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OLHARES SOBRE

MANAUS
Atributos e qualidades que
conferem valor ao Centro
Histórico
Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Amazonas – Iphan-AM

OLHARES SOBRE MANAUS: Atributos e qualidades que conferem valor ao Centro Histórico

MANAUS -AM
IPHAN
2020
Ficha técnica
PRESIDENTE DA REPÚBLICA CONSULTOR DA UNESCO
Jair Messias Bolsonaro Antônio Miguel Lopes de Souza

MINISTRO DO TURISMO UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS –


Marcelo Álvaro Antônio REDE OBSERVATUR-UEA
Márcia Raquel Cavalcante Guimarães
Maria Helena de Souza Fonsêca
PRESIDENTE DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO Selma Paula Maciel Batista
E ARTÍSTICO NACIONAL
Larissa Rodrigues Peixoto Dutra ESTAGIÁRIOS DA REDE OBSERVATUR- UEA
Lucianne da Silva Queroga
DIRETORES DO IPHAN Rebeca Nunes de Melo
Hermano Queiroz Silvio Márcio Freire de Alencar Filho
Ione Maria de Carvalho
Marcelo de Brito PESQUISADORES VOLUNTÁRIOS
Marcos José Silva Rêgo Leandro Eustáquio Gomes – UFAM
Robson Antônio de Almeida Yara Araújo Magabi – UEA

SUPERINTENDENTE DO IPHAN NO AMAZONAS APRESENTAÇÃO


Karla Bitar Karla Bitar

COORDENADORA TÉCNICA DO IPHAN NO AMAZONAS FOTOGRAFIA DE CAPA


Ana Carla Cruz Pedrosa Matheus C. Blach – Roda da Salvaguarda da
Capoeira no Largo de São Sebastião – Manaus
COORDENAÇÃO TÉCNICA DO IPHAN NO AMAZONAS 2019.
Alexander Afonso Nogueira Cavalcante
Áurea Letícia Garcia Rocha TEXTOS
Carluzi Santos Silva Matos Luciane da Silva Queroga
Francisco Di Franco Ferreira de Najar Matheus Cássio Blach
Jaime de Santana Oliveira Mauro Augusto Dourado Menezes
Jamille Araujo Feliciano Rafael Frank Bezencry
José Vicente Damante Ângelo e Silva Rebeca Nunes de Melo
Márcia Honda Nascimento Castro Silvio Márcio Freire de Alencar Filho
Matheus Cássio Blach Yara Araújo Magabi
Mauricéia Ribeiro Andrade
Mauro Augusto Dourado Menezes MAPAS
Mônica Almeida Araújo Nogueira Jamille Araujo Feliciano
Rafael Frank Bezencry Mauricéia Ribeiro Andrade
Rafael Nascimento de Azevedo
REVISÃO
COORDENAÇÃO DE PESQUISA Ana Carla Cruz Pedrosa
Matheus Cássio Blach
Mauro Augusto Dourado Menezes AGRADECIMENTO
Antônio Miguel Lopes de Souza
Luis Molinari – IEPHA/MG
Eu sou da cidade morena
Reza a bênção na canção
Batizada pelas águas
Da Virgem da Conceição

Nossa cor leva o tempero


Da gente antiga Baré
Sou caboclo manauara

Jaraqui e mururé
Cunhantã e curimim
Banzeiro no igarapé

Toda cidade se habita


Como lugar de viver
Só Manaus é diferente

Nessa maneira de ser


Pois invés de morar nela
É ela que mora na gente

(Toada de Manaus, do Grupo musical Raízes Caboclas.)


Sumário

APRESENTAÇÃO .............................................................................................................................. 6

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 8

PRIMEIRA PARTE: PROCEDIMENTO METODOLÓGICO .................................................................... 11

1. FUNDAMENTOS DE UMA PESQUISA QUALITATIVA DE VIÉS PARTICIPATIVO ............................... 12

2. GRUPOS FOCAIS E ENTREVISTADOS: OS DETENTORES DO CENTRO ENQUANTO BEM CULTURAL 19

3. MAPAS DE PERCEPÇÃO .............................................................................................................. 23

4. OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE ..................................................................................................... 28

5. ENTREVISTAS TEMÁTICAS SEMIESTRUTURADAS ........................................................................ 34

6. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA E DOCUMENTAL ............................................................................... 38

7. O TRABALHO DE PESQUISA ........................................................................................................ 50

SEGUNDA PARTE: RESULTADOS DA PESQUISA ............................................................................... 55

8. UMA VISÃO GERAL SOBRE O CENTRO HISTÓRICO DE MANAUS .................................................. 56

9. IDENTIFICANDO AS REFERÊNCIAS CULTURAIS MANAUARAS E SUAS QUALIDADES ..................... 66

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES DE ENCAMINHAMENTO ............................................... 89

TERCEIRA PARTE: RELATÓRIOS COMPLETOS .................................................................................. 96

11. RELATÓRIOS DE OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE ......................................................................... 97

11.1 RELATÓRIO 01 ........................................................................................................................... 97


11.2 RELATÓRIO 02 ......................................................................................................................... 105
11.3 RELATÓRIO 03 ......................................................................................................................... 112
11.4 RELATÓRIO 04 ......................................................................................................................... 121
11.5 RELATÓRIO 05 ......................................................................................................................... 130
11.6 RELATÓRIO 06 ......................................................................................................................... 138
11.7 RELATÓRIO 07 ......................................................................................................................... 150
11.8 RELATÓRIO 08 ......................................................................................................................... 157
11.9 RELATÓRIO 09 ......................................................................................................................... 162

12. RELATÓRIOS DE OFICINAS DE MAPAS DE PERCEPÇÃO ............................................................ 170

12.1 RELATÓRIO DA OFICINA COM OS TÉCNICOS DO IPHAN ....................................................................... 170


12.2 RELATÓRIO DA OFICINA COM PESQUISADORES QUE ATUAM NO CENTRO DE MANAUS .............................. 182
12.3 RELATÓRIO DA OFICINA COM OS MESTRES DE CAPOEIRA MAIS ANTIGOS DE MANAUS .............................. 193
12.4 RELATÓRIO DA OFICINA COM OS MESTRES E ARTÍFICES DA SEC .......................................................... 200
12.5 RELATÓRIO DA OFICINA COM OS MORADORES DA ILHA DE SÃO VICENTE .............................................. 213
12.6 RELATÓRIO DA OFICINA COM OS ESTAGIÁRIOS DO MUSEU DA CIDADE .................................................. 227
12.7 RELATÓRIO DA OFICINA COM OS MORADORAS ANTIGAS DO ENTORNO DO TEATRO AMAZONAS.................. 238
12.8 RELATÓRIO DA OFICINA COM OS MEMBROS DA ACA ........................................................................ 250

13. RELATÓRIOS DE ENTREVISTAS TEMÁTICAS SEMIESTRUTURADAS ........................................... 263

13.1 RELATÓRIO DE ENTREVISTA COM OTONI MESQUITA ......................................................................... 263


13.2 RELATÓRIO DE ENTREVISTA COM AS SENHORAS NAZARÉ E FÁTIMA ...................................................... 274
13.3 RELATÓRIO DE ENTREVISTA COM A SENHORA ILZA OLIVEIRA GARCIA DE VASCONCELOS ............................ 279

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 283


6

Apresentação
Aprimorar a gestão do Patrimônio Cultural tem sido um dos grandes desafios do
IPHAN, que no ano de 2020 completou 83 anos.
O Centro Histórico de Manaus foi tombado pelo IPHAN em 2010, através da
Notificação de Tombamento do Centro Histórico de Manaus, publicada no Diário Oficial da
União nº 222, de 22.11.2010, Seção 3, Página 18 – Processo de Tombamento 1614-T-10, tendo
a superintendência do Amazonas iniciado sua atuação no território, utilizando-se das
diretrizes elencadas no dossiê do tombamento. Desta forma, durante o tempo transcorrido, a
equipe do IPHAN/AM pôde analisar, pela Portaria nº 420 de 22 de dezembro de 2010, diversas
solicitações de intervenções na área, tendo atuado ainda, na sua vigilância, através da Portaria
nº 187, de 11 de junho de 2010.
Em 2018, um ano após a confirmação do tombamento Federal pelo Supremo Tribunal
Federal, iniciou-se os trabalhos de elaboração de uma normativa do Centro Histórico, esforço
este que intensificou-se com a publicação da Política do Patrimônio Material pelo DEPAM, no
mesmo ano, e passadas as dificuldades estruturais da Superintendência do Amazonas, com o
ingresso de novos servidores, a partir de maio de 2019.
É importante destacar, que a experiência adquirida na salvaguarda de 5 bens
registrados no Estado do Amazonas, foi fundamental para a ampliar a compreensão de
apropriação social e sustentabilidade dos bens culturais materiais. Foi, portanto, na lógica de
incorporar a imaterialidade no “leque” dos valores do território, que se desenvolveu este
trabalho.
Sendo assim, a partir de orientações e provocações feitas por Antônio Miguel Lopes de
Sousa, consultor da UNESCO, foi que o historiador Matheus Cássio Blach e o antropólogo
Mauro Augusto Dourado Menezes, técnicos do IPHAN/AM, juntamente com os estagiário da
Universidade Estadual do Amazonas - UEA, foram às ruas compreender como as pessoas e/ou
os coletivos se relacionavam com os bens culturais, conferindo-os, inclusive, novos
significados
Desta forma, as qualidades, potencialidades e problemas informados na pesquisa,
elencados neste trabalho, auxiliaram na elaboração da narrativa da preservação e valorização
do território, dando subsídios à construção multidisciplinar de parâmetros para as novas
7

intervenções no Centro Histórico de Manaus, que permitem e valorizam a “cumplicidade” que


existe entre as pessoas e seu Patrimônio Cultural.

Karla Bitar
Superintendente do Iphan no Amazonas
8

Introdução
[...]todas as cidades e em especial as cidades tombadas, mais do
que o produto das características estéticas, são documentos
históricos devendo informar sobre a vida e a trajetória das
sociedades que as construíram [...] os sítios históricos estão
integrados no permanente processo de evolução e readaptação
social das cidades levando à necessidade de se manter o
equilíbrio entre os valores do passado e do presente diante dos
objetivos da preservação. (BRASIL, 2007, p. 43).

O Centro Histórico de Manaus é representativo de diversas camadas temporais pelas


quais a cidade passou: seu traçado urbano mantém relações diretas com o traçado do período
provincial; a arquitetura apresenta demonstrativos de múltiplos contextos artísticos e de
variados processos de transformação; apresenta uma porção urbana formada por edificações
do período reconhecido como ‘ciclo da borracha’ - belle époque - mesclada a edifícios
modernos e contemporâneos.
O sítio urbano tem seu valor reconhecido pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional) como Patrimônio Cultural do Brasil e está em processo de inscrição nos
Livros do Tombo. O dossiê de tombamento (2010) é fruto de uma ampla e aprofundada
pesquisa a respeito dos valores que o bem cultural representa e que se pretende preservar.
Assim, mediante o entendimento da importância econômica, social e cultural que o ciclo da
borracha representou para formação da identidade nacional brasileira, o Centro Histórico de
Manaus passou a ser tutelado pelas políticas públicas de Patrimônio Cultural por ter sido
considerado um registro exemplar desse momento histórico pelo qual o país passou.
No entanto, o Dossiê de Tombamento (2010), ao tempo em que apresenta os critérios
que subsidiaram a escolha do sítio urbano como objeto de salvaguarda, lança o desafio da
gestão deste espaço enquanto Patrimônio Cultural a partir de diretrizes que visam
regulamentar as intervenções que poderão incidir no Centro Histórico de Manaus. Tais
diretrizes servem como um embasamento inicial para gestão, sendo necessária a continuidade
de pesquisas e ações que visem contribuir para a elaboração de um plano de gestão
continuada para o lugar. Para tanto, inicia-se o procedimento de elaboração de uma Portaria
Normativa que definirá os parâmetros para essas intervenções nos recortes geográficos
denominados de poligonal de tombamento e poligonal de entorno.
9

Assim, a presente pesquisa colabora com o processo de normatização do Centro


Histórico de Manaus, fornecendo dados e análises a respeito da apropriação que os
detentores – agentes socioculturais que utilizam, vivenciam ou são, de fato, proprietários de
imóveis do Centro Histórico de Manaus - têm desse bem cultural.
Entre 29/07/2019 e 01/08/2019 foi realizado um conjunto de atividades envolvendo o
que se denominou ‘percepções iniciais’, com o objetivo de iniciar os trabalhos voltados para
a formulação das normativas do Centro Histórico de Manaus. Orientada pelo consultor da
Unesco, Antônio Miguel Lopes de Souza, as Percepções Iniciais foram de fundamental
importância para o alinhamento das perspectivas da equipe técnica da Superintendência do
Iphan no Amazonas. O consultor demonstrou diversos estudos de caso. Sua experiência,
baseada em um amplo conhecimento da atuação do Iphan em todo o país, foi elucidativa dos
problemas, desafios e soluções que envolvem a gestão do patrimônio edificado, a elaboração
de normativas e o desenvolvimento dos núcleos urbanos tombados.
Os critérios técnicos, pautados em diretrizes muito abrangentes e pouco detalhadas,
acaba revelando que o processo de autorização de intervenções ainda é regido por muitos
aspectos subjetivos e interpretativos de cada técnico. A normatização visa elaborar de forma
detalhada os critérios, com maior clareza e objetividade, especificando as normas para cada
área do Centro Histórico e para cada tipo de situação. Assim, o próprio requerente poderá ter
claramente postulado quais são os parâmetros que deverá adotar em um projeto de
intervenção, antes mesmo de protocolar o pedido.
Assim, Miguel apresentou, ponto-a-ponto, como os problemas e desafios da gestão de
centros históricos podem ser superados a partir da aplicação de metodologias que busquem
pactuar o processo de preservação com os diversos agentes detentores dos bens culturais. Ao
dialogar e buscar identificar e reconhecer quais são as qualidades que o espaço urbano e
edificações tombadas emprestam ao contexto no qual estão inseridos, torna-se possível criar
normativas que, de forma objetiva, atendem demandas específicas de uma dada realidade.
Para superar um contexto em que “tomba-se tudo” e não se preserva “quase nada”,
retrato do processo que Françoise Choay (2006, p.15) denominou de “inflação patrimonial”,
Miguel apresenta a proposta de concentrar a atenção naquelas características dos bens
tombados que são essencialmente definidoras do ‘lugar’:
10

Lugares são espaços físicos imbuídos de significação cultural, aos quais são
atribuídos valores. No Brasil, o termo se integrou definitivamente ao
vocabulário patrimonial em 2000, a partir do Decreto nº 3.551 [...] A
espacialização opera como uma unidade que agrega os referenciais tangíveis
e intangíveis; e estes existem de determinado modo porque se realizam
naquele espaço. Essa é a dimensão múltipla que a categoria procura
abranger. (TEIXEIRA, Luana. S/d).

Portanto, a metodologia de pesquisa adotada nessa pesquisa, objetivou identificar e


reconhecer, por meio de um processo participativo, os atributos e qualidades que conferem
e representam os valores que o dossiê de tombamento do Centro Histórico de Manaus elege
como objeto de salvaguarda.
O presente relatório está dividido em 3 partes a saber: 1) Procedimento metodológico
2) Resultados da Pesquisa 3) Relatórios Completos. Desse modo, na primeira parte, são
apresentadas as discussões teóricas e metodológicas que fundamentaram a realização da
pesquisa bem como os procedimentos aplicados e uma descrição de todo o processo de
levantamento de dados. Na segunda parte, os dados levantados são brevemente analisados a
partir dos conceitos, métodos e fundamentos estabelecidos no decorrer da pesquisa. Já a
terceira parte contém uma compilação de todos os dados levantados, com análises prévias,
sistematizados e organizados em relatórios. Com isso, objetiva-se possibilitar que outros
pesquisadores possam compreender o contexto de produção dessa pesquisa, garantido
acesso não somente as análises aqui realizadas, mas também, as fontes e procedimentos de
coleta e produção. Assim, espera-se que o conteúdo aqui apresentado possa fomentar outras
análises e pesquisas a respeito do Centro Histórico de Manaus.
11

Primeira parte: Procedimento


metodológico
12

1. Fundamentos de uma pesquisa qualitativa de viés


participativo
A historiadora Núncia Constantino (2004) destaca que, ao se tratar de realidades
locais, a viabilidade da pesquisa “quase sempre” se dá por meio do método qualitativo. A
autora analisa os possíveis caminhos metodológicos para a pesquisa em História e em Ciências
Sociais. Apresenta, primeiramente, o método quantitativo utilizado desde fins do século XIX e
constantemente renovado devido aos “avanços tecnológicos em geral e da informática em
particular” (CONSTANTINO, 2004 p.163). De acordo com Dias (2000 p.01) o método
quantitativo se mostra apropriado:

[...] quando existe a possibilidade de medidas quantificáveis de variáveis e


inferências a partir de amostras de uma população. Esse tipo de pesquisa usa
medidas numéricas para testar constructos científicos e hipóteses, ou busca
padrões numéricos relacionados a conceitos cotidianos.

No entanto, Constantino (2004 p.163) afirma que é um método que:

[..] revela limites intransponíveis quando o pesquisador depara com


omissões ou imprecisões das fontes, ou quando pretende investigar em
torno de gente comum, categoria praticamente ignorada pelos critérios
oficiais que nortearam as séries documentais produzidas no passado.

Desse modo, buscando superar os desafios colocados pelas limitações das pesquisas
de cunho quantitativo, a pesquisa qualitativa:

[...] caracteriza-se, principalmente, pela ausência de medidas numéricas e


análises estatísticas, examinando aspectos mais profundos e subjetivos do
tema em estudo. Segundo Liebscher (1998), para aprender métodos
qualitativos é preciso aprender a observar, registrar e analisar interações
reais entre pessoas, e entre pessoas e sistemas. (DIAS, 2000 p.01)

Assim, nas últimas décadas, foram desenvolvidas novas concepções teóricas que
levaram a uma aproximação das análises qualitativas. “Contestou-se a eficiência das minúcias
de uma análise de frequência, como prova de objetividade e de cientificidades”
(CONSTANTINO, 2004 p.164), buscando maior profundidade interpretativa no trato das
fontes. Ocorreu o desenvolvimento de uma nova metodologia que atende à “[...] reivindicação
do individual, do subjetivo, do simbólico como dimensões necessárias e legítimas da análise
histórica” (CARDOSO; VAINFAS, 1997, p. 22-3).
13

Enquanto o método quantitativo privilegia a frequência em que se manifestam


determinadas características do processo analisado, o método qualitativo busca identificar e
analisar em profundidade tais características, inclusive suas ausências.

De forma geral, os métodos qualitativos são menos estruturados,


proporcionam um relacionamento mais longo e flexível entre o pesquisador
e os entrevistados, e lidam com informações mais subjetivas, amplas e com
maior riqueza de detalhes do que os métodos quantitativos. (DIAS, 2000
p.02)

Ao incluir as ausências como item de análise, o método qualitativo possibilita levantar


questões fundamentais em relação às subjetividades que permearam a produção das fontes
consultadas, seja por meio das omissões que as caracterizam e que podem ser comparadas
com outras fontes; ou por meio das intencionalidades presentes nas informações afirmativas
que as fontes trazem, do passado e de diferentes contextos sociais.
O historiador Jacques Le Goff (2003) afirma que as fontes documentais, foram tomadas
no século XIX como algo que ensinava, demonstrava, registrava alguma informação, “prova”
de um fato ocorrido, objetivo e se oporia à intencionalidade dos monumentos, sendo estes
uma testemunha fiel e verdadeira do passado. O documento no século XIX seria monumento
em apenas um sentido; é algo pronto, acabado, edificado, real.
Porém, mediante os novos olhares contemporâneos sobre a História e as Ciências
Sociais, o autor afirma que o documento, assim como o monumento, é uma construção, sujeito
a intencionalidades, subjetividades e influências das pessoas de seu tempo. Ao cunhar a
expressão documento-monumento o autor revela o enorme grau de “inconsciência cultural”
que as fontes de pesquisa carregam em si:

O documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas


para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada
imagem de si própria. No limite, não existe um documento-verdade. Todo
documento é mentira. (LE GOFF, 2003, p.538).

Além do mais, Le Goff (2003) ainda defende uma ampliação do conceito de documento.
Assim, além do documento escrito e oficial, diversos outros tipos de registros passam a ser
considerados fontes legítimas para a pesquisa histórica e social, como fontes orais,
audiovisuais, fotográficas e pictóricas, dentre inúmeras outras.
Assim, o autor demonstra que é necessário questionar os documentos, perceber a
informação que não está lá, óbvia, “estampada”, escrita e registrada, e sim na sua
14

intencionalidade, na sua relação com o meio no qual foi produzido. Cabe aos pesquisadores
perceberem os indícios que revelam as intencionalidades dos documentos e não serem
ingênuos diante de tais construções.

Porque qualquer documento é, ao mesmo tempo, verdadeiro – incluindo


talvez, sobretudo os falsos – e falso, porque um monumento é primeiro uma
roupagem, uma aparência enganadora, uma montagem. É preciso começar
por desmontar, demolir esta montagem, desestruturar esta construção e
analisar as condições de produção dos documentos-monumentos. (LE GOFF,
2003, p.538)

Foi observando estas premissas que se adotou o “paradigma indiciário”, sobretudo


para lidar com as omissões e ausências detectadas no decorrer da pesquisa:

Ginzburg desenvolve os fundamentos do método indiciário, demonstrando


sintomas ou indícios que funcionam como chaves para o conhecimento de
realidades; minúsculas partes singulares tradicionalmente menosprezadas
por predomínio de hábitos ou por reflexos condicionados, enfim, pelo
predomínio do inconsciente. (CONSTANTINO, 2004 p.165).

O paradigma indiciário é descrito a partir do chamado método morelliano, utilizado nas


artes plásticas para atribuir autoria a quadros não assinados. A partir deste método, para
outorgar corretamente autoria a tais obras, mais do que ter visão total da obra, seria preciso
prestar atenção aos detalhes, aos “pormenores mais negligenciáveis, e menos influenciados
pelas características da escola a que o pintor pertencia” (GINZBURG, 1989, p. 144).

A análise desse paradigma, amplamente operante de fato, ainda que não


teorizado explicitamente, talvez possa ajudar a sair dos incômodos da
contraposição entre ‘racionalismo’ e ‘irracionalismo’. (GINZBURG, 1989, p.
143).

Agentes sociais, que anteriormente ficavam à margem dos olhares acadêmicos da


História e das Ciências Sociais, em nome da generalização promovida pelo método
quantitativo, deslocam-se para o centro das investigações de cunho indiciário.
Assim, a partir dessa análise concluiu-se que, para se alcançar abrangência e, ao
mesmo tempo, profundidade analíticas satisfatórias para atender aos objetivos dessa
pesquisa, necessitou-se produzir e consultar dados de bases quantitativas e qualitativas.
Entende-se que a análise fundamentada em dados dessas duas naturezas (qualitativa e
quantitativa) é complementar e enriquecedora. As informações ligadas à frequência
permitiram, como será demonstrado, identificar indícios do grau de importância que
15

determinados bens culturais têm nos aspectos da vida cotidiana no Centro de Manaus bem
como questionar os porquês das presenças, ausências e das omissões.
No entanto, é importante lembrar que toda pesquisa é caracterizada também por
lacunas, seja pela indisponibilidade de fontes para dar respostas aos questionamentos
levantados; seja pelas escolhas feitas pelos pesquisadores a fim de atender certo cronograma
ou recorte temático. Aqui as lacunas são exemplificadas, sobretudo, pelo curto espaço de
tempo para realizar o levantamento de dados. Tendo sido iniciado em outubro de 2019, com
previsão de finalização em novembro, prorrogado até dezembro. Já o prazo para entrega do
relatório final foi para final de janeiro de 2020. Ressalta-se dessa forma que, mesmo
aumentando o tempo de pesquisa de dois para três meses, considera-se ainda muito restrito
para apreender de forma satisfatória, os olhares sobre a diversidade do Patrimônio Cultural
do Centro Histórico de Manaus. Assim, considera-se que o resultado dessa pesquisa se trata,
na verdade, de um dossiê de pesquisa com alguns apontamentos prévios a respeito das
apropriações sociais sobre o Centro de Manaus.
Além do mais, as conclusões, afirmações e as “verdades científicas” expressas como
resultados do trabalho devem ser consideradas a partir de seu contexto de produção. Se as
premissas ligadas à expressão documento-monumento foram adotadas para realizar essa
pesquisa, defende-se que também poderão ser adotadas para analisar seus resultados.

Para Bachelard, e para Bourdieu depois dele, a verdade não é uma expressão
absoluta das coisas em si mesmas, nem a ciência é conhecimento
sistematizado, e sim conjuntos de relações que são parcialmente
determinadas pelas condições de sua realização. Além disso, aquilo que
expressamos é sempre uma representação, não é a coisa em si. Proceder
cientificamente é “conquistar” fatos científicos, muitas vezes em oposição a
modos convencionais de ver o mundo, e não através da descoberta. [...]
Basicamente, não existe uma realidade definitiva, apenas modos de enxergá-
la. (GRENFELL, 2018)

O modo particular com que se representa a realidade pesquisada, nesse trabalho,


resulta então, das condições de produção que se pretendeu explicitar ao máximo no próprio
texto. O sentido desse esforço é o de que esse trabalho possa ser retomado, ampliado,
aprofundado, questionado, refutado, enfim, compreendido dentro de seu contexto de
criação. Sendo assim, algumas das lacunas identificadas no decorrer da própria pesquisa estão
descritas nesse relatório e outras certamente passaram despercebidas, mas poderão ser
trabalhadas futuramente por outros pesquisadores, ou pelos que aqui atuaram.
16

Cabe ressaltar que a prática de uma pesquisa participativa privilegia, acima de tudo, a
escuta atenta de diversos atores, aqui denominados de detentores. Os detentores são aqueles
agentes socioculturais que se apropriam simbolicamente, utilizam, trabalham, vivenciam,
moram ou são, de fato, proprietários de imóveis no Centro Histórico de Manaus.
O trabalho enfatizou a interação entre os pesquisadores e os detentores, entendendo
que os agentes envolvidos não são meros informantes, mas protagonistas na definição de suas
referências culturais. Além disso, a interação com os detentores possibilitou compreender os
atributos que, em suas narrativas, definem ou caracterizam suas próprias referências culturais
enfim, que justificam as suas escolhas ao defini-las. Posteriormente, esses atributos foram
analisados e agrupados no sentido de definir quais as qualidades do Centro Histórico de
Manaus que de fato devem ser conservadas enquanto Patrimônio Cultural.
As metodologias que foram desenvolvidas visaram contribuir para o entendimento da
relação territorial, temporal e afetiva dos grupos sociais com suas “referências culturais”.

Referências são edificações e são paisagens naturais. São também as artes,


os ofícios, as formas de expressão e os modos de fazer. São as festas e os
lugares a que a memória e a vida social atribuem sentido diferenciado: são
as consideradas mais belas, são as mais lembradas, as mais queridas. São
fatos, atividades e objetos que mobilizam a gente mais próxima e que
reaproximam os que estão longe, para que se reviva o sentimento de
participar e de pertencer a um grupo, de possuir um lugar. Em suma,
referências são objetos, práticas e lugares apropriados pela cultura na
construção de sentidos de identidade, são o que popularmente se chama de
raiz de uma cultura. (BRASIL, 2000).

Tanto as políticas públicas, quanto diversas abordagens conceituais sobre o patrimônio


cultural, distinguem múltiplas categorias (Patrimônio Material e Patrimônio Imaterial) e
subcategorias (Patrimônio Natural, Patrimônio Arqueológico, Patrimônio Etnográfico, dentre
outros). Patrimônio Material e Patrimônio Imaterial são, talvez, as mais recorrentes dessas
categorias.
A partir do Decreto-Lei nº 25/1937, é possível inferir que patrimônio material é "o
conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse
público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu
excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico" (BRASIL, 1937). Já os
bens culturais de natureza imaterial dizem respeito às práticas e domínios da vida social que
se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão
17

cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares. (IPHAN, s/d). A UNESCO (Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) define como patrimônio imaterial
"as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos,
objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos
e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio
cultural." (IPHAN, s/d)
É seguro afirmar que todo Patrimônio Material é dotado de uma certa imaterialidade
(valores, significados, narrativas, memórias) sem a qual perderia seu valor. Por outro lado, o
Patrimônio Imaterial também é composto por materialidades associadas às práticas,
representações, expressões, conhecimentos e técnicas. (BLACH, 2019). Nenhum bem tem
valor em si mesmo, nem mesmo o valor artístico, estético, pois todo processo de valoração
resulta necessariamente de uma atribuição humana que parte de subjetividades e
objetividades intrínsecas a experiência cotidiana. Assim, apesar das distinções entre essas
duas categorias de Patrimônio Cultural, é amplamente difundido na literatura acadêmica
contemporânea que, os aspectos materiais e imateriais do patrimônio cultural são
essencialmente complementares e indissociáveis. (CASTRIOTA, 2009; FONSECA, 2000).
Essa noção é fundada em uma “concepção antropológica de cultura” cujo enfoque está
na “diversidade da produção material, como também dos sentidos e valores atribuídos pelos
diferentes sujeitos a bens e práticas sociais” (FONSECA, 2000 p.13). Entendeu-se que essa
perspectiva mais ampla foi fundamental para que se pudesse identificar quais os atributos e
qualidades que imprimem valor ao Centro Histórico de Manaus:

Falar em referências culturais nesse caso significa, pois, dirigir o olhar para
representações que configuram uma “identidade” da região para seus
habitantes, e que remetem à paisagem, às edificações e objetos, aos
“fazeres” e “saberes”, às crenças, hábitos etc. Referências culturais não se
constituem, portanto, em objetos considerados em si mesmos,
intrinsecamente valiosos, nem apreender referências significa armazenar
bens ou informações. Ao identificarem determinados elementos como
particularmente significativos, os grupos sociais operam uma
ressemantização desses elementos, relacionando-os a uma representação
coletiva a que cada membro do grupo de algum modo se identifica
(FONSECA, 2000 p.14)

Desse modo, para que a pesquisa pudesse gerar dados relevantes para subsidiar a
elaboração das normativas do Centro Histórico de Manaus, adotou-se o conceito de
18

“referência cultural” como princípio norteador da aplicação das metodologias aqui propostas.
Sobretudo, levando em conta que essa identificação só é de fato possível, se realizada a partir
de um viés colaborativo que busque pactuar com a sociedade quais são os elementos que
representam os valores atribuídos a esse espaço urbano:

[...] quando o que está em jogo não é apenas a proteção de determinados


bens [..], mas o reordenamento de um espaço, a questão é ainda mais
complexa, pois implica a administração de interesses distintos e a
interferência no destino de uma região e dos que nela habitam. Trata-se de
produzir um conhecimento para iluminar uma intervenção. (FONSECA, 2000,
p.14).

O sociólogo francês Michel Maffesoli (apud FREIRE, 1997) considera necessário não se
ligar diretamente a nenhuma prática instrumental, para se refletir sobre social. O objeto se
revela indisciplinado e o método deve misturar diversas abordagens. Portanto, empreendeu-
se um estudo dos dados utilizando diversos instrumentos metodológicos.
Ademais, um dos objetivos principais da pesquisa, além de coletar dados para traçar o
panorama dos atributos e qualidades que conferem valor ao Centro Histórico, foi o de
provocar, através dos diálogos, o reviver mnemônico, bem como conhecer a profundidade da
penetração das referências culturais na vida da comunidade estudada. Assim, mediante os
fundamentos aqui descritos, as técnicas aplicadas no decorrer desse projeto foram: 1) Mapas
de Percepção com grupos focais 2) Observação Participante 3) Entrevistas Temáticas
Semiestruturadas com indivíduos selecionados 4) Pesquisa Bibliográfica e Documental.
19

2. Grupos focais e entrevistados: os detentores do Centro


Histórico de Manaus
Os grupos focais como proposta metodológica de investigação de pesquisa qualitativa
é derivada das entrevistas grupais, cuja finalidade é coletar informações por meio das
interações entre os indivíduos participantes. Os grupos focais constituem-se em “pequenos
grupos de pessoas reunidos para avaliar conceitos ou identificar problemas”, (CAPLAN, 1990
apud DIAS, 2000 p.03).

O grupo focal é uma forma de entrevista com grupos, baseada na


comunicação e na interação. Seu principal objetivo é reunir informações
detalhadas sobre um tópico específico (sugerido por um pesquisador,
coordenador ou moderador do grupo) a partir de um grupo de participantes
selecionados. Ele busca colher informações que possam proporcionar a
compreensão de percepções, crenças, atitudes sobre um tema, produto ou
serviços. (TRAD, 2009 p. 780)

O objetivo central do grupo focal é identificar percepções, sentimentos,


atitudes e ideias dos participantes a respeito de um determinado assunto,
produto ou atividade. Seus objetivos específicos variam de acordo com a
abordagem de pesquisa. Em pesquisas exploratórias, seu propósito é gerar
novas ideias ou hipóteses e estimular o pensamento do pesquisador,
enquanto, em pesquisas fenomenológicas ou de orientação, é aprender
como os participantes interpretam a realidade, seus conhecimentos e
experiências. (DIAS, 2000 p. 03)

O papel do moderador (pesquisador) é fundamental para planejar estrategicamente


as condições necessárias para que os interlocutores reunidos consigam manifestar
percepções, experiências e memórias sobre os lugares.

O GF difere da entrevista individual por basear-se na interação entre as


pessoas para obter os dados necessários à pesquisa. Sua formação obedece
a critérios previamente determinados pelo pesquisador, de acordo com os
objetivos da investigação, cabendo a este a criação de um ambiente
favorável à discussão, que propicie aos participantes manifestar suas
percepções e pontos de vista (PATTON, 1990; MINAYO, 2000). (TRAD, 2009
p. 780)

Os grupos focais foram organizados, considerando como determinante a relação dos


integrantes do grupo com o território sendo analisados suas atuações, constituição enquanto
grupo já consolidado ou de formação induzida por essa pesquisa e, notoriamente, a faixa
20

etária - priorizando aqueles moradores mais antigos do centro - características que


contribuíram para o levantamento de dados sobre o Centro Histórico de Manaus.

Os participantes de um grupo focal devem apresentar certas características


em comum que estão associadas à temática central em estudo. O grupo deve
ser, portanto, homogêneo em termos de características que interfiram
radicalmente na percepção do assunto em foco. Barbour e Kitzinger (1999)
recomendam que os participantes sejam selecionados dentro de um grupo
de indivíduos que convivam com o assunto a ser discutido e que tenham
profundo conhecimento dos fatores que afetam os dados mais pertinentes.
(TRAD, 2009 p. 783)

Inicialmente, por meio de um brainstorming de equipe, considerou-se como


interlocutores em potencial para formar os grupos as seguintes características: moradores e
ex-moradores do Centro de Manaus (associações de bairro); alunos de escolas públicas e/ou
particulares situadas no Centro de Manaus; lojistas, ambulantes e vendedores de rua; artistas
e intelectuais que habitam, vivenciam, representam e pesquisam o Centro de Manaus;
integrantes de movimentos sociais e organizações indígenas que atuem no Centro de Manaus
(Movimento Negro, Movimento Quilombola, Associações Indígenas, Grupo de Trabalho da
Salvaguarda da Capoeira no Amazonas, dentre outros); grupos de profissionais da área do
Turismo que atuam no Centro Histórico. Estes grupos foram pensados durante as oficinas
preparatórias com a equipe técnica do IPHAN-AM. A partir dessa definição, fomos em busca
da aproximação e articulação.
Tendo em vista o desafio do tempo que se tinha disponível para execução do estudo,
observamos na prática que seria necessário considerar a constituição dos grupos focais dentro
dessa limitação temporal. Vale ressaltar que para coordenação e execução dessa atividade,
contamos apenas com dois técnicos (historiador e antropólogo), em meio a todas outras ações
da superintendência – reuniões de salvaguarda do Sistema Agrícola Tradicional do Alto Rio
negro, produção do livro da história da capoeira no Amazonas, entre outras atribuições. Desta
forma, os grupos que foram formados passaram a ter como aspecto fundamental a
disponibilidade deles em função do cronograma da pesquisa.
Considera-se fundamental demonstrar a consciência de que esse aspecto merece
atenção, pois implica no nível de aprofundamento e exprime as limitações e lacunas desse
trabalho. Por isso, trata-se de um dossiê de pesquisa com base em uma amostragem da
21

apropriação e percepção social do centro com algumas análises e conclusões prévias que
merecem ser verificadas e aprofundadas em pesquisas futuras.
Assim, os grupos focais que se obteve êxito na mobilização foram: Técnicos do Iphan-
AM (oficina realizada em 22/08/2019, laboratório de experimentação da metodologia),
Moradores da Ilha de São Vicente (oficina realizada em 23/10/2019), Estagiários do Museu da
Cidade de Manaus (oficina realizada em 25/10/2019), Artífices da Secretaria de Estado da
Cultura do Amazonas –SEC (oficina realizada em 22/10/2019), Mestres de Capoeira (oficina
realizada em 14/10/2019), Moradoras do entorno do Teatro Amazonas (oficina realizada
entre os dias 02 e 06/12/2019), Membros da Associação Comercial do Amazonas –ACA (oficina
realizada em 04/12/2019) e Pesquisadores do Centro Histórico de Manaus (oficina realizada
em 08/10/2019). No total, 79 pessoas participaram das oficinas de mapas de percepção
compondo os grupos focais. (FIGURA 1)
Figura 1: Grupo focal dos Moradores da Ilha de São Vicente participando de uma Oficina de Mapas de
percepção.

Trad (2009), ao discorrer sobre o perfil social para formação dos grupos focais
considera que é imprescindível assegurar um clima confortável para a troca de experiências e
impressões, de modo que o grupo não resulte em incontornáveis discussões frontais ou em
recusa sistemática de emitir opiniões (TRAD, 2009).

O perfil do grupo e os critérios de sua formação passa pelo processo de


seleção dos participantes, visando atender a conformidade com os objetivos
22

da pesquisa (LIMA; BUCHER; LIMA 2004; PIZZOL, 2004; TRAD et al., 2002).
(TRAD, 2009 p. 785).

Nesse sentido, a ideia de perfil das pessoas (alvo da pesquisa), esteve mais preocupado
em reunir quem, em potencial pôde, através da abordagem proposta, apresentar narrativas
das memórias, das fantasias latentes e dos universos de sentido, que têm hoje, como
testemunho as referências culturais do Centro Histórico de Manaus.
Figura 2: Entrevista com senhora Fátima e senhora Nazaré, moradoras antigas do Centro.

Além disso, os grupos focais subsidiaram indicações de pessoas consideradas


informantes-chave (Figura 2), ou seja, pessoas dotadas de conhecimento das particularidades
do fenômeno/situação em estudo ou do universo pesquisado. Esses informantes-chave
ganharam importância para serem entrevistados individualmente, no instrumento
denominado aqui de entrevista temática semiestruturada.
23

3. Mapas de percepção
Os Mapas de Percepção consistem em uma atividade que tem a função de gerar dados
de natureza qualitativa e quantitativa para a visualização e classificação de percepções e
apropriações visando a catalogação, análise e organização de informações, não
necessariamente geográficas, mostrando como certos bens culturais se introduzem e se
articulam junto às coletividades. (FIGURA 3).
Assim, a dinâmica dos Mapas de Percepção, aliada ao conceito de referência cultural,
tem o objetivo de identificar bens culturais produzidos, reproduzidos, percebidos e
apropriados pela comunidade de detentores sem, no entanto, estabelecer distinções entre
“tipos” de patrimônio cultural e sem se ater somente aqueles bens acautelados e/ou
reconhecidos por políticas públicas de memória.
Figura 3: Mapa de Percepção produzido pelos Mestres e Artífices da Secretaria de Estado de Cultura do
Amazonas.

Partindo dessas concepções, as oficinas de Mapas de Percepção são atividades nas


quais os detentores expressam as formas particulares de apropriação que fazem de suas
24

referências culturais, independente delas terem, ou não, passado por um processo oficial de
patrimonialização. Esse raciocínio pode ser associado a dois conceitos distintos e como eles
se diferenciam e se relacionam: memórias dissidentes e memórias hegemônicas.
As memórias hegemônicas são aquelas versões de um determinado passado,
construídas e reconstruídas pelas instituições de memória, tais como o IPHAN, as políticas
públicas de patrimônio cultural, os arquivos, os museus, entre outros. As memórias dissidentes
estão associadas às construções e reconstruções do passado realizadas por agentes de uma
memória não oficial, tais como as comunidades locais e, no caso desta pesquisa, os
detentores. (PINTO, 2011; GNECCO e ZAMBRANO, 2000).
Figura 4: Mapa de Percepção produzido por pesquisadores que estudam o Centro de Manaus.

A livre expressão e formulação de um mapa, contendo referências ao território, à


história, aos bens edificados, espaços públicos e privados, às práticas sociais, aos costumes,
às festividades e a tudo o mais que as intencionalidades, a imaginação e a memória puderem
acessar no momento de sua confecção, permite um olhar privilegiado a respeito de como o
grupo investigado constrói sua memória e sua própria identidade. (FIGURA 4).
O mapa de percepção se assemelha ao procedimento e teoria empreendidos pelos
artistas e pensadores situacionistas. Inspirados no surrealismo, os situacionistas voltam-se
25

para um trabalho calcado na preocupação com o que eles consideram como esvaziamento
simbólico que vinha se configurando na relação dos indivíduos e a cidade. O trabalho realizado
por estes artistas buscava a ressignificação do passado mítico e simbólico aprisionado nas
construções. Introduzem a variante do conceito literário da flânerie. (FREIRE, 1997).
Se o flaneur benjamniano tinha o prazer em olhar objetos em si, os situacionistas a
partir do procedimento e teoria à deriva são convidados a representar a apropriação do objeto
atribuindo significados, buscando a sua manifestação na memória, reconstruindo-o a partir
do imaginário e fantasias. (FREIRE, 1997). A forma de enxergar desses artistas estimulou a
valorização da percepção das pessoas nas suas formas de apropriação, para além dos aspectos
físicos e materiais, mas como constroem através de suas narrativas, mapas imaginários,
processo que Cristina Freire (1997) denomina, psicogeografia.
Figura 5: Mapa de Percepção produzido por uma criança, moradora da Ilha de São Vicente.

Os mapas têm relação com esse aspecto artístico, porque traduzem como as pessoas
imaginam e simbolizam os lugares da cidade. A percepção desconsidera aspectos da realidade,
mas prestigia os fragmentos dessa forma de apropriação e relevância dadas a certos edifícios
e lugares. Como a criança que em seu mapa representou Manaus como uma jovem mulher de
26

350 anos. (FIGURA 5). Os situacionistas notavam que a escolha desses lugares tinha a ver com
experiências vividas ou assimiladas pelos processos de socialização. Esses mapas apresentam
uma cartografia que não é facilmente decifrada pela razão, não podendo serem elaboradas
somente a partir de monumentos ou bens oficialmente reconhecidos, mas de todas as
referências que possuem uma relação com as memórias coletivas e individuais.
As formas de representar as apropriações sociais por meio de mapas de percepção
evidenciam as produções simbólicas de um grupo. Assim como um artista, um escritor de
literatura, um produtor de cinema, um poeta, todas essas produções são a materialização do
imaginário social. Entende-se, desse modo, que o imaginário é suporte para as representações
sociais, o que estabelece “a verdadeira consciência social”. (CARVALHO, 2002)
Por fim, segundo Carvalho (2002), o reconhecimento dos olhares dos grupos sociais,
postula que, nesse processo de normatização, os discursos e narrativas são fundamentais para
respeitar aquilo que o próprio grupo "pensa" e atribui valor aos objetos e bens da cidade.
Figura 6: Mapa de Percepção produzido por estagiários do Museu da Cidade.
27

Assim, independente dos bens culturais representados nos mapas serem reconhecidos
por uma política oficial de patrimônio cultural, com um discurso histórico e identitário pré-
determinado por essa mesma política, a metodologia busca reconhecer, enquanto resultado
dessas memórias dissidentes, as referências culturais definidas pelos próprios detentores.
Bem como, as formas de apropriação e as narrativas de atribuição de valor à essas referências,
sejam elas patrimonializadas, ou não. (FIGURA 6).
Portanto, o resultado desse levantamento também possibilitou dimensionar, mesmo
que superficialmente, o grau de penetração do discurso oficial sobre Patrimônio Cultural no
processo de definição das referências culturais desses detentores, possibilitando esse
movimento dialético entre o que é definido “de cima” e o que/como é “apropriado” ou
“subvertido” pelos “de baixo” revelando também, os contra usos do Patrimônio Cultural em
Manaus. Os resultados da aplicação dessa metodologia revelam uma hierarquia de valores e
o grau de protagonismo dos bens culturais, definidos pelos próprios detentores, em suas
memórias e narrativas.
A fase de aplicação das Oficinas de Mapas de Percepção foi composta por quatro
etapas. Cada uma dessas etapas foi acompanhada por 3 profissionais (mediador, relator e
documentarista) sob orientação de um responsável técnico da área de Patrimônio Cultural,
História e/ou Antropologia. O mediador foi responsável por guiar todo o procedimento,
fazendo uma fala de apresentação e dando as instruções. O relator observou atentamente
todo o processo, fez anotações e descreveu a atividade. O documentarista foi responsável por
fotografar a atividade, pegar a assinatura dos termos e lista de presença, fazer os registros do
desenvolvimento dos mapas desde o início de sua produção até a conclusão e filmou as
apresentações finais dos grupos.
28

4. Observação Participante
A Observação participante é um roteiro de investigação que se dá pela imersão nas
formas costumeiras de viver de um grupo social. Por meio dessa metodologia compreende-se
a importância da presença do cientista no local investigado, o que lhe permite, a partir de sua
experiência de imersão em um território cultural, apreender formas de apropriação, o
imaginário, representações e conhecimentos locais. Nesse sentido, uma abordagem
participante de pesquisa como método, precisa penetrar na “forma de vida” que constitui a
população pesquisada, enfim, considerando o exercício de “estar lá” (GEERTZ, 2008, p.14).
A imersão nos lugares de vivência e nas práticas culturais dos indivíduos estudados,
permite ao pesquisador uma análise mais delimitada e específica, devido a incursões mais
constantes que se pode fazer no dia-a-dia da comunidade estudada. A partir dessa
experiência, o pesquisador poderá então efetuar interpretações através da observação direta
sobre o seu objeto de estudo com maior correspondência ao modo como os próprios
integrantes vivenciam, percebem, caracterizam e atribuem valores aos lugares, edifícios e
espaços públicos no território.
Assim como o método do mapa de percepção, o exercício da observação participante
assemelha-se ao método à deriva empreendido pelos artistas na década de 60 para entender
a relação que as pessoas mantinham com os lugares para além da dimensão física, da
funcionalidade imediata, mas apreender aspectos simbólicos e afetivos dessa relação.
Ressalta-se que essa forma de estudo da percepção da cidade, resultou do processo
impositivo da indústria cultural que estava difundindo uma percepção dos espaços das cidades
associada à lógica de consumo. Esse movimento, liderado pelos artistas de corrente
situacionista retomam a busca pela relação que a cidade mantém com o inconsciente, com as
fantasias, com as memórias e com o imaginário. (FREIRE, 1997)
Nessa perspectiva, a observação participante foi norteada a partir da revelação dos
lugares que as próprias pessoas narraram nos mapas de percepção e durante a própria
observação, com base nas memórias individuais e experiências vividas. Além disso, locais já
consagrados da cidade, seja pelas narrativas patrimoniais ou ligadas ao turismo, também
foram visitados (FIGURA 7).
29

Figura 7: Observação Participante, placa de atrativos turísticos localizada na Av. Eduardo Ribeiro.

Os mapas e entrevistas informais realizadas em campo serviram como bússola,


direcionaram indicaram a concentração de áreas de conteúdo simbólico, ou seja, as narrativas
dessa “cidade invisível”. (MAPA 01). Compreendendo que a imaginação simbólica da cidade
atual é elaborada a partir da percepção do presente e evocação da memória (FREIRE, 1997), a
observação participante, nesse sentido, imbuiu os pesquisadores a pensar a relação dos
habitantes com a cidade além do uso e da funcionalidade imediata, privilegiando o
componente simbólico, histórico e estético.
Os lugares percorridos pelos sete pesquisadores foram selecionados a partir dos
monumentos, bens edificados, trajetos, circuitos que mais testemunham, segundo as
narrativas dos nossos interlocutores, sistemas mentais do passado e solicitam uma relação
perceptiva, mas também fabuladora, misturando os tempos presente e passado, histórias
individuais às coletivas. Os lugares significativos foram o ponto de partida, pois eles
representam maior interesse no repertório das pessoas, através das narrativas.
30

Mapa 01: Observação Participante – áreas pesquisadas pela equipe organizada em grupos.
31

Diferentemente da entrevista, na observação participante o pesquisador vivencia o


lugar, dialogando de forma mais livre e “despretensiosa” com os indivíduos que se apropriam
dele e estabelecendo relações sociais, com intuito de entender as ações no contexto da
situação observada. (FIGURA 8). É “estando lá” que se pode observar como as pessoas agem
e dão sentido ao seu mundo, se apropriando de significados a partir do seu próprio ambiente.
Por isso, compreende-se que na observação participante o pesquisador deve experimentar se
tornar parte de tal universo para melhor entender as ações daqueles que ocupam e produzem
culturas, apreender seus aspectos simbólicos, que incluem costumes e linguagem.
Figura 8: Pesquisadoras conversando informalmente com moradora nas imediações da Praça da Saudade.

Na observação participante o investigador estabelece uma zona proximal com intuito


de subsidiar uma interpretação científica dos grupos sociais. Podemos entender que este
método, parafraseando Roberto da Matta (1984), está calcado na atitude de relativizar.
Relativizar, para Roberto da Matta, é a pretensão de entender o outro, não apenas a partir
das teorias, conceitos e cultura do pesquisador, mas também como os indivíduos estudados
pensam, compreendem e elaboram referenciais das suas próprias práticas culturais.
Geertz, (1998 p.24), estabelece como procedimentos para a observação participante,
à medida que ocorrem os diálogos, observação de rituais, dedução de termos específicos e
32

escrita do diário de campo, condicionando naturalmente que tal universo se torna mais
acessível à interpretação. O pesquisador precisa se colocar dentro do universo social em que
as percepções e construções simbólicas do grupo em pesquisa são construídas.
Roberto Cardoso de Oliveira (2002), considera que na observação participante, o
pesquisador assume um papel direcionado pela sociedade estudada. Como metié do
antropólogo, a observação direta dos grupos sociais precisa ser construída a partir das formas
cognitivas de apreensão das ações sociais, sendo estruturadas, segundo o autor, pelo olhar,
ouvir e escrever.
Figura 9: Observação Participante na Praça da Polícia.

Ao fazer a imersão no universo social a ser estudado, o pesquisador precisa utilizar-se


de arcabouço teórico que o impulsionou para esse estudo, estabelecendo um olhar embasado
que o ajude a identificar as características, no caso do objetivo do estudo em questão, de uso
e de apropriação dos lugares do Centro Histórico, no entanto permitindo-se também a olhar
outras nuances que as teorias não conseguem contemplar, mas que a experiência das relações
sociais permitem captar. Por isso, a importância do ouvir.
33

Assim, Oliveira (2002), salienta que o ouvir precisa ser estabelecido por uma relação
dialógica, em que pesquisador e pesquisado sejam interlocutores, que um possa ter a
oportunidade de ouvir o outro, colocando-se em um plano interacional na relação,
complementando e qualificando as informações e impressões obtidas pelo olhar, podendo ser
conduzida pelos indivíduos estudados. Por fim, o escrever que pode ser realizado durante todo
o processo através das anotações das percepções do pesquisador e falas dos pesquisados.
Constitui-se, também, de uma etapa denominada conclusiva, configurada em uma
textualização da cultura estudada, cuja autonomia de quem escreve, não está desvinculada
aos dados propiciados do olhar e dos significados dos “modelos nativos” proporcionados pelo
ouvir.
34

5. Entrevistas temáticas semiestruturadas


De forma complementar às metodologias descritas anteriormente, utilizou-se da
técnica de entrevista individual1 temática e semiestruturada para detalhar e aprofundar as
informações levantadas a partir da realização da bibliografia, mapas de percepção e da
observação em campo.
Esta etapa da pesquisa representa o objetivo de “conseguir informações ou coletar
dados que não seriam possíveis somente através da pesquisa bibliográfica e da observação”
(BONI; QUARESMA. 2005 pp. 71-72).

A entrevista como coleta de dados sobre um determinado tema científico é


a técnica mais utilizada no processo de trabalho de campo. Através dela os
pesquisadores buscam obter informações, ou seja, coletar dados objetivos e
subjetivos. Os dados objetivos podem ser obtidos também, através de fontes
secundárias tais como: censos, estatísticas etc. Já os dados subjetivos só
poderão ser obtidos através da entrevista, pois que, eles se relacionam com
os valores, às atitudes e às opiniões dos sujeitos entrevistados. (BONI;
QUARESMA. 2005 pp. 71-72).

Assim, para a realização e a análise das entrevistas, utiliza-se da metodologia das


fontes orais tal como é apresentada por Lucília de Almeida Neves Delgado (2010) e Gwyn Prins
(1992). Delgado (2010) apresenta uma tipologia das entrevistas visando a metodologia
qualitativa para a História Oral e considerando os seguintes elementos: o grupo focal, a
observação participante, a etnografia, as histórias de vida, as entrevistas temáticas, entre
outros.
Desse modo, adotou-se a técnica de entrevistas temáticas semiestruturadas como
metodologia de abordagem aos entrevistados. Buscou-se direcionar os questionários para os
problemas formulados a partir do objeto de pesquisa, sem, no entanto, perderem-se de vista
novas possibilidades de formulação de problemas que emergiram no decorrer das próprias
entrevistas.
A análise das entrevistas procurou compreender, por meio de comparações, em que
medida as percepções dos entrevistados em suas falas corroboram ou contradizem as demais
fontes produzidas. Desse modo, não se estabelece uma relação hierárquica entre os tipos de

1
Os critérios gerais adotados para a escolha dos indivíduos entrevistados são explicados em cada um dos
relatórios de entrevistas (capítulo 13).
35

fontes, pois as fontes orais “corrigem as outras perspectivas, assim como as outras
perspectivas as corrigem” (PRINS, 1992, p.166).
Além disso, como destacam os autores acima mencionados, as entrevistas temáticas
pressupõem a análise de desdobramentos e vínculos entre múltiplos indivíduos envolvidos no
processo abordado pelo tema. É neste sentido que se buscou entrecruzar as falas de
entrevistados de diferentes esferas sociais.
Figura 10: Entrevista realizada com o Prof. Otoni Mesquita.

Assim, foi priorizada a perspectiva que considera a relação entre memória individual e
memória histórica expressa nas narrativas dos entrevistados. Estas narrativas são resultantes
de um processo mnemônico que estabelece vínculos entre as dimensões individuais e
coletivas diante de um contexto histórico-social. Marcelo Cedro (2011 p.113) sintetiza de
forma esclarecedora esta questão:

A memória é um subsídio importante para que as entrevistas possam


contribuir para a pesquisa social e histórica. Através da lembrança,
sustentada pela memória individual, pode-se perceber a articulação com a
memória coletiva. A impressão e a percepção de um indivíduo sobre
determinado acontecimento, época, espaço, movimento etc. podem
esclarecer a representação coletiva ou, como sugere Becker (1999), a
reunião de peças para composição do mosaico da pesquisa.
36

Contudo, a pesquisa não deixou de considerar o caráter subjetivo das narrativas dos
entrevistados, levando em conta os processos seletivos da memória em que os indivíduos
escolhem consciente ou inconscientemente o que lembrar e o que esquecer na construção de
seu discurso. Como bem destaca Lucília Delgado, a memória, principal fonte dos depoimentos
orais, vai ser “um cabedal infinito”,

Onde múltiplas variáveis – temporais, topográficas, individuais, coletivas –


dialogam entre si, muitas vezes revelando lembranças, algumas vezes de
forma explícita, outras vezes de forma velada, chegando a alguns casos a
ocultá-las pela camada protetora que o próprio ser humano cria ao supor,
inconscientemente, que assim está se protegendo das dores, dos traumas e
das emoções. (DELGADO, 2010, p. 16).

Além de se assumir as perspectivas descritas acima sobre o conceito de memória,


considerou-se também, as proposições de Paul Ricœur (2007). A partir de seus argumentos,
destaca-se que entre memória e história não se deve estabelecer uma relação hierarquizada.
Desse modo, o autor apresenta novas concepções em contraposição às perspectivas mais
tradicionais – inspiradas pelas teorizações de Maurice Halbwachs (1990) – que apresentam,
muitas vezes, uma visão dicotomizada das categorias memória e história (RICŒUR, 2007).
Figura 11: Entrevista com a senhora Fátima e com a senhora Nazaré.

Considerou-se, assim, que memória coletiva, memória individual e memória histórica


são categorias distintas que se complementam e se interpenetram. Entendeu-se que
estabelecer uma relação hierárquica entre tais categorias faz parte de um debate
37

historiográfico já desgastado. Ambas as formas de retomar ou relembrar o passado são


igualmente legítimas. A memória histórica, tanto quanto os outros “tipos” de memória,
constitui-se por meio de processos seletivos, conscientes e subjetivos dos sujeitos que se
dedicam à construção narrativa do passado, mesmo tendo em conta que a História seja
orientada por uma metodologia.
38

6. Pesquisa bibliográfica e documental


Examinar a temática sobre o patrimônio, apesar do crescente interesse despertado na
contemporaneidade, não é algo recente ou inovador em virtude da ampla literatura
acadêmica já produzida pela História e pelas Ciências Sociais resultando em várias referências
neste campo (CASTRIOTA, 2009, CHOAY, 2006; FUNARI; PELEGRINI, 2006; GONÇALVES, 1994;
NORA, 1993; dentre outros).

De fato, nunca se falou tanto sobre preservação do patrimônio e da


memória, nunca tantos estiveram envolvidos em atividades ligadas a ele,
nunca se forjaram tantos instrumentos para se lidar com as preexistências
culturais. Entramos no século XXI com o patrimônio ocupando um papel
central na reflexão não só sobre a cultura, mas também nas abordagens que
hoje se fazem do presente e do futuro das cidades, do planejamento urbano
e do próprio meio-ambiente. (CASTRIOTA, 2009, p.11).

Além disso, ao considerarmos que o tombamento do Centro Histórico de Manaus


ocorreu em 2010 e que, nestes 10 anos, diversos pesquisadores dos diferentes níveis de
graduação e de vários campos do saber já puderam se debruçar sobre esse tema, tem-se
disponível para consulta um amplo material bibliográfico. Somado a estes, existem diversas
pesquisas históricas, antropológicas, arquitetônicas, sociológicas, dentre outras cujos
assuntos se relacionam com o Centro Histórico mediante a própria natureza interdisciplinar
do campo do Patrimônio Cultural.
Outrossim, o próprio Iphan tem o registro documental dos diversos processos que
envolvem o Centro Histórico desde a instalação da superintendência em Manaus até os dias
atuais. Desse modo, todos os pesquisadores envolvidos com essa pesquisa compartilharam
em um espaço virtual, artigos, monografias, teses, dissertações, relatórios, boletins,
documentos, mapas e diversos outros tipos de informações que cada um encontrou.
Desse modo, além das referências diretamente citadas no decorrer desse texto, foi
elaborada uma tabela para sistematizar e organizar as diversas fontes de pesquisa
encontradas, visando a consulta, conforme a necessidade, durante o levantamento de dados
e no momento de escrita desse relatório final.
Por fim, cabe destacar que, visando atender plenamente o objetivo de fornecer
informações valiosas para o processo de normatização do Centro Histórico de Manaus -
normatização que implica, também, na elaboração subsequente de um Plano de Gestão desse
espaço -, produziu-se um verdadeiro dossiê de pesquisa que poderá contemplar demandas
39

futuras da Superintendência do Iphan no Amazonas. Além do mais, todo esse material


coletado e organizado passa a constituir o acervo da Superintendência, que poderá fornecer
esses dados, sob demanda, à comunidade acadêmica, podendo resultar em mais pesquisas e
estudos sobre a cidade e o Patrimônio Cultural de Manaus.
40

Tabela 1: Referências bibliográficas levantadas.


N° Título Resumo Ano
A BORRACHA QUE ESCREVE A HISTÓRIA: BREVE ANÁLISE DO JOGO O artigo tem como objetivo elaborar uma interpretação da construção da identidade nós manauara
1 IDENTITÁRIO DA CIDADE DE MANAUS – AM ENTRE OS ANOS DE 2012 com base na teoria processual de Norbert Elias em torno de um tempo socialmente construído 2017
A 2016 SOB A PERSPECTIVA DO PENSAMENTO DE NORBERT ELIAS denominado Belle Époque.
Esta pesquisa busca enfatizar o início da crise da borracha, abordando os primeiros anos e as
A CIDADE DE MANAUS E A CRISE DA BORRACHA: UMA BREVE
2 consequências que essa crise trouxe à cidade de Manaus, no período correspondente aos fins do 2016
ANÁLISE HISTÓRICA
século XIX até o início do século XX.
Este artigo apresenta a cidade de Manaus na visão dos viajantes em um recorte temporal de 1700 -
3 A CIDADE DE MANAUS NO DIZER DOS VIAJANTES 2005
1900
O trabalho tem como objetivo elaborar uma história dos processos de ocupação da Amazônia, do
A CIDADE DO ESQUECIMENTO: MANAUS ENTRE A MEMÓRIA DAS Estado do Amazonas e principalmente questionar quais as razões para que nesse processo a Cidade de
4 2013
AUSÊNCIAS DA MEMÓRIA Manaus tenha tido sua história urbana e da própria cidade em si, tendo sido construída com lapsos de
memória, esquecimentos de determinados momentos de sua história como cidade
Este artigo busca, a partir de fontes primárias, jornais diários e documentos oficiais, tais como:
decretos, mensagens e leis, analisar a implantação dos bondes elétricos na cidade de Manaus em 189
A CIRCULAÇÃO NA MANAUS DA BELLE ÉPOQUE: MODERNIZAÇÃO E
5 e a expansão ocorrida até 1910. Se de um lado, a implantação de sofisticado serviço de transporte, que 2003
EXCLUSÃO
coincide com o período áureo da borracha, significava o sinal da modernização numa cidade tropical,
de outro assinalava a exclusão de parte significativa da população desse serviço.
A FEIRA MANAUS MODERNA: UM ESPAÇO NÃO-FORMAL PARA O O referido texto objetiva apresentar a Feira Manaus Moderna como um espaço não-formal para o
6 2014
ENSINO DE CIÊNCIAS Ensino de Ciências, mediantes as vozes dos alunos-participantes.
O presente trabalho tem como objetivo caracterizar o traçado urbano dos Centros Antigos de cidades
brasileiras, que tiveram influência das atividades económicas na concepção dos seus traçados e nas
suas formas urbanas. Para realização deste estudo, foram selecionadas três cidades em regiões com
A INFLUÊNCIA DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS NO TRAÇADO E NA
7 características geográficas diferentes, que surgiram ou conviveram no auge de determinadas 2013
FORMA URBANA DA CIDADE BRASILEIRA ENTRE 1741 E 1912
atividades económicas ocorridas nos chamados ciclos econômicos brasileiros. Sendo, a cidade de Ouro
Preto, no estado de Minas Gerais, Manaus no Amazonas e Santos em São Paulo, relacionadas com os
Ciclos do Ouro, da Borracha e do Café, respetivamente
O objetivo do presente artigo é discutir como as políticas de urbanização dos igarapés de Manaus vêm
se processando como “herança” dos modelos econômicos e das administrações públicas que têm se
A REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL DOS IGARAPÉS DE MANAUS (2005- sucedido desde o século XIX, apontando como essas transformações remodelam a relação homem-
8 2008): UM CONTÍNUUM DAS POLÍTICAS DE URBANIZAÇÃO DO ambiente. O recorte temporal de análise compreende o período que vai de 1892 a 2008, analisa-se de 2011
SÉCULO XIX? forma crítica as continuidades destas intervenções na paisagem de Manaus, bem como as
descontinuidades na construção das espacialidades, levando-se em consideração os aspectos
ambientais, sociais, econômicos e culturais.
41

N° Título Resumo Ano


Se imaginarmos a experiência de permanecer apenas 24h privados de tudo que nosdá conforto, como
ficaríamos? Despojados de roupas adequadas, casa, higiene pessoal,sono tranquilo, alimentação
apropriada, sossego. Quem sabe essa experiência poderiadespertar em nós os mais elementares
instintos de sobrevivência. Por natureza, podemosdeduzir, somos animais indefesos, contudo
A RUA COMO LAR: INVISIBILIDADE DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE perigosos, quando nos é retirado tudo que nosmantém. Pensando nessa experiência, que
9 2019
RUA NO CENTRO DE MANAUS desenvolvemos o estudo a seguir, acerca, emtermos lato, do “morar na rua”, do “não ter nada além de
si mesmo”. Nesse caminho,mergulhamos em um universo paradigmático, tanto porque nosso trabalho
busca lançarfoco em pessoas invisibilizadas, colocando-as em cena na história como narradoras de
suasvidas, como donas de si, que se apropriam de discursos tendo em vista transformarem-seem
agentes históricos.
É objetivo deste artigo, refletir sobre a contribuição do Governo do Estado do Amazonas, com o
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS INTERVENÇÕES DO Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus - PROSAMIM, em relação ao modelo proposto
10 2013
PROSAMIM NO ORDENAMENTO DA CIDADE DE MANAUS para a solução de problemas gerados pelo adensamento urbano em área de proteção permanente, na
zona sul da capital.
O presente trabalho se propõe a fazer um quadro temporal, para que se possa perceber as mudanças
ARQUEOLOGIA NO CENTRO HISTÓRICO DE MANAUS: A no espaço físico e social da cidade de Manaus. Tendo como porta voz da mudança os trabalhos de
11 2017
REQUALIFICAÇÃO DA AVENIDA EDUARDO RIBEIRO arqueologia realizados no âmbito da requalificação realizados na Avenida Eduardo Ribeiro entre os
anos de 2015 e 2016.
No centro da cidade de Manaus (originalmente chamada de Manáos), na atual Avenida Eduardo
Ribeiro, o Igarapé do Espírito Santo permanece aprisionado até os dias atuais, em seu subsolo o leito
latente, afluente do Rio Negro, e suas consequências advinda deste ato de retrocesso político. A
motivação da pesquisa consistiu em conhecer os motivos pelos quais a sociedade da época decidiu
ATERRAMENTO DO IGARAPÉ ESPÍRITO SANTO EM 1893, ATUAL
pelo aterramento do igarapé, mesmo sabendo das consequências que poderiam advir em decorrência
12 AVENIDA EDUARDO RIBEIRO: RETROCESSO POLÍTICO OU QUESTÕES 2018
das transformações realizadas na flora e na fauna da cidade. O propósito do estudo consistiu em
SOCIOECONÔMICAS?
esclarecer as consequências oriundas do ato decisório ao retrocesso da política de proteção ambiental,
liberando o aterramento do igarapé, visando a remodelação urbanística e arquitetônica da capital,
permitindo grandes modificações na paisagem da cidade, na tentativa em transformar a capital
manauense na ‘Paris dos Trópicos’.
Este trabalho apresenta uma análise exploratória da acessibilidade e mobilidade da população de baixa
AVALIAÇÃO DA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL DA CIDADE DE renda no espaço urbano. Esta análise exploratória traz os primeiros elementos de discussão desses
13 MANAUS CONSIDERANDO INDICADORES DE ACESSIBILIDADE E conceitos para a região Norte. Justifica-se, assim, a escolha do estudo de caso para a cidade de 2007
MOBILIDADE DO TRANSPORTE PÚBLICO. Manaus, corroborada pela disponibilidade de dados da pesquisa Origem e Destino (O/D) realizada em
2005.
42

N° Título Resumo Ano


O estudo relatado nesta monografia teve como finalidade identificar os elementos históricos,
AVENIDA EDUARDO RIBEIRO: HISTÓRIA, PATRIMÔNIO CULTURAL E socioculturais e turísticos que fazem parte da composição da Avenida Eduardo Ribeiro, Manaus-AM,
14 2019
TURISMO buscou-se examinar a relação destes elementos com a atividade turística e sua influência junto à
construção do patrimônio cultural na cidade de Manaus
O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar a importância da Avenida Sete de Setembro, como um local
que oportuniza o conhecimento, a reafirmação da identidade local e do papel que este lugar
desempenha no desenvolvimento turístico da cidade. Nela há diferenciais em relação a outros espaços
de Manaus, já que nesse local coexistem elementos relacionados à evolução da cidade, representados
AVENIDA SETE DE SETEMBRO: O RETRATO DE UM PASSADO por edificações, praças, ponte de ferro, monumentos e, recentemente, intervenções do Governo do
PRESENTE E O SEU LEGADO PARA O TURISMO EM MANAUS - MÁRCIA Estado, através do PROSAMIM. O estudo é qualitativo, do tipo estudo de caso, utilizando-se de fontes
15 2012
RAQUEL CAVALCANTE GUIMARÃES RAQUEL MARIA FONTES DO bibliográficas e documentais. Seu arcabouço teórico e método de análise alicerçaram-se no paradigma
AMARAL PEREIRA da formação socioespacial de Milton Santos. As modificações ocorridas na Avenida foram resultado da
circulação de mercadorias e do capital financeiro de dois marcos no desenvolvimento econômico da
capital: o ciclo da borracha e a criação da Zona Franca de Manaus. Passado e presente conseguem
dialogar ao longo da Avenida, dentro de uma perspectiva evolutiva e socioeconômica de Manaus,
representando, assim uma grande atratividade turística para visitantes e residentes
Partindo da temática sobre a cidade, o artigo, fruto de pesquisa de doutorado, busca direcionar as
discussões em direção à cidade flutuante de Manaus. Peculiar modelo de ocupação urbana sobre as
16 CIDADE FLUTUANTE: UMA MANAUS SOBRE AS ÁGUAS águas da capital amazonense, a cidade flutuante nos serve de mote para refletir questões sobre cidade 2016
e cultura urbana na Amazônia, retomadas aqui, sobretudo por intermédio da história oral na forma de
entrevistas com antigos moradores do lugar.
O termo cidade desponta nuances e, não temos a intenção de fazer uma exposição de todas elas, mas
percorrer entre becos e atalhos tateando na construção de algumas ideias acerca da cidade de
Manaus, da memória, encantos e desencantos que possam nortear nossas considerações. Não
17 CIDADE, MEMÓRIA E (DES)ENCANTOS escolhemos fazer o percurso pelas retas, pois, talvez elas escondessem a beleza e a bravura de suas 2018
cores e odores. Nesse emaranhado de pensamentos nos valemos do trabalho de campo realizado no
dia 12 de maio do corrente ano às ruas da Cidade de Manaus. Cidade cujas misérias gostaríamos de
esquecer e, de cujos encantos nos mantém presos
Este artigo discute a construção de um corredor turístico e cultural entre o antigo bairro de São
CORREDOR CULTURAL E TURÍSTICO SÃO VICENTE: REVIVENDO A Vicente (entorno da Ilha de São Vicente), passando pela Praça da Matriz até a Praça Heliodoro Balbi, a
19 2011
HISTÓRIA DE MANAUS fim de estimular a visitação guiada neste primeiro bairro da Cidade de Manaus, hoje, compondo o
centro histórico.
43

N° Título Resumo Ano


a Catedral Metropolitana de Manaus, Igreja Nossa Senhora da Conceição, surgiu de uma capela
carmelita construída no século XVII, e depois de muitas reconstruções recebeu vários acréscimos
DA CAPELA CARMELITA À CATEDRAL METROPOLITANA DE MANAUS
20 durante os anos até atingir a dimensão atual. A pesquisa arqueológica na Catedral Metropolitana de 2007
(AM): UMA ARQUEOLOGIA DA ARQUITETURA
Manaus ocorreu entre os dias 15 de abril e 06 de outubro de 2002. Neste período foram realizados
trabalhos no edifício, concentrados na sacristia oeste da igreja, nave central e varanda oeste.
Propõe-se discutir, ainda que inicialmente, as dinâmicas de inserção de indígenas em cidades
DIMENSÕES DO URBANO: O QUE AS NARRATIVAS INDÍGENAS
brasileiras e refletir acerca de suas percepções sobre o espaço urbano. O foco recai sobre o contexto
21 REVELAM SOBRE A CIDADE? CONSIDERAÇÕES DOS BARÉ SOBRE 2014
amazônico (particularmente, a cidade de Manaus) e apresenta as percepções de um grupo de índios
MANAUS, AM.
Barés sobre o lugar.
O objetivo deste texto é analisar o processo de institucionalização do movimento social por moradia,
que desenvolveu um amplo processo de ocupações de áreas urbanas nas décadas de 1980 e 19902 na
cidade de Manaus, considerando a trajetória do segmento específico deste movimento, incorporado
22 DIREITO À MORADIA NA CIDADE DE MANAUS ao órgão da administração municipal, em 1993. Abordaremos também como o processo de 2018
institucionalização do movimento colocou em evidência a funcionalidade das ocupações para o poder
público em Manaus, visto a fragilidade das políticas públicas
direcionadas para o setor.
O lugar que é hoje uma das principais avenidas da área central de Manaus era no século XIX o Igarapé
do Espírito Santo, por onde transitavam as canoas que vinham do Rio Negro à cidade. Na segunda
metade do século XIX com o início do apogeu da borracha, vários igarapés da área central foram
aterrados, dentre os quais, aquele que passaria a comportar a Avenida Eduardo Ribeiro. Esse apogeu
DO CAMINHO DE CANOA ÀS ESCADAS DOS ARRANHA-CÉUS: AVENIDA fez com que retomado o processo de crescimento da cidade com a implantação da Zona Franca de
23 2016
EDUARDO RIBEIRO, MANAUS, AMAZONAS. Manaus a avenida se tornasse palco do início da verticalização na cidade, onde prédios do século XIX
são demolidos para dá origem a edifícios. A partir de pesquisa bibliográfica e de estudos “in loco”
busca-se reconstituir o papel que a Avenida Eduardo Ribeiro teve na dinâmica da produção do espaço
urbano na cidade, a partir da instalação da Zona Franca de Manaus. Palavras-chaves: Manaus;
Verticalização; Ruas e avenidas.
DO DISCURSO À CIDADE POLÍTICAS DE PATRIMÔNIO E A O trabalho intitulado Do Discurso à Cidade: Políticas de Patrimônio e a Construção do Espaço Público
24 CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO NO CENTRO HISTÓRICO DE no Centro Histórico de Manaus discute a concepção de patrimônio em Manaus no final do século XX e 2014
MANAUS início do século XXI, especificamente o período de 1997 a 2012.
O presente artigo tem como objetivo central analisar as imagens que se construíram de Manaus
durante o período da chamada “estagnação econômica da região”. Destacando as principais demandas
ENTRE À PARIS DOS TRÓPICOS À MIAMI BRASILEIRA: AS IMAGENS DA
25 da cidade de Manaus durante o período marcado pela crise econômica, principalmente após o fim da 2015
CIDADE DE MANAUS DURANTE A ESTAGNAÇÃO ECONÔMICA.
Segunda Guerra Mundial e os anos que antecedem a instalação do Projeto Zona Franca e Distrito
Industrial de Manaus.
44

N° Título Resumo Ano


Esta dissertação apresenta a espacialização da verticalização em Manaus dos anos 1970 a 2010,
ESPAÇO E TEMPO NA CIDADE DE MANAUS: PROCESSO DE
26 demonstrando o crescimento de construções de empreendimentos verticais com gabarito superior a 4 2016
VERTICALIZAÇÃO 1970 A 2010.
(quatro) pavimentos a partir dos anos 1970, concentrados principalmente no centro da cidade.
De acordo com a Organização Mundial do Turismo entende-se por fluxo turístico "o movimento, ou
FLUXO DE TURISTAS DOMÉSTICOS E INTERNACIONAIS NA HOTELARIA
27 deslocamento de pessoas de uma origem ou núcleo emissor a um destino ou núcleo receptor". 2019
URBANA DE MANAUS ANOS 1983 -2018
[AMPARO, 2005, p23].
Com esta dissertação buscou-se apresentar um panorama da Gestão da Conservação do Patrimônio
GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO CENTRO Cultural do Centro Histórico de Manaus, no período de 1997 a 2009 e, ao introduzir determinados
28 2013
HISTÓRICO DE MANAUS: 1997-2009 teóricos do campo, procurou-se esclarecer os fundamentos e conceitos que permeiam o pensamento
ocidental, os princípios éticos e as práticas de intervenções em Centros Históricos.
“Imposições da Modernidade no Cotidiano e Culturas Populares da Manaus da Borracha ”, acerca-se
da tensão social cotidiana, fruto do modo de vida moderno versus a manutenção das culturas
populares na Manaus da Borracha, período de transformação urbanística e arquitetônica da cidade,
alicerçada na economia gomífera. O estudo foi traçado com o objetivo de evidenciar um processo
IMPOSIÇÕES DA MODERNIDADE NO COTIDIANO E CULTURAS histórico dinâmico e múltiplo, permeado de oposições, conciliações, permanências e rupturas,
30 POPULARES DA MANAUS DA BORRACHA AUTOR PAULO MARREIRO traçando perfis das relações de convivência que envolveram problemas, lutas, experiência, tensões, 2014
DOS SANTOS JÚNIOR procurando alcançar os múltiplos sentidos dos populares da cidade. Entende-se que a pesquisa tenha
sua importância local, regional e nacional, pois se questiona o discurso hegemônico que mistificou o
ufanismo da Manaus da Borracha no decorrer do processo histórico, vendo-a como moderna e, por
isso, ausente de categorias populares, sem contrastes, sem tensões, sem pobreza, caracterizando-a de
forma unicamente apologética.
Dados referentes ao Índice de Desenvolvimento Humano- IDH para o Amazonas e Manaus, levantados
31 INDICADORES SOCIOENÔMICOS DO AMAZONAS E MANAUS 2019
no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística...
Neste artigo são tratados mecanismos sociais que permitem aos indígenas manterem os laços
sistemáticos com a aldeia e a afirmação de sua identidade étnica na cidade. O que implica na
organização indígena em torno das associações étnicas, multiétnicas e de gênero e a luta por políticas
INDÍGENAS NA METRÓPOLE: LUTAS MULTIÉTNICAS E IDENTIDADE diferenciadas no contexto urbano. Trata-se de uma identidade dinâmica que se atualiza diante dos
32 2015
COLETIVA NA CIDADE DE MANAUS (AM) pedidos da vida citadina na contemporaneidade, onde os indígenas estão adaptando sua cultura de
forma criativa por meio de estratégias por eles definidas. Não estão, com isso, querendo se
transformar em brancos. Esses são aspectos relevantes da análise das múltiplas etnias que vivem na
cidade de Manaus (AM), na Amazônia brasileira.
45

N° Título Resumo Ano


A presente pesquisa tem como principal interesse conhecer as técnicas de interpretação do
patrimônio que são utilizados nos atrativos culturais do Centro Histórico de Manaus, pois o patrimônio
vai além da contemplação, ele deve envolver o visitante com conhecimento, otimizando e qualificando
INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO: UMA ANÁLISE NOS ATRATIVOS a experiência turística da visita. Assim sendo, o estudo teve como objetivo geral: Analisar quais
33 CULTURAIS DO CENTRO HISTÓRICO DE recursos interpretativos do patrimônio são utilizados pelos atrativos culturais do Centro Histórico de 2019
MANAUS/AMMANAUS/AM2019 Manaus. E quanto aos objetivos específicos: Descrever os aspectos históricos e legais do patrimônio
edificado no Centro Histórico de Manaus; identificar o uso das técnicas de interpretação do patrimônio
nos atrativos culturais; e analisar as mídias interpretativas utilizadas pelos atrativos culturais do centro
histórico.
La Belle Vitrine: o mito do progresso na refundação da cidade de Manaus – 1890/1900 propõe uma
discussão sobre a reforma urbana ocorrida na capital do Amazonas, na última década do século XIX,
LA BELLE VITRINE: O MITO DO PROGRESSO NA REFUNDAÇÃO DE
34 como um recurso retórico aplicado pelo Estado. Tratava-se de um projeto de propaganda baseado na 2005
MANAUS (1890/1900)
concepção de progresso e modernidade que pretendia desfazer a imagem negativa da região e atrair
investidores e trabalhadores.
Antigo igarapé do Espírito Santo, canalizado no final do século XIX, seguindo um modelo europeu de
35 LOGRADOUROS AVENIDA EDUARDO RIBEIRO arquitetura e urbanismo, a avenida foi projetada para ser o cartão postal da cidade no coração da 2019
Floresta Amazônica.
O artigo busca contribuir com o debate acerca das intervenções urbanísticas motivados pela Copa do
Mundo de 2014, enfocando preliminarmente uma síntese da evolução histórica da cidade de Manaus
MANAUS NA ROTA DA COPA E O DILEMA DE MUDAR COM O atenta ao estabelecimento de marcos do seu patrimônio histórico, para então estabelecer
36 2010
PASSADO OU CONTRA O PASSADO preocupações e ponderações ao mais recente projeto modernizador, notadamente quanto à
possibilidade de a implantação do Transporte Modal Monotrilho vir a causar impactos e danos
significativos ao patrimônio histórico da cidade de Manaus.
O presente trabalho estuda o processo de evolução urbana da cidade de Manaus, a arquitetura da
MANAUS, UM ESTUDO DE SEU PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO E
37 Amazônia do início de sua colonização aos dias de hoje, e as características de sua estrutura física que 2006
URBANO
têm contribuído, ou não, com a construção e a preservação de seu patrimônio cultural.
O presente trabalho faz um levantamento hist6rico do Mercado Municipal de Manaus, procurando
destacar as mudanças ocorridas não somente nos aspectos formais da construção, mas também tenta
38 MERCADO ADOLPHO LISBOA HISTÓRIA E ARQUITETURA evidenciar a íntima e direta vinculação do sistema de produção e abastecimento de produtos 2018
alimentícios da região, assim como a relação das oscilações econômicas sobre as ofertas e movimento
do mercado.
46

N° Título Resumo Ano


Este trabalho tem como objetivo analisar o Mercado Adolpho Lisboa enquanto “lugar” das interações
de diversos agentes e, como tal, constituinte da “paisagem cultural” da área portuária de Manaus.
Paisagem cultural entendida dentro da concepção da “Nova Geografia Cultural”, que percebe a
paisagem com um texto a ser lido e, que apresenta aspectos, tanto subjetivos quanto objetivos. No
MERCADO ADOLPHO LISBOA: CHEIROS, SONS E IMAGENS, UMA
39 primeiro capítulo trabalhar-se-á o Mercado Adolpho Lisboa a partir do conceito de espaço vivido dos 2008
ABORDAGEM SIMBÓLICA
permissionários. O mercado como palco das relações interpessoais entre os homens que lá se
encontram. O espaço dos sentimentos onde há criação de cultura, ou seja, o mercado cultural, elo do
urbano com seu entorno. No segundo capítulo a ênfase dar-se-á na dinâmica da paisagem cultural do
Mercado a partir da percepção de mundo dos permissionários e da História do próprio Mercado
A importância de se entender a cidade de Manaus a partir da produção da moradia é que ela
possibilita unificar os vários campos de análise urbana, especialmente quando se observa que os atuais
problemas da sociedade parecem ser cada vez mais articulados como problemas de natureza espacial.
Deste modo, a análise do texto está centrada nos conjuntos habitacionais que se constituíram como
MERCATOR - CONJUNTOS HABITACIONAIS E A EXPANSÃO URBANA
vetores da expansão da cidade de Manaus fazendo-se necessário a retomada de períodos anteriores, o
40 DE MANAUS. FILIGRAMAS DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO URBANA 2007
que, possibilita afirmar que a forma de produção da moradia na cidade contém e configura uma teia
E O PAPEL DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS.
de relações sociais, conjuntos de interesses, ao mesmo tempo que explicita as práticas administrativas,
hierarquicamente estruturadas. Compreender estas dimensões e o processo que resultou no mosaico
de ocupação da cidade, os tipos de habitação, permitem demonstrar o papel do Estado na produção
da moradia, seja pela sua presença, seja pela sua ausência.
O presente trabalho volta-se para a análise sobre os processos de construção e apropriação do espaço
NAS FRONTEIRAS DA SEXUALIDADE: UMA ANÁLISE SOBRE OS
em boates GLS do centro de Manaus. Neste sentido, busca problematizar acerca das diferentes
42 PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO E APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO EM 2009
representações que os vários agentes sociais possuem sobre estes espaços e ao mesmo tempo busca
BOATES GLS DO CENTRO DA CIDADE DE MANAUS”
refletir sobre os diferentes significados que perpassam uma boate GLS.
43 NORMATIZAÇÃO DE CIDADES HISTÓRICAS Orientações para a elaboração de diretrizes e Normas de Preservação para áreas urbanas tombadas. 2011
O DESFLORESTAMENTO NA METRÓPOLE DA AMAZÔNIA CENTRAL: Este artigo apresenta uma dinâmica análise espacial e temporal (1978-2008) do desflorestamento em
44 2011
MANAUS/AM Manaus, Amazonas, Brasil.
Este artigo está dividido em três partes. Na primeira parte, é analisado a história do direito à cidade no
século XX e no início do século XXI, focando nas principais legislações urbanísticas deste período. Em
uma segunda parte, é estudado os planos diretores participativos, sua evolução e observado como eles
O DIREITO À CIDADE E À PARTICIPAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO DO
45 podem vir a ser um importante mecanismo dedesenvolvimento de uma cidade mais democrática. A 2012
PLANO DIRETOR DE MANAUS, AMAZONAS
terceira parte a ser analisada será um estudo de caso sobre o plano diretor participativo de Manaus,
Amazonas, com ênfase nos aspectos da participação no processo de desenvolvimento urbano da
cidade.
Apresenta dados relacionados a origem dos visitantes no Teatro Amazonas no período de 1997-2018,
46 O FLUXO DE VISITANTES NO TEATRO AMAZONAS ANOS 1997 - 2018 2019
bem como expõe o quantitativo de pessoas que visitaram a edificação no período em questão.
47

N° Título Resumo Ano


O PATRIMÔNIO CULTURAL E A CIDADE: UMA ANÁLISE DOS O trabalho aborda a relação entre o patrimônio cultural e a cidade. É uma relação caracterizada pelo
47 CONFLITOS RELACIONADOS AO TOMBAMENTO DO CENTRO ANTIGO conflito entre a cultura dominante e a cultura dominada, a diversidade cultural e a unidade cultural, a 2013
E DO CENTRO HISTÓRICO DE MANAUS industrialização e a urbanização, o valor de uso e o valor de troca.
Neste trabalho, analisamos a história da cidade de Manaus no período de 1910-1940, por meio de sua
forma física, considerando os edifícios, as ruas, os bairros, as pontes, as estradas entre outros, como
50 OUTRAS FACES DA HISTÓRIA: MANAUS DE 1910 - 1940 2008
momentos e partes de um todo que é a cidade, porque ela só se torna compreensível mediante o
estudo de suas diversas manifestações e comportamentos.
questão. A presente pesquisa teve como objetivo identificar quais medidas poderia o poder público
PASSADO E PRESENTE DO PATRIMÔNIO EDIFICADO DE MANAUS: realizar para que essas construções ganhem uma nova importância social sem que percam o seu valor
51 IDENTIDADE, USO E RESSIGNIFICAÇÃO COMO FORMA DE histórico e cultural, apontando as dificuldades que o mesmo enfrenta para promover tais ações e 2017
PRESERVAÇÃO evidenciar a necessidade da preservação dos prédios históricos no centro de Manaus ao tempo que se
identifica gradativamente o abandono de uma parcela desses
Dispõe sobre o Plano Diretor Urbano e Ambiental do Município de Manaus e dá outras providências.
52 PLANO DIRETOR URBANO E AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE MANAUS 2014
Lei Complementar Nº 002, DE 16 DE JANEIRO DE 2014.
Esta pesquisa buscou avaliar o processo de tomada de decisão do poder público municipal sob a ótica
do ciclo de políticas públicas sugeridas por Secchi (2014). Para isso definiram-se como objetivos
POLÍTICAS PÚBLICAS DE REQUALIFICAÇÃO DE ÁREAS CENTRAIS DE específicos: compreender como foi a tomada de decisão do poder público através da instituição de
53 CIDADES: O PROCESSO DE REQUALIFICAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO uma secretaria municipal específica para gerir o Centro; descrever as etapas de formulação e 2016
DE MANAUS implementação da política, relatando o processo de criação da secretaria específica; verificar como
estão sendo executadas as ações no Centro Histórico de Manaus e investigar as perspectivas de
continuidade dessa política
O objetivo da pesquisa foi o de investigar as condições de acessibilidade dos turistas com deficiência
POLÍTICAS PÚBLICAS E ACESSIBILIDADE: ANÁLISE EM EQUIPAMENTOS física em dois equipamentos turísticos (históricos e culturais) das cidades de Manaus/AM e Natal/RN.
54 TURÍSTICOS DE MANAUS/AM E NATAL/RN. ONDE ESTAMOS E ONDE Por meio da identificação das políticas públicas de acessibilidade vigentes e suas diretrizes, verificou-se 2015
QUEREMOS CHEGAR? como estão sendo planejadas e executadas ações de acessibilidade e, se as mesmas estão
proporcionando ou não a democratização para seus usuários.
O objetivo desse trabalho foi refletir sobre a relação entre o homem e espaços públicos nas cidades
contemporâneas, estabelecendo uma análise sobre as novas formas de utilização da Praça da Matriz,
espaço que por muitos anos foi voltado à sociabilidade e hoje se encontra abandonada pelo poder
55 PRAÇA DA MATRIZ: IMAGEM, MEMÓRIA E SOCIABILIDADE público e esquecida pela população. Indaga-se sobre como seria possível a população perceber e 2015
valorizar um local que vem desaparecendo com o passar dos anos, devido a constantes
transformações urbanísticas. Para responder essa questão, buscou-se evidenciar a relevância
sociocultural e histórica dessa praça
48

N° Título Resumo Ano


Este estudo com base na teoria do espaço turístico de Boullón (2002) com uso das categorias de
análise ponto focal e área de influência visual, com contribuição de Duarte (2007) acerca do
planejamento urbanístico, se aplica à Praça 5 de Setembro (popularmente conhecida como Praça da
PRAÇA DA SAUDADE: ESTUDO DO POTENCIAL TURÍSTICO DE UM
56 Saudade) localizada no bairro Centro, em Manaus. De relevância por seu histórico e acervo, em 2010 a 2019
MARCO HISTÓRICO DE MANAUS/AM
Praça foi revitalizada, mas, devido ausência de ações efetivas para o seu uso potencial, não cumpre
com sua função social, e abandonada, compromete o seu valor enquanto patrimônio. Contemplando o
objetivo geral, a pesquisa apresenta uma análise das condições do ambiente, em seu entorno imediato
O presente artigo tem como principal objetivo apresentar um estudo sobre a trajetória da Praça da
Saudade e sua representação como parte integrante do patrimônio histórico e cultural da cidade de
Manaus. Porém para que isso fosse possível elaboramos, pesquisas documentais e bibliográficas sobre
as fontes para podermos escrever esse artigo. Depois de realizada as pesquisas e estudos sobre a
PRAÇA DA SAUDADE: PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DA história das Praças, partimos para nossa etapa seguinte, que tem como meta principal uma reflexão
57 2017
CIDADE DE MANAUS - sobre a Praça da Saudade situada em Manaus, com o intuito de conhecer sua história desde a
fundação aos dias atuais. Chegando à conclusão de que a Praça da Saudade se torna um objeto de
estudo com grande relevância para o entendimento da história regional, pois guarda em si muitos
recursos históricos que relatam o passado e o momento recente da Capital e de todo o estado do
Amazonas, desde sua emancipação política e econômica aos dias
O presente artigo tem como objetivo colocar em discussão a situação preocupante em que se
PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E PRESERVAÇÃO EM DEBATE:
58 encontram os sítios arqueológicos na área urbana de Manaus/AM, buscando refletir sobre as 2010
ASPECTOS DA ARQUEOLOGIA NA CIDADE DE MANAUS
possibilidades de reversão deste quadro.
RECONSTRUINDO A BELLE ÉPOQUE MANAUARA: PROJETO DE Este trabalho propõe-se a analisar o Projeto Manaus Belle Époque, desenvolvido pela Secretaria de
59 REVITALIZAÇÃO DO ENTORNO DO TEATRO AMAZONAS E DA PRAÇA Estado da Cultura do Amazonas, em sua etapa Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e da 2006
DE SÃO SEBASTIÃO Praça de São Sebastião, um de seus principais cartões postais.
REFORMA URBANA NAS CIDADES DE MANAUS (AM) E RIO BRANCO
Neste artigo apresenta-se uma análise das mudanças paisagísticas nas cidades de Rio Branco e
60 (AC): ENTRE O “DESLOCAMENTO” FORÇADO E A “DESPOSSESSÃO” DE 2013
Manaus, empreendidas pelo poder público na última década.
BENS MATERIAIS E SIMBÓLICOS
Tombado como monumento nacional pelo IPHAN em 1985 e inscrito no Livro
Histórico e Livro de Belas Artes, o Reservatório do Mocó, na cidade de Manaus/AM,
fez parte de um estudo temático sobre a rede nacional de abastecimento de água,
RESERVATÓRIO DO MOCÓ ESTUDO DE DEIMITAÇÃO DO ENTORNO
61 desenvolvido pelo IPHAN nos primeiros anos de 1980, estudo este que considerou 2008
IMEDIATO
inúmeros componentes desse sistema nas principais cidades brasileiras e que resultou
no tombamento deste e de outros exemplares significativos para a história do
abastecimento de água no Brasil.
49

N° Título Resumo Ano


Este artigo é um estudo sobre a cidade de Manaus, do período correspondente ao final do século XIX e
início do XX, quando sofreu inúmeras transformações, visando adaptar-se ao capitalismo internacional.
SOCIEDADES ENTRE IGARAPÉS: AS DUAS FACES DA BELA MANAÓS - Esse interesse levou os administradores daquela época a seguirem um projeto de modernidade que
62 2016
THIAGO OLIVEIRA NETO E RICARDO JOSÉ BATISTA NOGUEIRA mudaria a paisagem, deixando-a mais atraente aos imigrantes. Essa mudança, consequentemente,
alterou os hábitos da população e, lógico, ocorreu à custa da segregação social, que excluía os pobres
da zona urbana da cidade por meio de seu Código de Postura.
A pesquisa sobre os territórios dos garotos de programa na área central de Manaus buscou entender a
relação que esses profissionais do sexo possuem com os seus territórios, seja em espaços públicos ou
TERRITÓRIOS INVISÍVEIS: TERRITORIALIDADES DOS GAROTOS DE
63 privados. Os ambientes de prostituição permitem compreender a realidade dos michês e a organização 2009
PROGRAMA NA ÁREA CENTRAL DE MANAUS
dos microterritórios em áreas urbanas, contribuindo com novos debates a respeito do território e da
territorialidade.
Esta investigação é norteada por três marcos direcionais: o primeiro deles diz respeito ao
conhecimento da realidade que cerca os atores sociais do entorno da Praça da Matriz, em Manaus,
cujo principal meio de vida é extraído de ocupações informais; um segundo marco direcional está na
tentativa de entender a instituição deste espaço
TRABALHO INFORMAL E REDES SOCIAIS: OS CAMELÔS DA PRAÇA DA como escolha racional e que leva a tessitura de laços fortes e fracos entre os próprios indivíduos e os
64 2009
MATRIZ EM MANAUS grupos que se formam, as organizações privadas e representativas e a regulação do poder público
sobre esta configuração; finalmente, o terceiro marco
reside na identificação, dentro do processo de interação dos atores, dos nós que surgem formando
uma rede específica e produzindo novas dimensões para a abordagem teórica e da práxis de um
contexto de integração precária e contraditória.
Essa pesquisa analisa as múltiplas visões de mundo e vozes representadas nos discursos que se
confrontaram sobre a arqueologia no Paço da Liberdade a partir do enfoque interdisciplinar entre
VISÕES DE MUNDO UMA ETNOGRAFIA DO FAZER ARQUEOLÓGICO
65 antropologia e arqueologia, correlacionando os paradigmas teóricos que apontam como objeto de 2017
NO PAÇO DA LIBERDADE - MANAUS-AM
estudo, práticas arqueológicas que culminaram em uma exposição da arqueologia no subsolo de uma
sala do edifício, que neste trabalho, proponho conceituar como musealização arqueológica in situ.
50

7. O trabalho de pesquisa
Conforme destacado na introdução, o processo que levou a realização dessa pesquisa
iniciou-se na semana de 29/07/2019 a 01/08/2019 e envolveu a realização de um conjunto de
atividades denominadas “percepções iniciais”, nas quais o consultor da Unesco Antônio
Miguel Lopes de Souza orientou os técnicos do Iphan quanto a formulação da normativa do
Centro Histórico de Manaus, utilizando, entre outros recursos, a demonstração de diversos
estudos de caso.
O objetivo dos exercícios referentes às “percepções iniciais” foi começar, de fato, os
trabalhos voltados para a elaboração da normativa em questão. Essa etapa transcorreu sem
a participação dos estagiários da Universidade do Estado do Amazonas-UEA, uma vez que a
parceria IPHAN-AM e Observatur-UEA foi firmada em fins do mês de setembro de 2019, assim
os estudantes juntaram-se aos técnicos do Iphan a partir do início de outubro de 2019.
Assim, uma breve capacitação dos estagiários da Rede Observatur-UEA (estudantes de
turismo da Universidade do Estado do Amazonas) foi realizada pelos técnicos do IPHAN-AM.
A capacitação buscou esclarecer os objetivos da pesquisa e as metodologias a serem aplicadas,
essa atividade foi empreendida nos dias 03 e 04 de outubro de 2019, na sede do IPHAN-AM.
Já na semana seguinte aconteceram reuniões de alinhamento com todos os membros da
equipe de pesquisa, inicialmente tratou-se do planejamento e da logística do estudo de
campo, da escolha dos grupos e pessoas a serem consultados, bem como dos agendamentos
das oficinas e entrevistas, e da definição dos locais e dias para o início da atividade de
observação participante.
Ainda na segunda semana de outubro empreendeu-se uma oficina de mapa de
percepção com pesquisadores de diferentes universidades que abordam temas relacionados
ao Centro Histórico de Manaus (atividade realizada em 08/10/2019) e a primeira ida a campo
para realização da observação participante (atividade realizada em 09/10/2019). As semanas
seguintes envolveram uma série de encontros entre a equipe de pesquisa, nos quais foram
definidos os papéis de cada integrante em cada um dos exercícios a serem empreendidos,
bem como quais as atividades seriam realizadas posteriormente, além da definição das datas
e prazos para a entrega dos relatórios referentes aos exercícios de coleta de dados já
efetuados.
51

No entanto, oficialmente, a fase de coleta de dados teve início ainda no mês de agosto,
quando foi realizada a primeira oficina de mapas de percepção junto aos técnicos da
Superintendência do Iphan no Amazonas. Essa atividade, apesar de ter resultado em dados
importantes que também foram considerados na análise final da pesquisa, foi aplicada como
um laboratório da metodologia em questão e objetivou introduzi-la, bem como gerar dados
para uma análise prévia que, posteriormente, foi usada como modelo de aplicação e dos
diagnósticos presentes nos relatórios. Considerando este primeiro exercício, a pesquisa de
campo teve duração média de quatro meses (entre meados de agosto e início de dezembro
de 2019), sendo a primeira atividade realizada em 22/08/2019 e a última no dia 06/12/2019.
Figura 12: Mestres e Artífices da SEC-AM apresentam seu mapa.

No decurso do estudo de campo, empreendeu-se uma pesquisa bibliográfica a partir


de dissertações, teses, artigos, monografias, entre outras produções, que abordam o Centro
Histórico de Manaus. Esse exercício teve como objetivo o embasamento de temas discutidos
nos relatórios das atividades, a ampliação dos conhecimentos acerca do objeto de estudo,
bem como a composição deste trabalho como um dossiê de pesquisa.
O cronograma inicial da pesquisa indicava que o levantamento de dados seria
realizado, em sua totalidade, durante o mês de outubro, contudo, essa fase do estudo foi
prolongada até a primeira semana do mês de dezembro devido ao acréscimo de novos grupos
focais a serem consultados, bem como por conta das dificuldades em agendar oficinas de
52

mapas de percepção e/ou entrevistas com alguns indivíduos e grupos pré-estabelecidos. Vale
ressaltar que no decurso da pesquisa a equipe deparou-se com dificuldades relacionadas à
disponibilidade e a “vontade” de determinados indivíduos e grupos escolhidos previamente
em participar do estudo, fato que, posteriormente, ocasionou na substituição deles. Contudo,
esses pequenos contratempos e adaptações não prejudicaram o andamento do estudo nem
o procedimento de coleta de dados.
Figura 13: Oficina de Mapa de Percepção com Mestres de Capoeira antigos de Manaus.

Nos meses de novembro e dezembro, a produção dos relatórios de observação


participante, dos mapas de percepção e das entrevistas individuais foi iniciada, essa fase da
pesquisa transcorreu paralelamente ao levantamento de dados até o dia 06 de dezembro,
quando a última oficina de mapa de percepção foi realizada. Do dia 06 ao dia 20 de dezembro,
a equipe concentrou-se na elaboração dos relatórios referentes aos exercícios empreendidos
ao longo do estudo de campo (estes relatórios compõem a terceira parte desse dossiê).
É importante registrar que a pesquisa de campo resultou em um quantitativo de dados
bastante expressivo. Desta forma, cabe apresentar as atividades efetuadas e os números
referentes a cada uma delas.
53

A aplicação da metodologia dos mapas de percepção resultou em 31 mapas produzidos


em 08 oficinas realizadas no período de agosto a dezembro de 2019, sendo consultados os
seguintes grupos: Técnicos do Iphan-AM (oficina realizada em 22/08/2019), Moradores da Ilha
de São Vicente (oficina realizada em 23/10/2019), Estagiários do Museu da Cidade de Manaus
(oficina realizada em 25/10/2019), Artífices da Secretaria de Estado da Cultura do Amazonas
–SEC (oficina realizada em 22/10/2019), Mestres de Capoeira (oficina realizada em
14/10/2019), Moradoras do entorno do Teatro Amazonas (oficina realizada entre os dias 02 e
06/12/2019), Membros da Associação Comercial do Amazonas –ACA (oficina realizada em
04/12/2019) e Pesquisadores do Centro Histórico de Manaus (oficina realizada em
08/10/2019). No total, 79 pessoas participaram das oficinas de mapas de percepção e através
da análise dos mapas produzidos foram identificadas 73 referências culturais e seus
respectivos atributos.
Já as entrevistas individuais, foram realizadas entre os dias 23 de outubro e 04 de
dezembro de 2019 em que 04 pessoas foram consultadas através desta metodologia, são elas:
as senhoras Nazaré e Fátima (moradoras antigas da Ilha de São Vicente, entrevista realizada
em 23/10/2019); a senhora Ilza Garcia (moradora da área do entorno do Teatro Amazonas,
entrevista realizada em 04/12/2019); e o professor Otoni Mesquita (renomado pesquisador
do Centro Histórico de Manaus, entrevista realizada em 19/10/2019). Aproximadamente 08
horas de relatos foram registradas e, posteriormente, analisadas e parcialmente transcritas,
resultando em três relatórios.
Dois dias de observação participante foram empreendidos, sendo o primeiro no dia 09
de outubro e o segundo no dia 16 do mesmo mês. Aproximadamente 53 pessoas foram
abordadas pela equipe de pesquisa, que dividiu-se em três grupos no decorrer da atividade,
alguns dos locais visitados foram: as praças Antônio Bittencourt (do Congresso), 5 de
Setembro (da Saudade), 15 de Novembro (da Matriz), Torquato Tapajós (dos Remédios), Dom
Pedro II, Heliodoro Balbi (da Polícia) e São Sebastião (Praça e Largo), as avenidas Eduardo
Ribeiro e Sete de Setembro, as ruas 10 de Julho, Frei José dos Inocentes e Bernardo Ramos.
Foram, aproximadamente, 13 horas de observações e conversas que resultaram em 09
relatórios produzidos individualmente por todos os integrantes da equipe.
54

Figura 14: Oficina de Mapa de Percepção com estagiários do Museu da Cidade.

Os dados obtidos no decurso do estudo de campo mostram-se bastante relevantes


para a identificação dos locais e espaços considerados referências culturais pelos atores e
grupos sociais consultados, bem como das qualidades atribuídas a elas. Estes registros, por
sua vez, ajudarão a embasar a formulação das normativas do Centro Histórico de Manaus por
parte do Iphan.
55

Segunda parte: Resultados da


Pesquisa
56

8. Uma visão geral sobre o centro Histórico de Manaus


A formação do patrimônio cultural de Manaus é marcada por um processo tardio, se
comparado com a nacional, além de possuir certas peculiaridades que lhe fazem bastante
característica. Ainda que o protagonismo de sua materialização tenha dependido de atuação
governamental, também se destaca a participação social como elemento fundamental.
Antes, todavia, de adentrar no Centro Histórico da capital amazonense, faz-se
necessário compreender um pouco das transformações históricas dessa que é a sétima mais
populosa cidade brasileira.
Colonizada a partir do século XVII, de acordo com Monteiro (1998) e Reis (1989), na
região havia as etnias Aruaques, Barés, Tarumãs e Manaós, sendo que desses últimos deriva
a toponímia da cidade.
Dentro da lógica colonial imposta pelo Tratado de Tordesilhas, a parte ocidental da
hoje Amazônia brasileira pertencia à Espanha, todavia, com a instituição da União Ibérica
(1580-1640), o limite até então vigente acabou por cair por terra e tudo passou a pertencer a
um só monarca.
Não havendo qualquer impeditivo, e sabendo que aquela situação seria temporária,
os portugueses acabaram por avançar na colonização por todo o rio Amazonas e seus
afluentes, fundando entrepostos militares e comerciais, além de missões religiosas.
Destacam-se assim a atuação das seguintes ordens religiosas: Jesuítas, Mercedários,
Franciscanos e Carmelitas (Oliveira, 2017).
Temendo ataques de outras nações colonialistas, os portugueses decidiram construir
um fortim na confluência do Rio Solimões (Amazonas) e Rio Negro, o qual ficou pronto em
1669 e recebeu o nome de Forte de São José da Barra do Rio Negro. Tal construção marca a
fundação do que hoje é Manaus, apesar de anos antes já ter havido tentativas colonizadoras
na área. Por exemplo, no igarapé do Tarumã, o qual desemboca na margem esquerda do Rio
Negro, segundo Reis (1989, p. 66-67), existiu a Aldeia de Tauaquera, núcleo religioso fundado
em 1657 pelos jesuítas Francisco Velozo e Manoel Pires na foz do igarapé do Tarumã. A missão
foi abandonada em 1661, por ocasião da primeira expulsão dos jesuítas da Amazônia.
Com a assinatura do Tratado de Madri em 1750, e a consequente delimitação das
fronteiras da América do Sul entre Portugal e Espanha, a região que hoje é Manaus perdeu a
sua importância militar. No aspecto econômico, cabia a Belém a centralidade do comércio das
57

ditas “drogas do sertão”, limitando-se a hoje capital do Amazonas a ser um mero vilarejo sem
qualquer importância econômica e política.
Não obstante as mudanças que se seguiram por mais de dois séculos, como a
Independência do Brasil (1822) e a criação da Província do Amazonas (1850), Manaus
manteve-se como um povoado simples e pacato. Tudo mudou, entretanto, a partir da segunda
metade do século XIX com os efeitos da Revolução Industrial, a qual concentrava-se no
Hemisfério Norte e Japão.
Tendo sido descoberto o processo de vulcanização da borracha em 1838 por Charles
Goodyear, foi somente com o avanço da II Revolução Industrial que se compreendeu a
necessidade fundamental da borracha, qual seja, a de absorção do impacto nas junções das
peças mecânicas, que fizessem as engrenagens moverem-se suavemente sem desgastes, e
que possibilitasse a bicicletas e veículos automotores rodas pneumáticas (SOUZA, p. 257,
2009).
Figura 15: Habitação de um seringueiro na Selva Amazônica, 1865, circa.

Autor: Albert Frisch Fonte: Convênio Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, Leipzig/ Instituto Moreira Salles
Disponível em: < http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/4524>

Com o surgimento de uma demanda internacional pelo látex, a Amazônia tornou-se o


grande celeiro mundial de produção do material. Consequentemente, coube a Manaus uma
58

posição de protagonista, diante da sua localização que favorecia o contato entre os seringais,
onde se coletava o produto, com os mercados internacionais. (FIGURA 15).
Dessa forma, a cidade que até então era um vilarejo, passou por um rápido processo
de urbanização. Tendo como parâmetros os sistemas urbanísticos vigentes na Europa, a
capital amazonense pautou-se por abrir largas avenidas, servir sua população com energia
elétrica, transporte público e saneamento básico. Paralelamente, as antigas casas foram
demolidas para serem ocupadas por palacetes e palácios seguindo o estilo arquitetônico do
Ecletismo. (FIGURA 16).
Figura 16: Panorama de Manaus, com destaque para o Teatro Amazonas, 1896, circa.

Autor: George Huebner Fonte: Álbum Vistas de Manaus - Mestres do Séc. XIX - Instituto Moreira Salles
Disponível em: < http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/1849>

A opulência do Ciclo da Borracha vigorou de 1879 a 1912, oportunidade em que os


seringais do Sudeste Asiático, parte de colônias britânicas, suplantaram a produção amazônica
do látex. Naturalmente a região entrou em um vertiginoso processo de crise econômico-
social, marcado pelo êxodo rural e crescimento desordenado das principais cidades - Belém e
Manaus.
A despeito disso, os edifícios que testemunharam o apogeu da economia gomífera não
sofreram grandes alterações, e acabaram por ser mantidos, não por saudosismo ou orgulho,
59

mas por necessidade e ausência de recursos financeiros para o erguimento de novas


edificações.
Tudo mudou, entretanto, em 1967. Com a promulgação do Decreto-Lei nº
288/1967, regulou-se a Zona Franca de Manaus, e a cidade iniciou um novo ciclo econômico,
marcado não mais pelo extrativismo vegetal, mas pelo comércio e pela indústria.
Agora sim, com novas necessidades e recursos, a cidade passou por um novo processo
de urbanização, o qual pautou-se desde a adaptação dos edifícios dos tempos da borracha,
até sua demolição para dar espaço a novos prédios. Surgiram então os primeiros “arranha-
céus” e shopping centers. (FIGURA 17).
Figura 17: Praça XV de Novembro, 2018.

Autor: Naldo Arruda Fonte: Wikimedia Commons Disponível em:


<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pra%C3%A7a_XV_de_Novembro_(Manaus).jpg>

Por ser um momento de extremas mudanças sociais, econômicas e arquitetônicas,


todo aquele modo de vida que se seguiu entre 1912 e 1967 se transformou repentinamente.
Nesse momento da Zona Franca surgiram então as primeiras movimentações acerca da
valorização da memória e da identidade manauaras.
Inicialmente pode-se mencionar a publicação de livros com tais temáticas saudosistas.
Destacam-se as obras de Thiago de Mello (“Manaus, Amor e Memória”, de 1983), Jefferson
Péres (“Manaus: como eu a vi ou sonhei”, de 1984) e Moacir Andrade (“Manaus: ruas,
fachadas e varandas”, de 1984).
60

Um dos marcos das mudanças empreendidas pelo estabelecimento da Zona Franca de


Manaus foi o episódio da demolição do “Cine Guarany”. Considerado um dos primeiros
cinemas do Brasil, sendo inaugurado em 1907, sua demolição em 1984 foi precedida de uma
ampla mobilização da sociedade civil em defesa daquele icônico edifício. De acordo com
Abrahim (2003), o cinema desencadeou um processo de mobilização social pela defesa de seu
patrimônio, o qual acabou levando à publicação inclusive de um livro-manifesto intitulado de
“Hoje tem Guarany!”.
Figura 18: Cine Guarany, década de 1970.

Autor: Desconhecido Fonte: Instituto Durango Duarte Disponível em: < https://idd.org.br/acervo/cine-
guarany-decada-de-70/cine-guarany-decada-de-70-2/>

A demolição de tal edificação não foi um episódio isolado, mas talvez tenha sido o
estopim para uma reação social e governamental em defesa do patrimônio cultural. Não
obstante já haver desde a década de 1970 uma norma estadual de proteção, a qual foi
atualizada em 1982, seu uso limitou-se aos imóveis públicos e eclesiásticos, deixando os
particulares sem qualquer tutela jurídica.
Dessa forma, criada uma consciência coletiva acerca do assunto, a Prefeitura Municipal
de Manaus baixou o Decreto Municipal nº 4.673, de 17 de maio de 1985, criando o setor
especial das unidades de interesse de preservação, considerado um marco importante na
preservação do patrimônio histórico pela municipalidade.
61

Já no âmbito federal, é sabido que desde 1937 está em vigor o Decreto-Lei nº 25, o
qual contém o procedimento de tombamento de bens de valor cultural, bem como estipula
sanções administrativas por sanções aos seus dispositivos legais. Sobre o tombamento,
destaca-se:

O vocábulo tombamento é de origem antiga e provém do verbo tombar, que


no Direito português tem o sentido de inventariar, registrar ou inscrever
bens. O inventário dos bens era feito no Livro do Tombo, o qual assim se
denominava porque guardado na Torre do Tombo. Neste local ficam
depositados os arquivos de Portugal. Por extensão semântica, o termo
passou a representar todo registro indicativo de bens sob a proteção especial
do Poder Público. (CARVALHO FILHO, 2017, p. 442)

Cabe nessa esfera ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),


dentro de critérios técnicos estabelecidos pelo próprio órgão, a valoração de bens dentro do
que considera como patrimônio cultural brasileiro. Na década de 1930 entedia-se como
“patrimônio histórico e artístico” os bens móveis e imóveis com vinculação a fatos
memoráveis da história do Brasil.
A partir da década de 1980, entretanto, ampliou-se tal conceito para abarcar bens de
referência à memória, à identidade e à ação dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira. Com a Constituição de 1988 foi consagrado então o conceito de patrimônio cultural.
Sabendo disso, encontram-se tombados pela União os seguintes bens localizados em
Manaus: o Teatro Amazonas (1966), Reservatório do Mocó (1985), Mercado Municipal Adolfo
Lisboa (1987), Conjunto Arquitetônico do Porto de Manaus (1987), Encontro das Águas dos
rios Negro e Solimões (2010) e o Centro Histórico de Manaus (2010).
Em relação ao Teatro Amazonas, importante destacar que seu reconhecimento pode
ser considerado como um ponto fora da curva, conforme se observa:

Dentro da perspectiva de um processo de construção do patrimônio


amazonense, o tombamento do Teatro Amazonas, em 1966, foi um fato
isolado, no tempo e no espaço. Longe de se constituir num ato inaugural do
processo de reconhecimento dos valores existentes no Estado, produziu um
efeito de ‘registro de exclusão’ ao resto das edificações existentes em
Manaus e até mais antigas que o Teatro […] (ABRAHIM, 2003, p. 60)

Ainda que de forma bastante tímida, houve três tombamentos no Amazonas que se
destacaram dentro do espírito de reformulação do entendimento acerca de patrimônio
cultural. Destaca-se que os três bens acautelados se filiam ao estilo arquitetônico do
62

Ecletismo, até então ignorado pelas políticas públicas federais de acautelamento do


Patrimônio Cultural. Cenário que somente mudou a partir da década de 1970.
Figura 19: Teatro Amazonas, 2016.

Autor: Alexinaldo Granela Borja Fonte: Wikimedia Commons Disponível em: <
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:03_-_Teatro_Amazonas.jpg>

Não obstante tal mudança, nas décadas que sucederam a promulgação da nova Carta
Constitucional houve uma nova movimentação no sentido de ampliar o acervo tombado como
patrimônio cultural brasileiro. Sobre isso, destaca-se:

A ampliação do estoque patrimonial do Brasil tem sido diretriz seguida pelo


IPHAN desde meados de 2006, como parte do entendimento de que é
urgente expandir as áreas protegidas para todo o país, refletindo através do
tombamento, a complexidade da formação e consolidação do país e da
sociedade brasileira. (IPHAN, 2010, p. 8)

Surge assim o ímpeto de tombar o Centro Histórico de Manaus pela União. Como parte
de prestigiar a diversidade cultural brasileira, buscou-se na capital do Amazonas uma proteção
que não só valorizasse a Região Norte e seu ciclo econômico da borracha, mas o
fortalecimento da identidade local, enfatizando suas singularidades e a excepcionalidade da
arquitetura manauara, identificada pelo isolamento geográfico, em meio à Floresta
Amazônica (IPHAN, 2010).
Assim, o IPHAN decidiu por incluir como protagonista a paisagem urbana de Manaus
(edifícios e traçado urbano, incluindo praças), altamente influenciada durante o ciclo da
borracha. Visando tão somente marcar uma poligonal, estipulou-se como os dois ícones mais
simbólicos e densos de realizações paisagísticas e artístico-construtivas daquela época o Rio
Negro e o Teatro Amazonas.(MAPA 02)
63

Mapa 02: Mapa de tombamento do Centro Histórico de Manaus.


64

Consequentemente a essa demarcação, englobou-se uma infinidade de imóveis,


todavia, elencou-se como de destaque somente aqueles que se filiem aos estilos
arquitetônicos do Ecletismo e Art Déco, ainda que este último seja de 1925, portanto,
posterior ao Ciclo da Borracha.
Como parte das diretrizes do tombamento, também se destacam a manutenção do
traçado urbano, a recuperação das áreas verdes, gabarito máximo de acordo com a média
existente na face de quadra, requalificação de algumas praças etc. Em relação ao gabarito é
interessante notar que o próprio processo pelo qual a cidade passou com a Zona Franca de
Manaus levou a sua descaracterização em diversas áreas do Centro Histórico. Ao estabelecer
uma norma geral ligada a essa característica, a diretriz presente no dossiê desconsidera as
peculiaridades de cada setor, rua e quadra. A normatização do Centro Histórico de Manaus
visa corrigir esse tipo de equívoco estabelecendo parâmetros adequados a cada área, em que
se preserve as características realmente existentes e se desenvolva os potenciais urbanos da
cidade. Também houve uma preocupação em definir a área de entorno, cujos critérios de
intervenção seriam mais flexíveis se comparados com as da área tombada.
Diferentemente do tombamento estadual, o qual limitou-se aos imóveis públicos e
eclesiásticos isoladamente, a iniciativa federal se aproxima mais da municipalidade que
aborda uma visão de conjunto, contudo, esta, pautou-se por uma iniciativa preservacionista
mais restritiva e criteriosa. O IPHAN optou por acautelar um conjunto urbano sabendo de sua
multiplicidade de estilos e edificações, enquanto a Prefeitura se limitou a listar os imóveis com
interesse de preservação, deixando os demais sem qualquer instrumento de proteção.
Como o cerne dessa proteção está envolvido com a temática do Ciclo da Borracha,
outras singularidades desse período acabaram por ser desconsideradas. Excluiu-se, portanto,
a importâncias dos palacetes residenciais, em quantidade significativa, bem como a
emblemática figura do bonde elétrico, o qual foi substituído pelos ônibus e que poderia muito
bem retornar através do veículo leve sobre trilhos (VLT).
Outros valores dessa vasta região também podem ter sido esquecidos, daí a relevância
fundamental deste trabalho, não só em reconhecer a importância do Centro Histórico de
Manaus, mas de ressaltar, valorizar e reiterar a sua magnitude e visão diante dos diferentes
grupos sociais ouvidos. Com as informações aqui apresentadas, objetiva-se fornecer dados
para que as diretrizes propostas pelo dossiê de tombamento possam ser analisadas e
65

repensadas na elaboração da normativa. Espera-se assim, reduzir o grau de subjetividade dos


critérios adotados para intermediar as intervenções realizadas no Centro Histórico de Manaus
visando reconhecer e conservar os valores que de fato são apropriados pela população se
somando aos critérios técnicos ligados a história econômica a história da arte e a história da
arquitetura.
66

9. Identificando as referências culturais manauaras e suas


qualidades
Apoderar-se da imagem de sua cidade significa flagrar sua
própria imagem. O mapa da memória do eu e o mapa da cidade
se sobrepõem, não é possível desenhar um sem o outro. (BOLLE,
Willi Apud FREIRE, Cristina. P. 74, 1997).

Conforme dito anteriormente, o propósito deste trabalho não foi o de inventariar


todos os bens culturais e/ou todos os lugares do Centro Histórico de Manaus. No entanto, foi
possível percorrer, a partir das narrativas dos detentores, roteiros que permitiram vivenciar
algumas das experiências urbanas cotidianas de apropriação do Centro Histórico de Manaus.
Sem, contudo, esgotar as formas e múltiplas possibilidades dessas experiências.
O próprio processo de apropriação e olhares dos pesquisadores sobre o Centro
Histórico deve ser, ainda, tomado como objeto de análise. É notório que alguns monumentos
da cidade, por exemplo, podem não ter passado despercebidos apenas para os entrevistados,
mas também, pela equipe.
Outrossim, as narrativas dos detentores apresentam um repertório visual dos
habitantes da cidade, ligando-os às suas experiências afetivas ou momentos significativos de
sua vida. Os bens, de modo geral, são apropriados e carregados de sentido. Segundo Freire
(1997), as narrativas apresentam particularidades plenas de sentido, rememorações
individuais encontram suporte e podem abrir à imaginação criadora e fantasia. Os olhares
sobre o Centro de Manaus, permitiram constatar que o ato de enxergar a cidade não é só
sensorial da visão, mas também, da interiorização de eventos e práticas culturais do passado,
experimentados e vividos cotidianamente. (ROANET, 1992, p. 50).
Ao fazermos a leitura das narrativas, compreendemos que elas possuem consonâncias
entre si, constituindo o que Cristina Freire (1997) definiu como rede imaginária, a partir da
recorrência de respostas que discorrem sobre atributos e qualidades dos lugares, sendo nesse
trabalho agrupados em categorias de apropriação social.
Assim, conforme foi apresentado no Capítulo 7, a aplicação das metodologias
descritas, na primeira parte deste relatório, levou à produção de 31 Mapas de Percepção com
o envolvimento de 79 detentores, além das entrevistas individuais aprofundadas com 4
“detentores-chave” e conversas informais com aproximadamente 53 pessoas durante a fase
da observação participante. A partir desses levantamentos foi possível identificar 73
67

referências culturais de naturezas variadas (material e imaterial), com diferentes graus de


repetição nos mapas (indício valioso da importância que essas referências apresentam na
memória social) e com atributos distintos que justificaram a escolha desses bens.
No contexto dessa pesquisa, entende-se por atributos o conjunto de características
positivas2 que os próprios detentores definiram como inerentes às referências culturais
representadas em seus mapas. No Capítulo 12 desse relatório pode-se observar, nas tabelas,
os atributos descritos de cada bem cultural. A partir da análise e interpretação desses
atributos elaborou-se um conjunto de 8 categorias de apropriação social, denominadas aqui
como qualidades3, que foram associadas a cada bem cultural conforme as narrativas e
descrições dos detentores.
1. Beleza Paisagística: A beleza paisagística se apoia em aspectos subjetivos dos
detentores: o “gosto”, a concepção pessoal daquilo que é considerado belo e
resulta da apropriação e percepção individuais e coletivas da paisagem. Atributos
que levaram à elaboração da qualidade: paisagem bonita, paisagismo,
paisagem, paisagem natural, estética, arte pública, apreciação e proximidade
com o Rio e com a natureza, dentre outros.
2. Circuito Cultural: Os circuitos culturais são representados por eixos
estruturantes de processos socio-históricos e contemporâneos de atribuição de
identidades que se dão através do uso, dos percursos, da criação de roteiros e
narrativas no traçado da cidade representativo das transformações urbanas
ocorridas no período do ciclo da borracha. Atributos que levaram à elaboração
da qualidade: história e memória da cidade, de povos nativos e de comunidades
afrodescendentes, elemento estruturante do traçado urbano, dentre outros.

2 Os aspectos considerados negativos também foram registrados durante os levantamentos. No entanto, como
o objetivo aqui almejado foi o de fornecer dados para se definir o que de fato deve ser conservado, mediante
política pública de Patrimônio Cultural, no Centro Histórico de Manaus, os esforços ficaram concentrados em
definir as qualidades que devem ser mantidas e potencializadas. Caberá em pesquisas futuras mapear e analisar
também, os problemas identificados.
3
Entende-se como categorias de apropriação social, repertórios das narrativas que mais se repetiram,
constituindo, desse modo, a identidade de setores, de vias e eixos estruturantes, de praças, de monumentos e
edificações e das vivências do centro histórico. Assim, esse trabalho, ao ser integrado a análise de cunho
arquitetônico (morfológico) que é realizada em paralelo pela equipe técnica do Iphan-AM, visando a
normatização do Centro Histórico de Manaus, equipara-se o termo de categorias de apropriação ao de
qualidades, sendo esse último de mais fácil associação.
68

3. Conforto Térmico: Espaços que se caracterizam por boas condições de


adaptabilidade ao clima local, oferecendo: boa ventilação, sombras, coberturas
e arborização resultando em uma temperatura agradável que se expressa a
partir de uma condição mental que denota satisfação em relação ao ambiente.
Atributos que levaram à elaboração da qualidade: clima, arborização, ventilação,
sombras, local bom/agradável para se sentar e conversar, dentre outros.
4. Espaço de Recordação: Espaços que estão associados a práticas culturais,
edificações e espaços públicos cuja apropriação dos atributos e qualidades se
perdeu devido a rupturas e transformações nos hábitos, costumes, tradições
e/ou no arruinamento e extinção da própria materialidade. Atributos que
levaram a elaboração da qualidade: Apreciação estética do espaço vazio e da
ruína, beleza e paisagem da ruína, dentre outros.
5. Lugar de Memória: Referências culturais tomadas em conjunto ou isoladamente
que são portadoras de narrativas de memórias hegemônicas ou dissidentes que
fazem referência à identidade nacional e local mediante diferentes formas de
apropriação4. Atributos que levaram à elaboração da qualidade: espaço/lugar
de memórias afetivas, história e memória da cidade, história e memória de povos
nativos e de comunidades afrodescendentes, popularidade, reconhecimento
local, lugar de encontros, resistência popular, manifestações políticas, dentre
outros.
6. Monumentalidade: Define o protagonismo que um determinado bem cultural
exerce na paisagem cultural, sendo referido por sua apreciação estética, pelo
destaque na organização e distribuição ordenada dos elementos urbanos, pela
referência a memória e identidade configurando-se um marco histórico e
espacial. Atributos que levaram à elaboração da qualidade: marco visual da
cidade, destaque na paisagem, marco histórico, dentre outros.

4
Pierre Nora (1993) percebe uma ruptura cada vez mais veloz entre o passado e o presente e uma aproximação
entre a memória e o esquecimento. O autor também defende que a cultura é dotada de uma intensa dinâmica
que se acelera cada vez mais e assim, da incapacidade de “habitarmos nossa memória” surge à necessidade de
atribuir-se lugares a ela. O conceito de lugar de memória acrescido das sugestões de Ricœur (2007) engloba o
aspecto material, simbólico e funcional do lugar, ou seja, o espaço em si, sua representação e sua função social.
Desse modo, apropria-se desse conceito em um sentido mais amplo que agrega ao termo as mediações de Paul
Ricœur (2007), considerando ainda a articulação com as categorias já discutidas de memória hegemônica e
memória dissidente.
69

7. Unidade de Conjunto: Espaços que se caracterizam pela conservação e


predominância de elementos representativos da produção urbana e
arquitetônica que fazem referência à memória e identidade locais, associadas ao
período econômico do ciclo da borracha. Atributos que levaram à elaboração da
qualidade: unidade e gabarito do conjunto arquitetônico, edifícios conservados,
prédios e casas antigas, dentre outros.
8. Vitalidade: A vitalidade dos espaços está associada à presença e ao fluxo de
pessoas, a possibilidade de uso e permanência, bem como a qualidade desse uso:
habitar, caminhar, observar a paisagem, sentar-se, interagir com outras pessoas,
divertir-se de diversas formas e em diversos locais, olhar vitrines, pechinchar
preços, entrar e sair de espaços públicos e privados (permeabilidade), segurança
passiva e ativa, vivenciar práticas culturais, ter experiências gastronômicas.
Enfim, a vitalidade urbana está ligada com a intensidade, qualidade e riqueza da
apropriação dos espaços. 5 Atributos que levaram à elaboração da qualidade:
segurança, uso, convívio, interação social, socialização, lazer, manifestações
culturais e festividades, musicalidade, gastronomia, turismo, espaço propício
para eventos, recreação, comércio, bem-estar, Intercâmbio cultural, dentre
outros.
Assim, mediante o estabelecimento desses conceitos, construiu-se a tabela, mapas e
gráficos a seguir, representando as referências culturais identificadas e suas respectivas
qualidades, inferidas a partir da análise dos atributos descritos pelos detentores. Foram
identificadas 73 referências culturais sendo que se destacaram, pela quantidade de vezes que
foram referenciadas, o Largo de São Sebastião (22 vezes), o Porto de Manaus (18 vezes), a Av.
Eduardo Ribeiro (14 vezes), o Teatro Amazonas (14 vezes), a Praça Dom Pedro II (11 vezes), a
Catedral Metropolitana de Manaus Nossa Senhora da Conceição - Igreja Matriz (11 vezes), a
Praça Cinco de Setembro - Praça da Saudade (11 vezes), o Mercado Adolpho Lisboa (10 vezes),
a Av. Sete de Setembro (10 Vezes). Todos esses, aparecem em mais de 32% dos mapas,
chegando a 71% no caso do Largo de São Sebastião

5https://www.archdaily.com.br/br/798436/fatores-morfologicos-da-vitalidade-urbana-nil-parte-1-densidade-de-usos-e-
pessoas-renato-t-de-saboya
70

No que se refere ao número de qualidades (dentre as 8 definidas a partir dos atributos


descritos pelos detentores) destacaram-se aquelas referências culturais que tiveram 50% ou
mais das qualidades associadas: a Praça da Matriz (6 qualidades) , a rua Bernardo Ramos (5
qualidades), a Praça do Congresso (5 qualidades), o Porto de Manaus (5 qualidades), o
Mercado Adolpho Lisboa (5 qualidades), o Largo de São Sebastião (5 qualidades), a Santa Casa
de Misericórdia (4 qualidades), a Praça Dom Pedro II (4 qualidades), a Av. Sete de Setembro
(4 qualidades), a Av. Getúlio Vargas (4 qualidades) e a Avenida Eduardo Ribeiro (4 qualidades).
Já as qualidades que mais foram atribuídas as referências culturais foram: Lugar de
Memória (49), Vitalidade (35), Monumentalidade (25), Beleza Paisagística (17). Indícios da
importância que é dada pela população aos lugares que representam uma memória histórica
da cidade, seja ela construída a partir dos discursos oficiais (denotando o grau de penetração
e aceitação desses discursos) ou das próprias narrativas afetivas, pessoais e de contra usos.
Esses números também revelam a relevância que é dada para a possibilidade de uso,
ocupação e permanência nos espaços da cidade. A vitalidade urbana dos lugares onde essa
qualidade se manifesta, de fato, é recorrente na fala dos entrevistados, sempre no sentido de
apontar também a necessidade da difusão por outros locais que não a detém. Um exemplo
notório disso é a Praça da Saudade, que aparece como um espaço de recordação (atribuída a
7 referências) sobretudo porque, precisamente, a qualidade da vitalidade se perdeu. Os
demais bens associados à categoria de espaço de recordação seguem a mesma lógica da Praça
da Saudade. São importantes porque permanecem pujantes em uma memória ainda vivida da
comunidade, mas que, no entanto, as qualidades outrora associadas se perderam. Em alguns
casos, são lugares que foram descaracterizados de seu uso e apropriação social, em outros,
bens culturais em condição de ruínas ou cuja materialidade se perdeu em sua totalidade.
Cabe destacar que o centro ainda é um lugar muito apreciado por sua beleza
paisagística e que os monumentos que se destacam como marcos visuais e históricos são
amplamente notados e referenciados como componentes significativos dessa paisagem.
Adiante, as qualidades de Conforto Térmico (7), Circuito Cultural (5) e Unidade de
Conjunto (5) são menos referenciadas, no entanto, isso não configura um menor grau de
importância. Pelo contrário, os números e categorias revelam o potencial que certas áreas
têm de se tornarem referências em qualidade urbana.
71

Tabela 2: Referências culturais identificadas.


Regis Nº.
Nº Nome Qualidades
tros Qual.
Unidade de conjunto; Conforto Térmico; Beleza
1. Largo de São Sebastião 22 5
Paisagística; Vitalidade; Lugar de Memória.
Unidade de conjunto; Beleza Paisagística;
2. Porto de Manaus 18 5
Vitalidade; Circuito Cultural; Lugar de Memória.
Vitalidade; Lugar de Memória; Circuito Cultural;
3. Av. Eduardo Ribeiro 14 4
Beleza Paisagística;

4. Teatro Amazonas 14 Lugar de Memória; Monumentalidade; Vitalidade. 3

Beleza Paisagística; Conforto Térmico; Vitalidade


5. Praça Dom Pedro II 11 (sazonal, associada a Feira do Paço e ao Festival 4
Passo a Paço); Lugar de Memória.
Catedral Metropolitana de
6. Manaus Nossa Senhora da 11 Monumentalidade; Lugar de memória; Vitalidade. 3
Conceição (Igreja Matriz)
Praça Cinco de Setembro (Praça
7. 11 Espaço de Recordação; Lugar de Memória. 2
da Saudade)
Vitalidade; Lugar de Memória; Conforto Térmico;
8. Mercado Adolpho Lisboa 10 5
Monumentalidade; Beleza Paisagística
Circuito Cultural; Unidade de Conjunto (em alguns
9. Av. Sete de Setembro 10 trechos); Vitalidade (em alguns trechos); Lugar de 4
Memória;
Museu da Cidade de Manaus
10. 9 Lugar de Memória; Vitalidade; Monumentalidade. 3
(Paço da Liberdade)
Praça Heliodóro Balbi (Praça da Conforto Térmico; Beleza Paisagística; Lugar de
11. 9 3
Polícia Memória; Vitalidade (durante o horário comercial)

12. Igreja de São Sebastião 8 Monumentalidade; Lugar de Memória; Vitalidade. 3

Rio Negro (Orla, encontro das


13. águas, relação cidade-rio, 8 Beleza Paisagística; Monumentalidade. 2
paisagem)

14. Palácio da Justiça 7 Lugar de Memória; Vitalidade; Monumentalidade. 3

Conforto Térmico; Vitalidade; Lugar de Memória;


Praça Quinze de Novembro Espaço de Recordação (em relação ao Aviaquário);
15. 6 6
(Praça da Matriz) Beleza Paisagística; Unidade de Conjunto (entorno,
sobretudo na área da Av. Eduardo Ribeiro).
Praça Antônio Bittencourt Lugar de Memória; Circuito Cultural; Beleza
16. 6 5
(Praça do Congresso) Paisagística; Vitalidade; Conforto térmico
Espaço de Recordação; Lugar de Memória; Beleza
17. Santa Casa de Misericórdia 6 4
Paisagística; Monumentalidade
Teatro Gebes Medeiros (Antigo
18. 6 Lugar de Memória; Espaço de Recordação. 2
Ideal Clube)

19. Feira Manaus Moderna 5 Vitalidade; Lugar de Memória. 2


72

Regis Nº.
Nº Nome Qualidades
tros Qual.

20. Rua 10 de Julho 5 Lugar de Memória 1

Unidade de Conjunto; Lugar de memória; Beleza


21. Rua Bernardo Ramos 4 5
Paisagística; Circuito Cultural; Conforto Térmico.
Circuito Cultural; Conforto Térmico; Beleza
22. Av. Getúlio Vargas 4 4
Paisagística; Lugar de Memória.
Biblioteca Pública Estadual do
23. 4 Monumentalidade; Vitalidade; Lugar de Memória. 3
Amazonas

24. Edifício da Alfândega 4 Monumentalidade; Lugar de Memória. 2

25. Relógio Municipal 4 Monumentalidade; Lugar de Memória. 2

Aviaquário da Catedral Nossa


26. 4 Espaço de Recordação. 1
Senhora da Conceição

27. Palacete Provincial 3 Monumentalidade; Vitalidade; Lugar de memória. 3

28. Palácio Rio Negro 3 Monumentalidade; Vitalidade; Lugar de memória. 3

29. Bar do Armando 3 Vitalidade; Lugar de Memória. 2

30. Feira da Av. Eduardo Ribeiro 3 Vitalidade; Lugar de Memória. 2

31. Feira do Paço 3 Vitalidade; Lugar de Memória. 2

32. Palácio Rio Branco 3 Monumentalidade; Lugar de memória. 2

33. Rua José Clemente 3 Beleza Paisagística; Lugar de Memória. 2

34. Tacacá na Bossa 3 Vitalidade; Lugar de Memória 2

Paróquia Nossa Senhora dos


35. 2 Monumentalidade; Lugar de Memória; Vitalidade. 3
Remédios

36. Atlético Rio Negro Clube 2 Vitalidade; Lugar de Memória. 2

37. Caminhos da Arte 2 Vitalidade; Lugar de Memória. 2

38. Casa do Frei 2 Vitalidade; Lugar de Memória. 2

39. Colégio Dom Bosco 2 Espaço de Recordação; Monumentalidade 2


73

Regis Nº.
Nº Nome Qualidades
tros Qual.
Hospital Beneficente
40. 2 Monumentalidade; Lugar de Memória. 2
Portuguesa

41. Les Artistes Café Teatro 2 Vitalidade; Lugar de Memória 2

42. Parque Senador Jefferson Péres 2 Beleza Paisagística; Vitalidade. 2

Instituto de Educação do
43. 2 Lugar de Memória 1
Amazonas

44. Museu Casa Eduardo Ribeiro 2 Lugar de Memória 1

Espaço de Recordação; Monumentalidade; Beleza


45. Booth Line 1 3
Paisagística

46. Teatro da Instalação 1 Vitalidade; Monumentalidade; Lugar de memória. 3

47. Avenida Joaquim Nabuco 1 Beleza Paisagística; Lugar de Memória. 2

48. Café do Pina 1 Vitalidade; Lugar de Memória 2

Edifício da Antiga Faculdade de


49. 1 Monumentalidade; Lugar de Memória 2
Direito
Edifício do Antigo Hotel
50. 1 Monumentalidade; Lugar de Memória. 2
Amazonas

51. Obelisco do Centenário 1 Monumentalidade; Lugar de Memória 2

52. Praça Tenreiro Aranha 1 Beleza Paisagística; Lugar de Memória. 2

Praça Torquato Tapajós (Praça


53. 1 Beleza Paisagística; Lugar de Memória. 2
dos Remédios)

54. Rua Lobo D’Almada 1 Lugar de Memória; Vitalidade 2

55. Usina Chaminé 1 Vitalidade; Lugar de Memória 2

56. Antiga Câmara dos Vereadores 1 Lugar de Memória 1

57. Casa Ivete Ibiapina 1 Vitalidade 1

58. Casa Monsenhor 1 Vitalidade 1

Centro de Artes da
59. Universidade Federal do 1 Vitalidade 1
Amazonas – CAUA/UFAM
74

Regis Nº.
Nº Nome Qualidades
tros Qual.

60. Festival Paço a Passo 1 Vitalidade 1

61. Hotel Cassina 1 Monumentalidade 1

62. Instituto Amazônia 1 Lugar de Memória 1

63. Pavilhão Universal 1 Monumentalidade 1

64. Palácio dos Nery 1 Monumentalidade 1

65. Praça Almirante Tamandaré 1 Lugar de Memória 1

66. Praça Nove de Novembro 1 Espaço de Recordação 1

67. Rua 24 de Maio 1 Lugar de Memória. 1

68. Rua Epaminondas 1 Lugar de Memória. 1

Não foi possível inferir qualidades, pois nenhum


69. Colégio Dom Pedro II 1 0
atributo foi descrito.
Não foi possível inferir qualidades, pois nenhum
70. Hospital Militar 1 0
atributo foi descrito.
Não foi possível inferir qualidades, pois nenhum
71. Praça Adalberto Valle 1 0
atributo foi descrito.
Não foi possível inferir qualidades, pois nenhum
72. Rua Monsenhor Coutinho 1 0
atributo foi descrito.
Não foi possível inferir qualidades, pois nenhum
73. Sede do Banco da Amazônia 1 0
atributo foi descrito.
75

Tabela 3: Quadro síntese das qualidades


Nº Qualidade Definição Atributos associados
A beleza paisagística se apoia em aspectos subjetivos dos detentores: o “gosto”, a concepção Paisagem bonita, paisagismo, paisagem, paisagem
01 Beleza Paisagística pessoal daquilo que é considerado belo e resulta da apropriação e percepção individuais e natural, estética, arte pública, apreciação e proximidade
coletivas da paisagem. com o Rio e com a natureza, dentre outros.
Os circuitos culturais são representados por eixos estruturantes de processos socio históricos e
História e memória da cidade, de povos nativos e de
contemporâneos de atribuição de identidades que se dão através do uso, dos percursos, da
02 Circuito Cultural comunidades afrodescendentes, elemento estruturante
criação de roteiros e narrativas no traçado da cidade representativo das transformações urbanas
do traçado urbano, dentre outros.
ocorridas no período do ciclo da borracha.
Espaços que se caracterizam por boas condições de adaptabilidade ao clima local oferecendo,
boa ventilação, sombras, coberturas e arborização resultando em uma temperatura agradável Clima, arborização, ventilação, sombras, local bom para se
03 Conforto Térmico
que se expressa a partir de uma condição mental que denota satisfação em relação ao sentar e conversar, dentre outros.
ambiente.
Espaços que estão associados a práticas culturais edificações e espaços públicos cuja
Espaço de Apreciação estética do espaço vazio e da ruína, beleza e
04 apropriação dos atributos e qualidades se perdeu devido a rupturas e transformações nos
Recordação paisagem da ruína, dentre outros.
hábitos, costumes, tradições e/ou no arruinamento e extinção da própria materialidade.
Espaço/lugar de memórias afetivas, história e memória da
Referências culturais tomadas em conjunto ou isoladamente que são portadoras de narrativas cidade, história e memória de povos nativos e de
05 Lugar de Memória de memórias hegemônicas ou dissidentes que fazem referência à identidade nacional e local comunidades afrodescendentes; popularidade;
mediante diferentes formas de apropriação. reconhecimento local; lugar de encontros, resistência
popular, manifestações políticas, dentre outros.
Define o protagonismo que um determinado bem cultural exerce na paisagem cultural, sendo
referido por sua apreciação estética, pelo destaque na organização e distribuição ordenada dos Marco visual da cidade, destaque na paisagem, marco
06 Monumentalidade
elementos urbanos, pela referência a memória e identidade configurando-se um marco histórico histórico, dentre outros
e espacial.
Espaços que se caracterizam pela conservação e predominância de elementos representativos
Unidade e gabarito do conjunto arquitetônico, edifícios
07 Unidade de Conjunto da produção urbana e arquitetônica que fazem referência à memória e identidade locais,
conservados, prédios e casas antigas, dentre outros.
associadas ao período econômico do ciclo da borracha.
A vitalidade dos espaços está associada a presença e o fluxo de pessoas, a possibilidade de uso e
Segurança, uso, convívio, interação social, socialização,
permanência bem como a qualidade desse uso: habitar, caminhar; observar a paisagem; sentar-
lazer, manifestações culturais e festividades,
se; interagir com outras pessoas; divertir-se de diversas formas e em diversos locais; olhar
08 Vitalidade musicalidade, gastronomia, turismo, espaço propício para
vitrines; pechinchar preços; entrar e sair de espaços públicos e privados (permeabilidade);
eventos, recreação, comércio, bem-estar, Intercâmbio
segurança passiva e ativa; vivenciar práticas culturais; ter experiências gastronômicas. Enfim, a
cultural, dentre outros.
vitalidade urbana está ligada com a intensidade qualidade e riqueza da apropriação dos espaços.
76

Tabela 4: Qualidades ordenadas por número de vezes que foram atribuídas aos bens
Nº Qualidade Bens associados Atribuições
Largo de São Sebastião, Porto de Manaus, Av. Eduardo Ribeiro, Teatro Amazonas,
Praça Dom Pedro II, Igreja Matriz, Praça da Saudade, Mercado Adolpho Lisboa, Av.
Sete de Setembro, Museu da Cidade de Manaus, Praça da Polícia, Igreja de São
Sebastião, Praça da Matriz, Praça do Congresso, Santa Casa de Misericórdia, Teatro
Gebes Medeiros (Antigo Ideal Clube) , Feira Manaus Moderna, Rua 10 de Julho, Rua
Bernardo Ramos, Biblioteca Pública Estadual do Amazonas, Edifício da Alfândega,
Relógio Municipal, Palacete Provincial, Palácio Rio Negro, Bar do Armando, Feira da
01 Lugar de Memória Av. Eduardo Ribeiro, Feira do Paço, Rua José Clemente, Tacaca na Bossa, Paróquia 49
Nossa Senhora dos Remédios, Atlético Rio Negro Clube, Caminhos da Arte, Casa do
Frei, Hospital Beneficente Portuguesa, Les Artistes Café Teatro, Instituto de
Educação do Amazonas, Teatro da Instalação, Avenida Joaquim Nabuco, Café do
Pina, Edifício da Antiga Faculdade de Direito, Edifício do Antigo Hotel Amazonas,
Obelisco do Centenário, Praça Tenreiro Aranha, Praça dos Remédios, Rua Lobo
D’Almada, Instituto Amazônia, Praça Almirante Tamandaré, Rua 24 de Maio, Rua
Epaminondas
Largo de São Sebastião, Porto de Manaus, Av. Eduardo Ribeiro, Teatro Amazonas,
Praça Dom Pedro II, Igreja Matriz, Mercado Adolpho Lisboa, Av. Sete de Setembro,
Museu da Cidade de Manaus, Praça da Polícia, Igreja de São Sebastião, Praça da
Matriz, Praça do Congresso, Feira Manaus Moderna, Biblioteca Pública Estadual do
Amazonas, Palacete Provincial, Palácio Rio Negro, Bar do Armando, Feira da Av.
02 Vitalidade 35
Eduardo Ribeiro, Feira do Paço, Tacaca na Bossa, Paróquia Nossa Senhora dos
Remédios, Atlético Rio Negro Clube, Caminhos da Arte, Casa do Frei, Les Artistes
Café Teatro, Parque Senador Jefferson Péres, Teatro da Instalação, Café do Pina, Rua
Lobo D’Almada, Usina Chaminé, Casa Ivete Ibiapina, Casa Monsenhor, Centro de
Artes da Universidade Federal do Amazonas – CAUA/UFAM, Festival Paço a Passo
77

Nº Qualidade Bens associados Atribuições


Teatro Amazonas, Igreja Matriz, Mercado Adolpho Lisboa, Museu da Cidade de
Manaus, Rio Negro (Orla, encontro das águas, relação cidade-rio, paisagem), Igreja
de São Sebastião, Santa Casa de Misericórdia, Biblioteca Pública Estadual do
Amazonas, Edifício da Alfândega, Relógio Municipal, Palacete Provincial, Palácio Rio
03 Monumentalidade Negro, Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, Colégio Dom Bosco, Hospital 25
Beneficente Portuguesa, Booth Line, Teatro da Instalação, Edifício da Antiga
Faculdade de Direito, Edifício do Antigo Hotel Amazonas, Obelisco do Centenário,
Usina Chaminé, Antiga Câmara dos Vereadores, Hotel Cassina, Pavilhão Universal,
Palácio dos Nery
Largo de São Sebastião, Porto de Manaus, Av. Eduardo Ribeiro, Praça Dom Pedro II,
Mercado Adolpho Lisboa, Rio Negro (Orla, encontro das águas, relação cidade-rio,
paisagem), Praça da Polícia, Praça da Matriz, Praça do Congresso, Santa Casa de
04 Beleza Paisagística 17
Misericórdia, Rua Bernardo Ramos, Rua José Clemente, Parque Senador Jefferson
Péres, Booth Line, Avendia Joaquim Nabuco, Praça Tenreiro Aranha, Praça dos
Remédios
Largo de São Sebastião, Praça Dom Pedro II, Mercado Adolpho Lisboa, Praça da
05 Conforto Térmico 7
Polícia, Praça da Matriz, Praça do Congresso, Rua Bernardo Ramos
Praça da Saudade, Aviaquário da Catedral Nossa Senhora da Conceição, Santa Casa
06 Espaço de Recordação de Misericórdia, Teatro Gebes Medeiros (Antigo Ideal Clube), Colégio Dom Bosco, 7
Booth Line, Praça Nove de Novembro
Porto de Manaus, Av. Eduardo Ribeiro, Av. Sete de Setembro, Praça do Congresso,
07 Circuito Cultural 5
Rua Bernardo Ramos
Largo de São Sebastião, Porto de Manaus, Av. Sete de Setembro, Praça da Matriz,
08 Unidade de Conjunto 5
Rua Bernardo Ramos
78

Mapa 03: Referências Culturais Identificadas


79

Mapa 04: Quantidade de vezes que cada Referência Cultural é citada


80

Mapa 05: Referências Culturais por Quantidade de Qualidades atribuídas


81

Gráfico 1A: Percentual de representação das referências culturais nos 31 Mapas de Percepção

Largo de São Sebastião

Porto de Manaus

Teatro Amazonas

Av. Eduardo Ribeiro

Praça Dom Pedro II

Praça da Saudade

Igreja Matriz

Mercado Adolpho Lisboa

Av. Sete de Setembro

Praça da Polícia

Museu da Cidade

Rio Negro

Igreja de São Sebastião

Palácio da Justiça

Teatro Gebes Medeiros

Santa Casa de Misericórdia

Praça do Congresso

Praça da Matriz

Rua 10 de Julho

Feira Manaus Moderna

Rua Bernardo Ramos

Relógio Municipal

Edifício da Alfândega

Biblioteca Pública Estadual do Amazonas

Aviaquário da Matriz

Av. Getúlio Vargas


Registros
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 75%
82

Gráfico 1B: Percentual de representação das referências culturais nos 31 Mapas de Percepção

Tacaca na Bossa
Rua José Clemente
Palácio Rio Negro
Palácio Rio Branco
Palacete Provincial
Feira do Paço
Feira da Av. Eduardo Ribeiro
Bar do Armando
Parque Senador Jefferson Péres
Paróquia Nossa Senhora dos Remédios
Museu Casa Eduardo Ribeiro
Les Artistes Café Teatro
Instituto de Educação do Amazonas
Hospital Beneficente Portuguesa
Colégio Dom Bosco
Casa do Frei
Caminhos da Arte
Atlético Rio Negro Clube
Usina Chaminé
Teatro da Instalação
Sede do Banco da Amazônia
Rua Monsenhor Coutinho
Rua Lobo D’Almada
Rua Epaminondas
Rua 24 de Maio
Praça Tenreiro Aranha
Praça Nove de Novembro
Praça dos Remédios
Praça Almirante Tamandaré
Praça Adalberto Valle
Plácio dos Nery
Pavilhão Universal
Obelisco do Centenário
Instituto Amazônia
Hotel Cassina
Hospital Militar
Festival Paço a Passo
Edifício do Antigo Hotel Amazonas
Edifício da Antiga Faculdade de Direito
Colégio Dom Pedro II
Casa Monsenhor
Casa Ivete Ibiapina
Café do Pina
Booth Line
Avendia Joaquim Nabuco
Antiga Câmara dos Vereadores
CAUA/UFAM

0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10%
Registros
83

Gráfico 2A: Quantas vezes cada referência cultural aparece nos 31 Mapas de Percepção

Largo de São Sebastião


Porto de Manaus
Teatro Amazonas
Av. Eduardo Ribeiro
Praça Dom Pedro II
Praça da Saudade
Igreja Matriz
Mercado Adolpho Lisboa
Av. Sete de Setembro
Praça da Polícia
Museu da Cidade
Rio Negro
Igreja de São Sebastião
Palácio da Justiça
Teatro Gebes Medeiros
Santa Casa de Misericórdia
Praça do Congresso
Praça da Matriz
Rua 10 de Julho
Feira Manaus Moderna
Rua Bernardo Ramos
Relógio Municipal
Edifício da Alfândega
Biblioteca Pública Estadual do Amazonas
Aviaquário da Catedral Nossa Senhora…
Av. Getúlio Vargas
Tacaca na Bossa
Rua José Clemente
Palácio Rio Negro
Palácio Rio Branco
Palacete Provincial
Feira do Paço
Feira da Av. Eduardo Ribeiro
Bar do Armando
Parque Senador Jefferson Péres

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
Registros
84

Gráfico 2B: Quantas vezes cada referência cultural aparece nos 31 Mapas de Percepção

Paróquia Nossa Senhora dos Remédios


Museu Casa Eduardo Ribeiro
Les Artistes Café Teatro
Instituto de Educação do Amazonas
Hospital Beneficente Portuguesa
Colégio Dom Bosco
Casa do Frei
Caminhos da Arte
Atlético Rio Negro Clube
Usina Chaminé
Teatro da Instalação
Sede do Banco da Amazônia
Rua Monsenhor Coutinho
Rua Lobo D’Almada
Rua Epaminondas
Rua 24 de Maio
Praça Tenreiro Aranha
Praça Nove de Novembro
Praça dos Remédios
Praça Almirante Tamandaré
Praça Adalberto Valle
Plácio dos Nery
Pavilhão Universal
Obelisco do Centenário
Instituto Amazônia
Hotel Cassina
Hospital Militar
Festival Paço a Passo
Edifício do Antigo Hotel Amazonas
Edifício da Antiga Faculdade de Direito
Colégio Dom Pedro II
Casa Monsenhor
Casa Ivete Ibiapina
Café do Pina
Booth Line
Avendia Joaquim Nabuco
Antiga Câmara dos Vereadores
CAUA/UFAM

0 1 2
Registros
85

Gráfico 3A: Número de qualidades por Referência Cultural


Praça da Matriz
Rua Bernardo Ramos
Praça do Congresso
Porto de Manaus
Mercado Adolpho Lisboa
Largo de São Sebastião
Santa Casa de Misericórdia
Praça Dom Pedro II
Av. Sete de Setembro
Av. Getúlio Vargas
Av. Eduardo Ribeiro
Teatro da Instalação
Teatro Amazonas
Praça da Polícia
Paróquia Nossa Senhora dos Remédios
Palácio Rio Negro
Palácio da Justiça
Palacete Provincial
Museu da Cidade
Igreja Matriz
Igreja de São Sebastião
Booth Line
Biblioteca Pública Estadual do Amazonas
Usina Chaminé
Teatro Gebes Medeiros
Tacaca na Bossa
Rua Lobo D’Almada
Rua José Clemente
Rio Negro
Relógio Municipal
Praça Tenreiro Aranha
Praça dos Remédios
Praça da Saudade
Parque Senador Jefferson Péres
Palácio Rio Branco
Obelisco do Centenário
Les Artistes Café Teatro
Hospital Beneficente Portuguesa
Feira Manaus Moderna
Feira do Paço

0 1 2 3 4 5 6 7 8
Qualidades
86

Gráfico 3B: Número de qualidades por Referência Cultural

Feira da Av. Eduardo Ribeiro

Edifício do Antigo Hotel Amazonas

Edifício da Antiga Faculdade de Direito

Edifício da Alfândega

Colégio Dom Bosco

Casa do Frei

Caminhos da Arte

Café do Pina

Bar do Armando

Avendia Joaquim Nabuco

Atlético Rio Negro Clube

Rua Epaminondas

Rua 24 de Maio

Rua 10 de Julho

Praça Nove de Novembro

Praça Almirante Tamandaré

Plácio dos Nery

Pavilhão Universal

Museu Casa Eduardo Ribeiro

Instituto de Educação do Amazonas

Instituto Amazônia

Hotel Cassina

Festival Paço a Passo

Casa Monsenhor

Casa Ivete Ibiapina

Aviaquário da Catedral Nossa Senhora…

Antiga Câmara dos Vereadores

CAUA/UFAM

Sede do Banco da Amazônia

Rua Monsenhor Coutinho

Praça Adalberto Valle

Hospital Militar

Colégio Dom Pedro II

0 1 2 3 4 5 6 7 8
Qualidades
87

Gráfico 4: Percentual referências culturais por número de qualidades


6 Qualidades 0 Qualidades
5 Qualidades 1%
7% 7%

4 Qualidades
7%

1 Qualidade
22%

3 Qualidades
17%

2 Qualidades
39%

0 Qualidades 1 Qualidade 2 Qualidades 3 Qualidades 4 Qualidades 5 Qualidades 6 Qualidades


88

Gráfico 5: Número de referências culturais por quantidade de registros


29
28
27
26
25
24
23
22
21
20
19
18
17
16
15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 Registros 2 Registros 3 Registros 4 Registros 5 Registros 6 Registros 7 Registros 8 Registros 9 Registros 10 Registros 11 Registros 14 Registros 18 Registros 22 Registros

Numero de referencias
89

10. Considerações finais e sugestões de encaminhamento


A pesquisa aqui apresentada objetivou produzir, organizar, sistematizar e analisar de
maneira prévia, dados a respeito da apropriação social do Centro Histórico de Manaus,
enquanto bem cultural passível de salvaguarda pelas políticas públicas de Patrimônio Cultural,
visando ao processo de normatização e gestão compartilhada desse espaço. O presente
relatório configura-se como um verdadeiro dossiê de pesquisa onde se apresentou a
metodologia e fundamentação teórica da pesquisa; um quadro final com tabelas, gráficos e
análises dos dados levantados e sistematizados através dos relatórios; e na parte que se
segue, uma compilação de todos os relatórios e análises produzidos pelos pesquisadores
envolvidos e comunidade estudada.
É de fundamental importância ressaltar que os dados quantitativos aqui apresentados
servem como um indício das referências culturais mais importantes, mais queridas e mais
lembradas pelos detentores e que os dados e análises qualitativas podem e devem ser
aprofundados por outras pesquisas complementares. O fato de existirem referências culturais
que não foram memoradas, ou que apareceram um menor número de vezes nos mapas, não
significa que tenham menor valor, reconhecimento ou não tenham sido apropriadas pela
população.
Além disso, a forma com a qual as qualidades aqui descritas foram estruturadas
conceitualmente, garantem o entendimento de que qualquer bem, com talvez apenas uma
ou duas qualidades associadas, representa os valores ligados ao tombamento do Centro
Histórico de Manaus, ou seja, é dotado de valor histórico e paisagístico fazendo referência a
identidade e a cultura local e nacional.
Alguns referenciais associados à paisagem urbana, não raramente, são naturalizados
na percepção dos habitantes de determinado território. Assim, o fato de alguns bens não
serem lembrados de imediato, não significa que não tenham importância, mas pode remeter
a um processo de valorização tão profundo que a presença/existência do bem é dada como
algo natural, consolidado, endêmico do lugar.
As abordagens realizadas com as pessoas constataram que alguns espaços,
monumentos e casarios que compõem o cenário ou paisagem do centro não são tão
90

facilmente vistos ou descritos nas narrativas dos interlocutores consultados. Tendo sido dada
maior ênfase nos edifícios, vias e praças públicas.
Sobre essa constatação, Cristina Freire (1997) apropria-se da percepção de Walter
Benjamin: ao narrar o mapa da sua memória sobre as cidades em que viveu, ele descreve os
lugares das cidades com base nas lembranças que lhe são mais significativas. A autora chama
atenção para o fato de que nas narrativas de Walter Benjamin, o seu corpo se mistura à cidade
e os mapas têm um conteúdo afetivo. Os monumentos e obras podem conter sentimentos
íntimos e lembranças individuais. Nesse sentido, a cidade se mistura à vida de seus habitantes,
como se ela ganhasse sentido também, da própria casa.

Apoderar-se da imagem de sua cidade significa flagrar sua própria imagem.


O mapa da memória do eu e o mapa da cidade se sobrepõem, não é possível
desenhar um sem o outro. (BOLLE, Willi Apud FREIRE, Cristina. P. 74, 1997)

Mário de Andrade, em Poesias Completas, recorta a cidade de São Paulo como


fragmentos significativos, associando as partes do próprio corpo, envolvendo a cidade para
além da espacialidade, ressemantizando o corpo e a cidade.

Quando eu morrer quero ficar.


Quando eu morrer quero ficar.
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto.
Bem juntos
(ANDRADE, Mário 1987 Apud FREIRE, Cristina, p.75,1997)

A cidade e o corpo misturam-se, considerando partes da cidade tão parte da própria


vida e do corpo, que seu corpo morto não pode ficar em um só lugar. A poesia de Mário de
Andrade e as narrativas de Walter Benjamin contribuem para uma primeira reflexão sobre a
relação dos indivíduos com a cidade. O mesmo tipo de percepção que não consegue
desmembrar a vida da cidade, pode ser observado na canção Toada de Manaus, do Grupo
musical Raízes Caboclas.
91

Toda cidade se habita


Como lugar de viver
Só Manaus é diferente
Nessa maneira de ser
Pois invés de morar nela
É ela que mora na gente

A cidade, na narrativa dessa canção, se confunde com a própria condição de ser, ela é
tão intrínseca aos citadinos que ela não é externa ao indivíduo, ela mora na gente.
No entanto, assim como partes do corpo, que pelo hábito nem sempre se observa ou
dá-se a devida atenção na sua integralidade, a menos que se sinta alguma dor ou destituição
de alguma competência e habilidade a esta parte atribuídos. Também pelo hábito, segundo
FREIRE (1997) a relação com a cidade faz com que os monumentos deixem de ser vistos, sendo
notados mais pela ausência, pela constatação de sua falta quando se criam espaços vazios.
No entanto, segundo Ceniquel (1994), estes "sistemas de representação" conformam
um todo tão fortemente enraizado no cotidiano das pessoas - independente da configuração
espacial do seu meio ambiente - que certas partes são sentidas como algo "natural", como
parte componente dele mesmo, sem necessariamente mencioná-los. Existiria, assim, um
curioso processo de leitura do espaço urbano, caracterizado pela forma "natural" como se
incorporam as imagens da paisagem às narrativas de percepção ou não dos seus habitantes.
Desse modo, é notório que – e essa pesquisa revela precisamente isso - há um processo
de apropriação social, simbólico, afetivo, limitado e fragmentário dos lugares, sendo alguns
atribuídos de maior relevância na memória e na autobiografia. Segundo Ceniquel (1994), os
sistemas de significação/representação acabaram adquirindo uma qualidade de
"invisibilidade", decorrente da convivência diária com eles. Todavia, a “invisibilidade” do
imaginário da cidade é desfeita quando percebida pelas ausências e pelas marcas deixadas.
Pode-se mencionar o caso do Hotel Cassina, em Manaus. Após décadas de abandono,
um projeto revitalização do lugar foi proposto. A partir do momento em que o projeto ganhou
notoriedade pública, observou-se uma série de manifestações representando diversas
narrativas que foram descritas nas redes sociais e meios de comunicação.
Como pode-se explicar que um bem em condição de ruína, que apareceu apenas uma
vez nas narrativas apreendidas por esse estudo, tenha ganhado tanta repercussão e comoção
92

social quando passou a ser alvo de um projeto de transformação por parte do poder público
municipal?
O Cassina, a exemplo de tantas outras, justifica que a imagem simbólica da cidade é
suscitada também, quando despertada as lembranças antes adormecidas por esse processo
que se denominou de naturalização/interiorização de uma imagem da cidade.

O imaginário social da cidade envolve outras categorias além do racionalismo


que torna a imagem da cidade uma série de traçados objetivos. Como
terreno de fantasias, projeções inconscientes e lembranças, a acidade abriga
monumentos que são visíveis e invisíveis e que se situam além do empírico.
(FREIRE, 1997)

Todavia, ressalta-se que essa relação simbólica que se mantém com os lugares da
cidade assimilam, também, a dinâmica cultural e as marcas do processo histórico. Diante das
mudanças estruturais, culturais e as novas formas de interação e apropriação social dos bens
culturais, as pessoas elaboram novas formas de significá-los a fim de atender também as
necessidades do presente.

[...]todas as cidades e em especial as cidades tombadas, mais do que o


produto das características estéticas, são documentos históricos devendo
informar sobre a vida e a trajetória das sociedades que as construíram [...] os
sítios históricos estão integrados no permanente processo de evolução e
readaptação social das cidades levando à necessidade de se manter o
equilíbrio entre os valores do passado e do presente diante dos objetivos da
preservação. (BRASIL, 2007, p. 43).

Nesse sentido, um projeto de revitalização de um bem edificado, que considere a


ressignificação cultural, constituída a partir do estado de ruína, não deve buscar replicar o que
um dia aquele bem já foi, mas respeitar a relação dos valores do passado e o processo
sociocultural do presente, permitindo enxergá-lo como documento que registra a memória
das transformações. A reconstrução visando a manutenção de características supostamente
originais é sempre problemática e pode implicar em um “congelamento” da cidade e seus
processos históricos e sociais. Para além da busca de uma manutenção ou retomada de um
real preexistente, defende-se aqui o reconhecimento daquilo que o passado histórico da
cidade carrega consigo de valor cultural que deve de fato ser preservado por se integrar ao
cotidiano da cidade atendendo as demandas também, do presente. As qualidades que
93

determinado bem cultural empresta para a vida presente são o que de fato deve ser colocado
em questão ao se pensar a conservação, restauração e revitalização.
Assim, a situação do Cassina mencionada acima, reflete o quanto os lugares da cidade
requerem uma relação perceptiva que realize uma leitura dos tempos presente e passado,
histórias individuais e coletivas, afetivas e oficiais, intergeracionais, em contextos sociais do
passado e a contemporaneidade.
É interessante observar como as percepções sociais sobre o Centro, dez anos após ao
tombamento, reforçam como a população assimilou, ou reconhece como território cultural, a
poligonal de tombamento.
Esse aspecto pode ser apreendido pelo que o antropólogo indiano Arjun Appadurai
(2004), define como ‘produção de localidade’. O autor avalia que a produção de ‘localidade’,
é estabelecida pelo enfrentamento de uma situação emergente de homogeneização cultural,
de um mundo globalizado. Ele compreende o bairro, e aqui por analogia o centro histórico,
como espaço de resistência e exercício urbano de alteridades.
A produção de localidade para o autor, é entendido como o menor espaço onde as
relações humanas podem ser percebidas, onde se dá intensamente a reprodução de sujeitos
locais permanentes, a partir da noção de pertencimento a um lugar. A percepção da produção
de ‘localidade’, estaria assim presente no cotidiano dessas comunidades, sobretudo em suas
práticas culturais como rituais religiosos, festas, nas artes musicais e em outras situações.
Ao buscar-se apreender a percepção e apropriação dos indivíduos sobre os lugares,
identificou-se a relação de pertencimento com o território6. Por meio de múltiplas narrativas
ligadas ao uso cotidiano e as memórias, sejam elas memórias hegemônicas ou dissidentes, as
pessoas dão sentido ao lugar criando seus próprios mapas da cidade, suas próprias
continuidades e descontinuidades históricas, pessoais, locais, regionais ou nacionais.

6
Território não é pensado aqui como base física de sustentação locacional e ecológica, de zona urbana, ou
juridicamente institucionalizado, do Estado Nacional ou de jurisdição de municípios, mas um comportamento
humano espacial (SACK, 1986), resultante de uma construção social de significados atribuídos aos espaços.
Segundo Haesbaert (2004), território é base material e simbólica que coopera para construção identitária. Para
o autor, ‘território’ é uma das principais referências para o ‘imaginário social’ e dimensão histórica de uma
sociedade. Por isso, a confecção de Mapas de Percepção pelos moradores e por aqueles que consomem e
circulam pelos espaços do centro, pode sugerir as formas que um determinado grupo social se apropria dos
espaços e atribuem a eles referências a sua identidade coletiva, ou seja, o que eles mesmos definem como Centro
Histórico, seus usos, lugares que o compõe, o que o caracteriza, o que qualifica e sua delimitação espacial.
94

Um bom exemplo de apropriação espontânea, que foge ao ordenamento estruturado


pelo planejamento urbano, mas que tem sua própria lógica de ocupação e uso, é a que os
vendedores ambulantes e camelôs fazem do centro de Manaus. Um verdadeiro contra uso da
cidade que, apesar de resultar em diversos problemas urbanos, contraditoriamente é o que
de fato mantém a vitalidade do centro como um todo, uma das qualidades mais apreciadas
pela população.
O conjunto dos mapas de percepção, entrevistas e observações participantes
traduziram uma retórica do caminhar e reinvestiram os espaços de antigos e novos sentidos
atribuídos aos lugares do centro histórico.
Algumas indagações que orientaram a investigação, sugerindo eixos teóricos e
metodológico foram: como se constituem no imaginário dos indivíduos, as cenas vistas e
vividas no exterior? A que mapas internos se referenciam o caminhar nos roteiros cotidianos?
Como se articulam os monumentos com as histórias individuais? Como o patrimônio
apropriado individualmente, no âmbito local, se relaciona com a apropriação coletiva e
nacional?
No fundo, o desejo foi de captar aspectos que vão além do lugar preciso, quantificado,
mapeado, objetivo, para apreender os olhares e formas de percepção e apropriação,
compreendendo os sistemas simbólicos pessoais do que é “extraterritório”, que excede e
supera representações cartesianas, racionais de poligonais, entornos e discursos de
tombamento. (FREIRE, 1997). Concluiu-se nesse trabalho que não é tão simples fazer uma
imersão nesse universo, pois nem sempre é facilmente localizável ou revelado, exigindo uma
atenção especial do pesquisador:

Uma atenção às paisagens interiores, relacionadas aos espaços externos,


carregadas, portanto, de sentido simbólico. Trata-se de uma topografia de
metáforas ou arqueologia poética. (FREIRE, 1997 p.109)

Assim, a partir de um olhar atento, a equipe buscou experimentar aquilo que os


interlocutores narraram, estando nos lugares, apropriando-se dos objetos, investindo os
olhares de fantasia e imaginação. Esse exercício permitiu constatar e desmascarar ideias de
falta de homogeneidade e organização social dos espaços urbanos centrais que são imbuídos
de suas próprias lógicas culturais e sociais que rompem com os objetivos específicos
95

imputados pelo planejamento urbano que busca condicionar os usos, os significados e as


apropriações. A diversidade estética e de apropriações precisam ser evidenciadas no Centro
de Manaus. Os olhares revelam a relação dos habitantes com a cidade, que foge ao uso
funcional imediato. Foi através dos contra usos do patrimônio que foi possível perceber como
as pessoas compreendem suas próprias referências culturais e definem suas qualidades.
Diante do exposto, consideramos como encaminhamentos desejáveis a partir desse
dossiê, as seguintes ações:
• Continuidade da pesquisa no sentido de ampliar e aprofundar o tema reunindo
novamente os grupos e pessoas envolvidos, revisando e problematizando as questões
suscitadas nos mapas e entrevistas. Assim como, mobilizar outros interlocutores como
associações, sociedade civil organizada, moradores, entre outros.
• Converter a pesquisa em uma ampla ação de educação patrimonial junto às escolas
localizadas no Centro de Manaus e posteriormente por toda a cidade, capacitando
professores a aplicarem as oficinas de Mapas de Percepção e produzirem relatórios
simples quantificando os mapas produzidos.
• Produzir um documentário com base nessa pesquisa, registrando, sobretudo, as
memórias dos moradores mais antigos do Centro Histórico de Manaus;
• Diagnosticar também os principais problemas que os detentores identificam no centro
de Manaus, analisando-os e propondo soluções com vistas à gestão integrada do
território.
• Desenvolver cartilhas didáticas para divulgação da normativa; realizar exposições com
os mapas de percepção e com os dados da pesquisa.
• Publicar e divulgar o procedimento metodológico bem como os resultados da
pesquisa em nível nacional com vistas a apoiar outros processos de normatização.
.
96

Terceira parte: Relatórios


Completos
97

11. Relatórios de Observação Participante


11.1 Relatório 01

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes

2. Pesquisador: Yara Araújo Magabi

3. Data do campo: 09/10/2019

4. Duração do campo: 5h

5. Documentação fotográfica

Título: Praça Antônio Bittencourt. Autor: Yara Título: Praça Antônio Bittencourt. Autor: Yara
Magabi Data: 09/10/2019 Magabi Data: 09/10/2019

Título: Praça Antônio Bittencourt. Autor: Yara Título: Praça 5 de Setembro. Autor: Matheus
Magabi Data: 09/10/2019 Blach Data: 09/10/2019
98

Título: Praça 5 de Setembro. Autor: Matheus Título: Entorno da Praça 5 de Setembro. Autor:
Blach Data: 09/10/2019 Matheus Blach Data: 09/10/2019

Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi
Data: 09/10/2019 Data: 09/10/2019
99

6. Mapa
100

7. Relatório da Atividade
O presente relatório é uma síntese das observações realizadas na Praça Antônio Bittencourt
(Praça do Congresso), na Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade) e no Largo e Praça de São
Sebastião, durante pesquisa de campo empreendida no dia 09 de outubro de 2019 (Grupo 02), que
teve duração de aproximadamente 5 horas. Todos os locais citados acima estão no Centro Histórico
de Manaus, sua localização foi a motivação principal para a escolha destes lugares, uma vez que este
estudo busca compreender como a população manauara (e os visitantes que chegam à capital) se
apropriam destes espaços.
A observação começou às 15h02, tendo como primeiro ponto a Praça Antônio Bittencourt, ou
Praça do Congresso como é popularmente conhecida, esse logradouro localiza-se entre a Avenida
Eduardo Ribeiro e a Rua Ramos Ferreira, em seus arredores estão situadas várias edificações históricas
(a Biblioteca Municipal, o prédio do Ideal Clube, o Instituto de Educação do Amazonas (IEA), dentre
outros) e, a Praça em si, é também um local rico em historicidade. Neste local foi possível perceber
muitos jovens (majoritariamente alunos do IEA) fazendo uso do espaço, eles conversam, ouvem
música, praticam esportes e brincam livremente. As áreas mais arborizadas são escolhidas como
refúgio com maior frequência, por conta do calor intenso da tarde manauara, sendo os gramados e
bancos localizados embaixo das árvores tomados por jovens e adolescentes, bem como por pessoas a
caminho de outros locais que param no lugar para descansar ou aguardar por alguém.
Na ocasião conversei com um vigilante que trabalha no local, funcionário de uma empresa
terceirizada que presta serviço para o Governo do Estado do Amazonas, o mesmo informou que a
Biblioteca Municipal está sendo finalmente reformada, segundo ele, a edificação é um patrimônio
histórico de Manaus que ficou abandonado por muitos anos e ele estava feliz com a recuperação do
prédio. O vigilante, cujo nome será preservado, também falou sobre a revitalização da Praça, realizada
em 2012, e como essa intervenção transformou o espaço, trazendo de volta a população, em especial
alunos do IEA e de escolas vizinhas, além de moradores dos prédios residenciais próximos que, de
acordo com o mesmo, costumam frequentar a Praça nos fins de semana.
Ainda falando sobre a revitalização da Praça, o vigilante comentou que antes de tal intervenção
o logradouro era ocupado por moradores de rua e usuários de droga, e comparou o local com a Praça
5 de Setembro (Praça da Saudade), dizendo que “não adiantou nada ter sido reformada”, já que o
poder público “abandonou a praça e agora é muito perigoso de andar por lá”, a Praça do Congresso,
por outro lado, foi reformada e recebe manutenção constantemente, além de ser “vigiada” por agentes
como ele, que trabalham todos os dias, em turnos alternados. Já no final da conversa, o vigia informou
que na Praça acontecem eventos como “shows de rock”, mas que ele gostaria que eventos religiosos,
que ele chamou de “shows gospel”, fossem realizados com mais frequência.
Ainda na Praça do Congresso, fomos abordados por um vendedor de trufas que atua nos lugares
conhecidos como “atrativos turísticos de Manaus”, quando questionado sobre quais seriam esses
“atrativos”, ele disse que são os locais onde “tem muitos gringos”, sendo eles o Teatro Amazonas e as
Praças da Polícia e do Congresso. A Praça Antônio Bittencourt aparenta bom estado de conservação e
101

limpeza, bem como equipamentos urbanos adequados, como banca de jornal e quiosques nos quais
são comercializados diversos alimentos, é bastante utilizada pela população de Manaus, especialmente
por estudantes de escolas próximas e moradores da área.
Foi possível perceber que o logradouro exerce a função de refúgio para a maioria de seus
frequentadores, suas áreas bem arborizadas atraem as pessoas e a atmosfera familiar do lugar, bem
como a evidente presença do poder público, passa segurança e faz da Praça um local onde a população
pode socializar sem maiores preocupações. Através da observação e do contato com pessoas que
trabalham e/ou frequentam a Praça, é válido presumir que a mesma é um local muito apreciado e que
a população, de fato, se apropria deste espaço, mesmo sem conhecer totalmente sua história ou
entender sua importância para a cidade, isso enriquece ainda mais o local e retifica seu status de
patrimônio.
Após deixarmos a Praça do Congresso, seguimos para a Praça 5 de Setembro, popularmente
conhecida como Praça da Saudade, começando a observação às 15h45, esse logradouro localiza-se
entre a Avenida Epaminondas e as ruas Simão Bolívar, Ferreira Pena e Ramos Ferreira, passou por
diversas intervenções desde sua construção, sendo a última a que pareceu agradar menos a população
de Manaus.
Fica mais fácil compreender o porquê disso quando visita-se o lugar, o cenário e a atmosfera
deste local são totalmente distintos da praça anterior, as partes mais arborizadas são os limites da
Praça, essa distribuição das árvores acaba por criar uma espécie de muro entre o interior da mesma
e as ruas à sua volta, isso passa a impressão de insegurança para aqueles que se encontram “dentro”
do lugar e estimula comportamentos impróprios, e até mesmo perigosos, como o uso de drogas, por
exemplo. Não existem muitos bancos e lugares que possibilitem a permanência no local, os gramados
estão bastante deteriorados, as instalações, assim como o monumento situado no centro da Praça,
estão pichados e danificados, essa evidente aparência de total abandono do lugar, bem como seu
traçado e sua distribuição espacial, acabam por afastar a população, que se sente insegura no local.
Aqui observa-se muitas pessoas passando, como se a Praça fosse apenas mais uma rua ou um
atalho para qualquer outro lugar, quase não há socialização ou paradas para apreciação da paisagem,
ou até mesmo para descanso. As paradas de ônibus situadas em uma das laterais do logradouro são
o único ponto no qual a aglomeração de pessoas é maior, nas áreas restantes poucos alunos de escolas
próximas podem ser vistos, sentados no gramado onde existe sombra, usuários de droga e moradores
de rua parecem ser os mais assíduos frequentadores desta Praça.
No decorrer da pesquisa na Praça tivemos a oportunidade de conversar com uma moradora
antiga da área (segundo ela, vive no local desde a década de 1970), sua casa estava sendo oferecida
para venda ou aluguel, quando indagada do porquê de querer vender ou alugar a propriedade, a
mesma alegou que quer sair do centro da cidade por causa da violência e da “bagunça de hoje em
dia, mas ninguém quer (a casa)”, por conta da imagem negativa da Praça e das redondezas.
Questionada sobre a Praça da Saudade, a mesma disse que “não tem mais saudade nenhuma, agora
é a Praça do Inferno”, explicou sua declaração afirmando que antes o local era organizado, bem
102

cuidado e as famílias costumavam passear ali nos fins de semana, “até o Rio Negro (Clube) era melhor,
agora tá uma bagunça só”. Para ela, antes da última intervenção o logradouro era “mais alegre e mais
bonito”, as crianças podiam brincar livremente e era muito bom morar ao lado do mesmo, no entanto,
nos últimos anos o local se tornou perigoso e só fica movimentado quando, raros, eventos são
realizados ali. É natural, depois de visitar a Praça e ouvir tais relatos, inferir que há algum tempo atrás
esse lugar era muito popular e movimentado, no qual a população podia apreciar a paisagem e
socializar tranquilamente, todavia, depois da mais recente reforma empreendida no local, o mesmo
tornou-se decadente e a relação de troca dos indivíduos com esse espaço passou a não ter a mesma
expressividade de outrora.
Dando continuidade à pesquisa de campo, chegamos ao Largo e à Praça de São Sebastião às
16h35, esse espaço está localizado entre a Avenida Eduardo Ribeiro e as ruas 10 de Julho, José
Clemente e Costa Azevedo, atualmente classificado como Centro Cultural, o Largo de São Sebastião é
formado pelo Teatro Amazonas, a Igreja de São Sebastião, a Praça de São Sebastião, a Casa das Artes
e outros espaços/edificações situados em seu entorno.
Sua localização privilegiada atrai muitas pessoas, em especial os turistas, aqui se ouve
diferentes idiomas além do português (predominantemente o inglês, o espanhol, o francês e o chinês),
uma evidência da atratividade do lugar junto aos visitantes de várias partes do planeta. Também é
possível observar muitas pessoas tirando fotos, especialmente em frente ao Teatro.
No fim da tarde a movimentação no local se intensifica, são trabalhadores e estudantes que
antes de voltar para casa param no Largo para descansar e/ou apenas socializar, é corriqueiro ver
muitos jovens dançando, conversando e ouvindo música na área da Praça, aliás, a musicalidade e a
arte em toda a área do Largo são um ponto forte, além da música que vem das caixas de som
espalhadas pelo local, existe uma grande quantidade de artistas de rua (músicos, pintores, artesãos,
etc.) se apresentando nesse espaço e diversos eventos culturais também acontecem com certa
frequência.
Conversamos com um senhor, já aposentado, durante observação na Praça de São Sebastião,
que informou morar em Manaus há mais de 50 anos, nascido no Rio Grande do Norte, ele disse já ser
“filho do Amazonas”, uma vez que aqui constituiu família e “conquistou muitas coisas trabalhando no
Tropical Hotel por 12 anos”. Indagado sobre a frequência com que visita o Largo, ele respondeu que
vai até o local quase todos os dias porque mora próximo (na Avenida Leonardo Malcher) e porque “não
tem nada pra fazer, já que é aposentado”.
O Largo de São Sebastião apresenta ótima infraestrutura com muitos bancos de alvenaria e
madeira, lanchonetes, restaurantes, arborização razoável (a disposição das árvores, na Praça em
especial, poderia ser melhor, uma vez que em alguns pontos as mesmas dificultam a visão dos
atrativos do local), aparenta receber serviços de manutenção e limpeza regularmente e seu casario
histórico parece bem preservado, essas edificações, em sua maioria, abrigam estabelecimentos
comerciais e espaços culturais; Os elementos elencados acima, bem como a localização e a
atratividade do logradouro, tornam o mesmo bastante agradável e convidativo, em determinados
103

momentos o fluxo no local é intenso, são crianças brincando e correndo, casais namorando,
vendedores ambulantes circulando, homens jogando dama em um dos bancos da Praça, estudantes
conversando em volta do monumento à abertura dos portos (no centro da Praça), visitantes entrando
e saindo do Teatro Amazonas, guias de turismo oferecendo seus serviços, turistas tirando fotos,
famílias passeando, amigos sentados nos bancos socializando, dentre outros. Muitas pessoas passam
pelo local a caminho dos pontos de ônibus e, na ocasião, notei um ensaio fotográfico sendo realizado
em frente ao Teatro Amazonas.
À noite a programação cultural e o clima mais ameno atraem muitas pessoas, principalmente
na quarta-feira, quando acontece o tradicional Tacacá na Bossa (evento cultural com apresentações
musicais, realizado por empresários atuantes na área em parceria com a Secretaria de Estado de
Cultura do Amazonas- SEC). Nesse período os bares, restaurantes e lanchonetes ficam lotados, e o
logradouro fica bastante agitado e cheio de vida, evidenciando, assim, que a população e os visitantes
se apropriam verdadeiramente deste lugar.
A observação participante empreendida no dia 09 de outubro de 2019, foi extremamente
importante para o entendimento da relação entre os indivíduos e estes espaços históricos da cidade.
Foi possível analisar esses locais dentro de contextos diferentes e compreender como os alguns
frequentadores enxergam os mesmos.
Nesse sentido, pode-se inferir que os aspectos estruturais e estéticos, bem como as questões
ligadas ao clima, ao uso e à segurança, são os grandes responsáveis pela apropriação, ou não, desses
espaços por parte da população, uma breve comparação entre os logradouros visitados durante a
atividade ajuda a corroborar este entendimento; Das três Praças observadas, duas delas (Praça do
Congresso e Largo/Praça de São Sebastião) apresentam boa estrutura física, limpeza, manutenção,
arborização adequada, presença do poder público e atrativos culturais (eventos, edificações históricas,
etc), logo, são bastante frequentadas e apreciadas pelas pessoas. Já a Praça da Saudade, por outro
lado, aparenta total abandono, sem limpeza ou manutenção, a arborização e a estrutura física são
ineficientes, eventos culturais quase nunca acontecem ali, assim, a população apenas transita pelo
local, como se fosse uma passagem qualquer, e sua única “utilidade” para os mesmos é a de ponto de
ônibus e caminho para outro lugar.

8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
104

OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.

Matheus Cássio Blach – Historiador –


9. Data de elaboração: 21/10/2019 10. Revisão:
Técnico I – Área 10 – Iphan-AM
105

11.2 Relatório 02

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes

2. Pesquisador: Yara Araújo Magabi

3. Data do campo: 16/10/2019

4. Duração do campo: 2h

5. Documentação fotográfica

Título: Avenida Eduardo Ribeiro (esquina com a Av. Título: Avenida Eduardo Ribeiro. Autor: Yara Magabi
Sete de Setembro). Autor: Yara Magabi Data: Data: 16/10/2019
16/10/2019

Título: Avenida Eduardo Ribeiro. Autor: Yara Magabi Título: Avenida Eduardo Ribeiro . Autor: Yara Magabi
Data: 16/10/2019 Data: 16/10/2019
106

Título: Avenida Eduardo Ribeiro. Autor: Yara Magabi Título: Avenida Eduardo Ribeiro (esquina com a Rua
Data: 16/10/2019 Saldanha Marinho). Autor: Yara Magabi Data:
16/10/2019

Título: Avenida Eduardo Ribeiro. Autor: Yara Magabi Título: Avenida Eduardo Ribeiro . Autor: Yara Magabi
Data: 16/10/2019 Data: 16/10/2019
107

Título: Santa Casa de Misericórdia (Rua 10 de Julho). Título: Capela da Santa Casa de Misericórdia (Rua 10
Autor: Yara Magabi Data: 16/10/2019 de Julho). Autor: Yara Magabi Data: 16/10/2019
108

6. Mapa
109

7. Relatório da Atividade
Dando continuidade ao levantamento de dados por meio da metodologia da observação
participante, no dia 16 de outubro de 2019 às 15h00, visitamos a Avenida Eduardo Ribeiro (em toda
sua extensão) e parte da Rua 10 de Julho, ambas situadas no Centro Histórico de Manaus. (Grupo 02).
A Avenida Eduardo Ribeiro é, atualmente, a principal artéria do centro da capital, tanto por
concentrar boa parte do comércio na cidade, quanto por abrigar um conjunto arquitetônico importante
para a história de Manaus. Iniciamos a observação logo no começo da Avenida, em frente à Catedral
de Nossa Senhora da Conceição (Igreja Matriz), nessa área, o fluxo de pessoas é intenso, isso pode
ser explicado por sua proximidade ao Porto de Manaus e a um terminal de ônibus, e pela grande
quantidade de estabelecimentos comerciais em seu entorno.
Foi possível perceber que a Praça 15 de Novembro (Praça da Matriz) e os Jardins da Catedral
são bastante usados pela população (em especial moradores de rua e vendedores ambulantes) como
refúgio contra o calor, já que esse local é bem arborizado e seus bancos de alvenaria são, também,
uma opção para o descanso.
A parada seguinte, durante a observação, foi na esquina com a Avenida Sete de Setembro,
nesse ponto (até a altura da Rua 24 de Maio) a movimentação é muito grande por conta do comércio,
são lojas de diversos segmentos, prédios comerciais e residenciais, bancas de jornal, vendedores
ambulantes, lanchonetes, bancos e supermercados que atraem muitas pessoas. Nessa área existem
alguns edifícios históricos que são ocupados por estabelecimentos comerciais, a maior parte desse
casario antigo apresenta suas fachadas alteradas ou quase completamente danificadas, com placas e
letreiros de propaganda, fios de eletricidade, cabos de telefonia e até encanamentos expostos. Além
disso, as reformas empreendidas nessas edificações não levaram em consideração seus aspectos
originais, o que acabou por descaracterizá-las.
Essas visíveis alterações no aspecto original desse casario, bem como a verticalização das
construções, ocorrida principalmente entre as décadas de 1960 e 1980 (período de implementação e
desenvolvimento do modelo econômico Zona Franca de Manaus, no qual foram construídos vários
prédios residenciais e comerciais ao longo da Avenida), quebram a harmonia do conjunto arquitetônico
na via e dificultam a visualização de algumas edificações históricas.
É comum perceber um bom número de pessoas paradas em frente às portas de algumas lojas,
aproveitando o alívio térmico proporcionado pelos aparelhos de ar-condicionado desses
estabelecimentos. Vendedores ambulantes e artistas amadores também se aglomeram em frente aos
comércios, na ocasião, dois músicos se apresentavam em uma das calçadas da via, tocando violão e
flauta, e cantando músicas em espanhol.
Subindo um pouco mais a Avenida, percebeu-se uma expressiva mudança de cenário neste
logradouro, na área entre as ruas 24 de Maio e Monsenhor Coutinho (na altura da Praça do Congresso),
toda a agitação do comércio, observada nas áreas anteriores, quase desaparece. Isso parece ocorrer
porque a quantidade de prédios comerciais diminui, já que predominam as edificações históricas (como
o Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, o prédio do Ideal Clube e o Largo de São Sebastião, entre
110

outros), alguns hotéis e um edifício residencial (Edifício Maximino Corrêa). Deste modo, a
movimentação mais expressiva no local é de alguns turistas, bem como universitários, que podem ser
vistos entrando e saindo dos espaços culturais existentes na área.
Na Praça Antônio Bittenciurt (do Congresso) são os alunos do Instituto de Educação do
Amazonas (IEA) que “dominam” a paisagem, conversando sentados nos gramados ou nos bancos da
Praça, ou ainda, brincando e praticando esportes, além de alguns taxistas e homens que trabalham
na reforma/restauração da Biblioteca Municipal.
Durante a pesquisa de campo tivemos a oportunidade de conversar com um taxista, nascido
em Porto Velho, que mora em Manaus há muitos anos e gosta muito da cidade. Perguntado sobre os
locais mais procurados por visitantes que vem à capital, o mesmo informou que o Teatro Amazonas e
o Museu da Amazônia (MUSA), são os preferidos. Sobre o Centro Histórico, disse que está abandonado
e muito violento, ele acredita que o PROSAMIM (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus,
que consiste em proporcionar melhorias das condições ambientais, de moradia e de saúde da
população que vive próxima aos igarapés da cidade) causou o aumento dessa violência que afastou
as pessoas do Centro.
O taxista ainda mencionou a Praça da Saudade como exemplo de tal descaso, apesar disso, o
mesmo informou que algumas coisas melhoraram nos últimos anos, como a implantação do programa
de estacionamento na área central denominado de Zona Azul, que, segundo ele, organizou o espaço
e ajudou a diminuir os assaltos e as confusões nessa redondeza, já que grande parte dos guardadores
de carro que ficavam nas ruas deslocou-se para lugares mais distantes. Citou, ainda, a revitalização
empreendida na Avenida Eduardo Ribeiro em 2015, de acordo com ele, isso melhorou “a situação da
rua”, informou que o prédio do antigo Ideal Clube está aberto para visitação e que a Praça do
Congresso é um logradouro bastante seguro e tranquilo para passeios e descanso.
Dando continuidade à observação, seguimos para a Rua 10 de Julho chegando até o prédio da
Santa Casa de Misericórdia (quase na esquina com a Rua Lobo D’Almada), neste local observamos o
completo abandono desta construção histórica (exceto pela Capela, que aparenta estar recebendo
trabalhos de limpeza e reparo), que se transformou em abrigo para moradores de rua e usuários de
droga. Em frente ao edifício notamos algumas pessoas trabalhando, guardadores de carro, outras
cortando uma mangueira e sendo supervisionados por funcionários de um hotel, além de alguns poucos
indivíduos transitando pela via. Em seguida à visita ao prédio da Santa Casa, descemos a Avenida
Eduardo Ribeiro até chegarmos ao Obelisco (Monumento ao Primeiro Centenário da Elevação da Vila
da Barra do Rio Negro à Categoria de Cidade), finalizando a observação às 17h10.
Através das observações e dos diálogos realizados durante a pesquisa de campo aqui relatada,
observou-se que a Avenida Eduardo Ribeiro exerce a função de centro comercial em quase toda sua
extensão. Nessa área a movimentação de pessoas é intensa, moradores e trabalhadores locais
misturam-se aos visitantes, o que proporciona ao observador ouvir diferentes idiomas e sotaques,
bem como assistir as complexas dinâmicas entre indivíduos de realidades distintas. Neste espaço,
percebe-se que as pessoas não param para apreciar a paisagem ou as edificações históricas (muitas
111

descaracterizadas ou cobertas por uma grande variedade de materiais de propaganda, entre outros),
as únicas paradas são nos estabelecimentos comerciais, seja para comprar algo ou, apenas, refrescar-
se do calor intenso de Manaus. Avançando um pouco mais na via (entre as ruas 24 de Maio e
Monsenhor Coutinho), a atmosfera muda quase que totalmente, o fluxo de pessoas é bem menor, a
paisagem do logradouro se transforma e apresenta um ar mais acolhedor e agradável, esse espaço é
mais arborizado, as construções antigas aparentam melhor estado de conservação, assim como a
pavimentação da Avenida e seu calçamento. Nesta altura, as pessoas se sentam nos bancos das praças
(do Congresso e Largo de São Sebastião) para descansar, conversar ou aguardar por alguém, algo
que não se vê tanto na parte mais baixa a Avenida (na altura da Rua 24 de Maio até as proximidades
da Igreja Matriz). Essa mudança de ares faz com que tenhamos a impressão de estarmos em duas
vias diferentes, tamanho contraste entre as duas áreas.
Outra observação relevante é o cenário da Avenida quando vista a partir da Praça do Congresso,
são tantos edifícios grandiosos que dificultam a visualização dos prédios históricos. A impressão é de
que se trata de uma via comum, em qualquer bairro da cidade, e não de uma avenida que faz parte
do Centro Histórico, na qual estão localizadas algumas das edificações mais importantes para a história
da cidade. Talvez, por essa razão a população acaba por ignorar esse aspecto tão significativo desse
logradouro, assim, essa mesma população apropria-se, quase que exclusivamente, da avenida apenas
como espaço comercial e/ou residencial, exceto em pontos específicos (Praça e Jardins da Matriz,
Praça do Congresso e Largo de São Sebastião, por exemplo), nos quais a relação de troca dos
indivíduos com o espaço aparenta maior expressividade.

8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.

Matheus Cássio Blach – Historiador –


9. Data de elaboração: 22/10/2019 10. Revisão:
Técnico I – Área 10 – Iphan-AM
112

11.3 Relatório 03

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes

2. Pesquisador: Mauro Augusto Dourado Menezes

3. Data do campo: 09/10/2019 e 16/10/2019

4. Duração do campo: 9h e 4h

5. Documentação fotográfica

Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro) Autor: Título: Rua Bernardo Ramos Autor: Matheus C. Blach
Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Data: 09/10/2019

Título: Início da Avenida 7 de Setembro, na Ilha de Título: Praça Dom Pedro II Autor: Matheus C. Blach
São Vicente Autor: Matheus C. Blach Data: Data: 09/10/2019
09/10/2019
113

Título: Mercado Municipal Adolpho Lisboa Autor: José Título: Teatro Amazonas Autor: Yara Araújo Magabi
Luiz Pizzol Fonte: Wikimedia Commons Data: Data: 16/10/2019
15/04/2015

Título: Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia). Autor: Título: Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia). Autor:
Mauro Augusto Dourado Menezes Data: 16/10/2019 Mauro Augusto Dourado Menezes Data: 16/10/2019

Título: Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia). Autor: Título: Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia). Autor:
Mauro Augusto Dourado Menezes Data: 16/10/2019 Mauro Augusto Dourado Menezes Data: 16/10/2019
114

6. Mapa
115

7. Relatório da Atividade
1. Primeiro dia
Iniciamos nossa observação participante na Praça da Matriz, por volta de 10h30, do dia 09 de
outubro. Para esta atividade contei com a companhia dos colegas Matheus Blach e Leandro Gomes.
Iniciamos juntos a vivência no lugar, depois fizemos a imersão individualmente.
A proposta de observação participante é o método de pesquisa em que o próprio
pesquisador se coloca como parte do universo social, vivenciando o lugar, apreendendo atributos,
características, aspectos simbólicos, que incluem costumes e apropriações dos espaços. Feita essa
digressão, continuo meu diário de campo, descrevendo as percepções das vivências realizadas.
Ao estar na praça, consigo perceber de imediato a distinção que mantém com as demais áreas
do centro. A praça possui um ambiente aprazível, arborizada, com conforto térmico e fluxo de pessoas.
Foi interessante observar a quantidade de pessoas sentadas nos bancos da praça ou mesmo em pé,
debaixo das sombras das árvores ou apenas transitando pela praça.
Os espaços debaixo das árvores são bastante prestigiados e concorridos. As pessoas que
usufruem desses espaços parecem aproveitar o lugar para fazer encontros, esperar a hora do trabalho
(pessoas com fardas), ou mesmo apenas para passar o tempo.
Tive a oportunidade de fazer o mesmo, encontrar e conhecer pessoas, ficar debaixo da sombra
das árvores, sentir a ventilação, apreciar o movimento ao redor e passar o tempo. A sensação de não
perceber o tempo passar e desejar permanecer naquele ambiente foi bastante significativo. Senti-me
em lugar acolhedor e que quebra a dinâmica e rotina das vias e da área comercial do centro histórico.
Estando sentado em um dos bancos, a praça parece ter sido estruturada para motivar a
contemplação da Igreja. É como se ela propositalmente proporcionasse para quem está na praça, uma
conexão com ela. Inclusive, ao redor da praça tem um sistema de som que transmite o áudio das
missas, canções religiosas e atividades no interior da Igreja, constituindo uma paisagem sonora
peculiar.
Ao caminhar para mais próximo da Igreja, notei que ali se constituía um pedaço de apropriação
de algumas mulheres. Notei ao ver e ouvir as abordagens estabelecidas por elas com os homens que
passavam. Constatei que aquele pedaço, à margem direita da praça, é um território ocupado por
garotas de programa, pelo menos naquele horário que estava fazendo a imersão no lugar. Esse é um
aspecto que merece mais estudos para entender a configuração das relações que rompem fronteiras
entre o sagrado e o profano.
Em seguida, parei em um mirante da praça, para iniciar um diálogo com um senhor que estava
ao meu lado, manifestei minha admiração sobre aquele ambiente, propondo que aquele senhor
escutasse minhas opiniões para despertar o posicionamento dele. Deu certo, logo em seguida ele
manifestou concordância com qualidades que estava manifestando sobre arborização e o passeio da
praça.
116

De lá, estando numa posição mais elevada da praça, observei a permanência de pessoas que
escolhem a praça para descansar e até mesmo dormir, como faziam, naquele momento, alguns
trabalhadores da limpeza pública.
Estando na Praça, tive a sensação perder o senso de localização da área de entorno da praça.
O barulho dos automóveis, sobretudo dos ônibus que circulam na região do terminal à margem da
Praça, tem seus efeitos abafados. A praça transmite a sensação de isolamento acústico, sobretudo
estando mais próximo à igreja.
Seguindo o itinerário programado, encontrei novamente meus colegas de pesquisa e seguimos
para a Ilha de São Vicente. Na Ilha, buscamos o restaurante para almoçar. Escolhemos o restaurante
“Mirage”, local que já conhecíamos. Após fazermos nossa refeição, aproveitamos para conversar com
a dona do estabelecimento. Perguntamos o que mais marca para ela ter o estabelecimento naquela
localidade, ela relatou que além de todo espaço preservado naquela rua (Bernardo Ramos), o local é
parte da memória que ela guarda da época que o restaurante era sua casa. Ao sorrir, ela conta que
estar ali, lembra a infância dela, quando brincava na rua e circulava pela região. Então, para ela ter
um empreendimento naquela localidade tem um valor afetivo.
A rua Bernardo Ramos, onde fica localizado o restaurante, possui um conjunto de bens que
marca a arquitetura da Belle Époque em Manaus, representados no conjunto morfológico dos edifícios,
calçamento por toda extensão, a começar pela Praça Dom Pedro II até o 9° Distrito Naval.
Estar nesse trecho da Bernardo Ramos possibilita uma experiência de revival (volta no tempo)
por ser uma das ruas que mais concentra atributos e características peculiares à tipologia do início da
urbanização de Manaus, vinculados ao Ciclo da Borracha. A Bernardo Ramos é configurada para
prestigiar o passeio dos pedestres, limitar a circulação de automóveis. Nota-se essa configuração a
partir do amplo calçamento, arborização e pavimentação de paralelepípedos.
As casas, nessa rua, compõem uma unidade tipológica e morfológica perceptível nas fachadas,
gabarito, vãos das portas e cores. Ao realizar a vivência no lugar, somos levados a conceber que a
área é suporte de memória da cidade.
Para averiguar se a Ilha de São Vicente mantém uma coerência nas demais quadras de ruas,
caminhamos pela Rua Frei José dos Inocentes. Diferentemente do que ocorre na Rua Bernardo Ramos,
na Frei José, a lógica de conjunto e unidade já está bastante fragmentada, mas mantém os mesmos
atributos de rua com pouca movimentação, embora com calçamento reduzido e pavimentação de
asfalto.
A Ilha de São Vicente parece guardar a vida pacata provinciana. Fomos até o fim da Rua
Gabriel Salgado, onde tem acesso ao começo de um igarapé. Ao chegarmos próximo desta área,
acenou para nós uma moradora da última casa da rua. Ao perguntarmos sobre como ela sente
morando naquele lugar, ela nos manifestou a sensação de insegurança e que por esse motivo não tem
mais vontade de passear pelo Centro. Um aspecto interesse da relação com aquela senhora foi o
acolhimento, despreocupada em estar falando com estranhos ela passou a fazer orientações espirituais
e religiosas.
117

Retornamos à rua Bernardo Ramos, seguimos para o início da Avenida 7 de Setembro. Fomos
até o fim do prédio da Amazonas Energia, onde tem uma bela vista do Rio Negro. Ficamos apreciando
o raro acesso visual do rio por algum tempo. Lembramos naquele momento ao colega Leandro que ali
era o lugar que todos os recém-chegados do IPHAN vão para ter seu “batismo” simbólico de iniciação
à trajetória no órgão. O local apresenta um contraste entre a beleza da imensidão do Rio Negro e a
poluição e abandono da área.
Seguindo a Avenida 7 de Setembro, observamos ligeiramente a Praça Dom Pedro II. Ao estar
na Dom Pedro II foi inevitável perceber que ela é o epicentro ou núcleo de uma ocupação urbana,
circundada por um conjunto remanescente de edifícios que mantém uma ligação direta com a praça.
Ela é circundada pelo Paço da Liberdade (Museu da Cidade), o Palácio Rio Branco e o antigo Hotel
Cassina. O prédio onde hoje ocupa o INSS, destoa o padrão estabelecido pelos demais da quadra, em
todos os sentidos. A circulação de pessoas na área, se dá mais pelos visitantes do Museu da Cidade
e do departamento de Segurança Pública que fica nas adjacências. Durante nossa imersão naquele
lugar, notamos que a Praça, por estar isolada em relação à área comercial, é pouco movimentada, a
não ser pelo espaço ocupado por moradores de rua.
Continuamos nossa trajetória, dessa vez fomos em direção à Praça da Igreja dos Remédios.
Para esta observação participante, contei com a parceria do pesquisador, antropólogo, Leandro
Gomes.
Na caminhada até a referida Praça, fomos identificando alguns conjuntos de bens que possuem
estruturas morfológicas e características peculiares do recorte tipológico estabelecido para
tombamento do centro histórico.
Permanecendo por quase 40 minutos, usufruímos do sombreamento, do silêncio, da ventilação,
da vista para o Rio Negro, observamos quem transitava, a qualidade dos bancos largos que parecem
“sofás de concreto” e desfrutamos de um bom lugar para dialogar. Leandro e eu percebemos o quanto
o local é propício ao encontro e conversas. Especialmente, nesta praça eu me senti num refúgio e num
universo social de uma cidade do interior. A Praça dos Remédios é bastante arborizada, possui ao seu
redor baixa circulação de carros. Diferentemente das outras praças, a dos Remédios não parece estar
conectada com os imóveis ao redor.
Naquele momento que usufruíamos da praça, escutávamos, como paisagem sonora, o som de
um senhor fazendo uma pregação e executando músicas evangélicas. Notamos que algumas pessoas
que permaneciam na praça, acompanhavam a pregação e cantavam as canções.
Dessa imersão, fomos para feira da Manaus Moderna. Observamos a fartura de peixes e
verduras. Os trabalhadores já estavam guardando parte dos produtos expostos nas bancas e fazendo
a higienização do lugar. A feira estava, naquela hora, muito tranquila, trabalhadores demonstravam
satisfação, e em um clima de fim de dia, reservavam energia para dialogar e brincar com seus colegas.
Após isso, fomos até à beira da Manaus Moderna, de lá ficamos observando os barcos que chegavam
e saíam. Do alto assistimos crianças se banhando no rio. Trocamos a posição que estávamos, viramos
nosso olhar para cidade para simular a percepção de quem está chegando à cidade. Observamos a
118

paisagem da cidade, as cores e a composição dos prédios e fachadas. Identificamos que quem chega
à Manaus Moderna, a primeira imagem que se tem é de uma cidade bastante modificada representada
na mistura de placas, propagandas e contraste entre prédios modernos e antigos. Dessa observação,
seguimos para o Largo de São Sebastião para encontrar com os colegas da equipe e finalizar a
atividade naquele dia.
2. Segundo dia
No dia 16 de outubro de 2019, a observação participante foi realizada na Av. 7 de Setembro,
no trecho compreendido entre a Igreja Matriz e a Praça Heliodoro Balbi, mais conhecida como Praça
da Polícia. Os estagiários da UEA, Silvio e Rebeca, acompanharam-me nesta atividade.
Caminhando pela avenida 7 de setembro, no trecho mencionado, pudemos notar o quanto os
conjuntos ou os bens representativos da tipologia arquitetônica da Belle Époque estão fragmentados
e são raros nessa área. Quando estamos nesta Avenida, chama atenção o gabarito de mais de quatro
pavimentos dos edifícios situados nessa localidade e a largura reduzida das calçadas. Aspecto que
causa uma quebra na lógica que fundamentam as qualidades, atributos e características observadas
no primeiro trecho dessa mesma avenida, na região da Ilha de São Vicente.
Ao chegar à Praça Heliodoro Balbi, tivemos a impressão de reencontrarmos as qualidades
observadas na Ilha de São Vicente. Na Praça são salvaguardadas calçadas largas e densa arborização,
características que cooperam para qualidade do passeio, permanência e o conforto térmico.
Outros aspectos que agradaram quando chegamos à praça foi a presença de guardas de
segurança, assim como a presença de profissionais de limpeza, enfatizando a sensação de segurança
e bem-estar.
A paisagem de fundo da Praça é delineada pelo Palacete Provincial ao fundo e Colégio
Amazonense Dom Pedro II à esquerda, compondo o conjunto daquela área.
Ao realizarmos o primeiro momento de vivência na praça, observei que o meu exercício de
observação estava sustentado num olhar naturalizado da praça, pois senti-me conformado ao lugar,
uma vez que aquela paisagem foi cenário por três anos, que fui estudante no Colégio Amazonense
Dom Pedro II e mais uns 10 anos que trabalhei no Centro. No entanto, a lembrança foi despertada
quando notei que alguns aspectos da praça foram alterados. Como por exemplo, “os lagos artificiais”
com fundo de cor verde, imitando piscina, modifica a ideia que tinha de um “lago de verdade”. As
fontes não funcionam mais e não há mais peixes nos lagos.
Tirando essa memória reconstruída a partir das ausências, estar na praça nos proporcionou
percepção de uma série de características e atributos do lugar. Lugar de encontro e sociabilidade, a
praça é boa para conversar, compartilhar e desfrutar do tempo em pleno centro urbano da cidade.
Caminhando pela área central da praça, avistei na proximidade do coreto um vendedor de água,
que fazia seu trabalho naquela tarde. Fiquei curioso para saber qual seria o olhar daquele que utiliza
a praça como lugar para o seu trabalho. Ao conversar com ele, ele relatou que a praça é bonita por
ter esculturas, arborização, museu, coreto, bancos que servem de lugar de descanso. O movimento é
tão bom que dá para vender bem.
119

Logo depois, busquei diálogo com um grupo de meninas estudantes. Elas esboçaram receio ao
perceber minha aproximação. Apenas uma delas quis conversar comigo. Ao perguntar se ela gostava
da Praça e o porquê, ela respondeu: “a praça é um bom lugar de encontro; você não gosta de ninguém,
você vem para praça”. Foi o que ela conseguiu responder, resistindo aos insistentes pedidos para sair
dali. A frase daquela moça, reforça como a praça é espaço para começar novos relacionamentos e
criar amizades. Ou mesmo, alguém que precisa vir à praça para ficar sozinho. O episódio das
estudantes, trouxe uma reflexão sobre uma divisão social de gênero de uso dos espaços públicos. Foi
notório após este start, notar a permanência e o trânsito muito mais de homens do que de mulheres.
Notamos outra rara presença feminina na praça. Ela permanecia por muito tempo apoiando-se
no guarda-corpo da ponte que atravessa um dos chafarizes. Ao perguntarmos sobre a sua percepção
do local, ela justificou não poder contribuir muito por ser venezuelana e que não estava há muito
tempo na cidade, mas mesmo assim insistimos na sua contribuição para a pesquisa. Então, ela
declarou que achava bonita a quantidade de árvores, sendo esse aspecto, segundo ela, um atrativo
para as pessoas frequentarem ali. Ela, ainda, fez críticas à infraestrutura, a sujeira e mobiliários
quebrados. Outro aspecto negativo, destacado por ela, foi a sensação de insegurança que ameaça o
uso da praça, sobretudo a noite.
Uma outra atração da praça é o reconhecido e memorável Café do Pina. O café fica em uma
das extremidades da praça, para quem vem subindo a Avenida 7 de Setembro. Decidimos usufruir
daquele pedaço, sentamo-nos, fizemos nosso pedido e começamos a conversar com o gerente do
estabelecimento, que demonstrou interesse em dialogar conosco. Ele contou que trabalha com a
família Pina há 34 anos e há 12 no café. Ele destacou que o café é um dos motivos que trazem as
pessoas para praça. Ressaltou com orgulho o fato de seu estabelecimento manter o modo de fazer
café, há mais de 50 anos, considerado por ele como tradicional, pois poucas lanchonetes oferecem
café produzido no coador, comparou ele. Ele relembrou as mudanças de lugar da estrutura do café,
ocupando diversas localidades da praça.
O gerente ao descrever sua experiência como comerciante no centro, reclamou sobre a
desvalorização do centro pelas gestões governamentais. Para ele uma das intervenções
governamentais negativas que implicaram diretamente no rendimento das atividades de prestação de
serviços e comércio no centro, foi a implantação da zona azul. Segundo ele, a zona azul afastou a
população do centro. Ele considera que a "zona azul" é responsável por “afastar” a população e
“obrigar” os empresários a investirem e levarem seus negócios para os bairros. O espaço dos
empreendedores amazonenses no centro tem sido ocupado pelos chineses. Segundo ele, "os chineses
estão tomando conta", "para cada loja que fecha no centro, há um chinês abrindo no mesmo lugar".
Outros aspectos que têm afastado os frequentadores do centro e da praça é a limpeza e falta
de segurança. Ele comentou que a limpeza ele mesmo providencia na área mais próxima ao café, no
entanto os outros pedaços da praça ficam descobertos por um zelo contínuo. A presença de
policiamento é limitada, permitindo que lugar seja alvo fácil da atuação de assaltantes.
120

Ressaltou que o Café do Pina por ser um dos estabelecimentos mais antigos daquela região do
centro, ocupa relevância na história da cidade, reservando práticas sociais e encontros de uma clientela
que frequenta o lugar há bastante tempo. Ele lamentou o fato de ao longo desse tempo ter registrado
a perda da presença de sua clientela e esse tipo de frequentador assíduo não tem sido renovado.
Durante essa conversa, fazíamos o delicioso chance, tapioca com queijo e tucumã, sanduíche,
seguido do famoso café tradicional. Após essa conversa, continuamos a observação.
Durante uma nova caminhada na praça, encontramos um casal num dos bancos mais ao centro
da praça, próximos a um coreto e resolvemos fazer mais algumas indagações. Perguntamos a eles se
frequentam regularmente a praça. O rapaz respondeu que sim. Ele comentou ainda que gosta do lugar
porque ele se sente no espaço antigo, com “clima antigo”. Revelou que é um bom lugar para fazer
leitura e que ali estudou para o vestibular, o que garantiu seu ingresso à faculdade de Jornalismo.
“Aqui é ótimo para quem está com problema e quer raciocinar”. Chamou a atenção para a arborização,
pois o ambiente natural o agrada. Criticou a falta de limpeza. Para ele, o coreto precisa ser protegido,
a parte externa do Palacete deve ser preservada e a pintura repensada e reformada.

8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.

Matheus Cássio Blach – Historiador –


8. Data de elaboração: 20/12/2019 9. Revisão:
Técnico I – Área 10 – Iphan-AM
121

11.4 Relatório 04

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes

2. Pesquisador: Matheus Cássio Blach

3. Data do campo: 09/10/2019

4. Duração do campo: 9h

5. Documentação fotográfica

Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro) Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro)
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019

Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro) Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro)
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019
122

Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro) Título: Praça da Matriz (Praça XV de Novembro)
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019

Título: Rua Bernardo Ramos Autor: Matheus C. Título: Praça Dom Pedro II Autor: Matheus C.
Blach Data: 09/10/2019 Blach Data: 09/10/2019

Título: Rua Frei José dos Inocentes Autor: Título: Sede do Projeto Casa do Frei (Instituto
Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Amazônia) Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019
123

Título: Sede do Projeto Casa do Frei (Instituto Título: Sede do Projeto Casa do Frei (Instituto
Amazônia) Autor: Matheus C. Blach Data: Amazônia) Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019 09/10/2019
124

6. Mapa
125

7. Relatório da Atividade
A aplicação da metodologia de observação participante teve início no dia 09/10/2019 por volta
das 10h da manhã. A proposta foi realizar trajetos no Centro Histórico de Manaus orientados pela
poligonal estabelecida pelo dossiê de tombamento, orientados pelos mapas de percepção que haviam
sido realizados até aquela ocasião e orientados pelas minutas de readequação da poligonal de
tombamento e entorno realizadas pelos técnicos da Superintendência do Iphan no Amazonas. Além
de percorrer os trajetos estipulados, os pesquisadores, conversaram com moradores, comerciantes,
vendedores ambulantes e transeuntes que utilizavam esses espaços da cidade e indicavam novos
roteiros e lugares.
Assim, os pesquisadores Leandro Eustáquio Gomes, Mauro Augusto Dourado Menezes e eu
(Matheus Cássio Blach), compondo o Grupo 01, iniciamos a atividade a partir da Praça da Matriz (Praça
XV de Novembro). Após uma breve caminhada por uma das calçadas, decidimos nos separar, para
que cada um pudesse ficar à vontade para explorar e observar aquele ambiente. Enquanto caminhava
tomei notas sobre o que observava em um gravador de voz, o qual utilizo para relembrar pontos
importantes e traduzi-los nessa análise. Com o objetivo de organizar o texto optei por dividir a análise
em dois momentos/espaços: primeiro relato a aplicação da metodologia na área da Praça da Matriz e
e seu entorno e em seguida na Praça Dom Pedro II (Paço da Liberdade) e seu entorno.
Desse modo adentrei o espaço da praça seguindo em direção ao seu ponto mais central. A
primeira impressão que tive foi do fluxo de pessoas na Praça. A movimentação era, de fato, enorme,
muitas pessoas passavam por ali atravessando a praça e seguindo em direção, principalmente, a
Avenida Eduardo Ribeiro. No entanto, muitas pessoas caminhavam em direção ao Porto e a Rua 15 de
Novembro. Esses fluxos mais intensos partiam do próprio Porto e do Terminal de Ônibus da Praça da
Matriz. A maioria das pessoas apresentavam um caminhar mais apressado. Apesar do desenho da
Praça com caminhos, canteiros e jardins, as pessoas optam por realizar o caminho mais curto entre
um ponto e outro, atravessando por cima do gramado e criando pequenas trilhas de terra onde a
grama pisada já morreu. Outras, com o caminhar mais lento, estavam dentre aquelas que exerciam
alguma atividade na praça, como vendedores ambulantes, panfleteiros, pedintes, funcionários da
prefeitura realizando manutenção e coleta de lixo, dentre outros.
Além desses, também se notou um público estacionário, ainda que bem menor: os
trabalhadores dos quiosques de venda de lanches, moradores de rua e diversas outras pessoas que
estavam ali sentadas nos bancos da praça. Neste primeiro momento já se evidenciou a importância
da presença de árvores nos espaços públicos de Manaus. Os bancos que estavam sob a sombra das
árvores estavam, praticamente, todos ocupados. Já àqueles ao sol, vazios.
O trânsito de veículos nos arredores da praça também é considerável. O número de taxis lotação
que vêm da Av. Eduardo Ribeiro impressiona e ao mesmo tempo incomoda, pois os motoristas têm o
hábito de passarem buzinando para chamar a atenção de possíveis passageiros no entorno da praça.
Já o fluxo que vem da Rua 15 de Novembro e Avenida Floriano Peixoto, prioriza os ônibus, sobretudo
devido ao Terminal que ali existe. De fato, a praça é um ambiente bastante barulhento em que se
126

escuta os sons dos veículos, os gritos e palmas dos vendedores que ficam na rua, anúncios e músicas
com caixas de som das lojas nos arredores, dentre outros.
O grande fluxo de pessoas, veículos e sons fez com que minha atenção ficasse presa ao que
estava acontecendo ao meu redor mais imediato. As diversas narrativas a respeito do centro de
Manaus, que relatam esse espaço como um local violento em que ocorrem muitos assaltos e outros
crimes, podem ter contribuído para essa fixação do olhar num horizonte mais restrito. No entanto, em
um esforço maior de apreensão da paisagem cultural, elevei meu olhar para o entorno e edificações
ao redor praça. Assim, a partir do centro da Praça pude observar se destacando na paisagem: o
conjunto de ruínas do Booth Line, a entrada do Porto de Manaus e a antiga Casa da Tração Elétrica, o
edifício do Banco do Brasil e o antigo edifício do Ministério da Fazenda.
Os dois últimos citados, a meu ver, impactam de forma negativa a paisagem da Praça. O edifício
do Banco do Brasil, um grande bloco cúbico de cor branca e cinza apresenta aspecto austero, que
destoa de seu entorno não estabelecendo diálogos morfológicos nem com as construções
contemporâneas, nem com as construções antigas dessa área. O potencial reflexivo de suas cores
agride o olhar, embora não tanto quanto a frente espelhada do antigo edifício do Ministério da Fazenda.
Este, talvez seja o edifício mais marcante na paisagem devido a sua altura absolutamente
descontextualizada com os arredores da Praça. O espelho faz um desserviço a capacidade de conforto
térmico de suas imediações na Praça ao tempo que parece tentar amenizar um problema que ele
mesmo causa, refletindo a imagem oposta da paisagem urbana e do céu, tornando sua presença
menos incômoda ao olhar.
As fachadas dos prédios da Avenida Eduardo Ribeiro que ficam na quadra da Praça, observada
de longe, apresentam uma certa unidade morfológica, sendo preservado parte considerável do
gabarito das construções. Além disso, nota-se características arquitetônicas originais a partir do
segundo pavimento dessas edificações, uma vez que, quase todos os térreos foram convertidos em
frentes de lojas.
Ao percorrer a parte “interna” da praça, ou seja, os jardins da Igreja, nota-se um fluxo bem
menor de pessoas enquanto um número maior de pessoas sentadas às sombras oferecidas pela
arborização do espaço. Aqui, foi possível observar alguns turistas visitando a igreja, pessoas
caminhando mais lentamente com sacolas de compras, casais namorando, vendedores ambulantes de
gêneros alimentícios variados, dentre outros. Uma presença curiosa é a das profissionais do sexo que
provocam o estabelecimento de uma relação, pelo menos aparentemente, harmoniosa entre o
“sagrado” e o “profano” naquele lugar. Existe um local específico em que elas ocupam e oferecem seus
serviços aos homens que transitam por ali.
Por fim, tive a oportunidade de conversar com uma senhora que estava sentada em uma mureta
próxima a lateral esquerda da Igreja. Ela relatou que não frequenta o centro e que vai ali apenas uma
vez por mês para receber uma cesta básica. A senhora, desempregada, trabalha fazendo “bicos” como
faxineira, embora tenha relatado que durante muitos anos foi artesã e vivia viajando pelo país como
feirante. Aproveitei a oportunidade e a disposição que ela manifestou em conversar para perguntar-
127

lhe quais locais de Manaus ela recomendaria para alguém “de fora” visitar caso quisesse conhecer a
história e a cultura da cidade. Ela disse que Manaus “tem muita História” e que, além da própria Praça
da Matriz, seria interessante conhecer a Praça Dom Pedro II, Teatro Amazonas, o Mercado Adolpho
Lisboa e a feira Manaus Moderna. Sobre a Praça Dom Pedro II, no entanto, ela disse que não era bom
eu ir lá naquele momento pois era um lugar muito perigoso e abandonado. De fato, o trajeto que
fizemos mais tarde, partindo da Matriz e indo em direção a Praça Dom Pedro II, através do terminal
de ônibus e passando pela Rua Visconde de Mauá, revelou um ambiente tumultuado com grande fluxo
de veículos e pessoas, com muitas edificações abandonadas, com condições de preservação
aparentemente precárias e pouco policiamento. É notório que dois dos pesquisadores envolvidos com
essa pesquisa tem relatos pessoais de incidentes com furtos e roubos nessa mesma área.
Por último, a senhora com que conversava, recomendou que eu adentrasse a Catedral de Nossa
Senhora da Conceição (Matriz) porque em seu interior existe um museu que conta toda a história de
como a Igreja era, de quando ela pegou fogo e de como ela se tornou o que é hoje. A fala dela revela
indícios de que a narrativa que atribui valor a Igreja enquanto patrimônio é de fato incorporada em
suas percepções sobre a história de Manaus, demonstrando o potencial de difusão dessa narrativa
entre a população.
Em seguida caminhamos em direção à Praça Dom Pedro II e seu entorno. Como já estávamos
nos aproximando do horário de almoço optamos por ir em um restaurante situado na rua Bernardo
Ramos na altura do número 43. Assim, analisou-se esse trecho da rua, que vai do seu início até a
Praça Dom Pedro II.
No restaurante tivemos a oportunidade de conversar com a proprietária que nos relatou que,
antes de ser um espaço comercial, aquele lugar foi a casa de sua família tendo morado ali durante 20
anos. A proprietária do restaurante contou que durante a sua infância brincava muito na rua que era
mais larga, com calçamento de asfalto liso e com as calçadas estreitas. Informou que o alargamento
das calçadas, o calçamento de pedra e o estreitamento da via para a circulação de apenas um veículo
por vez, foi bem mais recente.
Essa rua é, talvez, a que apresenta maior número de edificações aparentemente preservadas.
A altura das casas segue uma uniformidade notória, elemento raramente perceptível em outros locais
pesquisados no Centro Histórico de Manaus. Esse trecho da Bernardo Ramos revela uma rua
aconchegante que, com bastante árvores, calçadas largas e trânsito de veículos reduzido, parece
convidar para uma agradável caminhada contemplando as edificações que a compõe.
Após realizar a observação na Rua Bernardo Ramos, seguimos para o início da Avenida 7 de
Setembro, no ponto em que se tem o contato direto com o rio. No entanto, para fins de organização
textual, optei por traduzir em análise a observação desse trecho no relatório em que trato
especificamente dessa avenida.
Desse modo, após observar o referido trecho da Avenida 7 de Setembro, seguimos de fato para
a Praça Dom Pedro II. A praça apresentava-se como uma praça jardim, repleta de árvores e plantas
menores, Coreto em ferro fundido e o piso de saibro. O espaço abriga um sítio arqueológico em que
128

foram encontradas urnas e diversos outros vestígios da presença das civilizações pré-coloniais. Em
seu entorno destacam-se o Paço da Liberdade (Museu da Cidade), o Palácio Rio Branco e o antigo
Hotel Cassina. De forma negativa destaca-se o prédio onde hoje ocupa o INSS, a altura do prédio
destoa do entorno e rouba o protagonismo dos prédios históricos no contexto da praça. A
movimentação de veículos ao seu redor é reduzida, com exceção da face voltada para a Rua
Governador Vitório. O fluxo de pessoas também é menor, sobretudo se comparado com a Praça da
Matriz. De fato, a mudança de ambiente é significativa entre esses dois espaços, geograficamente, tão
próximos. A maior movimentação de pessoas envolve o acesso ao Museu da Cidade, nessa ocasião e
em outros momentos notei a presença de ônibus de turismo e de grupos escolares estacionados em
frente ao museu, embora nunca tenha observado grupos de turistas no interior da praça. O Coreto é
usado como abrigo por moradores de rua, esses sim, ocupantes permanentes da praça.
Por fim, a praça oferece um conforto térmico relativamente bom, apesar de arborizada a
densidade das copas parece não a proteger efetivamente do sol, gerando poucos pontos com sombras.
Mais uma vez, os espaços em que se faz sombra são ocupados, porém, diferente da Praça da Matriz,
não tão disputados. A impressão de abandono ou de vazio é notória, contudo, a praça figura-se como
um local mais calmo. Talvez, solucionando o problema da segurança pública, a praça possa atrair um
público maior sem perder essa qualidade de ser um ambiente de tranquilidade. Cabe destacar que as
observações aqui descritas foram realizadas em data anterior ao início da última obra de revitalização
da praça que ocorre no momento da escrita desse relatório. Os impactos positivos e negativos da nova
intervenção deverão ser mensurados novamente, em outro momento.
Em seguida nos direcionamos para a Rua Frei José dos Inocentes. A rua apresenta alguns
imóveis aparentemente preservados e outros nem tanto. Uma parte das construções são parecidas e
mantem mais ou menos a mesma altura, o que confere a sensação de unidade para o conjunto. O
fluxo de veículos parece ser pequeno, alguns moradores transitavam pelas ruas, algumas senhoras e
crianças andavam tranquilamente.
Passamos em frente a Casa do Frei, um projeto social mantido pelo Instituto Amazônia com a
comunidade dos moradores da Ilha de São Vicente. Em frente, o mesmo instituto também mantém o
projeto Caminhos da Arte onde são ofertados cursos de dança, circo, teatro, dentre outros, para a
comunidade. Posteriormente, no decorrer da pesquisa, contamos com o apoio do Instituto Amazônia
para reunir esses moradores e realizarmos uma Oficina de Mapas de Percepção com eles.
Por fim, continuamos caminhando pela área até encontrarmos com uma moradora na Rua
Gabriel Salgado. A moradora já vive nessa área há 14 anos, após alguns minutos de conversa
perguntei a ela quais os locais da cidade ela recomendaria a visita para alguém que quisesse conhecer
a história e a cultura de Manaus. Ela disse que os locais são a Praça da Matriz e o Largo São Sebastião
que são os lugares onde tem “muita coisa bonita pra se ver”.

7. Referências Bibliográficas
129

APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora


Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.

Mauro Augusto Dourado – Antropólogo


8. Data de elaboração: 27/11/2019 9. Revisão:
– Técnico I – Área 1 – Iphan-AM
130

11.5 Relatório 05

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes

2. Pesquisador: Matheus Cássio Blach

3. Data do campo: 09/10/2019

4. Duração do campo: 9h

5. Documentação fotográfica

Título: Praça do Congresso (Praça Antônio Bittencourt) Título: Praça do Congresso (Praça Antônio
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Bittencourt) Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019

Título: Praça do Congresso (Praça Antônio Bittencourt) Título: Praça do Congresso (Praça Antônio
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Bittencourt) Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019
131

Título: Praça da Saudade (Praça 5 de Setembro) Título: Praça da Saudade (Praça 5 de Setembro)
Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019 Autor: Matheus C. Blach Data: 09/10/2019

Título: Teatro Amazonas Autor: Yara Araújo Magabi Título: Teatro Amazonas Autor: Yara Araújo Magabi
Data: 16/10/2019 Data: 16/10/2019
132

6. Mapa
133

7. Relatório da Atividade
A aplicação da metodologia de observação participante teve início no dia 09/10/2019 por volta
das 10h da manhã. A proposta foi realizar trajetos no Centro Histórico de Manaus orientados pela
poligonal estabelecida pelo dossiê de tombamento, orientados pelos mapas de percepção que haviam
sido realizados até aquela ocasião e orientados pelas minutas de readequação da poligonal de
tombamento e entorno realizadas pelos técnicos da Superintendência do Iphan no Amazonas. Além
de percorrer os trajetos estipulados, os pesquisadores, conversaram com moradores, comerciantes,
vendedores ambulantes e transeuntes que utilizavam esses espaços da cidade e indicavam novos
roteiros e lugares.
Após ter percorrido a área representada pelo Grupo 01 no mapa, durante o período da manhã
e início da tarde, me desloquei para a área representada pelo Grupo 02. Juntamente com as
pesquisadoras Yara Araújo Magabi e Luciane da Silva Queroga. Posteriormente o grupo foi integrado
também pelos pesquisadores Rebeca Nunes de Melo e Silvio Márcio Freire de Alencar Filho. Demos
início a essa segunda parte da observação a partir da Praça Antônio Bittencourt (Praça do Congresso).
A Praça apresenta áreas bem arborizadas, com gramados e bancos, locais propícios para a
permanência evidenciado pela presença de jovens estudantes e moradores do entorno que ocupam
esses espaços. A parte central da praça por onde se seguia a continuidade da Avenida Eduardo Ribeiro,
caracteriza-se por ser um espaço aberto, com calçamento e sem arborização. O espaço é propício para
a realização de eventos, manifestações políticas e culturais evidenciados pelo grande número de
ocorrências desse tipo pontuadas na agenda anual da cidade. Além disso, a praça conta com
barraquinhas que vendem lanches e uma banca de livros e revistas que tem tanto um aspecto
comercial como também divide o espaço com uma proposta de minibiblioteca pública da Secretaria de
Estado de Cultura do Amazonas.
De modo geral o trânsito de veículos ao redor da Praça é moderado, no entanto, sua face
voltada para a Avenida Ramos Ferreira apresenta volume intenso. As edificações do entorno
apresentam certa uniformidade quanto à altura, porém, sem unidade estilística notória. O condomínio
do Edifício Maxímino Corrêa é uma exceção, rompendo completamente a harmonia do conjunto. O
edifício, de valor estético duvidoso, assume protagonismo na paisagem da Praça, concorrendo com o
edifício do Instituto de Educação do Amazonas o qual deveria ser o prédio mais imponente da área,
tendo em vista o projeto urbanístico que conformou a construção da própria Avenida Eduardo Ribeiro.
Ainda assim, existem edifícios que podem ser inseridos na lógica de interesse a preservação como
Teatro Gebes Medeiros e a Biblioteca Municipal João Bosco Evangelista.
A partir da Praça, ainda é possível enxergar o topo da torre da Igreja de São Sebastião, parte
da Cúpula do Teatro, quase toda a extensão da Avenida Eduardo Ribeiro e por muito pouco não se
tem uma visada do Rio Negro, talvez no período de cheia isso seja possível. O fluxo de pessoas é
moderado. Em comparação com a Praça da Matriz, localizada no início da Avenida Eduardo Ribeiro,
esse fluxo é consideravelmente menor. A praça tem seguranças que a monitoram e um número
considerável de pessoas ocupando e permanecendo nos espaços sombreados, bancos, gramados,
134

barracas e banca, sobretudo, os estudantes do Instituto de Educação do Amazonas. É notório que


existe uma preocupação com a manutenção do espaço, pois ele se apresenta limpo, com a grama
aparada e em ótimo estado de conservação.
Mesmo o andar daquelas pessoas que transitam pela Praça, apenas com o intuito de atravessá-
la, parece mais tranquilo do que na Praça da Matriz. De fato, o ambiente transmite certa tranquilidade,
é bem ventilado e as sombras são agradáveis, a presença de jovens, crianças e moradores denota um
ambiente familiar. Não observei ou pude identificar a presença de turistas.
Tive a oportunidade de conversar com o proprietário da banca de livros da Praça que atua
naquela localidade há dois anos. Ao questioná-lo sobre os locais de Manaus que seriam representativos
da história e da cultura da cidade, ele me indicou conhecer o Museu da Cidade, destacou a Avenida 7
de Setembro dizendo que ali tem “muita coisa”, como a Praça da Polícia, o Palacete Provincial e a
Biblioteca Pública do Amazonas. Em seguida ele indicou o Museu do Índio, o Largo de São Sebastião,
o Teatro Amazonas e o evento cultural Tacacá na Bossa.
Por fim, o entrevistado relatou que o principal público que ocupa a Praça é de moradores locais
e estudantes e que os turistas transitam por ela devido à proximidade com Hotéis em seu entorno,
mas que esse fluxo segue em direção ao Teatro Amazonas.
Em seguida, me reuni com as demais pesquisadoras e nos direcionamos para a Praça 5 de
Setembro (Praça da Saudade). A Praça tem um design notável que remete aos modelos franceses de
urbanização do século XIX, que privilegiam ruas largas, grandes praças e racionalização do traçado.
Está localizada entre duas vias de grande circulação de veículos, a Avenida Epaminondas e a Rua
Ferreira Pena. O fluxo de pessoas e veículos é intenso e a praça se apresenta bastante ruidosa. O
grande fluxo de pessoas parece ir e vir da lateral da praça em que se encontra uma parada de ônibus,
muito movimentada. Assim, a maioria das pessoas a atravessa ou circunda na direção desse local em
que se tem o acesso ao transporte público.
A praça é bem ventilada, no entanto tem poucas árvores no seu interior proporcionando quase
nenhuma sombra. Além disso, não apresenta bancos e locais propícios para a permanência. Durante
o dia é privilegiado o fluxo e a passagem com a presença de alguns moradores de rua e usuários de
droga. Durante a noite o cenário muda um pouco, na medida em que o fluxo diminui, o número de
moradores de rua aumenta e alguns jovens marcam presença ocupando o centro da praça, onde existe
um monumento em homenagem à Tenreiro Aranha em que eles ficam sentados.
A praça não aparenta receber manutenção regular, é suja e cheia de lixo, pichada e passa uma
imagem de abandono e insegurança. De fato, de todos os locais em que visitei e observei durante a
pesquisa, a Praça da Saudade foi o único que me senti verdadeiramente preocupado com minha
segurança e com receio até mesmo de utilizar os equipamentos de gravador de áudio, aparelho celular
e câmera fotográfica.
A percepção do entorno é limitada pela arborização externa que acompanha as ruas e avenidas
ao redor. Parece existir um isolamento visual da praça e do seu entorno, o que não contribui para a
sensação de segurança, pois a impressão é que você não está sendo visto ali no meio. Na rua Simão
135

Bolívar existem alguns edifícios de interesse á preservação apresentando características estilísticas


preservadas e alguma unidade em relação a altura das construções.
Em diversas apresentações ocorridas em função da aplicação da metodologia dos Mapas de
Percepção, no decorrer dessa pesquisa, além do relato de uma moradora do entorno da Praça que
estava com seu imóvel a venda, com quem conversamos, a Praça da Saudade surge como um peculiar
espaço de memórias afetivas perdidas. Os relatos indicaram que a Praça era repleta de atrativos como
equipamentos urbanos para crianças, além de evento e festividades frequentes que a mantinham com
um espaço cheio de vitalidade. No entanto, após uma dita “revitalização” pela qual a praça passou, foi
supostamente retomado seu design original vinculado ao projeto de cidade da Belle Époque manauara.
Esse novo design teria removido esses elementos que atraiam as pessoas e garantiam a vitalidade e
apropriação social da praça.
Assim, o uso cotidiano imprimia qualidades que foram perdidas, como a própria segurança
passiva proporcionada pela permanência de pessoas no lugar. É notório que a senhora com quem
conversamos disse que ela já foi Praça da Saudade e que hoje é “Praça do Inferno”.
Em seguida, já ao final da tarde, nos deslocamos para o Largo de São Sebastião onde
permanecemos até aproximadamente 20h para podermos analisar também, o contexto do evento
semanal Tacacá na Bossa.
O Largo de São Sebastião é um espaço amplamente conhecido na cidade e até nos cenários
nacional e internacional a partir do Turismo. Apresenta uso misto voltado para o comércio, serviços,
moradia, lazer e entretenimento com excelente infraestrutura. É frequentado por uma grande
diversidade de pessoas, destacando-se a presença marcante e contínua de turistas locais, regionais,
nacionais e internacionais. É um espaço que não privilegia o fluxo ou a permanência se caracterizando
pelas duas ocorrências de forma equilibrada. Mediante a ação da Secretaria de Estado de Cultura do
Amazonas e diversos outros agentes possui uma agenda diversificada que garante o seu uso durante
todo o ano, destacando-se, o evento semanal Tacaca na Bossa e a agenda cultural do Teatro
Amazonas.
Um número grande pessoas atravessa o largo diagonalmente partindo da Av. Eduardo Ribeiro
em direção a Avenida Getúlio Vargas onde se concentram diversas paradas de ônibus. Por outro lado,
um número considerável de pessoas permanece no local realizando atividades diversas como tirando
fotografias, conversando com amigos, passeando de bicicleta, patins, skate ou triciclo, comendo e
bebendo nos bares e restaurantes, visitando o Teatro Amazonas e outros espaços culturais, jogando
Damas ou Dominó.
O largo conta com caixas de som que tocam músicas em volume adequado, o ruído do trânsito
é minimizado, sobretudo na área da rua José Clemente em que não ocorre tráfego de veículos
motorizados.
Destacam-se na paisagem, o Teatro Amazonas com protagonismo notável, o Monumento à
Abertura dos Portos no centro da praça, a Igreja de São Sebastião e o casario em estilo eclético de
seu entorno. Alguns elementos agridem a percepção do Teatro Amazonas como protagonista da
136

paisagem, como o Edifício Maximino Corrêa, o Edifício Cidade de Manaus e outros que marcam o
processo de verticalização do centro, embora existam graus diferentes e específicos de impactos
causados por esses prédios que marcam a paisagem. De modo geral a praça é muito bem conservada
e limpa, possui grande vitalidade e os componentes de seu entorno imediato se apresentam bem
conservados.
Especificamente na Praça de São Sebastião nota-se uma arborização mais densa enquanto nos
demais espaços do largo ela é menor. Os bancos localizados à sombra das árvores são disputados, a
impressão que fica é de que poderiam ter mais árvores e mais bancos no Largo. A disposição das
árvores ao redor da praça prejudica a apreciação estética do teatro enquanto o seu interior fica
desprovido de sombreamento. De fato, o espaço interno da praça só é ocupado efetivamente pelas
pessoas ao anoitecer. Nesse momento, diversas pessoas sentam-se no próprio Monumento à Abertura
dos Portos e muitas crianças correm e brincam no espaço aberto da praça. No entanto, algumas
pessoas ainda reclamam, pois mesmo passadas algumas horas do pôr-do-sol, o material construtivo
do monumento ainda retém o calor. Parece sensato supor que uma requalificação visando ao
paisagismo da praça, poderia privilegiar uma visada mais ampla do Teatro Amazonas, destacando seu
protagonismo na Paisagem, ao mesmo tempo em que se garanta mais sombra e mais locais de
permanência e usufruto.
Por fim, na medida em que as horas passaram a ambiência do largo foi se alterando e cada vez
mais pessoas ocupavam o local, enquanto a continuidade do fluxo de pessoas que apenas o
atravessavam, foi diminuindo. Organizadores do Tacaca na Bossa prepararam o palco e distribuíram
cadeiras. Cada vez mais, um número maior de pessoas se sentava e aguardava o começo do show.
Muitas outras pessoas iam chegando, ocupando outros espaços e se envolvendo e diversas atividades.
Moradores de rua e pedintes, turistas, moradores do entorno, artistas de palco e de rua e diversos
outros compõem o cenário. A quente e animada noite no Largo de São José é marcada pela diversidade
de grupos sociais, seus usos e apropriações. No entanto, essa vitalidade é observada de forma mais
notável apenas nessa área. Findo o horário comercial, grande parte do Centro de Manaus parece
esvaziar-se durante a noite, denotando uma impressão de abandono e insegurança. O uso misto da
maioria dos espaços do Centro de Manaus não se verifica na mesma extensão em que ocorre no largo,
caracterizando problemas urbanos graves como o da ocupação efetiva através da habitação. De fato,
o largo figura-se como um verdadeiro projeto piloto para o Centro Histórico de Manaus, com
diversidade de grupos sociais, de usos e apropriações, de serviços, com infraestrutura adequada e
vitalidade exemplar.

7. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
137

Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis : Vozes,
1998.
NORA, Pierre. Entre memória e história: A problemática dos lugares. Revista Projeto História, São
Paulo, PUC, n. 10, pp. 7-28, dezembro de 1993.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.

Mauro Augusto Dourado –


8. Data de elaboração: 20/12/2019 9. Revisão: Antropólogo – Técnico I – Área 1 –
Iphan-AM
138

11.6 Relatório 06

Dados Gerais
1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes
2. Pesquisador: Luciane Queroga e Matheus Blach
3. Data do campo: 16/10/2019
4. Duração do campo: 4h

5. Documentação fotográfica

Título: Início da Avenida 7 de Setembro, na Ilha de Título: Início da Avenida 7 de Setembro, na Ilha de
São Vicente Autor: Matheus C. Blach Data: São Vicente Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019 09/10/2019

Título: Início da Avenida 7 de Setembro, na Ilha de Título: Início da Avenida 7 de Setembro, na Ilha de
São Vicente Autor: Matheus C. Blach Data: São Vicente Autor: Matheus C. Blach Data:
09/10/2019 09/10/2019
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Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane
Queroga Data: 16/10/2019 Queroga Data: 16/10/2019

Título: Edificações da Avenida Sete de Setembro. Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane
Autor: Luciane Queroga Data: 16/10/2019 Queroga Data: 16/10/2019

Título: Praça Heliodoro Balbi. Autor: Luciane Queroga Título: Praça Heliodoro Balbi. Autor: Luciane
Data: 16/10/2019 Queroga Data: 16/10/2019
140

Título: Praça Heliodoro Balbi. Autor: Luciane Queroga Título: Praça Heliodoro Balbi. Autor: Luciane
Data: 16/10/2019 Queroga Data: 16/10/2019

Título:Fachada Cine Polytheama, atual lojas Título: Fachadas de casas que remete ao período da
americanas. Autor: Luciane Queroga Data: Belle Époque. Autor: Luciane Queroga Data:
16/10/2019 16/10/2019

Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane Título: Parque Senador Jefferson Péres. Autor:
Queroga Data: 16/10/2019 Luciane Queroga Data: 16/10/2019
141

Título: Ponte sobre o Igarapé Manaus. Autor: Luciane Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane
Queroga Data: 16/10/2019 Queroga Data: 16/10/2019

Título: Salão Rio Solimões e Palácio Rio Negro. Autor: Título: Palácio Rio Negro. Autor: Luciane Queroga
Luciane Queroga Data: 16/10/2019 Data: 16/10/2019

Título: Avenida Sete de Setembro. Autor: Luciane Título: Fachadas de casas que remete ao período da
Queroga Data: 16/10/2019 Belle Époque. Autor: Luciane Queroga Data:
16/10/2019
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Título: Fachadas de casas que remete ao período da Título: Ponte sobre Igarapé Bittencourt. Autor:
Belle Époque. Autor: Luciane Queroga Data: Luciane Queroga Data: 16/10/2019
16/10/2019

Título: Parque Senador Jefferson Péres. Autor: Título: Parque Senador Jefferson Péres. Autor:
Luciane Queroga Data: 16/10/2019 Luciane Queroga Data: 16/10/2019
143

6. Mapa
144

7. Relatório da Atividade
A aplicação da metodologia de observação participante teve início no dia 16/10/2019 por volta
das 14h. A proposta foi realizar trajetos no Centro Histórico de Manaus orientados pela poligonal
estabelecida pelo dossiê de tombamento, orientados pelos mapas de percepção que haviam sido
realizados até aquela ocasião e orientados pelas minutas de readequação da poligonal de tombamento
e entorno realizadas pelos técnicos da Superintendência do Iphan no Amazonas. Além de percorrer os
trajetos estipulados, os pesquisadores, conversaram com moradores, comerciantes, vendedores
ambulantes e transeuntes que utilizavam esses espaços da cidade e indicavam novos roteiros e
lugares.
O presente relatório diz respeito a incursão realizada pelo Grupo 01, composto pelas
pesquisadoras Karla Bitar (superintendente do Iphan no Amazonas), Luciane da Silva Queroga e
Matheus Cássio Blach (eu), no dia 16/10/2019 (MAPA). Desse modo, o relato trata da observação e
análise do eixo estruturante da Avenida 7 de Setembro. A
referida avenida figura-se como um dos eixos principais do Centro de Manaus, sendo meio de
acesso para diversos Bairros, principalmente da zona leste e sul. Além do mais, é uma das avenidas
de grande representatividade para a história política e para a história do urbanismo da cidade,
acompanhando o crescimento e expansão do núcleo urbano de Manaus. Outrossim, também está
ligada à circulação e memórias afetivas de parte da população. A avenida também faz cruzamentos
com outras principais ruas de fluxo de entrada e saída do centro, assim como ruas que trazem em seu
nome à referência a figuras públicas consideradas importantes como Lobo D’Almada, Getúlio Vargas,
Joaquim Nabuco e outros.
Cabe ressaltar que durante a pesquisa de campo do dia 09/10/2019, Grupo 01, fizemos a
análise do trecho da Avenida 7 de Setembro que vai de seu início, na Ilha de São Vicente, até o
cruzamento com a Avenida Eduardo Ribeiro. No entanto, com o objetivo de uma melhor organização
textual, omitimos essa análise do relatório que diz respeito ao campo do dia 09/10 para ser incorporado
no presente relatório, apresentando assim, uma visão geral mais coesa da Avenida 7 de Setembro.
Assim, a incursão realizada no dia 09/10 deu-se a partir da ponta em que a avenida encontra
o Rio Negro. O local preserva, atualmente, um dos dois únicos pontos de contato direto e visada direta
para o rio no centro histórico de Manaus, identificados nesta pesquisa.7 Durante a cheia do rio, suas
águas podem chegar até o início do asfalto, invadindo também, algumas construções do começo da
avenida. Durante a época mais seca, ocasião em que realizamos a observação participante, o rio recua
formando uma grande praia e revelando a poluição presente em suas margens. O volume de lixo
impressiona e o mal cheiro incomoda. No entanto, isso não impediu de encontramos uma banhista no
local. A mulher conversava sozinha enquanto secava-se, sentada ao sol, em suas roupas de baixo.

7 O segundo local identificado é a rampa ao lado do Mercado Adolpho Lisboa, usado durante a cheia do rio para
acesso de pequenas embarcações e como lugar de banho de crianças e moradores de rua; e durante o período seco,
como acesso à praia que se forma, onde é montada uma pequena feira de produtos que chegam de barco.
Considerou-se estes dois espaços com os únicos pelo fato de o acesso via Porto de Manaus ser restrito.
145

Além disso, encontramos os vestígios de um fogão improvisado com restos de peixe assado. Apesar
dos aspectos negativos descritos, ficou notório que o local ainda é utilizado, mesmo diante dos riscos
de contaminação representados pela poluição. A visada do rio e da Ponte Phelippe Daou, ignorando-
se a praia repleta de lixo, ainda preserva sua qualidade paisagística. Indício disso é o fato que, mesmo
nas atuais condições, é comum que turistas que visitam o Museu da Cidade e a Praça D. Pedro II vão
no local para ver o rio.
Dando sequência, seguimos pela avenida em direção ao cruzamento com a Av. Eduardo Ribeiro.
A primeira quadra da avenida não apresenta edifícios preservados nem com características que
remetem ao período do ciclo da borracha. No entanto, entre a travessa Carolina e a rua Gabriel Salgado
existem diversos edifícios que mantém tais características. Ao lado direito para quem “sobe” o gabarito
permanece pouco alterado representando certa unidade de conjunto, enquanto as fachadas também
mantêm alguma unidade de estilo arquitetônico contudo, em condições precárias de preservação. Do
lado esquerdo observa-se os fundos do casario da rua Bernardo Ramos, esse sim, em condições bem
melhores de preservação. A continuidade da unidade é rompida por um espaço aparentemente em
abandono que parecia ser destinado a ser um estacionamento da área do porto e depois é retomada
até chagar na Praça D. Pedro II. Neste ponto, temos o edifício atualmente ocupado pelo INSS que
rompe completamente com a lógica urbana remanescente do ciclo da borracha no entorno da praça,
roubando o protagonismo do Paço da Liberdade e de outros edifícios cujo projeto urbanístico
intencionava dar maior destaque.
Dali em diante, até a avenida Eduardo Ribeiro, destacam-se diversos edifícios de interesse à
preservação, porém, a unidade de conjunto estilística parece-nos ser mais descontínua. No entanto, o
gabarito é relativamente bem preservado até que se cruze a Eduardo Ribeiro. Ou seja, o trecho não
apresenta nenhum edifício que conflite com a lógica do marco paisagístico que a Igreja Matriz
representa nesse espaço urbano.
Na medida em que nos deslocamos da Ilha de São Vicente rumo a Eduardo Ribeiro, o cenário
gradativamente se altera. O fluxo de pessoas e veículos aumenta substancialmente, a arborização
parece diminuir, as calçadas cada vez mais cheias de pessoas, parecem mais estreitas, embora não
tenhamos notado uma diferença real significativa entre suas dimensões no início da avenida e neste
ponto mais “acima”. Conforme descrito em outros relatórios, o espaço que perpassa os fundos da
Praça da Matriz é marcado pela presença de garotas de programa. Aos poucos nota-se um número
maior de vendedores ambulantes e pequenas barracas de venda instaladas de forma improvisada nos
cantos das calçadas.
Ao chegarmos na Avenida Eduardo Ribeiro, demos por encerrado está parte do campo do dia
09/10. Assim, retomaríamos a percepção da avenida no dia 16/10 partindo desse cruzamento,
passando pela Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia), pela Ponte Romana I, pelo Palácio Rio Negro e
indo até a Ponte Romana II, no cruzamento com a Rua Jonathas Pedrosa.
146

A primeira percepção da avenida é a de via que apresenta um fluxo constante de automóveis,


assim como de pessoas. A avenida apresenta calçadas estreitas, ocupadas por bancas de vendas,
dificultando em muitos momentos a circulação de pedestres e até mesmo de automóveis.
A área do cruzamento com a Eduardo Ribeiro, até a esquina com a rua Guilherme Moreira, tem
de ambos os lados uma forte predominância do comércio varejista de diversos segmentos fazendo uso
dos prédios de referência histórica. A exemplo disso tem-se o antigo Grande Hotel e a Casa Vinte e
Dois Paulista. O cenário é uma intercalação de prédios com fachadas que remetem ao início do século
XX e os contemporâneos. No entanto, prevalecem os edifícios contemporâneos, muitos destes, com
estrutura inacabada, com estética que destoa do padrão do conjunto de imóveis que possuem
linguagem arquitetônica de interesse a preservação. Outro aspecto a ser salientado sobre a avenida é
a poluição visual, marcado pelas placas e banners de publicidade, bem como pelo emaranhado de
fiação elétrica. A unidade ligada a permanência de um gabarito equilibrado que se notava antes do
cruzamento com a Eduardo Ribeiro se perde completamente a partir desse ponto.
Outra sensação percebida ao estar nessa área é o de agitação provocada pela quantidade de
pessoas que trafegam, parando para avaliar produtos que chamam atenção nas lojas, em alguns
momentos provocando esbarros. Podemos identificar outra característica marcante na avenida é a
performance criativa dos vendedores em busca de atrair a atenção da população. Esse tipo de
abordagem, no entanto contribui para sensação de agitação e movimento.
Um outro aspecto característico que podemos observar na avenida é o fato de ser permeada
por edifícios nos dois lados. Esse aspecto somado ao fluxo de pedestres e de carros cria a sensação
de estar numa rua, cujas dimensões parecem ser menores do que é na realidade.
Contudo, o cenário acima apresentado muda significativamente a partir do encontro das ruas
Guilherme Moreira, José Paranaguá e Sete de setembro, pois a paisagem de comércio e substituído
pelo colégio Amazonense Dom Pedro II na esquerda, que com seus gradis ao seu entorno, ausência
de arborização parece provocar um afastamento involuntário da população. E no lado direito da
avenida, a Praça Heliodoro Balbi que remete a certo isolamento acústico e possibilita relação com
espaço diferente do resto da avenida, pois enquanto no entorno há presença de todo um aspecto de
agitação urbana, a praça apresenta arborização, jardins, bancos, coreto, um conjunto de mobiliários
urbanos que remete ao período do ciclo da borracha, constituindo uma sensação de tranquilidade e
fuga diante da agitada rotina do centro urbano.
Durante a observação todos os bancos estavam ocupados, havia pessoas fazendo uso dos
coretos, sentados na borda do lago, também alguns debruçados sobre o corrimão da ponte e outros
nos dois quiosques de alimentação da praça. Os bancos eram ocupados por mais de uma pessoa, no
qual uns conversavam entre si, outros usando o celular e a sua maioria apenas estavam sentados
como em um momento de descanso e de contemplação do espaço.
A praça também é usada por residentes ou indivíduos que aguardam o melhor horário para
pegar o transporte público que circula na avenida Getúlio Vargas, uma das principais avenidas usadas
como fluxo de saída do centro pelos trabalhadores e estudantes. A praça concentra pessoas que
147

aguardam ou que saem da visitação ao Palacete Provincial, um dos prédios históricos que compõem o
cenário da praça. O Palacete tem função de museu, bastante frequentado por pessoas da própria
cidade como por turistas de várias origens.
A cada avanço na caminhada, a avenida vai ganhando um aspecto mais calmo e com prédios
que remetem um padrão mais residencial, com algumas construções do início do século XX porém,
com uma paisagem deteriorada devido alguns edifícios estarem com aspecto de abandono e
depredados seja por pichações, por receberem faixas de propaganda comercial ou por terem suas
fachadas marcadas por emaranhados de fiação.
A partir do cruzamento com a avenida Joaquim Nabuco a presença de edificações que remete
ao período da Belle Époque torna-se mais presente, porém, ainda descontínuas não caracterizando
um conjunto coeso. Também perpassamos as Pontes Romanas (Floriano Peixoto e Marechal Deodoro)
construídas sobre os igarapés Manaus e Bittencourt que passam pelo parque senador Jefferson Peres.
O Parque mantém uma estética agradável, do lado direito a ponte há uma área toda cercada
de grades, com presença de seguranças transitando pelo espaço, há pessoas fazendo uso para
caminhadas, corridas, registros fotográficos e equipe de manutenção fazendo a limpeza do local, o
lado esquerdo à ponte a uma área de parque, todavia, configura uma característica diferente ao lado
direito, com ausência de manutenção, sem grades no entorno e com menor fluxo de pessoas
desfrutando do espaço.
Dentre as construções presentes, sobressai o palácio Rio Negro, que em sua faustosa
edificação em estilo eclético demonstra de forma isolada a ostentação do período do ciclo da borracha,
por sua construção rica de detalhes arquitetônicos e um jardim frontal com a predominância de várias
estátuas e poste “Cajado São José” ornando a área.
Ainda na avenida, encontra-se um conjunto de nove casas, com tipologia e morfologia
semelhantes, embora de cores diferentes, todas tem fachada em linha reta, platibanda, uso de cornija,
evidenciando contraste entre conservação e deterioração.
Dentre o conjunto das nove casas, acima mencionado, com exceção da edificação que teve
função de prefeitura que atualmente está abandonada, as demais casas do conjunto estão em uso
como residência, hotel e espaços comerciais.
A atividade também possibilitou um momento de interação com três senhoras moradoras do
centro, uma delas é proprietária de um pequeno lanche na área do parque localizado na esquina da
Avenida Sete de Setembro com a Rua Jonathas Pedrosa, uma rua que também mantém um conjunto
de dez casas com o mesmo padrão de fachada mencionado anteriormente. Entre essas edificações,
algumas casas foram ampliadas verticalmente, porém, aparentemente, sem perder a harmonização
com a linguagem do modo de construção estabelecidos na Belle Époque.
Em conversa com essas senhoras, perguntei os locais que elas indicariam para alguém que
queira conhecer a história e a cultura manauara. Elas responderam indicando o palácio Rio Negro,
justificando que esse é um lugar importante por atrair muita gente. “Frequentemente ônibus param
em frente ao local para visitação e registro fotográfico”. Além desse, o museu do índio, Teatro
148

Amazonas, Palácio da Justiça, Palacete Provincial e Usina Chaminé. Estes lugares, para essas senhoras,
podem ser considerados como bens que compõem o patrimônio histórico de Manaus.
Ao conversar com a proprietária da uma pequena lanchonete, ela lembrou do tempo que morou
no centro. Quando completou dezesseis anos foi morar em Maceió. Ao casar-se retornou à Manaus,
naquele tempo, com trinta anos de idade, ou seja, passados 24 anos, a cidade estava muito diferente,
relatou ela. A cidade, segundo ela, quando se mudou, tinha apenas quatro bairros, ao regressar
percebeu o quanto tinha crescido com surgimento de muitos novos bairros.
A outra senhora com quem conversamos também mora no centro, desde os seus cinco anos de
idade. Tanto a primeira como esta, herdaram, dos pais, as casas que moram. Elas formam a terceira
geração que reside em suas casas. Elas lembram, ainda, que na área onde moram possuía apenas
três casas.
Na oportunidade da conversa com essas senhoras, elas contaram que nos anos 60 os locais de
entretenimento eram: Cine Veneza, Guarani e o Polytheama. O bonde era o transporte utilizado para
deslocamento com destino ao mercado. O mercado é relembrado por uma delas, como o local
frequentado pela manhã, sempre acompanhadas dos seus pais. Durante as compras no mercado, elas
lembraram que degustavam os diferentes sabores de mingaus que lá eram vendidos.
Quando perguntado se elas costumam passear no centro, uma delas revelou que vai para fazer
compras, principalmente na avenida Eduardo Ribeiro. Normalmente, evitam circular pelo centro devido
a considerarem o espaço inseguro. Segundo elas, a Praça da Saudade, atualmente, não se pode andar
pois é um espaço de predominância de usuários de drogas. Para exemplificar, descreveram como
usufruíam dessa praça. A Praça da Saudade era o lugar que os jovens se encontravam para dançar.
Não raro retornavam da praça tarde da noite, pois era tranquilo. Hoje, elas percebem o quanto é
inseguro andar no centro e o quanto os espaços perderam qualidade, descrição observada em uma
das declarações que fizeram “o que tinha de bonito agora acabou”.
Durante nossas conversas, embora terem citado várias edificações históricas, uma das
senhoras emitiu a seguinte declaração: “não há muita coisa histórica em Manaus”. Quando ela fez
essa declaração, provocou um certo desagrado a uma das outras senhoras que se opôs a afirmativa.
Notamos, também, que outras referências culturais em Manaus, para elas, são: a praia da Ponta
Negra, o Encontro das Águas e outras áreas naturais presentes na cidade.
Procurando estabelecer vínculos com suas experiências pessoais e memórias afetivas
continuamos fazendo perguntas que levaram as senhoras a se lembrarem do Teatro Amazonas como
um símbolo da cidade, assim como as praças, o Porto, o Hotel Amazonas, a Casa do Tesouro e Hotel
Cassina.
Diante da visão das moradoras é notável que o conhecimento compartilhado está muito atrelado
a experiência de vida, memórias e recortes, principalmente, da infância e do contexto de uso do centro.
Logo, diante da experiência, é possível olhar para a avenida Sete de Setembro como uma área
que contém uma riqueza de edificações com valor histórico emergentes no período do auge do Ciclo
149

da Borracha, devendo ser alvo da salvaguarda, porém não apresenta conjuntos a serem tombados,
mas alguns imóveis que conservam tipologia e morfologia da arquitetura dos bens da Belle Époque.

8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.

Mauro Augusto Dourado – Antropólogo


9. Data de elaboração: 27/10/2019 10. Revisão:
– Técnico I – Área 1 – Iphan-AM
150

11.7 Relatório 07

Dados Gerais
1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes
2. Pesquisador: Luciane Queroga
3. Data do campo: 09/10/2019
4. Duração do campo: 4h

5. Documentação fotográfica

Título: Praça Antonio Bittencourt. Autor: Matheus Título: Praça Antonio Bittencourt. Autor:
Blach Data: 09/10/2019 Matheus Blach Data: 09/10/2019

Título: Praça V de setembro. Autor: Matheus Título: Praça V de setembro. Autor: Matheus
Blach Data: 09/10/2019 Blach Data: 09/10/2019
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Título: Praça V de setembro. Autor: Matheus Título: Praça V de setembro. Autor: Matheus
Blach Data: 09/10/2019 Blach Data: 09/10/2019

Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi
Data: 09/10/2019 Data: 09/10/2019

Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi
Data: 09/10/2019 Data: 09/10/2019
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6. Mapa
153

7. Relatório da Atividade
O primeiro dia de observação participante ocorreu em 09 de outubro, na qual fiz parte do Grupo
02, que percorreu o trajeto envolvendo, por ordem de observação, a Praça Antônio Bittencourt, Praça
5 de setembro e Largo de São Sebastião.
A Praça Antônio Bittencourt inaugurada em 1908, recebe esse nome em homenagem ao
governador Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, também conhecida popularmente como Praça do
Congresso, pois, nela ocorreu o 1° Congresso Eucarístico Diocesano. A praça tem uma boa localização,
no final da avenida Eduardo Ribeiro em frente ao Instituto de Educação do Amazonas – IEA. É uma
praça que está rodeada de construções históricas vivas, que mantém características originais aduzindo
assim, uma boa harmonização. O edifício Maximino Corrêa, uma construção muito elevada em relação
aos demais prédios, contrapõe o cenário e figura-se como uma exceção ao aspecto de harmonização
das edificações que a praça apresenta. De modo geral o espaço é bem conservado, limpo, arborizado
e com a presença de guardas municipais, uma banca de revista, vários bancos ao longo da praça e
lixeiras públicas.
A observação aconteceu em uma tarde quente manauara, e deu-se às quinze horas e três
minutos e o fluxo de pessoas na localidade era pequeno. As pessoas que faziam uso do espaço estavam
nos bancos situados sob as árvores, algumas aproveitando a sombra para descanso, degustação de
uma fruta ou conferindo o celular, enquanto circulavam ambulantes de picolés da massa e trufas. A
quantidade de pessoas na praça aumentava ao passo que os estudantes do IEA se aglomeravam em
pequenos grupos. Com isso, é notável que um dos principais público da praça, no decorrer do dia, são
os alunos e a concentração dá-se em áreas arborizados.
Conforme relatou-me uma senhora, ela faz uso da praça com certa frequência, pois todos os
dias aguarda a filha sair da faculdade. Além disso, ela destaca as sensações de tranquilidade e
segurança somadas à paisagem e ventilação que a localidade apresenta. Ela sente-se bem em ficar
na praça e disse que indicaria esse espaço para ser visitado por outras pessoas pelo apreço que já tem
do local. Outrossim, a entrevistada também destacou ser um espaço bonito e bem localizado, pois
está próximo do principal atrativo de Manaus, o Teatro Amazonas, assim como de outros prédios de
atração turística.
Em outro momento pude conversar com um grupo formado por cinco estudantes da Escola
CEJA Professora Jacira Caboclo que estavam usufruindo do espaço pela primeira vez, por indicação de
um amigo que frequenta a praça assiduamente. Informaram que foram convencidos a ir devido as
boas indicações no que refere a segurança e estética. Mediante essa visita que descobriram a
localização e o nome da praça que até então não conheciam. Quando perguntei, porque não realizar
esse momento de socialização na praça 5 de Setembro (Praça da Saudade) que fica mais próxima da
escola que eles frequentam, foi unânime a resposta: infelizmente aquela praça não apresentavam os
mesmos atributos da Praça Antônio Bittencourt, como segurança e espaços gramados com sombras.
Por meio de um primeiro olhar do grupo de estudantes, foi identificado que a presença de um
guarda no local e uma quantidade de pessoas fazendo uso do mesmo espaço é o que transmite a
154

sensação de segurança, assim como ter um gramado com possibilidade de sentar e a arborização que
faz com que a praça possa ser usada mesmo em dias quentes. A praça também transparece a
impressão de que é passa por manutenções constantes pelo aspecto de conservação e limpeza.
Em seguida nos deslocamos para a Praça 5 de Setembro, também conhecida como Praça da
Saudade. Há uma grande mudança de cenário comparado a praça Antônio Bittencourt, pois, enquanto
na primeira tem-se a sensação de um espaço amplo e que está ligada à sua adjacência, a Praça 5 de
Setembro, devido a estruturação das árvores de seu entorno, transmite a sensação de espaço fechado,
bloqueando a visão da praça para a paisagem do arredor. Isso parece trazer isolamento e insegurança
para quem está na praça. O espaço também perde uma das principais funções de uma praça, a
socialização, pois não há muitos bancos e os que tem estão posicionados diretamente sob o sol,
impossibilitando a permanência. Além do mais, a praça exibe uma estética deteriorada, visto que há
traços de má conservação do monumento em homenagem a Tenreiro Aranha, pichações, ausência de
arborização, que de forma geral, acarreta um afastamento das pessoas.
No entanto, é comum ver pessoas transitando pela praça, revelando sua função como local de
passagem. Na lateral que dá acesso à rua Simão Bolívar, existe uma parada de transporte público,
sendo a área com maior concentração de pessoas. Foi interessante notar a diferença entre os
quiosques presentes nas laterais da praça: os da lateral da rua Ramos Ferreira estavam fechados e
com aspecto de abandonados, enquanto a da rua Simão Bolívar estavam em funcionamento,
expressando que não é a praça que influencia a movimentação da população e sim a parada de ônibus
anexada a ela.
Uma das residentes que vive no entorno da praça revelou que, após anos morando naquela
localidade, está com a casa à venda. A moradora relatou que não está obtendo êxito no processo de
venda da sua casa e atribuiu a falta de interesse na compra do imóvel à reputação negativa que praça
adquiriu. A moradora utilizou-se da expressão “Já foi praça da saudade, hoje está mais para a “Praça
do inferno” ao relembrar o quão prazeroso era morar próximo à praça antes da reforma que a
descaracterizou enquanto espaço de convívio. Era um local com atrações para toda família, todavia,
atualmente não há nenhuma área nela que promova o uso do espaço, como atrativos de lazer e
interação, tornando-se um local em decadência e inseguro, onde o principal público são moradores de
rua e usuários de entorpecentes. As pessoas que usufruíam da localidade evadiram por ela não ter
mais um aspecto convidativo ao uso.
Por fim, nos deslocamos para o Largo de São Sebastião. Ao contrário da praça 5 de Setembro,
possui uma estrutura muito convidativa, pois, está localizado em frente ao maior símbolo da Belle
Époque em Manaus, o Teatro Amazonas. Também há na redondeza outros prédios de significância
histórica como a Igreja de São Sebastião, um conjunto de casas que ainda mantém um padrão nas
fachadas embora tendo funções diferentes de uso e os postes de iluminação.
Assim como ao entorno do largo é notável toda uma organização para manter a vitalidade da
área com predominância de restaurantes, pizzaria, cafeteria, bares, sorveterias, quiosques de comidas
regionais, galerias, centro culturais, lojas de artesanato, centro de atendimento a turistas, agências
155

de viagens e hotéis. Todo esse contexto possibilita a união do contemporâneo e o passado histórico
tornando o local um espaço de uso que envolve todas as idades, para momento de descanso, lazer,
passeio, encontro com amigos, socialização, degustação, registros fotográficos, entre outros usos.
O largo possui bancos ao seu redor e no centro está o monumento de abertura dos portos. É
um espaço bem arborizado e ao longo da observação o silêncio foi substituído por músicas regionais
que eram ouvidas em todo o largo, os bancos estavam todos ocupados enquanto vários vendedores
ambulantes, em sua maioria venezuelanos, ofereciam seus produtos como água, dim-dim gourmet,
picolé e café.
Conversando com um fotógrafo que já trabalha no largo há 8 anos, o mesmo relatou que o
espaço nunca fica vazio e há sempre um turista ou um residente com solicitação de uma foto. Os locais
favoritos para o registro são: a fachada do teatro seguido do monumento de abertura dos portoa. O
Teatro figura-se como o principal atrativo em Manaus, todos que visitam a cidade vão ao teatro para
conhecê-lo e consequentemente ao largo, porém quem vai especificamente ao largo, muitas vezes
não entra no teatro. O fotógrafo também mencionou, que os frequentadores do largo fazem uso do
espaço entre 13 e 16 horas e que estão mais interessados em se sentar à sombra para se encontrar
com alguém, conversar ou mesmo apenas descansar.
O cenário começa a mudar a partir das dezesseis e trinta como foi possível notar,
compreendendo a fala do fotógrafo, em especial na quarta feira, pois acontece semanalmente o evento
chamado Tacacá na Bossa onde há apresentações gratuitas de artistas locais. Por isso, cadeiras
começam a preencher as áreas vazias em frente aos estabelecimentos, enquanto um pequeno palco
é organizado próximo ao quiosque do Tacacá da Gisela, o fluxo de pessoas aumenta em uma junção
de residentes, grupos de estudantes e turistas.
Diferentes idiomas podem ser ouvidos como o inglês, francês e espanhol, como notado em uma
mesa no Ponto do Açaí, quatro amigos estrangeiros se divertiam enquanto degustavam da bebida
regional, um casal francês mantinha um diálogo enquanto se deslocavam ao Monumento da Abertura
dos Portos, em um dos bancos um grupo de senhores embarcavam em uma acirrada disputa no jogo
de damas.
Em contato com uma das frequentadoras que escolheu o largo para encontrar uma amiga,
quando perguntei o porquê da escolha do largo, ela usou como resposta a boa lembrança que tinha
do local, assim como a estética, a segurança e por ser um local conhecido por todos. Vale ressaltar
que era a primeira vez que ela retornava ao largo desde sua infância, quando visitava a local
acompanhada de seus pais. Em sua opinião, o local manteve-se com o mesmo aspecto de como
lembrava, considerando-o um Patrimônio pois é um local que pessoas de vários locais do mundo já
conhecem, principalmente pela proximidade ao Teatro Amazonas e, acima de tudo, pela significância
histórica e cultural que apresenta para os manauaras.
Assim, diante do contexto observado, fica evidente que os principais aspectos que possibilitam
o uso dos espaços estão diretamente atrelados à valorização estética, predominância da arborização
e a segurança. Esse entendimento é possível mesmo diante do fato que muitos dos indivíduos que
156

responderam às perguntas que contribuíram para esse resultado, não tivessem um entendimento
conceitual a respeito do Patrimônio Cultural. Ainda assim, foi possível pontuar qual o grau de
importância dos espaços pesquisados e quais características desses lugares que são mais apreciadas.

8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.

Matheus Cássio Blach – Historiador –


9. Data de elaboração: 20/10/2019 10. Revisão:
Técnico I – Área 10 – Iphan-AM
157

11.8 Relatório 08

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes

2. Pesquisador: Rebeca Nunes de Melo

3. Data do campo: 09/10 e 16/10

4. Duração do campo: 09/10 – 17h às 19h 16/10 – 14h às 17h

5. Documentação fotográfica

Título: Praça da Saudade. Autor: Matheus Blach Título: Largo São Sebastião. Autor: Yara Magabi
Data: 09/10/2019 Data: 09/10/2019

Título: Estado da calçada. Autor: Yara Magabi Título: Praça da Polícia. Autor: Luciane Queroga
Data: 09/10/2019 Data: 16/10/2019
158

6. Mapa
159

7. Relatório da Atividade
09/10 – Quarta-feira, 17h às 19h
Praça da Saudade
Apesar do pouco tempo de permanência na praça, pois a pesquisa já estava sendo finalizada
naquele trecho, foram observadas reclamações que no cotidiano manauara, infelizmente, tornaram-
se frequentes: o descaso e o abandono da praça seja pelo poder público quanto pelo civil (que torna-
se cada vez mais constante devido às inúmeras queixas sobre barulho e insegurança) deixam a praça
livre para que os assaltantes e viciados possam utilizá-la a vontade, de maneira que expulsa ainda
mais a população por medo. Quase que vazia, sem bancos, e com poucas árvores, o ambiente não se
torna muito confortável para aqueles que constantemente buscam por sombra ou apenas um lugar
para descansar. Além de que a praça se tornou até motivo de tristeza para aqueles que tiveram uma
infância marcada pelas brincadeiras no antigo parquinho que ali havia.
Largo São Sebastião
No Largo de São Sebastião, todos os dias é possível observar alguma apresentação ou
espetáculo, seja dentro do Teatro Amazonas ou no próprio Largo, em virtude disso habitualmente
consta um fluxo razoável de pessoas, mas nas noites de quarta-feira é quando ele realmente enche,
em especial, pelo Tacacá na Bossa. O público é diversificado: estudantes, famílias, estrangeiros,
turistas, músicos e artistas de rua, vendedores ambulantes e de artesanato. No canto da praça, em
um dos bancos, uma cena familiar e nostálgica surge: senhores de idade jogando damas, ao serem
abordados a recepção foi amigável e apesar de a partida estar intensa, todos pareciam prestar atenção
em tudo ao seu redor. “Todo dia viemos pra cá jogar, é um lugar bonito de se olhar e também é
melhor por que tem as árvores e aí não é tão quente, fora que nessa praça tem mais gente e já fica
mais seguro, porque na Praça da Saudade, por exemplo, só é doido que fica lá.” comenta um dos
senhores. Quando mencionado sobre quão raro é ver pessoas jogando damas na rua a maioria deles
parece dar um riso meio que nostálgico e um deles afirma que a juventude só quer saber de brincar
“com” as damas e xadrez só se for o que te faz ver o sol nascer quadrado.
Um jovem que também observava a partida começou uma conversa e logo revelou que ele era
de São Paulo, mas estava morando em Manaus há dois anos. Ele afirmou que não gostava muito de
Manaus, que tem que tomar vários banhos em um só dia, pois é muito quente e também afirmou que
a infraestrutura da cidade é muito antiga. “Se estivesse em bom estado tudo bem, mas você vê as
coisas quebradas e velhas, olha aquela lata de lixo quebrada, olha o estado desses bancos, as calçadas
têm pisos fora do lugar, isso a gente não vê com frequência em outras cidades, mas aqui é quase em
todo lugar, tem muitas ruas esburacadas e quando chove no Centro é uma confusão, alaga tudo. No
Japão essas árvores iam ser todas sintéticas, por mim, deveriam modernizar ou reformar, porque se
for pra deixar velho e feio, mal preservado, melhor que mude tudo de uma vez.”
Em outro banco não muito distante, um argentino observava a cena com tranquilidade, quando
questionado sobre o porquê de ele ter vindo para Manaus, ele deu um sorriso ao dizer em um
160

português embolado “Na verdade, era um sonho de criança. A gente escuta histórias sobre a Amazônia
e sobre a cidade no coração da selva. Antes de vir para Manaus, eu achava que era uma vila com um
teatro bonito no meio da selva e aí quando cheguei aqui foi que eu descobri que na verdade é uma
grande cidade dentro da selva. Vocês manauaras tem muita sorte do que tem, eu fui na Casa Eduardo
Ribeiro, rica em história! A história de vocês é muito interessante. Eu gosto mais de natureza, passei
duas semanas em Presidente Figueiredo, lindo demais! Mas eu realmente gostei dos museus aqui, eu
recomendaria a Casa Eduardo Ribeiro porquê eu acho muito importante as pessoas saberem quando
é que teve o primeiro governador negro, isso é importante.” Ao ser informado que ele em apenas três
semanas no Amazonas já sabia mais do que boa parte dos manauaras sobre história local, o mesmo
aparentou desapontado mas não surpreso “As pessoas não sabem o que têm, a cidade de vocês é
linda! Linda! Tem gente que vem de fora pra ver o que vocês tem aqui e o povo não valoriza,
infelizmente acho que é assim em quase todo lugar.”
A observação participante foi finalizada com uma dose de tacacá e uma apresentação do grupo
Casa de Caba.
16/10 – Quarta-feira 14h às 17h
Praça Heliodoro Balbi / Praça da Polícia
A observação começou em grupo com a companhia do Mauro Augusto e Silvio Márcio, após
andar um pouco pela praça, observamos que aquela deveria ser uma das praças mais arborizadas de
Manaus, que formava quase uma cobertura sobre todo o perímetro. Na ponte que atravessa o chafariz,
abordamos uma venezuelana que estava ali, ela disse que gostava da praça só durante o dia, pois
pela noite era muito perigoso. Quando questionada sobre o que ela achava bonito na praça e o que
poderia melhorar, a mesma respondeu que achava bonita a quantidade de árvores, afirmou que aquele
contato com a natureza deveria ser o que atraía as pessoas já que inúmeras vezes grupos se reuniam
para ver a iguanas que ali aparecem. Ela também afirmou que o que poderia melhorar seria a
infraestrutura da praça, ela via muita coisa suja e rachada ou quebrada, mas que ainda dava para ser
salva.
Depois seguimos para o café do Pina, que segue em atividade desde 1951 no mesmo local. O
Café foi tombado como bem imaterial da cidade em 2016 e até hoje é ponto de encontro para
movimentos políticos e culturais como o Projeto Jaraqui e o Clube da Madrugada. Pedimos um lanche
e depois conversamos com o gerente que disse trabalhar há 30 anos no Café do Pina, tentamos
perguntar o que ele gostava na praça mas a negatividade sempre vinha à tona e apenas conseguimos
obter queixas sobre a implantação da Zona Azul, que afetou o tempo de permanência das pessoas no
centro e também da insegurança que surge com o cair da noite. Também foi possível observar que
quando meus companheiros falavam algo, o gerente escutava atentamente e quando eu fazia alguma
observação ou pergunta, o mesmo continuava a falar por cima e pouquíssimas vezes direcionava o
olhar. Ele já aparentava ter idade e falava do passado como os “melhores tempos” com a presença de
alguns comentários conservadores então é possível que a cultura machista deva ser algo normal e que
não foi muito trabalhada com o mesmo.
161

Depois de inúmeras tentativas sem sucesso para obter um aspecto positivo da praça com o
gerente, nos separamos para finalizar a observação participante sozinhos, ao entrar em um sebo,
começo a conversar com um cliente assíduo que estava de saída, e quando questionado sobre o que
ele achava importante no centro, ele afirma “Na verdade, eu acredito que o Centro inteiro é importante
mas as pessoas não sabem disso. Eu tiro fotos e quando postei uma foto do pôr-do-sol na 7 de
setembro, todo mundo veio me perguntar onde era aquilo. O povo daqui não sabe valorizar, eu não
vejo investimento pra cuidar do patrimônio.”

8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.

Mauro Augusto Dourado – Antropólogo


9. Data de elaboração: 03/12/2019 10. Revisão:
– Técnico I – Área 1 – Iphan-AM
162

11.9 Relatório 09

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Mauro Augusto Dourado Menezes

2. Pesquisador: Silvio Márcio Freire de Alencar Filho

3. Data do campo: 09/10/2019 e 16/10/2019

4. Duração do campo: 9h e 4h

5. Documentação fotográfica

Título: Praça da Polícia. Autor: Silvio Márcio Freire de Título: Praça da Polícia. Autor: Silvio Márcio Freire de
Alencar Filho Data: 16/10/2019 Alencar Filho Data: 16/10/2019

Título: Praça da Polícia. Autor: Silvio Márcio Freire de Título: Praça da Polícia. Autor: Silvio Márcio Freire de
Alencar Filho Data: 16/10/2019 Alencar Filho Data: 16/10/2019
163

6. Mapa
164

7. Relatório da Atividade
Por meio deste relatório, buscarei expor as informações levantadas durante os dias de
Observação Participante, realizada na Praça Antônio Bittencourt (do Congresso), Praça V de setembro
(da Saudade), no Largo de São Sebastião e Praça Heliodoro Balbi, respectivamente, nos dias 9 e 16
de outubro de 2019.
No primeiro dia, acompanhado de outra colega de pesquisa, me dirigi à praça popularmente
conhecida como Praça da Saudade para podermos nos juntar ao grupo, o qual já havia começado sua
observação anteriormente. Devido a outro compromisso acadêmico, fomos impossibilitados de
percorrer por inteiro o percurso traçado pelos demais, sendo assim, minha observação integral se deu
apenas no Largo de São Sebastião, última parada do grupo naquele dia.
Apesar disso, ainda foi possível obter uma percepção geral de nosso local de encontro. A praça
é arquitetonicamente bonita, com destaque para o monumento encontrado bem no centro do local.
Faço esse comentário, ainda que o ambiente difira muito da estrutura que possuía, quando eu
frequentava na infância.
O modelo que a Praça da Saudade está configurada hoje, apresenta conforto térmico apenas
na sua área de entorno, devido a concentração de arborização nessa parte, facilitando a circulação e
a permanência das pessoas. Já na área central da praça, mesmo tendo bancos, por não ter arborização
diminui a possibilidade de uso dos moradores e de pessoas que circulam pela área, causando
isolamento do espaço.
O isolamento da praça e a ausência das instituições de segurança geram uma sensação de
insegurança e medo, permitindo que o espaço seja ambiente favorável para os usuários de drogas,
como conseguimos observar quando estivemos por lá.
Durante o horário observado, por volta das 16h30min (dezesseis horas e trinta minutos), é
notável a presença de vários estudantes do ensino regular de escolas próximas, os quais permanecem
por algum tempo no local, em seus pequenos grupos e sempre pelas bordas da praça.
Saindo da lá, seguimos até a Praça Antônio Bittencourt (a qual o grupo já havia estado
momentos antes) para fazer registros fotográficos que estavam faltando. Ela localiza-se bem próxima
a que estivemos anteriormente. Por conta da passagem prévia, não demoramos no local e seguimos
andando em direção ao Largo de São Sebastião.
Ao sair da Praça do Congresso, seguimos pela histórica Avenida Eduardo Ribeiro e viramos à
esquerda na Rua 10 de Julho que em poucos metros se chega ao Largo de São Sebastião. No caminho,
é possível visualizar fachadas de prédios históricos do tempo áureo da borracha, que têm por vezes
sua harmonia interrompida por edificações mais contemporâneas. Logo no início da Avenida Eduardo
Ribeiro, próximo a Praça do Congresso, já nos deparamos com prédios mais altos que muito divergem
das construções históricas. Na Rua 10 de Julho, andamos os metros finais ao lado do imponente Teatro
Amazonas para então chegar ao Largo, o qual se localiza bem em frente.
O Largo de São Sebastião se apresenta como um dos principais cartões postais da cidade de
Manaus e é um importante atrativo turístico junto ao Teatro Amazonas. Os dois funcionam em uma
165

espécie de simbiose, dada principalmente pela sua proximidade. Logo de início, duas coisas chamam
a atenção no largo em si, sendo o calçamento em preto e branco com formas onduladas, composto de
pedra portuguesa, e o imponente Monumento à Abertura dos Portos às Nações Amigas.
O calçamento lembra outros de mesmo material mundo afora, como o calçadão de Copacabana,
no Rio de Janeiro, e o calçamento próximo ao Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa. Bem no meio
fica o Monumento à Abertura dos Portos, representando quatro continentes: África, Ásia, Europa e
América, simbolizados por proas dispostas para fora e de costas umas para as outras, com uma fonte
abaixo, como se as embarcações estivessem navegando sobre a água dela.
Combinamos então de nos separarmos e andar pela localidade, onde cada um faria sua
observação. Num primeiro momento, fiquei junto da colega Rebeca Nunes e logo avistamos dois
conhecidos. Dirigimos-nos até um banco próximo a eles e conversamos rapidamente, porém não
consegui extrair muita informação relevante. Assim como eles, mais jovens estudantes transitam por
lá e conversam sentados nos bancos. Permanecemos sentados ao lado tentando absorver o que
podíamos daquele ambiente, que senti ser bem mais agradável em relação aos visitados
anteriormente, muito por causa da boa arborização, a qual ameniza a temperatura e dá equilíbrio ao
meio urbano. O Largo é todo cercado por árvores, dispostas de tal forma a serem intercaladas com
bancos de concreto, ocasionando boa sombra pra quem quiser ficar um tempo ali sentado. Outra coisa
interessante são as caixas de som espalhadas pelo local, as quais ficam reproduzindo música popular,
compondo assim, junto aos eventuais músicos, a trilha sonora de parte de nossa estada. Também por
isso, é seguro dizer que o Largo de São Sebastião é um ambiente de forte musicalidade.
Aproximou-se de nós um rapaz que apresentava um visual considerado alternativo,
apresentando-se como um viajante argentino recém-chegado na capital (menos de 24 horas). Ele
tentou nos vender algumas miçangas para ajudar a bancar sua aventura, mas no lugar disso conseguiu
de nós apenas algumas perguntas, informando-nos gostar mais de natureza e que o Largo lhe passa
um pouco disso, devido a arborização presente. Disse também serem as pessoas o que lhe chama
mais a atenção e que ali sente poder compartilhar histórias e conhecer pessoas mais “loucas” do que
ele.
Satisfeitos com o nosso tempo ali sentados, resolvemos suspender nossa dupla e seguir
observando individualmente. Fui em direção ao monumento para ter uma visão mais ampla e central
do largo (o monumento possui degraus e se eleva um pouco mais do chão). Ao chegar perto, um
grupo de turistas me abordou pedindo que fizesse um registro fotográfico deles, enfatizando a
necessidade de incluir o monumento e o Teatro Amazonas na mesma fotografia, algo que pode reforçar
a noção de que ambos o Largo de São Sebastião e o Teatro Amazonas funcionam em conjunto.
Realizado o pedido, comecei a rondar o monumento e logo fui abordado novamente, desta vez por um
vendedor ambulante me pedindo dinheiro, com certo tom de urgência, para ajudá-lo a comprar mais
trufas para ele revender. A sensação imediata foi de susto e medo, ao que logo passou apenas para
um estado de alerta e desconfiança quando o homem afirmou não se tratar de um assalto, mesmo
sem que eu houvesse dito alguma coisa antes. Este tipo de situação não é incomum, muito menos
166

restrito ao lugar em questão. Por todas as áreas públicas do centro histórico, as chances de ser
abordado para fins semelhantes são muito grandes. Interpreto o fato de ele alertar não se tratar de
um assalto, como um indicativo do tipo de expectativa que a população tem em relação a abordagens
rápidas em locais públicos, em especial no centro da cidade, pois também não seria muito incomum
ter sofrido um assalto como um desfecho alternativo.
De onde estava, avistei alguns de meus colegas de pesquisa de longe. Resolvi falar novamente
com a Rebeca, que parecia estar muito entretida com um jogo de damas protagonizado por dois
senhores, parte de um pequeno grupo de mais ou menos de 10 homens, idosos, reunidos ao redor de
um dos bancos. Ela me informou que eles afirmaram se encontrar sempre ali para este fim e já o
faziam há algum tempo, pois o local era propício. Informei-lhe que seguiria para a sorveteria próxima
para levantar mais informações e assim o fiz.
A sorveteria, de nome Barbarella, se encontra na Rua 10 de Julho bem junto ao Largo. Ali
frequentei diversas vezes quando a mesma ainda era filial da sorveteria Glacial. Adentrei e logo puxei
assunto com a atendente do caixa. Aline rapidamente me reconheceu de outra vez que falei com ela
para pedir direções. Ela me informou trabalhar ali há 5 anos, e há 2 o estabelecimento passou a
fabricar o próprio sorvete, adotando o novo nome. Enquanto tomava o meu, de sabor chiclete, fui
fazendo algumas indagações, ao que ela me passou ser o público majoritariamente de turistas, dentre
os quais, a maioria é estrangeira. Os moradores da cidade compõem a minoria. Ela destaca ainda que
se dependesse do movimento de residentes apenas, seria bastante difícil para o empreendimento. A
funcionária também informou que os turistas pedem geralmente sorvete de açaí (típico da região Norte
do Brasil) e que quando requisitam alguma informação relacionada ao centro histórico é por vezes
sobre o Teatro Amazonas (horário de funcionamento, etc), Praça do Congresso, onde fica o Mercado
Adolpho Lisboa, qual a linha de ônibus para chegar à Ponta Negra e ainda o nome da Rua 10 de Julho,
para poder chamar transporte por aplicativo.
Terminei meu sorvete e me reuni com a Rebeca. Decidimos subir as escadarias principais e
andar pelo pátio do Teatro Amazonas, onde os turistas tendem a se concentrar para ter uma melhor
visão do entorno e fazer fotos. Em dia de apresentação, uma grande fila se forma percorrendo a frente
e as laterais do teatro. Por sua lateral esquerda, visualizamos o transitar de pessoas na Rua José
Clemente, onde trabalhadores levantavam a pequena estrutura que receberia o Tacacá na Bossa,
evento de música popular oferecido pelo Tacacá da Gisela, estabelecimento conhecido por vender
tacacá no Largo de São Sebastião. Havia também alguns moradores de rua e ambulantes, além dos
frequentadores já citados. Em meio a eles vimos os integrantes do outro grupo que participa da
pesquisa e fomos ao seu encontro.
Reunimo-nos ainda com os outros integrantes de nosso próprio grupo e socializamos todos
juntos numa pizzaria próxima. Logo após, nos aproximamos da multidão que prestigiava o evento
musical Tacacá na Bossa e lá pudemos fazer mais observações. Famílias e jovens mais alternativos
compunham o público enquanto muitos tomavam tacacá. Também era possível identificar um bom
número de turistas.
167

Falei com um dos espectadores, um músico em ascensão e estudante de música da UEA.


Indagado sobre o Largo, afirmou achar o lugar agradável e bom para se estar com pessoas que ama.
Afirmou não perceber o local como isolado (muita natureza) nem muito urbano e que o centro histórico,
como um todo, lhe traz leveza. Ele conhece e gosta da história da cidade, também por conta disso
acha fantástica toda a arquitetura da época da borracha. Disse trazer-lhe paz e harmonia. Sente ainda
certa nostalgia. Afirmou que não tinha antes o Tacacá da Gisela no largo e que tem medo de que o
centro histórico se “suje”, se degenere (aqui ele se refere à modernização). Por fim, ele aponta que a
retirada do Monumento à Abertura dos Portos do Largo de São Sebastião ocasionaria uma perda de
identidade, bem como a eventual mudança das cores do Teatro Amazonas (preenchimento rosa e
colunas brancas).
Passando para o segundo dia de Observação Participante, realizada na tarde do dia 16 de
outubro de 2019, nossa equipe de pesquisa resolveu novamente se dividir estrategicamente para
estudar os locais acordados. Desta vez, foram duas duplas e um trio. Optei por compor o trio junto a
Rebeca Nunes e Mauro Augusto, para levantar dados sobre a Praça Heliodoro Balbi, popularmente
conhecida como Praça da Polícia. Saímos do prédio onde o IPHAN funciona no momento e seguimos
andando até o local proposto.
Logo de imediato, o lugar chama bastante atenção pela arborização, que é feita de tal forma a
quase cobrir completamente a área da praça com as copas das árvores. Esse fator, aliado aos bancos
bem distribuídos, possibilita um ótimo local para se passar o tempo sentado na sombra. Há também
belos coretos no local esperando o interesse público em fazer alguma atividade cultural ali. É possível
observar algumas pessoas sentadas nos degraus destas construções. Outra coisa que chama a atenção
são os chafarizes desativados no meio da praça, mas que ainda possuem água dentro. No momento
da observação, ainda havia um indivíduo aparentemente fazendo a limpeza desta água com um balde,
porém não aparentava ser funcionário do poder público.
Notamos uma mulher que se apoiava numa ponte que passa por cima destes chafarizes.
Indagamos quanto a sua percepção do local, ao que ela receosamente respondeu não saber dizer
muito, pois era venezuelana e não estava há muito tempo na cidade, mas mesmo assim insistimos na
sua contribuição para a pesquisa. Então, ela disse apreciar a praça apenas durante o dia, pois a noite
achava perigoso ali. Afirmou também que achava bonita a quantidade de árvores e que talvez fosse
este contato com a natureza que atraísse as pessoas, pois várias vezes grupos se reuniam para ver
as iguanas que aparecessem eventualmente. A senhora ainda fez uma crítica à infraestrutura,
apontando haver muita coisa suja e quebrada, mas com a possibilidade de se recuperar.
Logo em seguida nos dirigimos ao tradicional Café do Pina. Ali nos sentamos e fizemos nosso
pedido e começamos a conversar com o gerente do estabelecimento, que se mostrou bastante
interessado em nossa pesquisa. Sem modéstia, ele, que afirma trabalhar com a família Pina há 34
anos e há 12 no café, já começou dizendo que o que mais atrai clientes é o café tradicional servido ali

há mais de 50 anos e que os clientes sabem o "ponto" do café. Disse também que o estabelecimento
168

ficava no coreto próximo e depois operou em outras partes da praça, voltando para o ponto atual,
após a revitalização daquele patrimônio.
O gerente lamentou o centro não ter atraído ninguém e aponta o excesso de multas como um
dos fatores que afastam as pessoas. Disse ainda que a "zona azul" dificulta o acesso, chutando ainda
que isso representa 60% a 70% do afastamento e que isso está prejudicando o comércio, fazendo as
lojas se mudarem para outros bairros. Além disso, afirmou que "os chineses estão tomando conta",
"para cada loja que fecha no centro, há um chinês abrindo no mesmo lugar", em suas próprias
palavras.
Com chuva, o movimento para. Lamentou ainda o fato de os clientes antigos estarem morrendo
e a clientela não estar se renovando, e a mudança do local de saída do Colégio Amazonense Dom
Pedro II ter diminuído o público estudantil na praça. Criticou a revitalização do centro, apontando estar
atraindo bandidos e que em dezembro tem arrastões nas proximidades. Reclamou também que a
limpeza muitas vezes fica por conta do próprio estabelecimento, a segurança pública é horrível e que,
além dos fatores citados, não frequentaria o centro, pois as mercadorias e serviços existentes ali, se
encontram facilmente em outros locais.
Tentamos por diversas vezes, mas não conseguimos fazer com que ele nos apontasse atributos
positivos da praça. Parecia ainda estar frustrado com a multa recebida não há muito tempo na mesma
praça.
Após a conversa proveitosa e o lanche delicioso, eu, Rebeca e Mauro nos dividimos para
fazermos observações individuais na praça. De frente para ela fica o Palacete Provincial, lembrando
um pouco a dinâmica entre o Teatro Amazonas e o Largo de São Sebastião. O local já foi de grande
importância governamental durante a época da borracha e hoje abriga cinco museus. Decidi levantar
informações no seu interior. Na recepção trabalha um estagiário muito solícito chamado Alexandre. O
rapaz é estudante de história na UniNorte e já atua no palacete há quase dois anos.
Na breve conversa que tivemos, ele disse que, por atuar no movimento negro, não simpatiza
muito com as edificações do período da borracha, denunciando terem sido erguidas com trabalho
escravo e com outros tipos de exploração humana, mas que entende a importância dada pelas pessoas
ao centro histórico. Ele compreende a Praça Heliodoro Balbi como um ponto de encontro importante,
até mesmo por ser muito acessível. Ele valoriza a interação com as pessoas. Aponta que o local é bem
visitado, bonito, cativante e que passa a “tranquilidade de um local histórico”, apesar de suas ressalvas
pessoais citadas. Ressalta o local como imperialista, porém a população o considera bonito. Indagado
quanto aos patrimônios do centro histórico, responde não remeter a ele nostalgia ou certo carinho.
Aproximando-se mais de resgatar alguma lembrança afetiva seria o Largo de São Sebastião, por ter
frequentado no tempo do colégio.
Dada a hora combinada, saí do Palacete e fui ao reencontro do trio. Encontrei primeiro o Mauro,
sentado fazendo anotações, próximo ao Café do Pina. Juntos fomos procurar a colega Rebeca, contudo
nos deparamos com um casal sentado num dos bancos mais ao centro da praça, próximos a um coreto
e resolvemos fazer mais algumas indagações. Quem tomou a frente foi o rapaz, ao que prontamente
169

respondeu gostar muito do “clima antigo”. Destaca a praça como boa para fazer leitura e que ali
estudou para o vestibular e ingressou na faculdade de Jornalismo. É ótima para quem está com
problema e quer raciocinar. Chamou a atenção para a arborização, pois o ambiente natural o agrada.
Criticou a falta de limpeza. Para ele, o coreto precisa ser protegido, a parte externa do Palacete deve
ser preservada e a pintura repensada e reformada.
Não muito depois, nos encontramos com a Rebeca e voltamos para o IPHAN, encerrando nossa
Observação Participante naquela tarde.

8. Referências Bibliográficas
APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: OLIVEIRA,
Roberto Cardoso. O Trabalho do antropólogo. Revista de Antropologia, v. 39, n° 1, São Paulo: USP,
1996.

Mauro Augusto Dourado – Antropólogo


9. Data de elaboração: 03/12/2019 10. Revisão:
– Técnico I – Área 1 – Iphan-AM
170
12. Relatórios de Oficinas de Mapas de Percepção
12.1 Relatório da oficina com os técnicos do Iphan

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach – Historiador

2. Mediador: Mauro Augusto Dourado Menezes - Antropólogo

3. Relator: Matheus Cássio Blach – Historiador

4. Documentarista: Mauro Augusto Dourado Menezes - Antropólogo

6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Técnicos da Superintendência
12 2h 22/08/2019
do Iphan no Amazonas
R. Marechal Deodoro, nº 27, 8º andar, Centro, CEP 69.005-000.
9. Endereço:
Ed. do Ministério da Fazenda – Manaus/AM

10. Participantes
Grupo 01 Grupo 03
Carluzi Santos Silva Mattos Alexander Afonso Nogueira Cavalcante
Marcia Honda Nascimento Castro Giannini Veras Magalhães
Rosimeire Duarte Randall Mauricéia Ribeiro Andrade
Grupo 02 Grupo 04
Izabel Cristina Rufino Chaves Francisco di Franco Ferreira de Najar
José Ferreira Gonçalves Júnior Jaime de Santana Oliveira
Rafael Nascimento de Azevedo José Vicente Damante Ângelo e Silva

11. Descrição do evento


Matheus iniciou explicando o que são os Mapas de Percepção e como eles podem auxiliar o
processo de elaboração das normativas do Centro Histórico de Manaus.
Em seguida, juntamente com Mauro, explicou o que são as ‘referências culturais’ destacando a
amplitude conceitual do termo. A tônica da fala foi com o intuito de provocar uma ruptura com as
categorias já consolidadas de patrimônio material e de patrimônio imaterial para um olhar mais amplo
sobre os bens culturais, todas as características que os compõem e as qualidades que se traduzem.
Por último, foram descritas as etapas da aplicação da metodologia, instruindo os participantes em
como proceder para a elaboração dos mapas.
A atividade contou com a participação de 12 pessoas. Devido a disponibilidade do espaço onde
a dinâmica foi realizada, optou-se por formar 4 grupos com o mínimo de 3 pessoas. O intuito foi de
que fossem produzidos um maior número de mapas para privilegiar a análise comparativa.
O Grupo 02 iniciou de forma tímida, com receios em relação a qualidade do desenho. O
mediador interveio fazendo ele próprio um desenho tosco do Teatro Amazonas no verso do cartaz para
demonstrar que o desenho não precisa ter qualidade técnica alguma, pelo contrário, deve ser uma
livre-expressão dos participantes com as formas e cores que desejarem.
171
O Grupo 03, após representar parte do traçado urbano do centro preocupou-se, com a escala
do mapa que ficaria “errada” ao incluir novos bens culturais fora do recorte inicial que fizeram. O
mediador fez uma intervenção explicando o caráter lúdico do mapa e que poderiam por exemplo
desenhar dentro de um quadrado em cima do mapa já feito, um segundo mapa representando outras
áreas e bens culturais.
O Grupo 01 ocupou-se do debate e do diálogo, o que levou a produção do mapa a ser mais
lenta. Atento ao tempo de oficina, o mediador fez uma nova intervenção para garantir o andamento
da atividade. Fez várias perguntas para estimular o grupo a realizar os desenhos, como: tem festas
na cidade? Nesse lugar tem alguma feira? Quem são as pessoas que frequentam esses lugares e o
que elas fazem? Quais lugares vocês gostam de frequentar?
Assim, a dinâmica fluiu de forma satisfatória com a participação de todos os envolvidos. Ao
final, cada grupo elegeu uma pessoa para apresentar o seu mapa para os demais.
Grupo 01: A apresentação do Grupo 01 foi iniciada pela participante Carluzi Santos Silva
Mattos afirmando que todas as participantes desenharam no mapa e que a visão delas sobre o que o
centro apresenta como “ponto forte”, inicia-se pela orla do Rio Negro. Carluzi destacou o encontro das
águas como elemento que compõe o imaginário a respeito da relação entre a cidade e o rio, mencionou
também o Encontro das Águas como parte desse imaginário. Fala da paisagem que compõe o porto,
os navios, a movimentação portuária, a circulação de mercadorias e o comércio. Citou também o Paço
da Liberdade (Praça Dom Pedro II) dando notoriedade para o evento Passo a Paço que ali se
desenvolve. Citou o edifício da sede do Iphan, antigo e atual, como elemento afetivo pessoal, ligado à
sua vivência profissional. A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição surgiu em dois momentos
de sua fala: primeiramente, como elemento que compõe a percepção da orla do Rio Negro no Centro;
depois como parte de sua vivência cotidiana no trabalho em que pode escutar o toque do sino - ainda
que não seja um sino de verdade - todos os dias indicando o horário do almoço. Carluzi seguiu falando
da Feira da Avenida Eduardo Ribeiro apontando como qualidade marcante o visual de túnel de árvores
dessa avenida juntamente com a Avenida Getúlio Vargas.
Em seguida Carluzi passou a palavra para Marcia Honda Nascimento Castro que relatou que
suas experiências com relação ao centro se dividem em dois momentos: a infância e a vida adulta
como profissional da Arquitetura. Ela destaca que nos anos 1980 não existiam Shopping Centers em
Manaus e que o forte do comércio da cidade se concentrava no centro. Conta que, junto com sua
família, frequentava e realizava passeios pelo comércio do centro nos finais de semana. Ela afirma que
só foi notar que todo aquele comércio ocorria em edifícios “históricos” depois de ingressar na vida
acadêmica e profissional, pois a intensa comunicação visual, aplicada aos imóveis, encobria-lhes as
fachadas; ademais, nos térreos, as esquadrias normalmente eram modificadas para se transformarem
em vitrines e para facilitar o acesso de clientes e de mercadorias. Reafirma que a vivência que marcou
suas experiências no centro foi da riqueza do comércio e da variedade de produtos advindos do mundo
inteiro. Relembrou do Carnaval que acontecia na Avenida Eduardo Ribeiro que trazia grande parcela
da população para o centro. Em seguida ela fala sobre a Praça da Saudade que era um espaço de
convívio e diversão de sua infância, lembrada como Praça do Avião. Mencionou também, seu vínculo
172
afetivo pessoal – em consonância com a participante Rosimeire Duarte Randall - com o Hospital Militar
onde ela e o seu primeiro filho nasceram. Relembrou, ainda, dos cinemas existentes no centro da
cidade, como grande opção de entretenimento àquela época. Citou, também, o antigo aviaquário na
Praça da Matriz. Por fim fala do Palácio Rio Negro como espaço afetivo da memória onde vivenciou seu
primeiro emprego.
Grupo 02: O participante Rafael Nascimento de Azevedo iniciou a apresentação explicando que
o mapa produzido foi orientado por uma lógica fotográfica, em que cada membro do grupo expressou
seu retrato-síntese do Centro Histórico de Manaus. Rafael destacou a porção do mapa elaborada pela
participante Izabel Cristina Rufino Chaves que representou o Largo de São Sebastião. Segundo Rafael,
o desenho expressa a qualidade arquitetônica do espaço através da unidade do conjunto e sobretudo,
a qualidade enquanto espaço de vivência e de uso. Rafael defende que o Largo de São Sebastião deve
ser visto como um projeto piloto para todas as praças do centro: espaços vivos, com edifícios
conservados, com segurança passiva devido a presença de pessoas e o uso misto.
Em seguida afirmou que o participante José Ferreira Gonçalves Júnior escolheu representar os
monumentos e marcos visuais que se destacam na cidade como, o Teatro Amazonas e a Igreja Matriz
de Nossa Senhora da Conceição. José também deu ênfase a Praça da Matriz representando seu uso e
sua qualidade ambiental e climática por meio da presença de árvores.
Por último, Rafael passa a explicar a sua contribuição para elaboração do mapa em que
enfatizou as praças, suas relações com o conjunto urbano e seus usos. Rafael citou o Porto de Manaus,
sua qualidade paisagística e o comércio que ele possibilita em seu entorno. Destacou a ambiência do
Paço da Liberdade (Praça D Pedro II) e seu valor para a história e memória da cidade, dos povos
nativos e das comunidades afrodescendentes. Destacou também o rico patrimônio arqueológico do
Centro Histórico de Manaus. Rafael também apresenta os grandes eixos que são estruturantes do
traçado urbano da cidade: Avenida Eduardo Ribeiro, Avenida Getúlio Vargas, Avenida Sete de
Setembro.
Grupo 03: Giannini Veras Magalhães, iniciou a apresentação do mapa do grupo afirmando que
os membros do grupo não têm uma experiência rica com o centro da cidade e que isso teria
“prejudicado” a realização do mapa. Assim, Giannini optou por iniciar o desenho a partir dos eixos
viários que percorre cotidianamente representando aquilo que lhe é familiar, como a Avenida Floriano
Peixoto, Avenida Sete de Setembro, Avenida Eduardo Ribeiro e Rua Marechal Deodoro. Destacou o
prédio do Iphan, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, o Teatro Amazonas como parte do
seu roteiro diário de deslocamento pela Avenida Eduardo Ribeiro. Explicou as representações do
comércio local que foram feitas pelo grupo. Essas representações se deram por meio dos vendedores
ambulantes, dos vendedores de loja, das lojas e espaços de consumo de produtos e serviços
frequentemente utilizados pelos participantes, bares, restaurantes etc. O grupo também representou
o Teatro Amazonas e o Largo de São Sebastião, o Palácio da Justiça, a Santa Casa, o Paço da Liberdade
e seus usos, o Hotel Cassina, o Porto de Manaus, Mercado Adolpho Lisboa e o edifício da Alfândega.
Grupo 04: O participante que realizou a apresentação do quarto grupo foi Jaime de Santana
Oliveira. Ele inicia afirmando que o ponto de partida do mapa foi o Porto de Manaus, caracterizando-o
173
com um referencial de memória do grupo. Destacou a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição,
a Avenida Eduardo Ribeiro, a Avenida Sete de Setembro, O Mercado Adolpho Lisboa, o Teatro
Amazonas, o evento Tacaca na Bossa, o Largo de São Sebastião, a Praça da Saudade, a Praça
Adalberto Valle o Paço Imperial destacando o sítio arqueológico, o Palácio Rio Negro, e a Praça do
Congresso.
Em seguida, Francisco di Franco Ferreira de Najar, explicou que desenhou a Praça da Saudade
em dois momentos, antes de depois de sua restauração. Francisco explica que a praça era um lugar
cheio de vida, com presença de famílias e com parque para diversão de crianças. Afirma que após a
restauração que foi realizada a praça perdeu seu valor de uso cotidiano.
Por fim, Matheus agradeceu a contribuição de todos informando-os que os dados e análises
produzidos a partir das informações coletadas seriam compartilhadas com todos posteriormente.

12. Documentação fotográfica

Título: Mediador apresenta faz a apresentação da Título: Início da elaboração dos mapas. Autor:
atividade. Autor: Mauro Augusto Dourado Mauro Augusto Dourado Menezes Data:
Menezes Data: 22/08/2019 22/08/2019

Título: Início da elaboração dos mapas. Autor: Título: Mediador realizando intervenção com
Mauro Augusto Dourado Menezes Data: vistas a garantir a fluidez da elaboração dos
22/08/2019 mapas. Autor: Mauro Augusto Dourado Menezes
Data: 22/08/2019
174
13. Mapas de Percepção

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 23/08/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 23/08/2019
175

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 23/08/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 23/08/2019

14. Referências Culturais Identificadas


176
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros atrib.
Convívio, uso, socialização e lazer, ambiência, 12
manifestações culturais e festividades, conservação dos
Largo de São Sebastião 4 edifícios, segurança, unidade e gabarito do conjunto
arquitetônico, musicalidade, gastronomia, clima e
arborização.
Espaço propício para eventos, feiras, manifestações 10
culturais, arborização e clima, convívio, uso,
Praça Dom Pedro II 4 socialização, recreação, ambiência, musicalidade,
história e memória da cidade, de povos nativos e de
comunidades afrodescendentes.
Elemento estruturante do traçado urbano, clima, 5
Avenida Eduardo
4 arborização, espaço propício para feiras eventos,
Ribeiro
paisagem.
3
Porto de Manaus 4 Paisagem natural, comércio, socialização.

Igreja Matriz de Nossa 2


4 Apreciação estética, marco visual da cidade.
Senhora da Conceição
Avenida Sete de 1
4 Elemento estruturante do traçado urbano
Setembro
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Teatro Amazonas 4
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Espaço de comércio e de convívio, artesanato, 7
Mercado Adolpho
3 ambiência, clima, apreciação estética, produtos locais e
Lisboa
gastronomia.
Praça da Matriz (Praça Convívio, uso, socialização e recreação, arborização, 5
2
XV de Novembro) ambiência.
Espaço de comércio e de convívio, artesanato, produtos 4
Feira do Paço 2
locais, manifestações culturais e gastronomia.
Lugar de memória 1
Praça da Saudade (Segundo os relatos as qualidades de socialização,
2
(Praça V de Setembro) lazer e uso se perderam. Notoriamente após a praça
ser restaurada em seu design “original”)
3
Orla do Rio Negro 2 Paisagem natural, comércio, socialização.

3
Tacaca na Bossa 2 Musicalidade, convívio, gastronomia.

1
Palácio Rio Negro 2 Apreciação estética

Parque Senador Apreciação estética, uso, sociabilidade e recreação, 6


1
Jefferson Péres gastronomia local, paisagem natural.
Feira da Avenida Espaço de comércio e de convívio, artesanato, 4
1
Eduardo Ribeiro manifestações culturais, produtos locais e gastronomia.
Elemento estruturante do traçado urbano, clima, 3
Avenida Getúlio Vargas 1
arborização.
Biblioteca Pública 2
1 Apreciação estética arquitetônica, valor de uso.
Estadual do Amazonas
1
Booth Line 1 Apreciação estética do espaço vazio e da ruína.

1
Feira Manaus Moderna 1 Diversidade de produtos
177
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros atrib.
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Edifício da Alfândega 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Hospital Militar 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Palácio da Justiça 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Praça Adalberto Valle 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Praça do Congresso 0
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a
(Praça Antônio 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
Bittencourt)
Não foi possível inferir quais seriam as qualidades a 0
Santa Casa 1
partir dos argumentos apresentados pelos grupos.
178
15. Gráficos

Referências Culturais identificadas

Santa Casa

Praça do Congresso (Praça Antônio Bittencourt)

Praça Adalberto Valle

Palácio da Justiça

Hospital Militar

Edifício da Alfândega

Feira Manaus Moderna

Booth Line

Biblioteca Pública Estadual do Amazonas

Avenida Getúlio Vargas

Feira da Avenida Eduardo Ribeiro

Parque Senador Jefferson Péres

Palácio Rio Negro

Tacaca na Bossa

Orla do Rio Negro

Praça da Saudade (Praça 5 de Setembro)

Feira do Paço

Praça da Matriz (Praça XV de Novembro)

Mercado Adolpho Lisboa

Teatro Amazonas

Avenida Sete de Setembro

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição

Porto de Manaus

Avenida Eduardo Ribeiro

Praça Dom Pedro II

Largo de São Sebastião

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Quantidade de registros nos mapas Quantidade de atributos descritos


179

Referências por quantidade de Registros


12
12

11

10

7
7

6
6

1
1

0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros
180
15. Análise
As informações coletadas por meio da oficina de Mapas de Percepção geraram a identificação
de 26 referências culturais dentre as quais: 7 foram registradas nos quatro mapas produzidos; 1 foi
registrada em três dos mapas produzidos; 6 foram registradas em dois mapas produzidos; 12
aparecem apenas em um ou outro mapa. Sete das 26 referências não apresentaram ou não foi possível
inferir, a partir dos argumentos apresentados, as qualidades que justificaram a escolha dos grupos
por sua inclusão.
Os sete bens culturais que se destacaram, pela unanimidade de registros nos mapas, foram: O
Largo São Sebastião, o Paço da Liberdade (Praça Dom Pedro II), a Avenida Eduardo Ribeiro, o Porto
de Manaus, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a Avenida Sete de Setembro e o Teatro
Amazonas.
Quanto a descrição das qualidades dos bens culturais, foi dada maior ênfase ao Largo de São
Sebastião e ao Paço da Liberdade, com mais de 10 qualidades identificados. É curioso notar que apesar
do Teatro Amazonas ter sido um elemento destacado em todos os mapas, nenhum dos grupos
expressou, em suas falas ou gráficos, quais são as qualidades que justificaram a sua inclusão.
Considerando o recorte temático proposto pela pesquisa foi realizado um procedimento
interpretativo das falas e dos gráficos apresentados. Assim, diversos dos elementos representados
pelos participantes foram traduzidos em a associadas aos bens culturais e valores descritos pelo Dossiê
de Tombamento do Centro Histórico de Manaus. Por exemplo, tivemos diversas alusões à momentos,
práticas, eventos e festividades associados à música. A partir desses indícios é possível inferir que o
Centro Histórico de Manaus é dotado de uma certa musicalidade que é apreciada pelo grupo
investigado. Desse modo, a presença dessa musicalidade foi traduzida em uma qualidade dos lugares
onde se manifesta com frequência regular como o Largo de São Sebastião e o Paço da Liberdade
(Praça Dom Pedro II).
Outra qualidade que foi possível inferir, cujos indícios indicam associação com o Centro Histórico
como um todo, é a da presença marcante do comércio. Nota-se que a diversidade e densidade do uso
comercial do centro é definidora do lugar e de suas qualidades como espaço de troca, de vivências, de
memória e de afetividades.
Além disso, por meio das falas e representações gráficas, notou-se uma apreciação dos espaços
arborizados como uma qualidade estruturante da experiência vivida. A relação de importância com a
arborização foi definida inclusive por negação, sendo representada em locais que são apreciados, mas
que poderiam ser melhores se tivessem as árvores presentes.
Por fim, de modo geral, os grupos deram enfoque ao uso dos espaços, porém, sem deixarem
de considerar a apreciação estética das edificações e da paisagem natural, sobretudo quando ligada
ao Rio Negro.

16. Referências Bibliográficas


APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
181
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: CAMPUS, 1997.
CONSTANTINO, Núncia Santoro de. O que a micro-história tem a nos dizer sobre o regional e o
local?. Revista História Unisinos, São Leopoldo, RS, v. 8, n. 10, p.157-17, jul./dez. 2004.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
HAESBAERT, R. Concepções de território para entender desterritorialização. in SANTOS, M.; BECKER,
B, K. (Orgs.) Território, territórios. Ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2004, p. 43-71.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
RICŒUR, Paul. A Memória a História o Esquecimento. Tradução: Alain François [et al.] – Campinas,
SP: Editora da UNICAMP, 2007.
SACHS, I. Espaços, Tempos e Estratégias de Desenvolvimento. São Paulo: Edições Vértice, 1986.
TEIXEIRA, Luana. Lugares. in BRASIL. Ministério da Cidadania. Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan). Dicionário do Patrimônio Cultural. Disponível em
<http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/30/lugares>

Ana Carla Cruz Pedrosa –


17. Data de elaboração: 26/08/2019 18. Revisão:
Coordenadora técnica - IPHAN-AM
182
12.2 Relatório da oficina com pesquisadores que atuam no Centro de Manaus

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach

2. Mediador: Mauro Augusto Dourado Menezes

3. Relator: Mônica Almeida Araújo Nogueira

4. Documentarista: Mauro Augusto Dourado Menezes

6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Pesquisadores que atuam com
temas relacionados ao Centro 9 2H 08/10/2019
Histórico de Manaus
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan
9. Endereço:
Rua Marechal Deodoro n° 27, 8° andar, Centro – Manaus/AM

10. Participantes
Grupo 01 Grupo 03
Ana Cristina Mota de Assis Leandro Eustáquio Gomes
Silvio Márcio Freire de Alencar Filho Yara Araújo Magabi
Grupo 02 Grupo 04
Luciane da Silve Queroga Carla Aires Martins
Rebeca Nunes de Melo Gabriel Lorram Lima Yepez
Raquel Souza de Lira

11. Descrição do evento


A atividade começou com a presença dos membros dos grupos 01, 02 e 03. Mauro iniciou
explicando o que são os Mapas de Percepção e como eles podem auxiliar o processo de elaboração
das normativas do Centro Histórico de Manaus. Em seguida, os participantes assinaram o “Termo de
autorização de uso de imagem de pessoa física” e a lista de presença.
Os participantes foram separados em duplas para a realização dos mapas. As duplas foram
alocadas em espaços distintos com o intuito de não haver influência de referências entre as duplas.
Assim, os grupos iniciaram conversando e debatendo sobre como construir seus mapas, suas
memórias e referências culturais acerca do Centro Histórico de Manaus.
Poucos minutos após o início da atividade, os membros do Grupo 04, que estavam atrasados,
chegaram ao local da realização da oficina, na Sede da Superintendência do Iphan no Amazonas.
Assim, formou-se mais um grupo e Matheus retomou a explicação dada por Mauro, a respeito dos
Mapas de Percepção e sua importância. Em seguida, o Grupo 04 integrou a atividade e deu início a
elaboração de seu mapa.
O Grupo 01 demonstrou preocupação em relação a qualidade e realismo de seus desenhos e
foi o último a começar o mapa, uma vez que iniciaram fazendo, primeiramente, um mapeamento
mental e de memória de suas referências culturais. Foi esclarecido que o mais importante era que os
183
participantes se sentissem à vontade para se expressar livremente, que ninguém iria julgar seus
desenhos. A dupla deu continuidade usando suas memórias de infância para realizar os desenhos.
O Grupo 02 foi o que progrediu mais rapidamente na elaboração do desenho. A dupla se
mostrou tranquila e espontânea para a realização do mapa.
O Grupo 03 iniciou fazendo um rascunho de seu mapa, solicitando mais uma folha em branco
para a produção do mapa final, sendo o grupo que progrediu mais lentamente com um debate mais
extenso a respeito do que iriam de fato desenhar.
O Grupo 04 utilizou o Google Maps para fazer um traçado inicial dos limites de área que seria
representada no mapa. Em seguida, cada um dos membros produziu uma lista individual de referências
culturais, com a posterior comparação para encontrar similaridades e discrepâncias. Assim, deram
início ao debate para entrarem em comum acordo e desenharem as suas referências culturais.
Foram feitas intervenções junto aos grupos, questionando-os sobre alguns dos bens
representados, as motivações que levaram a escolha desses bens e quais qualidades eles identificavam
em cada bem.
Ao final da confecção dos mapas deu-se início a apresentação de cada um dos grupos:
Grupo 01: Os participantes relataram que conversaram bastante para encontrarem pontos em
comum. Começaram destacando o Largo de São Sebastião como local de trabalho e lazer. Falaram
sobre os bares do Largo e o Tacaca na Bossa, evento semanal que associa gastronomia e música local.
Descreveram esse espaço como local de manifestações políticas (protestos) e culturais. Deram ênfase
para alguns pontos de comércio como uma sorveteria e a Lanchonete do African House.
Em seguida apresentaram a Praça da Saudade como um lugar que representa uma memória
afetiva da infância, sobretudo devido ao parquinho que existia ali. Ambos lamentaram o processo de
restauro da praça em que, a retomada do design original da praça acarretou a remoção do referido
parquinho, de um lago e outros elementos que compunham a praça. Além disso destacaram o Porto e
o Rio Negro desenhados em seu mapa.
Grupo 02: A narrativa desse grupo enfatizou os espaços da cidade que são arborizados. A
seleção dos bens culturais representados seguiu, então, a lógica da qualidade paisagística e climática
desses ambientes representada pela presença de árvores. Assim, foi feito um percurso a partir das
praças do Centro de Manaus, destacando algumas experiências e vivências como a sorveteria e o
tacacá no Largo de São Sebastião. Também destacaram a Praça D. Pedro II, o sítio arqueológico
presente na mesma e o Porto de Manaus.
Grupo 03: O Grupo intitulou seu mapa como “Relatos e Memórias: vidas e vindas”. Levaram
em consideração os espaços nos quais tiveram mais vivências. Desenharam a Avenida Eduardo Ribeiro
como um importante espaço de memórias afetivas dos participantes, bem como, afirmaram sua
importância para a cidade. Deram destaque para a feira que ali ocorre. Representaram também, a
área do Largo de São Sebastião e seu entorno. A Praça do Congresso foi desenhada devido a sua
importância para a cidade e a Igreja da Matriz por ser a mais antiga. Desenharam o prédio da Receita
Federal como algo desconexo com o restante de seu entorno. Apresentaram o Porto de Manaus como
o grande portão de entrada e saída da cidade.
184
Grupo 04: Apresentou um mapa com uma escala distinta da dos demais em que o Rio Negro
ganha maior destaque que a cidade. O grupo apartou a Praça da Saudade enquanto espaço de
memória afetiva de um de seus membros como lugar de manifestações políticas. O Largo de São
Sebastião também foi mencionado, sendo relatado como um lugar agradável, pela arte e história do
local. A casa de Ivete Ibiapina foi lembrada enquanto ponto de cultura.
A Santa Casa foi retratada e considerada sua beleza enquanto ruína e como espaço de
memórias afetivas ligada ao próprio nascimento de uma das participantes do grupo que, apesar de ter
nascido ali, nunca frequentou o local. A Avenida Getúlio Vargas e Praça da Polícia foram apresentadas
como lugares agradáveis devido a arborização. A Praça da Polícia figurou-se como um espaço de “fuga
do caos” da cidade.
A Biblioteca Pública foi apresentada com um importante lugar para estudos, pesquisas e
conhecimento sobre a cidade, além da qualidade estética e arquitetônica do próprio edifício. A Praça
D. Pedro II foi descrita enquanto marco histórico do início da ocupação da cidade e como local de valor
arqueológico. Por fim, a Avenida Eduardo Ribeiro enquanto lugar de referência da cidade com a
percepção dessa avenida como eixo estruturador a partir do qual é possível orientar-se espacialmente
no ambiente urbano.

12. Documentação fotográfica

Título: Grupo 01 e Relatora Mônica Nogueira Título: Grupo 02 Autor: Mauro Augusto Dourado
Autor: Mauro Augusto Dourado Menezes Data: Menezes Data: 08/10/2019
08/10/2019
185
Título: Grupo 03 Autor: Mauro Augusto Dourado Título: Grupo 04 Autor: Mauro Augusto Dourado
Menezes Data: 08/10/2019 Menezes Data: 08/10/2019

13. Mapas de Percepção

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
10/10/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
10/10/2019
186

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
10/10/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
10/10/2019

14. Referências Culturais Identificadas


187
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
Convívio; socialização; uso; lazer; ambiência; 13
gastronomia; manifestações políticas, artísticas,
Largo de São Sebastião 4 culturais e festividades; história e memória da cidade;
conforto térmico (arborização); bem-estar; espaço de
memórias afetivas; arte pública;
Ambiência; apreciação estética e arquitetônica; uso; 4
Teatro Amazonas 4
espaço cultural
Monumentalidade; uso; socialização; lazer; paisagem 10
Porto de Manaus 3 natural; proximidade com o rio; espaço de memórias
afetivas; unidade do conjunto arquitetônico;
Lugar de memória; espaço de memórias afetivas; 2
Praça da Saudade (Segundo os relatos as qualidades de socialização,
3
(Praça 5 de Setembro) lazer e uso se perderam. Notoriamente após a praça
ser restaurada em seu design “original”)
História e memória da cidade; espaço propício para 11
eventos; feiras; manifestações culturais; arborização e
Praça Dom Pedro II 2 clima; convívio; uso; socialização; recreação;
ambiência; história e memória de povos nativos e de
comunidades afrodescendentes.
Gastronomia; espaços de comércio; espaço propício a 6
Avenida Eduardo eventos como a Feira; espaço de memórias afetivas;
2
Ribeiro história e memória da cidade; apreciação estética e
arquitetônica
Valor estético; ambiência; potencial turístico; 6
Igreja de São Sebastião 2 popularidade; reconhecimento local; história e
memória da cidade
Feira da Avenida Espaço de memórias afetivas; gastronomia; uso; 4
2
Eduardo Ribeiro socialização.
Praça da Polícia (Praça Conforto Térmico (Arborização); bem-estar; arte 2
2
Heliodoro Balbi) pública
Praça do Congresso 1
(Praça Antônio 2 História e memória da cidade
Bittencourt)
Unidade de conjunto, História e memória da cidade, 4
Rua Bernardo Ramos 1
apreciação estética; Conforto Térmico
Biblioteca Pública Apreciação estética e arquitetônica; espaço de 3
1
Estadual do Amazonas memórias afetivas; história e memória da cidade.
2
Avenida Getúlio Vargas 1 Apreciação estética; Conforto Térmico

Santa Casa de 2
1 Lugar de Memória; apreciação estética das ruínas
Misericórdia de Manaus
Aquário e aviário da 1
Igreja da Matriz Lugar de Memória
1
(Catedral Nossa (Não existem mais)
Senhora da Conceição)
1
Casa Ivete Ibiapina 1 Espaço Cultural

1
Festival Paço a Passo 1 Espaço de memórias afetivas

Lugar de memória 1
Ideal Clube 1
(Qualidades de uso relatadas como perdidas)
188
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
Igreja da Matriz 1
(Catedral Nossa 1 Espaço de memórias afetivas
Senhora da Conceição)
Museu da Casa Eduardo 1
1 Espaço de memórias afetivas
Ribeiro
1
Obelisco do Centenario 1 História e memória da cidade

1
Palácio da Justiça 1 Ambiência

Parque Senador 1
1 Apreciação estética
Jefferson Péres
Lugar de memória 1
Praça IX de Novembro 1
(Qualidades perdidas devido ao estado de abandono)
1
Relógio Municipal 1 História e memória da cidade

Terminal de ônibus da 1
Praça da Matriz (Praça 1 Espaço de memórias afetivas
XV de Novembro)
189
15. Gráficos

Referências Culturais identificadas

Terminal de ônibus da Praça da Matriz (Praça…

Relógio Municipal

Praça IX de Novembro

Parque Senador Jefferson Péres

Palácio da Justiça

Obelisco do Centenário

Museu da Casa Eduardo Ribeiro

Igreja da Matriz (Catedral Nossa Senhora da…

Ideal Clube

Festival Paço a Passo

Casa Ivete Ibiapina

Aquário e aviário da Igreja da Matriz…

Santa Casa de Misericórdia de Manaus

Avenida Getúlio Vargas

Biblioteca Pública Estadual do Amazonas

Rua Bernardo Ramos

Praça do Congresso (Praça Antônio Bittencourt)

Praça da Polícia (Praça Heliodoro Balbi)

Feira da Avenida Eduardo Ribeiro

Igreja de São Sebastião

Avenida Eduardo Ribeiro

Praça Dom Pedro II

Praça da Saudade (Praça 5 de Setembro)

Porto de Manaus

Teatro Amazonas

Largo de São Sebastião

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Quantidade de registros nos mapas Quantidade de atriutos descritos


190

Referências por quantidade de Registros


16
16

15

14

13

12

11

10

6
6

2
2 2

0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros

1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros


191
15. Análise
As informações coletadas, por meio da oficina de Mapas de Percepção, geraram a identificação
de 26 referências culturais dentre as quais: 2 foram registradas nos quatro mapas produzidos; 2 foram
registradas em três dos mapas produzidos; 6 foram registradas em dois mapas produzidos; 16
aparecem apenas em um ou outro mapa.
Os dois bens culturais que se destacaram, pela unanimidade de registros nos mapas, foram: O
Largo de São Sebastião e o Teatro Amazonas. Quanto a descrição dos atributos dos bens culturais,
foi dada maior ênfase ao Largo de São Sebastião, o Paço da Liberdade (Praça D. Pedro II) e ao Porto
de Manaus, ambos com 10 ou mais atributos identificados.
Considerando o recorte temático proposto pela pesquisa foi realizado um procedimento
interpretativo das falas e dos gráficos apresentados. Assim, diversos dos elementos representados
pelos participantes foram traduzidos em atributos associados aos bens culturais e em valores descritos
pelo Dossiê de Tombamento do Centro Histórico de Manaus.
De modo geral, os grupos deram enfoque aos lugares em que se manifestam memórias afetivas
e pessoais, porém, sem deixarem de reconhecer o valor dos bens para a história e memória da cidade,
como também, seu valor de uso no tempo presente. A apreciação estética das edificações e da
paisagem natural, surgiu de forma pontual nas falas dos participantes.
Os atributos que pareceram mais marcantes para os grupos foram, a qualidade desses lugares
como espaços de socialização e convívio, com a presença notória do elemento gastronômico, além do
conforto térmico e a apreciação estética dos locais que se caracterizam pela arborização e pelos
espaços abertos com bastante ventilação natural.
Por fim, outro ponto que avaliou-se importante destacar são os bens culturais que foram
representados devido a sua referência à memória, por terem sido descaracterizados, perdendo os
atributos que lhes conferiam valor: o aquário e aviário da Igreja da Matriz (Catedral Nossa Senhora
da Conceição) que não mais existe, perdendo seu valor de espaço de lazer; a Santa Casa de
Misericórdia de Manaus que perdeu seu valor de uso, embora ainda seja apreciada esteticamente
enquanto ruína; a Praça IX de Novembro que foi considerada um marco histórico para a cidade, mas
que está em estado de abandono; e a Praça da Saudade (Praça 5 de Setembro), cujo processo de
restauração de seu design, dito original, levou a remoção de elementos associados ao seu uso que
eram amplamente apreciados pela população, como um parque e brinquedos, seus bancos, um
avião(também usado para as crianças brincarem) e um lago.

16. Referências Bibliográficas


APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
192
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: CAMPUS, 1997.
CONSTANTINO, Núncia Santoro de. O que a micro-história tem a nos dizer sobre o regional e o
local? Revista História Unisinos, São Leopoldo, RS, v. 8, n. 10, p.157-17, jul./dez. 2004.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
HAESBAERT, R. Concepções de território para entender desterritorialização. in SANTOS, M.; BECKER,
B, K. (Orgs.) Território, territórios. Ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2004, p. 43-71.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo:
PUC, n. 10, pp. 07-28, dezembro de 1993.
RICŒUR, Paul. A Memória a História o Esquecimento. Tradução: Alain François [et al.] – Campinas,
SP: Editora da UNICAMP, 2007.
SACHS, I. Espaços, Tempos e Estratégias de Desenvolvimento. São Paulo: Edições Vértice, 1986.
TEIXEIRA, Luana. Lugares. in BRASIL. Ministério da Cidadania. Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan). Dicionário do Patrimônio Cultural. Disponível em
<http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/30/lugares>

Matheus C. Blach -Historiador - Técnico


17. Data de elaboração: 15/10/2019 18. Revisão:
I - Área 10 – IPHAN -AM
193
12.3 Relatório da oficina com os Mestres de Capoeira mais antigos de Manaus

Dados Gerais
1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach – Historiador
2. Mediador: Mauro Augusto Dourado Menezes - Antropólogo
3. Relator: Luciane Queroga
4. Documentarista: Silvio de Alencar Filho

6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Mestres de Capoeira do
3 1h 14/10/2019
Amazonas
Superintendência do Iphan no Amazonas - R. Marechal Deodoro, nº
9. Endereço: 27, 8º andar, Centro, CEP 69.005-000. Ed. do Ministério da
Fazenda – Manaus/AM

10. Participantes
Grupo 01
Julival do Espírito Santo (Mestre Gato)
Edgar Francisco das Chagas (Mestre Chaguinha)
Luiz Carlos de Matos Bonates (Mestre KK Bonates)

11. Descrição do evento


A atividade iniciou-se com Matheus Blach agradecendo a presença dos Mestres de capoeira. Em
seguida apresentou a proposta do trabalho que está sendo realizado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, a pesquisa intitulada “Olhares sobre o Centro de Manaus” e
passando a palavra para o mediador Mauro Dourado que explanou sobre a importância do estudo que
visa a formulação das normativas do Centro Histórico de Manaus. Ele explicou também, sobre o
objetivo da metodologia do Mapa de Percepção e pontuou que os Mestres desenhassem os locais do
centro histórico que consideram importantes como representativos de sua identidade cultural. Mauro
ainda direcionou a atenção dos participantes para um olhar sobre as referências culturais associadas
o período do ciclo econômico da borracha - Belle Époque.
A oficina realizada com os mestres teve uma peculiaridade: apesar do convite realizado pelo
Iphan ter sido realizado para o conjunto dos Mestres de Capoeira do Amazonas (aproximadamente 70
mestres, segundo registros apresentados por eles próprios) a adesão no dia da reunião foi reduzida,
limitando-se à três participantes. Além disso, os próprios mestres conversaram entre si e decidiram
fazer um só mapa, embora tenha sido sugerido o trabalho individual para que não se perdesse a
possibilidade de comparação entre os resultados.
Assim, Mestre KK Bonates foi responsável pelo desenho e, ao longo da construção do mapa, os
demais opinaram e pontuaram sobre as referências culturais diante de variadas memórias e histórias
vividas no centro histórico. Já ao final do processo de elaboração do mapa, mais um mestre
compareceu, sua participação se limitou a algumas sugestões pontuais sobre os desenhos que já
194
haviam sido realizados. No entanto, ele se recusou a assinar o “Termo de Autorização de Uso de
Imagem de Pessoa Física. Desse modo, seu nome foi omitido desse relatório.
O desenho foi elaborado com recorte das principais praças do Centro Histórico de Manaus,
iniciando na praça 15 de novembro (Praça da Matriz), seguindo para a praça Antônio Bittencourt (Praça
do Congresso), Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade), praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia) e
praça Almirante Tamandaré. O Largo São Sebastião foi incluído ao mapa depois de questionado por
um dos mestres, diante do questionamento, além do largo também foi acrescentado o Bar do Armando,
ambos considerados como locais de lazer, encontros e manifestação das Rodas de Capoeira. Assim,
os espaços desenhados demonstram, principalmente o recorte das experiências vivenciadas pelos
mestres e o apego pelos locais ligados especialmente a prática da capoeira, como as praças da cidade.
O mediador Mauro Dourado perguntou se as reformas realizadas nas praças se apresentavam
como melhoria, houve algumas divergências de opiniões, no entanto, no decorrer do debate os
argumentos foram sendo alinhados. O Mestre KK Bonates pontuou que as praças apresentam um
aspecto de mais segurança, um espaço de lazer e socialização, com exceção da praça Dom Pedro que
foi pontuado como um local com predominância de prostituição. Todavia, para o Mestre Chaguinha a
melhoria nas praças é representada apenas nas estruturas estéticas, pois a insegurança é comum
nesses espaços.
Os Mestres destacaram que as praças precisam ser arborizadas, que passaram por várias
mudanças que levaram a perda de seu significado e que, atualmente, não são lugares de lazer, mas
sim, locais de passagem. Com exceção do Largo São Sebastião que pode ser considerado um local de
uso para a socialização e lazer. Além disso o desenho estruturado a partir de dois eixos principais: A
Avenida Eduardo Ribeiro e a Avenida 7 de Setembro.
Por fim, na medida em que os desenhos eram feitos no mapa já se seguia à explicação e
significado do espaço para os Mestres, dessa forma, quando finalizado o desenho não foi solicitado a
realização de uma apresentação.
195
12. Documentação fotográfica

Título: Mediador Mauro Dourado explicando Título: Assinatura do termo e ficha de


sobre a metodologia e objetivo. Autor: Silvio de participação. Autor: Silvio de Alencar Filho Data:
Alencar Filho Data: 14/10/2019 14/10/2019

Título: Elaboração do Mapa de Percepção. Autor: Título: Elaboração do Mapa de Percepção. Autor:
Silvio de Alencar Filho Data: 14/10/2019 Silvio de Alencar Filho Data: 14/10/2019
196
13. Mapa de Percepção

Título: Mapa de Percepção elaborado pelos mestres de capoeira. Fotografia: Matheus Blach Data:
14/10/2019
197
14. Referências Culturais Identificadas
Identificação Atributos Nº atrib.
Local de encontros; manifestações culturais; entretenimento; 07
Avenida Eduardo Ribeiro compras; lugar para as rodas de capoeira; memórias afetivas;
história e memória da cidade.
Local de encontros; local de passagem; lugar para as rodas de 07
Praça 5 de Setembro
capoeira; beleza e paisagem; locais de manifestações artísticas;
(Praça da Saudade)
memórias afetivas; história e memória da cidade.
Local de encontros; arborização; lugar para as rodas de 07
Praça 15 de Novembro
capoeira; beleza e paisagem; memórias afetivas; fluxo de
(Praça da Matriz)
pessoas, história e memória da cidade.
Local de encontros; arborização; lugar para as rodas de 05
Largo de São Sebastião
capoeira; beleza e paisagem; lazer e passatempo.
Praça Antônio 05
Local de encontros; local de passagem; lugar para as rodas de
Bittencourt (Praça do
capoeira; beleza e paisagem; manifestações culturais.
Congresso)
Praça Heliodoro Balbi Local de encontros; arborização; lugar para as rodas de 05
(Praça da Polícia) capoeira; estética e atividades culturais.
Local de passagem; história e memória da cidade; beleza e 03
Praça Dom Pedro II
paisagem.
02
Bar do Armando Local de encontros; lazer

Praça Almirante 02
História e memória da cidade; lugar para as rodas de capoeira.
Tamandaré
01
Avenida 7 de Setembro Lugar para as rodas de capoeira

01
Avenida Getúlio Vargas História e memória da cidade

01
Ideal Clube Memórias afetivas

01
Rua 10 de Julho História e memória da cidade

01
Rua 24 de Maio História e memória da cidade

Não foi possível inferir os atributos do Teatro a partir da fala dos 00


Teatro Amazonas
participantes
198
15. Gráfico

Referências Culturais identificadas


Teatro Amazonas

Rua 24 de Maio

Rua 10 de Julho

Ideal Clube

Avenida Getúlio Vargas

Avenida 7 de Setembro

Praça Almirante Tamandaré

Bar do Armando

Praça Dom Pedro II

Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia)

Praça Antônio Bittencourt (Praça do…

Largo de São Sebastião

Praça 15 de Novembro (Praça da Matriz)

Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade)

Avenida Eduardo Ribeiro

0 1 2 3 4 5 6 7

Quantidade de atriutos descritos

15. Análise
As informações coletadas por meio da metodologia do Mapa de Percepção, com os Mestres de
Capoeira possibilitaram identificar 15 referências culturais. Todavia, como foi elaborado apenas um
mapa, perdeu-se a perspectiva comparativa, que será retomada quando o presente relatório e seus
gráficos forem somados ao conjunto dos demais para a produção do relatório final. No entanto, ainda
assim, é realizado um esforço de comparação com as oficinas de Mapa de Percepção realizadas com
outros grupos.
Entre as referências culturais representadas no mapa se destacam àquelas em que foi possível
identificar um maior número de atributos segundo as descrições dos Mestres de Capoeira: Avenida
Eduardo Ribeiro, Praça da Saudade e Praça da Matriz.
De modo geral os grupo pesquisado deu ênfase aos espaços públicos abertos(ruas e praças)
destacando seus atributos que favorecem a prática/manifestação das rodas de Capoeira; que
propiciam os encontros com amigos e encontros românticos; que são representativos de uma memória
histórica da cidade de Manaus bem como memórias afetivas dos grupos de Capoeira; e o grande fluxo
de pessoas.
É notório que as edificações do Centro Histórico ficaram em segundo plano, tanto nas
representações gráficas quanto nas narrativas e descrições dos Mestres. O Teatro Amazonas
199
comumente aparece como ponto estruturante da elaboração dos mapas em outros grupos. Muitos
desses iniciam o desenho pelo Teatro, o representam detalhadamente, em uma escala que o destaca
no mapa e fazem o restante dos desenhos a partir dele. No mapa dos Mestres ele foi representado
apenas pelo seu nome, foi inserido posteriormente a elaboração de outros elementos estruturantes e
ainda necessitou de um debate mais aprofundado quanto seu real protagonismo como representante
da identidade cultural dos capoeiristas. Os elementos estruturantes do mapa produzido foram: o
traçado urbano (sobretudo o eixo da Eduardo Ribeiro em que o debate e as descrições foram mais
aprofundados), por onde o desenho se iniciou; a Praça da Matriz (primeiro elemento representado
após o traçado urbano) e a Praça da Saudade.
Portanto, fica evidenciado que os principais atributos para as referências culturais
representadas no mapa estão diretamente ligados ao uso do espaço como locais que propiciam a
socialização. Essa qualidade pode ser inferida dos atributos descritos de 7 referências culturais. Além
disso, outras qualidades como conforto térmico (sombreamento e ventilação), limpeza urbana, estado
de conservação (calçamento adequado) e a própria socialização podem ser inferidas a partir do atributo
que descreve os lugares como propícios a manifestação das rodas de Capoeira que foram associados
à 8 das 15 referências culturais identificadas.

16. Referências Bibliográficas


APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: CAMPUS, 1997.
CONSTANTINO, Núncia Santoro de. O que a micro-história tem a nos dizer sobre o regional e o
local?. Revista História Unisinos, São Leopoldo, RS, v. 8, n. 10, p.157-17, jul./dez. 2004.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
HAESBAERT, R. Concepções de território para entender desterritorialização. in SANTOS, M.; BECKER,
B, K. (Orgs.) Território, territórios. Ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2004, p. 43-71.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
RICŒUR, Paul. A Memória a História o Esquecimento. Tradução: Alain François [et al.] – Campinas,
SP: Editora da UNICAMP, 2007.
SACHS, I. Espaços, Tempos e Estratégias de Desenvolvimento. São Paulo: Edições Vértice, 1986.
TEIXEIRA, Luana. Lugares. in BRASIL. Ministério da Cidadania. Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan). Dicionário do Patrimônio Cultural. Disponível em
<http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/30/lugares>
Matheus C. Blach -Historiador - Técnico
17. Data de elaboração: 05/11/2019 18. Revisão:
I - Área 10 – IPHAN -AM
200
12.4 Relatório da oficina com os Mestres e Artífices da SEC

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach

2. Mediador: Matheus Cássio Blach / Leandro Eustáquio Gomes

3. Relator: Yara Araújo Magabi / Matheus Cássio Blach

4. Documentarista: Matheus Cássio Blach

6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Comissão de Manutenção e
Obras da SEC (Mestres e
13 2h 22/10/2019
artifices) - Diretoria de Centros
Culturais e Teatros -
9. Endereço: Centro Cultural dos Povos da Amazônia. Avenida Silves, nº 2.222-
Distrito Industrial I- Manaus/ AM

10. Participantes
Grupo 01 Grupo 03
Ademar Batista Viana Allana Larissa Oliveira
Jessilda Ribeiro Furtado Eduardo Oliveira
Luiza Angélica Oliveira Allan Viana
Grupo 02 Grupo 04
Joara Marques Eliezer Marinho
Renato Pereira Joaquim da Silva Filho
Henrique Santos da Silva Raimundo Nonato dos Santos
Ana Cristina Mansour

11. Descrição do evento


Matheus iniciou a atividade explicando que vários grupos já foram consultados durante a
realização da pesquisa em questão, esclareceu qual o objetivo de tais consultas e como os resultados
obtidos serão utilizados. Dando continuidade, Matheus explicou do que se trata o exercício e como
deveria ser realizado, apontando que os mapas poderiam ser elaborados sem maiores preocupações
com a qualidade das ilustrações.
Os grupos foram divididos e deram início a elaboração dos mapas. A atividade fluiu bem com
alguns grupos indo ligeiramente mais rápido que os demais, no entanto a finalização se deu quase que
conjunta. Após a realização da elaboração dos mapas procedeu-se para as apresentações.
Grupo 01: Uma representante do grupo iniciou apresentando os integrantes da equipe e
explicou que eles buscaram representar o Centro Histórico desenhando algumas edificações que são
administradas pela Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas (SEC), já que esses espaços fazem
parte de sua vida profissional. Os prédios citados foram o Palácio da Justiça, a antiga sede do Ideal
Clube (hoje Teatro Gebes Medeiros), o Centro Cultural Usina Chaminé e o “símbolo maior da nossa
cidade”, o Teatro Amazonas.
201
Em seguida foram citados o Largo de São Sebastião, a Igreja de São Sebastião e o Tacacá da
Gisela como “lugares de encontro e de festa”. Esclareceu-se que esses espaços estão relacionados ao
lazer, ao trabalho e ao crescimento profissional dos membros do grupo, enfatizando que suas histórias
pessoais confundem-se com parte da história de Manaus. A equipe destacou que essas edificações são
“as marcas” deixadas por sociedades que já não existem mais e consideram-nas os “símbolos da
memória da cidade”, frisando que os mesmos preservam grande parte do passado da capital.
Foi mencionada a Biblioteca Pública do Amazonas e fez-se uma referência ao projeto “Mania de
Ler”, que busca resgatar o prazer da leitura, especialmente nas crianças. O Rio Negro aparece no
mapa e na fala da representante da equipe por sua importância para a cidade, tanto como espaço de
lazer para os manauaras quanto para o sustento dos mesmos (foram citados pelo grupo os pescadores
e as empresas que atuam na área da orla de Manaus). Alguns espaços e edificações foram desenhados
no mapa, contudo não foram mencionados diretamente durante a apresentação, são eles: o Café do
Pina, o Palacete Provincial, as praças Antônio Bittencourt (do Congresso) e Heliodoro Balbi (da Polícia),
as avenidas Eduardo Ribeiro e Sete de Setembro, e o Caua (Centro de Artes da Universidade Federal
do Amazonas- UFAM), as qualidades atribuídas a esses lugares estão relacionadas a memória afetiva,
a história da cidade, a socialização, as manifestações culturais e aos usos.
Por fim, foram enfatizados os valores de uso dos espaços mencionados, o que, de acordo com
a percepção dos membros da equipe, ajuda nas questões econômicas e no desenvolvimento da
atividade turística na capital (movimentando a economia local e atraindo visitantes do mundo todo),
além de acentuar o sentimento de pertencimento nos mesmos e serem representativos de sua
memória afetiva.
Grupo 02: A representante da equipe começou apresentando os integrantes e frisou que é
moradora do Centro, onde cresceu, e lembrou que a região entre a Igreja de São Sebastião e o Largo
de São Sebastião já abrigou um estacionamento por algum tempo antes da revitalização dessa área.
Em seguida esclareceu que o grupo buscou retratar o território que, segundo ela, é onde concentram-
se os principais pontos turísticos de Manaus, nos quais os membros da equipe, por vezes, trabalharam
para “proporcionar aos moradores e colegas de trabalho” momentos de lazer. De acordo com a fala
da participante, a área em questão (entre a Praça do Congresso e o Porto de Manaus) concentra todas
as opções de lazer no Centro e destacou, ainda, a facilidade de locomoção nessa região, uma vez que
as linhas de ônibus que levam a todas as regiões da cidade circulam ali.
O Teatro Amazonas foi citado por suas qualidades estruturais (a acústica do local foi destacada)
e por seu valor histórico para a capital. O Largo de São Sebastião (incluindo a Praça e o Monumento
à Abertura dos Portos) foi mencionado por ter se tornado uma área de lazer (especialmente para as
crianças) e de socialização (considerado um ponto de encontro pelo grupo). O Bar do Armando aparece
por ser um espaço de lazer e socialização, e a Igreja de São Sebastião por ser considerada um símbolo
religioso e histórico importante para a cidade.
Dando continuidade a exposição do mapa, são mencionados o Teatro Gebes Medeiros (antigo
Ideal Clube), a Praça do Congresso e o Palácio da Justiça por seu valor histórico, religioso e
sociocultural. Como espaço de memória afetiva aparece o prédio da Santa Casa de Misericórdia. O
202
Museu Casa Eduardo Ribeiro é citado por possuir um rico acervo histórico e por abrigar a Academia
Amazonense de Medicina. A área do Paço da Liberdade (atual Museu da Cidade) e todo seu entorno é
mencionada por ostentar um casario histórico importante e por ser um espaço cultural e de lazer.
Por fim, a região portuária, o prédio da Alfândega, o Mercado Adolpho Lisboa, a Igreja Matriz
de N. S. da Conceição, o Teatro da Instalação e o Relógio Municipal surgem como relevantes por seu
valor histórico, estético, religioso e cultural. Finalizando a apresentação do mapa, a participante
enfatizou que toda a área entre as ruas Monsenhor Coutinho (acima) e Epaminondas (à esquerda), e
as avenidas Getúlio Vargas (à direita) e Sete de Setembro (abaixo), concentra as principais referências
históricas do Centro, de acordo com a percepção da equipe.
Grupo 03: A apresentação foi iniciada com a introdução dos integrantes e a explanação acerca
da proposta do mapa produzido, que foi ilustrar os locais por onde os membros da equipe transitavam
(e ainda transitam) regularmente. A Avenida Getúlio Vargas foi a primeira a ser desenhada por ser
um espaço de memória afetiva (cenário de vivências da infância relevantes para a representante do
grupo), que se transformou e hoje abriga muitos prédios comerciais.
A arborização, o conforto térmico por ela proporcionado e a beleza da paisagem nessa via foram
destacadas, além dos espaços “mais conhecidos”, como a sorveteria Glacial e a área próxima ao
Colégio Dom Pedro II, bem como a grande quantidade de óticas localizadas nesse logradouro, algo
que chama a atenção dos integrantes da equipe.
O Teatro Amazonas e sua área de entorno são mencionados como espaços de memória afetiva,
pois foram os locais onde dois participantes tiveram seu primeiro contato com a cultura. A Avenida
Eduardo Ribeiro surge por ser a via pela qual os mesmos circulam cotidianamente e por apresentar
um comércio pulsante, com fluxo intenso de pessoas.
A Biblioteca Pública aparece por sua beleza estética e arquitetônica, além de ser “uma
referência no Centro” e, ainda, porque muitas pessoas nunca entraram no local, incluindo dois
membros do grupo em questão. A Praça Heliodoro Balbi (da Polícia) e o Palacete Provincial são citados
como espaços de lazer e socialização, nos quais o grupo costuma se encontrar.
Finalizando sua apresentação, a participante enfatizou o intenso fluxo de pessoas e o grande
número de estabelecimentos comerciais no Centro Histórico, o que, em sua opinião, acaba por reduzir
a quantidade de lugares em que a população pode, de fato, sentir-se à vontade.
Grupo 04: O grupo começou apresentando seus integrantes, em seguida, o representante
esclareceu que sua abordagem durante a elaboração do mapa foi diferente das outras equipes, uma
vez que optaram por falar mais de sua relação “sentimental” com os espaços ilustrados e de sua
preocupação com a herança que será deixada para seus descendentes e para as futuras gerações.
O Teatro Amazonas foi citado por ser o lugar que, de acordo com o grupo, poucas pessoas de
suas famílias conhecem “por dentro”. A Praça de São Sebastião aparece por ser um espaço de lazer e
socialização, no qual as famílias podem circular sem maiores preocupações. O Palácio da Justiça surge
por sua beleza estética e arquitetônica.
Por fim, a equipe ressaltou que os três locais representados no mapa remontam ao “sentimento
familiar”, explicando que as famílias devem ser levadas a esses lugares para conhecê-los, pois somente
203
dessa maneira haverá, de fato, a valorização desses espaços patrimoniais e da cultura local. Além de
destacarem que a falta de conhecimento acarreta na desvalorização e no descaso da população para
com os bens históricos da cidade.

12. Documentação fotográfica

Título: Início da oficina de Mapa de Percepção. Título: Grupos confeccionando os mapas. Autor:
Autor: Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019 Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019

Título: Grupo 01. Autor: Matheus Cássio Blach Título: Grupo 02. Autor: Matheus Cássio Blach
Data: 22/10/2019 Data: 22/10/2019
204
Título: Grupo 03. Autor: Matheus Cássio Blach Título: Grupo 04. Autor: Matheus Cássio Blach
Data: 22/10/2019 Data: 22/10/2019

Título: Apresentação do Grupo 01. Autor: Título: Apresentação do Grupo 02. Autor:
Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019 Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019

Título: Apresentação do Grupo 03. Autor: Título: Apresentação do Grupo 04. Autor:
Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019 Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019
205

13. Mapas de Percepção

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019
206

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data: 22/10/2019
207
14. Referências Culturais Identificadas
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
História e memória da cidade; Apreciação estética; 6
Teatro Amazonas 4 Espaço de memórias afetivas; Espaço de manifestações
culturais; Uso; Beleza arquitetônica;
Espaço de comércio e de convívio; Espaço de memórias 5
Avenida Eduardo Ribeiro 4
afetivas; História e memória da cidade; Uso.
Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
Rua 10 de Julho 4
dos argumentos apresentados pelos grupos
Espaço de lazer e socialização; Apreciação estética; Uso; 6
Praça de São Sebastião 3
Espaço de memórias afetivas; Manifestações culturais
História e memória da cidade; Espaço de lazer e 5
Largo de São Sebastião 3 socialização; Apreciação estética; Espaço de memórias
afetivas
Avenida Sete de Uso; História e memória da cidade; Espaço de memórias 4
3
Setembro afetivas; Manifestações culturais
História e memória da cidade; Beleza arquitetônica; 4
Palácio da Justiça 3
Apreciação estética; Uso
Espaço de memórias afetivas; Arborização; Apreciação 6
Avenida Getúlio Vargas 2 estética; Conforto térmico; Convívio; Espaço de
comércio
Espaço de memórias afetivas; História e memória da 6
Palacete Provincial 2 cidade; Socialização; Espaço de manifestações culturais;
Uso; Espaço de lazer
Espaço de lazer e socialização; Uso; História e memória 6
Praça Heliodoro Balbi/
2 da cidade; Espaço de manifestações culturais; Espaço de
da Polícia
memórias afetivas;
Praça Antônio História e memória da cidade; Espaço de memórias 5
Bittencourt/ do 2 afetivas; Uso; Espaço de manifestações culturais;
Congresso Socialização
Beleza arquitetônica; Apreciação estética; Uso; Espaço 4
Biblioteca Pública 2
de memórias afetivas
Orla da Cidade/ Rio Paisagem natural; Apreciação estética; Uso; Espaço de 4
2
Negro lazer
Prédio do Ideal Clube/ Espaço cultural; História e memória da cidade; Convívio; 4
2
Teatro Gebes Medeiros Uso
História e memória da cidade; Religiosidade; Espaço de 3
Igreja de São Sebastião 2
memórias afetivas
Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
Rua José Clemente 2
dos argumentos apresentados pelos grupos
História e memória da cidade; Uso; Espaço de 4
Café do Pina 1
socialização; Espaço de memórias afetivas;
Caua/ Centro de Artes 4
Espaço cultural; Convívio; Espaço de memórias afetivas;
da Universidade Federal 1
Uso
do Amazonas- UFAM
Igreja Matriz de N. S. História e memória da cidade; Religiosidade; Apreciação 4
1
da Conceição estética; Espaço representativo da cultura local
Gastronomia; Espaço de lazer e socialização; Espaço de 4
Tacacá da Gisela 1
memórias afetivas
Espaço cultural; Apreciação estética; Espaço 4
Teatro da Instalação 1 representativo da cultura local; História e memória da
cidade
208
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
Espaço cultural; História e memória da cidade; Convívio; 4
Usina Chaminé 1
Uso
História e memória da cidade; Apreciação estética; 3
Alfândega 1
Beleza arquitetônica
História e memória da cidade; Apreciação estética; 3
Mercado Adolpho Lisboa 1
Espaço representativo da cultura local
Paço da Liberdade/ 3
Museu da Cidade de 1 História e memória da cidade; Espaço cultural e de lazer.
Manaus
História e memória da cidade; Apreciação estética; 3
Porto de Manaus 1
Espaço representativo da cultura local
História e memória da cidade; Apreciação estética; 3
Relógio Municipal 1
Espaço representativo da cultura local
2
Bar do Armando 1 Espaço de lazer e socialização;

Santa Casa de Espaço de memórias afetivas; Apreciação estética 2


1
Misericórdia enquanto ruína
Museu Casa Eduardo 1
1 História e memória da cidade;
Ribeiro
1
Rua Epaminondas 1 História e memória da cidade;

Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0


Colégio Dom Bosco 1
dos argumentos apresentados pelos grupos
Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
Colégio Dom Pedro II 1
dos argumentos apresentados pelos grupos
Monumento à Abertura Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
1
dos Portos dos argumentos apresentados pelos grupos
Rua Monsenhor Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
1
Coutinho dos argumentos apresentados pelos grupos
209
15. Gráficos

Referências Culturais identificadas

Rua Monsenhor Coutinho


Monumento à Abertura dos Portos
Colégio Dom Pedro II
Colégio Dom Bosco
Rua Epaminondas
Museu Casa Eduardo Ribeiro
Santa Casa de Misericórdia
Bar do Armando
Relógio Municipal
Porto de Manaus
Paço da Liberdade/ Museu da Cidade de…
Mercado Adolpho Lisboa
Alfândega
Usina Chaminé
Teatro da Instalação
Tacacá da Gisela
Igreja Matriz de N. S. da Conceição
Caua/ Centro de Artes da Universidade…
Café do Pina
Rua José Clemente
Igreja de São Sebastião
Prédio do Ideal Clube/ Teatro Gebes Medeiros
Orla da Cidade/ Rio Negro
Biblioteca Pública
Praça Antônio Bittencourt/ do Congresso
Praça Heliodoro Balbi/ da Polícia
Palacete Provincial
Avenida Getúlio Vargas
Palácio da Justiça
Avenida Sete de Setembro
Largo de São Sebastião
Praça de São Sebastião
Rua 10 de Julho
Avenida Eduardo Ribeiro
Teatro Amazonas

0 1 2 3 4 5 6

Quantidade de registros nos mapas Quantidade de atriutos descritos


210

Referências por quantidade de Registros


19
19
18

17

16

15

14

13

12

11

10

9
9
8

4
4
3
3
2

0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros

Quntidade de Referências Culturais

15. Análise
211
As informações coletadas, por meio da oficina de Mapas de Percepção, geraram a identificação de
35 referências culturais dentre as quais: 3 foram registradas em todos os 4 mapas produzidos; 4 foram
registradas em 3 mapas; 9 foram registradas em 2 mapas; 19 foram registradas apenas em um ou outro
mapa.
Dos bens culturais identificados 3 aparecem em todos os mapas produzidos, são eles a Avenida
Eduardo Ribeiro, a Rua 10 de Julho e o Teatro Amazonas. Contudo não foi possível inferir quais as
qualidades atribuídas a Rua 10 de Julho por meio dos relatos e ilustrações. Quanto a descrição dos
atributos dos bens culturais, foi dada maior ênfase ao Teatro Amazonas, a Praça de São Sebastião, ao
Palacete Provincial, a Avenida Getúlio Vargas e a Praça Heliodoro Balbi, todos com 6 atributos
identificados.
Considerando o recorte temático proposto pela pesquisa foi realizado um procedimento
interpretativo das falas e dos gráficos apresentados. Assim, diversos dos elementos representados pelos
participantes foram traduzidos em atributos associados aos bens culturais e em valores descritos pelo
Dossiê de Tombamento do Centro Histórico de Manaus.
De modo geral, os grupos deram enfoque aos locais em que se manifestam memórias afetivas e
pessoais, com a presença evidente do elemento de uso no tempo presente, especialmente aos espaços
geridos pela SEC, nos quais os integrantes das equipes trabalham frequentemente. Contudo, o valor
histórico e de memória para a cidade dos bens culturais identificados, bem como a apreciação estética e
arquitetônica, também foram reconhecidos por todos os grupos. A arborização e o comércio juntamente
com as qualidades de convívio, surgiram de forma pontual na fala dos participantes.
Os atributos que pareceram mais marcantes para os grupos foram, a qualidade desses lugares
como espaços culturais e de socialização, além do lazer que se caracteriza pela variedade da programação
cultural disponível em locais como a Praça e o Largo de São Sebastião, o Teatro Amazonas e o Teatro
Gebes Medeiros (antigo Ideal Clube), por exemplo.
Um ponto avaliado como relevante, é o bem cultural representado devido a sua referência à
memória, mas que passou por importantes descaracterizações, perdendo, assim, alguns atributos que
lhe conferiam valor: parte da Avenida Getúlio Vargas, que antes abrigava prédios com atrações voltadas
para o lazer de crianças e jovens (um dos grupos citou um fliperama situado nessa via que era bastante
apreciado por eles na infância), mas que atualmente apresenta, majoritariamente, estabelecimentos
comerciais em quase toda sua extensão.
Outra questão que chama atenção, são os bens representados nos mapas, mas que quase não
aparecem na fala dos membros dos grupos, cujas qualidades não foi possível inferir a partir dos
argumentos apresentados pelos mesmos, são eles: a Rua Monsenhor Coutinho, o Monumento à Abertura
dos Portos, a Rua José Clemente, o Colégio Dom Bosco, a Rua 10 de Julho e o Colégio Dom Pedro II.
Finalmente, cabe enfatizar a relação “sentimental” dos participantes com os bens culturais
identificados, além de serem espaços de memórias afetivas, esses lugares são relevantes para os grupos
por serem a “fonte” de sua renda e locais de aprendizado e crescimento profissional e pessoal. As
qualidades atribuídas a estes lugares os tornam, na percepção das equipes, “heranças” importantes da
212
história e da cultura local, que devem ser preservadas para seus descendentes e para as futuras gerações
de manauaras.

16. Referências Bibliográficas


APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: CAMPUS, 1997.
CONSTANTINO, Núncia Santoro de. O que a micro-história tem a nos dizer sobre o regional e o
local?. Revista História Unisinos, São Leopoldo, RS, v. 8, n. 10, p.157-17, jul./dez. 2004.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
HAESBAERT, R. Concepções de território para entender desterritorialização. in SANTOS, M.; BECKER,
B, K. (Orgs.) Território, territórios. Ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2004, p. 43-71.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
RICŒUR, Paul. A Memória a História o Esquecimento. Tradução: Alain François [et al.] – Campinas,
SP: Editora da UNICAMP, 2007.
SACHS, I. Espaços, Tempos e Estratégias de Desenvolvimento. São Paulo: Edições Vértice, 1986.
TEIXEIRA, Luana. Lugares. in BRASIL. Ministério da Cidadania. Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan). Dicionário do Patrimônio Cultural. Disponível em
<http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/30/lugares>

Matheus C. Blach -Historiador - Técnico


17. Data de elaboração: 21/11/2019 18. Revisão:
I - Área 10 – IPHAN -AM
213
12.5 Relatório da oficina com os Moradores da Ilha de São Vicente

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach

2. Mediador: Matheus Cássio Blach

3. Relator: Yara Araújo Magabi

4. Documentarista: Luciane da Silva Queroga

6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Moradores Ilha de São Vicente 22 2h 23/10/2019

9. Endereço: Rua Frei José dos Inocentes, nº 201, Centro- Manaus/AM

10. Participantes
Grupo 01
Participante não identificado
Karla Spencer Grupo 04
Klilton Souza Participante não identificado
Participante não identificado Participante não identificado
Mayara da Silva Grupo 05
Grupo 02 Cleópatra Vila Pouca
Angélica dos Santos José
Leila Alves Participante não identificado
Leila Teixeira Grupo 06
Grupo 03 Participante não identificado
Edneia da Silva Grupo 07
Participante não identificado Participante não identificado
Izomara Paiva Yaselis Montilla
Participante não identificado
Tatiane de Oliveira
Vanessa Almeida

11. Descrição do evento


Matheus iniciou apresentando a proposta da atividade e descrevendo as etapas da mesma,
além de expor (resumidamente) a pesquisa, bem como seus objetivos. Em sua fala, instruiu os
participantes quanto a elaboração dos mapas, ressaltou que os desenhos poderiam ser simples e que
eles podiam “voltar a ser criança”, enfatizando que os pontos a serem analisados posteriormente
seriam os lugares citados e as qualidades atribuídas a eles.
O exercício teve a participação de 22 pessoas. Inicialmente formaram-se seis grupos com um
número alternado de integrantes (sendo a equipe número 3 com a maior quantidade de componentes,
6 no total). No decorrer da atividade mais pessoas chegaram ao local, com isso surgiu mais um grupo,
totalizando 7 mapas, sendo um dos grupos formado apenas por crianças. Os grupos começaram a
debater sobre os espaços que iriam desenhar e o porquê de desenhá-los. Durante essa etapa Matheus
e Lucianne percorreram a sala, “visitando” as equipes com o intuito de elucidar as dúvidas dos
214
participantes e auxiliá-los no processo de elaboração dos mapas. Foi possível notar que as pessoas
aparentavam divertir-se durante o processo, especialmente por conta de suas habilidades ao
desenhar, as crianças presentes participavam com empenho da atividade. A atividade foi realizada na
Casa do Frei, projeto social criado pelo Instituto Amazônia tendo como público alvo os moradores da
Ilha de São Vicente. Devido a própria organização da Casa do Frei que mantém suas portas abertas
aos moradores da região, durante alguns momentos da oficina tornou-se difícil realizar a identificação
de alguns dos participantes. Sobretudo, pela grande movimentação e fluxo de pessoas que entravam
para ver o que estava acontecendo e saiam. Apesar disso a atividade se desenvolveu de forma
satisfatória.
Após cerca de 40 minutos, a fase de elaboração dos mapas foi finalizada. Matheus explicou a
etapa de apresentação dos mapas e salientou a relevância da atividade para a pesquisa, bem como a
importância da visão dos participantes para a normatização do uso dos espaços inseridos no Centro
Histórico de Manaus. Cada equipe escolheu um representante para expor seu respectivo mapa.
Grupo 01: A representante da equipe iniciou a apresentação do mapa dizendo que os
integrantes tentaram incluir tudo que tem importância para eles desde sua infância. A Igreja Matriz
de Nossa Senhora da Conceição foi escolhida por sua relevância para a família, que sempre foi muito
religiosa. Desenharam uma mangueira porque, existem várias nos arredores do lugar onde vivem e
durante a infância essas árvores eram muito frutíferas, e ela acredita que atualmente não “tem mais”
mangas como antes. O Teatro Amazonas aparece no mapa por ter marcado uma época em que
programas sociais eram ofertados na área do Largo de São Sebastião, os integrantes costumavam
participar dessas atividades que os agradavam bastante.
O Porto de Manaus, as ruas próximas à Igreja Matriz e o Relógio Municipal são citados por
fazerem parte do trajeto que os leva até o Mercado Municipal Adolpho Lisboa e/ou a feira. A Casa do
Frei e o Caminhos da Arte foram mencionados por fazerem parte da história dos integrantes do grupo
e de seus filhos, apesar de serem recentes, esses projetos são muito importantes para a comunidade,
afirmou a moradora. O Grupo 01 citou, ainda, as duas casas mais antigas de Manaus (localizadas na
Rua Bernardo Ramos) por serem muito relevantes para a história da cidade e por terem sido
reformadas recentemente, o que os deixou muito felizes. Um integrante da equipe explicou que o
antigo prédio do Colégio Dom Bosco seria desenhado no mapa, contudo a falta de tempo os impediu.
Relatou que a edificação está abandonada, mas que deveria ser reformada por ser uma das mais
bonitas do centro da cidade, assim como toda a área em seu entorno.
Dona Nazinha, a avó da moradora que apresentou o mapa do Grupo 02, foi desenhada e
mencionada durante a exposição, sendo chamada de “o maior patrimônio histórico do centro”, por ser
uma das moradoras mais antigas do bairro.
Grupo 02: A apresentação do Grupo 02 iniciou-se com a moradora explicando que escolheu o
Mercado Adolpho Lisboa por ser um lugar esteticamente agradável e porque as opções gastronômicas
oferecidas ali são muito apetitosas e diversificadas, ela afirmou, ainda, que até hoje frequenta bastante
o local. Em seguida mencionou o avião que ficava na Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade), no
qual ela costumava brincar quando criança e salientou a arborização desse logradouro antes da última
215
reforma. Para ela a paisagem era mais bonita e o clima mais agradável. O Encontro das Águas foi
mencionado pelo grupo, juntamente com os peixes regionais, que segundo eles, precisam ser
preservados, pois ainda correm risco de extinção. O clima quente de Manaus (representado por um
desenho do sol) e os pássaros da região, também foram citados.
Grupo 03: A moradora começou explicando que os integrantes deste grupo desenharam
apenas uma edificação que consideram relevante, o Les Artistes Café Teatro. Segundo a mesma, o
local foi escolhido por sua beleza, especialmente em seu interior, e por considerá-lo um ponto de
referência no qual vários eventos são realizados e os artistas regionais, bem como empresas privadas,
divulgam seu trabalho. Outra justificativa apresentada pelo grupo, para a escolha do prédio, foi o
pouco conhecimento que as pessoas têm acerca do mesmo, por esta razão, os integrantes tentaram
desenhar o máximo de elementos que compõem o ambiente interno da edificação.
Grupo 04: Esse grupo era composto por duas crianças, uma delas fez a apresentação do mapa,
no qual foi desenhado o Teatro Amazonas, o sol e as árvores que fazem parte da paisagem do seu
entorno. Segundo ela, o Teatro é muito importante para Manaus e muito bonito, assim como as árvores
que o cercam e o sol que completa o cenário.
Grupo 05: A pessoa responsável por expor o mapa deste grupo começou apresentando o
desenho da Igreja Matriz, contudo a mesma não informou a razão desta edificação estar incluída no
mapa, uma vez que a pessoa que escolheu esse prédio precisou se retirar minutos antes da
apresentação. Em seguida a moradora explicou que optou por desenhar toda a área próxima à Praça
Dom Pedro II, por ser a região onde vive, na qual trabalha e onde foi muito bem recebida por todos.
Destacaram-se na ilustração, e na fala da mesma, a Praça em si, o Museu da Cidade, a Casa do Frei,
o Caminhos da Arte, a Rua Bernardo Ramos, a sede do Instituto Amazônia, o Palácio Rio Branco e um
mercadinho localizado nas redondezas, segundo ela, tanto a Praça Dom Pedro II quanto toda a área
citada são uma extensão de sua casa, já que ela percorre estes espaços todos os dias.
Foi desenhada toda a estrutura que é montada para a realização da Feira do Paço, bem como
o evento em si, pois o projeto faz parte do programa de revitalização da área e desenvolvimento social
da comunidade, explicou a moradora. Durante a exposição do mapa, ressaltou-se que toda a região
da Praça Dom Pedro II e seu entorno ainda é muito marginalizada e que os moradores sofrem com o
preconceito por parte daqueles que não conhecem verdadeiramente o lugar, inclusive pessoas que “se
dizem informadas”. A representante do grupo esclareceu que gostaria de ter desenhado a Rua Lobo
D’Almada, pois aprecia muito este logradouro, que é uma das ruas mais importantes de Manaus e que
abriga ótimos bares, porém, por conta da falta de tempo, a mesma desenhou apenas o Bar Mangueira
(representando a via), por ser um de seus favoritos.
Finalizando a apresentação, citou-se a Igreja dos Remédios, que faz parte da memória afetiva
de um dos integrantes do grupo, uma vez que o mesmo lembra-se de “chegar de barco e avistar a
Igreja de longe”. Ainda durante a exposição do Grupo 05, foi mencionada uma matéria jornalística que
criticou a Praça Dom Pedro II, fazendo uso de termos pejorativos para referenciar-se ao local, o que
ofendeu bastante os moradores, por essa razão pediu-se respeito para com a comunidade que ali
reside.
216
Grupo 06: A representante (e única integrante do grupo) desenhou o Museu da Cidade, pois o
mesmo possui um importante e rico acervo de “coisas antigas” que a agradam bastante. A arborização
no entorno do Museu também foi destacada em seu mapa, bem como o aniversário da cidade,
referenciado com a frase “Feliz aniversário Manaus”.
Grupo 07: Esta equipe citou toda a área da Praça Dom Pedro II e seu entorno, pois apreciam
bastante este local e acreditam que é um espaço muito importante para Manaus, uma vez que, de
acordo com o relato, se trata do lugar onde a cidade começou a se formar. O Museu da Cidade e o
Palácio Rio Branco ganharam destaque no mapa e na fala da moradora, por serem prédios que
apresentam beleza estética e por serem relevantes historicamente para a capital. Por fim, a moradora
afirmou que gostaria de ter desenhado mais edificações, porém não teve tempo.
Em seguida a exposição dos mapas, realizou-se o sorteio de uma cesta básica ofertada pelo
Instituto Amazônia como forma de agradecimento pela participação dos moradores. Neste momento,
representantes do Instituto Amazônia pronunciaram-se, agradecendo a presença de todos e
enfatizando a importância da preservação do lugar onde vivem e do respeito aos moradores.
Alguns moradores também se pronunciaram, apontando edificações antigas que estão
abandonadas e questionando quais seriam os meios para denunciar depredações aos prédios e
logradouros históricos, além de sugerirem que parcerias entre Iphan, Instituto Amazônia e comunidade
aconteçam com mais frequência.
Ainda durante a fala dos participantes, a senhora Nazinha (uma das moradoras mais antigas
do bairro) relembrou como algumas áreas costumavam ser e relatou algumas de suas vivências nestes
locais. A mesma frisou que, como uma pessoa nascida e criada em Manaus, tem o direito de ver esses
espaços revitalizados, e ressaltou a relevância de se preservar os bens históricos da capital.
Matheus finalizou a atividade agradecendo a presença e a disposição de todos em participar, o
mesmo colocou o Iphan à disposição dos moradores e informou que os registros fotográficos seriam
compartilhados com a equipe do Instituto Amazônia para que os participantes pudessem ter acesso
ao material posteriormente. Por fim, todos cantaram parabéns para a cidade de Manaus, cujo
aniversario seria no dia seguinte (24/10/2019).
217
12. Documentação fotográfica

Título: Grupo 01. Autor: Luciane da Silva Título: Grupo 02. Autor: Luciane da Silva
Queroga Data: 23/10/2019 Queroga Data: 23/10/2019

Título: Grupo 03. Autor: Luciane da Silva Título: Grupo 04. Autor: Luciane da Silva
Queroga Data: 23/10/2019 Queroga Data: 23/10/2019

Título: Grupo 05. Autor: Luciane da Silva Título: Grupo 06. Autor: Luciane da Silva
Queroga Data: 23/10/2019 Queroga Data: 23/10/2019
218

Título: Grupo 07. Autor: Luciane da Silva Título: Oficina múltiplos grupos. Autor: Luciane
Queroga Data: 23/10/2019 da Silva Queroga Data: 23/10/2019

13. Mapas de Percepção

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
219

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
220

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 05. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
221

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 06. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 07. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
222
14. Referências Culturais Identificadas
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
História e memória da cidade; beleza e paisagem; uso; 4
Museu da Cidade 3
lazer.
Uso; Espaço cultural; Espaço de memórias afetivas; 4
Caminhos da Arte 2
Socialização.
Uso; Espaço cultural; Espaço de memórias afetivas; 4
Casa do Frei 2
Socialização.
Igreja Matriz de Nossa 2
2 Espaço de memórias afetivas; Uso.
Senhora da Conceição
Espaço de memórias afetivas; Espaço cultural; 4
Largo de São Sebastião 2
Arborização; Apreciação estética.
Beleza e paisagem; Gastronomia; Uso; Espaço de 4
Mercado Adolpho Lisboa 2
comércio.
História e memória da cidade; Beleza e paisagem; 3
Palácio Rio Branco 2
Memórias afetivas.
Apreciação estética; Arborização e conforto térmico; 4
Praça Dom Pedro II 2
Uso; História e memória da cidade.
Espaço de memórias afetivas; História e memória da 2
Teatro Amazonas 2
cidade.
Casa nº 69 e 77 (as 2
mais antigas de 1 Uso; História e memória da cidade.
Manaus)
2
Encontro das Águas 1 Apreciação estética; Paisagem natural.

2
Feira do Paço 1 Espaço cultural; Socialização.

1
Igreja dos Remédios 1 Espaço de memórias afetivas.

Uso; Lugar de memórias afetivas; Beleza e paisagem; 4


Les Artistes Café Teatro 1
Espaço cultural
Espaço de memórias afetivas (De acordo com os relatos, 1
Praça 5 de Setembro as qualidades de socialização, lazer, arborização e uso
1
(da Saudade) se perderam devido a última reforma da Praça, que
restaurou seus aspectos “originais”).
Prédio do antigo Colégio 1
1 Beleza e paisagem das ruínas.
Dom Bosco
2
Relógio Municipal 1 Espaço de memórias afetivas; Uso.

Roadway (Porto de 2
1 Espaço de memórias afetivas; Uso.
Manaus)
História e memória da cidade; Uso; Espaço de memórias 3
Rua Bernardo Ramos 1
afetivas.
4
Rua Lobo D’Almada 1 Uso; Socialização; Lazer; História e memória da cidade.

Sede do Instituto 3
1 Uso; Espaço de memórias afetivas; Espaço cultural.
Amazônia
15. Gráficos
223

Referências Culturais identificadas

Sede do Instituto Amazônia

Rua Lobo D’Almada

Rua Bernardo Ramos

Roadway (Porto de Manaus)

Relógio Municipal

Prédio do antigo Colégio Dom Bosco

Praça 5 de Setembro (da Saudade)

Les Artistes Café Teatro

Igreja dos Remédios

Feira do Paço

Encontro das Águas

Casa nº 69 e 77 (as mais antigas de Manaus)

Teatro Amazonas

Praça Dom Pedro II

Palácio Rio Branco

Mercado Adolpho Lisboa

Largo de São Sebastião

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição

Casa do Frei

Caminhos da Arte

Museu da Cidade

0 1 2 3 4

Quantidade de registros nos mapas Quantidade de atriutos descritos


224

Referências por quantidade de Registros


12
12

11

10

8
8

1
1

0
0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros

1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros


225
15. Análise
As informações coletadas, por meio da oficina de Mapas de Percepção, geraram a identificação
de 21 referências culturais dentre as quais: 1 foi registrada em 3 dos 7 mapas produzidos; 8 foram
registradas em 2 mapas; 12 foram registradas apenas em um ou outro mapa.
Dos bens culturais identificados nem um aparece em todos os mapas, não havendo, dessa
maneira, unanimidades. O Museu da Cidade de Manaus destaca-se com registros em 3 dos 7 mapas
elaborados. Quanto a descrição dos atributos dos bens culturais, foi dada maior ênfase ao Museu da
Cidade, ao Mercado Adolpho Lisboa, a Casa do Frei, ao Caminhos da Arte, a Praça Dom Pedro II, ao
Largo de São Sebastião, ao Les Artistes Café Teatro e a Rua Lobo D’Almada, todos com 4 atributos
identificados.
Considerando o recorte temático proposto pela pesquisa foi realizado um procedimento
interpretativo das falas e dos gráficos apresentados. Assim, diversos dos elementos representados
pelos participantes foram traduzidos em atributos associados aos bens culturais e em valores descritos
pelo Dossiê de Tombamento do Centro Histórico de Manaus.
De modo geral, os grupos deram enfoque aos locais em que se manifestam memórias afetivas
e pessoais, especialmente aos espaços situados na região da Ilha de São Vicente. Contudo, o valor
histórico e de memória para a cidade dos bens culturais identificados, bem como a beleza e paisagem,
e o uso deles no tempo presente, também foram reconhecidos por todos os grupos. A arborização e o
conforto térmico juntamente com as qualidades de convívio, surgiram de forma pontual na fala dos
participantes.
Os atributos que pareceram mais marcantes para os grupos foram, a qualidade desses lugares
como espaços culturais e de socialização, com a presença evidente do elemento de uso, além do lazer
que se caracteriza pela variedade da programação cultural disponível em locais como a Casa do Frei e
o Largo de São Sebastião, por exemplo.
Finalmente, é válido ressaltar um ponto avaliado como relevante, que são os bens culturais
representados devido a sua referência à memória, mas que passaram por importantes
descaracterizações, perdendo, assim, os atributos que lhe conferiam valor: o prédio do antigo Colégio
Dom Bosco que se encontra parcialmente abandonado, perdendo seu valor de uso, apesar de ainda
ser muito apreciado esteticamente enquanto ruína; A Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade), cujo
processo de restauração de seus aspectos “originais”, levou a remoção de elementos associados ao
seu uso que eram amplamente estimados pela população, como o avião (de tamanho real, que
também era usado para as crianças brincarem) e a arborização (que antes fornecia o conforto térmico
tão apreciado pelos usuários do local).

16. Referências Bibliográficas


APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
226
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: CAMPUS, 1997.
CONSTANTINO, Núncia Santoro de. O que a micro-história tem a nos dizer sobre o regional e o
local?. Revista História Unisinos, São Leopoldo, RS, v. 8, n. 10, p.157-17, jul./dez. 2004.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
HAESBAERT, R. Concepções de território para entender desterritorialização. in SANTOS, M.; BECKER,
B, K. (Orgs.) Território, territórios. Ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2004, p. 43-71.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
RICŒUR, Paul. A Memória a História o Esquecimento. Tradução: Alain François [et al.] – Campinas,
SP: Editora da UNICAMP, 2007.
SACHS, I. Espaços, Tempos e Estratégias de Desenvolvimento. São Paulo: Edições Vértice, 1986.
TEIXEIRA, Luana. Lugares. in BRASIL. Ministério da Cidadania. Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan). Dicionário do Patrimônio Cultural. Disponível em
<http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/30/lugares>

Matheus C. Blach -Historiador - Técnico


17. Data de elaboração: 07/11/2019 18. Revisão:
I - Área 10 – IPHAN -AM
227
12.6 Relatório da oficina com os estagiários do Museu da Cidade

Dados Gerais
1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach
2. Mediador: Matheus Cássio Blach
3. Relator: Silvio Márcio Freire de Alencar Filho – Rebeca Nunes de Melo
4. Documentarista: Rebeca Nunes de Melo – Carluzi Santos Silva Mattos

6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Estagiários do Museu da
8 2h 25/10/2019
Cidade de Manaus
9. Endereço: Rua Gabriel Salgado, s/n. Centro

10. Participantes
Grupo 01 Grupo 03
Lauriane da Silva Szabo Agnaldo Júnior Martins. dos Santos
Yan Soares Diniz Rosicley Cardoso Lopes
Grupo 02 Grupo 04
Ane Caroline S. Rocha João Gerson Sarmento Souza
Jennifer Queiroz Bastos Maria Eduarda Vieira

11. Descrição do evento


Matheus iniciou a proposta da atividade explicando brevemente sobre a pesquisa e seus
objetivos, em seguida deu esclarecimento sobre a metodologia aplicada. O exercício foi realizado por
8 pessoas que foram divididas em quatro grupos de dois integrantes, ficando dispostos da seguinte
forma: grupo 1, composto por Yan Soares Diniz e Lauriane da Silva Szabo; grupo 2, composto por Ane
Caroline S. Rocha e Jennifer Queiroz Bastos; grupo 3, composto por Rosicley Cardoso Lopes e Agnaldo
Júnior Martins. dos Santos; grupo 4 composto por João Gerson Sarmento Souza e Maria Eduarda
Vieira.
Pouco antes de Matheus terminar sua fala, o grupo 1 já estava começando seus desenhos, com
destaque para a integrante Lauriane. O grupo 3, começou por último, pois um dos integrantes demorou
a chegar. João Gerson preferiu realizar seu desenho em pé, um tanto inquieto. Mesmo após a chegada
do integrante atrasado, o grupo 3 ainda demorou mais um pouco a começar o mapa. Lauriane
desenhou mais rápido em relação a seu parceiro, pois enquanto ele insere o museu da cidade no mapa,
ela já havia representado vários locais e se gaba do fato. Rosicley preocupa-se em fazer uma visão
aérea dos locais representados, enquanto seu parceiro não partilha desta preocupação.
Durante a aplicação do método, Matheus sentou-se com os grupos, um a um, apresentando
alguns dados da pesquisa para elucidar algumas questões. Uma vez que, além do levantamento de
dados, a proposta foi de apresentar e ensinar como funciona a aplicação da metodologia para o grupo
de estudantes que poderiam se apropriar dela em suas pesquisas na graduação.
228
Observamos que o grupo 3 era o único sem representar o rio ou o Porto de Manaus, porém não
demorou muito para o fazerem. Maria Eduarda representou os vendedores do porto anunciando seus
produtos por meio de balões de fala (diálogo). Lauriane apresentou certa frustração com seu colega,
pois sua ideia era mapear corretamente o centro, enquanto seu colega acabou interrompendo a
harmonia, desenhando de forma mais aleatória. O grupo 2 apresenta mais diálogo entre si, enquanto
o grupo 4 dividiu seu espaço de forma bem definida, onde uma metade da cartolina compunha
desenhos da Maria Eduarda e a outra continha desenhos de João Gerson.
Rosicley, do grupo 3, anota legendas/observações em seus desenhos, e os integrantes do grupo
2 fazem o mesmo, mas com mais riqueza de palavras.
Às 14h encerramos a composição de mapas e começamos as apresentações, onde o grupo 1
falou primeiro. De novo, destaque para a iniciativa da Lauriane que deu ênfase não só no valor afetivo,
mas também histórico dos locais que ela escolheu para compor seu mapa e seu colega falou logo após
com justificativas semelhantes. O grupo 2 falou em seguida, com Ane falando em nome das duas,
destacando a importância do porto. Muitos dos locais representados por elas remetem a memória
afetiva, principalmente para Jennifer. Elas destacaram como local de resistência, a Feira da Panair e
da Manaus Moderna. Dando seguimento, veio o grupo 3. Agnaldo falou primeiro sobre a Praça do
Congresso, local de seu agrado e Rosicley desenhou o Paço da Liberdade, onde funciona o Museu da
Cidade de Manaus, seu local de trabalho. Também incluiu o Porto, onde visita sua irmã (memória
afetiva). Na sequência, o grupo 4 fez sua apresentação. João começou falando em nome dos dois e
Maria fez algumas pontuações. Ele afirmou que o Centro é a “terceira fase de sua vida". Ela resolveu
explicar melhor sua parte do mapa, logo após. Questionada por Leandro o motivo de o Teatro
Amazonas “dispensar apresentações”, ela respondeu só ter conhecido o teatro em 2018, apesar de
ser manauara residente da cidade. Carluzi deu seguimento perguntando a razão de não ter ido antes
e pediu permissão para voltar a filmar. Mesmo tendo sido a pergunta direcionada a Maria, ambos
responderam que a primeira vez visitando o Teatro Amazonas fora na primeira visita técnica realizada
por meio da aula de História da Arte na Universidade do Estado do Amazonas.
229
12. Documentação fotográfica

Título: Grupo 01. Autor: Carluzi Santos Silva Título: Grupo 02. Autor: Carluzi Santos Silva
Mattos Data: 25/10/2019 Mattos Data: 25/10/2019

Título: Grupo 03. Autor: Carluzi Santos Silva Título: Grupo 04. Autor: Carluzi Santos Silva
Mattos Data: 25/10/2019 Mattos Data: 25/10/2019
230
13. Mapas de Percepção

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
231

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus C. Blach Data: 29/10/2019
232
14. Referências Culturais Identificadas
Qtd.

Identificação Registro Atributos
Atrib.
s
MUMA (Museu da Cidade Memória Afetiva; convívio; apreciação estética e 5
4
de Manaus) arquitetônica; valor histórico;
Intercâmbio cultural; uso; socialização; lazer; 8
Porto Flutuante de
3 proximidade com o rio; paisagem natural; memória
Manaus
afetiva; Valor histórico;
Beleza e paisagem, apreciação estética e 6
Teatro Amazonas 3
arquitetônica; valor histórico; memória afetiva;
Apreciação estética e arquitetônica; valor histórico; 6
Largo de São Sebastião 2
uso; socialização; lazer;
Feira da Manaus Comércio; gastronomia; uso; resistência popular; 5
2
Moderna memórias afetivas;
História e memória de povos nativos; ambiência; 2
Praça 5 de Setembro (Segundo os relatos o tempo de permanência foi
2
(Praça da Saudade) drasticamente reduzido devido ao nível de
insegurança);
1
Av. 7 de Setembro 2 Valor histórico;

Comércio; gastronomia; uso; resistência popular; 5


Feira da Banana 1
memórias afetivas;
3
Av. Eduardo Ribeiro 1 Valor histórico; uso; comércio;

Praça Antônio 2
Bittencourt (Praça do 1 Uso; Memória Afetiva;
Congresso)
Praça Dom Pedro II 2
1 Arborização; conforto térmico;
(Paço da Liberdade)
Santa Casa de 2
1 Valor histórico; memória afetiva;
Misericórdia
Casas 69 e 77 (Mais 1
1 Valor histórico;
antigas de Manaus)
1
Igreja da Matriz 1 Valor histórico;

Instituto de Educação do 1
1 Memória Afetiva.
Amazonas (IEA)
1
Palacete Provincial 1 Valor histórica;
233
15. Gráficos

Referências Culturais identificadas

Palacete Provincial

Instituto de Educação do Amazonas (IEA)

Igreja da Matriz

Casas 69 e 77 (Mais antigas de Manaus)

Santa Casa de Misericórdia

Praça Dom Pedro II (Paço da Liberdade)

Praça Antônio Bittencourt (Praça do Congresso)

Av. Eduardo Ribeiro

Feira da Banana

Av. 7 de Setembro

Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade)

Feira da Manaus Moderna

Largo de São Sebastião

Teatro Amazonas

Porto Flutuante de Manaus

MUMA (Museu da Cidade de Manaus)

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Quantidade de registros nos mapas Quantidade de atriutos descritos


234

Referências por quantidade de Registros


9
9

4
4

2
2

1
1

0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros

Quntidade de Referências Culturais


235
15. Análise
As informações coletadas, por meio da oficina de Mapas de Percepção, geraram a identificação
de 36 referências culturais dentre as quais: 2 foram registradas em todos os 4 mapas produzidos; 2
foram registradas em 3 mapas; 5 foram registradas em 2 mapas; 27 foram registradas apenas em
um ou outro mapa.
Dos bens culturais identificados 2 aparecem em todos os mapas produzidos, são eles o Porto
de Manaus e o Mercado Municipal Adolpho Lisboa. Quanto a descrição dos atributos dos bens culturais,
foi dada maior ênfase a Praça de São Sebastião, com 6 atributos identificados. O Mercado Adolpho
Lisboa e o Porto de Manaus aparecem logo em seguida, cada um com 5 atributos identificados.
Considerando o recorte temático proposto pela pesquisa foi realizado um procedimento
interpretativo das falas e dos gráficos apresentados. Assim, diversos dos elementos representados
pelos participantes foram traduzidos em atributos associados aos bens culturais e em valores descritos
pelo Dossiê de Tombamento do Centro Histórico de Manaus.
De modo geral, os grupos deram enfoque aos espaços nos quais a história e a memória da
cidade se materializam. A apreciação estética e arquitetônica foram elementos, muitas vezes, decisivos
para a escolha dos bens culturais ilustrados. A forte influência internacional nos estilos arquitetônicos
das referências identificadas mostrou-se um fator importante e que aparece na fala de boa parte dos
participantes.
O valor cultural dos bens mencionados, bem como seu uso no tempo presente, são qualidades
que surgiram de forma pontual na fala dos integrantes das equipes. Os atributos relacionados à
socialização e ao lazer dos espaços citados, também foram reconhecidos.
Os atributos que pareceram mais marcantes para os grupos foram as qualidades ligadas à
atratividade desses lugares junto aos turistas que chegam à Manaus. Em determinados momentos
foram feitas sugestões de uso das edificações e logradouros (Teatro Amazonas, Porto de Manaus e
Palácio da Justiça, por exemplo, que são considerados, pelos grupos, “simbólicos e belíssimos”) para
incrementar a atividade turística na cidade.
Os locais em que manifestam memórias afetivas e pessoais também ganharam destaque, tanto
nos mapas produzidos quanto na fala dos participantes, dentre eles cita-se: a Praça Torquato Tapajós
(Praça dos Remédios), a Santa Casa de Misericórdia de Manaus e o Pavilhão Universal.
Um ponto avaliado como relevante, são os bens culturais representados devido a sua referência
à memória, mas que passaram por importantes descaracterizações, perdendo, assim, alguns atributos
que lhes conferiam valor: o antigo Hotel Amazonas, que, segundo relatos, completava lindamente o
conjunto arquitetônico da Praça Tenreiro Aranha e é muito estimado pelos integrantes de uma das
equipes participantes, mas que foi transformado em um edifício comercial. Além do Pavilhão Universal,
que foi removido da área, transfigurando, assim, a paisagem desta praça. O aquário, o aviário e o
zoológico que se localizavam na área externa da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que
não mais existem, perdendo seu valor de espaço de lazer.
Outra questão que chama atenção, são os bens representados nos mapas, mas que quase não
aparecem na fala dos membros dos grupos, cujas qualidades não foi possível inferir a partir dos
236
argumentos apresentados pelos mesmos, são eles: a Praça Dom Pedro II, o Relógio Municipal, o
Palácio Rio Branco, o Hotel Cassina, o Paço Municipal/ Museu da Cidade de Manaus, a antiga Câmara
dos Vereadores, a sede do Banco da Amazônia, o Les Artistes Café Teatro e a Praça 15 de Novembro
(da Matriz).

15. Análise
Os dados levantados, por meio desta oficina de Mapas de Percepção, possibilitaram a identificar
16 referências culturais, dentre as quais: 9 não se repetem em nenhum dos 4 mapas elaborados; 4
aparecem em apenas 2 mapas; 2 aparecem em todos, exceto em 1 mapa; e 1 aparece em todos os mapas.
De todos os bens analisados, o Museu da Cidade de Manaus foi unanimidade, o que era de se
esperar, já que os estagiários desse local foram quem produziram os Mapas de Percepção, porém ele não
foi o bem com mais atributos identificados. O Porto Flutuante de Manaus e o Teatro Amazonas, ainda que
apareçam em igual número de vezes (ausentes em apenas um mapa), distinguem-se quanto ao número
de atributos, sendo o Porto o bem cultural com a maior quantidade deles (total de 8 atributos). O Teatro
Amazonas segue em segundo lugar empatado com o Largo de São Sebastião, ambos com 6 atributos cada,
um dado interessante, considerando a sua proximidade (o largo fica em frente ao teatro). As feiras da
Manaus Moderna e da Banana se igualam nos seus atributos.
Considerando o recorte temático proposto pela pesquisa, foi realizado um procedimento
interpretativo das falas e dos gráficos apresentados. Assim, diversos dos elementos representados pelos
participantes foram traduzidos em atributos associados aos bens culturais e em valores descritos pelo
Dossiê de Tombamento do Centro Histórico de Manaus.
Ao todo, os atributos variaram bastante, sendo notável a ênfase dada pelos grupos à memória
afetiva e ao valor histórico, relembrando seus primeiros contatos com os bens mencionados, suas
experiências pessoais e o valor aprendido na academia, dado que a vasta maioria dos integrantes dos
grupos foi composta por estudantes de História e de Turismo, cursos fortemente relacionados ao
patrimônio. Foi também possível identificar atributos relacionados ao uso, comércio, socialização, lazer,
conforto térmico, gastronomia, dentre outros.

16. Referências Bibliográficas


APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
237
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: CAMPUS, 1997.
CONSTANTINO, Núncia Santoro de. O que a micro-história tem a nos dizer sobre o regional e o
local?. Revista História Unisinos, São Leopoldo, RS, v. 8, n. 10, p.157-17, jul./dez. 2004.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
HAESBAERT, R. Concepções de território para entender desterritorialização. in SANTOS, M.; BECKER,
B, K. (Orgs.) Território, territórios. Ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2004, p. 43-71.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
RICŒUR, Paul. A Memória a História o Esquecimento. Tradução: Alain François [et al.] – Campinas,
SP: Editora da UNICAMP, 2007.
SACHS, I. Espaços, Tempos e Estratégias de Desenvolvimento. São Paulo: Edições Vértice, 1986.
TEIXEIRA, Luana. Lugares. in BRASIL. Ministério da Cidadania. Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan). Dicionário do Patrimônio Cultural. Disponível em
<http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/30/lugares>

Matheus C. Blach -Historiador - Técnico


17. Data de elaboração: 07/01/2020 18. Revisão:
I - Área 10 – IPHAN -AM
238
12.7 Relatório da oficina com os moradoras antigas do entorno do Teatro Amazonas

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach

2. Mediador: Luciane Queroga/ Matheus Cássio Blach/ Mauro Augusto Menezes

3. Relator: Luciane Queroga/ Silvio Márcio Freire de Alencar Filho

4. Documentarista: Silvio Márcio Freire de Alencar Filho

6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Moradoras antigas do entorno 02, 04 e
3 3 dias
do Teatro Amazonas 06/12/2019
Entorno do Teatro Amazonas (Rua Tapajós, Edifício Radio –
9. Endereço: Avenida Getúlio Vargas/ Edifício Cidade de Manaus -Avenida
Eduardo Ribeiro)

10. Participantes
Ilza Oliveira Garcia de Vasconcelos
Etelvina de Andrade
Socorro Gomes Padilha

11. Descrição do evento


Esta oficina em especial foi realizada em endereços e datas diferentes, pensando em melhor se
adequar às necessidades das idosas que participaram da aplicação. Foram realizados três mapas
individuais nas residências de cada uma delas.
Socorro Gomes: A elaboração do mapa aconteceu no dia 02 de dezembro. Matheus começou
explicando o funcionamento da oficina e esclarecendo dúvidas a senhora Socorro, logo passando para
a elaboração do mapa, o qual ela apresentou resistência em desenhar, permitindo que Matheus
desenhasse o que ela indicasse.
Enquanto o mapa ia sendo feito, a senhora Socorro tecia comentários a respeito do centro
histórico e de sua experiência pessoal, instigada pelos aplicadores.
Indagada sobre se aprecia a presença de visitantes na Igreja de São Sebastião, local em que
ela atua ativamente, afirmou que tanto turistas quanto moradores da cidade são bem-vindos, desde
que “valorizem o templo sagrado”. Ainda enfatizou a beleza que os vitrais trazem para o local.
Passando para o Teatro Amazonas, ela alega ser o segundo mais bonito do mundo de acordo
com as pesquisas, mas fica em primeiro lugar de acordo com sua opinião. Afirma que o Teatro é todo
lindo e bem trabalhado e sua beleza encanta quem se propuser a olhar de perto. Deve ser todo
preservado como está, inclusive sua cor atual, a qual destaca como a que gostou mais. Alguns
concertos e apresentações, ali presenciados, marcaram muito sua vida, a exemplo do show de
Martinho da Vila.
239
Perguntada sobre se frequenta o Largo de São Sebastião ou o evento Tacacá na Bossa, disse
ir muito pouco, pois não gosta muito da presença do tipo de público que afirma ser desrespeitoso.
Ela aponta a Praça do Congresso como um local importante, porém esquecido e sem uso e
destaca a Praça da Saudade como local que ficou mais bonito atualmente, mas não frequenta mais
devido à falta de segurança. Critica também a falta de atrações na praça e apresenta
descontentamento com o outro nome dado às praças.
Em seguida, ela lembrou a importância do Porto de Manaus, onde seu irmão era conferente e
eles iam lá para olhar os navios, prática apontada por ela como comum. Afirma tudo no Porto ser
importante, bonito e que não pode acabar. E ainda mais atrações poderiam ser adicionadas.
A Praça da Polícia era muito bonita para ela, com as apresentações de policiais aos domingos
no coreto. Hoje ela não frequenta mais, pois não há mais nada que a atraia. A praça se perdeu, na
sua opinião.
Volta a falar do Largo, sentindo saudades do arraial da comunidade que acontecia ali, mas
agora ocorre dentro da igreja por conta de proibições do poder público.
Perguntada se sairia do centro, diz preferir ficar, pois gosta do local e já está acostumada,
inclusive com as pessoas que conhece e convive.
Inserindo no verso da cartolina, por falta de espaço, a Santa Casa de Misericórdia e o hospital
Beneficente Portuguesa, indicados como lugares de importância. Na primeira foi onde começou seu
trabalho como auxiliar de enfermagem, destacando o trabalho de médicos de excelência como o Dr.
João Lúcio Machado. Lamenta o estado de abandono em que o prédio se encontra.
Condena a situação do calçamento da Avenida Eduardo Ribeiro, onde não se pode transitar
normalmente, onde antes “a pedra era bem sentada”.
Se mostra satisfeita com o estado do hospital Beneficente Portuguesa, onde trabalhou por oito
anos, mas ressalta que quando os portugueses administravam anos atrás era melhor. Ainda se
lembrou de acontecimentos que marcaram seu trabalho lá, e de seu marido português, que conheceu
no hospital.
Ilza Oliveira Garcia de Vasconcelos: A realização do mapa, com senhora Ilza Garcia ocorreu
no dia 04 de dezembro em sua residência. Iniciamos a atividade com a explicação do objetivo da
aplicação do mapa de percepção para a criação da normativa de tombamento do centro histórico de
Manaus, frisando a importância de obter essa percepção também através dos olhares dos moradores
que vivenciam os processos que ao longo dos anos tem ocorrido.
Sra. Ilza colocou-se à disposição para falar sobre, porém, solicitou que alguém fosse
desenhando em seu lugar. Dessa forma o mapa foi elaborado pelo técnico do Inpha Matheus Blach,
que fez o desenho embasado na discrição da moradora, tendo no final a provação satisfatória da
mesma. Logo, os locais considerados como importante para a senhora Ilza foram mencionados
principalmente com apego as memórias afetivas, manifestações religiosas, culturais e a gastronomia
local.
Os primeiros a serem mencionados devido o valor histórico que apresenta para a cidade foram:
o Teatro Amazonas, a Igreja São Sebastião, a Matriz Nossa Senhora da Conceição e o Porto de Manaus.
240
Para além do valor histórico cada espaço tem um valor afetivo com expressão as manifestações
culturais e religiosas pois, o Teatro Amazonas já foi palco de uma de suas apresentações quando
estudante, assim como também, e um local que costuma ir para prestigiar os espetáculos, embora
que atualmente vá com menor frequência.
A igreja São Sebastião é um dos locais de maior valor afetivo, pois ela atua há 70 anos no
apostolado de oração da igreja. Tento muito apego, em especial, pelo sino da igreja, pois o objeto
representa a identificação do local, porém, ele não está em uso desde que foi interditado devido a
rachaduras na torre. A Igreja da Matriz, é outro espaço que representa um valor afetivo diante das
manifestações religiosas, pois todos os anos ela participa das missas comemorativas ao dia da
padroeira da cidade. O porto Roadway, também é mencionado nesse contexto, pois nele acontece a
saída de procissões pelo rio, ao qual ela também sempre participa.
Senhora Ilza em suas abordagens pontou as principais ruas e praças, destacando características
singulares que expressa que além do embelezamento para a cidade, esses espaços promoviam a
interação dos moradores ao possibilitar lazer, diversão, eventos cívicos e manifestações culturais.
O largo são Sebastião representa um espaço de memória afetiva com recortes da infância, pois
era o espaço onde costumava se reunir com amigos para passeios de bicicleta em momentos de lazer
e socialização. Em dias atuais, mantém na concepção da mesma, como um espaço ainda favorável
para passeios pós missa, para apreciação da culinária local, como: O tacacá da Gisele; e de atividades
culturais como: O tacacá na bossa.
A praça 5 de Setembro é evidenciado como espaço, antes usado para passeios e encontros
românticos devido a sua estrutura com caramanchões floridos e bancos, porém atualmente essa
estrutura não é a mesma. Não sendo mais possível mais fazer o uso do espaço da mesma forma, pois
não há mais atratividades e estrutura no local foi modificada. Para os dias atuais, o único evento
agradável na praça é a feira de Holambra, que possibilita uma movimentação na praça todos os anos.
Na mesma perspectiva foi desenhada a praça Antonio Bittencourt, como um espaço que costumava
ser mais movimentado, principalmente pelos quiosques de comidas locais, todavia, a retirada deles,
fez o espaço perder a motivação de uso do espaço.
Praça Heliodoro Balbi, chamada de jardim da polícia, é considerada uma praça bonita pela
arborização e o conjunto de objetos que a embelezam. Nela acontecia uma feira que movimentava o
espaço. A praça, conforme descrita, ainda mantém o aspecto atrativo por sua beleza e mantém um
certo uso pela população.
A praça XV de Novembro é mencionada como um espaço que acontecia as festividades
religiosas, especialmente, as festas juninas. Também foram incluídos o Ideal Clube e o Rio Negro
Clube como espaço que sediavam eventos na qual ela também participava. As manifestações também
aconteciam nas principais ruas do Centro como Eduardo Ribeiro e Getúlio Vargas como: Carnaval,
desfiles de 7 de setembro e as festividades juninas, esta última era organizada pelos próprios
moradores.
A avenida Eduardo Ribeiro é considerada como uma das primeiras ruas de Manaus. Para ela,
além do valor histórico, a avenida é uma avenida tem grande valor afetivo pela feira que acontece
241
todos os domingos, pois era lá que tomava o café da manhã aos domingos ao lado do esposo. O
aspecto negativo da avenida foi a mudança do calçamento da rua, logo que prejudica tanto o trafego
de automóveis como pedestre.
Ao falar sobre o centro, ela salienta que gosta de viver ali, pois há proximidade com
comércio, lazer e principalmente as amizades, pois um aspecto muito positivo que recordou foi o uso
das calçadas para reunião dos vizinhos para longas conversas, a forma despreocupada em deixar
portas e janelas abertas e os passeis pelas ruas. Também, evidencia os bondes como um meio de
transporte favorável ao clima por ser um transporte aberto, assim como mais silencioso, comparado
aos transportes públicos atuais.
O que atualmente é pontuado como pontos negativos nos principais locais representados
no mapa é a insegurança, assim como, a zona azul que acaba promovendo um afastamento da
população do centro histórico de Manaus.
Etelvina das Graças: A atividade de elaboração do mapa de percepção aconteceu no dia 06
de dezembro. Começamos explicando a ela sobre a oficina, a qual ela pediu que desenhassem no lugar
dela e ela apenas ditasse. Antes de começar os desenhos, ela falou brevemente sobre Largo de São
Sebastião: a beleza de seu calçamento, o descontentamento dela sobre o comércio no local e o descaso
do poder público sobre o patrimônio.
No mapa, ela optou por colocar primeiro o Teatro Amazonas e a igreja de São Sebastião. O
teatro, em sua opinião, um dos prédios mais bonitos. Considera que ambos estão “jogados fora”.
Afirma frequentar essa igreja todos os dias desde criança. Cita o sino da igreja que não toca mais, em
razão da estrutura comprometida. A igreja lhe traz paz. Para ela, o Teatro Amazonas precisa de mais
apresentações musicais e que hoje não frequenta mais, pois não aprecia tanto as apresentações atuais
quanto as de antes.
Em seguida, acrescenta a Casa Monsenhor como local agradável e aprazível e que frequenta
muito.
Diz protestar contra a situação da Avenida Eduardo Ribeiro, a qual, em sua opinião, está com
suas calçadas obstruídas pelo comércio informal e o trânsito de pedestres ameaçado pela insegurança.
Lá tem boas lembranças de quando estudava no IEA e andava pela avenida bem arborizada aos
domingos e frequentava confeitarias, o Ideal Clube, Cine Odeon, Cine Avenida, Café Moranguinho,
dentre outros estabelecimentos.
Fala da Praça do Congresso como uma das praças mais bonitas e que deve ser resgatada.
Gostava de frequentar ao sair do IEA.
Se lembra que a Praça da Polícia era um lugar onde as pessoas frequentavam bem arrumadas
para paquerar aos domingos.
Não é a favor da feira da Avenida Eduardo Ribeiro, em decorrência da sujeira.
Termina dizendo que o centro precisa passar por uma “repaginada” e que não deveria ter
comércio em praças do centro, especialmente ambulantes.

12. Documentação fotográfica


242

Título: Mapa elaborado na concepção de Socorro Título: Finalização da elaboração do mapa com
Gomes. Autor: Matheus Blach Data: 02/12/2019 Socorro Gomes. Autor: Matheus Blach Data:
02/12/2019

Título: Elaboração do mapa com Ilza Garcia. Título: Finalização da elaboração do mapa com
Autor: Matheus Blach Data: 04/12/2019 Ilza Garcia. Autor: Neide Data: 04/12/2019

Título: Inicio da elaboração do mapa com Título: Finalização da mapa com Etelvina das
Etelvina das Graças. Autor: Luciane Queroga Graças Autor: Tereza Data: 06/12/2019
Data: 06/12/2019

13. Mapas de Percepção


243

Título: Mapa de Percepção elaborado sob orientação de Socorro Padilha. Autor: Matheus Cássio Blach Data:
02/12/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado sob orientação de Ilza Garcia. Autor: Matheus Cássio Blach Data:
04/12/2019
244

Título: Mapa de Percepção elaborado sob orientação de Etelvina das Graças 03. Autor: Luciane Queroga Data:
06/12/2019
14. Referências Culturais Identificadas
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
Apreciação estética, arborização, lugar de memória 7
Praça Heliodoro Balbi
3 (manifestações artísticas, socialização, encontro
(Praça da Policia)
românticos e espaço de comércio)
Manifestações religiosas, gastronomia, manifestações 5
Largo de São Sebastião 3
culturais, apreciação da estética e lazer.
Apreciação da estética, valorização do sagrado, valor 4
Igreja São Sebastião 3 histórico, lugar de memória (sino que não está
badalando)
Apreciação da estética, manifestações artísticas, valor 3
Teatro Amazonas 3
histórico
Praça Antonio 2
Bittencourt 3 Gastronomia e socialização
(Praça do Congresso)
Apreciação da estética, lugar de comércio, Lugar de 6
Praça 5 de Setembro memória (pois, na praça antes da modificação
2
(Praça da Saudade) possibilitava encontro românticos, socialização,
manifestações culturais e lazer)
Manifestações religiosas, apreciação estética, valor 4
Porto de Manaus 2
histórico e paisagem natural.
Espaço de comércio, manifestações culturais e 3
Avenida Eduardo Ribeiro 2
gastronomia.
1
Ideal Clube 2 Manifestações Culturais
245
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
1
Rio negro Clube 2 Manifestações Culturais

Hospital Beneficente 2
1 Apreciação estética, lugar de memória
Portuguesa
Igreja Matriz de Nossa 2
1 valorização do sagrado e valor histórico
Senhora da Conceição
2
Praça XV de Novembro 1 Manifestações culturais e Manifestações religiosas

Santa casa de 2
1 Apreciação estética, lugar de memória
Misericórdia
1
Avenida Getúlio Vargas 1 Manifestações cívicas

1
Casa Mousenhor 1 Manifestações artísticas, apreciação da estética.

0
IEA 1 Não foi adicionado atributos
246
15. Gráficos

Referências Culturais identificadas

IEA

Casa Mousenhor

Avenida Getúlio Vargas

Santa casa de Misericórdia

Praça XV de Novembro

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição

Hospital Beneficente Portuguesa

Rio negro Clube

Ideal Clube

Avenida Eduardo Ribeiro

Porto de Manaus

Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade)

Praça Antonio Bittencourt (Praça do


Congresso)

Teatro Amazonas

Igreja São Sebastião

Largo de São Sebastião

Praça Heliodoro Balbi (Praça da Policia)

0 1 2 3 4 5 6 7

Quantidade de registros nos mapas Quantidade de atributos descritos


247

Referências por quantidade de Registros


7
7

5
5 5

0
1 Registro 2 Registros 3 Registros

1 Registro 2 Registros 3 Registros

15. Análise
248
Por meio das informações coletadas na oficina de Mapas de Percepção foram identificadas 17
referências culturais dentre as quais: 5 foram registradas nos três mapas, assim como também tiveram
5 registradas dois dos mapas produzidos e 7 referências apareceram em apenas um dos mapas. Os
mapas embora sendo desenvolvidos de forma individual e em locais diferentes é notório uma certa
predominância de referências culturais, logo evidência, principalmente, a igreja São Sebastião o Largo
São Sebastião e o Teatro Amazonas nos mapas das três moradoras, sempre apresentando estes como
principais referências dentro do centro histórico, seguido das Praças Heliodoro Balbi e Praça Antônio
Bittencourt.
Embora tenha uma concordância quanto as três principais referências culturais descritas nos
mapas, algumas discordâncias são expressas, a exemplo da moradora que reside próximo à Avenida
Eduardo Ribeiro, pontua a feira como um incomodo, também a moradora próxima ao largo expressa
essa mesma insatisfação diante de alguns eventos no largo. Ainda assim, o valor ao bem edificado,
conforme identificado pela elaboração dos mapas, está diretamente associada a prática de atividades
que evidenciam a cultura e crença presente na sociedade, pois, dentro dos bens desenhados a
manifestação cultural foi atribuída a 6, a manifestação religiosa foram atribuídas a 3. Contudo entre
todos os atributos percebe-se que para uso do espaço a apreciação da estética (atribuída a 9 das
referências) também se torna importante para a valorização.
Sendo mencionado principalmente a Igreja São Sebastião por representa muito mais que um
bem cultural, histórico ou arquitetônico, mas com um valor de sagrado para as moradoras, fazendo
menção a importância do badalar do sino assim como a festividade que acontecia no Largo São
Sebastião.
É importante salientar que os dois locais que apresentar a maior quantidade de atributos,
sendo: praça Heliodoro Balbi (7) e Praça 5 de Setembro (6) são espaços que os atributos estão
diretamente relacionados a lembrança de aspecto que existia, porém atualmente não é mais
identificado devido ao processo de modificação que os locais tiveram ao longo dos anos. O mesmo
acontece com os atributos ligados a Praça Antonio Bittencourt, pois é mencionada nos três mapas,
com 2 atributos refere-se à praça como um lugar de memória.
O Instituto de Educação do Amazonas, embora apareça em um dos mapas, não teve atributos
relacionados a ele.
Diante dos discursos, é expresso que muitas das perdas do uso dos espaços são motivados
pela negligencia nos processos pelos quais os espaços são submetidos, pois ignora muitas vezes o
valor que os bens edificados representa para a sociedade e em outros casos ignora-se também a
dinâmica da cidade.

16. Referências Bibliográficas


APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
249
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: CAMPUS, 1997.
CONSTANTINO, Núncia Santoro de. O que a micro-história tem a nos dizer sobre o regional e o
local?. Revista História Unisinos, São Leopoldo, RS, v. 8, n. 10, p.157-17, jul./dez. 2004.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
HAESBAERT, R. Concepções de território para entender desterritorialização. in SANTOS, M.; BECKER,
B, K. (Orgs.) Território, territórios. Ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2004, p. 43-71.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
RICŒUR, Paul. A Memória a História o Esquecimento. Tradução: Alain François [et al.] – Campinas,
SP: Editora da UNICAMP, 2007.
SACHS, I. Espaços, Tempos e Estratégias de Desenvolvimento. São Paulo: Edições Vértice, 1986.
TEIXEIRA, Luana. Lugares. in BRASIL. Ministério da Cidadania. Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan). Dicionário do Patrimônio Cultural. Disponível em
<http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/30/lugares>

Matheus C. Blach -Historiador - Técnico


17. Data de elaboração: 24/12/2019 18. Revisão:
I - Área 10 – IPHAN -AM
250
12.8 Relatório da oficina com os membros da ACA

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach

2. Mediador: Karla Bittar/ Matheus Cássio Blach

3. Relator: Yara Araújo Magabi

4. Documentarista: Matheus Cássio Blach

6. Número de 7. Duração da
5. Público Alvo 8. Data
participantes Atividade
Membros da Associação
9 2H 04/12/2019
Comercial do Amazonas- ACA
Associação Comercial do Amazonas- ACA. Rua Guilherme Moreira,
9. Endereço:
281- Centro, Manaus-AM.

10. Participantes
Grupo 01
Grupo 03
Ataliba Davi Filho
Allan Bandeira de Melo
Paulo Cezar Couto
Hassan Ahmud
Grupo 02
Grupo 04
Ivone Leite
Acácia Seco Ferreira
Johnny Azevedo
Pedro Paulo Cordeiro
Maurino Nogueira Azevedo

11. Descrição do evento


Dando início aos trabalhos, o senhor Ataliba Filho, presidente da Associação Comercial do
Amazonas (ACA), agradeceu a presença de todos e passou a palavra para a superintendente do Iphan-
AM, Karla Bittar, que começou sua fala apresentando brevemente o processo de normatização do
Centro Histórico de Manaus e esclareceu qual o intuito de tal procedimento. Em seguida, ela agradeceu
a presença e a disponibilidade de todos os presentes.
Matheus iniciou a atividade explicando que vários grupos já foram consultados durante a
realização da pesquisa em questão, esclareceu qual o objetivo de tais consultas e como os resultados
obtidos serão utilizados. Dando continuidade, Matheus explicou do que se trata o exercício e como
deveria ser realizado, apontando que os mapas poderiam ser elaborados sem maiores preocupações
com a qualidade das ilustrações.
Pouco antes do início da atividade o presidente da ACA ressaltou a transformação pela qual o
centro da cidade passou, em especial no período de implementação e desenvolvimento do modelo
econômico Zona Franca de Manaus. Também citou as descaracterizações e demolições de prédios
históricos acontecidas no período em questão. Sobre esse tema, houve um breve debate entre os
comerciantes presentes e os representantes do Iphan.
Posteriormente, Matheus desenhou um mapa de percepção da cidade de Belo Horizonte, como
uma maneira de exemplificar como os mapas deveriam ser elaborados e elucidou novamente como a
251
atividade se desenvolve. Em seguida, foram definidos quatro grupos, sendo três com dois integrantes
e um com três, posteriormente, os participantes começaram a decidir sobre o que seria ilustrado nos
seus respectivos mapas. O grupo 03 optou por não desenhar edificações, os integrantes decidiram
apenas enumerar os pontos positivos e negativos do Centro, em sua percepção, desse modo, seu
mapa foi finalizado rapidamente. Momentos antes das apresentações dos mapas começarem, os dois
integrantes do grupo 03 precisaram sair, assim, os mesmos não chegaram a expor o mapa elaborado.
Matheus anunciou que o tempo estipulado para a execução dos mapas havia terminado e que
a fase seguinte seria a exposição das ilustrações de cada equipe. Os grupos iniciaram a apresentação
de seus mapas logo em seguida.
Grupo 01: A equipe iniciou citando o Porto de Manaus, apontando seu valor histórico, sua
localização e a beleza da orla da cidade (que pode ser apreciada a partir, também, do Porto). Contudo,
os integrantes do grupo enfatizaram a descaracterização da área, que hoje abriga, segundo os
mesmos, “até um shopping”. Ainda tratando do Porto de Manaus, a equipe frisou que todo o complexo
pode ser revitalizado à exemplo dos portos de Belém e Barcelona, e um “Museu da Navegação” poderia
ser instalado no lugar, já que, o Estado do Amazonas “tem longa tradição ligada à navegação”.
O Mercado Municipal Adolpho Lisboa aparece na fala, e no mapa, do grupo por sua importância
histórica e beleza arquitetônica. Foi ressaltado que, apesar da última revitalização empreendida no
Mercado ser recente, já existem espaços bastante deteriorados. A questão da segurança no entorno
do prédio também foi mencionada como um fator que afasta as pessoas do local. Tanto o Mercado
quanto o Porto são apontados como lugares onde o artesanato, a cultura e a gastronomia local podem
ser desfrutados, possibilitando, inclusive, seu aproveitamento para o turismo na cidade.
No mapa elaborado pela equipe 01 foram ilustrados, ainda, o Paço Municipal/Museu da Cidade
de Manaus, a Praça Dom Pedro II, o Palácio Rio Branco, as ruínas do Hotel Cassina, o Les Artistes Café
Teatro, o prédio do Banco da Amazônia e o edifício da antiga Câmara dos vereadores, porém, não foi
possível identificar os atributos destas edificações através da fala dos participantes e das informações
encontradas em seu respectivo mapa.
Grupo 02: Um integrante do grupo iniciou a apresentação destacando que as edificações
contidas no mapa são consideradas, pela equipe, os “pontos principais” do centro de Manaus. O Teatro
Amazonas, o Palácio da Justiça e o Largo de São Sebastião, bem como toda a área do entorno do
Teatro, são mencionados por sua importância histórica para a cidade. A Igreja Matriz de N. S. da
Conceição surge como um lugar de memórias afetivas por ter abrigado (em sua área externa) o
Aviaquário, local muito apreciado pelos integrantes do grupo, que não existe mais, mas que remete a
infância deles. Ressaltam que atualmente a região da Matriz e seu entorno são lugares “perigosos”, o
que os deixa tristes.
A Praça Tenreiro Aranha, o Pavilhão Universal e o antigo Hotel Amazonas (hoje edifício
comercial) são citados por sua relevância histórica e por sua beleza estética. No entanto, frisam que
o local foi descaracterizado, restando hoje em dia apenas as memórias. O Porto de Manaus foi
desenhado no mapa por sua rica historicidade, sendo considerado um patrimônio histórico da capital.
252
A Alfândega aparece por sua beleza arquitetônica e sua importância histórica, além de suas
características “peculiares” (por ter sido, segundo o grupo, trazido da Inglaterra em pedaços e
montado aqui). Enfatizam o total abandono e degradação desta edificação. O Mercado Municipal
Adolpho Lisboa, a Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia) e o prédio da Beneficente Portuguesa são
mencionados por apresentarem beleza estética, relevância histórica e arquitetônica. O grupo destacou
a reforma da fachada da Beneficente Portuguesa que acontecerá “em breve”. A Santa Casa de
Misericórdia não foi ilustrada no mapa da equipe, mas foi citada por ser um “local histórico importante”
e, também, porque a edificação será revitalizada em breve. A orla da cidade e a Feira Manaus Moderna
foram mencionadas por serem “lugares belíssimos”, mas que se encontram abandonados e “muito
bagunçados”.
Finalizando sua exposição, os integrantes do grupo falaram sobre os problemas que prejudicam
o centro de Manaus e “expulsam” as pessoas para longe do bairro.
Grupo 03: Os integrantes do grupo 03 não apresentaram seu mapa, pois precisaram deixar a
reunião mais cedo. Os mesmos, também, não desenharam nada em seu mapa, optaram por elencar
os pontos positivos e negativos do centro. Entre os pontos apontados como positivos aparecem o
Teatro Amazonas, a Praça 15 de Novembro (da Matriz), o Relógio Municipal, o Mercado Municipal
Adolpho Lisboa e o Porto de Manaus. Todavia, não foi possível averiguar quais as qualidades atribuídas
aos bens culturais citados no mapa em questão.
Grupo 04: O grupo começou sua exposição indicando que os bens ilustrados em seu mapa são
“marcos” da cidade e representam as “coisas boas do centro”. A primeira edificação citada foi o
Mercado Municipal Adolpho Lisboa por seu valor histórico e por sua beleza arquitetônica (com suas
estruturas de ferro “belíssimas”), segundo os mesmos, fortemente influenciada pelos ingleses. A
Alfândega aparece como um prédio de grande beleza estética e que apresenta uma característica
peculiar por ser um edifício pré-moldado, que “veio em pedaços” e aqui foi montado. Todavia, o grupo
ressalta que a edificação se encontra abandonada atualmente.
A relevância histórica e arquitetônica do Porto de Manaus é destacada na fala dos integrantes
da equipe. Os mesmos afirmaram que só existem dois terminais hidroviários deste tipo (flutuantes)
no mundo, e isso torna o Porto de Manaus ainda mais especial. Durante sua fala, os participantes
frisaram que as edificações históricas existentes na área da orla da cidade remetem a diversos estilos
arquitetônicos originários de várias partes do planeta, o que, em seu entender, enriquece ainda mais
esses espaços.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição surge como um lugar rico em historicidade e
beleza estética, além de ser um lugar de memória, pois, abrigou em seus arredores o Aviaquário e o
zoológico, espaços muito queridos pelos integrantes da equipe. Os mesmos acreditam que “tudo isso
poderia voltar e ser transformado em um cartão-postal de Manaus”.
A Igreja de Nossa Senhora dos Remédios é citada por ser considerada a “igreja mais bonita da
cidade”, por sua localização, por sua “bela arquitetura” e por ser um dos primeiros templos religiosos
construídos em Manaus, bem como por ter sido, por muitos anos, a Matriz da capital. A Praça Torquato
Tapajós (Praça dos Remédios) é mencionada por sua rica historicidade e por abrigar “o nosso Cristo
253
Redentor”, trata-se de uma escultura sacra localizada no centro do logradouro em questão. Além disso,
a equipe considera a Praça relevante por reunir em seu entorno edificações históricas importantes,
como o prédio da Faculdade de Direito, por exemplo. Porém, ressaltam que a Praça encontra-se
abandonada, o que para o grupo é deprimente.
O Palácio da Justiça, o Teatro Amazonas, a Igreja de São Sebastião, a Praça de São Sebastião,
o Monumento à Abertura dos Portos, o Largo de São Sebastião e o Bar do Armando aparecem como
“ícones de Manaus e atrativos turísticos importantes”, sendo apresentados como referências culturais,
religiosas, arquitetônicas e de lazer da cidade. Toda a área que abrange as edificações citadas é
considerada pelo grupo, rico em historicidade e beleza (em suas palavras: “um espetáculo”), e que
poderia ser mais bem “aproveitado” pelo turismo local.
O grupo menciona o Palácio Rio Negro por sua “suntuosidade” representativa da Belle Époque
manauara. O Palácio dos Nery que, de acordo com os integrantes da equipe, abrigou a primeira
universidade do Brasil, foi citado no mapa, contudo, não foi possível inferir quais os atributos do prédio.
A Rua José Clemente e a Avenida Joaquin Nabuco surgem na fala do grupo por serem locais que,
ainda, concentram um “belo” casario histórico (em sua percepção, são característicos de estilos
arquitetônicos importantes).
É válido ressaltar que no decurso das apresentações dos mapas aconteceram alguns debates
(entre os participantes e os representantes do Iphan-AM) acerca das dificuldades em morar e investir
na área do centro, das revitalizações empreendidas ao longo dos anos, da preservação das edificações
históricas, bem como das possíveis ações que podem auxiliar na melhoria da infraestrutura e na
recuperação da região.
Matheus encerrou os trabalhos agradecendo a presença e a disponibilidade de todos em
participar da atividade. O mesmo informou que o resultado do exercício será disponibilizado para os
participantes assim que o relatório estiver finalizado. Por fim, o presidente da ACA agradeceu o Iphan
e todos que participaram da reunião, ressaltando que ações desse tipo podem acontecer com mais
frequência.
254
12. Documentação fotográfica

Título: Grupo 01 Autor: Yara Araújo Magabi Data: Título: Grupo 02 Autor: Yara Araújo Magabi Data:
04/12/2019 04/12/2019

Título: Grupo 03 Autor: Yara Araújo Magabi Data: Título: Grupo 04 Autor: Yara Araújo Magabi Data:
04/12/2019 04/12/2019
255
13. Mapas de Percepção

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 01. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
04/12/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 02. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
04/12/2019
256

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 03. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
04/12/2019

Título: Mapa de Percepção elaborado pelo Grupo 04. Fotografia: Matheus Cássio Blach Data:
04/12/2019
257
14. Referências Culturais Identificadas
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
Apreciação estética e arquitetônica; uso; história e 5
Mercado Municipal
4 memória da cidade; gastronomia; proximidade com o
Adolpho Lisboa
rio.
Uso; história e memória da cidade; Apreciação estética e 5
Porto de Manaus 4
arquitetônica; potencial turístico; proximidade com o rio.
Orla da cidade/Rio Paisagem natural; proximidade com o rio; Apreciação 4
3
Negro estética; História e memória da cidade.
Monumentalidade; apreciação estética e arquitetônica; 4
Teatro Amazonas 3
uso; história e memória da cidade.
Igreja Matriz de Nossa História e memória da cidade; uso; Apreciação estética e 4
2
Senhora da Conceição arquitetônica; potencial turístico.
História e memória da cidade; apreciação estética; uso; 4
Largo de São Sebastião 2
socialização.
História e memória da cidade; Apreciação estética e 4
Palácio da Justiça 2
arquitetônica; potencial turístico; Espaço Cultural.
Apreciação estética e arquitetônica; História e memória 2
Alfândega 2
da cidade.
Aquário, aviário e 1
zoológico da Igreja da Lugar de memória
2
Matriz (Catedral Nossa (Qualidades de uso relatadas como perdidas);
Senhora da Conceição)
História e memória da cidade; Apreciação estética e 6
Praça de São Sebastião 1 arquitetônica; Espaço Cultural; uso; socialização;
potencial turístico.
Socialização; História e memória da cidade; potencial 3
Bar do Armando 1
turístico.
3
Feira Manaus Moderna 1 Apreciação estética; gastronomia; uso;

História e memória da cidade; Apreciação estética e 3


Igreja de São Sebastião 1
arquitetônica; potencial turístico.
História e memória da cidade; Apreciação estética e 3
Palácio Rio Negro 1
arquitetônica; Espaço Cultural.
Apreciação estética; Espaço de memórias afetivas; 3
Praça Tenreiro Aranha 1
História e memória da cidade.
Praça Torquato Tapajós Apreciação estética e arquitetônica; espaço de memórias 3
1
(Praça dos Remédios) afetivas; história e memória da cidade.
História e memória da cidade; Apreciação estética e 2
Avenida Joaquin Nabuco 1
arquitetônica.
História e memória da cidade; Apreciação estética e 2
Beneficente Portuguesa 1
arquitetônica.
Igreja de Nossa História e memória da cidade, apreciação estética e 2
1
Senhora dos Remédios arquitetônica.
Monumento à Abertura História e memória da cidade; Apreciação estética e 2
1
dos Portos arquitetônica;
2
Palácio dos Nery 1 História e memória da cidade; Apreciação estética.

Espaço de memórias afetivas; Apreciação estética e 2


Pavilhão Universal 1
arquitetônica.
258
Qtd. Nº
Identificação Atributos
Registros Atrib.
Praça da Polícia (Praça História e memória da cidade; Apreciação estética e 2
1
Heliodoro Balbi) arquitetônica.
Prédio da Faculdade de 2
1 Apreciação estética; História e memória da cidade.
Direito
Prédio do antigo Hotel História e memória da cidade; Apreciação estética e 2
1
Amazonas arquitetônica.
História e memória da cidade; Apreciação estética e 2
Rua José Clemente 1
arquitetônica.
Santa Casa de 2
1 Lugar de Memória; apreciação estética das ruínas.
Misericórdia de Manaus
Antiga Câmara dos Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
1
Vereadores dos argumentos apresentados pelos grupos
Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
Hotel Cassina 1
dos argumentos apresentados pelos grupos
Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
Les Artistes Café Teatro 1
dos argumentos apresentados pelos grupos
Paço Municipal/ Museu Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
1
da Cidade de Manaus dos argumentos apresentados pelos grupos
Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
Palácio Rio Branco 1
dos argumentos apresentados pelos grupos
Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
Praça Dom Pedro II 1
dos argumentos apresentados pelos grupos
Praça IX de Novembro Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
1
(Praça da Matriz) dos argumentos apresentados pelos grupos
Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
Relógio Municipal 1
dos argumentos apresentados pelos grupos
Sede do Banco da Não foi possível inferir quais seriam os atributos a partir 0
1
Amazônia dos argumentos apresentados pelos grupos
259
15. Gráficos

Referências Culturais identificadas

Sede do Banco da Amazônia


Relógio Municipal
Praça IX de Novembro (Praça da Matriz)
Praça Dom Pedro II
Palácio Rio Branco
Paço Municipal/ Museu da Cidade de Manaus
Les Artistes Café Teatro
Hotel Cassina
Antiga Câmara dos Vereadores
Santa Casa de Misericórdia de Manaus
Rua José Clemente
Prédio do antigo Hotel Amazonas
Prédio da Faculdade de Direito
Praça da Polícia (Praça Heliodoro Balbi)
Pavilhão Universal
Palácio dos Nery
Monumento à Abertura dos Portos
Igreja de Nossa Senhora dos Remédios
Beneficente Portuguesa
Avenida Joaquin Nabuco
Praça Torquato Tapajós (Praça dos Remédios)
Praça Tenreiro Aranha
Palácio Rio Negro
Igreja de São Sebastião
Feira Manaus Moderna
Bar do Armando
Largo de São Sebastião
Aquário, aviário e zoológico da Igreja da…
Alfândega
Palácio da Justiça
Largo de São Sebastião
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição
Teatro Amazonas
Orla da cidade/Rio Negro
Porto de Manaus
Mercado Municipal Adolpho Lisboa

0 1 2 3 4 5 6

Quantidade de registros nos mapas Quantidade de atriutos descritos


260

Referências por quantidade de Registros


27
27
26

25

24

23

22

21

20

19

18

17

16

15

14

13

12

11

10

5
5
4

2
2 2
1

0
1 Registro 2 Registros 3 Registros 4 Registros

Quntidade de Referências Culturais


261
15. Análise
As informações coletadas, por meio da oficina de Mapas de Percepção, geraram a identificação
de 36 referências culturais dentre as quais: 2 foram registradas em todos os 4 mapas produzidos; 2
foram registradas em 3 mapas; 5 foram registradas em 2 mapas; 27 foram registradas apenas em
um ou outro mapa.
Dos bens culturais identificados 2 aparecem em todos os mapas produzidos, são eles o Porto
de Manaus e o Mercado Municipal Adolpho Lisboa. Quanto a descrição dos atributos dos bens culturais,
foi dada maior ênfase a Praça de São Sebastião, com 6 atributos identificados. O Mercado Adolpho
Lisboa e o Porto de Manaus aparecem logo em seguida, cada um com 5 atributos identificados.
Considerando o recorte temático proposto pela pesquisa foi realizado um procedimento
interpretativo das falas e dos gráficos apresentados. Assim, diversos dos elementos representados
pelos participantes foram traduzidos em atributos associados aos bens culturais e em valores descritos
pelo Dossiê de Tombamento do Centro Histórico de Manaus.
De modo geral, os grupos deram enfoque aos espaços nos quais a história e a memória da
cidade se materializam. A apreciação estética e arquitetônica foram elementos, muitas vezes, decisivos
para a escolha dos bens culturais ilustrados. A forte influência internacional nos estilos arquitetônicos
das referências identificadas mostrou-se um fator importante e que aparece na fala de boa parte dos
participantes.
O valor cultural dos bens mencionados, bem como seu uso no tempo presente, são qualidades
que surgiram de forma pontual na fala dos integrantes das equipes. Os atributos relacionados à
socialização e ao lazer dos espaços citados, também foram reconhecidos.
Os atributos que pareceram mais marcantes para os grupos foram as qualidades ligadas à
atratividade desses lugares junto aos turistas que chegam à Manaus. Em determinados momentos
foram feitas sugestões de uso das edificações e logradouros (Teatro Amazonas, Porto de Manaus e
Palácio da Justiça, por exemplo, que são considerados, pelos grupos, “simbólicos e belíssimos”) para
incrementar a atividade turística na cidade.
Os locais em que manifestam memórias afetivas e pessoais também ganharam destaque, tanto
nos mapas produzidos quanto na fala dos participantes, dentre eles cita-se: a Praça Torquato Tapajós
(Praça dos Remédios), a Santa Casa de Misericórdia de Manaus e o Pavilhão Universal.
Um ponto avaliado como relevante, são os bens culturais representados devido a sua referência
à memória, mas que passaram por importantes descaracterizações, perdendo, assim, alguns atributos
que lhes conferiam valor: o antigo Hotel Amazonas, que, segundo relatos, completava lindamente o
conjunto arquitetônico da Praça Tenreiro Aranha e é muito estimado pelos integrantes de uma das
equipes participantes, mas que foi transformado em um edifício comercial. Além do Pavilhão Universal,
que foi removido da área, transfigurando, assim, a paisagem desta praça. O aquário, o aviário e o
zoológico que se localizavam na área externa da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que
não mais existem, perdendo seu valor de espaço de lazer.
Outra questão que chama atenção, são os bens representados nos mapas, mas que quase não
aparecem na fala dos membros dos grupos, cujas qualidades não foi possível inferir a partir dos
262
argumentos apresentados pelos mesmos, são eles: a Praça Dom Pedro II, o Relógio Municipal, o
Palácio Rio Branco, o Hotel Cassina, o Paço Municipal/ Museu da Cidade de Manaus, a antiga Câmara
dos Vereadores, a sede do Banco da Amazônia, o Les Artistes Café Teatro e a Praça 15 de Novembro
(da Matriz).

16. Referências Bibliográficas


APPADURAI, A. - Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Editora
Teorema, 2004.
BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. 4.ed., São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Inventário nacional de referências culturais: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. – Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 2000.
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: CAMPUS, 1997.
CONSTANTINO, Núncia Santoro de. O que a micro-história tem a nos dizer sobre o regional e o
local? Revista História Unisinos, São Leopoldo, RS, v. 8, n. 10, p.157-17, jul./dez. 2004.
DA MATTA, Roberto. Uma Introdução à Antropologia Social. 4° Ed. Petrópolis: Vozes, 1984
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
GEERTZ, Clifford. O saber local: Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes,
1998.
HAESBAERT, R. Concepções de território para entender desterritorialização. in SANTOS, M.; BECKER,
B, K. (Orgs.) Território, territórios. Ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2004, p. 43-71.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo:
PUC, n. 10, pp. 07-28, dezembro de 1993.
RICŒUR, Paul. A Memória a História o Esquecimento. Tradução: Alain François [et al.] – Campinas,
SP: Editora da UNICAMP, 2007.
SACHS, I. Espaços, Tempos e Estratégias de Desenvolvimento. São Paulo: Edições Vértice, 1986.
TEIXEIRA, Luana. Lugares. in BRASIL. Ministério da Cidadania. Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan). Dicionário do Patrimônio Cultural. Disponível em
<http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/30/lugares>

Matheus C. Blach -Historiador - Técnico


17. Data de elaboração: 19/12/2019 18. Revisão:
I - Área 10 – IPHAN -AM
263

13. Relatórios de Entrevistas Temáticas Semiestruturadas


13.1 Relatório de entrevista com Otoni Mesquita

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach

2. Entrevistador: Luciane Queroga

3. Entrevistado: Otoni Moreira de Mesquita

4. Documentarista: Silvio de Alencar Filho

5. Relatora: Luciane Queroga

6. Motivação da entrevista
O Professor Otoni Moreira de Mesquita é um pesquisador consagrado na cidade de Manaus,
sendo reconhecido pelo seu trabalho a respeito da história e memória da cidade. É uma figura sempre
presente no Centro Histórico, seja em eventos acadêmicos, manifestações políticas, bibliotecas e
arquivos, seja caminhando pelas ruas da cidade, frequentando restaurantes e outros espaços públicos.
Seu “olhar de pesquisador e morador” se manifesta cotidianamente, tanto em trabalhos formais quanto
em conversas corriqueiras nos encontros casuais com aqueles que habitam o centro da cidade.
De fato, o Professor Otoni é uma dessas personas que trazem consigo um amplo cabedal
mnemônico a respeito de lugares, pessoas e processos históricos. Sua trajetória enquanto pesquisador
se mistura com suas experiências de vida na cidade, conferindo um valor historiográfico inestimável a
todas as suas narrativas autobiográficas e sobre Manaus.
Além disso, Otoni tem sido um importante parceiro do Iphan em suas ações voltadas para
pesquisa e para a Educação Patrimonial, apresentando sempre uma perspectiva crítica com uma
análise meticulosa e construtiva da ação da instituição. Em 2019 publicou, com o apoio do Iphan-AM,
o livro “Manaus: História e Arquitetura, 1669-1915”. Ainda no mesmo ano, participou do “Dia do
Patrimônio em Manaus”, promovido pelo Iphan-AM juntamente com a Secretaria de Estado de Cultura
do Amazonas, contribuindo com um roteiro guiado pelo Porto de Manaus e com a palestra “Resgate
da Memória como preservação do Patrimônio”, oferecidos gratuitamente ao público inscrito.
Sendo assim, devido a essa capacidade de representar uma experiência de vivência e memória
da cidade, tanto sob um olhar acadêmico, quanto sob um olhar de morador, o Professor Otoni Mesquita
figura-se como um verdadeiro stakeholder para essa pesquisa, sendo seu olhar e interpretações de
fundamental importância para se compreender os valores associados ao Centro Histórico de Manaus.
Minicurrículo: Otoni Moreira de Mesquita, nascido em 27 de junho de 1953 em Autazes -
Amazonas, em 1979 graduou-se em Comunicação Social – Jornalismo, pela Universidade do Amazonas
(FUA), em 1983 graduou-se em Gravura na Escola de Belas Artes na Universidade Federal do Rio de
264
Janeiro - UFRJ. Em 1986 cursou Oficina de Conservação e Restauração em Papel na Universidade
Federal de Minas Gerais. Em 1992 conclui curso de mestrado em História e Crítica da Arte (1992),
apresentando a dissertação “A Belle Époque Manauara e sua Arquitetura Eclética- 1850/1915”, editado
em formato de livro em 1997 com o título “Manaus: história e arquitetura-1850/1915”. Em 1997 e
1998 atuou como Coordenador do Patrimônio na Secretaria de Cultura do Estado. Em 2005 concluiu
doutorado em História Social na Universidade Federal Fluminense com a tese “O mito do progresso e
a refundação da cidade de Manaus- 1890/1900”, publicada em 2009 com o título “La Belle Vitrine:
Manaus entre dois tempos- 1890/1900”. Atuou como professor do Departamento de Artes da
Universidade Federal do Amazonas, desde 1984 e no Programa de Pós-Graduação em História de 2006
a 2013 e se aposentou como professor Associado, em 2015. Atua como artista plástico, desde 1975,
desenvolvendo trabalhos com desenho, pintura, gravura, arte digital, vídeo, performance e curadoria
de exposições. Participou de mais de uma centena de exposições coletivas e mais de duas dezenas de
exposições individuais, com participações em variados eventos nacionais e alguns internacionais
7. Roteiro da entrevista
Primeiro bloco: Biográfico
1. Há quanto tempo o senhor vive em Manaus?
2. Quais vivências marcaram sua vida na cidade?
3. Quais seus lugares de memória no centro histórico?
Segundo bloco: Trajetória Profissional
4. Fale um pouco da sua trajetória como pesquisador.
5. Por que escolheu Manaus como objeto de pesquisa?
Terceiro bloco: Mapeamento das Referências Culturais
6. Quais são os bens edificados do período do ciclo da borracha que representam os valores culturais
(artístico, histórico, urbanístico, uso etc.) do Centro Histórico?
7. Para além do olhar acadêmico, quais são os bens culturais que fazem referência a memória e
identidade da população? Ou seja, como o senhor percebe a população se apropriando do centro
histórico de Manaus?
8. Quais áreas do centro tem características de “unidade de conjunto” preservada e que devem ser
mantidas? Utilização do mapa, desenhar áreas e poligonais
9. Quais são as características desses bens culturais e do centro histórico, dessas permanências do
passado, que emprestam qualidades ao presente da cidade?
10. Quais são as principais qualidades do centro histórico, o que devemos de fato preservar?
Quarto bloco: Debate conceitual
11. O tombamento é/tem sido um meio eficaz de preservação dos valores e qualidades associados ao
centro histórico de Manaus? Existe algum outro modelo ou instrumento de preservação que o
senhor acredita que seja viável ou recomendável para Manaus?
265
12. A que o senhor atribui a preservação espontânea dos bens culturais da cidade, que se mantiverem
até o presente, sobretudo, no período anterior aos processos de tombamento?

8. Documentação fotográfica

Título: Otoni Moreira Mesquita, Inicio da Título: Membros da Equipe envolvida no


Entrevista Autor: Silvio Alencar Filho Data: processo de Entrevista Autor: Silvio Alencar
29/10/2019 Filho Data: 29/10/2019

Título: Identificação de unidades de conjuntos Título: Identificação de unidades de conjuntos


presentes no Centro de Manaus Autor: Silvio presentes no Centro de Manaus Autor: Silvio
Alencar Filho Data: 29/10/2019 Alencar Filho Data: 29/10/2019
266
Título: Interação da superintendente do Inphan Título: Finalização de Entrevista Autor: Silvio
Karla Bitar Autor: Silvio Alencar Filho Data: Alencar Filho Data: 29/10/2019
29/10/2019
267
9. Mapa de memória do entrevistado
268
10. Descrição e análise da entrevista
A entrevista realizada com Otoni mesquita ocorreu no dia vinte e nove de outubro na
superintendência do Iphan no Amazonas, localizada na Rua Marechal Deodoro, Centro, Manaus –Am.
O relatório teve como critério de recortes o roteiro de perguntas, que de forma compacta e sintetizada
fez uso da narrativa do entrevistado, utilizando-se das informações consideradas importantes para o
proposto uso do procedimento. A elaboração do relatório segue, respectivamente, a ordem das
perguntas de cada bloco.
Otoni Moreira de Mesquita, nasceu em Autazes em 1953 e passou a residir em Manaus, no
primeiro semestre de 1955. Seus primeiros 30 anos foram vividos na avenida Airão próximo a Matinha,
antes chamado de Morro do Tucumã. Atualmente reside na Avenida Getúlio Vargas, na área central
de Manaus.
Viver em Manaus desde sua infância até os dias atuais, possibilitou diante de suas experiências
de vida criar várias lembranças de diferentes momentos na cidade. Entre suas memórias, ele descreve
os banhos existentes na cidade, ainda no ano de 1956, em especial no igarapé Mindu. A primeira vez
que foi ao local, ainda era chamado de pedreira e o entorno do igarapé mantinha a predominância de
floresta, porém, quando retornou em 1992, o igarapé já era chamado de Mindu e a experiência foi
triste, pois o local estava com grandes modificações na paisagem, visto que a área de floresta e o
limpo igarapé foram substituídos por lixo e um odor desagradável.
Outra, entre suas vivências, traz uma recordação das apresentações de quadrilhas, pássaros,
as pastorinhas e bois, em festas juninas. Diante das menções das festividades, Mesquita traz uma
abordagem mais destacada para “as pastorinhas” relembrando o fascínio que era assistir ao
espetáculo, em paralelo, menciona que os bois ainda não tinham um protagonismo na cidade, e vai
sendo evidenciado especialmente a partir da década de 90. Ainda nesse recorte de suas experiências
de infância, é salientado a liberdade do uso das ruas, embora a cidade tivesse uma iluminação precária
era comum as crianças saírem sozinhas, principalmente para prestigiar os festivais.
Quanto aos locais de memórias focados no centro histórico, em uma ordem de classificação,
Mesquita pontuou o parque infantil, chamado de Aviaquário, do período que tinha 10 anos de idade.
Segundo ele, o parque era atraente para as crianças devido ser inovador na cidade, tinha em sua
estrutura os balanços, as piscinas de peixes e a área de pássaros que tornava a experiência muito
significativa. Nessa mesma perspectiva abordou o mercado Adolpho Lisboa pela presença e
comercialização de uma variedade de animais da região Amazônica. E A praça XV de novembro por
remeter a um local tradicional, era um espaço de concentração das famílias, principalmente, para os
registros fotográficos, em especial pelos fotógrafos lambe-lambe.
O Roadway também é exposto como um exemplo de local de lazer para as famílias, pois, era
comum a realização de passeios nos fins de semana na área portuária de Manaus. Nessa época o
acesso era livre ao porto antes da privatização da área. Alguns outros locais de memórias afetivas são
mencionados relacionados as festividades como a rua João coelho, atual Constantino Nery, e a Praça
general Osório.
269
Algumas lembranças mais significativas aconteceram a partir da década de 60, devido ao
conhecimento de vários locais da cidade motivado por uma professora chamada Aurea Nina. Foi em
visitas conduzida por essa professora que Mesquita conheceu: o Museu Numismático (Banco do
Estado), Igreja São Sebastião e Largo São Sebastião, Praça Heliodoro Balbi, Moinho de trigo (localizado
na Colônia Oliveira Machado, que delimitava o final da cidade), Balneário (localizado no Parque 10) e
também o Teatro Amazonas. Foi através dessa professora que teve informações sobre a Belle Époque,
os bondes e a história da chegada da eletricidade na cidade, logo essa relação com os locais e as
informações sobre o contexto histórico em sala de aula possibilitou parte das referências afetivas pela
cidade.
Anos depois, na graduação de jornalismo, fez parte de uma pesquisa junto ao Instituto
Geográfico e Histórico do Amazonas – IGHA que focava no levantamento dos jornais de Manaus do
século XIX. Essa pesquisa tornou-se um motivador para a escolha do mestrado e consequentemente
para a relação de Manaus como objeto principal em suas pesquisas. Isso porque o objetivo inicial era
voltado para a história das artes plásticas e não diretamente sobre a história da cidade, contudo, teve
esse direcionamento de olhar para Manaus devido a carência de pesquisas sobre a história da cidade.
Diante disso, começou, mesmo que de forma intuitiva, uma organização das informações sobre
Manaus, estabelecendo entre elas as relações de grande relevância para a formação das referências
de Manaus, que o fez aprofundar mais e mais sobre a história da cidade. E diante desse engajamento
em leituras na biblioteca nacional e de levantamentos de jornais foram identificadas as principais
fontes que são utilizadas como embasamento em seus trabalhos.
Com um olhar voltado para os bens edificados dento centro histórico que melhor representam
o período da Belle Époque, em uma categorização hierárquica o Teatro Amazonas é considerado o
principal símbolo, contudo há alguns bens de valores significativos que datam o período provincial,
sendo eles: o palacete Provincial, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, O Paço da Liberdade
(atual Museu da cidade de Manaus), a casa do tesouro, Mercado Adolpho Lisboa, Estação da
Castelhana, esse última localizada, à época, na rua da cachoeira, que atualmente restaram apenas as
ruinas entre alguns outros.
Já no período republicano, justamente o que evidencia a Belle Époque, destaca-se os que
tiveram significantes reformulações como o Instituto Benjamin Constant e para os edificados nesse
período como: o Teatro Amazonas, Palácio da justiça, a biblioteca pública, o prédio da Alfândega, a
Penitenciaria, o Palacete da Imprensa e o Palácio do Governo, este último não chegou a ser finalizado
e sua base foi usada para a construção do Instituto de educação do Amazonas – IEA. É importante
também frisar que nesse período que marca o ciclo da borracha, o principal objetivo era proporcionar
o embelezamento da cidade.
Além da estética e construções de prédios imponentes o planejamento também focava na
criação e melhoramento de ruas, avenidas e praças, assim como melhoria na qualidade de vida com
implantação de sistema de saneamento básico, instalação de água, luz, telefone e os bondes. Dessa
forma, destaca nesse processo como principais locais de uso público o Largo São Sebastião, a praça
Dom Pedro II (Chamada de praça da República) e a praça Heliodoro Balbi como elementos
270
significativos desse período. Considerando que Manaus passou por momentos importantes de
modificação ao longo dos anos, algumas proporcionaram um olhar mais atento para esses locais, um
exemplo mencionado aconteceu em 1997, quando a Secretária de Cultura do Estado realizou um
trabalho de recuperação de fachadas e principalmente a revitalização do Largo São Sebastião,
tornando-o um espaço de socialização e com uma dinâmica mais constante, diante de um
investimento para a aproximação do comércio e da população, dessa forma esse espaço passou a ter
uma maior concentração de pessoas fazendo uso da área, assim como o uso do Teatro Amazonas.
Mesquita (2019) salienta que:
Talvez o momento mais animado da praça tenha sido no século XXI,
assim como o Teatro, pois acredito que mesmo que tivesse os festivais de teatro
até os anos 80, ele nunca teve uma animação tão intensa quanto atualmente,
nem de visitação, o que é uma coisa positiva e lamento que não façam o mesmo
com o Paço.

Ao tempo em que essas modificações trouxeram aspectos positivos que viabilizaram também,
a sensibilização das pessoas por esses bens, Mesquita lamenta quanto a precariedade da área da Praça
Dom Pedro II (Paço), pois os investimentos são tímidos e as intervenções acontecem de forma
paulatina, mesmo ações de infraestrutura básica, a exemplo da iluminação da área. Assim como a
movimentação de comércio, que na opinião do mesmo é importante um olhar para que as atividades
aconteçam de forma contínua, não apenas esporádicas.
As intervenções que acontecem nos bens edificados, algumas vezes acarretam a perda do uso
pela sociedade, como exemplo da Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade) que embora realizado a
revitalização para recuperar um suposto design original de estilo francês clássico, perdeu sua
apropriação pela população. Tanto devido a remoção da parte do comércio (quiosques de alimentação),
quanto da de lazer ligado ao envolvimento da população com o parque e equipamentos urbanos que
havia ali. Além disse houve a perda da arborização. Conforme expõe Mesquita, na praça havia a
realização de atividades contínuas que proporcionavam uma relação da população com o ambiente, e
não acontece atualmente. A mesma perda é evidenciada na Praça Antônio Bittencourt, um dos motivos
para essa anulação da movimentação na área, foi a tentativa de fazer o calçamento de pedras, porém
não manteve o padrão planificado usado no período da Belle Époque, associando também, esse
afastamento da população a outros fatores.
A Praça XV de Novembro, atualmente, apresenta um aspecto diferente das citadas anteriores,
pois, caracteriza-se como um lugar popular, porém não apresenta mais a qualidade para os usuários
em serviços e o aspecto paisagístico, pois, o jardim e a arborização foram retirados, houve demolições
de monumentos e a retirada dos pavilhões variados.
Como aspectos negativos identificados nesses espaços Mesquita relata que essas áreas muitas
vezes tornam-se inviáveis para uso contínuo de grande parcela da população, justamente pela
ausência de segurança e/ou serem locais estereotipados pela configuração de prostituição e pontos de
uso de entorpecentes. Pelo viés do uso do espaço, pode-se associar ao fato que muitas das
intervenções que acontecem em Manaus tem-se o discurso de “embelezamento, limpeza e
271
higienização, porém esquecem o para quem” (MESQUITA, 2019) que de forma natural, pela ausência
do sentimento de pertencimento população, promove o afastamento das pessoas desses espaços.
Nessa perspectiva do espaço com representatividade para a população do período do ciclo da
borracha e que mantém um aspecto de memória coletiva são evidenciadas, de forma geral, as
tradições familiares que permanecem vivas em algumas ruas, bares e bairros como no: Educandos,
Aparecida e São Raimundo, entretanto, em uma visão mais focada no centro de Manaus, considera-
se principalmente os espaços públicos que se caracterizam por propiciarem a socialização, como o
Mercado Adolpho Lisboa. Embora na concepção de Otoni, esse local tenha perdido a sua função
principal depois da reforma, pois era um local de envolvimento da população para as compras e
consumo dos tradicionais mingaus e não voltado para o público externo e turismo. Entretanto, essa
função concentra-se atualmente na Feira da Manaus Moderna depois que o mercado passou a ter uma
finalidade mais turísticas. Ainda assim, “o mercado é o mais tradicional, ainda remete e guarda as
referências das pessoas que iam ao mercado” (MESQUITA, 2019).
Alguns desses lugares, de uso coletivo, também vão se perdendo ao longo dos anos diante da
dinâmica da cidade, a exemplo do que acontece a partir do final da década de 60 que alguns espaços
públicos são substituídos por estacionamentos, sendo esses espaços: a Praça Tamandaré, a praça em
frente ao Booth Line, assim como a Praça da Bola que foi destruída para promover a circulação de
veículos. Com isso, foi diminuído os espaços de interação social e criou-se mais vias de trânsito na
cidade.
Todavia, fazendo uma contraposição ao delimitar os espaços portadores de uma memória
coletiva dentro do recorte temporal do ciclo da borracha, Mesquita salienta que a Belle Époque foi
marcada por um período muito breve, chega a ser de dez anos e a partir desse momento Manaus é
evidenciada como uma cidade que fica “congelada”, contudo ela vai ter sua animação, se estabelecer
em uma harmonia e hierarquia dentro do período de se estende de 1915 até 1967, mantendo em seu
aspecto as suas praças arrumadas, com jardins bem cuidados e a predominância de arborização nas
principais vias. Logo, até o início dos anos 1970 o centro permaneceu relativamente bem preservado.
Associando esse aspecto ao uso do centro histórico nos dias atuais pelos moradores, no ponto
de vista de Mesquita, há uma minoria sensibilizada e preocupada com a valorização e conservação do
patrimônio, porém há uma quantidade que devido à ausência do sentimento de pertencimento pelo
local, ainda não tem esse olhar de cuidado e apreço pelos espaços que mantém essa vinculação com
a história e cultura da cidade. Logo que essa ausência de memória afetiva leva, muitas vezes, a
depredação, substituição, pichação, vandalismo e consequentemente perda desses bens.
Outro ponto significativo que o entrevistado destaca é que o olhar sobre o Centro deve
considerar os bens não somente de forma isoladamente, mas também, o conjunto e as características
que expressam esse recorte da Belle Époque, que felizmente ainda mantém uma presença relevante
de tendências arquitetônicas e artísticas nas construções em vários pontos com a tipologia eclética,
como: Na avenida 7 de setembro, Rua Pedro Botelho, Rua José Clemente, Rua Lobo D’Almada, Avenida
Joaquim Nabuco, Marechal Deodoro, Miranda Leão, Marcilio Dias, Epaminondas, Luiz Antony e um
272
citado com muito enaltecimento por Mesquita, é o conjunto que fica no beco da indústria, na Aparecida,
que guarda muito das características daquele período.
Contudo, há atualmente muitas construções verticalizadas que descaracterizam essa visão de
conjunto em vários locais do centro. Também, nos últimos 20 anos, há o processo de descaracterização
diante da derrubada de casas de alguns conjuntos, como o que aconteceu no conjunto de casas que
havia em parte da Rua Visconde de Mauá.
Vale destacar, algumas unidades isoladas que têm importância pela singularidade do estilo
arquitetônico, como as construções com tijolo aparente e as de referência neogóticas. Algumas
características presentes nos bens edificados estão diretamente relacionadas a memória e a história
da cidade, a harmonização estética, as referências e a qualidade para o uso, tornando essencial o
cuidado e a preservação dos prédios, das praças, da arborização.
De forma geral, é relevante todo o espaço de socialização que promova a qualidade do uso e
a interação social, logo que “o século XIX, sua principal finalidade era desenvolver áreas com intuito
de congregar e animar, atualmente a ideia que passa é de dispersar, manter a individualidade, o
consumo e a circulação rápida” (MESQUITA, 2019).
Diante da importância de manter viva e valorizada a história e cultura que os bens edificados
representam que Mesquita considera o tombamento como o primeiro passo para a preservação dos
valores e qualidades associados ao Centro Histórico de Manaus. Porém, é necessário manter atrelado
à preservação dos espaços a sensibilização da população e a educação patrimonial, pois do contrário
não acarretará nenhum significado, será uma preservação vazia sem a relação humana. Também é
necessária uma comunicação clara e informativa, o envolvimento da população e a fiscalização.
“Tombar é uma garantia, porém sozinho não consegue atingir o objetivo, por isso são necessários
projetos, ações de sensibilização e o envolvimento de outros setores” (MESQUITA, 2019).
Quanto a valorização de elementos significativos na cidade, Mesquita sugere projetos que
tenham um olhar voltado também, para o tombamento dos calçamentos com pedras ilhós, presentes
no centro, de forma que o espaço continue sendo viável. Pontua também, que a cidade precisa ter
qualidade associada a todos os elementos essenciais para manter a dinâmica e que possibilite uma
agradável estética unida ao prazer de uso dos espaços.
O Centro Histórico passou por um processo de preservação espontânea dos bens culturais , que
se mantiveram até o presente, sobretudo, no período anterior aos processos de tombamento que na
concepção de Mesquita está diretamente atribuído aos projetos e ações desenvolvidas pela Prefeitura
e pelo Estado com algumas ações de órgãos privados, embora que em um caráter menor houve essas
intervenções diante da recuperação de alguns imóveis. Pode-se dizer que há a manifestação de atores
sociais ligados aos órgãos públicos e privados.
Mesquita afirma também, que recuperar detalhes associado a valorização da estética são ações
que contribuem para manter essa preservação dos bens, tais como: a retirada de superposição de
fachadas e de elementos extras. Tendo um olhar para os calçamentos com pedra de ilhós, pedra jacaré
e paralelepípedos, assim como as esquadrias, as fachadas, os bancos, as grades, gradis, elementos
de colunas, frontões, esculturas e elementos sobre as platibandas, os estuques e as pinturas das
273
partes internas e externas, fachadas e paredes são elementos de referência importante a serem
considerados e analisados.
O fato do entrevistado ser um pesquisador atrelado a experiência como morador do centro
proporciona um olhar para as riquezas de referências presentes, evidencia uma vontade manter viva
a história da cidade, a preservação dos bens edificados e a valorização da cultura. É notória a sua
preocupação com os processos de intervenções e o impacto gerado sobre as pessoas, principalmente
considerando que os processos históricos de uma localidade são dinâmicos. Para o entrevistado o que
muitas vezes torna-se referência para o grupo não necessariamente condiz com o manter sua forma
original, e sim está mais ligado a qualidade de uso proporcionado, logo esse valor atribuído aos bens
edificados faz relação ao envolvimento da população, ao sentimento de pertencimento e as memórias
afetivas que dão aos espaços o significado de referência cultural e consequentemente o apreço e a
vontade de mantê-los preservado.

Matheus C. Blach -Historiador - Técnico


I - Área 10 – IPHAN -AM
11. Data de elaboração: 10/12/2019 12. Revisão:
Mauro Augusto Dourado – Antropólogo
– Técnico I – Área 1 – Iphan-AM
274
13.2 Relatório de entrevista com as senhoras Nazaré e Fátima

Dados Gerais
1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach
2. Entrevistador: Matheus Cássio Blach
3. Entrevistado: D. Nazaré e D. Fátima
4. Documentarista: Leandro Gomes e Rebeca Nunes de Melo
6.Relatora: Rebeca Nunes de Melo

7. Documentação fotográfica

Título: Começo da Entrevista. Autor: Rebeca Título: D. Nazaré. Autor: Rebeca Nunes Data:
Nunes Data: 23/10/2019 23/10/2019

Título: D. Fátima o seu troféu em sua Título: Encerramento com realização do Mapa de
homenagem. Autor: Rebeca Nunes Data: Percepção. Autor: Rebeca Nunes Data:
23/10/2019 23/10/2019
275
8. Motivação da entrevista
As senhoras Nazaré e Fátima, são irmãs de criação e moradoras antigas tanto de Manaus como
do próprio Centro da cidade, reconhecidas por anteriormente residirem na atual sede da
Superintendência do IPHAN no Amazonas, ambas com vivências em cada cenário de transição e
manifestações do Centro Histórico.
Suas trajetórias narram suas experiências de vida na cidade, especialmente nos arredores do
IPHAN (Ilha de São Vivente), onde cresceram, trabalharam, viveram e vivem, até hoje, conferindo
assim um valor de memória inestimável para seus relatos e justificando a relevância dos seus olhares
para essa pesquisa sobre o Centro Histórico de Manaus.

9. Roteiro da entrevista
Primeiro bloco: Biográfico
• Há quanto tempo as senhoras vivem em Manaus?
• Quais vivências marcaram sua vida?
• Quais seus lugares de memória no centro?
Segundo bloco: Mapeamento das Referências Culturais
• Para alguém que quer conhecer a cultura, história e arte da cidade, quais lugares vocês
recomendariam?
• O que mudou no Centro Histórico e se teve algum marco para a mudança de como era antes
para hoje.
• Quais os lugares do Centro que as senhoras mais visitam e gostam de frequentar?
• Quais são os bens edificados do período do ciclo da Borracha que representam e atribuem os
valores culturais do Centro Histórico que vocês recomendariam?
Terceiro bloco: Debate conceitual
• Vocês concordam que tombamento é/tem sido um meio eficaz de preservação associados ao
centro histórico de Manaus?
• Em 2012, Manaus tem o Centro Histórico reconhecido como patrimônio, esse processo
demonstra a relevância de Manaus tanto historicamente como culturalmente e afins. Nos seus
olhares, o que mudou de 2012 até os dias atuais, diante desse processo de entendimento
desse espaço como patrimônio? Ocorreram mudanças?

10. Relatório da entrevista


No dia 23 de outubro, iniciamos a entrevista com a senhora Fátima e com a senhora Nazaré.
Nascida e residente em Manaus, Fátima tem 77 anos. Ela iniciou a entrevista apresentando um pouco
da sua história. Contou um pouco da experiência profissional, iniciada como estagiária no antigo Grupo
Escolar Marechal Hermes. Após essa oportunidade, ela formou-se em magistério no IEA (Instituto de
Educação do Amazonas), formação que a habilitou para atuar como professora nas escolas São Luiz
de Gonzaga e Machado de Assis. Dona Fátima também concluiu o curso de biblioteconomia na UFAM
(Universidade Federal do Amazonas). Foi na própria UFAM que exerceu a função de biblioteconomista,
profissão que seguiu até se aposentar, em 1996. Nesse mesmo ano, antes deixar as atividades
laborais, recebeu um prêmio como reconhecimento pelos anos trabalhados na Instituição.
Ela contou para nossa equipe que morou por muitos anos no Edifício, onde atualmente é a sede
do IPHAN. Hoje reside na casa que fica aos fundos desse mesmo edifício.
Sobre sua história, Nazaré, diferentemente de Fátima, nasceu em outra cidade e veio para
Manaus. Reside na cidade desde os 5 anos de idade. Desde sua chegada, mora com Fátima, por isso
276
a considera irmã. Durante toda entrevista, observamos que Nazaré apresentou-se mais reservada,
não dando muitos detalhes sobre sua vida, permitindo que sua irmã falasse mais.
Após esse breve comentário da senhora Nazaré, dona Fátima lembrou sobre sua infância; ela
contou que ajudava seu pai na oficina, no porão da casa onde morava, atual sede do IPHAN. Foi nessa
oficina que foram confeccionadas as portas que hoje fecham o prédio do IPHAN.
Das lembranças que tem da antiga casa, ela recorda quando sua família começou a perder a
privacidade. Com o reconhecimento da casa da família como “casa histórica”, as pessoas queriam
visitá-la e isso era algo invasivo, lamentou dona Nazaré. Por esse motivo foi que resolveram vender
para o Ministério da Cultura.
Quando o assunto foi sobre juventude, D. Fátima descreveu as festas que aconteciam no Clube
Ideal e Rio Negro. Segundo ela, a ida a estas festas era tranquila, pois se tinha uma sensação de
segurança. Não havia problema voltar de madrugada, pois toda a vizinhança era unida e todos amigos
que iam aos mesmos bailes iam e voltavam juntos.
Ainda sobre as festividades, ela lembra a Praça General Osório como o “lugar do folclore”. Ela
recorda que a praça era cheia de árvores e possuía uma grande escadaria.
Segundo elas, um dos aspectos que mais marcaram a infância e juventude delas foi a
participação em festas e eventos que ocorriam no centro da cidade: “Meu pai sempre levava a gente
para muitos lugares e eventos”. Dentre os passeios, elas descreveram as lembranças da Avenida
Eduardo Ribeiro, “avenida do passeio, era a passarela, era o point da alta sociedade”.
Entre as recordações, elas descreveram as lembranças dos espaços públicos que hoje estão
muito modificados. D. Fátima observa que o Mercado Adolpho Lisboa está completamente diferente,
já D. Nazaré faz a mesma afirmação sobre o Porto da Cidade, a Praça da Saudade e a Praça Antônio
Bittencourt, no entanto elas ressaltam que em alguns aspectos as mudanças trouxeram melhorias,
mas não descrevem quais.
Quando assunto foi romances e paqueras, elas manifestaram a saudade que tem em relação
aos cinemas que frequentavam no Centro, assim como a Praça da Polícia era o lugar para ir em busca
de paqueras. Recordaram da chamada “Retreta”, banda da Polícia Militar que tocava aos sábados e
domingos no coreto da praça D. Pedro II e na Praça da Polícia. Elas relatam que esses períodos “bons
e sem violência” foram vivenciados de 1940 até quase os anos 70 e que em 80 as mudanças
começaram.
D. Fátima cita inúmeros nomes conhecidos na cidade como, antigos moradores do centro (ex.
Miranda Leão, os Bittencourt, entre outros) e relata de forma emocionada o centro que já não é mais
como antigamente, conta que a maioria do antigos moradores morreram ou se mudaram para
apartamentos, seja pela busca da modernização ou segurança já que a maioria teve filhos que se
mudaram.
Aliás sensação de insegurança e medo da violência são os aspectos que segundo elas mais
mudou no centro. Tamanha a expressão e sentimento de insegurança que dona Fátima sussurra “Se
eu falar as facções vão nos matar, é só o que tem agora.” Falaram sobre roubos, tiroteios, assaltos,
277
acerto de contas e outras ocorrências que levam a não se sentirem seguras evitando sair durante a
noite pois a volta para casa pode ser a última.
Em virtude disso, boa parte das respostas sobre os lugares que elas mais visitam e gostam,
ficaram no passado. Elas frequentavam o Teatro Amazonas para assistir os espetáculos, mas como
ocorrem de noite e a segurança não é a mesma, elas deixaram de ir. Foi quando o tema do abandono
do centro entrou na conversa, “Deixamos de ir, é muito perigoso, ninguém mora por aqui, não é,
Nazaré? Não tem ninguém”, justifica D. Fátima. Elas também condenam a mudança de parada dos
ônibus que hoje é distante de sua casa.
Uma iniciativa elogiada foi a da feira do Paço, que atrai muitas pessoas e além de elas gostarem
(e se surpreenderem) com o fluxo de pessoas, também é economicamente viável a elas que vendem
água e outros produtos durante a feira e as festividades do Paço a Passo.
D. Fátima fala que sempre sai para fazer compras e que costuma ir à Riachuelo e Bemol perto
do Mercado, cuja loja é tão antiga quanto a mesma. Em certo momento, é questionado o que elas
mais gostam no centro e D. Fátima fala que “Olha, apesar de toda a violência, eu gosto do Centro em
si, assim mesmo com violência.” Pois possui uma praticidade no cotidiano delas quando necessitam
comprar algo, que vão ao mercado, às lojas, à feira da Manaus Moderna, embora sobre esse último
lugar D. Fátima denomina de Cracolândia de Manaus.
Elas aproveitaram esse momento da entrevista para listar as críticas ao atual estado dos lugares
e edifícios do Centro Histórico. Elas classificam como favelão o Palace Hotel, a Praça da Matriz como
um dos lugares mais inseguros e sujos, o Porto de Manaus, mesmo sendo “considerado o cartão postal
da cidade é uma vergonha”, a insegurança da Eduardo Ribeiro que, pela manhã e tarde é superpovoada
e de noite não se vê ninguém.
A respeito da reforma do Hotel Cassina, sob a proposta de se tornar um polo tecnológico e a
inauguração do Centro Cultural Oscar Ramos, D. Fátima comenta esperançosa sobre um possível
afastamento da prostituição, facções, botecos e pessoas de má índole por aquela região.
Sobre possíveis mudanças no terminal de ônibus, há um dissenso entre as duas. Dona Nazaré
por ser usuária do transporte público prefere a manutenção do terminal, pois é prático para ir ao
trabalho e retornar, no entanto, Dona Fátima se posiciona diferente, ela prefere a retirada dele pois
“nunca existiu”, disse ela.
Perguntamos a elas sobre a Praça da Saudade, D. Nazaré fala sobre o medo de andar ali de
noite e nos aconselha a não fazer, por conta dos imigrantes que ali se instalam. D. Fátima critica a
ausência do poder público sobre a ocupação de imigrantes naquela praça.
Ao final as duas são convidadas a apresentar uma última opinião sobre o centro. Dona Fátima
posiciona-se da seguinte forma: “Eu acho que o Centro tem que ser modificado, mas para voltar como
era.” Dona Nazaré discorda e diz: “Voltar não vai voltar mais, não tem como voltar ao que era.”
D. Fátima manifesta a importância de reabrir a rua Governador Vitório, pois no passado o bonde
passava, possibilitando à população o acesso ao rio e ao Porto. Hoje a rua é bloqueada com um portão,
impossibilitando a apropriação social e uso do lugar.
278
Fizemos ainda uma última pergunta a respeito dos locais que elas recomendariam para um
suposto visitante conhecer a Cultura, História e Arte de Manaus. Elas indicaram o Teatro Amazonas, o
Museu da Cidade de Manaus, o Palacete Provincial, o Porto da Cidade e o Mercado Adolpho Lisboa, o
Palácio Rio Branco, o Clube Ideal, o Palácio da Justiça e o Palácio Rio Negro, sendo esses edifícios
representativos da história da Cidade de Manaus; elas mencionaram como regiões que mais
concentram lugares de memória e conjuntos habitacionais históricos a Av. Joaquim Nabuco e a rua
Ferreira Pena. D. Nazaré lamenta o fato de não poder passear mais pela Av. Joaquim Nabuco, segundo
ela, naquela avenida “a maioria das casas foram invadidas”, por isso tem medo de andar por lá e D.
Fátima fala com pesar sobre as casas abandonadas nessas duas áreas citadas.
Por fim, D. Fátima comenta relevância do reconhecimento do Centro Histórico de Manaus em
2012. Para ela, houve significativa melhora em diversos espaços e inovações nas atratividades dos
lugares; “o tombamento melhorou bastante a proteção do nosso patrimônio, porém precisa melhorar
muito na segurança.

Matheus C. Blach -Historiador - Técnico


I - Área 10 – IPHAN -AM
10. Data de elaboração: 10/12/2019 11. Revisão:
Mauro Augusto Dourado – Antropólogo
– Técnico I – Área 1 – Iphan-AM
279
13.3 Relatório de entrevista com a senhora Ilza Oliveira Garcia de Vasconcelos

Dados Gerais

1. Responsável técnico: Matheus Cássio Blach

2. Entrevistador: Matheus Cássio Blach e Mauro Augusto Dourado Menezes

3. Entrevistado: Ilza Oliveira Garcia de Vasconcelos

4. Documentarista: Matheus Cássio Blach

5. Relatora: Luciane Queroga

6. Motivação da entrevista
A busca por diferentes olhares sobre o centro histórico de Manaus contribui para a compreensão
dos lugares de valor histórico e representa a memória coletiva da sociedade, possibilitando assim a
interpretação das práticas sociais que foram experienciadas ao longo dos anos e que são refletidas nas
manifestações culturais, nos discursos, nos lugares de memória e no cotidiano que reforçam a história
da cidade.
Considerando de grande valor para a pesquisa, o olhar dos moradores do centro histórico de
Manaus, devido acúmulo de histórias e usos dos espaços é que avaliou-se ser importante a realização
da entrevista com Ilza Oliveira Garcia de Vasconcelos, pois há 98 anos é moradora do centro e ao
longo desses anos pode contemplar diferentes processos de modificações ocorridas na cidade.
Minicurrículo: Trabalhou 31 anos como secretária do gerente na NESTLE Manaus, também
por 17 anos foi presidente da APAE, atualmente é membro da Casa da Amizade e uma das diretoras
da Associação de comerciantes do Amazonas – ACA, faz parte a 70 anos do apostolado de oração da
Igreja São Sebastião, por 22 anos foi expectora salesiana.

7. Roteiro da entrevista
Bloco de perguntas
13. Há quanto tempo a senhora vive no Centro de Manaus?
14. O que a senhora Mais gosta no centro?
15. Quais os locais que a senhora considera importante no Centro Histórico de Manaus?
16. Quais locais frequentava ou ainda frequenta no centro histórico de Manaus?
17. O que deve ser preservado na Igreja São Sebastião?
280
8. Documentação fotográfica

Título: Ilza Garcia, Realização da Entrevista Título: Membros da Equipe envolvida no


Autor: Matheus Blach Data: 04/12/2019 processo de Entrevista Autor: Neide Data:
04/12/2019

9. Descrição e análise da entrevista


A entrevista realizada com Ilza Garcia ocorreu no dia 04 de dezembro de 2019, em sua
residência localizada na avenida Getúlio Vargas. O relatório teve como critério os relatos de
experiências e os fatos narrados pela senhora Ilza de forma sintetizada e que foram considerados
essências para enriquecimento da pesquisa. A elaboração do roteiro segue respectivamente a ordem
das perguntas realizadas pelos entrevistadores.
Ilza reside no centro histórico de Manaus desde seu nascimento, aos seus 98 anos de idade
sente-se muito bem em morar no centro pela facilidade de deslocamento, as amizades construídas ao
longo dos anos e a movimentação comercial, contudo ela sente que o centro é ausente de
supermercados em suas principais vias de fluxos como a avenida Eduardo Ribeiro e Getúlio Vargas.
Em um recorte do local onde vive, a senhora Ilza Garcia considera a avenida Getúlio Vargas
uma avenida de caráter histórico, sendo palco principalmente de eventos cívicos, como os desfiles do
dia 7 de setembro. Também com uma agradável estética favorecida pela arborização, mantida mesmo
diante das principais mudanças no centro ao longo dos anos.
Ao tratar os modelos das casas que fazem alusão ao período áureo da borracha, ela comenta
que essas edificações proporcionavam maior socialização e amizade entre os residentes, pois
possibilitava o contato, a amizade e as longas conversas de vizinhos nas calçadas frente a suas casas.
Representava também um momento na qual a cidade não tinha a preocupação em manter as portas
e janelas sempre fechadas, pois não havia histórico de criminalidade na cidade. As calçadas mantinham
um aspecto favorável para a circulação e passeios devido serem amplas.
Ao longo da entrevista, fica notório que as lembranças de Ilza estão relacionadas a memória
afetiva aos locais que marcam sua vivência no centro de Manaus demostrando apreço pelos bens
edificados que ao longo dos anos desenvolveram ou desenvolvem manifestações religiosas, culturais
ou gastronômicas.
281
Apreciadora das manifestações festivas que aconteciam na cidade, conforme mencionava
alguns bens edificados associando-os a alguns eventos como o carnaval, entre as manifestações
carnavalescas relembrou o sábado da Camélia que acontecia no Olímpico. Com grande apreço relatou
sobre as manifestações de ruas organizadas pelos moradores como as festividades de Santo Antonio
e São João. Essas manifestações eram abrilhantadas com vários bois populares na cidade, entre eles
foram mencionados o Corre Campo e Brilhante.
Os locais considerados como espaços importantes dentro do centro e que fazem parte da
história da cidade foram mencionados: o Teatro Amazonas e A Igreja São Sebastião, logo que, esses
dois, são para a senhora Ilza, os principais bens edificados símbolos de um período de estabilidade
econômica propiciado pela exportação do látex, assim como de um período que marca o processo de
urbanização da cidade. Ainda dentro do recorte dos locais com valores históricos, ela faz menção a
igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, a avenida Eduardo Ribeiro, Praça 5 de setembro, Largo São
Sebastião e praça Heliodoro Balbi, esta última, chamada por ela de jardim da polícia, devido a sua
bela estética e paisagismo.
No decorrer da entrevista a senhora Ilza menciona a avenida Eduardo Ribeiro como uma das
primeiras avenidas da cidade, porém que teve suas estruturas modificadas ao longo dos anos,
principalmente com a retirada do asfalto para a o calçamento de pedra, que aconteceu na tentativa
de devolver o calçamento original, todavia, em sua opinião, sem êxito, pois dificulta o trafego de carros
e pedestres. Na concepção de Ilza, embora a avenida seja uma grande via de fluxo, principalmente
comercial na cidade, há muitos anos a avenida foi espaço para as manifestações culturais como o
carnaval. E atualmente, algo significativo, que há na avenida é a feira que acontece aos domingos,
com a variação de elementos representativos da cultura local através do artesanato e do café da
manhã.
A avenida é relembrada, juntamente, com a Rua 10 de julho, como principais vias de
deslocamento da moradora quando os bondes eram os principais meios de transportes usados na
cidade. Em sua fala, ela considera que seria um projeto maravilhoso se fosse possível o resgate do
uso de bondes como meio de transporte. Ela defende ser compatível ao clima da cidade, logo que ele,
sendo aberto, possibilita melhor sensação térmica devido a ventilação e representa um meio de
transporte que acarreta menor poluição sonora.
Quando questionada sobre os locais que frequenta ou costuma frequentar, senhora Ilza
menciona, com muita alegria, o fato de já ter se apresentado no Teatro Amazonas. E atualmente é
um local que costuma ir para assistir alguns espetáculos embora a cada ano torna-se menor o uso.
Outros locais mencionados frequentados ao longo dos anos são: O Largo São Sebastião, Praça
XV de novembro, Igreja Nossa Senhora da Conceição, Praça 5 de setembro, Praça Antonio Bittencourt
e Praça Heliodoro Balbi. Na concepção de senhora Ilza, os espaços ao longo dos anos vêm perdendo
seu uso principal de lazer, passeio, apreciação e socialização devido a insegurança, que conforme a
moradora é um dos principais fatores negativos para o afastamento da população do centro.
Também considera que a interação social tem diminuído, a socialização não é mais apreciada
nas praças e locais que antes tinham essa funcionalidade na cidade, pois, as pessoas tornam-se cada
282
vez mais limitadas pelo tempo, fazendo do centro um local que a população está sempre com pressa
e o uso principal é motivada, principalmente pela área comercial, tornando do centro um lugar vazio
e inseguro no período da noite.
Senhora Ilza Garcia faz parte do grupo de apostolado de oração a mais de 70 anos na igreja
São Sebastião e dentre ao que considera importante a ser preservado na igreja, mencionou a
importância que o sino representa, pois, o toque do sino é simbólico, porém expressa tristeza ao
relatar que atualmente não pode se ouvir o badalar mediante interditarão devido a rachaduras
presentes nas paredes da igreja.
É perceptível que a dinâmica da cidade pode passa por diferentes modificações, alterando o
modo de vida, o uso dos espaços, o comportamento da sociedade, contudo é necessário o cuidado e
a preservação dos elementos que define o patrimônio local, dentre os seus bens edificados com suas
histórias e seu valor para a sociedade, principalmente que possibilite manter no presente uma rede de
lembrança, os lugares de memória, as experiências e as reflexões sobre o que se torna importante
símbolo para identidade manauara.

Mauro Augusto Dourado – Antropólogo


10. Data de elaboração: 23/12/2019 11. Revisão:
– Técnico I – Área 1 – Iphan-AM
283

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