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O Catalogo J.E.S.

S de Nebulosas e Objetos Estelares:

a verdadeira história.

Introdução
O catalogo JES.S. surgiu para mim como uma espécie de herança. Posteriormente se
tornou um trabalho delicioso. O projeto de recuperar esta parte da história da Astronomia em
seu período clássico foi realmente gratificante. Cheio de surpresas e ensinamentos.

Neste trabalho pude recuperar a obra de dois gigantes desconhecidos da astronomia. O


que o tornava às vezes árduo.

Os papéis que me chegaram em mãos e os que depois continuaram sendo localizados


conforme minhas pesquisas se aprofundaram estavam sempre em péssimas condições e muitas
veze eram apenas garranchos quase ilegíveis escritos a mais 250 anos .

A cronologia de minha pesquisa é algo próximo ao realismo fantástico de Macondo.


Uma pesquisa sobre um lugar e dois homens que não existem mais. E não fosse a curiosidade de
outros homens jamais seriam lembrados.

Os textos iniciais foram encontrados entre milhares de livros que meu avô estocava em
nossa casa de praia. Os textos iniciais foram obtidos provavelmente pelo próprio. Meu avô
nunca fora um homem organizado.

Ele foi um dos primeiros forasteiros a comprar terras na antiga Armação do Buzios. Isso
nos idos dos anos 40. Na verdade na comarca de Cabo Frio. Buzios só se tornaria município
muitas décadas depois.

Sempre gostou de antigüidades e manteve um pequeno antiquário na Rua do Lavradio,


no centro do Rio de Janeiro, até o fim da vida.

Eu procurava algo interessante para tese de meu mestrado em História.

Meu amor sempre fora a história da astronomia. Quando se fala de astronomia se pensa
sempre nos grandes nomes. Galileu, Newton e até mesmo Einstein. Mas meus favoritos sempre
foram os autores dos catálogos clássicos. Lacaille, Messier e Herschel formavam minha
trindade.

Assim meu projeto era desenvolver a tese fazendo um paralelo entre a história dos
catálogos de nebulosas dos séculos xvii e xix e o desenvolvimento da cosmologia. Bem
interessante, não acham?

Com este tremendo abacaxi pela frente resolvo ir até nossa fazenda e me isolar lá
enquanto me preparo para escrever a bendita da tese.

Certa noite fui caçar algo para ler no escritório de meu falecido avô. Uma caixa de
papelão que lembrava estar lá desde sua morte jazia sobre a mesa. Molhada, úmida, podre
mesmo. Fui fuçar e não foi minha surpresa quando vi entre os muitos papéis ali dentro uma
folha. Muito velha. Peguei com cuidado. Escrito em uma letra rebuscada e evidentemente com
uma pena consigo vislumbrar escrito: “Nebulosas sobre o céu do Arraial dos Peixes de Buzios”.
Estava datada de 1767. Não apresentava o nome de seu autor. Lendo mais um pouco percebi
que chegara até minhas mãos o primeiro catalogo de nebulosas realizado no Brasil e um dos
primeiros do Hemisfério Sul.

Outros papéis, estes em péssimo estado, via-se claramente a data de 13 de maio de


1764. Era evidentemente uma copia de um catalogo estelar. Apesar do péssimo estado dos
papéis pude notar que descreviam alguns objetos do Catalogo Maessier.

Isto me deixou incrédulo . O primeira versão do catalogo Messier só fora lançada em


1771. Eu tinha em minhas mãos o “Catalogo Perdido de Messier em minhas mãos.

Charles Messier era uma das pedras fundamentais de minha tese .

O Catalogo Messier é uma bíblia da astronomia amadora e foi a maior referencia sobre
objetos de céu profundo durante o final do renascimento. Na verdade até 1782 quando
Herschell iniciou sua busca era o maior coleção de objetos de céu profundo já catalogada.

Neste momento gostaria de abrir aspas para esclarecer os leitores.

“O que são objetos de céu profundo ?

Isto é bastante vago e neste artigo vou apresentar de forma mais clara as diversas
categorias de objetos que em seu conjunto são chamados de Objetos de Céu Profundo
(DSO, do inglês, Deep Sky Objects). Utilizarei deste anglicismo daqui para frente .
D.S.O.

De uma forma geral pode-se dizer que D.S.O. É qualquer objeto que não seja
uma estrela e que esteja além do nosso sistema solar. A maioria dos D.S.O. É tênue,
difuso e necessita de um telescópio para ser avistado. Aparecem maravilhosos em
fotografias de longa exposição mas em geral aparecem apenas como “esfumaçamentos”
de luz para os olhos humanos, até mesmo através de grandes telescópios. D.S.O.
Dividem-se em diversas categorias:

Aglomerados Estelares Abertos

Aglomerados Estelares Globulares

Nebulosas Difusas

Nebulosas Escuras

Nebulosas Planetárias

Resíduos de supernovas

Galáxias

Grupos de Galáxias
Quasares

Lentes Gravitacionais

Aglomerados estelares Abertos- São agrupamentos frouxos de estrelas. Alguns


aglomerados abertos são grandes e espalhados. As Hyades (em Touro), as Pleyades
(idem) e o Presépio (em Câncer) são desta forma e visíveis a olho nu. Outros são
pequenos e tênues. Suas estrelas não se resolvem e o aglomerado parece uma névoa no
céu. Quando podemos ver as estrelas que formam o aglomerado dizemos que ele foi
resolvido. De uma forma geral quanto maior o telescópio (Diâmetro), mais aglomerados
ele vai resolver. Alguns aglomerados terão apenas poucas estrelas. Outros apresentarão
centenas, parecendo um derrame de sal sobre o céu. Tente perceber a diferença de cores
nas estrelas que os compõem.

Assim como diversos D.S.O. Alguns aglomerados abertos aparecem melhor em


telescópios pequenos do que em grandes. M11 (Em Scutum) vale a pena em qualquer
tamanho. O Presépio (em Câncer) é melhor em telescópios pequenos. Já Ngc 2158
melhor em grandes.

Porque estrelas acontecem em aglomerados? Estrelas se formam de gigantes


coleções de gás no espaço quando algum tipo de onda de choque passa por estas nuvens
de gás as comprimindo e as fazendo colapsar sobre si mesmas formando estrelas. Ao
contrario da gente todas as estrelas se formam quase que simultaneamente desta
maneira. Através do tempo começam a se afastar uma das outras, mas dependendo de
diversos fatores podem permanecer unidas por longos períodos. As gigantes nuvens de
gás em que se formam as estrelas se concentram no plano da galáxia, ao longo da Via
Lactea. è por isto que a maior parte dos aglomerados abertos aí se encontram. Por isso
são chamados também de aglomerados Galácticos.

Aglomerados Estelares Globulares- Estes aglomerados estelares são grupos


muito maiores de estrelas mantidas juntas de forma muito mais concentrada e em um
formato esférico. Aglomerados globulares possuem, em geral, centenas de milhares de
estrelas reunidas em uma “bola”.

Se concentre nos Globulares mais brilhantes para vistas sensacionais (Tuc 47,
Omega Centauro, M22). Posteriormente olho por outros mais tênues.

Aglomerados Globulares são compostos de estrelas velhas, Ao contrario dos


abertos que se formam de forma continua, todos os globulares se formaram a bilhões de
anos. Parece que estes aglomerados se formam quando duas ou mais galáxias colidem;
tais colisões estimulam a formação de estrelas em escalas muito maiores (devido às
imensas ondas de choque). Todos os aglomerados globulares de nossa galáxia se
formaram aproximadamente ao mesmo tempo. Eles são encontrados fora do disco
galáctico. Na região conhecida como Halo, formando uma espécie de nuvem a redor do
centro galáctico. Por causa disto é que podemos ver a sua maioria durante o inverno em
direção a sagitário que é onde se encontra o centro de nossa galáxia.
Nebulosas Difusas- São nuvens brilhantes de gás e poeira. A nossa galáxia está
cheia delas e elas se posicionam ao longo do disco galáctico (principalmente). A maior
parte deste gás e escuro, porém na proximidade de uma estrela quente e brilhante o
suficiente ele pode incandescer Há duas maneiras de um gás brilhar. Ambas requerem
grandes quantidades de luz azul e radiação UV adentrando a nebulosa. Estrelas quentes
e massivas são excelente fonte de ambas.

São estas nébulas que causam os maiores desapontamentos porá os astrônomos


iniciantes que esperam ver cores vívidas e detalhes observados em fotografias. Esqueça
seus olhos não podem perceber cores e detalhes como um CCD em uma exposição de
varias horas. Nem como um Filme 400 asa. Elas sertão P&B e bastantes difusas. Assim
como neblina. Uma das melhores nebulosas para se observar é M42 em Orion. Situada
na espada do guerreiro você será capaz de perceber sua nebulosidade até mesmo a olho
nu. Mesmo com um pequeno telescópio você vai notar alguma estrutura nela. Até
mesmo alguma cor.

A luz é difundida conforme ela penetra na nuvem de gás de uma forma


semelhante a como a luz do sol ao penetrar a atmosfera terrestre. São as partículas de
poeira que fazem a difração. È a luz azul que se difunde com maior facilidade sendo os
que os outros comprimentos de onda passam “lisos”. A luz azul porem se difunde em
todas as direções. Os astrônomos chamam a isto de Nebulosas de reflexão. Por isto são
azuladas em fotografias.

A outra forma de uma nuvem brilhar é quando a luz de uma estrela é absorvida
pelos átomos de gás e então reemitida. Átomos de hidrogênio gostam de absorver radia
luz UV. Com isto seu único elétron obtém energia para sair livre e leve até encontrar
outro núcleo de hidrogênio, se recombinar e fazer outro átomo de hidrogênio. Com isto
devolvendo a energia roubada geralmente em forma de luz. Desta vez avermelhada.
Muito semelhante a um anuncio em neon. Os astrônomos chamam isto de regiões HII.
Novamente só serão avermelhadas para um CCD. Para você serão acinzentadas.

Nebulosas Escuras- Estas são nuvens de gás e poeira que escondem as estrelas
atrás dela. O gás no espaço interestelar é acompanhado por minúsculas partículas de
poeira, muito parecida com a fumaça de um cigarro. Se a nuvem é densa o suficiente
esta grãos refratem e absorvem luz suficiente para tornarem as estrelas que estão atrás
invisíveis. Estas nebulosas são talvez melhor observadas de binóculos A via lacte
durante o inverno é um bom local para se procurar por elas. Procure por locais ao longo
do disco onde parecem estar faltando estrelas.

A mais conhecida destas nebulosas é a Nebulosa Cabeça de Cavalo em Orion


Famosa em fotografias e um objeto muito procurado e pouquíssimo visto por
astrônomos visuais. O formato de uma cabeça de cavalo é delineado pela nebulosa
escura sobre uma tênue nebulosa de reflexão no back ground. O problema é que se você
não é capaz de perceber esta tênue e fraca nebulosa de reflexão ao fundo imagine a
nebulosa escura a sua frente. Ver isto não é para iniciante e às vezes nem para iniciados.
Nebulosas Planetárias- Estas são outro tipo de nuvens de gás incandescente.
Elas se formam quando estrelas atingem a meia idade. Estas estrelas se inflam varias
vezes acima de sua circunferência original (um pouco como os homens...). Até um
ponto que expelem suas camadas de gás mais externas para o espaço. A quente estrela
central faz esse gás brilhar muito como nas regiões HII. A diferença que o gás não é
hidrogênio. Oxigênio em geral e alguns outros resíduos. Ou seja, estas nebulosas nada
têm em comum com planetas. Algumas Nebulosas planetárias aparecem como um azul
muito tênue ou esverdeada (pelo menos as mais brilhantes).

Estas nebulosas existem em diversas formas e tamanhos. Algumas são descritas


como muito brilhantes mas são tão grandes que esta luz se espalha sobre uma grande
área. Isto as faz difíceis de serem avistadas. Pois como o mais importante é o caminho e
não a chegada achar estes objetos pode ser extremamente prazeroso.

Algumas outras são pequenas e com isto se tornam mais fáceis de serem vistas.
Um exemplo clássico é a conhecida Nebulosa do Anel (M 57) em Lyra. Localizada
entre duas estrelas visíveis a olho nu é um alvo indicado para iniciantes. Não espere ver
muitos detalhes em telescópios pequenos.

Resíduos de Supernovas- Quando uma estrela explode como uma Supernovas


ela deixa uma enorme nuvem de gás em expansão. Estes vestígios variam desde a
“brilhante” Nebulosa do Caranguejo (M 1) em Touro até a tênue Nebulosa do Véu em
Cygnus.

M 1 é a mais brilhante dessas Supernovas e aparece como um ponto levemente


enevoado em telescópios pequenos (Até 100 mm). Outros exemplos necessitam de
telescópios muito maiores e filtros OIII eUHC podem ajudar.

Galáxias- Galáxias são universos ilhas assim como a nossa. Apresentam


estrelas, aglomerados e nebulosas próprias. Galáxias assim como estrelas tendem a se
agrupar em aglomerados. A galáxia de Andrômeda é o objeto mais distante visível a
olho nu. Ela faz parte do chamado grupo local do qual a Via-lactea é um integrante.

As galáxias aparecem em sua maioria como pequenas nebulosas. A dois tipos


principais de Galáxias: as espirais e as elípticas. As primeiras apresentam uma forma
discóide como a nossa . As outras apresentam um aspecto arredondado ou ovóide e um
núcleo estelar.

Lembre se que a magnitude das galáxias é imaginada como se fosse possível


juntar toda a luz de uma galáxia em único ponto estelar. Elas apresentam um baixo
brilho de superfície o que as torna objetos difíceis.

Aglomerados de Galáxias- São grupos de galáxias visíveis em um mesmo


campo ocular. São famosos os catálogos Hickson e Abell. São voltados para astrônomos
com grandes telescópios e experiência idem. São as maiores estruturas do universo.
Neste caso cobrindo imensas áreas de céu. O Aglomerado de Virgem apresenta algumas
galáxias ao alcance de telescópios pequenos.
Quasares – São objetos semelhantes a estrelas, porém extremamente distantes.
Eles são os centros extremamente brilhantes de galáxias que em todos os outros
aspectos são normais. Tudo indica que as galáxias possuem em seu centro massivos
buracos negros. Quando uma galáxia colide com outra, gás e poeira são jogados para o
centro da galáxia. Uma parte deste material acha sua orbita em direção ao buraco negro.
A imensa gravidade faz o material em orbita emitir enormes quantidades de energia.
Este quasar ao centro desta galáxia sobrepuja o brilho de toda a galáxia. E por isto a
galáxia parece com uma estrela. Ou quase uma estrela (Quasar).

A física dos quasares os torna interessantes para o pensamento, porém nem tanto
para a visão. São objetos distantes que brilham como uma estrela tênue. O Mais
brilhante dos quasares responde pela alcunha de 3c 273. Ele visível em um telescópio de
150 mm. E só.

Lentes Gravitacionais- Não são D.S.O. Propriamente. Se refere geralmente a


quasares que ao terem sua luz dobradas por um aglomerado galáctico alinhados com ele
apresentam mais de uma imagem do mesmo objeto , “ dobrando assim sua magnitude.
Este efeito também pode ser entendido como a cruz de Einstein. Não se conhece nada
visível para Telescópios pequenos.

Isto foi o que a humanidade colecionou até meados do séc. XXI. O desenvolvimento
da compreensão destas estruturas é também um dos pontos a serem abordados em nossa
história. Nossos heróis são parte das engrenagens que levaram ao conhecimento que nos permite
compreender (ou pelo menos tentar) a geografia do universo.

Com isto cancelei meus planos e minha tão inspirada dissertação sobre a cosmologia e
os catálogos de nebulosas europeus. E mergulhei na aventura que resultou no Catalogo J.E.S.S.
de Nebulosas e Objetos Estelares.

Vou relatar para vocês a história de José Eustaquio do Nascimento e Islas e de Dom
João Silvano Silva que resgatei.

E de todo o processo de pesquisa e investigação que permitiu resgatar a grande obra


destes homens.

Por fim apresentarei o grande catalogo deixado por eles e que acrescenta objetos aos
ditos 152 objetos clássicos de céu profundo conhecidos até 1780 quando Herschel começou sua
tal busca sistemática por estes tipos de objetos celestes. E também uma coleção de relatos sobre
diversas descobertas astronômicas surpreendentes que os nivela com os gigantes de que
falamos. Vou apresentar as figuras humanas, sua cosmo visão e cosmologia.

E ainda apresentar o Catalogo J.E.S.S. para todos. Bem como o caminho das pedras
para aqueles que buscam localizar estes objetos no firmamento...

Por fim: eu criei o nome “Catalogo J.E.S.S.”. E uma brincadeira com as iniciais de seus
autores: José Eustaquio e Silvano Silva.

PS – Diversas histórias que foram já divulgadas sobre o Catalogo Silvano Silva e José
Eustaquio podem ser situadas no terreno das lendas. Era apenas o rascunho de um trabalho. Um
romance na verdade. Algumas destas histórias estarão aqui. Outras não. Para que no futuro não
haja confusões os textos que foram escritos e que ainda podem ser encontrados espalhados pela
internet e em algumas copias perdidas são todos reconhecidos pelo titulo equivocado de “O
catalogo J.E.S.S de Objetos Estelares”. Isto foi um erro devido a péssimas condições de alguns
dos escritos. Pareceu-me , em um primeiro tratamento e antes da restauração dos escritos, que
ambos ( Silvano Silva e José Eustaquio ) consideravam todas as estrururas nebulosas que
observavam como que compostas por estrelas. Apenas não eram capazes de resolver estas
devido a potencia de seus telescópios. Isto não é verdade e a cosmologia que ambos
desenvolveram é bastante mais complexa. Pondo um fim neste assunto foram encontradas
anotações onde ambos se referem a seu levantamento dos céus com o titulo de Nebulosas e
Objetos Estelares sobre o Arraial dos Peixes de Buzios.Assim sendo achei que em respeito a
nossos pioneiros heróis o titulo deste trabalho deva sés: “O Catalogo J.E.S.S. de Nebulosas e
Objetos Estelares”.

Capitulo 1- Silvano Silva e seu Caminho até o Brasil

A história da chegada de Dom João do Silvano e Silva até sua chegada ao Brasil foi
um pouco diferente da lenda contada no intitulado Catalogo J.E.S.S. de objetos estelares.

Na verdade ele nunca teve nenhum parentesco com o autor e suas aventuras européias
são muito mais obscuras do que pode parecer no primeiro tratamento.

Após visitar diversas paróquias de Lisboa localizei o que parece ser o registro de seu
batizado.

Ele nasceu em 1734. Em Lisboa. Seu pai chamava-se Manuel Silvano e Silva.

Fidalgos o rapaz parece realmente ter seguido o caminho do seminário. Era um caminho
comum aos segundos filhos naqueles tempos.

Encontrei registros dele em visita ao Vaticano onde junto a diversos registros.

O Papa Bento XIV criou a Congregação dos Seminários, em prol das vocações
eclesiásticas. O Papa, que se tornaria Bento XII, é o único Papa descendente da família real
portuguesa. Isto é a única razão que encontro para encontrar o nome de Silvano e Silva em uma
das atas da Congregação. A vocação de Silvano e Silva é altamente discutível como já foi
apresentado no primeiro tratamento desta pesquisa. Só como uma curiosidade: O Papa Bento
XII só assume este nome posteriormente. No momento de sua ascensão a trono de Pedro ele se
denominou Bento XIV, pois acreditava ser o numero 13 negativo.

Finalmente a relação deste com Messier parece ter ocorrido de fato. São diversos os
textos encontrados em posse de meu avô onde o próprio Silvano Silva discorreu sobre estes
encontros.
Ele escreve em um de seus diários (um dos mais bem conservados apesar de ser um dos
mais antigos: “... Messier estava à procura do cometa de Halley, e o procurava todas as noites.
Ele acreditava piamente no retorno deste previsto por Halley para ocorrer ainda naquele ano.
Isto era apenas uma hipótese naqueles tempos. De qualquer forma ele trabalhava para o Sr.
Joseph Nicolas Delisle, astrônomo da marinha. Ele fora empregado por sua bela caligrafia e
acabou sendo instruído no uso de telescópios e afins. Estava ele buscando o cometa de Halley
na região prevista para seu retorno quando encontrou uma pequena nebulosidade a qual
acreditou ser o cometa. Era o dia 12 de setembro do ano do Senhor de 1758.

Como astrônomo precavido que era e ciente de seus deveres para o Senhor Delisle ele
nada anunciou e continuou suas observações por mais alguns dias. Logo percebeu que aquele
cometa não se movia em relação às estrelas de fundo. Não era um cometa e sim uma nevoa que
habitava aquele lugar do espaço. Esta nevoa viria e se tornar o objeto Messier numero 1 ou
M1.”

Diversos outros trechos deste diário descrevem as descobertas de Messier.

Parece bastante claro seu convívio bastante intimo com Messier durante o período que
compreendeu entre 1758 e 1765. O que compreende a elaboração da primeira parte do catalogo
Messier. Ou seja, até o objeto M45. Na verdade a primeira versão só foi publicada em 1771.

Aqui apresento alguns trechos selecionados dos diários deste período. Apesar de
desorganizado e afeito as bebidas como foi fácil perceber pelas notas manchadas de vinho, Dom
João era um escritor compulsivo. Um habito que ele não perdeu durante toda sua vida.

“Reuníamos-nos sempre em Clugny (Faziam observações quase diárias do observatório


da marinha situado em uma torre no hotel de Clugny em Paris. O prédio fora construído em
1480 sobre fundações de uma ruína romana de sec. IV. Era perfeito, escuro e com um horizonte
livre em todas as direções.). O maior objetivo de Messier era localizar cometas.”

De fato Charles Messier criou a profissão de caçador de cometas. Uma profissão que
poderia ser considerada um “trade Mark” do iluminismo. A sua especialização é precursora das
teses atuais. Quase um conquistador do inútil. É importante lembrar aqui que o catalogo por ele
organizado foi feito com o objetivo de registrar áreas nebulosas no céu para que estas não
fossem confundidas com cometas. Os cometas eram seu santo graal e o objeto mais puro. Estes
homens estavam descobrindo que cometas circulavam o sol. De uma forma diferente dos
planetas. Estes pequenos blocos de gelo eram verdadeira amostra do ignoto.

“esperávamos o retorno do Cometa descrito por Halley em 1682. Já passava do natal de


1758 e Messier procurava pelo cometa conforme indicações do Sr. Delisle. Nada acontecera
desde então. A nebulosa observada por Messier me encanta. Extremamente tênue. Parece uma
concha pequena.”

Silvano Silva se refere constantemente a esta pequena nébula. Ele na verdade era
obcecado por estas pequenas nebulosas que não se provavam cometas. Suas anotações levavam
a crer que ele conhecia diversas delas antes mesmo do catalogo Messier começar a ser
organizado. Na verdade é bastante claro que ele já conhecia claramente a natureza nebulosa de
diversos objetos que viriam a pertencer ao catalogo Messier. Objetos como a grande nebulosa
de Orion, O Presépio em Orion e diversa outras nebulosas conhecidas desde a antiguidade são
citadas freqüentemente em seus registros. Ele também conhecia diversos trabalhos pioneiros e
catálogos pouco conhecidos. O pequeno catalogo que Halley escreveu em Santa Helena e o
Catalogo também austral desenvolvido pelo Abbe Lacaille (como ele sempre se refere a
Nicholas Louis de La Caille (1713-1762)) lhe eram conhecidos.

( Tudo indica que ele só viria a conhecer o Cataloga de Lacaille anos mais tarde e por
um caminho surpreendente.)

Eram tempos curiosos. Enquanto a inquisição espanhola ainda torturava pessoas idéias
cientificas tinham ampla difusão entre certas classes em Paris.

Passaram-se dois anos antes que Messier registra-se uma nova entrada em seu catalogo.
Na verdade nem catalogo ainda. Esta idéia só iria se firmar com o objeto conhecido como M3.

“... Era a madrugada de 3 de maio de 1764. Estávamos com frio. Messier notara esta
“manche” arredondada. Ele a registrou assim :

3. 13h 31m 08s(202d 51´19´´)+29d 32´57´´ (Maio 3, 1764) - Nebulosa descoberta


entre Bootes e um dos Cães de caça de Hevelius [Canes Venatici] , não contém nenhuma
estrela. Seu centro é brilhante e vai enfraquecendo em direção as bordas. Ela foi avistada com
um telescópio de 1 Pé.”

O texto é quase idêntico ao encontrado no catalogo Messier original. È praticamente


uma tradução exata para o português do catalogo Messier. Foi neste momento que comecei a
acreditar na relação entre ambos.

Curiosamente esta entrada no catalogo Messier é uma espécie de pedra fundamental. É


a primeira descoberta original de Messier. Naquele momento descrito por Silvano Silva o
homem registrava o septuagésimo sexto objeto de céu profundo registrado por olhos humanos
( com e sem telescópios). Ainda que na época fossem apenas cinqüenta e cinco sendo outros
vinte e um “objetos perdidos”. Foi apenas a partir deste terceiro objeto (M3) que Messier passou
a se dedicar de uma forma sistemática para a localização destas nebulosas que poderiam
confundir o astrônomo de seu tempo na caça por seus tão fundamentais cometas. Na verdade foi
um ano onde Messier foi extremamente ativo e há diversos registros nos diários de Silvano
Silva referentes ao ano de 1764. Entre maio e o fim do ano Messier registrou quarenta entradas
em seu catalogo.

“Messier finalmente percebeu a necessidade de organizar as descobertas realizadas em


Clugny. Está organizando todas as nebulosas localizadas no ano passado e com isto acredito
termos acrescentado cerca de 20 novas nebulosas aos céus.”

Este trecho demonstra a extrema proximidade entre ele e Messier. E seus cálculos eram
bem precisos para um tempo onde o saber não estava tão à disposição. Na verdade no ano de
1764 Messier descobriu 18 novos objetos de céu profundo nunca antes avistados. Sendo esse
catalogados como
M3,M9,M10,M12,M14,M18,M19,M20,M21,M23,M24,M26,M27,M28,M29,M30,M39 e M40.

Logo após o ano de 1765 os escritos apresentam um vazio. Parece ter sido um período
conturbado para Silvano Silva e em sua ultima entrada podemos perceber certa urgência:
“... parto de Paris. Sentirei falta de Clugny. E de nada mais. Messier me presenteou com uma
bela cópia de seus achados. Foi feita por uma copista de altíssimo nível e acredito não possuir
ninguém mais uma cópia deste material. Vou à busca de uma saída...”

Não sei o que de fato se passou no decorrer dos próximos três anos. Entre os diários e
notas que me chegaram não há nenhum registro dos caminhos percorridos por Silvano Silva.

Mas fica claro que ele deixou Paris com uma cópia das descobertas de Messier até o ano
de 1764. Isto seria fundamental no desenvolvimento do Catalogo José Eustaquio e Silvano Silva
de Objetos Nebulosos.

Este material não seria disponível até o ano de 1771. Neste ano Messier apresentaria a
primeira versão de seu catalogo com as entradas de M1 a M45. Como já sabemos Silvano Silva
conhecia todos os objetos do catálogo até a entrada de numero 40. Os outros cinco objetos
incluídos por Messier nesta primeira versão eram conhecidos desde a antiguidade e certamente
conhecidos por Silvano Silva. Com isto ele se tornou dono da primeira cópia do Catalogo
Messier. E isto será de fundamental importância para a criação do Catalogo J.E.S.S. de
Nebulosas e Objetos Estelares.

O próximo registro do padre só ocorre em 1768. E já no Brasil. Mas precisamente na


Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Um registro de Casamento na Paróquia de Santo
Antonio é o primeiro indicio da presença Dom João Silvano e Silva nas terras do Brasil. Santo
Antonio é a região hoje conhecida como a Lapa. 1 de Maio de 1768.

“ ...o aqueduto foi inaugurado a mais de uma década e se encontra em excelente estado .
Domina a paisagem e liga o santo Antonio a Santa Teresa, esporadicamente vou ao convento. “

Este pequeno trecho foi extraído de um texto mais longo onde alguém parece descrever
a paisagem na região nos meados do Sec. Xvii.. Foi encontrado por uma tia minha eue foi
reclusa no Convento Parece-me muito com a caligrafia de Silvano Silva. E os Arcos da Lapa
foram inaugurados em 1750. Isto permite estabelecer com certeza a presença de Silvano Silva
no Rio em 1768.

Acredito que os escritos que encontrei com meu avô tenham vindo da mesma origem.

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