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FRANCIVAN RODRIGUES DOS SANTOS

Resumo do capítulo “O objeto da fonética e da fonologia: Fonologia”, incluído no livro


“Iniciação à fonética e à fonologia” de DINAH CALLOU & YONNE LEITE, 2009,
páginas 35-45.

A) O FONEMA:

A distinção entre fonética e fonologia se explica da seguinte maneira, A fonética é o


estudo sistemático dos sons da fala onde o objeto de estudo são os fones, enquanto a
fonologia sons da língua onde o objeto de estudo são os fonemas. O termo fonema tem
sido encarado sob formas várias. Inicialmente igualado ao som da linguagem, depois,
sob um prisma essencialmente psíquico, como intenção de significado. E por último sob
um prisma físico, funcional e abstrato.

Os trabalhos de Baudouin de Courtenay contribuíram com a noção de fonema ao


lado da noção de som da fala, a partir de uma conceituação psicológica, ou seja,
segundo ele o fonema era o equivalente psíquico do som da fala. Porém o conceito de
fonema só foi formulado a partir de 1930 pelo CÍRCULO LINGUÍSTICO DE PRAGA.
A noção tal como a usada hoje implícita em Saussure em sua dicotomia langue-parole.
Onde o fonema é uma unidade da língua, e os sons ou fones são unidades da fala. O
primeiro passo foi dado por Saussure ao fazer a distinção entre o estudo sincrônico e
diacrônico das línguas. Ele já tinha uma ideia bem concreta que os fonemas se
comportam como entidades opositivas, relativas e negativas.

Para Trubetzkoy fonema é a menor unidade fonológica da língua. Bloomfield


(1933) como unidade mínima e indivisível. Roman Jakobson veio a ter um papael
decisivo ao afirmar que o fonema era divisível em unidades menores, os traços fônicos,
“feixe de traços distintivos”. E juntamente com os seguidores do circulo linguístico de
praga com essa conceituação estruturalista do fonema atingia-se o plano abstrato, e a
superação do plano natural. Ainda nesse sentido, Jakobson defende o fonema como
subunidade carente de significado.

A Escola Glossemática é criada pelo linguista dinamarquês hjelmsle, onde a palavra


fonema é substituída pela de cenema, mais neutra no que se refere à substância, para ele
caracterizava melhor o aspecto não substancial da unidade. Para a fonologia o que
interessa é a oposição dos sons dentro do contexto de uma dada língua, ou seja, à
fonologia interessam apenas os traços distintivos. Um bom exemplo disso: o som [P] e
[B]. Além da função opositiva que diferencia palavras assinala Trubetzkoy outra função
é a delimitativa ou demarcativa. A debilidade máxima da sílaba átona final e a mínima
da sílaba átona inicial. Exemplo: de leite: deleite; só sobraram: soçobraram. Outra é
pela variabilidade de sua posição que o acento tônico tem valor fonêmico. Exemplo:
sabiá: sábia: sabia.

Os traços prosódicos ou suprassegmentais como a duração, o tom, e a intensidade


têm também funções expressivas, e portanto, devem ser levados em conta numa
descrição fonológica. E a pausa outro elemento prosódico que deve ser considerado,
representada pelos sinais de pontuação.

B) OS TRAÇOS DISTINTIVOS:

Em fonologia traços distintivos referem-se a unidades mínimas, contrastivas, e que


irão distinguir entre si os elementos lexicais. O que torna essa distinção possível é esse
traço distintivo que pode ser definido por seus componentes articulatórios e/ou
acústicos. Martinet define o traço distintivo ou pertinente como aquele que sozinho
permite distinguir um signo, uma palavra, ou um enunciado de outro signo.

São os traços articulatórios ou acústicos pertinentes àqueles que servem para


caracterizar um fonema em face de outro que tem traços comuns. Onde o significado da
palavra será sempre o mesmo, independente da forma como é pronunciado. Uma
diferença mínima entre duas unidades da língua constitui um traço distintivo.

Tomando por base o sistema fonológico da língua portuguesa, a consoante [b]


funciona como sonora, não surda, em relação ao [p], e como não nasal em relação ao
[m], como não continua em relação ao [v]. A articulação labial é comum aos três
segmentos fônicos, a sonoridade e a articulação labial a [b] e [m] e a não nasalidade a
[b] e [p]. Já a oralidade, a labialidade e a sonoridade são comuns a [b] e [v].

O elemento marcado tem valor positivo ao passo que o outro será negativo, ou seja,
uma coisa ou outra por vez. [b] é [+sonora] e [p] é [-sonora], o que equivale a dizer que
o primeiro é sonoro e o segundo surdo, sem vibração das cordas vocais. O esquema
classificatório tradicional, em que há três alturas para as vogais: alta, média e baixa, ou
vários pontos de articulação para a consoante (bilabial, labiodental, linguodental) é uma
classificação não binária. Antepondo um sinal positivo (+) ou (-) para mostrar se o
atributo se faz presente ou não.

Os traços têm sua base na fonética. Podem ser: articulatórios (± nasal, ± sonoro
etc.), perceptual (± silábico, ± acento), e acústico (± compacto). Estabelecer um
conjunto de traços suficientes e necessários para dar conta dos contrastes e processos é
uma das tarefas da fonologia.

Nos estudos fonológicos nas ultimas décadas formam surgindo novas teorias entre
elas, a fonologia estrutural e a fonologia gerativa. O trabalho atual da fonologia não
consiste nos arranjos estruturais de fonemas, mas nos intricados sistemas de regras pelos
quais esses arranjos são formados, modificados e elaborados.

C) FONEMAS E VARIANTES:

O fonema apresenta-se como uma entidade abstrata que se manifesta através de


segmentos fônicos. Ao representar esses segmentos fônicos através de uma escrita
fonêmica, o fonema individualiza-se, e ganha contraste com outros feixes idênticos. Essa
substituição de uma parte fônica por outra é denominada de comutação (pala: bala:
mala: sala: fala: vala).

A língua portuguesa possui 26 fonemas segmentais, e ainda, um fonema


suprassegmental, o acento. Formas como (pique:piqui, beijo:beiju, dívida:divida)
opõem se entre si apenas pela posição do acento tônico. O fonema pode variar na sua
realização. Os variantes ou alofones põem ser classificados em posicionais, regionais,
estilísticas, livres ou facultativas. Por exemplo, os fonemas /t/ e /d/, em que podem se
apresentar com uma realização palatal diante de /i/ ou alveolar ou dental diante das
outras vogais.

LABOV (1969) veio demonstrar que a variação livre é sempre determinada por
fatores extra e intralinguístico, levando em consideração características individuais do
falante, ou seja, ele pressupõe a variação inerente ao sistema da língua. Dentro do
estruturalismo europeu, também temos o conceito de neutralização, que ocorre quando
há uma supressão de oposições entre dois ou mais fonemas em determinado contexto.

No sistema fonológico português em posição pretônica, há uma neutralização entre


[e] e [Ɛ] e [o] e [Ɔ], nesse caso a diferença é regional. Portanto não serão mais fonemas
intercambiáveis, mas um ARQUIFONEMA que representa ambos. Vale lembrar que a
realização é indiferente do ponto de vista do sistema funcional, mas poucas vezes será
indiferente do ponto de vista da norma.

D) PROCESSOS FONOLÓGICOS:

A língua é dinâmica e sujeita a modificações determinadas por fatores fonéticos,


morfológicos e sintáticos. Fatores prosódicos como acento, a entonação, ou a
velocidade da elocução. Modificações sofridas pelos segmentos no eixo sintagmático
podem alterar ou acrescentar traços, eliminar ou inserir segmentos.

Pode se agrupar esses processos fonológicos em processos que acrescentam traços


ou mudam a especificação dos traços (assimilação). Ex: F[U]RMIGA. Processos que
inserem segmentos (ditongação, a epêntese). Ex: AD[I]VOGADO. Processos que
apagam segmentos (síncope, aférese, apócope). Ex: XI[KR]A.

E) RELAÇÃO GRAFEM-SOM-FONEMA:

Os sinais gráficos são representativos dos sons os chamados grafemas ou letras. Sem
correspondência exata entre os pares, pois temos dois grafemas representados por um
fonema. Um sistema integrado grafema-fonema parece ser inviável já que no Brasil
existe uma diversidade gigantesca de ordem regional, sociocultural e até individuais.
Quando falamos não realizamos fonemas (entidade abstrata), realizamos fones
(elemento concreto). Quando escrevemos devemos representar esses sons através de
grafemas ou letras. A variação dialetal decorre da pronúncia relacionada às diferenças
regionais e sociais.

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