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enquanto palpava o relevo das notas no bolso, morava acompanhado

de uma
cabrita de Luanda vestida como para um baile, de cabelo desfrisado,
com a qual
a minha mãe, a perder a luta contra a gordura, evidentemente não
falava, a
cabrita para ela
— Madame
e a minha mãe sem a ver, quando o meu pai ia buscar pessoal ao
Mussende
visitava-a com o preto da espingarda à espera dele no jipe vigiando os
sipaios e o
meu pai menos zangado nesses dias, às vezes beliscava-me a orelha
— Cafeco
com dois dedos que cheiravam a perfume, não como o da minha mãe
que o
avião da Cotonang trazia, desse barato quase igual ao álcool do
enfermeiro que
se compra na cantina e se despeja de uma garrafa grande para os
frascos que
levamos, uma ocasião pus um bocadinho e fiquei a tresandar à rua de
Malanje,
perto do terminal das camionetas, com raparigas à espera da tropa,
chamando
soldados
— Nosso cabo nosso cabo
às vezes com uma branca no meio, obedeciam a um cafuzo que a
brilhantina
quase desfrisava, a anunciar à tropa
— Nenhuma doença senhor nenhuma doença
e por trás delas um candeeiro de teto sem ampolas, apenas uma vela
acesa
achatada num pires, dois tropas um para o outro, esperançados
— Tens dinheiro?
de sentirem dedos e moedas
— Quanto vale um mindinho?
o cafuzo com um relógio de pulso maior do que os seus, três
mostradores e
dúzias de ponteiros fosforescentes
— Não há descontos depois do escurecer
iluminando a noite com as fases da lua e a hora de Nova Iorque e do
Sudão, o
mar, tão agitado hoje, a encher-me o quarto de água e a ir-se embora
tropeçando
em si mesmo, pareceu-me que a minha mãe acolá a pentear-se sem
olhar para
mim e os suspiros dos cães que tomavam conta da gente, ou seja o
mundo inteiro

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