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Transcrição Urologia – Infecções urinárias inespecíficas II Leonardo P.

Cordeiro
2023.1

PIELONEFRITE AGUDA:

➢ Introdução:

É a infecção aguda sintomática, geralmente bacteriana, dos rins e da pelve renal. Pode ser não
complicada ou complicada: a primeira ocorre em pacientes com o trato urinário estruturalmente e
neurologicamente normal. Já as ditas complicadas são quando acometem indivíduos com anormalidades
funcionais ou estruturais do TU. O microrganismo mais comum é a Escherichia coli e a via mais comum de
contaminação é a partir da uretra, pela via ascendente. Outros germes incluem: Klebsiella, Proteus,
Pseudomonas, Serratia, Enterobacter e Citrobacter. Enterococcus e S. Aureus são mais raros.

➢ Fatores de risco: Sexo feminino; Atividade sexual; História de ITU prévia; Diafragma com
espermicidas; Menopausa; Não secretor do grupo sanguíneo; Anormalidades renais funcionais ou anatômicas;
Diabetes; Imunossupressão; Gravidez;

➢ Quadro clínico:

- Dor progressiva nos flancos de início abrupto e irradiação para fossa ilíaca.
- Fadiga e queda do estado geral;
- Febre (38-40°) com calafrios e taquicardia; origem em órgão parenquimatoso.
- Prostração;
- Náuseas e vômitos; ocorrem devido a inervação comum do TGI e TGU.
- Evidências de contração de volume;
- Sinal de Giordano: patognomônico;
- Sintomas do trato urinário inferior como disúria, polaciúria e urgência miccional (geralmente
surgem antes do quadro exuberante, já que se trata de uma infecção por via ascendente).

➢ Diagnóstico:

- EAS, cultura e antibiograma. Os principais achados que sugerem infecção são piócitos,
bactérias e nitrito positivo. Com esses achados há 90% de chance de ter ITU
- Exames de imagem: o principal objetivo é afastar processos obstrutivos. USG: é o primeiro
exame a ser solicitado. Veremos um aumento do tamanho do rim e alteração na ecogenicidade do parênquima
renal. TC: raios, alteração da densidade do parênquima renal, borramento da gordura perirrenal e alteração da
perfusão. Cintilografia com DMSA: pode ser feito no acompanhamento para avaliação das escórias renais.

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Algumas infecções podem gerar dilatação do sistema coletor sem a presença de obstrução.
Geralmente são infecções causadas por bactérias anaeróbicas produtoras de gás.

➢ Tratamento:

Deve ser iniciado de forme empírica. Nos pacientes hígidos, é


indicado tratamento ambulatorial com antibióticos orais de 10 a 14 dias. De
forma geral, uma condua comum é iniciar tratamento IV e acompanhar por
72h. Se o pct estiver bem podemos dar alta e seguir atb oral por mais 7-10
dias (bactrim ou quinolona).

Não existe uma regra no tratamento oral x venoso. O plano deve ser
individualizado, levando em consideração a gravidade da doença, a presença
de náuseas e vômitos, estado geral do paciente, suporte clínico em casa e
possibilidade de seguimento médico.

As indicações para internação são: doentes graves; imunodeprimidos; gestantes; suspeita de


abscesso, obstrução ou cálculo; crianças e homens; vômitos persistentes apesar de antieméticos; ausência de
terapia oral adequada; condições inadequadas para tratamento domiciliar; má aderência medicamentosa.

➢ Complicações

As principais são sepse e abscesso renal. Em crianças a fibrose e diminuição da função renal s~ão
critérios importante. Se não houve melhora clínica após início de antibioticoterapia adequada, em 72h, sempre
pesquisar abscesso renal. O exame de escolha para pesquisa é a TC (sinal em “anel”). Os pacientes com DM,
litíase, bexiga neurogênica e gravidez possuem maior chance de evolução para abscesso renal.

ABSCESSO RENAL:

O abscesso renal pode ocorrer por via retrógrada ascendente por gram negativos (é a mais comum;
bexiga > rim > pielonefrite > formação de abscesso) ou por via hematogênia. É menos frequente a ocorrência
pela via hematogênica e os germes relacionados a essa via são estafilococos (nesse caso o abcesso é chamado
de carbúnculo renal) e estreptococos com origem cutânea.

O quadro clínico pe semlhante a própria pielonefrite, com febre, calafrios, dor no flanco, náuseas e
vômitos e sintomas baixos. Por isso, o que irá nos nortear é a imagem. A evolução do abscesso renal é para
abscesso perirrenal (ou perinéfrico) e paranéfrico, pois eclode e tende a invadir a região em volta do rim.

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Nos casos de abcesso perinéfricos podemos ter sintomas pleurais como derrame e dor pleurítica, além
de massa na região do flanco e eritema cutâneo.

O tratamento é clínico e é feito com a associação de antimicrobianos, geralmente Penicilinas +


aminoglicosídeos, por um período maior. Na maioria das vezes os pacientes evoluem de forma satisfatória
com tratamento clínico. Se os pacientes não melhoram com o tratamento clínico ou evoluem para abscesso
perirrenal, está indicada a realização de drenagem percutânea ou drenagem por punção cirúrgica. A drenagem
por punção cirúrgica só é realizada em casos de pus muito espesso, que não conseguem ser drenados por
punção percutânea.

Esses quadros complicados podem ainda evoluir para uma pionefrose ou hidronefrose infectada.
Situação de possível destruição parcial ou total do parênquima renal com perda de função e risco de vida. O
quadro clínico é composto de febre alta, calafrios, dor no flanco, histórico de cirurgias, litiase e einfecções. O
trtamento é feito com drenagem e atbterapia e por vezes nefrectomia total. São pcts de mau prognóstico.

CISTITE AGUDA:

➢ Cistite aguda não complicada:

É a principal apresentação de infecção do trato urinário na mulher. A idade mais prevalente é a idade
adulta, nos pacientes com vida sexual ativa. E a principal via de infecção é a via ascendente. A bactéria mais
comum é a E. coli. Nesses casos não complicados teremos um trato urinário normal.

O quadro clínico característico é a apresentação de sintomas irritativos como disúria e polaciúria. A


urge- incontinência também ocorre (tríade clássica da cistite). Os pacientes geralmente apresentam dor
suprapúbica, mas raramente apresentam dor lombar. Não há febre. A urina pode ficar turva e pode haver
hematúria como sinal.

O diagnóstico é clínico e se for uma primoinfecção não há necessidade de exames. Se for um quadro
de reinfecção (+1 num semestre ou +2 num ano) devemos estudar melhor com EAS, cultura e antibiograma.
Geralmente a hematúria da pielonefrite é microscópica, e a hematúria da cistite é microscópica ou
macroscópica.

O tratamento pode ser feito com levofloxacina (500 ou 750mg) dose única ou durante 3 dias;
sulfametoxazol-trimetoprim durante 5 dias; nitrofurantoína durante 5-7 dias.

Na investigação das infecções recorrentes temos que na bacteriúria não resolvida vamos fazer um
tratamento adequado baseado no antibiograma já que a terapia empírica não foi resolutiva. Na persistência
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bacteriana temos que estudar e retirar, muitas vezes cirurgicamente, a fonte da infecção. Na reinfecção
devemos fazer a prevenção clínica ou até tratamento cirúrgico. A profilaxia pode ser feita por atb
(nitrofurantoína ou bactrim em doses menores ou até mesmo após as relações sexuais), estriol intravaginal (se
há hipoestrogenismo), suco de cranberry, supositórios intra-vaginais de lactobacilos (se há alterações da flora),
vacinas e. coli e etc. Recomendar sempre ingestão hídrica, não prender a urina e urinar após as relações sexuais

BACTERIÚRIA NA GESTAÇÃO:

• Introdução:

Representa manifestações clínicas variadas, desde uma bacteriúria assintomática até uma infecção
renal grave podendo evoluir para sepse. As formas de disseminação bacteriana são: ascendente, hematogênica,
linfatogênica e extensão direta.

Existem mecanismos (fisiológicos e anatômicos) facilitadores de ITU na gestação: hidroureter;


compressão extrínseca pelo útero e vasos ovarianos dilatados; efeito da progesterona (miorelaxante
predispondo a estase e proliferação bacteriana); urina com menor poder antibactericida (passa a excretar mais
potássio, glicose e produtos de degradação hormonal, tornando-se mais alcalina, causando ambiente favorável
à proliferação bacteriana) & maior fluxo renal.

• Complicações associadas a ITU:

A principal complicação materna é a evolução da bacteriúria assintomática em cistite e pielonefrite,


ocorrem em 30% e 50% dos casos respectivamente. Na pielonefrite a lesão tecidual causada pelas endotoxinas
bacterianas é a mais frequente complicação.

Outras complicações: pré-eclâmpsia, anemia hemolítica (destruição eritrocitária pelas endotoxinas),


corioamnionite, endometrite, obstrução urinária, abscesso e celulite perinefrética.

A pielonefrite pode levar a complicações fetais: trabalho de parto pré-termo, recém-nascidos de baixo
peso, rotura prematura das membranas ovulares, restrição de crescimento intrauterino, paralisia cerebral,
retardo mental na infância, além do óbito perinatal. Por isso a bacteriúria assintomática deve sempre ser tratada

➢ Diagnóstico:

É definida como duas culturas com 100.000 ou mais unidades formadoras de colônia por ml.
Recomenda-se a urocultura no pré-natal ao menos duas vezes em momentos distintos. Geralmente se faz
urinocultura na 1º consulta e na 16º semana.

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➢ Tratamento:

A droga de escolha são as cefalosporinas (ou


penicilinas). Devem ser evitados nitrofurantoína,
quinolonas, macrolídeos, tetraciclinas e cloranfenicol
devido aos riscos fetais. As culturas são importantes para
o êxito do tratamento. Se a gestante apresenta reinfecção
ou persistência é necessário fazer supressão, ou seja,
quimioprofilaxia. Por exemplo, gestantes com litíase
devem fazer uma derivação urinária com cateter duplo J.

CISTITE NA GESTAÇÃO:

É comum no 2º e 3º trimestre da gestação e está frequentemente relaciona ao coito. Também pode


levar a trabalho de parto prematuro. O quadro clínico, diagnóstico e tratamento é o mesmo de uma mulher não
gestante, ressaltando apenas a restrição de fármacos potencialmente maléficos para o feto.

Deve-se orientar sobre higiene e ingesta hídrica. Tratar fatores predisponentes (anemia e infecções
genitais). Após o tratamento, realizar urocultura de controle 7 dias após o término da antibioticoterapia.

• PIELONEFRITE NA GESTAÇÃO:

É comum na segunda metade da gravidez e mais à direita (por dextrorotação do útero), sendo a forma
mais grave de ITU em gestantes. Ocorre como evolução da bacteriúria assintomática não tratada, podendo
evoluir para sepse, choque séptico e insuficiência respiratória. Está associada ao trabalho de parto prematuro,
crescimento uterino restrito, infecção perinatal e óbito fetal e neonatal.

➢ Quadro clínico:

- Febre acima de 38ºC;

- Dor lombar e calafrios;

- Náuseas e mal estar;

- Sinal de Giordano positivo;

➢ Tratamento:

- Ceftriaxona 1g, IV, 12/12 horas;


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- Cefotaxima 1g, IV, 8/8 horas;

- Cefuroxima 750 mg, IV, 8/8 horas;

- Gentamicina 160 mg, IV, em dose única diária;

A gestante deve ser internada, com hidratação, administração de antieméticos, analgésicos,


antitérmicos e antiespasmódicos. Além disso, deve-se fazer a monitorização dos sinais vitais. A administração
oral da medicação só é feita após 24-48 horas de remissão dos sintomas.

• ITU RECORRENTE: (tema não abordado na aula desse semestre)

É definida como a ocorrência de dois ou mais episódios em 6 meses ou três ou mais em um ano. O
tratamento deve ser feito com antibioticoterapia profilática.

➢ Controle de cura:

- Melhora clínica;

- Se em 48 horas não houver resposta terapêutica, deve-se trocar o antibiótico, baseado na urocultura
e no antibiograma;

➢ Controle do tratamento:

- Urocultura 7 dias após o término do tratamento;

- Mensalmente nos 3 primeiros meses;

- Bimensais após esse período até o fim da gestação;

➢ Quimioprofilaxia:

- Nitrofurantoína 100 mg/dia, VO, até 36 semanas.

- Cefalexina 500 mg/dia, VO, até o final da gestação.

* Reduz em até 95% da recorrência de infecção e deve ser acompanhado com uroculturas mensais.

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2. ITU NAS CRIANÇAS: (tema não abordado na aula desse semestre)

• Introdução:

A pielonefrite é a infecção bacteriana que mais comumente causa febre de origem obscura em
crianças abaixo de dois anos. Igualmente importante na abordagem diagnóstica de neonatos com suspeita de
ITU é realizar a ultrassonografia morfológica do trato urinário durante a gestação, à procura de anormalidades.

Além do exame físico segmentar completo, é importante a avaliação da genitália, pesquisando-se


vulvovaginites e balanopostites, que possam falsear a cultura de urina, ou de outra forma, condições que
predisponham a infecção de repetição.

➢ Cascata de eventos:

ITU → multiplicação de patógenos nas vias urinárias (desde o meato uretral até o parênquima renal)
→ inflamação local.

➢ Local que acometem:

- ITU alta: parênquima renal (pielonefrite);

- ITU baixa: bexiga (cistite) e uretra (uretrite);

A ITU na infância merece atenção especial, sendo que o objetivo final deve ser a erradicação. Pois,
levam a complicações agudas e crônicas, dentre elas: disseminação sistêmica (sepse), lesão do parênquima
renal, HAS e insuficiência renal.

➢ Fatores de defesa do hospedeiro:

- Clearance bacteriano / lavagem bacteriana no ato miccional: necessita de uma perfeita integridade
anatomofuncional.

- Condições urinárias que inibem o crescimento bacteriano: baixo pH, alta concentração de ureia e
amônia, lisozima, IgG e IgA.

- Resistência à adesão bacteriana à mucosa vesical: pela descamação quando agredida.

- Fagocitose por leucócitos polimorfonucleares e macrófagos na submucosa.

➢ Fatores de risco:

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- Sexo feminino: fatores anatômicos como o comprimento curto da uretra e a sua proximidade com
a região perineal tornam as meninas particularmente vulneráveis à infecção urinária.

- Não circuncisados: nos meninos, a pele prepucial facilita a colonização da glande peniana,
favorecendo a ascensão de bactérias pela uretra e instalação de ITU.

- Refluxo vesicuretral: o refluxo de urina da bexiga em direção aos ureteres e rins impede o
clareamento microbiano adequado, facilitando a permanência e ascensão destes germes através do urotélio.

- A falta de controle esfinquiteriano uretral pode proporcionar um esvaziamento vesical incompleto,


com retenção de urina residual, estase e proliferação bacteriana.

• Epidemiologia:

- Meninos: até 1 ano de vida (é a única fase da vida que é mais frequente no sexo masculino). Ocorre
mais comumente naqueles não circuncidados. Relação (meninos/meninas): 2,8-5,4 para 1.

- Meninas: a época de maior incidência é ao redor de 5 anos pois ainda há treinamento do controle
esfincteriano. Após o primeiro ano de vida, a prevalência entre os sexos é 1:10 (meninos/meninas).

A etiologia nas crianças é geralmente malformação do trato urinário (hidronefrose) e alterações


funcionais (refluxo vesico-ureteral).

• Quadro clínico:

Suspeita-se de ITU na presença de sinais/sintomas clínicos ou alterações no EAS.

- Pielonefrite aguda: febre, dor lombar ou abdominal, sinal de Giordano positivo, mal-estar, náuseas,
vômitos e ocasionalmente diarreia.

- Cistite: polaciúria, disúria, estrangúria, incontinência urinária, dor suprapúbica, alterações na cor,
volume e odor da urina.

➢ Manifestações clínicas inespecíficas em RN e lactentes:

- Sepse ou toxemia;

- Alterações da temperatura;

- Ganho ponderal insuficiente, sucção débil, vômitos e diarréia;

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- Distensão abdominal;

- Irritabilidade;

- Hipoatividade, palidez, cianose e icterícia prolongada.

O que chama atenção é dor a palpação abdominal, urina com odor fétido e choro às micções, já que
as manifestações clínicas são inespecíficas nessa classe.

➢ Manifestações clínicas específicas:

Nos pré-escolares, escolares e adolescente, os sinais se tornam mais típicos de infecção do trato
urinário.

- Polaciúria, disúria e urgência miccional: sintomas irritativos;

- Estrangúria e enurese;

- Febre, calafrios e dor lombar ou em baixo ventre dependo do local da infecção;

- Náuseas e vômitos;

• Diagnóstico:

Nas crianças, há dificuldade diagnóstica, pois os sintomas são inespecíficos e os métodos confiáveis
são invasivos (como punção suprapúbica e cateterismo vesical).

Os meios de coleta são: - Cateterismo vesical; - Saco coletor; - Punção supra-púbica. A partir da
coleta, faz-se EAS, urinocultura e TSA.

• Exames para definir possíveis alterações anatômicas:

➢ Tipos:

- USG renal; - Uretrocistografia miccional: exame invasivo contrastado da bexiga e uretra, que
pesquisa refluxo vesicoureteral (é a patologia mais comum nas crianças do sexo feminino entre 1 e 5 anos de
idade).- Urografia excretora; - Cintilografia: a cintilografia com tecnécio marcado é pouco disponível e
dispensável na maioria dos casos. Mas, afirma com segurança o comprometimento do parênquima. - Estudos
urodinâmicos;

➢ Indicação:
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Toda criança de qualquer idade após o 1º episódio de ITU.

- Se < 2 anos: USG de vias urinárias e uretrocistografia miccional.

- Se > 2 anos: USG de vias urinárias.

Se algum dos exames estiver alterado, é indicada a realização da cintilografia.

• Tratamento:

➢ Considerações: Estado geral comprometido: coleta urinocultura e inicia tratamento imediato.


Sintomas leves ou diagnóstico duvidoso: o tratamento pode ser adiado até resultado da cultura de urina.
Ingestão hídrica adequada.
➢ Tratamento específico:

- ITU não complicada, baixa e afebril (cistite ou uretrite): tratamento ambulatorial VO. O tratamento
pode ser alterado caso não tenha melhora clínica após 48 horas.

Sulfametoxazol e trimetropim 40 mg + 8 mg/kg/dia 12/12h

Nitrofurantoína 5-7 mg/kg/dia 6/6h

Cefalexina 50 mg/kg/dia 6/6h

- ITU complicada, alta, febril (pielonefrite ou pielite):

Recém nascido com sepse urinária + comprometimento do estado geral → tratamento IV hospitalar.

Ceftriaxone 50-75 mg/kg/dia IV

Cefotaxima 100 mg/kg/dia IV

Ampicilina 100 mg/kg/dia + Gentamicina 3-5 mg/kg/dia

Criança > 1 mês com ITU febril + bom estado geral → tratamento VO ambulatorial.

Cefixima VO

Ceftriaxone IM seguida de terapia VO com cefalosporina de 3º geração

Amoxacilina-clavulanato VO
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- Bacteriúria assintomática:

Criança sadia sem qualquer indicio de lesão renal ou anormalidade anatômica e funcional → não
deve ser tratada.

• Quimioprofilaxia:

É utilizada para ITU recorrente em casos selecionados: refluxo ureteral grave; uropatia obstrutiva;
cálculo renal; bexiga neurogênica.

Sulfametoxazol-trimetropim: 30% da dose terapêutica (1x a noite)

Nitrofurantoína: 30% da dose terapêutica (1x a noite)

Cefalexina ou Amoxacilina: 25% da dose terapêutica (1x a noite)

• Prognóstico:

A cura espontânea é rara, sendo que o prognóstico depende do tempo do diagnóstico e se houve a
correção dos fatores predisponentes. Geralmente, nas formas não complicadas o prognóstico é bom. A
pielonefrite crônica pode levar a sequelas permanentes, como HAS e insuficiência renal crônica.

PROSTATITE:

➢ Introdução:

A prostatite é um processo infeccioso/inflamatório da próstata. Pode ser classificada em: prostatite


bacteriana aguda, prostatite bacteriana crônica, síndrome da dor pélvica crônica (tipo inflamatório ou tipo não
inflamatório) e prostatite inflamatória assintomática. É mais comum em homens com menos de 50 anos

• Prostatite bacteriana aguda:

Está associada com ITU, principalmente as formas recorrentes. É incomum em jovens. Tem início
súbito de sintomatologia sistêmica e urinária. Acontece infiltração inflamatória com edema e hiperemia.

➢ Etiologia:

Única ou polimicrobiana. A maioria dos casos ocorre por E.coli. Outras bactérias gram negativas
(Proteus, Klebsiella, Enterobacter, Pseudomonas e Serratia spp.) também podem levar à infecção. Os
enterococos são pouco frequentes, anaeróbios e gram positivos são raros. A via de contaminação mais comum
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é a via uretral. Se há um refluxo intra-prostático, ocorrerá uma proliferação bacteriana nos ácinos prostáticos.

➢ Quadro clínico:

Febre (a próstata é um órgão parenquimatoso, por isso causa febre), calafrios, mal estar geral,
artralgia e mialgia, dor perineal > retal > lombar e sintomas irritativos (polaciúria, urgência e disúria). É um
pct que procura o pronto socorro com retenção urinária. A dor é majoritariamente perineal mesmo que se
irradie para região lombar eventualmente. Se esse pct ejacular/transar, terá dor no ato.

Ao toque retal: próstata aumentada de volume, edemaciada, dolorosa, temperatura local aumentada.
É preciso ressaltar que o toque retal nos pcts com esse quadro deve ser feito (quando feito) de forma muito
cuidadosa já que a próstata é parenquimatosa e está infectada. Se o órgão estiver amolecido e o examinador
fizer uma mobilização vigorosa da região pode ocorrer bacteremia e consequente sepse urinária. O toque não
é necessário para o diagnóstico, o diagnóstico é clínico.

➢ Diagnóstico:

- Teste de Mears & Stamey (não pode ser feito na prostatite aguda, só na prostatite crônica)

Esse exame determina a origem da dor que o paciente está apresentando ao urinar (se é da uretra, da
próstata ou da bexiga). São colhidos 4 frascos de urina: o jato inicial (U1), o jato médio (U2), a secreção
prostática (SP) e o jato após massagem prostática ou masturbação (U3). É um exame feito nos casos de disúria
indeterminada. Se há alteração no primeiro jato é provável que a injúria seja na uretra. Se há no jato médio,
bexiga. Se há na secreção prostática e/ou jato após massagem prostática, próstata.

Essa alteração consiste na contagem de nº de colônia. Se em U1 > 10 piócitos por campo. U2 com o
dobre de piócitos de U1. SP com cultura positiva. U3 com mais piócitos que U1. (trecho adaptado da transcrição antiga).

- Exames laboratoriais: no exame de urina encontram-se leucócitos e hematúria; o exame de


sangue mostra leucocitose; o PSA está aumentado (>15ng/ml num pct com menos de 50 anos).
- Exames de imagem: não são indicados de rotina. USG e USG transrretal.

➢ Tratamento

Deve ser iniciado empiricamente, e aguardar o resultado do antibiograma, com fluoroquinolona ou


bactrim, que possuem boa penetração prostática. É bem extenso, variando de 4-6 semanas. Uma complicação
da prostatite é a evolução para abscesso prostático ou para uma prostatite crônica.

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Como se trata de um quadro sistêmico é importante o uso de antipiréticos, analgésicos, hidratação,


repouso e uso de laxativos (quando necessário).

Ao chegar um paciente no pronto socorro com prostatite bacteriana aguda e retenção urinária aguda,
deve-se evitar a manipulação da próstata com passagem de cateterismo via uretral. Então nesses casos, deve-
se fazer a cistostomia suprapúbica. Em casos selecionados ou quando a cistostomia não for possível, pode-se
fazer o cateterismo uretral, mas sempre evitar a manipulação da próstata. Nesse caso usar um cateter mais
fino, calibre 16, para evitar atrito e dano prostático. “Se no toque retal há dor não deve-se passar cateter uretral”

Se o pct se encontra com sepse, imunodeprimido ou com retenção urinária devemos fazer internação
hospitalar. Para a atbterapia pareteral dispomos de quinolonas, ampicilina e aminoglicosídeos.

O abcesso prostático quando ocorre é também por e. coli. Ao toque pode-se perceber uma flutuação.
O diagnóstico é feito por USG, mas lembrar que não se pode fazer por via transretal devido a disseminação
bacteriana. A TC também pode ser feita. O tratamento consiste em drenagem e atbterapia.

➢ Prostatite bacteriana crônica: (tema abordado apenas quanto ao quadro clínico)

- É de início insidioso, com duração superior a 3 meses. Os sintomas oscilam de intensidade e


na história clínica, o paciente relata ITU recidivante.
- Etiologia: os agentes são comuns à prostatite aguda.
- Quadro clínico: sintomas irritativos, nictúria, dor lombar inferior/peniana/retal, sem febre, ITU
recorrente, epididimite e uretrite. Ao exame físico, o toque retal demonstra próstata normal ou endurecida.

A crônica tem um quadro mais arrastado: dor/desconforto perineal (que o paciente não sabe
caracterizar muito bem), sem febre, próstata normal ao toque e sem alterações na USG. O paciente apresenta
disúria (mais comum) e polaciúria, como desconforto urinário importante, e também uma dor perineal que o
incomoda e faz com que procure atendimento médico. Além de dor ao ejacular.

- Diagnóstico: urocultura após massagem prostática; no hemograma geralmente não há


leucocitose; o PSA pode estar aumentado.
- Tratamento: o padrão é a fluorquinolona. Os casos recorrentes podem ser tratados com
sulfametoxazol- trimetoprim. Se houver falha no tratamento, pode-se prolongar o antibiótico em baixas doses.

O tratamento da prostatite bacteriana crônica é mais prolongado (no mínimo 30 dias) do que o
tratamento da prostatite bacteriana aguda. Algumas vezes há necessidade de ressecção da próstata para abrir
os ácinos e tratar a infecção crônica da próstata, que causa bastante desconforto.

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➢ Prostatite granulomatosa: (tema não abordado na aula desse semestre)

- É rara. Existem 3 tipos: específica (fúngica ou viral) e inespecífica. A inespecífica pode ainda
ser subdivida em eosinofílica (reação alérgica exacerbada ao antígeno) e não eosinofílica (reação anormal ao
líquido prostático extravasado).
- Sintomas: são agudos, com febre, calafrios e sintomas irritativos. Ao exame físico, a próstata
encontra-se endurecida, firme e fixa.
- Diagnóstico: biópsia prostática. É um diagnóstico de exclusão.
- Tratamento: antibiótico; corticoide (eosinofilica). Se não houver resposta ao tratamento, está
indicada a ressecação.

ORQUITES E EPIDIDIMITES:

➢ Introdução:

Síndrome (conjunto de sinais e sintomas) escroto agudo: uma das patologias que devem ser
lembradas é a orquiepididimite (processo inflamatório infeccioso do epidídimo e testículo). Além disso,
devem ser lembrados: trauma testicular, tumores testiculares, torção do cordão espermático, torção dos
apêndices (epididimário e testicular), hidrocele e varicocele.

As orquites e epididimites podem ocorrer isoladamente ou em conjunto, sendo denominadas


orquiepididimites. A epididimite é uma síndrome clínica que se caracteriza por dor, inchaço e inflamação do
epidídimo. Geralmente, resultam de uma infecção ascendente a partir do trato urinário inferior, levando à
infecção e inflamação do epidídimo. Posteriormente, essa infecção do epidídimo, pode se disseminar e
envolver o testículo (orquite). É classificada em aguda (sintomas presentes por menos de 6 semanas) e crônica
(sintomas presentes por 3 meses ou mais).

• Epididimite:

A epididimite aguda é mais comum que a orquiepididimite. O mais comum, então, é que a infecção
ocorra no epidídimo e a partir daí pode disseminar para o testículo (epididimite > orquite). Uma exceção é a
caxumba, que acomete inicialmente o testículo, podendo evoluir para acometimento do epidídimo.

Pode acometer homens de todas as idades, e


dependendo da faixa etária, o agente etiológico varia. < 40
anos: DSTs por Chlamydia tracomatis. > 40 anos: processos
obstrutivos, tendo E.coli como etiologia principal.

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Transcrição Urologia – Infecções urinárias inespecíficas II Leonardo P. Cordeiro
2023.1

➢ Quadro clínico:

- Dor na região da bolsa testicular + aumento de volume do epidídimo + espessamento do cordão inguinal.

➢ Diagnóstico:

- USG: mostrará a hidrocele, espessamento do epidídimo e testículo normal. Deve ser feito sempre.

- Cintilografia de bolsa escrotal: mais utilizada em diagnósticos diferenciais.

➢ Tratamento:
- Atbterapia (de acordo com a idade/patógeno, de 10 a 14 dias) + anti-inflamatório + repouso.
Pode ser utilizado gelo também.
➢ Complicações:
- Formação de abcessos e infertilidade.

• Informações gerais sobre as orquiepididimites: (informações não abordadas na aula exceto as grifadas)

➢ Diagnóstico:
- Dor escrotal intensa, que pode irradiar para a região inguinal e para o flanco: principal
manifestação.
- Aumento da bolsa testicular ou hidrocele;
- Uretrite, cistite ou prostatite, que podem se apresentar antes ou concomitante à dor escrotal;
- Ao exame físico: bolsa escrotal aumentada e vermelha, dificuldade em distinguir epidídimo e
testículo no período de infecção aguda;

➢ Diagnóstico:

- Hemograma e bioquímica dos parâmetros de inflamação: leucocitose com desvio para esquerda
nos casos bacterianos; linfocitose com leucopenia nos casos virais.
- Testes diagnósticos para N. gonorrhoeae (coleta do material uretral para coloração por gram e
cultura) e C. trachomatis (sorologia IgM e IgG).
- Coloração por Gram e cultura de urina;
- Sorologia para sífilis: principalmente FTAbs.
- Teste para HIV;
- Confirmação diagnóstica: USG com doppler da bolsa escrotal (epidídimo aumentado com
aumento do fluxo sanguíneo e hidrocele reativa); cintilografia com radionuclídeo (pouco utilizada por menor
disponibilidade nos serviços de emergência). Essa hidrocele (presença de líquido acumulado entre as túnicas
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Transcrição Urologia – Infecções urinárias inespecíficas II Leonardo P. Cordeiro
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vaginal e parieral) que acontece nesses processos inflamatórios infecciosos é reacional e tende a regredir com
o tratamento.

➢ Diagnóstico diferencial:

A orquiepididimite não é uma urgência urológica. A urgência urológica é a torção do cordão


espermático (se não fizer uma intervenção imediata, o paciente irá sofrer graves consequências).

O diagnóstico diferencial deve ser feito principalmente com torção testicular aguda e trauma. A
presença de fluxo sanguíneo à ultrassonografia com doppler ou a captação de marcadores no centro do
testículo exclui torção. Na torção é possivel tentar a detorção manual (movimento de abrir o livro) bitesticular.

O sinal de Prehn é positivo quando há melhora da dor com a elevação do testículo. Porém esse sinal
positivo não exclui com certeza a torção. Muitas vezes, os pacientes com orquiepididimite não deixam ser
examinados, pois é um processo muito doloroso.

A USG é um exame que ajuda muito nas patologias da bolsa testicular. A USG com doppler tem um
valor muito importante quando há hipervascularização ou ausência total de fluxo. Porém, quando há
hipovascularização, gera uma dúvida entre
orquiepididimite e torção. Na dúvida, trata
como torção (tratamento cirúrgico). Se tratar
como orquiepididimite e for uma torção, o
paciente perde o testículo.

O exame ideal para diferenciar essas 2 patologias é a cintilografia (no processo inflamatório, há uma
captação muito grande de radionuclídeos), mas nem sempre é disponível.

➢ Tratamento:

- Bacteriano: o tratamento com antibiótico oral


deve ser direcionado contra os microrganismos específicos.
- Geralmente, o tratamento é feito por 14 dias.
- Viral: o tratamento é sintomático, pois o quadro é autolimitado.
- Medidas gerais: repouso ao leito; calor local; elevação da bolsa testicular (sinal de Prehn); uso
de anti-inflamatórios não esteroidais (redução da duração dos sintomas), analgésicos e antitérmicos.

Em pacientes com orquiepididimite por microrganismos sexualmente transmissíveis, devem-se tratar


os parceiros sexuais para a prevenção de reinfecção.
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