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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO/Campus I

Departamento de Letras e Artes/Coordenação do Curso de Letras-Português

Componente Curricular: Literatura Portuguesa da Mod. e Contemporânea


Professor: Diógenes André Vieira Maciel

Aluna: Rideusa Caroline C. Do Nascimento

Avaliação I (Parte II)

Questão 2: Ao tratar da presença de elementos trágicos no romance Os Maias, de


Eça de Queiroz, Luciana Ferreira Leal destaca que o trágico modernizado não mais se
manifesta pela ação divina, mas “no Poder, na Ideologia, na Doença, na Paixão, no
Sexo. Enfim, na Sociedade Individualista, encontra-se nas obras modernas,
posteriores à tragédia grega, Em tais obras, o homem, senhor do próprio destino,
pode agir e tomar decisões, [...]” (LEAL, 2014). Diante disso, a autora afirma que, no
romance queirosiano, temos a formalização de um "conflito trágico cerrado", que
leva fatalmente à ruína. Considerando tais pressupostos, responda ao que se pede:

a) Comente a maneira como, na caracterização de Maria Monforte, temos a


ênfase sobre o adultério como aquilo o quê, tragicamente, ocasiona a
fatalidade sobre Pedro da Maia e sobre os irmãos, empurrando-os para o
incesto inconsciente;

Resposta:

Desde o principio da narrativa, é traçado para nós leitores um perfil, quanto a


personalidade de Pedro da Maia, de um personagem fraco e com uma dependência
afetiva quase patológica. Pedro, como é retratado nos dois capítulos iniciais do livro,
é criado pela mãe, debaixo das “saias dos padres” e com um apego e dependência
enorme a ela. Quando a doença leva sua mãe, Pedro entra em um profundo
sofrimento, já que como é descrito inicialmente, é um personagem melancólico e sem
muito autocontrole sobre seus sentimentos.

Maria Monforte, por outro lado, representa uma mulher poderosa, sedutora e
dona de si, que tem posses, mas não tem posição social, em virtude da origem da
fortuna de seu pai vir de tráfico de escravos para o Brasil. Contudo, mesmo não
sendo bem vista socialmente, Maria faz questão de se impor através do seu charme e
de suas vestes e joias chamativas e caras.

Não é segredo para nós que ao apaixonar-se por Maria Monforte, Pedro da
Maia viveria a experiencia mais avassaladora que o amor seria capaz de
proporcionar. Maria por si só já representa uma mulher incrível e capaz de conquistar
quase tudo o que deseja, Pedro, entretanto, representa o oposto, representa o amante
despojado de suas vontades para viver em função do amor da mulher amada.

O adultério cometido por Maria Monforte não seria o que torna Pedro um
homem “fraco”, afinal, desde o principio da obra ele já nos é apresentado dessa
forma. Contudo, é este principio das maiores desgraças que irão ocorrer com a
família Maia. Pedro não consegue encontrar razões de ser na vida, após ser
abandonado por Maria e ainda mais cercado de tanta humilhação e vergonha, já que
ela foge com outro homem, colocado dentro de sua casa pelo próprio Pedro. Ao
cometer o adultério Maria condena Pedro a um triste fim.

Entretanto, o reflexo maior de suas ações dar-se no futuro com seus filhos,
pois estes são totalmente vitimas das ações do passado de Maria, sobretudo para
Maria Eduarda, que antes mesmo de conhecer Carlos da Maia, já tem sofrido grandes
humilhações e problemas na vida, como a prostituição que sem escolhas é obrigada a
enfrentar. Maria Eduarda puxa traços da beleza da mãe, e sendo esta uma das maiores
características de Maria Monforte, fica claro para nós leitores que Maria Eduarda
possui um perfil de uma verdadeira dama, bonita e bem instruída, que não precisará
de muito esforço para despertar o interesse de Carlos.

A maior das complicações dar-se ao fato de Carlos e Maria Eduarda serem


irmãos, mas por crescerem distantes não sabiam dessa situação. Carlos acreditava não
ter mais irmã, que esta estaria morta, já que foi a noticia que a anos chegara ao
conhecimentos de Afonso da Maia (avô dos dois), já Maria Eduarda pouco (ou quase
nada) sabia de sua verdadeira origem, não sabia ela ser uma Maia , tampouco ter
parentescos com Carlos.

Então diferentemente do que houve com Pedro, que embora tenha tido como o
elemento impulsionador do suicídio o adultério, já tinha uma imagem construída de
um personagem vulnerável, Maria Eduarda e Carlos da Maia são totalmente vítimas
desta situação já que desconhecem um ao outro e não possuem controle mediante está
situação. Principalmente Maria Eduarda que após todo o transtorno causado pelo
incesto inocente praticado, ainda é obrigada a ir embora de Lisboa carregando
consigo as marcas de uma grande humilhação.

b) Analise a maneira como os presságios se relacionam ao universo das personagens


femininas em suas relações/tensões com as masculinas – para isso, eleja ao menos
dois exemplos e analise-os.

Resposta:

As grandes tragédias contidas na obra em geral, estão intimamente ligadas a


presença e ação das mulheres, desde a criação de Pedro por sua mãe até o surgimento
de Maria Eduarda. Contudo alguns importantes presságios deixados pelo narrador
evidenciam para nós as futuras complicações que surgirão a partir do envolvimento
com as mulheres da trama. O primeiro ponto que gostaria de destacar é quanto a
primeira vez em que Afonso da Maia vê Maria Monforte com Pedro e as impressões
que tal cena o causam “Afonso não respondeu: olhava cabisbaixo aquela sombrinha
escarlate que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia, parecia envolvê-lo todo
— como uma larga mancha de sangue alastrando a caleche sob o verde triste das
ramas.”, nesta descrição o narrador não relata somente o que sente Afonso ao vê-los,
mas também desperta no leitor a mesma sensação. Pedro sendo totalmente dominado e
controlado pelo “poder” de Maria, assim como os sinais de uma tragédia posterior que
viria, a enorme mancha de sangue que a sombrinha escarlate projeta nele reflete não
somente uma imagem da visão social do amor vivido com a “negreira” como também a
mancha do sangue do próprio Pedro que mais tarde o suicida.

Outros importantes elementos são indicados pelo narrador, como em um dialogo


entre Maria Eduarda e Carlos onde ela o assemelha com sua mãe “Sabes tu com quem te
pareces às vezes?... É extraordinário, mas é verdade. Pareces-te com minha mãe!” (grifo
nosso), esta afirmativa de Maria Eduarda nos causa inquietação para as causas que
poderiam assemelhar Carlos a sua mãe, se seriam mera coincidência ou existe por trás
da história não contada um elemento mais forte que os ligaria. Quando revelados os
laços sanguíneos dos dois, somos transportados a esta cena em que Maria Eduarda nos
causa tamanha inquietação e fica claro para nós os presságios transmitidos na narrativa.

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