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Em meio aos abalos econômicos com reflexos na constituição

política da União Europeia, Stéphane Hessel, a partir de relatos


de sua trajetória pessoal, convoca as pessoas para que
despertem da inércia individualista e resistam, retomando
aspirações coletivas. O livro, de rápida leitura e demorada
reflexão, traduzido no Brasil como Indignai-vos!, é uma
convocação contra a indiferença.

Sua análise da conjuntura fala das perdas da garantia de


direitos sociais provocadas pelas reformas estatais em curso no
século XXI. O exame da situação, porém, não parece ser o foco
dessa obra. O autor usa esses assuntos para demonstrar o que
lhe toca, cabendo ao leitor reconhecer em sua realidade os
motivos para se indignar.

Diz ele: “Olhem ao seu redor e encontrarão fatos concretos que


justifiquem sua indignação”. Trata-se de um manifesto pelo
direito de indignar-se, faculdade daqueles que não aguentam o
estado de indiferença. O convite é à autor responsabilização por
meio da indignação que nasce da vontade de compromisso com
a história.

A partir de sua trajetória na resistência francesa durante a


segunda guerra mundial, Hessel demonstra como as manobras
realizadas no sistema financeiro internacional têm impactado
diretamente conquistas sociais históricas. O autor aponta que
as reformas estatais em curso no século XXI estão provocando
perdas incomensuráveis na garantia de direitos alcançada no
decorrer do século anterior.

Para ele, os avanços da 2ª metade do século XX estão sendo


seguidos de retrocessos visíveis na década que inaugurou os
anos 2000. A crise econômica que arrebatou inúmeros países
recentemente não trouxe uma nova regulamentação para a
circulação de capitais especulativos, nem sequer desbancou a
supremacia de banqueiros. Hessel diz que ao menos poderia ter
provocado o início de outra fase de desenvolvimento, mas isso
não ocorreu.

Sua análise de conjuntura também fala do progresso nos


acordos internacionais, por exemplo, que pactuaram os
Objetivos do Milênio, mas não tarda em sinalizar a decorro de
convenções internacionais no que tange a efetivação de seus
compromissos. O caso típico são os fracassos seguidos no que
tange às questões ambientais, que tem no encontro de
Copenhagen seu ápice da ineficiência, mas que não levou a
mudanças na política.

Hessel embasa suas convicções no contraste entre duas visões


de história: uma que percebe o sentido de liberdade no curso
dos acontecimentos, fruto da aproximação com Hegel; e outra
que traz a eminência catastrófica como forma de observação do
fluxo histórico, advinda de Walter Benjamin. Lendo esse
manifesto e observando as manifestações que acontecem pelo
mundo, como Primavera Árabe, Acampamento na Praça do Sol,
Atos na Grécia, parece estar nascendo o espírito de uma época
que se cansa da indiferença e se indigna.

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