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Sérgio Ferro

Silke Kapp (UFMG)


João Marcos Lopes (IAU-USP)

QUARTA | 28 / 04 | 15h |
Exibição no: youtube.com/iauusp

Desde sua publicação na década de 1970, O canteiro e o desenho provocou apressadas


conclusões sobre a impertinência das críticas de Sérgio Ferro ao desenho da arquitetura: por
que o desenho, concebido a partir de referências da ‘alta arquitetura’ e autorizado como
representação do projeto a executar, seria mero prestador de serviços no processo de produção
capitalista do valor? Por que ele seria apenas um coadjuvante da expropriação violenta da força
de trabalho nos canteiros?
Os incômodos se estenderam por mais de quarenta anos, e chegamos agora a um amplo
reconhecimento de que a teoria crítica elaborada por Sérgio Ferro não se põe contra o desenho
de forma genérica. Sua crítica se debruça sobre o desenho funcionalizado, submetido, separado
do contexto da produção e de seus produtores. Trata-se de colocar em julgamento aquele
desenho que tem “um passado traumático e traumatizante, reativado constantemente pela
prática da subordinação formal na manufatura”, aquele desenho que “nasce com a destruição
da autonomia do canteiro do qual sai como escória dessa perda”, substituindo “com seu
enfezamento autista a autonomia produtiva autêntica que ajuda a castrar”.
No lugar desse desenho separado, Sérgio aponta a reinvenção de um “desenho imerso no
retorno da autonomia produtiva”, reconhecendo que “a dignidade sóbria do desenho integrado
como momento da produção é o oposto contraditório da indignidade do desenho escravizador
a serviço do capital”.
Todas essas citações foram extraídas de Construção do desenho clássico, o novo livro de Sérgio
Ferro, que está sendo produzido e editado pelo selo MOM Edições, uma iniciativa do Grupo de
Pesquisa MOM, vinculada à Editora da Escola de Arquitetura da UFMG.
O IAU EMCASA, um evento promovido pela Comissão de Cultura e Extensão do Instituto de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, CCEx-IAU, traz, no próximo dia 28 de
abril, uma conversa entre Sérgio Ferro e Silke Kapp – professora da EA-UFMG e responsável
pela edição de Construção do desenho clássico –, mediada pelo professor João Marcos Lopes, do
IAUUSP.
A iniciativa dialoga com a difusão da obra de Sérgio Ferro em língua inglesa, mobilizada pelo
projeto Traduzindo Ferro / Transformando Conhecimentos em Arquitetura, Projeto e Trabalho
para o Novo Campo de Estudos de Produção, que é coordenado pelo professores João Marcos
Lopes e Katie Lloyd Thomas (Newcastle University), apoiado por um acordo de cooperação
entre a FAPESP e a agência britânica Arts & Humanities Research Council (AHRC).
Since its publication in the 1970s, O canteiro e o desenho has prompted hasty conclusions on the
impertinence of Sérgio Ferro's criticism of architectural design: why would design, conceived
upon references from 'high architecture’ and authorised as representation of a plan to be
carried out, be a mere service provider in the process of capitalist production of value? Why
should it be just an accomplice in the violent expropriation of labour power on building sites?
Such uneasiness has persisted for over forty years, and we have now reached a broad
recognition that the critical theory developed by Sérgio Ferro is not directed against design as
such. His critique focuses on design as functionalized, submitted, separated from the context of
production and its producers. It is a matter of putting on trial the design which has “a traumatic
and traumatizing past, constantly reactivated by the practice of formal subsumption in
manufacture", a design “born with the destruction of the autonomy of the building site from
which it emerges as the dregs of this loss", replacing “with its autistic madness the authentic
productive autonomy that it helps to castrate”.
In lieu of this separated design, Sérgio points to the reinvention of a “design immersed in the
return of productive autonomy”, recognizing that "the sober dignity of integrated design as a
moment of production is the contradictory opposite of the indignity of enslaving design at the
service of capital".
All these quotes are taken from Construção do desenho clássico (Construction of Classical
Design), Sérgio Ferro's new book, which is being produced and edited by MOM Edições, an
initiative of Research Group MOM, linked to the School of Architecture Press.
IAU EMCASA, an event promoted by the Commission on Culture and Extension of the Institute
of Architecture and Urbanism of the University of São Paulo, brings on April 28, a conversation
between Sérgio Ferro and Silke Kapp – professor at EA-UFMG and responsible for the edition of
Construção do desenho clássico –, mediated by Professor João Marcos Lopes, of IAUUSP.
The initiative is linked to the dissemination of Sérgio Ferro's work in English, mobilized by the
project Translating Ferro / Transforming Knowledge in Architecture, Design and Labour for the
New Field of Production Studies, led by Professors João Marcos Lopes and Katie Lloyd Thomas
(Newcastle University), and supported by a cooperation agreement between FAPESP and the
British Arts & Humanities Research Council (AHRC).

SÉRGIO FERRO PEREIRA é pintor, desenhista, arquiteto e professor. Formou-se arquiteto pela Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, em 1962. Três anos depois, faz pós-graduação em
museologia e evolução urbana, na mesma faculdade. Em 1965, participa da organização da mostra Opinião 65, no
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, onde também expõe. Cursou semiologia na Universidade
Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, em 1966. Na década de 1960, integra com Flávio Império (1935 - 1985) e Rodrigo
Lèfevre (1938 - 1984) o Grupo Arquitetura Nova. É professor da Escola de Formação Superior de Desenho, entre 1962
e 1968; do curso de história da arte e de estética da FAU/USP, de 1962 a 1970; e do curso de arquitetura da
Universidade de Brasília - UnB, entre 1969 e 1970. Por causa da ditadura militar no Brasil, mudou-se para a França, em
1972. De 1972 a 2003, lecionou na École Nationale Supérieure d'Architecture de Grenoble [Escola Nacional Superior de
Arquitetura de Grenoble], na Suíça, e, na mesma universidade, funda o laboratório Dessin/Chantier
[desenho/canteiro] e o dirige de 1982 a 1997. Realiza pinturas figurativas, inspirando-se principalmente em figuras
presentes nos desenhos e pinturas de Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564). Recebeu o prêmio de melhor pintor da
Associação Paulista de Críticos de Arte - APCA, em 1987. Publicou, entre outros, os livros O Canteiro e o Desenho, 1979,
Michelangelo: Notas por Sérgio Ferro, 1981, e Michel-Angel, Architecte et Sculpteur, 1998. Realiza murais para várias
instituições na França e no Brasil, como o Memorial da América Latina, em 1990, e o Memorial de Curitiba, em 1996 e
em 2002.

SILKE KAPP é arquiteta, com mestrado e doutorado em Filosofia (UFMG, 1994 e 1999) e pós-doutorado na área de
sociologia urbana (Bauhaus Universität Weimar/ Capes, 2015). Atualmente é professora associada da Escola de
Arquitetura da UFMG e líder do Grupo de Pesquisa MOM (Morar de Outras Maneiras). Tem experiência nas áreas de
Arquitetura, Urbanismo e Planejamento, atuando principalmente nos seguintes temas: estudos de produção, teoria
crítica da arquitetura e da cidade, espaço cotidiano, interfaces para a autonomia, metodologia da pesquisa
sócio-espacial.

Grupo de pesquisa MOM: www.mom.arq.ufmg.br


Selo editorial: http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/selo/index.html

JOÃO MARCOS DE ALMEIDA LOPES é Professor Titular no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da


Universidade de São Paulo, IAU-USP, em São Carlos/SP. Integra o Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade
- HABIS, do qual é um dos coordenadores. Foi Pró-reitor Adjunto de Cultura da Pró-reitoria de Cultura e Extensão da
Universidade de São Paulo entre março de 2014 e março de 2016. Doutor em Filosofia e Metodologia das Ciências pelo
Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos (2006) e Mestre em Arquitetura e
Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos -
Universidade de São Paulo (1999), graduou-se Arquiteto e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo em 1982. Desde o início de 2018 é bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq
categoria/nível 2. É associado da USINA Centro de Trabalhos para o Ambiente Habitado - da qual foi coordenador
geral no período de 1990 até 2005.

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