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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE TURISMO

CLEONICE PINHEIRO

MUSEU CAFUA DAS MERCÊS – MUSEU DO NEGRO:


análise da representatividade da cultura afro-brasileira no cenário turístico ludovicense

São Luís
2015
CLEONICE PINHEIRO

MUSEU CAFUA DAS MERCÊS – MUSEU DO NEGRO:


análise da representatividade da cultura afro brasileira no cenário turístico ludovicense

Monografia apresentada ao Curso de Turismo


da Universidade Federal do Maranhão
(UFMA), para obtenção do grau de Bacharel
em Turismo.
Orientadora: Prof.ª Me. Maria da Graça Reis
Cardoso.

São Luís
2015
Pinheiro, Cleonice.

Museu Cafua das Mercês – Museu do Negro: análise da


representatividade da cultura afro-brasileira no cenário turístico
ludovicense / Cleonice Pinheiro. _ São Luís, 2015.
122 f.
Orientadora: Prof.ª Me. Maria da Graça Reis Cardoso.
Monografia (Curso de Turismo) – Universidade Federal do
Maranhão, 2015.
1. Cultura afro-brasileira. 2. Museu Cafua das Mercês – São
Luís (MA). 3. Turismo. I. Título.

CDU 39:069.02:380.8 (812.1)


CLEONICE PINHEIRO

MUSEU CAFUA DAS MERCÊS – MUSEU DO NEGRO:


análise da representatividade da cultura afro-brasileira no cenário turístico ludovicense

Monografia apresentada ao Curso de Turismo


da Universidade Federal do Maranhão
(UFMA), para obtenção do grau de Bacharel
em Turismo.

Aprovada em _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________
Prof.ª Me. Maria da Graça Reis Cardoso (Orientadora)
Universidade Federal do Maranhão

___________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Klautenys Dellene Guedes Cutrim
Universidade Federal do Maranhão

____________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Conceição de Maria Belfort de Carvalho
Universidade Federal do Maranhão
A minha família por aceitar com amor e
compreensão a minha ausência nos vários
momentos dedicados por mim a esse trabalho.
AGRADECIMENTOS

Primeiro, a Deus, por Sua infinita Misericórdia em minha vida.


Segundo, a Deus, por conceder três maravilhosas pessoas para compor minha
trajetória humana, meus queridos e estimados pais Joana Bispo (in memorian), mãe do
coração, avó, fonte de reação perante tudo e todos. Mentora de uma frase que me acompanha
e faz reagir perante os momentos difíceis da vida: “faz coração grande e siga!” E, assim venho
reagindo embalada pelo seu conselho. Candido Pinheiro (in memorian) pai e idealizador dessa
ascensão acadêmica e Lucimar Mafra (mãe genética). A vocês, minha eterna gratidão.
Terceiro, a Deus, por possibilitar a vivência entre estas pessoas estimadas, meus
irmãos: Candido (in memorian), Suelma, Arlete, Gicele, Geovan (in memorian), Gean, Jorge,
Dionísio, Magno (in memorian) e Edson, minhas eternas desculpas. E: Raimunda Nonata
(minha tia anjo); Edenis e família; Fabiana e família; Socorro e família, Joaninha e família,
meus estimados familiares. Obrigada!
Quarto, a Deus, por permitir conhecer e viver com minha querida e louvável
orientadora Maria da Graça, que tem uma frase célebre: “Temos que celebrar a vida!”.
Quinto, a Deus, por possibilitar encontrar na UFMA minhas fortalezas, meus
eternos irmãos: Giselle Rocha, “Confie em Deus que no final tudo dará certo”; André
Gustavo, “Força no esqueleto”; Aremys Santos, “Coloque Fernando Pessoa em sua vida”.
Vocês moram em meu coração e em minha alma. Denise, amiga, sempre amiga. Ah! Adriana,
não terminou o curso, mas marca presença em minha vida todos os dias na rede social. Drica,
saudades! A coordenação do curso de Turismo, todos, por desobstruírem os caminhos dessa
longa jornada acadêmica. Sou sinceramente grata a vocês por essa oportunidade. Obrigada!
Sexto, a Deus, por conduzir meus passos até o Mestrado de Saúde e Ambiente da
UFMA (qual faço parte como bolsista) e conhecer pessoas divinas: professora Márita, Karol,
Francinaura, István, Henrique, professor Rafael e professora Eloísa, Sara e Valdineia (mãe do
coração), Tatiana. Muito obrigada.
Sétimo, a Deus, por liberar ótimas pessoas no Museu Cafua das Mercês para
auxiliar na busca por esse conhecimento: Silvia e funcionários. Meus agradecimentos.
E ao professor Luiz Alves, professor Carlos Benedito, Sra. Jacinta Santos, pelas
entrevistas concedidas as entrevistas no momento crucial da minha vida. Axé! A todos que
direta ou indiretamente contribuíram para construção e conclusão desse trabalho.
Museu que reflita uma herança na qual,
como num espelho, o negro possa se
reconhecer.
Emanoel Araujo.
RESUMO

Este trabalho apresenta uma discussão acerca da presença da cultura afro-brasileira em um


espaço museal intitulado museu do negro, no cenário turístico local. Essa cultura oferece um
leque de elementos que já se expõem em museus étnicos negros brasileiros de grande
relevância para o turismo, que nas últimas décadas tem apresentado segmentos de mercado
mais especializados e delimitados nas questões étnicas negras. O Museu Cafua das Mercês é
espaço cultural destinado à preservação da memória, da cultura afro no Maranhão, por essa
razão configura-se como um museu étnico negro. Por estar localizado em uma região de
grande efervescência turística tem sido “abraçado” pelo turismo local. Portanto, sob a ótica do
turismo étnico, este trabalho analisa a representatividade da cultura afro-brasileira no espaço
museal, Cafua das Mercês. Assim, identifica o perfil dos visitantes, bem como sua opinião
acerca do espaço museológico; avalia a percepção de algumas instituições envolvidas com
questões étnicas raciais negras acerca da presença da cultura do povo afro-brasileiro em um
espaço museal no cenário turístico local. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica e de campo,
teve uma abordagem exploratória, qualitativa e descritiva, com o uso de instrumentos de
coleta de dados como aplicação de questionários e entrevistas. Os resultados obtidos
demonstram que a cultura negra tem relevância para o turismo local e que o Museu Cafua das
Mercês, de pose do entendimento de que a cultura negra não está relacionada apenas com
questões da escravidão, tem grande relevância para o turismo étnico negro maranhense.
Considera-se, a priori, a importância do espaço, no entanto, é necessário que seu discurso
avance para melhor posicionar a cultura afro no cenário turístico local.

Palavras-chave: Cultura afro-brasileira. Museu étnico negro. Turismo etnocultural.


RESUMEN

Este artículo presenta una discusión acerca de la presencia de la cultura afro-brasileña en un


espacio museo llamado Museo negro, la escena del turismo local. Esta cultura ofrece una gran
variedad de elementos que ya están expuestas en museos brasileños negros étnicos de gran
importancia para el turismo, que en las últimas décadas ha traído más segmentos de mercado
especializados y encerrado en el origen étnico negro. El Museo Cafua de las Mercês es un
espacio cultural para la preservación de la memoria, la cultura africana en Maranhão, por lo
tanto, aparece como un museo étnico negro. Al estar situado en una importante región
efervescencia turística ha sido "adoptado" por el turismo local. Por lo tanto, desde la
perspectiva del turismo étnico, este trabajo se analiza la representación de la cultura afro-
brasileña en el espacio del museo, del las Mercês. Por lo tanto, identifica el perfil de los
visitantes, así como su opinión sobre el espacio del museo; evalúa la percepción de algunas
instituciones involucradas en cuestiones étnicas raciales negros sobre el cultivo de las
personas afro-brasileña en un espacio museístico en la escena del turismo local. Se realizó una
investigación bibliográfica y de campo era un enfoque exploratorio, descriptivo y cualitativo,
utilizando instrumentos de recolección de datos, tales como cuestionarios y entrevistas. Los
resultados muestran que la cultura negro es relevante para el turismo local y el Museo Cafua
de las Mercês, de entendimiento suponen que la cultura negro no sólo se relaciona con
cuestiones de la esclavitud, es notable por el turismo étnico negro Maranhão. Se considera a
priori la importancia del espacio, sin embargo, es necesario que su discurso vaya a mejor
posición de la cultura africana en la escena local de turismo.

Palabras clave: La cultura afro-brasileña. Negro museo étnico. Etnocultural turismo.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Desembarque estimado de africanos no Brasil - Séculos XVI-XVIII ............44


Figura 1 – Exposição fotográfica itinerante olhares negros ............................................56
Figura 2 – Exposição itinerante relatos no feminino ....................................................... 56
Figura 3 – Tambor ...........................................................................................................58
Figura 4 – Pegada africana .............................................................................................. 59
Figura 5 – Bará do Mercado ............................................................................................ 59
Figura 6 – Museu do Rio de Janeiro ................................................................................60
Figura 7 – Museu MAFRO.............................................................................................. 62
Figura 8 – Exposições permanentes ................................................................................66
Figura 9 – Exposição temporária “Arte Bakuba” – Ráfias e Veludos............................. 67
Figura 10 – Museu Cafua das Mercês ...............................................................................74
Figura 11 – Algumas exposições do 1ª pavimento ............................................................ 76
Figura 12 – Algumas exposições do 2ª pavimento ............................................................ 79
Gráfico 1 – Gênero ............................................................................................................81
Gráfico 2 – Cor ou raça .....................................................................................................81
Gráfico 3 – Faixa etária .....................................................................................................82
Gráfico 4 – Nível de escolaridade .....................................................................................83
Gráfico 5 – Renda ..............................................................................................................83
Gráfico 6 – É a primeira vez que você visita este museu? ................................................84
Gráfico 7 – Como obteve conhecimento deste museu? .....................................................86
Gráfico 8 – Tem costume de visitar museus étnicos negros? ............................................87
Gráfico 9 – O acervo etnográfico ......................................................................................90
Gráfico 10 – Acredita na relevância da cultura negra para o cenário turístico
ludovicense ...................................................................................................92
LISTA DE SIGLAS

CCN-MA Centro de Cultura Negra do Maranhão


CEAO Centro de Estudos Afro-orientais
CRAB Centro de Referência Afro-brasileiros
FAC-RS Fundo de Apoio à Cultura do Rio Grande do Sul
FAEC Faculdade Educacional de Colombo
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional
IPPFF Instituto de Políticas Públicas Florestan Fernandes
MAB Museu Afro Brasil
MAFRO Museu Abro Brasileiro da Universidade Federal da Bahia
MHAM Museu Histórico e Artístico do Maranhão
MPN Museu de Percurso do Negro
NEAB Núcleo de Estudos Afro-brasileiros
SEIR Secretaria Extraordinária da Igualdade Racial
SEPPIR Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
SMC Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre
SMP Secretaria do Planejamento Municipal de Porto Alegre
SMTUR Secretaria Municipal de Turismo de Porto Alegre
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 CULTURA E ETNICIDADE ................................................................................. 15
2.1 Cultura afrobrasileira ............................................................................................. 25
2.2 Identidade étnica negra e a luta pelo reconhecimento nacional: políticas de
ações afirmativas ..................................................................................................... 33
2.3 Visualizando a situação do negro no processo de construção da
sociedade brasileira ................................................................................................. 42
3 TURISMO ETNOCULTURAL COMPREENDENDO A RELEVÂNCIA
DO TURISMO ÉTNICO AFRO NO BRASIL .................................................... 48
3.1 Museus etnográficos negros: a singualização da cultura afro-brasileira ........... 52
3.1.1 Museu Treze de Maio ................................................................................................ 54
3.1.2 Museu do Percurso do Negro .................................................................................... 57
3.1.3 Museu do Negro ........................................................................................................ 60
3.1.4 Museu Afro-brasileiro ............................................................................................... 61
3.1.5 Museu Afro Brasil ..................................................................................................... 64
4 CAFUA DAS MERCÊS-MUSEU DO NEGRO:análise da representatividade
da cultura afro-brasileira no cenário turístico ludovicense ................................. 69
4.1 Metodologia da pesquisa ......................................................................................... 70
4.2 Caracterização da realidade pesquisada ............................................................... 73
4.2.1 O Acervo exporgráfico do Museu Cafua das Mercês................................................ 75
4.3 Apresentação e discussão dos resultados ............................................................... 80
4.3.1 Percepções dos visitantes do espaço museológico .................................................... 80
4.3.2 Percepções de representantes de instituições envolvidas com questão étnica racial
negra no Maranhão ................................................................................................... 92
4.3.3 Apontamentos e sugestões de melhoramento ............................................................ 101
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................104
REFERÊNCIAS .....................................................................................................106
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DESTINADOS AOS VISITANTES ........113
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA .................................................114
ANEXO A – REPORTAGEM ..............................................................................115
ANEXO B – RELAÇÁO DO ACERVO EXPOSTO NO CIRCUITO DE
EXPOSIÇÃO PERMANENTE DA CAFUA DAS MERCÊS ...........................116
11

1 INTRODUÇÃO

A formação da sociedade cultural brasileira está fundamentada nas contribuições


de três povos: índio, branco e negro. Todos, atores relevantes no fornecimento de elementos
para a construção e concretização da identidade nacional. Daí, a necessidade de compreender
que o Brasil possui em sua essência cultural formadora, uma grande diversidade étnica, que
está entrelaçada nos mais diversos e expressivos elementos culturais fornecidos por esses
povos.
Essa compreensão equivale ao entendimento que, no que se refere à identidade
nacional, não pode prevalecer à exaltação da contribuição de apenas um povo. Os seus fazeres
e saberes. Mas sim, na abrangência que a cultura brasileira é essencialmente diversa,
complexa e pluri.
Os museus, locais depositários de elementos culturais identitários, configuraram,
há pouco tempo, como espaços propagadores dos saberes e fazeres de cultura dominante.
Tratando-se de Brasil, com raríssimas exceções, não havia nesses locais oportunidades de
exposição, conservação e valorização dos elementos culturais dos outros sujeitos formadores
da nação brasileira, principalmente naquilo que se refere à coleção etnográfica afro brasileira.
O povo negro, enquanto participante formador da sociedade cultural brasileira
teve seus elementos culturais por muitos anos, salve raras exceções, à margem desse processo
museológico. Apesar disso e de várias perseguições promovidas pela polícia brasileira aos
terreiros (local religioso de manifestação cultural de matriz africana) a memória religiosa
negra resistiu e persistiu. Objetos como: lança de Oxossi, machadinho de Xangô, colar de
Iemanjá, rosários de Oxumaré, espada de Ogum, fazem parte, hoje, de coleções museológicas,
principalmente dos museus intitulados do negro, afro e étnico.
O turismo sendo uma atividade que “abraça” vários elementos, espaços tem
encontrado nos museus étnicos motivo para novo segmento, o turismo etnocultural. Esse,
diante as diversas definições, caracteriza-se como um segmento que tem a vivência cultural
seu principal elemento, ou seja, constitui-se de atividades turísticas decorrentes da vivência de
experiências autênticas em contatos diretos com os modos de vida e a identidade de grupos
étnicos.
Vivenciar, na linguagem turística significa buscar conhecer o outro através de
seus elementos culturais. A cultura do outro é nesse contexto turístico uma oportunidade de
experimentar aquilo que determinado povo produz, utiliza e vivencia. É o ensejo de participar,
experimentar, contemplar e conhecer através dos objetos, lugares e espaços desses atores.
12

É, principalmente, nesses cenários, que a pesquisa se contextualiza: de formação


e identidade cultural nacional; de museu; de etnicidade afro-brasileira; e turismo etnocultural.
Pretende-se analisar a representatividade da cultura afro-brasileira no Museu Cafua das
Mercês no cenário turístico ludovicense. Por se intitular Museu do negro no Maranhão
responsável pela preservação da memória cultural afro no Estado, consequentemente, um
espaço museológico étnico negro.
O interesse ocorre por saber que a cultura afro-brasileira, no contexto nacional,
apresenta um leque de elementos que já se expõem em outros modelos de museus étnicos
negros brasileiros de grande relevância para o turismo, como o Museu Afro Brasil em São
Paulo merecedor pelo 2º ano consecutivo o Certificado de Excelência de 2014 do
Tripadivisor, um dos maiores site de viagem do mundo.
Considerando tal informação, é relevante analisar a representatividade da cultura
afro através de um espaço que se diz negro e detentor de elementos culturais negro.
Daí a razão do estudo acontecer nesse espaço museológico ludovicense, que
diante da rediscussão das práticas dos museus e do segmento de turismo etnocultural, acredita
que tem proporcionado oportunidade dos seus visitantes conhecerem alguns dos elementos
culturais integrantes da cultura de um dos povos formadores sociais do país.
O povo negro tem se apresentado na sociedade nacional, como uma ramificação
social brasileira detentora de uma cultura referenciada em valores como a ludicidade, a
musicalidade, o cooperativismo, a religiosidade, a corporiedade, a circularidade, a oralidade, a
memória e o axé, a força vital. Todos, rigorosamente todos presente na gastronomia negra, na
dança negra, na religião negra, na língua negra, no cantar negro, no falar negro, no amar
negro, no saber e fazer negro.
Diante isso, crê-se que o Museu Cafua das Mercês por estar localizado no bairro
da Praia Grande (localidade “abraçada” pelo turismo); por possuí coleções da cultura afro
maranhense apresenta-se como um espaço relevante para uma pesquisa turística mais
preocupada com a área social e antropológica. Áreas perfeitamente compreendidas dentro da
multidisciplinaridade qual o turismo faz parte. É apenas uma vírgula no leque de
possibilidades apresentada pelo curso para aprofundamento de conhecimento e, como dizia
Hegel, pensar a vida.
Assim, compreende-se a oportunidade de analisar uma das culturas mais notáveis
da sociedade brasileira em um espaço museal sob a ótica do turismo étnico. Para tanto alguns
caminhos serão necessários trilhar na expectativa de alcançar o objetivo geral. Esses caminhos
se traduzem no ensejo de, primeiramente, identificar o perfil dos visitantes para compreender
13

a percepção destes acerca do espaço museal bem como da importância da cultura negra. Nesse
mesmo ensejo, busca-se demonstrar a importância da cultura afro-brasileira para o turismo
étnico do Estado. Assim, verificar a opinião de algumas instituições que tem algum
envolvimento com a questão étnica negra no Maranhão acerca do espaço museológico
representa mais um caminho na busca do objetivo geral.
De forma que, propor, com base, na analise da pesquisa e no conhecimento de
outras propostas museais étnicas negras, sugestões para a dinamização do espaço museal
Cafua das Mercês representará uma das intenções do estudo.
A metodologia da pesquisa será dividida em três momentos: o primeiro deles
consiste no levantamento bibliográfico onde buscará através de artigos, reportagens, poesias,
livros, monografias, dissertações, site, documentário; aspectos teóricos a respeito da cultura
negra , englobando etnicidade, museus étnicos , turismo étnicos, entre outros, que permitam
compreender a representatividade da cultura afro no cenário turístico de São Luís.
No segundo momento, buscará in loco no Museu Cafua das Mercês a percepção,
através da aplicação de questionário para os visitantes que poderará ocorre tanto turistas
quanto pessoas oriundas da comunidade maranhense, acerca do espaço museológico.
Por fim, no terceiro momento, busca-se, através de um roteiro de entrevista com
perguntas semiestruturadas, a percepção de instituições envolvidas com a temática étnica
negra acerca do espaço.
A estrutura da pesquisa divide-se em quatro pontos. No primeiro deles transitará
pela compreensão da relação intrínseca entre cultura e etnicidade, haja vista, esses assuntos
comportam-se como mecanismos viáveis para que se compreenda um grupo étnico e como
esse grupo busca respostas para sua vivência diante um mundo complexo. Feita essas
explicações, abordará o ensejo maior da pesquisa que a compreensão da cultura afro-brasileira
que será entendida através dos seus valores referenciais, como memória, religiosidade e a
musicalidade. A identidade como processo de identificação negra terá sua importância frisada
através de algumas ações afirmações. Solidificará todas essas abordagens a discussão acerca
do sujeito dessa cultura, o negro. Esse terá sua visualização destacada devido um
questionamento feito pelo ex-presidente dos Estados Unidos, George W, Bush, que alegará
não ter conhecimento que no Brasil existem negros.
No segundo ponto compreenderá turismo etnocultural um dos segmentos do
mercado turísticos que se fundamenta em atividades turísticas decorrentes da vivência de
experiências autênticas em contatos diretos com os costumes de vida e a identidade de grupos
14

étnicos. Ainda nesse ponto abordará alguns museus étnicos negros com intenção de realçar a
importância da preservação da memória negra nacional em espaço museal.
Feitas essas abordagens teóricas, o presente estudo partirá para a pesquisa onde
será feita primeiramente a caracterização da realidade pesquisada, o Museu Cafua das Mercês.
Logo depois, terá apresentação e a discussão dos resultados que acontecerá em dois
momentos, O primeiro abordará a percepção dos visitantes, porém identificará primeiramente
o perfil deste através de questões como: gênero, cor ou raça, faixa etária, nível de escolaridade
e renda. Depois, buscará junto aos visitantes compreender: se é a primeira vez que ele visita o
espaço museal; como ele obtivera conhecimento acerca do museu e se tem costume de
freqüentar espaços museais étnicos negros.
O segundo momento analisará junto a algumas instituições que apresentam
envolvimento com a questão étnica, através de três perguntas centrais, a saber: como o as
instituições compreendem o Museu Cafua das Mercês; outra questão será a avaliação das
instituições acerca da relação turismo e cultura negra e por fim, se as instituições apresentam
alguma sugestão acerca do espaço. Por fim, a apresentação dos apontamentos sugeridos pelos
visitantes e as instituições.
O último capítulo será apresentado às considerações conclusivas, procedentes da
discussão dos resultados obtidos no questionário aplicado, as sugestões e contribuições desta
temática, visando estudos futuros mais aprofundados tanto para o turismo étnico ludovicense
quanto para a população local.
Assim, contribuir para um conhecimento científico não só na área da cultura
afro-brasileira maranhense, dos museus, mas principalmente do turismo que é uma das razões
principais desta pesquisa.
15

2 CULTURA E ETNICIDADE

Diante da proposta do estudo, torna-se necessário a compreensão da relação


intrínseca entre cultura e etnicidade, pois esses assuntos comportam-se como mecanismos
viáveis para que se compreenda um grupo étnico e como esse grupo busca respostas para sua
vivência diante um mundo complexo. Assim, como a pesquisa pretende analisar a
representatividade da cultura afro-brasileira através de um espaço museológico no cenário
turístico ludovicense, torna-se necessário compreender esses assuntos.
Primeiramente, busca-se compreender cultura, esclarece que esse assunto é
bastante complexo, pois, no decorrer do trabalho percebe-se que não existe um único conceito
para cultura e isso se reflete sobre várias perspectivas que vão deste o senso comum até áreas
de estudos como a antropologia, a sociologia, a artes, dentre outras. Pontua-se que, perante
essa imensidão de acepções, as definições aqui expostas são as que, diante suas relevâncias,
mais contribuem para a proposta do estudo.
É vasta a literatura produzida sobre cultura. Mais vasta, ainda, são as definições
oriundas de várias áreas do conhecimento como antropologia (área com o maior número de
estudo), sociologia, estética, dentre outras. Nesse leque de interesses o que se percebe, diante
dos estudos, é que essas áreas manifestam a preocupação de estudar cultura conforme seus
próprios enfoques, metodologias, sentidos e usos. Caso pergunte: o que é cultura? Acredita-se
que serão infinitas as respostas acerca deste assunto. Segundo Canclini (1982), com base na
compilação dos estudos de Kroeber e Klerchoh, só no ano de 1952, tinham trezentas
definições do termo cultura relacionadas às áreas de estudos como a “antropologia,
sociologia, semiótica e outras ciências”.
O antropólogo Roberto Da Matta em um artigo publicado no Jornal da Embratel
no Rio de Janeiro, em 1981, definiu cultura como sendo a “maneira de viver total de um
grupo, sociedade, país ou pessoa”. Percebe-se, nessa definição um sentido antropológico de
cultura, pois o que está em foco é a centralização do homem, enquanto produtor cultural, ou
seja, como esse sujeito se posiciona perante á vida cotidiana. Logo, não são só suas produções
perante um sistema, no sentido econômico, mas os seus fazeres e saberes na totalidade, isso
perpassa deste as formas de se comunicarem, de se relacionarem, de se vestirem, de se
alimentarem até como “pensa, classifica, estuda e modifica o mundo e si mesmos” (DA
MATTA, 1981, p. 2). O autor supracitado, ainda, sintetiza cultura como um “mapa, um
receituário, um código” que possibilita interpretar a vida social de um determinado povo.
16

Beni (2007) afirma que como não existe uma cultura apenas, esta pode ser
entendida como um conjunto de crença, de valores e técnicas para lidar com o meio ambiente,
compartilhado entre os seus conterrâneos e transmitido de geração a geração.
Diante desses posicionamentos que particularizam a cultura como ação humana
que se diferencia de indivíduo para indivíduo, de comunidade para comunidade, de país para
país e de povo para povo, Barreto (2007, p. 18) alega que “cada cultura, ao mesmo tempo,
teria seus sistemas de valores próprios, o que impediria que fosse possível falar de uma
cultura universal, como em algum momento tentaram os humanistas franceses, e sim falar
sempre em culturas, no plural”. Visão viável para assim compreender cultura no Brasil, pois a
sociedade desta nação se apresenta, segundo Ribeiro (1997), multiétnica.
Esse posicionamento está relacionado à outra compreensão de cultura que,
segundo Barreto (2007), está em evidência atualmente e ela denomina de “multiculturalismo”.
Este, um conceito relativista que, “considera que todas as manifestações de todas as culturas
devem ser respeitadas”.
Entendimento, que de acordo com a preocupação de José Luís Santos (2006),
quando ressalta que todos os estudos e usos da cultura, devem ter em mente a “humanidade
em toda a sua riqueza e multiplicidade de formas de existências”.
Analisando os conceitos, acima apresentados, compreende-se a importância de
cultura, seja sob que perspectiva ela se apresenta: um tipo particular de atividade produtiva,
um mapa, um receituário ou atividades intelectuais e artísticas de um indivíduo, um grupo,
uma sociedade, um país ou de um povo.
É importante destacar que o homem é, acima de tudo, um ser cultural. Isto permite
compreender que cultura é de suma importância no seio de uma sociedade, pois o homem
produz constantemente elementos culturais para se localizar perante a sociedade. Por essa
razão, as produções culturais se diferenciam e tal diferença permite perceber que a cultura não
é um processo igualitário, mesmo sendo humano. É, antes de tudo, respostas diferentes às
distintas formas de vida humana presente neste universo que constantemente no seu dia a dia
criam e recriam sua realidade cultural. Por exemplo, a comunidade negra brasileira vem
através de décadas criando e recriando sua realidade cultural através de elementos, como a
religião, a culinária, a dança, a literatura, a música, dentre outros, que a singularizam como
uma comunidade produtora de cultura diferenciada no contexto nacional.
Essa importância da cultura para a humanidade reflete também no turismo. Mário
Beni (1997, p. 91) é taxativo com base no posicionamento de Hunziker e Krapt que, em suas
primeiras obras, estabeleceram a premissa de que “sem cultura não há turismo”.
17

Tomazzonni (2008) também sublinha a importância da cultura para o turismo.


Segundo ele, a “cultura é uma das razões predominante da existência do turismo”
(TOMAZZONNI, 2008, p. 3). Ele acrescenta explanando que são várias as razões da
existência do turismo, além do motivo essencialmente cultural, pois há diversos tipos ou
escopos de atividades turísticas, como turismo de compras, eventos, ecológicos, técnicos,
religiosos e outros. Mesmo esses tipos, “têm sua origem, razão e fundamento na cultura”
(TOMAZZONNI, 2008, p. 3, grifo nosso), pois as organizações indústrias e comerciais são
também organizações culturais. Elas possuem estratégias, métodos, estilos de lazer, produzir,
administrar e empreender. Tudo isso, em síntese, significa uma forma de expressão de
identidade cultural.
Ainda em relação à importância que a cultura tem para turismo, Maria do Socorro
Araújo, antropóloga e ex-professora da disciplina “Cultural Popular Maranhense”, no ano de
2007, do curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão, acreditava e por isso,
convocava os alunos, em suas aulas, para: “precisamos, enquanto estudantes de turismo, ter
olhares acerca de cultura”. Essa convocação tinha como intenção de provocar os alunos a
compreender que na medida em que se estuda cultura percebe-se que não é única, fixa,
imutável, linear e constante. Portanto, são necessárias visões variadas para solidificar uma
compreensão (conforme os conceitos, acima apresentados, demonstraram), sobretudo quando
esta relaciona-se com turismo que tem como princípios éticos não trabalhar com preconceito
(que, muita das vezes, ocorre quando tem-se uma visão apenas do assunto), isso significa
dizer que todas as culturas são manifestações sociais, cujo no epicentro está o homem com
seus fazeres e saberes o que para o turismo simboliza oportunidade de conhecimento, de
informação, de interação social , consequentemente de deslocamento e de fluxo turístico para
uma determinada localidade.
Imbuída da função de promover olhares desprovidos de preconceitos, a
professora, acima citada, desenvolvia um trabalho que, em alguns casos, eram realizados em
terreiros, locais de manifestações culturais religiosas da comunidade negra brasileira. Essa
atitude tinha como ênfase sublinhar, mais uma vez, a importância que a cultura tem para o
turismo e ressaltar a diversidade cultural sob a qual cultura nacional está constituída, pois
cultura difere-se, principalmente a brasileira que é um mosaico cultural. Logo, trabalhar essa
compreensão no curso de turismo com base nesse entendimento, promove-se um grande
anseio de Santos (2006), já citado, que relata que todos os estudos e usos da cultura devem ter
em mente que a “humanidade em toda a sua riqueza e multiplicidade de formas de
existências”.
18

Com base em todos esses posicionamentos, conclui-se que cultura é uma de


resposta para compreender o outro, um grupo social e por essa razão torna-se importante para
o setor turístico. Essa importância se soma, perante a compreensão de etnicidade, que mais
um mecanismo de auxilio para a pesquisa. Na medida em que busca analisar determinada
cultura de grupo étnico faz-se necessário compreender etnicidade.
Segundo Sansone (2003), hoje em dia, no mundo e no Brasil, etnicidade tornou-se
um termo muito conhecido. Integra as diversas reportagens jornalísticas sobre uma
multiplicidade de temas como, por exemplo, a culinária exótica, as festas de regiões distantes
e até a moda. Constantemente a indústria de cosmético faz uso desse termo em suas
propagandas de produtos de beleza, para dizer, por exemplo, que “xampu étnico” está
direcionado para “cabelo encarapinhado”. Ou seja, segundo o autor, “étnico” passou a
substituir termos, até então, considerados como: exótico, estranho, não branco ou, em
linguagem simples, raro e diferente.
Todavia, o que é etnicidade? Para Grünewald (2003), etnicidade configura-se
como sendo um conjunto de características comuns pertencentes a um determinado grupo de
pessoas, que as diferenciam de outro grupo. Essa diferenciação tem haver com as noções de
origem, história, cultura e, até, raça comum. Segundo esse autor, a etnicidade sendo um
fenômeno social reflete as tendências positivas de identificação e de inclusão de certos
indivíduos em um grupo étnico.
Djalo (2008) compreende etnicidade mais ou menos por esse prisma. De acordo
com ele, o fenômeno é uma forma de identidade, que se distingue das outras características
identitárias por ser mais globalizante, abrangente, dela fazendo parte características étnicas,
raciais, religiosas e culturais. O autor acrescenta, ainda, que as mesmas marcas étnicas,
características físicas, práticas culturais ou crenças religiosas, podem ser virtualmente
ignoradas numa sociedade, enquanto que consideradas extremamente significantes em outra.
De acordo com esses conceitos e tomando como exemplo a realidade brasileira,
percebe-se como a etnicidade é importante para o povo negro, afrobrasileiro. Ela promove no
seio da sociedade nacional, para esse grupo étnico, respostas que atendem não só ao
sentimento de identificação, mais de pertencimento, de inclusão, de localização, que são
importantes diante a diáspora africana. Como se tem ciência, a comunidade negra passou por
esse processo de deslocamento. De forma que, a etnicidade para esse grupo tem se constituído
como elemento vital. Isto pode ser visto perante a sua cultura que é conjunto de características
comuns, composto de elementos como: a religião (candomblé); a culinária (vatapá,
mungunzá), a dança (capoeira); a música (lundu), dentre outros, além da ideia de procedência,
19

de historicidade e, acima de tudo, o sentimento de união, uma vez que é através da


consciência de sua etnicidade que a comunidade negra brasileira tem se unido e vem galgando
um posicionamento mais digno diante a excludente sociedade nacional.
Portanto, é preciso que se compreenda etnicidade não só como mecanismo de
diferenciação, mais também de formação, união e de afirmação dos grupos étnicos que, a
exemplo do afrobrasileiro, se posiciona na sociedade nacional, tanto como um grupo que se
difere de outros quanto como um povo que se une através da sua etnicidade contribuindo e
atuando no universo social do Brasil, que, porventura, é constituído por diferentes grupos
humanos que mesmo apresentando particularidades divergentes são importantes para
formação nacional. É o que Sansone (2003, p. 10) reconhece como a verdadeira beleza do
país, quando diz “ainda acredito que a verdadeira beleza do Brasil está em seu povo,
especialmente nos inúmeros pobres e na grande população negra e mulata.”
Daí a relevância do estudo de etnicidade, no contexto da pesquisa, pois ela
possibilita essa compreensão apontada por Sansone (2003), onde a verdadeira beleza do
Brasil, ou de qualquer nação está no seu povo, ou seja, nas etnias que constituem a realidade
social de um país, sobretudo a brasileira, que têm nas suas várias etnias seus encantos e suas
relevâncias. Isto só pode ser visto no momento que se compreende a existência das etnias, e
não da etnia. Assim o fazendo, pode-se perceber os encantos existentes em cada uma. Essa é a
uma das bases da pesquisa, pontuar a beleza da cultura da etnia negra existente no Brasil, que
assim como as outras produções culturais têm sua valoração.
Reconhecimento que Amaral (2001, p. 2) lamenta que alguns deixem de perceber
e valorizar, como por exemplo: “o simbolismo da arte sacra afro-brasileira; a riqueza
simbólica, mitológica e histórica implícita e explicita no grafismo de um adê de Oxum
(espelho da deusa do rio e dos ritos de origem iorubá) ou do traçado de bilala de Oxossi
(chicote de couro do deus caçador)”.
Compreende-se que são diferentes as etnias existentes no Brasil, porém isso não
impede que se pontue a importância que elas representem no contexto nacional, sobretudo, a
negra. No entanto, como acrescenta Sansone (2003), não uma tarefa fácil, é bastante
complexa.
Logo, compreender etnicidade consiste em entender que, por ser um processo
social, é construído, apreendido no seio do agrupamento humano e assim sendo cada grupo
social possui sua etnicidade, ou seja, esta não é exclusividade de determinado povo, ela está
presente em todos os povos identificando e diferenciando-os, através do seu conjunto de
características comuns. Dessa forma, não há um grupo social etnicamente igual a outro,
20

apesar de não ser um processo nato. Portanto, é necessário compreender que “etnicidade é a
autoconsciência da especificidade cultural e social de um grupo particular” (RIESMAN apud
MESQUITA, 2010).
Diante desse posicionamento, definir grupo étnico também é importante neste
estudo de etnicidade que, segundo Luvizotto (2009) respaldada em Barth (1976), acredita ser
uma forma de organização social, que expressa uma identidade diferencial nas relações com
outros e com a sociedade mais ampla.
Entretanto, isto não quer dizer que esses grupos existam de forma isolada como
que revestidos em bolhas, totalmente esquecidos e sem fazerem essa troca cultural existente
em todo processo culturalmente humano. O próprio Barth (1976, p. 9) reforça essa ideia e diz
categórico:
Aunque ya nadie sostiene la hipótesis ingênua según la cual cada tribu y cada pueblo
ha logrado conservar su cultura mediante um belicioso desdén de sus vecinos,
subsiste todavia la opinión simplista que considera alaislamiento geográfico y
alaislamiento social como lós factores críticos en la conservación de la diversidad
cultural.

Em consonância à essa opinião, não é, realmente, o afastamento social e


geográfico que vão preservar as características culturais do grupo étnicos e talvez eles nem
queiram. Os estudos mostram que existe uma aproximação e a luta por ela. Na situação da
brasileira, os grupos étnicos, sobretudo o negro, reivindicam esta aproximação que se traduz
na presença de direitos humanos que perpassam por melhores condições de educação, saúde,
habitação, segurança e acima de tudo da possibilidade de poder se apresentar diante dessa
sociedade como grupo étnico respaldado não só na contribuição social, econômica e cultural,
mas, especialmente, sobre o direito constituído de ser respeitado na condição de ser humano.
Ressalta-se que essas reivindicações (aproximações), lutas (assim demonstradas no
subcapítulo anterior) são solicitadas constantemente, através, principalmente, dos movimentos
negros, que compreendem a necessidade de reparação desses e de outros direitos sociais para
a comunidade negra, negados perante o processo secular de exclusão, iniciado nos primórdios
da escravidão.
Esse entendimento alicerçado pela compreensão dos conceitos de etnicidade faz-
se mais que urgente, principalmente, diante do eterno discurso do “mito da democracia
racial”, que se apresenta Brasil afora, como o modelo de relações raciais onde mazelas e
atrocidades têm se apresentado de forma natural nesta sociedade brasileira vigente ou há
séculos. É preciso compreender que a formação desta sociedade é feita por vários grupos
étnicos em maior ou menor proporção e que alguns não estão democraticamente assistidos.
21

Não se pode aceitar a exclusão de vários grupos em razão de um, pois, o que vai, ou já está
resultando é uma nação agonizante na sua base constituída por ser humanos, ainda que
diferentes entre si. Não atentar a isso é comungar dessa “democracia” irreal que não percebe e
não inclui “democraticamente” sua maior beleza que a população brasileira composta por
diversas nuance.
Constantemente, nos noticiários brasileiros (ainda que tendenciosos), cada vez
mais se observa a divulgação de um número crescente de pessoas sendo assassinadas, presas
injustamente, desapropriadas de suas terras, violentadas, dentre outros, que leva a crê que
alguma coisa está acontecendo fora da abrangência do “mito democrático racial”. Não são
registros de casos de comunidades pobres quaisquer de uma determinada região. São ações
direcionadas, principalmente, para comunidades pobres, porém negras. É, na verdade, ou crê
que seja, a desmistificação da harmonia promovida por esse mito, que insistem em propagá-lo
como uma verdade absoluta brasileira.
A divulgação desse mito, fora do Brasil é tão propagada que o afro-americano,
literário, escritor Henry Louis Gates Jr comentou no programa Milênio, vinculado pela Globo
News, em 2013, que veio ao Brasil justamente para conhecer a atuação desse mito na
realidade brasileira. Segundo ele, essa vontade foi motivada quando, ainda, era aluno da
Universidade de Yale nos Estados Unidos, onde ensinavam que no Brasil havia uma
democracia racial e que aqui havia um refúgio para as relações inter-raciais. Gates Jr comenta
que em função disso, todos os alunos tiveram que ler Casa Grande e Senzala de Gilberto
Freyre. Porém, “mais tarde, eu descobrir, que havia critica a esse mito”, pontuou o literário.
Acerca desse famoso e internacional mito brasileiro, Moore (2007) alerta que ele
(o mito), assim como o do Desenvolvimento Separado, na África do Sul, atuou como “mito-
ideologia” eficaz na conservação do status quo sociorracial durante praticamente um século.
Segundo o autor, essa forma de autoengano tem constituído um obstáculo sério ao avanço da
sociedade, tanto na África do Sul quanto no Brasil.
Diante esse quadro, o autor apresenta uma “luz no fim do túnel” para comunidade
negra brasileira.
Mas, graças aos esforços perseverantes de décadas do movimento social negro
brasileiro, uma parte crescente da sociedade tem identificado a “democracia racial”
como uma perigosa falsa visão. Com isso, abrem-se novos espaços para a instituição
de um debate fecundo sobre todos os aspectos da construção de uma nova sociedade
e uma nova Nação brasileira no século XXI. (MOORE, 2007, p. 24).

Na esperança de tal ação, essa breve discussão, procurou apresentar o “mito da


democracia racial”, através de lentes reais, na intenção de sublinhar, a importância de
22

compreender a etnicidade como um poderoso e necessário instrumento de avaliação da


atuação dessa"democracia racial” no seio da sociedade brasileira, que não pode ser mais vista
como uma sociedade harmoniosa etnicamente, no que se refere a distribuição direitos
populacionais. É necessário que se lute, conforme Moore (2007), para que a Nação brasileira
consiga abrir-se para um novo caminho e uma nova direção na esperança de constituí uma
sociedade verdadeiramente democrática e inclusiva para todos, ou pelos menos, a prazo breve,
que se apresentem ações que se encaminhem para esse propósito.
Na expectativa disso, o grupo étnico negro brasileiro tem lutado muito e mais
ainda no combate contra o racismo, outro assunto ligado à questão da etnicidade que será
brevemente discutido nesta oportunidade, pois não se pode fugir deste debate, no que se refere
ao Brasil, em vista dessa prática está aleijando todo um quadro histórico de contribuição do
negro na formação desta nação.
Quando uma pesquisa insere-se nesse contexto étnico é primordial que aborde
esse assunto, pois dialogando, discutindo, rediscutindo, sobretudo trazendo para o campo da
intelectualidade onde as universidades (casa de conhecimentos) se inserem poderá apresentar
ações que no mínimo diminuem esse triste quadro que se apresentam na estrutura social do
Brasil. Assim, o curso de Turismo, não pode e deve ficar a margem dessa discussão.
Quando fala-se de racismo, não se está colocando em evidência uma prática que
ocorreu no início, fazendo uso das palavras de Prandi (2000), do “infâme comércio” e logo
depois acabou. Está se evidenciando uma ação contínua e, acima de tudo, a insensibilidade
promovida por tal prática que vem assolando as sociedades, sobretudo, a do Brasil que parece
ou não quer perceber quão nocivo é essa pratica sobre essa insensibilidade promovida pelo
racismo. Acerca disso Moore (2007, p. 23) comenta que a insensibilidade é um produto do
racismo. Uma mesma pessoa, ou coletividade, cuidadosa com sua família e com os outros
fenotipicamente parecidos, pode angustiar-se diante da doença de seus cachorros, mas não
desenvolve qualquer sentimento de comoção perante o terrível quadro da opressão racial. Em
toda sua dimensão destrutiva, esta opressão se constitui em variados tipos de discriminação
contra os negros.
O autor conclui que não há sensibilidade diante da falta de acesso, de modo
majoritário, da população negra aos direitos sociais mais elementares como educação,
habitação e saúde. Tratando-se da participação política, os quadros dos órgãos do Executivo,
do Legislativo e do Judiciário compõem-se exclusivamente de brancos, salvas raras exceções
que confirmem a regra. Muitos bancos, comércios, linhas aéreas, universidades e
estabelecimentos públicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raça branca,
23

que por vezes são responsáveis pelas piores prestações de serviços à maioria da população
negra.
Portanto, é necessário e urgente que se lute contra essa nocividade que é o racismo
e os seus efeitos e mais, que o perceba como uma arma que, muita das vezes, se apresenta
sendo “arma branca”, como registrou Moore acima. Não é intenção posicionar-se como uma
manifestação de racismo ao avesso, pelo contrário, e nem tem como ser, são constatações
seculares, que o poeta Cruz e Souza (1943) já relatava em seu poema intitulado “O
Emparedado”. Na ocasião, o autor já registrava o pesado fardo na sociedade brasileira, que é
ser portador de uma quantidade considerável de melanina. Lamentavelmente, ainda hoje, esta
realidade faz-se presente na sociedade brasileira, com o “simbólico nome de racismo” que
cada vez mais vem emparedando a população negra.
Essas “pedras”, manifestações de racismo, registradas no poema acima,
atualmente, podem ser vistas em várias situações no Brasil e no mundo. Um caso recente e
que provocou reações (algumas equivocadas) em boa parte do mundo foi o protagonizado
pelo jogador de futebol, o lateral direito Daniel Alves que no durante uma partida de futebol
em Villarreal, Espanha, aos 30 minutos do segundo tempo, um torcedor jogou uma banana no
campo, na direção do lateral, que inusitadamente pegou-a e comeu (RACISMO..., 2014). Essa
ação por parte do jogador foi louvável, pois o jogador não se curvou perante essa
manifestação de racismo, pelo contrário ergue-se majestosamente como vem fazem vários
consagrados personagens negros, com base em Araújo (2004), a exemplo: Zumbi dos
Palmares, Cruz e Souza (poeta ímpar do Simbolismo brasileiro); Luís da Gama (poeta); o
historiador, linguista, engenheiro e administrador Teodoro Sampaio; o primeiro editor
brasileiro e também poeta Paulo Brito; os escultores Francisco Antônio de Lisboa (o
Aleijadinho) Rubem Valentim, Emanuel Araújo (curador do Museu Afro Brasil, em São
Paulo) e Mestre Didi; os médicos Luís Anselmo, Juliano Moreira, Jurema Werneck (Crioulas)
e Luís Ferreira Alves, ativista do Centro do Cultura Negra do Maranhão (CCN-MA); os
pintores Teófilo de Jesus, Estevão Silva e Firmino Monteiro. Além da professora-mestre do
curso de turismo da Universidade Federal do Maranhão Maria das Graças Reis Cardoso; o
antropólogo Carlos Benedito da Silva, dentre outros que não se curvaram perante as perversas
manifestações de racismo ocorridas no Brasil. Pelo contrário, reagem e contribuem para um
legado de resistência promovido já nos primórdios do período escravocrata por vários
africanos e africanos que foram trazidos para o país nas condições mais avessas e que, apesar
de não terem seus nomes escritos no quadro da historia do Brasil, fizeram uso da resistência
como mecanismo de sobrevivência.
24

Diante esse quadro de resiliência, fica a horrorização, perante o episódio ocorrido


com o jogador Daniel Alves que não é o único caso no mundo do futebol, segundo a
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) (BRASIL, 2014), outros
exemplos, como o que aconteceu com o também jogador de futebol brasileiro Tinga, está cada
vez mais frequente no registro de casos na triste estatística de manifestações de racismo
ocorridas ao povo negro brasileiro.
Por isso, de acordo com Moore (2007, p. 25), “a criminalização do racismo, em
1989; a adoção das políticas públicas de ações afirmativas com recorte sociorracial, em 2000;
e, em 2003, a instituição obrigatória do ensino geral da história da África e dos
afrodescendentes”, tem se posicionado como ações que no mínimo são mecanismos de
enfretamento do racismo brasileiro e de desemparedamento de toda uma população presente
nessa Pátria Amada.
Portanto, as discussões acerca de etnicidade cumprem seu papel na medida em
que possibilitam reflexões, principalmente, sobre o racismo e como suas ações são percebidas
como males que estão assolando a comunidade brasileira como um todo. Pergunta-se, por que
pontuar essas questões em um estudo com enfoque turístico?
Margarita Barreto na contracapa de vários livros referentes ao Turismo da Editora
Papirus, dentre eles “Cultura e Turismo: discussões contemporâneas” do ano de 2007 diz:
“Turismo é movimento de pessoas, é um fenômeno que envolve, antes de mais nada, gente”.
Justamente por essa razão que deva-se abordar as questões de racismo, pois, na medida em
que o turismo envolve gente, ele reconhece essa gente e a prática do racismo faz justamente o
contrário, ou seja desconhece o outro na sua diferença, que acaba sendo um desconhecimento
da etnicidade desse outro. Para o turismo é uma perda de oportunidade e se acentuando essas
ações (racistas) seja de que forma for individual ou coletiva, fragiliza toda uma cadeia
turística.
Assim, são relevantes que se pontuem essas questões para que seja entendido que
a pratica turística não comunga dessas ações e nem tem interesse de perpetuá-las, haja vista,
que gente e sua cultura são a essência para um planejamento, uma elaboração e execução da
prática turística, principalmente do não tão recente turismo étnico que, acredita-se, tem o
interesse de possibilitar aos visitantes aspectos culturais distintos do seu cotidiano próprio.
Sendo capazes de levar o visitante para além do óbvio dos produtos turísticos culturais, os
grandes ícones, possibilitando uma experiência turística única, ou diferenciada.
Ressalta-se que foi necessário fazer esse recorte a fim de pontuar em que contexto
a cultura afro está inserida na sociedade nacional, por essa razão sublinhou-se essas questões
25

como mecanismo, também, de preparo para o próximo subcapitulo que trata da cultura afro-
brasileira.

2.1 Cultura Afro-brasileira: conhecendo e compreendendo através dos valores e


referências civilizatórias

Como já foi dito anteriormente a cultura insere-se em processo étnico como parte
das informações pertinentes do indivíduo ou grupo social. Essas informações estão em
comunhão com a etnicidade, como já foi esclarecido.
De forma que, neste capítulo, tem se traçado uma verdadeira jornada pela área da
cultura e etnicidade, debruçando-se sobre a sua vasta literatura até desaguar no interesse
maior que é a cultura afro-brasileira. Ressalta-se que esta jornada apresenta-se devido a
grande relevância que o assunto tem para o desenvolvimento deste estudo monográfico, que
tem como finalidade analisar em um espaço museológico a cultura afro-brasileira no cenário
turístico ludovicense. Primeiramente, fez-se um recorte apresentando algumas definições
pertinentes, para o estudo, sobre cultura e etnicidade justificadas por autores que,
familiarizados com os temas, elaboraram conceitos.
Nesse mesmo caminho, apresenta-se neste subcapítulo, a cultura afro-brasileira,
razão maior desta abordagem, procurando compreendê-la através dos valores referenciais, que
são elementos primordiais para entender, por exemplo, porque o povo negro tem uma conexão
espiritual com a música assim como com o corpo? Por que, para religião de matriz africana, o
Ori (cabeça) é uma região sagrada do corpo humano? Qual o significado do mexer comida de
forma circular? Essa e outras questões referidas ao povo negro só podem ser respondidas
compreendendo os valores referenciais, que são alicerces de resistência e resiliência e que
sublinham a importância dessa cultura para o universo turístico étnico brasileiro.
Assim, todas essas reflexões, foram e são mecanismos preparatórios utilizados
para tal compreensão e auxílio para entender em que contexto encontra-se a cultura afro-
brasileira, que acaba sendo uma ramificação da cultura nacional, com base na contribuição
africana. Ressaltam-se as existências das outras culturas, também vertentes nacionais, com
base na contribuição dos povos europeus e dos povos indígenas; todos, lembretes do alicerce
cultural qual está deitado “eternamente em berço esplêndido”, o Brasil.
Todavia, o interesse aqui, está voltado para a cultura afro-brasileira, por essa
razão, procura-se compreendê-la diante do cenário cultural nacional e assim despertar um
26

olhar para uma compreensão etnocultural com base na exposição de elementos dessa cultura
em um espaço museológico.
De acordo com o Portal da Cultura afro-brasileira (FAEC, [200?]), denomina-se
cultura afro-brasileira o conjunto de manifestações culturais brasileiras que sofreram de
alguma forma, influência da cultura africana desde o Brasil colônia até os dias atuais. Essa
cultura africana se materializou no país através da presença dos diferentes povos que foram
retirados violentamente desse continente (África) para trabalharem em diversos setores da
economia colonial brasileira. Segundo o Portal, essa cultura africana, no Brasil, sofreu
influência também das culturas dos povos europeus, sobretudo dos portugueses, e indígenas,
de forma que as características de origem africana na cultura brasileira encontram-se em geral
mescladas a outras referências culturais.
Com já foi mencionado, diante do intenso tráfico negreiro qual Prandi (2000)
chama de “infâme comércio”, milhões de africanos, mesmo na condição de escravos,
povoaram diversas regiões do Brasil e espalharam seus saberes e fazeres que culminou na
constituição da cultura afro-brasileira. Regiões como, “Maranhão, Pará, São Paulo, Rio de
Janeiro, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio
Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso são oficialmente reconhecidas como locais que mais
receberam afluxos de escravos para trabalharem no campo de fumo, cacau, cana de açúcar; no
cultivo de algodão; na agricultura, na mineração, nos serviço doméstico do complexo casa
grande e senzala e nos serviço urbano” (PRANDI, 2000, p. 55).
Logicamente, esses locais se destacam por apresentarem maior carga de herança
africana no Brasil, no entanto, como a cultura não é um processo estático e sim dinâmico, esta
herança não ficou restrita a esses territórios, expandiu em proporções maiores que o infame
comércio poderia prever. Prandi (2000) comenta que a cultura africana foi se diluindo na
formação da cultura nacional correspondendo, assim, a um vastíssimo elenco de itens que
abrangem a língua, a culinária, a música e artes diversas, além de valores sociais,
representações místicas e concepções religiosas.
É a partir desses itens que se localiza, define e compreende, neste estudo, a cultura
afro-brasileira enquanto conjunto de manifestações culturais brasileiras influenciadas pela
cultura africana. Assim, mesmo que durante anos ela tenha sido negada ou escamoteada com
base no errôneo pensamento que os povos africanos eram desprovidos de cultura,
principalmente no período de escravidão e ainda no pós-abolição, ela resistiu e persistiu
passando por um longo processo dos quais vários foram usados para deixarem-na no campo
da invisibilidade. Porém, muitas foram às lutas e muitos foram e são os autores que
27

incumbiram-se de manterem viva toda essa produção cultural, que apresenta-se como uma
resposta resiliente a toda diversidade encontrada pelos africanos, já citados, nas terras
brasileiras.
Hoje, a partir de um período de revalorização e de um processo de diluição,
presente em qualquer junção de culturas, é inegável a existência da cultura afro-brasileira que
está respaldada nos preceitos africanos.
Ressalta-se que para compreender e conhecer a cultura afro-brasileira, é
necessário pontuar os valores civilizatórios que diante da compreensão de etnicidade permite
que se tenha um amplo olhar acerca dessa cultura e, para além do reduto cultural, no que se
refere ao Brasil, possa-se aprender a reconhecer que “diante uma perspectiva civilizatória
somos, de certa forma ou de certas formas, afrodescendentes. E, em especial, somos o
segundo país do mundo em população negra” (TRINDADE, 2005, p. 30).
De acordo com Trindade (2005), os valores civilizatórios estão inscritos em nossa
memória, no nosso modo de ser, na nossa música, na nossa literatura, nas nossas ciências, na
arquitetura, na gastronomia, religião, na nossa pele e no nosso coração. Portanto, ainda de
acordo com a autora, quando busca-se compreender ou mesmo vivenciar a cultura afro-
brasileira está comungando dos princípios e normas que corporificam um conjunto de
aspectos e características existenciais, espirituais, intelectuais e materiais, objetivas e
subjetivas que se constituíram e se constituem num processo histórico, social e cultural que
foram e são produzidos pelos africanos e seus descendentes no Brasil.
Pontua-se como um lembrete: a cultura afro-brasileira não deve ser compreendida
sob os preceitos euro-centrista, pois se o fizer perde-se a essência dessa cultura que são esses
valores, essas referências que se apresentam, de acordo com Brandão (2006), hibridizados,
interpenetrados, obedecendo aos fluxos e conexões que se dão na cotidianidade e na imersão e
absorção dessa dimensão civilizatória. Esses valores não são concebidos de forma linear e
assim devem ser percebidos, eles estão interligados. Há uma conexão onde um completa o
outro. Dessa forma, não tem como entender ancestralidade sem compreender memória ou
energia vital, muito menos corporeidade e nem circularidade, e cooperatividade sem falar em
oralidade, musicalidade e ludicidade. A religiosidade precisa de todos esses valores para
completar a percepção de que todos, absolutamente, todos estão interligados perante esse ou
aquele universo.
Dessa forma, não se pode compreender a cultura afro-brasileira sem recorre á
esses elementos, por exemplo, de acordo com Trindade (2005) e Brandão (2006), o princípio
do axé, da energia vital esse valor está alicerçado no cotidiano, no fluxo, e no imponderável
28

da vida, na capacidade de criar, arriscar, de inventar, de amar, como afirmação de existência,


pois para a cultura negra: “[...] tudo que é vivo e que existe, tem axé, tem energia vital: planta,
água, pedra, gente, bicho, ar, tempo, tudo, tudo é sagrado e está em interação” (TRINDADE,
2005, p. 33). A religião, como um dos itens expoentes e expressivos presentes na cultura afro-
brasileira, mostra como esse valor é uma referência no seio dessa cultura. O candomblé,
exemplo da religião afro-brasileira. A culinária é outro exemplo onde pode perceber essa
força vital.
Além do princípio do axé, da energia vital, a cultura negra fundamenta-se na
memória. Esse valor, essa referência civilizatória, foi a “mala” utilizada pelos povos africanos
quando transportados para o Brasil, na condição de escravo. Os malês, os geges, os nagôs, os
minas, os haussás, os fulas, os yourubás, dentre outros, não puderam trazer nada como
mecanismo de recordação da sua terra, porém de forma extraordinária conseguiram através da
memória, resgatar parte da sua língua, culinária, maneira de se vestir, de confessar sua
religiosidade, dentre outros.
Assim, esse processo de resgate da memória pelos africanos, outrora citados, foi
importante para comunidade negra se referenciar e construir sua identidade neste país, pois
esses antepassados foram, através da memória, “buscar” nos seus lugares longínquos
memórias de como preparar um vatapá, um acarajé, como de chamar de abadá uma túnica
comprida e larga; como dizer para todos que agogô e berimbau são um instrumentos musicais
e que caçula é uma criança pequena.
Por essa razão, a memória é um valor importante na cultura negra, e não deve ser
negada, na medida em que ela promove não só um resgate da herança cultural oriunda dos
povos africanos, mas ela é a resposta positiva para a tentativa de promover esquecimento nos
povos que eram retirados da África pelos escravocratas. Segundo Barbieri (1998), no
documentário Atlântico Negro: na rota dos Orixás, todo escravo que iria ser embarcado era
obrigado a dar volta em torno de uma árvore, a Árvore do Esquecimento. Os escravos deviam
dar nove voltas em torno dela e as escravas sete voltas. Acreditavam que depois disso, os
escravos perdiam a memória, e esqueciam seu passado, suas origens e sua identidade cultural
para se tornarem seres sem nenhuma vontade de reagir ou de se rebelar.
“Que aberração! Que contradição! Na história humana alguém já viu um nagô
esquecer suas origens e sua identidade cultural, se ela está tão marcada em seu rosto e tão
incrustada em seu coração?”
29

Essa fala é de um griot1 no documentário, acima citado de 1988, que registra toda
sua indignação perante a frustrada tentativa dos escravocratas de promover esquecimento nos
escravos africanos
Outra referência para se compreender e reconhecer a cultura afro-brasileira é,
segundo Brandão (2006), a ancestralidade, esse valor como todos os outros está muito
interligado com os demais, principalmente, com a memória e tem sua relevância regida sob a
importância de compreender que os antepassados foram e são responsáveis pelo não
esquecimento de quem somos e de onde viemos. São as representações das raízes africanas,
os condutores da memória.
No Candomblé a gente tá muito ligada á água, á terra, e a folha, a gente não pega
uma folha a mais do que precisa, a gente trabalha com a terra porque é lá que
plantamos o que nós vamos comer e na água está a fertilidade dos peixes... (Ebomi
Vera d’Oxum). (OLIVEIRA, 2010 apud BRANDÃO, 2006, p. 59).

A religiosidade é uma referência civilizatória na cultura afro-brasileira de grande


relevância. Ela está em todas as ações da comunidade negra, regendo os fazeres e os saberes.
Assim como a memória, a energia vital e os outros valores, está incorporada em tão grande
proporção que entende-se que sem esse valor não existe ou não existiria o povo negro
brasileiro, haja vista, que através da religiosidade, que não deve ser confundida com religião
(não nos moldes como é pregada) é que os afrodescendentes se reergueram e se erguem. A
vida para a comunidade negra é um ato supremo, divino, por essa razão é imperioso e
religioso viver sob essa referência civilizatória.
A religiosidade comungada pela comunidade negra permitiu e permite que se
reflita quão importante seja o processo de liberdade, pois nos terreiros, onde esse valor é
expresso de maneira máxima, só foi possível por que os povos africanos diversos entre si se
uniram e reivindicaram sob diversas forma a liberdade que outrora lhes fora negada. Foi esse
encontro promovido nos terreiros, que as várias etnias africanas na condição de escravo se
redefiniram em busca não da liberdade, mas do direito de serem vistos na condição máxima
de um ser vivo: humano.
Como já foi mencionada, a religiosidade ultrapassa a questão da religião, essa
referência serve para compreender a base civilizatória africana na qual esta sedimentada a
cultura afro-brasileira, como exemplo dessa base está a grande nação africana Ketu, que
segundo Oliveira (2010 apud BRANDÃO, 2006), desde os tempos da escravidão, “trouxe
para cá modos de ser, viver, pensar, brincar, contar história, escrever, rezar e dançar. São

1
Griots: como são chamados na África, os contadores de histórias. Eles são considerados sábios muito
importantes e respeitados na comunidade onde vivem (COMPANHIA DOS JOVENS GRIÔTS DA
BAIXADA FLUMINENSE, 2003).
30

formas que deram às africanidades brasileiras e que constituem tudo o que faz parte do
universo da criação negra”. A religiosidade é o “cimento” que sela tudo isso, ainda de acordo
com a autora, para as comunidades tradicionais de terreiro da Nação Ketu existe uma relação
visceral com a natureza, com o corpo, com o mito, com a dança, com a identidade e com o
feminino.
Consoante a Brandão (2006), a cultura negra através da religiosidade, busca
infligir respeito à vida, ao próximo. Logo, compreende-se, através desse valor, que tudo é
sagrado: a vida, o outro, o cozinhar, o vestir, o caminhar, o comunicar, o ouvir, o sentir,
dentre outros.
A cultura afro-brasileira é singular no seio da sociedade nacional, pois
compreendem além dos já citados valores a oralidade, este valor tem sua importância nesta
cultura por que permite que se ressalte a expressão oral como força a ser potencializada e
acima de tudo vivenciada. Na cultura afro-brasileira, oral não é uma negação da escrita, mas
como é frisado por Brandão (2006), é "uma afirmação da independência, de autonomia, de
comunicação, de contato”. Pois
a oralidade nos associa ao nosso corpo: nossa voz, nosso som faz parte do nosso
repertório de expressão corporal; nossa memória registra e recria nosso repertório
corporal-cultural; nossa musicalidade confere ritmo próprio, singulariza á nossa
corporeidade, está marcada pelo pertencimento a um grupo, a uma ou várias
comunidades, na medida em que, para nos comunicar com o outro, precisamos ser
reconhecidos por ele, estar em interação, em dialogo com ele. (BRANDÃO, 2006, p.
35-36).

Dessa forma, compreende-se que a expressão oral, na cultura afro-brasileira,


transcende o ato de falar, quebra as corretes promovida pelo escrever, está associado à
dicotomia falar-ouvir. No seio da cultura afro, oralidade significa está inserido no universo
sonoro que pode ser compreendido através da música, do ritmo, do canto, da poesia, do teatro,
do cinema, enfim a oralidade vivenciada nas mais diversas formas.
A cultura afro-brasileira é oriunda de sociedades africanas orais, que segundo Bâ
(2010), nas sociedades orais não é apenas a função da memória mais desenvolvida, mas
também a ligação entre o homem e a “palavra é a mais forte”. De acordo com o autor, nessas
sociedades, onde não existe a escrita, o homem está ligado à palavra que profere. Está
comprometido por ela. Ele é a palavra, e a palavra encerra um testemunho daquilo que ele é.
O universo da oralidade está repleto de afrodescendente que marcaram e marcam sua
existência através desse valor civilizatório afrobrasileiro, alguns representantes: Solano
Trindade, Eloísa Lucinda, Carolina de Jesus, Luis Gama, Cruz e Sousa... (poesia); Gilberto
31

Gil, Martinho da Vila, Clementina de Jesus, Pixinguinha, João do Vale... (musica); Ruth de
Sousa, Zezé Motta, Milton Gonçalves, Grande Otelo, Chica Xavier, (teatro e cinema).
No Maranhão, esse valor referencial transfigura-se no “contar história”. Prática
muito usada pelo povo negro para explicar alguns fenômenos naturais ou para falar de seres
imaginários, como: a estória do “bicho da cara preta”.
Outro exemplo de como a oralidade é uma referência presente na cultura negra é a
culinária, através do uso desse valor essa arte de cozinha no Brasil tomou dimensões africanas
e receitas de comidas dos povos africanos foram passando oralmente, como exemplo desse
processo tem-se o vatapá, caruru.
No Maranhão essa oportunidade de expressar esse valor referencial através da
culinária foi uma “argamassa” para os africanos rememorar todo viver em África. E, assim
acrescentar sua contribuição no processo formador deste Estado.
Recentemente, na Universidade Federal do Maranhão foi defendida, no curso de
Turismo a monografia intitulada Banquete dos Santos: compreendendo a valorização da
contribuição Gastronômica afro-religiosa Maranhense enquanto Patrimônio Cultural
Imaterial, da autora Denise Cerveira Tavares. Nesta, a autora, busca compreender essa
contribuição gastronômica oriunda dos banquetes dos orixás, que estão “afrobrasileiramente”
presente não só no cotidiano culinário maranhense, mas em todo Brasil.
Na musicalidade, este valor civilizatório apresenta a cultura afro-brasileira nas
mesmas dimensões do valor acima citado, de acordo com Trindade (2005), a música é um dos
aspectos afrobrasileiro mais emblemático. O povo negro é musical e expressa sua cultura
envolta desse valor. Como não perceber a presença da música nas mais diversas
representações culturais afro-brasiliera, por exemplo, a religião é regida pela música, da
mesma forma a culinária. No trabalho também há musicalidade, as quebradeiras de coco e as
lavadeiras, por exemplo, usam esse valor referencial como mecanismo de ameno do seu labor.
A cooperação/comunitarismo, consoante Trindade (2005, p.35), “a cultura negra,
a cultura afro-brasileira, é cultura do plural, do coletivo, da comunhão, da cooperação. Não
sobreviveríamos se não tivéssemos a capacidade da cooperação, do compartilhar, do
preocupar com o outro”.
Se assim não fosse não teríamos sobrevivido no período escravocrata e pós-
abolição, pois os povos africanos tiveram de se unir, cooperar entre si para sobreviver. Ainda
hoje esse processo vem acontecendo, principalmente, diante as mazelas provocadas pelo
racismo.
32

Esse valor se faz perceber, principalmente, nas cidades pequenas do interior do


Maranhão, onde construir uma casa de taipa não acontece sem a participação da comunidade
da região para: o “estalar de palhas”, o fazer massa de barro (barreamento), a entrega das
“bolas de barros” e das palhas “estaladas”, a retirada da varas e dos cipós. Enfim um processo
cooperativo e comunitário.
Outro valor referencial importante para compreender a cultura negra é a
corporeidade. Para dimensionar a importância desse valor na cultura negra usa-se as palavras
de Azoilda Loretto de Trindade (2005): “o corpo é muito importante, na medida em que com
ele vivemos, existimos, somos no mundo. Um povo que foi arrancado da áfrica e trazido para
o Brasil só com seu corpo, aprendeu a valorizá-lo como um patrimônio muito importante”. É
no corpo também que repousa a relação com o sagrado. A cabeça (ori), por exemplo, tem uma
importância muito grande para a comunidade negra, pois nela repousa o orixá. O corpo recebe
as entidades espirituais, ou seja, é o templo das divindades.
A ludicidade, valor essencial da cultura afro-brasileira, insere-se nas mesmas
proporções dos demais valores. Corresponde, referenciado na autora acima citada, a alegria,
ao gosto pelo riso, ao brincar, pela diversão, enfim, pela celebração da vida.
Esse valor se traduz, no poder ser criança sem o jugo dos adultos. Para os povos
negros é celebra o Erê. E para celebrar o Erê, tem que estar moleque (música da banda Cidade
negra).
Trindade (2005, p. 34-35) referindo-se a esse valor diz: “se não fôssemos um
povo que afirma cotidianamente a vida, um povo que quer e deseja viver, estaríamos mortos,
sem vida, sem cultura, sem manifestações culturais genuínas, sem axé.”
A circularidade, como valor encontrava-se na cultura afro-brasileira e se defini
como um valor civilizatório afro no Brasil que tem como símbolo a roda, o circulo. Para a
cultura afro, este simbolismo remete a ideia do movimento, da circularidade, da capacidade de
renovar, da coletividade, do caminhar junto. Do início-fim ou do fim-início, é a singularização
dessa dicotomia.
Compromisso presente no samba, na roda de capoeira. Por que nessas
manifestações, a roda é um símbolo de igualdade que frisa o brincar como uma oportunidade
de permite que todos, absolutamente, todos são iguais. É esse pensar que o circulo permite
compreender. A religião afro tem esse entendimento da roda, do girar, pois é uma arte de
recomeçar constantemente sob as orientações dos orixás. Como circulo do bumba meu boi no
Maranhão que diante à morte simbólica do boi, renasce para dar continuidade à festividade
junina.
33

Pontua-se que estes valores civilizatórios afro-brasileiros foram elencados, para


que se compreenda a cultura afro-brasileira sob esse prisma. Como o interesse da pesquisa é
analisar essa cultura em um espaço musicológico, faz-se mais que necessário entender que
esses valores que são a essência desta cultura.
Compreende-se que outros valores deveriam ser elencados, porém o interesse da
pesquisa está direcionado para um espaço museal, assim acredita-se que esses valores são
suficientes para dimensionar o campo de referência no qual está inserida a cultura do povo
negro no Brasil.
Esclarece-se, que muito ainda tem que se discutir acerca desta cultura, pois hoje
ela é uma realidade nacional, mescladas por referências africanas. Por essa razão, deve ser
compreendida como cultura rica em seus valores e suas referências, haja vista, que não tem
como falar em cultura boa e cultura ruim.Tem que se reconhecer a cultura como a expressão
máxima de um povo, ou seja, seus fazeres e saberes. Compreendendo essa importância,
destaca-se uma oportunidade étnica de conhecimento que já está abraçada pelo turismo
etnocultural.
Para finalizar e sublinhar como os valores civilizatórios estão apresentados na
cultura afro-brasileira, recorre-se à uma síntese apresentada por Azoilda Loretto da Trindade
(BRANDÃO; TRINDADE, 2010) no caderno “Modo de brincar”, no qual assim apresenta
esses valores:
Reconhecemos a importância do Axé, da energia vital, da potência da vida presente
em cada ser vivo, para que num movimento de circularidade, esta energia circule, se
renova, se mova, se expande, transcenda e não hierarquize as diferenças
reconhecidas na corporeidade do visível e do invisível. A energia vital é circular e
se materializa, nos corpos, não só nos humanos, mais nos seres vivos em geral, nos
reinos, animal, vegetal e mineral. ‘Na natureza nada se cria, tudo se transforma’.
‘Tudo muda o tempo todo mo mundo’. ‘... essa metamorfose ambulante’.
Se estamos nesse constante devir, vir a ser, é fundamental a memória e o respeito a
quem veio antes, a quem sobreviveu. É importante o respeito á ancestralidade,
também presente no mundo de territórios diversos (Territorialidade). Territórios
sagrados (Religiosidade) porque lugar de memória, memória ancestral, memórias a
serem preservadas como relíquias, memórias comuns, coletivas, tecidas e
compartilhadas por processo de cooperação e comunitarismo, por oralidades, pela
palavra, pelos corpos diversos, singulares e plurais (Corporeidades), pela música
(musicalidade) e, sobretudo, por que não, pelo prazer de viver ludicidade.
(BRANDÃO; TRINDADE, 2010, p. 14).

2.2 Identidade étnica negra e a luta pelo reconhecimento nacional: políticas de ações
afirmativas

Na abordagem anterior, evidenciou a cultura afro-brasileira através dos valores


referenciais, que são mecanismos necessários para que se dimensionar como está referenciada
34

a etnicidade do grupo étnico negro brasileiro. Da mesma forma aborda-se identidade como
um processo de identificação étnico negro, que na pesquisa faz-se necessário abordar, pois, a
comunidade negra constantemente faz uso desse mecanismo para se posicionar como um
grupo social de cultura e de etnicidade que são elementos de identificação necessário a todo
agrupamento humano, por essa razão será imperioso abordar algumas ações afirmativas para
consolidar essa compreensão.
Ressalta-se, que esses mecanismos auxiliam, no entendimento da pesquisa, na
compreensão maior que é como está sedimentada a Nação brasileira que, mesmo não estando
acabada, contou inicialmente com a presença de mais de 3 milhões de africanos escravizados,
além dos povos europeus e indígenas. Esses povos africanos foram responsáveis pela
transmissão desses valores na cultura afro-brasileira, isto permite compreender que essa
cultura está respaldada na identidade negra africana.
Esclarece-se que esse aglomerado de povos promoveu no solo brasileiro um
emaranhado de identidades, dentre elas a identidade étnica negra que terá sua importância
discutida nesta abordagem. Pontua-se que a referida identidade será, também, apresentada
alicerçada em alguns exemplos de luta do povo negro por reconhecimento nacional, antes,
porém procura-se compreender identidade. Lembrando que, essa discussão acerca de assunto,
é mais um momento importante para que se perceba a relevância da cultura negra neste país,
pois é através da cultura que o povo negro consegue se autoidentificar e por ela é identificado
perante a sociedade nacional.
Assim o processo de identificação consiste em um mecanismo importante na
promoção do reconhecimento nacional e de acentuação de etnicidade, por essa razão,
identidade na pesquisa tem esse destaque.
Segundo Ortiz (1985), identidade é uma construção simbólica, porém necessária.
O autor faz essa colocação a fim de deixar claro que, sendo a identidade uma construção, ela
não é única, muito menos “autêntica” ela é construída para determinado povo, indivíduo, se
compreenda e compreenda o mundo no qual está inserido. Assim sendo, ele acrescenta que
não deve ser perpetuado equívoco autenticando uma identidade, o que deve ser levado em
consideração, de acordo com o autor, é a pluralidade de identidades que são construídas por
diversos grupos sociais em diferentes momentos históricos. Posicionamento pertinente para a
compreensão da realidade identitária do Brasil que se constrói em envolto por várias
identidades, das quais a identidade negra é uma integrante. Fica, portanto, claro que cada
indivíduo, grupo, povo, nação têm sua identidade e isso não é e nem deve ser mecanismo de
segregação, de discriminação, de exclusão. Conforme foi mencionado, a identidade é um
35

processo construído, inconstante e viável para que tanto o indivíduo como o grupo social
compreenda e encontre respostas através da sua “lente” no mundo qual está inserido.
A identidade como um processo que ocorre no seio das relações sociais, aproxima
o indivíduo de seu grupo social e diferencia-o o dos outros grupos. Uma construção constante
de igualdade e diferenciação, que segundo Chebel (apud D’ADESKY, 2001), ocorre no
âmbito da subjetividade, por isso, é marcada por uma representação do “eu” nascida da
interação entre o indivíduo, os outros e o meio. É, ao mesmo tempo, um estado da pessoa, em
certo momento de sua existência, na qual uma das vertentes, negativa ou positiva, pode
predominar. Daí a importância dos elementos culturais, pois estes funcionam, perante os
grupos sociais, como um “elo” que afirma o indivíduo ao seu grupo e o grupo ao indivíduo.
Esses mesmo elementos podem, também, funcionar como um mecanismo que particulariza
um grupo perante os outros grupos. Por isso, mais uma vez, a importância se pontuar essa
discussão acerca de identidade, pois no momento que se propõe discutir a importância da
cultura negra, ou qualquer outra cultura, essa questão é de suma relevância, haja vista, que
tanto o indivíduo quanto o grupo social procuram por identificação e afirmação.
O homem é um ser social, ainda que exista alguns que afastam-se do convívio
humano, como os eremitas que, frequentemente, por motivos religiosos preferem viver
isolados, no geral, o homem é um ser que necessita do convívio, da interação com seus
semelhantes. Isto quer dizer pertencer a um grupo com características identificatórias comuns.
Em outras palavras, o homem quer fazer parte de um grupo no qual ele represente e sente-se
representado, onde possa comungar de uma mesma história, de uma mesma língua, de uma
mesma etnia e até de um mesmo território. Ser integrante de uma coletividade humana, cujo
reconhecimento do outro certifica sua existência. Isto equivale a pertencimento social.
Para D’Adesky (2001), a identidade implica um processo constante de
identificação do “eu” ao redor do outro e do outro em relação ao “eu”. É o olhar do outro que
faz aparecer às diferenças culturais e, por estas, a consciência de uma identidade. O autor
recorre ao psicanalista Erik Erikson para solidificar a compreensão de identidade. Para este
psicanalista a identificação é como um jogo de espelhos que por fim reflete o olhar individual
ao mesmo tempo em que reflete o olhar crítico ou lisonjeiro dos outros, possibilitam, assim,
sucessivos ajustamentos. Segundo ele, o fenômeno da identificação social, acaba por ser, uma
complexidade extraordinária.
Exemplificando um comportamento de identidade, enquanto processo de
identificação cultural, ou mesmo de espelhamento, registra-se a situação de um locutor de um
programa de reggae de uma rádio da cidade de São Luís, onde este comentou emocionado que
36

durante sua primeira viagem a Angola a cada rua que passava era como se elas estivessem
habitadas por um irmão ou primo.
O relato desse locutor, que se autoidentifica como negro, permite compreender
que sua emoção diante da presença do “outro” (negro) em Angola2, tenha sido provocada pela
certeza da existência deste “outro”; “homem que pensa e reivindica, que ama e que luta”
(MOURA, 1988). Não é que no Brasil, Maranhão, São Luís não haja negros, não é isso, é o
restabelecimento de um elo entre o passado e o presente; eram suas características culturais
“espelhadas” na forma de vestir, no contraste da pele com a cor da roupa, na forma de andar,
no gesticular; seus valores referenciais, que se materializavam nesse outro ser negro em
Angola, fechando um ciclo que por muitos anos ficou incompleto; Essa viagem proporcionou,
acima de tudo, a possibilidade de se ver refletido no outro sem o julgo do preconceito racial
que para os negros consiste em um pesado fardo. É justamente esse sentimento de
pertencimento, de espelhamento, de resposta que busca-se enfatizar na proposta desta
pesquisa.
Crê-se que diante a diáspora africana algumas lagunas ficaram impreenchíveis,
principalmente no seio da sociedade brasileira, que é uma nação que não se importa em
promover, para a comunidade negra, referenciais culturais capazes promoverem soluções e
respostas que venham sanar anos de questionamentos. Ciente disso, resguarda-se no direito de
apresentar essa singela vírgula (este estudo) como forma de assegurar a importância da cultura
afro brasileira não só para povo negro, mas para a comunidade brasileira no geral.
Ainda sobre identidade, esta também pode ser compreendida como um processo
coletivo onde, segundo Malek Chebel (apud D’ADESKY, 2001), a identidade individual é
uma passagem para a identidade coletiva e para melhor compreender essa noção recorre às
considerações do psicanalista Sigmund Freud, para quem cada pessoa participa de diversas
almas coletivas que são as da sua raça, da sua classe, da sua comunidade confessional, de seu
país, pois o ideal do eu tem um grande papel na compreensão da psicologia de grupo, visto
que, paralelamente ao seu aspecto individual, apresenta também um caráter social.
Apesar de cita esse posicionamento de Sigmund Freud, D’Adesky (2001), acredita
que a identidade coletiva não pode ser resumida como um simples sentimento de
pertencimento, porque, na realidade, a identidade coletiva é também um produto de um
processo de identificação. Quem esclarece essa ideia é o sociólogo Raimond Ledrut, citado
também por D’Adesky (2001), que observa que a identidade social do indivíduo está ligada ao

2
Segundo Albuquerque e Fraga Filho (2006), foi a maior fornecedora de africanos para o Brasil, mais de 52 mil.
37

sentimento de pertencimento, que segundo ele, é um fator de identidade coletiva. Comenta


ainda, que pode-se pensar a identidade social como um conjunto de processos pelos quais um
indivíduo se “espelha” socialmente, ou seja, reconhece-se como integrante de um grupo, se
reconhece nesse grupo e é reconhecido por ele. Logo, pertencimento e sentimento de
pertencimento são ligados à identificação, isto quer dizer que não devem ser confundidos com
a própria identificação. O autor com base ainda em Ledrut mostra que há uma grande
diferença, por exemplo, em dizer: “eu sou do Rio” e “eu sou carioca”, no primeiro caso
registra-se a ideia de pertencimento, de origem, de natural, enquanto que no segundo caso,
registra a ideia de identificação, adjetivação, quase que uma escolha.
Para a comunidade negra, a identidade é um processo essencial, vital, que já se
manifesta nos primórdios do período escravocrata. O povo negro oriundo do imenso
continente africano, que é um aglomerado de nação, teve que recorrer a esse processo de
identificação como mecanismo de sobrevivência, pois apesar desses povos serem de origem
africana apresentam características que difere-se entre si e que não foram compreendidas
pelos povos europeus que generalizaram as várias etnias africanas como sendo um só povo.
Dessa forma, como resposta de sobrevivência, cria-se a identidade étnica negra brasileira.
Em relação a isso Munanga (2005) comenta que tudo possui uma história,
segundo ele, observando por esse lado, a identidade negra não surge da tomada de consciência
de uma diferença de pigmentação ou de uma diferença biológica entre populações negras e
brancas e/ou negras e amarelas. Segundo ele, ela resulta de um processo histórico longo que
inicia com o descobrimento no XV do continente africano e se seus habitantes pelos
navegadores portugueses, descobrimento esse que abriu caminho às relações mercantilistas
com a África, ao tráfico negreiro, à escravidão e enfim à colonização do continente africano e
de seus povos.
Ferreti (1991 apud SILVA, 1995), também se manifesta em relação à identidade
étnica negra chamando atenção para as análises sobre a identidade étnica com relação ao
negro e ao índio no Brasil. Segundo ele, a primeira apresenta níveis de complexidade
diferente da segunda, por isso é mais difícil de defini-la. Ele, no entanto, não definiu quais são
esses níveis de complexidade difíceis de definir. O antropólogo Carlos Benedito Rodrigues da
Silva (1995), sem querer entrar numa discussão mais esmiuçada acerca do posicionamento do
também antropólogo acima citado, apenas, acrescenta dizendo que mesmo que não se possa
considerar essa declaração, outrora mencionada, em termos absolutos, o fato de não ter sido
removido de seu continente possibilitou ao indígena a manutenção de elementos mais visíveis
de diferenciação étnica do que o negro.
38

Munanga (2005), também tem uma observação acerca dessa remoção ocorrida
com negro, abordada por Silva (1995), e estende um pouco mais sua observação chegando até
os imigrantes, dizendo que
[...] esses povos foram sequestrados, capturados, arrancados de suas raízes e trazidos
amarrados aos países do continente americanos, o Brasil incluído, sem saber por
onde estavam sendo levados e por que motivos estavam sendo levados. Uma história
totalmente diferente da história dos emigrantes europeus, árabes, judeus e orientais
que, voluntariamente decidiram de sair de seus respectivos países, de acordo com a
conjuntura econômica e histórica interna e internacional que influenciaram suas
decisões para emigrar. (MUNANGA, 2005, p. 1).

Conforme esse autor, é nesse contexto que devemos compreender a construção da


identidade étnica negra no Brasil, através desse deslocamento que possibilitou aos negros
brasileiros características com base no continente africano, fonte primária dos seus elementos
identificatórios. Embora, os negros, ainda na condição de escravo, não tenham trazido
nenhuma referência material das suas comunidades, isso, no entanto, não impediu de se
reconstruírem e de mesclarem-se com os outros povos e assim constituírem uma das nações
mais multiétnicas do mundo, o Brasil.
Ainda em relação à construção da identidade étnica, no que se refere aos povos
não negros existentes no Brasil, excluindo os índios, estes sim, mesmo de forma mínima
conseguiram trazer como mecanismo de memória positiva da sua comunidade, algum tipo de
bagagens, algumas lembranças; ainda que um punhado de areia. E, mais, foi permitido a eles
o direito de fazer uso de tais lembranças.
Já para o povo negro (africano), o mecanismo utilizado como bagagem para
transportar alguma referência, foi a alma, visto que, nada lhe foi permitido ser trazido como
mecanismo de recordação, de forma que para permanecer consciente dentro desse processo de
recordação, que é uma busca constate por elementos culturais, restou só o uso da bagagem
emocional que lhe permitiu um resgate, em parte, da sua culinária, religião, língua, ou seja da
sua cultura, que de forma extraordinária mesclou-se com a comunidade do seu algoz.
Diante disso, esclarece-se que esse processo de construção da identidade na qual o
indivíduo se vê no outro e é visto pelo outro, no que se refere à situação do negro no Brasil,
realmente, é um processo muito difícil. Neste país, o negro tem contra si toda uma referência
negada e essa negação foi construída dentro de um sistema escravocrata que de início subtraiu
do negro, ainda na condição de escravo, o direito de fazer uso da própria língua, uma
mutilação para qualquer indivíduo que necessita deste primeiro elemento de identificação
cultural para se conhecer e ser reconhecido dentro de um processo de identificação étnica.
D’Adesky (2001) comenta que a adoção da língua portuguesa, para os negros, marcou uma
39

profunda ruptura com os elementos da matriz cultural das sociedades africanas, revelando,
assim, uma irreparável perda de identidade cultural.
Silva (1995, p. 111) acrescenta que
[...] a dificuldade que se coloca para a população negra reside no pensar a própria
diferença e de se pensar diferente, já que os sinais que marcam essas diferenças
foram diluídos no confronto com a sociedade nacional, bloqueando ou eliminando as
bases de sustentação coletiva da identidade.

A afirmação do autor procede, no entanto, a identidade não se resume apenas na


diferença, mais também na igualdade e é essa busca pela igualdade, extremamente importante,
que faz o povo negro, no Brasil, se vê enquanto agrupamento étnico, onde as diferenças
outrora oriundas das várias identidades vindas dos vários países africanos para o Brasil se
transfigurarão em mecanismos de igualdade e de resistência que culminaram em ações (lutas)
efetivas por reconhecimento diante da nação brasileira.
“A luta pelo reconhecimento não consiste em uma luta vã, é antes de tudo uma
oportunidade de reafirmação de identidade étnica, que nada tem haver com altruísmo, é uma
procura por respeito fundamentada sobre certa dignidade” (D’ADESKY, 2001, p. 76). Por
isso que, falar em identidade étnica com desejo de reconhecimento, sobretudo quando se
refere à identidade negra no Brasil, está se buscando uma valorização social respaldada na
dignidade e na certeza de uma contribuição socioeconômica e cultural.
De acordo Jesus e Gomes (2013, p. 81) a luta do povo negro brasileiro em prol do
reconhecimento não é recente, segundo eles
é possível identificá-las entre as reivindicações da Frente Negra Brasileira (FNB) na
década de 1930, do Teatro Experimental do Negro (TEN) na década de 1950 e de
vários representantes negros que ocuparam cadeiras no Legislativo brasileiro, tais
como Joaquim Beato, Abdias do Nascimento, Paulo Paim, Benedita da Silva e Ben-
Hur Ferreira.

O senador Paulo Paim – PT/RS acredita que essa luta vem bem antes. Segundo
ele, a luta empreendida pelo povo negro no Brasil já percorre vários séculos e a referência
mais pontual nessa empreitada, de acordo com o senador, “é o grande líder Zumbi dos
Palmares” que a partir de 1670, passou a comandar “a luta por liberdade e cidadania” (PAIM,
2006, p. 2).
Os anos se passaram e a luta continua. A Lei nº 10.639/2003, que alterou a Lei nº
9.394/1996 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), sancionada em 9 de janeiro
de 2003 pelo então presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, onde determina a
obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileiras e africanas nas escolas públicas
e privadas do Ensino Fundamental e Médio. Jesus e Gomes (2013) vêm mais uma vez
demonstrar, no campo da educação, como povo negro no Brasil continua lutando
40

incessantemente. Acerca dessa lei, os autores Jesus e Gomes (2013) afirmam que o percurso
de normatização decorrente da aprovação dessa lei se “insere em um processo de luta” e “tem
como protagonista o Movimento Negro”, dentre outros. Revelam também que essa lei pode
ser entendida como uma medida de ações afirmativas, que segundo eles, são políticas,
projetos e práticas públicas e privadas que visam á suas desigualdades que atingem
historicamente determinados grupos sociais, tais como: indígenas, negros, ciganos, pessoas
com deficiência mulheres, homossexuais, entre outros.
Como resultado positivo dessa ação afirmativa educacional favorável ao povo
negro, segundo Gomes (apud BRANDÃO, 2010, p. 21) pode se reconhecer alguns impactos e
inflexões na educação brasileira, a saber: “ações do MEC e dos sistemas de ensino no que se
refere à formação de professores para a diversidade étnico-racial; novas perspectivas na
pesquisa sobre relações raciais, no Brasil; visibilidade á produção de intelectuais negros sobre
as relações raciais em nossa sociedade.” Além dessas ações, a autora reconhece também a
inserção de docentes da educação básica e superior na temática africana e afro-brasileira;
ampliação da consciência dos professores, no que diz respeito à questão étnico racial ser uma
responsabilidade de toda a sociedade nacional e o entendimento do trato pedagógico e
democrático da questão étnico racial como sendo um direito adquirido, como parte desses
impactos e inflexões ocorridas, após a adoção da referida lei no sistema educacional
brasileiro.
A adoção dessa lei educacional brasileira está em sintonia com a palestra “O
perigo de uma única história”, ministrada pela escritora nigeriana Chimamanda Adichie.
Nessa palestra, a escritora alerta para o grande perigo em conceber uma única história. Ela se
refere ao fato de haver, na memória coletiva, uma única história acerca da África, relacionada,
principalmente, ás suas terríveis catástrofes, mas, de acordo com Adichie, há outras histórias
que não são sobre catástrofes e “é igualmente importante, falar sobre elas” (ADICHIE,
[2012]).
Consoante Chimamanda Adichie, a consequência de uma única história é que ela:
“rouba das pessoas sua dignidade. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada
difícil. Enfatiza como nós somos diferentes ao invés de como somos semelhantes”.
Portanto, crê-se, com a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-
brasileiras e africanas nas escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio
promovida pela Lei nº 10.639/03, a população estudantil brasileira terá oportunidade de
estudar, conhecer outra história acerca da formação do povo brasileiro, que perpassa pelo
continente africano. Isso provocará (se bem administrado) a possibilidade dos brasileiros em
41

formação se compreenderem enquanto povo diversificado culturalmente. Essa possibilidade,


desprovida de preconceito, orientará uma transformação, não só escolar, mas possivelmente
humana, com amplo reflexo na sociedade nacional. E, assim sendo, conceberá uma sociedade
mais justa e menos desigual para todos.
Essa importante conquista da comunidade negra só reforça quão importante é que
o povo protagonize seus feitos, suas histórias sem necessidade de “falsos interpretes” que
normalmente não têm a intenção de colocar em ênfase a real história e seus reais sujeitos. São
na verdade “atravessadores de histórias” que nada acrescentam, pelo contrário só diminuem e
ficam sempre na zona de conforto repetindo os mesmos posicionamentos deturpados sem
levar em consideração o posicionamento dos seus autores.
De forma que a adoção dessa Lei educacional dá respaldo para o enfoque da
pesquisa que é analisar a relevância da representatividade da cultura afro-brasileira, ou seja, o
estudo busca sublinhar a importância da produção cultural afro-brasileira no contexto
nacional, claro que dentro de uma perspectiva mais voltada para uma realidade turística,
porém declara-se que essa relevância ultrapassa esse contexto, por isso que adoção de ações
da natureza da Lei nº 10.639/03, na esfera nacional, onde procura-se reparar anos de negação
da promoção de conhecimento da cultura africana e brasileira no âmbito escolar, não só
legitima a pesquisa como promove um diálogo no seio da sociedade brasileira para que outras
ações possam surgir no sentido promover uma realidade mais igualitária para todos.
Outra luta, nesse mesmo contexto, da comunidade negra brasileira, ganha, foi a
aprovação da Lei nº 12.711/2012 (Lei de Cotas) sancionada pela presidente Dilma Rousseff,
no dia 29 de agosto de 2012, que garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno
nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a
alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação
de jovens e adultos (BRASIL, 2012).
A aprovação dessa lei veio brindar uma das mais antigas solicitações da
comunidade negra que são as políticas públicas de cotas universitárias para alunos oriundos
de escolas públicas, para negros, dentre outras categorias. A comunidade negra, em especial o
movimento negro sempre acreditou na educação como um processo social capaz de promover
mudança sólida e positiva na vida das pessoas menos favorecidas, que por extensão são
negras.
Diante disso que foi exposto acredita-se que a inserção dos discentes de classes
excluídas, dentro das universidades, sinaliza para promoção de igualdade de oportunidades
que poderá ser medida posteriormente com a maior presença dessa população em alguns
42

cargos que antes não poderia ser vistos. Dessa forma é mais do que válida essas iniciativas,
visto que compreendendo de forma macro não é só a população desprovida que ganhará nessa
disputa por oportunidade na nação brasileira, mas toda a sociedade que lucrará em possibilitar
melhores condições para as camadas mais pobres e como já se sabe esse caminho é, na
maioria, feito pelas instituições de ensino superior que são internacionalmente reconhecidas
como locais que promovem conhecimento que consequentemente promovem maior
mobilidade social.
Esclarece-se que essas explanações referentes à adoção da Lei nº 10.639/2003 e a
adoção do sistema de cotas nas universidades brasileiras são mecanismos de lutas da
comunidade negra por reconhecimento nacional e foram citadas por se comportarem como
exemplos maiores no campo da educação. Todavia, existem outros de igual importância,
ainda no campo educacional, que no momento não são relevantes neste espaço de discussão.
O que fica claro nessa discussão é que o negro brasileiro nunca ficou inerte quanto à
promoção de melhorias para seu bem estar, no que se refere à sociedade nacional, e que
historicamente sempre esteve comprometido com as diversas modificações existentes no seio
desta sociedade.
Esses fatos, para a pesquisa, comportam-se como instrumentos para a visualização
da realidade situacional do povo negro e também para enfatizar a importância de se promover
mais trabalhos que certificam a presença da luta da comunidade negra por mais
oportunidades, direitos, liberdades e acima de tudo por respeitos a todo legado promovidos
desde os tempos primórdios da escravidão, onde os negros eram apenas cativos, até os dias
atuais. Pois, os elementos culturais dessa comunidade, ou seja, fazeres e saberes são
relevantes para promoção de conhecimento no contexto turístico e principalmente para
sublinhar mudanças na concepção de se pensar o turismo brasileiro de forma mais étnico.
De forma, que evidenciar o negro através dessas lutas por reconhecimento
nacional insere-se justamente nessa intenção de promover um olhar acerca da relevância da
produção cultural desse personagem brasileiro que muito tem a acrescentar para uma proposta
turística. Diante tudo isso, apresenta-se esse autor brasileiro nas razões já justificadas.

2.3 Visualizando a situação do negro no processo de construção da sociedade brasileira

As discussões acima são de suma importância para compreender em que contexto


está inserido a cultura afro-brasileira, mas dentro dessa discussão é preciso visualizar o autor
dessa ação que o negro brasileiro, ou seja, é necessário abordar a sua visibilidade diante a
43

construção da sociedade brasileira. Este recorre insere-se na pesquisa diante um


questionamento provocado pelo ex-presidente dos Estados Unidos. Assim, esse ator será
apresentado, primeiramente, com base nessa indagação que sucedeu uma jornada pela
visualização do negro no Brasil.
A Folha de São Paulo publicou em 2002 uma reportagem veiculada pela revista
alemã “Der Spiegel”, na qual o ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, em
conversa com o então presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, teria dito não saber
que no Brasil há negro. Segundo a Folha, “Na ocasião, Bush teria perguntado a seu colega
brasileiro: “Vocês também possuem negros?” (BUSH..., 2002). Diante de tal fato estarrecedor
acerca da visibilidade da realidade populacional do Brasil, questiona-se: por que um
presidente de uma importante nação mundial não tem conhecimento da existência de um dos
povos representante da metade da população nacional? (ANEXO A).
Em resposta a essa pergunta sugere-se que, talvez, com raríssimas exceções, o
negro brasileiro, diante da sociedade nacional que restringe a sua mobilidade social
(NOGUEIRA apud OSÓRIO, 2008), não tem oportunidade de estar nas esferas
representativas do país, a exemplo, da presidência da república. O certo é que, acerca desse
episódio, o presidente brasileiro não poderia responder ao presidente estadunidense que
também desconhecia haver negros nos Estados Unidos, haja vista, que assessorando George
W. Bush estava como exemplo de representação do povo negro estadunidense, Condolezza
Rice, então Assessora para Assunto de Segurança Nacional dos EUA, que segundo a Folha de
São Paulo, diferente do ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso, teria assim
respondido a pergunta do seu presidente: “senhor presidente, o Brasil provavelmente possui
mais negros do que os EUA”. Acrescentando ainda: “Dizem que é o país com o maior número
de negros fora da África” (BUSH.., 2002).
À luz dessas considerações acrescenta-se que a presença negra no Brasil é
oficialmente reconhecida deste o século XVI com a introdução do tráfico africano negreiro.
Segundo Albuquerque e Fraga Filho (2006), tal presença era necessária para a “colônia
portuguesa” (Brasil) que “dependia de grande suprimento de africanos para atender às
necessidades crescentes de uma economia carente de mão de obra”. Nessa ocasião, segundo
Ianni (1978), teriam sido transportados da “África cerca de 9,5 milhões de negros”, dos quais
a maior parte desembarcou no Brasil. Segundo o autor, a nação brasileira importou 38% desse
equivalente populacional. Prado Júnior (2007), fala que no início do século XIX, antes das
grandes importações, “não teria sido menos de 5 a 6 milhões” de negros africanos
introduzidos no Brasil. Albuquerque e Fraga Filho (2006), também relatam que no início do
44

século XIX, o país possuía uma população estimada em 3.818.000 pessoas, sendo que das
quais 1.930.000 eram escravas. Em algumas regiões a população escrava chegava a “superar o
número de pessoas livres”. Por exemplo, no ano de 1872, no município de Campinas, São
Paulo, nesse momento grande produtor de café, o número de escravo na região era de 13.685
cativos, enquanto que a população livre estava em torno de 8.281 pessoas, ou seja, havia
5.404 escravos a mais que os habitantes livres da localidade.
Para Azevedo (1990), o número total de africanos negros que chegaram à colônia
portuguesa é “incerto”, no entanto, ela registra 3,6 milhões de negros. De acordo com a
autora, essa incerteza tem haver com a queima dos registros da chegada desses cativos. Sobre
isso ela informa:
A própria documentação histórica dos africanos no Brasil também foi vitima de
violência. Após a Lei Áurea, o ministro da Fazenda ordenou a queimada de todos os
documentos referente à escravidão.
A trágica fogueira ardeu na praça pública do Rio de Janeiro, no dia 14 de dezembro
de 1890. Lamentavelmente, cometeu se um duplo erro: não se destruiu no fogo os
sentimentos de racistas e retirou-se dos brasileiros o direito á preservação de sua
história. (AZEVEDO, 1990, p. 37).

Em consonância com esses autores, o Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE) apresenta um quadro (quadro 1) no qual registra, entre os séculos XVI-
XVIII, nos anos de 1531 a 1780 um número estimado de desembarque de africanos no país,
que se traduz na vinda de homens, mulheres e criança das várias regiões do continente
africano.
Quadro 1 – Desembarque estimado de africanos no Brasil - Séculos XVI-XVIII
Períodos No período
1531-1575 10000
1576-1600 40000
1601-1625 100000
1626-1650 100000
1651-1670 185000
1676-1700 175000
1701-1710 153700
1711-1720 139000
1721-1730 146300
1731-1740 166100
1741-1750 185100
1751-1760 169400
1761-1770 164600
1771-1780 161300
Total 1895500
Fonte: IBGE (2000).
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Baseado nessas reflexões, acredita-se que não há dúvida acerca da presença do


negro no Brasil, os autores (acima) citados só corroboram Condolleza Rice, sobre isso.
Percebe-se que esses (autores), e ainda existem outros, comungam que os negros, a priori, são
“uniformizados pela escravidão” (PRADO JUNIOR, 2007). Essa uniformização relatada por
Prado Junior (2007), tem haver com a forma generalizada como o povo africano foi
compreendido pelos europeus, que os conceberam como um único povo, não levando em
consideração as diversas etnias existentes no continente africano. Sobre isso Prandi (2000)
relata que não se tratava de um povo, mas de uma multiplicidade de etnias, nações, línguas,
culturas. Como exemplo os povos sudaneses e bantos.
Mesmos os negros sendo vistos de forma genérica, de maneira alguma sua
participação deve ser negada diante o processo formador da sociedade brasileira. O não
reconhecimento da sua presença, dentre outros casos, no país pelo ex-presidente dos EUA, só
reforça o quanto esta nação é racista e preconceituosa (mesmo que negue tal fato), pois parte
do seu povo visualizado, seja nos cargos oficiais ou na mídia, não corresponde com a
realidade étnica da qual é composta. Ou seja, a sociedade nacional não se faz representada
oficialmente, salve raríssimas exceções, pelo negro e pelo índio, ambos contribuintes na
gestão populacional, econômica , política e cultural do país.
Essencialmente falando, o Brasil é composto também por esses povos e delegar a
apenas um, toda a valorosa contribuição, seja que em aspecto for, é no mínimo escamotear
uma parte da historicidade brasileira que tanto se diz multirracial. Por isso, a relevância de
pesquisa com esse compromisso, pois é necessário que se enfatize a importância da cultura
negra no contexto nacional como elemento reafirmador da valorosa contribuição do povo
negro ao país.
Nesse processo de contribuição dos valores da cultura brasileira, o negro, assim
como os demais, se posiciona, segundo Prado Júnior (2007) com “notável participação”. Para
Amaral (2001), “a contribuição dos valores das chamadas cultura afro brasileira vem sendo
mais e mais reconhecida como elemento marcante da cultura nacional.” De acordo com a
autora, nos tempos atuais, a música, a comida, as festas, a capoeira e a religião são divulgados
e reconhecidos como elementos nacionais influenciados pela cultura do negro.
Albuquerque e Fraga Filho (2006), por sua vez, apresentam dentro desse contexto
de contribuição negra brasileira, a participação do negro relacionado à economia desde o
período da escravidão, segundo os autores, a maior parte da riqueza, seja ela produzida,
consumida ou exportada no Brasil, por mais de trezentos anos, foi “fruto da exploração do
trabalho escravo”. Os autores, ainda, situalizam economicamente essa participação que, está
46

presente na extração do ouro e “diamante das minas”, nas plantações e nas colheitas de cana,
café, cacau algodão e outros produtos tropicais de exportação. Pontuam que as mãos escravas
estavam presentes também, na agricultura de subsistências, na criação de gado, na produção
de charque, nos ofícios manuais e nos serviços domésticos. Comentam, ainda, que nos centros
urbanos, eram os escravos que se encarregavam do transporte de objetos e pessoas e eram a
mão de obra mais numerosa empregada na “construção de casa, pontes, fábricas, estradas, e
diversos serviços”. Cabiam a eles, também, a responsabilidade pela distribuição de alimentos,
como, por exemplo, os vendedores ambulantes e as quitandeiras, que, segundo os autores,
povoaram as ruas das grandes e pequenas cidades brasileiras.
Assim, reafirma-se a presença do povo negro e seus descendentes como
participantes ativos nesse processo de desenvolvimento histórico brasileiro que, ainda, não se
encontra acabado, mas em pleno desenvolvimento.
Todavia, lamenta-se quando alguns espaços sociais e midiáticos, sobretudo o
televisivo, coloca em evidência positiva apenas um desses atores sociais, a exemplo da
teledramaturgia brasileira que se posiciona majoritariamente branca. Não há nas telenovelas
brasileiras famílias constituídas por índios, por exemplo, como representante da população
nacional. Em relação ao negro, vem ocorrendo uma tímida movimentação no sentido de o
incluí nesse processo “democrático” televisivo, claro que há ressalvas.
Porém, da mesma forma como reagiram os escravos diante da escravidão, os
trabalhos realizados por Joel Zito tem se posicionado como mecanismo de resistência no
universo midiático. Joel Zito Araújo, doutor em Ciência da Comunicação, cineasta, autor do
livro e do documentário “A negação do Brasil”, muito tem contribuído para desmistificar a
imagem estereotipada do negro brasileiro no meio mediático. Os seus trabalhos são
ganhadores de prêmios importantes, como o Kikito de ouro do Festival de Gramado, onde o
filme “Filhas do Vento”, com um elenco composto por vários atores negros, em 2004 recebeu
seis prêmios, segundo a Revista “Isto é Brasil” (MORISAWA, 2004). Ainda segundo a
revista, em defesa do seu trabalho o cineasta comenta que está trazendo um novo paradigma,
que segundo ele, é um olhar de dentro, do ponto de vista de integração.
Ciente das valorosas contribuições de Joel Zito Araújo e outros, fora elas, o que se
percebe no geral é que o índio e o negro, principalmente, quando aparecem na mídia nacional
estão quase sempre sob o julgo da marginalização, isto é, os papeis designados aos atores
negros, normalmente são de pessoas sem ascensões sociais, posicionamentos políticos,
intelectualidade, enfim a eles são delegados papéis que de maneira alguma justifica a
relevância do negro na sociedade brasileira. Isto acontece, conforme Chaves (2008), sob a luz
47

da “Lei de Brasil nº 8.081, de 21 de setembro de 1990” que inibi a “prática de atos


discriminatórios”.
Ainda sobre a referida lei, a autora registra que ela: “Estabelece os crimes e as
penas de atos discriminatórios ou de preconceito de raça, cor, religião, etnia ou procedência
nacional, praticados pelos meios de comunicação ou por publicação de qualquer natureza”.
(CHAVES, 2008, p. 22). Daí a necessidade de constante vigília por parte da sociedade
nacional a espaços midiáticos que a todo custo promovem, em parte, a invisibilidade do negro
e para que não ocorram certas aberrações em relação a esse povo e seus descendentes.
Uma propaganda feita em comemoração aos 150 anos da Caixa Econômica
Federal3, apresentada pela atriz global Glória Pires foi alvo dessa vigília. Redes e movimentos
sociais ligados às causas raciais se mobilizaram contra a propaganda da Caixa, na qual
apresentava o escritor Machado de Assis, branco explícito caso de tentativa de branqueamento
da sociedade nacional (assunto difundido por alguns ideólogos do branqueamento, como Nina
Rodrigues). A sociedade, em parte, se posicionou e dias depois do ocorrido, o presidente do
referido banco, Jorge Hereda, publicou uma nota pedindo desculpa a toda população e
refizeram a propaganda que foi apresenta por um ator negro, Airton Graça e o escritor
representado por um ator não branco, respeitando assim, a ancestralidade do escritor de Dom
Casmurro.
Reconhecimento como esse, de importantes negros no Brasil, não desqualifica ser
brasileiro, pelo contrário, só reafirma a real composição humana sob a qual está alicerçada a
sociedade nacional, que de acordo com historia do país, se justifica na contribuição destes três
povos: índio, branco e negro, personagens centrais para que se possa compreender e
dimensionar o que é ser brasileiro. Dispensando conceitos e preconceitos, ser brasileiro se
traduz nas contribuições desses povos, que pode ser percebido na forma otimista de ver a
vida, na hospitalidade, na criatividade, na solidariedade; e que agora já não são mais só
nativos, estrangeiros e principalmente escravos, são o que a historicidade nacional reconhece
oficialmente e registra como cidadãos da Republica Federativa do Brasil.

3
Endereço dos vídeos no youtube original e a correção, respectivamente:
http://www.youtube.com/watch?v=idaAFaYXnAM e http://www.youtube.com/watch?v=FBwJtxCsWyQ.
48

3 TURISMO ETNOCULTURAL: compreendendo a relevância do turismo étnico afro


no Brasil

Para melhor assimilar a dimensão da proposta da pesquisa é preciso que se


compreenda um dos segmentos do mercado turísticos brasileiro, o turismo etnocultural,
especializado ou focado na etnicidade brasileira. No caso da pesquisa, a etnicidade pontuada
será a negra, portanto, busca-se uma compreensão do turismo étnico afro, no contexto
nacional. Recorre a essa compreensão pela relevância da pesquisa, que pretende analisar em
um espaço museológico “abraçado” pelo turismo, a cultura afro-brasileira.
De acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, [200-]), turismo étnico, que é
apontado como ramificação do turismo cultural, constitui-se de atividades turísticas
decorrentes da vivência de experiências autênticas em contatos diretos com os modos de vida
e a identidade de grupos étnicos. Ainda, segundo o Ministério, esse tipo de turismo busca
estabelecer um contato próximo com a comunidade anfitriã, participar de suas atividades
tradicionais, e aprender sobre suas expressões culturais, estilos de vida e costumes singulares.
Compreende-se esta definição e não nega sua veracidade. Crê que seja importante
para nortear, a priori, a compreensão de turismo étnico, no entanto, percebe-se nessa definição
que ela não reconhece a prática do turismo étnico nos centros urbanos, mas o que falar do
movimento turístico étnico que vem acontecendo em cidade, como Cachoeira, município do
estado da Bahia, onde recebe a cada ano um número crescente de turistas negros
estadunidenses, em busca de raízes perdidas, herança africana e ancestralidade (VATIN,
2008). Ou a procura pela cultura negra em um espaço museal étnico, como o Museu Afro
Brasil, em São Paulo, no Parque Ibirapuera, grande centro turístico da região?
Esclarece-se que não é intenção da pesquisa dissecar a citação e nem apontar
“verdades” acerca do assunto, a finalidade consiste em chamar atenção para a compreensão
sobre a prática do turismo étnico que vem ocorrendo nos centros urbanos, principalmente, nos
museus, área onde a pesquisa está concentrada. Além de aproximar o assunto máster, no que
se refere ao turismo, que é o turismo étnico negro, afro no contexto nacional.
Segundo Trigo (2010), o Brasil apresenta um território com extensão continental e
um emaranhado de culturas aqui se fez diante a necessidade de formação do país que contou e
conta com a participação dos povos: indígenas, europeus e africanos (forma genérica).
Portanto, existem em todo esse imenso território uma variedade de povos vindos desses
representantes, e eles não estão completamente isolados, resguardados em bolha sem que
ocorram trocas de elementos da cultura existentes em todo processo cultural, pelo contrário se
49

mesclaram e originaram uma das nações mais multirracial do mundo e há presença desses
povos ou seus descendentes, sem nenhum erro de afirmação, nos centros urbanos.
Diante essa elucidação, não se afirma que não existam comunidades quilombolas,
indígenas, dentre outras comunidades, no contexto nacional passivas de planejamento e
explorações turísticas. Elas existem, são relevantes e já ocorrem ações bastantes pontuantes
no que se refere promover visitações turísticas a essas comunidades.
Nesse contexto, o quilombo de Ivaporunduva em Eldourado (SP), desde 2001
vem trabalhando o turismo étnico, onde tem proporcionado “palestra sobre a história e a
características da comunidade, trilhas, visitas á roça e almoço típico. Dependendo da época e
disposição dos visitantes, participam da barreação de casa de pau-a-pique e trabalho na roça.”
(QUILOMBOS DO RIBEIRA, [2011]).
Essas mesmas ações ocorrem de acordo Antonio Gois na Folha de São Paulo, em
Parati (RJ), onde é desenvolvido um roteiro turístico no quilombo de Campinho
Independente, nesse roteiro, semelhante ao quilombo de Ivaporunduva, são desenvolvidos
passeios por trilhas, visitas a núcleos familiares, almoços com pratos típicos e uma atividade
com contadores de história. Ainda, segundo a Folha, não só o quilombo em Parati que tem
atraindo turista, em Valença, 150 km do Rio de Janeiro, a Fazenda de São José já tem um
público de admiradores da cultura negra. Nessa fazenda são organizadas apresentação de
jongo, calangos e capoeira e é servida uma feijoada par os visitantes da localidade (GOIS,
2005).
Essa demonstração de potencial turístico étnico não acontece apenas nos
quilombos, são registrados, também, em comunidades indígenas, reconhecendo o turismo
étnico indígena. Como exemplo desse tipo de turismo temos o da Reserva de Jaqueira, em
Porto Seguro-Cabrália (BA) onde a aldeia dessa reserva, composta por índios pataxós,
começa receber visitantes para pratica de turismo. Os pataxós recepcionam os turistas com
manifestação de sua cultura. Os turistas têm a oportunidade de praticar jogos de arco e flecha,
adquirir artesanato produzido na própria aldeia, fazer trilhas. E ainda, experimentar a culinária
dos pataxós, como: peixe assado na folha de patioba (palmeira muito utilizada na confecção
de rede), de acordo com o site http://bahia.com.br/roteiros/reserva-jaqueira/.
Diante esses exemplos reafirma a importância do turismo étnico nas comunidades
tanto quilombolas como nas comunidades indígenas, e ainda existem outras. Crê na relevância
dessas iniciativas na sociedade nacional, pois oportuniza esse segmento turístico que vem
ressaltar a etnicidade brasileira que se apresenta nos moldes colorido dos vários povos
50

presente, assim como fornece possibilidade para essas comunidades sejam, em parte,
protagonistas do desenvolvimento.
Ciente dessas informações pontua-se que existem, também, oportunidades de
trabalhar o turismo étnico afro, por exemplo, nos grandes centros e isto já é uma realidade, em
Porto Alegre (RS), o Museu de Percurso do Negro (será abordado com ênfase no próximo
capítulo), acontece no centro da cidade onde conseguem enfatizar, durante um percurso, a
presença negra na formação da região e isso para, um registro histórico, cultural, social e
turístico brasileiro é de suma importância, pois certifica a participação negra nas várias
regiões do país e como foram e são relevantes para a compreensão da realidade nacional.
Logo, não têm como negar, esta nação é etnocultural e essas culturas, em especial
a negra, apresentam um leque de possibilidades (elementos culturais) reais de se trabalhar
tanto em comunidades quilombolas como nas cidades através de museus, por exemplo. Para o
turismo, isto, representa uma série de oportunidades, conhecimentos, sensações,
contemplações, vivências e acima de tudo de segmentação de mercado. Um desses segmentos
de mercado turístico (como já foi afirmado) é o turismo étnico negro, finalidade desta busca
por compreensão e conhecimento.
De forma que é relevante para o turismo no Brasil, que vem vivendo um
importante momento, essa compreensão de planejar ou organizar roteiros que trabalhem a
diversidade etnocultural do país, em especial o étnico negro.
Conforme Trigo (2010), no decorre da década (2000-2010), o turismo no Brasil
passou por várias transformações (econômicas, sociais e culturais), um dos reflexos dessas
transformações foi o reconhecimento de segmentos de mercado mais especializados e
delimitados, como o turismo afrobrasileiro, de acordo com o autor, três foram, dentre muitas,
as políticas oficias que incentivaram sistematicamente e deliberadamente o surgimento desse
segmento de turismo no Brasil, a saber:
Em 2006, o Ministério da Cultura e o Instituto do
patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) publicaram o livro “Os tambores da Ilha”.
O texto é uma das bases teóricas para oferecer subsídios ao turismo étnico afro no estado do
Maranhão, no nordeste brasileiro, um dos significativos polos culturais do país (TRIGO,
2010).
Outro exemplo é o manual organizado pela Secretaria de Turismo do Estado da
Bahia, intitulado Turismo étnico afro na Bahia, publicado em 2009, que foi acompanhado
pela organização do I Seminário Nacional de Turismo Étnico afro, em agosto de 2010, em
Salvador. Esse documento é uma importante referencia conceitual e histórica. Seu conteúdo
51

abrange os principais grupos étnicos afro da Bahia [...]. O texto ainda inclui cultura e religião
de matriz africana; festas religiosas e populares; os quilombos e a resistência negra na época
da escravidão; os circuitos e roteiros turísticos existentes e um calendário das atividades,
cerimônias e festas da Negra Bahia (TRIGO, 2010).
O terceiro exemplo é o circuito Rota da Liberdade que promove o resgate e a
valorização da história e da cultura negra no país por meio do desenvolvimento do turismo no
Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira, na divisa entre os estados de São Paulo
e Rio de Janeiro. [...] É uma rota marcada pelas antigas fazendas cafeeiras do vale do Paraíba
e remanescentes de quilombolas (TRIGO, 2010).
De forma que, esses acontecimentos, e ainda existem outros, respaldaram ainda
mais a existência do turismo étnico afro brasileiro como uma realidade a ser trabalhada, nos
moldes de outras regiões mundiais, como na cidade de Lisboa em Portugal onde o bairro do
Alto da Cova da Moura no Concelho da Amadora, na Freguesia da Branca; constituído na
maioria por Caboverdenses, através do “Projeto Sabura” tem destacados produtos étnicos, que
vão desde a gastronomia, a exemplo de elementos como: cachupa, moamba, caldo de peixe,
doce de coco, dentre outros; a venda de produtos de origem africana, como o feijão de pedra,
o feijão de congo, o grogue ou o ponche; até á arte dos cabeleireiros; a música, como: grupo
de batuque, discoteca, lojas de discos; além da oferta de aula de danças africanas, como:
funaná, kizomba, koladeira. (COSTA, 2004).
É válido este interesse étnico pelo turismo, principalmente, direcionado à
cultura negra no mundo. No Brasil, também, considera-se importante essas iniciativas, no
sentido de posicionar a cultura afro como uma oportunidade turística, no entanto, Trigo
(2010), vê problema, segundo ele “o problema fundamental que antecede qualquer
planejamento ou organização de roteiros étnicos afro no Brasil refere-se á correta
compreensão da complexidade das culturas negras existentes no país, em virtude de suas
diversas origens africanas. È pertinente a colocação do autor, porém esse aconselhamento
serve também para as outras culturas, aqui existentes, haja vista, que todas são hibridas, a
exemplo da lusitana. Em relação ao fato da cultura afro ser fundamentada nas diversas
contribuições dos povos africanos apresenta como uma oportunidade de conhecimento e de
exploração turística. Esta compreensão já é exposta no Museu Afro-brasileiro da
Universidade Federal da Bahia (MAFRO) que trata exclusivamente das culturas africanas e
sua presença na formação do país, promovendo um dialogo esclarecedor acerca dos vários
povos africanos que vieram escravizados para esta nação, através de uma rica coleção onde
encontra-se elementos culturais de diversos país africanos .
52

Assim, diante o que foi exposto o turismo étnico constitui como um segmento
emergente e necessário, principalmente, para a realidade cultura brasileira que se apresenta
pluri e assim sendo representa uma relevante oportunidade não só no planejamento ou
organização de roteiros em locais afastados ou intocáveis, mas em locais dos centros urbanos,
como os museus que representam dentro dessas cidades um ensejo de turismo étnico em que a
atração é o outro e sua cultura (COSTA, 2004), e em se tratando da cultura afro-brasileira
representa tudo e isso e a possibilidade promover um dialogo compreensivo e inclusivo da
real participação dos negros neste país continental.

3.1 Museus etnográficos negros: a singularização da cultura afro-brasileira

Este recorte se justifica com base na importância da produção cultural do grupo


étnico negro na sociedade brasileira, que assim como as outras produções culturais é relevante
para a promoção da memória nacional. Bosi (1993) destaca que a memória é um trabalho
sobre o tempo, porém não um tempo qualquer, mas o tempo vivido, conotado pela cultura e
pelo individuo. Como os museus são espaços onde essa memória se materializa na exposição
de objetos, pinturas, utensílios, esculturas, indumentárias, gravuras, dentre outros, na intenção
de promover uma comunicação através desses mecanismos, procura-se neste estudo
identificar a presença negra enquanto produtora de elementos que remetem à memória
nacional. Dessa forma, debruça-se sobre os fazeres e saberes (a cultura afro-brasileira) desse
povo que, porventura, estão singularizados em alguns espaços museológicos, quais são
intitulados como museus afros, etnográficos negros, étnicos negros etc.
Pontua-se, que não é intenção do estudo identificar todos os museus, no âmbito
nacional, que trabalham com a cultura afro-brasileira que são, segundo a agência da EBC
(Empresa Brasileira de Comunicação), no total de 16 instituições. Pretende-se singularizar
uma pequena amostra no sentido de sublinhar que esses espaços são casas de memórias que
tratam da questão negra de forma positiva e visível.
O desafio consiste, nesta pesquisa, em absorver o maior número de informações
acerca das suas existências como espaços valorizam a produção cultural negra e assim
respaldar a intenção do estudo que trata-se de analisar a relevância da cultura afro-brasileira
no cenário turístico ludovicense.
Ressalta-se de antemão, que apesar da importante da existência, hoje, desses
espaços museológicos no âmbito nacional, os museus, no geral, não foram ou não são criados
como instituições que priorizam os elementos de cultura afro-brasileira como integrantes da
53

memória nacional, na mesma proporção que faz com os elementos da cultura do povo branco,
isto, permite compreender, mais uma vez, que a sociedade brasileira tem e faz uso de espaços
institucionais para, constantemente, invisibilizar o negro como componente atuante deste país.
Cunha (2003, p. 274) amplia esse pensamento dizendo que
A constituição da convencional sociedade brasileira é marcada, em toda a sua
historicidade, por desejo de apagar, ou ao menos atenuar, elementos culturais
alienígenas ao quadro de referências culturais ocidentais europeias, dispostas como
definidora de nosso padrão cultural, marcadamente voltado para práticas e
representações de branqueamento. Esse processo envolveu seleções, manipulações e
negações, no qual memória e esquecimento dialogaram em jogos, onde diversos
mecanismos oficiais foram acionados e utilizados, entre instituições como escola, os
arquivos e os museus, nos quais a monumentalização da cultura esteve baseada na
exaltação de modos de ser, viver e lutar de culturas europeias, em detrimento de
culturas indígenas e africanas, tão fundamentais na formação de nossos sentidos,
saberes, experiências, sensibilidades e desejos, bases da construção da nossa
personalidade enquanto nação marcadamente mestiça, porém negada em nome de
uma superioridade e excelência da cultura europeia.

Em relação à presença negra no museu Ferretti (2007) comenta que, os negros


quando apareciam nos museus, eram apresentados em documentos como cartas de alforria,
alguns poucos objetos, relacionados com castigos de escravos ou instrumentos de trabalho.
Para Cunha isto é lamentável, pois, está [...] “deixando-se de lado várias outras possibilidades
de leituras e enfoques, como as organizações civis, as produções de artes plásticas, os fazeres
musicais, as comunicações e transmissões, as práticas de resistência e reinvenções,
preservação e reatualização” (CUNHA, 2003, p. 277).
Diante da fala do autor supracitado, pontua-se a importância de alguns museus
que singularizam a produção cultural negra brasileira como forma de visibilizar um dos povos
formadores do Brasil, que assim como os povos de descendência europeia e indígena tem
contribuído para promoção da sociedade nacional.
Assim crendo, segundo Machado e Zubaran (2014), os novos movimentos sociais
no cenário político brasileiro no final da década de 1970 e suas políticas de identidade,
levaram diferentes grupos sociais, étnicos e culturais a reivindicarem o direito as suas
memórias e a buscarem e a institucionalizá-las no espaço público. De acordo com as autoras é
sob essa ótica que surgem, no Brasil, os chamados museus étnicos, tais como:
O Museu Kuahí dos Povos Indígenas do Oiapoque, em Macapá (AM), Museu
Indígena, em Coroa Vermelha (BA), Museu Magüta dos Índios Ticuna, em
Benjamin Constant (AM), Museu Afro-brasileiro - MAFRO, em Salvador (BA),
Museu Afro-Brasil, em São Paulo (SP), Museu Afro Brasileiro (SE), Museu do
Negro (RJ), Museu 13 de Maio, em Santa Maria (RS) e o Museu do Percurso do
Negro, em Porto Alegre (RS) (MACHADO; ZUBARAN 2014, p. 4).
54

Para Machado e Zubaran (2014), esses museus sinalizam um relevante


deslocamento na forma dos museus brasileiros constituírem a história e a cultura dos povos
indígenas e afros descendentes, uma vez que indígenas e negros deixam de ser representados
pelo Outro e passam a serem os produtores de suas próprias representações.
Como nossa intenção é pontuar no cenário nacional a relevância da cultura afro
brasileiro no espaço museológico, diante desse posicionamento, abordaremos de forma
sucinta alguns desses museus étnicos, no que se refere aos negros, na intenção de realçar a
importância desses espaços como instrumento na promoção da equidade na nacional.
Para auxiliar nessa breve trajetória consideraremos os apontamentos de alguns
autores como da mestranda em Educação e da PhD em História, respectivamente, Lisandra
Maria Rodrigues Machado e Maria Angélica Zubaran; o museólogo Raul Lody que vários
trabalhos onde pontua a singularidade da cultura afro-brasileira; Giane Vargas Escobar,
Mestre em Patrimônio Cultural. Assim sendo, apresentaremos algumas dessas matrizes
museológicas étnicas negras brasileiras, respaldado nesses renomados autores.
A região Sul do país é uma das áreas que mais se vanglória de possuí maior número de povo
branco oriundo da Europa no Brasil, de forma que pensar na existência de negros nesse
território seria para a sociedade brasileira uma blasfêmia, mas é justamente desta localidade
que temos dois importantes e atuantes museus étnicos negros que se posicionam como
espaços centrais de visibilização da comunidade negra não só para essa região, mas para o
país, isto permite compreender que o Brasil por mais que negue seu contingente negro, ele
existe e é atuante. Dessa forma abordaremos como primeiros exemplares de museus étnicos
negros no Brasil os museus: Museu 13 de maio, em Santa Maria (RS) e o Museu de Percurso
do Negro, em Porto Alegre (RS); Museu do Negro, no Rio de Janeiro (RJ); Museu Afro
Brasil, em São Paulo (SP).

3.1.1 Museu Treze de Maio

Localizado em Santa Maria, Rio Grande do Sul, o Museu Treze de Maio faz parte
das constantes lutas promovidas pelo povo negro no contexto nacional para se afirmar
enquanto povo promovedor da cultura nacional e da sociedade brasileira, por isso, o este está
inserido na categoria dos museus étnicos negros brasileiros, haja vista, que tem sob se uma
importante missão, que é a de preservar a memória e o patrimônio do grupo étnico negro no
Rio Grande do Sul, que segundo Escobar (2010, p. 48) é uma “região onde paira no
imaginário nacional como sendo é um Estado totalmente branco onde não existem negros”.
55

Esclarece-se que este museu, também, se autodenomina como sendo um museu


comunitário, segundo o blog do museu, museu comunitário é um processo em constante
construção, onde a comunidade atua nessa dinâmica apropriando-se do seu patrimônio. Ainda,
segundo o blog respaldado em Varine, os outros museus ditos normais, qualquer que seja sua
definição, são feitos com as coisas, o museu comunitário é feito com as pessoas. A luz dessa
consideração é que o Museu Treze de Maio se posiciona, como um espaço onde as “coisas”
são importantes, mas mais ainda são as pessoas que o constroem dia-a-dia, que não esperam
ansiosamente pelo “dia da inauguração”, mas que atuam dinamicamente para a sua
transformação e “inaugurações diárias”, a cada projeto bem sucedido, a cada minuto
partilhado com antigos e novos personagens (MUSEU TREZE DE MAIO, [201-?]).
Para falar do museu é necessário primeiramente, ainda que breve, pontuar
algumas considerações acerca do Clube Social Negro. Segundo o site, o “Treze”, como é
popularmente conhecido o antigo Clube Social Negro, foi criado em 1903 por ferroviários
negros e para negros, em razão da descriminação racial existente na cidade e da proibição aos
negros de frequentar as sociedades de brancos. Consoante o site, o Clube surge, também, com
a nobre intenção de celebrar a abolição da escravatura que ocorreria quinze anos antes da sua
fundação. Este espaço chegou à proeza de integrar oitocentos associados, por essa razão, no
de 1960, em regime de mutirão construíram um espaço mais amplo para atender a demanda
que constantemente se ampliava. Porém, com as mudanças nas relações interétnicas os
brancos passaram a frequentar a Sociedade Cultural Ferroviária 13 de Maio (Clube Social
Negro), assim como os negros também passaram a poder entrar nos clubes que antes era só
para brancos, fator esse que contribuiu para que os sócios fossem abandonando o Clube. No
ano de 1980, o clube estava inserido em processo de desestruturação e abandono (CLUBE
SOCIAIS NEGROS DO BRASIL, [201-?]).
Diante desse quadro, ainda de acordo o site, no ano de 2001, a comunidade negra
juntamente com os alunos da Museologia/UNIFRA e antigos sócios decidiram transformá-lo
em um museu, pontuando assim, como um local estratégico para “salvaguardar” o patrimônio
da Sociedade Cultural Ferroviária 13 de Maio e de autoafirmação da comunidade negra do
Estado de Porto Alegre.
Segundo o Museu Treze de Maio ([201-?]):
O Museu Treze de Maio é o local onde acontecem oficinas de dança afro, capoeira,
percussão, samba, encontro da juventude negra e do grupo vocal de mulheres
negras, trabalhando com a autoestima e autoimagem positivas de homens, mulheres
e crianças negras. Este é um dos lugares aonde o Movimento Negro se encontra bem
como os alunos UFSM, Unifra e Fames realizam seus estágios acadêmicos,
56

cuidando e preservando com a comunidade o acervo do Museu Comunitário Treze


de Maio.

Diante esse levantamento, reafirma-se o enquadramento do Treze como um museu


étnico negro brasileiro de grande relevância para a projeção da cultura negra no Brasil. Esse
espaço museológico tem justificado esse posicionamento promovendo algumas ações que
repercutem no âmbito nacional como iniciativa que desconstrói a imagem negativa apregoada
na instância nacional acerca do negro. Algumas ações do Museu Treze de Maio (Figura 1).
Figura 1 – Exposição fotográfica itinerante olhares negros

Fonte: Museu Treze de Maio ([201-?]).


A figura 1, dispõe da exposição fotográfica itinerante Olhares Negros do Museu
Treze de Maio, Aprovada via Fundo de Apoio a Cultura (FAC) é uma atividade artística
relacionada à Semana Municipal da Consciência Negra. Essa exposição se fundamenta no
apoio ao registro e à memória retrata mulheres e homens negros, evidenciando o
protagonismo dos indivíduos fotografados, suas trajetórias de vida, o trabalho e
principalmente as múltiplas formas de resistência negra na cidade de Santa Maria, por meio
de fotografias acompanhadas de minibiografias e audiodescrições (Figura 2).
Figura 2 – Exposição itinerante relatos no feminino

Fonte: Museu Treze de Maio ([201-?]).


Relatos no Feminino: Rainha e Princesas do Clube Treze de Maio é outra ação do
Museu Treze de Maio, que visa à valorização e promoção das santamarienses que
frequentaram o Clube Treze de Maio, fundado em 1903 por funcionários da extinta Viação
Férrea de Santa Maria, a fim de proporcionar a um maior número de pessoas conhecerem e
tornar conhecidas parte da história local, sob o ponto de vista dessas mulheres, bem como o
57

papel que “o Treze” desempenhou na construção das suas identidades, afirmado pelo site do
museu.

3.1.2 Museu de Percurso do Negro

Segundo as autoras Zubaran e Machado (2013), o Museu de Percurso do Negro


surgiu a partir de um projeto desenvolvido por entidades do movimento negro do Rio Grande
do Sul, reunida pelo Centro de Referência Afro-Brasileiro-CRAB4, sob a coordenação gestora
do Grupo de Trabalho Angola Janga (organização não governamental, criada em 1988, que
atua na área da educação, desenvolvendo curso de formação e capacitação destinados
principalmente a militantes do movimento negro, objetivando a promoção da igualdade
racial.). De acordo com as autoras, a execução do projeto foi possível devido o apoio
financeiro da Organização Mundial das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO) e da participação do Museu no Programa Monumenta5, do Ministério da Cultura
(MinC). Esclarece-se, que o MPN foge das características estruturais comuns de museus,
segundo Zubaran e Machado (2013) respaldadas em Vilasboas, o MPN possui uma estrutura
de museu não convencional, elaborada de forma coletiva pela comunidade negra porto
alegrense, criando assim, novas leituras dos espaços urbanos da cidade, valorizando práticas
culturais diferentes e com isso afirmando de forma positiva a identidade negra local.
Assim, significados históricos, artísticos e etnográficos orientam e fundamentam
essas leituras sobre lugares de valores e de expressão museológica além de prédios e dos
sistemas convencionais de se fazer e oferecer ao público um museu, Lody (2005), completa
essa explicação acerca de museus não convencionais.
Assim sendo, as obras do MPN, não estão alojadas em quadro paredes, mas
expostas em espaços públicos no centro de Porto Alegre, marcando visualmente os territórios
negros urbanos (BITTENCOUT JR apud ZUBARAN; MACHADO, 2013, p. 106).
Consoantes às autoras outrora citadas, as obras do MPN estão limitadas a uma área de cerca
de vinte e quatro hectares que compreende dois eixos imaginários: um deles abrange a Praça
da Matriz, na Rua General Câmara, a Praça da Alfândega e o pórtico do Cais do Porto, e outro
se estende desde a Rua dos Andradas, passando pelo Largo dos Medeiros até a Igreja Nossa

4
Segundo Zubaran e Machado (2013) com base no blog do MPN, Centro de Referência Afro-Brasileiro-CRAB é
uma instituição fundada no ano de 2009 para ser referencial da cultura afrobrasileira atuando na direção de
resgatá-la e valorizá-la.
5
Segundo Zubaran e Machado (2013) baseadas no site do Programa Monumenta. Monumenta é um programa do
Ministério da Cultura que visa á recuperação do patrimônio cultural urbano brasileiro. Atua em cidades
protegidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
58

Senhora das Dores, segunda elas, áreas conhecidas hoje como centro histórico de Porto
Alegre. As autoras relatam uma importante decisão do Museu de Percurso do Negro, de
selecionar artistas negros para serem responsáveis pela elaboração de proposições estéticas
dos marcos físicos. Elas complementam, ainda, que as etapas de implementação do projeto
MPN envolveram pesquisa antropológica sobre os territórios negros urbanos de Porto Alegre,
confeccionadas pelo antropólogo Iosvaldyr Carvalho Bittencout Junior, e a definição do
circuito exporgráfico.
De acordo com Zubaran e Machado (2013), o projeto do Museu de Percurso do
Negro teve início em 2009, prevendo a criação de quatro marcos da presença negra na capital
gaúcha. Ainda de acordo com as autoras, até o ano da elaboração do seu artigo, três obras já
foram entregues à cidade: o Tambor, a Pegada Africana e o Bará do Mercado.
As obras públicas do Museu de Percurso do Negro de Porto Alegre, segundo o
blog do museu e Zubaran e Machado (2013):
Primeiro marco, o Tambor (Figura 3), inaugurado no ano de 2010, na Praça
Brigadeiro Sampaio, antigo Largo da Forca (assim designado por ser o lugar onde eram
enforcados criminosos entre os anos 1830 e 1860), segundo Zubaran e Machado (2013). As
autoras destacam que a escolha desse marco está relacionada também à presença de um antigo
chafariz nessa praça, onde os escravos se reuniam em busca de água para abastecer as casas
dos seus senhores. O Tambor foi produzido por um coletivo de artistas, entre eles: Adriana
Xaplin, Gutê, Leandro Machado, Elaine Rodrigues, Marco Antônio dos Santos, Mattos e
Pelópidas Thebano.
Figura 3 – Tambor

Fonte: Museu de Percurso do Negro (2010).


No blog do Museu, Pedro Rubens Vargas comenta que o tambor, por certo único
instrumento que tocado por um ou por muitos comunica a alma de todo, é amarelo porque
Oxum o quis assim. Apresenta 12 figuras que repercutem a trajetória de um povo: dor,
alegria, luta e perseverança.
59

A Pegada Africana (Figura 4) é a segunda obra pública do MPN, foi inaugurada


no dia 14 de novembro de 2011, na Praça da Alfândega, antigo Largo das Quintandeiras.
Completando informações acerca desse marco, Zubaran e Machado (2013, p. 109)
argumentam que a Pegada Africana é:
O mapa do continente africano, estilizado de forma a assemelhar-se a um pé
humano, imprime uma pegada no chão da Praça da Alfândega, em frente ao Clube
do Comércio. O desenho da Pegada Africana foi desenvolvido pelo arquiteto
Vinícius Vieira e foi elaborado utilizando pedras pretas e aço inoxidável para os
contornos e tem cerca de 3 metros de altura e 2 metros de largura.

Figura 4 – Pegada africana

Fonte: Museu de Percurso do Negro (2010).


O Bará do Mercado (Figura 5) é a terceira obra do Museu de Percurso do Negro
de Porto Alegre, foi inaugurado no ano passado (fevereiro de 2013). Zubaran e Machado
(2013) registram que esse marco ao ser elaborado no centro do Mercado Público de Porto
Alegre marca a presença dos vários trabalhadores negros que ali estiveram na construção
desse espaço de comércio da localidade.
Figura 5 - Bará do Mercado

Fonte: Museu de Percurso do Negro (2010).


Para as autoras a obra também está relacionada com ás práticas religiosas de
matriz africana, que até hoje são realizadas nesse local em homenagem ao Bará do Mercado.
60

As pesquisadoras esclarecem que o Bará do Mercado é um orixá (espécie de Exu) pertencente


ao Panteão africano tem como função abrir os caminhos, é um guardião das casas e das
cidades representando a fartura e o trabalho. A obra Bará do Mercado, que compõe o percurso
exporgráfico do MPN foi construída em forma de círculo e é uma produção coletiva,
idealizada por Mãe Norinha de Oxalá, concebida pelos artistas Leandro Machado e Pelópidas
Thebano e executada por Leonardo Posenato, Vilmar Santos e Vinícius Vieira, (ZUBARAN;
MACHADO, 2013).
O Museu de Percurso do Negro em Portal Alegre tem se posicionado como uma
iniciativa de grande relevância para o turismo da região, fato esse, solidificado pela inclusão
do MPN no roteiro turístico do Programa Viva o Centro á Pé, realizado pela Secretaria do
Planejamento Municipal (SPM), da Cultura (SMC), Turismo (SMTUR) e o Gabinete da
Primeira Dama.
Segundo o Portal Porto Alegre. Travel (2011), o passeio é de, aproximadamente 2
horas. Turistas e porto-alegrenses poderão conhecer mais sobre a iniciativa que evoca a
presença, a memória, o protagonismo social e cultural dos africanos e descendentes no Centro
Histórico da capital gaúcha.

3.1.3 Museu do Negro

O Museu do Negro (Figura 6), no Rio de Janeiro, encontra-se localizado na Igreja


Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Este museu se diferencia dos
outros 16 museus que tratam da questão especificamente étnica negra, por ser um misto de
museu e de espaço sagrado, aos cuidados da Irmandade Nossa Senhora do Rosário e São
Benedito dos Homens Pretos, é um espaço dedicado á representação histórica do negro no
país, assim como sua religiosidade e devoções.
Figura 6 – Museu do Rio de Janeiro

Fonte: Leoni ([2014]).


61

Ressalta-se, que no século XVII, a união das confrarias de Nossa Senhora do


Rosário e de São Benedito, fundadas em 1640 por negros alforriados, ladinos e escravos, teria
dado origem á Irmandade Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Este
fato é de suma importância diante a representatividade que as confrarias têm para resistência
do povo negro diante o período escravocrata. Segundo Paiva (2007), elas eram associações
religiosas de negros, nas quais eles se reuniam em torno de um santo de cor, e na dedicação
dos fiéis a esse santo, que era permeada não só pela devoção, mas também por sentimentos de
afinidade étnica. Paiva (2007, p. 208) pontua:
A principal finalidade das confrarias negras era libertar os escravos. Elas também
garantiam sepultura e enterro adequados aos negros e assistência médico-hospitalar.
Muitos negros libertos doavam grandes somas para essas associações religiosas,
rendendo graças por sua libertação, e assim as confrarias acumulavam meios para
alforriar os escravos. Além disso, uma prática comum das confrarias era a
construção das mais belas igrejas em homenagem a seus santos padroeiros.

A luz dessas considerações, compreende-se que a localização do Museu do Negro


na igreja, acima mencionada, não remete apenas a um espaço que retratada a escravidão, com
seus suplícios, torturas e maus tratados, mas o local de resistência e de posicionamento do
negro também “responsável pela modificação da sua condição enquanto escravo submetido a
um período de exploração e do homem branco.” (PAIVA, 2007).
De forma que quem deseja obter uma visão histórica da relação entre senhores e
escravos e a religiosidade do negro no Brasil, consoante Paiva (2007) é exposto no Museu do
Negro um acervo composto por artefatos de origem escrava que invoca essa importante
memória.
Assim, o seu acervo é composto por esculturas, fotografias, indumentária e
documentos, dentre outros, com destaque para as santidades católicas, paramentos litúrgicos e
dos membros da irmandade; os objetos lidados á escravidão (instrumentos de suplício e do
cotidiano); peças de culto ligado ao Candomblé, imagens e indumentária representativa da
Africanidades, da “Mãe África” e da “mulher Negra”, objetos ligados ao Movimento
Abolicionista e á Monarquia como dois estandartes abolicionistas salvos do incêndio,
utilizados na procissão de despejo dos ossos da Princesa Isabel e do Conde D’Eu, na década
de 1970.

3.1.4 Museu Afro-brasileiro

O Museu Afro-brasileiro da Universidade Federal da Bahia (Figura 7) configura


como mais um museu que reflete a luta constante do povo afrodescendente em se afirmar
como um importante componente da identidade nacional. Este museu se diferencia dos outros,
62

no âmbito nacional, no sentido de assumir para se a importante função de tratar


exclusivamente das culturas oriundas do continente africano acentuando sua influência na
formação da cultura nacional.
Figura 7 – Museu MAFRO

Fonte: MAFRO (2011).


Como os povos do continente negro são, em parte, fontes importantes de
elementos materiais culturais para a sociedade brasileira, o museu compreende essa relevância
e apresenta conteúdos que facilitam a compreensão dos aspectos históricos, artísticos e
etnográficos que singularizam as sociedades africanas e assim pontua uma reflexão sobre sua
relevância para o desenvolvimento do Brasil.
O Museu Afro-brasileiro da Universidade Federal da Bahia foi criado em 1974, a
partir de um Programa de Cooperação Cultural entre o Brasil e países africanos com intuito de
desenvolver estudos relacionados à temática afro-brasileira. O museu é obra de um convênio
entre os Ministérios das Relações Exteriores e da Educação, o Governo do Estado da Bahia, a
Prefeitura de Salvador e a Universidade Federal da Bahia, da qual faz parte o Centro de
Estudos Afro Orientais (CEAO) – órgão responsável pela manutenção do Museu.
De acordo com site do Museu, desde a inauguração em 1982, o museu vem
contribuindo para incentivar o entendimento da diversidade cultural, constituindo-se num
espaço de referência para ações de afirmação identitárias. Ressalta-se, que o museu
desenvolve um projeto destinado ao atendimento do público escolar, com intenção de
incentivar a aplicação da Lei nº 10.639/03, que determina a inclusão da história e cultura
africana e afro-brasileira no currículo escolar brasileiro. Compactua, dessa forma, com a
importante missão de outros autores e órgãos em perpetuar essas temáticas nas escolas
brasileiras.
O MAFRO, como é mais conhecido, se posiciona como um museu universitário,
assim sendo, se fundamenta no tripé: pesquisa, ensino e extensão onde procura difundir e
socializar as informações oriundas do seu acervo, por meio de cursos, exposições temporárias
63

e publicações, dessa forma oferecer subsídio aos pesquisadores e inúmeros estudantes que
visitam o museu.
A coleção do Museu afro-brasileiro da Universidade Federal da Bahia é composta
por 1192 peças, dividida em dois eixos temáticos: a saber:
a) Coleção Cultura Material Africana – primeiro eixo temático, a cultura material
de origem africana está representada por objetos inspirados nas manifestações
da África tradicional, são: esculturas, máscaras, tecidos, cerâmicas, adornos,
trajes, instrumentos musicais, jogos e tapeçarias. Esse material museológico foi
adquirido na década de 70 pelo Ministério das Relações Exteriores ou doados
ao museu através das diversas embaixadas dos países africanos. A maior parte
da coleção é oriunda da África Ocidental, basicamente do Golfo do Benin,
ligada aos grupos étnicos yourubá e fon. Ainda existem alguns artefatos
originários da África Central (da área do Congo), Angola, da África Oriental,
de Uganda e Moçambique;
b) Coleção Material Afro-brasileira – segundo eixo temático do MAFRO. Este
eixo está composto por coleções cujas peças são inspiradas na cultura afro-
brasileira. Divide-se em: Capoeira, Bloco Afro e Folguedos, Artes Plásticas e
Cultura Material Religiosa Afro-brasileira.
A Coleção Capoeira é formada por peças ligadas á história dos Mestres Pastinha,
Bimba, Cobrinha Verde, Popó, importantes ícones que marcaram a trajetória da manifestação
cultural, capoeira, na sociedade brasileira. A maioria das peças é composta por instrumentos
musicais, fotografia dos mestres e alunos, medalhas, troféus, além de objetos de treinamentos.
Já a coleção Blocos Afros e Folguedos compõe-se por artefatos ligados ao
carnaval afro-baiano. São abadás, fantasias, estandartes e mortalhas que pertenceram a blocos
e afoxés.
Outra coleção é a das Artes Plásticas que apresenta uma reunião de obras de
diferentes temas produzidas por vários artistas, como: Carybé, Hélio de Oliveira, Manoel
Bomfim, Francisco Santos, Terciliano Jr, Emanuel Araújo, entre outros.
Por sua vez, a coleção Material Religiosa Afro-brasileira é composta por artefatos
relacionados basicamente ao candomblé baiano, com predominância de objetos das tradições
orubá e fon, fundamentada nos elementos das nações nagô, ketu e jeje. Subdivide em quatro
classes: Insígnia; Instrumento Sonoro; Utensílio e Vestuário.
Em relação à exposição o objetivo do MAFRO é fazer um trabalho de
preservação, valorização e divulgação das culturas africanas e afro-brasileira. Assim sendo, a
64

exposição torna-se um caminho viável para realização dessa missão, de forma que o museu
tem apresentado exposição de longa duração e temporária. A primeira exposição, como já foi
relatada, está baseada em duas grandes temáticas: África e Religiosidade Afro-brasileira.
No caso da segunda, no ano de 2013 o MAFRO realizou duas exposições
temporárias, “Exú: outras fases” e Kiebé-Kiebé: Dança iniciática do Congo. A primeira
exposição aborda Exu, a importante divindade das tradições afro-brasileiras, fora do espaço
religioso a partir de novas percepções que vão além do sagrado. Kiebé- Kiebé: Dança
iniciática do Congo, outra exposição temporária, que trata de uma manifestação cultural
exclusiva dos povos bantus do Congo Brazzaville e que pela primeira vez fora representada
longe do continente africano, cumprindo assim uma das responsabilidades do Museu em ser
um espaço de aproximação do Brasil com os países africanos, agora de forma positiva.

3.1.5 Museu Afro Brasil

O Museu Afro Brasil não pretende ser um museu do negro ou sobre o negro, museu
de gueto étnico ou cultural, nem tão pouco um museu folclore, reduzindo a
“curiosidade do passado” às raízes mais profundas das expressões da cultura afro-
brasileira. Ao contrário, o museu propõe a re-visitar nossa história, passar a limpo
nossa memória, para interrogar-nos sobre a formação da nossa sociedade e nossa
cultura, fazendo-o, porém, da perspectiva do negro, a partir do olhar e da experiência
do próprio negro. Não reconhecer ao negro o direito a esse lugar, negar a
importância de sua contribuição, que perpassa todas as manifestações culturais do
Brasil, seria passa um mata-borrão sobre uma saga de mais de cinco séculos e dez
milhões de africanos triturados na construção deste país. (CUNHA, 2006).

O discurso acima foi retirado da tese de doutorado em História Social da


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo de Marcelo Nascimento Bernardo da Cunha
em 2006, de autoria do colecionador, afrodescendente, artista plástico, baiano, curador e
idealizador do Museu Afro Brasil de São Paulo, Emanuel Araújo. Cabe a ele o mérito, em boa
parte, do Museu Afro Brasil de São Paulo ser considerado, por vários autores, o mais bem
sucedido exemplo de museu afro brasileiro nacional.
Em razão, desse mérito, o Museu Afro Brasil, será aqui responsável pelo fim das
discussões acerca dos espaços museológicos que tratam de forma positiva a cultura afro-
brasileira, além de intencionalmente ser apresentado com um modelo a ser abraçado, no que
diz respeito à forma como os saberes e os fazeres, a cultura, do negro brasileiro devem ser
apresentados para o Brasil e o mundo, no que tange os museus e as instituições que tratam do
assunto.
Ressalta-se, que as considerações acerca deste espaço foram proporcionadas pelo
site do museu e por autores como Cunha (2006), que ingressou em uma importante jornada
65

com intenção de auxiliar reflexões, através da sua tese de “Teatro das Memórias, palco de
Esquecimentos: Culturas africanas e diásporas negras em exposições”, acerca de mensagens
que estão sendo veiculadas por meio de exposições, sobre tradições, costumes, crenças e
valores, modo de ser de africanos e seus descendentes das diásporas, Cunha (2006, p. 20); e
Marina Soleo Funari que apresenta o Museu Afro Brasil como a voz do negro nos tempos
atuais que, em um só espaço, consegue se comunicar através da sua história, arte e cultura-
após séculos de escravidão, discriminação e desigualdade, Funari (2011, p. 4).
A história do Museu Afro Brasil, localizado em São Paulo, inaugurado em 2004,
dá-se a partir da coleção particular do diretor Curador Emanuel Araújo, que já tentará
frustradamente viabilizar a criação de uma instituição voltada ao estudo das contribuições
africanas à cultura nacional quando, em 2004, apresentou uma proposta museológica a então
prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Encampada a ideia pelo poder publico municipal, deu-
se o projeto de implementação do museu. Foram utilizados recursos advindos da Petrobrás e
do Ministério da Cultura através da Lei Rounet. Assim, desde 2009 o MAB é uma instituição
pública, vinculada à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo (MUSEU AFRO BRASIL,
[2014]).
Localizado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, dentro do Parque Ibirapuera
(local de grande prestígio e ponto turístico de São Paulo). Conserva, em 11 mil m², um acervo
com mais de 6 mil obras, que estão distribuídas entre pinturas, esculturas, gravuras,
fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos
entre o século XVIII e os dias atuais. Contemplam, através dessa distribuição, diferentes
aspectos dos universos culturais africanos e afro brasileiros, abordando temas como religião, o
trabalho, a arte, a escravidão, entre outros temas registra a trajetória histórica e as influências
africanas na construção da sociedade brasileira.
De acordo com Cunha (2006, p. 235), este museu insere-se em projeto integrado
que busca ir além da sua exposição de longa duração, com uma dinâmica programação de
exposições temporárias, programas de atendimento a públicos diversificados; Biblioteca
(Carolina Maria de Jesus) e um Auditório teatro (Ruth de Souza), no qual tem sido realizada
uma programação que coloca em cena representantes de artes performáticas tradicionais e
contemporâneas afro-brasileira, como as exposições “O Imaginário do Povo Brasileiro” e
Branco e Preto, Brasil Preto e Branco, ambas realizadas no ano de 2005.
De acordo com Funari (2011), o Museu Afro Brasil compõe-se de exposições de
longa duração, temporária ou itinerante, segundo a autora, essas exposições trazem consigo as
particularidades de seu curador que busca quebrar padrões ocidentais através do seu olhar
66

negro para a arte negra. Entre essas particularidades estão às misturas de elementos, como:
música, dança, texto, fala, cor e luz, que segundo ela, proporciona ao expectador experiências
sensoriais.
Ainda de acordo com a autora, a acervo da exposição de longa duração,
atualmente, está divido em 06 núcleos: África: diversidade e permanência; Trabalho e
escravidão; As Religiões afro-brasileiras; Sagrado e profano; História e memória e Artes
plásticas: a mão afro-brasileira.
Diante disso, partimos das contribuições encontradas no “Projeto de Implantação
do Museu Afro Brasil” (IPPFF; PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2006) ao tratar dos núcleos
da exposição de longa duração do Museu Afro Brasil, como forma de organização de um
trabalho voltado para a apresentação da cultura afro-brasileiro em um espaço museal. Ciente
disso, na figura 8, são apresentadas as exposições permanentes do Museu Afro Brasil
divididas em seis núcleos, a saber: Diversidade e permanência; As Religiosidades Afro-
Brasileiras; Sagrado e Profano; Trabalho e Escravidão; História e Memória; Artes Plásticas e
Mão Afro-brasileira (Figura 8).
Figura 8 – Exposições permanentes

Fonte: IPPFF e Prefeitura de São Paulo (2006).


Esses núcleos juntamente como suas exposições são a comunicação permanente
do Museu Afro Brasil com seu público, no entanto, esse diálogo toma nova dimensão com as
exposições temporárias que são mecanismos de dinamização do MAB, pois ao realizar esse
tipo de exposições o museu consegue ir além da ideia de um espaço morto, sem vida e sem
67

um diálogo com público. Portanto, as exposições temporárias trazem em si uma


obrigatoriedade de dialogo étnico negro renovado.
Assim, há dez anos o Museu Afro Brasil vem dialogando com a comunidade
brasileira e com o mundo através de suas exposições temporárias. Em relação a esse tipo de
exposição, até a conclusão desta pesquisa, o MAB, tinha em destaque as exposições
temporárias "José de Guimarães - O Ritual da Serpente” e “A Serpente no Imaginário
Artístico” e a exposição Arte Bakuba Ráfias e Veludos, mostrada na figura 9.
Figura 9 – Exposição temporária “Arte Bakuba” – Ráfias e Veludos

Fonte: IPPFF e Prefeitura de São Paulo (2006)


Segundo o Museu Afro Brasil ([2014]), a serpente sempre prendeu a atenção do
homem. Poucos animais possuem uma iconografia tão rica de arquétipos contrapostos: o bem
e o mal; conhecimento e desrazão; a vida e a morte. Ciente disso, o Museu Afro Brasil
envereda pelos caminhos sinuosos das representações artísticas do ofídio, em duas novas
exposições simultânea: "José de Guimarães - O Ritual da Serpente”: composta por 10 guaches
inspirados na obra de Aby Warburg e “A Serpente no Imaginário Artístico” capta toda a
extensa simbologia da serpente nas artes, encontrada nas máscaras gueledé e nas variegadas
garrafas e bandeiras do vodu haitiano, que integram a mostra. As exposições foram
inauguradas em 06 de setembro com previsão de encerramento para 07 de dezembro.
Ainda de acordo com o museu, o MAB abriu exposição sobre tecidos Bakuba,
povos da África Central admirados pela sofisticada produção de têxtil. São tecidos
decorativos que revelam a beleza, a simetria e a diversidade desses povos.
Além dessa preocupação que o MAB tem em dinamizar o espaço com as
exposições temporárias e de assegurar sua missão que consiste em promover o
reconhecimento, valorização e a preservação do patrimônio cultural brasileiro, africano e afro
brasileiro e sua presença na cultura nacional através da conservação do seu acervo, há,
também, segundo Cunha (2006), uma preocupação com a educação, por isso o museu
apresenta um Núcleo de Educação, que segundo o autor, tem realizado uma série de
atividades, entre elas os Roteiros Temáticos, como o que trata do tema: A Mulher no Museu
68

Afro Brasil. Em 2006 realizou o curso de Teatro Vocacional no Museu Afro Brasil. Anterior a
esse, no mês de março do mesmo ano, o museu promoveu em parceria com a Secretaria de
Educação do município de São Paulo o curso História e Cultura Afro Brasileira: Ensinar e
Aprender na Diversidade, com a responsabilidade de preparar professores para o ensino de
questões relativas á cultura e a história África e Brasil.
Por toda essa programação pontua-se o Museu Afro Brasil como modelo de
espaço museológico diferenciado, no que se refere às questões relacionadas à etnicidade
negra. Nas palavras de Cunha (2006, p. 246), conclui-se: “este é um local de novas
referências, abordagens, no qual são nomeados os protagonistas negros da nossa história, que
normalmente são mencionados como coadjuvantes. O seu discurso procura valorizar a
participação de negro em todos os segmentos sociais, fugindo do lugar comum e recorrente
das suas representações apenas enquanto artistas, jogadores, ou personagens folclorizados,
apesar destes locais também serem enfocados na exposição”.
Diante essa oportunidade de conhecimento acerca desses espaços étnicos negros
que tem pontuado significadamente para uma procura turística por espaços museal que
trabalham os saberes e fazeres do povo negro de forma positiva.
Esclarece que muito poderia contribui para o estudo, caso fosse disponibilizado o
número de visitação desses espaços museal étnicos negros. Foi solicitado (por e-mail) aos
referidos museus a possibilidade de obter essas informações, no entanto até o final da
pesquisa nenhuma resposta foi enviada.
Mesmo ocorrendo esta pequena vírgula as informações encontradas através de
sites, blogs e artigos foram suficientes para compreender a existências desses espaços e como
eles estão posicionados no contexto museal étnico brasileiro. Dessa forma, conclui-se que
esses espaços são relevantes para a preservação, manutenção e a propagação da cultura negra
no cenário museal e turístico brasileiro. Consoantes esses museus étnicos negros apresenta-se
o Museu Cafua das Mercês.
69

4 MUSEU CAFUA DAS MERCÊS (MUSEU DO NEGRO): ANÁLISE DA


REPRESENTATIVIDADE DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO CENÁRIO
TURÍSTICO LUDOVICENSE

A cultura afro-brasileira, diante o emaranhado de culturas que formou ou forma o


Brasil tem sua relevância na promoção de conhecimento, reconhecimento acerca da real
composição a qual está composta a sociedade nacional. É uma cultura que se singuraliza
através dos seus valores referenciais que estão influenciados pela herança africana trazida
pelos escravos. A cultura não é um processo estagnado, mas sim ativo onde constantemente
há inclusão e exclusão de elementos. A cultura negra também apresenta elementos de outros
povos que constitui o Brasil, a saber: os índios e os europeus.
Dessa forma, tem-se uma cultura rica em elementos que transitam pela área da
culinária, da dança, da música, da arte plástica, da literatura, enfim uma cultura rica ou uma
rica cultura.
Todas as culturas são relevantes, diante um enriquecimento humano, proposto por
Krippendorf (1989), pois ainda que pareça utópico e o autor acreditava não ser, o turismo
pode promover esse ensejo, fazendo uso do segmento étnico, isto não está dimensionado para
uma prática turística de um país para outro (diante possibilidade é pertinente tal realização),
mas para uma realidade local, pois turismo pode e dever ser compreendido como um processo
capaz de promover enriquecimento, conhecimento e inter-relação na localidade onde se
insere.
Assim, o presente trabalho buscou analisar, em um espaço museal, a relevância da
cultura afro-brasileira no cenário turístico ludovicense na intenção de compreender como esse
processo humano cultural negro está inserido em um espaço que, primeiramente, não foi
criado para atender apelo turístico, mas diante a dinâmica do turismo local, tem se
comportado como um espaço “abraçado” por esse segmento. Dessa forma, busca-se essa
compreensão.
Diante desses esclarecimentos, este capítulo, fundamenta-se na intenção de
apresentar aspectos metodológicos utilizados ao longo do trabalho pesquisado, a
caracterização da realidade pesquisada (Museu Cafua das Mercês), a análise e a discussão dos
resultados.
70

4.1 Metodologia da pesquisa

De acordo com Dencker (1998), para obtenção e desenvolvimento de


conhecimento científico podemos usar vários métodos, tais como: observar a realidade,
experimentar novas formas de agir ou interpretar os fatos de diferentes formas. “A maneira
como fazemos isso é a metodologia” (DENCKER, 1998, p. 18, grifo nosso). Desse modo,
neste subcapítulo, apresenta-se a maneira como a pesquisa foi realizada, ou seja, os métodos,
desenvolvidos para obtenção deste conhecimento científico.
Dessa forma, o presente estudo fundamenta-se em uma pesquisa monográfica, de
caráter descritivo e exploratório. Segundo Dencker (1998, p. 124), a pesquisa exploratória
“caracteriza-se por possui um planejamento flexível envolvendo em geral levantamento
bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes”. A forma mais comum de apresentação
desse tipo de pesquisa é a pesquisa bibliográfica. Já a pesquisa de caráter descritivo, utiliza-se
de “técnicas padronizadas de coletas de dados como o questionário e a observação
sistemática”. O levantamento é a forma mais comum de apresentação, em geral realizado
mediante questionário e que oferece uma descrição da situação no momento da pesquisa
(DENCKER, 1998, p.124).
Ressalta-se que a pesquisa enveredou por caminhos antropológicos e sociológicos
pontuando assim uma das características da investigação em turismo que é a
multidisciplinaridade, ou seja, o turismo por, ainda hoje, “não se constitui em um corpo de
conhecimento independente, com dinâmica própria” (DENCKER, 1998, p. 27)
constantemente recorre a outras disciplinas para constituir, diante uma investigação, seu corpo
teórico.
Assim a pesquisa debruçou sobre assuntos, tais como: identidade, etnicidade,
cultura, dentre outros comungando, assim, da tendência atual no campo do conhecimento
científico que “é de uma abordagem interdisciplinar e multidisciplinar, buscando uma
evolução para a prática transdisciplinar (a integradas relações interdisciplinares de maneira
global, de modo que a tendência é o desaparecimento das fronteiras entre as disciplinar)”
(DENCKER, 1998, p. 30).
O levantamento bibliográfico foi o primeiro momento da pesquisa que
fundamentou-se na busca de conhecimentos em artigos, reportagens, poesias, livros
relacionados aos assuntos, monografias, dissertações, sites especializados nas temáticas,
documentários referentes ao assunto étnico negro.
71

Como a questão étnica é um assunto que precisa estar fundamentado em


informações precisas para que não haja interpretações dúbias, fez-se uso das técnicas da
observação direta que se caracteriza através da não participação do pesquisador, de entrevistas
estruturadas e não estruturadas e aplicação de questionário.
Em relação ao universo da pesquisa, o espaço escolhido, foi a Cafua das Mercês,
que se intitula museu do negro no Estado do Maranhão e se afirma como representante museal
da cultural negra local. Como o foco da pesquisa era analisar a representatividade da cultura
afro-brasileira em um espaço museal no cenário turístico ludovicense, buscou-se este local por
ele apresentar essa característica e estar “abraçado” pelo turismo de São Luís.
Dessa forma, houve visita in loco a fim de observar a dinâmica do espaço e
aplicar questionário junto aos visitantes (APÊNDICE A), que são tanto turistas quanto
pessoas oriundas da comunidade maranhense. O período da pesquisa ocorreu entre os meses
de março e abril de 2014.
Entretanto, a amostragem da pesquisa teve como base, o número de visitações nos
meses de março e abril de 2013, que foram 159 e 637, respectivamente. Os dados encontram-
se no Cultura Ações, documento elaborado pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão,
publicado no citado ano (SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA DO MARANHÃO,
2013).
Como o objetivo da pesquisa consistia em analisar a representatividade da cultura
afro-brasileira em um espaço museal, foi primordial essa compreensão em algumas
instituições que tem certo vínculo com a cultura negra no Estado.
Nesse caso, foi necessário fazer uso de um roteiro de entrevista com perguntas
semiestruturadas com pessoas que representassem essas instituições (APÊNDICE B), pois
para a pesquisa, o posicionamento destas constitui um olhar viável para a obtenção do
objetivo da mesma.
Assim, recorreu-se ao Centro de Cultura Negra (CCN), na pessoa do Sr. Luiz
Alves Ferreira, médico-fundador e coordenador da instituição. Entrevista concedida em 27 de
outubro de 2014; a Secretaria Extraordinária de Igualdade Racial (SEIR), na pessoa da S.ª
Jacinta Maria Santos, pedagoga e gestora de assunto técnico da secretaria. Entrevista
concedida em 17 de novembro de 2014 e o Núcleo de Estudo Afro-brasileiro da Universidade
Federal do Maranhão (NEAB), na pessoa do Sr. Carlos Benedito Rodrigues Silva, professor,
antropólogo e coordenador do núcleo. Entrevista concedida em 25 de novembro de 2014.
Vale esclarecer que o questionário foi aplicado tanto para turistas quanto para
pessoas oriundas da comunidade maranhense, pois para a pesquisa o importante consistiu em
72

colher informações dos visitantes do Museu Cafua das Mercês. Dessa forma, elaborou-se um
questionário devidamente estruturado com 11 questões composto de perguntas abertas e
fechadas, onde buscou conhecer o perfil do visitante, as opiniões destes acerca do espaço, sua
percepção acerca da relevância da cultura afro-brasileira para o turismo local.
Como já foi relatado as entrevistas foram realizadas com representantes de
instituições envolvidas com questões étnicas raciais negras no Estado do Maranhão. Ressalta-
se que para obtenção das entrevistas de forma mais segura, fez-se uso de equipamento de
gravação que foi de suma importância para transcrição posterior.
Nenhuma pesquisa está isenta de limitações, qualquer que seja, portanto,
pontuam-se as encontradas nesta pesquisa. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade: no
caminho tinha umas pedras, tinha umas pedras no caminho.
A primeira “pedra” foi referente às referências bibliográficas, como a pesquisa
trata, em suma, da questão negra, (não está se pontuando a inexistência de assunto referente à
cultura negra) buscou-se referências que pontuassem a contribuição do povo negro de forma
positiva, sem as entrelinhas preconceituosas e os velhos propagados espaços: escravos,
escravidão, vitimizados, sem ascensão social, inexistentes. Como a pesquisa enveredou por
uma busca da relevância da cultura negra, tais posicionamentos foram dispensados, por essa
razão o trabalho foi árduo.
Outra “pedra”. Diante da proposta da pesquisa em analisar a cultura afro-brasileira
através de um espaço absorvido pelo turismo, no contexto maranhense, acreditou-se na
importância de posicionamento de alguns órgãos responsáveis pelo turismo maranhense,
refere-se: a Secretaria Estadual de Turismo, Secretaria Municipal de Turismo, a Central de
Informação ao Turista e a Secretaria de Cultura do Maranhão, que não é um órgão delegado a
trabalhar com o turismo, porém como a suas atribuições estão direcionadas à cultura
compreendeu sua importância na mesma categoria dos órgãos que trabalham com este.
Estes órgãos foram procurados pela pesquisadora que não obteve um retorno
convincente a cerca do Museu Cafua das Mercês (Museu do Negro). Por exemplo, quando
buscou a Central de Informação ao turista a fim de saber se diante uma procura por espaços
culturais, o museu era citado como um espaço a ser visitado. As respostas foram vagas e
disseram que não indicam nenhuma localidade ou espaços, só orientam o que o turista procura
e recomendaram que a pesquisadora procurasse as secretarias.
Na procura pelas Secretarias para saber se havia alguma ação atual ou futura
direcionada para o Museu do negro. Eis os acontecimentos: na Secretaria Estadual do
Turismo, o atendimento foi ótimo, porém não obteve nenhuma resposta positiva, pois
73

segundo comunicação não trabalham com essas propostas. O máximo que fazem em relação
aos museus é divulgar a Agenda Cultural, exemplar mensal da Secretaria de Cultura do
Maranhão que divulga as atrações e os locais culturais do Estado.
Na Secretaria Municipal Turismo, a pesquisadora foi “barrada” na porta, por uma
pessoa que não se identificou, porém disse que não tinha nenhum conhecimento e caso
houvesse alguma ação nesse sentido só a Secretaria de Cultura poderia responder, assim a
pesquisadora direcionou-se á Secretaria de Cultura do Maranhão. Na secretaria, solicitou a
secretária se haveria alguém que pudesse responder acerca do espaço museológico, segunda a
secretária não tinha ninguém para responder acerca do espaço, e novamente a pesquisadora
foi incumbida de procurar outro órgão, nesse caso, o Museu Histórico e Artístico do
Maranhão (MHAM) qual o Museu Cafua das Mercês está vinculado.
Em relação a essa procura, ressalta-se que foram várias as tentativas para
entrevistar a Chefe do MHAM, a Sr.ª Maria Luiza Raposo, diante várias respostas negativas
deste uma agenda repleta de compromisso até problema de saúde não obteve êxito na busca
por entrevista com a chefa do MHAM.
Mais uma “pedra”. Tentou-se buscar um olhar de um representante da
religiosidade afro-brasileira, a fim de obter um posicionamento que ajudasse a análise da
pesquisa, várias foram às tentativas que culminaram na não obtenção desse esse olhar. Esse
empedramento não prejudicou, de forma alguma, a pesquisa, uma vez que os problemas
servem para encontrar novos caminhos na busca do objetivo central, assim encontrou novas
soluções e a pesquisa transcorreu de forma satisfatória.
É válido ressaltar que no decorrer dessa trajetória obteve-se um “grande achado”
para a pesquisa: o depoimento de Dona Jazi, antiga funcionária do Museu Cafua das Mercês
que trabalhou 31 anos como guia do museu. Concedeu esse depoimento em 14 de março de
2014, por obra do acaso, mais que muito auxiliou a pesquisa. Assim, o próximo subcapítulo
terá como auxílio esse testemunho.

4.2 Caracterização da realidade pesquisada

“Não se conhece tudo. Tudo o que se conhece é uma parte do tudo”. Este
pensamento africano traduz a intenção desta apresentação, pois não tem como conhecer todo
o museu, neste espaço de pesquisa, mas parte do que vai ser apresentado integra esse todo,
que é o Museu Cafua das Mercês (Figura 10).
74

Nesta intenção, apresenta-se esse espaço museológico (o objeto da pesquisa), que


dentro da museologia maranhense se intitulado Museu do Negro fazendo menção ao seu
acervo que é constituído por “peças relacionadas com a cultura negra em seus, mais diversos
aspectos” (RODRIGUES, 1995, p. 58).
Figura 10 – Museu Cafua das Mercês

Fonte: Fotografia realizada pela autora.

O Museu Cafua das Mercês foi criado pelo Decreto Estadual nº 5.536 de, 05 de
fevereiro de 1975 (ARAÚJO JÚNIOR, 2011; RODRIGUES, 1995). Está vinculado ao Museu
Histórico e Artístico do Maranhão.
Localizado no bairro da Praia Grande, antigo local das grandes casas comerciais
do Maranhão, no início do século XIX, a Cafua das Mercês também conhecida como Museu
do Negro é um espaço cultural destinado a preservação da memória da forte presença, da
cultura afro no Maranhão.
Segunda a tradição, a Cafua (palavra de origem banto para caverna, cova, lugar
escuro e isolado) era um antigo depósito de escravos, construído no século XVIII para receber
os negros africanos, que desembarcavam no Portinho vindos da África, onde eram conduzidos
até o pequeno sobrado. Ali chegando eram amontoados em quartos pequenos para mais tarde
serem expostos, em praça pública, com uma placa no pescoço indicando o seu preço, assim
eram comercializados. No “Governo de Pedro Neiva de Sant’ana, então Governador do
Maranhão, a Cafua foi adquirida, restaurada e aberta a visitações” (FERRETTI, 2007, p. 1).
Em relação ao horário de funcionamento, o museu é aberto à visitação pública,
não há necessidade de agendamento prévio, exceto para instituições escolares e grupos
especiais. A Cafua funciona de segunda a sexta, das 9:00 às 17:00 horas. Ressalta-se que é o
único museu de São Luís que funciona na segunda-feira, este fato ocorre em razão de não
haver expediente no final de semana como acontece com os demais museus ludovicenses.
75

O museu é um pequeno sobrado de aspecto sombrio, em estilo colonial, de


fachada uniforme, contendo apenas uma porta principal ladeada por seteiras centradas em
nichos emoldurados por argamassas. Em relação às seteiras, Dona Jazi comenta que as
seteiras, eram as entrada de ar para que eles [os escravos] não morressem sufocados. Esse
registro indica a tirania do período escravocrata.
A estrutura do Museu Cafua das Mercês é composta por dois pavimentos, sendo
uma sala em cada um. Nestas salas é exposto o circuito de exposições permanente do museu.
Existe também um pátio interno, que é revestido de cantaria e cercado por um muro de
pedras, onde está abrigada uma réplica do pelourinho (outrora existente no Largo do Carmo),
executada conforme o desenho que consta no livro “O Cativeiro” de Dunshee Abranches; e o
setor administrativo, construção recente. Destaca, ainda, a existência de uma imensa grade de
ferro, que outrora serviu como “tampa” do pátio para impedir a fuga dos escravos.
Dona Jazi, pontua em relação à existência do pelourinho e da grade de ferro
dizendo que: aquilo ali era uma grade de ferro que colocava lá em cima, eram duas peças a
outra foi para o museu (acredita-se para o MHAM), pesa 500kg aquela peça, por isso a
pessoa não pode mexer para não cair no pé. Neiva de Santana mandou colocar essa replica
do pelourinho com o símbolo de Portugal, a esfera é um símbolo de Portugal [...].
Segundo registros, de acordo com Rodrigues (1995) o museu já ocupou área
maior e que no seu interior havia outros compartimentos hoje extintos.
Diante do que foi exposto, percebe-se que o museu se posiciona, principalmente,
em relação à estrutura do prédio, como o espaço que prioriza os elementos da escravidão, no
sentido mais cruel, pois durante a visita in loco, a sensação de um lugar apertado, sem
ventilação, pouca iluminação remete a ideia de como era no período que o espaço era usado
como local de depósito de escravo, que não tinham nenhuma regalia perante a sociedade
vigente.

4.2.1 O Acervo exporgráfico do Museu Cafua das Mercês

O acervo do museu Cafua das Mercês reúne diversas peças que transitam pelo
período da escravidão, da religiosidade afro maranhense, bem como da arte africana dos
povos vindos para o Brasil. O acervo está distribuído em dois salões dos dois únicos
pavimentos responsáveis por um circuito de exposição permanente da Cafua das Mercês. As
peças inseridas nesses espaços são providas de compras e doações.
76

Em relação à aquisição das peças desse espaço, são oriundas de compras e


doações. O acervo exposto, juntamente com sua procedência, modo de aquisição, dentre
outros detalhes técnicos, estão explícitos detalhadamente no anexo B.

SALÃO DO PRIMEIRO PAVIMENTO

Esse salão que fica localizado no térreo é a primeira comunicação do museu com
seu visitante e já de inicio ele retrata com base nos elementos expostos o período da
escravidão. Nesse inicio de contato o visitante encontra elementos de suplício e de tortura,
como gargalheira, as correntes, a palmatória de ferro e o tronco vira mundo (Figura 11).
Figura 11 – Algumas exposições do 1ª pavimento

Fonte: Fotografia realizada pela autora.


Não há um diálogo, mesmo enfocando esses elementos de torturas, esclarecendo
que a escravidão no Brasil e Maranhão foi maléfica, porém os povos que aqui chegaram
trouxeram consigo uma bagagem de conhecimento que possibilitou ao país um
desenvolvimento econômico, cultural e humano.
77

O visitante turista ou comunidade quando depara com essa demonstração procura


por mais informações que o auxilie a compreender a cultura negra para além dessa
classificação escravocrata.
Ainda nesse pavimento o visitante contempla um conjunto de obras da arte
africana oriunda de alguns grupos étnicos das nações da África Ocidental, que estão
representados por: máscaras, como a de madeira com 32 cm de altura dessa região; por
esculturas, a exemplo de duas figuras masculinas do povo Baule (ladeiam a porta que dá saída
para o pátio do museu) de madeira com 1,50 m de altura.
Em relação a essas obras africanas poderia imaginar que houve uma comunicação
para além da escravidão, porém não acontece, As peças estão lá sem nenhum contexto
cultural, histórico, ou seja, elas ornamentam o espaço museal. Conforme o depoimento de
Dona Jazi (abaixo), essas peças foram adquiridas e doadas a Cafua pela Governadora Roseana
por que ela foi à uma exposição no Rio de Janeiro achou bonita comprou e doou.
O visitante depara com uma vitrine onde estão expostos documentos escritos
referentes ao período da escravidão no Maranhão (uma carta de alforria de 1880 e um recibo
de compra de escravo de 1872). Mais um indício do contexto escravocrata apregoado pela
Cafua.
O visitante quando adentra o espaço museal Cafua das Mercês analisa uma pintura
da frente do museu onde está retratado o período de comercialização de escravos na Cafua.
Sobre essa pintura Dona Jazi declara que foi Jorge que mandou desenhar. Jorge de Itaci, ex
administrador da Cafua e babarolixá do Terreiro de Iemanjá da Fé em Deus, São Luís
Maranhão (já falecido).
Por fim, conhece uma parelha de tambor de críoula (conjunto de tambores:
“grande”, “meião” e “crivador”) em madeira e couro. Essa peça é a que mais se aproxima de
comunicação com o visitante a cerca da cultura afro no Maranhão. Ela registra a presença
negra no contexto cultura maranhense. De acordo com a antiga funcionária São antigos, já
estão rachando, eles têm mais de 150 anos isto foi doação da Casa das Tulhas.
Em relação às peças desse pavimento Dona Jazi apresenta uma série de
informações viáveis para compreender, por exemplo, como foram adquiridas as peças desse
pavimento.
Essas peças todas que estão aqui foram doadas todas pela Casa das Minas. As
únicas peças que ficaram aqui e a gente não sabe o nome do doador foram essas pedras
(referindo à duas pedra de moer que estão no pátio do Museu). Não tenho certeza se foi em
1992, mais é mais ou menos nessa época que as peças africanas foram doadas pela
78

Governadora Roseana Sarney que foi ao Rio de Janeiro e essas peças estavam em exposição,
ai ela comprou e doou para a Cafua. Não ficaram todas as peças aqui, dizem que era por que
a cafua é pequena, veio vária peças, só porta africana vieram 3 (três) e aqui parece que só
tem 2 (duas). As outras estão armazenadas. O vira mundo, palmatória de ferro já era da
casa, agora a tartaruga e o lagarto veio com essas peças africanas que foram doadas pela
Roseana. Ela achou essas peças muito bonitas na exposição comprou e doou para a Cafua. A
Cafua estava sem nada mesmo! Quando chegaram essas peças, foram retiradas todas as
fotos de mãe de santos que estavam aqui nesse pavimento. A mudança na disposição das
peças foi feita pelo um colega nosso Sebastião Santos. As peças de madeira todas foram
doação de Roseana, Eram 19 peças.
Esse primeiro pavimento do Museu Cafua das Mercês tem sua importância para a
história do povo negro no Brasil e no Maranhão, É uma parte da história que deveria ser
contata com mais informações e que seu foco central não relatassem apenas os elementos de
torturas e suplicio como a boa vinda da Cafua para seus visitantes.
Em Amaral (2001, p. 3), a ialorixá do Axé Ilê Obá, Silvia de Oxalá pergunta
Eles [instituições oficiais de memória e academia] veem o negro como escravo. Mas
os negros não foram apenas escravos. Tinham suas famílias, suas crenças, suas
comidas. Ninguém conta a história dos judeus, que também foram escravos, apenas
como escravos. Por que a história do negro tem que sempre a do povo escravizado.

SALÃO DO SEGUNDO PAVIMENTO

Neste Segundo Pavimento, o Museu Cafua das Mercês apresenta uma sequência
de objetos mais contemporâneos, fugindo da zona de conforto de expor elementos referentes
ao negro através apenas da lente da escravidão. Assim, nesse salão encontra-se mais peças
centradas na arte africana, no sincretismo religioso, em personagens pontuantes na
religiosidade afro maranhense, dentre outros. A figura 12 expõe alguns desses elementos.
79

Figura 12 – Algumas peças do 2ª pavimento

Fonte: Fotografia realizada pela autora.


Dessa forma, como demonstrações desse pequeno circuito de exposição
permanente da Cafua das Mercês têm destaque, no Segundo Pavimento, no que se refere á
obras de grande expressão da histografia africana, a escultura de um grupo com vasilha
(Yourubá) de madeira, com seis figuras em pé numa base circular, sendo três figuras
masculinas e três femininas (uma delas carrega um bebê em suas costas) - a vasilha é
sutilmente esculpida, a tampa sustenta quatro figuras apoiadas, separada do resto da escultura.
Tem também uma Caixa Cerimonial esculpida em forma de cavalo, sendo a caixa
retangular, decorada em relevo com figuras humanas e animais projetando a cabeça de um
lado e de uma calda do outro, a tampa tem um par de serpentes e três figuras humanas em
relevo, oriunda da Mali/Burkina Fasso.
Apresenta em relação ao sincretismo religioso maranhense, várias peças de santos
católicos que são sincretizados na religião afro, como a imagem em gesso de São Jorge e São
Benedito.
80

O circuito apresenta, ainda, dois registros fotográficos das duas casas de cultos
africanos mais antigas de São Luís (Casa de Nagô e Casa da Mina). O Museu Cafua das
Mercês, nesse segundo pavimento, homenageia, através de registro fotográfico, duas figuras
importantes e representativas das referidas casas de cultos: as mães de Santo Andressa Maria
de Sousa Ramos (“Mãe Andressa”), da Casa da Mina e Vitorina Tobias Santos (“Mãe
Dudu”), da Casa Nagô.
Através desse pequeno circuito de exposição permanente, registrado nesses
pavimentos, o Museu Cafua das Mercês propõe-se em apresentar e representar a cultura negra
afro-brasileira maranhense na intenção de promover um conhecimento e reconhecimento da
diversidade cultural existente no Brasil. Diante disso, singulariza a importância desse estudo
no sentido de ser uma oportunidade de averiguação desse espaço como um mecanismo
representativo da cultura afro brasileira no cenário turístico ludovincense.

4.3 Apresentação e discussão dos resultados

4.3.1 Percepções dos visitantes do espaço museológico

Ressalta-se, como o objetivo da pesquisa concentra-se em analisar a relevância da


representatividade da cultura afro-brasileira no cenário turístico ludovicense e como o Museu
Cafua das Mercês que se intitula museu do negro é um espaço museal que está abraçado pela
dinâmica do turismo ludovicense e pela comunidade, quis conhecer o perfil dos visitantes
desse espaço como mecanismo viável para alcançar esse objetivo. Por isso, a pesquisa adotou
á aplicação de questionário que tanto poderia ser respondido por turista como por integrante
da comunidade ludovicense, assim não ocorreu diferenciação de questionário, apesar de tal
diferenciação ser possível de distingue, haja vista, que no questionário encontra espaço para o
entrevistado declara seu local de origem. Assim diante os 58 questionários aplicados 52%
foram preenchidos pelos turistas, enquanto que 48% foram preenchidos pela comunidade
ludovicense.
Diante disso, segundo a pesquisa, apresenta-se, o perfil do visitante do Museu
Cafua das Mercês, Museu do Negro da ilha de São Luís.
Assim, constatou que as maiorias dos visitantes, no período da pesquisa, com uma
leve vantagem, são do sexo feminino com 54% em relação ao sexo masculino 46 %, conforme
mostra gráfico 1. Pôde-se identificar a origem dos visitantes, sendo que os que responderam
são oriundos das cidades do Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Natal, Brasília, Belo Horizonte,
Campo Grande. Houve uma entrevistada da Alemanha. Em relação à comunidade maranhense
81

presente no espaço museal ocorreu uma expressiva presença dos autóctones, sendo a maioria
da cidade de São Luís.
Gráfico 1 - Gênero

46% Masculino

54% Feminino

Fonte: Elaborado pela autora.


Em relação à cor ou raça. Esclarece que procurou obedecer ao sistema de
classificação adotada pelo IBGE (2013) que segundo o quesito cor ou raça classificar a
população brasileira segundo cinco categorias, a saber: branco, pardo, preto e indígena
(Gráfico 2).
Gráfico 2 – Cor ou raça

34% Branca

45% Amarela
Indigena
Preta
Parda

18%
3%

0%

Fonte: Elaborado pela autora.


82

Diante isso, conforme mostra o gráfico 2 a prevalência foi da cor branca com 45%
seguindo da cor parda com 34%; preta e amarela correspondem respectiva á 18% e 3% dos
entrevistados, a categoria indígena não pontuou.
Ainda conhecendo o perfil socioeconômico dos entrevistados identificou no que
tange ao quesito faixa etária que dos 56 visitantes do Museu Cafua das Mercês, consoante o
gráfico 3, a maioria possui a faixa etária entre 52 a 59 anos, o que corresponde a 23% dos
visitante. Já as faixas etárias de 18 a 25 anos e 43 a 51 anos estiveram igualmente
representadas pelos visitantes do museu, correspondendo a 48% comunidade e 52% turistas.
As pessoas com idade entre 23 a 33 anos e 34 a 42 anos correspondem respectivamente a 20%
e 14%. No momento da pesquisa não teve a presença de nenhum visitante com a faixa etária
igual ou maior de 60 anos.
Gráfico 3 - Faixa etária

0%

23% 22%
De 18 a 25
De 26 a 33
De 34 a 42
De 43 a 51
20% De 52 a 59
21%
≥ 60

14%

Fonte: Elaborado pela autora.


O gráfico 4, apresenta as respostas dos visitante do Cafua das Mercês quanto ao
nível de escolaridade. Assim constatou que maioria possui pós-graduação 49% dos
entrevistados, as áreas mais citadas foram direito, odontologia e história. Os outros
frequentadores responderam que tinham: curso superior completo 25%; curso superior
incompleto 13%; Ensino Médio completo 11% e Ensino Fundamental Completo 2%. Em
relação ao curso superior tanto completo como os que ainda estão cursando ocorreu quase
unanimidade do curso de história, sendo seguido pelos cursos de artes e pedagogia.
83

Gráfico 4 – Nível de escolaridade

0% 2%
Ensino Fundamental
0% Completo
11%
Ensino Fundamental
Incompleto
Ensino Médio Completo
49%
25%
Ensino Médio Incompleto

Ensino Superior Completo

13% Ensino Superior


Incompleto

Fonte: Elaborado pela autora.


Em relação à renda dos visitantes do espaço museal a maior porcentagem foi 29%
que corresponde a mais de 9 salários mínimos. Em seguida a renda que mais pontuou foi a de
1 a 3 salários mínimos correspondendo a 23%; os que não quiseram responder ou não sabiam
sua renda corresponderam a 20%. As outras rendas relatadas pelos entrevistados foram: de 4 a
3 salários mínimos e de 7 a 9 salários mínimos, respectivamente 16% e 12%.
Gráfico 5 – Renda

20%
23%
De 1 a 3 salários
De 4 a 6 salários
De 7 a 9 salários
Mais de 9 salários
16%
29% Outros

12%

Fonte: Elaborado pela autora.


De posse da analise do perfil dos visitantes do Museu Cafua das Mercês obteve,
compreensão que permitiu dimensionar várias questões pertinentes para avaliar a relevância
da cultura afro brasileira nesse espaço museal, por exemplo, existe uma demanda de visitante
84

real (verificar os turistas e a comunidade) que pela as análises dos gráficos demonstram ser
um tipo de público consciente da sua procura por visitação. Um dos fatores que comprova
esse posicionamento e o nível escolaridade dos visitantes, onde a maioria possui pós-
graduação, o que leva a entender que a visitação nesse espaço não ocorreu de forma aleatória,
pelo menos por parte dos turistas, sem uma possível busca por esse tipo de demanda cultural.
Outro fator que respalda essa determinação é a renda, ou seja, o poder aquisitivo que diante a
realidade brasileira contribuem muito para uma disponibilidade de visitação tanto em espaço
museal como a qualquer outro espaço cultural, mesmo para a comunidade local. Por fim a
faixa etária, onde dos 56 visitantes a maioria apresentou idade entre 52 a 59 anos, sendo
seguida pelas faixas etárias de 18 a 25 anos e 43 a 51 anos comprovando certa maturidade dos
visitantes o que também influencia muito uma decisão por visitação.
Diante da apresentação do perfil dos visitantes do museu, o presente trabalho
entendeu ser de suma importância os seguintes questionamentos: se era a primeira vez que o
visitante frequentava o espaço museal; como ficou sabendo da existência da Cafua e se o
visitante tinha habito de frequentar museus étnicos negros. Eis as respostas em gráficos e as
devidas análises.
Gráfico 6 – É a primeira vez que você visita este museu?

5%

23%
Sim
Não
Não Responderam

72%

Fonte: Elaborado pela autora.


Em relação à questão se era a primeira vez que o visitante frequentava o museu,
dos questionários respondidos 72% foram sim.
85

Perguntou-se, diante resposta positiva, para os visitantes de São Luís que tiveram
uma representação expressiva, porque ainda não tinham visitado esse espaço museal? Eis
alguns posicionamentos:
[...] sempre tive vontade de conhecer esse museu que fala do negro, mas ele fica
muito escondido e esse lugar é perigoso.
[...] a vontade era imensa, mas nunca tive oportunidade, por isso disse: da
próxima vez que for a São Luís vou visitar esse museu. É que agora estou morando em
Caxias. Só penso que deveria ser maior e ter mais coisas, não é?
[...] a cultura negra é importante, mas quase ninguém fala desse local aqui em
São Luis. Diante a minha vida escolar nunca nenhum professor tocou no assunto e muito
menos trouxe os alunos aqui. E eu não sou tão velha assim. Acho que foi por isso. Como ele
estava aberto, hoje, segunda-feira, resolvi encostar.
[...] sei lá! Sempre morei em São Luís, a vida toda. Só agora achei jeito. Minha
prima que chegou da Bahia insistiu que queria conhecer o museu, aí eu vim junto com ela.
Ela ficou sabendo pela internet, parece que tem um site, sei lá!
[...] por que eu nunca visitei esse museu? Bem... Na verdade eu até tinha vontade
de conhecer, principalmente depois da reportagem que vi na TVMirante, mas ficava sempre
adiando, hoje que vim nesse evento que está acontecendo no Convento das Mercês resolvi
entrar, só não sabia que era pago.
[...] é vergonhoso e olha que sou professor de história.
[...] a gente sabe da importância da cultura negra para esse país, principalmente
para o Maranhão que é um dos estados brasileiros com o maior número de negros, porém
ficamos nessa inércia, eu mesmo só vim por que mamãe que mora em Brasília veio aqui no
Reviver e como ela gosta de visitar Igreja e formos naquela ali, quando saímos de lá
resolvemos olhar o museu. Mas confesso que esperava mais. Tem pouca coisa, é mais sobre a
escravidão.
[...] engraçado, esse museu que está na minha cidade nunca tinha visitado. Ah!
Mas já visitei outros museus do negro, viu? Um foi aquele fica em São Paulo, muito bonito e
grande. Lá têm várias peças e não só sobre escravidão. Tem até coisas do Bumba boi do
nosso Estado, bonito aquilo. Todo arrumado, as pessoas explicam tudo para você, parece que
não é coisa do Brasil. Lá tem coisas que a gente nem sabe que foi o negro que fez, pois é.
Também visitei o da Bahia, foi... faz um tempinho. Também é muito diferente desse daqui.
[...], pois é. Eu sabia que esse museu existia faz tempo, você não sabe como é
brasileiro? Deixa tudo para a última hora. Mas eu estou aqui (risos).
86

[...] nunca tinha vindo por uma questão de oportunidade, acho que foi por isso!
Diante desses posicionamentos observa-se que os entrevistados comportam-se
como se estivessem se desculpando pelo fato de não terem visitado o museu anteriormente.
Talvez tenham respondido dessa forma por estarem sendo questionados nesse momento. O
que ficou nítido é que as visitas, na maioria, foram feitas por acaso, mas nenhum dos
entrevistados respondeu que nunca tinha visitado o museu por considerar a cultura negra
irrelevante, ou seja, sem importância.
Essas falas em outra oportunidade equivalem à nova (as) análises importantes
para compreender a relação do Museu Cafua das Mercês com a comunidade ludovicense. A
priori, nesta pesquisa, são importantes para que se compreenda que a comunidade ludovicense
não tem a Cafua como um local museológico para ser visitado após um planejamento, ou seja,
as visitas orquestradas pelos moradores foram, diante essas falas, por acaso. No entanto,
ressalta-se que o museu trabalha com visitas agendadas por escolas de São Luís, que no
momento da pesquisa, aconteceram em dias e horários diferentes da aplicação do
questionário.
Gráfico 7 – Como obteve conhecimento deste museu?

Visitando em outros
museus
Indicação de
30% 31% Amigos/Parentes
Internet/Site do Museu

Radio/TV

9% Meios de Comunicação
Impressos
23%
5% Outros
2%

Fonte: Elaborado pela autora.


Diante as várias opções acerca de como os entrevistados ficaram sabendo da
existência do museu, o gráfico 7 mostra que maioria obteve informação visitando outros
museus, nesse caso o Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), qual a Cafua é
vinculada. A porcentagem foi de 31%. Já alguns entrevistados marcaram que obtiveram
informações através de outros meios como: passando em frente do museu e recomendações de
professores, foram 30% do total dos entrevistados. Os que ficaram sabendo através de
87

indicação de amigos e parentes correspondem a 23% dos entrevistados. As demais


informações pontuaram singelamente 9%, 5% e 2%, respectivamente meios de comunicação
impresso, internet/site do museu e rádio e TV.
Nesta questão, está subtendido o interesse do visitante pela cultura negra, pois,
como o gráfico 7 mostra os entrevistados buscaram informação acerca da localização do
museu, isso pressupõe interesse pelos elementos culturais negros. Interessante observar que a
maioria obteve em outro espaço museal que administra a Cafua das Mercês.
Nesse caso é interessante pontuar como é importante que outros espaços sinalizem
a presença da Cafua, pois esse espaço se posiciona em um local de longe dos demais museus
que compõem a museologia de São Luís.
Gráfico 8 – Tem costume de visitar museus étnicos negros?

14%

Sim
Não
54% Não responderam
32%

Fonte: Elaborado pela autora.


Um quesito de suma importância e que já projeta o objetivo central da pesquisa de
analisar a relevância da cultura afro-brasileira no cenário turístico ludovicense, foi se os
entrevistados têm costume de visitarem museus étnicos negros. Diante esse questionamento,
54% disseram que sim. 32% dos entrevistados responderam que não tem costume de visitar
museus etnográficos negros e 14% não responderam. Como se observou, de com acordo com
o gráfico 8, mais da metade deram respostas positivas para essa questão, o que sinaliza para
aceitação da cultura afro-brasileira e sua relevância diante uma dinâmica turística, pois esses
museus são espaços que trabalham especificamente com elementos culturais negros. Como
exemplo desses espaços, temos o Museu Afro Brasil, já citado, que tem se posicionado como
referência nesse assunto.
88

Como a maioria dos entrevistados responderam que têm costume de visitar esses
espaços e isso normalmente ocorre diante um processo turístico, para a pesquisa é uma
sinalização da relevância da cultura afro-brasileira diante um cenário turístico.
Outra abordagem pertinente no questionário, foi o olhar do visitante acerca do
acervo etnográfico da Cafua. De acordo Pérez (2009), devemos analisar se as exposições
cumprem as expectativas dos visitantes para que só assim possa compreender a relação entre
museus, públicos e turismo. Nessa perspectiva, através do questionário, os entrevistados
foram arguidos acerca do acervo etnográfico do Museu Cafua das Mercês, que se apresenta
através de um circuito de exposição de longa duração.
Para a pesquisa o interessante foi compreender através dessa questão se os
elementos expostos nesse espaço satisfaz a necessidade dos visitantes de ter informações,
conhecimento acerca da cultura negra. Em função disso, a questão foi fechada e aberta. Na
questão fechada o entrevistado respondia se o acervo é: péssimo, ruim, bom, muito bom e
excelente. Na questão aberta solicitava que o entrevistado tecesse comentário, se achasse
pertinente.
O acervo de um museu é a concretização do diálogo que a casa se propõe fazer
com os seus visitantes, por isso, tal questionamento, para a pesquisa, foi de suma importância,
haja vista que o acervo da Cafua está inserido é uma prática bastante usada por aquele que se
propõe falar das questões negras no Brasil, que é colocar toda contribuição do povo negro sob
a ótica da escravidão. Como se esse povo e sua cultura não estivesse para além desses lugares
comuns.
Esclarece, que o objetivo da pergunta não era fazer o visitante desbravar pelo
campo da museologia e analisar peça por peça do museu. O que se propôs foi sua percepção
acerca do acervo de forma geral.
Assim, diante o gráfico 9, observou-se que avaliação do acervo como “bom”
prevaleceu, foram 50% dos entrevistados que o reconheceram assim. Alguns entrevistados
avaliaram que o acervo é ruim, foram 16% que afirmação essa porcentagem. Na avaliação dos
entrevistados, que foi de 18% a cafua tem um acervo péssimo. Outros avaliadores acharam ser
o acervo muito bom, foram 11%. Outra percepção era excelente, 5% acreditaram ser assim o
acervo. Como essa questão teve dois momentos de perguntas (fechada e aberta), expõe
alguns argumentos apresentados nesta pesquisa acerca do acervo referente às perguntas
abertas.
89

BOM: PERCEPÇÃO MAIS VOTADA

Bom, mas precisa melhorar. Tem poucas informações. (VISITANTE A)


O acervo é bom, está bem conservado, porém essa parte de baixo deixa um pouca
a desejar diante a imensa contribuição da cultura negra para nossa sociedade. Pretendo
voltar á São Luís e gostaria de ver mais coisas. (VISITANTE B).
Bom. Deveria ter sua exposição mais divulgada, quase não tem divulgação. É
muito bacana, poderia melhorar, ainda deixa muito a desejar em detalhes importantes como
a religiosidade, entre outras peças que são tratadas de forma resumidas e pouco explicadas.
(VISITANTE C).
Bom. Tem muito coisa interessante, principalmente, lá em cima onde a gente vê
outra forma da cultura dos negros, principalmente daqui do Maranhão. Só é pequeno!
(VISITANTE D).

RUIM: SEGUNDA PERCEPÇÃO MAIS VOTADA

O acervo é ruim porque exalta muito a escravidão. E os momentos do negro no


país, não são importantes? Só o momento da escravidão?O próprio espaço é muito
angustiante, o guia disse que aqui foi um lugar de venda de escravos, não poderia ser em
outro local que não invocasse essa parte monstruosa do Brasil? Não gostei não.
(VISITANTE E).
Ruim. Não se observa a resistência negra, alguns heróis e heroínas, negras. Falta
apresentar essa memória. (VISITANTE F).
O acervo é bem ruim. A cultura do negro contém mais detalhes e representações
do que está sendo exposto aqui. (VISITANTE G).

PÉSSIMO: TERCEIRA PERCEPÇÃO MAIS VOTADA

O acervo deste museu é péssimo. Mostra pouco da história do negro no Brasil,


seria bom que esse espaço fosse mais ampliado e com mais elementos da cultura dos negros.
(VISITANTE H).
Péssimo. Precisa de mais informação, principalmente por que os estudantes
visitam este museu. E a cultura dos povos tem que ser mostrada sobre vários aspectos, isso é
muito importante, sobretudo a cultura do negro, aqui no Brasil. (VISITANTE I).
90

MUITO BOM: QUARTA PERCEPÇÃO MAIS VOTADA

Muito bom. É uma aula de historia (VISITANTE J).


O acervo é muito bom. Mostra uma parte da história triste que deve ser
lembrada, para os estudantes saberem que os escravos foram muito maltratados aqui.
(VISITANTE K).

EXCELENTE: ÚLTIMA PERCEPÇÃO

Excelente. Tem de tudo, religião, objetos da escravidão, tambor de mina.


Excelente! (VISITANTE L).
Gráfico 9 – O acervo etnográfico

5%
16%
11%
Péssimo
Ruim
18% Bom
Muito Bom
Excelente

50%

Fonte: Elaborado pela autora.


Essa pergunta acerca do acervo etnográfico foi um dos artifícios para saber até
que ponto a cultura negra está sendo aceita pelos visitantes do museu, por isso foi divida em
duas formas, pois para analisar a relevância da cultura negra era preciso que o público
estivesse em contato com algum elemento dessa cultura apesar de, como foi observado pelos
visitantes, o acervo da Cafua é pequeno e precisa de melhoramento em vários sentidos, mas a
priori ele funciona para que se possa compreender essa relevância da cultura negra no
universo turístico, pois como já afirmado esse espaço museal é abraçado pelo turismo
ludovicense e tem concentrado algumas peças que fazem parte da cultura negra, daí a
importância de buscar a percepção tanto do turista como da comunidade.
Nas palavras dos visitantes deu para dimensionar que o acervo tem uma
relevância apesar dos “pesares”. Um dos pesares é o dialogo que o acervo se propõe em fazer
91

com seus visitantes através da compreensão de que os negros aqui presente, ontem e hoje, não
obtiveram ascensão social e a cultura, resposta humana que permite ter essa observação, não é
mostrada com esse propósito. Não existe problema algum em apresenta elementos de
suplícios do período escravocrata, haja vista, que faz parte do contexto cultural do negro no
Brasil. O que chama atenção para esse acervo e os entrevistados reconhece é a insistência de
posicionar toda a contribuição cultural desses povos em uma única condição que a de escravo,
claro que têm outras leituras no museu, mas a primeira conversa (acervo do primeiro
pavimento) do museu com seu público é sobre a escravidão, com ênfase para os elementos de
torturas. O que dá entender ser esse olhar o mais importante.
Se assim o faz é porque reconhece apenas essa história, isso lembra o que a
escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie falou acerca do perigo de se conhecer apenas
uma história. No caso da história do negro brasileiro é uma “mutilação” perante todo acervo
histórico, cultural, humano que este povo teve e tem no universo brasileiro e com certeza o
turismo se interessa por essa informação ou esse conhecimento.
Outro “pesar” que vai mais ou menos à direção da explanação acima é o fato do
acervo ser pequeno. Foi uma reclamação bastante acentuada. Nessa observação, registra-se
uma diminuição de informação e conhecimento que diante o arsenal de possibilidade existente
na cultura negra, realmente é lamentável o acervo apresenta esse proporção de conhecimento.
Mais um “pesar” foi o registro do pequeno diálogo que vem sendo promovido
pelo acervo do museu para com os estudantes, visto que, algumas visitas agendadas são feitas
por escolas. Poderia ser uma oportunidade de fornecer um olhar mais esclarecedor acerca da
cultura negra neste país, mesmo não sendo seu público oficial, e não devera ser, pois museu
são casas públicas e como tal todos são bem vindos.
Todos esses “pesares” foram viáveis para dimensionar a relevância da cultura
negra. Como se observou são reclamações que vem em auxilio de melhor posicionar essa
oportunidade de conhecimento, que a cultura pode promover no cenário turístico ludovicense.
Os vários pesares “bons” regados de reclamações devem ser vistos como sinais positivos para
um reajuste desse espaço juntamente com seu acervo nesse cenário e para a comunidade, pois
esta também apresentou sua avaliação. Do mesmo modo é que devem ser visto os vários
“ruins” que não foram tão ruins, apenas olhares críticos no sentido de despertar para melhoras
para este espaço.
Perante esses posicionamentos dos visitantes acerca do acervo da Cafua deu para
perceber indícios de que a cultura afro-brasileira tem relevância no universo turístico, esta
percepção confirmou-se perante as respostas dos turistas e da comunidade de São Luís. Para
92

avaliar com mais exatidão essa questão, perguntou no questionário se os visitantes


acreditavam na importância da cultura negra para o cenário turístico ludovicense. Para obter
essa compreensão, mais uma vez, a pergunta foi dividida em duas fases, uma o entrevistado
respondia se acreditava ou não (sim ou não) na relevância da cultura negra e na outra dizia por
que. Assim concentra-se no próximo gráfico o questionamento central da pesquisa.
Gráfico 10 – Acredita na relevância da cultura negra para o cenário turístico ludovicense

0%

Sim
Não

100%

Fonte: Elaborado pela autora.


Essa porcentagem apresentada pelos visitantes do Museu Cafua das Mercês
permite que se compreenda a relevância da cultura negra no cenário turístico de São Luís.
Como o gráfico 10 demonstra os visitantes foram unânimes nessa avaliação, ou seja,
acreditam que a cultura negra seja importante para o turismo de São Luís. Assim o turismo de
São Luís só se enriquece com essa compreensão, principalmente diante a possibilidade
apresentada pelo turismo étnico que nas últimas décadas tem se apresentado como afirmação
viável para uma procura de turismo diferenciado.

4.3.2 Percepções de representantes de instituições envolvidas com questão étnica racial negra
no Maranhão

A Cafua das Mercês é um espaço museológico que se intitula Museu do Negro no


Estado do Maranhão. Essa intitulação transfere para esse ambiente uma responsabilidade
naquilo que se refere à apresentação da cultura negra no contexto museal do Estado. Como o
turismo tem a capacidade de absorver espaços que a priori não foram criados especificamente
para fins turísticos, como é o caso da Cafua das Mercês, que hoje se insere no cenário do
93

turismo de São Luís, essa responsabilidade duplica, pois cabe a este local apresentar um
diálogo que promova conhecimento tanto para sua comunidade como para os turistas.
Por essa razão, não podemos deixar de pensar na importância de apresentar, na
pesquisa, a percepção dos visitantes (analisado anteriormente), vendo-os como caminho para
compreender como está apresentada a cultura afro-brasileira no cenário turístico de São Luís.
Da mesma forma, compreendemos a necessidade de apresentar outras percepções, que não
são necessariamente visitantes museais, mas estão inseridos em contexto étnico racial negro
no Estado. Que são instituições que já têm uma longa caminhada com as questões étnicas, ou
seja, já venham desenvolvendo ações onde os fazeres e os saberes da comunidade negra são
abordados sob uma perspectiva positiva. Onde o negro tem visibilidade, tem mobilidade
social, tem seu intelecto ressaltado, enfim é ser ativo e atuante dentro da realidade brasileira.
Diante disso, partimos para inserir na pesquisa percepções de algumas dessas
instituições, pois compreende-se que o estudo necessitam da compreensão desses órgãos, para
que não haja um “silencio”, por parte do estudo, como acontece com outros levantamentos,
que tratam da questão negra e escamoteiam os verdadeiros personagens. Por essa razão, é
válido apontar esses olhares, visto que são personagens institucionais, ou seja, representações
coletivas da comunidade negra, o que permite compreender que apresentem respaldo para se
posicionar perante cultura negra.
Existe uma passagem na Bíblia que diz: se estes se calarem, as próprias pedras
clamarão (LUCAS 19:40). Para que as pedras não clamem, a pesquisa apresenta algumas
percepções de representantes das seguintes instituições: Núcleo de Estudos Afro-brasileiro
(NEAB) da Universidade Federal do Maranhão; Centro de Cultura Negra (CCN) e Secretaria
Extraordinária de Igualdade Racial.
Ressalta-se que compreendemos a relevância da percepção de alguma instituição
envolvida com religião de matriz africana, porém diante várias tentativas e a escassez de
tempo não teve como apresentar essa importante contribuição, mas como o processo de
aprendizagem é continuo, pretende-se buscar, em outro momento, esse posicionamento. O que
permite entender que outros levantamentos científicos acerca da Cafua acontecerão em curto
espaço de tempo.
Assim diante de um roteiro de entrevistas semiestruturadas, as perguntas centrais
foram elaboradas no sentido de compreender como essas instituições entende o espaço
museológico, ou seja, qual percepção desses órgãos acerca da Cafua das Mercês? Outra
questão foi saber se é relevante a apresentação da cultura afro-brasileira no cenário turístico
94

de São Luís. Perguntou-se também se essas instituições têm algumas sugestões que elas
consideram pertinentes para futura melhoria do espaço museal.
Na pesquisa pedimos que os representantes se identificassem e relatasse algumas
ações desenvolvidas pelas instituições que representam. Por essa, razão antes de adentrar no
contexto central da discussão, faz-se uma breve apresentação desses órgãos segundos seus
representantes.
Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN) é uma instituição do movimento
negro no Maranhão. Foi fundada em 19 de setembro de 1979. Fica localizada na Rua dos
Guaranis, S/N – Bares – João Paulo. O representante dessa instituição, na pesquisa, foi o
professor, médico e fundador do CCN Luiz Alves Ferreira,
De acordo com o professor Luís Alves, o CCN tem como função resgatar a
identidade negra e sua autoestima através da educação e da cultura. Na hora que você
destrói a cultura de qualquer povo ele estará destruído, ele está dominado, Almir Cabral
dizia isso, grande pensador africano. O CCN tem contribuído muito para melhor a condição
da população negra do Maranhão. A gente desenvolve seminários, palestras, encontros para
formação de quadros de militância o povo negro. Temos realizado organização de Encontros
de Comunidades Negras Rurais quilombolas, esses encontros têm fortalecidos essas
comunidades, além de está promovendo a criação de várias entidades do Movimento Negro
no Estado Maranhão. Organizamos também a Semana do Negro no Maranhão no Dia
Nacional de Denúncia Contra Racismo (13 de Maio) e Semana da Consciência Negra (20 de
novembro). Existem os Projetos Quilombo: Resistência Negra (PQRN), que atua em
comunidades negras rurais; Vida de Negro–PVN em parceria com a Sociedade Maranhense
de Direitos Humanos que desenvolve ações para os encaminhamentos legais, estudos e
identificação de áreas para titulação de posse definitiva pelos quilombolas; O Sonho dos
Erês destinado às crianças e adolescentes deste bairro onde trabalhamos com oficinas
educativas, artísticas e culturais; Religiões afrodescendentes e saúde, esse projeto objetiva
desenvolver ações de educação em saúde junto à comunidade de terreiros e casas de culto
afro-brasileiros identidade da população negra. Temos também o Bloco Akomabu, e o Grupo
de Dança Abanjá que sai às ruas no período de carnaval, das festas juninas, são grupos
culturais que promovido alegria, beleza e afirmação da nossa negritude neste Estado. Essas
são algumas ações, enquanto Centro de Cultura Negra que trabalha a conscientização, a
autoestima e militância política da negritude do Estado do Maranhão.
O Núcleo de Estudos Afrobrasileiro (NEAB) da Universidade Federal do
Maranhão esteve representado Sr. Carlos Benedito Rodrigues da Silva, professor doutor do
95

departamento de sociologia e antropologia da Universidade Federal Maranhão e coordenador


do NEAB. O Núcleo de estudo fica localizado no prédio de pós-graduação da Universidade
Federal do Maranhão. Entrevista concedida em 10 de novembro de 2014.
Conforme o professor Carlos Benedito, o NEAB é um centro de pesquisa sobre
relações étnico raciais na UFMA, onde desenvolvem programa de formação através de
seminários, de curso e também eventos sobre a cultura afro-brasileira, afro maranhense.
A Secretária Extraordinária de Igualdade Racial faz parte do Governo do Estado
do Maranhão e fica localizada na Rua Couto Fernandes, 121 no Centro. Na pesquisa, foi
representada pela Sra. Jacinta Maria Santos, pedagoga e gestora de Política de Ações
Afirmativa da SEIR. Entrevista concedida em 17 de novembro de 2014.
Segundo a Sra. Jacinta Santos o objetivo geral da Secretaria é garantir os direitos
da população negra, dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, segundo ações
colaterais com as demais políticas públicas e articulações com os Movimentos Sociais, ONGs
e Empresas. De acordo a pedagoga, com base nessa missão a SEIR visa ser referência no
combate ao racismo, a discriminação racial, a xenofobia e as formas correspondentes de
intolerância e na implementação das políticas de promoção de igualdade racial étnico no
Maranhão.
A já citada escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie comenta que existe
um perigo muito grande de conhecer apenas uma história, pois se assim o for fragiliza toda
existência humana. No Brasil, o perigo está não só em conhecer apenas uma história, mas de
apresentá-la de forma deturpada sem incluir seus verdadeiros autores, com seus feitos.
Implicar em excluir culturas de povos formadores da sociedade brasileira. É importante
pontuar que a formação cultural do país não é uni é multicultural. Para que não se conheça
apenas a percepção dos visitantes, dar se inicio a análise da percepção das entidades
envolvidas com questões étnicas raciais.
Diante disso, apresenta as percepções de algumas instituições envolvidas com
questão étnica negra no Maranhão. Assim como caminho para compreender a
representatividade da cultura negra afro-brasileira no cenário turístico de São Luís, perguntou,
primeiramente, como a instituição compreender o Museu Cafua das Mercês.
O professor Luiz Alves representante do CCN compreende a Cafua das Mercês
como um espaço morto, segundo ele
Consideramos aquele espaço, um espaço morto, do ponto de vista da dinâmica,
por que é um espaço que não reflete a contemporaneidade. Quando você entra lá, a primeira
coisa que você ver são fotografias de torturas. O Museu Cafua das Mercês tem se
96

posicionado como um instrumento de tortura contemporânea para a juventude que chega lá!
Você tem que colocar coisas positivas na entrada. Por exemplo, quando cheguei lá só vi
frases de quem não são de negro, não vi frases do negro Cosme, do Padre Ribamar, não vi
nenhuma frase do Nascimento de Moraes (que é negro), enfim... Nenhuma frase de um
babalorixá como o pai Euclides. Mãe Dudu, está lá o retrato dela, mas é um retrato morto. É
como se fosse uma coisa morta, E quando você chega só ver coisas mortas, aquele
instrumento de tortura. Não é isso que tem que ser feito. Tem que colocar no inicio
instrumentos das coisas que o negro fez que construiu esse país, esse Estado!
O museu tem que ser um espaço dinâmico, que reflita nossa contemporaneidade,
a luta do negro, não só como escravo, mas nossas ações avançadas.
Na época, por que trouxeram o negro? Por que eram mais avançados na
agricultura. Cadê o instrumento de agricultura que o negro fazia isso lá? Algumas coisas
estão lá, mas são mortos. Aquelas molduras, os retratos, aquele material, e o instrumento de
arte que tem lá africana, uns são de origem africana, o que eles querem comunicar? Quando
as crianças vão lá, o que vão pensar?Nada! Não tem um diálogo. Até porque a maioria dos
professores do município e do estado não está fazendo nada, há um racismo institucional, no
Estado da cultura negra, em todo lugar, apesar de ter negros lá, mas eles não se sentem
negros! É preciso assumir a identidade e colocar isso em evidência. Não se faz isso com as
outras culturas? Sabemos que são importantes, mas não foram só elas que construíram esse
país, e o povo cigano? Assim como o negro ninguém quer falar. Tem que falar!
Tem o retrato da mãe Dudu, está certo! Mas não tem nada dela, o que ela era?
Qual a importância dela?
O museu não pode ser uma instituição morta, do jeito que estar lá ela uma
instituição morta. Ela reflete na entrada a violência sobre o negro, não é isso! Tem que
colocar que era a civilização africana que muito antes de cristo já existia. Qual foi o papel
do negro aqui no Maranhão? A arte, na agricultura, na economia, na música. É isso que tem
que ser feito! E os negros importantes não estão lá nenhum. E as frases importantes desse
povo, não têm nenhuma? Tem do Josué Montello grande escrito. Tem a frase de Castro Alves.
Tem que ter frase de Nascimento de Moraes, Cesário Coimbra que são negros! É importante!
O depoimento acima chama atenção para a importância do Museu Cafua das
Mercês se posicionar como um espaço dinâmico que contribua com reflexões, acerca do
negro, que permitam olhares não só dos elementos de torturas e suplícios existentes no
período da escravidão, mas que possibilite olhares que promovam reconhecimento da
importância do povo negro na sociedade brasileira como contribuinte real, ou seja, que avance
97

em seu discurso. Não que se fique na zona de conforto, compreendendo o negro apenas pelo
víeis da escravidão. Como o representante do CCN frisou é preciso avançar nos discursos.
O referido representante, cita alguns expoentes negros que têm sua história,
contada pela metade ou ignorada, escamoteada, desconhecida. E ainda existem mais. Quando
ele faz esse depoimento, não é uma critica direcionada apenas para a Cafua, mas para outras
esferas que deveriam pontuar de forma positiva a presença negra nesta Nação, como
exemplos têm as escolas (que ele chama atenção) que são cientes da Lei nº 10.639/03, que
institui a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira, porém não obedece a
Lei que seria uma oportunidade de estar focalizando esses personagens.
O Museu Cafua das Mercês tem que promover essa visibilidade, o professor Luiz
Alves chama atenção para este fato, pois a Cafua se intitula museu do negro. Em função dessa
razão tem que mudar seu discurso e se posicionar como um representante dos vários
personagens negros históricos que assinalaram um espaço determinante na edificação da
sociedade nacional que precisam ter sua versão da historia do Brasil contada e apresentar
nesse espaço museal.
O museu ao se posicionar como um espaço que apresenta uma cultura morta,
assim definiu o professor Luiz Alves, ele está estagnando a cultura negra e isso não condiz
com um processo cultural, pelo contrário, cultura implica em movimento, renovação,
inclusão. O Museu Afro Brasil em São Paulo compreendeu essa dinamicidade e tem
apresentado várias exposições que vem dialogando de forma positiva com a comunidade
brasileira assim com o mundo.
O referido museu recebeu pelo 2º ano consecutivo o Certificado de Excelência
2014 do TripAdivisor, (MUSEU..., 2014). O TripAdivisor trata-se de um site especializado
em fornecer informações e opiniões no que diz respeito produtos e serviços relacionados ao
ambiente turístico. Esse reconhecimento é dado apenas aos lugares de visitação de alto nível
ao redor do mundo que recebem constantemente as melhores avaliações dos viajantes.
A representante da Secretaria Extraordinária de Igualdade Racial, Sra. Jacinta
Santos compreende o espaço museal como um “espaço importante do ponto de vista da
história”, mas
A Cafua, ela tenta expor uma memória do passado histórico do negro aqui no
Maranhão. É isso que faz! É importante, mas como um espaço que se propõe em falar da
cultura negra é pouco o que apresentam lá. Nós compreendemos que diante os vários
aspectos culturais do povo negro, deveria ser mais ampliado. Ter uma dinamicidade naquilo
que o negro representa para este imenso país que não pouca coisa. Agora o que tem lá? Tem
98

os instrumentos do momento de suplícios, como uma réplica do pelourinho. Isso foram os


instrumentos do negro na sua condição de escravo! Agora se é para representar a cultura,
compreendemos que o museu precisa resgata os valores, suas referências que compõe a
história, a cultura do negro, principalmente no Maranhão. É preciso que se desenvolva isso,
crie um dialogo positivo para que quando as pessoas visitarem, principalmente estudantes e
turistas, esse espaço elas reconheçam que o negro faz parte da história do país para além da
sua outrora condição de escravo. Nós compreendemos que o museu tem de se posicionar
diante de uma perspectiva que auxilie a sociedade maranhense para diminuir a
descriminação racial, a intolerância e caminhe para um desenvolvimento da igualdade racial
neste Estado. Nós achamos positivas, algumas ações ali, nós pensamos ser um princípio que
pode ser ampliado, ser enriquecido. Tem sua importância, não deixa de não ter sua
importância. Mas é preciso que ele se renove que compreenda a importância de ressaltar a
cultura negra como um processo continuo, móvel, dinâmico mesmo. Enquanto museu do
negro e preciso que este espaço se comprometa com a justiça e com a responsabilidade de
ser um autentico representante da cultura negra tanto para os turistas como para sociedade
maranhense.
A percepção do NEAB, na pessoa do sociólogo Carlos Benedito, não foi diferente
das duas percepções acima apresentadas. De forma resumida, o sociólogo compreende que o
museu tem sua relevância naquilo que se refere à apresentação da cultura negra no Estado do
Maranhão. “como um museu que se propõe a manter um registro sobre a história do negro no
Maranhão, acreditamos que seja importante, certamente. Agora, nós pensamos que
mereceria uma atenção um pouco maior por parte do Estado, dada a importância da
presença negra no Maranhão. Seria importante que esse acervo fosse ampliado com
elementos mais significativos sobre a história do negro no Brasil.”
Esses posicionamentos são respostas para o questionamento sobre como as
instituições que tem envolvimento com questões étnicas raciais negras compreendem o Museu
Cafua das Mercês. Pelo o que se pode concluir elas têm ciência do espaço museal, pontuam a
importância desse espaço, mas chamam atenção para a forma como o museu tem se
posicionado perante não só cenário turístico, mas da própria comunidade.
Estas observações são salutares, na medida em pontuam que a cultura negra ao ser
inserida em um contexto museal ela precisa está apresentada diante uma dinâmica cultural,
pois cultura seja que grupo social ela representem é dinâmica e assim sendo a do povo negro
deve ser compreendida sob essa perspectiva. Daí o posicionamento do professor Luiz Alves
99

quando chama atenção para apresentação da cultura negra na Cafua como uma cultura morta,
sem mobilidade, sem reconhecimento, sem perspectiva e sem dinamicidade.
Assim, é extremamente relevante que Museu Cafua das Mercês, que se intitula
Museu do Negro se posicionem, não apenas como reprodutor de imagens distorcidas do
negro, mas como um representante da memória continua dessa comunidade, que juntamente
com as demais comunidades vem construindo este país.
Outra questão abordada foi a relevância da cultura negra no cenário turístico
ludovicense. Ou seja, essa relação entre cultura étnica negra e o turismo. Como essas
entidades mensuram esse contato? Diante essa questão, assim se posicionaram os
entrevistados.
Para a Secretária Extraordinária essa relação é vista de forma positiva,
principalmente, se for apresentada de forma ética e responsável. Visitando o museu algumas
vezes observamos que essa relação é positiva e tem sua importância. Mesmo o museu se
posicionando da forma que estar, observamos expressivo número de turistas. O turismo
permite que compreenda que a cultura tem avanços, ou seja, no caso da cultura negra esse
avanço é sair da condição só de escravo, compreende? Quando você viaja para outros locais,
você observa que o turismo busca avanços, mudanças na forma de mostrar os aspectos
culturais de um povo. Então o Museu Cafua das Mercês precisa entender isso. Como
iniciativa primária ele é importante para o turismo de São Luís, mas precisa avança mais e
mostra o que tem de positivo, não só para turistas, mas para todas as pessoas que frequentam
aquele espaço. Eu viajo muito e observo isso. É muito importante a cultura negra para se
trabalhar no turismo, principalmente aqui no Maranhão que esta cultura estar presente, de
forma riquíssima. É muito importante perceber isso. A cultura negra tem muitos personagens
históricos que podem ser apresentados, trabalhados. Por exemplo, poderia se trabalhar com
a história de Maria Firmina que foi a primeira professora, mulher e negra maranhense a
compor uma obra literária. Ela vem dali de um quilombo, lá de Guimarães. Isso é cultura e
com certeza muito importante para o turismo, por isso, acredito que seja relevante essa
relação turismo e cultura, claro respeitando a história do povo.
O professor Carlos Benedito (NEAB) também considera importante essa relação.
Ele observa: certamente que é importante essa relação. Penso que ponto de vista do turismo a
cultura negra tem muito a oferecer, porque é detentora de um repertório de informações que
certamente interessa o turismo, como o reggae que já faz parte da cultura do Maranhão. A
cidade de São Luís é conhecida como a Jamaica brasileira, isso poderia ser trabalhado
dentro do turismo. Pensamos que seja interessante para a indústria do turismo do Estado,
100

trabalhar essa cultura. É uma forma também de afirmar essa identidade africana no
Maranhão através dessa relação, certamente que tem grande importância.
O professor Luiz Alves se posicionou de forma confusa perante o questionamento,
no entanto, consegui-se extrair do seu depoimento que essa relação entre turismo e cultura
negra, ele considera de certa forma importante, mas “não é para mostrar só a escravidão,
claro tem que ser falado, não só para mostrar a tortura. Tem que ser falado, mas depois que
colocar com está construída a população negra que tem participação da África. Tem que ser
promovido um dialogo de reeducação introduzindo a dimensão africana e deixar de disser
que somos descendentes de franceses. E o turismo pode promover isso! È importante!”
Conclui-se, a cultura negra e o turismo na visão desses representantes têm certa
relevância, como a pedagoga representante da SEIR ressaltou é necessário que se pense essa
relação diante uma responsabilidade e ética. É preciso que se reconheça que a cultura afro-
brasileira apresenta elemento de suma importância para ser trabalho em contexto turístico,
mas pautado na responsabilidade.
Este avanço já é uma realidade presente no Estado Bahia que tem apresentado o
turismo étnico negro como uma oportunidade de aperfeiçoar o turismo nessa região.
Recentemente vem trabalhando esse segmento de turismo na cidade de Cachoeira, que está
sendo considera a “Meca do candomblé” e tem atraído um número “crescente de turistas
negros estadunidenses, em busca de “raízes perdidas”, herança africana e ancestralidade”
(VATIN, 2008, p. 1).
Assim, confirma-se a oportunidade presente na relação turismo e cultura negra.
Essa oportunidade apresenta-se como um reconhecimento da etnicidade negra neste país que
trabalhada de forma consciente pelo turismo pode vim a ser uma possibilidade de reafirmação
étnica negra na sociedade nacional que diversas vezes não a compreendeu como uma cultura
rica diversificada.
Em relação à terceira pergunta central direcionada aos representantes das
instituições, compreendeu ser importante elencá-las no próximo subcapítulo, que seria se as
instituições têm alguma sugestão para o museu.
No decorrer da entrevista alguns posicionamentos surgiram é importante
apresentá-los. Por exemplo, Luiz Alves relatou que no governo de Jackson Lago, o secretário
da cultura Joãozinho Ribeiro queria fazer uma parceria com o CCN para transformar esse
espaço em um instrumento de cultura e luta. Participamos de algumas reuniões. Não deu
certo, não sabemos por quê. Então ele foi o único que pensou em chamar o CCN que tem esse
101

acumulo de conhecimento de luta pelo direito da comunidade negra. Ele convidou o CCN
para transformar aquele museu em um instrumento de educação e cultura.
Esse depoimento é importante, pois compreende-se que em algum momento o
houve tentativa de transformar algumas dessas instituições em parceiras. Isso poderia
possibilitar ao museu uma forma de trabalhar a cultura negra integrada com outros órgãos que
já vem promovendo direitos da comunidade negra no Maranhão. O museu étnico negro da
Bahia o Museu Afrobrasileiro da Universidade Federal da Bahia, tem mais que uma parceira a
com a Universidade Federal da Bahia, ele está ligado a essa instituição onde tem promovido
conhecimento acerca da influência da cultura africana na sociedade nacional.
Esse convite relato pelo representante do CCN para a entidade ser parceira do
museu foi o único, pois o representante do NEAB relata que “nós nunca tivemos do ponto
institucional, nenhum dialogo, nunca formos chamados para ter um dialogo com a direção do
museu á respeito do acervo ou enfim a respeito da importância histórica da cultura negra
neste país”.
Assim, se conclui que a Cafua perde oportunidade de se dinamizar e de se projetar
como um espaço importante naquilo que se refere à representatividade da cultura negra neste
Estado quando não compreende que instituições como o Centro de Cultura Negra, a
Universidade Federal do Maranhão, dentre outros são importante para auxiliar na promoção
de um conhecimento acerca da diversidade cultural e da importância da cultura negra para o
desenvolvimento da sociedade brasileira.

4.3.3 Apontamentos e sugestões de melhoramento

Neste subcapítulo, apresentam-se alguns apontamentos, sugestões descritas pelos


entrevistados no Museu Cafua das Mercês, assim como das entidades envolvidas com
questões étnicas no Maranhão. Ressalta-se que ao colocar estas sugestões frisa-se a
importância da representatividade da cultura afro-brasileira no cenário turístico ludovicense,
pois ao pontuarem sugestões, melhorias os visitantes e as entidades compreendem a
relevância dessa representatividade neste espaço museal, porém alguns ajustes são necessários
registrar no sentido de compreender que através de algumas melhorias, ajustes o Museu Cafua
das Mercês pode vim a ser um espaço de referência da cultura negra no território maranhense.
De acordo com a representante da SEIR, a Sra. Jacinta Santos o Museu Cafua das
Mercês poderia ter também história daquele que construiu o porto do Itaquí, que pouca gente
sabe que foi o engenheiro negro André Rebouças. Precisava ter retrato da insurreição dos
102

escravos que fica ali em Viana, que é outro marco, Então a gente precisava ter outros
aspectos para serem lembrados como memória. Nós compreendemos que poderia ter não só a
referência a Casa das Minas, a Casa de Nagô, mas poderíamos ter a memória do Terreiro do
Egito, sabe poderíamos ter outros que aí fizeram também a história, fizeram essa memória.
Poderia ter ali alguns autores negros, como por exemplo, quem escreveu Boboromina, os
livros do Jorge babalaô que escreveu muito livros do pai Euclides, poderíamos ter outras
referências. Poderíamos ter outras referências, outras peças que retratam essas memórias
que não é só a memória da escravidão que parece que a lembrança maior nossa, enquanto
negro foi só escravidão, e não é. Então achamos que aquele espaço precisava ser
revitalizado.
O representante do NEAB tem algumas sugestões que segue o mesmo caminho
apontado pela Sra. Jacinta Santos, de acordo com esse representante: pensamos que o espaço
precisa ser mais dinamizado, ter uma visibilidade maior, uma intervenção, uma ação maior
do órgão responsável por aquele museu para que ele se torne um espaço mais dinâmico, não
só com um registro de um passado, mostrando objeto de tortura, etc., mas que seja um espaço
dinâmico, com atividades relacionadas à cultura negra na contemporaneidade. O Maranhão,
o Brasil tem uma riqueza muito grande, em termos de ritmo, de danças, de atividades
desenvolvidas por várias organizações do Movimento Negro aqui tanto de São Luis como de
outra região do interior, do ponto vista educacional, então seria importante que o museu
dinamizasse essas atividades e trouxessem essas pessoas para fazerem esse tipo de
atividades.
O representante do CCN é taxativo e questionador: Qual foi o papel do negro aqui
no Maranhão? Onde estar o negro? Não está na arte, na agricultura, na economia, na
música, enfim em todas as vertentes. É isso que tem que ser feito!
Essas sugestões são pertinentes e estão em comunhão com as dos visitantes que
opinaram. Eis as sugestões:
Ele poderia ser mais completo e apresentar mais itens. Poderia ter uma
divulgação melhor do local. A sinalização poderia melhorar também (VISITANTE L).
Abrir nos finais de semanas e aumentar o espaço, está muito pequeno.
(VISITANTE M).
Aumentar o espaço e melhorar o acesso (VISITANTE N).
Ter mais manifestações culturais. Melhorar as informações dos cartazes e o
acesso (VISITANTE O).
103

Apresentar mais elementos da história do negro no Maranhão. Melhorar o acesso


(VISITANTE P).
Melhorar a divulgação do espaço e o horário (VISITANTE R).
Divulgar mais o Museu do Negro (VISITANTE S).
Mostrar mais objetos da cultura negra (VISITANTE T).
Diante dessas opiniões onde verificou que tanto os visitantes (turistas e
comunidade) como os representantes das entidades que tem envolvimento com a questão
étnica no Maranhão sugerem melhorias no espaço museológico que vão desde melhorias o
acesso até aumentam do acervo. Conclui-se que o Museu Cafua das Mercês, por ser um
espaço que se intitula Museu do Negro no Maranhão requer certas melhorias que venham
atender seu público que não são só turistas mais a comunidade que tem de certa forma sua
presença registrada nesse espaço.
Essas sugestões são entendidas como passos para posicionar a Cafua como um
museu vivo que dialoga com seu público através de elementos positivos da cultura negra.
Quando o professor Carlos Benedito representante do NEAB, sugeri que inclua atividades das
comunidades oriundas do interior do Estado, ele está frisando um dos papéis centrais do
museu que ser casa pública de promoção de conhecimento. Na medida em que o museu inclui
essas atividades ele rompe barreira que são impostas as culturas ditas dominadas e posiciona-
as no patamar que todas as culturas devem estar: oportunidade de conhecimento e de
interação social. É nesse contexto que se crê que as sugestões apresentadas estão sugerindo.
104

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do desenvolvimento desta pesquisa, algumas questões nortearam a


nossa investigação como indicadoras de caminhos a serem seguidos e olhares a serem
direcionados para nosso objetivo: analisar a representatividade da cultura afro-brasileira no
cenário turístico ludovicense.
Assim, conclui-se que o Museu Cafua das Mercês tem sua relevância como
representante da cultura afro-brasileiro no cenário turístico, pois a priori ele se posiciona
como um espaço que se insere no contexto do turismo étnico que vem ressaltando a etnicidade
brasileira. Para um país que se apresenta multiétnico, essa comunicação é primordial, pois
assim posiciona todos os seus verdadeiros autores, que são os povos indígenas, europeus e
africanos, base macro da formação do Brasil.
Na medida em que se reconhece a formação humana de seu país o turismo surge
como um mecanismo de reconhecimento desse povo através do deslocamento em busca de
novas sensações, roteiros, lugares e principalmente de cultura, pois sem cultura não há e não
haverá turismo.
Por essa razão, a priori o Museu Cafua das Mercês tem sua importância, no
entanto o museu precisa avançar em seu diálogo com seus visitantes, haja vista, que cultura
não é um processo estagnado, pelo contrário é dinâmica e o espaço necessita apresentar essa
dinamicidade para o seu público, sem distinção, seja autóctones ou turistas.
Assim, é válido que a Cafua busque parceria que a auxilie na jornada de ser um
instrumento de aprendizagem, conhecimento e de divulgação da cultura negra no Estado do
Maranhão com projeção para além dele.
Acredita-se que a cultura negra tem elementos culturais de suma importância para
viabilizar um melhor posicionamento da Cafua, como um espaço museal, no cenário turístico
de São Luís. Já existem esses posicionamentos culturais museológicos étnicos e a pesquisa
mostrou alguns expoentes na região brasileira. Locais que a priori poderiam pensar que não
trabalham a cultura negra, como a região do Sul. No entanto, foi apresentado dois importantes
espaços museais (dentro da sua especificidade).
Mesmo sendo um pequeno espaço, a Cafua poderia estar adotando o uso de
exposições itinerantes, de pequena duração. Há elementos culturais negros para serem
utilizados como exposição temporária. Por que não apresentar Maria Firmina dos Reis,
escritora de “Úrsula (primeira obra literária escrita por uma mulher negra no Maranhão) para
seus visitantes, “É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e
105

não lhes doe a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e “famintos”. Esse trecho
encontrado no livro de Úrsula defini como é horrível que locais que trabalham com a cultura
negra tratem seus expoentes assim: esquecidos, famintos e amordaçados.
Além de Maria Firmina, a Cafua poderia resgatar a memória de outros
personagens da cultura negra de grande destaque para sociedade brasileira. “Carcará e Pisa na
fulô” apresentam seu compositor, João do Vale como um importante personagem da cultura
maranhense. Jorge Itaci, babarolixá, escritor e ex-administrador, também poderia ter sua
memória regatada na Cafua, enfim são várias as oportunidades que o espaço museal poderia
explorar.
A Cafua também poderia compreender a Igreja Nossa do Rosário dos Pretos,
localizada no Centro Histórico de São Luís, como uma fonte de elementos culturais negros
para serem expostos como mecanismos de dinamização do museu.
Analisando a representatividade cultura afro-brasileira compreendeu-se que o
espaço museal Cafua das Mercês necessita trabalhar, também, com os elementos que já
possui, mas os posicionando de forma diferente. No caso, poderia expor às histórias dos
povos africanos que deram origens a formação humana do Estado maranhense.
Mas que conclusões, o que pretendemos neste momento é sublinhar
apontamentos, apresentados como mecanismo viáveis para posicionar o Museu Cafua das
Mercês.
O museu tem servido, ao logo do tempo, como veículo de afirmação de discurso
para a dominação, como centro produtores e difusores de ideias, através de textos, objetos e
imagens, selecionados, preservados nas medidas dos interesses de grupos possuidores do
poder de afirmação e manutenção de referenciais patrimoniais oficiais. Iniciativas
diferenciadas têm sido desenvolvidas durante as últimas décadas, provocando novas
perspectivas de seleções, preservações exibição de traços culturais desprezados, abordando
narrativas e sujeitos sociais, até então invisíveis, na realidade da sociedade brasileira. Tendo
surgido diferente de tipologias institucionais e formas de realizar exposições, tem aberto
brechas para introdução de conteúdos antes impensáveis de passiveis de preservação e
exposição.
Esperamos que com nossas considerações, neste estudo, o Museu Cafua das
Mercês, seja visto no curso de turismo da Universidade Federal do Maranhão, como objeto de
estudo para futura análise que auxiliam a posicioná-lo como mecanismo de promoção da
cultura negra no cenário turístico de São Luís.
106

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113

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DESTINADOS AOS VISITANTES


114

APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA


115

ANEXO A – REPORTAGEM
116

ANEXO B – RELAÇÁO DO ACERVO EXPOSTO NO CIRCUITO DE EXPOSIÇÃO


PERMANENTE DA CAFUA DAS MERCÊS
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