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05/03/2021 Aspectos psico-emocionais relacionados à etiologia e tratamento dos hábitos de sucção

Aspectos Psico-emocionais Relacionados à Etiologia e Tratamento dos


Hábitos de Sucção
Autoras: Marly Almeida Saleme do Valle, Daniela Feu Rosa Kroeff de Souza, Daniele Petri de Bortolo,
Geórgia Lavagnoli, Kátia Emanuele Silva Abreu, Letícia Monteiro Peixoto, Maria da Penha Giurizatto
de Araújo, Vanessa Cordeiro Silva

Introdução

A sucção é um reflexo inato, estando presente desde a vida intra-uterina. É através dela que a
criança tem os primeiros contatos com o mundo exterior, satisfazendo, além da nutrição, as
necessidades afetivas (GOUCH, 1991).

Os autores são unanimes em afirmar que, a primeira fase do desenvolvimento psicológico por que
passa o homem é a denominada fase oral, na qual a satisfação de prazeres e a própria subsistência
estão ligadas à funcionalidade do sistema estomatognático, girando em torno da cavidade bucal as
funções de alimentação e reconhecimento do próprio ambiente.

Segundo LINO(1994), a criança pode atingir a plenitude alimentar, mas quando a necessidade de
sucção persiste, a criança na ânsia de satisfação começa a sugar dedos, chupetas ou objetos.
Mechas de cabelos, travesseiro, ponta de fralda, brinquedos, língua, bochechas e manga de camisa
são freqüentemente usados em hábitos de sucção.

O hábito de sucção contribui como fator etiológico em potencial na deterioração da oclusão e na


alteração do padrão normal de crescimento facial (QUELUZ & AIDAR, 1999). Poderá transformar-se
em hábito nocivo, de acordo com a freqüência, intensidade, duração, predisposição individual, idade
e também às condições de nutrição e consequentemente, de saúde do indivíduo (MOYERS, 1991;
GRABER, 1974).

Segundo LEITE & TOLLENDAL (2001) existe hoje uma verdadeira "cultura da chupeta", evidenciada
por múltiplos traços culturais substitutivos, relacionados à perpetuação da fase oral. O uso
exagerado da chupeta, extrapolando os limites toleráveis, leva a prejuízos ocluso-anátomo-
fisiológicos, ligados especificamente à saúde bucal, como problemas no desenvolvimento da oclusão,
cáries e problemas periodontais; bem como na saúde psicológica do usuário. As seqüelas emocionais
e afetivas delineiam-se quando a chupeta é usada como substitutivo vicioso das várias carências
afetivas e nutricionais.

Sabendo-se que o trabalho preventivo é de grande valia quando se trata de hábitos orais (MOYERS,
1991) é comum que o profissional da área odontológica seja requisitado pela família de seu
paciente, solicitando auxílio profissional no tratamento dos maus hábitos bucais, tanto no trabalho
com a criança que ainda apresenta algum hábito deletério, quanto na correção das maloclusões
decorrentes do mesmo (GABRICH, 1999).

Diante da importância epidemiológica e individual do prolongamento dos hábitos de sucção, decidiu-


se realizar uma revisão literária, abordando seus aspectos psicológicos, epidemiológicos e
terapêuticos.

Etiologia

Hábito é um comportamento que, quando praticado muitas vezes, torna-se inconsciente e passa a
ser incorporado à personalidade infantil (VIEIRA, 2002).

Os hábitos são padrões de contração muscular aprendidos, de natureza complexa (ALVES et al.,
1995). Constituem-se em automatismos adquiridos, comportamentos que, devido à prática
constante, tornam-se inconscientes (TOLEDO, 1996). Podem ser classificados como não
compulsivos, quando são de fácil aquisição e abandono, acompanhando o processo de maturidade;
ou compulsivos, quando estão fixados à personalidade infantil, sendo refúgio quando a criança
sente-se ameaçada (FINN, 1982). Quanto à capacidade de satisfazer necessidades, também podem
ser classificados em nutritivos, que permitem a obtenção de nutrientes essenciais e são

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representados pela mamadeira e aleitamento materno, ou não-nutritivos, que não tem finalidades
alimentícias e transmitem sensação de segurança e conforto (O'BRIEN et al.,1996).

A razão pela qual o bebê começa a succionar o dedo ou a chupeta é devido ao seu instinto normal de
sucção, essencial para sua sobrevivência. Isto emerge aproximadamente na vigésima nona semana
de vida intra-uterina e é o mais complexo comportamento do recém-nascido, separando até mesmo
o instinto da fome. Existem muitos relatos de recém-nascidos que apresentam movimentos de
sucção durante ou logo após o nascimento. Esta sucção ocorre por prazer e não é devida a fome,
que se apresenta apenas após as primeiras vinte e quatro horas de vida (VIEIRA, 2002).

O instinto de sucção é muito intenso nos três primeiros meses de vida e tende a diminuir
gradualmente a partir do sexto mês, se exercido adequadamente até o quarto mês de vida. A sucção
ocorre também para aliviar a tensão labial dos bebês, portanto se a necessidade de sucção não for
satisfeita durante o ato da amamentação materna regular, o recém-nascido pode desenvolver o
hábito de chupar o dedo e/ou chupeta, mesmo depois de bem alimentados (COSTA et al., 2001).

Outro fator ligado à etiologia dos hábitos de sucção é o tipo de amamentação da criança. Crianças
que receberam amamentação materna exclusiva têm menores chances de adquirir hábitos de sucção
não nutritivos, como sugar dedos ou chupeta, freqüentemente observados nas crianças menores de
vinte e quatro meses que não mamam no peito da mãe (REGO FILHO, 1996). Além disso, o
aleitamento materno deve ser realizado de forma irrestrita e atendendo a livre demanda, de forma a
saciar também o estímulo de sucção, já que esse é essencial para seu desenvolvimento físico e
emocional (REGO FILHO, 1996).

A sucção como hábito bucal nocivo está associada diretamente a atividade de sucção realizada de
maneira inadequada, seja através do uso de mamadeiras de bicos longos e orifícios aumentados,
onde o líquido é retirado por pressão posterior, impedindo uma sucção anterior e tornando os lábios
hipofuncionais durante o ato; ou devido à frustração no instinto da sucção pela retirada imediata do
bebê do seio ou da mamadeira após o aleitamento (VIEIRA, 2001).

Existem diversas teorias propostas para explicar o hábito prolongado de sucção, isto é, depois dos
cinco anos, quando já não é mais considerado normal.

CUMLEY (apud MOYERS, 1991) acredita que o hábito de sucção depois de quatro anos de idade é
geralmente um sintoma de carência afetiva, e a criança o usaria para encontrar conforto e
compensação. Em alguns casos ela pode adotá-lo como um meio de vingança contra os pais.

Freqüentemente, hábitos de sucção relacionam-se apenas com a insegurança da criança ou com seu
desajuste. A criança pode ter medo do escuro, de se separar dos pais, ou de animais ou insetos.
Conflitos domésticos também podem estar relacionados ao hábito e a outros problemas de
ajustamento normal. Portanto, o problema nem sempre é um sintoma único e isolado, mas, ao
contrário, pode ser um dos vários sintomas relacionados a conflitos e instabilidade emocional com
raízes em muitas situações anteriores (McDONALD, 1977).

TOLEDO (1996) cita ainda como uma causa primária da sucção não-nutritiva a falta de atenção
maternal que aliviasse as tensões do corpo e satisfizesse outras necessidades de estímulo.

FREUD (apud MOYERS, 1991) sugeriu que a oralidade na criança está relacionada com a organização
pré-genital e que a atividade sexual ainda não está separada da alimentação. Assim, o objetivo de
uma atividade, o hábito de sucção, é também objeto da outra, a amamentação. O desenvolvimento
lógico dessa teoria se relaciona com a tentativa de eliminar o hábito de sucção, porque o ponto de
vista Freudiano considera que a abrupta interferência de um mecanismo tão básico, provavelmente
conduzirá ao aparecimento de tendências anti-sociais, como a gagueira ou a masturbação precoce.
GARCÉS (1981) e MOYERS (1981) propuseram essa teoria psicoanalítica, que baseia-se na
sexualidade a qual é observada na obtenção de prazer pela zona oral, de acordo com a teoria de
Freud.

GRABER (1974) não aceita a hipótese de que a sucção do polegar é uma expressão de gratificação
sexual. Considera a sucção, sem fins nutritivos como uma manifestação normal do desenvolvimento
psico-emocional até três a quatro anos.

Segundo GARCÉS (1981), além da teoria psicoanalítica de Freud, existem também a Teoria da
Função Perdida, na qual o hábito é resultado de uma sucção inadequada nos primeiros anos de vida,
e a Teoria da Conduta Adquirida, onde o hábito seria resultado de uma associação com situações
agradáveis como a hora de dormir, de comer, de estar no colo, entre outras. à medida que os novos
movimentos adicionam-se à experiência da criança, ela gradualmente modifica-os, até que se tenha
estabelecido o padrão final de aprendizado. Esse processo denomina-se "resposta aprendida", cuja
repetição continuada torna-o praticamente automático, instituindo-se o hábito. Segundo essa teoria,
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os hábitos de sucção digital são simples respostas aprendidas, não concordando com a psicanálise,
que os interpreta como sintomas de um distúrbio psicológico.

ROHR (2000) afirma que a psiquiatria atual tenta analisar os fatores etiológicos mais lógicos
associados ao hábito como sendo de predisposição hereditária, do ambiente do lar e do trabalho e
motivações e sucesso em uma sociedade competitiva, sendo este último um motivo de tensão que
induz a fuga.

COLETTI & BARTOLOMEU (1998) analisaram 94 formulários distribuídos para pais e crianças na faixa
etária de 3 a 6 anos e concluíram que na gravidez planejada foi encontrado menor número de
crianças com hábitos de sucção, que a ausência de um dos pais parece agir como um fator
predisponente e que o hábito de sucção de dedo iniciou-se na maioria dos casos nos primeiros
meses de vida e é mais observado quando a criança está com fome ou sem motivo aparente. Além
disso, normalmente as crianças não substituem os hábitos de sucção de dedo e/ou chupeta por
outros após a remoção destes.

Epidemiologia

A sociedade moderna, entre outras características, impõe uma série de costumes e modelos na vida
das pessoas. Nas últimas décadas tem ocorrido uma modificação familiar onde a mulher tem sido
mais atuante no quadro sócio-econômico. Isto tem acarretado como conseqüência um menor tempo
de convívio com seus filhos, propiciando uma mudança comportamental dos mesmos. Este quadro
atinge a população em todas as dimensões sociais, e é agravada nas camadas menos favorecidas
economicamente.

As chupetas têm sido usadas em todos os continentes, no entanto, sua prevalência varia
grandemente nas diversas partes do mundo. Isto ocorre devido às diferentes culturas e ao tipo de
ambiente em que vivem. Tal prevalência é maior para as crianças de países industrializados como os
dos continentes americano, europeu e asiático do que as crianças africanas (FINN, 1976) .

O uso da chupeta tem aumentado muito nas últimas três décadas. Na Suécia ele era de 45% para as
crianças nascidas em 1961, subiu para 70% para as nascidas em 1986. Em contrapartida, o hábito
de chupar o dedo diminuiu no mesmo período de 30% para 18% (GARCÉS, 1981).

O aumento da prevalência do uso das chupetas está intimamente relacionado com o declínio do
hábito de chupar o dedo, e isto é explicado pela grande influência da cultura e dos costumes da
sociedade moderna, que até já incorporou a chupeta no vestuário do bebê (FINOCHI, 1982).A
prevalência deste hábito tende a diminuir com o aumento da idade. Verifica-se que para as crianças
com mais de 6 anos é bastante baixa (FRAUDET, 1985).

Parece haver uma maior sucção digital em populações com menores níveis de escolaridade, o que
confirma estes dados serem encontrados nas classes sociais mais baixas, enquanto há uma
probabilidade maior do uso de chupeta em crianças com pais com melhor nível de educação. Mas há
os que acreditam não haver correlação entre a escolaridade dos pais e a aquisição dos hábitos não-
nutritivos, além da ocupação dos pais, presença da mãe em casa, número de filhos e ordem de
nascimento (GARCÉS, 1981).

No estudo realizado por LEITE & TOLLENDAL (2001), o hábito de sucção de chupeta foi mais
comumente visto em meninas brancas, pertencentes a um nível sócio-econômico médio-baixo. Não
foi possível, entretanto, constatar predileção de um sexo ou outro, embora tenha sido observada
esta ligeira prevalência aumentada entre meninas. Essas crianças, geralmente, foram amamentadas
por um período curto de tempo (em torno de 3 meses). Diferentes motivos foram dados como
responsável para o desmame precoce, principalmente falta de tempo e possível má qualidade do
leite por elas produzido. Com relação ao seu posicionamento na constelação familiar, de forma
freqüente, são filhos mais novos ou únicos, não obstante, fosse também observado casos de filhos
mais velhos com grande diferença de idade para os demais irmãos. No seu relacionamento social,
demonstram-se alterados, principalmente sendo caracterizados como agressivos, ciumentos ou, ao
contrário, muito retraídos, tímidos. Normalmente, são resistentes quando submetidos ao exame
intra bucal. Em geral, estas crianças têm pai e/ou mãe fumante.

Sob o prisma sócio-cultural a cultura negra e indígena parecem ser, originalmente, desprovidas de
hábitos nocivos de sucção de objetos na infância, ao contrário de crianças brancas, que há muito,
cultivam este hábito. O vício exerce papel substitutivo e saciador de necessidades básicas
(nutricionais/ emocionais), liberando a mãe (ou outro responsável) para outras atividades. Isso não
é observado na população indígena, na qual o papel de mãe se sobrepõe a todos os demais (LEITE &
TOLENDAL, 2002).

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A mulher atual, devido ao seu novo contexto social de estresse, longas jornadas de trabalho e muita
competitividade, muitas vezes não reúne condições para a amamentação, apesar desta ser de
grande importância para o ciclo natural evolutivo da criança (VELLINI, 2002). Muitas não têm tempo
para lidar com o choro da criança ou com sua necessidade afetiva de contato físico e de
amamentação, preferindo que o bebê satisfaça suas necessidades nutricionais e fisiológicas com
aparatos artificiais, favorecendo a criação de vínculos "afetivos" com os objetos usados para a
substituição, o que dificulta ainda mais a remoção do hábito.

Aspectos psicológicos

Existe um grande primitivismo no simbolismo que envolve os hábitos de sucção e leva a sua
projeção e contextualização no espectro sócio-cultural. O condicionamento ambiental e cultural deste
uso, que muitas vezes representa carências emocionais, fisiológicas ou até nutricionais pode
conduzir a novos rituais substitutivos ao longo da vida, ultrapassando as fronteiras disciplinares de
investigação e reflexão teórico-prático. Além disso há de se considerar manipulação econômica em
torno do produto, no caso de aparatos artificiais de sucção nutritiva ou não nutritiva, que exerce um
grande papel na decisão dos pais de instituí-los na vida de seu filho. Há recepções diferentes da
população em torno de seu "merchandising", contudo, a falta de informação e a possibilidade de
facilitação ou até mesmo redução dos cuidados necessários e tempo perdido por parte da mãe
inserida no mercado de trabalho, concorrem para o uso indiscriminado e inadequado desses
produtos.

Em complementação, CORRÊA (1998) cita que vários fatores levam ao desestímulo à amamentação,
como a falta de informação e preparo das mães durante o período pré-natal, influência cultural no
sentido de divulgação do uso da mamadeira e falta de estímulo pela família. Além disso, atualmente,
a mulher dedica-se simultaneamente a atividades profissionais e domésticas dispondo, portanto, de
muito pouco tempo para estar com a criança. Assim, é eleito o aleitamento artificial para evitar
entrar em conflito com suas responsabilidades e seus compromissos profissionais.

É essencial que a mãe evite usar com insistência a chupeta como "rolha" para que o bebê incomode
o mínimo possível. É importante que a mãe saiba que o único canal de comunicação com o bebê é o
choro e que ela tem que aprender a lidar com isso e com a ansiedade gerada dentro de si.

ROHR (2000) realizou uma pesquisa com duzentas e oitenta crianças da pré-escola, com idade
variando de três a sete anos, e relatou que a iniciação do hábito de chupeta, em 30,5% dos casos as
mães oferecem-na assim que o bebê nasce, 28,4% quando a criança chorava e apenas 4,3% porque
observaram que a criança tinha necessidade de sugar.

KLEIN (apud DADALTO, 1989) mostrou pela investigação psicanalítica que a gratificação que o
lactente experimenta, quando sua boca é estimulada pela sucção do seio da mãe, é uma parte
essencial da sexualidade infantil. Ao sugar o dedo, a criança através de movimentos rítmicos
desperta e relembra momentos tranqüilos e prazerosos que quando o bebê passou sugando o seio
da mãe. Se estas lembranças são felizes, ao chupar o polegar o levará a um relaxamento e
tranqüilidade, aliviando sua tensão nos momentos difíceis ou indesejáveis, tomando-se a sensação
corporal uma fonte de prazer.

A manutenção da chupeta mantém estreita correlação com distúrbios comportamentais, conforme


pode-se avaliar em diversos trabalhos. Um estudo realizado constatou distúrbios comportamentais
em quase todas as crianças (5-11 anos). O hábito se desenvolvia tanto em crianças com problemas
emocionais como naquelas até então tidas como psicologicamente normais. FRIMAN et al (1993)
observaram que crianças que mantém o hábito de sucção por longo tempo são menos aceitas
socialmente que outras, estando estereotipadas como menos inteligentes, alegres, amigas.

Os hábitos de sucção são reforçados em períodos de intensa ansiedade, como vivido por crianças no
período de ingresso escolar. Alguns autores acreditam que a própria criança deve decidir quando
abandonar o hábito.

Segundo ACOSTA et al (1985), o hábito de sucção mantido até 2 anos não requer tratamento. A
manutenção a partir de 4 anos, poderá ser reflexo de um envolvimento emocional exigindo técnicas
de condicionamento de comportamento. Um dos reflexos de envolvimento emocional são os sinais
de rebeldia e tendência a desenvolver-se o vício do fumo.

Mesmo em adultos, ainda que em pequena porcentagem, podemos observar a sucção do polegar,
segundo ROHR (2000). A psiquiatria atual tenta analisar os fatores etiológicos mais lógicos
associados ao hábito como predisposição hereditária, ambiente do lar e do trabalho e motivações e
sucesso em uma sociedade competitiva.

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Muitas vezes, o hábito pode surgir em conseqüência de problemas que a criança vive no ambiente
familiar, como por exemplo, maus tratos, separação dos pais, nascimento de um irmão, negligência
dos pais, carência afetiva, ou, no ambiente escolar, tais como competição ou discriminação pelos
colegas (RAMOS-JORGE et al., 2000).

Desmame

Segundo PROFFIT (1995) e CAMARGO (1998) após a erupção dos incisivos decíduos, o bebê já tem
condições de superar o desmame. O processo de desmame é a transição progressiva da alimentação
com leite materno para a alimentação com a dieta da família. Com a presença dos dentes anteriores
é desfavorável a amamentação natural ou artificial, pois a composição muscular que irá trabalhar é
para movimento de sorver e mastigar. A criança é obrigada a retroposicionar a língua iniciando o
processo de deglutição sem sucção, que deverá ser adequadamente substituída (WALTER, 1996).

Do ponto de vista da maturação fisiológica e da necessidade nutricional, em geral não é necessário


dar outros alimentos além do leite materno ao bebê antes dos 4 meses de vida. Por outro lado, em
torno dos 6 meses de idade, muitos bebês necessitam de suplementação e estão fisiologicamente
prontos para ela (CORRÊA,1998). Tradicionalmente o período entre 4 a 6 meses tem sido visto
adequado para que os bebês comecem a se adaptar a diferentes alimentos, texturas alimentares e
modo de alimentação.

Portanto os alimentos devem ser apresentados à criança de forma gradual na consistência e


qualidade, para que a transição física nutricional e maturação gastrointestinal ocorram naturalmente.
CAMARGO (1998) sugere aos pais que ensinem seus filhos a mastigarem assim como ensinam a
falar e andar, pois, a medida que os dentes erupcionam e a face cresce, ocorre a maturidade pelos
órgãos fonoarticulatórios, com a definição do padrão de mastigação e o início do aprendizado da
palavra.

Diagnóstico

Deve-se evitar perguntar diretamente aos pais sobre qualquer forma de hábito de sucção. A
identificação direta, passa para o paciente a capacidade do profissional, que ganha com isto mais
respeito.

Assim, por exemplo, o profissional vai afirmar ao paciente que a mordida está aberta com desvios
devido ao fato que ele "chupa o dedo". Este fato é importante, podendo-se mesmo afirmar que faz
parte do sucesso ou não da terapêutica. No exame clínico, qualquer abertura de mordida pode ser o
sinal de sucção indesejável.

Examinam-se as mãos, especificamente os dedos, procurando-se alterações na pele abaixo do lábio


inferior que pode mostrar alguma alteração devido ao excessivo umedecimento. Procura-se também
observar se há marcas e impressões na língua para verificar se além da posição indesejável, a
sucção não é apenas lingual.

Avaliar se o hábito é de sucção de chupeta já é um pouco mais difícil e exige cautela porque o
paciente via de regra costuma omiti-lo.

Pode-se perguntar sem mostrar qualquer alteração de voz ou comportamento, diretamente ao


paciente qual o tipo de chupeta que ele mais gosta. Assim, com subterfúgios podemos colher a
informação do próprio portador do hábito, caso contrário, pode-se perguntar aos pais, mas não na
frente do paciente, o que pode ser feito por telefone, posteriormente.

Recomendações aos pais

O ponto fundamental no hábito é a sua prevenção, que por sua vez está baseada na educação:
quanto antes for iniciada, melhores serão seus resultados. O reforço positivo deve estar presente no
dia a dia da criança, portanto, os pais são peças fundamentais no processo e o dentista, o
responsável pela transmissão dos ensinamentos. É importante que os pais sejam orientados quanto
aos seguintes tópicos:

1)A amamentação natural é fundamental e deve ser sempre que possível a primeira escolha
diminuindo a necessidade de sucção extra;

2)É conveniente alimentar a criança acostumada à mamadeira, com um bico ortodôntico que obriga
a criança exercitar a musculatura facial;

3)Tome consciência da presença do hábito: observe seu filho, como e em quais condições o hábitos
ocorrem, qual a freqüência e como a criança sente-se a respeito;
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4)É necessário preocupar-se, pois hábitos de sucção constituem um fator que pode interferir no
desenvolvimento da criança, podendo levar a alterações bucais;

5)Nunca criticar, ridicularizar ou aplicar uma punição por estar sugando a chupeta ou dedo. Essas
atitudes podem reforçar o hábito;

6)Tentar não chamar atenção para o hábito de sucção, apenas desviá-la para outra coisa;

7)Até dois anos a criança está na fase oral, portanto, a satisfação é centrada na cavidade oral, então
ela deve satisfazer suas necessidades com livre demanda de aleitamento natural. Em algumas
crianças essa necessidade é maior devendo observar e não deixar o hábito virar um vício;

8)Quando perceber a presença de um hábito tente removê-lo o quanto antes, de forma gradativa
para que não se altere o equilíbrio psicológico e físico da criança;

9)Em casos de uso da chupeta, ela não deve ser deixada à mão e nem presa á correntinhas ou
presilhas, para que o hábito não seja estimulado;

10)Se a criança usar a chupeta para adormecer, essa deve ser retirada assim que a criança pegar no
sono, evitando que fique com ela a noite inteira;

11)O bico da chupeta deve corresponder ao formato do palato e usado na posição correta.

CAMARGO (1998); ROHR (2000); CORRÊA (1998); SUGA (2000); RAMOS-JORGE et al. (2000).

Limitações do Dentista

Há uma complexidade grande envolvendo os hábitos de forma geral e principalmente os de sucção


não nutritiva. Em casos, em que não se obtêm sucesso com as técnicas descritas e ao se constatar
envolvimento psicológico acentuado e/ou alterações na fala e postura da língua, é aconselhável que
se recorra a um trabalho conjunto entre o odontopediatra, os pais e os profissionais de outras áreas,
tais como psicólogos e fonoaudiólogos (SUGA, 2000).

Avaliação do Fonoaudiólogo

Os desenvolvimentos ósseo e muscular estão intimamente relacionados. A ação remodeladora dos


músculos, quando equilibrada sobre as arcadas dentárias favorece uma oclusão adequada. Qualquer
alteração no mecanismo funcional poderá determinar desvios e alterações ósseas indesejadas, pois o
osso, apesar de ser uma estrutura dura, é um dos tecidos mais plásticos do organismo e responde
às forças funcionais. O tratamento de alterações musculares e funcionais orofaciais é realizado pelo
fonoaudiólogo (SUGA, 2001; VELLINI, 2002).

As crianças que desenvolvem hábitos de sucção deletérios, com alteração oclusal, devem ser
indicadas ao fonoaudiólogo para que este realize uma avaliação sobre a necessidade ou não de
tratamento concomitante a orientação e tratamento ortodôntico, pois caso isso não ocorra, muitos
casos podem recidivar ou não serem corrigidos adequadamente (SUGA, 2001; VELLINI, 2002).

Os hábitos de Sucção

Sucção de Chupeta

O uso da chupeta pode representar um perigo para o correto desenvolvimento da oclusão de uma
criança, dependendo do modo como ela é utilizada. Quando usada com muita freqüência e por um
tempo prolongado, o hábito instala-se e a presença da chupeta entre as arcadas provoca desvio na
direção de crescimento maxilar, impede o contato entre os lábios, além de ocupar o espaço funcional
da língua, que virá posicionar-se inadequadamente na boca. Essas modificações na direção do
crescimento, nas funções da língua e a falta de vedamento labial podem favorecer a instalação de
maloclusões (CAMARGO et al., 1998; FERREIRA & TOLEDO, 1997).

Pode-se estimar o risco em desenvolver maloclusão mais ou menos evidentes, dependendo do


padrão facial da criança. Geralmente, as crianças com perfil convexo e face longa têm maior risco de
maloclusão.

Sendo assim, tem-se preconizado a utilização da chupeta da forma racional, como complemento da
sucção, fundamentando-se nas necessidades fisiológicas do bebê, estimulando movimentos
musculares, benéficos para o crescimento e desenvolvimento das bases ósseas, favorecendo, dessa
forma, a instalação e harmonia da dentição (FERREIRA & TOLEDO, 1997; ZUANON et al, 1997).

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A sucção visa além de nutrição, proporcionar uma satisfação psicoemocional. Os exercícios


musculares realizados durante a sucção são importantes para o desenvolvimento da musculatura
facial e estimulam o posicionamento anterior da mandíbula, para que a mesma alcance a maxila,
que ao nascimento se encontra mais protruída, também promovem a coordenação dos atos de
sucção e respiração, estimulando a aeração nasal (FERREIRA & TOLEDO, 1997; ZUANON et al,
1997).

O bebê tem duas necessidades vitais: a de se sentir alimentado e a de fazer a sucção. Quando não
atinge uma delas, ele chora. No aleitamento materno, geralmente o bebê obtém a satisfação de
sucção antes da repleção gástrica e, nessas condições, ele dorme. A mãe percebendo que ele não se
alimentou direito, acorda-o para que continue a amamentar. Já no aleitamento artificial, quando
realizado de forma não adequada, devido ao alto fluxo de leite, o bebê atinge a satisfação de estar
alimentado antes da sucção ser completada, sendo assim, faltando a sucção, não satisfeito, ele
chora. O choro é desencadeado pelo hipotálamo, sendo que quando a criança chora, mantém a boca
aberta, os rebordos afastados e a língua separada do lábio inferior e do palato, vibrando entre eles,
realizando movimentos diametralmente opostos aos de sucção. Caso o choro seja desencadeado por
sucção insuficiente, ao se oferecer à criança a oportunidade de sugar, reverte-se todo o estímulo, ou
seja, os rebordos se aproximam e as musculaturas do lábio, da bochecha e da língua passam a
trabalhar nos exercícios de sucção (CORRÊA, 1998; FERREIRA & TOLEDO, 1997; ZUANON et al,
1997).

Deve-se orientar a mãe para que ela identifique se o motivo do choro do bebê é a falta de sucção ou
a necessidade de realizar mais exercícios. Sendo este o motivo, basta estimular a sucção colocando-
se o bico da chupeta lentamente em contato com o contorno dos lábios do bebê com toques leves,
para que o bico da chupeta seja umedecido e o reflexo da sucção desencadeado. Se houver essa
necessidade, o bebê iniciará os movimentos de sucção. Assim, deve-se aconselhar à mãe, nesse
momento, segurar o aparelho de sucção e puxá-lo com movimentos leves para trás, estimulando,
dessa forma, o ato de sugar. Ao se realizarem 10 a 12 vezes, a musculatura facial trabalha o
suficiente, estimulando e satisfazendo a sucção, o bebê automaticamente rejeita a chupeta e dorme.
A chupeta deve então ser retirada da boca, pois o bebê não precisa mais dela. É essencial orientar a
mãe para que não deixe o bebê dormir com a chupeta interposta entre os lábios e os rebordos. A
boca, ao dormir, deve estar fechada, com os lábios em contato, mantendo a propriocepção do
fechamento labial, garantindo a respiração nasal (CAMARGO et al., 1998).

Caso o bebê manifeste a vontade de fazer sucção com o dedo, entre o dedo e a chupeta, deve-se
preferir a segunda opção, pois a primeira exerce maior pressão, está sempre mais acessível e é mais
difícil, uma vez instalado o hábito, sua remissão (CAMARGO et al., 1998).

É notável considerar o fato que algumas mães oferecem o próprio mamilo toda vez que o bebê quer
fazer sucção, o que traz os seguintes inconvenientes: prejudica a disciplina alimentar, ficando leite
retido constantemente nos sulcos vestibulares, necessitando de limpeza freqüente para adequação
do meio, desorganização de colônias bacterianas para prevenir doenças bucais, tais como candidíase
e impetigo, muito prevalentes no recém-nascido até os 7 meses (FERREIRA & TOLEDO, 1997;
ZUANON et al, 1997).

Diante do exposto, a mãe nunca deve oferecer a chupeta a propósito de acalmar o choro
desencadeado por outros motivos como uma cólica, solidão, susto, desconforto, consolo ou forma de
lazer (CAMARGO et al., 1998).

A chupeta para ser usada:

Deverá ter tamanho e forma compatíveis anatomicamente com a boca do bebê.

Deverá ser de preferência, ortodôntica porque apresenta a base do bico mais achatada evitando o
distanciamento maior entre os lábios e inclinação do bico para cima, o que facilita o melhor
posicionamento da língua.

Deve-se ter atenção especial aos bebês prematuros e de baixo peso para que o tamanho do bico
seja adequado a fim de não provocar o deslocamento da língua para trás.

O apoio labial da chupeta deve ser ligeiramente curvo, voltado para a boca, ajustando-se à forma,
contorno dos lábios e a parte próxima à base do nariz deve ser recortada respeitando-se sua forma e
proporcionando um bom vedamento.

A chupeta para exercícios deve ter no mínimo 2 furos de ventilação com diâmetros menores do que
5 mm para evitar que machuque ou aprisione o pequeno dedo de um bebê, e distantes 5 a 6 mm da
borda externa do disco.

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A argola é desnecessária, pois é um convite para pendurar, deixar a chupeta acessível, facilitando a
instalação do hábito.

Cordões, fitas e correntes amarradas à chupeta representam perigo de asfixia (CAMARGO et al,
1998; ZUANON, 1997; FERREIRA & TOLEDO, 1997; SUGA, 2001; CORRÊA, 1998; DE CARLI et al.,
2002).

É necessário também que seja descartada a infundada preocupação de que realizando exercícios de
sucção com a chupeta, o bebê desacostuma e deixa o aleitamento materno e realçada a verdade de
que quando a chupeta é usada racionalmente apenas como aparelho de sucção ela pode ser benéfica
para os bebês, não havendo a instalação de hábito indesejável (CAMARGO et al, 1998).

É significante a porcentagem de crianças que utilizam chupetas, sendo, portanto, fundamental


reconhecer a necessidade do profissional ligado à área de Odontopediatria conhecer o assunto, para
ter critérios suficientes no momento de orientar as mães (DE CARLI et al., 2002).

Pesquisas mostram que a maioria das mães não são orientadas sobre o assunto precocemente, ou
seja, antes do nascimento de seus bebês. As poucas informações são fornecidas pelas avós,
parentes e pediatras, raramente o dentista aparece como orientador. O fator mais levado em
consideração pelas mães na hora da compra das chupetas é o tamanho e a forma. Pode-se observar
que, após feita a escolha, a maioria das mães se mantém fiéis à marca, forma e material, não sendo
o preço um fator decisivo na escolha. Portanto, é de fundamental importância que principalmente os
odontopediatras posicionem-se conscientemente e com base para argumentar e convencer as mães,
dando-lhes orientações úteis para a escolha e utilização das chupetas (DE CARLI et al., 2002).

Sucção da mamadeira

O aleitamento artificial é, na maioria dos casos, realizado com a mamadeira. Só deve ser adotado
quando da total impossibilidade do aleitamento natural, a critério do médico e não de forma
aleatória, pois vale lembrar que nada substitui o aleitamento natural e na sua ausência sempre
haverá prejuízo do desenvolvimento facial da criança, no que se refere à porção muscular, óssea e
vias aéreas. Nada é melhor para a criança do que a amamentação, salvo raras exceções (CORRÊA,
1998; FERREIRA & TOLEDO, 1997).

De acordo com vários pediatras, recomenda-se o uso da mamadeira em casos de estresse e perda
de estímulo provocados pelo cansaço, nervosismo ou ansiedade da mãe, que geram uma situação de
profundo desgaste, em casos em que a mãe é portadora de doenças transmissíveis ou apresente
alguma enfermidade que a impossibilite de amamentar ou quando a mãe faz uso contínuo de
medicamentos que, através do leite, possam prejudicar a criança. Nos casos de fissuras no mamilo
ou mastites, também é recomendado, devido a dor gerada nessas situações (CORRÊA, 1998).

O uso da mamadeira é recomendado, ainda, nos casos de dificuldade de sucção por parte da criança,
devido a deformidades na cavidade bucal, como fendas palatinas e/ou labiais, em casos que a
criança nasça prematura ou com algum problema que a faça permanecer no hospital, perdendo o
contato com a mãe (SUGA, 2001; FERREIRA & TOLEDO, 1997).

Desse modo, o objetivo da indicação da mamadeira é proporcionar o desenvolvimento da criança,


frente à impossibilidade da amamentação (FERREIRA & TOLEDO, 1997).

O uso da mamadeira normalmente inicia-se precocemente e estende-se por tempo superior ao


necessário, sem a atenção aos prejuízos e alterações no desenvolvimento que seu uso contínuo pode
causar. Quando a mamadeira é usada, os músculos usados na sucção são diferentes dos usados no
aleitamento natural, havendo maior desenvolvimento do músculo bucinador. Assim, com sucção
freqüente e intensa do bico da mamadeira haverá deformações ósseas e musculares extensas que
geram deformidades no palato e, consequentemente, diminuição do espaço da fossa nasal,
resultando em maloclusão e respiração bucal, respectivamente. Poderá ainda ocorrer um atraso no
desenvolvimento emocional, denominado de infantilização e um aumento na incidência de cáries
dentárias, especialmente se houver uso noturno (CORRÊA, 1998).

Como usar a mamadeira?

A criança deve permanecer em uma posição semi-sentada enquanto estiver sendo amamentada,
com a cabeça em plano superior em relação ao restante do corpo, evitando refluxo para a tuba
auditiva, causador da "otite de repetição", e permitindo também maior ingestão do leite e intervalos
de saciedade (CORRÊA, 1998). Essa posição, semelhante 'a da amamentação natural, permitirá
movimentos musculares mais intensos e semelhantes, exigindo maior esforço e conseqüentemente,

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maior desenvolvimento ósseo, além da saciação do prazer de sucção. Ademais, há um maior contato
entre o bebê e a mãe (VELLINI, 2002).

Outro cuidado que deve ser tomado é em relação ao tipo de bico da mamadeira. Recomendam-se
bicos anatômicos e compatíveis com a idade da criança, podendo ser de borracha ou de silicone.

O orifício dos bicos deve ser pequeno. Um bico que possua orifício grande permite o gotejamento de
líquido passivo, saída de grande quantidade de líquido, provocando posicionamento incorreto da
língua para evitar possíveis engasgos desenvolvendo, mais tarde, a chamada deglutição atípica
(CORRÊA, 1998).

Sucção de dedos

No recém-nascido, o contato dos lábios com o mamilo proporciona movimentos de sucção que
podem também ser realizado pelo contato dos lábios com o dedo (ROHR, 2000).

O dedo é intra-córporeo, tem calor, odor e consistência muito aproximados ao do mamilo materno,
além de estar sempre presente o que torna inclusive a remoção deste hábito mais difícil. Alguns
autores acreditam que por ser o ato de sugar um dos primeiros instintos naturais que a criança
experimenta, quando a chupeta não for oferecida, a mesma pode vir a desenvolver o ato de sucção
digital (RAMOS-JORGE, 2001; ROHR, 2000).

A sucção normal do polegar, clinicamente significante, ocorre do nascimento até mais ou menos 3
anos de idade, sendo freqüente na maioria das crianças, em particular na época de desmame. Em
geral, a sucção é resolvida naturalmente (CORRÊA, 1998).

A sucção do polegar clinicamente significante ocorre dos 3 aos 6 ou 7 anos de idade e recebe
atenção mais séria, pois, é uma indicação de possível ansiedade, e é a melhor época para resolver
os problemas dentários relacionados com a sucção digital. Deve-se definir programas de correção
(VELLINI, 2002).

A sucção do polegar quando não tratada, ou melhor, que persiste após o 4º ano de vida, pode ser a
composição de outros problemas, além de uma simples maloclusão. Requer tratamentos ortodôntico
e psicológico (conduta integrada) (SUGA, 2001; VELLINI, 2002).

Sucção de lábios

São hábitos que envolvem a manipulação dos lábios e das estruturas peribucais. Há vários tipos de
hábitos, e sua influência sobre a dentição decídua é variável. Enquanto os efeitos dentais não são
motivos de preocupação, os hábitos de lamber e tracionar os lábios e tecidos são relativamente
benignos. As mudanças mais evidentes que se relacionam com estes costumes são lábios e tecidos
peribucais avermelhados, inflamados e ressecados durante períodos de clima frio. Pouco é o que se
pode fazer para suspender esses hábitos de forma efetiva, e em geral o tratamento é paliativo e se
limita a umectar os lábios (CORRÊA, 1998; SUGA, 2001).

Embora a maior parte dos hábitos labiais não provoque problemas dentários, certamente os hábitos
de chupar e morder os lábios podem manter uma maloclusão existente caso a criança os desenvolva
com intensidade, freqüência e duração suficientes. È questionável se esses costumes ocasionam
maloclusão ou não. A observação mais freqüente na sucção labial é no lábio inferior enfiado por
detrás dos incisivos superiores. Isso produz uma força em direção lingual sobre os dentes inferiores
e outra vestibular sobre os superiores, provocando, dessa forma, inclinação vestibular dos incisivos
superiores e aumento considerável da sobremordida horizontal (overjet).(VELLINI, 2002; CORRÊA,
1998;).

Conseqüências

Um hábito bucal pode causar diversas mudanças dentais, dependendo de sua intensidade, duração e
freqüência. A intensidade é a quantidade de força aplicada aos dentes durante a sucção. A duração
se define como a quantidade de tempo que se dedica à sucção de um dedo. A freqüência é o n° de
vezes que se pratica o hábito durante o dia. A duração apresenta a função mais crítica no movimento
dental produzida por um hábito digital. As evidências clínicas e experimentais sugerem que se
requer de 4 a 6 horas de força diárias para provocar um movimento dentário (SUGA, 2001; VELLINI,
2002).

Sendo assim, a criança que chupa com intensidade alta e de maneira intermitente pode não causar
muito movimento dental, enquanto que outra que chupa de modo persistente (durante mais de 6
horas) provocará uma mudança dental significativa. Os sinais clássicos de um hábito ativo são os
seguintes:
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- Mordida aberta anterior (MAA).

- Movimento vestibular dos IS e lingual dos inferiores.

- Constricção maxilar.

A MAA é uma falta de contato entre IS e inferior quando os outros dentes estão em oclusão, que se
apresenta porque o dedo descansa diretamente nos incisivos. Isso origina um leve aumento na
abertura vertical. O dedo impede a erupção dos dentes anteriores, enquanto os posteriores têm
liberdade para fazê-lo. A erupção passiva dos molares resulta na MAA; a intrusão dos incisivos
também pode provocá-los. Contudo, é mais fácil conseguir a inibição da erupção que uma intrusão
verdadeira. O movimento vestíbulo-ligual dos incisivos depende de como o paciente coloca o polegar
ou indicador na boca. Geralmente, coloca-se o primeiro de tal maneira que exerça pressão sobre a
face palatina dos IS e sobre a vestibular dos inferiores. A criança que chupa de modo ativo pode
criar força suficiente para inclinar os IS em direção vestibular e os inferiores em direção lingual, o
que resulta em uma sobremordida horizontal aumentada (VELLINI, 2002).

A constricção do arco superior é provavelmente devido à mudança no equilíbrio entre a musculatura


bucal e a língua quando se coloca o polegar na boca, a língua é forçada para baixo e longe do palato.
O músculo orbicular dos lábios e os bucinadores seguem aplicando força sobre as superfícies
vestibulares da arcada superior, especialmente quando esses músculos se contraem durante a
sucção. Como a língua deixa de exercer força de contra-equilíbrio do lado lingual, o arco superior
posterior sofre colapso resultando em uma mordida cruzada (ALVES & BASTOS, 1995; VIEIRA,
2002; ZUANON, 1998).

Embora a maior parte dos hábitos labiais não provoquem problemas dentários, certamente os
hábitos de chupar e morder os lábios podem manter uma maloclusão existente caso a criança se
envolva neles com intensidade, freqüência e duração suficientes (CORRÊA, 1998).

A mudanças dentárias criadas por esta classe de hábitos (chupetas) são semelhantes às produzidas
por hábitos digitais. Observam-se de maneira constante MAA e constricção maxilar em crianças que
não chupam chupetas. O movimento V-L dos incisivos pode não ser tão pronunciado como o hábito
digital mas, de qualquer forma, se apresenta com freqüência (SUGA, 2001; VELLINI, 2002).

Quanto ao uso de mamadeira, CAMARGO (1998) e LEITE et al. (1999) afirmaram que seu uso
inadequado (por exemplo: tamanho do bico, forma e fluxo muito grande) leva o bebê a posicionar a
língua para trás na tentativa de não se sentir afogado, iniciando assim um movimento de deglutição
atípica, repouso inadequado da língua, que, com o decorrer do tempo poderá resultar em
conformação incorreta da arcada e problemas de articulação de fonética na fala.

Ao mamar a mamadeira, a criança tem que efetuar uma atividade semelhante àquela realizada no
seio materno (na posição, no estímulo bilateral, na quantidade do fluxo de leite, no tamanho e
posição do bico) para que todo o mecanismo da boca se desenvolva a contento (LEITE &
TOLLENDAL, 2000).

Os efeitos do uso de mamadeiras e/ou chucas, sobre o desenvolvimento dento-facial varia de acordo
com o tipo de bico utilizado, o qual varia em forma e tamanho e, em grande parte, permite que o
leite seja diretamente lançado de encontro à parede da orofaringe. Este processo em nada reproduz
o mecanismo materno de amamentação e reduz o período de pré-digestão (CORRÊA, 1998).

Quando se utiliza mamadeira, os músculos utilizados na sucção são diferentes dos utilizados no
aleitamento natural. Quando do uso da mamadeira, há maior desenvolvimento do músculo
bucinador. Assim, em casos em que houver grande freqüência e intensidade de sucção do bico de
mamadeira ocorrerão deformidades ósseas e musculares extensas que geram deformações no palato
e, consequentemente, diminuição do espaço da fossa nasal, resultando em ocorrências de
maloclusão e respiração bucal respectivamente(CORRÊA, 1998; VIEIRA, 2002).

Se a criança tiver o vício de "chupetar" o bico da mamadeira, ou em casos em que a mamadeira for
ministrada durante a noite, maior será a probabilidade do desenvolvimento de cáries dentárias.

Também pode ocorrer atraso no desenvolvimento emocional, denominado de infantilização (TOLEDO,


1996).

Para avaliar, em nossa prática clínica, as conseqüências e a prevalência dos hábitos de sucção não-
nutritivos entre os demais hábitos, foi realizado um levantamento na Clínica de Odontopediatria e
Clínica de Bebês.

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Materiais e Métodos

Foram selecionados aleatoriamente cinqüenta (50) pacientes que se apresentaram ao Projeto de


Bêbes ou à disciplina de Odontopediatria, no departamento de Clínica do Centro Biomédico, no
Campus de Maruípe da Universidade Federal do Espírito Santo, no período de 3 de setembro de 2002
à 12 de setembro de 2002. Não houve distinção de raça nem de sexo, e a faixa etária variou de 04
meses a 12 anos de idade. Foi questionado ao responsável sobre a presença de hábitos de sucção
(mamadeira, chupeta, dedo ou lábio), ou, no caso de resposta negativa, sobre a presença de outros
hábitos, como respiração bucal, deglutição atípica e onicofagia. Na mesma sessão, foi realizado por 4
examinadores, uma avaliação intra e extra bucal da oclusão deste paciente com relação à:

- Sentido antero-posterior ou avaliação da Relação Molar de Angle;

- Variações transversais (sentido médio-lateral) relacionadas ao Plano Sagital Mediano (PSM), ou


Análise Transversal de Simon (mordidas cruzadas, atresias ou "atração" e "distrações" em relação ao
PSM);

- Variações verticais relacionadas ao Plano Oclusal (sobremordidaexagerada ou mordida aberta).

Objetivos

Com base dados colhidos, poderemos avaliar:

-A prevalência de maloclusões em pacientes com hábitos de sucção;

-A prevalência das maloclusões apresentadas;

-A prevalência dos hábitos de sucção em relação aos demais hábitos relatados;

-A prevalência do hábito de sucção de polegar, dentre os demais hábitos de sucção;

-A prevalência do hábito de sucção dos dedos indicador e central, dentre os demais hábitos de
sucção;

-A prevalência do hábito de sucção de chupeta, dentre os demais hábitos de sucção;

-A prevalência do hábito de sucção do lábio, dentre os demais hábitos de sucção;

-A prevalência do hábito de sucção de mamadeira, dentre os demais hábitos de sucção.

Resultados

Das crianças avaliadas, 58% eram meninas e 42%, meninos, que apresentaram 86% de hábitos de
sucção dentre os demais hábitos observados. Destes últimos 14%, apenas 38,4% apresentavam-se
sozinhos e os demais 61,6% apresentavam-se associados a hábitos de sucção. Dentre estes outros
hábitos avaliados, 58,7% são representados pela respiração bucal, e desses, 82% estão associados
à sucção digital, podendo representar um indício da relação causal entre estes dois hábitos, relatado
por VELLINI, 2002; SUGA, 2002 e CORRÊA, 1998.

O hábito de sucção do polegar representou 20% do total, mas apenas 40% desta amostra
apresentava sucção digital isolada. Os demais 60% apresentavam-se associados à sucção de
mamadeira, chupeta, lábio e onicofagia. A sucção de dedo indicador e central representou 4%, de
lábio, 2% e de mamadeira 30%, sendo que 66,6% era apenas de mamadeira e os demais 33, 4%
associados a outros hábitos. A maior prevalência foi do uso de chupeta (38%), assim como
observado na pesquisa de LEITE & TOLENDAL, (2002), sendo 94% são representados pelo uso
isolado da chupeta.

Foi observada uma prevalência de 94% de maloclusões em crianças que apresentavam hábitos de
sucção. Os outros 6% que não apresentavam, relacionavam-se a hábitos de sucção de mamadeira.
Dentre a amostra total não foram contabilizadas 3 crianças menores de 6 meses (6% do total), que
apresentavam hábitos de sucção de chupeta, dedo polegar, dedo incisivo central, mão inteira e
hábitos de respiração bucal, devido a impossibilidade de avaliar com veracidade se havia ou não
algum tipo de alteração. A única coisa que se pôde concluir é que o bebê que apresentava sucção da
mão inteira apresentava esta menor que a outra mão.

Dos 47% que apresentavam alguma maloclusão, 46% era representado por mordida aberta anterior,
relacionada ao exato local de apreensão da chupeta ou do dedo. 24% apresentavam protrusão
superior, 2% protrusão inferior e 14% mordida cruzada posterior. 14% apresentavam atresia da
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maxila e destes, 71,4% a apresentavam associada à mordida aberta. 2% possuíam mordida


profunda e 6%, cruzamentos anteriores. Em relação à classificação de Angle, 8% apresentavam
Classe II de Angle, 0% Classe III, 72% Classe I e os demais 20% não puderam ser avaliados.

A remoção do hábito bucal

A princípio, deve-se diagnosticar se o hábito é significativo ou não, ou seja, se existe um fator


psicológico ou emocional associado. Muitas vezes, o hábito pode surgir como conseqüências de
problemas que a criança apresenta no ambiente familiar, como por exemplo, maus tratos, separação
dos pais, nascimento de um irmão, negligência dos pais, carência afetiva, ou, no ambiente escolar
tais como competição ou discriminação pelos colegas (VIEIRA, 2002).

Uma vez diagnosticado o hábito, a criança deve ser encaminhada para uma terapia psicológica de
suporte antes de qualquer tentativa de remoção do hábito e/ou correção ortodôntica (VIEIRA, 2002).

É preciso deixar bem definido que o tratamento básico deve ser embasado no complexo individual
com um envolvimento pessoal, psicológico, emocional, familiar e, mais abrangente ainda,
sociológico.

O tratamento inicial deve ser comportamental. Esse pode variar entre o sistema de recompensa no
qual a criança recebe prêmios após os objetivos serem alcançados e o sistema do cartão no qual ela
registra cada dia de sucesso ou falha(BLACK,1990; YOSHIDA et al., 1991). Um contrato é feito entre
a criança e seus pais e entre o dentista e a criança, onde fica estabelecido que a criança irá desistir
do hábito durante um período específico e que receberá um prêmio como recompensa. A
recompensa não deverá ser extravagante, mas especial o suficiente para motivar a criança. Quanto
mais a criança se envolver com essa técnica, maior a chance de se obter sucesso. Ao término do
período apresenta-se a recompensa com elogios verbais por terem cumprido as condições do
contrato.

As ameaças e as medidas punitivas, em geral, são infrutíferas como tentativas de motivar a criança
a deixar o hábito. Os métodos restritivos como aqueles que limitam a movimentação dos braços e
das mãos ou cobrem os dedos são desaconselhados pela ineficiência, pois combatem apenas o efeito
sem levarem em conta as causas geradoras (REIS & JORGE,1999). A colocação de fita adesiva ao
redor do dedo e estímulos desagradáveis, como pintar os dedos com soluções de sabor ruim,
também recordam a criança a abandonar o hábito, contudo este tipo de tratamento é visto como
castigo podendo não ser tão eficaz como um lembrete neutro.

LINO (1994) propõe um recurso do condicionamento noturno. A técnica consiste em orientar a mãe
ou a quem cuida da criança a utilizar frases positivas como: "você é capaz de abandonar este
costume" e não a utilização de palavras como: "não" e "nunca". As frases devem ser ditas quando a
criança adormece. O autor relata que a repetição da frase é importante, reforçando o
comportamento desejado. Este método é muito eficaz quando as crianças apresentam hábitos
noturnos, tais como chupar chupeta ou dedo enquanto dormem.

Os métodos psicológicos exigem tato e bom senso na abordagem da criança, e incluem, entre outros
recursos, dar pouca atenção direta ao hábito, desviar a atenção da criança para outras atividades,
apelar para o orgulho e para a força de vontade e até mesmo recompensar a criança pelo esforço
para deixar o hábito (TOLEDO, 1996).

Alguns profissionais utilizam-se de aparelhos intrabucais destinados a desempenhar um papel de


lembrete, alertando as crianças quanto a necessidade de evitar-se o hábito e só devem ser aplicados
com seu consentimento mediante sua disposição de cooperar. Esses aparelhos devem ser,
preferencialmente removíveis, a fim de que transmita à criança a sensação de que não estão sendo
impostos (VELLINI, 2002).

Constata-se que os autores são unânimes em aplicar a terapia ortodôntica como lembrete dentro de
uma abordagem interdisciplinar, porém com conscientização da criança e da família.

Faz-se necessário comentar que o odontólogo que se preocupar apenas com a correção das
maloclusões decorrentes de hábitos orais viciosos estará trabalhando com as conseqüências e não
com as causas, estando fadado ao fracasso do tratamento, havendo grande possibilidade de recidiva.
Em vista disto abordaremos a forma de remoção de determinados hábitos(TOLEDO, 1996).

Em relação a maloclusão, tem sido demonstrada uma associação entre hábito de sucção,
posicionamento anterior da língua e mordida aberta. Porém, a eliminação do hábito pode determinar
uma melhora espontânea da mordida aberta e em 90% dos casos há uma autocorreção. O
crescimento e a maturação, com uma mudança para um padrão de deglutição madura, e a
adaptabilidade da língua a uma correta morfologia com normalização do selamento lábio-língua,
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terão uma grande influência. Dessa forma, recomenda-se esperar até os 10 anos, em média, para
iniciar a correção ortodôntica da mordida aberta, desde que a causa seja realmente o hábito. Se a
mordida aberta tiver como causa a insuficiência de crescimento vertical, será um problema mais
complexo e a abordagem será diferente (VIEIRA, 2002).

O tratamento desses hábitos no passado foi muito rigoroso devido a estigmatização pela sociedade e
pelos profissionais, o que levou a castigos rigorosos por parte dos pais, sendo verificado, mais tarde,
que muitas destas crianças criaram outros hábitos menos perceptíveis, mas tão danosos quanto,
como chupar os lábios ou a língua, levando, não raramente, a problemas oclusais e estéticos mais
graves e de tratamento mais difícil. São sugeridos tratamentos baseados na idade do paciente e na
intensidade do hábito. Na idade até os seis anos, o autor indica um tratamento individual baseado na
motivação da criança em deixar o hábito. Qualquer tipo de tratamento utilizado sem esta motivação
provavelmente irá fracassar e, nesse caso, deve-se aguardar a erupção dos incisivos centrais para a
continuidade do tratamento. Como após a idade dos seis anos, em virtude da fase de socialização da
criança, normalmente ela se motiva com facilidade a abandonar o hábito, a maioria das formas de
tratamento obtêm êxito (MOYERS, 1991; VIEIRA, 2002).

Chupeta

O hábito de sucção de chupeta ou dedo por crianças, além das possíveis alterações no complexo
bucodental, envolve em si aspectos psicológicos e culturais que devem ser considerados quando o
odontopediatra for planejar o tratamento ou fazer a abordagem para remover esses hábitos.
Experimente prender a chupeta na cabeceira da cama ou no berço para que a criança associe o ato
de chupar a chupeta ao de dormir, assim que a criança adormecer com chupeta na boca, retire-a.
Isto evita que ela chupe a chupeta durante toda a noite. Fazer pequenos furos na borracha faz com
que ar entre na chupeta e a criança tenha dificuldade em mantê-la na boca, desestimulando o seu
uso (VIEIRA, 2002; CORRÊA, 1998; SUGA, 2001).

Esses furos não devem danificar a borracha de maneira que possa correr o risco da criança engolir
ou aspirar parte dela, preencher o bico da chupeta com algodão vai torná-la mais rígida e ao mesmo
tempo minimiza a sensação de prazer, o ideal é que a chupeta não apresente argolas, pois assim a
mãe evita de amarrar ou prender a chupeta no corpo da criança, diminuindo assim a oferta da
mesma a criança, bem com evitar eventuais acidentes como estrangulamento ou enforcamento
(LEITE & TOLLENDAL, 2000).

Sucção de dedo

Caso a criança recém nascida apresente o hábito de chupar o dedo procure trocar o dedo pela
chupeta, pois no futuro será mais fácil removê-la. Não faça ameaças nem deixe a criança
constrangida quando for abordar sobre o hábito, converse com a criança com a intenção de conhecê-
la e verifique suas atitudes em relação ao hábito. Mostre a criança modelo ou fotos de bocas de
outras crianças que tiveram o mesmo hábito, as alterações ocorridas e correção realizada com a
ajuda do paciente. Coloque o paciente em frente ao espelho e mostre como ele fica feio chupando o
dedo (VIEIRA, 2002; CORRÊA, 1998).

Dê um prazo de 2 a 3 meses para que a criança tente se esforçar para interromper o hábito,
estimulando-a para que isso ocorra. Se após esse período o sucesso não tenha sido obtido, indica-se
um aparelho para auxiliar a correção e também um consulta com psicólogo juntamente com
tratamento ortodôntico (CORRÊA, 1998).

Sucção de mamadeira

A idade ideal para ser iniciada a supressão da mamadeira dependerá da maturidade emocional e
habilidade física da criança sendo, geralmente, entre 6 e 10 meses de idade. Quanto mais cedo for
feita a substituição da mamadeira, mais fácil será a retirada deste hábito, pois menor será a
resistência oferecida pela criança (TOLEDO, 1996).

Preconiza-se a utilização de copos, colheres, e pratos atraentes e bonitos e, se possível, a refeição


deve ser feita junto a família. A eliminação da mamadeira noturna deve ser feita, de preferência,
antes da erupção dos dentes. Para isto deve-se substituir, aos poucos, leite por água. Assim vai-se
diminuindo, gradativamente, a quantidade de leite e aumentando a de água de tal forma que, em
um período médio de 15 dias, a mamadeira só esteja sendo oferecida com água, o que leva a
criança a dispensar a mamadeira noturna (CORRÊA, 1998).

Sucção de lábios

O tratamento da maloclusão instalada é ortodôntico. Já a remoção do hábito segue padrão


semelhante ao dos outro hábitos.
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Conclusão

Diante do exposto, pôde-se observar que os fatores emocionais são muito importantes na etiologia
dos hábitos de sucção não-nutritivos, e que devem ser levados em consideração no estabelecimento
de um tratamento individualizado. Nota-se ainda que suas diversas conseqüências estão na
dependência do tipo de hábito, freqüência e estímulo, contudo não há um consenso entre os autores
quanto ao método mais efetivo e 'a época mais oportuna para se intervir. Portanto, é possível
concluir:

- É necessário considerar que a sucção é um ato fisiológico e necessário e como tal deve ser
respeitado;

-O estímulo ao aleitamento materno previne a instalação de hábitos bucais viciosos;

-Os hábitos de sucção não nutritiva podem estar ligados a fatores psico-afetivos;

- Em qualquer caso de tratamento de um hábito bucal, é fundamental, além da compreensão da


criança, a colaboração dos pais ou responsáveis, sendo imprescindível que estes aceitem a
orientação prescrita e não interfiram desfavoravelmente, castigando a criança ou supervalorizando o
problema;

- É impossível estabelecer uma idade para o início do tratamento de um hábito bucal indesejável. O
momento oportuno varia de indivíduo para indivíduo, de acordo com o desenvolvimento da criança e
a gravidade do caso, contudo os pesquisadores são unânimes em recomendar a remoção precoce do
hábito;

-A associação entre hábitos orais deletérios e maloclusões é fortemente comprovada pela literatura
sendo a mordida aberta anterior e cruzada posterior as mais prevalentes.

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Marly Almeida Saleme do Valle**, Daniela Feu Rosa Kroeff de Souza*, Daniele Petri de Bortolo*, Geórgia Lavagnoli*,
Kátia Emanuele Silva Abreu*, Letícia Monteiro Peixoto*, Maria da Penha Giurizatto de Araújo*, Vanessa Cordeiro
Silva*

*Acadêmicas do sétimo período de Odontologia da UFES


** Professora adjunta da disciplina de Odontopediatria da UFES

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