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a verdadeira história.
Introdução
O catalogo JES.S. surgiu para mim como uma espécie de herança. Posteriormente se
tornou um trabalho delicioso. O projeto de recuperar esta parte da história da Astronomia em
seu período clássico foi realmente gratificante. Cheio de surpresas e ensinamentos.
Os textos iniciais foram encontrados entre milhares de livros que meu avô estocava em
nossa casa de praia. Os textos iniciais foram obtidos provavelmente pelo próprio. Meu avô
nunca fora um homem organizado.
Ele foi um dos primeiros forasteiros a comprar terras na antiga Armação do Buzios. Isso
nos idos dos anos 40. Na verdade na comarca de Cabo Frio. Buzios só se tornaria município
muitas décadas depois.
Meu amor sempre fora a história da astronomia. Quando se fala de astronomia se pensa
sempre nos grandes nomes. Galileu, Newton e até mesmo Einstein. Mas meus favoritos sempre
foram os autores dos catálogos clássicos. Lacaille, Messier e Herschel formavam minha
trindade.
Assim meu projeto era desenvolver a tese fazendo um paralelo entre a história dos
catálogos de nebulosas dos séculos xvii e xix e o desenvolvimento da cosmologia. Bem
interessante, não acham?
Com este tremendo abacaxi pela frente resolvo ir até nossa fazenda e me isolar lá
enquanto me preparo para escrever a bendita da tese.
Certa noite fui caçar algo para ler no escritório de meu falecido avô. Uma caixa de
papelão que lembrava estar lá desde sua morte jazia sobre a mesa. Molhada, úmida, podre
mesmo. Fui fuçar e não foi minha surpresa quando vi entre os muitos papéis ali dentro uma
folha. Muito velha. Peguei com cuidado. Escrito em uma letra rebuscada e evidentemente com
uma pena consigo vislumbrar escrito: “Nebulosas sobre o céu do Arraial dos Peixes de Buzios”.
Estava datada de 1767. Não apresentava o nome de seu autor. Lendo mais um pouco percebi
que chegara até minhas mãos o primeiro catalogo de nebulosas realizado no Brasil e um dos
primeiros do Hemisfério Sul.
O Catalogo Messier é uma bíblia da astronomia amadora e foi a maior referencia sobre
objetos de céu profundo durante o final do renascimento. Na verdade até 1782 quando
Herschell iniciou sua busca era o maior coleção de objetos de céu profundo já catalogada.
Isto é bastante vago e neste artigo vou apresentar de forma mais clara as diversas
categorias de objetos que em seu conjunto são chamados de Objetos de Céu Profundo
(DSO, do inglês, Deep Sky Objects). Utilizarei deste anglicismo daqui para frente .
D.S.O.
De uma forma geral pode-se dizer que D.S.O. É qualquer objeto que não seja
uma estrela e que esteja além do nosso sistema solar. A maioria dos D.S.O. É tênue,
difuso e necessita de um telescópio para ser avistado. Aparecem maravilhosos em
fotografias de longa exposição mas em geral aparecem apenas como “esfumaçamentos”
de luz para os olhos humanos, até mesmo através de grandes telescópios. D.S.O.
Dividem-se em diversas categorias:
Nebulosas Difusas
Nebulosas Escuras
Nebulosas Planetárias
Resíduos de supernovas
Galáxias
Grupos de Galáxias
Quasares
Lentes Gravitacionais
Se concentre nos Globulares mais brilhantes para vistas sensacionais (Tuc 47,
Omega Centauro, M22). Posteriormente olho por outros mais tênues.
A outra forma de uma nuvem brilhar é quando a luz de uma estrela é absorvida
pelos átomos de gás e então reemitida. Átomos de hidrogênio gostam de absorver radia
luz UV. Com isto seu único elétron obtém energia para sair livre e leve até encontrar
outro núcleo de hidrogênio, se recombinar e fazer outro átomo de hidrogênio. Com isto
devolvendo a energia roubada geralmente em forma de luz. Desta vez avermelhada.
Muito semelhante a um anuncio em neon. Os astrônomos chamam isto de regiões HII.
Novamente só serão avermelhadas para um CCD. Para você serão acinzentadas.
Nebulosas Escuras- Estas são nuvens de gás e poeira que escondem as estrelas
atrás dela. O gás no espaço interestelar é acompanhado por minúsculas partículas de
poeira, muito parecida com a fumaça de um cigarro. Se a nuvem é densa o suficiente
esta grãos refratem e absorvem luz suficiente para tornarem as estrelas que estão atrás
invisíveis. Estas nebulosas são talvez melhor observadas de binóculos A via lacte
durante o inverno é um bom local para se procurar por elas. Procure por locais ao longo
do disco onde parecem estar faltando estrelas.
Algumas outras são pequenas e com isto se tornam mais fáceis de serem vistas.
Um exemplo clássico é a conhecida Nebulosa do Anel (M 57) em Lyra. Localizada
entre duas estrelas visíveis a olho nu é um alvo indicado para iniciantes. Não espere ver
muitos detalhes em telescópios pequenos.
A física dos quasares os torna interessantes para o pensamento, porém nem tanto
para a visão. São objetos distantes que brilham como uma estrela tênue. O Mais
brilhante dos quasares responde pela alcunha de 3c 273. Ele visível em um telescópio de
150 mm. E só.
Isto foi o que a humanidade colecionou até meados do séc. XXI. O desenvolvimento
da compreensão destas estruturas é também um dos pontos a serem abordados em nossa
história. Nossos heróis são parte das engrenagens que levaram ao conhecimento que nos permite
compreender (ou pelo menos tentar) a geografia do universo.
Com isto cancelei meus planos e minha tão inspirada dissertação sobre a cosmologia e
os catálogos de nebulosas europeus. E mergulhei na aventura que resultou no Catalogo J.E.S.S.
de Nebulosas e Objetos Estelares.
Vou relatar para vocês a história de José Eustaquio do Nascimento e Islas e de Dom
João Silvano Silva que resgatei.
Por fim apresentarei o grande catalogo deixado por eles e que acrescenta objetos aos
ditos 152 objetos clássicos de céu profundo conhecidos até 1780 quando Herschel começou sua
tal busca sistemática por estes tipos de objetos celestes. E também uma coleção de relatos sobre
diversas descobertas astronômicas surpreendentes que os nivela com os gigantes de que
falamos. Vou apresentar as figuras humanas, sua cosmo visão e cosmologia.
E ainda apresentar o Catalogo J.E.S.S. para todos. Bem como o caminho das pedras
para aqueles que buscam localizar estes objetos no firmamento...
Por fim: eu criei o nome “Catalogo J.E.S.S.”. E uma brincadeira com as iniciais de seus
autores: José Eustaquio e Silvano Silva.
PS – Diversas histórias que foram já divulgadas sobre o Catalogo Silvano Silva e José
Eustaquio podem ser situadas no terreno das lendas. Era apenas o rascunho de um trabalho. Um
romance na verdade. Algumas destas histórias estarão aqui. Outras não. Para que no futuro não
haja confusões os textos que foram escritos e que ainda podem ser encontrados espalhados pela
internet e em algumas copias perdidas são todos reconhecidos pelo titulo equivocado de “O
catalogo J.E.S.S de Objetos Estelares”. Isto foi um erro devido a péssimas condições de alguns
dos escritos. Pareceu-me , em um primeiro tratamento e antes da restauração dos escritos, que
ambos ( Silvano Silva e José Eustaquio ) consideravam todas as estrururas nebulosas que
observavam como que compostas por estrelas. Apenas não eram capazes de resolver estas
devido a potencia de seus telescópios. Isto não é verdade e a cosmologia que ambos
desenvolveram é bastante mais complexa. Pondo um fim neste assunto foram encontradas
anotações onde ambos se referem a seu levantamento dos céus com o titulo de Nebulosas e
Objetos Estelares sobre o Arraial dos Peixes de Buzios.Assim sendo achei que em respeito a
nossos pioneiros heróis o titulo deste trabalho deva sés: “O Catalogo J.E.S.S. de Nebulosas e
Objetos Estelares”.
A história da chegada de Dom João do Silvano e Silva até sua chegada ao Brasil foi
um pouco diferente da lenda contada no intitulado Catalogo J.E.S.S. de objetos estelares.
Na verdade ele nunca teve nenhum parentesco com o autor e suas aventuras européias
são muito mais obscuras do que pode parecer no primeiro tratamento.
Após visitar diversas paróquias de Lisboa localizei o que parece ser o registro de seu
batizado.
Ele nasceu em 1734. Em Lisboa. Seu pai chamava-se Manuel Silvano e Silva.
Fidalgos o rapaz parece realmente ter seguido o caminho do seminário. Era um caminho
comum aos segundos filhos naqueles tempos.
O Papa Bento XIV criou a Congregação dos Seminários, em prol das vocações
eclesiásticas. O Papa, que se tornaria Bento XII, é o único Papa descendente da família real
portuguesa. Isto é a única razão que encontro para encontrar o nome de Silvano e Silva em uma
das atas da Congregação. A vocação de Silvano e Silva é altamente discutível como já foi
apresentado no primeiro tratamento desta pesquisa. Só como uma curiosidade: O Papa Bento
XII só assume este nome posteriormente. No momento de sua ascensão a trono de Pedro ele se
denominou Bento XIV, pois acreditava ser o numero 13 negativo.
Finalmente a relação deste com Messier parece ter ocorrido de fato. São diversos os
textos encontrados em posse de meu avô onde o próprio Silvano Silva discorreu sobre estes
encontros.
Ele escreve em um de seus diários (um dos mais bem conservados apesar de ser um dos
mais antigos: “... Messier estava à procura do cometa de Halley, e o procurava todas as noites.
Ele acreditava piamente no retorno deste previsto por Halley para ocorrer ainda naquele ano.
Isto era apenas uma hipótese naqueles tempos. De qualquer forma ele trabalhava para o Sr.
Joseph Nicolas Delisle, astrônomo da marinha. Ele fora empregado por sua bela caligrafia e
acabou sendo instruído no uso de telescópios e afins. Estava ele buscando o cometa de Halley
na região prevista para seu retorno quando encontrou uma pequena nebulosidade a qual
acreditou ser o cometa. Era o dia 12 de setembro do ano do Senhor de 1758.
Como astrônomo precavido que era e ciente de seus deveres para o Senhor Delisle ele
nada anunciou e continuou suas observações por mais alguns dias. Logo percebeu que aquele
cometa não se movia em relação às estrelas de fundo. Não era um cometa e sim uma nevoa que
habitava aquele lugar do espaço. Esta nevoa viria e se tornar o objeto Messier numero 1 ou
M1.”
Parece bastante claro seu convívio bastante intimo com Messier durante o período que
compreendeu entre 1758 e 1765. O que compreende a elaboração da primeira parte do catalogo
Messier. Ou seja, até o objeto M45. Na verdade a primeira versão só foi publicada em 1771.
Aqui apresento alguns trechos selecionados dos diários deste período. Apesar de
desorganizado e afeito as bebidas como foi fácil perceber pelas notas manchadas de vinho, Dom
João era um escritor compulsivo. Um habito que ele não perdeu durante toda sua vida.
De fato Charles Messier criou a profissão de caçador de cometas. Uma profissão que
poderia ser considerada um “trade Mark” do iluminismo. A sua especialização é precursora das
teses atuais. Quase um conquistador do inútil. É importante lembrar aqui que o catalogo por ele
organizado foi feito com o objetivo de registrar áreas nebulosas no céu para que estas não
fossem confundidas com cometas. Os cometas eram seu santo graal e o objeto mais puro. Estes
homens estavam descobrindo que cometas circulavam o sol. De uma forma diferente dos
planetas. Estes pequenos blocos de gelo eram verdadeira amostra do ignoto.
Silvano Silva se refere constantemente a esta pequena nébula. Ele na verdade era
obcecado por estas pequenas nebulosas que não se provavam cometas. Suas anotações levavam
a crer que ele conhecia diversas delas antes mesmo do catalogo Messier começar a ser
organizado. Na verdade é bastante claro que ele já conhecia claramente a natureza nebulosa de
diversos objetos que viriam a pertencer ao catalogo Messier. Objetos como a grande nebulosa
de Orion, O Presépio em Orion e diversa outras nebulosas conhecidas desde a antiguidade são
citadas freqüentemente em seus registros. Ele também conhecia diversos trabalhos pioneiros e
catálogos pouco conhecidos. O pequeno catalogo que Halley escreveu em Santa Helena e o
Catalogo também austral desenvolvido pelo Abbe Lacaille (como ele sempre se refere a
Nicholas Louis de La Caille (1713-1762)) lhe eram conhecidos.
( Tudo indica que ele só viria a conhecer o Cataloga de Lacaille anos mais tarde e por
um caminho surpreendente.)
Eram tempos curiosos. Enquanto a inquisição espanhola ainda torturava pessoas idéias
cientificas tinham ampla difusão entre certas classes em Paris.
Passaram-se dois anos antes que Messier registra-se uma nova entrada em seu catalogo.
Na verdade nem catalogo ainda. Esta idéia só iria se firmar com o objeto conhecido como M3.
“... Era a madrugada de 3 de maio de 1764. Estávamos com frio. Messier notara esta
“manche” arredondada. Ele a registrou assim :
Este trecho demonstra a extrema proximidade entre ele e Messier. E seus cálculos eram
bem precisos para um tempo onde o saber não estava tão à disposição. Na verdade no ano de
1764 Messier descobriu 18 novos objetos de céu profundo nunca antes avistados. Sendo esse
catalogados como
M3,M9,M10,M12,M14,M18,M19,M20,M21,M23,M24,M26,M27,M28,M29,M30,M39 e M40.
Logo após o ano de 1765 os escritos apresentam um vazio. Parece ter sido um período
conturbado para Silvano Silva e em sua ultima entrada podemos perceber certa urgência:
“... parto de Paris. Sentirei falta de Clugny. E de nada mais. Messier me presenteou com uma
bela cópia de seus achados. Foi feita por uma copista de altíssimo nível e acredito não possuir
ninguém mais uma cópia deste material. Vou à busca de uma saída...”
Não sei o que de fato se passou no decorrer dos próximos três anos. Entre os diários e
notas que me chegaram não há nenhum registro dos caminhos percorridos por Silvano Silva.
Mas fica claro que ele deixou Paris com uma cópia das descobertas de Messier até o ano
de 1764. Isto seria fundamental no desenvolvimento do Catalogo José Eustaquio e Silvano Silva
de Objetos Nebulosos.
Este material não seria disponível até o ano de 1771. Neste ano Messier apresentaria a
primeira versão de seu catalogo com as entradas de M1 a M45. Como já sabemos Silvano Silva
conhecia todos os objetos do catálogo até a entrada de numero 40. Os outros cinco objetos
incluídos por Messier nesta primeira versão eram conhecidos desde a antiguidade e certamente
conhecidos por Silvano Silva. Com isto ele se tornou dono da primeira cópia do Catalogo
Messier. E isto será de fundamental importância para a criação do Catalogo J.E.S.S. de
Nebulosas e Objetos Estelares.
“ ...o aqueduto foi inaugurado a mais de uma década e se encontra em excelente estado .
Domina a paisagem e liga o santo Antonio a Santa Teresa, esporadicamente vou ao convento. “
Este pequeno trecho foi extraído de um texto mais longo onde alguém parece descrever
a paisagem na região nos meados do Sec. Xvii.. Foi encontrado por uma tia minha eue foi
reclusa no Convento Parece-me muito com a caligrafia de Silvano Silva. E os Arcos da Lapa
foram inaugurados em 1750. Isto permite estabelecer com certeza a presença de Silvano Silva
no Rio em 1768.
Acredito que os escritos que encontrei com meu avô tenham vindo da mesma origem.