacional dos estudantes. (Beni, 2002, p.15)

A partir dessas definições e descrições de Turismo Pedagógico, relaciona-se


este com roteiros que podem ser criados a partir da obra “Os tambores de São Luís”,
pois, a partir da história do livro, tiram-se muitos ensinamentos, tanto da História do
Maranhão quanto da Geografia, por exemplo. Ao associar essas assertivas com a
pedagogia, nota-se que a utilização desses percursos com os alunos tornará o ensino de
alguns conteúdos bem mais prazerosos e, quando o aprender tem essa conotação, torna-

39
se bem mais significativo. O aluno terá, assim, a oportunidade de relacionar o assunto
dado na sala de aula com a realidade em que vive (AUSUBEL, 1982), chegando de
forma mais eficaz ao conhecimento, logo, aprendendo. Portanto, as viagens podem ter
essa finalidade educativa:
Dessa forma, os escritores começam a refletir sobre seus escritos e ensaios
sobre a viagem, como é o caso de Montaigne ou de Sir Francis Bacon, que,
em sua obra “Of Travel” (1612), estima que a viagem deve fazer parte da
educação de jovens e da experiência de pessoas com mais idade.
(MONTEJANO, 2001, p. 308)

Montejano (2001) mostra que a relação entre as viagens e a educação é um


fenômeno estudado desde o século XVII. Sendo assim, o ato de viajar não está somente
ligado a fatores como o se divertir, relaxar, mas também obter conhecimentos.
Ressalta-se a utilidade do livro para se criar roteiros para estudantes, que
irão, em primeiro lugar, ter o prazer de ler a obra e, em segundo lugar, conhecer sua
cidade através da história do livro, colocando em prática os percursos que o personagem
do livro fez.
A prática pedagógica construtivista utiliza-se do conceito de mediação,
inserida nas relações sociais da escola, para atingir níveis cognitivos
superiores, gerando conhecimento. Portanto, enfatizamos novamente que na
situação escolar, poderão servir de mediadores os colegas, o professor, a
função simbólica ou qualquer situação que interponha a relação sujeito –
objeto, desempenhando um papel equilibrador. Nesse contexto, um dos
papéis do professor é planejar e propiciar mediadores que facilitem a
aprendizagem. (NOGUEIRA, 1998, p. 77)

Esse tipo de metodologia, que relaciona com viagens, excursões passeios, é


geralmente aplicada por professores que se adequam ao construtivismo. O aluno é visto
como capaz de formar/construir seu conhecimento através, apenas, de incentivos do
professor para que o discente possa refletir e analisar o conteúdo e, portanto, chegar ao
conhecimento. Com a prática tradicional em decadência, pelo menos esperasse que esta
seja minimizada uma vez que a mesma não dá a oportunidade ao aluno de formar sua
criticidade, pois, segundo Saviani (2006, p. 42), esta prática é uma “aprendizagem com
base na memória e na repetição e consistia em uma abordagem dedutiva do saber: ir do
simples ao complexo ou do geral para o particular”. Sendo assim o aluno não coloca a
“cabeça para pensar”, apenas segue o senso comum, pois não pratica sua criticidade.
O interessante deste tipo de roteiro é que oportuniza ao professor tornar seu
ensino mais interdisciplinar, já que “A prática do Turismo Pedagógico proporciona um
diálogo com a natureza e a cultura, além de proporcionar a conexão de diversas áreas do
conhecimento” (BAHL, 2004, p. 143). Pode-se usar, por exemplo, o roteiro de Damião

40
com padre Policarpo até a praça onde o escravo foi enforcado, o mestre poderá
comentar sobre a escravidão no Maranhão, ao longo do roteiro pode, ainda, mostrar o
patrimônio cultural da cidade e discutir com os alunos a importância deste patrimônio,
abordar a literatura do Estado, propiciar aos alunos a oportunidade de conhecer a
cidade/fazer turismo.
O Turismo Pedagógico é uma prática também apoiada pelo PCN –
Parâmetros Curriculares Nacionais, documento que norteia a educação no país,
garantindo que os conteúdos sejam iguais para toda a nação, o mesmo frisa:
É importante salientar que o espaço de aprendizagem não se restringe à
escola, sendo necessário propor atividades que ocorram fora dela. A
programação deve contar com passeios, excursões, teatro, cinema, visitas a
fábricas, marcenarias, padarias, enfim, com as possibilidades existentes em
cada local e as necessidades de realização do trabalho escolar. (BRASIL,
1997, p. 67 – grifos nossos)

Os passeios e excursões ressaltados no PCN são práticas que teóricos da


aprendizagem como Froebel (1987) e Freinet (1978) também abordam, pois o primeiro
acredita que a natureza auxilia o aluno a compreender a si mesmo e aos outros e o
segundo que as “aulas passeio”, como foram caracterizadas por este autor, motivariam o
aluno a aprender, porque o interesse do aluno não estaria na escola e sim fora dela.
Portanto,
“[...] o turismo pedagógico é uma forma de propor ao aluno uma participação
ativa no processo de construção do conhecimento, pois proporciona meios
para que ele possa tornar-se um cidadão criativo, dinâmico e interessado em
atuar, de forma efetiva, na comunidade, contribuindo para o desenvolvimento
de uma sociedade mais consciente em todos os níveis” (MOLETTA, 2003, p.
11-12)

Destaca-se, assim, o que Freinet e Froebel afirmam: o turismo é uma


motivação ao aluno para que este se interesse pelo assunto estudado, faz com que
aprenda da melhor forma possível, compreenda o conteúdo e construa seu conhecimento
de forma crítica. A partir dessas premissas, “a aprendizagem é mais rápida e duradoura
se for agradável e satisfatória em si mesma, e as melhores experiências educacionais
assumem uma natureza lúdica” (PARKER, 1978, p. 112).
O Turismo Pedagógico trará esse tipo de abordagem, para que o aluno saia
da sala de aula para compreender e relacionar o estudo livresco com a realidade do seu
entorno. Essa saída dos muros da escola dará motivação ao aluno que, ao estar
envolvido com a atividade, aprenderá de forma mais eficaz.
O turismo cultural é a modalidade do turismo na qual o turista busca
informações e conhecimento sobre a cultura do povo/sociedade visitada. O turismo

41
pedagógico compreende, assim, praticamente uma subdivisão do turismo cultural, pois
ambos têm o mesmo objetivo, apesar de diferirem na finalidade. O turismo cultural só
tem a finalidade de conhecer a cultura do outro e o turismo pedagógico além de
conhecer a cultural ainda tem a finalidade educativa, já que os alunos darão retorno ao
professor do que aprenderam com o passeio através de métodos avaliativos criados pelo
docente.
Outra característica que aproxima o turismo pedagógico do turismo cultural
é o fato de que quando os alunos saem da sala de aula para a realidade, eles já vão com
uma carga de informações, compreendendo que os praticantes do turismo cultural já são
aqueles que vão ao destino com alguma informação sobre o assunto em questão. Nota-
se outro ponto em comum entre essas modalidades, como defende Costa (2009, p. 60):
O senso comum relatado anteriormente sobre o turismo cultural diria que seu
objetivo final é a própria visitação aos bens que compõem o patrimônio
cultural da comunidade receptora. No entanto, a leitura mais atenta do
fenômeno turístico cultural que vem sendo defendida neste estudo indica que
seu principal objetivo é propiciar experiências que dêem origem a um
processo educativo que auxilie no desenvolvimento integral dos visitantes e,
consequentemente, na conservação do recurso cultural visitado.

Sendo assim, o turismo cultural estaria de comum acordo com o turismo


pedagógico, haja vista que ambos o desenvolvimento do visitante a partir dos “objetos”
a serem visitados, transformando a visita, o turismo, num processo educativo.
É importante ressaltar que o Turismo Pedagógico torna-se, deste modo, um
“aliado” da Educação Patrimonial, que, segundo Pinto e Campos (apud BAHL (2004, p.
576) seria “Fazer o indivíduo reconhecer-se como parte do processo de transformação
do qual constitui seu Patrimônio Cultural é o papel da educação patrimonial”. Portanto,
os roteiros utilizados pelo Turismo Pedagógico reforçarão nos alunos o sentimento de
pertença e de valorização do patrimônio cultural que lhes pertence, incentivando-os a
preservar esse patrimônio.
Os alunos, cidadãos da cidade receptora de turistas, tornar-se-ão mais
responsáveis, com o patrimônio cultural, sendo este matéria-prima do turismo;
desenvolverá nos discentes uma vontade de tomar posição diante da atividade, evitando
que fiquem aquém dos benefícios que o turismo pode trazer à comunidade. Como
salientam Pinto e Campos (apud BAHL, 2004, p. 579): “incluir no turismo cultural a
participação da população, haja vista que, a maioria das vezes, o patrimônio revitalizado
é apenas um meio de aumentar a oferta turística”. Neste exemplo, percebemos outra

42
forma na qual a população local fica excluída, pois se utilizam do patrimônio apenas
como atrativo turístico, sem dar àquele uma “função” a sociedade a qual pertence.
Essas “habilidades” adquiridas pelo Turismo Pedagógico têm também um
enfoque na cidadania, pois, a partir de experiências com essa prática, o aluno não será
um mero receptor de conhecimento, mas também agirá e refletirá sobre este.
Para que o turismo cultural tome conotações sustentáveis, ideal do turismo
hodierno, é necessário que haja educação patrimonial para, como já foi citado, a
população se sinta pertencente àquele patrimônio, reconheça-o e se reconheça nele,
dando-lhe valor. Sendo assim, o Turismo Pedagógico, que possui ligações diretas ao
Turismo Cultural, será um meio importantíssimo para que o turismo realizado seja
sustentável, trazendo benefícios para a comunidade e que as gerações futuras possam
usufruir tantos dos benefícios da atividade quanto poder presenciar o patrimônio
existente.
Portanto, a obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, um dos
autores mais renomados do Maranhão, pode ser um meio de criarem-se roteiros
pedagógicos e turísticos.
Para compreendermos a importância da obra é importante conhecermos um
pouco da vida e obra do autor Josué Montello que, ao longo de sua carreira, contribuiu
bastante com a literatura maranhense e brasileira, sendo destaque nacional como
veremos a seguir.

4.2 Vida e obra do autor Josué Montello

Josué Montello, dentro dessa linha, situa-se entre os maiores nomes da


literatura brasileira de todos os tempos. Foi um operário da cultura, um
trabalhador indormido da arte de escrever. Publicou mais de cem livros,
abordando todos os gêneros literários, como poeta, teatrólogo, romancista,
contista, jornalista, conferencista, memorialista, ensaísta, historiador.
(SARNEY, 2008, p. 42)

Josué Montello, como foi firmado por José Sarney na citação acima, foi um
dos maiores literatos da história brasileira, ocupante da Cadeira n. 29, em 4 de
novembro de 1954, na sucessão de Cláudio de Sousa, foi recebido em 4 de junho de
1955, pelo acadêmico Viriato Correia.
Filho de Antônio Bernardo Montello e Mância de Souza Montello, Josué
nasceu em São Luís – MA no dia 21 de agosto de 1917 e faleceu em 10 de março de
2006. Entre suas profissões o autor já passou por jornalista, professor, romancista,

43
cronista, ensaísta, historiador, orador, teatrólogo e memorialista. A partir da Biblioteca
Virtual de Literatura e do site da Academia Brasileira de Letras têm-se as seguintes
informações sobre o escritor.
Estudou em São Luís, na escola Modelo Benedito Leite e no Liceu
Maranhense, tendo sido destaque da turma neste último. Deu início à sua carreira
literária no Liceu Maranhense, onde dirigiu um periódico escolar chamado “A
Mocidade”.
Em 1932, Josué Montello integrou a Sociedade Literária Cenáculo Graça
Aranha, tendo colaborado com os principais jornais maranhenses (A Tribuna, Folha do
Povo e O Imparcial) até 1936, quando se mudou para Belém do Pará, onde publicou seu
primeiro livro com a colaboração de Nélio Reis. Aos dezoito anos, foi eleito membro
efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará. Foi transferido no fim de 1936 para
o Rio de Janeiro, onde continuou a colaborar de forma assídua com a literatura
brasileira, integrando-se ao grupo intelectual que fundou o Dom Casmurro.
Em 1937, foi nomeado Inspetor Federal do Ensino Comercial, no Rio de
Janeiro. Em 1939 foi nomeado para o cargo de Técnico de Educação, do Ministério da
Educação, após se inscrever com a tese "O sentido educativo da arte dramática",
obtendo uma das mais destacadas classificações.
Em 1941, publicou seu primeiro romance, “Janelas fechadas”. Em 1943, foi
professor do curso de Organização de Bibliotecas, do Departamento Administrativo do
Serviço Público.
Em 1944, a convite do Dr. Rodolfo Garcia, diretor geral da Biblioteca
Nacional, planejou a reforma geral do principal instituto bibliográfico. Além de ter
instalado em bases modernas os cursos da Biblioteca Nacional, de que foi a princípio
coordenador e a seguir diretor. Foi professor da cadeira de Literatura Portuguesa do
curso superior de Biblioteconomia, logo a seguir.
Em 1946, a convite do governo do Maranhão, fez o plano da reforma do
ensino primário e normal do Estado, que a seguir se converteu em lei. Ao tempo da
interventoria Saturnino Belo, exerceu o cargo de secretário-geral do Maranhão.
Em 1947, foi nomeado diretor geral da Biblioteca Nacional. Exerceu,
cumulativamente, a direção do Serviço Nacional do Teatro.
Em 1953, a convite do Itamaraty, inaugurou e regeu por dois anos a cátedra
de Estudos Brasileiros da Universidade Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, no
Peru. Em 1954, recebeu da mesma universidade o título de seu Catedrático Honorário.

44
A partir de 1954, tornou-se colaborador permanente do Jornal do Brasil, no qual
manteve uma coluna semanal até 1990, e das publicações da Empresa Bloch, sobretudo
na revista Manchete.
Em 1955, o Teatro Universitário da Universidade de San Marcos, por
iniciativa do diretor Pedro Jarque y Leiva, iniciou a temporada com a peça O Verdugo,
especialmente escrita por Josué Montello para o mesmo teatro.
Em 1956, exerceu o cargo de subchefe da Casa Civil do Presidente da
República. Em 1957, convidado pelo Itamaraty, regeu a cátedra de Estudos Brasileiros,
na Universidade de Lisboa e em 1958, regeu a mesma cátedra na Universidade de
Madri. A convite do Instituto de Cultura Hispânica ministrou um curso sobre literatura
brasileira na Cátedra Ramiro de Maeztu.
Organizou e instalou o Conselho Federal de Cultura, sendo o seu primeiro
presidente, em 1967-1968, e membro até 1989, quando o Conselho foi extinto. De 1969
a 1970, foi conselheiro cultural da Embaixada do Brasil em Paris. De volta ao Brasil,
organizou e instalou o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, onde empreendeu a
reforma e instalação da nova Reitoria. De 1985 a 1989, foi embaixador do Brasil junto à
UNESCO.
De janeiro de 1994 a dezembro de 1995, ocupou a presidência da Academia
Brasileira de Letras, realizando uma ampla reforma administrativa na quase centenária
Casa de Machado de Assis.
Josué Montello deu continuidade ao romance citadino machadino, na linha de
Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, Lima Barreto e
tantos outros. Josué iria agregar uma temática nova, da reconstrução do
tempo vinculada à vida cotidiana do Maranhão, com livros extraordinários, o
maior deles “Os tambores de São Luís”, que, com um século de atraso, é o
magistral romance sobre a escravidão. (SARNEY, 2008, p. 42)

Dentre as diversas obras de romance do autor Josué Montello, destaca-se:


Janelas fechadas (1941); A luz da estrela morta (1948); Labirinto de espelhos (1952); A
décima noite (1959); Os degraus do paraíso (1965); Cais da sagração (1971); Os
tambores de São Luís (1975); Noite sobre Alcântara (1978); A coroa de areia (1979); O
silêncio da confissão (1980); Largo do desterro (1981); Aleluia (1982); Pedra viva
(1983); Uma varanda sobre o silêncio (1984); Perto da meia-noite (1985); Antes que os
pássaros acordem (1987); A última convidada (1989); Um beiral para os bentevis
(1989); O camarote vazio (1990); O baile da despedida (1992); A viagem sem regresso
(1993); Uma sombra na parede (1995); A mulher proibida. In Romances escolhidos
(1996); Enquanto o tempo não passa (1996).

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Josué Montello ainda se sobressai por seus mais diversos prêmios recebidos
ao longo da carreira:
 Prêmio “Sílvio Romero” de Crítica e História, da Academia
Brasileira de Letras, 1945. Com a publicação de Histórias da vida
literária;
 Prêmio “Artur Azevedo” de Teatro, da Academia Brasileira de
Letras, 1947. Com a publicação de Escola da saudade;
 Prêmio “Coelho Neto” de Romance, da Academia Brasileira de
Letras, 1953. Com a publicação de Labirinto de espelhos;
 Prêmio “Paula Brito” de Romance, da Prefeitura do Distrito Federal,
1959. Com a publicação de A décima noite;
 Prêmio “Fernando Chinaglia” de Romance, da União Brasileira de
Escritores, 1965. Com a publicação de Os degraus do paraíso;
 Prêmio “Luísa Cláudio Souza” de Romance, do PEN Clube do
Brasil, 1967. Com a publicação de Os degraus do paraíso;
 Prêmio “Intelectual do Ano”, da União Brasileira de Escritores e da
Folha de S. Paulo, 1971. Com a publicação de Cais da Sagração;
 Prêmio de Romance da Fundação Cultural de Brasília, 1972. Com a
publicação de Cais da Sagração;
 Prêmio de Romance da Associação Paulista de Críticos de Arte,
1978. Com a publicação de Noite sobre Alcântara;
 Prêmio Nacional de Romance do Instituto Nacional do Livro, 1979.
Com a publicação de Noite sobre Alcântara;
 Prêmio “Personagem Literária do Ano 1982”- da Câmara Brasileira
do Livro, de São Paulo, pelo seu conjunto de obra;
 Prêmio Brasília de Literatura para conjunto de obra “1982”, da
Fundação Cultural do Distrito Federal, 1983, para conjunto de obras;
 Grande Prêmio da Academia Francesa, 1987;
 Prêmio São Sebastião de Cultura, da Associação Cultural da
Arquidiocese do Rio de Janeiro, 1994;
 Prêmio Ateneu Rotário do Rotary Clube de São Paulo, ao ser eleito
“Personalidade do Ano” na área de Letras, 1997;
 Prêmio Guimarães Rosa, de prosa, do Ministério da Cultura, 1998;

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 Prêmio Oliveira Martins, da União Brasileira de Escritores, pela
publicação de Os inimigos de Machado de Assis, 2000;
 Prêmio Ivan Lins (Ensaio) da Academia Carioca de Letras, pela obra
O Juscelino Kubitschek das minhas recordações, 2000.
Através das obras e pela infinidade de prêmios que o escritor Josué
Montello fez e recebeu, destaca-se a importância do mesmo não somente para a
literatura brasileira, mas também para a história do Brasil, pois muito contribuiu com o
país durante sua carreira. Sendo assim, parte-se para sugestões de possíveis roteiros,
pensados a partir dos percursos dos personagens da obra “Os tambores de São Luís”
para que se possa tornar o passeio dos turistas mais interessantes e estimular o
aprendizado de alunos.

4.3 Construindo roteiros turísticos a partir da obra literária “Os tambores de São
Luís

Mas o traço marcante e indelével de sua personalidade era o seu amor ao


Maranhão, seu encanto, sua fascinação pela sua terra, que nunca deixou de
ter um lugar de reverência em tudo o que escreve. (SARNEY, 2008, p. 43)

O autor Josué Montello descreveu minuciosamente a cidade de São Luís


através dos percursos realizados por alguns personagens da obra. O livro torna-se
referência para a construção de roteiros que tenham como identidade a literatura e o
escravismo no Maranhão, por se tratar de um clássico da literatura maranhense e por
contar a história dos escravos no Estado.
Destaca-se alguns autores a fim de compreender turismo cultural:
Por outro lado, Craik (1997), sublinha ainda mais a componente educacional
da curiosidade e entende o turismo cultural como a visita a outras culturas e
sítios para aprender sobre a gente, conhecer o seu modo de vida, o património
cultural e as suas artes. Na mesma linha, Turespaña (2001: 20) define o
turismo cultural como um “segmento de coleccionistas de conhecimentos”.
Autores como Ritchie e Zins (1978) ou Keith Dewar (2000), dizem que o
turismo cultural é uma viagem na procura de conhecimento, para
enriquecimento pessoal, para aprender sobre os outros –os seus modos de
vida- e sobre nós mesmos. O turismo cultural tem o sentido de satisfazer,
deste modo, a curiosidade humana e o desejo humano de conhecer como os
outros vivem. Nesta linha Richards e Bonink (1995) afirmam que o turismo
cultural é “o movimento de pessoas até atracões culturais fora do seu local
habitual de residência, com o objectivo de ganhar informação, experiências e
satisfazer as suas necessidades culturais”. (PÉREZ, 2009, p. 114)

47
A partir da compreensão de que o turismo cultural é, em si, a atividade na
qual o turista se desloca a fim de adquirir conhecimentos, satisfazer a curiosidade, se
informar, e o Turismo Pedagógico sendo:
O turismo pedagógico é uma maneira de oferecer aos estudantes a
oportunidade de conhecer melhor uma determinada região e vivenciar a
história, as tradições, os hábitos e os costumes da população local, por meio
de aulas práticas no próprio destino receptor (MOLETTA, 2003, p. 11)

Traça-se, assim, a partir destas definições uma correlação entre turismo


cultural e pedagógico, uma vez que o turista pedagógico se deslocará devido a uma
motivação que compreende a do turismo cultural, ou seja, conhecer a cultura, obter
informações e conhecimento.
Sendo assim, a criação de roteiros baseados na obra nos traz uma riquíssima
experiência para turistas de cunho cultural e para os alunos contextualizem o conteúdo
lecionado em sala de aula através do percurso realizado e guiado por professores
acompanhados ou não de um guia turístico. Destaca-se que a visão do aluno será
diferente da visão do turista, pois o visitante verá o patrimônio pela primeira vez,
portanto enxergará o mesmo como uma “coisa bonita”, se tiver sido leitor do livro que
baseou o roteiro vivenciará a história fictícia na realidade. Já o aluno, se morador da
cidade, terá o sentimento de pertencimento àquele patrimônio fortalecido, além de
reconhecer a história fictícia e realizar a conexão entre a história x patrimônio x
conteúdo dado em sala de aula; se o aluno não for morador da cidade, reconhecerá a
história do livro no patrimônio cultural e fará a relação história x patrimônio x conteúdo
da sala de aula.
No processo de preservação do patrimônio cultural, observamos uma
ausência da participação popular. Desse processo de excluir a população do
que é seu, advém uma série de outros desconhecimentos. Por exemplo, a falta
de conhecimento do Patrimônio cultural e consequentemente seu desvalor.
(MARTINS apud BAHL, 2004, p. 799)

Percebe-se, assim, outro benefício do Turismo Pedagógico, pois a visitação


de alunos ao seu patrimônio cultural fará com que essa conheça o que é seu. O cidadão
ciente desse pertencimento passará valorizar o local visitado. Os roteiros baseados na
literatura local serão capazes de atrair turistas e também de poder dar educação
patrimonial a alunos, tanto local quanto visitantes. Alem de educá-los para a realização
de um turismo “saudável” desde pequenos, sendo assim, procurarão preservar a sua
cidade e quando forem turistas em outras localidades saberão o que deve e não deve
poder fazer na cultura alheia.

48
A partir do roteiro com finalidade de Turismo Pedagógico, desenvolveu-se a
criação de três roteiros que podem seguir este fim, que, segundo Álvares, Linhares e
Taveira (apud BAHL, 2004), esse modelo de turismo tem como características:
É uma experiência que serve à escola em suas atividades educativas;
O aluno é colocado temporariamente na condição de turista, num
processo que implica a conversão e reconversão do “olhar turístico”;
Os agentes econômicos que atuam na atividade turística atendem ao
plano pedagógico da escola;
A viagem é definida pela escola seguindo um plano preestabelecido,
no qual as experiências vivenciadas no deslocamento irão integrar-se na ação
educativa;
A viagem é realizada no período letivo e não nas férias escolares;
As experiências vivenciadas durante a viagem são acompanhadas pelo
professor que, poderá contar ou não com a presença de guias de turismo, em
caráter suplementar, jamais substituindo o professor;
Implica preparação e prolongamento, ou seja, requer um plano
contendo planejamento prévio das atividades e intervenções em sala de aula
no retorno da experiência turística.

Essa modalidade de turismo deve ter seus objetivos direcionados à


educação, ao conhecimento que deve ser relacionado a conteúdos lecionados na sala de
aula. Para que se tenha um melhor aproveitamento, após a realização do roteiro, utilizar-
se-á do conhecimento apreendido no passeio em atividades na sala de aula para que se
possa ter um feedback da ação.
Portanto, os roteiros realizados com a finalidade de Turismo Pedagógico
terão ao longo do caminho conhecimentos que podem ser encontrados nos ensinamentos
livrescos, fazendo assim com que os alunos obtenham um conhecimento de forma mais
interativa e divertida. Ao compreender o conteúdo dessa maneira, o aprendizado será
bem mais significativo, segundo Ausubel (1982), pois o discente estará relacionando a
teoria à prática.
A partir das concepções sobre Turismo Pedagógico, seguem, a seguir, cinco
roteiros realizados por personagens da obra “Os tambores de São Luís”, para os quais
cada professor pode dar sua conotação, de acordo com a área que leciona – por
exemplo, se o professor for de História, abordará o escravismo no Maranhão; de
Geografia, o relevo do Estado e assim por diante.
Os roteiros a seguir são sugestões pensadas a partir de percursos realizados
por personagens da obra “Os tambores de São Luís”, os quais ainda não foram testados.
Entretanto, há ressalvas que podem ser consideradas devido ao conhecimento que já se
tem sobre os mesmos. Esses serão especificados de acordo com os atrativos turísticos
que se encontram ao longo do seu caminho, a conotação livresca ficará ao encargo do
professor que acompanhará os alunos.
49
O primeiro roteiro refere-se ao percurso que o personagem Damião realiza
desde o início da obra, quando sai de sua casa localizada no Largo de Santiago e vai, a
pé, para a Gamboa, à casa da bisneta conhecer o trineto que estava para nascer: Largo
de Santiago – Rua das Cajazeiras – Rua de São Pantaleão – Beco das Crioulas –
Rua do Passeio – Rua de Santana – Rua da Estrela – Rua de Nazaré – Rua do Giz
– Rua Grande – Av. Silva Maia – Rua das Hortas – Largo da Cadeia – Quinta da
Vitória (Gamboa – Casa de Bia).
Por ser um percurso muito longo, esse primeiro é recomendável que não se
fizesse a pé ou então que o realizasse de outra forma, destacando a história contada na
obra ao longo do percurso.
Por ser um pouco contramão é necessário que se pense o trajeto de Damião
de outra forma e também que se preste atenção ao horário em que será realizado, pois
neste encontramos pontos onde pode haver a falta de segurança. Portanto, a seguir,
destacam-se os atrativos turísticos que fazem parte da nossa história e que encontramos
no trajeto realizado pelo personagem.
Pontos atrativos deste percurso, segundo roteiros já apresentados por
entidades ludovicenses:
Igreja de São Pantaleão – Rua São Pantaleão: A antiga igreja de
São Pantaleão teve sua primeira pedra de construção lançada em
1780, sob o interesse dos ilustres maranhenses, Pantaleão Rodrigues
de Castro e Pedro da Cunha. É famosa por suas festas religiosas,
como a de Nossa Senhora de Guadalupe e a de Santa Severa, festejo
solene de muita importância para a cidade. Mas a maior curiosidade
desta igreja fica por conta da “Roda” ou “Casa dos excluídos”, que
desde 1829 acolhia os filhos de mães solteiras, hoje desativada.
(Disponível em: <
http://www.turismo.ma.gov.br/pt/polos/sao_luis/igrejas.htm>);
Casa das Minas – Rua de São Pantaleão: A Casa das Minas é
única, não possui casas que lhe sejam filiadas, daí porque nenhuma
outra siga completamente seu estilo. Nesta casa os cânticos são em
língua jeje (Ewê-Fon) e só se recebem divindades denominadas de
voduns, mas apesar dela não ter casas filiadas, o modelo do culto do
Tambor de Mina é grandemente influenciado pela Casa das Minas.

50
(Disponível em:
<http://dicionario.sensagent.com/tambor+de+mina/pt-pt/>);
Praça da Alegria – Rua de Santana: O local inicialmente foi
chamado de Praça da Forca Velha, porque era lá que se enforcavam
os condenados. Em 1815, uma resolução mudou o nome para Praça
13 de Maio em homenagem à data da abolição da escravatura.
Depois, o nome foi trocado para Praça Saturnino Belo. Ambas as
denominações não vingaram. No ano de 1849, a praça passou a se
chamar como na atualidade. No entanto, em 1868, aconteceu uma
nova mudança. O logradouro foi intitulado de Praça Sotero dos Reis,
por causa do ilustre filósofo que residia no local, que foi o primeiro
diretor do Liceu Maranhense. A troca não demorou muito. No ano
seguinte, o espaço passou a ser chamado novamente de Praça da
Alegria. Apesar da intenção e de todas as tentativas de redimir as
maldades praticadas no logradouro, a atmosfera triste e soturna dos
tempos do velho patíbulo permanece, exatamente como uma espécie
de castigo. (Disponível em:<
http://www.jornalpequeno.com.br/2006/10/30/Pagina44875.htm>);
Igreja de Santana – Rua de Santana: Foi construída em 1794, a
partir de uma iniciativa do cônego João Maria da Luz. É nesta igreja,
precisamente na sacristia, que se encontra o nosso único exemplar
conhecido da azulejaria figurativa sacra, cujo similar existe apenas
em Florença, na Igreja de Nossa Senhora das Flores. Trata-se de um
magnífico painel contendo um medalhão central, no qual figura uma
cena de piedade. É normalmente confundida com a demolida Capela
de Santa da Sagrada Família, popularmente conhecida como Igreja
de Santaninha.
(Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de
Patrimônio de São Luís – Ma);
Teatro João do Vale – Rua da Estrela: O Teatro João do Vale
encontra-se situado na Rua da Estrela, bairro da Praia Grande. Foi
inaugurado no ano de 1995 e é um dos centros culturais mais
importantes da Cidade. Nele se realizam vários espetáculos e
manifestações culturais durante todo o ano, e é sede do 'Festival
51
Estudantil de Teatro', do 'MPM de Cara Nova' e do 'Mastro Junino'.
(Disponível em: http://www.a-brasil.com/saoluis);
Solar dos Vasconcelos – Rua da Estrela: Notável exemplar da
arquitetura portuguesa, localizado na Rua da Estrela, possui balcão
central curvo em cantaria trabalhada. Neste sobrado encontra-se o
Memorial do Centro Histórico com exposição permanente de
maquetes e painéis fotográficos que contam a história da cidade e do
Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São
Luís. É também a sede da Superintendência do Patrimônio Cultural,
órgão estadual responsável pelo monitoramento e controle do Centro
Antigo. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação
Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Feira da Praia Grande – Rua da Estrela: Em 1805, devido à
dificuldade de comercialização de produtos, foi criado o chamado
“Terreiro Público”, com barracas de praça. Em 1820 recebeu o nome
de Casa das Tulhas, uma espécie de mercado modelo. E, 1859, foi
criada a empresa “Confiança Maranhense” que demoliu o que
restava da Casa das Tulhas e erigiu o Mercado da Praia Grande.
(Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de
Patrimônio de São Luís – Ma);
Câmara Municipal de São Luís – Rua da Estrela: A Câmara
Municipal de São Luís ocupou diversos prédios ao longo da história
da cidade. Sua primeira sede foi o atual Palácio de La Ravardiere,
onde hoje está localizada a sede da Prefeitura Municipal. Esteve
também instalada no edifício onde atualmente funciona a Junta
Comercial do Estado do Maranhão. O seu atual prédio foi construído
em 1807, para abrigar a Alfândega. A sua edificação se deu em
grande parte devido às inundações que ocorriam na área em que
funcionava a antiga Aduana. Em 1869, devido ao seu péssimo estado
de conservação, sofreu uma reforma na qual lhe foi restituída a sua
escada principal. Em 22 de fevereiro de 1985 a edificação recebeu a
sede do Poder Legislativo Municipal. (Fonte: Projeto Caminhos da
Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);

52
Praça Benedito Leite – Rua de Nazaré: A atual Praça Benedito
Leite já recebeu várias denominações, tais como Largo do João do
Vale (nome de abastado português que ali residia), Largo de João
Velho, João do Val, Praça da Assembléia e Jardim Público 13 de
Maio. Durante algum tempo, ali existiram casebres que foram
derrubados para dar espaço a um gracioso jardim. No meio da Praça,
encontramos a estátua de Benedito Leite, governador do Maranhão
no período de 1906 a 1908, obra do escultor francês Emille
Decorchemont. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação
Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Edifício São Luís – Rua de Nazaré: Construído em três pisos e
duas fachadas, ambas revestidas de azulejos portugueses. É
considerado o maior prédio de azulejos do país em estilo colonial.
Em 1932, João Gomes, interventor militar do Maranhão, nele
instalou um quartel. Em 1969, um violento incêndio destruiu
completamente seu interior, e em 1976 foi adquirido pela Caixa
Econômica Federal que o recuperou, implantando um escritório de
negócios. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação
Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Rua do Giz: Conhecida originalmente como ladeira do Giz, iniciava
na Avenida Maranhense (Dom Pedro II), terminando no tradicional
Largo das Mercês. Sofreu com o passar dos anos sensíveis
modificações, quando o trecho entre a Avenida Maranhense e a Rua
de Nazaré foi aterrado para construir o conjunto da Associação
Comercial. Já foi chamada de Rua Vinte e Oito de Julho, Rua dos
Bancos e, atualmente voltou a ser chamada de Rua do Giz. (Fonte:
Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de
Patrimônio de São Luís – Ma);
Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do
Maranhão – Rua do Giz: Localizado a Rua do Giz, este Centro
além de desenvolver pesquisas, mantém exposições permanentes nas
áreas de Paleontologia e Arqueologia, nas quais se podem observar
fósseis de dinossauros e rochas de cerca de 95 milhões de anos e

53
artefatos produzidos pelos primeiros habitantes do território
maranhense. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação
Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Casa da Fésta – Rua do Giz: Esta casa fica localizada a Rua do
Giz, e foi separada do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira
Filho no na de 2002, recebendo o nome Casa da Fésta em virtude do
nome “fé” no início do nome festa. A casa realiza diversas
exposições baseadas na religiosidade e está subdividida em andares,
onde retrata manifestações da cultural maranhense. (Fonte: Projeto
Caminhos da Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São
Luís – Ma);
Rua Grande: O outrora Caminho Grande, Rua Oswaldo Cruz, ou
mais comumente descrita, a Rua Grande. É a rua mais movimentada
e responsável por praticamente toda a fama de um dos maiores
centros comerciais a céu aberto do Brasil. Mesmo estando incrustada
no Centro Histórico da capital, convive harmonicamente com
empreendimentos comerciais mais modernos e contemporâneos e, ao
longo de mais de três séculos de existência, nunca perdeu o seu
charme e sua importância. (Disponível em:
<http://saoluisemcena.blogspot.com/2009/02/rua-grande-e-sua-
cronologia-urbana.html>);
Casa de Cultura Josué Montello – Rua das Hortas: A Casa de
Cultura Josué Montello tem como objetivo promover estudos,
pesquisas e trabalhos voltados para a Literatura, Artes, Ciências
Sociais, História e Geografia do Maranhão. O seu acervo é composto
por aproximadamente 35 mil peças, entre livros raros, publicações
avulsas, periódicos nacionais e internacionais, fotografias, etc. Este
espaço conta também com a obra completa do escritor, objetos e
documentos pessoais, tais como, medalhas, placas decorativas,
quadros, manuscritos e vasta correspondência. (Fonte: Projeto
Caminhos da Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São
Luís – Ma).
O segundo roteiro refere-se ao caminho realizado pelo cocheiro para levar o
Padre Policarpo ao enforcamento do escravo, a fim de que o este fosse abençoado antes
54
de sua morte. Esse percurso é viável ser feito a pé, porém, também pode ser realizado
com outra forma de locomoção. Neste é válido lembrar somente o horário que será
realizado o percurso, pois se pode notar a falta de segurança em alguns pontos do
trajeto, porém ele é bastante viável. Os atrativos do caminho realizado: Palácio da Sé –
Rua de Nazaré – Largo do João do Vale – Rua da Estrela – Igreja do Desterro
(largo – onde foi enforcado), além dos já citados como a Praça Benedito Leite, o Teatro
João do Vale, Solar dos Vasconcelos e a Feira da Praia Grade, temos:
Igreja da Sé: Os primeiros passos para sua construção foram dados
em 1619 por iniciativa do 3º Capitão-Mor Diogo Machado da Costa,
sendo inaugurada em 1622. A partir de 1762 passou a catedral do
Bispado. Depois de algumas reformas, no ano de 1922 foi
reconstruída a fachada acrescentando outra torre, dando um estilo
neoclássico. Os trabalhos de entalhe do altar-mor foram elaborados a
partir do desenho do padre Bittendorff pelo entalhador português
Manoel Mansos, auxiliador por Diogo de Souza, morador de São
Luís. O retábulo é todo revestido em ouro e foi tombado pelo
IPHAN. As pinturas dos forros são do artista plástico maranhense
João de Deus e datam da década de 50 do século XX. (Fonte: Projeto
Caminhos da Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São
Luís – Ma);
Convento das Mercês: Localizado entre a Rua da Palma e a Rua da
Estrela, este prédio foi fundado pelos mercedários em 1654,
modestamente feito de taipa e coberto de palha, mas não tardou
muito para ser erigido de pedra e cal. Com a independência do
Brasil, o Convento passou por um processo de abandono pelos seus
frades, modificado por D. Luís da C. Saraiva, que depois de ampliar
e recuperar o prédio transformou-o na sede do Seminário Menor
(1863), que virou um importante Instituto de Humanidades. O Bispo,
D. Xisto Albano, o vendeu (1905) para o Governo do Estado, que o
transformou no quartel da Polícia Militar e dos Bombeiros. (Fonte:
Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de
Patrimônio de São Luís – Ma);
Igreja São José do Desterro: A primeira capela edificada neste
mesmo local chamava-se Capela de Nossa Senhora do Desterro,
55
pequena ermida coberta de palha. Durante a invasão holandesa, a
imagem de sua padroeira foi destruída e a capela profanada. Passou
por vários períodos de abandono ao longo dos tempos, sofrendo
deterioração e desmoronamentos. Contudo, a custo de alguns
esforços dos devotos de São José do Desterro a igreja foi reerguida.
A edificação apresenta planta pentagonal distinguindo-se das demais
construídas na região. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da
Fundação Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma).
Além desses atrativos, pode-se incluir a Cafua das Mercês que é uma
edificação tradicional portuguesa, situada na Rua Jacinto Maia, com fachada uniforme e
dois pavimentos, que se destinavam a um suposto mercado de escravos, pois, segundo a
tradição, este prédio era o local onde depositavam os negros quando desembarcavam em
São Luís para serem leiloados. Atualmente é o museu do negro (Fonte: Projeto
Caminhos da Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma).
O terceiro, quarto e quinto roteiros correspondem aos caminhos realizados
pelo Padre Policarpo. O primeiro desses é o percurso do padre para ir ao Seminário dar
aulas aos aspirantes a padre. O segundo o trajeto de volta da Igreja de Santo Antônio,
onde se localizava o Seminário e o terceiro à caminhada do Tracajá, como era
conhecido o padre Policarpo, para a casa onde residia sua filha.
1) IDA: Palácio da Sé – Rua dos Afogados – Rua de São João – Largo
de Santo Antônio
O trajeto é um pouco longo, mas é possível realizá-lo a pé, ou, se preferir,
outra forma de locomoção, exceto ônibus devido à largura das ruas. Neste percurso,
além da já citada nos outros trajetos, a Igreja da Sé, tem-se:
Fonte do Ribeirão – Rua dos Afogados: Recebe este nome por
estar localizada no antigo sítio do Ribeirão. Esta fonte foi construída
no ano de 1796 pelo Tenente-Coronel D. Fernando Antônio de
Noronha, que governou o Maranhão entre 1792 e 1798, e tinha por
finalidade sanear e melhorar o uso das águas daquela localidade.
Possui janelas que dão acesso às lendárias galerias subterrâneas da
cidade. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação
Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Igreja de Santo Antônio – Rua de São João: Possui estilo
manuelino. Foi aberta aos fiéis no ano de 1867. Possui como
56
prolongamento duas capelas de construção bem anteriores: a Capela
do Senhor Bom Jesus da Coluna e a Capela de Bom Jesus dos
Navegantes que ficou imortalizada em nossa história graças ao padre
Antônio Vieira que, do seu púlpito, teria proferido o célebre
“Sermão dos peixes”. (Fonte: Projeto Caminhos da Memória da
Fundação Municipal de Patrimônio de São Luís – Ma);
Nesse roteiro, também podemos incluir a Igreja de São João Batista
localizada na Rua de São João, que foi construída em 1655, por iniciativa de Ruy Vaz
de Siqueira que governava o Maranhão na época. Conta-se que apaixonado por uma
mulher casada e por temer o escândalo, fez a seguinte promessa a São João Batista:
mandaria construir o templo se o caso não fosse descoberto. Guardou por alguns anos os
restos mortais de Joaquim Silvério dos Reis, o suposto traidor da Inconfidência Mineira
(Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de Patrimônio de São
Luís – Ma).

2) VOLTA: Largo de Santo Antônio – Rua de São João – Rua do Sol –


Palácio da Sé.
Este trajeto também pode e é mais viável que seja realizado a pé, no mesmo
além dos supracitados: Igreja de Santo Antônio, Igreja de São João, Igreja da Sé, ainda
temos mais dois importantíssimos atrativos turísticos:
Museu Histórico e Artístico do Maranhão – Rua do Sol: Situado
a Rua do Sol o Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM),
instalado no “Solar Gomes de Sousa”, foi inaugurado em 1973. O
circuito permanente reconstitui alguns ambientes de uma casa de
época, na transição dos séculos XIX e XX, onde as peças são
mostradas de forma didática, para que o público perceba o acervo
contextualizado dentro dos usos e costumes de um período histórico
(Fonte: Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de
Patrimônio de São Luís – Ma);
Teatro Arthur Azevedo – Rua do Sol: No ano de 1815, Eleutério
Lopes da Silva Varela e Estevão Gonçalves Braga começaram a
edificação do teatro em terreno que pertencia ao Convento do
Carmo. Em 1817 foi inaugurado com nome de Teatro União, no ano
de 1852 passou a chamar São Luís, e atualmente Arthur Azevedo.
57
Artur Nabantino Gonçalves Azevedo, muitas vezes denominado
Artur Azevedo, nasceu em 7 de julho de 1855, em São Luís do
Maranhão. Com 15 anos escreveu sua primeira peça, Amor por
Anexins. Em 1873, aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro,
onde começou sua carreira como jornalista. Traduziu ao longo de
sua carreira cerca de 40 peças para o teatro. Foi um dos responsáveis
pela construção do teatro Municipal do Rio de Janeiro, inaugurado
logo após a sua morte ocorrida em 22 de outubro de 1908 (Fonte:
Projeto Caminhos da Memória da Fundação Municipal de
Patrimônio de São Luís – Ma);

3) Para visitar sua família: Palácio da Sé – Rua dos Afogados – Rua de


São João – Largo de Santiago
O terceiro percurso realizado pelo padre Policarpo é um pouco longo, por
isso, não é recomendável que o mesmo seja realizado a pé. Entre os atrativos
encontrados nesse trajeto encontramos os já comentados: Igreja da Sé, Fonte do
Ribeirão e a Igreja de São João.
Ressalta-se assim que os roteiros apresentados são apenas sugestões que
podem ser acatadas pelo Trade turístico para alcançar seus fins, sendo estes apenas, por
enquanto, uma idealização que precisa ser melhor planejada e testada pelos guias de
turismo do Maranhão para que se tenha uma melhor resposta dos mesmo. Por não ter
havido tempo suficiente para tal, frisa-se somente algumas informações de
conhecimento prévio como o modo de fazer o percurso e horários mais indicados, onde
é preferível realizá-lo das 8h às 11h ou das 15h às 17h, pois podemos não ter muita
segurança em alguns trechos dos percursos, atentar à questão do sol/calor e maneira de
realizá-lo, que foi comentado, a maioria deles pode ser realizado a pé. Entretanto, possui
alguns que são um pouco distantes e podem ser realizados de outra forma, sendo o
ônibus descartado, pois as ruas do Centro de São Luís são estreitas.
A finalidade é apenas mostrar e relacionar qual seria essa convergência
entre a obra “Os tambores de São Luís” (a literatura), o turismo cultural, o turismo
pedagógico e os roteiros, a fim de que fosse possível uma melhor
visualização/compreensão entre estes.*
Ao percorrer esses roteiros, percebemos a nossa singularidade, visualizamos
a nossa história, resgatamos a memória viva nesse patrimônio e nos identificamos com

58
ele, caracterizando-o como “nosso”. Percebe-se, enfim, o quão Josué Montello estava
certo em sempre lembrar a beleza da nossa cidade em suas obras.

* Visualizar em Anexo II o mapa do Centro Histórico para melhor se localizar nos roteiros.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura e a história caminham juntas. A literatura é um meio de


divulgar, registrar, transmitir a história, o turismo cultural “ganha”, assim, uma fonte
motivadora de turistas desta vertente. Uma vez que o turismo cultural está diretamente
ligado ao conhecimento da história e cultura de um povo.
A obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello, é uma
importantíssima “peça” da literatura maranhense e por descrever minuciosamente a
cidade de São Luís, encontra-se nesta uma fonte de roteiros que podem revelar a cidade
a turistas. Porém, a riqueza desses percursos é tanta que se pode utilizá-los com alunos,
uma vez que, acredita-se na teoria de David Ausubel, na qual o aluno teria um
aprendizado significativo quando relaciona o assunto estudado a algo concreto que faça
parte da sua realidade. Sendo assim, esses roteiros estimulariam tanto o aprendizado
quanto a preservação, pois a Educação Patrimonial estaria envolvida com essa prática
que se intitula Turismo Pedagógico.
Conclui-se assim que a obra “Os tambores de São Luís”, de Josué Montello,
além de ser capaz de atrair turistas à cidade de São Luís, é uma riquíssima fonte de
roteiros que dariam um maior atrativo aos city tours realizados pela cidade e, acima de
tudo, ajudaria no aprendizado significativo dos alunos a certos assuntos dando-lhes um

59
caráter interdisciplinar, pois o trajeto abre a oportunidade de abordar diversas
disciplinas.

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jun. 2011.

ANEXOS

64
ANEXO I

ENTREVISTA COM JOSUÉ MONTELLO

O romance não é apenas a


imaginação do romancista, mas
o olhar do romancista, a
vivência do romancista, pois
isso é o que completa a obra.
Josué Montello

22 de fevereiro de 2000 foi um dia importante: Josué Montello estava em São


Luís; era minha oportunidade de entrevistá-lo. Liguei para sua casa e consegui marcar a

65
entrevista para a manhã do dia seguinte. A sensação era de ansiedade; havia muitas
perguntas a serem feitas.
Saí do bairro do Monte Castelo em direção ao centro da cidade para encontrar
com Montello em sua casa. Sentia-me um pouco como Damião, mesmo sabendo que a
ocasião era diferente: ele ia em direção à Gamboa para conhecer o neto; eu ia para
conhecer o autor de uma narrativa que durante um período preencheu meus dias como
pesquisadora.
Era uma manhã ensolarada; uma dessas manhãs em que acordamos com uma
certeza de um dia promissor- eu queria que todas as perguntas fossem respondidas.
Acompanhe conosco o olhar do criador da obra Os Tambores de São Luís:

A cidade de São Luís é um tema permanente em sua obra. Qual o significado de


São Luís em sua vida?
J.M.- Toda minha obra, sobretudo na parte relativa a São Luís, é impregnada, primeiro,
pela minha vivência, ou seja, aquela experiência que participa da minha vida, ou pela
comunhão com o fato histórico; porque é impossível, dentro de uma linha narrativa
como eu fiz, dissociar o que é verdade factual (o que está acontecendo) e a verdade
imaginada, que tem a característica do que se chama de verossimilhança. É este aspecto
que faz com que o romance, em vez de ser uma variação literária, seja na verdade, uma
experiência que fica perdurando; sobretudo para que o leitor tenha comunhão com o
meio, no meu caso pessoal.
Escrevi 18 romances sobre São Luís. Desde o primeiro, Janela Fechada, até o
último, Sempre serás lembrada,estão impregnados por uma realidade que tem tanto de
histórico como de vivido; por exemplo, o que não é histórico, que é vivido, pode estar a
um passo do que é histórico, desde que tenha apresentado, nessa narrativa, o meu
testemunho. No caso dos Os Tambores de São Luís, dele faz parte um elenco de figuras
que constituem testemunhos ou vidas que se ajustam à realidade objetiva, isto é, que faz
do meu romance um testemunho objetivo daquilo da vida que eu vivi, e que tem uma
conotação de ordem histórica; o mais, das vezes, ele é histórico, como acontece em
Uma Noite Sobre Alcântara .
Qualquer um dos meus romances tem essa característica, mas eu gostaria de
chamar a atenção para o fato de que eu tenho também romances em que se passa o que
ocorre. É que o romance é uma realidade para o romancista que sabe viver, mas também
pode ser uma criação pura ou pode ser, naturalmente, uma vivência transfigurada; entre

66
outras palavras, existe um gênero de romance histórico (realidade factual de maneira
objetiva) nos meus romances. A minha experiência é apresentada como uma
cosmovisão. No de número 18, Sempre será Lembrada, eu contrasto o Maranhão novo
com o Maranhão que eu conheci quando menino, e cuja tendência é confrontar ou
assimilar aquilo que está diante de um e de outro, quando não pode confrontar, procura
preservar. Devo acrescentar, ainda, que eu tenho outras experiências; há, por exemplo,
um romance meu que se passa em Paris. Como morei 9 anos em Paris, tenho uma
vivência da cidade, mas eu quis fazer um romance que corresponda ao período da
ocupação alemã; consegui isso porque era uma realidade que, dificilmente, um escritor
francês levaria adiante, porque é o romance em que a França, com todo seu orgulho, é
derrotada, até o momento em que sobreveio a revanche, no final da guerra.

Em Os Tambores de São Luís, a cidade é revelada por completo, tanto no que se


refere ao espaço histórico, do que foi a escravidão no Maranhão, como em relação
ao espaço geográfico: são ruas, becos, festas, etc. que se transfiguram na obra,
levando o leitor a ter a sensação de está caminhando por São Luís. Como explica
isso?
J.M. - Porque isso faz parte da narrativa. A primeira coisa que há no romance é a
verossimilhança. Há uma “geografia do romance”, utilizada para dar autenticidade; só
se explica o romance pela geografia, por aquilo que é realidade da personagem. A
Décima Noite começa no Largo do Carmo, é o contato da personagem com uma
realidade geográfica, primeira manifestação de autenticidade. Essa ressurreição do lugar
é extremamente importante, porque dá ao relato a autenticidade necessária. Machado de
Assis fez no Rio de Janeiro, toda a bibliografia da sua obra.
Quanto ao espaço histórico, o fato fundamental em Os Tambores de São Luís é
o episódio mais conhecido do romance, é o crime da baronesa. Se você observar o
registro histórico deixado por mim, e confrontar com o processo da baronesa, verá que é
a visão objetiva que foi transferida para o romance. Essa identificação é de tal ordem ...
um fato fundamental é que eu, de repente, vi que trabalhava no local onde a baronesa
tinha matado os escravos. Diante dessa evidência, tirei a universidade de lá, levei para a
praça Gonçalves Dias. Por aí se vê a significação da realidade histórica e geográfica
dentro da cosmovisão do romance.
Quando o turista chega aqui e encontra a cidade, encontra a justa posição. Você
pode pegar um romance, como o de Balzac, e vai encontrar essa mesma realidade,

67
porque existe uma junção entre a realidade objetiva e a realidade factual, que, de fato,
mesmo quando se cria uma coisa totalmente imaginária, como o Guarani, termina
sendo uma realidade objetiva. É essa a capacidade que tem o romancista de mentir para
o leitor e o leitor de acreditar na mentira dele, como se fosse verdade. Nos Tambores de
São Luís, são 446 personagens que parecem vivos. Damião, por exemplo, foi inventado,
mas ele é uma figura histórica. É essa realidade que é importante pra mim: nesse
romance, ao invés de considerar que o negro foi escravo, eu considero que ele foi
escravizado.

Qual a diferença?
J.M. - O escravo é aquele que se ajusta a sua condição sem protesto; o escravizado só
pensa na liberdade dele, daí as tentativas de fuga. Esse fato é que constitui a
singularidade da minha narrativa... Que também você encontra nesse novo romance da
transformação de São Luís, que contrasta as duas realidades, do agora e do ontem; essa
é a importância do romance.

Quem é a personagem principal em Os Tambores de São Luís?


J.M. - Existem dois: um, no palco geográfico da realidade vivida, e outro, Damião,
(que) é genuinamente brasileiro, ... e o resto a minha imaginação completa. Porque, para
isso, o romancista tem uma espécie de conhecimento. Eu tenho que explicar bem isso.
Quando eu fiz, certa vez em Paris, uma exposição sobre minha obra, veio uma senhora,
e perguntou: “Se você não fosse romancista, o que seria?” ... “Um grande mentiroso,
eu mentiria à larga. Não minto por causa do romance, ao invés de mentir, eu ponho a
personagem no papel.”

O que levou o senhor, na sua obra, a misturar fatos históricos e ficção?


J.M. Porque essa é uma tendência natural do próprio romance. O romance é um gênero
que concilia a imaginação e a verdade vivida; nele há a oportunidade de dar uma
autenticidade, o que faz com que o romance tenha um conteúdo que dá ao leitor a
compenetração, muitas vezes, da realidade factual, que dá a compenetração de que
aquilo constitui uma experiência vivida profundamente. Na verdade, para quem tem a
experiência narrativa que eu tenho, todo romance é uma experiência vivida ou vivida
pela sua imaginação, pois a imaginação completa esse outro lado, o que constitui uma
experiência pessoal, profundamente.

68
Quanto ao momento de escrever, como você faz? Reescreve muito, faz planos?
Você tem um método, uma disciplina, escreve x horas por dia?
J.M. Não tenho nenhum método mágico de escrita. Quando trabalhei nOs Tambores,
eu era reitor da universidade, e tinha todos os meses que ir daqui para Brasília; eu ia
para o Rio de Janeiro, pois era presidente de cultura; eu levava comigo o meu caderno,
no avião, na sala de espera, o tempo que eu tivesse... eu ia fazendo o resto na minha
cabeça.

Qual a importância dOs Tambores de São Luís na sua carreira?


J.M. Os Tambores... nele, pela primeira vez, coloco o problema do negro no Brasil,
aquilo que me parece ser explicação do negro no Brasil, a singularidade do negro
brasileiro: se você comparar com o negro americano, verá que o negro americano
assume sua negritude... Aqui não, meu velho! o branco se mistura com o preto e o
problema se resolve na cama, ... aí sai outro ser. Isso é muito importante para que você
compreenda que o negro que veio pra cá não era o negro escravo, o negro que veio pra
cá era resultado das lutas tribais o derrotado, ou era morto, ou, não sendo executado, era
mandado para cá; então, quando vinha era escravo. Por isso a diferença entre o meu
romance e todos os outros que se escrevem no Brasil, abordando o problema da cor, o
meu é o único em que a personagem central vai tentar fugir não porque faz parte da
constituição dele mas porque ele está ali, escravizado. É isso que explica a
singularidade do negro brasileiro... Há aí uma explicação objetiva, consciente do porquê
o negro aqui é revoltado só para alcançar sua liberdade, porque, depois, ele se mistura;
a gente vê que o Barão (personagem de Os Tambores de São Luís) é negro resolvendo
adotar o título de barão, resolvendo o problema na cama.
Procure na sua memória uma artista mulata: não há nem artista de cinema... isso
só existe aqui no Brasil. Então você precisa considerar que o negro não era boçal, no
bom sentido. Não vamos confundir o negro com o índio, que tinha uma formação
primitiva; o que faltou para o negro foi a capacidade de memorizar, de escrita.
Eu tenho leitores de 100 a 15 anos. Esse novo romance, A bela noiva de Vila
Rica (15 anos)... esse romance, escrito para o jovem que vai fazer quinze anos, prepara
o leitor para uma nova realidade. É essa imaginação que é o romance. É importante
porque leva a uma nova compreensão do negro. O que é isso: eu tenho a consciência do
outro como brasileiro.

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ANEXO II – Mapa das ruas do Centro Histórico de São Luís / MA.

70
Fonte: ANDRÈS, Luiz Phelipe de Carvalho Castro (coord.). Centro Histórico de São Luís – Maranhão:
patrimônio mundial. São Paulo: Audichromo, 1998.

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