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e suas máscaras.
A revolução silenciosa
Luiz CUSCHNIR
Elyseu MARDEGAN JR.
Rio de Janeiro
Campos
5ª edição, 2001.
Table Of Contents
Sumário
Introdução
Primeira Parte:
Sumário
Introdução
PRIMEIRA PARTE: A CONSTRUÇÃO DAS MÁSCARAS.
1. Do berço à escola
Vai nascer: É menino ou menina?
Mas por que usar máscaras?
Quero ficar com a mamãe, mas não conta para o papai Ai,
hoje apanhei pela primeira vez...
Tô morrendo de medo: deixa a luz acesa Sem chorar nem rir
Meninas são um saco...
O caos da sexualidade emergente
2. O desafio da adolescência O código dos meninos
Crescimento e mudança
"Meu filho é um vagabundo"
Sob o signo da revolta
Álcool e maconha: os anestésicos do jovem O homem do
"mau-boro"
3. Experimentando máscaras O universo sexual do jovem Ser
homem
Que medo!
Chegou a hora... E agora?
A farra
O desejo
Amor, como conciliar?
Integrando o que sinto e o que faço Vestibulares da vida
Máscaras de X-Men
A primeira bomba na guerra dos sexos Rompendo círculos
viciosos
SEGUNDA PARTE: VESTINDO AS MÁSCARAS.
4. O mundo do trabalho
Primeiro emprego: um palco para as máscaras Ganhando o
próprio dinheirinho Realizando-se (ou não) no trabalho
Trabalhar? Que saco!
Escondendo os sentimentos
5.A família
O homem precisa se casar Casar: experiência inevitável Em
busca da alma gêmea
Onde situar a família?
"Finalmente sou pai. É um menino."
Meu filho adolescente
Agora há outro homem em casa Relações verde-amarelas
Luiz CUSCHNIR
Elyseu MARDEGAN JR.
São Paulo, 30 de novembro de 2000.
Primeira Parte:
A Construção das Máscaras.
UM: Do berço a escola
Crescimento e mudança
Os pais temem dar amor em demasia a seus filhos,
achando que isso "estraga o menino". Consideram que o amor
"em excesso" pode transformá-los em pessoas frágeis e
dependentes. Essa percepção não tem nenhum fundamento
sólido. Em primeiro lugar, o amor não é um fenômeno
quantitativo, que se possa medir a ponto de determinar qual é
o nível ideal para ele ser transmitido, ou quando se ultrapassa
esse limite e se atingem níveis excessivos.
Em segundo lugar, o amor é a própria essência do ser
humano. Dar amor jamais pode ser prejudicial e não estraga
ninguém em hipótese alguma. Ao contrário, a falta de amor
alimenta sentimentos prejudiciais, como o ressentimento e o
ódio, estimulando a agressividade.
Quanto maior a proximidade - não só física, mas também
afetiva - do pai e da mãe na infância dos filhos, tanto menor
será a tendência de os meninos se afastarem dos próprios
sentimentos. E depois, mais tarde, de si mesmos. A presença
física e afetiva dos genitores diminui a possibilidade e a
necessidade de se criarem máscaras a todo momento.
Assim, nunca é demais retornar ao momento decisivo que
se localiza na fase pré-escolar e no início da escola, quando
ocorre a separação do menino em relação à mãe. Esse
momento altamente traumático para o filho - que até
recentemente não havia recebido a devida atenção dos
estudiosos - também pode ser analisado por outra ótica que
não a da própria criança: o ponto de vista materno. Em geral,
as mães parecem aceitar passivamente a separação de seus
filhos, por considerá-la necessária e útil. Elas querem que seus
filhos se transformem em "homens", ou seja, que eles venham
a ser "fortes", "atléticos", "machos", e acreditam que o
sofrimento da separação pode ajudar nisso.
Por outro lado, se observarmos a questão de modo mais
atento, perceberemos que também para as mães o momento
está repleto de conflitos. Ao lado do que entende como
"masculinidade", ao lado do desejo de que seu filho seja um
"homem" forte e estável, ela também deseja para o menino
aquilo que espera de seu companheiro, isto é, que seja um
homem sensível, carinhoso, compreensivo, que não tenha
vergonha de demonstrar seus sentimentos.
Por isso, a conduta da mãe, no momento da separação,
costuma ser marcada pela ambiguidade, pelas ações em
sentidos opostos, buscando ao mesmo tempo permitir o
afastamento do filho e também impedi-lo. Essa ambiguidade
confunde ainda mais a mente da criança, que se sente perdida
diante dela ("Minha própria mãe tem dúvidas sobre como devo
ser.") e não consegue encontrar aí um ponto de apoio para
romper com as mensagens machistas que o bombardeiam de
todos os lados. Desse modo, as informações que recebe no
convívio social e familiar durante toda a infância serão
transportadas pelo menino para a sua adolescência, na qual se
deflagra um processo de endurecimento, como reação à
supressão de suas carências de afeto, às humilhações que
sofreu no convívio social imposto, à auto inibição de seus
sentimentos.
Ademais, para o rapaz, a adolescência é marcada por
outra separação tão traumática quanto a anterior. Se, no
período infantil, a separação da mãe é o que mais pesa na
criança, durante a adolescência, é a separação em relação ao
pai que terá destaque. Se, na infância, o pai costumava abraçar
e beijar o filho, na adolescência, esta proximidade física já não
vai existir tanto. Ambos se sentirão incomodados: o pai com
medo de torná-lo menos másculo, o filho com vergonha do que
os outros podem pensar dele.
Na infância, a distância entre o pai e o filho também
decorre do papel social do homem, do trabalho e do próprio
aumento de suas responsabilidades econômicas que advém do
nascimento de um filho. Na adolescência, esta distância vai
aumentar de maneira exponencial, pois para isso vão concorrer
atitudes tanto do pai quanto do filho.
O homem do "mau-boro"
Ser homem
Que medo!
A farra
O desejo
E um mês depois:
"Agora não vou ficar mais insistindo com a Dóris. Ela fez
de tudo pra terminar o namoro. Fiquei mal. Acabou transando
com meu primo Bilt. Ontem fui na casa dela, os pais dela não
estavam, deitamos na cama deles. Acabamos transando.
Durante o namoro eu ficava esperando o momento melhor,
como era a minha primeira vez, eu queria que fosse legal. Eu
estava apaixonado, só via ela na minha frente. Agora não sou
mais virgem. Pensei que iria ser uma coisa emocionante. Foi
legal, me senti bem, mas não sei. Me sinto estranho. Não sei se
é raiva dela, se eu não curti direito ou se estou me contendo
para não ficar só pensando nela."
Se o adolescente aguardar um momento importante,
imaginando-se puro e devotado à menina que ama, ele pode
colocar-se numa relação onde o inverso não ocorra. A menina
pode não estar no mesmo momento. Situações perversas
típicas de momentos distintos de cada jovem costumam deixar
feridas indeléveis na personalidade masculina.
Não é incomum encontrar homens adultos a quem a
desconfiança e a amargura tornaram rudes, deixando o rancor
hibernando para acordar numa relação posterior (às vezes, no
casamento). Vejamos o depoimento de Michel, 41 anos,
empresário:
"Até hoje fico achando que a Bia tem outro. Em geral,
acho um absurdo, mas não assumo isso para ela. Ela precisa
ficar em guarda para não ficar "dando por aí, como sei que
muita mulher casada faz. Mas sabe o que eu acho: só
transamos depois que ficamos noivos. Casamos mais de um ano
depois. Mas foi no carro, às pressas. Quando fomos ver já tinha
sido. Até hoje não sei se acredito que fui o primeiro. Não
acredito nela."
Nada indica que o homem está fazendo eleições afetivas
maduras aos vinte e poucos anos de idade. A adolescência
perdura ainda nessa década, ameaçando tanto mais fortemente
quanto maiores forem os conflitos não resolvidos em etapas
anteriores da vida. Nem a entrada na faculdade ou a saída com
o diploma, ou até um saldo bancário mais gordo, isentam o
homem da necessidade de avaliar sua capacidade de se doar,
de receber e de se comprometer em toda a gama de suas
ações. Muitas vezes o que falam não é o que sentem, nem o
que prometem é o que pretendem fazer.
Vestibulares da vida
Máscaras de X-Men
Segunda Parte.
Máscaras.
QUATRO: O mundo do trabalho.
"Eu não quero ter filhos. Vejo os meus colegas que já têm
filhos adolescentes, estão enfrentando a maior barra. O clima
da casa está em tensão tão alta, que pensam até em se
separar. Alguns não conseguem nem trabalhar direito." O filho
pode vir a completar o orgulho, a satisfação, ou a ser o grande
fracasso, a grande frustração do pai.
Relações verde-amarelas
Terceira Parte
Caem as Máscaras.
SEIS: Os sonhos e a realidade
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você? você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
O sonho da independência
SETE: Recompondo as máscaras.
"Na Idade do Lobo"
{1}
É uma revolução por tratar-se de uma transformação acelerada, mas silenciosa
por decorrer de um processo sorrateiro de autoquestionamento.
{2}
Naturalmente, existem também aqueles que se permitem fantasiar, esperar, que
não querem saber, para vivenciar o que há de agradável e positivo nesta expectativa.
{3}
As mulheres, aliás, têm a percepção de que ser mulher é mais difícil do que ser
homem, pois sofrem mais devido à menstruação, ao parto, aos cuidados que têm de
ter com o corpo, ao envelhecimento etc.
{4}
É difícil ser pai, pois, muitas vezes, nossos pais não foram como gostaríamos que
tivessem sido e, como sempre queremos ser melhores que os nossos pais, sentimo-
nos perdidos, sem orientação e, principalmente, sem um modelo para seguir.
{5}
Infelizmente, nossa sociedade ainda não se deu conta das profundas marcas que
esta separação prematura deixará na personalidade deste indivíduo. Algumas
pesquisas revelam que o rompimento e a separação das mães ocasionam um grande
trauma na criança que resultará, num primeiro momento, num sentimento de raiva e
de rejeição e, depois, na idade adulta, num grande sentimento de saudade e de
tristeza. Não raro, nesta fase, o menino já apresenta os sintomas da chamada
"síndrome do silêncio programado", alterando de forma significativa o seu
comportamento, tornando-se muitas vezes calado, retraído, magoado, triste e
irritado com os pais. Estes, por sua vez, são orientados a "não se preocupar" pois se
trata apenas de um período de adaptação da criança à nova fase.
{6}
A maioria das escolas e dos professores não tem qualquer preparo e informação
para entender os danos causados pela separação traumática dos filhos em relação às
mães no início da vida escolar. As próprias mães são levadas a acreditar que é
preciso ser dura com os meninos.
{7}
É incrível que, após tantos anos de avanço na ciência e nos
estudos do comportamento humano, ainda nos deparemos com
circunstâncias como estas, cujas consequências sobre o
desenvolvimento da personalidade parecem inquestionáveis.
{8}
No momento em que tanto se discute a qualidade versus a quantidade de tempo
dedicada aos filhos, recomendamos que os pais fiquem com eles nestes momentos
antes de dormir: os medos e as angústias seriam apaziguados, aumentando
seguramente a confiança e a autoestima da criança.
{9}
Muitas vezes, as violências, os socos, as brigas, os pontapés e as chaves de braço
são atitudes não-verbais que os meninos encontram para demonstrar fisicamente
afeto, embora sejam interpretados somente pelo viés da violência.
{10}
A mídia mundial identifica intensa e exclusivamente no sexo masculino o uso
frequente de álcool e drogas. É o "homem do Marlboro" e a turma das cervejinhas
das sextas-feiras, associados sempre à masculinidade.
{11}
Rematrizar: dar uma nova matriz, remodelar.
{12}
A sociedade brasileira se modificou radicalmente. As atitudes dos jovens, até
dentro de casa, com relação à vida afetiva e social, transformaram-se de lá para cá.
Mesmo os contatos físicos que se concretizam numa relação sexual podem manter
intocáveis os corações juvenis.
{13}
Anos depois, Ronaldo se separou dessa esposa, que casou com seu melhor
amigo. Reconstituiu sua vida familiar com mais filhos. Algum tempo depois, morreu
de uma doença incurável, O desejo de acompanhar tão de perto o desenvolvimento
emocional dos filhos não foi suficiente para protegê-lo da morte.
{14}
Aí se estrutura algo que vai acompanhar o homem pelo resto de sua vida. Em
uma sessão de psicoterapia para homens adultos, em que se trabalhava como o pai
falava da mãe, Bóris, cinquenta anos, revela: "Meu pai me disse durante toda a vida
que eu deveria cuidar da minha mãe depois que ele morresse. Ele se foi quando eu
tinha dezenove anos. Sempre me senti responsável pelas mulheres, devido à ideia
que ele me incutiu, de não deixar mamãe sofrer, pois ela não estava preparada para
se cuidar."
{15}
Nas empresas, hoje, já não se fala mais em matar um leão por dia.
{16}
Os autores desta obra têm se dedicado a esses temas com afinco nestes últimos
anos. Percebe-se que os ambientes de trabalho carecem de desenvolvimento das
relações interpessoais, e somente inserções motivadoras de uma melhor expressão
entre todos levam a um clima organizacional mais equilibrado e transformador. Os
interessados em conhecer mais esses processos podem contatar por e-mail o
iden@uol.com.br (Iden - Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher).
{17}
O famoso "cala a boca".
{18}
Santo Agostinho diz: "O homem que vive só ou é um louco ou é Deus."
{19}
Não nos referimos aqui ao Zorro de capa e espada, mas àquele do índio Tonto,
cujo nome original em inglês é "Lone Ranger" (patrulheiro solitário).
{20}
Não por outro motivo é comum os homens se dedicarem assiduamente ao
trabalho nos primeiros anos de vida da criança enquanto a mulher cuida do ninho.
{21}
Muito conhecida, a depressão pós-parto aparece como um fator imponderável
neste momento da vida do casal. Note-se que está descrita na literatura médico-
psicológica a depressão pós-parto masculina.
{22}
Vai passando o tempo, o menino vai apresentando as dificuldades de
relacionamento e de obedecer aos limites, a dissimulação e as coisas escondidas a
que o pai não tem acesso. Há um ar de segredo e o pai começa a se indagar sobre as
possibilidades afetivas e sexuais do filho, que não se explicitam claramente.
{23}
Às vezes, é aceito com grande complacência. Em outras, com tal relutância que é
imposto ao pai "goela abaixo".
{24}
Há regulamentos éticos de comportamento com relação às mulheres que
mobilizariam um grande anedotário se fossem desvelados aqui. Por exemplo, em
uma corporação de peso, recomenda-se aos homens que, se entrarem no elevador
com uma mulher, caso não haja outra pessoa, é melhor eles se retirarem para evitar
eventuais processos de assédio sexual por parte dela.
{25}
Nem mesmo seu filho, moldado à imagem e à semelhança do pai, utiliza este
como modelo.
{26}
A falta de tempo e organização às vezes obriga o homem a levar o celular ou o
telefone sem fio para o banheiro, que seria o seu intervalo para ligações telefônicas.
"Droga! Não posso dar a descarga agora!"
{27}
Religar tem a mesma raiz da palavra religião. Nesse momento, o homem busca o
sagrado, seja através de seus vínculos familiares, seja da espiritualidade.
{28}
Deveria ser natural em qualquer empresa um programa de aconselhamento não
somente no caso de demissões, mas também na preparação para a aposentadoria.
{29}
Uma conhecida piada refere-se ao homem que diz ter se casado justamente
porque não quer mais saber de sexo.