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SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO 2014: MODOS DE “LER-ESCREVER” EM MEIO À VIDA

POESIA VISUAL: O JOGO NAS LÂMINAS POÉTICAS 

Lívia Bertges
(UFMT/CAPES)
livia.bertges@gmail.com

GT 22 – Escrileituras

Resumo 
O trabalho visa aproximar as teorias semióticas com a Poesia visual contemporânea. A
obra escolhida para análise será OLHLO2 de Luiz Augusto Knop de Mendonça – Knorr. A
característica principal é sua relação lúdica entre o jogo de significantes, reveladas a partir da
matéria verbal, e suas formas visuais. Com o suporte teórico de Roland Barthes (1977), Julia
Kristeva (1974. Refletiremos a respeito da construção de sete lâminas, cada qual abordando
uma gama de recursos diferentes, na tentativa de atribuir sentidos ao texto literário produzido:
fragmentação de palavras, estruturas simbólicas de ciências exatas, jogo de cores e noções de
movimento. O recursos encontrados ganham força pelo caráter de fronteira entre a poesia
visual e a arte gráfica.

Palavras-chaves: Poesia visual, semiótica, jogo de palavras


Introdução 
É perigoso elaborar um conceito fechado sobre arte relacionado à literatura,
principalmente sobre a poesia e o poema. Eles evoluíram e passaram por constantes
transformações ao longo dos séculos. No final do século XX, as artes visuais, em diálogo com
as artes gráficas, dividem espaço com as artes plásticas. Todas essas artes exploram a imagem
como fio condutor de produção.
A partir dos anos 1950, as formas literárias encontradas dão um salto nas barreiras
entre arte escrita e arte visual, formando o que hoje é chamamos de poesia visual. Os críticos
divergem em suas opiniões quanto a criação da poesia visual, ora como gênero híbrido, ora
como movimento artístico. Fato é que tal poesia espalhou-se por todo mundo, cada qual com
uma nomenclatura diferente, no Brasil de “concretismo”, na França de “signalism” e nos
Estados Unidos de “espacialismo”. Portanto, a arte visual torna-se parte fundante da
literatura na medida em que incorpora a imagem gráfica e desloca as estruturas tradicionais.
Ela será composta por letras, palavras, frases curtas, imagens e predominarão os valores
espaciais e visuais. Os recursos meramente sonoros são deixados em segundo plano. A
poesia visual não se trata de ilustrações de poemas, mas seu estímulo vem da produção verbal
através da contemplação da imagem.


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O “primeiro produto de importação” da literatura autônoma e brasileira, tão pregada


pelo grupo modernista, aparece em meados dos anos de 1950, e ela acontece de maneira
simultânea com os outros países do mundo. A poesia brasileira ganha estilo pela
experimentação de recursos de outas artes com Haroldo de Campos, Augusto de Campos e
Décio Pignatari e conta com a implantação da Revista Noigrandes (1952), de manifestos, e
também da Exposição Nacional de Arte Concreta (1956) no Museu de Arte Moderna de São
Paulo. Eles carregavam como lema a abolição dos versos. O lusitano E. M. de Melo e Castro
foi responsável pela promoção desses brasileiros na Europa.
Hoje, em um momento de abertura para a produção e divulgação da poesia visual, em
que se misturam referências aos poemas concretos, figurativos, poemas-objetos, performances
e recursos dos mais variados, possibilitada pelo computador, certamente seria complicado
elaborar um conceito sistemático.
É neste hibridismo que se insere nosso objeto de estudo. A obra literária OLHLO2 do
escritor Luiz Augusto Knop de Mendonça – O Knorr, é um livro em formato de caixa, que
aberta da maneira tradicional, não se mostra. Na fenda lateral, encontram-se 54 lâminas
autônomas, cada qual um fragmento. Em semelhança a um baralho, a partir da retira da
primeira carta, começa o jogo. Um universo de possibilidades se abre para o jogador/leitor.
Não há início, meio ou fim. Realiza-se o jogo por o meio do processo de fruição – uma
lâmina desperta o desejo por uma outra nova, e assim por diante, em um processo (quase)
infinito. No jogo das lâminas poéticas, cada uma abarca uma especificidade: jogos de cores,
de fonemas, de símbolos, de formas geométricas e imagens.
As lâminas, em seu traço fragmentário, foram selecionadas segundo suas temáticas.
Em primeiro lugar, trabalharemos Palíndromo (KNORR, 2000) e Ovôo (KNORR, 2003) o
conceito de jogo explorado por Barthes (1977). Cruzaremos as relações da poesia visual com
as ciências exatas, mais especificamente, com a matemática e a física, tendo como base os
preceitos de aproximação das duas linguagens adorados por Kristeva (1974), nas lâminas
Matemática (KNORR, 1989), Eco (KNORR, 1989) e Espelho d´água (KNORR, 1990).

Teorias semióticas em cinco minutos 

A semiótica, na tentativa de pensar a literatura como uma ciência, e com ajuda da


linguísticas, propõe-se a pensar o signo no texto literário. O pós-estruturalismo repensa as
certezas levantadas pela corrente estruturalista, com base em sistemas generalistas que
abarcariam todos os textos literários. A grande questão buscada pelo pós-estruturalismo seria


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como se produz o sentido no texto literário. Didaticamente, passaremos por alguns nomes
significativos da teoria em foco, a fim de nos ajudar nas análises das lâminas.
O teórico Roland Barthes, em seu discurso na École de France, ao assumir a cátedra de
Semiologia Literária, posteriormente transcrito na obra Aula (1977), argumenta a respeito do
carácter autoritário da língua, como qualquer outra classificação ou código: “Ela é
simplesmente: fascista; pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer”
(BARTHES, 1977, p. 14) e demonstra ser somente na linguagem literária o espaço
privilegiado fora do poder. A teoria enxerga a literatura como um deslocamento do real (faire
semblant), assim não importarão as relações de contexto histórico e autoria para se entender o
texto.
É na trapaça com língua que se forma a textura significante, ela é dada pelas quebras
nas formas das palavras, ou melhor, na subversão das estruturas formais das sentenças. A
literatura, em seu potencial, fomenta sua própria libertação por uma estrutura interna, longe
do poder. Dada tal percepção, no quesito do sentido textual, abre-se a perspectiva de
significações múltiplas (polissemia). Pensar em um único sentido (monossemia) seria tirano.
O texto também se forma pelo que se deixou de escrever; nele há lacunas (assemia), as
omissões causam dúvidas, desse modo, que seria impossível de se chegar a uma interpretação
final.
Em O prazer do texto (1987) Barthes ressalta a condição do texto como fragmentado,
cuja estrutura não pretende ter início, meio e fim, pois todo discurso literário é incompleto,
ignorando a verdade última. O caráter opaco, infiel e incerto de um texto o torna literatura. O
espaço do texto literário conta com a alternância, em uma dinâmica permanente entre
ordem/caos, ou na relação entre regra/trapaça. Na metáfora erótica, o texto é como uma pele,
que busca ligação com suas ausências para gozar.
Kristeva (1974), em seu ensaio Por uma semiologia dos paragramas, ultrapassa
alguns limites a respeito dos conceitos elaborados por Barthes. Como procedimento
sistemático, a matemática (linguagem universal) é um formalismo apropriado para descrever
o funcionamento da lógica poética. Ademais, a teórica aproxima o contexto social à produção
do texto, ao pensar na atividade de prática literária como um meio de procura pelas
possibilidades da linguagem. Segundo ela, a tarefa daquele que estuda a semiótica é enxergar
na linguagem poética “o infinito em relação à infinidade”(KRISTEVA, 1974, p. 104). A
linguagem poética se apresenta como uma “infinidade em potencial”. O texto literário é
Escritura-Leitura, é um diálogo entre os dois meios, e pode ser entendido como um conjunto


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de outros textos, como uma teia em que “Ler era também recolher, colher, espirar, reconhecer
traços, tomar, roubar”(KRISTEVA, 1974, p. 104). Na linguagem poética ainda coabitam a
assemia e polissemia, essas como simultâneas e necessárias (0 e 1).

O jogo na superfície móvel: palavras e letras desmontadas 

No laboratório, encontro a lente do microscópio em ação. O olhar posto na lente,


captura o objeto e alcança uma infinidade de formas interpretações. Busco compreender como
o jogo se revela nas lâminas selecionadas. Quais seriam as estruturas cooperativas para
trapaça? O jogo se dá a partir do desejo. A escrita é erótica em sua maneira de construção,
assim cabe ao leitor gozar na fluidez das possibilidades de sentidos. Como mostra Barthes:

Escrever no prazer me assegura – a mim, escritor – o prazer do meu


leitor? De modo algum. Este leitor, é mister que eu o procure (que eu
o “drague”), sem saber onde ele está. Um espaço de fruição fica então
criado. Não é a “pessoa” do outro que me é necessária, é o espaço: a
possibilidade de uma dialética do desejo, de uma imprevisão do
desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja jogo.
(BARTHES, 1987, p. 5)

Em referência direta ao poema tipográfico “Un coup de dés jamais n'abolira le


hasard”(1897) de Mallarmé, propõe-se uma quebra de paradigmas, abrindo espaço na folha
de papel, para as incertezas do jogo, nesse caso, no jogo de dados. A ousadia do poeta
influenciará as próximas gerações, sobretudo, os movimentos surgidos a partir da década de
1950, relacionados à visualidade da obra poética.
No entanto, Barthes admite a importância de “que
haja jogo”, ter os dados lançados seria alcançar um sentido
último, ou seria agir como um Deus, vendo um destino já
traçado. É a partir do jogo, no momento exato em que os
Figure 1: Palíndromo (2000) Explorando
dados se encontram no ar, ou prestes a cair na folha em os sentidos da leitura da palavra. O
verdadeiro pode estar oculto. OLHLO2:
Poesia Visual Knorr.
branco, no seu revelar-se, na escolha entre as possibilidades,
dá-se o jogo.
Neste jogo, o texto poético é entendido como uma rede, ele sempre remete a outro
anterior. Ou melhor, um texto sendo resposta a outro, em um diálogo entre a “finitude” e o


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“infinito”. De acordo com Kristeva: “A linguagem poética surge como um diálogo de textos:
toda sequencia se constrói em relação a uma outra, provinda do corpus, de modo que toda
sequencia está duplamente orientada pelo ato da reminiscência (...)” (KRISTEVA, 1974, p.
105).
É percebido na lâmina intitulada Palíndromo (KNORR, 2000), o retorno ao ditado
popular “Quem tem boca vai a Roma”. O jogo é representado, desde o início, pelo título. Ele
se dará pela leitura inversa do escrito. O tom poético é gerado pela transformação do
significado da palavra “ROMA”. A brincadeira roma/amor mostra como uma palavra pode
mudar de sentido dependendo da posição em que é lida. Também revela como em uma
mesma palavra podem residir vários significado “roma”, “amor” e “mora”. A mudança de
perspectiva da palavra central torna ainda mais geral o ditado popular, pois a mesma boca que
comunica, é aquela que ama e habita. O uso de um ditado popular é referência direta a um
texto anterior que ganha nova forma no jogo poético.
O mesmo ato de reminiscência é percebido no poema Ovôo
(KNORR, 2003). O jogo de movimento das letras é significativo. A
cada deslocamento ocorre uma mudança pontual para se chegar ao
resultado final. Na primeira linha chamaremos de Oe a letra “o”
posicionada à esquerda, Vg a letra “v” grande e Od a letra “o”

Figura 2: Ovôo (2003) O


movimento das letras e sinais
posicionada à direita. Na terceira linha aparecerá um quarto
gráficos ilustrando o movimento
do poema. OLHLO2: Poesia símbolo Vp a letra “v” pequena. Vg parece participar de um jogo de
Visual Knorr.
forças entre Oe e Od . A princípio, Vg encontra-se equidistante em
relação a Oe e Od. O jogo dado pelo andamento das letras se desenvolverá ao longo das oito
frases. Na segunda linha, o movimento fica perceptível: Oe atrai Vg , em seguida, Vg toca Oe, e
um passa a conter parte do outro. Posteriormente, Vg multiplica-se em um ato erótico com Oe
formando um Vp. Devido ao surgimento de Vp, uma fenda percorre o meio da palavra. Ao
continuar seu desenrolar Vg e Vp pelo papel, com força dobrada empurram Oe para o espaço
em branco. Vg inicia uma nova palavra e impulsiona Vp em sentido a Oe. Vp ganha valor
distinto de acento gráfico na última linha.
Percebo, ao recuperar o sentido textual, que a escolha da
palavra “ovo” e sua alteração, devido ao deslocamento das letras,
nos apontam a uma crítica quanto às estruturas fechadas, duras e
difíceis de ser quebrada. Quando uma ruptura é implantada, ao
Figura 3: "O Ovo" (325 a.C) Símias
de Rodes e "Ovonovelo"(1956)
Augusto de Campos. 


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romper as regras, no exato apelo da trapaça de Barthes, faz-se literatura. De “ovo”, algo
pontual e fechado, se forma “vôo”, que é a representação da liberdade e das possibilidades de
deslocamento.
Em um processo circular, o diálogo entre textos se estabelece com lâmina acima. A
referência direta aos poemas de Símias de Rodes e Augusto de Campos, pois abordam a
mesma temática do “ovo” e jogam com a construção de sentidos das palavras. A construção
“feito feto dentro do centro” de Augusto alude à imagem representada por Oe , Vg e Vp na
terceira linha do poema Ovôo.

Poesia e pensamento lógico: matemática e física como componentes 

Kristeva (1974) traz à tona a relação da linguagem poética com a matemática. Esta é
entendida como uma linguagem universal, que permite formalizar em sistemas. A linguagem
poética, assim como a matemática, usa uma simbologia própria e cria unidades lógicas a partir
de palavras. O texto literário é compreendido como um sistema capaz de descrever seus
elementos:
“(...) o texto literário apresenta-se como um sistema de conexões
múltiplas que poderíamos descrever como uma estrutura de redes
pragmáticas. (...) Nesta rede, os elementos apresentar-se-iam como
vértices de um grafo (na teoria de Koening), o que nos auxiliaria a
formalizar o funcionamento simbólico da linguagem como marca
dinâmica, como um grama em movimento (logo, como paragrama),
que constrói mais que exprime, um sentido.” (KRISTEVA, 1974, p.
107)

Figura 4: Matemática (1989) Usar


símbolos matemáticos como letras.
OLHLO2 : Poesia Visual – Knorr. 


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Nesse ínterim, visualizo a lâmina Matemática (KNOOR,


1989), que comtempla a formação de sentenças a partir do
uso dos símbolos matemáticos e de letras do alfabeto grego.
A estratégia desse uso advém do jogo entre os dois códigos:
para a matemática, cada um dos símbolos e das letras
carregam um significado preciso, enquanto no poema
Figura 5: Eco (1989) Repetição de apreende-se somente sua forma, e ela estabelece o sentido.
palavras causadas pela reflexão dos sons,
como se partindo de um emissor distinto A frase “ser lógico sem precisar ser exato” manifesta
do original. Daí as mudanças nos
significados e a intercalação dos um desvio fecundante nas ciências da matemática e da
parênteses, que assumem a forma de
onda; Influência direta de Décio
Pignatari. OLHLO2 : Poesia Visual – linguagem poética: respeitar as estruturas lógicas internas e
Knorr. 
seus códigos, e concomitantemente, se afastar de um
resultado final preciso e pontual. Essa falta de exatidão seria para Barthes a trapaça dentro
sistema, dentro da própria língua.
No campo das ciências exatas, o poema Eco (KNORR, 1989), influência direta de
Décio Pignatari, revela muito mais do que uma leitura rápida pode suscitar. O eco é a versão
auditiva do fenômeno ondulatório chamado reflexão, sofrido por qualquer onda quando
encontra um obstáculo em sua propagação. Os parênteses dão a ideia do formato circular de
frentes de onda mecânica em uma superfície. A luz, uma onda eletromagnética que pode
propagar-se no vácuo, é representada a partir de seu espectro de difração, em que a cor branca
é separada: azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. O som, onda
mecânica de pressão em fluidos, é produzido pela voz e propaga-se
pelo ar. O obstáculo que bloqueia o som, neste caso, é representado
tanto pela borda da lâmina quanto pelos parênteses. A borda da lâmina
parece refletir a direção de leitura esquerda-direita para direita-
esquerda, na qual propagam-se as ondas de superfície, representadas

pelos parênteses. Os parênteses parecem, ainda, bloquear o som que Figura 3: Espelho D’Água
(1990) Um “quase-haicai”
cada palavra porta, individualmente. A própria circularidade do texto diagramado à sua própria
imagem. OLHLO2 :
lido de forma ecoada “voz-vai-não-vem-não-vai-não-vem-...”, sugere Poesia Visual – Knorr. 

uma onda, posto que, matematicamente, a projeção do movimento circular em um plano


perpendicular é uma função senoidal, que modela ondas, em geral. 
Em Espelho d´água (1990) encontramos a matéria verbal intimamente ligada ao
visual. O formato visual do desenho de uma lágrima pela frase na vertical “Lágrimas na água”
representa a queda da gota devido à gravidade. A gota de lágrima, por sua vez, é produzida


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pela surpresa e cria na superfície líquida ondas circulares. O mesmo movimento foi explorado
na lâmina anterior onde os círculos foram representados pelos parênteses.  

Considerações finais 

O jogo lúdico implementado nas lâminas estudadas nos garante intitular tal obra como
literatura, mesmo que ela habite na fronteira entre a arte verbal e a arte gráfica. O hibridismo
típico das produções poéticas contemporâneas abre novas perspectivas de produção e também
de suporte para poesia visual. Segundo Melo e Castro,

as novas tecnologias e as suas capacidades não devem ser tomadas


apenas como novos meios para realizar, de uma maneira diferente,
velhas experiências e descobertas. Elas abrem, sim, novas
possibilidades e perspectivas para o trabalho interativo do poeta, nas
descoberta de novas poéticas do verbal e do não verbal, ao encontro
das aberturas perceptíveis do contemporâneo e das suas vertiginosas
problemáticas vivenciais. (CASTRO, 2014, p. 70)

Na tentativa de aproximar as teorias semióticas ao corpus selecionado compreendemos


como as relações entre as formas visuais e as estruturas verbais são construídas. Notamos, em
alguns dos poemas, a relação intrínseca de respostas a outros poemas e estruturas pré-
existentes. O poema também ganha caráter de uma linguagem universal, assim como a
matemática, na poesia há espaço para sistematização de conceitos das áreas de ciências exatas
e afins. Por fim, Derrida nos ensina o processo em pensar a desconstrução das estruturas,
onde há lugar para o rastro como formador de sentido mesmo na ausência de uma estrutura
frasal.
Ademais, como perspectivas futuras de trabalho podemos pensar nas lâminas como
potenciais para transformar a matéria visual em vídeo-poesia ou em poesia 3D. Privilegiar as
novas tecnologias e buscar ressaltar o visual seria uma forma de empreender novos leitores e
usar a internet como um meio propagador em potencial.

 


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Referências 

BARTHES, Roland. Aula. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Editora Cultrix,
1977.

_________, Roland. O prazer do texto. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Editora


Perspectiva, 1987.

CASTRO, E. M. de Melo e. Poética do ciborque – antologia de textos tecnopoiesis. Rio de


Janeiro: Confraria do Vento, 2014.

DERRIDA, Jacques. Gramatologia. 5a reimp. da 2a ed. Tradução Miriam Chnaiderman e


Renato Jaime Ribeiro. São Paulo: Perspectiva, 2013.

KIRISTEVA, Julia. Por uma semiologia dos paragramas. Introdução à semanálise. São
Paulo: Perspectiva, 1974. p 97-130.

MENDONÇA, L. A. K (Knorr). OLHLO2 Poesia Visual. Juiz de Fora (MG): FUNALFA


Edições, 2007. 54 lâminas.

Agradecimento
Ao colaborador Prof. Dr. Daniel Mendonça Valente (UFMT) pela ajuda na definição dos
conceitos físicos e matemáticos usados na quarta sessão deste artigo.


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