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Estudando o Batalhão de Ouro do Maracanã:

A importância do Turismo e os ciclos ritualísticos do Bumba-meu-boi do Maracanã


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE TURISMO

ANA PAULA RIOS DE MELO

ESTUDANDO O BATALHÃO DE OURO DO MARACANÃ:

A importância do Turismo e os ciclos ritualísticos do Bumba-meu-boi do Maracanã

São Luís
2005
ANA PAULA RIOS DE MELO

ESTUDANDO O BATALHÃO DE OURO DO MARACANÃ

A importância do Turismo e os ciclos ritualísticos do Bumba-meu-boi do Maracanã

Monografia apresentada ao Curso de


Turismo da Universidade Federal do
Maranhão, para obtenção do grau de
Bacharel em Turismo.

Orientadora: Profª. Socorro Araújo

São Luís
2005
ANA PAULA RIOS DE MELO

ESTUDANDO O BATALHÃO DE OURO DO MARACANÃ:

A importância do Turismo e os ciclos ritualísticos do Bumba-meu-boi do Maracanã

Monografia apresentada ao Curso de Turismo


da Universidade Federal do Maranhão, para
obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Aprovada em _____ / _____ /2005

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Profª. Socorro Araújo (Orientadora)


Universidade Federal do Maranhão

________________________________________________

Examinador 1
Universidade Federal do Maranhão

__________________________________________________

Examinador 2
Universidade Federal do Maranhão
A Deus, fonte de todos os dons.
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Fátima e Ivonaldo, pelo amor que dedicam a mim e pela

companhia sempre presente durante as visitas ao bairro do Maracanã;

Ao meu irmão, Marcelo Victor, pela companhia descontraída e alegre;

Aos meus tios e tias, em especial tia Socorro e tia Conceição, por terem

contribuído de forma significativa na elaboração desta pesquisa;

À minha avó Maria Rios pelo incentivo.

Aos meus amigos e primos e a todos aqueles que me ajudaram com palavras de

incentivo.

À Profª. Socorro, a quem tenho profunda admiração, por sua atenção durante a

elaboração deste trabalho.

À D. Maria José, Presidente do Boi do Maracanã, que sempre me recebeu com

muito carinho e atenção.

A participação dessas pessoas foi essencial para a realização deste trabalho.


“A cultura é aquilo que permanece no

homem quando ele já esqueceu todo

o resto”.

E. Henriot
RESUMO

Estudo do Bumba-meu-boi do Maracanã, envolvendo todo o seu ciclo de vida. Propõe-se

ações que possibilitarão a preservação da referida manifestação cultural e a sua utilização

como oferta turística do bairro do Maracanã, além de contribuir para a melhoria na qualidade

de vida da comunidade local. Refere-se também a outras manifestações culturais produzidas

no bairro.

Palavras-chaves: identidade cultural, bumba-meu-boi, manifestação popular, preservação.


ABSTRACT

Study of the Maracanã’s Bumba-meu-boi, involving all its cycle of life. It considers actions

that will make possible the preservation of the cited cultural manifestation and its use as it

offers tourist of the locate of Maracanã, besides contributing for the improvement in the

quality of life of the local community. It is also mentioned to other produced cultural

manifestations in the quarter.

Keywords: cultural identity, bumba-meu-boi, popular manifestation, preservation.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 01 - Cadastro de Bumba-meu-boi......................................................................... 49

Figura 01 - Humberto do Maracanã................................................................................. 53

Figura 02 - Ensaio do Boi de Maracanã........................................................................... 57

Figura 03 - Altar de São João........................................................................................... 58

Figura 04 - Apresentação do Bumba-meu-boi de Maracanã............................................ 60

Figura 05 - Esquentando os pandeirões durante o ensaio................................................ 85

Figura 06 - Ensaio do Boi de Maracanã........................................................................... 85

Figura 07 - Chapéu de fita................................................................................................ 86

Figura 08 - Caboclos de fita do Boi do Maracanã............................................................ 86

Figura 09 - Índios do Boi do Maracanã............................................................................ 87

Figura 10 - Caboclos de pena do Boi do Maracanã......................................................... 87


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 11
2 ASPECTOS ECONÔMICOS DO TURISMO...................................................... 14
2.1 Aspectos sócio-culturais do Turismo..................................................................... 18
2.2 Efeitos da globalização para o Turismo................................................................ 21
2.3 A relação do Turismo e o Patrimônio Cultural.................................................... 24
3 ASPECTOS GERAIS DO MARACANÃ.............................................................. 30
3.1 Localização............................................................................................................... 31
3.2 Infra-estrutura básica e turística................................................................................... 31
3.3 Principais atrativos do Maracanã.................................................................................. 32
3.3.1 Área de Proteção Ambiental (APA) do Maracanã.................................................... 33
3.3.2 A festa da Juçara........................................................................................................ 34
3.3.3 A Festa dos Reis........................................................................................................ 36
3.4 Símbolo cultural maranhense: Bumba-meu-boi......................................................... 37
4 BREVE HISTÓRICO DO BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO................... 40
4.1 Personagens....................................................................................................................... 43
4.2 Estilos ou Sotaques.................................................................................................. 46
4.2.1 Sotaque de Zabumba................................................................................................. 47
4.2.2 Sotaque de Matraca................................................................................................... 47
4.2.3 Sotaque de Orquestra................................................................................................. 48
4.2.4 Sotaque da Baixada (sotaque dos pandeirões).......................................................... 49
4.2.5 Sotaque de Costa de Mão.......................................................................................... 49
5 ENTENDENDO O BUMBA-MEU-BOI DO MARACANÃ: COMO TUDO 51
COMEÇOU..............................................................................................................
5.1 O amo: Humberto do Maracanã............................................................................ 52
5.2 Contextualizando a festança: Roteiro da brincadeira do Bumba-meu-boi do 55
Maracanã..................................................................................................................
5.3 É hora de preparar a festa: os ensaios....................................................................... 55
5.4 O Boi precisa receber a benção de São João: O Batizado................................... 57
5.5 Finalmente chega o grande momento: as Apresentações.................................... 59
5.6 O Ritual da Morte do Boi........................................................................................ 61
5.7 O processo de modernização e o Bumba-meu-boi do Maracanã........................ 64
6. PROPOSTAS DE INTERPRETAÇÃO CULTURAL DO BUMBA-MEU-
BOI DO MARACANÃ............................................................................................ 67
6.1 Proposta A: Implantação de um Centro de Visitação do Bumba-meu-boi do
Maracanã.................................................................................................................. 68
6.1.1 Justificativa................................................................................................................ 68
6.1.2 Objetivo geral............................................................................................................ 69
6.1.3 Objetivos específicos................................................................................................. 69
6.1.4 Metodologia............................................................................................................... 70
6.2 Proposta B: Elaboração de um calendário do ciclo de vida do Bumba-meu-
boi do Maracanã...................................................................................................... 72
6.2.1 Justificativa................................................................................................................ 72
6.2.2 Objetivo geral............................................................................................................ 73
6.2.3 Objetivos específicos................................................................................................. 73
6.2.4 Metodologia............................................................................................................... 74
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 75
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 77
ANEXO..................................................................................................................... 79
APÊNDICE.............................................................................................................. 84
Melo, Ana Paula Rios de.
Estudando o batalhão de ouro do Maracanã: a importância do
Turismo e os ciclos ritualísticos do Bumba-meu-boi do Maracanã
/ Ana Paula Rios de Melo – São Luís: [s.n.], 2005.

87 f. il.

Monografia (Graduação em Turismo) – Curso de Turismo,


Univ. Federal do Maranhão - UFMA, 2005.

1. Bumba-meu-boi – Maranhão 2. Turismo – Maranhão.


I. Título

CDU 394.2:379.85 (812.1)


1. INTRODUÇÃO

Atualmente o Turismo é considerado um setor econômico dos mais dinâmicos,

apresentando para o futuro as perspectivas mais promissoras, caracteriza-se por ser altamente

competitivo, decorrência da melhoria dos equipamentos e produtos turísticos e da

modernização nos transportes e das comunicações. É também, crescente o desejo das pessoas

em conhecer lugares novos, outras culturas.

Vivemos em uma sociedade de avanços tecnológicos, de facilidades de

comunicação e de deslocamento de pessoas, de integração econômica, política e cultural, em

que a globalização tornou-se algo comum em nossas vidas. Nosso ambiente do dia a dia está

cada vez mais padronizado. E esse é um dos motivos pelos quais as diversidades culturais

encontram lugar na sociedade em que vivemos.

Hoje em dia está havendo um redescobrimento do local em contraposição do

global, estamos aprendendo a olhar para o patrimônio como um bem que representa

identidade e que exalta o valor de uma cultura, de algo que é o retrato de um tempo histórico,

e de manifestações culturais.

Dessa forma, a cidade de São Luís destaca-se no cenário do turismo cultural,

devido à sua história e riqueza de suas manifestações populares, que fazem parte da oferta

turística ludovicense. Sem dúvida a manifestação popular símbolo do estado do Maranhão, é o

bumba-meu-boi, pois se acredita que tal manifestação tenha surgido por volta do século XVIII

e até hoje se mantém viva, possuindo um lugar de destaque entre as manifestações culturais

do estado, por sua história, ritmo vibrante e pela sua forma especial de se apresentar.

É possível observarmos a referida manifestação no mês de junho, vários são os

grupos de bumba-meu-boi que se apresentam neste período, dos quais destacamos o Bumba-
meu-boi do Maracanã como nosso objeto de estudo, por ser um dos grupos mais tradicionais

da ilha, que conta com a participação da comunidade local.

A metodologia utilizada para a realização deste trabalho consistiu em pesquisas

bibliográficas e de campo.

A pesquisa bibliográfica deu-se através de livros, documentos e sites que

abordassem o turismo cultural e as principais manifestações culturais de São Luís. No Centro

de Cultura Popular Domingos Vieira Filho foi possível ter acesso ao cadastro de grupos de

bumba-meu-boi do Estado.

Já a pesquisa de campo iniciou-se com visitas ao bairro do Maracanã com o

objetivo de se fazer nossas primeiras observações acerca da história e das manifestações

populares produzidas no bairro, além de interagir com a comunidade local e com pessoas

representativas do Boi do Maracanã que pudessem contribuir para o referido estudo através de

seus depoimentos.

Várias foram as visitas, participamos desde reuniões com o grupo do Bumba-meu-

boi do Maracanã, com a presença de pessoas importantes para a comunidade local, como

Humberto do Maracanã, até os ensaios, batizado e apresentações do Boi do Maracanã.

Em seguida, foram realizadas entrevistas com D. Maria, Presidente do Boi do

Maracanã e com Zelinda Lima, folclorista, a fim de compreender melhor todo o ciclo de vida

do bumba-meu-boi.

O trabalho divide-se em cinco capítulos.

No primeiro capítulo aborda-se os aspectos econômicos, sociais e culturais do

turismo. Damos destaque para o segmento do Turismo Cultural, trabalhando ainda neste

capítulo conceitos de Patrimônio Cultural e os efeitos da globalização para a atividade

turística.
Já no segundo capítulo, é abordado os aspectos gerais do bairro do Maracanã, seus

atrativos naturais e culturais, localização, principais manifestações culturais, infra-estrutura

básica e turística.

Após conhecermos um pouco mais sobre o Bairro do Maracanã, iremos falar com

mais afinco da manifestação cultural mais tradicional do bairro, o Bumba-meu-boi do

Maracanã, mas para entendermos melhor tal manifestação é preciso primeiramente entender

como se dá a brincadeira de Bumba-meu-boi no Maranhão, devido a isso faz-se no terceiro

capítulo um Breve Histórico do Bumba-meu-boi do Maranhão.

O quarto capitulo vem tratar com mais afinco de todo o ciclo de vida do Bumba-

meu-boi do Maracanã, desde os ensaios até a morte do boi.

E por último temos o quinto capítulo que se constitui da apresentação de

propostas com o objetivo de preservar o Bumba-meu-boi do Maracanã e desenvolver o

turismo no bairro, proporcionando aos seus moradores a melhoria da sua qualidade de vida.

A presença de atrativos culturais no bairro do Maracanã, em especial o Bumba-

meu-boi do Maracanã, serviram de estímulo para a realização deste estudo, pois há a

possibilidade de utilização desta localidade como um atrativo turístico diferente e interessante

para a cidade de São Luís. Este estudo poderá auxiliar outras pesquisas referentes às

manifestações culturais produzidas no bairro do Maracanã, pois serão necessárias

investigações mais aprofundadas para um melhor aproveitamento de suas potencialidades

para o desenvolvimento do turismo cultural.


2 ASPECTOS ECONÔMICOS DO TURISMO

Sabe-se que o Turismo é uma área bem mais abrangente do que se possa

imaginar, pois envolve as mais diversas áreas do conhecimento tornando-se difícil conceituá-

lo. Por exemplo, segundo McIntosh e Grupta, o turismo, de forma ampla, é assumido como a

ciência, a arte e a atividade de atrair, transportar e alojar visitantes, a fim de satisfazer suas

necessidades e seus desejos.

Para Mathieson e Wall (apud TULIK, 1990, p.68-69) é o movimento temporário

de pessoas para locais de destinos distintos de seus lugares de trabalho e de morada; incluindo

também as atividades exercidas durante a permanência desses viajantes nos locais de destino e

as facilidades para promover suas necessidades.

Atualmente, é impossível limitar uma definição específica de turismo. Sem dúvida

é uma atividade sócio-econômica, pois gera a produção de bens e serviços para o homem

visando a satisfação de diversas necessidades básicas e secundárias. Em se tratando de uma

manifestação voluntária decorrente da mudança ou do deslocamento humano temporário,

envolve a indispensabilidade de componentes fundamentais como o transporte, o alojamento,

a alimentação e, dependendo da motivação, o entretenimento (lazer, atrações).

Com a modernidade e o desenvolvimento das comunicações, do avanço

tecnológico, de novos costumes, valores culturais e hábitos emergentes, as viagens foram

crescendo, sofisticando-se e se adequando às novidades globais da época, demandada pelos

consumidores e oferecida pelos produtores.

Devido ao processo de desenvolvimento do turismo e das suas características foi

possível observar o surgimento de novas necessidades dos turistas, afinal de contas estes se

encontram muito mais informados sobre o produto turístico que desejam adquirir, impondo

desta forma, uma grande capacidade de inovação e criatividade aos profissionais desta área.
Dessa forma, torna-se necessária a descoberta de novas localidades que sejam

capazes de despertar o interesse tanto da comunidade local quanto de turistas. Pensando nisso,

resolvemos observar mais atentamente o entorno da cidade de São Luís a fim de descobrir

locais que possuam atrativos naturais e culturais significativos que podem contribuir para o

desenvolvimento do turismo local.

Então, encontramos no bairro do Maracanã, área rural de São Luís, atrativos

interessantes, como as manifestações culturais, entre as mais conhecidas podemos citar a

Festa da Juçara que acontece no mês de Outubro e o Bumba-meu-boi do Maracanã, que inicia

seus ensaios em Maio. Quanto ao aspecto natural, damos destaque para a Área de Proteção

Ambiental do Maracanã, onde são desenvolvidas trilhas ambientais que proporcionam a

prática do ecoturismo.

É importante o desenvolvimento do turismo em localidades como o Maracanã,

pois este pode trazer melhorias na qualidade de vida da sua população, afinal de contas trata-

se de uma atividade econômica em plena expansão.

Segundo as previsões da OMT (Organização Mundial de Turismo), o turismo se

tornará a principal atividade econômica do mundo em 2020. De acordo com Carvalho (2000,

p.13), a expansão espacial do turismo ocorrida nos últimos 25 anos é uma realidade inegável.

O movimento de pessoas cujo fim é o desfrute do tempo livre em atividades de turismo e lazer

já não se restringe mais aos países centrais, ele passa a existir também em muitos países

periféricos. Seja através do turismo internacional, seja através do chamado turismo doméstico.

Esta expansão do turismo é determinada, principalmente, por dois processos que se

complementam e interagem. Um processo é de caráter histórico-cultural e, o outro, é de

caráter sócio-econômico.

Sabe-se que a comercialização de um produto turístico é feita através da sua

exposição, utilizando recursos audiovisuais, são destacadas as belezas naturais, a riqueza


cultural e histórica, tendo como finalidade chamar a atenção das pessoas para um determinado

destino turístico. De acordo com Acerenza (1991, p.25), o produto turístico pode ser

conceituado como o “conjunto de prestações, materiais ou imateriais, que se oferecem com o

propósito de satisfazer os desejos ou as expectativas do turista”.

Neste sentido, também no turismo, como em qualquer segmento de negócios, há

uma preocupação constante no que diz respeito à promoção e ao marketing, cujo objetivo é

vender o produto turístico. Os profissionais que promovem a “mercadoria viagem” prometem

satisfação garantida para os que a compram, utilizando um sistema de divulgação cada vez

mais sofisticado, onde oferecem muito conforto, muita natureza, descontração e liberdade,

enfim, lugares paradisíacos que contrastam com o espaço habitual e banal do turista. A

definição de Miossec (1977, p.138), de que o "espaço turístico é, antes de tudo, uma imagem",

é muito bem trabalhada pelos promotores de viagens.

A atividade turística tem um grande poder de transformação de suas localidades e

a sua tendência tem sido explorar todos os recursos naturais, culturais e históricos, da forma

mais lucrativa possível. O que poderá causar danos irreversíveis ao meio ambiente natural e às

culturas.

A este respeito, Ana Fani Alessandri Carlos (2000, p. 25) afirma que:

Cada vez mais o espaço é produzido por novos setores de atividades


econômicas como a do turismo, e desse modo praias, montanhas e campos
entram no circuito da troca, apropriadas, privativamente como áreas de lazer para
quem pode fazer uso delas.

Desta forma, pode-se dizer que o Turismo por possuir a capacidade de modificar

espaços e até mesmo os atrativos naturais e culturais de um pólo turístico, tendo apenas como

finalidade gerar lucro para este, poderá acabar limitando-se apenas a uma atividade comercial.

A ocupação do tempo disponível para o lazer em atividades englobadas pelo turismo, inclui o

deslocamento de pessoas para fora do seu espaço cotidiano, faz deste um fenômeno de massa.
Isto porque com o capitalismo ocorrem muitas mudanças nas relações sociais, uma delas

refere-se á utilização do tempo, que agora passa a ser dividido em tempo de trabalho e tempo

livre ou tempo de lazer.

A sociedade atual vive freneticamente e acaba por desejar a saída desta rotina

imposta pelo modelo urbano industrial, assim a viagem é vista como uma forma de escapar

deste cotidiano atribulado, ela possibilita o descanso mental e físico, a liberdade, o contato

com a natureza e culturas diversas, sendo importante destacar, que de todas as atividades que

se relacionam com o lazer, o turismo é certamente a que mais provoca frenesi nos indivíduos,

por ser capaz de em um curto período alterar toda uma rotina (CAMARGO, 1999, p.33).

Neste sentido Krippendorf (1989, p.44) vê o turismo como:

Uma indústria da diversão e do prazer, em expansão permanente, assume de forma


completa a necessidade de lazer e férias. É a indústria das agências de viagens, das
empresas de transporte por ar, trilho, estrada e água, dos estabelecimentos de
diversões, das empresas de construção, dos construtores de casas de campo e de
trailers, dos fabricantes de equipamentos para camping e caravanas, dos escritórios
de planificação e consultoria, dos conselheiros econômicos e publicitários, dos
arquitetos, dos construtores de teleféricos, dos fabricantes de esqui e de roupas, dos
vendedores de souvenirs, dos cassinos e parques de diversões, do setor
automobilístico, dos bancos, dos seguros, etc. Uma indústria que tem sua dinâmica
própria.

Quase sempre, o aspecto financeiro é predominante, porém não é o único. Há o

aspecto sócio cultural que deve ser enfatizado. Desta forma, os profissionais da área devem

estar atentos ao vender um destino turístico, pois é extremamente importante que os seus

atrativos naturais, culturais e históricos sejam preservados, que o modo de viver da

comunidade local não venha a ser alterado, só assim poderemos ter uma atividade mais

responsável e sensível ao meio em que está inserida.

Embora o que vem se observando ao longo das últimas décadas é que o

Planejamento e o Marketing Turístico preocupam-se apenas em atender às necessidades do

turista e oferecer-lhe experiências diferentes e interessantes. O que também deve ser citado
refere-se às questões dos empresários e operadores, que com a atração de um grande número

de visitantes objetivam garantir um rendimento financeiro adequado para seus investimentos e

operações, quanto aos políticos e planejadores, estes por sua vez, desejam maximizar as

vantagens financeiras obtidas com o turismo para o seu país ou região (COBRA, 1991).

É indiscutível que a atividade turística gere impactos positivos e negativos no país

ou região de destino. Entretanto tais impactos podem ser minimizados ou até mesmo

excluídos, desde que o governo, planejadores, empreendedores, enfim profissionais da área se

preocupem tanto com a comunidade local quanto com o visitante, trazendo-lhes benefícios,

sem prejudicar o ambiente natural e cultural de determinado destino turístico.

É neste sentido, que a atividade turística deverá ser desenvolvida no Maracanã,

respeitando a identidade cultural do local e preservando o ambiente natural, para que isso

ocorra será necessário criar ações que contribuam para um turismo sustentável, sendo

imprescindível o apoio de órgãos públicos e privados. Ou seja, é extremamente importante

considerar não só os aspectos econômicos durante o processo de desenvolvimento turístico de

um determinado local, mas também os seus aspectos sócio-culturais.

2.1 Aspectos sócio-culturais do Turismo

Desde o final do século XVI, o Grand Tour (viagens realizadas pelos jovens da

burguesia européia), propiciava o contato com culturas diferentes, satisfazendo a necessidade

das pessoas por novos conhecimentos. O turismo já era executado a fim de conhecer novas

paisagens por meio de viagens organizadas, os tours, com roteiros pré-estabelecidos e

montados de modo a atender uma clientela exigente e culta. Tais viagens exerciam um papel

primordial na educação cognitiva e perceptiva da classe alta inglesa, além de terem


contribuído para o desenvolvimento no que tange a construção e melhoria de estradas,

transportes, hospedaria e prestação de serviços para viajantes (ANDRADE, 1998, p.55).

É neste contexto que nos deparamos com a verdadeira essência do Turismo, pois

este implica contato humano e cultural, troca de experiências entre os visitantes e a

comunidade local, ou seja, as viagens permitem não apenas conhecer outras realidades, mas

perceber e valorizar nossa diversidade cultural. Não se deve ignorar o ser humano que vive

na região hospedeira e que participa diretamente da recepção e do atendimento ao visitante. A

valorização da mão-de-obra local abre espaço para um investimento em qualidade, com a

conscientização acerca do papel representado, por cada um, nesse processo competitivo.

Entendendo o que é o turismo e o que ele representa em termos de renda, imediata

e em médio prazo, para a sua sobrevivência, a população local e, em especial, o trabalhador

sentir-se-á mais integrado ao planejamento e à execução dos programas. À comunidade

receptora cabe, também, preparar os seus trabalhadores e a população residente no sentido de

minimizar os possíveis conflitos entre os nativos e os turistas.

Suzana Gastal (2001, p.129) refere-se a troca cultural entre visitantes e

comunidade local da seguinte maneira: "cultura é um insumo turístico importante, mas é

aquela cultura viva, praticada pela comunidade em seu cotidiano. Não é um espetáculo, que

inicia quando o ônibus dos visitantes chega, mas uma atividade que a comunidade exerce

rotineiramente”.

O turismo cultural é motivado pela busca de informações, de novos

conhecimentos, de interação com outras pessoas, comunidades e lugares, dos costumes, da

tradição e da identidade cultural. Este segmento do turismo tem como fundamento o elo entre

o passado e o presente, o contato e a convivência com o legado cultural, com tradições que

foram influenciadas pela dinâmica do tempo, mas que permaneceram através das formas

expressivas reveladoras de ser e fazer de cada comunidade.


Barreto (2002, p.29) conceitua o Turismo Cultural de forma objetiva quando se

refere a este segmento da seguinte maneira: “é todo turismo em que o principal atrativo não

seja a natureza, mas algum aspecto da cultura humana”. Ou seja, este segmento do turismo

tem como principal atrativo o patrimônio cultural, englobando os bens tangíveis e intangíveis.

Confirmando o que disse Barreto, a Empresa Brasileira de Turismo –

EMBRATUR conceitua Turismo Cultural como:

Atividades que se praticam para satisfazer o desejo de emoções artísticas e


informações culturais, visando a visitação de monumentos históricos, obras de
artes, relíquias, antiguidades, concertos musicais, museus e pinacotecas.

Desta forma, pode-se dizer que o Turismo Cultural corresponde aos bens

materiais e imateriais que possuem importância significativa para uma determinada

localidade, constituindo assim o seu Patrimônio Cultural.

BARRETO (2000, p. 29) refere-se a Patrimônio Cultural como:

Recursos que podem ser bens tombados ou não, desde que apresentem
características consideradas relevantes para a história e a cultura da localidade em
que estão construídos. Entram nesse rol prédios, monumentos, bairros, cidades e
marcos arquitetônicos (...). Há também uma enorme variedade de manifestações da
cultura imaterial, entre as quais, podem ser citadas as danças, a culinária, o
vestuário, a música, a literatura popular e a medicina caseira.

O Turismo Cultural abre perspectivas para a valorização e revitalização do

patrimônio, do revigoramento das tradições, da redescoberta de bens culturais materiais e

imateriais, muitas vezes abafadas pela concepção moderna. Dessa forma, a atividade turística

passa necessariamente pela questão da cultura local e regional, o que reforça a necessidade em

compreender as suas peculiaridades, admirar a complexidade e estimular a participação da

comunidade.

Em São Luís, o reconhecimento do Centro Histórico como Patrimônio Cultural da

Humanidade pela UNESCO em 1997, motivou o desenvolvimento da atividade turística,

especialmente no que se refere ao Turismo Cultural.


Entretanto, como já foi dito anteriormente o turismo cultural engloba também as

manifestações culturais que fazem parte do cotidiano da comunidade de um determinado

destino turístico, estas podem ser utilizadas para compor a oferta turística de um núcleo

receptor, como a cidade de São Luís.

Assim, as manifestações culturais produzidas no bairro do Maracanã, como a

Festa dos Reis, Festa de São Sebastião, Festa da Juçara e o Bumba-meu-boi do Maracanã

podem incrementar a oferta turística de São Luís. Mas para que isso ocorra é preciso que os

governos estadual e municipal invistam nestas produções culturais, tornando-as

definitivamente atrativos turísticos que possam ser divulgados como tal.

Porém, é importante que os órgãos citados ao realizarem ações para o

desenvolvimento do turismo nesta localidade, contem com profissionais sensíveis à cultura

local, para que não ocorra a descaracterização das manifestações e conseqüentemente uma

padronização cultural, muito comum atualmente devido ao processo de globalização.

2.2 Efeitos da globalização para o Turismo

Com a atual globalização, tivemos uma redefinição no que diz respeito ao tempo e

espaço, isso graças às modernas tecnologias que nos possibilitam obter qualquer tipo de

informação em frações de segundos, parece não existir mais fronteiras, as culturas integram-

se diante deste processo e acabam perdendo seu sentido verdadeiro. A padronização dos

comportamentos no quadro da constituição de uma cultura do consumo global, resultante do

fluxo de informações e mensagens audiovisuais, se processa em contextos urbanos onde a

diminuição das experiências pessoais é visível.

Pela primeira vez na história o homem se encontra mundialmente imerso num

único sistema técnico, sob o domínio dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da
política. Nessa comunidade mundial o lugar da mídia é preponderante uma vez que permite a

globalização dos espaços. Uma das características dessa globalização dos espaços promovida

pelas diferentes mídias é que cada lugar, não importando onde se encontre, revela o mundo,

uma vez que todos os lugares são passíveis de intercomunicação.

O sociólogo brasileiro Renato Ortiz (1994, p.25) afirma que existe uma cultura

mundializada que se expressa na emersão de uma identidade cultural popular, cujos signos

estariam dispersos pelo mundo. Como exemplos cita redes de alimentos e marcas de produtos

de consumo que seriam facilmente identificáveis de um estilo de vida global.

Segundo MENEZES (1997, p.5) o modelo de comunicação de massa e a

globalização acabam produzindo uma coletivização da criação para o mercado e o consumo

de informações, padronizando gostos, idéias, imagens que são consumidos na esfera das

mídias e da cultura globalizada.

Dessa forma, a massificação do turismo vem contribuindo para a divulgação de

estereótipos que tentam representar a riqueza cultural de cada região e de cada povo escolhido

como destino turístico. Alternativa que pode fazer desaparecer, com o tempo, características

essenciais de uma comunidade, na medida em que os anfitriões, para atender à demanda

turística, vão, pouco a pouco, adequando o seu cotidiano às necessidades dos grupos

visitantes, a ponto de perder seus referenciais. E assim, procurando satisfazer o cliente, vai

deixando de lado as suas próprias necessidades ou desejos simbólicos.

Renato Ortiz (1994, p.140) manifesta sua opinião a este respeito da seguinte

maneira: “A dimensão global supera o aspecto nacional. Para que os homens se encontrem e

se reconheçam no universo da modernidade-mundo é preciso que sejam forjadas outras

referências culturais”.

Na verdade, não é somente a preservação da diversidade cultural que pode ser

ameaçada diante do desenvolvimento apressado e irresponsável de atividades turísticas.


O próprio meio-ambiente, as paisagens naturais e o patrimônio artístico-cultural

também podem ser objetos de degradação, quando inexistem conscientização e controle.

Enfim, planejar é preparar e, em última instância, pensar na sobrevivência do povo que vive

no local a ser visitado e conhecido por outras gentes, outros povos, a fim de que a sua história

possa ter continuidade.

A história de um povo não consiste apenas em contar seus feitos guerreiros, as

suas lutas políticas, a sua formação religiosa, as suas conquistas e o seu progresso. Há

também uma força íntima, um impulso irresistível e superior que lhe define o caráter – tal

impulso refere-se à tradição. A tradição está presente em todo ato humano em sociedade,

através da cultura que usa o dispositivo da memória para aglutinar, misturar e remontar a

história de um povo, os costumes e as manifestações populares podem ser apreciadas nas

festas, nas cantigas, nas rodas, nos autos religiosos que têm como finalidade resgatar aspectos

da cultura viva, mutante e sempre presente na história, enquanto o homem for capaz de

simbolizar sua realidade. Modernidade pode andar junto com o antigo; basta adaptar ao

ambiente e dar uma nova função a ele e manter conservadas as suas condições mínimas de

sobrevivência, todas elas implicadas no meio ambiente e no saber (MARQUES, 1999, p.15).

Manter algum tipo de identidade – étnica, local ou regional – parece ser essencial

para que as pessoas se sintam seguras, unidas por laços extemporâneos a seus antepassados, a

um local, a uma terra, a costumes e hábitos que lhes dão segurança, que lhes informam quem

são e de onde vêm, enfim, para que não se percam no turbilhão de informações, mudanças

repentinas e quantidade de estímulos que o mundo atual oferece (BARRETO, 2000, p. 46).

Sendo assim, é necessário entendermos que a subordinação do anfitrião à cultura e

gostos dos visitantes não é regra geral. Ou seja, é necessário que haja um planejamento

adequado e participação da comunidade local durante o processo de preparação de uma região

para o desenvolvimento de atividades turísticas, o resultado final pode ser positivo. Os efeitos
sócio-culturais sobre as pessoas residentes na área podem se manifestar, entre outros aspectos,

em melhores condições de vida e enriquecimento cultural.

2.3 A relação do Turismo e o Patrimônio Cultural

Como já foi dito anteriormente, existe uma preocupação de que o turismo se

restrinja apenas a uma atividade comercial, desconsiderando a sua verdadeira essência, que se

refere aos seus aspectos naturais, sociais e histórico-culturais. Porém, podemos observar

através do turismo cultural, que possui como principal atrativo a oferta histórico-cultural, a

contribuição deste na preservação de prédios, monumentos, bairros, mantendo assim a

arquitetura original e evitando a sua substituição por formas mais modernas.

No Brasil, a preocupação com a preservação do patrimônio cultural, começa com

os portugueses, que inicialmente propuseram a manutenção das edificações. Na década de 30

firma-se a identidade cultural da nação e vários projetos de lei são enviados ao Congresso

Nacional, versando sobre o direito de propriedade absoluta. Nesta mesma década, é criado o

IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) a fim de realizar

concretamente a preservação do patrimônio histórico e cultural do país. Entretanto, somente

na década de 70 é concretizada a política de preservação do patrimônio cultural do país.

Então, começam a ser implantados projetos de revitalização e recuperação dos centros

históricos de algumas cidades brasileiras, como o Projeto Reviver (São Luís – 1979),

Operação Pelourinho (Salvador – 1992), Projeto Ouro Preto (Ouro Preto – 1993)

(MARQUES, 1995). Entretanto, é importante ressaltar que tanto as edificações históricas

quanto as manifestações culturais constituem parte importante dos referenciais de um povo,

da identidade cultural de uma cidade. Sendo assim, a preservação destes, indica o

reconhecimento do valor e importância de tais referenciais.


Desta forma, Fontes (1986, p.31) entende que existem muitas faces dentro da

cidade e o seu reconhecimento deve ter como referência a qualidade do meio ambiente e dos

valores históricos, culturais e estéticos que dão a cada comunidade a sua individualidade.

É exatamente por este reconhecimento que o Turismo deve trabalhar, no bairro do

Maracanã por exemplo, há muitas manifestações culturais e belezas naturais que devem ser do

conhecimento de todos, tanto da comunidade local, que por sinal participa ativamente da

produção cultural do bairro, quanto da população em geral. E a atividade turística pode

contribuir para este reconhecimento, no momento em que ajuda a comunidade local ou os

visitantes de um determinado núcleo turístico a encontrar a singularidade do lugar, seus

símbolos e significados mais marcantes, colaborando também para a sua promoção.

Através de conversas com moradores do Maracanã podemos observar que alguns

já entendem que a atividade turística pode vir a trazer benefícios para eles próprios, além de

ajudar na promoção e preservação dos seus atrativos naturais e culturais.

Isso fica claro no depoimento de uma moradora do bairro, quando diz:

... Minha filha tu precisa ver isso aqui quando tem a Festa da Juçara e os ensaios do
boi... vem muita gente, eu até tomo de conta de umas das barraquinhas do Parque da
Juçara, a gente é pobre e precisa aproveitar essas coisas para ganhar um
dinheirinho... (Depoimento de moradora do Maracanã, 2005).

Sabemos da importância de promover e proteger as manifestações culturais

representadas, em todo o mundo, por monumentos, sítios históricos e paisagens culturais. Mas

não só de aspectos físicos se constitui a cultura de um povo. Há muito mais, contido nas

tradições, no folclore, nos saberes, nas línguas, nas festas e em diversos outros aspectos e

manifestações, transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao

longo do tempo. A essa porção intangível da herança cultural dos povos, dá-se o nome de

patrimônio cultural imaterial.


De acordo com Petry (2002, p.21), Patrimônio Cultural constitui:

Edificações urbanas e rurais, a literatura, a música, os usos e costumes, lendas, mitos


e tudo mais que ficou registrado quer através de documentos (papel, pedra,
mármore, imagens, túmulos, móveis, vestuários, objetos de uso pessoal, coletivo
etc) como tudo que ficou como vestígios produzidos pelos nossos antepassados.
Estes referenciais são documentos de identidade das populações que nos
antecederam.

A Constituição Brasileira de 1988 refere-se ao patrimônio cultural como:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,


tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à
ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.

Também são incluídos como definidores do patrimônio cultural as formas de

expressão; os modos de criar, de fazer e de viver; as criações científicas, as artísticas e as

tecnológicas; as obras, os objetos, os documentos, as edificações e os demais espaços

destinados às manifestações artístico-culturais; e, finalmente, os conjuntos urbanos e sítios de

valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e, inclusive, os

de valor científico.

Em 2000 é criado um novo instrumento de preservação pelo IPHAN, trata-se do

Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem o patrimônio cultural

brasileiro, e também o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Sendo que o registro

divide-se da seguinte forma: Livro dos Saberes que diz respeito aos conhecimentos, técnicas,

processos e modos de saber e fazer, enraizados no cotidiano das comunidades. Exemplos:

tecnologias tradicionais de produção artesanal. Livro das Celebrações: rituais e festas que

marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras

práticas da vida social. Exemplos: procissões, festas, concentrações. Livro das Formas de

Expressão: manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas. Exemplos:

folguedos, ritmos, linguagens, literatura oral e por último o Livro dos lugares: espaços onde
se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas. Exemplos: mercados, feiras,

santuários, praças.

Tal atitude realizada a fim de tentar preservar, revitalizar e conservar o patrimônio

cultural acaba gerando uma nova discussão, refere-se à visão de alguns estudiosos que irão

considerar algumas dessas formas de preservação do patrimônio como um congelamento do

passado, o que afetaria as principais características da cultura, pois se sabe que a cultura é

dinâmica, viva, coletiva (PELLEGRINI, 1993, p.52).

Todavia é necessário compreender que os registros, o tombamento, vão constituir

maneiras para que se possa revitalizar o nosso passado e que enfatizar a dimensão do

patrimônio cultural da cidade não significa "engessar" seu desenvolvimento. Pelo contrário,

implica ressaltar sua historicidade, entender a história como processo e perceber que é neste

registro que a tradição pode desencadear um sentido social, ensejando a transmissão de algo

representativo para a comunidade. Somente nesta medida é que a tradição cultural poderá se

manter viva e agregar valores contemporânea. Para SANTOS (1997, p.17) a consciência da

importância da preservação não invalida o progresso que pode, mas deve existir, mas sem que

se abandone ou se deixe de passar às novas gerações as manifestações culturais que

permanecem.

A preservação dos bens antigos não implica na estagnação do processo de

desenvolvimento e de modernização, pois não se pode impedir o novo de chegar, de melhorar

a vida das pessoas. Observa-se, porém, que freqüentemente confunde-se modernidade com

um amontoado de edifícios envidraçados, onde, segundo Berman (1987, p.38), tudo o que é

sólido se desmancha no ar.

Preocupar-se com a preservação dos bens culturais não é uma atitude romântica,

mas sim moderna, já que visa romper com a dominação cultural que impõe valores não

originais à população. A preservação dos bens culturais, por exemplo, possibilita o resgate da
cultura autêntica que imprime a identidade de um povo e mostrar para todos que aquela região

tem uma história e mostrar também que tudo precisa de um começo para chegar ao produto

final. Se não fosse assim, a televisão não existiria se não tivessem inventado o fusível

(IPHAN, 2003).

Margarita Barretto (2003, p. 45) manifesta sua opinião sobre o assunto da seguinte

maneira: “Recuperar ou manter a identidade, a cor local, aparece neste final de século como

uma necessidade generalizada em face da globalização”.

Mas é importante termos cuidado para não transformamos a herança cultural em

mero produto, pois o que está se colocando em questão neste estudo não é apenas o aspecto

econômico da atividade, mas também como ela pode influir de forma positiva para a

comunidade, trazendo melhorias na qualidade de vida da população. No momento em que tal

atividade além de gerar empregos possa despertar nesta comunidade a vontade de valorizar o

que é seu, o que representa a sua história e seus costumes, irá manter viva a sua cultura para

as futuras gerações.

Neste sentido, a atividade turística pode criar possibilidades para a revitalização

da identidade cultural, da preservação dos bens culturais e das mais ricas tradições, ou seja, o

turismo é capaz de gerar mecanismos de sustentabilidade e espaços propícios às expressões

culturais. Mas para que isso seja possível é interessante realizar um trabalho de sensibilização

com a população local, para que ela entenda o real valor de seus costumes e tradições, só

assim esta poderá contribuir no processo de preservação dos seus bens, sejam eles materiais

ou imateriais.

O patrimônio deve ser compreendido como celebração coletiva, como índice de

identidade de um povo, uma cidade ou um grupo social. Assim, é preciso buscar formas para

que os diferentes grupos sociais possam reconhecer e participar das práticas de preservação.

O que poderia contribuir para que isso acontecesse, seria a implementação de ações e
educação patrimonial tendo como finalidade manter a consciência social das atuais e futuras

gerações e sua capacidade de assumir responsabilidades, adotando a preservação cultural

como prática social cotidiana. O processo de preservação dos bens culturais além de

contribuir para o sentimento positivo de identidade, acaba despertando respeito e admiração

por parte dos visitantes.

Neste sentido, iremos conhecer através deste estudo a história, as principais

manifestações culturais e naturais do bairro do Maracanã, que podem ser utilizados como

atrativos, incrementando a oferta turística de São Luís. Deve-se ressaltar que o turismo deve

respeitar a comunidade local e as suas produções culturais atuando em favor da sua

preservação.
3 ASPECTOS GERAIS DO MARACANÃ

Maracanã/ Em você estou inspirado/Este ano para cantar/ Algumas coisas do teu
passado/Foram cinco famílias/Que aqui tudo começaram/Pereira, Coutinho e
Barbosa/Costa e Algares/Por cem mil rés te compraram/Teu povo vivia de lavoura e
pescaria/Carvão no Coufinho/Pra cidade iam vender/Teu meio de transporte/Era
mesmo embarcado/Pelo Rio Bacanga/Tanto fazia chover/E o teu nome/ Tu ganhou
de um arvoredo/ Que aqui tinha demais/Batizado por nossos velhos pais/Em mil
oitocentos e setenta e cinco/Aconteceu a tua fundação/no dia treze de junho/os
nossos velhos pais festejaram/Santo Antônio e São João/As matracas e os
pandeiros/É que faz tremer o chão (Maracanã e suas Raízes – Toada de Humberto).

A região do Maracanã existe desde o ano de 1875, tratava-se de um pequeno

povoado que fazia parte do distrito de São Joaquim do Bacanga. Não possuía vias de acesso

de qualidade para esta região, sendo possível apenas chegar até o local passando por um

povoado denominado de Furo, atualmente Vila Maranhão, o que era uma verdadeira aventura,

pois era necessário fazer a travessia por um braço de mar do rio Bacanga de canoas. A

primeira via de acesso terrestre foi construída no governo de Magalhães de Almeida, através

do Plano Diretor da Secretaria Municipal de Terras, Habitação e Urbanismo, foi quando o

Maracanã deixou de ser um povoado para ser um bairro, mas preservando as suas

características rurais.

Atualmente existem linhas regulares de ônibus para a região, são elas: Itapera, da

Empresa São Benedito; Igaraú e Estiva, da Empresa Santa Clara e Maracanã, da Empresa

Taguatur, o que facilita de forma significativa o acesso ao bairro.

Quanto à sua denominação Cunha (1997, p.18) nos esclarece dizendo que a

palavra Maracanã é de origem tupi-guarani e significa pássaro verde. De acordo com alguns

moradores da região há duas versões para o nome do bairro, a primeira refere-se à existência

de um papagaio que atacava as plantações de milho, o “pássaro verde” e a outra diz respeito à

vegetação “Pau de Maracanã”, que servia de alimento para uma ave típica da região,

conhecida popularmente como Curica.


3.1 Localização

O Maracanã é um bairro rural que se encontra a aproximadamente 18 km da

cidade de São Luís, próximo a BR-135. Apresenta floresta de galerias entremeadas por

igarapés de água doce, terras baixas e formações colinosas. Solo rico em matéria orgânica,

caracterizada por terra preta e, apresenta um clima tropical quente úmido. Possui típica

vegetação de várzea, predominando juçara e buriti e em outra parte encontramos árvores

frutíferas como bacuri e cupuaçu. A fauna apresenta varias espécies como: juritis, rolinhas, e

pipiras-azuis.

3.2 Infra-estrutura básica e turística

De acordo com as visitas realizadas no bairro do Maracanã, durante o mês de

maio, foi possível observar através de informações cedidas pelos moradores, que o sistema de

esgoto e o abastecimento de água ainda encontram-se precários, pois uma boa parte da

população utiliza fossas e a água falta com uma considerável freqüência.

Existe apenas um posto dos Correios, mas não há postos telefônicos no bairro,

este conta com aproximadamente sete orelhões para atender toda a comunidade. Há

iluminação pública na maior parte do bairro e a grande maioria da população dispõe de

energia elétrica. O bairro não dispõe de serviços de coleta de lixo.

O Maracanã possui escolas municipais, estaduais e comunitárias. Entre as quais

podemos citar: Unidade Integrada Major Augusto Mochel, Unidade Escolar Professor

Raimundo Lopes, Almirante Tamandaré, Escola Professora Vitória Guimarães, Escola

Comunitária São João Batista e Escola Comunitária Sagrado Coração.


Quanto ao sistema de saúde, o bairro não dispõe de hospitais, mas possui a Casa

de Parteira do Maracanã, um Centro e um Posto de Saúde. O Centro de Saúde conta com

serviços de enfermagem, pediatria, odontologia e ginecologia.

No que se refere à infra-estrutura turística a situação encontra-se pior, pois não há

nenhum tipo de sinalização turística, nem postos de informações que possam atender os

visitantes, só existem guias para o acompanhamento nas trilhas ambientais que são realizadas

na Área de Proteção Ambiental do Maracanã. Com o envolvimento da Secretaria Municipal

de Turismo houve uma melhora no que diz respeito ao material informativo da região, pois

antigamente ele simplesmente não existia.

O Maracanã infelizmente não dispõe de hotéis ou agências de turismo, possui uma

modesta estrutura de bares, lanchonetes e mercearias, possuindo apenas um restaurante que

localiza-se próximo ao Parque da Juçara, entretanto, alguns bares servem refeições nos finais

de semana. O único hotel da região, o Hotel Fazenda do Maracanã, que contava com 15

unidades habitacionais faliu devido à queda do fluxo de hospedagem.

Assim, podemos afirmar que o Maracanã é carente no que diz respeito à sua infra-

estrutura básica e turística. Falta mais interesse e comprometimento por parte do poder

público para a elaboração de políticas, planos e projetos que visem solucionar os problemas

referentes à infra-estrutura do local a fim de melhorar a qualidade de vida da comunidade

local.

3.3 Principais atrativos do Maracanã

O bairro do Maracanã é famoso por duas grandes tradições: a Festa da Juçara e o

Bumba-meu-boi de Maracanã, contudo, há outros atrativos na região que merecem destaque,

entre eles podemos citar a Festa dos Reis como mais um atrativo cultural e a área de proteção
ambiental (APA), onde são desenvolvidas trilhas que proporcionam a prática do Ecoturismo.

Essas trilhas são orientadas por guias-mirins da própria comunidade, formados pela SETUR

(Secretaria Municipal de Turismo).

Os festejos e comemorações culturais, populares e religiosas ocorrem durante

todo o ano, sendo realizados em locais apropriados como o Viva do Maracanã, o Parque da

Juçara e o Largo de Santo Antônio.

Dessa forma podemos observar que a região dispõe dos mais variados atrativos

turísticos que devem ser trabalhados junto com a comunidade a fim de gerar renda para o

local, melhorando a qualidade de vida da sua população.

3.3.1 Área de Proteção Ambiental (APA) do Maracanã

A APA (área de proteção ambiental) do Maracanã possui uma área de 1.831

hectares, limitando-se ao norte com o rio Bacanga, a leste com a rodovia BR-135, a oeste com

os módulos nove e dez do distrito industrial de São Luís e ao sul com a localidade do Rio

Grande. Abrange o bairro do Maracanã e parte das Vilas: Maracanã, Maranhão, Sarney,

Esperança e Rio Grande.

A vegetação, a fauna e o clima são característicos da região amazônica. Sua fauna

apresenta várias espécies de aves como Juritis, Rolinhas, Pipiras azuis, quanto aos peixes,

podemos citar o Acará, Traíra e Piaba. O clima é tropical, quente e úmido. A APA é cortada

por dois rios, o Rio Grande e o Rio Maracanã, além de possuir pequenos igarapés e brejos.

(RIOS, 2000, p.180).

A Área de Proteção Ambiental do Maracanã situa-se na zona de matas de galeria,

sendo constituída por diversas espécies de árvores frutíferas, leguminosas e gramíneas,

entretanto o seu maior atrativo natural compreende os buritizais e os juçarais.


Foi justamente em busca da preservação da biodiversidade desta área que surgiu a

idéia de se criar o Parque Ecológico do Maracanã. Em 1990, o Parque foi criado, realizando o

sonho do seu idealizador, o engenheiro agrônomo João de Souza Guimarães. A sua criação foi

de grande valia para a população local que procurou engajar-se na preservação do meio

ambiente, sendo importante destacar que os jovens da própria comunidade foram formados

guias-mirins pela Secretaria Municipal de Turismo. Eles contam a história do bairro e

mostram as mais diversas espécies de plantas nativas encontradas durante o percurso das

trilhas. Ou seja, trata-se de mais um atrativo turístico da região.

É possível observar nas trilhas a beleza natural dos juçarais, da andiroba, cedro,

cumaru, Pau-Brasil, eucalipto e até uma das árvores mais caras do mundo, o mogno. Para ter

acesso a essa riqueza natural é preciso entrar em contato com a Secretaria Municipal de

Turismo e agendar uma visita às trilhas, sendo cobrada uma taxa de R$ 2,00 por pessoa.

3.3.2 A festa da Juçara

No ano de 1970, uma engenheira agrônoma de nome Rosa Mochel que morava no

Sítio Piranínga situado no Maracanã, observou a abundante produção de juçara no local e seu

pequeno mercado consumidor, insuficiente para o escoamento de toda a produção, resolveu

então organizar uma festa que acabasse com esse problema e pudesse trazer uma renda extra

para a população local. Foi quando, no mês de outubro deste mesmo ano realizou-se a

primeira Festa da Juçara.

Atualmente a referida festa acontece em uma área que fora doada por Rosa

Mochel, hoje denominado de Parque da Juçara, localizado ao lado da casa de Maria de Jesus

Marques (Dona Cotinha), representante da Associação dos Amigos da Festa da Juçara.

Antigamente a festa só contava com o apoio da própria comunidade, até que o Governo do
Estado começou a destinar uma verba para a sua organização. Porém, acabou suspendendo

esse apoio em 1997, e novamente a comunidade se engajou para que a festa não acabasse.

Hoje em dia a comunidade conta com a Associação dos Amigos da Festa da Juçara para a sua

realização, sendo que, em 2003, o Governo voltou a contribuir com a festa, estruturou o

Parque da Juçara e fixou barracas, dando melhores condições para o evento cultural. É

importante ressaltar que a festa também conta com o apoio da Prefeitura de São Luís.

A Festa da Juçara é realizada sempre nos finais de semana do mês de outubro. O

motivo principal de a Festa acontecer nesta época é o amadurecimento da fruta neste

período do ano, ocorrendo então uma grande procura pela juçara, com uma supervalorização

da fruta, ocasionando o aumento do seu preço pelos mercados da cidade.

A juçara ainda possibilita outra renda para a população, o artesanato de palhas de

juçara e buriti que são vendidos no local da festa e em alguns stands espalhados pela cidade.

A festa da juçara é a maior celebração oficial de uma fruta tipicamente amazônica

no calendário cultural do Maranhão. O local da festa dispõe de toda uma estrutura de barracas

de venda da juçara, esta pode ser acompanhada com camarão seco, peixe frito, farinha ou

tapioca, com ou sem açúcar, fica a gosto do freguês. É também possível experimentar licores,

bombons, doces, sorvetes, tudo derivado da fruta. Além de se deliciar com a juçara é possível

apreciar a apresentação de músicos maranhenses, reforçando a nossa cultura.

Dessa forma, podemos afirmar que a Festa possui uma infra-estrutura de

atendimento ao visitante, o que contribui para torná-la um forte atrativo turístico da região.

Outros fatores positivos da festa referem-se ao aproveitamento da mão de obra local, a

valorização da cultura, a utilização de recursos naturais e a preservação dos ecossistemas

presentes.
3.3.3 A Festa dos Reis

É a Festa dos Reis que abre o calendário cultural do bairro do Maracanã,

geralmente do dia 3 ao dia 7 de Janeiro comemora-se o dia de Reis (06 de Janeiro), tal festa

movimenta o Maracanã durante o ano inteiro. Para captar recursos financeiros para a

realização da festa, a comunidade organiza bingos, vende rifas, enfim, articula formas de

organizar a festa.

É necessária a escolha de um Rei e uma Rainha, muitos fazem até promessa para

serem os escolhidos. A festa é entoada por ladainhas de cunho religioso, são pagas durante

este período promessas por uma graça alcançada. O povo dança em sinal de agradecimento e,

ao findar a festa, são coroados o novo rei e a nova rainha para o ano seguinte.

Também ocorre no mês de Janeiro, mais precisamente no dia 21, a Festa de São

Sebastião.

Dessa forma, podemos afirmar que o Maracanã dispõe de atrativos naturais e

culturais que são capazes de impulsionar o desenvolvimento do Turismo na região.

Neste estudo iremos abordar com mais profundidade o Bumba-meu-boi de

Maracanã, uma manifestação cultural que envolve toda a comunidade do bairro de mesmo

nome, reconhecida pela população local por sua tradição. Entretanto, torna-se interessante

entender como se dá a brincadeira de Bumba-meu-boi no Maranhão, que é considerada por

estudiosos a manifestação popular símbolo do estado.


3.4 Símbolo cultural maranhense: Bumba-meu-boi

A cidade de São Luís do Maranhão agrega atrativos históricos, culturais e

naturais. Possui um dos maiores conjuntos arquitetônicos de origem européia do mundo,

recebendo em 1997, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela

UNESCO. Dentre as manifestações culturais, sem dúvida, a que mais se destaca é o Bumba-

meu-boi, considerado por muitos estudiosos a manifestação símbolo do Estado.

Entretanto, nem sempre foi assim, por volta do século XIX, o bumba-meu-boi era

rejeitado pelos setores dominantes, a elite. Segundo Lima (1994, p.15) o primeiro registro da

brincadeira diz que “o boi é visto pelas autoridades como um incitador da moral e da ordem,

entendido como um folguedo baderneiro, barulhento, violento, coisa de preto”.

Podemos perceber tal discriminação em relação à brincadeira nesta época, no

seguinte relato: “Como pode ser, em plena semana, esta porção de homens bêbados, suarentos

e bastante fedorentos pela Cidade, azucrinando nossas paciências com essa monotonia

insuportável de terríveis batuques infernais? Por ventura, já não chega o barulho que fazem à

noite?” (MORAIS FILHO apud REIS, 2000, p.15).

A brincadeira chegou a ser censurada em meados de 1860, considerada pelas

autoridades da época como uma manifestação perigosa. Neste período era necessária a

autorização policial para se brincar boi no Maranhão (CARVALHO, 1995, p.38).

Porém, a brincadeira foi crescendo com o passar do tempo e hoje é apreciada

pelos mais diversos gostos e classes sociais, desde as mais carentes até as mais abastadas, ou

seja, venceu o preconceito e conseguiu demonstrar a força que tem a sua tradição.

Atualmente a manifestação citada, conta com o apoio de políticos, empresários,

instituições governamentais, ou seja, das classes dominantes. Cabe ressaltar aqui, que esta

colaboração não se dá com a finalidade de preservar a cultura popular, mas sim utilizar-se
dela de forma ideológica a fim de manipular o povo e garantir o poder. Pois no momento em

que a elite financia uma manifestação como esta, ela acaba exigindo mudanças que podem

alterar de forma significativa o seu verdadeiro sentido, além de reduzir o poder do povo para

controlar suas próprias produções, ameaçando transforma-las em objeto de curiosidade para

turistas que a ela se ligam de forma momentânea e superficial (FERRETTI, 1983, p.13).

Para exemplificar o que Ferreti disse, basta observarmos mais atentamente as

campanhas publicitárias do Governo do Estado relacionadas ao bumba-meu-boi do Maranhão,

onde é possível ver claramente a intenção de tal publicidade em promover a cidade de São

Luís a fim de obter um maior fluxo de turistas. Neste caso trata-se das campanhas

publicitárias externas, no entanto esta mesma instituição governamental utiliza-se desta

publicidade no âmbito interno para a promoção de sua própria visibilidade, ou seja, acaba

aglutinando interesses públicos e particulares no momento em que financia eventos culturais,

que na grande maioria das vezes expressam uma cultura descaracterizada, denominada por

muitos estudiosos de “cultura do espetáculo”.

Sabe-se que a cultura é dinâmica e o processo de mudanças é necessário, mas

deve haver uma preocupação em relação a este processo, para que este não gire apenas em

torno do interesse comercial, acabando por transformar uma brincadeira popular em um

grandioso espetáculo de luxo. Como a atividade turística é capaz de gerar transformações nas

localidades para a atração de visitantes, deve-se ter um cuidado redobrado com este setor,

para que ele não modifique importantes manifestações culturais, como o bumba-meu-boi.

(CARVALHO, 1995, p.25).

Atualmente, podemos observar mudanças bruscas nas apresentações da referida

brincadeira, entre elas podemos citar: as indumentárias ficaram mais sofisticadas, ganharam

mais brilho e cores, coreografias minuciosamente cronometradas foram criadas para as toadas,

sem falar que alguns grupos não representam mais o auto do boi, descaracterizando de forma
significativa a manifestação. A marca dos patrocinadores da festa, entre eles as operadoras de

celular, estapam os instrumentos tradicionais como os pandeirões, ou seja, onde antes era

comum vermos o nome do boi, hoje este sai de cena para a divulgação da marca patrocinadora

(REIS, 2001, p.77).

Ao presenciar uma reunião realizada pela Diretoria do Boi do Maracanã, foi

possível observar que a grande maioria dos brincantes não concorda com estas mudanças e

preferem manter a tradição da brincadeira, demonstrando devoção a São João um dos

componentes do grupo manifesta sua opinião sobre o assunto da seguinte maneira:

... São João não gosta de tanta mudança assim não, ele quer é ver a gente brincar
com alegria, fazer o povo feliz, isso sim é brincar boi.... (Brincante do Boi do
Maracanã, 2005).

É extremamente necessário preservar a origem das manifestações culturais, pois

caso isso não ocorra, a comunidade inteira poderá perder por completo a sua identidade

cultural. E as manifestações culturais não irão passar de um espetáculo com o tempo

cronometrado, apenas para satisfazer o olhar inquieto do turista.

Ademais, o que pudemos observar é a articulação do bumba-meu-boi entre a

tradição e a modernidade, onde há momentos em que a brincadeira se define como ritual

baseado em uma funcionalidade, enquanto em outros é identificado como um espetáculo

atrelado ao moderno, ao midiático. Neste caso, o principal papel do turismo está em fornecer

recursos financeiros aos grupos de bumba-meu-boi contribuindo não só para a permanência e

preservação de grupos já existentes como também favorecendo o surgimento de novos grupos.

A fim de compreendermos todo o contexto da brincadeira de Bumba-meu-boi do

Maranhão, fez-se um breve histórico da referida manifestação, abordando o auto do boi, os

personagens e os sotaques.
4 BREVE HISTÓRICO DO BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO

Alguns autores afirmam que o bumba-meu-boi é uma das mais ricas

manifestações do folclore brasileiro, destacando-se pelo seu ritmo contagiante e tradição. A

referência escrita mais antiga feita no Brasil sobre o bumba-meu-boi data do jornal "O

Carapuceiro", de 11 de janeiro de 1840 (Recife). Já os primeiros registros jornalísticos, no

Maranhão, surgem a partir de 1920 (LIMA, 1994, p.13).

A origem do auto do bumba-meu-boi remonta ao Ciclo do Gado desenvolvido no

século XVIII, nas relações desiguais que existiam entre os escravos e os senhores nas Casas

Grandes e Senzalas, onde refletia as condições sociais vividas pelos negros e índios. Contado

e recontado através dos tempos, na tradição oral nordestina e depois espalhada pelo Brasil a

lenda fundada adquire contornos de sátira, comédia, tragédia e drama, conforme o lugar em

que se inscreve, ou seja, a referida manifestação folclórica sofre variações nas diversas

regiões do Brasil. Por exemplo, na Amazônia recebe o nome de Boi Bumbá; em Santa

Catarina, Boi de Mamão; em Pernambuco, Boi de Timba e etc (MARQUES, 1999, p.37).

O nome "bumba" indica estrondo de pancada ou a queda - no folguedo popular é o

de maior significação estética e social do Brasil e tal como ocorre aqui, não ocorre em outro

lugar, salvo na África para onde os imigrantes brasileiros o levaram (CASCUDO, 1972, p.7).

Se avaliarmos os aspectos teatrais do folguedo, observamos a influência de

tradições dos povos oriundos de Portugal e Espanha, pois estes costumavam encenar peças

religiosas de inspiração erudita, tais encenações eram destinadas ao povo para comemorar

festas católicas na luta da igreja contra o paganismo. Como o Brasil era bastante influenciado

por estes países, acabou retomando este costume através dos Jesuítas que o repassou através

de suas obras de evangelização dos indígenas, negros e até mesmo de portugueses

aventureiros, por encenação de pequenas peças (MARQUES, 1999, p.45).


O Bumba-meu-boi ganha proporções e acaba espalhando-se pelas mais diversas

regiões brasileiras, recebendo então diferentes nomes, ritmos, personagens, indumentárias,

formas de apresentação, adereços, instrumentos. O que não poderia ser diferente, pois é

sabido que a cultura é dinâmica, dessa forma é inevitável o seu processo de transformação

para que ela se mantenha viva na memória da sociedade, podendo assim ser apreciada e

entendida pelas atuais e futuras gerações.

A festa é uma espécie de ópera popular, cujo conteúdo varia entre os inúmeros

grupos de bumba-meu-boi existentes, mas basicamente, desenvolve-se em torno da lenda do

fazendeiro que tinha um boi muito bonito e querido por todos e que, além disso, sabia dançar.

Na fazenda trabalhavam Pai Chico - também chamado negro Chico - casado com Catirina, os

vaqueiros e os índios. Catirina fica grávida e sente desejo de comer a língua do boi. Pai Chico

fica desesperado e com medo de Catirina perder o filho que espera, resolve roubar o boi de

seu patrão para atender o desejo da mulher (AZEVEDO NETO, 1983, p.35).

Segundo conta a lenda o fazendeiro percebe o sumiço do boi e de Pai Chico.

Assim sendo, manda os vaqueiros procurá-los, mas eles nada encontram. Então o fazendeiro

pede para os índios que ajudem na procura. Os índios encontram Pai Chico e o boi quase

morto, levando-os à presença do fazendeiro que interroga Pai Chico e descobre porque ele

havia levado o boi e diz que somente perdoará Pai Chico se o boi reviver. É quando os pajés

(ou doutores) são chamados para curá-lo e, após várias tentativas, conseguem curar o boi que

finalmente se levanta para a satisfação de todos e começa a dançar de forma alegre e

contagiante.

O bumba-meu-boi é uma manifestação cultural bastante difundida em todo país,

possuindo nuances em cada região onde ela é desenvolvida. Luís da Câmara Cascudo (1972,

p.15) chama a atenção para o caráter nacional que possui esse evento popular. Afirma que a

região Nordeste é indiscutivelmente a área de desenvolvimento dessa manifestação, chegando


a dizer que o Brasil Central, como os estados do extremo Norte e Sul do país receberam a

exportação do folguedo a partir do conjunto de estados nordestinos.

O bumba-meu-boi vem a ser uma manifestação popular desenvolvida a partir das

influências culturais dos conjuntos étnicos negro, indígena, branco, conforme os comentários

de Câmara Cascudo:

... O Bumba-meu-boi surgiu no meio da escravaria do nosso país, bailando, saltando,


espalhando o povo folião, suscitando grito, correria, emulação. O negro que
desejava reviver as folganças que trouxera da terra distante, para distender os
músculos e afogar as mágoas do cativeiro nos meneios febricitantes de danças
lascivas, teve participação decisiva nessa criação genial, nela aparecendo dançando,
cantando, enfim, vivendo. Os indígenas logo simpatizaram com a "brincadeira",
foram conquistados por ela e passaram a representá-la incorporando-lhe também
suas características. O branco entrou de quebra, como o elemento a ser satirizado e
posto em cheque pela sua situação dominante. (CASCUDO apud
CARVALHO, p.35-6).

O enredo da festa do Bumba-meu-boi resgata uma história típica das relações

sociais e econômicas da região durante o período colonial, marcadas pela monocultura,

criação extensiva de gado e escravidão.

A festa é de cunho religioso e homenageia os santos – São João, São Pedro e São

Marçal – nos dias apropriados que são respectivamente 24, 29 e 30 do mês de Junho.

Entretanto, a partir do mês de abril a população já pode participar dos vários ensaios dos

grupos que acontecem por toda a ilha. É justamente no mês de Junho que a cidade se

transforma num grande arraial que recebe turistas e a comunidade local, é uma celebração

coletiva que contagia todos os brincantes e admiradores da referida manifestação.


4.1 Personagens

Entre os personagens principais encontram-se um negro vaqueiro, Chico; a sua

mulher cabocla, Catirina; o homem branco, que corresponde ao dono da fazenda, e portanto,

dono também do boi. Sendo que a estes personagens principais podem se juntar outros. Aqui

no Maranhão, por exemplo, há atuação de índias, vaqueiros, pajé, padre, médico, cazumbá,

etc. Ocorrem variações de acordo com a região.

Para entendermos melhor o Bumba-meu-boi é necessário levarmos em conta

características importantes dos personagens que fazem parte desta manifestação folclórica,

conceituadas por Cascudo (1972, p.20), são elas:

O boi é representado por um homem no interior de uma armação de madeira ou

metal, coberta por um veludo bordado, um trabalho artesanal. Possui variações quanto a

denominação, podendo ser chamado de Mimoso, Estrela, Barroso ou Novilho de Estimação.

Dependendo da versão é o personagem principal, entretanto há versões em que o vaqueiro é

posto à prova para roubá-lo, tornando-se assim o personagem principal.

O miolo corresponde ao brincante do interior da armação do boi, sendo o

responsável pelas evoluções e coreografias deste.

Amo é o comandante da festa, personificando o dono da fazenda, o latifundiário,

o "coronel". Usa o traje mais rico e espetacular e com um apito dirige o espetáculo. Muitas

vezes acumula as funções de cantador.

Cantador é a pessoa mais importante depois do Amo, quando tais funções não se

fundem em uma só pessoa, como ficou dito.

Vaqueiros e rapazes são os elementos que compõem o cordão, isto é, as fileiras

de brincantes. Conforme o sotaque (estilo) diferenciam-se os trajes e o número de

participantes, variando a suntuosidade de acordo com a categoria de cada um, os vaqueiros


pertencendo a uma categoria superior à dos rapazes, propriamente os empregados do Amo,

prontos ao cumprimento de suas ordens.

Segundo Lima (1982, p.19) sobre os vaqueiros: “No meio da roda de brincantes,

boi e vaqueiro se defrontam, calcando o chão com golpes certos de calcanhar. De repente,

quando o batuque se acelera, o vaqueiro cola o ombro esquerdo no flanco do boi, quase na

frente, à altura da cabeça do animal e forma com ele um bloco único, acompanha-o no menor

movimento”. O boi e o vaqueiro formam um par indissociável do folguedo, um pela destreza

com que arrebata, o outro pela persistência como escapa ao seu amansador.

Pai Francisco, Negro Chico ou Preto Velho é o cômico do espetáculo, um pobre

agregado da fazenda, de roupas velhas, mascarado, a quem cabe a parte engraçada do auto, e

que leva o público às gargalhadas. Nesse mister é coadjuvado por Catirina e pelo "doutor" ou

doutores.

Mãe Catirina, ou simplesmente Catirina, é a mulher do Chico, pivô da questão-

tema. É sempre um homem vestido de mulher, o que torna mais hilariante o personagem.

O Doutor é o médico, ou o curandeiro, ou o pajé. Completa a pantomima com

suas tiradas histriônicas e sua exótica terapêutica. Às vezes, mais de um, entretêm um diálogo

de alta comicidade e suas bestialógicas receitas constituem exatamente o fino de sua arte,

empolgando os assistentes.

Índias. Em número variável, são interpretadas por moças vestidas a caráter, isto é,

com cocares, golas, braçadeiras, pulseiras, perneiras e tornozeleiras de penas; levam na mão

pequenos arcos e flechas. Fazem figurações à frente do cortejo, quando o boi se desloca de

um ponto para outro e exercem o papel de polícia na captura do Pai Francisco.

Caboclos de penas, ou Caboclos Reais, são personagens privativos do Boi-de-

Matraca: 5, 10, 15 homens, literalmente cobertos de penas de ema ostentam grandes coroas de

metro e meio de diâmetro, montadas sobre uma base de papelão revestida de veludo e bordada
a capricho; as penas são tingidas de verde e vermelho. Cobrem-lhes os bustos e as costas

grandes golas bordadas rodeadas de penas, penas que se repetem nos braços, nos pulsos, nas

coxas, panturrilhas e tornozelos. Quando os bois se deslocam nos terreiros, ou para outros

locais de apresentação, os caboclos-de-pena vão à frente, num passo leve e cadenciado, as

penas ondulando ao compasso da batida das matracas e pandeiros.

Cazumbá trata-se do personagem que não é homem, nem mulher, nem macho,

nem fêmea, cercado de mistério e magia. Característico dos bois do sotaque da baixada,

representa no auto, um espírito/assombração que assusta o pai Francisco. O cazumbá vem na

frente do grupo, abrindo caminho para a brincadeira, dá assistência para o boi poder se

apresentar, além de assumir, também, um papel humorístico. Muitas vezes é confundido com

o próprio pai Francisco.

Mutucas ou torcedoras. Nos bois de antigamente era vedada a participação de

mulheres. Cabia-lhes unicamente o papel de acompanhantes, de contra-regras, coadjuvantes

fora de cena. Eram elas, as mutucas, esposas ou amantes, quem recolhiam os chapéus,

embrulhando-os em lençóis, nos deslocamentos, ou quando seus homens, vencidos pela

bebida e pelo cansaço, tinham de ser quase que carregados para casa. Com a mudança dos

costumes, as mulheres conquistaram o direito de ocupar um lugar na brincadeira e hoje são

"índias" e até "vaqueiros" e "rapazes", integradas ao cordão.

A Burrinha: armação de cipós e buriti, no feitio (mais ou menos perfeito) de um

burro, recoberta de pano e pendurada aos ombros do brincante por meio de uns suspensórios.

Assemelha-se a um cofo ao qual se acrescentaram um pescoço com a cabeça respectiva e

tendo nos dois lados do corpo umas pernas postiças, cheias de algodão, que sustentam os

sapatos. Uma barra de tecido esconde as pernas verdadeiras do homem que lhe dá movimento

e ela saracoteia, dispara e freia repentinamente, sem perder o ritmo.


Os Bichos - Em alguns bois (o de Guimarães é característico) aparecem bichos

feitos de madeira, esculpidos: carneiro, bode, águia, etc., conduzidos no alto de uma vara,

além de uma boneca gigante - a Caipora, Panducha ou Dona Maria, hoje, por influência da

TV, apelidada de Xuxa, Grampoula, etc. Um homem sob suas saias empresta-lhe vida e leva-a

acima e abaixo, fazendo-a abrir e fechar os braços longos.

Como se pode perceber o auto do bumba-meu-boi é encenado pelos mais variados

personagens, tendo todos um importante papel na brincadeira, eles ajudam o público a

entender melhor a manifestação, além de darem um ar cômico e fascinante a ela. Não é a toa

que alguns estudiosos do assunto consideram o bumba uma espécie de ópera popular, por ser

capaz de atrair desde as classes mais baixas até as mais abastadas. E também por demonstrar

através de seus personagens diferenças sociais e culturais entre índios, negros e brancos.

4.2 Estilos ou Sotaques

Através dos sotaques é possível identificar o estilo, o ritmo, a indumentária, o

jeito de dançar de cada grupo de bumba-meu-boi. Américo Azevedo Neto (1983, p.55)

classifica-os em Africano, Indígena e Branco, chegando até mesmo a considerar "sotaques" os

de cada proprietário (de Leonardo, de Canuto, etc.) e até os de cada localidade (de Coroatá, da

Madre-Deus, do Iguaíba...). Atualmente consideramos a seguinte classificação: Sotaque de

Zabumba ou Guimarães, onde a participação africana é mais acentuada; de Matraca ou da

Ilha, cujos elementos lembram os rituais indígenas; de Orquestra, basicamente de conteúdo

europeu, e o de Pindaré e Viana (chamado agora de pandeirões), oriundo da Baixada, que,

embora semelhante ao de matraca, se distingue pelo ritmo, pelos instrumentos e pelo guarda-

roupa. Alguns autores registram um quinto sotaque, existente somente no município de

Cururupu (MA) e que não se assemelha aos já citados, é o sotaque de Costa de Mão.
Carlos de Lima também realizou estudos sobre o bumba-meu-boi do Maranhão,

dando destaque para os sotaques, o autor relata a origem, os principais instrumentos

utilizados, o ritmo, enfim ele enfatiza e descreve as características mais importantes e

marcantes de cada estilo, propiciando um fácil entendimento sobre o assunto. Lima (2001,

p.4) define os diferentes sotaques da seguinte maneira: sotaque de zabumba, sotaque de

matraca, sotaque de orquestra, sotaque da baixada e sotaque de costa de mão.

4.2.1 Sotaque de Zabumba

O sotaque de Zabumba surgiu no município de Guimarães. Os grupos de bumba-

meu-boi deste sotaque são marcados pela batida forte da zabumba como se fosse um rufar de

tambor africano. Os instrumentos usados são o maracá, o tambor-onça, o tamborinho e a

zabumba. O apito é usado pelo amo ou cantador do boi que comanda o inicio e término da

cantoria. O ritmo é feito pelas batidas das zabumbas enquanto os tamborinhos e maracás

preenchem os espaços vazios.

Os primeiros grupos de bumba-meu-boi de zabumba da Ilha de São Luís

surgiram, nos anos vinte, com seu Laurentino Araújo, no bairro da Fé em Deus, e com

Mizico, nome pelo qual era conhecido Hemetério Raimundo Cardoso, no bairro da Vila

Passos. Estas brincadeiras continuam até hoje com o grupo da Vila Passos sob o comando de

Canuto Santos e o do bairro da Fé em Deus coordenado por Dona Terezinha Jansen.

4.2.2 Sotaque de Matraca

Pesquisadores dizem que as matracas foram introduzidas nos bois da ilha e de

pandeirões a partir de l860.


Estes bois usam pandeirões, tambor-onça e matracas. O maracá e o apito são

usados pelo amo ou cantador que faz a regência da cantoria. O nome de bois da ilha se dá às

brincadeiras que surgiram no interior da Ilha de São Luís e de sotaque de Pindaré ou de

pandeirões aos bois com influência das batidas dos municípios de São João Batista, Viana e

Pindaré.

No sotaque de Pindaré ou de pandeirões o ritmo é dolente. As matracas não

estalam, elas são batidas num quase escorregar uma contra a outra. As características

principais são a riqueza e a exuberância dos chapéus dos amos e vaqueiros, caboclos-de-pena,

personagem de influência indígena, e a presença dos cazumbás.

A ausência de cazumbás e o número exagerado de matracas nos bois da ilha é que

faz a diferença entre o sotaque de Pindaré e o sotaque da ilha ou de matraca. Os bois da ilha

são mais abertos ao público.

4.2.3 Sotaque de Orquestra

Ritmo sacudido e brincalhão que contagia facilmente. Assim é o sotaque do

bumba-meu-boi de orquestra que surgiu entre as décadas de quarenta e cinqüenta no

município de Rosário, resultante da necessidade do povo de recriar, de acrescentar elementos

novos no fazer cultural. Os instrumentos básicos são: o banjo, o saxofone, o clarinete, o

piston, o tarol, a zabumba e maracás, tocados pelo cordão, que formam a bandinha que

acompanha a brincadeira.

Foi o grupo do bumba-meu-boi do município de Axixá, criado há mais de

cinqüenta anos pelo sargento Naiva, que deu personalidade e imprimiu as características do

bumba-boi de orquestra. Dançam em cordão de duas filas, uma em frente à outra; o chapéu

lembra os reisados; e o ritmo lembra o baião.


4.2.4 Sotaque da Baixada (sotaque dos pandeirões)

Criado na baixada maranhense, caracteriza-se pela presença do instrumento

chamado pandeirão. Seus brincantes possuem chapéu em forma de meia lua e há a presença

do Cazumbá. Eles são seres místicos, meio-homem, meio-bicho, que, segundo os

participantes do auto, trazem sorte e espantam maus espíritos dos locais das apresentações. Os

Cazumbás são os primeiros a entrar na dança.

4.2.5 Sotaque de Costa de Mão

Como o nome diz, os pandeiros que regem este sotaque são batidos com as costas

das mãos. Foi criado no interior do Maranhão, na cidade de Cururupu. Caixas e maracás

completam o conjunto de percussão. Além de roupa em veludo bordado, os brincantes usam

chapéus em forma de cogumelo, com fitas coloridas.

O Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho possui atualmente

cadastrados 226 grupos que se encontram assim divididos:

Quadro 01 - Cadastro de Bumba-meu-boi


Sotaque Nº. de
Grupos
Cadastrados
Orquestra 93
Matraca 45
Baixada 54
Zabumba 23
Costa de Mão 04
Grupo Alternativo 07
TOTAL 226
Fonte: Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho
Seja qual for o estilo, o ritmo envolve a todos que assistem à festa, afinal de

contas o que faz tal manifestação ganhar tamanha proporção é o amor que o povo tem em

estar ali dançando, festejando, celebrando ou até mesmo pagando uma promessa a São João.

Esta satisfação em ver o boi se apresentar é enorme por parte dos grupos e acaba por contagiar

também os visitantes, que apreciam as apresentações simplesmente encantados, alguns

chegam a arriscar alguns passos, entusiasmados divertem-se ao som das matracas e

pandeirões.

Dessa forma, podemos afirmar que durante o mês de junho a ilha se transforma

num enorme arraial, pois é exatamente nesta época que São Luís vira palco da sua maior festa

popular, o São João. Sendo que a mais conhecida e divulgada manifestação cultural é o

bumba-meu-boi, entretanto não é a única, há também o tambor de crioula, cacuriá, entre

outras danças e ritmos. O mais interessante aqui não é apenas assistir a um espetáculo, mas

sim tentar entender todo o contexto da festança.

Assim, tornar-se interessante desenvolver um roteiro que englobe todo o ciclo de

vida do Bumba-meu-boi do Maracanã, envolvendo desde os ensaios, batizado, apresentações

durante o período junino até a morte do Boi, pois são momentos importantes tanto para os

componentes do grupo do Boi do Maracanã quanto para a comunidade local que vivencia

todo este ritual.


5 ENTENDENDO O BUMBA-MEU-BOI DO MARACANÃ: COMO TUDO

COMEÇOU

De acordo com os moradores do bairro trata-se da manifestação folclórica mais

popular do Maracanã. O sotaque é o de matraca, utilizando também os pandeirões, tambores-

onça e maracás.

Segundo o folclorista Carlos Lima (1988, p.3), o boi de matraca é o mais excitante

de todos. Podemos perceber um grande entusiasmo no seu depoimento, quando diz: “[...] É

preciso entrar no boi, arrebatar as matracas de um brincante, tocá-las com gosto e com

volúpia, e só assim sentir o prazer, quase o êxtase que o Boi-de-Matraca pode dar...” (Lima,

1998).

Com o Boi do Maracanã não poderia ser diferente, também conhecido como o

Batalhão de Ouro, o bumba-meu-boi do Maracanã foi fundado em 1955 por José Martins, tio

de Humberto do Maracanã, cantador da brincadeira. De acordo com entrevista dada à Joila

Moraes, Humberto do Maracanã diz que a brincadeira existe desde o século passado, isso

porque os seus avós já lhe contavam sobre a brincadeira. Segundo ele, no Maracanã, já se

brinca boi há mais de cem anos, mas apresentando-se sem interrupções são somente trinta e

dois.

Durante todo este tempo a brincadeira cresceu e hoje de acordo com a entrevista

realizada com D. Maria (atual Presidente do Boi do Maracanã), o grupo é composto por 48

índias, 30 caboclos de pena, 110 caboclos de fita, 4 negos Chico, 2 burrinhas e 1 boi.

Entusiasmado com o número de componentes que fazem parte da brincadeira, o

Sr. Francisco, que toca pandeirão, diz:

... Nosso batalhão é pesado e arrasta uma multidão por onde quer que o nosso boi
passe.... (Depoimento de brincante, 2005).
Entretanto, o Bumba-meu-boi do Maracanã não conta com o apoio de nenhum

patrocínio. D. Maria cita apenas a empresa de celular VIVO que fazia uma contribuição

pequena, doando matracas e pandeirões, mas já não faz mais e a Caninha do Engenho que

ajuda doando bebidas para os componentes do grupo. Quanto ao Governo do Estado, segundo

diretores do boi, ele apenas paga pelas apresentações realizadas, como qualquer outra

entidade ou pessoa que deseja assistir a apresentação do grupo.

Parte deste dinheiro recebido pelas apresentações ajudam na manutenção e no

desenvolvimento de atividades realizadas na Escola Comunitária São João Batista, localizada

no Maracanã.

5.1 O amo: Humberto do Maracanã

Humberto Barbosa Mendes, pessoa representativa do Maracanã, nasceu no dia 02

de novembro de 1939, a sua estória interliga-se com o próprio Maracanã, pois seus familiares

foram fundadores da referida região. Humberto nasceu no Maracanã, mas mudou-se de lá aos

sete anos de idade, indo morar na Maioba, bairro também tradicional da ilha.

Já com 12 anos ele tem a sua primeira experiência com a brincadeira de bumba-

meu-boi, juntamente com um grupo de crianças da Maioba. Humberto fez questão de ser o

cantador, e ele mesmo confeccionou seu primeiro maracá, pegou uma latinha de leite, chapou

e encheu de pedras, com o maracá feito tratou de compor sua primeira toada. (MENDES,

2003, p.13).
Figura 01 – Humberto do Maracanã

Fonte: DA AUTORA (junho, 2005)

“[...] Quando eu cheguei ao terreiro; balancei meu maracá; Eu trago matraca e

pandeiro; e a brincadeira prá chatear” (1ª toada de Humberto).

Humberto foi crescendo e começou a se desinteressar pelas toadas, mas

continuava acompanhando a brincadeira de bumba-meu-boi, batendo matracas ou pandeiro.

Nesse período chegou até a fundar a escola “Maracanã do Samba” na companhia de amigos,

mas a sua paixão era mesmo o bumba-meu-boi.

Por volta de 1957/59 passou a acompanhar os bois de outros locais, por não ter

havido a brincadeira no Maracanã, sendo que esta só recomeçou em 1960. A partir de 1973,

Humberto começa a cantar no boi do Maracanã, ao lado de outros cantadores que dividiam

com ele a “cantoria”. Até que ganhou destaque e em 1981, tornou-se o principal cantador, o

amo da brincadeira (CARVALHO, 1995, p.25).

A partir do momento em que Humberto começa a liderar o grupo resolve tomar

medidas a fim de melhorar o processo de organização da brincadeira. É quando o grupo do


bumba-meu-boi do Maracanã é registrado como uma entidade física e tornar-se permitida a

participação dos jovens e das mulheres. Isto porque durante muito tempo o bumba-meu-boi

foi considerado uma brincadeira tradicionalmente masculina, porém os tempos mudaram e

hoje em dia a mulher assume papel de destaque na brincadeira, como Dona Maria, que

assumiu a importante função de Presidente do Boi do Maracanã desde 2003. Tais atitudes na

época geraram algumas discussões com os integrantes mais velhos do grupo, pois estes não

concordavam com a implantação dessas mudanças, entretanto Humberto vence as resistências

e até hoje se mantém à frente do boi, como amo da brincadeira.

De acordo com a simbologia do bumba, os cantadores geralmente escolhem como

símbolo um pássaro cantor. Humberto escolheu o Guriatã, que tem as cores amarela e azul

marinho, bem como um canto muito bonito. Para o amo do boi de Maracanã “ser cantador é

uma missão e uma arte”. E, considerando que o pássaro precisava de um lugar para cantar,

Humberto optou pela palmeira, pois segundo ele “ela é a mais nativa do Maranhão, então tudo

que se apega à palmeira é mais ligado à terra maranhense” (CARVALHO, 1995, p.133).

Atualmente, Humberto do Maracanã, é apontado por muitos folcloristas como

uma referência da cultura popular maranhense, sendo também conhecido como Guriatã,

possui toadas gravadas por outros cantores como Alcione, que gravou a toada do “Maranhão

meu tesouro meu torrão”, que já serviu de campanha publicitária para divulgar em outros

estados o São João do Maranhão (MORAES, 1998, p.15).

A toada é o instrumento de vida e trabalho dos cantadores de boi, possuindo um

conteúdo bastante diversificado, havendo um misto de poesia e crítica, crença e revolta,

aceitação e desafio. As toadas de Humberto não poderiam ser diferentes, elas retratam a

religiosidade, a natureza, o romantismo, fatos marcantes da vida, enfim falam de tudo, trata-se

de um turbilhão de sentimentos, que só quem canta, ouve e entende é capaz de entender do

que se trata, é a cultura viva, dinâmica, envolvente.


E é por isso que a figura do amo é tão importante para a brincadeira, pois é ele

quem a comanda, através do seu maracá que dá ritmo ao boi, entusiasmando não só os

brincantes, mas também o público. Este se contagia pelo som das toadas e passa a interagir

com a brincadeira a fim de sentir mais de perto essa manifestação, capaz de aglutinar as mais

diferentes classes sociais.

5.2 Contextualizando a festança: Roteiro da brincadeira do Bumba-meu-boi do

Maracanã

Sabemos que o período de apresentações do bumba-meu-boi inicia-se no mês de

junho, entretanto os grupos trabalham o ano inteiro para que a realização desta festa aconteça

da melhor maneira possível. Muitos são os preparativos nos terreiros, desde a divisão das

tarefas para a confecção de indumentárias, organização dos ensaios, reuniões a fim de

procurarem alternativas para angariar recursos financeiros, até a chegada do grande momento,

quando o boi sai do seu terreiro para apresentar-se em outros espaços da grande ilha

demonstrando através do seu ritmo a força da sua cultura.

Então, torna-se interessante contextualizar os diferentes momentos vividos pelo

Bumba-meu-boi do Maracanã, descrevendo todo o ritual, começando pelos ensaios até a

matança do boi.

5.3 É hora de preparar a festa: Os ensaios

O Boi de Maracanã realiza apenas 4 ensaios antes das apresentações oficiais, este

ano os ensaios aconteceram nos dias 07 e 21 do mês de maio, 04 e 11do mês de junho, sempre

aos sábados, em frente ao barracão-sede do boi, no próprio bairro. Ou seja, ainda é mantida a
sua tradição de realizar os ensaios no seu terreiro, neste caso no Maracanã, junto da sua

comunidade, sendo importante ressaltar que não é cobrada nenhuma taxa para assisti-los.

A realização destes ensaios necessita de certa estrutura, pois não é só a

comunidade local que participa, sendo assim, o grupo tem uma preocupação especial com os

meios de transportes, comida, bebida, som, segurança, tais assuntos são discutidos entre os

diretores e brincantes do boi antes do período dos ensaios, várias reuniões são feitas a fim de

solucionarem algumas pendências.

Este ano a brincadeira contou com o apoio das Empresas de ônibus Taguatur,

Expresso 1001 e Maranhense, que cederam alguns de seus ônibus para transportar os

brincantes e pessoas interessadas em participar dos ensaios, que moram em outros bairros da

ilha de São Luís.

Os ensaios começam geralmente por volta das 23h00min e só acabam quando o

dia já está amanhecendo, para agüentar esta maratona é necessário ter atenção com a

alimentação dos componentes, devido a isto o próprio grupo e a comunidade preparam o

mingau que deve ser servido a todos os brincantes, segundo eles, trata-se do “reforço

alimentar”, indispensável para recuperar as energias.

É durante os ensaios que se confirma a presença dos componentes, entre índias,

caboclos de penas, pandeireiros, enfim dos brincantes que irão se apresentar no presente ano.

Este controle é indispensável, pois só recebe a indumentária quem comparece aos ensaios,

demonstrando que deve haver compromisso com o boi.

Hoje em dia eles já contam com um sistema de som mais moderno, o que facilita

de forma significativa o desenvolvimento da brincadeira. Quanto à segurança, esta é feita por

policiais militares, desde que avisados por um dos responsáveis do boi, de que haverá um

movimento diferente no bairro, neste caso estamos falando dos ensaios.


Figura 02 – Ensaio do Boi de Maracanã

Fonte: DA AUTORA (maio, 2005)

Para compreendermos melhor esta rica manifestação é coerente acompanharmos

os ensaios, pois é quando podemos presenciar junto da comunidade o amor que esta sente ao

brincar no boi. É simplesmente contagiante a alegria desta em ver o seu boi se preparando

para sair do seu terreiro e ir apresentar-se pelos arraiais da ilha durante o período junino, em

homenagem ao seu Santo Protetor, São João.

5.4 O Boi precisa receber a bênção de São João: O Batizado

Logo após o período dos ensaios, começam os preparativos para a celebração do

batizado do Boi de Maracanã, momento de grande alegria para os brincantes, pois é quando o

boi recebe a bênção do santo protetor da brincadeira, São João.

O batizado acontece sempre no dia 23 de Junho, véspera de São João, respeitando

a tradição. E é diante do altar do Santo, que se encontra no interior da sede do Boi de

Maracanã, que é realizada a cerimônia.


Figura 03 – Altar de São João

Fonte: DA AUTORA (junho, 2005)

A celebração conta com a presença dos convidados e dos padrinhos, que

geralmente são pessoas da própria comunidade ou políticos que ajudam a financiar a

brincadeira.

De acordo com Reis (2001, p.55) o maior destaque do batizado é quando o

sacerdote diz: “Te batizo (cita o nome do boi), Jóia do Povo! Não te dou um santo nome, pois

não és cristão: em nome do Pai, do Espírito Santo te batizo”. Demonstrando o caráter

religioso de tal manifestação.

Durante o batizado, os padrinhos acompanham a cerimônia com uma vela na mão,

que é colocada no altar de São João para então o couro do boi que se encontra coberto por

uma espécie de manto seja finalmente descoberto. A comunidade espera ansiosa por este

momento, pois é quando ela vê pela primeira vez o novo couro do boi, o que irá apresentar-se

no presente ano.

Depois que o couro é descoberto, o amo chama o povo para brincar na festa, que é

regada de muita comida e bebida.


Segundo a tradição o boi só poderia apresentar-se em outros terreiros após o seu

batizado, entretanto devido aos compromissos feitos para apresentações em arraiais, na

abertura de eventos culturais, entre outros, ele sai mais cedo, por volta dos dias 13 e 14 de

junho, que é quando começa oficialmente as programações dos arraiais.

Quanto a isso o Sr. João que já acompanha o Boi do Maracanã por mais de 10

anos diz que: “O Boi do Maracanã mantém a tradição de batizar o boi na véspera de São João,

no dia 23 de Junho, pode até se apresentar antes do batizado, mas é com o “couro” velho,

porque couro novo e roupa nova o povo só pode ver depois do batizado...”. (Depoimento de

brincante, 2005).

Antigamente os grupos de bumba-meu-boi só se apresentavam pelos arraiais da

ilha após o seu batizado, entretanto isso já não acontece mais. De acordo com a tradição o boi

deve ser batizado na véspera de São João, entretanto muitos grupos para cumprirem suas

contratações realizam a referida cerimônia antes dessa data. E há outros grupos que apesar de

obedecerem esta tradição apresentam-se pelos arraiais antes de terem realizado o batizado do

boi.

5.5 Finalmente chega o grande momento: as Apresentações

O ciclo da festa do bumba-meu-boi no Maranhão começa no sábado de aleluia

com os ensaios e se estende até outubro, e ás vezes até novembro, mas tem a sua culminância

entre 23 de junho, quando batizado e, primeira semana de julho. De acordo com a portaria nº.

912/2005-GG/SSP divulgada pelo Secretário de Segurança Pública Raimundo Soares Cutrim,

o período dos folguedos este ano iniciou-se oficialmente no dia 05 de junho terminando no

dia 10 de julho.
Figura 4 – Apresentação do Bumba-meu-boi do Maracanã

Fonte: DA AUTORA (junho, 2005)

O Boi de Maracanã inicia a sua temporada de apresentações justamente quando os

arraiais já se encontram prontos para receber o público que prestigia a festa. Este ano, a

primeira apresentação que o grupo fez fora do seu terreiro foi no dia 03 de junho, sexta feira

às 20h00minh na Praça Maria Aragão, no XIV Encontro de Gigantes, evento que tem como

finalidade unir em uma só noite os principais grupos de bumba-meu-boi do sotaque de

matraca.

O grupo inicia a brincadeira cantando uma toada de chegada, chamando o público

para participar da festa.

“Cheguei/ Com meu batalhão de ouro/ Vim trazer/ Prazer de São João/ Eu ainda

estou firme/ Meu povo faz tremer o chão/ Com pandeiro e matraca/ Maracá de prata na mão”

(Toada de Chegada – Humberto do Maracanã).


E finalmente toda a comunidade pode ver o seu trabalho sendo prestigiado pelo

público mais diversificado, pois tal manifestação é capaz de integrar em um mesmo espaço as

mais diferentes classes sociais, o interessante neste momento é sentir o ritmo e toda a vibração

dos brincantes, que sentem um prazer indescritível ao estarem dançando em homenagem a

São João. Tudo parece mágico, o público fica simplesmente anestesiado com o som vibrante

das matracas e pandeirões, observa encantado o balanço das penas e fitas que compõem as

indumentárias.

É tempo de festança, e nada é mais estimulante que o anoitecer e amanhecer ao

som das toadas de matracas e pandeirões. É Guarnicê. Chega o momento de pedir licença aos

terreiros, levantar poeira nos arraiais, gingar, pular, dançar e saudar Santo Antônio, São João,

São Pedro e São Marçal, protetores da brincadeira.

5.6 O Ritual da Morte do Boi

Tradicionalmente, a brincadeira encerrava seu ciclo anual com a festa da morte do

boi, tendo a mesma um sentido de despedida.

No Maranhão, tem-se notícia que até as décadas de 50/60 a morte do boi acontecia

sempre no último dia de apresentação, entre os dias 29 e 30 de junho. Ainda nessa época, o

boi era de fato esquartejado e repartido entre seus organizadores, padrinhos e brincantes.

(MORAES, 1998, p.15).

Atualmente o boi morre de forma simbólica, geralmente o ritual de morte

acontece aos domingos, sendo que no sábado, véspera da morte, dança a noite inteira,

honrando alguns contratos. Já no final da noite, o grupo volta ao terreiro onde foi batizado e

finca o mourão – símbolo da festa da morte – árvore cheia de galhos enfeitados com papel

colorido, balões, bombons e brinquedos que imprimem mais brilho e alegria ao terreiro.
A matança envolve todo um ritual que integra sentimentos contraditórios de

prazer e dor, alegria e tristeza, felicidade e saudade.

Maria Michol expressa sua opinião sobre esta contradição de sentimentos da

seguinte forma:

Na verdade, a gente do boi situa essa festa dentro do seu universo ritualístico, como
uma ocasião especial, marcada pelo encontro de todos aqueles que vivem com o boi.
Esse encontro é desenvolvido sob a égide da euforia, entusiasmo e animação,
sempre perpassados por uma “condoída” melancolia (CARVALHO, 1995, p.136).

O ritual da morte é triste e solene. De acordo com Humberto do Maracanã, é este

o momento de agradecer a Deus e a São João Batista por terem abençoado a brincadeira e é

também neste momento que o grupo sente a dor da separação.

O Boi de Maracanã segue todo o ritual da morte, que é preparado com muito

cuidado, várias reuniões são feitas pelo grupo a fim de melhor organizar a festa da matança.

“A morte do Boi é o encerramento de um trabalho, é a celebração de uma

realização. Aqui em Maracanã, a gente começa a pensar na morte do Boi desde os ensaios”

(Humberto do Maracanã, 2005).

As reuniões realizadas pelo grupo são justamente para definir as medidas

necessárias para organizar a festa, entre essas medidas, podemos destacar: discussão de

formas para angariar recursos financeiros; previsão e aquisição da comida e bebida a serem

distribuídas entre os participantes; ornamentação do altar do Santo; confecção dos enfeites

destinados ao mourão; providências junto a pessoas e órgãos para o atendimento de certos

requisitos como: licença oficial, expedição e entrega de convites, divulgação na imprensa;

confecção e reparos do conjunto de material do boi, como instrumentos e indumentárias.

Depois de tudo devidamente organizado, inicia-se a preparação para a morte do

boi. Tratando-se do Boi de Maracanã, por volta das 18h00min, sob o anúncio do estrondo de

foguetes e da fumaça de um defumador, que é utilizado para “purificar” o terreiro protegendo-


o de energias negativas, reza-se a ladainha diante do altar de São João. Neste momento

sentimos o destaque dado à religiosidade.

“A vivência conjunta do aspecto espiritual com o material, isto é, do religioso

com o profano, marca de maneira profunda o “ritual da morte” e relaciona-se com a

diversidade de sentidos do Boi” (CARVALHO, 1995, p.138).

Entretanto, o ritual é também marcado com muita festa, onde há dança, comida e

bebida à vontade. O boi brinca alegremente, aproveitando todos os momentos antes da sua

morte.

No Maracanã, depois que o mourão é fincado o Boi foge e se esconde na casa da

madrinha do mourão, pessoa da comunidade responsável por enfeitá-lo.

À tarde, os brincantes, liderados pelo cantador, percorrem as ruas da comunidade

à procura do Boi que, ao ser encontrado, vem para o terreiro onde é laçado pelo vaqueiro,

sempre acompanhado pela voz do cantador.

Então, o vaqueiro e os padrinhos conduzem o boi até o mourão, onde é

simbolicamente sangrado. E o seu sangue em forma de vinho é distribuído a todos os

brincantes e participantes da festa.

Em São Luís, os primeiros bois a morrer são os de matraca, mas todos,

independentemente do sotaque, cumprem rigorosamente seus rituais de morte com muita

festa. As despesas realizadas com a morte do Boi são muitas e os recursos advêm de

donativos de amigos e resultado de apresentações pagas realizadas durante o período festivo

(MORAES, 1998, p.14).

No Boi do Maracanã, o mourão, da mesma forma que o boi, tem padrinho e

madrinha, no geral duas figuras da comunidade. Cabe-lhes contribuir com o material para o

seu enfeite, para a bebida e comida.


O Clube das Mães, que funciona integrado à Associação, composto por pessoas da

comunidade, encarrega-se dessa parte do mourão, sendo os seus padrinhos escolhidos

previamente de um ano para o outro.

Depois que o boi morre, uma grande alegria invade o coração de todos que o

fazem. É a certeza de que no próximo ano estarão juntos outra vez, no mesmo terreiro com

seu boi de couro novo e dançando ao som de novas toadas.

5.7 O processo de modernização e o Bumba-meu-boi do Maracanã

Ao estudarmos o bumba-meu-boi e a sua relação com o turismo nos deparamos

com termos contraditórios, como Tradição e Modernidade, pois estes se articulam diretamente

com o atual panorama vivido pelas culturas populares num contexto global.

Segundo Reis (2001, p.53) o Bumba é uma das principais manifestações

populares brasileiras, com as maiores implicações em todos os segmentos da sociedade, sendo

sem dúvida uma brincadeira estuante de brasilidade.

Inúmeras foram as adulterações concebidas por este divertimento junino com a

evolução tecnológica dos tempos atuais. Contudo, devido a intensidade com que vem

ocorrendo a curiosa proliferação de sua popularidade, até mesmo entre a classe dominante, a

elite, que há tempos atrás o repudiavam. Já se observa a influência da participação de outros

“status” sociais na brincadeira, quer pela satisfação em ver as indumentárias luxuosas de

alguns grupos, como as dos caboclos-de-pena que possuem imensos cocares feitos de penas

de avestruz ou ema, quer pela proteção de órgãos oficiais e, até mesmo, por apadrinhamentos

políticos (REIS, 2001, p.77).

Um grande motivador de transformações desta manifestação encontra-se também

nas contratações, que são disputadas pelos grupos, observa-se aqui o caráter econômico que a
brincadeira ganhou com o passar do tempo. Isto porque antes das contratações o grupo recebia

uma ajuda apenas para brincar no período de São João, entretanto, atualmente é possível

vermos apresentações fora deste período, são as denominadas “apresentações extra-época”,

que são realizadas pelos grupos até mesmo antes do batizado do boi ou após a sua morte, pois

é preciso honrar os contratos (MARQUES, 1999, p.39).

Sendo assim, o ciclo ritualístico de vida do bumba-meu-boi não é respeitado. Em

entrevista, a folclorista Zelinda Lima (2005) disse que considera como a principal mudança

ocorrida na brincadeira “a questão do não comprometimento de alguns grupos com o ciclo de

vida do boi, o desenrolar da brincadeira já não é mais respeitado”.

Entretanto, ela não considera a atividade turística como a responsável por estas

mudanças, mas sim o próprio processo evolutivo do tempo, e chama a atenção para dizer que

“a cultura é dinâmica e viva, sendo assim está sujeita à mudanças, porém deve-se manter a

sua origem e tradição, para que ela não se perca durante este processo de evolução.”

Já Michol Carvalho em entrevista a Vânia Ferreira (2004, p.55), considera o

turismo um impulsionador de mudanças ocorridas no folguedo, quando diz que “o turismo

incentiva as apresentações extra-época com a finalidade de agradar políticos e turistas que

desejam assistir as apresentações do bumba-meu-boi fora do seu calendário oficial”.

Com o Bumba-meu-boi do Maracanã não poderia ser diferente, segundo

representantes do grupo as apresentações extra-época tornaram-se mais uma alternativa de

captar recursos para suprir as despesas das brincadeiras.

É necessário que se valorize o folguedo que contém muito de nossa realidade

econômica, social e política. Todavia, o mais importante na valorização está na conservação

da originalidade do folclore, marca viva de nossa cultura popular.

É neste sentido, que apesar de o Turismo atuar diretamente na produção cultural

do bumba-meu-boi e ser considerado por estudiosos como um agente transformador desta, ele
não é o único, pois o folguedo sofre influências dos órgãos estatais e privados, da mídia e da

indústria cultural, que de certa forma contribuem para a padronização do folguedo

(CARVALHO, 1995, p.105).

Porém, o importante aqui é ressaltar que a atividade turística pode atuar na difusão

da cultura, ajudando na manutenção do folguedo, desde que seja desenvolvida de forma

sustentável, preocupada em preservar as principais características da referida manifestação.

Pensando nisso, foram elaboradas propostas que visam facilitar o entendimento de

todo o ritual do Bumba-meu-boi do Maracanã, englobando desde os ensaios até a cerimônia

de morte do boi.
6 PROPOSTAS DE INTERPRETAÇÃO CULTURAL DO BUMBA-MEU-BOI DO

MARACANÃ

A interpretação do patrimônio acrescenta valor à experiência do visitante, por

meio do fornecimento de informações e representações que realcem a história e as

características culturais e ambientais de um lugar (MURTA, ALBANO, 2002, p.9).

Sendo assim, o processo de interpretação contribui para revelar a identidade de

um determinado lugar auxiliando o visitante a captar sua alma, sua essência, otimizando a

experiência da visita através do estímulo às várias formas de olhar e apreender o que lhe é

estranho, provocando a curiosidade e levando o turista a descobrir toda a magia do lugar. A

boa interpretação marca a qualidade da descoberta, descortina significados e toca as emoções,

ao invés de apenas passar informações factuais.

Como a experiência turística é fortemente visual, o olhar do visitante procura

encontrar a singularidade do lugar, seus símbolos e significados mais marcantes. O principal

foco da interpretação é estabelecer uma comunicação efetiva com o visitante, mantendo

importantes interfaces com o turismo, a preservação do patrimônio e o desenvolvimento

cultural das comunidades locais. É componente essencial, sobretudo quando se apóia na

cultura e em paisagens especiais.

Ela possibilita aos visitantes conhecer e apreciar mais os lugares, podendo levá-

los a prolongar sua permanência e estimular novas visitas. Investir em interpretação significa

agregar valor ao produto turístico. A valorização do meio ambiente urbano e natural, da

história, dos saberes e fazeres culturais contribui para a diversificação do produto. Mais que

informar, a verdadeira essência da interpretação é convencer as pessoas do valor de seu

patrimônio, encorajando-as a conservá-lo.


Numa cultura ocidental globalizada, que busca entretenimento a todo custo, é

fundamental tocar a emoção, provocar as pessoas, estimular novas formas de olhar, de ver, de

apreciar. Além disso, a prática interpretativa deve promover a discussão entre os vários

segmentos sociais sobre aquilo que torna seu lugar especial e diferente. Deve também levar os

moradores a redescobrir novas formas de apreciar seu lugar, de forma a desenvolver entre eles

atitudes preservacionistas e despertar novas vocações de trabalho e renda ligados ao turismo,

propiciando o desenvolvimento cultural das comunidades.

A histórica afirmação de Tilden traduzido por MURTA (2002, p.20) convalida,

portanto a verdadeira magia de se praticar a interpretação: “Através da interpretação, a

compreensão; através da compreensão, a apreciação; e através da apreciação, a proteção”.

Dessa forma, foram elaboradas duas propostas que possuem como objetivo principal a

interpretação cultural do Bumba-meu-boi do Maracanã, contribuindo para a prática de um

turismo sustentável.

6.1 Proposta A: Implantação de um Centro


de Visitação do Bumba-meu-boi do
Maracanã

6.1.1 Justificativa

A atividade turística pode contribuir para a revitalização e preservação de

manifestações culturais, desde que atue respeitando a cultura local e promova ações que

mantenham a autenticidade destas, desenvolvendo um turismo sustentável, enquanto prática

cultural, social e econômica.

Sendo assim, o Centro de Visitação do Bumba-meu-boi do Maracanã seria um

espaço aberto ao público interessado em conhecer e interpretar a referida manifestação. Onde

estariam expostos os instrumentos musicais, as indumentárias, o couro do boi, o mourão,


entre outros objetos que fazem parte do ciclo de vida do boi do Maracanã, além de possuir

monitores para a orientação do público durante a visita.

É importante ressaltar que o Centro atuaria também no desenvolvimento de ações

junto à comunidade, sensibilizando-a sobre a importância em conhecer e preservar a

identidade cultural de suas manifestações folclóricas.

Dessa forma, o Centro estaria contribuindo com a atividade turística no bairro do

Maracanã, tornando-se um atrativo tanto para a população local quanto para visitantes,

refletindo-se na melhoria de qualidade de vida da comunidade.

6.1.2 Objetivo geral

Implantar um Centro de Visitação do Bumba-meu-boi do Maracanã que atue no

desenvolvimento de ações contribuintes para a preservação do Boi do Maracanã, gerando um

novo atrativo à população local e aos visitantes.

6.1.3 Objetivos específicos

a) Expor de forma didática os objetos que fazem parte do ciclo de vida do Boi do

Maracanã;

b) Capacitar jovens para a prestação de serviço de monitoramento de visitas ao

Centro;

c) Incentivar crianças, adolescentes e idosos à prática de atividades artístico-

culturais;

d) Sensibilizar a comunidade local para a preservação de suas manifestações

culturais, como o Bumba-meu-boi do Maracanã.


6.1.4 Metodologia

A implantação do Centro de visitação do Bumba-meu-boi do Maracanã deveria

contar com o apoio de órgãos públicos e privados, além da aprovação da população local, por

tratar-se de um empreendimento turístico cultural auto-sustentado capaz de contribuir para a

melhoria da qualidade de vida da comunidade do Maracanã.

Dentre as ações que seriam desenvolvidas neste Centro, destacamos:

a) Exposição didática dos objetos que compõem o ciclo de vida do Boi do

Maracanã.

Trataria-se de uma exposição permanente dos objetos que compõem o ciclo de

vida do Boi do Maracanã, tendo como finalidade apresentá-los e promovê-los como atrações.

Para a montagem desta exposição seria necessário fazer um levantamento dos

objetos que serão expostos, dentre eles:

- as indumentárias
- o Boizinho
- os instrumentos musicais
- o mourão
- fotografias do grupo em apresentações juninas

Cada objeto possuiria uma etiqueta contendo suas informações básicas, desde o

material que o compõe até a sua utilização, facilitando de forma significativa o seu

entendimento. O Centro funcionaria de terça a domingo no horário: 09h00min às 18h00min.

b) Capacitação de jovens para o monitoramento de visitas ao Centro

A fim de contribuir para a formação profissional e cultural dos jovens do bairro do

Maracanã, o Centro atuaria na capacitação destes para que eles desenvolvam a atividade de

monitoria de visitas no próprio Centro.


Os jovens deverão passar por um treinamento de aproximadamente 1 mês, durante

este período eles terão explicações acerca da proposta desenvolvida pelo Centro, o que

contribuirá na atuação deles como monitores, pois eles se encontrarão mais preparados para a

atividade que devem desenvolver.

A princípio o Centro selecionaria 6 jovens monitores a cada ano, sendo que 3

atuariam pela manhã e os outros 3 à tarde, todos deverão estar devidamente matriculados em

qualquer escola, trata-se de um requisito básico para que eles exerçam a função de monitores

do Centro de Visitação do Bumba-meu-boi do Maracanã.

c) Incentivo à prática de atividades artístico-culturais

O Bumba-meu-boi do Maracanã desperta o interesse de toda a comunidade, desde

crianças, adolescentes até à terceira idade. Pensando na comunidade como um todo, o Centro

poderia atuar no desenvolvimento de atividades que envolvessem tanto o público infanto-

juvenil quanto o que corresponde à terceira idade.

Dessa forma, sugerimos as seguintes atividades:

- Mini-cursos de cultura popular maranhense;


- Cursos de música popular maranhense;
- Oficinas de dança e teatro;
- Oficinas de artesanato e artes plásticas;

Tais atividades além de contribuírem para a formação cultural das crianças,

adolescentes e idosos, também ocupariam o tempo ocioso deles.

d) Sensibilização da comunidade

Ao procurarmos o “espírito” de um lugar devemos nos remeter à comunidade,

pois é ela que o mantém vivo em sua memória coletiva, em sua história oral e documentada

Uma boa tarefa conjunta para os órgãos de preservação e de turismo: envolver desde o início
os moradores no levantamento do inventário cultural e turístico de suas localidade, dar-lhes

um canal de expressão para os vários sentidos que atribuem ao seu patrimônio. As paisagens

urbanas e naturais são multivocais: um mesmo objeto, lugar ou fenômeno tem geralmente

vários sentidos e identidades, de acordo com quem os atribui ao longo do tempo. Dessa

forma, dar um canal de expressão para as várias vozes da comunidade interpretarem seu

patrimônio enriquece a interpretação e a experiência vivencial do visitante, ao mesmo tempo

que valoriza o lugar.

Sendo assim, este canal de expressão da comunidade poderia ser o Centro, que

entre as várias atividades desenvolvidas com a comunidade se preocuparia também em

realizar palestras, debates e reuniões a fim de discutir sobre a importância de conhecer e

preservar seus bens culturais.

Pois, embora a comunidade possa ser a maior defensora de seu patrimônio, muitas

vezes a capacidade de perceber o valor do que é corriqueiro acaba escapando à população de

um lugar, que poderá vir a sentir-se atraída por coisas alheias a seu próprio meio e tender a

escolher bens sem tanto significado.

Para a realização desta ação o Centro de Visitação do Bumba-meu-boi do

Maracanã poderia contar com o apoio da Secretaria Municipal de Turismo e com o Curso de

Turismo da Universidade Federal do Maranhão.

6.2 Proposta B: Elaboração de um


calendário do ciclo de vida do Bumba-meu-
boi do Maracanã

6.2.1 Justificativa

O calendário do ciclo de vida do Bumba-meu-boi do Maracanã será utilizado

como um instrumento de marketing turístico, neste caso específico, ele atuará na divulgação
dos períodos de ensaio, batizado e morte do Boi do Maracanã, as datas das apresentações do

grupo em arraiais durante o período junino não serão incluídas neste calendário, pois estas não

são realizadas no bairro.

O acompanhamento do ciclo de vida do Bumba-meu-boi do Maracanã é de

extrema importância para a melhor compreensão do seu universo ritualístico. Sendo assim, a

elaboração deste calendário contribuirá para o planejamento de ações que visam tornar o ciclo

de vida do Boi do Maracanã mais atraente à população local e aos visitantes, podendo até ser

incluído no calendário de eventos da cidade de São Luís.

Entretanto, tais ações não podem de forma alguma descaracterizar o ciclo, pois o

objetivo principal deste calendário é divulgar para a população local e aos visitantes as datas

dos ensaios, batizado e morte do Boi. Para que estes ao terem conhecimento destas datas

possam comparecer ao Bairro do Maracanã com a finalidade de apreciar, entender e preservar

o Boi do Maracanã, respeitando a cultura local.

6.2.2 Objetivo geral

Elaborar um calendário do ciclo de vida do Bumba-meu-boi do Maracanã visando

a sua divulgação para a comunidade local e aos visitantes do bairro de mesmo nome.

6.2.3 Objetivos específicos

- Divulgar as datas dos ensaios, batizado, apresentações juninas e morte do Boi do

Maracanã;

- Propiciar à comunidade local e visitantes uma nova forma de interpretação do

universo ritualístico do Boi do Maracanã;


- Incluir as festividades do ciclo de vida do Boi do Maracanã no calendário de

eventos de São Luís;

6.2.4 Metodologia

Para a elaboração do calendário do ciclo de vida do Bumba-meu-boi do Maracanã

é necessário fazer um levantamento das festas que integram este ciclo, além das festas do

batizado e morte do boi, incluiremos no calendário as datas dos ensaios, pois constituem

também uma atração interessante para o Bairro do Maracanã.

A divulgação deste calendário deverá ser feita através de parcerias com órgãos

públicos e privados, como a Secretaria Municipal de Turismo e Agências de Viagens, enfim

órgãos envolvidos com a atividade turística.

As datas aqui sugeridas fazem parte do ano de 2005.

 Maio (Dias 07 e 21): são as datas dos primeiros ensaios do grupo, que

acontecem sempre aos sábados, no próprio bairro do Maracanã, em frente ao barracão-sede do

Boi, por volta das 23h00min.

 Junho (Dias 04 e 11): refere-se aos últimos ensaios, ou seja, a oportunidade

que a comunidade local e os visitantes tem de presenciar os ensaios do grupo estão chegando

ao fim. Dia 23: Véspera de São João, dia do Batizado do boi.

 Agosto (Dia 15): chega o momento da despedida, os brincantes se despedem

da brincadeira ao som de toadas que insistem no tema do adeus. Porém, eles sabem que a cada

ano tudo se repete e a tradição é mantida.


7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Turismo tem sido considerado por muitos estudiosos um setor prejudicial à

cultura dos mais diversos núcleos receptores, é sabido que a atividade turística é capaz de

modificar espaços e até mesmo os atrativos naturais e culturais de um determinado pólo

turístico a fim de atrair visitantes.

Na cidade de São Luís, por exemplo, podemos observar, durante o período junino,

as mudanças ocorridas nas manifestações culturais, principalmente no que diz respeito ao

aspecto estético, muitos grupos de bumba-meu-boi transformaram radicalmente a brincadeira

em um espetáculo, onde o tempo é cronometrado, as coreografias são minuciosamente

sincronizadas, as indumentárias luxuosas e contendo o maior número de cores possível, ou

seja, observa-se aqui a perda da identidade cultural.

Entretanto, a cultura está sujeita a mudanças, pois ela é viva e dinâmica, o

importante é compreender dentro de todo este contexto de transformações que o essencial da

cultura deve ser preservado e respeitado, ou seja, o seu real sentido deve ser mantido, pois faz

parte da história e tradição de um povo.

Sendo assim, o turismo desde que desenvolvido de forma sustentável, respeitando

os atrativos naturais, culturais e históricos de uma determinada localidade e envolvendo a

comunidade local em suas ações pode reduzir de forma significativa os impactos gerados pela

atividade e pelo próprio processo de evolução do tempo.

Dessa forma, acreditamos que ao desenvolver o turismo em pequenos núcleos ou

bairros, facilita o planejamento e a participação da própria comunidade durante todo o seu

processo de implantação, sendo importante ressaltar que no momento em que a população

participa deste processo, ela se encontra mais sensível aos seus efeitos, podendo então

descobrir meios adequados para a preservação do seu patrimônio.


Em nossa pesquisa, verificou-se que as manifestações culturais produzidas no

bairro do Maracanã ainda não são aproveitadas como atrativos turísticos, não há nenhum tipo

de material informativo sobre as manifestações culturais produzidas no bairro, o que dificulta

de forma significativa que as comunidades adjacentes conheçam tais manifestações.

Assim, nesta referida pesquisa foi estudado com mais afinco o Bumba-meu-boi do

Maracanã, por ser uma manifestação cultural tradicional do bairro e que conta com a

participação da comunidade local, que ajuda a preservar a origem de tal brincadeira.

As propostas apresentadas em nossa pesquisa têm como objetivo a preservação

das principais características e de todo o processo ritualístico do Bumba-meu-boi do

Maracanã, além de aproveitá-lo como um atrativo turístico. Tais propostas podem contribuir

para o desenvolvimento do turismo no bairro do Maracanã e trazer melhoria na qualidade de

vida dos seus moradores, além de oferecer novas oportunidades de lazer e trabalho aos jovens

da comunidade local.
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SOUZA, A.M.C;M.V. Turismo: conceitos, definições e siglas. 2 ed. Manaus: Valer , 2000.

SWARBOOK, John. Turismo sustentável: Turismo Cultural, Ecoturismo e Ética. São Paulo:
Aleph, 2000.

THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna. Petrópolis-RJ: Ed. Vozes, 2000.

URRY, John. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. São
Paulo: SESC-SP, 1996.
ANEXO
ANEXO A - PORTARIA Nº 912/2005-GG/SSP DE 03 DE JUNHO DE 2005

O SECRETÁRIO DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA, no uso de suas atribuições


legais e,

Considerando a proximidade do período junino e diante da magnitude dos festejos e da


necessidade de adoção de medidas de caráter preventivo e repressivo, objetivando a
tranqüilidade e a manutenção da ordem pública;

Considerando, ainda as restrições quanto à derrubada de espécimes vegetais em extinção,


usadas comumente na decoração dos ambientes juninos,

RESOLVE

Art. 1º - Toda e qualquer festividade junina realizada em clubes, associações e demais


estabelecimentos de diversões públicas em geral e em áreas e logradouros públicos, ou
mesmo em propriedades privadas com acesso ao público em geral, obedecerá às disposições
constantes desta portaria.

Art 2º - As disposições relativas a menores de 18 (dezoito) anos serão fixadas pela autoridade
competente, cuja fiscalização contará com o apoio das Polícias Civil e Militar.

Art. 3º - As diretorias de clubes, associações e similares e os proprietários e responsáveis


pelos demais estabelecimentos de diversões públicas, bem como os promotores e
organizadores de arraias e evento juninos em geral, são obrigados a manter rigorosa vigilância
nos respectivos recintos e em suas imediações, visando a segurança, o decoro, a tranqüilidade,
o sossego público e o cumprimento incondicional desta Portaria.

Art. 4º - Todos os estabelecimentos de diversões públicas com programação junina e os


promotores e organizadores de arraias e eventos dessa natureza (ensaios e apresentações
folclóricas, shows, etc.) devem obrigatoriamente requerer o licenciamento com antecedência
mínima de 72 (setenta e duas) horas.

Parágrafo 1º - O licenciamento será concedido:


a) Na ilha de Upaon Açu, pela Delegacia de Costumes e Diversões e pelas Delegacias
Especiais do Maiobão, Cidade Operária, Raposa, São José de Ribamar e Paço do Lumiar, em
suas respectivas circunscrições;

b) No interior do Estado, nas sedes das Delegacias Regionais, pelos respectivos titulares e nos
demais municípios, pelos delegados de carreira lotados e em exercício nas Delegacias de
Policia Civil, respeitadas suas circunscrições.

c) Parágrafo 2º - O licenciamento fica condicionado ao atendimento das formalidades legais


previstas no Decreto nº 5068/73, na Lei do Silêncio, em relação à segurança, condições
sanitárias, sonorização e ao Código de Prevenção Contra Incêndio e Pânico.

Parágrafo 3º - O licenciamento de arraiais, parque e quermesses, em áreas e logradouros


públicos ou qual outro ambiente aberto ao público em geral, notadamente em zonas
residenciais, fica condicionado a apresentação de abaixo-assinado dos moradores das
proximidades, manifestando concordância com a realização do evento.

Art. 5º - Nenhum evento junino (arraial, apresentação folclórica e ensaios em geral, etc.)
poderá ser realizado a menos de 200 metros de estabelecimentos hospitalares, educacionais,
templos religiosos, postos de serviço e distribuição de combustível, depósitos ou outros
estabelecimentos que armazenem materiais inflamáveis ou explosivos ou ainda em
logradouros ou vias públicas que incompatibilizem o tráfego de veículos ou provoque
perturbação da tranqüilidade e do sossego públicos.

Parágrafo 1º – Desde que não haja a coincidência de horário de funcionamento com as


instituições hospitalares, educacionais e religiosas, o evento poderá ser licenciado, após
criteriosa análise de cada caso isoladamente.

Parágrafo 2º - Os eventos realizados em áreas de estabelecimentos de ensino e templos


religiosos somente serão licenciados após aquiescência da administração dos mesmos.

Art. 6º - O período de realização de arraiais, parques e quermesses no Estado do Maranhão


iniciar-se-á no dia 05 de junho com encerramento até o dia 10 de julho do ano em curso.
Parágrafo Único – Poderá ser autorizada à realização de festejos em outras datas, quando for
data festiva e tradicional para o município.

Art. 7º - O horário de funcionamento de arraiais, parques e quermesses obedecerá ao disposto


na Portaria nº 08/2002 – ASPLAN/GEJUSPC e será estabelecido pelas unidades policiais
responsáveis pelo licenciamento, não podendo, no entanto, o som mecânico ultrapassar 02:30
(duas e trinta) horas da manhã.

Parágrafo único – Esse horário poderá, excepcionalmente, ser prorrogado unicamente para
apresentação folclórica e shows, findo os quais a sonorização será desativada.

Art. 8º - A ornamentação de arraiais e de outros ambientes juninos com espécimes ameaçados


de extinção, sujeitará o infrator às medidas previstas na legislação em espécie e a conseqüente
cassação do alvará de licenciamento do evento.

Art 9º - É terminantemente proibido:

a) O ingresso e permanência de pessoas em visível estado de embriaguez em clubes,


associações, arraiais, quermesses ou em qualquer evento ou festividade, tal que seu
comportamento seja inconveniente á ordem, ao decoro e aos bons costumes;

b) A venda de bebida alcoólica a quem estiver em visível estado de embriaguez e a menores


de 18 (dezoito) anos, ficando infrator sujeito ao procedimento policial na forma da lei;

c) Portar arma de qualquer natureza ou instrumento que possa ser utilizado como tal, nos
festejos e em suas imediações, ficando esses objetos passíveis de apreensão e os infratores
sujeitos às sanções legais, exceto os detentores de porte de armas funcionais, conforme
legislação em vigor;

d) A montagem de fogueiras naturais a uma distancia inferior a 200 metros de postos de


serviço e distribuição de combustíveis, depósitos ou outros estabelecimentos que armazenem
materiais inflamáveis ou explosivos, estacionamentos de veículos escolas, prédios públicos ou
locais que prejudiquem as redes elétricas ou telefônicas,
e) O uso de fogos de artifícios e similares comuns aos festejos juninos, em locais, sem a
prévia autorização do Corpo de Bombeiros Militar, de acordo com a legislação vigente e;

f) Soltar balões inflamáveis.

Art. 10 – Todo arraial e qualquer outro evento junino público estão sujeitos á fiscalização das Policias
Civil e Militar, que exigirão a apresentação das respectivas licenças de funcionamento, sob pena de
interdição imediata.

DÊ –SE CIÊNCIA,

PUBLIQUE-SE E CUMPRA-SE

SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA, EM SÃO LUÍS, 02 DE JUNHO DE


2005.

RAIMUNDO SOARES CUTRIM

SECRETÁRIO DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA


FONTE: imirante.com.br
APÊNDICE
APÊNDICE A – Fotos do Bumba-meu-boi

Figura 5 - Esquentando os pandeirões durante o ensaio

Fonte: DA AUTORA (junho, 2005)

Figura 6 - Ensaio do Boi do Maracanã

Fonte: DA AUTORA (junho, 2005)


Figura 7 - Chapéu de fita

Fonte: DA AUTORA (junho, 2005)

Figura 8 - Caboclos de fita do Boi do Maracanã

Fonte: DA AUTORA (junho, 2005)


Figura 9 - Índias do Boi do Maracanã

Fonte: DA AUTORA (junho, 2005)

Figura 10 - Caboclo de pena do Boi do Maracanã

Fonte: DA AUTORA (junho, 2005)

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