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São Luís
2005
ANA PAULA RIOS DE MELO
São Luís
2005
ANA PAULA RIOS DE MELO
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
________________________________________________
Examinador 1
Universidade Federal do Maranhão
__________________________________________________
Examinador 2
Universidade Federal do Maranhão
A Deus, fonte de todos os dons.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Fátima e Ivonaldo, pelo amor que dedicam a mim e pela
Aos meus tios e tias, em especial tia Socorro e tia Conceição, por terem
Aos meus amigos e primos e a todos aqueles que me ajudaram com palavras de
incentivo.
À Profª. Socorro, a quem tenho profunda admiração, por sua atenção durante a
o resto”.
E. Henriot
RESUMO
como oferta turística do bairro do Maracanã, além de contribuir para a melhoria na qualidade
no bairro.
Study of the Maracanã’s Bumba-meu-boi, involving all its cycle of life. It considers actions
that will make possible the preservation of the cited cultural manifestation and its use as it
offers tourist of the locate of Maracanã, besides contributing for the improvement in the
quality of life of the local community. It is also mentioned to other produced cultural
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 11
2 ASPECTOS ECONÔMICOS DO TURISMO...................................................... 14
2.1 Aspectos sócio-culturais do Turismo..................................................................... 18
2.2 Efeitos da globalização para o Turismo................................................................ 21
2.3 A relação do Turismo e o Patrimônio Cultural.................................................... 24
3 ASPECTOS GERAIS DO MARACANÃ.............................................................. 30
3.1 Localização............................................................................................................... 31
3.2 Infra-estrutura básica e turística................................................................................... 31
3.3 Principais atrativos do Maracanã.................................................................................. 32
3.3.1 Área de Proteção Ambiental (APA) do Maracanã.................................................... 33
3.3.2 A festa da Juçara........................................................................................................ 34
3.3.3 A Festa dos Reis........................................................................................................ 36
3.4 Símbolo cultural maranhense: Bumba-meu-boi......................................................... 37
4 BREVE HISTÓRICO DO BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO................... 40
4.1 Personagens....................................................................................................................... 43
4.2 Estilos ou Sotaques.................................................................................................. 46
4.2.1 Sotaque de Zabumba................................................................................................. 47
4.2.2 Sotaque de Matraca................................................................................................... 47
4.2.3 Sotaque de Orquestra................................................................................................. 48
4.2.4 Sotaque da Baixada (sotaque dos pandeirões).......................................................... 49
4.2.5 Sotaque de Costa de Mão.......................................................................................... 49
5 ENTENDENDO O BUMBA-MEU-BOI DO MARACANÃ: COMO TUDO 51
COMEÇOU..............................................................................................................
5.1 O amo: Humberto do Maracanã............................................................................ 52
5.2 Contextualizando a festança: Roteiro da brincadeira do Bumba-meu-boi do 55
Maracanã..................................................................................................................
5.3 É hora de preparar a festa: os ensaios....................................................................... 55
5.4 O Boi precisa receber a benção de São João: O Batizado................................... 57
5.5 Finalmente chega o grande momento: as Apresentações.................................... 59
5.6 O Ritual da Morte do Boi........................................................................................ 61
5.7 O processo de modernização e o Bumba-meu-boi do Maracanã........................ 64
6. PROPOSTAS DE INTERPRETAÇÃO CULTURAL DO BUMBA-MEU-
BOI DO MARACANÃ............................................................................................ 67
6.1 Proposta A: Implantação de um Centro de Visitação do Bumba-meu-boi do
Maracanã.................................................................................................................. 68
6.1.1 Justificativa................................................................................................................ 68
6.1.2 Objetivo geral............................................................................................................ 69
6.1.3 Objetivos específicos................................................................................................. 69
6.1.4 Metodologia............................................................................................................... 70
6.2 Proposta B: Elaboração de um calendário do ciclo de vida do Bumba-meu-
boi do Maracanã...................................................................................................... 72
6.2.1 Justificativa................................................................................................................ 72
6.2.2 Objetivo geral............................................................................................................ 73
6.2.3 Objetivos específicos................................................................................................. 73
6.2.4 Metodologia............................................................................................................... 74
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 75
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 77
ANEXO..................................................................................................................... 79
APÊNDICE.............................................................................................................. 84
Melo, Ana Paula Rios de.
Estudando o batalhão de ouro do Maracanã: a importância do
Turismo e os ciclos ritualísticos do Bumba-meu-boi do Maracanã
/ Ana Paula Rios de Melo – São Luís: [s.n.], 2005.
87 f. il.
apresentando para o futuro as perspectivas mais promissoras, caracteriza-se por ser altamente
modernização nos transportes e das comunicações. É também, crescente o desejo das pessoas
que a globalização tornou-se algo comum em nossas vidas. Nosso ambiente do dia a dia está
cada vez mais padronizado. E esse é um dos motivos pelos quais as diversidades culturais
global, estamos aprendendo a olhar para o patrimônio como um bem que representa
identidade e que exalta o valor de uma cultura, de algo que é o retrato de um tempo histórico,
e de manifestações culturais.
devido à sua história e riqueza de suas manifestações populares, que fazem parte da oferta
bumba-meu-boi, pois se acredita que tal manifestação tenha surgido por volta do século XVIII
e até hoje se mantém viva, possuindo um lugar de destaque entre as manifestações culturais
do estado, por sua história, ritmo vibrante e pela sua forma especial de se apresentar.
grupos de bumba-meu-boi que se apresentam neste período, dos quais destacamos o Bumba-
meu-boi do Maracanã como nosso objeto de estudo, por ser um dos grupos mais tradicionais
bibliográficas e de campo.
de Cultura Popular Domingos Vieira Filho foi possível ter acesso ao cadastro de grupos de
bumba-meu-boi do Estado.
populares produzidas no bairro, além de interagir com a comunidade local e com pessoas
representativas do Boi do Maracanã que pudessem contribuir para o referido estudo através de
seus depoimentos.
boi do Maracanã, com a presença de pessoas importantes para a comunidade local, como
Maracanã e com Zelinda Lima, folclorista, a fim de compreender melhor todo o ciclo de vida
do bumba-meu-boi.
turismo. Damos destaque para o segmento do Turismo Cultural, trabalhando ainda neste
turística.
Já no segundo capítulo, é abordado os aspectos gerais do bairro do Maracanã, seus
básica e turística.
Após conhecermos um pouco mais sobre o Bairro do Maracanã, iremos falar com
Maracanã, mas para entendermos melhor tal manifestação é preciso primeiramente entender
O quarto capitulo vem tratar com mais afinco de todo o ciclo de vida do Bumba-
turismo no bairro, proporcionando aos seus moradores a melhoria da sua qualidade de vida.
para a cidade de São Luís. Este estudo poderá auxiliar outras pesquisas referentes às
Sabe-se que o Turismo é uma área bem mais abrangente do que se possa
imaginar, pois envolve as mais diversas áreas do conhecimento tornando-se difícil conceituá-
lo. Por exemplo, segundo McIntosh e Grupta, o turismo, de forma ampla, é assumido como a
ciência, a arte e a atividade de atrair, transportar e alojar visitantes, a fim de satisfazer suas
de pessoas para locais de destinos distintos de seus lugares de trabalho e de morada; incluindo
também as atividades exercidas durante a permanência desses viajantes nos locais de destino e
é uma atividade sócio-econômica, pois gera a produção de bens e serviços para o homem
possível observar o surgimento de novas necessidades dos turistas, afinal de contas estes se
encontram muito mais informados sobre o produto turístico que desejam adquirir, impondo
desta forma, uma grande capacidade de inovação e criatividade aos profissionais desta área.
Dessa forma, torna-se necessária a descoberta de novas localidades que sejam
capazes de despertar o interesse tanto da comunidade local quanto de turistas. Pensando nisso,
resolvemos observar mais atentamente o entorno da cidade de São Luís a fim de descobrir
locais que possuam atrativos naturais e culturais significativos que podem contribuir para o
Festa da Juçara que acontece no mês de Outubro e o Bumba-meu-boi do Maracanã, que inicia
seus ensaios em Maio. Quanto ao aspecto natural, damos destaque para a Área de Proteção
prática do ecoturismo.
pois este pode trazer melhorias na qualidade de vida da sua população, afinal de contas trata-
tornará a principal atividade econômica do mundo em 2020. De acordo com Carvalho (2000,
p.13), a expansão espacial do turismo ocorrida nos últimos 25 anos é uma realidade inegável.
O movimento de pessoas cujo fim é o desfrute do tempo livre em atividades de turismo e lazer
já não se restringe mais aos países centrais, ele passa a existir também em muitos países
periféricos. Seja através do turismo internacional, seja através do chamado turismo doméstico.
caráter sócio-econômico.
destino turístico. De acordo com Acerenza (1991, p.25), o produto turístico pode ser
uma preocupação constante no que diz respeito à promoção e ao marketing, cujo objetivo é
satisfação garantida para os que a compram, utilizando um sistema de divulgação cada vez
mais sofisticado, onde oferecem muito conforto, muita natureza, descontração e liberdade,
enfim, lugares paradisíacos que contrastam com o espaço habitual e banal do turista. A
definição de Miossec (1977, p.138), de que o "espaço turístico é, antes de tudo, uma imagem",
a sua tendência tem sido explorar todos os recursos naturais, culturais e históricos, da forma
mais lucrativa possível. O que poderá causar danos irreversíveis ao meio ambiente natural e às
culturas.
A este respeito, Ana Fani Alessandri Carlos (2000, p. 25) afirma que:
Desta forma, pode-se dizer que o Turismo por possuir a capacidade de modificar
espaços e até mesmo os atrativos naturais e culturais de um pólo turístico, tendo apenas como
finalidade gerar lucro para este, poderá acabar limitando-se apenas a uma atividade comercial.
A ocupação do tempo disponível para o lazer em atividades englobadas pelo turismo, inclui o
deslocamento de pessoas para fora do seu espaço cotidiano, faz deste um fenômeno de massa.
Isto porque com o capitalismo ocorrem muitas mudanças nas relações sociais, uma delas
refere-se á utilização do tempo, que agora passa a ser dividido em tempo de trabalho e tempo
A sociedade atual vive freneticamente e acaba por desejar a saída desta rotina
imposta pelo modelo urbano industrial, assim a viagem é vista como uma forma de escapar
deste cotidiano atribulado, ela possibilita o descanso mental e físico, a liberdade, o contato
com a natureza e culturas diversas, sendo importante destacar, que de todas as atividades que
se relacionam com o lazer, o turismo é certamente a que mais provoca frenesi nos indivíduos,
por ser capaz de em um curto período alterar toda uma rotina (CAMARGO, 1999, p.33).
aspecto sócio cultural que deve ser enfatizado. Desta forma, os profissionais da área devem
estar atentos ao vender um destino turístico, pois é extremamente importante que os seus
comunidade local não venha a ser alterado, só assim poderemos ter uma atividade mais
turista e oferecer-lhe experiências diferentes e interessantes. O que também deve ser citado
refere-se às questões dos empresários e operadores, que com a atração de um grande número
operações, quanto aos políticos e planejadores, estes por sua vez, desejam maximizar as
vantagens financeiras obtidas com o turismo para o seu país ou região (COBRA, 1991).
ou região de destino. Entretanto tais impactos podem ser minimizados ou até mesmo
preocupem tanto com a comunidade local quanto com o visitante, trazendo-lhes benefícios,
respeitando a identidade cultural do local e preservando o ambiente natural, para que isso
ocorra será necessário criar ações que contribuam para um turismo sustentável, sendo
Desde o final do século XVI, o Grand Tour (viagens realizadas pelos jovens da
das pessoas por novos conhecimentos. O turismo já era executado a fim de conhecer novas
montados de modo a atender uma clientela exigente e culta. Tais viagens exerciam um papel
É neste contexto que nos deparamos com a verdadeira essência do Turismo, pois
comunidade local, ou seja, as viagens permitem não apenas conhecer outras realidades, mas
perceber e valorizar nossa diversidade cultural. Não se deve ignorar o ser humano que vive
conscientização acerca do papel representado, por cada um, nesse processo competitivo.
aquela cultura viva, praticada pela comunidade em seu cotidiano. Não é um espetáculo, que
inicia quando o ônibus dos visitantes chega, mas uma atividade que a comunidade exerce
rotineiramente”.
tradição e da identidade cultural. Este segmento do turismo tem como fundamento o elo entre
o passado e o presente, o contato e a convivência com o legado cultural, com tradições que
foram influenciadas pela dinâmica do tempo, mas que permaneceram através das formas
refere a este segmento da seguinte maneira: “é todo turismo em que o principal atrativo não
seja a natureza, mas algum aspecto da cultura humana”. Ou seja, este segmento do turismo
tem como principal atrativo o patrimônio cultural, englobando os bens tangíveis e intangíveis.
Desta forma, pode-se dizer que o Turismo Cultural corresponde aos bens
Recursos que podem ser bens tombados ou não, desde que apresentem
características consideradas relevantes para a história e a cultura da localidade em
que estão construídos. Entram nesse rol prédios, monumentos, bairros, cidades e
marcos arquitetônicos (...). Há também uma enorme variedade de manifestações da
cultura imaterial, entre as quais, podem ser citadas as danças, a culinária, o
vestuário, a música, a literatura popular e a medicina caseira.
imateriais, muitas vezes abafadas pela concepção moderna. Dessa forma, a atividade turística
passa necessariamente pela questão da cultura local e regional, o que reforça a necessidade em
comunidade.
destino turístico, estas podem ser utilizadas para compor a oferta turística de um núcleo
Festa dos Reis, Festa de São Sebastião, Festa da Juçara e o Bumba-meu-boi do Maracanã
podem incrementar a oferta turística de São Luís. Mas para que isso ocorra é preciso que os
local, para que não ocorra a descaracterização das manifestações e conseqüentemente uma
Com a atual globalização, tivemos uma redefinição no que diz respeito ao tempo e
espaço, isso graças às modernas tecnologias que nos possibilitam obter qualquer tipo de
informação em frações de segundos, parece não existir mais fronteiras, as culturas integram-
se diante deste processo e acabam perdendo seu sentido verdadeiro. A padronização dos
único sistema técnico, sob o domínio dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da
política. Nessa comunidade mundial o lugar da mídia é preponderante uma vez que permite a
globalização dos espaços. Uma das características dessa globalização dos espaços promovida
pelas diferentes mídias é que cada lugar, não importando onde se encontre, revela o mundo,
O sociólogo brasileiro Renato Ortiz (1994, p.25) afirma que existe uma cultura
mundializada que se expressa na emersão de uma identidade cultural popular, cujos signos
estariam dispersos pelo mundo. Como exemplos cita redes de alimentos e marcas de produtos
de informações, padronizando gostos, idéias, imagens que são consumidos na esfera das
estereótipos que tentam representar a riqueza cultural de cada região e de cada povo escolhido
como destino turístico. Alternativa que pode fazer desaparecer, com o tempo, características
turística, vão, pouco a pouco, adequando o seu cotidiano às necessidades dos grupos
visitantes, a ponto de perder seus referenciais. E assim, procurando satisfazer o cliente, vai
Renato Ortiz (1994, p.140) manifesta sua opinião a este respeito da seguinte
maneira: “A dimensão global supera o aspecto nacional. Para que os homens se encontrem e
referências culturais”.
Enfim, planejar é preparar e, em última instância, pensar na sobrevivência do povo que vive
no local a ser visitado e conhecido por outras gentes, outros povos, a fim de que a sua história
suas lutas políticas, a sua formação religiosa, as suas conquistas e o seu progresso. Há
também uma força íntima, um impulso irresistível e superior que lhe define o caráter – tal
impulso refere-se à tradição. A tradição está presente em todo ato humano em sociedade,
através da cultura que usa o dispositivo da memória para aglutinar, misturar e remontar a
festas, nas cantigas, nas rodas, nos autos religiosos que têm como finalidade resgatar aspectos
da cultura viva, mutante e sempre presente na história, enquanto o homem for capaz de
simbolizar sua realidade. Modernidade pode andar junto com o antigo; basta adaptar ao
ambiente e dar uma nova função a ele e manter conservadas as suas condições mínimas de
sobrevivência, todas elas implicadas no meio ambiente e no saber (MARQUES, 1999, p.15).
Manter algum tipo de identidade – étnica, local ou regional – parece ser essencial
para que as pessoas se sintam seguras, unidas por laços extemporâneos a seus antepassados, a
um local, a uma terra, a costumes e hábitos que lhes dão segurança, que lhes informam quem
são e de onde vêm, enfim, para que não se percam no turbilhão de informações, mudanças
repentinas e quantidade de estímulos que o mundo atual oferece (BARRETO, 2000, p. 46).
gostos dos visitantes não é regra geral. Ou seja, é necessário que haja um planejamento
para o desenvolvimento de atividades turísticas, o resultado final pode ser positivo. Os efeitos
sócio-culturais sobre as pessoas residentes na área podem se manifestar, entre outros aspectos,
restrinja apenas a uma atividade comercial, desconsiderando a sua verdadeira essência, que se
refere aos seus aspectos naturais, sociais e histórico-culturais. Porém, podemos observar
através do turismo cultural, que possui como principal atrativo a oferta histórico-cultural, a
firma-se a identidade cultural da nação e vários projetos de lei são enviados ao Congresso
Nacional, versando sobre o direito de propriedade absoluta. Nesta mesma década, é criado o
históricos de algumas cidades brasileiras, como o Projeto Reviver (São Luís – 1979),
Operação Pelourinho (Salvador – 1992), Projeto Ouro Preto (Ouro Preto – 1993)
cidade e o seu reconhecimento deve ter como referência a qualidade do meio ambiente e dos
valores históricos, culturais e estéticos que dão a cada comunidade a sua individualidade.
Maracanã por exemplo, há muitas manifestações culturais e belezas naturais que devem ser do
conhecimento de todos, tanto da comunidade local, que por sinal participa ativamente da
já entendem que a atividade turística pode vir a trazer benefícios para eles próprios, além de
... Minha filha tu precisa ver isso aqui quando tem a Festa da Juçara e os ensaios do
boi... vem muita gente, eu até tomo de conta de umas das barraquinhas do Parque da
Juçara, a gente é pobre e precisa aproveitar essas coisas para ganhar um
dinheirinho... (Depoimento de moradora do Maracanã, 2005).
representadas, em todo o mundo, por monumentos, sítios históricos e paisagens culturais. Mas
não só de aspectos físicos se constitui a cultura de um povo. Há muito mais, contido nas
tradições, no folclore, nos saberes, nas línguas, nas festas e em diversos outros aspectos e
longo do tempo. A essa porção intangível da herança cultural dos povos, dá-se o nome de
de valor científico.
divide-se da seguinte forma: Livro dos Saberes que diz respeito aos conhecimentos, técnicas,
tecnologias tradicionais de produção artesanal. Livro das Celebrações: rituais e festas que
práticas da vida social. Exemplos: procissões, festas, concentrações. Livro das Formas de
folguedos, ritmos, linguagens, literatura oral e por último o Livro dos lugares: espaços onde
se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas. Exemplos: mercados, feiras,
santuários, praças.
cultural acaba gerando uma nova discussão, refere-se à visão de alguns estudiosos que irão
passado, o que afetaria as principais características da cultura, pois se sabe que a cultura é
maneiras para que se possa revitalizar o nosso passado e que enfatizar a dimensão do
patrimônio cultural da cidade não significa "engessar" seu desenvolvimento. Pelo contrário,
implica ressaltar sua historicidade, entender a história como processo e perceber que é neste
registro que a tradição pode desencadear um sentido social, ensejando a transmissão de algo
representativo para a comunidade. Somente nesta medida é que a tradição cultural poderá se
manter viva e agregar valores contemporânea. Para SANTOS (1997, p.17) a consciência da
importância da preservação não invalida o progresso que pode, mas deve existir, mas sem que
permanecem.
a vida das pessoas. Observa-se, porém, que freqüentemente confunde-se modernidade com
um amontoado de edifícios envidraçados, onde, segundo Berman (1987, p.38), tudo o que é
Preocupar-se com a preservação dos bens culturais não é uma atitude romântica,
mas sim moderna, já que visa romper com a dominação cultural que impõe valores não
originais à população. A preservação dos bens culturais, por exemplo, possibilita o resgate da
cultura autêntica que imprime a identidade de um povo e mostrar para todos que aquela região
tem uma história e mostrar também que tudo precisa de um começo para chegar ao produto
final. Se não fosse assim, a televisão não existiria se não tivessem inventado o fusível
(IPHAN, 2003).
Margarita Barretto (2003, p. 45) manifesta sua opinião sobre o assunto da seguinte
maneira: “Recuperar ou manter a identidade, a cor local, aparece neste final de século como
mero produto, pois o que está se colocando em questão neste estudo não é apenas o aspecto
econômico da atividade, mas também como ela pode influir de forma positiva para a
atividade além de gerar empregos possa despertar nesta comunidade a vontade de valorizar o
que é seu, o que representa a sua história e seus costumes, irá manter viva a sua cultura para
as futuras gerações.
da identidade cultural, da preservação dos bens culturais e das mais ricas tradições, ou seja, o
culturais. Mas para que isso seja possível é interessante realizar um trabalho de sensibilização
com a população local, para que ela entenda o real valor de seus costumes e tradições, só
assim esta poderá contribuir no processo de preservação dos seus bens, sejam eles materiais
ou imateriais.
identidade de um povo, uma cidade ou um grupo social. Assim, é preciso buscar formas para
que os diferentes grupos sociais possam reconhecer e participar das práticas de preservação.
O que poderia contribuir para que isso acontecesse, seria a implementação de ações e
educação patrimonial tendo como finalidade manter a consciência social das atuais e futuras
como prática social cotidiana. O processo de preservação dos bens culturais além de
manifestações culturais e naturais do bairro do Maracanã, que podem ser utilizados como
atrativos, incrementando a oferta turística de São Luís. Deve-se ressaltar que o turismo deve
preservação.
3 ASPECTOS GERAIS DO MARACANÃ
Maracanã/ Em você estou inspirado/Este ano para cantar/ Algumas coisas do teu
passado/Foram cinco famílias/Que aqui tudo começaram/Pereira, Coutinho e
Barbosa/Costa e Algares/Por cem mil rés te compraram/Teu povo vivia de lavoura e
pescaria/Carvão no Coufinho/Pra cidade iam vender/Teu meio de transporte/Era
mesmo embarcado/Pelo Rio Bacanga/Tanto fazia chover/E o teu nome/ Tu ganhou
de um arvoredo/ Que aqui tinha demais/Batizado por nossos velhos pais/Em mil
oitocentos e setenta e cinco/Aconteceu a tua fundação/no dia treze de junho/os
nossos velhos pais festejaram/Santo Antônio e São João/As matracas e os
pandeiros/É que faz tremer o chão (Maracanã e suas Raízes – Toada de Humberto).
povoado que fazia parte do distrito de São Joaquim do Bacanga. Não possuía vias de acesso
de qualidade para esta região, sendo possível apenas chegar até o local passando por um
povoado denominado de Furo, atualmente Vila Maranhão, o que era uma verdadeira aventura,
pois era necessário fazer a travessia por um braço de mar do rio Bacanga de canoas. A
primeira via de acesso terrestre foi construída no governo de Magalhães de Almeida, através
Maracanã deixou de ser um povoado para ser um bairro, mas preservando as suas
características rurais.
Atualmente existem linhas regulares de ônibus para a região, são elas: Itapera, da
Empresa São Benedito; Igaraú e Estiva, da Empresa Santa Clara e Maracanã, da Empresa
Quanto à sua denominação Cunha (1997, p.18) nos esclarece dizendo que a
palavra Maracanã é de origem tupi-guarani e significa pássaro verde. De acordo com alguns
moradores da região há duas versões para o nome do bairro, a primeira refere-se à existência
de um papagaio que atacava as plantações de milho, o “pássaro verde” e a outra diz respeito à
vegetação “Pau de Maracanã”, que servia de alimento para uma ave típica da região,
cidade de São Luís, próximo a BR-135. Apresenta floresta de galerias entremeadas por
igarapés de água doce, terras baixas e formações colinosas. Solo rico em matéria orgânica,
caracterizada por terra preta e, apresenta um clima tropical quente úmido. Possui típica
frutíferas como bacuri e cupuaçu. A fauna apresenta varias espécies como: juritis, rolinhas, e
pipiras-azuis.
maio, foi possível observar através de informações cedidas pelos moradores, que o sistema de
esgoto e o abastecimento de água ainda encontram-se precários, pois uma boa parte da
Existe apenas um posto dos Correios, mas não há postos telefônicos no bairro,
este conta com aproximadamente sete orelhões para atender toda a comunidade. Há
podemos citar: Unidade Integrada Major Augusto Mochel, Unidade Escolar Professor
nenhum tipo de sinalização turística, nem postos de informações que possam atender os
visitantes, só existem guias para o acompanhamento nas trilhas ambientais que são realizadas
de Turismo houve uma melhora no que diz respeito ao material informativo da região, pois
localiza-se próximo ao Parque da Juçara, entretanto, alguns bares servem refeições nos finais
de semana. O único hotel da região, o Hotel Fazenda do Maracanã, que contava com 15
Assim, podemos afirmar que o Maracanã é carente no que diz respeito à sua infra-
estrutura básica e turística. Falta mais interesse e comprometimento por parte do poder
público para a elaboração de políticas, planos e projetos que visem solucionar os problemas
local.
entre eles podemos citar a Festa dos Reis como mais um atrativo cultural e a área de proteção
ambiental (APA), onde são desenvolvidas trilhas que proporcionam a prática do Ecoturismo.
Essas trilhas são orientadas por guias-mirins da própria comunidade, formados pela SETUR
todo o ano, sendo realizados em locais apropriados como o Viva do Maracanã, o Parque da
Dessa forma podemos observar que a região dispõe dos mais variados atrativos
turísticos que devem ser trabalhados junto com a comunidade a fim de gerar renda para o
hectares, limitando-se ao norte com o rio Bacanga, a leste com a rodovia BR-135, a oeste com
os módulos nove e dez do distrito industrial de São Luís e ao sul com a localidade do Rio
Grande. Abrange o bairro do Maracanã e parte das Vilas: Maracanã, Maranhão, Sarney,
apresenta várias espécies de aves como Juritis, Rolinhas, Pipiras azuis, quanto aos peixes,
podemos citar o Acará, Traíra e Piaba. O clima é tropical, quente e úmido. A APA é cortada
por dois rios, o Rio Grande e o Rio Maracanã, além de possuir pequenos igarapés e brejos.
idéia de se criar o Parque Ecológico do Maracanã. Em 1990, o Parque foi criado, realizando o
sonho do seu idealizador, o engenheiro agrônomo João de Souza Guimarães. A sua criação foi
de grande valia para a população local que procurou engajar-se na preservação do meio
ambiente, sendo importante destacar que os jovens da própria comunidade foram formados
mostram as mais diversas espécies de plantas nativas encontradas durante o percurso das
É possível observar nas trilhas a beleza natural dos juçarais, da andiroba, cedro,
cumaru, Pau-Brasil, eucalipto e até uma das árvores mais caras do mundo, o mogno. Para ter
acesso a essa riqueza natural é preciso entrar em contato com a Secretaria Municipal de
Turismo e agendar uma visita às trilhas, sendo cobrada uma taxa de R$ 2,00 por pessoa.
No ano de 1970, uma engenheira agrônoma de nome Rosa Mochel que morava no
Sítio Piranínga situado no Maracanã, observou a abundante produção de juçara no local e seu
então organizar uma festa que acabasse com esse problema e pudesse trazer uma renda extra
para a população local. Foi quando, no mês de outubro deste mesmo ano realizou-se a
Atualmente a referida festa acontece em uma área que fora doada por Rosa
Mochel, hoje denominado de Parque da Juçara, localizado ao lado da casa de Maria de Jesus
Antigamente a festa só contava com o apoio da própria comunidade, até que o Governo do
Estado começou a destinar uma verba para a sua organização. Porém, acabou suspendendo
esse apoio em 1997, e novamente a comunidade se engajou para que a festa não acabasse.
Hoje em dia a comunidade conta com a Associação dos Amigos da Festa da Juçara para a sua
realização, sendo que, em 2003, o Governo voltou a contribuir com a festa, estruturou o
Parque da Juçara e fixou barracas, dando melhores condições para o evento cultural. É
importante ressaltar que a festa também conta com o apoio da Prefeitura de São Luís.
período do ano, ocorrendo então uma grande procura pela juçara, com uma supervalorização
juçara e buriti que são vendidos no local da festa e em alguns stands espalhados pela cidade.
no calendário cultural do Maranhão. O local da festa dispõe de toda uma estrutura de barracas
de venda da juçara, esta pode ser acompanhada com camarão seco, peixe frito, farinha ou
tapioca, com ou sem açúcar, fica a gosto do freguês. É também possível experimentar licores,
bombons, doces, sorvetes, tudo derivado da fruta. Além de se deliciar com a juçara é possível
atendimento ao visitante, o que contribui para torná-la um forte atrativo turístico da região.
presentes.
3.3.3 A Festa dos Reis
geralmente do dia 3 ao dia 7 de Janeiro comemora-se o dia de Reis (06 de Janeiro), tal festa
movimenta o Maracanã durante o ano inteiro. Para captar recursos financeiros para a
realização da festa, a comunidade organiza bingos, vende rifas, enfim, articula formas de
organizar a festa.
É necessária a escolha de um Rei e uma Rainha, muitos fazem até promessa para
serem os escolhidos. A festa é entoada por ladainhas de cunho religioso, são pagas durante
este período promessas por uma graça alcançada. O povo dança em sinal de agradecimento e,
ao findar a festa, são coroados o novo rei e a nova rainha para o ano seguinte.
Também ocorre no mês de Janeiro, mais precisamente no dia 21, a Festa de São
Sebastião.
Maracanã, uma manifestação cultural que envolve toda a comunidade do bairro de mesmo
nome, reconhecida pela população local por sua tradição. Entretanto, torna-se interessante
UNESCO. Dentre as manifestações culturais, sem dúvida, a que mais se destaca é o Bumba-
Entretanto, nem sempre foi assim, por volta do século XIX, o bumba-meu-boi era
rejeitado pelos setores dominantes, a elite. Segundo Lima (1994, p.15) o primeiro registro da
brincadeira diz que “o boi é visto pelas autoridades como um incitador da moral e da ordem,
seguinte relato: “Como pode ser, em plena semana, esta porção de homens bêbados, suarentos
e bastante fedorentos pela Cidade, azucrinando nossas paciências com essa monotonia
insuportável de terríveis batuques infernais? Por ventura, já não chega o barulho que fazem à
autoridades da época como uma manifestação perigosa. Neste período era necessária a
pelos mais diversos gostos e classes sociais, desde as mais carentes até as mais abastadas, ou
seja, venceu o preconceito e conseguiu demonstrar a força que tem a sua tradição.
instituições governamentais, ou seja, das classes dominantes. Cabe ressaltar aqui, que esta
colaboração não se dá com a finalidade de preservar a cultura popular, mas sim utilizar-se
dela de forma ideológica a fim de manipular o povo e garantir o poder. Pois no momento em
que a elite financia uma manifestação como esta, ela acaba exigindo mudanças que podem
alterar de forma significativa o seu verdadeiro sentido, além de reduzir o poder do povo para
turistas que a ela se ligam de forma momentânea e superficial (FERRETTI, 1983, p.13).
onde é possível ver claramente a intenção de tal publicidade em promover a cidade de São
Luís a fim de obter um maior fluxo de turistas. Neste caso trata-se das campanhas
publicidade no âmbito interno para a promoção de sua própria visibilidade, ou seja, acaba
que na grande maioria das vezes expressam uma cultura descaracterizada, denominada por
deve haver uma preocupação em relação a este processo, para que este não gire apenas em
grandioso espetáculo de luxo. Como a atividade turística é capaz de gerar transformações nas
localidades para a atração de visitantes, deve-se ter um cuidado redobrado com este setor,
para que ele não modifique importantes manifestações culturais, como o bumba-meu-boi.
brincadeira, entre elas podemos citar: as indumentárias ficaram mais sofisticadas, ganharam
mais brilho e cores, coreografias minuciosamente cronometradas foram criadas para as toadas,
sem falar que alguns grupos não representam mais o auto do boi, descaracterizando de forma
significativa a manifestação. A marca dos patrocinadores da festa, entre eles as operadoras de
celular, estapam os instrumentos tradicionais como os pandeirões, ou seja, onde antes era
comum vermos o nome do boi, hoje este sai de cena para a divulgação da marca patrocinadora
possível observar que a grande maioria dos brincantes não concorda com estas mudanças e
... São João não gosta de tanta mudança assim não, ele quer é ver a gente brincar
com alegria, fazer o povo feliz, isso sim é brincar boi.... (Brincante do Boi do
Maracanã, 2005).
caso isso não ocorra, a comunidade inteira poderá perder por completo a sua identidade
atrelado ao moderno, ao midiático. Neste caso, o principal papel do turismo está em fornecer
personagens e os sotaques.
4 BREVE HISTÓRICO DO BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO
referência escrita mais antiga feita no Brasil sobre o bumba-meu-boi data do jornal "O
século XVIII, nas relações desiguais que existiam entre os escravos e os senhores nas Casas
Grandes e Senzalas, onde refletia as condições sociais vividas pelos negros e índios. Contado
e recontado através dos tempos, na tradição oral nordestina e depois espalhada pelo Brasil a
lenda fundada adquire contornos de sátira, comédia, tragédia e drama, conforme o lugar em
que se inscreve, ou seja, a referida manifestação folclórica sofre variações nas diversas
regiões do Brasil. Por exemplo, na Amazônia recebe o nome de Boi Bumbá; em Santa
Catarina, Boi de Mamão; em Pernambuco, Boi de Timba e etc (MARQUES, 1999, p.37).
de maior significação estética e social do Brasil e tal como ocorre aqui, não ocorre em outro
lugar, salvo na África para onde os imigrantes brasileiros o levaram (CASCUDO, 1972, p.7).
tradições dos povos oriundos de Portugal e Espanha, pois estes costumavam encenar peças
religiosas de inspiração erudita, tais encenações eram destinadas ao povo para comemorar
festas católicas na luta da igreja contra o paganismo. Como o Brasil era bastante influenciado
por estes países, acabou retomando este costume através dos Jesuítas que o repassou através
formas de apresentação, adereços, instrumentos. O que não poderia ser diferente, pois é
sabido que a cultura é dinâmica, dessa forma é inevitável o seu processo de transformação
para que ela se mantenha viva na memória da sociedade, podendo assim ser apreciada e
A festa é uma espécie de ópera popular, cujo conteúdo varia entre os inúmeros
fazendeiro que tinha um boi muito bonito e querido por todos e que, além disso, sabia dançar.
Na fazenda trabalhavam Pai Chico - também chamado negro Chico - casado com Catirina, os
vaqueiros e os índios. Catirina fica grávida e sente desejo de comer a língua do boi. Pai Chico
fica desesperado e com medo de Catirina perder o filho que espera, resolve roubar o boi de
seu patrão para atender o desejo da mulher (AZEVEDO NETO, 1983, p.35).
Assim sendo, manda os vaqueiros procurá-los, mas eles nada encontram. Então o fazendeiro
pede para os índios que ajudem na procura. Os índios encontram Pai Chico e o boi quase
morto, levando-os à presença do fazendeiro que interroga Pai Chico e descobre porque ele
havia levado o boi e diz que somente perdoará Pai Chico se o boi reviver. É quando os pajés
(ou doutores) são chamados para curá-lo e, após várias tentativas, conseguem curar o boi que
contagiante.
possuindo nuances em cada região onde ela é desenvolvida. Luís da Câmara Cascudo (1972,
p.15) chama a atenção para o caráter nacional que possui esse evento popular. Afirma que a
influências culturais dos conjuntos étnicos negro, indígena, branco, conforme os comentários
de Câmara Cascudo:
A festa é de cunho religioso e homenageia os santos – São João, São Pedro e São
Marçal – nos dias apropriados que são respectivamente 24, 29 e 30 do mês de Junho.
Entretanto, a partir do mês de abril a população já pode participar dos vários ensaios dos
grupos que acontecem por toda a ilha. É justamente no mês de Junho que a cidade se
transforma num grande arraial que recebe turistas e a comunidade local, é uma celebração
mulher cabocla, Catirina; o homem branco, que corresponde ao dono da fazenda, e portanto,
dono também do boi. Sendo que a estes personagens principais podem se juntar outros. Aqui
no Maranhão, por exemplo, há atuação de índias, vaqueiros, pajé, padre, médico, cazumbá,
características importantes dos personagens que fazem parte desta manifestação folclórica,
metal, coberta por um veludo bordado, um trabalho artesanal. Possui variações quanto a
o "coronel". Usa o traje mais rico e espetacular e com um apito dirige o espetáculo. Muitas
Cantador é a pessoa mais importante depois do Amo, quando tais funções não se
Segundo Lima (1982, p.19) sobre os vaqueiros: “No meio da roda de brincantes,
boi e vaqueiro se defrontam, calcando o chão com golpes certos de calcanhar. De repente,
quando o batuque se acelera, o vaqueiro cola o ombro esquerdo no flanco do boi, quase na
frente, à altura da cabeça do animal e forma com ele um bloco único, acompanha-o no menor
com que arrebata, o outro pela persistência como escapa ao seu amansador.
agregado da fazenda, de roupas velhas, mascarado, a quem cabe a parte engraçada do auto, e
que leva o público às gargalhadas. Nesse mister é coadjuvado por Catirina e pelo "doutor" ou
doutores.
tema. É sempre um homem vestido de mulher, o que torna mais hilariante o personagem.
suas tiradas histriônicas e sua exótica terapêutica. Às vezes, mais de um, entretêm um diálogo
de alta comicidade e suas bestialógicas receitas constituem exatamente o fino de sua arte,
empolgando os assistentes.
Índias. Em número variável, são interpretadas por moças vestidas a caráter, isto é,
com cocares, golas, braçadeiras, pulseiras, perneiras e tornozeleiras de penas; levam na mão
pequenos arcos e flechas. Fazem figurações à frente do cortejo, quando o boi se desloca de
Matraca: 5, 10, 15 homens, literalmente cobertos de penas de ema ostentam grandes coroas de
metro e meio de diâmetro, montadas sobre uma base de papelão revestida de veludo e bordada
a capricho; as penas são tingidas de verde e vermelho. Cobrem-lhes os bustos e as costas
grandes golas bordadas rodeadas de penas, penas que se repetem nos braços, nos pulsos, nas
coxas, panturrilhas e tornozelos. Quando os bois se deslocam nos terreiros, ou para outros
Cazumbá trata-se do personagem que não é homem, nem mulher, nem macho,
nem fêmea, cercado de mistério e magia. Característico dos bois do sotaque da baixada,
frente do grupo, abrindo caminho para a brincadeira, dá assistência para o boi poder se
apresentar, além de assumir, também, um papel humorístico. Muitas vezes é confundido com
fora de cena. Eram elas, as mutucas, esposas ou amantes, quem recolhiam os chapéus,
bebida e pelo cansaço, tinham de ser quase que carregados para casa. Com a mudança dos
burro, recoberta de pano e pendurada aos ombros do brincante por meio de uns suspensórios.
tendo nos dois lados do corpo umas pernas postiças, cheias de algodão, que sustentam os
sapatos. Uma barra de tecido esconde as pernas verdadeiras do homem que lhe dá movimento
feitos de madeira, esculpidos: carneiro, bode, águia, etc., conduzidos no alto de uma vara,
além de uma boneca gigante - a Caipora, Panducha ou Dona Maria, hoje, por influência da
TV, apelidada de Xuxa, Grampoula, etc. Um homem sob suas saias empresta-lhe vida e leva-a
entender melhor a manifestação, além de darem um ar cômico e fascinante a ela. Não é a toa
que alguns estudiosos do assunto consideram o bumba uma espécie de ópera popular, por ser
capaz de atrair desde as classes mais baixas até as mais abastadas. E também por demonstrar
através de seus personagens diferenças sociais e culturais entre índios, negros e brancos.
jeito de dançar de cada grupo de bumba-meu-boi. Américo Azevedo Neto (1983, p.55)
de cada proprietário (de Leonardo, de Canuto, etc.) e até os de cada localidade (de Coroatá, da
embora semelhante ao de matraca, se distingue pelo ritmo, pelos instrumentos e pelo guarda-
Cururupu (MA) e que não se assemelha aos já citados, é o sotaque de Costa de Mão.
Carlos de Lima também realizou estudos sobre o bumba-meu-boi do Maranhão,
marcantes de cada estilo, propiciando um fácil entendimento sobre o assunto. Lima (2001,
meu-boi deste sotaque são marcados pela batida forte da zabumba como se fosse um rufar de
zabumba. O apito é usado pelo amo ou cantador do boi que comanda o inicio e término da
cantoria. O ritmo é feito pelas batidas das zabumbas enquanto os tamborinhos e maracás
surgiram, nos anos vinte, com seu Laurentino Araújo, no bairro da Fé em Deus, e com
Mizico, nome pelo qual era conhecido Hemetério Raimundo Cardoso, no bairro da Vila
Passos. Estas brincadeiras continuam até hoje com o grupo da Vila Passos sob o comando de
usados pelo amo ou cantador que faz a regência da cantoria. O nome de bois da ilha se dá às
pandeirões aos bois com influência das batidas dos municípios de São João Batista, Viana e
Pindaré.
estalam, elas são batidas num quase escorregar uma contra a outra. As características
principais são a riqueza e a exuberância dos chapéus dos amos e vaqueiros, caboclos-de-pena,
faz a diferença entre o sotaque de Pindaré e o sotaque da ilha ou de matraca. Os bois da ilha
piston, o tarol, a zabumba e maracás, tocados pelo cordão, que formam a bandinha que
acompanha a brincadeira.
cinqüenta anos pelo sargento Naiva, que deu personalidade e imprimiu as características do
bumba-boi de orquestra. Dançam em cordão de duas filas, uma em frente à outra; o chapéu
chamado pandeirão. Seus brincantes possuem chapéu em forma de meia lua e há a presença
participantes do auto, trazem sorte e espantam maus espíritos dos locais das apresentações. Os
Como o nome diz, os pandeiros que regem este sotaque são batidos com as costas
das mãos. Foi criado no interior do Maranhão, na cidade de Cururupu. Caixas e maracás
contas o que faz tal manifestação ganhar tamanha proporção é o amor que o povo tem em
estar ali dançando, festejando, celebrando ou até mesmo pagando uma promessa a São João.
Esta satisfação em ver o boi se apresentar é enorme por parte dos grupos e acaba por contagiar
pandeirões.
Dessa forma, podemos afirmar que durante o mês de junho a ilha se transforma
num enorme arraial, pois é exatamente nesta época que São Luís vira palco da sua maior festa
popular, o São João. Sendo que a mais conhecida e divulgada manifestação cultural é o
outras danças e ritmos. O mais interessante aqui não é apenas assistir a um espetáculo, mas
durante o período junino até a morte do Boi, pois são momentos importantes tanto para os
componentes do grupo do Boi do Maracanã quanto para a comunidade local que vivencia
COMEÇOU
onça e maracás.
Segundo o folclorista Carlos Lima (1988, p.3), o boi de matraca é o mais excitante
de todos. Podemos perceber um grande entusiasmo no seu depoimento, quando diz: “[...] É
preciso entrar no boi, arrebatar as matracas de um brincante, tocá-las com gosto e com
volúpia, e só assim sentir o prazer, quase o êxtase que o Boi-de-Matraca pode dar...” (Lima,
1998).
Com o Boi do Maracanã não poderia ser diferente, também conhecido como o
Batalhão de Ouro, o bumba-meu-boi do Maracanã foi fundado em 1955 por José Martins, tio
Moraes, Humberto do Maracanã diz que a brincadeira existe desde o século passado, isso
porque os seus avós já lhe contavam sobre a brincadeira. Segundo ele, no Maracanã, já se
brinca boi há mais de cem anos, mas apresentando-se sem interrupções são somente trinta e
dois.
Durante todo este tempo a brincadeira cresceu e hoje de acordo com a entrevista
realizada com D. Maria (atual Presidente do Boi do Maracanã), o grupo é composto por 48
índias, 30 caboclos de pena, 110 caboclos de fita, 4 negos Chico, 2 burrinhas e 1 boi.
... Nosso batalhão é pesado e arrasta uma multidão por onde quer que o nosso boi
passe.... (Depoimento de brincante, 2005).
Entretanto, o Bumba-meu-boi do Maracanã não conta com o apoio de nenhum
patrocínio. D. Maria cita apenas a empresa de celular VIVO que fazia uma contribuição
pequena, doando matracas e pandeirões, mas já não faz mais e a Caninha do Engenho que
ajuda doando bebidas para os componentes do grupo. Quanto ao Governo do Estado, segundo
diretores do boi, ele apenas paga pelas apresentações realizadas, como qualquer outra
no Maracanã.
de novembro de 1939, a sua estória interliga-se com o próprio Maracanã, pois seus familiares
foram fundadores da referida região. Humberto nasceu no Maracanã, mas mudou-se de lá aos
sete anos de idade, indo morar na Maioba, bairro também tradicional da ilha.
Já com 12 anos ele tem a sua primeira experiência com a brincadeira de bumba-
meu-boi, juntamente com um grupo de crianças da Maioba. Humberto fez questão de ser o
cantador, e ele mesmo confeccionou seu primeiro maracá, pegou uma latinha de leite, chapou
e encheu de pedras, com o maracá feito tratou de compor sua primeira toada. (MENDES,
2003, p.13).
Figura 01 – Humberto do Maracanã
Nesse período chegou até a fundar a escola “Maracanã do Samba” na companhia de amigos,
Por volta de 1957/59 passou a acompanhar os bois de outros locais, por não ter
havido a brincadeira no Maracanã, sendo que esta só recomeçou em 1960. A partir de 1973,
Humberto começa a cantar no boi do Maracanã, ao lado de outros cantadores que dividiam
com ele a “cantoria”. Até que ganhou destaque e em 1981, tornou-se o principal cantador, o
participação dos jovens e das mulheres. Isto porque durante muito tempo o bumba-meu-boi
hoje em dia a mulher assume papel de destaque na brincadeira, como Dona Maria, que
assumiu a importante função de Presidente do Boi do Maracanã desde 2003. Tais atitudes na
época geraram algumas discussões com os integrantes mais velhos do grupo, pois estes não
símbolo um pássaro cantor. Humberto escolheu o Guriatã, que tem as cores amarela e azul
marinho, bem como um canto muito bonito. Para o amo do boi de Maracanã “ser cantador é
uma missão e uma arte”. E, considerando que o pássaro precisava de um lugar para cantar,
Humberto optou pela palmeira, pois segundo ele “ela é a mais nativa do Maranhão, então tudo
que se apega à palmeira é mais ligado à terra maranhense” (CARVALHO, 1995, p.133).
uma referência da cultura popular maranhense, sendo também conhecido como Guriatã,
possui toadas gravadas por outros cantores como Alcione, que gravou a toada do “Maranhão
meu tesouro meu torrão”, que já serviu de campanha publicitária para divulgar em outros
aceitação e desafio. As toadas de Humberto não poderiam ser diferentes, elas retratam a
religiosidade, a natureza, o romantismo, fatos marcantes da vida, enfim falam de tudo, trata-se
quem a comanda, através do seu maracá que dá ritmo ao boi, entusiasmando não só os
brincantes, mas também o público. Este se contagia pelo som das toadas e passa a interagir
com a brincadeira a fim de sentir mais de perto essa manifestação, capaz de aglutinar as mais
Maracanã
junho, entretanto os grupos trabalham o ano inteiro para que a realização desta festa aconteça
da melhor maneira possível. Muitos são os preparativos nos terreiros, desde a divisão das
procurarem alternativas para angariar recursos financeiros, até a chegada do grande momento,
quando o boi sai do seu terreiro para apresentar-se em outros espaços da grande ilha
matança do boi.
O Boi de Maracanã realiza apenas 4 ensaios antes das apresentações oficiais, este
ano os ensaios aconteceram nos dias 07 e 21 do mês de maio, 04 e 11do mês de junho, sempre
aos sábados, em frente ao barracão-sede do boi, no próprio bairro. Ou seja, ainda é mantida a
sua tradição de realizar os ensaios no seu terreiro, neste caso no Maracanã, junto da sua
comunidade, sendo importante ressaltar que não é cobrada nenhuma taxa para assisti-los.
comunidade local que participa, sendo assim, o grupo tem uma preocupação especial com os
meios de transportes, comida, bebida, som, segurança, tais assuntos são discutidos entre os
diretores e brincantes do boi antes do período dos ensaios, várias reuniões são feitas a fim de
Este ano a brincadeira contou com o apoio das Empresas de ônibus Taguatur,
Expresso 1001 e Maranhense, que cederam alguns de seus ônibus para transportar os
brincantes e pessoas interessadas em participar dos ensaios, que moram em outros bairros da
dia já está amanhecendo, para agüentar esta maratona é necessário ter atenção com a
mingau que deve ser servido a todos os brincantes, segundo eles, trata-se do “reforço
caboclos de penas, pandeireiros, enfim dos brincantes que irão se apresentar no presente ano.
Este controle é indispensável, pois só recebe a indumentária quem comparece aos ensaios,
Hoje em dia eles já contam com um sistema de som mais moderno, o que facilita
policiais militares, desde que avisados por um dos responsáveis do boi, de que haverá um
os ensaios, pois é quando podemos presenciar junto da comunidade o amor que esta sente ao
brincar no boi. É simplesmente contagiante a alegria desta em ver o seu boi se preparando
para sair do seu terreiro e ir apresentar-se pelos arraiais da ilha durante o período junino, em
batizado do Boi de Maracanã, momento de grande alegria para os brincantes, pois é quando o
brincadeira.
sacerdote diz: “Te batizo (cita o nome do boi), Jóia do Povo! Não te dou um santo nome, pois
que é colocada no altar de São João para então o couro do boi que se encontra coberto por
uma espécie de manto seja finalmente descoberto. A comunidade espera ansiosa por este
momento, pois é quando ela vê pela primeira vez o novo couro do boi, o que irá apresentar-se
no presente ano.
Depois que o couro é descoberto, o amo chama o povo para brincar na festa, que é
abertura de eventos culturais, entre outros, ele sai mais cedo, por volta dos dias 13 e 14 de
Quanto a isso o Sr. João que já acompanha o Boi do Maracanã por mais de 10
anos diz que: “O Boi do Maracanã mantém a tradição de batizar o boi na véspera de São João,
no dia 23 de Junho, pode até se apresentar antes do batizado, mas é com o “couro” velho,
porque couro novo e roupa nova o povo só pode ver depois do batizado...”. (Depoimento de
brincante, 2005).
ilha após o seu batizado, entretanto isso já não acontece mais. De acordo com a tradição o boi
deve ser batizado na véspera de São João, entretanto muitos grupos para cumprirem suas
contratações realizam a referida cerimônia antes dessa data. E há outros grupos que apesar de
obedecerem esta tradição apresentam-se pelos arraiais antes de terem realizado o batizado do
boi.
com os ensaios e se estende até outubro, e ás vezes até novembro, mas tem a sua culminância
entre 23 de junho, quando batizado e, primeira semana de julho. De acordo com a portaria nº.
o período dos folguedos este ano iniciou-se oficialmente no dia 05 de junho terminando no
dia 10 de julho.
Figura 4 – Apresentação do Bumba-meu-boi do Maracanã
arraiais já se encontram prontos para receber o público que prestigia a festa. Este ano, a
primeira apresentação que o grupo fez fora do seu terreiro foi no dia 03 de junho, sexta feira
às 20h00minh na Praça Maria Aragão, no XIV Encontro de Gigantes, evento que tem como
matraca.
“Cheguei/ Com meu batalhão de ouro/ Vim trazer/ Prazer de São João/ Eu ainda
estou firme/ Meu povo faz tremer o chão/ Com pandeiro e matraca/ Maracá de prata na mão”
público mais diversificado, pois tal manifestação é capaz de integrar em um mesmo espaço as
mais diferentes classes sociais, o interessante neste momento é sentir o ritmo e toda a vibração
São João. Tudo parece mágico, o público fica simplesmente anestesiado com o som vibrante
das matracas e pandeirões, observa encantado o balanço das penas e fitas que compõem as
indumentárias.
som das toadas de matracas e pandeirões. É Guarnicê. Chega o momento de pedir licença aos
terreiros, levantar poeira nos arraiais, gingar, pular, dançar e saudar Santo Antônio, São João,
No Maranhão, tem-se notícia que até as décadas de 50/60 a morte do boi acontecia
sempre no último dia de apresentação, entre os dias 29 e 30 de junho. Ainda nessa época, o
boi era de fato esquartejado e repartido entre seus organizadores, padrinhos e brincantes.
acontece aos domingos, sendo que no sábado, véspera da morte, dança a noite inteira,
honrando alguns contratos. Já no final da noite, o grupo volta ao terreiro onde foi batizado e
finca o mourão – símbolo da festa da morte – árvore cheia de galhos enfeitados com papel
colorido, balões, bombons e brinquedos que imprimem mais brilho e alegria ao terreiro.
A matança envolve todo um ritual que integra sentimentos contraditórios de
seguinte forma:
Na verdade, a gente do boi situa essa festa dentro do seu universo ritualístico, como
uma ocasião especial, marcada pelo encontro de todos aqueles que vivem com o boi.
Esse encontro é desenvolvido sob a égide da euforia, entusiasmo e animação,
sempre perpassados por uma “condoída” melancolia (CARVALHO, 1995, p.136).
o momento de agradecer a Deus e a São João Batista por terem abençoado a brincadeira e é
O Boi de Maracanã segue todo o ritual da morte, que é preparado com muito
cuidado, várias reuniões são feitas pelo grupo a fim de melhor organizar a festa da matança.
realização. Aqui em Maracanã, a gente começa a pensar na morte do Boi desde os ensaios”
necessárias para organizar a festa, entre essas medidas, podemos destacar: discussão de
formas para angariar recursos financeiros; previsão e aquisição da comida e bebida a serem
boi. Tratando-se do Boi de Maracanã, por volta das 18h00min, sob o anúncio do estrondo de
Entretanto, o ritual é também marcado com muita festa, onde há dança, comida e
bebida à vontade. O boi brinca alegremente, aproveitando todos os momentos antes da sua
morte.
à procura do Boi que, ao ser encontrado, vem para o terreiro onde é laçado pelo vaqueiro,
festa. As despesas realizadas com a morte do Boi são muitas e os recursos advêm de
madrinha, no geral duas figuras da comunidade. Cabe-lhes contribuir com o material para o
Depois que o boi morre, uma grande alegria invade o coração de todos que o
fazem. É a certeza de que no próximo ano estarão juntos outra vez, no mesmo terreiro com
com termos contraditórios, como Tradição e Modernidade, pois estes se articulam diretamente
com o atual panorama vivido pelas culturas populares num contexto global.
evolução tecnológica dos tempos atuais. Contudo, devido a intensidade com que vem
ocorrendo a curiosa proliferação de sua popularidade, até mesmo entre a classe dominante, a
alguns grupos, como as dos caboclos-de-pena que possuem imensos cocares feitos de penas
de avestruz ou ema, quer pela proteção de órgãos oficiais e, até mesmo, por apadrinhamentos
nas contratações, que são disputadas pelos grupos, observa-se aqui o caráter econômico que a
brincadeira ganhou com o passar do tempo. Isto porque antes das contratações o grupo recebia
uma ajuda apenas para brincar no período de São João, entretanto, atualmente é possível
que são realizadas pelos grupos até mesmo antes do batizado do boi ou após a sua morte, pois
entrevista, a folclorista Zelinda Lima (2005) disse que considera como a principal mudança
Entretanto, ela não considera a atividade turística como a responsável por estas
mudanças, mas sim o próprio processo evolutivo do tempo, e chama a atenção para dizer que
“a cultura é dinâmica e viva, sendo assim está sujeita à mudanças, porém deve-se manter a
sua origem e tradição, para que ela não se perca durante este processo de evolução.”
do bumba-meu-boi e ser considerado por estudiosos como um agente transformador desta, ele
não é o único, pois o folguedo sofre influências dos órgãos estatais e privados, da mídia e da
Porém, o importante aqui é ressaltar que a atividade turística pode atuar na difusão
de morte do boi.
6 PROPOSTAS DE INTERPRETAÇÃO CULTURAL DO BUMBA-MEU-BOI DO
MARACANÃ
um determinado lugar auxiliando o visitante a captar sua alma, sua essência, otimizando a
experiência da visita através do estímulo às várias formas de olhar e apreender o que lhe é
Ela possibilita aos visitantes conhecer e apreciar mais os lugares, podendo levá-
los a prolongar sua permanência e estimular novas visitas. Investir em interpretação significa
história, dos saberes e fazeres culturais contribui para a diversificação do produto. Mais que
fundamental tocar a emoção, provocar as pessoas, estimular novas formas de olhar, de ver, de
apreciar. Além disso, a prática interpretativa deve promover a discussão entre os vários
segmentos sociais sobre aquilo que torna seu lugar especial e diferente. Deve também levar os
moradores a redescobrir novas formas de apreciar seu lugar, de forma a desenvolver entre eles
Dessa forma, foram elaboradas duas propostas que possuem como objetivo principal a
turismo sustentável.
6.1.1 Justificativa
manifestações culturais, desde que atue respeitando a cultura local e promova ações que
Maracanã, tornando-se um atrativo tanto para a população local quanto para visitantes,
a) Expor de forma didática os objetos que fazem parte do ciclo de vida do Boi do
Maracanã;
Centro;
culturais;
contar com o apoio de órgãos públicos e privados, além da aprovação da população local, por
Maracanã.
vida do Boi do Maracanã, tendo como finalidade apresentá-los e promovê-los como atrações.
- as indumentárias
- o Boizinho
- os instrumentos musicais
- o mourão
- fotografias do grupo em apresentações juninas
Cada objeto possuiria uma etiqueta contendo suas informações básicas, desde o
material que o compõe até a sua utilização, facilitando de forma significativa o seu
Maracanã, o Centro atuaria na capacitação destes para que eles desenvolvam a atividade de
este período eles terão explicações acerca da proposta desenvolvida pelo Centro, o que
contribuirá na atuação deles como monitores, pois eles se encontrarão mais preparados para a
atuariam pela manhã e os outros 3 à tarde, todos deverão estar devidamente matriculados em
qualquer escola, trata-se de um requisito básico para que eles exerçam a função de monitores
crianças, adolescentes até à terceira idade. Pensando na comunidade como um todo, o Centro
d) Sensibilização da comunidade
pois é ela que o mantém vivo em sua memória coletiva, em sua história oral e documentada
Uma boa tarefa conjunta para os órgãos de preservação e de turismo: envolver desde o início
os moradores no levantamento do inventário cultural e turístico de suas localidade, dar-lhes
um canal de expressão para os vários sentidos que atribuem ao seu patrimônio. As paisagens
urbanas e naturais são multivocais: um mesmo objeto, lugar ou fenômeno tem geralmente
vários sentidos e identidades, de acordo com quem os atribui ao longo do tempo. Dessa
forma, dar um canal de expressão para as várias vozes da comunidade interpretarem seu
Sendo assim, este canal de expressão da comunidade poderia ser o Centro, que
Pois, embora a comunidade possa ser a maior defensora de seu patrimônio, muitas
um lugar, que poderá vir a sentir-se atraída por coisas alheias a seu próprio meio e tender a
Maracanã poderia contar com o apoio da Secretaria Municipal de Turismo e com o Curso de
6.2.1 Justificativa
como um instrumento de marketing turístico, neste caso específico, ele atuará na divulgação
dos períodos de ensaio, batizado e morte do Boi do Maracanã, as datas das apresentações do
grupo em arraiais durante o período junino não serão incluídas neste calendário, pois estas não
extrema importância para a melhor compreensão do seu universo ritualístico. Sendo assim, a
elaboração deste calendário contribuirá para o planejamento de ações que visam tornar o ciclo
de vida do Boi do Maracanã mais atraente à população local e aos visitantes, podendo até ser
Entretanto, tais ações não podem de forma alguma descaracterizar o ciclo, pois o
objetivo principal deste calendário é divulgar para a população local e aos visitantes as datas
dos ensaios, batizado e morte do Boi. Para que estes ao terem conhecimento destas datas
a sua divulgação para a comunidade local e aos visitantes do bairro de mesmo nome.
Maracanã;
6.2.4 Metodologia
é necessário fazer um levantamento das festas que integram este ciclo, além das festas do
batizado e morte do boi, incluiremos no calendário as datas dos ensaios, pois constituem
A divulgação deste calendário deverá ser feita através de parcerias com órgãos
Maio (Dias 07 e 21): são as datas dos primeiros ensaios do grupo, que
que a comunidade local e os visitantes tem de presenciar os ensaios do grupo estão chegando
da brincadeira ao som de toadas que insistem no tema do adeus. Porém, eles sabem que a cada
cultura dos mais diversos núcleos receptores, é sabido que a atividade turística é capaz de
Na cidade de São Luís, por exemplo, podemos observar, durante o período junino,
cultura deve ser preservado e respeitado, ou seja, o seu real sentido deve ser mantido, pois faz
comunidade local em suas ações pode reduzir de forma significativa os impactos gerados pela
participa deste processo, ela se encontra mais sensível aos seus efeitos, podendo então
bairro do Maracanã ainda não são aproveitadas como atrativos turísticos, não há nenhum tipo
Assim, nesta referida pesquisa foi estudado com mais afinco o Bumba-meu-boi do
Maracanã, por ser uma manifestação cultural tradicional do bairro e que conta com a
Maracanã, além de aproveitá-lo como um atrativo turístico. Tais propostas podem contribuir
vida dos seus moradores, além de oferecer novas oportunidades de lazer e trabalho aos jovens
da comunidade local.
REFERÊNCIAS
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ANDRADE, José Vicente. Gestão em lazer e turismo. São Paulo, Ed. Autêntica, 2001.
BURNS, Peter M. Turismo e Antropologia: uma introdução. São Paulo: Chronos, 2002.
CAMARGO, Luiz Octávio de Lima. O que é Lazer. São Paulo: Brasiliense, 1999.
CARVALHO, Maria Michol Pinho de. Matracas que Desafiam o Tempo: é o bumba-meu-
boi no Maranhão, um estudo da tradição/modernidade na cultura popular. São Luís: [S.N.],
1995.
CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: Ed. Unesp, 2001.
GASTAL, Suzana . Turismo & Cultura: por uma relação sem diletantismos. In: Gastal,
Suzana (Org.). Turismo: 9 propostas para um saber-fazer. Porto Alegre, EDIPUCRS (Coleção
Comunicação, 4 ), 2001.
KRIPPENDORF, Jost . Sociologia do turismo. Para uma nova compreensão do lazer e das
viagens. Rio de Janeiro: Ed.Civilização Brasileira. 1989.
LIMA, Carlos. Universo do Bumba meu boi. Comissão Maranhense de Folclore. Boletim de
11 de agosto de 1998.
SANTOS, Milton (1997). O mundo, o Brasil e a globalização: o horror não dura eternamente.
Rumos do Desenvolvimento, n.137. Rio de Janeiro, jun., p.5.
SOUZA, A.M.C;M.V. Turismo: conceitos, definições e siglas. 2 ed. Manaus: Valer , 2000.
SWARBOOK, John. Turismo sustentável: Turismo Cultural, Ecoturismo e Ética. São Paulo:
Aleph, 2000.
URRY, John. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. São
Paulo: SESC-SP, 1996.
ANEXO
ANEXO A - PORTARIA Nº 912/2005-GG/SSP DE 03 DE JUNHO DE 2005
RESOLVE
Art 2º - As disposições relativas a menores de 18 (dezoito) anos serão fixadas pela autoridade
competente, cuja fiscalização contará com o apoio das Polícias Civil e Militar.
b) No interior do Estado, nas sedes das Delegacias Regionais, pelos respectivos titulares e nos
demais municípios, pelos delegados de carreira lotados e em exercício nas Delegacias de
Policia Civil, respeitadas suas circunscrições.
Art. 5º - Nenhum evento junino (arraial, apresentação folclórica e ensaios em geral, etc.)
poderá ser realizado a menos de 200 metros de estabelecimentos hospitalares, educacionais,
templos religiosos, postos de serviço e distribuição de combustível, depósitos ou outros
estabelecimentos que armazenem materiais inflamáveis ou explosivos ou ainda em
logradouros ou vias públicas que incompatibilizem o tráfego de veículos ou provoque
perturbação da tranqüilidade e do sossego públicos.
Parágrafo único – Esse horário poderá, excepcionalmente, ser prorrogado unicamente para
apresentação folclórica e shows, findo os quais a sonorização será desativada.
c) Portar arma de qualquer natureza ou instrumento que possa ser utilizado como tal, nos
festejos e em suas imediações, ficando esses objetos passíveis de apreensão e os infratores
sujeitos às sanções legais, exceto os detentores de porte de armas funcionais, conforme
legislação em vigor;
Art. 10 – Todo arraial e qualquer outro evento junino público estão sujeitos á fiscalização das Policias
Civil e Militar, que exigirão a apresentação das respectivas licenças de funcionamento, sob pena de
interdição imediata.
DÊ –SE CIÊNCIA,
PUBLIQUE-SE E CUMPRA-SE