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Hist - Ria Sociedade & Cidadania 2 Ensino M - Dio Componente Curricu
Hist - Ria Sociedade & Cidadania 2 Ensino M - Dio Componente Curricu
Pá gina 1
História
Sociedade & Cidadania
2
ENSINO MÉ DIO
COMPONENTE CURRICULAR
HISTÓRIA
2ª ediçã o
Sã o Paulo – 2016
FTD
MANUAL DO PROFESSOR
Pá gina 2
FTD
Editores assistentes Joã o Carlos Ribeiro Jr., Maiza Garcia Barrientos Agunzi
Assessoria Juliana Marques Morais, Leslie Sandes, Sué len Rocha M. Marques
Diagramação Anderson Sunakozawa, Carolina Ferreira, Dayane Martins, Dé bora Jó ia, Claritas Comunicaçã o, Helena Mariko,
Ponto Inicial
Ilustrações e cartografia
Ilustradores: Alex Argozino, Getulio Delphim, Ilustra Cartoon, Luis Moura, Manzi, Má rio Pita, Mozart Couto, Rmatias, Roberto
Melo
Cartografia: Alexandre Bueno, Carlos Vespucio, Renato Bassani
Revisão Aline Araú jo, Carina de Luca, Claudia Anazawa, Felipe Bio, Fernando Cardoso, Lívia Perran, Lucila Segó via, Marcella
Arruda, Pedro Fandi, Sô nia Cervantes, Veridiana Maenaka
Reproduçã o proibida: Art. 184 do Có digo Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de á rvores de florestas plantadas, com origem certificada.
Pá gina 3
APRESENTAÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Um dia desses coloquei-me no seu lugar e fiquei pensando em como você iria se sentir
no primeiro contato com este livro de Histó ria.
Imaginei, entã o, algumas perguntas que você faria: “Será que esse livro é chato?”; “Será
que é bacana?”; “Será que vou começar a gostar de Histó ria?”; “Será que vou continuar
gostando de Histó ria?”; “Será que tem o que eu preciso aprender para passar no Enem
e/ou Vestibular?” Isto sem contar aquelas perguntas de sempre, que alguns
certamente farã o: “mas para que serve a Histó ria?”; “Pra que eu tenho de saber ‘o que
já passou’?”.
Olha, vamos imaginar que você esteja debatendo com os seus colegas sobre um
assunto do seu gosto, seja qual for: amor, saú de, esporte, viagem, festa, um show que
vai estrear, ou outro assunto qualquer. Pois bem, se você quiser compreender melhor
qualquer um desses assuntos (e argumentar com mais segurança) é só lembrar que
todos eles possuem uma histó ria, que faz parte de outras tantas histó rias, passadas e
presentes. Ou seja, a Histó ria lhe dá o privilégio de debater qualquer assunto em uma
perspectiva temporal; e isto a distingue das demais disciplinas.
Em resumo: a Histó ria vai ajudá -lo a compreender em vez (ou antes) de julgar.
Mas, entã o, eu devo estudar Histó ria somente porque ela é ú til?
Também; mas nã o só . O estudo da Histó ria nos permite ainda conhecer a aventura
humana sobre a Terra. E isto é uma fonte de prazer.
Bem, já falei demais para uma apresentaçã o (nó s, professores, geralmente nos
entusiasmamos quando temos a palavra).
Agora eu quero convidá -lo a folhear e, depois, a ler o livro que fizemos com carinho e
para você!
O Autor
Pá gina 4
Cada unidade é iniciada com uma abertura em pá gina dupla. Nessas aberturas sã o apresentados, por meio de
imagens e textos, os temas que serã o trabalhados.
ABERTURA DE CAPÍTULO
As aberturas dos capítulos propõ em a discussã o dos temas que serã o trabalhados nas pá ginas seguintes.
GLOSSÁRIO
DIALOGANDO
Desafios propostos ao longo do texto para discutir imagens, grá ficos, tabelas e textos.
PARA REFLETIR
Uma seçã o que traz textos estimulantes sobre os conteú dos estudados e propõ e a discussã o sobre esses temas.
Um quadro que apresenta informaçõ es extras sobre os conteú dos dos capítulos trabalhados.
Pá gina 5
ATIVIDADES
Retomando
Questõ es variadas sobre os conteú dos dos capítulos para serem realizadas individualmente ou em grupo. Uma forma
de rever aquilo que foi estudado.
» Leitura de imagem
Seçã o que permite o estudo de imagens relacionadas aos temas dos capítulos.
Interpretaçã o de diferentes gêneros textuais. Para completar o estudo dos temas, sã o propostas atividades de
pesquisa ou escrita de um texto.
Integrando com...
Nesta seçã o, a Histó ria e outras á reas do conhecimento se encontram, o que permite ampliar ou complementar o que
foi visto no capítulo.
» Cruzando fontes
Uma seçã o que permitirá a você se aproximar do trabalho de um historiador, por meio da aná lise e da comparaçã o de
diferentes fontes.
Você cidadão!
Reflexã o sobre temas como meio ambiente, ética e solidariedade. As atividades visam estimular o exercício da
cidadania. Esta seçã o encerra o estudo da unidade.
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SUMÁRIO
UNIDADE 1 NÓ S E OS OUTROS: A QUESTÃ O DO
ETNOCENTRISMO 10
Capítulo 1 – América indígena 12
Povos americanos 13
Os astecas 13
A sociedade asteca 14
Os maias 15
As cidades-Estado maias 16
Sociedade, economia e arte 17
Os incas 18
Economia inca 19
O ayllu e a mita 20
A sociedade incaica 20
Indígenas nas terras onde hoje é o Brasil 22
Diferenças entre os indígenas 22
As línguas indígenas 23
As artes indígenas 24
Semelhanças entre os indígenas 24
Encontro e desencontro: os portugueses e os tupiniquins 25
Demografia e terra 26
Problemas dos indígenas hoje 27
As lutas dos povos indígenas 27
Atividades 29
I. Retomando 29
II. Leitura e escrita em Histó ria 31
Palê Zuppani/Pulsar
Pá gina 7
Pá gina 8
Pá gina 9
Pá gina 10
››Fonte 1
DavidEnglish Photos/Alamy/Latinstock
O Pensador, escultura de Auguste Rodin; note que a menina olha para ela com admiraçã o e
encantamento. Museu de Belas Artes Legion of Honor, Califó rnia, Estados Unidos, 2007.
››Fonte 2
Gonzalo Azumendi/Easypix
Visão infantil, escultura de John Davies; note que a está tua provoca o estranhamento e o riso nos
garotos. Museu de Belas Artes de Bilbao, Espanha, 2010.
››Fonte 3
Acervo Folhapress
A fotografia retrata uma briga entre torcidas organizadas, fato cada vez mais comum nos está dios
de todo o país. Essas brigas, combinadas, por vezes, pela internet, têm resultado em mutilaçõ es e
mortes de jovens torcedores. Apesar das penalidades impostas aos agressores, a intolerâ ncia, a
hostilidade e a violência continuam fazendo vítimas, disseminando o medo e inibindo a ida aos
está dios. Sã o Paulo (SP), 2014.
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›› Fonte 4
Além da fome, [...] das doenças, da desigualdade, um dos graves problemas que o mundo
contemporâ neo enfrenta é a intolerâ ncia entre os povos. A dificuldade em encarar a
diversidade humana conduz à negaçã o dos valores culturais alheios e supervalorizaçã o do
“grupo do eu”, visã o e atitude que chamamos de etnocentrismo [...].
Uma visã o do mundo onde o nosso pró prio grupo é tomado como centro de tudo e todos os
outros sã o pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definiçõ es
do que é existência. [...]
De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta
de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa
igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados
em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, entã o, de repente, nos
deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, à s vezes, nem sequer faz as coisas
como as nossas ou quando as faz é de forma tal que nã o reconhecemos como possíveis. E, mais
grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo
e, ainda que diferente, também existe. [...]
O grupo do “eu” faz, entã o, da sua visã o a ú nica possível ou, mais discretamente se for o caso, a
melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro”, o grupo do diferente fica, nessa
ló gica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. (ROCHA, Everardo. O que é
etnocentrismo. Sã o Paulo: Brasiliense, 1994. p. 7-9.)
Essa visã o do outro produz distorçõ es, preconceitos, agressividades, equívocos, hostilidades,
intolerâ ncia e, inclusive, xenofobia. A histó ria contemporâ nea nos revela inú meros
acontecimentos cruéis que foram motivados por esta impossibilidade de respeito à diferença.
ASSIS, Cássia Lobã o; NEPOMUCENO, Cristiane Maria. Estudos contemporâneos de cultura. Campina Grande:
UEPB/UFRN, 2008. Disponível em: <http://www.ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/Fasciculos
%20-%20Material/Estudos_Contemporaneos_Cultura/Est_C_C_A15_J_GR_260508.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016.
Xenofobia: é o medo do “outro” levado ao extremo. O que veio de fora, o estranho ou o estrangeiro é alguém
capaz de contaminar, destruir o lugar em que se vive. Esta fobia produz um medo que induz à intolerâ ncia, ao
crime, à agressã o e inclusive à s guerras.
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Professor: a intençã o, aqui, é evidenciar e valorizar as permanê ncias de indivíduos e culturas indígenas nas sociedades
latino-americanas atuais, a fim de motivar o aluno ao estudo do passado e do presente dos povos indígenas da Amé rica.
Allmaps
Patrick Frilet/Hemis/Corbis/Latinstock
Fabio Colombini
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Povos americanos
Sabe-se que os povos ameríndios eram numerosos. Mas, sobre o total da populaçã o
na época do contato com o europeu em 1492, temos apenas uma estimativa.
Observe a tabela.
Fonte de pesquisa: LOCKHART, James; STUART, B. Schwartz. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro:
Civilizaçã o Brasileira, 2002. p. 57.
Entre todos os povos que viviam na América antes de Colombo, daremos especial
atençã o aos astecas, maias, incas e tupis.
Os astecas
Os astecas viveram em Aztlá n (daí o seu nome), no norte da América, até por volta
do século XII, quando deixaram sua regiã o de origem em busca de terras férteis. No
início do século seguinte, depois de muito caminhar, chegaram ao Vale do México, à
beira do lago Texcoco, e, em 1325, fundaram a cidade de Tenochtitlá n.
Império Asteca: nunca foi uma unidade política; era, na verdade, um conjunto de povos com diferentes
graus de subordinação aos astecas. Alguns pagavam tributos, mas tinham uma relativa autonomia; outros
eram apenas governados e, outros, ainda, só pagavam tributos à força, quando eram vítimas de expediçõ es
punitivas promovidas pelos astecas.
Diego Rivera. 1945-1952. Afresco. Palá cio Nacional, Cidade do Mé xico. Foto: Art Archive/Otherimages
Detalhe de A grande cidade de Tenochtitlán, afresco do muralista mexicano Diego Rivera (1886-
1957). Rivera inovou ao valorizar a matriz indígena na histó ria do México, numa época em que os
livros de Histó ria daquele país mostravam os espanhó is como “os ú nicos construtores” da naçã o. O
movimento das pessoas, o tipo de trabalho e a existência de mercadorias expostas à venda
mostradas em primeiro plano indicam tratar-se de um mercado. O detalhe mostra os canteiros
flutuantes, as chinampas, ilhas artificiais feitas sobre estacas fixas no fundo do lago. A fertilidade
dessas terras pantanosas garantia a produçã o de alimentos para os habitantes da cidade lacustre.
Cortada por canais e aquedutos, ruas largas e retas, Tenochtitlá n provocou enorme admiraçã o nos
conquistadores espanhó is nascidos em cidades relativamente menores, de ruas tortas e estreitas.
Pá gina 14
A dominaçã o e os tributos exigidos pelos astecas geravam revolta. Além disso, no coraçã o do
Império Asteca havia a cidade de Tlaxcala, inimiga ferrenha dos astecas.
Allmaps
Fonte: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina colonial. Sã o Paulo: Edusp, 2004. v. 1. p. 56.
Lista de tributos pagos pelos povos submetidos aos astecas, século XVI.
A sociedade asteca
O Império Asteca apresentava uma sociedade complexa e estratificada. O
imperador, considerado um ser semidivino, concentrava enorme poder e riqueza.
Essa riqueza provinha, sobretudo, dos impostos (na forma de pedras preciosas,
tecidos, cereais e outros), que se acumulavam no palá cio imperial, onde eram
registrados pelos escribas. Em tempo de escassez, os celeiros imperiais eram
abertos para que se distribuíssem alimentos e roupas ao povo. Pelo fato de o
imperador ser o comandante do exército e, ao mesmo tempo, o mais alto
sacerdote, alguns historiadores afirmam que o Império Asteca era uma monarquia
militar teocrá tica.
Dica! Documentário sobre a formação do império asteca e as invenções desse povo. [Duração: 44
minutos]. Acesse: <http://tub.im/uiuagf>.
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Os maias
Os maias estã o entre as civilizaçõ es mais antigas da América. Seus ancestrais
viviam nas montanhas da atual Guatemala desde 2500 a.C.
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2011. p. 236.
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Habitando um meio inó spito, esses povos se deslocavam pela selva em busca de
alimentos (caça, pesca e colheita). Posteriormente, domesticaram plantas como o
milho, a pimenta e o feijã o, e se estabeleceram na Península de Yucatá n, local em
que os arqueó logos descobriram, em meio à floresta tropical, as cidades de Tikal e
Copá n. Depois, os maias ocuparam também cidades já existentes, como Uxmal e
Chichén-Itzá , situadas ao norte.
Estela maia de cerca de 732 a.C. encontrada na cidade de Copá n, atual Honduras. A estela é uma
coluna com inscriçõ es e figuras de deuses ou personagens histó ricos usada para adornar urnas
mortuá rias.
As cidades-Estado maias
Assim como os antigos gregos, os maias viviam em cidades-Estado, ou seja, cidades
com governo, leis e costumes pró prios. Em caso de guerra contra um inimigo
comum, as cidades maias se organizavam em confederaçõ es, mas nunca chegaram
a constituir um império, a exemplo das astecas e das incas.
Marcelo Lambert
Vista geral do centro cerimonial da cidade maia de Palenque, 2011. Note que o conjunto
arquitetô nico emerge da exuberante floresta tropical. O centro cerimonial era destinado ao culto
dos deuses, à prá tica do comércio (troca de bens agrícolas, artesanais e sagrados) e também à
celebraçã o das festas maias. Fotografia de Marcelo Lambert, estudioso da histó ria e da cultura dos
povos astecas, incas e maias. 2
Pá gina 17
A agricultura tinha grande importâ ncia na vida dos maias. A maioria da populaçã o
trabalhava no cultivo de feijã o, abó bora, algodã o, cacau, abacate e milho. Este
ú ltimo era a base de sua alimentaçã o.
Por volta do século IX, os maias abandonaram suas cidades subitamente. Para
alguns, as razõ es do abandono foram flagelos naturais, como epidemias, secas
prolongadas, inundaçõ es, terremotos, furacõ es. Para outros, as causas do
abandono das cidades maias foram tragédias provocadas pelo pró prio ser humano,
tais como invasõ es violentas, pressã o de grupos periféricos, insurreiçõ es
populares.
Os conhecimentos e prá ticas dos maias foram incorporados pelos astecas e outros
povos do Vale do México, que conquistaram as cidades maias por volta de 1400.
A astronomia e o calendário
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Para administrar esses cá lculos, foi concebido um sistema simples e engenhoso – tendo por
base o nú mero 20 – reduzindo-se ao emprego de dois símbolos: o ponto para a unidade, a
barra para o cinco, mais um signo em forma de concha alongada equivalente a “zero”, ou
melhor, significando ausência de valor. Esses signos prestavam-se facilmente à composiçã o de
nú meros inteiros, podendo ultrapassar o milhar. Segundo esse sistema mesoamericano, o valor
de posiçã o crescia progressivamente, nas colunas verticais, de baixo para cima. [...]
GENDROP, Paul. A civilização maia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 36-37.
O observató rio El Caracol, em Chichén Itzá , no México, foi construído por volta de 1050. Esse só lido
edifício de pedra com argamassa e plataformas nos quatro lados era usado como observató rio de
astronomia. Fotografia de 2013.
Os incas
Acredita-se que, enquanto caminhavam à procura de terras férteis, os incas
chegaram ao interior da Cordilheira dos Andes por volta do século XIII. Naquelas
terras altas, começaram suas vidas como camponeses e pastores e ergueram a
cidade de Cuzco. Aos poucos, no entanto, ampliaram seus domínios aliando-se aos
povos da regiã o ou submetendo-os. Em 1438, fundaram um império, que teve
Pachakuti como primeiro imperador. No processo de formaçã o do seu império, os
incas assimilaram elementos de outras culturas, inclusive o quéchua, a língua que
mais tarde espalhariam pelos Andes.
DIALOGANDO
Os incas justificavam a dominação sobre outros povos dizendo que o objetivo era tirá-los da
barbárie e levar-lhes a “civilização”. Você conhece outros povos que usaram esse mesmo
argumento, antes ou depois, para justificar suas conquistas?
Pá gina 19
Era grande e majestosa e deve ter sido fundada por gente capaz e inteligente. Tem ruas muito
boas, embora estreitas, e as casas estã o construídas de maciças pedras, belamente unidas [...]
Cuzco era a cidade mais rica das Índias, pelo grande acú mulo de riquezas que chegavam a ela
com frequência, para incrementar a grandeza dos nobres.
LEÓ N, Pedro Cieza de, 1553 apud NEVES, Ana Maria Bergamin; HUMBERG, Flá via R. Os povos da América: dos
primeiros habitantes às primeiras civilizaçõ es urbanas. Sã o Paulo: Atual, 1996. p. 77-80. (Histó ria geral em
documentos).
Maquete: representaçã o em escala reduzida de uma obra de arquitetura ou engenharia a ser executada.
Economia inca
Habitando regiõ es montanhosas, os incas adotavam a irrigaçã o sistemá tica e
construíam terraços na forma de uma imensa escada para a prá tica da agricultura.
Nos degraus mais altos, cultivavam espécies vegetais resistentes ao frio, como a
batata; nos do meio, milho, abó bora e feijã o; nos mais baixos, semeavam as á rvores
frutíferas. Com isso, conseguiam colheitas variadas e fartas o ano inteiro. Os incas
se dedicavam também ao pastoreio: criavam a lhama, animal de carga com grande
resistência, além da alpaca e do guanaco, dos quais obtinham a lã e o leite.
Abaixo, vista dos terraços e construçõ es de Machu Picchu, 2012. À esquerda, uma lhama, no mesmo
local, em 2013.
HEMIS.FR/Image Forum
Alex Robinson/JAI/Corbis/Latinstock
O ayllu e a mita
A maioria da populaçã o inca era composta de famílias camponesas que
trabalhavam na agricultura ou no pastoreio. Um conjunto de famílias unidas por
laços de parentesco ou aliança formava o ayllu, unidade social bá sica, cujo chefe
chamava-se kuraka. As terras de cada ayllu eram divididas em três partes: uma
pertencia ao imperador, outra aos deuses (isto é, aos sacerdotes) e uma terceira
parte, aos camponeses que ali viviam.
Allmaps
Fonte: KINDER, Hermann; HERGT, Manfred; HILGEMANN, Werner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a nuestros
días. 22. ed. Madrid: Akal, 2007. p. 234.
Situado ao longo da Cordilheira dos Andes, o Império Inca abrangia terras hoje pertencentes ao
Equador, ao Peru, à Bolívia, ao Chile e ao norte da Argentina.
A sociedade incaica
No topo da sociedade incaica estava o imperador, intitulado Inca, o “filho do Sol”,
reverenciado e respeitado por todos. Abaixo dele, a nobreza, da qual saíam os
governantes, os sacerdotes e os chefes militares.
Pá gina 21
Para refletir
Leia o texto a seguir com atençã o.
Muita gente pensa que nos países da América Latina são faladas apenas duas línguas, espanhol e
português. Mas na realidade há centenas, ainda que um grande número delas esteja em risco de
extinção.
[...]
Há dois países onde não só o castelhano, mas também certas línguas indígenas têm estatuto
oficial: Peru e Paraguai. No Peru, o quéchua e o aimara sã o reconhecidos como oficiais pela
Constituiçã o, mas num papel secundá rio: na prá tica, sã o reconhecidas apenas para serem
usadas e ensinadas dentro das respectivas comunidades indígenas e nã o há nenhuma tentativa
séria de tratá -las como línguas nacionais. Já no Paraguai, o guarani é realmente a segunda
língua nacional, ensinada em todas as escolas. [...]
COSTA, Antonio Luiz Monteiro Coelho da. As línguas da América Latina. Como é a América Latina, 24 maio 2012.
Blogue. Disponível em: <http://www.comoaamericalatina.blogspot.com.br/2012/05/as-linguas-da-america-
latina.html>. Acesso em: 6 abr. 2016.
a) O texto acima pode ser classificado como jornalístico, literá rio, historiográ fico
ou filosó fico? a) O texto é jornalístico. Professor: comentar que ele possui um lead (abertura por meio da qual se
apresenta o assunto de modo resumido) e um corpo no qual o autor desenvolve o conteú do veiculado na abertura.
Pá gina 22
Dica! Documentário produzido pelo Museu do Índio sobre os indígenas brasileiros. [Duração: 24
minutos]. Acesse: <http://tub.im/rge3nm>.
Francis Castelnau. 1850-1859. Gravura. Biblioteca do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de Sã o Paulo, Sã o Paulo
Hé rcules Florence. 1828. Aquarela. Academia de Ciê ncias da Rú ssia, Moscou
Repare nas diferenças físicas entre os indígenas representados nesta pá gina. As representaçõ es que
os pintores europeus fizeram desses povos sã o quase sempre idealizadas, mas suficientes para
marcar as diferenças entre eles. Cortes de cabelo, adornos, pintura corporal e arte plumá ria
expressam uma grande diversidade sociocultural. As pinturas sã o do século XIX e foram feitas por
Francis Castelnau (primeira imagem, superior) e Hércules Florence (segunda imagem).
Pá gina 23
As línguas indígenas
Um elemento importante da cultura de um povo é a língua; as línguas sã o
agrupadas em famílias e estas, em troncos. As línguas latinas, celtas, germâ nicas e
eslavas, por exemplo, originaram-se todas de um mesmo tronco, o indo-europeu. O
quadro a seguir é uma representaçã o de línguas e famílias pertencentes ao tronco
indo-europeu.
Cultura: modo de um povo viver e interagir com o seu meio. Cada povo possui uma cultura pró pria, e
nenhuma é superior a outra.
TRONCO INDO-EUROPEU
Latim Celta Germânico Eslávico
espanhol bretã o inglês russo
português irlandês holandês polonês
francês etc. gaulês etc. alemã o tcheco etc.
sueco
norueguês etc.
Fonte de pesquisa: TEIXEIRA, Raquel F. A. As línguas indígenas no Brasil. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA,
Aracy Lopes da. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília:
MEC/Unesco, 1998. p. 300.
DIALOGANDO
Porque deriva do latim, que era falado pelo povo da Roma antiga.
TRONCO TUPI
Tupi-guarani Arikém Juruna Mondé
akwá wa karitiana juruna aruá
amanayé xipá ya cinta-larga
anambé gaviã o
Fonte de pesquisa: TEIXEIRA, Raquel F. A. As línguas indígenas no Brasil. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA,
Aracy Lopes da. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília:
MEC/Unesco, 1998. p. 300.
Fonte de pesquisa: TEIXEIRA, Raquel F. A. As línguas indígenas no Brasil. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA,
Aracy Lopes da. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília:
MEC/Unesco, 1998. p. 299.
DIALOGANDO
No nosso dia a dia, usamos, sem perceber, muitas palavras de origem Tupi. Jacaré, por
exemplo, é uma delas. Diga quais das palavras a seguir são de origem indígena: abacaxi, açaí,
amendoim, arara, babaçu, bacurau, beiju, caju e curumim.
Todas elas. As espé cies frutíferas citadas (abacaxi, açaí e caju) foram domesticadas por indígenas.
Pá gina 24
As artes indígenas
Além da língua, outro elemento de diferenciaçã o entre os povos indígenas sã o as
artes praticadas por eles. Segundo um estudo sobre o assunto:
[...] As formas de manipular pigmentos, plumas, fibras vegetais, argila, madeira, pedra e outros
materiais conferem singularidade à produçã o ameríndia, diferenciando-a da arte ocidental,
assim como da produçã o africana ou asiá tica. Entretanto, não se trata de uma “arte indígena”, e
sim de “artes indígenas”, já que cada povo possui particularidades na sua maneira de se
expressar e de conferir sentido à s suas produçõ es. [...]
Pintura corporal no rosto de uma menina Kayapó da aldeia Moykarakô , Sã o Felix do Xingu (PA),
2015.
Pá gina 25
Fig. 1: construçã o de oca, Aldeia Kamayurá , Parque do Xingu, Mato Grosso, 2014.
Fabio Colombini
Fabio Colombini
Fig. 3: mulher Kalapalo preparando beiju, Aldeia Aiha, também no Parque do Xingu, 2011.
Esses povos, por sua vez, reagiram à escravizaçã o por meio de revoltas coletivas,
da violência individual, do saque e da fuga para o Sertã o. Mas os colonizadores
acabaram vencendo pela força e conquistando para si as terras indígenas. As
guerras de apresamento, as grandes fomes que geralmente acompanhavam essas
guerras, a escravizaçã o e, sobretudo, doenças, como gripe, sarampo, tuberculose e
varíola, causaram a morte de dezenas de milhares de indígenas.
Pau-brasil: espécie de madeira nativa da Mata Atlâ ntica: tem o tronco recoberto de espinhos, o interior
avermelhado, e pode atingir até 30 m de altura e 1,5 m de diâ metro.
Tuberculose: infecçã o que se manifesta nos pulmõ es, sistema nervoso, intestino e rins. É transmitida por
leite contaminado, pela saliva e pela manipulaçã o de objetos. Os sintomas são emagrecimento e tosse.
Varíola: doença infecciosa caracterizada por febre alta e erupçõ es na pele, com formaçã o de bolhas com pus.
Costuma deixar marcas.
DIALOGANDO
Você sabe por que, no caso dos indígenas, as doenças mataram mais do que as armas de
fogo?
Os indígenas nã o tinham defesas naturais (imunidade) contra as doenças. Além disso, elas se manifestavam como epidemias,
atingindo muitas pessoas de uma só vez. Nã o havendo quem cuidasse dos doentes, muitos morriam por inaniçã o, como
explicou a antropó loga Manuela Carneiro da Cunha.
Pá gina 26
Demografia e terra
Contrariando previsõ es fatalistas segundo as quais os povos indígenas estariam em
extinçã o, a populaçã o indígena vem crescendo em um ritmo acelerado. Observe a
tabela.
O nú mero de pessoas que se declararam indígenas em 2010 foi 11% maior que o registrado no
Censo de 2000.
Dica! Documentário baseado na obra do sociólogo Darcy Ribeiro sobre o povo brasileiro, com
foco nos indígenas. [Duração: 26 minutos]. Acesse: <http://tub.im/fois4r>.
Em 2010, os cerca de 817 mil índios contabilizados pelo censo do IBGE no país
estavam distribuídos em mais de 305 etnias, que falam 274 línguas, das quais
apenas metade foi estudada e é, de fato, conhecida. Com relaçã o à s terras
indígenas, mais de 80% delas encontram-se na regiã o Norte. Segundo o Instituto
Socioambiental havia no Brasil, em 2016, 700 terras indígenas (TIs), a maior parte
dela na Amazô nia Legal. Conheça a situaçã o dessas terras observando a tabela:
*A extensã o neste grupo refere-se à s TIs em revisã o ou às com restriçã o de uso. Fonte de pesquisa: INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL (ISA). Povos indígenas no Brasil. Disponível em:
<http://pib.socioambiental.org/pt/c/0/1/2/situacao-juridica-das-tis-hoje>. Acesso em: 2 maio 2016.
DIALOGANDO
As terras indígenas correspondem hoje a cerca de 14% do território nacional. Para alguns
grupos, no Brasil “há terra demais para pouco índio”. Para outros, os índios devem possuir
as terras que tradicionalmente ocupam. E você, o que pensa sobre o assunto?
Resposta pessoal.
Em identificação: é quando a Funai, que é o ó rgã o indigenista federal, inicia estudos para definir se
a terra é, de fato, tradicionalmente ocupada por um ou mais povos indígenas. Identificada: é
aquela terra sobre a qual já se possui estudo realizado pela Funai e publicado no Diá rio Oficial da
Uniã o. Declarada: sã o as terras aprovadas pelo Ministro da Justiça, que autoriza a sua demarcaçã o
por meio de uma Portaria. Homologada: terras cuja demarcaçã o foi homologada por meio de um
decreto assinado pelo presidente da Repú blica.
Pá gina 27
1. Dica! Documentário sobre a aldeia indígena Ribeirão Silveira, em Bertioga (SP). [Duração: 27
minutos]. Acesse: <http://tub.im/gjq2e4>.
Outro problema é a invasã o das á reas indígenas (já delimitadas) por fazendeiros,
posseiros, madeireiros e garimpeiros desejosos de explorar as riquezas nelas
existentes. Mais um problema, ainda, é que os povos indígenas sã o numerosos,
falam línguas diferentes e estã o espalhados por á reas distantes umas das outras, o
que dificulta a luta deles por direitos. 2
2. Dica! Vídeo produzido pela ONU abordando os suicídios e o desespero de indígenas Tupi
-Guarani no Brasil. [Duração: 9 minutos]. Acesse: <http://tub.im/pta6nc>.
Palê Zuppani/Pulsar
Pá gina 28
As lutas dos povos indígenas têm rendido frutos. Sua participaçã o ativa nos
trabalhos que deram origem à Constituiçã o de 5 de outubro de 1988 foi importante
para a aprovaçã o de vá rias leis de seu interesse.
Dica! Documentário sobre a luta dos povos indígenas do rio Xingu contra a construção da usina
de Belo Monte. [Duração: 10 minutos]. Acesse: <http://tub.im/zdkxnk>.
O caput do artigo 231 da Constituiçã o de 1988 afirma que “sã o reconhecidos aos
índios sua organizaçã o social, costumes, línguas, crenças e tradiçõ es [...]”. Diz ainda
o mesmo artigo: “Sã o reconhecidos aos índios [...] os direitos originá rios sobre as
terras que tradicionalmente ocupam, competindo à Uniã o demarcá -las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens”.
Além disso, o pará grafo 2º do artigo 210, dessa mesma Constituiçã o, assegura aos
povos indígenas um Ensino Fundamental regular em língua portuguesa,
respeitando a utilizaçã o de suas línguas maternas e processos pró prios de
aprendizagem, incentivando, assim, a educaçã o escolar indígena.
Já se foi o tempo de missioná rios, juristas e políticos decidirem o destino dos índios. Isso cabe a
eles. A eles cabe o direito de decidir seu futuro, resolver o que querem mudar e o que
pretendem manter. A nó s, cabe lutar por uma sociedade que saiba respeitar a diferença e
conviver com ela, possibilitando a todos o acesso à plena cidadania.
Escola indígena com estudantes do povo saterê-maué, em Manaus (AM), 2014. Atualmente vêm
sendo desenvolvidos métodos de ensino e aprendizagem, conteú dos e materiais didá ticos
adequados à educaçã o escolar indígena. A educaçã o oferecida por estas escolas quer ajudar o aluno
a consolidar sua identidade étnica, valorizar o conhecimento tradicional, sua língua e a histó ria do
grupo ao qual pertence. Note que a professora mostrada na imagem também é indígena.
Pá gina 29
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Unemat-MT – 2015)
Tenochtitlán, uma cidade de canais, praças e mercados, pirâ mides, templos, palá cios, lojas e
residências, que começou numa ilha no lago Texcoco e estendeu-se para as praias mais
pró ximas com as quais se comunicava por estradas. Na época da conquista espanhola, ela era
uma orgulhosa metró pole de 200 mil habitantes, tã o soberba que o conquistador Bernal Diaz
del Castillo registrou que mesmo “aqueles que estiveram em Roma ou Constantinopla dizem
que em termo de conforto, regularidade e populaçã o nunca viram algo semelhante”.
PINSKY, Jaime et al. História da América através de textos. 3. ed. Sã o Paulo: Contexto, 1991. Adaptado.
a) Inca.
b) Asteca.
c) Maia.
d) Tolteca.
e) Tupinambá .
1. Resposta: b.
2. (UEL-PR – 2014) As cidades antigas, construídas por diversas sociedades, expressaram através
do tempo sua cultura, arquitetura, ciência e modo de vida. Muitas se tornaram monumentos ao ar
livre, nos quais se desenvolveram pesquisas arqueoló gicas que abasteceram de objetos histó ricos
as maiores coleçõ es museográ ficas europeias. Relacione as cidades, na coluna da esquerda, com as
suas respectivas sociedades, na coluna da direita.
2. Resposta: e.
a) Curaca.
b) Ayllu.
c) Calpulli.
d) Halach Uinic.
e) Batab.
3. Resposta: b.
I. A dizimaçã o da populaçã o indígena gerou uma crise demográ fica e ocasionou o desaparecimento
de grupos ameríndios.
II. Houve inú meros movimentos migrató rios indígenas, forçados ou voluntá rios, para o interior do
Brasil; para fugirem das epidemias e da escravizaçã o.
III. O despovoamento do litoral brasileiro durante o primeiro século de ocupaçã o conferiu uma
dimensã o trá gica à colonizaçã o.
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
4. Resposta: e.
Pá gina 30
5. (Enem/MEC – 2015)
A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras; convém a saber, nã o se acha nela
F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim nã o têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa
maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.
GÂ NDAVO, P. M. A primeira história do Brasil: histó ria da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos
Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004 (adaptado).
A observaçã o do cronista português Pero de Magalhã es de Gâ ndavo, em 1576, sobre a ausência das
letras F, L e R na língua mencionada, demonstra a
5. Resposta: d.
6. (Enem/MEC)
Em geral, os nossos tupinambá ficam bem admirados ao ver os franceses e os outros dos países
longínquos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã , isto é, pau-brasil. Houve uma vez
um anciã o da tribo que me fez esta pergunta: “Por que vindes vó s outros, mairs e peró s
(franceses e portugueses), buscar lenha de tã o longe para vos aquecer? Nã o tendes madeira em
vossa terra?”
(LÉ RY, J. Viagem à Terra do Brasil. In: FERNANDES, F. Mudanças Sociais no Brasil. Sã o Paulo: Difel, 1974)
O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz um diá logo travado, em 1557, com um
anciã o tupinambá , o qual demonstra uma diferença entre a sociedade europeia e a indígena no
sentido
6. Resposta: a.
››Texto 1
Etnocentrismo: tendência para considerar a cultura de seu pró prio povo como a medida para
todas as outras.
››Texto 2
[Os índios] nã o têm fé, nem lei, nem rei (...). sã o mui desumanos e cruéis, (...) sã o mui
desonestos e dados à sensualidade (...). Todos comem carne humana e têm-na pela melhor
iguaria de quantas pode haver (...). Vivem mui descansados, nã o têm cuidado de cousa alguma
se nã o de comer e beber e matar gente.
7. a) Sim, porque o autor expressa a visã o de mundo dominante no Ocidente cristã o daquela é poca e julga o “outro”, no caso
os indígenas, tomando por bases suas pró prias crenças e valores. Seu etnocentrismo fica evidente quando ele os acusa de
desonestos, preguiçosos (“mui descansados”), relapsos (“nã o têm cuidado de cousa alguma”) e de só se dedicarem a comer,
beber e matar gente.
b) Comente algumas das consequências, para as populaçõ es indígenas, da chegada dos portugueses
à América.
7. b) Os indígenas foram vítimas das guerras de conquista e apresamento; das grandes fomes que geralmente acompanham
as guerras; da desestruturaçã o social; da escravizaçã o, e, sobretudo, das doenças, como gripe, sarampo, tuberculose, varíola
e malá ria, que provocaram a morte de dezenas de milhares de pessoas.
Pá gina 31
II. Leitura e escrita em História
PROFESSOR, VER MANUAL.
O império do Sol
Muito longe [...] na Cordilheira e nas costas do Pacífico, estendia-se um outro mundo, o
Tahuantinsuyu [...]. Era um império repleto de cidades imponentes – enormes cidadelas, onde
circulava um exército de funcioná rios –, cortado por estradas que passavam por cristas e
abismos graças a inú meras pontes de cipó s e milhares de escadarias de pedra. Por todo lado
havia postos de parada, que eram ao mesmo tempo albergues e depó sitos, à beira desses
itinerá rios trilhados pelos correios oficiais ou chasqui, enviados pelos representantes do Inca.
Todas as estradas terminavam na capital do império, Cuzco.
Esse outro mundo era o dos incas e dos povos a eles submetidos. [...]
[...] O império inca era composto por um mosaico de povos e de paisagens naturais, dispersos
num quadro montanhoso que dificultava a comunicaçã o. Sua expansã o encontrava obstá culos.
“Enquanto no norte e no sul o império dominava imensas regiõ es, era detido a oeste e a leste
por duas fronteiras: uma, oceâ nica [...], outra, geopolítica, onde elementos naturais e pessoas
resistiam melhor que em outro lugar à política expansionista imperial. [...]
A força dos incas é primeiramente o império de uma língua, o quéchua, imposta à s populaçõ es
tributá rias e ensinada aos chefes dos grupos derrotados. É também o resultado de um
centralismo estatal e de uma política de deportaçã o que fixava nas regiõ es controladas pelo
Império Inca as etnias oriundas das regiõ es insubmissas. É a eficá cia de uma rede viá ria de
vinte mil quilô metros que cobria a maior parte do país. Por fim, é um laço ideoló gico e
religioso, o culto ao Sol Inti, que nã o parava de reafirmar a superioridade do Inca.
GRUZINSKI, Serge. A passagem do século: 1480-1520: as origens da globalizaçã o. Sã o Paulo: Companhia das Letras,
1999. p. 76-78. (Virando séculos).
JTB Photo/UIG via Getty Images
Vista de Machu Picchu, em Cuzco, 2013. Situadas no Peru, a 2 560 m de altitude, as ruínas sã o hoje
um dos mais instigantes sítios arqueoló gicos do mundo.
d) Em dupla. Na visã o de vocês, quais dessas razõ es têm maior potencial explicativo?
Pá gina 32
Colonizações: espanhóis e
Capítulo 2
ingleses na América
A fonte 1 é texto da historiadora Janice Theodoro; já a fonte 2 é uma imagem atual
da Igreja e Convento de Santo Domingo, localizados em Cuzco, cidade que um dia
foi capital dos incas.
››Fonte 1
O colonizador, como se fosse um escultor, talhou a América na forma em que havia imaginado.
Destruía pirâ mide para construir igrejas, derrubava habitaçõ es para obter o desenho da praça
ou o traçado desejado para as ruas, jogava pedras nos canais para que os cavalos pudessem
circular melhor na cidade. Reconstituía-se tudo o que era possível para que o nú cleo urbano
lembrasse a Europa.
››Fonte 2
Professor: o texto confirma a imagem e ambos se complementam. Como disse o historiador Cleber Cristiano Prodanov: “Os
espanhó is pouco se importaram com a arte e as formas dos incas; destruíram tudo que nã o fosse a imagem da Europa.
Portanto, alé m de obterem riquezas, os europeus consideravam importante destruir as formas de representaçã o dos
americanos, mostrar sua fragilidade, humilhar seu imperador e seus deuses, liquidá -los també m moralmente [...].”
(THEODORO, Janice. Descobrimentos e renascimento. Sã o Paulo: Contexto, 1991. p. 46)
Hemis/Alamy/Glow Images
Pá gina 33
A Conquista
Os espanhó is iniciaram a ocupaçã o das terras da América pelas ilhas chamadas de
Guanaani pelos nativos e renomeadas pelos espanhó is como Sã o Salvador. Mas os
metais preciosos encontrados nesses locais eram insuficientes para saciar a “sede
de ouro e prata” que moveu aqueles europeus a virem para a América.
A conquista das terras astecas
Em 1519, o oficial espanhol Herná n Cortez desembarcou no litoral do México com
508 soldados, 16 cavalos e 14 canhõ es. Logo que estabeleceram contatos com os
ameríndios, Cortez e seus homens descobriram que o Império Asteca oprimia e
explorava os povos submetidos ao seu domínio. E que, por conta disso, os astecas
tinham muitos inimigos, entre os quais estavam os tlaxcaltecas, aguerridos
habitantes da cidade-Estado de Tlaxcala. De sua parte, os espanhó is buscaram
aliar-se aos povos insatisfeitos com os astecas. Os tlaxcaltecas, por sua vez,
também viram na aliança com os espanhó is uma possibilidade de destruir o
Império Asteca. Foi assim que espanhó is, tlaxcaltecas e muitos outros adversá rios
dos astecas marcharam sobre Tenochtitlá n, a capital do Império Asteca, a fim de
conquistá -la.
Movidos pela crença de que tinham direito à s terras americanas e contando com a
ajuda de milhares de aliados indígenas, Cortez e suas forças venceram os homens
de Montezuma (governante asteca) e conquistaram Tenochtitlá n (1521). Nã o se
sabe ao certo o nú mero de indígenas que auxiliou Cortez a tomar a capital asteca;
historiadores especializados acreditam que na primeira investida espanhola esse
nú mero tenha sido de 6 mil homens; e que na investida final contra a capital asteca
tenha chegado a 200 mil aliados indígenas, que nada receberam em troca.
Batalha de Tepexic. Esta imagem é uma có pia de um dos 80 desenhos que constam do Lienzo de
Tlaxcala, obra extraordiná ria feita por artistas indígenas da cidade de Tlaxcala no século XVI. Note
que Herná n Cortez é desenhado a cavalo enquanto seus aliados batalham a pé.
Escola espanhola. Sé c. XVII. Ó leo sobre painel. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Esta pintura do século XVII representa a conquista de Tenochtitlán pelos espanhó is. Como a
imagem sugere, a aliança dos espanhó is com dezenas de milhares de nativos foi importante fator da
Conquista. Note que o autor da obra destaca os espanhó is mostrando-os em primeiro plano e numa
posiçã o superior a de seus aliados indígenas.
Pá gina 34
DIALOGANDO
Resposta pessoal. Professor: comentar que os incas estranharam que um líder pudesse mentir. Entre eles o líder era visto
como um ser semidivino e que, portanto, só falava a verdade.
1. Dica! Documentário sobre a conquista do México liderada por Cortez. [Duração: 46 minutos].
Acesse: <http://tub.im/x5i7g5>.
2. Dica! Documentário sobre a conquista do Império Inca pelos espanhóis. [Duração: 46 minutos].
Acesse: <http://tub.im/bdx59u>.
Christian Vinces/Shutterstock
Igreja e Convento de Sã o Francisco na principal praça do Centro Histó rico de Lima, cuja construçã o
se iniciou no século XVI. Fotografia de 2012.
Pá gina 35
Para refletir
A resistência indígena
Homens, mulheres e crianças indígenas se reú nem para homenagear seus ancestrais em Cuzco, no
Peru, 1989. As pedras nas quais eles se apoiam sã o restos de uma muralha erguida pela resistência
inca aos espanhó is.
1. da democracia racial;
2. da cordialidade espanhola;
3. do indígena receptivo;
a) Alternativa 4.
b) A imagem reforça e documenta o afirmado no texto, pois descendentes de indígenas assistem a uma celebraçã o
acomodados ou apoiados em pedras que faziam parte de uma muralha erguida pelos incas para lutar contra os
conquistadores espanhó is.
c) Tente responder: por que, durante muito tempo, a resistência indígena durante
a conquista europeia da América esteve ausente dos livros escolares?
c) Essa atitude de negaçã o do indígena como sujeito de sua histó ria deveu-se a uma multiplicidade de fatores, entre os quais
cabe destacar:
•durante muito tempo a histó ria de vié s positivista apoiou-se em documentos escritos; os povos á grafos eram considerados
povos parados no tempo, sem histó ria;
• a historiografia de filiaçã o positivista produziu uma histó ria eurocê ntrica, apresentando os indígenas sempre como
coadjuvantes; além disso, postulou que, mais cedo ou mais tarde, o processo civilizató rio levaria à completa integraçã o dos
indígenas a nossa sociedade, ou ao seu desaparecimento.
Pá gina 36
Fac-símile da capa do livro Sete mitos da conquista espanhola, de Matthew Restall. O livro desfaz
mitos e lança luz sobre uma questã o que sempre preocupou historiadores: o que explica a
conquista espanhola da América?
Uma declaraçã o clá ssica é a de [...] que “a histó ria da Conquista do México foi concluída com a
rendiçã o da capital”. Embora a frase esteja de acordo com a vasta maioria do que foi escrito
sobre a Conquista, desde o século XVI até o presente, apó s a destruiçã o de Tenochtitlá n os
espanhó is nã o haviam conquistado o México; haviam tã o somente desmembrado o Império
Asteca. [...]
[...] Enquanto isso, a presença hispâ nica no restante da regiã o coberta pelo Império Asteca era
mínima – e seu controle sobre a á rea mais ampla que viria a ser o México moderno,
praticamente nulo. Na verdade, os espanhó is sequer haviam posto os pés na maioria dos
territó rios do que seria a Nova Espanha colonial [...]. No início da década de 1520, Cortés
aparentemente acreditava [...] que Michoacá n fora subjugada e encontrava-se sob o domínio
hispâ nico – muito embora [...] a populaçã o nativa considerasse seu impé rio a potência
dominante da regiã o. [...] Portanto, ao mesmo tempo em que 1521 representou o fim da guerra
[...] contra o Império Asteca, assinalou também o princípio das guerras de conquista na maior
parte do México e Mesoamérica [...].
[...] De par com o tênue domínio do México central pelos espanhó is em 1521, o controle do
Peru era quase inexistente em 1532 (nã o obstante a captura e execuçã o de Atahuallpa) [...]. O
Estado inca independente subsistiu até seu governante, Tú pac Amaru, ser executado pelos
hispâ nicos em 1572 – e, mesmo depois disso, porçõ es significativas dos Andes continuaram
fora do controle colonial direto.
RESTALL, Matthew. Sete mitos da conquista espanhola. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2006. p. 136-137.
Mito da completude: para o historiador Matthew Restall, a ideia de que a conquista foi imediata e total é
um mito ao qual ele dá o nome de mito da completude.
Pá gina 37
»» as visões de mundo dos astecas e incas eram muito diferentes das dos
espanhóis. A guerra para os astecas incluía a realizaçã o de cerimô nias que
antecediam as batalhas – que eliminavam a possibilidade de ataques de surpresa –
e a captura de inimigos para posterior execuçã o ritual, em vez de matá -los no ato.
Detalhe de O jovem Lautaro, obra do século XIX. O líder araucano Lautaro continua presente no
imaginá rio popular chileno. Nas terras onde hoje é o Chile, os indígenas araucanos ofereceram dura
e longa resistência aos espanhó is. Os araucanos aprenderam com os espanhó is a usar o cavalo como
arma de guerra e ficaram conhecidos pela maestria com que utilizavam esse animal em diversas
situaçõ es.
Pá gina 38
A economia colonial
A colonizaçã o da América espanhola foi impulsionada por nobres sem fortuna,
comerciantes, aventureiros e pelos reis da Espanha, ou seja, por interesses
pú blicos e privados, e se insere no contexto do mercantilismo. A crença no
metalismo, por exemplo, ajuda a explicar por que os espanhó is daquele tempo
manifestavam tanta sede de ouro.
A mita, há bito inca adaptado pelos espanhó is, era a obrigaçã o que os indígenas
tinham de trabalhar durante 4 meses por ano em troca de baixos salá rios. Esses
trabalhadores (os mitayos) recebiam por seu trabalho cerca de um terço do salá rio
de um trabalhador livre daquela época. Parte do salá rio era paga em moeda (ou
metal) e parte, em alimentos, tecidos e bebidas. Muitos deles se viciavam no
consumo de á lcool e acabavam morrendo.
Pá gina 39
A mineração
Na América, os espanhó is iniciaram a extraçã o de metais preciosos pela ilha de
Hispaniola (atuais Haiti e Repú blica Dominicana). O ouro ali encontrado, no
entanto, era ouro de aluvião e se esgotou rapidamente. Foi somente em 1545,
com a descoberta das minas de prata de Potosí (atual Bolívia) e, no ano seguinte,
das de Zacatecas (atual México), que a mineraçã o veio a ser o setor mais dinâ mico
da economia colonial.
Ouro de aluvião: ouro depositado nas margens ou no leito dos rios e de fácil extraçã o.
Esta gravura de Théodore de Bry (1590) mostra pessoas conduzindo lhamas carregadas de prata.
Elas deixavam as terras altas da cordilheira andina depois de um longo percurso e chegavam ao
litoral da América banhado pelo Atlâ ntico. De lá a prata era embarcada para o porto de Sevilha, na
Espanha.
Pá gina 40
A agropecuária
A agropecuá ria foi praticada em extensas á reas do territó rio americano. A unidade
produtora bá sica nos campos coloniais foi a fazenda (hacienda), grande
propriedade rural voltada para a policultura. Entre as plantas mais cultivadas
estavam o milho, a batata, o cacau, e o tabaco (nativas da América) e a cana-de-
açú car (introduzida na América pelos europeus); além disso, criava-se gado de
corte e de transporte (como mulas e cavalos).
Engenho de produçã o de açú car na regiã o das Antilhas em uma gravura do século XVIII. No canto
superior direito, vê-se a casa do fazendeiro; no canto inferior direito, as habitaçõ es dos escravos; ao
centro, as plantaçõ es de cana e, no canto inferior esquerdo, a casa onde se fabricava o açú car.
Pá gina 41
Obraje: oficina que utiliza o trabalho manual para produzir tecidos, artigos de couro, cigarros, charutos, entre
outros.
O porto de Sevilha, c. 1580, detalhe da obra de Sanchez Coello (1531- 1589). A imagem desse porto
ajuda a imaginar o que pode ter sido o movimentado comércio entre a Espanha e suas colô nias na
América.
Pá gina 42
Esse monopó lio do comércio colonial acabou provocando uma reaçã o esperada: o
contrabando, muito praticado em toda a América espanhola.
A administração colonial
O principal ó rgã o da administraçã o espanhola na América foi o Conselho Real e
Supremo das Índias, criado por Carlos V, em 1524. Com sede na Espanha, esse
ó rgã o era encarregado de todas as questõ es coloniais de ordem legislativa,
eclesiá stica, militar ou jurídica.
Allmaps
Fonte: THE TIMES Atlas of the World History. Londres: Times Books, 1990. p. 161.
Pá gina 43
A sociedade colonial
A sociedade colonial hispano-americana era formada basicamente por:
chapetones ou peninsulares (colonos nascidos na Espanha), criollos (filhos de
espanhó is nascidos na América), mestiços (filhos de peninsulares ou de criollos
com indígenas ou africanas), indígenas (maioria da populaçã o) e negros
escravizados. Essa sociedade possuía hierarquia rígida e pouca mobilidade social
(a dificuldade de ascensã o social era grande).
O início da vida desses primeiros colonos que vieram para a América inglesa nã o
foi fá cil, pois tiveram de enfrentar a fome, o frio, as doenças e a resistência dos
indígenas à ocupaçã o de suas terras. Esses fatores levaram ao fracasso a primeira
experiência de colonizaçã o inglesa em terras americanas.
No século XVII, porém, a Inglaterra e sua crescente burguesia decidiram ativar os
negó cios coloniais. Assim, para ocupar efetivamente a costa atlâ ntica da América, o
rei inglês Jaime I criou, em 1601, duas Companhias de Comércio: a Companhia de
Londres, que ocuparia a regiã o Sul, e a Companhia de Plymouth, que ficaria com o
Norte. Essas companhias eram formadas por capitalistas interessados em lucrar
com o transporte de pessoas e mercadorias.
Pá gina 44
E, por isso, lançaram uma propaganda prometendo terras férteis e uma nova vida
à queles que embarcassem para a América.
Dica! Documentário sobre os primeiros ingleses que chegaram à América do Norte. [Duração: 43
minutos]. Acesse: <http://tub.im/i9nsvj>.
Os primeiros colonos
As pessoas atraídas pela propaganda das Companhias de Comércio eram de
diversas origens e condiçõ es sociais: aventureiros, degredados, mulheres para
serem leiloadas como esposas, ó rfã os e crianças raptadas... Havia também:
Robert Walter. 1857. Ó leo sobre tela. Brooklyn Museum of Art. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Peregrinos deixando a Inglaterra rumo à América. Nessa obra de 1857, o pintor Robert Walter Weir
os representa portando a Bíblia e orando.
DIALOGANDO
Professor: comentar que ocorreu uma apropriaçã o da memó ria da colonizaçã o: só a parte wasp (em inglê s, branco, anglo-
saxã o e protestante) da populaçã o foi valorizada, enquanto os indígenas, os africanos e os vá rios grupos europeus foram
mantidos no esquecimento.
Pá gina 45
Os indígenas resistiram ao avanço dos colonos europeus sobre suas terras por
meio de violentos ataques a eles. Durante a colonizaçã o, esses conflitos se
intensificaram e alguns deles culminaram em acordos de demarcaçã o de terras. Em
decorrência desses acordos surgiram, também, as reservas indígenas, á reas
destinadas exclusivamente a indígenas. No entanto, muitos desses acordos foram
violados, e as á reas das reservas indígenas, desrespeitadas.
Edward S. Curtis/Corbis/Latinstock
Pá gina 46
As Treze Colônias
COLÔNIAS ORIGINAIS
Nome Fundada por Ano
Virgínia Companhia de Londres 1607
New Hampshire Companhia de Londres 1623
Massachusetts John Mason e outros separatistas 1620- 1630
(Plymouth) puritanos
Maryland Lord Baltimore 1634
Connecticut Emigrantes de Mass 1635
Rhode lsland Roger Williams 1636
Carolina do Norte Emigrantes da Virgínia 1653
Nova York Holanda 1613
Nova Jersey Barkeley Carteret 1664
Carolina do Sul Nobres ingleses 1670
Pensilvâ nia William Penn 1681
Delaware Suécia 1638
Geó rgia George Oglethorpe 1733
Fonte: KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. Sã o Paulo: Contexto, 2007. p.
44.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício et al. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 62.
O mapa mostra as Treze Colô nias que deram origem aos Estados Unidos da América. Dez delas
foram fundadas por britâ nicos. Nova York, cujo primeiro nome foi Nova Amsterdã , era
originalmente holandesa. Delaware foi colonizada por suecos. Todas elas passaram depois ao
domínio britâ nico.
Pá gina 47
As colônias do Centro-Norte
As colô nias do Centro-Norte da costa Atlâ ntica, á rea de clima temperado,
semelhante ao europeu, desenvolveram-se com base na policultura (trigo, maçã ,
batata, milho), na pequena propriedade e na mã o de obra familiar ou servil. Além
disso, produziram também manufaturas feitas de lã , couro, ferro e madeira. Esses
produtos eram exportados para diferentes lugares; era o chamado comércio
triangular. Veja como esse lucrativo comércio funcionava:
» Passo 1 – usando navios pró prios, os colonos do Norte compravam melaço das
Antilhas e o transformavam em rum.
» Passo 2 – essa bebida era levada para a costa ocidental da Á frica e trocada,
usualmente, por africanos escravizados.
Dica! Vídeo sobre o comércio triangular na colonização inglesa. [Duração: 3 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/ka2nmk>.
Allmaps
Fonte: NARO, Nancy P. S. A formação dos Estados Unidos. 3. ed. Sã o Paulo/Campinas: Atual/Editora da Unicamp,
1987. p. 15. (Discutindo a Histó ria).
O comércio triangular enriqueceu as colô nias do Centro-Norte e fortaleceu-as diante da metró pole
inglesa; além disso, contribuiu também para que ganhassem capacidade de decidir com autonomia.
Pá gina 48
As colônias do Sul
O Sul – regiã o de clima quente e planícies extensas – produziu, desde cedo, gêneros
agrícolas de larga aceitaçã o na Europa, como o fumo, o algodã o e o anil. Desde cedo
também os fazendeiros sulistas trouxeram escravizados da Á frica Ocidental para
trabalharem nas suas plantaçõ es. Assim, o Sul foi sendo ocupado por plantations
(grandes propriedades escravistas que cultivavam um ú nico produto, como o
algodã o, por exemplo). Com isso, formou-se na regiã o uma sociedade aristocrá tica
e caracterizada por grande desigualdade social. Os sulistas vendiam fumo, algodã o
e anil para a Inglaterra e compravam dela quase tudo de que necessitavam: desde
ferramentas e livros até garfos, facas, entre outros. Essa dependência econô mica
em relaçã o à metró pole inibia o afloramento de ideias de independência política.
Currier and Ives. 1884. Coleçã o particular. Foto: PhotoQuest/Getty Images
Assembleia: ó rgã o eleito pelos homens livres, os ú nicos com direito de votar e de ser votados.
Governador: em algumas colô nias os governadores eram nomeados pela monarquia inglesa e tinham o
poder de anular (vetar) as leis contrá rias aos interesses metropolitanos; em outras eram eleitos pelos pró prios
colonos e nã o tinham direito de veto.
Pá gina 49
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. Interprete a seguinte afirmaçã o:
Os espanhó is pouco se importaram com a arte e as formas dos incas; destruíram tudo que nã o
fosse a imagem da Europa. Portanto, além de obterem riqueza, os europeus consideravam
importante destruir as formas de representaçã o dos americanos, mostrar sua fragilidade,
humilhar seu imperador e seus deuses, liquidá -los também moralmente [...]
PRODANOV, Cleber Cristiano. O mercantilismo e a América. Sã o Paulo: Contexto, 2001. p. 46. (Repensando a Histó ria
Geral).
1. Com essa afirmaçã o o historiador Prodanov quer chamar a atençã o para outro mó vel da Conquista, alé m da busca
obsessiva por ouro e prata: o desejo europeu de impor aos ameríndios seu modo de vida, valores e crenças. Um exemplo
disso é que as está tuas de deuses indígenas levadas para a Europa eram rapidamente derretidas e transformadas em
moedas de ouro ou prata, com a efígie do rei da Espanha.
2. (UFPel-RS)
Naquele tempo, não havia doenças, nem febres, nem doenças dos ossos ou de cabeça [...].
Naquele tempo, tudo estava em ordem. Os estrangeiros mudaram tudo quando chegaram. De
fato, por mais saudosismo que possa expressar esse lamento, parece mesmo que as doenças do
Velho Mundo foram mais frequentemente mortais nas Américas do que na Europa. O
missioná rio alemã o chegou inclusive a escrever no finalzinho do século XVIII que os índios
morrem tã o facilmente que só a visã o ou o cheiro de um espanhol os fazem passar deste para
outro mundo. Umas quinze epidemias dizimaram a populaçã o do México e do Peru.
FERRO, Marc. História das colonizações - das conquistas às independências - séculos XIII a XIX. Sã o Paulo: Cia. das
Letras, 1996.
Codex Florentino. C. 1540. Litogravura. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
c) Imperialismo ibérico e dos Países Baixos exterminando as populaçõ es incas, maias e astecas, na
Idade Contemporâ nea.
d) Mercantilismo europeu nas colô nias anglo-saxô nicas, desde o final da Idade Média.
2. Resposta: a.
3. (Unesp-SP)
[...] como puder, direi algumas coisas das que vi, que, ainda que mal ditas, bem sei que serã o de
tanta admiraçã o que não se poderã o crer, porque os que cá com nossos pró prios olhos as
vemos nã o as podemos com o entendimento compreender.
O processo de conquista do México por Cortés estendeu-se de 1519 a 1521. A passagem acima
manifesta a reaçã o de Herná n Cortés diante das maravilhas de Tenochtitlá n, capital da
Confederaçã o Mexica. A reaçã o dos europeus face ao novo mundo teve, no entanto, muitos aspectos,
compondo admiraçã o com estranhamento e repú dio. Tal fato decorre:
Pá gina 50
3. Resposta: c.
4. (Unesp-SP) A mineraçã o foi a atividade econô mica mais importante da América Espanhola
durante o período colonial. Mú ltiplos fatores condicionaram a formaçã o e a decadência dos
complexos mineradores do altiplano andino e do planalto mexicano. Assinale a modalidade de mã o
de obra que predominou nas minas de prata dos referidos complexos, durante os séculos XVI e XVII.
4. Resposta: a.
5. (UFMG) Leia estes trechos em que se trata das relaçõ es de trabalho nas colô nias espanholas da
América:
VAINFAS, Ronaldo. Economia e sociedade na América Espanhola. Rio de Janeiro: Graal, 1984. p. 61-4.
5. Resposta: c.
b) Baseava-se numa forma de servidã o temporá ria que submetia os colonos pobres a um conjunto
de obrigaçõ es em relaçã o aos grandes proprietá rios de terras.
6. Resposta: c.
Pá gina 51
a) Observe o vestuá rio, a postura e os acompanhantes dos líderes mostrados na pintura. Quem sã o
eles?
a) À esquerda, vê -se o chefe asteca, Montezuma; em sua frente, à direita, está o líder espanhol Herná n Cortez. Repare que o
líder indígena e seus acompanhantes vestem-se com trajes tradicionais dos astecas: tangas, mantos sobre os ombros e
sandá lias; Cortez, por sua vez, aparece vestido à moda da nobreza espanhola do sé culo XVI. Tanto Montezuma quanto Cortez
aparecem sentados em cadeiras bem trabalhadas, mas o ú ltimo encontra-se sobre um tablado.
b) A índia que se vê ao lado de Cortez é Malinche, uma jovem que tinha sido aprisionada pelos
astecas e presenteada aos espanhó is logo que eles chegaram à América. Por isso, Malinche
guardava um forte ressentimento dos astecas. No decorrer do tempo, ela decidiu trocar o nome
para Marina, adotou o cristianismo e tornou-se mulher de Cortez, seu braço direito, intérprete, guia
e conselheira. O que Malinche parece estar fazendo?
b) Na cena ela tem o dedo indicador apontado para os indígenas e, ao que parece, está traduzindo o que eles dizem para
Cortez. Ela sabia falar o nahuatl, língua oficial do Impé rio Asteca e logo aprendeu a falar també m o espanhol. Para muitos
mexicanos, Malinche foi uma traidora, pois passou para o lado dos espanhó is. Até hoje, no México, quando se quer dizer que
algué m é antimexicano, diz-se que é “malinchista”.
c) Com base nessa pintura é possível concluir se o primeiro encontro formal entre astecas e
espanhó is foi violento ou amistoso? Explique.
c) A pintura informa que o primeiro encontro formal entre espanhó is e ameríndios foi amistoso, como se pode ver pelos
presentes que os astecas estã o oferecendo aos espanhó is. O cocar, ao centro e no alto, destinado a Cortez, juntamente com
outros presentes que se encontram no chã o: pedras preciosas, aves típicas daquela regiã o da Amé rica, gaiolas com pá ssaros
(provavelmente desconhecidos dos espanhó is) e uma outra gaiola, no canto inferior esquerdo, com um animal de maior
estatura.
d) Qual a importâ ncia para a Histó ria dessa e de outras pinturas do Lienzo de Tlaxcala?
d) Essas pinturas expressam sensibilidades e té cnicas de artistas indígenas, bem como as rivalidades entre os pró prios
ameríndios no interior do Impé rio Asteca à é poca da Conquista.
[...] Mais de uma vez os autores empregaram a expressã o “genocídio” para caracterizar o
massacre que as populaçõ es indígenas sofreram na América do Norte. Isto nã o é incorreto nem
diferente do que ocorria em todo o resto da América. A ideia europeia de colonizaçã o significou
uma mortandade imensa por todo o territó rio da América.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos: da colô nia à independência, 5. ed. Sã o Paulo: Contexto, 1999. p. 44. (Repensando a
Histó ria geral).
a) Dê o significado de “genocídio”.
Pá gina 52
A América portuguesa e a
Capítulo 3
presença holandesa
Professor: o Brasil é hoje o produtor de açú car mais competitivo do mundo, responsá vel por cerca de 40% do produto
comercializado no mercado internacional. Além disso, está entre os maiores produtores mundiais de cana-de-açú car,
maté ria-prima usada também para fazer rapadura, cachaça, á lcool combustível e, mais recentemente, biodiesel.
Diferentemente do que ocorria no Nordeste colonial, em que a produçã o de açú car contava apenas com a força humana,
animal ou da á gua, boa parte da produçã o atual é mecanizada. Em Sã o Paulo, por exemplo, cerca de 85% da produçã o de
cana-de-açú car já é feita por colheitadeiras. Isso significa menos empregos para boias-frias, trabalhadores agrícolas
contratados apenas na é poca da safra e cujo trabalho é considerado extenuante. Fontes para os dados:
<https://www.fao.org.br/download/PA20142015CB.pdf> e <http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?
codTexto=13601>. Acessos em: 17 mar. 2016.
Pá gina 53
Dica! Vídeo apresentando o pau-brasil e o local onde foi fundada a primeira feitoria. [Duração: 28
minutos]. Acesse: <http://tub.im/hkjmrg>.
Além do perigo representado pela ameaça francesa, havia também o interesse dos
portugueses nas riquezas desta parte da América. Por isso, a monarquia
portuguesa encabeçada por D. Joã o III enviou para cá , em 1530, a expediçã o de
Martim Afonso de Souza, que combateu os franceses, explorou o litoral do Brasil
até o Rio da Prata, fundou Sã o Vicente, em 1532 (a primeira vila), e ergueu o
primeiro engenho destinado à produçã o de açú car. Teve início, assim, a
colonizaçã o portuguesa na América. 1
Engenho: unidade de produçã o colonial especializada na elaboraçã o de derivados da cana-de-açú car, como o
pró prio açú car, o melado e a aguardente.
Administração colonial
Durante sua longa histó ria, o Império Português – que abrangia terras como
Macau, na China; Goa, na Índia; Angola, na Á frica; e Brasil, na América – adotou
diferentes formas de administraçã o nas suas colô nias. A primeira delas foi o
sistema de capitanias hereditá rias, utilizado inicialmente nas ilhas portuguesas do
oceano Atlâ ntico e, depois, no Brasil e em Angola. 2
As capitanias hereditárias
Esse sistema consistia na doaçã o a particulares (os capitã es donatá rios) do direito
de administrar e tirar proveito econô mico de imensos lotes de terra na costa
brasileira. Eram 15 capitanias e 12 donatá rios, isso porque alguns deles, como
Martim Afonso de Souza e seu irmã o, Pero Lopes de Souza, receberam mais de uma
capitania. As primeiras foram doadas por Dom Joã o III, em 1534, a homens que
tinham prestado serviços ao Império Português na Á frica, no Oriente ou em
Portugal.
»» retirar para si a vintena (5%) de que render o pau-brasil, assim como toda
espécie de drogas e especiarias;
Pá gina 55
Fonte: REVISTA DE HISTÓ RIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. ano 10, n. 108, set. 2014, p. 12.
Uma pesquisa recente feita pelo engenheiro Jorge Cintra, professor de Informaçõ es Espaciais na
USP, descobriu que as capitanias do norte foram divididas de forma vertical e nã o horizontal, como
até pouco tempo se pensava. Essa pesquisa muda a maneira de se ver a configuraçã o do Brasil nas
primeiras décadas.
O Governo-Geral
Por sua posiçã o geográ fica estratégica, o rei Dom Joã o III escolheu a Bahia para
sede do Governo-Geral. Para o cargo de primeiro governador do Brasil nomeou
Tomé de Souza, que recebeu do rei parte dos poderes pertencentes aos
donatá rios; era ele agora o chefe da administraçã o e o comandante militar da
Colô nia. Tomé de Souza chegou à Bahia, em 1549, acompanhado de três auxiliares:
o capitã o-mor, que cuidava da defesa, o ouvidor-mor, encarregado da justiça, e o
provedor-mor, responsá vel pelas finanças. Com ele vieram também cerca de mil
pessoas: um arquiteto, vá rios pedreiros, carpinteiros, degredados, funcioná rios,
soldados e jesuítas chefiados por Manuel da Nó brega.
Degredado: pessoa expulsa de Portugal sob a acusaçã o de pequenos furtos, promessas de casamento nã o
cumpridas, adultério, feitiçaria. Conforme afirmou o historiador Ronaldo Vainfas: “[...] A imagem dos
degredados como grandes assassinos ou perigosos ladrõ es nã o resiste, assim, à s evidências da documentaçã o”.
(VAINFAS, 2000, p. 181)
Pá gina 56
Tã o logo chegaram, Tomé de Souza e seus homens iniciaram a disputa da terra
com os indígenas, destruindo vá rias de suas aldeias e escravizando-os. Nas terras
tomadas dos indígenas deram início à construçã o da cidade de Sã o Salvador,
primeira capital do Brasil, fundada em 1549. O primeiro governador e seus
auxiliares incentivaram a construçã o de engenhos e introduziram o gado bovino
trazido de Cabo Verde e distribuído aos colonos como retribuiçã o por serviços
prestados.
Igreja de Nossa Senhora d’ Ajuda, Porto Seguro (BA). A imagem de Nossa Senhora d’ Ajuda foi
trazida pelos jesuítas que acompanharam Tomé de Souza. Para acomodar a imagem foi erguida, em
1550, uma construçã o simples feita de madeira e coberta com folhas de palma. Em 1772, a capela
foi reconstruída com pedra e cal. Depois disso, passou por diversas reformas até assumir o desenho
atual, como se vê nesta fotografia de 2015.
DIALOGANDO
a) Como o indígena que está de frente para Tomé de Souza foi representado
b) Seu gesto é de quem está rendendo homenagem ao governador portuguê s. Na vida real, os indígenas disputaram Salvador
palmo a palmo com Tomé de Souza e seus soldados.
c) Sim, à direita, vê-se um bispo da Igreja Cató lica com uma cruz alta nas mã os.
d) A imagem sugere que os indígenas se renderam aos portugueses e, com isto, constró i uma representaçã o enviesada do
encontro entre eles.
Pá gina 57
Acima, na primeira imagem, vê-se a planta de Piratininga, embriã o da vila e, depois, cidade de Sã o
Paulo. Abaixo, fotografia de 2014 do Pá tio e da Igreja do Colégio, reconstruídos no século XX com
base em documentos iconográ ficos do século XVII. Em frente à Igreja do Colégio vê-se um
monumento chamado “Gló ria Imortal aos Fundadores de Sã o Paulo”, obra de Amadeo Zani. Ele é
composto de um pedestal e uma coluna em granito, encimada por uma figura feminina em bronze,
que representa a cidade de Sã o Paulo coroando seus fundadores.
O governo de Duarte da Costa foi bastante tumultuado por conflitos entre colonos
e jesuítas (estes se opunham à escravidã o indígena) e pela invasã o da baía da
Guanabara. Ali, em 1555, um grupo de huguenotes (calvinistas franceses), que
tinham o apoio do rei da França, fundou uma colô nia comercial, de nome França
Antártica. Aliando-se aos Tupinambá , os franceses ganharam força para enfrentar
os portugueses, que, por sua vez, eram aliados dos tupiniquins. Com a ajuda dos
Tupinambá , os franceses permaneceram no local por 12 anos. O incentivo à s
rivalidades e disputas entre os povos indígenas foi uma estratégia muito usada
pelos europeus com o objetivo de dominaçã o e ocupaçã o do territó rio americano.
Pá gina 58
Dois anos depois da fundaçã o do Rio de Janeiro, a França Antá rtica foi vencida e os
franceses foram expulsos. Mem de Sá conseguiu, assim, equacionar os problemas
herdados do governo anterior e, quando morreu, em 1572, na Bahia, era um
homem rico e prestigiado. Naquele mesmo ano, visando facilitar o controle e a
defesa do Brasil, o rei de Portugal dividiu o territó rio colonial em dois governos:
Governo do Norte, com capital em Salvador, e Governo do Sul, com capital no Rio
de Janeiro. Em 1578, nã o atingindo o objetivo desejado, o rei voltou atrá s,
reunificando a Colô nia e mantendo Salvador como capital.
Mais tarde, em 1621, a Coroa voltou a dividir o territó rio colonial em duas á reas
administrativas: Estado do Maranhão, com capital em Sã o Luís (que, em 1751,
passaria a se chamar Estado do Grã o-Pará e Maranhã o, com capital em Belém), e
Estado do Brasil, com capital em Salvador.
Luís do Santos Vilhena. 1775. Biblioteca Nacional do Brasil Autor desconhecido. Sé c. XIX. Coleçã o particular
Este mapa é uma representaçã o da cidade de Sã o Sebastiã o do Rio de Janeiro e foi feito por Luís dos
Santos Vilhena (1744- 1814), que morava em Salvador, onde trabalhava como professor de grego e
latim.
Câmaras Municipais
A monarquia portuguesa criou também ó rgã os locais de administraçã o nas
principais vilas e cidades brasileiras: as Câmaras Municipais, sendo a primeira a
da cidade de Salvador. Geralmente, as câ maras eram compostas de três ou quatro
vereadores: um procurador, um escrivã o e um tesoureiro, além de funcioná rios
nomeados conforme a necessidade. Estudando as câ maras municipais de Salvador,
Sã o Paulo e Rio de Janeiro, descobriu-se que essas câ maras eram formadas nã o só
por proprietá rios de terras, mas também por comerciantes.
Descobriu-se também que, para um indivíduo ser vereador era preciso ter “pureza
de sangue”, ou seja, nã o podia descender de negros, judeus ou mouros. As câ maras
tinham poder de decisã o sobre diversos setores da vida pú blica: administravam o
espaço urbano e a á rea rural; realizavam obras pú blicas (estradas, pontes,
calçadas); cuidavam da conservaçã o das ruas, da limpeza e da arborizaçã o da
cidade; cobravam impostos; e eram responsá veis pelo abastecimento de gêneros e
cultivos da terra.
Nessa fotografia de 2000, vemos o edifício da Câ mara de Salvador, que foi restaurado e conservou
suas características coloniais. Observe no detalhe o mesmo edifício em fotografia do século XIX.
Pá gina 59
A economia colonial
Ao se decidir pela colonizaçã o do Brasil, iniciada por volta de 1530, a Coroa
portuguesa tinha pela frente três desafios: escolher o produto que seria usado
para impulsionar o aproveitamento econô mico da terra; buscar capital para
financiar a produçã o; e conseguir mão de obra adequada ao trabalho.
Detalhe do mapa de Georg Marcgraf e Johanes Blaeus, de 1643, que representa um engenho de
açú car e a divisã o do territó rio brasileiro em capitanias hereditá rias. O trabalho de arte é do pintor
e gravurista Frans Post.
O produto
O produto escolhido para dar início à colonizaçã o foi o açú car de cana, especiaria
de elevado valor na Europa. Os portugueses tinham experiência anterior com o
açú car nas suas possessõ es atlâ nticas: Ilha da Madeira, de Cabo Verde e ilhas de
Sã o Tomé e Príncipe. Os engenhos dessas regiõ es já empregavam a mã o de obra
africana escravizada. Da Ilha da Madeira vieram as mudas e os profissionais
capacitados para trabalhar no Engenho do Governador, de Martim Afonso de
Souza, em Sã o Vicente (SP). A partir daí construíram-se vá rios engenhos,
especialmente no Nordeste, onde a cana encontrou solo e clima favorá veis ao seu
cultivo.
O capital
O custo de instalaçã o de um engenho era elevado, pois implicava a aquisiçã o de
moenda, bois e trabalhadores. O dinheiro aplicado nos primeiros engenhos do
Brasil foi emprestado por comerciantes portugueses, holandeses e/ou italianos. Já
a partir do século XVII, os capitais investidos na economia canavieira foram
obtidos na pró pria Colô nia.
Pá gina 60
A mão de obra
Durante a maior parte do século XVI, os engenhos usaram como escravos os
indígenas capturados por meio das chamadas guerras justas. Em fins do século
XVI e início do XVII, no entanto, os indígenas foram sendo substituídos por
africanos escravizados.
Guerra justa: nome que os colonos davam à guerra que faziam aos indígenas com o objetivo de escravizá -
los.
Imagem de um líder indígena Munduruku feita por Hercule Florence durante a Expediçã o
Langsdorff, no século XIX.
Pá gina 61
Para refletir
A economia colonial não era só plantation
FRAGOSO, Joã o et al. A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX). Sã o Paulo: Atual, 1998. p. 49. (Discutindo a
Histó ria do Brasil).
a) O texto acima pode ser classificado como jornalístico, historiográ fico, filosó fico
ou literá rio?
a) O texto é historiográ fico e foi escrito por dois especialistas em histó ria econô mica (Joã o Fragoso e Manolo Florentino) e
uma especialista em histó ria da família, a professora Sheila de Castro Faria.
b) O texto é uma contribuiçã o de trê s historiadores à aná lise da economia colonial. Eles afirmam que o tamanho dos
engenhos e o nú mero de escravos por engenho variaram muito. De fato, houve pequenas, mé dias e grandes unidades de
produçã o de açú car, e a maioria delas possuía menos de 20 escravos. Esses novos estudos chamam também a atençã o para a
importâ ncia da produçã o de alimentos e do mercado interno na economia colonial brasileira.
c) Com base em pesquisas em arquivos pú blicos, museus e em um farto material bibliográ fico, que abrange desde
dissertaçõ es e teses até monografias e obras nacionais e estrangeiras sobre o assunto.
d) Você já deve ter descoberto algo importante por meio de pesquisa. Conte de
modo resumido como foi essa sua experiência.
d) Resposta pessoal. Professor: a intençã o aqui é estimular o gosto pela pesquisa e enfatizar a importâ ncia dela na vida
profissional.
Fabio Colombini
Algodã o
Cacau
Fabio Colombini
Mandioca
Fernando Bueno/Pulsar Imagens
Milho.
O tabaco (ou fumo), planta domesticada pelos indígenas da América e usada por
eles em determinados rituais, logo se tornou um produto de grande aceitaçã o no
territó rio colonial. No século XVII, era o segundo colocado na pauta das
exportaçõ es brasileiras, sobretudo por sua estreita vinculaçã o com o trá fico de
africanos. Enquanto o fumo de primeira e de segunda qualidade era consumido
internamente ou vendido para a Europa, o fumo de terceira era a moeda que os
traficantes usavam para conseguir escravos na Á frica. Por ser mais simples e
menos onerosa do que a lavoura de cana-de-açú car, a lavoura fumageira se
difundiu rapidamente pela Bahia e por Sergipe (entã o comarca baiana), Espírito
Santo, Rio de Janeiro, Sã o Paulo e Minas Gerais.
A pecuá ria colonial, por sua vez, foi responsá vel pela ocupaçã o de boa parte do
sertã o do Brasil e se constituiu num setor decisivo da economia colonial.
Pá gina 63
[...] No lugar da imagem de colonos engessados pela metró pole, vem à tona um grande
dinamismo nas relaçõ es comerciais dos principais portos do Brasil com o rio da Prata, no sul
da América, com Costa da Mina, Angola e Moçambique, na Á frica e com Índia, Goa e Macau na
Á sia. [...] Colonos do Brasil, portanto, comercializavam diretamente com outras regiõ es,
furando a ideia de “pacto colonial”.
Por outro lado, os comerciantes que forneciam escravos para o Brasil no século XVIII
negociavam diretamente com traficantes e chefes locais da Á frica. Eram esses comerciantes,
residentes no Brasil, que [...] detinham o monopólio do lucrativo trá fico negreiro — e não a
metró pole.
FARIA, Sheila de Castro. Colô nia sem pacto. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 3, n. 34, p.
71, jul. 2008.
Monopólio: exclusividade.
Sociedades coloniais
No Brasil colonial existiram vá rias regiõ es econô micas, em torno das quais se
formaram mú ltiplas sociedades com características pró prias: a paulista do século
XVII (com seus bandeirantes e indígenas) era, por exemplo, muito diferente da
açucareira nordestina. Embora diferentes e espalhadas por todo o territó rio, elas
tinham pelo menos duas características comuns: a escravidã o, presente em quase
todo o territó rio colonial, e uma hierarquia excludente que garantia direitos, poder
e prestígio a poucos.
Dica! Vídeo baseado na obra Casa-grande e Senzala, de Gilberto Freyre. [Duração: 9 minutos].
Acesse: <http://tub.im/3kjnir>.
Os senhores de engenho
Havia ainda homens livres que arrendavam terras do senhor de engenho para
cultivar a cana; mas, por falta de recursos, eram obrigados a moê-la no engenho do
proprietá rio, por isso, eram chamados de “lavradores obrigados”. Em troca, eles
entregavam ao senhor parte do açú car obtido e ainda pagavam a ele o aluguel pelo
uso da terra.
Os comerciantes
Mas muitas fortunas foram feitas com o comércio de africanos. Enriquecidos por
meio do trá fico atlâ ntico, comerciantes estabelecidos em cidades como Rio de
Janeiro, Salvador e Recife usavam navios pró prios e forneciam empréstimos aos
senhores de engenho para a compra de escravos e/ou equipamentos. Dessa forma,
alguns conseguiam comprar terras e montar engenhos; outros casavam com filhas
de senhores de engenho e, com isso, passavam a pertencer à nobreza da terra.
Os escravizados
[...] Incapazes de firmar contratos, dispor de suas vidas e possuir bens, defender-se e à sua
família dos maus-tratos do proprietá rio, testemunhar contra homens livres, escolher seu
trabalho e empregador, e limitados pela lei e pelos costumes de inú meros outros modos, os
cativos permaneceram [...] em situaçã o mais desvantajosa na sociedade.
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial – 1550-1835. Sã o Paulo:
Companhia das Letras, 1988. p. 214.
Editora Nova Fronteira
O mercador de escravos Francisco Félix de Souza era filho de português com uma indígena. Ainda
jovem, viajou para a Á frica onde construiu uma fortuna com a venda de escravizados para o Brasil.
Pá gina 65
Os trabalhadores assalariados
Desde o início, os senhores de engenho contrataram assalariados para dividir com
os escravos a tarefa no engenho, para trabalhar em funçõ es especializadas, como a
de mestre de açú car (responsá vel pela qualidade do açú car) ou a de carpinteiro,
pedreiro, ferreiro, entre outros. Ou ainda para realizar tarefas que os donos de
engenho nã o confiavam a escravos, como o de feitor (encarregado de vigiar e punir
os escravos). Por isso se diz que o conhecimento e o serviço dos trabalhadores
assalariados eram decisivos para o funcionamento dos engenhos.
Pá gina 66
Dentre eles, os feitores e os especialistas no fabrico do açú car eram os mais bem
remunerados e respeitados. O salá rio desses trabalhadores era anual e, quando
pago em dinheiro, chamava-se soldada seca. Geralmente, o alojamento e a
alimentaçã o eram descontados do salá rio dos trabalhadores livres, o que limitava
significativamente seus ganhos.
Nesta obra de 1648, vê-se o mestre de açú car trabalhando enquanto é observado por um feitor.
Holandeses no Nordeste
No século XVII, os holandeses invadiram o Nordeste açucareiro por duas vezes.
Para compreendermos as razõ es dessas invasõ es, precisamos relacioná -las ao
contexto europeu do século anterior.
Países Baixos espanhóis: nome que se dava ao territó rio ocupado hoje por Holanda e Bélgica.
O Império Espanhol, que, à época, era imenso, ficou ainda maior em 1580; naquele
ano, o rei português D. Henrique morreu sem deixar herdeiros. Abriu-se, entã o,
uma disputa pelo trono português; o vencedor foi um parente do rei morto de
nome Felipe II, rei da Espanha que, com isso, tornou-se também rei de Portugal. O
controle da Espanha sobre Portugal e suas colô nias ficou conhecido como União
das Coroas Ibéricas e durou até 1640. Os domínios de Felipe II eram tã o vastos
que na época se dizia que neles “o sol nunca se punha”.
Durante esse período, os adversá rios da Espanha tornaram-se também adversá rios
de Portugal; foi este o caso, por exemplo, dos Países Baixos espanhó is.
Dica! Vídeo sobre a União Ibérica e a conquista do Nordeste brasileiro pelos holandeses.
[Duração: 14 minutos]. Acesse: <http://tub.im/emhgf5>.
Pá gina 67
Invasão da Bahia
A primeira invasã o dos holandeses ocorreu na Bahia, que, além de possuir muitos
engenhos em pleno funcionamento, era o centro político do Brasil. Eles chegaram a
Salvador em maio de 1624 com 3 300 homens, uma frota de 26 navios e 450
canhõ es. Prenderam o governador português e o substituíram pelo holandês Van
Dorth. A populaçã o luso-brasileira, por sua vez, retirou-se para o interior e lá
organizou a resistência.
O líder dessa resistência, o bispo Dom Marcos Teixeira, apresentava a luta contra
os holandeses como uma cruzada contra os hereges, uma vez que, como vimos, os
invasores eram protestantes. Uma das tá ticas da resistência foi a guerra de
emboscadas: divididos em pequenos grupos, os combatentes saíam das matas e se
lançavam sobre o inimigo de surpresa, impedindo assim seu avanço rumo à regiã o
dos engenhos.
A Espanha, por sua vez, enviou ao Nordeste do Brasil uma esquadra com 52 navios
e 12 mil homens, comandados por Dom Fradique de Toledo Osó rio, que forçou os
holandeses a bater em retirada, em 1625. Dois anos depois, no entanto, eles
voltaram a atacar: liderados por Pieter Heyn, saquearam o porto de Salvador
levando consigo açú car, fumo, algodã o e pau-brasil. E, na volta para a Holanda,
capturaram a frota de prata espanhola, que transportava a produçã o anual desse
metal do vice-reinado do Peru para a Espanha.
Imagem de 2014 do Forte de Santo Antô nio da Barra, construído no século XVII e conhecido hoje
como Farol da Barra. O forte foi erguido para defender a cidade de Salvador da invasã o holandesa
em 1624.
Pá gina 68
Frans Post (detalhe). 1661. Ó leo sobre madeira. Coleçã o particular
Engenho de açúcar, ó leo sobre madeira do artista holandês Frans Post, mostra escravizados
trabalhando no transporte e na moagem da cana em um engenho real. Na época, as capitanias do
Nordeste possuíam, juntas, cerca de 150 engenhos, que produziam por volta de 700 mil arrobas de
açú car ao ano.
Invasão de Pernambuco
Com os saques realizados, os holandeses reuniram recursos e invadiram
novamente o Nordeste açucareiro, mas dessa vez o alvo foi Pernambuco.
DIALOGANDO
a) Resposta pessoal.
b) Já ouviu falar de algum crime mais recente que tenha ocorrido por esse motivo?
b) Suspeita-se que o assassinato do empresá rio Paulo Cesar Farias, homem forte do governo de Fernando Collor de Mello,
tenha sido “queima de arquivo”.
O governo de Nassau
Adotando uma política de conciliaçã o de interesses, Maurício de Nassau tomou três
medidas decisivas para a sua administraçã o: forneceu aos senhores
Pá gina 69
Além de pintores, ele trouxe cientistas que se dedicaram ao estudo da regiã o, como
Georg Marcgraf, que documentou a flora e a fauna, e o médico Willem Piso, que
pesquisou doenças características da regiã o. Trouxe também letrados, como Elias
Herckman, que escreveu um precioso relato sobre a Capitania da Paraíba.
O governo de Nassau instalou sua capital em Recife e ali realizou uma série de
importantes obras: calçou ruas; abriu canais por onde transitavam barcas,
mercadorias e pessoas; drenou á reas alagadiças; construiu pontes que ligavam o
antigo porto à Ilha de Antô nio Vaz e esta ao continente. Nessa ilha, criou um jardim
botâ nico, um zooló gico e construiu o Palá cio das Torres (Palá cio de Friburgo),
residência oficial e sede do governo. A esse conjunto de obras deu-se o nome de
Cidade Maurícia (atualmente bairro de Santo Antô nio).
Albert Eckhout. Sé c. XIX. Ó leo sobre tela. Coleçã o particular
Vista aérea do bairro de SantoAntô nio em Recife (PE). Nela vemos, em primeiro plano, o Palá cio do
Governo rodeado por grandes á rvores e, atrá s dele, o prédio do Teatro Santa Isabel. Fotografia de
2013.
Pá gina 70
A Restauração em Portugal
Enquanto os holandeses lucravam com o açú car do Brasil, Portugal encontrava-se
exaurido economicamente e responsabilizava a Uniã o Ibérica por essa situaçã o.
Diante disso, os portugueses promoveram uma revolta separatista, em 1640, e se
libertaram da Espanha no episó dio conhecido como Restauração. Dom Joã o IV, da
dinastia de Bragança, ocupou o trono de Portugal e, no ano seguinte, firmou com a
Holanda um acordo de paz por 10 anos.
Vitor Meirelles. 1879. Ó leo sobre tela. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
O negro liberto Henrique Dias, líder de um batalhã o de negros, o índio de etnia potiguar Felipe
Camarã o, líder dos índios potiguares, e André Vidal de Negreiros, filho de um senhor de engenho
nascido na Paraíba, lutaram lado a lado na guerra contra os holandeses. Esse fato foi usado para a
construçã o da falsa ideia de que o Brasil é o resultado da “uniã o das três raças”. Essa ideia foi
veiculada ao longo do tempo em livros, revistas, jornais e pinturas, como A Batalha de Guararapes,
feita por Vitor Meirelles (1832-1903) em 1879, em que os três personagens citados aparecem
combatendo juntos. Tudo isso ajudou a forjar a ideia de que a convivência entre brancos, negros e
índios foi pacífica, o que nã o corresponde aos fatos. Apesar de ter havido momentos de colaboraçã o,
a convivência entre esses grupos humanos em territó rio colonial foi tensa e pontilhada de conflitos.
Pá gina 71
Pelourinho: uma coluna de pedra ou madeira erguida em praça pú blica; era símbolo de autonomia
administrativa e, ao mesmo tempo, lembrava a escravidã o (os escravos eram amarrados a ele para serem
castigados publicamente).
Pá gina 72
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Enem/MEC – 2013)
De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertã o nos pareceu,
vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, nã o podíamos ver senã o terra com
arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, nã o pudemos saber que haja ouro,
nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito
bons ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta
gente.
Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R. História moderna através de textos. Sã o
Paulo: Contexto, 2001.
A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto colonizador para a nova terra. Nesse
trecho, o relato enfatiza o seguinte objetivo:
e) Criticar o modo de vida dos povos autó ctones para evidenciar a ausência de trabalho.
1. Resposta: a.
2. (Uespi-PI – 2014)
A armada de Martim Afonso de Sousa, que deveria deixar Lisboa a 3 de dezembro de 1531,
vinha com poderes extensíssimos, se comparados aos das expediçõ es anteriores, mas tinha
como finalidade principal desenvolver a exploraçã o e limpeza da costa, infestada, ainda e cada
vez mais, pela atividade dos comerciantes intrusos.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. As Primeiras Expediçõ es. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. (org). História Geral da
Civilização Brasileira. Tomo I, Volume 1. Sã o Paulo: DIFEL, 1960. p. 93.
Com base nesta citaçã o, assinale a opçã o que indica corretamente os principais objetivos das
primeiras expediçõ es portuguesas à s novas terras descobertas na América:
b) garantir as terras brasileiras para Portugal, nos termos do Tratado de Tordesilhas, e expulsar os
invasores estrangeiros.
c) instalar nú cleos de colonizaçã o está vel, baseados na pequena propriedade familiar, e escravizar
os indígenas.
2. Resposta: b.
3. (UFF-RJ)
Assinale a opçã o que, baseada na citaçã o do jesuíta Antonil, justifica corretamente os fundamentos
da sociedade colonial.
b) O ideal de sociedade colonial, segundo os inacianos, era o de uma sociedade de missõ es, o que
explica a crítica do jesuíta Antonil à escravidã o.
Pá gina 73
c) A estrutura social do Brasil Colô nia era fundamentalmente escravista, uma vez que os setores
essenciais da economia colonial, a exemplo da agro-manufatura do açú car, dependiam do trabalho
escravo, sobretudo dos africanos.
d) A sociedade escravista erigida na Colô nia sempre foi condenada pelos jesuítas que, a exemplo de
Antonil, desejavam ardorosamente que índios e africanos se dedicassem ao mundo de Deus.
e) A sociedade colonial possuía duas classes, senhores e escravos, polos antagô nicos do latifú ndio
ou da “fazenda” mencionada por Antonil.
3. Resposta: c.
4. (Enem/MEC)
VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & irmã o. 1951 – Adaptado.
O trecho do sermã o do Padre Antô nio Vieira estabelece uma relaçã o entre a Paixã o de Cristo e
5. (Fuvest-SP – 2015)
4. Resposta: e.
Se o açú car do Brasil o tem dado a conhecer a todos os reinos e províncias da Europa, o tabaco
o tem feito muito afamado em todas as quatro partes do mundo, em as quais hoje tanto se
deseja e com tantas diligências e por qualquer via se procura. Há pouco mais de cem anos que
esta folha se começou a plantar e beneficiar na Bahia [...] e, desta sorte, uma folha antes
desprezada e quase desconhecida tem dado e dá atualmente grandes cabedais aos moradores
do Brasil e incríveis emolumentos aos Erá rios dos príncipes.
André Joã o Antonil. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Sã o Paulo: EDUSP, 2007. Adaptado.
b) todo o rendimento do tabaco, a exemplo do que ocorria com outros produtos, era direcionado à
metró pole.
c) nã o se pode exagerar quanto à lucratividade propiciada pela cana-de-açú car, já que a do tabaco,
desde seu início, era maior.
d) os europeus, naquele ano, já conheciam plenamente o potencial econô mico de suas colô nias
americanas.
5. Resposta: e.
Pá gina 74
6. (UPE – 2015) A primeira metade do século XVII em Pernambuco foi marcada pela invasã o
holandesa à capitania. A presença holandesa em Pernambuco durou 24 anos, de 1630 a 1654. A
invasã o foi motivada por vá rios fatores, dos quais podemos destacar
c) o bloqueio do acesso holandês pela Coroa Espanhola ao comércio do açú car produzido em
Pernambuco, durante a Uniã o Ibérica.
6. Resposta: c.
VOZES DO PRESENTE
A escravidã o dificultou o amor entre os escravos, mas nã o foi forte o suficiente para impedir os
sentimentos que brotavam no coraçã o deles. Muitas vezes, depois de um dia de trabalho exaustivo,
eles fugiam e andavam horas para visitar a namorada ou outras pessoas queridas sem se importar
se seriam ou nã o castigados por isso. Além disso, geralmente, os escravizados constituíam família.
Veja o que uma historiadora diz sobre esse assunto.
Amor e família
Durante muitos anos, os historiadores acharam que o sistema escravista havia massacrado de
tal forma homens e mulheres escravos que eles se tornaram um grupo absolutamente
dominado e sem vontade pró pria. Para esses historiadores, nã o havia sido dada ao escravo
nem mesmo a oportunidade de constituir família, organizaçã o bá sica de apoio e de identidade
social para todos os seres humanos. Os senhores nã o teriam permitido que escravos casassem.
Em suma, os historiadores acreditavam que eles eram tratados como “coisa” ou, no má ximo,
como animais para quem só valia a vontade do dono.
Diversos estudos atuais, entretanto, vêm demonstrando que a situaçã o nã o era bem assim. Boa
parte dos escravos constituía família, sendo essa importantíssima para suas vidas. Concluíram
ainda que aos senhores interessava que eles se unissem em família para melhor se adequar à
vida no cativeiro. Revelaram também que separar filhos pequenos de seus pais era atitude
rara. Crianças de até doze anos de idade, na quase totalidade dos casos, viviam com seus pais
ou, pelo menos, com suas mã es.
FARIA, Sheila de Castro. Viver e morrer no Brasil Colônia. 1. ed. Sã o Paulo: Moderna, 1999. p. 16. (Desafios).
c) Em dupla. Segundo a autora, a família é uma organizaçã o bá sica de apoio e identidade social
para todos os seres humanos. Vocês concordam com essa afirmaçã o? O que a família é para vocês?
Pá gina 75
a batata [...], originá ria do Peru, erroneamente chamada inglesa; a mandioca [...]; o milho [...]; a
batata-doce [...]; o tomate [...]; feijõ es e favas, como o amendoim [...]; fruteiras como o cacau [...],
o abacaxi [...], o caju [...], o mamã o [...]; amêndoas como a castanha-do-pará [...].
Inú meras espécies vegetais, objeto de coleta por parte dos índios, foram adotadas pelos
colonizadores europeus, passando a ser cultivadas, algumas em larga escala, desempenhando
hoje relevante papel na economia mundial. [...]
A borracha [...], dentre todas, inicia o ciclo industrial moderno. Conhecida pelos índios, que a
utilizavam para fazer bolas, seringas e impermeabilizar objetos, a borracha só foi realmente
“descoberta” pela civilizaçã o ocidental na segunda metade do século XIX.
RIBEIRO, Berta G. A contribuiçã o dos povos indígenas à cultura brasileira. In: GRUPIONI, Luís Donizete Benzi. A
temática indígena na escola. 2. ed. Brasília: MEC/Unesco, 1998. p. 199-203.
Criança ianomâ mi carregando cacho de pupunha madura na Aldeia do Kona, Santa Isabel do Rio
Negro (AM), 2011.
b) Em que trecho do texto fica evidente a existência de trocas culturais entre indígenas e europeus?
c) Na segunda metade do século XIX surgiram na Europa novos tipos de indú strias, que tinham a
borracha como matéria-prima essencial. Que indú strias eram essas?
d) Reflita e elabore um comentá rio sintético sobre a ideia defendida pela autora no texto.
e) Em grupo. A demarcaçã o das terras indígenas tem ocasionado conflitos violentos: de um lado
estã o os povos indígenas e seus aliados; eles argumentam ter direito à terra que tradicionalmente
ocupam e que esse direito é garantido por lei. De outro lado estã o indivíduos e grupos interessados
nas terras reivindicadas pelos indígenas; eles argumentam que “tem terra demais para pouco
índio”. Debatam, reflitam e opinem sobre essa disputa e justifiquem a posiçã o tomada por vocês.
Postem o resultado do debate no blog da turma.
Pá gina 76
UNIDADE 2 Diversidade e
pluralismo cultural
Pá gina 77
Gabriel Santos/Tyba
Desfile da Escola de SambaBeija-Flor de Niló polis. O desfile abordou a histó ria contada por um
griot. Rio de Janeiro (RJ), 2015.
G. Evangelista/Opçã o Brasil/Imagens
Professor: segundo um historiador: “Cultura nã o é apenas o conjunto de manifestaçõ es artísticas. Envolve as formas de
organizaçã o do trabalho, da casa, da família, do cotidiano das pessoas, dos ritos, das religiõ es, das festas etc.”. (BEZERRA,
Holien Gonçalves. Ensino de Histó ria: conteú dos e conceitos bá sicos. In: KARNAL, Leandro. Histó ria na sala de aula:
conceitos, prá ticas e propostas. Sã o Paulo: Contexto, 2005. p. 46)
Pá gina 78
Africanos no Brasil:
Capítulo 4
dominação e resistência
Observe estas fotografias.
Professor: Fig. 1: Milton Santos (1926-2001), geó grafo, cientista e professor universitá rio com uma enorme contribuiçã o no
campo da Geografia e da reflexã o sobre cidadania. Fig. 2: Ludmilla, cantora e compositora de funk melody, durante
apresentaçã o na ediçã o 2014 da festa junina beneficente no Retiro dos Artistas no Rio de Janeiro (RJ), cujo objetivo é
arrecadar fundos para a manutençã o da casa que hoje abriga 62 artistas em idade avançada. Fig. 3: Hugo Pessanha, judoca
representante do Brasil numa final com Kirill Denisov, da Rú ssia, durante Grand Slam de Judô realizado no Giná sio do
Maracanã zinho, 2010, no Rio de Janeiro (RJ). Fig. 4: Emicida, rapper e compositor, em um show no Hard Rock Café , em
Curitiba (PR), 2015.
Glaucon Fernandes/AE
3
Celso Pupo/Fotoarena
Pá gina 79
Estudiosos da história da África e dos afro-brasileiros: Alberto da Costa e Silva, José Rivair Macedo,
Marina de Mello e Souza, Leila Leite Hernandez, Nei Lopes, entre outros.
Editora Contexto
Para refletir
O texto a seguir foi escrito pelo africanista Alberto da Costa e Silva. Leia-o com
atençã o.
O comércio transatlâ ntico de escravos era controlado pelos grandes da terra, pelos poderosos
da Europa, da Á frica e das Américas. Fazia parte de um processo de integraçã o econô mica do
Atlâ ntico, que envolvia a produçã o e a comercializaçã o, em grande escala, de açú car, algodã o,
tabaco, café e outros bens tropicais, um processo no qual a Europa entrava com o capital, as
Américas com a terra e a Á frica com o trabalho, isto é, com a mã o de obra cativa.
SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012. p. 88-89.
Editora AGIR
Fac-símile da capa do livro A África explicada aos meus filhos, de Alberto da Costa e Silva.
a) Nã o; os africanos nã o se reconheciam como africanos. Eles se viam como membros de um determinado povo (iorubá , ibo,
daomeano ou congo), uma determinada comunidade, linhagem, grupo linguístico ou reino; e assim sendo eles escravizavam
seus adversá rios ou os estranhos. Professor: os africanos passaram a adquirir consciê ncia de sua africanidade durante as
lutas pela independê ncia de seus países, ou seja, durante o processo de sua emancipaçã o política frente aos Estados
europeus.
b) Ele o insere no processo de integraçã o econô mica do Atlâ ntico Sul, que envolvia a produçã o e a venda de gê neros
tropicais, como açú car, algodã o e café , alé m de crianças, homens e mulheres escravizados.
c) O autor está se referindo aos grupos com riqueza e poder, a exemplo dos comerciantes de escravos da Europa, do Rio de
Janeiro e de Salvador ou os chefes de linhagens africanas, que se envolviam em guerras para obter e vender os adversá rios.
O início da roedura
Na Á frica, a dinâ mica e a intensidade da escravidã o mudaram radicalmente depois
da chegada dos europeus ao litoral africano. Em 1443, os portugueses ergueram
uma feitoria em Arguim, na costa ocidental, que funcionou como um ponto de
comércio de africanos escravizados. Posteriormente, foram erguidos outros
entrepostos de escravizados perto dos rios Senegal e Gâ mbia (1456), e em Sã o
Jorge da Mina (1482), no Golfo da Guiné.
Dica! Vídeo sobre a história dos africanos e seus descendentes. [Duração: 12 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/j54vfn>.
Guerra e escravidão
Inicialmente, europeus armados obtinham escravos no litoral da Á frica por meio
do sequestro. Mas logo a captura e a venda de africanos passaram a ser um negó cio
grande e rentá vel, envolvendo europeus, americanos e africanos e as duas margens
do oceano Atlâ ntico. Entenda o seu funcionamento acompanhando o roteiro:
Pá gina 81
»» Passo 3: os novos prisioneiros eram trocados por mais armas/pó lvora trazidas
pelos traficantes, as quais alimentavam novas guerras. Os prisioneiros de guerra
serviam como moeda de troca para os chefes africanos e como mercadoria para os
traficantes.
Tráfico atlântico: nome dado ao comércio de homens e mulheres pelo Atlâ ntico entre os séculos XVI e XIX.
Processo de roedura: expressã o de Joseph Ki-Zerbo, professor de metodologia da Histó ria da Á frica, para
caracterizar a penetraçã o e a exploraçã o colonialista na Á frica.
Allmaps
Fonte: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. Sã o Paulo: Á tica, 2007. p. 86.
Boa parte dos povos africanos entrados no Brasil saiu dos portos de Benguela, Luanda e Cabinda, no
Centro-Oeste da Á frica. Outra parte saiu da Á frica ocidental, pelos portos de Lagos, Ajudá e Sã o
Jorge da Mina. E um nú mero menor, pelo porto de Moçambique, no sudeste africano. Os africanos
trazidos do Congo, do Ndongo (Angola) e de Moçambique eram de origem banto e desembarcaram
principalmente em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Da Á frica ocidental, entre a Nigéria e o Senegal
atuais, saíram os sudaneses, entre os quais se destacam os iorubá s, entrados no Brasil por Salvador
e conhecidos como “nagô s”, na Bahia, e os jejes, que desembarcaram nas costas do Maranhã o.
Pá gina 82
A travessia
Aglomerados nas feitorias em barracõ es de madeira ou pedra, os escravizados
aguardavam a chegada dos navios negreiros, que só partiam depois de completada
a carga, para garantir a lucratividade da viagem. Amontoados em seus porõ es,
eram mal alimentados e tinham de respirar um ar viciado que favorecia a
ocorrência de doenças e o contá gio. A sede também era comum nesses navios, que
carregavam poucas pipas de á gua para nã o ocupar espaço e evitar excesso de peso.
Robert Walsh e T. Kelly. 1830. Litogravura. Coleçã o particular
»» A Á frica ocidental – regiã o que vai do Senegal à Nigéria atuais que forneceu
10% do total de africanos entrados no Brasil.
Mas com o auxílio de geneticistas, esses historiadores estã o revendo seus dados.
Analisando o material genético compartilhado por brasileiros e africanos, os
geneticistas Sérgio Danilo Pena (UFMG) e
Pá gina 83
Maria Cá tira e Tá bita Hü nemeier (UFRGS), por sua vez, analisaram 94 negros
cariocas; desses, 31% eram originá rios da Á frica ocidental, sendo que a maioria,
como já se sabia, veio mesmo do Centro-Oeste, regiã o congo-angolana. Essa é
também a regiã o de origem da maioria dos 107 negros gaú chos analisados por
elas; apenas 18% deles eram da Á frica ocidental.
Dica! Vídeo que aborda a história do comércio de seres humanos sendo contada através das vozes
de escravizados. [Duração: 34 minutos]. Acesse: <http://tub.im/95qvmz>.
Manifestaçã o da cultura banto: Grupo Jongo de Piquete – dança de roda de origem africana com
acompanhamento de tambores e solista. Piquete (SP), 2007.
Manifestaçã o da cultura de origem iorubá , em 2003: dançarinas do Ilê Aiyê, bloco afro que nasceu
no Curuzu, no bairro da Liberdade, em Salvador (BA). O Ilê Aiyê preserva e recria importantes
elementos da cultura iorubá e desenvolve um trabalho social reconhecido nacionalmente.
Pá gina 84
O trabalho escravo
A escravidã o existiu em todo o territó rio colonial e os escravizados trabalhavam
nas mais diferentes ocupaçõ es. No engenho eram eles que realizavam a maioria
das tarefas, desde semear a cana até controlar a qualidade do açú car. Na época do
plantio, os escravos trabalhavam geralmente das 5 da manhã à s 6 da tarde; na
época da safra (corte e beneficiamento da cana) chegavam a trabalhar 18 horas por
dia.
Obtido mediante coaçã o, o trabalho escravo incluía, por vezes, as manhã s dos
domingos e feriados, usadas para serviços gerais, como reparo de edificaçõ es e
conserto de cercas e estradas. No Brasil, a intensa utilizaçã o de escravos levou a
uma inversã o de valores: o trabalho passou a ser visto pelas pessoas livres como
desonroso; como coisa de escravo.
J. C. Guillobel. 1812-1816. Aquarela. Acervo Coleçã o Geyer, Museu Imperial
Pá gina 85
A violência
Onde houve escravidã o, houve violência. Os castigos aplicados eram muitos e
variados; incluíam os rotineiros, como a palmató ria, até os mais especializados,
como a má scara de flandres.
A resistência
O trabalho estafante, a violência física e psicoló gica, a liberdade negada quando os
escravizados conseguiam juntar dinheiro para comprá -la, tudo isso provocou
respostas. Eles reagiam fisicamente fazendo “corpo mole” no trabalho, quebrando
ferramentas, incendiando plantaçõ es, agredindo feitores e senhores. Chegaram,
inclusive, a praticar o suicídio. Os escravizados resistiram também, culturalmente,
fundando irmandades, praticando religiõ es de matriz afro e a capoeira ou
promovendo festejos como o congado.
Irmandades: associaçõ es organizadas por leigos e sediadas em igrejas cató licas; para que uma irmandade
funcionasse, era necessá rio que fosse acolhida por uma igreja e tivesse seus estatutos aprovados por uma
autoridade eclesiástica.
Demonstraçã o de capoeira em praia de Salvador (BA), 2005. A capoeira, uma manifestaçã o cultural
em que os jogadores dançam e lutam ao mesmo tempo, foi um meio de resistência dos negros
escravizados. Nela, a malícia é mais importante do que a força física. Na capoeira, mandingueiro é
aquele que tem maior capacidade de enganar o adversá rio.
Pá gina 86
Festejo da Assunçã o de Nossa Senhora, promovido pela Irmandade da Boa Morte, na Bahia, 2010.
Essa irmandade é formada exclusivamente por mulheres negras com mais de 40 anos e está
estabelecida na cidade de Cachoeira. Estima-se que tenha sido fundada por volta de 1820.
1. Dica! Trailer do filme Besouro, de João Daniel Tikhomiroff. [Duração: 2 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/tsi26c>.
Os quilombos
Os quilombos nã o foram um fenô meno isolado; proliferaram por toda a América
escravista. Na América espanhola, receberam o nome de palenques; na inglesa,
maroons; na francesa, grand marronage; na América portuguesa, quilombos ou
mocambos.
2. Dica! Vídeo sobre a dominação e a resistência dos escravizados. [Duração: 14 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/wz3qkp>.
3. Dica! Vídeo sobre a história do Quilombo dos Palmares. [Duração: 7 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/6vffod>.
Pá gina 87
Allmaps
Fonte: REIS, Joã o José; SANTOS, Flá vio. Liberdade por um fio. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 30.
CASTRO, Yeda Pessoa de. In: MOURA, Cló vis. Quilombos: resistência ao escravismo. 2. ed. Sã o Paulo: Á tica, 1989. p.
45. (Série Princípios).
Casa de quilombo no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas,
2010. Arqueó logos que trabalham na Serra da Barriga descobriram um grande vaso cerâ mico, que,
segundo o professor Pedro Paulo Funari, pode ter sido feito pelos palmarinos para armazenar
comida, conforme costume banto, ou pelos indígenas que habitavam o quilombo.
Pá gina 88
A guerra
Zumbi: nome derivado de Nzumbi, título banto concedido a um chefe militar e religioso.
Festa em homenagem ao Dia da Consciência Negra na Escola Municipal Pastor Alcebíades Ferreira
de Mendonça, no Quilombo de Sobara, município de Araruama (RJ), 2015. Em primeiro plano,
veem-se crianças vestidas com trajes que lembram os de alguns povos africanos e um cartaz com a
figura de Zumbi. Em 1978, os diversos movimentos negros do país proclamaram o 20 de novembro
– dia da morte de Zumbi – como o Dia Nacional da Consciência Negra. A data serve como reflexã o a
respeito do racismo à brasileira e das possíveis soluçõ es para esse problema nacional.
Pá gina 89
Remanescentes de quilombos
Para muitos, os quilombos só existem nos livros de Histó ria. Mas a realidade é
outra. Atualmente, por todo o territó rio nacional, existem comunidades formadas
predominantemente por descendentes de escravos, conhecidas como
remanescentes de quilombos.
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas
terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos
respectivos.
BRASIL. Constituiçã o (1988). Constituiçã o da Repú blica Federativa do Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 11 mar. 2016.
Crianças brincam com bola de pano no Quilombo Soledade, em Caxias (MA), 2014.
Pá gina 90
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Fuvest-SP – 2014) O trá fico de escravos africanos para o Brasil
a) teve início no final do século XVII, quando as primeiras jazidas de ouro foram descobertas nas
Minas Gerais.
b) foi pouco expressivo no século XVII, ao contrá rio do que ocorreu nos séculos XVI e XVIII, e foi
extinto, de vez, no início do século XIX.
c) teve início na metade do século XVI, e foi praticado, de forma regular, até a metade do século XIX.
d) foi extinto, quando da Independência do Brasil, a despeito da pressã o contrá ria das regiõ es
auríferas.
e) dependeu, desde o seu início, diretamente do bom sucesso das capitanias hereditá rias, e, por
isso, esteve concentrado nas capitanias de Pernambuco e de Sã o Vicente, até o século XVIII.
1. Resposta: c.
2. (Olimpíadas da Unicamp-SP) A revista Ciência Hoje publicou a seguinte notícia:
O historiador Luis Felipe de Alencastro defende que, nos séculos XVI e XVII, o Brasil foi um
polo de produçã o escravista dependente e organicamente ligado a Angola, um outro polo
produtor de mã o de obra escrava para a agricultura brasileira. A formaçã o do Brasil, portanto,
seria um resultado da relaçã o entre esses dois países.
“A nossa Histó ria nã o está restrita ao nosso territó rio”, afirma o autor. Tendo o Atlâ ntico Sul
como ligaçã o, a trajetó ria do Brasil dos séculos XVI e XVII está intimamente ligada à de Angola.
Com uma ocupaçã o portuguesa efetiva, esse país teve seus reinos independentes dizimados e
limitou-se a desenvolver uma economia complementar à brasileira. A prioridade era o
fornecimento de escravos para o mercado brasileiro, e atividades que pudessem concorrer
com a agroindú stria exportadora do Brasil nã o eram incentivadas. Sob esse aspecto, Alencastro
sustenta que o Brasil, tradicionalmente visto como um país explorado, também explorou.
“Angola foi pilhada pelos brasileiros, ou pelos colonos deste enclave lusitano”, afirma o
historiador. Isso ocorreu por meio de guerras com o intuito de aumentar o trá fico de escravos.
a) o Atlâ ntico sul relacionava a América e a Á frica, logo a formaçã o do Brasil nã o se restringiu
apenas ao binô mio Brasil-Portugal.
b) o trá fico de escravos foi um negó cio formador do territó rio brasileiro.
d) o trabalho compulsó rio no Brasil colô nia foi formado pelo trá fico de escravos africanos e
também por “negros da terra”.
2. Resposta: a.
3. (Fuvest-SP – 2015) Uma observaçã o comparada dos regimes de trabalho adotados nas
Américas de colonizaçã o ibérica permite afirmar corretamente que, entre os séculos XVI e XVIII,
Pá gina 91
d) nã o houve escravidã o africana nos territó rios espanhó is, pois estes dispunham de farta oferta de
mã o de obra indígena.
e) o Brasil forneceu escravos africanos aos territó rios espanhó is, que, em contrapartida, traficavam
escravos indígenas para o Brasil.
3. Resposta: c.
4. (Enem/MEC – 2013)
A recuperaçã o da herança cultural africana deve levar em conta o que é pró prio do processo
cultural: seu movimento, pluralidade e complexidade. Nã o se trata, portanto, do resgate
ingênuo do passado nem do seu cultivo nostá lgico, mas de procurar perceber o pró prio rosto
cultural brasileiro. O que se quer é captar seu movimento para melhor compreendê-lo
historicamente.
MINAS GERAIS. Cadernos do Arquivo 1: Escravidã o em Minas Gerais. Belo Horizonte: Arquivo Pú blico Mineiro, 1988.
Com base no texto, a aná lise de manifestaçõ es culturais de origem africana, como a capoeira ou o
candomblé, deve considerar que elas
4. Resposta: c.
5. (Enem/MEC)
Torna-se claro que quem descobriu a Á frica no Brasil, muito antes dos europeus, foram os
pró prios africanos trazidos como escravos. E esta descoberta nã o se restringia apenas ao reino
linguístico, estendia-se também a outras á reas culturais, inclusive à da religiã o. Há razõ es para
pensar que os africanos, quando misturados e transportados ao Brasil, não demoraram em
perceber a existência entre si de elos culturais mais profundos.
(SLENES, R. Malungu, ngoma vem! Á frica coberta e descoberta do Brasil. Revista USP, n. 12, dez./jan./fev. 1991-92 –
Adaptado).
3. resistiam de diversas formas, seja praticando o suicídio, seja organizando rebeliõ es;
a) 1, 2 e 4;
b) 3, 4 e 5;
c) 1, 3 e 5;
d) 1, 2 e 3;
e) 2, 3 e 5.
6. Resposta: d.
Pá gina 92
VOZES DO PASSADO
›› Fonte 1
Mahommah Gardo Baquaqua. Sé c. XIX. Coleçã o particular
O trecho a seguir foi escrito por Mahommah Gardo Baquaqua, um africano nascido onde hoje é o
Benin e trazido para Pernambuco como escravo, em 1847. Depois de conseguir a liberdade, ele
escreveu um livro do qual retiramos o trecho a seguir:
Comida e bebida eram escassos na viagem, havendo dias em que os escravos nã o ingeriam
absolutamente nada. Houve um pobre companheiro que ficou tã o desesperado pela sede que
tentou apanhar a faca do homem que nos trazia á gua. Foi levado ao convés, e eu nunca mais
soube o que lhe aconteceu. Suponho que tenha sido jogado ao mar.
VIEIRA, Leonardo. Historiadores traduzem ú nica autobiografia escrita por ex-excravo que viveu no Brasil. O Globo,
Rio de Janeiro, 27 nov. 2014. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/historia/historiadores-traduzem-
unica-autobiografia-escrita-por-ex-escravo-que-viveu-no-brasil-14671795#ixzz3Kja8UxlC>. Acesso em: 11 mar.
2016.
››Fonte 2
Observe com atençã o o desenho de um navio de 1830 especializado no trá fico de escravos
reproduzido na pá gina 82.
b) Segundo o autor, como era o tratamento dispensado aos escravizados no navio negreiro?
c) Reflita e opine: o fato de o autor ter viajado em um navio negreiro como escravo torna o seu
relato mais confiá vel? Justifique.
d) Agora observe a imagem (fonte 2) com atençã o; ela reforça ou nega a descriçã o feita por
Baquaqua na fonte 1? Justifique.
Pá gina 93
11. Quem vai nos ombros dos outros nã o sente a longa distâ ncia. [...]
LOPES, Nei. Kitábu: O livro do saber e do espírito negro-africanos. Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2005. p. 187-
190.
a) Encontre no dicioná rio o significado do termo provérbio e verifique em que sentido ele se aplica
ao provérbio nú mero 9.
c) Em dupla. O provérbio de nú mero 5 relaciona a situaçã o de uma naçã o às condiçõ es do povo que
nela vive. Vocês consideram essa relaçã o pertinente? Justifique sua resposta com base nos seus
conhecimentos de Histó ria.
f) Em dupla. A mú sica do compositor e cantor cearense Antonio Belchior, Como os nossos pais, se
tornou famosa na voz de Elis Regina. Pesquisem a letra dessa cançã o e respondam: até que ponto
vocês agem de modo diferente do de seus pais, e até que ponto agem como eles?
Pá gina 94
Expansão e ouro na
Capítulo 5
América portuguesa
Professor: o autor das cartas chama de “louco chefe” o governador das Minas, Luís da Cunha Menezes, o “Fanfarrã o
Miné sio”. Nesta sua obra, Gonzaga critica a exploraçã o e o sofrimento dos presos utilizados na construçã o da cadeia (hoje
abrigando o Museu da Inconfidê ncia de Ouro Preto) vista na fotografia à esquerda. Note que o autor considera a construçã o
inteiramente dispensá vel em sua magnitude, com mã o de obra constituída por prisioneiros sem culpa formada e forçados a
trabalhar a mando do despó tico governador. Por terem sido feitos com base na vivê ncia do autor e conjurado Tomá s
Antô nio Gonzaga, esses versos podem ajudar o alunado a formar uma ideia do viver mineiro no sé culo XVIII.
O trecho a seguir foi extraído de Cartas chilenas, obra que apresenta três
personagens principais: Critilo, pseudô nimo de Tomá s Antô nio Gonzaga, o autor
da obra; Doroteu, pseudô nimo do escritor Clá udio Manuel da Costa, o destinatá rio
da carta; e o fictício governador chileno Fanfarrão Minésio, pseudô nimo de Luís
da Cunha Menezes, que governou Minas Gerais de 1783 a 1788. Leia-o com
atençã o.
RESENDE, Maria Efigênia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos. História de Minas Gerais: as Minas setecentistas. Belo
Horizonte: Autêntica/Companhia do Tempo, 2007. v. 2, p. 331.
Pá gina 95
Os soldados
Desde o início do século XVI, piratas e corsá rios europeus assaltavam a costa da
América, em busca de riquezas. Com a Uniã o das Coroas Ibéricas, a partir de 1580,
a pirataria no litoral brasileiro se intensificou, pois, estando sob domínio espanhol,
o Brasil passou a atrair também os inimigos da Espanha. O governo luso-espanhol,
por sua vez, reagia enviando expediçõ es e erguendo fortes em pontos estratégicos
do territó rio colonial.
»» Forte dos Reis Magos (1598), localizado em uma posiçã o que possibilitava
observar o mar, o rio Potengi e as matas vizinhas. Erguido sobre arrecifes para
firmar a construçã o, o forte está na origem da cidade de Natal, fundada dois anos
depois.
Pá gina 96
»» Forte de São Luís (1612), que está na origem da cidade de Sã o Luís, capital do
Maranhã o. O forte foi fundado por calvinistas franceses que, interessados no
açú car nordestino, tentavam estabelecer aqui uma colô nia comercial (a França
Equinocial). Para essa empreitada, eles tiveram o apoio do rei da França e
contaram com o auxílio dos Tupinambá , inimigos dos portugueses. A França
Equinocial, no entanto, durou pouco tempo; três anos depois, forças luso-
espanholas já tinham conseguido expulsar os franceses do Maranhã o.
Em primeiro plano vemos os muros do forte em torno do qual se formou a cidade de Sã o Luís; ao
fundo, o Palá cio dos Leõ es, sede do governo do Estado do Maranhã o, 2014.
»» Outro marco decisivo da conquista portuguesa da Amazô nia foi o Forte de São
José do Rio Negro, que começou a ser construído em 1669 e deu origem à cidade
de Manaus, capital do Amazonas. O nome Manaus é uma referência aos indígenas
Manaó , habitantes do local.
Os jesuítas
Os jesuítas vieram dispostos a difundir o cristianismo nas terras americanas,
converter indígenas e integrá -los à civilizaçã o ocidental; para isso atravessaram o
oceano Atlâ ntico.
Pá gina 97
Allmaps
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 24.
Nas missõ es, os jesuítas e os indígenas se comunicavam pela língua geral baseada
no tupi. Os indígenas realizavam trabalhos na agricultura, no artesanato e na
pecuá ria. Cultivavam cereais, frutas, erva-mate; extraíam drogas do sertã o como
cacau, baunilha, guaraná , plantas medicinais, madeiras e ó leos; e produziam
mobílias, objetos de couro e esculturas em madeira. Muitos desses produtos eram
exportados para a Europa com grande lucro, o que permitiu aos jesuítas
acumularem grande patrimô nio.
Soldados de Cristo: denominaçã o dada aos jesuítas pelo fato de se pautarem por hierarquia e disciplina
rígida que lembra a dos militares.
Gerson Sobreira/Terrastock
Escultura em madeira policromada representando Jesus Cristo, trabalho feito por indígenas de Sã o
Miguel das Missõ es (RS). Fotografia de 2010.
A Revolta de Beckman
Constituído em 1621, o estado do Grã o-Pará e Maranhã o compreendia, na época,
todas as terras situadas entre o Rio Grande do Norte e o Pará .
Pá gina 98
Johannes Vingboons. Sé c. XVII. Ó leo sobre tela. Arquivo Nacional, Holanda
Maranhão, obra do pintor holandês Johannes Vingboons (1616-1670); a obra mostra uma vista de
Sã o Luís e foi produzida em 1665.
Os bandeirantes
Enquanto na capitania de Pernambuco os engenhos de produçã o de açú car
progrediam a olhos vistos, na capitania de Sã o Vicente eles vinham declinando. Por
isso, boa parte da populaçã o vicentina subiu a Serra do Mar e se estabeleceu no
planalto paulista. Lá , liderados pelo padre José de Anchieta, inauguraram um
colégio e deram início a um povoado, Sã o Paulo do Campo de Piratininga.
Pá gina 99
língua predominante na regiã o até o século XVIII. Além disso, cultivavam seus
alimentos, costuravam suas roupas e fabricavam seus artefatos de caça e de pesca.
Muito do que sabiam aprenderam em contato com os indígenas.
As bandeiras
As bandeiras eram expediçõ es com organizaçã o e disciplina militar, que partiam
geralmente de Sã o Paulo, a fim de capturar indígenas e encontrar metais preciosos.
Essas expediçõ es eram lideradas por jovens paulistas. Eram os pais ou sogros
desses jovens que custeavam as bandeiras e forneciam o chumbo e a pó lvora,
esperando receber, em troca, metade dos indígenas aprisionados.
A caça ao indígena
Desde o século XVI, os paulistas aprisionavam indígenas para utilizá -los em suas
lavouras. A partir de 1620, porém, com o crescimento das plantaçõ es de trigo na
regiã o, intensificou-se a procura por mã o de obra. Os paulistas organizaram, entã o,
grandes bandeiras em direçã o ao Sul, onde estavam localizadas as missões –
amplos aldeamentos indígenas, relativamente isolados dos nú cleos urbanos,
administrados pelos padres jesuítas. Nesses aldeamentos, era grande o nú mero de
indígenas da naçã o Guarani – exímios agricultores, e, por isso, muito cobiçados
desde o início da colonizaçã o.
As principais bandeiras de caça ao índio, chefiadas por Manuel Preto e Antô nio
Raposo Tavares, destruíram em apenas 10 anos (1628-1638) as missõ es de
Guairá (Paraná ), Itatim (Mato Grosso do Sul) e Tape (Rio Grande do Sul).
Milhares de guaranis foram aprisionados, e o gado se dispersou pelas campinas do
Sul. Guairá era uma regiã o de acesso relativamente fá cil – distante de Sã o Paulo
por volta de 50 dias de viagem.
Dica! Vídeo sobre Raposo Tavares, um dos bandeirantes famosos de nossa história. [Duração: 7
minutos]. Acesse: <http://tub.im/u7j4mp>.
Com a expulsã o dos holandeses do Nordeste brasileiro e da Á frica, regularizou-se a
importaçã o de trigo português, o que abalou a produçã o paulista desse cereal.
Além disso, os indígenas, munidos de armas de fogo cedidas pelos jesuítas,
venceram duas batalhas importantes contra os paulistas: a de Caasapaguaçu
(1638) e a Mbororé (1641). Outros povos indígenas como os guaianazes e os
guarulhos, habitantes do planalto paulista, também ofereceram dura resistência
aos bandeirantes; a força dessas resistências contribuiu para o declínio do
bandeirismo de caça ao índio.
Acampamento bandeirante para plantio de roças, aquarela de Ivan Washt Rodrigues. As alianças
entre paulistas e índios ajudam a explicar a formaçã o econô mica e social do interior da Colô nia.
Pá gina 100
Para refletir
Primeiro nome das terras de MinasGerais, no início do século XVIII, foi Minas dos Cataguases,
uma referência ao grupo indígena de procedência Jê que habitava vastas regiõ es dos sertõ es.
[...] Se a histó ria de Minas é relacionada à busca de riquezas minerais e à Inconfidência Mineira,
ela também esteve essencialmente associada aos índios – o “ouro vermelho”, como a eles se
referiam os colonizadores. Afinal, a histó ria de Minas é também uma crô nica de uma guerra
silenciosa e de incontá veis embates entre colonos e índios nos sertõ es e nas vilas.
[...] Durante a segunda metade do século XVIII, dezenas de bandeiras devassaram todo o
territó rio, em uma guerra nã o declarada que afugentou, exterminou, aprisionou e escravizou
populaçõ es indígenas de diversas procedências étnicas. Criavam-se, assim, condiçõ es para a
apropriaçã o e a exploraçã o das terras que se tornaram uma das maiores benesses para
participantes dessas campanhas. A violência contra os índios não ocorreu apenas no início da
corrida do ouro, como imaginaram alguns, mas persistiu ao longo de todo o século XVIII.
É verdade que os diversos povos nativos da regiã o – incluindo Coroado, Puri, Botocudo,
Kamakã , Pataxó , Maxakali, Caiapó , entre outros – encontraram-se, no fim, em minoria de armas
e homens, atacados por doenças e obrigados a se deslocarem continuamente, em face da
diminuiçã o da terra e dos recursos naturais. Mesmo assim, eles lutaram tenazmente,
sobretudo no caso dos caiapó s no oeste e dos botocudos no leste da capitania, em territó rios
de grande interesse do poder colonial.
RESENDE, Maria L. Chaves de; LANFER, Hal. O ouro vermelho de Minas Gerais. Revista de História da Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro, ano 1, n. 10, p. 58-60, maio/jun. 2006.
Pá gina 101
b) Como os grupos indígenas foram vistos pelos bandeirantes que lideravam essas
expediçõ es?
b) Os indígenas foram vistos como “invasores”, quando, na verdade, eles reagiam à ocupaçã o de suas terras.
c) De que formas essas expediçõ es aos sertõ es de Minas afetaram os indígenas que
lá viviam?
c) Muitos deles foram mortos em razã o das armas de fogo e das doenças contraídas no contato com os integrantes dessas
expediçõ es; alé m disso, esses grupos perderam a maior parte de seu territó rio.
d) Reflita e opine: a contribuiçã o dos povos indígenas foi decisiva para a a
formaçã o da sociedade colonial das regiõ es auríferas?
d) Sim. Professor: perseguidos em uma guerra nã o declarada nos sertõ es e arraiais, os índios resistiram e contribuíram
para a formaçã o das sociedades coloniais do Centro-Oeste brasileiro.
O sertanismo de contrato
Nos séculos XVII e XVIII, os bandeirantes também foram contratados por
fazendeiros e autoridades para combater índios ou negros rebelados contra a
escravidã o. Esse tipo de bandeirismo voltado à repressã o de revoltas indígenas e
quilombos é chamado de sertanismo de contrato. Uma conhecida bandeira de
sertanismo de contrato foi a que destruiu o Quilombo dos Palmares, em 1694.
2. Dica! Vídeo sobre os bandeirantes e a busca pelo ouro. [Duração: 28 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/e3w74f>.
Principais bandeiras
Allmaps
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 24.
Pá gina 102
Ouro e fome
A tela representa pessoas se dirigindo para a regiã o das minas. Repare que algumas delas estã o
calçadas, outras nã o, o que mostra que eram de diferentes estratos sociais, pois, na época, estar
calçado era um sinal de distinçã o.
Emboaba: para alguns, o termo significa “forasteiro”; para outros, é uma palavra de origem indígena que
significa “ave de pés cobertos”, apelido dado pelos paulistas aos portugueses pelo fato de eles calçarem botas.
Pá gina 103
enviasse um outro mandante com essas atribuiçõ es. Durante as lutas que se
seguiram, um destacamento paulista foi traído e massacrado pelos inimigos no Rio
das Mortes, episó dio conhecido como Capã o da Traiçã o.
1. Dica! Vídeo que discute e desvenda os mitos da Guerra dos Emboabas. [Duração: 26 minutos].
Acesse: <http://tub.im/w7qak8>.
Allmaps
Fonte: ATLAS geográ fico do Brasil. Rio de Janeiro: FAE, 1986. p. 25.
Por lei, as á reas de mineraçã o pertenciam ao rei; por isso, se alguém descobrisse
uma jazida, deveria comunicar ao intendente. Este mandava dividir a á rea em lotes
auríferos (as datas) e promovia a sua distribuiçã o. O descobridor tinha direito a
duas datas e, a Coroa, a uma, que, depois, ia a leilã o. As datas restantes eram
distribuídas conforme o nú mero de escravos; aquele que possuísse 12 escravos, ou
mais, recebia uma data inteira; os demais recebiam lotes menores.
Pá gina 104
1. Dica! Vídeo sobre a Revolta ocorrida em Vila Rica. [Duração: 2 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/5yx78t>.
A revolta foi duramente reprimida, e seus líderes, presos. Felipe dos Santos foi
morto e teve seu corpo esquartejado e exposto na margem de uma estrada. O
morro onde ficava a mina de ouro de Pascoal da Silva, e que levava o seu nome, foi
queimado em noite de vento por ordem do governador da regiã o.
2. Dica! Vídeo sobre a história de Vila Rica, atual Ouro Preto. [Duração: 26 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/p8jqhy>.
Carlos Juliã o. c. 1776. Aquarela. Acervo Biblioteca José e Guita Mindlin
Detalhe da obra Negras vendedoras, de Carlos Juliã o, c. 1776. Escravas de ganho a serviço de seus
donos ou mulheres alforriadas que sustentavam a família com a venda de seus quitutes, as negras
do tabuleiro eram conhecidas também por proteger escravos fugidos e por esconder ouro e
diamantes entre os alimentos que vendiam, a fim de ajudar a comprar a carta de alforria. Em 1729,
o entã o governador da capitania, D. Lourenço de Almeida, chegou a baixar uma lei proibindo-as de
vender comestíveis ou bebidas com tabuleiros.
Nos cinco anos seguintes liberou a exploraçã o dos diamantes a todos os homens
brancos que tivessem escravos e recursos para investir, estabelecendo uma taxa
sobre cada escravo empregado na extraçã o. Exigiu, também, que sua exportaçã o
fosse feita apenas em navios portugueses.
Pá gina 105
Anô nimo, escola portuguesa. Sé c. XVIII. Gravura. Arquivo Histó rico Ultramarino, Lisboa
Modo de lavar os diamantes, século XVIII. Nessa gravura, vemos escravizados trabalhando na
lavagem de diamantes, vigiados por uma autoridade local. No trabalho da mineraçã o, os
escravizados entoavam vissungos, palavra que vem do umbundo (língua banta) e que quer dizer
“cantiga”, “canto”.
Durante muito tempo se disse que este livro foi um caso atípico, que de tã o severo
transformou-se no terror da populaçã o local. Atualmente, no entanto, a
historiografia relativiza essa afirmaçã o. A historiadora Jú nia Ferreira Furtado, por
exemplo, afirma que:
[...] o Regimento veio ampliar ou completar, mas acima de tudo consolidar as leis anteriores
[...]. Aproveitando muito da legislaçã o que estava em vigor para toda a Capitania, dela pouco se
afastou ou trouxe de novo. Em todos os lugares, a aplicaçã o da lei nã o se fazia de forma
homogênea, sendo que negros, [...] pobres e vadios acabavam sofrendo mais a violência da
repressã o e as penas mais duras, chegando até à pena de morte. As cadeias viviam
superlotadas e em condiçõ es subumanas.
FURTADO, Jú nia Ferreira. O livro da capa verde: o regimento diamantino de 1771 e a vida no distrito diamantino no
período da Real Extraçã o. Sã o Paulo: Annablume; Belo Horizonte: PPGH/UFMG, 2008. p. 69. (Coleçã o olhares).
Editora Annablume
Pá gina 106
Editoria de arte
Fonte de pesquisa: MAURO, Féderic (Coord.). O império luso-brasileiro – 1720- 1750. In: SERRÃ O, J.;MARQUES, A. H.
de Oliveira (Org.). Nova história da expansão portuguesa. Lisboa: Estampa, 1991. v. 8.
Segundo estudos recentes sobre a economia de Portugal, verificou-se que, entre
1700 e 1715, conforme a produçã o brasileira de ouro crescia, o comércio entre
Portugal e a Inglaterra também crescia expressivamente. Pouco tempo depois, o
economista escocês Adam Smith (1723-1790) observou que o comércio luso-
britâ nico crescia em razã o do ouro vindo do Brasil, e que quase todo o ouro
fundido existente na Inglaterra era de origem brasileira.
Dica! Reportagem sobre a rota do ouro e dos diamantes. [Duração total: 50 minutos]. Dividido em
três partes. Para a primeira parte, acesse: <http://tub.im/uaiaju>.
Pá gina 107
Acompanhe agora o que um estudioso disse sobre o impacto do ouro nas Gerais.
Se o ouro nã o ajudou Portugal a se desenvolver, qual o seu papel em Minas Gerais? Ali,
produziu uma civilizaçã o singular nos quadros da Colô nia. O ouro [...] vai possibilitar o
desenvolvimento de uma realidade marcada pela urbanizaçã o, mais significativa que em
qualquer outro local da Colô nia [...]. A Capitania de Minas Gerais foi a mais populosa da
América Portuguesa, tendo o maior contingente de populaçã o escrava e o maior contingente de
populaçã o livre.
Sociedade dotada de diversidade econô mica e cultural, Minas Gerais, no século XVIII, deveu
muito de seu dinamismo à produçã o mineral, ao ouro e aos diamantes, que, se não trouxeram
efetivo desenvolvimento econô mico e social, contribuíram para mostrar uma significativa
capacidade criativa, no campo artístico e cultural, que sã o referências decisivas para a
construçã o de nossa plena emancipaçã o.
PAULA, Joã o Antô nio de. A mineraçã o de ouro em Minas Gerais no século XVIII. In: RESENDE, Maria Efigênia Lage de;
VILLALTA, Luiz Carlos. História de Minas Gerais: as minas setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. v. 1. p. 299-
300.
Santa Mestra, está tua de madeira dourada do século XVIII, atribuída a Antô nio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho.
» a mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro (1763), ú nico porto por
onde o governo português permitia que se embarcasse o ouro;
Pá gina 108
A sociedade do ouro
Além de ser mais complexa do que a do açú car, a sociedade do ouro era
marcadamente urbana; nas cidades – locais de residência, de serviços, de comércio,
de oraçã o e de festa – desenvolveu-se a vida social na regiã o mineradora. Nela, a
discriminaçã o contra negros, indígenas e seus descendentes era intensa e o medo e
o valor dado à s aparências eram enormes.
Em 1776, a populaçã o da Capitania do Ouro era formada por cerca de 320 mil
habitantes, distribuídos conforme o grá fico ao lado.
No século XVIII, 78% da populaçã o das Minas Gerais era formada de negros e
pardos, muitos dos quais, escravizados.
Editoria de arte
Fonte: MELLO E SOUZA, Laura. Desclassificados do Ouro: a pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Ediçõ es
Graal, 1986. p. 141.
Os potentados
Estudos recentes sugerem que as maiores fortunas nas Minas Gerais pertenciam a
grandes comerciantes (potentados), muitos dos quais praticavam também a
agiotagem. Manuel Nunes Viana, por exemplo, enriqueceu vendendo gado e carne
das suas fazendas nos sertõ es do Sã o Francisco para os açougues mineiros. Os
contratadores de diamantes e alguns funcioná rios do governo português também
conseguiram fazer fortuna.
Entre os donos de minas, foram poucos os que conseguiram enriquecer, pois boa
parte do que ganhavam servia para o pagamento de impostos. Outra era gasta com
a compra de mercadorias caras, como escravos, ferramentas, bebidas (vinho e
aguardente) e alimentos importados.
As camadas médias
As possibilidades de negó cio com o ouro em pó , a demanda de serviços urbanos e a
ampliaçã o do mercado consumidor favoreceram o crescimento das camadas
médias: taberneiros, sitiantes, militares, artesã os, advogados, padres, garimpeiros,
cirurgiõ es-barbeiros e roceiros. Estes plantavam milho, arroz, feijã o, mandioca;
cultivavam plantas frutíferas e hortaliças e criavam galinhas e porcos. Nos ú ltimos
anos do século XVIII, desenvolveu-se também a criaçã o de vacas leiteiras e a
fabricaçã o de queijo.
Alguns artistas mineiros como Antô nio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (escultor e
arquiteto), Padre José Maurício (compositor e mú sico) e Mestre Ataíde (pintor)
tiveram reconhecimento em vida e podem ser considerados também integrantes
das camadas médias da populaçã o.
Pá gina 109
Os escravizados
Na base da sociedade colonial mineira estavam os escravizados. Eles trabalhavam
na extraçã o do ouro em rios ou galerias subterrâ neas, onde comumente ocorriam
desabamentos e mortes. Na mineraçã o de diamantes, nã o era muito diferente:
erguiam-se barreiras para represar as á guas da bacia do rio Jequitinhonha; como
essas se rompiam frequentemente, muitos também acabavam morrendo. Os
escravizados trabalhavam na produçã o de alimentos, na construçã o de casas,
praças e chafarizes, na abertura de estradas, no transporte de pessoas e
mercadorias pelas ladeiras acidentadas dos arraiais mineiros e no comércio pelas
ruas e lavras.
Mas nessa regiã o os cativos também ofereceram forte resistência à escravidã o: foi
lá que surgiu o maior nú mero de quilombos. Segundo o historiador Carlos Magno
Guimarã es, nos anos entre 1710 e 1798 foram descobertos e combatidos 160
desses nú cleos.
Mestre Ataíde. c. 1809. Igreja da Ordem Terceira de Sã o Francisco de Assis, Ouro Preto. Foto: Manoel Novaes
Glorificação da Virgem, pintada pelo Mestre Ataíde no teto da igreja de Sã o Francisco, em Ouro
Preto, é um ícone do barroco mineiro. Artista original, Mestre Ataíde pintou, com cores vivas e
alegres, virgens e anjos com traços afro -brasileiros, à semelhança dos de sua companheira e de
seus filhos. Nem sempre os pintores mineiros tinham recursos para importar suas tintas; entã o
criavam as suas pró prias, misturando terra queimada, leite, clara de ovo e extratos de plantas e
flores. Por isso se diz que nã o existe nas artes plá sticas do século XVIII um colorido como o que
vemos nas pinturas mineiras.
Pá gina 110
Sé c. XVIII. Tê mpera sobre madeira. Museu da Inconfidê ncia, Ouro Preto.Foto: Romulo Fialdini/Tempo C
A pecuária colonial
Como disseram os historiadores Joã o Fragoso, Manolo Florentino e Sheila de
Castro Faria, a criaçã o de gado foi uma das principais atividades econô micas da
Colô nia e um setor bá sico para o funcionamento da economia colonial como um
todo. A pecuá ria ligava-se necessariamente ao mercado interno, nã o sendo os
animais destinados somente à alimentaçã o, mas também ao trabalho. Daí haverem
na Colô nia amplas á reas especializadas nessa atividade, como o sertã o do rio Sã o
Francisco até os rios Tocantins e Araguaia, boa parte do Piauí, do Maranhã o, o
sertã o da Bahia, os campos de Curitiba, o litoral do norte fluminense, o sul de
Minas e as campinas do sul do Brasil.
Caminhos do gado
Allmaps
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 38.
Pá gina 111
No Nordeste, o gado servia para puxar os carros de boi, moer a cana, alimentar a
populaçã o local e fornecer matérias-primas, principalmente o couro. Nessa época,
o curral do gado era o quintal do engenho. Com a expansã o da economia
açucareira, no entanto, o gado criado nos engenhos passou a ser considerado um
problema, pois, além de destruir as plantaçõ es, ocupava terras que poderiam ser
mais rentá veis se aproveitadas para o plantio da cana. Em 1701, o pró prio governo
português, interessado nos lucros do açú car brasileiro, proibiu a criaçã o de gado a
menos de 10 léguas do litoral. Assim, aos poucos, o gado foi ganhando o sertã o.
A expansã o do gado pelo sertã o foi um processo conflituoso, marcado por lutas
sangrentas entre os criadores luso-brasileiros e os indígenas. Com o auxílio dos
bandeirantes paulistas, os criadores venceram a resistência indígena e o sertã o foi
ocupado pelas fazendas de gado.
O gado no Sul
Com a destruiçã o das missõ es jesuíticas no Sul, o gado se dispersou e reproduziu-
se nas extensas planícies da regiã o. Atraídos por esses rebanhos sem dono, os
paulistas fundaram no litoral do atual estado de Santa Catarina os povoados de Sã o
Francisco, em 1642; Desterro (atual Florianó polis), em 1673; e Laguna, em 1684,
dando início à ocupaçã o do Sul.
Pá gina 112
Açoriano: habitante da ilha dos Açores, pertencente a Portugal e localizada no oceano Atlâ ntico.
Fernando Bueno/Pulsar Imagens
Vista do Monumento aos Açorianos, no Largo dos Açorianos. Porto Alegre (RS), 2014.
As novas fronteiras
Como vimos, os habitantes da América portuguesa ocuparam terras que, pelo
Tratado de Tordesilhas, pertenciam à Espanha. Os espanhó is, por sua vez, também
invadiram á reas do Oriente, pertencentes a Portugal. Considerando ter direito à s
terras conquistadas na América, Portugal fez vá rios acordos internacionais para
oficializar essa conquista. Os mais importantes foram:
Pá gina 113
Alexandre Campbell/Tyba
Fig. 1: ruínas da Igreja de Sã o Miguel das Missõ es, sítio arqueoló gico de Sã o Miguel Arcanjo, no atual
estado do Rio Grande do Sul, 2011. Em 1983, a Unesco declarou essas ruínas patrimô nio histó rico
da humanidade. Fig. 2: A cruz acima da lança, em concreto armado, em frente à Prefeitura
Municipal de Sã o Luiz Gonzaga (RS), 2013.
Allmaps
ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. p. 30.
Como se pode ver no mapa, as fronteiras estabelecidas pelo Tratado de Badajó s eram bem
parecidas com as fixadas pelo Tratado de Madri. Definia-se, assim, o novo territó rio da América
portuguesa.
Pá gina 114
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Enem/MEC – 2014)
O índio era o ú nico elemento entã o disponível para ajudar o colonizador como agricultor,
pescador, guia, conhecedor da natureza tropical e, para tudo isso, deveria ser tratado como
gente, ter reconhecidas sua inocência e alma na medida do possível. A discussã o religiosa e
jurídica em torno dos limites da liberdade dos índios se confundiu com uma disputa entre
jesuítas e colonos. Os padres se apresentavam como defensores da liberdade, enfrentando a
cobiça desenfreada dos colonos.
1. Resposta: e.
2. (Unicamp-SP – 2014)
A histó ria de Sã o Paulo no século XVII se confunde com a histó ria dos povos indígenas. Os
índios não se limitaram ao papel de tá bula rasa dos missioná rios ou vítimas passivas dos
colonizadores. Foram participantes ativos e conscientes de uma histó ria que foi pouco
generosa com eles.
a) A escravidã o foi por eles aceita, na expectativa de sua proibiçã o pela Coroa portuguesa, por
pressã o dos jesuítas.
b) Sua participaçã o nos aldeamentos fez parte da integraçã o entre os projetos religioso e bélico de
domínio português, executados por jesuítas e bandeirantes.
d) A adoçã o do trabalho remunerado dos indígenas nos engenhos de Sã o Vicente contrasta com as
práticas de trabalho escravo na Bahia e Pernambuco.
2. Resposta: c.
3. (UECE) A corrida do ouro em Minas Gerais no final do século XVII trouxe uma riqueza muito
grande para a Coroa portuguesa mas também exigiu muitos esforços no sentido de fiscalizar a
produçã o e punir o contrabando. Assinale a expressã o correta a respeito das medidas fiscais
empreendidas por Portugal na á rea das minas:
a) apesar dos protestos dos fidalgos encarregados da arrecadaçã o, a Coroa portuguesa evitava
pressionar os produtores através das derramas, limitando-se a aumentar os impostos.
b) sem conseguir se impor aos proprietá rios das minas, a administraçã o colonial passou a permitir
a livre comercializaçã o do ouro, arrecadando impostos nos portos e nas estradas.
3. Resposta: d.
A sede insaciá vel do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por
caminhos tã o á speros como sã o os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do
nú mero de pessoas que atualmente lá estã o [...]. Cada ano, vêm nas frotas quantidades de
portugueses e de estrangeiros para passarem à s minas. Das cidades, vilas e recô ncavos e
sertõ es do Brasil, vã o brancos, pardos e pretos, e muitos índios, de que os paulistas se servem.
ANTONIL, André Joã o. Cultura e opulência do Brasil. Sã o Paulo: Melhoramentos; Brasília: INL,1976. p. 167. [1ª ediçã o:
1711].
A descriçã o acima refere-se à sociedade formada na regiã o das Minas Gerais, no século XVIII. A
respeito dessa sociedade, considere as seguintes afirmaçõ es.
I. A possibilidade de ascensã o social era mais facilitada do que na atividade açucareira empreendida
no Nordeste.
II. A riqueza gerada promoveu o desenvolvimento de uma agricultura em grande escala, voltada
para a exportaçã o.
III. O desenvolvimento acarretou uma sociedade urbana, heterogênea, composta por comerciantes,
funcioná rios reais, profissionais liberais e escravos.
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e II.
d) Apenas I e III.
e) Apenas II e III.
4. Resposta: d.
5. (UFRGS-RS – 2014) Sobre o Tratado de Madri, assinado em 1750 por Portugal e Espanha,
considere as seguintes afirmaçõ es.
I. A Colô nia de Sacramento passou para a Espanha, e os Setes Povos das Missõ es passaram para
Portugal, consagrando o princípio do uti possidetis.
II. A expulsã o dos jesuítas foi fator importante para a eclosã o da chamada guerra guaranítica (1752-
1756), reduzindo os efeitos do Tratado.
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas I e III.
5. Resposta: d.
6. A resistê ncia indígena pode ser identificada em lutas e enfrentamentos diversos, como na Guerra Guaranítica e em fugas
para á reas do interior da Amazô nia.
e) a produçã o do charque.
7. O texto fornece elementos para a resposta. A intençã o aqui é dar continuidade ao trabalho de estímulo à competê ncia
escritora do aluno e ajudá -lo a fixar conhecimentos sobre a ocupaçã o e o povoamento do sul do Brasil.
Pá gina 116
VOZES DO PRESENTE
Eu quero é ouro!
[...] Nas Minas Gerais do final do século XVII e das primeiras décadas do XVIII, todos queriam
ouro. A qualquer preço. Os pró prios representantes do Estado português – governadores,
ouvidores, provedores [...] contribuíam para desviar as riquezas da Fazenda Real (a Receita
Federal da época). [...]
[...] Mas a fá brica de moeda falsa de que realmente se tem notícia [...] foi obra de [...] Iná cio de
Souza Ferreira, [...] sob a proteçã o [...] do pró prio governador das Minas Gerais, D. Lourenço de
Almeida (1721-1732) [...]. D. Lourenço, a propó sito, retornou riquíssimo a Portugal, com
bagagem reluzente, no fim do seu governo. Estes sim, e não os escravos, foram os grandes
descaminhadores.
CAVALCANTE, Paulo. Eu quero é ouro! Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 4, n. 38, p. 28-
30, nov. 2008.
Descaminhar: extraviar.
a) O extravio de ouro e diamantes nas Minas Gerais do início do século XVIII era uma prá tica
exclusiva dos escravizados? Justifique.
b1) Quem praticava esses extravios? De que forma isto era feito?
A Revolução Inglesa e a
Capítulo 6
Industrial
Professor: partimos de uma imagem e um mapa atuais para verificar o que o aluno sabe sobre o tipo de monarquia adotado
no Reino Unido, dar início ao trabalho com o conceito de monarquia parlamentar e o processo que levou ao advento desse
regime político na Inglaterra. Na cerimô nia registrada na foto, a rainha Elizabeth II apresentou um programa com os
seguintes pontos: cortes no orçamento, geraçã o de empregos, construçã o de casas populares, creches gratuitas e controle da
imigraçã o; este programa ajuda-nos a pensar sobre a capacidade de renovaçã o da monarquia parlamentar britâ nica e de
adequaçã o de suas propostas à s demandas do mundo atual.
Pá gina 118
Capitalismo: sistema socioeconô mico caracterizado pela propriedade privada dos meios de produçã o
(terras, fá bricas, equipamentos etc.), relaçõ es assalariadas de trabalho e produçã o visando o lucro.
Cercamento: consistia em cercar as terras de uso comum, de onde os camponeses retiravam sua
subsistência, para transformá -las em pastos para a criação de ovelhas (produtoras de lã ) ou em á reas de
produçã o de cereais, frutas e vegetais destinados à venda. A prá tica dos cercamentos se estendeu por um longo
período, mas teve momentos de maior intensidade.
Publicado por Jan Blaeu. Sé c. XVII. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Pá gina 119
Era comum também a compra de terras por parte da gentry e dos yeomen. Assim,
por meio dos cercamentos e/ou da compra, essas camadas sociais foram
acumulando terras. E, pouco a pouco, a agricultura de subsistência foi cedendo
lugar à agricultura comercial com características capitalistas.
Camponeses ingleses de um vilarejo. Esta obra do século XIX ajuda-nos a imaginar um fenô meno
típico do século XVII, na Inglaterra: a migraçã o de famílias camponesas do campo para as cidades
inglesas.
Parlamento: era composto da Câ mara dos Comuns e da Câ mara dos Lordes. Na Câ mara dos Comuns
predominavam os representantes da burguesia e da gentry; na Câ mara dos Lordes, o alto clero e a alta
nobreza.
Pá gina 120
Em 1628, reagindo à política fiscal opressiva do rei Carlos I, o Parlamento
conseguiu aprovar a Petição de Direitos, que declarava ilegal qualquer tributaçã o
sem o seu consentimento e condenava as prisõ es arbitrá rias efetuadas a mando do
rei. Em represá lia, nos 11 anos seguintes, Carlos I governou sem convocar o
Parlamento e tomou uma série de medidas arbitrá rias: restaurou taxas e tributos
que haviam sido extintos, concedeu monopó lios, vendeu cargos pú blicos, impô s
multas e criou novos impostos. Um deles, o ship money, pago apenas pelas
cidades portuá rias, passou a ser de â mbito nacional. A reaçã o ao ship money
desencadeou uma onda de protestos em todo o país; muitos líderes da oposiçã o
foram encarcerados e mortos a mando do rei.
Sentindo sua autoridade ameaçada, Carlos I passou à ofensiva: invadiu com sua
guarda pessoal a Câ mara dos Comuns, ó rgã o de maioria puritana, para prender os
líderes da oposiçã o. A oposiçã o, no entanto, já havia se retirado do recinto para se
unir à s forças puritanas armadas na luta contra o absolutismo; tinha início, assim,
na Inglaterra, uma guerra civil que se estendeu de 1642 a 1649.
Lir Anthony van Dyck. 1635. Ó leo sobre tela. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A pintura intitulada Carlos I em três posições é um dos vá rios retratos que o pintor Anthony van
Dyck fez desse rei, seu protetor e mecenas. Repare que Carlos I foi retratado de três â ngulos
diferentes, de modo a impressionar o observador e evocar a ideia de força e poder de rei
absolutista.
Revolução Puritana
Do ponto de vista social, a alta nobreza, burgueses favorecidos por monopó lios
reais e os membros do clero anglicano e cató lico lutaram ao lado do rei; a
burguesia manufatureira e mercantil, a gentry e os yeomen, de religiã o puritana,
lutaram ao lado do Parlamento.
Pá gina 121
Pá gina 122
A República de Cromwell
Apoiado no exército, Oliver Cromwell (1649-1658), um republicano moderado, foi
um dos governantes mais autoritá rios da histó ria inglesa. Externamente, sufocou o
levante dos cató licos da Irlanda e o dos separatistas da Escó cia; internamente,
combateu os movimentos populares puritanos que exigiam reformas radicais. As
terras dos partidá rios do rei e da Igreja anglicana foram confiscadas e vendidas
para a burguesia manufatureira, para os gentry e para os yeomen, os vencedores da
Revoluçã o Puritana.
DIALOGANDO
A intençã o de Cromwell era fortalecer a marinha inglesa, enriquecer comerciantes e armadores de seu país e atingir a
Holanda, que na é poca era sua principal concorrente nos mares.
A partir daí, Cromwell aproveitou-se da guerra para tornar seu cargo vitalício e
hereditá rio (1653), impondo seu poder pessoal à naçã o, com o título de Lorde
Protetor da Inglaterra, Irlanda e Escó cia. Por isso, cinco anos depois, quando
Cromwell morreu, o poder passou à s mã os de seu filho Ricardo.
Escola francesa. c. 1700. Xilogravura colorizada. London Metropolitan Archives. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Vista de Londres, c. 1700. A indú stria têxtil, a produçã o de carvã o e a política mercantilista dos
governantes ingleses contribuíram para a prosperidade de Londres, a maior cidade da Europa no
século XVII.
Pá gina 123
A restauração da monarquia
Ricardo nã o tinha o apoio do exército e, além disso, mostrava-se incapaz de fazer
alianças e de controlar as oposiçõ es. Ao mesmo tempo, os movimentos populares
liderados por grupos político-religiosos puritanos, como os levellers (niveladores)
e os diggers (cavadores), pressionavam por mudanças.
»» o direito de voto a todos os homens, o fim da Câ mara dos Lordes e todo o poder
para a Câ mara dos Comuns;
Os cavadores pleiteavam uma reforma agrá ria radical. Esse grupo inspirava-se
nas ideias do escritor Gerrard Winstanley, defensor dos ideais de igualdade e
fraternidade dos primeiros cristã os. Veja o que um historiador diz sobre esse
grupo político:
Os diggers exigiam que todas as terras e florestas da Coroa, os terrenos comunais e ociosos
fossem cultivados pelos pobres, através da posse comunitá ria, e que a compra e venda da terra
deveria ser proibida por lei.
HILL, Christopher. O eleito de Deus: Oliver Cromwell e a Revoluçã o Inglesa. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 1998. p.
18.
A Revolução Gloriosa
O Parlamento reagiu à s imposiçõ es de Jaime II reunindo tropas para destroná -lo. O
rei, por sua vez, preferiu deixar o trono a resistir. Os líderes do Parlamento, entã o,
convidaram o príncipe holandês Guilherme de Orange, casado com a filha
protestante de Jaime II, a ocupar o trono inglês. Em 1688, Guilherme de Orange
entrou na Inglaterra com o seu exército e, por ato do Parlamento, foi declarado rei.
Era a Revolução Gloriosa (1688), assim denominada por ter ocorrido sem
derramamento de sangue.
Pá gina 124
O processo revolucioná rio inglês foi inspirado nas ideias do importante pensador
político John Locke.
Na imagem vemos um membro do Parlamento entregando aos reis Guilherme de Orange e sua
esposa, Maria, a Declaração de Direitos, documento que limitava o poder real.
Locke defendia o direito de cada pessoa escolher sua religiã o, apoiar um grupo
político, defender suas ideias em pú blico ou por meio da imprensa. Esses direitos
individuais deveriam ser respeitados e protegidos pelos governantes. Por essas
suas ideias, Locke foi considerado um dos “criadores” do liberalismo na política.
John Locke, filó sofo inglês, pregou a ideia de que os governos foram criados para defender os
“direitos naturais” dos homens.
O significado da Revolução Gloriosa
A partir da Revoluçã o Gloriosa, tornou-se comum dizer: “o rei reina, mas quem
governa é o Parlamento”. Embora a afirmaçã o nã o deva ser tomada ao pé da letra,
o fato é que a Inglaterra deixava de ser uma monarquia absolutista e passava a ser
uma monarquia parlamentar. Os ingleses deixavam de ser sú ditos para
tornarem-se cidadã os, com direitos e deveres. Além disso, a Revoluçã o favoreceu o
desenvolvimento do capitalismo e, consequentemente, a expansã o dos negó cios da
gentry e da burguesia manufatureira e mercantil, o que ajuda a compreender o
pioneirismo inglês na Revolução Industrial.
Pá gina 125
A Revolução Industrial
A Revoluçã o Industrial pode ser definida como uma transformaçã o sem
precedentes no modo de produzir mercadorias, de viver e de pensar, que
impressionou muito os homens e as mulheres que a vivenciaram. Essa Revoluçã o
teve início na Inglaterra na década de 1760 e se propagou pela Europa nas décadas
seguintes.
1. Dica! Vídeo sobre os usos e a importância do carvão mineral. [Duração: 26 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/5c5tp6>.
Por volta de 1760, foi disseminado o uso da lançadeira volante inventada por John
Kay. Essa má quina permitia tecer peças largas, com menos trabalhadores e
Pá gina 126
DIALOGANDO
Você já ouviu o ditado “a necessidade é a mãe de todas as invenções”? Você concorda com
isso?
Resposta pessoal. Professor: o assunto dá oportunidade a esse debate e para iniciá -lo é interessante perguntar: qual é a
origem de uma invençã o? Um invento atende, principalmente, à necessidade social de determinado momento histó rico.
William Ibbitt. Sé c. XVIII. Litogravura. Coleçã o particular. Foto: SSPL via Getty Images
Cidade inglesa de Sheffield no século XVIII. Naquele tempo, as chaminés das fá bricas eram um
elemento novo na paisagem. Os grossos rolos de fumaça que saíam dessas chaminés poluíam o ar,
dando início ao que hoje chamamos de “questã o ambiental”. Industrializaçã o e urbanizaçã o
caminharam de mã os dadas. Muitas cidades surgiram ou cresceram em torno das fá bricas,
desordenada e rapidamente, sob o impacto das famílias que vinham do campo, ansiosas por
trabalho e uma vida melhor.
Os fios da water-frame eram resistentes, porém grossos. A soluçã o para isso foi
dada pela mule, inventada por Samuel Crompton, em 1779. A mule – uma má quina
híbrida (combinaçã o das duas anteriores) – produzia fios finos e resistentes, com
os quais se podiam fabricar tecidos de uma leveza que superava
Arterra Picture Library/Alamy/Latinstock
Representaçã o de um menino trabalhando para limpar resíduos da mule. Museu da Indú stria,
Trabalho e Têxtil da Bélgica. 2014.
Pá gina 127
Se o problema antes era a carência, agora passa a ser o excesso de fios. A soluçã o
para esse problema foi o tear mecânico, inventado pelo reverendo Edmund
Cartwright, em 1785, cuja capacidade de produçã o era muitas vezes maior que a
do tear manual.
As primeiras fábricas de tecidos foram construídas à s margens dos rios para aproveitar a energia
da á gua. Com a descoberta da má quina a vapor, isso deixou de ser necessá rio, e as fá bricas
passaram entã o a ser erguidas no centro das cidades. A imagem ao lado representa a experiência de
James Watt com a força da expansã o do vapor de á gua.
Pá gina 128
Sé c. XIX. Gravura. National Museum Of Science And Industry, Londres. Foto: De Agostini/Getty Images
Dica! Vídeo sobre as máquinas que tornaram possível a Revolução Industrial. [Duração: 29
minutos]. Acesse: <http://tub.im/77yjcb>.
Fiandeiras trabalhando com máquinas, c. 1835. A máquina podia ser alimentada por roda d’á gua ou
a vapor. No canto inferior esquerdo, vê-se uma mulher limpando a parte de baixo da máquina,
trabalho arriscado e que era feito, geralmente, por crianças.
Pá gina 129
Os operá rios moravam pró ximos das fá bricas, no centro, sendo, portanto, as
principais vítimas da poluiçã o do ar. As famílias operá rias, geralmente numerosas,
amontoavam-se em cortiços, com um ou dois cô modos, que eram usados para
tudo: dormir, cozinhar, lavar roupas, se alimentar, brincar. As famílias geralmente
dividiam entre si um banheiro e uma ú nica torneira, localizados no corredor que
dava acesso à rua. As ruas dos bairros operá rios eram de chã o batido, sujas e com
esgotos a céu aberto, o que facilitava a ocorrência de epidemias como a cólera, que
fez muitas vítimas na época.
Cólera: doença infecciosa gastrointestinal produzida pelo vibriã o colérico, uma bactéria em forma de vírgula.
Dica! Vídeo sobre o combate às doenças da Inglaterra do século XIX. [Duração: 29 minutos].
Acesse: <http://tub.im/uhqwuv>.
Como os aluguéis eram caros, quase nã o sobravam recursos para a alimentaçã o; a
principal refeiçã o dos operá rios reduzia-se, na maioria das vezes, a uma torta de
batata. Os bares (pubs) serviam como ponto de encontro para diversõ es e debates
políticos entre os operá rios. Lá eles conversavam sobre o seu dia a dia, distraíam-
se com jogos e também discutiam assuntos de interesse coletivo, como, por
exemplo, as condiçõ es de trabalho no interior das fá bricas.
Sabotar: a palavra “sabotagem”, derivada do francês sabot (tamanco), está ligada às lutas operá rias.
Revoltado, o operá rio sabotava o trabalho enfiando seu tamanco entre as engrenagens das má quinas e
parando a produção.
DIALOGANDO
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, a quebra de máquinas era uma tá tica dos luditas para conseguir melhores condiçõ es
de trabalho e impedir a queda dos salá rios.
Pá gina 130
O Parlamento, por sua vez, aprovou leis que proibiam a greve, as associaçõ es
operá rias (trade unions) e as marchas de protesto. Em 1819, na cidade inglesa de
Manchester, uma manifestaçã o de protesto com cerca de 80 mil trabalhadores
terminou em tragédia: 11 deles foram mortos. O episó dio ficou conhecido como
Massacre de Peterloo. Pressionado pelo movimento operá rio, em 1824 o
Parlamento britâ nico reconheceu as trade unions, organizaçõ es de trabalhadores
que promoviam auxílio mú tuo entre os seus associados e que, no fim do século XIX,
passaram a atuar como sindicatos (ó rgã os de defesa da classe trabalhadora).
» aboliçã o do voto censitá rio para o Parlamento (do qual até entã o só podiam fazer
parte os ricos);
A luta pela aprovaçã o da Carta do Povo deu origem a um movimento popular com
grande força em toda a Inglaterra: o cartismo. As exigências dos cartistas foram
recusadas pelo Parlamento, desencadeando ondas de greves, prisõ es e mortes de
líderes operá rios.
Cartismo: os cartistas recolhiam milhares de assinaturas nas oficinas, fá bricas e associaçõ es operá rias e
organizavam numerosas marchas que cortavam as principais cidades do país, entoando cançõ es de protesto.
As petiçõ es cartistas foram enviadas ao Parlamento por diversas vezes, mas, apesar de virem acompanhadas
de milhares de assinaturas, eram rejeitadas.
» 1846 – supressã o dos impostos sobre os cereais importados, como o trigo, que
encareciam o preço do pã o.
Manifestaçã o na porta de uma fá brica em Salford, Inglaterra, em agosto de 1842. Repare que os
policiais se valem de cassetetes para reprimir os operá rios.
Pá gina 131
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (UEL-PR – 2016) Thomas Morus, em sua obra Utopia, criou uma analogia para a sociedade de
sua época. Nessa representaçã o da sociedade, caracterizada pelo caos, ovelhas se alimentavam de
seres humanos, explicitando, dessa forma, um rompimento do equilíbrio social, no século XVIII.
Com base nos conhecimentos sobre as transformaçõ es histó ricas ocorridas nesse período, assinale
a alternativa que apresenta, corretamente, a denominaçã o da fase do sistema produtivo e a naçã o
correspondente nesse processo.
a) Plantations – Alemanha.
c) Servidã o – Portugal.
d) Corveia – França.
e) Cercamentos – Inglaterra.
1. Resposta: e.
c) a independência das treze colô nias inglesas da América do Norte e a abertura dos portos ingleses
aos navios estrangeiros.
d) a derrota militar das forças reformistas e a consolidaçã o do absolutismo moná rquico nas mã os
de Oliver Cromwell.
2. Resposta: a.
3. (UFMG) Durante a Revoluçã o Inglesa, no século XVII, foi formado o Exército de Novo Tipo,
liderado por Oliver Cromwell, de que participavam, além da classe mercantil, da gentry, dos
pequenos proprietá rios camponeses e de trabalhadores urbanos, segmentos mais radicais, que
defendiam reformas profundas no Estado inglês. É correto afirmar que esses segmentos eram
constituídos:
b) pelos levellers, que reivindicavam a democratizaçã o, a extensã o do sufrá gio e uma maior
igualdade perante a lei, e pelos diggers, defensores da posse comum das terras;
c) pelos landlords, que buscavam a implantaçã o do sufrá gio universal e a extensã o do voto à s
mulheres, e pelos warlordists, que pregavam a luta armada do povo contra o Parlamento;
d) pelos saint-simonistas, que defendiam o fim do sistema moná rquico, e pelos owenistas,
defensores da aboliçã o da Câ mara dos Lordes.
3. Resposta: b.
c) a expulsã o das tropas napoleô nicas do territó rio inglês, que uniu os interesses nacionais em
torno de um esforço de desenvolvimento.
4. Resposta: a.
Pá gina 132
5. (Enem/MEC – 2015)
Dominar a luz implica tanto um avanço tecnoló gico quanto uma certa liberaçã o dos ritmos
cíclicos da natureza, com a passagem das estaçõ es e as alternâ ncias de dia e noite. Com a
iluminaçã o noturna, a escuridã o vai cedendo lugar à claridade, e a percepçã o temporal começa
a se pautar pela marcaçã o do reló gio.
Se a luz invade a noite, perde sentido a separaçã o tradicional entre trabalho e descanso —
todas as partes do dia podem ser aproveitadas produtivamente.
SILVA FILHO, A. L. M. Fortaleza: imagens da cidade. Fortaleza: Museu do Ceará ; Secult-CE, 2001 (adaptado).
5. Resposta: e.
Pode-se afirmar que as conquistas no início do século XX, decorrentes da legislaçã o trabalhista,
estã o relacionadas com
d) o crescimento do Estado ao mesmo tempo que diminuía a representaçã o operá ria nos
parlamentos.
e) a vitó ria dos partidos comunistas nas eleiçõ es das principais capitais europeias.
6. Resposta: c.
De 1815 a 1847, F. Gaillot arrola uma quinzena de casos ocorridos e outros tantos de tentativas
abortadas. O ludismo é mais importante em 1848, quando assume feiçõ es particularmente
graves, à imagem da duraçã o da crise e da esperança despertada pela nova Repú blica.
PERROT, M. Os excluídos da História. Operá rios, mulheres, prisioneiros. Trad. Denise Bottmann. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1988. p. 37.
7. Resposta: c.
Pá gina 133
O texto a seguir foi retirado de um site educacional inglês, contendo depoimentos de pessoas que
trabalharam nas fá bricas inglesas do século XIX desde a infâ ncia. O depoimento a seguir é de John
Birley, nascido em Londres em 1805 e que começou a trabalhar com 6 anos de idade. Leia o que ele
conta.
Matthias Dunn. 1848. Ilustraçã o. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nó s íamos para a mina à s cinco da manhã e trabalhá vamos até quase oito ou nove horas,
quando eles traziam nosso café da manhã, que consistia em mingau com bolo de aveia e
cebolas pra temperar.
O jantar consistia em panqueca cortada em 4 pedaços, separadas em duas pilhas. Uma tinha
manteiga e a outra tinha melado. Ao lado das panquecas havia leite. Nó s tomá vamos o leite e,
com um pedaço de panqueca na mã o, voltá vamos a trabalhar sem sentar.
Nó s entã o trabalhá vamos até nove ou dez da noite, quando a roda d’á gua parava. Quando nó s
pará vamos de trabalhar, éramos levados para a casa dos aprendizes, situada a
aproximadamente 300 metros da mina. Era uma casa grande de alvenaria, cercada por um
muro de dois ou três metros de altura, com uma porta que era mantida trancada. Era capaz de
abrigar cerca de cento e cinquenta aprendizes.
SIMKIN, John. John Birley. Spartacus Educational, set. 1997. Traduçã o do autor. Disponível em: <http://spartacus-
educational.com/IRbirley.htm>. Acesso em: 26 fev. 2016.
b) O que se pode concluir sobre o trabalho infantil nas fá bricas inglesas do início do século XIX e
está explícito no texto?
d) Por que, na Inglaterra do século XIX, os empregadores podiam exigir dos aprendizes longas
jornadas de trabalho?
1. <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/06/brasil-e-o-pais-que-mais-reduziu-o-
trabalho-infantil>
2. <http://www.unicef.org/brazil/pt/media_25610.htm>
Pá gina 134
A primeira vacina
A primeira vacina foi descoberta pelo médico inglês Edward Jenner, em 1796. Era uma vacina
contra varíola (doença que provoca erupçõ es na pele e deixa cicatrizes). Jenner observou que
as pessoas infectadas com a varíola bovina (cowpox) nã o contraíam a varíola comum
(smallpox) e estudou o assunto por vá rios anos. Em 1796, inoculou com varíola bovina um
menino saudá vel de 8 anos. Algum tempo depois, Jenner expô s o garoto ao contá gio com
varíola comum e ele nã o contraiu a doença: seu organismo havia desenvolvido defesas contra a
varíola. Estava descoberta a primeira vacina. A reaçã o inicial da comunidade médica foi de
indiferença. Dois anos depois, contudo, Jenner divulgou os resultados de sua pesquisa em um
livro e conseguiu reconhecimento no meio científico. A vacina criada por Jenner difundiu-se
rapidamente na Europa e depois no resto do mundo.
››Fonte 2
A Sociedade Brasileira de Imunizaçõ es (Sbim) lançou ontem um alerta sobre a importâ ncia da
vacinaçã o de adolescentes [...].
Entre as preocupaçõ es está a hepatite B, transmissível por beijos, relaçõ es sexuais e sangue,
que pode se tornar crô nica, levando a complicaçõ es como a cirrose. A vacina contra a hepatite
B é a primeira a ser dada ao bebê, mas só entrou no Programa Nacional de Imunizaçã o a partir
de 1998. Quem tem mais de 15 anos pode nã o ter recebido as doses necessá rias. “[...]. É preciso
se certificar de que o adolescente tomou as três doses, que garantem a imunidade”, disse o
médico Renato Kfouri, presidente nacional da Sbim.
Kfouri lembra que “[...] é difícil levar o adolescente à sala de vacina. Ele nã o se sente vulnerá vel
à s doenças.” [...] “A preocupaçã o com o adolescente é que ele enfrenta riscos, nã o só pela idade,
mas pelo comportamento. Ele se expõ e mais socialmente, beija mais, tem uma atitude social
que aumenta o contato com vá rias pessoas diferentes e fica mais suscetível”, afirmou Isabella
Ballalai, presidente da regional Rio da Sbim. [...]
THOMÉ , Clarissa. Médicos alertam para a vacinaçã o de adolescentes. O Estado de S. Paulo, Sã o Paulo, 27 jun. 2012.
Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,medicos-alertam-para-a-vacinacao-de-
adolescentes-,892039,0.htm>. Acesso em: 8 mar. 2016.
b) Responda com base na fonte 2: o que explica a preocupaçã o dos médicos com a incidência da
hepatite B entre os adolescentes?
c) Em grupo. Segundo Isabella Ballalai, o adolescente “se expõ e mais socialmente, beija mais [...] e
fica mais suscetível”. Vocês concordam com ela?
Pá gina 135
[...] O crime é justamente esse: o glotocídio. A cada quinze dias morre o ú ltimo falante de uma
das 6 700 línguas faladas atualmente em 193 países. Com ele desaparece para sempre mais
uma língua.
Com o objetivo de criar estratégias para fortalecer as línguas ameaçadas na América Latina, o
Instituto do Patrimô nio Histó rico e Artístico Nacional (Iphan) e o Ministério da Cultura
organizaram [...] um encontro [...] no Seminá rio Ibero-americano da Diversidade Linguística,
que reuniu mais de 400 pessoas comprometidas com a luta pelos direitos linguísticos das
minorias. [...]
Das línguas indígenas apenas 11 têm acima de cinco mil falantes, o que significa que a maioria
corre sério risco de extinçã o. [...]
No seminá rio foi lembrado o drama recente de dois índios. Um deles – Tikuein – ú nico falante
da língua Xetá, vivia na aldeia Sã o Jerô nimo, norte do Paraná , com índios Kaingang e Guarani.
Como estratégia para manter a língua viva, ele falava com o espelho e algumas vezes,
caminhando pela aldeia, com um interlocutor fictício [...].
O outro caso foi registrado em 1978 por Zelito Viana no filme Terra de Índio. Ele gravou dona
Maria Rosa, que vivia no Posto Indígena Icatu (SP) e era ali a ú nica falante da língua Ofaié
Xavante. Quando a fez escutar o que ela mesma havia dito, dona Maria Rosa estabeleceu um
diá logo com o gravador, a quem perguntou por seu pai, por sua mã e e no final se despediu do
aparelho dizendo: “Até logo, agora nã o falo mais porque estou rouca, viu?”.
BRASIL perdeu mais de 1100 línguas indígenas em 500 anos. Circuito Mato Grosso. Disponível em:
<http://circuitomt.com.br/editorias/brasil/53754-brasil-perdeu-mais-de-1-100-linguas-indigenas-em-500-
anos.html>. Acesso em: 25 abr. 2016.
b) O texto informa que, das línguas indígenas faladas no Brasil, apenas 11 têm acima de 5 mil
falantes; o que isso significa?
c) Quais foram as estratégias usadas por Tikuein e Maria Rosa para manterem suas línguas vivas?
Que avaliaçã o você faz dessas estratégias?
d) E você, considera importante manter vivas as línguas indígenas do Brasil? Por quê?
e) Em dupla. Façam uma pesquisa e tentem descobrir de que forma a tecnologia auxilia na
sobrevivência das línguas indígenas. Postem o resultado da pesquisa no blog da turma.
Pá gina 136
Professor: para o autor da fonte 1 a cidadania envolve direitos civis, políticos e sociais. A intençã o nesta abertura de
unidade é estimular o debate sobre cidadania a fim de preparar o alunado para exercê -la e, ao mesmo tempo, perceber a
historicidade desse conceito. Esse debate inicial pode, por exemplo, ajudar os estudantes a compreenderem o processo que
conduziu a passagem do sú dito a cidadã o durante a Revoluçã o Francesa, tema vertebral dessa unidade.
O texto a seguir foi escrito pelo historiador José Murilo de Carvalho; leia-o com
atençã o.
Tornou-se costume desdobrar a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. O cidadã o pleno
seria aquele que fosse titular dos três direitos. Cidadã os incompletos seriam os que
possuíssem apenas alguns dos direitos. Os que nã o se beneficiassem de nenhum dos direitos
seriam nã o cidadã os. Esclareço os conceitos. Direitos civis sã o os direitos fundamentais à vida,
à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia de ir e vir,
de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, [...] de nã o ser preso a
não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis, de nã o ser condenado sem
processo legal regular. [...] Sua pedra de toque é a liberdade individual.
É possível haver direitos civis sem direitos políticos. Estes se referem à participaçã o do
cidadã o no governo da sociedade. Seu exercício é limitado a parcela da populaçã o e con-siste
na capacidade de fazer demonstraçõ es políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado.
Em geral, quando se fala de direitos políticos, é do direito do voto que se está falando. [...] Sem
os direitos civis, sobretudo a liberdade de opiniã o e organizaçã o, os direitos políticos,
sobretudo o voto, podem existir formalmente mas ficam esvaziados de conteú do e servem
antes para justificar governos do que para representar cidadã os. [...]
Finalmente, há os direitos sociais. [...]. Eles incluem o direito à educaçã o, ao trabalho, ao salá rio
justo, à saú de, à aposentadoria. [...] Os direitos sociais permitem à s sociedades politicamente
organizadas reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir um
mínimo de bem-estar para todos. A ideia central em que se baseiam é a da justiça social.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2008. p. 9-10.
Tasso Marcelo/AE
Pá gina 137
››Fonte 2
Joã o Prudente/Pulsar Imagens
Fonte 2: pessoa com deficiência visual caminhando sobre piso tá til. O piso tá til é diferenciado por
cor e textura e tem a funçã o de orientar pessoas com deficiência visual ou com baixa visã o.
Fotografia de 2015.
››Fonte 3
Fonte 3: balanço para pessoas com deficiência física, em Petró polis (RJ), 2015.
››Fonte 4
Martin Benrnetti/AFP Photo/Image Forum
Fonte 4: manifestaçã o de professores em frente ao Palá cio Presidencial La Moneda. Santiago, Chile,
2014.
Pá gina 138
O Iluminismo e a formação
Capítulo 7
Jonny White/Alamy/Latinstock
Robert Schlesinger/dpa/Corbis/Latinstock
Wikipédia
[...] Este é o fator que distingue a Wikipédia de todas as outras enciclopédias: qualquer pessoa
com acesso à internet pode modificar qualquer artigo, e cada leitor é potencial colaborador do
projeto. A enciclopédia, sem fins lucrativos, é gerida e operada pela Wikimedia Foundation. Ela
está disponível em 272 idiomas [...].
[...] Desde seu início, a Wikipédia tem aumentado sua popularidade e seu sucesso tem feito
surgir outros projetos irmã os. [...]
Pá gina 139
A Ilustração
O Iluminismo ou Ilustração (palavra mais apropriada segundo os especialistas)
foi um movimento de ideias desenvolvidas nos séculos XVII e XVIII, na Europa
Ocidental, sendo a França o seu principal centro de produçã o e divulgaçã o.
Princípio de toda verdade, autô noma por definiçã o, a razão iluminista se opõ e a tudo que [...]
se oculta sob as denominaçõ es vagas de “autoridade”, “tradiçã o” e “revelaçã o”.
FALCON, Francisco José Calazans. Iluminismo. 4. ed. Sã o Paulo: Á tica, 1994. p. 36. (Princípios).
Chassoneris. 1793. Coleçã o particular
Para os iluministas, a gestã o da sociedade também deveria ser submetida ao império da razã o. Note
que nesse baralho comemorativo da Revoluçã o Francesa, em vez do rei de paus, vemos a figura do
filó sofo Rousseau, opositor convicto da monarquia absolutista que ajudou a derrubar.
O conceito remonta ao pró prio século XVIII, quando uma série de expressõ es relacionadas à
ideia de luz – em oposiçã o às trevas da ignorâ ncia e da intolerâ ncia – entrou em circulaçã o. [...]
Em 1784, [...], I. Kant (1724-1804) respondeu à indagaçã o de um perió dico berlinense sobre o
significado do termo [...]“ilustraçã o”. Esta consistiria num processo de esclarecimento,
representado pela “saída do homem de sua menoridade”, graças ao uso de seu pró prio
entendimento. Em sintonia com a crença otimista da época, Kant entendia, assim, as Luzes
como um movimento da humanidade em direçã o a um futuro melhor que buscava uma
liberdade de pensamento que viabilizasse, pelo “uso pú blico da razã o”, o aprimoramento dos
negó cios pú blicos, até entã o conduzidos no círculo fechado das Cortes.
NEVES, Guilherme Pereira. Iluminismo. In: VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2000. p. 296.
Escola alemã . Sé c. XIX. Ó leo sobre tela. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Pá gina 140
Os iluministas acreditavam também que o mundo era regido por leis naturais.
Conhecer essas leis era sinal de progresso; daí o ardor com que se dedicaram à
ciência, o que resultou em importantes descobertas científicas como as realizadas à
época por Lavoisier. Por fim, é importante lembrar que o Iluminismo foi também
uma reaçã o ao Antigo Regime: monarquias absolutistas em que o rei, a nobreza e
o clero acumulavam poder e privilégio. Os iluministas opunham-se ao
absolutismo, aos privilégios da nobreza e do clero, à intolerâ ncia religiosa e à falta
de liberdade de expressã o.
Lavoisier: Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794), cientista francês, personagem mais importante no
desenvolvimento da química enquanto ciência e autor do livro Elementos de química, publicado em 1789.
Privilégio: no Antigo Regime, a palavra privilégio nã o possuía o sentido que tem hoje, de vantagem
conseguida sem esforço ou ilegalmente. No Antigo Regime, privilégio era o direito legítimo – concedido ou
comprado – de usufruir de um territó rio, um cargo pú blico ou uma pensã o, que conferia ao seu possuidor
poder, prestígio e riqueza.
Pensadores iluministas
Os iluministas ocuparam-se de vá rias á reas do conhecimento: ciência, técnica,
filosofia, literatura, entre outras.
Por seus escritos, Voltaire chegou a ser preso duas vezes. Para evitar uma nova
prisã o, refugiou-se na Inglaterra. Durante seu exílio escreveu a obra Cartas
inglesas, na qual fazia apologia da monarquia constitucional inglesa e do
liberalismo político defendido por John Locke. Voltaire também foi um defensor
incansá vel da liberdade de pensamento e de expressã o. É atribuída a ele a frase:
“Posso nã o concordar com nenhuma palavra que você disse, mas defenderei até a
morte o seu direito de dizê-las”.
Dica! Vídeo com crítica de Voltaire ao fanatismo religioso. [Duração: 3 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/vvkm4x>.
François Bouchot. Sé c. XIX. Gravura colorida. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Gravura de François Bouchot (1800-1842) representando Voltaire preso na Bastilha (prisã o usada
pelos monarcas absolutistas franceses para castigar quem, de alguma forma, opunha-se ao Antigo
Regime).
Pá gina 141
Uma ideia importante dessa obra é a de que as leis mantêm estreitas relaçõ es com
a histó ria e a realidade do povo submetido a elas. Assim, para Montesquieu, nã o há
leis justas ou injustas, mas leis adequadas ou nã o a um determinado povo, tempo e
lugar.
Montesquieu dizia que todo indivíduo que detém o poder tende a abusar dele;
portanto, tudo estaria perdido se o mesmo indivíduo exercesse o poder de fazer
leis, executar e julgar. Por isso, eram necessá rias a separaçã o e a distinçã o dos
poderes. Leia o que o pró prio Montesquieu diz sobre o assunto.
A liberdade política [...] é esta tranquilidade de espírito que provém da opiniã o que cada um
tem sobre a sua segurança; e para que se tenha esta liberdade é preciso que o governo seja tal
que um cidadã o nã o possa temer outro cidadã o.
Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou
do povo exercesse os três poderes [...].
Pá gina 142
Nessa obra, Rousseau inova ao ver a criança como um ser singular e nã o como um
adulto em miniatura, como até entã o ela era vista. Sua premissa filosó fica é a de
que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Essa ideia está resumida em
uma frase do personagem Emílio: “Tudo é certo em saindo das mã os do Autor das
coisas, tudo degenera nas mã os do homem”. Com base nessa premissa Rousseau se
coloca contra as rotinas tradicionais destinadas as crianças de sua época, e em prol
da felicidade e das necessidades delas. Emílio é uma obra ao mesmo tempo
filosó fica e pedagó gica que, ao ser lida ao longo do tempo, influenciou fortemente
prá ticas e reflexõ es no campo da pedagogia.
Escola francesa. Sé c. XVIII. Ilustraçã o. Bibliotheque Nationale, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Vontade geral: para Rousseau, a vontade geral era a integraçã o, e nã o a simples soma das vontades
individuais.
2. Dica! Vídeo sobre as ideias de Rousseau e sua influência na história do Brasil. [Duração: 11
minutos]. Acesse: <http://tub.im/3bg6go>.
A Enciclopédia
Quando se fala em Iluminismo, nos vem à cabeça imediatamente a Enciclopédia,
obra composta de 35 volumes e 2 885 ilustraçõ es, organizada pelo filó sofo Denis
Diderot (1713-1784) e pelo matemá tico Jean D’Alembert (1717-1783).
Pá gina 143
Em 1751, quando essa obra começou a ser publicada na França, foi considerada
perigosa e chegou a ser proibida e retirada de circulaçã o.
A Enciclopédia – cujos verbetes foram escritos por filó sofos (como Voltaire e
Rousseau), cientistas, artistas, médicos, teó logos e, também, por técnicos – foi
concebida e elaborada para ser uma síntese do saber acumulado e, ao mesmo
tempo, um poderoso instrumento de sua divulgaçã o. Embora na época o nú mero
de leitores fosse proporcionalmente muito menor do que o de hoje, a obra foi um
sucesso de vendas. Conforme pesquisa de um historiador atual:
[...] os editores conseguiram uma fortuna. Com um investimento inicial de 70 mil libras, o lucro
pode ter chegado a 2,5 milhõ es de libras.
DARNTON, Robert. O Iluminismo como negócio: histó ria da publicaçã o da “Enciclopédia”, 1775-1800. Trad. Laura
Teixeira e Má rcia Lucia Machado. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 25.
Dica! Animação sobre o século das luzes na Europa dos séculos XVIII e XIX. [Duração: 25
minutos]. Acesse: <http://tub.im/dgkhcz>.
Escola inglesa. Sé c. XVIII. Desenho. Cabinet Des Arts Graphiques, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Desenho do século XVIII representando o interior do Café Procope em Paris, ponto de encontro de
intelectuais e artistas. As ideias iluministas foram divulgadas também entre os populares, nas ruas,
nas praças e nos cafés, e nã o apenas nos salõ es dos nobres ou nas residências de burgueses
enriquecidos.
Iluminismo e economia
A revoluçã o intelectual iluminista nã o se restringiu a criticar o absolutismo
moná rquico: atacou também sua política econô mica, o mercantilismo. Seus ataques
se voltaram, sobretudo, para a principal característica do mercantilismo: a
intervençã o do Estado na economia.
Pá gina 144
Em sua obra A riqueza das nações (1776), A. Smith fez uma descoberta científica,
uma espécie de ovo de Colombo, qual seja, a de que somente o trabalho cria
riqueza (e nã o o comércio, como acreditavam erroneamente os mercantilistas; ou a
agricultura, como pensavam os fisiocratas).
Para Smith, o valor do trabalho seria determinado pela lei da oferta e da procura.
Essa e outras leis do mercado garantiriam a evoluçã o “natural” e saudá vel da
economia, ou seja, a “mã o invisível” do mercado conduziria ao progresso
econô mico sem que fosse necessá ria a “mã o pesada” do Estado. Adam Smith
opunha-se, portanto, à intervençã o do Estado e de grupos monopolistas na
economia e defendia a livre concorrência e o livre-comércio entre as naçõ es. Se
todas as naçõ es comerciassem entre si, dizia ele, todas elas sairiam lucrando, pois
cada uma produziria somente aquilo que conseguisse fazer melhor. As naçõ es com
perfil mais agrícola se dedicariam à agricultura, e as mais industrializadas se
especializariam na indú stria.
1. Dica! Vídeo sobre a vida e a obra de Adam Smith. [Duração: 6 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/2h6gzy>.
2. Dica! Vídeo sobre o liberalismo de Adam Smith e o socialismo de Karl Marx. [Duração: 20
minutos]. Acesse: <http://tub.im/7fufsq>.
Escola inglesa. Sé c. XVIII. Gravura. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Gravura de Adam Smith no livro Os maiores benfeitores da humanidade, de Samuel Adams Drake,
século XIX.
O despotismo esclarecido
As ideias iluministas foram aplicadas por alguns monarcas absolutistas como
estratégia de governo. Esses monarcas “esclarecidos” pretendiam
modernizar/reformar e enriquecer seus domínios e ampliar seu poder, prestígio e
fama. O tipo de governo adotado por eles foi chamado pelos historiadores do
século XIX de despotismo esclarecido. Em todos os lugares da Europa onde a
experiência foi bem sucedida, isso foi possível porque tais reformas nã o puseram
em risco a sobrevivência do Antigo Regime. É de se notar que, na Europa, só nã o
houve despotismo esclarecido na Inglaterra e na França. Na Inglaterra, porque lá já
nã o existia o absolutismo; e, na França, porque se as reformas tivessem sido
efetivadas, elas teriam correspondido, pela situaçã o do país, a uma revoluçã o, a
uma superaçã o do Antigo Regime.
Pá gina 145
Frederico II, da Prú ssia (1712-1786), foi o déspota esclarecido de maior prestígio
na época. Conhecido como Frederico, o Grande, ele era chamado de rei-filó sofo,
pois deixou escritos filosó ficos respeitados pelos intelectuais de seu tempo, a
exemplo de Voltaire e outros. Além disso, Frederico II aboliu as torturas aplicadas
aos presos em seu país, criou escolas de ensino fundamental, incentivou as letras,
as artes e as ciências, empreendeu a modernizaçã o de vá rias regiõ es da Prú ssia e
dirigiu pessoalmente a reforma de Berlim, capital do país na época.
C. Roechling. 1731. Ilustraçã o. Foto: ullstein bild via Getty Images
A imagem de 1731 representa o Rei Frederico II da Prú ssia inspecionando, com seu secretá rio, os
domínios reais, no interior da Prú ssia.
José II, da Á ustria (1741-1790), sensível à s ideias iluministas, adotou a tolerâ ncia
religiosa e implementou reformas visando à modernizaçã o de seu país. As
reformas empreendidas por ele mantiveram intocados, no entanto, o militarismo e
a servidã o.
Os ideais iluministas foram aplicados efetivamente, pela primeira vez, nas Treze
Colô nias da América do Norte.
Pá gina 146
Fonte: VIDAL-NAQUET, Pierre; BERTIN, Jacques. Atlas histórico. Lisboa: Círculo do Livro, 1990. p. 208.
Na Guerra Franco-Índia e na Guerra dos Sete Anos, os habitantes das Treze Colô nias ganharam
experiência na formaçã o de unidades militares e no combate armado, elementos importantes nas
lutas travadas contra a metró pole inglesa.
Pá gina 147
Currier e Ives. C. 1846. Ilustraçã o. Yale University Art Gallery. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A Festa do Chá em Boston, de N. Currier e J. M. Ives, 1846. Essa é uma das versõ es da ilustraçã o
produzida na epó ca por Sarony and Major. O porto de Boston estava situado em Massachusetts e
era o mais movimentado das Treze Colô nias.
Pá gina 148
» Leis Intoleráveis (1774) – O governo inglês respondeu com vá rias leis que os
norte-americanos chamaram de “intolerá veis”. Uma delas interditava o porto de
Boston até que fosse pago o prejuízo causado pelo derramamento do chá ; outra
determinava a ocupaçã o de Massachusetts pelo exército inglês e restringia o
direito de reuniã o; outra, ainda, determinava que todo ato de rebeldia contra a
Inglaterra seria julgado por tribunais ingleses.
Revoltados contra a política fiscal inglesa, alguns colonos lançaram bolas de neve
contra um quartel inglês. Assustados, os soldados reagiram matando quatro
manifestantes. Esse episó dio, conhecido como Massacre de Boston, foi
amplamente utilizado pela propaganda a favor da independência. 1
1. Dica! Vídeo sobre o processo de independência das Treze Colônias. [Duração: 43 minutos].
Acesse: <http://tub.im/g4qr6a>.
O movimento de independência
Litogravura. Escola inglesa. Sé c. XVIII. Coleçã o particular. The Bridgeman Art Library/Keystone
Observando a imagem, percebe-se que a coroa, símbolo da monarquia, está no chã o. E se nota
também que o pé esquerdo de Paine está prestes a pisá -la, numa clara afronta à monarquia inglesa
que, à época, oprimia as Treze Colô nias.
As “leis intolerá veis” estimularam nos colonos um forte sentimento antimetró pole.
Foram criadas vá rias sociedades secretas, com destaque para a “Filhos da
Liberdade”, que uniu os colonos em torno da ideia de independência. Intelectuais e
ativistas, adeptos das ideias liberais e iluministas, como Thomas Jefferson, Samuel
Adams e Benjamin Franklin, assumiram a liderança do movimento.
Pá gina 149
Para refletir
O trecho a seguir foi retirado do panfleto de Paine. Curiosamente ele era inglês de
nascimento; e, apesar de ter chegado aos Estados Unidos somente aos 37 anos de
idade, resumiu com muita propriedade o sentimento de revolta crescente dos
colonos norte-americanos contra a Inglaterra. Com 50 pá ginas de texto, seu
panfleto chegou à s livrarias em 10 de janeiro de 1776 e logo fez um enorme
sucesso. Leia o trecho a seguir com atençã o.
A Inglaterra é, apesar de tudo, a pá tria-mã e, dizem alguns. Sendo assim, mais vergonhosa
resulta sua conduta, porque nem sequer os animais devoram suas crias nem fazem os
selvagens guerra a suas famílias; de modo que esse fato volta-se ainda mais para a condenaçã o
da Inglaterra.
[...]
A Europa está separada em muitos reinos para que possa viver muito tempo em paz, e onde
quer que estoure uma guerra entre a Inglaterra e qualquer potência estrangeira, o comércio da
colô nia sofre ruínas, por causa de sua conexã o com a Grã -Bretanha... Tudo o que é justo ou
razoá vel advoga em favor da separaçã o. O sangue dos que caíram e a voz chorosa da natureza
exclamam: Já é hora de separar-nos! Inclusive a distâ ncia que o Todo-Poderoso colocou entre a
Inglaterra e as colô nias constitui uma prova firme e natural de que a autoridade daquela sobre
estas nunca entrou nos desígnios do Céu...
PAINE, Thomas. In: KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. Sã o Paulo: Contexto,
1999. p. 85.
a) Diz que apesar de ser a pá tria-mã e adota uma conduta vergonhosa com relaçã o a seus filhos.
b) Interprete. A quem Thomas Paine está se referindo quando diz “Nem fazem os
selvagens, guerra a suas famílias”?
b) Ele se refere aos povos indígenas da Amé rica do Norte. Professor: comentar que o uso do termo selvagens desvela a
visã o que os europeus daquela é poca tinham dos ameríndios.
c) Argumento 1: o fato de que qualquer guerra em que a Inglaterra se envolvesse prejudicava as Treze Colô nias. Argumento
2: a distâ ncia geográ fica que o Todo-Poderoso colocou entre a Inglaterra e as Treze Colô nias. [Note que o panfleto de
Thomas Paine mistura elementos de racionalismo iluminista com argumentos de vié s religioso.]
d) Reflitam e opinem: qual foi o peso do argumento religioso no sucesso do
panfleto de Paine? Justifique.
d) O argumento religioso foi decisivo para o sucesso do panfleto, pois os habitantes das Treze Colô nias eram em sua maioria
puritanos e tinham grande apego à Bíblia e à ideia de que todo cristã o deve obediê ncia aos “desígnios do cé u”; à vontade do
Senhor.
O Segundo Congresso acabou optando pela separaçã o. O comando das tropas foi
entregue a George Washington, um rico fazendeiro do Sul. Uma comissã o redigiu
a Declaração de Independência, publicada em 4 de julho de 1776; seu principal
autor foi Thomas Jefferson. O texto da Declaraçã o defendia a resistência à tirania,
o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade.
Pá gina 150
A tradiçã o política estadunidense elegeu alguns homens como “pais da pátria”, fundadores da
Naçã o, os grandes responsá veis pelo que os Estados Unidos sã o hoje. Eles foram representados das
mais diversas formas em está tuas, pinturas, ilustraçõ es, gibis, e figuram, inclusive, nas notas de
dó lar, a exemplo das que trazem a imagem de Thomas Jefferson, à esquerda, e de Benjamin
Franklin, à direita.
A vitó ria dos colonos na Batalha de Saratoga (1777) atraiu o apoio da França e da
Espanha, rivais da Inglaterra, que passaram a auxiliá -los com dinheiro, soldados e
navios. Animados pela ajuda externa, os colonos redobraram os esforços e
venceram a Batalha de Yorktown (1781), decisiva para o desfecho da guerra.
A Constituição – em vigor até hoje – foi concluída em 1787 e declarou o país uma
Repú blica presidencialista e federalista. O federalismo é um conceito-chave dessa
Constituiçã o: cada estado passou a ter autonomia para criar leis pró prias,
organizar forças militares e até mesmo pedir empréstimos no exterior. Ao governo
federal, cabia a responsabilidade pela política externa, pela defesa e pelo comércio
exterior.
Pá gina 151
pensavam a divisã o entre os três poderes tendo por base uma sociedade
constituída por cidadã os juridicamente iguais.
Com o apoio da maioria dos estados, George Washington foi eleito presidente, o
primeiro dos Estados Unidos da América.
DIALOGANDO
Cartaz de 1926 alusivo à independência das Treze Colô nias da América do Norte.
c) “Nó s, o povo”.
d) Logo no início da Constituiçã o estadunidense lê-se: “Nó s, o povo dos Estados Unidos”. A palavra
“povo” refere-se a todos os estadunidenses daquela época?
d) Nã o; na prá tica, a expressã o “Nó s, o povo dos Estados Unidos...” refere-se apenas aos homens adultos e brancos, que
possuíssem certa renda (da terra ou de investimentos). A maioria do povo teria de lutar muito tempo ainda para conquistar
a cidadania plena.
Repercussões da independência
A independência estadunidense abalou o prestígio do rei na Inglaterra e provou
ser possível fazer valer a soberania popular. Provou também ser possível romper o
elo entre governantes e governados quando os primeiros nã o garantissem aos
segundos seus direitos fundamentais. Para as colô nias da América espanhola e
portuguesa, os Estados Unidos serviriam de inspiraçã o e exemplo de sucesso de
luta pela independência. Essa conquista também repercutiu na França
Pá gina 152
absolutista. Os soldados franceses que haviam lutado na América contra a opressã o
moná rquica voltaram para seu país com ideias republicanas de liberdade e
ajudaram a fazer a Revoluçã o Francesa.
Primeira imagem: Urso em Pé, chefe Sioux, trajado com a roupa cerimonial de seu povo c. 1885.
Segunda imagem: jovem marinheiro negro em uma fotografia de corpo inteiro, Ohio, 1863. Terceira
imagem: atriz estadunidense Fanny Davenport, c. 1880. Esses personagens representam grupos
que foram excluídos da cidadania na Constituiçã o feita para reger os Estados Unidos.
Pá gina 153
ATIVIDADES
I. Retomando
ESCREVA NO CADERNO.
c) A confiança depositada pelos iluministas no papel absoluto dos desejos e das vontades humanas
surgia como um contraponto à ditadura imposta pela razã o humana.
d) Como figura proeminente do Iluminismo, o pensador francês Immanuel Kant destacou-se como
combatente do pensamento filosó fico-científico.
1. Resposta: b.
2. (Unesp-SP – 2015)
Entre as críticas ao Antigo Regime mencionadas no texto, podemos citar a rejeiçã o iluminista do:
b) livre comércio.
d) republicanismo.
2. Resposta: e.
3. (Enem/MEC)
Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele pró prio é culpado. A
menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direçã o de outro
indivíduo. O homem é o pró prio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na
falta de entendimento, mas na falta de decisã o e coragem de servir-se de si mesmo sem a
direçã o de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu pró prio entendimento, tal é o lema do
esclarecimento. A preguiça e a covardia sã o as causas pelas quais uma tã o grande parte dos
homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condiçã o estranha, continuem,
no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petró polis: Vozes, 1985 (adaptado).
c) a imposiçã o de verdades matemá ticas, com cará ter objetivo, de forma heterô noma.
3. Resposta: a.
Pá gina 154
4. (UFF-RJ) O escritor e filó sofo francês Voltaire, que viveu no século XVIII, é considerado um dos
grandes pensadores do Iluminismo ou Século das Luzes. Ele afirma o seguinte sobre a importâ ncia
de manter acesa a chama da razã o:
Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razã o, ainda renascem algumas cabeças da hidra
do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas goelas sã o menos
devoradoras. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-se-á a
ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas trevas? Ou deve-se acender um archote onde a
inveja e a calú nia reacenderã o suas tochas? No que me tange, acredito que a verdade nã o deve
mais se esconder diante dos monstros e que nã o devemos abster-nos do alimento com medo
de sermos envenenados.
a) Aquele que se pauta pela razã o e pela verdade nã o é um sá bio, pois corre um risco
desnecessá rio.
b) A razã o é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõ e sobre os seres humanos.
c) Aquele que se orienta pela razã o e pela verdade deve munir-se da coragem para enfrentar o
obscurantismo e o fanatismo.
d) O fanatismo e o obscurantismo sã o coisas do passado e por isso a razã o nã o precisa mais estar
alerta.
e) A razã o envenena o espírito humano com o fanatismo.
4. Resposta: c.
5. (Enem/MEC – 2013)
Para que nã o haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido
pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos
nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluçõ es
pú blicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes
Legislativo, Executivo e Judiciá rio, atuando de forma independente para a efetivaçã o da
liberdade, sendo que esta nã o existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos
poderes concomitantemente.
A divisã o e a independência entre os poderes sã o condiçõ es necessá rias para que possa haver
liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja
5. Resposta: d.
6. Resposta: a.
Pá gina 155
VOZES DO PRESENTE
O texto a seguir é um trecho do livro O Iluminismo como negó cio, do historiador estadunidense
Robert Darnton. Leia-o com atençã o e responda às questõ es.
NOTIMEX
O historiador Robert Darnton estudou o Iluminismo, desde a sua concepçã o e materializaçã o até a
sua difusã o. Fotografia de 2014.
“Meu pai nã o me via folhear a Enciclopédia senã o com desgosto. Eu tinha a mais inteira
confiança nesse livro em razã o do afastamento de meu pai e do ó dio decidido que ele inspirava
aos p[adres] que frequentavam a casa. O vigá riogeral e cô nego Rey, grande figura
amarfanhada, com cinco p[és] e dez polegadas de altura, fazia uma singular careta ao
pronunciar atravessadamente os nomes de Diderot e de D’Alembert. Essa careta dava -me um
gozo íntimo e profundo.”
DARNTON, Robert. O Iluminismo como negócio: histó ria da publicaçã o da “Enciclopédia”, 1775-1800. Sã o Paulo:
Companhia das Letras, 1996. p. 253-254.
Pá gina 156
A Revolução Francesa e a
Capítulo 8
Era Napoleônica
Professor: tanto a imagem quanto o texto sã o de julho de 2009, e tratam dos desdobramentos da Revoluçã o Francesa na
atualidade. A intençã o foi usar duas fontes atuais sobre esse importante episó dio histó rico para iniciar uma aula dialogada
sobre o assunto. Pode-se lembrar aos alunos que a Revoluçã o Francesa repercutiu fortemente na histó ria do Ocidente.
Animou, por exemplo, os conjurados baianos, em 1799, no Brasil, e a independê ncia das terras do atual Haiti, na Amé rica
Central, e, entre tantos outros desdobramentos, influenciou profundamente a Constituiçã o que nos rege, conforme informa o
texto.
Comemoram-se, hoje (14), 220 anos da Revoluçã o Francesa. Este movimento exerceu grande
influência sobre a liberdade e o respeito dos direitos humanos em todo o mundo. Seus
princípios fundamentais estã o, hoje, inscritos nas Constituiçõ es de todos os países
democrá ticos, inclusive na Constituiçã o Federal (CF) brasileira de 1988 [...].
Esses ideais foram absorvidos pelos constituintes brasileiros, que inseriram, na atual
Constituiçã o Federal, um extenso rol de direitos e garantias individuais e coletivas, limitando a
interferência do poder estatal na vida e dignidade do cidadã o [...].
Desde os princípios fundamentais – que consagram a separaçã o dos poderes (art. 1º. ao 4º.) –
passando pelos direitos e garantias dos cidadã os no â mbito social, político e econô mico (arts.
5º. ao 17), até chegarmos à proteçã o do meio ambiente e de nossas crianças e adolescentes,
que sã o o futuro do país (arts. 225 a 230), sente-se a presença da centelha revolucioná ria.
Supremo Tribunal Federal. A Revolução Francesa de 1789 e seus efeitos no Brasil. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=110843>. Acesso em: 4 mar. 2016.
Fotografia da comemoraçã o dos 220 anos da Revoluçã o Francesa, em Paris, França, 2009.
Claude-Guy Halle. Sé c. XVII. Ó leo sobre tela. Coleçã o particular. Foto: DEA / G. DAGLI ORTI / Getty
Luís XIV (no canto superior direito) recebendo submissã o de um nobre; repare na pose, nos gestos
e na posiçã o dos pés do rei.
A sociedade
A sociedade francesa estava dividida em três ordens ou estados: o Primeiro Estado
(o clero); o Segundo Estado (a nobreza); e o Terceiro Estado (camponeses,
burguesia e trabalhadores das cidades).
Dízimo: imposto destinado à prá tica da caridade, mas usado para sustentar o luxo e a ociosidade do alto
clero. O dízimo – pago com parte da colheita e do rebanho – era um imposto odiado pelos camponeses.
Pá gina 158
Sans-culottes: “sem culote”. Culote era uma calça justa que terminava um pouco abaixo do joelho, usada
pelos nobres. Como os pobres nã o usavam esse tipo de calça (e nem tinham os privilégios da nobreza),
tornaram-se conhecidos como sans-culottes.
A economia e a política
Na França, desde o século XV, o capitalismo vinha se desenvolvendo a passos
largos. A burguesia ganhava importâ ncia social e prosperava por meio da
indú stria, do empréstimo de dinheiro a juros e do comércio com o Oriente, a
América e a Á frica. Mas o Estado absolutista francês representava um obstá culo
aos negó cios da burguesia, pois a carga de impostos encarecia os preços das
mercadorias; as prá ticas mercantilistas impediam a livre concorrência (a produçã o
de seda, por exemplo, era monopó lio de um pequeno grupo); os diferentes
sistemas de pesos e medidas dificultavam o comércio interno. Com o tempo, essa
situaçã o se agravou e muitas empresas faliram gerando desemprego e fome nas
cidades.
Lesueur Brothers. Sé c. XVIII. Gravura. Museu Carnavalet, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nesta gravura de 1793, ano IV da Revoluçã o Francesa, uma senhora distribui pratos de comida a
populares famintos. A imagem sugere a situaçã o de penú ria em que vivia o povo francês antes da
Revoluçã o.
Pá gina 159
Enquanto isso, a dívida do governo do rei Luís XVI aumentava sob o peso dos
gastos com a Corte e com as guerras movidas ou apoiadas pela monarquia
francesa. Callone, ministro de Luís XVI, chegou a propor que o clero e a nobreza
passassem a pagar impostos, mas sua proposta foi rejeitada.
Nessa Assembleia dos Estados Gerais, o Terceiro Estado conseguiu eleger mais
deputados do que o clero e a nobreza juntos (578 x 561) e lançou entã o uma
campanha em defesa do voto por cabeça.
Isidore Helman. Sé c. XVIII. Gravura. Biblioteca Nacional, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Representaçã o da sessã o de abertura da Assembleia dos Estados Gerais. Repare que o pintor
preocupou-se em demonstrar a rígida hierarquia do Antigo Regime: sobre o estrado, em frente da
assembleia, o rei, a família real, os marechais e os duques da França; ao pé do estrado, à mesa, o
conselho do rei; no plená rio, à direita da mesa, o clero; diante dele, no mesmo plano, a nobreza; no
lado oposto ao do rei, os deputados do Terceiro Estado; o povo fica atrá s e entre as colunas, nas
galerias.
Pá gina 160
A Revolução em marcha
FASES DA REVOLUÇÃO FRANCESA
Linha do tempo
Editoria de arte
Claude Cholat. Sé c. XIX. Guache sobre cartã o. Museu Carnavalet, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A tomada da Bastilha vista por um de seus participantes, Claude Cholat, dono de uma taberna. A
queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, representou uma vitó ria popular e marcou o início da
Revoluçã o propriamente dita. O fato mereceu uma infinidade de representaçõ es, o que desvela sua
enorme importâ ncia.
Pá gina 161
Sob intensa pressã o popular, a Assembleia Nacional Constituinte aboliu a servidã o,
os dízimos, o direito de mão-morta e a justiça senhorial (todos passavam a
obedecer à s mesmas leis). Em 26 de agosto de 1789 a Assembleia Nacional
aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Esse documento
estabelecia o direito à liberdade, à propriedade privada, à segurança, resistência à
opressã o e o direito à livre comunicaçã o dos pensamentos e das opiniõ es.
Mão-morta: pagamento feito pelo servo quando seu pai morria, para manter o direito de utilizar a terra.
Para refletir
No dia 5 de outubro de 1789, diante da falta de pã o, milhares de mulheres armadas
decidem ir a Versalhes trazer o rei para Paris e garantir com isso o abastecimento
da cidade. Veja o que um observador da época escreveu sobre essa marcha das
mulheres.
As primeiras mulheres chegaram aos portõ es do castelo à s cinco horas [...]. Quiseram obrigar
as sentinelas a arrebentar os portõ es e abri-los. Estas se recusaram: nã o se abre a porta a
desordeiros, a furiosos, muito menos a furiosas [...].
OSTERMANN, Nilse Wink; KUNZE, Iole Carretta. Às armas, cidadãos! A França revolucioná ria (1789-1799). Sã o
Paulo: Atual, 1995. p. 51.
Escola francesa. Sé c. XVIII. Gravura. Museu Carnavalet, Paris. Foto: Roger-Viollet/Glow Images
Gravura mostrando mulheres indo a Versalhes em outubro de 1789. O movimento das mulheres foi
vitorioso. O rei e os cortesã os foram obrigados a retornar a Paris e residir no Palá cio das Tulherias.
b) As mulheres eram vistas como inferiores aos homens. No texto, as sentinelas do castelo estabeleceram uma hierarquia ao
dizer “nã o se abre a porta a desordeiros, a furiosos, muito menos a furiosas” (grifo nosso).
Pá gina 162
A monarquia constitucional
Em setembro de 1791 foi aprovada a primeira Constituiçã o francesa, que:
A Convenção Nacional
Vencido o exército invasor, elegeu-se uma nova Assembleia Nacional, denominada
Convenção, que imediatamente extinguiu a Monarquia e proclamou a Repú blica.
DIALOGANDO
Qual dos grupos do Terceiro Estado foi mais beneficiado por essa Constituição?
A burguesia: o voto passou a ser censitá rio; os sindicatos e as greves foram proibidos. A burguesia passava a conduzir, entã o,
o processo revolucioná rio.
Escola francesa. Sé c. XVIII. Gravura. Museu Carnavalet. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
A proclamaçã o da Repú blica na França, em 1792, deu início a novos tempos que passaram a ser
contados por um novo calendá rio: 1792 passou a ser o Ano I da Repú blica Francesa. Na imagem, vê-
se escrito: “Unidade Indivisível da Repú blica: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Ou a morte”.
Pá gina 163
A planície, que era composta de deputados que agiam conforme seus interesses
imediatos, ora apoiava os jacobinos, ora os girondinos. Sentavam-se ao centro, nos
lugares mais baixos do plená rio; daí o nome de “planície”.
O rei foi levado a julgamento pela Convençã o, fato que dividiu os deputados: os
girondinos propunham uma soluçã o conciliató ria; já os jacobinos desejavam a
execuçã o do rei. A descoberta, no cofre real, do acordo que o rei fizera com
monarcas estrangeiros em favor da invasã o da França precipitou os
acontecimentos; apó s intensos debates, 683 dos 721 deputados presentes (cerca
de 95%) declararam Luís XVI culpado. Em janeiro de 1793, diante de uma multidã o
de cerca de 20 mil pessoas, o rei foi guilhotinado e sua cabeça exibida ao povo.
O governo jacobino
Os jacobinos organizaram um governo fortemente centralizado, dirigido por
Robespierre, e composto de uma série de ó rgã os especiais; o principal deles, o
Comitê de Salvação Pública, concentrava enorme poder. Subordinado a esse
ó rgã o, havia o Tribunal Revolucioná rio, que julgava sumariamente os indivíduos
considerados contrarrevolucioná rios.
» instituiu a escola primá ria pú blica e obrigató ria, como um direito fundamental de
todos os franceses, o que permitiu o acesso dos pobres à educaçã o formal.
Marat era médico e cientista, mas ficou mais conhecido por sua atuaçã o à frente do jornal O Amigo
do Povo, no qual defendia ardentemente as causas populares.
Pá gina 164
A cena mostra um girondino condenado à guilhotina sendo conduzido para o patíbulo; uma
multidã o raivosa parece estar acusando o condenado.
O Diretório
Ao assumir o poder, em 1794, o novo governo liberou os preços dos alimentos e
dos aluguéis e restabeleceu a escravidã o nas colô nias francesas. Além disso,
estimulou o crescimento da indú stria do algodã o, da metalurgia e da mineraçã o,
intensificando o desenvolvimento do capitalismo francês. Em 1795, aprovou uma
nova Constituiçã o que restabeleceu o voto censitá rio (que excluía a maioria da
populaçã o do direito ao voto) e confiou o poder Executivo a um Diretório,
formado por cinco deputados escolhidos por sorteio.
Pá gina 165
O Diretó rio combateu duramente seus dois principais adversá rios: os realistas,
empenhados na volta à monarquia, e os novos jacobinos, apoiados pelos sans-
culottes. Os monarquistas, ajudados pela Inglaterra, promoviam levantes para
levar ao poder o conde de Artois, irmã o de Luís XVI; os novos jacobinos faziam
oposiçã o ao governo por meio de seus clubes e jornais. Nesse contexto, um
jornalista de nome Graco Babeuf encabeçou um movimento popular – a
Conspiração dos iguais – que propunha o fim da propriedade privada e a
distribuiçã o equitativa da riqueza.
O Diretó rio reagiu decretando uma lei que condenava à morte todos os que eram
favorá veis à reforma agrá ria ou à volta da monarquia (Babeuf e seu grupo foram
presos e executados). A seguir, ordenou a ocupaçã o militar de Paris, anulou as
eleiçõ es e fechou a imprensa oposicionista.
2. Dica! Uma revisão para melhor compreender o significado da Revolução Francesa. [Duração: 7
minutos]. Acesse: <http://tub.im/yz5g9p>.
O governo de Napoleão
Uma nova Constituiçã o criou o consulado, ó rgã o do Poder Executivo formado por
três cô nsules. O poder de fato, porém, cabia ao primeiro-cô nsul, Napoleã o
Bonaparte, cujo mandato era de 10 anos.
Pá gina 166
Observando essa imagem, publicada em 1902, percebe-se que o olhar determinado e soberano do
primeiro-cô nsul, Napoleã o Bonaparte, contrasta com a inexpressividade dos dois outros cô nsules. A
imagem contribui para reforçar o mito criado em torno de sua figura.
O governo de Bonaparte usou de violência para reprimir seus adversá rios, fossem
eles monarquistas ou republicanos: efetuou execuçõ es e instituiu uma severa
censura à imprensa. Visando à estabilidade política, confirmou a aboliçã o dos
privilégios da nobreza e do clero, concedeu a 3 milhõ es de camponeses o título de
propriedade das terras que haviam obtido por doaçã o ou compra na época da
Revoluçã o.
Liceu: internato que, na época, era destinado a formar ocupantes de altos cargos civis ou militares.
Refletindo o imaginá rio da época, o có digo atribuía à mulher uma condiçã o inferior
à do marido no tocante à propriedade, ao divó rcio e ao adultério. O pai era tutor da
esposa e do filho; para se casar, o filho precisava da licença paterna, ainda que
tivesse mais de 25 anos.
Pá gina 167
Jacques-Louis David (detalhe). 1806-07. Ó leo sobre tela. Museu do Louvre, Paris
Na imagem acima vemos uma tela pintada por Jacques-Louis David por volta de
1806 e intitulada Coroaçã o de Napoleã o e Josefina. O pintor procurou destacar o
exato momento em que Napoleã o está prestes a coroar a si mesmo. Enquanto isso,
a futura imperatriz aguarda ajoelhada. Com tal gesto, Bonaparte provavelmente
quis dizer que nem mesmo o chefe da Igreja estava acima dele. Na imagem abaixo
(esboço feito em 1804), percebemos melhor a expressã o arrogante de Napoleã o
durante o evento.
Jacques-Louis David (detalhe). c. 1804. Estudo. Museu do Louvre, Paris
O expansionismo bonapartista
O período do Império foi marcado pelo expansionismo bonapartista que se fez por
meio de guerras consecutivas. No mais das vezes, essas guerras tinham, de um
lado, a França de Napoleã o e, de outro, a Grã -Bretanha e três importantes países
absolutistas (a Prú ssia, a Á ustria e a Rú ssia). Os Estados absolutistas europeus
temiam a propagaçã o das ideias revolucioná rias francesas em seus territó rios; já a
Grã-Bretanha, maior potência naval e industrial daquela época, temia a
concorrência da França no mercado europeu. As duas naçõ es capitalistas
buscavam ampliar territó rios e mercados na Europa e em outros continentes. Isso
ajuda a explicar a participaçã o da Grã -Bretanha em quase todas as coligaçõ es
contra a França.
Grã-Bretanha: até 1801, a Grã -Bretanha era constituída por Inglaterra, País de Gales e Escó cia. Em 1801
formou-se o Reino Unido da Grã -Bretanha e Irlanda, um reino constituído por Inglaterra, País de Gales, Escó cia
e Irlanda. Hoje, o Reino Unido é formado por Inglaterra, País de Gales, Escó cia e Irlanda do Norte.
Pá gina 168
A estratégia adotada por Napoleã o foi proibir – por decreto – a Europa continental
de comerciar com a Inglaterra. O objetivo desse decreto – conhecido como
Bloqueio Continental – era enfraquecer a economia da Inglaterra para, depois,
conquistá -la. Muitos países europeus aderiram ao bloqueio; alguns, no entanto,
continuaram permitindo a entrada de produtos ingleses em seus territó rios e
portos. Um desses países foi Portugal, tradicional aliado da Inglaterra.
Escola inglesa. Sé c. XIX. Litogravura. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nesta charge inglesa de 1803, Napoleã o é mostrado sobre o Globo e em tamanho muito maior que
seu adversá rio. A imagem ironiza o comportamento megalomaníaco de Napoleã o, sua ânsia
desenfreada de conquistar terras e povos.
Fontes: ATLAS histó rico. Barcelona: Editorial Marin, 1995. p. 139; DUBY, Georges. Atlas Historique Mondial. Paris:
Larousse, 2011, p. 85.
Pá gina 169
Liberalismo: o ideá rio liberal na época incluía a defesa da liberdade de pensamento, de expressã o e de
comércio.
J.A. Klein. Sé c. XIX. Gravura. Academia de Belas Artes, França. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Em dezembro de 1812, o que restava do grande exército francês atravessou a fronteira com a
Prú ssia de volta para casa. A imagem é uma representaçã o da batalha de Berezina, durante sua
retirada da Rú ssia, e as dificuldades enfrentadas diante do rigoroso inverno russo. As carroças,
como a que você vê na imagem, atolavam na neve.
Pá gina 170
Jonathan Weiss/Alamy/Latinstock
A flor-de-lis era símbolo do rei da França e estava presente nas bandeiras do antigo regime.
STILLFX/Shutterstock/Glow Images
Napoleã o teve de abrir mã o do trono, mas ganhou plenos poderes sobre a pequena
ilha de Elba, na costa da Península Itá lica, para onde foi exilado. O trono da França
foi entregue a Luís XVIII, irmã o do rei guilhotinado durante a Revoluçã o Francesa.
Quando a populaçã o francesa viu que Luís XVIII (e toda a Corte) voltava(m) ao país
e ao trono, desfraldando nã o a bandeira tricolor da Revoluçã o, mas a bandeira com
a flor-de-lis, do Antigo Regime, deu-se conta que precisava retomar a luta para
reenterrá -lo.
Napoleã o, por sua vez, surpreendeu novamente seus adversá rios: no início de
1815 fugiu da ilha de Elba, acompanhado de 800 soldados, e desembarcou no
litoral da França. A imprensa governista quando soube que Napoleã o havia
desembarcado no país começou por tratá -lo como monstro e tirano, mas à medida
que ele se aproximava de Paris, ia mudando o tratamento até por fim afirmar que
“Sua majestade estava sendo esperada a qualquer momento na capital”. As forças
enviadas por Luís XVIII para combatê-lo juntaram-se a ele. Napoleã o entrou em
Paris como heró i e reassumiu o trono, obrigando o rei a fugir. Isto ajuda a explicar
a facilidade com que Napoleã o, fugindo da ilha de Elba, recuperou o poder.
Mas, dessa vez, seu governo durou pouco mais de 100 dias.
Uma nova coligaçã o (a sétima), liderada uma vez mais pela Inglaterra, venceu o
exército napoleô nico na Batalha de Waterloo (1815). Dessa vez, Bonaparte foi
preso e exilado em Santa Helena, uma ilha minú scula e longínqua sob o domínio
inglês, situada no Atlâ ntico Sul, a mil milhas da costa africana, onde passou os
ú ltimos anos de sua vida.
Escola francesa. Sé c. XIX. Gravura. Coleçã o Particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Nesta charge de c. 1814, Napoleã o é mostrado como um artista que se equilibra entre Madri (a
oeste) e Moscou (a leste); a vareta que liga seus pés a essas duas cidades localizadas em posiçõ es
opostas sugere que seu poder sobre a Europa estava se esfacelando, que o seu imenso império
estava desmoronando. Repare que seu cetro – símbolo de poder – e a sua coroa, encimada por uma
cruz, estã o caindo, sinal de que seus tempos de gló ria haviam chegado ao fim.
Pá gina 171
Escola francesa. Sé c. XIX. Gravura. Museu Carnavalet, Paris. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Charge exposta na Biblioteca Nacional de Viena que mostra os representantes das grandes
potências dividindo entre si o continente europeu. No balã o de fala, junto à balança sustentada pelo
estadista austríaco Metternich, está escrito: “le prix de sang”, isto é, “o preço do sangue”. Ou seja, o
ganho de territó rios que as potências estavam tendo era o pagamento pelo sangue derramado em
razã o das guerras napoleô nicas.
Pá gina 172
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2001. p. 86.
Na divisã o dos territó rios coloniais, a principal beneficiada foi a Inglaterra, que
obteve possessõ es em vá rios continentes, como a regiã o do Cabo, no sul da Á frica,
o Ceilã o (atual Sri Lanka), pró ximo à Índia, e a Guiana, na América do Sul.
Pá gina 173
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (UEG-GO – 2016) Leia o texto a seguir.
Socialmente, os sans-culottes representam os citadinos que vivem de seu trabalho, seja como
artesã os, seja como profissionais de ofício; alguns, depois de uma vida laboriosa, se tornam
pequenos proprietá rios na cidade, e usufruem as rendas de um imó vel.
A aná lise do texto demonstra que os interesses sociais dos sans-culottes, importantes personagens
da Revoluçã o Francesa, se confundiam com os
a) da pequena burguesia que, apesar das conquistas econô micas, via-se pressionada pelo aumento
no custo de vida.
b) dos camponeses, já que ambos lutavam pela aboliçã o dos privilégios feudais no campo e posse
de terras coletivas.
c) dos membros do baixo clero, uma vez que lutavam por reformas sociais, mas nã o eram contra a
liberdade religiosa.
d) da classe dos girondinos, pois apesar das diferenças de classe, ambos os grupos eram
politicamente moderados.
1. Resposta: a.
2. (UERJ – 2015)
Temos necessidade de nossos fiéis sú ditos para nos ajudarem a superar todas as dificuldades
em que nos achamos e para estabelecer uma ordem constante e invariá vel em todas as partes
do governo que interessam à felicidade dos nossos sú ditos e à prosperidade de nosso reino.
Esses grandes motivos nos determinaram convocar a assembleia dos Estados de todas as pro-
víncias sob nossa obediência, para que seja achado, o mais rapidamente possível, um remédio
eficaz para os males do Estado e para que os abusos de toda espécie sejam reformados e
prevenidos.
Adaptado de MATTOSO, K. de Q. Textos e documentos para o estudo de história contemporânea. Sã o Paulo: Edusp,
1976.
A convocaçã o dos Estados Gerais deu início à Revoluçã o Francesa, ocasionando um conjunto de
mudanças que abalaram nã o só a França, mas também o mundo ocidental em finais do século XVIII.
2. b) A Declaraçã o Universal dos Direitos do Homem e do Cidadã o, que estabelecia o direito de resistê ncia à opressã o, e a
livre comunicaçã o dos pensamentos. O rompimento com o Antigo Regime, vigente ainda em vá rias partes da Europa, mostra
que é possível a emergê ncia de uma sociedade formada de cidadã os.
3. (Unicamp-SP – 2015)
A igualdade, a universalidade e o cará ter natural dos direitos humanos ganharam uma
expressã o política direta pela primeira vez na Declaraçã o da Independência americana de
1776 e na Declaraçã o dos Direitos do Homem e do Cidadã o de 1789. Embora se referisse aos
“antigos direitos e liberdades” estabelecidos pela lei inglesa e derivados da histó ria inglesa, a
Bill of Rights inglesa de 1689 não declarava a igualdade, a universalidade ou o cará ter natural
dos direitos. Os direitos sã o humanos não apenas por se oporem a direitos divinos ou de
animais, mas por serem os direitos de humanos em relaçã o uns aos outros.
Adaptado de Lynn Hunt, A invenção dos direitos humanos: uma histó ria. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.
19.
a) A prá tica jurídica da igualdade foi expressa na Declaraçã o de Independência dos EUA e
assegurada nos países independentes do continente americano apó s 1776.
Pá gina 174
b) A lei inglesa, ao referir-se aos antigos direitos, preservava a hierarquia, os privilégios exclusivos
da nobreza sobre a propriedade e os castigos corporais como procedimento jurídico.
d) Os direitos do homem, por serem direitos dos humanos em relaçã o uns aos outros, significam
que nã o pode haver privilégios, nem direitos divinos, mas devem prevalecer os princípios da
igualdade e universalidade dos direitos entre os humanos.
3. Resposta: d.
4. (Enem/MEC)
Em 4 de julho de 1776, as Treze Colô nias que vieram inicialmente a constituir os Estados
Unidos da América (EUA) declaravam sua independência e justificavam a ruptura do Pacto
Colonial. Em palavras profundamente subversivas para a época, afirmavam a igualdade dos
homens e apregoavam como seus direitos inaliená veis: o direito à vida, à liberdade e à busca
da felicidade. Afirmavam que o poder dos governantes, aos quais cabia a defesa daqueles
direitos, derivava dos governados. Esses conceitos revolucioná rios que ecoavam o Iluminismo
foram retomados com maior vigor e amplitude treze anos mais tarde, em 1789, na França.
COSTA, Emília Viotti da. Apresentaçã o da coleçã o. In: Wladimir Pomar. Revolução Chinesa. Sã o Paulo: Unesp, 2003
(com adaptaçõ es).
c) Tanto nos Estados Unidos quanto na França, as teses iluministas sustentavam a luta pelo
reconhecimento dos direitos considerados essenciais à dignidade humana.
d) Por ter sido pioneira, a Revoluçã o Francesa exerceu forte influência no desencadeamento da
independência norte-americana.
e) Ao romper o Pacto Colonial, a Revoluçã o Francesa abriu o caminho para as independências das
colô nias ibéricas situadas na América.
4. Resposta: c.
FURET, François ; OZOUF, Mona. Diccionnaire critique de la Révolution française. Événements. Paris: Flammarion,
1992. p. 298-299.
I. O governo jacobino, dirigido por Robespierre, e o Comitê de Salvaçã o Pú blica foram responsá veis
pelo período do Terror.
II. O Terror foi uma política de extermínio liderada pelos girondinos de origem burguesa.
III. O objetivo dessa política centrava-se na defesa da Revoluçã o contra os inimigos internos e
externos.
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas I e III.
5. Resposta: e.
Pá gina 175
Vozes do Presente
›› Fonte 1
O texto foi escrito pela historiadora Raquel Stoiani, doutora em Histó ria pela Universidade de Sã o
Paulo (USP).
Uma preocupaçã o constante de Napoleã o Bonaparte foi a construçã o de sua imagem pú blica.
Enquanto esteve no poder (1799-1815), ele estruturou uma complexa má quina de
propaganda. Do homem da paz ao deus da guerra, [...] modificava sua figura pú blica de acordo
com as necessidades do momento. Seus opositores, por sua vez, buscaram desfigurá -lo com o
mesmo empenho. [...]
No início do século XX, Napoleã o começa a ser apreciado de forma mais contida, [...] Georges
Lefèbvre (1874-1959), em seu Napoléon (1935), enfatiza as realizaçõ es positivas do
imperador e aprecia a grandeza de sua figura, mas nã o toma partido e evita julgamentos
morais. [...]
STOIANI, Raquel. Mitos de além-tú mulo. Revista de Histó ria da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 4 abr. 2010.
Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/mitos-de-alem-tumulo>. Acesso em: 4 mar. 2016.
››Fonte 2
David Jacques Louis. C.1797-98. Ó leo sobre tela. Museu do Louvre. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
a) Apó s a morte de Napoleã o, teve início a sua transformaçã o em uma lenda. Que argumentos
foram usados para isto?
b) Levando em conta o contexto do processo revolucioná rio francês iniciado em 1789, interprete a
afirmaçã o: “Diversos Napoleõ es permanecem flutuando entre a antiga ordem e a nova ordem – ou
entre os valores de antes e depois da Revoluçã o Francesa.”
c) O que se vê na fonte 2?
d) Relacione o debate histó rico em torno da figura de Napoleã o (fonte 1) ao modo como ele foi
retratado na fonte 2.
Pá gina 176
Independências: Haiti e
Capítulo 9
América espanhola
Professor: com base em elementos materiais, a taça Libertadores da Amé rica e a moeda com a efígie de Bolívar, buscou-se
estimular o interesse pelas lutas de independê ncia na Amé rica espanhola. O nome da taça e da competiçã o é , como se sabe,
uma homenagem aos “Libertadores da Amé rica”, a exemplo de Simó n Bolívar, representado na moeda abaixo. A Copa
Libertadores da Amé rica começou a ser disputada em 1960 e é a principal competiçã o de futebol da Amé rica do Sul. Em
2009, foi anunciada a criaçã o da Copa Libertadores Feminina, e a primeira delas foi disputada no Brasil.
DeAgostini/Getty Images
Pá gina 177
As sociedades hispano-americanas
Os chapetones, colonos nascidos na Espanha, desfrutavam de poder e privilégio,
ocupando todos os principais cargos administrativos, militares e religiosos. Os
criollos, filhos de espanhó is nascidos na América, eram ricos fazendeiros, donos
de minas e grandes comerciantes. Alguns possuíam formaçã o universitá ria. Apesar
de terem projeçã o econô mica e social, eram impedidos de ocupar altos cargos no
governo, no Exército e na Igreja.
Cana-de-açúcar, do mexicano Diego Rivera. Na América colonial espanhola havia estreita relaçã o
entre origem e ocupaçã o social: os brancos detinham riqueza, poder e o privilégio de ocupar os
melhores cargos; já os mestiços, indígenas e negros faziam geralmente vá rios tipos de trabalho
forçado e/ou serviços mais mal remunerados. A obra explora esse aspecto da realidade.
Pá gina 178
Homem peruano segurando o retrato de Tú pac Amaru, c. 1997. A cidade de Cuzco, que um dia foi
capital do Império Inca, é hoje considerada Patrimô nio Mundial da Humanidade pela Unesco.
Pá gina 179
1. Dica! Animação sobre a revolta liderada por Túpac Amaru. [Duração: 2 minutos.] Acesse:
<http://tub.im/bdm2yp>.
Nova Granada: vice-reinado que abrangia os atuais Equador, Colô mbia, Venezuela e Panamá .
O brasã o da cidade de Charalá (Colô mbia) é uma homenagem ao líder José Antonio Galán e ao
movimento comunero.
Pá gina 180
Fonte: ATLAS geográ fico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 39.
A ilha de Sã o Domingos está situada no mar do Caribe e foi encontrada por Colombo na sua
primeira viagem à América. Inicialmente ele a denominou Hispaniola; posteriormente, foi
rebatizada com o nome de Sã o Domingos. A porçã o ocidental da ilha de Sã o Domingos (hoje Haiti)
foi ocupada pelos franceses, e a porçã o oriental (atual Repú blica Dominicana) continuou sob
domínio dos espanhó is.
Gran marronage: quilombo; comunidade de escravos fugidos. Existiram quilombos por toda a América; na
inglesa recebiam o nome de maroons; na espanhola, palenques; e na francesa, grand marronage (para
diferenciar da petit marronage, nome dado à fuga individual).
Pá gina 181
No início de 1794, um fato novo ocorrido na França acelerou o curso dos
acontecimentos: os jacobinos decretaram o fim da escravidã o nas colô nias
francesas; essa importante decisã o da França revolucioná ria atingiu em cheio a
escravidã o centro-americana. Potencializando a lei abolicionista, os libertos de Sã o
Domingos se mobilizaram para apoiar a ascensã o de L’Ouverture ao poder na parte
ocidental da ilha. A seguir, ele e seus homens conquistaram a parte oriental
(pertencente à Espanha), onde também aboliram a escravidã o.
A notícia da vitó ria dos negros no Haiti logo se espalhou por toda a América,
disseminando o medo entre as elites; no Brasil, esse medo, chamado à época de
haitianismo, foi particularmente intenso, já que cerca de 2/3 da populaçã o do país
era composta de negros escravizados.
Manuel Cohen/Image Forum
Dica! Vídeo sobre a revolução escrava que deu origem à atual República do Haiti. [Duração: 6
minutos.] Acesse: <http://tub.im/tu72s5>.
Para melhor compreender esse processo de emancipaçã o política das colô nias
espanholas na América é preciso recuar à segunda metade do século XVIII e
conhecer as reformas implementadas pelo rei espanhol Carlos III (1759-1788), da
dinastia Bourbon.
Pá gina 182
Anton Raphael Mengs. Museu do Prado. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
Casamento duplo entre dois colonos nascidos na Espanha (chapetones) e duas mulheres incas, c.
1750. No canto superior esquerdo, o artista representou familiares das noivas e, no canto superior
direito, familiares dos noivos.
Pá gina 183
Em Madri, os espanhó is pegaram em armas para resistir aos franceses, mas foram
reprimidos com muita violência.
Francisco Goya. Sé c. XIX. Á gua-forte. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
“E eles sã o como bestas selvagens”, prancha 5 da série Os desastres da guerra, de Francisco Goya
(1746-1828). Esse artista espanhol, que viveu na época das guerras napoleô nicas, representou a
luta das mulheres espanholas na resistência aos invasores franceses. Em primeiro plano, vemos
uma mulher carregando e protegendo uma criança com a mã o esquerda, enquanto combate o
invasor com a mã o direita, munida de uma lança apenas.
»» extinguiu o Tribunal da Santa Inquisiçã o, instrumento usado pela Igreja Cató lica
para exercer sua dominaçã o e punir aqueles que contrariavam seus dogmas;
Cortes Constituintes: nome dado ao Parlamento, isto é, ao conjunto de deputados encarregados de fazer
leis que regeriam a sociedade e limitariam o poder do rei.
DIALOGANDO
Goya definiu a guerra como uma derrota da humanidade. E para você, o que é a guerra?
Resposta pessoal. Professor: a intençã o aqui é chamar a atençã o para o lado absurdo e trá gico presente em todas as
guerras, contribuindo com isso para a disseminaçã o de uma cultura da paz, tal como pretendido pela ONU.
Pá gina 184
Juntas Governativas: governos locais autô nomos formados a partir dos cabildos (câ maras municipais
amplamente dominadas pelos criollos).
»» Na primeira fase, de 1810 a 1815, os habitantes das colô nias, liderados pelos
criollos em cidades como Caracas, Buenos Aires, Bogotá e Santiago, formaram
exércitos e obtiveram importantes vitó rias contra os realistas. Naqueles anos, as
forças de Bonaparte controlavam a maior parte do territó rio espanhol e as
lideranças espanholas estavam concentradas na expulsã o dos franceses de seu
territó rio;
»» Já a segunda fase, de 1815 a 1824, começou quando o rei Fernando VII – que
reassumira o trono espanhol com a queda de Napoleã o – anulou a Constituiçã o de
Cá diz, reestabeleceu o absolutismo e enviou para a América uma grande expediçã o
com 10 mil homens e 18 navios de guerra para reprimir os movimentos pela
independência.
Anos depois, o Exército dos Andes desembarcou no Peru, protegido pelos navios
ingleses sob o comando de Thomas Cochrane, e colaborou para a independência
daquele país (1821).
Thomas Cochrane: almirante inglês que também participou das lutas para garantir a emancipaçã o política
do Brasil.
Dica! Vídeo didático abordando as ações do Exército dos Andes. Em espanhol. [Duração: 4
minutos.] Acesse: <http://tub.im/urnrkk>.
[…] Simó n Bolívar também teve uma vida repleta de peripécias. Nasceu em Caracas, em 24 de
julho de 1783, filho de uma rica e tradicional família de fazendeiros de cacau. Ó rfã o desde
muito cedo, foi criado pelo avô , que lhe proporcionou uma esmerada educaçã o de inspiraçã o
liberal […]. Como era comum entre os criollos mais ricos, viajou vá rias vezes à
Pá gina 185
Europa, tendo passado por França, Itá lia e Espanha. Neste ú ltimo país, casou-se com Maria
Tereza del Toro que, apó s oito meses de casada, faleceu em terras venezuelanas, de febre
amarela, para grande desgosto do marido.
Entre idas e vindas da Europa, instalou-se definitivamente na Venezuela, em 1807,
envolvendo-se, desde o início, nos movimentos pela independência.
[...]
As vitó rias e derrotas das forças rebeldes lideradas por Simó n Bolívar, no norte da América do
Sul, demonstravam a dificuldade da Espanha em vencer os rebeldes e os obstá culos que estes
enfrentavam para manter as conquistas. Depois da restauraçã o de Fernando VII, como já foi
indicado, chegou a Nova Granada a grande expediçã o do general Pablo Morillo para
reconquistar os territó rios perdidos. A repressã o foi muito violenta, indicando num primeiro
momento que esta era a estratégia correta. [...] Bolívar e seus generais reorganizaram os
exércitos e iniciaram a virada no tabuleiro da guerra, prometendo a alforria aos escravos que
se alistassem e terra aos soldados do exército. [...]
PRADO, Maria Lígia C.; SOARES, Gabriela P. História da América Latina. Sã o Paulo: Contexto, 2014. p. 31-33.
Autor desconhecido. Retrato de Simó n Bolívar. Sé c. XIX. Ilustraçã o. Coleçã o particular. Foto: Bettmann/Corbis/Latinstock
Pintura de Manuela Sá enz, c. 1820. Ela lutou ao lado de Bolívar pela independência na América
espanhola. Hoje é vista por muitos latino-americanos como uma das heroínas dos movimentos
independentistas na América.
Pá gina 186
A exemplo do que fizera San Martín, Simó n Bolívar atravessou a Cordilheira dos
Andes à frente de um exército regular e conquistou Bogotá , em 1819. Dois anos
depois, proclamou a Repú blica da Grã -Colô mbia (Colô mbia, Venezuela e Equador),
da qual se tornou presidente. Mas ao contrá rio do que desejou Bolívar, essa
unidade política se fragmentou e se formaram entã o as repú blicas da Colô mbia, da
Venezuela e do Equador.
2. Dica! Vídeo sobre a vida de José de San Martín. [Duração: 10 minutos.] Acesse:
<http://tub.im/5vov7s>.
Para refletir
O projeto de Bolívar era ver formar-se na América uma confederação
republicana, isto é, uma associaçã o de Estados independentes unidos por
objetivos de cooperaçã o e defesa. Na célebre Carta da Jamaica, em 1815, Bolívar
escreveu:
É uma ideia grandiosa pretender formar de todo o Novo Mundo uma ú nica naçã o com um
ú nico vínculo que ligue as partes entre si com o todo. Já que tem uma só origem, uma só língua,
mesmos costumes e uma só religiã o, deveria, por conseguinte, ter um só governo que
confederasse os diferentes Estados que haverã o de se formar.
BOLÍVAR, Simó n. In: WASSERMAN, Clá udia (Coord.). História da América Latina: cinco séculos. Porto Alegre: UFRGS,
2000. p. 165.
Pedestres à frente de um mural representando Simó n Bolívar, visto como heró i no imaginá rio
popular venezuelano. Caracas, Venezuela, 2008.
a) Bolívar defende a formaçã o de uma só naçã o em toda a Amé rica (Novo Mundo); uma grande Repú blica federativa
obediente a um só governo.
c) Hugo Chá vez e Nicolá s Maduro utilizavam a força do mito bolivariano para legitimar suas políticas externas de crescente
oposiçã o aos Estados Unidos. Evocando ideais bolivarianos, defendiam a integraçã o econô mica e militar entre os países
latino-americanos. O mito bolivariano tem uma penetraçã o enorme entre as camadas populares da Venezuela.
Pá gina 187
O caso do México
A primeira tentativa de emancipaçã o política na América espanhola ocorreu no
Vice-Reino da Nova Espanha, em 1810, e foi liderada por Miguel Hidalgo, padre
do pequeno povoado de Dolores, pró ximo à s minas de Guanajuato. À frente de
milhares de camponeses, o padre iniciou uma rebeliã o contra o domínio espanhol
que clamava por independência e terra para os pobres (inclusive as da Igreja). Nas
suas marchas reivindicató rias em direçã o à Cidade do México, os rebeldes
ostentavam estandartes de Nossa Senhora de Guadalupe, uma virgem mestiça,
morena como milhõ es de nativos do México.
Vice-Reino da Nova Espanha: unidade administrativa fundada em 1535; era a parte mais rica do Império
Espanhol na América.
Na repressã o ao movimento, parte da elite criolla uniu-se uma vez mais aos
realistas e ajudou a esmagar a revolta. O padre Hidalgo foi preso e fuzilado em
julho de 1811. A luta pela independência prosseguiu, entã o, sob a liderança de um
outro padre, José Maria Morellos. Ele propunha que se dividissem a terra e o
dinheiro dos mais ricos entre os vizinhos pobres do mesmo povoado. A adesã o de
grande quantidade de indígenas e camponeses (cerca de 80 mil) à s forças de
Hidalgo e Morellos se explica pela pobreza extrema em que vivia a maioria da
populaçã o. Esse movimento popular também foi vencido, e o padre Morellos,
fuzilado em 1815.
O projeto de independência vitorioso era favorá vel aos criollos locais. No México
independente, a concentraçã o da riqueza e da terra manteve-se inalterada; a
maioria da populaçã o continuou excluída do direito à cidadania.
A América Central esteve unida ao México até 1824, quando proclamou sua
independência com o nome de Províncias Unidas da América Central.
Posteriormente, sob forte pressã o inglesa e estadunidense, a regiã o se fragmentou
em pequenas repú blicas: Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicará gua e Costa
Rica.
Juan O’Gorman. Sé c. XIX. Mural. Coleçã o particular. Foto: The Granger Collection/Glow Images
Detalhe da pintura mural de Juan O’Gorman, contando em linguagem pictó rica a luta dos indígenas
e camponeses mexicanos liderados pelo padre Hidalgo. Repare que eles carregam um estandarte
com a imagem da Virgem de Guadalupe, que hoje é um dos símbolos do México.
Pá gina 188
Danny Lehman/Corbis/Latinstock
Indivíduos quíchua, povo que já habitava o Vice-Reino do Peru nos tempos de Tú pac Amaru. O
quíchua, falado nos Andes desde a época do Império Inca, é hoje uma das línguas oficiais do Peru.
Fotografia de 2001.
Independências e fragmentação
No Congresso do Panamá , em 1826, Simó n Bolívar continuou lutando pela unidade
latino-americana. No entanto, ela nã o se concretizou; o que se viu foi a formaçã o de
uma América fragmentada, dividida em 19 Estados nacionais (1830), cada qual
com um governo pró prio. A fragmentaçã o da América em diversas repú blicas tem
sido tema de debates entre os historiadores; as razõ es mais citadas para explicar
essa fragmentaçã o sã o três:
Pá gina 189
»» a força dos caudilhos, chefes políticos ou militares locais, com grande poder
em sua localidade ou província;
Fonte: DUBY, Georges. Atlas Historique Mondial. Paris: Larousse, 2011. p. 243.
Caudilhos: a historiografia recente entende que o poder do caudilho se constró i por meio de relaçõ es nos
níveis local, nacional e internacional e se fortalece em contextos histó ricos específicos nos quais as instituiçõ es
políticas sã o frá geis. Uma das características importantes do caudilhismo é o clientelismo – relaçõ es pessoais
que indivíduos com riqueza, poder e prestígio elevados mantêm com outros relativamente pobres e sem
prestígio social. O cliente, um peão, por exemplo, busca conseguir de seu patrã o proteçã o política e econô mica
e oferece, em troca, sua força de trabalho e lealdade.
Por vezes, os caudilhos conseguiram reunir sob seu comando as forças de uma
regiã o e, até mesmo, de toda uma repú blica. Foi esse o caso da Argentina, onde
apó s a independência, a disputa pelo poder político opô s os unitá rios (favorá veis a
centralizaçã o) aos federalistas (que defendiam a autonomia das províncias). As
divergências entre eles se desdobraram em guerras civis intermitentes. Lá , a
presença de caudilhos à frente de grupos armados impediu a organizaçã o de um
Estado nacional centralizado até 1862, quando Bartolomeu Mitre assumiu a
Presidência do país como um todo.
Dica! Documentário sobre os 200 anos da independência dos países latino-americanos. [Duração:
202 minutos.] Dividido em duas partes. Para a primeira parte, acesse: <http://tub.im/7n6wwh>.
Pá gina 190
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. Leia as fontes 1 e 2 com atençã o.
››Fonte 1
››Fonte 2
DONGHI, Halperin. Fonte: GUAZZELLI, César A. B. In: WASSERMAN, Clá udia (Coord.). História da América Latina:
cinco séculos. 2. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2000. p. 134.
1. a) Que, no final do sé culo XVIII, a imensa maioria da populaçã o da ilha de Sã o Domingos era formada por negros
escravizados (87,75%). Mestiços e brancos juntos somavam apenas 12,25%.
1. b) Que a maioria negra era oprimida pela minoria branca, o que tornava a vida social tensa. Professor: entre os franceses
e os africanos escravizados havia fortes divergê ncias por motivos é tnicos e também socioeconô micos.
2. (Unemat-MT – 2014)
HOBSBAWM, Eric. Ecos de Marselhesa. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 124-125.
Qual país latino-americano teve sua independência influenciada pela Revoluçã o Francesa?
a) Espanha
b) Brasil
c) Estados Unidos
d) Austrá lia
e) Haiti
2. Resposta: e.
3. (UFPI)
[...] todos os brasileiros, e sobretudo os brancos, não percebem suficientemente que é tempo
de se fechar a porta aos debates políticos [...]. Se se continua a falar dos direitos dos homens, da
igualdade, terminar-se-á por pronunciar a palavra fatal: liberdade, palavra terrível e que tem
muito mais força num País de escravos que em qualquer outra parte [...]
In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). 1822: dimensõ es. Sã o Paulo: Perspectiva, 1972. p. 482.
O texto acima, escrito provavelmente por volta de 1823/1824, é parte de uma carta sobre a
independência do Brasil, enviada por um observador europeu a D. Joã o VI.
Leia com atençã o o texto e, a seguir, assinale a alternativa que expressa a configuraçã o social do
processo brasileiro de independência.
b) A “soluçã o moná rquica”, através da qual a jovem naçã o optava por afastar-se de seus vizinhos
americanos e adotar modelos políticos europeus, foi historicamente necessá ria como instrumento
de conciliaçã o das raças no Brasil.
Pá gina 191
c) O “haitianismo”, temor da elite branca brasileira de que se repetisse no Brasil uma revoluçã o
negra, tal qual ocorrera no Haiti, limitou as bases sociais da independência e justificou
manifestaçõ es como essa da carta transcrita.
d) Em razã o de temores como aquele expresso na carta citada, a independência fez-se acompanhar
de um processo crescente de enfraquecimento da escravidã o. Os mesmos grupos que lideraram o
processo de independência liderariam, anos depois, a aboliçã o da escravatura.
e) O temor expresso na carta é infundado, pois além de contar com um nú mero pequeno de
escravos à época da independência, as relaçõ es entre os escravos e seus senhores, no Brasil, sempre
foram cordiais, decorrendo justamente disso a noçã o de “democracia racial”.
3. Resposta: c.
4. (Unicamp-SP – 2016)
As revoluçõ es de independência na América hispâ nica foram, ao mesmo tempo, um conflito
militar, um processo de mudança política e uma rebeliã o popular.
Rafael Rojas. Las repúblicas de aire. Buenos Aires: Taurus, 2010. p. 11.
b) o caudilhismo, sob a liderança política criolla, e o discurso revolucioná rio de uma nova ordem
política, que assegurou profundas transformaçõ es econô micas na América.
4. Resposta: a.
5. (Unesp-SP – 2015)
Era o fim. O general Simó n José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios ia embora
para sempre. Tinha arrebatado ao domínio espanhol um império cinco vezes mais vasto que as
Europas, tinha comandado vinte anos de guerras para mantê-lo livre e unido, e o tinha
governado com pulso firme até a semana anterior, mas na hora da partida nã o levava sequer o
consolo de acreditarem nele. O ú nico que teve bastante lucidez para saber que na realidade ia
embora, e para onde ia, foi o diplomata inglês, que escreveu num relató rio oficial a seu
governo: “O tempo que lhe resta mal dá para chegar ao tú mulo.”
O perfil de Simó n Bolívar, apresentado no texto, acentua alguns de seus principais feitos, mas deve
ser relativizado, uma vez que Bolívar
a) foi um importante líder político, mas jamais desempenhou atividades militares no processo de
independência da América Hispâ nica.
b) obteve sucesso na luta contra a presença britâ nica e norte-americana na América Hispâ nica, mas
jamais conseguiu derrotar os colonizadores espanhó is.
c) defendeu a total unidade das Américas, mas jamais obteve sucesso como comandante militar nas
lutas de independência das antigas colô nias espanholas.
d) teve papel político e militar decisivo na luta de independência da América Hispâ nica, mas jamais
governou a totalidade das antigas colô nias espanholas.
e) atuou no processo de emancipaçã o da América Hispâ nica, mas jamais exerceu qualquer cargo
político nos novos Estados nacionais.
5. Resposta: d.
Pá gina 192
II. Leitura e escrita em História
a. Leitura de imagem
A imagem é um detalhe da pintura mural de Diego Rivera intitulada Guerra de independência do
México. Observe-a com atençã o.
Diego Rivera. La guerra de la independencia de Mé xico. 1810. Mural. Palá cio Nacional, Mé xico, DF.
a) Quem sã o os padres que ocupam o centro da cena e quem é o imperador retratado no canto
esquerdo?
a) Os padres representados ao centro sã o Miguel Hidalgo e José Maria Morellos, que, na visã o do pintor, foram importantes
vultos da independê ncia no Mé xico; no canto esquerdo, vemos o imperador Iturbide.
b) Padre Hidalgo, o personagem central, traz na mã o direita uma corrente partida (que representa a liberdade obtida com o
fim do domínio colonial espanhol), e, na mã o esquerda, um estandarte com a imagem da Virgem de Guadalupe. À direita de
Hidalgo está o padre Morellos, com o braço direito estendido como quem aponta o caminho a seguir: o da libertaçã o, o da
independê ncia; gesto idê ntico faz a personagem-soldado que está um pouco abaixo, vestindo armadura e portando uma
espada na mã o direita e uma espingarda na esquerda; alé m disso, ele aponta para os camponeses armados à sua frente (e de
costas para o observador) o caminho a seguir. Finalmente, o imperador Iturbide, no canto esquerdo do mural e com uma
coroa na cabeça, é mostrado com o olhar parado, como um simples coadjuvante; algué m sem importâ ncia no rumo dos
acontecimentos.
c) Há ainda na parte inferior do mural uma cena que merece destaque. Qual é ela?
c) Na parte inferior do mural e ao centro está uma á guia com uma cobra presa ao bico. Essa figura era, segundo a crença dos
sacerdotes astecas, um sinal dos deuses de que ali onde estava a á guia era o local onde os astecas tinham de fundar a cidade
de Tenochtitlá n (atual Cidade do Mé xico). Hoje, a figura da á guia com a serpente em seu bico é um símbolo da naçã o
mexicana e está , inclusive, em sua bandeira.
d) A pintura intitulada Guerra de independê ncia do Mé xico faz parte de um conjunto de murais em que o artista se propô s a
contar a histó ria mexicana, desde antes da chegada dos espanhó is até o presente; e incluiu na sua narrativa imagens do
futuro mexicano. Diego Rivera (1886-1957) iniciou essas obras murais no Palá cio Nacional da Cidade do Mé xico, centro do
poder político mexicano, em 1929, e as retomou diversas vezes entre 1935 e 1945, e no início dos anos de 1950. Já se disse
que uma obra de arte revela mais sobre o momento histó rico em que foi feita do que sobre a histó ria que pretendeu narrar.
Nesse sentido, esse mural de Diego Rivera é exemplar. De um lado, expressa a visã o do Partido Comunista do Mé xico em
1929, que defendia a aliança operá rio-camponesa para fazer a revoluçã o; de outro, a ideia do artista de que o movimento
pela independê ncia, iniciado com Hidalgo e Morellos, em 1810, tinha finalmente chegado ao poder; daí vermos, no alto (à
esquerda), dois presidentes mexicanos (Obregó n e Calles), e, à direita deles, trê s líderes populares.
Em busca da participação das mulheres nas lutas pela independência política da América
Latina
[...]
Em segundo lugar, ressalte-se que a despeito dessa atuaçã o bastante visível, em nenhum dos
países latino-americanos operou-se a transformaçã o de uma dessas mulheres em heroína
nacional [...]. As homenagens e o reconhecimento oficial da participaçã o das mulheres como
“fundadoras da pá tria” sã o extremamente restritos. A mais destacada, neste particular, parece
ser a boliviana, Juana Azurduy de Padilla; no aeroporto de Sucre que também leva seu nome –
ganhou uma está tua que a representa montada a cavalo, ameaçando os realistas com ar
desafiador. [...]
Pá gina 193
Finalmente, uma observaçã o sobre a questã o de seu comportamento político. O que mais me
chamou a atençã o foi a transformaçã o de mulheres rebeldes, que desafiaram as instituiçõ es
mais poderosas – as metró poles e a Igreja – em modelos exemplares de “bom” comportamento.
Josefa Dominguez, “La Corregidora”, por exemplo, “desobedeceu” o marido [...]. Leona Vicá rio
fugiu do convento onde estava presa, auxiliada por três oficiais rebeldes [...]. Maria Quitéria
escapou de sua família para se vestir de homem e lutar como soldado, numa decisã o
premeditada e consciente. Em uma palavra, foram mulheres rebeldes, insubordinadas, agindo
fora das regras e das normas, que ganharam respeitabilidade, transformadas em modelos de
esposas e mã es, glorificadas por todas as virtudes cristã s intimamente trançadas com as
virtudes patrió ticas. [...]
Marco Ugarte/AP Photo/Glow Images
A fotografia é do detalhe de um mural que se encontrava no Palá cio Nacional do México, em 2010.
Os três homens, da esquerda para a direita, sã o Ignacio Jesus Allende, Miguel Hidalgo e José Maria
Morellos, e todos eles lutaram pela independência do México. Entre eles há uma ú nica mulher:
Leona Vicá rio, pessoa de posses que auxiliou os rebeldes com dinheiro e informaçõ es, tendo sido
presa por sua participaçã o nas lutas pela independência.
Em uma palavra, foi esquecido ou ocultado que as mulheres participantes dos movimentos
pela independência atuaram num circuito claramente identificado como o da política,
motivadas por ideias, sentimentos e crenças que as levaram a romper com os padrõ es sociais e
religiosos vigentes. Sua notá vel coragem – especialmente nos momentos trá gicos da prisã o e
condenaçã o – indica que estavam preparadas para aceitar as consequências das escolhas
efetuadas.
PRADO, Maria Lígia C. Em busca da participaçã o das mulheres nas lutas pela independência política da América
Latina. Revista Brasileira de Histó ria, Sã o Paulo, v. 12, n. 23/24, p. 77-90, set. 1991-ago. 1992. Disponível em:
<www.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=3713>. Acesso em: 11 abr. 2016.
b) A que conclusõ es a leitura do texto permite chegar considerando o que está explícito?
c) A que conclusã o a leitura permite chegar considerando o que está implícito (subentendido)?
Lembrar que os silêncios de um texto podem ser tã o ou mais importantes do que aquilo que é dito.
Pá gina 194
Observe com atençã o estas duas imagens. Compare o gesto da personagem central,
a posiçã o do cavalo, o agrupamento de soldados em círculo com suas espadas
erguidas, entre outros aspectos.
Jean-Louis Ernest Meissonier. c. 1875. Ó leo sobre tela. Metropolitan Museum of Art, Nova Yorque
A Batalha de Friedland, tela pintada pelo artista francês Ernest Meissonier em 1875.
Pedro Amé rico. 1888. Ó leo sobre tela. Museu Paulista da USP, Sã o Paulo
Independência ou Morte!, tela pintada pelo artista brasileiro Pedro Américo em 1888.
Agora responda:
Pá gina 195
A administração de Pombal
No reinado de D. José I (1750-1777), o ministro e homem forte do governo foi
Sebastiã o José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal, cuja política à frente do
Estado português ficou conhecida como Reformismo Ilustrado. Pombal empenhou-
se em fortalecer a economia e o Estado e tirar Portugal da posiçã o de inferioridade
em que se encontrava em relaçã o a outros países europeus. Para isso, tomou uma
série de medidas que afetaram fortemente Portugal e sua colô nia na América, o
Brasil. Eis algumas dessas medidas:
Pá gina 196
Exclusivo comercial metropolitano: obrigatoriedade de a colô nia só vender e comprar da metró pole;
valendo-se disso, a metró pole impunha preços de venda e de compra, auferindo lucros extraordiná rios, o que
acabava gerando insatisfação e revoltas sociais.
Revoltas na Colônia
A opressã o da metró pole portuguesa no reinado de D. Maria I e de seu filho Dom
Joã o (1792-1816) contribuiu para a ocorrência de vá rios movimentos de rebeldia
no Brasil, entre os quais cabe citar: a Conjuraçã o Mineira (1789), a Conjuraçã o
Baiana (1798) e a Insurreiçã o Pernambucana (1817).
A Conjuração Mineira
A partir de 1760, o governo português reagiu ao declínio da produçã o de ouro no
Centro-Sul brasileiro aumentando a vigilâ ncia sobre os impostos cobrados na
regiã o. Some-se a isso os abusos e desmandos do governador da capitania de
Minas Gerais, Luís da Cunha Menezes (1783-1788), e se compreenderá o clima de
revolta ali existente na época.
Derrama: cobrança forçada da dívida em atraso. Em 1751, ficou estabelecido que o Brasil deveria pagar a
Portugal 100 arrobas anuais de ouro; caso a cota nã o fosse completada, seria lançada a derrama.
Candido Portinari. 1948-49. Tê mpera sobre tela. Memorial da Amé rica Latina, Sã o Paulo. Reproduçã o autorizada por Joã o Candido Portinari
Os conjurados planejavam proclamar uma repú blica em Minas Gerais, com capital
na pró spera Sã o Joã o del Rei, que produzia alimento e gado comercializados com
outras capitanias; instalar em Vila Rica uma universidade e uma casa da moeda;
introduzir o serviço militar obrigató rio e incentivar as manufaturas locais.
Segundo o historiador Joã o Pinto Furtado, havia discordâ ncia entre os conjurados:
alguns deles eram movidos por ideias iluministas e de mudança política; outros
tinham como ú nico objetivo a suspensã o da derrama (cobrança forçada dos
impostos em atraso devidos a Portugal). Os conjurados divergiam também quanto
à escravidã o: a maioria deles – senhores de terras, mineradores e grandes
comerciantes – era favorá vel à continuidade da escravidã o; dois deles apenas,
Alvarenga Peixoto e o padre Carlos Correia de Toledo, se disseram favorá veis à
aboliçã o. 1 e 2
1. Dica! Vídeo com foco na personagem Joaquim Silvério dos Reis. [Duração: 4 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/sscmq7>.
2. Dica! Vídeo sobre a Conjuração Mineira. [Duração: 14 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/xa7777>.
Pá gina 198
Note também que Pedro Américo pintou a cabeça de Tiradentes ao lado do corpo
crucificado de Jesus Cristo. Com isso, ele pretendia assemelhá -lo ao maior má rtir
do Cristianismo. Além disso, sabe-se hoje que, na época de Tiradentes, os
condenados eram executados sem cabelo e sem barba, mas, mesmo assim, o pintor
representou o inconfidente com barba e cabelos longos, usando mais esse recurso
para cristianizá -lo.
Como observou o historiador José Murilo de Carvalho na obra A formaçã o das
almas, o apelo à tradiçã o cristã do povo brasileiro contribuiu para o êxito de
Tiradentes como heró i republicano.
Pedro Amé rico. 1893. Ó leo sobre tela. Museu Mariano Procó pio, Juiz de Fora
A Conjuração Baiana
Enquanto os principais envolvidos na Conjuraçã o Mineira eram homens de negó cio
e intelectuais de origem europeia, os rebeldes baianos eram em sua maior parte
mestiços e/ou negros e pobres. Como muitos deles exerciam o ofício de alfaiate, a
Conjuraçã o Baiana (1798) ficou conhecida também como Revolta dos Alfaiates.
Pá gina 199
»» a diminuiçã o dos impostos e o aumento dos soldos para 200 réis diá rios;
Isonomia: princípio geral do direito segundo o qual todos sã o iguais perante a lei.
Assim que os cartazes dos rebeldes ganharam as ruas, o governador da Bahia, Dom
Fernando José de Portugal, ordenou o início das investigaçõ es e a prisã o de
dezenas de rebeldes: alfaiates, soldados, escravos de ganho, além de indivíduos de
estratos sociais mais elevados, como o cirurgiã o Cipriano Barata e o farmacêutico
Joã o Ladislau de Figueiredo, em cuja casa funcionava a loja maçô nica Cavaleiros da
Luz. Estes dois ú ltimos, chamados nos inquéritos de “pessoas de consideraçã o”,
foram inocentados; os soldados Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens e os
alfaiates Joã o de Deus e Manuel Faustino foram enforcados e esquartejados na
Praça da Piedade, em Salvador. 1 e 2
2. Dica! Reportagem sobre a Revolta dos Alfaiates. [Duração: 33 minutos]. Dividido em duas
partes. Para a primeira parte, acesse: <http://tub.im/fbbdma>.
Autoria desconhecida. 1802. Gravura. Fundaçã o Biblioteca Nacional
Uniforme do Regimento dos Henriques Milicianos, 1802. Luís Gonzaga das Virgens era um dos
integrantes desse regimento. Ao examinar a caligrafia dos manuscritos apreendidos na cidade de
Salvador, as autoridades descobriram que ele era o autor de alguns dos mais importantes desses
manuscritos.
Pá gina 200
Bloqueio Continental: decreto imposto pelo imperador francês Napoleã o Bonaparte proibindo os demais
países europeus de comerciar com a Inglaterra ou receber navios ingleses em seus portos.
Por esses motivos, no final de 1807, o príncipe Dom João, que assumira a regência
em razã o da doença de sua mã e, D. Maria I, a Louca, sua família e cerca de 10 a 15
mil pessoas embarcaram para o Brasil. Escoltada pela marinha inglesa, a comitiva
de Dom Joã o desembarcou em Salvador em 22 de janeiro de 1808 e, um mês e
meio depois, chegou ao Rio de Janeiro, que passou a ser entã o a sede do Império
Português, cujo territó rio abrangia terras na Europa, Á frica e Á sia.
Durante sua permanência, Dom Joã o e sua corte estabeleceram uma aliança com a
elite de Sã o Paulo e do Rio de Janeiro, por meio de negó cios entre eles envolvendo
terras e comércio de abastecimento, de casamentos com famílias locais e de
empregos concedidos por Dom Joã o aos membros dessa elite. Essas relaçõ es
sociais e mercantis com a elite do Centro-Sul levaram ao enraizamento da Corte
portuguesa e à sua intençã o de permanecer no Brasil, fenô meno que a historiadora
Maria Odila Dias chamou de interiorização da metrópole. 1, 2 e 3
1. Dica! Reportagem sobre a viagem de fuga da família real portuguesa para o Brasil. [Duração:
19 minutos]. Acesse: <http://tub.im/mey7jz>.
2. Dica! Vídeo sobre a fuga da Corte portuguesa para o Brasil. [Duração: 22 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/czrabc>.
3. Dica! Documentário sobre a vinda da família real portuguesa. Narrativa baseada nas obras do
escritor Laurentino Gomes. [Duração: 36 minutos]. Acesse: <http://tub.im/98e3yb>.
Candido Portinari. 1952. Ó leo sobre painel. Banco da Bahia, Salvador. Reproduçã o autorizada por Joã o Candido Portinari
Quadro de Portinari que representa a chegada da família real portuguesa ao Brasil. Note que nessa
versã o triunfal o autor valoriza sobretudo o príncipe, que ocupa o centro da tela, com seus trajes
elegantes e gestos cuidadosamente pensados.
Pá gina 201
Dica! Reportagem sobre a economia brasileira nos tempos de Dom João VI. [Duração: 21
minutos]. Acesse: <http://tub.im/mx2c4z>.
Administração joanina
Uma vez instalado, o governo de Dom Joã o empenhou-se em modernizar a cidade
do Rio de Janeiro, assemelhando-a a Lisboa. Multiplicaram-se as obras em solo
carioca: abriram-se vias para facilitar a circulaçã o de pessoas e mercadorias,
construíram-se novas habitaçõ es com amplos jardins e janelas envidraçadas, que
permitiam a entrada de luz, e instalaram-se importantes ó rgã os político-
administrativos, como o Ministério e o Conselho de Estado, a Intendência da
Polícia, o Erá rio Régio, o Banco do Brasil e a Casa da Moeda. Além disso, foram
criadas importantes instituiçõ es científico-culturais, como a Imprensa Régia, que
publicou livros, folhetos e o primeiro jornal feito no Brasil, a Gazeta do Rio de
Pá gina 202
1. Dica! Animação sobre a vinda da família real portuguesa e as transformações por ela
provocadas. [Duração: 57 minutos]. Acesse: <http://tub.im/qjansc>.
Nesse contexto, Dom Joã o elevou o Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e
Algarve, em 1815, e justificou, assim, sua permanência no Rio de Janeiro, onde seu
governo tinha fincado raízes e obtido vantagens para si e seus protegidos. Veja o
que uma historiadora diz sobre essa decisã o de Dom Joã o:
Com essa decisã o [...] foi reconhecida a autonomia do Brasil perante o Reino de Portugal. A
partir daquele momento, o Reino Unido, como foi chamado, transformava-se, juntamente com
os domínios portugueses na Á frica e na Á sia, na expressã o política do Império, passando as
capitanias a ser designadas províncias do Império. E essa situaçã o inédita foi sacramentada em
1816, quando, com a morte de D. Maria I, o entã o regente passou a ser o novo rei, D. Joã o VI. 2
OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles. A Independência e a construção do Império: 1750-1824. Sã o Paulo: Atual, 1995. p.
70. (Discutindo a Histó ria do Brasil).
Pá gina 203
A Insurreição Pernambucana
O governo de D. João VI beneficiou, sobretudo, a elite do Rio, Sã o Paulo e Minas,
particularmente os produtores e comerciantes dedicados ao abastecimento da
Corte. Esses grupos ascendiam sobretudo através de privilégios (como o de cobrar
impostos) e da obtençã o de títulos de nobreza e de empregos concedidos pelo
governo joanino.
O beija-mão na Corte do Rio de Janeiro é uma das 20 pranchas que integram um livro editado em
Londres, em 1825, e intitulado Aspectos da vida, modos e costumes portugueses. Nã o se sabe até hoje
quem é o autor do texto e das imagens do livro; sabe-se apenas que ele assina A.P.D.G. No trono
maior vê-se sentado D. Joã o VI, representado de maneira caricaturizada. Enquanto um dos sú ditos
beija a mã o do rei, os outros aguardam em uma fila enorme. Nessas ocasiõ es, os sú ditos
aproveitavam para fazer elogios e pedidos ao rei.
Essa insatisfaçã o era mais forte no Nordeste, onde os preços do açú car e do
algodã o – os dois principais produtos da regiã o na época – vinham caindo, e a
escassez de alimentos e a fome, agravadas pela seca de 1816, atingiam a muitos. No
Recife, um dos principais portos do Nordeste, as reclamaçõ es giravam em torno
dos impostos abusivos, do controle do comércio varejista pelos portugueses e da
preferência dada a portugueses sempre que havia promoçã o de militares. Esse
contexto favoreceu a disseminaçã o das ideias liberais vindas da França entre os
pernambucanos, que, reunidos nas lojas maçô nicas, preparavam a resistência à
dominaçã o portuguesa.
Pá gina 204
A repú blica liderada por Pernambuco, no entanto, durou apenas 74 dias. As tropas
e os recursos mobilizados por D. Joã o VI conseguiram sufocá -la rapidamente.
Vá rios rebeldes, entre eles Domingos José Martins, receberam a pena de morte e
foram enforcados. Comerciantes portugueses e proprietá rios de terra ajudaram na
repressã o ao movimento, pois temiam o haitianismo, isto é, o medo de levantes
escravos bem-sucedidos como os que moveram a luta por liberdade e
independência no Haiti.
Grupo escultó rico representando líderes da Revoluçã o Pernambucana de 1817. A obra está
localizada no Museu Paulista da Universidade de Sã o Paulo, em Sã o Paulo (SP). Fotografia de 2015.
Pá gina 205
Pá gina 206
Diante das pressõ es externas, representadas pelo poder das Cortes, e internas (dos
grupos de políticos favorá veis e contrá rios à separaçã o de Portugal), em 26 de
abril de 1821, D. Joã o VI partiu com sua família para Lisboa deixando no Brasil seu
filho e herdeiro Dom Pedro na condiçã o de príncipe regente. 1
1. Dica! Reportagem sobre a revolução do Porto e o retorno da família real para Portugal.
[Duração: 22 minutos]. Acesse: <http://tub.im/78ogyy>.
DIALOGANDO
Reflita: qual era a intenção de D. João VI ao deixar no Brasil Dom Pedro como príncipe
regente?
Professor: ressaltar que a intençã o de D. Joã o VI era garantir o poder para sua família e ter no Brasil uma autoridade central
capaz de reprimir as manifestaçõ es pela independê ncia nas províncias brasileiras, evitando, assim, a fragmentaçã o do
territó rio.
Oscar Pereira da Silva. S.d. Ó leo sobre tela. Museu Paulista da USP, Sã o Paulo
Sessão das Cortes de Lisboa, de Oscar Pereira da Silva. Com a expectativa de participar dos trabalhos
de elaboraçã o de uma Constituiçã o comum a Portugal e ao Brasil, 45 deputados de diferentes
regiõ es brasileiras seguiram para Lisboa; mas, lá chegando, foram vaiados e impedidos de falar.
Descobriram, entã o, que o desejo dos deputados portugueses era de que a sede do Império
Português, instalada no Rio de Janeiro, voltasse a ser Lisboa.
»» a regência de Dom Pedro foi dada como extinta, devendo o príncipe regente
voltar para Portugal imediatamente.
Pá gina 207
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ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. Leia o texto a seguir com atençã o:
Nã o acreditamos ser possível [...] fechar questã o quanto ao movimento de 1789, como se ele
fosse uno [...], íntegro em seus propó sitos [...] e estratégias.[...] Um dos temas centrais de
dissenso entre os inconfidentes era precisamente o fato de que, enquanto alguns eram mesmo
movidos por elevadas aspiraçõ es políticas reformadoras, para outros, [...] o objetivo da
Inconfidência era apenas a suspensã o da derrama, efetivamente obtida em 14 de março de
1789. A partir dessa premissa, é possível entender e explicar o arrefecimento dos â nimos e
relativo enfraquecimento do levante antes mesmo da repressã o que se abateu sobre os
revoltosos [...] a partir de maio de 1789.
FURTADO, Joã o Pinto. A Inconfidência Mineira: um novo tempo ou reediçã o dos motins do Antigo Regime? In:
RESENDE, Maria Efigênia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos (Org.). História de Minas Gerais: as minas setecentistas.
Belo Horizonte: Autêntica; Companhia do Tempo, 2007. v. 2. p. 636.
1. a) Como um movimento contraditó rio sem unidade quanto aos seus propó sitos e estraté gias. Professor: comentar que o
mesmo autor afirma que entre os protagonistas da Conjuraçã o de 1789 estavam também pessoas de diferentes camadas
sociais.
b) Que distinçã o ele faz entre os inconfidentes quanto aos seus objetivos?
b) Ele os divide em dois grupos: um movido por ideais políticos reformadores; outro que tinha como ú nico objetivo a
suspensã o da derrama.
c) Para o autor do texto, o que explica a perda de entusiasmo por parte dos conjurados a partir de
março de 1789?
c) A suspensã o da derrama, cobrança que certamente exaltaria os â nimos da populaçã o de Minas Gerais.
d) Com base no que você estudou, qual era outro ponto de divergência entre os inconfidentes?
1. d) Divergiam quanto ao fim da escravidã o; a maioria deles era favorá vel à continuidade da escravidã o em Minas Gerais.
e) Em dupla. Debatam, reflitam e opinem: qual era a motivaçã o dos conjurados: as ideias de
reforma inspirados no Iluminismo ou a suspensã o da derrama? Justifique.
e) Resposta pessoal. Professor: a intençã o é estimular o alunado a reunir e organizar argumentos e expressá -los por escrito
em defesa de um ponto de vista.
2. (Unicamp-SP – 2016) A aquarela do artista Joã o Teó filo, aqui reproduzida, dialoga com a
pintura de Pedro Américo, “Tiradentes esquartejado” (1893). Sobre a obra de Joã o Teó filo,
publicada na capa de uma revista em 2015, é possível afirmar que:
(http://www.revistadehistoria.com.br/revista/edicao/118.)
a) Trata-se de uma obra baseada em um quadro do gênero da pintura histó rica, sendo que no
trabalho de Pedro Américo o corpo de Tiradentes no patíbulo afasta-se da figura do Cristo, exemplo
maior de má rtir.
b) Utilizando-se das mesmas formas do corpo esquartejado de Tiradentes pintado por Pedro
Américo, o autor limita o nú mero de sujeitos esquartejados e acentua o tom conservador da
aquarela.
c) A imagem fala sobre seu contexto de produçã o na atualidade, utilizando-se do simbolismo de
Tiradentes, e procura ampliar a presença de negros como sujeitos sociais nas lutas coloniais e
antiescravistas.
2. Resposta: c.
Pá gina 209
3. (Fuvest-SP) A invasã o da Península Ibérica pelas forças de Napoleã o Bonaparte levou a Coroa
portuguesa, apoiada pela Inglaterra, a deixar Lisboa e instalar-se no Rio de Janeiro. Tal decisã o teve
desdobramentos notá veis para o Brasil. Entre eles:
a) a chegada ao Brasil do futuro líder da Independência, a extinçã o do trá fico negreiro e a criaçã o
das primeiras escolas primá rias.
b) o surgimento das primeiras indú strias, muitas transformaçõ es arquitetô nicas no Rio de Janeiro e
a primeira Constituiçã o do Brasil.
d) a abertura dos portos brasileiros a outras naçõ es, a assinatura de acordos comerciais favorá veis
aos ingleses e a instalaçã o da Imprensa Régia.
e) a elevaçã o do Brasil à categoria de Reino Unido, a abertura de estradas de ferro ligando o litoral
fluminense ao porto do Rio e a introduçã o do plantio do café.
3. Resposta: d.
4. (Enem/MEC – 2014)
NOVAIS, F. A.; ALENCASTRO, L. F. (Org.). História da vida privada no Brasil. Sã o Paulo: Cia. das Letras, 1997.
4. Resposta: b.
b) Os partidá rios da manutençã o da Corte Portuguesa no Brasil eram favorá veis à aboliçã o da
escravidã o, à reforma agrá ria e ao rompimento definitivo com a antiga metró pole.
c) A revoluçã o do Porto, movimento de cunho liberal que eclodiu em 24 de agosto de 1820, tinha
intençã o de emancipar o Brasil, desmembrando o que ainda estava no império ultramarino
português.
5. Resposta: a.
Pá gina 210
VOZES DO PRESENTE
O texto 1 é de Boris Fausto e o texto 2 é uma entrevista com Cecília Helena de Salles Oliveira, ambos
professores da Universidade de Sã o Paulo.
››Texto 1
[...] a emancipaçã o do Brasil nã o resultou em maiores alteraçõ es da ordem social e econô mica,
ou da forma de governo [...]
Uma das principais razõ es dessa continuidade se encontra na vinda da família real para o
Brasil e na forma como se deu o processo de Independência. A abertura dos portos por parte
de Dom Joã o VI estabeleceu, como vimos, uma ponte entre a Coroa portuguesa e os setores
dominantes da colô nia, especialmente os que se concentravam no Rio de Janeiro, Sã o Paulo e
Minas Gerais. Os benefícios trazidos para a regiã o fluminense, com a presença do rei no Brasil,
vinham incentivar a expansã o econô mica daquela á rea, ligada aos negó cios do açú car, do café e
do trá fico de escravos [...] A elite política promotora da Independência nã o tinha interesse em
favorecer rupturas que pudessem pô r em risco a estabilidade da antiga colô nia. É significativo
que os esforços pela autonomia, que desembocaram na Independência, concentraram-se na
figura do rei e depois na do príncipe regente. [...]
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 6. ed. Sã o Paulo: Edusp/Fundaçã o do Desenvolvimento da Educaçã o, 1998. p. 146-
147.
››Texto 2
[...] Em primeiro lugar, é preciso desmistificar a ideia de que a Independência foi feita sob o
signo da continuidade e a organizaçã o do Império carregava as marcas da monarquia
portuguesa e das tradiçõ es coloniais. O estudo das lutas sociais entre 1820 e 1824 [...] permite
compreender a ruptura que a Independência assinalou em relaçã o ao Antigo Regime e à
monarquia absolutista portuguesa. Em segundo lugar, quando se leva em conta o intenso
debate político da época e o envolvimento de diferenciados setores sociais nessas discussõ es, é
possível perceber, com clareza, que o momento da Independência representou, pela primeira
vez no Brasil, a elaboraçã o prá tica de princípios do liberalismo, definidores de relaçõ es de
dominaçã o social burguesa, e que a escravidã o não era incompatível com a nova ordem social
que entã o se configurava. O que procuro apontar [...] é que a época da Independência teve
enorme importâ ncia enquanto marco decisivo da formaçã o do Estado liberal no Brasil [...]
OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles. A Independência e a construção do Império: 1750-1824. Sã o Paulo: Atual, 1995. p.
2-3. (Discutindo a Histó ria do Brasil).
b) Ainda para o autor do texto 1, quais foram os grupos sociais beneficiados pela instalaçã o da
Corte de Dom Joã o no Rio de Janeiro?
e) Em grupo: debatam, reflitam e respondam: qual das duas versõ es sobre o significado da
Independência vocês consideram mais convincente?
Pá gina 211
Professor: a intençã o aqui foi contribuir para estimular a reflexã o sobre a participaçã o popular no processo de
independê ncia, bem como sobre a memó ria construída em torno das lutas que ocorreram para sua concretizaçã o. É
interessante notar que, na visã o dos autores do hino, foi o Senhor do Bonfim que conduziu os baianos à vitó ria.
Pá gina 212
Na época, o Sete de Setembro nã o teve a importâ ncia que lhe foi atribuída mais
tarde. A data usada para marcar a emancipaçã o política do Brasil era o Doze de
Outubro, dia da aclamaçã o de Dom Pedro I. Sua coroaçã o como imperador do
Brasil ocorreria em 1º de dezembro de 1822. Como parte dos preparativos desse
evento, o Império encomendou ao francês Jean-Baptiste Debret uma pintura, que
faria sua estreia em uma apresentaçã o extraordiná ria no Teatro da Corte. A
pintura foi feita por Debret em um Pano de Boca (cortina que fecha o palco nos
entreatos de um espetá culo teatral). Observe-a com atençã o:
No alto, e ao centro, vê-se um grupo de anjinhos sustentando uma esfera coroada em que se lê a
letra “P”, de Pedro. O centro da imagem é ocupado pelo trono imperial feito de má rmore branco. No
braço esquerdo do trono se vê o emblema do comércio e, no direito, o da justiça. Uma mulher
sentada, coroada e com a tá bua da Constituiçã o apoiada na mã o direita representa a Monarquia
(note-se que geralmente a Monarquia é representada por um homem).
É nítida a idealizaçã o que Debret faz do Estado nascente como uma uniã o
harmô nica de negros, índios e descendentes de europeus unidos e dispostos a
contribuir para a construçã o do Império. Assim, a pintura forja uma realidade que
interessava ao poder estabelecido.
Pá gina 213
Pá gina 214
(2014) Câ ndido Neto/Opçã o Brasil Imagens
O reconhecimento da independência
Conseguir o reconhecimento da independência também nã o foi tarefa fá cil. As
naçõ es absolutistas, que formavam a Santa Aliança, opunham-se ao liberalismo na
Europa e ameaçavam frustrar a emancipaçã o política latino-americana.
Os Estados Unidos, por sua vez, tinham interesse em proteger a América contra a
política intervencionista da Santa Aliança e a influência europeia. Isso ajuda a
explicar por que, com base na Doutrina Monroe, os Estados Unidos foram o
primeiro país a reconhecer a independência política do Brasil, fato ocorrido em
1824.
Doutrina Monroe: a Doutrina Monroe pode ser sintetizada na frase “A América para os americanos”, ou
seja, cada país da América deveria se autogerir e nã o aceitar a interferência europeia. Ao longo do século XIX,
ajudou a justificar e legitimar o imperialismo estadunidense na América Latina.
Pá gina 215
Para pagar a dívida assumida com Portugal, o Brasil de Dom Pedro I pediu um
empréstimo aos banqueiros ingleses. Estes concordaram em emprestar o dinheiro,
mas, como Portugal tinha uma dívida com a Inglaterra, o dinheiro nã o chegou a
sair dos cofres ingleses.
»» a renovaçã o por mais 15 anos da clá usula do Tratado de 1810, que fixava em
15% o imposto a ser pago pelos produtos ingleses nos portos brasileiros;
»» para ser eleitor, era preciso ter uma renda mínima equivalente a 150 alqueires
de farinha de mandioca (com isso, excluía-se da vida política a imensa maioria da
populaçã o);
Pá gina 216
debatendo a situaçã o, por isso aquela noite foi apelidada de Noite da Agonia. Na
manhã seguinte, Dom Pedro I tomou uma medida extrema: dissolveu a Assembleia
Constituinte e mandou prender vá rios deputados, entre os quais estavam os
irmã os Andrada. A seguir prometeu um novo projeto de Constituiçã o duas vezes
mais liberal do que o anterior:
[...] o projeto de Constituiçã o que eu lhe hei de breve apresentar; que será duplicadamente
mais Liberal, do que o que a extinta Assembleia acabou de fazer
COLEÇÃ O das leis do Império do Brasil de 1823, p. 85. Disponível em: <www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/legislacao/publicacoes/doimperio/colecao2.html>. Acesso em: 11 abr. 2016.
Prédio onde se reuniu a Primeira Assembleia Constituinte brasileira, no centro da cidade do Rio de
Janeiro.
A Constituição do Império
D. Pedro I, no entanto, nã o convocou uma nova Assembleia, mas nomeou um
Conselho de Estado composto por 10 homens de sua confiança para escrever uma
Constituiçã o em 40 dias.
Outorgada: constituição que parte da autoridade de governo; já a Constituiçã o promulgada é a que foi
discutida e aprovada por uma Assembleia.
»Poder Legislativo: Câ mara dos Deputados e Senado. Sua funçã o era elaborar,
discutir e aprovar leis. O cargo de deputado era temporá rio (durava quatro anos);
já o de senador era vitalício. Cada província elegia três candidatos, e o imperador
nomeava um deles para o cargo de senador.
Pá gina 217
Censitá rio, porque dependia de rendimentos. Para ser eleitor era preciso ter uma
renda anual de no mínimo 100 mil-réis; para ser candidato a deputado, uma renda
de 400 mil-réis; e para senador, 800 mil-réis. Nã o podiam ser eleitores os criados
de servir, os menores de 25 anos e os libertos, mesmo tendo renda suficiente.
A religiã o oficial do Império continuou sendo a cató lica romana. Qualquer outra
religiã o era proibida, sendo permitido apenas seu culto doméstico, sem forma
alguma exterior de templo. Veja a seguir o organograma da Constituiçã o do
Império. 1 e 2
Rmatias
2. Dica! Vídeo educativo abordando a história das sete constituições brasileiras. [Duração: 8
minutos]. Acesse: <http://tub.im/aum38w>.
DIALOGANDO
Resposta pessoal. Professor: a ideia aqui é refletir sobre o respeito à liberdade religiosa num mundo em que o fanatismo
religioso tem provocado uma sé rie de conflitos.
Para refletir
Constituição e cidadania
Pá gina 218
A manutençã o da escravidã o e a restriçã o legal do gozo pleno dos direitos civis e políticos aos
libertos tornavam o que hoje identificamos como “discriminaçã o racial” uma questã o crucial na
vida de amplas camadas das populaçõ es urbanas e rurais do período. Apesar da igualdade de
direitos civis entre os cidadã os brasileiros reconhecida pela Constituiçã o, os brasileiros não
brancos continuavam a ter até mesmo o seu direito de ir e vir dramaticamente dependente do
reconhecimento costumeiro de sua condiçã o de liberdade. Se confundidos com cativos ou
libertos, estariam automaticamente sob suspeita de serem escravos fugidos — sujeitos, entã o,
a todo tipo de arbitrariedade, se nã o pudessem apresentar sua carta de alforria.
MATTOS, Hebe Maria. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 20-21.
(Descobrindo o Brasil).
Debret. Sé c. XIX. Litogravura. Coleçã o particular
Ao circularem pelas ruas, as pessoas negras podiam ser abordadas a qualquer momento por
policiais e, se nã o tivessem como comprovar sua condiçã o de liberdade, acabavam, quase sempre,
sendo vítimas de violência física, verbal e/ou psicoló gica.
a) Direitos civis sã o os direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei, consequentemente, o cidadã o
que possui tais direitos tem garantido o seu direito de ir e vir.
b) Com base no que você estudou e no texto, quais eram as exigências para que um
cidadã o pudesse exercer o direito de ser eleitor?
b) Para ser eleitor era preciso ter uma renda anual de no mínimo 200 mil-ré is e ter nascido “ingênuo” (isto é , livre).
Professor: comentar que, alé m do crité rio censitá rio, havia també m o de nascimento.
c) É a ideia de que, embora os libertos tivessem seus direitos civis reconhecidos pela Constituiçã o, na prá tica eram
impedidos de exercê -los. Para circular pelas ruas precisavam trazer consigo a “carta de alforria”.
A Confederação do Equador
Ao dissolver a Assembleia e impor a Constituiçã o de 1824 ao país, o governo de
Dom Pedro I foi alvo de protestos em vá rias províncias brasileiras. Em
Pernambuco, essas críticas eram estampadas em jornais como Sentinela da
Liberdade, de Cipriano Barata, e Tiphys Pernambucano, do carmelita Frei Joaquim
do Amor Divino Caneca, ambos com sede na cidade do Recife.
Cipriano Barata (1762-1838): foi deputado pela Bahia nas Cortes Constituintes e, ao voltar de Portugal,
decidiu se estabelecer no Recife. Lá usou a imprensa escrita para fazer oposiçã o declarada a Dom Pedro I e, por
isso, foi preso.
Pá gina 219
Queridas Compatriotas.
O imperador que soube de tal arte iludir-nos, que chegamos a adoralo como Fundador, e
Defensor da Liberdade, e Independência do Brazil, trahindo nossa confiansa [...] tirou
finalmente a mascara hypocrita com que se disfarçava, e fez ver em toda a claridade, que se nos
embalava com a Independência, hera para mais facilmente nos adormecer sobre as suas
verdadeiras intençõ es de nos escravizar [...].
BERNARDES, Denis A. de Mendonça. “A gente ínfima do povo e outras gentes na Confederaçã o do Equador”. In:
Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. DANTAS, Monica Duarte (Org.).
Sã o Paulo: Alameda, 2011. p. 153-154.
Some-se a isso o fato de que uma crise econô mico-financeira atingia todo o
Nordeste devido à queda nos preços externos do açú car, do fumo e do algodã o.
Além disso, havia os altos impostos cobrados pelo governo de D. Pedro I; ao
mesmo tempo, as altas constantes nos preços dos alimentos e dos aluguéis, e o
privilégio dado aos portugueses castigavam a populaçã o pobre. Assim, quando
Dom Pedro I nomeou um presidente para a província de Pernambuco, que
desagradou aos pernambucanos, estes romperam com o Império e, em 2 de julho
de 1824, proclamaram a Confederação do Equador – uma Repú blica sob o
comando de Manuel Paes de Andrade.
Allmaps
Fonte: ATLAS histó rico IstoÉ – Brasil 500 anos. Sã o Paulo: Ed. Três, 1998. p. 50.
Pá gina 220
BERNARDES, Denis A. de Mendonça. “A gente ínfima do povo e outras gentes na Confederaçã o do Equador”. In:
Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. Monica Duarte Dantas (Org). Sã o
Paulo: Alameda, 2011. p. 155-156.
Editora Alameda
»» o déficit na balança comercial, ao longo dos anos 1820, quando os gastos com as
importaçõ es foram superiores aos ganhos com as exportaçõ es;
»» a queda nos preços de alguns produtos primá rios brasileiros, como algodã o,
couro, cacau e fumo, em razã o da concorrência externa e da retraçã o da economia
mundial;
»» a insuficiência das rendas obtidas pelo Império por causa da taxa de apenas
15% cobrada dos produtos importados ingleses desde 1810;
Pá gina 221
Domingos Antó nio de Sequeira. 1826. Desenho. Museu Nacional de Arte Antiga
Em Minas Gerais foi recebido com extrema frieza. De volta ao Rio de Janeiro, foi
recepcionado pelos comerciantes portugueses, que organizaram uma grande festa
pú blica, no centro da cidade, para homenageá -lo. Foi o que bastou para o início de
brigas de rua entre “brasileiros” e “portugueses”, todos armados de paus, pedras e
garrafas. Os conflitos ocorreram entre 12 a 15 de março de 1831 e ficaram
conhecidos como Noite das Garrafadas.
Nesta pintura de Aurélio Figueiredo, de cerca de 1890, o artista sugere que Dom Pedro I era uma
figura soberba. Repare que ele é mostrado com a cabeça erguida e estendendo a mã o para entregar
o documento de sua abdicaçã o. À esquerda vemos um menino loiro, recostado no ombro de sua
mã e. Ele é Dom Pedro de Alcâ ntara, aquele que, anos depois, viria a ser Dom Pedro II.
Veja o que duas estudiosas da Histó ria disseram sobre o modo como o povo
recebeu o 7 de abril.
No Brasil, a euforia tomou conta do ambiente, e de tal modo, que a abdicaçã o foi entendida
como um marco inaugural e fundador. Muitos a consideraram uma revoluçã o exemplar, pois
fora pacífica e nã o levara a derramamento de sangue. Outros a chamaram “regeneraçã o
brasileira”, tal seu cará ter popular. Toda uma memó ria foi criada em torno do evento, como se
ele representasse um tempo novo: a verdadeira independência. O importante é que o Sete de
Abril, muito mais do que o Sete de Setembro, consagrou o espaço pú blico como uma arena
política [...].
SCHWARCZ, Lilian M.; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 242.
Pá gina 223
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (UFF-RJ) Como “mito de origem nacional” para a Bahia, a Guerra de Independência, de 2 de julho
de 1823, é sempre relembrada em festas e comemoraçõ es oficiais. Assinale a alternativa que
melhor identifica o papel dos baianos no contexto da independência brasileira.
a) A articulaçã o revolucioná ria das camadas populares da capital baiana esteve restrita aos
interesses dos libertos e dos homens livres e pobres, sem o apoio de parte dos intelectuais da
cidade de Salvador.
1. Resposta: d.
2. (Unesp-SP) O Brasil assistiu, nos ú ltimos meses de 1822 e na primeira metade de 1823,
b) ao esforço do imperador para impor seu poder à s províncias que nã o haviam aderido à
Independência.
d) à pacífica unificaçã o de todas as partes do territó rio nacional, sob a liderança do governo central,
no Rio de Janeiro.
2. Resposta: b.
3. Resposta: e.
( ) Os revoltosos propunham a organizaçã o de uma repú blica nos moldes dos Estados Unidos da
América.
( ) A adesã o dos segmentos populares foi fundamental para unir todos os revoltosos.
( ) A imprensa, infelizmente, atuou contra o movimento e nenhum jornal nas províncias envolvidas
quis apoiar a causa. A sequência correta, de cima para baixo, é:
a) F, V, V, V, F.
c) V, F, F, V, F.
b) V, F, F, V, V.
d) V, V, V, F, F.
4. Resposta: d.
5. (Enem/MEC)
Apó s o retorno de uma viagem a Minas Gerais, onde Pedro I fora recebido com grande frieza,
seus partidá rios prepararam uma série de manifestaçõ es a favor do imperador no Rio de
Janeiro, armando fogueiras e luminá rias na cidade.
Pá gina 224
Contudo, na noite de 11 de março, tiveram início os conflitos que ficaram conhecidos como a
Noite das Garrafadas, durante os quais os “brasileiros” apagavam as fogueiras “portuguesas” e
atacavam as casas iluminadas, sendo respondidos com cacos de garrafas jogadas das janelas.
VAINFAS, R. (Org.). Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008 – Adaptado.
Os anos finais do I Reinado (1822-1831) se caracterizaram pelo aumento da tensã o política. Nesse
sentido, a aná lise dos episó dios descritos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro revela:
a) estímulos ao racismo.
b) apoio ao xenofobismo.
c) críticas ao federalismo.
e) questionamentos ao autoritarismo.
5. Resposta: e.
a) A dissoluçã o da Constituinte.
6. Resposta pessoal. O objetivo da questã o é estimular o desenvolvimento da competê ncia escritora a partir de um episó dio
importante da histó ria brasileira: a abdicaçã o de Pedro I.
VOZES DO PRESENTE
O primeiro terço do século XIX marcou profundamente a histó ria econô mica do Brasil pela
combinaçã o de dois movimentos fundamentais. Um era universal: a implantaçã o mundial do
capitalismo como modo de produçã o. Outro, local: a construçã o de um Estado nacional em
meio a esse processo. Em trinta anos, tudo mudou. [...]
[...] A ligaçã o entre grandes centros e o mercado interno [...] tinha base no trá fico de escravos.
Começando pelo Rio de Janeiro, nas décadas de 1790 e 1800, desembarcaram na cidade cerca
de 10 mil escravos por ano, nú mero que dobrou a partir da vinda da corte portuguesa; [...]. Mas
essa era uma atividade para poucos. Embora haja registros de 279 traficantes operando entre
1811 e 1830, apenas as 13 maiores empresas [...] eram responsá veis por 42,1% do total de
viagens. A mesma concentraçã o acontecia em Salvador. [...] No rol das grandes fortunas, em
que estavam os traficantes, havia apenas 37 nomes.
Pá gina 225
era obtida com uma fraçã o relativamente reduzida da produçã o local. Estudos recentes
indicam que algo em torno de 85% da produçã o total brasileira era consumida no mercado
interno, e apenas 15% da produçã o eram destinados à exportaçã o.
Foi nesse cená rio econô mico que, em rá pidos movimentos, ocorreram as grandes
transformaçõ es do capitalismo e a criaçã o do Estado nacional brasileiro. [...]
CALDEIRA, Jorge. O processo econô mico. In: Crise colonial e independê ncia 1808-1830. SILVA, Alberto da Costa
(coord.) Rio de Janeiro: Mafre e Editora Objetiva, 2011; p. 161; 167-169.
a) Que processos histó ricos foram detectados pelo autor nos trinta primeiros anos do século XIX?
b) Que relaçã o o autor estabelece entre trá fico de escravos e riqueza no Brasil colonial?
c) O que se pode concluir sobre o destino da produçã o colonial brasileira com base no texto?
ARAÚ JO, Jurandir de Almeida. Racismo, violência e direitos humanos: pontos para o debate. Disponível em:
<http://www2.faac.unesp.br/ridh/index.php/ridh/articje/download/177/93>. Acesso em: 17 maio 2016.
c) Segundo o autor, de que forma a polícia brasileira se relaciona com os cidadã os e cidadã s?
d) Em dupla. Reflitam e opinem: vocês concordam com o autor quando ele diz que “quanto mais
escura a pele da pessoa, mais suscetível ela está de ser vítima de violência por parte da polícia”?
Justifiquem e postem a conclusã o de vocês no blog da turma.
Pá gina 226
Professor: o texto desta pá gina dupla de abertura chama a atençã o para o fato de que essas comunidades viviam na
invisibilidade: nã o tinham a atençã o do Estado e nem existia nenhum tipo de lei que as protegessem de agressõ es externas
(a cobiça de grileiros, por exemplo). A Constituiçã o Federal reconheceu a propriedade definitiva aos quilombolas, além de
compelir o Estado à emissã o dos títulos. Pode-se comentar també m que a Lei de Terras (1850), assunto desta unidade, foi
em grande parte alterada em favor dos ocupantes das á reas remanescentes dos quilombos; com o Art. 68 e o Art. 216
iniciou-se o processo de recuperaçã o de espaços usurpados, por meios quase sempre violentos, ao longo de sé culos de
histó ria.
››Fonte 1
COMUNIDADES quilombolas de Minas Gerais no século XXI. História e resistência. Organizado por Centro de
Documentaçã o Eloy Ferreira da Silva. Belo Horizonte: Autêntica/CEDEFES, 2008. p. 51.
››Fonte 2
›› Fonte 3
Lineu Kohatsu/Olhar Imagem
Na fonte 2, casa no quilombo Itamatatiua em Alcâ ntara (MA), 2009. A fonte 3 registra a Festa
Marujada no Quilombo Mangal e Barro Vermelho, município Sítio do Mato (BA), 2015.
Pá gina 227
››Fonte 4
Pedro Ladeira/SambaPhoto
››Fonte 5
Sergio Amaral/Olhar Imagem
Fonte 4: comunidade quilombola dos Kalunga, durante festa religiosa no Vã o do Moleque, pró ximo
a Cavalcante (GO), 2006. Fonte 5: agricultura com arado em comunidade quilombola, Pelotas (RS),
2008.
Pá gina 228
Professor: a ideia é partir da comemoraçã o da Semana Farroupilha para estimular o aluno a conhecer as lutas que os
sulistas travaram contra o Impé rio entre 1835 e 1845 e o contexto em que isso ocorreu. Sugerimos trabalhar també m a
memó ria construída em torno da Farroupilha e, ao mesmo tempo, evidenciar os laços que unem o passado ao presente.
Comentar a presença dos Centros de Tradiçõ es Gaú chas (CTGs) em muitos estados brasileiros, chamando a atençã o para a
força da cultura tradicional gaú cha no Brasil como um todo. Lembrar que no fechamento da Semana Farroupilha ocorrem
desfiles, a cavalo ou em charretes, que reú nem em todo o Rio Grande do Sul milhares de pessoas trajando as vestimentas
típicas – os homens usam bombachas, botas, lenços e chapé us de aba larga; e as mulheres usam vestidos de prenda, rodados
e coloridos, e flores nos cabelos.
Regências: a unidade
Capítulo 12
ameaçada
Leia com atençã o esta notícia.
Joel Vargas/PMPA
Milhares de pessoas passaram na manhã deste domingo, 20, pela avenida Edvaldo Pereira
Paiva (Beira-Rio) para prestigiar o tradicional desfile cívico do 20 de Setembro. Neste ano, o
festejo trouxe como tema O Campeirismo e os 180 anos da Revoluçã o Farroupilha. […]
A Fundaçã o Cultural Gaú cha e o Movimento Tradicionalista Gaú cho, responsá veis pela
iniciativa, levaram para a avenida mais de mil voluntá rios, artistas amadores, [...] que
apresentaram a teatralizaçã o do tema desta ediçã o. Os voluntá rios integram Centros e
Departamentos de Tradiçã o Gaú cha (CTGs e DTGs), além de piquetes e grupos ligados ao
tradicionalismo.
[...] coreó grafos [...] coordenaram o espetá culo de teatro a céu aberto. […] cerca de 800
cavalarias e 55 entidades tradicionalistas participaram do desfile cívico.
[…]
BARROS, Bibiana. Desfile Farroupilha comemora os 180 anos da Revolução. Porto Alegre: Prefeitura de Porto Alegre,
2015. Disponível em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/acampamentofarroupilha/default.php?p_noticia=
180946&DESFILE+FARROUPILHA+COMEMORA+OS+180+ANOS+DA+REVOLUCAO>. Acesso em: 11 abr. 2016.
Pá gina 229
Vimos que, ao se ver isolado politicamente e sob forte pressã o popular, D. Pedro I
abdicou, em 1831, em favor de seu filho Pedro de Alcâ ntara, que tinha apenas 5
anos de idade.
O avanço liberal
No dia da abdicaçã o, a Assembleia estava em recesso, por isso os poucos deputados
e senadores que estavam no Rio de Janeiro só puderam escolher regentes
provisó rios. Em junho de 1831, a Assembleia elegeu o brigadeiro Francisco de
Lima e Silva, além dos deputados Joã o Brá ulio Muniz e José da Costa Carvalho, para
compor a Regência Trina Permanente. O Ministério da Justiça foi entregue ao
padre paulista Diogo Antô nio Feijó .
Pá gina 230
Só podiam fazer parte da Guarda Nacional cidadã os proprietá rios; brasileiros com
idade entre 21 e 60 anos e renda mínima de 200 mil réis nas quatro maiores
cidades e de 100 mil réis no resto do país.
Romulo Fialdini/Tempo Composto
DIALOGANDO...
b) No tempo das Regências, eram comuns o mandonismo local e o uso privado de cargo
público. No Brasil de hoje isso ainda acontece?
Professor:
a) a intençã o do governo era armar cidadã os considerados confiá veis (leia-se: dispostos a reprimir as revoltas populares).
b) A intençã o é levar os alunos a refletir sobre o presente e a se posicionar, aprendendo a argumentar e a contestar
argumentaçõ es.
Aos fazendeiros mais ricos foi concedida a patente de coronel da Guarda Nacional,
a mais alta de todas elas. Cada um deles organizava um destacamento com homens
de sua confiança e com recursos pró prios, conseguindo com isso um grande poder
local.
Coronel: nome dado aos ricos fazendeiros que chefiavam a Guarda Nacional e tinham grande poder político
nas suas localidades.
Juiz de paz: magistrado nã o remunerado e sem formaçã o profissional específica, eleito localmente em cada
distrito.
»» aboliu o Conselho de Estado, ó rgã o bastante impopular que tinha sido criado
por D. Pedro I, mas conservou a vitaliciedade do Senado;
Pá gina 231
1. Dica! Vídeo didático explicando o que foi e como foi aplicado o Ato Adicional de 1834.
[Duração: 7 minutos.] Acesse: <http://tub.im/7j6z8m>.
Diogo Antô nio Feijó (1784-1843) foi padre, deputado, senador e ministro da Justiça. Foi o primeiro
chefe do poder Executivo brasileiro a ser escolhido em eleiçã o nacional. Era líder da ala
progressista do grupo moderado, favorá vel à descentralizaçã o política (maior autonomia para as
províncias). Outra de suas bandeiras foi a luta contra o celibato clerical.
Durante seu governo, Feijó teve de enfrentar vá rios desafios, entre os quais a
eclosã o de duas das maiores rebeliõ es regenciais: a Cabanagem, no Norte, e a
Farroupilha, no Sul. Para reprimir essas rebeliõ es nas províncias, Feijó precisava
de recursos que deveriam ser aprovados pela Câ mara dos Deputados, porém a
maioria dessa Câ mara movia uma pesada oposiçã o contra ele, que nada podia fazer
pois o Ato Adicional de 1834 nã o o autorizava a dissolvê-la.
Anticelibatário: contrá rio a que os padres se mantivessem solteiros. Feijó era de fato favorá vel ao
casamento dos padres, tema que gerou grande polêmica na época e lhe rendeu vá rios adversá rios.
2. Dica! Vídeo sobre o governo do padre Feijó e as forças políticas atuantes no Brasil da época.
[Duração: 9 minutos.] Acesse: <http://tub.im/nendqk>.
Seu sucessor legal, Pedro de Araú jo Lima, era, além de um político experiente e
formado em Coimbra, senhor de engenho em Pernambuco e politicamente
conservador. Ele, que no ano seguinte foi eleito regente com mais de 4 mil votos,
também era radicalmente contrá rio à descentralizaçã o política; por isso deu início
ao Regresso, uma política de fortalecimento do poder central que tinha o apoio de
representantes da cafeicultura e dos grandes comerciantes do Sudeste.
Pá gina 232
Desenho aquarelado, de 1860, que mostra o figurino do uniforme dos membros efetivos do
Instituto Histó rico e Geográ fico do Brasil. O modelo era o do Instituto Histó rico de Paris, que serviu
de inspiraçã o para o brasileiro.
Pá gina 233
» a Cabanagem (1835-1840);
» a Balaiada (1838-1841).
A Cabanagem
Insurreição de escravos e rebeliões sociais nas Regências
Allmaps
Fonte: ATLAS histó rico IstoÉ : Brasil 500 anos. Sã o Paulo: Editora Três, 1998. p. 57.
Editoria de arte
Fonte de pesquisa: FAZOLI FILHO, Arnaldo. O período regencial. 2. ed. Sã o Paulo: Á tica, 1994. p. 55.
A economia do Grã o-Pará baseava-se na exploraçã o das drogas do Sertã o
(castanha-do-pará , cacau, baunilha), de madeiras e de ervas medicinais e na pesca.
Os trabalhadores da regiã o eram, em sua maioria, muito pobres, viviam em
cabanas e trabalhavam para os fazendeiros ou para os comerciantes portugueses e
ingleses, que controlavam o comércio na regiã o. Boa parte desses comerciantes
residia em Belém, onde era forte o antilusitanismo e o sentimento de revolta
contra as condiçõ es de trabalho e o alto custo de vida.
Pá gina 234
Ricardo Oliveira/Tyba
Dos tempos da Cabanagem para cá, a á rea correspondente ao Grã o-Pará mudou muito, como se
pode ver na fotografia acima, que capta uma vista noturna do bairro Nossa Senhora das Graças, em
Manaus (AM), em junho de 2015.
Lula Sampaio/Opçã o Brasil Imagens
Mas ao longo do rio Negro continuam existindo palafitas (veja imagem acima, em uma fotografia
também atual), construçõ es semelhantes à quelas em que os cabanos viviam.
Reagindo a essa situaçã o, em 1835, homens ricos e influentes, aliados aos cabanos,
invadiram o Palá cio do Governo, em Belém, e entregaram a chefia do primeiro
governo cabano ao fazendeiro Félix Melcher. Iniciava-se assim a Cabanagem.
Melcher, porém, traiu o movimento e prometeu fidelidade ao futuro imperador.
Diante disso, outro líder da revolta, Francisco Vinagre, venceu Melcher pelas armas
e assumiu o segundo governo cabano.
O governo do padre Feijó , por sua vez, enviou ao Grã o-Pará , em 1836, uma
esquadra comandada pelo brigadeiro Soares d’Andrea, que retomou a cidade de
Belém. A repressã o à Cabanagem foi brutal. Soares d’Andrea mandou prender e
fuzilar cabanos sem julgamento prévio.
DIALOGANDO
Resposta pessoal. Professor: a questã o visa estimular a reflexã o sobre a noçã o de justiça.
Pá gina 235
Pedro Weingä rtner. Sé c XIX. Ó leo sobre tela. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
Chegou tarde, do artista porto-alegrense de origem alemã Pedro Weingä rtner. A obra mostra o
interior de uma casa do Rio Grande do Sul, no século XIX. Repare nas roupas dos personagens.
1. Dica! Vídeo sobre a Guerra dos Farrapos com contribuição de vários historiadores. [Duração:
25 minutos.] Acesse: <http://tub.im/okw3wf>.
2. Dica! Cenas de minissérie que tem como pano de fundo a Guerra dos Farrapos. [Duração: 4
minutos.] Acesse: <http://tub.im/oxfwoz>.
Em 1836, apó s importantes vitó rias sobre as tropas legalistas, os farroupilhas
proclamaram a República Rio-Grandense.
Pá gina 236
Painel Epopeia Rio-Grandense, Missioneira e Farroupilha, em Porto Alegre (RS), 2012. Esta obra de
Danú bio Gonçalves é uma homenagem à cavalaria e ao líder farroupilha Bento Gonçalves, figuras
decisivas do movimento que agitou o sul do Brasil no século XIX. A cavalaria foi a principal arma
dessa luta prolongada.
Entã o, para pô r fim à guerra, Caxias, que representava o braço armado do Império,
propô s a chamada “paz honrosa”. Por meio deste acordo de paz assinado em 1845:
»» os rio-grandenses ganharam o direito de escolher seus presidentes de
província;
1. Dica! Vídeo pedagógico em que uma avó ensina a sua neta sobre a Guerra dos Farrapos.
[Duração: 11 minutos.] Acesse: <http://tub.im/i3fnxz>.
2. Dica! Reportagem sobre o Museu de Piratini (RS) apresentando importantes fontes escritas e
materiais para o estudo da Guerra dos Farrapos [Duração: 9 minutos.] Acesse:
<http://tub.im/cv2dpk>.
DIALOGANDO
Resposta pessoal. Professor: lembrar que o governo imperial atendeu a vá rias exigê ncias dos farroupilhas.
Para refletir
A participação negra na Guerra dos Farrapos
[...]
Pá gina 237
Estima-se que em alguns momentos os lanceiros negros, como ficaram conhecidos estes
soldados, tenham representado metade do exército rio-grandense. O africano José, de naçã o
angola, foi um desses homens que sonharam em conquistar a liberdade pegando em armas. [...]
[...]
Somente nos ú ltimos anos a importâ ncia e a dimensã o da participaçã o negra neste conflito têm
recebido maior atençã o. Hoje é possível afirmar com segurança que negros, índios e mestiços
desempenharam papel fundamental na Guerra dos Farrapos nã o somente como soldados, mas
também trabalhando em diversos outros setores importantes da economia de guerra, como
nas estâncias de gado, na fabricaçã o de pó lvora e nas plantaçõ es de fumo e erva-mate
cultivadas pelos rebeldes.
Apesar das promessas, em nenhum momento a Repú blica Rio-Grandense libertou seus
escravos. A questã o da aboliçã o era controversa entre seus líderes. Ao mesmo tempo em que o
governo rebelde prometia liberdade aos escravos engajados e condenava a continuidade do
trá fico de escravos, seu jornal oficial, O Povo, estampava anú ncios de fugas de cativos. Houve
uma tentativa de aboliçã o por meio de projeto apresentado na Assembleia Constituinte de
1842 por José Mariano de Mattos (1801-1866), que foi recusado. Anos apó s o fim do conflito,
vá rios líderes farroupilhas ainda tinham escravos, como Bento Gonçalves (1788-1847), que
morreu deixando 53 cativos para seus herdeiros.
[...]
OLIVEIRA, Vinicius Pereira de; SALAINI, Cristian Jobi. Escravos farrapos. Revista de História, Rio de Janeiro, 19 nov.
2010. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/escravos-farrapos>. Acesso em:
7 maio 2016.
Retrato de um Lanceiro Negro, de Juan Manuel Blanes (1830-1901). Pesquisas recentes apontam
para uma intensa participaçã o de negros na Guerra dos Farrapos.
a) Sim, pois os escravizados aderiram à causa farroupilha mediante a promessa de que, ao final do conflito, eles obteriam a
liberdade.
b) “A questã o da aboliçã o era controversa entre seus líderes. Ao mesmo tempo em que o governo rebelde prometia
liberdade aos escravos engajados e condenava a continuidadedo trá fico de escravos, seu jornal oficial, O Povo, estampava
anú ncios de fugas de cativos.”
c) Debata, reflita e responda: o que explica o “silêncio demorado” em torno da
participaçã o dos negros na Guerra dos Farrapos?
c) Esse silê ncio demorado no tocante à participaçã o dos negros pode ser associado ao predomínio de uma histó ria
eurocê ntrica de vié s positivista, seja nos estudos acadê micos, seja nos livros escolares brasileiros. A invisibilidade dos
negros e a recusa em vê-los como sujeitos histó ricos sã o desdobramentos do predomínio dessa abordagem na histó ria
escrita e ensinada no Brasil.
d) Resposta pessoal.
Pá gina 238
Aquarela representando Gezo, personagem que havia sido rei do Daomé (atual Benin, na Á frica).
Entre os africanos escravizados trazidos para o Brasil havia líderes religiosos, políticos e militares,
e até mesmo reis, a exemplo deste representado na imagem.
Joã o José Reis
Acima, vista interna de uma loja, década de 1990, isto é, porã o de um sobrado. Em uma dessas lojas,
no centro de Salvador, viviam os africanos libertos Manuel Calafate e Aprígio, ambos de origem
iorubá e líderes da Revolta Escrava de 1835. Fotografia de Joã o José Reis.
Dica! Vídeo sobre a matriz afro na formação da cidade de Salvador. [Duração: 23 minutos].
Acesse: <http://tub.im/85h5uo>.
Vodum: nome dado às divindades nos cultos jejes; equivalente a inquice, na cultura angola, e orixá , no Ketu.
O culto malê era uma combinaçã o de elementos das religiõ es africanas e dos
princípios muçulmanos contidos no Corão (o livro sagrado dos muçulmanos). Os
malês nã o comiam carne de porco, jejuavam à s sextas-feiras e, uma vez por ano,
faziam uma dieta especial à base de inhame, língua de vaca, arroz, leite e mel. O
tempo de duraçã o desse sacrifício é conhecido como Ramadã (mês do jejum
muçulmano).
Pá gina 239
Dica! Vídeo produzido pelo Centro de Memória da Bahia sobre a Revolta dos Malês. [Duração: 9
minutos]. Acesse: <http://tub.im/hk7oy3>.
Acima, Festa do Nosso Senhor do Bonfim, no Benin, Á frica, 2011. Essa festa organizada por
descendentes de brasileiros, os agudá s, foi levada para a Á frica por negros que haviam sido
escravizados no Brasil
Max Haack/Prefeitura de Salvador
Aspecto da Festa do Senhor do Bonfim, na Bahia, 2015. O ritual, que se repete todos os anos desde
1754, reú ne milhares de pessoas e acontece sempre na segunda quinta-feira posterior ao Dia de
Reis, no mês de janeiro.
A Sabinada
Na Bahia, era grande a insatisfaçã o com a política centralizadora do governo
instalado no Rio de Janeiro. Os principais motivos dessa insatisfaçã o eram: o envio
obrigató rio de rendas para o Rio de Janeiro; a necessidade de fornecer soldados
para lutar no Sul; e a prolongada crise de abastecimento que provocava carestia e
fome.
Pá gina 240
Praça da Piedade, tendo ao fundo o Convento de Nossa Senhora da Piedade, em Salvador. Produzida
por J. M. Rugendas, a imagem mostra vá rios grupos da sociedade baiana da época da Sabinada.
Em detalhe, acima, cadeirinha de arruar, usada para o transporte de pessoas. Em estilo rococó , com
assento de madeira, cabeceira de couro, almofada, essa cadeira encontra-se no Museu Paulista da
Universidade de Sã o Paulo.
A Balaiada
Ocorrida nas terras do atual Maranhã o e do Piauí, entre 1838 e 1841, a Balaiada
teve suas raízes na luta da populaçã o pobre contra a opressã o, na luta dos políticos
provinciais por autonomia em relaçã o ao Império, nos conflitos por hegemonia na
respectiva província e também nas dificuldades econô micas enfrentadas pelo
Nordeste no período regencial.
Pá gina 241
Este enviou para o Maranhã o cerca de 8 mil homens sob o comando de Luís Alves
de Lima e Silva. A repressã o ao movimento efetuou torturas, prisõ es e milhares de
execuçõ es sem direito à defesa. Calcula-se que cerca de 11 mil balaios tenham
morrido em combate com as tropas imperiais. Quanto aos líderes, Manuel
Francisco dos Anjos morreu lutando, Raimundo Gomes foi expulso do Maranhã o e
Cosme Bento das Chagas acabou preso e enforcado em praça pú blica para servir de
exemplo aos que ousassem desafiar as elites imperiais.
Dica! Reportagem sobre a importância histórica da Balaiada nos dias atuais. [Duração: 4
minutos.] Acesse: <http://tub.im/ygusg7>.
Acima, no jardim do Memorial, vê-se a estátua do vaqueiro Raimundo Gomes. Repare que a obra
está protegida por uma cerca, provavelmente porque depredaçõ es de monumentos têm sido
comuns em todo o Brasil. Fotografia de 2014.
Moisé s Saba/Fotoarena
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (UFMG – 2013) Leia o trecho:
O sete de abril de 1831, mais do que o sete de setembro de 1822, representou a verdadeira
independência nacional, o início do governo do país por si mesmo, a Coroa agora representada
apenas pela figura quase simbó lica de uma criança de cinco anos. O governo do país por si
mesmo [...] revelou-se difícil e conturbado. Rebeliõ es e revoltas pipocaram por todo o país,
algumas lideradas por grupos de elite, outras pela populaçã o tanto urbana como rural, outras
ainda por escravos.
CARVALHO, J. Murilo et al. Documentação política, 1808-1840. Brasiliana da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro:
Fundaçã o Biblioteca Nacional/Nova Fronteira, 2011. s/p.
a) Explique o sentido da frase considerando o seu contexto histó rico: “a Coroa agora representada
apenas pela figura quase simbó lica de uma criança de cinco anos”.
1. a) Em 1831, D. Pedro I abdicou do trono em favor de seu filho Pedro de Alcâ ntara, que tinha apenas 5 anos de idade. Esse
momento representou a consolidaçã o de um processo de rompimento com a Coroa portuguesa, uma vez que o Brasil passou
a ser governado por brasileiros.
b) Apresente dois fatores que contribuíram para as conturbaçõ es políticas e sociais que levaram à s
rebeliõ es e à s revoltas do período.
1. b) Entre os fatores que contribuíram para as conturbaçõ es políticas e sociais do período podemos citar a luta de indígenas,
mestiços, negros e brancos pobres por liberdade e melhores condiçõ es de vida e o desejo de as elites das províncias terem
maior autonomia diante do poder imperial.
a) funcionava como ú nica força armada que podia defender os interesses dos escravistas e coibir a
fuga dos escravos.
d) atuava na defesa das fronteiras externas brasileiras, impedindo a expansã o dos países platinos
em direçã o ao territó rio brasileiro.
2. Resposta: c.
3. (UFRGS-RS – 2014) Durante a regência de Araú jo Lima (1837-1840), foram criadas algumas
instituiçõ es político-culturais, com o objetivo de produzir uma histó ria da naçã o, que conferisse aos
brasileiros um sentimento de pertencimento e de nacionalidade, e assim de auxiliar na
centralizaçã o e fortalecimento do Estado.
a) a Guarda Nacional.
3. Resposta: b.
4. (UFC-CE) O período regencial brasileiro (1831- 1840) foi marcado por rebeliõ es e revoltas, em
vá rias províncias, que expressavam as diferentes lutas políticas e sociais. Em relaçã o à composiçã o
dos grupos que participaram da Cabanagem (1835-1840), assinale a alternativa correta.
a) As elites agrá rias atuaram no movimento, defendendo uma partilha de terras que incluísse os
camponeses.
Pá gina 243
d) Os militares revoltosos lutaram contra as elites, pois eram a favor da aboliçã o da escravatura.
e) Os elementos oriundos das camadas mais pobres tiveram papel de destaque na liderança do
movimento.
4. Resposta: e.
5. (Unesp-SP) A Revoluçã o Farroupilha foi um dos movimentos armados contrá rios ao poder
central no Período Regencial brasileiro (1831-1840). O movimento dos Farrapos teve algumas
particularidades, quando comparado aos demais.
Em nome do povo do Rio Grande, depus o governador Braga e entreguei o governo ao seu
substituto legal Marciano Ribeiro. E em nome do Rio Grande do Sul eu lhe digo que nesta
província extrema [...] não toleramos imposiçõ es humilhantes, nem insultos de qualquer
espécie. [...] O Rio Grande é a sentinela do Brasil, que olha vigilante para o Rio da Prata. Merece,
pois, maior consideraçã o e respeito. Nã o pode e nem deve ser oprimido pelo despotismo.
Exigimos que o governo imperial nos dê um governador de nossa confiança, que olhe pelos
nossos interesses, pelo nosso progresso, pela nossa dignidade, ou nos separaremos do centro e
com a espada na mã o saberemos morrer com honra, ou viver com liberdade.
Bento Gonçalves [carta ao Regente Feijó , setembro de 1835] apud Sandra Jatahy Pesavento. A Revolução
Farroupilha, 1986.
a) o desejo rio-grandense de maior autonomia política e econô mica da província frente ao poder
imperial, sediado no Rio de Janeiro.
b) a incorporaçã o, ao territó rio brasileiro, da Província Cisplatina, que passou a concorrer com os
gaú chos pelo controle do mercado interno do charque.
c) a dificuldade de controle e vigilâ ncia da fronteira sul do império, que representava constante
ameaça de invasã o espanhola e platina.
e) a destruiçã o das lavouras gaú chas pelas guerras de independência na regiã o do Prata e a
decorrente reduçã o da produçã o agrícola no Sul do Brasil.
5. Resposta: a.
O balaio entrou!
O balaio entrou!
Cadê o branco?
Nã o há mais branco!
Nã o há mais branco!
SOARES, Claudete Maria Miranda Dias. Balaios e bem-te-vis: a guerrilha sertaneja. Teresina: Instituto Dom Barreto,
2002. p. 117.
6. Os versos sugerem que a luta dos balaios se voltou também contra o escravismo e o racismo presentes na sociedade
maranhense daquela é poca. [Como observou uma historiadora: “Em seu momento de maior radicalizaçã o, os balaios vã o
priorizar a reivindicaçã o de direitos iguais para o ‘povo de cor’ (tanto ‘cabras’ quanto ‘caboclos’) [...]” (MATTOS, Hebe Maria.
Escravidã o e cidadania no Brasil moná rquico. p. 28).]
II. Integrando com Língua Portuguesa
O Romantismo é um estilo de arte que fez sua estreia no Brasil em 1836 com a obra Suspiros
poéticos e saudades, do carioca Gonçalves de Magalhã es. Na época, o Brasil vivia sob a regência do
padre Feijó ; e no campo da cultura buscava afirmar sua independência. Veja o que se diz sobre o
início do Romantismo no Brasil:
Pá gina 244
Esse viés [...] caracterizou os poemas da primeira fase do Romantismo e se manifestou também
em inú meros romances indianistas publicados ao longo do século XIX. Assim, a literatura
româ ntica ajudou a determinar e difundir os símbolos representativos da jovem naçã o
brasileira, que recentemente havia conseguido sua liberdade política da metró pole
portuguesa, em 1822.
TORRALVO, Izeti Fragata; MINCHILLO, Carlos Cortez. Linguagem em movimento. Sã o Paulo: FTD, 2010. p. 32.
DIAS, Gonçalves. Poesia completa e prosa escolhida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1959. p. 103.
b) Trechos da “Cançã o do exílio” foram incorporados ao Hino Nacional. Você saberia dizer quais?
d) Em dupla: A “Cançã o do exílio”, de Gonçalves Dias, é o poema româ ntico mais citado e
parodiado (reescrito com intençã o satírica) da literatura brasileira. Pesquisem e transcrevam um
exemplo dessa afirmaçã o.
Pá gina 245
Modernização, mão de
Capítulo 13
Vista externa da casa-grande da Fazenda Boa Vista, 2011. Na fotografia é possível observar seus
vá rios cô modos.
Vista do interior da casa-grande da Fazenda Boa Vista, em Bananal, cidade do Vale do Paraíba
paulista, 2011.
Professor: essa e outras centenas de fazendas do Vale do Paraíba sã o documentos materiais do enorme poder que os
cafeicultores da regiã o tiveram nos tempos do Impé rio. Em geral, o capital empregado na construçã o ou reconstruçã o dessas
casas era originá rio da venda de café para o exterior, café este produzido e transportado por africanos escravizados trazidos
aos milhares pelo trá fico atlântico. Sugerimos comentar que a Fazenda Boa Vista é um importante ponto turístico do Vale do
Paraíba na atualidade.
Pá gina 246
Imagem de Dom Pedro com 12 anos de idade; repare que, antes mesmo de assumir o trono, ele é
mostrado como comandante em chefe das Forças Armadas. Dois anos depois, com 15 anos
incompletos, ele assumiu o poder.
O golpe da maioridade
Interessados em derrubar os conservadores e manter privilégios ameaçados por
rebeliõ es, como a Balaiada e a Farroupilha, os liberais passaram a divulgar que só
um imperador poderia “salvar a naçã o” da desordem. Como Pedro de Alcâ ntara
contava com apenas 14 anos, eles lançaram uma campanha em jornais e revistas
em prol da antecipaçã o da maioridade, que logo ganhou o apoio de boa parte da
populaçã o.
Justiça: pela Reforma do Có digo do Processo Criminal, aprovada em 3 de dezembro de 1841, o ministro da
Justiça – como representante do imperador – passava a ser responsá vel pela nomeação dos chefes de polícia,
dos comandantes da Guarda Nacional e de quase todos os magistrados.
DIALOGANDO
b) A charge ironiza o uso da violê ncia nas disputas entre liberais e conservadores. Professor: comentar que a violê ncia e a
fraude foram usadas tanto pelos liberais quanto pelos conservadores.
Pá gina 247
Dica! Reportagem sobre o município de Silveiras (SP), palco de algumas revoltas liberais de 1842.
[Duração: 2 minutos]. Acesse: <http://tub.im/xq3xmr>.
A Rebelião Praieira
Em Pernambuco, durante boa parte da histó ria do Império, o poder esteve nas
mã os das famílias tradicionais. Duas dessas famílias, os Rego-Barros e os
Cavalcanti, unidas por laços de parentesco, governaram a província de 1837 a
1844. Durante esse período, usaram o poder pú blico em favor de seus interesses,
além de colocar seus familiares nos principais cargos pú blicos, gerando assim
grande descontentamento popular.
Cavalcanti: eram donos de um terço dos engenhos pernambucanos. Havia pessoas dessa família tanto no
Partido Liberal quanto no Conservador que, em Pernambuco, tinha seus membros apelidados de gabiru (rato
grande).
Esta gravura do século XIX é um indício de que a sociedade pernambucana dos tempos da
Revoluçã o Praieira era altamente hierarquizada. Ao centro, vemos escravizados trabalhando
descalços. Na calçada da esquerda, um bacharel com fraque e cartola; na da direita, um homem, que
parece ser um fazendeiro, conversando com uma senhora da elite.
Pá gina 248
Praia, no Recife. Outros impressos, como o jornal O Repúblico, de Antô nio Borges
da Fonseca, e a revista O Progresso, de Antô nio Pedro de Figueiredo, também
clamavam por mudanças sociais.
Em 1848, quando 40 proprietá rios rurais, ligados aos praieiros, foram demitidos e
recusaram-se a entregar os cargos na polícia e as armas, teve início a Revolução
Praieira. O motivo imediato da Praieira, portanto, foi a disputa de cargos pú blicos
na província de Pernambuco: a luta pelo poder local. A luta começou em Olinda e
se estendeu à Paraíba, reunindo trabalhadores temporá rios, pequenos lavradores,
rendeiros e desempregados sob o comando dos senhores de engenho.
No campo militar, os praieiros comandados pelo capitã o Pedro Ivo, por Felix de
Brito Melo ou pelo crioulo Elias, líderes populares da revolta, conseguiram
algumas vitó rias. Ao tentarem conquistar Recife, no entanto, foram derrotados
pelas tropas imperiais. Os principais líderes foram condenados à prisã o perpétua,
mas acabaram anistiados em 1852. Com a Praieira encerrou-se, por assim dizer, o
ciclo de revoltas ocorridas no Império entre 1831 e 1850, e teve início um período
marcado por progresso econô mico e certa estabilidade política.
Presidente do Conselho de Ministros: cargo equivalente ao de primeiro-ministro que foi criado por D.
Pedro II em 1847.
Pá gina 249
Angelo Agostini. 1886. Desenho. Coleçã o particular
Imagem de Dom Pedro II distribuindo favores a políticos: prá tica habitual no Império brasileiro.
Saquarema: apelido dado aos conservadores, em funçã o do município fluminense de Saquarema, no qual os
líderes do partido tinham terras e escravizados.
Luzia: apelido dado aos liberais por ter sido Santa Luzia (MG) o lugar em que eles sofreram sua maior
derrota, em 1842.
Havia também algumas diferenças entre eles: os liberais eram favorá veis à
descentralizaçã o e à maior autonomia das províncias. Já os conservadores
defendiam a centralizaçã o política como condiçã o para impor a ordem. No entanto,
as semelhanças entre eles eram maiores que as diferenças. Prova disso é que,
durante o Segundo Reinado, liberais e conservadores chegaram a governar juntos,
compondo um mesmo ministério: o Ministério de Conciliação (1853-1857). Esse
jogo de alternâ ncias e alianças contribuiu para a estabilidade e a longevidade do
Império.
Economia do Segundo Reinado
A partir de 1834 – quando superou o açú car como principal produto de exportaçã o
brasileiro –, o café uniu o centro político ao centro econô mico, contribuindo, assim,
para a consolidaçã o do Estado imperial.
Dica! Documentário sobre os imigrantes nas plantações de café no norte do Paraná. [Duração
total: 19 minutos]. Dividido em duas partes. Para a primeira parte, acesse:
<http://tub.im/wb6ipr>.
Pá gina 250
Thomas Crane. 1882. Desenho. Coleçã o particular. Foto: Culture Club/Getty Images
Desenho de 1882 mostrando uma família inglesa, em férias, tomando café ao ar livre em um parque
de Paris, na França; note que o garçom serve a família que, pelos trajes, parece ser rica.
A expansã o da cafeicultura no Vale do Paraíba pode ser explicada pelos seguintes
fatores:
A imagem, de cerca de 1885, mostra escravizados com peneiras e outros instrumentos de trabalho
saindo para a colheita de café em fazenda do Vale do Paraíba.
Pá gina 251
O Vale do Paraíba foi pró spero enquanto produziu café. Em pouco tempo, o
desmatamento e a erosã o (desgaste da terra pela açã o da á gua das chuvas e outros
agentes) foram esgotando o solo. Nessa regiã o, os arbustos de café eram plantados
em terrenos altos e muito inclinados. Sem a proteçã o das á rvores na época das
chuvas, a enxurrada acabava arrastando a camada fértil do solo. Conforme o solo ia
se esgotando, os cafezais seguiam em busca de terras férteis. Partiam, deixando
para trá s “cidades mortas”, como escreveu Monteiro Lobato.
2. Dica! Documentário que aborda o impacto da produção do café na São Paulo do século XIX.
[Duração: 27 minutos]. Acesse: <http://tub.im/kqfwuc>.
Allmaps
Fonte: RODRIGUES, Joã o Antonio. Atlas para Estudos Sociais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1977. p. 26.
Acompanhe a expansã o das fazendas de café durante os séculos XIX e XX. Em 1819, o Nordeste
concentrava 51,2% da populaçã o escravizada do país; em 1870, a maioria dos escravizados (quase
60%) trabalhava no Sudeste.
Pá gina 252
Outros importantes produtos brasileiros de exportaçã o no século XIX, além do café,
foram o açú car, o algodã o, couros, peles e a borracha.
Fonte de pesquisa: FAUSTO, Boris. História do Brasil. 6. ed. Sã o Paulo: Edusp, 1998. p. 191.
Modernização no Império
Um dos fatores de modernizaçã o do Império na segunda metade do século XIX foi a
construçã o de uma malha ferroviá ria que agilizou o transporte de mercadorias
brasileiras até os portos do litoral. Com apenas 14 km de extensã o, a primeira
ferrovia foi uma iniciativa do empresá rio brasileiro Irineu Evangelista de Souza, o
Barã o de Mauá , em 1854, e ligava a baía de Guanabara à Serra de Petró polis, no Rio
de Janeiro. No Nordeste, a necessidade de escoamento da produçã o agrícola,
sobretudo a de açú car, estimulou um empreendimento
Pá gina 253
Café e ferrovias
Já no Centro-Sul, quase toda a malha ferroviá ria foi construída visando ao
escoamento do café. Pensando em agilizar o transporte desse produto, o Barã o de
Mauá planejou a construçã o de uma ferrovia ligando Jundiaí a Santos, passando
pela cidade de Sã o Paulo. O plano de Mauá se concretizou em 1868, com a
inauguraçã o da São Paulo Railway. Os capitais, os técnicos e os materiais usados
na construçã o dessa importante ferrovia eram, no entanto, predominantemente
ingleses.
São Paulo Railway: ela foi chamada também de Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.
A partir de Jundiaí, o avanço dos trilhos foi inteiramente financiado por capitais
brasileiros, principalmente dos cafeicultores do Oeste Paulista, que pensavam
como empresá rios: compravam terras, importavam má quinas e investiam na
expansã o das ferrovias.
Trecho da Sã o Paulo Railway, no topo da Serra do Mar em uma fotografia de Marc Ferrez, 1895. No
quarto mês de funcionamento, a ferrovia já permitia aos ingleses um lucro de 300%. Com a
construçã o da Santos-Jundiaí, os ingleses garantiram uma posiçã o estratégica que lhes assegurava o
controle do escoamento de todo o café produzido no interior paulista.
Pá gina 254
Dica! Vídeo didático explicando a Lei Eusébio de Queirós. [Duração: 3 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/y7ew3w>.
Rpresentaçã o do barã o de Mauá, empresá rio pioneiro em vá rias á reas de negó cio no Brasil
imperial.
Acima, a casa desse barã o em Petró polis (RJ), que hoje abriga a Secretaria de Educaçã o da cidade,
2012.
Pá gina 255
Sé c. XIX. Gravura. Coleçã o particular. Foto: Acervo Iconografia
Tumbeiro (nome dado aos navios negreiros usados no Brasil por causa da alta taxa de mortalidade
dos escravizados transportados) sendo atacado pela marinha inglesa, em uma gravura do século
XIX.
»» 1827: A Inglaterra exigiu que o governo de Dom Pedro I extinguisse o trá fico
negreiro no prazo de três anos, como condiçã o para reconhecer a emancipaçã o
política do Brasil.
»» 1831: Uma lei brasileira declara ilegal o comércio de escravizados para o Brasil.
Essa lei, no entanto, permaneceu letra morta, isto é, sem valia.
»» 1845: O Parlamento inglês aprovou a Bill Aberdeen, lei proposta pelo ministro
inglês George Aberdeen que autorizava a Marinha inglesa a prender ou
bombardear os navios negreiros, e a levar os contraventores para serem julgados
na Inglaterra. A Bill Aberdeen foi uma represá lia à Tarifa Alves Branco, que elevava
as taxas sobre os produtos importados e contrariava, assim, os interesses ingleses.
A tabela abaixo mostra o nú mero de escravizados trazidos para o Brasil entre 1845
e 1850. Note que, ao perceber que o trá fico atlâ ntico se aproximava do fim, os
proprietá rios passaram a comprar mais africanos para as suas lavouras.
ANO Nº DE ESCRAVIZADOS
1845 19 453
1846 50 325
1847 56 172
1848 60 000
1849 54 000
1850 23 000
Fonte de pesquisa: COSTA, Emília Viotti. Da senzala à colônia. Sã o Paulo: Unesp, 1998.
Pá gina 256
negreiro para o Brasil. Este passava a ser considerado crime, ato de pirataria, e
como tal seria julgado. A proibiçã o do trá fico, porém, colocava um problema para
os proprietá rios escravistas: quem iria trabalhar para eles quando a escravidã o
fosse extinta? Em um país com muita terra disponível, como fazer para que o
trabalhador nã o se estabelecesse como posseiro?
DIALOGANDO
Atualmente o Brasil continua sendo um país em que a terra se encontra concentrada nas
mãos de poucos?
Sim; segundo dados do Incra, a concentraçã o de terras aumentou no Brasil em anos recentes. Entre 2010 e 2014, as grandes
propriedades privadas passaram de 238 milhõ es para 244 milhõ es de hectares. Quase a metade das propriedades rurais está
nas mã os dos grandes fazendeiros.
Dica! Animação explicando o tráfico escravista durante os séculos XVII, XVIII e XIX. [Duração: 4
minutos]. Acesse: <http://tub.im/x6n4tk>.
Para refletir
O quadro a seguir, chamado por alguns de A redençã o de Cam e, por outros, de A
marca de Caim, é de autoria de Modesto Brocos y Gomez. A obra é uma pintura a
ó leo e data de 1895.
Modesto Brocos y Gomez. 1895. Ó leo sobre tela. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
a) A avó negra, cuja filha é mestiça, agradece a Deus pelo fato de o seu neto ter nascido branco, isto é , por ter a cor da pele do
pai dele.
b) A intençã o do artista neste quadro é mostrar que a criança branca veio redimir a sua família da “marca de Caim”, isto é , da
cor negra. O bebê puxou ao pai: nã o traz na pele a cor da avó e nem a de sua mã e. Isto explica as mã os erguidas da avó .
c) Segundo ele, em 100 anos, a contar de 1910, a populaçã o brasileira seria totalmente branca, por meio de intensa
miscigenaçã o; assim, os negros e os mestiços desapareceriam das terras brasileiras.
d) Segundo a projeçã o feita pelo IBGE em janeiro de 2016 a populaçã o brasileira é de 205.416.315 habitantes, e os negros e
pardos somam 53,6% da populaçã o.
e) Em grupo. O Brasil é um país que apresenta uma rica diversidade étnica e
cultural. Reflitam, debatam e proponham medidas educativas que contribuam para
o respeito à diversidade. Postem o trabalho no blog da turma.
e) Resposta pessoal.
Imigrantes no Brasil
A opçã o pelo imigrante como soluçã o para o problema de mã o de obra estimulou a
vinda de milhares de europeus para o Brasil. O que os impulsionou a virem para cá
no tempo do Império foi a busca de trabalho e o desejo de ter uma terra pró pria.
Eram, em sua maioria, pessoas pobres, que fugiam das guerras e da carência de
terras agricultá veis e vinham para um país jovem, que a propaganda apresentava
como um “paraíso”, com muitas terras e clima saudá vel.
Antô nio Rocco, c. 1910. Ó leo sobre tela. Pinacoteca do Estado, Sã o Paulo. Foto: Nelson Toledo
Pá gina 258
Pá gina 259
Colonos nas fazendas de café
Em 1871, o governo paulista começou a pagar as passagens dos imigrantes que
vinham trabalhar para os cafeicultores. Estes, por sua vez, adotaram um novo
regime de trabalho: o colonato. Os colonos recebiam um salá rio anual, podiam
plantar gêneros alimentícios e criar animais para consumo pró prio e para venda.
Com isso, a imigraçã o, principalmente a italiana, intensificou-se na província de
Sã o Paulo. Enquanto os italianos dirigiam-se para as fazendas de café, os
portugueses e os espanhó is afluíam para as grandes cidades, como Rio de Janeiro,
Sã o Paulo e Salvador, onde atuavam no pequeno comércio, trabalhavam como
artesã os (carpinteiro, ferreiro, sapateiro, alfaiate) ou ainda como operá rios.
Pintura de Rosalbino Santoro intitulada Terreiro de café, 1903. Na tela, o artista recriou o que de
fato acontecia em algumas fazendas: imigrantes dividiam o trabalho com os negros. No canto
superior direito, vemos a casa-grande e o que parece ser uma capela. À esquerda e ao fundo, vemos
as casas dos trabalhadores. Entre os dois trabalhadores à direita, e mais ao fundo, vemos a figura de
um capataz inspecionando o trabalho.
Uma das primeiras foi a colô nia alemã de Sã o Leopoldo, criada em 1824, pró xima
de Porto Alegre. A colonizaçã o alemã também se estendeu a Santa Catarina, onde o
pioneiro Hermann Bruno Otto Blumenau fundou a colô nia Blumenau. Ele se
empenhou em trazer da Alemanha pessoas das mais variadas profissõ es. Os 17
primeiros colonos chegaram a Blumenau em 2 de setembro de 1850, sendo a
maioria deles do meio rural. Dr. Blumenau, como era mais conhecido, tinha uma
ú nica exigência: que todos começassem a vida como pequenos proprietá rios,
artesã os, pequenos comerciantes ou exercendo uma profissã o liberal. Ele nã o
queria ninguém trabalhando como assalariado para um grande proprietá rio. Com
isso, Otto Blumenau ajudou a implantar no Brasil um novo tipo de colonizaçã o,
baseada na pequena propriedade e na policultura. Introduziu também um novo
tipo de mentalidade, divulgando a ideia de que, por meio do trabalho, era possível
melhorar de vida e conseguir autonomia (no Brasil daquela época, o trabalho era
visto como coisa de escravizado). 1 e 2
1. Dica! Reportagem sobre a imigração alemã em São Leopoldo (RS). [Duração: 6 minutos].
Acesse: <http://tub.im/rf826b>.
Pá gina 260
Acima, bonecas Frida em loja do parque Vila Germâ nica, Blumenau, (SC), 2010.
Já os italianos começaram a chegar ao Sul por volta de 1875. No Rio Grande do Sul
fundaram as colô nias de Caxias (hoje Caxias do Sul), Conde D’Eu (atual Garibaldi) e
Dona Isabel (hoje Bento Gonçalves). Em pouco tempo, a colonizaçã o italiana
avançou e se espalhou por todo o nordeste gaú cho.
Os poloneses também se fizeram presentes no Sul, sobretudo no Paraná . Entre
1870 e 1920, entraram no Brasil 103 500 poloneses: 43 mil no Paraná , 34 300 no
Rio Grande do Sul, 6 700 em Santa Catarina, e os demais em outros estados.
Um começo difícil
Alemã es, italianos ou poloneses, os imigrantes tiveram um começo difícil no Brasil
– lotes reservados a eles ficavam distantes da cidade, as terras nem sempre eram
boas para o cultivo dos produtos agrícolas a que estavam acostumados e o
isolamento dificultava a adaptaçã o e o progresso.
Pá gina 261
rias chegarem aos portos de Buenos Aires e Montevidéu, que, dali, seguiam para o
interior ou eram vendidas para a Europa.
Os países sul-americanos lutaram entre si pelo controle dos rios, das terras, do
gado e, sobretudo, do poder. O Império Brasileiro, por exemplo, interveio diversas
vezes na regiã o platina. Em 1851, invadiu o Uruguai para derrubar o blanco
Manuel Oribe e colocar no poder o colorado Frutuoso Rivera. No ano seguinte,
invadiu a Argentina para depor o caudilho Juan Manoel Rosas. E, anos depois,
voltou a invadir o Uruguai para depor Ataná sio Aguirre, que era aliado do ditador
paraguaio Solano Ló pez. O ditador, entã o, revidou mandando apreender o navio
brasileiro Marquês de Olinda, que seguia com destino ao Mato Grosso e, em 13 de
dezembro de 1864, declarou guerra ao Brasil dando início à Guerra do Paraguai.
1e2
1. Dica! Documentário sobre a Guerra do Paraguai. [Duração: 46 minutos]. Acesse:
<http://tub.im/9fqgtn>.
2. Dica! Vídeo abordando polêmicas sobre a Guerra do Paraguai que até hoje provocam
divergências entre Brasil e Paraguai. {Duração: 14 minutos]. Acesse: <http://tub.im/ci3ec7>.
A Argentina queria garantir a unidade do país, ameaçada pelo fato de que suas
províncias de Entre Rios e Corrientes queriam separar-se e formar países
independentes, contando para isso com o apoio do Paraguai.
Pá gina 262
Guerra do Paraguai (1864-1870)
Allmaps
Fontes: CAMPOS, Flá vio de; DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas: Histó ria do Brasil. Sã o Paulo: Scipione, 1994; ATLAS
histó rico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1960; CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva. Sã o Paulo: Saraiva,
2009.
Numa primeira fase, por meio de manobras rá pidas, o Paraguai obteve vitó rias por
terra. Mas, nos rios, a Marinha de Guerra brasileira mostrou-se superior, vencendo
os paraguaios em junho de 1865, na batalha naval do Riachuelo, travada no rio
Paraná . Em setembro do mesmo ano, outra vitó ria aliada, desta vez por terra, em
Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
A ú ltima fase da guerra, em que se deu a perseguiçã o de Solano Ló pez em territó rio
paraguaio, é conhecida como Campanha da Cordilheira e foi comandada pelo
Conde D’Eu, autor de muitas atrocidades cometidas contra civis paraguaios. O
presidente paraguaio foi morto por soldados brasileiros em Cerro Corá , em 1o de
maio de 1870.
Pá gina 263
Nesta gravura de 1868, publicada em um jornal paraguaio, o ditador Solano Ló pez é mostrado a
cavalo afugentando, com sua espada, o imperador Pedro II, que é mostrado no chã o e de joelhos
dobrados. Ao contrá rio do que mostra a imagem, em 1868, o Paraguai estava perdendo a guerra e
Solano Ló pez vinha sendo obrigado a recuar.
Um balanço da guerra
Os gastos com a guerra foram de 614 mil contos de réis, 11 vezes o orçamento do
governo brasileiro em 1864. O déficit gerado pela guerra atravessou décadas e
ocorreu um aceleramento da dívida externa brasileira, por causa dos empréstimos
contraídos com os banqueiros ingleses.
Muitos militares brancos, que haviam lutado ao lado com soldados negros,
voltaram da guerra questionando a escravidã o e a monarquia que lhe dava
suporte.
Além disso, a vitó ria na guerra elevou a autoimagem dos militares brasileiros e os
aproximou das ideias e do movimento em favor da República.
Juan Manuel Blanes. 1880. Ó leo sobre tela. Coleçã o particular. Foto: The Bridgeman Art Library/Keystone
La Paraguaya, 1880. Repare como o pintor Juan Manuel Blanes recriou o ambiente de desolaçã o e
perdas resultantes da guerra em solo paraguaio. Note também a ausência de homens com vida na
pintura, o que sugere um fato realmente acontecido: o elevado nú mero de baixas registradas na
populaçã o masculina paraguaia.
Pá gina 264
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Unesp-SP – 2012) A maioridade do príncipe D. Pedro foi antecipada, em 1840, para que ele
pudesse assumir o trono brasileiro. Entre os objetivos do chamado Golpe da Maioridade, podemos
citar o esforço de:
a) obter o apoio das oligarquias regionais, insatisfeitas com a centralizaçã o política ocorrida
durante o Período Regencial.
b) ampliar a autonomia das províncias e reduzir a interferência do poder central nas unidades
administrativas.
c) abolir o Ato Adicional de 1834 e aumentar os efeitos federalistas da Lei Interpretativa do Ato,
editada seis anos depois.
d) promover ampla reforma constitucional de cará ter liberal e democrá tico no país, reagindo ao
centralismo da Constituiçã o de 1824.
1. Resposta: e.
2. (UFPE) O ano de 1848 assistiu a vá rias revoluçõ es na Europa como, por exemplo, na França e na
Itá lia. O espírito “quarenta e oito”, como se chamou este período, também atingiu o Brasil e,
particularmente, Pernambuco. Esta questã o diz respeito à Revoluçã o Praieira. ( ) A concentraçã o da
propriedade fundiá ria e o monopó lio do comércio a retalho pelos portugueses foram fatores que
provocaram a Revoluçã o Praieira.
( ) O Partido da Praia, integrado por liberais pernambucanos, tinha no jornal o DIÁ RIO NOVO um
instrumento de veiculaçã o de suas ideias políticas.
( ) Joaquim Nabuco, líder abolicionista, logo se tornou um correligioná rio do jornalista praieiro
Borges da Fonseca.
( ) Os revolucioná rios praieiros pretendiam que o Governo interviesse nos fenô menos de produçã o,
distribuiçã o e comércio.
2. Resposta: V , V , F, V, V.
3. (UERN – 2013)
O Brasil possui atualmente uma economia forte e só lida. O país é um grande produtor e
exportador de mercadorias de diversos tipos, principalmente commodities minerais, agrícolas
e manufaturados. As á reas de agricultura, indú stria e serviços sã o bem desenvolvidas e
encontram-se, atualmente, em bom momento de expansã o. Considerado um país emergente, o
Brasil ocupa o 7º lugar no ranking das maiores economias do mundo (dados de 2011). O Brasil
possui uma economia aberta e inserida no processo de globalizaçã o.
O Segundo Reinado é a fase da Histó ria do Brasil correspondente ao governo de D. Pedro II, que
teve início em 1840, com a mudança na constituiçã o que declarou a maior idade de Pedro de
Alcâ ntara, com 14 anos, tornando-o apto para assumir o governo. A administraçã o de D. Pedro II,
que durante 49 anos esteve à frente do estado brasileiro, foi marcada por muitas mudanças sociais,
políticas e econô micas no Brasil. Quanto à economia do império nesse período,
d) nota-se que o café tomou posiçã o de liderança nas exportaçõ es, possibilitando acú mulo de
capital.
3. Resposta: d.
Pá gina 265
c) suspendeu por alguns anos o trá fico transatlâ ntico de escravizados, que foi retomado nas
décadas seguintes.
e) regulamentou o trá fico de escravizados, permitindo que apenas africanos do sul do continente
pudessem ser trazidos da Á frica.
4. Resposta: b.
5. (UERJ – 2015)
A Guerra do Paraguai (1864-1870) foi o conflito externo de maior repercussã o para os países
envolvidos − Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai −, quer quanto à mobilizaçã o e perda de
homens, quer quanto aos aspectos políticos e financeiros. Essa guerra foi, na verdade,
resultado do processo de construçã o dos Estados nacionais no rio da Prata e, ao mesmo tempo,
marco nas suas consolidaçõ es.
Adaptado de DORATIOTO, F. F. M. Maldita guerra: nova histó ria da Guerra do Paraguai. Sã o Paulo: Companhia das
Letras, 2002.
Apresente dois motivos que expliquem essa guerra, tendo em vista as disputas na regiã o do rio da
Prata durante a segunda metade do século XIX.
5. Entre os motivos da Guerra pode-se citar: disputa pela liderança regional entre o Brasil e a Argentina; controle da
navegaçã o pelos rios Paraguai, Paraná e Uruguai; o desejo do Paraguai de conseguir uma saída para o mar.
Cheio de gló ria, coberto de louros, depois de ter derramado seu sangue em defesa da pá tria e
libertado um povo da escravidã o, o voluntá rio volta ao seu país natal para ver sua mã e
amarrada a um tronco horrível de realidade!...
AGOSTINI. A vida fluminense, ano 3, n. 128, 11 jun. 1870. In: LEMOS, R. (Org.). Uma história do Brasil através da
caricatura (1840-2001). Rio de Janeiro: Letras & Expressõ es, 2001 (adaptado).
Na charge, identifica-se uma contradiçã o no retorno de parte dos “Voluntá rios da Pá tria” que
lutaram na Guerra do Paraguai (1864-1870), evidenciada na
6. Resposta: a.
Pá gina 266
VOZES DO PRESENTE
O trecho a seguir é uma entrevista concedida pelo professor Francisco Doratioto à Revista de
Histó ria da Biblioteca Nacional. Leia-o com atençã o.
Lula Marques/Folhapress
FD – Fala-se Paraguai por uma questã o didá tica, mas a decisã o foi de Solano Ló pez. Tratava-se
de uma ditadura, mas nã o na forma contemporâ nea que conhecemos. Nã o havia meios de
comunicaçã o ou inserçã o internacional, como hoje. Uma ditadura hoje, por mais ferrenha que
seja, tem que reagir ao contexto internacional e há algum processo decisó rio, mas na de Solano
Ló pez tudo se concentrava nele. No Paraguai nã o existia jornal, além de um diá rio oficial, e
nem oposiçã o. A oposiçã o estava em cemitérios ou no exílio na Argentina. A populaçã o era
pequena, o país era fechado ao exterior e ela nã o tinha acesso a outras informaçõ es, que nã o as
oficiais. [...]
GARCIA, Bruno. Entrevista com Francisco Doratioto. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 9,
n. 97, p. 40-41, out. 2013.
a) De que forma o autor caracteriza Solano Ló pez e que paralelo ele estabelece entre o governante
paraguaio e alguns governantes atuais?
b) Que elementos o autor cita para comprovar sua visã o a respeito de Ló pez? Justifique.
c) Durante muito tempo Solano Ló pez foi visto pela historiografia como vítima do imperialismo
inglês e nã o como um dos causadores da guerra. Qual a posiçã o do autor do texto a respeito disto?
Explique.
d) Em dupla. O autor do texto destaca a ambiçã o do coronel Estigarribia que, contrariando a ordem
de seus superiores, entrou em Uruguaiana para saqueá -la, dando tempo de os aliados se
organizarem e contra-atacarem. Debatam e escrevam uma reflexã o pessoal com o título “Ambiçã o e
guerra”.
Pá gina 267
Professor: a ideia aqui foi estimular o aluno a ler e interpretar imagens com base em uma charge criada por Angelo Agostini.
Um indígena, simbolizando a Naçã o (apoiado por negros rebelados), rompe correntes e chuta a carruagem do Impé rio,
lançando ao chã o o imperador (com sua coroa, seu livro e sua luneta) e seus seguidores (membros da elite imperial
identificados por seus fraques, botas e cartolas). Enfim, a Naçã o rompe os grilhõ es e se liberta da monarquia. Dois animais
conduzem a carruagem: um cavalo identificado como Dissidê ncia Liberal e um touro denominado Partido Conservador. Nã o
por acaso o título da charge é “A grande degringolada”.
Angelo Agostini. Sé c. XIX. Desenho. Coleçã o particular
Pá gina 268
O processo de abolição
O processo que conduziu à extinçã o legal da escravidã o no Brasil foi longo e contou
com ampla participaçã o popular, incluindo-se aí a açã o dos pró prios escravizados,
além de ativistas e intelectuais negros e brancos, chamados, na época, de
abolicionistas.
A resistência negra
Um exemplo expressivo da resistência à escravidã o no século XIX foi o ciclo de
revoltas lideradas por africanos ou crioulos na Bahia, entre 1807 e 1835. Segundo
o historiador Joã o José Reis, naqueles anos, a Bahia foi palco de mais de 20 revoltas
e conspiraçõ es promovidas pelos africanos e seus descendentes; etnias envolvidas
nessas revoltas foram: haussá em 1887; nagô , haussá e jeje em 1809; haussá de
novo, em 1814; etnias diversas em 1816 e, sobretudo, nagô em 1826, 1830 e 1835.
Acima, menino aprendendo a jogar capoeira. A capoeira, que é dança e luta ao mesmo tempo, pode
ser considerada também uma forma de resistência negra no campo da cultura.
Fac-símile da capa do livro de Joã o José Reis que trata da rebeliã o escrava de 1835 em Salvador, a
maior ocorrida em uma cidade brasileira.
Outro exemplo de resistência negra no Brasil moná rquico foi o levante liderado
por Manuel Congo, em 1838, na regiã o de Paty do Alferes, Vassouras, que é hoje
um município do estado do Rio de Janeiro. Os rebeldes foram perseguidos nas
matas da regiã o e recapturados. Justino Benguela, Antô nio Magro, Pedro Dias,
Belarmino Congo, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique e Afonso Angola foram
julgados com base no artigo 60 do Có digo Criminal e condenados a 650 açoites, 50
por dia; Manuel Congo, o líder da insurreiçã o, recebeu a pena má xima e, em 1839,
foi enforcado.
Dica! Entrevista com o historiador João José Reis sobre a escravidão no Brasil. [Duração: 11
minutos]. Acesse: <http://tub.im/cmktfm>.
Pá gina 269
O abolicionismo
Outra força importante no processo que levou à extinçã o legal da escravidã o foi o
abolicionismo, movimento social liderado por pessoas de diferentes etnias e
condiçõ es sociais e que se estendeu por quase todo o século XIX.
Dica! Vídeo sobre a vida de Luiz Gama. [Duração: 12 minutos]. Acesse: <http://tub.im/k552er>.
James Lafayette. 1902. Coleçã o particular
Nascido em Pernambuco em 1849, Joaquim Nabuco era filho de José Tomá s Nabuco de Araú jo, um
destacado senador do Império.
Rodolfo Bernardelli. Sé c. XIX. Ó leo sobre tela. Museu Histó rico Nacional, Rio de Janeiro
Nascido em 1830, na Bahia, Luiz Gama era filho da negra nagô Luiza Mahin e de um comerciante de
origem portuguesa.
Pá gina 270
Sã o elas:
Art. 1º Os filhos de mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei serã o
considerados de condiçã o livre.
§ 1º Os ditos filhos menores ficarã o em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mã es,
os quais terã o a obrigaçã o de criá -los e tratá -los até a idade de 8 anos completos. Chegando o
filho da escrava a esta idade, o senhor da mã e terá opçã o, ou de receber do Estado a
indenizaçã o de 600 mil-réis, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos
completos.[...]
BRASIL. Lei n. 2.040, de 28 de setembro de 1871. Câmara dos deputados. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/internet/infdoc/conteudo/colecoes/legislacaolegimpcd-06/leis1871/pdf17.pdf#
page=6>. Acesso em: 18 mar. 2013.
Foram poucos os beneficiados pela Lei do Ventre Livre. Muitos proprietá rios
preferiam continuar se utilizando do trabalho das crianças a receber o dinheiro
para libertá -las.
Fonte de pesquisa: LINHARES, Maria Yedda. História geral do Brasil. 9. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1990. p. 271.
Pode-se concluir que a maioria dos deputados do Norte/Nordeste (onde o trabalho escravizado na é poca tinha menos
importâ ncia) votou a favor da lei, enquanto os das províncias do Centro-Sul (como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Sã o Paulo)
onde a cafeicultura estava em expansã o colocaram-se, em sua maioria, contra ela.
Pá gina 271
Na década de 1880, a luta pela aboliçã o ganhou corpo. Em 1883, foi fundada a
Confederação Abolicionista, que assumiu a proposta de André Rebouças de
aboliçã o sem indenizaçã o e de doaçã o de terras para os ex-escravizados.
Pernambuco viu surgir o Clube do Cupim, associaçã o emancipató ria que
alforriava e defendia os escravizados contrariando interesses centená rios dos
poderosos da província. Em Sã o Paulo, o advogado Antô nio Bento fundou uma
organizaçã o secreta chamada Caifazes, também promovia e apoiava a fuga de
escravizados. Essa organizaçã o protegeu os milhares de escravizados que fugiram
das fazendas paulistas em direçã o aos morros da cidade paulista de Santos, onde
formaram o Quilombo do Jabaquara. Esse quilombo, surgido nos ú ltimos anos do
período imperial, chegou a reunir cerca de 10 mil quilombolas, entre homens,
mulheres e crianças, e era liderado pelo crioulo sergipano Quintino de Lacerda. A
populaçã o livre local escondia os fugitivos e facilitava a chegada deles ao alto dos
morros.
O historiador Eduardo Silva trabalha com a ideia de “quilombo abolicionista”, um modelo específico
de resistência à escravidã o. Seus membros organizavam-se pró ximo aos grandes centros e seus
líderes mantinham relaçõ es estreitas com figuras centrais do movimento abolicionista como André
Rebouças e Rui Barbosa. Entre os exemplos de quilombos abolicionistas estã o o Quilombo do
Jabaquara, na cidade paulista de Santos, e o Quilombo do Leblon, no Rio de Janeiro. Na sua obra As
camélias do Leblon, Eduardo Silva parte da camélia, flor que simbolizava a luta pela aboliçã o, para
evidenciar as relaçõ es estreitas entre a campanha abolicionista e o aumento das fugas. As camélias,
conhecidas na época como “flores da liberdade”, eram cultivadas, colhidas e distribuídas no
Quilombo do Leblon, onde hoje está o bairro do Leblon. À esquerda, fac-símile da capa de As
camélias do Leblon.
Jangadeiro Francisco José do Nascimento na visã o do chargista Angelo Agostini. Note que o
chargista, que também era abolicionista, procurou homenagear o jangadeiro em sua obra.
Pá gina 272
O governo de Dom Pedro II reagiu à onda abolicionista promulgando uma nova lei.
Senhoras vendendo frutas e legumes nas ruas, em Rio Grande (RS), c. 1910. As duas senhoras vistas
ao centro aparentam ter por volta de 60 anos na data em que a fotografia foi publicada. Se tivessem
essa idade no ano em que a lei foi publicada teriam de trabalhar mais três anos para conseguir a
alforria. A Lei dos Sexagená rios livrava os proprietá rios da obrigaçã o de fornecer comida e moradia
para os poucos escravizados que conseguiam chegar aos 60 anos de idade.
Ao contrá rio do que desejavam seus promotores, a Lei dos Sexagená rios provocou
a radicalizaçã o da luta contra a escravidã o: os escravizados começaram a fugir em
massa das propriedades de seus donos. Maquinistas colaboravam com as fugas
retardando a marcha do trem para que os escravizados pudessem saltar e,
escondidos entre as sacas de café, chegassem à cidade. Grá ficos negavam-se a
imprimir textos defendendo a escravidã o. Os militares lançaram um manifesto, em
1887, afirmando que nã o mais fariam o papel de capitã o do mato, isto é, nã o
perseguiriam mais os fugitivos.
Sob forte pressã o popular, o governo imperial, exercido na época pela princesa
Isabel, assinou a Lei Áurea, que declarava extinta a escravidã o no Brasil, sem
direito de indenizaçã o aos senhores e sem nenhuma reparaçã o aos escravizados,
que, segundo uma estimativa realizada um ano antes, somavam 723419 pessoas,
pouco menos de 5% da populaçã o brasileira.
Politicamente a Lei Á urea contribuiu para o desgaste da monarquia: muitos
fazendeiros escravistas, inconformados de nã o terem sido indenizados, aderiram à
Repú blica. Por isso, foram chamados na época de republicanos de ú ltima hora.
Pá gina 273
Carioca filho de migrantes baianos, Joã o Machado Guedes fez parte do que o compositor
Martinho da Vila chamou de “santíssima trindade da mú sica brasileira”: Joã o da Baiana,
Pixinguinha e Donga.
Filho de Tia Perciliana, uma das famosas baianas da Cidade Nova, onde foi criado, Joã o
notabilizou-se por popularizar o pandeiro no samba e por ser exímio ritmista no prato-e-faca,
herança de sua formaçã o na tradiçã o baiana.
Joã o foi um personagem da cidade do Rio de Janeiro. Funcioná rio da Estrada de Ferro, recusou
o convite dos parceiros Pixinguinha e Donga para realizar a primeira turnê internacional de
um grupo popular no Brasil – os renomados Oito Batutas. Preferiu a estabilidade do emprego,
mas manteve intensa atividade musical.
[...]
Zahar Editora
Pá gina 274
Como o samba ainda estava procurando seu espaço na sociedade, era muito comum os mú sicos
serem presos pelo simples fato de portarem um instrumento. Certa noite, Joã o da Baiana foi
convidado para ir a uma festa no palá cio do senador Pinheiro Machado, um dos mandachuvas
da política na época. Acabou nã o comparecendo por ter sido preso pela polícia na Festa da
Penha. Acusaçã o: levava um pandeiro a tiracolo. Dias depois, o todo-poderoso senador quis
saber por que Joã o não aparecera em sua festa. Sabendo da histó ria, Pinheiro Machado
mandou fazer um pandeiro na loja Cavaquinho de Ouro, do seu Oscar, com a dedicató ria “A
minha admiraçã o, Joã o da Baiana – senador Pinheiro Machado”. Coincidência ou nã o, o fato é
que Joã o nunca mais foi importunado.
DINIZ, André. Almanaque do samba: a histó ria do samba, o que ouvir, o que ler, onde curtir. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2008. p. 30-31.
Federalismo: autonomia para as províncias fazerem suas leis, elegerem seus representantes e
administrarem suas rendas.
Pá gina 275
A Questão Religiosa
A uniã o entre o Estado e a Igreja era regulada pela Constituiçã o de 1824, que
concedia ao imperador o padroado, isto é, o direito de nomear religiosos para os
principais cargos eclesiá sticos (por exemplo, o de bispo), e o beneplácito, o direito
de aprovar ou nã o as bulas papais, que só seriam cumpridas em territó rio
nacional mediante o placet (permissã o) do imperador.
Bula papal: carta expedida pelo papa contendo orientaçõ es aos cató licos.
Em 1864, uma bula do papa Pio IX, a Syllabus, condenou veementemente a
maçonaria e afirmou a total incompatibilidade entre ser cató lico e maçom, ao
mesmo tempo. O fato contrariou D. Pedro II, pois o Império, desde sua fundaçã o,
mantinha relaçõ es estreitas com a maçonaria. Com o objetivo de cumprir à risca a
decisã o do papa, o bispo de Olinda, Dom Vital Maria, e o do Pará , Dom Antô nio
Macedo Costa, exigiam que as irmandades religiosas expulsassem os maçons de
seus quadros. Além disso, D. Vital chegou a afirmar que o imperador era sú dito do
papa e, como tal, nã o deveria ter direito ao beneplá cito.
Maçonaria: instituiçã o de perfil religioso, político e filantró pico que reú ne membros voluntá rios de diversas
crenças e religiõ es. A princípio, só era acessível ao sexo masculino.
A Questão Militar
O poder de Dom Pedro II também foi abalado pela Questã o Militar, nome dado a
uma série de conflitos entre o exército e o Império, durante a década de 1880. Na
época, os militares eram proibidos de se manifestar pela imprensa. O tenente-
coronel Sena Madureira e o coronel Cunha Matos contrariaram essa proibiçã o e
foram punidos pelo governo imperial.
Charge de Angelo Agostini ironizando a recusa de Deodoro da Fonseca em punir oficiais do exército
que faziam declaraçõ es por meio da imprensa.
Pá gina 276
Mocidade militar: jovens militares de menos de 30 anos que possuíam educaçã o superior e valorizavam o
estudo das ciências exatas.
2. Dica! Vídeo com falas do historiador Boris Fausto sobre a abolição e as razões que teriam
levado à República. [Duração: 7 minutos]. Acesse: <http://tub.im/58four>.
O major Benjamin Constant (1833-1891) era fluminense. Foi professor de matemática na Escola
Militar e o principal divulgador do positivismo entre a mocidade militar.
O positivismo
VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 586-587.
Pá gina 277
A proclamação da República
No dia 9 de novembro de 1889, em clima de forte comoçã o, Benjamin Constant
comandou uma reuniã o no Clube Militar para discutir a situaçã o do país e pediu
plenos poderes para mudar a situaçã o dos militares. A mocidade militar respondeu
com uma chuva de aplausos.
Pouco a pouco, a “soluçã o militar” para se chegar à Repú blica também foi
ganhando a simpatia dos republicanos civis. A ligaçã o política entre eles e os
militares consolidou-se em 11 de novembro de 1889. Naquele dia, o marechal
Deodoro da Fonseca recebeu em sua casa o major Benjamin Constant e o líder do
Partido Republicano Paulista (PRP), Quintino Bocaiuva. Nesse encontro decidiram
pela derrubada da monarquia.
3. Dica! Teleaula sobre o fim do Império e o início da República no Brasil. [Duração total: 12
minutos]. Dividido em duas partes. Para a primeira parte, acesse: <http://tub.im/jmc9ui>.
Pedro Bruno. 1919. Ó leo sobre tela. Museu da Repú blica, Rio de Janeiro
A pátria, de Pedro Bruno, 1919. Note que a bandeira republicana, elemento central do quadro, é
mostrada como objeto de amor e devoçã o: ela é abraçada, ela protege, ela abriga seus filhos.
Auguste Comte, o idealizador do positivismo, acreditava que só a ordem poderia conduzir ao
progresso.
Pá gina 278
Para refletir
››Fonte 1
Zahar Editora
O golpe de 1889 – ou a “Proclamaçã o da Repú blica”, como passou à histó ria – foi um momento-
chave no surgimento dos militares como protagonistas no cená rio político brasileiro. [...] Havia
muitos republicanos civis no final do Império, mas eles estiveram praticamente ausentes da
conspiraçã o. O golpe republicano foi militar, em sua organizaçã o e execuçã o. [...]
Todas as fontes disponíveis destacam a liderança que Benjamin Constant [...] exercia sobre a
“mocidade militar” formada na Escola Militar da Praia Vermelha. Ele seria o [...] “líder” [...] ou
“apó stolo” desses militares. [...]
Minha perspectiva, no entanto, focaliza nã o o “líder” [...] mas seus pretensos “liderados” [...]. Ao
invés de assistirmos a Benjamin Constant catequizando os jovens da Escola Militar,
encontraremos justamente a “mocidade militar” seduzindo-o e convertendo-o para o ideal
republicano. Atribuo à “mocidade militar”, portanto, o papel de protagonista da conspiraçã o
republicana no interior do Exército.
CASTRO, Celso. A proclamação da República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. p. 8-10. (Descobrindo o Brasil).
››Fonte 2
O ano de 1889 nã o significou uma ruptura do processo histó rico brasileiro. As condiçõ es de
vida dos trabalhadores rurais continuaram as mesmas; permaneceram o sistema de produçã o
e o cará ter colonial da economia, a dependência em relaçã o aos mercados e capitais
estrangeiros.
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 8. ed. Sã o Paulo: Fundaçã o Editora Unesp,
2007. p. 491-492.
b) Na visã o dele, foi a juventude militar que seduziu Benjamin Constant e nã o o inverso. [Celso Castro reuniu uma enorme
documentaçã o e apresentou a mocidade militar como principal protagonista no golpe que instalou a Repú blica no Brasil.]
c) Semelhança: tanto o autor da fonte 1 quanto a autora da fonte 2 veem a proclamaçã o da Repú blica como um “golpe” de
Estado. Diferença: para Celso Castro, o golpe republicano de 1889 foi organizado e executado pelos militares; já para Emília
Viotti o golpe republicano resultou da açã o de trê s forças conjugadas: uma parcela do Exé rcito, os fazendeiros do Oeste
Paulista e os representantes das camadas mé dias.
d) Em dupla. Qual das versõ es vocês consideram mais convincente? Justifiquem.
d) Resposta pessoal. Professor: a atividade visa familiarizar os alunos com o debate historiográ fico em torno da
proclamaçã o da Repú blica e estimulá -los a argumentar em defesa de um ponto de vista.
Pá gina 279
»» separou a Igreja cató lica do Estado e criou o registro civil para nascimento,
casamento e ó bito;
»» criou novos símbolos nacionais; a nova bandeira tinha por lema uma má xima
de inspiraçã o positivista: a Ordem por base e o Progresso por fim.
Durante sua gestã o, Rui Barbosa promoveu uma reforma financeira visando,
sobretudo, à industrialização do Brasil. Como a quantidade de moeda em
circulaçã o no país era insuficiente para financiar a arrancada industrial e pagar
salá rios, Rui Barbosa baixou decretos autorizando quatro bancos a emitir dinheiro
e a conceder empréstimos à queles que desejassem abrir uma empresa (1890).
Especulação: prá tica que consiste em criar uma procura ou oferta artificial de um bem ou de uma
mercadoria visando obter lucro.
Bolsa de Valores: local em que são negociados determinados papéis de empresas e do governo. Os papéis
do governo sã o chamados de títulos e os das empresas, de açõ es.
Nos dois primeiros anos da Repú blica, a inflação disparou, saltando de 1,1% para
89,9%, e a moeda brasileira perdeu o valor. A crise resultante da política
industrialista de Rui Barbosa recebeu o apelido de encilhamento. O nome vem do
verbo “encilhar” (colocar arreios ou cilhas no cavalo para prepará -lo para a
corrida). Como o clima de jogatina existente no lugar onde os jó queis encilhavam
cavalos e onde os jogadores faziam suas apostas era semelhante ao da Bolsa de
Valores, o nome encilhamento estendeu-se à crise.
Inflação: aumento generalizado e contínuo dos preços, resultando na perda do poder aquisitivo da moeda.
Pá gina 280
A charge mostra os deputados constituintes que elegeram Deodoro da Fonseca (ao centro, à direita)
e Floriano Peixoto (ao centro, à esquerda) para a presidência e a vice-presidência da Repú blica,
respectivamente. As figuras femininas representam os estados da Repú blica.
Pá gina 281
Apesar disso, durante seu mandato, Floriano Peixoto teve de enfrentar muitos
inimigos: políticos civis organizaram uma campanha antiflorianista, com base no
artigo 42 da Constituiçã o, exigindo novas eleiçõ es presidenciais, e oficiais do
Exército assinaram o Manifesto dos Treze Generais, exigindo sua renú ncia. Esse
artigo estipulava que, se o cargo da presidência ou vice-presidência estivesse vago
antes de decorridos dois anos do mandato, haveria nova eleiçã o. Como Deodoro
governara menos de nove meses, os antiflorianistas reclamavam nova eleiçã o.
Floriano reuniu forças para enfrentar os civis e aposentou os generais que queriam
depô -lo. 1
Por suas atitudes decididas à frente do governo da Repú blica, Floriano Peixoto ficou conhecido
como Marechal de Ferro.
A Revolução Federalista
Outro desafio enfrentado por Floriano Peixoto foi a Revolução Federalista – uma
guerra civil sangrenta resultante da disputa pelo poder no Rio Grande do Sul
(1893).
Liderada pelo oficial Custó dio José de Melo, a Marinha começou a bombardear a
cidade do Rio de Janeiro, exigindo a renú ncia imediata de Floriano Peixoto e a
realizaçã o de novas eleiçõ es.
Desterro: depois de retomada pelo governo, a cidade de Desterro passou a se chamar Florianó polis, em
homenagem a Floriano Peixoto.
A guerra civil gaú cha só terminou em 1895, um ano depois do fim do mandato
presidencial. Mas, quando Floriano Peixoto deixou a presidência, a Repú blica
estava consolidada. 2
Pá gina 282
ATIVIDADES
ESCREVA NO CADERNO.
I. Retomando
1. (Enem/MEC – 2013)
A escravidã o nã o há de ser suprimida no Brasil por uma guerra servil, muito menos por
insurreiçõ es ou atentados locais. Nã o deve sê-lo, tampouco, por uma guerra civil, como o foi
nos Estados Unidos. Ela poderia desaparecer, talvez, depois de uma revoluçã o, como aconteceu
na França, sendo essa revoluçã o obra exclusiva da populaçã o livre. É no Parlamento e não em
fazendas ou quilombos do interior, nem nas ruas e praças das cidades, que se há de ganhar, ou
perder, a causa da liberdade.
NABUCO, Joaquim. O abolicionismo [1883]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Sã o Paulo: Publifolha, 2000 (adaptado).
No texto, Joaquim Nabuco defende um projeto político sobre como deveria ocorrer o fim da
escravidã o no Brasil, no qual
1. Resposta: c.
2. (Unimontes-MG – 2014)
[...] Mesmo depois de abolida a escravidã o // negra é a mã o de quem faz a limpeza // lavando a
roupa encardida, esfregando o chã o // negra é a mã o, é a mã o da pureza // negra é a vida
consumida ao pé do fogã o // negra é a mã o nos preparando a mesa // limpando as manchas
do mundo com á gua e sabã o. [...]
GIL, Gilberto. A mão da limpeza. In: www.gilbertogil.com.br/sec-disco-info. Acesso em: 3 abr. 2014.
As açõ es desempenhadas pelos negros, nos versos dessa cançã o, tornaram-se comuns no Brasil,
entre outras coisas, porque
b) a Lei Á urea previa que, aos alforriados, seria garantido com exclusividade o exercício de
profissõ es que demandassem habilidade manual, em face do desinteresse dos negros pela ciência.
c) a aboliçã o da escravidã o se fez sem uma preocupaçã o política de garantir ao povo negro o acesso
à cidadania plena e sem a garantia de condiçõ es para a conquista da igualdade intelectual.
d) estudos antropoló gicos de grandes universidades demonstraram que a habilidade manual era
inerente ao povo negro, fosse esse de origem africana ou mesmo crioulo e mestiço, nascido no
Brasil.
2. Resposta: c.
2016
A charge ironiza o dístico “ordem e progresso”, presente na atual Bandeira do Brasil. A sua origem e
significado remetem a um contexto marcado
Pá gina 283
a) pela presença do catolicismo romano nas instituiçõ es políticas do Império Brasileiro e o esforço
de preservar a ordem social vigente.
b) pela influência do positivismo francês entre os oficiais militares republicanos e uma postura
ideoló gica das elites dirigentes em evitar radicalismos políticos.
c) pelo desejo dos oficiais militares republicanos em romper os laços com a sociedade agrá ria
imperial, inspirando-se no liberalismo norte-americano.
d) pelo esforço das elites agrá rias paulista e mineira em manter os seus privilégios sociais e
políticos, mas, ao mesmo tempo, buscando o progresso econô mico.
3. Resposta: b.
4. (Enem/MEC – 2015)
MARINS, P. C. G. Nas matas com pose de reis: a representaçã o de bandeirantes e a tradiçã o da retratística moná rquica
europeia. Revista do IEB, n. 44, fev. 2007.
A prá tica governamental descrita no texto, com a escolha dos temas das obras, tinha como
propó sito a construçã o de uma memó ria que
d) valorizava a saga histó rica do povo na afirmaçã o de uma memó ria social.
4. Resposta: a.
Bestializados ou bilontras?
O povo assistiu bestializado à proclamaçã o da Repú blica, segundo Aristides Lobo; nã o havia
povo no Brasil, segundo observadores estrangeiros, inclusive os bem informados como Louis
Couty; o povo fluminense nã o existia, afirmava Raul Pompeia. Visã o preconceituosa de
membros da elite [...]? Etnocentria de franceses? [...]
Pá gina 284
Havia tribofe na política, na bolsa, no câ mbio, na imprensa, no teatro, nos bondes, nos
aluguéis, no amor. Nã o se obedecia nem à lei dos homens, nem a de Deus. Como diria o pró prio
tribofe: “Ah, minha amiga, nesta boa terra os mandamentos da lei de Deus sã o como as
posturas municipais... Ninguém respeita!” [...]
Havia consciência clara de que o real se escondia sob o formal. [...] Perdia-se o humor apenas
quando o governo buscava impor o formal, quando procurava aplicar a lei literalmente. Nesses
momentos o entendimento [...] era quebrado, o poder violava o pacto, a constituiçã o nã o
escrita. Entã o tinha de recorrer à repressã o, ao arbítrio, o que gerava a revolta em resposta.
Mas [...] eram momentos de crise, nã o o cotidiano.
O povo sabia que o formal nã o era sério. Nã o havia caminhos de participaçã o, a Repú blica nã o
era para valer. Nessa perspectiva, o bestializado era quem levasse a política a sério, era o que
se prestasse à manipulaçã o. Num sentido [...], a política era tribofe. Quem apenas assistia, como
fazia o povo do Rio por ocasiã o das grandes transformaçõ es realizadas a sua revelia, estava
longe de ser bestializado. Era bilontra.
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a Repú blica que nã o foi. Sã o Paulo: Companhia das
Letras, 1987. p. 140, 159-160.
Tribofe: gíria da época que significa trapaça, enganaçã o, engodo. Em 1891, Artur Azevedo lançou uma revista
denominada O tribofe, cujo conteú do continha forte crítica social e por meio do humor ironizava o
comportamento do fluminense.
a) O que Aristides Lobo quis dizer com “o povo assistiu bestializado à proclamaçã o da Repú blica”?
b) Na visã o do autor, a Repú blica incluiu o povo ou o manteve excluído da política? Justifique.
b. Cruzando fontes
››Fonte 1
O texto a seguir é da professora da Universidade de Sã o Paulo Emília Viotti da Costa. Leia-o com
atençã o.
O rá pido crescimento das plantaçõ es de café fez do trabalho o problema mais urgente. Como
podiam os fazendeiros satisfazer suas necessidades de trabalho apó s a interrupçã o do trá fico
de escravos? [...] Os fazendeiros das á reas em expansã o haviam encontrado a resposta na
imigraçã o. [...] Como eles nã o se organizaram para defender a instituiçã o, a escravidã o foi
abolida por um ato do Parlamento sob os aplausos das galerias. Promovida principalmente por
brancos, ou por negros cooptados pela elite branca, a aboliçã o libertou os brancos do fardo
Pá gina 285
COSTA, Emília Viotti da. DA MONARQUIA À REPÚ BLICA: momentos decisivos. Sã o Paulo: Ed. Unesp. 2007. p. 366.
››Fonte 2
O trecho a seguir é da professora da Universidade Federal Fluminense Hebe Mattos. Leia-o com
atençã o.
Festejada por milhares de pessoas, a Aboliçã o foi um acontecimento ímpar. Pela primeira vez
se reconheceu a igualdade civil de todos os brasileiros. Mesmo que não tenha significado sua
imediata efetivaçã o, marca a invençã o de uma cidadania brasileira entendida em termos
universais. Porém, até o surgimento dos movimentos negros do século XX, a hierarquizaçã o
racial pouco se modificou.
MATTOS, Hebe M. A face negra da Aboliçã o. In: Revista Nossa História, ano 2, n. 19, p. 20 maio 2005.
a) Segundo a autora da fonte 1, qual foi a soluçã o encontrada pelos fazendeiros das á reas onde o
café se expandia?
d) Em dupla: debatam, argumentem: qual das duas interpretaçõ es da Aboliçã o é mais convincente?
Justifiquem.
Príncipe guerreiro, d. Obá apresentou-se para lutar na Guerra do Paraguai (1864-1870), saindo
oficial (...) do exército, por bravura. Em 1877, fixou residência no Rio de Janeiro, onde passou a
fazer campanha por melhores condiçõ es de vida, igualdade racial, abolição da chibata e da
escravatura.
Abolição da chibata: abolição dos castigos físicos ministrados com a chibata (vara usada para surrar
pessoa ou animal).
Com dois metros de altura, voz firme e modos de soberano, sua figura imponente chamava
atençã o. Apresentava-se sempre bem vestido, de fraque, cartola, luvas, guarda-chuva, bengala,
pincenê de ouro e suas “finas roupas pretas” [...].
A elite da época, ignorando a histó ria da Á frica e os direitos reais africanos, entendia d. Obá II
como um subproduto da Guerra do Paraguai [...] uma espécie de veterano resmungã o, “meio
amalucado”, figura meramente folcló rica. Por outro lado, o povo negro reconhecia e se-
Fac-símile da capa do livro Dom Obá II D’África, o Príncipe do Povo, de Eduardo Silva.
Pá gina 286
guia sua liderança como príncipe real. Escravos, negros libertos do cativeiro e homens negros
livres, ou seja, que nunca foram escravos, nã o só compartilhavam suas ideias como
contribuíam financeiramente para a publicaçã o nos jornais. E depois se reuniam em suas
modestas casas para ler em voz alta e discutir os artigos.
Mas o que interessava tanto aos leitores? D. Obá pensava de um modo bem diverso da elite que
via as raças humanas essencialmente diferentes; para ele, pareciam perfeitamente
semelhantes, e o valor dos homens nã o estava na cor da pele, mas no mérito, no valor
guerreiro e humano de cada um. Por isso, a defesa da igualdade entre os homens se torna um
dos pontos centrais de sua prá tica política, e a aboliçã o total da escravatura vira sua bandeira
de luta pú blica a partir de 1882.
Soldado valoroso, defensor da pá tria nos campos da batalha, d. Obá II d’Á frica se sentia com
autoridade moral para criticar abertamente a classe dominante e os escravistas [...]
E quando sentia que o rumo dos acontecimentos necessitava de uma boa ajuda, apelava para
as forças do sincretismo afro-brasileiro: “invoco sempre ao bem estar dos conselheiros
enfermos [...] em todas as minhas preces [...] a santa Bá rbara e aos mais santos da Á frica [...]”.
SILVA, Eduardo. O rei dos excluídos. In: Revista Nossa História, ano 2, n. 19, p. 22-24, maio 2005.
Segundo o texto, o modo como a elite da época via d. Obá é muito diferente do modo como o povo
negro o via. Explique:
e) Em dupla. Debatam, reflitam e opinem sobre a visã o de d. Obá segundo a qual o valor dos
homens nã o estava na cor da pele, mas no mérito, no valor guerreiro e humano de cada um.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sugestões de leitura complementar
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FUNARI, Pedro Paulo; GALDINO, Luiz. Os antigos habitantes do Brasil. Sã o Paulo: Editora da
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SPOSITO, Fernanda. Nem cidadãos, nem brasileiros: indígenas na formaçã o do Estado nacional brasileiro
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Bibliografia
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Pá gina 289
MATERIAIS DE APOIO AO PROFESSOR
Pá gina 290
Em nossos dias, já ninguém duvida de que a histó ria do mundo deve ser
reescrita de tempos em tempos. Esta necessidade nã o decorre, contudo, da
descoberta de numerosos fatos até entã o desconhecidos, mas do nascimento de
opiniõ es novas, do fato de que o companheiro do tempo que corre para a foz
chega a pontos de vista de onde pode deitar um olhar novo sobre o passado...
GOETHE. Geschichte der Farbenlehre. In: SCHAFF, Adam. Histó ria e verdade. Sã o Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 267.
Pá gina 291
SUMÁRIO
1. METODOLOGIA DA HISTÓRIA 292
1.1. Visã o de á rea 292
1.2. Correntes historiográ ficas 293
1.3. Pressupostos teó ricos 295
1.4. Objetivos para o ensino de Histó ria 296
1.5. Conceitos-chave da á rea de Histó ria 297
Pá gina 292
1. Metodologia da História
Vivendo imersos nesse mundo virtual e apreendendo o que “aconteceu” por meio dos
telejornais com frases sintéticas e imagens fragmentadas, os jovens sã o levados a
identificar aquilo que estã o vendo com a “verdade” e a explicar o presente com base
nele pró prio. Ocorre que o complemento desse presenteísmo avassalador é a
destruiçã o do passado, o que pode afetar muito, e negativamente, as novas geraçõ es.
Veja o que diz sobre o assunto o historiador britâ nico Eric Hobsbawm:
A destruiçã o do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à
das geraçõ es passadas – é um dos fenô menos mais característicos e lú gubres do final do século XX. Quase
todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relaçã o orgâ nica com
o passado pú blico da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que outros
esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. Por esse mesmo motivo,
porém, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). Sã o Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 13.
Se a destruiçã o do passado pode resultar em uma tragédia para as novas geraçõ es, a
alienaçã o dela decorrente pode facilitar a emergência e a imposiçã o de ditaduras
brutais, como as que vitoriaram nas décadas de 1930 e 1940 em países da Europa
Ocidental e Oriental. Ademais, a consciência de que o passado se perpetua no presente
é fundamental para o nosso sentido de identidade. Saber o que fomos ajuda-nos a
compreender o que somos; o diá logo com outros tempos aumenta a nossa
compreensã o do tempo presente. Como observou um estudioso:
O passado nos cerca e nos preenche; cada cená rio, cada declaraçã o, cada açã o conserva um conteú do
residual de tempos pretéritos. Toda consciência atual se funda em percepçõ es e atitudes do passado;
reconhecemos uma pessoa, uma á rvore, um café da manhã , uma tarefa, porque já os vimos ou já os
experimentamos.
LOWENTHAL, David, 1998 apud OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). Histó ria: ensino fundamental. Brasília,
DF: Ministério da Educaçã o, Secretaria de Educaçã o Básica, 2010. p. 160. v. 21. (Explorando o ensino).
Como lembra Marc Bloch no seu clá ssico Apologia da histó ria ou o ofício do
historiador: além de prejudicar o conhecimento do presente, a ignorâ ncia do passado
compromete também a nossa açã o no presente. Assim sendo, nã o é demais lembrar
que a Histó ria tem um duplo compromisso: com o passado e com o presente, bem
Pá gina 293
como com as relaçõ es entre um e outro. Dissertando sobre esse duplo compromisso da
Histó ria, Jaime Pinsky observou:
Compromisso com o presente nã o significa, contudo, presenteísmo vulgar, ou seja, tentar encontrar no
passado justificativas para atitudes, valores e ideologias praticados no presente (Hitler queria provar
pelo passado a existência de uma pretensa raça ariana superior à s demais). Significa tomar como
referência questõ es sociais e culturais, assim como problemá ticas humanas que fazem parte de nossa
vida, temas como desigualdades sociais, raciais, sexuais, diferenças culturais, problemas materiais e
inquietaçõ es relacionadas a como interpretar o mundo, lidar com a morte, organizar a sociedade,
estabelecer limites sociais, mudar esses limites, contestar a ordem, consolidar instituiçõ es, preservar
tradiçõ es, realizar rupturas...
1
1 Anacronismo: consiste em atribuir aos agentes históricos do passado razões ou sentimentos gerados no presente,
interpretando-se, assim, a história em função de critérios inadequados, como se os atuais fossem válidos para todas as
épocas. BRASIL. Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Plano Nacional do
Livro Didático. PNLD 2018. Brasília, DF: Ministério da Educação, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2015. p. 47.
Compromisso com o passado nã o significa estudar o passado pelo passado, apaixonar-se pelo objeto de
pesquisa por ser a nossa pesquisa, sem pensar no que a humanidade pode ser beneficiada com isso.
Compromisso com o passado é pesquisar com seriedade, basear-se nos fatos histó ricos, nã o distorcer o
acontecido, como se esse fosse uma massa amorfa à disposiçã o da fantasia de seu manipulador. Sem o
respeito ao acontecido a Histó ria vira ficçã o. Interpretar nã o pode ser confundido com inventar. E isso
vale tanto para fatos como para processos.
PINSKY, Jaime. In: KARNAL, Leandro (Org.). Histó ria na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. Sã o Paulo:
Contexto, 2003. p. 23-24.
Vale dizer, ainda, que o historiador se volta para o passado a partir de questõ es
colocadas pelo presente. Depois de estabelecer um determinado recorte, ele
transforma o tema em problema. A partir daí, trata-o com base em instrumentos e
métodos pró prios da Histó ria. Por isso se diz que toda narrativa histó rica está
relacionada a seu tempo e também é objeto da Histó ria.
[...] Sã o três as correntes mais discutidas: Positivismo, Materialismo Histó rico e Nova Histó ria.
Positivismo é o nome de uma corrente filosó fica originada no século XVIII, no contexto do processo de
industrializaçã o da sociedade europeia. Para os pensadores positivistas cabe à histó ria fazer um
levantamento descritivo dos fatos. “A histó ria por eles escrita é uma sucessã o de acontecimentos
isolados retratando, sobretudo, os feitos políticos de grandes heró is, os problemas diná sticos, as
batalhas, os tratados diplomá ticos etc.” (BORGES, 1987, p. 32-33). Neste sentido, os documentos oficiais
sã o as principais fontes de investigaçã o assim como as açõ es do Estado sã o as eleitas para constituírem a
narrativa histó rica. A concepçã o de tempo nesta forma de abordagem histó rica é caracterizada pela
linearidade (sucessã o) dos fatos porque sã o os fatos o objeto de estudo da histó ria.
Pá gina 294
homens” (BORGES, 1987, p. 35), analisadas a partir das condiçõ es materiais de existência.
A investigaçã o histó rica realizada a partir dos pressupostos do materialismo dialético considera que a
realidade é dinâ mica, dialética e repleta de contradiçõ es, gerada pela luta entre as diferentes classes
sociais. Portanto, a concepçã o de tempo que podemos identificar nesta corrente de pensamento busca
explicar o passado, nã o somente a partir do tempo do acontecimento, mas da contradiçã o que pode ser
encontrada em todo fato e, para compreender a contradiçã o, faz necessá rio deslocar-se temporalmente,
intentando como determinados fatos se constituíram historicamente e por que se apresentam de tal
forma ao homem no presente.
Ainda que com o materialismo histó rico tenha se constituído uma forma diferente de investigaçã o sobre
o passado e, consequentemente, provocado mudanças na narrativa histó rica, foi com a Nova Histó ria,
mais precisamente com a Escola dos Annales, em 1929, que a concepçã o de tempo na historiografia sofre
significativas alteraçõ es.
A alteraçã o na concepçã o de tempo deve ser compreendida a partir da concepçã o de Histó ria, ou melhor,
de como se constró i a narrativa histó rica para os pensadores da Nova Histó ria. Para estes, todos os
acontecimentos humanos poderiam ser entendidos como temá ticas para a construçã o da Histó ria e nã o
somente a narrativa dos feitos de alguns homens relacionados à histó ria política de seus países. Da
mesma forma, toda produçã o humana seria passível de ser entendida enquanto fonte para a pesquisa do
historiador, e nã o somente os documentos oficiais.
Esta forma de se entender a Histó ria rompeu com a ideia do tempo do acontecimento, com a concepçã o
de que a humanidade caminha de forma irreversível para algum ponto preestabelecido e também com a
noçã o de um progresso linear e contínuo. O papel do historiador, nesta perspectiva, é considerar o tempo
da duraçã o nas aná lises dos acontecimentos. Para alcançar tal intento, nã o basta estudar os fatos a partir
de sua organizaçã o cronoló gica, mas considerar também os movimentos de continuidade e mudança.
[...] o acontecimento (fato de breve duraçã o) corresponde a um momento preciso: um nascimento, uma
morte, a assinatura de um acordo, uma greve, etc.; a estrutura (fato de longa duraçã o), cujos marcos
cronoló gicos escapam à percepçã o dos contemporâ neos: a escravidã o antiga ou moderna, o cristianismo
ocidental, a proibiçã o do incesto, etc.; a conjuntura (fato de duraçã o média) que resulta de flutuaçõ es
mais ou menos regulares no interior de uma estrutura: a Revoluçã o Industrial inglesa, a ditadura militar
brasileira, a guerra fria etc.
A concepçã o de tempo apresentada pelos historiadores da Escola dos Annales nos indica que devem ser
considerados, na construçã o da Histó ria, a simultaneidade das duraçõ es assim como os movimentos de
permanências e mudanças que ocorrem em uma sociedade ao longo de um determinado período. Para
realizar esta abordagem nã o é possível considerar somente a cronologia como ponto de partida para a
compreensã o do tempo histó rico.
Os conteú dos e as metodologias apresentados nos livros didá ticos relacionam-se diretamente com estas
concepçõ es historiográ ficas abordadas aqui de forma sucinta. Nos manuais destinados aos professores,
os autores explicitam suas opçõ es teó ricas, o que merece ser destacado e contribui na melhoria da
qualidade das obras, visto que é ponto pacífico entre os historiadores que todos os sujeitos falam de
determinados lugares sociais e que sã o influenciados pelas características destes lugares. Estas
informaçõ es sã o valorizadas nas resenhas que compõ em o Guia do PNLD porque é importante que o
professor identifique de que “lugar” o autor fala.
OLIVEIRA, Sandra Regina F. de. Os tempos que a Histó ria tem... In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.).
Histó ria: ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educaçã o, Secretaria de Educaçã o Bá sica, 2010. p. 42-45. v.
21. (Explorando o ensino).
Pá gina 295
Neste livro, pautamo-nos por alguns referenciais teó ricos da Nova Histó ria, daí
entendermos a Histó ria como um conhecimento em permanente construçã o; por isso
tomamos o documento como ponto de partida e nã o de chegada na construçã o do
conhecimento e, além disso, incorporamos a açã o e a fala das mulheres, dos negros,
dos indígenas, dos operários e de outros sujeitos histó ricos antes relegados ao
esquecimento.
Ao longo da obra, utilizamos também a histó ria social inglesa, recorrendo mais de uma
vez aos trabalhos de Christopher Hill, E. P. Thompson e Hobsbawm para compreender
episó dios decisivos na formaçã o do mundo atual, como a Revoluçã o Inglesa, a
Revoluçã o Industrial, a Revoluçã o Francesa, o imperialismo, o movimento operá rio,
entre outros. Entendemos que as pesquisas desenvolvidas pelos neomarxistas ingleses
nem sempre se opõ em à s realizadas pelos integrantes dos Annales e seus
continuadores da Nova Histó ria. Por vezes, elas se fundem e/ou se complementam.
Por fim, é preciso dizer que demos maior ênfase ao conhecimento da histó ria política e
do passado pú blico por considerarmos que neste nível de ensino isso é decisivo para o
aluno desenvolver uma consciência crítica. Com essa consciência, ele pode orientar
sua prá tica como cidadã o e participar de projetos de mudança social e cultural. Em um
artigo importante sobre o assunto, a historiadora Maria de Lourdes Mô naco Jannoti
chama atençã o para o perigo de se valorizar o privado em detrimento do pú blico:
A Histó ria nã o é terreno do “interessante” e do mundo privado enquanto tal. Este cresce em relaçã o
direta à reduçã o das atividades da vida pú blica e à consciência da cidadania, como tã o bem explicou
Hannah Arendt, podendo levar, como o fez nos anos 20 e 30, à privatizaçã o do pró prio Estado pelas
ditaduras nazifascistas. Tal experiência deu-se no Brasil num passado muito pró ximo, durante a ditadura
getulista e a ditadura militar, por mais de quarenta e cinco anos, neste século.
Mesmo considerando [...] fundamentais os estudos sobre a vida privada no passado e no presente [...] é
fundamental rever determinada prá tica da investigaçã o e do ensino da Histó ria que, inspirada em uma
estreita leitura da Nova Histó ria com seus novos objetos e abordagens, acabam por nã o estabelecer
nenhuma “relaçã o orgâ nica com o passado pú blico da época em que vivemos”, segundo Hobsbawm.
JANNOTI, Maria de Lourdes Mô naco. In: BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histó rico na sala de aula. 2. ed. Sã o
Paulo: Contexto, 1998. p. 43-44. (Repensando o ensino).
A histó ria escrita é um recorte desse passado, nã o por incompetência dos profissionais de Histó ria, mas
porque este é o objeto da produçã o do conhecimento histó rico: problematizar o passado. Nã o se estuda
Histó ria para contar tudo o que aconteceu, mas para construir uma problemá tica sobre o passado e
sobre um tema em perspectiva histó rica. [...]
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). Histó ria: ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educaçã o,
Secretaria de Educaçã o Básica, 2010. p. 10. v. 21. (Explorando o ensino).
Pá gina 296
Ou seja, cada época coloca novos problemas, e é a partir deles que nos debruçamos
sobre o passado para investigar, crivar as fontes, comparar, analisar e construir uma
versã o dos fatos. Buscando romper com uma visã o passadista da Histó ria, entendemos
que o presente também é suscetível de conhecimento histó rico, desde que o
ancoremos na pró pria Histó ria.
Ciente de que o conhecimento é provisó rio, o aluno terá condiçõ es de exercitar nos procedimentos
pró prios da Histó ria: problematizaçã o das questõ es propostas, delimitaçã o do objeto, exame do estado
da questã o, busca de informaçõ es, levantamento e tratamento adequado das fontes, percepçã o dos
sujeitos histó ricos envolvidos (indivíduos, grupos sociais), estratégias de verificaçã o e comprovaçã o de
hipó teses, organizaçã o dos dados coletados, refinamento dos conceitos (historicidade), proposta de
explicaçã o para os fenô menos estudados, elaboraçã o da exposiçã o, redaçã o de textos.
BEZERRA, Holien Gonçalves. In: KARNAL, Leandro (Org.). Histó ria na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.
Sã o Paulo: Contexto, 2005. p. 42.
»» Facilitar a construçã o, por parte do educando, da capacidade de pensar historicamente, sendo que
esta operaçã o engloba uma percepçã o crítica e transformadora sobre os eventos e estudos histó ricos.
»» Favorecer a aquisiçã o de conhecimentos sobre diferentes momentos histó ricos, a fim de desenvolver
a habilidade de coordenaçã o do tempo histó rico.
»» Contribuir para a compreensã o dos processos da Histó ria, através da aná lise comparada das
semelhanças e diferenças entre momentos histó ricos, de forma a perceber a dinâ mica de mudanças e
permanências.
»» Propiciar o desenvolvimento do senso crítico do educando, no sentido de que este seja capaz de
formar uma opiniã o possível sobre os eventos histó ricos estudados.
Pá gina 297
»» Possibilitar a integraçã o dos conteú dos cognitivos com os aspectos afetivos e psicomotores do
educando, valorizando as características relacionais nas atividades de ensino-aprendizagem.
PESTANA, Maria Inês Gomes de Sá et al. Matrizes curriculares de referência para o Saeb. 2. ed. rev. ampl. Brasília, DF:
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1999. p. 63.
Atingir esses objetivos, ainda que parcialmente, pode ajudar o aluno a interpretar
situaçõ es concretas da vida social, posicionar-se criticamente diante da realidade
vivida e construir novos conhecimentos.
Nesta obra, retomamos alguns conceitos – como o de Histó ria, o de fontes histó ricas,
cultura, tempo – com o objetivo de consolidaçã o ou aprofundamento e trabalhamos
outros conceitos-chave na nossa disciplina – como o de processo histó rico, identidade,
memó ria, patrimô nio cultural, representaçã o e cidadania.
A seguir, apresentamos uma espécie de glossá rio com os conceitos-chave em Histó ria,
que pode ser ú til ao trabalho do professor na preparaçã o de sua aula.
História. Marc Bloch define a Histó ria como o estudo das sociedades humanas no
tempo. Para ele:
O historiador nunca sai do tempo [...], ele considera ora as grandes ondas de fenô menos aparentados que
atravessam, longitudinalmente, a duraçã o, ora o momento humano em que essas correntes se apertam
no nó poderoso das consciências.
BLOCH, Marc L. B. Apologia da Histó ria ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 135.
Seguindo a trilha aberta por Bloch, o historiador Holien Bezerra afirma que a Histó ria
busca desvendar “as relaçõ es que se estabelecem entre os grupos humanos em
diferentes tempos e espaços”. Outra definiçã o de Histó ria:
[...] A histó ria é a arte de aprender que o que é nem sempre foi, que o que nã o existe pô de alguma vez
existir; que o novo nã o o é forçosamente e que, ao contrá rio, o que consideramos por vezes eterno é
muito recente. Esta noçã o permite situarmo-nos no tempo, relativizar o acontecimento, descobrir as
linhas de continuidade e identificar as rupturas.
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). Histó ria: ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educaçã o,
Secretaria de Educaçã o Básica, 2010. p. 18. v. 21. (Explorando o ensino).
Há autores atuais, como Hayden White, que entendem a Histó ria como um gênero da
literatura e querem reduzi-la à ficçã o. Nó s discordamos dessa visã o e lembramos que a
Histó ria, ao contrá rio da literatura, tem compromisso com a evidência, e,
parafraseando Marc Bloch, diferentemente do literato, o historiador só pode afirmar
aquilo que tem condiçõ es de provar.
[...] processo de mudança direcional, no qual os sujeitos histó ricos, em meio à indeterminaçã o das
relaçõ es sociais, constroem os caminhos possíveis, inscrevendo nas diferentes dimensõ es temporais
(conjunturas e estruturas) os acontecimentos que repercutem de modo variado nos diferentes espaços
de açã o (privado ou pú blico, local, regional ou mundial) e que contêm diversos elementos (políticos,
econô micos, sociais, culturais) [...]
PCN + ENSINO MÉ DIO: orientaçõ es educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências
Humanas e suas Tecnologias. Brasília, DF: Ministério da Educaçã o, Secretaria de Educaçã o Básica, 2002. p. 77-78.
Pá gina 298
Tempo. É uma construçã o humana, e o tempo histó rico, uma construçã o cultural dos
povos em diferentes tempos e espaços. As principais dimensõ es do tempo sã o:
duraçã o, sucessã o e simultaneidade. Isso pode ser trabalhado em aula apresentando-
se as diferentes maneiras de vivenciar e apreender o tempo e de registrar a duraçã o, a
sucessã o e a simultaneidade dos eventos – tais conteú dos tornam-se, portanto, objeto
de estudos histó ricos. O tempo que interessa ao historiador é o tempo histó rico, o
tempo das transformaçõ es e das permanências. O tempo histó rico nã o obedece a um
ritmo preciso e idêntico como o do reló gio e/ou dos calendá rios. Por isso o historiador
considera diferentes temporalidades/duraçõ es: a longa, a média e a curta duraçã o.
[...] cultura [é] um conjunto de crenças, conhecimentos, valores, costumes, regulamentos, habilidades,
capacidades e há bitos construídos pelos seres humanos em determinadas sociedades, em diferentes
épocas e espaços.
PCN + ENSINO MÉ DIO: orientaçõ es educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências
Humanas e suas Tecnologias. Brasília, DF: Ministério da Educaçã o, Secretaria de Educaçã o Básica, 2002. p. 71-72.
BEZERRA, Holien Gonçalves. In: KARNAL, Leandro (Org.). Histó ria na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.
Sã o Paulo: Contexto, 2005. p. 46.
Constituem patrimô nio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial [...] nos quais se
incluem: I – as formas de expressã o; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criaçõ es científicas,
artísticas e tecnoló gicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificaçõ es e demais espaços destinados à s
manifestaçõ es artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histó rico, paisagístico,
artístico, arqueoló gico, paleontoló gico, ecoló gico e científico.
BITTENCOURT, Circe. O saber histó rico na sala de aula. 2. ed. Sã o Paulo: Contexto, 1998. p. 134. (Repensando o
ensino).
Um dos objetivos centrais do ensino de Histó ria, na atualidade, relaciona-se à sua contribuiçã o na
constituiçã o de identidades. A identidade nacional, nessa perspectiva, é uma das identidades a ser
constituídas pela Histó ria escolar, mas, por outro lado, enfrenta ainda o desafio de ser entendida em suas
relaçõ es com o local e o mundial.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de Histó ria: fundamentos e métodos. Sã o Paulo: Cortez, 2004. p. 121. (Docê ncia em
formaçã o).
A construçã o de identidades está relacionada também à memó ria.
Pá gina 299
A memó ria [...] é uma recriaçã o constante no presente do passado enquanto representaçã o, enquanto
imagem impressa na mente.
FUNARI, Pedro Paulo. Antiguidade clá ssica: a histó ria e a cultura a partir dos documentos. 2. ed. Campinas: Unicamp,
2003. p. 16.
A memó ria pode ser definida também como o modo como os seres humanos se
lembram ou se esquecem do passado; já a Histó ria pode ser vista como a crítica da
memó ria. Em sociedades complexas, como esta em que vivemos, a memó ria coletiva
dá origem a lugares de memó ria, como museus, bibliotecas, espaços culturais, galerias,
arquivos ou uma “grande” histó ria, a histó ria da naçã o. A memó ria nos remete à
questã o do tempo.
Política. O termo política teve sua origem na Grécia antiga e foi sendo ressignificado
ao longo do tempo. Ele está estreitamente relacionado à ideia de poder. Segundo
Nicolau Maquiavel (1469-1527), o fundador da política como ciência, a política é a arte
de conquistar, manter e exercer o poder. Já para Michel Foucault (1926-1984), o poder
nã o se concentra somente no Estado, mas está distribuído por todo o corpo social.
Seguindo essa trilha, dois estudiosos observaram que:
Há relaçã o de poder entre pais e filhos, alunos e professores, governantes e governados, dirigentes de
partido e seus filiados, patrõ es e empregados, líderes de associaçõ es sindicais e seus membros, e assim
por diante. A verdade é que tais relaçõ es sã o, no mais das vezes, sutis, mó veis, dispersas e de difícil
caracterizaçã o.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicioná rio de conceitos histó ricos. Sã o Paulo: Contexto, 2005. p.
335.
Ser cidadã o é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter
direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os
direitos civis e políticos nã o asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a
participaçã o do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educaçã o, ao trabalho, ao salá rio justo, à saú de,
a uma velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Histó ria da cidadania. Sã o Paulo: Contexto, 2003. p. 9.
2. Metodologia de ensino-aprendizagem
O trabalho com Histó ria em sala de aula é uma construçã o coletiva e se faz a partir do
saber aceito como legítimo pela comunidade de historiadores. Antes de tudo, porém, é
preciso considerar que esse saber acadêmico nã o deve ser confundido com o
conhecimento histó rico escolar, embora lhe sirva de suporte.
Pá gina 300
[...] nã o pode ser entendido como mera e simples transposiçã o de um conhecimento maior, proveniente
da ciência de referência e que é vulgarizado e simplificado pelo ensino. [...] “Nenhuma disciplina escolar é
uma simples filha da ‘ciência-mã e’”, adverte-nos Henri Moniot, e a histó ria escolar nã o é apenas uma
transposiçã o da histó ria acadêmica mas constitui-se por intermédio de um processo no qual interferem o
saber erudito, os valores contemporâ neos, as prá ticas e os problemas sociais.
BITTENCOURT, Circe. O saber histó rico na sala de aula. Sã o Paulo: Contexto, 1998. p. 25. (Repensando o ensino).
2. tem-se o tempo como categoria principal (como o assunto em estudo foi enfrentado por outras
sociedades);
3. dialoga-se com o tempo por meio das fontes (utiliza-se o livro didá tico, mapas, imagens, mú sicas [...]);
5. constró i-se uma narrativa/interpretaçã o/aná lise (pede-se um texto, um debate, uma peça teatral,
uma redaçã o, uma prova).
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). Histó ria: ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educaçã o,
Secretaria de Educaçã o Básica, 2010. v. 21, p. 11. (Explorando o ensino).
Com a Escola dos Annales, fundada pelos historiadores franceses Lucien Fèbvre e Marc
Bloch, adveio uma nova concepçã o de documento que nasceu da certeza de que o
passado nã o pode ser recuperado tal como aconteceu e que a sua investigaçã o só pode
ser feita a partir de problemas colocados pelo presente. Essa nova corrente
historiográ fica, que se formou a partir da crítica ao positivismo, propô s um nú mero
tã o grande e significativo de inovaçõ es que o historiador Peter Burke referiu-se a essa
corrente como “a Revoluçã o Francesa da historiografia”.
A Histó ria Nova ampliou o campo do documento histó rico; ela substituiu a histó ria de Langlois e
Seignobos2, fundada essencialmente nos textos, no documento escrito, por uma histó ria baseada
Pá gina 301
Uma estatística, uma curva de preços, uma fotografia, um filme, ou para um passado mais distante,
um pó len fó ssil, uma ferramenta, um ex-voto sã o, para a Histó ria Nova, documentos de primeira ordem
[...].
LE GOFF, Jacques. In: MARTINS, Ronaldo Marcos. Cuidado de si e educaçã o matemá tica: perspectivas, reflexõ es e
práticas de atores sociais (1925-1945). Rio Claro: Unesp, 2007. p. 23. (Tese de doutorado).
2
2 Nomes dos historiadores franceses por meio dos quais a história metódica, mais conhecida como positivista, chegou ao
a) evitar ver o documento como “prova do real”, procurando situá -lo como ponto de
partida para se construírem aproximaçõ es em torno do episó dio focalizado;
»» diminui a distâ ncia entre o conhecimento acadêmico e o saber escolar, uma vez que
os alunos sã o convidados a se iniciarem na crítica e contextualizaçã o dos documentos,
procedimento importante para a educaçã o histó rica.
Uma das questõ es que mais têm preocupado os educadores é que, se, por um lado, a
internet facilita o acesso a um amplo leque de textos e imagens, por outro, pode criar o
há bito de buscar o “trabalho pronto”, usando o famoso copiar/colar/imprimir, ou seja,
encerrando a pesquisa naquele que deveria ser o seu primeiro passo. No que tange ao
nosso campo de atuaçã o, e considerando que a internet tem sido uma ferramenta
muito utilizada no processo de ensino-aprendizagem, sugerimos alguns
procedimentos que podem nos ajudar a pensar sobre o seu uso na educaçã o histó rica:
a) Definir previamente os objetivos da pesquisa e solicitar que o aluno, enquanto
estiver pesquisando, nã o desvie a atençã o da proposta inicial entrando em redes
sociais, em salas de bate-papo, locais para ouvir mú sica ou jogar.
Pá gina 302
das informaçõ es veiculadas; e, por fim, estimular o posicionamento crítico diante das
informaçõ es e aná lises ali disponíveis.
d) Alertar o aluno para o fato de que nem tudo o que está na internet é verdade e que
as homepages sã o muitas vezes pouco consistentes. Por isso, a indicaçã o do tema deve
vir acompanhada de perguntas que incentivem o aluno a investigar.
• A imagem é polissêmica
Outro exemplo: Mona Lisa, certamente o quadro mais conhecido do mundo, pode ser
tomado como exemplo dessa característica da imagem. Já se afirmou que, se
estivermos melancó licos, temos tendência a ver, no sorriso enigmá tico da personagem
retratada, melancolia; se estivermos alegres, ela nos parecerá contente. Ou seja, ela
expressa os nossos sentimentos no momento em que a vemos.
Pá gina 303
Efetivamente, [...] Guernica – no espírito de muita gente que nã o tem mais o cuidado de saber exatamente
de onde isto surgiu – é um quadro de Picasso. [...] Guernica tornou-se a representaçã o de um fato preciso.
O fato preciso está esquecido, a representaçã o continua.
VILLAR, Pierre. In: D’ALESSIO, Marcia Mansor et al. (Org.). Reflexõ es sobre o saber histó rico. Sã o Paulo: Unesp, 1998.
p. 30. (Prismas).
O fato preciso a que Pierre Villar está se referindo é, como se sabe, o bombardeio da
pequenina cidade espanhola de Guernica pela aviaçã o nazista, a mando de Hitler,
durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). O fato, o bombardeio, ocorrido em 26
de abril de 1937, foi esquecido; a representaçã o produzida por Picasso, um ó leo sobre
tela, com o nome de Guernica, permaneceu marcando geraçõ es.
O que torna mais escorregadio o terreno para quem se decide pelo uso de imagens em
sala de aula é justamente o fato de a imagem possuir um efeito de realidade, ou seja, a
capacidade de se parecer com a pró pria realidade.
Pedro Amé rico. D. Pedro II na abertura da Assembleia Geral, 1872. Ó leo sobre tela. Museu Imperial, Petró polis
D. Pedro II.
S. R. de Sá . Retrato de D. Pedro I, 1826. Ó leo sobre tela. Museu Imperial, Petró polis
D. Pedro I.
Sobre a construçã o das imagens de Dom Pedro I, como jovem, e de Dom Pedro II, como
velho, observou uma estudiosa:
A ilustraçã o do pai jovem e do filho velho tem causado uma certa perplexidade aos jovens leitores e falta
a explicaçã o do aparente paradoxo. A imagem de um Dom Pedro II velho foi construída no período pó s-
moná rquico e demonstra a intençã o dos republicanos em explicar a queda de uma monarquia
envelhecida que nã o teria continuidade. É interessante destacar a permanência dessas ilustraçõ es na
produçã o atual dos manuais, reforçando uma interpretaçã o utilizada pelos republicanos no início do
século XX, mesmo depois de variadas pesquisas e publicaçõ es historiográ ficas sobre os conflitos e
tensõ es do período.
BITTENCOURT, Circe (Org.). O saber histó rico na sala de aula. 2. ed. Sã o Paulo: Contexto, 1998. p. 80. (Repensando o
ensino).
Pá gina 304
No entanto, é preciso que se repita à exaustã o: “eu vi” não significa “eu conheço”.
Assim, ver no noticiá rio televisivo um episó dio do conflito no Oriente Médio nã o
significa conhecer aquele conflito, seus motivos, seu contexto, o teatro de operaçõ es
etc.
Os historiadores se deparam hoje com este fenô meno histó rico inusitado: a transformaçã o do
acontecimento em imagem. [...] Nã o se busca mais tornar politicamente inteligíveis uma situaçã o ou um
acontecimento, mas apenas mostrar sua imagem. Conhecer se reduz a ver ou, mais ainda, a “pegar no ar”,
já que a mensagem da mídia é efêmera. [...]
BITTENCOURT, Circe. O saber histó rico na sala de aula. Sã o Paulo: Contexto, 1998. p. 122. (Repensando o ensino).
É ilusó rio pensar-se que as imagens se comuniquem imediata e diretamente ao observador, levando
sempre vantagem à palavra, pela imposiçã o clara de um conteú do explícito. Na maioria das vezes, ao
contrá rio, se calam em segredo, apó s a manifestaçã o do mais ó bvio: por vezes, [...] em seu isolamento, se
retraem à comunicaçã o, exigindo a contextualizaçã o, ú nica via de acesso seguro ao que possam significar.
Por outro lado, sã o difíceis de se deixarem traduzir num có digo diverso como o da linguagem verbal.
LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da fotografia histó rica. Sã o Paulo: Edusp, 1993. v. 9, p. 12. (Texto
& arte).
De fato, a imagem é captada pelo olho, mas traduzida pela palavra. Tomá -la como fonte
para o conhecimento da Histó ria envolve vê-la como uma representaçã o, uma
estratégia, uma linguagem com sintaxe pró pria. Para obter as informaçõ es a partir
dela é indispensá vel desnaturalizá -la e contextualizá -la, interrogando-a com perguntas
tais como: por quê, por quem, em que contexto e com que intençã o foi produzida.
É indispensá vel, enfim, perceber que a imagem nã o reproduz o real. Ela congela um
instante do real, “organizando-o” de acordo com uma determinada estética e visã o de
mundo.
Painel de Danú bio Gonçalves em homenagem à cavalaria e ao líder farroupilha, Bento Gonçalves,
figuras decisivas do movimento que agitou o Sul do Brasil no século XIX. A cavalaria foi a principal
arma dessa luta. O painel encontra-se em Porto Alegre.
Pá gina 305
O ouro e os diamantes passavam pelas autoridades no interior de está tuas ocas de santos feitas de
madeira. Daí a expressã o “santinho do pau oco”: pessoa que tem aparência de santo, mas nã o é
confiá vel.
Charge de Belmonte, Histó ria de um governo, na qual aparecem diversas caricaturas de Vargas.
Com base nas reflexõ es de alguns estudiosos e na nossa experiência didá tica, e cientes
de que essa tarefa nã o é das mais fáceis, propomos a seguir alguns procedimentos
para introduzir a leitura de imagens fixas na sala de aula.
Passo 1. Apresentar aos alunos uma imagem (fotografia, pintura, gravura, caricatura
etc.) sem qualquer legenda ou crédito. A seguir, pedir que eles observem a imagem e
descrevam livremente o que estã o vendo, antes de fornecer qualquer informaçã o. A
intençã o é permitir que eles associem o que estã o vendo à s informaçõ es que já
possuem, levando em conta, portanto, seus conhecimentos prévios. Nessa leitura
inicial, os alunos sã o estimulados a identificar o tema, os personagens, suas açõ es,
posturas, vestimentas, calçados e adornos, os objetos presentes na cena e suas
características, o que está em primeiro plano e ao fundo, se é uma cena cotidiana ou
rara. Enfim, estimular nos alunos o senso de observaçã o e a capacidade de levantar
hipó teses e traçar comparaçõ es.
Passo 3. De posse das informaçõ es obtidas na pesquisa, pedir aos alunos que
produzam uma legenda para a imagem em foco. Comentar com eles que a legenda
pode ser predominantemente descritiva, analítica e/ou conter um comentá rio
Pá gina 306
Ao comentar as legendas produzidas pelos alunos, lembrar que o que estã o vendo é
uma representaçã o do real e nã o sua reproduçã o. Evidentemente, essa proposta de
trabalho é apenas uma entre vá rias possibilidades. Experimentamos esses
procedimentos em sala de aula e eles se mostraram viá veis.
Por fim, dizer que se, diariamente, uma grande quantidade de imagens é posta diante
dos olhos dos alunos numa velocidade crescente, sua transformaçã o em fonte para o
conhecimento da Histó ria pode, com certeza, ajudar o leitor a ganhar autonomia e
capacidade crítica: um leitor capaz de perceber que a imagem nã o reproduz o real, ela
congela um instante do real, “organizando-o” de acordo com uma determinada estética
e visã o de mundo; um leitor capaz de olhar criticamente as imagens dos meios de
comunicaçã o, ciente de que a imagem efêmera que a mídia está veiculando como
verdadeira pode ser – e quase sempre é – a imagem preferida, a que ela escolheu
mostrar!
Todo filme, seja ele ficcional ou documental, é uma fonte a ser considerada pelo
historiador, pois o que se vê na tela é um tipo de registro do que aconteceu em algum
lugar, em algum momento.
No gênero ficcional, temos o registro de atores, figurinos, cená rios, luzes etc., filmados
numa ordem diversa da que vemos na tela. A ordenaçã o das sequências é arranjada
depois, no momento da montagem. No filme documental, a câ mera registra imagens
selecionadas pelo documentarista, previamente ou no calor da hora. Depois de
revelados os negativos, o realizador monta-os, corta o que nã o lhe agrada, coloca-os
em uma determinada ordem, dá -lhes certo ritmo, insere trechos de outros filmes,
depoimentos etc. A isso se chama editar. Se ele nã o age assim, nã o temos filme, mas o
que os profissionais chamam de “material bruto”, algo parecido com um automó vel
inteiramente desmontado que nã o serve a nenhum motorista.
O documentá rio editado expressa a visã o de um indivíduo ou grupo que quer nos
convencer da versã o que arrumou para mostrar na tela (ou no vídeo). Por exemplo, o
que Silvio Tendler quis, segundo ele mesmo disse, com o documentá rio Jango (1984)
foi “mostrar a necessidade de justiça social no país”, por meio do resgate da figura do
ex-presidente Joã o Goulart.
Isso é ruim? De forma alguma. A consciência disso é que permite ao professor desvelar
o que pode estar oculto, subentendido, enfim, o tipo particular de registro que
qualquer filme é, seja ele documental ou ficcional. Ao fazer uso do filme ficcional,
sugerimos lembrar aos alunos que se está diante de uma versã o, de uma
representaçã o, e nã o dos fatos histó ricos tal como eles ocorreram.
Pá gina 307
Mas nem por isso a ficçã o “de época” deve ser tratada como uma mentira
inconsequente, interesseira. Ela é uma narrativa que procura transformar em imagens
verossímeis o acontecido, ou imaginar como pode ter acontecido, servindo-se dos
meios disponíveis na ocasiã o em que o filme foi realizado. Assim, desqualificar um
filme porque nã o apresenta a “verdade” é uma ingenuidade. Ora, o que é uma verdade
acabada do ponto de vista histó rico?
Geralmente, o filme histó rico revela mais sobre a época em que foi feito do que sobre a
época que pretendeu retratar. Um exemplo: Danton, o processo da Revoluçã o (1983),
de Andrzej Wajda, é um filme sobre a Revoluçã o Francesa de 1789, mas a obra que
Wajda realiza é mais uma crítica ao autoritarismo e ao clima de medo vivido na
Polô nia dos anos de 1980 (lugar e tempo em que o diretor viveu) do que uma
narrativa sobre o episó dio vivido pelos franceses em 1789 (época em que o filme foi
ambientado).
a) Muitas horas de preparo. Decidindo por um filme, o professor deve assistir a ele
pelo menos duas vezes. Na segunda, deve marcar, com muita atençã o, as principais
sequências, cenas e planos, para saber repeti-los no momento adequado da aula,
comentando-os.
d) Percepçã o de que o sentido de um filme narrativo está no modo como ele conta a
histó ria, seu ritmo, a duraçã o e a sucessã o dos planos, o posicionamento da câ mera, o
tipo de luz e de fotografia escolhidos, o uso ou nã o da mú sica, o estilo de interpretaçã o
dos atores, e assim por diante. Tudo isso muito bem amarrado é que nos dá a
significaçã o e o prazer de um bom filme. Um bom livro nã o se transforma
necessariamente em um bom filme.
BITTENCOURT, Circe. Livros didá ticos entre textos e imagens. In: ________ (Org.). O
saber histórico na sala de aula. 2. ed. Sã o Paulo: Contexto, 1998.
BORGES, Maria Eliza Linhares. História & fotografia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
CARNEIRO, M. Luiza Tucci; KOSSOY, Boris. O olhar europeu: o negro na iconografia
brasileira do século XIX. Sã o Paulo: Edusp, 1994.
D’ALESSIO, Má rcia Mansor (Org.). Reflexões sobre o saber histórico. Sã o Paulo: Unesp,
1998.
GAULUPEAU, Yves. Les manuels par l’image: pour une approche sérielle des contenus.
Histoire de l’Education, Paris: INRP, n. 58, maio de 1993.
LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da fotografia histó rica. Sã o Paulo:
Edusp, 1993.
NAVES, Rodrigo. A forma difícil: ensaios sobre a arte brasileira. 2. ed. Sã o Paulo: Á tica,
2001.
Pá gina 308
O vídeo está umbilicalmente ligado à televisã o e a um contexto de lazer, e entretenimento, que passa
imperceptivelmente para a sala de aula. Vídeo, na cabeça dos alunos, significa descanso e nã o “aula”, o
que modifica a postura, as expectativas em relaçã o ao seu uso. Precisamos aproveitar essa expectativa
positiva para atrair o aluno para os assuntos do nosso planejamento pedagó gico. Mas ao mesmo tempo,
saber que necessitamos prestar atençã o para estabelecer novas pontes entre o vídeo e as outras
dinâ micas da aula.
[...]
Linguagens da TV e do vídeo
[...]
O vídeo explora também e, basicamente, o ver, o visualizar, o ter diante de nó s as situaçõ es, as pessoas,
os cená rios, as cores, as relaçõ es espaciais (pró ximo-distante, alto-baixo, direita-esquerda, grande-
pequeno, equilíbrio-desequilíbrio). Desenvolve um ver entrecortado – com mú ltiplos recortes da
realidade – através dos planos – e muitos ritmos visuais: imagens está ticas e dinâ micas, câ mera fixa ou
em movimento, uma ou vá rias câ meras, personagens quietos ou movendo-se, imagens ao vivo, gravadas
ou criadas no computador. Um ver que está situado no presente, mas que o interliga [...] com o passado e
com o futuro. [...]. A fala aproxima o vídeo do cotidiano, de como as pessoas se comunicam
habitualmente. Os diá logos expressam a fala coloquial, enquanto o narrador (normalmente em off)
“costura” as cenas, as outras falas, dentro da norma culta, orientando a significaçã o do conjunto. A
narraçã o falada ancora todo o processo de significaçã o.
[...] O vídeo é sensorial, visual, linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens que interagem
superpostas, interligadas, somadas, nã o separadas. Daí a sua força. Atingem-nos por todos os sentidos e
de todas as maneiras. O vídeo nos seduz, informa, entretém, projeta em outras realidades (no
imaginá rio) em outros tempos e espaços. O vídeo combina a comunicaçã o sensorial-cenestésica, com a
audiovisual, a intuiçã o com a ló gica, a emoçã o com a razã o. [...]
TV e vídeo encontraram a fó rmula de comunicar-se com a maioria das pessoas, tanto crianças como
adultas. O ritmo torna-se cada vez mais alucinante (por exemplo, nos videoclipes).
[...]
Pá gina 309
Vídeo-enrolação: exibir um vídeo sem muita ligaçã o com a matéria. O aluno percebe que o vídeo é
usado como forma de camuflar a aula. Pode concordar na hora, mas discorda do seu mau uso.
Vídeo-perfeição: existem professores que questionam todos os vídeos possíveis porque possuem
defeitos de informaçã o ou estéticos. Os vídeos que apresentam conceitos problemá ticos podem ser
usados para descobri-los, junto com os alunos, e questioná -los.
Só vídeo: nã o é satisfató rio didaticamente exibir o vídeo sem discuti-lo, sem integrá -lo com o assunto de
aula, sem voltar e mostrar alguns momentos mais importantes.
Propostas de utilização
Vídeo como sensibilização
É , do meu ponto de vista, o uso mais importante na escola. Um bom vídeo é interessantíssimo para
introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade, a motivaçã o para novos temas. Isso facilitará
o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o assunto do vídeo e da matéria.
O vídeo muitas vezes ajuda a mostrar o que se fala em aula, a compor cená rios desconhecidos dos alunos.
Por exemplo, um vídeo que exemplifica como eram os romanos na época de Jú lio César ou Nero, mesmo
que nã o seja totalmente fiel, ajuda a situar os alunos no tempo histó rico. Um vídeo traz para a sala de
aula realidades distantes dos alunos, como por exemplo, a Amazô nia ou a Á frica. A vida se aproxima da
escola através do vídeo.
[...]
Vídeo que mostra determinado assunto, de forma direta ou indireta. De forma direta, quando informa
sobre um tema específico orientando a sua interpretaçã o. De forma indireta, quando mostra um tema,
permitindo abordagens mú ltiplas, interdisciplinares.
[...]
Dinâmicas de análise
Análise em conjunto
O professor exibe as cenas mais importantes e as comenta junto com os alunos, a partir do que estes
destacam ou perguntam. É uma conversa sobre o vídeo, com o professor como moderador.
[...]
Análise globalizante
»» Aspectos negativos
Pá gina 310
Se houver tempo, essas perguntas serã o respondidas primeiro em grupos menores e depois
relatadas/escritas no plená rio. O professor e os alunos destacam as coincidências e divergências. O
professor faz a síntese final, devolvendo ao grupo as leituras predominantes (onde se expressam valores,
que mostram como o grupo é).
[...]
Análise da linguagem
[...]
»» Que ideias passa [...] o programa (o que diz [...] esta histó ria)
»» Ideologia do programa
»» Valores afirmados e negados pelo programa (como sã o apresentados a justiça, o trabalho, o amor, o
mundo)
»» Como cada participante julga esses valores (concordâ ncias e discordâ ncias nos sistemas de valores
envolvidos). A partir de onde cada um de nó s julga a histó ria.
Completar o vídeo
MORAN, José Manuel. O vídeo na sala de aula. Comunicaçã o & Educaçã o, Sã o Paulo: ECA-Moderna, p. 27-35, jan./abr.
de 1995.
Bibliografia complementar
BABIN, Pierre; KOPULOUMDJIAN, Marie-France. Os novos modos de compreender : a
geraçã o do audiovisual e do computador. Sã o Paulo: Paulinas, 1989.
FERRÉ S, Joan. Vídeo e educação. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
Pá gina 311
Art. 2º [...] o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificaçã o para o trabalho.
BRASIL. Presidência da Repú blica. Casa Civil. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF, dez. 1996.
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 9 jun. 2016.
Art. 35 [...]
I – a consolidaçã o e o aprofundamento dos conhecimentos [...];
BRASIL. Presidência da Repú blica. Casa Civil. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF, dez. 1996.
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 9 jun. 2016.
Com base nessa nova perspectiva, concluiu-se que, para capacitar os jovens para o
enfrentamento de um mundo que muda constantemente e de modo acelerado, é
necessá rio estimulá -los a desenvolver um conjunto variado de competências e
habilidades. Segundo o soció logo suíço Philippe Perrenoud:
»» Saber orientar-se em uma cidade desconhecida mobiliza as capacidades de ler um mapa, localizar-se,
pedir informaçõ es ou conselhos; e os seguintes saberes: ter noçã o de escala, elementos da topografia ou
referências geográ ficas.
»» Saber curar uma criança doente mobiliza as capacidades de observar sinais fisioló gicos, medir a
temperatura, administrar um medicamento; e os seguintes saberes: identificar patologias e sintomas,
Pá gina 312
»» Saber votar de acordo com seus interesses mobiliza as capacidades de saber se informar, preencher a
cédula; e os seguintes saberes: instituiçõ es políticas, processo de eleiçã o, candidatos, partidos,
programas políticos, políticas democrá ticas etc.
GENTILE, Paola; BENCINI, Roberta. Construindo competências: entrevista com Philippe Perrenoud, Universidade de
Genebra. Nova Escola, set. 2000. Disponível em:
<www.unige.ch/fapse/SSE/teachers/perrenoud/php_main/php_2000/2000_31.html>. Acesso em: 18 maio 2016.
Já o termo habilidade pode ser definido como a capacidade de realizar uma tarefa ou
um conjunto de tarefas necessá rias ao desenvolvimento de uma competência. Por
exemplo, para ser considerado competente como cirurgiã o, o indivíduo precisa ter
habilidades tais como diagnosticar, decidir, cortar, suturar e, mais recentemente,
manusear equipamentos de informá tica.
Habilidades
Habilidades
H 8 – Analisar a açã o dos Estados nacionais no que se refere à dinâ mica dos fluxos
populacionais e ao enfrentamento de problemas de ordem econô mico-social.
Habilidades
Habilidades
Pá gina 314
Habilidades
Habilidades
H 26 – Identificar em fontes diversas o processo de ocupaçã o dos meios físicos e as
relaçõ es da vida humana com a paisagem.
Na primeira ediçã o do Pisa, em 2000, o Brasil obteve 396 pontos em leitura; na quinta,
em 2012, atingiu a casa dos 410 pontos. Portanto, o crescimento entre a primeira e a
quarta ediçã o foi de 14 pontos. Ainda assim, em um total de 65 países avaliados,
ficamos na 55ª posiçã o. Ou seja: em 2012, dos 20 mil brasileiros avaliados, 49,2%
(quase metade dos alunos brasileiros de 15 anos) ficaram abaixo do nível 2 –
considerado bá sico pelo referido exame.
Sabendo que o Pisa constró i as questõ es das provas de leitura com vistas a medir a
compreensã o e a interpretaçã o de textos e imagens e o grau de autonomia do aluno
para compreender a realidade e reconhecê-la por meio da representaçã o grá fica,
conclui-se que nossos alunos ainda precisam desenvolver muito a competência leitora.
Daí a ênfase que demos a ela no livro.
Apresentamos a seguir alguns textos que subsidiam a nossa decisã o de assumir que ler
e escrever é também um compromisso do componente curricular Histó ria.
Pá gina 315
• Texto 1
O texto a seguir faz parte da obra Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Leia-
o com atençã o.
[...] Reclamamos da má qualidade da leitura e da escrita dos estudantes em geral, mas a quem compete a
responsabilidade de reverter essa situaçã o? [...]
[...]
[...] ler e escrever nã o é questã o exclusiva da aula de português, mas compromisso da escola como um
todo. [...]
[...]
A sociedade vê a escola como o espaço privilegiado para o desenvolvimento da leitura e da escrita [...].
Todo estudante deve ter acesso a ler e a escrever em boas condiçõ es, mesmo que nem sempre tenha uma
caminhada escolar bem traçada. Independente de sua histó ria, merece respeito e atençã o quanto a suas
vivências e expectativas. Daí a importâ ncia da intervençã o mediadora do professor e da açã o
sistematizada da escola na qualificaçã o de habilidades indispensá veis à cidadania e à vida em sociedade,
para qualquer estudante, como sã o o ler e o escrever.
O professor é aquele que apresenta o que será lido: o livro, o texto, a paisagem, a imagem, a pintura, o
corpo em movimento, o mundo. É ele quem auxilia a interpretar e a estabelecer significados. Cabe a ele
criar, promover experiências, situaçõ es novas e manipulaçõ es que conduzam à formaçã o de uma geraçã o
de leitores capazes de dominar as mú ltiplas formas de linguagem e de reconhecer os variados e
inovadores recursos tecnoló gicos, disponíveis para a comunicaçã o humana presentes no dia a dia.
A escola é aqui unanimemente responsabilizada pela tarefa de levar o aluno a atrever-se a errar; a
construir suas pró prias hipó teses a respeito do sentido do que lê e a assumir pontos de vista pró prios
para escrever a respeito do que vê, do que sente, do que viveu, do que leu, do que ouviu em aula, do que
viu no mundo lá fora, promovendo em seus textos um diá logo entre vida e escola, entre a disciplina e o
mundo.
[...]
NEVES, Iara C. Bitencourt et al. (Org.). Ler e escrever: compromisso de todas as á reas. 9. ed. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2011. p. 15-17.
• Texto 2
O texto a seguir foi escrito por Maria Auxiliadora Schmidt, professora pó s-doutorada
em Didá tica da Histó ria pela Universidade Nova de Lisboa (Portugal), e Marlene
Cainelli, doutora pela Universidade Federal do Paraná . Leia-o com atençã o.
É na sala de aula que se realiza um espetá culo cheio de vida e sobressaltos. Cada aula é ú nica. Nesse
espetá culo, a relaçã o pedagó gica é, por essência, plural; uma relaçã o em que o “professor fornece a
matéria para raciocinar, ensina a raciocinar, mas, acima de tudo, ensina que é possível raciocinar”.
Nesse sentido, o professor de histó ria ajuda o aluno a adquirir as ferramentas de trabalho necessá rias
para aprender a pensar historicamente, o saber-fazer, o saber-fazer-bem, lançando os germes do
histó rico. Ele é o responsá vel por ensinar ao aluno como captar e valorizar a diversidade das fontes e dos
pontos de vista histó ricos, levando-o a reconstruir, por aduçã o, o percurso da narrativa histó rica. Ao
professor cabe ensinar ao aluno como levantar problemas, procurando transformar, em cada aula de
histó ria, temas e problemá ticas em narrativas histó ricas.
Pá gina 316
Ensinar Histó ria passa a ser, entã o, dar condiçõ es ao aluno para poder participar do processo de fazer o
conhecimento histó rico, de construí-lo. O aluno deve entender que o conhecimento histó rico nã o é
adquirido como um dom, como comumente ouvimos os alunos afirmarem. O aluno que declara “eu nã o
sirvo para aprender Histó ria” evidencia a interiorizaçã o de preconceitos e incapacidades nã o resolvidas.
Ele deve entender que o conhecimento histó rico nã o é uma mercadoria que se compra bem ou mal.
Assim, a aula de histó ria é o espaço em que um embate é travado diante do pró prio saber: de um lado, a
necessidade de o professor ser o produtor do saber, de ser partícipe da produçã o do conhecimento
histó rico, de contribuir, pessoalmente, para isso; de outro, a opçã o de se tornar tã o somente eco do que
já foi dito por outros.
A sala de aula nã o é apenas o espaço onde se transmitem informaçõ es, mas o espaço onde se estabelece
uma relaçã o em que interlocutores constroem significaçõ es e sentidos. Trata-se de um espetá culo
impregnado de tensõ es, no qual se torna insepará vel o significado da relaçã o entre teoria e prá tica, entre
ensino e pesquisa. Na sala de aula, evidenciam-se, de forma mais explícita, os dilaceramentos da
profissã o de professor e os embates da relaçã o pedagó gica.
[...]
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar histó ria. Sã o Paulo: Scipione, 2009. p. 33-35. (Coleçã o
Pensamento e açã o na sala de aula).
• Texto 3
[…]
Há algumas décadas, houve um equívoco expressivo na modernizaçã o do ensino. Julgou-se que era
necessá rio introduzir má quinas para se ter uma aula dinâ mica. Multiplicaram-se os retroprojetores, os
projetores de slides e, posteriormente, os filmes em sala de aula. O retroprojetor, em particular, ganhou
uma popularidade extraordiná ria no ensino médio, fundamental e superior. Mais do que modernizar (o
que implica um ar de mera reforma), trata-se de pensar se a mensagem apresenta validade, tenha ela
cara nova ou velha.
Que seja dito e repetido à exaustã o: uma aula pode ser extremamente conservadora e ultrapassada
contando com todos os mais modernos meios audiovisuais. Uma aula pode ser muito dinâ mica e
inovadora utilizando giz, professor e aluno. Em outras palavras, podemos utilizar meios novos, mas é a
pró pria concepçã o de Histó ria que deve ser repensada. O recorte que o professor faz é uma opçã o
política. Por mais antiga que pareça essa afirmaçã o, ela se tornou muito importante num país como o
nosso, redemocratizado nos aspectos formais, mas com padrõ es de desigualdade de fazer inveja aos
genocídios clá ssicos do passado.
[...]
O maior objetivo deste livro é fazer o leitor, possivelmente um professor ou candidato a professor,
perceber que, sem uma reflexã o sobre a mudança contínua e as permanências necessá rias, a atividade do
professor torna-se insuportá vel com o passar dos anos. Todas as profissõ es têm sua “perda de aura” no
enfrentamento entre a pluma do ideal e o aço do real, mas aquelas que trabalham com a formaçã o de
pessoas parecem tornar esse desgaste ainda mais gritante, pois contrariam a descoberta que uma aula
deve ser. Continuar descobrindo coisas em nossa á rea pode ser uma forma de diminuir bastante esse
desgaste. Ler, criticar, discutir, reunir-se com outras pessoas interessadas em nã o morrer profissional e
pessoalmente podem ser caminhos para atenuar esse desgaste.
KARNAL, Leandro. (Org.). Histó ria na sala de aula: conceitos, prá ticas e propostas. Sã o Paulo: Contexto, 2003. p. 9-11.
Pá gina 317
• Texto 4
O texto a seguir foi escrito por Fernando Seffner, professor adjunto da Faculdade de
Educaçã o da UFRGS e docente e orientador junto ao Programa de Pó s-Graduaçã o em
Educaçã o. Leia-o com atençã o.
Uma leitura chama o uso de outras fontes de informaçã o, de outras leituras, possibilitando a articulaçã o
de todas as á reas da escola. Uma leitura remete a diferentes fontes de conhecimentos, da histó ria à
matemá tica. Nesse sentido, leitura e escrita sã o tarefas fundamentais da escola e, portanto, de todas as
á reas. Estudar é ler e escrever.
Os conhecimentos histó ricos podem servir de apoio na leitura de qualquer outra modalidade de texto,
em qualquer outra á rea, na medida em que todo texto é datado historicamente, vinculado a determinada
visã o de mundo ou conjuntura. A partir de referenciais da histó ria, podemos interrogar textos
produzidos em outras á reas, verificando sua relaçã o com as discussõ es e problemá ticas de cada período
histó rico. Nesse sentido, um olho no texto e outro na realidade social circundante constituem a receita
mais apropriada para as atividades de leitura e escrita numa aula de histó ria:
Admita-se, portanto, que ler envolve, de um lado, uma competência específica – que pode ser dada pela
escola quando se trata do domínio do có digo escrito – e, de outro, uma convivência com as complexas
instâ ncias da sociedade global. A rigor, quando se trata de ler um texto escrito, essas duas variá veis se
cruzam num elemento específico dado pelo signo verbal impresso. (CITELLI, 1994, p. 48)
As atividades de leitura e escrita associadas ao ensino de histó ria devem possibilitar que o aluno elabore
seu projeto social (escrever) a partir da aná lise de outros projetos (leitura do social). Fazer do aluno um
agente histó rico é ensiná -lo a reconhecer diferentes projetos sociais embutidos nas diferentes falas
sociais, e ajudá -lo a construir sua trajetó ria a partir destes referenciais.
SEFFNER, Fernando. Leitura e escrita na histó ria. In: NEVES, Iara C. Bitencourt et al. (Org.). Ler e escrever:
compromisso de todas as áreas. 9. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011. p. 123.
2.5.2. A contribuição da História para a formação de
leitores/escritores
Uma das condiçõ es para que o estudo de Histó ria contribua para a formaçã o de
leitores/ escritores é o trabalho planejado com diferentes tipos de textos e com uma
diversidade de linguagens (cinematográ fica, fotográ fica, pictó rica, a dos quadrinhos, a
do desenho, a da charge, entre outras).
Boa parte do que os alunos aprendem em Histó ria na escola é resultado da leitura (de
textos e imagens), daí a importâ ncia de familiarizá -los também com os procedimentos
de leitura, específicos e diferenciados, adequados a cada um desses registros. Sem
adentrarmos na discussã o teó rica sobre o assunto, é importante lembrar que imagem
e texto possuem estatutos diferentes e demandam tratamentos e abordagens
diferenciados. Ao receberem um tratamento adequado, os textos e as imagens deixam
de servir só para ilustrar ou exemplificar um determinado tema e passam a ser
materiais a serem interrogados, confrontados, comparados e contextualizados.
Pá gina 318
De acordo com a professora Circe Bittencourt, fazer aná lise e comentá rio de um
documento corresponde a:
BITTENCOURT, Circe. Ensino de Histó ria: fundamentos e métodos. Sã o Paulo: Cortez, 2004. p. 334.
É esse trabalho sistemá tico e planejado que permite aos leitores e escritores alunos,
com a mediaçã o do professor, conquistar autonomia para ler e contextualizar textos e
imagens.
Pá gina 319
»» delimitar o tema e definir como cada disciplina pode contribuir para investigá -lo;
Esta escolha deve ser feita por meio de um amplo debate com os alunos, incorporando
seus desejos e interesses, pois o sucesso do projeto dependerá , em boa parte, do
envolvimento deles no processo. Para a escolha do tema propomos que se adotem os
seguintes critérios:
Pá gina 320
Sugestão: escolhido o tema, afixar uma faixa ou painel na entrada da escola com o
título do projeto, a fim de manter a comunidade externa informada e estimular sua
participaçã o.
É indispensá vel que os alunos aprendam mais e melhor a fim de atingir os objetivos
propostos. Para isso, os resultados de uma avaliaçã o devem servir para reorientar a
prá tica educacional e nunca como um meio de estigmatizar os alunos. Sabe-se que o
processo de construçã o do conhecimento é dinâ mico e nã o linear; assim, avaliar a
aprendizagem implica avaliar o ensino oferecido. Se, por exemplo, nã o há a
aprendizagem esperada, isso significa que o ensino nã o cumpriu com a sua finalidade:
a de fazer aprender.
Para César Coll, a avaliação pode ser definida como uma série de atuaçõ es que devem
cumprir duas funções bá sicas:
»» diagnosticar – ou seja, identificar o tipo de ajuda pedagó gica que será oferecida
aos alunos e ajustá -la progressivamente à s características e à s necessidades deles.
Para diagnosticar e controlar o processo educativo César Coll recomenda o uso de três
tipos de avaliaçõ es:
Pá gina 321
Fonte: COLL, César. Psicologia e currículo. Sã o Paulo: Á tica, 1999. p. 151. (Fundamentos).
A avaliação inicial busca verificar os conhecimentos prévios dos alunos e possibilita a
eles a tomada de consciência de suas limitaçõ es (imprecisõ es e contradiçõ es dos seus
esquemas de conhecimento) e da necessidade de superá -las.
Nos PCN, a avaliaçã o também é vista como um conjunto de atuaçõ es que tem a funçã o
de alimentar, sustentar e orientar a intervençã o pedagó gica. Os PCN recomendam uma
avaliaçã o inicial, para o planejamento do professor e uma avaliaçã o ao final de uma
etapa de trabalho, a qual, por sua vez, subsidiará a avaliaçã o final. Recomendam,
assim, uma avaliaçã o contínua do processo de ensino-aprendizagem. Por meio da
avaliaçã o contínua o professor colhe elementos para planejar; o aluno toma
consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades; a escola identifica os
aspectos das açõ es educacionais que necessitam de maior apoio.
Os alunos podem ser avaliados por meio de produçõ es escritas, orais, gestuais, da
resoluçã o de problemas, da geraçã o de imagens (fotos, desenhos, mapas, grá ficos,
tabelas), da participaçã o em sala de aula e nas atividades extraclasse. Um dos
instrumentos para avaliar essa participaçã o do aluno é a observaçã o sistemá tica.
Digamos que um aluno tenha tido um desempenho nã o satisfató rio durante a
elaboraçã o em grupo de um produto para o Projeto, mas contribuiu com um material
variado para essa atividade. Sugestã o: anotar na ficha a atitude do aluno e levá -la em
consideraçã o na avaliaçã o formativa.
A avaliaçã o final do projeto deve ser continuada e visar ao processo educacional como
um todo. Pode-se recorrer aos seguintes instrumentos:
Pá gina 322
b) entrevista com participantes do projeto visando colher dados sobre sua atuaçã o e
sua visã o dele;
c) avaliaçã o (e autoavaliaçã o) da aprendizagem dos alunos (se ocorreu aprendizagem
significativa ou nã o);
HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação mediadora: uma prá tica em construçã o da
pré-escola à universidade. 20. ed. rev. Porto Alegre: Mediaçã o, 2003.
NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: uma jornada interdisciplinar rumo
ao desenvolvimento das mú ltiplas inteligências. Sã o Paulo: É rica, 2001.
Entã o, perguntamos nó s, é por obediência à lei que se deve estudar a temá tica afro e a
temá tica indígena?
Pá gina 323
b) Esse trabalho atende a uma antiga reivindicaçã o dos movimentos indígenas e dos
movimentos negros: “o direito à histó ria”.
c) O estudo dessas temá ticas contribui para a educaçã o voltada à tolerâ ncia e ao
respeito ao “outro” e, assim sendo, é indispensá vel a toda populaçã o brasileira, seja ela
indígena, afro-brasileira ou nã o.
Cabe lembrar também que a populaçã o indígena atual (817 mil pessoas), segundo o
Censo 2010, vem crescendo e continua lutando em defesa de seus direitos à cidadania
plena. Já os afro-brasileiros (pardos e pretos, segundo o IBGE) constituem cerca de
metade da populaçã o brasileira. Além disso, todos os brasileiros, independentemente
da cor ou da origem, têm o direito e a necessidade de conhecer a diversidade étnico-
cultural existente no territó rio nacional.
Uma outra temá tica relevante no ensino de Histó ria é a de gênero. Ao longo de toda a
coleçã o, optamos por abordá -la explicitando o protagonismo da mulher em diferentes
tempos e espaços. No corpo do capítulo, nas atividades e na seleçã o de imagens,
buscou-se problematizar o papel reservado a ela nas sociedades do passado e do
presente, e evidenciar a sua luta para desvencilhar-se das vá rias formas de
discriminaçã o que a vitimaram ao longo do tempo. A seguir, apresentamos uma
coletâ nea de textos com o objetivo de ampliar o estudo desses temas e indicar
caminhos de aprofundamento.
• Texto 1
Os habitantes da Á frica devem ser pensados por nó s como civilizaçõ es e como culturas. A riqueza da
histó ria dos povos do continente só é compreensível se conseguirmos vislumbrar toda a diversidade e
genialidade que cada povo conseguiu forjar ao longo de milênios de lutas e interaçã o entre si e com a
natureza.
A negaçã o a essas culturas, que partiu de pressupostos histó ricos hoje superados, estabeleceu o “atraso”
africano em contraposiçã o ao referencial de “progresso” europeu. Com isso, durante muito tempo
acreditou-se que o berço da humanidade fosse a Europa, mas em meados do século XX o investigador
Cheikh Anta Diop publicou uma série de pesquisas em que demonstrou ser a Á frica o nascedouro da
humanidade e da civilizaçã o ocidental. Pesquisas posteriores corroboraram esses pressupostos,
possibilitando a avaliaçã o de que o homo sapiens sapiens surgiu na Á frica há cerca de 130 000 anos e
que o seu deslocamento povoou a Europa há 40 000 anos. Os achados arqueoló gicos, as pesquisas com
carbono-14 e o desenvolvimento do conhecimento genético têm proporcionado elementos que
provocam a refutaçã o dos discursos racialistas e, sobretudo, esclarecem alguns pontos obscuros, nã o só a
respeito da histó ria da Á frica, como dos demais continentes.
Os elos estabelecidos pela arqueologia e antropologia sã o agora ratificados pelas pesquisas genéticas,
que esvaziam a ideia de raça e propõ em uma origem ú nica. A ousada pesquisa da equipe de Allan Wilson,
de rastreamento de polimorfismos no DNA mitocondrial de mulheres descendentes de diferentes
grupos, portanto com fenó tipos diferentes, concluiu que a humanidade teria como origem uma mulher
subsaariana que foi designada “Eva, mã e de todos nó s”.
ARNAUT, Luiz; LOPES, Ana Mô nica. Histó ria da Á frica: uma introduçã o. Belo Horizonte: Crisá lida, 2005. p. 20-21.
Pá gina 324
• Texto 2
Desde 1988 o Ilê Aiyê vem desenvolvendo açõ es educativas através da Escola Mã e
Hilda no sentido de ampliar o conhecimento e fortalecer a identidade e a autoestima
das crianças afrodescendentes. Em 1995, o Ilê Aiyê criou o Projeto de Extensã o
Pedagó gica que visa à construçã o da cidadania em torno de três eixos: Educaçã o
Preventiva Integral, Etnicidade e Iniciaçã o Profissional. A partir desse projeto também
foi criada a Banda Erê e o Coral Erê, que pertencem à Escola de Percussã o, Centro e
Dança Band’Erê. O Ilê já firmou convênios com a Prefeitura Municipal de Salvador e a
Universidade Estadual da Bahia (Uneb) para a á rea de educaçã o.
Juca Varella/Folhapress
A característica mais marcante do trabalho do Projeto de Educaçã o Pedagó gica do Ilê é o seu corte racial.
Este tem sido o eixo fundamental de todo e qualquer trabalho desenvolvido pelo Ilê, notadamente na
á rea educacional. Em alguns momentos esta opçã o pelos afrodescendentes e pelos excluídos tem servido
de pretexto para fortes críticas ao trabalho do Ilê, acusando-os de racismo à s avessas. Estas críticas têm
origem clara e definida: os conservadores de sempre que nã o se conformam com o combate aberto que o
Ilê faz a todas as formas de racismo e o sucesso que este trabalho vem alcançando na cidade do Salvador
[...].
ARAÚ JO, Zulu. A influência dos blocos afros na formulaçã o e implementaçã o das políticas de açõ es afirmativas na
cidade do Salvador. 2002, p. 14. Disponível em:
<www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2002/Com_RC_ST24_Araujo_texto.pdf>. Acesso em: 26 maio 2016.
O trabalho do Ilê Aiyê serviu de inspiraçã o para alguns projetos, como o “Projeto de
Profissionalizaçã o para Cidadania”, do Centro de Estudos Afro-Orientais da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), voltado para a educaçã o afro-brasileira, e
projetos do poder pú blico em andamento visando combater a evasã o escolar e acolher
crianças em situaçã o de risco, cujo nú mero em Salvador nã o é pequeno.
A Escola Criativa Olodum é uma obra do Grupo Cultural Olodum, fundado em 1979, no
Pelourinho, e tem entre seus principais objetivos a construçã o da cidadania a partir
das experiências de vida dos pró prios alunos. Sua açã o pioneira foi a Banda Mirim do
Olodum, composta de crianças de 7 a 12 anos, expostas a situaçõ es de risco e
moradoras do Pelourinho. A Banda Mirim é hoje reconhecida no exterior (em países
Pá gina 325
• Texto 3
Histórias de Oyá3
Iansã é um orixá caracterizada pela rapidez nos seus atos e pensamentos. Foi Iansã que instituiu o ritual
axexê ou ajejê, que vem a ser vigília.
O axexê é um ritual, em que durante 7 dias se homenageia a pessoa falecida com câ nticos, danças e
alimentos.
Para quem entende algumas das tradiçõ es há de ver que é um ritual muito forte e completo, quando sã o
ditas palavras que nos levam à realidade que a morte é apenas uma mudança de está gio e que o ser nã o
se acaba. Passa de ser humano para ancestral, quando será sempre presente em nosso pensamento.
Daí diz a cantiga: Morte eu lhe saú do. A morte tanto leva o velho como a criança. Esse é o maior exemplo
de que entre os seres humanos, todos têm os mesmos direitos, independente de etnia, classe social ou
financeira.
3
Oyá em uoruba quer dizer “rápido”.
Outro exemplo de direitos humanos se encontra na lenda em que Iansã é a maior protagonista:
Quando Deus (Olorum) deu atributo a cada Orixá , deu a Osaim a responsabilidade de cuidar dos vegetais.
Daí ele passou a ser o Orixá médico.
No entanto as folhas nã o servem só pra remédio. Daí, quando cada Orixá precisava de alguma, tinha que
depender da vontade de Osaim. Iansã achando que todos tinham direito à s folhas, embora a
responsabilidade fosse de Osaim, tomou uma atitude: provocou um vendaval.
Quando todas as folhas se espalharam, cada Orixá pegou as que lhe convinha. Por isso, apesar de Osaim
ser o responsá vel pelos vegetais, cada Orixá tem direito a alguns apropriados.
Tiramos daí a liçã o de que dividir é bem melhor e que os direitos sã o iguais. Digo, direitos essenciais. Os
demais sã o adquiridos com o potencial de cada um.
SANTOS, Maria Stella de Azevedo (Mã e Stella de Oxó ssi). Histó rias de Oyá . Revista Eparrei, Salvador, nov. 2002.
Disponível em: <http://www.casadeculturadamulhernegra.org.br/v1/rn_relig.htm>. Acesso em: 18 maio 2016.
Pá gina 326
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Sites
Filmes
A cor púrpura. Direçã o de Steven Spielberg. EUA: Warner, 1985. (154 min).
Entre dois amores. Direçã o de Sydney Pollack. EUA: Universal Pictures, 1985. (162
min).
Amistad. Direçã o de Steven Spielberg. EUA: DreamWorks Pictures, 1997. (154 min).
Canção da liberdade. Direçã o de Phil Alden Robinson. EUA: Warner Home Video, 2000.
(150 min).
Cidade de Deus. Direçã o de Fernando Meirelles. Brasil: Lumière e Miramax Films, 2002.
(135 min).
Atlântico negro, na rota dos Orixás. Direçã o de Renato Barbieri. Brasil: Instituto Itaú
Cultural/ VGP Videographia, 1998. (75 min).
A negação do Brasil. Direçã o de Joel Zito Araú jo. Brasil, 2000. (90 min).
Duelo de titãs. Direçã o de Boaz Yakin. EUA: Buena Vista Pictures, 2000. (113 min).
Homens de honra. Direçã o de George Tillman Jr. EUA: 20th Century Fox, 2000. (128
min).
Hotel Ruanda. Direçã o de Terry George. Itá lia/ Á frica do Sul/EUA: United Artists/Lions
Gate Films Inc./Imagem Filmes, 2004. (121 min).
Kiriku e a feiticeira. Direçã o de Michel Ocelot. França: ArtMann, 1998. (71 min).
Meu mestre, minha vida. Direçã o de John G. Avildsen. EUA, 1987. (109 min).
Quanto vale ou é por quilo? Direçã o de Sérgio Bianchi. Brasil, 2005. (104 min).
Pá gina 328
3.2. A temática indígena
Inicialmente consideramos ú til apresentar um quadro de conceitos elaborado pelo
professor Itamar Freitas, professor do Departamento de Histó ria da Universidade de
Brasília, para se trabalhar com a temá tica indígena em sala de aula.
» História – A ciência que problematiza e narra a experiência de todos os homens no tempo, que auxilia
na constituiçã o da identidade e na orientaçã o da vida prá tica (BLOCH, 2000; RÜ SEN, 2007).
»» Sociedade – Totalidade ordenada de indivíduos que atua coletivamente (DA MATA, 1981).
»» Cultura – Sistema de significados (há bitos, regras, leis), atitudes e valores partilhados por um grupo
e as formas simbó licas (apresentaçõ es, objetos artesanais) em que eles sã o expressos ou encarnados
(BURKE, 1989).
»» Identidade/diferença – É uma entidade abstrata, sem existência real, mas indispensá vel como
ponto de referência. A identidade adquire sentido por meio da linguagem e dos sistemas simbó licos
pelos quais ela é representada. Ela é simplesmente aquilo que se é. Exemplos: “sou brasileiro”, “sou
negro”, “sou homem” (LÉ VI-STRAUSS, 1977; SILVA, 2000).
»» Diversidade – Multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram
sua expressã o (símbolos, artes, valores) entre e dentro dos grupos e sociedades (UNESCO, 2007).
»» Etnocentrismo – Visã o das coisas segundo a qual nosso pró prio grupo é o centro de todas as coisas
e todos os outros grupos sã o medidos e avaliados em relaçã o a ela. (SUMMER, 1999).
»» Preconceito – Julgamento prévio rígido e negativo sobre um indivíduo ou grupo, efe tuado antes de
um exame ponderado e completo, e mantido rigidamente mesmo em face de provas que o contradizem
(WILLIAMS JR., 1996).
FREITAS, Itamar. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). Histó ria: ensino fundamental. Brasília: Ministério
da Educaçã o, Secretaria de Educaçã o Bá sica, 2010. v. 21, p. 177-178. (Explorando o ensino).
FREITAS, Itamar. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Coord.). Histó ria: ensino fundamental. Brasília: Ministério
da Educaçã o, Secretaria de Educaçã o Bá sica, 2010. v. 21, p. 178. (Explorando o ensino).
Sabemos que a palavra índio nasceu a partir de um erro histó rico. Ao chegar à
América, Colombo pensou ter chegado à s Índias e, por isso, chamou de índios os
nativos do continente. De lá para cá , muitas pessoas continuam vendo os índios como
se fossem todos iguais. Ocorre, porém, que o “índio genérico” nã o existe. Existem os
Tupinambá , os Tupinikim, os Caeté, os Kaiapó , os Ianomâ mi e muitos outros.
Pá gina 329
• Texto 1
O texto a seguir é de Luís Donisete Benzi Grupioni, um estudioso dos povos indígenas,
e sua importâ ncia reside na caracterizaçã o que ele faz daquilo que torna os indígenas
semelhantes entre si e diferentes do restante da sociedade.
Mais que a especializaçã o, embora sempre haja exímios caçadores, cantadores e artesã os, é a divisã o do
trabalho por sexo e por idade que regula a produçã o nestas sociedades. As tarefas do dia a dia sã o
repartidas entre homens e mulheres de acordo com suas idades e nenhuma classe ou grupo detém o
monopó lio sobre uma parte do processo produtivo ou sobre uma atividade específica. [...]
GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (Org.). Índios no Brasil. Sã o Paulo/Brasília: Global/MEC, 1998. p. 18.
• Texto 2
O texto a seguir, de Joã o Pacheco de Oliveira e Carlos Augusto da Rocha Freire, relata
uma das muitas manifestaçõ es de resistência indígena no territó rio colonial, a Revolta
de Ajuricaba, cujo líder tornou-se um ícone das lutas indígenas em defesa da liberdade
e do direito à terra.
A Revolta de Ajuricaba
Na disputa pelas drogas do sertã o no século XVII, os portugueses avançaram sobre a regiã o do Vale do
rio Negro, na Amazô nia, onde a populaçã o indígena tinha grande densidade. Além de empregarem os
índios na coleta dos produtos, interessava aos portugueses expandir as fronteiras territoriais do império
e comercializar escravos indígenas.
Este processo foi iniciado com a construçã o, em 1669, da fortaleza de Sã o José da Barra, na foz do rio
Negro. Nessa época, o jesuíta Antô nio Vieira afirmou que mais de 2 milhõ es de índios já haviam sido
mortos no processo de colonizaçã o do Estado do Maranhã o e Grã o-Pará (PREZIA; HOORNAERT, 2000).
No Vale do rio Negro, regiã o do rio Jurubaxi, viviam os índios Manao (FARAGE, 1991), povo guerreiro de
língua aruá k que dominava outros povos indígenas daquela bacia hidrográ fica. Os portugueses trocavam
os índios cativos dos Manao por armas, ferramentas e utensílios diversos, recebendo ainda apoio desses
índios nas expediçõ es de preaçã o de outros povos. Huiuebene Tuxaua Manao, que mantinha esses
vínculos, acabou morto pelos portugueses devido a desentendimentos comerciais.
Pá gina 330
Em 1723, os Manao decidiram vingar Huiuebene. O guerreiro Ajuricaba, seu filho, afastou as aldeias
indígenas dos povoados portugueses e comandou ataques através de emboscadas. Os holandeses da
Guiana cediam armas aos índios, buscando alianças que nã o se efetivaram nas á reas de fronteira.
O padre jesuíta José de Souza tentou inutilmente convencer os índios a encerrarem o conflito,
procurando cooptar Ajuricaba (FARAGE, 1991). Souza acabou informando à Coroa portuguesa que
Ajuricaba deveria ser subjugado pelas armas.
A Lei de 28/04/1688 considerava como “justa” a guerra contra os inimigos da fé cató lica e contra os
índios que nã o reconheciam os domínios reais, ameaçando o Estado português. Baseados nessa lei de
1688, foram elaborados dois “Regimentos de Tropa de Guerra e Resgates no Rio Negro” contra os índios
Manao, enfatizando em 1724 e 1726 que esses índios eram criminosos por desejarem as propriedades de
suas terras no Vale do rio Negro. Ajuricaba tornou-se criminoso por combater os “resgates” e nã o desejar
alianças com portugueses, impedindo a conquista de mã o de obra necessá ria ao projeto colonial
português (CARVALHO, 1998).
Portugal ampliou os recursos militares para o rio Negro, enviando uma expediçã o militar com forte
artilharia para bombardear as aldeias indígenas. Belchior Mendes de Morais, comandante da expediçã o,
seguiu destruindo aldeias e matando os índios habitantes do rio Negro e seus afluentes. Cá lculos oficiais
falaram em mais de 40 mil índios mortos, além do extermínio do povo Manao. Aprisionado com centenas
de outros índios Manao, Ajuricaba rebelou-se a caminho da prisã o em Belém, morrendo afogado ao se
atirar no rio Negro para escapar dos portugueses.
Ajuricaba tornou-se um mito da Amazô nia, presente ainda hoje na memó ria do povo (SOU- ZA, 1978,
1979; CARVALHO, 1998).
OLIVEIRA, Joã o Pacheco de; FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. A presença indígena na formaçã o do Brasil. Ministério
da Educaçã o, Secretaria de Educaçã o Continuada, Alfabetizaçã o e Diversidade. Brasília, DF: Laced/Museu Nacional,
2006. p. 56-57.
• Texto 3
A partir da Repú blica se passou a considerar que os índios poderiam evoluir a “um grau superior” de
civilizaçã o, equiparando-se aos “brancos”. [...]
Em 1910 foi criado o Serviço de Proteçã o ao Índio (SPI), cuja direçã o foi entregue ao marechal Rondon,
que estivera à frente da Comissã o das Linhas Telegrá ficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas.
Recorrendo a meios nã o violentos, Rondon conseguira que muitos povos indígenas autorizassem a
passagem das linhas telegrá ficas por seus territó rios. Ao assumir a direçã o do SPI, ele estabeleceu como
diretrizes:
• pacificar o índio arredio e hostil para permitir o avanço da civilizaçã o nas zonas pioneiras, recém-
abertas à exploraçã o econô mica;
• demarcar suas terras, criando “reservas indígenas”, para que eles “parassem de correr de um lado para
o outro”.
As reservas disporiam de um chefe branco, que ensinaria aos índios técnicas civilizadas de agricultura,
noçõ es de higiene, as primeiras letras, ofícios mecâ nicos e manuais e lhes garantiria tratamento para as
doenças transmitidas pelos brancos. Ali eles também estariam protegidos de usurpadores e de
comerciantes espertos.
O SPI teve o mérito de despertar na opiniã o pú blica brasileira a ideia de que o índio é parte da naçã o. No
entanto, como resultado de sua atuaçã o, houve a extinçã o de diversos povos.
Pá gina 331
Inú meros outros grupos sofreram tremendas baixas populacionais. Além disso, com frequência os
pró prios funcioná rios do SPI usavam a mã o de obra indígena em regime de semiescravidã o nos
seringais, na lavoura etc. [...]
A partir de 1912 o governo brasileiro começou a criar reservas, com o principal objetivo de pacificar e
fixar os índios (liberando parte de seus territó rios tradicionais para a ocupaçã o pelos demais brasileiros)
e, ao mesmo tempo, garantir um lugar para que eles pudessem viver.
Para criar reservas era necessá rio estabelecer limites, mas nã o havia critérios para definir tais limites.
Por outro lado, nã o se conhecia a cultura dos povos indígenas que iam sendo contatados, nem tampouco
a dimensã o de seus territó rios tradicionais de uso e ocupaçã o.
A fixaçã o de limites se tornou a base fundamental para a criaçã o das reservas, com o propó sito de
destinar aos índios uma determinada quantidade de terras. Mas desde o início a demarcaçã o se deparou
com um problema legal: perante a lei, os povos indígenas eram considerados menores de idade; assim,
nã o poderiam ser proprietá rios das terras da reserva.
VALADÃ O, Virgínia. In: Índios do Brasil 2. Secretaria de Educaçã o a Distâ ncia, Secretaria de Educaçã o Fundamental.
Brasília, DF: MEC/Seed/SEF, 2001. p. 85-87. (Cadernos TV Escola).
Sugestões de livros, sites e filmes
Livros
GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA, Aracy Lopes da. A temática indígena na escola:
novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. 2. ed. Sã o Paulo: Global; Brasília,
DF: MEC/Mari/ Unesco, 1998.
GRUPIONI, Luís Donisete Benzi; SILVA, Aracy Lopes da. Índios no Brasil. 3. ed. Sã o
Paulo: Global; Brasília: MEC, 1998.
GRUPIONI, Luís Donisete Benzi et al. Povos indígenas e tolerância: construindo prá ticas
de respeito e solidariedade. Sã o Paulo: Edusp, 2001. (Seminá rios 6; Ciência, Cientistas
e Tolerâ ncia II).
LEÓ N-PORTILLA, Miguel (Org.). A conquista da América Latina vista pelos índios:
relatos astecas, maias e incas. Trad. Augusto  ngelo Zanata. 2. ed. Petró polis: Vozes,
1985.
MEIHY, José Carlos Sede Bom. Canto de morte kaiowá: histó ria oral de vida. Sã o Paulo:
Loyola, 1991.
WERÁ , Jecupé Kaka. A terra dos mil povos: histó ria indígena brasileira contada por um
índio. Sã o Paulo: Petró polis, 1998. (Educaçã o para a paz).
ZENUN, Katsue Hamada; ALVES ADISSI, Valeria Maria. Ser índio hoje: a tensã o
territorial. Sã o Paulo: Loyola, 1998. v. 1. (Histó ria temá tica retrospectiva).
Sites
Pá gina 332
Filmes
Tainá, uma aventura na Amazônia. Direçã o de Tâ nia Lamarca e Sérgio Bloch. Brasil,
2000. (90 min).
Tainá 2, a aventura continua. Direçã o de Mauro Lima. Brasil, 2005. (80 min).
Caramuru, a invenção do Brasil. Direçã o de Jorge Furtado e Guel Arraes. Brasil, 2000.
(110 min).
Brava gente brasileira. Direçã o de Lú cia Murat. Brasil, 2000. (103 min).
Terra vermelha. Direçã o de Marco Bechis. Brasil/ Itá lia, 2008. (180 min).
Avaeté, semente de vingança. Direçã o de Zelito Viana. Brasil, 1985. (110 min).
Dança com lobos. Direçã o de Kevin Costner. EUA, 1990. (180 min).
Terra dos índios. Direçã o de Zelito Viana. Brasil, 1979. (105 min).
Uirá, um índio em busca de Deus. Direçã o de Gustavo Dahl. Brasil, 1973. (90 min).
Iracema, a virgem dos lábios de mel. Direçã o de Carlos Coimbra. Brasil, 1979. (98 min).
A lenda de Ubirajara. Direçã o de André Luiz Oliveira. Brasil, 1975. (100 min).
3.3. A temática de gênero
• Texto 1
Um aspecto da histó ria das mulheres que a distingue particularmente das outras é o fato de ter sido uma
histó ria a um movimento social: por um longo período, ela foi escrita a partir de convicçõ es feministas.
Certamente toda histó ria é herdeira de um contexto político, mas relativamente poucas histó rias têm
uma ligaçã o tã o forte com um programa de transformaçã o e de açã o como a histó ria das mulheres. Quer
as historiadoras tenham sido ou nã o membros de organizaçõ es feministas ou de grupos de
conscientizaçã o, quer elas se definissem ou nã o como feministas, seus trabalhos nã o foram menos
marcados pelo movimento feminista de 1970 e 1980.
[...]
Malgrado os desacordos de interpretaçã o, como no debate sobre a cultura das mulheres, as historiadoras
das mulheres deram prova de engenhosidade em descobrir a experiência das mulheres no passado e em
oferecer uma interpretaçã o crítica. Elas fizeram um trabalho de pioneiras ao redescobrir a importâ ncia
de fontes histó ricas como as biografias e os testemunhos pessoais. As mulheres como atores da histó ria,
suas atividades, suas diferenças de raça, de classe e de origem nacional, suas concepçõ es
Pá gina 333
importantes da histó ria das mulheres: completar a descriçã o e a interpretaçã o com a explicaçã o; vincular
seus resultados aos problemas atuais mais gerais.
TILLY, L. A. Gênero, histó ria das mulheres. Cadernos Pagu, nº 3, p. 29-62, 1994. Disponível em:
<http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1722/1706>. Acesso em: 27 maio de 2016.
• Texto 2
O texto a seguir foi escrito pela historiadora e editora Carla B. Pinsky, doutora em
Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na á rea de família
e gênero.
Quando falamos em gênero, estamos falando na construçã o cultural do que é percebido e pensado como
diferença sexual, ou seja, das maneiras como as sociedades entendem, por exemplo, o que é ser “homem”
e “ser mulher”, e o que é “masculino” e “feminino”. Assim, podemos tratar essas noçõ es como conceitos
histó ricos. Nessa perspectiva, as ideias sobre “masculinidade” e “feminilidade”, as oposiçõ es do tipo [...]
“moça de família”/ “leviana”, e os papéis de identidades tais como “esposa ideal”, “boa mã e”, “pai de
família”, “homossexual”, sã o encaradas como concepçõ es produzidas, reproduzidas, mas também
transformadas ao longo do tempo, que podem variar em cada contexto social.
As concepçõ es relacionadas à diferença sexual tanto sã o produtos das relaçõ es sociais quanto produzem
e atuam na construçã o dessas relaçõ es. Em outras palavras, assim como as ideias de gênero influenciam
a vida das pessoas, as experiências de homens e mulheres concretos e os elementos materiais de sua
existência, por sua vez, afetam e moldam o pensamento num movimento dialético. Gênero, portanto,
refere-se à s ideias que têm como referência a diferença sexual e que servem de base para outras
interpretaçõ es do mundo quanto à s prá ticas sociais orientadas por essas ideias.
As relaçõ es de gênero sã o definidas pela maneira como as pessoas dã o significados e interpretam suas
experiências (entre elas, a da percepçã o das diferenças sexuais), em épocas e contextos determinados, e,
ao mesmo tempo, passam a agir de acordo com as representaçõ es construídas.
PINSKY, Carla B. Mulheres dos anos dourados. Sã o Paulo: Contexto, 2014. p. 11-12.
• Texto 3
O texto a seguir foi escrito pelas antropó logas e pesquisadoras do nú cleo FAGES
(família, gênero e sexualidade) Lady Selma Ferreira Albernaz e Má rcia Longhi.
Pá gina 334
e os modos de ser das pessoas de uma forma que parece envolver toda a vida humana.
Ele ordena nossa forma de pensar delimitando qualidades, espaços, atitudes, poderes a serem
distribuídos entre homens e mulheres. O conjunto dessas classificaçõ es é conformado como moralidade
que orienta nosso comportamento, estabelecendo o que é considerado certo e errado, mas nã o apenas
isso, também funciona como um mecanismo de poder, hierarquizando as pessoas e legitimando as
desigualdades. Esta conformaçã o parece estabelecer gênero como a posiçã o social central na vida de
uma pessoa, sendo uma forma primá ria de identificaçã o, a partir da qual as outras identificaçõ es sã o
arranjadas ao longo da vida. Ou seja, uma das principais identidades de uma pessoa é sua identidade de
gênero como homem e como mulher. Nesse sentido, gênero conforma nossa subjetividade.
Esta conformaçã o das subjetividades nos leva a uma característica importante da categoria gênero. Por
ser um referente fundamental para a afirmaçã o da identidade, gênero se estabelece de forma relacional,
uma vez que toda identidade se constró i sempre na relaçã o entre um e outro. É a partir das relaçõ es
entre homens e mulheres que constituímos os conteú dos culturais de gênero e, nesse sentido, para
estudar as mulheres, os homens devem ser considerados. Da mesma forma, é necessá rio estudar as
relaçõ es entre os pró prios homens e entre as pró prias mulheres. Torna-se possível compreender que as
mulheres sã o diferentes entre si, bem como os homens entre eles [...].
Por fim, [...] gênero se constitui numa das primeiras formas para significar e distribuir o poder. Ou seja,
as classificaçõ es culturais realizadas com base no gênero, no ocidente, sã o utilizadas para legitimar a
distribuiçã o do poder entre as pessoas. Tende-se a considerar superior, mais forte e mais poderoso o que
é classificado culturalmente como masculino. O que é classificado culturalmente como feminino é
significado como menor, mais fraco e com menos poder, devendo ficar na esfera da proteçã o e da
submissã o ao masculino.
O conjunto dessas operaçõ es, que orientam nossas prá ticas sociais, atua nas nossas vidas de maneira
interligada e inconsciente. Elas têm um poder de verdade que dificulta serem questionadas. As aceitamos
sem entender que elas foram elaboradas ao longo da histó ria e que por isso podem ser transformadas.
ALBERNAZ, L. S. F.; LONGHI, M. Para compreender gênero: uma ponte para relaçõ es igualitá rias entre homens e
mulheres. In: SCOTT, P. et al. (Org.). Gênero, diversidade e desigualdades na educação: interpretaçõ es e reflexõ es para
formaçã o docente. Editora Universitá ria: Recife, 2009. p. 84-85.
BRUSCHINI, Maria Cristina; PINTO, Celi Regina. Tempos e lugares de gênero. Sã o Paulo:
FCC/ Editora 34, 2001.
DEL PRIORE, Mary. História das mulheres: as vozes do silêncio. In: FREITAS, Marcos
César de (Org.) Historiografia brasileira em perspectiva. Sã o Paulo: Contexto/EDUSF,
1998.
DEL PRIORE, Mary (Org.); BASSANEZI, Carla (Coord.). História das mulheres no Brasil.
8. ed. Sã o Paulo: Contexto, 2006.
DUBY, Georges; PERROT, Michelle (Org.). História das mulheres no Ocidente: o século
XX. Porto/ Sã o Paulo: Afrontamento/Ebradil, 1991.
Pá gina 335
McLURKIN, Denise L. Questões sociais desafiadoras na escola: guia prá tico para
professores. New York: McGraw-Hill, 2015.
PEDRO, Joana M.; WOLF, Cristina F.; VEIGA, Ana Maria (Org.). Resistência, gênero e
feminismo contra as ditaduras no Cone Sul. Florianó polis: Mulheres, 2011.
PEDRO, Joana M.; GROSSI, Miriam P. (Org.). Masculino, feminino, plural: gênero na
interdisciplinaridade. Florianó polis: Mulheres, 1998.
SELBACH, Jeferson Francisco [et al.]. Mulheres: histó ria e direitos. Cachoeira do Sul:
Ediçã o do autor, 2005.
Sites
Filmes
A fonte das mulheres. Direçã o de Radu Mihaileanu. França/Bélgica/Itá lia, 2011. (135
min).
De gravata e unha vermelha. Direçã o de Miriam Chnaiderman. Brasil, 2015. (86 min).
Histórias cruzadas. Direçã o de Tate Taylor. EUA/ Emirados Á rabes Unidos, 2011. (146
min).
Hoje eu quero voltar sozinho. Direçã o de Daniel Ribeiro. Brasil, 2014. (96 min).
Milk: a voz da igualdade. Direçã o de Gus Van Sant. EUA, 2009. (128 min).
Silêncio das inocentes. Direçã o de Ique Gazzola. Brasil, 2010. (49 min).
O sorriso de Mona Lisa. Direçã o de Mike Newell. EUA, 2003. (117 min).
Preciosa: uma histó ria de esperança. Direçã o de Lee Daniels. EUA, 2009. (110 min).
Revolução em Dagenham. Direçã o de Nigel Cole. Reino Unido, 2011. (113 min).
Virou o jogo: a histó ria de Pintadas. Direçã o de Marcelo Villanova. Brasil, 2012. (26
min).
Pá gina 336
4. As seções da obra
A obra está organizada em unidades e capítulos, que apresentam a estrutura descrita a
seguir.
Buscamos ainda fundamentar o texto didá tico com uma produçã o historiográ fica
qualificada. Nossa preocupaçã o nã o foi incorporar ao texto didá tico a ú ltima pesquisa
acadêmica publicada sobre cada assunto abordado na obra – mesmo porque isso seria
impossível –, mas incorporar um conhecimento consolidado e reconhecido pela
comunidade de historiadores profissionais e pesquisadores do ensino de Histó ria.
Para refletir
Quando o objetivo é estimular, como o nome mesmo diz, a reflexã o por meio de um
questionamento direto.
Dialogando
É uma seçã o que faz um convite à participaçã o oral dos alunos. Eles sã o desafiados a
responder a uma questã o sobre conteú dos conceituais ou atitudinais, a interpretar
uma imagem, um grá fico ou uma tabela etc. Essa interrupçã o do texto principal
funciona como respiro e uma oportunidade para o aluno colocar-se como sujeito do
conhecimento.
Pá gina 337
4.5. Atividades
Aprender Histó ria depende da leitura e da escrita. E ler e escrever implica
compreensã o, aná lise e interpretaçã o de uma diversidade de gêneros de textos e de
imagens fixas de diferentes tipos, além de grá ficos, tabelas e filmes (imagens em
movimento). As atividades deste livro visam justamente auxiliar no desenvolvimento
da competência leitora e escritora que, a nosso ver, sã o complementares e
interdependentes, além de ajudar o aluno a capacitar-se para o exercício da cidadania.
As atividades ao longo da coleçã o estã o distribuídas por quatro seçõ es, que
consideramos muito importantes na nossa metodologia de ensino-aprendizagem: I –
Retomando; II – Leitura e escrita em Histó ria; III – Integrando com...; e IV. Você
cidadã o!
6. Para quem fala (Para o pú blico em geral? Para seus pares? Para os seus
subalternos? Para as autoridades?).
11. Relacionar o texto com o contexto, salientando a importâ ncia dele para o estudo de
determinada questã o ou época.
12. Outras conclusõ es e/ou observaçõ es sobre o texto que se considere importante
registrar.
Na seçã o Integrando com... nos esforçamos para dar um passo em direçã o à adoçã o
de uma perspectiva interdisciplinar. As atividades dessa seçã o abordam temas
relevantes para os alunos do Ensino Médio e os estimulam a mobilizar conhecimentos
e conceitos de outras disciplinas, como Língua Portuguesa, Biologia, Sociologia,
Geografia, entre outras.
Já a seçã o Você cidadão!, no final de cada unidade, visa estimular o alunado a traçar
paralelos entre o passado e o presente, a interrogar o presente, a debater e, sobretudo,
a se posicionar diante de uma questã o/problema, ajudando-o, assim, a se preparar
para o exercício da cidadania.
Por fim, sabemos que talvez nã o seja possível realizar em sala de aula todas as
atividades propostas, diante da carga horária reservada à Histó ria na escola. Nossa
intençã o foi fornecer opçõ es, permitindo assim que cada professor selecione as que
mais se adequarem a sua proposta de ensino-aprendizagem, ao projeto pedagó gico da
escola e à quantidade de horas-aula de que dispõ e.
2. Elaborar uma proposta para o blog, explicitada por um nome significativo e uma
curta descriçã o de seus objetivos.
4. Avaliar criteriosamente fotos, tabelas, grá ficos, mapas e textos dos mais variados
gêneros destinados ao blog.
5. Os alunos poderã o se organizar em grupos. Cada grupo será responsá vel por uma
á rea de atuaçã o, a saber:
a) Equipe de pesquisa: responsá vel por “alimentar” o blog com novas matérias-
primas, que serã o transformadas em produto com a ajuda dos outros grupos.
e) Equipe de produçã o: responsá vel pela integraçã o dos demais aspectos e também
pelas questõ es técnicas de manutençã o do blog, inclusive gerenciamento de
comentá rios etc.
Sugestã o: poderá haver um rodízio quinzenal ou mensal entre os grupos, de modo que
todos os alunos possam vivenciar as vá rias funçõ es.
Pá gina 339
Pá gina 340
- Os holandeses
conquistam a
independência
- A guerra pelo açú car e
pelo trá fico atlâ ntico
- Invasã o da Bahia
- Invasã o de
Pernambuco
- O governo de Nassau
- Artistas e cientistas do
Brasil holandês
- A Restauração em
Portugal
- A luta contra os
holandeses
- Os holandeses nas
Antilhas
- A Guerra dos Mascates
Pá gina 341
Textos complementares
• Texto 1
O texto a seguir é de Gersem dos Santos Luciano, índio da naçã o Baniwa, graduado em
filosofia pela Universidade Federal do Amazonas (1995), com mestrado na
Universidade de Brasília (2006).
Saúde indígena
O índice médio de mortalidade da criança indígena até os 9 anos, que é quase o dobro do índice médio de
mortalidade da criança nã o indígena, revela que há uma diferença significativa na fruiçã o do direito à
saú de pelo simples fato de ser a criança indígena ou nã o. Seria imprescindível, portanto, considerando-se
o direito à igualdade previsto na Constituiçã o Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente,
programas que tratassem a questã o da saú de da populaçã o indígena infantil com a maior atençã o. De
toda sorte, nã o se pode negar que o problema da saú de infantil indígena é complexo. Concluir que seria
simplesmente fruto de falhas de políticas indigenistas dos governos locais ou mesmo falhas do programa
Fome Zero do Governo Federal, por exemplo, implicaria um reducionismo falacioso. A questã o da
diversidade cultural por si só é um fator catalisador deste problema, o que fica mais fá cil de entender
quando lembramos o caso do índio Kaiowá de 2 anos e quatro meses que foi encontrado morto em
fevereiro de 2005 na regiã o de Dourados; segundo relatos, sua mã e relutava em buscar atendimento
médico para o filho, pois acreditava que ele tivesse sido atingido por um feitiço.
Outro dado que revela a disparidade de atençã o do serviço pú blico é com relaçã o à tuberculose. No
Brasil, o nú mero de portadores da doença é de 60,7 para cada grupo de 1.000 habitantes, já considerado
intolerá vel pela Organizaçã o Mundial de Saú de (OMS). Porém, entre a populaçã o indígena esse nú mero
sobe para 112,7. O descaso com que a populaçã o indígena é tratada resulta também na disseminaçã o de
doenças, como a depressã o e o alcoolismo. Os casos notificados de Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DST-AIDS), cerca de 4 mil, mostram que a doença também já preocupa.
LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje.
Brasília, DF: MEC/SECAD; LACED/Museu Nacional, 2006. p. 186-187 (Coleçã o Educaçã o Para Todos. Série Vias dos
Saberes, n. 1).
• Texto 2
O texto a seguir foi escrito por Milton Herná n Bentancor, professor da Universidade de
Caxias do Sul que atua no Programa de Pó s-Graduaçã o em Letras, Cultura e
Regionalidade.
Muito antes que o primeiro espanhol chegasse à América, os povos indígenas que habitavam estas terras
já haviam acumulado uma grande produçã o intelectual. Ao longo dos séculos, haviam construído
Pá gina 342
uma civilizaçã o organizada, com estrutura social complexa, além de suas tradiçõ es míticas para explicar
a origem do ser humano e sua relaçã o com o mundo. No caso dos povos maias-quichés, essas crenças
estiveram guardadas em um livro sagrado por eles chamado de Popol Vuh.
Para chegar ao nosso conhecimento, mais de 500 anos depois, esse relato sobreviveu em muitos aos
povos que lhe deram origem e passou por vá rias mã os, inclusive dos colonizadores espanhó is. [...] Há
vá rios indícios de que os espanhó is tenham alterado a versã o original do Popol Vuh. Mas nem por isso
ele é uma fonte menos interessante. Ao contrá rio: parte do fascínio de sua interpretaçã o reside
justamente nos contatos culturais.
[...] Quando os espanhó is chegaram, os maias Já tinham criado um sistema de escrita com base em
símbolos grá ficos que lhes permitiu coletar suas histó rias de imagens e hieró glifos (có dices). Podemos
supor que o Popol Vuh foi, originalmente, um livro dessa natureza.
[...] o texto apresenta uma primeira parte sobre a criaçã o do mundo, descrevendo o trabalho dos deuses
em sua busca por um ser que os adorasse. Três tentativas teriam fracassado: com os animais, com
homens de barro e com homens de madeira [...]. Fechando a primeira parte do livro, o relato retorna à
origem do homem, interrompida depois dos erros divinos. A matéria-prima de sua criaçã o seria o milho.
Quando saiu das mã os dos deuses, o homem era perfeito e, por ciú mes, os criadores o reduziram à
condiçã o atual.
A segunda parte do Popol Vuh apresenta a histó ria dos quichés: suas guerras contra outros povos da
regiã o [...] a origem da dinastia real e a sucessã o genealó gica dos reis até a conquista espanhola.
[...] Nos ú ltimos anos surgiram interpretaçõ es que classificam o Popol Vuh como uma expressã o
hispâ nica e cristã de mitos e lendas indígenas. Embora a intervençã o espanhola seja uma verdade
incontestá vel a marcar os materiais que chegaram até os nossos dias, tampouco se pode ignorar a
qualidade desses escritos.
Ao mesmo tempo em que os pontos de interferência cultural podem distorcer o verdadeiro significado e
adulterar o pensamento original maia, eles nã o chegam a eliminar elementos autênticos [...] O Popol Vuh
envolve a beleza do romance e a austeridade da histó ria, pintando com as mais vivas cores a cultura e a
mentalidade de um grande povo.
BENTANCOR, Milton. H. O gênesis quiche. In: Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 10, n. 108,
p. 80-84, set. 2014.
• Texto 3
Em primeiro lugar, a descoberta da América, ou melhor, a dos americanos, é sem dú vida o encontro mais
surpreendente de nossa histó ria. Na “descoberta” dos outros continentes e dos outros homens nã o
existe, realmente, este sentimento radical de estranheza. Os europeus nunca ignoraram totalmente a
existência da Á frica, ou da Índia, ou da China, sua lembrança esteve sempre presente, desde as origens. A
Lua é mais longe do que a América, é verdade, mas hoje sabemos que aí nã o há encontro, que esta
descoberta nã o guarda surpresas da mesma espécie. Para fotografar um ser vivo na Lua, é necessá rio que
o cosmonauta se coloque diante da câ mara, e em seu escafandro há um só reflexo: de um outro
terrá queo. No início do século XVI, os índios da América estã o ali, bem presentes, mas deles nada se sabe,
ainda que, como é de esperar, sejam projetadas sobre os seres recentemente descobertos imagens e
ideias relacionadas a outras populaçõ es distantes. O encontro nunca mais atingirá tal intensidade, se é
que esta é a palavra adequada. O século XVI veria perpetrar-se o maior genocídio da histó ria da
humanidade.
Mas nã o é unicamente por ser um encontro extremo, e exemplar, que a descoberta da América é
essencial para nó s, hoje. Além deste valor paradigmá tico, ela possui outro, de causalidade direta. A
histó ria do globo é, claro, feita de conquistas e derrotas, de colonizaçõ es e descobertas dos outros; mas
[...], é a conquista da América que anuncia e funda nossa identidade presente.
Pá gina 343
Apesar de toda data que permite separar duas épocas ser arbitrá ria, nenhuma é mais indicada para
marcar o início da era moderna do que o ano de 1492, ano em que Colombo atravessa o oceano Atlâ ntico.
Somos todos descendentes diretos de Colombo, é nele que começa nossa genealogia – se é que a palavra
começo tem um sentido. Desde 1492 estamos, como disse Las Casas, “neste tempo tã o novo e a nenhum
outro igual” (Historia de las índias, 1, 881). A partir desta data, o mundo está fechado (apesar de o
universo tornar-se infinito). “O mundo é pequeno”, declarará peremptoriamente o pró prio Colombo
(Carta Raríssima, 7.7.1503). Os homens descobriram a totalidade de que fazem parte. Até entã o,
formavam uma parte sem todo.
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questã o do outro. Trad. Beatriz Perrone Moisés. Sã o Paulo: Martins
Fontes, 1993. p. 4-6.
• Texto 4
A aceleraçã o da produçã o de açú car nas regiõ es de floresta tropical do “novo mundo” também está
relacionada com o impacto social de enorme alcance: foi o principal estímulo para a construçã o do
escravismo moderno. Foi nos territó rios da América tropical que o modelo de produçã o de monoculturas
e trabalho escravo gerou maior impacto na ecologia das paisagens. [...] O desmatamento tropical é um
fenô meno moderno, que atingiu o seu auge no século XX. O Brasil e algumas ilhas do Caribe, como Cuba e
Jamaica, tornaram-se os símbolos do desmatamento provocado pela cana. Mas ele se alastrou para vá rias
outras regiõ es, como as Ilhas Maurício, Indonésia, Filipinas, Havaí e Fiji.
[...] A floresta tropical, com toda a sua diversidade, aos olhos dos produtores, representava apenas um
“embaraço” para o avanço da cana.
E o impacto nas florestas nã o se devia apenas à abertura de terras para o plantio. Para cada quilo de
açú car produzido, cerca de 15 quilos de lenha eram queimados nas fornalhas que alimentavam os
enormes caldeirõ es onde o caldo na cana era cristalizado. Para purgar o açú car nas moendas, utilizava-se
cinza de madeira, em muitos lugares retirada dos manguezais. O conjunto da infraestrutura estava
calcado na madeira ou em materiais cuja produçã o requeria o uso de lenha em fornalhas – como tijolos,
telhas e cal. Das á rvores tropicais provinham até as caixas onde o açú car era acondicionado para
exportaçã o [...].
PÁ DUA, José Augusto. O amargo avanço da doçura. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 8, n.
94, p. 18-21, jul. 2013.
Atividades complementares
1. O texto a seguir é de duas historiadoras que vêm se empenhando no estudo dos
primeiros povos da América. Leia-o com atençã o.
As cidades incas
A maior cidade inca era Cuzco, a capital do império. Era uma cidade planejada, que tinha como centro
uma praça, da qual saíam as ruas em linha reta. Além dessa praça, a cidade possuía outras menores e era
dividida em duas partes: Cuzco de cima e Cuzco de baixo, onde se encontrava o Templo do Sol [...].
Pá gina 344
As construçõ es eram feitas de grandes blocos de pedra, cortados com perfeiçã o com o uso de
ferramentas de pedra e instrumentos de cobre e encaixados uns nos outros sem necessidade de cimento
ou qualquer outra substâ ncia colante. Antes do início das construçõ es, os arquitetos incas faziam
pequenas maquetes de argila e pedra, a partir de seus projetos.
Ainda hoje, construçõ es inteiras feitas pelos incas ou vestígios delas podem ser vistas em cidades como
Cuzco, Lima e Quito. Muitas das construçõ es europeias dessas cidades foram feitas sobre ruínas de
edificaçõ es incas. Existem também vá rias localidades – praticamente intactas – em que se pode ver como
se organizavam os bairros e as cidades incas. É o caso de Macchu Picchu, Pisac e Tiahuanaco. [...]
[...]
O império inca foi brutalmente destruído, no século XVI, pelos conquistadores espanhó is, que
impuseram sua cultura à populaçã o andina. Apesar da grande destruiçã o causada pela colonizaçã o, ainda
hoje encontramos na regiã o dos Andes traços culturais identificados com a tradiçã o inca, embora
descaracterizados por sua fusã o à cultura europeia.
NEVES, Ana Maria Bergamin; HUMBERG, Flá via Ricca. Os povos da América: dos primeiros habitantes às primeiras
civilizaçõ es urbanas. Sã o Paulo: Atual, 1996. p. 77-80.
Pode-se concluir que eram construtores competentes: projetavam antes de construir e possuíam grande capacidade té cnica;
prova disso sã o as construçõ es incas que resistiram ao tempo e podem ser vistas, ainda hoje, em Cuzco, Lima e Quito.
Os vestígios materiais ali encontrados podem nos informar sobre o conhecimento, as té cnicas agrícolas, as prá ticas religiosas
além de vá rios outros aspectos da vida do povo inca.
Elas utilizam o binô mio destruiçã o/fusã o; segundo elas, inicialmente ocorreu uma brutal destruiçã o; mas é possível
encontrar també m traços da cultura inca mesclados a outros da cultura europeia, ocorrendo també m, portanto, fusã o
cultural.
[...] “O que acontece camaradas? O que temeis? Nã o vos anima saber que Deus está convosco e que já vos
concedeu tantos sucessos? Pensais que vossos inimigos sã o melhores e mais valorosos? Nã o vedes que
está em vossas mã os a expansã o da fé de Cristo? Ganhareis, para vosso Soberano e para vó s mesmos,
reinos e poder, contanto que sejais constantes! É pouco o que falta e eu nã o temo, mas se por acaso
morrermos, quereis maior felicidade? Nenhum homem poderá ter morte mais gloriosa! Além do mais,
lembrais que sois espanhó is que costumam ser perseverantes e arriscam suas vidas, quando se trata do
serviço de Deus Onipotente, ou se apresenta uma ocasiã o para merecer honrarias. Além do mais, para
onde iremos? Que faremos cansados na ociosidade do litoral? Â nimo! Recobrais o â nimo! Submeteis
comigo estas naçõ es bá rbaras sob a Lei de Cristo, e sob a obediência a nosso rei! Quanta gló ria a
posteridade vos dará por estas façanhas, que nenhum homem jamais enfrentou! Nossa pá tria e os países
vizinhos vos darã o tanta honra, maior do que deram a Hércules da Grécia quando veio à Espanha, para
quem construíram monumentos. Sã o muito mais importantes os vossos trabalhos e também serã o
maiores os prêmios. Despertais, pois, e com â nimo valente empreendeis comigo a aventura começada,
sem duvidar da vitó ria”.
MÁ RTIR DE ANGLERIA, Pedro. Décadas del nuevo mundo. IN: Janotti, Maria de Lourdes (Coord.). Secretaria da
Educaçã o. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagó gicas. Proposta curricular de Histó ria e Geografia para o 2o.
grau. Sã o Paulo: SE/CENP, 1978.
Pá gina 345
Sé culo XVI.
Resposta pessoal. Professor: estimular a reflexã o sobre o uso da fé cristã para legitimar a guerra contra os povos indígenas
e/ou sua sujeiçã o.
Relendo a carta de Pero Vaz de Caminha, pode-se tentar imaginar as reaçõ es dos índios, nas praias
brasileiras, à chegada dos europeus. Primeiro, é a perplexidade diante dessas montanhas flutuantes que
eram as caravelas, depois, a curiosidade diante do espetá culo desses visitantes de pele branca cujo corpo
inteiramente vestido nã o estava tingido de preto ou vermelho, nem tinha plumas multicoloridas, e cujos
gestos pareciam tã o esquisitos, cujos gritos eram incompreensíveis e frequentemente abafados pelo
barulho das ondas que estouravam na praia. [...] Os visitantes nã o sabiam cortar os cabelos nem pintar a
testa de preto. [...] Em compensaçã o, possuíam poderosos instrumentos talhados num material duro
desconhecido dos índios – o ferro – e essas ferramentas maravilhosas que cortavam e recortavam a
madeira a toda velocidade.
[...] Por outro lado, os colares de contas brancas causaram a imediata curiosidade e cobiça dos indígenas,
que os experimentaram em volta do pescoço e depois em volta do braço: na verdade, eram terços.
GRUZINSKI, Serge. A passagem do século: 1480-1520: as origens da globalizaçã o. Sã o Paulo: Companhia das Letras,
1999. p. 70-71.
a) Que tipo de fonte histó rica o autor utiliza para imaginar as reaçõ es dos indígenas?
Qual a importâ ncia dela para nó s?
Ele utiliza a carta escrita pelo escrivã o da armada de Cabral, Pero Vaz de Caminha. Nele encontramos informaçõ es preciosas
sobre o modo de vida dos indígenas que ele encontrou e os interesses que moviam os portugueses daquela é poca, entre
outras.
b) Segundo o texto, quais foram as reaçõ es dos indígenas à chegada dos europeus?
O autor sugere ter havido trê s reaçõ es: perplexidade ao avistar as caravelas, embarcaçõ es desconhecidas dos indígenas;
curiosidade ao ver aqueles homens de pele branca e vestidos da cabeça aos pé s; e de estranhamento ao observar os
gestos e as falas dos recé m-chegados.
O texto nega essa versã o, ao sugerir a admiraçã o dos indígenas pelas ferramentas portuguesas. Professor: na verdade, tais
objetos como machados, facas, espelhos eram ú teis aos indígenas. Segundo o autor do texto, os indígenas viram as
ferramentas trazidas pelos portugueses como algo valioso, o que contraria a versã o historiográ fica eurocê ntrica, segundo a
qual os indígenas extraíam e ofereciam aos portugueses o “valioso” pau-brasil e, em troca, recebiam deles “bugigangas e
quinquilharias”.
Pá gina 346
Pode-se concluir que os indígenas ressignificaram o terço; eles o destituíram do valor religioso que tinha para os
portugueses, e o utilizaram como enfeite no pescoço e no braço. A ressignificaçã o dos objetos de uma determinada cultura é
uma prá tica frequente durante as trocas culturais havidas entre os povos, ao longo da Histó ria.
Nas sociedades indígenas a posse da terra e dos recursos nela existentes é coletiva. Ou, como disse a professora Aracy Lopes
da Silva, “a terra é do conjunto de pessoas que vive em cada aldeia”. Enquanto um grupo estiver trabalhando numa
determinada á rea tem direito a usufruir de seus recursos e frutos. Já nas sociedades capitalistas, a terra é uma propriedade
privada que pode ser vendida, arrendada, alugada etc. Algué m pode ser dono de uma terra que nã o conhece.
5. O texto 1 é do soció logo Gilberto Freyre; o texto 2 é das pesquisadoras Lilia Moritz
Schwarcz e Letícia Vidor de Souza Reis. Leia-os com atençã o e compare-os.
• Texto 1
Desde logo salientamos a doçura nas relaçõ es de senhores com domésticos, talvez maior no Brasil do que
em qualquer outra parte da América. A casa-grande fazia subir da senzala para o serviço mais íntimo e
delicado dos senhores uma série de indivíduos – amas de criar, mucamas, irmã os de criaçã o dos meninos
brancos. Indivíduos cujo lugar na família ficava sendo nã o o de escravos, mas o de pessoas da casa.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formaçã o da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 21. ed.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. p. 393.
• Texto 2
A violência era parte constitutiva desse tipo de organizaçã o que supunha a propriedade de um homem
por outro. Com efeito, o cativeiro só poderia existir em virtude da disseminaçã o do medo e do exemplo
de controle. É por isso mesmo que, no Brasil, criou-se um verdadeiro “museu de horrores”, com castigos
dos mais rotineiros aos mais especializados. [...]
SCHWARCZ, Lilia Moritz; REIS, Letícia Vidor de Souza (Org.). Negras imagens: ensaios sobre cultura e escravidã o no
Brasil. Sã o Paulo: Edusp/Estaçã o Ciência, 1996. p. 21-22.
a) O que se pode concluir comparando a visã o do autor do texto 1 com a das autoras
do texto 2?
Enquanto o autor do texto 1 afirma que as relaçõ es entre os senhores e seus escravos domé sticos foram adocicadas (mais
suaves do que em outras partes da Amé rica), as autoras do texto 2 acreditam que a escravidã o é violenta por si mesma.
Gilberto Freyre justifica a suavidade nas relaçõ es entre brancos e negros no interior da casa-grande dizendo que, graças ao
convívio ameno com os seus senhores, os escravizados deixavam sua condiçã o original e se tornavam “pessoas da casa”,
“pessoas da família”. Já as autoras do texto 2 justificam a ideia de que a violê ncia é inerente à escravidã o e,
consequentemente, esta só podia ser mantida por meio de castigos corporais, abusos etc.
c) Em dupla. Debatam, reflitam e respondam: qual das versõ es vocês acham mais
convincente? Justifiquem.
Resposta pessoal.
Pá gina 347
[...] A deslealdade de Calabar fica ainda mais agravada quando comparada a personagens como Henrique
Dias, negro forro que se notabilizou na defesa dos interesses luso-espanhó is. [...]
Tomado isoladamente, e a partir do século XIX, como um dos exemplos mais acabados de traidor da
pá tria, Calabar viveu em um tempo no qual a fidelidade à Coroa era o mínimo que se esperava de seus
sú ditos. Mas esse compromisso era facilmente relativizado para aqueles que viviam as urgências da vida
colonial [...] incerta em tempos de guerra. A falta de pagamento de soldos e até de alimentaçã o tornou as
forças luso-espanholas presas fá ceis do assédio holandês. [...].
HERMANN, Jacqueline. Deserçã o de Olinda a Holanda. In: Revista Nossa História: Medicina, ano 2, n. 21, p. 38-42, jul.
2005.
a) Na visã o da autora do texto, Calabar teve um papel decisivo na vitó ria dos
holandeses no Nordeste? Justifique.
Nã o. Isto pode ser percebido logo no início quando a autora diz: “Muitos fatores contribuíram para a vitó ria dos holandeses
calvinistas em territó rio até entã o governado por reis cató licos, mas é sobre a figura superdimensionada de Domingos
Fernandes Calabar que as culpas mais pesaram”.
Segundo a autora, a identificaçã o de Calabar como traidor da pá tria é uma construçã o do sé culo XIX, tempo em que foram
forjadas as figuras dos heró is da pá tria e de sua antítese, os “traidores da pá tria”. Professor: Lembrar aos alunos que o
sé culo XIX foi o sé culo do nacionalismo, do romantismo e do individualismo.
“A falta de pagamento de soldos e até de alimentaçã o tornou as forças luso-espanholas presas fá ceis do assé dio holandê s”.
Resposta pessoal. Professor: comentar com o alunado que a ideia de pá tria/patriotismo sã o construçõ es do sé culo XIX, e,
portanto, estranhas ao sé culo XVII, é poca em que Calabar viveu. Note-se também que o nú mero de nativos que conhecia bem
a regiã o e que passou para o lado dos holandeses foi grande. Calabar, eleito traidor-símbolo pelos vencedores da guerra, foi
executado.
Pá gina 348
Pá gina 349
Pá gina 350
Textos complementares
• Texto 1
Esses embates ocorriam por razõ es variadas, como o rapto de mulheres de comunidades clâ nicas ou
linhageiras, os conflitos entre “Estados” em formaçã o ou mesmo entre os já constituídos ou ainda as
guerras de expansã o, assim chamadas porque os mercadores incorporam povos tributá rios, segundo
sistema de servidã o com tributos e prazos fixados pela tradiçã o. Uma vez capturados, vendidos ou
mesmo no caso de morrerem em combate, os filhos desses escravos nã o eram vendidos nem
maltratados. Criados na maioria das vezes na corte, acabavam por reconhecer o soberano como seu
pró prio pai; além disso, desempenhavam funçõ es quase sempre importantes nas esferas administrativa
e militar.
O segundo mecanismo que levava à escravidã o era a fome que, desestruturando uma sociedade, impelia
os destituídos a vender a si mesmos ou a seus filhos como escravos, como meio de sobrevivência. Por sua
vez, o terceiro mecanismo era “resultado de puniçã o judicial por algum crime ou como uma espécie de
garantia para o pagamento de débito. No ú ltimo caso trata-se da difundida instituiçã o da penhora
humana. Nessas situaçõ es os escravos eram relativamente bem tratados: tinham acesso aos meios de
produçã o (basicamente a terra), podiam casar-se com pessoas livres e eram considerados membros da
família do senhor”.
HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. A África na sala de aula: visita à histó ria contemporâ nea. Sã o Paulo: Selo
Negro, 2005. p. 37.
• Texto 2
As aná lises interpretativas que se seguem nã o aceitam o ró tulo simples de “estudos econô micos” ou de
“Histó ria Econô mica”. Elas apresentam aos leitores uma visã o de economia integrada à construçã o só cio-
histó rica. A produçã o diamantífera tem mais que demarcaçõ es, contratos e extravios. Traz rede de
alianças e “complacência” na formaçã o de uma elite econô mica-administrativa e uma teia local de poder
em torno das urbes e arraiais, como se vê no texto “O distrito dos diamantes: uma terra de estrelas”, de
Jú nia Ferreira Furtado. Em “A mineraçã o de ouro em Minas Gerais no século XVIII”, de Joã o Antô nio de
Paula, tem-se a contraposiçã o de fontes legais, de tributaçã o e de vá rios “indicadores diretos e indiretos”,
para aquilatar a dinâ mica da produçã o aurífera, com a avaliaçã o de regimentos tributá rios e de
mineraçã o e sua integraçã o à dinâ mica do comércio, dos caminhos, dos levantes e da “condiçã o colonial”.
Em “Agricultura e mineraçã o nas Minas do século XVIII”, Carlos Magno Guimarã es e Flá via Maria da Mata
Reis mostram que a produçã o agropastoril nã o é marginal, mas integrada à lide mineradora, em rede de
produçã o que incorpora o comércio volante, tem cará ter mercantil e escravista e permite a experiência
camponesa de sesmeiros, arrendatá rios, posseiros e quilombolas. A produçã o para o abastecimento
Pá gina 351
alimentar, como evidencio em “A terra de quem lavra e semeia: alimentos e cotidiano em Minas
colonial”, é vigorosa, atende ao mercado, constró i um gosto alimentar e forja um cotidiano sem fronteiras
nítidas entre o rural e o urbano. Já Flá vio Marcus da Silva, em “Prá ticas comerciais e abastecimento
alimentar em Minas Gerais no século XVIII”, revela que a ordenaçã o desse abastecimento concilia
prá ticas e medidas intervencionistas das câ maras, estimula a produçã o e o pequeno comércio, além de
garantir a conservaçã o de caminhos. “Homens que nã o mineram: oficiais mecâ nicos nas Minas Gerais
Setecentistas”, também de minha autoria, como o título sugere, trata de indivíduos que nã o mineram,
embora possam eventualmente ter lavras de ouro, dedicam-se a fazeres e saberes essenciais em
atividade fabril e em serviços banais, suprindo um mercado consumidor e exigindo ordenaçã o aos
moldes lisboetas. Como se vê, os textos da unidade “Economia: diversificaçã o, dinâ mica evolutiva e
mercado interno” apresentam uma economia diversificada e complexa.
Lacunas persistem, estimulam e ferem a sensibilidade dos historiadores que têm como objeto as Minas
Gerais setecentistas. De imediato, é necessá rio um esforço para se escrever a histó ria de Minas no
período antecedente ao século XVIII. Ela existe, a despeito da limitaçã o de seus vestígios documentais.
Nessa busca, um diá logo transdisciplinar com a arqueologia, a antropologia e outras.
[...] Sã o necessá rios maiores esforços para complementar as lacunas documentais, visando maior aporte
serial e quantitativo. Tarefa nada fá cil, e à qual se dedicaram os historiadores que, revisando a tradiçã o
interpretativa da histó ria regional de Minas Gerais, colaboraram neste livro. Aná lises documentais
permitem intepretaçõ es problematizadoras da construçã o só cio-histó rica. Possibilitam leituras, da
mesma forma, variadas. A economia setecentista mineira dá luz à s versõ es de historiadores, aqui
apresentadas, para a crítica dos leitores.
MENESES, José Newton. Introduçã o. In: RESENDE, Maria E. L. de; VILLALTA, Luiz C. (Org.). As Minas Setecentistas.
Belo Horizonte: Autêntica, 2007. v. 1, p. 276-277.
• Texto 3
O texto a seguir foi escrito pelo historiador britâ nico, Christopher Hill.
Apó s a derrota dos radicais, em 1660, e a liquidaçã o definitiva do antigo regime em 1688, os dirigentes
da Inglaterra organizaram um império comercial de extrema eficá cia e um sistema de dominaçã o de
classes que se revelou extraordinariamente resistente à passagem do tempo. A ética protestante impô s-
se, pelo menos, à s ideias e sentimentos que puderam encontrar expressã o impressa. A sociedade
produziu grandes cientistas, grandes romances. Inventou o romance. Newton e Locke ditaram normas ao
mundo intelectual. Esta foi uma civilizaçã o poderosa, que para a maior parte das pessoas representou
um progresso face ao que antes existia. Porém que certeza podemos ter, em ú ltima aná lise,
Pá gina 352
de que esse mundo era o melhor dentre os possíveis – um mundo em que poetas enlouqueceram, em que
Locke tinha medo da mú sica e da poesia, e Newton tinha ideias secretas e irracionais que nã o se atrevia a
tornar pú blicas?
[...] Essa sociedade, que à primeira vista parecia tã o racional, tã o despreocupada, talvez pudesse ter sido
mais saudá vel se nã o fosse tã o rígida, se nã o tivesse escondido todas as suas contradiçõ es: ocultadas à
primeira vista, à consciência. A ética protestante dominou tanto as atitudes morais das classes médias, a
filosofia mecanicista dominou tã o completamente o pensamento científico, que nem foi preciso renovar a
lei de censura ao expirar ela em 1695 – nã o devido a um possível triunfo dos princípios libertá rios dos
radicais, mas simplesmente porque a censura já nã o era necessá ria. Iguais a Newton nesse ponto, os
formadores de opiniã o dessa sociedade se autocensuravam. Nada era impresso que pudesse assustar os
proprietá rios. O que assim passava ao mundo subterrâ neo e clandestino só podemos suspeitar. Alguns
poucos poetas tinham ideias româ nticas que destoavam desse mundo; mas nã o era preciso levá -los
demasiado a sério. A autocensura implicava a satisfaçã o consigo mesmo.
HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça: ideias radicais durante a revoluçã o inglesa de 1640. Sã o Paulo:
Companhia das Letras, 1987. p. 365-367.
• Texto 4
O texto a seguir foi escrito por Edgar Morin, filó sofo, antropó logo, soció logo e
pesquisador emérito do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), França.
Assim, a Razã o soberana converte-se ela mesma em razã o providencial e em mito quase religioso,
alcançando até mesmo um momento transitó rio de verdadeira deificaçã o com a instituiçã o por
Robespierre do culto à “Deusa” Razã o. Nessa perspectiva, a ciência torna-se a produtora do autêntico
conhecimento, ou seja, da verdade. Trata-se de uma época de grande desenvolvimento das ciências
físicas, químicas e bioló gicas. Impõ e-se entã o a ideia de que o universo seria totalmente inteligível [...].
A Razã o guia a humanidade na direçã o do progresso e assim o Progresso torna-se a lei inexorá vel da
histó ria [...]. O ano de 1789, com a expressã o dos direitos do Homem proclamados pela Revoluçã o
Francesa cheia de tantas promessas, pode ser realmente descrito, de acordo com Hegel, como “um
esplêndido nascer do sol”.
Já com Rousseau o tema da afetividade (da sensibilidade) passa a opor-se à razã o e indica que sozinha a
razã o tem um cará ter abstrato e quase inumano. Rousseau revela do seu jeito o aspecto de abstraçã o
existente na ruptura entre o humano e o natural e dá à natureza uma importâ ncia quase matricial,
maternal. Voltaire, sarcasticamente, dizia que Rousseau queria “nos fazer andar de quatro patas”. Para
Rousseau a civilizaçã o acarreta a degradaçã o humana. Assim, concebe o mito do homem natural que
pressupõ e nã o a existência de uma espécie de Jardim do É den, mas potencialidades humanas inibidas
pelas civilizaçõ es, reprimidas por nossas sociedades. Disso resulta um questionamento do progresso,
que nã o é mais considerado somente como uma fonte permanente de ganho e de melhoria. A questã o
passa a ser esta: o que se perde quando se obtém um progresso, um progresso técnico, um progresso
material, um progresso urbanístico? Problema, efetivamente, de enorme atualidade em nossa crise de
civilizaçã o.
MORIN, Edgar. Para além do Iluminismo. Revista FAMECOS, Porto Alegre, n. 26, p. 24-28, abr. 2005. Disponível em:
<http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/famecos/article/view/416/343>. Acesso em: 19 maio 2016.
Pá gina 353
Atividades complementares
1. O texto a seguir foi escrito por Adler Homero Fonseca de Castro, pesquisador do
Instituto do Patrimô nio Histó rico e Artístico Nacional (IPHAN). Leia-o com atençã o.
A engenharia do medo
A preocupaçã o com a segurança [...], sobretudo nas grandes cidades, nã o é um assunto novo no Brasil.
Nossos ancestrais também viviam num estado de medo permanente [...]. E as populaçõ es, como na
atualidade, exigiam das autoridades que medidas fossem tomadas para dar-lhes segurança.
[...] Houve até um estilo arquitetô nico no Brasil chamado de “casa-forte”, nas quais as residências eram
construídas com dois pavimentos, sem janelas ou portas no térreo, o acesso à casa sendo pelo segundo
andar, por uma escada de madeira que podia ser removida em caso de ataque. Também houve quartéis
fortificados – o palá cio dos governadores de Ouro Preto, hoje Escola de Minas, foi construído sobre uma
base que reproduz uma fortificaçã o renascentista. Do outro lado do poder, mesmo os quilombos tiveram
obras defensivas. A principal povoaçã o de Palmares era protegida por uma longa muralha de cinco
quilô metros, conhecida como “cerca do macaco”.
O esquema de defesa que viria a ser seguido na maior parte do territó rio durante todo o período colonial
foi o estabelecido por Tomé de Souza: haveria bases fortificadas construídas e mantidas pelo governo,
enquanto vilas e povoados menores deveriam construir e manter suas pró prias fortificaçõ es. Esse
esquema de “privatizaçã o” da atividade militar explica por que há no Brasil um grande nú mero de fortes.
Hoje em dia ainda existem 110 dos mais de 450 que foram feitos aqui ao longo dos séculos. Também
explica por que a maior parte dessas fortificaçõ es, com poucas exceçõ es, sã o pequenas, mal projetadas e
mal construídas. [...]
Contudo, o maior complexo fortificado do século XVII foi a cidade do Rio de Janeiro. Inicialmente
defendido por pequenos fortes pagos pelos moradores, estes foram incapazes de lidar com a cobiça
criada pela descoberta de ouro em Minas Gerais. A possibilidade de lucro fá cil atraiu os corsá rios
franceses Duclerc e Duguay-Trouin. Como é comum, depois do roubo, trocaram-se as fechaduras da
porta. No caso do Rio, foi enviado um engenheiro português que projetou todo um vasto complexo para
proteger a povoaçã o, incluindo um muro de defesa. [...]
Essas construçõ es acompanharam a mudança no eixo militar do Brasil. Com o ouro, as “capitanias do
Sul” adquiriram mais importâ ncia do que as do Nordeste produtor de açú car. E a antiga capital, Salvador,
praticamente deixou de ter acréscimos em seus fortes, já tendo perdido suas muralhas pouco depois das
invasõ es holandesas. O Rio de Janeiro, pelo contrá rio, continuou recebendo cada vez mais recursos.
CASTRO, Adler Homero Fonseca de. A engenharia do medo. Revista Nossa História, ano 3, n. 27, p. 26-27; 29-30, jan.
2006.
a) A falta de segurança continua sendo um problema sério no Brasil. Para se ter uma
ideia da extensã o do problema basta ver que as empresas da segurança privada e de
blindagem de automó veis têm crescido bastante nos ú ltimos anos. O que isso indica?
Isso indica que houve um crescimento da violê ncia, sobretudo nas grandes cidades. Nã o há exagero em dizer que os
habitantes de cidades brasileiras, pobres, ou ricos, têm vivido sob um medo constante.
b) Nos tempos coloniais, por questã o de segurança, construíam-se casas com dois
pavimentos, sem janelas ou portas no térreo, sendo o acesso feito por uma escada
removível. Hoje, observando o exterior das casas, fica evidente também a preocupaçã o
com segurança?
Sim, sã o comuns nas cidades brasileiras casas com muros altos, guaritas e vigilantes armados, cercas elé tricas, havendo
també m moradias que se assemelham a fortes, com vigilantes posicionados em lugares altos, com visã o privilegiada em
vá rias direçõ es.
Pá gina 354
c) O que o autor quis dizer com “o governo português privatizava a atividade militar”?
Significa dizer que a Coroa transferia para particulares (habitantes das vilas e povoados) a obrigaçã o de construir e manter
suas pró prias fortificaçõ es. Professor: comentar que a privatizaçã o também explica o fato de a maioria das fortificaçõ es
serem pequenas, mal projetadas e mal construídas.
d) Por que o maior complexo fortificado do século XVIII foi erguido no Rio de Janeiro?
Porque o fato de o Rio de Janeiro ter se tornado o principal escoadouro do ouro e das pedras preciosas, descobertas em
Minas Gerais, atraiu a cobiça de corsá rios (piratas financiados por reis ou rainhas) franceses que atacaram a “cidade
maravilhosa” duas vezes consecutivas: em 1710, sob o comando de J. F. Duclerc, e, em 1711, sob o comando de René Duguay-
Trouin, que saqueou a cidade levando consigo 610 mil cruzados, 100 caixas de açú car e 200 bois. Daí a decisã o do governo
portuguê s de erguer um complexo fortificado no Rio. Professor: ao chegar a seu país, Duguay-Trouin foi condecorado e
recebeu do rei Luís XIV uma pensã o vitalícia pelos serviços prestados à França.
À luz dos documentos histó ricos, a historiadora Jú nia Furtado compõ e uma outra
imagem de Chica da Silva; esta mais pró xima da mulher que viveu no século XVIII onde
é hoje Diamantina.
A Chica da Silva de carne e osso viveu como uma senhora rica, integrou vá rias
irmandades e conseguiu distinçã o social e respeito para si e os seus filhos. Por isso, em
vez da imagem criada pelo cinema, Jú nia Furtado propõ e que vejamos Chica da Silva
como alguém que, apesar de ter sido escrava, conseguiu retomar o controle sobre sua
vida. A uniã o está vel de Chica com um homem branco e rico era, talvez, a ú nica forma
de uma mulher afrodescendente e liberta conseguir distinçã o social e respeito na
sociedade elitista de Minas Gerais no século XVIII.
O texto compara a imagem fantasiosa de Chica da Silva, criada pelo cinema, à que foi construída pela historiadora Jú nia
Furtado com base em pesquisa histó rica.
b) O que você considerou mais interessante na histó ria real de Chica da Silva?
Resposta pessoal. Professor: chamar a atençã o para o fato de que Chica da Silva fez questã o que os seus filhos com o
contratador Joã o Fernandes Oliveira tivessem o sobrenome do pai e uma boa educaçã o.
c) Em dupla. No século XVIII, na regiã o das minas, era difícil para mulher
afrodescendente conseguir distinçã o social e respeito. E nos dias atuais isso ainda
acontece?
Resposta pessoal. Nã o se pode negar que, nos dias atuais, a situaçã o da mulher afrodescendente é muito diferente da vivida
por ela no sé culo XVIII. No entanto, pesquisas acadê micas recentes indicam que a discriminaçã o de raça e gê nero no Brasil
ainda continua vitimando os afrodescendentes, especialmente as mulheres. No mercado de trabalho, por exemplo, seus
salá rios sã o menores do que os dos homens negros que, por sua, vez ganham menos do que os brancos. Ver a esse respeito
Maria Aparecida Silva Bento. Cidadania em preto e branco: discutindo as relaçõ es raciais. Sã o Paulo: Á tica, 2005.
3. O texto a seguir é de Gerrard Winstanley, escritor e líder popular inglês, que viveu
durante o processo da Revoluçã o Inglesa, e que se considerava um nivelador autêntico
(ou cavador). Leia-o com atençã o.
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No princípio dos tempos, o grande criador, a Razã o, fez a terra: para ser esta um tesouro comum onde
conservar os animais, os pá ssaros, os peixes e o homem, este que seria o senhor a governar as demais
criaturas [...] Nesse princípio nã o disse palavra alguma que permitisse entender que uma parte da
humanidade devesse governar outra [...] Porém, [...] imaginaçõ es egoístas [...] impuseram um homem a
ensinar e mandar em outro. E dessa forma [...] o homem foi reduzido à servidã o e tornar-se mais escravo
dos que pertencem à sua mesma espécie, do que eram os animais dos campos relativamente a ele. E
assim a terra [...] foi cercada pelos que ensinavam e governavam, e foram feitos os outros [...] escravos. E
essa terra, que na criaçã o foi feita como um celeiro comum para todos, é comprada, vendida e
conservada nas mã os de uns poucos, o que constitui enorme desonra para o Grande Criador, como se
Este fizesse distinçã o entre as pessoas, deleitando-Se com a prosperidade de alguns e regozijando-Se
com a miséria mais dura e as dificuldades de outros. Mas, no princípio, nã o era assim [...]
[...]
O mais pobre dos homens possui título tã o autêntico e direito tã o justo à terra quanto o mais rico dentre
eles... A verdadeira liberdade reside no livre desfrute da terra...
HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça: ideias radicais na Revoluçã o Inglesa de 1640. Sã o Paulo: Companhia
das Letras, 1987. p. 139-140.
a) Lendo o texto percebe-se a relaçã o entre religiã o e economia nas lutas sociais
travadas na Inglaterra do século XVII. Localize no texto um trecho que justifique essa
afirmaçã o.
A relaçã o entre religiã o e economia fica explícita no trecho em que o autor afirma que o fato de a terra estar concentrada nas
mã os de poucos é uma “desonra para o Grande Criador”. Ou seja, ele invoca o Criador para legitimar seu ponto de vista de
que todos os seres humanos tê m direito a terra.
b) O autor considerava o Grande Criador o Leveller Chefe. O que ele queria dizer com
isso?
Na visã o do autor do texto, Jesus Cristo queria nivelar as pessoas, eliminando as distâ ncias entre ricos e pobres; dai ser
considerado o “nivelador chefe”. O termo leveller vem do verbo to level que, em inglê s, quer dizer nivelar. O autor do texto
se considerava um nivelador autê ntico; os niveladores autê nticos ficaram conhecidos como diggers, ou seja, cavadores.
c) Que relaçã o se pode estabelecer entre o processo de cercamento das terras inglesas
e esse texto do líder popular inglês?
Nesse texto, o líder popular inglê s ataca frontalmente o processo de cercamento, atravé s do qual os grandes proprietá rios
cercavam as terras de uso comum, expulsavam os camponeses dali, e transformavam o terreno vazio em á rea de cultivo
comercial.
d) Em dupla. Reflitam, debatam e opinem: vocês concordam que “O mais pobre dos
homens possui título tã o autêntico e direito tã o justo à terra quanto o mais rico dentre
eles”?
Resposta pessoal. Professor: a questã o buscou estimular a reflexã o sobre a concentraçã o da terra nas mã os de poucos,
problema que agita a sociedade brasileira há muito tempo. Mas ao trazer essa discussã o para o presente, levar em conta que
a fala do líder popular inglê s ocorreu em um contexto bem diferente do nosso. Comentar que, em 1650, os diggers exigiam
que a terra confiscada à Igreja, à Coroa e aos realistas fosse entregue aos pobres.
c) O que é governo?
Resposta pessoal. Professor: o objetivo uma vez mais é estimular a escrita com base nas ideias do filó sofo suíço Jean-
Jacques Rousseau. Comentar com os alunos que a noçã o de “vontade geral”, entendida como integraçã o e nã o como simples
soma das vontades individuais, é central no pensamento de Rousseau. Para ele, a vontade geral é soberana. Daí deriva a
noçã o de que o governo é apenas o delegado do povo e que este tem poder para estabelecê -lo ou destituí-lo.
Pá gina 356
Os personagens principais sã o um trio de mú sicos composto de um flautista e dois tocadores de tambor, um garoto e um
idoso. O garoto dirige ao idoso um olhar de admiraçã o. O flautista olha para a frente, com a expressã o atenta. O idoso, por
sua vez, avança a passos largos, sem se intimidar com o fogo inimigo. A mensagem é clara: o idoso serve como exemplo,
encorajando os mais jovens a atravessar o campo de batalha, apesar do perigo.
O artista recria o que pode ter sido uma batalha entre colonos e os “casacas vermelhas” (sodados ingleses). Envolta em uma
nuvem de fumaça, vê-se a bandeira dos Estados Unidos carregada por um grupo de rebeldes, um dos quais acena com o
chapé u, como se estivesse dizendo: “Vamos em frente!”. O cená rio sugere a violê ncia da batalha: o soldado caído que segura
o chapé u, a fumaça das explosõ es, uma roda partida.
c) Depois de observar a imagem e ler seu título, responda: que ideia o artista
pretendeu transmitir?
O artista quis enaltecer a determinaçã o do povo estadunidense durante as lutas pela independê ncia, daí o título da imagem:
O espírito de 1776. O povo está representado por meio de heró is anô nimos. A obra ocupa, hoje, um papel de destaque no
imaginá rio estadunidense.
Nã o; a concepçã o de povo estadunidense veiculada na obra é excludente: os participantes da luta pela independê ncia sã o
todos brancos e do sexo masculino. Nã o vemos mulheres nem pessoas negras ou de ascendê ncia indígena.
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Textos complementares
• Texto 1
Mulheres combatem ao lado de homens durante o período revolucioná rio, em 1793. Arquivos franceses
registram dados biográ ficos de oitenta dessas guerreiras.
“Nã o fiz a guerra como mulher, fiz a guerra como um bravo!”, declarou Marie-Henriette Xaintrailles em
carta ao imperador Napoleã o Bonaparte (1769-1821). Indignada por lhe recusarem pensã o de ex-
combatente do Exército “porque era mulher”, ela lembrou que, quando fez sete campanhas do Reno
como ajudante de campo, o que importava era o cumprimento do dever, e nã o o sexo de quem o
desempenhava. Madame Xaintrailles nã o foi um caso isolado. Em 1792, quando a França declarou guerra
à Á ustria, voluntá rias se alistaram no Exército para lutar ao lado dos homens contra as forças da coalizã o
austro-prussiana que ameaçavam invadir o país. Muitas se apresentaram com identidades falsas e
disfarçadas de homem. Além de conseguirem se alistar, protegiam-se do risco da violência sexual. Quem
eram as mulheres-soldados e por que se engajaram no conflito armado? E quais foram os motivos de sua
relativa aceitaçã o por parte de líderes revolucioná rios e companheiros de armas?
Nã o se conhece o nú mero exato de mulheres-soldados durante o período revolucioná rio francês (1789-
1799). Há oitenta casos registrados nos arquivos parlamentares, militares e policiais, e informaçõ es
biográ ficas esparsas sobre apenas quarenta e quatro. Entretanto, existem muitas referências em imagens
e testemunhos da época. O deputado Grégoire (1750-1831) as elogiou oficialmente: “E vó s, generosas
cidadã s que participaram da sorte dos combates”. Essas constataçõ es nos permitem supor que elas eram
mais numerosas e bem integradas à vida militar do que pode parecer. Quase todas vinham de meios
sociais modestos. Eram filhas de pequenos camponeses e artesã os, e tinham apelidos como Felicité Vai-
de-bom-coraçã o ou Maria Cabeça-de-pau. A maioria era muito jovem, como Ana Quatro-vinténs, que se
alistou aos 13 anos, e aos 16 servia na artilharia montada. [...]
Há registros da boa acolhida das mulheres-soldados por parte dos companheiros de armas. O capitã o
Dubois e sua mulher combateram juntos no 7º Batalhã o de Paris. Ao ser ferido, sua esposa foi designada
vice capitã pelos outros soldados. [...]
Mas havia vozes discordantes: alguns cidadã os se queixavam abertamente das mulheres promovidas a
oficial, alegando que os soldados tinham vergonha de receber suas ordens. Diminuindo o mérito das
combatentes, explicavam aquela coragem como exceçã o, atribuindo-a ao milagre da Liberdade. [...]
O nú mero expressivo de prêmios e aplausos à s soldadas atesta a boa vontade dos chefes militares e até
dos governantes em Paris. Mesmo levando-se em conta que elas transgrediam as normas de
comportamento feminino, apropriando-se de atributos inerentemente masculinos como as armas e o
serviço militar. As mulheres-soldados foram até certo ponto aceitas porque tinham moral elevada,
dignidade e bons costumes; eram combatentes, e nã o libertinas. Embora a violência nã o seja
normalmente associada à mulher, na guerra elas matavam “os escravos dos tiranos”, prestando um
serviço à naçã o. Eram discretas, e muitas vezes seu sexo só era descoberto quando feridas na batalha. [...]
De todo modo, as soldadas encarnavam as virtudes republicanas. Nã o era pouco. Por essa razã o, Liberté
Barreau e Rose Bouillon figuravam na Coletâ nea de Açõ es Heroicas e Cívicas dos Republicanos
Franceses, publicada em 30 de dezembro de 1793. Enfrentando a morte, também deram a vida,
dedicaram-se com amor aos maridos e filhos. Cuidaram de doentes e feridos com a doçura e o
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altruísmo associados à imagem feminina. Sacrificaram-se pela pá tria sem esquecer as virtudes de seu
sexo. Eis aí o grande mérito. Numa Repú blica marcada por apelos à moral, as mulheres-soldados
contribuíram com um modelo de comportamento feminino positivo.
MORIN,Tania Machado. Revoluçã o francesa e feminina. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 8
dez. 2010. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/revolucao-francesa-e-feminina>.
Acesso em: 26 maio 2016.
• Texto 2
A burguesia, sem dú vida, em primeiro plano. Qualquer colegial sabe hoje, mesmo sem ter lido Marx, que
o movimento que se iniciou em 1789 foi sobretudo uma Revoluçã o burguesa – burguesa pelos seus
protagonistas principais, quase todos jovens advogados da província ou de Paris (a depuraçã o do
terceiro estado, em 1789, nã o contava com um ú nico camponês, artesã o ou operá rio), burguesa pela
filosofia e pelo liberalismo econô mico, burguesa pela filosofia e pelo liberalismo econô mico, burguesa em
seu projeto político de ascensã o ao poder, demarcando-se do povo e excluindo a aristocracia.
Mas a Revoluçã o Francesa nã o é somente a Assembléia, ela é também o campo. A revoluçã o agrá ria é
indissociá vel da revoluçã o urbana. Foi o campesinato que desde 1789 começou a invadir castelos e
pilhar propriedades rurais, forçando a Assembléia a abolir as prerrogativas feudais, num movimento
liderado pelos pró prios privilegiados, na sessã o histó rica de 4 de agosto. Foi ele que tornou irreversíveis
as conquistas sociais da Revoluçã o, adquirindo os bens nacionais, o que gerou uma nova camada de
pequenos proprietá rios agrícolas radicalmente hostis à restauraçã o do Ancien Regime.
A Revoluçã o Francesa é também a rua. Foi o povo que imprimiu à Revoluçã o suas guinadas mais
decisivas. Foi ele que tomou a Bastilha, ele que foi buscar em Versalhes a família real, ele que se fez
massacrar no Campo de Marte, destruindo a ilusã o de uma aliança de classes, ele que depô s a realeza em
10 de agosto de 1792, ele que provocou a grande matança das prisõ es, em setembro do mesmo ano, ele
que forçou o expurgo da Convençã o expulsando os girondinos e contribuindo para frustrar manobras
contra-revolucioná rias.
Enfim, a Revoluçã o foi também uma revoluçã o aristocrá tica, pois no início parecia haver uma
comunidade de interesses entre a nobreza e a burguesia, ambas voltadas contra o absolutismo
moná rquico. [...]
Em suma, podemos dizer que a Revoluçã o Francesa foi uma série de revoluçõ es telescopadas, na qual
predomina evidentemente a revoluçã o burguesa, mas que inclui também uma revoluçã o camponesa,
popular e aristocrá tica.
ROUANET, Sérgio Paulo. O espectador noturno: a Revoluçã o Francesa através de Rétif de La Bretonne. Sã o Paulo:
Companhia das Letras, 1988. p. 42-44.
• Texto 3
O texto a seguir foi escrito por Maria Ligia Prado e Gabriela Pellegrino Soares, duas
estudiosas com muitos anos de pesquisa em Histó ria da América. O texto trata das
independências na América espanhola.
Sujeitos da História
Como vimos, os exércitos rebeldes contaram com comandantes estrategistas para vencer a guerra. Mas,
para que as forças insurgentes se pusessem em marcha, era preciso que pessoas abastadas
patrocinassem sua organizaçã o. Nesse sentido, os ricos comerciantes da cidade de Buenos Aires
financiaram a formaçã o dos primeiros batalhõ es e, na Venezuela, foram os plantadores de cacau os
responsá veis por parte importante de tal financiamento.
Pá gina 361
Porém, nã o há exército sem soldados que, por sua vez, deviam estar convencidos de que a causa da
independência era a mais justa e necessá ria para destruir a ordem colonial. Desse modo, “pessoas
comuns” dos mais diversos segmentos sociais e étnicos foram indispensá veis para engrossar as fileiras
insurgentes, mas suas histó rias acabaram esquecidas ou pouco valorizadas. Assim, é importante mostrar
tal participaçã o.
As novas ideias que estimularam a independência foram divulgadas por um grupo considerá vel de
letrados provenientes das diversas partes da América. Nos muitos escritos desse período – panfletos,
memó rias, discursos, jornais – defendiam a independência, demonstrando só lido conhecimento das
ideias liberais. Fundamentaram-se nelas para armar suas plataformas de açã o e sua justificativa da
ruptura com a metró pole. [...]
Do mesmo modo que os homens ilustrados contribuíram para a independência, os mais desfavorecidos
membros da sociedade colonial, os escravos negros, marcaram sua presença. Como já vimos, eles foram
os protagonistas centrais nas lutas da independência do Haiti. Mas também lutaram nas guerras na
América do Sul. A eles, em geral, era concedida a alforria, caso se alistassem do lado dos insurgentes. Há
muitos exemplos a serem indicados. [...] O mais conhecido foi o “Batalhã o Negro de Buenos Aires”,
integrante do exército de San Martín, que atravessou os Andes. De um total de 5 mil homens que
partiram em direçã o ao Chile, 1 500 eram negros. [...]
PRADO, Maria Ligia; SOARES, Gabriela P. História da América Latina. Sã o Paulo: Contexto, 2014. p. 33-35.
• Texto 4
O texto a seguir é de Eric Hobsbawm, historiador britâ nico de renome internacional e
com importantes obras sobre Histó ria Moderna e Contemporâ nea.
Se a economia do mundo do século XIX foi constituída principalmente sob a influência da revoluçã o
industrial britâ nica, sua política e ideologia foram constituídas fundamentalmente pela Revoluçã o
Francesa. A Grã -Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e fá bricas, o explosivo econô mico que
rompeu com as estruturas socioeconô micas tradicionais do mundo nã o-europeu; mas foi a França que
fez suas revoluçõ es e elas deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-
se tornado o emblema de praticamente todas as naçõ es emergentes, e as políticas europeias (ou mesmo
mundiais), entre 1789 e 1917, forma em grande parte lutas a favor e contra os princípios de 1789, ou os
ainda mais incendiá rios princípios de 1793. [...] A França forneceu os có digos legais, o modelo de
organizaçã o técnica e científica e o sistema métrico de medidas para a maioria dos países. A Ideologia do
mundo moderno atingiu, pela influência francesa, as antigas civilizaçõ es que até entã o resistiam à s ideias
europeias. [...]
[...] A Revoluçã o Francesa pode nã o ter sido um fenô meno isolado, mas foi muito mais fundamental do
que os outros fenô menos contemporâ neos e suas consequências foram, portanto, muito mais profundas.
Em primeiro lugar, ela aconteceu no mais populoso e poderoso Estado da Europa (com exceçã o da
Rú ssia). Em 1789, cerca de um em cada cinco europeus era francês. Em segundo lugar, ela foi,
diferentemente de todas as revoluçõ es que a precederam e a seguiram, uma revoluçã o social de massa, e
incomensuravelmente mais radical do que qualquer levante compará vel. Nã o é casual que os
revolucioná rios americanos e os jacobinos britâ nicos que emigraram para a França, devido a suas
simpatias políticas, tenham sido vistos, na França, como moderados. Tom Paine era um extremista na
Grã -Bretanha e na América; mas, em Paris, ele estava entre os mais moderados dos girondinos.
Resultaram das revoluçõ es americanas, grosseiramente falando, países que continuaram a ser o que
eram, apenas sem o controle político dos britâ nicos, espanhó is e portugueses. O resultado da Revoluçã o
Francesa foi o de que a era de Balzac substituiu a era de Mme Dubarry.
Em terceiro lugar, entre todas as revoluçõ es contemporâ neas, a Revoluçã o Francesa foi a ú nica
ecumênica. Seus exércitos partiram para revolucionar o mundo; suas ideias de fato o revolucioná rio.
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. p. 7-9.
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• Texto 5
A Constituiçã o de 1824 naturalizou todos os nascidos em Portugal que aqui permaneceram apó s a
independência e que tivessem aderido à “causa do Brasil” de modo que, durante pelo menos a primeira
década apó s a declaraçã o de independente, brasileiros e portugueses foram identidades intercambiá veis
e profundamente carregadas de conteú dos políticos. Por outro lado, desde a chamada Conjuraçã o dos
Alfaiates, em 1798, a igualdade entre pardos e brancos, juntamente com o aumento do soldo das tropas,
era apresentada como principal reivindicaçã o de cará ter popular no bojo das agitaçõ es políticas de
cunho liberal do período. Nesse contexto, a causa do Brasil apareceria nas ruas do Rio de Janeiro ou de
Salvador, fortemente marcada por uma linguagem racial, na qual a origem africana era esgrimida como
marca de discriminaçã o pelo “partido português e absolutista” e como signo da identidade brasileira
pelo povo nas ruas, jogando “cabras” contra “caiados”, “brasileiros pardos” contra “branquinhos do
reino”.
MATTOS, Hebe Maria. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. p. 18-
19. (Descobrindo o Brasil).
Atividades complementares
1. O texto a seguir foi escrito por um importante historiador francês; leia-o com
atençã o.
Esses deputados abolem o regime feudal: nã o haverá mais senhores usufruindo dos favores que eram
chamados de privilégios. Por exemplo, eles nã o recebem mais os tributos senhoriais pagos por seus
camponeses, perdem o privilégio de ser os ú nicos que praticam certas atividades como a caça, nã o
devem mais se distinguir por sinais exteriores: vestuá rios luxuosos e perucas, carruagens etc.
Os deputados proclamam que todos os franceses sã o livres e iguais. Eles atribuem à repú blica uma divisa
que figura nos edifícios pú blicos: “Liberdade, igualdade, fraternidade”. Vocês acham, a partir do que
veem em volta de vocês, que esse ideal foi realizado?
LE GOFF, Jacques. Uma breve história da Europa. Petró polis: Vozes, 2008. p. 110.
Editora Vozes
a) Como o autor justifica sua afirmaçã o de que, em 1789, os franceses fizeram uma
Revoluçã o?
Ele justifica dizendo que os franceses mudaram radicalmente tanto o jeito como eram governados quanto a sociedade.
Eles aboliram o regime feudal (os privilé gios da nobreza e o direito de receber tributos dos camponeses) e proclamaram que
todos os franceses eram livres e iguais.
Resposta pessoal. Professor: a questã o favorece o debate em torno das ideias dos revolucioná rios de 1789, que continuam
empolgando pessoas, grupos e movimentos sociais nos dias de hoje.
2. O nome desta tela é Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808. Ela foi pintada pelo
espanhol Francisco Goya, em 1814, e está atualmente no Museu do Prado, em Madri.
Francisco Jose de Goya. 1814. Ó leo sobre tela. Museu do Prado, Madri
a) Levante uma hipó tese: quem é o personagem de camisa branca e calça amarela e o
que ele representa?
Ele é o personagem-símbolo do quadro e representa a resistê ncia popular espanhola. Usando com maestria o jogo de luz e
sombra, Goya atrai o olhar do observador para ele. Contrastando o despojamento desse personagem popular com a violê ncia
cega dos atiradores, Goya o transforma no principal má rtir dessa resistê ncia.
Ao centro, vê -se outro grupo de prisioneiros desesperados. O que está à frente cobre o rosto com as mã os; atrá s e à
esquerda, um prisioneiro de roupa branca; à direita, outro prisioneiro tristonho de olhar cabisbaixo; ao fundo e no alto, uma
igreja, que representa bem a Espanha cató lica. Repare que a igreja ocupa um lugar de destaque na obra.
Goya os representou como se fossem idê nticos; nã o nos deixa ver seus rostos. A opressã o nã o tem rosto, diz Goya, usando a
linguagem pictó rica. Com isso, o artista ultrapassa o fato particular (a dominaçã o napoleô nica) e atinge o universal,
estendendo sua crítica a todos os regimes tirâ nicos.
d) O que a obra nos transmite?
Nessa pintura histó rica de estilo realista, Goya fez uma crítica aberta, explícita e inflamada à tirania. Ele nã o se restringiu a
retratar um episó dio da histó ria de seu povo; transformou sua pintura em uma arma na luta pela liberdade.
e) Observe a tela, leia o seu título e responda: em que contexto ela foi feita?
A pintura se insere no contexto da ocupaçã o da Espanha pelo exé rcito de Napoleã o Bonaparte. O pintor congela um
momento de grande violê ncia da ocupaçã o francesa na Espanha: populares espanhó is sendo fuzilados por soldados
franceses.
Francisco José de Goya y Lucientes nasceu em 1746, na província de Saragoça (Espanha). Era filho de um dourador de
está tuas para igrejas e, ainda jovem, iniciou seus estudos de pintura e de decoraçã o. Mas tinha um espírito irrequieto e
preferia as ruas, os bares e as touradas ao atelier, chegando a atuar profissionalmente como toureiro. Um marco em sua vida
artística foi o quadro Maja desnuda, no qual retratou uma mulher nua, causando grande polê mica na sociedade espanhola.
Com a invasã o da Espanha pelo exé rcito napoleô nico, Goya realizou uma sé rie de quadros exaltando a resistê ncia popular
espanhola.
O Estado, que começava a se organizar depois de atingida a independência, assumiu como tarefa destruir
a velha ordem colonial. Em primeiro lugar, tendo em vista os interesses criollos dominantes
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e também as pressõ es dos comerciantes ingleses, havia de derrubar todo o regime de monopó lios,
privilégios e restriçõ es ao comércio e outros ramos da produçã o em geral. Essa foi uma iniciativa
realizada com êxito, ainda que isso nã o tenha significado, como esperavam os criollos, um grande
crescimento econô mico imediato.
Outro objetivo do Estado que surgia era a destruiçã o dos foros especiais do Exército e da Igreja. [...] Essa
luta terminou, em geral, já no fim do século [XIX] – em alguns países, neste século [XX] – com a separaçã o
total entre o Estado e a Igreja e com a subordinaçã o desta ao poder maior do Estado laico.
Os privilégios dos espanhó is foram, na verdade, rapidamente suplantados nessa batalha, já que eles
terminaram por perder seus favores políticos e econô micos, chegando mesmo a ser expulsos de alguns
países.
Esse Estado esteve sempre preocupado com a manutençã o da ordem social; os setores mesmo
divergentes das classes dirigentes sempre se aliaram, sustentando o Estado, em momentos em que a
ordem instituída foi ameaçada pelos de abajo. As constantes revoltas de índios, de camponeses e de
escravos contribuíram para o fechamento autoritá rio do Estado. Entretanto, algumas concessõ es foram
feitas. Aboliu-se o tributo indígena [...] aplainaram-se as distinçõ es de castas. A escravidã o negra foi
abolida, mais cedo ou mais tarde, nos países independentes, tendo permanecido apenas (além do Brasil)
nas ilhas de Cuba e Porto Rico, ainda sob o domínio espanhol.
PRADO, Maria Lígia. A formação das nações latino-americanas. 18. ed. Sã o Paulo: Atual, 1994. p. 17-18.
A destruiçã o da velha ordem colonial, com a liquidaçã o dos foros especiais do exé rcito e da Igreja e dos privilé gios dados aos
chapetones.
b) Segundo a autora, de que forma as classes dirigentes se comportaram nas ocasiõ es
em que a ordem social foi ameaçada por levantes e/ou rebeliõ es populares?
Diante da ameaça à ordem social estabelecida, as classes dirigentes se aliaram e reprimiram as manifestaçõ es populares.
[Comentar que o Estado reagiu a essas revoltas constantes de forma autoritá ria e violenta.]
c) Com base neste texto e no que você estudou, analise as independências latino-
americanas destacando mudanças e permanências.
Resposta pessoal. [No tocante à s mudanças, os alunos podem apontar a ascensã o dos criollos aos principais cargos nos
Estados recé m-formados e a aboliçã o do tributo indígena, das distinçõ es de castas e da escravidã o. Quanto à s permanências,
poderã o ser citadas a manutençã o da estrutura agrá ria, das desigualdades sociais e da dependê ncia externa, sobretudo em
relaçã o à Inglaterra.]
e) adoçã o de regimes moná rquicos pelo conjunto das ex-colô nias da Espanha.
Resposta: c.
5. (Unimontes-MG – 2014) Em 1777, com a morte do rei Dom José I, sua filha, D.
Maria I, sucedeu-lhe no trono de Portugal. Sobre as açõ es encetadas durante o seu
reinado, é CORRETO afirmar:
Resposta: a.
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6. O texto a seguir é trecho de uma entrevista dada pela historiadora Emília Viotti da
Costa. Leia-o com atençã o.
Devemos, sim, comemorar a Independência, mas cientes das limitaçõ es dela, pois, no mundo
“globalizado”, o Brasil continua tremendamente dependente dos países mais desenvolvidos. Temos uma
independência mais nominal que real. Celebrar ou nã o é questã o de gosto. Para mim o presente sempre
preocupou mais que o passado. [...] Vejo a Histó ria como uma forma de compreender o presente. Nunca
fui uma colecionadora de histó ria.
COSTA, Emília Viotti da. Faz sentido celebrar a Independência? Nossa História, ano 1, n. 11, p. 34, set. 2004.
a) A comemoraçã o da Independência;
Devemos, sim, comemorar a Independê ncia, mas cientes das limitaçõ es dela, pois, no mundo “globalizado”, o Brasil continua
tremendamente dependente dos países mais desenvolvidos.
b) A independência do Brasil.
c) A Histó ria.
d) Com a classe dividida em três grupos criem um debate sobre a afirmaçã o feita pela
historiadora: o Brasil continua tremendamente dependente dos países mais
desenvolvidos. Um grupo defende a posiçã o da historiadora; outro contesta sua
posiçã o, e um terceiro avalia o desempenho dos dois grupos no debate.
Respostas pessoais. Professor: levar em conta a capacidade de argumentaçã o do alunado. Estimular os alunos a buscar
argumentos e dados em defesa de seu ponto de vista. Para esquentar o debate lembrar que, se por um lado o Brasil é
considerado hoje a 7ª economia do mundo, por outro, depende em boa parte das exportaçõ es de gê neros agrícolas e
maté rias-primas para países como a China, por exemplo.
7. (UEMG – 2015) Em abril de 1831, na cidade do Rio de Janeiro, era comum ouvir nas
ruas versos como esses:
a) encontrava uma base de sustentaçã o política só lida e sem disputas, o que lhe dava
estabilidade para governar, mesmo com enorme impopularidade por causa de sua
conduta pessoal irresponsá vel, desregrada e desrespeitosa.
b) diante da insatisfaçã o da populaçã o brasileira com a tentativa das cortes
portuguesas de recolonizarem o Brasil, consegue o apoio dos grandes proprietá rios
para concretizar o que seu pai, D. Joã o VI, previra que aconteceria ao deixar o Brasil: a
Independência.
c) vivia um entrave na sua relaçã o política com a elite agrá ria brasileira, já que a
constituiçã o do Império, que havia sido promulgada no ano de 1824, muito
democrá tica e liberal, concedia importantes direitos sociais à massa popular.
Resposta: d.
Pá gina 366
Pá gina 367
- A resistência negra
- O abolicionismo
- A vida dos recém-
libertos
- O processo que
conduziu à Repú blica
- O republicanismo
- A Questã o Religiosa
- A Questã o Militar
- A proclamaçã o da
Repú blica
- O Governo
- A reforma e a crise
financeira
- Constituiçã o e
cidadania na jovem
Repú blica
- O governo de Deodoro
da Fonseca
- O governo de Floriano
Peixoto
- A Revoluçã o
Federalista
Pá gina 368
Textos complementares
• Texto 1
Cantor do indígena, Gonçalves Dias parece retomar o caminho trilhado pelos iniciadores do romantismo
entre nó s. Mas é com outra perspectiva e outro vigor poético que o faz. Há nele uma consciência
dramá tica, senã o trá gica, de que a colonizaçã o extinguiu populaçõ es inteiras de silvícolas. I-Juca Pirama
nã o é tã o somente “aquele que deve morrer” quando vencido pela tribo inimiga. É também aquele que
acabaria morrendo à s mã os dos conquistadores brancos que vieram de além-mar. No “Canto do Piaga”,
um de seus primeiros “poemas americanos”, sobe ao primeiro plano a visã o horrífica dos invasores que
virã o de repente “matar vossos bravos guerreiros” e “roubar-vos a filha e a mulher”.
[...]
O índio de Gonçalves Dias nã o é decorativo, é expressivo. Quando épico, é viril e só brio na concisã o da
fala do selvagem indô mito:
Da tribo pujante
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte.
Meu canto de morte
Guerreiros, ouvi
BOSI, Alfredo. Cultura. In: CARVALHO, José Murilo de. (Coord.). A construção nacional 1830-1889. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012. v. 2, p. 234-236.
Pá gina 369
• Texto 2
O texto a seguir é de Maria Teresa Garritano Dourado, doutora em Histó ria Social pela
USP, e autora da tese A História esquecida da Guerra do Paraguai: fome, doenças e
penalidades.
Ana Néri já nã o é tã o lembrada hoje, mas foi uma das poucas mulheres brasileiras participantes do
conflito a ficar conhecida nacionalmente, tendo sido muito festejada na época do confronto. Ela teria
adquirido experiência como enfermeira junto à s Irmã s de Caridade Sã o Vicente de Paula, no Rio Grande
do Sul, e em Salto, na Argentina. Naqueles tempos, a enfermagem nã o tinha um cará ter técnico ou
científico e era exercida em um viés humanitá rio ou religioso.
Durante a guerra, Ana residiu em Corrientes, Humaitá e Assunçã o, fixando residência perto dos campos
de operaçõ es para atender aos feridos. Tratou de doentes em hospitais de sangue e perdeu um filho e um
sobrinho no período. Muitos anos depois de morrer, teve seu nome dado a vá rias escolas de enfermagem
no Brasil, sendo considerada uma de suas pioneiras. Seu prestígio foi longe: em cartas à sua mulher,
Benjamin Constant, militar e republicano histó rico, referiu-se a ela como “uma respeitá vel senhora
brasileira” e “muito minha amiga”.
Grande parte do contingente feminino que acompanhava o exército era formado por mulheres simples
do povo, conhecidas apenas por um nome e apelido, como Ana Mamuda, Aninha Gangalha, Maria Fuzil,
entre outros. Ana Néri, porém, era exceçã o. Senhora de elite, ela teve direito a nomes e sobrenomes por
ser viú va de um homem de projeçã o: havia se casado com o oficial de Marinha capitã o-de-fragata Isidoro
Antonio Néri, que faleceu em 1844 a bordo do brigue Três de Maio, no Maranhã o.
Ana Néri ficou por quase cinco anos com o exército. Quando regressou, recebeu vá rias homenagens.
Ainda em vida teve um reconhecimento raras vezes dado a uma mulher brasileira. Em 6 de fevereiro de
1870, foi presenteada por uma comissã o de senhoras baianas residentes na capital com uma coroa de
ouro na qual estava gravado: “à heroína da caridade, as baianas agradecidas”. Hoje, o objeto faz parte do
acervo do Museu do Estado da Bahia. A enfermeira também ganhou um á lbum com a dedicató ria
“Tributo de admiraçã o à caridosa baiana por damas patriotas”.
Todos os bió grafos de Ana Néri ressaltam o importante trabalho que ela desenvolveu tanto junto aos
feridos brasileiros e aliados quanto aos paraguaios. Nã o à toa, ficou conhecida como Mã e dos Brasileiros,
numa denominaçã o dada pelo pró prio Exército na Campanha do Paraguai.
DOURADO, Maria Teresa Garritano. Sofrimento invisível. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro,
ano 10, n. 117, p. 24, jun. 2015.
• Texto 3
O texto a seguir foi escrito pela historiadora e antropó loga brasileira Lilia Schwarcz
Moritz, e pela cientista política e professora da UFMG Heloísa Starling.
O dia seguinte
Por sinal, passada a euforia dos primeiros momentos da Lei Á urea, de 1888, foram ficando claras as
falá cias e incompletudes da medida. Se ela significou um ponto final no sistema escravocrata, nã o
Pá gina 370
priorizou uma política social de inclusã o desses grupos, os quais tinham poucas chances de competir em
igualdade de condiçõ es com os demais trabalhadores, sobretudo brancos, nacionais ou imigrantes. [...]
Na realidade, nos primeiros anos da Repú blica pairava um verdadeiro “medo” de novas escravizaçõ es, ou
da vigência de políticas raciais no país. Sobre os libertos recaía, portanto, um fardo pesado, condicionado
pelos modelos deterministas de interpretaçã o social e pela pró pria histó ria. Foi por isso que ocorreu,
entã o, uma reversã o de expectativas, uma vez que a igualdade jurídica e social acabou sendo
condicionada por novos critérios raciais, religiosos, étnicos e sexuais. Segundo a visã o da época, a
explicaçã o para a falta de sucesso profissional ou social dos negros e mestiços estaria na biologia: ou
melhor, na raça, e nã o numa histó ria pregressa ou no passado imediato. Henrique Roxo, médico do
Hospício Nacional, em pronunciamento no II Congresso Médico Latino-Americano de 1904 asseverava
que negros e pardos deveriam ser considerados como “tipos que nã o evoluíram”; “ficaram
retardatá rios”. Segundo ele, se cada povo carregava uma “tara hereditá ria”, no caso desses grupos ela era
“pesadíssima”, levando à vadiagem, ao á lcool e demais distú rbios mentais. O médico nã o deixava de
incluir argumentos sociais, culpando a “transiçã o bruscada”, assim como o crescimento desorganizado
das cidades.
SCHWARCZ, L. K. M.; STARLING, Heloísa. Brasil: uma biografia. 1. ed. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2015. v. 1, p.
342-343.
Atividades complementares
1. Cruzando fontes
• Fonte 1
Com efeito, os escravos foram a pedra de toque da Cabanagem, na medida em que suas açõ es [...] foram
encaminhadas com autonomia frente aos demais grupos rebeldes. Por isso mesmo, suas manifestaçõ es
dirigiam-se [...] para aqueles que representavam [...] a continuidade do cativeiro. Por isso mesmo
também sobre eles recaiu toda a fú ria repressiva das autoridades [...]. Durante toda a revolta, a
perseguiçã o e morte de suas lideranças mais expressivas, como os negros Diamante e Patriota, foram
parte do preço que tiveram de pagar para reinventar a liberdade.
Da trajetó ria dessas duas lideranças negras da Cabanagem pouco se sabe além dos registros que
aparecem na obra de Domingos Raiol. Sabe-se que Patriota era a alcunha de um negro liberto que se fez
líder de um grupo [...] que chegou a aglutinar mais de 400 escravos fugidos. [...] A figura de Diamante é
também iluminada por Raiol. Negro, chamava-se Joã o do Espírito Santo e sob seu comando “organizou
[...] um corpo que denominou de guerrilheiros” e chegou a elaborar um plano para assumir o controle do
poder na Província, derrubando o entã o presidente... Eduardo Angelim.[...]
PINHEIRO, Luís Balkar S. Peixoto. Cabanagem: percursos histó ricos e historiográficos. In: DANTAS, Mô nica Duarte
(Org.). Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. Sã o Paulo: Alameda,
2011. p. 226-227.
Alcunha: apelido.
• Fonte 2
Fonte: FILHO, Arnaldo Fazoli. O período Regencial. Sã o Paulo: Editora Á tica, 1994. p. 55.
Pá gina 371
a) Que trecho do texto comprova que os escravos do Grã o-Pará agiram com autonomia
frente aos outros grupos?
O trecho que afirma que o líder negro Diamante queria derrubar o governo cabano de Eduardo Angelim e substituí-lo no
poder; eis o que o autor diz: “Negro, chamava-se Joã o do Espírito Santo e [...] chegou a elaborar um plano para assumir o
controle do poder na Província, derrubando o entã o presidente... Eduardo Angelim.”
b) Com base na tabela, o que é possível saber sobre a presença de negros e índios na
populaçã o do Grã -Pará , em 1835?
Pode-se dizer que negros e índios somavam 63 mil habitantes, mais de 50% da populaçã o. Professor: comentar que 50% + 1
constitui maioria absoluta.
A porcentagem de negros era de 25% e a de brancos era de 12,5%; a porcentagem de negros era, portanto, o dobro da de
brancos.
d) Qual era a condiçã o de vida da maioria da populaçã o do Grã o-Pará e por quais
grupos étnicos era constituída?
A maioria dos paraenses era muito pobre; morava em cabanas e era constituída por índios, negros e mestiços que, juntos,
somavam 85% da populaçã o.
e) Que relaçã o se pode estabelecer entre o texto (fonte 1) e a tabela (fonte 2)?
O texto destaca a participaçã o política dos negros escravizados na Cabanagem e a tabela informa sobre sua expressiva
participaçã o numé rica (25% do total de habitantes do Grã o-Pará ).
2. Leia com atençã o esta tabela sobre a distribuiçã o de riquezas na cidade de Salvador
(BA), entre 1800 e 1850.
REIS, Joã o José. Rebelião escrava no Brasil: a histó ria do levante dos malês (1835). 2. ed. Sã o Paulo: Brasiliense, 1987.
p. 23.
a) O que se pode concluir comparando a média do valor dos bens dos indivíduos
situados nos diversos grupos?
O valor mé dio dos bens dos que pertenciam à minoria dos 10% mais ricos era de 64:086$500 (sessenta e quatro contos,
oitenta e seis mil e quinhentos ré is). Esse grupo pequeno dos 10% mais ricos possuía em mé dia 7,5 vezes mais que os 30%
seguintes e 180 vezes mais que os ú ltimos 30%.
Um dos fatores que ajuda a explicar esse perfil de distribuiçã o de riqueza é justamente o fato de a sociedade soteropolitana
da é poca ser uma sociedade escravista e fortemente preconceituosa (fato que dificultava a ascensã o dos libertos).
3. (FMJ – 2014)
Entre 1852 e 1859, chegaram de outras províncias para o Rio de Janeiro 26 622 escravos.
(Ana Luiza Martins. Império do café: a grande lavoura no Brasil, 1850 a 1890, 1990.)
Pá gina 372
O fenô meno histó rico apresentado pelo excerto pode ser explicado
c) pelo efeito direto da grave crise mundial desencadeada nas indú strias têxteis
britâ nicas, o que fez reduzir a exportaçã o algodoeira da Bahia.
d) pelas leis de restriçã o ao uso de escravos aprovadas nas províncias mais ricas do
nordeste: Ceará e Pernambuco.
e) pelo fim do trá fico de escravos para o Brasil, aliado à decadência da economia
açucareira no Nordeste.
Resposta: e.
4. (UEMA – 2013)
• Texto I
Valeu, Zumbi
O grito forte dos Palmares
Que correu terra, céus e mares
Influenciando a aboliçã o.
• Texto II
Resposta: a.
5. (Unicamp – 2014)
A expectativa era de que os candidatos pudessem apreender, a partir da representaçã o visual (monarca idoso, sem energia,
sonolento, jornais espalhados, por exemplo), o descompasso entre os problemas existentes no final do Impé rio e a gestã o de
D. Pedro II.
Pá gina 373
Poderiam ser mencionados e explicados processos como a campanha abolicionista, o crescimento do movimento
republicano, as questõ es militares, a questã o religiosa e a Guerra do Paraguai, que representaram a perda de apoio de
importantes grupos ao Imperador, desencadeando um processo de crise que levou à proclamaçã o da Repú blica.
6. (Fuvest-SP – 2014)
A Repú blica nã o foi uma transformaçã o pacífica. Bem ao contrá rio. Para além da surpresa provocada
pelo golpe de Estado de 15 de novembro, seguiu-se uma década de conflitos e violências de toda ordem,
na qual se sucederam as dissensõ es militares, os conflitos intraoligá rquicos, os motins populares, a
guerra civil, o atentado político contra a vida de um presidente da Repú blica. No interior dessas lutas se
forjou a transformaçã o do Estado Imperial em Estado Republicano, do Império Unitá rio em Repú blica
Federativa, do parlamentarismo em presidencialismo, do bipartidarismo organizado nacionalmente em
um sistema de partidos ú nicos estaduais. Forjou-se um novo pacto entre as elites e um novo papel para
as forças armadas.
a) Identifique e caracterize um episó dio conflituoso pró prio dos primeiros anos da
Repú blica no Brasil.
Podem ser citadas a Primeira e a Segunda Revolta da Armada (1891 e 1893). Na Primeira, unidades da Armada (Marinha)
ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro caso o presidente Deodoro da Fonseca nã o renunciasse à presidê ncia. E
na Segunda, liderada pelo oficial Custó dio José de Melo, a Marinha bombardeou a cidade do Rio de Janeiro, exigindo a
renú ncia de Floriano Peixoto. Ou ainda, a Revoluçã o Federalista no Rio Grande (1893-1895): guerra civil gaú cha resultado
da disputa entre os seguidores do republicano Jú lio de Castilhos, que contou com o apoio de Floriano Peixoto, e os adeptos
de Gaspar Silveira Martins, com apoio da marinha.
As revoltas e conflitos na Primeira Repú blica envolveram, em maior ou menor grau, as forças armadas que, nã o por acaso,
assumem um patamar político de suma importâ ncia no processo de instalaçã o e consolidaçã o do novo regime. A busca por
maior participaçã o política, iniciada pelos militares ainda nos ú ltimos anos do impé rio, tem resultado exatamente apó s o
golpe de 15 de novembro de 1889, com dois governos de presidentes militares: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
[...]
O racismo dos tempos iniciais da Repú blica voltou-se também ao combate de tradiçõ es culturais. A
capoeira, assim como as vá rias formas de religiosidade africanas tornam-se, segundo o có digo penal de
1890, prá ticas criminosas. [...] Nem mesmo as festas escapam ao furor antiafricano. Em plena Salvador,
os batuques e afoxés (na época denominados candomblés) sã o colocados na ilegalidade. (...)
Pá gina 374
Art. 402. Fazer nas ruas e praças pú blicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela
denominaçã o de capoeiragem [...]
PRIORE, Mary Del; VENÂ NCIO, Renato Pinto. O livro de Ouro da História do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. p.
269-274.
Como um período em que predominava uma visã o otimista do presente e do futuro, mas que, ao mesmo tempo, tinha uma
face sombria, marcada por uma crise econô mica envolvendo superproduçã o de café , inflaçã o e desemprego. Ou seja, foi uma
bela é poca somente para uns poucos.
Sem terra, sem instruçã o e tendo a pele escura em uma sociedade racista, os libertos viviam relegados ao abandono, eram no
má ximo subcidadã os.
Batuques e afoxé s foram colocados na ilegalidade; a prá tica da capoeira tornou-se um crime, com pena que variava de dois a
seis meses de prisã o. Somente durante o Estado Novo, a capoeira deixou de ser perseguida para tornar-se um esporte
nacional. Conforme o estudioso Rafael Veríssimo: “Em 1937, Getú lio Vargas descriminalizou a capoeira como parte de seu
projeto político nacionalista e, em 1953, afirmou: ‘a capoeira é o ú nico esporte genuinamente nacional’.” VERÍSSIMO, Rafael.
Aná lise de narrativas culturais da capoeira constata: sua origem nã o é brasileira. Agência USP de notícia, Sã o Paulo, n. 1524,
10 nov. 2004. Disponível em: <http://www.usp.br/agen/bols/2004/rede1524.htm>. Acesso em: 5 jun. 2016.
• Vozes do presente
a) O texto é historiográ fico e foi escrito pelo historiador Serge Gruzinski, autor de
diversas obras sobre o México.
a) Segundo o dicioná rio Aurélio, genocídio significa “crime contra a humanidade, que
consiste em, com o intuito de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional,
étnico, racial ou religioso, cometer contra ele qualquer dos atos seguintes:
Pá gina 375
matar membros seus; causar-lhes grave lesã o à integridade física ou mental [...];
realizar a transferência forçada de crianças dum grupo para outro”. GENOCÍDIO. In:
NOVO Dicioná rio Eletrô nico Aurélio versã o 6.0.7. Curitiba: Positivo Informá tica, 2010.
b) Resposta pessoal.
Capítulo 3
• Vozes do presente
a) Uma visã o apresenta os escravizados como um grupo sem vontade pró pria; outra
como um grupo que constituiu família, mantendo uma organizaçã o bá sica de apoio e
de identidade social, enfim como sujeito da Histó ria. Professor: a comparaçã o entre
essas duas visõ es quer estimular o alunado a confrontar diferentes abordagens sobre
o mesmo assunto.
b) Descobriu-se que boa parte deles constituía família e que ela tinha grande
importâ ncia em suas vidas. Além disso, geralmente os filhos pequenos moravam com
seus pais ou, pelo menos, com suas mã es.
• Você cidadão!
b) “Inú meras espécies vegetais, objeto de coleta por parte dos índios, foram adotadas
pelos colonizadores europeus, passando a ser cultivadas, algumas em larga escala
[...].”.
Capítulo 4
• Vozes do passado
Pá gina 376
d) A imagem reforça e ilustra o trecho em que Baquaqua diz: “O porã o era tã o baixo
que nã o podíamos ficar de pé, éramos obrigados a nos agachar ou nos sentar no chã o.
Noite e dia eram iguais para nó s, o sono nos sendo negado devido ao confinamento de
nossos corpos”.
a) Provérbio: frase curta de origem popular que resume um conceito sobre a realidade
ou uma regra social/moral. O provérbio de nú mero nove contém, como se pode
concluir, uma recomendaçã o moral.
e) Resposta pessoal. Professor: sugerir aos alunos que conversem com o professor de
Língua Portuguesa sobre os desafios de transformar um legado oral em texto escrito.
Conto: gênero literá rio que se caracteriza por ser breve, ter poucas personagens e
açõ es e espaço reduzido. Adivinha: pergunta enigmá tica que exige resposta ou
soluçã o; adivinhaçã o, enigma. Receita: gênero textual que apresenta duas partes bem
definidas: ingredientes e modo de preparo.
Capítulo 5
b2) Os altos funcioná rios (pelo cargo que ocupavam) tinham uma possibilidade maior
de retirar para si parte da riqueza extraída. Este era o caso, por exemplo, dos
contratadores, dos responsá veis pelas casas de fundiçã o, dos fabricantes de moedas,
entre outros.
Pá gina 377
Capítulo 6
• Vozes do passado
e) Resposta pessoal.
a) Varíola é uma doença causada por vírus que pode infectar os ó rgã os internos, a
corrente sanguínea e as células da pele, formando pú stulas (erupçõ es na pele). Ela
pode ser transmitida por vias respirató rias ou gotículas de saliva de pessoas
portadoras do vírus. A taxa de mortalidade entre os infectados é grande. A vacina
inventada por Jenner foi decisiva, pois nã o havia tratamento para essa doença na
época.
c) Resposta pessoal. Espera-se que o aluno responda que os adolescentes têm mais
chances de contrair doenças (sobretudo as sexualmente transmissíveis) devido a sua
exposiçã o contínua a riscos.
d) Resposta pessoal. Entre as sugestõ es que podem ser apresentadas para o Ministério
da Saú de, cabe destacar uma campanha massiva de conscientizaçã o direta (para o
pró prio adolescente) e indireta (para os pais e familiares), alertando para os riscos das
exposiçõ es exageradas e para a falta de cuidado e/ou de prevençã o. O foco da
campanha poderia ser a importâ ncia da vacinaçã o na prevençã o de doenças.
Professor: segundo o Ministério da Saú de, as vacinas para adolescentes com idade
entre 11 e 19 anos sã o:
Fonte: TOSCANO, Cristiana. Cartilha de vacinas: para quem quer mesmo saber das coisas. Brasília, DF: Organizaçã o
Pan-Americana da Saú de, 2003. p. 20-23. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/1c0dee80474580598c59dc3fbc4c6735/cart_vac.pdf?
MOD=AJPERES>. Acesso em: 23 maio 2016.
Pá gina 378
• Você cidadão!
c) Tikuein falava com o espelho, enquanto caminhava pela aldeia; Maria Rosa
dialogava com um gravador. Resposta pessoal. Professor: comentar que essas
estratégias criativas usadas pelos dois indígenas dã o a dimensã o da importâ ncia que a
língua tem para a vida e o cotidiano de um indivíduo.
Capítulo 7
• Vozes do presente
b) É que, em certa medida, a Enciclopédia veio romper com o monopó lio da cultura
letrada, exercido pelos representantes da Igreja durante muitos séculos.
c) Iluminar o espírito, para eles, era fazer uso da razã o humana para alcançar o
esclarecimento, a luz. A razã o deveria ser aplicada a todas as atividades humanas,
destruindo a ignorâ ncia, combatendo os preconceitos e o fanatismo religioso.
• O ú nico meio usado para acessar a Enciclopédia dos franceses era o papel, no caso, o
livro. Já as enciclopédias atuais estã o disponíveis também em meio digital, permitindo
assim o acesso à distâ ncia.
Capítulo 8
A Revolução Francesa e a Era Napoleônica
• Vozes do presente
a) Ele passou a ser descrito como o filho da Revoluçã o Francesa, o homem que
consolidou a posse da igualdade de direitos, que tornou possível a saída da França do
feudalismo, glorificando-a com suas vitó rias.
Pá gina 379
Capítulo 9
• Vozes do presente
a) O texto é argumentativo e foi escrito por uma historiadora que conhece seu ofício e
é especialista no tema das independências políticas da América Latina.
c) Pelo texto, fruto de um á rduo processo de pesquisa, ficou subentendido que durante
muito tempo a historiografia privilegiou a participaçã o dos homens nas lutas pela
independência e transformou alguns deles em heró is nacionais. Adotou, portanto, uma
abordagem sexista, omitindo o protagonismo feminino em um episó dio decisivo da
histó ria da América.
Capítulo 10
d) Para Boris Fausto, a Independência foi um arranjo político promovido pela elite e
em favor dela, daí a liderança do processo ter ficado com a nobreza. Já para Cecília
Helena houve, sim, participaçã o popular nas lutas pela Independência.
Pá gina 380
e) Resposta pessoal.
Capítulo 11
• Vozes do presente
b) Estudos recentes informam que o trá fico de escravos promovido por mercadores
do Rio de Janeiro e de Salvador foi uma atividade decisiva na formaçã o de grandes
fortunas naquelas duas cidades. O autor acrescenta ainda que esta atividade estava
concentrada nas mã os de poucos.
c) Como ensina Jorge Caldeira, cerca de 85% da produçã o total brasileira era
consumida no mercado interno, e apenas 15% da produçã o era destinada à
exportaçã o. Professor: durante muito tempo se afirmou que a economia colonial
brasileira se assentava na grande propriedade escravista voltada para o mercado
externo. O autor do texto apresenta resultados de pesquisas que revolucionaram os
estudos de economia colonial brasileira nos ú ltimos 15 anos, como as dos
professores/pesquisadores Joã o Fragoso, Manolo Florentino e Sheila de Castro Faria,
que destacaram a enorme importâ ncia do mercado interno na economia colonial
brasileira.
• Você cidadão!
b) Isto significa que o Brasil é um país com muitas etnias e diversas culturas.
Professor: comentar que é nesta diversidade que reside sua riqueza.
Capítulo 12
b) O trecho incorporado está entre aspas a seguir: Teus risonhos, lindos campos “têm
mais flores;” / “Nossos bosques têm mais vida”, / ”Nossa vida” no teu seio “mais
amores”.
Pá gina 381
c1) Ufanismo: orgulho exacerbado pelo país em que se nasceu; patriotismo excessivo.
Capítulo 13
• Vozes do presente
a) Ele o caracteriza como um ditador que nã o dava satisfaçã o de seus atos a ninguém.
O autor distingue a ditadura de Ló pez das atuais, enfatizando que, à época, inexistiam
meios de comunicaçã o de massa; e, assim sendo, um ditador nã o tinha a necessidade
de reagir ao contexto internacional, como ocorre hoje.
b) Ele afirma que no Paraguai de Solano Ló pez a oposiçã o estava “em cemitérios ou no
exílio”; nã o havia jornais, apenas um diá rio oficial; portanto, inexistia uma imprensa
participativa ou que expressasse as demandas e os conflitos de interesses da
sociedade paraguaia da época.
c) Ele apresenta Solano Ló pez como aquele que iniciou a guerra; seu plano era vencer
o líder argentino Bartolomeu Mitre e derrotar o Império Brasileiro no Paraguai.
d) Resposta pessoal. Professor: comentar que, ao longo da histó ria, há inú meros
casos de saques a cidades que foram movidos pela ambiçã o de soldados invasores, que
agiram com ou sem a autorizaçã o de seus comandantes. Muitas guerras e violências
contra a populaçã o civil foram movidas por ambiçã o de acumular riqueza.
Capítulo 14
Abolição e República
• Vozes do presente
b) Segundo ele, a Repú blica manteve o povo excluído da política; isto fica evidente no
trecho em que o autor diz: “O povo sabia que o formal nã o era sério. Nã o havia
caminhos de participaçã o, a Repú blica nã o era para valer”.
c) Ele afirma que “bestializado era quem levasse a política a sério”. A política, segundo
o autor, era tribofe (engodo, trapaça); assim, ao preferir apenas assistir à proclamaçã o
da Repú blica, o povo estava longe de ser bestializado; foi esperto!
Pá gina 382
• Cruzando fontes
d) Resposta pessoal. Enquanto Emília Viotti enfatiza o fato de a Lei Á urea nã o ter
previsto nenhuma forma de amparo aos libertos, Hebe Mattos destaca o fato de que,
embora limitada, a igualdade civil conquistada com a Aboliçã o nã o deve ser
subestimada. Como afirma Viotti, a Lei Á urea nã o protegeu o ex-escravizado na sua
difícil travessia à condiçã o de homem livre: nã o lhe concedeu terra, como havia
proposto André Rebouças, nã o previu sua instruçã o, como havia sugerido Joaquim
Nabuco, e tampouco lhe conferiu direitos políticos. Mas nã o se pode esquecer que, em
13 de maio de 1888, a igualdade civil de todos os brasileiros foi pela primeira vez
reconhecida. Concluindo: as duas historiadoras enfatizam diferentes aspectos de uma
mesma realidade. Professor: o importante é estimular o posicionamento do aluno e a
sua capacidade de argumentaçã o.
• Você cidadão!
b) O povo negro via d. Obá como um príncipe pertencente a uma família real africana.
c) Conforme o autor, a elite da época ignorava a histó ria da Á frica, bem como o modo
como se organizavam politicamente os reinos africanos. Já o povo negro, preservando
no Brasil a cultura (ou as culturas) africanas, reconhecia em d. Obá as suas origens
reais, compartilhava de suas ideias.
d) Em primeiro lugar, o povo negro seguia a liderança de d. Obá , reconhecendo nele
um príncipe da Á frica. Depois, contava muito o fato de d. Obá defender que as raças
humanas eram perfeitamente iguais. Para d. Obá , os homens diferenciavam-se uns dos
outros pelo valor guerreiro e humano de cada indivíduo, ao contrá rio da elite da
época, que achava as raças humanas essencialmente diferentes. Por fim, d. Obá
empenhou-se pessoalmente em diversas campanhas pela igualdade e liberdade entre
os homens, independentemente da raça, defendendo o fim do uso da chibata e da
pró pria escravidã o.
Pá gina 383
7. Referências bibliográficas
BARBOSA, Alexandre et al. Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. Sã o Paulo:
Contexto, 2008. (Como usar na sala de aula).
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandez. O saber histórico na sala de aula. Sã o Paulo: Contexto, 1998.
(Repensando o ensino).
BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. 2. ed. rev. Sã o Paulo: Brasiliense, 1993. v. 17. (Primeiros
passos).
CABRINI, Conceiçã o et al. Ensino de História: revisã o urgente. Ed. rev. ampl. Sã o Paulo: Educ, 2000.
COLL, César. Aprendizagem escolar e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artes Médicas,
1994.
D’ALESSIO, Má rcia Mansor. Reflexões sobre o saber histórico. Sã o Paulo: Fundaçã o Editora da Unesp,
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