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Fortaleza das Imagens

Marcos José Diniz Silva *

Estão convocadas as lideranças evangélicas, umbandistas, candombleístas,


espíritas, judaicas, muçulmanas, budistas e outras, atuantes em Fortaleza, a
encaminharem suas petições de reformas de templos, compra de materiais de culto,
obras sagradas e imagens a serem erguidas, aos excelentíssimos senhores e senhoras
vereadores (as) e à Prefeitura da capital cearense, para Projeto de Lei e execução
imediata com recursos do contribuinte fortalezense.
Esta conclamação alicerça-se na jurisprudência das últimas leis aprovadas pela
referida edilidade e executada pela atual gestão da Prefeitura de Fortaleza. Pois, se
considerarmos que a atual Constituição da República Federativa do Brasil (1988) ainda
está em vigor, tem se estabelecido uma grave contradição. Segundo o Artigo 19, da lei
maior: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I –
estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”.
Desse modo, listem-se os casos que ferem frontalmente a Constituição brasileira: a
construção da imagem de Nossa Senhora da Assunção, na Barra do Ceará; a imagem de
Nossa Senhora de Fátima, na Praça Pio IX, no bairro homônimo, inaugurada em maio; a
construção, da imagem de Santa Edwiges, na Av. Leste Oeste, inaugurada a 17 de
outubro deste e, encontra-se em vésperas de ser inaugurada em mais uma praça pública,
no bairro Montese, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, de 1,70 m sob pedestal de
10m de altura. Adiante-se, ainda, que já há um projeto de lei tramitando na Câmara
Municipal, do vereador Willame Correia, de construção, pela Prefeitura, da imagem de
São Francisco de Assis, em mais um bairro da cidade.
É hora, então, de resolver o impasse: Que significa a colaboração de interesse
público, do Art. 19 da Constituição? O Estado brasileiro é laico ou não é? Existe ou não
religião oficial no Brasil? Que fazer para reverter esse quadro, em nome da democracia
e da igualdade religiosa? O espaço público, que deve ser livre, democrático e laico,
pode ser ocupado por imagens religiosas e de modo privilegiado?

(*) Professor da UECE, doutorando em Sociologia e membro do NERPO (Núcleo


de Estudos Religião, Cultura e Política – UFC)

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