Você está na página 1de 404

9

9
Alfredo BOULOS Júnior

História ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS


COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA

MANUAL DO PROFESSOR

D1_PNLD24_2111_CAPA_Hist_Boulos_V9_MP.indd 3 15/08/22 14:21


História
COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA
9
MANUAL DO PROFESSOR

ALFREDO BOULOS JÚNIOR


Doutor em Educação (área de concentração: História da Educação)
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Mestre em Ciências (área de concentração: História Social) pela Universidade de São Paulo.
Lecionou nas redes pública e particular e em cursinhos pré-vestibulares.
É autor de coleções paradidáticas.
Assessorou a diretoria técnica da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – São Paulo.

1a edição
São Paulo ∙ 2022

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 1 29/08/22 17:50


História Sociedade & Cidadania
História – 9o ano (Ensino Fundamental – Anos Finais)
Copyright © Alfredo Boulos Júnior, 2022

Direção-geral  Ricardo Tavares de Oliveira


Direção de conteúdo e negócios  Cayube Galas
Direção editorial adjunta  Luiz Tonolli
Gerência editorial  Roberto Henrique Lopes da Silva
Edição  João Carlos Ribeiro Junior (coord.), André Amano, Barbara Berges, Beatriz Montagnoli,
Carolina Bussolaro Marciano, Maiza Garcia Barrientos Agunzi, Simone Alves dos Santos
Assessoria  Adriana Carneiro Marinho, Layza Real
Preparação e revisão de textos  Maria Clara de Oliveira Paes (coord.), Carolina Machado,
Beatriz Spinelli Gobbes, Fernanda Rodrigues, Kelly Rodrigues, Thalita Martins Milczvski
Gerente de produção e arte  Ricardo Borges
Design  Andréa Dellamagna (coord.), Sergio Cândido
Projeto de capa  Andréa Dellamagna
Foto de capa  Paula Montenegro/iStock/Getty Images
Arte e produção  Vinicius Fernandes dos Santos (coord.), André Gomes Vitale, Jacqueline Nataly Ortolan (assist.)
Diagramação  Estúdio Lótus
Coordenação de imagens e textos  Elaine Bueno Koga
Licenciamento de textos  Erica Brambila
Iconografia  Jonathan Santos, Emerson de Lima (trat. imagens)

Imagem de capa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Boulos Júnior, Alfredo
   História sociedade & cidadania : 9o ano : ensino
fundamental : anos finais / Alfredo Boulos Júnior. --
1. ed. -- São Paulo : FTD, 2022.
  
   Componente curricular: História.
   ISBN 978-85-96-03555-2 (aluno)
   ISBN 978-85-96-03556-9 (professor)

   1. História (Ensino fundamental) I. Título.

22-115040 CDD-372.89
Índices para catálogo sistemático:
1. História : Ensino fundamental 372.89
Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, Patrimônio
Cultural Imaterial. Olinda, Pernambuco, 07/2018. Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

Em respeito ao meio ambiente, as folhas


Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 deste livro foram produzidas com fibras
de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à obtidas de árvores de florestas plantadas,
com origem certificada.
EDITORA FTD.
Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD
CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300 CNPJ 61.186.490/0016-33
Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 Avenida Antonio Bardella, 300
www.ftd.com.br Guarulhos-SP – CEP 07220-020
central.relacionamento@ftd.com.br Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 2 29/08/22 17:50


Em nossos dias, já ninguém duvida de que a história do mundo deve ser reescrita
de tempos em tempos. Esta necessidade não decorre, contudo, da descoberta de
numerosos fatos até então desconhecidos, mas do nascimento de opiniões novas,
do fato de que o companheiro do tempo que corre para a foz chega a pontos de
vista de onde pode deitar um olhar novo sobre o passado...

GOETHE. Geschichte der Farbenlehre. In: SCHAFF, Adam. História e verdade.


São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 267.

III

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 3 29/08/22 17:50


SUMÁRIO
ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA.............................................................................................V
1. METODOLOGIA DA HISTÓRIA.......................................................................................................................V
1.1 VISÃO DE ÁREA........................................................................................................................................V
1.2 CORRENTES HISTORIOGRÁFICAS........................................................................................................VI
1.3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS..................................................................................................................IX
1.4 OBJETIVOS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA..........................................................................................X
1.5 CONCEITOS-CHAVE DA ÁREA DE HISTÓRIA.......................................................................................XI
2. METODOLOGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM........................................................................................XIV
2.1 O CONHECIMENTO HISTÓRICO ESCOLAR.........................................................................................XIV
2.2 A NOVA CONCEPÇÃO DE DOCUMENTO..............................................................................................XIV
2.3 O TRABALHO COM IMAGENS FIXAS...................................................................................................XVI
2.4 O TRABALHO COM IMAGENS EM MOVIMENTO (O CINEMA NA SALA DE AULA)..............................XX
2.5 O PISA E A COMPETÊNCIA LEITORA...................................................................................................XXI
2.6 A CONTRIBUIÇÃO DA HISTÓRIA PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES/ESCRITORES.....................XXV
2.7 A CONTRIBUIÇÃO DA HISTÓRIA PARA A PROMOÇÃO DA CIDADANIA...........................................XXV
2.8 TEXTOS DE APOIO........................................................................................................................... XXVIII
3. A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E O CONTEXTO ATUAL.................................................. XXXII
3.1 A LEGISLAÇÃO QUE DÁ SUPORTE À BNCC................................................................................... XXXII
3.2 A BNCC E A BUSCA POR EQUIDADE............................................................................................. XXXIII
3.3 BNCC E CURRÍCULOS..................................................................................................................... XXXIII
3.4 BNCC E A ELABORAÇÃO DE CURRÍCULOS.................................................................................. XXXIV
3.5 O PODER TRANSFORMADOR DA EDUCAÇÃO............................................................................... XXXIV
3.6 A NOSSA COLEÇÃO E A BNCC........................................................................................................ XXXIV
3.7 AS 10 COMPETÊNCIAS GERAIS PROPOSTAS PELA BNCC.......................................................... XXXV
3.8 TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS E COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS........... XXXVI
3.9 O TRABALHO DOCENTE E A CULTURA DIGITAL.........................................................................XXXVIII
4. AVALIAÇÃO..................................................................................................................................................XLI
4.1 AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA: O SAEB E AS CIÊNCIAS HUMANAS..........................................XLIII
4.2 ORIENTAÇÕES PARA A AVALIAÇÃO..................................................................................................XLIV
5. PROJETOS DE TRABALHO INTERDISCIPLINAR...................................................................................XLV
5.1 O QUE É UM PROJETO DE TRABALHO?............................................................................................XLV
5.2 PROJETO DE TRABALHO INTERDISCIPLINAR...............................................................................XLVII
5.3 PARTE 1 - ATIVIDADES DESTINADAS A TODOS OS ANOS.............................................................XLIX
5.4 PARTE 2 - ATIVIDADES ESPECÍFICAS................................................................................................LII
6. AS SEÇÕES DO LIVRO................................................................................................................................. LV
6.1 PÁGINA DE ABERTURA DE CAPÍTULO................................................................................................ LV
6.2 CORPO DO CAPÍTULO........................................................................................................................... LV
6.3 BOXES....................................................................................................................................................LVI
6.4 ATIVIDADES...........................................................................................................................................LVI
6.5 PARTE ESPECÍFICA E FORMATO LATERAL......................................................................................LVIII
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMENTADAS..................................................................................LIX
8. SUBSÍDIOS PARA PLANEJAMENTO.........................................................................................................LXI
ORIENTAÇÕES PARA ESTE VOLUME......................................................................................................1

IV

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 4 30/08/22 17:18


1 METODOLOGIA
DA HISTÓRIA

1.1 VISÃO DE ÁREA


Vivemos hoje imersos em um presente contínuo (presentismo), que tende a tornar invisíveis as relações
entre a nossa experiência presente e o passado público. Vivemos também em um universo mediado por ima-
gens, no qual uma avalanche de personagens, fatos e processos chega até nós por meio das representações
que deles são produzidas. Por isso, e cada vez mais, “substituímos nossas experiências pelas representações
dessas experiências” (SALIBA, 2017, p. 117-118).
Vivendo imersos nesse mundo virtual e apreendendo o que “aconteceu” por meio dos telejornais, com
frases sintéticas e imagens fragmentadas, os jovens são levados a identificar aquilo que estão vendo como
a “verdade” e a explicar o presente com base nele próprio. Ocorre que o complemento desse presentismo
avassalador é a destruição do passado, o que pode afetar muito, e negativamente, as novas gerações. Veja o
que diz sobre o assunto o historiador britânico Eric Hobsbawm:

A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vincu-


lam nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos
mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de
hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgâni-
ca com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo
ofício é lembrar o que outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca
[...]. Por esse mesmo motivo, porém, eles têm de ser mais que simples cronistas,
memorialistas e compiladores. [...].
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991).
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 13.

Se a destruição do passado pode resultar em uma tragédia para as novas gerações, a alienação dela de-
corrente pode facilitar a emergência e a imposição de ditaduras brutais, como as que vitoriaram nas décadas
de 1930 e 1940 em países da Europa Ocidental e Oriental. Ademais, a consciência de que o passado se per-
petua no presente é fundamental para o nosso sentido de identidade. Saber o que fomos ajuda-nos a com-
preender o que somos; o diálogo com outros tempos aumenta a nossa compreensão do tempo presente.
Como observou um estudioso:

[...] O passado nos cerca e nos preenche; cada cenário, cada declaração, cada
ação conserva um conteúdo residual de tempos pretéritos. Toda consciência atual
se funda em percepções e atitudes do passado; reconhecemos uma pessoa, uma
árvore, um café da manhã, uma tarefa, porque já os vimos ou já os experimen-
tamos. (LOWENTHAL, 1998).
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.). História: ensino fundamental.
Brasília: Ministério da Educação: Secretaria de Educação Básica, 2010. p. 160.
(Explorando o ensino, v. 21).

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 5 29/08/22 17:50


Quanto ao modo de abordar o passado, consideramos importante evitar o anacronismo1 e, seguindo a
recomendação de Georges Duby, lembrar que, para conhecer uma determinada sociedade do passado, é im-
portante nos colocarmos na pele das pessoas que viveram naqueles tempos.
Essa postura, sugerida por ele na abordagem do medievo ocidental, é, a nosso ver, uma postura útil no
trabalho com qualquer sociedade humana, independentemente de tempo ou lugar.
Como lembra Marc Bloch no seu clássico Apologia da História ou o ofício do historiador (2001),
além de prejudicar o conhecimento do presente, a ignorância do passado compromete também a nossa
ação no presente. Assim sendo, não é demais lembrar que a História tem um duplo compromisso: com o
passado e com o presente, bem como com as relações entre um e outro. Dissertando sobre esse duplo com-
promisso da História, Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky observaram:

Compromisso com o presente não significa, contudo, presentismo vulgar, ou


seja, tentar encontrar no passado justificativas para atitudes, valores e ideolo-
gias praticados no presente (Hitler queria provar pelo passado a existência de
uma pretensa raça ariana superior às demais). Significa tomar como referência
questões sociais e culturais, assim como problemáticas humanas que fazem par-
te de nossa vida, temas como desigualdades sociais, raciais, sexuais, diferenças
culturais, problemas materiais e inquietações relacionadas a como interpretar
o mundo, lidar com a morte, organizar a sociedade, estabelecer limites sociais,
mudar esses limites, contestar a ordem, consolidar instituições, preservar tradi-
ções, realizar rupturas...
Compromisso com o passado não significa estudar o passado pelo passado,
apaixonar-se pelo objeto de pesquisa por ser a nossa pesquisa, sem pensar no que
a humanidade pode ser beneficiada com isso. Compromisso com o passado é pes-
quisar com seriedade, basear-se nos fatos históricos, não distorcer o acontecido,
como se esse fosse uma massa amorfa à disposição da fantasia de seu manipula-
dor. Sem o respeito ao acontecido a História vira ficção. Interpretar não pode ser
confundido com inventar. E isso vale tanto para fatos como para processos.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. O que e como ensinar: por uma História prazerosa e consequente.
In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.
São Paulo: Contexto, 2003. p. 23-24.

Vale dizer ainda que o historiador se volta para o passado a partir de questões colocadas pelo presente.
Depois de estabelecer um determinado recorte, ele transforma o tema em problema e seleciona o conjunto
de variados documentos históricos (materiais e imateriais). A partir daí, trata-o com base em instrumentos
e métodos próprios da História. Por isso se diz que toda narrativa histórica está relacionada a seu tempo e
também é objeto da História.

1.2 CORRENTES HISTORIOGRÁFICAS


Se por um lado “toda a história é filha do seu tempo”; por outro, é preciso lembrar que ela é o fruto
de várias tradições de pensamento que se materializam em diferentes correntes historiográficas. No texto a
seguir, a professora Sandra Regina Ferreira de Oliveira apresenta, em linhas gerais e de modo resumido, os
pressupostos de três importantes escolas historiográficas, que podem ser úteis à nossa reflexão e docência.
A familiaridade com essas correntes pode, por exemplo, ajudar a reconhecer a opção teórica do autor do
material didático que estamos analisando e o lugar de onde ele fala.
1
Anacronismo: “consiste em atribuir aos agentes históricos do passado razões ou sentimentos gerados no presente, interpretando-se, assim, a história em função de critérios
inadequados, como se os atuais fossem válidos para todas as épocas.” (BRASIL. Ministério da Educação. PNLD 2018: história – guia de livros didáticos – Ensino Médio.
Brasília, DF: MEC; SEB, 2017. p. 99).

VI

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 6 29/08/22 17:50


[...] São três as correntes mais discutidas: Positivismo, Materialismo Históri-
co e Nova História.
Positivismo é o nome de uma corrente filosófica originada no século XVIII,
no contexto do processo de industrialização da sociedade europeia. Para os pen-
sadores positivistas cabe à história fazer um levantamento descritivo dos fatos.
“A história por eles escrita é uma sucessão de acontecimentos isolados retratan-
do, sobretudo, os feitos políticos de grandes heróis, os problemas dinásticos, as
batalhas, os tratados diplomáticos etc.” (BORGES, 1987, p. 32-33). Neste sentido,
os documentos oficiais são as principais fontes de investigação, assim como as
ações do Estado são as eleitas para constituírem a narrativa histórica. A concep-
ção de tempo nesta forma de abordagem histórica é caracterizada pela lineari-
dade (sucessão) dos fatos porque são os fatos o objeto de estudo da história.
Com a efetivação do capitalismo na sociedade europeia do século XIX prolife-
ram-se as críticas à sociedade burguesa e outra teoria explicativa para a realidade
foi elaborada buscando a superação da mesma – o materialismo dialético. Karl
Marx e Friedrich Engels podem ser destacados como os principais pensadores des-
ta corrente filosófica para a qual a necessidade de sobrevivência do [ser humano]
impele-o a transformar a natureza e, ao transformar a natureza, transforma a si
mesmo numa relação dialética. Essa ação humana não se dá de forma isolada,
mas em conjunto. Portanto, o “ponto de partida do conhecimento da realidade são
as relações que os homens mantêm com a natureza e os outros homens” (BORGES,
1987, p. 35), analisadas a partir das condições materiais de existência.
A investigação histórica realizada a partir dos pressupostos do materialismo
dialético considera que a realidade é dinâmica, dialética e repleta de contradi-
ções, gerada pela luta entre as diferentes classes sociais. Portanto, a concepção
de tempo que podemos identificar nesta corrente de pensamento busca explicar
o passado, não somente a partir do tempo do acontecimento, mas da contradi-
ção que pode ser encontrada em todo fato e, para compreender a contradição,
faz necessário deslocar-se temporalmente, intentando como determinados fatos
se constituíram historicamente e por que se apresentam de tal forma aos ho-
mens e mulheres no presente.
Ainda que com o materialismo histórico tenha se constituído uma forma
diferente de investigação sobre o passado e, consequentemente, provocado mu-
danças na narrativa histórica, foi com a Nova História, mais precisamente com a
Escola dos Annales, em 1929, que a concepção de tempo na historiografia sofre
significativas alterações.
A alteração na concepção de tempo deve ser compreendida a partir da con-
cepção de História, ou melhor, de como se constrói a narrativa histórica para
os pensadores da Nova História. Para estes, todos os acontecimentos humanos
poderiam ser entendidos como temáticas para a construção da História e não
somente a narrativa dos feitos de alguns homens relacionados à política de seus
países. Da mesma forma, toda produção humana seria passível de ser entendida
enquanto fonte para a pesquisa do historiador, e não somente os documentos
oficiais.
Esta forma de se entender a História rompeu com a ideia do tempo do acon-
tecimento, com a concepção de que a humanidade caminha de forma irreversí-
vel para algum ponto pré-estabelecido e também com a noção de um progresso
linear e contínuo. O papel do historiador, nesta perspectiva, é considerar o tempo
da duração nas análises dos acontecimentos. Para alcançar tal intento não basta
estudar os fatos a partir de sua organização cronológica, mas considerar tam-
bém os movimentos de continuidade e mudança.

VII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 7 29/08/22 17:50


Fernand Braudel é quem anuncia a importância de considerarmos as dife-
rentes temporalidades na investigação histórica. Para ele, há o tempo do acon-
tecimento (breve duração), da conjuntura (média duração) e da estrutura (longa
duração). Bittencourt (2008, p. 206), explicando essas diferentes concepções, afir-
ma que:
“[...] o acontecimento (fato de breve duração) corresponde a um momen-
to preciso: um nascimento, uma morte, a assinatura de um acordo, uma greve
etc.; a estrutura (fato de longa duração), cujos marcos cronológicos escapam à
percepção dos contemporâneos: a escravidão antiga ou moderna, o cristianismo
ocidental, a proibição do incesto etc.; a conjuntura (fato de duração média) que
resulta de flutuações mais ou menos regulares no interior de uma estrutura: a
Revolução Industrial inglesa, a ditadura militar brasileira, a Guerra Fria etc.”
A concepção de tempo apresentada pelos historiadores da Escola dos Anna-
les nos indica que deve ser considerada, na construção da História, a simulta-
neidade das durações, assim como os movimentos de permanências e mudanças
que ocorrem em uma sociedade ao longo de um determinado período. Para reali-
zar esta abordagem, não é possível considerar somente a cronologia como ponto
de partida para a compreensão do tempo histórico.
Os conteúdos e as metodologias apresentados nos livros didáticos relacionam-
-se diretamente com estas concepções historiográficas apresentadas aqui de forma
sucinta. Nos manuais destinados aos professores, os autores explicitam suas op-
ções teóricas, o que merece ser destacado e contribui na melhoria da qualidade das
obras, visto que é ponto pacífico entre os historiadores que todos os sujeitos falam
de determinados lugares sociais e que são influenciados pelas características destes
lugares. Estas informações são valorizadas nas resenhas que compõem o Guia do
PNLD porque é importante que o professor identifique de que “lugar” o autor fala.
OLIVEIRA, Sandra Regina Ferreira. Os tempos que a História tem... In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.).
História: Ensino Fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação: Secretaria de Educação Básica, 2010.
(Explorando o Ensino, v. 21, p. 42-45).

Nesta coleção, pautamo-nos por alguns referenciais teóricos da História Nova, daí entendermos a História
como um conhecimento em permanente construção. Por isso tomamos o documento como ponto de partida,
e não de chegada, na construção do conhecimento e, além disso, incorporamos a ação e a fala das mulheres,
dos negros, dos indígenas, dos operários e de outros sujeitos históricos antes relegados ao esquecimento.
Ao longo da obra, utilizamos também a história social inglesa, recorrendo mais de uma vez aos trabalhos
de Christopher Hill, E. P. Thompson e Hobsbawm para compreender episódios decisivos na formação do
mundo atual, como a Revolução Inglesa, a Revolução Industrial, a Revolução Francesa, o imperialismo, o mo-
vimento operário, entre outros.
Por fim, é preciso dizer que demos maior ênfase ao conhecimento da história política e do passado públi-
co, sem prejuízo para momentos de ênfase na história cultural, por considerarmos que neste nível de ensino
isso é decisivo para o desenvolvimento de uma consciência crítica por parte do aluno. Com essa consciência,
ele pode orientar sua prática como cidadão, exercitando a construção de saberes balizados pela:

[...] capacidade de comunicação e diálogo, instrumento necessário para o


respeito à pluralidade cultural, social e política, bem como para o enfrentamen-
to de circunstâncias marcadas pela tensão e pelo conflito. A lógica da palavra, da
argumentação, é aquela que permite ao sujeito enfrentar os problemas e propor
soluções com vistas à superação das contradições políticas, econômicas e sociais
do mundo em que vivemos.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base.
Brasília, DF: MEC, 2018. p. 398.

VIII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 8 30/08/22 17:20


Em um artigo importante sobre o assunto, a historiadora Maria de Lourdes Mônaco Janotti chama a aten-
ção para o perigo de se valorizar o privado em detrimento do público:

A História não é terreno do “interessante” e do mundo privado enquanto


tal. Este cresce em relação direta à redução das atividades da vida pública e
à consciência da cidadania, como tão bem explicou Hannah Arendt, podendo
levar, como o fez nos anos [19]20 e [19]30, à privatização do próprio Estado pe-
las ditaduras nazifascistas. Tal experiência deu-se no Brasil num passado muito
próximo, durante a ditadura getulista e a ditadura militar, por mais de 45 anos,
neste século.
Mesmo considerando [...] fundamentais os estudos sobre a vida privada no
passado e no presente [...] é fundamental rever determinada prática da investiga-
ção e do ensino da História que, inspirada em uma estreita leitura da Nova His-
tória com seus novos objetos e abordagens, acaba por não estabelecer nenhuma
“relação orgânica com o passado público da época em que vivemos” (HOBSBAWM).
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. História, política e ensino. In: BITTENCOURT, Circe (org.).
O saber histórico na sala de aula. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2017. (Repensando o ensino, p. 43-44).

1.3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS


A seguir, vamos expor, de modo simplificado, os pressupostos teóricos que pautaram a nossa escrita e
que, até certo ponto, tornaram-se consenso entre os historiadores atuais.
1o É impossível resgatar episódios do passado tal qual ocorreram. O passado está morto e não se
pode “desenterrá-lo”, só se pode conhecê-lo por meio de vestígios deixados pelos seres humanos na sua
passagem pela Terra.
2o Só se pode investigar o passado por meio de questões colocadas pelo presente. De tempos
em tempos, formulam-se novas questões sobre o passado que conduzem a novas pesquisas, das
quais resultam novas reescritas da História. Ou seja, cada época coloca novos problemas, e é a par-
tir deles que nos debruçamos sobre o passado para investigar, crivar as fontes, comparar, analisar e
construir uma versão dos fatos. Buscando romper com uma visão passadista da História, entendemos
que o presente também é suscetível de conhecimento histórico, desde que o ancoremos na própria
História.
3o Todo conceito possui uma história. A cidadania na cidade de Atenas, durante a Antiguidade, por
exemplo, era muito diferente da cidadania no Brasil de hoje. A consciência disso é fundamental na edu-
cação histórica, seja para a construção do conceito de cidadania, seja para a sua contextualização espaço-
-temporal. Facilitar isso ao aluno ajuda-nos a evitar a formulação de juízos anacrônicos consubstanciados
no senso comum, tais como: “o tempo passa e nada muda”, “os políticos são todos iguais” e outras
frases do gênero.
4o O conhecimento histórico é algo construído com base em um procedimento metodológico. A
História é, ela própria, uma construção. Durante muito tempo se acreditou que os historiadores che-
gavam a verdades definitivas. Hoje se sabe que a História produz verdades parciais. Depois da coleta,
seleção e crítica dos vestígios, seguem-se a análise destes e a produção de uma versão possível sobre
o fato ou processo em questão. As conclusões a que chegam os historiadores devem, por isso mes-
mo, ser relativizadas. Como observou um estudioso, as Ciências Humanas hoje estão convencidas de
que:

IX

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 9 30/08/22 17:21


[...] ao término de suas investigações, não é a verdade que irão encontrar, mas
verdades, descobertas após um longo e penoso processo de produção histórica.
SALIBA, Elias Thomé. A produção do conhecimento histórico e suas relações com a narrativa fílmica.
In: FALCÃO, Antônio Rebouças; BRUZZO, Cristina (coord.). Coletânea lições com cinema.
São Paulo: FDE: Diretoria Técnica, 1993, p. 92.

5o O conhecimento histórico é limitado. Atualmente, é consenso entre os historiadores que a História


não é um saber acabado. O conhecimento histórico é algo construído com base em um método e em um
conjunto de procedimentos pertinentes ao ofício do historiador. Enfim, atualmente, historiadores com di-
ferentes perspectivas admitem que a História é uma construção e que o conhecimento histórico é parcial
e incompleto, daí a necessidade de a História ser reescrita, constantemente, à luz das novas pesquisas
que vão sendo realizadas.
Contribuindo com esse debate, o historiador Holien Gonçalves Bezerra afirmou:

[...] Ciente de que o conhecimento é provisório, o aluno terá condições de


exercitar nos procedimentos próprios da História: problematização das questões
propostas, delimitação do objeto, exame do estado da questão, busca de infor-
mações, levantamento e tratamento adequado das fontes, percepção dos sujei-
tos históricos envolvidos (indivíduos, grupos sociais), estratégias de verificação
e comprovação de hipóteses, organização dos dados coletados, refinamento dos
conceitos (historicidade), proposta de explicação para os fenômenos estudados,
elaboração da exposição, redação de textos. [...]
BEZERRA, Holien Gonçalves. Ensino de História: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL, Leandro (org.).
História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2016. p. 42.

1.4 OBJETIVOS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA


Nesta obra didática, levamos em conta a perspectiva do Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (Saeb), no tocante aos objetivos para o ensino de História, seja para nortear a nossa compreensão
da História, seja para balizar a nossa prática docente. Segundo as matrizes curriculares de referência para
o Saeb, os objetivos do ensino da História são:
• facilitar a construção, por parte do educando, da capacidade de pensar histori-
camente, sendo que esta operação engloba uma percepção crítica e transforma-
dora sobre os eventos e estudos históricos;
• favorecer a aquisição de conhecimentos sobre diferentes momentos históricos, a
fim de desenvolver a habilidade de coordenação do tempo histórico;
• contribuir para a compreensão dos processos da História, através da análise
comparada das semelhanças e diferenças entre momentos históricos, de forma
a perceber a dinâmica de mudanças e permanências;
• propiciar o desenvolvimento do senso crítico do educando, no sentido de que este
seja capaz de formar uma opinião possível sobre os eventos históricos estudados;
• possibilitar a integração dos conteúdos cognitivos com os aspectos afetivos e
psicomotores do educando, valorizando as características relacionais nas ativi-
dades de ensino-aprendizagem.
PESTANA, Maria Inês Gomes de Sá et al. Matrizes curriculares de referência para o Saeb.
2. ed. Brasília, DF: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1999. p. 63.

Atingir esses objetivos, ainda que parcialmente, pode ajudar o aluno a interpretar situações concretas da
vida social, posicionar-se criticamente diante da realidade vivida e construir novos conhecimentos.

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 10 31/08/22 16:45


1.5 CONCEITOS-CHAVE DA ÁREA DE HISTÓRIA
O ensino de História, nos anos finais do Ensino Fundamental, não pretende fazer do aluno um historia-
dor. Seu compromisso maior é com a facilitação, ao aluno, do acesso à construção do conhecimento históri-
co, por meio do uso e do cruzamento de fontes variadas e de diferentes tipos de documento (BRASIL, 2018,
p. 398). Nesta obra, trabalhamos alguns conceitos-chave na nossa disciplina – como o de História, tempo,
cronologia, cultura, patrimônio cultural, identidade, memória, política e cidadania.
A seguir, organizamos uma espécie de glossário com esses conceitos, que pode ser útil ao trabalho do
professor na preparação de sua aula.
História: Marc Bloch define a História como o estudo das sociedades humanas no tempo. Para ele:

O historiador nunca sai do tempo [...], ele considera ora as grandes ondas de fe-
nômenos aparentados que atravessam, longitudinalmente, a duração, ora o momento
humano em que essas correntes se apertam no nó poderoso das consciências.
BLOCH, Marc L. B. Apologia da História ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 135.

Seguindo a trilha aberta por Bloch, o historiador Holien Bezerra afirma que a História busca desvendar
“[as] relações que se estabelecem entre os grupos humanos em diferentes tempos e espaços” (BEZERRA,
2003, p. 42). Outra definição de História:

[...] A história é a arte de aprender que o que é nem sempre foi, que o que
não existe pôde alguma vez existir; que o novo não o é forçosamente e que, ao
contrário, o que consideramos por vezes eterno é muito recente. Esta noção per-
mite situarmo-nos no tempo, relativizar o acontecimento, descobrir as linhas de
continuidade e identificar as rupturas [...].
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.). História: Ensino Fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação:
Secretaria de Educação Básica, 2010. (Explorando o Ensino, v. 21, p. 18).

Há autores atuais, como Hayden White, por exemplo, que entendem a História como um gênero da lite-
ratura e querem reduzi-la à ficção. Nós discordamos dessa visão e ressaltamos que a História, ao contrário da
Literatura, tem compromisso com a evidência e, parafraseando Marc Bloch, lembramos ainda que, diferente-
mente do literato, o historiador só pode afirmar aquilo que tem condições de provar.
Tempo: conceito-chave em História. É uma construção humana; e o tempo histórico, uma construção
cultural dos povos em diferentes tempos e espaços. As principais dimensões do tempo são: duração, suces-
são e simultaneidade. Isso pode ser trabalhado em aula apresentando-se as diferentes maneiras de vivenciar
e apreender o tempo e de registrar a duração, a sucessão e a simultaneidade dos eventos – tais conteúdos
tornam-se, portanto, objeto de estudos históricos. O tempo que interessa ao historiador é o tempo históri-
co, o tempo das transformações e das permanências. O tempo histórico não obedece a um ritmo preciso e
idêntico como o do relógio e/ou dos calendários. Por isso o historiador considera diferentes temporalidades/
durações: a longa, a média e a curta duração.
Cronologia: sistema de marcação e datação baseado nas regras estabelecidas pela ciência astronômica,
que tenta organizar os acontecimentos em uma sequência regular e contínua.
Cultura:
Entende-se por cultura todas as ações por meio das quais os povos expres-
sam suas “formas de criar, fazer e viver” (Constituição Federal de 1988, art. 216).
A cultura engloba tanto a linguagem com que as pessoas se comunicam, contam
suas histórias, fazem seus poemas, quanto a forma como constroem suas casas,

XI

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 11 30/08/22 17:23


preparam seus alimentos, rezam, fazem festas. Enfim, suas crenças, suas visões
de mundo, seus saberes e fazeres. Trata-se, portanto, de um processo dinâmico de
transmissão, de geração a geração, de práticas, sentidos e valores, que se criam e
recriam (ou são criados e recriados) no presente, na busca de soluções para os pe-
quenos e grandes problemas que cada sociedade ou indivíduo enfrentam ao longo
da existência.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL.
Patrimônio Cultural Imaterial: para saber mais. Brasília, DF: Iphan, 2012. p. 7.
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/cartilha_1__parasabermais_web.pdf.
Acesso em: 2 ago. 2022.

Segundo os PCN:
[...] cultura abrange um conjunto de crenças, conhecimentos, valores, cos-
tumes, regulamentos, habilidades, capacidades e hábitos construídos pelos seres
humanos em determinadas sociedades, em diferentes épocas e espaços.
BRASIL. Ministério da Educação. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionais. Ciências Humanas e suas Tecnologias: História. Brasília: SEB, 2002. p. 71-72.

Sobre esse conceito, o professor Holien Gonçalves Bezerra afirma:

[...] Cultura não é apenas o conjunto de manifestações artísticas. Envolve as


formas de organização do trabalho, da casa, da família, do cotidiano das pessoas,
dos ritos, das religiões, das festas etc. Assim, o estudo das identidades sociais,
no âmbito das representações culturais, adquire significado e importância para
a caracterização de grupos sociais e de povos.
BEZERRA, Holien Gonçalves. Ensino de História: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL, Leandro (org.).
História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. p. 46.

Patrimônio cultural: segundo um estudioso:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


imaterial [...] nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de
criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as
obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às mani-
festações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
ORIÁ, Ricardo. Memória e ensino de História. In: BITTENCOURT, Circe (org.).
O saber histórico na sala de aula. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2017. (Repensando o ensino, p. 134).

Identidade: pode ser definida como a construção do “eu” e do “outro” e a construção do “eu” e do
“nós”, que têm lugar nos diferentes contextos da vida humana e nos diferentes espaços de convívio social.
Essa construção baseia-se no reconhecimento de semelhanças/diferenças e de mudanças/permanências. So-
bre o assunto, disse uma ensaísta:

Um dos objetivos centrais do ensino de História, na atualidade, relaciona-se


à sua contribuição na constituição de identidades. A identidade nacional, nessa
perspectiva, é uma das identidades a ser constituída pela História escolar, mas,
por outro lado, enfrenta ainda o desafio de ser entendida em suas relações com
o local e o mundial. A constituição de identidades associa-se à formação da ci-
dadania, problema essencial na atualidade, ao se levar em conta as finalidades
educacionais mais amplas e o papel da escola em particular.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos.
São Paulo: Cortez, 2004. (Docência em formação), p. 121.

A construção de identidades está relacionada também à memória.

XII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 12 30/08/22 17:23


Memória: segundo Pedro Paulo Funari:

A memória [...] é uma recriação constante do presente, do passado enquanto


representação, enquanto imagem impressa na mente.
FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Antiguidade clássica: a história e a cultura a partir dos documentos.
2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. p. 16.

Memória pode ser definida também pelo modo como os seres humanos se lembram ou se esquecem do
passado; já a História pode ser vista como a crítica da memória. Em sociedades complexas, como esta em que
vivemos, a memória coletiva dá origem a lugares de memória, como museus, bibliotecas, espaços culturais,
galerias, arquivos ou uma “grande” história, a história da nação. A memória nos remete à questão do tempo.
Política: o termo “política” teve sua origem na Grécia antiga e foi sendo ressignificado ao longo do tem-
po. A palavra “política” está estreitamente relacionada à ideia de poder. Segundo Nicolau Maquiavel (1469-
1527), o fundador da política como ciência, a política é a arte de conquistar, manter e exercer o poder. Já
para Michel Foucault (1926-1984), o poder não se concentra somente no Estado, mas está distribuído por
todo o corpo social. Seguindo essa trilha, dois estudiosos observaram que:

Há relação de poder entre pais e filhos, alunos e professores, governantes e


governados, dirigentes de partido e seus filiados, patrões e empregados, líderes de
associações sindicais e seus membros, e assim por diante. A verdade é que tais
relações são, no mais das vezes, sutis, móveis, dispersas e de difícil caracterização.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos.
2. ed. São Paulo: Contexto, 2009. p. 335.

Cidadania: o conceito de cidadania – chave na nossa proposta de ensino de História – tem como base as
reflexões do historiador Jaime Pinsky:

Afinal, o que é ser cidadão?


Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante
a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade,
votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a
democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo
na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma
velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais.
PINSKY, Jaime. Introdução. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (org.).
História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p. 9.

A compreensão da cidadania em uma perspectiva histórica de lutas, confrontos e negociações, e constituída


por intermédio de conquistas sociais de direitos, pode servir como referência para a organização dos conteúdos
da disciplina de História. Vale lembrar ainda que os conceitos possuem uma história, e que esta variou no tem-
po e no espaço. Cientes disso, evitamos visões anacrônicas, a-históricas ou carregadas de subjetividade.
O trabalho com História na sala de aula é uma construção coletiva e se faz com base no saber aceito
como legítimo pela comunidade de historiadores. Antes de tudo, porém, é preciso considerar que esse saber
acadêmico não deve ser confundido com o conhecimento histórico escolar, embora lhe sirva de suporte.

XIII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 13 29/08/22 17:50


2 METODOLOGIA DE
ENSINO-APRENDIZAGEM

2.1 O CONHECIMENTO HISTÓRICO ESCOLAR


Para Bittencourt, o conhecimento histórico escolar:

[...] não pode ser entendido como mera e simples transposição de um co-
nhecimento maior, proveniente da ciência de referência e que é vulgarizado e
simplificado pelo ensino. [...] “Nenhuma disciplina escolar é uma simples filha
da ‘ciência-mãe’”, adverte-nos Henri Moniot, e a história escolar não é apenas
uma transposição da história acadêmica, mas constitui-se por intermédio de um
processo no qual interferem o saber erudito, os valores contemporâneos, as prá-
ticas e os problemas sociais.
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2017
(Repensando o ensino, p. 25).

Para a construção do conhecimento em sala de aula, a historiadora Margarida Maria Dias de Oliveira pro-
põe que sejam dados os seguintes passos:

1. elege-se uma problemática (tema, período histórico);


2. tem-se o tempo como categoria principal (como o assunto em estudo foi enfren-
tado por outras sociedades);
3. dialoga-se com o tempo por meio das fontes (utilizam-se o livro didático, mapas,
imagens, músicas [...]);
4. utilizam-se instrumentos teóricos e metodológicos (conceitos, formas de proce-
der);
5. constrói-se uma narrativa/interpretação/análise (pede-se um texto, um debate,
uma peça teatral, uma redação, uma prova).
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. Introdução. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.).
História: ensino fundamental. Brasília, DF: MEC: SEB, 2010. (Explorando o ensino, v. 21, p. 11).

Em outras palavras, seleciona-se o tema e transforma-o em problema por meio de um conjunto de ques-
tões. Estuda-se, então, o passado para entrar em contato com as experiências dos seres humanos de outros
tempos no enfrentamento desse problema e retorna-se ao presente.

2.2 A NOVA CONCEPÇÃO DE DOCUMENTO


Na visão positivista da História, o documento era visto, sobretudo, como prova do real. Aplicada ao livro
escolar, essa forma de ver o documento assumia um caráter teleológico – o documento cumpria uma fun-
ção bem específica: ressaltar, exemplificar e, sobretudo, dar credibilidade à argumentação desenvolvida pelo
autor. Na sala de aula, isso se reproduzia: o documento servia para exemplificar, destacar e, principalmente,
confirmar a fala do professor durante a exposição.

XIV

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 14 29/08/22 17:50


Com a Escola dos Annales, fundada pelos historiadores franceses Lucien Febvre e Marc Bloch2, adveio uma
nova concepção de documento, que nasceu da certeza de que o passado não pode ser recuperado tal como
aconteceu e que a sua investigação só pode ser feita com base em problemas colocados pelo presente. Essa nova
corrente historiográfica, que se formou a partir da crítica ao positivismo, propôs um número tão grande e signifi-
cativo de inovações que o historiador Peter Burke referiu-se a ela como “a Revolução Francesa da historiografia”.
Contrapondo-se à escola positivista, tributária do pensamento do filósofo alemão Leopold von Ranke,
que via o documento como prova do real e capaz de falar por si mesmo, a Escola dos Annales propunha
uma ampliação e um novo tratamento a ser dado ao documento. Eis o que diz Jacques Le Goff, um dos teó-
ricos da Nova História:

A História Nova ampliou o campo do documento histórico; ela substituiu a história


de Langlois e Seignobos2, fundada essencialmente nos textos, no documento escrito,
por uma história baseada numa multiplicidade de documentos figurados, produtos de
escavações arqueológicas, documentos orais etc. Uma estatística, uma curva de preços,
uma fotografia, um filme, ou para um passado mais distante, um pólen fóssil, uma
ferramenta, um ex-voto são, para a História Nova, documentos de primeira ordem [...].
LE GOFF, Jacques apud MARTINS, Ronaldo Marcos. Cuidado de si e educação matemática: perspectivas,
reflexões e práticas de atores sociais (1925-1945). Tese (Doutorado). Rio Claro: Unesp, 2007. p. 23.

Mas, se por um lado, é consensual entre os historiadores que estamos vivendo uma “revolução docu-
mental”; por outro, a reflexão sobre o uso de documentos em sala de aula merece, a nosso ver, uma maior
atenção. Com base nas reflexões daqueles que pensaram sobre o assunto e na nossa experiência docente,
recomendamos que, ao trabalhar com documentos na sala de aula, o professor procure:
a) evitar ver o documento como “prova do real”, procurando situá-lo como ponto de partida para se cons-
truírem aproximações em torno do episódio focalizado;
b) ultrapassar a descrição pura e simples do documento e apresentá-lo aos alunos como matéria-prima de
que se servem os historiadores na sua incessante pesquisa;
c) considerar que um documento não fala por si mesmo. É necessário levantar questões sobre ele e a partir
dele. Um documento sobre o qual não se sabe por quem, para que e quando foi escrito é como uma fo-
tografia sem crédito ou legenda: não tem serventia para o historiador;
d) levar em conta que todo documento é um objeto material e, ao mesmo tempo, portador de um
conteúdo;
e) considerar que não há conhecimento neutro: um documento tem sempre um ou mais autores e ele(s)
tem(têm) uma posição que é necessária identificar. Visto por esse ângulo, o trabalho com documentos
tem pelo menos três utilidades:
• facilita ao professor o desempenho de seu papel de mediador. A sala de aula deixa de ser o espaço
onde se ouvem apenas as vozes do professor e a do autor do livro didático (tido muitas vezes como nar-
rador onisciente, que tudo sabe e tudo vê) para ser o lugar onde ecoam múltiplas vozes, incluindo-se aí
as vozes de pessoas que presenciaram os fatos focalizados;
• possibilita ao aluno desenvolver um olhar crítico e aperfeiçoar-se como leitor e produtor de textos
históricos;
• diminui a distância entre o conhecimento acadêmico e o saber escolar, uma vez que os alunos são con-
vidados a se iniciarem na crítica e na contextualização dos documentos, procedimento importante para
a educação histórica.
2
Nomes dos historiadores franceses por meio dos quais a história metódica, mais conhecida como positivista, chegou ao seu auge na segunda metade do século XIX.

XV

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 15 29/08/22 17:50


2.3 O TRABALHO COM IMAGENS FIXAS
Vivemos em uma civilização da imagem. Uma grande quantidade de imagens é posta diante dos olhos
dos nossos alunos todos os dias, em uma velocidade crescente, constituindo importante fonte para o conhe-
cimento da História, o que, certamente, pode ajudar na formação de um leitor atento, crítico e autônomo:
um leitor capaz de receber criticamente os meios de comunicação; capaz de perceber que a imagem efême-
ra que a mídia veicula como verdadeira pode ser – e quase sempre é – a imagem preferida, a que se esco-
lheu mostrar. Esse fato não passou despercebido pelos professores, que, reconhecendo o potencial pedagó-
gico das imagens, passaram a utilizá-las com frequência no ensino de História.

2.3.1 • Cuidados ao trabalhar com imagens


Ao se decidir pelo uso de imagens fixas na sala de aula, o professor deve levar em conta que essa prática
pedagógica requer vários cuidados, alguns dos quais listaremos a seguir.

A imagem é polissêmica
Misto de arte e ciência, técnica e cultura, a imagem é polissêmi-

MUSEU DO LOUVRE, PARIS, FRANÇA


ca. Até um simples retrato admite várias interpretações. Exemplo
disso é ver um álbum de fotografias em família: uma foto que
desperta alegria ou satisfação nos avós pode ser causa de inibição
ou vergonha para os netos. Outro exemplo dessa característica da
imagem é Mona Lisa, certamente o quadro mais conhecido do
mundo. Já se afirmou que, se estivermos melancólicos, temos ten-
dência a ver, no sorriso enigmático da personagem retratada, me-
lancolia; se estivermos alegres, ela nos parecerá contente. Ou seja,
ela expressa os nossos sentimentos no momento em que a vemos.

A imagem é uma representação do real


De natureza polissêmica, a imagem é uma representação do
real e não a sua reprodução. Sobre isso, relata Pierre Villar que,
certa vez, perguntou a seus alunos: “O que é Guernica?”. Eles lhe
responderam imediatamente: “Guernica é um quadro!”. Daí co-
menta o arguto historiador Pierre Villar:

Efetivamente, [...] Guernica – no espírito de muita gente


que não tem mais o cuidado de saber exatamente de onde isto
surgiu – é um quadro de Picasso. [...] Guernica tornou-se a re- Mona Lisa, pintura de Leonardo da Vinci,
presentação de um fato preciso. O fato preciso está esquecido, c. 1503-1505.
a representação continua. [...].
VILLAR, Pierre apud D’ALESSIO, Marcia Mansor et al. Reflexões sobre o saber histórico. São Paulo: Unesp, 2017. p. 30. (Prismas).

O fato preciso a que o historiador está se referindo é, como se sabe, o bombardeio da pequenina cidade
espanhola de Guernica pela aviação nazista, a mando de Hitler, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
O fato, o bombardeio, ocorrido em 26 de abril de 1937, foi esquecido; a representação produzida por Picasso,
um óleo sobre tela, com o nome de Guernica, permaneceu marcando gerações. Não é demais repetir: quando
o professor perguntou: “O que é Guernica?”, os alunos lhe responderam: “Guernica é um quadro!”.

XVI

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 16 29/08/22 17:50


A imagem possui um efeito de realidade
O que torna mais escorregadio o terreno para quem se decide pelo uso de imagens na sala de aula é
justamente o fato de a imagem possuir um efeito de realidade, ou seja, a capacidade de se parecer com a
própria realidade.
Se apresentarmos ao aluno a imagem de Dom Pedro I e a de Dom Pedro II e perguntarmos qual deles é o
pai e qual é o filho, muitos dirão, provavelmente, que Dom Pedro I é filho de Dom Pedro II.
Sobre a construção das imagens de Dom Pedro I, como jovem, e de Dom Pedro II, como velho, observou
uma estudiosa:

[...] A ilustração do pai jovem e do filho velho tem causado certa perplexi-
dade aos jovens leitores e falta a explicação do aparente paradoxo. A imagem de
um D. Pedro II velho foi construída no período pós-monárquico e demonstra a
intenção dos republicanos em explicar a queda de uma monarquia envelhecida
que não teria continuidade. É interessante destacar a permanência dessas ilus-
trações na produção atual dos manuais, reforçando uma interpretação utilizada
pelos republicanos no início do século XX, mesmo depois de variadas pesquisas
e publicações historiográficas sobre os conflitos e tensões do período.
BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. 12. ed.
São Paulo: Contexto, 2017. (Repensando o ensino, p. 80).
COLEÇÃO PARTICULAR

MUSEU IMPERIAL, PETRÓPOLIS, RIO DE JANEIRO

Retrato de D. Pedro I feito pelo artista Simplício Retrato de D. Pedro II feito por Pedro Américo, 1873.
Rodrigues de Sá, c. 1826.

XVII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 17 29/08/22 17:50


Ver não é sinônimo de conhecer
Vivemos em um tempo em que se busca reduzir o acontecimento à sua imagem, em vez de explicá-lo e
contextualizá-lo historicamente, isto é, em uma época em que querem nos fazer crer que ver é sinônimo de
conhecer. No entanto, é preciso que se repita à exaustão: “eu vi” não significa “eu conheço”. Assim, ver no
noticiário televisivo um episódio do conflito no Oriente Médio não significa conhecer aquele conflito, seus
motivos, seu contexto, o teatro de operações etc. Sobre isso, disse um estudioso:

Os historiadores se deparam hoje com este fenômeno histórico inusitado: a


transformação do acontecimento em imagem. [...] Não se busca mais tornar po-
liticamente inteligíveis uma situação ou um acontecimento, mas apenas mostrar
sua imagem. Conhecer se reduz a ver ou, mais ainda, a “pegar no ar”, já que a
mensagem da mídia é efêmera. [...]
SALIBA, Elias Thomé. Experiências e representações sociais: reflexões sobre o uso e o consumo de imagens.
In: BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2017.
(Repensando o ensino, p. 122).

Um equívoco recorrente quando o assunto é imagem é a afirmação de que ela fala por si mesma. Como
lembrou uma ensaísta:

É ilusório pensar-se que as imagens se comuniquem imediata e diretamente


ao observador, levando sempre vantagem à palavra, pela imposição clara de um
conteúdo explícito. Na maioria das vezes, ao contrário, se calam em segredo,
após a manifestação do mais óbvio: por vezes, [...] em seu isolamento, se retra-
em à comunicação, exigindo a contextualização, única via de acesso seguro ao
que possam significar. Por outro lado, são difíceis de se deixarem traduzir num
código diverso como o da linguagem verbal.
LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da fotografia histórica.
São Paulo: Edusp, 1993. (Texto e Arte, v. 9, p. 12).

De fato, a imagem é captada pelo olho, mas traduzida pela palavra. Tomá-la como fonte para o conheci-
mento da História envolve vê-la como uma representação, uma estratégia, uma linguagem com sintaxe pró-
pria. Para obter as informações a partir dela é indispensável desnaturalizá-la e contextualizá-la, interrogan-
do-a com perguntas, tais como: por que, por quem, em que contexto foi produzida. É indispensável, enfim,
perceber que a imagem não reproduz o real. Ela congela um instante do real, “organizando-o” de acordo
com uma determinada estética e visão de mundo.

2.3.2 • Imagens fixas na sala de aula


O trabalho com imagens pode ajudar no desenvolvimento da competência de ler e escrever a partir do registro
visual, bem como estimular as habilidades de observar, descrever, sintetizar, relacionar e contextualizar. Além dis-
so, contribui decisivamente para a “educação do olhar”, usando uma expressão cunhada por Circe Bittencourt.
Com base nas reflexões de alguns estudiosos e na nossa experiência didática, e cientes de que essa tarefa não é
das mais fáceis, propomos a seguir alguns procedimentos para introduzir a leitura de imagens fixas na sala de aula.
Passo 1: apresentar ao aluno uma imagem (fotografia, pintura, gravura, caricatura etc.) sem qualquer
legenda ou crédito. A seguir, pedir a ele que observe a imagem e descreva livremente o que está vendo. A
intenção é permitir ao aluno que associe o que está vendo às informações que já possui, levando em conta,
portanto, seus conhecimentos prévios. Nessa leitura inicial, o aluno é estimulado a identificar o tema, as
personagens, suas ações, posturas, vestimentas, calçados e adornos, os objetos presentes na cena e suas ca-

XVIII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 18 29/08/22 17:50


racterísticas, o que está em primeiro plano e ao fundo, se é uma cena cotidiana ou rara. Enfim, estimular no
aluno a capacidade de observar, identificar e traçar comparações.
Passo 2: buscar com os alunos o máximo de informações internas e externas à imagem.
Para obter as informações internas (quando o destaque forem as pessoas), fazer perguntas como: quem
são? Como estão vestidas? O que estão fazendo? Quem está em primeiro plano? E ao fundo? Já quando o
destaque for um objeto, perguntar: o que é isto? Do que é feito? Para que serve ou servia? Onde se encontra?
Quanto às informações externas, perguntar: quem fez? Quando fez? Para que fez? Em que contexto fez?
Passo 3: de posse das informações obtidas na pesquisa, pedir que o aluno produza uma legenda
para a imagem. A legenda pode ser predominantemente descritiva, explicativa, analítica e/ou ainda
conter uma crítica.
Professor, na produção da legenda pelo aluno, estaremos trabalhando principalmente as habilidades de
reconhecer, descrever, associar, relacionar, sintetizar e, por fim, contextualizar; levar os alunos a contextuali-
zar o oceano de imagens que seus olhos absorvem a todo instante numa velocidade crescente talvez seja um
dos maiores desafios do professor de História.
Por fim, uma pergunta: por que trabalhar com imagens em sala de aula?
Trabalhamos com imagens na sala de aula com três propósitos: a) educar o olhar; b) contribuir para a for-
mação ou consolidação de conceitos; c) estimular a competência escritora.
Na nossa prática docente, nós, professores de História, habitualmente propomos um texto, interrogamos
o texto e, assim, estimulamos o alunado a produzir textos a partir de um texto. O que estamos propondo
é, além de continuar estimulando a produção de textos a partir de um texto, levar o alunado a produzir um
texto a partir da imagem (texto para ela, sobre ela, a partir dela).
Quando usar uma imagem na aula de História? O trabalho com imagens em História pode ser feito:
a) No início de um bloco de conteúdos, para introduzir um assunto e estimular o interesse do aluno. Por
exemplo, pode-se usar uma imagem atual de uma votação em sala de aula para introduzir o trabalho
com o conceito de democracia na Grécia antiga e também para evidenciar os laços que unem o passado
ao presente;
b) Durante a exposição dialogada, como forma de elucidar um aspecto do conteúdo. No caso da prática do con-
trabando/desvio nas Gerais do século XVIII, por exemplo, imagens dos santos ilustram um dos recursos usados
pela população das Minas para burlar o fisco, fazendo o ouro e os diamantes passarem pelas autoridades;
c) No início e no final de um bloco de conteúdos. Um exemplo é a imagem intitulada História de um go-
verno, de Belmonte. No início, pode ser utilizada para provocar o aluno a falar sobre o que ele sabe ou
imagina saber a respeito da personagem e sobre a relação entre a expressão fisionômica desta em cada
um dos quadrinhos e as datas que aparecem neles. No final, pode ser usada para cotejar as hipóteses le-
vantadas inicialmente pelo aluno com o conhecimento construído durante o estudo do tema.
BELMONTE

Tirinha de Belmonte,
História de um
governo, na qual
aparecem diversas
caricaturas de
Getúlio Vargas.

XIX

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 19 31/08/22 16:49


2.4 O TRABALHO COM IMAGENS EM MOVIMENTO
(O CINEMA NA SALA DE AULA)
Ao se decidir pelo uso de filmes ou vídeos em sala de aula, o professor deve levar em conta que o cinema
é um misto de arte e técnica, um artefato construído para agradar e vender, que envolve equipes numerosas
e altos custos de produção. Seu compromisso, muitas vezes, é com o espetáculo e não com a verdade. O rit-
mo com que as imagens se sucedem, e tudo o mais, é cuidadosamente pensado para esse fim. Mas o cine-
ma é também um produto e uma expressão cultural do modo como a sociedade se vê, uma forma de lazer e
de informação universal cotidianamente consumida.

2.4.1 • O cinema serve ao professor de História?


Sim, certamente, mas de uma maneira muito peculiar. Daí a necessidade de tomarmos alguns cuidados ao utilizá-lo.
Primeiro, é preciso levar em conta que toda imagem cinematográfica é testemunho de uma presença: a
da câmera e a da equipe que realizou a filmagem. O que vemos na tela é um registro fotomecânico, repro-
duzido por um projetor. Essa evidência, geralmente, não é percebida pelo espectador comum, ou simples-
mente não interessa a ele, que busca no filme diversão e emoção por algumas horas ou minutos. Já o pro-
fessor de História vê o mesmo filme com outros olhos, pois o que pretende é tratar o cinema como uma das
fontes para o seu trabalho de construção/reconstrução da História.
Todo filme, seja ele ficcional ou documental, é uma fonte a ser considerada pelo historiador, pois o que se
vê na tela é um tipo de registro do que aconteceu em algum lugar, em algum momento.
No gênero ficcional, temos o registro de atores, figurinos, cenários, luzes etc., filmados numa ordem di-
versa da que vemos na tela. A ordenação das sequências é arranjada depois, no momento da montagem.
No filme documental, a câmera registra imagens selecionadas pelo documentarista, previamente ou no calor
da hora. Depois de revelados os negativos, o realizador os monta, corta o que não lhe agrada, coloca-os em
uma determinada ordem, dá-lhes certo ritmo, insere trechos de outros filmes, depoimentos etc. A isso se
chama editar. Se ele não age assim, não temos filme, mas o que os profissionais chamam de “material bru-
to”, algo parecido com um automóvel inteiramente desmontado, que não serve a nenhum motorista.
O filme editado expressa a visão de um indivíduo ou grupo que quer nos convencer da versão que arru-
mou para mostrar na tela (ou no vídeo).
No filme O menino do pijama listrado (2008), o diretor quis mostrar

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO. MARK HERMAN. IMAGEM FILMES. EUA, 2008


que a amizade entre duas crianças pode superar todas as barreiras (sociais,
políticas, culturais…) e que o ódio pode ferir mortalmente aquele que odeia.
Nessa obra, o filho de um oficial nazista veste uma roupa listrada para
entrar, sem ser notado, onde está o seu amiguinho judeu, e acaba sendo
morto pelos nazistas liderados por seu pai. Ao fazer uso do filme ficcional,
sugerimos lembrar ao estudante que se está diante de uma versão, de uma
representação, e não dos fatos históricos tal como eles ocorreram.
Mas nem por isso a ficção “de época” deve ser tratada como uma mentira
inconsequente, interesseira. Ela é uma narrativa que procura transformar em ima-
gens verossímeis o acontecido, ou imaginar como pode ter acontecido, servindo-
-se dos meios disponíveis na ocasião em que o filme foi realizado. Assim, desquali-
ficar um filme porque não apresenta a “verdade” é uma ingenuidade. Ora: o que
é uma verdade acabada do ponto de vista histórico?
Geralmente, o filme histórico revela mais sobre a época em que foi fei- Cartaz do filme O menino do
to do que sobre a época que pretendeu retratar. Um exemplo: Danton, o pijama listrado, 2008.

XX

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 20 29/08/22 17:50


Processo da Revolução (1983), de Andrzej Wajda, é um filme sobre a Revolução Francesa de 1789, mas a
obra que Wajda realiza é mais uma crítica ao autoritarismo e ao clima de medo vivido na Polônia dos anos
1980 (lugar e tempo em que o diretor viveu) do que uma narrativa sobre o episódio vivido pelos franceses
em 1789 (época em que o filme foi ambientado).

2.4.2 • Alguns outros cuidados…


O uso de filmes na sala de aula exige:
a) muitas horas de preparo. Decidindo por um filme, o professor deve assisti-lo pelo menos duas vezes. Na
segunda, deve marcar, com muita atenção, as principais sequências, cenas e planos, para saber repeti-los
no momento adequado da aula, comentando-os;
b) clareza por parte do professor sobre a época em que o filme foi realizado, os objetivos dos responsáveis
por sua realização, sua inserção como produto de cultura entre outros do mesmo período. Chamando a
atenção do aluno para essas informações, você o estará estimulando a ver os filmes com outros olhos;
c) consciência de que o filme ficcional se comunica por meio de procedimentos artísticos. O educador deve
libertar-se de um costume muito presente na atividade didática, que é o de tratar o romance, a poesia,
a pintura e mesmo o cinema como meros suportes de um conteúdo. Caso contrário, o espectador ficará
preso apenas ao enredo e não prestará atenção à forma como este lhe foi apresentado;
d) percepção de que o sentido de um filme narrativo está no modo como ele conta a história, seu ritmo, a
duração e a sucessão dos planos, o posicionamento da câmera, os tipos de luz e de fotografia escolhidos,
o uso ou não da música, o estilo de interpretação dos atores, e assim por diante. Tudo isso muito bem
amarrado é que nos dá a significação e o prazer de um bom filme. Um bom livro não se transforma ne-
cessariamente em um bom filme.
Concluindo, cada forma de arte possui procedimentos e linguagem específicos. Por isso, o educador que
faz uso do cinema e de outros recursos audiovisuais deve levar em conta todos esses aspectos. Somente as-
sim o cinema pode ser aproveitado duplamente: como arte espetacular e como fonte para o conhecimento
da História.

2.5 O PISA E A COMPETÊNCIA LEITORA


O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos – tradução da sigla em inglês) é um exame que bus-
ca medir o conhecimento e a habilidade em leitura, matemática e ciências de estudantes com 15 anos de ida-
de. Ele é organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e ocorre de
três em três anos. O critério de correção obedece à Teoria de Resposta ao Item, o mesmo utilizado na correção
do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), e a posição dos participantes é definida em relação à média.
Na primeira edição do Pisa, em 2000, o Brasil obteve 396 pontos em leitura; na sexta, ocorrida em 2015,
atingiu a casa dos 407 pontos. Na edição de 2018, a média dos estudantes brasileiros foi a 413 pontos, um
pequeno avanço em relação ao exame de 2015. É certo que houve uma melhoria desse indicador em rela-
ção à primeira edição, quando o resultado do Brasil foi de 396 pontos, mas essa elevação, segundo critérios
da OCDE, não é estatisticamente relevante. Portanto, a situação de dificuldade com a competência leitora,
entre nossos estudantes, tem permanecido estável por muito tempo, por isso o assunto merece atenção.
Sabendo que o Pisa constrói as questões das provas de leitura com o objetivo de medir a compreensão e
a interpretação de textos e imagens, e o grau de autonomia do aluno para compreender a realidade e reco-
nhecê-la por meio da representação gráfica, conclui-se que nossos alunos precisam muito desenvolver tanto
a competência leitora quanto a escritora. Daí a ênfase que demos a esse trabalho.

XXI

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 21 29/08/22 17:50


Apresentamos, a seguir, alguns textos que subsidiam a nossa decisão de assumir que ler e escrever tam-
bém são compromissos da área de História.
Texto 1

Ler e escrever: um compromisso de todas as áreas


O que seria ler e escrever nas diferentes áreas do currículo escolar? Esse
é um dos objetivos que estabelecemos para este livro: desconfinar a discussão
sobre leitura e escrita, ampliando o seu âmbito desde a biblioteca e a aula de
português para toda a escola. E um dos méritos desse desconfinamento foi a
descoberta da leitura e da escrita como confluências multidisciplinares para a
reflexão e ação pedagógica.
[...]
Temos claro que ler e escrever sempre foram tarefas indissociáveis da vida
escolar e das atribuições dos professores. Ler e escrever bem forjam o padrão
funcional da escola elitizada do passado, que atendia a parcelas pouco nume-
rosas da população em idade escolar. Ler e escrever massiva e superficialmente
tem sido a questão dramática da escola recente, sem equipamentos e estendida
a quase toda a população.
A sociedade vê a escola como o espaço privilegiado para o desenvolvimento
da leitura e da escrita, já que é nela que se dá o encontro decisivo entre a crian-
ça e a leitura/escrita. Todo estudante deve ter acesso a ler e escrever em boas
condições, mesmo que nem sempre tenha uma caminhada escolar bem traçada.
Independente de sua história, merece respeito e atenção quanto as suas vivên-
cias e expectativas. Daí a importância da intervenção mediadora do professor e
da ação sistematizada da escola na qualificação de habilidades indispensáveis
à cidadania e à vida em sociedade, para qualquer estudante, como são o ler e o
escrever.
NEVES, Iara Conceição Bittencourt. Introdução. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt et. al. (org.).
Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 9. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011. p. 11-12.

Texto 2
Para uma boa formação, os alunos precisam entender bem o que leem e saber pensar e escrever.

Não basta ensinar História


Ensinamos História por dois motivos principais: iniciar os jovens no conhe-
cimento da história da humanidade (ou de parte dela) e transmitir-lhes informa-
ções indispensáveis à construção da tão desejada cidadania, ou seja, a formação
de uma sociedade de indivíduos conscientes, responsáveis, autônomos. Este ide-
al, não por acaso, está expresso no artigo 2o da lei no 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que fixa as diretrizes e bases da educação nacional, como também é
enfatizado nos Parâmetros Curriculares Nacionais, instrumento criado pelo Mi-
nistério da Educação para orientar os professores a aperfeiçoar os currículos
escolares. [...]
Gostaria de tratar aqui particularmente desse princípio – educar para cida-
dania –, sempre reafirmado por aqueles que refletem sobre educação, mas talvez
ainda não suficientemente compreendido e desenvolvido. Felizmente não pre-
cisamos mais imaginar, como muitos de nós fazíamos em tempos de ditadura,
que o ensino de História destina-se a formar rebeldes, nem acreditar que o seu

XXII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 22 29/08/22 17:50


objetivo, segundo antigos pressupostos conservadores, seria estimular o amor à
pátria e aos seus heróis.
[...] Num país onde a grande maioria da população não sabe ler, ou mal en-
tende o que (logo não sabe também escrever), o ensino de História, e de outras
disciplinas, deve, em consequência, vir acompanhado de investimentos perma-
nentes em leitura, redação e reflexão – competências que as aulas expositivas e
o tradicional sistema de perguntas e respostas não ajudam a desenvolver.
[...] Ao reduzir o aprendizado a uma série de questões isoladas umas das
outras, o método não favorece a compreensão da dinâmica histórica, isto é, do
todo formado pelas múltiplas relações entre situações, acontecimentos, agentes
sociais e suas respectivas motivações, período histórico, ou seja, a complexidade
e a lógica inerentes ao fato histórico. [...]
Há muitas formas de orientar os alunos a ler o texto histórico, desviando-os
da terrível decoreba. Um exemplo, à maneira de um jogo de desconstrução e
reconstrução, é propor-lhes que identifiquem, a partir de uma espécie de “per-
guntas-chaves”, as informações básicas existentes, digamos, num capítulo do
livro didático: o acontecimento principal e os secundários (o quê?); os agentes
históricos envolvidos – grupos sociais, instituições, indivíduos e seus respectivos
interesses e motivações (quem?); o período histórico e as datas mais importantes
(quando?); o lugar geográfico, político, social (onde?). Com base nessas respostas,
que mais adiante serão enriquecidas com respostas de outras perguntas (como?
e por quê?), o aluno poderá redigir seu texto-resumo, no qual irão figurar as
informações essenciais. Essa sinopse do fato histórico é o “esqueleto”, o núcleo
desse fato, e é também o que vai possibilitar ao aluno se situar no tempo, no
espaço, na história, é o seu “chão” histórico, é a base para argumentação.
Outro procedimento importante é levar os alunos a diferençar as noções
gerais das particulares, operação mental que os ajuda a hierarquizar os fatos.
O modo mais simples de trabalhar tais noções é, neste caso também, orientar
a leitura. Num texto em que o assunto, por exemplo, seja mudanças, pedir que
registrem os tipos de mudanças (econômicas, políticas, culturais); em seguida,
que identifiquem ou detalhem as inúmeras mudanças e as enquadrem nos tipos
gerais. É preciso ainda deixar claro para os alunos que o texto histórico, como
qualquer texto científico ou didático, contém uma série de categorias de análise
e conceitos próprios ao conhecimento. São condições do conhecimento. Deter-
minar que façam um glossário, consultando o próprio livro e o dicionário, ao
invés de se limitarem ao vocabulário existente em alguns livros, é outra forma
de enfatizar que cabe a eles o ato de conhecer.
Longe de dificultar a aprendizagem, tais procedimentos desenvolvem e va-
lorizam a inteligência dos alunos, fazendo-os se sentir pensantes, produtivos,
capazes de compreender, reproduzir, e até mesmo refazer, na forma de textos,
uma certa lógica da história. Os primeiros textos, redigidos sob a orientação do
professor, são o primeiro ponto de chegada, que se tornará novo ponto de partida
quando os alunos sentirem-se em condições de escrever com mais autonomia, já
tendo assimilado os conceitos necessários, já estando mais familiarizados com o
texto histórico e, estimulados pelo professor, cada vez mais aptos a fazerem suas
próprias deduções, seus questionamentos à própria História etc.
“Escrever para aprender”, lembra Gisele de Carvalho, que assim recupera
algumas das grandes tarefas do educador: “Se [...] escrever significa registrar os
caminhos da reflexão, parece que nós, professores, independentemente da ma-
téria que ensinamos, temos uma tarefa em comum [...]: se todos nós, de uma
forma ou de outra, ensinamos a pensar, logo todos nós ensinamos a escrever...”.

XXIII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 23 29/08/22 17:50


Admiramos hoje a desenvoltura com que os jovens manejam seus computa-
dores, navegam nesses mares antes inimagináveis da Internet, criam seus blogs,
repaginam-se permanentemente, enviam e recebem mensagens em tempo real
(usando uma língua um tanto estranha, é bem verdade!).
Aparentemente nenhum mistério os detém, e eles nos dão demonstrações
diárias de habilidade, curiosidade, criatividade. Nosso desafio, prepará-los nessa
era planetária para a grande aventura do conhecimento e da lucidez, talvez seja
mais fácil de superar do que pensamos.
RIBEIRO, Marcus Venicio. Não basta ensinar história.
Nossa História, Rio de Janeiro, ano 1, n. 6, p. 76-78. abr. 2004.

Texto 3
O texto a seguir é de Fernando Seffner, mestre em Sociologia e doutor em Educação pela UFRGS.

O que se espera que o aluno escreva em história?


A leitura e a escrita de textos históricos devem levar em conta a necessidade
de explicação e utilização de conceitos. Conceitos entendidos aqui como ferramen-
tas de análise, e como possibilidade de universalizar uma discussão. Trabalhamos
em história sempre com a análise de situações determinadas. Discutir a qualidade
da escrita histórica envolve analisar os recursos conceituais utilizados, as fontes
consultadas, a problemática construída, as questões propostas e o estilo narrativo.
Digamos que a situação em estudo seja o 31 de março de 1964 no Brasil. O
professor seleciona questões e prepara atividades de leitura sobre o tema, a partir
de trechos de livros didáticos, notícias de jornais da época, depoimentos colhidos
pelos alunos com seus pais, parentes e vizinhos, observação e descrição de fotos
e imagens do movimento militar, trechos de discursos e outras falas de época e
trechos de filmes que transitam por este acontecimento. Enriquecida a discussão
com essa variedade de material, o professor busca com os alunos os conceitos que
melhor podem expressar a análise do período estudado. Nesse caso, uma possi-
bilidade seria trabalhar os conceitos de mudança e permanência (o que deveria
mudar, na opinião de cada um dos grupos envolvidos no episódio? O que deveria
permanecer como estava, na opinião de cada um dos grupos envolvidos?), e os
conceitos de golpe militar, revolução e contrarrevolução.
Finalizando a discussão, o professor pode propor a cada aluno uma produção
escrita, analisando a situação estudada. Essa análise deve ser feita a partir dos con-
ceitos estudados e questões discutidas. Uma boa proposta é pedir ao aluno que rela-
cione o 31 de março de 1964 com outros episódios da história brasileira, nomeados
como revolução ou golpe, nos quais também houve um tensionamento entre grupos
que propunham mudanças ou permanências na estrutura política brasileira. Dessa
maneira, a escrita de textos de análise histórica pelo aluno possibilita operar com
conceitos que permitem a comparação entre características de diferentes períodos
históricos.
Ler é compreender o mundo, e escrever é buscar intervir na sua modificação. Ao
pedir que o aluno escreva um texto de análise histórica, estaremos sempre buscando
extrair dele uma posição frente à discussão. Portanto, estamos trabalhando no senti-
do de que cada aluno desenvolva uma capacidade argumentativa própria, utilizando
conceitos claros, num ambiente democrático de troca de ideias e convívio de opiniões
diferenciadas. Isso colabora para a formação da identidade política de cada aluno. O
que não podemos permitir é que as atividades de leitura e escrita na aula de história
se transformem num ritual burocrático, em que o aluno lê sem poder discutir, res-

XXIV

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 24 29/08/22 17:50


ponde questionários mecanicamente e escreve texto buscando concordar com o pro-
fessor para ter sua boa nota assegurada. Aqui, vale parodiar a frase de Dante Alighie-
ri, ao descrever as diferentes partes do inferno: “os níveis mais baixos do inferno estão
reservados para aqueles que, em tempos de crise moral, se mantiveram neutros ou
indiferentes”. Temos que lutar para a construção de uma postura crítica e filosófica
frente aos textos, fugindo da leitura instrumental ou dogmática, que termina sempre
em “decoreba”. Uma postura que exija do aluno leitor uma posição, uma opinião fun-
damentada. Buscamos formar alunos que elaborem seu projeto de vida, posicionan-
do-se frente às questões polêmicas da vida social, construindo alternativas políticas
viáveis e manifestando com clareza e argumentação coerente suas opiniões. [...]
SEFFNER, Fernando. Leitura e escrita na história. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt et al. (org.).
Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 9. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011. p. 119-120.

2.6 A CONTRIBUIÇÃO DA HISTÓRIA PARA A FORMAÇÃO


DE LEITORES/ESCRITORES
O desenvolvimento da competência leitora e escritora é responsabilidade de todas as áreas de conheci-
mento e não somente da área de Língua Portuguesa. A História, importante ciência humana, pode e deve
dar uma contribuição decisiva nesse processo, e uma das condições para isso é o trabalho planejado com di-
ferentes tipos de textos e com uma diversidade de linguagens (cinematográfica, fotográfica, pictórica, a dos
quadrinhos, a do desenho, a da charge, entre outras).
Boa parte do que os alunos aprendem em História na escola é resultado da leitura (de textos e imagens), daí
a importância de familiarizá-los também com os procedimentos de leitura, específicos e diferenciados, adequa-
dos a cada um desses registros. Sem adentrarmos na discussão teórica sobre o assunto, é importante lembrar
que imagem e texto possuem estatutos diferentes e demandam tratamentos e abordagens diferenciadas.
Sabendo-se que a leitura possibilita o acesso a conteúdos e conceitos históricos, a tarefa de ensinar a ler e escre-
ver deve ser vista como parte integrante da disciplina de História durante o Ensino Fundamental – Anos Finais. Ao
receberem um tratamento adequado, os textos e as imagens deixam de servir só para ilustrar ou exemplificar um
determinado tema e passam a ser materiais a serem interrogados, confrontados, comparados e contextualizados.
Com esse objetivo, estimulamos a leitura de diferentes gêneros de texto e exploramos de forma sistemática
a leitura e interpretação de imagens fixas. Além disso, incentivamos a escrita, inclusive porque ler e escrever são
competências interdependentes e complementares. Daí termos usado na obra textos historiográficos, históricos,
literários, oficiais, biográficos, científicos, depoimentos, entrevistas, notícias, obras de arte, fotografia, desenho,
charges, caricaturas, tiras de quadrinhos, mapas, gráficos, tabelas, cartazes de propaganda, entre outros.
Mas somente o trabalho sistemático e planejado permite aos alunos, como leitores e escritores, com a
mediação do professor, conquistar autonomia para ler e contextualizar textos e imagens.

2.7 A CONTRIBUIÇÃO DA HISTÓRIA PARA A PROMOÇÃO


DA CIDADANIA
Como vimos, com base na reflexão de Jaime Pinsky (2003), o termo “cidadania” pode ser definido como
condição de quem possui direitos civis, políticos e sociais. Para uma maior compreensão do conceito e da
prática da cidadania na história recente do Brasil, vamos apresentar, de modo breve, uma importante expe-
riência cidadã da nossa história: a luta do Movimento Negro pela inserção da África nos currículos escolares.

XXV

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 25 30/08/22 17:24


2.7.1 • Por que estudar a temática afro e a temática indígena?
Desde 1981, o mais destacado dos movimentos sociais de defesa dos direitos das populações negras
no Brasil já reivindicava a inserção da História da África e dos afro-brasileiros nos currículos escolares, o
que, por si só, evidencia sua importância nas conquistas posteriores envolvendo legislação e Estado. Nas
décadas seguintes, o Movimento Negro manteve-se ativo e, juntamente com seus aliados da sociedade ci-
vil, conseguiu uma grande conquista em 2003, quando, coroando uma luta de décadas, foi promulgada a
lei no 10.639/2003, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileiras.
A lei no 11.645/2008 modificou a lei no 10.639/2003 e acrescentou a obrigatoriedade de também se estu-
dar história e cultura dos povos indígenas no Ensino Fundamental e Médio das escolas públicas e particulares.
Então, perguntamos nós, é por obediência à lei que se deve estudar a temática afro e a temática indígena?
Não só, pois, além de obedecer à lei e contribuir, assim, para a construção da cidadania, há razões para
se trabalhar a temática afro e a indígena na escola que merecem ser explicitadas, a saber:
a) o estudo da matriz afro e indígena é fundamental à construção de identidades;
b) esse trabalho atende a uma antiga reivindicação dos movimentos indígenas e dos movimentos negros: “o
direito à história”;
c) o estudo dessas temáticas contribui para a educação voltada à tolerância e ao respeito ao “outro” e, as-
sim sendo, é indispensável a toda população brasileira, seja ela indígena, afro-brasileira ou não.
Cabe lembrar também que a população indígena (817 mil pessoas), segundo o Censo do IBGE (2010),
vem crescendo e continua lutando em defesa de seus direitos à cidadania plena. Já os afro-brasileiros (par-
dos e pretos, segundo o IBGE) constituem cerca de metade da população brasileira. Além disso, todos os
brasileiros, independentemente da cor ou da origem, têm o direito e a necessidade de conhecer a diversida-
de étnico-cultural existente no território nacional. Sobre esse assunto, o historiador Itamar Freitas disse:

Em síntese, nossos filhos e alunos têm o direito de saber que as pessoas são
diferentes. Que o mundo é plural e a cultura é diversa. Que essa diversidade deve
ser conhecida, respeitada e valorizada. E mais, que a diferença e a diversidade
são benéficas para a convivência das pessoas, a manutenção da democracia, e a
sobrevivência da espécie. [...]
FREITAS, Itamar. A experiência indígena no ensino de História. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.).
História: ensino fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação: Secretaria de Educação Básica, 2010.
(Explorando o ensino, v. 21, p. 161).

2.7.2 • Festival Afro-Arte: expressões culturais Afro-brasileiras


no ambiente escolar
Apresentamos, a seguir, uma ação pedagógica implementada no âmbito do Festival Afro-Arte, realizado anu-
almente desde 2010 nas escolas do município de Maracanaú (CE). A proposta desse festival é colaborar para um
projeto pedagógico que promova o respeito à diversidade e à diferença, em perspectiva interdisciplinar.

Construir o Álbum Cultura, Memória e Identidade


O Álbum Cultura, Memória e Identidade é um mostruário da expressão cultu-
ral escolhida pelo grupo mobilizador da escola para representá-la nas próximas
etapas de seleção e participação da culminância do IX Festival Afro-Arte: Expres-
sões Culturais Afro-brasileiras no Ambiente Escolar. No álbum pode conter to-
dos e quaisquer materiais complementares úteis para uma avaliação detalhada

XXVI

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 26 29/08/22 17:50


do trabalho realizado na escola. Referimo-nos a tudo

PRISCYLA ARAUJO DE OLIVEIRA


aquilo que pode ilustrar e acrescentar informações à
experiência; tais como: as atividades desenvolvidas pe-
los alunos, registros escritos, fotográficos, registros em
vídeos, áudio e outras formas de registro que demons-
trem como é a expressão e o que a constitui, como co-
res, sons, figurino, instrumentos, objetos utilizados, o
envolvimento dos alunos e comunidade escolar.

Considerando a diversidade de expressões culturais


possíveis, não há um modelo padrão para a confecção do
álbum. Cada escola irá definir a melhor forma de docu-
mentar a expressão cultural selecionada, usando sua cria-
tividade, mas informando de modo bastante preciso como
ela é e como se apresenta na região. A ficha de identifica-
ção da expressão cultural será anexada ao álbum.
Uma das ações do
Festival Afro-Arte Para a construção do álbum (Portfólio), os passos são:
é o projeto “Saias
que contam”. • Fotografar, filmar e gravar a expressão cultural selecionada.
Fotografia de alunas • Arquivar, separadamente, as fotos, produções textuais de diversos gêneros
da rede pública (dissertação, cordel, poesias...) e gravação.
participantes desse
projeto. Maracanaú, • Selecionar o material que fará parte do álbum.
(CE), 2018. • Definir a forma de apresentação dos registros.
• Organizar o álbum de forma ordenada e lógica.
• Preencher e anexar a ficha de identidade da expressão cultural.

Monitorando e avaliando
Durante todo o processo, as ações desenvolvidas serão monitoradas e avalia-
das pelos/as participantes, podendo ser redirecionadas, sempre que necessário.
No final, uma avaliação geral também pode ser feita, para dimensionar os resul-
tados alcançados, as dificuldades, as ações futuras, os ganhos relacionados ao
trabalho desenvolvido em torno da valorização dos conhecimentos e da cultura
afro-brasileira na comunidade escolar do município.
A mobilização cultural pode se transformar em uma ação forte e poderosa
de educação das relações étnico-raciais, bem como as atividades do IX Festival
Afro-Arte no Ambiente Escolar no município de Maracanaú. É muito importante
que esta mobilização contribua para o desenvolvimento de políticas públicas que
afirme direitos historicamente negados, ao mesmo tempo em que desmobilizem
preconceitos, desigualdades e discriminação de toda ordem. Por isso, é funda-
mental que todo o processo seja documentado e o material produzido colocado
à disposição da comunidade escolar em feiras culturais nas escolas, bibliotecas
e demais lugares públicos no município, inclusive na internet.
É preciso também monitorar os efeitos gerados e dar continuidade à mobi-
lização cultural nesta proposta. Essas medidas pretendem estabelecer uma cul-
tura de respeito à diversidade de afirmação dos direitos de todas as pessoas no
Brasil, independentemente da etnia ou cor da pele.
GRANGEIRO, Ilza (coord.); BRAGA, Marigel; LIMA, Glaudia de; MIRANDA, Marcos; MURILO, Sérgio.
Guia metodológico para preparação do IX Festival Afro-Arte: expressões culturais afro-brasileiras no ambiente
escolar. Diretoria de Educação: Coordenadoria de desenvolvimento curricular: Maracanaú, 2018. p. 9-10.

XXVII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 27 29/08/22 17:50


2.8 TEXTOS DE APOIO
O objetivo desta seção é oferecer alguns textos relevantes sobre História e ensino de História.
Texto 1

O conhecimento
O conhecimento antigamente era estável, as transformações ocorriam muito
lentamente. Para obter conhecimento, o homem se dedicava a uma série de exer-
cícios mentais que se repetiam em livros, na sala de aula e no cotidiano. Podíamos
memorizar uma série de informações, aprender regras de retórica, decorar tabua-
das e seríamos reconhecidos pela comunidade como homens cultos, ponderados
nas decisões, prováveis “vencedores”. Nesse mundo marcado pela tranquilidade,
pela repetição, pelas relações sensoriais e não virtuais, nesse mundo antigo so-
brava tempo até para amar. Os ancestrais deixavam como herança modelos que
serviam de modelo para uma vida. Não era dinheiro mas gerava tranquilidade.
Existia nesse velho mundo um horizonte seguro para onde devíamos caminhar.
Hoje é assim?
Não.
Como as mudanças eram lentas, o homem podia perpetuar formas de com-
portamento, podia ensinar fórmulas, sugerir procedimentos ou ainda contar fá-
bulas exemplares. Casamento era para a vida toda, emprego público significava
segurança na velhice, diploma, um eterno seguro-desemprego.
Como cada coisa ocupava, por muito tempo, o mesmo lugar nós podíamos en-
sinar uma receita adequada para o sucesso: estude! Tenha um diploma! Vá para a
cidade! Tome Biotônico Fontoura! A relação entre expectativa e resultado era, quase,
linear.
[...]
E agora como ficam os modelos?
Primeiro, nós temos que descobrir o que são modelos. E isso representa um
longo aprendizado, tarefa para um professor.
[...]
Se não sabemos colocar o problema, observar uma situação por diferentes
ângulos, trabalhar inúmeras variáveis, estabelecer relações, discutir as premis-
sas, não encontraremos o campo da provável solução. Se não sabemos questio-
nar hipóteses também não saberemos enfrentar mudanças.
Como enfrentar a mudança?
Identificando, comparando, relacionando, traduzindo e abstraindo.
THEODORO, Janice. Educação para um mundo em transformação. In: KARNAL, Leandro (org.).
História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2016. p. 51-53.

Texto 2

O papel do professor de História


É necessário [...] que o ensino de História seja revalorizado e que os profes-
sores dessa disciplina conscientizem-se de sua responsabilidade social perante
os alunos, preocupando-se em ajudá-los a compreender e – esperarmos – a me-
lhorar o mundo em que vivem.
Para isso, é bom não confundir informação com educação. Para informar aí
estão, bem à mão, jornais e revistas, a televisão, o cinema e a internet. Sem dúvi-

XXVIII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 28 29/08/22 17:50


da que a informação chega pela mídia, mas só se transforma em conhecimento
quando devidamente organizada. E confundir informação com conhecimento tem
sido um dos grandes problemas de nossa educação... Exatamente porque a infor-
mação chega aos borbotões, por todos os sentidos, é que se torna mais importante
o papel do bom professor.
[...]
Mais do que livro, o professor precisa ter conteúdo. [...] É inadmissível um
professor que quase não lê. Se o tempo é curto, se as condições de trabalho
são precárias, se o salário é baixo, se o Estado não cumpre sua parte, discuta-
-se tudo isso nas esferas competentes e lute-se para melhorar a situação dos
docentes, em vez de usar isso tudo como desculpa para a falta de empenho
pessoal em adquirir conhecimento, entrar em contato com uma bibliografia
autorizada, conhecer novas linhas de pensamento e discutir com os colegas
estratégias para melhor operacionalizar nas salas de aula o patrimônio cultu-
ral e histórico.
[...]
Valendo-se dessas considerações, é preciso que o professor tenha claro o
que e como ensinar.

Pela volta do conteúdo nas aulas de História


O passado deve ser interrogado a partir de questões que nos inquietam no
presente (caso contrário, estudá-lo fica sem sentido). Portanto, as aulas de His-
tória serão muito melhores se conseguirem estabelecer um duplo compromisso:
com o passado e o presente.
Compromisso com o presente não significa, contudo, presentismo vulgar, ou
seja, tentar encontrar no passado justificativas para atitudes, valores e ideolo-
gias praticados no presente [...]. Significa tomar como referência questões sociais
e culturais, assim como problemáticas humanas que fazem parte de nossa vida
[...].
[...] Compromisso com o passado é pesquisar com seriedade, basear-se nos
fatos históricos, não distorcer o acontecido, como se esse fosse uma massa amor-
fa à disposição da fantasia de seu manipulador. Sem o respeito ao acontecido a
História vira ficção. Interpretar não pode ser confundido com inventar. E isso
vale tanto para fatos como para processos. [...]
Afirmações baseadas apenas em filiações ideológicas são, no mínimo, des-
prezíveis, podendo tornar-se perigosas quando, além de não verdadeiras, acabam
se tornando veículos do preconceito e da segregação. É o caso de, por exemplo,
“verdades” como “os índios não são bons trabalhadores”, “as mulheres são infe-
riores”, “os jovens são sempre revolucionários” [...].
[...] Defendemos, pois, a “volta” do conteúdo às salas de aula, da seriedade. E,
do óbvio: a tentativa de interpretação deve, necessariamente, ser precedida pelo
entendimento do texto.
[...]
Um modo mais construtivo (sem trocadilhos) seria adotar como postura de
ensino (que se quer crítico) a estratégia de abordar a História a partir de ques-
tões, temas e conceitos. [...]
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. O que e como ensinar: por uma História prazerosa e consequente.
In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.
São Paulo: Contexto, 2003. p. 22-25.

XXIX

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 29 29/08/22 17:50


Texto 3

Exploração do espaço e dos objetos


Os projetos de Educação em ambientes de museus sistematizaram uma me-
todologia cujas etapas podem ser sintetizadas em: observação, registro, exploração
e apropriação [...]. Essas etapas não precisam ser trabalhadas separadamente. É
possível realizar uma abordagem simultânea ou enfatizar um dos aspectos, o
que dependerá dos objetivos definidos, da faixa etária dos alunos e do tempo e
dos recursos disponíveis para a atividade.

Construção do conhecimento
A finalização do trabalho deve ocorrer, necessariamente, com produções dos
alunos. Nessas produções, os estudantes deverão sintetizar o processo vivenciado
e avaliar tanto a experiência como a si mesmos em relação ao desenvolvimento
da atividade. Assim, sugerimos a produção de caderno de textos, desenhos, gráfi-
cos, painéis, jornal-mural, vídeos e a organização de uma exposição com objetos
e imagens. A seguir, propomos duas atividades que podem ser realizadas em
grupos e por diferentes faixas etárias:
• Colagem com recortes de revistas e papel colorido, além de desenho e pintura
para criar uma imagem a respeito da visita da turma à exposição.
• Elaboração de uma história com os objetos da exposição que suscitaram mais
interesse.
• Em grupo: Se pudessem criar um museu, como ele seria? Sobre qual tema?
Que elementos – objetos e imagens – escolheriam para uma exposição?
ABUD, Kátia Maria. Ensino de História. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
(Coleção Ideias Em Ação, p. 141-143).

Texto 4

Visita a museu
A partir de nossa experiência como educadores de museu, gostaríamos de
apresentar alguns pontos fundamentais que devem ser levados em conta no pla-
nejamento de uma visita:
• Definir os objetivos da visita;
• Selecionar o museu mais apropriado para o tema a ser trabalhado; ou uma das
exposições apresentadas, ou parte de uma exposição, ou ainda um conjunto de
museus;
• Visitar a instituição antecipadamente até alcançar uma familiaridade com o
espaço a ser trabalhado;
• Verificar as atividades educativas oferecidas pelo museu e se elas se adéquam
aos objetivos propostos e, neste caso, adaptá-las aos próprios interesses;
• Preparar os alunos para a visita através de exercícios de observação, estudo de
conteúdos e conceitos;
• Coordenar a visita de acordo com os objetivos propostos ou participar de visita
monitorada, coordenada por educadores do museu;

XXX

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 30 29/08/22 17:50


• Elaborar formas de dar continuidade à visita quando voltar à sala de aula;
• Avaliar o processo educativo que envolveu a atividade, a fim de aperfeiçoar o
planejamento das novas visitas, em seus objetivos e escolhas.
ALMEIDA, Adriana Mortara; VASCONCELLOS, Camilo de Mello.
Por que visitar museus. In: BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula.
12. ed. São Paulo: Contexto, 2017. p. 114.

Texto 5

Orientações para o uso da internet


Se a utilidade da internet é consenso entre os educadores, os procedimentos para seu uso têm sido alvo
de acalorados debates. Uma das questões que mais têm preocupado os educadores é que, se por um lado
a internet facilita o acesso a um leque amplo de textos e imagens, por outro, pode criar o hábito de buscar
o “trabalho pronto”, usando o famoso copiar/colar/imprimir; ou seja, encerrando a pesquisa naquele que
deveria ser o seu primeiro passo. No que tange ao nosso campo de atuação, a questão pode ser resumida na
seguinte pergunta: a internet serve ao professor de História?
Sim, certamente; para isso, sugerimos alguns procedimentos.
a) Definir previamente os objetivos da pesquisa e solicitar aos alunos que, enquanto estiverem pesquisando,
não desviem a atenção da proposta inicial, entrando em salas de bate-papo ou locais para ouvir música
ou jogar.
b) Encorajar a problematização dos materiais encontrados na rede; depois de localizar os sites que tratam
de um mesmo assunto ou tema, estimular o alunado a questionar as fontes em que os sites se apoiam,
identificar as ausências de informações significativas sobre o assunto, confirmar a veracidade das infor-
mações veiculadas, e, por fim, estimular o posicionamento crítico frente às informações e análises ali
disponíveis.
c) Sugerir ao aluno que relacione os sites encontrados a outros materiais sugeridos em aula, favorecendo a
percepção de que sites, livros, revistas científicas e entrevistas são fontes complementares. Isso poderá fa-
cilitar a percepção de que um tema histórico pode ser melhor compreendido se recorrermos a diferentes
fontes e à sua crítica.
d) Alertar o alunado para o fato de que nem tudo o que está na rede é verdade e que as homepages são
por vezes muito pouco consistentes. Por isso, a indicação do tema deve vir acompanhada de perguntas
que orientem o aluno a investigar. Sugerimos, quando possível, oferecer um conjunto de sites confiáveis
sobre o assunto.
e) Incentivar os alunos a trocarem informações com colegas de outras escolas do Brasil e/ou de outros pa-
íses via redes sociais. Através delas, os alunos poderão também entrar em contato com autores, órgãos
governamentais, instituições privadas, blogues de professores, entre outros. Esse acesso a informações/
versões significativas é, com certeza, útil à educação histórica.
Assim utilizada, a internet pode ajudar os estudantes a desenvolverem competências e habilidades que
lhes permitam apreender as várias durações temporais nas quais os diferentes atores sociais desenvolveram
ou desenvolvem suas ações, condição básica para que sejam identificadas semelhanças/diferenças, mudan-
ças/permanências e dominações/resistências existentes no processo histórico.

XXXI

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 31 31/08/22 16:50


3 A BASE NACIONAL
COMUM CURRICULAR
E O CONTEXTO ATUAL
Esta coleção, que agora oferecemos à leitura, foi escrita no contexto de um amplo debate nacional em
torno da construção de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que define as aprendiza-
gens essenciais a que todos os alunos devem ter direito ao longo da Educação Básica.

3.1 A LEGISLAÇÃO QUE DÁ SUPORTE À BNCC


A BNCC está respaldada em um conjunto de marcos legais. Um deles é a Constituição Federal de 1988,
que, em seu artigo 210, já determinava que: “serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”
(BRASIL, 2016).
Outro marco é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (lei no 9.394/1996), que no inciso IV
de seu artigo 9o, afirma:
A União incumbir-se-á de: [...] estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio,
que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum.
BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, ano 131, n. 248, 23 dez. 1996.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 22 out. 2018.

A LDB determina também que as competências e diretrizes são comuns, os currículos são diversos.
Esta relação entre o básico-comum e o que é diverso está presente no artigo 26 da LDB, que diz que “os
currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio devem ter base nacional comum,
a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversifi-
cada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos”
(BRASIL, 1996).
Disto decorre que o currículo a ser construído deve, então, ser contextualizado. Entende-se por contextu-
alização: a inclusão e a valorização das diferenças regionais, ou mesmo locais, e o atendimento à diversidade
cultural3. Isso é coerente com o fato de que o foco da BNCC não é o ensino, mas a aprendizagem como es-
tratégia para impulsionar a qualidade da Educação Básica em todas as etapas e modalidades.

3
Outro marco legal em que a BNCC se apoia é na lei no 13.005 de 2014, que promulgou o Plano Nacional de Educação: BRASIL. Lei no 13.005, de 25 de junho de 2014.
Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, ano 151, n. 120-A, p. 1, 26 jun. 2014.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 22 out. 2018.

XXXII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 32 31/08/22 16:53


3.2 A BNCC E A BUSCA POR EQUIDADE
A busca por equidade na educação demanda currículos diferenciados e afinados com as inúmeras realida-
des existentes no país. A equidade leva em conta também a variedade de culturas constitutivas da identida-
de brasileira. E, além disso, reconhece a diversidade de experiências que os alunos trazem para a escola e as
diferentes maneiras que eles têm de aprender.
A busca por equidade visa também incluir grupos minoritários, como indígenas, ciganos, quilombolas e o
das pessoas que não tiveram a oportunidade de frequentar uma escola. E se compromete com alunos porta-
dores de deficiência, reconhecendo a necessidade de práticas pedagógicas inclusivas, conforme estabelecido
na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (lei no 13.146/2015).
A busca por equidade quer, enfim, propiciar igualdade de oportunidades para que todos possam ingres-
sar, aprender e permanecer na instituição escolar. Uma escola pensada e organizada com base nesse princí-
pio estará aberta à pluralidade e à diversidade, garantindo, assim, que todos possam desenvolver habilidades
e competências requeridas no mundo contemporâneo. E conseguirá acolher e estimular a permanência dos
estudantes na instituição escolar, independentemente de etnia, religião ou orientação sexual.

3.3 BNCC E CURRÍCULOS


A BNCC e os currículos estão afinados com os marcos legais citados no item 3.1 deste manual e têm papéis
complementares. E, para cumprirem tais papéis, o texto introdutório da BNCC propõe as seguintes ações:

• contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares [...];


• decidir sobre as formas de organização interdisciplinar dos componentes curri-
culares [...];
• selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas [...];
• conceber e pôr em prática situações e procedimentos para motivar e engajar os
alunos nas aprendizagens;
• construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de re-
sultado [...];
• selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didáticos e tecnológicos [...];
• criar e disponibilizar materiais e orientações para os professores [...];
• manter processos contínuos de aprendizagem sobre gestão pedagógica e curri-
cular [...];
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. p. 16-17.

A implementação da BNCC deverá levar em conta, então, os currículos elaborados por estados e mu-
nicípios, bem como por escolas. Além de incorporar essas contribuições, a BNCC recomenda contemplar
também temas relevantes para o mundo em que vivemos e dar a esses temas um tratamento interdisciplinar.
Entre esses temas, merecem especial atenção:
• Direitos das crianças e adolescentes (lei no 8.069/1990);
• Educação para o trânsito (lei no 9.503/1997);
• Estatuto do Idoso (lei no 10.741/2003);
• Preservação do meio ambiente (lei no 9.795/1999);
• Educação alimentar e nutricional (lei no 11.947/2009);
• Educação em direitos humanos (decreto no 7.037/2009).

XXXIII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 33 30/08/22 17:27


3.4 BNCC E A ELABORAÇÃO DE CURRÍCULOS
No aspecto pedagógico, os conteúdos curriculares deverão estar a serviço do desenvolvimento de com-
petências. Competência pode ser definida como possibilidade de utilizar o conhecimento em situações que
requerem sua aplicação para tomar decisões pertinentes.
Não é demais lembrar que a elaboração de currículos com base em competências está presente em gran-
de parte das reformas curriculares de diversos países do mundo. É esta também a abordagem adotada nas
avaliações internacionais da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que
coordena o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês).

3.5 O PODER TRANSFORMADOR DA EDUCAÇÃO


Por acreditarmos no poder transformador da educação, buscamos somar nossos esforços aos dos educa-
dores preocupados com igualdade, equidade, definição de aprendizagens essenciais a que todos devem ter
direito, além de respeito à diversidade e às histórias e culturas locais.
Nesse contexto, acreditamos que, se tais princípios e pressupostos pautarem a construção dos currículos
nos níveis estadual e local, vão colaborar para a formação integral do ser humano, posicionando-o como
protagonista no processo complexo de construção do conhecimento. E podem, além disso, contribuir tam-
bém para aumentar a capacidade do alunado de mobilizar esse conhecimento e aplicá-lo na busca de solu-
ções para os desafios que lhe são postos pela realidade.
Sabemos que, em educação, toda mudança é um processo longo e complexo, que envolve vários atores
sociais. Mas esperamos que esse esforço conjunto, do qual nos dispusemos a participar, empreste maior qua-
lidade à educação e ajude a equalizar oportunidades e reduzir as desigualdades hoje existentes no nosso país.

3.6 A NOSSA COLEÇÃO E A BNCC


Nesse contexto pautado por reflexão, debates e mudanças, e valendo-nos de uma experiência com a es-
crita da História acumulada ao longo dos anos, buscamos produzir materiais impressos e digitais alinhados
aos pressupostos da BNCC, tais como: respeito à pluralidade e à diversidade; busca por equidade e alinha-
mento a uma educação voltada para a inclusão.
Durante a escrita da nossa coleção didática de História, buscamos afinar a nossa sensibilidade a essas in-
tenções nas escolhas iconográficas, nas abordagens culturais e na seleção de conteúdos, oferecendo assim à
leitura uma obra capaz de contribuir efetivamente para a formação integral do ser humano, independente-
mente de sua origem ou condição social.
É um dos propósitos da nossa obra que esses princípios cheguem à carteira do aluno, de norte a sul do
país, em forma de textos, imagens e atividades escolares. E, assim, somar nossos esforços aos dos educa-
dores, pensadores e professores que, de fato, querem contribuir para a construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva.
Acreditamos que essas escolhas vão impactar positivamente a aprendizagem dos alunos. E isso não é pouco
quando se sabe que os leitores (alunos e professores) são a razão principal da nossa existência. Voltando-nos
aos nossos colegas professores, criamos o Livro do professor com orientações página a página, que incorporam
experiências e reflexões oriundas da pesquisa acadêmica e do dia a dia da sala de aula.
Por fim, vale dizer que Austrália, Chile, Reino Unido e Estados Unidos construíram e implementaram uma
base curricular nacional que tem favorecido a diminuição das discrepâncias educacionais e a melhoria da
qualidade da educação. Por que nós não havemos de conseguir?

XXXIV

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 34 29/08/22 17:50


3.7 AS 10 COMPETÊNCIAS GERAIS PROPOSTAS PELA BNCC
Alinhados à preocupação com o desenvolvimento global do estudante, elencamos a seguir as 10 competên-
cias gerais presentes na BNCC, que subsidiaram a produção da coleção de História que ora oferecemos à leitura.

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo


físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar
aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática
e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criati-
vidade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver
problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos
das diferentes áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às
mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-
-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e
escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das lin-
guagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar infor-
mações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir
sentidos que levem ao entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação
de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (in-
cluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, pro-
duzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na
vida pessoal e coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de co-
nhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias
do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e
ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e respon-
sabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular,
negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem
e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo
responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em
relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreen-
dendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros,
com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazen-
do-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com
acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus
saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer
natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, re-
siliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, de-
mocráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular:
educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. p. 9-10.

XXXV

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 35 30/08/22 17:29


3.8 TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS
E COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS
3.8.1 • Temas Contemporâneos Transversais
Os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) presentes na BNCC desafiam os estudantes a se posicio-
narem diante de questões urgentes e decisivas para seu desenvolvimento socioemocional, intelectual e en-
quanto cidadãos. Os TCTs se interligam às competências gerais e específicas e, ao mesmo tempo, estimulam
a reflexão e o debate sobre desafios do dia a dia dos estudantes, contribuindo para que desenvolvam seu
projeto de vida, e preparando-os para atuarem com consciência e autonomia na comunidade em que vivem.
Os TCTs estimulam os estudantes a refletirem e a agirem para melhorar o meio ambiente, adotarem
o consumo consciente, aprenderem a lidar com o próprio dinheiro, a cuidarem de sua saúde, com aten-
ção à alimentação, a respeitarem as regras de trânsito, a reconhecerem e valorizarem a diversidade cul-
tural existente no Brasil, e a usarem a ciência e a tecnologia para solucionar problemas e em defesa da
humanidade.
Vale dizer também que, no atual contexto, o enfrentamento desses temas por todos é necessário e ur-
gente. Daí serem chamados de contemporâneos; além disso, os TCTs podem e devem ser trabalhados por
diferentes disciplinas, daí serem chamados de transversais. Os Temas Contemporâneos Transversais não in-
tegram nenhuma área de conhecimento em especial, mas atravessam todas elas, e se conectam à realidade
dos estudantes.
Em alguns temas como, por exemplo, educação ambiental, já temos acúmulo de experiências exitosas de
trabalho interdisciplinar (Geografia, História, Ciências, entre outras), mas os 15 temas, a exemplo de ciência
e tecnologia, atravessam todos os componentes curriculares e desafiam os estudantes a encontrarem solu-
ções para problemas de âmbito comunitário, nacional e/ou mundial.
O trabalho com TCTs pode enfim contribuir para a realização de um duplo objetivo: uma educação volta-
da para cidadania e uma prática educativa que enxerga o estudante como protagonista e, portanto, no cen-
tro do processo de aprendizagem.
Na nossa obra os TCTs estão articulados a um dos modos de organização do currículo; e aparecem ao
longo dos quatros livros. Nos esforçamos para trabalhá-los de modo contextualizado e a partir de situações
vividas por diversos estudantes.

Educar e aprender são fenômenos que envolvem todas as dimensões do ser


humano e, quando isso deixa de acontecer, produz alienação e perda do senti-
do social e individual no viver. É preciso superar as formas de fragmentação do
processo pedagógico em que os conteúdos não se relacionam, não se integram e
não se interagem.
Nesse sentido, os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) têm a condição
de explicitar a ligação entre os diferentes componentes curriculares de forma inte-
grada, bem como de fazer sua conexão com situações vivenciadas pelos estudantes
em suas realidades, contribuindo para trazer contexto e contemporaneidade aos
objetos do conhecimento descritos na Base Nacional Curricular Comum (BNCC).
BRASIL. Ministério da Educação. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC. Brasília, DF: MEC, 2019, p. 6.

Os Temas Contemporâneos Transversais são em número de 15 e estão agrupados em seis macroáreas


temáticas (meio ambiente, economia, saúde, cidadania e civismo, multiculturalismo, ciência e tecnologia),
como pode ser observado no organograma a seguir.

XXXVI

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 36 31/08/22 16:54


MEIO AMBIENTE
Educação Ambiental
Educação para o Consumo
ECONOMIA

EDITORIA DE ARTE
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Trabalho
Ciência e Tecnologia
Educação Financeira
Educação Fiscal
Temas
MULTICULTURALISMO Contemporâneos
Diversidade Cultural Transversais na BNCC SAÚDE
Educação para valorização
Saúde
do multiculturalismo nas
matrizes históricas e Educação Alimentar
culturais Brasileiras e Nutricional
CIDADANIA E CIVISMO
Vida Familiar e Social
Educação para o Trânsito
Educação em Direitos Humanos
Direitos da Criança
e do Adolescente
Processo de envelhecimento,
respeito e valorização do Idoso

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC. Brasília, DF: MEC, 2019, p. 7.

3.8.2 • Competências socioemocionais


Alguns TCTs referem-se a vida socioemocional dos estudantes, razão pela qual deve haver espaço para que
possam ser discutidos, principalmente no que tange às relações interpessoais e às diferentes realidades exis-
tentes dentro das comunidades escolares. O trabalho com esses temas, tais como saúde e educação para o
consumo, favorece o desenvolvimento das competências socioemocionais, colabora para a saúde mental dos
estudantes e para o combate ao bullying, promovendo também a cultura de paz na escola e na sociedade.
A BNCC valoriza as competências socioemocionais, listamos a seguir algumas que consideramos relevan-
tes para o trabalho com estudantes de diferentes perfis.
Autoconsciência
Envolve o conhecimento de cada pessoa, bem como de suas forças e limitações,
sempre mantendo uma atitude otimista e voltada para o crescimento.
Autogestão
Relaciona-se ao gerenciamento eficiente do estresse, ao controle de impulsos e
à definição de metas.
Consciência social
Necessita do exercício da empatia, do colocar-se “no lugar dos outros”, respeitan-
do a diversidade.
Habilidades de relacionamento
Relacionam-se com as habilidades de ouvir com empatia, falar clara e objetiva-
mente, cooperar com os demais, resistir à pressão social inadequada (ao bullying,
por exemplo), solucionar conflitos de modo construtivo e respeitoso, bem como
auxiliar o outro quando for o caso.
Tomada de decisão responsável
Preconiza as escolhas pessoais e as interações sociais de acordo com as normas,
os cuidados com a segurança e os padrões éticos de uma sociedade.
BRASIL. Ministério da Educação. Competências socioemocionais como fator de proteção à saúde mental e ao
bullying. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, [20--]. Disponível em: http://basenacionalcomum.
mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofundamentos/195-competencias-socioemocionais-
como-fator-de-protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying. Acesso em: 2 ago. 2022.

XXXVII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 37 30/08/22 17:31


3.9 O TRABALHO DOCENTE E A CULTURA DIGITAL

3.9.1 • Aprendizagem e protagonismo do estudante


A metodologia educacional que se propõe ativa entende os estudantes enquanto protagonistas da apren-
dizagem, com consequente mudança na forma como vivenciam esse processo e como se posicionam diante
dele. Em uma postura ativa, os estudantes experimentam novas formas de se relacionar com a aprendiza-
gem, desenvolvendo autonomia e responsabilidade a partir do entendimento da aplicabilidade social do que
se aprende.
Leia o que diz o professor José Moran:

Num sentido amplo, toda a aprendizagem é ativa em algum grau, porque


exige do aprendiz e do docente formas diferentes de movimentação interna e
externa, de motivação, seleção, interpretação, comparação, avaliação, aplicação.
[...] Se queremos que os alunos sejam proativos, precisamos adotar metodo-
logias em que os alunos se envolvam em atividades cada vez mais complexas,
em que tenham que tomar decisões e avaliar os resultados, com apoio de ma-
teriais relevantes. Se queremos que sejam criativos, eles precisam experimentar
inúmeras novas possibilidades de mostrar sua iniciativa.
As metodologias ativas são caminhos para avançar mais no conhecimento
profundo, nas competências socioemocionais e em novas práticas. [...] A apren-
dizagem é mais significativa quando motivamos os alunos intimamente, quando
eles acham sentido nas atividades que propomos, quando consultamos suas mo-
tivações profundas, quando se engajam em projetos em que trazem contribui-
ções, quando há diálogo sobre as atividades e a forma de realizá-las.
Além da mobilidade, há avanços nas ciências cognitivas: aprendemos de
formas diferentes e em ritmos diferentes e temos ferramentas mais adequadas
para monitorar esses avanços. [...]
O papel do professor é ajudar os alunos a ir além de onde conseguiriam
fazê-lo sozinhos.
MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. José Moran: educação
transformadora. São Paulo, c2018. Disponível em: https://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/
metodologias_moran1.pdf. Acesso em: 18 ago. 2022.

Tendo como pressuposto a garantia de atender às necessidades e aos interesses dos jovens estudantes em
relação a um processo de aprendizagem integral, onde a educação percorra caminhos indispensáveis para a
formação do aluno enquanto cidadão, a BNCC preconiza que as escolas devem:

garantir o protagonismo dos estudantes em sua aprendizagem e o desenvol-


vimento de suas capacidades de abstração, reflexão, interpretação, proposição e
ação, essenciais à sua autonomia pessoal, profissional, intelectual e política.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. p. 465.

Os pressupostos apresentados pela BNCC dialogam com o pensamento expresso por diversos autores ao
compreender o indivíduo em sua totalidade, o que necessariamente inclui o contexto no qual está inserido.
Para que sejam alcançados esses objetivos, as metodologias ativas, ainda que não sejam fechadas em estru-
turas preconcebidas, se sustentam em pilares educacionais, tais como: centralização do processo de aprendi-
zagem no estudante; estímulo à autonomia; criação de espaços nos quais se desenvolvam problematizações e
reflexões acerca da realidade e desenvolvimento da produção do conhecimento de forma individual e coletiva.
Uma educação que privilegie a autonomia dos estudantes, garantindo o protagonismo no processo de
aprendizagem, portanto, deve incluir metodologias que atendam a essa demanda, com materiais relevantes,
assuntos contemporâneos e que conversem com a realidade dos estudantes, colocando-os em posições de

XXXVIII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 38 31/08/22 16:59


atuar na resolução de problemas, refletir, tomar decisões, trabalhar de forma coletiva e avaliar os resulta-
dos, buscando o aprofundamento do conhecimento produzido.
Nessa abordagem, é privilegiada a construção coletiva do conhecimento, mediante as interações entre os
diferentes atores que participam do processo de aprendizagem e com o assunto estudado, com práticas que
envolvem a escuta, mas também as discussões, exposições, trocas e questionamentos. Esses procedimentos,
com a mediação do professor, favorecem inclusive o trabalho com estudantes que possam ter diferenças sig-
nificativas de formação. O estudante, em ambiente que tenha a metodologia ativa como norteadora, se apro-
pria dos conhecimentos, compreendendo as possibilidades e as situações de utilização, diante da articulação
que estabelece entre a sua própria vivência, a escola, a comunidade e a sociedade em diferentes escalas. A
partir dessa abordagem, além do engajamento dos estudantes aos conteúdos trabalhados, ao aprimoramente
de habilidades, atitudes e valores, as metodologias ativas contribuem para o desenvolvimento das competên-
cias socioemocionais, criando espaços para que reflitam sobre o lugar que ocupam no mundo e tenham a
suas vivências e saberes socioculturais valorizados na produção do conhecimento científico.
Esta coleção valoriza o protagonismo dos estudantes, a diversidade das culturas juvenis e oportuniza o
trabalho com as metodologias ativas. Nesse sentido, a seção #Jovens na História merece especial atenção,
uma vez que ela propõe o uso de diferentes estratégias, entre as quais podemos destacar:
• revisão bibliográfica (Estado da Arte);
• análise documental (sensibilização para análise de discurso);
• construção e uso de questionários;
• estudo de recepção (de obras de arte e de produtos da indústria cultural);
• observação, tomada de nota e construção de relatórios;
• entrevistas;
• análise de mídias sociais (análise das métricas das mídias e sensibilização para análise de discurso multimodal).

3.9.2 • O trabalho docente


As possibilidades abertas por uma proposta didática-pedagógica centrada na aprendizagem não retiram
a importância do professor, mas promovem um deslocamento, o professor deixa de ser aquele que transfere
conhecimento e passa a ser o mediador, incentivando os estudantes a construírem conhecimento.
Em uma metodologia que se pretende ativa, o professor atua como facilitador e orientador do processo
de aprendizagem, superando o antigo papel de provedor único de informação e conhecimento. O trabalho
do professor também está pautado no planejamento do processo de ensino e aprendizagem, de modo a
proporcionar as condições necessárias para que ele se efetive.
Assim, antes que sejam definidos os métodos e as técnicas aplicados no desenvolvimento da aprendiza-
gem, o professor deve considerar os diferentes contextos que envolvem o grupo escolar, a fim de criar meios
que integrem e alcancem as diferentes realidades. A partir de situações que dialoguem com o universo do
estudante, o saber escolar não se resume à reprodução do conteúdo, mas envolve levar o estudante a apre-
ender também o processo de produção do conhecimento.
As metodologias ativas não se valem de propostas de avaliação mecânicas e repetitivas, mas das que se
apoiam na ação dos estudantes. No caso da História, esses vão produzir conhecimento histórico escolar a
partir de roteiros elaborados e/ou orientados pelo professor.
Espera-se que as propostas valorizem a ação dos estudantes a partir de problemáticas reais, que passem
pela discussão de valores universais, como empatia, respeito e equidade, processos investigativos e de refle-
xão, possibilidade de explorar diferentes fontes de conhecimento, dados e informações, além de variadas
linguagens, incluindo os meios digitais e artísticos, alternando trabalhos individuais e de construção coletiva.
Para que seja possível aplicar metodologias ativas de aprendizagem, é preciso que sejam fornecidos os
meios para os estudantes desenvolverem as competências gerais e específicas. Nesse contexto, o planeja-
mento do docente diante da metodologia aplicada se faz ainda mais necessário, já que, para alcançar os re-
sultados esperados, devem ser elaboradas estratégias didáticas contextualizadas e intencionais, objetivando
acelerar o processo centrado na aprendizagem.

XXXIX

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 39 31/08/22 21:27


O método envolve a construção de situações de ensino que promovam uma
aproximação crítica do aluno com a realidade; a opção por problemas que geram
curiosidade e desafio; a disponibilização de recursos para pesquisar problemas e so-
luções; bem como a identificação de soluções hipotéticas mais adequadas à situação
e a aplicação dessas soluções. Além disso, o aluno deve realizar tarefas que requeiram
processos mentais complexos, como análise, síntese, dedução, generalização.
MEDEIROS, Amanda Andrade de; MENDES, Ana Clara Manhães. Módulo 3: Metodologias ativas de ensino-
-aprendizagem: projetos, problematização e o lúdico. In: OLIVEIRA, Cynthia Bisinoto Evangelista de (org.).
Docência na socioeducação. Brasília: Universidade de Brasília, Campus Planaltina, 2014. p. 323.

O planejamento, no sentindo mais amplo, não trata apenas das atividades a serem propostas, mas da
contextualização e da compreensão da heterogeneidade dos estudantes, considerando os anseios próprios
dessa etapa da vida e seus projetos de vida. O planejamento de metodologias ativas, portanto, passa por
criar espaços de valorização das diferentes competências e formas de aprendizagem para que as relações
com o saber científico possam ser estabelecidas. Assim, o conteúdo é apreendido e aplicado na formação
cidadã e autônoma, preparando o estudante para ser um agente de transformação social.

3.9.3 • A cultura digital


A ampliação do acesso aos recursos digitais, ocorrida nas últimas décadas, é um dos fatores que mais têm
modificado a interação entre as pessoas. O uso de celulares e computadores e a interconexão proporcionada
pela internet transformaram significativamente as práticas sociais nos mais diversos campos da atividade hu-
mana e permitiram a interação entre pessoas e entre pessoas e máquinas.
Extremamente atual e necessário, o ensino-aprendizagem no campo das Tecnologias Digitais da Informa-
ção e Comunicação (TDICs) deve ser fomentado e trabalhado no contexto escolar, uma vez que o domínio
de seus usos instrumentaliza os estudantes não só para sua aprendizagem na escola, mas também para sua
atuação no contexto social.
A atividade escolar sobre o uso de tecnologias digitais, unida às experiências prévias dos estudantes sobre o
tema, possibilita o desenvolvimento de habilidades voltadas a uma participação consciente e democrática dos
estudantes na sociedade por meio da comunicação digital, assim como a reflexão sobre os fundamentos das
TDICs e sobre aspectos relacionados à comunicação de dados e à segurança de rede, por exemplo. As tecnolo-
gias digitais são ferramentas que possibilitam o diálogo entre os diversos componentes curriculares e entre as
áreas de conhecimento, por meio da realização de pesquisas, do planejamento para a apresentação de traba-
lhos e da partilha de informações, favorecendo as interações com o mundo virtual e globalizado que nos cerca.
Com relação às práticas e ao uso de recursos digitais, é função dos profissionais da Educação, entre eles
professores, gestores, funcionários de escola, elaboradores de políticas educacionais e fornecedores de pro-
dutos e serviços educacionais, estimular a escola a valorizar a construção de conhecimento fundamentada
em valores éticos e democráticos, inclusive quanto ao acesso à informação e às práticas multimidiáticas de
expressão de valores e manifestações culturais de maneira crítica e responsável.
Isso ocorre pelo fato de os recursos tecnológicos permitirem a análise, a produção, a avaliação e o com-
partilhamento de informações em tempos e espaços distintos daqueles que estão naturalizados no interior
das escolas. Então, ao serem integrados às práticas pedagógicas, permitem a ampliação do universo cultural,
social e de conhecimento dos estudantes.
Esta coleção também abre terreno para o pensamento computacional, que leva ao desenvolvimento
de competências e habilidades específicas associadas à identificação de padrões, à abstração, à visualização
e à generalização. No desenvolvimento de propostas pelas metodologias ativas, o pensamento computacio-
nal conecta-se ao desenvolvimento do pensamento lógico e do pensamento algébrico (tal como previsto na
BNCC), e por isso sua prática não deve ser entendida como uma preparação dos jovens para trabalhar com
computação, mas como uma forma de lidar com problemas que demandam a capacidade de analisar e or-
ganizar logicamente as informações para, posteriormente, resolvê-los de modo eficiente.

XL

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 40 31/08/22 16:59


4 AVALIAÇÃO

Sabe-se que o processo de construção do conhecimento é dinâmico e não linear, assim, avaliar a aprendi-
zagem implica avaliar também o ensino oferecido. É importante que toda a avaliação esteja relacionada aos
objetivos propostos e, para atingi-los, é indispensável que os alunos aprendam mais e melhor. Assim sendo,
os resultados de uma avaliação devem servir para reorientar a prática educacional e nunca como um meio
de estigmatizar os alunos.
Para pensar a avaliação, cuja importância é decisiva no processo de ensino-aprendizagem, lançamos mão
das reflexões de César Coll e dos PCN. Para César Coll, a avaliação pode ser definida como uma série de atu-
ações que devem cumprir duas funções básicas:
• diagnosticar – ou seja, identificar o tipo de ajuda pedagógica que será oferecida aos alunos e ajustá-la
progressivamente às características e às necessidades deles.
• controlar – ou seja, verificar se os objetivos foram ou não alcançados (ou até que ponto o foram).
Para diagnosticar e controlar o processo educativo, César Coll recomenda o uso de três tipos de avaliação.

  Avaliação Inicial Avaliação Formativa Avaliação Somatória

Os tipos e graus de
Os esquemas de conhecimento Os progressos, dificuldades, aprendizagem que estipulam
Como avaliar? relevantes para o novo material bloqueios etc., que marcam os objetivos (finais, de nível
ou situação de aprendizagem. o processo de aprendizagem. ou didáticos) a propósito
dos conteúdos selecionados.

No início de uma nova Durante o processo No final de uma etapa


Quando avaliar?
fase de aprendizagem. de aprendizagem. de aprendizagem.

Consulta e interpretação do
Observação sistemática e Observação, registro e
histórico escolar do aluno.
pautada do processo de interpretação das respostas
Registro e interpretação das
aprendizagem. Registro das e comportamentos dos alunos
O que avaliar? respostas e comportamentos
observações em planilhas a perguntas e situações
dos alunos ante perguntas e
de acompanhamento. que exigem a utilização dos
situações relativas ao novo
Interpretação das observações. conteúdos aprendidos.
material de aprendizagem.
COLL, César. Psicologia e currículo. 3. ed. São Paulo: Ática, 1998. (Série Fundamentos, p. 151).

A avaliação inicial busca verificar os conhecimentos prévios dos alunos e possibilita a eles a tomada de
consciência de suas limitações (imprecisões e contradições dos seus esquemas de conhecimento) e da neces-
sidade de superá-las.
A avaliação formativa visa avaliar o processo de aprendizagem. A avaliação formativa pode ser feita por
meio da observação sistemática do aluno, com a ajuda de planilhas de acompanhamento (ficha ou instru-
mento equivalente em que se registram informações úteis ao acompanhamento do processo). Cada profes-
sor deve adequar a planilha de acompanhamento às suas necessidades.

XLI

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 41 29/08/22 17:50


A avaliação somatória procura medir os resultados da aprendizagem dos alunos, confrontando-os com
os objetivos que estão na origem da intervenção pedagógica, a fim de verificar se estes foram ou não alcan-
çados ou até que ponto o foram.
Note-se que os três tipos de avaliação estão interligados e são complementares. Por meio deles o pro-
fessor colhe elementos para planejar; o aluno toma consciência de suas conquistas, dificuldades e possibili-
dades; a escola identifica os aspectos das ações educacionais que necessitam de maior apoio. A avaliação,
portanto, deve visar ao processo educativo como um todo, e não ao êxito ou fracasso dos alunos.
Oferecemos para leitura um texto sobre metacognição, conceito que nos auxilia a pensar de que forma
as progressões de conteúdo nos capítulos, unidades e anos podem ser avaliadas durante o ciclo do Ensino
Fundamental – Anos Finais.

A metacognição
Deve ser ressaltada a importância do trabalho com a metacognição, o qual
consiste, fundamentalmente, no processo de autorreflexão por parte do aluno
acerca da relação que estabeleceu com os conteúdos específicos de cada unida-
de ou capítulo. O objetivo da metacognição é que o aluno seja capaz de identi-
ficar o que aprendeu, comparando com o que já sabia, informando o que consi-
derou mais significativo na aprendizagem, além de destacar os pontos mais ou
menos positivos.

Elementos históricos Indicadores de compreensão pelo aluno


Tem experiências no estabelecimento de limites históricos, como antes de Cristo e
depois de Cristo, geração, década e século. É capaz de: estabelecer sequência de datas
Cronologia
e períodos; determinar sequência de objetos e imagens; relacionar acontecimentos com
uma cronologia.
É capaz de compreender tipos de testemunho que o historiador utiliza. Distingue fontes
primárias de fontes secundárias. É consciente da necessidade de ser crítico na análise de
Testemunhos
documento. Tem consciência de como os historiadores empregam os testemunhos para
chegar a uma explicação do passado.
Linguagem Compreende o significado de determinadas palavras num contexto histórico.
Estabelece comparações simples entre passado e presente com referência a uma
Semelhança e diferença
diversidade de períodos, culturas e contextos sociais.
Entende que a História é tanto um estudo da continuidade como da mudança.
Continuidade e mudança Compreende que um acontecimento histórico pode responder a uma multiplicidade de
causas.
É capaz de se identificar com pessoas que viveram no passado e cujas opiniões, atitudes,
Identificação cultura e perspectiva temporal são diferentes das suas.

O desenvolvimento de múltiplas e diferentes atividades de avaliação pode


substituir a antiga prática de avaliar apenas a memorização do conteúdo com
testes. Entre as atividades sugeridas para avaliação em História, podem ser ci-
tadas:
• atividades realizadas em sala de aula – trata-se de avaliar diariamente, se pos-
sível, a participação e o esforço do aluno em sala de aula. Nesse caso, incluem-
-se os trabalhos produzidos individualmente ou em grupo, os quais são apre-
sentados em sala de aula, seja oralmente, seja por escrito.

XLII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 42 29/08/22 17:50


• atividades que indiquem capacidades de síntese e redação – nesse caso, são
definidos, essencialmente, os aspectos formativos dos critérios, ou seja, a capa-
cidade do aluno para organizar e produzir sua narrativa histórica.
• atividades que expressem o domínio do conteúdo – trata-se de verificar a ca-
pacidade do aluno de comunicar o conteúdo que domina e o grau em que de-
sempenha essa comunicação.
• atividades que expressem a aprendizagem – procura-se, aqui, analisar o desen-
volvimento das capacidades cognitivas do aluno. Por exemplo, quando a pro-
posta de avaliação se referir a um tema tratado no curso, pode ser solicitado
ao aluno que:
• faça uma apresentação o mais geral possível do tema, a qual pode ser empre-
gada para avaliar sua capacidade de explicação e conceituação;
• referencie o tema estudado do ponto de vista temporal, aplicando noções de
tempo como duração, sucessão e simultaneidade;
• faça uma análise do tema proposto, partindo de questões mais gerais para ou-
tras mais específicas e avaliando o estabelecimento de relações de causalidade.
• atividades que explicitem procedimentos – trata-se de evidenciar procedimentos
como aqueles que permitem verificar se o aluno adquiriu a capacidade de lei-
tura de linguagens contemporâneas, como o cinema, a fotografia e a televisão.
Essa perspectiva de avaliação permite, inclusive, que se analise a capacidade
do aluno para lidar com os processos de produção do conhecimento histórico.
Trata-se, por exemplo, de avaliar se ele compreende um documento, ou seja,
se ele sabe identificar tipos de documento, explicar seus conteúdos, analisar a
forma como o documento apresenta o tema, elaborar questões baseadas no do-
cumento, sugerir outras fontes ou documentos que possam ser utilizados para
complementar o tema e elaborar conclusões pessoais com base nos documentos.
É importante que se construam procedimentos e estratégias para avaliar se
o aluno adquiriu conteúdos e construiu procedimentos e estratégias relativas ao
conhecimento histórico. Ademais, torna-se necessário verificar se ele aprendeu a
formular hipóteses historicamente corretas; processar fontes em função de uma
temática e segundo as hipóteses levantadas; situar e ordenar acontecimentos
em uma temporalidade histórica; levar em consideração os pontos de vista, os
sentimentos e as imagens próprias de um passado; aplicar e classificar docu-
mentos históricos segundo a natureza de cada um; usar vocabulário conceitual
adequado; e construir narrativas históricas baseadas em marcos explicativos (de
semelhanças e diferenças, de mudança e permanência, de causas e consequên-
cias, de relações de dominação e insubordinação).
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2009. p. 186-187, 189.

4.1 AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA:


O SAEB E AS CIÊNCIAS HUMANAS
Avaliações em larga escala são ferramentas potentes que fornecem um diagnóstico sobre a qualidade do
sistema educacional como um todo e contribuem para aprimorar e monitorar políticas públicas voltadas para
à qualidade e à equidade na Educação, nos âmbitos municipal, estadual, nacional e internacional.
Em âmbito nacional, uma das principais avaliações em larga escala para o Ensino Básico brasileiro é o
Sistema de Avaliação da Educação Básica, o Saeb, que foi criado em 1988 e aplicado pela primeira vez em

XLIII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 43 29/08/22 17:50


1990. O Saeb desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)
é aplicado no quinto e no nono anos do Ensino Fundamental: os estudantes respondem a itens e também a
um questionário socioeconômico, que fornece informações sobre os contextos em que eles vivem e que po-
dem estar associados ao seu desempenho. Assim sendo, o Saeb se constitui em um diagnóstico da educação
básica brasileira e de elementos que podem interferir no desempenho dos estudantes.
Com base nessas evidências, obtidas a cada dois anos, o Saeb informa os níveis de aprendizagem dos
estudantes avaliados e, a partir deles, o MEC e as secretarias estaduais e municipais de Educação podem
aprimorar e monitorar as políticas públicas visando a melhora na qualidade da educação e a diminuição das
desigualdades sociais. Vale frisar que as avaliações em larga escala, a exemplo do Saeb, permitem também
analisar a evolução do sistema educacional ao longo do tempo, de modo que se possa tomar e acompanhar
medidas para melhoria do ensino.
Em 1995, o Saeb passou por uma reestruturação metodológica para que os resultados da avaliação pudes-
sem ser comparados ao longo do tempo. Em 2005, ocorreu outra importante remodelação: o Saeb, passou a ser
composto pela Avaliação Nacional da Educação Básica, a Aneb, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar, a
Anresc, ou Prova Brasil. E, a partir de 2019, assistiu-se a outra mudança ainda: além de Língua Portuguesa e Ma-
temática, os alunos do 9º ano passam a ser avaliados também em Ciências da Natureza e Ciências Humanas.
Em Ciências Humanas, a matriz de referência do Saeb é formada por eixos temáticos e eixos cognitivos e
contempla temas como poder, direitos humanos, identidades, entre outros.
Na nossa coleção, atividades de diferentes seções estimulam o desenvolvimento de habilidades, compe-
tências e TCTs relacionadas a esses temas e a outros presentes nos objetos de conhecimento da BNCC. Com
isso, visamos colaborar para os estudantes se prepararem para as avaliações em larga escala, em âmbitos
municipal, estadual ou nacional.
E, considerando que o percurso do estudante pelo sistema de ensino é um processo que passa por dife-
rentes etapas, essas atividades todas podem ser vistas como passos preliminares na preparação para avalia-
ções em larga escala a serem enfrentadas pelos estudantes em períodos subsequentes.

4.2 ORIENTAÇÕES PARA A AVALIAÇÃO


Recomendamos que se empreguem na avaliação:
a) observação sistemática: visa trabalhar as atitudes dos alunos. Para isso, pode-se utilizar o diário de
classe ou instrumento semelhante para fazer anotações. Exemplo: você pediu que os alunos trouxessem
material sobre a questão do meio ambiente, e um aluno, cujo rendimento na prova escrita não havia sido
satisfatório, teve grande participação na execução desta tarefa; isto deverá ser levado em consideração na
avaliação daquele bimestre.
b) análise das produções dos alunos: busca estimular a competência do aluno na produção, leitura e in-
terpretação de textos e imagens. Sugerimos levar em conta toda a produção, e não apenas o resultado
de uma prova, e avaliar o desempenho em todos os trabalhos (pesquisa, relatório, história em quadri-
nhos, releitura de obras clássicas, prova etc.). Note-se que, para o aluno escrever ou desenhar bem, é ne-
cessário que ele desenvolva o hábito.
c) atividades específicas: visam estimular, sobretudo, a objetividade do aluno ao responder a um questio-
nário ou expor um tema. Exemplo de pergunta: Pode-se dizer que no dia 22 de abril de 1500 o Brasil foi
descoberto? Resposta: Não, pois as terras que hoje são o Brasil eram habitadas por milhões de indígenas
quando a esquadra de Cabral aqui chegou. Complemento da resposta: 22 de abril foi o dia em que Ca-
bral tomou posse das terras brasileiras para o rei de Portugal.
d) autoavaliação: visa ajudar o aluno a ganhar autonomia e a desenvolver a autocrítica. O aluno avalia suas
produções, bem como os critérios usados nas avaliações.

XLIV

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 44 29/08/22 17:50


5 PROJETOS DE TRABALHO
INTERDISCIPLINAR

Com o objetivo de colaborar para a aplicação de um Projeto de Trabalho Interdisciplinar na escola, elabo-
ramos: a) um texto com orientações para a confecção de um Projeto Interdisciplinar; b) um Projeto que pode
ser aplicado pelos professores, desde que adaptado à realidade da escola onde lecionam. O trabalho com
Projetos permite: superar a representação do conhecimento como algo fragmentado e distanciado das vi-
vências dos alunos; levar em conta o que acontece no mundo social e do conhecimento; receber criticamen-
te a avalanche de informações disponibilizadas pelos meios de comunicação.

5.1 O QUE É UM PROJETO DE TRABALHO?


Segundo o educador espanhol Fernando Hernández, um dos precursores do ensino por projetos, o pro-
jeto de trabalho é um percurso por um tema-problema, que favorece a análise, a interpretação e a crítica
(como contraste de pontos de vista), além de uma atitude interdisciplinar. A interdisciplinaridade pode ser
entendida como uma proposta de trabalho coletivo em que cada disciplina observa o mesmo objeto de estu-
do a partir de seus referenciais, sem, no entanto, perder suas especificidades. Como disse um estudioso:

[...] a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das trocas entre


os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de um
projeto específico de pesquisa. [...]
(JAPIASSU, 1976 apud NOGUEIRA, 2001, p. 143).

A figura a seguir é uma representação esquemática e simplificada da interdisciplinaridade.

o g r a fi a • C i ê nc i as •
• Ge Edu
lês ca
g

ção a •
ia • In

Coordenação
EDITORIA DE ARTE
Físic
stór
Hi

• Ma
uês tem
r t u g át i ca • A
rte • Po
XLV

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 45 29/08/22 17:50


Orientações para a elaboração de um Projeto
de trabalho interdisciplinar
O primeiro passo é compor uma equipe interdisciplinar que coordenará o Projeto. Essa equipe deverá
ajudar a integração e a correlação das disciplinas envolvidas, bem como o desenvolvimento das múltiplas
inteligências (MIs) dos alunos. Formada por profissionais de diferentes áreas, essa equipe deverá reunir-se
regularmente com os seguintes propósitos: delimitar o tema e definir como cada disciplina pode contribuir
para investigá-lo; estabelecer os objetivos e coordenar o processo; desafiar e apoiar os alunos, estimulando
a troca de informações entre eles e propondo novas questões; avaliar o processo e auxiliar na avaliação das
aquisições dos alunos; estimular o professor a ver-se como pesquisador e produtor do saber escolar (e não
como divulgador de um conhecimento produzido na universidade).

Etapas de um Projeto
Grosso modo, o Projeto pode ser desenvolvido em quatro etapas:
a) Escolha do tema ou objeto de estudo.
Essa escolha deve ser feita por meio de um amplo debate com os alunos, incorporando seus desejos e
interesses, pois o sucesso do Projeto dependerá, em boa parte, do envolvimento deles no processo. Para a
escolha do tema, propomos que se adotem os seguintes critérios:
1. É relevante, do ponto de vista do aluno?
2. Estimula a adoção de uma atitude investigativa?
3. Facilita o trabalho com valores e atitudes?
Sugestão: escolhido o tema, afixar uma faixa ou painel na entrada da escola com o título do Projeto,
com o objetivo de manter a comunidade externa informada e estimular sua participação.
b) Planejamento efetivo do Projeto, que inclui:
• definir as áreas de estudo. Envolver o maior número de disciplinas possível, estimulando as trocas, a inte-
gração e a correlação das disciplinas no interior do Projeto;
• delimitar o tempo requerido. O tempo poderá variar de um bimestre a um ano letivo;
• estabelecer os objetivos gerais. Os objetivos devem contemplar o estímulo à troca, à pesquisa, à recipro-
cidade, à curiosidade e ao compromisso diante do saber;
• fixar os objetivos específicos por área. Os objetivos específicos de cada disciplina devem manter relação
estreita com o tema do Projeto;
• planejar e propor ações para envolver professores, alunos e comunidade externa.
Professores: selecionar e oferecer aos professores textos científicos, jornalísticos e literários, acompanha-
dos de imagens, visando provocar a curiosidade e o interesse deles pelo tema e estimular seu posicionamen-
to frente ao assunto. Este material poderá também ser afixado em quadros situados na sala dos professores,
na sala da coordenação, na secretaria da escola. Posteriormente, então, convidá-los para trabalhar com esta
temática.
Alunos: debater o tema com os alunos em sala de aula, realizar entrevistas e coletar dados. O debate
pode ser estimulado pela visita de um palestrante ou alguém da comunidade que venha à escola falar aos
alunos sobre o tema. Podem-se também espalhar pela escola frases curtas, interrogativas e/ou reflexivas,
questionando o que se sabe sobre o tema, instigando os alunos a quererem conhecê-lo melhor.

XLVI

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 46 31/08/22 17:00


Comunidade externa: ao longo do trabalho, pedir aos alunos que elaborem cartazes e folhetos explicati-
vos à comunidade externa, mostrando a importância do tema e solicitando a participação dela no Projeto.
c) Elaborar ação de um Roteiro de Trabalho:
O Roteiro – construído coletivamente a partir das demandas dos alunos e sob a supervisão da equipe
interdisciplinar – compreende as atividades a serem desenvolvidas, deve contemplar o uso de diferentes lin-
guagens e prever atividades extraclasse. Deverá também ser flexível o suficiente para ser alterado/reelabora-
do de acordo com novos problemas colocados pela pesquisa.
d) Apresentação/exposição do Projeto:
• Exposições científicas e/ou artísticas, abertas à comunidade, onde se exibirão cartazes, vídeos, slides,
maquetes, mapas, histórias em quadrinhos, charges, tabelas, gráficos, estatísticas, fotos, textos, carti-
lhas, encenações e outros trabalhos de autoria dos alunos; apresentação oral, conduzida pelos próprios
alunos, dos trabalhos realizados por eles (individuais ou em grupo).

5.2 PROJETO DE TRABALHO INTERDISCIPLINAR

Título: Paz, Respeito e Tolerância


Em um mundo assombrado pela intolerância, pelo desrespeito entre pessoas e povos, e por diferentes
tipos de guerra, o debate sobre violência, desrespeito e intolerância torna-se decisivo para a formação de
uma cultura da paz. Partimos do suposto de que só o conhecimento e a reflexão permanente podem inspirar
atitudes de respeito e de tolerância e difundir a cultura da paz.
Como o tema é muito amplo, a escola poderá trabalhar o que considerar mais interessante ou necessário:
priorizar, por exemplo, o desrespeito e a intolerância entre pessoas e/ou etnias; ou a violência entre povos
e Estados Nacionais; as agressões dos seres humanos à flora/fauna/mares e rios. Cada um desses subtemas
pode ser transformado no tema de um novo Projeto. Seja qual for a abordagem e o recorte temático, é im-
portante historiar o tema e contextualizá-lo, levando em conta, portanto, as dimensões tempo e espaço.
Este nosso Projeto foi pensado para o Ensino Fundamental – Anos Finais. E pode ser dividido em dois mo-
mentos; num primeiro momento, os alunos dos quatro anos vão trabalhar a violência, o desrespeito e a into-
lerância na sua sala de aula, na sua escola e no seu bairro; num segundo momento, os alunos do 6º ano vão
investigar o tema no município; os do 7º ano, no âmbito do estado, os do 8º ano, no país como um todo, e
os do 9º ano, no âmbito mundial.

Equipe interdisciplinar
O Projeto deve ser coordenado por uma equipe interdisciplinar composta de 4 a 5 pessoas de diferentes
áreas, que devem atuar integrando atividades e procedimentos de modo a facilitar a troca e o diálogo entre
os envolvidos. Escolhido o tema, passa-se para a segunda etapa, isto é, o planejamento efetivo do Projeto,
que inclui:

Áreas de estudo
Neste Projeto, previu-se o trabalho para as seguintes disciplinas: História, Ciências, Educação Física, Lín-
gua Portuguesa, Arte, Matemática, Geografia, Informática, Inglês e Espanhol. O ideal é planejar ações para
envolver o máximo possível de disciplinas.

XLVII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 47 30/08/22 17:38


Tempo requerido
Um semestre ou um ano, a depender da decisão conjunta dos envolvidos.

Objetivos gerais
1. Ressaltar e estudar os casos de violência, desrespeito e intolerância nos espaços propostos pelo Projeto;
2. Favorecer atitudes de tolerância e respeito e difundir a cultura da paz tal como proposta pela ONU (Orga-
nização das Nações Unidas);
3. Questionar o uso da violência para a solução de problemas entre pessoas, povos e Estados Nacionais;
4. Conscientizar para o fato de que vivemos em uma sociedade multicultural e pluriétnica e incentivar o respei-
to pelas culturas e artes dos diferentes grupos étnicos que viveram e vivem no território onde é hoje o Brasil;
5. Conhecer e respeitar as culturas dos diferentes povos da Terra;
6. Facilitar a percepção de que é o conhecimento que favorece o respeito e a tolerância e de que não há
cultura superior à outra.

Objetivos por área de estudo


História:
• situar a violência, o desrespeito e a intolerância no tempo e no espaço;
• trabalhar os conceitos de paz, respeito, tolerância, mudanças/permanências, preconceito, discriminação
e racismo;
• estimular o repúdio a todos os tipos de preconceito (de raça, de classe, de gênero, de religião etc.).

Ciências:
• compreender a saúde como bem individual e coletivo, que deve ser promovido pela ação de diferentes
agentes;
• desenvolver o autocuidado, a autoestima e o respeito pelo próprio corpo e pelo do outro;
• reconhecer que a violência e o alto nível de estresse desencadeiam doenças, como hipertensão, síndro-
me do pânico, entre outras.

Educação Física:
• compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, como fator de integração
social e de formação da identidade;
• reconhecer a importância de atitudes pacíficas e do espírito de equipe para o crescimento individual e
coletivo durante a prática do esporte;
• participar de atividades coletivas, sendo solidário com os companheiros e cultivando o respeito ao adversário.

Língua Portuguesa:
• incentivar a leitura, a interpretação e, sobretudo, a produção de textos de diversos gêneros;
• desenvolver o trabalho com diferentes linguagens (escrita, oral, gestual, visual etc.);
• selecionar, organizar e confrontar informações textuais relevantes sobre o tema do Projeto para interpre-
tá-las e avaliá-las criticamente.

XLVIII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 48 29/08/22 17:50


Arte:
• Estimular a educação do olhar e a produção artística, pondo os alunos em contato com a arte de povos
que constituíram o que é hoje o Brasil, incentivando o alunado a se expressar por meio de desenhos,
maquetes, pinturas, esculturas, peças teatrais, criações musicais etc.

Matemática:
• Desenvolver ou acompanhar cadeias de raciocínios;
• Lidar com cálculos e números;
• Resolver problemas lógicos, produzir e interpretar tabelas e gráficos.

Geografia:
• Levantar hipóteses sobre as possíveis razões da violência no meio urbano e rural;
• Discutir a situação da flora e da fauna;
• Trabalhar os conceitos de espaço, cidade, fauna, flora, desenvolvimento sustentável e degradação am-
biental e estimular a alfabetização cartográfica.

Informática:
• Conhecer e praticar o uso da internet, como ferramenta aplicada à comunicação, à pesquisa escolar e
ao desenvolvimento do conhecimento.

Inglês/Espanhol:
• Conhecer e usar as línguas inglesa/espanhola como instrumento de acesso a informações sobre diferen-
tes culturas e grupos sociais;
• Estimular nos alunos a produção oral e escrita e a interpretação nessas duas línguas.

Roteiro de trabalho
O roteiro de trabalho proposto a seguir pode e até mesmo deve ser adaptado às necessidades de cada es-
cola. Ele contém dois tipos de atividades: parte 1: atividades destinadas a alunos de todos os anos; parte 2:
atividades diferenciadas para cada um dos anos, visando investigar, mapear e debater o tema. Durante este
processo, os alunos testarão suas hipóteses e sugerirão soluções para os problemas levantados.

5.3 PARTE 1 – ATIVIDADES DESTINADAS A TODOS OS ANOS


Áreas das Múltiplas
Disciplinas
Atividades Inteligências (MIs)
envolvidas
trabalhadas

1. Concurso de elaboração de um logotipo para o Projeto. Espacial Arte e Informática

2. Pesquisa e registro do significado dos substantivos “paz”, “respeito” Língua Portuguesa,


Linguística
e “tolerância” em português/inglês e/ou espanhol. Inglês e Espanhol

3. Reflexão individual e/ou em grupos: “Sou uma pessoa preconceituosa? Intrapessoal História e Língua
E tolerante? Por quê?”. e Linguística Portuguesa

XLIX

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 49 31/08/22 17:04


Áreas das Múltiplas
Disciplinas
Atividades Inteligências (MIs)
envolvidas
trabalhadas
4. Entrevista com alunos da classe seguidas de relatos de casos
de violência e/ou desrespeito havidos entre eles (brigas,
xingamentos, apelidos).
• As pessoas têm respeitado seu próprio corpo e o das outras
pessoas? Tem havido respeito pessoa/pessoa na sala de aula? Língua Portuguesa,
Linguística, Interpessoal
Na escola? No bairro? Ciências, História
e Naturalista
e Geografia
• O ser humano tem apresentado respeito e tolerância em
relação à fauna, à flora e ao planeta?
• Como você está contribuindo ou pode contribuir para ajudar
a melhorar a situação atual?
5. Pesquisa e tradução de textos em inglês e/ou espanhol Língua Portuguesa,
Linguística e Interpessoal
envolvendo preconceitos vivenciados ou presenciados. Inglês e Espanhol
6. Elaboração de histórias em quadrinhos sobre a prática da
violência, do desrespeito e da intolerância na atualidade.
A história pode ser feita em grupo. Um aluno faz o papel Linguística, Espacial Arte, Língua Portuguesa
de roteirista; outro, de desenhista; outro responde pelo e Naturalista e Ciências
preenchimento dos balões de fala; outro faz o papel de editor
(comenta/critica a obra, a fim de aperfeiçoá-la).
7. Coleta de dados sobre a violência no bairro/lugar onde a escola Lógico-matemática História, Geografia
está situada; organizá-los na forma de tabela. e Interpessoal e Matemática
8. Levantamento das espécies animais e vegetais que correm
Ciências e Língua
risco de extinção no Brasil; apontar as razões principais deste Naturalista e Linguística
Portuguesa
fenômeno.
9. Levantamento das indústrias mais próximas da escola
Matemática, Ciências,
causadoras de poluição do ar e/ou rios, indicando por escrito Lógico-matemática,
Geografia e Língua
quais são os agentes poluidores e as consequências e prejuízos Naturalista e Linguística
Portuguesa
causados por eles às pessoas e ao ambiente.
10. Transformação dos dados coletados nas questões 7 a 9 em
porcentagens e gráficos na forma de pizza, barras ou colunas Lógico-matemática,
Matemática e Informática
que poderão ser expostos nas paredes da sala de aula e/ou da Matemática e Informática
escola.
11. Elaboração e encenação de uma peça sobre a violência, o Matemática, Ciências,
Lógico-matemática,
desrespeito e a intolerância, situando a questão no tempo e no Geografia e Língua
Naturalista e Linguística
espaço. Portuguesa
12. Pesquisa de letras de músicas em português, inglês ou
espanhol, que falem de paz, tolerância e respeito, explorando
Língua Portuguesa, Arte,
os recursos estilísticos, semânticos, gramaticais e poéticos Linguística e Musical
História e Geografia
presentes nas letras das canções. Promoção de um festival com
prêmios para melhor intérprete, melhor música, melhor arranjo.
13. Concurso para premiar o melhor texto contendo um pedido de
Linguística Língua Portuguesa
paz ao mundo.
14. Produção e exposição de um painel fotográfico sobre diferentes
tipos de violência, desrespeito e intolerância ocorridos na Arte, História e
Espacial e Linguística
História. As fotos deverão conter o nome do fotógrafo, Língua Portuguesa
data e legenda.

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 50 31/08/22 17:05


Áreas das Múltiplas
Disciplinas
Atividades Inteligências (MIs)
envolvidas
trabalhadas
15. Investigação da situação da vegetação típica do estado
onde se encontra a escola. Elaborar dois mapas: um
indicando a área de ocorrência desse tipo de vegetação
Espacial, Naturalista Geografia, História
em 1500 e outro mostrando sua situação no presente.
e Lógico-matemática e Matemática
Levantar hipóteses e formular explicações sobre o que levou
a isso e o que tem sido feito em favor do desenvolvimento
sustentável no estado.
16. Investigação das doenças com grande incidência no Brasil,
Ciências, Língua
causadas por poluição do ar (como a asma) e das águas Linguística, Espacial,
Portuguesa, Arte,
(como o cólera e a leptospirose), e o que pode ser feito para Interpessoal e Naturalista
Informática e História
evitar ou minimizar o problema.
17. Entrevista com alunos com deficiência, procurando conhecer e
aprender um pouco mais sobre cada uma de suas limitações, Língua Portuguesa
Linguística
e registrar por escrito se já sofreram algum tipo de preconceito. e História
Qual? Onde? Como?
18. Interpretação e comentário do artigo 208, inciso III,
da Constituição Federal de 1988, que determina que:
“o dever do Estado com a educação será efetivado Língua Portuguesa,
Linguística e Naturalista
mediante a garantia de atendimento educacional Ciências e História
especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino”.
19. Campanha de conscientização, contendo material escrito
e iconográfico, para incentivar a comunidade externa a ter Espacial, Linguística
Arte e Língua Portuguesa
atitudes de respeito e solidariedade com as pessoas com e Interpessoal
deficiência.
20. Debate sobre a afirmação do Barão de Coubertin, que sintetiza
o espírito olímpico: “O essencial não é vencer, mas competir
Língua Portuguesa,
com liberdade, cavalheirismo e valor”. Depois responder e Linguística
Educação Física
comentar se este princípio tem presidido a prática do esporte
nos Jogos Olímpicos da atualidade.
21. Organização de uma olimpíada escolar, resgatando o espírito
olímpico, ressaltando o respeito entre os atletas e a tolerância Cinestésica-corporal Educação Física
entre as diferentes torcidas. Elaboração de um jornal escolar e Linguística e Língua Portuguesa
sobre o evento.
22. Elaboração de coreografias inspiradas em músicas e danças do
folclore brasileiro, resgatando a diversidade cultural existente Cinestésica-corporal, Arte, Educação Física
no Brasil, registrando por meio de vídeos, fotos, textos, as Musical e Linguística e Língua Portuguesa
diferenças entre elas e chamando a atenção para a sua beleza.
23. Promoção de um amplo debate sobre o estatuto do torcedor,
lei no 10.671, de 15 de maio de 2003, no que se refere aos
direitos e deveres dos torcedores e à atitude das torcidas
Linguística, Espacial Língua Portuguesa,
organizadas dentro e nas imediações dos estádios. Apresentar
e Interpessoal História, Geografia e Arte
o resultado do debate e fornecer sugestões em cartazes com
fotos legendadas, mapas e comentários sobre a violência nos
estádios, suas razões e as formas de evitá-la.

LI

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 51 29/08/22 17:50


5.4 PARTE 2 – ATIVIDADES ESPECÍFICAS
Áreas das Múltiplas
Disciplinas
Atividades Inteligências (MIs)
envolvidas
trabalhadas
1. Pesquisar e debater os problemas causados aos seres humanos
pela ocorrência dos mais variados tipos de violência (social,
Língua Portuguesa,
econômica, política, simbólica, étnica etc.). O 6o ano pesquisará Linguística
História e Geografia
a situação no município; o 7o ano no estado; o 8o ano no país;
e o 9o ano no mundo.
2. Elaborar um mapa da violência no município (6o ano), Espacial, Lógico-matemática Geografia, Matemática
no estado (7o ano), no Brasil (8o ano) e no mundo (9o ano). e Linguística e Língua Portuguesa
3. Produzir um boletim informativo sobre a evolução da violência
contra pessoas no município (6o ano); no estado (7o ano); no Língua Portuguesa,
Linguística e Interpessoal
Brasil (8o ano); e no mundo (9o ano). Apresentar à classe, na História e Informática
forma de um jornal falado, as notícias e os dados pesquisados.
4. Governante por um dia: que medidas você proporia para
solucionar o problema da violência, do desrespeito e da
intolerância? Os alunos do 6o ano vão se colocar no lugar do(a) Linguística, Interpessoal História, Geografia
prefeito(a); os do 7o ano no lugar do(a) governador(a); e Intrapessoal e Língua Portuguesa
os do 8o ano no lugar do(a) presidente(a) da República;
e os do 9o ano no lugar do(a) Secretário(a)-Geral da ONU.

Atividade-síntese do Projeto
Elaborar slogans, folders, banners, cartazes, fotos, mapas, tabelas, gráficos, panfletos, cartilhas e vídeos
objetivando uma grande campanha de conscientização sobre a necessidade de desenvolver atitudes de res-
peito e de tolerância no relacionamento com as pessoas. A campanha deverá enfatizar também a importân-
cia do respeito pelo patrimônio cultural4.
O 6o ano trabalhará a intolerância e o desrespeito na sala de aula, na escola e no bairro; o 7o, as diversas
formas de desrespeito a grupos humanos historicamente discriminados no Brasil, como negros, mulheres e
indígenas; o 8o, a agressão e o desrespeito à fauna e à flora; o 9o, a necessidade de paz, respeito e tolerância
entre os povos e os Estados Nacionais.

4
Segundo o artigo 216 da Constituição Federal de 1988, “constituem patrimônio cultural os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I. as formas de expressão;
II. os modos de criar, fazer e viver;
III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico” (BRASIL, 2016).

LII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 52 31/08/22 17:06


Apresentação/exposição do Projeto:
FICHA no 1 – Modelo de ficha de observação e avaliação dos educadores

Nome da escola:_______________________________________________________
Tema do Projeto:_______________________________________________________
Período de realização: __________________________________________________
Ano: _____ Turma: _____ Responsável pedagógico: _________________________

1. Escolha do tema – você o considerou satisfatório? Por quê?


2. Planejamento (foi amplo, detalhado e flexível?).
3. Envolvimento (foi intenso?).
4. Flexibilidade (houve correção do rumo quando necessário?).
5. Desempenho da Equipe Interdisciplinar durante o processo (foi satisfatório?).
6. A Equipe Interdisciplinar cumpriu a missão de guardiã do processo?
7. Adotou uma postura interdisciplinar e favoreceu a mediação, a pesquisa e o diálogo?
8. O que você aprendeu participando do desenvolvimento de um Projeto Interdisciplinar?
9. Que sugestões críticas você daria para melhorar o planejamento, a execução, a apresentação e a avaliação
do próximo Projeto?

LIII

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 53 29/08/22 17:50


FICHA no 2 – Modelo de ficha de observação e avaliação dos alunos

Nome da escola:_______________________________________________________
Tema do Projeto:_______________________________________________________
Período de realização: __________________________________________________
Ano: _____ Turma: _____ Responsável pedagógico: _________________________

1. Participação do(a) aluno(a):


a) na elaboração e execução das atividades;
b) no desenrolar do processo;
c) na criação e confecção de produtos e materiais para o Projeto;
d) na apresentação;
e) nas atividades que mais exigiam cooperação e solidariedade.
2. Desempenho do(a) aluno(a):
f) diante de diferentes situações-problema;
g) quanto à aquisição de conteúdos conceituais e procedimentais;
h) quanto à atitude;
i) nas diferentes avaliações;
j) quanto à capacidade de argumentação, oral e escrita;
k) quanto à resolução de problemas.
Obs.: convém verificar também o tipo de inteligência em que o(a) aluno(a) mostrou a maior desenvoltura e
aquele no qual mostrou a menor e, ao mesmo tempo, os tipos de estímulo de que necessita.

Autoavaliação
A autoavaliação é um aprendizado fundamental para a construção da autonomia do aluno; além disso,
democratiza o processo, pois envolve diferentes pontos de vista.
Sugestão de perguntas para a autoavaliação.
1. Você considerou interessante o trabalho realizado durante o Projeto?
2. Tinha conhecimentos anteriores que o auxiliaram na realização?
3. Foi fácil ou difícil? Se foi difícil, saberia dizer por quê?
4. Como você avalia sua participação no grupo? (Realizou tarefas que contribuíram para o trabalho? Sugeriu
formas de organizar o trabalho? Colaborou com seus colegas na realização de suas tarefas?).

LIV

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 54 29/08/22 17:50


6 AS SEÇÕES
DO LIVRO

A nossa coleção é composta de quatro volumes que buscam apresentar os conteúdos relativos à História
do Brasil e à História Geral de forma integrada. Disse uma historiadora que:

O objetivo central da História Integrada reside na superação da divisão entre


História Geral, das Américas e História do Brasil. Nessa perspectiva, a História
Integrada busca fornecer um estudo que possibilite ao aluno entender a simulta-
neidade dos acontecimentos históricos em espaços diferentes. Pode-se perceber,
entre outros aspectos, que em um mesmo tempo histórico foram vivenciadas
situações diferentes em diversas sociedades. Assim, enquanto em parte da Euro-
pa desenvolvia-se o sistema feudal e sedimentava-se o cristianismo, na América,
povos como os maias e incas organizavam-se em sociedades com características
próprias, construindo cidades e templos, com outra lógica religiosa.
BITTENCOURT, Circe. Desafios da História Integrada. Revista do Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas,
São Paulo, 2001. v. 1, p. 5.

Os livros estão organizados em unidades temáticas que abrigam um conjunto de capítulos.


Vejamos sua estrutura.

6.1 PÁGINA DE ABERTURA DE CAPÍTULO


Cada capítulo se inicia com uma página de abertura, que cumpre a função de introduzir a exposição dia-
logada. Esta página tem funções semelhantes às da página de abertura de unidade, sendo o seu foco volta-
do para o assunto a ser trabalhado no capítulo.

6.2 CORPO DO CAPÍTULO


Construímos o corpo do capítulo entrelaçando texto e imagem e intensificando a exploração pedagógica
do registro visual, que está no cerne de nossa proposta de ensino-aprendizagem. Nesta coleção, a imagem
não serve apenas para reforçar o texto ou dialogar com ele, mas também para a formação de conceitos.
No corpo do capítulo, buscamos também adotar uma linguagem e um tamanho de letra e de entrelinha-
mento adequados ao Ensino Fundamental – Anos Finais. Atentos ao fato de que muitos alunos têm chegado
ao 6o ano com menos de 10 anos de idade e que a maturidade de um aluno de 6o ano é bem diferente da
de um aluno de 9o ano, trabalhamos com diferentes corpos de letra e entrelinhamentos variados. Assim, no
texto principal do 6o e do 7o anos, trabalhamos com corpo 12,5 e entrelinhamento 18; no 8o e 9o anos, tra-
balhamos com corpo 11,5 e entrelinhamento 17.
Buscamos também fundamentar o texto didático com uma produção historiográfica qualificada. Nossa
preocupação não foi incorporar ao texto didático a última pesquisa acadêmica publicada sobre cada assunto
abordado na obra, mesmo porque isso seria impossível, mas incorporar um conhecimento consolidado e re-
conhecido pela comunidade de historiadores profissionais e pesquisadores do ensino de História.

LV

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 55 30/08/22 17:39


Entre os exemplos desse esforço de atualização historiográfica, podemos citar a incorporação que fizemos
da crítica de Cláudia Viscardi ao conceito de “política do café com leite” e de sua proposta de se pensar a
força de outros quatro estados, além de São Paulo e Minas Gerais, na política da Primeira República; da crí-
tica de Jorge Ferreira ao conceito de populismo e de sua instigante e original interpretação do golpe civil-mi-
litar de 1964; da interpretação de Angela de Castro Gomes sobre o significado político da morte de Vargas,
entre outras. Do questionamento posto pelo historiador e antropólogo britânico Jack Goody (Renascimento
ou Renascimentos?), bem como sua análise das raízes históricas e culturais do Renascimento italiano, e dos
outros renascimentos havidos à época em outras partes do mundo; do novo olhar sobre a conquista espa-
nhola da América, presente na obra Sete Mitos da Conquista Espanhola, do historiador inglês Matthew
Restall; da perspectiva inovadora do historiador David Abulafia, que desloca sua câmera da terra firme para
as águas salgadas, a fim de ver e escrever a partir do Mediterrâneo uma obra monumental: O grande mar:
uma história humana do Mediterrâneo. E, por fim, mas não menos importante, do instigante Dicioná-
rio da escravidão e liberdade, que reúne brilhantes estudiosos das histórias e das culturas que atam a
África ao Brasil.

6.3 BOXES
Intercalados ao texto principal, inserimos os boxes Dialogando, Dica!, Para refletir, Escutar e falar e
Para saber mais, os primeiros são acompanhados de questões objetivas, reflexivas e/ou argumentativas.
Dialogando
Esse boxe é um convite à participação oral dos alunos; estes são desafiados a responder a uma questão
objetiva, a opinar, a interpretar uma imagem, um gráfico, uma tabela, um texto etc. Essa interrupção do tex-
to principal funciona como uma oportunidade para os alunos colocarem-se como sujeitos do conhecimento
e para dinamizar a aula.
Dica!
Sugestões de vídeos ao longo da obra para ampliar a abordagem do assunto estudado.
Para refletir
Esse boxe traz textos e imagens sobre os conteúdos estudados que, acompanhados de questionamentos
diretos, estimulam os alunos a refletir e discutir sobre os temas abordados.
Escutar e falar
Encoraja o aprimoramento da competência argumentativa dos estudantes e da escuta como elemento
básico do diálogo.
Para saber mais
Nesse boxe, são apresentados textos e imagens com o objetivo de ampliar ou detalhar um assunto deri-
vado do tema principal que possa interessar ao aluno.

6.4 ATIVIDADES
Aprender História depende da leitura e da escrita. E ler e escrever implicam compreensão, análise e in-
terpretação de uma diversidade de gêneros de textos e de imagens fixas (pintura, fotografia, charge) e em
movimento (filmes), além de gráficos, tabelas e mapas. As atividades desta coleção visam, sobretudo, auxiliar
o aluno a desenvolver as competências leitora e escritora, que são complementares e interdependentes, e a
capacitar o alunado para o exercício da cidadania. As imagens podem ser mais bem exploradas com a leitura
do texto instrucional sobre o assunto contido nestes materiais de apoio ao professor.

LVI

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 56 29/08/22 17:50


Nas atividades também buscamos estimular os estudantes a: a) traçar paralelos entre o passado e o presente;
b) interrogar o presente, debater e, sobretudo, se posicionar diante de uma questão social, ajudando-o a se
preparar para o exercício da cidadania.
Nesta coleção, o número de atividades – incluindo as das várias seções – é propositadamente grande,
com vistas a oferecer ao educador um leque amplo de possibilidades de escolha, inclusive para suas avalia-
ções. Sabemos que não há tempo hábil para que os alunos se dediquem a todas elas em sala de aula. Suge-
rimos, então, que o professor escolha as atividades mais adequadas à sua proposta de ensino-aprendizagem,
ao projeto político-pedagógico da escola e à quantidade de horas-aula de que dispõe. As atividades estão
distribuídas em seções que consideramos importantes no nosso alinhamento à tese de que ler e escrever é
um compromisso de todas as áreas. São elas:

Retomando
As questões variadas dessa seção, apresentada em todos os capítulos, visam retomar e organizar o estudo
do tema abordado.

Leitura e escrita em História


Visa familiarizar o aluno com diferentes gêneros textuais e estimulá-lo a perceber quem está falando, de
que lugar fala, e capacitá-lo a identificar, relacionar e a contextualizar (habilidades das mais importantes em
História).
Partindo do pressuposto de que qualquer documento possui autoria, público e objeto específico, apresen-
tamos a seguir um roteiro construído a partir de nossas reflexões e da nossa prática docente.

Roteiro para leitura e análise de documentos escritos


1. Título e fonte de onde foi extraído.
2. Tipo de documento [carta, artigo de jornal, legislação, entrevista etc.].
3. Quando, por quem e onde foi produzido.
4. Quem fala [o(a) autor(a)].
5. De onde fala [posição que ocupa na sociedade].
6. Para quem fala? [Para o público em geral? Para seus pares? Para os seus subalternos? Para as autoridades?].
7. Principais ideias e conceitos no texto.
8. Conclusões a que a leitura permite chegar, considerando-se o que está explícito.
9. Conclusões a que a leitura permite chegar, considerando o que está implícito (lembrar que os silêncios de
um texto podem ser tão ou mais importantes do que aquilo que é dito).
10. Cruzar com outras fontes sobre o mesmo assunto.
11. Relacionar o texto com o contexto, salientando a importância dele para o estudo de determinada ques-
tão ou época.
12. Outras conclusões e/ou observações sobre o texto que se considere importante registrar.
Com esse roteiro espera-se ajudar os estudantes a conhecerem as condições de produção do texto em
foco, o lugar de onde se fala, o que foi dito e o que deixou de ser dito, e, aos poucos, permitir que perce-
bam a História como construção. Espera-se, portanto, que aprendam a ler e analisar tanto as vozes do pas-
sado quanto as vozes do presente. Ao mesmo tempo, espera-se que consigam contestar versões que apre-
sentam verdades acabadas e definitivas sobre o assunto estudado.

LVII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 57 31/08/22 17:57


Integrando com...
Com a seção Integrando com..., nos esforçamos para dar um passo, ainda que tímido, em direção à
adoção de uma perspectiva interdisciplinar. As atividades desta seção estimulam o aluno a mobilizar conheci-
mentos e conceitos de outros componentes curriculares

#Jovens na História
Esta seção convida os estudantes a aprofundarem o conhecimento sobre problemas contemporâneos, tra-
balharem noções introdutórias de práticas de pesquisa e participarem ativamente da construção de propostas
para a melhoria do bem-estar próprio, da comunidade em que vive, do país e até do planeta. Nela, são apre-
sentados exemplos de projetos e atitudes bem-sucedidos, sempre considerando o protagonismo e a diversida-
de de culturas juvenis.

6.5 PARTE ESPECÍFICA E FORMATO LATERAL


As orientações pedagógicas presentes neste Manual do professor também contam com uma parte es-
pecífica, que diz respeito a cada um dos volumes da coleção.
A parte específica é organizada em formato lateral e nela constam textos de introdução às unidades;
objetivos desenvolvidos em cada capítulo e justificativas da pertinência desses objetivos; indicações de com-
petências gerais, competências específicas e habilidades da BNCC que serão trabalhadas em cada capítulo;
encaminhamentos para ajudar o professor a desenvolver os conteúdos e a destacar aquilo que merece es-
pecial atenção; atividades complementares, com destaque para as que favorecem a interdisciplinaridade e
o desenvolvimento dos Temas Contemporâneos Transversais; sugestões de livros, áudios, vídeos e textos de
apoio que visam complementar e enriquecer a aula.
Por fim, o Manual do professor oferece as referências bibliográficas com comentários breves que visam
facilitar futuras pesquisas.

LVIII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 58 30/08/22 17:39


7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COMENTADAS
• ABUD, Kátia Maria. Ensino de História. São Paulo: mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/
Cengage Learning, 2010. aprofundamentos/195-competencias-socioemocionais-
Livro com análises e sugestões práticas para o ensino como-fator-de-protecao-a-saudemental-e-ao-bullying.
de História. Acesso em: 2 ago. 2022.
Artigo que discute o conceito e a aplicação de com-
• BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala petências socioemocionais em ações de combate ao
de aula. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2017. (Repen- bullying.
sando o ensino).
O livro reúne reflexões sobre o currículo escolar de • BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
História e as diferentes linguagens como recursos didáticos. Básica. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC.
Contexto histórico e pressupostos pedagógicos.
• BITTENCOURT, Circe. Desafios da História Integrada. Brasília, DF: MEC, 2019. Disponível em: http://
Revista do Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/
São Paulo, v. 1, 2001. contextualizacao_temas_contemporaneos.pdf. Acesso
No artigo, a autora contribui com reflexões sobre a em: 2 ago. 2022.
História Integrada e os desafios que ela impõe. Documento que fornece definições conceituais e
apresenta as fundamentações legais dos Temas Contem-
• BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos porâneos Transversais (TCTs).
e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. (Docência em
formação). • COLL, César. Psicologia e currículo: uma aproximação
Reflexões sobre métodos e conteúdos da História es- psicopedagógica à elaboração do currículo escolar. 3.
colar. O livro se divide em três seções, dedicadas a pensar ed. São Paulo: Ática, 1999. (Série Fundamentos).
a história da constituição dessa disciplina escolar, méto- Neste livro, César Coll formula uma proposta de cur-
dos e materiais didáticos. rículo tendo como base a interação entre Pedagogia e
Psicologia.
• BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do his-
toriador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. • D’ALESSIO, Marcia Mansor (org.). Reflexões sobre o
Obra sobre o fazer histórico, abordando questões saber histórico. São Paulo: Unesp, 1998.
epistemológicas que conformam uma concepção ampla e Neste livro, os entrevistados Pierre Villar, Michel Vo-
profunda sobre a História como ciência. velle e Madeleine Rebérioux avaliam a contribuição da
Escola dos Annales.
• BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da • FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Antiguidade clássica: a
República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto. história e a cultura a partir dos documentos. 2. ed.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.
htm#:~:text=I%20%2D%20construir%20uma%20 Além do cuidado com as fontes e com os textos, o livro
sociedade%20livre,quaisquer%20outras%20 traz uma série de atividades de apoio à aprendizagem.
formas%20de%20discrimina%C3%A7%C3%A3o. • LIMA, Glaudia et al (org.). Guia metodológico para
Acesso em: 30 ago. 2022. preparação do IX Festival Afro-Arte: expressões cultu-
rais afro-brasileiras no ambiente escolar. Maracanaú:
• BRASIL. Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diretoria de Educação: Coordenadoria de Desenvolvi-
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. mento Curricular, 2018.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, ano 131, n. 248, Documento que oferece orientações pedagógicas
p. 27833, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www. para o trabalho em sala de aula no ensino da história da
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: África e da cultura afro-brasileira.
30 ago. 2022.
• HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A or-
• BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum ganização do currículo por projetos de trabalho: o co-
Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. nhecimento é um caleidoscópio. 5. ed. Porto Alegre:
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o docu- Artes Médicas, 1998.
mento que orienta a formação dos currículos do Ensino Nesse livro, os autores refletem sobre o impacto de
Básico no Brasil. Estruturadas por meio de competências recentes transformações socioculturais sobre a educação e
e habilidades, a BNCC apresenta as aprendizagens essen- apresentam uma proposta de ensino por meio de projetos.
ciais previstas para a educação escolar.
• HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX
• BRASIL. Ministério da Educação. Competências (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
socioemocionais como fator de proteção à saúde mental Obra do renomado historiador inglês, na qual ele ana-
e ao bullying. Base Nacional Comum Curricular, Brasília, lisa os processos sociais ocorridos entre a Primeira Guerra
DF, 2019. Disponível em: http://basenacionalcomum. Mundial e a derrocada da União Soviética.

LIX

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 59 31/08/22 11:30


• HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora: uma prática em • PESTANA, Maria Inês Gomes de Sá et al. Matrizes curricu-
construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Me- lares de referência para o Saeb. 2. ed. Brasília, DF: Instituto
diação, 2005. Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1999.
A autora propõe uma proposta de avaliação que seja inte- Documento que apresenta o conjunto de aprendizagens,
grada aos processos cognitivos dos estudantes. conteúdos e habilidades utilizados como referência na constru-
ção do Sistema de Avaliação da Educação Básica, o Saeb.
• INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO
NACIONAL (IPHAN). Patrimônio Cultural Imaterial: para saber
• PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (org.). História da
mais. Iphan. Brasília, DF, 2012. Disponível em: http://portal.iphan.
cidadania. São Paulo: Contexto, 2003.
gov.br/uploads/publicacao/cartilha_1_parasabermais_web.pdf.
Acesso em: 2 ago. 2022. Reunindo contribuições de intelectuais renomados, o livro
Documento que apresenta instrumentos e diretrizes dedica- apresenta uma análise da cidadania estabelecida na sociedade
dos à identificação e preservação do patrimônio cultural imaterial. ocidental.

• KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, • RIBEIRO, Marcus Venicio. Não basta ensinar história. Nossa
práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. História, Rio de Janeiro, ano 1, n. 6, p. 76-78, abril de 2004.
O livro se propõe a apresentar reflexões orientadas para Neste artigo, o autor defende a ideia de que, para uma boa
subsidiar as práticas de ensino com colaborações de quatorze formação escolar, além de aprender História, os alunos precisam
especialistas em História. entender o que leem e saber pensar e escrever.

• LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da foto- • SALIBA, Elias Thomé. A produção do conhecimento histórico
grafia histórica. São Paulo: Edusp, 1993. (Texto e Arte, v. 9). e suas relações com a narrativa fílmica. São Paulo: FDE: Dire-
Com base na análise de álbuns de família de imigrantes vindos toria Técnica, 1992. (Lições com cinema).
para São Paulo durante a Grande Imigração, entre 1890 e 1930, a Livro que reflete sobre a utilização do cinema como fonte
autora desenvolve uma pesquisa crítica da fotografia histórica. historiográfica e como ferramenta para o ensino de História.
• MARQUES, Janote Pires. Educação patrimonial e ensino da • SCHAFF, Adam. História e verdade. 6. ed. São Paulo: Martins
história local na educação básica. Ensino em Perspectivas, Fontes, 1995.
Fortaleza, v. 2, n. 4, p. 1-11, 2021. Livro em que o historiador elabora crítica a duas vertentes
Artigo sobre a importância da educação patrimonial e o en- teóricas do campo da História. Por um lado, Adam Schaff critica
sino da história local na formação dos estudantes da educação a pretensão objetivista do positivismo e por outro, o subjetivis-
básica.
mo do chamado presentismo.
• MEDEIROS, A. Docência na socioeducação. Brasília: Universi-
dade de Brasília, Campus Planaltina, 2014. • SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar his-
Livro que apresenta múltiplas perspectivas sobre a educação tória. São Paulo: Scipione, 2009.
de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. Dividido em doze capítulos, este livro cobre diferentes as-
pectos do ensino de História. As autoras abordam desde uma
• MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem perspectiva histórica do ensino desse componente curricular até
mais profunda. José Moran: educação transformadora. São reflexões sobre a avaliação em História no contexto escolar.
Paulo, c2018. Disponível em: https://www2.eca.usp.br/
moran/wp-content/uploads/2013/12/metodologias_moran1. • SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário
pdf. Acesso em: 18 ago. 2022. de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.
No texto, o pesquisador José Moran aprofunda a discussão Obra que apresenta conceitos históricos em formato de ver-
sobre a importância do uso das metodologias ativas para o de- betes, nos quais são elaboradas exposições que ajudam o leitor
senvolvimento integral dos alunos. a compreender elementos teóricos da História.

• NEVES, Iara C. Bitencourt (org.). Ler e escrever: compromisso • SILVA, Maria Lúcia Alves Teixeira. Ensino de história: meto-
de todas as áreas. 9. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, dologias ativas e aprendizagem significativa. Informação em
2011. Cultura, Mossoró, v. 3, n. 2, p. 27-46, jul./dez. 2021.
A obra busca explicar a importância da produção de conhe- Artigo sobre o ensino de História com foco nas metodolo-
cimento na educação contemporânea no intuito de proporcio- gias ativas.
nar uma efetiva transformação social.
• VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação: concepção
• NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: uma jor- dialética-libertadora do processo de avaliação escolar. São Pau-
nada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas
lo: Libertad, 1998. (Cadernos Pedagógicos do Libertad, v. 3).
inteligências. São Paulo: Érica, 2001.
Livro em que o professor Celso dos Santos Vasconcellos ela-
Livro em que o autor busca complexificar a visão a respeito
da pedagogia de projetos. bora uma contundente crítica às lógicas e efeitos da avaliação
escolar, que acaba, segundo o autor, por ter um papel predomi-
• OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.). História: ensino nantemente político.
fundamental. Brasília, DF: Ministério da Educação: Secretaria
de Educação Básica, 2010. (Explorando o ensino, v. 21). • VASCONCELOS, Celso dos Santos. Superação da lógica clas-
Coletânea de textos sobre o ensino de História. Nesses tex- sificatória e excludente da avaliação: do “é proibido reprovar”
tos, diferentes autores e autoras refletem a respeito de temas ao é preciso garantir a aprendizagem. São Paulo: Libertad,
que vão desde problematizações sobre os conteúdos ensinados 1998. (Coleção Cadernos Pedagógicos do Libertad, v. 5).
em História nas salas de aula até a incorporação das culturas in- Neste livro, o autor aborda o tema da avaliação e elabora
dígenas e afro-brasileira no ensino deste componente curricular. questões sobre alguns dos impasses vividos em ambiente escolar.

LX

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 60 30/08/22 17:51


8 SUBSÍDIOS PARA PLANEJAMENTO

Os quadros a seguir podem subsidiar o seu planejamento, a depender do cronograma da esco-


la, por meio de uma sugestão de organização dos objetivos e conteúdos em propostas bimestrais,
trimestrais e semestrais a serem desenvolvidas no ano letivo.

B – Bimestre    T – Trimestre    S – Semestre

OBJETIVOS CONTEÚDOS B T S
• Descrever e contextualizar os principais aspectos sociais, culturais, O processo que conduziu
econômicos e políticos da emergência da República no Brasil. à República
• Comparar as eleições na Primeira República às de hoje. Os negros no pós-Abolição
• Compreender as características da primeira Constituição da
República (1891). Oligarquias no poder
• Analisar e discutir as lutas da população negra no pós-Abolição, (coronelismo, política
reconhecendo a sua importância na formação do Brasil. dos governadores e
“café com política”)
• Relacionar as conquistas de direitos políticos, sociais e civis à
atuação de movimentos sociais. Indústria e operários
• Compreender e discutir os conceitos de oligarquia, coronelismo, na Primeira República
política dos governadores e “café com política”. Contestações e dinâmicas
da vida cultural na Primeira
UNIDADE 1 – REPÚBLICA E CIDADANIA

• Analisar a relação estreita entre industrialização e urbanização


na Primeira República. República
• Identificar e reconhecer a trajetória de alguns grupos de Os indígenas na República
imigrantes no Brasil na Primeira República.
• Compreender e analisar contestações e dinâmicas da vida O movimento operário
cultural na Primeira República.
O modernismo 1O 2O 3O
• Discutir sobre a questão indígena na República.
• Analisar o movimento operário e sua luta por melhores condições O tenentismo antes de 1930
de vida e de trabalho.
1930: um marco na história
• Compreender o modernismo e identificar algumas de suas do Brasil
principais ideias e obras.
• Analisar o tenentismo e os seus desdobramentos. O primeiro governo Vargas
• Compreender a ascensão de Vargas. Movimento de mulheres
• Debater sobre a Revolução Constitucionalista e a Constituição (Nísia Floresta, Bertha Lutz
de 1934. e Antonieta de Barros)
• Identificar e valorizar os protagonismos feminino, negro e Frente Negra Brasileira
indígena na luta por direitos na Era Vargas.
• Compreender e analisar as características do Estado Novo. Os indígenas na Era Vargas
• Avaliar a industrialização ocorrida durante o governo Vargas. O governo constitucional
• Refletir e argumentar sobre o trabalhismo. de Vargas
• Discutir sobre política e propaganda durante o Estado Novo.
• Entender e refletir sobre o fim do Estado Novo e o O Estado Novo
“queremismo”.

LXI

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 61 31/08/22 17:57


OBJETIVOS CONTEÚDOS B T S
• Identificar as rivalidades entre as potências europeias às vésperas
da Primeira Guerra Mundial. Rivalidades imperialistas
• Compreender a política de alianças e a paz armada como fatores
da Primeira Guerra Mundial.
• Analisar as fases da guerra, com destaque para a guerra de A paz armada (e as fases
1O
trincheiras. da Primeira Guerra)
• Argumentar sobre a participação do Brasil na Primeira Guerra
Mundial. O saldo trágico da Primeira
• Refletir sobre o perfil impositivo do Tratado de Versalhes. Guerra
• Discutir sobre os horrores da guerra e promover a cultura da paz.
• Compreender o Império Russo do final do século XIX.
A Rússia czarista
• Refletir sobre as rebeliões camponesas na Rússia.
• Argumentar sobre a modernização/industrialização russa na
passagem do século XIX para o século XX.
O socialismo
UNIDADE 2 – GUERRA, PROPAGANDA E POLÍTICA DE MASSAS

• Identificar as principais ideias da doutrina marxista e sua


penetração na Rússia.
• Diferenciar os bolcheviques dos mencheviques.
O processo revolucionário
• Relacionar a participação russa na Primeira Guerra com o 1O
(Revolução Russa)
processo revolucionário que pôs fim ao czarismo.
• Entender a divergência entre a proposta de Stalin e a de Trotsky
quanto à revolução socialista. Os “anos felizes” (década
de 1920 nos Estados Unidos)
• Compreender os principais desdobramentos da Revolução Russa.
• Compreender os conceitos de American way of life, Grande
Depressão e New Deal. A Grande Depressão 1O
• Identificar e analisar as principais razões e desdobramentos da
Grande Depressão.
• Entender o que foi o New Deal e seus efeitos sobre a economia
O New Deal
estadunidense.
• Debater sobre a ascensão do fascismo e conhecer seus princípios 2O
e práticas.
• Refletir sobre propaganda e educação no governo de Mussolini. A ascensão dos fascismos
• Entender e discutir sobre o nazismo, seus princípios e práticas.
• Estimular atitudes de repúdio ao antissemitismo.
• Refletir sobre o uso político do esporte pelos fascistas. O nazismo na Alemanha
• Discutir sobre o que levou os fascismos ao poder na Itália e na
Alemanha.
Céu de nuvens carregadas
• Analisar as principais razões da Segunda Guerra Mundial. (Segunda Guerra Mundial)
• Argumentar sobre a política de apaziguamento de Chamberlain.
• Refletir sobre a resistência civil aos nazistas.
• Compreender o pacto de não agressão entre a Alemanha e a A guerra no Oriente
URSS.
2O
• Valorizar a participação brasileira na Segunda Guerra.
• Promover atitudes de indignação em relação ao Holocausto, A ofensiva dos Aliados
situando-o como crime contra a humanidade.

O Holocausto

LXII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 62 31/08/22 21:27


OBJETIVOS CONTEÚDOS B T S
• Compreender os conceitos de Guerra Fria e mundo bipolarizado.
O mundo dividido (Guerra Fria)
• Argumentar sobre a criação da ONU e conhecer seus principais
órgãos. Encontros entre os vencedores
• Discutir o Plano Marshall e seus desdobramentos. (a ONU e a Declaração Universal 2O 1O
• Identificar e analisar as estratégias usadas pelos Estados Unidos dos Direitos Humanos)
e pela União Soviética na disputa por hegemonia e áreas de Um mundo bipolarizado (Estados
influência. Unidos e União Soviética)
• Aplicar o bloco conceitual dominação/resistência à história da
China no início do século XX. Dominação e resistência
(China Imperial)
• Analisar o processo histórico que conduziu à Revolução Chinesa.
• Compreender a Revolução Cultural Chinesa e identificar suas A República Popular da China
práticas e desdobramentos.
• Refletir sobre a experiência socialista em Cuba no passado
A Revolução Cubana
e no presente.
• Estudar a noção de resistência pacífica proposta por Gandhi. Independências (países asiáticos
• Conhecer os processos de independência em alguns países e africanos)
africanos.
• Trabalhar os conceitos de negritude e de panafricanismo Ásia (independência da Índia)
UNIDADE 3 – O MUNDO NA GUERRA FRIA

para compreender o protagonismo africano nas lutas pela


independência. África (as independências, a
• Estimular atitudes de repúdio ao racismo e à segregação racial, Revolução dos Cravos e a luta
usando como exemplo a resistência ao apartheid, na África do contra o apartheid na África
Sul. do Sul)
• Compreender a política externa independente de Jânio Quadros Governo Dutra
e propor uma interpretação para sua renúncia. 2O
• Caracterizar o nacionalismo reformista adotado por João Goulart.
As eleições de 1950
• Conhecer o Plano de Metas de JK e seus desdobramentos.
• Desvelar a importância dos trabalhadores vindos de outros 3O 2O
estados na construção de Brasília. Lott garante a posse de JK
• Conhecer os conceitos de ato institucional e estado de sítio.
• Diferenciar os militares castelistas dos da “linha-dura”. Governo Jânio Quadros
• Conhecer as práticas autoritárias e os instrumentos de força
aplicados pela ditadura civil-militar. Governo João Goulart
• Refletir sobre o papel da produção cultural engajada na oposição
à ditadura. A Doutrina de Segurança
Nacional

Ditadura civil-militar no Brasil

Os anos de chumbo

O caso do Chile (governo Allende


e ditadura de Pinochet)
A ditadura na Argentina
(1976-1983)
Motivações e impactos das
políticas adotadas na América
Latina

LXIII

AV_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 63 31/08/22 21:30


OBJETIVOS CONTEÚDOS B T S
• Refletir sobre a campanha das Diretas Já e a prática da cidadania
Governo João Figueiredo
ativa na história recente do Brasil.
• Discutir as políticas econômicas do governo Sarney.
Governo José Sarney
• Conhecer alguns tópicos importantes da atual Constituição
brasileira e refletir sobre eles.
• Analisar criticamente o Plano Collor. A Constituição Federal de 1988
• Debater ética na política.
• Conhecer o Plano Real e seus desdobramentos econômicos, Eleições de 1989
sociais e políticos.
• Elaborar um balanço do governo FHC e discutir o processo de Governo Collor
privatização.
• Analisar o governo Lula e debater suas políticas sociais. Governo Itamar Franco
• Conhecer as propostas de governo da presidenta Dilma Rousseff.
• Compreender as razões das manifestações de junho de 2013. Governo Fernando Henrique
• Evidenciar o protagonismo dos povos indígenas nas conquistas
UNIDADE 4 – O MUNDO CONTEMPORÂNEO

obtidas por eles no presente. O segundo mandato de FHC


• Analisar o governo de Michel Temer.
• Refletir sobre o governo de Jair Bolsonaro. Governo Lula
• Apontar as principais razões da crise soviética iniciada nos anos
de 1970.
O segundo governo Lula
• Compreender e contextualizar a perestroika e a glasnost,
4O 3O 2O
propostas por Gorbachev.
Governo Dilma Rousseff
• Conhecer o processo que conduziu à desintegração da União
Soviética e ao fim da Guerra Fria.
• Debater as revoltas iniciadas em 2010 no Norte da África, Reeleição de Dilma
com destaque para o papel das redes sociais na organização
e na divulgação desses movimentos sociais. Governo Michel Temer
• Debater sobre protestos contra a globalização.
• Refletir sobre a questão da Palestina Governo Jair Bolsonaro

Gorbachev: reconstrução
e transparência
A extinção da URSS
e a formação da CEI

Globalização

Conflitos e tensões
no mundo atual
Levantes populares na África
e no Oriente Médio
Seis grandes desafios
(atuais da humanidade)

LXIV

D3_HIS-F2-2111_V9_MPG_GERAL.indd 64 29/08/22 17:50


História
COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA
9
ALFREDO BOULOS JÚNIOR
Doutor em Educação (área de concentração: História da Educação)
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Mestre em Ciências (área de concentração: História Social) pela Universidade de São Paulo.
Lecionou nas redes pública e particular e em cursinhos pré-vestibulares.
É autor de coleções paradidáticas.
Assessorou a diretoria técnica da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – São Paulo.

1a edição
São Paulo ∙ 2022

AV_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-LA-G24.indd 1 16/08/22 09:23

001a007_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-MP.indd 1 26/08/2022 15:44


História Sociedade & Cidadania
História – 9o ano (Ensino Fundamental – Anos Finais)
Copyright © Alfredo Boulos Júnior, 2022

Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira


Direção de conteúdo e negócios Cayube Galas
Direção editorial adjunta Luiz Tonolli
Gerência editorial Roberto Henrique Lopes da Silva
Edição João Carlos Ribeiro Junior (coord.), André Amano, Barbara Berges, Beatriz Montagnoli,
Carolina Bussolaro Marciano, Maiza Garcia Barrientos Agunzi, Simone Alves dos Santos
Assessoria Adriana Carneiro Marinho, Layza Real
Preparação e revisão de textos Maria Clara de Oliveira Paes (coord.), Carolina Machado,
Beatriz Spinelli Gobbes, Fernanda Rodrigues, Kelly Rodrigues, Thalita Martins Milczvski
Gerente de produção e arte Ricardo Borges
Design Andréa Dellamagna (coord.), Sergio Cândido
Projeto de capa Andréa Dellamagna
Foto de capa Paula Montenegro/iStock/Getty Images
Arte e produção Vinicius Fernandes dos Santos (coord.), André Gomes Vitale, Jacqueline Nataly Ortolan (assist.)
Diagramação Estúdio Lótus
Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga
Licenciamento de textos Erica Brambila
Iconografia Jonathan Santos, Emerson de Lima (trat. imagens)
Ilustrações Manzi
Cartografia Allmaps, Maps World, Selma Caparroz, Renato Bassani, Sonia Vaz

Imagem de capa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Boulos Júnior, Alfredo
História sociedade & cidadania : 9o ano : ensino
fundamental : anos finais / Alfredo Boulos Júnior. --
1. ed. -- São Paulo : FTD, 2022.

Componente curricular: História.


ISBN 978-85-96-03555-2 (aluno)
ISBN 978-85-96-03556-9 (professor)

1. História (Ensino fundamental) I. Título.

22-115040 CDD-372.89
Índices para catálogo sistemático:
1. História : Ensino fundamental 372.89
Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, Patrimônio
Cultural Imaterial. Olinda, Pernambuco, 07/2018. Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

Em respeito ao meio ambiente, as folhas


Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 deste livro foram produzidas com fibras
de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à obtidas de árvores de florestas plantadas,
com origem certificada.
EDITORA FTD.
Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD
CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300 CNPJ 61.186.490/0016-33
Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 Avenida Antonio Bardella, 300
www.ftd.com.br Guarulhos-SP – CEP 07220-020
central.relacionamento@ftd.com.br Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375

AV_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-LA-G24.indd 2 16/08/22 09:23 D2

001a007_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-MP.indd 2 26/08/2022 15:44


APRESENTAÇÃO
Caro aluno, cara aluna,

Quero lhe dizer algo que para mim é importante e, por isso, gostaria que você
soubesse: para que este livro chegasse às suas mãos, foram necessários o tra-
balho e a dedicação de muitas pessoas: os profissionais do mundo do livro.
O autor é um deles. Sua tarefa é pesquisar e escrever o texto e as atividades,
além de sugerir as imagens que ele gostaria que entrassem no livro. A essas pági-
nas produzidas pelo autor damos o nome de originais.
O editor e seus assistentes leem e avaliam os originais. Em seguida, solicitam ao
autor que melhore ou corrija o que é preciso no texto. Por vezes, pedem ao autor que
refaça uma ou outra parte. Daí entram em cena outros trabalhadores do mundo do
livro: os profissionais da Iconografia, da Arte, da Revisão, do Jurídico, entre outros.
Os profissionais da Iconografia pesquisam, selecionam, tratam e negociam
as imagens (fotografias, desenhos, gravuras, pinturas etc.) que serão aplicadas
no livro. Algumas dessas imagens são os mapas, elaborados por especialistas, os
cartógrafos, e desenhos baseados em pesquisas históricas, feitos por profissionais
denominados ilustradores.
Os profissionais da Arte criam um projeto gráfico (planejamento visual da obra),
preparam e tratam as imagens e diagramam o livro, isto é, distribuem textos e
imagens pelas páginas para que a leitura se torne mais compreensível e agradável.
Os profissionais da Preparação e Revisão corrigem palavras e frases, ajustam
e padronizam o texto.
A equipe do Jurídico solicita a autorização legal para o uso de textos de outros
autores e das imagens que irão compor o livro.
Todo esse trabalho é acompanhado pela Diretoria e Gerência Editorial.
Em seguida, esse material todo, que é um arquivo digital, segue para a gráfica,
onde é transformado em livro por técnicos especializados do setor Gráfico. Depois
de pronto, o livro chega às mãos dos consultores comerciais e educacionais, que
o apresenta aos professores, profissionais que dão vida ao livro, objeto ao mesmo
tempo material e cultural.
Meu muito obrigado, do fundo do coração, a todos esses profissionais, sem os
quais esta Coleção não existiria! Por fim, agradeço à minha equipe e, também, a
você, leitor, motivo de nossa existência.
O autor

09:23 D2_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-LA-G24.indd 3 28/06/22 13:17

001a007_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-MP.indd 3 26/08/2022 15:44


SUMÁRIO
UNIDADE 1 Os indígenas na República...................................... 49
Estado brasileiro, povos indígenas
REPÚBLICA E CIDADANIA .......................................8 e o marechal Rondon.............................................. 49
O movimento operário ............................................... 50
CAPÍTULO 1 Ideologias do movimento operário....................... 50
A proclamação da República A luta pelas 8 horas ....................................................51
A greve de 1917 .............................................................51
e seus desdobramentos ..............................................10
O modernismo ................................................................ 53
O processo que conduziu à República ...............11 Atividades ............................................................................. 55
A Questão religiosa .....................................................12
A Questão militar .........................................................13 CAPÍTULO 3
A Proclamação da República ..................................15
A Era Vargas ....................................................................... 59
Governo Deodoro da Fonseca .................................15
Governo Floriano Peixoto ..........................................18 O tenentismo antes de 1930 .................................. 60
Os negros no pós-Abolição ..................................... 20 O primeiro 5 de Julho ................................................ 60
Associativismo negro.................................................21 O segundo 5 de Julho .................................................61
Imprensa negra ........................................................... 22 A Coluna Prestes..........................................................61
Atividades ............................................................................. 23 1930: um marco na história do Brasil.............. 62
O primeiro governo Vargas ..................................... 63
CAPÍTULO 2 Governo provisório ..................................................... 64
Primeira República: dominação A oposição paulista.................................................... 64
e resistência ........................................................................27 Movimento de mulheres ............................................67
A pesquisadora paulista Bertha Lutz ................. 68
Oligarquias no poder .................................................. 28 A escritora catarinense Antonieta de Barros....... 68
O coronelismo .............................................................. 28
Frente Negra Brasileira ............................................ 69
A política dos governadores ................................... 29
Os indígenas na Era Vargas ....................................70
Café com leite ou café com política? ................. 30
O café continuou na frente ......................................31 O governo constitucional de Vargas ..................73
A borracha da Amazônia.......................................... 33 Os integralistas.............................................................73
Cacau .............................................................................. 34 Os aliancistas ................................................................74
A diversificação econômica ................................... 34 O Estado Novo .................................................................75
Indústria e operários na O trabalhismo ................................................................76
O DIP e a propaganda varguista.............................78
Primeira República ................................................... 35
Economia: indústria e agricultura ........................ 80
Modernização e urbanização ................................. 36
O fim do Estado Novo e o “queremismo” ............81
Imigrantes no Brasil................................................... 38
Debate sobre diversidade ........................................ 39 Atividades.................................................................. 82
Contestações e dinâmicas da vida #JovensnaHistória............................................. 86
cultural na Primeira República ...................41
A Guerra de Canudos ...........................................41
A Guerra do Contestado ....................................43 ALINARI ARCHIVES, FLORENCE/

A Revolta da Vacina ............................................46


BRIDGEMAN/FOTOARENA

A Revolta da Chibata ..........................................48

D2_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-LA-G24.indd 4 28/06/22 13:17 D2

001a007_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-MP.indd 4 26/08/2022 15:44


UNIDADE 2 CAPÍTULO 6
A grande depressão,
GUERRA, PROPAGANDA o fascismo e o nazismo ............................................ 125
E POLÍTICA DE MASSAS ........................................ 88 Os “anos felizes”......................................................... 126
CAPÍTULO 4 A Grande Depressão ..................................................127
A quebra da bolsa de valores ................................127
A Primeira Guerra Mundial ...................................... 90 Razões da Grande Depressão .............................. 128
Rivalidades imperialistas.........................................91 Desdobramentos da Grande Depressão .......... 129
A luta dos sérvios pela “Grande Sérvia”............. 92 O New Deal.......................................................................131
A paz armada .................................................................. 93 A ascensão dos fascismos.................................... 132
A gota-d'água ............................................................... 93 O fascismo italiano .................................................. 132
As fases da guerra ..................................................... 93 O nazismo na Alemanha ......................................... 135
A entrada dos EUA e a saída da Rússia ............. 96 A ascensão dos nazistas ....................................... 136
O saldo trágico da Primeira Guerra ................... 98 Hitler no poder ........................................................... 136
A paz dos vencedores ............................................... 99 Atividades ........................................................................... 139
Atividades ........................................................................... 102
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 5 A Segunda Guerra Mundial .................................... 143
A Revolução Russa ...................................................... 109 Céu de nuvens carregadas ................................... 144
A Rússia czarista .........................................................110 O imperialismo japonês .......................................... 144
A modernização e a indústria ............................... 111 O expansionismo italiano....................................... 144
O socialismo ................................................................... 111 O nazismo alemão mostra suas garras ........... 145
O socialismo na Rússia............................................112 A ofensiva nazista na Europa .............................. 146
O processo revolucionário .....................................115 A resistência soviética ao nazismo ................... 148
O governo provisório .................................................115 A guerra no Oriente ................................................... 149
O governo bolchevique de Vladimir Lênin ........116 A ofensiva dos Aliados ............................................ 152
A formação da URSS ................................................ 117 O Dia D na França e a derrota da Alemanha .......153
A disputa entre Stalin e Trotsky ...........................118 Bombas sobre o Japão ........................................... 153
A ditadura stalinista .................................................119 O Holocausto ................................................................. 154
Desdobramentos da Revolução Russa............. 120 Atividades ..................................................................... 156

SHUTTERSTOCK.COM
Atividades ............................................................................121 #JovensnaHistória ................................................ 160

MARCO RUBINO/

13:17 D2_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-LA-G24.indd 5 28/06/22 13:17

001a007_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-MP.indd 5 26/08/2022 15:44


CAPÍTULO 10
Nacionalismos africano e asiático.................. 193
Independências ........................................................... 194
UNIDADE 3 Razões da independência...................................... 194
Ásia ......................................................................................197
Índia ................................................................................197
O MUNDO NA GUERRA FRIA ............................. 162
África ................................................................................. 199
CAPÍTULO 8 Congo ............................................................................ 199
Angola, Moçambique e Guiné-Bissau................200
A Guerra Fria..................................................................... 164 A Revolução dos Cravos ......................................... 201
O mundo dividido ........................................................ 165 A luta contra o apartheid na África do Sul .......202
Encontros entre os vencedores ......................... 166 Atividades ...........................................................................204
A Organização das Nações Unidas .....................167
A Declaração Universal CAPÍTULO 11
dos Direitos Humanos ...........................................170 Brasil: uma experiência
Um mundo bipolarizado........................................... 171 democrática (1945 a 1964)..................................209
O Plano Marshall e o Bloqueio de Berlim...........172 Governo Dutra ...............................................................211
Otan versus Pacto de Varsóvia .............................174 A Constituição de 1946 ...........................................211
Perseguições e crimes As eleições de 1950 .................................................. 212
contra a humanidade ............................................175 O segundo governo Vargas ................................... 212
A corrida armamentista e a espacial.................176 Trabalhismo e radicalização política................. 213
Atividades ............................................................................178 O suicídio de Vargas................................................. 214
Lott garante a posse de JK ................................... 214
CAPÍTULO 9 Governo Juscelino: “50 anos em 5” ................... 215
Revoluções socialistas: China e Cuba ...........181 Brasília: a metassíntese ........................................ 216
Crescimento industrial e
Dominação e resistência ....................................... 182 desigualdades regionais........................................217
O fim do Império e a proclamação Governo Jânio Quadros........................................... 218
da República na China ......................................... 183 A política externa independente ......................... 219
A República Popular da China............................. 183 A renúncia de Jânio ................................................. 219
O governo de Mao Tsé-Tung .................................. 184 Governo João Goulart ..............................................220
A Revolução Cubana ................................................. 186 O golpe civil-militar de 1964.................................224
A oposição à ditadura de Batista ....................... 186 Atividades ...........................................................................225
Fidel chega ao poder ................................................187
A crise dos mísseis ...................................................187 CAPÍTULO 12
Atividades ........................................................................... 189 Ditaduras na América Latina ..............................229
A Doutrina de Segurança Nacional ..................230
Ditadura civil-militar no Brasil .......................... 231
O governo Castelo Branco .....................................232
A linha-dura no poder..............................................235
Os anos de chumbo ...................................................239
Governo Médici (1969-1974) .................................239
HUNG CHUNG CHIH/SHUTTERSTOCK.COM

Governo Geisel: abertura lenta,


gradativa e segura ................................................245
O caso do Chile .............................................................248
O governo de Allende (1970-1973)......................248
A ditadura do general Pinochet (1973-1990).....249
Comparação entre Brasil e Chile
quanto à política econômica ............................. 251
A ditadura na Argentina (1976-1983) ............ 251
O peronismo no poder ............................................. 251
Estado de terror e resistência..............................252
Motivações e impactos das políticas
adotadas na América Latina ............................ 254
Atividades .....................................................................256
#JovensnaHistória ................................................262

D2_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-LA-G24.indd 6 28/06/22 13:17 AV

001a007_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-MP.indd 6 26/08/2022 15:44


UNIDADE 4 CAPÍTULO 14
Fim da Guerra Fria e globalização ...................305
O MUNDO CONTEMPORÂNEO ..........................264 Gorbachev: reconstrução e transparência ....306
Reformas de Gorbachev.........................................307
CAPÍTULO 13
A extinção da URSS e a formação da CEI ....308
Brasil contemporâneo...............................................266 Democratização no Leste Europeu....................308
Governo João Figueiredo .......................................267 Globalização ..................................................................309
O protagonismo da sociedade brasileira ...........268 Efeitos da globalização sobre o emprego ....... 310
Governo José Sarney................................................270 Protestos contra a globalização ......................... 312
A Constituição Federal de 1988 ........................272 Conflitos e tensões no mundo atual ............... 314
Lutas e conquistas indígenas ..............................273 A Questão Palestina ................................................ 314
O plano de partilha da ONU e Estado de Israel.... 315
Eleições de 1989 ......................................................... 274
O ataque às torres gêmeas...................................320
Governo Collor .............................................................. 274
Levantes populares na África
A luta pela ética na política ..................................275
e no Oriente Médio...................................................322
Governo Itamar Franco ...........................................276 Egito e Síria: retrocesso e violência ..................323
O Plano Real ................................................................276
Seis grandes desafios .............................................324
Governo Fernando Henrique ................................ 277 Atividades .....................................................................328
O segundo mandato de FHC .................................279 #JovensnaHistória ................................................332
Educação, gasto público e Saúde ......................280
Governo Lula .................................................................282 Bibliografia .....................................................................334
Programa Bolsa Família.........................................283
Política econômica...................................................284
O segundo governo Lula .........................................285
O Brasil amplia sua visibilidade externa ..........286
Governo Dilma Rousseff ........................................288
As manifestações de 2013:
a voz das ruas .........................................................289
Operação Lava Jato e eleições presidenciais ......290

RICKI ROSEN
Reeleição de Dilma ....................................................290
O impeachment de Dilma....................................... 291
Governo Michel Temer..............................................293
Governo Jair Bolsonaro ..........................................294
Na economia, privatizações e cortes
de gastos não viram realidade .........................296
A reforma na Previdência ......................................296
Desemprego, um dos maiores desafios
do governo Bolsonaro em 2022 .......................297
Letramento digital e trabalho durante
a pandemia...............................................................297
Atividades .....................................................................299

13:17 AV_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-LA-G24.indd 7 29/07/22 13:51

001a007_HIS-F2-2111-V9-INICIAIS-MP.indd 7 26/08/2022 15:44


INTRODUÇÃO
À UNIDADE
Cientes de que vivemos em UNIDADE

1
um tempo em que se apreen­
dem acontecimentos pelas re­
des sociais, por meio de uma
imagem ou manchete, e des­ REPÚBLICA
conectados de seu contexto de
produção. E CIDADANIA
Cientes, também, de que vi­
vemos sob o imperativo de um
presenteísmo que desqualifica
o passado como experiência
política e social capaz de ali­
mentar nossas reflexões sobre ACERVO ARQUIVO NACIONAL, RIO DE JANEIRO

o presente.
Cientes, ainda, de que a me­
mória não pode ser confundida
com a História e que interro­
gamos o passado a partir de
questões que nos afligem no
presente, pois é próprio da His­
tória o tratamento de um tema
em uma perspectiva temporal,
nos esforçamos para, alinhados
aos documentos oficiais, e coe­
rentes com nossa abordagem
metodológica, oferecer explica­
ções plausíveis sobre o passado
público e as relações dele com
o presente, retiradas de uma
historiografia especializada e
com legitimidade acadêmica.
Na abertura de cada capítu­
lo, explicitamos os objetivos,
as justificativas e as principais
Na imagem, vemos as quinze primeiras eleitoras do Brasil, todas de Natal (RN), 1928.
competências e habilidades a
serem trabalhadas. No corpo do
capítulo e nas atividades, evi­ Censitário: direito Com a Proclamação da República, em 1889, a maior parte da população
denciamos as nossas estratégias ao voto dependia da continuou excluída do direito ao voto. O voto deixou de ser censitário,
renda do eleitor. como era nos tempos da Monarquia, mas continuou restrito a uma minoria.
para o desenvolvimento dessas
A primeira constituição republicana, de 1891, dizia que só tinham direito
habilidades e competências.
de votar os cidadãos maiores de 21 anos que fossem alfabetizados. Apenas
Nas páginas de abertura de isto. As mulheres não foram citadas; nem incluídas, nem excluídas. A
unidade, vamos citar exemplos questão ficava em aberto.
da articulação entre objetivos,
habilidades e competências, 8
por acreditar que, ao longo
da coleção, esse procedimento
contribuirá para o importante EF09HI05, EF09HI06, EF09HI07,
AV-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 8 EF09HI08 e sua importância na formação do Brasil. Esse 20/08/22 11:02 AV-
propósito de “transformar a EF09HI09, a partir da história política repu­ objetivo articula-se às habilidades EF09HI03 e
história em ferramenta a servi­ blicana, da população negra e dos povos EF09HI04, às competências gerais 1, 2, 6, 7, 9
ço de um discernimento maior
indígenas no Brasil, de modo articulado às e 10 e às competências específicas 1, 2, 3 e 4.
sobre as experiências humanas
competências específicas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 e Objetivo: Analisar a relação estreita entre
e as sociedades em que se vive”,
conforme sugere a BNCC (BRA­ às competências gerais de 1 a 10. industrialização e urbanização na Primeira
SIL, 2018, p. 401). Vejamos agora dois exemplos dessa arti­ República. Esse objetivo, acompanhado de
Nesta unidade, vamos desen­ culação. justificativa, articula-se à habilidade EF09HI05,
volver as habilidades EF09HI01, Objetivo: Analisar e discutir as lutas da po­ às competências gerais 1, 2, 6, 7, 9 e 10 e às
F09HI02, EF09HI03, EF09HI04, pulação negra no pós-Abolição, reconhecendo competências específicas 1, 2 e 5.
8

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 8 26/08/2022 16:02


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar a temática sobre o
voto feminino no Brasil com a
As mulheres votaram pela primeira vez no Rio Grande do Norte, em 1926, mas não tiveram seus votos compu- leitura da lei nº 21.076, de 24
tados. As mulheres só votaram e tiveram seus votos computados em 1933, ou seja, 44 anos após a Proclamação de fevereiro de 1932: BRASIL.
da República no Brasil. A ausência de mulheres eleitoras ajuda a explicar o pequeno número de votantes durante Decreto nº 21.076, de 24 de
os 41 anos de duração da Primeira República (1889-1930). fevereiro de 1932. Disponível
Observe a tabela. em: https://www2.camara.leg.
br/legin/fed/decret/1930-1939/
Brasil: eleições presidenciais (1894-1930) decreto-21076-24-fevereiro­
No de votantes Votantes sobre Votos do vencedor sobre 1932-507583-publicacaoori­
Candidato vencedor ginal-1-pe.html. Acesso em:
(mil) a população (%) total de votantes (%)
Prudente de Morais (1894) 345 2,2 84,3 15 jul. 2022.
• Temas Contemporâneos
Campos Sales (1898) 462 2,7 90,9
Transversais: o trabalho com
Rodrigues Alves (1902) 645 3,4 91,7
a página dupla de abertura da
Afonso Pena (1906) 294 1,4 97,9 unidade mobiliza a macroárea
Hermes da Fonseca (1910) 698 3,0 57,9 temática cidadania e civismo.
Venceslau Brás (1914) 580 2,4 91,6

Rodrigues Alves (1918) 390 1,5 99,1

Epitácio Pessoa (1919) 403 1,5 71,0 completo, sendo atraída e seduzida
Artur Bernardes (1922) 833 2,9 56,0 por atividades situadas na esfera
da vida coletiva pública. A passa-
Washington Luís (1926) 702 2,3 98,0 gem da vida doméstica, privada e
Júlio Prestes (1930) 1 890 5,6 57,7 familiar, para a coletiva, pública e
Fonte: CARVALHO, José Murilo de. Os três povos da República. Revista USP, São Paulo, n. 59, p. 96-115, 2003. p. 104.
social, processara-se mediante o
ingresso nas associações religiosas,
a princípio, e nas de caridades, em
seguida. [...]
Considerando que o direito de votar e ser votado é essencial ao exercício da ci-
Para muitos, inclusive mulheres,
dadania, responda oralmente:
as recentes conquistas femininas
1. Em que ano a porcentagem de votantes foi menor?
na política, no direito, no trabalho,
2. Em que ano essa porcentagem foi maior? representavam uma ameaça. Mais
3. O caminho da construção da cidadania no Brasil republicano foi fácil ou difícil? que uma possível e indesejada
Rápido ou demorado? concorrência com o elemento
4. Para o historiador José Murilo de Carvalho, a Proclamação da República, em masculino nos domínios agora
1889, desconsiderou a ampliação da cidadania. E hoje, as cidadãs e cidadãos compartilhados, temiam que as
brasileiros conquistaram a cidadania plena? novas ocupações as fizessem
desinteressar-se pelos assuntos
domésticos. Temiam a desestru-
turação da família, célula mater da
RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK.COM
sociedade, a desintegração do lar,
a desmoralização dos costumes,
o abandono dos princípios éticos
e religiosos católicos. As próprias
mulheres, porém, ao menos aque-
las que participaram da enquete de
1933, as mais e as menos empol-

CIDADANIA
gadas com a luta e as conquistas
da mulher, com o seu direito ao
1. Em 1906, apenas 1,4% da população votou nas eleições presidenciais. 3. Respostas pessoais. voto e participação na política,
afirmavam que as mudanças não
2. Em 1930, 5,6% da população votou nas eleições. 4. Resposta pessoal. 9 significavam uma ruptura brusca
e completa com o passado, com a
forma de organização da vida social
e com os valores tradicionais que
11:02 TEXTO DE APOIO
AV-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 9 inicialmente pensada para restringir-se às per-
20/08/22 11:02
nortearam suas existências até
nambucanas, acabou alcançando os estados
então. Não viam incompatibilidade
A participação das mulheres na política vizinhos da Paraíba e de Alagoas.
entre ter uma casa, marido e filhos
Em 26 de janeiro de 1933, o Diário de Pernam- Eram tempos de mudanças, de luta pela con- e exercer a cidadania política, ma-
buco iniciou a publicação de uma enquete, reali- quista da liberdade feminina, no dizer de algumas terializada pelo exercício do voto
zada junto a "ilustres senhoras e senhorinhas da entrevistadas, em que o novo não se havia ainda livre, ou atuar profissionalmente
sociedade pernambucana". Dezenove mulheres definido e consolidado. As transformações relativas fora do lar. [...]
colaboraram com o jornal, respondendo à inda- ao papel social da mulher, incluindo sua atuação ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. O
gação "A quem deverá caber a representação da na vida política, eram percebidas e explicadas em voto de saias: a Constituinte de 1934 e
a participação das mulheres na política.
mulher pernambucana na futura constituinte?", termos do fluir histórico [...]. [...] a mulher eman-
Estudos avançados, v. 17, n. 49,
sendo o resultado da última consulta publicado cipada se foi desvencilhando gradativamente dos São Paulo, p. 133-150, dez. 2003.
em 4 de abril daquele mesmo ano. A pesquisa, afazeres domésticos, que a absorvia quase por p. 133, 140-141.
9

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 9 26/08/2022 16:02


OBJETIVOS
• Descrever e contextualizar
os principais aspectos sociais,
CAPÍTULO

1
culturais, econômicos e po­
líticos da emergência da Re­
pública no Brasil.
A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
• Comparar as eleições na Pri­ E SEUS DESDOBRAMENTOS
meira República às de hoje.
• Compreender as característi­
cas da primeira Constituição
da República (1891). Observe a cena com atenção.
• Analisar e discutir as lutas A alegoria é um modo de expressão ou interpretação que consiste em representar
da população negra no pós­ pensamentos, ideias, qualidades sob forma figurada. Na obra ao lado, a imagem da mulher
-Abolição, reconhecendo a representa a República.
sua importância na forma­ 1. Como esta mulher-república
COLEÇÃO PARTICULAR

ção do Brasil. está vestida?


• Relacionar as conquistas de 2. O que ela tem nas mãos?
direitos políticos, sociais e ci­
3. O que está sob os pés dela?
vis à atuação de movimentos
sociais. 4. O que essa representação
sugere a você?
Os objetivos deste capí­ 5. Que outro título você daria
tulo visam colaborar para a a essa obra?
compreensão do nascimen­
A mulher está vestida e calçada à moda
to da República no Brasil e romana e na cabeça tem o barrete frígio
os seus desdobramentos, dos revolucionários franceses de 1789. Com
contribuindo para o desen­ a mão direita, ela ergue uma palma que
simboliza a vitória e, com a esquerda, segura
volvimento das competên­ um escudo em que está escrito o lema dos
cias e habilidades propostas. conjurados presente na bandeira de Minas
Gerais. A mulher-república está sobre uma
biga com asas, que parece viajar no céu,
BNCC expressando o triunfo da República sobre a
Monarquia. A obra foi feita dez anos após a
• Competências gerais: 1, Proclamação da República.
2, 3, 4, 7, 9 e 10.
• Competências específi-
cas: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.
• Habilidades: EF09HI01,
EF09HI02, EF09HI03 e EF09HI04.

Alegoria da República,
de Frederico Antônio Steckel,
1898.

10

ENCAMINHAMENTO AV-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 10 Imagens em movimento 01/07/22 17:03 D3-H

• Aprofundar o assunto acessando o artigo: FREDERICO Steckel: pintor-decorador Vídeo do Memorial Minas Gerais Vale so­
do Império e da República. Disponível em: https://acasasenhorial.org/acs/index. bre a obra Alegoria da República (1898), de
php/pt/artigos?task=download&file=pdf&id=473. Acesso em: 21 jun. 2022. Frederico Antônio Steckel.
Professor, fazer uma rápida retomada do significado da Revolução Fran­ • ALEGORIA da República. 2020. Vídeo
cesa, como a derrocada do Antigo Regime e sua influência na Inconfidência (3m42s). Publicado pelo canal Memorial
Mineira, enquanto marco das lutas republicanas no Brasil, para garantir que Minas Gerais Vale. Disponível em: https://
todos os alunos compreendam os símbolos que compõem a alegoria. A aná­ www.youtube.com/watch?v=sGyJ8fevNkM.
lise da alegoria contribui com o desenvolvimento da competência geral 3. Acesso em: 26 maio 2022.

10

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 10 26/08/2022 16:02


ENCAMINHAMENTO
• Retomar em linhas gerais a
Cabanagem e a Farroupilha.
O processo que conduziu • Organizar a sala em dois gru­
pos, cada um responsável
à República por discutir – a partir de ele­
mentos que carreguem na
Na segunda metade do século XIX, um processo histórico impor- República: forma memória – uma dessas revol­
de governo em que
tante foi o que conduziu à implantação da República no Brasil. tas. Ao final, representantes
o Presidente é eleito
A ideia de República não era nova no país; antes e depois pelos cidadãos, ou de cada grupo apresentam
da Independência, o território brasileiro foi palco de várias rebe- seus representantes, para a sala o resultado das
e governa por tempo
liões republicanas, a exemplo da Cabanagem (1835-1840), no limitado. Na república,
discussões. Caso necessário,
Grão-Pará, e da Farroupilha (1835-1845), no Rio Grande do Sul e o dirigente representa o fazer apontamentos e com­
em Santa Catarina. Mas a Monarquia conseguiu reprimir esses conjunto da população plementar eventuais lacunas
e é o responsável nas apresentações.
movimentos, em parte, devido aos recursos obtidos com as expor- pela “coisa pública”
tações de café. (res pública). • Ressaltar que durante as dis­
No Segundo Reinado, os dois principais partidos, o Liberal e Monarquia: forma cussões em grupo abre-se a
o Conservador, controlavam o poder enquanto a imensa maioria de governo em que, possibilidade de desenvol­
geralmente, o rei recebe
da população continuava excluída do direito à cidadania. Com o ver a competência geral 9,
o cargo como herança
objetivo de ampliar seu espaço na política, um grupo formado por e governa por toda a já que o respeito mútuo e o
fazendeiros e por profissionais liberais (advogados, médicos, pro-
vida. Na monarquia, o exercício do diálogo são pres­
soberano é tido como supostos dessa atividade.
fessores, engenheiros, jornalistas) lançou, em 1870, o Manifesto alguém que sabe o
Republicano,, que defendia o federalismo e a república.. O que é melhor para seus
súditos e, por vezes,
Manifesto afirmava: “Somos da América e queremos ser america- a legitimidade de seu Dicas de leitura
nos”; ou seja, somos favoráveis a que o Brasil adote a república, poder deriva de uma
Neste livro, a autora analisa
assim como os demais países da América. Esse manifesto inspirou divindade.
Federalismo: autonomia
os processos de passagem da
o surgimento de diversos jornais, clubes e partidos republicanos. Monarquia para a República
para as províncias
Três anos depois de seu lançamento, foi fundado em Itu, interior ou estados fazerem no Brasil.
paulista, o Partido Republicano Paulista (PRP). suas próprias leis,
elegerem seus próprios • COSTA, Emilia Viotti da. Da
representantes e, Monarquia à República: mo­
MUSEU REPUBLICANO DE ITU, SÃO PAULO

principalmente, disporem mentos decisivos. São Paulo:


de recursos para a sua
própria manutenção. Editora Unesp, 2007.

EDITORA UNESP
A Convenção de Itu,
de Jonas de Barros,
1921. Nessa reunião
foi fundado o Partido
Republicano Paulista
(PRP), em 1873. Dos
133 fundadores do
PRP, 78 eram grandes
cafeicultores.

11 Artigo sobre as políticas e os


interesses do Partido Republi­
cano Paulista (PRP) no fim do
Dica de leitura século XIX.
EDITORA ZAHAR

17:03 D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 11 28/06/22 13:22

Neste livro, o historiador Celso • SALLES, Iraci Galvão. A ordem


Castro trata dos acontecimentos como condição da civilização:
que antecederam a Proclamação da O Partido Republicano
República e de seus protagonistas. Paulista (1870-1889). Revista
• CASTRO, Celso. A proclamação da de História, [s. l.], n. 118, p.
República. Rio de Janeiro: Jorge 13-27, 1985. Disponível em:
Zahar Editor, 2000. (Descobrindo o https://www.revistas.usp.br/
Brasil). revhistoria/article/view/61326.
Acesso em: 26 maio 2022.
11

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 11 26/08/2022 16:02


ENCAMINHAMENTO
• Ressaltar que a separação en­
tre Igreja e Estado, ou seja, a
criação de um Estado laico, é O movimento republicano daquela época estava dividido em
uma proposta republicana. # DICA! três grupos; um deles era liderado pelo jornalista Quintino Bocaiuva,
A ideia de que o Estado não que propunha chegar à República por via eleitoral (por meio da
Matéria sobre o
toma partido em questões re­ caricaturista que eleição de um grande número de deputados republicanos). Outro
ligiosas é um fundamento da retratou o Brasil dos grupo, liderado pelo advogado Antônio da Silva Jardim, defendia a
séculos XIX e XX.
liberdade de credos sob a Re­ ANGELO Agostini. 2014.
passagem para a República por meio de um movimento popular. E
pública. À luz desse princípio, Vídeo (10min46s). um terceiro grupo, formado em torno do major Benjamin Constant,
a chamada Questão religiosa Publicado pelo canal TV importante líder militar, defendia a instalação de uma república
Senado. Disponível em:
ganha seus devidos contor­ https://youtu.be/pmi- com um governo forte.
nos históricos. PQzL7Ig. Acesso em: Durante o processo que conduziu à República no Brasil, duas
28 maio 2022.
questões colocaram o imperador D. Pedro II em conflito com a Igreja
e o Exército. Elas contribuíram para acelerar a queda do Império.
Imagens em movimento
Entrevista com a professora
Miriam Dolhnikoff, da Universi­ A Questão religiosa
dade de São Paulo, especialista
Com a Constituição de 1824, o Império passou a controlar a
em História do Brasil Império.
Igreja por meio do beneplácito e do padroado. O beneplácito era o
No programa, a historiadora Bula papal: carta
expedida pelo papa direito que o imperador tinha de aprovar ou não as bulas do papa
fala sobre eleições e instituições contendo orientações
políticas no período imperial. em terras brasileiras. Ou seja, uma orientação do papa só entraria em
aos católicos.
vigor no Brasil se tivesse a concordância do imperador. O padroado
• HISTÓRIA: Representação era o direito que o imperador tinha de nomear

ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO


Eleitoral no Império - Miriam
os bispos. Estes, além de serem nomeados, eram
Dolhnikoff. 2014. Vídeo
também remunerados pelo governo, como qual-
(26m01s). Publicado pelo ca­
quer outro funcionário público.
nal UNIVESP. Disponível em:
https://www.youtube.com/ Em 1864, o papa Pio IX proibiu os católi-
watch?v=XcAuiBkm8SU. cos de fazerem parte da maçonaria. D. Pedro II,
Acesso em: 27 maio 2022. porém, não deu seu beneplácito à bula papal,
pois ele mantinha relações estreitas com a
maçonaria. Seu pai, D. Pedro I, havia ocupado o
TEXTO DE APOIO
posto máximo dessa organização. Já o bispo de
A Questão Religiosa Olinda, D. Vital de Oliveira, e o bispo de Belém
Não é possível entender a do Pará, D. Antônio de Macedo Costa, optaram
Questão Religiosa sem antes ob- por obedecer ao papa e exigiram que as irman-
servar a formação intelectual de dades religiosas expulsassem seus membros
Dom Vital, a qual se desenvolveu
maçons.
fundamentalmente na França.
Naquele país, o bispo pernambu-
cano estabeleceu profundos con- Fac-símile da capa da Revista Illustrada, 1876.
tatos com o ultramontanismo e Nessa caricatura da época, feita por Angelo
com o pensamento tradicional Agostini, o bispo D. Vital é mostrado tentando
do catolicismo francês, que esta- impedir um padre de realizar o casamento.
va se reerguendo do choque pro-
vocado pela Revolução Francesa
e, em consequência, lutava para
12
separar as ideias que não esta-
vam associadas com a Tradição
da Igreja Católica. [...] [...] a inércia, a rotina 12e o profundo conformismo marca-
D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 28/06/22 13:22 D3-H
Ultramontanismo: o termo designa
Retornando ao Brasil e nome- vam a Igreja no Império. O processo rotineiro eclesial era
um importante papel ao Sumo Pontífice,
ado bispo da diocese de Olinda, amarrado por uma estrutura que mal funcionava, e pade-
na direção da fé e do comportamento do
Dom Vital encontrou cenário cia de vícios que seriam até mais graves que a burocracia
homem. O termo era utilizado quando
nada diferente daquele que ti- estatal da época. Essa grande fragilidade da infraestrutura
elegia-se um papa não italiano (“além
nha observado em solo francês: imperial proporcionava grande dificuldade de comunica-
dos montes”). O nome ultramontano
maçonaria atuante e a Igreja sob ção, ocasionando o isolamento das paróquias e destas com
era utilizado pelos franceses, que pre-
os mandos do governo central os seus bispados. Junto a tais problemas, cabia ao regime
tendiam manter uma igreja separada do
com tendências liberais, onde confessional depender da burocracia oficial do Estado [...]. poder de Roma e aplicavam o termo aos
os membros eclesiásticos eram MEDEIROS, Rodrigo Dantas de; GILENO, Carlos Henrique. Dom Vital: a questão religiosa, partidários daqueles que queriam man-
funcionários públicos do Estado. a crise político-social na província pernambucana e suas consequências durante o
[...] Segundo Reinado. Revista Idealogando, Recife, v. 2, n. 2, p. 88-109, 2018. 89-91.
ter a centralidade da Igreja no Papa.
12

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 12 26/08/2022 16:02


ENCAMINHAMENTO
• Destacarque o Exército, em
detrimento da Marinha, ga­
Reagindo a isso e com base na Constituição brasileira, D. Pedro II abriu uma ação nhou muito prestígio e po­
contra os bispos, que foram julgados e condenados a quatro anos de prisão. Um ano der político após a vitória na
depois, D. Pedro II entrou em acordo com o papa e suspendeu a punição dada aos bispos, Guerra do Paraguai.
que já tinham cumprido um ano de prisão.
Mas os republicanos aproveitaram-se da Questão religiosa para acusar o imperador
de se intrometer em assuntos da Igreja e de não dar liberdade religiosa aos brasileiros. TEXTO DE APOIO
Esse fato contribuiu para enfraquecer a Monarquia.
Nos anos 1880, o movimento republicano ganhou força; centenas de clubes e dezenas A Questão militar
de jornais republicanos foram fundados por todo o país; os comícios de Silva Jardim atraíam Foi com espírito “científico”
um número cada vez maior de pessoas. Foi quando a Questão militar acelerou ainda e republicano que a “mocidade
militar” participou ativamente
mais o processo que conduziu à República.
da “Questão Militar”, nome dado
a uma série de conflitos entre
militares e o governo iniciados
A Questão militar em agosto de 1886 e que se pro-
longaram até maio de 1887. [...]
Questão militar é o nome dado a uma série de atritos entre o Mocidade militar:
Exército e o governo do Império. A principal razão desses conflitos jovens estudantes Pela primeira vez na história
de escolas militares, brasileira, grupos de militares
foi a punição do tenente-coronel Sena Madureira e do coronel não necessariamente haviam afirmado publicamente
Cunha Matos. Esses oficiais foram punidos por denunciar casos de graduados, que e com força a existência de uma
corrupção pela imprensa e por se manifestar publicamente a favor valorizavam o estudo das “classe militar”, opondo-se a
ciências exatas.
da Abolição. O marechal Deodoro da Fonseca se negou a punir atos do governo. A Questão Mi-
litar, no entanto, não mobilizou
Sena Madureira e, por isso, foi demitido do cargo de
ACERVO ARQUIVO NACIONAL, RIO DE JANEIRO

toda a instituição, nem mesmo


comandante de armas e presidente da província do Rio sua maioria. Nas manifestações
Grande do Sul. Deodoro e Sena Madureira decidiram, que ocorreram não houve par-
então, viajar para o Rio de Janeiro, onde foram recebidos ticipação da Marinha, nem da
festivamente por outros oficiais. Entre eles estava o major maioria dos oficiais superiores
– para não falarmos de oficiais-
Benjamin Constant, líder da mocidade militar.
militar.
-generais. Além disso, as princi-
No dia 9 de novembro de 1889, o major Constant pais adesões ficaram restritas à
discursou no Clube Militar, pedindo poderes para mudar guarnição do Rio Grande do Sul.
a situação dos militares, e recebeu total apoio da moci- No entanto, os militares que
dade militar ali presente. participaram da Questão, cons-
cientemente ou não, consegui-
ram vinculá-la a um ressenti-
mento contra os civis em geral
e os políticos em particular, ma-
Benjamin Constant era um professor de Matemática respeitado e
muito querido pelos alunos da Escola Militar. O major era também nipulando elementos simbóli-
abolicionista e convenceu Deodoro a seguir seus passos. Em cos extremamente importantes
1887, o Clube Militar comunicava à nação: “O Exército não para os militares, como “honra”
perseguirá mais escravos fugidos!”. Fotografia de 1889. e “brios”. Como resultado, even-
tos que podiam ter sido tratados
como simples casos de indisci-
plina e insubmissão ao poder ci-
vil transformaram-se em episó-
dios de defesa da “classe militar”
13 contra o que percebiam ser uma
humilhação e afronta do gover-
no ao que possuíam de mais
caro. Com isso, se efetivamente
13:22 Imagens em movimento
D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 13 28/06/22 13:22
apenas uma parte do Exército se
Animação sobre a vida de Benjamin Constant e mobilizou, muitos oficiais leais
as reformas no sistema de ensino brasileiro que ele ao governo passaram a ver com
simpatia, embora à distância, o
elaborou fundamentado no princípio positivista.
desenrolar dos acontecimentos.
• BENJAMIN Constant. 2015. Vídeo (7min43s). CASTRO, Celso. A proclamação da
Publicado pelo canal UNIVESP. Disponível em: República. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
https://www.youtube.com/watch?v=YiOcPFdofi0. p. 28, 31-32.

Acesso em: 27 maio 2022.

13

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 13 26/08/2022 16:02


ENCAMINHAMENTO
Dialogando. a) Comentar que, a) A pintura retrata mulheres de diferentes idades confeccionando e bordando a bandeira da República brasileira.
com a Proclamação da Repú­ b) Essa pintura, como afirmou o historiador José Murilo de Carvalho, “é uma exaltação tanto à bandeira e à pá-
blica, o país passou a ter uma tria quanto ao papel moral da mulher na educação dos filhos e no culto
nova bandeira, que, por suges­ PARA SABER MAIS dos valores morais da família e da pátria” (CARVALHO, José Murilo
de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São
tão dos positivistas, adotou o Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 119).
lema “Ordem e Progresso”. Positivismo c) As crianças ocupam posições de destaque na pintura: uma delas é mostrada ao
centro da tela abraçando a bandeira republicana; outra, bebê ainda, brinca com uma
b) Comentar que os artistas O positivismo é um conjunto de ideias sistematizado pelo francês Auguste Comte.
positivistas representaram a
No Brasil, o major Benjamin Constant foi um grande divulgador dessas ideias entre os
República como mulher; re­ das estrelas que serão costuradas na bandeira. As crianças sugerem a ideia de nas-
jovens oficiais.
parar que a única figura mas­ cimento da República.
O positivismo é uma teoria que manifesta uma crença radical na ciência e na
culina que aparece na tela é
um idoso, pintando no canto razão. Segundo essa teoria, a história das sociedades humanas é regida por leis
direito da tela. imutáveis, científicas ou positivas, sendo a evolução a principal delas. A descoberta
dessas leis, por meio de métodos científicos, possibilitaria a compreensão e a solução
e) Ressaltar que em cada pe­
de problemas sociais. Apesar das diferenças entre os positivistas, todos eles eram
ríodo da nossa história, Tira­
dentes foi visto de uma ma­ contrários à escravidão e favoráveis à república, pois este seria um regime mais
neira diferente, variando de “científico” do que a monarquia. Proclamar a República era, então, uma forma de
acordo com os interesses e as acelerar o progresso do país.
necessidades dos governantes. No Brasil, os positivistas defendiam: a implantação de uma ditadura republicana;
a ideia de que o progresso depende da ordem; a crença de que somente os militares
poderiam salvar o país das mãos corruptas dos civis.
Imagens em movimento Enfim, defendiam a necessidade de uma república com um governo forte, cujo lema
O vídeo trata da influência fosse “Ordem e Progresso”. d) A bandeira é um elemento decisivo na tela. Ela é mostrada como objeto de
amor e devoção: é abraçada e, ao mesmo tempo, cobre e protege seus “filhos”.
do ideal positivista na história
do país e como isso repercutiu
ÓLEO SOBRE TELA, 278 CM X 190 CM. MUSEU DA REPÚBLICA, RIO DE JANEIRO

durante o período da Belle Dialogando


Époque do Rio de Janeiro. a O que esta
• [EDUCAÇÃO] Positivismo pintura retrata?
– O Rio de Janeiro da Belle b Quem ou o
Époque. 2014. Vídeo que a pintura
(9min35s). Publicado pelo homenageia?
canal Laboratório História c Como as crianças
da Ciência. Disponível em: são mostradas na
https://www.youtube.com/ pintura? O que
watch?v=-yiVQTZrRfg. isso sugere?
Acesso em: 27 maio 2022. d Como a bandeira
é mostrada na
cena?
e Há um retrato
+ATIVIDADES
A pátria, de Pedro Bruno, 1919. Note que a bandeira republicana, elemento de Tiradentes
Para o aprofundamento da central do quadro, é mostrada como objeto de amor e devoção: ela é na parede; o
abraçada, ela protege, ela abriga seus filhos. Auguste Comte, o idealizador que isso pode
compreensão a respeito do
do positivismo, acreditava que só a ordem poderia conduzir ao progresso. significar?
positivismo, é possível orien­ e) Nos últimos anos de sua vida, Tiradentes foi considerado o pior dos criminosos. Durante os 67 anos de Império,
tar os alunos a realizarem uma ele foi totalmente esquecido, pois o Brasil era uma Monarquia e Tiradentes tinha lutado pela República. Com a
pesquisa sobre a penetração 14 Proclamação da República, em 1889, os novos donos do poder precisavam de um herói; alguém que tivesse
sido crítico à Monarquia e, ao mesmo tempo, ligado ao processo de independência. Tiradentes foi o escolhido.
das ideias positivistas no Bra­
sil. Para encaminhar o traba­
lho, explicar as duas grandes TEXTO DE APOIO
D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 14
de um determinante histórico, sempre interro- 28/06/22 13:22 AV-
correntes do positivismo bra­ gado pelos estudiosos do período. [...]
sileiro, os heterodoxos – re­ Positivismo no século XIX A influência mais marcante, contudo, do ideá-
presentados por intelectu­ A relação entre o ideário positivista e o meio rio positivista, dar-se-ia por seu potencial como
ais, militares como Benjamin militar ganhou repercussão sobretudo pela ferramenta teórica de combate à ordem monár-
Constant, Luis Pereira Barreto presença de seus pressupostos na propaganda quica, ao apresentar um ideal de sociedade mo-
republicana, e pelo protagonismo da intelectua- derna que descartava aquele tipo de regime polí-
e outros – e os ortodoxos, que
lidade militar no golpe que pôs fim ao Império. tico. Mais do que isso, considerava-o um entrave a
são ligados à Igreja Positivista ser superado no rumo inevitável para o progresso
O papel destacado de Benjamin Constant, como
do Brasil. liderança da Escola Militar, e como um dos mais que chegaria com a evolução da humanidade. [...]
coerentes e assumidos positivistas do século ALVES, Claudia. Positivismo no século XIX.
XIX brasileiro, confere a essa associação o peso Revista Enfil, ano 1, n. 2, p. 1-13, set. 2013. p. 10.
14

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 14 26/08/2022 16:02


TEXTO DE APOIO
Crise da monarquia
[...] O Império realizou a inde-
A Proclamação da República

ÓLEO SOBRE TELA, 230 CM X 120 CM. MUSEU DE ARTE DA BAHIA, SALVADOR
pendência política do Brasil com
relação à metrópole portuguesa,
Com a Lei Áurea, em 1888, a insatisfação com mas pouco fez para superar o
a Monarquia aumentou; muitos fazendeiros do modelo econômico e social que
Vale do Paraíba e do Nordeste sentiram-se traídos aqui se implantara nos tempos
por terem sido obrigados a libertar seus escravos coloniais.
sem receber nada em troca. Os fazendeiros do Esse modelo e a visão de mun-
Oeste Paulista, por sua vez, tinham ingressado no do que o sustentava começaram
a sofrer abalos a partir da déca-
Partido Republicano Paulista. As camadas médias da de 1870 e, sobretudo, na dé-
pleiteavam maior participação política. Os militares, cada de 1880. O republicanismo
depois de punidos pelo governo de D. Pedro II, e a República implantada em
aproximaram-se dos ideais republicanos. Nesse 1889, em grande parte, seriam
frutos da crise da Monarquia e
clima de grande insatisfação, o marechal Deodoro
do sistema escravista. As elites
da Fonseca encontrou-se com um líder republicano, econômicas que se tornaram re-
Quintino Bocaiuva, e, juntos, combinaram a derru- publicanas [...] não criticavam a
bada da Monarquia. Em 15 de novembro de 1889, o Monarquia porque queriam mu-
golpe foi dado: Deodoro da Fonseca e seus soldados A República, de Manoel Lopes dar as hierarquias sociais, de-
Rodrigues, 1896. Nesse quadro, mocratizar a política ou acabar
depuseram D. Pedro II, pondo fim à Monarquia e a República está representada como com a escravidão, mas porque
dando início à República no Brasil. uma mulher com os louros da vitória. se sentiam pouco representa-
das pelo imperador e viam no
regime monárquico um dinos-

PRACHAYA ROEKDEETHAWEESAB/SHUTTERSTOCK.COM
sauro político que já não servia
Governo Deodoro mais aos seus interesses. Ao
lado das oligarquias que passa-
da Fonseca ram a apoiar a República contra
Os dois primeiros presidentes do Brasil a Monarquia, havia outro grupo,
o dos militares [...]. Depois da
foram militares e governaram entre 1889
sangrenta Guerra do Paraguai
e 1894, por isso esse período é conhecido (1864-1870), o Exército brasileiro
como República da Espada.. O primeiro deu-se conta de sua importân-
presidente militar do Brasil foi o marechal cia para a defesa nacional e, ao
Deodoro da Fonseca, que é lembrado mesmo tempo, de sua fragilida-
Detalhe de cédula de 1986 que traz a imagem de militar. O Exército era uma
pela reforma financeira e pela aprovação de Rui Barbosa, baseada na pintura de Lucílio instituição historicamente des-
da primeira Constituição da República. Albuquerque, de 1916. A crise da reforma prezada pela elite monarquis-
financeira de Rui Barbosa foi apelidada por ta brasileira, que se orgulhava
seus adversários de encilhamento. Duramente de ter evitado o surgimento do
A reforma e a crise financeira criticado, Rui Barbosa deixou o cargo. “caudilhismo militar” no Brasil,
Com o objetivo de expandir o crédito ao contrário das vizinhas repú-
Encilhar: colocar arreios no cavalo, preparando-o para a blicas sul-americanas vitimadas
para conceder empréstimos àqueles que
corrida. No jóquei, os guichês de apostas ficavam ao lado do por guerras civis intermináveis
desejassem abrir uma empresa, o então local onde os cavalos eram encilhados. E a barulheira que se entre facções lideradas por che-
ministro da Fazenda, Rui Barbosa, auto- ouvia nesse local era idêntica à que acontecia na Bolsa de fes político-militares locais, os
Valores. Por isso, a crise foi apelidada de “encilhamento”. “caudilhos”. Efetivamente, não
rizou quatro bancos a emitirem dinheiro.
havia uma tradição caudilhesca
15 no Exército brasileiro, mas seus
oficiais mais jovens sentiam que
o Império, com seu sistema de
privilégios na atribuição de car-
gos e patentes e sua defesa da
13:22
ENCAMINHAMENTO
AV-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 15 30/06/22 16:37

escravidão, era um obstáculo à


• Ressaltar que a insatisfação por parte dos fazendeiros não veio com a Lei Áurea de 1888, mas constituição de uma burocracia
muito antes. A abolição foi um longo processo que se iniciou com a proibição do tráfico de armada moderna e eficiente que
os beneficiaria.
escravizados, com a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagenários. Portanto, desde 1850 ela se
anunciava. Daí observarmos tantos fazendeiros no movimento, desde seu início. Por outro NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil
República: da queda da Monarquia ao
lado, a aposta federalista tinha claramente um caráter fiscal. Os recursos advindos das rique­ fim do Estado Novo. São Paulo: Contexto,
zas produzidas nas províncias permaneceriam nelas, ou seja, os exportadores teriam recursos 2016. p. 9-10.
mais descentralizados em suas mãos para subsidiarem seus empreendimentos, como fretes,
transporte, crédito etc. Isso também explica a adesão dos fazendeiros ao projeto republicano.

15

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 15 26/08/2022 16:02


ENCAMINHAMENTO
• Contextualizar a ideia de
especulação fornecendo
um exemplo contemporâ­ Especulação: prática que Essa reforma financeira, porém, não teve o sucesso espe-
consiste em criar uma
neo dessa prática: em 2021, rado; muitos usavam o dinheiro emprestado para fundar empresas
procura ou oferta artificial
uma operação especulativa fantasmas (que só existiam no papel). Em seguida, mandavam
de um bem ou mercadoria,
foi realizada com as ações visando obter lucro com o
imprimir ações dessas falsas empresas e vendiam-nas na Bolsa de
comportamento futuro do
de uma loja de videogames. mercado.
Valores.. Passando de mão em mão, as ações subiam de preço e
Usuários de um fórum na enriqueciam os que praticavam a especulação
especulação..
internet combinaram uma No entanto, quando os acionistas percebiam que tinham investido em empresas fan-
compra coordenada dessas tasmas, corriam para vender suas ações e aí descobriam que o que tinham nas mãos era
ações para elevar artificial­ um “maço de papel” sem nenhum valor. Resultado: os preços das ações despencaram,
mente o preço dos papéis da os pequenos investidores perderam seu dinheiro para os especuladores e muitas firmas
loja. Por envolver um famo­ antigas faliram. O aumento do dinheiro em circulação sem um crescimento proporcional da
so fórum on-line e uma loja produção de mercadorias provocou também uma alta generalizada dos preços (inflação).
de games, esse fenômeno
foi bastante discutido nas
comunidades gamers de re­ PARA SABER MAIS
des sociais, possivelmente
chegando ao conhecimento

DRSERG/SHUTTERSTOCK.COM
TEXTO 1
de alguns alunos.
Professor, a historiografia O que é Bolsa de Valores?
mais recente não concorda Quando alguém quer comprar ou vender ações de
que o ”encilhamento” tenha uma empresa, entre outros investimentos, precisa ir à
sido feito como meio de in­ bolsa de valores. [...]
dustrializar o país. Rui Barbo­ A bolsa é a instituição que organiza o mercado de
sa sempre foi um defensor da ações. Quando uma empresa quer levantar dinheiro
“vocação agrária” brasileira. vendendo ações, elas são disponibilizadas aos investi-
Claro que os efeitos não con­ dores por meio da bolsa de valores. O mesmo vale para
trolados da emissão de moeda
Interior da Bolsa de Valores de quando investidores têm interesse em comprar ações
sem lastro acabaram por fo­
Moscou (Rússia), janeiro de 2018. de alguma empresa.
mentar a criação de pequenas
TREVIZAN, Karina. O que é a bolsa de valores e para que ela serve? G1, [s. l.], 25 jul. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/
fábricas no período, mas não economia/educacao-financeira/noticia/2018/07/25/o-que-e-a-bolsa-de-valores-e-para-que-ela-serve.ghtml. Acesso em: 16 jun. 2022.
era essa a intenção de seus
formuladores. TEXTO 2

O que é uma ação?

Imagens em movimento [...] De forma resumida, ela constitui um “pedaço” da empresa, que é colocada à
venda por meio de um processo de abertura de capital [...].
O vídeo apresenta uma li­
As empresas optam por abrir capital para, por meio da venda de papéis, arrecadar
nha do tempo da história da
Bolsa de Valores no Brasil. valores para investirem em suas estratégias, com novos produtos, comprando outras
empresas, realizando melhorias nas soluções que já existem, entre outras atividades.
• CONHEÇA a história da bolsa.
SILVA, Mônica Wanderley da. Bolsa de valores: qual é a diferença entre ações ordinárias e prioritárias?
2015. Vídeo (1m47s). Publica­ E-Investidor, São Paulo, 24 jun. 2021. Disponível em: https://einvestidor.estadao.com.br/
do pelo canal B3. Disponível mercado/bolsa-de-valores-qual-e-a-diferenca-entre-acoes-ordinarias-e-prioritarias. Acesso em: 4 mar. 2022.

em: https://www.youtube.
com/watch?v=OSRmV3Xcjes. 16
Acesso em: 16 abr. 2022.

AV-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 16 30/06/22 16:37 D3-H

TEXTO DE APOIO Desde os últimos dias do Império, constatava-se que o meio


circulante – quantidade de moeda em circulação no país – era
O encilhamento incompatível com as novas realidades do trabalho assalariado e
do ingresso em massa de imigrantes. 
O primeiro ano da República foi marcado por uma febre de negó-
cios e de especulação financeira conhecida como Encilhamento. Ao assumir o Ministério da Fazenda do governo provisório, Rui
Não se sabe com certeza por que essa expressão foi consagrada. Barbosa baixou vários decretos com o objetivo de aumentar a
A explicação mais plausível é a de que se tomou um dos sentidos oferta de moeda e facilitar a criação de sociedades anônimas. A
da palavra “encilhamento” – local onde são dados os últimos re- medida mais importante foi a que deu a alguns bancos a faculda-
toques nos cavalos de corrida antes de disputarem os páreos. Por de de emitir moeda. [...] 
analogia, teria sido aplicada à disputa entre as ações das empre- FAUSTO, Boris. História do Brasil.
sas na Bolsa do Rio de Janeiro, trazendo em si a ideia de jogatina.  2. ed. São Paulo: Edusp, 1995. p. 252.
16

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 16 26/08/2022 16:02


ENCAMINHAMENTO
• Analisar a relação entre a par­
ticipação popular durante o
A primeira Constituição da República processo que levou à Procla­
mação da República e após
A primeira Constituição republicana foi aprovada por uma
a instalação do novo regime
Assembleia Constituinte, em 24 de fevereiro de 1891. Conheça político.
suas principais características:
• Refletir, com base na Cons­
a) Federalismo:: princípio segundo o qual os estados (antigas pro- Dialogando tituição de 1891, sobre as
víncias) passaram a ter grande autonomia; cada estado podia mudanças e permanências
Compare, quanto
contrair empréstimos no exterior; ter forças militares próprias; ao voto, esta
institucionais atinentes ao
criar e cobrar impostos; eleger o governador; fazer leis etc. Constituição advento da República.
b) O Brasil tornava-se República federativa presidencialista com três republicana, de • Discutir a restrição do direito

poderes: Executivo – liderado pelo presidente da República, 1891, à do Império, ao voto vinculando esse de­
outorgada em 1824. bate à construção da cidada­
por um período de quatro anos; Legislativo – exercido pelo
Na Constituição do Império, nia na República.
Congresso Nacional, formado pela Câmara dos Deputados o voto era censitário, isto é, com • Aprofundar o assunto com a
e pelo Senado; Judiciário – exercido por juízes, parte deles base na renda; nessa Constituição,
o voto passou a ser universal leitura do texto: FILHO, João
nomeada pelo presidente da República e tinha como órgão Cardoso Palma. A Repúbli-
masculino; a maioria (analfabetos,
máximo o Supremo Tribunal Federal. mulheres, soldados, entre outros) ca e a educação no Brasil:
c) A Igreja católica foi separada do Estado e os brasileiros pas- continuou
cidadania.
excluída do direito à
Primeira República (1889-
saram a ter liberdade de culto. Além disso, criou-se o registro 1930). 3. ed. São Paulo: Santa
civil para nascimento, casamento e óbito. Clara Editora, 2005. (Cader­
nos de formação, p. 49-60).
d) Direito ao voto para maiores de 21 anos, brasileiros e alfabe-
Professor, a Constituição de
tizados. Já os soldados ou membros do clero regular, como
1891 não proibia o voto femi­
monges e frades, mesmo brasileiros e maiores de 21 anos, não
nino. Tinham direito a voto
podiam votar. Na época, 75% da população era analfabeta. cidadãos brasileiros maiores
Eleição indireta:
No Brasil, a primeira eleição para presidente foi indireta
indireta.. de 21 anos e alfabetizados.
eleição realizada
Deodoro da Fonseca foi eleito com uma vantagem de apenas 32 por representantes Décadas depois, as mulheres
votos sobre o adversário, Prudente de Morais; já o vice-presidente dos eleitores, e não tentaram se candidatar com
diretamente por eles. base nessa imprecisão do texto.
eleito, Floriano Peixoto, era da chapa da oposição e venceu seu
adversário, Saldanha • Explicar que como Floriano,
REVISTA DOM QUIXOTE

Marinho, por uma na condição de vice, teve


diferença de 96 votos.
mais voto que Deodoro, as
relações entre eles, que já
não eram boas, ficaram ain­
A charge de 1891 mostra da piores.
os deputados constituintes
que elegeram Deodoro
da Fonseca e Floriano
Peixoto (ao centro) para a ção do direito de voto seguiu o
presidência e a vice- entendimento já praticado du-
-presidência da República, rante o Império: só seriam con-
respectivamente. As figuras siderados eleitores os brasileiros
femininas representam os adultos, do sexo masculino, que
estados da República. soubessem ler e escrever. Além
do voto das mulheres, estava
17 proibido o voto dos mendigos,
dos soldados, praças e sargen-
tos, e o dos integrantes de or-
dens religiosas que impunham
16:37 TEXTO DE APOIO
D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 17 agora transformadas em estados, maior au-
28/06/22 13:22
renúncia à liberdade individual.
tonomia e controle fiscal, e jogava por terra a
A Constituição de 1891 crença no centralismo monárquico como agen- Contudo, certas características
te de coesão nacional. vindas de longa data persistiam
A Constituição de 1891 definiu as bases ins- e foram até aprimoradas. Uma
titucionais do novo regime – presidencialismo, A agenda republicana substituiu o Poder Mo-
delas era o perfil oligárquico
federalismo e sistema bicameral – e implemen- derador – a chave da organização política do da nação: novas leis eleitorais
tou uma série de mudanças, para bem marcar Império – pelo princípio da divisão e do equi- mantiveram o número reduzido
a ruptura. A Igreja separou-se do Estado, e in- líbrio entre os poderes Executivo, Legislativo e de eleitores e cidadãos elegíveis
troduziu-se o registro civil de nascimentos, ca- Judiciário, garantiu a liberdade religiosa, extin- para os cargos públicos.
samentos e mortes. A proposta federalista, por guiu a vitaliciedade do Senado e aprovou o su-
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa
sua vez, organizava o novo regime em bases frágio universal, em lugar do sistema censitário Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo:
descentralizadas, dando às antigas províncias, até então vigente. O debate em torno da restri- Companhia das Letras, 2015. p. 319-320.
17

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 17 26/08/2022 16:02


ENCAMINHAMENTO
• Explicaraos estudantes que
o desenho institucional da
República, que extinguiu o Eleito, Deodoro da Fonseca formou um ministério com pessoas de diferentes ten-
poder Moderador – um ins­ dências republicanas: o Ministério da Guerra foi entregue ao major Benjamin Constant e
tituto que garantia a autori­ o Ministério da Fazenda, ao intelectual baiano Rui Barbosa.
dade máxima do Imperador No poder, Deodoro teve de enfrentar dificuldades: o vice era da oposição e muitos
– não conduziu a um gover­ parlamentares o responsabilizavam pelo “encilhamento”. Esses parlamentares aprovaram
no menos autoritário. um projeto que limitava o seu poder como presidente da República. Deodoro reagiu de
modo autoritário mandando fechar o Congresso (novembro de 1891).
Diante disso, os militares da Marinha ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro caso
Dica de leitura Deodoro não renunciasse; esse episódio é conhecido como Primeira Revolta da Armada.
Armada.
O livro reúne artigos de pro­ Pressionado, Deodoro da Fonseca renunciou e a presidência foi ocupada por seu vice.
fessores de diversas partes do
país sobre a História do Brasil,
sendo esse volume sobre o pe­ Governo Floriano Peixoto
ríodo que tem início na Procla­ Floriano Peixoto reabriu
ART COLLECTION/ALAMY/FOTOARENA

mação da República até o con­


o Congresso e formou os
texto da tomada de poder por
ministérios com seus aliados.
Getúlio Vargas em 1930.
Durante sua gestão, reduziu
• FERREIRA, Jorge; DELGADO, os aluguéis e tabelou o preço
Lucilia de Almeida Neves. O de alguns alimentos, como
tempo do liberalismo ex-
carne, feijão, pão e batata. E,
cludente: da Proclamação
com essas medidas, Floriano
da República à Revolução de
Peixoto conquistou grande
1930. Rio de Janeiro: Civiliza­
ção Brasileira, 2006. (O Brasil popularidade.
republicano, v. 1). Mas os seus adver-
Marechal Floriano Peixoto e a Revolta da Armada, em arte sários, entre os quais esta-
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA

de Angelo Agostini para o jornal Don Quixote, 1895. vam vários generais do
Exército, iniciaram uma
campanha exigindo sua renúncia. Floriano Peixoto reagiu aposen-
tando os generais. Os militares da Marinha, por sua vez, também se
levantaram contra o governo e, desta vez, chegaram a bombardear
o Rio de Janeiro com tiros de canhão, para exigir a renúncia do
presidente; o episódio ficou conhecido como Segunda Revolta
da Armada (1893).
Florianismo: forte Floriano Peixoto, porém, conseguiu dinheiro junto aos cafei-
adesão popular ao cultores paulistas, comprou navios no exterior e, com o apoio
governo de Floriano
dos soldados do Exército, venceu a revolta liderada pela Marinha.
Peixoto e a relação de
TEXTO DE APOIO absoluta fidelidade a ele Para defender o presidente Floriano, o “Marechal de Ferro”,
por parte da população formaram-se batalhões populares em um movimento conhecido
O presidente × o marechal pobre das cidades.
como florianismo
florianismo..
O deodorismo constitucional
duraria pouco, de fevereiro a no-
vembro de 1891. As constantes
18
desavenças entre a autoridade
militar do Executivo e as posturas
civilistas da maioria dos congres- prognosticara Machado de
D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 18 Assis: a liberdade exis- vam sustentação ao governo quando, no início de 28/06/22 13:22 D3-H
sistas evoluíram para o impasse tente era ainda a do trono, e o presidencialismo novembro, ocorreu a dissolução Congresso e a de-
político e a perda de legitimidade estava se tornando imperial. A crise derradeira se cretação do estado de sítio. [...]
da governança. [...] No decorrer daria quando o presidente chama para o ministé- A reação imediata das facções políticas não
dos oito meses de regime consti- rio [...], o barão de Lucena. Os republicanos históri- deu mais de vinte dias de sobrevida política ao
tucional, o marechal se sobrepôs cos indignaram-se, os republicanos paulistas, que marechal Deodoro da Fonseca, marcando assim
ao presidente, com frequentes haviam perdido a eleição com Prudente de Mo- um fim melancólico para o deodorismo e para a
discussões e deposições de minis- rais, presidente do Congresso, não achavam um imagem do proclamador.
tros e apelos para medidas admi- militar adequado para governar os civis. A própria
FLORES, Elio Chaves. A consolidação da República: rebeliões de
nistrativas não condizentes com imprensa se via constantemente ameaçada em
ordem e progresso. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de
a República imaginada pouco sua liberdade de divulgar fatos e notícias sobre as Almeida Neves (org.). O tempo do liberalismo excludente: da
tempo antes. A República estava autoridades e os atos do governo. Apenas alguns Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro:
mesmo sendo conduzida como grupos isolados, entre civis e militares, ainda da- Civilização Brasileira, 2011. (O Brasil republicano, v. 1, p. 56-58).
18

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 18 26/08/2022 16:02


TEXTO DE APOIO
O consolidador da
República
A Revolução Federalista Em fevereiro de 1892, tem iní-
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul explodia uma guerra civil motivada pela disputa cio, no Rio Grande do Sul, a Re-
volução Federalista, guerra civil,
entre o Partido Republicano Rio-Grandense, liderado pelo positivista Júlio de Castilhos,
entre republicanos e federalistas
e o Partido Federalista, liderado por Gaspar de Silveira Martins. Os seguidores de Júlio (ex-liberais e ex-conservadores),
de Castilhos tinham o apelido de pica-paus e recebiam o apoio de Floriano Peixoto. resultante da radicalização das
Já os seus adversários tinham o apelido de maragatos e eram apoiados pelos membros lutas pelo poder no estado. Seu
início é marcado pela insurgên-
da Marinha que faziam oposição a Floriano.
cia dos federalistas, ou maraga-
Essa guerra civil atingiu os estados de Santa Catarina e Paraná, Castilhismo: filosofia tos, contra a retomada do poder
causou a morte de milhares de pessoas e só terminou em 1895, política positivista no estado por Júlio de Castilhos.
que guiava o Partido
com a vitória dos pica-paus; com essa vitória, o castilhismo con- Nela ocupam lugar fundamental
Republicano
os coronéis, apoiados pelas suas
solidou-se como uma corrente política que influenciou a história do Rio-Grandense (PRR),
que tinha como milícias privadas. O movimen-
Rio Grande do Sul por décadas. to, que se prolonga até agosto
principal liderança
Quando Floriano Peixoto deixou a presidência, seus opositores Júlio de Castilhos. de 1895, abrange a ocupação
tinham sido vencidos e um modelo autoritário e excludente de de Santa Catarina e do Paraná
e assume contornos separa-
República se impunha ao país.
tistas. Em setembro de 1893, o
contra-almirante Custódio José
ZIG KOCH/NATUREZA BRASILEIRA

de Melo, pretenso candidato à


sucessão presidencial, inicia a
Revolta da Armada, buscando
Canhão usado como aliança com os federalistas em
armamento durante a represália ao apoio de Floriano
Revolução Federalista. Peixoto aos republicanos do sul.
Centro histórico da A Revolução Federalista e a Re-
cidade de Lapa (PR), volta da Armada, movimentos
2021.
de alguma forma vinculados a
ex-monarquistas que se consi-
deram excluídos do poder pelos
republicanos, enfrentam forte
resistência de Floriano Peixoto.
Leia o que um historiador comentou sobre o final do governo Nesse empenho, ele conta com
Floriano Peixoto. apoio militar e financeiro do go-
[...] Floriano enfrentou com vigor as revoltas que ameaçavam verno de São Paulo, com o apoio
Dialogando da bancada paulista no Congres-
a estabilidade do regime, como a Revolta Federalista no Sul e a
so e com o Exército coeso. Mes-
Revolta Armada [...]. Por trás do seu poder estava o apoio político Qual o significado mo na divergência, São Paulo
da oligarquia paulista, ciente de que a sobrevivência do novo de “Condomínio mantém a estratégia política de
de Fazendeiros” apoiar Floriano. Entre outros gru-
regime era a garantia do seu poder na política nacional.
no texto citado? pos – políticos, sociais e milita-
No final do seu governo, Floriano passou o poder sem
res – cresce, progressivamente, o
maiores sustos para Prudente de Morais, líder republicano pau- apoio a Floriano. Ao término de
lista e expressão dos valores [...] oligárquicos [...]. A “República seu governo, a imagem construí-
da Espada” se transformava no “Condomínio de Fazendeiros”. da a partir de sua atuação contra
as ameaças de um retorno à Mo-
NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil República: da queda da Monarquia ao fim do
Estado Novo. São Paulo: Contexto, 2016. p. 26.
narquia e de desmembramento
As oligarquias, especialmente a paulista, eram formadas, em sua maioria, por grandes fazendeiros. territorial do país é a de consoli-
dador da República.
Quando chegaram ao poder, transformaram a “República da Espada” em um “Condomínio de Fazendeiros”,
isto é, passaram do predomínio dos militares para o das oligarquias.
19 RESENDE, Maria Efigênia Lage de. O processo
político na Primeira República e o liberalismo
oligárquico. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO,
Lucilia de Almeida Neves (org.). O tempo do
13:22 D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 19
ENCAMINHAMENTO 28/06/22 13:22 liberalismo excludente: da Proclamação
da República à Revolução de 1930. 5. ed.
• Ressaltar que a atuação de Floriano Peixoto na repressão da Revolta da Armada rendeu a ele a Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
(O Brasil republicano, v. 1, p. 109-110).
renomeação da cidade de Desterro, do estado de Santa Catarina, que a partir de 1894 passou a ser
chamada Florianópolis. Conhecer o motivo da mudança de nome da cidade ajuda a compreender
a historicidade no espaço, conforme a competência específica 2.
• Aprofundar o assunto com a leitura do livro: VILLALBA, Epaminondas. A revolução federalista
no Rio Grande do Sul. 3. ed. Rio de Janeiro: Laemmert & C. Editores, 1897.

19

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 19 31/08/22 09:09


ENCAMINHAMENTO
• Estimular a reflexão sobre
a condição dos libertos no
meio rural. Os negros no pós-Abolição
• Destacar que a permanência
dos libertos no meio rural foi A luta pela Abolição foi grande e contou com a resistência dos próprios escravizados
acompanhada de negocia­ e do movimento abolicionista. Esse processo foi concluído em 13 de maio de 1888, com
ção, envolvendo, por exem­ a aprovação da Lei Áurea, que declarou extinta a escravidão no Brasil. Essa lei foi come-
plo, como, quando e onde
morada em todo país com missas campais, comícios e festas. A Abolição, no entanto, não
desejavam trabalhar.
previu nenhum processo de proteção social aos libertos que, em sua grande maioria, não
tinham tido acesso ao sistema educacional.
a) Rejeitaram a condição a que estavam submetidos duran-
TEXTO DE APOIO te a escravidão e exigiram receber uma remuneração pelo
trabalho executado.
A passagem do tempo entre o PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Brasil escravo e o liberto foi de


total desorganização nas gran- Os libertos no meio rural
des propriedades rurais, expres-
sivamente concentradas na re- Passada a festa, os ex-escravizados procuraram distanciar-se do passado de escra-
gião Sudeste. A desorganização vidão negando-se a se comportar como os antigos cativos. Em diversos engenhos do
com relação ao controle do tra- Nordeste, negaram-se […] a trabalhar sem remuneração. Muitos ex-escravizados per-
balho e a ausência de garantias maneceram nas localidades em que haviam nascido. [...] Mas decidir ficar não significou
do Império e da nascente Repú-
concordar em se submeter às mesmas condições de trabalho do regime anterior. […]
blica geraram grande indefini-
ção com relação ao futuro dos Grande parte dessa indisposição para

COLEÇÃO LUNARA/ARQUIVO DO PROJETO MONUMENTA


ex-cativos. Aliás, durante todo o negociar estava relacionada aos desejos dos
século XIX a grande questão foi ex-escravizados de terem acesso à terra e de
“o que fazer com o negro após não serem mais tratados como cativos. Na
a ruptura da polaridade senhor-
-escravo, presente em todas as região açucareira do Recôncavo, os libertos
dimensões da sociedade”. reivindicaram a diminuição das horas de
[...] Em relato colhido pelo trabalho e dos dias que deveriam dedicar à
Laboratório de História Oral e grande lavoura de cana. Exigiram também
Imagem da Universidade Fede- o direito de continuar a ocupar as antigas
ral Fluminense (LABHOI/UFF), roças e dispor livremente do produto de
a matriarca de São José, Mãe
Zeferina, falecida em 2003, re-
Escravizados recém-libertos em suas plantações. Nos dias imediatos ao 13
Porto Alegre (RS), c. 1900. de maio, ocuparam terras […] de engenhos
velava:
Quando chegou o tempo... o abandonados e iniciaram o cultivo de mandioca e a criação de animais. Isso mostra
dia 13 de maio, o dia da liber- sua percepção de que a condição de liberdade só seria possível se pudessem garantir
tação, o senhor bateu o sino e a própria subsistência e definir quando, como e onde deveriam trabalhar.
desceu gente deles... mandou
FRAGA, Walter; ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. Uma história da cultura afro-brasileira. São Paulo: Moderna, 2009. p. 79-80.
um empregado, capataz. Capa-
taz, naquele tempo, era capa- a) Segundo o texto, qual foi a atitude dos libertos no imediato pós-Abolição?
taz. Bateu o sino e o capataz foi b) No campo, muitos libertos negociaram suas condições para permanecer nas fazendas onde
lá na roça e os negros subiram viviam. Quais eram suas demandas nessas fazendas?
todos pra fazenda. Chegaram c) Escreva uma frase ou período relacionando liberdade, sobrevivência e trabalho.
na fazenda e ficaram todos no c) Resposta pessoal.
terreiro lá esperando e ele saiu
lá na janela: “De hoje em diante, b) As demandas incluíam definir o tempo de trabalho, a quantidade de dias que iriam se dedicar à lavoura
vocês são senhor do seu nariz, 20 de açúcar e o direito de continuar ocupando as roças de onde extraíam sua subsistência. Além disso, os
recém-libertos ocuparam terras abandonadas, onde cultivavam mandioca e criavam animais.
cada um vai fazer pra si, eu não
tenho mais conta com vocês
não”... a liberdade. Mas ainda
um pega o seu talhão de20café”, aí trabalharam aí mesmo...
EDITORA DA UFF

D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 28/06/22 13:22 D3-H


teve um bocado de bobo que
chorou, chorou porque não sa- papai, mamãe, vovô... vovó.
bia como é que ia comer, como A mobilidade espacial aventada com a Abolição resul-
é que ia viver. Só conhecia ali na tou numa acirrada concorrência entre os fazendeiros
fazenda, aí pegaram, choraram: pela mão de obra livre, não sendo incomum a exploração
“Como é que a gente vai fazer dos laços comunitários dos recém-libertos convencidos a
sem o senhor ajudar nós?” Eles permanecer nas terras onde viviam suas famílias havia
não sabiam que eles é que es- pelo menos três décadas.
tavam ajudando o senhor. “Nós
FARIA, Ana Maria Reis de. Quilombos & quilombolas hoje: sobre a reconstrução
não temos modo de viver.” Aí de conceitos para o ofício da História. In. ABREU, Martha; PEREIRA, Matheus
foi indo e ele falou: “Vocês vão Serva (org.). Caminhos da liberdade: histórias da Abolição e do pós-Abolição
trabalhar pra mim mesmo, cada no Brasil. Niterói: PPG História - UFF, 2011. p. 498-499.
20

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 20 26/08/2022 16:02


TEXTO DE APOIO
O associativismo negro no
Rio de Janeiro (1888-1930)
Nas cidades, os ex-escravizados trabalhavam arru- Segregação socioespacial:
segundo Lana Cavalcanti e [...] A Associação dos Homens
mando casas, cozinhando, lavando, passando, limpando Manoel Araujo, é um processo de Cor (A.H.C.) é mais uma agre-
ruas, transportando cargas, vendendo alimentos, flores, que fragmenta as classes miação, de nítida conotação
jornais, entre outros. sociais em espaços distintos racial, desconhecida da histo-
da cidade. Nesse sentido, o
Com baixos salários, tinham de morar em casa de cômodos, cotidiano das pessoas que
riografia brasileira. Reunindo (e
cortiços e nas periferias de cidades, como São Paulo, e em habitam esses lugares é marcado cruzando) fontes jornalísticas
por insegurança, violência, diversas sobre ela, foi possível
favelas situadas nos morros de cidades como Rio de Janeiro.
moradias precárias, falta de costurar algumas informações
Portanto, ocorreu também uma segregação socioespacial.
socioespacial. infraestrutura e de acesso aos fragmentadas. A A.H.C. costu-
serviços básicos e ao lazer. mava organizar festas, excur-
a) Nas cidades, os libertos faziam serviços hoje chamados
Dialogando de subempregos, que à época não envolviam contrato de trabalho, como serviços domésticos, sões, atividades educacionais,
limpeza de ruas, transporte de cargas, venda de jornais, entre outros. palestras, conferências, home-
a Caracterize o trabalho feito pelos libertos nas cidades no pós-Abolição. nagens, celebrações de missa e
b Pesquise se esses espaços continuam a ser habitados por grande número de negros. b) Resposta pessoal. atos públicos. Além disso, come-
morava as datas cívicas – 7 de
c Pesquise se na capital do estado onde você habita ocorre segregação socioespacial. Setembro (dia da Independência
c) Resposta pessoal.
do Brasil) e 15 de Novembro (dia
da proclamação da República) –
Associativismo negro e, principalmente, aquelas ati-
Além de lutarem por emprego, moradia e salário, os libertos tinham de enfrentar o nentes à história do negro – 28
de Setembro (dia da aprovação
racismo e a violência policial, que os inibia de circular livremente pelas ruas ou praticar
da Lei do Ventre Livre, em 1871) e
suas religiões. 13 de Maio (dia da promulgação
Nesse contexto, muitos libertos buscaram compensar os trabalhos, geralmente cansativos da Lei Áurea, em 1888). “Depois
e mal remunerados, reunindo-se em associações, como clubes sociais, associações beneficentes de amanhã”, divulgava O Paiz,Paiz,
e recreativas. Essas iniciativas são chamadas pelos estudiosos de associativismo negro.. “grande solenidade em come-
moração à libertação dos escra-
Na época, os salões de baile e clubes, por exemplo, não permitiam a entrada de negros.
vos, promovida pela Associação
Eles, então, encontravam-se em salões alugados para bailes, onde exibiam suas danças, ele- dos Homens de Cor”. Haveria
gância de gestos e modos que deviam ser convenientes socialmente. Esses espaços de lazer cerimônia cívica, discursos, ho-
atraíam e uniam a comunidade negra, e contribuíam para que se percebessem como negros menagens aos líderes abolicio-
numa sociedade que criava barreiras à nistas e, para desfecho, um baile
ACERVO PARTICULAR DE ALCIONE FLORES DO AMARAL

sua inserção e ascensão. aos associados e convidados. A


agremiação, contudo, destacou-
Em São Paulo, os primeiros clubes -se pela expectativa de partici-
para negros surgiram por volta de 1915. pação na vida política nacional.
Mas, no Rio de Janeiro, as associações [...] Conforme relatou a Gazeta
beneficentes negras datam do final do de Notícias de 23 de novembro de
século XIX, assim como no Rio Grande 1926: “O Sr. Presidente da Repú-
blica [Washington Luís] foi pro-
do Sul. curado ontem pela Associação
dos Homens de Cor. [...] Não sa-
bemos qual foi a pauta dessa au-
Criado em 1896, o Clube União Familiar foi o mais diência entre a A.H.C. e o presi-
antigo clube social negro, com sede em Santa dente da República – esta, aliás,
Maria (RS). Foi criado e administrado por mulheres foi provavelmente a primeira
e homens negros. Fotografia da década de 1940.
vez que um presidente do Brasil
se reuniu com representantes
21 de uma entidade negra –, mas
certamente ela fez parte do pro-
jeto mais amplo da agremiação
de cavar espaços na sociedade,
13:22
ENCAMINHAMENTO
D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 21 28/06/22 13:22
ampliar sua rede de relações e
alianças, negociar com o poder
• Ressaltar a importância dessas organizações para a história e cultura afro-brasileiras.
público e influenciar o destino
• Temas Contemporâneos Transversais: ao se tratar da história das associações negras, de- da nação, tendo em vista o de-
senvolve-se o tema multiculturalismo. senvolvimento social, político
Professor, o trabalho com os conteúdos dessa página contribui para a valorização da e cultural dos “homens de cor”.
[...]
população negra e o reconhecimento do protagonismo e da resistência dessa população no
imediato pós-Abolição. DOMINGUES, Petrônio. Cidadania
por um fio: o associativismo negro no Rio
de Janeiro (1888-1930). Revista Brasileira
de História, São Paulo, v. 34, n. 67,
p. 251-281, 2014, p. 267-268.
21

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 21 31/08/22 09:16


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com a
leitura do texto: DOMINGUES,
Petrônio. Movimento negro
brasileiro: alguns aponta-
Imprensa negra
Antes e depois da Abolição, a comunidade negra também lutou por direitos criando
A
mentos históricos. Tempo,
jornais próprios: a chamada imprensa negra..
[s. l.], n. 23, mar. 2007.
Segundo o historiador Flávio Gomes, os primeiros periódicos editados por negros são
Professor, o Arquivo Pú-
do final do século XIX. O Treze de Maio (1888), A Pátria (1889), O Exemplo (1892), que
blico do Estado de São Paulo
circulou em Porto Alegre, foram alguns deles. Depois vieram vários outros jornais, como O
mantém em seu acervo digital
alguns números de diversos Baluarte (Campinas, 1903), A Pérola (São Paulo, 1911), O Menelick (1915), O Kosmos
periódicos da imprensa negra. (1922) e O Clarim da Alvorada (1924).
Nesse acervo, é possível que os Desde a década de 1880, esses

REPRODUÇÃO/O CLARIM
alunos façam uma análise do- jornais foram publicados em vários
cumental, selecionando uma estados brasileiros, desde o Rio Grande
edição dos periódicos e relacio- do Sul até o Maranhão. Eles visavam
nando os discursos encontra- dialogar com os negros e também com
dos no material com o contexto outros setores da população. Como
histórico da Primeira República. observa o historiador Flávio Gomes, o
As digitalizações podem ser formato e o estilo desses jornais basea-
acessadas em: ACERVO digita- ram-se nos combativos jornais operários
lizado. Disponível em: http:// da mesma época. Os jornais da imprensa
www.arquivoestado.sp.gov.
negra geralmente duravam pouco tempo
br/web/acervo/digitalizados?
e circulavam com interrupções, princi-
hemero. Acesso em: 6 jun.
palmente por falta de recursos materiais.
2022; e a lista de periódicos
da imprensa negra está dis- Redação do jornal O Clarim da
ponível em IMPRENSA Negra Alvorada, década de 1920.
é destaque no site do Arqui-
vo Público. Fundação Cultu- PARA SABER MAIS
ral Palmares. Brasília (DF), 12

ZAHAR
maio 2011. Disponível em: Leia o que disse sobre o assunto o historiador Flávio Gomes.
https://www.palmares.gov.
br/?p=11659#:~:text=No% No final do século XIX e principalmente nas primeiras
20pr%C3%B3ximo%20 décadas do seguinte, [...] uma multiplicidade de periódicos
dia%2013%20de,da%20 surgiu com o mesmo propósito: denunciar as condições de vida,
%E2%80%9Cimprensa% a segregação, a falta de oportunidades, o cotidiano do racismo e
20negra%E2%80%9D%20 a violência experimentada pelas populações negras, sobretudo
brasileira. Acesso em: 6 jun. nas cidades. No período que se seguiu à abolição, a maior parte
2022. dessas questões esteve ausente do foco da grande imprensa. [...]
[...] Isso mostra que tal tarefa coube principalmente aos
Fac-símile da capa
próprios negros e as suas organizações.
Imagens em movimento do livro Negros e
GOMES, Flávio dos Santos. Negros e política (1888-1937). política, de Flávio dos
Entrevista com a historia­ Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p. 32-33. Santos Gomes.
dora Ana Flávia Magalhães
Pinto.
22
• CIDADANIA: movimento
negro e imprensa. Vídeo
(8min43s). Publicado pelo
canal TV Senado. Disponível
TEXTO DE APOIO
D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 22 dariam condições para “discernir a mentali- 28/06/22 13:22 D3-H

dade de uma raça”. Ele iniciou o texto respon-


em: https://www.youtube.com/ Imprensa negra no Brasil: “Autorretrato dendo a duas críticas que seriam impeditivas
watch?v=lCcKldHioFE. Acesso do negro por ele mesmo” para aquele tipo de pesquisa: a primeira, de
em: 6 jun. 2022. A expressão entre aspas acima foi registra- que os jornais negros não tinham grande tira-
da por um francês, o que de antemão revela o gem [...] e duravam pouco; a segunda, de que
fato de que o primeiro pesquisador a trabalhar as publicações representavam muito mais as
com a imprensa negra brasileira foi um es- opiniões e os interesses da “pequena classe
trangeiro. Roger Bastide publicou A imprensa média negra” do que as da maioria ou “massa
negra do estado de São Paulo,
Paulo, em 1951, sob o negra”.
pressuposto de que os jornais representariam Bastide argumentava contra as duas críticas.
as aspirações e os sentimentos coletivos que Pautava a sua defesa nas condições financeiras
22

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 22 31/08/22 09:19


ENCAMINHAMENTO
1. a) Os principais autores do Manifesto Republicano eram, em sua • Propor aos alunos que res­
maioria, fazendeiros do Oeste Paulista e profissionais liberais. pondam individualmente e,

ATIVIDADES
ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

1. b) O Manifesto está criticando a centralização política, que constrange o cidadão e suga a


depois, realizarem uma cor­
reção coletiva.
riqueza das províncias, transformando-as em satélites que giram em torno da corte. Professor, por retomar as­
1. c) Eles defendem o federalismo, que confere autonomia aos estados, possibilitando que pectos centrais para a com­
façam suas leis, elejam seus representantes e administrem seu dinheiro. preensão do cenário político
1. d) Quer dizer que nós também, assim como os outros países da América, de emergência da República,
I. Retomando queremos ser republicanos. E, como o Brasil era o único país monarquista das
Américas, defender o pertencimento significava ser republicano. a atividade 1 contribui para o
desenvolvimento da habilida-
1 Leia um trecho do Manifesto Republicano e responda às questões a seguir. de EF09HI01.

Manifesto Republicano
TEXTO DE APOIO
A centralização, tal qual existe [...], comprime a liberdade,
constrange o cidadão [...], suga a riqueza [...] das províncias, Constranger: Manifesto republicano
oprimir.
constituindo-as satélites [...] do grande astro da corte – centro O Manifesto de 1870, a despeito
absorvente que tudo corrompe e tudo concentra em si [...]. de lançado no calor dos aconteci-
mentos e em plena sede do regi-
O regime de federação baseado [...] na independência recíproca
me monárquico, vinha como um
das províncias, elevando-as à categoria de Estados [...] unicamente documento ameno. Redigido pe-
ligados pelo vínculo da mesma nacionalidade [...], é aquele que los advogados republicanos Sal-
adotamos no nosso programa [...]. danha Marinho, Salvador Men-

EDITORA SCIPIONE
Somos da América e quere- donça e pelo jornalista Quintino
Bocaiúva, contava com nomes de
mos ser americanos.
expressão [...]. Totalizava 53 as-
MANIFESTO Republicano. In: DEL PRIORE, Mary. sinaturas, de diversos profissio-
Documentos de história do Brasil:
de Cabral aos anos 90. São Paulo:
nais: advogados (14), jornalistas
Scipione, 1997. p. 67. (10), médicos (9), negociantes (8),
engenheiros (5), professores (2),
a) Quem eram seus principais autores? funcionários públicos (3), fazen-
b) O que o Manifesto está criticando? deiro (1), capitalista (1). A despei-
c) O que eles defendem nesse to das qualificações profissionais
Manifesto? urbanas de seus assinantes, eram
d) Qual o significado de “Somos
na sua maioria homens ligados à
propriedade rural, ainda que ape-
da América e queremos ser
nas por laços de parentesco.
americanos”?
É o que explica, em parte, o con-
teúdo bem-comportado do texto.
A justificativa para tamanho co-
medimento – capciosa, sem dúvi-
Fac-símile da capa do livro Documentos da – decorria do temor de assus-
de história do Brasil, de Mary Del Priore. tar a elite agrária conservadora e
com isto levá-la a uma reação os-
tensiva contra o movimento, des-
montando-o de imediato. Vinha,
portanto, de forma suave.
O documento continha tra-
23 ços peculiares. Apresentava-se
ostensivo na proposta de fede-
ração. Incisivo na crítica contra
o poder pessoal do imperador.
Mudo quanto à abolição da es-
13:22 TEXTO DE APOIO (CONTINUAÇÃO)
D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 23 tou algumas hipóteses sobre a indiferença
28/06/22 que
13:22
cravatura. Este era o teor da pro-
visualizava na “massa” imóvel diante das cam-
e materiais dos produtores e receptores dos panhas levadas a cabo pelos redatores de sua posta dos republicanos neste
jornais. Ele entendia que os negros não tinham própria imprensa. Por outro lado, ele trouxe a manifesto de 1870, a primeira
como manter aquelas publicações por muitos contribuição da “pequena classe média negra” página política do recém-for-
anos em virtude de serem o estrato populacio- (formada por professores, advogados, jornalis- mado Partido Republicano. So-
nal mais empobrecido de São Paulo. As dificul- mos da América e queremos ser
tas, revisores de provas tipográficas), que havia
dades para uma maior periodicidade daqueles americanos,, era a afirmação que
americanos
pouco tempo saíra daquele meio e mostrava-se
periódicos não representariam apenas opiniões faziam, em alusão às demais re-
interessada nos problemas dos negros mais em-
divergentes entre os jornalistas e a maioria dos públicas da América do Sul.
negros, mas um “fenômeno sociológico revela- pobrecidos.
MARTINS, Ana Luiza.
dor da psicologia afro-brasileira”. Na busca do SANTOS, José Antônio dos. Uma arqueologia dos jornais negros no O despertar da República.
entendimento daquele “fenômeno” ele levan- Brasil. Historiæ, Rio Grande, v. 2, n. 3, p. 143-160, 2011. p. 143. São Paulo: Contexto, 2001. p. 61-62.
23

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 23 26/08/2022 16:02


ENCAMINHAMENTO 3. a) Ao invés de utilizar os recursos oferecidos pelos bancos da maneira esperada, muitas pessoas usaram
Professor, a partir do lema o dinheiro dos empréstimos para abrir empresas fantasmas. Assim, os donos dessas empresas ganharam
inscrito na nossa bandeira, dinheiro no mercado especulativo. A descoberta do esquema acabou provocando uma corrida aos bancos;
com isso, os acionistas esperavam recuperar o capital investido, mas não foi o que aconteceu.
pensar sobre o ideário positi­ 2 O major Benjamin Constant foi um dos maiores incentivadores do republicanismo
vista e sua interpretação e apli­ entre os militares brasileiros. Sob forte influência do positivismo de Auguste Comte,
cação no Brasil, sob a batuta defendia, entre outras ideias, que o sistema republicano aceleraria o progresso na-
do major e líder da mocidade, cional, que, por sua vez, depende da ordem. Por isso o lema, adotado posteriormente
o militar Benjamin Constant. pelos republicanos e exibido na bandeira nacional, “Ordem e Progresso”.

Sobre o pensamento positivista e sua relação com a República, avalie as afirmações


Dica de leitura a seguir:
I. Os positivistas brasileiros defendiam que o sistema republicano contribuiria para o progresso,
No texto, a socióloga dis­
que seria alcançado independentemente de outro fator qualquer.
corre sobre o posicionamento
II. Os positivistas brasileiros defendiam que somente os militares poderiam salvar o país dos civis
dos positivistas brasileiros a corruptos.
respeito da escravidão, con­
III. A maioria dos positivistas brasileiros, apesar de uma ou outra divergência, eram favoráveis à
textualizando essa questão no abolição da escravidão.
interior do quadro teórico e
ideológico do positivismo. Estão corretas: 2. Alternativa D.
• SUPERTI, Eliane. Positivismo a) Todas.
e escravidão: um estudo so­ b) Apenas I e II.
bre o projeto positivista de c) Apenas I e III.
reorganização das relações d) Apenas II e III.
de trabalho no brasil no final
do século XIX. In: SIMPÓSIO 3 Rui Barbosa foi o primeiro ministro da Fazenda do governo republicano de marechal
NACIONAL DE HISTÓRIA, 22., Deodoro da Fonseca. O ministro realizou uma reforma financeira por meio da qual
2003, João Pessoa. Anais [...]. os bancos foram autorizados a emitir dinheiro para emprestar a quem quisesse abrir
João Pessoa: ANPUH, 2003. novas empresas. Tal medida, porém, não obteve o sucesso esperado, acarretando
uma crise financeira que abalou o país.
a) Por que tais medidas não obtiveram sucesso?
TEXTO DE APOIO b) Por que a reforma do ministro Rui Barbosa ganhou o apelido de política do “encilhamento”?
Militarismo × civilismo
[...] Como previa a Constitui- 4 Após a renúncia de Deodoro da Fonseca, em 1891, o seu vice, Floriano Peixoto, assumiu
ção, cuja promulgação se deu a presidência. Sobre o governo de Floriano e seus desdobramentos, identifique as
em 1891, [...] após os trabalhos alternativas corretas e, depois, justifique sua escolha. 4. Alternativas A, B e D.
constituintes a Assembleia se a) Atuando no sentido de conter a crise estabelecida, Floriano ganhou popularidade ao promover
dissolveria, passando a consti- a redução do valor dos aluguéis e tabelar preços de alimentos.
tuir a Câmara e o Senado, ambos b) Os militares da Marinha também se levantaram contra o governo de Floriano. Exigiram sua
formando o Congresso Nacional. renúncia e chegaram a bombardear o Rio de Janeiro no episódio que ficou conhecido como
A este caberia eleger o presiden- Segunda Revolta da Armada, em 1893.
te constitucional da República
c) Floriano ficou conhecido pelo apelido de “Marechal de Ferro” por fechar o Congresso
brasileira.
Nacional e não ceder às pressões dos cafeicultores paulistas, que também exigiam a sua
Deodoro lançou-se candidato saída do cargo.
[...]. A candidatura do presidente
d) Durante o mandato de Floriano, eclodiu no Rio Grande do Sul uma guerra civil conhecida
provisório não foi bem recebida
como Revolução Federalista, que se espalhou pelos estados de Santa Catarina e do
pelos círculos civis, especial-
Paraná.
mente os representados pelos 3. b) Naquela época, no jóquei, os guichês de apostas ficavam ao lado de onde os cavalos eram encilhados.
cafeicultores paulistas. [...] O
breve período do governo pro- 24 O barulho nesse local era muito parecido com aquele que se ouvia na Bolsa de Valores, por isso os
adversários de Rui Barbosa apelidaram a crise gerada pela reforma de “encilhamento”.
visório não deixara saudades
a esses círculos que lançam as
candidaturas, para presidente e conservadores tinham 24conseguido dividir os
D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd so. Seus dispositivos diminuíam os poderes do 28/06/22 13:22 D3-H
vice, do civil Prudente de Morais militares e contavam agora com um provável chefe de Estado. O barão de Lucena, ministro da
e do marechal Floriano Peixoto. aliado junto ao governo, não obstante o fato de Justiça e da Agricultura, não conseguira impedir
[...] O resultado da apuração Deodoro e Floriano jamais terem se hostilizado sua aprovação. Enviada a sanção presidencial,
dá vitória a Deodoro, mas elege durante a campanha. foi vetada por Deodoro. A reação do Legislati-
como seu vice o marechal Flo-
Começou a se delinear um confronto entre o vo veio em seguida com a aprovação do projeto,
riano. [...]. Dos candidatos envol-
doutrinarismo dos republicanos civis e a pouca em 2 de novembro de 1891. No dia seguinte, De-
vidos na disputa sairá fortaleci-
do Floriano, que obtivera mais importância que os militares atribuíam a eles. odoro decretou a dissolução do Congresso. [...]
votos como vice-presidente do A situação chegou ao clímax quando da trami- PENNA, Lincoln de Abreu. República brasileira.
que o próprio Deodoro. Os civis tação da Lei de Responsabilidade no Congres- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 59-60.

24

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 24 26/08/2022 16:02


Vozes do presente
c) questionar também se os
estudantes ou os membros
II. Leitura e escrita em História de sua família gostam de se
manter inteirados dos deba­
tes políticos e de que maneira
Vozes do presente eles buscam participar da po­
lítica do estado ou do municí­
Leia o texto a seguir com atenção.
pio em que vivem. Além disso,
explicar sobre a importância
Bestializados ou bilontras? da participação política como
O povo assistiu bestializado à proclamação Tribofe: gíria da época que uma prática de um direito ci­
da República, segundo Aristides Lobo [...]. significa trapaça, enganação, dadão. Comparar, por exem­
engodo.
[...] Havia tribofe na política, na bolsa, no plo, o início do século XX com
Bilontra: gíria da época que
câmbio, na imprensa, no teatro, nos bondes, significa esperto.
os dias atuais, em que existe a
nos aluguéis, no amor. Não se obedecia nem à extensão do voto às pessoas
lei dos homens, nem à de Deus. [...] não alfabetizadas e também
O povo sabia que o formal não era sério. Não
às mulheres, algo que não era
comum no tempo da Primeira
havia caminhos de participação, a República não

COMPANHIA DAS LETRAS


República.
era para valer. Nessa perspectiva, o bestializado
era quem levasse a política a sério, era o que d) a proposta desta atividade
se prestasse à manipulação. Num sentido [...], a
é que os estudantes se enga­
jem na participação para ele­
política era tribofe. Quem apenas assistia, como
ger um representante e um
fazia o povo do Rio por ocasião das grandes
vice-representante de classe,
transformações realizadas a sua revelia, estava
que vai assumir as funções
longe de ser bestializado. Era bilontra. quando o primeiro não estiver
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: presente. Para essa dinâmica,
o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987. p. 140, 158, 160. verificar quais são os estudan­
tes que gostariam de se candi­
datar aos cargos. Se o número
de interessados for muito alto,
Fac-símile da capa do livro Os bestializados: sor­tear quatro ou cinco estu­
o Rio de Janeiro e a República que não foi,
dantes para cada função. Em
de José Murilo de Carvalho.
seguida, pedir a esses estudan­
a) Não. O autor afirma que o povo não reagiu à proclamação porque percebeu que a República não era para valer
e nela não havia caminhos de participação. tes que preparem um discurso
a) O autor concorda com a afirmação de Aristides Lobo segundo a qual o povo assistiu à para justificar por que eles se­
Proclamação da República “bestializado”? Por quê? riam bons representantes de
b) Como o autor caracteriza a política da Primeira República? classe. Com os demais alunos,
c) No estado ou no município em que você mora, as pessoas costumam se interessar por fazer os preparativos para as
assuntos políticos? Se sim, de que forma isso acontece? eleições, como montar as fi­
d) Você sabe o que é representante de classe? Representantes de classe são estudantes que chas de eleição, a urna eletrô­
têm como função ajudar o professor quando necessário e intermediar a comunicação entre nica e organizar a sala de aula
professores e gerência e os demais estudantes da turma. Com o professor e os colegas, faça de forma a facilitar a atividade.
uma eleição para eleger um representante e um vice-representante de sua classe.
b) Ele a caracteriza como um regime no qual havia trapaça na política, na imprensa, nos bondes, nos alu- Estabelecer um dia para que os
candidatos façam seu discurso
guéis, no amor. Daí decorre que o povo não a levou a sério porque sabia que não era para valer.
c) Respostas pessoais. d) Resposta pessoal.
25 e para que ocorra a eleição. Se­
lecionar também alguns estu­
dantes: um ficará responsável
13:22
ENCAMINHAMENTO
D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 25 28/06/22 13:22
para cuidar da urna durante a
eleição e outros para ajudar na
• Chamar a atenção para o fato de que José Murilo de Carvalho inova ao romper com uma
contagem dos votos. Por fim,
versão, que vigorou durante muito tempo, segundo a qual o povo assistiu “bestializado” apresentar os resultados da
ao golpe que instaurou a República. eleição à turma.
• Destacar a importância da pesquisa em História, como fica evidenciado no trecho da obra
de José Murilo de Carvalho, historiador que conhece seu ofício.

25

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 25 26/08/2022 16:02


ENCAMINHAMENTO
Professor, a atividade visa
familiarizar os alunos com o
debate historiográfico em a) Ele a vê como um golpe organizado e executado por militares.
Cruzando fontes
torno da Proclamação da Re­ b) Na visão dele, foi a juventude militar que seduziu Benjamin Constant, e não o inverso.
(Celso Castro reuniu uma enorme documentação e apresentou a mocidade militar como
pública e estimulá-los a ar­ principal protagonista da Proclamação da República no Brasil.)
FONTE 1
gumentar em defesa de um
ponto de vista, contribuindo [...] O golpe de 1889 – ou a “Proclamação da República”, como passou à História –
para o desenvolvimento da foi um momento-chave no surgimento dos militares como protagonistas no cenário
competência geral 7.
político brasileiro. [...] Havia muitos republicanos civis no final do Império, mas eles
estiveram praticamente ausentes da conspiração. O golpe republicano foi militar, em
sua organização e execução. [...]
TEXTO DE APOIO
Todas as fontes disponíveis destacam a liderança que Benjamin Constant [...]
O aumento do custo exercia sobre a “mocidade militar” formada na Escola Militar da Praia Vermelha. Ele
de vida no começo da seria o [...] “líder” [...] ou “apóstolo” desses militares. [...] Minha perspectiva, no entanto,
República
focaliza não o “líder” [...], mas seus pretensos “liderados” [...]. Ao invés de assistirmos
Pelo lado econômico e finan-
a Benjamin Constant catequizando os jovens da Escola Militar, encontraremos jus-
ceiro, os tempos [...] foram de
grandes agitações. Novamente tamente a “mocidade militar” seduzindo-o e convertendo-o para o ideal republicano.
a origem de tudo remontava à Atribuo à “mocidade militar”, portanto, o papel de protagonista da conspiração repu-
escravidão. [...] devido à necessi- blicana no interior do Exército. [...]
dade de aplacar os cafeicultores
CASTRO, Celso. A Proclamação da República. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
[...] e de atender a uma demanda (Descobrindo o Brasil, p. 8-10).
real de moeda para o pagamento c) Semelhança: tanto o autor da fonte 1 quanto a autora da fonte 2 veem a Proclamação da
de salários, o governo imperial República como um golpe de Estado. A diferença é que, para Celso Castro, o golpe republicano
começou a emitir dinheiro, no de 1889 foi organizado e executado pelos militares; já para Emília Viotti, o golpe republicano
que foi seguido com entusiasmo FONTE 2 resultou da ação de três forças conjugadas: uma parcela do Exército, os fazendeiros do Oeste
pelo governo provisório [...]. Con- Paulista e os representantes das classes médias.
cedido o direito de emitir a vários [...] Em 15 de novembro de 1889, a Monarquia era derrubada por golpe militar e
bancos, a praça do Rio de Janei- proclamava-se a República.
ro foi inundada de dinheiro sem O movimento resultou da conjugação de três forças: uma parcela do Exército,
nenhum lastro, seguindo-se a
conhecida febre especulativa [...]. fazendeiros do Oeste Paulista e representantes das classes médias urbanas que, para a
obtenção dos seus desígnios, contaram indiretamente com o desprestígio da Monarquia
[...] Os anos de 1890 e 1891 fo-
ram de loucura, segundo a ex- e o enfraquecimento das oligarquias tradicionais. [...]
pressão de um observador es- [...] O ano de 1889 não significou uma ruptura do processo histórico brasileiro. As
trangeiro, o qual acrescenta ter condições de vida dos trabalhadores rurais continuaram as mesmas; permaneceram
havido corretores que obtinham
o sistema de produção e o caráter colonial da economia, a dependência em relação aos
lucros diários de 50 a 100 contos
e que uma oscilação do câmbio mercados e capitais estrangeiros. [...]
fazia e desfazia milionários. [...] COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos.
6. ed. São Paulo: Editora Unesp, 1999. p. 489-490.
As consequências não se fize-
ram esperar. Desde logo, houve a) Como Celso Castro vê a Proclamação da República?
um enorme encarecimento dos b) No texto, Celso Castro minimiza o papel de oficiais como o major Benjamin Constant na
produtos importados devido ao Proclamação da República. Justifique.
aumento da demanda e ao con- c) Compare a visão do autor da fonte 1 à da autora da fonte 2 sobre a Proclamação da
sumo conspícuo de novos ricos. República.
A seguir, a inflação genralizada d) Em dupla. Qual das versões vocês consideram mais convincente? Justifiquem.
e a duplicação dos preços já em d) Resposta pessoal.
1892. Ao mesmo tempo, come-
çou a queda do câmbio. Encare-
26
cendo ainda mais os produtos
de importação, que na época
abrangiam quase tudo. Em 1892, D3-HIS-F2-2111-V9-U1-C01_LA-G24.indd 26 28/06/22 13:22
já era necessário o dobro de mil-
-réis para comprar uma libra
esterlina; em 1897, o triplo. Por
cima, o governo aumentou os
impostos de importação e pas-
sou a cobrá-los em ouro, o que
contribuiu ainda mais para o
agravamento do custo de vida.
CARVALHO, José Murilo de.
Os bestializados: o Rio de Janeiro e
a República que não foi. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987. p. 19-20.
26

008a026_HIS-F2-2111-V9-U1-C01-MP.indd 26 26/08/2022 16:02


OBJETIVOS
• Compreender e discutir os
CAPÍTULO conceitos de oligarquia, coro-

2
nelismo, política dos governa-
dores e “café com política”.
PRIMEIRA REPÚBLICA: • Analisar a relação estreita en-
DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA tre industrialização e urbani-
zação na Primeira República.
1. Os personagens são dois: um eleitor, mostrado como um traba-
lhador do campo, e um senhor vestido à moda de um fazendeiro. • Identificar e reconhecer a
2. O trabalhador estende a mão esquerda em direção aos alimentos e trajetória de alguns grupos
na mão direita tem o que parece ser uma cédula eleitoral. O fazen- de imigrantes no Brasil na
deiro, por sua vez, aponta para a urna, como quem diz: “Vote em
Primeira República.
Observe a charge a seguir com atenção. mim e você terá o alimento!”. Note que há um retrato do fazen-
deiro em um quadro na parede, no qual está escrito “VOTE”. • Compreender e analisar con-
testações e dinâmicas da vida

ARIONAURO
cultural na Primeira República.
• Discutir sobre a questão indí-
gena na República.
• Analisar o movimento operá-
rio e sua luta por melhores con-
dições de vida e de trabalho.
• Compreender o modernis-
mo e identificar algumas de
suas principais ideias e obras.

Os objetivos deste capí-


tulo visam cooperar para o
entendimento da Primeira
República e de suas princi-
pais características, contri-
buindo para o desenvolvi-
mento das competências e
habilidades propostas.

BNCC
Charge de Arionauro, 2021. • Competências gerais: 1,
2, 3, 4, 7 e 9.
A charge é contemporânea e foi feita pelo artista Arionauro da Silva Santos. • Competências específi-
1. Quem são os personagens representados na charge? cas: 1, 2, 3, 4 e 6.
2. O que está acontecendo na cena? • Habilidades: EF09HI02,
EF09HI03, EF09HI04, EF09HI05,
3. A charge ironiza a existência da troca de favores na cultura política brasileira. Esse fenômeno é antigo
ou atual? EF09HI06, EF09HI07, EF09HI08 e
EF09HI09.
4. Você sabia que essa prática foi muito comum na Primeira República (1889-1930)?
É esse período que vamos estudar agora! 4. Resposta pessoal.
3. A troca de favores é um fenômeno antigo na história política do Brasil: a troca de bens materiais –
ENCAMINHAMENTO
alimentos, roupas ou vantagens (emprego) – por voto. 27 • Explorar os elementos da
charge para que os alunos
reconheçam e discutam a crí-
TEXTO DE APOIO
027a058-HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 27 imediato e, portanto, apresenta elementos24/08/22 con-
08:45 tica nela presente. Ao ques-
cretos para análise do seu respectivo tempo tionar sobre a atualidade do
A charge no ensino de História histórico. A charge [...] é mais do que um ins- fenômeno de compra de vo-
trumento ideológico a serviço de um ideal po- tos, é possível ressaltar que o
[...] o leitor do texto chárgico tem que estar lítico; ela é, para além disso, uma importante
bem informado acerca do tema abordado para personagem que represen-
fonte histórica capaz de fornecer elementos
que possa compreender e captar seu teor crítico. preciosos para reconstituir uma história, toma-
ta o político usa roupas que
Afinal, ali está focalizada e sintetizada uma cer- do como produto de um tempo e de um lugar lembram a indumentária de
ta realidade. E somente os que conhecem essa sócio-histórico. um fazendeiro. Mas essas
realidade efetivamente entenderão a charge. [...] práticas também são comuns
MACÊDO, José Emerson Tavares ; SOUZA, Maria Lindaci Gomes
A produção de uma charge está necessaria- de. A charge no ensino de História. In: ENCONTRO ESTADUAL DE no meio urbano.
mente vinculada ao contexto sócio-histórico HISTÓRIA, 13., Guarabira, 2008. Anais [...]. Guarabira: Anpuh, 2008.
27

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 27 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com
a leitura do livro: CAJADO,
Anne Ferrari Ramos;
DORNELLES, Thiago; PEREIRA,
Oligarquias no poder
Amanda Camilla. Eleições no
Durante o Império, o governo central impunha seu poder às
Brasil: uma história de 500
províncias, nomeando quem iria governá-las. Com o estabeleci-
anos. Brasília, DF: Tribunal
mento da República, porém, a situação mudou: as famílias mais
Superior Eleitoral, 2014.
Disponível em: https://www. poderosas de cada estado, isto é, as oligarquias estaduais, pas-
tse.jus.br/hotsites/catalogo- saram a ter um enorme poder político. Vejamos como isso se deu.
publicacoes/pdf/tse-eleicoes-
no-brasil-uma-historia-de-500-
anos-2014.pdf. Acesso em: 19 O coronelismo
ago. 2022. Oligarquia: palavra Para conquistar e manter o poder, os políticos saídos das famí-
de origem grega que
significa governo
lias mais poderosas de cada estado induziam os eleitores a votar
exercido por poucos nos candidatos por eles indicados. Muitos desses políticos eram
Dica de leitura indivíduos ou por grandes fazendeiros e coronéis da Guarda Nacional;
Nacional; daí serem
Artigo em que José Murilo famílias poderosas.
chamados de “coronéis”.
de Carvalho faz distinções en- Guarda Nacional: força
composta de cidadãos Quase sempre, o coronel conseguia o voto do eleitor por
tre conceitos como coronelis- armados e fardados meio da troca de favores:: ele oferecia “favores”, como uma
mo, clientelismo, patrimonia- não pertencentes ao
sacola de alimentos, remédio, proteção ou emprego. Em troca
lismo e outras categorias mui- Exército. Foi criada
em 1831 pelo regente desses “favores”, exigia que votassem nos candidatos indicados
to empregadas nas discussões Feijó para manter a por ele. Esse voto controlado pelo coronel é chamado de voto de
sobre política no Brasil. ordem nas províncias.
cabresto.. Na época, a fraude eleitoral era generalizada: falsifica-
• CARVALHO, José Murilo de. ção de resultados, roubo de urnas, inclusão de voto de crianças, de
Mandonismo, coronelismo, defuntos e de pessoas inexis-
COLEÇÃO PARTICULAR

clientelismo: uma discussão


tentes eram práticas comuns
conceitual. Dados, Rio de
nas eleições. Era assim que os
Janeiro, v. 40, n. 2, p. 229-
poderosos de cada localidade
250, 1997.
ou estado se perpetuavam no
poder.

Essa charge de 1918 ironiza o


processo eleitoral durante a Primeira
República. Como sugere o artista,
na época até pessoas mortas
votavam. O defunto pede para o
transeunte validar seu título de eleitor;
e ele, sem dizer nada, responde com
uma expressão que aparenta uma
mistura de espanto e indignação.

28

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 28 tradição portuguesa de governo das câmaras de vereadores, 28/06/22 13:22 D3_
exacerbava as tensões políticas entre as elites locais. Mais que
Oligarquias estaduais uma troca, o pacto coronelista organizava um amplo processo
de negociação entre as facções políticas locais e a oligarquia
[...] o controle dos eleitores era uma moeda importante ao me- estadual, permanentemente atualizado. Apesar da vontade de
nos para definir as disputas entre coronéis. As formas como as congelamento das situações estaduais a partir de Campos Sales,
oligarquias estaduais iriam arbitrar e regular tais disputas pode- a duplicidade de poderes, muitas vezes com o funcionamento
riam tomar proporções de pequenas guerras civis. No município paralelo de duas assembleias legislativas, foi uma constante por
estavam as disputas de interesses, os faccionalismos, a política toda a Primeira República.
como disputa por recursos de poder local, ao fim e ao cabo. A
MATTOS, Hebe. A vida política. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (coord.).
centralização do Poder Executivo municipal pela Constituição A abertura para o mundo: 1889-1930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
republicana, com a criação das prefeituras em substituição à (História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 3, p. 106).

28

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 28 26/08/2022 16:33


TEXTO DE APOIO
A comissão de verificação
de poderes e as “degolas”
ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

Em livro biográfico publicado


em 1908, Da propaganda à pre-
sidência,, Campos Sales desta-
sidência
O coronel cearense Floro Bartolomeu
(1876-1926), de calça clara e paletó
cou outra negociação que consi-
escuro, no centro, aparece sentado derou decisiva nas tratativas que
entre deputados cearenses, em permitiram consolidar o grande
1914. Ele foi um dos mais poderosos arranjo político envolvendo as
coronéis da Primeira República. oligarquias em todo o Brasil. No
final de 1899, seriam realizadas
eleições para a escolha de depu-
tados e senadores. Preocupado
em assegurar o pleno apoio da
Os coronéis mais poderosos de cada região faziam alianças entre si e elegiam o pre- maioria dos parlamentares nos
sidente do estado (cargo equivalente hoje ao de governador). Este, por sua vez, retribuía dois últimos anos de seu gover-
no, Campos Sales pactuou com
o “favor” enviando verbas para a construção de escolas, praças, igrejas etc., nas cidades
deputados e governadores uma
controladas por aqueles coronéis. pequena reforma no regimento
interno da Câmara dos Deputa-
dos alterando a forma de orga-
A política dos governadores nizar a Comissão de Verificação
de Poderes, mudança essa que
Usando as mesmas práticas (troca de favores e corrupção eleitoral), as oligarquias teria grandes desdobramentos
estaduais ajudavam a eleger deputados e senadores favoráveis ao presidente da República. eleitorais e políticos. [...]. Segun-
Este, por sua vez, retribuía o “favor” liberando verbas, benefícios e dando apoio político a do as novas regras, a presidên-
elas. Esse esquema político que ligava os governos estaduais ao presidente da República cia passou a ser exercida pelo
presidente ou o vice-presidente
recebeu o nome de política dos governadores e foi aplicado pelo então presidente
da Câmara da legislatura que
Campos Sales, que governou entre 1898 e 1902. se encerrava, desde que tivesse
Assim, por meio de alianças e trocas de favores que uniam municípios, estados e sido reeleito. Desse modo, era
governo federal, as oligarquias mantiveram-se no poder durante a maior parte da Primeira sempre um elemento da situa-
República. Observe o esquema a seguir. ção, próximo ao presidente da
República, que escolhia os de-
O poder das oligarquias estaduais mais integrantes da comissão.
A comissão foi transformada na
EDITORIA DE ARTE

Governo federal Poder federal As oligarquias etapa final de aniquilação das


estaduais oposições, cujos diplomas eram
Apoio político mantinham-se no recusados sob qualquer pretex-
e financeiro to. Era a chamada “degola”: na
poder por meio
Votos
de alianças e eleição de 1900, dos 205 depu-
favores que uniam tados que formavam o plenário
Governo estadual Poder estadual municípios, estados da Câmara, 12 não obtiveram a
e governo federal. confirmação de sua eleição; na
Verbas e O coronelismo era eleição seguinte, de 1902, foram
benefícios a coluna mestra
Votos
74 os eleitos que não tiveram seu
desse edifício
diploma reconhecido; em 1914,
baseado na
a prática foi radicalizada, com
Coronéis Poder municipal fraude eleitoral
e na corrupção.
o afastamento de 91 opositores.
[...]. As oposições podiam parti-
cipar das eleições, mas aqueles
29 considerados indesejados não
tinham sua eleição validada.
POLÍTICA dos governadores.
13:22 D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 29 ENCAMINHAMENTO 28/06/22 13:22 In: DIAS, Carlos Alberto Ungaretti.
Dicionário histórico-biográfico brasileiro.
Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas/
• Aprofundar o assunto com a leitura do texto: muitas revisões do papel de Campos Sales CPDOC, [2015].
FORJAZ, Maria Cecília Spina. Coronelismo, como “estabilizador da República”. A Repú-
enxada e voto. Revista de Administração de blica era muito instável, antes e depois dele.
Empresas, v. 18, n. 1, 8 ago. 2013. (Resenha Para que se trabalhe a competência es-
bibliográfica). pecífica 1, é importante que os alunos per-
Professor, com a política dos governado- cebam as transformações nos arranjos do
res, o presidente da República teria o Parla- poder republicano, bem como os mecanis-
mento sob seu controle, o que não significa mos de que se valeram as oligarquias du-
adesão imediata dos governadores. Hoje, há rante a Primeira República.
29

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 29 31/08/22 09:21


ENCAMINHAMENTO
Professor, a tese de Cláudia
Viscardi abre uma oportuni-
dade para que se apresente a
História como um campo cien-
Café com leite ou café com política?
tífico dinâmico e constituído Durante muito tempo se acreditou que a aliança entre São Paulo (grande produtor de
por intensos debates e desco- café) e Minas Gerais (grande produtor de leite), os estados mais ricos e mais populosos na
bertas que modificam a ma- época, teria permitido às oligarquias desses dois estados o controle exclusivo do poder na
neira como compreendemos Primeira República. Estudos recentes mostram, no entanto, que não foi bem assim. Veja
o passado. Dessa maneira, tra- o que a historiadora Cláudia Viscardi diz sobre o assunto.
balha-se com a competência a) A autora chama atenção para a existência de quatro outros estados que também tinham força na política
específica 6. nacional: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia
• Para refletir. c) Comentar PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO. e Pernambuco.

ACERVO PESSOAL
sobre a importância da pes-
quisa para o conhecimento Café com política
histórico e das novas tecno- Análises recentes das sucessões presidenciais
logias na conservação e con- na Primeira República (1889-1930) mostram que
sulta das fontes. a famosa aliança entre Minas Gerais e São Paulo,
chamada de política do “café com leite”, não contro-
lou de forma exclusiva o regime republicano. Havia
TEXTO DE APOIO outros quatros estados, pelo menos, com acentuada
importância no cenário político: Rio Grande do Sul,
A Primeira República muito
Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Os seis, para
além do café com leite
garantirem sua hegemonia, possuíam uma forte
Em seu livro O teatro das oli-
economia e (ou) uma elite política [...] bem represen-
garquias, contestando a valida-
garquias,
de da tese do café com leite por tada no Parlamento. E, juntos Cláudia Viscardi é professora
Hegemonia: liderança.
meio do exame das articulações ou separados, participaram titular do Programa de Pós-
Parlamento: Congresso
referentes às sucessões presi- -Graduação em História na
Nacional, isto é, ativamente de todas as suces-
denciais [...], Cláudia Viscardi Câmara dos Deputados Universidade Federal de Juiz
sões presidenciais ocorridas no de Fora (UFJF). Fotografia de
demonstra como diversos atores Federais e o Senado.
período. [...] 2016.
se alinharam e desalinharam
nas disputas ocorridas por oca- O poder de Minas Gerais nesse período é explicado não pela força econômica do
sião da substituição dos manda- gado de leite, mas pela sua projeção política garantida pela bancada de 37 deputados,
tos presidenciais ocorridos entre a maior do país. E a influência de Minas, também derivada da forte cafeicultura, já
Rodrigues Alves (1902-1908) e
que foi o segundo maior produtor de café do Brasil até o final da década de 1920, sendo
Washington Luís (1926-1930). [...]
responsável por 20% em média. [...] A expressão mais adequada para a pressuposta
Viscardi consegue demonstrar
aliança Minas Gerais-São Paulo seria, então, “café com café” e não “café com leite”. [...]
que o predomínio dos vencedo-
res nas sucessões não se eterni- VISCARDI, Cláudia M. R. Aliança “Café com política”. Nossa História, São Paulo, ano 2, n. 19, p. 44-47, maio 2005.
zava à custa da marginalidade
dos demais atores. No lugar dis- a) Para a autora do texto, a tese de que São Paulo e Minas Gerais dominaram a política
so, a expectativa do rodízio das na Primeira República não se justifica. Quais argumentos ela usa para derrubar a
forças ao término de cada man- tese do “café com leite”?
dato, os efeitos das disputas e
b) Segundo o texto, o que explica a força de Minas Gerais na política nacional?
o esforço dos competidores no
sentido de impedir a monopoli- c) Você considerou os argumentos da historiadora convincentes?
zação do poder por um ou outro b) O poder de Minas devia-se a dois fatores: o fato de possuir a maior bancada do país (37 deputados) e de
ator asseguravam a crença em
campanhas futuras, inibiam o 30 ser o segundo maior produtor de café do Brasil na época.
c) Resposta pessoal.
ressentimento de exclusão en-
tre os perdedores e, nesse senti-
do, continham rupturas. juntos a administração 30federal. [...] Ao mesmo
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd é apenas o fato de mineiros e paulistas não se- 28/06/22 13:22 AV_

Logo, São Paulo e Minas não tempo, o livro faz ver que os demais estados rem os únicos com voz e vez; é também o fato
fizeram (a despeito dos demais) sabiam – todo o tempo – que uma aliança ex- de inexistir permanente “aliança entre os dois”.
o que bem entendiam. Ao con- clusivista entre Minas e São Paulo lhes seria Na prática, afirma Viscardi, “mais se temiam do
trário, havia intensa barganha prejudicial. Em segundo lugar, o Exército e o que se uniam”.
entre os estados. Executivo também agiam, tornando o processo NEGRO, Antonio Luigi; BRITO, Jonas. A Primeira República
É bom que se diga que não são e as redes que o compunham muito mais com- muito além do café com leite. Topoi, Rio de Janeiro,
plexos e multifacetados. Logo, ante os planos v. 14, n. 26, p. 197-201, jan./jul. 2013. p. 197.
desconsideradas as posições, na
economia, bem como na políti- situacionistas, houve, ao longo das sucessões,
ca, de mineros e paulistas. A au- a composição de eixos alternativos de poder,
tora igualmente não ignora que com dose respeitável de eficácia política. Ain-
se coligaram e que ocuparam da mais (e isto é absolutamente notável), não
30

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 30 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com o
texto: CEPÊDA, Vera Alves. A
O café continuou na frente construção da industrializa-
ção no Brasil: políticas econô-
micas, mudança social e a cri-
ÓLEO SOBRE TELA, COLEÇÃO PARTICULAR

se do liberalismo na Primeira
República. Desigualdade &
Diversidade: Revista de Ciên-
cias Sociais da PUC-Rio, Rio de
Janeiro, n. 7, p. 115-136, jul./
dez. 2010.
Professor, de acordo com
o historiador José Miguel
Arias Neto, a dependência
brasileira da exportação do
café passou por uma eleva-
ção estrondosa entre o fim do
século XIX e 1928. Segundo o
Terreiro de café, de Rosalbino Santoro, 1903. A pintura mostra a presença conjunta de trabalhadores
autor, entre 1924 e 1928, esse
nacionais e imigrantes. Na época, o café era, de longe, o produto mais vendido pelo Brasil. produto respondeu por mais
de 70% das receitas obtidas
pelas exportações brasileiras.
Na Primeira República, o café continuou liderando as exportações brasileiras. O aumento contínuo da pro-
Animados com os lucros obtidos com as vendas de café para os Estados Unidos e a dução do café levou à crise de
Europa, os cafeicultores brasileiros investiam em novas plantações. Com isso, em pouco superprodução, visto que o
tempo, o Brasil passou a produzir muito mais café do que a quantidade que os países consumo do produto encon-
estrangeiros estavam interessados em comprar; assim, milhões de sacas de café ficaram trou uma estabilidade. Como
estocadas nos armazéns brasileiros. Acompanhe na tabela a seguir a evolução do preço versam algumas das interpre-
do café entre 1893 e 1899. tações presentes na historio-
grafia a respeito do surgimen-
Preço da saca de café (60 kg) (1893-1899) to da burguesia industrial no
Dialogando Brasil, as primeiras indústrias
O que se pode Ano Preço brasileiras foram financiadas
concluir observando com capitais provenientes dos
1893 4,09 libras
a tabela? lucros do café.
Conclui-se que, em • Dialogando. Nesse mesmo
1896 2,91 libras
apenas seis anos, o preço
do produto no exterior período, a oferta de café
caiu quase três vezes. 1899 1,48 libras brasileiro no mercado mun-
Fonte: MONTEIRO, Hamilton de Mattos. Da República Velha ao Estado Novo. In: LINHARES, dial cresceu mais de 10%,
Maria Yedda (org.). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1990. p. 305.
pressionando o preço do
produto para baixo.
Mas, apesar disso, os cafeicultores continuaram aumentando sua produção; em
1905, o excedente de café nos armazéns brasileiros era de aproximadamente 11 milhões
de sacas! Imagens em movimento
Documentário sobre a his-
31 tória do café no Brasil.
• VALEdo café: uma viagem
13:22 AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 31 20/08/22 14:08
no tempo. 2018. Vídeo
(50min20s). Publicado no ca-
nal TV Brasil. Disponível em:
https://www.youtube.com/
watch?v=Xto0LJWbqj4.
Acesso em: 8 jun. 2022.

31

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 31 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
Professor, o relativo êxito
do Convênio de Taubaté levou
o Brasil a criar políticas de va- O Convênio de Taubaté
lorização do café, promoven-
do até a criação de um institu-

GUILHERME GAENSLY/COLEÇÃO PARTICULAR


to de defesa permanente do
produto.

Dica de leitura
Artigo em que se analisa as
relações entre a produção de
café no estado de São Paulo e
o mercado mundial.
• RIBEIRO, Fernando. A política
econômica e o Convênio de
Taubaté na economia cafe-
eira (1889-1906). Pesquisa & Fazenda de café,
Debate, São Paulo, v. 22, n. 1, de Vicente D. Motta
p. 75-93, 2011. Macedo, século XIX.

Imagens em movimento Preocupados com a queda de seus lucros, os cafeicultores


pediram ajuda ao governo. Os governantes dos estados de São
O vídeo trata da política
protecionista sobre o café no Taubaté: cidade do Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – os três maiores produtores de
interior paulista. café – responderam assinando o Convênio de Taubaté
Taubaté,, em 1906.
início do século XX.
Com o acordo, os governos desses estados comprometiam-se a
• O CONVÊNIO de Taubaté e
comprar e armazenar as sacas de café excedentes, por meio de
a República do Café. Vídeo Plantação de algodão.
empréstimos obtidos no exterior.
(3min15s). Publicado pelo ca- Brasil, 2021.
A compra do café excedente regu-
nal História em Gotas. Disponí- CARLOS RUDINEI A MATTOSO/SHUTTERSTOCK.COM
lava a oferta e forçava a valorização
vel em: https://www.youtube.
com/watch?v=hxCRh7iyRvM. do produto brasileiro no exterior. Essa
Acesso em: 18 abr. 2022. política atendia aos interesses dos
cafeicultores. Diante do apoio recebido,
muitos cafeicultores continuaram inves-
TEXTO DE APOIO tindo em cafezais. Parte deles, porém,
procurou diversificar seus investimen-
Os desafios para a cafeicultura tos, aplicando capitais também em
pareciam tão formidáveis quan- indústrias.
to seu progresso: a produção au- Além do café, a borracha, o
mentara de cerca de 5,5 milhões
algodão, carnes e o cacau também
de sacas em 1890/1891 para 16,3
milhões em 1901/1902, de tal sor- se destacaram entre os produtos agrí-
te que a perspectiva de superpro- colas exportados pelo Brasil durante a
dução e de colapso dos preços Primeira República.
era concreta e ameaçadora [...].
O plano definido no Convênio 32
de Taubaté, de fevereiro de 1906,
consistia em uma política de
aquisição financiada e retenção
de estoques excedentes de café, talhes de cada operação32mereceriam um relato
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd tante é que, com a ajuda de adiantamentos por 28/06/22 13:22 D3_

visando a sustentação de pre- detalhado que este ensaio não comporta senão parte de importadores e de uma sobretaxa so-
ços. Esse plano sofreu variações em grandes linhas. De início as aquisições se- bre a exportação, São Paulo levantaria recursos
riam financiadas mediante empréstimos no de tal ordem a permitir, em junho de 1907, que
no decorrer do tempo, de modo
exterior, destacadamente pelo estado de São 8 milhões de sacas excedentes, o equivalente a
a refletir diferentes circunstân-
Paulo, cujo serviço seria coberto por um novo uma boa safra anual, pudessem ser compradas
cias. A forma exata do financia-
imposto cobrado em ouro sobre cada saca de e estocadas.
mento, a distribuição de seus
recursos, dos riscos e do ofere- café exportado. O governo federal recusou-se a SCHWARCZ, Lilia Moritz (coord.). A abertura para o mundo:
cimento de garantias entre os oferecer garantias para o financiamento, numa 1889-1930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
(História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 3, p. 194-195).
estados e o governo federal, os demonstração dos limites do poder da oligar-
compromissos deste com rela- quia cafeeira sobre as políticas públicas, ou tal-
ção ao câmbio, bem como os de- vez da desnecessidade dessa garantia. O impor-
32

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 32 26/08/2022 16:33


TEXTO DE APOIO
Ascensão econômica da
borracha
A borracha da Amazônia Apesar de oferecer conhecida
aplicação ainda no período co-
Com a aceleração da industrialização na Europa e nos Estados Bicicleta: nos anos 1890, lonial, ou mesmo inclusive no
Unidos na segunda metade do século XIX, surgiram novos tipos a bicicleta se tornou uma período pré-colonial, a borracha
verdadeira febre entre
de indústria, como a automobilística, a de bicicletas e a de somente apareceu como pro-
adultos e crianças. Assim
duto com potencial comercial
pneus. A borracha, matéria-prima essencial para essas indústrias, como hoje, era usada
como fonte de lazer e
em meados do século XIX. Dois
passou então a ser muito cobiçada no exterior, e o grande vale marcos para a comercialização
meio de transporte.
amazônico, o hábitat da seringueira
seringueira,, ganhou uma importância Seringueira: árvore da
da borracha são bastante co-
jamais vista. qual se extrai a borracha.
nhecidos: a descoberta do pro-
cesso de vulcanização da goma
Em busca de trabalho, um grande número de nordestinos por Goodyear (1839) e Hancock
migrou para a Amazônia. Muitos deles eram cearenses e fugiam da (1842) e, para a definitiva expan-
seca que castigava o Ceará periodicamente. Esses trabalhadores – são de sua demanda, a utiliza-
os seringueiros –, moradores de cabanas rústicas na beira dos rios, ção do produto para a indústria
automobilística na década de
andavam muitos quilômetros todos os dias para extrair o látex, com 1890. Assim, na inexistência de
o qual faziam as bolas de borracha que seriam vendidas para o exte- produções mundiais intensivas,
rior. Eles recebiam muito pouco pelo seu trabalho. Já os seringalistas a atividade seringalista brasilei-
ra se aproveitaria dessa conjun-
e os envolvidos no comércio da borracha amazônica enriqueceram.
tura para, em fins do século XIX,
No Brasil, o esplendor da economia gomífera ocorreu entre apresentar tremendo impulso.
1898 e 1910, quando a borracha correspondeu a 25,7% do valor FEITOSA, Orange Matos; SAES, Alexandre
das exportações brasileiras, ficando atrás apenas do café. Durante Macchione. O plano de defesa da borracha:
entre o desenvolvimentismo e a negligência
esses anos, a borracha enriqueceu as elites dos estados do Pará e política ao Norte do Brasil, 1900-1915.
do Amazonas e os empresários europeus e estadunidenses, que América Latina en la historia
económica, Ciudad de México, ano 20,
obtinham a borracha a preços relativamente baixos e vendiam em n. 3, p. 138-169, set./dez. 2013. p. 142.
território brasileiro os produtos industrializados.
Imagens em movimento
Mulher defumando Uma viagem na história da
MARCEL GAUTHEROT/ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES

látex. Ilha de Marajó extração de borracha na re-


(PA), c. 1967. Em muitos
lugares da região Norte,
gião da Amazônia.
o processo de produção • VIAGENS pela Amazônia:
da borracha continua borracha, apogeu e queda da
sendo como era antes.
borracha na Amazônia – Par-
te 2. 2014. Vídeo (23min44s).
Publicado pelo canal Amazon
Sat. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?
v=5IzgrCIflZA. Acesso em: 9
jun. 2022.

Dica de leitura
Reportagem sobre os serin-
gueiros que participaram da
missão de extração de látex
33 destinado ao abastecimento
da indústria dos países aliados
na Segunda Guerra Mundial.
13:22 D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 33 ENCAMINHAMENTO 28/06/22 13:22 • VILLAR, Rosana. Ouro branco
da Amazônia: a história dos
• Estimular os estudantes a associarem o boom da borracha na Amazônia ao advento de no- soldados da borracha. Rede
vas indústrias na Europa e nos Estados Unidos. Brasil Atual, São Paulo, 28
• Refletir com os estudantes sobre o dia a dia dos seringueiros e os motivos que os levaram a maio 2014. Disponível em:
migrar para a Amazônia. https://www.redebrasilatual.
com.br/cidadania/2014/05/
Professor, é importante lembrar que o avanço dos seringais levou a confrontos e à disse-
ouro-branco-da-amazonia
minação de doenças que dizimaram diversas etnias indígenas na região amazônica.
-a-historia-dos-soldados-da
-borracha-9078/. Acesso em: 9
jun. 2022.
33

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 33 31/08/22 09:21


+ ATIVIDADES
• Interdisciplinaridade: é pos-
sível aprofundar questões
Com a riqueza dos tempos

MATYAS REHAK/SHUTTERSTOCK.COM
sobre a economia do cacau
em um projeto interdisci- áureos da borracha, foram
plinar com o professor de construídos belíssimos teatros.
Língua Portuguesa. Em gru- O boom da borracha ama-
pos, os estudantes poderão zônica, porém, não durou muito
escolher entre as obras de tempo; ingleses e holandeses
Jorge Amado, Cacau, Ter- levaram mudas da seringueira
ras do Sem-Fim e São Jorge para suas colônias na Ásia,
Ilhéus, para então compor onde passaram a produzir uma
um ensaio escrito sobre os
borracha que logo desbancou
personagens envolvidos na
a brasileira. A reviravolta foi
economia do cacau.
rápida: em 1910, a borracha
asiática respondia por cerca de
Dica de leitura Vista interna do Teatro Amazonas durante concerto.
13% da produção mundial; em
Manaus (AM), julho de 2015. O Teatro foi construído
Reportagem sobre a ascen- em 1896 durante o ciclo da borracha. 1915, chegava a 68%!
são e queda da produção de
cacau no estado da Bahia.
• BARROS, Carlos Juliano. A Cacau
saga do cacau na Bahia. Re- Durante o auge da economia da borracha, o

EDITORA RECORD
pórter Brasil, São Paulo, 1
cacau plantado no sul da Bahia tornou-se impor-
maio 2005. Disponível em:
tante produto nacional e a principal mercadoria da
https://reporterbrasil.org.
economia baiana. Usado principalmente para fazer
br/2005/05/a-saga-do-cacau
-na-bahia/. Acesso em: 9 jun. chocolate, o fruto do cacaueiro se mostrou bastante
2022. lucrativo e fez a fortuna de muitas famílias de coro-
néis do interior baiano. O escritor Jorge Amado criou
e imortalizou personagens, baseados nas histórias da
Imagens em movimento região cacaueira, como Sinhô Badaró e Juca Badaró,
Programa que aborda o na obra Terras do sem-fim,, publicada em 1943.
ciclo da borracha e a constru-
ção do Teatro Amazonas.
• CULTURA Retrô – Teatro A diversificação econômica
Amazônia. 2012. Vídeo Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, os imi-
(14min17s). Publicado pelo grantes instalados na serra gaúcha (nordeste do
canal TV Cultura. Disponível
estado) plantavam arroz, milho, feijão e fumo para
em: https://www.youtube.
consumo próprio e para o mercado interno. Nas Fac-símile da capa do livro
com/watch?v=pVFiV3lIIRI.
cidades gaúchas, eram fundadas fábricas de tecidos Terras do sem-fim, de Jorge Amado.
Acesso em: 9 jun. 2022.
e de bebidas (especialmente de vinho). O Rio Grande
do Sul, portanto, se desenvolveu produzindo para o
mercado interno.

34

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 34 por parte dos criadores gaúchos fracassou por falta de recursos. 28/06/22 13:22 AV_

A empresa foi vendida em 1921 ao Frigorífico Anglo. Todas essas


Diversidade econômica da Primeira República iniciativas ocorreram no quadro de uma relativa decadência da pe-
cuária, do charque e principalmente dos couros. Podemos ter uma
No Rio Grande do Sul, acentuou-se ao longo da Primeira Repú- ideia disso comparando dois momentos da pauta de exportação do
blica a diversificação da atividade econômica, destinada ao pró- Estado. Em 1890, charque e couros juntos representavam 54,7% do
prio Estado e ao mercado interno nacional. [...] valor das exportações. Em 1927 não passavam de 24,5%, tendo os
A instalação de frigoríficos representou uma transformação nos couros caído de 37,2% para apenas 6,8% do valor das exportações.
processos precários de conservação de carne e possibilitou a sua Naquele ano de 1927, individualmente, a banha ficou em primeiro
“estocagem”. Em 1917, as empresas norte-americanas Armour e lugar (19,7%), seguida do charque (17,7%) e do arroz (13%).
Wilson estabeleceram-se, respectivamente, em Santana do Livra- FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Edusp: Fundação do
mento e em Rio Grande. Uma tentativa de manter um frigorífico Desenvolvimento da Educação, 1995. (Didática, v. 1, p. 290).
34

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 34 31/08/22 09:22


TEXTO DE APOIO
A expansão da indústria
[...] a revolução pôs fim à Repú-
Indústria e operários na Primeira República blica Velha. Houve uma ruptura
do modelo de desenvolvimento
industrial baseado no capital ca-
Durante a Primeira República ocorreu um crescimento constante do número de indús- feeiro. A partir de fins da década
trias no Brasil. Em 1889, ano da Proclamação da República, o Brasil possuía 636 indústrias de 1930 e nos anos seguintes a
e cerca de 54 mil operários. acumulação industrial passou,
Observe a tabela a seguir e veja como essa situação se alterou ao longo do tempo. gradativamente, a ser funda-
mentada na reprodução e am-
pliação de seu próprio capital.
Brasil: quantidade de indústrias e operários (1907-1920)
Resta saber como se processou
Ano Indústrias Operários o desenvolvimento industrial a
1907 3 258 149 018 partir do início do século XX. Em
primeiro lugar, foi beneficiado
1920 13 336 275 512
com a expansão da economia
Fonte: DE DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. Indústria, trabalho e cotidiano:
Brasil (1889-1930). São Paulo: Atual, 1991. (História em documentos, p. 24). cafeeira: o crescimento da área
de plantio geralmente era pre-
cedido ou, em algumas regiões
Perceba que, entre 1907 e 1920, o número de empresas cresceu por volta de quatro – como por exemplo o norte do
vezes, enquanto o número de operários empregados quase duplicou. Paraná –, seguido pela constru-
ção da ferrovia, que propiciava o
Durante muito tempo se disse que esse crescimento se deveu em grande parte aos
escoamento da produção para os
efeitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) sobre nossa economia, quando o país foi portos, principalmente Santos e
forçado a fabricar o que antes importava. Estudos recentes, no entanto, demonstram que Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo
a industrialização brasileira foi estimulada por quatro fatores principais: capitais nacionais fundavam-se novos núcleos ur-
(acumulados com as exportações agrícolas, sobretudo de café); disponibilidade de matéria- banos, ampliavam-se as neces-
sidades de consumo e crescia
-prima; grande oferta de mão de obra barata; um sistema de transportes ligado aos portos.
a demanda do abastecimento.
São Paulo tornou-se o estado mais industrializado do país. As maiores fábricas pau- Parte dessas necessidades era
listas foram montadas por fazendeiros de café, como Antônio Álvares Penteado, e por satisfeita com importações. O
imigrantes, como Francesco Matarazzo. Os principais ramos industriais da época, em ordem caso dos gêneros alimentícios é
de importância, foram o têxtil, o de alimentação – bastante exemplificador: entre
1905 e 1930 eles representaram
incluindo bebidas – e o de vestuário. COL
EÇÃ
OP
ART uma média aproximada de 24%
ICU
Os processos de industrialização e LAR
das importações brasileiras. [...]
urbanização variaram bastante de uma Cada vez mais, contudo, a indús-
região para outra. A região Sudeste, tria nacional passou a abastecer
esse mercado em expansão.
sobretudo São Paulo, recebeu os
maiores investimentos, liderando ARIAS NETO, José Miguel. Primeira
República: economia cafeeira, urbanização
a corrida industrial no país. e industrialização. In: FERREIRA, Jorge;
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves
(org.). O Brasil republicano: o tempo do
Conde Francesco Matarazzo, liberalismo excludente: da Proclamação da
ao centro, sentado, com República à Revolução de 1930. 5. ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
a família, c. 1910.
2011. v. 1, p. 220.

Imagens em movimento
Documentário sobre a in-
35 dústria têxtil no século XX.
• OFIO da história, entre
agulhas e tecidos. 2012. Ví-
13:22 ENCAMINHAMENTO
AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 35 20/08/22 14:09 deo (15min4s). Publicado
pelo canal Contraponto
• Propor aos estudantes que pesquisem sobre Delmiro Gouveia, industrial cearense cujo per- Multimeios. Disponível em:
curso ajuda-nos a compreender outras histórias ligadas à indústria no Brasil da Primeira https://www.youtube.com/
República. watch?v=A8-xK0I8G7s.
Professor, dessa forma, contribui-se para o desenvolvimento das habilidades EF09HI02 e Acesso em: 9 jun. 2022.
EF09HI05 e para visões mais complexas a respeito da região Nordeste, em especial do sertão
nordestino.
Apesar da industrialização no Brasil ter São Paulo como foco, existem outras referências
nacionais.

35

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 35 26/08/2022 16:33


+ ATIVIDADES
• Interdisciplinaridade: ao
tratar da modernização e
urbanização de São Paulo, Modernização e urbanização
é possível propor uma ativi- Os processos de industrialização e modernização ocorreram ao mesmo tempo em
dade interdisciplinar com o várias cidades. Vejamos o caso de São Paulo.
componente de Geografia.
Até 1850, São Paulo era uma cidade pequena, provinciana e politicamente pouco
Para tanto, podem-se explo-
importante para o Império. Sua área mais urbanizada era formada pelas ruas Direita,
rar ícones da cidade, como a
XV de Novembro e São Bento. Com o boom da economia cafeeira, a cidade ganhou uma
Avenida Paulista, buscando
relacionar industrialização, extensa rede ferroviária, comercial e financeira. Na década de 1870, passou a crescer em
modernização e transfor- um ritmo acelerado. Com o crescimento da cidade, o centro antigo de São Paulo deixou
mações socioespaciais em de ser desejado como área residencial.
São Paulo. Como fonte de A lógica do crescimento urbano de São Paulo empurrou a população pobre para
pesquisa, consultar o texto: regiões onde os terrenos eram mais baratos e as linhas ferroviárias, com várias estações,
SHIBAKI, Viviane Veiga. Ave- ajudavam no transporte de pessoas. Alinhadas a essa rede ferroviária, ergueram-se também
nida Paulista: da formação à indústrias que, à época, tornaram-se um elemento característico da paisagem paulistana.
consolidação de um ícone da A elite paulistana buscou áreas onde havia chácaras, como Vila Buarque, Santa
metrópole de São Paulo. Dis- Cecília e Campos Elíseos, e ali construiu bairros nobres residenciais, como Higienópolis e
sertação (Mestrado em Geo- Pacaembu. Na parte mais

GUILHERME GAENSLY/ACERVO FES/SP


grafia humana) – Faculdade alta da cidade, ergueu-
de Filosofia e Ciências Hu- -se a Avenida Paulista, o
manas, Universidade de São símbolo mais visível do
Paulo, São Paulo, 2007.
poder dos cafeicultores.
Professor, usamos São Pau- Um dos marcos deci-
lo como modelo do processo sivos na cidade de São
de modernização e urbani-
Paulo no processo de
zação. Estamos cientes, no
modernização foi a cons-
entanto, da existência de es-
tituição da Light (The São
tudos sobre este mesmo pro-
Paulo Tramway, Light &
cesso em outros estados.
Power), em 1889, empresa
com sede em Toronto, no
Canadá. Depois de obter,
TEXTO DE APOIO mediante compra, o direito
Modernização de São Paulo de explorar o serviço de
No início do século XX, a ini- transporte, a Light passou
ciativa privada abriu os primei- a investir também na distri-
ros parques equipados para a buição de energia elétrica
prática de esportes em meio a na cidade.
jardins ou matas nativas. Dois
deles – o Parque Antarctica, na
Água Branca (1900), e o Bosque
Estação da Luz, marco
da Saúde, próximo ao Jabaquara ferroviário da cidade de
(1908) – pertenciam à Compa- São Paulo (SP), c. 1900.
nhia Antarctica Paulista, que os
utilizava como instrumento de
marketing para vender cerveja.
36
O Parque Antarctica foi inteira-
mente planejado, com ruas bem
traçadas em meio à vegetação Outro “tramway”” – aquele
“tramway
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 36 que décadas depois 28/06/22 13:22 D3_
plantada. Por sua vez, o Bosque seria imortalizado por Adoniran Barbosa em seu
da Saúde era um trecho da mata “Trem das Onze” – era o da Cia. Cantareira de
atlântica cortado por trilhas e Águas e Esgotos e dava acesso ao parque existen-
clareiras. Ambos eram servidos te na serra. Pela linha que ligava o centro da cida-
por bondes elétricos e havia de a Santo Amaro atingia-se facilmente a represa
promoções conjuntas da Light de Guarapiranga, construída para regularizar a
e da Antarctica, nas quais eram vazão do Rio Pinheiros à jusante e que a partir de
oferecidas reduções nas tarifas 1906 se transformou em novo local de lazer.
e espetáculos musicais e circen- PONTES, José Alfredo Vidigal. São Paulo de Piratininga: de
ses gratuitos, com ampla divul- pouso de tropas a metrópole. São Paulo: O Estado de S. Paulo:
gação nos jornais. Terceiro Nome, 2003. p. 16.

36

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 36 31/08/22 09:22


TEXTO DE APOIO
Urbanização de São Paulo
Os imigrantes encontram aqui
Outro marco importante na modernização de São Paulo foi a estreia do bonde elétrico,
um campo novo e praticamente
em 1900. A substituição do bonde puxado por burros pelo bonde elétrico contribuiu para sem concorrentes. O rápido de-
aumentar a velocidade e diminuir o tempo do transporte, além de melhorar a higiene senvolvimento da cidade criava
pública, já que evitava o enxame de moscas que rondavam as fezes dos animais. a demanda por esses serviços.
E eles souberam aproveitar o
A energia elétrica e os transportes impulsionaram a indústria, o comércio, os serviços e
novo espaço, fazendo uso da
também o lazer (ler após o entardecer, por exemplo). Os bondes elétricos ligavam o centro rede de relações que tinham ou
da cidade aos bairros servindo, sobretudo, ao transporte de trabalhadores e estudantes e que criavam. Daí que as rela-
estimulando a ocupação de espaços vazios e a formação de novos bairros. Exemplo disso ções pessoais, familiares, entre
membros originários da mesma
são as linhas que passavam por bairros como Penha, Santana, Jabaquara, Santo Amaro aldeia era fundamental. Muitos
e Pinheiros. se agrupavam, se ajudavam e
Nos anos 1920, enquanto o centro de São Paulo se verticalizava com a construção mesmo recriavam a sociedade
de inúmeros prédios, a periferia da cidade se expandia com a formação de novos bairros. de sua aldeia de origem. [...]
Nesse período, a população de São Paulo saltou de 580 mil para 888 mil habitantes, As colônias deram origem aos
bairros italianos de São Paulo,
crescimento de mais de 50%. Referindo-se a esse crescimento vertiginoso da cidade, o como Brás, Bexiga, Bom Retiro,
poeta Mário de Andrade chamou-a de “Pauliceia desvairada”. Barra Funda, Belenzinho. Em
Entre 1890 e 1920, muitos terrenos baratos como

GUILHERME GAENSLY/ACERVO FES/SP


outras impor tantes os vales insalubres do rio Tietê
e Tamanduateí, mas servidos
cidades também cres- por ramais de estrada de ferro,
ceram: a população do foram instaladas fábricas e seus
Rio de Janeiro passou de bairros operários, onde se aco-
522 mil para 1,1  milhão modaram muitos imigrantes.
de habitantes; e a de A comunidade de origem ru-
ral se reorganizava nos bairros
Salvador, de 175 mil para onde encontrava proteção para
285 mil habitantes. os momentos difíceis da chega-
da. As festas do santo protetor
indicam os lugares de origem.
No Bexiga a festa era de Nossa
Senhora da Acheropita, vene-
Dialogando rada em Rossano, Calábria, na
província de Cosenza. No Brás
Faça uma pesquisa rápida:
o festejado é São Vito Mártir,
nessa época, a capital do
venerado pelos originários de
estado em que você vive
Polignano a Mare. O importante
também passou por um
livro de contos de Alcântara Ma-
processo de modernização
chado Brás, Bexiga e Barra Funda
e urbanização?
apresenta retratos, flagrantes da
Resposta pessoal.
vida humilde dos imigrantes ita-
lianos no período de 1900 a 1920.
As atividades urbanas de al-
Rua dos Imigrantes (atual Rua faiate, sapateiro, pedreiro, es-
José Paulino) e Rua Florêncio de cultor, jornaleiro, vendedor de
Abreu. São Paulo (SP), c. 1900. gêneros alimentícios estão entre
aquelas de que os italianos sou-
37 beram lançar mão no momento
de expansão da cidade.
OLIVEIRA, Lucia Lippi. O Brasil dos
• HISTÓRIA – A Expansão Cafeeira e a Urbanização imigrantes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
13:22 Imagens em movimento
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 37 28/06/22 13:22
2001. p. 36-37.
em São Paulo – Parte 1 – Flávio Saes. 2016. Vídeo
Entrevista com o professor Flá-
(28min42s). Publicado pelo canal Univesp. Disponí-
vio Saes, professor da FEA – USP,
vel em: https://www.youtube.com/watch?v=mGZR
na qual são discutidas as transfor-
1n21Y5c. Acesso em: 9 jun. 2022.
mações econômicas, sociológicas e
socioespaciais ocorridas no Brasil • HISTÓRIA – A Expansão Cafeeira e a Urbanização
com a ascensão do café como pro- em São Paulo – Parte 2 – Flávio Saes. 2016. Vídeo
duto central para as exportações (27min42s). Publicado pelo canal Univesp. Dispo-
brasileiras. nível em: https://www.youtube.com/watch?v=6ng
70295FCs&t=30s. Acesso em: 9 jun. 2022.

37

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 37 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Enfatizar que a eugenia no
Brasil contou com grande
apoio político e teve emba- Imigrantes no Brasil
samento em teorias pseudo­
Na Primeira República, a industrialização e a urbanização estiveram estreitamente
científicas a respeito das ra-
associadas à imigração. Entre 1890 e 1930, cerca de 3,2 milhões de imigrantes vieram
ças humanas e também em
fortes organizações, respon- para o Brasil.
sáveis por congregar defen- O salto populacional na cidade de São Paulo deveu-se em parte ao afluxo de imigran-
sores das ideias eugenistas tes estrangeiros e também de pessoas que saíram do interior do estado e de outras partes
e propagá-las por meio da do país em busca de uma vida melhor. Partiam dispostas a trabalhar em profissões liberais,
publicação de periódicos e no funcionalismo público, no comércio, no artesanato, nas fábricas, na construção civil etc.
realização de congressos. No O estado de São Paulo, sozinho, recebeu 57,7% do total de imigrantes, pois oferecia
entanto, vale ressaltar que a bons atrativos: pagava as passagens, dava alojamento e oferecia oportunidades de trabalho.
imigração se concentrou nas Por serem de cor branca e católicos, italianos, portugueses e espanhóis foram os imigrantes
regiões Sul e Sudeste. preferidos das autoridades e dos fazendeiros brasileiros. Em 1911, o médico João Baptista
de Lacerda, representante brasileiro no Congresso Mundial das Raças, em Londres, na
Inglaterra, afirmou que, em 100 anos, os negros e os indígenas desapareceriam por conta
Imagens em movimento
da miscigenação, e, com isso, ocorreria o branqueamento da população brasileira. Assim,
Documentário sobre a imi- segundo essa teoria, o país teria acesso ao conjunto das nações “civilizadas”.
gração japonesa no Brasil.
• OS JAPONESES no Vale do
ÓLEO SOBRE TELA, 166 CM X 199 CM, MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, RIO DE JANEIRO

Dialogando
Dialogando
Ribeira e Sudoeste Paulista.
2011. Vídeo (26min45s). Pu- a O que ocorre
a O quena cena
ocorre na cena
blicado pelo canal Ecofalan- representada?
representada?
te. Disponível em: https:// b Qual é ba mensagem
Qual é a mensagem
transmitidatransmitida
www.youtube.com/watch? pelo artista?
pelo artista?
v=7euLZybjG_Q. Acesso em: c Essa obra
c realiza
Essa obra
visualmente
realiza visualmente
9 jun. 2022. a teoria doabranqueamento.
teoria do branqueamento.
Vídeo sobre a imigração ita- Em que consistia
Em que consistia
essa teoria?
essa teoria?
liana no Brasil. a) A avó negra, cuja filha é mestiça,
agradece a Deus pelo fato de seu neto ter
• IMIGRAÇÃO italiana no Bra- nascido branco, isto é, por ter a cor da pele
sil. 2012. Vídeo (4min27s). do pai dele.
b) Nessa obra, o artista sugere que a criança
Publicado pelo canal TVPUC. branca veio para redimir a família da “marca
Disponível em: https://www. de Caim”, isto é, da cor negra. O bebê puxou
youtube.com/watch?v=IA ao pai: não traz na pele a cor da avó nem a
de sua mãe. Isso explica as mãos erguidas
Pmpw7y3Lg. Acesso em: 9 da avó.
jun. 2022. c) Segundo essa teoria, em 100 anos, a
contar de 1910, a população brasileira seria
totalmente branca, por meio de intensa
miscigenação; assim, os negros e os mestiços
desapareceriam das terras brasileiras.
A redenção de Cam (ou A marca de
Caim), de Modesto Brocos y Gomez,
1895.

38

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 38 convulsionados. Iludidos por uma propaganda que garantia no- 28/06/22 13:22 D3_

vas “terras prometidas”, uma verdadeira febre imigratória arre-


Febre imigratória batou poloneses, alemães, espanhóis, italianos, portugueses e,
mais tarde [...], japoneses. [...] Mais de 50 milhões de europeus
No período que vai de 1830 a 1930, europeus, africanos e asiá- abandonaram seu continente de origem em busca da tão deseja-
ticos entraram no Brasil e passaram a conviver e a se sujeitar a da “liberdade”. [...]
costumes, hábitos e regras muitas vezes distintos de seus países
A maior parte dos imigrantes transatlânticos dirigiu-se para a
de origem. No entanto, foi a partir do final do século XIX que os
América do Norte, mas 22% do total – algo em torno de 11 milhões
movimentos migratórios recrudesceram. [...]
– foram para a América Latina.
Práticas de moradia, de alimentação, tradições religiosas, cos-
SCHWARCZ, Lilia Moritz. População e sociedade. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (coord.).
tumes sanitários e educacionais seriam revolucionados, assim A abertura para o mundo: 1889-1930. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
como os costumes, que opunham senhores a escravos, se veriam (História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 3, p. 66-67).
38

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 38 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Debater sobre a visão frey­
riana a respeito do predomí­
Debate sobre diversidade nio de uma certa harmonia
entre senhores e escraviza­
O debate sobre a diversidade étnica no Brasil foi intenso e importante. Na Europa,
dos, sobretudo os domésticos.
no século XIX, foram produzidas teorias de que existem raças e que a raça branca
• Destacar a importância his­
é superior à negra, à amarela e aos mestiços. Essas teorias racistas também tiveram
tórica da obra Casa-grande
acolhida no Brasil.
& senzala, de Gilberto Freyre,
Em 1881, por exemplo, os deputados paulistas, dizendo que era preciso “melhorar
na mudança de perspectiva
a raça”, incentivaram a entrada de europeus brancos e católicos e escreveram projetos sobre o papel do negro na
de leis barrando a entrada de negros e asiáticos. Segundo essa visão, que desqualificava formação do Brasil e a respei­
a população afro-brasileira, negros e mestiços eram raças inferiores, e a “raça branca” to do valor da miscigenação.
era a única capaz de criar a civilização. Essa visão persistiu nas primeiras décadas do Professor, discutir sobre a
século XX. obra contribui com o desen­
Para o médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues, autor da obra Os africanos volvimento da habilidade
no Brasil,, publicada em 1932, a miscigenação era razão do atraso do Brasil. A solução EF09HI08.
para esse suposto problema era o branqueamento da população brasileira.
Outro estudioso brasileiro, o pernambucano Gilberto Freyre, em seu livro Casa-grande
& senzala,, de 1933, discordou de que o atraso do Brasil se devia à miscigenação da popu-
Imagens em movimento
lação brasileira. Para o autor, a miscigenação “corrigiu” a distância social entre brancos e Vídeos que colocam à prova
negros que, de outro modo, continuaria o mito da democracia racial,
a ser enorme! Freyre mudou o modo
descrevendo o racismo estru­

GLOBAL EDITORA
tural sofrido pela população
de ver a diversidade étnica e cultural
negra até os dias de hoje.
existente no Brasil em dois pontos
da importantes: primeiro, a miscigenação • A LADAINHA da democracia

para Freyre era algo positivo,, e não racial. 2018. Publicado pelo
sinal de inferioridade racial do povo bra- canal de Lili Schwarcz. Vídeo
(4min43s). Disponível em:
sileiro; segundo, o negro desempenhou
https://www.youtube.com/
um papel importante na formação da
watch?v=KIZErDa1jIc. Aces­
língua, da culinária, das crenças e da
so em: 9 jun. 2022.
sociabilidade do brasileiro.
• ENTENDA o mito da demo­
Assim, para Freyre, teria predo-
cracia racial. 2019. Publica­
minado uma certa “harmonia” entre
do pelo Canal Preto. Vídeo
brancos, indígenas e negros, o que à (5min35s). Disponível em:
época levou o país a ser visto como um https://www.youtube.com/
"paraíso racial". watch?v=lryL8ZAMq-E.
Acesso em: 9 jun. 2022.
Fac-símile da capa do livro
Casa-grande & senzala,
de Gilberto Freyre.

39

13:22 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 39 trando que esta variável
28/06/22era
13:22um fator determinante das relações

sociais no país.
Casa-grande e Senzala e o mito da democracia racial A democracia racial freyriana, desse modo, seria uma reconstrução
Se inicialmente a obra de Gilberto recebeu consagração imedia- fantasiosa do passado nacional, uma ideologia de falsa ilusão defini-
ta por caracterizar o Brasil “como uma civilização original, onde a da pela “a ausência de preconceito e discriminação racial no Brasil e,
miscigenação lançou as bases de um novo modelo de convivência consequentemente, pela existência de oportunidades econômicas e
entre raças, tendendo a neutralizar espontaneamente conflitos e sociais iguais para negros e brancos”. [...]
diferenças”, [...] a partir dos estudos oriundos do Projeto Unesco,
do qual fazia parte Florestan Fernandes, reinterpretou-se Casa- SILVA, Mateus Lôbo de Aquino Moura e. Casa-grande e Senzala e o mito
da democracia racial. In: ENCONTRO DA ANPOCS, 39., 2015,
-grande & senzala como uma fábula da convivência harmônica
Caxambu. Anais [...]. Caxambu: Anpocs, 2015.
entre contrários, por meio de análises empíricas não só compro-
vando a existência de racismo no país, como também demons-
39

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 39 31/08/22 09:23


ENCAMINHAMENTO
a) Para Nina Rodrigues, o alto grau de miscigenação era a razão do atraso brasileiro. Para Gilberto Freyre, a mis-
• Destacar que a obra de Gil- cigenação era algo positivo, e não sinal de inferioridade do povo brasileiro. Para Freyre, a miscigenação corrigiu a
berto Freyre passou por dife- distância entre brancos e negros que, de outra forma, continuaria a ser enorme.
rentes leituras e que houve O debate sobre a diversidade étnica e cultural existente no Brasil se ampliou com o
grandes mudanças sociopo- sociólogo paulista Florestan Fernandes. Em sua pesquisa para o Programa sobre Relações
líticas entre as décadas de Raciais no Brasil, financiada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a
1930, quando foi publicada, Ciência e a Cultura (Unesco) na década de 1950, ele chegou a uma conclusão diversa
e de 1960, quando Florestan da apresentada por Gilberto Freyre: concluiu que o convívio entres brancos, indígenas e
Fernandes publicou o estudo negros era tenso e conflituoso; e que indígenas e negros eram vítimas de preconceito e
sobre a integração do negro de discriminação racial.
na sociedade brasileira. Florestan Fernandes concluiu, ainda, que o preconceito racial era condenado na teoria,
Professor, a discussão so- mas ocorria de forma dissimulada no dia a dia dos brasileiros, isto é, na prática.
bre a crítica de Florestan Fer- b) A pesquisa de Florestan Fernandes concluiu que negros e indígenas sofriam discriminação e preconceito racial.
nandes a Gilberto Freyre con- Preconceito omitido na teoria e exercido na prática.
tribui para o desenvolvimento PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

das habilidades EF09HI02 e


EF09HI03, pois a obra do so- a) Compare a visão do médico Nina Rodrigues com a do sociólogo Gilberto Freyre quanto
ciólogo paulista marca uma à miscigenação.
nova visão a respeito das rela- b) De que forma a visão de Florestan Fernandes enriqueceu o debate sobre a diversidade
ções raciais no Brasil. existente no Brasil?
Para refletir. Espera-se que c) Em grupo. Pesquisem, reflitam, debatam e opinem sobre a diversidade étnica existente no
o aluno perceba que o respei- Brasil de hoje. Tentem responder:
to à diversidade é fundamen- • Ela pode ser considerada uma característica do povo brasileiro?
tal para a construção da cida- d) De que forma a diversidade pode ser relacionada à construção da cidadania no Brasil?
dania no Brasil. A existência d) Resposta pessoal.
de grande diversidade étnica
DANIEL M ERNST/SHUTTERSTOCK.COM

facilita as trocas entre pesso-


as e comunidades de diferen-
tes origens e cores. Para uma
melhor compreensão dessa
relação, sugerimos estimular
o debate sobre as demandas
específicas de grupos e comu-
nidades que aqui vivem. As
demandas atuais de indíge-
nas, quilombolas e ribeirinhos
incluem o respeito às suas cul-
turas e o direito à cidadania
plena. Também exigem res-
peito ao modo como ocupam
e exploram os seus territórios,
à valorização das suas identi-
dades e ao tratamento digno Em todo o país, jovens se organizam para combater o racismo por meio das redes sociais, nos bairros,
no diálogo com a sociedade escolas e universidades. Fotografia de 2019.
mais ampla. c) Sim, pois o povo brasileiro se formou a partir do encontro e das trocas culturais entre diferentes
40 povos, com destaque para os indígenas, os europeus e os africanos.

Imagens em movimento
Documentário sobre Antô- Dica de leitura
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 40 28/06/22 13:22 D3_

nio Conselheiro e sua impor- Matéria jornalística em que professores e pesquisadores das Ciências Humanas comentam
tância histórica. sobre avanços e limites da obra de Florestan Fernandes sobre a integração da população
negra na sociedade brasileira.
• OS CEARENSES: Antônio
Conselheiro. 2016. Vídeo • SANZ,Beatriz. Florestan Fernandes antirracista: intelectuais negros refletem sobre a
(41min42s). Publicado pelo obra. TAB UOL, [s. l.] 23 jul. 2020. Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/reda-
canal Os Cearenses . Disponí- cao/2020/07/23/florestan-fernandes-antirracista-o-que-sua-obra-ensina-sobre-a-brasil.
vel em: https://www.youtube. htm. Acesso em: 9 jun. 2022.
com/watch?v=INisysCKbs0.
Acesso em: 18 abr. 2022.
40

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 40 31/08/22 09:24


TEXTO DE APOIO
Povo de Canudos
As terras em que ficava Canu-
Contestações e dinâmicas da vida dos não eram desertas e ali já
existia um povoado assim cha-
cultural na Primeira República mado, à margem do Vaza-Barris,
um rio intermitente. Os conse-
lheiristas se estabeleceram e so-
breviveram de uma parca agricul-
A Guerra de Canudos tura de subsistência, plantando
mandioca para o preparo de fa-
Nas últimas décadas do século XIX, o autori- Sertão: durante o período colonial, sertão rinha e cana-de-açúcar para a
era considerado todo o território que não
tarismo e o descaso dos governantes da República fabricação de rapadura, criando
estava no litoral, região onde predominou
com a maioria da população contribuíram para vários a ocupação dos colonizadores. Atualmente,
cabras. Assim se fundou o Belo
Monte, nome bíblico dado à cida-
movimentos de contestação e rebeliões na Primeira chama-se, comumente, de sertão a região
semiárida do Nordeste que fica afastada dela que ergueram como baluarte
República. No sertão
sertão,, as secas constantes agravavam dos principais centros urbanos. contra a República instaurada em
a situação e tornavam a vida da maioria dos habitantes Beato: devoto religioso que prega e faz 1889, sobrepondo-se à Canudos
quase insuportável. profecias. preexistente. [...]
Nesse cenário, surgiu no sertão nordestino, em Mutirão: trabalho coletivo realizado Na vida cotidiana do arraial
1870, um líder religioso chamado Antônio Vicente
gratuitamente em benefício de uma ou predominava a religião. Como
mais pessoas. de hábito no sertão e em geral
Mendes Maciel, o “Conselheiro”. Nascido em no interior do país, era uma re-
Quixeramobim, no Ceará, Antônio Conselheiro exerceu ligião festiva, em contraste com
na juventude várias ocupações, entre elas a de profes- a austeridade preconizada pelo
sor. Certo dia, abalado por dissabores líder, que não tolerava luxos ou

RITA BARRETO/FOTOARENA
abusos de conduta. Os habitan-
na vida pessoal, deixou o Ceará e tes organizavam suas vidas em
iniciou sua vida de beato
beato.. Andava pelo torno de dois ofícios religiosos
sertão afora pregando de cidade em diários, à madrugada e à noiti-
cidade e promovendo mutirões para nha, e periodicamente assistiam
aos conselhos do Peregrino, com
ajudar pequenos agricultores, refor-
data previamente marcada, para
mando igrejas e erguendo muros de os quais vinha gente até de lon-
cemitérios. Aos poucos, foi reunindo ge. Canudos tornou-se um cen-
um grande número de seguidores. tro de romaria, atraindo crentes
para pedir audiência ao Conse-
lheiro e fazer doações. [...]
O arraial contava com uma
Dialogando professora, de modo a não des-
curar da educação das crianças.
Você já presenciou O próprio Conselheiro frequen-
um mutirão tara escola, sabendo ler, escrever
no lugar onde e até rudimentos de latim. Um
você mora? secretário, Leão Ramos, atendia
Resposta pessoal. ao líder como escriba. Havia um
curandeiro, Manuel Quadrado,
perito em remédios silvestres
Estátua de Antônio Conselheiro e, e em simpatias. E José Félix, o
ao fundo, Museu Histórico de Taramela, servia de criado e ho-
Canudos. Canudos (BA), 2019. mem de confiança, como cha-
veiro e guarda das igrejas.
41 GALVÃO, Walnice Nogueira. Viver e morrer
em Belo Monte. Revista de História da
Biblioteca Nacional, ano 10, n. 111,
p. 17-19, dez. 2014.
13:22 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 41 28/06/22 13:22

• Enfatizar a relação entre o descaso e auto- os problemas decorrentes do desemprego,


ritarismo dos governantes e as rebeliões so- dos desmandos dos coronéis e dos impostos Dialogando. Comentar que
ciais ocorridas na Primeira República. lançados pela República (sem o conheci- no campo é comum ocorrer
• Comentar que, no aspecto econômico, pre- mento da realidade local). mutirões para roçar a mata,
dominava em Canudos o comunitarismo. Professor, o surgimento de beatos está colher, plantar etc. Na cida-
• Evidenciar que, tanto em Canudos quan- relacionado à falta de padres e seminários, de, é comum a prática do
to no Contestado, a busca dos sertanejos consequência da fragilização da Igreja ocor- mutirão em atividades como
por conforto espiritual era tão importante rida com o fim do padroado, após a Procla- consertos de igrejas, escolas,
quanto o desejo de solução material para mação da República. enchimento de laje etc.
41

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 41 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Ampliar o estudo do tema e
propor uma pesquisa sobre
a comunidade do Caldeirão Em 1893, o Conselheiro e sua gente se estabeleceram no sertão baiano, às
do Beato José Lourenço, no margens do Rio Vaza-Barris, nas terras de uma antiga fazenda chamada Canudos. Ali
Ceará: suas motivações, mo- começaram a construir um povoado, chamado inicialmente de Belo Monte e, depois,
dos de sobrevivência, tempo de Canudos. Os habitantes do arraial eram, em sua maioria, sertanejos pobres que
de resistência a ataques das fugiam dos desmandos dos coronéis e do desemprego, em busca de conforto material
forças policiais e militares. e espiritual. Mas havia também negociantes, enfermeiros, soldados, artesãos, minera-
dores e professores.
Em Canudos, os sertanejos cultivavam milho, feijão, batata e criavam cavalos
TEXTO DE APOIO e bodes, cujo couro era usado para fazer vestimentas, calçados e chapéus e para
comerciar com as vilas e cidades da região. A autonomia da comunidade de Canudos,
Tragédia em números sua decisão de viver conforme a leitura da Bíblia feita por Conselheiro e, sobretudo, a
Apesar de carregarem algum decisão de não pagar impostos lançados pela República foram vistas pelas autoridades
grau de incerteza, as cifras so- como uma ameaça. Os senhores da República passaram a dizer que Canudos era um
bre a campanha de Canudos
reduto de monarquistas fanáticos e perigosos.
impressionam. Do efetivo de
20 mil homens que tinha em Foi o que bastou para que o governo enviasse várias expe-
Emboscada: tática que dições militares contra Canudos. Nos confrontos, os sertanejos
1897, o Exército chegou a enviar
consiste em esperar o
ao arraial 9 500 soldados. Além inimigo às escondidas saíam da mata fechada gritando vivas a Bom Jesus e a Antônio
deste número, cerca de outros para atacá-lo de Conselheiro e atacavam os inimigos com armas de fogo, facas
2 500 vieram das polícias esta- surpresa.
e facões. As três primeiras expedições foram vencidas pelos ser-
duais da Bahia, Amazonas, Pará
e São Paulo. Um esforço impres- tanejos por meio da tática de emboscadas
emboscadas..
sionante, não fosse o tamanho A imprensa oficial transformou as lideranças de Canudos – Conselheiro, João
do povoado. Abade e Pajeú – nos maiores inimigos da República. O então presidente da República,
Estimativas indicam que Ca- Prudente de Morais, enviou a Canudos uma nova expedição com mais de 6 mil solda-
nudos chegou a ter 20 mil ha- dos que, com dinamite e balas de canhão, arrasou o arraial. Em 5 de outubro de 1897,
bitantes. No entanto, os núme-
as casas de Canudos tinham sido incendiadas e sua população, massacrada. Antônio
ros apresentados pelo tenente
Macedo Soares, veterano da Conselheiro foi preso e decapitado.
campanha, parecem mais ra-
ACERVO ICONOGRAPHIA

zoáveis. Segundo ele, quando


a tropa comandada por Morei-
ra Cesar foi derrotada, eram
aproximadamente 8 mil mora-
dores. E mais ou menos 2 mil
em fins de setembro, quando
uma trégua permitiu a saída de
mulheres, crianças e idosos do
povoado. Soldados da repressão
O esforço logístico para suprir em meio às ruínas de
Canudos (BA), c. 1897.
as tropas também era imenso.
Mas a falta de cuidado deixou
os próprios soldados vulnerá-
veis em certos momentos. Nas
batalhas vencidas, os sertanejos
tomaram alguns equipamentos
modernos do Exército, aumen- 42
tando sua capacidade de com-
bate. Chegaram a conseguir de
400 a 500 mil cartuchos, além
de capturar peças de artilharia, Dica de leitura
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 42 Imagens em movimento 28/06/22 13:22 D3_

como os canhões da expedição


Apresentação ano a ano de fatos impor- Vídeo sobre a Guerra do Contestado.
de Moreira César. Neste caso,
porém, não souberam operá-los. tantes relacionados a Canudos. • OLHAR Contestado – Desvendando códigos
MOITA, Sandro Teixeira. Todos perdemos. • COSTA, Carla. Cronologia resumida da de um conflito. 2012. Vídeo (15min).
Revista de História da Biblioteca Guerra de Canudos. Rio de Janeiro: Museu Publicado pelo canal olharcontestado.
Nacional, ano 10, n. 111, p. 22-24,
dez. 2014. p. 24. da República, out. 2017. p. 1-64. Disponível Disponível em: https://www.youtube.com/
em: https://museudarepublica.museus.gov.br/ watch?v=FYSXN5YhHqA. Acesso em: 13
wp-content/uploads/2017/10/CronoCanudos. jun. 2022.
pdf. Acesso em: 19 ago. 2022.

42

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 42 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Chamar a atenção para o
fato de que o Contestado é
A Guerra do Contestado visto por muitos historiado-
res como mais um episódio
Entre Santa Catarina e Paraná, em uma área contestada
de violência no campo em
(disputada) por esses dois estados, ocorreu outro movimento de
torno da questão da terra.
sertanejos pobres e muito religiosos. Observe o mapa.
• Evidenciar a ação dos fazen-
deiros ocupando as terras
A região da Guerra do Contestado (1911)
de posseiros e de povos indí-

SELMA CAPARROZ
50° O
Rio Igu

u
PARANÁ
genas locais, a exemplo dos
Ri
o Ne
gro
kaingang e dos xokleng, que
União da São Francisco utilizavam o pinhão na sua
Vitória do Sul
ap
ec
ó
Palmas dieta alimentar.
e i xe

ARGENTINA
Ch

27° S
oP

R
io

mbas
• Evidenciar os interesses da
i
ran Irani d
ro
Blumenau
Ri o Curitibanos
Rio I

OCEANO
Ma

Lumber em explorar o pinho


R io

Rio U Rio Canoas


rugu
ai Campos SANTA ATLÂNTICO
Novos CATARINA
RIO GRANDE Lages
Florianópolis e a imbuia da rica floresta
DO SUL
Posseiro: pequeno nativa local e a violência usa-
Área do Paraná pretendida por Santa Catarina proprietário que ocupou da contra os sertanejos.
Área de Santa Catarina pretendida pelo Paraná uma terra inexplorada e
Região da Guerra do Contestado a cultivou durante anos, Professor, para compreen-
Ferrovia 0 60 ganhando o direito de der melhor as características
Terras da Lumber posse sobre ela. da Guerra do Contestado, que
Fonte: AFONSO, Eduardo José. O Contestado. 2. ed. São Paulo: Ática, 1998. p. 20. guarda algumas semelhanças
No começo do século XX, reinava um clima de forte tensão
com Canudos, é importante
destacar que no conflito ocor-
social na região do Contestado, pois os coronéis locais expandiam Funcionários da Lumber rido no Sul do país, não ocorreu
suas fazendas de gado e de erva-mate tomando à força terras dos carregando toras de
a fixação em apenas um terri-
indígenas e dos posseiros
posseiros.. A tensão aumentou ainda mais quando araucárias, madeira
comum na região e tório, como foi no Nordeste.
o então presidente Afonso Pena, que governou entre 1906 e 1910,
de alto valor. Santa A obra Os Sertões, de Eu-
contratou uma empresa estadunidense, a Brazil Railway Company, Catarina, c. 1915. clides da Cunha, é uma impor-
para construir um trecho da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande A Lumber dedicava-se tante fonte do período, além
do Sul. E, como parte do pagamento, cedeu a ela uma faixa de 15 à extração de pinho
e imbuia.
de apresentar fotografias e
quilômetros de cada lado da ferrovia. restos materiais do período.
Em 1911, esta empresa criou uma
COLEÇÃO PARTICULAR

outra – a Lumber – que se comprometeu


a colonizar a região com famílias vindas Dica de leitura
da Europa. O interesse da Lumber, porém, Artigo sobre a Guerra do
não era colonizar, mas explorar o pinho Contestado.
e a imbuia da rica floresta nativa. Os diri- • SANTOS, Maria Cristina Fer-
gentes da empresa estadunidense, então, reira dos. A Guerra do Contes-
arregimentaram capangas para expulsar os tado: desfazendo as amarras
sertanejos daquela área e instalaram em do esquecimento. Revista
Três Barras (SC) o maior complexo madei- eletrônica de crítica e teoria
reiro da América do Sul na época. de literaturas, Porto Alegre,
v. 6, n. 1, p. 1-12, jan./jun. 2010.
43

13:22 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 43 mente entre indígenas e colonos,
28/06/22 13:22 principalmente no século XIX e
início do século XX.
Riqueza do Contestado Na composição étnica da população indígena de Santa Catari-
A importância da araucária angustifólia já fora observada e docu- na temos os Guarani, os Kaingáng e os Xokleng, povos bastante
mentada no século XIX por viajantes como Auguste de Saint-Hi- distintos, tanto linguística como culturalmente. Porém, uma ca-
laire e Robert Avé-Lallemant. A Mata da Araucária, nessa época, racterística cultural aproxima os Kaingáng dos Xokleng: além de
destacava-se nas regiões de planalto, não só de Santa Catarina estarem dentro do mesmo tronco linguístico (da família “jê”), as
como também do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. A impor- duas etnias utilizavam o pinhão em sua dieta alimentar como
tância de sua madeira e principalmente o valor energético de sua uma das principais fontes energéticas.
semente, o pinhão, protagonizaram grande parte dos contatos PERES, Jackson Alexsandro. A araucária e os contatos interétnicos
interétnicos do estado, muitas vezes sendo motivo de conflitos em Santa Catarina no século XIX. Revista História Catarina,
entre as populações indígenas de etnias diferentes e posterior- ano 2, n. 6, p. 83-85, jan./mar. 2008. p. 83.
43

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 43 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Apontar a importância do
beato José Maria como líder
das gentes do Contestado e Expulsos de suas terras, os sertanejos do Contestado passaram a se aconselhar e a
dos vários povoados ergui- seguir o monge José Maria. Pouco tempo depois, ergueram povoados na área de Santa
dos sob sua liderança. Catarina pretendida pelo Paraná.
• Expor a semelhança entre ar-
gumentos usados pelas auto-

ÓLEO SOBRE TELA, 100 CM X 150 CM, COLEÇÃO PARTICULAR


ridades para justificar a repres-
são violenta aos sertanejos do
Contestado e de Canudos.
• Evidenciar a força da religio-
sidade sertaneja, seja em Ca-
nudos, seja no Contestado.
O monge João Maria
Professor, apesar do papel curando doentes,
destacado dos monges, houve de Willy Zumblick,
diversos líderes no Contesta- 1953. Na imagem, o
do, inclusive mulheres e crian- artista representou
ças. Tanto a Guerra de Canu- uma cena comum no
Contestado: o monge
dos quanto a Guerra do Con-
José Maria benzendo e
testado oferecem oportunida- confortando sertanejos.
des para que se desenvolva a
competência específica 4, na Os fazendeiros e a imprensa do Paraná passaram a dizer que os
medida em que esses conflitos Dialogando
sertanejos do Contestado eram monarquistas fanáticos e inimigos
por terra e autonomia foram É correto dizer
tratados pelo governo e pelos da República (as mesmas palavras usadas para criticar os sertanejos
que a Guerra do
jornais como combates con- Contestado faz
de Canudos). Mas, na realidade, os sertanejos do planalto catari-
tra fanáticos e monarquistas. parte da longa nense reagiam à perda de suas terras, à penetração do capitalismo
Portanto, há um confronto de história da luta pela no campo e ao desrespeito aos seus costumes e às suas tradições.
visões a respeito dos mesmos terra no Brasil? O governo do Paraná enviou forças militares contra o Contestado
acontecimentos, que atual- Sim; na base do
e, durante a luta que então se travou, o monge José Maria e o
mente podem passar pelo cri- conflito está o uso da
força para tomar terras comandante adversário morreram. Inconformados, os sertanejos
vo crítico embasado em fontes de indígenas e campo-
históricas que possibilitam o passaram a dizer que o monge José Maria ia retornar à Terra para
neses pobres.
mapeamento dos interesses, fazer valer a “lei da coroa do céu”; o movimento ganhou novos
crenças e visões de mundo que Vilas santas: nome “vilas santas”
integrantes e o número de “vilas santas” cresceu.
compunham essas disputas. que os sertanejos do Durante um confronto com forças militares locais, os sertanejos
Contestado davam a
seus povoados. incendiaram a sede da empresa estadunidense que os havia expul-
sado de suas terras. Diante disso, o presidente Hermes da Fonseca,
TEXTO DE APOIO que governou entre 1910 e 1914, lançou contra o Contestado cerca
de 6 mil soldados armados de canhões e metralhadoras e apoiados
O Caldeirão do beato José
Lourenço por aviões. Em nome da República e do progresso, as “vilas santas”
foram arrasadas e os camponeses, fuzilados ou queimados. Com
José Lourenço era paraibano e
chegou ao Crato, interior do Cea- o fim do Contestado, em 1916, os governos do Paraná e de Santa
rá, atraído pela fama de santo de Catarina chegaram a um acordo, acertando os limites entre os dois
padre Cícero. Logo, os dois esta- estados.
beleceram uma relação de con-
fiança mútua. Então, o padre Cí- 44
cero confiou ao beato um sítio e
para lá passou a enviar pessoas
que chegavam em busca de abri-
go, comida e trabalho. Em 1926, milho, fava, andu, melância,
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 44 entre outros; criava mando do secretário de segurança, com a descul- 28/06/22 13:22 D3_

porém, o sítio foi vendido e o pa- gado miúdo e confeccionava (roupas, calçados e pa de que os moradores do Caldeirão possuíam
dre Cícero, então, encaminhou o instrumentos de trabalho); vivia, enfim, em torno armas. Mas os policiais invasores encontraram
beato e a sua gente para um ou- do trabalho e da oração. Com a morte do padre apenas imagens de santos. Em 1937, o sítio foi
tro sítio; este de sua propriedade Cícero em 1934, muitos de seus seguidores pas- atacado com o apoio da aviação enviada pelo go-
e denominado Caldeirão
Caldeirão.. saram a se aconselhar com o beato José Louren- verno federal. Muitos camponeses foram mortos,
Em pouco tempo, o Caldeirão ço, elevando assim sua fama. A autossuficiência outros foram presos e levados para Fortaleza. O
cresceu e prosperou, por ter água, do Caldeirão e a fama de seu líder incomodavam beato Zé Lourenço se refugiou em Exu, Pernam-
pela adoção do comunitarismo
comunitarismo,, os grandes proprietários e políticos da região. buco, onde viveu até a sua morte, em 1946. Seus
pela liderança e pelo carisma do Então, começaram a surgir boatos de que Zé seguidores levaram o seu corpo até Juazeiro e o
beato José Lourenço. A comu- Lourenço havia se associado aos comunistas. enterraram no cemitério do Socorro, ao lado da
nidade produzia arroz, feijão, Em novembro de 1936, a fazenda foi invadida a igreja onde se encontra o corpo de padre Cícero.
44

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 44 26/08/2022 16:33


TEXTO DE APOIO
Belle Époque
Na cultura brasileira, a separa-
PARA SABER MAIS ção entre os universos letrado e
popular sempre foi muito atenu-
ada, inclusive durante o primei-
A modernização do Rio na Belle Époque ro período republicano. [...]
[...] Nem a revista e nem o ci-
Na passagem do século XIX para o século XX, várias Cinematógrafo: o primeiro
nema eram coisas muito novas
cidades europeias, especialmente Paris, na França, tinham cres- aparelho que permitiu gravar naquele longínquo ano de 1910.
os movimentos e reprojetá-los
cido e se modernizado em ritmo acelerado. Esse crescimento foi foi o cinematógrafo inventado Nova mesmo, naquele cenário
acompanhado pelo desenvolvimento tecnológico marcado pelo em 1892, por Léon Bouly. No da belle époque carioca, era a
advento da luz elétrica, em 1879; pelo uso do cinematógrafo entanto, Bouly não registrou sua junção das duas coisas.
invenção, o que deixou o caminho O popular Zeca do Patrocínio
para projetar filmes, em 1895; pela invenção do aparelho de
aberto para, posteriormente, pertencia à nova geração de re-
raios X, naquele mesmo ano; e pela primeira transmissão do em 1895, na França, os
vistógrafos e humoristas que es-
telégrafo sem fio, em 1901; entre outros inventos. Esse período irmãos Auguste Lumière e creviam diálogos e roteiros para
de modernização acelerada ficou conhecido como Belle Époque Louis Lumière patentearem um gênero já um tanto modifi-
e melhorarem a criação.
(expressão francesa que significa “bela época”). cado, adaptando-se – principal-
A invenção do cinema e a primeira exibição de um filme em Paris impressionaram mente com a crescente utiliza-
ção da música de Carnaval – às
fortemente as pessoas. Uma sequência de imagens de um trem avançando em direção exigências do espetáculo mais
à plateia provocou sustos, gritos e desmaios. Essas reações eram uma resposta ao medo ligeiro, procurando atender a
de que o trem as atropelasse. um público mais variado. [...] As
Paris, com sua recém-construída Torre músicas carnavalescas lançadas
pelo teatro de revista geralmente
Eiffel, tornara-se o cartão postal da civili-
ganhavam gravações fonográfi-
zação europeia, a capital da ciência e das cas, já usuais no início do século.
artes, uma cidade a ser imitada por todas As poucas salas existentes tam-
as outras. bém combinavam exibições de
Para a maioria dos cientistas, teatro e filme. Já a partir de 1910,
os proprietários dos cineteatros
engenheiros, médicos e pesquisadores
viram-se obrigados a manter
brasileiros do início do século XX, moder- pequenas companhias de teatro
Torre Eiffel,
nizar era trazer a “civilização” da Europa ligeiro e burletas para rápidos es-
construída entre
os anos de 1887 para o Brasil, isto é, modernizar as nossas petáculos – no máximo de uma
e 1889. Paris cidades promovendo reformas urbanas, a hora – destinados a atrair público
(França), 1900. para os filmes. Esse misto de pal-
exemplo das feitas em Paris. co e tela obrigou os autores das
ALINARI ARCHIVES, FLORENCE/BRIDGEMAN/FOTOARENA

revistas a uma concisão e a uma


rapidez maior na elaboração de
suas peças, fato que provocou
ressonâncias recíprocas nas for-
mas de criação cômica.
SALIBA, Elias Thomé. Cultura.
In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (coord.).
A abertura para o mundo: 1889-1930.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. (História do
Brasil Nação: 1808-2010, v. 3, p. 268-269).

Imagens em movimento
45 Vídeo que trata da origem
do cinema.
• A HISTÓRIA do cinema. 2021.
13:22 Caldeirão: o nome
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 45 deriva do fato de a ENCAMINHAMENTO 28/06/22 13:22 Vídeo (10min40s). Publicado
região possuir uma formação rochosa pelo canal Nerdologia. Dis-
em forma de caldeira que é alimentada • Chamar a atenção para o período de modernização acele- ponível em: https://www.
por um riacho; isso garantia água e fazia rada conhecido como Belle Époque. youtube.com/watch?v=K
daquela área um oásis em pleno sertão. • Refletir com os estudantes sobre a ideia de que moderni- V9JqZPo26Y. Acesso em: 13
zar era “civilizar”; e “civilizar” da Europa para o Brasil, o jun. 2022.
Comunitarismo: forma de trabalhar e de que implicava em higienizar e reformar nossas cidades.
viver em que cada indivíduo é responsável
Professor, tratar do processo de urbanização e mo-
pela sobrevivência do grupo.
dernização no Brasil implica no desenvolvimento da ha-
Texto elaborado pela professora bilidade EF09HI05.
Ana de Sena para esta obra.
45

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 45 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Estimular a reflexão sobre a
adoção de uma política hi-
gienista de cima para baixo A Revolta da Vacina
e as consequências desastro-
Em 1902, Rodrigues Alves, um representante da oligarquia cafeeira, assumiu a pre-
sas dela para a população
sidência da República decidido a modernizar o Rio de Janeiro, eliminando os cortiços e
humilde do centro da cidade
que, segundo o historiador embelezando a área central da cidade. Ele confiou essa tarefa ao engenheiro Pereira Passos,
Nicolau Sevcenko, pôs na rua o prefeito do Rio de Janeiro (capital federal à época).
14 mil pessoas. O projeto de modernização era inspirado no parisiense e deveria ser posto em prática de
• Debater com os estudantes cima para baixo, isto é, sem consultar a população. E assim foi feito. Para construir a Avenida
os argumentos favoráveis e Central (hoje Avenida Rio Branco) no centro da cidade, o prefeito autorizou a demolição
contrários à obrigatorieda- de casas e casebres habitados pela população humilde. Aos gritos de “Bota abaixo!”, os
de da vacina, e ver nisso uma funcionários da prefeitura demoliram quarteirões inteiros, desabrigando cerca de 14 mil
oportunidade de estimular o pessoas. Em 7 de setembro de 1904, a Avenida Central foi inaugurada. Observe a imagem.
desenvolvimento da compe-

REPRODUÇÃO/CASA STAFFA
tência geral 7.

Imagens em movimento
Vídeo educativo sobre
Oswaldo Cruz e a vacina da
varíola.
• UM CIENTISTA, uma história: Movimento de
Oswaldo Cruz. 2015. Vídeo pedestres e
(5min). Publicado pelo Ca- automóveis na
Avenida Central,
nal Futura. Disponível em:
atual Avenida Rio
https://www.youtube.com/ Branco. Rio de
watch?v=wpgsxBOPpLI. Janeiro (RJ), 1912.
Acesso em: 13 jun. 2022.
Expulsos de suas casas, os antigos moradores do centro foram viver na periferia
ou subiram os morros, onde construíram barracos de tábuas cobertos com latas de
TEXTO DE APOIO querosene abertas. Enquanto isso, o médico sanitarista Oswaldo Cruz foi indicado pelo
Os cenários da República governo para combater a febre amarela, a varíola e a peste bubônica, doenças que
Com o governo Rodrigues Al- vinham matando milhares de pessoas na cidade do Rio de Janeiro. Em 1904, um projeto
ves, o desenho político traçado de lei que defendia a obrigatoriedade da vacina contra a varíola agitou e dividiu a socie-
encontra seu complemento ne-
dade. Veja o quadro a seguir.
cessário. Despolitizada, a capi-
tal federal será higienizada por Argumentos a favor da obrigatoriedade Argumentos contra a obrigatoriedade
Oswaldo Cruz e reformada pelas da vacina da vacina
picaretas comandadas por enge-
• A varíola matava mais de 4 mil pessoas todos • Cada pessoa deveria ter o direito de escolher se queria
nheiros como Paulo de Frontin e os anos no Rio e Janeiro. ser vacinada ou não.
Francisco Bicalho. • A vacinação obrigatória tinha sido adotada com • Os soros e os funcionários da saúde não eram
Na avenida Central, boulevard sucesso confiáveis;
na Europa. os policiais usariam a força para vacinar as pessoas.
retilíneo traçado sobre o emara-
nhado de ruelas ainda coloniais
e ladeado por fachadas eclé- 46
ticas, o Rio de Janeiro viveria o
sonho de ser uma Paris tropical
[...], tão bem condensado por
De que forma a suntuária
AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 46 e caríssima refor- da República acreditar que o Brasil – nela meto- 20/08/22 14:10 AV_
João do Rio: “De súbito, da noite
ma urbana do Rio de Janeiro orquestrada pelo nimizado – havia finalmente ingressado na era
para o dia, compreendeu-se que
prefeito Pereira Passos se justifica, uma vez que, do progresso e da civilização. Para o país como
era preciso ser tal qual Buenos
Aires, que é o esforço despeda- como foi visto, a capital havia sido esvaziada de um todo, os estados – para utilizar a fórmula de
çante de ser Paris” [...]. E do porto seu potencial político? Campos Sales –, a capital modernizada anteci-
deslocado do velho cais Pharoux Para desvendar esse aparente paradoxo é pre- pava um futuro que imaginavam que um dia
para a praça de Mauá, iluminado ciso lembrar o papel simbólico que o Rio assu- seria o seu.
e modernizado, a cidade conti- me como cidade-capital: reformada, iluminada,
NEVES, Margarida de Souza. Os cenários da República.
nuaria a exportar as riquezas do saneada e modernizada, a capital permitia aos O Brasil na virada do século XIX para o século XX.
país, cumprindo assim o destino estrangeiros que nela aportavam, aos que circu- In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.).
mercantil, que, desde os tempos lavam pelas calçadas da grande Avenida vesti- O Brasil republicano: o tempo do liberalismo excludente.
coloniais, era o seu. dos pelo último figurino parisiense e aos líderes Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. v. 1. p. 40-41.
46

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 46 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Valorizar a resistência do
povo à vacinação obrigató-
Convencido pelo médico Oswaldo

LEÔNIDAS, REVISTA O MALHO


ria e à violência policial du-
Cruz, o Congresso aprovou, em 1904, a rante a Revolta da Vacina.
Lei da Vacina Obrigatória,, que autori- • Destacar a importância da
zava os funcionários da área da saúde a Revolta da Vacina e das de-
vacinarem contra a varíola todos os brasi- mais rebeliões da Primeira
leiros a partir de seis meses de idade. Os República para o desenvol-
funcionários desobedientes eram ameaça- vimento do bloco conceitual
dos com multas e demissões. dominação/resistência, que
A obrigatoriedade da vacina, as é vertebral em História.
demolições no centro da cidade, o custo • Propor um debate sobre os
de vida elevado... Tudo isso levou a uma movimentos antivacina atu-
revolta popular, conhecida como Revolta Revolta da Vacina. “Guerra vaccino-obrigateza!... ais, estabelecendo uma liga-
da Vacina.
Vacina. De 10 a 16 de novembro de Espetáculo para breve nas ruas”. Charge de ção com o presente. Por meio
1904, ocorreram intensos conflitos de Leônidas, publicada na revista O Malho, em 1904. de uma pesquisa e seleção de
rua no Rio de Janeiro; armados de paus, posts de ativistas ou de pesso-
pedras e pedaços de ferro, as pessoas enfrentaram a polícia em vários pontos da cidade. as que se posicionaram publi-
Incendiaram bondes, arrancaram trilhos, depredaram lojas, além de cercar o Palácio do camente contra as vacinas, é
possível realizar uma análise
Catete, sede do governo, para protestar contra a vacinação obrigatória e a violência policial.
de mídias sociais, comparan-
O governo ordenou que seus navios de guerra bombardeassem os bairros situados
do os discursos desses grupos
na orla litorânea e, ao mesmo tempo, suspendeu a obrigatoriedade da vacina contra a
contemporâneos com os ar-
varíola; a Revolta foi desarticulada e seus líderes foram lançados aos porões de um navio gumentos favoráveis à vaci-
e enviados ao Acre, região que tinha sido incorporada ao Brasil em 1903. Políticos de nação massiva da população
oposição ao governo também participaram da Revolta, mas não foram punidos. defendidos por cientistas e
médicos da atualidade. Dada
a atual difusão de ideias anti-
ESCUTAR E FALAR vacina, é importante mediar
as situa­ções de oposição de
Vimos que, em 1904, os cariocas tinham opiniões divergentes a respeito da vaci- opiniões, marcando, porém,
nação contra a varíola. Releia o quadro da página anterior, com os argumentos a favor qual é a posição cientifica-
e contra a vacinação. Agora, responda: quais argumentos você considerou mais perti- mente comprovada.
nentes? Por quê? Prepare-se para falar em público. Respostas pessoais. • Escutar e falar. Outra possi-
bilidade é pedir que os alu-
Autoavaliação. Responda em seu caderno.
nos tracem um paralelo en-
a Expressei minhas ideias com objetividade? tre as epidemias da época e a
b Usei tom de voz e gestos adequados? pandemia de covid-19.
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

47

14:10 Imagens em movimento


AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 47 Vídeo sobre a criação da lei, em 1904,
04/07/22 que
14:51

tornava obrigatória a vacinação contra a


Vídeo com esquetes teatrais e depoimen-
varíola.
tos de médicos, pesquisadores e historiado-
res sobre a história da varíola, da vacina e da • LEIde vacinação, reforma sanitária e varí-
revolta popular de 1904. ola: Oswaldo Cruz. 2018. Vídeo (2min28s).
• REVOLTA da Vacina. 2015. Vídeo (23min8s).
Publicado no canal História em Gotas. Dis-
ponível em: https://www.youtube.com/
Publicado pelo canal VídeoSaúde Distri-
watch?v=BnazoQ3ZMnA&t=8s. Acesso em:
buidora da Fiocruz. Disponível em: https://
12 jun. 2022.
www.youtube.com/watch?v=amwFWGM
JhUw. Acesso em: 13 jun. 2022.
47

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 47 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Valorizar o protagonismo
negro na Primeira Repúbli-
ca, lançando luz sobre o pa- A Revolta da Chibata
pel do marinheiro João Cân-
No mar, também ocorreu um episódio de resistência popular.
dido à frente da Revolta da
Os navios da Marinha brasileira estavam entre os mais mo-
Chibata.
dernos da época, mas o Código Disciplinar da Marinha lembrava
• Refletir com os alunos sobre
os tempos da escravidão: faltas leves eram punidas com a prisão
a ação dos marinheiros, a Solitária: local de “solitária”
na “solitária ” por três dias; faltas leves repetidas, com prisão por
injustiça presente no Códi- uma prisão em que o
seis dias; faltas consideradas graves, com 25 chibatadas.
go Disciplinar da Marinha, prisioneiro fica separado
as motivações da Revolta e dos outros. Havia um grande número de afrodescendentes entre os mari-
seus desdobramentos. Nessa Soldo: salário de nheiros; por isso, para historiadores especializados no tema, a
soldado.
reflexão, merece atenção a presença de castigo físico no Código Disciplinar da Marinha era
Anistia: decisão do
quebra do acordo por parte poder público que anula uma manifestação de racismo. Lembre-se de que os oficiais da
do governo. punições e concede Marinha pertenciam em sua maior parte a famílias ricas, brancas
perdão a alguém por e poderosas, que tinham tido a seu serviço negros e mestiços na
Professor, o estudo da Re- atos considerados ilegais.
volta da Chibata contribui condição de escravizados e libertos.
para o desenvolvimento da Em novembro de 1910, um dia após a posse do presidente

COLEÇÃO PARTICULAR
habilidade EF09HI04, na me- Hermes da Fonseca, o marinheiro negro Marcelino Rodrigues
dida em que João Cândido se Menezes foi condenado a 250 chibatadas, embora o regulamento
tornou um símbolo nacional permitisse 25, no máximo. O castigo foi dado no interior de um navio
de luta por liberdade, cujo le- e aos olhos de toda a tripulação. E, apesar de ele ter desmaiado
gado ainda é fruto de disputas durante o castigo, continuou a ser chicoteado. Era o que faltava para
políticas. Além disso, tendo a explosão da revolta. Através de manobras rápidas, os marinheiros,
em vista que as chibatadas, liderados por João Cândido,, dominaram os oficiais e assumiram
contra as quais se revoltaram o comando dos principais navios de guerra ancorados no Rio de
os marinheiros, são uma evi-
Janeiro: o Minas Gerais e o São Paulo. Apontando seus canhões
dente continuidade da men-
para a cidade, os rebeldes exigiram o fim do castigo da chibata, o
talidade escravista, também
aumento dos soldos e a anistia para os marinheiros rebelados.
se mobilizam aprendizagens
relacionadas à habilidade Sem forças para enfrentar a rebelião, o governo concordou em
EF09HI07. proibir os castigos corporais na Marinha e em anistiar os rebeldes. Os
marinheiros cumpriram sua parte no acordo e devolveram os navios
aos oficiais. O governo, porém, quebrou o acordo e partiu para a
João Cândido,
vingança: baixou um decreto que permitia expulsar da Marinha os
apelidado por
um jornalista de elementos “indesejáveis” e mandou prender os líderes da revolta.
“Almirante Negro”, Dezesseis marinheiros revoltosos morreram no presídio da Ilha
morreu em 1969,
das Cobras, na cidade do Rio de Janeiro, nove foram fuzilados na
sem patente e
aposentadoria, viagem para a Amazônia e dezenas foram condenados ao traba-
vendendo peixes que lho forçado nos seringais dessa região. O líder maior da revolta,
ele próprio pescava o marinheiro João Cândido, foi internado como "louco". Mas, em
no cais de uma praia
do Rio de Janeiro. virtude de sua luta e de seus companheiros, aboliram-se os castigos
Fotografia de 1910. corporais na Marinha brasileira.

48

Imagens em movimento
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 48 Dica de leitura 28/06/22 13:22 AV_

Vídeo que conta a história de João Cândi- No artigo, o autor reflete sobre os impac-
do e da Revolta da Chibata. tos da Revolta da Chibata na música e na cul-
• HISTÓRIAS do Brasil – A Revolta da Chibata. tura popular do Brasil.
2017. Vídeo (4min43s). Publicado pelo ca- • SOUSA, Claudio Barbosa de. João Cândido
nal TV Senado. Disponível em: https://www. e a revolta da chibata: disputas e memórias.
youtube.com/watch?v=rtfeS0WSXhY. ArtCultura, Uberlândia, v. 16, n. 29, p. 223-
Acesso em: 13 jun. 2022. 237, 2016.

48

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 48 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
c) Significa, nesse contexto, que o indígena era considerado incapaz de assumir a responsabilidade por seus atos. Pela lei no
5.484, os indígenas eram considerados incapazes de assumir integralmente suas responsabilidades, por isso tinham de ser • Propor um debate contex­
tutelados pelo Estado até sua total integração à sociedade brasileira, isto é, até deixarem de ser indígenas! Essa ambiguidade tualizado sobre a lei no 5.484,
é própria da tutela; ao mesmo tempo que se baseia em
Os indígenas na República princípios humanitários, éticos e jurídicos destinados
a garantir a sobrevivência das sociedades indígenas,
marco legal da questão indí-
gena na Primeira República.
é um instrumento de dominação dessas sociedades.
Para a maioria dos pensadores do início do século XX, a questão indígena era um pro- • Debater sobre o papel do SPI

blema nacional e precisava ser resolvida. Nos debates que se seguiram, surgiram diferentes na relação com os povos in-
dígenas e avaliar seus desdo-
propostas; uma delas foi a criação pelo governo do Serviço de Proteção aos Índios (SPI),
bramentos.
em 1910, cuja função era prestar assistência aos indígenas. Era a primeira vez que o governo
• Trabalhar o conceito de
brasileiro interferia na questão indígena. As autoridades responsáveis por essa lei não compreendiam que
os indígenas são capazes, sim; ocorre que eles possuem culturas e tutelado.
modos de vida próprios.
• Refletir com os estudantes,
Estado brasileiro, povos indígenas e o marechal Rondon no plano diacrônico, sobre
Por sua habilidade no trato com os povos as formas como a população

ARQUIVO O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS


indígenas do Mato Grosso, o marechal Cândido indígena foi tratada nos di-
Rondon foi convidado para dirigir o SPI. A prin- ferentes períodos da história
cipal meta do SPI era a integração total dos do Brasil.
indígenas à nação brasileira. E, para tal, Rondon Professor, a compreensão
propunha os seguintes passos: atração,, pacifi- desses diferentes matizes está
cação e civilização.. relacionada com a habilidade
EF09HI08 e pode contribuir
Essa visão esteve presente também no
com a construção e o refina-
Código Civil de 1916, que definia os indígenas
mento da análise que os alu-
como incapazes. Mas o marco legal da questão
nos possam fazer das questões
indígena na Primeira República foi a lei no 5.484, indígenas contemporâneas.
de 1928, que colocava os indígenas sob a tutela
do Estado.. Eles foram classificados por essa
lei em: nômades, aldeados, incorporados aos Dica de leitura
centros agrícolas e reunidos em povoações indí- Dissertação de mestrado
genas. Os nômades e os aldeados eram vistos que trata de instituições cujo
Marechal Rondon mostra o funcionamento
como incapazes de responder por seus atos. E, de um relógio a um grupo de indígenas.
objetivo alegado era a prote-
por isso, se cometessem alguma infração, só Parque Indígena do Xingu (MT), 1957. ção das populações indígenas
durante a Primeira República.
poderiam ser presos com a permissão do SPI.
a) O objetivo do SPI era prestar
O texto aborda desde as mis-
Os inspetores do SPI adotavam a técnica de
assistência a todos os indígenas, sões Jesuíticas até as institui-
contato desenvolvida por Rondon, que consistia Dialogando nômades ou aldeados, visando ções de Estado, como o SPI.
em manter uma atitude defensiva em relação à sua integração à nação.
a Qual era o objetivo do SPI? • BAGOLIN, Darni Pillar. O in-
aos indígenas até que o relacionamento com
b O que as autoridades do SPI entendiam dígena na República Velha:
eles fosse estabelecido. Depois buscavam, junto
por “integração total do índio à as instituições de “proteção”
aos governos estaduais, garantir uma terra para
sociedade brasileira”? no Rio Grande do Sul. Disser-
o grupo. O SPI atuou em áreas de colonização tação (Mestrado em História)
c A lei no 5.484, de 1928, colocou o
como São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Mato – Instituto de Filosofia e Ciên-
indígena sob a tutela do Estado.
Grosso, entre outras. Nessas áreas foram ins- Reflita e opine. Qual é o significado cias Humanas, Universidade
taladas equipes de atração e postos indígenas. do termo “tutelado”? de Passo Fundo, Passo Fundo,
b) Na visão das autoridades, “integração” significava levar os povos indígenas a deixarem suas terras, 2009.
suas culturas, para trabalharem e viverem em um lugar reservado a eles ou em cidades com os demais
membros da sociedade nacional.
49

13:22 + ATIVIDADES
AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 49 30/06/22 16:38

Considerando que a elevação da figura dos bandeirantes dantes a respeito da figura histórica e do episódio do incêndio;
à posição de heróis nacionais está enraizada no início da Re- segundo, um momento de pesquisa e aprofundamento desses
pública, é possível propor uma discussão coletiva que envolve conhecimentos; e terceiro, a divisão da sala em pequenos gru-
uma polêmica contemporânea e um dos bandeirantes paulis- pos de discussão. Professor, é importante mediar a discussão
tas. O tema a ser discutido é o incêndio da estátua de Borba e ressaltar a importância do diálogo e respeito à diversidade
Gato na cidade de São Paulo, ocorrido em 2021. Para opera- de argumentos, além de enfatizar que o respeito aos diretos
cionalizar a atividade, há pelo menos três etapas a serem se- humanos é uma das balizas da atividade. Dessa forma, fomen-
guidas: primeiro, o levantamento do conhecimento dos estu- ta-se o desenvolvimento das competências gerais 7 e 9.

49

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 49 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Descrever as condições de tra-
balho do operariado nas pri-
meiras décadas da República. O movimento operário
• Propor um debate sobre as
ideologias com grande pene- No início do século XX, o

ACERVO ICONOGRAPHIA
tração no movimento operá- ambiente das fábricas era insa-
rio, a exemplo do socialismo e lubre, mal iluminado e sem
do anarquismo.
ventilação adequada; os operários
• Propor uma pesquisa sobre
trabalhavam de 14 a 16 horas por
os jornais operários anarquis- dia por salários que não acompa-
tas, à época, e sua capacidade
nhavam o aumento do custo de
de divulgação das mensagens
vida; além disso, não havia direito
e do ideal do anarquismo.
a férias nem a aposentadoria.
• Explicar que, apesar de per-
Em 1920, em São Paulo, 51%
der bastante de sua influên-
dos operários eram estrangeiros,
cia sobre a classe trabalhado-
enquanto no Rio de Janeiro estes
ra nas décadas seguintes, no
início do século XX, o anar- somavam 35%; a maioria do ope-
quismo era uma força ideo- rariado era formada de italianos,
lógica significativa no Brasil portugueses e espanhóis.
Operários da Fábrica
e em outros países da Améri- Sol Levante, das
ca do Sul. Na Argentina, hou- Indústrias Matarazzo.
ve ferrenha perseguição a Grande parte Ideologias do movimento operário
imigrantes europeus em vir- desses trabalhados
As doutrinas que tinham maior penetração no movimento
era formada de
tude da pretensa associação imigrantes. São operário eram o anarquismo e o socialismo.
entre italianos e espanhóis. Paulo (SP), c. 1900. O socialismo propõe a criação de uma sociedade igualitária e,
Professor, para a pesquisa, portanto, sem classes sociais. Para se chegar a essa sociedade, os
pode-se sugerir o Arquivo Edgar socialistas propunham a tomada do poder e o controle do Estado
Leuenroth, da Universidade pelos trabalhadores até que as desigualdades sociais fossem elimi-
Estadual de Campinas nadas. Os anarquistas,, por sua vez, também defendiam a criação
(Unicamp), disponível em: de uma sociedade igualitária, mas, diferentemente dos socialistas,
https://www.ael.ifch.unicamp.br/
almejavam a destruição do Estado, pois, por princípio, eram contrá-
acervo (acesso em: 10 jun. 2022).
rios à existência de qualquer tipo de governo. Esses ideais entraram
no Brasil com os imigrantes europeus.
Imagens em movimento Para divulgar seus ideais, os anarquistas produziram e lançaram
Reportagem sobre o movi- importantes jornais operários, a exemplo do Avanti! (1901), O
mento anarquista no Brasil. Libertário (1904), Terra Livre (1905), A Voz do Trabalhador
• MOVIMENTO
e A Plebe (1917). Entre os líderes anarquistas, estavam Edgard
anarquista
atuou na conquista dos direi- Leuenroth, Everardo Dias e José Oiticica. Divulgando suas ideias e
tos trabalhistas. 2013. Vídeo convencendo seus companheiros, os anarquistas esperavam chegar
(6min19s). Publicado pelo ao seu objetivo maior, uma “greve geral” revolucionária, que poria
canal TV Brasil. Disponível fim ao Estado e ao capitalismo.
em: https://www.youtube.
com/watch?v=jFZXna2a_VQ. 50
Acesso em: 13 jun. 2022.

des operárias deveriam50a uma “política de par- de 1913 e 1920, e, inclusive, a maioria dos anar-
TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd

tido” ou conservar a neutralidade, dizia: quistas que atuavam no movimento sindical


28/06/22 13:22 D3_

O movimento operário no “[...] que a única base sólida de acordo e de passa a defender essa postura, encarando a op-
século XX ação são os interesses econômicos comuns a ção pelo ideário anarquista como uma escolha
No Congresso Operário Bra- toda a classe operária [...]. individual fora do sindicato.
sileiro, realizado em abril de O Congresso Operário aconselha o proleta-
BATALHA, Cláudio H. M. Formação da classe
1906 na capital da República, riado a organizar-se em sociedades de resis-
operária e projetos de identidade coletiva.
em cujas resoluções prevaleceu tência econômica, agrupamento essencial e,
In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida
uma orientação sindicalista re- sem abandonar a defesa, [...] direitos políticos Neves (org.). O Brasil republicano: o tempo
volucionária, a resolução que de que necessitam” [...]. do liberalismo excludente. 5. ed.
respondia ao tema 1, em que Resoluções dentro do mesmo espírito foram Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
era perguntado se as socieda- aprovadas nos congressos operários brasileiros v. 1. p. 175-176.
50

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 50 26/08/2022 16:33


Dica de leitura
Reportagem que aborda a
primeira articulação do movi-
mento operário brasileiro em
A luta pelas 8 horas nível nacional.
Apesar das frequentes rivalidades entre brasileiros e estrangeiros, assistiu-se na
• HÁ 110 anos ocorria o primeiro
Primeira República à formação de um movimento operário combativo e atuante. Em 1906,
Congresso Operário Brasileiro.
o operariado realizou, no Rio de Janeiro, o 1o Congresso Operário Brasileiro,, reunindo RádioAgênciaNacional, Brasília,
trabalhadores de várias partes do Brasil. Esse Congresso foi conduzido, principalmente, DF, 15 abr. 2016. Disponível em:
por lideranças anarquistas e ficou decidido que a luta seria pela jornada de 8 horas de https://agenciabrasil.ebc.com.
trabalho e pela regulamentação do trabalho feminino. No ano seguinte, a partir do dia br/radioagencia-nacional/geral/
1o de maio, os operários fizeram várias greves com esse objetivo. audio/2016-04/ha-110-anos-
O governo reagiu, reprimindo e prendendo trabalhadores. Além disso, aprovou, em ocorria-o-primeiro-congresso-
1907, a Lei Adolfo Gordo,, que permitia expulsar do Brasil os imigrantes que participassem operario. Acesso em: 13 jun.
de greves. Mais de uma centena de operários estrangeiros acusados de “grevistas” foi 2022.
expulsa do Brasil. Apesar disso, as lutas operárias continuaram intensas.
Imagens em movimento
Vídeo sobre a greve geral
A greve de 1917 de 1917.
O movimento iniciou-se com a paralisação de algumas fábricas da Mooca e do Ipiranga • GIGANTE do Brasil - greve
(bairros da capital paulista) e logo se alastrou. Em uma das manifestações dos trabalha- geral de 1917. 2016. Vídeo
dores – às portas de uma fábrica de tecidos do grupo Matarazzo –, a polícia abriu fogo (1min55s). Publicado pelo
contra os manifestantes, baleando o operário anarquista Francisco Martinez,, que morreu Canal History Brasil. Disponível
no dia seguinte. em: https://www.youtube.
com/watch?v=O9xSJ9krp88.

COLEÇÃO PARTICULAR
Acesso em: 13 jun. 2022.
Entrevista com a historiado-
ra Christina Lopreato sobre a
greve de 1917.
• HISTÓRIA - A greve geral
anarquista de 1917. 2016.
Vídeo (29min31s). Publicado
pelo canal Univesp. Disponível
em: https://www.youtube.com/
watch?v=6HeUogLIQlE. Acesso
em: 13 jun. 2022.

Trabalhadores em frente a uma fábrica têxtil no bairro da Mooca, em São Paulo (SP), 1917.

51

13:22 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 51 28/06/22 13:22

• Chamar a atenção para a luta travada pela jornada de 8 horas de trabalho e pela regula-
mentação do trabalho feminino.
• Destacar o impacto da Lei Adolfo Gordo para o movimento operário, em cujos quadros
havia muitos operários estrangeiros.
Professor, para introduzir o tema dos primórdios do movimento operário, é possível par-
tir de uma reflexão do tipo tempestade de ideias a respeito de direitos trabalhistas. Pensá-
-los na chave da habilidade EF09HI09 pode ser útil para refletir sobre as condições de traba-
lho no início do século XX e o desenvolvimento do movimento operário no Brasil.

51

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 51 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Refletir com os alunos sobre
a força do movimento ope-
rário na Primeira República, O enterro do jovem operário foi o estopim de uma greve geral em São Paulo. Para
alertando para o fato de que voltar ao trabalho, os trabalhadores exigiam:
esse movimento não se res- • jornada de 8 horas e aumentos salariais;
tringiu a São Paulo, mas in- • abolição do trabalho noturno para mulheres e menores de 18 anos;
cluiu diversos outros estados.
• pagamento pontual;
• Propor uma pesquisa sobre
• diminuição dos aluguéis e congelamento dos preços dos alimentos.
o movimento operário do
estado onde a escola está lo- O movimento grevista se alastrou para os estados do Rio de Janeiro, da Paraíba, de
calizada, colaborando para Minas Gerais e do Rio Grande do Sul e foi o maior já ocorrido na Primeira República.
o desenvolvimento da com- Em São Paulo, os patrões concordaram em aumentar os salários em 20% e prome-
petência geral 2 e da com- teram não dispensar nenhum grevista, libertar os grevistas presos e fazer esforços para
petência específica 1. melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Diante disso, o operariado paulista voltou
• Destacar o aumento da influ- ao trabalho. Terminada a greve, porém, os empresários passaram a perseguir e a demitir
ência do socialismo nos meios os principais líderes do movimento.
operários em função da fun-

ACERVO ICONOGRAPHIA
dação e atuação do Partido
Comunista do Brasil, em 1922.
• Informar que entre os traba-
lhadores que aderiram à gre-
ve estavam diversas crianças,
que também trabalhavam Trabalhadores ocupam
bonde da Light durante a
durante extensas jornadas e
greve de 1917. São Paulo
eram remuneradas com salá- (SP), julho de 1917.
rios mais baixos.

TEXTO DE APOIO
Os trabalhadores
das fábricas Marxismo: teoria e
filosofia criadas pelo
Nos anos seguintes à greve geral, as lutas operárias por melhores
A imagem associada à classe
operária na Primeira República é de condições de vida e de trabalho prosseguiram. Nesse contexto, um
filósofo alemão Karl
que esta foi “branca, fabril e mas- Marx e por Friedrich
grupo composto de operários e intelectuais anarquistas e marxistas
Engels. A ideia central
culina”. Cada um desses atributos fundou, em março de 1922, o Partido Comunista do Brasil (PCB). Os
do marxismo é que a
falseia a realidade ao seu modo. comunistas, ao contrário dos anarquistas, possuíam uma organização
história das sociedades
Falar de uma classe operá- humanas é a história
centralizada e nacional e eram favoráveis a participar das eleições, pois,
ria “branca”, composta em sua da luta de classes.
por meio delas, esperavam transformar a sociedade.
maioria de imigrantes europeus,
é sem dúvida uma avaliação A mobilização do movimento operário continuou intensa. Em 1926, o PCB lançou uma
globalmente correta para os es- frente eleitoral denominada Bloco Operário (BO), que depois passou a se chamar Bloco
tados de São Paulo e do Sul, mas Operário e Camponês (BOC). Na campanha para presidente da República de 1930, o BOC
desconsidera o peso do opera- lançou um candidato próprio, o marmorista Minervino de Oliveira.
riado “nacional”, com signifi-
cativa participação de negros e
mulatos no restante do país. [...]
52
Por outro lado, o caráter fabril
do operariado foi grandemente
exagerado nas fontes disponí- dustrial. Entretanto, a mão
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 52 de obra feminina Dica de leitura 28/06/22 13:22 D3_

veis, pois, de modo geral, os le- foi muito significativa em ramos como o têx-
vantamentos públicos e privados til e o de vestuário, chegando a ser majoritá- Dissertação que ressalta questões de gênero
do período tenderam a desconsi- ria em alguns lugares. De qualquer modo, o e faixa etária na classe operária brasileira da Pri-
derar as manufaturas e oficinas, que é importante ressaltar é que o peso do meira República.
com pequeno número de operá- trabalho feminino esteve sub-representado
• PIRES,Isabelle. Entre teares e lutas: relações
rios e com trabalho manual. [...] na face mais visível da classe operária – suas
organizações. de gênero e questões etárias nas principais
Por fim, no que diz respeito à
BATALHA, Cláudio H. M. Formação da classe operária fábricas de tecidos do Distrito Federal (1891-
dimensão masculina da classe
operária, de fato na Primeira Re-
e projetos de identidade coletiva. In: FERREIRA, Jorge; 1932). Dissertação (Mestrado em História, Polí-
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). O Brasil
pública prevalecem os homens republicano: o tempo do liberalismo excludente. 5. ed. Rio
tica e Bens Culturais) – CPDOC, Fundação Getú-
no trabalho manufatureiro e in- de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. v. 1. p. 164-165. lio Vargas, Rio de Janeiro, 2018.
52

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 52 31/08/22 09:25


ENCAMINHAMENTO
• Destacar que o surgimento
do PCB marcou uma mudan-
O modernismo ça no movimento operário
brasileiro, até então hege-
monizado por anarquistas. O
Em 1922, ano da fundação do PCB, e em sintonia com as mudanças que vinham
socialismo se tornou então a
ocorrendo no Brasil e na Europa, um grupo de intelectuais e artistas brasileiros lançou um
bandeira mais forte entre os
movimento cultural conhecido como modernismo. Buscar respostas para perguntas como
trabalhadores de esquerda.
“Quem somos nós?” e “O que é ser brasileiro?”, reelaborar as culturas vindas do exterior
• Informar aos alunos que as
e valorizar a cultura popular eram algumas de suas principais palavras de ordem.
respostas dadas por intelec-
O movimento modernista teve início na Semana de Arte Moderna, evento realizado
tuais brasileiros, a exemplo
no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922. A exposição de Gilberto Freyre e Sérgio
contou com obras de pintores, como Di Cavalcanti e Anita Malfatti, e de escritores e Buarque de Holanda, nos
poetas, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Na ocasião, além da mostra de anos de 1930, fizeram par-
arte, houve também a declamação de poesias, palestras acerca das ideias modernistas e te das inquietações moder-
apresentações de música e dança. nistas sobre “quem somos
O modernismo teve grande importância na história brasileira e pode ser dividido nós?”, “o que é ser brasilei-
em dois momentos distintos. No primeiro, que se iniciou em 1922, o importante era o ro?”, entre outras.
processo de atualização e de modernização da cultura e o combate a quaisquer formas • Discutir a proposta moder-
de culto ao passado. A partir de 1924, o essencial passou a ser a produção de uma arte nista de reelaborar as cultu-
inteiramente própria. ras vindas do exterior e de
No contexto desse segundo momento é que o sociólogo Gilberto Freyre publicou Casa- valorizar a cultura popular a
-grande & senzala,, em 1933, e o historiador Sérgio Buarque de Holanda produziu Raízes partir de textos, obras pictó-
do Brasil,, em 1936, obras que expressam o esforço dos intelectuais modernistas de pensar ricas e musicais de artistas do
o país com base no que ele é, ou seja, “brasileirar o Brasil”, na feliz expressão de Mário modernismo brasileiro.
de Andrade. • Evidenciar a periodização do
© TARSILA DO AMARAL EMPREENDIMENTOS LTDA. FOTO: GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO modernismo que propuse-
mos, aglutinada em torno de
dois momentos distintos: o
de atualização e moderniza-
ção da cultura, e um segundo
momento voltado à produ-
Imagem da projeção ção de uma arte inteiramen-
de obras de arte em te própria, sintetizado na
comemoração aos 100 máxima de Mário de Andra-
anos da Semana de Arte
Moderna. Palácio dos
de “brasileirar o Brasil”.
Bandeirantes, São Paulo
(SP), fevereiro de 2022.
+ATIVIDADES
Propor uma pesquisa em in-
terface com a área de Lingua-
gens sobre os aspectos histó-
ricos, literários e pictóricos do
modernismo no Brasil.
53 Produto: apresentar uma
releitura da obra de Anita
Malfatti e/ou Cândido Porti-
13:22 Imagens em movimento
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 53 28/06/22 13:22
nari, a fim de sensibilizar os
estudantes para os aspectos
Documentário sobre a Semana de Arte Moderna. inovadores do Modernismo e
• SEMANA de Arte Moderna. Vídeo (40min52s). 2012. Publicado pelo canal TV cultura. Dis- sua força na história da arte
ponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LdO_ebONK9I. Acesso em: 13 jun. 2022. no Brasil e para o presente.
Documentário sobre a influência do Modernismo no Brasil.
• MODERNISMO: os anos 20. Roberto Moreira – Panorama Histórico Brasileiro (trecho). 2009.
Vídeo (4 min33s). Publicado pelo canal Itaú Cultural. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=uVQncmr3DsU. Acesso em: 13 jun. 2022.

53

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 53 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto con-
sultando o texto: MODERNIS-
MO NO BRASIL. In: Enciclopé- Na literatura, os autores brasileiros inovaram no conteúdo e na forma, criando poemas
dia Itaú Cultural. Disponível com versos livres, sem rima, e textos que ousavam quebrar as regras gramaticais.
em: https://enciclopedia. Leia o exemplo a seguir, de um poema publicado em 1925.
itaucultural.org.br/termo
359/modernismo-no-brasil. Erro de português
Acesso em: 18 abr. 2022.
Quando o português chegou
Professor, esse site reúne
Debaixo duma bruta chuva
materiais audiovisuais, repro-
Vestiu o índio
duções das principais obras de
artistas plásticos modernistas, Que pena! Fosse uma manhã de sol
entre outros. O índio tinha despido
Os debates em torno do O português
modernismo desenvolvem a ANDRADE, Oswald de. O santeiro do mangue e outros poemas.
habilidade EF09HI05. São Paulo: Globo: Secretaria do Estado da Cultura, 1991.
p. 95. © Oswald de Andrade.

Imagens em movimento
O movimento iniciado em São Paulo se

MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO – SP – BRASIL


Trecho de entrevista em
propagou pelo país. Várias revistas moder-
que Tarsila do Amaral fala so-
nistas, com artigos sobre pintura, escultura,
bre seu papel no modernismo.
literatura e história, foram lançadas em dife-
• ENTREVISTA rara de Tarsila rentes estados.
do Amaral (1972). 2020.
Vídeo (1min3s). Publicado
pelo canal Meu Pedacinho.
Disponível em: https://www.

COLEÇÃO PARTICULAR/ © TARSILA DO AMARAL EMPREENDIMENTOS LTDA.


youtube.com/watch?v=4v-
kG3RmAKM. Acesso em: 18
abr. 2022.

TEXTO DE APOIO
As propostas de Oswald
de Andrade
[...] No “Manifesto da Poesia
Pau-Brasil”, são propostos novos
princípios para a poesia: a fusão
de elementos cultos e popula-
res, a incorporação do cotidiano,
o registro da oralidade – a abo-
lição do “falar difícil”, “a contri-
buição milionária de todos os
erros” – como “fatos estéticos”, A arte modernista buscava inspiração em temas populares, alguns desses extraídos do folclore.
com vistas a uma “poesia de Acima, à esquerda, Gazo, obra de Tarsila do Amaral, 1924; acima, à direita, As cinco moças de
Guaratinguetá, pintura de Di Cavalcanti, 1930. Ambos foram importantes pintores modernistas.
exportação”. Publicado original-
mente no Correio da Manhã,
Manhã, do
Rio de Janeiro, em 18 de março 54
de 1924, foi concebido sob o im-
pacto da apreciação do Carnaval
carioca na companhia de Tarsi-
Já o “Manifesto Antropófago”
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 54 não só se cons- [...] apresenta uma síntese dialética que procu- 28/06/22 13:22 AV_
la do Amaral e Blaise Cendrars,
titui em um dos textos mais célebres do autor, ra resolver a questão da dependência cultural,
e também da temporada em
como também é o que teve, e ainda tem, maior por meio da transculturação. [...] Suas propos-
Paris, em 1923, quando o autor
repercussão e mais desdobramentos no contex- tas mais ousadas são o novo marco inicial des-
frequentou os principais van- to cultural brasileiro, e maior divulgação no exte- sa história, fixado como a deglutição do Bispo
guardistas europeus e ficou a rior. Concebido em janeiro de 1928, impulsiona- Sardinha, em 1554, pelos índios caetés, e a re-
par de toda a produção estética do pelo quadro Abaporu Abaporu,, de Tarsila do Amaral, elaboração da dúvida existencial hamletiana,
europeia do período. com que Oswald foi presenteado em seu aniver- “Tupi or not tupi”. Porém a mais citada é aquela
Oswald defende uma revisão sário, foi publicado no primeiro número da Re- que sintetiza o espírito oswaldiano: “A alegria é
cultural do país [...], na esteira vista de Antropofagia,
Antropofagia, em maio do mesmo ano, a prova dos nove”.
do que fizeram os cubistas euro- acompanhado do desenho da referida obra. SCHWARTZ, Jorge; ANDRADE, Gênese (org.). Introdução. In:
peus ao tê-lo como suporte esté- Com a proposta de assimilar as qualidades ANDRADE, Oswald de. Manifesto antropófago e outros
tico-exótico. [...] do [...] estrangeiro para fundi-las às nacionais textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 8-9.
54

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 54 26/08/2022 16:33


TEXTO DE APOIO
As eleições na Primeira
República

ATIVIDADES NÃO ESCREVA


NO LIVRO. A figura dos coronéis sobrevi-
veu à época da Guarda Nacional,
o que mostra que eles foram in-
corporados à instituição apenas
para formalizar o poder e o pres-
tígio que já tinham. Alguns des-
I. Retomando ses homens e mulheres ficaram
conhecidos por seu “carisma”.
[...] Seu heroísmo e a posição
alcançada serviam de exemplo
1 Leia um trecho de Os bruzundangas,

ACERVO DA EDITORA
que angariava a simpatia dos
obra do escritor Lima Barreto, que
outros. [...]
se utiliza da sátira e da alegoria para
falar sobre o período da Primeira O fato de possuir essas carac-
terísticas explica por que nem
República.
sempre o coronel era o homem
Os deputados não deviam ter mais rico do lugar. Mais impor-
opinião alguma, senão aquelas tante que a riqueza era a capa-
cidade de se transformar em in-
dos governadores das províncias
térprete do povo ao dizer o que
que os elegiam. As províncias não as pessoas queriam ouvir utili-
poderiam escolher livremente os zando a linguagem delas.
seus governantes; as populações [...] Nas eleições, ele apoiava
tinham que os escolher entre certas os candidatos do governador e
e   determinadas famílias, aparen- o ajudava a eleger um determi-
nado deputado federal em troca
tadas pelo sangue ou por afinidade.
de apoio oficial à candidatura a
BARRETO, Lima. Os bruzundangas. deputado estadual de um filho,
Domínio Público. [S. l.], [2004?]. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ sobrinho, genro ou amigo. Com
bv000149.pdf. Acesso em: 17 mar. 2022. o passar do tempo e o aumen-
to do poder, e com aprovação do
governador, o coronel poderia
inclusive indicar candidatos a
deputado federal. [...]
Os coronéis sobreviveram à
Fac-símile da capa do livro Guarda Nacional e à República
Os bruzundangas, Velha. O fenômeno não deixou
de Lima Barreto. de existir e se adaptou aos no-
vos tempos. Eles empregam no-
vos métodos de dominação. Um
Sátira: na literatura latina, composição livre e
irônica contra instituições, costumes e ideias da deles é o controle dos meios de
Nesse texto, o autor está se referindo à: comunicação, como rádio e te-
época.
a) política dos mandonismos. levisão. [...] Ele viaja de avião,
Alegoria: modo de expressão ou interpretação
b) política dos prefeitos. que consiste em representar pensamentos, conhece a Europa e os Estados
c) política dos governadores. 1. Alternativa C. ideias, qualidades sob forma figurada. Unidos, frequenta a alta socie-
Província: o mesmo que estado, a partir da dade e às vezes tem até título
d) política do voto secreto.
Constituição de 1891. universitário.
e) política da cidadania.
Atualmente, seu poder se faz
55 sentir de uma forma talvez mais
sutil. No século XXI, o coronel é
o deputado federal reeleito vá-
rias vezes [...]. Em muitos casos,
13:22 ENCAMINHAMENTO
AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 55 22/08/22 17:08
esses novos coronéis são des-
cendentes diretos dos antigos,
• Debater o conceito de coronel e de coronelismo. Para alguns o coronelismo é um fenômeno em notável fenômeno de repro-
com tempo e lugar definidos; para outros, é um fenômeno que se estende aos dias atuais; o dução do poder.
texto de apoio desta página expressa essa segunda visão do coronelismo. RÊGO, André Heráclio do. Uma vez coronel,
sempre coronel. Revista de História da
• Trabalhar a noção de política dos governadores, a partir de um registro literário, no caso Biblioteca Nacional, ano 5, n. 60, set.
um texto de Lima Barreto, retirado da obra Os Bruzundangas. 2010. p. 59-61.

55

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 55 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Mostrar os nexos entre o
poder municipal, o estadual
e o federal através do orga- 2 Com base no esquema a seguir, explique o modo como as oligarquias se mantiveram
nograma presente nesta pá- no poder durante a maior parte da Primeira República.
gina.
• Utilizar esse organograma O poder das oligarquias
para representar o modo

EDITORIAL DE ARTE
como as oligarquias se per- Governo federal Poder federal
petuavam no poder. 2. Os coronéis mais poderosos de cada região faziam alianças
Apoio político entre si e elegiam o presidente de estado (cargo equivalente
• Estimular a leitura e inter- hoje ao de governador). Este, por sua vez, retribuía o “favor”
e financeiro
pretação dos dados da tabe- enviando verbas para a construção de escolas, praças, igrejas
la a partir do crescimento da Votos etc. nas cidades controladas por aqueles coronéis. Usando
as mesmas práticas (troca de favores e corrupção eleitoral),
população estrangeira. as oligarquias estaduais ajudavam a eleger deputados e
• Interdisciplinaridade: o tra-
Governo estadual Poder estadual
balho de análise dos dados da
senadores favoráveis ao presidente da República. Este, por
tabela oportuniza o aprofun- sua vez, retribuía o “favor” liberando verbas e benefícios,
Verbas e
damento do conteúdo e um benefícios bem como dando apoio político a elas. Assim, por meio de
projeto interdisciplinar com alianças e trocas de favores que uniam municípios, estados
Votos e o governo federal, as oligarquias mantiveram-se no poder
o professor de Matemática. durante a maior parte da Primeira República.

Coronéis Poder municipal


Dica de leitura
3. a) Pode-se constatar que a população total cresceu mais de três vezes.
Texto que traz contribui-
3. b) Conclui-se que a porcentagem da população estrangeira cresceu
ções a respeito do ensino de 3 Analise a tabela a seguir.
constantemente entre 1872 e 1900, e decresceu no censo de 1920.
tabelas e gráficos em sala de
aula, favorecendo reflexões Brasil: população total e população estrangeira (1872-1920)
para elaboração e adaptação População total
População Proporção de
de atividades. Censo estrangeira estrangeiros na
(em mil habitantes)
(em mil habitantes) população total (%)
• BEZERRA, Maria da Concei-
1872 10 112 383 3,7
ção Alves. Atividades para o
ensino de tabelas e gráficos. 1890 14 334 714 4,9
In: ENCONTRO NACIONAL
DE MATEMÁTICA, 12. 2016, 1900 17 436 1 296 7,4

São Paulo. Anais [...]. São 1920 30 636 1 631 5,3


Paulo: Sociedade Brasileira
Elaborado com base em: SCHWARCZ, Lilia Moritz. A abertura para o mundo (1889-1930).
de Educação Matemática, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. v. 3, p. 42.
2016. p. 6.
a) Na tabela, o que se pode constatar em relação aos números da população total, entre o
período de 1872 a 1920?
TEXTO DE APOIO b) O que se pode dizer sobre a porcentagem de estrangeiros da população no período entre
1872 e 1920?
Nas atividades de análises c) Qual cidade brasileira recebeu o maior número de imigrantes e de brasileiros em busca de
de tabelas, pode-se propor: uma vida melhor? Por quê? 3. c) A cidade que mais atraía estrangeiros e migrantes provenientes
[...] uma discussão com os alu- de outras áreas do Brasil era São Paulo (SP), que subsidiava as despesas com passagens de imigrantes,
nos sobre a organização de da-
dos em tabelas, com as seguintes
56 oferecia alojamento e melhores oportunidades de trabalho.

perguntas: quais as vantagens de


organizarmos dados em tabelas?
Que elementos devem ser obser- AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 56 20/08/22 14:12 D3_

vados na leitura e interpretação


dos dados de uma tabela? Qual
a importância de elementos de
uma tabela, por exemplo, título e
a fonte das informações?
BEZERRA, Maria da Conceição Alves.
Atividades para o ensino de tabelas e
gráficos. In: ENCONTRO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 12. 2016, São
Paulo. Anais [...]. São Paulo: Sociedade
Brasileira de Educação
Matemática, 2016. p.1-9.
56

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 56 31/08/22 09:25


TEXTO DE APOIO
Do outro lado residem os
“outros”
4 Avalie as afirmações a seguir. Canudos incomodou o gover-
I. O crescimento da indústria brasileira durante a Primeira Guerra Mundial deveu-se a múltiplos no da República e os grandes
fatores, entre os quais cabe citar: acumulação interna de capitais, disponibilidade de mão de proprietários de terras da re-
obra barata e de matérias-primas e a existência de um sistema de transportes que possibilitava gião por uma razão principal:
o escoamento de mercadorias até os portos. era uma nova maneira de viver
no sertão, à parte do sistema de
II. Os mais importantes ramos da indústria, na época, eram o têxtil, o de alimentação, o de poder constituído. É certo que o
bebidas e o de vestuário. arraial não chegou a representar
III. Com a industrialização verificada na Primeira República, a população das cidades cresceu, uma experiência de vida igua-
sendo esse crescimento maior no Rio de Janeiro do que em São Paulo. litária – o desenho urbano da
IV. Durante a Primeira República, todas as cidades cresceram, mas o salto mais espetacular se comunidade, bem como a dis-
deu na capital do estado de São Paulo. tribuição de tarefas e as relações
sociais entre seus membros,
Identifique a alternativa que descreve corretamente se as afirmações são verdadeiras (V) indicava que as hierarquias so-
ou falsas (F). ciais não foram eliminadas. Mas
é certo também que se trata-
a) V, V, F, V. 4. Alternativa A.
va de uma experiência social e
b) F, F, V, F. política distinta daquela do go-
c) V, V, V, F. verno central republicano: o tra-
d) V, V, F, V. balho no arraial baseava-se no
5. a) Canudos estava localizado no sertão da Bahia, próximo ao
Rio Vaza-Barris. princípio de posse e uso coleti-
5 Observe o mapa com atenção. 5. b) As pessoas queriam fugir da situação de pobreza e abandono vo da terra, e na distribuição do
em que se encontravam. que nela se produzia. Todos que
lá chegavam recebiam gratuita-
Região de Canudos (1893-1897) mente uma porção de terra onde
viver e trabalhar. [...] O resultado
ALLMAPS

40º O

da produção era dividido entre


PARÁ
o trabalhador e a comunidade,
a autoridade religiosa do Con-
MARANHÃO CEARÁ RIO GRANDE
selheiro não dependia do reco-
DO NORTE nhecimento da Igreja católica, e
PIAUÍ PARAÍBA Canudos não estava submetido
OCEANO
Cabrobó
PERNAMBUCO ATLÂNTICO nem aos proprietários de terra
Canudos
nem aos chefes políticos da re-
ALAGOAS
co MonteV R Jeremoabo
Santo a io
10º S
gião – representava um elemen-
is

SERGIPE
nc

to perturbador num mundo do-


za
Fra

-B
a
Rio São

rri

GOIÁS
s

BAHIA minado pelo latifúndio.


Salvador
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa
Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo:
0 260
MINAS Companhia das Letras, 2015. p. 333.
GERAIS
Fonte: SAGA: a grande história do Brasil.
São Paulo: Abril Cultural, 1981. p. 173.

a) Onde Canudos estava localizado?


b) O que motivou as pessoas a se fixarem em Canudos?
c) O que os moradores de Canudos faziam para sobreviver?
5. c) Eles cultivavam feijão, abóbora, melancia, mandioca e milho; criavam gado e comerciavam
com as vilas vizinhas, a exemplo de Monte Santo e Jeremoabo. 57

14:12 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 57 28/06/22 13:22

• Pensar com os alunos sobre os fatores internos que impulsionaram o crescimento da indús-
tria brasileira durante a Primeira Guerra Mundial.
• Alargar a compreensão sobre a geografia e a economia do povoado gerido por Antônio
Conselheiro.
• Retomar e consolidar o conceito de comunitarismo trabalhado neste capítulo: o resultado
da produção era dividido entre o produtor e a comunidade.

57

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 57 26/08/2022 16:33


ENCAMINHAMENTO
• Oferecer à leitura dos alunos 6. a) O então presidente Hermes da Fonseca, identificado corretamente como a maior autoridade da República.
o depoimento deixado por Daí, a opção do sertanejo pela “lei de Deus”, que, para ele, era a Monarquia.
um dos líderes do Contesta- 6 O texto a seguir é uma mensagem deixada por um dos líderes do Contestado. Leia-a
do e, a partir dele, exercitar a com atenção. 6. b) Sim, é o que se pode concluir quando o sertanejo diz: “O governo da República toca
interpretação de uma fonte os filhos brasileiros dos terrenos que pertencem à nação e vende para o estrangeiro”. Nesse trecho, o sertanejo
primária propondo questio- Nós estava em Taquaruçu tratando da nossa devoção e não matava e nem
namentos, tais como: quem roubava. O Hermes mandou suas forças covardemente nos bombardear, onde
escreveu? De que lugar ele mataram mulheres e crianças. Portanto, o causante de tudo isto é o bandido do
fala? Por que fala? Para Hermes e, portanto, nós queremos a lei de Deus, que é a Monarquia. O governo da
quem fala? entre outros. República toca os filhos brasileiros dos terrenos que pertencem à nação e vende
• Promover uma leitura e inter-
para o estrangeiro, nós agora estamos dispostos a fazer prevalecer os nossos
pretação coletivas do texto,
direitos. se refere, certamente, ao fato de o governo brasileiro ter cedido aos estadunidenses uma faixa de
antes que os alunos respon- 15 quilômetros de terra de cada lado da ferrovia a ser construída por eles. Os posseiros que habi-
dam individualmente às per- tavam as terras às margens da ferrovia foram expulsos por PEREIRA, Paulino apud D’ANGELIS, Wilmar.
seguranças da Lumber (outra empresa estadunidense), fa- Contestado: a revolta dos sem-terra. São Paulo: FTD, 1991.
guntas. Desse modo, torna-se to que só fez aumentar a revolta dessa população. Daí, os (Cinco séculos de resistência, p. 20).
possível destacar aspectos historiadores atuais considerarem o movimento do Contestado como uma luta pela terra.
interessantes do excerto e da a) Quem está sendo responsabilizado pela destruição da comunidade sertaneja do Contestado?
Revolta. Explique.
• Pedir aos estudantes para que b) Com base nesse trecho, é possível pensar que no centro das lutas sertanejas do Contestado
se atentem a como a ideia de estava a questão da terra?
Monarquia é colocada em
oposição à República, que é 7 O texto a seguir é trecho de uma matéria do jornal New York Times, publicado em
vista pelos autores como um 24 de novembro de 1910.
regime injusto e assassino.
Um motim no Rio de Janeiro bombardeou a cidade. Todos os negócios foram
• Evidenciar, no entanto, que
suspensos. [...]. Os marinheiros reclamavam [...] abolição dos castigos corporais,
da forma como essa reivindi-
cação é mostrada no texto, salário maior e diminuição da jornada de trabalho. A Grã-Bretanha pressionou o
não há indícios de um desejo ministro de Relações Exteriores para não bombardear o encouraçado São Paulo por
de volta ao passado, ou seja, força da presença de engenheiros britânicos que vieram na primeira viagem dos
de uma restauração da Mo- navios e estavam a bordo [...]. A cidade ficou três dias à mercê dos foras da lei. [...]
narquia deposta pelos repu- O governo cedeu frente à Marinha amotinada enquanto os amotinados miravam
blicanos. Outro ponto que
suas armas para a cidade. E a anistia acabou por ser aprovada no Congresso em
pode merecer destaque são as
divergências que o texto apre- meio a combate de socos. 7. a) A abolição dos castigos corporais, o aumento de salários e a
diminuição da jornada de trabalho.
senta em relação às regras da MUTINY on warships at Brazil’s capital: crew holds at least one dreadnought and bombardment of Rio is reported.
The New York Times, 24 nov. 1910 apud SOUSA, Cláudio Barbosa.
norma-padrão do português. Marinheiros em luta: a Revolta da Chibata e suas representações.
Levantar esse questionamen- Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Instituto de Ciências Sociais,
to sobre como o texto per- Universidade Federal  de Uberlândia, Uberlândia, 2012. p. 45.

mite delinear um certo perfil


a) Com base no que você estudou no capítulo, quais eram as principais demandas dos marinheiros?
dos revoltosos. Reforçar, no
entanto, que apesar de não b) Em dupla. Converse com o colega, reflitam e opinem: como vocês veem a pressão da Grã-
escreverem em observância -Bretanha para que o ministério das Relações Exteriores do Brasil impedisse o bombardeio do
à norma-padrão, a forma e o encouraçado São Paulo? 7. b) Resposta pessoal.
conteúdo do texto são plenos c) Avaliem, debatam e opinem: o jornal tomou partido de um dos lados no episódio conhecido
de significado histórico. como Revolta da Chibata? Justifiquem. 7. c) Sim; isto fica explícito na frase “a cidade ficou três dias
à mercê dos fora da lei”. O jornal usa a expressão “fora da lei” para se referir aos marinheiros rebelados

TEXTO DE APOIO 58 contra a violência e as condições a que estavam submetidos na Marinha brasileira: trabalho exaustivo,
jornada de trabalho abusiva, salários baixos, alimentação escassa etc.

No dia 22 de novembro de 1910,


tiros de canhão abalaram a cidade primeira vez na história
AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-LA-G24.indd 58 da humanidade um rinha. João Cândido, o líder da Revolta, foi um dos 30/06/22 16:39
do Rio de Janeiro. Liderados por marinheiro foi comandante de toda uma es- que mais sofreram perseguições, vindo a morrer
João Cândido Felisberto, conheci- quadra. E um marinheiro negro. muito pobre e doente. A sua prisão na Ilha das
do como “Almirante Negro”, ma-
O ministro da marinha e demais setores mi- Cobras foi marcada por atrocidades e barbarida-
rinheiros deram início à Revolta
litares se opunham à rendição diante de tripu- des. Após ser preso e torturado, o “Almirante Ne-
da Chibata, que reivindicava o fim
lações de marujos, majoritariamente, negros, gro” foi internado num manicômio. [...]
dos castigos físicos na Marinha.
analfabetos e descalços. Contudo, não havia ou- Imortalizado no samba “O mestre-sala dos
[...] Uma após outra, quase to-
tra maneira. O governo então, cedeu, e afirmou mares”, ele foi anistiado postumamente em ju-
das as embarcações foram sen-
do assumidas pelos marujos, e aceitar as condições da negociação e anistiar os lho de 2008.
João Cândido, juntamente com participantes da revolta.
22 DE NOVEMBRO: Centenário da Revolta da Chibata. Fundação
outros líderes, assumiu o co- A anistia não durou dois dias. Traídos, presos e Cultural Palmares, Brasília, DF, 2010. Disponível em: https://
mando de toda a Armada. Pela torturados, os revoltosos foram expulsos da Ma- www.palmares.gov.br/?p=1372. Acesso em: 13 jun. 2022.
58

027a058_HIS-F2-2111-V9-U1-C02-MP.indd 58 26/08/2022 16:33


OBJETIVOS
Getúlio provocou e continua provocando discussões apaixonadas. Por isso, não há como atribuir
• Analisar o tenentismo e os
CAPÍTULO a popularidade de Vargas ao seu “populismo”, conceito vago e questionado pela historiografia
recente. Vargas foi, na realidade, o primeiro governante a pôr em prática políticas públicas, so- seus desdobramentos.

3
ciais em especial, há muito tempo desejadas pelo povo. Talvez esteja aí a explicação para que
• Compreender a ascensão de
ele continue “alumbrando a nossa história” como disse um poeta popular. Eis o que uma histo-
riadora diz sobre o assunto: “[…] a propaganda varguista Vargas.
A ERA VARGAS […] só teve boa recepção entre a população porque, além • Debater sobre a Revolução
de ser maciça e bem cuidada, articulava-se a uma série de
iniciativas governamentais que materializavam o que se anunciava, ainda que com muitas in- Constitucionalista e a Consti-
suficiências e sem atingir a maior parte da população, como ocorria no caso dos direitos do tuição de 1934.
trabalho, que não alcançavam o homem do campo. A despeito da enorme distância entre o
que se prometia e o que se fazia de imediato, havia um vínculo efetivo entre o que se dizia e o que a • Identificar e valorizar os pro-
população experimentava concretamente de forma direta ou indireta”. (GOMES, Ângela de Castro. tagonismos feminino, negro
A última cartada. Nossa História, Rio de Janeiro, ano 1, n. 10, p. 17-19, ago. 2004.). e indígena na luta por direi-
Getúlio Vargas é, talvez, a figura mais polê- tos na Era Vargas.

UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UIG/BRIDGEMAN/FOTOARENA


mica da história do Brasil. Para uns, ele foi um • Compreender e analisar as ca-
ditador a serviço das elites; para outros, um esta- racterísticas do Estado Novo.
dista preocupado com os mais pobres. • Avaliar a industrialização
1. Você já ouviu falar do presidente Vargas? ocorrida durante o governo
Vargas.
2. Você sabia que, em 1954, ele se suicidou com um tiro
no coração? • Refletir e argumentar sobre
o trabalhismo.
3. Por que será que tanta gente foi ao seu enterro?
• Discutir sobre política e pro-
4. Por que a população se abalou tanto com a morte
dele?
paganda durante o Estado
Novo.
5. Sabe-se que seu governo usou intensamente os
• Entender e refletir sobre o
meios de comunicação de massa (rádio, cinema etc.)
para fazer propaganda. Mas por que será que essa fim do Estado Novo e o “que-
propaganda foi tão bem recebida pela população? remismo”.
6. Por que ele se tornou uma figura tão querida pelo
povo? Os objetivos deste capí-
tulo visam colaborar para
Getúlio Vargas, 1945.
a compreensão e o debate
sobre a Era Vargas e suas
ACERVO ICONOGRAPHIA

contradições, contribuindo
para o desenvolvimento das
competências e habilidades
propostas.

BNCC
• Competências gerais: 1, 2,
3, 4, 7 e 9.
Comemoração do 1o de
Maio, no campo do Vasco • Competências específicas:
da Gama, durante o 1, 2, 3, 5, 6 e 7.
governo Vargas. Rio de
Janeiro (RJ), 1942.
• Habilidades: EF09HI02,
EF09HI03, EF09HI04, EF09HI06,
59 EF09HI07, EF09HI08 e EF09HI09.

TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 59 A carta-testamento  foi encontrada por Ernâni
28/06/22 13:23 imenso. Manifestações populares
Amaral Peixoto, governador do estado do Rio de sucederam-se em todo o país, so-
A carta-testamento de Getúlio Vargas Janeiro e genro de Getúlio, em cima de uma me- bretudo nas grandes cidades. [...]
sinha de cabeceira do quarto presidencial. O do- No plano político, as conse-
Documento legado pelo presidente Getúlio Var- cumento foi lido em voz alta por Osvaldo Aranha, quências do suicídio e da carta-
gas e divulgado logo após seu suicídio, ocorrido ministro da Fazenda, para um grupo de pessoas -testamento não foram menores. 
por volta das oito horas da manhã de 24 de agosto que se encontrava no palácio do Catete e em se-
CARTA-TESTAMENTO. In: LAMARÃO,
de 1954. [...] A mensagem, dirigida ao povo bra- guida transmitido por telefone para a Rádio Na- Sérgio. Dicionário histórico-biográfico
sileiro, concluía: “Eu vos dei a minha vida. Agora cional. Antes das nove horas da manhã, a mensa- brasileiro. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamen- gem começou a ser irradiada para todo o país. [...] Vargas/CPDO, [2015]. C. Disponível em:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/
te dou o primeiro passo no caminho da eternida- O impacto provocado pelo suicídio de Getúlio e verbete-tematico/carta-testamento.
de e saio da vida para entrar na história.” pela imediata divulgação da carta-testamento foi Acesso em: 9 jun. 2022.
59

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 59 31/08/22 09:27


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de te-
nentismo.
• Destacar o fato de que o te- O tenentismo antes de 1930
nentismo teve proporções
nacionais e entusiasmou am- Tenentismo: nome que
Nos anos 1920, as oligarquias no Brasil continuavam a fazer uso se deve ao fato de seus
plos setores da sociedade. da corrupção e da violência para chegar ao poder e nele permanecer. líderes serem jovens
Essa situação opressiva contribuiu, como vimos, para gerar revoltas no oficiais do Exército
(capitães e tenentes),
campo e na cidade, além de uma grande insatisfação social. As Forças chamados genericamente
TEXTO DE APOIO Armadas também estavam descontentes com o tratamento que rece- de tenentes.
biam das oligarquias. Expressando esse descontentamento, um grupo Venal: que se corrompe
Os Dezoito do Forte de por dinheiro; corrupto.
Copacabana de militares liderou um movimento conhecido como tenentismo
tenentismo..
[...] A rebelião eclodiu final-
mente em 5 de julho e contou
com a participação das guarni-
O primeiro 5 de julho
ções de Campo Grande, Niterói e O estopim da primeira revolta tenentista foi a publicação, por um jornal carioca, de
Distrito Federal. cartas falsas atribuídas a Artur Bernardes, candidato do governo à Presidência da República
Esse levante militar, que ficou “venais”,
nas eleições de 1922. Essas cartas ofendiam os militares, dizendo que eles eram “venais ”,
conhecido como Os Dezoito do
Forte de Copacabana, é conside-
e chamavam o presidente do Clube Militar, marechal Hermes da Fonseca, de “sargentão
rado “a estreia dos tenentes no sem compostura”.
cenário nacional” [...]. O clima de hostilidade aumentou quando Artur Bernardes foi eleito presidente e mandou
A tentativa de revolta, no en- prender o marechal Hermes da Fonseca, acusando-o de agitador. Foi a gota-d'água.
tanto, fracassou desde o começo, Em 5 de julho de 1922, os tenentes do Forte de Copacabana pegaram em armas contra
sendo logo sufocada pelas for- o governo dizendo-se dispostos a “salvar a honra do Exército”, a moralizar a política do país
ças federais. [...] Epitácio pediu
imediatamente a decretação do
e exigindo a deposição de Bernardes. A revolta teve focos em outras regiões do país.
estado de sítio no estado do Rio O governo interveio e obrigou

LUCAS NASCIMENTO/FOTOARENA
e no Distrito Federal, e grande os revoltosos a se renderem. A
número de deputados dissiden- maioria deles se rendeu. Dezessete
tes do Rio Grande do Sul, Bahia
militares e um civil, porém, saíram
e Pernambuco votaram em favor
da medida, demonstrando um pela Avenida Atlântica, na cidade
recuo das oligarquias e a desarti- do Rio de Janeiro, dispostos a tudo.
culação completa da Reação Re- Na troca de tiros com as forças do
publicana. Nos meses seguintes, governo, apenas dois tenentes esca-
a repressão desencadeada pelo
param com vida: Siqueira Campos e
governo fortalecido de Epitácio
determinou inúmeras prisões e Eduardo Gomes. Os revoltosos foram
instaurou vários processos. punidos com prisões e transferências
O tenentismo recebeu esta forçadas para outras regiões do país.
denominação uma vez que teve
como principais figuras não a
cúpula das forças armadas, mas Monumento aos 18 do Forte de Copacabana,
oficiais de nível intermediário em homenagem aos 17 militares e um civil
do Exército – os tenentes e os ca- que morreram no movimento de 1922.
pitães. O alto-comando militar Praça dos Girassóis, Palmas (TO), 2019.
do Exército manteve-se alheio
a uma ruptura pelas armas, as- 60
sim como a Marinha. O movi-
mento, que tomou proporções
nacionais, empolgou amplos
setores da sociedade da época, Meses após ter sido debelado
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 60 o primeiro le- 28/06/22 13:23 D3_

desde segmentos oligárquicos vante, em novembro de 1922, Artur Bernardes


dissidentes aos setores urbanos tomou posse. Visando garantir a estabilidade de
(camadas médias e a classe ope- seu governo, o presidente decretou o estado de
rária das cidades). sítio no Rio de Janeiro, aprofundando o movi-
O grande mal a ser combatido mento de repressão.
eram as oligarquias, já que, se- FERREIRA, Marieta de Moraes; PINTO, Surama Conde Sá.
gundo os tenentes, elas haviam A crise dos anos 1920 e a Revolução de 1930.
transformado o país em “vinte In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida
Neves (org.). O tempo do liberalismo excludente:
feudos” cujos senhores eram es- da Proclamação da República à Revolução de 1930.
colhidos pela política dominante. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
[...] (O Brasil republicano, v. 1, p. 399-400).
60

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 60 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Diferenciar os objetivos do
primeiro levante tenentista
O segundo 5 de julho dos que serviram de bandei-
ra ao segundo levante.
Dois anos depois, explodiu outro levante tenentista; só que dessa vez em São Paulo.
• Descrever a formação da
Esse levante, ao contrário do primeiro, tinha objetivos bem definidos; os tenentes exigiam:
Coluna Prestes, a partir da
a deposição do presidente Artur Bernardes e a sua substituição por outro oligarca mineiro,
junção da coluna paulista à
Wenceslau Brás; o voto secreto; o combate à fraude eleitoral; a liberdade de pensamento e
coluna gaúcha.
imprensa; e o ensino primário obrigatório.
• Ajudar os alunos a formarem
Liderados pelo general Isidoro Dias Lopes e pelo major Miguel Costa, os militares
a noção de guerra de movi-
rebeldes tentaram conquistar a cidade de São Paulo. Com forças mais numerosas e o
mento.
apoio da aviação militar, o governo venceu os tenentes. Eles, porém, não desistiram: cerca
• Apontar o fato de que os
de mil soldados formaram a coluna paulista e deixaram São Paulo em direção à Foz do
membros da Coluna Prestes
Iguaçu, no Paraná. Os rebeldes sulistas, por sua vez, comandados pelo capitão Luís Carlos
queimavam os registros de
Prestes, formaram a coluna gaúcha e marcharam até Foz do Iguaçu a fim de se unirem cobrança de impostos nos lo-
aos paulistas. Da junção da coluna paulista à gaúcha nasceu a Coluna Prestes.. cais onde eram bem-recebi-
dos por saberem que esses im-
postos diminuíam os ganhos
A Coluna Prestes da população pobre, que, por
Com cerca de 1 500 homens, a Coluna Prestes partiu para a Guerra de Movimento: si só, eram diminutos.
saiu pelo interior do Brasil buscando apoio do povo para sua luta contra o governo. Nos • Explorar o mapa que repre-
locais onde eram bem-recebidos, os senta a extensa trajetória
A marcha da Coluna Prestes (1924-1927) rebeldes queimavam os registros de da Coluna Prestes pelo ter-
cobrança de impostos dizendo que, ritório nacional, chamando
SELMA CAPARROZ

PARÁ MARANHÃO Teresina CEARÁ RIO GRANDE


assim, livravam o povo dos abusos a atenção para o tempo e o
Uruçuí
PIAUÍ Iguatu DO NORTE
do governo. Movimentando-se com espaço a que ele se refere.
Picos Piancó PARAÍBA
Floriano
PERNAMBUCO rapidez, conseguindo munição e
Pedro Remanso
Afonso Sento Sé ALAGOAS armamento do próprio inimigo e evi-
Porto SERGIPE
Nacional BAHIA
Taguatinga Lençóis tando as grandes cidades, a Coluna
MATO GROSSO GOIÁS
Niquelândia Posse
Rio de Contas Prestes percorreu 25 mil km através
Cuiabá de 12 estados brasileiros. E, nos com-
Goiás
Anápolis
OCEANO
San Martín
Jataí
ATLÂNTICO bates que travou, manteve-se invicta.
BOLÍVIA Coxim MINAS
Camaquã GERAIS ESPÍRITO SANTO
No início de 1927, os 600 homens
Campo
Grande
que ainda integravam a Coluna, já
Ponta Porã SÃO PAULO
PARAGUAI
RIO DE JANEIRO bastante abatidos, decidiram se refu-
Rio de Janeiro Trópico de C
São apricór
Foz do Iguaçu
PARANÁ Paulo (Distrito Federal) nio giar na Bolívia e no Paraguai.
SANTA
ARGENTINA CATARINA
Santo
São Luís Ângelo
Gonzaga Coluna Paulista (1924)
RIO GRANDE Coluna Gaúcha (1924-1925)
DO SUL Porto
Alegre Coluna Prestes
Do Paraná à Bahia
e mobilizava oficiais de paten-
URUGUAI (dezembro de 1924 a abril de 1925)
Da Bahia à Bolívia Fonte: CAMPOS, Flavio de; DOLHNIKOFF, Miriam. tes inferiores. Suas conexões
0 325

50º O
(abril de 1926 a fevereiro de 1927) Atlas de História do Brasil. São Paulo: Scipione, com os setores civis teriam sido
1997. p. 47.
assim limitadas e pouco siste-
máticas. Finalmente a terceira
61 corrente, criticando as vertentes
anteriores, defende uma análise
mais global, levando-se em con-
ta tanto a situação institucional
13:23 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 61 A segunda corrente, formulada a partir de 13:23
28/06/22 tra-
dos tenentes como membros do
balhos produzidos nas décadas de 1960 e 1970,
aparelho militar quanto a sua
Movimentos tenentistas tenta contestar a absolutização da origem so-
composição social como mem-
cial na definição do conteúdo do tenentismo
Na produção historiográfica sobre o movi- bros das camadas médias [...].
mento tenentista, três correntes se delineiam. privilegiando aspectos organizacionais do mo-
vimento, ou seja, entende esse movimento FERREIRA, Marieta de Moraes; PINTO,
A primeira, a mais tradicional e amplamente Surama Conde Sá. A crise dos anos 1920 e
difundida, explica o tenentismo como movi- como produto da instituição militar [...]. Dessa a Revolução de 1930. In: FERREIRA, Jorge;
mento que, a partir de suas origens sociais nas perspectiva, o tenentismo seria um movimento DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.).
camadas médias urbanas, por vezes chamada cujo objetivo maior era a defesa dos interesses O tempo do liberalismo excludente:
da Proclamação da República à Revolução
de pequena burguesia, representaria os anseios da corporação. Drummond chega a defender
de 1930. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização
destes setores por uma maior participação na que o tenentismo era uma corrente política Brasileira, 2011. (O Brasil republicano,
vida nacional e nas instituições políticas [...]. dentro do Exército, que falava para o Exército v. 1, p. 401-402).
61

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 61 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar com os estudantes
a ideia de que a plataforma
getulista nas eleições de 1930
continha respostas a deman-
1930: um marco na história do Brasil
das antigas, tais como leis tra- Em um ambiente de grande insatisfação social, o então presidente Washington Luís,
balhistas e voto secreto. que tinha sido indicado pelo estado de São Paulo, decidiu indicar como seu sucessor o
• Relacionar a crise econômica paulista Júlio Prestes. O governador de Minas Gerais, Antônio Carlos, que esperava ser
iniciada em 1929 ao aumento o escolhido, reagiu à atitude do presidente e aliou-se às oligarquias do Rio Grande do
da insatisfação popular com Sul e da Paraíba, formando com elas a Aliança Liberal.
o governo de Washington Para disputar as eleições de 1930, a Aliança Liberal lançou o gaúcho Getúlio Vargas
Luís, que tinha sido indicado para presidente e o paraibano João Pessoa para vice-presidente. Em seus discursos, Getúlio
ao cargo de presidente pela prometia:
oligarquia paulista. • voto secreto;
• Explorar a imagem da revista
• incentivo à indústria nacional;
O Malho, contextualizando-a.
• leis trabalhistas;
• e anistia aos “tenentes” rebelados.
Dica de leitura Com essas promessas, Vargas foi se tornando cada vez mais popular. Em meio à
Texto que traça as origens, campanha presidencial, a grande crise econômica de 1929 atingiu fortemente o Brasil.
os principais desenvolvimen- O país produziu, naquele ano, cerca de 29 milhões de sacas de café, mas só conseguiu
tos da Revolução de 1930 e vender a metade e por um preço reduzido. A crise arruinou cafeicultores e deixou muitos
faz um balanço das interpre- trabalhadores sem emprego, o que contribuiu para aumentar a insatisfação com o governo
tações desse evento histórico. de Washington Luís e elevar a
ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

• REVOLUÇÃO de 1930. In: OLI-


popularidade de Vargas.
Nas eleições, tanto a situação
VEIRA, Lucci Lipe. Dicionário
histórico-biográfico brasi- quanto a oposição usaram fraude
leiro. Rio de Janeiro: Funda- e violência. No Rio Grande do
ção Getúlio Vargas/CPDOC, Sul, por exemplo, Vargas obteve
[2015]. Disponível em: http:// quase 100% dos votos; mas a
www.fgv.br/cpdoc/acervo/ vitória coube ao candidato gover-
dicionarios/verbete-tematico/ nista, Júlio Prestes.
revolucao-de-1930-3. Acesso
em: 14 jun. 2022.
Caricatura de J. Carlos na capa da revista
O Malho, de 17 de agosto de 1929.
TEXTO DE APOIO A candidatura de Vargas era apoiada por
parte da imprensa. Essa caricatura, por
Eleições de 1930 exemplo, sugere que a vitória de Júlio
A acirrada disputa eleitoral foi Prestes significaria o triunfo dos velhos
agravada pela profunda crise “caciques” que mandavam na política.
A campanha para as eleições de 1930 foi
econômica mundial provoca-
agitada. Vargas era bastante aplaudido
da pela quebra, em outubro de
nos comícios que realizava nas grandes
1929, da bolsa de Nova York. No cidades do Sudeste.
fim desse ano já havia centenas
de fábricas falidas no Rio de Ja-
neiro e em São Paulo, e mais de
62
um milhão de desempregados
em todo país. A crise atingiu
também as atividades agrícolas, Passadas as eleições setores
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 62 da Aliança Liberal, do movimento que se articulava. Nos meses se- 28/06/22 13:23 D3_

especialmente a cafeicultura inconformados com a derrota, buscaram uma guintes, a conspiração recrudesceu com a ade-
paulista, produzindo uma vio- aproximação com lideranças do movimento te- são de importantes quadros do Exército.
lenta queda dos preços do café e nentista que, embora derrotadas, continuavam FERREIRA, Marieta de Moraes; PINTO, Surama Conde Sá.
liquidando o programa de esta- sendo uma força importante por sua experiên- A crise dos anos 1920 e a Revolução de 1930.
bilização do governo que vinha cia militar e prestígio. [...] In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida
sendo implementado. Neves (org.). O tempo do liberalismo excludente:
Um acontecimento inesperado deu força à da Proclamação da República à Revolução de 1930.
As eleições se realizaram em conspiração revolucionária. Em 26 de julho 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
março de 1930 e a vitória coube de 1930, o candidato a vice da Aliança Liberal, (O Brasil republicano, v. 1, p. 404-406).
a Júlio Prestes, que recebeu cerca João Pessoa, foi assassinado em Recife. Embo-
de um milhão de votos, contra ra as razões do crime tenham sido passionais,
737 mil dados a Getúlio Vargas. e não políticas, ele foi transformado em mártir
62

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 62 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Reforçar a ideia de que a frau-
de eleitoral era uma prática
A oposição não se conformou com a derrota nas urnas e, recorrente na Primeira Repú-
com o apoio de “ex-tenentes”, começou a conspirar contra o blica, dando como exemplo
governo. Nesse clima tenso, o governador de Minas Gerais, Antônio o caso do Rio Grande do Sul,
Carlos, teria dito: “Façamos a Revolução, antes que o povo a faça”. onde Vargas obteve quase
Um fato novo acelerou os acontecimentos: em julho de 1930, João Chegada de Vargas a 100% dos votos válidos.
Ponta Grossa (PR), em
Pessoa, candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas, • Lembrar que o assassinato
outubro de 1930, durante
foi assassinado, a mando de um rival seu na política da Paraíba. a marcha rumo ao Rio de de João Pessoa não tinha co-
Aproveitando-se desse fato, em 3 de outubro de 1930, rebeldes Janeiro (RJ), capital da nexão direta com o jogo po-
República na época. Com lítico nacional.
liderados por Vargas partiram do Rio Grande do Sul em direção ao a vitória do movimento • Explicar que o crime está re-
Rio de Janeiro, dispostos a derrubar o governo. Mas, antes que de 1930, Vargas foi
elevado à posição lacionado a ressentimentos
chegassem à capital, uma junta militar depôs Washington Luís e
de chefe do governo das oligarquias paraibanas
entregou o poder a Getúlio Vargas, o líder civil do movimento. provisório. com as políticas centraliza-
doras de João Pessoa e com

CPDOC-FGV
a defesa da honra de Anayde
Beiriz, que teria tido intimi-
dades amorosas alegada-
mente vazadas por João
Pessoa para a imprensa local.
João Dantas, desafeto polí-
tico de João Pessoa e par ro-
mântico de Anayde, vingou-
-se do político paraibano.
• Caracterizar os 15 primeiros
anos do governo Vargas fa-
vorecendo ao alunado uma
primeira aproximação com
este importante período da
história do Brasil.
• Realçar o fato de que Vargas,
assim que assumiu o gover-
no, implementou o seu proje-
O primeiro governo Vargas to de centralização do poder.

Durante o primeiro governo Vargas, que se deu entre 1930 e Imagens em movimento
1945, o Brasil mudou bastante: a industrialização, que já estava
Vídeo sobre a chegada de
em curso desde o fim da Primeira Guerra Mundial, avançou e Voto indireto: os
Getúlio Vargas ao governo em
as cidades cresceram; o Estado se fortaleceu, interveio na eco- eleitores votavam
nos deputados da 1930.
nomia e estabeleceu uma nova relação com os trabalhadores. Assembleia Nacional • HISTÓRIAS do Brasil - A Re-
Nesses 15 anos, Vargas foi chefe de um governo provisório Constituinte, e estes
(1930-1934), presidente eleito por voto indireto (1934-1937) e elegiam o presidente volução de 30. 2017. Vídeo
da República. (6min13s.). Publicado pelo ca-
ditador (1937-1945).
nal TV Senado. Disponível em:
63 https://www.youtube.com/
watch?v=xYq1mMPg6d8.
Acesso em: 19 abr. 2022.
13:23 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 63
e Leite de Castro e o 28/06/22
almirante
13:23
Isaías Noronha depuseram o en-
tão presidente Washington Luís, no Rio de Janeiro, e constituíram
A chegada de Vargas ao poder uma Junta Provisória de Governo. Essa junta tentou permanecer
no poder, mas a pressão das forças revolucionárias vindas do Sul
Se nesse momento Vargas ainda demonstrava temores quanto
e das manifestações populares obrigaram-na a entregar o gover-
ao curso dos acontecimentos, nos meses seguintes o papel das
no do país a Getúlio Vargas, empossado na Presidência da Repú-
jovens lideranças gaúchas e mineiras foi decisivo para o aprofun-
blica em novembro de 1930.
damento da opção da luta armada. [...]
A chegada de Vargas ao poder deu início a uma nova fase da
A conspiração acabou estourando em Minas Gerais e no Rio
história política brasileira.
Grande do Sul no dia 3 de outubro de 1930. Em seguida, ela se
FERREIRA, Marieta de Moraes; PINTO, Surama Conde Sá. A crise dos anos 1920 e a
alastrou para vários estados do Nordeste. Em todos esses locais, Revolução de 1930. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). O
após algumas resistências, a situação pendeu para os revolucio- tempo do liberalismo excludente: da Proclamação da República à Revolução de 1930.
nários. Em 24 de outubro, os generais Tasso Fragoso, Mena Barreto 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. (O Brasil republicano, v. 1, p. 406-407).
63

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 63 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Evidenciar que o plano de
centralização implementado
por Vargas, assim que assumiu Governo provisório
o poder em 1930, encontrou
No discurso de posse, Getúlio disse que seu governo era provisório. Mas, assim que
séria resistência por parte dos
assumiu o poder, pôs em prática um projeto de centralização do poder. Inicialmente,
paulistas que pleiteavam uma
visando enfraquecer as oligarquias estaduais, afastou os governadores e, para ocupar o
nova Constituição para o Bra-
sil e maior autonomia para lugar deles, nomeou interventores de sua confiança.
São Paulo.
• Refletir com os alunos sobre
A oposição paulista
as diferentes denominações
da resistência paulista ao Ao impor interventores aos estados, Getúlio desagradou às elites estaduais. Para São
varguismo: Revolução Cons- Paulo, por exemplo, o presidente nomeou o tenente João Alberto. A elite paulista, no
titucionalista, em São Paulo, entanto, reagiu à nomeação, formando a Frente Única Paulista (FUP), que exigia: uma
e Guerra Paulista, em outros nova Constituição para o Brasil e a nomeação de um interventor civil e paulista para o
estados brasileiros. governo de São Paulo.
• Facilitar a percepção de que Pressionado, Vargas nomeou o paulista Pedro de Toledo para o cargo. Apesar disso,
a derrota militar paulista os paulistas continuaram fazendo oposição ao presidente.
frente as forças do governo Foi quando ocorreu uma tra -

ACERVO MEMORIAL'32 - CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ CELESTINO BOURROUL, SÃO PAULO, SP.
federal foram diluídas pelos gédia em São Paulo: quatro estudantes
ganhos políticos obtidos pe- (Martins,, Miragaia,, Dráusio e
los paulistas. Camargo)) foram mortos quando ata-
cavam a sede de um jornal pró-Vargas.
As iniciais dos nomes dos estudantes,
Dica de leitura MMDC, passaram a ser a sigla e o
Reportagem que traça os ca- símbolo da reação paulista. Em 9 de
minhos seguidos por opositores julho de 1932, liderados pelo general
de Vargas, como Washington
Isidoro Dias Lopes e o civil Pedro de
Luís e Júlio Prestes, logo após a
Toledo, os paulistas pegaram em armas
Revolução de 1930.
contra o governo federal. O episódio
• RIBEIRO, Antônio Sérgio. é conhecido, em São Paulo, como
Era Vargas é marcada pela Revolução Constitucionalista e, em
industrialização e por avan- outros estados brasileiros, como Guerra
ços nas legislações Eleitoral
Paulista.
e Trabalhista. Alesp. São Pau-
lo, 13 out. 2010. Disponível
em: https://www.al.sp.gov.br/
noticia/?id=258394. Acesso Cartaz do movimento MMDC promovendo
em: 13 jun. 2022. o alistamento durante a Revolução
Constitucionalista de 1932. São Paulo (SP), 1932.

64

TEXTO DE APOIO 059a087-HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 64 24/08/22 08:50 D3_

Revolução de 1932
Em julho, eclodiu uma revolução em São Paulo que se transfor- se alistaram para participar da guerra. Através da campanha Ouro
mou na pior guerra civil vivida pelo país. [...] São Paulo se sentia o para o Bem do Brasil chegavam recursos financeiros para a revolu-
grande perdedor da Revolução de 30. Insatisfeitos com a política ção. [...] Apesar dos esforços, São Paulo não recebeu apoio oficial de
centralizadora de Vargas e com a lentidão das medidas que res- nenhum governo estadual, mas conseguiu adesões de expressivas
taurariam o Estado de direito, os paulistas, em armas, exigiam o lideranças, sobretudo gaúchas e mineiras. Os líderes Artur Bernar-
fim imediato do regime ditatorial e maior autonomia para São Pau- des em Minas e Borges de Medeiros no Rio Grande do Sul, compro-
lo. Era de tal ordem a insatisfação no estado que a população, em metidos com a causa paulista, fracassaram na tentativa de criar
massa, aderiu à revolução. Voluntariamente, milhares de pessoas focos de resistência armada nos seus respectivos estados.

64

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 64 31/08/22 09:29


ENCAMINHAMENTO
a) Um bandeirante, um militar e Getúlio Vargas. • Refletircom os estudantes
c) Os autores querem dizer que Getúlio está governando como um ditador. Daí os dizeres do cartaz: “Abaixo a dictadura”. sobre os motivos das come-
Muitos jovens, de classe média em sua maioria,

CPDOC-FGV
morações em torno da Revo-
alistaram-se para lutar no exército constitucionalista; lução Constitucionalista de
os industriais paulistas, sob a liderança de Roberto 1932, em São Paulo.
Simonsen, também se engajaram na luta produzindo • Indagar por que razão o 9 de
armas e munições. Além disso, os paulistas lançaram julho foi transformado em
a campanha “Ouro para o bem de São Paulo”, em feriado estadual e também
que joias, alianças, relógios, crucifixos e outros objetos, está presente em nomes de
poderiam ser doados para financiar a luta. ruas, praças, monumentos.
Enfim, por qual motivo se
Dialogando transformou em um marco
de memória.
Esse cartaz foi produzido em São Paulo, na década
de 1930. Observe-o com atenção e responda:
a Quem são os personagens principais do cartaz?
Dica de leitura
b O que está acontecendo na cena?
Texto sobre os marcos de me-
c O que os autores do cartaz querem dizer com mória da Revolução Constitu-
“Abaixo a dictadura”? cionalista de 1932 em São Paulo.
Na guerra contra as tropas federais, os paulistas • VEIGA, Edison. 9 de julho: as
foram apoiados apenas por Mato Grosso. O governo marcas em São Paulo da revo-
federal, por sua vez, tinha navios, mais soldados –
Cartaz do Movimento Constitucionalista. lução por trás do feriado. BBC
São Paulo (SP), 1932. Brasil, Bled, 8 jul. 2021. Disponí-
vindos de vários estados do Brasil, especialmente do
vel em: https://www.bbc.com/
Norte – e maior poder de fogo. Por isso venceu os paulistas em poucos meses. Embora
portuguese/brasil-44760577.
derrotados militarmente, os paulistas tiveram a sua principal demanda atendida: o governo
Acesso em: 15 jun. 2022.
convocou uma Assembleia Constituinte que, em 1934, votou e aprovou a terceira Constituição
do Brasil. b) O bandeirante usa a mão direita para esmagar Getúlio Vargas, representado, na imagem, com
o tamanho de um boneco. Um militar, ao fundo, segura a bandeira do estado de São Paulo.
Na Assembleia Constituinte
COLEÇÃO PARTICULAR

que elaborou a Constituição


de 1934, via-se, entre os
homens, uma única mulher.
Seu nome era Carlota
Pereira de Queirós. Ela foi
a primeira mulher a ocupar
o cargo de deputada no
Brasil. Sua eleição foi fruto
da luta das mulheres pelo
voto feminino durante a
Primeira República.
Rio de Janeiro (RJ),
16 de julho de 1934.

o alistamento eleitoral. Outros,


[...] em protesto, assumiram uma
postura de neutralidade e distan-
65 ciamento diante das eleições. Al-
guns, desiludidos com o que con-
sideravam os desvirtuamentos
da Revolução de 30, decidiram se
08:50 TEXTO DE APOIO (CONTINUAÇÃO)
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 65 do Governo Provisório em levar avante o28/06/22
proces-
13:23
afastar do governo e abraçaram
so de reconstitucionalização do país, São Paulo,
Contudo, de vários pontos do país chegavam movimentos contestatórios ao
a partir de agosto de 1933, passou a ter um in-
voluntários para lutar ao lado dos paulistas. A regime, como o integralismo e o
terventor paulista e civil, como desejava a elite: comunismo, que ganhavam for-
Revolução Constitucionalista, como se tornou Armando Sales de Oliveira. [...]
conhecida, durou três meses. No dia 2 de outu- ça depois de 1932.
A reconstitucionalização do país representa-
bro os paulistas, cercados por tropas federais, se PANDOLFI, Dulce. Os anos 1930: as
va uma derrota para o tenentismo e os aliados incertezas do regime. In: FERREIRA, Jorge;
renderam. Os principais líderes do movimento
civis. Diante da sua inevitabilidade, os adeptos DELGADO, Lucilia de Almeida Neves
foram presos, tiveram os direitos políticos sus- do tenentismo se posicionaram das mais varia- (org.). O tempo do nacional-estatismo:
pensos por três anos e muitos foram exilados. das formas. Muitos, [...] embora considerando a do início da década de 1930 ao apogeu
do Estado Novo. 4. ed. Rio de Janeiro:
Mas, apesar da derrota militar, os paulistas ti- proposta prematura, partiram com vigor para a Civilização Brasileira, 2011. (O Brasil
veram ganhos políticos. Além do compromisso rearticulação das agremiações partidárias e para republicano, v. 2, p. 25-27).
65

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 65 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Revisitar as reivindicações do
movimento operário duran-
te a Greve Geral de 1917 para A Constituição de 1934 regulamentou:
que os estudantes percebam • o voto secreto,
que os direitos trabalhistas • o voto feminino,
consolidados na Constitui-
• a justiça eleitoral.
ção de 1934 também são uma
conquista dos trabalhadores. As três conquistas já constavam no Código eleitoral de
Desse modo, desenvolve-se a 1932. Além disso, a nova Carta determinou: o ensino pri-
habilidade EF09HI09. mário gratuito, de frequência obrigatória; a nacionalização
• Compreender a Constituição progressiva de minas, jazidas minerais e quedas-d’água,
de 1934, suas características Espera-se que os alunos respondam julgadas essenciais ao país; e a criação da Justiça do
que se trata de uma conquista do Trabalho. Reconheceu direitos trabalhistas como: jornada
e o contexto no qual foi dada movimento operário, que vinha
ao público. lutando por direitos há décadas. de trabalho de 8 horas, descanso semanal remunerado,
• Lançar luz sobre a importân- indenização por dispensa sem justa causa, proteção aos
Dialogando
cia da regulamentação do menores de idade e às mulheres, férias anuais remunera-
voto feminino, inscrito no Tente responder: os direitos das, estabilidade às gestantes etc.
trabalhistas presentes na
Código Eleitoral de 1932, e do A Constituição previa também que o próximo pre-
Constituição podem ser vistos
reconhecimento dos direitos como doação do governo sidente seria escolhido por meio de eleições indiretas. A
trabalhistas, a exemplo da jor- Vargas ou como conquista vitória nessas eleições coube a Getúlio Vargas e foi comen-
nada de oito horas diárias e a do movimento operário? tada na imprensa. Observe a imagem a seguir.
criação da Justiça do Trabalho.
• Ressaltar que as eleições in-
diretas, introduzidas pela
Constituição de 1934, facili-

BELMONTE
taram a confirmação de Var-
gas no poder.

TEXTO DE APOIO
Constituição de 1934
[...] Entre o final de 1933 e julho
de 1934, os debates na Assem-
bleia Constituinte foram aca-
lorados, e o resultado foi uma
Constituição avançada, mas de Charge de Belmonte publicada na Folha da Noite, em 20 de julho de 1934.
pouca efetividade no dia a dia
da sociedade.
Dialogando
Mesmo aprovando o aumento a) A imagem mostra Vargas transmitindo o poder para ele mesmo.
dos poderes da União, sobretudo a O que a imagem mostra? b) O autor critica o continuísmo de Vargas.
no campo da legislação econô- c) Vargas, de roupa clara, deixa o bastão, que representa o
b O que o autor da charge critica?
mica e social, frente aos estados, governo; vai para trás do camarim, onde coloca fraque, barba
o princípio federalista foi manti- c Como você chegou a essa conclusão? postiça e óculos, e volta ao poder.
do. O voto passaria a ser obriga-
tório e secreto, mas continuaria
vedado aos analfabetos. As rei-
66
vindicações dos trabalhadores
foram parcialmente aceitas, com
a criação da Justiça do Trabalho, A Constituição estabeleceu
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 66 que a primeira Em meio ao equilíbrio precário da nova face 28/06/22 13:23 AV_

[...] jornada de oito horas diárias eleição depois da sua promulgação seria indi- da política brasileira, Getúlio Vargas, se não era
e férias anuais, mas demorariam reta, como defendiam os membros do Governo unanimidade, demonstrava grande capacidade
para ser implementadas efetiva- Provisório, estabelecendo eleições diretas so- de lidar com demandas opostas, neutralizar ad-
mente. Nesse ponto, o governo mente depois do fim do mandato presidencial. versários, estimular divisões e se afirmar como
teve uma derrota, pois defendia Assim, ficou mais fácil a confirmação de Getúlio a possibilidade mais viável no governo do país.
a existência de um sindicato Vargas já no poder. Em julho de 1934, 175 depu- NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil República: da queda
único por categoria profissional, tados votaram em Vargas, contra 71 que deram da Monarquia ao fim do Estado Novo.
para melhor controlá-los dentro os votos a outros candidatos, principalmente ao São Paulo: Contexto, 2016. p. 104-105.
do princípio corporativo, mas a conterrâneo e antigo aliado de Vargas, Borges de
Assembleia acabou aprovando a Medeiros.
pluralidade sindical.

66

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 66 31/08/22 09:29


ENCAMINHAMENTO
• Valorizar o protagonismo fe-

a) Sim, pois, como afirma o texto, a condição feminina é minino na história do Brasil
Movimento de mulheres uma preocupação antiga da escritora norte-rio-grandense
Nísia Floresta. Em 1831, Nísia escreveu vários artigos em
por meio do estudo da tra-
jetória ousada para aqueles
jornal nos quais refletiu sobre a condição feminina.
tempos da escritora norte-
Desde antes do advento da República, as aspirações das mulheres vinham mudando.
-rio-grandense Nísia Floresta
Leia o texto a seguir, sobre Nísia Floresta.
Brasileira Augusta.

CORTEZ EDITORA
• Explicitar o esforço de Nísia
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO. Floresta não apenas para
fazer a defesa do ser femi-
Nísia Floresta: precursora nino, mas para denunciar as
artimanhas masculinas para
do feminismo continuar exercendo a domi-
O ano de 1831 foi o ano da estreia de Nísia nação.
Floresta nas letras. […] As reflexões sobre a condi- • Conectar a crítica de Nísia à
ção feminina estavam, […] entre as primeiras que existência do patriarcado e
motivaram e levaram Nísia Floresta a escrever. […] de hierarquias interligadas
Em 1832, vem a público Direitos das mulheres na sociedade brasileira do
e injustiça dos homens, assinado com o nome que
século XIX, contribuindo as-
sim com o desenvolvimento
tornará famosa a norte-rio-grandense: Nísia Floresta
da competência específica 1
Brasileira Augusta […]. Fac-símile da capa do livro
e da habilidade EF09HI09.
Direitos das mulheres e injustiça dos homens Direito das mulheres e injustiça
dos homens, de Nísia Floresta Para refletir. b) Espera-se
foi inspirado na obra de Mary Wollstonecraft – […]
Brasileira Augusta. que os alunos respondam: Ní-
[Reivindicação dos direitos da mulher] – de 1792 –,
sia, de Dionísia; Floresta, para
conforme ela mesma declarou […]. A novidade é que, ao invés de simplesmente fazer
lembrar o local de sua infância
uma tradução, Nísia […] escreve um livro denunciando os preconceitos existentes no que era circundado por uma
Brasil contra a mulher e desmistificando a ideia dominante da superioridade masculina. rica floresta; Brasileira, para
Ao mesmo tempo em que constrói a defesa [...] [do ser feminino], ela denuncia e afirmar o sentimento nativis-
desmascara os artifícios masculinos de dominação. E indaga: ta; e Augusta, em homena-
Se este sexo altivo quer fazer-nos acreditar que tem sobre nós um direito natural de supe- gem ao companheiro Manuel
rioridade, por que não nos prova o privilégio, que para isso recebeu da Natureza […]? Augusto.
DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo.
Brasília, DF: Cultural, 2006. p. 19.
Dica de leitura
a) O título do texto tem relação com o seu conteúdo? Justifique.
Artigo que trata da partici-
b) O nome real da escritora potiguar era Dionísia Pinto Lisboa. Pesquise. Por que será pação de mulheres na Assem-
que ela teria assinado seu romance com o nome de Nísia Floresta Brasileira Augusta? bleia Nacional Constituinte de
c) Interprete. O que Nísia Floresta quis dizer com a última frase do texto? 1934.
b) Resposta pessoal. • ARAÚJO, Rita de Cássia Bar-
Após a Proclamação da República, as mulheres intensificaram sua luta por acesso bosa de. O voto de saias: a
pleno à educação e pelo direito de votar e de ser eleita, elementos tidos como indispen- Constituinte de 1934 e a par-
sáveis para a emancipação feminina. ticipação das mulheres na
c) A escritora chama atenção para o fato de que os papéis sociais de homens e de mulheres são construídos política. Estudos Avançados,
socialmente. Portanto, a inferiorização da mulher é um problema social, e não natural, como se queria
fazer crer.
67 São Paulo. v. 17, n. 49, p. 133-
150, 2003.

13:23 + ATIVIDADES
AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 67 30/06/22 16:40

Uma das referências de Nísia Flores- aos alunos uma revisão bibliográfica sobre
ta, Mary Wollstonecraft foi mãe de Mary a produção científica a respeito de Nísia
Shelley, a criadora do clássico da literatura Floresta, organizando-os em grupos. Para
Frankenstein. Como grande parte da in- viabilizar o trabalho, é possível dividi-lo em
telectualidade brasileira do fim do século eixos temáticos como produção literária,
XIX, Nísia Floresta também era positivista. pedagogia, feminismo, entre outras possi-
Para um aprofundamento, pode-se sugerir bilidades.

67

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 67 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Iluminar a trajetória da ati-
vista, bióloga, parlamentar e
diplomata Bertha Lutz e sua A pesquisadora paulista

ARQUIVO/UN PHOTO
atuação marcante em todos
esses campos. Bertha Lutz
• Ressaltar que se atribui a Ber- Em 1918, a feminista Bertha Lutz
tha Lutz um papel importan- chegou da Europa disposta a lutar pela
te na inclusão da igualdade emancipação da mulher no Brasil. Sua prio-
de gênero na Carta da ONU,
ridade era a conquista do voto feminino.
documento de fundação da
organização internacional. Tão logo chegou ao Rio de Janeiro,
• Explicitar a importância dada
Bertha escreveu uma carta à Revista da
por Bertha Lutz à inserção Semana pleiteando a emancipação da
das mulheres no mundo do mulher. Nela, defendia o direito de as mu-
trabalho, de modo a ganha- lheres trabalharem em diferentes ocupações,
rem a autonomia desejada. a fim de se livrarem de uma dependência
• Destacar a atuação de Ber- “humilhante para elas” e prejudicial aos
tha Lutz e de outras mulhe- homens.
res de seu grupo, além das Livres para estudar e trabalhar, as
feministas já citadas, para a mulheres se transformariam em fator de
aprovação do Código Eleito-
progresso do Brasil, afirmava Bertha. Com
ral de 1932, que estabeleceu
o voto feminino. esse discurso, atraiu muitas seguidoras em
pouco tempo. Ela e suas companheiras
Dica de leitura escreveram artigos para os jornais, conce-
Site que reúne grande acer- deram entrevistas, promoveram debates
Bertha Lutz, na Conferência de São Francisco,
vo de textos sobre a atuação que deu origem à ONU. São Francisco (EUA),
públicos, organizaram-se em associações e
de Bertha Lutz na diplomacia, 1945. conseguiram apoio de lideranças políticas e
na ciência e na política. da opinião pública.
• MUSEU NACIONAL. Bertha O ativismo dessas e de outras mulheres de diferentes partes do país foi decisivo para
Lutz, naturalista, bióloga, o novo Código Eleitoral, aprovado em 1932, que estabeleceu o voto feminino. Dois anos
sufragista e feminista. Rio depois, graças à luta das próprias mulheres, a Constituição de 1934 estendeu à mulher o
de janeiro: UFRJ, 2013. (Série direito de votar e ser votada.
Documentos Semear, v. 1).
Disponível em: https://www.
museunacional.ufrj.br/seme- A escritora catarinense Antonieta de Barros
ar/berthalutz.html. Acesso
em: 13 jun. 2022. Outra importante líder feminina brasileira foi Antonieta de Barros, uma mulher negra
e de origem humilde.
No pós-Abolição, as mulheres afrodescendentes tinham poucas opções: lavar, cozinhar,
TEXTO DE APOIO
limpar ou vender quitutes pelas ruas e praças. Antonieta ousou trilhar outro caminho.
Bertha Maria Júlia Lutz (1894- Cursou a escola normal e transformou sua casa, em Florianópolis (SC), em uma escola
1976) foi uma das principais lí-
deres à frente do movimento fe- particular que levava seu nome. Ali, ela recebia crianças em fase de alfabetização e adultos
minino organizado no Brasil. Em para os cursos preparatórios.
1915, ela ingressou na Faculdade
de Ciências, da Universidade de 68
Paris, diplomando-se em mar-
ço de 1918, sendo que, alguns
meses depois, em setembro, já
estava empregada como tradu- O feminismo apregoado
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 68 por Bertha passou a ser identificado, à posteriori
posteriori,, como “bem-comportado” 28/06/22 13:23 D3_

tora de inglês, francês e alemão e/ou “tático”. Contudo, na época da sua aparição no espaço público brasileiro, ela foi identificada
no Instituto Oswaldo Cruz, lugar como representante de um “bom” feminismo deixando entrever que haveria outros, perigosos, que
que ocupou até assumir o cargo deveriam ser evitados. [...]
de secretário do Museu Nacio-
Entre as demandas femininas/feministas do início do século XX estão desde pedidos de educação
nal, em 4 de setembro de 1919.
de qualidade para as mulheres, condições de trabalho mais justas, acessos a cargos públicos até
A Federação Brasileira pelo Pro-
gresso Feminino (FBPF), associa- reivindicações sobre direitos civis e políticos. Tal feminismo, que nasceu no século XVIII e desenvol-
ção fundada por ela, em 1922, é veu-se ao longo dos séculos XIX e XX, é mais conhecido pela alcunha de feminismo liberal [...].
a mais reconhecida na atuação KARAWEJCZYK, Mônica. O Feminismo em Boa Marcha no Brasil! Bertha Lutz
em prol da emancipação femi- a Conferência pelo Progresso Feminino. Revista Estudos Feministas,
nina do início do século XX. [...] Florianópolis, v. 26, n. 2, p. 1-17, 2018. p. 1-2.
68

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 68 31/08/22 09:30


TEXTO DE APOIO
Antonieta de Barros, pseudô-
nimo Maria da Ilha, nasceu em
Antonieta escrevia também para jornais e revistas Florianópolis, Santa Catarina

MANUELA MARUJO/REVISTA AMAR


defendendo o aumento do número de escolas, de vagas em 11 de junho de 1901, filha
de Catarina e Rodolfo de Barros.
para professores com base no mérito, não no privilégio, e de
Órfã de pai, foi criada pela mãe,
bolsas para alunos carentes. uma lavadeira, de quem recebeu
Em 1934, Antonieta foi eleita como a primeira depu- as primeiras lições de conduta e
tada estadual de Santa Catarina, tornando-se a primeira relacionamento humano. Mar-
afrodescendente a ocupar um cargo eletivo no Brasil. No cada desde cedo pela pobreza,
aprendeu a enfrentar as barrei-
ano seguinte, publicou o livro chamado Farrapos de ideias,, ras impostas pela origem humil-
em que defende a educação e o trabalho como meio de de e pelo preconceito de cor. Sua
ascensão social e conquista da cidadania pelas mulheres. mãe, escrava liberta, trabalhou
como doméstica na casa do po-
lítico Vidal Ramos, pai de Nereu
Ramos, que viria a ser vice-pre-
Frente Negra Brasileira sidente do Senado e chegou a
assumir por dois meses a Presi-
Durante o governo Vargas, a comunidade afrodescen- dência da República.
dente continuou se organizando para lutar por seus direitos. Aos cinco anos foi alfabeti-
zada numa escola particular e
Em 1931, Francisco Lucrécio, Raul Joviano e José Correia Leite,
dois anos mais tarde entrou no
todos negros, fundaram a Frente Negra Brasileira (FNB),
( ), um curso primário. Porém, não teve
movimento nacional de luta contra o racismo. como prosseguir de imediato os
Os afrodescendentes procuravam a FNB para pedir ajuda estudos, conseguindo ingressar
na Escola Normal apenas aos
em problemas como moradia, emprego e “preconceito de cor”,
dezessete anos. Ali, deu asas
como se dizia à época. Os recursos da FNB vinham das contri- ao sonho de educadora e, antes
buições dos associados e da venda do jornal A Voz da Raça.. mesmo de concluir o magistério,
A FNB criou departamentos importantes, como: já mantinha um curso primário
Departamento de Instrução, que oferecia curso de alfabe- de alfabetização, que tinha o seu
nome: “Curso Particular Anto-
tização de adultos, primário e de formação racial, além de nieta de Barros” (oficializado em
biblioteca; Departamento de Imprensa, que era responsável 1922 e que funcionou até 1964).
por publicar A Voz da Raça;; Departamento Jurídico-Social, [...] Mas Antonieta de Barros não
que prestava assistência aos associados para resolver pro- se limitou ao magistério; tor-
nou-se oradora, jornalista, es-
blemas resultantes do desrespeito aos direitos da população
critora e militante, com atuação
afro-brasileira. na Liga do Magistério. Em 1934,
Havia ainda o Departamento Musical, o Departamento ingressou na política através
Esportivo, o Departamento Médico e uma Caixa Beneficente, do Partido Liberal Catarinense,
sendo a primeira mulher de seu
que fornecia assistência hospitalar e funerária aos
Estado a se eleger para uma ca-
frente-negrinos. deira na Assembleia Legislativa.
Uma das maiores vitórias dessa entidade na luta contra Mural produzido pelos artistas
ANTONIETA de Barros. Literafro, Belo
o racismo foi ter conseguido colocar 400 afrodescendentes Thiago Valdi, Tuane Ferreira Horizonte, 4 ago 2021. Disponível em:
e Gugie em homenagem http://www.letras.ufmg.br/literafro/
na Força Pública de São Paulo, que, até então, nunca tinha a Antonieta de Barros. autoras/57-antonieta-de-barros. Acesso em:
aceitado negros em seus pelotões. Florianópolis (SC), 2021. 13 jun.2022.

69 Imagens em movimento
Vídeo a respeito da vida de
Antonieta de Barros.
13:23 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 69 28/06/22 13:23 • ANTONIETA de Barros. 2018.
Vídeo (11min31s). Publica-
• Aprofundar o estudo da vida de Antonieta de Barros, a primeira mulher negra brasileira a do pelo Canal Futura. Dis-
ocupar o cargo de deputada estadual. ponível em: https://www.
• Debater com os alunos a importância da educação e do trabalho como forma de ascensão youtube.com/watch?v=
social feminina no mundo atual. qSCo8tkPWkA/. Acesso em:
• Consultar os conteúdos do livro de Antonieta de Barros chamado Farrapos de ideias e refle- 13 jun. 2022.
tir com os estudantes sobre a atualidade de algumas de suas colocações.

69

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 69 31/08/22 09:30


ENCAMINHAMENTO
• Destacar a Frente Negra Bra-
sileira como um movimento
nacional de luta contra o ra- A FNB atraiu milhares de pessoas, especialmente jovens afrodescendentes de diversas
cismo. partes do país. Aos domingos, a FNB promovia palestras – as famosas domingueiras – com
• Ampliar o conhecimento da o objetivo de desenvolver nas pessoas negras a autoestima, evidenciando sua importância,
FNB mostrando a existência e de estimular a luta da comunidade pela conquista da cidadania.
do que hoje chamamos de um Os seus dirigentes resolveram então transformá-la em partido político. Em 1936,
planejamento estratégico e
da criação de departamentos os frente-negrinos tiveram o seu pedido aprovado. Não chegaram, porém, a disputar
especializados no interior da eleições. É que, em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas instalou no país uma ditadura,
organização frente-negrina. mandando fechar todos os partidos políticos, entre eles a Frente Negra Brasileira.
• Evidenciar a importância do
jornal A Voz da Raça para a
ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO
compreensão dos anseios e
das aflições dos frente-ne-
grinos à época.
Professor, o estudo da FNB
proporciona elementos para
que os alunos reflitam sobre
as formas de organização e
inserção da população negra
na política brasileira. E, com
isso, contribui para o desen-
volvimento das habilidades
EF09HI03 e EF09HI04.

TEXTO DE APOIO
Com o golpe de Estado de 3 de
outubro de 1930, Getúlio Vargas foi
alçado ao poder no Brasil. Abriu-se
uma conjuntura de polarização
política. As forças políticas mobi- Integrantes da Delegação da Frente Negra Brasileira em fotografia diante da sede da organização em
lizaram-se em duas frentes: a da São Paulo (SP), entre 1931 e 1937.
esquerda e a da direita. Contudo,
tanto as organizações políticas
de base popular quanto os par-
tidos das elites não incluíam em Os indígenas na Era Vargas
seus programas a luta a favor da
população negra. Abandonados
pelo sistema político tradicional Na década de 1930, o debate sobre a diversidade étnica e cultural brasileira esquentou.
e acumulando a experiência de Passou a predominar a tese de que o Brasil se formou com base no convívio harmonioso
décadas em suas associações, um e equilibrado entre indígenas, brancos e afrodescendentes.
grupo de “homens de cor” fundou Na nova identidade nacional que estava sendo construída, os indígenas ganharam
a FNB, no dia 16 de setembro de
1931. [...] papel de destaque pelo reconhecimento de suas contribuições para a formação histórica e
A receptividade da população cultural do Brasil. Passaram, então, a ser vistos como “as verdadeiras raízes da brasilidade”,
de ascendência africana foi gran- “primeiros cidadãos” do Brasil.
de. Em 1936, noticiava-se que a
FNB já era formada por mais de 70
“sessenta delegações” (espécie de
filiais) distribuídas no interior de
São Paulo e em outros estados (A (A
Voz da Raça,
Raça, set. 1936, p. 1), como D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 70 28/06/22 13:23 D3_

Rio de Janeiro, Minas Gerais e Es-


pírito Santo, além de inspirar a
criação de entidades homônimas
em Pelotas (no Rio Grande do Sul),
Salvador e Recife. No seu auge, a
entidade contava com milhares
de associados. [...]
DOMINGUES, Petrônio. Um “templo de
luz”: Frente Negra Brasileira (1931-1937)
e a questão da educação. Revista
Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v.
13, n. 39, p. 517-534, 2008. p. 521.
70

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 70 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Ressaltar que, na década de
1930, ocorreu uma mudança
Nesse ambiente, em 1943, Getúlio Vargas instituiu a data de 19 de abril como na abordagem do tema da
o Dia do Índio,, ao mesmo tempo que incentivava a exibição de exposições, pro- diversidade étnica e cultural
gramas de rádio e filmes sobre as populações indígenas. No entanto, essa valorização brasileira: passou a predomi-
simbólica da população indígena entrou em contradição com um projeto do governo nar a tese de convívio equili-
Vargas chamado Marcha para o Oeste (1937-1945), que visava ocupar e desenvolver brado entre indígenas, bran-
o interior do Brasil. cos e afrodescendentes e
Com a Marcha para o Oeste, o governo Vargas procurou redefinir as fronteiras reconheceu-se as contribui-
dos territórios indígenas. Estima-se que, à época, havia aproximadamente 200 grupos ções indígenas na formação
indígenas com línguas e culturas próprias; mas o Estado reduziu-os a uma só palavra: histórica e cultural do Brasil.
“índios”. • Enfatizar que a valorização
Os xavante, que chamavam a si próprios de “as pessoas” e tinham recordações dolo- simbólica da população indí-
rosas do contato com os colonizadores, recusaram-se a aceitar a Marcha para o Oeste. gena se chocava com o pro-
Uma tentativa de contato com os Xavante feita por uma equipe do Serviço de Proteção jeto do governo Vargas de
ao Índio (SPI) acabou na morte do chefe da equipe e de cinco de seus assistentes. Dessa ocupar e desenvolver o inte-
forma, os Xavante diziam NÃO à Marcha para o Oeste. rior do Brasil, o que implica-
Donos de um extenso território no norte do Mato Grosso, os Xavante precisavam dele va em avançar sobre as terras
para praticar a caça de animais e a coleta de frutas, babaçu e raízes e, por isso, combatiam dos povos indígenas.
qualquer pessoa ou grupo que tentasse invadi-lo.
CESAR DINIZ/PULSAR IMAGENS

TEXTO DE APOIO
Em agosto de 1940, o presiden-
te Getúlio Vargas visitou a aldeia
dos índios Karajá na Ilha do Ba-
nanal, no Brasil Central. Foi o
primeiro presidente brasileiro a
visitar uma área indígena, ou o
Oeste da nação nesse sentido.
Três anos antes ele havia dissol-
vido o Congresso e abolido todos
os partidos políticos, proclaman-
do um Estado Novo compromis-
sado com o desenvolvimento e a
integração nacional. Como parte
de seu projeto multifacetado de
construção de um Brasil novo
— mais independente econo-
micamente, mais integrado po-
liticamente e socialmente mais
unificado, Vargas voltou-se para
o valor simbólico dos aboríge-
nes. Diferentemente de “plantas
Indígenas da etnia xavante, na Aldeia Aldeiona, na corrida de revezamento com tora de buriti na cerimônia exóticas” do liberalismo econô-
de escolha de padrinho por adolescentes. Campinápolis (MT), outubro de 2020. mico e do Marxismo, os quais
o regime autoritário naciona-
71 lista procurou extirpar o solo
brasileiro mediante repressão
política, censura e intervenção
federal em assuntos regionais,
13:23 D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 71 28/06/22 13:23 os índios seriam defendidos por
Vargas por conterem as verda-
deiras raízes da brasilidade.
GARFIELD, Seth. As raízes de uma planta
que hoje é o Brasil: os índios e o Estado-
-Nação na era Vargas. Revista Brasileira
de História, São Paulo, v. 20, n. 39,
p. 15-54, 2000.

71

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 71 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
a) A instituição do dia 19 de abril
• Estimular o debate sobre a como o Dia do Índio e a exibição
fala do líder indígena Lírio de programas de rádio, exposi-
Arlindo do Valle para ajudar ções e filmes sobre as populações Já os indígenas karajá e xerente, que viviam rodeados por colonos
indígenas. brancos, aceitaram colaborar com o projeto de integração de Vargas
na compreensão, em meio às
b) O termo “índio” sugere que os
lógicas de inclusão e exclu- indígenas são todos iguais, que
pensando em conseguir ajuda e proteção do Estado brasileiro.
são, das pautas dos povos in- não há diferenças entre eles. No Esse também foi o caso dos indígenas da etnia tembé. Interessante
dígenas, contribuindo assim entanto, sabe-se que “índio” ge- notar, no entanto, que mesmo aceitando colaborar com o governo,
nérico não existe, o que existe são
para o desenvolvimento da povos indígenas; eles são muitos os indígenas tembé teceram críticas duras ao SPI.
habilidade EF09HI07. e cada qual possui costumes, lín- Leia o trecho da carta escrita, em 1945, por Lírio Arlindo do Valle,
gua, técnicas e saberes próprios.
• Chamar a atenção para o um indígena tembé, cujo objetivo era ser nomeado inspetor do SPI no
c) Os Xavante recusaram-se a
fato de que Lírio Arlindo do aceitar a equipe do SPI em seu ter- Pará, cargo ocupado à época por um branco.
Valle pleiteava, com outros ritório, o que resultou na morte do
chefe da equipe e de seus cinco as- […] “o SPI ultimamente não se enteressa [sic] pelos índios, porque
indígenas, o cargo de dire-
sistentes; já os Xerente, os Karajá lá só trabalham brancos e os brancos não se enteressa [sic] pelos
tor do SPI, a fim de realizar a e os Tembé, por se sentirem fragi-
índios”. […]
“verdadeira integração” dos lizados e ameaçados pela presença
povos indígenas. Esse pleito de não indígenas nas proximida- (VALLE, 1945 apud GARFIELD, 2000, p. 30).
des de seus territórios, aceitaram
expressa sua percepção da o projeto de integração do governo Lírio Arlindo do Valle argumentava que, se ele fosse nomeado
exclusão dos povos indíge- Vargas. No caso dos Tembé, essa juntamente com outros “índios competentes e civilizados” para a
nas de lugares de poder, a aceitação não os impediu de te-
cerem duras críticas ao projeto do diretoria do SPI, faria a “verdadeira integração dos povos indígenas”.
exemplo da diretoria de um governo, a Marcha para o Oeste. d) Para Lírio Arlindo do Valle, o SPI não se interessava pelos indígenas, uma vez que,
órgão indígena dirigido por nesse órgão do governo, não havia representantes indígenas que lutassem pelos interes-
brancos. Dialogando ses de seu povo e de outros povos indígenas, mas somente brancos que representavam
os interesses do Estado brasileiro.
Professor, a autoavaliação a Apresente exemplos de ações que buscavam valorizar a cultura indígena durante o governo Vargas.
é um instrumento de extrema
b Por que a utilização do termo “índio” é problemática?
importância, pois pode ser uti-
lizada como um meio de ava- c Como foi a recepção da equipe do SPI pelos diferentes povos indígenas?
liação formativa, ou seja, uma d Qual era a opinião do indígena Lírio Arlindo do Valle sobre o SPI?
forma de analisar o percurso
educativo e promover ajustes ESCUTAR E FALAR
nele, caso necessário. Além
disso, ela oferece a oportuni- Em dupla.. Debatam, reflitam e opinem. O discurso de que o Brasil se formou a
dade de os alunos trabalha- partir do convívio harmonioso e equilibrado entre indígenas, brancos e afrodescendentes
rem competências socioemo- inspirou a tese de que somos uma democracia racial, ou seja, um país onde não há
cionais, na medida em que racismo. O que você pensa dessa tese? Resposta pessoal. Importante dizer
essa ferramenta possibilita que a tese de que o Brasil se formou
a autoconsciência, uma das Autoavaliação. Responda em seu caderno. com base no convívio harmonioso
entre diferentes etnias é chamada
competências de vital impor- a Expressei minhas ideias com objetividade? hoje pelos estudiosos das Ciências
tância para o desenvolvimen- b Usei tom de voz e gestos adequados? Humanas de mito da democracia ra-
to pessoal dos alunos. cial. Importante desconstruir esse
c Escutei meus colegas com atenção e respeito? mito e, ao mesmo tempo, estimu-
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes? lar os alunos a fazerem
afirmações com base em
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado? argumentos sólidos e
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento? fontes confiáveis.

72

AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 72 04/07/22 18:07 D3_

72

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 72 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Facilitara percepção de que
a crise socioeconômica ele-
O governo constitucional de Vargas vou a tensão social e contri-
buiu para a formação de dois
Vargas assumiu o governo no momento em que o Brasil sofria ainda os efeitos da
agrupamentos políticos di-
vergentes entre si, a Ação In-
Grande Depressão (1929-1933). As falências de empresas, o desemprego e a inflação em
tegralista Brasileira e a Alian-
alta elevavam a tensão social; esse contexto conturbado facilitou a entrada de ideias auto-
ça Nacional Libertadora.
ritárias vindas da Europa e a radicalização política. Nesse contexto, surgiram no Brasil dois
• Expor e debater com os alu-
agrupamentos políticos rivais: os integralistas e os aliancistas.
nos os programas dessas
duas agremiações políticas.

ACERVO ICONOGRAPHIA
TEXTO DE APOIO
Frentes populares na Era
Vargas
O restabelecimento de uma
ordem legal estimulou a parti-
cipação política e fortaleceu o
movimento social. Várias greves
eclodiram no período e o pro-
cesso político radicalizou-se. To-
talmente divergentes entre si, a
Ação Integralista Brasileira (AIB)
e a Aliança Nacional Libertadora
Raimundo Padilha, um dos fundadores da AIB em Niterói (RJ), discursando. À sua esquerda, Plínio Salgado, (ANL) eram bem definidas pro-
fundador da AIB. 1937. gramaticamente e conseguiram
produzir grande mobilização no
país.
Os integralistas A AIB, criada em 1932 e di-
Os integralistas, liderados pelo escritor Plínio Salgado, seguiam os princípios do fas- rigida pelo intelectual Plínio
cismo de Benito Mussolini. Em 1932, os integralistas fundaram a Ação Integralista Salgado, inspirada no fascismo
italiano, possuía uma estrutu-
Brasileira (AIB),, uma organização política que tinha por lema Deus, Pátria e Família e
ra organizacional paramilitar.
que defendia: Pautava-se por um naciona-
• um governo autoritário dirigido por um chefe e um partido único; lismo e um moralismo extre-
mados, o que a fez ter muitos
• o predomínio dos interesses da nação sobre os dos indivíduos;
adeptos entre militares e ca-
• a censura aos meios de comunicação. tólicos. Combatia os partidos
Assim como os fascistas, os integralistas faziam uso da violência contra adversários políticos existentes e defendia
a integração total da sociedade
políticos, principalmente contra os comunistas. Apelando para um nacionalismo agressivo,
e do Estado, que seriam repre-
a AIB conseguiu o apoio de membros das camadas médias, do alto clero, do empresariado sentados por meio de uma úni-
e das Forças Armadas. A AIB chegou a possuir mais de 100 mil filiados e mais de mil ca e forte agremiação: a própria
núcleos espalhados pelo país. AIB. [...] Os integralistas usavam
um uniforme que os tornou
73 conhecidos como os “camisas-
-verdes” e adotavam também
um símbolo – o sigma – e um
gesto de saudação, acompanha-
18:07 D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 73 Dica de leitura 28/06/22 13:23 do de uma espécie de brado de
guerra de inspiração indígena:
Artigo que apresenta a luta entre integra- “Anauê!”. De início, a AIB dava
listas e forças de esquerda agrupadas na ANL sustentação política ao gover-
hegemonizada pelo PCB. no de Vargas, sobretudo na luta
• KONRAD, Diorge Alceno. Lutas políticas e pro-
contra o comunismo.
jetos sociais distintos dos trabalhadores brasi- PANDOLFI, Dulce. Os anos 1930: as incertezas
do regime. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO,
leiros na década de 1930: os casos da Aliança Lucilia de Almeida Neves (org.). O tempo do
Nacional Libertadora (ANL) e da Aliança Inte- liberalismo excludente: da Proclamação da
República à Revolução de 1930. 5. ed. Rio de
gralista Brasileira (AIB). Aedos, Porto Alegre, Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. (O Brasil
v. 7, n. 17, p. 342-364, dez. 2015. republicano, v. 2, p. 31).
73

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 73 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Refletircom os alunos sobre
as permanências e a pene-
tração social no Brasil atual Os aliancistas
das ideias que inspiraram o
Em oposição aos integralistas, foi fundada no Brasil, em 1935, a Aliança Nacional
fascismo e o comunismo.
Libertadora (ANL),, uma frente popular liderada pelos comunistas, chefiada pelo ex-capitão
• Estimular os alunos a lerem
a obra de Graciliano Ramos, Luís Carlos Prestes. Os principais pontos do programa da ANL eram: o anti-imperialismo; o
seja pela temática, seja pelo não pagamento da dívida externa brasileira; a nacionalização das empresas estrangeiras;
texto econômico e muito a reforma agrária; e a formação de um governo popular.
bem construído.
O levante comunista
Em 5 de julho de 1935, o líder comunista Luís Carlos Prestes lançou um manifesto
+ATIVIDADES
que propunha a derrubada do governo Vargas e a formação de um governo popular
Interdisciplinaridade: Pro- revolucionário. O governo Vargas reagiu ao manifesto fechando a sede da ANL, bem como
por uma atividade em conjun-
a maioria dos núcleos que ela tinha pelo país.
to com o professor do compo-
Diante disso, um grupo de sargentos, cabos e soldados comunistas das cidades de
nente de Língua Portuguesa,
considerando a trajetória Natal, Recife e Rio de Janeiro promoveram um levante armado contra o governo, rotulado
política de Graciliano Ramos à época de Intentona Comunista. Agindo com rapidez, o governo Vargas sufocou os
e os impactos da prisão sobre levantes e passou a prender e a torturar os simpatizantes da ANL, comunistas ou não.
a vida e obra do autor, com As cadeias das principais cidades brasileiras encheram-se de presos
destaque para Memórias do Intentona: ação políticos, entre os quais estavam o escritor alagoano Graciliano Ramos
Cárcere. louca, insensata.
e a ativista alemã Olga Benário, esposa de Prestes.
Dica de leitura

ACERVO UH/FOLHAPRESS

GLOBO FILMES E LUMIÈRE PICTURES


Obra em que o escritor ala-
goano Graciliano Ramos narra
o período em que ficou preso,
entre 1936 e 1937.
• RAMOS, Graciliano. Memó-
rias do cárcere. São Paulo:
Record, 2020.

Imagens em movimento
Baseado no livro de Fernan-
do Morais e produzido por
Rita Buzzar, este filme retra-
ta a história de Olga Benário,
que foi companheira de Luís
Carlos Prestes.
• OLGA. Direção: Jayme Mon-
À esquerda, o escritor Graciliano Ramos com a neta, 1953. À direita, fac-símile do cartaz do filme brasileiro
jardim. Brasil: Globo Filmes/ Olga, de 2005, baseado no romance homônimo de Fernando de Morais.
Europa Filmes, 2004. Blu-ray
(141min). 74

TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 74 28/06/22 13:23 D3_

Já a ANL, inspirada no modelo das frentes populares que surgiam na Europa para impedir o
avanço do nazifascismo, foi criada em março de 1935. Diferentemente da AIB, desde sempre fez
oposição cerrada ao regime: defendia propostas anti-imperialistas e levantava a bandeira da
reforma agrária e das liberdades públicas. A organização congregava comunistas, socialistas e
liberais desiludidos com o rumo que havia assumido o processo revolucionário iniciado em 1930,
e tinha como presidente de honra o ex-tenente e agora líder comunista Luís Carlos Prestes.
PANDOLFI, Dulce. Os anos 1930: as incertezas do regime. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.).
O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. 4. ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. (O Brasil republicano, v. 2, p. 31-32).

74

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 74 31/08/22 09:31


ENCAMINHAMENTO
• Debater com os alunos a
justificativa dada no Plano
O Estado Novo Cohen e sua utilização para o
golpe de Estado desfechado
As eleições para a Presidência da República estavam marcadas para o início de 1938.
por Vargas em 1937.
Vargas, no entanto, não estava disposto a deixar o poder. Por isso, ele anunciou pelo • Explicitar o autoritarismo do

rádio que havia descoberto o Plano Cohen,, segundo o qual os comunistas iriam provocar Estado Novo presente nas
ações de Vargas e na Consti-
greves, incêndios em igrejas e o assassinato do presidente.
tuição de 1937, que o auto-
rizava a governar por decre-
KEYSTONE-FRANCE/GAMMA-KEYSTONE/GETTY IMAGES

tos-leis.
• Refletir com os alunos sobre
a estratégia golpista dos inte-
gralistas ao atacarem o Palá-
cio da Guanabara, em 1938.
Vargas lendo em cadeia
• Alertar para o fato de que
nacional de rádio as
razões que o levaram Vargas exerceu sua domina-
a desfechar o golpe de ção também por meio de po-
1937, definido por ele líticas públicas em áreas sen-
como o início de uma
síveis, como educação, saúde
revolução que mudaria
o Brasil. Rio de Janeiro e trabalho, e de uma propa-
(RJ), 10 de novembro ganda que buscava transfor-
de 1937. má-lo em um mito político.

Dica de leitura
Texto que caracteriza o pe-
ríodo do Estado Novo.
• ESTADO Novo In: MARTINS,
Na realidade, o Plano Cohen era falso, mas serviu de pretexto para que, em 10 de Luciano. Dicionário históri-
novembro de 1937, Vargas desse um golpe e implantasse uma ditadura, o Estado Novo.. co-biográfico brasileiro. Rio
Naquele mesmo dia, ele fechou o Congresso Nacional e impôs ao país a Constituição de de Janeiro: Fundação Getúlio
1937, que permitia ao presidente governar por decretos-leis (leis impostas). As eleições Vargas/CPDOC, [2015]. Dispo-
presidenciais foram suspensas; as greves, proibidas; e os sindicatos passaram a ser ainda nível em: http://www.fgv.br/
mais controlados pelo governo. cpdoc/acervo/dicionarios/
Vargas iniciou seu novo governo decretando a extinção de todos os partidos políticos. verbete-tematico/estado-
Inconformados, os integralistas atacaram o Palácio Guanabara, residência do presidente, novo. Acesso em: 13 jun. 2022.
em maio de 1938. Ajudado por sua guarda pessoal, Vargas resistiu ao golpe à bala; em
seguida, aproveitou-se do episódio para mandar prender seus adversários. Mas Vargas
não se manteve no poder só por meio da violência; ele adotou também um conjunto
de políticas públicas nas áreas do trabalho, da educação e da saúde e uma cuidadosa
propaganda para exercer sua dominação.

75

13:23 D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 75 TEXTO DE APOIO vislumbrado como a saída para o século líder ou de um partido único, foi uma mar-
28/06/22 13:23
XX. Isto pode ser resumidamente traduzido ca desses regimes. O Estado Novo no Brasil
Pressupostos do Estado Novo como autoritarismo político e ideologia na- foi a expressão clara desses pressupostos,
cionalista extremada. Dentro dessa ótica, o através das várias comemorações cívicas
A questão do Estado era central na crítica
governo regularia as atividades do cidadão, que inventou e cultivou e também através
que os autoritários faziam ao liberalismo.
promoveria o desenvolvimento (seguindo do culto à personalidade do “chefe”, Getú-
Mas eles pregavam a necessidade de forta-
lecer a autoridade do Estado – e o corporati- metas fixadas por assessores técnicos) e fo- lio Vargas. Aqui, na ausência de um parti-
vismo se prestava a isso – sem cair nos pos- mentaria o espírito de nacionalidade. O na- do, Getúlio era o chefe político que simbo-
tulados do socialismo, que, para levar a cabo cionalismo construiria a Nação. lizava o poder do Estado e a nacionalidade.
tal fortalecimento, enfraqueceria a Nação A distinção entre Estado e Nação – go- Era o chefe de Estado e da Nação.
e as noções de nacionalidade e nacionalis- verno e comunidade −, e ao mesmo tempo D’ARAUJO, Maria Celina Soares. O Estado Novo.
mo. Um Estado-Nação forte era o caminho a necessidade de fundi-los, através de um Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 12-13.
75

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 75 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Explorar o conceito de traba-
lhismo de modo a contribuir
para o desenvolvimento da O trabalhismo
habilidade EF09HI06. Expli-
Uma característica fundamental da política de Vargas foi o trabalhismo,, que consistia
car que o trabalhismo consis-
em conceder benefícios reais aos trabalhadores e, ao mesmo tempo, fazer propaganda
tia em conceder benefícios
do que foi concedido, com a intenção de divulgá-los e de despertar nos trabalhadores
reais aos trabalhadores, pro-
pagandear esses benefícios sentimentos de gratidão e retribuição.
e despertar no trabalhador Durante o Estado Novo, a partir de 1942, Vargas divulgou amplamente os direitos
sentimentos de gratidão trabalhistas, usando os jornais, o rádio e as comemorações cívicas. Exemplo disso foi o
e retribuição. Essa política anúncio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), (CLT), na festa de 1o de maio de 1943.
visava estabelecer vínculo Os “encontros” de Vargas com os “trabalhadores do Brasil” no dia 1o de maio (Dia do
político direto entre o pre- Consolidação das Leis Trabalho) eram organizados pelo Ministério do Trabalho. Eles incluíam
sidente e os trabalhadores, do Trabalho (CLT): desfiles escolares, operários e militares, apresentações de bandas
daí os diversos “encontros” sistematizava a legislação e torneios esportivos. No auge da festa, Vargas discursava. Ele
trabalhista já existente
promovidos a cada 1o de e regulamentava a começava seus discursos sempre com a mesma frase: “Trabalhadores
Maio, entre eles e o presi- atividade sindical. do Brasil…” e, em dado momento, anunciava uma medida que
dente, como Getúlio gostava Pela CLT, os sindicatos
arrancava aplausos da multidão. Exemplos disso são o salário mínimo
ficavam vinculados ao
de ser chamado. O trabalho Ministério do Trabalho e a CLT. O trabalhismo buscava estabelecer um vínculo político
com esse conteúdo contribui e se tornavam, assim, entre o presidente e os trabalhadores. Estes deviam ser produtivos e
para o desenvolvimento da dependentes do Estado.
ordeiros e trabalhar para o progresso do Brasil.
habilidade EF09HI06.
ACERVO ICONOGRAPHIA

Imagens em movimento
Vídeo produzido pelo Tri-
bunal Superior do Trabalho
em comemoração aos 70 anos
das Leis Trabalhistas, que
apresenta a história da criação
da CLT no Brasil.
• ESPECIAL CLT 70 anos. 2014.
Vídeo (26min51s). Publicado
pelo canal Tribunal Superior
do Trabalho. Disponível em:
https://www.youtube.com/
watch?v=K6wufJc-kSI. Aces-
so em: 13 jun. 2022.

TEXTO DE APOIO
Concentração trabalhista em homenagem a Getúlio Vargas no estádio do Vasco da Gama, Rio Janeiro (RJ),
Criação das Leis
1942. Na faixa lê-se os dizeres: “Salve Getúlio Vargas, creador da grande siderurgia”. O Estado Novo fez um
Trabalhistas grande investimento em propaganda com o objetivo de transformar Getúlio Vargas em um mito.
[...] em 1940, foi criado o im-
posto sindical, um dispositivo 76
através do qual o poder públi-
co promovia o financiamento
da ampla rede sindical recém-
-construída. Com ela, embora a OuD3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd
seja, todos pagavam, 76 mas somente poucos Leis do Trabalho, uma espécie de código que reu- 28/06/22 13:23 AV_

filiação ao sindicato não fosse se beneficiavam. [...] nia toda a legislação trabalhista existente no país.
obrigatória, o financiamento Sindicato único, imposto (ou contribuição) sin- Foi também durante o Estado Novo que se
era obrigação de todos. A par- dical e Justiça do Trabalho sobreviveram intactos criou a carteira de Trabalho, que passou a ser
tir de então o governo passou a à República liberal de 1946 e ao regime militar considerada o mais importante documento de
descontar um dia de salário de (1964-85) e foram mantidos na Constituição de
identificação do trabalhador brasileiro. Uma in-
todos os trabalhadores empre- 1988. A longevidade dessas leis mostra que elas
tensa campanha do governo associou cidadania
gados no mercado formal. Esse tiveram ampla base social e, principalmente, que
à [...] carteira assinada e promoveu a valorização
dinheiro reverteria para sindica- a estrutura montada a partir do Estado Novo não
tos, federações e confederações seria facilmente desmontada. Coroando esse pro- do trabalho como instrumento de nacionalidade.
e financiava a assistência que o cesso regulador do mercado de trabalho indus- D’ARAUJO, Maria Celina Soares. O Estado Novo.
sindicato oferecia aos filiados. trial, em 1943 foi criada a CLT, Consolidação das Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 54-55.
76

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 76 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
a) Elas se apresentavam como pobres e pediam ajuda e proteção ao “Pai dos pobres”, título dado a Getúlio Vargas. Usamos
aqui o termo “tática”, pois as pessoas se aproveitavam das brechas deixadas pelo título de “Pai dos pobres” dado a Vargas • Facilitar aos estudantes a
para conseguir aquilo que um “pai” não recusaria a seus filhos. Não usamos o termo “estratégia” porque, segundo Michel percepção do trabalhismo
de Certeau, esta supõe um lugar de poder, o que as pessoas
como força política, social
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
comuns não tinham.
e cultural, em escala local e
nacional, a partir da ação
Leia o texto a seguir com atenção e, em

ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO


dos jangadeiros cearenses
seguida, responda às questões..
pedindo ao presidente o
Analisando correspondências envia-
atendimento a seus pleitos e
das a Getúlio Vargas enquanto presidente obtendo uma resposta afir-
nas décadas de 1930 e 1940, Jorge Ferreira mativa da parte dele.
comprovou que pessoas comuns se apre- Para refletir. b) Aproveitar a
sentavam como pobres e [...] faziam críticas atividade para reforçar a ideia
e exigências [ao presidente]. O mito do de que o trabalhismo de Var-
“Pai dos pobres” foi utilizado com frequ- gas despertava sentimentos
ência para pedir ajuda ou proteção, o que de gratidão e retribuição. Re-
qualquer pai não recusaria a seus filhos. ceber uma carta da Presidência
Outras cartas eram enviadas para expres- da República certamente era
sar gratidão pelo reconhecimento de suas Getúlio Vargas recebe os jangadeiros no
motivo de orgulho para o des-
Palácio do Catete, dez anos depois da saga de tinatário e, através dele, im-
necessidades, uma verdadeira demonstra
1941. Rio de Janeiro (RJ), dezembro de 1951. pactaria também a comunida-
ção de carinho ao presidente. Mais interes-
de a qual ele ou ela pertencia.
sante ainda era a prática, criada pelo Estado, de respondê-las, mostrando mais uma
c) As questões desta ativida-
vez o canal de comunicação que foi aberto entre essa esfera de poder e o povo. de querem contribuir para o
Nessa mesma linha de raciocínio, Berenice Abreu de Castro Neves Saga: desenvolvimento da habilida-
conta a saga realizada em 1941 por quatro trabalhadores de uma história longa de EF09HI06.
e movimentada.
colônia de pesca que navegaram de Fortaleza ao Rio de Janeiro em
uma jangada. O objetivo era denunciar ao presidente suas péssimas condições de
Dica de leitura
vida e de trabalho [...]. O episódio mostrou o quanto eles confiavam na justiça do
Este livro descreve como su-
presidente e acreditavam que iriam ser contemplados. E foram. Três dias depois, o
cedeu todo o período do Esta-
governo incluiu os jangadeiros no Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos
do Novo.
e estabeleceu, para essa categoria de trabalhadores, um salário-base não inferior ao
• D’ARAUJO, Maria Celina. O
salário-mínimo local.
Estado Novo. Rio de Janeiro:
MACEDO, Michelle Reis. Recusa do passado, disputa no presente: esquerdas revolucionárias e a reconstrução
do trabalhismo no contexto da redemocratização brasileira (décadas de 1970-1980). Tese (Doutorado em História) – Jorge Zahar, 2000.
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2012. p. 32-33.

a) Qual era a tática usada pelas pessoas comuns para conseguir o que queriam junto
ao presidente Vargas?
b) Imagine e descreva a reação de uma pessoa comum ao receber uma carta do presidente
Vargas. Resposta pessoal.
c) O que se pode inferir a respeito do trabalhismo de Vargas com base na ação dos jan-
gadeiros que navegaram de Fortaleza ao Rio de Janeiro? E da reação da Presidência
da República a seus pedidos?
c) A ação dos jangadeiros permite-nos inferir que o trabalhismo era eficiente, pois, por meio dessa política,
o presidente fazia diferença na vida das pessoas comuns.
77

13:23 TEXTO DE APOIO


AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 77 30/06/22 16:40

O título de “Pai dos Pobres”


[...] No Brasil, havia uma imensa massa de excluídos em relação ao mercado de trabalho que era
definida como “os pobres”. Cabia ao “pai”, chefe da nação, a obra de transformá-los em trabalha-
dores organizados e produtivos. [...]
A postura do Estado Novo em relação ao trabalhador era bem diversa. A preocupação maior
consistia em transformar o “homem brasileiro” em [...] trabalhador produtivo e ordeiro, entendido
como peça fundamental na engrenagem da máquina do Estado construtora do progresso material.
CAPELATO, Maria Helena. Multidões em cena: propaganda política no varguismo e no peronismo. 2 ed.
São Paulo: Editora Unesp, 2009. p. 63-66.

77

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 77 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Mostrar a importância da
propaganda Varguista atra-
vés do Departamento de O DIP e a propaganda varguista
Imprensa e Propaganda
Como vimos, o governo Vargas regulamentou leis trabalhistas, como salário mínimo,
(DIP), um órgão cujo chefe
férias, limitação de horas de trabalho, segurança, carteira de trabalho e justiça do trabalho,
respondia diretamente ao
presidente. entre outras. Ao mesmo tempo, propagandeou esses benefícios a fim de despertar no
trabalhador sentimentos de gratidão e retribuição ao presidente. Em 1939, Vargas criou
• Facilitar aos estudantes –
o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão encarregado de fazer a
através do acesso a trechos
de documentários, páginas propaganda e a censura, subordinado diretamente ao presidente da República. Inspirado
de cartilha ou programas nas técnicas de propaganda fascistas, o DIP buscava identificar Vargas ao povo e ao Brasil.
radiofônicos da época – o Com esse fim, produzia programas de rádio, documentários cinematográficos, cartazes,
trabalho cuidadoso e consis- folhetos e cartilhas que mostravam o presidente cumprimentando crianças, dando esmolas
tente feito pelo DIP, visando ou exaltando o trabalho e o patriotismo.
a transformação de Vargas
em um mito político.

CPDOC/FGV
• Evidenciar a dupla face do
DIP: um lado dedicado à cen-
sura severa dos meios de co-
“A capoeira é o
municação; outro, voltado à único esporte
exaltação da pessoa do pre- verdadeiramente
sidente e suas “realizações” nacional”, disse
(para usarmos aqui um ter- Getúlio Vargas, em
1953, ao presenciar
mo da época). apresentação de
Mestre Bimba em
Salvador (BA).
Dica de leitura
Texto a respeito da criação e
atuação do DIP.
• DEPARTAMENTO de Imprensa
e Propaganda (DIP). 2. ed. In: Mas, além disso, o DIP também exercia severa censura sobre
ARAÚJO, Rejane. Dicionário jornais, revistas, rádio, cinema e demais manifestações culturais. O
histórico-biográfico brasileiro. controle sobre os meios de comunicação era tão grande que, a partir
Rio de Janeiro: Fundação de 1940, o DIP negou o registro a 420 jornais e 346 revistas. Além
Getúlio Vargas/CPDOC,
disso, cassou o registro daqueles que faziam críticas ao governo.
[2015]. Disponível em: http://
Os meios de comunicação de massa mais usados pelo governo
www.fgv.br/cpdoc/acervo/ Hora do Brasil:
programa Vargas foram o jornal e o rádio. Por meio do rádio, o presidente fazia
dicionarios/verbete-tematico/
departamento-de-imprensa-
radiofônico sua voz chegar à casa do trabalhador que, com a sua família, esperava
criado em 1938
e-propaganda-dip. Acesso a Hora do Brasil para ouvi-lo. A propaganda oficial de Vargas fez
e transmitido
em: 19 abr. 2022. diariamente por uso também de manifestações culturais com fortes raízes populares,
todas as estações como o samba e a capoeira, que foram transformados à época em
de rádio.
símbolos nacionais.

78

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 78 Foi o que aconteceu aos proprietários de O Estado de São Pau- 28/06/22 13:23 059
lo,, que na época já era um dos mais importantes periódicos do
lo
O papel da imprensa na Era Vargas país. A censura foi uma importante faceta do regime. O DIP não
só preparava o material de propaganda do governo como contro-
A propaganda de massa era efetuada pelo DIP (chefiado por lava com censores todas as matérias da imprensa escrita e falada.
Lourival Fontes), órgão que também efetuava a censura a todos As concessões de rádio eram rigorosamente controladas por esse
os veículos da imprensa, nessa época restrita a jornais, revistas órgão, e 60% das matérias dos noticiários eram fornecidos pela
e rádio. A imprensa deveria ter a função pública de apoiar o go- Agência Nacional.
verno e auxiliar no projeto nacional, e quem assim não agisse D’ARAUJO, Maria Celina Soares. O Estado Novo.
poderia ser punido inclusive com a desapropriação de seus bens. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 38-39.

78

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 78 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
a) Eles criaram o TEN em um contexto que impedia os atores negros de
subirem aos palcos; assim, os personagens negros eram representados por • Evidenciar a experiência do
atores brancos com o rosto e o corpo pintados de preto (maquiagem).
Teatro Experimental do Ne-
gro (TEN), ressaltando o con-
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
texto de sua criação e a sua
importância artística, cultu-
Os afrodescendentes também lutaram por sua inser-
ral e política, contribuindo

CARLOS/FUNARTE/CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO
ção no mundo da cultura. Em 1944, foi fundado, no Rio
assim para o desenvolvimen-
de Janeiro, o Teatro Experimental do Negro (TEN).
to da competência geral 3 e
Leia a seguir o que diz um historiador. da habilidade EF09HI07.
[...] Para seus fundadores (Abdias do Nascimento,
• Discutir com os estudantes a
Aguinaldo Camargo e Sebastião Rodrigues Alves), o
experiência do TEN, e a par-
TEN significou um ato de protesto pela ausência do
ticipação no debate público
negro nos palcos brasileiros – na época era comum
Cena da peça Anjo negro, por meio da publicação do
pintar o rosto do ator branco com camadas de maquia- Rio de Janeiro (RJ), 1948. Jornal Quilombo.
gem preta para representar personagens negros nos Com a pele escurecida, o ator
branco Orlando Guy faz o • Contextualizar as demandas
espetáculos teatrais [...]. Assim, a proposta original era
papel de Ismael, um médico do TEN, que de certa forma
formar um grupo teatral constituído apenas por atores
negro bem-sucedido, que traz percutiam os pleitos da co-
negros, dedicado a encenar peças nas quais esses atores estampado no rosto o drama munidade negra à época.
pudessem revelar todo o seu potencial artístico. [...] vivido por ele na sociedade
brasileira da época. • Alertar para o fato de que o
[…] O grupo só conseguiu se apresentar no pres-
estudo desta página e a refle-
tigiado Teatro Municipal devido à intervenção do [...]
xão sobre os conteúdos nela
Vargas. Durante um encontro do presidente [...] Abdias do Nascimento teria feito
estampados contribuem
um discurso acusando o Teatro Municipal de “fortaleza do racismo”. Sensibilizado,
para o desenvolvimento da
Getúlio Vargas deu ordens que permitiram a apresentação do TEN no local [...].
habilidade EF09HI07.
[...] em 1948, [o TEN] iniciou a publicação do jornal Quilombo, que funcionava como
• Temas Contemporâneos
veículo de divulgação das ideias do grupo [...] que visava a:
Transversais: ao tratar do
a) Trabalhar pela valorização do negro brasileiro em todos os setores: social, cultural,
TEN, aborda-se um importan-
educacional, político, econômico e artístico.
tíssimo tópico para educação
Para atingir esses objetivos, o Quilombo propõe-se a:
das relações étnico-raciais e
b) Lutar para que, enquanto não for tornado gratuito o ensino em todos os graus,
da história afro-brasileira,
sejam admitidos estudantes negros, como pensionistas do Estado, em todos os
trabalhando o tema multicul-
estabelecimentos particulares e oficiais de ensino secundário e superior do país, turalismo. O TEN marca uma
inclusive nos estabelecimentos militares. ruptura nas relações raciais no
c) Combater os preconceitos de cor e de raça e as discriminações que por esses motivos Brasil e constrói um novo lu-
se praticam, atentando contra a civilização cristã, as leis e a nossa constituição. gar para a arte produzida pela
c) Os itens A e C contêm demandas DOMINGUES, Petrônio. A nova abolição. São Paulo: Selo Negro, 2008. p. 69-71. população afro-brasileira.
semelhantes; já o item B, inova ao pleitear que os estudantes negros sejam admitidos como pensionistas do Estado. Além de ter espaço reservado
a) Em que contexto o ator, escritor e pintor negro Abdias do Nascimento e seus colegas
na história do teatro nacio-
criaram o Teatro Experimental Negro?
nal, ao vencer a segregação
b) A leitura do texto permite inferir o protagonismo do ativista Abdias do Nascimento racial que operava nas artes
na história do TEN?
cênicas, o TEN alçou também
c) Compare as demandas do jornal Quilombo com as dos jornais da imprensa negra para a teledramaturgia ar-
das primeiras décadas do século XX.
tistas icônicas, como Ruth de
b) Sim, pois acredita-se que foi ele quem conseguiu convencer o presidente Vargas a autorizar a apresentação do Souza. Dessa maneira, o TEN
TEN no Teatro Municipal.
79 contribui para a valorização
da identidade afro-brasileira.

13:23 Imagens em movimento


059a087-HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 79 24/08/22 08:51

Vídeo que narra a trajetória de Abdias do Nascimento e do TEN.


• CULTNE – Black Experimental Theater - Teatro Experimental do Negro – Abdias Nascimento.
2016. Vídeo (8min52s). Publicado pelo canal Cultne. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=6Vv2wkQBaQs. Acesso em: 19 abr. 2022.

79

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 79 26/08/2022 17:33


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de in-
dustrialização por substitui-
ção de importações. Economia: indústria e agricultura
• Compreender a política in-
Durante a Primeira República, a agricultura ocupou um papel de destaque na econo-
dustrial de Vargas e avaliar
mia nacional. Durante o governo Vargas, a indústria assumiu a posição de liderança que
seus resultados.
antes cabia à agricultura. Observe a tabela.
• Refletir sobre as implicações
econômicas e políticas da fi- Brasil: taxas anuais de crescimento (1920-1945)
xação do salário mínimo em
Período Agricultura Indústria
1940.
1920-1929 4,1% 2,8%
1933-1939 1,7% 11,2%
Dicas de leitura 1939-1945 1,7% 5,4%
Texto sobre a política eco- Fonte: MENDONÇA, Sônia Regina de. As bases do desenvolvimento capitalista dependente: da industrialização restringida à
nômica do governo Vargas. internacionalização. In: LINHARES, Maria Yedda (org.). História Geral do Brasil. São Paulo: GEN LTC, 2016. p. 331.

• CANO, Wilson. Getúlio Var-


gas e a formação e integra- A industrialização ocorrida durante o governo Vargas

RICARDO FUNARI/BRAZIL PHOTOS/LIGHTROCKET/GETTY IMAGES


ção do mercado nacional. In: se deveu, por um lado, à Segunda Guerra Mundial, pois,
ENCONTRO NACIONAL DA com seus parceiros comerciais em guerra, o Brasil teve de
ANPUR, 11., 2005, Salvador. fabricar o que antes importava. Esse processo é conhecido
Anais [...]. Salvador: Anpur, como industrialização por substituição de importações..
2005. Por sua vez, o crescimento industrial desse período deveu-se
Neste livro, o historiador e à decisão de Vargas fazer empréstimos à indústria a juros
cientista político Boris Fausto reduzidos, diminuir impostos sobre bens e equipamentos
busca levar ao leitor, de forma industriais, abolir impostos interestaduais (facilitando a
resumida e com linguagem circulação de matérias-primas para a indústria) e fixar o
simples, episódios importan-
salário mínimo (1940), fato que amenizava os conflitos entre
tes da História do Brasil.
empresários e trabalhadores, além de aumentar o poder de
• FAUSTO, Boris. História con- compra, o que, por sua vez, favorecia as próprias indústrias.
cisa do Brasil. São Paulo: O governo Vargas criou também o Conselho Nacional
Edusp, 2001. do Petróleo,, em 1938; no ano seguinte, perfurava-se em
Lobato, na Bahia, o primeiro poço de petróleo produtivo do
Brasil. Além disso, para estimular a industrialização, o governo
investiu na criação de grandes empresas dos ramos de:
a) siderurgia:: Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
em 1941, iniciando naquele mesmo ano a construção
A Companhia Siderúrgica
Nacional é a maior produtora
da Usina de Volta Redonda, no Rio de Janeiro;
de aço do Brasil e uma das b) extração de minérios:: Companhia Vale do Rio
maiores da América do Sul, Doce,, em 1942, em Minas Gerais, que explorava o
em termos de produção de
aço bruto. Volta Redonda minério de ferro, usado como matéria-prima na in-
(RJ), 2015. dústria siderúrgica;

80

TEXTO DE APOIO AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 80 exportações brasileiras era de 71,7% e do algodão de apenas 2,1%. 20/08/22 14:06 D3_

No período 1935-1939, a participação do café caiu para 41,7% e a


Economia no governo Vargas do algodão aumentou para 18,6%.

O período que começa em 1929/1930 aparece como muito re- Além da produção industrial, devemos ressaltar o aumento da
levante, tanto do ponto de vista da produção agrícola quanto da produção agrícola destinada ao mercado interno. Arroz, feijão,
carne, açúcar, mandioca, milho e trigo passaram a representar,
industrial. Naqueles anos abriu-se a crise do café, cujo papel na
entre 1939 e 1943, 48,3% do valor da produção das lavouras. Em
agricultura de exportação começou a declinar. A produção do al-
1925-1929, não iam além de 36% desse valor.
godão cresceu, destinando-se tanto à exportação quanto à indús-
tria têxtil nacional. Entre 1929 e 1940, a participação do Brasil na As taxas de crescimento anual da indústria permitem entender
área plantada de algodão em todo o mundo aumentou de 2% para melhor o processo de industrialização posterior a 1930.
8,7%. Nos anos 1925-1929, a participação do café no valor total das FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2001. p. 216-217.
80

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 80 31/08/22 09:31


ENCAMINHAMENTO
• Evidenciar a contradição en-
tre a participação do Brasil no
c) geração de energia:: Companhia Hidrelétrica do São Francisco,, criada em 1945, combate às ditaduras fascis-
para produzir energia a partir da queda de água da cachoeira de Paulo Afonso, no rio tas na Europa, sendo ele pró-
São Francisco, entre os estados de Alagoas e da Bahia. Foi a primeira empresa pública prio governado pela ditatura
de geração de energia elétrica do país. estado-novista.
O governo Vargas saiu também em defesa da agricultura. Para defender o preço do • Compreender a estratégia
café, mandou queimar ou lançar ao mar 30 milhões de sacas de 60 quilos, entre 1931 e de Vargas para se manter no
1939, com o objetivo de diminuir a oferta e obter melhores preços no mercado; e criou um poder: ao mesmo tempo em
imposto por pés de café, a fim de inibir novos plantios. Regulando a oferta e protegendo que apoiava um candidato à
os preços do café, o governo garantia recursos para a importação de máquinas e equipa- presidência, em público, por
mentos. Ao mesmo tempo, Vargas optou pela diversificação da agricultura, incentivando trás das cortinas exortava o
a produção de algodão, açúcar, borracha, cacau e mate. Assim, o café foi deixando de queremismo a pleitear a sua
ser o único produto importante na lista de exportações do país. permanência.
• Estimular os alunos a busca-
rem resposta para a pergun-
O fim do Estado Novo e o “queremismo” ta: como explicar o apoio po-
A participação brasileira na Segunda Guerra Mundial contra as ditaduras fascistas e
pular dado a Getúlio Vargas
após 15 anos no poder, cujo
nazista contribuiu para aumentar as críticas ao governo Vargas. No Brasil, muitos passaram
exercício foi marcado par-
a dizer que era preciso combater também a “ditadura varguista”. Em outubro de 1943, os
cialmente por intenso auto-
políticos de Minas Gerais lançaram o Manifesto dos Mineiros,, exigindo a democratização
ritarismo?
do país. Nesse mesmo ano, estudantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) saíram
• Refletir com os estudantes
em passeata contra o governo.
sobre o golpe de 1945, que
Percebendo que a oposição ao seu governo se fortalecia, Vargas decidiu, ele próprio,
depôs Vargas, como um fato
liderar o processo de democratização do país. No início de 1945, anistiou os condenados político recorrente na histó-
políticos e marcou as eleições presidenciais para dezembro daquele ano. Getúlio, porém, ria da República.
fazia jogo duplo: em público, apoiava a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra, às
escondidas, incentivava o queremismo,, movimento popular que, aos gritos de “Queremos
Getúlio”, pedia para ele continuar no poder.
Assustados com a enorme populari-
ACERVO ICONOGRAPHIA

dade do ditador, as oposições militares e


civis uniram-se para derrubá-lo. Em 29 de
outubro de 1945, tropas lideradas pelo
general Góis Monteiro forçaram Vargas a
renunciar. O Estado Novo chegava ao fim.
cassinos e, supostamente, dono
de casas de prostituição, na ca-
pital da República. O último ato
Comício queremista no Largo da Carioca. Rio de ocorreu em 29 de outubro de
Janeiro (RJ), 1945. Nos cartazes carregados pelas 1945, quando destacamentos do
pessoas é possível ler: “Queremos Getúlio”, “Os
Exército cercaram o Palácio Gua-
operários com Getúlio” e “Salve presidente Vargas”.
nabara, residência do presidente.
Segundo sua filha Alzira, Vargas
81 decidiu renunciar, proferindo
uma frase: “Preferia que os se-
nhores me atacassem e meu sa-
crifício ficaria como um protesto
14:06 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 81 mista”, pois seus partidários tinham um 28/06/22lema
13:23 contra esta violência. Já que é um
central: “Queremos Getúlio!”. As manifestações golpe branco, não serei elemento
Fim do Estado Novo de rua, principalmente, mas não somente no Rio de perturbação”. O golpe branco
de Janeiro, organizadas pelo PTB e pelos comu- não cassou os direitos políticos
Em maio de 1945, o governo decretou a nova
nistas, então aliados após a anistia e soltura de do ex-ditador que iria eleger-se
Lei Eleitoral que fixou a data de 2 de dezembro
Prestes, tiveram o apoio discreto do presidente e senador, com grande votação em
para eleições à presidência da República e ao
alarmaram a cúpula militar. [...] vários estados, preferindo a in-
Congresso. Logo depois, surgiu um movimento
Um lance final desastroso precipitou o fim do vestidura pelo Rio Grande do Sul.
favorável à permanência de Vargas no poder, até
Estado Novo, quando Vargas nomeou seu irmão FAUSTO, Boris. A vida política. In: GOMES,
a eleição de uma Assembleia Nacional Consti-
Angela de Castro (coord.). Olhando
tuinte, com a possibilidade de ele se candidatar Benjamin Vargas – “o Bejo” – para a chefia de po-
para dentro: 1930-1964. Rio de Janeiro:
à presidência, depois de aprovada a nova Cons- lícia do Rio de Janeiro. Bejo era muito malvisto Objetiva, 2013. (História do Brasil Nação:
tituição. O movimento foi chamado de “quere- pela oposição, como frequentador assíduo de 1808-2010, v. 4, p. 106-108).
81

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 81 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
1. b) Vargas defendia: o voto
secreto, o incentivo à indústria
nacional e a aprovação de leis
ATIVIDADES

AUTORIA DESCONHECIDA. 1930. ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO


NÃO ESCREVA
trabalhistas. Vargas aprovei- NO LIVRO.

tou-se da comoção pelo as- 1. a) A charge é um registro cômico da disputa


sassinato do paraibano João presidencial, em 1930, entre o paulista Júlio Prestes
(candidato oficial) e o gaúcho Getúlio Vargas.
Pessoa (por questões ligadas
1. b) Resposta pessoal.
à política local) e marchou em
direção ao Rio de Janeiro com I. Retomando
seus aliados com o objetivo de
tomar o poder. Uma junta mi-
litar tomou o poder e entre- 1 Sobre as eleições e o movimento de 1930, responda:
gou-o a Getúlio Vargas, líder a) O que mostra a charge?
civil do movimento de 1930. b) No caderno, monte um quadro sobre as eleições de 1930
Professor, é de vital importân- com as seguintes informações: qual era o programa de Charge da Revista Careta,
cia promover a autonomia dos Vargas; como Vargas reagiu à vitória da situação; qual foi de 1930, sobre a disputa entre
o desfecho do movimento de 1930. Getúlio Vargas e Julio Prestes.
alunos, no sentido de que de-
vem buscar elaborações pró- 2 Observe a fotografia ao lado.

ACERVO ICONOGRAPHIA
prias para montar o quadro a) Descreva o que você vê na imagem.
proposto. Porém uma correção Por que será que Almerinda está
cuidadosa se faz necessária, já sorrindo?
que o resultado do exercício b) Escreva um pequeno texto rela-
pode ser utilizado como ficha cionando a luta das mulheres por
de estudo para revisão. direitos à Constituição de 1934.
2. A atividade pode desenvol- c) Pergunte a seus pais ou responsáveis
ver a competência socioemo- sobre a maneira como eles partici-
cional de consciência social na pam das eleições. Converse com os
medida em que compreender colegas e o professor sobre o que
você descobriu.
a alegria de uma mulher exer-
cendo o direito ao voto pode d) Em dupla. Pesquisem sobre a quan-
tidade de mulheres no parlamento
demandar empatia por parte
brasileiro. Em seguida, conversem e
dos alunos. opinem sobre o assunto. Almerinda Faria Gama, advogada, líder sindical e do
a) Espera-se que os alunos res- 2. b), c) e d) Respostas pessoais. movimento feminino, depositando o voto na urna para
pondam que a felicidade dela 3 Identifique as alternativas corretas. a escolha de deputados que integrariam a Assembleia
Nacional Constituinte. Rio de Janeiro (RJ), 1933.
possivelmente se deva ao fato A Constituição de 1934 regulamen-
de estar exercendo seu direito tou, criou e/ou reconheceu:
de votar. a) o voto aberto para maiores de 21 anos, o que dificultava bastante a prática da corrupção
eleitoral, tão comum nas décadas anteriores;
b) É possível que os alunos es-
crevam que a Constituição de b) o voto feminino: ganhando o direito de voto, as mulheres passaram a ter importância cada
vez maior na política; 2. a) A imagem apresenta Almerinda
1934 garantiu às mulheres o
direito de votar e de serem vo- c) a justiça eleitoral: tinha como objetivo zelar pelas eleições; Faria Gama depositando seu voto na
urna, enquanto é observada por alguns
tadas, o direito à estabilidade d) o ensino primário gratuito, de frequência obrigatória; homens sentados à mesa eleitoral.
no emprego durante a gesta- e) os direitos trabalhistas: foram reconhecidos direitos como jornada de trabalho de 8 horas,
ção e a proteção no trabalho. descanso semanal remunerado, férias anuais remuneradas, entre outros.
3. Alternativas B, C, D e E.
Professor, comentar que essas
conquistas são fruto de uma 82
luta coletiva das mulheres por
direitos, que já vinha se desen-
volvendo há décadas. eleitores ou mesmo candidatos
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 82 ou candida- diálogo precisa ser estabelecido com base no 28/06/22 13:23 AV_

c) É possível que na resposta tas. Procurar acolher e ouvir todas as respos- respeito e possui como objetivo a compreensão
dos estudantes exista uma di- tas e, em seguida, aproveitar esse momento da necessidade de representação de mulheres
versidade de opiniões: adultos para desconstruir alguns preconceitos sobre na política, portanto, uma demanda pelo reco-
que desacreditam a importân- o voto e as eleições, mostrando sua importân- nhecimento e valorização da diversidade.
cia do voto e outros que se en- cia tanto para o exercício da cidadania quan- 3. Correção da alternativa a): voto secreto
volvem em campanhas e comí- to para a democracia. para maiores de 18 anos; o que dificultava
cios eleitorais e/ou participam d) A proposta de conversa oferece a chance de bastante a prática da corrupção eleitoral,
das eleições como mesários, desenvolver a competência geral 9, visto que o tão comum nas décadas anteriores.

82

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 82 31/08/22 09:35


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que no Estado
Novo, desde o golpe que o
implantou, Vargas usou a es-
4 Leia o trecho da entrevista de Getúlio Vargas concedida durante o Estado Novo, em
tratégia de eleger o comunis-
uma de suas viagens a Berlim, na Alemanha.
mo como inimigo extremo de
O combate ao comunismo, como a todas as doutrinas e organizações de caráter modo a fortalecer ainda mais
internacional que atentem contra a unidade da nação e a sua estrutura política e seu projeto de centralização
social, é, agora, muito mais efetivo e organizado, tanto pelos meios próprios de que se política em fortes colorações
investiu o Estado para realizá-lo quanto pelo sentido ideológico do regime, que apenas autoritárias.
admite um partido nacional, [...] e exclui qualquer atividade política com finalidades • Explicar que, como parte des-

contrárias ou inadaptáveis à ordem instituída.


ta estratégia, Getúlio Vargas
promoveu em 1937 um es-
SILVA, Hélio. Vargas: uma biografia política. Porto Alegre: L&M, 2004. p. 63-64.
petáculo público de queima
a) Getúlio Vargas via o comunismo como uma doutrina das bandeiras estaduais bra-
Sobre o Estado Novo, responda: internacional que atentava contra a unidade nacional e sileiras e sua substituição pela
a) Como Getúlio Vargas via o comunismo? a estrutura social e política do país. bandeira nacional.
b) Que argumento Vargas usa na entrevista para justificar a necessidade de combater o • Estimular a reflexão sobre a
comunismo? extinção dos partidos políti-
c) Faça uma pesquisa para saber quais partidos políticos existiam em 1937 e que foram dissol- cos que se seguiu ao golpe de
vidos com o início do Estado Novo. Estado desfechado por Var-
4. c) Resposta pessoal. gas em 1937.
5 Ao longo das primeiras décadas do século XX, a comunidade negra se uniu para criar • Aprofundar o assunto com a
clubes, jornais e associações que a ajudasse a lutar pelos seus direitos. Sobre essas leitura do texto: GARFIELD,
diferentes ações, identifique as alternativas corretas e justifique sua escolha. Seth. As raízes de uma plan-
a) Para lutar por seus direitos, os jornais impressos divulgavam atos de racismo e de violência ta que hoje é o Brasil: os ín-
sofridos pela população negra, além de matérias estimulando sua autoestima e valorizando dios e o Estado-nação na era
suas formas de associação e participação política. Vargas. Revista Brasileira
b) Sendo tradicionalmente um dos setores mais conservadores da sociedade, a imprensa foi o de História, Rio de Janeiro,
único segmento em que os negros não conseguiram atingir nenhum destaque. v. 20, n. 39, p. 13-36, 2000.
c) A Frente Negra Brasileira (movimento nacional contra o racismo) promovia cursos de alfabe- 4. c) Entre os partidos políticos
tização de adultos como forma de garantir à comunidade o acesso à educação. extintos em 1937, estavam:
d) Como muitos clubes não permitiam a entrada de negros, os membros da comunidade negra a Ação Integralista Brasilei-
alugavam salões para promover suas próprias festas e bailes. ra (AIB); a Aliança Nacional
5. Alternativas A, C e D. Libertadora (ANL); o Partido
6 Leia o quadro a seguir. Comunista Brasileiro (PCB);
Principais medidas de proteção ao índio (1910-1979) o Partido Socialista Brasilei-
ro (PSB); a Frente Negra Bra-
Ano Evento Contexto sileira (FNB), entre outros.
1910
Criação do Serviço de
O Estado republicano tutelou os indígenas.
5) A alternativa b) está incor-
Proteção aos Índios (SPI) reta porque, antes e depois
1952
Rondon criou o projeto do
Objetivo era criar uma área de proteção aos indígenas.
da Abolição, a comunidade
Parque Nacional do Xingu negra nunca deixou de lutar
1967
Criação da Fundação
Substituiu o extinto SPI na administração das questões indígenas.
por seus direitos. A imprensa
Nacional do Índio (Funai) negra teve papel importan-
1979
Criação da União das Primeira tentativa de defesa da cultura indígena, importante para te nessa luta e, entre o final
Nações Indígenas a consagração dos direitos indígenas na Constituição de 1988. do século XIX e o início do
Fonte: TERRITÓRIO brasileiro e povoamento. IBGE. Rio de Janeiro, c2022. Disponível em: https://brasil500anos.ibge.gov.br/ século XX, dezenas de jor-
territoriobrasileiro-e-povoamento/historia-indigena/politica-indigenista-do-seculo-xvi-ao-seculo-xx.html. Acesso em: 18 mar. 2022.
nais foram criados. 
4. b) Segundo Vargas, o comunismo admite apenas um partido nacional e exclui qualquer atividade política com
6) O SPI foi criado em 1910, ou
finalidades contrárias ou inadaptáveis à ordem instituída. 83 seja, durante a Primeira Re-
pública, com o objetivo de
o Estado implementar me-
13:23 TEXTO DE APOIO
AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 83 fez com que a Constituição de numa clara demonstração da
20/08/22 14:07 didas que visassem à tutela
1934 viesse a ser a primeira das consolidação dos direitos in- dos povos indígenas. Esse
A Constituição e os constituições brasileiras a re- dígenas perante as diferentes órgão foi extinto em 1967,
conhecer os índios como parte forças sociais e políticas da na- dando lugar à Funai, que
direitos indígenas
da nação e a promulgar norma ção. A questão indígena não é,
Não restam dúvidas de que geral sobre os índios, no caso,
existe ainda hoje. Professor,
até então, um osso de disputa procurar discutir com os es-
foi a existência e a presença condizente com as ideias que entre ideologias, mas entre in-
ativa do SPI no seu trabalho caracterizavam o SPI. tudantes sobre o termo “tu-
teresses econômicos, de um
de assistência aos índios e de As Constituições seguintes, a tela” e o que ele implica e
lado, e interesses morais e de
dignificação de sua pessoa que outorgada de 1937 e a liberal- reparação histórica de outro.
sobre a visão que os brancos
consolidou na nação o sen- -democrata de 1946, seguem GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o tinham dos indígenas e da
timento de responsabilidade esses mesmos pontos, mudan- Brasil: passado, presente e futuro. cultura desses povos. 
histórica para com o índio, e do a linguagem minimamente, São Paulo: Contexto, 2017. p. 98.
83

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 83 31/08/22 09:37


ENCAMINHAMENTO
Professor, as charges de 7. a) Vargas tem a ideia de provocar um incêndio e a realiza.
Belmonte são registros cômi- b) As pessoas se desesperam.
cos e instigantes da história da Com base no quadro da página anterior, copie em seu caderno a alternativa correta.
Era Vargas, Segunda Guerra a) O Serviço de Proteção aos Índios (SPI), criado em 1910, existe ainda hoje.
Mundial e Guerra Fria. Nelas, b) Já nas primeiras décadas do século XX, foram propostos projetos de criação de uma área de
proteção aos indígenas.
o cartunista estimula a ironia
c) Getúlio Vargas demonstrou grande preocupação para com os povos indígenas ao criar o SPI
e a reflexão crítica a respeito
durante seu governo.
da atuação política de ditado-
d) Na Primeira República, a criação do SPI representou o objetivo do Estado de tutelar os povos
res, a exemplo de Hitler, Sta- indígenas, indicando que os nativos não poderiam ser responsáveis por si próprios.
lin, entre outros. 6. Alternativa D. 7. c) Vargas aparece vestido de bombeiro, apaga o incêndio e é transformado
7. d) Esse plano, como se sabe, 7 Observe a charge a seguir. pelo povo em herói, ou seja, apaga o incêndio que ele próprio provocou.
serviu de pretexto para que

BELMONTE/FOLHAPRESS
1 2 3 4 5

Vargas desferisse o golpe


que deu origem ao Estado
Novo. Ele justificou seu ato
alegando que estava defen-
dendo o país da ameaça co- 6 7 8 9 10

munista.
8. b) Grande Depressão (1929-
1933) e a Segunda Guerra, Charge de
que estimularam o Brasil a Belmonte, c. 1930.
produzir o que antes impor- a) O que está acontecendo nos quadrinhos de 1 a 5?
tava; internos: as medidas b) Com base nos quadrinhos 6 e 7, explique como as pessoas reagiram ao ver o prédio pegando fogo?
industrialistas do governo c) Como terminou essa história (quadrinhos 8, 9 e 10)?
Vargas, tais como política d) Que relação há entre os quadrinhos e o golpe dado por Vargas, em 1937, que resultou na
alfandegária protecionis- instalação do Estado Novo?
ta (aumento dos impostos
sobre manufaturados im-
8 Observe o gráfico com atenção.
Brasil: taxa de crescimento da
a) O que se pode concluir pela leitura do agricultura e da indústria (1920-1945)
portados), abolição dos im-
gráfico?

SONIA VAZ
postos interestaduais (unifi-
b) Que fatores ajudam a explicar o fenô- 12
11,2%
cando o mercado nacional), meno mostrado no gráfico?
facilitação de financiamen- 10
8. a) Conclui-se que, entre 1933 e 1939, o crescimento
to para a aquisição de maté- do setor industrial superou em muito o agrícola. Além 8
disso, é possível concluir que, durante a Segunda Guerra
rias-primas e máquinas para (1939-1945), o crescimento industrial sofreu uma queda 6 5,4%
as indústrias e a fixação do considerável, mas, apesar disso, continuou sendo mais
salário mínimo em 1940, alto do que o da agricultura. 4
4,1%

8. b) O crescimento da indústria no Brasil, mostrado no 2,8%


que amorteceu os conflitos gráfico, resultou da combinação de fatores externos e 2 1,7% 1,7%
entre capital e trabalho. internos.
0
Fonte: MENDONÇA, Sônia Regina de. As bases do Agricultura Indústria
desenvolvimento capitalista dependente: da industrialização
restringida à internacionalização. In: LINHARES, Maria Yedda (org.). 1920-1929 1933-1939 1939-1945
História Geral do Brasil. São Paulo: GEN LTC, 2016. p. 331.

7. d) A charge relaciona-se ao Plano Cohen, forjado pelo próprio governo Vargas, e segundo o qual os comunistas
iam provocar incêndios e matar o presidente.
84

Dica de leitura
AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 84 Imagens em movimento 20/08/22 09:59 D3_

Livro que contém uma abordagem dos fa- Retrato da trajetória do cartunista Bel-
tos ocorridos no passado que modificaram a monte.
vida dos povos indígenas, no tocante a seus • BELMONTE (1981). 2014. Vídeo (11min12s).
costumes, terras e direitos, e que desencade- Publicado pelo canal EMPLASA. Disponível
aram uma série de transformações que aju- e m : h t t p s : / / w w w. y o u t u b e . c o m /
dam a explicar o cenário atual do país. watch?v=Nr38npp8EOc. Acesso em: 13 jun.
• GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o Brasil: 2022.
passado, presente e futuro. São Paulo: Con-
texto, 2017.
84

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 84 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
b) Jornais, revistas, programas de rádio, Vozes do presente
cinema; encontros pessoais com os traba-
II. Leitura e escrita em História lhadores do Brasil em datas especiais, a
exemplo das datas 19 de abril, 7 de se- a) O trabalhismo varguista en-
tembro e, sobretudo, 1o de maio (o Dia do volvia três ações: conceder o
Vozes do presente Trabalho, antes denominado Dia do Trabalhador). É consenso, entre os estudio- benefício; fazer propagan-
sos do período, que a propaganda varguista utilizava os recursos mais modernos
existentes à época e era extremamente eficiente e sofisticada.
da do benefício concedido;
e, por fim, despertar senti-
O texto a seguir é da professora doutora Michelle Reis de Macedo. Leia-o com atenção.
mento de gratidão e retri-
[…] como provedor do bem-estar do povo, o Estado deveria ser retribuído. buição (apoio político, leal-
Forjou-se, a partir daí, a noção de pacto social e, como todo pacto, os dois elementos dade, entre outros). Profes-
envolvidos teriam deveres a cumprir. O Estado como doador de benefícios sociais sor, para que os alunos pos-
comprometer-se-ia a satisfazer as demandas do povo, que, por sua vez, retribuiria sam transformar as ideias
com gratidão. Nessa troca entre Estado e classes populares, o reconhecimento foi do texto em um esquema,
mútuo: o primeiro obteve apoio do segundo, cuja antiga vontade de ser respeitado e será necessária uma leitura
considerado relevante para a sociedade foi realizada. atenta com, ao menos, uma
Todo esse conjunto […] que compunha a ideologia do trabalhismo e sustentava o
releitura. Na primeira leitu-
ra, orientar os alunos a se
projeto político do Estado Novo, foi propagado por eficientes mecanismos de propa-
atentarem a aspectos mais
ganda política. Nesse processo, o ministro do Trabalho Marcondes Filho revelou-se
gerais do texto. Já na relei-
como peça-chave. Por meio de transmissões radiofônicas, assumiu o papel de minis-
tura, caso seja necessário,
trar palestras, cujo tema principal era a legislação trabalhista. Num tom pedagógico, solicitar que destaquem no
Marcondes Filho divulgava as realizações do Estado, atribuindo-as ao caráter bondoso texto os trechos que tratam
do presidente Getúlio Vargas, sujeito de todas as ações. […]. das relações entre Estado e
[…] Configurou-se o mito Vargas, elemento essencial do trabalhismo. Para Raoul povo.
Girardet, o mito é uma fabulação, deformação ou interpretação do real, o que não Modelo de esquema possível:
significa ser uma formulação falsa ou mentirosa. Para vigorar, o mito precisa ter fun-
DOAR
damentos reais. O mito Vargas foi bem-sucedido porque, de alguma forma, o presidente BENEFÍCIOS
GOVERNO
e suas políticas públicas fizeram a diferença na vida das pessoas. […] VARGAS

MACEDO, Michelle Reis de. Recusa no passado, disputa no presente: esquerdas revolucionárias e a reconstrução POVO
GRATIDÃO E
do trabalhismo no contexto da redemocratização brasileira (décadas de 1970 e 1980). Tese (Doutorado em História) –
APOIO
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2012. p. 30-31.

a) Represente por meio de um esquema a noção de pacto social estabelecido entre o governo
Vargas e o povo. a) Resposta pessoal.
b) Com base em seus conhecimentos e na leitura desse e de outros textos, apresente e avalie os
meios usados pela propaganda varguista.
c) Escreva no caderno as alternativas corretas. c) Alternativas I e IV. Terminando, Senador Getúlio
Vargas, mais uma vez eu tenho o
I. No Brasil, o trabalhismo está associado ao Estado Novo, às políticas econômicas, sociais e
grande prazer e a honra insigne
culturais de Vargas.
de vos felicitar pela vossa extraor-
II. O trabalhismo contou com o apoio de instituições democráticas, como partidos políticos dinária vitória nas urnas, por nos-
e eleições livres. sa vitória, pela vitória do Brasil.
III. O trabalhismo de Vargas foi recusado pelos trabalhadores que pleiteavam maior participa- Cordeais saudações
ção política e ganhos sociais. De V. Exca.
IV. Apesar de viver sob um governo autoritário, os trabalhadores usaram o trabalhismo em Humilde Cro. e admirador
seu favor. Alfredo Maranhão

85 CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO


DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO
BRASIL. Arquivo do centro de pesquisa
sobre Getúlio Vargas, 12 fev. 1946.

09:59 +ATIVIDADES
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 85
O humilde sertanejo que vos fala neste mo-
28/06/22 13:23 O documento acima foi es-
mento, é naquele mesmo a quem vossa ex- crito por Alfredo Maranhão.
Leia o texto a seguir com atenção. celência, com a grandeza do seu coração, lhe A partir da leitura da carta
Excmo. Sr. Senador Dr. Getúlio Vargas concedeu o ano passado passagens na Panair,
e do conceito de trabalhismo,
Encontrava-me na vizinha cidade Balsas, para que a sua filhinha, a menor Lígia, fosse ao
caracterize a relação entre
quando tive a felicidade de assistir pelo rádio, a Rio se submeter a tratamento, o que jamais me
vossa posse na suprema corte do nosso Brasil. esquecerei. Eu sou um humilde trabalhador,
Vargas e os trabalhadores.
mas, sei bem observar os princípios de grati- Resposta pessoal. Professor,
Eu e os meus companheiros queremistas,
continuamos com a nossa fé viva em vossa dão e como já era um forte queremista, agora o autor da carta manifesta seu
excelência, certos de que a grandeza do nosso mais do que nunca, deixarei de estar sempre sentimento de gratidão e a
querido Brasil, mui-dependerá do vosso espírito firme ao vosso lado, ao lado da maioria dos intenção de seguir apoiando
e da vossa dinâmica capacidade administrativa. brasileiros. Vargas politicamente.
85

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 85 31/08/22 09:32


ENCAMINHAMENTO
• Temas Contemporâneos
Transversais: além de incen­
tivar o protagonismo juve­
nil, a atividade trabalha com
#JOVENS NA t a
o tema meio ambiente com
foco na educação ambiental,
HISTÓRIA Entrevis

na medida em que propõe


uma reflexão crítica sobre as
emissões de CO2 e as mudan­
ças climáticas. A atividade Práticas sustentáveis na comunidade
ainda contribui com o desen­
volvimento da competência PASSO 1 Ler
específica 7 ao propor a utili­
zação das tecnologias digitais Leia o texto com atenção.
de informação e comunica­
ção como meio de propagar “Temos direito a um futuro”: quem é a menina brasileira que protestou
ideias e práticas de combate com Greta Thunberg na ONU
às mudanças climáticas. Catarina Lorenzo, de 12 anos, nunca tinha ficado diante de tantas câmeras como
Professor, a autoavaliação é [...] quando subiu ao palco de um salão da sede do Fundo das Nações Unidas para a
um aprendizado fundamen­ Infância (Unicef), em Nova York.
tal para a construção da auto­ Mas a jovem surfista de Salvador, na Bahia, não se deixou intimidar. “Eu pensei:
nomia do aluno; além disso, ‘Vim aqui para mudar o mundo. Estou aqui para representar todas as crianças do
democratiza o processo, pois mundo e fazer algo para acabar com as mudanças climáticas. [...]’”, diz Catarina [...].
envolve diferentes pontos de A brasileira foi porta-voz — junto com outras 15 crianças e adolescentes de 12
vista. Sugestões de perguntas países, entre elas a sueca Greta Thunberg, de 16 anos — de uma reclamação formal
para a autoavaliação:
contra a postura de Alemanha, Argentina, Brasil, França e Turquia no combate às
• Você considerou interessante mudanças climáticas.
a atividade ou o trabalho rea­
ACERVO PESSOAL

lizados?
• Tinha conhecimentos ante­
riores que o auxiliaram na
realização?
• Foi fácil ou difícil? Se foi difí­
cil, saberia dizer por quê? Catarina Lorenzo em
evento da Unicef.
• Como você avalia sua parti­
Nova York (EUA), 2019.
cipação no grupo? (Realizou
tarefas que contribuíram
para o trabalho? Sugeriu for­
mas de organizar o trabalho?
Colaborou com seus colegas
na realização de tarefas?).
• Você considera que a manei­
ra como o tema foi abordado
ajudou na sua compreensão 86
dos conteúdos e propostas de
atividades?
Dica de leitura
D3_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 86 28/06/22 13:23 AV_

Reportagem que sintetiza os principais


pontos do relatório elaborado pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climá­
ticas, o IPCC, lançado em 2022.
• ANGELO, Claudio. 21 recados fundamentais
do novo relatório do IPCC. O Eco. [S. l.],
4 abr. 2022. Disponível em: https://oeco.org.
br/noticias/21-recados-fundamentais-do-novo-
relatorio-do-ipcc/. Acesso em: 22 jun. 2022.
86

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 86 31/08/22 15:23


RIBEIRO, J.; CAVASSAN, O. Um
olhar epistemológico sobre o
vocábulo ambiente: algumas
contribuições para pensarmos
[...] A petição apresentada ao Comitê de Direitos das Crianças da Organização das
a ecologia e a educação am-
Nações Unidas (ONU) aponta que estes cinco países não estão cumprindo compro-
biental. Filosofia e História da
missos assumidos para reduzir suas emissões de CO2. […]
“Estou aqui para exigir que todos os líderes do mundo nos ouçam e nos ajudem a
Biologia, [s. l.], v. 7, n. 2, p. 241-
parar as mudanças climáticas”, disse Catarina, em inglês, diante da plateia no Unicef.
261, 2012.
[…] d) Orientar os alunos a pesqui-
BARIFOUSE, Rafael. “Temos direito a um futuro”: quem é a menina brasileira que protestou com Greta Thunberg na ONU.
sarem na internet, em sites
BBC News Brasil, 24 set. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49805605. Acesso em: 7 mar. 2022. confiáveis, ONGs ou outras or-
ganizações que desenvolvem
PASSO 2 Questionar a) As mudanças climáticas são o problema diante do qual Catarina se trabalhos na área ambiental.
mobilizou. Considerando que o Brasil é
Depois de ler o texto, responda: b) Eles elaboraram uma petição apresentada à ONU, reclamando da
um dos países onde mais se
a) Qual o problema identificado por Catarina? postura de alguns países frente às mudanças climáticas
recicla alumínio no mundo,
b) Qual a solução encontrada por Catarina e outros 15 adolescentes para ajudar no enfrentamento desse problema?
possivelmente buscar por coo-
perativas de catadores de
PASSO 3 Pesquisar e agir material reciclável pode ser
c) Em grupo. Identifiquem na sua cidade, bairro ou nome e idade do entrevistado; profissão; qual o uma alternativa interessan-
no entorno de sua escola, um problema ambiental trabalho realizado com as questões ambientais; te para o desenvolvimento
como poluição de um rio, emissão de poluente por como e por que a pessoa se envolveu nessa da proposta.
fábrica, sujeira nas praias, descarte de resíduos atividade.
sólidos em lugares impróprios, entre outros. e) A proposta de elaborar e
f) Para a realização da entrevista, lembrem-se de
d) Pesquisem exemplos de ações como as de combinar local e horário com a pessoa entre- aplicar um questionário para
Catarina Lorenzo voltadas a soluções de vistada, levar gravador, papel para anotações e mediar a entrevista é uma im-
questões ambientais ou ações voltadas para estar acompanhados de um adulto responsável. portante forma de promover
a educação ambiental em sua comunidade, g) Com a entrevista realizada, vocês deverão o desenvolvimento de noções
bairro ou cidade. transcrevê-la, caso ela tenha sido gravada, introdutórias de prática de
e) Feita a pesquisa, escolham uma pessoa que ou passar a limpo as anotações que fizeram. pesquisa.
chamou a atenção de vocês para ser entrevis- Escrevam uma introdução contendo os prin-
tada. Elaborem um roteiro com as perguntas cipais pontos da entrevista, apresentando o
f) Além de introduzir os alu-
que pretendem fazer. No roteiro, registrem: entrevistado e o trabalho a que ele se dedica. nos em uma técnica de pesqui-
Respostas pessoais. sa, a entrevista, é importante
PASSO 4 Apresentar e publicar ressaltar algumas implicações
éticas dessa atividade, como
h) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais da escola e marquem a postagem com solicitar ao entrevistado auto-
#jovensnahistória.
rização para a gravação do áu-
dio, caso os alunos optem por
PASSO 5 Avaliar utilizar esse método. Reforçar
i) Realizei as tarefas a que me propus? aos estudantes a importância
j) Cumpri os prazos combinados? de estarem acompanhados
k) Expressei minhas ideias com objetividade? de um adulto responsável no
l) Escutei meus colegas com atenção e respeito? dia combinado.
m) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes? 5. Destacar aos alunos que a
n) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento? autoavaliação possui grande
Respostas pessoais. importância, pois possibilita
87 a reflexão sobre a atuação
individual de cada um no tra-
balho coletivo e, desse modo,
13:23 ENCAMINHAMENTO
AV_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-LA-G24.indd 87 c) Explicar aos alunos que a ideia de meio
30/06/22 16:40 contribui para o desenvolvi-
ambiente é frequentemente associada ape- mento da autoconsciência,
3. Antes de iniciar o trabalho em grupos, res- nas a paisagens naturais, como florestas, rios uma das competências socio-
saltar a importância do diálogo e do respeito e praias, porém é importante ressaltar que emocionais.
às diferenças para o bom andamento da ati- problemas ambientais também podem ser
vidade. Nesse sentido, a proposta é apropria- identificados em contextos urbanos. Para
da para o desenvolvimento da competência aprofundar as discussões sobre o conceito de
geral 9. meio ambiente, pode-se consultar o texto:

87

059a087_HIS-F2-2111-V9-U1-C03-MP.indd 87 31/08/22 09:43


INTRODUÇÃO
À UNIDADE
O fortalecimento de regimes UNIDADE

2
autoritários na atualidade e
o fantasma da guerra entre
Rússia e Ucrânia enquanto es-
crevemos este livro, acenderam,
GUERRA, PROPAGANDA
em nós, historiadores de ofício,
um sinal de alerta, e tornaram
E POLÍTICA DE MASSAS
ainda mais relevante o estu-
do dos temas de força desta
unidade: fascismo, nazismo,
depressão econômica e guerra.
Na abertura de cada capítu- FONTE 1
lo, explicitamos os objetivos, as
justificativas e as principais com-
HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES

petências e habilidades a serem


trabalhadas. No corpo do capí-
tulo e nas atividades, evidencia-
mos as nossas estratégias para o
desenvolvimento dessas habili-
dades e competências.
Nas páginas de abertura de
cada unidade, vamos citar
exemplos da articulação entre
objetivos, habilidades e com-
petências, por acreditar que,
ao longo da coleção, esse pro-
cedimento contribuirá para
o importante propósito de
“transformar a história em
ferramenta a serviço de um
discernimento maior sobre
as experiências humanas e as
sociedades em que se vive.”,
conforme sugere a BNCC
(BRASIL, 2018, p. 401). Adolph Hitler saudando membros de seu partido. Nuremberg (Alemanha), agosto de 1927.
Nesta unidade, vamos desen-
volver as habilidades EF09HI10, FONTE 2
EF09HI11, EF09HI12, EF09HI13 e
EF09HI16 a partir das dinâmicas Nos regimes autoritários que se fundamentam na política de massas, a teatrali-
do capitalismo e suas crises, da zação tem papel mais importante: o mito da unidade e a imagem do líder atrelado às
Revolução Russa e da emergên- massas tornam o cenário teatral especialmente adequado para o convencimento. [...]
cia do fascismo e do nazismo e CAPELATO, Maria Helena. Multidões em cena: propaganda política no varguismo e no peronismo.
suas práticas de extermínio, de São Paulo: Editora Unesp, 2009. p. 67.

modo articulado com as com-


petências específicas 1, 2, 3, 88
4, 6 e 7 e ao das competências
gerais 1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.
Vejamos dois exemplos des- regimes totalitários, seus
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 88 princípios e prá- consolidou-se nas décadas de 1920-1940, com 28/06/22 13:24 AV_

sa articulação. ticas. Esse objetivo articula-se à habilidade avanço tecnológico dos meios de comunicação.
Objetivo: discutir sobre os EF09HI13, às competências gerais 1, 2, 4, 5 [...] O poder político, nesses casos, [...] tenta su-
horrores da guerra e promo- primir, dos imaginários sociais, toda represen-
e 7 e às competências específicas 1, 2, 3 e 6.
ver a cultura da paz. Esse ob- tação [...] que seja distinta daquela que atesta a
jetivo articula-se à habilidade sua legitimidade [...]. Em regimes dessa nature-
ENCAMINHAMENTO za, a propaganda política [...] tende a provocar
EF09HI13, às competências
Sobre o assunto debatido nestas páginas paixões, visando assegurar o domínio sobre os
gerais 1, 2, 4, 5 e 7 e às compe-
corações e mentes das massas.
tências específicas 1, 2, 3, 4 e 6. de abertura, escreveu um estudioso:
PEREIRA, Wagner Pinheiro. Cinema e propaganda política no
Objetivo: debater sobre a A propaganda política, entendida como fe- fascismo, nazismo, salazarismo e franquismo. História: Questões
ascensão e a consolidação dos nômeno da sociedade e da cultura de massas, & Debates, Curitiba, n. 38, p. 101-132, 2003. p. 102.
88

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 88 31/08/22 09:44


móveis das paixões variam con-
forme o momento histórico (hon-
ra, riqueza, igualdade, liberdade,
pátria, nação etc.) e, no caso das
FONTE 3 experiências totalitárias, alguns
móveis são comuns (por exemplo,
[...] Em qualquer regime, a propaganda é estratégica para o exercício do poder, o amor ao chefe, à pátria/nação),
mas adquire uma força muito maior naqueles em que o Estado, graças à censura ou e outros são específicos (como o
antissemitismo).
monopólio dos meios de comunicação, exerce rigoroso controle sobre o conteúdo das
A intensificação das emoções
mensagens, procurando bloquear toda atividade espontânea ou contrária à ideologia
ocorre por meio dos meios de
oficial. [...] comunicação, responsáveis pelo
PEREIRA, Wagner Pinheiro. Cinema e propaganda política no fascismo, nazismo, salazarismo e franquismo. aquecimento das sensibilidades.
História: Questões & Debates, Curitiba, n. 38, p. 101-131, 2003. p. 102.
Mas os sinais emotivos são cap-
tados e intensificados também
FONTE 4 mediante outros instrumentos:
literatura, teatro, pintura, arqui-

IMAGNO/GETTY IMAGES
tetura, ritos, festas, comemo-
rações, manifestações cívicas e
esportivas. [...]
Para melhor submeter a popu-
lação, preparar as massas para
as grandes tarefas nacionais e
favorecer uma revolução espiri-
tual e cultural, o governo Hitler
criou, em 1933, o novo Ministé-
rio da Informação Popular e da
Propaganda, cuja organização
foi confiada a Joseph Goebbels.
A partir daí, divulgaram-se, por
toda parte, as atuações do parti-
do; o país foi inundado por pan-
fletos, cartazes vermelhos or-
nados de cruz gamada e jornais
distribuídos nas ruas, caixas de
correio ou lançados por aviões.
Alto-falantes foram usados para
repetir as palavras de ordem ou
para fazer ouvir as palavras do
Professora alemã despedindo-se de seus alunos. Alemanha, c. 1933. líder gravadas em discos.
Por meio de meetings organi-
zados por todo o país, oradores
O personagem principal da página à esquerda é bastante conhecido. Quem já não formados pelo partido popula-
viu o ditador Adolf Hitler na TV ou no cinema, poderosos meios de comunicação de rizaram temas e slogans de fácil
massa? Na fonte 4, vemos uma professora se despedindo dos seus alunos com a assimilação. As águias, as ban-
saudação nazista. Isto pode ser visto como uma forma de difusão do nazismo entre deiras, a cruz gamada de fundo
as crianças. Que relação podemos estabelecer entre a fonte 2 e a fonte 1? E entre vermelho branco, os cantos e
as fontes 2 e 3? A propaganda pode ter ajudado na atitude das crianças mostradas hinos, os uniformes marrons,
na fonte 4? Que relação se pode estabelecer entre o monopólio dos meios de comu- as paradas das S.A., desfilando
nicação e a força da propaganda nos regimes totalitários? em colunas numa ordem im-
pecável ao som de fanfarras e
Respostas pessoais. à luz de tochas, os Seig Heil ou
89 os Heil Hitler,
Hitler, repetidos em coro
pela multidão, não somente as-
seguravam a coesão das massas,
impressionando os indecisos e
13:24 ENCAMINHAMENTO
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 89 TEXTO DE APOIO 20/08/22 11:09
aterrorizando os adversários,
Sugerimos refletir, com os alunos, que o mas também suscitaram êxtase
O espetáculo do poder e devotamento. O povo, segun-
professor tem um importante papel, seja na
difusão de ideologias autoritárias, seja na O totalitarismo [..] produz estruturas socioafeti- do Goebbels, deveria “começar
vas que se caracterizam por uma dimensão emo- a pensar em unidade, a reagir
disseminação de uma cultura da paz.
cional intensa. A propaganda política em regimes em unidade e se colocar à dis-
posição do governo com toda a
dessa natureza atua a fim de aquecer as sensibili-
simpatia” [...].
dades e tende a provocar paixões. Os sentimentos,
fenômenos de longa duração, são manipulados CAPELATO, Maria Helena. Multidões em
cena: propaganda política no varguismo e
de forma intensa pelas técnicas de propaganda no peronismo. São Paulo: Editora Unesp,
com o objetivo de produzir forte emoção. Mas os 2009. p. 66-76.
89

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 89 26/08/2022 17:56


OBJETIVOS
• Identificar as rivalidades en- 1. Na imagem vemos atletas – todos homens – disputando um cabo de guerra. A ex-
tre as potências europeias às CAPÍTULO pressão deles é séria e fechada, e sugere que estão fazendo enorme esforço.
2. Eles representam os seguintes países: Alemanha e Império Austro-Húngaro, de um

4
vésperas da Primeira Guerra lado, e Grã-Bretanha, França, Iugoslávia, Japão e Finlândia, do outro. O atleta italiano
Mundial. faz papel de juiz, observando a competição com os braços atrás das costas. As camisetas
• Compreender a política de A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
alianças e a paz armada como dos atletas estão impressas com as cores e os símbolos das bandeiras dos respectivos países.
fatores da Primeira Guerra 3. Porque, inicialmente, a Itália esteve do lado da Grã-Bretanha, mas, depois de um
Mundial. ano, mudou de lado e aliou-se à Alemanha.
4. Resposta pessoal.
• Analisar as fases da guerra,
com destaque para a guerra
Observe a imagem com atenção.
de trincheiras. FOTOTECA GILARDI/GETTY IMAGES

• Argumentar sobre a partici-


pação do Brasil na Primeira
Guerra Mundial.
• Refletir sobre o perfil imposi-
tivo do Tratado de Versalhes.
• Discutir sobre os horrores da
guerra e promover a cultura
da paz.

Os objetivos deste capítulo


visam cooperar para a com-
preensão e a argumentação
sobre conflitos mundiais,
com destaque para a Pri-
meira Guerra Mundial, con-
tribuindo para o desenvolvi-
mento das competências e
habilidades propostas.

BNCC
• Competências gerais: 1, 2,
4, 7, 8 e 9.
• Competências específicas: Postal de propaganda Esporte bélico 1914. Milão (Itália), 1914.
1 e 2.
• Habilidades: EF09HI10 e 1. O que vemos na imagem?
EF09HI13. 2. Que países esses homens representam? Como podemos saber disso?
3. Por que será que o artista representou a Itália no papel de juiz?
4. O que será que explica essa rivalidade intensa entre os países representados na
imagem?

90

ENCAMINHAMENTO AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 90 Alemanha e o Império Austro-Húngaro, e as azuis, Grã-Bre- 30/06/22 16:41 088

tanha, França, entre outros. Destacar que a Bélgica, repre-


Professor, a ideia é que o alunado comece interrogando
sentada na roupa de cores preta, amarela e vermelha, manti-
a imagem, descrevendo-a e falando livremente sobre o que
nha-se neutra, mas foi invadida pelo exército alemão em 2 de
sabe ou imagina saber sobre ela. Nesse momento inicial, é
agosto de 1914. Depois, com base nas informações externas
importante estimulá-lo a reconhecer os países que os per-
à imagem, tais como: quem fez a imagem? Quando? Por que
sonagens representam pelas cores de suas vestes; pelos sím- e para quem foi feita?, ir tecendo os fios que permitem iden-
bolos pintados em suas camisetas (a cruz de malta, no caso tificar o contexto no qual foi produzida. Assim analisada, a
do atleta alemão); quepe usado pelo atleta que representa imagem serve como fonte histórica que ajuda a conhecer os
a Grã-Bretanha, típico dos oficiais da marinha daquele país; principais envolvidos na Grande Guerra, tema deste capítulo.
cores das meias dos atletas, as vermelhas representando a
90

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 90 26/08/2022 17:56


ENCAMINHAMENTO
• Destacar as rivalidades impe-
rialistas como principal motor
Rivalidades imperialistas da Primeira Guerra Mundial.
• Comparar o sistema de alian-
ças defensivas, formulado
A corrida imperialista por territórios e mercados durante todo o
por Bismark, à política da ex-
século XIX gerou violentas rivalidades entre as potências europeias,
pois cada país, como a Grã-Bretanha, a Alemanha e a França,
# DICA! pansão pela força, adotada
Documentário
pelo Kaiser Guilherme II.
buscava conservar ou ampliar seu império colonial. Essas riva-
sobre a Primeira • Chamar a atenção para o re-
lidades entre os países imperialistas são uma das principais razões Guerra Mundial. vanchismo francês, bem como
da Primeira Grande Guerra (1914-1918), um conflito mundial e total A DISPUTA entre para a disputa por hegemonia
primos que
(uma vez que incluía também alvos civis, e não apenas militares). marítimo-comercial entre a
desencadeou a
Após sua unificação, em 1871, a Alemanha de Otto von Primeira Guerra Grã-Bretanha e a França.
Bismarck progrediu a passos largos. Na política externa, Bismarck Mundial. 2021. • Partir da imagem para es-
Vídeo (6min38s).
adotava o sistema de alianças defensivas, que consistia em con- Publicado pelo timular a reflexão sobre o
seguir aliados fortes a fim de evitar o isolamento da Alemanha canal BBC News papel da propaganda, dessa
Brasil. Disponível vez, enaltecendo a Tríplice
em caso de guerra. Por isso, a Alemanha aliou-se ao Império em: https://youtu.
Austro-Húngaro e, depois, à Itália, dando origem, assim, à Tríplice be/Mq2KBUr2SPE. Entente. Pedir aos estudan-
Aliança (1882). Acesso em: tes que expliquem de que
25 mar. 2022. forma os elementos se arti-
Em 1890, porém, o kaiser Guilherme II demitiu Bismarck e
culam para sustentar o dis-
adotou uma nova política externa: a política de “expansão
“ à
curso de superioridade. Para
força”.”. Seu objetivo era pressionar a Grã-Bretanha a lhe ceder estimular a participação de
uma “fatia” maior da África e da Ásia e vencer o país na disputa alunos que, eventualmente,
pela liderança marítimo-comercial. apresentem mais dificulda-
A Grã-Bretanha, por sua vez, GRANGER/FOTOARENA
de em se expressarem, faça
possuía o maior império colonial perguntas direcionadas,
na época e não estava disposta a como: que expressão é pos-
dividi-lo. Já a França queria uma sível perceber no rosto do
revanche contra a Alemanha para imperador?
recuperar a região da Alsácia-
-Lorena, perdida na Guerra Franco-
-Prussiana (1870-1871). Em vista
disso, a Grã-Bretanha, a França
e, depois, a Rússia formaram a
Tríplice Entente.
Entente.

Essa charge inglesa é intitulada Dedos do


destino e engrandece a força da Tríplice
Entente. Em cada dedo, lê-se o nome de um
dos países da Tríplice Entente e, na manga,
está escrito “a grande ofensiva”. Já o inimigo,
que está sendo esmagado, é o imperador
Guilherme II da Alemanha, a principal
adversária deles. Frank Holland, 1916. ta nem mesmo provável. Assim,
o chanceler alemão Bismarck,
que foi o campeão do jogo de
91 xadrez diplomático multilateral
por quase trinta anos após 1871,
dedicou-se com exclusividade e
sucesso à manutenção da paz
16:41 TEXTO DE APOIO
088a108-HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 91 Gradualmente a Europa foi se dividindo24/08/22
em dois
08:53
entre nações. Um sistema de
blocos opostos de grandes nações. Tais blocos,
fora de uma guerra, eram novos em si mesmos blocos de nações só se tornou
Primeira Guerra Mundial: por quê?
e derivavam, essencialmente, do surgimento do um perigo para a paz quando
Nenhuma das grandes nações teria dado o as alianças opostas se consoli-
cenário europeu de um Império Alemão unifi-
golpe de misericórdia na paz, nem mesmo em daram como permanentes, mas
cado, constituído entre 1864 e 1871 por meio da
1914, se não estivesse convencida de que seus especialmente quando as dispu-
diplomacia e da guerra, à custa dos outros [...] e
ferimentos já eram mortais. Portanto, desco- tas entre eles se transformaram
brir as origens da Primeira Guerra Mundial não procurava se proteger contra seu principal per-
em confrontos inadministráveis.
equivale a descobrir “o agressor”. Ele repousa dedor, a França, através de alianças em tempos
Isto aconteceria no novo século.
na natureza de uma situação internacional em de paz, que geraram contra-alianças.
A pergunta crucial é: por quê?
processo de deterioração progressiva, que esca- As alianças, em si, embora implicassem a pos- HOBSBAWM, Eric J. A era dos impérios.
pava cada vez mais ao controle dos governos. sibilidade da guerra, não a tornavam nem cer- Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. p. 431.
91

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 91 26/08/2022 17:56


ENCAMINHAMENTO
• Familiarizar o estudante
com o mapa dos blocos ri-
vais às vésperas da Primeira Assim, com o objetivo de unir forças e isolar rivais, as nações
Guerra Mundial. europeias fizeram vários acordos e alianças entre si, de tal modo
• Chamar a atenção para a mu- que, em 1907, a Europa estava dividida em dois blocos militares
dança de lado realizada pela antagônicos: Tríplice Aliança (Alemanha, Itália e Império Austro-
Itália. Pode ser interessante -Húngaro) x Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia).
retomar a charge da página
de abertura do capítulo 4, na
qual o representante da Itá- Europa: blocos rivais da Primeira Guerra

SELMA CAPARROZ
lia faz o papel de juiz. GRÃ-BRETANHA

Mar do
Mar Báltico
Norte
• Trabalhar os conceitos de na-
ção eslava e de pan-eslavismo.
• Aprofundar o assunto aces- RÚSSIA
ALEMANHA
sando o site: 100 ANOS Pri- Observe que, no decorrer

wich
meira Guerra Mundial. Es- da guerra, a Itália mudou OCEANO

reen
de lado e, em 1915, ATLÂNTICO
tadão, 2014. Disponível em:

de G
aliou-se à Tríplice FRANÇA IMPÉRIO
https://infograficos.estadao. AUSTRO-HÚNGARO

diano
Entente. Esperava com
com.br/especiais/100-anos-

Meri
isso obter parte das
primeira-guerra-mundial/.

Mar Negro
colônias alemãs na África

M
Acesso em: 15 jun. 2022. que a Grã-Bretanha ITÁLIA

ar
40°
N

Ad
lhe havia prometido. Córsega

riá
tic
o
Mar
Sardenha
Tirreno

+ATIVIDADES Mar Mediterrâneo


Potências centrais (1882)
Tríplice Entente (1907)
Maio de 1915 – Itália entra
Sicília
Interdisciplinaridade: as lei- 0 270 na guerra, mas ao lado da
Tríplice Entente

turas de mapas que envolvem Fonte: BARRACLOUGH, Geoffrey. Atlas da história do mundo.
as transformações na Europa São Paulo: Folha de S.Paulo: Times Book, 1995. p. 248.
durante o século XX podem ser
desenvolvidas junto ao profes-
sor de Geografia. Se possível, A luta dos sérvios pela “Grande Sérvia”
levar para a sala de aula um Nação eslava: nação
habitada por povos A Sérvia era uma nação eslava independente que lutava para
mapa atual do continente eu-
pertencentes ao grupo libertar os territórios habitados por eslavos na região dos Bálcãs, a
ropeu, para que os alunos pos- linguístico eslavo, tais
sam analisar as mudanças nos como os servo-croatas,
fim de formar a “Grande Sérvia”. Ocorre que uma parte dos eslavos
limites territoriais, assim como os russos, os poloneses, estava sob o domínio do Império Austro-Húngaro, e a outra sob o
o surgimento de novos países. os tchecos, os eslovacos, controle do Império Turco. Para enfrentar austríacos e turcos, a Sérvia
os búlgaros e os
Organizar a turma em peque- ucranianos. buscou a ajuda da Rússia, que na época defendia o pan-eslavismo
nos grupos para a comparação Pan-eslavismo: e ambicionava expandir suas fronteiras.
dos mapas e, em seguida, pedir movimento contrário à Além das rivalidades imperialistas e da política de alianças,
que cada um deles indique uma penetração das ideias
outro fator que contribuiu para o início da guerra foi a ascensão
ocidentais e defensor da
mudança que perceberam. Ex- do Japão e dos Estados Unidos como potências regionais com
originalidade da história
plicar que, durante o desenvol- e dos valores culturais pretensões expansionistas; somava-se a tudo isso, ainda, a corrida
vimento da unidade 2, eles te- eslavos.
armamentista, também conhecida como “paz armada”.
rão oportunidade de acompa-
nhar os processos que levaram
a algumas transformações nas
92
fronteiras.
-Bretanha tinha feito acordos para a redução de aliança entre seus vizinhos a leste e a oeste, a
TEXTO DE APOIO AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 92
conflitos. A Grã-Bretanha e a França, mesmo que França e a Rússia. Como contrapeso, voltou-se
30/06/22 16:41 AV_

não aliadas por meio de um tratado, tinham as- para seu vizinho ao sul, a Áustria-Hungria, um
Prelúdio da Guerra sinado a Entente Cordiale, em 1904, para resolver parceiro em dificuldade, por mais complicado
Os sistemas de alianças eu- suas disputas no Egito e no Marrocos e faziam que fosse ou dividido estivesse. A Alemanha
ropeus refletiam os receios de consultas mútuas sobre assuntos militares des- também tinha atraído a Itália para a sua órbita,
todos os estados. As duas po- de 1906. Esses acordos e hábitos criaram o que em 1882, criando a Tríplice Aliança.
tências centrais, a Alemanha e passou a ser conhecido como Tríplice Entente, GILBERT, Martin. A Primeira Guerra Mundial:
a Áustria-Hungria, estavam liga- formada por Grã-Bretanha, França e Rússia, que os 1.590 dias que transformaram o mundo. Rio de Janeiro:
das por laços tanto sentimentais deu às potências centrais a sensação de estarem Casa da Palavra, 2017. p. 25, 27.
como formais. O mesmo acon- cercadas. [...]
tecia, desde 1892, com a França A Alemanha, tão forte industrialmente e tão
e a Rússia, com as quais a Grã- confiante militarmente, desconfiava da estreita
92

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 92 26/08/2022 17:56


TEXTO DE APOIO
“Social-patriotas” e
socialistas autênticos
A paz armada Habitualmente, quando se fala
daquele dramático momento da
história europeia que é o verão de
Desde a vitória dos alemães contra os franceses, em 1871, até o Corrida armamentista: 1914, a atenção concentra-se ine-
processo pelo qual vitavelmente nas decisões dos go-
início da guerra, em 1914, a Europa conheceu um período de paz.
os países investem vernos, dos chefes, dos soberanos,
Mas era uma “paz armada”. As potências europeias lançaram-se considerável parte de
nas tratativas secretas, nas trata-
numa corrida armamentista.
armamentista. A maioria das nações europeias seus recursos na área
tivas não secretas, nos atentados,
militar, objetivando a
adotou o serviço militar obrigatório e passou a fabricar armamentos preparação para a guerra
nas reações. Depois, porém, há
uma realidade, justamente, mais
e munições em quantidades cada vez maiores. e a intimidação das
nações rivais. humana, mais cotidiana e é aque-
la – embora manipulável – das pes-
Gavrilo Princip: patriota
soas comuns e das forças políticas
A gota-d'água sérvio que desejava
libertar seu país do que aquelas pessoas exprimem.
Como as principais potências estavam unidas por compromis- domínio austro-húngaro. As forças políticas, até agora, só
Frente Ocidental: frente
foram nomeadas de passagem [...];
sos de ajuda mútua (tratados de alianças) em caso de um conflito, a esta altura, entretanto, por uma
na qual os alemães
um simples incidente poderia detonar uma guerra de graves pro- combatiam os franceses, razão bem precisa, iremos enfren-
porções. O incidente aconteceu em 28 de junho de 1914: o estudante os ingleses e os belgas; tar sobretudo o comportamento
já na Frente Oriental, de uma importante formação po-
Gavrilo Princip matou a tiros de revólver o arquiduque Francisco eles combatiam os lítica – os partidos socialistas da
Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, e foi imediatamente russos. Europa. Eles foram colocados pela
preso. O Império Austro-Húngaro responsabilizou o governo sérvio [primeira] guerra diante de uma
dramática alternativa: aderir ao
pelo atentado e, um mês depois, declarou guerra à Sérvia. A partir conflito, apoiá-lo e, com isso, de-
daí, houve uma reação em cadeia; em apenas sete dias, as prin- terminar uma situação paradoxal
cipais potências tinham se engajado na guerra. Tinha início, assim, do ponto de vista da ideologia e
da prática do movimento socialis-
a Grande Guerra, chamada depois de Primeira Guerra Mundial. ta – unido em uma Internacional,
justamente, socialista – e, conse-
quentemente, alinhar nos cam-
As fases da guerra pos de batalha, nas trincheiras
BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL

contrapostas, operários italianos


Os anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) podem contra operários austríacos, ope-
ser divididos em três fases. rários franceses contra operários
alemães: exatamente o contrário
da Internacional, exatamente o
1a) A Guerra de Movimento contrário do ensinamento do so-
A primeira fase durou de agosto a novembro de cialismo europeu; ou então boi-
cotar, ou seja, recusar a guerra,
1914 e foi marcada por um intenso movimento de tropas.
combater contra os governos que
Inicialmente, os alemães marcharam contra a Bélgica e, haviam optado pela guerra e, por-
apesar da resistência belga, chegaram às vizinhanças de tanto, colocar-se para fora daquele
coro que louvava a “união sagra-
Paris, na França. Os franceses, porém, com a ajuda dos
da”, numa posição com certeza
ingleses, conseguiram contra-atacar e deter o avanço difícil, com o propósito de impedir
alemão na Batalha do Marne.. Como nenhum dos lados o conflito.
Assassinato do arquiduque
conseguiu vitórias decisivas nessa batalha, a guerra na Esse foi o dilema diante do qual,
Francisco Ferdinando,
basicamente, os socialistas se en-
Frente Ocidental estacionou. de Clive Uptton, século XX.
contraram. Mesmo outras forças
políticas, entre as quais o centro
93 católico, por exemplo, tinham
problemas análogos [...].
CANFORA, Luciano. 1914. São Paulo:
Edusp, 2014. p. 141-142.
16:41 ENCAMINHAMENTO
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 93 30/06/22 16:41

• Trabalhar o conceito de paz armada. +ATIVIDADES


• Comentar que o assassinato de Francisco Ferdinando poderia Roda de conversa. Questionar os alunos sobre o papel da Or-
ser uma questão local, entretanto, as alianças formadas fo- ganização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nas tensões
ram importantes na maneira como os eventos aconteceram. que culminaram na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, em 2022.
• Refletir com os estudantes sobre a diferença entre “princi- Permitir que teçam suas impressões e tragam os conhecimen-
pais motivos” e “motivo imediato”. tos que possuem sobre o evento para discutirem em sala de
• Lembrar os estudantes de que, em História, a explicação aula, e estabelecer aproximações aos mecanismos observados
oferecida para um fato ou episódio é sempre multifatorial. na Primeira Guerra, que parecem distantes historicamente,
mas podem ser percebidos na atualidade.
93

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 93 26/08/2022 17:56


ENCAMINHAMENTO
• Levar em conta que o tema
da Primeira Guerra Mundial
foi amplamente retratado 2a) A Guerra de Trincheiras
em filmes, livros e, mais re- Com a estabilização das forças em luta,
centemente, em podcasts. O iniciou-se uma nova fase da guerra: a Guerra
assunto, portanto, pode fa- de Trincheiras.. Os exércitos da Inglaterra e
zer parte do repertório dos da França de um lado, e o da Alemanha de
alunos, ainda que em am- outro lado, cavaram 640  km de trincheiras,
biente não formal de apren- que se estendiam desde o Mar do Norte até
dizagem. a fronteira da França com a Suíça. E, com o
• Propor que os alunos com- corpo enfiado na terra, os soldados lutavam
partilhem breves relatos dia e noite.
sobre os conteúdos que já
consumiram sobre a Primei-
ra Guerra Mundial. Incen-
tivá-los a refletir sobre qual
ponto de vista o autor da
obra assumiu ao tratar so-
bre a guerra. Esse momento
permite que os estudantes
possam interagir com o con-
teúdo apresentado.
• Organizar pequenos grupos
com alunos que tenham assis-
tido ao mesmo filme ou lido o
mesmo livro, para que deba-
tam sobre as diferentes com-
preensões que possam ter
construído por meio da obra.
Professor, é apresentado aos
estudantes um infográfico so-
bre a Guerra de Trincheiras, a
fim de facilitar a visualização
do que pode ter sido esta fase
da guerra para os soldados
que dela participaram. Este
infográfico pode estimular
nos estudantes sentimentos
de empatia em relação àque-
les que viveram e guerrearam
nas condições retratadas. Ao
usar a linguagem visual para
MANZI

ajudar a formar uma ideia so-


bre uma fase da guerra, espe-
ramos estar contribuindo para 94
o desenvolvimento da compe-
tência geral 4.
TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 94 28/06/22 13:24 D3_

A grande ilusão
A guerra? No fundo, os contemporâneos não sabiam o que era. Havia mais de quarenta anos de paz
armada entre as grandes potências, ninguém imaginava a violência de um conflito na era industrial.
Uma grande ilusão preside assim a mobilização: de todos os lados acredita-se numa guerra curta,
dura e brutal, sem dúvida, mas que não deveria passar de três a seis meses. Além desse prazo, todos
os especialistas, civis e militares, concordam em considerar que significaria a ruína total dos belige-
rantes, perspectiva apocalíptica julgada inconcebível. Haverá, então, uma ou duas grandes batalhas,
formidáveis choques frontais que decidirão o resultado do conflito. Parte-se simplesmente do mode-
lo da guerra heroica do século XIX, os generais sonhando com as furiosas cargas de cavalaria com o
sabre desembainhado, e soldados da infantaria armados com baionetas. [...]
94

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 94 26/08/2022 17:56


+ATIVIDADES
Interdisciplinaridade: junto
ao professor de Língua Portu-
guesa, é possível organizar um
projeto de leitura e análise da
obra literária Cavalo de Guer-
ra, de Michael Morpurgo. O
livro conta a história da ami-
zade entre Joey, um cavalo
que foi vendido para a cavala-
ria inglesa durante a Primeira
Guerra Mundial, e seu dono, o
adolescente Albert, que tenta
recuperar o amigo.
Caso a leitura completa não
seja viável, é possível separar
previamente trechos a serem
analisados pela turma. Nes-
se caso, organizar pequenos
grupos, buscando reunir alu-
nos com diferentes perfis de
conhecimentos e habilidades,
incentivando a cooperação
entre eles e possibilitando a
maior participação de todos.
A atividade permite esti-
mular a prática de leitura e,
paralelamente, a análise do
livro do ponto de vista docu-
mental. Para ampliação da
proposta, exibir a adaptação
cinematográfica, lançada em
2011 e dirigida por Steven
Spielberg, para que os grupos
possam comparar as passa-
gens retratadas em ambas as
obras. O trabalho com o livro
e o filme, mesmo que ocorra
separadamente, pode promo-
ver importantes momentos
para o desenvolvimento de
habilidades socioemocionais
nos alunos, principalmente li-
gadas à empatia.
Fonte: O’CONNELL, Robert L. História da guerra: armas e homens. Lisboa: Teorema, 1989.

95

13:24 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 95 28/06/22 13:24

(CONTINUAÇÃO)
Acreditando que a guerra é vencida pelas pernas dos soldados, os estrategistas franceses, que
continuavam a se maravilhar com a narrativa das campanhas napoleônicas, têm simplesmente
um século de atraso. Entretanto, as guerras da Crimeia, de Secessão e de 1870-1871 já anunciavam
essa nova era industrial de guerra baseada na técnica, aliada à rapidez crescente dos deslocamen-
tos. Os estrategistas franceses [...] vão logo descobrir a potência do fogo, a da artilharia em geral e
a da artilharia pesada em particular, capaz de imobilizar um exército muitos quilômetros antes de
chegar ao campo de batalha. Toda a coragem do mundo é inoperante contra o fogo industrial. [...]
LE NAOUR, Jean-Yves. A Primeira Guerra Mundial: o batismo do século (1914-1918). In: HECHT, Emmanuel; SERVENT, Pierre (org.).
O século de sangue: 1914-2014: as vinte guerras que mudaram o mundo. São Paulo: Contexto, 2016. p. 11.
95

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 95 31/08/22 09:49


ENCAMINHAMENTO
• Alertar para o fato de que, a
partir de 1915, com a aliança
A entrada dos EUA e a saída da Rússia

WORLD HISTORY/ALAMY/FOTOARENA
da Itália à Tríplice Entente e
com a entrada na guerra de
Em 1915, a Itália rompeu com a Alemanha e aliou-se à Tríplice
vários países, entre os quais
Entente. E, enquanto milhares de jovens morriam nas trincheiras,
os Estados Unidos, a guerra
tornou-se mundial. outros países entravam na guerra: Itália, Romênia e Grécia, ao lado
da Grã-Bretanha; Bulgária e Império Turco-Otomano, ao lado da
• Promover a leitura do cartaz
Alemanha. No início de 1917, a Alemanha decidiu adotar a guerra
como uma oportunidade
para que os alunos perce- submarina, passando a bombardear qualquer navio encontrado em
bam de que modo as propa- águas inimigas. O afundamento do navio estadunidense Lusitânia,
gandas apelavam à partici- pelos alemães, foi um dos motivos da entrada dos Estados Unidos
pação e apoio da população. na guerra naquele mesmo ano.
• Questionar os alunos sobre Seguindo os Estados Unidos, outros países americanos, inclusive
que tipo de efeito a compa- o Brasil (que também teve o navio Paraná afundado pelos alemães),
Fac-símile de cartaz
ração com a heroína france- engajaram-se no conflito ao lado da Tríplice Entente.
estadunidense, no
sa poderia ter nas mulheres qual Joana d’Arc é Enquanto isso, triunfava na Rússia a Revolução Socialista (1917),
a quem a propaganda se des- representada com liderada por Vladimir Lênin. Argumentando que a Primeira Guerra
tinava. uma espada erguida era um conflito imperialista e que a Rússia se encontrava esgotada,
na mão direita.
Ilustração de Haskell o líder russo assinou com a Alemanha um tratado de paz em sepa-
Coffin, 1918. rado. E, assim, a Rússia saiu da guerra.

Dialogando
Observe o cartaz e responda:
a Você sabe quem foi Joana d’Arc? a) Joana d’Arc foi uma heroína francesa.
b Você consegue traduzir o que está escrito no cartaz? Se necessário, recorra a um dicionário de
inglês-português. b) Joana d'Arc salvou a França. Mulheres da América, salvem seu país. Comprem
selos para sustentar a guerra.
c Por que o cartaz diz que Joana d’Arc salvou a França?
c) Joana d’Arc liderou os exércitos franceses na luta para libertar a França do domínio inglês.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

O texto a seguir é de um especialista na participação do Brasil na Grande Guerra,


chamada depois de Primeira Guerra Mundial. Leia-o com atenção.

O Brasil na Guerra
Em 1914, os Estados Unidos já eram a maior potência econômica mundial e maior
parceiro comercial do Brasil, permanecendo os britânicos como grandes investidores
em estradas de ferro, usinas elétricas e indústria manufatureira. [...]
[...]
O café respondia por mais de 60% de nossas exportações, seguido de longe por
minerais e produtos diversos. [...]

96

TEXTO DE APOIO 088a108-HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 96 uma série de episódios do tipo culminou na “trégua de Natal” de 24 24/08/22 08:56 D3_

e 25 de dezembro de 1914, em Flandres, envolvendo aproximada-


A trégua de Natal, dezembro de 1914 mente dois terços da linha mantida Força Expedicionária Britânica,
Paradoxalmente, em meio ao derramamento de sangue sem pre- trincheiras em seu flanco norte mantidas pelo 8o Exército francês, e
cedentes de uma guerra cada vez mais cruel, toda vez que as linhas os alemães do 4o o e 6o Exércitos defronte [...]. O espetáculo de fra-
se estabilizavam, soldados comuns logo adotavam com relação aos ternização entre os inimigos perturbou tanto os oficiais comandan-
seus oponentes algumas demonstrações informais de cortesia do tes de ambos os lados que, nos anos seguintes, os bombardeios de
tipo “viva e deixe viver”. Durante uma pausa na luta, homens ente- artilharia foram intensificados na véspera de Natal a fim de evitar a
diados começavam a conversar aos berros ou a participar de compe- repetição da trégua. Uma fraternização em tal escala só seria vista
tições de cantoria com seus inimigos do outro lado da “terra de nin- novamente em 1917, à esteira da Revolução Russa.
guém”, em alguns casos se aventurando até as trincheiras alheias SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial.
para fraternizar ou permutar álcool e tabaco. Na frente ocidental São Paulo: Contexto, 2014. p. 116-117.
96

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 96 31/08/22 09:46


ENCAMINHAMENTO
a) O Brasil entrou na Primeira Guerra por duas razões principais:
1) o torpedeamento de um navio mercante brasileiro pela Marinha de guerra alemã; • Chamar a atenção dos estu-
2) o alinhamento com os Estados Unidos, que, por terem tido um navio torpedeado pelos alemães, romperam dantes para as razões do ali-
relações diplomáticas com a Alemanha.
nhamento do Brasil aos Esta-

ANN RONAN PICTURE LIBRARY/PHOTO12/AFP


Em 3 de abril de 1917, um navio mercante americano é
dos Unidos.
torpedeado e os Estados Unidos rompem relações diplomáticas
• Refletir com os estudantes so-
com a Alemanha. Nesse mesmo dia, outro navio mercante,
bre a participação do Brasil na
este brasileiro, é torpedeado no canal da Mancha. Uma
Primeira Guerra, fato impor-
semana depois, o presidente Wenceslau Braz rompeu relações tante, mas pouco estudado.
com a Alemanha, em solidariedade aos Estados Unidos [...].
Para refletir. c) O debate
A 26 de outubro de 1917, [...] o presidente sanciona resolução
proposto na atividade privi-
proclamando a existência de um estado de guerra entre o Brasil legia a participação ativa dos
e o Império Alemão. [...] alunos. O assunto dialoga di-
A participação brasileira na guerra [...] estendeu-se além da retamente com as possibilida-
facilitação do uso de nossos portos por embarcações aliadas e a des de projeto de vida, sobre-
cessão à França de 30 navios alemães apreendidos. A 7 de maio tudo dos meninos, que obri-
de 1918, zarpou para Gibraltar, onde se reuniria à esquadra gatoriamente precisam passar
britânica, para participar da guerra anti-submarina, a Divisão Fac-símile de cartaz pelo alistamento militar ao
mostrando duas
Naval de Operações de Guerra, composta de dois cruzadores enfermeiras da
completarem 18 anos. Desse
e cinco contratorpedeiros, um navio auxiliar e um rebocador, Cruz Vermelha: uma modo, é possível que, durante
sob o comando do contra-almirante Pedro Max Fernando de delas, uma figura de o debate, se destaquem dife-
Frontin. A Divisão só chegou a Gibraltar em novembro de 1918,
Madonna, embala rentes posições, a depender,
em seus braços um
retida que foi na costa africana pela terrível pandemia que foi entre outros, dos perfis dos
soldado ferido em
a gripe espanhola. uma maca, entre as alunos. É interessante apro-
bandeiras do Brasil e veitar a oportunidade para
Aviadores brasileiros combateram ao lado dos pilotos
dos Estados Unidos. discutir a construção dos pa-
britânicos e franceses. Oficiais do Exército serviram na Frente c. 1915. péis de gênero na sociedade;
Ocidental, em unidades do Exército Francês. [...] Oitenta e seis
enquanto para as mulheres o
médicos, incluindo dezessete professores de Medicina [...] inte- serviço prestado à sociedade
graram a Missão Médica que partiu do Brasil a 18 de agosto se traduz na esfera dos cui-
de 1918 e até o fim da guerra trabalhou no hospital Franco- Cruzador: navio de
guerra de grande porte. dados, de forma geral, e que
-Brasileiro, mantido pelos brasileiros residentes em Paris. pode ser associado à figura da
[...] Madonna no cartaz apresen-
[...] Antes mesmo de terminar, a Grande Guerra influenciou o Brasil no campo tado, para os homens o serviço
militar. O poeta, escritor e jornalista Olavo Bilac despertou o sentimento cívico e militar reforça estereótipos de
patriótico nacional, liderando a campanha que resultou na instituição do serviço força. Incentivar as meninas
militar obrigatório. que tenham como parte de
ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. In: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. 3. ed. São Paulo:
suas ambições de projeto de
Contexto, 2006. p. 341-343. vida se alistar; assim como me-
a) Explique em poucas linhas as razões da entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial. ninos que não queiram rea­-
b) Com base no texto, o que se pode dizer sobre a participação do Brasil na Primeira Guerra? lizar o alistamento, tenham
c) Em dupla. No contexto do final da guerra, o poeta Olavo Bilac liderou uma campanha vitoriosa espaço para se expressar no
que resultou na instituição do serviço militar brasileiro. Debatam, reflitam e opinem: vocês são debate.
favoráveis ou contrários à obrigatoriedade de o jovem servir o Exército? Justifiquem.
b) Pode-se dizer que, apesar de modesta, a participação do Brasil foi variada: envio de aviadores, médicos e
oficiais do Exército para auxiliar as forças anglo-francesas. Imagens em movimento
c) Resposta pessoal. 97 Vídeo sobre a participação
do Brasil na Primeira Guerra
Mundial.
08:56 D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 97 28/06/22 13:24
• ARQUIVOS: O Brasil na Pri­
meira Guerra Mundial. 2014.
Vídeo (8min26s). Publicado
pelo canal Senado Fede-
ral. Disponível em: https://
www12.senado.leg.br/
noticias/videos/2014/08/o-
brasil-na-primeira-guerra-
mundial. Acesso em: 28 ago.
2022.
97

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 97 31/08/22 09:47


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto por
meio dos textos: CORREIA,
Sílvia Adriana Barbosa. Cem 3a) Uma nova Guerra de Movimento
anos de historiografia da Pri- No início de 1918, depois de selar a paz com os russos, os alemães se deslocaram para
meira Guerra Mundial: entre a Frente Ocidental e lançaram uma forte ofensiva apoiada pela aviação e pela artilharia
história transnacional e polí- pesada.
tica nacional. Ensaio historio- Recomeçava a Guerra de Movimento. Mas os países da Entente conseguiram reagir e,
gráfico, Rio de Janeiro, v. 15, valendo-se de aviões e tanques mais eficientes, venceram as forças alemãs na Segunda
n. 29, jul.-dez. 2014; STANCIK, Batalha do Marne.. O passo seguinte seria invadir o território alemão.
Marco Antonio. Entre flores Nesse meio-tempo, no entanto, uma rebelião popular sacudiu a Alemanha, forçando
e canhões na Grande Guerra
o imperador Guilherme II a renunciar. Em novembro de 1918, o novo governo proclamou
(1914-1918): o final da Belle
a República e assinou a rendição, que, finalmente, pôs fim à guerra.
Époque e o começo do “bre-
ve século XX” em um álbum COURTESY EVERETT COLLECTION/FOTOARENA

de retratos fotográficos. Re-


vista Brasileira de História,
São Paulo, v. 29, n. 58, dez.
2009.

TEXTO DE APOIO
O acordo de paz imposto pelas
grandes potências vitoriosas so-
breviventes (EUA, Grã-Bretanha,
França, Itália) e em geral, embo-
ra imprecisamente, conhecido
como Tratado de Versalhes, era
dominado por cinco conside-
rações. A mais imediata era o
colapso de tantos regimes na
Europa e o surgimento na Rús-
sia de um regime bolchevique
revolucionário [...]. Segundo, ha-
via a necessidade de controlar
a Alemanha, que afinal quase
Pessoas de diferentes países celebram o armistício que pôs fim às operações militares entre os dois blocos,
tinha derrotado sozinha toda a 11 de novembro de 1918.
coalizão aliada. [...] Terceiro, o
mapa da Europa tinha de ser re-
dividido e retraçado, tanto para
enfraquecer a Alemanha quanto O saldo trágico da Primeira Guerra
para preencher os grandes espa-
ços vazios deixados na Europa Ao final da Primeira Guerra, ficou provado que o uso de aviação militar, canhões,
e no Oriente Médio pela derrota tanques e gases venenosos tinha contribuído para um aumento extraordinário da capa-
e colapso simultâneos dos im-
périos russo, habsburgo e oto-
cidade de matar e destruir; o conflito deixou cerca de 9 milhões e 200 mil mortos,
mano. [...] O remapeamento do 20 milhões de mutilados e dezenas de milhares de órfãos e refugiados.
Oriente Médio se deu ao longo
de linhas imperialistas — divisão 98
entre Grã-Bretanha e França —
com exceção da Palestina, onde
o governo britânico, ansioso por
O quarto conjunto de 98considerações eram as políticas internas dentro dos países vitoriosos – o
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 28/06/22 13:24 088
apoio internacional judeu duran-
que significava, na prática, Grã-Bretanha, França e EUA – e os atritos entre eles. A consequência
te a guerra, tinha, de maneira in-
mais importante dessa politicagem interna foi que o Congresso americano se recusou a ratificar
cauta e ambígua, prometido es-
um acordo de paz escrito em grande parte por ou para seu presidente, e os EUA por conseguinte se
tabelecer “um lar nacional” para
retiraram dele, com resultados de longo alcance.
os judeus [...].
Por fim, as potências vitoriosas buscaram desesperadamente o tipo de acordo de paz que tor-
nasse impossível outra guerra como a que acabara de devastar o mundo e cujos efeitos retardados
estavam em toda parte. Fracassaram da forma mais espetacular. Vinte anos depois, o mundo esta-
va de novo em guerra.
HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 38-40.

98

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 98 31/08/22 09:48


ENCAMINHAMENTO
• Debater com os estudantes
sobre as imposições do Trata-
A paz dos vencedores do de Versalhes e a reação da
Alemanha a esse tratado.
Próximo ao fim da guerra, o então presidente estadunidense Woodrow Wilson propôs
• Utilizar a charge desta pá-
um acordo de paz. Esse acordo, conhecido como os “14 pontos” de Wilson, defendia
gina para construir conheci-
“uma paz sem vencedores” e o direito de cada povo escolher o próprio destino.
mento a respeito do chama-
Mas esse acordo não foi aprovado. O que acabou vigorando foi a paz imposta pelos
do “Ditado de Versalhes”.
vencedores por meio de vários tratados, entre os quais o Tratado de Versalhes (1919),
• Considerar a sala de aula
que obrigava a Alemanha a devolver a região da Alsácia-Lorena para a França; ceder
como uma comunidade de
aos vencedores todos os seus direitos sobre as colônias ultramarinas; entregar à França a
escuta, e escutar com aten-
propriedade e o direito total de exploração das minas de carvão situadas na bacia do rio ção as falas sobre o Tratado
Sarre; pagar a seus adversários uma indenização de guerra bilionária: cerca de 33 bilhões de Versalhes, que é conside-
de dólares. rado um dos fatores da Se-
Por esse tratado, ainda, a Alemanha foi proibida de ter aviação militar, canhões gunda Guerra Mundial.
pesados e submarinos e teve de entregar aos vencedores parte de seus navios mercantes;
seu exército poderia ter no máximo 100 mil homens.
BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL

Dialogando
a De quem é a mão
que esmaga o
homem?
b Quem ou o que a
pessoa esmagada
representa?
c E o maço de
papel que força
as costas do
agricultor para
baixo, o que é?
a) É a mão dos vencedores da
Primeira Guerra.
b) Ela representa a Alemanha.
c) São as páginas do Tratado
de Versalhes.

Desenho colorido de
Schilling, 1931.

99

13:24 088a108-HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 99 24/08/22 08:57

99

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 99 26/08/2022 17:56


ENCAMINHAMENTO
• Discutir o papel da Liga das Na-
ções, sugerida por Woodrow
Wilson, e seu papel de árbitro Participando ao lado dos
Europa: antes da Primeira Guerra Mundial (1914)
dos conflitos internacionais. vencedores, o Japão conquis-

SELMA CAPARROZ
NORUEGA

• Estabelecer um paralelo en-


SUÉCIA
tou várias colônias alemãs na

wich
reen
Mar do

co
tre o papel desempenhado Norte
Ásia e consolidou-se como po-

álti
de G
REINO UNIDO

B
DINAMARCA

ar
M
pela Liga das Nações e o da tência regional. Os vencedores

o
dian
PAÍSES IMPÉRIO
Organização das Nações Uni-

Meri
BAIXOS RUSSO
IMPÉRIO
ALEMÃO
também impuseram acordos de
das (ONU) no mundo atual, OCEANO
ATLÂNTICO
BÉLGICA
paz aos aliados da Alemanha e,
com atenção às diferenças e FRANÇA
SUÍÇA
IMPÉRIO
por meio desses acordos, rede-
AUSTRO-HÚNGARO
semelhanças. 40°
N senharam o mapa da Europa,

M ar
ROMÊNIA Mar Negro
• Interdisciplinaridade: a leitu- PORTUGAL ITÁLIA riá
BÓSNIA

Ad
ESPANHA
Córsega
t ic o SÉRVIA
MONTENEGRO BULGÁRIA
originando novos Estados, como
ra dos mapas sobre a divisão Mar
Baleares
Sardenha
Tirreno
ALBÂNIA
a Tchecoslováquia, a Áustria, a
territorial após a Primeira Sicília
GRÉCIA IMPÉRIO
OTOMANO
M a
r Hungria e a Iugoslávia.
Guerra é uma importante M
e
d

oportunidade de abordagem
i t
e
r r
â n Creta
Chipre
Os Estados Unidos saíram
0 ÁFRICA e o
475 ÁSIA
interdisciplinar com o pro- da Primeira Guerra Mundial

fessor de Geografia. Junto Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. como uma das grandes po-
à compreensão dos alunos Paris: Larousse, 2001. p. 88. tências do mundo. Em 1919, por
acerca do surgimento de sugestão do presidente estadu-
novos países, orientar que nidense Woodrow Wilson, foi
reflitam sobre as possíveis Europa: depois da Primeira Guerra Mundial (1919) criada a Liga das Nações.. Com
consequências para os povos
SELMA CAPARROZ

NORUEGA FINLÂNDIA
sede na cidade de Genebra, na
que habitavam essas regiões, SUÉCIA
ESTÔNIA
Mar do
Suíça, essa organização deveria
tico
incentivando que lancem um Norte LETÔNIA

B ál
olhar crítico em relação às di-
IRLANDA
REINO
UNIDO
DINAMARCA M
ar LITUÂNIA servir como árbitro nos con-
visões, do ponto de vista étni-
PAÍSES
BAIXOS
ALEMANHA
UNIÃO flitos internacionais e garantir a
POLÔNIA SOVIÉTICA
BÉLGICA
co e cultural. Comentar tam- OCEANO paz mundial. No entanto, por
ATLÂNTICO LUXEMBURGO TCHECO
SLOVÁQ
bém que, embora a Prússia FRANÇA SUÍÇA ÁUSTRIA HUNGRIA
UIA
motivos diversos, os Estados
Oriental continuasse perten- 40°
N
ROMÊNIA Unidos, a Alemanha e a Rússia
cendo à Alemanha, ficou se- IUGOSLÁVIA Mar Negro
estiveram ausentes da Liga das
M

PORTUGAL
ar

ITÁLIA
ESPANHA BULGÁRIA
Ad

Córsega
parada do resto do país pelo
riá

Nações, que, com isso, mostrou-


wich

tic

Sardenha
Mar ALBÂNIA
o

Tirreno
Corredor Polonês, que dava à Baleares TURQUIA
Green

M a r Sicília
GRÉCIA -se bastante enfraquecida.
Polônia acesso ao mar. M
no de

e
d
i t Quando, em 1931, por exemplo,
e
r r
Meridia

Chipre
0 475 ÁFRICA â n e Creta
o ÁSIA o Japão invadiu a província

chinesa da Manchúria, a Liga
Imagens em movimento Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial.
Paris: Larousse, 2001. p. 90-91. não conseguiu impedi-lo.
Debate sobre a Primeira
Guerra Mundial entre os pro-
a) Sim, pois, como se pode ver no mapa de 1919, ocorreu o desmembramento de três grandes
fessores Felipe Loureiro, do Dialogando impérios existentes antes da Primeira Guerra: o Império Alemão; o Império Austro-Húngaro
Instituto de Relações Interna- e o Império Turco.
cionais da Universidade de São O historiador Eric Hobsbawm afirmou que o término da Primeira Guerra significou o fim da Era dos Impérios.
Paulo (USP), e João Roberto a Comparando os mapas desta página, é possível compreender o que ele disse?
Martins, professor associado
do Departamento de Ciências b Que países surgiram com o desmembramento do Império Austro-Húngaro ao final da Guerra?
b) Áustria, Hungria e Tchecoslováquia.
Sociais da Universidade Fede-
ral de São Carlos (UFSCar). 100
• HISTÓRIA: debate Primeira
Guerra Mundial – Parte 1.
2014. Vídeo (29min36s). Publi- TEXTO DE APOIO
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 100 30/06/22 16:42 088

cado pelo canal UNIVESP. Dis- O fim da Grande Guerra foi marcado pela derrota da Tríplice Aliança e, portanto, também a der-
ponível em: https://www.you- rota da Alemanha. As mudanças foram drásticas, dinastias seculares e impérios, como o Alemão,
tube.com/watch?v=lY43KS- o Austro-Húngaro e o Turco, foram varridos do mapa, dando lugar a novos países. Dessa maneira,
2sI_w.  Acesso em: 15 jun. 2022; o mapa-múndi foi redesenhado e a Europa perdeu a exclusividade dos assuntos geopolíticos in-
HISTÓRIA: debate Primeira ternacionais. Destarte, abriu-se uma época de grandes transformações, onde “mudar o mundo”
Guerra Mundial - Parte 2. 2014. havia deixado de ser apenas uma expressão retórica, e a prática revolucionária estava na ordem
Vídeo (30min6s). Disponível do dia [...].
em: https://www.youtube. SARTÓRIO, Sarah Gonçalves Patrocínio; COLOMBO, Arthur Osvaldo; FAVORATO, Diego Gonçalves. Reparações e Dívidas Aliadas no
Entreguerras: de Versalhes (1919) a Lausanne (1932). Economia Ensaios, Uberlândia, v. 36, n. 2, p. 220-239, jul./dez. 2021. p. 222.
com/watch?v=3RHI38xHOAs.
Acesso em: 15 jun. 2022.
100

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 100 31/08/22 09:50


ENCAMINHAMENTO
• Aproveitar as atividades des-
ta página para estimular a
cultura da paz na escola, tal
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
como proposto pela ONU.
Para refletir. a) Espera-se
Uma paz sem vencidos nem vencedores que os estudantes compreen-

THE BILLY IRELAND CARTOON LIBRARY & MUSEUM AT OHIO STATE UNIVERSITY
Leia o texto com atenção. dam que o sentido de “paz
sem vencidos nem vencedo-
14 pontos de Wilson res” está relacionado à ideia
1. Abolição da diplomacia secreta; de que nenhuma nação sairia
2. Liberdade dos mares; ganhando ou perdendo com o
3. Eliminação das barreiras econômicas entre
fim da guerra. Assim, não ha-
veria punição aos “vencidos”,
as nações;
como acabou acontecendo
4. Redução dos armamentos nacionais;
com a Alemanha.
5. Redefinição da política colonialista, levando c) Provavelmente, os pontos
em consideração o interesse dos povos 1, 4 e 5. Estimular o desenvol-
colonizados; vimento da capacidade ar-
6. Retirada dos exércitos de ocupação da gumentativa dos estudantes.
Rússia; Professor, refletir com a turma
7. Restauração da independência da Bélgica;
se os 14 pontos foram aceitos e
Presidente Woodrow Wilson anuncia quais as consequências do acor-
8. Restituição da Alsácia-Lorena à França; seu plano de 14 pontos. George M. do de paz proposto pelos países
9. Reformulação das fronteiras italianas; Adams, 1919.
vencedores para a posteridade.
10. Reconhecimento do direito ao desenvolvimento autônomo dos povos da
d) O fim da diplomacia secreta
Áustria-Hungria; que possibilitava a formação
11. Restauração da Romênia, da Sérvia e de Montenegro e direito de acesso ao mar de sistemas de alianças anta-
para a Sérvia; gônicos. A redução de arma-
12. Reconhecimento do direito ao desenvolvimento autônomo do povo da Turquia mentos nacionais evitaria a
e abertura permanente dos estreitos que ligam o Mar Negro ao Mediterrâneo; “paz armada” que precedeu
13. Independência da Polônia;
o conflito. A restituição da
Alsácia-Lorena à França pode-
14. Criação da Liga das Nações, ou Sociedade das Nações.
ria ter evitado o revanchismo
VOILLIARD, Odette et al. Documentos de História. In: FREITAS, Gustavo de.
900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, 1977. v. 3. p. 273.
francês, um dos motivos da
Primeira Guerra Mundial. O
a) Explique com suas palavras o sentido da frase “paz sem vencidos nem vencedores”.
direito à autonomia dos povos
b) O terceiro ponto dos 14 pontos de Wilson diz respeito a qual dos princípios citados a seguir? da Austro-Hungria conteria as
I. Intervencionismo II. Liberalismo III. Autonomismo IV. Fordismo manifestações do nacionalis-
c) Em dupla. Reflitam, debatam e tentem responder: o que provavelmente mais incomodou os ven- mo sérvio, que se desdobrou
cedores nos 14 pontos propostos por Wilson? Quais são as consequências disso para o mundo? em ações violentas, a exemplo
d) Que pontos propostos por Wilson poderiam ter evitado a Primeira Guerra Mundial, caso tivessem do assassinato do herdeiro do
sido adotados antes? Justifique. trono austro-húngaro, Fran-
e) Responda oralmente. Aponte dois ou três desses pontos que você considera mais importante cisco Ferdinando, estopim da
para construir “uma paz duradoura”. Justifique sua escolha. Primeira Guerra Mundial.
a) Resposta pessoal. d) Resposta pessoal. e) Espera-se que os estudantes
percebam a importância dos
b) II. Liberalismo.
c) Respostas pessoais.
e) Resposta pessoal.
101 pontos, tais como: o fim da di-
plomacia secreta, a redução dos
armamentos nacionais, o direi-
16:42 +ATIVIDADES
088a108-HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 101 que as duplas compartilhem com a24/08/22
turma08:58 to ao desenvolvimento autô-
quais pontos foram elencados por elas que nomo de um povo, a criação da
Propor que os alunos se reúnam em du- poderiam ter evitado a Primeira Guerra. As Liga das Nações, a fim de asse-
plas para analisar todos os pontos de Woo- diferentes respostas atuam na construção gurar a Paz Mundial. Professor,
drow Wilson. Essa atividade oportuniza que coletiva do conhecimento, permitindo que esta atividade privilegia o de-
os alunos formulem hipóteses, importante os alunos reflitam a partir de perspectivas senvolvimento da competência
prática para pesquisas. Ao final, incentivar que, eventualmente, não tenham adotado. geral 9, permitindo o exercício
do diálogo e da resolução de
conflitos, tendo em vista a cons-
trução de uma paz duradoura.

101

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 101 26/08/2022 17:56


ENCAMINHAMENTO
• Promover a leitura do mapa,
solicitando que os alunos ob-
servem também os territó-
rios sob domínio da Alema- ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

nha no continente africano.


1. b) Primeira Guerra Mundial.
1. c) As rivalidades imperialistas e a corrida em busca de ter-
TEXTOS DE APOIO ritórios e mercados, especialmente na África e na Ásia, foram
I. Retomando umas das principais razões que desencadearam a Primeira
Guerra Mundial.
A Primeira Guerra Mundial foi
um conflito brutal que durou 1. d) A política de Guilherme II foi chamada de “expansão
à força”, e o objetivo era que a Alemanha conquistasse uma
quatro anos (1914-1918) e envol- 1 Observe o mapa e depois responda. fatia maior da África e da Ásia para assumir a liderança na dis-
veu 40 países. [...] Historiadores puta marítima-comercial, que na época cabia à Grã-Bretanha.
estimam que foram disparadas, África até 1914
durante o conflito, cerca de 850 0°

ALLMAPS
milhões de granadas. Ao todo, 56
EUROPA
milhões de recrutas foram con- M a r

vocados para o serviço militar e

M
MARROCOS d
i t e
ESPANHOL TUNÍSIA r r â n e o
Madeira
em todas as nações em guerra, Canal de Suez
MARROCOS
tendo em média, morrido seis Canárias IFNI
LÍBIA
ÁSIA
ARGÉLIA
mil por dia. [...] EGITO
Trópico de Câncer RIO DO

Ma
Entre as vítimas, estavam OURO

rV
erm
mais de dois milhões de africa- Cabo SUDÃO

elh
ORIAL FRANCESA
MAURITÂNIA NÍGER

o
Verde FRANCÊS
SOMÁLIA
nos, tanto civis como soldados. (POR)
SENEGAL SUDÃO
ERITREIA FRANCESA
ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA
Muitos foram obrigados a lu- GÂMBIA ALTO ANGLO-EGÍPCIO
SOMÁLIA
GUINÉ GUINÉ VOLTA
tar pelos seus colonizadores. A

DAOMÉ
PORTUGUESA NIGÉRIA BRITÂNICA

TOGO
COSTA ABISSÍNIA
SERRA LEOA
DO CHADE (ETIÓPIA)
França foi a potência colonial LIBÉRIA MARFIM

UAT
CAMARÕES SOMÁLIA
que enviou mais africanos para COSTA
RIO MUNI ÁFRICA ITALIANA

EQ
DO UGANDA
Equador ORIENTAL

os campos de batalha europeus: OURO
SÃO TOMÉ GABÃO

A
BRITÂNICA

IC
CONGO
E PRÍNCIPE OCEANO

FR
BELGA
450 mil tropas do oeste e do nor-
Á
(POR) ÁFRICA ÍNDICO
Meridiano de Greenwich

OCEANO ORIENTAL
te de África lutaram na linha de ALEMÃ
Seychelles
ATLÂNTICO (RUN)
frente contra os alemães. Tam- ANGOLA
Comores
NIASSALÂNDIA (FRA)
bém os ingleses combateram ao RODÉSIA

UE
DO NORTE

IQ
lado de tropas africanas contra a

AR
Território sob controle de

MB
RODÉSIA Maurício

SC
países europeus antes de 1914 ÁFRICA DO

ÇA
DO SUL (RUN)
Alemanha até 1918. SUDOESTE

GA
MO
Alemanha ALEMÃ

DA
Trópico de Capricórnio BECHUANALÂNDIA

MA
Bélgica
No entanto, quase ninguém se Espanha
TRANSVAAL
SUAZILÂNDIA
lembra dos africanos que mor- França
UNIÃO DA BASUTOLÂNDIA
reram nos campos de batalha Inglaterra
ÁFRICA
Itália DO SUL
europeus, critica o historiador Portugal 0 777

Jörn Leonhard. [...] Países independentes km

A Primeira Guerra Mundial Fonte: VICENTINO, Claudio. Atlas histórico. São Paulo: Scipione, 2011. p. 137.

também mudou o mapa de Áfri-


ca. A derrota da Alemanha sig- a) Quais países europeus tinham o maior número de colônias na África? 1. a) Inglaterra e França.
nificou a perda das colônias. Os b) O mapa mostra as fronteiras até 1914. Qual evento histórico ocorreu nessa data?
Camarões, por exemplo, foram c) Qual relação pode ser feita entre o assunto tratado no mapa e o evento ocorrido em 1914?
divididos entre a Grã-Bretanha
d) Até 1914, a Alemanha era um dos países que tinham menos colônias na África. Ainda na
e a França.
década de 1890, o kaiser Guilherme II adotou uma nova política externa. Explique qual foi
Na Rússia e na Alemanha hou- essa política e qual o objetivo dela.
ve revoluções, caíram imperado-
res. A Alemanha tornou-se uma
democracia. [...]
102
Com o fim da guerra surgem
novas fronteiras: pela Europa,
África e Médio Oriente. [...] Na Primeira Guerra 102
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd Mundial,, participaram “Éramos mais de 800 homens e só cerca de 01/07/22 17:05 D3_
mais de 65 milhões de militares, dos quais qua- 100 regressaram. Disseram-nos que iam cortar
KNIPP, Kersten. Cem anos após o fim da se 10 milhões, o equivalente a toda a população as comunicações dos alemães e que ficariam
Primeira Guerra Mundial. DW, Bonn; Berlim,
10 nov. 2018. Disponível em: portuguesa, não regressaram. O último vetera- muito poucos alemães depois dos bombarde-
https://www.dw.com/pt-002/cem-anos- no morreu em 2012, mas são muitos os teste- amentos. Mas o que fizeram foi proteger-se
ap%C3%B3s-o-fim-da-primeira- munhos que ficaram gravados. nas trincheiras. Quando o bombardeamento
guerra-mundial/a-46239476. acabou, saíram, montaram as metralhadoras
Acesso em: 17 jun. 2022. Estes dois, de um soldado britânico e de um
francês, foram recolhidos por ocasião dos 75 e dizimaram os nossos”,
nossos”, contou Horace Ham,
anos do armistício, em 1993. soldado do exército britânico.

102

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 102 26/08/2022 17:56


ENCAMINHAMENTO
2. Professor, promover um
momento em que os alunos
2 Na Europa, o período entre o final da Guerra Franco-Prussiana e o início da Primeira possam fazer as correções
Guerra Mundial ficou conhecido como o da “paz armada”. Sobre esse período, é necessárias nas alternativas
correto afirmar que: 2. Alternativa B. incorretas, com objetivo de
a) a paz era falsa, pois os países europeus travaram guerras entre si pela posse de territórios na torná-las corretas. Esse exercí-
África e na América. cio pode ser feito de forma co-
b) os países investiram em armamentos, aumentaram seu poder bélico e criaram o serviço militar laborativa, estimulando que
obrigatório. percebam que não existe uma
c) iniciaram-se guerras civis em alguns países europeus, pois grande parte da população era única maneira de corrigi-las.
contra as políticas expansionistas dos seus governos. As alternativas a) e d) estão in-
d) criaram-se alianças entre os países europeus e a população das colônias dos países rivais, o corretas, pois não houve con-
que gerou conflitos em território africano. flitos na África nesse período.
3 Leia o texto e depois responda. A alternativa c) está incorreta,
pois não ocorreram guerras
A eclosão da guerra em 1914 não é um drama [...], no fim do qual vamos civis, o que aconteceu é que
descobrir o culpado sobre um cadáver na estufa, com uma pistola fumegante. a população dos países se di-
Não há armas fumegantes nesta história; ou melhor, há uma nas mãos de vidiu entre os que apoiavam
cada personagem importante. Vista sob essa luz, a eclosão da guerra foi uma a corrida armamentista e os
tragédia, não um crime. Reconhecê-lo não significa que devamos minimizar contrários a ela.
a beligerância e a paranoia imperialista dos líderes austríacos e alemães [...]. 3. Solicitar aos estudantes que,
Porém os alemães não eram os únicos imperialistas, nem foram os únicos a em um primeiro momento, re-
sucumbir à paranoia. alizem uma leitura silenciosa
CLARK, Christopher. Os sonâmbulos: como eclodiu a Primeira Guerra Mundial. do texto para, em seguida, a
São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 483.
leitura ocorrer de forma cole-
Segundo o texto, quem foi o culpado da Primeira Guerra Mundial? Clark, não existe um
3. Segundo Christopher tiva, possibilitando a interpre-
único culpado pela guerra. Coube a todas as nações que participaram da guerra essa responsabilidade, pois as
tação de texto e compreensão
4 Leia o texto e observe a imagem. potências tinham adotado o imperialismo e o belicismo. do vocabulário. Questionar se
conhecem os significados dos
FONTE 1 FONTE 2
termos apontados como des-
O livro Jornada de três dias narra a história
HISTORICA GRAPHICA COLLECTION/HERITAGE IMAGES/GETTY IMAGES
conhecidos e estimular que
de dois amigos, Xavier e Elijah, índios canadenses infiram por meio do contex-
que, ainda jovens, deixam sua terra natal para
to. Em seguida, perguntar aos
alunos se concordam com o
lutar nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
posicionamento do autor.
Recrutados como atiradores de elite, logo con-
quistaram o respeito dos soldados e ganham fama
como perseguidores implacáveis do inimigo. Mas
a guerra cobra um preço alto demais. Quando
Xavier finalmente retorna ao Canadá, ferido e
traumatizado, dificilmente reencontrará a paz e
a felicidade da infância.
BOYDEN, Joseph. Jornada de três dias. Tradução: Otacílio Nunes. Soldados durante a Primeira
Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. [Orelha do livro]. Guerra Mundial, c. 1916.

103

17:05 TEXTOS DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 103
so parceiro morrer de repente num bombardea­
28/06/22 13:24
Dica de leitura
mento. Acabou, morreu. Já não dávamos uma
(CONTINUAÇÃO) importância extraordinária à perda de alguém. O livro aborda os maiores
A Primeira Guerra Mundial,
Mundial, em particular a Era uma vida impossível. Tínhamos piolhos, conflitos dos séculos XX e XXI
frente ocidental, ficou para sempre ligada à não nos lavávamos e, no inverno, a trincheira e seus impactos para a huma-
imagem das trincheiras. Uma forma de fazer era um amontoado de lama”.
lama”. nidade.
guerra que não voltou a ser usada nesta escala. FIGUEIRA, Ricardo. Vidas nas trincheiras: relatos na
primeira pessoa. Euronews. [S. l.], 5 nov. 2018.
• HECHT, Emmanuel; SERVENT,
Georges Luce, veterano francês, lembra como
Disponível em: https://pt.euronews.com/2018/11/05/ Pierre (org.). O século de san-
era a vida nas trincheiras: “Podíamos, por exem­ vida-nas-trincheiras-relatos-na-primeira-pessoa. gue: 1914-2014: as vinte guer-
plo, estar na trincheira a jogar às cartas e o nos­ Acesso em: 17 jun. 2022.
ras que mudaram o mundo.
São Paulo: Contexto, 2016.
103

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 103 29/08/22 10:37


ENCAMINHAMENTO
Professor, a atividade 4 opor-
tuniza desenvolver importan- 4. a) e b) Respostas pessoais.
tes habilidades socioemocio- a) A que conclusão a leitura da fonte 1 permite chegar e está explícita?
nais, permitindo que a guerra b) O texto fala das consequências da guerra na vida de um soldado; pesquise dados sobre mortos
seja pensada ultrapassando e feridos na Primeira Guerra Mundial e comente-os.
os interesses e conflitos entre c) O que a fonte 2 mostra? 4. c) Mostra a vida nas trincheiras; dois soldados dormem, enquanto outro
coloca um capacete à mostra com objetivo de enganar o adversário.
nações. Considerar as vidas en- d) Copie no caderno o quadro a seguir e preencha-o com dados sobre as trincheiras e a vida no
volvidas, inclusive das que par- interior delas.
ticipam ativamente da guerra, Trincheiras
NÃO
auxilia o aluno a exercitar a em- ESCREVA
NO LIVRO.
Extensão
patia, compreendendo os sol- Localização
dados de forma humanizada e Quem as cavou
não apenas como números.
O dia a dia nas trincheiras
4. a) Que os indígenas do Ca-
4. d) Extensão: 640 km.
nadá também participaram da Localização: Desde o Mar do Norte até a fronteira com a Suíça.
Primeira Guerra e que se des- 5 Conforme o conflito foi se alastrando, novas armas fizeram sua estreia na Primeira
tacaram como bons atiradores Grande Guerra. Leia o que diz um historiador.
e bravos combatentes. Permite
dizer também que o persona- A Grande Guerra foi travada no ambiente resultante do salto tecnológico. [...]
gem Xavier voltou do conflito O desenvolvimento do motor a explosão e do motor elétrico respondem pelo apareci-
ferido e traumatizado. mento do automóvel, do avião e do tanque, o carro de combate na terminologia militar.
[...] O Grosse Bertha (Grande Bertha), “delicada” homenagem a Fräulein Bertha, filha do
b) Ao final da Primeira Guerra,
a aviação militar, os canhões, os famoso fabricante de canhões Krupp, bombardeou Paris de uma distância de 100 km [...].
tanques e os gases venenosos A metralhadora [...] surgiu na Guerra de Secessão [...]. Na Grande Guerra, [...] já auto-
tinham provado sua eficiência, máticas, com grande velocidade de tiro [...] se fizeram eficientes máquinas de moer
deixando cerca de 9 milhões e carne. O desenvolvimento da indústria química levou à produção dos gases de combate,
200 mil mortos, 20 milhões de que fizeram sua estreia em Ypres, em 1915, eficientes no matar e causar sofrimento. [...]
mutilados e dezenas de milha- O tanque [...] fez sua entrada [...] em novembro de 1917 [...]. Algo semelhante acon-
res de órfãos e refugiados. teceu com o avião. Em 1914, as missões, que eram de observação, ampliaram-se para
5. a) A relação entre a guerra e [...] o apoio às forças de terra, até o bombardeio estratégico. [...]
o avanço tecnológico ocorrido
© GALERIE BILDERWELT/BRIDGEMAN/FOTOARENA

ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial.


In: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras.
durante a Primeira Guerra. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 324-327.
b) O autor quis dizer que a de- a) Qual é o assunto principal do texto?
cisão de colocar o nome da fi-
b) Interprete. O que o autor quis dizer com “’deli-
lha no canhão foi uma home- cada’ homenagem a Fräulein Bertha”?
nagem nada delicada. c) Qual é o significado de “eficientes máquinas
c) No texto, a expressão “efi- de moer carne” no texto?
cientes máquinas de moer d) Em grupo. Debatam, reflitam e opinem: o que
carne” pode ser traduzida fazer para que líderes políticos coloquem a tecno-
por eficientes máquinas de logia a serviço da humanidade, e não da guerra?
“matar pessoas”. 5. a), b), e) e d) Respostas pessoais.

d) A questão oportuniza a re- Soldados franceses manuseando uma metralhadora


flexão sobre o uso responsável durante a Batalha do Aisne. Paris (França), 1917.
Quem as cavou: Os soldados franceses e ingleses de um lado, e os soldados alemães de outro lado.
dos avanços tecnológicos por
parte de Estados Nacionais, 104 O dia a dia nas trincheiras: A vida nas trincheiras foi uma experiência traumática; acossados pela
fome, pelas doenças provocadas por ratos e piolhos e pelo medo da morte, dormindo com os
grupos políticos e pessoas. uniformes encharcados e sem banho, milhares de soldados morriam diariamente nas trincheiras.

+ATIVIDADES
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 104 20/08/22 14:04 D3_

Solicitar aos estudantes um levantamento de informações sobre a arma química utilizada


em Ypres, como o alcance, a quantidade de atingidos e as consequências, além das evolu-
ções das armas químicas na atualidade. Além dos efeitos imediatos, propor que reflitam,
com base nos levantamentos, sobre os danos à saúde física e emocional dos envolvidos na
guerra, ao meio ambiente e à economia.

104

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 104 31/08/22 09:51


TEXTO DE APOIO
6. A entrada dos Estados Unidos e a saída da Rússia da guerra. Os Estados Unidos entraram no conflito após
o ataque dos submarinos alemães a navios estadunidenses, e a Rússia, que adotara o socialismo, saiu e pas- Em 1919, as forças aliadas [...]
sou a ver a guerra como tendo um perfil imperialista. Esses fatos mudaram o rumo da guerra e contribuíram realizaram uma Conferência de
para a contenção do poderio alemão. Paz [...]. O resultado da Conferên-
6 Em 1917, dois acontecimentos mudaram o equilíbrio de forças entre os blocos com- cia ficou exposto no Tratado de
batentes. Que acontecimentos foram esses e o que provocaram? Versalhes. [...] Este longo docu-
mento foi apresentado aos ale-
7 A charge a seguir, do cartunista William Allen Rogers, foi produzida após a Primeira mães em uma tensa cerimônia
Guerra Mundial. 7. a) Na charge, está representado o general francês Ferdinand Foch, com roupas militares no Palácio de Versalhes, no dia 7
aparentemente limpas e bem conservadas, apontando, de forma ameaçadora, sua espada de maio de 1919. Essencialmen-
a um soldado alemão, nela
BIBLIOTECA DO CONGRESSO. WASHINGTON. EUA

te sob a forma de um ultimato,


está pendurada a página que o tratado foi assinado pelos alia-
resume os termos do Tratado dos e pelos representantes ale-
de Versalhes. O soldado mães em 28 de junho de 1919 [...].
alemão, por sua vez, está
com roupas desgastadas,
Observa-se que o empenho
olhar de surpresa ou de susto dos aliados estava em assegu-
diante do gesto ameaçador rar que a Alemanha depois da
do general e dos termos do guerra não tivesse mais recur-
Tratado de Versalhes. sos industriais ou militares para
7. b) Não, porque tanto a iniciar outro conflito. Era a cha-
ação ameaçadora com que mada “Vitória Total” sobre os ale-
o general Foch apresenta os mães. Entretanto, é interessante
termos do Tratado quanto notar o paradoxo que são essas
as roupas surradas e a imposições feitas à Alemanha,
expressão de surpresa ou
pois para assegurar que as dí-
de susto do soldado alemão
indicam que a Alemanha foi vidas de guerra fossem pagas
obrigada a aceitar o Tratado seria preciso promover o desen-
de Versalhes, embora volvimento e prosperidade da
não tivesse condições de Alemanha, correndo um grande
cumprir com suas pesadas risco de que, uma vez próspera,
exigências. ela não mais aceitaria ser explo-
rada durante muito mais tempo
pelos seus vencedores [...]. A ale-
gação dos vencedores de que os
Na charge, o general
francês Ferdinand Foch
perdedores deveriam compensar
apresenta a um soldado os gastos que estes primeiros
alemão os termos do tiveram com a guerra era algo
Tratado de Versalhes, desproporcional à realidade da
com a seguinte Alemanha, pois esta havia gasto
mensagem: “O povo todas as suas reservas de ouro
alemão deve pagar por durante o curso da guerra e, por-
todo o dano aos civis – tanto, se considerava incapaz
na terra, no mar ou no de pagar os custos estimados. O
ar.”. William A. Rogers, custo estimado da guerra foi de
c. 1918. 850 bilhões de marcos de ouro,
dos quais 700 bilhões eram visa-
dos por parte dos países da Trí-
a) Quem são os personagens da charge? Analise as características e os gestos de cada um plice Entente, pois acreditavam
deles. que era o valor que a Alemanha
b) Com base na charge, pode-se afirmar que a Alemanha teve escolha ou possuía condições deveria pagar pelos danos da
de cumprir com as exigências do Tratado de Versalhes? Justifique. guerra. Porém, como o marco ale-
mão só tinha poder de compra
c) Discuta com a turma sobre as possíveis consequências de acordos para paz em que os na Alemanha, os vencedores vol-
vencedores impõem pesadas exigências aos vencidos. taram aos métodos de compen-
7. c) Além de estimular o sentimento de injustiça ou de rivalidade, os pesados acordos para a paz
sação da história antiga. Todos
podem gerar novas guerras.
105 os bens que poderiam ser úteis
foram levados, como carvão, po-
tássio, navios, vagões, locomo-
tivas, produtos químicos, aço e
14:04 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 105 28/06/22 13:24 outros produtos industriais. Tal
movimento gerou oposição por
Professor, a charge de viés político, geralmente, conta com o conhecimento do leitor a parte dos países vitoriosos, pois
respeito do contexto na qual se insere e, se vale da ironia ou da crítica direta a determinado suas indústrias queriam vender
personagens ou episódio para provocar riso e/ou reflexão. produtos entre os países [...]
A charge, registro muito utilizado pelos livros escolares do Ensino Fundamental – Anos SARTÓRIO, Sarah Gonçalves Patrocínio;
Finais –, tem excepcional acolhida entre os jovens a que essas obras se destinam. E com seu COLOMBO, Arthur Osvaldo; FAVORATO,
Diego Gonçalves. Reparações e Dívidas
potencial pedagógico, pode servir tanto à educação do olhar quanto à construção do co- Aliadas no Entreguerras: de Versalhes
nhecimento histórico escolar. (1919) a Lausanne (1932). Economia
Ensaios, Uberlândia, v. 36, n. 2, p. 220-239,
jul./dez. 2021. p. 223-224.

105

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 105 26/08/2022 17:56


ENCAMINHAMENTO
• Propor que os alunos refli-
tam acerca dos papéis exer-
cidos pelas mulheres antes
do início da Primeira Guerra,
II. Leitura e escrita em História
voltados principalmente aos
cuidados com o lar e os filhos.
Cruzando fontes
Professor, a ocupação pelas Observe as imagens. Elas mostram a atuação de mulheres durante a Primeira Guerra
mulheres de postos de traba- Mundial.
lho historicamente destina-
dos aos homens não resultou FONTE 1 FONTE 2
em uma inversão de papéis e,

CHRONICLE OF WORLD HISTORY/ALAMY/FOTOARENA

G P LEWIS/ IWM/GETTY IMAGES


sim, um acúmulo, já que elas
também eram as responsáveis
pela casa e pela criação dos fi-
lhos, além de essenciais para
manutenção da economia. É
possível que essa realidade
seja próxima dos alunos, o que
permite uma reflexão acerca
da desigualdade de gênero,
em que a mulher, além de as-
sumir duplas jornadas de tra-
balho, não recebem a mesma
remuneração que os homens
mesmo quando ocupam os Pôster de recrutamento Mulheres trabalhando em fábrica de cartuchos de armas.
cargos iguais. para a guerra, 1914. Londres (Inglaterra), 1918.
Ainda que prestassem assis- a) “Mulheres britânicas dizem – Partam!”.
tência em diversas áreas para c) O pôster mostra mulheres encorajando os soldados a irem para os campos de batalha; já na fon-
FONTE 3 te 2, vemos uma das consequências do engajamento masculino na guerra: as mulheres tomaram o
a manutenção da guerra, foi lugar deles nas fábricas, produzindo os armamentos a serem usados no conflito.
apenas na Segunda Guerra Leia o trecho a seguir e responda no caderno ao que se pede.
Mundial que as mulheres pu- À medida que os homens morriam nas trincheiras, aos milhares, as mulheres
deram, de fato, se alistar no
precisavam substituí-los. [...] A substituição dos homens não ocorreu só nas fábricas de
Exército. Com o final da Primei-
munições: [as mulheres] conduziam o metrô de Paris e os ônibus de Londres; executa-
ra Guerra, várias mulheres fo-
vam reparos nos navios [...]. Atuavam como eletricistas, encanadoras, empreiteiras. [...]
ram demitidas e incentivadas a
retornar aos afazeres domésti- (LOUISE, 1974 apud SILVA, 2017, p. 121).

cos. Ainda assim, o período foi a) Com a ajuda do professor de Língua Inglesa, escreva o significado dos dizeres contidos no pôster.
importante para dar força ao b) O que se vê na fotografia (fonte 2)? b) Mulheres trabalhando em fábricas de armamentos e munição.
movimento sufragista. c) Que relação se pode estabelecer entre o que está representado no pôster e o que está repre-
Cruzando fontes. As ativi- sentado na fotografia?
dades da seção contribuem d) Quais argumentos estabelecidos pela autora do texto (fonte 3) podem ser confirmados pela
também para estimular a ca- fotografia (fonte 2)? d) O texto confirma o fato de que a carência de mão de obra das fábricas europeias
foi preenchida pelas mulheres, como se pode ver na fotografia.
pacidade de interpretar, de- e) Além das atividades representadas nas imagens, que outras funções as mulheres assumiram
durante a Primeira Guerra? e) Além do trabalho em fábrica de munições, trabalhavam em estaleiros,
bater e opinar, a fim de que o conduziam metrôs e ônibus e atuavam como eletricistas, encanadoras e empreiteiras.
estudante vá ganhando auto-
nomia no pensamento crítico.
106

Dica de leitura AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 106 01/07/22 17:06 AV_

O livro reúne relatos de so-


breviventes da Primeira Guer-
ra Mundial, desde veteranos
de guerra até políticos, costu-
reiras e estudantes.
• ARTHUR, Max. Vozes esque-
cidas da Primeira Guerra Mun-
dial. São Paulo: Bertrand Bra-
sil, 2011.
106

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 106 26/08/2022 17:56


ENCAMINHAMENTO
Temas Contemporâneos
Transversais: o tema saúde
pode ser amplamente explo-
III. Integrando com Ciências rado, considerando como um
importante ponto de partida
O texto a seguir foi escrito por pesquisadores de uma importante instituição bra- a pandemia de covid-19, ini-
sileira de pesquisa, a Fiocruz. Leia o texto e responda ao que se pede com base nele. ciada em 2020 e que marcou
Abrigados em trincheiras, os soldados a vida da população em todo

PHOTOQUEST/GETTY IMAGES
enfrentavam, além de um inimigo sem rosto, o mundo. Mesmo que as ex-
chuvas, lama, piolhos e ratos. Eram vitimados
periências com a covid-19 te-
nham sido diferentes entre a
por doenças [...] quando não caíam mortos por
população, de alguma forma
tiros e gases venenosos.
os alunos sentiram o impacto
Parece bem ruim, não é mesmo? Era. Mas
causado por ela. Na aborda-
a situação naquela Europa transformada em gem do assunto, é importante
campo de batalha da Primeira [...] Guerra considerar as particularidades
Mundial pioraria ainda mais em 1918. Tropas que podem ter sido vivencia-
inteiras griparam-se, mas as dores de cabeça, das por eles. Proporcionar um
a febre e a falta de ar eram muito graves e, ambiente acolhedor, conver-
em poucos dias, o doente morria incapaz de sando previamente com os
respirar e com os pulmões cheios de líquido. alunos sobre a delicadeza do
[...] tema e relembrando que to-
A gripe espanhola – como ficou conhe- dos os números de vítimas que
Paciente sendo tratada da gripe espanhola a doença fez são, na verdade,
cida devido ao grande número de mortos na em hospital do Exército dos Estados Unidos.
Espanha – apareceu em duas ondas diferentes Nova York, (EUA), 1918.
pessoas, com nomes, famílias
durante 1918. [...]
e histórias. O exercício de es-
cuta e empatia pode auxiliar
Enquanto a primeira onda de gripe atingiu especialmente os Estados Unidos e a
a desenvolver a competência
Europa, a segunda devastou o mundo inteiro: também caíram doentes as populações
geral 9.
da Índia, Sudeste Asiático, Japão, China e Américas Central e do Sul.
Professor, o isolamento
O mal chega ao Brasil social pode ter impactado as
relações sociais dos alunos,
No Brasil, a epidemia chegou ao final de setembro de 1918 [...].
especialmente em uma fase
As autoridades brasileiras ouviram com descaso as notícias vindas de Portugal
da vida em que a formação da
sobre os sofrimentos provocados pela pandemia de gripe na Europa. Acreditava-se que
identidade e o reconhecimen-
o oceano impediria a chegada do mal ao país. Mas essa aposta se revelou rapidamente
to de pertencimento a grupos
um engano. são bastante relevantes. Con-
Tinha-se medo de sair à rua. Em São Paulo, especialmente, quem tinha condições siderando os diferentes perfis
deixou a cidade, refugiando-se no interior, onde a gripe não tinha aparecido. [...] de estudantes, é possível que o
[...] Pense nos jogos de futebol. Mas, ao invés de estádios cheios, imagine os joga- ensino remoto não tenha sido
dores exibindo suas habilidades em campo para arquibancadas vazias. Pois, durante a aproveitado da mesma ma-
pandemia de 1918, as cidades ficaram exatamente assim: bancos, repartições públicas, neira por todos eles, principal-
teatros, bares e tantos outros estabelecimentos fecharam as portas ou por falta de mente pela desigualdade no
funcionários ou por falta de clientes. acesso a recursos importantes
para essa modalidade, como
107 computadores, smartphones
e internet. De forma ainda
mais intensa, é possível que os
17:06 AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 107
alunos tenham lidado com a morte de familiares e amigos.
30/06/22 16:42
Com o cuidado necessário
na abordagem, e lembrando aos demais estudantes, que possam ter tido os efeitos da
pandemia minimizados, sobre a importância de respeitar a vivência dos demais, pedir
que façam paralelos entre a pandemia de covid-19 e a gripe espanhola.
Em todas as atividades da seção Integrando com Ciências é possível promover discus-
sões que permitam os paralelos entre a pandemia da gripe espanhola e a da covid-19.
Entretanto, orientar que, além das opiniões pessoais, os alunos possam ter dados e in-
formações de fontes confiáveis para corroborar seus argumentos. Assim, se afirmarem
que a covid-19 atingiu a população mais pobre de forma mais intensa, é necessário que
busquem notícias, estudos e estatísticas que comprovem esse posicionamento.

107

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 107 26/08/2022 17:56


ENCAMINHAMENTO
b) Não; os mais ricos ou quem tinha parentes no interior deixaram as cidades e refugiaram-se no interior, onde a
• Expor para os alunos que a gripe não havia penetrado.
c) Sim; como o texto informa, bancos, repartições públicas, teatros, bares e tantos outros estabelecimentos fecharam
Fiocruz, criada em 1900, é as portas por falta de funcionários ou por falta
[...]

ACERVO BIBLIOTECA GUITA E JOSÉ MINDLIN


uma instituição vinculada de clientes.
ao Ministério da Saúde que Estima-se que entre outubro e
se dedica ao desenvolvimen- dezembro de 1918, período oficialmente
to de pesquisas; à prestação reconhecido como pandêmico, 65% da
de serviços hospitalares; à população adoeceu. Só no Rio de Janeiro,
fabricação de vacinas e me- foram registradas 14 348 mortes. Em São
dicamentos; ao ensino e à Paulo, outras 2 000 pessoas morreram.
formação de pesquisadores; [...]
e à comunicação em saúde, As estimativas do número de mortos
ciência e tecnologia. em todo o mundo durante a pandemia
Integrando com Ciências. de gripe em 1918-1919 variam entre 20 e
d) Primeira Guerra Mundial 40 milhões. Para você ter uma ideia nem
(1914-1918): 9 milhões e 200 os combates da primeira Grande Guerra
mil indivíduos; Gripe espa-
Mundial mataram tanto. Cerca de 9
nhola (1918-1919): De 20 a 40
milhões e 200 mil pessoas morreram nos
milhões de indivíduos.
campos de batalha da Primeira Grande
e) Conclui-se que a gripe es- Enfermaria do Hospital provisório Benjamin
panhola matou mais do que Constant. Rio de Janeiro (RJ), 1918. Guerra (1914-1918).
o dobro de pessoas em muito ROCHA, Juliana. Pandemia de gripe de 1918. Invivo. Rio de Janeiro, 16 jun. 2006.
Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br/historia/pandemia-de-gripe-de-1918/. Acesso em: 21 mar. 2022.
menos tempo do que os com-
bates travados na Primeira a) De que forma as autoridades brasileiras reagiram às notícias de que a gripe assolara a Europa?
Guerra Mundial. Por quê? a) As autoridades deram pouca importância ao fato, acreditando que o oceano impediria a
chegada do mal ao país.
f) Gripe espanhola: Sintomas: b) A gripe atingiu igualmente todas as pessoas? Exemplifique.
Dores de cabeça, febre, falta c) O texto permite concluir que a gripe espanhola afetou a economia brasileira?
de ar, coriza (escorrimento
d) Copie a tabela a seguir no caderno comparando o número de mortes na Primeira Guerra
líquido nasal por causa da in- Mundial ao número de mortos em razão da gripe espanhola. NÃO ESCREVA

flamação da mucosa nasal), NO LIVRO.

tosse, entre outros. Letalida- Tabela comparativa


de: Na escala global, a letali-
Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
dade foi de 2,5 a 5%. Modos
de combater a doença: Na Gripe espanhola (1918-1919)
época, o isolamento social e o
uso de máscaras foram as prin- e) O que se pode concluir com base na tabela elaborada no item anterior? (Leve em conta o
cipais formas de prevenção da número de pessoas e o tempo). e) Resposta pessoal.
doença. Covid-19: Sintomas: f) Copie o quadro a seguir no caderno e compare a epidemia da gripe espanhola à da covid-19.
Os sintomas são variáveis. Sin-
tomas comuns: febre, tosse, Gripe espanhola Covid-19
perda de paladar e/ ou olfato, Sintomas
cansaço. Outros sintomas in-
cluem: dores de garganta, do- Letalidade
res de cabeça, dores no corpo, Modos de combater a doença
irritações na pele. Os sintomas d) Sugestões de resposta no Manual do Professor.
graves englobam dificuldade
para respirar, falta de ar e do-
108 f) Sugestões de resposta no Manual do Professor.

res no peito. Letalidade: Na es-


cala global, até o ano de 2020,
a letalidade atingiu 3,4%. AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C04-LA-G24.indd 108 20/08/22 15:36

Modos de combater a doen-


ça: Distanciamento social, uso
de máscaras e de álcool gel e
vacinação foram os principais
meios de prevenção.

108

088a108_HIS-F2-2111-V9-U1-C04-MP.indd 108 26/08/2022 17:56


OBJETIVOS
• Compreender o Império Rus-
CAPÍTULO so do final do século XIX.

5
• Refletir sobre as rebeliões
camponesas na Rússia.
A REVOLUÇÃO RUSSA • Argumentar sobre a mo-
dernização/industrialização
russa na passagem do século
XIX para o século XX.
• Identificar as principais
1. Você já tinha ouvido falar do ideias da doutrina marxista
Museu Hermitage? e sua penetração na Rússia.
2. Sabia que esse museu surgiu do • Diferenciar os bolcheviques
Palácio de Inverno, residência da dos mencheviques.
maioria dos czares russos? • Relacionar a participação
3. Já ouviu falar do czarismo? russa na Primeira Guerra
E dessa revolução que dá título com o processo revolucioná-
ao capítulo, você já tinha ouvido rio que pôs fim ao czarismo.
falar?
• Entender a divergência en-
4. Que relação ela pode ter com a tre a proposta de Stalin e a
história de outros povos e lugares?
Respostas pessoais.
de Trotsky quanto à revolu-
ção socialista.
• Compreender os principais
desdobramentos da Revolu-
ção Russa.

OM
Ao lado, vista interna (2020) e,

K.C
OC
ST
abaixo, vista externa (2014)

ER
TT
do Museu Hermitage. São Os objetivos deste capí-

HU
71/S
Petersburgo (Rússia). tulo visam colaborar para a

AV
ISL
AN
ST compreensão e análise das
particularidades e dos des-
MARCO RUBINO/SHUTTERSTOCK.COM dobramentos da Revolução
Russa, contribuindo para o
desenvolvimento das com-
petências e habilidades
propostas.

BNCC
• Competências gerais: 1, 4,
7 e 9.
• Competências específicas:
1, 2, 4 e 6.
• Habilidade: EF09HI11.

109
ENCAMINHAMENTO
Partiu-se de uma constru-
TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 109 28/06/22 13:24
ção imponente e exuberante,
Sobre o Hermitage disse um estudioso:
que possui uma grande quan-
tidade de pinturas, aquarelas,
Localizado às margens do rio Neva, em São Petersburgo, o Hermitage nasceu a partir do Palácio gravuras e desenhos dos tem-
de Inverno, ponto central do local e que serviu de residência para praticamente todos os Czares
pos do último czar russo, Ni-
russos. Em 1764, com a imperatriz Catarina II, a coleção da instituição se iniciou a partir da aqui-
colau II, para iniciar uma aula
sição de uma coleção de 225 pinturas flamengas e alemãs. Hoje, os czares deram lugares a uma
dialogada sobre a Revolução
equipe de curadores coordenada por Mikhail Piotrovsky que possui à sua disposição […] cerca de 3
que pôs fim ao czarismo na
milhões de peças alocados em duas mil salas de dez prédios. [...]
Rússia.
MORESCHI, Bruno. O museu como ideia: o não olhar nos museus Hermitage, St. Petersburgo (Rússia); e Ateneum, Helsinque
(Finlândia). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 29., 2017, Brasília, DF. Anais [...]. Brasília: ANPUH, 2017.
109

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 109 26/08/2022 18:56


ENCAMINHAMENTO
• Caracterizar o Império Russo
no tocante a sua população,
extensão e multiplicidade de
povos e culturas.
A Rússia czarista
• Analisar a desigualdade so- No final do século XIX, o Império Russo era o maior país do
cial presente na sociedade mundo (22 milhões de km2) e abrigava uma população de cerca
czarista. de 160 milhões de habitantes, composta de dezenas de povos com
• Chamar a atenção para as línguas e costumes próprios.
condições de vida dos muji- O regime político era a monarquia absolutista, e todo o poder
ques, os mais atingidos pelo Czar: soberano tido se concentrava nas mãos do czar czar.. Ele nomeava e demitia ministros
analfabetismo, as doenças e como eleito por Deus e conforme sua vontade, censurava jornais e revistas e decidia em
a fome. que, além disso, tinha
o título de autokrator, nome da nação. De 1613 a 1917, o Império Russo foi governado
• Trabalhar o conceito de re-
isto é, “chefe do pelos czares da dinastia Romanov. O czar e sua família, a nobreza
sistência a partir das rebe­ exército”. A palavra czar
(os boiardos) e o clero ortodoxo possuíam enormes privilégios e
liões camponesas que sacu- vem do latim caesar.
eram donos da maior parte das terras russas.
diram o Império Russo com
A maioria da população do império vivia no campo. Uma parte
frequência.
desses camponeses era formada por arrendatários; já a maioria
deles, os mujiques, era explorada por seus senhores, pagava altos
Dica de leitura impostos ao governo pelo uso da terra e, por isso, vivia pobremente.
O livro traz um panorama Eram eles os mais atingidos pelo analfabetismo, pelas doenças e
da sociedade no período an- pelas crises de fome que assolavam o país com frequência.
terior à Revolução Russa e as Por isso, na história da Rússia imperial ocorreram várias rebeliões
consequências desse conflito. camponesas. A maior delas foi a Rebelião Pugachev (1773-1775),
que só foi derrotada pelo exército czarista depois de muita luta.
• TRAGTENBERG, Maurício. A
Revolução Russa. São Paulo:

PAVEL LISITSYN/SPUTNIK/AP PHOTO/IMAGEPLUS


Editora Unesp, 2007. Mulher beijando um ícone
em homenagem ao
czar Nicolau II, o último
TEXTO DE APOIO imperador da Rússia.
Ecaterimburgo (Rússia),
Rebeliões camponesas 2020. Na tradição cristã,
A reação dos camponeses, tan- ícones são imagens
to russos como não russos, dian- pintadas ou esculpidas
te da extensão da servidão […] de Cristo, da Virgem e
assumiu duas formas: a fuga ou dos santos. No “ícone”
dessa foto, ao centro, o
a luta contra a opressão. […] Na
último imperador russo,
fronteira sudoeste e do médio
Nicolau II, e sua família
Volga, houve mais do que rebe- estão representados
liões; verdadeiras guerras civis como figuras sagradas
que abalaram profundamente que lembram, na
o Estado. Tornaram-se famosos expressão e nos gestos,
na história russa os movimen- Jesus, a Virgem Maria e
tos chefiados por Bolotnikov os santos.
(1606-07), Stenka Razin (1670-71),
Bulavin (1707-08) e Pugatchev
(1773-75). […] Nessas guerras 110
civis aparecem certos aspectos
que se repetem, cuja análise fa-
cilitará a compreensão do cam-
pesinato e da história social da dos cossacos com os servos
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 110 e outras catego- 28/06/22 13:24 109

Rússia durante os dois séculos rias camponesas. […] Em terceiro lugar, Puga-
e meio anteriores à extinção tchev, além de ter mobilizado os cossacos e
da servidão. Em primeiro lugar, camponeses, também contou com o apoio de
cada uma dessas revoltas foi ini- trabalhadores diaristas, artesãos e muitos bu-
ciada pelos cossacos do Don ou rocratas de escalão inferior, pequenos comer-
do Ural, com exceção da revolta ciantes e soldados rasos de guarnições. […] Em
de Bolotnikov. […] Em segundo quarto lugar, três das rebeliões abrangeram
lugar, a importância básica des- tanto russos como não russos […].
sas rebeliões consistia no fato TRAGTENBERG, Maurício. A Revolução Russa.
de terem promovido a união São Paulo: Editora Unesp, 2007. p. 42-44.

110

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 110 26/08/2022 18:56


ENCAMINHAMENTO
• Retomar e aprofundar o con-
ceito de migração e acrescen-
A modernização e a indústria tar o de migração interna.
• Analisar os elementos que im-
Outra resposta dos camponeses à pobreza e à opressão
pulsionaram na Rússia czaris-
czarista foi migrar do campo para as cidades. Entre 1863 e 1914,
ta o desenvolvimento e o capi-
a população urbana da Rússia mais que triplicou: passou de 6 milhões
talismo dos centros industriais
para 18,3 milhões de habitantes. Nas cidades, os trabalhadores bus-
de São Petersburgo, Moscou e
cavam emprego nas indústrias nascentes.
Kiev nesse processo.
Na segunda metade do século XIX, o Império Russo estava se
• Relacionar as tensões sociais,
industrializando por causa da entrada de capitais estrangeiros (alemães,
bem como as greves operá-
franceses e belgas) e da mão de obra farta e barata vinda do campo. Transiberiana: rias por diminuição da jorna-
A industrialização era impulsionada também pela exploração do petró- ferrovia que atravessa
grande parte do
da de trabalho e melhores sa-
leo, pela produção de aço e pela construção de ferrovias, entre as território russo, de lários, à penetração de ideias
quais a Transiberiana
Transiberiana.. No governo do czar Nicolau II (1894-1917), Moscou à Manchúria, socialistas nos meios operá-
o capitalismo russo continuou se desenvolvendo, e surgiram centros e era, na época
rios e intelectuais russos.
de sua construção
industriais em cidades como São Petersburgo, Moscou e Kiev. (1891-1916), a maior • Conhecer os princípios e as
Nas fábricas, porém, os salários eram muito baixos, os riscos de do mundo. propostas básicas do marxis-
acidentes, altos, e a jornada de trabalho chegava a 14 horas por mo, por meio de uma análi-
dia. Reagindo a isso, o operariado russo promovia greves e pas- se documental de trecho de
seatas; essas manifestações, no entanto, eram reprimidas com muita obras de Marx e Engels.
violência pela polícia czarista, a Okhrana. Esse contexto opressivo faci- Professor, apesar dos avan-
litou a entrada de ideias socialistas nos meios operários e intelectuais ços na industrialização, a po-
da Rússia. pulação do Império Russo,

SPATULETAIL/SHUTTERSTOCK.COM
naquele momento, ainda era
majoritariamente composta
O socialismo por camponeses. O tema per-
mite desenvolver a compe-
No século XIX, em meio às lutas do opera- tência geral 1 e competência
riado europeu por melhores condições de trabalho específica 1, por trabalhar os
e de vida, dois pensadores alemães, Karl Marx e conhecimentos historicamen-
te construídos para analisar
Friedrich Engels, criaram uma corrente dentro do
as transformações sociais. É
socialismo à qual eles próprios deram o nome de
possível que os alunos estejam
socialismo científico. As principais ideias dessa dou-
familiarizados com os termos
trina, também conhecida como marxismo, estão
relacionados ao socialismo,
contidas em duas obras: O capital e O manifesto entretanto, tenham dúvidas
comunista.. sobre a teoria. Além de ser im-
A doutrina marxista propõe a transformação da portante na compreensão dos
sociedade visando à repartição da riqueza e à igual- acontecimentos na Europa no
dade social. Opõe-se ao liberalismo, critica a injustiça século XX, o entendimento
Retrato de Karl Marx em selo
social e propõe o advento de uma sociedade sem postal que circulou na União acerca de diferentes dinâmi-
classes. Soviética em 1968. cas econômicas e políticas per-
mite analisar seus desdobra-
111 mentos no mundo atual.

ração, oriundos predominantemente do24/08/22 campe- Primeira Guerra Mundial. O setor


13:24
TEXTO DE APOIO
109a124-HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 111

sinato, constituíam grande parte da classe ope-


08:59

industrial moderno era pequeno,


rária russa; poucos eram anteriores à segunda mas singularmente concentrado,
A industrialização russa
geração de operários e habitantes das cidades. tanto em termos geográficos (so-
[...] Foi somente na década de 1890 − mais de Embora historiadores soviéticos aleguem que bretudo nas regiões em torno de
meio século depois da Grã-Bretanha − que a Rús- mais da metade dos operários industriais às vés- São Petersburgo, de Moscou e do
sia assistiu a um crescimento em larga escala da peras da Primeira Guerra Mundial eram pelo me- Donbás ucraniano) como no ta-
indústria e uma expansão urbana. Mesmo assim, nos de segunda geração, esse cálculo claramente
manho das unidades fabris.
a criação de uma classe operária urbana perma- inclui operários e camponeses otkhódniki cujos
nente era inibida pelos termos da Emancipa- pais tinham sido otkhódnikz
otkhódnikz.. A despeito dessas FITZPATRICK, Sheila.
ção dos servos dos anos 1860, que os mantinha características [...], a indústria russa era, em al- A Revolução Russa. São Paulo:
Todavia Livros, 2017. p. 33-34.
amarrados às aldeias. Operários de primeira ge- guns aspectos, bastante avançada na época da
111

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 111 26/08/2022 18:56


ENCAMINHAMENTO
• Retomar com os alunos as lu-
tas dos trabalhadores pelas
8 horas e por melhores con- Em O manifesto comunista,, Marx e Engels afirmavam
dições de trabalho na Euro- que o motor da história é a luta de classes. Na Roma antiga,
pa do século XIX e estabele- diziam eles, o que moveu a história foi a luta entre patrícios e
cer paralelos com as do ope- plebeus. Na sociedade industrial capitalista do século XIX, a
rariado russo. luta era entre a classe burguesa e o proletariado
proletariado.. Este faria
• Compreender o lema mar- Proletariado: conjunto
a revolução, derrubaria a burguesia do poder e instalaria uma
xista: “Trabalhadores de de trabalhadores ditadura. Nesse novo governo, os bens individuais, como terras,
todo mundo uni-vos” e ci- assalariados do campo e fábricas e máquinas, seriam estatizados, isto é, passariam ao
da cidade.
tar exemplos da penetração controle do Estado.
dessas ideias em países euro- Por meio do lema “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos”,
peus como Alemanha, Itália Marx e Engels incentivavam operários do mundo inteiro a se orga-
e França. nizarem em partidos e sindicatos para lutar pelo fim do capitalismo
• Identificar a formação do e pela construção do socialismo.
POSDR como fusão de vários
agrupamentos políticos de
tendência socialista. O socialismo na Rússia
• Evidenciar para os alunos as O ambiente de grande revolta e pobreza e as traduções das obras de Marx para
principais divergências en- o russo facilitaram a penetração do socialismo no país. Com base nelas, intelectuais e
tre os socialistas russos no operários russos organizaram vários grupos políticos de tendência socialista, que em
tocante à estratégia e ao ob-
1898 se juntaram para formar o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR).
jetivo, que resultaram na sua
Esse partido foi duramente perseguido, sendo logo desmantelado pela polícia do czar,
divisão entre bolcheviques e
que prendeu vários de seus membros. Porém, seus principais líderes, Vladimir Ulianov,
mencheviques.
o Lênin,, e Lev Bronstein, o Trotsky,, deixaram a Rússia e voltaram a se organizar no
exterior.
Havia, no entanto, divergências internas entre os socialistas russos; essas divergências
ficaram evidentes durante um Congresso do Partido Operário Social-Democrata Russo
realizado em 1903. Observe o quadro a seguir.

Propostas dos líderes do POSDR (1903)


Líder
Estratégia Objetivo
principal
Confiar a luta revolucionária a um partido
Conquistar o poder por meio da revolução
Lênin centralizado, disciplinado, que unisse
socialista.
soldados, operários e camponeses.
Promover uma revolução burguesa contra Aliar-se à burguesia para chegar ao poder
Martov o czarismo e, depois, chegar ao socialismo e depois evoluir para o socialismo por meio
pela via eleitoral. de eleições.

A maioria dos presentes votou nas teses de Lênin e, por isso, foram chamados de
bolcheviques (de “maioria”, em russo). Já seus opositores ficaram conhecidos como
mencheviques (de “minoria”, em russo).

112

Dica de leitura
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 112 Imagens em movimento 20/08/22 14:23 AV_

A autora traz importante contribuição Reportagem brasileira sobre a ferrovia.


acerca da Revolução Russa, seu impacto na • TRANSIBERIANA. Vídeo (6min5s). Publi-
sociedade do século XX e o seu legado para cado pelo canal cajufilmes. Disponível em:
os dias de hoje. https://www.youtube.com/watch?v=
• FITZPATRICK,Sheila. A Revolução Russa. 4BfQAWNpJMQ. Acesso em: 25 jun. 2022.
São Paulo: Todavia Livros, 2017.

112

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 112 29/08/22 10:39


ENCAMINHAMENTO
• Explicitar o imperialismo do
Império Russo e seu envolvi-
A rebelião popular de 1905 mento em guerras visando à
Indiferente à situação de penúria de seu povo, o governo da Manchúria: região rica
conquista de terras, minerais
Rússia se envolvia em disputas imperialistas. Em 1904, entrou em em minérios, situada no e outros bens.
nordeste da China. • Detalhar os efeitos perversos
guerra contra o Japão pelo controle da Manchúria
Manchúria.. Os efeitos do
conflito sobre os mais pobres e os baixos salários pagos aos trabalhadores levaram à explo- do imperialismo russo sobre o
são de uma revolta operária em São Petersburgo. Em um domingo de 1905, operários em povo e o clima de revolta ge-
rado pelo descaso das autori-
greve e suas famílias caminharam desarmados pelas ruas de São Petersburgo cobertas de
dades com os mais pobres.
neve em direção ao Palácio de Inverno, sede do governo czarista, com um abaixo-assinado
• Efetuar a análise documen-
para ser entregue ao czar. Leia-o com atenção.
tal do abaixo-assinado para
Majestade. Nós, trabalhadores e habitantes de São Petersburgo, nossas mulheres, ser entregue ao czar, contri-
nossos filhos e nossos parentes velhos e desamparados, vimos à vossa presença, majes- buindo assim para o desen-
tade, buscar verdade, justiça e proteção. Fomos transformados em pedintes, somos volvimento da habilidade
oprimidos, estamos à beira da morte. […] Paramos o trabalho e dissemos aos nossos EF09HI11 e da competência
patrões que não recomeçaremos enquanto não aceitarem nossas reivindicações. Não geral 9.
pedimos muito: a redução da jornada de trabalho para oito horas, o estabelecimento • Refletir sobre o papel do
de um salário-mínimo de um rublo por dia e a abolição do trabalho extraordinário. abaixo-assinado naquele
Os oficiais levaram o país à ruína completa e o envolveram numa guerra vergo- momento histórico vivido
nhosa. […] pelos trabalhadores russos e
Estas coisas, majestade, trouxeram-nos diante de vosso palácio. […] Não recusai extrair do texto desse docu-
ajuda a vosso povo. Destruí o muro que se levanta entre vós e vosso povo […]. mento os principais pleitos
VALLADARES, Eduardo; BERBEL, Márcia. Revoluções do século XX. São Paulo: Scipione, 1994. p. 24.
dos trabalhadores.
• Comentar que no ano se-
O documento não chegou a ser entregue ao czar, pois ele mandou que seus soldados guinte ao do Domingo San-
atirassem contra a multidão à queima-roupa. Muitos manifestantes foram mortos, e mi- grento começava, no Brasil,
lhares deles ficaram feridos. a luta pela jornada de 8 ho-
SOVFOTO/UIG/GETTY IMAGES

O episódio ficou conhecido ras de trabalho.


como Domingo Sangrento.. • Propor a leitura da imagem
desta página.
• Destacar que apesar da pin-
tura representar apenas ho-
mens, havia entre os mani-
festantes muitas mulheres e
crianças.

Domingo Sangrento, pintura de


Ivan Vladimirov que representa o
massacre dos trabalhadores pelas
tropas do governo czarista em
frente ao Palácio de Inverno. São
Petersburgo (Rússia), 1905.

113

14:23 TEXTO DE APOIO


AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 113 o movimento seria pacífico e que uma petição seria apresentada,
30/06/22 16:43

a qual, esperava-se, o czar viria receber pessoalmente, já que os


O domingo sangrento manifestantes não confiavam em seus ministros. […] No domin-
Em São Petersburgo, as tensões estavam se acumulando como go, dia 9 de janeiro, padre Gapon […] liderou milhares de homens
resultado da demissão de quatro trabalhadores da fábrica Putilov, desarmados, mulheres e crianças em direção ao centro da cidade,
a maior fábrica da capital russa. Quando os trabalhadores da fá- cantando hinos e carregando cruzes e cartazes religiosos. À me-
brica Putilov entraram em greve, foram amplamente apoiados: em dida que se aproximavam do Palácio de Inverno, tropas cossacas
7 de janeiro de 1905, mais de 80 mil pessoas de empresas espalha- tentaram expulsá-los com chicotadas, mas a multidão era muito
das pela cidade entraram em greve, derrubando o suprimento de
grande e muito determinada em seu objetivo para ser impedida
eletricidade da capital. Uma manifestação em massa foi planeja-
por chicotes. Então os cossacos usaram seus rifles e espadas.
da para exigir aumento salarial e reformas liberais. No dia 8 de ja-
neiro, o líder da manifestação, padre Gapon, informou o czar que GILBERT, Martin. A história do século XX. São Paulo: Planeta (Crítica), 2016. p. 43.
113

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 113 26/08/2022 18:56


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar a Revolta do En-
couraçado Potemkin, e co-
mentar sobre o filme de Encouraçado: navio destinado Populares reagiram ao Domingo Sangrento promovendo
ao combate, armado de
Serguei Eisenstein inspirado canhões e revestido por uma série de greves e revoltas. A mais famosa delas foi a
nessa Revolta. grossas couraças. revolta dos marinheiros do encouraçado Potemkin contra
Soviete: conselho de
• Alertar para o fato de que o deputados eleitos por
os castigos corporais e a fome a que eram submetidos na
cinema tem uma linguagem operários, camponeses e marinha czarista. A onda de rebeldia culminou com levantes
soldados.
própria e seu principal com- populares organizados pelos sovietes
sovietes..
promisso é o de ser um espe-
táculo.

BUYENLARGE/GETTY IMAGES
• Estabelecer comparações en-
tre a Revolta do Encouraça-
do Potemkin e a Revolta da
Chibata, em 1910, no Brasil,
identificando semelhanças e
diferenças.
• Refletir sobre a entrada do
Império Russo na Primeira
Guerra Mundial e suas con-
sequências para o povo rus-
so: aumento do desempre-
go, inflação e fome.

Dica de leitura
É possível aprofundar o
assunto com os alunos aces-
sando o texto: A VIDA na Rús-
sia antes da Primeira Guerra
Mundial. Rússia Beyond. [S. l.],
21 fev. 2014. Disponível em: Fac-símile de cartaz dos designers russos Georgii Stenberg e Vladimir Stenberg. Repare na ideia de
movimento e no uso alternativo das cores na criação desses dois artistas, c. 1925.
h t t p s : / / b r. r b t h . c o m /
arte/2014/02/21/a_vida_
Enquanto isso, a Rússia era derrotada na guerra contra o Japão, e o czarismo saía
na_russia_antes_do_
do conflito desmoralizado. Pressionado pelo povo, o czar convocou a Duma, uma assem-
inicio_da_primeira_guerra_
mundial_24267. Acesso em: bleia composta de deputados eleitos pela população. Mas, logo em seguida, vendo-se
25 jun. 2022. fortalecido, dissolveu a Duma e voltou a governar de forma autoritária.
Em 1914, decidida a controlar o acesso ao Mar Mediterrâneo pelo Mar Negro, a
Rússia czarista entrou na Primeira Guerra Mundial. O Império Russo lançou cerca de 13
milhões de soldados contra os alemães, mas esse exército numeroso carecia de fuzis,
botas, cobertores e, sobretudo, treinamento adequado. O resultado foi trágico: em
pouco tempo, cerca de 3 milhões de soldados foram mortos. A população civil também
foi fortemente atingida pelo desemprego, pela inflação e pela fome.

114

+ATIVIDADES
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 114 28/06/22 13:24 D3_

Interdisciplinaridade: Se possível, exibir o filme Encouraçado Potemkin, de Serguei


Eisenstein, produzido em 1925. É interessante que os alunos percebam o papel das artes
em sua relação com a história. A proposta pode ser desenvolvida junto ao professor do
componente de Arte; é interessante destacar que Eisenstein utilizou contrastes e rela-
ções de corte e montagem que serviram de base para filmes experimentais. Orientar os
alunos a fazerem anotações para elaborarem uma resenha crítica. A atividade contribui
para o desenvolvimento da competência geral 4.

114

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 114 26/08/2022 18:56


TEXTO DE APOIO
A Revolução de Outubro
Em fevereiro de 1917, Lenin
O processo revolucionário Calendário juliano:
a Rússia adotava o era um emigrante político qua-
se anônimo, perdido em Zuri-
calendário juliano, criado
em 45 a.C. com a reforma que, sem contatos confiáveis
O povo culpava o czar Nicolau II pelas sucessivas derrotas e introduzida pelo general na Rússia, informando-se sobre
pela permanência da Rússia na Primeira Guerra. Uma onda de pro- romano Júlio César. Este os eventos basicamente pela
testos, com saques a armazéns e lojas, alastrou-se pelo país. Em 23 calendário tem uma imprensa suíça; em outubro de
diferença de 13 dias em 1917 ele liderava a primeira re-
de fevereiro de 1917 no calendário juliano,
juliano, tecelãs e operários relação ao calendário
volução socialista bem-sucedi-
de São Petersburgo marcharam em direção ao prédio do governo. gregoriano, adotado pelo
Ocidente com a reforma da no mundo. O que aconteceu
Muitos soldados do exército czarista também se juntaram aos re- entre esses dois momentos?
introduzida pelo papa
beldes e, unidos a eles, invadiram o Palácio de Inverno, derrubaram Gregório XIII. Assim, o dia Em fevereiro, Lenin percebeu
o imperador e proclamaram a República. Formou-se, então, um 23 de fevereiro na Rússia imediatamente a possibilidade
correspondia ao dia 8 de revolucionária, o resultado de
governo provisório.
março no Ocidente. singulares circunstâncias con-
tingentes – se o momento não
fosse aproveitado, a possibilida-
O governo provisório RAILW
de da revolução seria posterga-
AY FX/S
O governo provisório, liderado por políticos moderados, como HUTTER
STOCK da, talvez por décadas. Em sua
insistência obstinada de que se
o advogado Alexander Kerenski, procurou diminuir a insatisfação
deveria correr o risco e prosse-
popular libertando os presos políticos, concedendo liberdade de guir para o próximo estágio – ou
imprensa e permitindo a volta dos exilados. Mas contrariou os seja, repetir a revolução–, ele
anseios do povo ao declarar que a Rússia continuaria na guerra. estava só, ridicularizado pela
O líder bolchevique Vladimir Lênin, que se encontrava exilado, PICTURELUX/THE HOLLYWOOD ARCHIVE/ALAMY/FOTOARENA
maioria dos membros do comi-
tê central de seu próprio partido
retornou à Rússia em abril de 1917 e passou a defender a der- […]. Mesmo que a intervenção
rubada do governo provisório, a saída da Rússia da guerra e a pessoal de Lenin tenha sido in-
repartição de terras entre os camponeses. Os lemas defendidos dispensável, contudo, não de-
por Lênin eram: “Paz, terra e pão” e “Todo poder aos sovietes”. vemos transformar a história
da Revolução de Outubro na
Naquele contexto, paz significava a saída imediata da Rússia da
história de um gênio solitário,
Primeira Guerra Mundial; terra significava a necessidade de uma confrontado com as massas
reforma agrária que possibilitasse o acesso à terra a um número desorientadas e gradualmen-
maior de camponeses; pão significava o fim da carestia e da fome. Vladimir Lênin discursa te impondo suas ideias. Lenin
Com o agravamento da situação social provocada pela permanên- na Praça Vermelha, triunfou porque seu apelo […]
durante a Revolução encontrou eco naquilo que se
cia da Rússia na guerra, as ideias de Lênin foram ganhando força
Bolchevique. Moscou, poderia chamar de micropolítica
entre a população. 1917. Na bandeira revolucionária: a incrível explo-
No dia 24 de outubro de 1917, tinha início a Revolução: os comunista, a foice são da democracia popular, de
bolcheviques, liderados por Lênin e Trotsky (comandante da e o martelo juntos comitês locais surgindo em tor-
representam a aliança no de todas as grandes cidades
Guarda Vermelha),
Vermelha), ocuparam os prédios públicos da cidade de entre os camponeses e da Rússia e, ignorando a autori-
São Petersburgo, inclusive o Palácio de Inverno, e no dia seguinte os operários.
dade do governo “legítimo”, to-
assumiram o poder. O governo da Rússia passou às mãos dos bol- mando a situação em suas pró-
cheviques, sob a liderança de Lênin, no cargo de presidente do Guarda Vermelha: força prias mãos. Essa é a história não
Conselho de Comissários do Povo. A bandeira comunista foi has- militar composta de contada da Revolução de Outu-
trabalhadores e soldados. bro, o oposto do mito de um pe-
teada no Palácio de Inverno pela primeira vez.
queno grupo de revolucionários
implacavelmente dedicados que
115 deram um golpe de Estado.
ŽIŽEK, Slavoj. Prefácio: Entre as duas
revoluções. In: ŽIŽEK, Slavoj (org.). Às
portas da revolução: escritos de Lenin de
13:24 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 115 28/06/22 13:24
1917. São Paulo: Boitempo, 2005.
p. 10-11.
• Explicitara participação das mulheres e dos soldados czaristas na tomada do Palácio de
Inverno pelas forças populares.
• Compreender a política do governo provisório chefiado por Alexander Kerensky.
• Relacionar os efeitos da Primeira Guerra sobre a população russa à progressão e dissemina-
ção das ideias de Lênin.
• Pensar sobre os lemas defendidos por Lênin e seus significados para população Russa na-
quele momento histórico.
• Descrever a Revolução Bolchevique sob a liderança de Lênin e Trotsky.

115

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 115 26/08/2022 18:56


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre as medidas
adotadas pelo governo bol-
chevique e seus desdobra- O governo bolchevique de Vladimir Lênin
mentos internos e externos.
O governo bolchevique, liderado por Lênin, adotou várias medidas de grande reper-
• Trabalhar o conceito de esta-
cussão social:
tização da economia.
• propôs a paz aos alemães: em 3 de março de 1918, a Rússia saía da guerra, assinando
• Facilitar aos alunos a com-
com a Alemanha o Tratado de Brest-Litovsk;
preensão das divergências
que opunham as forças do • confiscou as terras da família real, dos nobres e da Igreja Ortodoxa e distribuiu-as entre
Exército Branco às do Exér- os camponeses;
cito Vermelho, contribuin- • estatizou a economia: indústrias, bancos e estradas de ferro passaram a ser dirigidos
do com isso para o desen- pelo governo russo;
volvimento da habilidade • estabeleceu a igualdade de direitos entre homens e mulheres.
EF09HI11.
• Trabalhar o conceito de co-
munismo de guerra e reto- A guerra civil
mar e consolidar o de guerra Essas medidas foram mal-recebidas por monarquistas, men-
civil. Exército Vermelho:
cheviques e liberais, que, com a ajuda das potências capitalistas
organização que teve
• Avaliar os efeitos de uma sua origem na Guarda (Inglaterra, Estados Unidos e Japão), formaram o Exército Branco
guerra civil sobre a popu- Vermelha. Trotsky para combater a Revolução de Outubro.
lação de um determinado organizou, disciplinou
e ampliou os efetivos
Seus opositores, os bolcheviques, organizaram o Exército
território, no passado e no da Guarda Vermelha, Vermelho,, comandado por Trotsky. Teve início, então, uma san-
Vermelho
presente. formando, assim, o grenta guerra civil entre os dois exércitos, que se estendeu por três
Exército Vermelho.
longos anos (1918-1921).
Durante a guerra civil, o governo bolchevique:
• adotou o comunismo de guerra,, ou seja,
COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA manteve um rígido controle sobre a pro-
dução industrial e agrícola e o comércio;
• confiscou a produção agrícola dos cam-
poneses para manter o esforço de guerra;
• criou tribunais que condenavam sem
julgamento todos aqueles que eram
considerados inimigos da Revolução; na
ocasião, o czar e sua família foram con-
denados e mortos.
A guerra civil terminou com a vitória
dos bolcheviques. Ao fim do conflito,
Desembarque do exército estadunidense em porém, a economia encontrava-se total-
Vladivostok (Rússia), como parte de um esforço mente arrasada e o povo russo, esgotado
maior das potências ocidentais e do Japão para
apoiar o Exército Branco contra os bolcheviques e empobrecido. A fome tirou a vida de
durante a guerra civil (1918-1921). milhões de pessoas.

116

D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 116 28/06/22 13:24 109

116

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 116 31/08/22 09:58


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a NEP como
uma solução para a situação
A NEP: Nova Política Econômica

AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA
de penúria imediata pós-
Diante dessa situação de penúria, o governo de Lênin adotou -guerra entre os “brancos” e
medidas capitalistas ao lado das socialistas. Combinavam-se, assim,
os “vermelhos”.
• Perceber a concentração
princípios socialistas com práticas capitalistas. Essa “Nova Política
Econômica”, conhecida como NEP:
de poder na política adota-
da pelo Partido Comunista
a) incentivou o comércio e a formação de pequenas e médias que evolui, assim, para uma
empresas privadas, dando origem a um grupo de empreende- ditadura.
dores que apoiavam o governo socialista; • Identificar a formação da
b) permitiu aos camponeses vender o excedente de suas colheitas União das Repúblicas Socia-
no mercado interno; A manufatura que listas Soviéticas (URSS) e es-
c) liberou a entrada de capitais estrangeiros na Rússia sob a forma você vê na fotografia timular os estudantes a estu-
de empréstimos e investimentos.
é resultado do darem o mapa desta página
incentivo dado pela
a fim de melhor situar o pal-
A NEP conseguiu que a agricultura russa se recuperasse, mas a NEP de Lênin. URSS,
1926. co onde se desenvolve atual-
indústria e o comércio continuaram em uma situação difícil.
mente a Guerra da Ucrânia.
• Chamar a atenção dos estu-
A formação da URSS dantes para a posição estra-
tégica da URSS no continente.
A flexibilidade na economia, porém, não correspondeu a uma abertura na política.
Ao contrário, implantou-se uma ditadura do Partido Comunista, novo nome do grupo
bolchevique: suprimiu-se a liberdade de pensamento e de imprensa e os sindicatos e Dica de leitura
os sovietes foram obrigados a obedecer a ordens. Em dezembro de 1922, um grande O artigo traz comentários
congresso reunindo os diferentes povos que habitavam o território russo fundou a União sobre as interpretações de
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Formou-se um governo composto de Victor Serge sobre as negocia-
representantes das várias repúblicas, sendo a Rússia a principal delas. ções que resultaram no trata-
do entre Rússia e Alemanha.
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS (1922) Dialogando • MOTTA, José Flávio; LOPES,
SELMA CAPARROZ

Luciana Suarez. “Nenhum


a Cite os mares
ic h milímetro”! A paz de Brest-
OCEANO Gre
enw e oceanos que
ATLÂNTICO ian
od
e
-Litovsk segundo Victor Ser-
o

rid OCEANO banhavam a URSS.


Á r tic

Me
GLACIAL
ge. Boletim Informações
la r

ÁRTICO 45° N
Po

Mar do u OCEANO
b Indique os países FIPE, São Paulo, n. 426, p. 37-
lo

Norte rc
FINLÂNDIA Cí PACÍFICO
com os quais
o

ált
ic

M ar B I
43, mar. 2016.
S

ESTÔNIA RA
LETÔNIA RÚSSIA
a Rússia fazia
SU

LITUÂNIA (parte asiática)


N TE

BELARUS RÚSSIA
(parte europeia) fronteira.
MO

UCRÂNIA
MOLDÁVIA
JAPÃO Contando com a posse e pro-
Ma
rN
eg MONGÓLIA priedade da terra e sendo taxa-
Ma

r CAZAQUISTÃO
rM

TURQUIA
do de forma mais branda do que
Cáspio
o

GEÓRGIA
ed

Mar Aral
ite

ARMÊNIA
ne
ocorreria no período imperial, os
rrâ

o AZERBAIJÃO UZBEQUISTÃO
QUIRGUISTÃO Fonte: HAYWOOD, John. Atlas
M ar

CHINA
TURCOMENISTÃO
TADJIQUISTÃO
0 945
histórico do mundo. Colônia: camponeses tiveram sua qualida-
IRÃ 90° L
Köneman, 1999. p. 204. de de vida melhorada significati-
a) Mar Cáspio, Mar Negro, Oceano Glacial Ártico e Oceano Pacífico. vamente no período da NEP. Na
b) China, Mongólia, Cazaquistão, Azerbaijão, Geórgia, Ucrânia, Belarus, Letônia, Estônia e Finlândia. 117 segunda metade da década de 20
o nível de produção agrícola já se
aproximava do nível pré-guerra.
Entretanto, o destino de grande
13:24 TEXTO DE APOIO
109a124-HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 117
Como os distúrbios no campo podem24/08/22 09:02
ser con- parte do aumento da produção
A necessidade de uma nova virada na políti- siderados a principal força que impulsionou o foi o autoconsumo, fazendo com
ca interna e externa do governo soviético, por governo Bolchevique a adotar a NEP, e não é ne- que a quantidade de grãos que
conta da destruição causada pela guerra civil e nhuma surpresa que a agricultura russa tenha se destinava ao mercado ficasse
pelo isolamento internacional, fez com que Lê- sofrido os principais impactos da referida me- abaixo do nível pré-guerra [...].
nin adotasse uma série de concessões capita- dida. Nas palavras de Ball: “O coração da NEP NOGUEIRA, Flavio Schluckebier P. S.
listas buscando a estabilização da Rússia. Para estava na esperança que os camponeses produ- A busca pela modernização: uma análise
cumprir com o referido objetivo surgiu a Nova ziriam mais excedentes pelo incentivo do que comparativa entre a Rússia Imperial (1861-
Política Econômica (NEP), que emergiu sem ser pela coerção...” [...]. O aumento da produtivida- 1914) e a Rússia Soviética (1921-1939).
Dissertação (Mestrado em Economia Política
um decreto ou uma progressão planejada, mas, de do camponês era visto como um importante Internacional) – Instituto de Economia,
como um rótulo fixado a uma série de medidas aspecto para melhorar a condição de vida em Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
adotadas pelo governo russo.[...] toda Rússia[...]. de Janeiro, 2013. p. 71, 74-75.
117

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 117 26/08/2022 18:56


ENCAMINHAMENTO
• Relacionar a ascensão de
Stalin ao posto de secretá-
rio-geral do Partido Comu- A disputa entre Stalin
nista ao endurecimento do
regime soviético e ao esma- e Trotsky
gamento de seus opositores Mesmo com a oposição sob controle,
reais e imaginários. o autoritarismo do Partido Comunista,
• Compreender e contextua­ o único permitido na União Soviética,
lizar a divergência entre agigantou-se. O Estado tornou-se ainda
Trotsky, e seu ideal de uma mais poderoso em 1922, com a ascensão
revolução permanente, e de Josef Stalin ao posto de secretário-ge-
Stalin, cujo lema era “o so- ral do partido, o mais alto cargo político

LASKI DIFFUSION/GETTY IMAGES


cialismo em um só país”. da União Soviética. Stalin se aproveitou
• Refletir sobre os meios usa- do cargo para afastar, prender ou elimi-
dos por Stalin para vencer nar seus opositores e nomear para os
seus adversários a partir do postos mais importantes homens de sua
assassinato de Trotsky, orde-
confiança.
nado pelo ditador.
Com a morte de Lênin em 1924,
• Tema Contemporâneo Trans-
acirraram-se as disputas pelo poder. A
versal: o tema que versa so-
principal delas opôs Stalin a Trotsky, que
bre educação em direitos
ocupava o cargo de Comissário de Defesa.
humanos pode ser ampla-
mente explorado ao tratar Lênin. Moscou (URSS), 1921. Enquanto comandante do Exército
sobre o totalitarismo de Sta- Vermelho, Trotsky era visto como o mais
lin, que reprimia qualquer provável sucessor de Lênin. Segundo ele, o meio mais eficiente de proteger a União
forma de oposição, liberdade Soviética era estender a revolução socialista a outros países. Portanto, o ideal trotskista
de expressão e condenava era o de uma revolução permanente..
seus opositores sem direito Já Stalin julgava que, primeiramente, era
a julgamento. necessário consolidar o socialismo na
União Soviética para depois ajudar
a fazer a revolução socialista
Imagens em movimento em outros países. Atribuiu-se
UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES

Vídeo sobre a vida e a morte a ele o lema: “O socialismo


de Leon Trotsky. em um só país”.
• O ASSASSINATO de Trotsky Por meio de manobras polí-
e a lata de lixo da História. ticas, Stalin expulsou Trotsky do

UNDERWOOD ARCHIVES/GETTY IMAGES


2015. Vídeo (52min30s). Pu- Partido Comunista em 1927 e, pouco
blicado pelo canal TV Brasil. depois, do país. Posteriormente,
Disponível em: https://youtu.
mandou assassinar Trotsky,
be/vWC_JdhfJY0. Acesso em:
que na ocasião estava
25 jun. 2022
exilado no México.
Stalin. URSS, década de 1920. Trotsky. URSS, c. 1924.
TEXTO DE APOIO
Stalin aniquila a oposição
118
A [...] vitória de Stalin não sig-
nificou apenas a liquidação po-
vadas a cabo por um pequeno círculo funcional que acompanhou o período 1929/1932 [...] foi
lítica do defensor da teoria da D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 118 28/06/22 13:24 D3_

aglutinado em torno do secretário-geral. A ins- transformado por Stalin e seu aparelho partidá-
“revolução permanente”, com
tauração de um sistema político autocrático foi rio em norma de conduta política. [...] a socieda-
a consequente hegemonia da
concomitante à [...] “grande mudança”: a partir de russa foi envolvida na camisa de força de um
concepção do “socialismo num
de 1929, fundamentais modificações são intro- abrangente terrorismo psicossocial.
só país”: significou, sobretudo,
a gradativa implantação de uma duzidas na vida econômica da Rússia [...]. É no PAULO NETTO, José. Lukács e a problemática cultural da era
sistemática política que abolia a justo processo dessa “grande mudança” que stalinista. In: COTRIM, Ana; COTRIM, Vera (org.). Todo poder
o secretário-geral aciona os mecanismos que aos sovietes! A Revolução Russa 100 anos depois. Porto
discussão democrática das alter- Alegre: Zouk, 2018. p. 283-284.
nativas do socialismo – estimu- constituirão a era que leva seu nome – é com
lada por Lenin –, substituindo-a ela que o stalinismo passa a inscrever-se como
por uma centralização burocrá- página heroica e sangrenta da história do socia-
tica do processo de decisões, le- lismo. O episódio da excepcionalidade política
118

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 118 31/08/22 09:59


ENCAMINHAMENTO
• Contextualizar e descrever
a ditadura stalinista com es-
A ditadura stalinista pecial atenção a duas de suas
peculiaridades: a opressão
No governo, como maior autoridade do Partido Comunista da URSS, Stalin implantou
às nacionalidades e os julga-
uma ditadura brutal que perdurou até 1953, ano de sua morte. Essa sangrenta ditadura, mentos forjados.
conhecida como stalinismo,, tinha as seguintes características:
• Estimular a compreensão do
• sistema de partido único:: não se admitia nenhum tipo de oposição, e uma simples efeito de realidade de que a
suspeita era suficiente para que o cidadão fosse mandado para os campos de trabalho imagem é portadora, a par-
forçado, os gulags
gulags,, muitos deles na Sibéria; tir da análise de fotografia
• opressão às nacionalidades:: o governo stalinista obrigou os povos não russos, como, em que Stalin é mostrado
por exemplo, os ucranianos, a adotarem o idioma russo e a viverem de acordo com as com uma criança no colo.
regras ditadas pelo governo;
• burocratização do Estado:: a cúpula do Partido Comunista, os militares de alta patente,
os funcionários públicos e os técnicos graduados constituíram uma elite poderosa, TEXTO DE APOIO
conhecida como nomenklatura
nomenklatura.. Essa elite tinha uma série de privilégios e benefícios A ditadura stalinista
concedidos pelo Estado;
[...] Mas foi na plenária de fe-
• supressão da liberdade de imprensa e de pensamento:: a propaganda tornou Stalin vereiro-março do Comitê Cen-
conhecido pelos comunistas do mundo todo como “grande irmão”, “pai do povo” e tral em 1937 que Stálin, Mólotov
“melhor amigo das crianças”. e Nikolai Iejov (novo chefe da
NKVD, como a polícia secreta
• julgamentos forjados:: os adversários eram obrigados a confessar, sob tortura, que foi rebatizada em 1934) deram
eram “traidores da pátria”, sendo, em seguida, fuzilados. o sinal que desencadeou a caça
às bruxas. Por dois anos inteiros,
SOVFOTO/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES

LASKI DIFFUSION/GETTY IMAGES

em 1937 e 1938, altos dirigentes


comunistas em todos os setores
da burocracia – governo, partido,
indústria, forças armadas e até
a polícia – foram denunciados e
presos como “inimigos do povo”.
Alguns foram fuzilados; outros
desapareceram no Gulag. [...]
As dimensões totais dos Ex-
purgos, durante muitos anos
objeto de especulação no Oci-
dente, estão começando a emer-
gir à medida que pesquisadores
investigam arquivos soviéticos,
antes inacessíveis. De acor-
do com os arquivos da NKVD,
À esquerda, festival esportivo na URSS, em 1937. Ao fundo, o número de condenados em
imagem de Josef Stalin com a menina Engelsina Markizova. campos de trabalho de Gulag foi
Acima, prisioneiros de um campo de trabalho forçado de meio milhão em dois anos a
soviético empenhados na construção do canal Mar Branco- partir de 1o de janeiro de 1937,
-Báltico. Milhares de trabalhadores morreram durante a atingindo 1,3 milhão em 1o de
construção desse canal. URSS, entre 1931 e 1933.
janeiro de 1939. Neste último
ano, 40% dos prisioneiros do Gu-
119 lag tinham sido condenados por
crimes “contrarrevolucionários”,
22% eram classificados como
“elementos socialmente nocivos
13:24 D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 119 + ATIVIDADES 28/06/22 13:24
ou socialmente perigosos”, e os
Investigue fotografias em que se vê dita- demais, em sua maioria, eram
dores posando ao lado de crianças, depois criminosos comuns. Muitas víti-
faça uma reflexão crítica a respeito desse mas dos Expurgos eram execu-
tadas na prisão, sequer chegan-
recurso.
do ao Gulag. A NKVD registrou
Organizados em duplas, troquem e com- mais de 680 mil execuções as-
partilhem informações sobre seus achados sim em 1937-8. [...]
nas redes sociais oficiais da escola. FITZPATRICK, Sheila. A Revolução Russa.
Resposta pessoal. São Paulo: Todavia Livros, 2017.
p. 242-243.

119

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 119 31/08/22 09:59


ENCAMINHAMENTO
Professor, considerar que o
trabalho com esta página di-

A
dática é estratégico para o de-
senvolvimento da habilidade
Desdobramentos da Revolução Russa
EF09HI11, sobretudo no que Entre os principais desdobramentos da Revolução Russa, podemos citar:
diz respeito aos desdobra- a) apresentou aos cidadãos e às nações a possibilidade de opção por outro sistema
mentos da Revolução Russa e político-social;
seu significado histórico.
b) garantiu igualdade de direitos às mulheres. A Constituição de 1918 garantia à mulher
Aproveitar para explorar
o direito ao divórcio, à herança, à educação e à formação profissional, o mesmo salário
como o papel das mulheres
que o homem para empregos iguais, acesso a todos os postos de trabalho e direitos
muitas vezes é apagado nas
narrativas históricas. É impor- políticos iguais;
tante que percebam que a ga-

SOVFOTO/UIG/BRIDGEMAN/FOTOARENA
rantia de igualdade de direitos
na Rússia não aconteceu por
meio da concessão masculina,
mas enquanto conquista das
mulheres que participaram ati-
vamente da onda que varreu o
czarismo do país. Com pouca
qualificação profissional e em
busca de condições dignas de Pilotas soviéticas em
trabalho e remuneração, mu- frente a uma aeronave
lheres do campo e operárias se Tupolev. Sibéria (URSS),
24 de setembro de 1938.
organizaram para reivindicar
direitos iguais. As mulheres
bolcheviques foram funda-
mentais nas greves de 1917,
ainda que tenham desapare-
cido dos relatos sobre aquele
ano e estivessem ausentes dos
principais órgãos administra-
tivos do governo. O apoio dos
bolcheviques às lutas femini-
nas vinculou a luta pela igual- c) estimulou governantes europeus a cederem aos trabalhadores condições de vida mais
dade de gênero a sua contes- saudáveis e mais dignas, até mesmo para evitar a propagação das ideias vindas da
tação ao governo czarista. Res- URSS. Entre esses direitos, podemos citar a assistência social e a previdência;
saltar que, apesar do apaga-
mento na história, as mulheres d) favoreceu as lutas pelas independências em vários países da África e da Ásia. Vários
reagiram com força às longas partidos políticos africanos que conduziram os processos de independência de seus
jornadas de trabalho existen- países aderiram aos ideais socialistas vindos da URSS;
tes nos tempos imperiais. A e) influenciou os movimentos operários de várias partes do mundo, inclusive do Brasil.
discussão pode colaborar para Vários líderes operários brasileiros da Primeira República (1889-1930) aderiram ao
desenvolver o senso crítico em comunismo.
relação à predominância do
ponto de vista masculino na 120
história, mobilizando as com-
petências específicas 4 e 6.
TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 120 28/06/22 13:24 AV_

Dica de leitura As vozes da revolução das mulheres


O livro aborda a participa- As mulheres foram e continuam sendo objeto de representações e análises privilegiadas feitas
ção das mulheres na política do ponto de vista do homem. Exemplo disso são os escritores e suas personagens femininas ou os
e nos conflitos que contribuí- pensadores que se dedicam a elaborar tratados sobre as mulheres, enquanto as vozes femininas
ram para a formação da URSS. reais – de mulheres revolucionárias, jornalistas, escritoras, poetas – escreviam silenciadas. […]
• SCHNEIDER, Graziela. A revo- [...] Nos anos de 1930 e 1940, com o stalinismo, a luta das mulheres toma novos rumos, devido à
lução das mulheres: emancipa- promoção de políticas retrógradas.
ção feminina na Rússia soviéti- SCHNEIDER, Graziela (org.). A revolução das mulheres: emancipação feminina na Rússia soviética. São Paulo: Boitempo, 2017. p. 11.

ca. São Paulo: Boitempo, 2017.


120

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 120 26/08/2022 18:56


ENCAMINHAMENTO
1. Informam que havia laços de parentesco estreitos entre as famílias reais
reinantes na Rússia e na Grã-Bretanha; a avó da czarina da Rússia era a 1. A imagem pode ser utiliza-
rainha Vitória, da Grã-Bretanha, cujo governo se estendeu de 1837 a 1901; da para refletirmos sobre a prá-

ATIVIDADES
ATIVIDADES o príncipe do país de Gales também era parente
dos monarcas fotografados. Daí se deduz que a
NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

prática do casamento por interesse no interior das famílias reais europeias


tica do casamento por interesse
no interior das famílias reais eu-
permitia um poder que ultrapassava muito as fronteiras dos seus países. ropeias que permitia a elas um
2. A construção dessa ferrovia está relacionada ao processo de industrialização pelo qual passava o poder que ultrapassava muito
Império Russo. A população havia migrado do campo para a cidade em busca de melhores condições
de vida e de emprego nas novas indústrias que surgiam, o que acabou por baratear o custo da mão as fronteiras dos seus países.
de obra. Os investimentos estrangeiros e a construção das ferrovias favoreceram largamente 2. A construção dessa fer-
I. Retomando o processo de
industrialização.
rovia está relacionada ao pro-
cesso de industrialização pelo
qual passava o Império Russo.
1 Observe a imagem com atenção e A população havia migrado
responda no caderno: o que a foto e do campo para a cidade, em
a legenda informam sobre as relações busca de melhores condições
entre as famílias reais europeias de vida e emprego nas novas
naquela época? indústrias que surgiam, o que
À esquerda, veem-se o último czar russo, acabou por baratear o custo
Nicolau II, sua esposa, Alexandra Feodorovna, da mão de obra e estimular a
e sua filha, Olga. Ao centro, sentada, está demanda por ferrovias para o
a rainha Vitória da Grã-Bretanha, avó da transporte de pessoas e mer-
czarina; atrás dela, à direita, Eduardo,
príncipe de Gales. Balmoral (Escócia), 1896. cadorias no extenso território
© HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS/CORBIS/GETTY IMAGES
russo. Investimentos estrangei-
2 Nesta imagem, é possível observar ros e a construção das ferrovias
uma representação de como ocorreu a favoreceram largamente o
construção da Ferrovia Transiberiana. processo de industrialização.
A qual processo histórico, iniciado a A leitura e a interpretação da
partir da segunda metade do século imagem podem ser realizadas
XIX no Império Russo, relaciona-se a coletivamente, permitindo
construção dessa ferrovia? Justifique. que os alunos contribuam com
suas percepções dos elementos
Prisioneiros do Império Russo
trabalhando na construção da ferrovia
que a compõem.
Transiberiana. Rússia, 1897. 3. É interessante que seja
3. a) V; b) V; c) V; d) F; e) F.
BIBLIOTECA AMBROSIANA/DE AGOSTINI/AGEFOTOSTOCK/EASYPIX BRASIL
feita a correção das alternati-
3 No caderno, copie as alternativas verdadeiras e, em seguida, corrija a(s) falsa(s). vas erradas, buscando oportu-
a) Durante o período da industrialização russa, ainda no século XIX, a vida dos trabalhadores nizar a participação de todos
era extremamente precária, as jornadas de trabalho eram longas, e os salários, baixos. os estudantes. Apresentar as
b) As condições precárias de vida e trabalho dos operários na Rússia facilitaram a entrada das seguintes correções: d) Por
ideias socialistas no país. causa das péssimas condições
c) O socialismo é uma doutrina que propõe a transformação da sociedade, visando à repartição de vida e trabalho, os operá-
da riqueza e à igualdade social (coletivização dos meios de produção). Também se opõe ao rios russos realizaram diversas
liberalismo, critica a injustiça social e propõe o advento de uma sociedade sem classes. manifestações e, por isso, fo-
d) Apesar das péssimas condições de vida e trabalho, os operários russos não se manifestavam ram perseguidos pela polícia
e, mesmo assim, eram perseguidos pela polícia czarista, a Okhrana.
czarista, a Okhrana; e) O socia-
e) O socialismo, chamado por Karl Marx de científico, manteve-se restrito à Rússia. lismo, chamado por Karl Marx
de científico, espalhou-se ra-
121 pidamente pela Europa.

13:24 Dica de leitura


AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 121 30/06/22 16:43

Dissertação que compara a modernização da Rússia


Imperial com a da Rússia consolidada sob o governo bol-
chevique.
• NOGUEIRA, Flavio Schluckebier P. S. A busca pela mo-
dernização: uma análise comparativa entre a Rússia
Imperial (1861-1914) e a Rússia Soviética (1921-1939).
Dissertação (Mestrado em Economia Política Interna-
cional) – Instituto de Economia, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. p. 57-58.
121

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 121 26/08/2022 18:56


ENCAMINHAMENTO
• Retomar com os alunos o 4. a) No cartaz, é possível ver um navio com diversas pessoas, com os braços levantados, alguns textos escritos em russo e
que foi estudado na unida- o ano de 1905.
4

GOSKINO FILMS
de 1 e perguntar sobre os Observe a imagem com atenção e responda
principais pontos da Revolta às questões a seguir.
da Chibata. Para facilitar a a) Descreva o que você vê no cartaz.
visualização do resumo por b) Com base no que você estudou, no título do
todos, anotar na lousa a res- filme e na imagem do cartaz, explique a história
posta dos alunos para, em contada no filme.
seguida, questionar quais c) Em dupla. Conversem e identifiquem as
pontos em comum podem semelhanças entre a revolta ocorrida no Brasil
em 1910 e a que serve de tema para o filme
ser percebidos. soviético. 4. c) Resposta pessoal.
• Comparar os resultados na 5. a) O governo de Lênin propôs a paz aos alemães:
em 3 de março de 1918, a Rússia saiu da guerra,
Rússia e no Brasil, estimular assinando com a Alemanha o Tratado de Brest-Litovsk.
os estudantes a desenvolve- Confiscou as terras da família real, dos nobres e da
rem uma habilidade impor- Igreja Ortodoxa e distribuiu-as entre os camponeses e
estatizou a economia: indústrias, bancos e estradas de
tante em História, qual seja, ferro passaram a ser dirigidos pelo governo russo.
a de estabelecer semelhan- Fac-símile do cartaz do filme
Encouraçado Potemkin, dirigido pelo
ças e diferenças entre pro-
cineasta Sergei Eisenstein, de 1925.
cessos históricos.
4. c) Espera-se que os alunos 5 Em outubro de 1917, os bolcheviques derrubaram o governo provisório e, sob a
mencionem que a Revolta da liderança de Vladimir Lênin, tomaram o poder.
Chibata, ocorrida em 1910, a) Quais foram as primeiras medidas importantes do governo de Lênin?
na cidade do Rio de Janeiro, b) Essas medidas dividiram a sociedade russa, o que acabou provocando uma sangrenta guerra
possui motivações e objetivos civil. Elabore um pequeno texto sobre quem lutava contra quem na guerra civil russa e informe
semelhantes à Revolta do En- qual foi o desfecho. 5. b) Resposta pessoal.
couraçado Potemkin. No caso
do Brasil, havia o agravante
6 Observe as duas imagens com atenção: que diferenças você encontra entre elas?
Saberia dizer quem é o homem que está discursando? E os homens que usam quepe
de os marinheiros serem sub- à direita do palanque, na foto da esquerda, quem seriam eles? Com base em suas
metidos a castigos físicos. Essa observações, crie uma legenda única para as duas imagens. 6. Respostas pessoais.
revolta foi liderada por João
Cândido, que tinha conheci-
mento, através dos jornais, da
Revolta do Encouraçado Po-
temkin.
5. b) A guerra civil russa
durou de 1918 a 1921: de um
lado estavam os monarquis-
tas, liberais e mencheviques,
defendidos pelo Exército
Branco e apoiados por potên-
cias estrangeiras; de outro, os
bolcheviques e seu Exército
Vermelho, comandado por UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES) PHOTO12/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES
Leon Trotsky. A guerra civil 4. b) O filme conta a revolta dos marinheiros do encouraçado Potemkin, em 1905, contra a fome e os
terminou com a vitória dos 122 castigos corporais a que eles eram submetidos sob o regime czarista.
bolcheviques.
6. Nesta atividade, vemos
duas fotos de Lênin tiradas no Além de companheiros,
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 122 Trotsky e Kame- em 1927, ano em que Trotsky e Kamenev 30/06/22 16:43 AV_

mesmo dia, quase na mesma nev eram cunhados: a irmã de Trotsky, Olga foram expulsos do Partido Comunista da
hora; em ambas ele apare- Bronstein, casou-se com Kamenev, passan- União Soviética por manobras arquitetadas
ce na parte superior da foto, do a se chamar Olga Kameneva. A segunda por Stalin. Quando a montagem foi feita, já
num palanque, discursando foto é quase idêntica à primeira, exceto por haviam decorrido três anos do falecimento
para a multidão. Na primeira, um detalhe importante: Trotsky e Kamenev de Lênin.
vemos, ao lado do palanque, não aparecem na imagem; é que eles fo- Esta atividade pode ser usada para incen-
dois de seus companheiros: ram simplesmente eliminados da foto pela tivar reconhecimento dos traços totalitários
Leon Trotsky e, imediatamen- censura stalinista. A foto da esquerda é de da política implementada por Stalin e sua
te atrás dele, Lev Kamenev. 1920 e a da direita, uma montagem, feita tentativa de apropriação da narrativa sobre

122

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 122 26/08/2022 18:56


TEXTO DE APOIO
A propaganda totalitária
Nos países totalitários, a pro-
7

COLEÇÃO PARTICULAR
Leia o trecho a seguir. paganda e o terror parecem ser
duas faces da mesma moeda.
Estimativas [...] mostram que
[...] O totalitarismo não se con-
cerca de 25 milhões de pessoas foram tenta em afirmar, apesar de
reprimidas pelo regime soviético prova em contrário, que o de-
entre 1928, quanto Stálin assumiu semprego não existe; elimina de
sua propaganda qualquer men-
o controle da liderança do partido,
ção sobre os benefícios para os
e 1953, quando o ditador morreu e desempregados. [...] para citar
seu reino de horror, se não o sistema outro exemplo, quando Stalin
que desenvolvera em um quarto decidiu reescrever a história da
Revolução Russa, a propaganda
de século, chegou ao fim. Esses 25
da sua nova versão consistiu
milhões – pessoas mortas por esqua- em destruir, juntamente com
drões de execuções, prisioneiros do os livros e documentos, os seus
gulag, [...] trabalhadores escravos de autores e leitores: a publicação,
em 1938, da nova história oficial
vários tipos e membros de naciona-
do Partido Comunista assinalou
lidades deportadas – representam o fim do superexpurgo que ha-
cerca de um oitavo da população via dizimado toda uma geração
soviética, que em 1941 era de apro- de intelectuais soviéticos. Da
mesma forma, nos territórios
ximadamente 200 milhões, ou, em
ocupados da Europa oriental, os
média, uma pessoa para cada 1,5 mil nazistas se utilizaram, no iní-
família na União Soviética. cio, de propaganda anti-semita
(FIGES, 2010 apud ALVES, 2013, p. 176)
principalmente para assegurar
um controle mais firme da po-
pulação.[...]
Copie no caderno as alternativas corretas e justifique sua "A bondade de Stalin ARENDT, Hannah. As origens do
ilumina o futuro de totalitarismo. São Paulo: Companhia das
escolha.
nossas crianças!", Letras. 1998. p. 390-391.
a) No período denominado “Grande Terror”, ocorreram delações, 1947.
conspirações e acusações estimuladas por Stalin, com o objetivo de
punir qualquer um que se opusesse aos seus propósitos, inclusive
seus companheiros de partido.
b) Stalin utilizou estratégias de propaganda para angariar apoio ao seu
regime, que apresentavam o ditador como o “grande irmão”, um
líder favorável ao seu povo.
c) Os opositores de Stalin eram considerados “inimigos do povo”,
“traidores” e “contrarrevolucionários”, e deveriam ser punidos de
acordo com as regras do regime.
d) A oposição a Stalin se manifestou por meio dos jornais, das revistas des. Dar como exemplo as in-
e das passeatas de protesto; e foi duradoura, mantendo-se viva e tervenções feitas por grandes
atuante até o momento da morte do ditador, em 1953. agências de propaganda du-
e) Stalin estruturou o sistema de poder conhecido como stalinismo, rante as campanhas eleitorais
inspirado nas ideias dos filósofos iluministas. ao redor do mundo.
7. Alternativas A, B e C.
7. Esta atividade permite que
123 os alunos visualizem, por meio
da leitura textual e imagéti-
ca, o papel da propaganda na
16:43
ENCAMINHAMENTO (CONTINUAÇÃO)
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 123 30/06/22 16:43 promoção de um governo to-
talitário. Após a leitura do tex-
a Revolução. Assim, caso os alunos tenham O trabalho com essa imagem pode ajudar to, perguntar aos alunos que
dificuldade em reconhecer as pessoas repre- os estudantes a formarem uma noção sobre tipo de imagem poderia estar
sentadas, orientar que retomem coletiva- a manipulação da imagem por ditaduras associada ao ditador que fosse
mente as figuras de destaque nesse período. e democracias no passado e no presente. condizente com as práticas de
Entretanto, apesar do reconhecimento co- Alertar para o fato de que, no presente, re- seu governo. É possível, inclu-
letivo, cada aluno pode elaborar a própria cursos técnicos sofisticados e softwares de sive, orientar que pesquisem
legenda como forma de sintetizar o que foi fotos e design podem não só mudar uma imagens que ilustrem o texto
aprendido. rea­lidade ou recriá-la, mas “criar” realida- adequadamente.

123

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 123 26/08/2022 18:56


ENCAMINHAMENTO
• Promover um momento de
leitura individual do texto
para o exercício, porém, caso
considere pertinente, an-
II. Leitura e escrita em História a) Os bolcheviques apostavam no
desenvolvimento e na modernização da
Rússia por meio de fábricas, ferrovias,
tes que os alunos elaborem tecnologia, escolas, trabalhadores qualificados, entre outros.
respostas, relembrar alguns Vozes do presente b) Eles se espelhavam na transformação levada adiante pelo capitalismo
nos países mais desenvolvidos do Ocidente.
dos aspectos tratados ante- c) Os mencheviques viam o projeto dos bolcheviques como algo arriscado,
riormente a respeito do Con- Bolcheviques versus mencheviques seja na prática, seja na teoria.
gresso do Partido Operário
Social-Democrata Russo de Os bolcheviques resumiam seus objetivos no poder

EDITORA TODAVIA
1903. Solicitar que os estu- como “a construção do socialismo”. […] eles tinham
dantes elenquem caracte- uma ideia clara de que a chave para “construir o
rísticas que diferenciem os socialismo” era o desenvolvimento econômico e a
bolcheviques dos menchevi- modernização. Como pré-requisitos para o socialismo,
ques considerando o texto e a Rússia precisava de mais fábricas, ferrovias, maqui-
as aprendizagens passadas nários e tecnologia. Precisava também de urbanização,
sobre o tema. [...] de uma classe operaria muito maior e permanente.
• Aprofundar a compreensão Precisava de um índice maior de alfabetização, de mais
da Revolução Russa através escolas, de mais trabalhadores qualificados e engenhei-
da leitura do texto de apoio ros. Construir o socialismo significava transformar a
desta página. Rússia em uma sociedade industrial moderna.
Os bolcheviques tinham uma imagem clara dessa
transformação porque era a transformação empreen-
TEXTO DE APOIO Fac-símile da capa do livro dida pelo capitalismo nos países mais avançados do
A Revolução Russa, Ocidente. Mas os bolcheviques haviam tomado o
A Revolução de Outubro e de Sheila Fitzpatrick.
poder “prematuramente” […]. Os mencheviques consi-
seus desdobramentos só
deravam isso arriscado na prática e muito duvidoso na teoria. Os próprios bolcheviques
se tornam inteligíveis no
contexto de um ciclo de não sabiam muito bem como isso seria levado a cabo. Nos primeiros anos depois da
revoluções que se deram Revolução de Outubro, eles frequentemente sugeriam que a Rússia precisaria da ajuda
entre 1905 e 1921. da Europa Ocidental industrializada [...] para avançar rumo ao socialismo. Todavia, o
[...] cinco atores sociais ir- movimento revolucionário na Europa ruiu, deixando os bolcheviques ainda sem saber
romperam no cenário político como proceder, mas determinados a construir de algum modo seu caminho. Em 1923,
com reivindicações e propos- rememorando a velha discussão sobre a revolução prematura, Lênin continuava a
tas próprias: os camponeses e julgar as objeções dos mencheviques como “infinitamente banais”. […] Os bolcheviques
o programa da revolução agrá-
tinham assumido o risco e, concluía Lênin, não poderia agora – seis anos depois – haver
ria (distribuição de toda a terra
aos que nela trabalhavam, sem dúvida de que “no conjunto” eles tinham sido bem-sucedidos.
nenhum tipo de indenização); FITZPATRICK, Sheila. A Revolução Russa. São Paulo: Todavia, 2017. p. 165-166.
os operários e o programa de a) Para os bolcheviques o que era necessário para constituir o socialismo?
direitos sociais e políticos (me-
b) Qual a referência dos bolcheviques para desejar a transformação da Rússia em uma sociedade
lhoria das condições de traba-
industrial moderna?
lho no padrão já conquistado
pelos trabalhadores europeus e c) Qual era a posição dos mencheviques perante o projeto bolchevique?
liberdades políticas de palavra, d) Que divergências explicam as disputas entre bolcheviques e mencheviques?
de manifestação e de organiza- d) Enquanto os mencheviques consideravam que primeiramente era preciso aliar-se à burguesia para
ção); os soldados e marinheiros 124 chegar ao poder para depois evoluir para o socialismo, através de eleições, os bolcheviques consideravam
possível queimar essa etapa, instalando uma ditadura do proletariado para depois chegar ao comunismo.
com reivindicações de reconhe-
cimento de sua cidadania e de
encerramento da guerra; as na-
ções não russas com propostas [...] os referidos atores sociais
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 124 não se limitaram kadetes, de orientação liberal [...]; o partido so- 28/06/22 13:24

de autonomia e independência a protestar e a lutar. Criaram também organi- cial-democrata operário-russo, de referências
(convém recordar que um pouco zações próprias: os camponeses, comitês agrá- marxistas, com suas duas alas: bolcheviques e
mais da metade da população rios; os operários, sovietes (conselhos) fabris mencheviques; o partido socialista-revolucio-
do império era constituída por ou urbanos [...]; soldados e marinheiros tam- nário, herdeiro das tradições populistas russas,
bém formaram comitês em navios e unidades sem contar a emergência de partidos ou grupos
não russos); as classes médias
militares; as nações não russas estruturaram políticos diversos entre as nações não russas.
que, através de banquetes e co-
mícios, ao estilo do 1848 euro- assembleias; as camadas médias organizaram REIS, Daniel Aarão. As revoluções russas e a emergência do
peu, propunham o advento de uniões político-sindicais. Além disso, surgi- socialismo autoritário. Estudos Avançados, São Paulo, v. 31,
n. 91, 2017, p. 68.
uma monarquia constitucional ram à luz do dia partidos políticos formados
ou, os mais radicais, a proclama- na clandestinidade. Entre outros, os principais
ção da república. foram o partido constitucional-democrático, os
124

109a124_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-MP.indd 124 26/08/2022 18:56


OBJETIVOS
• Compreender os conceitos de
CAPÍTULO American way of life, Grande

6
Depressão e New Deal.
A GRANDE DEPRESSÃO, • Identificar e analisar as prin-
cipais razões e desdobramen-
O FASCISMO E O NAZISMO tos da Grande Depressão.
• Entender o que foi o New
Deal e seus efeitos sobre a
economia estadunidense.
Observe a imagem e leia o texto. Ambos foram retirados do filme O grande ditador • Debater sobre a ascensão

(1940), de Charles Chaplin. do fascismo e conhecer seus


princípios e práticas.
Sinto muito, mas não pretendo ser um

© LEONARD DE SELVA. ALL RIGHTS RESERVED 2022/BRIDGEMAN/FOTOARENA


• Refletir sobre propaganda
imperador. [...] Não pretendo governar ou e educação no governo de
conquistar quem quer que seja. Gostaria Mussolini.
de ajudar – se possível – judeus, o gentio... • Entender e discutir sobre o
negros... brancos. [...] nazismo, seus princípios e
[...] Neste mesmo instante a minha voz práticas.
chega a milhares de pessoas pelo mundo • Estimular atitudes de repú-
afora... milhões de desesperados, homens, dio ao antissemitismo.
mulheres, criancinhas... vítimas de um • Refletir sobre o uso político
sistema que tortura seres humanos e encar- do esporte pelos fascistas.
cera inocentes. [...] • Discutir sobre o que levou os
Soldados! Não vos entregueis a esses fascismos ao poder na Itália e
brutais... que vos desprezam... [...] que ditam na Alemanha.
os vossos atos, as vossas ideias e os vossos
sentimentos! Que vos fazem marchar no Os objetivos deste capí-
mesmo passo [...], que vos tratam como gado tulo visam cooperar para a
Fac-símile do cartaz do filme estadunidense
humano e que vos utilizam como bucha de O grande ditador, de Charles Chaplin, de 1940.
análise, reflexão e discussão
canhão! Não sois máquina! Homens é que Artista desconhecido (século XX). Na base do sobre a Grande Depressão, o
sois! [...] cartaz, lemos: O ditador. fascismo e o nazismo, além
[...] Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar
de seus desdobramentos,
contribuindo para o desen-
o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência.
volvimento das competên-
Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam
cias e habilidades propostas.
à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
YASHINISHI, Bruno. O discurso final do filme “O grande ditador” (1940). Canto dos Clássicos. [S. l.], 11 set. 2016.
Disponível em: https://www.cantodosclassicos.com/o-discurso-final-do-filme-o-grande-ditador-1940/.
BNCC
Acesso em: 5 abr. 2022.
• Competências gerais: 5, 7,
1. O traje e o bigode do personagem fotografado lembram os de um ditador; você sabe quem é ele? 8 e 9.
Conhece suas ideias?
• Competências específicas:
2. Que parte do discurso chamou mais a sua atenção? Algumas das ideias desse discurso são aplicáveis 1, 3, 4, 6 e 7.
aos dias de hoje? Quais? Por quê? Respostas pessoais.
• Habilidades: EF09HI12,
125 EF09HI13 e EF09HI16.

ENCAMINHAMENTO
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 125 Dica de leitura 30/06/22 16:44

Professor, o texto é uma crítica explícita ao nazismo; e Artigo que relaciona a vida do cineasta Charles Cha-
é também uma contestação ao ditador Adolf Hitler e suas plin à História, por meio de sua clássica obra O grande
práticas. Ao mesmo tempo que repudia a ditadura, o au- ditador.
tor convoca todos para uma luta em favor da democracia.
O filme foi produzido no contexto de ascensão e fortale- • FACINI, Diogo Rossi Ambiel. Discursos na história, dis-
cimento do nazismo, e foi dado a público num momen- cursos sobre a história: uma reflexão sobre “O Grande
to em que as forças nazistas avançavam sobre a Europa. Ditador” e “Monsieur Verdoux”. Revista Travessias,
Muitas ideias contidas no discurso continuam animando Cascavel, v. 11, n. 2, p. 203-222, maio/ago. 2017. p. 203-
movimentos sociais da atualidade e o uso da ciência em 205.
favor de uma vida melhor para todos.
125

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 125 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
• Evidenciar para os estudan-
tes a arrancada dos Estados
Unidos no imediato pós-Pri- A Europa – o principal palco da Primeira Guerra Mundial – foi a região mais atingida
meira Guerra Mundial. por esse conflito. Já os Estados Unidos não foram palco da guerra;; além disso, saíram
• Estimular os estudantes a dela prestigiados e enriquecidos. Prestigiados porque sua participação foi decisiva para
refletirem sobre a expressão a vitória da Tríplice Entente. Enriquecidos porque forneceram armas e alimentos a várias
“anos felizes” para caracte- nações europeias. Os capitais acumulados durante a guerra e as leis estadunidenses que
rizar os anos de 1920 nos Es- aumentavam os impostos sobre os produtos estrangeiros favoreceram a arrancada dos
tados Unidos. Estados Unidos nos anos que se seguiram ao conflito.
• Partir do presente para com-
preender a força da propa-
ganda no incentivo ao con- Os “anos felizes”
sumo nos Estados Unidos, no
passado e no presente. Na década de 1920, a produção industrial estadunidense aumentou 64%. Os altos
• Mostrar a singularidade da investimentos em pesquisa científica, o uso de novas fontes de energia e a produção em
propaganda dos anos de larga escala ajudam a explicar esse excelente desempenho. Os Estados Unidos tornaram-se,
1920, que buscava incutir no de longe, a maior economia do mundo. Para boa parte da população do país, aqueles
cidadão a ideia de que con- tempos foram de prosperidade e otimismo. Por isso, os anos 1920 ficaram conhecidos
sumir era um ato de cidada- como “anos felizes”. A confiança nessa prosperidade e a força da propaganda que chegava
nia, pois ajudava os Estados aos lares pelo rádio levaram as pessoas a consumirem cada vez mais.
Unidos a continuar crescen- Nos Estados Unidos, os meios de comunicação de massa da época (rádio e cinema)
do; isso ajuda a explicar por-
incentivavam o consumo, anunciando que consumir ajudaria o país a continuar cres-
que o consumo desenfreado
cendo. Possuir o último modelo de carro, geladeira, fogão, rádio, aspirador de pó etc.
tornou-se um estilo de vida.
passou a ser o ideal das
famílias estaduniden-
ses. Consumir sempre
+ATIVIDADES e cada vez mais passou
Trazer o debate sobre a for- a ser um estilo de vida
ça da propaganda e do consu- ( American way
no país (American
mo desenfreado nos dias atu- of life).
life).
ais, solicitando aos alunos que
pesquisem propagandas que
oferecem prosperidade e fe-
Propaganda para a Premier
licidade, quando o que estão Engraving Company, Estados
vendendo é um produto com Unidos, 1927. A nova “ética”
preço e prazo pré-fixado. estimulava o consumo
Discutir o tema em uma desenfreado. Em 1929,
o país respondia por 45%
roda de conversa e produzir
da produção industrial do
um podcast, vídeo ou relató- planeta e um em cada seis
rio sobre o assunto e postá-lo estadunidenses tinha carro.
nas redes oficiais da escola.
Temas Contemporâneos
Transversais: a atividade per- TRANSCENDENTAL GRAPHICS/GETTY IMAGES

mite desenvolver o tema eco-


nomia, com foco em educação 126
financeira. O assunto pode ser
ampliado por meio de propos-
tas que estimulem a análise TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 126 28/06/22 13:24 D3_

crítica das propagandas que


A Nova Era: imagem e realidade
associam consumo à prosperi-
dade e felicidade. Essa “sociedade de consumo” – na qual a capacidade de consumir era vista como o principal di-
reito da cidadania – não foi plenamente realizada até depois da Segunda Guerra Mundial. Não há
dúvida, porém, de que a promessa de consumo em massa brotava no período. A nova indústria de
propaganda e marketing – ajudada pelos jornais, revistas de grande circulação e rádio, que atraía
grande audiência – disseminou a ideia da liberdade associada ao consumo em oposição à ideia da
liberdade associada a mudanças nas relações de trabalho. A busca por autonomia econômica e
soberania política foi substituída, nas mentes de muitas pessoas, pelas possibilidades de consumo
como o elemento essencial de felicidade e cidadania.
KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007. p. 198.
126

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 126 26/08/2022 19:09


Imagens em movimento
Documentário sobre o perío-­
do da Grande Depressão, nos
Estados Unidos.
A Grande Depressão • GRANDE Depressão de 1929
| EUA: os desafios de uma
Nos anos 1920, os Estados Unidos tinham se tornado a maior
nação | History. 2022. Vídeo
economia do mundo e viviam uma época de prosperidade e oti-
(4min50s). Publicado pelo
mismo. Essa prosperidade vinha acompanhada de uma febre de Bolsa de valores: local
onde são negociados
canal History Brasil. Dispo-
investimentos na bolsa de valores de Nova York. As pessoas com- nível em: https://www.youtube.
determinados papéis de
pravam ações, esperavam algumas semanas e então as vendiam empresas e do governo. com/watch?v=T1efqn7IRkc.
com grande lucro. Quem aplicou 100 dólares, em março de 1928, Os papéis do governo são Acesso em: 20 jun. 2022.
chamados de títulos, e os
nas ações da General Electric (empresa de eletrodomésticos), em
das empresas, de ações.
setembro do ano seguinte as vendeu por 300 dólares. Atraídos TEXTO DE APOIO
pelo lucro fácil, muitos empresários aumentavam artificialmente os
preços das ações de suas empresas na bolsa, isto é, especulavam. A Grande Depressão
Nos Estados Unidos, depois da
queda do mercado de ações em
A quebra da bolsa de valores outubro de 1929, 22 109 empre-
sas faliram. O presidente Hoover
Com altas constantes, no final dos anos 1920 o preço das ações já não correspondia estava esperançoso, entretanto,
à situação real das empresas. Até que, em um dado momento, uma grande empresa de que a economia se recupera-
inglesa faliu, provocando a desconfiança dos investidores. Em 24 de outubro de 1929, ria e reuniu líderes comerciais e
uma quinta-feira, muitos correram para vender suas ações e descobriram que não havia das indústrias para injetar con-
fiança e também dinheiro fede-
compradores para elas. Os preços das ações começaram a despencar, o que levou ao ral em seus empreendimentos.
crash (quebra) da bolsa de valores de Nova York na semana seguinte. Iniciava-se, assim, a Durante os primeiros quatro
Grande Depressão (1929-1933). meses de 1930, a economia pa-
receu se estabilizar, e houve, in-
GRANGER/EASYPIX BRASIL

clusive, certa recuperação. [...]


Em junho, porém, quando fi-
cou claro que o número daque-
Na fotografia, um les sem trabalho estava ainda
acionista coloca crescendo e que um número
seu carro à cada vez maior de pequenas
venda, em 1929. empresas não conseguia encon-
No cartaz, lê-se: trar mercado para seus produtos
“Por 100 dólares, na depressão generalizada, hou-
você compra ve outra queda. No final do ano,
este carro. Perdi o número de empresas que ti-
tudo na bolsa de nham falido – 26 355 – era maior
valores”. Nova que aquele do ano anterior. O
York (Estados número de bancos que foram à
Unidos), 30 de
falência triplicou: em 1930, che-
outubro de 1929.
gou a 1 326. Estimava-se também
que o número de pessoas sem
trabalho remunerado estava en-
tre 2 e 3 milhões (estimativa do
Ministério do Trabalho) e 5,3 mi-
lhões (estimativa da Federação
127 Americana do Trabalho). [...]
GILBERT, Martin. A história do século XX.
São Paulo: Planeta, 2016. p. 223.
13:24 D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 127 28/06/22 13:24
ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de Bolsa de Valores e especulação financeira para ajudar os estudan-
tes no entendimento do crash (quebra) da Bolsa de Nova York em 1929.
• Comentar sobre os efeitos imediatos do início da Grande Depressão nos Estados Unidos,
com destaque para o aumento extraordinário do desemprego.
• Diferenciar a expressão Crise de 1929 do termo Grande Depressão (1929-1933), esclarecen-
do que aquela foi o ponto de partida desta.

127

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 127 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
• Refletir com os alunos sobre
as principais razões da Gran-
de Depressão. Razões da Grande Depressão
• Mostrar a relação entre a Com a quebra da bolsa, milhares de industriais faliram; outros diminuíram a produção
concentração de riquezas e demitiram trabalhadores. Ocorreu então uma explosão do desemprego nas cidades. No
nas mãos de poucos e o baixo campo, os agricultores começaram a perder suas terras por não ter como pagar as dívidas
poder de compra da maioria. com os bancos, o que colaborou para que muitos se arruinassem.
• Trazer o debate para o pre- As principais razões da Grande Depressão foram:
sente, buscando dados sobre
a) a concentração de riquezas nas mãos de poucos.. Em 1929, 13% da população
a concentração de riqueza
dos Estados Unidos possuía 90% da riqueza nacional, enquanto 21% dela recebia 83
nos Estados Unidos e no Bra-
dólares por mês, quantia insuficiente para atender às necessidades mínimas de um
sil da atualidade.
indivíduo. Além disso, durante a década de 1920 os salários dos trabalhadores da
indústria e do comércio se mantiveram comprimidos, diminuindo seu poder de compra
e gerando acúmulo de estoques;
+ATIVIDADES
b) a crise agrícola.. A prosperidade dos anos 1920 estava ligada à indústria, e não à
Em grupo. Pesquisem as ra- agricultura, que esteve em crise durante toda a década. Com a mecanização e a ele-
zões pelas quais a concentra- trificação ocorridas no campo, produzia-se muito acima da capacidade de consumo.
ção de renda tem crescido no Assim, os preços dos produtos agrícolas mantinham-se baixos, e os agricultores eram
Brasil. Produzam um pequeno obrigados a pedir dinheiro aos bancos. E, não podendo pagar suas dívidas, perdiam
texto sobre o assunto. Suges- as terras que haviam dado como garantia do dinheiro emprestado;
tão de sites para a pesquisa: c) a concorrência que a Europa passou a fazer aos Estados Unidos no mercado
• FERNANDES, Daniela. 4 da- mundial.. A partir de 1924, os países europeus começaram a se recuperar e voltaram
dos que mostram por que a produzir o que antes importavam dos Estados Unidos. Além disso, passaram a
Brasil é um dos países mais concorrer com os estadunidenses no mercado mundial.
desiguais do mundo, segun-
Resumindo:: a concen-

BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES


do relatório. BBC News Bra-
tração de riqueza, os baixos
sil, São Paulo, 7 dez. 2021.
salários, a crise agrícola e a
Disponível em: https://
concorrência europeia con-
www.bbc.com/portuguese/
brasil-59557761. Acesso em: tribuíram para que houvesse
23 jun. 2022. muito mais mercadorias do
que pessoas com dinheiro
• INSTITUTO BRASILEIRO DE
para comprá-las; configurava-
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
Síntese de indicadores so- -se, assim, uma crise de
ciais: uma análise das con- superprodução..
dições de vida da população
brasileira: 2020. Rio de Janei- Homens consumindo
ro: IBGE, 2020. Disponível em: alimento gratuito durante a
Grande Depressão. Estados
https://biblioteca.ibge.gov.br/ Unidos, c. 1930.
visualizacao/livros/liv101760.
pdf. Acesso em: 23 jun. 2022.
Resposta pessoal.
128

D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 128 28/06/22 13:24 AV_

128

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 128 31/08/22 10:01


Dica de leitura
Este romance trata, com re-
finamento e leveza, temas so-
ciais sensíveis, como pobreza,
Desdobramentos da Grande Depressão fome e a dívida contraída com
Nos Estados Unidos, a crise atingiu a muitos. Leia o texto a seguir com atenção. bancos, descritos pelo autor
como “Criaturas que respi-
PARA SABER MAIS ram livros e se alimentam de
juros”. A obra é, talvez, o me-
A grande depressão nos Estados Unidos lhor registro literário sobre os
impactos da Grande Depres-
[...] Em 1929, 1 548 707 clientes tinham contas nas 29 bolsas de valores ameri- são para as pessoas nos Esta-
canas. Numa população de 120 milhões de pessoas, quase 30 milhões de famílias dos Unidos.
tinham uma associação ativa com a bolsa, e um milhão de investidores poderiam
• STEINBECK, John. As vinhas
ser considerados especuladores. [...]
da ira. São Paulo: Abril Cul-
[...] Não havia razão para a recessão de 1929 ter demorado mais, porque a eco- tural, 1972.
nomia americana era fundamentalmente sólida. [...]
[...] o mercado de ações se tornou um motor de destruição, levando a nação inteira
à ruína e, em sua crista, o mundo. Em 8 de julho de 1932, o índice de tendências
da indústria do New York Times tinha caído de 224, ao fim do pânico inicial, para
58. A U.S. Steel, a maior e mais eficiente siderúrgica do mundo, que estava em 262
pontos antes de o mercado quebrar em 1929, agora estava em apenas 22. A General
Motors, que já era um dos grupos industriais de maior sucesso e mais bem geridos
do mundo, tinha caído de 73 para 8. Essas quedas calamitosas foram gradualmente
refletidas na economia real. A produção da indústria, que estava em 114 em agosto
de 1929, estava em 54 em março de 1933, uma queda de mais da metade, enquanto
os bens duráveis caíram 77%, quase quatro quintos. O setor de construção caiu de
US$ 8,7 bilhões em 1929 para US$ 1,4 bilhão em 1933.
No mesmo período, o desemprego cresceu de meros 3,2% para 24,9% em 1933,
e 26,7% no ano seguinte. Houve um momento em que 34 milhões de homens, mu-
lheres e crianças não tinham renda nenhuma, e essa cifra excluía as famílias rurais,
que também sofreram um golpe duríssimo. As rendas urbanas desabaram, escolas
e universidades fecharam ou faliram,
UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL IMAGES GROUP/
GETTY IMAGES

e a subnutrição subiu 20%, algo que


nunca havia acontecido antes na his-
tória dos Estados Unidos – nem nas
épocas difíceis dos pioneiros.
[...] Foi a pior queda da história
humana, e a mais prolongada. [...]
ROTHBARD, Murray N. A grande depressão
americana. Tradução: Pedro Sette-Câmara. São Paulo:
Instituto Ludwig von Mises, 2012. p. 17-19. Disponível
em: https://rothbardbrasil.com/wp-content/uploads/
arquivos/MisesBrasil_Grande%20Depressao_Brochura.pdf. Condições precárias de moradia durante a Grande
Acesso em: 20 abr. 2022. Depressão. Pensilvânia (EUA), 1938.

129

13:24 AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 129 30/06/22 16:44


ENCAMINHAMENTO
• Esclarecer, com base nos conteúdos desta página, os efeitos do crash da Bolsa de Nova York
nos Estados Unidos.
• Refletir com os alunos sobre o crescimento do desemprego e seu impacto na economia e na
vida das pessoas dos Estados Unidos.
• Relacionar o crescimento do desemprego à queda no consumo e à piora na alimentação das
pessoas (o que explica a alta de 20% no número de subnutridos nos Estados Unidos durante
a Grande Depressão).

129

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 129 26/08/2022 19:09


+ATIVIDADES
Em grupo. Elaborem uma
biografia ilustrada de uma in-
térprete de jazz, a exemplo de Nos Estados Unidos, a crise não atingiu a todos igualmente. Os mais pobres foram
Ella Fitzgerald, Billie Holiday, os mais prejudicados. Os discos de jazz
jazz,, por exemplo, que na época eram consumidos
Nina Simone e Sarah Vaughan; sobretudo por afrodescendentes, praticamente deixaram de ser fabricados.
ou de um músico, como o Reagindo à crise, o governo estadunidense dimi-
trompetista Louis Armstrong, nuiu ao máximo suas compras do exterior, cortou os
o pianista Oscar Peterson, o investimentos externos e parou de conceder emprés-
saxofonista John Coltrane e o
timos. Com isso, a crise se propagou, atingindo a
baterista Sonny Payne.
Europa e o restante da América, inclusive o Brasil.
Professor, a biografia, gê-
nero textual caro à História, é
escrita geralmente em tercei- Nessa fotografia, vemos o músico Louis Armstrong, um dos
ra pessoa e pode ser dividida maiores trompetistas e intérpretes de jazz de todos os tempos.
em três partes: Nova York (EUA), 1967. Os anos 1920 ficaram conhecidos
também como a era do jazz. Assim como o rap, o jazz é um
1a – Primeiros anos do biogra- gênero musical surgido entre a comunidade negra e pobre
dos Estados Unidos. Muitas das letras do jazz eram inspiradas
fado e o contexto em que nas- nas experiências sociais dos seus compositores e intérpretes:
ceu e cresceu. negros pobres que buscavam na música canais de expressão
2a – Suas experiências sociais e de sua humanidade, nem sempre reconhecida.
DAVID REDFERN/REDFERNS/GETTY IMAGES

suas principais atuações (aqui-


lo que o tornou conhecido).
3a – Seu legado e sua influên- PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

cia na atualidade.
Interdisciplinaridade: Esta Veja o que um historiador diz sobre o desemprego na Europa:
No pior período da Depressão (1932-1933), 22% a

AP PHOTO/IMAGEPLUS
atividade pode ser feita em
interface com a disciplina de 23% da força de trabalho britânica e belga, 24% da
Arte. Nesse caso, o produto sueca, 27% da americana, 29% da austríaca, 31%
pode ser um vídeo denomina- da norueguesa, 32% da dinamarquesa e nada menos
do “Biografias de grandes jaz- que 44% da alemã não tinham emprego. [...]
zistas”. HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991).
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 97.

ENCAMINHAMENTO No ano da crise, o Brasil produziu cerca de 29 milhões


de sacas de café, mas só conseguiu vender metade delas.
• Refletir sobre os dados do
É que os Estados Unidos, o nosso maior comprador de
desemprego em países eu-
ropeus e nos Estados Unidos, café, diminuíram muito suas compras. As sacas de café se
de modo a ajudar o alunado acumularam nos armazéns e os preços despencaram, arrui-
Sacos de café estocados
a formar uma ideia dos efei- nando cafeicultores e deixando milhares de trabalhadores em um armazém.
tos catastróficos da Grande sem emprego. Brasil, 1939.
Depressão sobre esses países. a) O que se pode saber sobre a Europa do início dos anos 1930 com base nesses dados?
a) Que o desemprego assombrou a Europa durante a Grande Depressão.
• Comentar o gráfico “Nú- b) Por que a Alemanha foi o país europeu mais atingido pela crise?
mero de desempregados na c) Qual lei ajuda a explicar a queda dos preços internacionais do café brasileiro?
Alemanha (1924-1932)”, dis-
b) A crise atingiu mais os alemães porque eles ainda sofriam os efeitos da derrota de seu país na Primeira
ponibilizado na parte infe- Guerra. Já os ingleses, vencedores daquele conflito, foram os menos afetados.
rior desta página. 130 c) Lei da oferta e da procura.

Número de desempregados na Alemanha


AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 130 30/06/22 16:44 AV_

(1924-1932)
50
EDITORIA DE ARTE

45
% de desempregados

40
35 Fonte: SBROCCO, Fernando Moreira. A
30 Alemanha no período entreguerras: um
25 estudo sobre a hiperinflação e a ascensão
20
15 do Nazismo. Trabalho de Conclusão
10 de Curso (Bacharelado em Ciências
5 Econômicas) – Universidade Estadual
0 Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade
1924 1925 1926 1927 1928 1929 1930 1931 1932 de Ciências e Letras de Araraquara,
Ano Araraquara, 2011. p. 46.

130

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 130 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
• Favorecer a compreensão
da ascensão do democrata
O New Deal

GRANGER/EASYPIX BRASIL
Roosevelt em um cenário de
crise intensa nas várias áreas
da vida social.
Enquanto a crise se alastrava
• Refletir com os alunos sobre
pelo mundo, nos Estados Unidos, em
1932, o líder do Partido Democrata,, as medidas, adotadas por
Roosevelt, propostas por
Franklin Delano Roosevelt, foi eleito
John Maynard Keynes para o
presidente da República. Sua equipe
enfrentamento da crise.
econômica adotou então as ideias do
• Retomar e comparar o libe-
economista britânico John Maynard
ralismo clássico à política
Keynes, que tinha previsto a crise e
econômica keynesiana.
propunha soluções para enfrentá-la.
O presidente • Esmiuçar o New Deal e seus
Keynes defendia a intervenção do Estado na economia, fazendo Roosevelt e sua efeitos sobre a economia es-
investimentos maciços e planejando-a de modo a garantir o emprego. esposa, Eleanor,
tadunidense após os anos de
Assim, no início de seu governo, Roosevelt lançou o New Deal ((Novo visitam um projeto
para converter 1930.
Acordo),), um plano econômico que previa:
um lixão em um • Interrogar a tabela com
• o investimento maciço em obras públicas,, tendo o governo parque. Des Moines, questões como: em que ano
investido 4 bilhões de dólares na construção de usinas hidre- Iowa (EUA), 1936.
a renda nacional caiu mais?
létricas, barragens, pontes, hospitais, escolas, aeroportos etc. Tais Em que ano voltou a crescer?
obras geraram milhões de novos empregos; • Identificar as diferenças que
• a destruição dos estoques de gêneros agrícolas como algodão, trigo e milho, a puderam ser percebidas em
fim de conter a queda de seus preços; um período de 11 anos. Des-
• o controle sobre a produção para evitar a superprodução na agricultura e na indústria tacar que, apesar das oscila-
e a consequente queda nos preços; ções, como as ocorridas entre
1937 e 1938, a renda estava
• a diminuição da jornada de trabalho com o objetivo de abrir novos postos de
em crescimento. É interessan-
trabalho. Além disso, fixou-se o salário mínimo e foram criados o seguro-desemprego te que os alunos percebam a
e o seguro-velhice (para os maiores de 65 anos de idade). intensidade da crise por meio
Com essas medidas, o desemprego diminuiu, a indústria e a agricultura recuperara-se da análise da renda em 1940;
parcialmente, os salários pararam de cair e, a partir de 1934, a renda nacional voltou a onze anos após a crise, ainda
crescer. Observe a tabela. não havia atingido os pata-
mares de 1929.
Estados Unidos: renda nacional em bilhões de dólares (1929-1940)
1929 87,4 1935 56,8
1930 75 1936 64,7
1931 58,9 1937 73,6
1932 41,7 1938 67,4
1933 39,6 1939 72,5
1934 48,6 1940 81,3
Fonte: NIVEAU, Maurice. História dos fatos econômicos contemporâneos. São Paulo: Difel, 1969. p. 227.

131 nais e da proibição do trabalho


infantil; (viii) criação do sistema
de seguridade social; e (ix) apro-
fundamento da progressividade
16:44 TEXTO DE APOIO
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 131 empregos (incluía grandes obras, eletrificação
20/08/22 14:24 do sistema tributário.
rural, pintura de paredes em logradouros públi-
[...] para estancar o processo e recuperar a O New Deal representou uma
cos, etc.); (iii) ajuda aos estados para manter o
economia norte-americana em depressão nos reformatação do escopo de atri-
emprego e o salário do funcionalismo público
anos 1930, o presidente F. D. Roosevelt lançou o buições do governo e da política,
e para que realizassem programas de socorro
muito falado, mas pouco conhecido, New Deal.Deal. representou uma nova cultura,
aos miseráveis; (iv) pacto capital-trabalho para
Era um programa de obras públicas, mas era ou seja, estabeleceu o princípio
garantir a produção, emprego, salários e lucros, que o governo é responsável
também um conjunto de reformas. [...] além do estímulo à organização dos trabalhado- pelo bem-estar da sociedade.
De forma sintética, o New Deal apoiou e/ou res em sindicatos; (v) garantias aos depositan-
promoveu as seguintes medidas: (i) estímulos SICSÚ, João. Uma teoria de depressões:
tes junto aos bancos; (vi) regulação do mercado
comentários. Revista de Economia
à agricultura através de subsídios e crédito; financeiro e de ações; (vii) estabelecimento do Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 24, n.
(ii) obras públicas voltadas para a geração de salário mínimo, da jornada de 40 horas sema- 2, p. 1-19, 2020. p. 6.
131

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 131 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
• Relacionar os cenários vivi-
dos pela Itália no pós-Primei-
ra Guerra, durante a Grande
Depressão, com a emergên-
A ascensão dos fascismos
cia de políticos e partidos au-
O desemprego e a falta de esperança decorrentes da Grande Depressão favoreceram
toritários.
o surgimento, em diversos países, de políticos e partidos autoritários que acusavam as
• Trabalhar o conceito de
democracias liberais de serem incapazes de resolver os problemas da população. Para esses,
fascismos, formulado por
a solução era um governo forte, dirigido por um líder único que fosse uma espécie de
Robert Paxton, para quem o
“salvador da pátria”. Esse ambiente, como observou o historiador Robert Paxton, favoreceu
nazismo alemão é uma mo-
o surgimento de vários fascismos, a exemplo do italiano e do alemão. Conheça as principais
dalidade de fascismo.
ideias fascistas segundo esse historiador:
• Refletir sobre as principais
ideias fascistas, e a emer- a) o grupo é prioritário e o indivíduo deve subordinar-se a ele;
gência de Benito Mussolini b) a comunidade é vítima e qualquer ação sem limites legais ou morais contra seus
e a sua Fasci Italiani di Com- inimigos é válida;
battimento. c) a rejeição à democracia, ao liberalismo e ao socialismo;
Professor, propor aos estu- d) os chefes, sempre do sexo masculino, conduzem a comunidade rumo a seu destino;
dantes que leiam a fotografia
e) a violência pode ser bela e a vontade, eficiente, se o objetivo é o êxito da comunidade;
de Mussolini e descrevam as
impressões em relação à ima- f) um povo pode dominar os demais, independentemente de lei humana ou divina.
gem. É possível que os estu-
dantes considerem elementos
O fascismo italiano
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES
como a farda, a posição em
destaque em relação aos de- Após o fim da Primeira Guerra, a Itália amargava
mais e o apoio dos soldados grandes perdas materiais e humanas e devia somas ele-
para indicar impressões auto- vadas aos vencedores. O desemprego, já alto, aumentou
ritárias. ainda mais com a volta para casa de 2 milhões de sol-
O trabalho com o conceito dados; além disso, muitos italianos reclamavam do fato de
de fascismos e a leitura atenta
seu país não ter ganhado territórios, apesar de ter lutado
do texto de apoio desta pági-
na guerra ao lado dos vencedores.
na podem ajudar no desen-
Nesse contexto, o ex-combatente italiano Benito
volvimento da competência
específica 6. Mussolini se lançou na política. Mussolini foi professor pri-
Para conquistar corações e mário, jornalista e defensor do socialismo, chegando a ser
mentes, Mussolini utilizava perseguido por suas ideias. Porém, ao voltar da Primeira
slogans como: “Acreditar,
Guerra, abandonou o ideal socialista e fundou, em 1919,
TEXTO DE APOIO obedecer e combater”.
Itália, 1940. os Fasci Italiani di Combattimento – organização que
O que é o fascismo? deu origem ao movimento e ao partido fascistas.
[...] Para alguns autores […] os Fasci Italiani di Combattimento: Defendendo um nacionalismo extremado, a subor-
movimentos iniciais constituem- movimento nacionalista e antiliberal
que atuava por meio de esquadrões
dinação do indivíduo ao Estado e devotando ódio às
-se no fascismo “puro”, ao passo
que os regimes fascistas são cor- armados liderados por ex-oficiais democracias e ao comunismo, Mussolini prometia que,
e integrados por jovens ricos e por sob seu governo, a Itália reviveria as glórias do Império
rupções, deformadas pelas con-
desempregados.
ciliações necessárias à conquis- Romano.
ta e ao exercício do poder. Esses
regimes, contudo, apesar de suas
escolhas pragmáticas e alianças
132
conciliatórias, tiveram mais im-
pacto que os movimentos, por
teD3_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd
num composto, um amálgama poderoso dos ingredientes
EDITORA PAZ E TERRA

terem em mãos o poder de guer- 132 28/06/22 13:25 D3_

ra e de morte. Uma definição que distintos, mas combináveis, do conservadorismo, do nacio-


faça total justiça ao fenômeno do nalismo e da direita radical, unidos por um inimigo em co-
fascismo deve levar em conta os mum e pela mesma paixão pela regeneração, energização e
estágios finais, tanto quanto os purificação da Nação, qualquer que seja o preço a ser pago
iniciais. em termos das instituições livres e do estado de direito. As
[…] Uma definição utilizável, proporções exatas dessa mistura resultam de processos tais
portanto, deve também encon- como escolhas, alianças, compromissos e rivalidades. O fas-
trar meios de não tratá-lo de for- cismo em ação se assemelha muito mais a uma rede de re-
ma isolada, como separado de lações que a uma essência fixa.
seu ambiente e de seus cúmpli- PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo.
ces. O fascismo no poder consis- São Paulo: Paz e Terra, 2007. p. 335-336.
132

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 132 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
• Promover a percepção da pre-
sença de ideias fascistas e a
A Marcha sobre Roma sua defesa por partidos e polí-
O fascismo italiano cresceu rapidamente com base no apoio de grandes empresários, ticos autoritários, contribuin-
assustados com o crescimento dos socialistas e comunistas nas eleições parlamentares do para o desenvolvimento
da competência específica 1.
italianas. Esses empresários começaram a ver no movimento fascista o único meio de
• Favorecer aos alunos que
manter a ordem social que os favorecia. O fascismo italiano recebeu também o apoio
de pessoas de diferentes origens sociais: desde ex-combatentes e desempregados até identifiquem, no presente,
meios de comunicação que
pequenos camponeses e professores universitários. O que os unia eram valores tais
propagam discursos de ódio
como: desprezo pelos socialistas e comunistas, nacionalismo extremado e a atração pelo
contra minorias e que atacam
uso da violência.
as instituições democráticas.
Fortalecido, o movimento fascista italiano transformou-se em um partido político,
• Estimular os estudantes a tro-
o Partido Nacional Fascista (1921), que, em poucos meses, já contava com 300 mil
carem informações e conheci-
integrantes obedientes ao duce (chefe) Benito Mussolini.
mentos sobre fascismos, aju-
No ano seguinte, aproveitando-se de uma greve geral deflagrada por comunistas e dando-os a dimensionar a im-
socialistas, Mussolini ameaçou: ou o governo italiano restabelecia a ordem ou os fascistas portância do respeito aos di-
o fariam. Percebendo que o rei da Itália, Vittorio Emanuele III, fraquejava, Mussolini reitos humanos e contribuin-
planejou e comandou o assalto ao poder. Em 1922, liderou a Marcha sobre Roma:: do para o desenvolvimento
à frente de milhares de fascistas (os camisas-negras) vindos de várias partes da Itália, da habilidade EF09HI16.
invadiu a capital para exigir o poder. • Trabalhar a formação e os
O rei Vittorio Emanuele III cedeu à pressão fascista e convidou Mussolini para ser modos de atuação do Partido
primeiro-ministro; Mussolini se tornou, então, chefe de governo da Itália. Nacional Fascista e o episódio
da Marcha sobre Roma.
STEFANO BIANCHETTI/CORBIS/GETTY IMAGES

Dica de leitura
Neste livro, o autor oferece
uma explicação para as ori-
gens do fascismo, fenômeno
Ditador Benito Mussolini político que exerceu enorme
e líderes fascistas influência em alguns países ao
caminham em direção longo do século XX.
à capital italiana, no
episódio conhecido • MARIÁTEGUI, José Carlos. As
como Marcha sobre origens do fascismo. São
Roma, em 1922.
Paulo: Alameda, 2010.

EDITORA: ALAMEDA

133

13:25 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 133 no Parlamento uma minoria
28/06/22 13:25 reduzida. Cada um dos partidos de

massas, o Socialista e o Popular (ou católico), contava na Câmara


Os fascistas e os liberais no Parlamento italiano com uma representação mais numerosa que a de todos os grupos
A marcha sobre Roma encontrou resistência muito escassa de direita coligados. E os grupos liberais conservavam a maioria
nos fautores do ideário liberal e democrático. A burguesia pôs à absoluta. O liberalismo não quis, entretanto, assumir a defesa da
disposição do fascismo seus jornais, seus políticos, seu dinheiro, legalidade. Aceitou e sancionou o golpe de Estado mussoliano. E
todos ou quase todos seus instrumentos de domínio da opinião os populares decidiram concordar também com sua adesão ao
pública. Os deputados fascistas não eram senão trinta e cinco. A novo regime, seguindo seu exemplo. Poucos liberais se mantive-
seus votos se somavam na Câmara os dos nacionalistas, os dos ram fiéis ao programa liberal […].
agrários e os de outros elementos da extrema direita; mas, ain- MARIÁTEGUI, José Carlos. As origens do fascismo.
da com essas adesões, o fascismo e o filo-fascismo constituíam São Paulo: Alameda, 2010. p. 217.

133

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 133 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
• Compreender o governo de
Mussolini e suas práticas como
uma das ditaduras mais cruéis O governo de Mussolini
da história contemporânea.
No poder, Mussolini incentivava o vale-tudo e impunha o Estado totalitário. Em 1924,
• Explicar a aliança de Mussolini por exemplo, os fascistas venceram as eleições espancando pessoas e roubando urnas.
com a Igreja Católica e os Apesar disso, o rei da Itália continuava apoiando Mussolini. Depois, Mussolini implantou
acordos feitos entre esses uma brutal ditadura: fechou jornais; criou uma polícia secreta, a Organização para a
importantes atores sociais. Vigilância e a Repressão do Antifascismo (Ovra), que prendia e assassinava os adver-
• Propor uma pesquisa aos sários; suprimiu todos os partidos de oposição, conservando apenas o Partido Nacional
alunos sobre a posição atual Fascista.
da Igreja Católica frente ao Mas os fascistas não usaram apenas a força – recorreram também à aliança com a
Tratado de Latrão. Igreja Católica para ampliar sua base de apoio. Em 1929, Mussolini assinou um acordo
• Favorecer o reconhecimento com o papa Pio XI, o Tratado de Latrão,, pelo qual reconhecia o Vaticano como Estado
da importância política e cul­ independente. Em compensação, a Igreja reconhecia que o governo fascista era legítimo.
tural do Estado do Vaticano Situado dentro da cidade de Roma, o Estado do Vaticano possui apenas cerca de 0,5 km2
e do papa na atualidade. e é dirigido pela Igreja Católica.
• Refletir com os alunos sobre
o uso da propaganda e da
educação para a dissemina­ PARA SABER MAIS
ção do fascismo entre crian­
ças e jovens. Propaganda e educação sob o fascismo
O governo de Mussolini também usou a educação para divulgar suas ideias. As
escolas da Itália fascista ensinavam, além das disciplinas tradicionais, temas como a vida
+ATIVIDADES de Mussolini e suas “grandes” realizações. Toda criança entre 8 e 14 anos de idade
tinha de decorar uma oração em que, em vez de dizer “Creio em Deus”, dizia: “Creio no
A perseguição contra mino­ gênio de Mussolini”. Os professores que se negavam a ensinar as ideias fascistas eram
rias foi marcante durante o go­ perseguidos e demitidos de seus cargos.
verno de Mussolini. Propor aos
O fascismo usou ainda o cinema e o rádio para converter as pessoas aos seus
alunos uma pesquisa sobre co­
ideais. Através do rádio, o duce “falava de perto” aos italianos; já o cinema era usado
munidades étnicas que foram
para fabricar e divulgar imagens
LIBRERIA DELLO STATO, ROMA.
FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

oprimidas pelo governo fas­


que mostravam uma Itália sem
cista, buscando informações
fome, sem conflitos e com uma
em relação ao apagamento de
população satisfeita, saudável e
suas culturas imposto por Mus­
voltada para o esporte.
solini, como os ciganos e os ha­
bitantes do Tirol. A proposta
Página de um livro escolar de 1941.
da atividade é que os estudan­ Um dos desenhos representa uma
tes desenvolvam a prática de criança que oferece um buquê de flores
buscar informações em fontes a Mussolini. Museu dos brinquedos e
das crianças. Milão (Itália).
confiáveis e construam conhe­
cimentos consistentes que lhes
permitam opinar e compreen­
der mais a fundo o assunto tra­
balhado. Pode-se orientar os
134
estudantes que compartilhem
o resultado da pesquisa em um
fórum de debates sobre a dis­ Dica de leitura
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 134 28/06/22 13:25 D3_

criminação de minorias na his­ Texto sobre a reforma no campo educacio­


tória. A atividade pode ajudar nal feita por Giovanni Gentile, ministro da
no desenvolvimento da com- educação de Mussolini.
petência geral 7. • CARMO, Jefferson Carriello do; SILVA, Iva­
Temas Contemporâneos nilson Bezerra da. O atualismo gentiliano e
Trans­­­­­­­versais: a atividade permi­ a política de estado: fundamentos da refor­
te desenvolver o tema cidadania ma educacional de Giovanni Gentille. Re-
e civismo, com foco em edu- vista HISTEDBR [on-line], Sorocaba, v. 19,
cação em direitos humanos. p. 1-18, 2019. p. 3-4.
134

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 134 31/08/22 10:01


ENCAMINHAMENTO
• Enfatizar a relação das exi-
gências do Tratado de Versa-
O nazismo na Alemanha lhes com a crise econômica e
social na Alemanha.
• Contextualizar a fundação
Vimos que os vencedores da Primeira Guerra obrigaram a Marco: antiga moeda
alemã. Atualmente, a do Partido Nazista em 1919,
Alemanha a assinar o Tratado de Versalhes,, em 1919, pelo
moeda da Alemanha pouco tempo após a Primei-
qual ela teve de ceder territórios (incluindo a rica região da é o euro. ra Guerra Mundial.
Alsácia-Lorena) e pagar aos vencedores uma indenização de • Refletir com os alunos sobre
132 bilhões de marcos (33 bilhões de dólares na época)! Essa as ideias hitleristas expostas

© CORBIS/CORBIS/GETTY IMAGES
dívida gigantesca contribuiu para uma crise de graves propor- no livro Minha luta.
ções na Alemanha: a inflação e a dívida externa dispararam, • Desconstruir a ideia de “raça
enquanto a oferta de emprego diminuiu assustadoramente. ariana”. Para os geneticistas
O aprofundamento da crise favoreceu o crescimento atuais, existe apenas uma
de socialistas e comunistas nas eleições e abriu caminho única raça: “a humana”. No
para o fortalecimento de partidos que prometiam soluções entanto, do ponto de vista
“mágicas”. Um desses partidos era o Partido Nacional Socialista da sociologia, considera-se
dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), também chamado de
a existência social da catego-
ria raça, e da transformação
Partido Nazista,, fundado em 1919, ano em que admitiu em
da diferença em desigual-
suas fileiras o ex-cabo Adolf Hitler. dade surge o racismo, que,
Falando ao público, Hitler culpava as democracias libe- no Brasil, é chamado com
rais pela derrota da Alemanha na guerra e pelas condições propriedade pelo professor
humilhantes impostas ao país pelo Tratado de Versalhes. Dizia Silvio Luiz de Almeida de ra-
também que o povo alemão tinha sido a principal vítima da Mulher usa cédulas de cismo estrutural.
guerra e estava “entregue aos pontapés do resto do mundo”. marco alemão para • Interdisciplinaridade: é in-
Com o orgulho ferido, milhares de alemães foram “arrastados” acender o seu forno, teressante tratar o conceito
de tão desvalorizado que
por esse discurso. Adotando um nacionalismo extremado e de espaço vital junto ao pro-
estava a moeda à época.
devotando ódio aos judeus e aos comunistas, Hitler tornou-se, Alemanha, 1923.
fessor de Geografia. Frie-
em pouco tempo, o líder absoluto dos nazistas. drich Ratzel (1814-1904) foi
um importante teórico clás-
Em 1920, o Partido Nazista criou as Seções de Assalto (SAs),, grupos paramilitares
sico da Geografia e teve sua
encarregados de eliminar fisicamente seus adversários. Três anos depois, em meio ao
obra muito influenciada por
agravamento da crise econômica e social, Hitler tentou tomar o poder por meio de um Charles Darwin. Seu trabalho
golpe de Estado na cidade alemã de Munique, mas fracassou e foi preso. Na cadeia, ele ficou posteriormente conhe-
produziu boa parte de um livro chamado Minha luta,, que continha os princípios básicos cido como determinismo geo­
do nazismo. São eles: gráfico. Ratzel também foi
• a superioridade da raça ariana.. Para Hitler, existiria uma raça pura (a ariana), superior responsável por estudos sobre
a todas as outras e da qual provinham os alemães; o Estado moderno, construin-
do o conceito de espaço vital,
• a necessidade de um espaço vital.. Tese segundo a qual os alemães precisavam o qual reuniria as condições
conquistar territórios a fim de se realizar plenamente como povo; necessárias naturais e espa-
• o antissemitismo.. Os nazistas justificavam seu ódio aos judeus dizendo que eles haviam ciais para a consolidação do
contaminado a “raça ariana”. Assim, para salvar a Alemanha e purificar a raça ariana, poder e fortalecimento da so-
os judeus deviam ser eliminados. ciedade. Para ele, um Estado
com melhor espaço vital esta-
135 ria mais apto a se desenvolver
e conquistar territórios.

13:25 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 135 através de seu “efeito28/06/22
penetrante
13:25 e durável”, confirmou Hippler,
diretor da Seção Cinematográfica no Ministério da Propaganda,
A importância da mídia para os objetivos de Hitler do próprio Goebbels. […]
Calcula-se que foram produzidos 1 350 longas-metragens nos
A produção do cinema nazista encontra-se estreitamente vin-
doze anos de domínio nazista. São comédias românticas, comé-
culada ao crescimento do próprio partido. Durante a campanha
dias musicais, operetas, filmes de costumes, mas também filmes
eleitoral de 1930, os nazistas receberam o apoio da imprensa do
de guerra e de exaltação dos valores do regime, tais como o racis-
Partido Nacional e Hitler ganhou espaço expressivo nos jornais mo e a xenofobia. Os temas mais apreciados no cinema, [...] entre
da tela da UFA. jovens de doze a dezessete anos, estavam relacionados a heroísmo,
A escalada eleitoral dos nazistas teve muito a ver com a utili- espírito alemão e patriotismo.
zação do cinema, “um dos meios mais modernos e científicos de LENHARO, Alcir. Nazismo: o triunfo da vontade. São Paulo: Ática, 2001.
influenciar as massas”, de acordo com a afirmação de Goebbels, (Série Princípios, p. 52-53).
135

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 135 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
• Destacar a relação do apro-
fundamento da crise social
e econômica à ascensão do A ascensão dos nazistas
nazismo na Alemanha.
A partir de 1924, ajudada por capitais estadunidenses e ingleses, a Alemanha voltou
• Comentar sobre o uso da vio-
a crescer. Esse crescimento econômico contribuiu para fortalecer a democracia e diminuir
lência indiscriminada pelos o prestígio de líderes radicais, a exemplo de Hitler. Berlim, a capital do país, tornara-se
nazistas no combate aos seus
palco de intensa atividade artística e cultural.
adversários, incluindo-se nes-
Mas, com a crise de 1929, a situação se alterou profundamente. Na Alemanha, a
te universo os comunistas.
produção caiu, a inflação disparou e o desemprego trouxe consigo a fome, a humilhação
• Discutir com os alunos sobre
e a falta de esperança. Entre 1929 e 1932, o número de desempregados na Alemanha
a estratégia golpista de Hitler
saltou de 2,85 para 6,04 milhões (quase um terço do total de trabalhadores do país). Nesse
para incriminar seus adversá-
cenário deprimente, Hitler voltou a se apresentar como “salvador da pátria” e conquistou a
rios comunistas, culpando-os
simpatia de muitos alemães, entre os quais militares de alta patente e grandes industriais.
pelo incêndio que os nazistas
provocaram no prédio do Em janeiro de 1933, o presidente da República nomeou Hitler chanceler (chefe de governo)
Parlamento alemão. da Alemanha.
• Refletir com os alunos sobre
as razões da popularidade Hitler no poder
de Hitler na Alemanha.
No início de 1933, os nazistas atearam fogo ao Parlamento alemão e culparam os
comunistas pelo atentado. Esse fato interferiu no resultado das eleições parlamentares
de março daquele ano. Os nazistas obtiveram quase 44% do total de votos (nas eleições
TEXTO DE APOIO anteriores, ocorridas em 1929, eles haviam obtido apenas 3% das cadeiras). Os nazistas
O regime ditatorial nazista tinham agora a maioria no Parlamento.
foi instituído na Alemanha no
HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES

ano de 1933, com a nomeação


de Adolf Hitler, líder do NSDAP # DICA!
(Nationalsozialistische Deutsche Cena final do filme
Arbeiterpartei)) para o posto de
Arbeiterpartei O grande ditador, de
chanceler, em um momento “de Charles Chaplin.
crise nacional intensa e de gran- CHARLIE Chaplin –
de movimentação contra-revo- Discurso final do filme
lucionária”. O seu nascimento “O grande ditador”.
2016. Vídeo (3min36s).
se deu “da plena e positiva cum-
Publicado pelo canal
plicidade de todas as forças da Charles Chaplin.
reação: foi a conclusão da polí- Disponível em: https://
tica capitalista e latifundiária, youtu.be/J7GY1Xg6X20.
aliada àquela dos grupos mili- Acesso em: 5 abr. 2022.
taristas prussianos”. Na ocasião
sequer imaginava-se o que essa
nomeação reservava ao país, ao
Adolf Hitler, chanceler
povo alemão e muito menos aos
da Alemanha, é recebido
supostos inimigos da pátria: os por simpatizantes
judeus, os eslavos, os polone- em Nuremberg
ses etc. O único sentimento que (Alemanha), 1933.
envolvia a nação era de espe-
rança, de confiança no futuro
de dádivas e glórias prometido
136
por aquele que se autointitulava
o Führer
Führer,, o grande salvador da
Alemanha. Hitler, desde o iní- Levantando as bandeiras
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 136 do nacionalismo e do antissemitismo [...], 28/06/22 13:25 D3_

cio de sua aparição no contexto Hitler propagava a ideologia de seu partido exatamente como o fazem
alemão, teve perspicácia para os governantes de todos os tempos: como um ideal superior e necessá-
perceber os sentimentos embre- rio ao bem-estar coletivo. [...]
nhados no cerne do povo ale- A construção de uma nova Alemanha esteticamente perfeita, conforme
mão, como também, para com-
idealizava Hitler, exigia a adesão incondicional de seu povo. Para que isso
preender de que forma deveria
se efetivasse, o seu convencimento era questão primordial e a linguagem,
encaminhar sua campanha para
ou melhor, a sua manipulação, o mecanismo de maior eficiência.
atingir o âmago desses indivídu-
os de modo a lhes oferecer exa- BRANDT, Cleri Aparecida; LEITE, César Donizetti Pereira. Linguagem nazista: a manipulação à
tamente aquilo que desejavam. serviço da dominação. Revista Educação, Teoria e Prática, Rio Claro, [s. d.], p. 3-4.

136

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 136 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
Professor, explorar com os
estudantes os efeitos indivi-
No poder, Adolf Hitler implantou uma das mais cruéis ditaduras da história da huma- duais e coletivos aos judeus,
nidade: fechou jornais e sindicatos, dissolveu os partidos políticos, ordenou a queima de enquanto grupo que foi discri-
livros, demitiu democratas e comunistas de seus empregos e perseguiu os judeus. minado e perseguido durante
Em 1933, Hermann Goering, chefe das SAs, criou a Polícia o nazismo alemão. O genocí-
Secreta do Estado (Gestapo). Em 1934, com a morte de Paul von Reforma agrária:
dio praticado nesse período
Hindenburg, Hitler assumiu a presidência com o título de Führer conjunto de medidas foi amplamente retratado em
jurídicas e econômicas filmes, séries e livros, com os
(guia, condutor). No campo econômico, desenvolveu as indústrias de que visam melhorar a
quais os estudantes podem
base (ferro, aço, máquinas), investiu em obras públicas e estimulou distribuição das terras
cultiváveis, tornando a ter tido contato. Desse modo,
as fábricas de armas, diminuindo, com isso, o desemprego. Mas, ao
propriedade, a posse e estimular que compartilhem
mesmo tempo, não cumpriu nenhuma de suas promessas ao povo: o uso da terra acessíveis situações, fatos e histórias so-
os salários foram congelados, a reforma agrária não saiu do papel a um número maior de
bre as quais tenham conheci-
pessoas ou famílias.
e os trustes
trustes,, como o do grupo Krupp, ganharam maior liberdade mento. É importante que os
para agir. estudantes consigam expres-
sar as emoções e os sentimen-
O antissemitismo nazista tos associados ao entrarem em
contato com o assunto, para
Sob o comando de Hitler, o Estado nazista tomou ALBUM/AKG-IMAGES/FOTOARENA
que possam ser acolhidos e
uma série de medidas discriminatórias contra os judeus. pensarem, de forma coletiva
• 1933 – o namoro e o casamento entre judeus e sobre os prejuízos resultantes
“arianos” foram proibidos por lei; os funcionários de práticas totalitárias para os
públicos judeus foram aposentados e proibidos de seres humanos. Se julgar perti-
trabalhar na imprensa, nos tribunais e na saúde; e nente, estimular que reflitam
os estudantes judeus foram obrigados a usar um sobre grupos ultranacionalis-
número de identificação para entrar nas escolas e tas da Europa que voltaram a
ganhar visibilidade e força nos
nas universidades;
últimos anos, tendo imigran-
• 1936 – os judeus foram expulsos do Exército; tes e refugiados africanos e
• 1938 – os judeus foram obrigados a usar docu- asiá­ticos como principais alvos
mento de identidade e passaporte especiais; e seu Propaganda antissemita veiculada na de suas ideias e práticas racis-
patrimônio (bens e capitais) foi bloqueado. Alemanha nazista, em 1936. À direita, tas. O tema desta página possi-
vê-se um garoto, representado como bilita trabalhar a competência
Em 9 de novembro de 1938, militares nazistas ves- judeu, puxando as tranças de uma
geral 9 e a competência espe-
tidos à paisana promoveram um ataque violento aos menina loura; à esquerda e ao centro,
crianças alemãs zombam e fazem cífica 3 de modo mais amplo.
judeus e às suas lojas, que ficou conhecido como Noite caretas para crianças judias, que,
dos Cristais,, por causa da destruição de um grande sentindo-se constrangidas, deixam a
número de vitrines e vidraças. Além disso, centenas de escola acompanhadas de um adulto,
que também é judeu (note o quipá em um campo verde ou na palavra
sinagogas foram incendiadas e milhares de judeus foram sua cabeça). de um judeu”. As ilustrações do
presos e mandados para os campos de concentração. livro mostravam o contraste en-
Quipá: pequena boina que os judeus tre judeus e alemães. As expres-
Dialogando usam no alto da cabeça como símbolo sões maliciosas do judeu e da
da sua religião. raposa complementavam a ideia
O que essa imagem expressa? Com que objetivo?
de desconfiança: a raposa era re-
Ela expressa o antissemitismo; o objetivo era desumanizar o
tratada em posição de ataque a
adversário e, assim, justificar ações violentas contra ele.
137 uma presa, e o judeu, jurando em
falso, tinha atrás da cabeça uma
estrela de Davi. Cabe esclarecer
que no folclore alemão a raposa,
13:25 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 137 sentassem os judeus de maneira deformada28/06/22e13:25
es-
tida como traiçoeira, conquistan-
teticamente feia, contrastando com as de arianos,
do suas presas com juramentos
O antissemitismo nazista expressão do belo. Deveriam mostrar que o judeu
andava e falava de forma diferente do ariano. Nas falsos, é símbolo do mal, apare-
[...] Uma editora chamada Der Strumer,
Strumer, que divul- cendo muitas vezes como repre-
aulas de História, os alunos aprendiam que os ju-
gava as ideias nazistas, publicou manuais escola- sentação do demônio. A compa-
deus haviam destruído as maiores civilizações do
res que continham ensinamentos ideológicos para ração com o judeu é facilmente
mundo, como as do Egito, da Pérsia e de Roma.
crianças alemãs. O antissemitismo e os valores do identificável. Publicado em 1935,
partido já se faziam presentes na alfabetização. Nos livros de contos infantis publicados pela o conto teve sete edições.
Essa editora [Der
[Der Sturmer]
Sturmer] publicava também um Strumer, o judeu era apontado como “não hu-
Der Strumer,
D’ALESSIO, Marcia Mansor; CAPELATO,
manual para os professores, orientando-os sobre mano”. Um deles, de autoria de uma estudante
Maria Helena. Nazismo: política, cultura
as formas de estimular nas crianças a aversão aos de arte de 18 anos, chamada Elvira Bauer, tinha e holocausto. São Paulo: Atual, 2004.
judeus: o mestre deveria usar imagens que apre- o seguinte título: “Não confie numa raposa em (Discutindo a história, p. 40-41).
137

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 137 31/08/22 10:02


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre o uso pelo na-
zismo dos meios de comu-
nicação mais sofisticados à
época.
PARA SABER MAIS
• Comentar que a cineasta es-
As Olimpíadas de 1936: esporte e racismo
calada por Hitler para a dire-
ção oficial do filme dos Jogos Em 1936, os Jogos Olímpicos foram organizados em Berlim. Disposto a impressionar
Olímpicos de 1936 possuía o resto do mundo e a comprovar a superioridade alemã, Hitler mandou construir um
alto nível técnico e uma lin- estádio para 100 mil pessoas; gastou cerca de 30 milhões de dólares para erguer a Vila
guagem cinematográfica Olímpica, onde seriam recebidos 4 mil atletas de todos os continentes; e encomendou
inovadora. a uma consagrada cineasta alemã, Leni Riefenstahl, a direção do filme oficial da com-
• Refletir sobre o uso de alta petição, que deveria ser um louvor aos ideais nazistas.
tecnologia para veicular No entanto, nem tudo saiu do jeito que Hitler desejava.
mensagens autoritárias e Inicialmente, ele foi obrigado a aceitar na equipe da Alemanha duas atletas alemãs
cientificamente equivocadas de origem judia (elas não eram, na visão de Hitler, “alemãs puras”): Gretel Bergmann,
no passado e no presente. atleta de salto em altura, e Helene Mayer, esgrimista que havia ganhado uma medalha
• Produzir um vídeo usando de ouro nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã (Países Baixos). O Comitê Olímpico
tecnologias digitais de infor- Internacional pressionou as autoridades nazistas com uma ameaça: se elas fossem proi-
mação e comunicação sobre bidas de participar, a Alemanha não sediaria os Jogos.
as Olimpíadas de 1936 de Porém, quem mais brilhou naqueles jogos não foi nenhum “ariano puro”, de cabelos
modo ético e responsável. loiros e olhos azuis, mas sim os atletas negros estadunidenses, que ganharam todas as
Professor, o trabalho com a provas de atletismo, como as corridas de 100 metros e 800 metros, salto em distância e
produção do vídeo pode con- salto em altura. Entre eles estava um neto de escravizados, o corredor Jesse Owens, que
tribuir para o desenvolvimento ganhou quatro medalhas de ouro. No salto em distância, atingiu 8,06 metros, recorde
da competência específica 7. olímpico por 24 anos.
Hitler estava presente no estádio, mas saiu antes que a prova de salto terminasse.
A “estrela da festa” foi mesmo Jesse Owens, cuja vitória é até hoje lembrada como
Imagens em movimento evidência de que as ideias racistas de Hitler não tinham fundamento.
Vídeo da TV Brasil sobre a KEYSTONE/GETTY IMAGES

participação de Jesse Owens


nas Olímpiadas de 1936, na O estadunidense Jesse
Alemanha. Owens (à frente) cruza
a linha de chegada,
• HÁ EXATOS 100 anos, nas- conquistando a medalha
cia o atleta que derrubou o de ouro na corrida
mito da superioridade aria- dos 100 metros nas
na: Jesse Owens. 2013. Vídeo Olimpíadas de 1936.
Ele ganhou outras três
(1m10s). Publicado pelo ca- medalhas de ouro:
nal TV Brasil. Disponível em: nos 200 metros, no
https://www.youtube.com/ revezamento 4 3 100 m
watch?v=FGIhTypwmwg. e no salto em distância.
Berlim (Alemanha).
Acesso em: 23 jun. 2022.

TEXTO DE APOIO
Estado e cultura: o 138
nazismo e o cinema
alemão
A propaganda exerceu um pa- restringir-se a pouquíssimos
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 138 pontos, repetidos opinião até então existentes – incluindo desde 28/06/22 13:25 AV_

pel fundamental no processo de incessantemente pela ação de formas estereo- elementos da mitologia germânica e da liturgia
consolidação política do […] Par- tipadas, até que o último dos ouvintes estivesse católica até as técnicas de agitação comunista
tido Nazista, na Alemanha. Para em condições de assimilar a ideia. O essencial e do estudo da psicologia de massas –, que, so-
Adolf Hitler, […] a propaganda da propaganda era atingir o coração das mas- mada ao controle estatal de todos os meios de
deveria ser simples, emotiva e sas, compreender seu mundo maniqueísta e re- comunicação, possibilitou condicionar homens
popular, elaborada de modo a le- presentar seus sentimentos. Essa seria uma das e mulheres, de modo a transformá-los em autô-
var em conta o limite das facul- razões do êxito da propaganda nazista em rela- matos do Estado.
dades de assimilação do mais ção às massas alemãs: predomínio da imagem
sobre a explicação, do sensível sobre o racional. PEREIRA, Wagner Pinheiro. O triunfo do Reich de mil anos:
limitado dentre aqueles a quem cinema e propaganda política na Alemanha nazista (1933-
ele deveria se dirigir. […] Dessa Nesse aspecto, os nazistas elaboraram uma 1945). In: CAPELATO, Maria Helena et al. História e cinema.
forma, toda propaganda deveria síntese de todas as técnicas de manipulação da São Paulo: Alameda, 2007. p. 260-261.
138

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 138 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
1. a) O American way of life foi marcado pelo consumismo, pela padro-
nização social e pela crença nos valores democráticos liberais. 1. Estimular que os alunos
1. b) A ideia de uma vida feliz, vitoriosa e com liberdade. Essa felicidade alcançada pelos meios observem os elementos da

ATIVIDADES
materiais tornou-se a válvula de escape para NÃO ESCREVA imagem, como a geladeira
esquecer os horrores da Primeira e da Segunda NO LIVRO.

Guerra e ajudaria o país a continuar crescendo. cheia, o brinquedo e até a


1. c) Respostas pessoais. representação de um ca-
2. a) A Grande Depressão foi uma crise econômica que teve início com a quebra da bolsa de valo- chorro, como complemento
res de Nova York, nos Estados Unidos, e atingiu fortemente os países com que mantinham relações da noção de felicidade, que
comerciais, a exemplo do Brasil.
é associada à abundância
I. Retomando 2.agrícolas
b) Porque a economia brasileira dependia, em boa parte, das exportações de gêneros
(principalmente o café) e os Estados Unidos eram seu maior comprador.
de mercadorias e, portanto,
comercializável. Questionar
c) Na falta de comprador, os estoques de café aumentaram, e os preços do produto
caíram violentamente. se os estudantes percebem
1 Observe a imagem com atenção. essa relação em seu cotidia-
a) Que relação se pode esta- no e aproveitar para pro-

BRIDGEMAN/FOTOARENA
belecer entre a imagem mover uma discussão acerca
e o American way of life de como a ideia de felicida-
adotado nos Estados de permeia os projetos de
Unidos em 1920? vida de cada um.
b) Qual era o argumento
usado pelos meios de 2. Se necessário, retomar com
comunicação de massa os alunos a importância do
para incentivar o consumo café na economia brasileira,
na época do American auxiliando que percebam a
way of life? relação de dependência ex-
c) Você já comprou algo sem terna da economia cafeeira.
que tivesse necessidade?
Por quê? 2. b) Na crise, os Estados Uni-
dos reduziram drasticamen-
2 A Grande Depre s s ão te suas importações, o que
eclodiu em um mundo Propaganda do American way of life nos Estados Unidos.
atingiu fortemente a eco-
otimista que parecia cami- nomia brasileira.
nhar na direção de uma prosperidade permanente. Ela iniciou-se com a quebra da
bolsa de valores de Nova York em outubro de 1929, afetando todas as atividades 2. c) Comentar que a queda
econômicas dos Estados Unidos e se propagando por todo o mundo. do preço e o aumento dos
a) Caracterize a Grande Depressão e indique o motivo pelo qual seus efeitos foram sentidos em estoques de café arruina-
todo o mundo. ram muitos cafeicultores,
b) Por que a crise atingiu tão fortemente o Brasil? bem como geraram desem-
c) Quais foram os efeitos da crise no Brasil?
prego e carestia.
3. O fascismo era contrário
3 Avalie as afirmações a seguir e identifique quais delas representam ideias fascistas.
à democracia e ao libera-
a) A comunidade é vítima e qualquer ação sem limites legais ou morais contra seus inimigos é lismo e era radicalmente
válida.
antissocialista; além disso,
b) Aprovação à democracia, ao liberalismo e ao socialismo. segundo as ideias fascistas,
c) Os chefes, sempre do sexo masculino, conduzem a comunidade rumo a seu destino. um povo pode dominar
d) A violência pode ser bela e a vontade, eficiente, se o objetivo é o êxito da comunidade. os demais, independente-
e) Um povo pode dominar os demais independentemente do êxito do chefe. mente de lei humana ou
3. Alternativas A, C e D. divina.
139

13:25 TEXTO DE APOIO


AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 139 bilística (linha de montagem e mecanização),
30/06/22 16:44

de comunicações (rádio e telefone), eletrônicos


American way of life e plásticos (eletrodomésticos e outros bens de
consumo) criaram produtos inovadores a pre-
Muitos contemporâneos se maravilharam ços cada vez mais acessíveis. Circulavam entre
com o crescimento econômico dos Estados Uni- as massas produtos antes restritos aos ricos –
dos depois de breve recessão do período pós- carros, luz elétrica, gramofone, rádio, cinema,
-guerra. Os números eram impressionantes: a aspirador de pó, geladeira e telefone –, o “jeito
produção industrial cresceu 60%, a renda per americano de viver” (american
(american way of life)
life) tor-
capita aumentou em um terço, o desemprego nou-se o slogan exaltado do período.
e a inflação caíram. Avanços tecnológicos nos KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das
processos de produção na indústria automo- origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007. p. 198.
139

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 139 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
4. a) Julgamos oportuna a
consulta ao texto: LÜPKE-S-
CHAWARZ, Marc von. Eleições 4 Observe a tabela a seguir.
alemãs de 1933 transcorreram
em clima de intimidação. DW, Alemanha: resultado das eleições para o Parlamento
Berlim; Bonn, 5 mar. 2013. Grupos políticos 1919 1924 1928 1930 1932 1933
Disponível em: https://www. Moderados e conservadores 54% 58% 55% 44% 27% 26%

dw.com/pt-br/elei%C3%A7% Socialistas e comunistas 46% 35% 42% 38% 35% 30%


C3%B5es-alem%C3%A3s Nazistas - 7% 3% 18% 38% 44%
-de-1933-transcorreram-em Fonte: SCHIMDT, Heinz Dieter. Fragen an die Geschichte. Frankfurt: Hirschgraben-Verlag, 1979.
-clima-de-intimida%C3%A7% a) Qual grupo mais cresceu no período? Aponte uma razão para isso.
C3%A3o/a-16647900. Acesso b) No modelo parlamentarista, como o do governo alemão, o partido político que obtém o
em: 27 jun. 2022. maior número de assentos no Parlamento tem o direito de formar o governo. Relacione essa
informação com a chegada de Adolf Hitler ao poder.
c) Copie no caderno a alternativa correta. A observação atenta dos dados da tabela permite
Dica de leitura perceber que: 4. c) Alternativa IV.
O livro traz uma análise dos I. os grupos que mais cresceram no período foram o dos nazistas e o dos moderados e
principais fatos econômicos conservadores.
ocorridos no mundo, por meio II. não há relação entre os efeitos da crise de 1929 e as eleições alemãs, já que os comunistas
de diferentes interpretações, também vinham crescendo desde 1919.
permitindo ao leitor uma re- III. os nazistas participaram das eleições de 1933 por acreditar na democracia e por meio do
flexão crítica sobre o assunto convencimento pacífico.
e o desenvolvimento da com- IV. os nazistas cresceram muito eleitoralmente a partir da crise de 1929, quando o desemprego
petência específica 4. na Alemanha chegou a atingir 44% da população.
V. os efeitos da Grande Depressão foram sentidos pelos nazistas, uma vez que, a partir da
• SAES, Flavio Azevedo. His- crise de 1929, apenas os socialistas cresceram politicamente.
tória econômica geral. São 4. a) Os nazistas foram os que mais cresceram no período, por força dos efeitos da crise de 1929 na Alemanha,
Paulo: Saraiva, 2013. mas também pela ação das Seções de Assalto, que coagiam eleitores em diversas áreas do país e desmobilizavam
manifestações da oposição. Alguns críticos consideram o pleito de 1933 uma verdadeira “farsa democrática”.
Imagens em movimento II. Leitura e escrita em História 4. b) Hitler assumiu o poder após seu
partido obter expressivos resultados
Vídeo sobre a história de eleitorais junto à população alemã.
Adolf Hitler. Cruzando fontes
• BREVE biografia de Adolf
Hitler | History. 2020. Vídeo FONTE 1
(5min29s). Publicado pelo
canal History Brasil. Dis- Número de crianças investidoras aumenta 65% em um ano na Bolsa
ponível em: https://www. De olho no futuro das crianças, pais e responsáveis estão deixando de lado a
youtube.com/watch?v=k3jCr tradicional poupança para fazer o pé-de-meia de seus filhos e migrando para a
6vYqZU. Acesso em: 28 jun.
Bolsa de Valores. Em um ano, o número de investidores com até 15 anos de idade
2022.
cadastrados na B3 aumentou 65,5%.
O número passou de 13 070 – 7 347 (homens) e 5 723 (mulheres) –, em outubro
de 2020, para 21 630 – 12 082 (homens) e 9 548 (mulheres) –, em outubro [de 2021].
[...]

140

TEXTO DE APOIO AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 140 duas vezes superior à média das últimas três. Esperava-se que 20/08/22 14:27 AV_

1929 fosse um ano de produção reduzida, dada a alternância de


A Crise de 1929 no Brasil boas e más safras. Mas provavelmente as boas condições climá-
ticas e a melhora do trato dos cafezais fizeram com que isso não
[…] estourou em outubro de 1929 a crise mundial. Ela apanhou
acontecesse. Com a crise, os preços internacionais caíram brusca-
a cafeicultura em uma situação complicada. A defesa permanen-
mente. Como houve retração do consumo, tornou-se impossível
te do café gerara a expectativa de lucros certos, garantidos pelo
compensar a queda de preços com a ampliação do volume das
Estado. Em consequência, as plantações se estenderam no Estado
de São Paulo. Muita gente tomou empréstimos a juros mensais vendas. Os fazendeiros que tinham se endividado, contando com
de 2% – uma taxa na época muito alta – para plantar café. A safra a realização de lucros futuros, ficaram sem saída.
de 1927-1928 chegou a quase 30 milhões de sacas, sendo quase FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. p. 320.

140

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 140 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
Nome original Nome atual Ano de fundação Local de fundação • Temas Contemporâneos
Bovespa B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) 1890 São Paulo (SP) Transversais: a proposta da
[André] Braz [economista do IBRE-FGV] ressalta que abrir uma conta para atividade permite desenvol-
menor de idade na Bolsa de Valores é burocrático e exige a autorização dos pais a ver o tema economia, ligado
cada investimento que será feito. à educação financeira, pos-
“Se houver parceria e os pais forem os responsáveis legais pelos investimentos sível de ser associado ao pro-
e souberem orientar os filhos, é muito legal”, frisa. jeto de vida dos alunos. Por
RODRIGUES, Márcia. Número de crianças investidoras aumenta 65% em um ano na Bolsa. R7, São Paulo, 11 out. 2021.
Disponível em: https://noticias.r7.com/economia/economize/numero-de-criancas-investidoras-aumenta-65-em-um-ano-na-
tratar de investimentos feitos
bolsa-11102021. Acesso em: 5 abr. 2022. por crianças, sob a supervi-
Principal índice Empresas listadas Valor de mercado Exemplos de empresas são de adultos, a atividade
FONTE 2 Ibovespa 400 1,3 trilhão promove uma aproximação
A tabela a seguir traz estatísticas sobre as bolsas de valores publicadas em 2021. com a vida prática, oportu-
Principais bolsas de valores do mundo (2021) nizando que os alunos en-
tendam que o envolvimento
Valor de mercado Empresas/
Bolsa Localização com as questões financeiras
(em trilhões de dólares) ações listadas ˜ –
NYSE EUA 21 2 700
não é restrito à vida adulta.
Nasdaq EUA 10 3 000 
É possível também estimular
o envolvimento deles na eco-
Euronext Europa 4 1 800
nomia doméstica, favorecen-
SSE China 6 1 700
do a compreensão das possi-
TSE Japão 5,7 2 000
bilidades que existem diante
B3 Brasil 1,3 400
de situações concretas. Nesse
Elaborado com base em: ISMAR, Bruno. 5 principais bolsas do mundo que vale a pena conhecer.
Renova Invest. São Paulo. 4 out. 2021. Disponível em: https://renovainvest.com.br/blog/5-principais-
sentido, estimular a prática
bolsas-do-mundo-que-vale-a-pena-conhecer/. Acesso em: 11 maio 2022. de diferenciar itens essenciais
a) Resposta pessoal.
a) Em seu entendimento, quais razões explicam o fato de os pais deixarem de lado a tradicional
e supérfluos, conhecer as pos-
poupança e buscarem “fazer o pé-de-meia” de seus filhos na bolsa de valores? sibilidades de poupar dinhei-
b) Em dupla. Discutam por que, na opinião de vocês, em outubro de 2020 a maioria dos ro e considerar investimentos
investidores com até 15 anos de idade era do sexo masculino. b) Resposta pessoal. em projetos pes­soais, inclusi-
c) Pesquise e preencha no caderno o quadro a seguir com informações sobre a bolsa de valores ve de formação.
de São Paulo (B3). Cruzando fontes. a) Os estu-
Bolsa de valores B3 dantes podem sugerir que a
Nome original Nome atual Ano de fundação Local de fundação maior consciência financeira
levou ao aumento do investi-
Principal índice Empresas listadas Valor de mercado Exemplos de empresas
mento nas bolsas de valores,
tal como é apontado no tex-
to. Aproveitar essa atividade
para dizer que a incorpora-
d) De acordo com a fonte 2, as seis principais bolsas de valores do mundo têm, juntas, qual valor ção da educação financeira
de mercado? d) 48 trilhões de dólares. como disciplina em algumas
e) De acordo com a fonte 2, qual bolsa de valores tem a maior quantidade de empresas listadas? escolas, a partir de 2020, es-
E qual tem o maior valor de mercado? e) A Nasdaq tem o maior número de empresas listadas; timulou a participação das
e a NYSE tem o maior valor de mercado.
f) De acordo com a fonte 2, é possível afirmar que o valor de mercado das bolsas de valores crianças no mercado financei-
estadunidenses somado corresponde a cerca de dois terços do valor de mercado total das ro; além disso, a possibilidade
principais bolsas de valores do mundo? f) Sim, pois as principais bolsas de valores do mundo
somam 48 trilhões de dólares em valor de mercado, e as duas bolsas de valores estadunidenses de lucros maiores e mais rápi-
dos também foi uma das ra-
(Nasdaq e NYSE) correspondem a 31 trilhões de dólares, ou seja, cerca de dois terços do total
(31/48 corresponde a aproximadamente 2/3). 141 zões que levaram ao aumen-
to do investimento nas bolsas
de valores.
14:27 Dica de leitura
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd 141 20/08/22 14:27
b) Espera-se que os alunos respondam que,
Livro sobre educação financeira destinado conforme o texto, o número de homens com
ao público adolescente. até 15 anos de idade cadastrados na bolsa de
• ALVES, Januária Cristina (coord.). Educa- valores em 2020 era de 12 082, enquanto o de
ção financeira: um guia de valor. São Pau- mulheres era de 9 548. Isso pode refletir uma
lo: Moderna, 2016. discriminação das mulheres. Sendo o merca-
do financeiro visto por muitos como algo do
universo masculino, as mulheres não são en-
sinadas, desde cedo, a atuar nesta área.

141

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 141 26/08/2022 19:09


ENCAMINHAMENTO
Vozes do presente
A seção permite retomar Vozes do presente
discussões sobre o papel da
propaganda na construção Leia o texto a seguir, extraído do site do Museu do Holocausto dos Estados Unidos.
de desejos e em como ela in-
fluencia sentimentos diversos, A disseminação da informação jornalística nazista
inclusive os de ódio. Após a
Quando Hitler subiu ao poder em 1933, a

ULLSTEIN BILD/ULLSTEIN BILD/GETTY IMAGES


realização das atividades, con-
Alemanha tinha uma infraestrutura de comunica-
versar com os alunos sobre a
importância da liberdade de ções bem desenvolvida: mais de 4 700 jornais diários
expressão e de diferentes fon- e semanais, com uma circulação total de 25 milhões
tes de informação na constru- de exemplares, eram publicados anualmente naquele
ção da democracia. Ressaltar o país, mais do que em qualquer outro país indus-
importante papel das mídias trializado. [...] A indústria do cinema da Alemanha
independentes, inclusive dos estava entre as maiores do mundo; seus filmes eram
podcasts, como forma de dar aclamados mundialmente, e os alemães foram os pio-
voz às populações que não neiros no desenvolvimento do rádio e da televisão. [...]
têm oportunidade de apare- [...] A eliminação de sistema político multiparti-
Roland Strunk, correspondente
cer em mídias tradicionais. dário não apenas levou ao fim de centenas de jornais
especial do jornal do Partido
a) A imprensa alemã era bem Nazista Völkischer Beobachter produzidos pelos partidos destituídos, mas também
desenvolvida, já que eram pu- (Observador Nacional). Alemanha, permitiu que o estado confiscasse gráficas e equipa-
blicados e circulavam, anual- 1936. mento dos partidos Comunista e Social-Democrata,
mente, mais jornais do que em que com frequência criticavam diretamente o Partido Nazista. Nos meses seguin-
qualquer outro país da Europa. tes, os nazistas estabeleceram o controle e passaram a exercer influência sobre
Berlim era considerada a capi- os órgãos da imprensa independente. Nas primeiras semanas de 1933, o regime
tal da imprensa alemã, e havia nazista posicionou o rádio, a imprensa e os curtas-metragens para provocar o medo
alguns grandes jornais de reco- da iminente “ascensão dos comunistas” e depois canalizou a ansiedade do povo
nhecimento internacional, em- através de medidas políticas que erradicavam a liberdade civil e a democracia.
bora a maioria das publicações UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM. A disseminação da informação jornalística nazista.
Enciclopédia do Holocausto. Washington, DC, [1 out. 2013]. Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/
dos jornais se concentrasse nas content/pt-br/article/writing-the-news. Acesso em: 22 mar. 2022.
pequenas cidades. A indústria
a) Descreva, com suas palavras, a situação dos meios de comunicação alemães no momento da
cinematográfica alemã estava
ascensão dos nazistas ao poder. a) Resposta pessoal.
entre as mais prestigiadas, com
b) Explique em que sentido o fim do multipartidarismo beneficiou as atividades de propaganda
filmes aclamados no mundo in- do Partido Nazista.
teiro. Além disso, a Alemanha
c) Em dupla. Reflitam sobre o porquê de, em países em que vigoram regimes ditatoriais, ser
também era uma das pioneiras comum haver a censura e a proibição da circulação de jornais de oposição. Em sua resposta,
no desenvolvimento do rádio e destaquem o papel da imprensa como formadora de opiniões. c) Resposta pessoal.
da televisão. d) Em diversos locais e épocas, embora pessoas tivessem sido proibidas de escrever jornais
c) Comentar que a imprensa contra os governos, isso não as impedia de criar e fazer circular inscritos injuriosos atacando
tem um papel importante na autoridades constituídas no poder. Esses escritos, fixados em locais públicos, de caráter quase
sempre anônimo e de tom humorístico, receberam o nome de pasquim. Em grupo. Criem
formação da opinião dos elei-
um pasquim, isto é, um folheto de caráter jocoso, a respeito da política nazista e seu plano
tores, sendo, por isso, conside- de criação de um espaço vital. d) Resposta pessoal.
rada por muitos como o quar- b) Com a eliminação do multipartidarismo, houve não somente o fim de diversos jornais de oposição ao
to poder. Nas sociedades em 142 governo nazista, mas também foram confiscados gráficas e equipamentos, sobretudo dos partidos co-
munistas e social-democratas.
que não vigora a democracia,
líderes ditatoriais buscam mi-
nar a liberdade de expressão crevam o texto em letra 142 cursiva ou de forma
por meio da censura e da per-
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-LA-G24.indd Dica de leitura 01/07/22 17:09

e incluam imagens, como charges, tirinhas e Texto sobre a propaganda política nazista.
seguição à mídia de oposição,
quadrinhos. Por fim, realizar uma exposição
veiculando informações fa- • UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL
do trabalho dos alunos, de modo que as pro-
voráveis a seu governo, a fim MUSEUM. A propaganda política nazista.
de que o povo não se rebele duções possam ser vistas por estudantes de Enciclopédia do holocausto. Washington,
e incorpore a ideologia gover- outras turmas. Se possível, fotografar e pos- DC, c[202-]. Disponível em: https://
namental como sendo sua. tar nas redes oficiais da escola. encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/
d) Organizar pequenos gru- Estas atividades contribuem para o desen- article/nazi-propaganda. Acesso em: 23
volvimento da competência geral 5 e do Tema jun. 2022.
pos para a criação do folheto.
Pedir aos estudantes que es- Contemporâneo Transversal economia.
142

125a142_HIS-F2-2111-V9-U2-C06-MP.indd 142 26/08/2022 19:09


OBJETIVOS
• Analisar as principais razões
CAPÍTULO da Segunda Guerra Mundial.

7
• Argumentar sobre a polí-
tica de apaziguamento de
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Chamberlain.
• Refletir sobre a resistência
civil aos nazistas.
• Compreender o pacto de
não agressão entre a Alema-
Observe a nha e a URSS.
MARVEL COMICS/ADVERTISING ARCHIVES/EASYPIX BRASIL

imagem com • Valorizar a participação bra-


atenção. sileira na Segunda Guerra.
• Promover atitudes de indig-
nação em relação ao Holo-
causto, situando-o como cri-
me contra a humanidade.

Os objetivos deste capítu-


Respostas pessoais. lo visam cooperar para a re-
flexão e discussão dos prin-
cipais aspectos relacionados
à Segunda Guerra Mundial,
favorecendo o desenvolvi-
mento das competências e
habilidades propostas.

BNCC
• Competências gerais: 4, 5, 7,
9 e 10.
• Competências específicas: 1,
3 e 7.
• Habilidade: EF09HI13.

ENCAMINHAMENTO
1. Você conhece esses
personagens? A imagem apresenta a capa
da edição número 1 do gibi do
2. Quem é o herói?
E quem é o vilão? Capitão América, herói esta-
dunidense criado pela Marvel
3. O que está
acontecendo
Comics, no início da Segunda
na cena? Guerra Mundial, para com-
Respostas pessoais. bater o nazismo. Ao centro,
143 o Capitão América, o herói
da história, aparece socando
Hitler, o vilão. No canto infe-
rior esquerdo, um militar na-
TEXTO DE APOIO
143a161-HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 143 servisse como divulgador dos ideais 24/08/22 09:03
zista, com a suástica no braço direito, atira no Capi-
democráticos e liberais dos Estados
Os ideais políticos e Unidos. Assim, pode-se dizer que o tão América, cujo escudo é indestrutível e, por isso, a
ideológicos nas HQ’s do Capitão América é um personagem bala não consegue penetrá-lo. Recorremos uma vez
Capitão América criado especificamente para atender mais a uma imagem de época para despertar o inte-
Em março de 1941 chegava às ban- determinadas demandas políticas resse do alunado pelo tema ao qual a imagem está
ideológicas, voltadas à propaganda
cas de jornal dos Estados Unidos da relacionada. No final do capítulo, pode-se retornar
América (EUA) a primeira edição da contra os países do Eixo […].
a essa imagem do universo das HQs e levantar ques-
revista em quadrinhos do Capitão PEDROSO, Rodrigo Aparecido de Araújo. Guerra
Fria e anticomunismo nas histórias em quadrinhos tões que relacionem propaganda e guerra, indústria
América; […] a ideia era criar um he- do Capitão América de 1954. In: ENCONTRO cultural e guerra, história em quadrinhos e História.
rói que estivesse engajado no com- INTERNACIONAL DA ANPHLAC, 11., 2014, Rio de
bate à ameaça nazifascista e que Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: UFF, 2014. p. 1.
143

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 143 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
• Compreender que tomados
por ambições imperialistas,
Alemanha, Itália e Japão
passaram a desafiar a ordem
Céu de nuvens carregadas
internacional.
Ascendendo ao poder em 1933, o Führer

CORBIS/GETTY IMAGES
• Usar o trabalho com a charge
começou a militarizar a Alemanha, afrontando
para ajudar os alunos a for- abertamente as imposições feitas pela França
marem o conceito de impe-
e pela Inglaterra no Tratado de Versalhes.
rialismo.
A Itália de Mussolini também nutria fortes res-
• Comentar que a Manchúria
sentimentos em relação à Inglaterra e à França,
era uma província chinesa
pois participara da Primeira Guerra ao lado
com um governo fortemente
desses países e não obtivera as compensações
influenciado pelos militares.
territoriais que lhe foram prometidas. O Japão,
• Mencionar que Mussolini,
por sua vez, industrializava-se rapidamente e
desfilando suas armas mo-
ambicionava ampliar seus mercados e áreas de
dernas e uniformes novos nas
influência no continente asiático.
ruas pobres de Adis-Abeba,
capital etíope, aproveitava Desafiando a ordem internacional vigente
para dizer que a conquista na década de 1930, o Japão,, a Itália e a
da Etiópia era o começo da Líderes das potências do Eixo dividindo o Alemanha adotaram uma política declarada-
restauração da grandeza do mundo. Estados Unidos, século XX. mente imperialista.
Império Romano.
a) O Führer Adolf Hitler, o duce Benito Mussolini e o general japonês Hideki Tojo.
Dialogando
O imperialismo japonês
a Quem são os
No início do século XX, o Japão era uma potência industrial, a
personagens
mostrados na única de toda a Ásia. Tinha deixado de ser vítima do imperialismo
imagem? para tornar-se, ele próprio, um país imperialista. Em 1931, o Japão
b O que está ocupou a Manchúria, província chinesa rica em minérios e solos
acontecendo na férteis. A Liga das Nações, que era controlada pela Inglaterra e pela
cena? França, nada fez para socorrer a China. Em 1937, o Japão atacou
e ocupou outra parte do território chinês.
b) Hitler reparte o globo/mundo, Mussolini já recebeu um pedaço e Tojo aguarda o seu. Note que a expressão fa-
cial do líder italiano e a do japonês sugerem ambição; note também que Hitler reserva para si o maior pedaço.
O expansionismo italiano
Em outubro de 1935, a Itália de Mussolini afirmou seu imperialismo invadindo a
região onde hoje é a Etiópia, no nordeste da África. Diante disso, a Liga das Nações,
orientada pela Inglaterra, proibiu os países-membros de comerciar com a Itália. Essa
proibição, porém, não afetou a economia italiana porque nações fortes, como os Estados
Unidos e a Alemanha, que não faziam parte da Liga, continuaram a vender aos italianos
matérias-primas essenciais, como petróleo e carvão. A conquista da Etiópia pela Itália
se consumou em 1936; com isso, ficava provado que a Liga das Nações era incapaz de
assegurar a paz mundial.

144

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 144 [...] Logo após sua criação, os membros da Liga aceitaram a ideia 28/06/22 13:25 D3_
– do estadista e estudioso francês Léon Bourgeois (1851-1925), ga-
A Liga das Nações foi criada como parte do Tratado de Versa-
nhador do Prêmio Nobel da Paz de 1920 – de que a cooperação
lhes, que marcou o fim da Primeira Guerra Mundial. A criação
intelectual internacional era uma precondição essencial para a
dessa nova organização intergovernamental foi inspirada na
paz. [...] No entanto, a falta de vontade por parte das grandes po-
declaração dos Quatorze Pontos do presidente norte-americano
tências tornou a Liga incapaz de impedir ou sancionar efetiva-
Woodrow Wilson – descrevendo suas propostas para um acordo
mente as agressões territoriais do Japão, da Itália e da Alemanha
de paz no pós-guerra –, que ele apresentou ao Congresso dos EUA
na década de 1930. [...]
em janeiro de 1918.
A LIGA das Nações: um sonho universal que resistiu ao teste do tempo. O Correio
[...] a Liga emergiu de uma guerra mundial – com a firme deter- da Unesco, [S. l.] 2020. Disponível em: https://pt.unesco.org/courier/2020-1/liga-das-
minação de que nunca mais se deveria permitir que tal tragédia nacoes-um-sonho-universal-que-resistiu-ao-teste-do-tempo.
acontecesse. Acesso em: 22 jun. 2022.

144

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 144 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
• Retomar e consolidar a no-
ção de espaço vital.
O nazismo alemão mostra suas garras • Comentar a entrada da
aliança Hitler/Mussolini na
Afirmando que os alemães precisavam de espaço vital Política de
apaziguamento: política Guerra Civil espanhola ao
(Lebensraum
Lebensraum,, em alemão), em 1935, Hitler rearmou a Alemanha que consistia em ceder lado do general fascista
e reintroduziu o serviço militar obrigatório. No ano seguinte, mili- territórios à Alemanha
Francisco Franco.
tarizou a Renânia, região próxima à fronteira com a França. Tudo a fim de evitar a guerra.
O principal motivo dessa • Conhecer a formação do blo-
isso tinha sido proibido pelo Tratado de Versalhes, mas a França e a política é que muitos co político-militar chamado
Inglaterra nada fizeram para deter Hitler. Encorajado, Hitler aliou-se dirigentes franceses
de Eixo: Roma-Berlim-Tó-
a Mussolini em 1936 e, juntos, entraram com suas tropas na Guerra e ingleses viam em
Hitler um guardião do quio, e acompanhar a escala-
Civil Espanhola (1936-1939), ao lado do general Francisco Franco, capitalismo na luta da nazista.
com o objetivo de derrubar o governo republicano, que tinha sido contra o comunismo • Construir com os estudan-
soviético; ou seja, um
eleito democraticamente. tes o conceito de política de
mal menor do que o
Em seguida, Hitler e Mussolini solidificaram sua aliança, for- “perigo comunista”. apaziguamento e sua visão
mando o Eixo Roma-Berlim,, bloco político e militar que, com a de que Hitler servia de escu-
entrada do Japão, constituiria o Eixo Roma-Berlim-Tóquio.. Em do contra um mal maior, o
março de 1938, a Alemanha hitlerista anexou a Áustria; essa ane- comunismo.
xação foi aprovada por 90% dos eleitores austríacos, o que mostra • Informar que as forças de
a popularidade do nazismo no país. Hitler, então, passou a exigir Franco venceram a Guerra
os Sudetos, região da Tchecoslováquia (atuais República Tcheca Civil Espanhola, que deixou
e Eslováquia) habitada por 3 milhões de alemães. Para resolver a atrás de si um saldo de mais
questão, Hitler, Mussolini (Itália), Neville Chamberlain (Inglaterra) de um milhão de mortos e
e Édouard Daladier (França) serviu para que os nazifas-
reuniram-se na Conferência
cistas testassem suas estraté-
gias, seus aviões e suas armas

GRANGER/FOTOARENA
de Munique e decidiram que
de fogo.
a Alemanha podia ocupar os
Sudetos. A principal interes-
sada – a Tchecoslováquia – não
foi convidada para a reunião.
Inglaterra e França punham
em prática, assim, a política
de apaziguamento do inglês
Chamberlain.

O cavalheiro e os gângsters. Charge


de A. R. Charlet que representa Neville rar um tiro, os soldados alemães
Chamberlain (primeiro-ministro britânico) foram recebidos por uma signi-
cumprimentando Hitler, que segura uma ficativa parcela da população
arma escondida atrás das costas. Por trás austríaca como restauradores
de Chamberlain estão Benito Mussolini da união dos povos germânicos.
e Hirohito. Revista Cyrano, 1939. Na Mais uma vez, França e Grã-Bre-
legenda, lê-se: “Honestamente, sr. Hitler, tanha nada fizeram. Na verdade,
onde o senhor vê alguém encurralado?”. nutria-se a ideia de que o perigo
real era representado pela União
145 Soviética e não pela Alemanha
nazista. A Grã-Bretanha come-
çou a aplicar a política que ficou
conhecida por apaziguamento,
13:25 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 145 Espanhola. Os dois países ajudaram as forças
28/06/22 13:25
idealizada pelo primeiro-minis-
conservadoras de Franco contra os republicanos
tro conservador Neville Cham-
Os nazistas e o “espaço vital” de esquerda. Os republicanos foram ajudados
berlain. Tal política consistia em
pela União Soviética. Por tudo isso, costuma-se
[…] A situação internacional ficou mais tensa fazer concessões territoriais à
dizer que tanto os fascistas como os comunis-
quando a Itália iniciou, em maio de 1936, a inva- Alemanha, em especial a leste.
tas testaram suas armas nos campos de bata-
são da Etiópia. A Liga das Nações registrou um Dessa forma os nazistas conso-
lha da Espanha e ensaiaram a Segunda Guerra
lidavam seu acalentado sonho
pálido protesto, enquanto a Alemanha deu total Mundial. Firmava-se assim uma aliança anti-
de um “espaço vital”.
apoio a Mussolini. Dessa forma, começava-se comunista entre a Itália e a Alemanha, da qual
a selar uma aliança entre a Itália fascista e a também fazia parte o Japão militarista. TOTA, Pedro. Segunda Guerra Mundial.
In: MAGNOLI, Demétrio (org.).
Alemanha nazista. Essa aliança se completou a Em março de 1938, a Alemanha realizava a História das guerras. São Paulo:
partir de meados de 1936, durante a Guerra Civil tão sonhada anexação da Áustria. Sem dispa- Contexto, 2006. p. 362-363.
145

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 145 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
a) A figura central é Hitler, e as mulheres à sua volta representam as nações europeias que ele cobiça.
• Explicar que, em agosto de b) Hitler está representado como um gigante (Gulliver) deitado sobre o mapa da Europa (Lilliput), referência ao livro As
1939, a Alemanha nazista as- viagens de Gulliver, do irlandês Jonathan Swift, que conta a história de Gulliver, um homem que chega a Liliput, terra de
sinou com a União Soviética No ano seguinte, os nazistas anexaram a Tchecoslováquia inteira, desrespeitando
comunista um pacto de não o que havia sido combinado em Munique. Depois, Hitler assinou um pacto de não
agressão, conhecido como agressão com seu adversário político, o líder comunista Josef Stalin, da União Soviética.
pacto germano-soviético. Por Secretamente, decidiram também ocupar e dividir a Polônia. Com esse acordo, em caso
meio desse pacto, a Alemanha de guerra, a Alemanha não teria de lutar em duas frentes. pessoas minúsculas, depois de um
se comprometia a não atacar naufrágio. Repare que Hitler está esmagando a Tchecoslováquia com uma das mãos, enquanto pisa no calo de Chamberlain
e olha interessado para as outras nações europeias, todas representadas na forma de mulheres minúsculas.
a União Soviética por 10 anos

BELMONTE
e, em contrapartida, ficava Dialogando
com as mãos livres para pôr Essa charge é de 21 de março de 1939 e foi criada
em prática seu expansionismo, por Benedito Bastos Barreto, o Belmonte. Observe-a
sem o perigo de ter de lutar com atenção e responda às questões a seguir.
em duas frentes (ocidental e a Quem é a figura central e quem são as
oriental). Um anexo secreto mulheres à sua volta?
desse acordo previa que parte
b Como esses personagens estão representados?
da Polônia seria anexada pela
URSS, e o restante do país fi- c Quem é o personagem vestido de preto e do
caria para a Alemanha. que ele está reclamando?
Charge de Belmonte, 1939. No balão, se lê: “Eh! Moço!
• Utilizar a charge para ajudar O senhor está me pisando no calo!!”. d Belmonte faz duas duras críticas nessa charge;
na construção das ideias de quais são elas?
escalada nazista e política de
Em 1o de setembro de 1939, os alemães invadiram
apaziguamento.
o oeste da Polônia; dias depois, os soviéticos aboca-
• Destacar que, inicialmente, a
nharam o leste. A Inglaterra reagiu, declarando guerra
blitz alemã conquistou a Dina-
à Alemanha. Era 3 de setembro de 1939; para os euro-
marca e a Noruega, ao Norte,
peus, o início da Segunda Grande Guerra.
e a seguir voltou-se para o Sul, c) O personagem vestido de preto é o representante da Grã-Bretanha, Neville
onde venceu também Holan- A ocupação nazista da França Chamberlain. Ele reclama da postura expansionista de Hitler sobre a Europa.
da, Bélgica e invadiu a França. A ofensiva nazista na Europa
ALLMAPS

Território ocupado pelo Mar do Norte


• Analisar o mapa que mostra Eixo depois de set./1939
Governo de Vichy, 1940-1944 PAÍSES No início da Segunda Guerra, Guerra-relâmpago:
parte do território francês Avanço do Eixo,1940
Linha Maginot
BAIXOS
0 os nazistas adotaram a tática da tática na qual os
220
sob domínio direto dos nazis- REINO UNIDO aviões começavam
Rio

Dunquerque BÉLGICA
a
guerra-relâmpago e, entre 9 o bombardeio; em
Re

anch
l da M
no

tas e, a outra parte, entregue 50º N Cana


Le Havre LUX.
ALEMANHA
de abril e 14 de junho de 1940, seguida, os tanques
ao marechal Pétain, militar Paris
Metz

invadiram e conquistaram cinco avançavam, abrindo


francês que concordou em FRANÇA caminho para a
SUÍÇA países: Dinamarca, Noruega, infantaria, que
colaborar com os nazistas. OCEANO
ATLÂNTICO
Vichy
Holanda, Bélgica e França. Após ocupava o território
• Trabalhar a noção de Lyon ITÁLIA
Bordeaux
FRANÇA
DE a ocupação nazista, a França foi inimigo rapidamente.
blitzkrieg, ou guerra-relâm- VICHY
dividida: uma parte, ao norte,
pago, introduzida pela má- Marselha
Meridiano de
Greenwich

quina de guerra nazista. ANDORRA Mar


I.Córsega
(FRA) ficou sob o domínio direto da Alemanha; a outra,
Mediterrâneo
ESPANHA ao sul, foi entregue a um militar francês, o marechal
Fonte: DUBY, Georges. Grand Atlas historique: Pétain, que concordou em colaborar com os nazistas.
l’histoire du monde en 520 cartes.
Paris: Larousse, 2011. p. 99. Observe o mapa.
Dialogando. b) Estimular que d) Ele critica o imperialismo de Hitler e, ao mesmo tempo, dirige uma crítica ao protesto tímido de Chamberlain
os alunos reparem que Hitler 146 diante da agressividade de Adolf Hitler. Comentar que os nazistas tinham invadido a Tchecoslováquia seis
dias antes de a charge ser publicada no Brasil.
está esmagando a Tchecos-
lováquia com uma das mãos,
enquanto pisa no calo de
Chamberlain e olha interessa-
TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 146 28/06/22 13:25 D3_

do para as outras nações eu- [...] os caricaturistas não tiveram dificuldades em captar o protagonismo do Führer nos aconte-
ropeias, todas representadas cimentos que presenciavam, ainda que a distância. Eles se empenharam em destruir a imagem de
na forma de mulheres minús- Hitler, imiscuindo no imaginário dos leitores outras características e valores, diferentes dos pre-
culas. tendidos por ele, nadando contra a maré da eficiente máquina de propaganda de Joseph Goebbels.
d) Professor, comentar que Por diversas vias, evidenciaram e hiperbolizaram os “pontos fracos” de Hitler, tornando-o risível e
os nazistas tinham invadido a ridicularizado – minando, portanto, sua imagem algo ameaçadora. [...]
Tchecoslováquia seis dias an-
tes de a charge ser publicada
no Brasil.
146

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 146 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre a resistência ci-
HULTON-DEUTSCH/HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS/GETTY IMAGES vil aos nazistas formada por
grupos de mulheres e ho-
PARA SABER MAIS mens comuns chamados de
partisans ou maquis.
A resistência aos nazistas
• Comentar sobre o papel do
Por toda a Europa, muitos civis resistiram movimento chamado de
à ocupação nazista com armas simples, muitas França livre sob a liderança
vezes obtidas em pequenas batalhas contra os do general Charles de Gaulle.
inimigos. Esses grupos de cidadãos armados, • Perceber que os nazistas já
chamados de partisans ou maquis
maquis,, foram impor- dominaram boa parte da Eu-
tantes no combate ao nazismo na França, na ropa continental quando de-
Itália, na Iugoslávia, na Noruega e na União Combatentes franceses contra a ocupação cidiram voltar-se com força
Soviética. nazista na França. Paris (França), 1944. para a Inglaterra.
Na França, eles organizaram um movimento de resistência armada ao nazismo • Propor uma reflexão sobre
conhecido como França Livre. Seu líder, o general Charles de Gaulle, os comandava pelo um trecho do “Discurso de
rádio a partir de Londres. Guerra”, de Winston Chur-
chill, indicado a seguir.
Após a ocupação da França, os nazistas miraram a Inglaterra e iniciaram bombardeios
aéreos aos portos e cidades do país, inclusive Londres. Liderados por Winston Churchill,
os ingleses resistiram aos bombardeios aéreos sobre Londres. No ar, a aviação inglesa, a TEXTO DE APOIO
RAF ((Royal Air Force),
), enfrentou a aviação alemã, a Luftwaffe,, na Batalha da Inglaterra Esta não é uma questão de
(1940). Nessa batalha, a perícia dos pilotos britânicos e a liderança de Churchill detiveram lutar por Danzig ou lutar pela
os nazistas e os forçaram a adiar a invasão da Grã-Bretanha. Em homenagem ao desem- Polônia. Estamos lutando para
penho dos pilotos ingleses nessa batalha, disse Churchill: “Nunca [...] tantos deveram tanto salvar o mundo inteiro da pes-
te da tirania nazista e em defe-
a tão poucos”. sa de tudo que é mais sagrado
Quando a tentativa de conquistar a Inglaterra falhou, os nazistas voltaram-se para o para o homem. Esta não é uma
leste, visando agora à União Soviética. guerra de dominação ou engran-
decimento imperial ou ganho de
MASPIX/ALAMY/FOTOARENA

material; não é uma guerra para


tapar qualquer país de sua luz
solar e meios de progresso. É
uma guerra, vista em sua quali-
Um Spitfire da RAF dade inerente, para estabelecer,
ataca um Stuka em rochas inexpugnáveis, os
alemão. Ilustração direitos do indivíduo, e é uma
com base em guerra para estabelecer e reviver
pesquisa de um a estatura do homem.
aspecto da Batalha
CHURCHILL, 1941 apud OLIVEIRA JÚNIOR,
da Inglaterra. Clécio Antônio Barbosa. Pronunciamentos
de Churchill e Hitler no contexto da
Segunda Guerra Mundial: uma análise de
conteúdo. Revista Panorama, Goiás, v. 3,
n. 1, p. 251-263, jan./dez. 2013.

Imagens em movimento
147 Documentário sobre a
eclosão da Segunda Guerra
Mundial.
13:25 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 147 28/06/22 13:25 • O
INÍCIO da Segunda Guerra
(CONTINUAÇÃO) Mundial. 2020. Vídeo
Diversos aspectos de sua vida pública e privada foram atacados em prol da luta pictórica contra o (5min36s). Publicado pelo
nazismo, começando por sua aparência: muitas charges traziam como principal sátira seu peculiar canal History Brasil. Disponível
bigode, espécie de marca registrada de sua imagem. [...] em: https://www.youtube.
Mas, para além do aspecto físico, Hitler não teve sua personalidade, seus trejeitos e seu modo com/watch?v=7a8QEIbTN-g.
particular de liderança poupados por nossos artistas. [...] Acesso em: 22 jun. 2022.
SILVA, Marcelo Almeida. O reich, o traço e o riso: o nazismo segundo os caricaturistas da Careta durante a II Guerra Mundial.
Revista discente do programa de pós-graduação em História,
Niterói, v. 1, n. 2, p. 115-135, jul./dez. 2015. p. 117-118.

147

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 147 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar a decisão dos nazis-
tas de quebrar o pacto de não
agressão e invadir a União So- A resistência soviética ao nazismo
viética com 2 milhões de sol-
Interessado nas riquezas soviéticas (petróleo, minérios e
dados e milhares de tanques
cereais) e devotando ódio ao comunismo, Hitler traiu o pacto
e aviões, na operação conhe-
cida como Barbarossa. de não agressão firmado com Stalin e ordenou a invasão da
União Soviética, em junho de 1941.
• Compreender a tática da ter-
Em apenas 20 dias, os nazistas avançaram 750 km em territó-
ra arrasada adotada pelos
soviéticos na resistência aos rio soviético e foram deixando atrás de si centenas de milhares de
nazistas. cadáveres. Acuados, os soviéticos recuavam, mas antes destruíam
• Conhecer a desnazificação
tudo que pudesse ser útil ao adversário: fábricas, hospitais, plan-
da Bulgária, da Romênia, tações. Era a tática da terra arrasada,, que consistia em ceder
da Hungria, da Polônia e da espaço para ganhar tempo. Os nazistas, então, avançaram
Tchecoslováquia, conduzida sobre a cidade de Stalingrado, onde travaram com os
pelo exército soviético, du- soviéticos a maior batalha terrestre da Segunda Guerra:
rante a marcha sobre Berlim. a Batalha de Stalingrado (de novembro
de 1942 a fevereiro de
1943). Durante essa
+ATIVIDADES batalha, a tempera-
Produza um podcast com tura de 40 °C abaixo
de zero e a disposição de luta do povo
SHUSHONOK/SHUTTERSTOCK.COM

informações qualificadas so-


bre dois confrontos decisivos soviético deram a vitória à URSS. Estava
para os rumos de Segunda quebrado, assim, o mito da invencibili-
Guerra: a Batalha da Inglater- dade nazista.
ra e a Batalha de Stalingrado. Depois da vitória de Stalingrado, os
Esta atividade envolve a soviéticos passaram ao ataque e obrigaram os
produção de um roteiro, se- nazistas a marchar de volta para a Alemanha.
guido do trabalho de locução Durante a marcha, os soviéticos foram
e edição. Após a finalização, tomando dos nazistas os países ocupados
publique o áudio nas redes por eles: Bulgária, Romênia, Hungria,
oficiais da escola.
Polônia e Tchecoslováquia.
Professor, esta atividade quer
contribuir para o desenvolvi-
mento da competência geral 5.

TEXTO DE APOIO Monumento Mãe Pátria Chama.


Volgogrado (Rússia), 2021.
Pela vida dos outros
[...]
Foi […] na União Soviética que
o fenômeno da resistência al-
cançou seu ápice e, ao mesmo
tempo, seu papel mais relevan-
te do ponto de vista militar. A
antiga historiografia soviética
148
defendia a tese de que a primei-
ra grande vitória contra a impo-
nente máquina de guerra nazis- sua população – a Rússia
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 148 sofreu as maiores ações de guerrilheiros russos, criando – para 28/06/22 13:25 143

ta, antes mesmo da derrota dos perdas humanas e materiais da Guerra. Mesmo além do fato político e moral – uma realidade
alemães nas portas de Moscou assim, conseguiu erguer uma força de homens militar perturbadora para as tropas invasoras.
em 1941 ou em Stalingrado em e mulheres, atuando atrás das linhas inimigas, […]
1943, foi a derrota da expecta- de cerca de 1 milhão de combatentes. A atuação SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Pela vida dos outros.
tiva alemã de que a “pátria dos desses “partisans
“partisans”, ”, como ficaram conhecidos os Revista de História da Biblioteca Nacional,
sovietes” desabaria ao primeiro adeptos da resistência, foi responsável por mais Rio de Janeiro, ano 10, n. 116, maio 2015.
choque com as “panzerdivisio-
“panzerdivisio- de 20 mil trens paralisados, 10 mil locomotivas
nen ”, as divisões de tanques na-
nen”, destruídas e 110 mil vagões colocados fora de
zistas. [...] uso, além de 12 mil pontes ferroviárias e rodo-
Com mais de 20 milhões de viárias destruídas. Cerca de 1 milhão e meio de
mortos – ou seja, 10% de toda soldados alemães foram neutralizados pelas
148

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 148 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
• Enfatizar que a rivalidade
entre os Estados Unidos e o
A guerra no Oriente Japão – um choque de im-
perialismos – é a explicação
mais plausível para o ataque
Enquanto a guerra prosseguia no Ocidente, no Oriente o Japão e os Estados Unidos
japonês a Pearl Harbor e
disputavam entre si territórios e áreas de influência, o que levou ao choque entre eles.
para a declaração de guerra
Em 7 de dezembro de 1941, o governo japonês desfechou um ataque-surpresa à base
ao Japão por parte dos Esta-
militar estadunidense de Pearl Harbor,, no Havaí, destruindo boa parte dessa pode- dos Unidos.
rosa frota. Os Estados Unidos reagiram declarando guerra ao Japão. Em 1942, o Brasil
• Informar que a guerra no
alinhou-se aos Estados Unidos e, após ter vários navios afundados pelos alemães, declarou
oceano Pacífico teve duas ca-
guerra ao Eixo. racterísticas marcantes: foi
essencialmente naval, sen-
Expansionismo japonês no Oriente do os porta-aviões a arma
decisiva; e as batalhas foram
MAPS WORLD

Sacalina
s
Is. Aleutas travadas entre os exércitos
ila
ur
ÁSIA
Manchúria
Is
.K adversários e não contra as
0 1 780
Pequim
COREIA
JAPÃO
Midway
1942
populações locais.
O objetivo do Império
Nanquim
Xangai
Tóquio
• Destacar que, com a mun-
Ryukyu
japonês era o mesmo
FORMOSA Okinawa
Is. Marianas
Pearl Harbor
7/12/1941 Trópico de Câncer que o dos imperialistas dialização da guerra, defini-
BIRMÂNIA Hong Kong

TAILÂNDIA Manila
Guam Ilhas
Havaí europeus: dominar, ram-se os blocos oponentes:
Bangcoc
VIETNÃ FILIPINAS
Marshall
OCEANO conquistar, submeter de um lado, o Eixo, com Ale-
Is. Carolinas
Mindanao PACÍFICO povos e territórios.
Cingapura
Equador
Bornéu
Celebes
manha, Itália e Japão; e de
0° Limites máximos da expansão
Sumatra NOVA GUINÉ
Ilhas
Gilbert
Guadalcanal
japonesa até julho de 1942 outro, os Aliados, Grã-Breta-
OCEANO
ÍNDICO
Is. Cocos Java
TIMOR
Is.
Salomão
1942 Território do Japão e áreas
ocupadas até 1942
nha, Estados Unidos, União
Mar de Coral
80° L AUSTRÁLIA
1942
160° L
Ataques japoneses Soviética e França.
Fonte: SERRYN, Pierre. Atlas Bordas Historique et Géographique. Paris: Bordas, 1998.

Enquanto isso, o Japão partiu para a


GRANGER/FOTOARENA
conquista das colônias europeias e estadu-
nidenses no Extremo Oriente (Campanha
do Pacífico). Nessa campanha, iniciada em
1941, os japoneses conquistaram Hong
Kong (na China), Cingapura (na Malásia), as
Índias Orientais Holandesas, toda a Birmânia
(atual Mianmar) e quase todo o arquipélago
das Filipinas, que em 1898 era controlado
pelos estadunidenses.

“Delícias da estação/amarelo... pão.”


Charge francesa sobre o imperialismo japonês. c. 1941.

149

Dica de leitura No livro, o24/08/22


ex-primeiro-mi-
EDITORA CONTEXTO

EDITORA HARPER COLLINS

13:25 143a161-HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 149 09:05

nistro inglês reconstrói os


Em capítulos escritos por dife-
eventos que culminaram com
rentes estudiosos, o livro permi-
a Segunda Guerra Mundial.
te explorar particularidades de
importantes guerras e compre- • WINSTON, Churchill. Memó-
ender o contexto social, político rias da Segunda Guerra
e cultural de cada uma. Mundial. Rio de Janeiro:
Harper Collins, 2018.
• MAGNOLI, Demétrio (org.). His-
tória das guerras. São Paulo:
Contexto, 2008.
149

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 149 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
• Caracterizar a neutralidade
de Vargas como uma estraté-
gia que possibilitou ao Brasil
conservar relações comer-
PARA SABER MAIS
ciais tanto com os alemães
quanto com os estaduniden-
O Brasil na guerra
ses nos primeiros anos da No início da guerra, o então presidente Getúlio Vargas, um político hábil e acos-
guerra. tumado a tirar proveito das situações de conflito, manteve o Brasil neutro e conservou
• Apontar que a existência relações comerciais tanto com os alemães quanto com os estadunidenses. Aos poucos,
de uma divisão interna no no entanto, foi se tornando cada vez mais difícil, para o Brasil, manter a neutralidade.
governo Vargas também Em maio de 1941, o Brasil conseguiu que os Estados Unidos se comprometessem
contribuiu para a posição de a financiar parte da construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda (RJ), essencial
neutralidade assumida pelo ao crescimento da economia brasileira. Em troca, o Brasil daria permissão para que os
presidente, o general Eurico Estados Unidos instalassem bases aeronavais no Nordeste.
Dutra (o chefe do Estado- Em janeiro de 1942, o Brasil de Vargas declarou-se a favor de uma união das
-Maior do Exército). Filinto Américas contra o Eixo. O governo da Alemanha reagiu, mandando seus submarinos tor-
Müller (o chefe de Polícia do
pedearem seis navios mercantes brasileiros, causando a morte de centenas de pessoas.
Distrito Federal) e Francisco
Inconformados com a violência nazista, milhares de brasileiros saíram às ruas nas prin-
Campos (ministro da Justi-
cipais cidades do país, exigindo que o Brasil entrasse na guerra ao lado dos Aliados.
ça) eram favoráveis aos ale-
mães; já o ministro das Re- As pressões populares e do governo estadunidense fizeram que Vargas declarasse
lações Exteriores, Oswaldo guerra ao Eixo em 22 de agosto de 1942. Para lutar contra os fascismos, o Brasil treinou
Aranha, defendia a aliança e enviou para a Itália a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Formada por 25 334
com os Estados Unidos. homens e comandada pelo general Mascarenhas de Morais, a FEB venceu batalhas
• Destacar a importância do importantes, como as de Monte Castelo, Castelnuovo e Montese. Morreram, na Itália,
acordo entre Brasil e Estados 457 soldados da FEB, e milhares ficaram feridos.
Unidos, vantajoso para as
ACERVO ICONOGRAPHIA

duas partes, para a decisão


de Vargas de posicionar-se
contra o Eixo.
• Evidenciar que a resposta ao
bombardeio alemão a na-
vios mercantes brasileiros foi Pracinha
(soldado da FEB)
em razão de uma forte pres-
despedindo-se
são popular e do governo do filho antes da
dos Estados Unidos para que partida para a
o Brasil declarasse guerra ao guerra, 1944.
Eixo, e foi o que aconteceu.
• Valorizar a participação da
FEB na luta contra o nazismo
na Itália.

Dica de leitura
O livro aborda a entrada 150
do Brasil na Segunda Guerra
Mundial e as consequências
para o país. Imagens em movimento
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 150 28/06/22 13:25 D3_

• FERRAZ, Francisco César Al- Documentário do Arquivo Nacional sobre a participação do Brasil na
ves. Os brasileiros e a Segun- Segunda Guerra Mundial
da Guerra Mundial. Rio de • FEB na Itália. Vídeo (10min26s). Publicado pelo canal Segunda
Janeiro: Jorge Zahar, 2005. Guerra Mundial TV. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=GdwtxT4gaAU. Acesso em 23 jun. 2022.
JORGE ZAHAR EDITOR

Vídeo educativo sobre o Brasil na Segunda Guerra Mundial.


• HISTÓRIAS do Brasil – O Brasil na Segunda Guerra. 2017. Vídeo
(5min5s). Publicado pelo canal TV Senado. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=iH2TICEqEVg. Acesso em: 23 jun. 2022.
150

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 150 26/08/2022 19:22


TEXTO DE APOIO
Ponderações sobre o uso
de mapas em aulas de
Geografia e História

Fonte: SERRYN, Pierre. Atlas Bordas Historique et Géographique. Paris: Bordas, 1988. p. 33.
As diversas representações
cartográficas quando utilizadas

Golfo Pérsico
em sala de aula, com base em
uma metodologia que defina
tais métodos cartográficos cons-

IRÃ
tituem elementos essenciais
365

SOVIÉTICA

io
para a compreensão e localiza-

UNIÃO

sp

ÁRABIA
IRAQUE
ção do espaço.

ar
M
0

[...] O mapa deve servir como

TRANSJORDÂNIA
auxílio na compreensão dos fe-

Stalingrado
nômenos naturais ou sociais

SÍRIA

LÍBANO Damasco
que se manifestam na superfí-

TURQUIA
cie terrestre. Um dos objetivos

PALESTINA
Rostov

Jerusalém
Mar Negro

Suez
Alexandria
I. Chipre
em se trabalhar com as repre-
Moscou

Ialta

Ancara
sentações cartográficas é o de

Odessa

Cairo
Kursk

EGITO
se estabelecer articulação entre

Bucareste
Leningrado

El Alamein
conteúdo e forma, utilizando

44
19
Kiev
Minsk

I. Creta
a linguagem cartográfica para
LETÔNIA

BULGÁRIA
ROMÊNIA

Atenas
FINLÂNDIA

LITUÂNIA

que se construam determinados


Cracóvia POLÔNIA
ESTÔNIA

IA

errâneo
Sófia
SUÍÇAÁUSTRIAHUNGRIA Budapeste
ÁQU

GRÉCIA
Helsinque

Vilna

conceitos. [...] De acordo com Si-


ALBÂNIA
Tallin

PRÚSSIA

Varsóvia
Riga

SLOV

o
mielli, a leitura de mapas pelos
Tirana
ltic
Belgrado
Poznan


Memel

A
Narvik

Ma
r
I
Copenhague

ÁV
Estocolmo

ECO

Medit
alunos do ensino fundamental
Dantzig
SUÉCIA

SL
Nápoles Tarento

LÍBIA
Viena
Berlim

Nuremberg TCH

UG
Trieste

e médio implica a constituição


Torgau

I
Ravena
NORUEGA
Namsos

de um trabalho em três níveis: 1.


I. Sicília
BÉLGICA ALEMANHA

Mar
DINAMARCA

Paris LUXEMBURGO
Oslo

Roma

Trípoli
Localização e análise: o aluno lo-
19 ITÁLIA

1943
Munique

Milão

I. Córsega

caliza e analisa um determinado


Roterdã

TUNÍSIA
I. Sardenha
BAIXOS
GRÃ-BRETANHA PAÍSES

Bône Túnis
44
Mar do

1943
Norte

fenômeno no mapa; 2. Correla-


Estrasburgo
Dunquerque

3
194

42 ção: ele correlaciona duas, três


19
FRANÇA

ARGÉLIA
ico

ou mais ocorrências; 3. Síntese:


Vichy
Londres
Árt

Argel

1944
42
19 o aluno analisa, correlaciona
lar

ISLÂNDIA
Po

Bordeaux

aquele espaço e faz uma deter-


Segunda Guerra: teatro das operações

IRLANDA
lo

ESPANHA
cu

ATLÂNTICO
Cír

wich
Brest

e Green minada síntese de tudo.


OCEANO

iano d
Merid

[...] Entre outras disciplinas


PORTUGAL

nas quais o uso de mapas é im-


ºN

portante, destaca-se a História.


45

Sobre o ensino dessa discipli-


na, podemos afirmar que sem-
Território alemão em 1/9/1939
Território italiano em 1/9/1939

pre foi, predominantemente,


soviético
Grã-Bretanha e territórios

contra o Eixo sob o comando

realizado por meio da leitura


ocidentais e soviéticos
Linha de contato entre
Avanço das forças aliadas

Desembarque aliado
Estados aliados do

de textos escritos. No entanto,


Eixo Roma-Berlim

Territórios ocupados
sob seu controle
Estados neutros

1943
1944
1945

mesmo nos primórdios do en-


anglo-americano
pela Alemanha
em 1939
em 1940
em 1941
em 1942

em 1945

vitorioso

sino de História no Brasil, no


século XIX, [...] a Geografia era
apresentada como essencial no
auxílio à compreensão dos con-
ALLMAPS

teúdos históricos. [...] Estando


151 no livro didático ou projetado
na parede da sala de aula, os
mapas servem como comple-
mentos ao texto escrito ou à
13:25 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 151 28/06/22 13:25 fala do professor. Essa é uma
função importante para esse
• Propor a leitura silenciosa e individual do mapa. tipo de recurso, mas também
podemos considerar que os ma-
• Formular perguntas direcionadas e apoiadas nas legendas para aferir a correção da inter-
pas podem ser utilizados como
pretação feita pelos alunos. documento histórico, mesmo
• Explicitar o trabalho do cartógrafo, que recorre a cores, setas, legendas internas para co- em sala de aula. [...]
municar as informações desejadas. SILVA, Fábio Luiz da; NASCIMENTO,
• Dar continuidade ao processo de alfabetização cartográfica iniciado no Ensino Fundamen- Claudinei Ferreira do. Ponderações sobre
o uso de mapas em aulas de Geografia e
tal – Anos Iniciais. História. Revista de Ensino, Educação e
Ciências Humanas, Londrina, v. 16, n. 4,
p. 356-360, 2015. p. 358.
151

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 151 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
• Caracterizar a marcha do
exército soviético em direção
a Berlim, tradicionalmente
classificada como primeira
A ofensiva dos Aliados
frente de luta dos Aliados
A partir de 1943, o exército soviético começou a marchar em direção a Berlim, capital
contra o Eixo.
da Alemanha, conhecida como a primeira frente de luta dos Aliados contra o Eixo.
• Usar o mapa-múndi ou o
No Pacífico, os Estados Unidos, que já tinham vencido o Japão na Batalha de Midway,
Midway,
globo terrestre – uma repre-
assumiam a ofensiva na guerra. Então, uma parte das tropas anglo-americanas partiu para
sentação em escala reduzida
a contraofensiva na Ásia, e a outra foi para o norte da África, onde, depois de muitos
do planeta Terra – para facili-
combates, conseguiu libertar a região da ocupação nazista.
tar aos alunos a visualização
da região que serviu de tea- Estabelecidos no norte da África, os Aliados reassumiram o controle do Mediterrâneo
tro de operações para o de- e puderam, então, abrir uma segunda frente de luta contra o Eixo: saindo do norte da
senrolar dos conflitos entre África, desembarcaram na ilha da Sicília, na Itália, e partiram para a libertação do país.
os Estados Unidos e o Japão. Conforme as forças anglo-americanas avançavam, parte dos fascistas italianos assinou
• Mostrar no mapa a abertura um acordo de paz com os Aliados. Mussolini, porém, não se deu por vencido; com a ajuda
da segunda frente de luta pe- dos alemães, organizou um governo fascista no norte do país. Esse governo, porém, durou
los Aliados, lembrando que o pouco: os próprios italianos, com a ajuda dos Aliados, libertaram Roma e, em abril de 1945,
desembarque na Sicília é uma venceram os fascistas no norte da Itália. Mussolini e sua companheira foram capturados
cena recorrente nos filmes e mortos pela resistência popular italiana.
sobre a Segunda Guerra.
• Valorizar o protagonismo da
população civil italiana nas
lutas que culminaram na vi-
tória sobre os fascistas na
Itália.

TEXTO DE APOIO
Ao fim de abril de 1945, após
sucessivos ataques tanto ao
norte pelas forças aliadas como
internamente pela resistência
antifascista, Mussolini e sua

LT. C H PARNALL/IMPERIAL WAR MUSEUMS VIA GETTY IMAGES


amante, Clara Petacci, além de
um grupo de destacados líderes
fascistas, foram capturados em
27 de abril pelas forças resis-
tentes ao tentarem escapar pela
fronteira ítalo-suíça.
Apesar de certa controvérsia a
respeito de quem de fato deu a
ordem de execução dos captura-
dos, a versão oficial aponta para Desembarque de soldados aliados nas praias da Sicília (Itália), 1943.
o fuzilamento de Mussolini e
Petacci em um muro da Vila Bel-
monte, no vilarejo de Giulino de
152
Mezzegra, às 16:10 do dia 28 de
abril, ordenado pelo Comitê Na-
cional de Libertação do Norte da em público na Praça de152
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd Loreto, perto da estação ferro- 28/06/22 13:25 AV_

Itália (CNLNI) – órgão que orga- viária central de Milão, no dia 29 de abril e, depois de
nizava a resistência antifascista sofrerem o jugo popular, foram dependurados de pon-
na República de Saló. ta-cabeça em  uma viga da estrutura metálica de uma
O fuzilamento foi efetuado construção inacabada de um posto de combustível da
por Walter Audisio – conhecido Companhia Standard Oil, antigo costume popular que
pelo codinome “Coronel Vale- remontava a Idade Média na península Itálica usado
rio” –, representante comunista para ressaltar a infâmia dos condenados. 
da região no Comando Geral do
HÁ 75 anos, Benito Mussolini era fuzilado em praça pública. Biblioteca
CNLNI. Após a execução, os cor- Nacional. Brasília, DF, 28 abr. 2020. Disponível em: https://www.bn.gov.
pos de Mussolini, Petacci e dos br/acontece/noticias/2020/04/ha-75-anos-benito-mussolini-era-fuzilado-
outros fuzilados foram expostos praca-publica. Acesso em: 23 jun. 2022.
152

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 152 31/08/22 10:05


ENCAMINHAMENTO
• Conhecer a estratégia usada
pelos Aliados para surpreen-
O Dia D na França e a derrota da Alemanha der os alemães: conseguin-
do, assim, libertar Paris e
Após a libertação da capital da Itália, em 4 de junho de 1944, os Aliados abriram a
marchar sobre Berlim.
terceira frente de luta contra os nazistas, desembarcando na Normandia (no noroeste
• Compreender o importan-
da França). O dia escolhido para o desembarque, 6 de junho de 1944, foi chamado de
te papel dos Aliados e dos
Dia D, em código, para que os alemães não pudessem identificar a data nas transmissões
sovié­ticos na vitória sobre o
por rádio. Terceiro Reich.
Os alemães foram pegos de surpresa, e o avanço anglo-americano tornou-se irresis-
• Tema Contemporâneo Trans-
tível: em agosto de 1944, os Aliados libertaram Paris das mãos dos nazistas. Em seguida, versal: refletir sobre a ordem
marcharam em direção a Berlim, que passou a ser bombardeada, ao mesmo tempo, por de Hitler para que a popula-
anglo-americanos de um lado e soviéticos de outro. Combatendo em várias frentes, o ção civil pegasse em armas
Terceiro Reich estava com os dias contados. para defender seu “sonho
Hitler exigiu, então, que todos os alemães entrassem na luta: idosos, mulheres e de grandeza”, suas teorias
crianças receberam armas para lutar até a morte. Mas foi em vão; os soviéticos tomaram racistas e ambições imperialis-
Berlim e obrigaram os nazistas a se render incondicionalmente. Era 8 de maio de 1945; tas, à luz do tema cidadania e
chegava ao fim a guerra na Europa. civismo, de modo a colaborar
para a educação em direitos
Europa: mortos na Segunda Guerra Mundial nos principais países humanos.
População • Estimular os alunos a inter-
País Total de mortos Militares mortos Civis mortos
antes da guerra (%) pretarem a tabela e refleti-
França 810 000 1,9 340 000 470 000
rem sobre os altos números
Reino Unido 388 000 0,8 326 000 62 000 de mortos. Em seguida, pe-
Bélgica 88 000 1,1 76 000 12 000 dir que comparem esse nú-
Itália 410 000 0,9 330 000 80 000 mero com a porcentagem da
Alemanha 6 850 000 9,5 3 250 000 3 600 000 população; assim, ainda que
URSS 20 600 000 10,4 13 600 000 7 000 000 a Polônia esteja em terceiro
Polônia 6 123 000 17,2 123 000 6 000 000 lugar no número de mortos,
Iugoslávia 1 706 000 10,9 N/A N/A essa parcela representava
Total 36 975 000 18 045 000 17 224 000 17% da sua população, ma-
Fonte: COGGIOLA, Osvaldo. A Segunda Guerra Mundial: causas, estrutura, consequências. joritariamente de civis.
São Paulo: Livraria da Física, 2015. p. 12.
• Relacionar o grande número
de mortos na Polônia à gran-
Bombas sobre o Japão de quantidade de judeus
perseguidos e mortos em
No Extremo Oriente, entretanto, o Japão continuava resistindo ao avanço dos Estados campos de extermínio nazis-
Unidos das mais variadas formas. Uma delas assombrou o mundo: seus pilotos suicidas – os tas da Polônia.
kamikazes – atiravam-se sobre os navios estadunidenses em aviões carregados de explosivos.
Com o objetivo de apressar a rendição japonesa e demonstrar ao mundo o seu
enorme poderio bélico, os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre o Japão:
a primeira em Hiroshima,, em 6 de agosto de 1945, e a segunda em Nagasaki,, em 9 de
agosto do mesmo ano.

153

13:25 +ATIVIDADES
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 153 rante o processo, verificar
20/08/22 14:30 as fontes consultadas pelos estu-

dantes e, se necessário, relembre a importância da checagem


Em grupo. Pesquisem os efeitos das bombas atômicas lan-
de notícias falsas.
çadas sobre o Japão. Entre as informações, busquem a área
Com as informações em mãos, produzam um vídeo, de até
atingida e as consequências para a população japonesa, tan- 5 minutos, a depender da quantidade de grupos, reunindo as
to imediatas quanto a longo prazo. É interessante também informações encontradas. Usem editores de vídeo gratuitos
refletir sobre a destruição das cidades e as condições de vida disponíveis para celulares e construam a narrativa de forma
dos sobreviventes. Busquem relatos que contribuam para a autônoma e criativa, incluindo as próprias impressões e senti-
pesquisa, além das fontes escritas, imagens, mapas, filmes mentos sobre os fatos. A proposta auxilia no desenvolvimen-
documentários, entre outras possibilidades. Professor, du- to das competências gerais 5 e 7.

153

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 153 31/08/22 10:05


ENCAMINHAMENTO
• Informar que o Tribunal
comprovou que os nazistas
cometeram vários crimes
contra a humanidade, como
O Holocausto
a matança de milhares de
Em 20 de novembro de 1945, começou o julgamento dos dirigentes nazistas no
ciganos, religiosos e homos-
sexuais, e o extermínio siste- Tribunal de Nuremberg, instalado na Alemanha. Um dos piores crimes que o Tribunal de
mático e planejado de 6 mi- Nuremberg comprovou ter sido cometido pelos nazistas foi o extermínio de milhões
lhões de judeus (genocídio). de judeus.
• Tema Contemporâneo Trans- Em janeiro de 1942, os líderes nazistas decidiram que matariam todos os judeus que
versal: refletir sobre o plano pudessem em campos de extermínio, especialmente construídos para essa finalidade. Os
nazista denominado por eles nazistas chamaram seu plano de “Solução final”.
de “solução final”, usando-o
como matéria-prima para o

BUYENLARGE ARCHIVE/UIG/
BRIDGEMAN/FOTOARENA
trabalho com o tema cida-
dania e civismo, com ênfase
para a educação em direitos
humanos.
Professor, sugerimos usar
sempre “os nazistas” em vez
de “os alemães” quando se Crianças e adultos
tratar dos crimes de guerra pra- a caminho de
ticados, para evitar constrangi- Auschwitz.
mento por parte dos estudan- Alemanha, 1944.
tes de ascendência alemã.

+ATIVIDADES
Realize uma visita técnica
virtual ou presencial ao Memo-
rial da Imigração Judaica e do
Holocausto (site: https://www.
memorialdoholocausto. Os campos de extermínio eram autênticas “fábricas de morte”. Assim que chegavam
org.br/), que preserva e conta a esses campos, idosos, doentes e crianças eram enfileirados e mandados imediatamente
um pouco da história das víti- para as câmaras de gás, sem que soubessem disso; os carrascos nazistas diziam que a
mas do nazismo, por meio de
fila era para os prisioneiros tomarem banho de chuveiro. Antes de a guerra terminar,
fotos, vídeos, mapas e outros
as notícias sobre o extermínio cometido nesses campos eram vistas como “exagero”
meios audiovisuais.
ou “invenção” da propaganda dos Aliados. Mas, com o fim da guerra, vieram à tona
Produza um relatório com
impressões sobre o material inúmeras provas desse crime contra a humanidade, e não foi mais possível esconder o
disponível. horror. Calcula-se que nesses campos foram mortos cerca de 6 milhões de judeus, 300 mil
Tema Contemporâneo Trans- ciganos e centenas de milhares de soviéticos, homossexuais, pessoas com deficiência,
versal: essa atividade quer con- padres e pastores que pregavam contra a guerra. Esse extermínio sistemático ficou
tribuir com o trabalho em edu- conhecido como Holocausto..
cação em direitos humanos,
vinculado ao tema cidadania e 154
civismo.

TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 154 Segunda Guerra também de britânicas, ame- 28/06/22 13:25 AV_

ricanas e alemãs. As britânicas [...] chegaram


A participação feminina na Segunda Guer- a cerca de 470 mil — um número menor que
ra Mundial não se limitou à União Soviética, a URSS em sua totalidade, mas representan-
mas lá foi consideravelmente maior e houve do um percentual maior das forças armadas
maior assimilação das mulheres aos esforços (9,39% contra 3%). As americanas [...] chega-
de guerra em geral. [...] cerca de um milhão ram a 350 mil.
de mulheres soviéticas estiveram envolvidas MENEGOTTO, Fernanda Nunes. A face feminina da guerra:
nas forças armadas e 500 mil serviram como Svetlana Aleksiévitch e Elizabeth Wein. Revista Versalete,
Curitiba, v. 6, n. 10, p. 116-139, jan./jun. 2018. p.118.
soldados. [...]. Para além da União Soviética,
sabe-se que houve participação feminina na
154

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 154 26/08/2022 19:22


Imagens em movimento
Vídeo sobre a entrada da
a) Não. Eram de diferentes regiões da Europa e da Palestina; algumas participaram de movimentos juvenis, e suas
orientações políticas e religiosas eram variadas: socialistas, sionistas, entre outras. mulher no mercado de traba-
lho durante o período da Se-
PARA REFLETIR gunda Guerra.
NÃO ESCREVA
NO LIVRO. • COMO A Segunda Guerra le-
Mulheres na resistência ao nazismo vou mulheres ao mercado de
Os nazistas classificavam as mulheres judias grávidas ou mães com bebês como trabalho. 2018. Vídeo (2min
“incapacitadas para o trabalho” e as enviavam para os campos de concentração. Mas 43s). Publicado pelo canal
History Brasil. Disponível
as mulheres judias não se calaram. Leia o texto a seguir.
em: https://www.youtube.
[...]
com/watch?v=oyq_ZHppS-
As mulheres tiveram papel importante em várias ativida- Sionista: referente ao
sionismo, movimento fw. Acesso em: 23 jun. 2022.
des da resistência ao nazismo. Este foi o caso das mulheres que,
político cultural
previamente à guerra, eram membros de movimentos juvenis concebido pelo
socialistas [...] ou sionistas. Na Polônia, as mulheres serviam jornalista húngaro +ATIVIDADES
como mensageiras que levavam informações para os guetos. Theodor Herzl, que
defendia a criação de
Em grupo. Realizem uma
Muitas mulheres conseguiram escapar escondendo-se nas flo- pesquisa para saber se, no
um Estado judeu na
restas no leste da Polônia e da União Soviética, e servindo nas Palestina. município ou estado em que
unidades armadas dos partisans. Na resistência francesa, da Partisan: grupo de vocês moram, existe um co-
qual muitas judias participaram, a atuação das mulheres não civis armados que
lutavam contra o
letivo de mulheres que tem
foi menos importante. Sophie Scholl, uma estudante alemã da como bandeira a luta pelo
nazismo.
universidade de Munique, e membro do grupo de resistência aperfeiçoamento da demo-
White Rose, foi presa e executada em fevereiro de 1943 por cracia e contra o autoritaris-

© TALLANDIER/BRIDGEMAN/FOTOARENA
divulgar propaganda antinazista. [...] mo. Se houver mais de um
Outras mulheres participaram ativamente das operações coletivo, escolham um deles
de resgate e socorro aos judeus na parte da Europa ocupada e façam um levantamento
pelos alemães. Entre elas estavam as judias Hannah Szenes, sobre sua história, por quem
paraquedista, e a ativista sionista Gisi Fleischmann Szenes, é composto, onde ele atua e
que vivia na área do Mandato Britânico na Palestina, saltou de como ele atua para atingir a
paraquedas na Hungria, em 1944, para ajudar os judeus [...]. seus objetivos.
Milhões de mulheres foram perseguidas e assassinadas Professor, auxiliar os estu-
durante o Holocausto. No entanto, para todos os efeitos, foi o A jovem de 18 anos dantes na busca pelos coleti-
Simone Segouin
enquadramento na hierarquia racista do nazismo ou a postura vos de mulheres no municí-
ajudou a capturar e
religiosa ou política dessas mulheres que as tornaram alvos, e prender nazistas na pio ou estado em que vivem.
não o seu sexo. França. Na imagem, Muitos coletivos apresentam
UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM. As mulheres durante o Holocausto.
a vemos empunhando sites próprios, em que é pos-
Enciclopédia do Holocausto. Washington, D.C., [2008]. Disponível em: https://encyclopedia. uma metralhadora. sível encontrar informações
ushmm.org/content/pt-br/article/women-during-the-holocaust. Acesso em: 21 mar. 2022. França, 1944.
como “Quem somos”, “Publi-
a) As mulheres que resistiram ao nazismo eram de uma mesma região e tinham a mesma orientação cações”, “Contato”, “Como
política e/ou religiosa? ajudar” etc. Em seguida, or-
b) O texto permite inferir que na luta contra o nazismo as mulheres foram coadjuvantes ou prota- ganizar os alunos em uma
gonistas? Justifique. roda de conversa e iniciar a
c) Apresente outro exemplo na história em que as mulheres atuaram com o objetivo de lutar contra discussão sobre a importância
a opressão ou a violência de que eram vítimas. c) Resposta pessoal. desses coletivos como meio de
b) Elas foram protagonistas; além de atuarem como mensageiras, serviram nos grupos de resistência civil ajuda para muitas mulheres.
Depois, pedir aos grupos que
armada, os chamados partisans. Elas atuaram também na universidade – foi o caso de Sophie Scholl,
estudante da Universidade de Munique. 155 apresentem o que descobri-
ram com a pesquisa. Se pos-
sível, convidar previamente,
ENCAMINHAMENTO • Refletir com os alunos sobre as diferentes
30/06/22 con-
13:25 AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 155 16:45
para o dia das apresentações,
dições a que a população feminina foi subme- uma mulher que participa de
• Valorizar a participação das mulheres na
tida durante o combate. Questões envolven-
luta contra o nazismo em diferentes partes um coletivo feminista a fim
do desprestígio e questionamento de capaci-
do mundo. de explicar aos alunos sobre
dade, assédios e abusos morais e sexuais.
• Explicitar os diferentes papéis desempenha- c) Professor, entre os exemplos que podem a importância de sua entida-
dos pelas mulheres – mensageiras, espiãs, ser apresentados pelos estudantes está a re- de e sua forma de atuação na
propagandistas de ideias antifascistas, in- sistência das mulheres às longas jornadas de sociedade.
tegrantes dos grupos de civis armados (os trabalho durante a Revolução Industrial, e
partisans) – que ofereceram uma resistência a luta das mulheres por liberdade durante a
sem tréguas aos defensores do nazismo. emancipação política da América Latina.
155

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 155 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
• Explorar a imagem do char-
gista Benedito Bastos Barre-
to, o Belmonte, para cons-
truir o conceito de política ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

1. a) A tolerância inglesa frente às intenções da Alemanha nazista e da política


de apaziguamento. A char- de expansão de Hitler. O apaziguamento anglo-francês direcionado pela fraqueza
ge pode ser usada também militar percebida e o medo da guerra estimularam o apetite insaciável de Hitler
para retomar e consolidar o quanto às expansões territoriais (e ao seu desprezo pelas lideranças inglesas e
francesas), enquanto, ao mesmo tempo, minava a segurança das democracias.
conceito de ironia, figura de
1. b) Consistia num acordo para ceder territórios à Alemanha a fim de evitar a
linguagem por meio da qual
se diz o contrário do que se I. Retomando guerra. Os governantes franceses e ingleses viam em Hitler um guardião da luta
contra o comunismo soviético.
pretendeu dizer. 1. c) Ficou estabelecido que a Alemanha poderia ocupar os Sudetos.
Professor, as propostas de 1 Com relação à política de apaziguamento, observe a charge a seguir e responda.
atividades da seção Retoman-
do permitem trabalhar com a BELMONTE

turma em variados formatos,


a depender do número de
alunos e diferenças de perfis
a) O que o artista procurou
encontrados. Assim, é possível satirizar na imagem?
explorar reflexões em grupo, b) O que estabelecia a polí-
priorizando formações que tica de apaziguamento?
mesclem alunos com diferen- c) O que ficou estabele-
tes habilidades, correções co- cido na Conferência de
letivas, momentos para solu- Munique?
cionar possíveis dúvidas, além
de propostas individuais, per-
mitindo identificar as dificul-
dades apresentadas.
2. A alternativa a) está in- Charge de 1938 que mostra
Neville Chamberlain, primeiro-
correta, pois não houve con- -ministro do Reino Unido
senso sobre as consequências (1937-1940), e Adolf Hitler,
do Tratado de Versalhes. A líder da Alemanha (1933-1945).
alternativa b) está incorreta,
pois tanto a França quanto a 2 Copie no caderno a alternativa correta.
Inglaterra temiam o poderio
militar alemão. A alternati- Após anexar a Áustria ao seu território, a Alemanha de Hitler passou a exigir os
va c) está incorreta porque a Sudetos. Por que França e Inglaterra aceitaram os termos da Conferência de Munique,
Tchecoslováquia não partici- em que foi ratificada a ocupação?
pou da Conferência de Muni- a) Porque chegaram ao consenso de que as punições impostas pelo Tratado de Versalhes foram
que nem foi favorável à perda muito severas.
de seu território. b) Porque, apesar de não temerem o poderio militar alemão, temiam o início de uma nova guerra.
c) Porque, na Conferência de Munique, fizeram um acordo comercial com a Tchecoslováquia
que permitiu a anexação dessa região pela Alemanha.
d) Porque Hitler representava um guardião do capitalismo diante do avanço do comunismo
soviético. 2. Alternativa D.

156

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 156 forma dissonante à euforia que tomava conta do Parlamento e da 28/06/22 13:25 AV_

imprensa faz um duro discurso em 5 de outubro. Finaliza decla-


O discurso como arma de guerra e persuasão na rando: “E não pensem que este é o fim. Este é apenas o começo do
Segunda Guerra Mundial ajuste de contas. Este é apenas o primeiro trago, a primeira ante-
[…] Ao longo de setembro e outubro de 1938, ocorre a crise dos cipação de uma amarga taça que será oferecida a nós ano a ano, a
Sudetos, na Tchecoslováquia. O Primeiro-ministro Neville Cham- não ser que, por uma suprema recuperação de nossa saúde men-
berlain faz três viagens, em duas semanas, à Alemanha, numa tal e nosso vigor militar, levantemo-nos de novo e mantenhamos
tentativa de apaziguar Hitler e gerar um acordo duradouro de paz. nossa postura pela liberdade, como nos velhos tempos” […].
Em 1o de outubro, Chamberlain volta de um encontro com Hitler
SONDERMANN, Ricardo. O discurso como arma de guerra e persuasão: análise de
em Munique e, na saída do avião, balança euforicamente um pa- discursos de Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial.
pel onde constava o acordo que dizia que Alemanha e Inglaterra Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Pontifícia Universidade
jamais se encontrariam em uma guerra novamente. Churchill, de Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. p. 90-91.
156

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 156 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
3. O item I está correto, pois
o Brasil ficou neutro du-
3 Leia as afirmações a seguir sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial rante o início da guerra. O
e depois copie a alternativa correta em seu caderno. item II está incorreto, pois
I. No início da guerra, o Brasil manteve a neutralidade e manteve relações comerciais tanto com não ocorreram pressões
os Aliados quanto com os países do Eixo. dos imigrantes para que o
II. Por conta do grande número de imigrantes alemães, italianos e japoneses, o governo brasileiro Brasil entrasse na guerra.
se viu pressionado a apoiar o Eixo. O item III está correto, por-
III. O Brasil declarou apoio aos Aliados em troca do investimento dos Estados Unidos na cons- que foi em troca do investi-
trução da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda. mento estadunidense para
IV. A única participação militar brasileira na guerra foi durante um combate marítimo, no qual a construção de uma usina
submarinos nazistas destruíram navios brasileiros. siderúrgica que o Brasil de-
a) Estão corretas as afirmações I, II e IV. clarou apoio aos Aliados. O
b) Estão corretas as afirmações II e III. item IV está incorreto por-
c) Estão corretas as afirmações II, III e IV. que houve o ataque maríti-
d) Estão corretas as afirmações I e III. mo alemão e em seguida a
3. Alternativa D. Força Expedicionária Brasi-
4 Sobre o fim da Segunda Guerra Mundial, é correto afirmar:
leira foi enviada para lutar
a) Com a dominação da Itália pelas tropas anglo-americanas, Mussolini assinou a rendição após na Itália.
ter sido atingido por arma de fogo.
b) O ataque do Dia D pegou os alemães de surpresa e foi o único responsável pelo recuo das 4. A alternativa a) está incor-
tropas alemãs. reta porque Mussolini foi
c) Com suas tropas encurraladas, Hitler pediu que mulheres, idosos e crianças se rendessem para obrigado a renunciar ao po-
minimizar os efeitos da derrota. der pelos próprios fascistas
d) Para demonstrar sua força, os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre Hiroshima italianos, que assinaram a
e Nagasaki, no Japão. rendição e, mais tarde, após
4. Alternativa D.
a tentativa de se manter no
5 Esta fotografia foi feita nos Estados
HAROLD M. LAMBERT/LAMBERT/GETTY IMAGES

poder, acabou morto pela


Unidos em 1943. Observe-a aten-
tamente e depois responda.
resistência popular italiana.
A alternativa b) está incor-
a) O que se vê na imagem?
reta, pois o Dia D não foi
b) Com base na fotografia e nos seus
conhecimentos, é possível saber em
o único responsável pelo
que contexto ela foi produzida? recuo das tropas, a frente
soviética atacou os alemães
pelo outro lado. A alternati-
va c) está incorreta porque
Mulheres estadunidenses trabalhando na Hitler entregou armas para
produção de aviões durante a Segunda que crianças, mulheres e
Guerra Mundial. Mulheres que foram
idosos lutassem por ele até
trabalhar nas fábricas para ajudar o esforço
de guerra tornaram-se conhecidas como a morte.
“Rosie, a rebitadeira”. 1943.
5. b) A foto foi produzida num
5. a) Ao centro, vê-se uma jovem finalizando a
produção de um avião com uma máquina de rebitar. momento em que as indús-
À direita, outra jovem trabalhadora a observa da trias das nações beligeran-
cabine do piloto. Ambas têm os cabelos presos por tes estavam a pleno vapor
um lenço, que parece ser parte do uniforme; note que
a trabalhadora que está rebitando veste um avental. para suprir as demandas de
5. b) Resposta pessoal. 157 guerra, e os operários eram
chamados a lutar nas fren-
tes de batalha; com isso,
13:25 AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 157 20/08/22 11:00 muitas mulheres tiveram de
trocar o lar pelo ambiente
das fábricas para substituir
os homens nas linhas de
produção.

157

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 157 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
6. b) Valendo-se de sua dispo-
sição de luta, da tática da “ter-
6

BELMONTE
ra arrasada”, e ajudados por Observe a charge e responda.
um rigoroso inverno, os sovié­ a) O que a charge mostra?
ticos venceram os alemães, b) A Batalha de Stalingrado é considerada um
fazendo-os recuar de volta a divisor de águas, permitindo que a Segunda
Berlim. Guerra Mundial tomasse uma nova direção.
7. A atividade oportuniza dis- Justifique.
cutir com os alunos as atuações 6. a) Um caminhão de guerra nazista, tendo sua passagem
individuais e coletivas como bloqueada por uma grande pedra, na qual se lê “Stalingrado”;
a imagem é uma clara alusão à Batalha de Stalingrado vencida
meios de combate às formas pelos soviéticos.
de violência e construção de Charge de Belmonte Uma pedra na estrada,
uma sociedade justa e iguali- 1942. Ne pedra está escrito “Stalingrado”.
tária, mobilizando a compe- 6. b) A Batalha de Stalingrado marca o início da contenção
tência geral 9. Questionar os nazista e da contraofensiva dos Aliados na União Soviética. Foi
alunos sobre o que conhecem primeira derrota da Alemanha na Segunda Guerra.
a respeito da tática da não vio-
lência adotada por Mahatma
Gandhi e o papel que teve na
independência indiana em re- 7 Observe o infográ- Bomba atômica na cidade de Nagasaki, no Japão
lação ao Reino Unido. fico a seguir sobre

MARIO KANNO
Extensões aproximadas para
cada zona. Os efeitos podem 8,7 km2
os efeitos da bomba variar por causa do terreno Os edifícios
acidentado de Nagasaki. residenciais ruíram
atômica na cidade de
Nagasaki, no Japão.
+ATIVIDADES 7. Alternativas B, C e D. 0,36 km2
Destruição quase total
Fórum de Debates. Alguns
estudiosos em Direito da Marco zero
11 km2
As pessoas
soferam
Guerra consideram as bombas Fonte: SERRANO, Carlos.
queimaduras de
Hiroshima e Nagasaki: como foi terceiro grau por
sobre o Japão criminosas por o “inferno” no qual morreram causa da radiação
milhares por causa das bombas térmica
terem violado dois princípios atômicas. BBC News Brasil,
que regem os conflitos arma- São Paulo, 6 ago. 2020.
Disponível em: https://www.
dos desde 1864: o princípio bbc.com/portuguese/resources/ 4,5 km2
de distinção e o de proporcio- idt-a05a8804-1912-4654-ae8a-
500 m
Cerca de 50% dos
sobreviventes morreram
27a56f1c2b8a. Acesso em:
nalidade; já outros, afirmam 21 mar. 2022.
por exposição à radiação
Fonte: SERRANO, Carlos. Hiroshima e Nagasaki: como foi o "inferno" no qual morreram milhares por causa das bombas atômicas. BBC News Brasil, 6 ago. 2020.
que o lançamento de bombas Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-a05a8804-1912-4654-ae8a-27a56f1c2b8a. Acesso em: 21 mar. 2022.

faz parte de ações próprias de Com base nas informações apresentadas no infográfico e em seus conhecimentos
um contexto de guerra e são sobre a Segunda Guerra Mundial, copie no caderno as alternativas corretas.
compreensíveis pois teriam a) As bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki tinham como objetivo único fazer o
Japão se render.
sido um mal menor do que a
b) Do marco zero, isto é, do local em que a bomba caiu, a um raio de 0,36 km2, a destruição
alternativa de invadir o Japão
foi quase total.
por terra, que custaria talvez
c) Do marco zero, isto é, do local em que a bomba caiu, a um raio de 4,5 quilômetros, cerca de
milhões de vidas.
50% dos sobreviventes pereceram.
Organizados em grupos ar-
d) Os efeitos da bomba atômica atingiram tanto construções quanto pessoas, que morreram por
gumentar em defesa de uma causa da exposição à radiação ou tiveram queimaduras graves.
das posições.
A atividade contribui para 158
o desenvolvimento da compe-
tência específica 7.
TEXTO DE APOIO Satyagraha,  forma não violenta de mani-
AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 158 Infelizmente, nenhum dos dois apelos 30/06/22 16:45 AV_

festação e ativismo político que implicava foi levado a sério pelos oficiais nazistas. A
Com intenção sincera de evitar a na desobediência civil e que influenciou guerra e violência continuaram por mais
Segunda Guerra Mundial, Mahatma líderes como Martin Luther King Jr. em sua cinco anos após a segunda carta, e mesmo
Gandhi enviou duas cartas ao líder campanha por direitos civis nos EUA. [...] tendo cometido suicídio, Hitler nunca de-
nazista. A primeira carta de Gandhi foi escrita no monstrou o abandono de suas ideias.

Mahatma, em sânscrito, significa Gran- dia 23 de julho de 1939, a menos de dois PEREIRA, Joseane. As cartas que Gandhi escreveu para
meses do início da Guerra. [...] Hitler. Aventuras na História. São Paulo, 25 nov. 2019.
de Alma. Principal liderança na luta Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/
dos indianos contra dominação britâni- Um ano depois, em 1940, Gandhi envia noticias/almanaque/cartas-que-gandhi-escreveu-para-
ca, Gandhi era um assíduo defensor da uma carta muito maior que a anterior. [...] hitler.phtml. Acesso em: 23 jun. 2022.

158

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 158 31/08/22 10:06


ENCAMINHAMENTO
• Antecipar uma breve apre-
sentação, aos estudantes,
II. Leitura e escrita em História do indiano Mahatma Gan-
dhi – Grande Alma –, um dos
maiores líderes políticos do
Vozes do passado

BRIDGEMAN/FOTOARENA
século XX, cujo pacifismo in-
fluenciou várias personalida-
O texto a seguir é um trecho de uma
carta de Mahatma Gandhi a Adolph
des como o ganense Kwame
Hitler. Nkrumah, o estadunidense,
Caro amigo, Dr. Martin Luther King, o in-
O fato de eu me dirigir a você glês John Lennon, além de
como amigo não é nenhuma formali- movimentos sociais, a exem-
dade. Eu não possuo inimigos. [...] plo do movimento hippie.
Mas seus próprios escritos e pro- • Reservar um momento para
nunciamentos não deixam margem a autoavaliação e retomar
dúvidas de que muitos dos seus atos com os alunos o que estabe-
são monstruosos e incompatíveis com leceram como objetivos do
a dignidade humana, especialmente debate. É importante que es-
em relação a homens como eu, que ses objetivos principalmente
acreditam na amizade universal. [...] aqueles mais imediatos, se-
Eu estou ciente de que a sua pers- jam alcançáveis como forma
Mahatma Gandhi. Índia, 1930. de estimular os estudantes.
pectiva de vida vê tais espoliações
Nesse sentido, auxiliar cada
como atos virtuosos. Mas nós temos sido ensinados desde a infância a considerá-
um a pensar em possíveis
-los atos de degradação da humanidade. Por isso, nós não podemos desejar sucesso
ajustes na argumentação de
aos seus empreendimentos.
que se utilizou para dar su-
[...] Nós encontramos na não violência uma força que, se organizada, pode,
porte às posições defendidas.
sem dúvidas, unir-se contra as forças mais violentas do mundo. Dentro da técnica
Professor, esse debate pú-
da não violência, como eu disse, não existe a derrota. Trata-se de um “viver ou
blico pode contribuir para o
morrer” sem matar ou ferir. [...]
desenvolvimento da compe-
PEREIRA, Joseane. As cartas que Gandhi escreveu para Hitler. Aventuras na História,
São Paulo, 25 nov. 2019. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/ tência geral 7.
noticias/almanaque/cartas-que-gandhi-escreveu-para-hitler.phtml. Acesso em: 30 maio 2022.
a) A ofensiva nazista na Europa e a ocupação da França pelos nazistas.
a) Sabendo-se que essa carta de Gandhi é do final de 1940; qual era o contexto político-militar
europeu quando ela foi escrita?
b) Se Gandhi tinha um pensamento tão contrário ao de Hitler para a solução dos problemas
humanos, com base no texto podemos inferir que, ao chamar Hitler de amigo, Gandhi usou de
ironia, figura de linguagem por meio da qual se diz o contrário do que se quer transmitir? b) Não.
c) Gandhi enuncia dois conceitos importantes de seu pensamento e, à luz deles, avalia as ideias
e atitudes de Hitler. O que se pode saber sobre esses dois conceitos que estão no texto?
d) Em grupo. Reúnam-se para pesquisar alguns pontos da carta de Gandhi para Hitler. Em
seguida, compartilhem os resultados com o restante da turma em um fórum de debates.
Na pesquisa, vocês devem considerar os pontos a seguir: O contexto de escrita da carta;
os conceitos que Gandhi enuncia; as ideias e práticas de Hitler para justificar as invasões e
conquistas de terras e povos (espaço vital); o significado de “ciência da destruição”.
c) Gandhi faz sua avaliação à luz do conceito de amizade universal e da “não violência” (que, uma vez organiza-
da, é capaz de resistir à violência sem matar ou ferir).
d) Respostas pessoais.
159

16:45 Vozes do passado


AV_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 159 amigas umas das outras, independentemente de raça, cor,
30/06/22 16:45

ideologia, religião. 
a) Em dezembro de 1940, já havia transcorrido mais de um d) O fórum de debates pode ser virtual. Os alunos subme-
ano de guerra, e os nazistas já tinham se apossado dos paí- tem os resultados das pesquisas a sua apreciação e, a seguir,
ses Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica e França. Após a postam nas redes oficiais da escola. Abre-se, então, o debate
ocupação nazista, a França tinha sido dividida: uma parte, ao virtual entre os grupos, que deverá obedecer às regras prees-
norte, ficou sob o domínio da Alemanha; a outra, ao sul, foi tabelecidas em sala de aula. Os alunos poderão curtir, comen-
entregue a um militar francês, o marechal Pétain, que acei- tar ou questionar as postagens dos colegas, já que a ideia é
tou colaborar com os nazistas.  gerar um espaço de discussão. Outra possibilidade é criar um
b) Como o próprio Gandhi dizia, ele vinha empenhando es- blogue e, para cada ponto, inserir um comentário sobre um
forços em unir a humanidade, e almejava tornar as pessoas aspecto específico da carta de Gandhi. 
159

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 159 26/08/2022 19:22


ENCAMINHAMENTO
a
• Orientar os alunos no pro-
bibliográfic

#JOVENS NA Rev is ão
da ar te)
cesso de pesquisas por enti-
dades sérias e a estabelecer (estado
recortes, como a comunida-
de ou o município.
HISTÓRIA

UNIVERSITY OF SOUTH CAROLINA PRESS


• Estimular os alunos a refle-
tirem sobre propostas que
consideram ações individu-
ais e coletivas e a perceber a PASSO 1 Ler
importância da atuação da Leia o texto a seguir com atenção.
sociedade civil na construção
de uma sociedade mais justa Katie Stagliano
e democrática. Um repolho gigante foi a inspiração
de Katie Stagliano [...] para ajudar a ali-
• Acompanhar a turma em to- mentar quem passa fome.
das as etapas da atividade, Na época, ela tinha apenas 9 anos
propondo alternativas e au- e plantou uma semente de repolho no
xiliando a viabilizar a arreca- quintal para um projeto escolar, em
dação. Summerville, nos EUA.
Ele cresceu tanto que passou dos
• Sugerir que os alunos criem
18 kg. “Meu irmão tinha quatro anos na
uma carta com a apresen- época e meu repolho era maior do que Fac-símile da capa do livro Katie’s Cabbage,
tação e proposta do grupo ele”, lembra Katie Stagliano.
de Katie Stagliano.
para facilitar a comunicação Sempre consciente do desperdício de comida, a família dela
com comerciantes e entida- decidiu fazer algo para ajudar.
des locais. Esse modelo de O vegetal foi colhido, virou sopa e Katie participou da distribui-
atividade é um importante ção que alimentou 300 pessoas.
momento para trabalhar [...]
junto a professores de ou- Incentivada pela sua experiência em cozinha de sopa,

KATIE STAGLIANO/KATIE'S KROPS/ACERVO PESSOAL


tras áreas, da comunidade em 2008 ela lançou o Krops de Katie [Hortas da Katie].
Ela comprou um lote de terra e começou a cultivar
escolar e das famílias e a de-
verduras que são oferecidas aos necessitados.
senvolver as competências
O próximo passo foi captar recursos para ofere-
gerais 9 e 10. cer subsídios a crianças em todo o país para que
elas pudessem fazer o mesmo.
Professor, a autoavaliação
Hoje, há aproximadamente 100 jardins
é um aprendizado fundamen- Katie’s Krops cultivados em escolas e comunida-
tal para a construção da auto- des nos EUA, incluindo Austin, Chicago, Filadélfia
nomia do aluno; além disso, e Nova York.
democratiza o processo, pois Há jardins no campo e em cidades. Eles ficam
envolve diferentes pontos de em playgrounds da escola e até mesmo nos telhados. Katie Stagliano, 2018.
vista. Sugestões de perguntas Só no ano passado, quase 18 mil quilos de comida foram
para a autoavaliação: doados a cozinhas, abrigos e bancos de alimentos e, nos últimos sete anos, milhares
de voluntários ajudaram a preparar e servir mais de 17 000 refeições saudáveis – [...]
• Você considerou interessan- usando produtos cultivados nos jardins.
te a atividade ou o trabalho JOVEM inspirada em repolho gigante alimenta milhares de pessoas. Só Notícia Boa. Brasília, DF, 2 out. 2018.
realizados? Disponível em: https://www.sonoticiaboa.com.br/2018/10/02/jovem-inspirada-em-repolho-gigante-alimenta-milhares-pessoas.
Acesso em: 17 maio 2022.
• Tinha conhecimentos ante-
riores que o auxiliaram na
160
realização?
• Foi fácil ou difícil? Se foi difí- Colaborou com seus 160colegas
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 28/06/22 13:25 D3_

cil, saberia dizer por quê? na realização de tarefas?).


• Como você avalia sua parti- • Você considera que a manei-
cipação no grupo? (Realizou ra como o tema foi abordado
tarefas que contribuíram ajudou na sua compreensão
para o trabalho? Sugeriu for- dos conteúdos e propostas
mas de organizar o trabalho? de atividades?

160

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 160 31/08/22 10:09


ENCAMINHAMENTO
c) Sugestão de sites de pes-
quisa: 
PASSO 2 Questionar • COMO as Nações Unidas
apoiam os Objetivos de De-
a) Qual o problema identificado por Katie Stagliano?
senvolvimento Sustentável
b) Qual a solução encontrada por Katie e sua família para o problema? no Brasil. Nações Unidas Bra-
sil. Nações Unidas no Brasil.
Brasília, DF, c2022. Disponí-
PASSO 3 Pesquisar e agir vel em: https://brasil.un.org/
pt-br/sdgs; 
c) Em grupo. Pesquisem iniciativas como a de Katie no seu estado, região ou comunidade
• CONHEÇA ONGs que ajudam
nos últimos anos e descubram de que maneira as pessoas estão mobilizadas para tentar
ajudar quem passa fome. Para isso, vocês podem escolher vários tipos de fonte histórica no combate à fome no Brasil
como jornais, revistas, artigos de especialistas, livros etc. e saiba como colaborar. CNN
d) Em seguida, reúnam os materiais pesquisados pertinentes ao tema e realizem uma pri- Brasil, 2021. Disponível em:
meira leitura, anotando as palavras que vocês não conhecem. Consultem um dicionário https://viagemegastronomia.
e escrevam o significado dessas palavras. Depois, façam uma nova leitura dos materiais cnnbrasil.com.br/noticias/
e identifiquem o nome do autor, a data de publicação, o tipo de fonte, ou seja, o seu conheca-ongs-que-ajudam-
suporte material e um pequeno texto com as ideias mais importantes de cada parágrafo. no-combate-a-fome-no-brasil-
Para essa tarefa, vocês podem fazer o levantamento das palavras-chave. e-saiba-como-colaborar/;
e) Analisem as informações coletadas nesses materiais e elaborem uma lista das ações rea- • GRUPO de idosos monta hor-
lizadas para combater a fome. Procurem identificar semelhanças e diferenças entre as
ta solidária no Espírito Santo.
ações propostas, considerando elementos como: quem são as pessoas que organizam as
2018. Vídeo (3min25s). Publi-
ações; o local e o período nos quais elas ocorrem; e como essas iniciativas, campanhas e
projetos são feitos.
cado pelo canal Revista Novo
Tempo. Disponível em: https://
f) Concluam o relatório com a organização dos resultados encontrados: a quantidade de
materiais levantados, os períodos e os locais de publicação e as possíveis contribuições youtu.be/0Poay60G39Q;  
dessa pesquisa para ajudar as pessoas do seu estado, região ou comunidade a combater • MORADORES de Brasilândia
a fome. organizam doação e distri-
Respostas pessoais. buição de alimentos. 2021.
Vídeo (1min49s). Publicado
PASSO 4 Apresentar e publicar pelo canal Jornalismo TV Cul-
tura. Disponível em: https://
g) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais da escola e marquem a postagem www.youtube.com/watch?
com #jovensnahistória. a) Ela percebeu o problema do desperdí- v=0XWpC4tzZCs;
cio de alimentos, apesar de haver pessoas • FAO no Brasil. FAO. Brasília,
que passavam fome.
b) Ela decidiu colher um repolho que che-
DF, c2022. Disponível em: ht-
PASSO 5 Avaliar gou a 18 kg, utilizou-o para fazer sopa e tps://www.fao.org/brasil/pt/; 
ajudou a distribui-la para 300 pessoas. Em • RODRIGUES, Ed. Ação de
h) Realizei as tarefas a que me propus? 2008, incentivada por essa experiência, Ka-
tie lançou o Katie's Krops (Hortas da Katie), combate à fome vira projeto
i) Cumpri os prazos combinados?
hortas cultivadas em escolas e comunida- de extensão em universidade
j) Expressei minhas ideias com objetividade? des nos EUA para distribuir alimentos a na Paraíba. UOL. [S. l.], 2022.
k) Escutei meus colegas com atenção e respeito? quem mais precisava.
Dis­ponível em: https://www.
l) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes? uol.com.br/ecoa/ultimas-
m) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento? noticias/2022/03/21/acao-
de-combate-a-fome-vira-
161 projeto-de-extensao-em-
universidade-na-paraiba.htm;
Acessos em: 24 maio 2022. 
13:25 d) Orientar os161alunos na organização dos materiais pesquisados e nas dúvidas levantadas.
D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd Auxiliá-los na elaboração do texto,
28/06/22 13:25

identificando o tema central e suas informações mais importantes. Nesta etapa, é importante estabelecer relações entre as
palavras que os alunos já conhecem e as novas palavras encontradas na pesquisa, com o auxílio de explicações ou de outras
obras de consulta, como dicionários. 
e) Auxiliar os alunos na identificação das semelhanças e diferenças encontradas nos materiais, a fim de facilitar o entendi-
mento deles sobre como cada texto trabalha o tema central. 
f) Orientar os alunos na elaboração do relatório final com base nos resultados encontrados na pesquisa. Retomar o texto para uma
última leitura para que os alunos possam verificar as mudanças ocorridas durante o percurso da atividade até o resultado final.

161

143a161_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-MP.indd 161 30/08/22 09:29


INTRODUÇÃO
À UNIDADE
Um cenário internacional em UNIDADE

3
permanecente tensão, a exis-
tência de blocos rivais em dis-
puta por hegemonia, a guerra
permanecente de propaganda O MUNDO NA
e de modelos a serem seguidos
entre grandes potências – a GUERRA FRIA
exemplo da China e dos Estados
Unidos – levantam a seguinte
questão: terá a Guerra Fria che-
gado ao fim?
O estudo dos episódios desta FONTE 1
unidade – ocorridos no contex-
Os jovens dos anos
to da Guerra Fria e da ordem
1960 rebelaram-se contra o
mundial bipolarizada – podem autoritarismo, a burocracia
nos ajudar a melhor compreen- e os valores impostos
der o mundo complexo, multi- pelos mais velhos, tanto no
facetado e “líquido” no qual mundo capitalista quanto no
vivemos, além de estimular o comunista. A rebeldia jovem
debate, a interpretação, a aná- foi política, social, sexual e
lise e a formação de autonomia também contra o modelo
de pensamento. de educação então vigente.
O tema do valor da vida, do
Nas páginas de abertura de
desapego aos bens materiais e
unidade, vamos citar exemplos da resistência à guerra inspirou
da articulação entre objetivos, muitas letras de músicas.
habilidades e competências, Enquanto os Estados
por acreditar que, ao longo Unidos investiam fábulas
da coleção, esse procedimento em armas nucleares e
contribuirá para o importante em segurança, o cantor e
propósito de “transformar a compositor estadunidense
Bob Dylan liderava uma
história em ferramenta a servi-
verdadeira revolução na
ço de um discernimento maior
música popular, denunciando
sobre as experiências humanas o racismo e a corrida
e as sociedades em que se vive”, armamentista presentes no
conforme sugere a BNCC (BRA- país.
SIL, 2018, p. 401).
Desenvolver as habilidades
© KOBRA, EDUARDO/AUTVIS, BRASIL, 2022.

EF09HI06, EF09HI14, EF09HI15,


FOTO: RAYMOND BOYD/GETTY IMAGES

EF09HI16, EF09HI17, EF09HI18, Bob Dylan, mural do


artista Eduardo Kobra.
EF09HI19, EF09HI20, EF09HI21,
Minnesota (EUA), 2018.
EF09HI28, EF09HI29, EF09HI30,
EF09HI31 e EF09HI34, a pa rtir do
estudo da Guerra Fria, seus prin-
cipais conflitos e tensões, da re-
sistência dos africanos e asiáticos
ao imperialismo, da análise da 162
relação entre as transformações
urbanas entre 1946-1964 e na
produção das desigualdades re- avaliação dos processos162de independência na
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 1, 2, 3 e 7 e às competências específicas 1, 22/08/22 17:06 AV_

gionais e sociais, da discussão dos África e na Ásia, de modo articulado aos das 2, 3, 4 e 7.
processos de resistência durante competências gerais 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9 e 10 e ao Objetivo: refletir sobre o papel da produção
a ditadura civil-militar brasileira; das competências específicas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7. cultural engajada na oposição à ditadura.
da identificação das demandas Vejamos agora dois exemplos dessa arti- Esse objetivo, acompanhado de justificativa,
indígenas e quilombolas como culação. articula-se às habilidades EF09HI20, EF09HI22
forma de contestação ao modelo Objetivo: identificar e analisar as estra- e EF09HI29, às competências gerais 1, 2, 3, 4 e
desenvolvimentista da ditadu- tégias usadas por Estados Unidos e União 7 e às competências específicas 1, 2, 3, 4 e 7.
ra brasileira e da comparação Soviética na disputa por hegemonia e áreas
entre os regimes ditatoriais la- de influência. Esse objetivo articula-se à ha-
tino-americanos; e da análise e bilidade EF09HI28, às competências gerais
162

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 162 26/08/2022 15:51


ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com a
leitura do texto: FRIDMAN,
Luis Carlos. Rock and roll,

ZAGORY/SHUTTERSTOCK.COM
FONTE 2
John Lennon e a esfera públi-
O trecho a seguir é de uma ca. Sociologia & Antropolo-
letra de música composta por gia, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2,
Bob Dylan e gravada em 1963. p. 519-541, 2014.
Na fonte 2, há uma crítica
ao belicismo. As interrogações
deste trecho podem ser inter-
pretadas como: quanto tem-
po a paz – simbolizada pela
pomba – precisará esperar
para predominar na Terra?. E
também: quantas balas de ca-
Soprando no vento nhão serão disparadas até que
Quantas estradas um homem precisa atravessar
se pare de atirar?.
As mensagens na fonte 3
Até que possa enfim ser chamado de homem?
são: a palavra “paz”, escrita
Quantos mares uma pomba branca precisa cruzar
em inglês; a palavra “guerra”,
Até que ela possa descansar na areia?
também em inglês, circulada
Sim, e quantas vezes as balas de canhão precisam voar em vermelho; o símbolo que
Até que sejam para sempre banidas? significa paz e amor, lema do
BLOWIN’ in the wind. Intérprete: Bob Dylan. Compositor: Bob Dylan. In: The Freewheelin’ Bob Dylan. movimento hippie; o desenho
Nova York: Columbia Records, 1963. 1 disco vinil, faixa 1. Tradução nossa.
da mão pode estar simboli-
FONTE 3 zando “pare com a guerra”; e
as flores podem ser associadas
ao pacifismo. Lembre-se de
que os hippies, contemporâ-
neos de Dylan, costumavam
distribuir flores às pessoas no
DOVGALIUK IGOR/
SHUTTERSTOCK.COM

final de suas manifestações.

1. Você já ouviu Bob Dylan?


2. Na fonte 2, é possível perceber uma crítica ao belicismo?
Belicismo: defesa
Justifique.
ou adoção de uma
3. Observe a fonte 3 com atenção. Que mensagens se podem política voltada
perceber nessa ilustração atual? para a guerra e o
4. Que relações podemos estabelecer entre as fontes 2 e 3? armamentismo.
5. A letra da música citada foi composta no contexto da Guerra Fria;
você já ouviu a expressão “Guerra Fria”? Sabe o que significa?

Respostas pessoais.
163
gado pelos circuitos underground
underground,,
[...] chegando rapidamente aos
paraísos psicodélicos da juven-
17:06 TEXTO DE APOIO
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 163 das massas, empregará a contestação20/08/22 no
folk15:02
tude alternativa da época [...].
rock da década de 60 remodelando assim o pró-
Bob Dylan e a contracultura prio ritmo que nascera na década anterior [...]. O fato é que a “geração beat”
[...] pode com seus ideais “mar-
Os beatniks influenciaram a rebeldia hippie dos A preocupação em transformar o ritmo popu-
ginais” influenciar a união en-
anos 60, que terá na figura do poeta e músico lar americano, difundido como rock n’ roll,
roll, em
tre arte de vanguarda e cultura
Bob Dylan a figura maior da cultura pop
pop.. Dylan uma arma de contestação social, fez com que
popular, bem como a busca por
uniu ao rock da época uma preocupação inédita durante a década de sessenta o gênero se trans-
práticas de vida alternativa ao
em fazer composições musicais com letras e po- mutasse em uma das bandeiras do que seria
modelo daquele período.
emas, tendo influência na contestação beat
beat.. Bob conhecido como contracultura.
SILVA, Marcelo Pimenta e. A contracultura
Dylan, o bardo camaleônico que sempre travou Consequentemente, com Dylan resgatando a e a imprensa alternativa: revolução social
um embate contra a indústria cultural que por literatura beat à criação artística, tanto na músi- através da informação. Contemporâneos,
vezes tentou lhe “institucionalizar” como ídolo ca quanto em outras formas de arte, será divul- Santo André, n. 6, p. 1-18, 2010. p. 3-4.
163

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 163 26/08/2022 15:51


OBJETIVOS
• Compreender os conceitos
de Guerra Fria e mundo bi-
CAPÍTULO

8
polarizado.
• Argumentar sobre a criação
da ONU e conhecer seus prin- A GUERRA FRIA
cipais órgãos.
• Discutir o Plano Marshall e
seus desdobramentos.
• Identificar e analisar as es-
Observe as imagens e leia a legenda com atenção; reparou que elas são da mesma
tratégias usadas pelos Esta-
década? Como você interpreta a imagem da esquerda? E a da direita? O que elas têm em
dos Unidos e pela União So-
comum e em que divergem? Qual delas você achou mais criativa? Que relação podem
viética na disputa por hege-
ter com o tema deste capítulo? Você considera que os autores das imagens conseguiram
monia e áreas de influência.
passar a mensagem pretendida?
Por meio desses objetivos,
Revista The red iceberg que mostra a versão
BRIDGEMAN/FOTOARENA

busca-se elucidar caracterís- estadunidense do comunismo, EUA, década


ticas da Guerra Fria, consi- de 1960.
derando modos de atuação
e desdobramentos, além de
contribuir para a compreen-
são do surgimento e das prin-
cipais funções da ONU. As-
sim, colaboram para o desen-
volvimento das habilidades e

BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA
competências propostas.

BNCC
• Competências gerais: 1, 2, 3,
4, 5, 7, 9 e 10.
• Competências específicas: 1,
2, 3, 4, 5 e 6.
• Habilidades: EF09HI15,
EF09HI16 e EF09HI28.

ENCAMINHAMENTO
Professor, à esquerda, charge
estadunidense em que vemos
Tio Sam, com uma expressão
contrariada, na proa de um
barco prestes a encalhar em Visão soviética do capitalismo britânico
um iceberg, com uma particula- e estadunidense. Rússia, 1951.
ridade: é o “Iceberg Vermelho”,
representação caricaturizada do 164
comunismo soviético, identifi-
cado pela cor, pela foice e pelo
martelo. Repare que o autor teD3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd
nas mãos. Tio Sam monta em Dica de leitura
EDITORA OBJETIVA

164 28/06/22 13:25 D3_

representou também os países John Bull, o qual cavalga sobre o Livro em que o autor analisa
situados na órbita sovié­tica, trabalhador (repare que, na roupa os desenvolvimentos econômi-
como China, Coreia do Norte, do personagem que está sendo cos, sociais, políticos e culturais
Tchecoslováquia, entre outros. montado, lê-se a palavra worker,
da Europa após o fim da Se-
À direita, propaganda soviéti- trabalhador em inglês). Essa con-
gunda Guerra Mundial.
ca mostrando John Bull, repre- frontação de fontes visuais pode
sentando a Grã-Bretanha, e Tio ser trabalhada a partir do conceito • JUDT, Tony. Pós-guerra: uma
Sam, representando os Estados de “lutas de representações”, pro- história da Europa desde
Unidos, ambos com um chico- posto por Roger Chartier. 1945. São Paulo: Editora Ob-
jetiva, 2008.
164

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP.indd 164 31/08/22 10:10


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar com os estudantes
o conceito de Guerra Fria.
O mundo dividido • Definir o tempo de duração
dessa ordem mundial bipo-
Guerra Fria? Estranho, não é mesmo? larizada: de 1945 (final da
Quando ouvimos a palavra “guerra”, geralmente nos vêm Guerra Fria: período
Segunda Guerra Mundial)
à cabeça bombas, gritos desesperados, fogo e fumaça – uma que vai do final da a 1991 (desmembramentos
Segunda Guerra da URSS).
série de imagens muito “quentes”. Então, o que terá sido essa Mundial, em 1945,
• Explicitar que a Guerra Fria
tal Guerra Fria?
Fria? até o desmembramento
A Guerra Fria consistiu em um conflito permanente entre os da União Soviética, entre as superpotências se
em 1991. estendeu ao campo da cultu-
Estados Unidos e a União Soviética, no qual os dois lados evitavam
ra, do esporte, da propagan-
o confronto militar direto, temendo que o uso de armas nucleares
da e do espaço sideral.
levasse à destruição de ambos. Mas, para defender seus interesses,
ajudar seus aliados e expandir suas áreas de influência, os dois lados
usaram a propaganda, a espionagem e a violência.
Leia o que um historiador diz sobre o assunto. +ATIVIDADES
A peculiaridade da Guerra Fria era a de que [...] os gover- • Interdisciplinaridade: em con-
nos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de junto com os professores de
forças [...]. A URSS controlava uma parte do globo, ou sobre ela Arte e Língua Portuguesa,
exercia predominante influência [...] e não tentava ampliá-la com propor a produção de ma-
o uso de força militar. Os EUA exerciam controle e predomi- teriais de propaganda das
nância sobre o resto do mundo capitalista, além do hemisfério
potências da Guerra Fria. Or-
ganizados em dois grandes
norte e oceanos [...]. Em troca, não intervinham na zona aceita
grupos, produzir desenhos,
de hegemonia soviética.
cartazes, folhetos de propa-
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve
século XX. São Paulo: Companhia das Letras,
ganda, slides, podcasts, vídeos
2008. p. 224. curtos, reportagens, artes
A Guerra Fria foi para rede social, quadrinhos,
também uma guerra charges. Um dos grupos pode
de ideologias, de produzir materiais favoráveis
imagens e palavras: a uma das superpotências; e
durante esse período, o outro, fazer materiais que
HERALDODELSUR/GETTY IMAGES

produziram-se muitos tendem para a outra. Essa


livros, revistas, gibis e atividade interdisciplinar con-
tribui para o desenvolvimento
filmes para criticar ou
da competência geral 5 e da
ridicularizar o lado
habilidade EF09HI15.
oposto.

A luta pela supremacia


mundial. Urso russo e águia
estadunidense brigam pelo
controle do mundo.

165

13:25 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 165 28/06/22 13:25

A vitória na Segunda Guerra Mundial [...] não gerou qualquer sensação de segurança nos vencedores. Em fins de 1950, nem os Esta-
dos Unidos, nem a Inglaterra e tampouco a União Soviética podiam considerar que as vidas e os recursos dispendidos para derrotar
a Alemanha e o Japão os tinham tornado mais seguros: os membros da Grande Aliança eram agora adversários na Guerra Fria. Os
interesses afinal eram incompatíveis; as ideologias se conservavam no mínimo tão polarizadas quanto antes da guerra; temores de
um ataque-surpresa continuavam a inquietar os militares de Washington, Londres e Moscou. Uma competição pelo destino da Europa
no pós-guerra agora se estendera à Ásia. A ditadura de Stalin permanecia tão cruel – e dependente dos expurgos – quanto sempre fora,
mas com o surgimento do macarthismo nos Estados Unidos e diante de provas irrefutáveis de que houvera espionagem dos dois lados
do Atlântico, não estava mais claro se as democracias ocidentais poderiam preservar a tolerância com as dissidências e o respeito
pelas liberdades civis que as distinguiam dos ditadores, fossem das variedades fascista e comunista.
GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 44.
165

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP.indd 165 31/08/22 10:12


ENCAMINHAMENTO
• Discutir com os estudantes
os efeitos globais da ordem
bipolar que já se desenhava
na Conferência de Yalta. Nas
Encontros entre os vencedores
décadas seguintes, a maioria
dos países teve suas políticas Em fevereiro de 1945, antes mesmo do final da Segunda Guerra Mundial, três grandes
interna e externa, em maior líderes dos países vencedores – Churchill, da Inglaterra;; Roosevelt, dos Estados Unidos;;
ou menor escala, afetadas e Stalin, da União Soviética – reuniram-se na Conferência de Yalta,, na União Soviética,
pelo conflito permanente para discutir os rumos do mundo. Nela, os países ocidentais concordaram em ceder uma
entre as superpotências. parte da Polônia para a União Soviética e permitir o aumento da influência soviética nos
• Evidenciar as tensões entre países do Leste Europeu, como Tchecoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária, libertados
as potências vencedoras da do domínio nazista com a ajuda das tropas soviéticas.

HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES


Segunda Guerra, mesmo an- E isso foi feito sem que esses países fossem ouvidos.
tes do final do conflito. Meses depois, com a Alemanha já vencida, os
• Perceber que as potências Aliados reuniram-se novamente; dessa vez em Berlim,
ocidentais permitiram à União na Conferência de Potsdam.. Nessa Conferência, os
Soviética ampliar sua hege-
Aliados tomaram uma série de medidas: a destruição
monia no Leste Europeu sem
de todos os símbolos, livros e monumentos nazistas
que as nações dessa região
fossem consultadas. (desnazificação da Alemanha); a criação do Tribunal
• Refletir sobre a Conferência de Nuremberg, para julgar os criminosos de guerra; a
de Potsdam e seus efeitos divisão da Alemanha em quatro setores de ocupação:
sobre a Alemanha e, mais es- estadunidense, soviético, inglês e francês. A capital
pecificamente, sobre Berlim. da Alemanha, Berlim, também foi dividida entre os
• Explorar o mapa desta pági- vencedores. Observe o mapa.
Da esquerda para
na, chamando a atenção dos a direita, Winston
estudantes para o fato de Churchill, Franklin Alemanha: divisão e ocupação (1949)
que ele materializa as deci- Delano Roosevelt 10° L

RENATO BASSANI
© IMAGEM CRÉDITO
Ocupação quadripartite
DINAMARCA SUÉCIA
sões tomadas em Potsdam. e Josef Stalin Estadunidense Mar
Soviética Báltico
na Conferência
Britânica
de Yalta. URSS, Francesa
Mar do
Norte
1945. POLÔNIA
TEXTO DE APOIO Berlim 0 10

“A verdade é que em cada um PAÍSES REPÚBLICA


BAIXOS Hannover DEMOCRÁTICA
de nós, bem no fundo, em algum ALEMÃ BERLIM
(7/10/1949) BERLIM ORIENTAL
lugar, existe uma pequena dose REPÚBLICA OCIDENTAL
Bonn FEDERAL DA
de totalitário”, disse Kennan aos BÉLGICA ALEMANHA
50° N (23/5/1949)
estagiários do National War Col- Frankfurt
LUXEMBURGO
lege em 1947. “É a luz estimulan- Mainz

te da confiança e da segurança TCHECOSLOVÁQUIA


que mantém este gênio do mal FRANÇA Setores de ocupação
Território integrado à Soviético
submerso [...]. Se desaparece- Alemanha Oriental em 1949
Munique
rem a confiança e a segurança, Fonte: SERRYN, Pierre; Territórios integrados Estadunidense
à Alemanha Ocidental Britânico
não pensem que ele não estará BLASSELLE, René. Atlas
ÁUSTRIA
em 1949
Francês
Bordas Géographique SUÍÇA
esperando para substituí-las”. et Historique. Paris:
0 100 Muro de Berlim
(1961-1989)
Esse alerta partido do criador Bordas, 1998. p. 38.
da estratégia da contenção – de
que o inimigo a ser contido po-
deria facilmente estar entre os
166
beneficiários da liberdade quanto
entre seus inimigos – demons-
trou o quanto difundiria o medo para os conceitos de guerra
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 166 em certa época fa- 28/06/22 13:25 D3_

numa ordem internacional de miliares às hordas asiáticas. Realmente não po-


pós-guerra na qual se deposi- dem se ajustar a um propósito político voltado
tavam tantas esperanças. Isso para a modelagem e não para a destruição da
ajuda a explicar por que o livro vida do adversário. Não conseguem levar em
1984 de Orwell se tornou sucesso consideração a responsabilidade final do ho-
literário instantâneo quando foi mem pelo seu semelhante e até mesmo pelos
publicado em 1949. erros e equívocos uns dos outros. Implicam a
[...] admissão de que o homem não pode ser, mas é
[Ainda segundo Kennan] “Elas seu próprio e mais terrível inimigo.”
retrocedem para além das fron- GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria.
teiras da civilização ocidental, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 44-45.
166

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 166 26/08/2022 15:52


ENCAMINHAMENTO
• Facilitar aos estudantes a
percepção do contexto do
A Organização das Nações Unidas pós-guerra, caracterizando-o
como marcado pela destrui-
A destruição material e humana causada pela Segunda Guerra Mundial foi a maior
ção material e pela incerteza
já ocorrida na história até então. Palco da maior parte dos conflitos, o continente mais
com relação à construção de
prejudicado foi, com certeza, a Europa. Veja o que o líder britânico Winston Churchill disse uma paz duradoura.
sobre a Europa quando findou o conflito.
• Discutir as motivações que
“[O que é agora a Europa?] um monte de destroços, uma pilha de ossos, um terreno levaram à criação da Orga-
fértil para a peste e para o ódio”. [...] nização das Nações Unidas,
(CHURCHILL, [1950?] apud HORSLEY, 2007, tradução nossa). contribuindo, assim, para o
desenvolvimento da habili-
A guerra tinha deixado também nas mentes e nos corações a certeza de que o uso
dade EF09HI15.
indiscriminado da força não era a solução para os problemas humanos. Nesse contexto,
• Temas Contemporâneos Trans-
aflorou a preocupação com a paz mundial, e representantes de 50 nações reuniram-se
versais: refletir sobre os pro-
na Conferência de São Francisco (Estados Unidos), em 1945, na qual aprovaram a Carta
pósitos da ONU, lembrando
das Nações Unidas.. Em 24 de outubro desse mesmo ano, criaram a Organização das que o respeito aos direitos
Nações Unidas (ONU).. humanos integra uma das suas
Os principais objetivos dessa organização eram (e continuam a ser): microáreas temáticas, o tema
1. Manter a paz e a segurança internacionais [...]; cidadania e civismo.
2. Desenvolver relações de amizade entre as nações [...];
3. Realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas internacionais
[...], promovendo [...] o respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fun- Dica de leitura
damentais [...]; Livro em que o autor apre-
4. [...] harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. senta a ONU e a trajetória da
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas e o Estatuto da Tribunal Internacional de Justiça.
atuação brasileira nessa orga-
Nova York: Departamento de Informação Pública, 1945. Disponível em: https://unric.org/pt/wp-content/uploads/sites/9/2009/10/ nização.
Carta-das-Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas.pdf. Acesso em: 28 mar. 2022.
• SARDENBERG, Ronaldo Mota.
Com sede em Nova York O Brasil e as Nações Unidas.
LEV RADIN/SHUTTERSTOCK.COM

(Estados Unidos), a ONU é, Brasília, DF: FUNAG, 2013.


ainda hoje, o principal orga-
nismo internacional. Imagens em movimento
Vídeo com imagens raras
que mostram a cidade de Ber-
lim em 1945, no pós-guerra.
• BERLIM em julho 1945. 2015.
Reunião do Conselho de Segurança das
Vídeo (7min4s). Publicado
Nações Unidas sobre Mulheres, Paz e
Segurança. Nova York (EUA), 2019. pelo canal Berlin Channel.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=R5i-
9k7s9X_A. Acesso em: 27
jun. 2022.
Reportagem que conta a
história da fundação da ONU
167 e a participação brasileira na
criação dessa organização.
• CONHEÇA a história da ONU
Dica de leitura
EDITORA NOVA FRONTEIRA

13:25 D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 167 28/06/22 13:25


criada logo depois da 2ª
Livro do professor John L. Gaddis, da Uni- Guerra Mundial. 2018. Vídeo
versidade de Yale, um especialista no assun- (4min27s). Publicado pelo
to. Suas páginas bem escritas podem alargar canal TV BrasilGov. Disponível
a nossa visão sobre os anos tensos vividos em: https://www.youtube.
pela humanidade entre 1945 e 1989, deno- com/watch?v=6Q60yn1nNkM.
minados Guerra Fria. Acesso em: 27 jun. 2022.
• GADDIS, John Lewis. História da Guerra
Fria. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

167

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 167 26/08/2022 15:52


ENCAMINHAMENTO
• Explicar os seis principais ór-
gãos da ONU, com destaque
para o Conselho de Seguran- Os seis principais órgãos da ONU são o Conselho de Segurança,
ça, o responsável pela manu- a Assembleia Geral, o Secretariado, o Conselho Econômico e Social,
tenção da paz e da seguran- o Conselho de Tutela e a Corte Internacional de Justiça.
ça internacional. Direito de intervir: a O Conselho de Segurança é responsável pela manutenção
• Abordar a composição do intervenção precisa obter da paz e da segurança internacional e tem o direito de intervir
Conselho de Segurança e a maioria dos votos dos
em qualquer disputa ou confronto entre dois ou mais países-
discutir com os estudantes membros do Conselho
e não ser vetada por -membros. O Conselho é formado por 15 membros: dez eleitos
sobre as implicações do di- nenhum dos membros para um período de dois anos, e cinco permanentes (Estados (
reito de veto restrito aos permanentes.
Unidos,, Rússia,, China,, Reino Unido e França). ).
membros permanentes, os
“cinco grandes”. Os membros permanentes do Conselho de Segurança têm
• Valorizar a ajuda humanitá-
direito de veto sobre as decisões do Conselho. Por vezes, esse
ria dada por integrantes das direito de veto de cada um dos “cinco grandes” impediu o Conselho
forças de paz da ONU nas ca- de Segurança de manter a paz. Em 1963, por exemplo, membros
tástrofes e guerras ao redor desse Conselho propuseram que os Estados Unidos
do mundo. não interviessem na Guerra do Vietnã. Os Estados
JOEL ROBINE/AFP/GETTY IMAGES

• Aprofundar o assunto com a Unidos usaram seu direito de veto e entraram


leitura dos textos: HISTÓRIA na guerra. Por isso, analistas de várias partes
da ONU. Nações Unidas, [S. l.], do mundo criticam o enorme poder
c2022. Disponível em: https:// dos “cinco grandes” na ONU.
unric.org/pt/historia-da-onu. Ao Conselho de Segurança
Acesso em: 9 ago. 2022; SILVA,
cabe também prestar ajuda
Alexandra de Mello e. Ideias
humanitária em caso de
e política externa: a atuação
brasileira na Liga das Nações e catástrofes naturais.
na ONU. Revista Brasileira de
Política Internacional, Brasília,
DF, v. 41, n. 2, dez. 1998.

+ATIVIDADES
• Em grupo. Em uma roda de
conversa, debater se a ambi-
ção de poder dos vencedores Um soldado da ONU carrega uma idosa
da Segunda Guerra influen- ferida. Bósnia e Herzegovina, 1995.
ciou a criação e o funciona-
mento da ONU.

TEXTO DE APOIO
ONU no Brasil
As Nações Unidas têm repre-
sentação fixa no Brasil desde
1947. A presença da ONU em 168
cada país varia de acordo com as
demandas apresentadas pelos
respectivos governos ante a Or-
ganização. No Brasil, o Sistema [...]
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 168 privada, instituições de ensino, ONGs e socie- 28/06/22 13:25 D3_

das Nações Unidas está repre- A forma de cooperação com o Brasil muda dade civil brasileira, sempre com o objetivo de
sentado por agências especiali- de uma agência para outra, já que elas desen- buscar, conjuntamente, soluções para superar
zadas, fundos e programas que volvem no País as tarefas indicadas por seus os desafios e dificuldades presentes na criação
desenvolvem suas atividades respectivos mandatos e atuam em áreas espe- e implementação de uma agenda comum em
em função de seus mandatos cíficas. Em geral, as agências atuam de forma favor do desenvolvimento humano equitativo.
específicos. A Equipe de País (co- coordenada, desenvolvendo projetos em con- ONU BRASIL. As Nações Unidas no Brasil. Nações Unidas no
nhecida por sua sigla em inglês, junto com o governo tanto em nível federal Brasil. Brasília, DF, c2022. Disponível em: https://brasil.un.org/
UNCT) está conformada pelos como estadual e municipal –, com a iniciativa pt-br/about/about-the-un. Acesso em 27 jun. 2022.
Representantes desses organis-
mos, sob a liderança do Coorde-
nador Residente.
168

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP.indd 168 29/08/22 13:27


ENCAMINHAMENTO
Dialogando: A Rússia votou contra a resolução e vetou a medida. Somente • Conhecer o pedido de ces-
cinco países têm direito de veto e a Rússia é um deles. sar-fogo global feito pelo
secretário-geral da ONU em
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
23 de março de 2020 e sua
principal motivação.
A ONU tem falhado em seu principal propósito? • Refletir com os alunos sobre

Em 23 de março de 2020, durante o avanço o motivo pelo qual a maioria

EUROPANEWSWIRE/GADO/GETTY IMAGES
dos países onde havia con-
da pandemia da covid-19, o secretário-geral da
flitos armados nem sequer
ONU emitiu por escrito um pedido de cessar- respondeu ao pedido do se-
-fogo global, alegando que a maior batalha de cretário-geral da ONU.
nossas vidas era o combate à doença. • Retomar e consolidar o conhe-
Dos 43 países onde ocorriam combates cimento sobre o entrave repre-
violentos desde o início da pandemia, apenas sentado pelo poder dos cinco
dez reconheceram o chamado cessar-fogo, grandes ( URSS, China, Estados
porém não diminuíram os conflitos. Os Unidos, França e Reino Unido)
outros países não responderam ao pedido do no Conselho de Segurança.
secretário-geral da ONU. • Solicitar aos estudantes pes-
Segundo analistas internacionais, uma quisa sobre a situação da
António Manuel de Oliveira Guterres, guerra entre Rússia e Ucrâ-
das principais razões desse não atendimento secretário-geral da ONU, durante coletiva nia na atualidade, de modo
a um pedido da ONU é responsabilidade do de imprensa na cúpula do G20, nas Nações
Unidas. Nova York (EUA), 2020.
a promover uma atitude ativa
próprio órgão. O xis da questão é: somente por parte deles.
cinco países são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e cada um • Convidar voluntários para
deles tem poder de vetar uma decisão da maioria. As tensões crescentes entre Estados comentar sobre a evolução
Unidos e China fizeram com que essas duas potências não chegassem a um acordo e, do conflito e seus desdobra-
por isso, as resoluções envolvendo o cessar-fogo foram vetadas por elas. mentos.
Ao não concordar com o pedido de cessar-fogo, por causa dos vetos da China e dos • Para refletir. c) Comentar que
Estados Unidos, o Conselho de Segurança Nacional da ONU levantou uma desconfiança o pedido do secretário-geral
quanto a sua capacidade de interferir em favor da paz, seu principal propósito. da ONU, à época, se baseou
Além disso, os próprios membros perma- em um estudo segundo o qual
nentes têm manipulado o órgão a seu favor. Dialogando os campos de refugiados e as
áreas em conflitos são propen-
Um exemplo marcante disso ocorreu em 2003: Em 2022, os países-membros do sas à rápida disseminação da
França, Rússia e China votaram pela não Conselho de Segurança da ONU
covid-19. A intenção pedagó-
invasão do Iraque. Mas, valendo-se do seu votaram uma resolução condenando a
gica desta atividade é debater
invasão da Ucrânia pela Rússia. Por que
poder de veto, Estados Unidos e Reino Unido sobre a pergunta feita no tí-
essa resolução não foi aprovada?
invadiram o Iraque conjuntamente. tulo. Mais importante do que
a) Ele justificou dizendo que o nosso maior inimigo era a pandemia da covid-19. o posicionamento do aluno
a) Como o secretário-geral da ONU justificou seu pedido de cessar-fogo global? sobre a capacidade de a ONU
b) Como o texto explica o não atendimento do pedido de cessar-fogo do secretário-geral assegurar a paz e a segurança
da ONU? Explique. mundial, é a sua capacidade
c) Em dupla. Com base no conhecimento de vocês e na leitura do texto, tentem res-
de argumentar em defesa de
ponder à pergunta feita no título do texto. c) Resposta pessoal.
seu ponto de vista e de con-
testar contra-argumentações.
b) Segundo o texto, uma das razões é o modo como está organizado o Conselho: há somente cinco membros Estas atividades colaboram
permanentes e cada um deles tem poder de vetar uma decisão, ainda que os outros quatro países sejam a favor.
169 para o desenvolvimento da
habilidade EF09HI15.

13:25 Imagens em movimento


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 169 +ATIVIDADES 28/06/22 13:25

Vídeo que traz entrevista com Raquel Gontijo, Pesquisar sobre a atuação do Brasil nos últimos anos como mem-
professora em Relações Internacionais da PUC- bro rotativo do Conselho de Segurança da ONU. Essa proposta pode
-MG, sobre a posição da ONU frente à guerra da ser utilizada para trabalhar noções introdutórias de práticas de pes-
Ucrânia. quisa, pois é possível apresentar aos alunos a distinção entre fontes
• GUERRA na Ucrânia é um dos maiores testes que primárias (registros da ONU ou da diplomacia brasileira) e fontes
a ONU já passou, diz professora. 2022. Vídeo secundárias (artigos, livros e outras publicações sobre o tema). Os
(15min54s). Publicado pelo canal CNN Brasil. resultados da pesquisa podem ser apresentados em forma de texto,
Disponível em: https://www.youtube.com/ de áudio ou vídeo, que podem ser postados nas redes oficiais da
watch?v=hVS3HeM1EpU. Acesso em: 27 jun. 2022. escola.
169

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP.indd 169 29/08/22 13:31


ENCAMINHAMENTO
a) Estão agrupados em direitos individuais (por exemplo, liberdade de expressão), sociais (saúde, educação, mo-
• Pensar, em conjunto com os radia, entre outros) e econômicos (emprego e remuneração justa).
estudantes, sobre a impor- b) Resposta pessoal.
tância da Carta dos Direitos A Declaração Universal dos Direitos Humanos
Humanos para a afirmação
Expressando a preocupação com a questão da paz e dos direitos humanos, em 1948,
dos direitos fundamentais e
representantes de diversos países reunidos na ONU escreveram um importante documento:
de defesa da dignidade hu-
mana na atualidade. a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Conheça alguns de seus principais artigos.
• Valorizar as instituições vol- Artigo 1
tadas para a defesa dos di- Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
reitos humanos, a exemplo dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito
do Escritório do Alto Comis- de fraternidade. [...]
sariado das Nações Unidas
Artigo 4
para os Direitos Humanos.
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de
• Pesquisar sobre o Conselho
escravos serão proibidos em todas as suas formas. [...]
de Direitos Humanos e sua
atuação no sentido de de- Artigo 11
fender esses direitos e iden- [...] Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido
tificar os agentes responsá- inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em jul-
veis por sua violação. gamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias
• Sublinhar o caráter universal à sua defesa. [...]
dos direitos humanos e des- DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Humanos. Unicef. [S. l.], 2019.
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 4 abr. 2022.
fazer ideias pré-concebidas a
respeito da suposta parciali-
dade dessas garantias.
• Ressaltar que o propósito PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

original da Declaração é es-


tender o conjunto de direi- O texto a seguir é sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Leia-o com atenção.
tos a todos os seres huma- [...] A DUDH é vista, universalmente, como um guia para se alcançar uma sociedade
nos, sem distinção de credo, harmônica em que todos sejam tratados igualmente. [...]
cor, origem ou classe social. São direitos e garantias individuais (à liberdade de expressão, de locomoção
Nesse sentido, ao reforçar a e de pensamento), sociais (à saúde, educação, moradia, previdência, segurança) e
defesa dos direitos funda- econômicos (ter um emprego e remuneração justa). O artigo segundo da DUDH
mentais, presentes na Decla- garante que "todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades, sem
ração Universal dos Direitos distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião,
Humanos, trabalha-se a ha- de opinião política, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de
bilidade EF09HI16. qualquer outra situação". [...]
Para refletir. b) Os alunos CASTRO, Rebeca de. Nem sempre respeitada, a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 70 anos.
podem citar como exemplo Revista PUC Minas, Belo Horizonte, n. 17, 2018.
o Estado Soviético sob o re- a) Como estão agrupados os direitos dos cidadãos contidos na Declaração dos Direitos
gime stalinista; o regime do Humanos de 1948? Explique.
apartheid instalado na África
b) Cite e comente um exemplo de agentes que violaram os princípios da Declaração
do Sul; as ditaduras latino-
Universal de 1948.
-americanas das décadas de
1960, 1970 e 1980; os crimes
de guerra e contra a pessoa 170
perpetrados pelos nazistas e
por ditaduras atuais, como a
da Coreia do Norte; os grupos TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 170 (direitos e garantia do indivíduo). Entre os artigos 28/06/22 13:25 D3_

terroristas de várias tendên- 22 e 28 são enunciados os direitos econômicos,


A Declaração Universal dos Direitos sociais e culturais de modo abrangente. O arti-
cias que vitimam a popula-
Humanos go 29 registra a responsabilidade do indivíduo
ção civil em diversas parte do
A Declaração Universal dos Direitos Humanos em relação à sua comunidade e as condições
mundo. de exercício de seus direitos. Por fim, o artigo 30
de 1948 inicia-se com um preâmbulo contendo
sete considerações, a primeira das quais aponta veda qualquer interpretação da Declaração de
o espírito geral do documento [...]. Seguem-se, modo a “destruir” os direitos e liberdades nela
então, os trinta artigos da Declaração propria- estabelecidos.
mente dita. Os vinte e um primeiros artigos ar- Assim, por um lado, a Declaração Universal
rolam e atualizam, segundo a compreensão da dos Direitos Humanos de 1948 inaugurou o direi-
época, os tradicionais direitos civis e políticos to internacional dos direitos humanos (até então
170

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 170 26/08/2022 15:52


ENCAMINHAMENTO
• Contextualizar o trecho do
discurso de Winston Churchill
Um mundo bipolarizado e localizar em um mapa
Stettin, no Mar Báltico, e
Trieste, no Mar Adriático,
Ao final da guerra, vencido o nazismo, as rivalidades entre comunistas e liberais vol-
para melhor compreender
taram a se acirrar.
sua fala.
Nesse contexto, em 1946, o líder britânico Winston Churchill fez um discurso que é
• Perceber que o discurso lem-
considerado o marco inicial da Guerra Fria. Eis o que ele disse:
brado até hoje pela expres-
[...] Ninguém sabe o que a Rússia Soviética e sua organização internacional comu- são “cortina de ferro” de-
nista pretendem fazer no futuro imediato, ou quais são os limites, se é que os há, para marca território e obedece à
as suas tendências expansionistas [...]. De Stettin, no [Mar] Báltico, a Trieste, no [Mar] lógica bipolar da Guerra Fria.
Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre o continente. [...] • Refletir com os alunos sobre
(CHURCHILL, 1946 apud BARROS, 1985, p. 19). o tom religioso e fundamen-
talista da ideia de “cruzada
Depois, Churchill afirmou que era preciso impedir, a qualquer custo, o avanço do
contra o comunismo”.
comunismo para além daquela “cortina de ferro” que dividia e opunha a Europa. A seguir,
• Compreender a Doutrina
convocou o Ocidente para uma grande cruzada contra o comunismo. No ano seguinte, o
Truman e suas conexões com
presidente estadunidense Harry Truman também se posicionou contra a União Soviética,
a política estadunidense para
dizendo que os Estados Unidos dariam apoio total (leia-se militar e financeiro) à luta dos
a América Latina.
povos contra o comunismo em todo o mundo. Era a chamada Doutrina Truman,, que
• Trabalhar o conceito de or-
influenciou fortemente as re-
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

dem internacional bipola-


lações entre os Estados Unidos
rizada.
e a América Latina. O mundo
Professor, o trabalho com
se dividia, assim, em dois
o conteúdo desta página con-
blocos rivais: o capitalista,
tribui para o desenvolvimento
liderado pelos Estados Unidos,
da habilidade EF09HI28.
e o comunista, comandado
pela União Soviética. Daí se
dizer que, com base nisso, Dica de leitura
se estabeleceu uma ordem O livro apresenta as me-
internacional bipolarizada.. mórias e relatos de Winston
Churchill sobre o período en-
tre 1941 e 1945, com descri-
ções detalhadas dos aconte-
cimentos da Segunda Guerra
O presidente estadunidense Harry
Truman, à direita, apresenta ao
Mundial.
público Winston Churchill, que no • CHURCHILL, Winston. Memó-
ano anterior era primeiro-ministro da
rias da Segunda Guerra Mun-
Grã-Bretanha, antes de seu discurso
no Westminster College, em Fulton, dial: 1941-1945. Rio de Janei-
Missouri (EUA), 1946. O discurso que ro: HarperCollins, 2017. v. 2.
ele fez na ocasião seria lembrado

EDITORA HARPER COLLINS


pela expressão “cortina de ferro”.

171

TEXTO DE APOIO (CONTINUAÇÃO)


EDITORA PEIRÓPOLIS

13:25 D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 171 28/06/22 13:25

não havia nenhum documento internacional que se dedicasse ao assunto


com tanta abrangência e importância) e, por outro, fundou a concepção
contemporânea de direitos humanos, que, ambiciosamente, visa integrar
os direitos civis e políticos, que vinham se desenvolvendo desde o século
XVIII (especialmente após a Declaração Francesa de 1879), aos chamados
direitos econômicos, sociais e culturais, demandados nos séculos XIX e XX
pelo movimento operário (e que se instalaram definitivamente na cena
mundial após a Declaração Russa de 1918).
TRINDADE, José Damião de Lima. História social dos direitos humanos. São Paulo: Peirópolis,
2002. p. 190-191.
171

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 171 26/08/2022 15:52


ENCAMINHAMENTO
• Relacionar o crescimento dos
partidos comunistas da Itália,
Inglaterra e França ao papel O Plano Marshall e o Bloqueio de Berlim
desempenhado por eles na
Ao perceber que os partidos comunistas da Itália, da Inglaterra e da França vinham
resistência aos fascismos eu-
crescendo, o governo dos Estados Unidos pôs em prática o Plano Marshall,, que consistia
ropeus.
em um vasto programa de ajuda econômica aos países capitalistas da Europa mais atingidos
• Contextualizar o Plano Mar-
pela Segunda Guerra Mundial. A ajuda dos Estados Unidos incluía empréstimos a longo
shall e avaliar seus resultados
prazo e juros reduzidos, concessão de tecnologia e investimentos volumosos. Em um
nos países da Europa Ociden-
tal fortemente atingidos pela tempo relativamente curto, o Plano Marshall atingiu seus objetivos e possibilitou a rápida
Segunda Guerra. recuperação econômica de países como a Inglaterra, a Alemanha Ocidental e a França.
• Compreender o que foi o
Além disso, estimulou as exportações estadunidenses para a Europa, fortaleceu a liderança
Bloqueio de Berlim, a res- mundial dos Estados Unidos e diminuiu a força do comunismo no continente europeu.
posta a esse bloqueio e o A resposta da União Soviética não se fez esperar: sob a liderança de Stalin, criou-se o
uso que a propaganda oci- Comecon (Conselho para Assistência Econômica Mútua), conselho que visava promover o
dental fez dessa resposta desenvolvimento econômico dos países do bloco socialista.
bem-sucedida. Um dos momentos mais “quentes” da Guerra Fria foi o Bloqueio de Berlim
• Aprofundar o assunto com (1948-1949), nome pelo qual ficou conhecida a tentativa de Stalin de sufocar economi-
a leitura do artigo: ZHEBIT, camente Berlim Ocidental. Ele bloqueou todos os acessos rodoviários e ferroviários
Alexander. A Guerra Fria, à cidade. Seu objetivo era impedir que alimentos e produtos essenciais, como carvão,
uma longa Guerra Fria: de- chegassem àquela parte da cidade.
bates historiográficos e teó- Mas estadunidenses, ingleses e franceses responderam ao bloqueio soviético mon-
ricos. Cadernos do Cáucaso, tando uma ponte aérea e abastecendo Berlim Ocidental por meio de voos diários. Stalin,
Rio de Janeiro, v. 3, n. 4, jan./ então, foi obrigado a suspender o bloqueio. A propaganda ocidental divulgou o fato,
jun. 2020. conseguindo com isso apoio de pessoas de várias partes do mundo. Observe a fotografia.

Habitantes de Berlim Ocidental


(vítimas do bloqueio imposto por Stalin)
E & O/ULLSTEIN BILD/GETTY IMAGES

assistem à aproximação de um avião


com alimentos para eles. Tempelhof,
Berlim (Alemanha Ocidental), 1948.

172

TEXTO DE APOIO no meio da Alemanha Oriental comunista.


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 172
contentamento crescera, em boa parte por- 28/06/22 13:25 D3_
Berlim Ocidental, porém, levava uma vida que os berlinenses naquela época tinham
O progresso da Berlim Ocidental insegura, pois nada poderia impedir os liberdade para transitar livremente entre as
[...] Graças à ajuda do Plano Marshall, jun- russos – ou os alemães orientais, se auto- partes ocidental e oriental da cidade. [...] As
rizados – de bloquear os acessos terrestres gritantes diferenças de padrão de vida cau-
to com subsídios do governo da Alemanha
saram “grande insatisfação” na zona sovié-
Ocidental, assim como o apoio dos Estados à cidade, como Stalin fizera uma década
tica, admitiu o dirigente do Kremlin Georgii
Unidos a universidades, bibliotecas, centros antes. [...] O sucesso de Berlim Ocidental a
Malenkov, logo após os distúrbios, “o que
culturais e estações de rádio – algumas fi- tornou vulnerável. Sobrevivia apenas graças ficou particularmente óbvio, uma vez que
nanciadas sem alardes pela CIA – as zonas à indulgência de Moscou. Mas Berlim Orien- a população começou a fugir da Alemanha
de Berlim ocupadas por tropas ocidentais tal, ocupada pelos soviéticos, também tinha Oriental para a Ocidental”.
se tornaram propaganda permanente das suas vulnerabilidades, como comprovaram GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de
virtudes do capitalismo e da democracia os distúrbios ali ocorridos em 1953. O des- Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 108.
172

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 172 26/08/2022 15:52


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a divisão do
território alemão em dois
Uma das consequências dessa crise foi a decisão tomada pelos Estados Unidos e pela países, em 1949, como um
União Soviética de dividir o território alemão em dois países. Assim, em 1949, nasciam: desdobramento das tensões
a República Federal da Alemanha (Alemanha
( Ocidental),
), de regime capitalista, com geopolíticas no interior dos
capital em Bonn (área de influência dos Estados Unidos), e a República Democrática Alemã blocos liderados por sovié-
(Alemanha Oriental), ), de regime comunista, com capital em Berlim Oriental (área de ticos e estadunidenses, de
influência da União Soviética). A cidade de Berlim também foi dividida em duas: Berlim modo a contribuir para o de-
Oriental (comunista) e Berlim Ocidental (capitalista). senvolvimento da habilida-
de EF09HI28.
• Alertar para o fato de que
O Muro de Berlim a cidade de Berlim também
Na década seguinte, em virtude da ajuda econômica estadunidense, a Alemanha foi dividida em duas: Berlim
Ocidental recuperou-se rapidamente e passou por um processo de intenso crescimento Oriental e Berlim Ocidental.
econômico (“milagre alemão”). Atraídos pelo desenvolvimento econômico de Berlim • Situar a construção do Muro
Ocidental e inconformados com a opressão a que eram submetidos, muitos habitantes de Berlim como uma medida
da Berlim Oriental começaram a fugir para o outro lado da cidade em busca de uma vida para impedir a fuga dos ale-
melhor. Para impedir a fuga dos alemães orientais, em 1961 o governo da Alemanha mães orientais para o lado
comunista construiu o Muro de Berlim,, separando fisicamente as duas partes da cidade, ocidental da cidade, visto
e fechou as fronteiras entre os dois países. como mais atraente porque
progredia em um ritmo ace-
lerado.
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

• Refletir sobre os efeitos da


separação física da cidade
sobre as vidas das pessoas:
o Muro de Berlim separou
familiares, amigos, namora-
dos, entre outros.

Berlinense ocidental
acenando para Imagens em movimento
berlinenses orientais
usando um carro como Trecho de vídeo com ima-
apoio. Berlim Ocidental gens da época da construção
(Alemanha Ocidental), do Muro de Berlim.
7 de setembro de 1961.
• CONSTRUÇÃO do Muro de
Berlim. 2014. Vídeo (2min20s.).
Publicado pelo canal Euronews
(em português). Disponível
em: https://www.youtube.
com/watch?v=RbX_aeJLlG4.
Acesso em: 27 jun. 2022.

173 cem milhas, protegido por torres


de vigilância, campos de minas,
cães policiais e ordem de atirar
para matar quem tentasse atra-
13:25 D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 173 TEXTO DE APOIO em Berlim “causaria sérios danos à reputação de
28/06/22 13:25
vessá-lo. A decisão de Khrush-
todo o movimento comunista. [...] Mais de 30 mil
pessoas, para falar a verdade as melhores e mais chev estabilizou a situação em
A construção do Muro de Berlim
qualificadas da RDA, tinham deixado o país em Berlim, no que diz respeito às
Pelo menos desde 1952, Ulbricht tinha planos relações entre as superpotências
julho. [...] A economia da Alemanha Oriental en-
prontos para acabar com o fluxo de emigrantes, na Guerra Fria. Com Berlim Oci-
traria em colapso se não fizéssemos alguma coi-
por meio da construção de um muro que sepa- dental isolada de Berlim Oriental
sa para evitar a fuga em massa. [...] De modo que
raria a Berlim ocidental da oriental e do restante [...], ele não tinha mais necessi-
o muro era a única opção que restava”. Foi levan-
da Alemanha Oriental. [...] O chefe húngaro János dade de expulsar as potências
tado na noite de 12 para 13 de agosto de 1961,
ocidentais da cidade [...].
Kádár – que pusera na linha uma população des- primeiro com uma barreira de arame farpado e,
GADDIS, John Lewis.
contente depois do levante de 1956 – predisse, no depois, com um muro de blocos de concreto com História da Guerra Fria. Rio de Janeiro:
começo de 1961, que a construção de um muro uns doze pés de altura e o comprimento de quase Nova Fronteira, 2006. p. 110.
173

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP.indd 173 29/08/22 13:33


ENCAMINHAMENTO
• Destacar para os estudantes
que a Otan é, antes de tudo,
uma aliança militar e, como Otan versus Pacto de Varsóvia
tal, alimentava a tensão per-
Nesse contexto de ânimos exaltados, em 1949 os Estados Unidos, o Canadá e vários
manente entre as superpo-
países da Europa Ocidental firmaram uma aliança militar denominada Organização do
tências.
Tratado do Atlântico Norte (Otan).
). A aliança previa a ajuda mútua no caso de uma agres-
• Mostrar que, consoante à
são por parte de uma força externa. O ataque a um dos países-membros da Otan seria
lógica da Guerra Fria, a URSS
considerado um ataque a todos.
respondeu com a criação do
Pacto de Varsóvia, aliança Em resposta à criação da Otan, em 1955, a União Soviética firmou com os países de
militar que agregava os paí- sua esfera de influência o Pacto de Varsóvia,, uma aliança militar destinada a garantir a
ses do bloco comunista. segurança do bloco comunista. Observe o mapa.
• Trazer o debate para o pre-
sente, informando que, no A Europa dividida: Otan versus Pacto de Varsóvia (1955)
contexto da guerra entre a

RENATO BASSANI
o
r ti c

Rússia e a Ucrânia, a Finlân- ISLÂNDIA ulo P
ola
Círc
dia e a Suécia abandonaram
décadas de neutralidade e

Gree no de
Países capitalistas

h
membros da Otan

nwic
oficializaram seu pedido para

idia
Países europeus capitalistas
não membros da Otan

Mer
entrar na Otan, o que, segun- Países comunistas membros SUÉCIA
FINLÂNDIA

do analistas internacionais, do Pacto de Varsóvia


Países europeus comunistas
NORUEGA
pode prolongar a duração não membros do Pacto de
Varsóvia
do conflito russo-ucraniano. Mar do
Norte UNIÃO SOVIÉTICA

ltico

IRLANDA REINO DINAMARCA

ar
UNIDO M

Imagens em movimento PAÍSES


BAIXOS
REPÚBLICA
DEMOCRÁTICA
OCEANO
Vídeo sobre o papel da BÉLGICA ALEMÃ
POLÔNIA
ATLÂNTICO REPÚBLICA
OTAN no mundo. LUXEMBURGO
FEDERAL
TCHECOSLOVÁQUIA
DA
• OTAN. 2015. Vídeo (1min21s.). ALEMANHA
FRANÇA SUÍÇA ÁUSTRIA HUNGRIA
Publicado pelo canal AFP Por- ROMÊNIA
tuguês. Disponível em: https:// 40°
N M
ar IUGOSLÁVIA Mar Negro
youtu.be/iGneOKNFOF8. PORTUGAL
ESPANHA ITÁLIA
Ad
riá BULGÁRIA
Córsega tic
Acesso em: 27 jun. 2022 o
TURQUIA
ALBÂNIA
Sardenha (parte europeia)
Mar
M a r M e
d i Tirreno GRÉCIA ÁSIA
t e
TEXTO DE APOIO r r Sicília
â
n
e 0 230
ÁFRICA o
Creta
Como funciona a OTAN? 0°

Fonte: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 1999. p. 32.
Cada país membro tem uma
delegação permanente no quar- As tensões da Guerra Fria levaram à formação de alianças militares lideradas pelas grandes
tel-general político da OTAN potências. Os países capitalistas criaram a Otan (1949), sob a liderança dos Estados Unidos.
em Bruxelas. Essa delegação é Os países comunistas formaram o Pacto de Varsóvia (1955), sob a liderança da União
chefiada por um embaixador, Soviética, de Josef Stalin.
que representa o seu governo
no processo de consultas e de 174
tomada de decisões da Aliança.
O Conselho do Atlântico Norte é
o órgão decisório político mais
importante no seio da Organiza- A OTAN tem muito poucas
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 174 forças próprias através de orçamentos comuns para os quais 28/06/22 13:25 D3_

ção. Reúne a diversos níveis e é permanentes. Quando o Conselho do Atlântico os governos membros contribuem, seguindo
presidido pelo Secretário-geral Norte acorda sobre uma operação os membros uma fórmula de partilha de custos previamente
da OTAN, que ajuda os membros contribuem com forças de forma voluntária. Es- acordada.
a chegarem a acordo sobre as- tas forças regressam aos seus países uma vez OTAN. O que é a OTAN?. North Atlantic Treaty
suntos chave. Todas as decisões terminada a missão. A coordenação e condução Organization (NATO). [S.l], 2019. Disponível em:
tomadas nos comités da OTAN destas operações cabe à estrutura de comando https://www.nato.int/nato_static_fl2014/assets/
pdf/pdf_publications/20190925_What_is_NATO_
são por consenso. Deste modo, militar. Esta estrutura consiste em quartéis-ge- por_20190808_LD.pdf. Acesso em: 27 jun. 2022.
uma “decisão da OTAN” é a ex- nerais e bases localizadas em diferentes países
pressão da vontade coletiva de membros. As atividades do dia a dia, as estru-
todos os países membros. turas civil e militar e os programas de investi-
mento em segurança da OTAN são financiados
174

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP.indd 174 31/08/22 10:12


TEXTO DE APOIO
O macarthismo
O macarthismo [...] é um mo-
vimento anticomunista que se
Perseguições e crimes contra a humanidade alastrou pelos Estados Unidos em
Tanto nos Estados Unidos quanto na União Soviética, as pessoas suspeitas de simpati- meados da década de 1950 e trou-
xe grandes consequências [...].
zar com o país adversário eram perseguidas e duramente reprimidas. Nos Estados Unidos O início do macarthismo, como
dos anos 1950, o líder da “caça aos comunistas” era o senador Joseph McCarthy. O [...] se dá ainda em 1948, quan-
macarthismo – movimento que recebeu esse nome por ter sido liderado por McCarthy – do Wittaker Chambers, ex-editor
da revista Time, uma das mais
perseguiu e levou à prisão cientistas, escritores,

MONDADORI PORTFOLIO/GETTY IMAGES


prestigiadas nos Estados Unidos
artistas, professores e funcionários do governo. declara que havia uma célula co-
Até mesmo Charles Chaplin foi perseguido munista agindo dentro de altos
pelo macarthismo e obrigado a se exilar. Essa escalões governamentais. Ainda
que estas declarações tenham se
campanha anticomunista ocorreu entre 1950 mostrado infundadas, a possibili-
e 1954, período durante o qual McCarthy dade de existência de comunistas
dirigiu o Comitê de Atividades Antiamericanas agindo nos EUA muniu o senador
do Senado. Joseph McCarthy de credibilida-
de para deflagrar uma persegui-
Na União Soviética, o ódio à superpo- ção aos supostos traidores da
tência rival também era alimentado por sua pátria. Para os intelectuais
perseguições, queimas de livros, prisões arbi- que apoiavam o senador, o ma-
carthismo era uma das grandes
trárias e execuções. Só que, no caso da União
armas norte-americanas para a
Soviética, o líder da repressão era o próprio contenção da ameaça comunista
chefe de Estado soviético, Josef Stalin. O que pairava sobre a nação.
stalinismo também reprimia brutalmente A atuação dos macarthistas [...]
consistia em acusações a pessoas
cidadãos do Leste Europeu. Stalin organizou e empresas que supostamente
julgamentos forjados, internou seus oposi- teriam ideais comunistas ou es-
tores em hospitais psiquiátricos, promoveu tariam de alguma forma com-
fuzilamentos em massa e enviou para campos pactuadas com ideias lançadas
pelo regime socialista. Também
( gulags)) e para o exílio
de trabalho forçado (gulags chamado de “caça às bruxas”,
na Sibéria todos aqueles que considerava este movimento incitava pesso-
adversários. as a denunciar outros indivíduos,
Cena do filme estadunidense O garoto, mesmo que estes fossem amigos
de Charles Chaplin, de 1921. Ator, diretor, ou parentes.
LASKI DIFFUSION/GETTY IMAGES

roteirista, um verdadeiro gênio do cinema, Nesta cruzada se embrenharam


o criador de Carlitos foi perseguido pelo serviços essenciais como alfânde-
macarthismo. Em 1952, sentindo sua ga e os correios estadunidenses,
segurança pessoal ameaçada, Chaplin que chegavam inclusive a violar
deixou os Estados Unidos e foi viver na e interceptar correspondências
Suíça. consideradas suspeitas. Além
disso, entidades de classe como
a dos médicos e a dos advogados
aderiram a causa, inclusive pres-
tando juramento de lealdade aos
Prisioneiro de um gulag trabalha na construção do Canal Mar
Estados Unidos durante o exercí-
Branco-Mar Báltico. Segundo registros oficiais, dezenas de
cio de seu ofício. Os livros didáti-
milhares de trabalhadores morreram durante a construção
cos (principalmente de História e
desse canal. União Soviética, 1933.
Geografia) sofriam deformações e
entregavam aos seus leitores ide-
175 ais macarthistas, reforçando ain-
da mais o imaginário com ideias
anticomunistas.
SANTOS, Rodrigo Otávio dos. Medo,
13:25 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 175 +ATIVIDADES 28/06/22 13:25
paranoia, macarthismo e o século
XXI: usando o episódio 22 de Além da
• Conceituar o macarthismo e conhe- Organizem-se em dois grupos. Um dos grupos vai Imaginação em sala de aula. História:
cer a atuação do Comitê de Ativida- tratar do tema macarthismo; o outro, do stalinismo. Questões & Debates, Curitiba, volume
67, n.1, p. 283-306, jan./jun. 2019.
des Antiamericanas do Senado. Cada grupo se responsabilizará por pesquisar sobre p. 292-293.
• Compreender o stalinismo e conhe- uma das vítimas dessas políticas repressivas nos Esta-
cer suas práticas, estimulando o de- dos Unidos e na União Soviética.
bate sobre os julgamentos forjados Professor, esta atividade pretende contribuir para uma reflexão sobre violações de
perpetrados pelo governo do dita- direitos humanos, bem como estimular o desenvolvimento da competência geral 7.
dor soviético. Temas Contemporâneos Transversais: por tratar dessas violações, a atividade desen-
volve o tema cidadania e civismo, com destaque para educação em direitos humanos.
175

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 175 26/08/2022 15:52


ENCAMINHAMENTO
• Conceituar corrida armamen-
tista, relacionando-a aos altos
investimentos feitos pelas su- A corrida armamentista

SHEL HERSHORN/GETTY IMAGES


perpotências e o consequente
aumento da carga de impostos e a espacial
pagos pelos cidadãos. A competição entre os Estados Unidos e a União
• Debater sobre os prejuízos para Soviética por áreas de influência, o medo que uma
o meio ambiente dos testes potência tinha da outra e os interesses da superlu-
das bombas atômicas e de hi- crativa indústria bélica desencadearam uma corrida
drogênio.
armamentista..
• Temas Contemporâneos Trans-
Em 1949, as duas superpotências possuíam a
versais: a abordagem integra-
bomba atômica e investiam quantias cada vez maiores
da desse debate com o tema
em armas nucleares. No final de 1952, os Estados
meio ambiente, com foco em
educação ambiental, favorece Unidos descobriram o modo de fazer a bomba de
a implementação da BNCC na hidrogênio e a testaram no Oceano Pacífico. Ela tinha
sala de aula. uma potência 4 mil vezes superior à da bomba atômica.
• Ajudar o alunado a perceber Três anos depois, era a vez de a URSS testar sua bomba.
as dimensões adquiridas pela Mulher em abrigo nuclear construído Essa corrida exigia altos investimentos do Estado, pro-
para proteger pessoas de bombas.
Guerra Fria, trabalhando com Texas (EUA), 1961.
vocando o aumento de impostos pagos pelos cidadãos,
eles informações confiáveis além de causar sérios prejuízos ao meio ambiente.
sobre a corrida espacial entre Cientes de que não era possível resolver a disputa
as superpotências. militarmente, em razão do enorme poder de destruição
SNEGIREV IGOR/SPUTNIK/AFP

• Interdisciplinaridade: junto de suas armas nucleares, os Estados Unidos e a União


ao componente curricular de Soviética passaram a investir na exploração do espaço, a
Arte, comparar as maneiras fim de demonstrar ao mundo qual deles tinha o melhor
como cineastas de cada uma
sistema socioeconômico. Na corrida espacial,, a URSS
das superpotências em disputa
saiu na frente; em 1957, lançou dois satélites artificiais,
trabalharam com o tema da ex-
ploração espacial. Desse modo, o Sputnik 1 e o Sputnik 2 (que tinha a bordo uma
sugerir que os alunos assistam cadela chamada de Laika). Quatro anos depois, a URSS
aos filmes 2001: uma odisseia lançava a primeira nave pilotada por um ser humano:
no espaço, do estadunidense o russo Yuri Gagarin.
Stanley Kubrick, lançado em A população soviética saiu às ruas para comemorar
1968, e Solaris, do soviético e Gagarin foi transformado em herói nacional. Os esta-
Andrei Tarkoviski, lançado em dunidenses redobraram, então,
SPACE FRONTIERS/GETTY IMAGES

1972. Para operacionalizar a seus investimentos em pesquisa


atividade, dividir a turma em espacial. Em 20 de julho de
pequenos grupos e solicitar Acima, Yuri Gagarin,
1969, viajando a bordo da nave
que assistam a um dos filmes. 1961. Ao lado, Neil
Depois, em sala de aula, discu- Armstrong, 1969. Apolo 11, o astronauta estadu-
tam sobre as obras e apontem nidense Neil Armstrong foi o
as diferenças entre elas. primeiro a colocar o pé em solo
Professor, comentar que, lan- lunar, onde fincou também a
çada ao espaço com o Sputnik bandeira dos Estados Unidos.
2, a cadela Laika se tornou um
dos símbolos da corrida espacial. 176
Porém, mesmo à época do lan-
çamento do satélite tripulado,
houve debates sobre os limites D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 176 28/06/22 13:25 D3_

éticos para utilização de animais


em experimentos ligados à corri-
da espacial. Esses debates foram
reacendidos em 2002, quando foi
revelado que a cachorra morrera
em decorrência do superaqueci-
mento da nave espacial, e não
pela falta de oxigênio, como
havia sido alegado pelas auto-
ridades soviéticas.
176

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 176 26/08/2022 15:52


ENCAMINHAMENTO
c) Sim, pois organizaram muitos protestos pacifistas contra a guerra – em especial contra a Guerra do Vietnã – e,
nesse sentido, contribuíram para conscientizar a sociedade das mazelas oriundas daquela guerra: mortes de jovens, • Evidenciar a importância do
destruição do meio ambiente, grande número de feridos, entre outras. movimento hippie para o
pacifismo que empolgou os
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
anos de 1960 em várias par-
tes do mundo.
Movimento hippie • Destacar a atuação de outros

A juventude dos anos 1960 também manifestou sua movimentos sociais e polí-
ticos – a exemplo do movi-
insatisfação com o “sistema” por meio de movimentos paci-
mento negro – nos protestos
fistas, como o movimento hippie
hippie,, cujo lema era “Paz e amor”.
pacifistas contra a Guerra do
Os hippies usavam cabelos compridos, sandálias, chapéus extra- Vietnã.
vagantes e roupas indianas, elementos esses que chocavam • Debater a respeito dos lemas
a sociedade da época. Geralmente, eles pertenciam à classe e o legado do movimento hi-
média e tinham conforto em casa, mas rejeitavam radicalmente ppie oferece mais uma opor-
a hierarquia, a disciplina e a obediência que caracterizavam tunidade de se trabalhar a

S
AGE
o modo de vida de seus pais. Defendiam o convívio com a cultura de paz, como uma

TY IM
forma de criar ou manter

GET
“natureza”, o consumo de comida vegetariana e a prática do

JR./
amor livre (isto é, relações sexuais livres). espaços de convivência sau-

OSS
ER IO
Muitos hippies abandonavam seus lares e iam viver no dáveis, física e mentalmente.

T
WAL
campo, em comunidades alternativas, onde cultivavam a terra,
Para refletir. d) É importan-
Janis Joplin se te destacar que o contexto em
criavam animais e cuidavam dos filhos em grupo e em total liber- apresenta no Madison que o movimento hippie sur-
dade. Os hippies adotavam certas ideias da Índia, especialmente Square Garden. giu e evoluiu era muito dife-
as de Mahatma Gandhi, líder pacifista favorável à resistência não Nova York (EUA), 1969.
rente do atual. Mas a necessi-
violenta. Por isso, os hippies estadunidenses dade de paz e harmonia entre
HOWARD ARNOLD COLLECTION/GETTY IMAGES

fizeram muitos protestos pacíficos contra a os seres humanos continua


Guerra do Vietnã, ostentando cartazes com sendo premente.
os dizeres “Faça amor, não faça guerra!”.
Ao final de suas passeatas, eles ofereciam,
com um sorriso nos lábios, flores para as Manifestações contra a Guerra no
pessoas. Vietnam não ocorriam somente nos
Estados Unidos, mas também em
Em pouco tempo, as grandes empresas
outros países, como no congresso
incorporaram as mensagens e os símbolos sobre a guerra em Berlim, em 1968.
hippies aos seus produtos. Exemplo disso é O conflito vietnamita era um dos
o slogan usado para aumentar a venda de tantos componentes presentes nos
Multidão no Festival de Música e Arte de protestos daquele ano, era combus-
jeans:: “Liberdade é uma calça velha, azul
jeans Woodstock, de que Janis Joplin também tível tanto para as manifestações
e desbotada”. participou. Nova York (EUA), 1969. pacifistas quanto para as anti-
imperialistas. As representações
a) Qual é a característica principal do movimento hippie e contra o que lutava?
contra a guerra veiculadas na im-
a) Era um movimento pacifista conduzido por jovens que se opunham radicalmente à hierarquia, à disciplina
b) O que os hippies propunham como alternativa ao modo de vida de seus pais? prensa colaboravam para a circula-
e à obediência, valores que faziam ção do imaginário da contracultura.
c) Pode-se dizer que os hippies também fizeram política? parte do modo de vida de seus pais. Uma das formas de protestos
dos jovens norte-americanos cha-
d) Em dupla. Debatam, reflitam e respondam: ideias condensadas no lema hippie “Faça mados pelo exército para lutar
amor, não faça guerra!” são aplicáveis ao mundo atual? d) Resposta pessoal. no Vietnam era a de queimar os
b) Eles propunham o convívio com a natureza, o consumo de comida vegetariana e a prática do amor livre; muitos cartões de convocação. Com isso
ficavam sujeitos à prisão e uma
foram viver no campo, onde produziam o próprio alimento e criavam seus filhos em grupo e em total liberdade.
177 das saídas era viver à margem do
sistema, como desertores. Mui-
tos deles passaram a viver como
exilados dentro e fora do país. Foi
13:25 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 177 ideais de paz e amor e se expressavam linguísti-
28/06/22 13:25
grande o número de jovens que
ca e fisicamente em cores vivas, mais psicodéli-
partiram para outros países para
Os hippies cas. Não seriam hipsters
hipsters,, mas hippies
hippies.. fugir de uma possível convocação.
A palavra hippie [...] surgiu primeiro na im- O surgimento dos hippies coincidia com a Uma das razões para o grande nú-
prensa. Foi cunhada por Michael Fallon ao fazer intervenção norte-americana no Vietnam, o mero de norte-americanos espa-
uma reportagem para o San Francisco Chronicle, que ligou diretamente os dois movimentos lhados pelo mundo nos anos 1960
em 1965, sobre o bairro de Haight-Ashbury, fa- de forma antagônica. O sentimento antibélico e 1970. Tornavam-se viajantes,
moso reduto beat de São Francisco. Fallon obser- presente em parte da juventude estaduniden- hippies a vagar pelo mundo. [...]
vou estranhos moradores que se diferenciavam se se potencializou em manifestações contra KAMINSKI, Leon Frederico. A revolução
das mochilas: contracultura e viagens no
dos hipsters e beatniks típicos da região. Apesar a nova intervenção do país na Ásia. Uma das
Brasil ditatorial. Tese (Doutorado em História)
das semelhanças com seus antecessores, esses mais conhecidas foi a marcha sobre o Pentá- - Instituto de História, Universidade Federal
novos personagens eram otimistas, cultivavam gono, em 1967. [...] Fluminense, Niterói, 2018. p. 86.
177

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 177 26/08/2022 15:52


ENCAMINHAMENTO
1. Orientar os estudantes a
buscar pelas transforma-
ções políticas e econômicas
ocorridas no mundo desde
a década de 1990, princi-
ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

2. b) Manter a paz e a segurança internacionais; desenvolver relações amistosas entre as


nações; conseguir cooperação entre as nações para resolver problemas internacionais e
palmente na Rússia, para promover o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais; harmonizar a ação
que possam avaliar quais das nações para a consecução desses objetivos comuns.
são as possíveis aproxima-
ções e afastamentos entre I. Retomando
a Guerra Fria e o contexto 1. b) Os países líderes eram os Estados Unidos e a União Soviética. Os sistemas socioeconômicos rivais eram,
geopolítico atual. Caso haja respectivamente, o capitalismo e o comunismo.
necessidade, ponderar com 1 Sobre a Guerra Fria, responda: 1. a) A Guerra Fria foi um conflito permanente entre os Estados
Unidos e a União Soviética, no qual ambos os lados evitavam o confronto militar direto e
o alunado como o contex- a) O que foi?
defendiam seus interesses usando a propaganda, a espionagem e a intimidação.
to político da Guerra Fria, b) Que países lideraram e quais eram os sistemas socioeconômicos rivais?
de certa forma, é utilizado c) Pesquise e responda: a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, pode ser con-
retoricamente por grupos siderada o renascimento da Guerra Fria? 2. a) A Organização das Nações Unidas foi criada em
1. c) Resposta pessoal. 1945, após a Segunda Guerra Mundial, em um contexto
políticos e por alguns veícu-
los de mídia. Como forma de
2 Sobre a Organização das Nações Unidas: marcado por grande destruição humana e material resul-
tante das violências praticadas durante a guerra. E nasceu
a) Em que contexto foi criada?
trazer para o presente mais também da convicção de parte dos líderes mundiais de
elementos do contexto da b) Quais são seus principais objetivos? que a guerra não é solução para os problemas humanos.
Guerra Fria, questionar os c) Em dupla. Na avaliação de vocês, a ONU tem conseguido cumprir seu principal objetivo?
2. c) Resposta pessoal.
estudantes a respeito do pa-
pel da Otan no conflito en-
3 O texto a seguir foi escrito por um historiador especializado em Guerra Fria. Leia-o
com atenção.
tre Rússia e Ucrânia. Pensar e
A vitória na Segunda Guerra Mundial [...] não gerou qualquer sensação de segu-
discutir sobre as atuações da
rança nos vencedores. Em fins de 1950, nem os Estados Unidos, nem [...] tampouco a
ONU e da Otan pode contri-
União Soviética podiam considerar que as vidas e os recursos despendidos para derrotar
buir para que os estudantes
mobilizem as aprendizagens Alemanha e Japão os tinham tornado mais seguros: os membros da Grande Aliança eram
sobre a criação e o propósito agora adversários na Guerra Fria. Os interesses [...] eram incompatíveis; as ideologias
dessas organizações. se conservavam no mínimo tão polarizadoras quanto antes da guerra; temores de um
ataque de surpresa continuavam a inquietar os militares em Washington [...] e Moscou. [...]
2. c) Caso os estudantes en-
GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 44.
contrem dificuldade para
avaliar o papel da ONU, re- a) O que explica a sensação de insegurança mencionada no texto?
tomar algumas das ações b) Segundo o autor, os interesses de membros da Grande Aliança eram incompatíveis. Qual era
essa incompatibilidade? 3. a) As divergências entre os EUA e a URSS afloraram logo após o término
da organização, como con- da guerra e ganharam contornos definidos após o discurso no qual Winston
ferências sobre o clima, in- 4 Leia as afirmações a seguir e indique as corretas. Churchill referiu-se à “cortina de ferro” que
tervenções em conflitos, havia descido sobre a Europa.
I. “Cortina de ferro” é uma expressão usada para dizer que algo muito forte dividia e opunha
ajuda humanitária etc. No os europeus.
entanto, ressaltar que as II. A ordem bipolarizada estabeleceu-se com a divisão do mundo em dois blocos rivais, o capi-
informações servirão ape- talista e a república.
nas de subsídio para as ar- III. A Doutrina Truman defendia o combate sem tréguas ao capitalismo.
gumentações e não como IV. Capitalismo e comunismo são sistemas socioeconômicos rivais.
um indicador da opinião V. Estados Unidos e União Soviética eram os líderes dos blocos rivais na Guerra Fria.
correta. É possível que os 4. Alternativas I, IV e V. 3. b) Os EUA eram defensores intransigentes do capitalismo e de seu modelo
alunos respondam “em 178 de democracia; já a URSS defendia o socialismo e seu modelo de sociedade.
parte”, “sim” ou “não”. O
importante é avaliar a ca-
pacidade dos estudantes de
processo de ensino e aprendizagem, abrir espaço para que voluntá-
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 178 28/06/22 13:25 162
argumentar e de contestar
rios apontem as características e diferenças fundamentais dos dois
contra-argumentações
sistemas socioeconômicos.
3. Retomar as principais dis-
tinções entre capitalismo e 4. O item II está incorreto, pois a ordem bipolarizada estabeleceu-se
socialismo pode auxiliar os com a divisão do mundo em dois blocos rivais, o capitalista e o comu-
estudantes a compreende- nista. O item III está incorreto, pois a Doutrina Truman defendia o
rem o sentido das incom- combate sem tréguas ao comunismo. Nessa atividade, caso seja opor-
patibilidades referidas na tuno, é possível utilizar discussões anteriores sobre a Proclamação da
atividade. Para incentivar a República no Brasil, para evidenciar que não existe oposição entre o
participação do alunado no sistema capitalista e o regime político republicano.
178

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 178 26/08/2022 15:52


ENCAMINHAMENTO
6. c) Em pouco tempo, o Plano Marshall atingiu seus objetivos, permitindo a rápida recuperação econômica de
países como Inglaterra, Alemanha Ocidental e França. Além disso, estimulou as exportações estadunidenses para 5. Comentar que o macarthis-
a Europa, fortaleceu a liderança mundial dos Estados Unidos e diminuiu a força do comunismo na Europa. mo, fenômeno da persegui-
5 Leia o texto a seguir com atenção.6.micab) aos O Plano Marshall consistiu em um vasto programa de ajuda econô-
países da Europa mais atingidos pela Segunda Guerra Mundial.
ção e paranoia anticomu-
O maior representante dessa nista nos Estados Unidos,

KEYSTONE-FRANCE/GAMMA-KEYSTONE/GETTY IMAGES
cruzada [...] foi, sem dúvida, o atingiu também cientistas.
senador republicano de Wisconsin,
Como complemento para
as discussões sobre o ma-
Joseph McCarthy. Entre 1952 e
carthismo, propor uma dis-
1956, McCarthy liderou o fami-
cussão a partir da seguinte
gerado Comitê de Atividades
questão disparadora: como
Antiamericanas, em que obrigou
explicar a perseguição po-
centenas de americanos a deporem lítica promovida pelo ma-
sobre supostas atividades de espiona- carthismo nos EUA, uma
gem e subversão para os comunistas. nação em que a liberdade
Explorando o temor vermelho, de expressão é um valor tão
McCarthy [...] [submeteu] os “sus- Ator e diretor Charles Chaplin, sua esposa e seus quatro importante?
peitos” a insinuações ou acusações filhos chegando a Cherbourg. França (Paris), 1952. Chaplin foi
um dos perseguidos pelo macarthismo. 6. Para complementar as dis-
abertas, na maioria jamais compro-
cussões sobre o comunismo
vadas, cineastas, escritores, atores, diretores, músicos, jornalistas, advogados, membros na Europa, ressaltar que,
do próprio governo e das forças armadas foram intimados aos bancos do comitê. embora o Plano Marshall te-
Na “caça às bruxas”, de Joseph McCarthy não havia qualquer meio de defesa além nha sido fundamental para
da 5a Emenda, que protegia o cidadão americano contra abusos do poder do Estado, a reconstrução dos países
mas [...] [as] acusações eram praticamente da parte Ocidental do con-

ARCHIV GERSTENBERG/ULLSTEIN BILD/GETTY IMAGES


invariáveis; bastava qualquer suspeita tinente, as críticas e movi-
de ligação com a esquerda socialista. [...] mentos contra o capitalismo
Aqueles que se recusavam a depor tinham continuaram atuantes nesses
seus nomes publicados nas “listas negras” países. Em 1968 na França e
do Comitê, levando-os a uma cruel desmo- ao longo dos anos 1970 na
ralização [...]. Itália, movimentos grevistas
de cunho socialista ganharam
TOTA, Antonio Pedro. Os americanos.
São Paulo: Contexto, 2009. p. 191-192. relevância política na região.
5. b) Eram pessoas simpáticas às ideias comunistas e, contrárias
ao macarthismo. Entre elas estavam atores, atrizes, músicos, jor-
nalistas, profissionais liberais, cientistas, professores.
a) O que foi o macarthismo?
b) Quem eram as pessoas acusadas de comu-
nismo nos Estados Unidos?
c) Como funcionava a defesa dos cidadãos
acusados?

6 Observe a imagem com atenção.


a) A que plano esse cartaz de 1950 se refere?
b) O que foi esse plano? 6. a) Plano Marshall.
c) Qual foi seu resultado?
5. a) Foi um movimento de perseguição política aos comunistas ou supostos “comunistas” que viviam nos Estados Unidos. Essa
perseguição também era chamada de “caça às bruxas”. 6. c) Não havia outro meio de defesa além da 5a emenda, 179
que protegia o cidadão americano contra abusos de poder. Na prática, era quase impossível comprovar esse abuso.

13:25 TEXTO DE APOIO


162a180-HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 179
no Permanent Subcommittee
24/08/22 09:08
on Investigations para empreender
buscas àqueles que considerava suspeitos de “subversão”. [...]
Embora a indústria cinematográfica tenha sido fortemente Com a polarização entre comunistas e capitalistas, os EUA em-
impactada pelo ambiente de perseguições a comunistas que se preenderam uma série de incursões militares para evitar que o
intensificou nos EUA no imediato pós-Segunda Guerra Mundial, comunismo se expandisse no mundo. Em 1949, quando Mao Tse-
o objetivo principal da comissão presidida pelo senador Joseph -Tung proclamou a República Popular da China, o fato foi conside-
McCarthy era encontrar comunistas ou simpatizantes no contex- rado como uma derrota, a perda da China para o comunismo. As
to político, não no contexto das artes como no cinema. McCarthy disputas nos setores tecnológicos e de armamentos se acirraram
não inventou o anticomunismo, mas percebeu que, ao explorar assim como a corrida espacial.
o ambiente de medo e perseguição que se instalara nos EUA, ga- CARBONERA, Karla Nayra Fernandes Pereira Carbonera. O cinema estadunidense
no contexto da Guerra Fria: a influência do anticomunismo no surgimento da Nova
nharia notoriedade e capital político. Ele usou sua posição de li- Hollywood (1946-1967). Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Ciências
derança no Committee on Government Operations e seu cargo Humanas, Universidade de Brasília, 2020. p. 61, 63.
179

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 179 26/08/2022 15:52


TEXTO DE APOIO
A geopolítica das
Olimpíadas
7

GÜNTER BRATKE/PICTURE ALLIANCE/GETTY IMAGES


[...] como em qualquer evento Observe a fotografia a seguir.
de grande porte, as Olimpíadas
a) O que você vê na imagem?
refletem o contexto político,
econômico e cultural de sua b) Por que o Muro de Berlim foi
época. [...] “Cada edição olímpica construído?
carrega os traços daquilo que se c) Escreva um texto apresentando
passa naquele momento histó- três consequências que a cons-
rico. Isso reflete a relação entre trução do Muro de Berlim teve
esporte e política e põe por terra na vida das pessoas.
o argumento de que as duas coi- 7. a) Na imagem, é possível observar duas mulhe-
res e três homens em lados opostos do Muro de
sas não se misturam”, diz Katia
Berlim, conversando próximo a uma tela de ara-
Rubio, especialista em história me, ato estritamente proibido à época e passível
olímpica da Escola de Educação de punição na Alemanha Oriental.
Física e Esportes da USP. 7. b) Para impedir que os berlinenses do lado
[...] oriental fossem para o lado ocidental.
7. c) Resposta pessoal.
Moscou 1980/Los Angeles 8. a) Pode-se concluir que as Olimpíadas eram usa-
1984: Guerra Fria das tanto pelos Estados Unidos quanto pela União
Soviética para provar que seu sistema socioeconô-
Durante o período da Guerra mico era o melhor.
Fria, a disputa política, econô- Muro de Berlim. Alemanha, 1961.
mica e bélica entre Estados Uni-
dos e União Soviética também
teve reflexo nos esportes. Da es- 8 A Guerra Fria também influenciou o esporte. Observe a tabela a seguir com atenção
treia soviética em Helsinque, em e responda às questões.
1952, a Seul, em 1988, as duas
superpotências disputaram a Quantidade de medalhas em Olímpiadas, EUA e URSS (1960-1988)
supremacia nos jogos, usando
Cidade Ano Estados Unidos União Soviética
o esporte como ferramenta de
propaganda de seus respectivos Roma 1960 71 103
regimes. O próprio quadro de
Tóquio 1964 90 96
medalhas, por exemplo, foi uma
criação dos jornalistas estaduni- Cidade do México 1968 107 91
denses para contabilizar a supe- Munique 1972 94 99
rioridade dos Estados Unidos.
Montreal 1976 94 125
Além disso, as duas primeiras
edições olímpicas da década de Moscou 1980 - 195
1980 sofreram boicotes lidera-
Los Angeles 1984 174 -
dos pelos dois países. Nos jogos
de Moscou, em 1980, 65 ausên- Seul 1988 94 132
cias foram provocadas por um Elaborado com base em: ROMA, 1960. UOL, São Paulo, jan. 2016.
boicote liderado pelos Estados Disponível em: http://olimpiadas.uol.com.br/historia-das-olimpiadas/roma-1960/.
Acesso em: 22 mar. 2022.
Unidos devido à invasão soviéti-
ca no Afeganistão, em 1979. Na
edição seguinte, em Los Angeles, a) O que se pode concluir lendo a tabela?
a União Soviética revidou, po- b) Por que será que os Estados Unidos não ganharam nenhuma medalha em 1980, o mesmo
rém sem o mesmo efeito, uma acontecendo com a União Soviética quatro anos depois? 8. b) Resposta pessoal.
vez que à época o bloco socialis- c) Que relação se pode estabelecer entre esporte e política nos tempos da Guerra Fria?
ta e seus aliados já estavam se 8. c) No contexto da Guerra Fria, ficou evidente o uso político do esporte pelas superpotências, fosse para
enfraquecendo 180 evidenciar que um sistema socioeconômico era superior ao outro, fosse para provocar o adversário, como
ocorreu em Moscou (1980) e em Los Angeles (1984).
RIVIERA, Carolina. A geopolítica das
Olimpíadas. Exame. São Paulo, 6 ago.
2016. Disponível em: https://exame.com/
mundo/a-geopolitica-das-olimpiadas.
ENCAMINHAMENTO
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-LA-G24.indd 180 para a compreensão de um contexto distan- 20/08/22 14:32
Acesso em: 27 jun. 2022.
te de suas realidades e pode ajudar no exer-
7. As discussões sobre o Muro de Berlim
cício da empatia, presente na competência
permitem ampliar os aspectos políticos e
geral 9.
ideológicos ao propor reflexões que envol- 8. b) Chamar a atenção para a politiza-
vam as relações e as vidas das pessoas envol- ção do esporte durante a Guerra Fria. Es-
vidas. Estimular que imaginem como suas vi- pera-se que os alunos apontem o boicote
das seriam afetadas ao serem afastados arbi- feito pelos estadunidenses em Moscou, em
traria e repentinamente de seus familiares e 1980, e o troco dado pelos soviéticos em
amigos. Este exercício imaginativo colabora 1984, em Los Angeles.

180

162a180_HIS-F2-2111-V9-U3-C08-MP 180 26/08/2022 15:52


OBJETIVOS
• Aplicar o bloco conceitual
CAPÍTULO dominação/resistência à his-

9
tória da China no início do
REVOLUÇÕES SOCIALISTAS: século XX.
• Analisar o processo histórico
CHINA E CUBA que conduziu à Revolução
Chinesa.

HUNG CHUNG CHIH/SHUTTERSTOCK.COM


• Compreender a Revolução
Cultural Chinesa e identifi-
car suas práticas e desdobra-
A China tem uma longa história e uma cultura rica e mentos.
variada. Por ter exercido grande influência sobre os vizinhos • Refletir sobre a experiência
com sua escrita, suas técnicas, suas filosofias e suas artes, socialista em Cuba no passa-
é considerada pelos historiadores como a matriz cultural do do e no presente.
Extremo Oriente.
No século XIX, a China foi obrigada pela Grã-Bretanha Esses objetivos direcio-
a abrir cinco de seus portos aos mercadores britânicos. Dois nam as aprendizagens, per-
anos depois, Estados Unidos, França e Japão conseguiram Guerreiros chineses de mitindo que o aluno possa
terracota. Xian (China), 2014.
os mesmos privilégios. Observe o mapa. analisar tensões políticas
No início do século e ideológicas ocorridas no
China: portos abertos pelo Tratado de Nanquim (1842) contexto da Guerra Fria, de-
XX, o Império chinês
senvolvendo, dessa forma, a

ALLMAPS
110° L
era governado pela
habilidade e as competên-
dinastia Qing (1644-
JI
A cias especificadas.
1912), mas o seu Rio ng He
re )
Gran
Hua
de C N G S
- (Ama lo
anal U
território era dividido HENAN

em áreas de influência RoH

HUBEI
i an
Ri
u i
Yangzhou
oH
Nanquim a BNCC
ANHUI l)
A zu
Xangai
de potências como a é( ts
Azul)
Wuhan a
gt
é(
Hangzhou Y
n
s
Ilha Zhoushan • Competências gerais: 1, 2, 3,
io
ng

R
Inglaterra, a França, a Z H E J I A N G Ningbo
4, 7, 9 e 10.
Ya

R
io

Alemanha, o Japão e Chongqing


Changsha
JIANGXI
• Competências específicas: 1,
Mar da
os Estados Unidos. China 2, 3, 4, 5, 6 e 7.
G U I Z H O U
HUNAN Fuzhou Oriental
FUJIAN 0 230 • Habilidade: EF09HI28.
Xiamen
(Amoy)
Os portos chineses abertos Trópico de Câncer
Capital
aos ocidentais foram: GUANGDONG
Taiwan
Cantão Cidade
Xangai, Ningbo, Fuzhou,
Xiamen e Cantão.
Hong Kong
Macau Portos Dica de leitura
Fonte: SPENCE, Jonathan D. Em busca da China moderna: quatro séculos de
história. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 170.
Obra que analisa os funda-
mentos políticos e econômi-
cos do crescimento da China.
1. Como será que os chineses reagiram à dominação estrangeira?
• LYRIO,Mauricio Carvalho. A
2. Como se deu o processo que levou a China a se tornar um país socialista?
ascensão da China como po-
3. E, hoje, qual é o regime político adotado na China? Ele é bem-aceito pela maioria da população chinesa?
tência: fundamentos. Brasí-
4. O que mais você sabe sobre a China atual? lia, DF: Fundação Alexandre
Respostas pessoais.
de Gusmão, 2010.
181
Imagens em movimento
Vídeo sobre a história da
ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd 181 • Colher os conhecimentos prévios dos alunos so-
28/06/22 13:25 China Antiga.
bre a China e sua longa história, tendo em conta • HISTÓRIA: a antiga civilização
• Explorar o mapa intitulado China: por- que a presença dessa potência asiática nos noti-
chinesa. 2020. Vídeo.
tos abertos pelo Tratado de Nanquim ciários brasileiros é recorrente.
(10min19s) Publicado pelo
(1842) para melhor compreender as re- • Levar em conta o fato de a China ser o maior canal Brio Educação. Disponível
lações desiguais de poder entre a Grã- parceiro comercial do Brasil. em: https://www.youtube.com/
-Bretanha e a China Imperial. Professor, as respostas para as questões da pági- watch?v=1lLonuvIvw8. Acesso
• Discutir a divisão do território chinês na são pessoais. Elas visam trazer à tona os conhe- em: 29 jun. 2022.
entre as áreas de influência das gran- cimentos prévios dos alunos e estimular o interesse
des potências da época. pelos temas tratados no capítulo.
181

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP 181 26/08/2022 16:29


ENCAMINHAMENTO
• Evidenciar que a dominação
estrangeira na China se valia
do apoio que tinha do impe-
rador e da elite chinesa.
Dominação e resistência
• Explicitar a situação de pe-
Notável: funcionário As potências estrangeiras exerciam sua dominação com o
núria em que viviam os cam- público graduado. apoio do imperador da China, que se deixava corromper por elas,
poneses, grupo humano que Mandarim: indivíduo
e da elite chinesa, liderada por notáveis e mandarins
mandarins.. A maioria
constituía a maioria da po- letrado e admitido ao
serviço público por meio da população era formada de camponeses que viviam sobrecarre-
pulação chinesa.
de concurso. gados de impostos e que sustentavam com seu trabalho a Corte
• Identificar a tentativa dos
imperial, as elites e os estrangeiros. Essa situação gerava grande
ocidentais de imporem suas
insatisfação popular. Além disso, estadunidenses e alemães ten-
religiões aos chineses.
tavam impor suas religiões aos chineses, desrespeitando as religiões
• Contextualizar e descrever a
e os cultos tradicionais, o que aumentava ainda mais a insatisfação
Revolta dos Boxers que se co-
popular. Nesse contexto, os camponeses promoveram uma grande
locava essencialmente con-
tra a dominação estrangeira rebelião em 1898, a Revolta dos Boxers.. Os ocidentais chamaram
na China. os rebeldes de boxers (“os que lutam com os punhos”), daí o nome
da revolta. O slogan dos rebeldes era “reviver Qing e destruir o
Professor, durante muito tem-
po a história ensinada nos livros
GRANGER/FOTOARENA estrangeiro”, pois eles acreditavam
didáticos enfatizou a domina- que chineses cristãos tinham iludido
ção; de algumas décadas para cá, o imperador, colocando-o contra o
passou a focar também na resis- povo e as religiões da China.
tência. Na esteira desse esforço, A Revolta dos Boxers chegou
insere-se a Revolta dos Boxers, a Pequim, capital do Império, e
trabalhada neste capítulo. muitos estrangeiros que ali residiam
foram mortos pelos rebeldes. Dali
o movimento rebelde se espalhou
Dica de leitura
rapidamente e recebeu o apoio da
Em sua obra, Jonathan Spence família imperial. Mas as potências
se debruçou sobre a rica e mi-
imperialistas uniram forças e revi-
lenar civilização chinesa, com a
daram, invadindo a China em nome
lupa de um historiador compe-
da “civilização” e, depois de massa-
tente. E optou por um recorte
temporal que fornece elementos crar milhares de chineses, impuseram
para a compreensão dos dilemas ao país um tratado humilhante, que
vividos pelo Dragão Chinês hoje. reforçava a subordinação chinesa ao
Ciente da importância dos mo- Ocidente.
mentos de ruptura, como 1911 e
1949, o autor ofereceu explica-
ções plausíveis sobre esses epi-
sódios. A leitura atenta da obra
Boxers levando estrangeiros
desse especialista na história do
capturados para julgamento.
Extremo Oriente pode ajudar Cartaz chinês, 1900.
a compreender esse país, tão
diferente e distante do nosso, 182
mas com o qual temos tido, nas
últimas décadas, trocas culturais
e comerciais intensas. valores ocidentais, foi a Rebelião dos Boxers [...], O movimento foi reprimido por um exército
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd 182 28/06/22 13:25 AV_

• SPENCE, Jonathan D. Em bus- um movimento que atingiu o nordeste, na região multinacional formado por potências imperialis-
ca da China moderna: quatro que representa o centro administrativo do país, tas. O saldo político do confronto foi a concessão
com forte significado popular e nacionalista. Os de novos privilégios aos países imperialistas, en-
séculos de história. São Paulo:
rebeldes eram formados pela tradição camponesa quanto a sustentabilidade da autoridade imperial
Companhia das Letras, 1996. ficava precária, na medida em que a imagem do
e praticantes da luta marcial Kung-fu, defendiam
o Estado imperial e tinham como slogan slogan:: “Apoio à poder do Estado era a corrupção, o desapego às
dinastia Qing, destruição do estrangeiro”. O mo- tradições chinesas, a impotência e o entreguismo.
TEXTO DE APOIO BARBIERI JUNIOR, Walter. Uma análise do processo de
vimento teve o apoio da imperatriz regente Cixi,
constituição do Estado nacional como eixo da ascensão
A primeira revolta popular com que se dispôs a cooperar com os rebeldes como
chinesa no capitalismo internacional. Tese (Doutorado em
forte conotação nacionalista, que estratégia para se livrar das potências estran- Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
carregava anseios de repúdio aos geiras. [...] São Paulo, 2015. p. 36.
182

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP 182 26/08/2022 16:29


ENCAMINHAMENTO
• Contextualizar a fundação
do Partido Nacional do Povo,
O fim do Império e a proclamação da República na China sob a liderança de Sun Yat-Sen
e sua proposta de derrubar o
Disposto a combater a dominação estrangeira e a corrupção na Corte chinesa, em
Império e fundar a República.
1900 um grupo de nacionalistas e republicanos liderados pelo médico Sun Yat-Sen fundou
• Compreender que o advento
o Partido Nacional do Povo,, o Kuomintang. Os nacionalistas estimulavam a criação de
da República não alterou as
sociedades secretas, a publicação de textos críticos ao Império e atos de rebeldia, como o
relações de poder no cam-
uso de roupas ocidentais e o corte da trança (sinal de reverência ao imperador). Em 1911, po, tampouco a situação dos
esse partido conseguiu derrubar o Império chinês e proclamar a República. camponeses.
Em um ambiente de grande desigualdade e insatisfação social, o marxismo entrou na • Recuperar o contexto no qual
China e se propagou por intermédio de intelectuais como Li Dazhao, professor da Universidade o marxismo entrou e se pro-
de Pequim e tradutor das obras de Karl Marx e Friedrich Engels. Os chineses convertidos ao pagou na China, e sua discor-
marxismo passaram a defender a destruição da antiga cultura, baseada na hierarquia, na dância em relação à obediên-
obediência e na submissão da mulher. Em 1921, fundaram o Partido Comunista Chinês cia e à submissão da mulher
(PCCh), que tinha como principal líder Mao Tsé-Tung. presentes na cultura chinesa.

APIC/GETTY IMAGES
Nascido no interior de uma família camponesa, Mao for- • Conhecer a trajetória do lí-
mulou uma tese original. Discordando de Marx, afirmou que der Mao Tsé-Tung e sua tese
seriam os camponeses, e não os operários, a principal força no segundo a qual o campesina-
processo que levaria à revolução socialista na China. to, e não o operariado, seria
Com a morte do presidente Sun Yat-Sen, em 1925, abriu-se a principal força da Revolu-
uma luta pelo poder, vencida pelo general Chiang Kai-Shek, ção Socialista na China.
que rompeu com o Partido Comunista Chinês e colocou-o na • Identificar as discordâncias
ilegalidade. Com isso, teve início uma prolongada guerra entre os entre os nacionalistas, lidera-
chineses de 1927 a 1949: de um lado, estavam os nacionalistas,, dos por Chiang Kai-Shek, e os
liderados por Chiang Kai-Shek, e de outro, os comunistas,, Mao Tsé-Tung, presidente comunistas, encabeçados por
encabeçados por Mao Tsé-Tung. Um dos episódios marcantes
do Partido Comunista Mao Tsé-Tung.
Chinês, no campo.
dessa guerra foi a “Longa Marcha”. China, c. 1958. • Trabalhar a união entre na-
cionalistas e marxistas chine-
ses diante da ofensiva japo-
A República Popular da China nesa na China.
Professor, para que os alu-
Em 1937, enquanto os chineses guerreavam entre si, o Japão lançou um violento nos compreendam a tese do
ataque à China, saqueando e humilhando a população chinesa. Partido Comunista Chinês, co-
Os nacionalistas e os comunistas chineses decidiram, então, interromper a guerra mentar que, de acordo com as
entre eles e lutar contra os japoneses. Porém, após serem derrotados na Segunda Guerra, análises de Marx, o avanço do
em 1945, os japoneses deixaram a China; foi o que bastou para que os comunistas e capitalismo levaria a uma cres-
cente oposição entre capitalis-
os nacionalistas chineses recomeçassem a guerra entre eles. Liderando a resistência aos
tas e trabalhadores. Para ele,
japoneses, Mao conquistou um grande número de seguidores. E, por meio da guerra de
o crescimento do sistema capi-
guerrilha, o Exército Popular de Libertação (EPL), liderado por Mao, venceu os nacio-
talista estava associado à aboli-
nalistas. Em 1949, Mao proclamou em Pequim a República Popular da China,, governo ção progressiva das relações de
marxista presidido por ele. produção ditas pré-capitalistas.
Assim, a industrialização sub-
183 meteria cada vez mais pessoas a
relações capitalistas e levaria a
um aumento da desigualdade
13:25 Imagens em movimento
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd 183 30/06/22 16:47 entre a burguesia e o proleta-
Os professores José Augusto Guilhon Albuquerque e Shu Changsheng fazem um balanço riado urbano. Com a formação
dos efeitos da Revolução de 1949. dessas classes, estariam dadas
as condições para a revolução.
• DIÁLOGOS USP – 70 anos da Revolução Chinesa (Bloco 1). 2019. Vídeo (31min51s). Publicado
Assim, de acordo com Marx, o
pelo Canal USP. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CFhK0v6PgTI. Acesso em: campesinato, diferentemente
29 jun. 2022. da classe trabalhadora urbana
• DIÁLOGOS USP – 70 anos da Revolução Chinesa (Bloco 2). 2019. Vídeo (28min46s). Publi- e industrial, não seria uma clas-
cado pelo Canal USP. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oaBAY2RcZOM. se revolucionária.
Acesso em: 29 jun. 2022.

183

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP 183 26/08/2022 16:29


ENCAMINHAMENTO
• Pensar sobre as medidas
adotadas por Mao Tsé-Tung
no início de seu governo e O governo de Mao Tsé-Tung

NICK LEDGER/ALAMY/
FOTOARENA
seus impactos para a econo-
Nos primeiros anos de seu governo, Mao
mia chinesa.
Tsé-Tung adotou um conjunto de medidas:
• Explicar as crescentes ten-
a) estatizou as grandes empresas; b) expropriou
sões entre China e URSS nos
e distribuiu terras aos camponeses; c) imple-

GRANGER/FOTOARENA
anos de 1960 e identificar
mentou a industrialização com a ajuda da
sua principal razão: a dispu-
ta pela supremacia no cam- União Soviética; d) concedeu às mulheres direi-
po socialista. tos iguais aos dos homens. Com os incentivos
• Evidenciar as divergências
governamentais, a economia chinesa passou a
entre o marxismo-leninismo, apresentar altas taxas de crescimento.
defendido pela União Sovié-
tica, e a tese da revolução Multidão dá as boas-vindas às tropas comandadas por
Mao Tsé-Tung e comemora a vitória da revolução liderada
contínua, defendida pelo por ele. A capital da República passou a ser Pequim;
maoismo. sua bandeira (no detalhe) é vermelha, cor que simboliza
• Descrever as ações e retalia- o comunismo. A estrela grande representa o Partido
Comunista Chinês e as quatro menores, o povo chinês.
ções da parte da URSS e da A disposição das cinco estrelas simboliza a união do povo
RPC nos anos de 1960. com o PCCh. Pequim (China), janeiro de 1949.
• Retomar e consolidar o con-
ceito de coexistência pacífica.
• Compreender as razões do
Tensões entre China e União Soviética
rompimento de relações Nos anos 1960, ocorreram tensões entre a China e a URSS, com acusações e críticas
diplomáticas entre China e de lado a lado. O principal ponto de tensão entre esses dois países gigantes foi a disputa
URSS de modo a contribuir pela supremacia no campo socialista. Eles divergiam quanto ao modelo de socialismo a
para o desenvolvimento da ser seguido. A União Soviética vivia sob o marxismo-leninismo e era esse modelo que ela
habilidade EF09HI28 e incor- queria impor ao mundo socialista. Já Mao Tsé-Tung defendia, à época, a teoria da “revo-
porar o objeto de conheci- lução contínua”. Para ele, as revoluções socialistas ao redor do mundo não se fariam mais
mento que propõe estudar a segundo o modelo soviético, mas com a força do campesinato e sob a liderança chinesa.
“Revolução Chinesa e as ten- Nesse contexto, em 1960, o líder da União Soviética, Nikita
ALAMY/FOTOARENA

sões entre China e Rússia”. Kruschev, ordenou o retorno a Moscou de todos os técnicos russos
Professor, há analistas que enviados à China e o abandono dos projetos em andamento.
apontam a crise dos mísseis em No ano seguinte, Mao revidou, fornecendo equipamentos para
Cuba como mais um fator de fábricas, usinas e metalúrgicas da Albânia e emprestando 112,5
tensão entre URSS e China. O milhões de rublos para aquele país socialista, que vivia na órbita
Partido Comunista Chinês pas-
soviética, o que foi visto por Kruschev como uma provocação.
sou a propagandear que a re-
tirada dos mísseis soviéticos de
Cuba foi em razão do medo da Charge ironiza as tensões entre URSS e China, 1963. Cada
URSS de um ataque imperialis- um dos personagens, Kruschev (esquerda) e Mao (direita)
ta (leia-se estadunidense). seguram um cachorro. O cachorro de Kruschev traz os dizeres
“coexistência” enquanto o de Mao traz “guerra inevitável”.

184

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd 184 nucleares e não se submeter ao comando soviético, tendo obtido 28/06/22 13:25 D3_

sua arma atômica em 1964.


A aliança entre a RPC e a URSS caminhou relativamente bem [...] Henry Kissinger, secretário de Estado dos Estados Unidos,
até o início da década de 1960, período no qual, além de fomentar vai à RPC como representante de Nixon, aproximando os dois paí-
a indústria de base e a bélica na RPC, os soviéticos colaboraram ses e buscando uma aliança estratégica contra a URSS na geo-
para a consolidação de um regime nos moldes do socialismo real política global. Um velho ditado chinês diz: “O inimigo do meu
na URSS na Europa Oriental. Entretanto, na RPC, com a maioria inimigo é meu amigo”, mesmo que esse antigo inimigo fosse o
da população ainda vivendo no campo, o modelo revolucionário tigre de papel capitalista, ou seja, surpreendentemente, os Esta-
do Partido Comunista Chinês, o PCC, sempre foi muito peculiar. dos Unidos.
[...] Essas tensões foram aumentando, até que em 1961, ocorreu
LOBO, Carlos Eduardo Riberi. A República Popular da China
o rompimento no bloco comunista, já que a RPC, em busca da e a geopolítica da Ásia no início do século XXI. ComCiência,
bomba atômica, queria ter o controle completo das suas armas Campinas, n. 137, abr. 2012.
184

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP 184 26/08/2022 16:29


ENCAMINHAMENTO
• Explicitar o contexto no qual
Mao Tsé-Tung propôs a Re-
Outro ponto de tensão, ainda, foi a recusa de Mao em aceitar a Coexistência pacífica:
volução Cultural.
política de compromisso
política de coexistência pacífica acordada entre a União Soviética • Detalhar a proposta da Revo-
entre URSS e EUA
e os Estados Unidos; Mao via a coexistência com o capitalismo visando assegurar a paz lução Cultural para os chine-
como um desvio da doutrina marxista. Kruschev, por sua vez, criti- mundial.
ses: o repúdio à arte ocidental
cava a política do Grande Salto implementada por Mao. e a defesa de uma arte realis-
Esse aumento crescente das tensões entre China e URSS levou ao rompimento de ta e politicamente engajada.
relações entre os dois países em 1962. A URSS concorria agora não apenas com os EUA,
• Refletir sobre o papel do Li-
mas também com a China, cujo modelo de socialismo era uma alternativa para outros
vro Vermelho e da Guarda
povos. Com o rompimento, a URSS, com quem a China tinha enorme fronteira, deixava Vermelha na “reeducação”
de ser aliada e passava a ser rival. do povo, com o intuito de eli-
minar a resistência e aumen-
A Revolução Cultural chinesa tar a popularidade de Mao.
O fracasso da política do Grande Salto, a desorganização da economia e os privilégios • Compreender que, além do
dados aos altos funcionários do PCCh geravam grande insatisfação social. Os estudantes, uso da propagada massiva e
por sua vez, engrossavam a oposição popular exigindo a renovação dos métodos de ensino do convencimento, o governo
nas universidades e o combate aos “quatro velhos”: velhos hábitos, velha cultura, velhas chinês fez uso da violência con-
ideias e velhos costumes. tra seus opositores, acusando-
Nesse contexto, Mao canalizou a insatisfação popular propondo, em 1966, a Revolução -os de trair a Revolução e casti-
Cultural,, movimento que defendia o igualitarismo e a busca de um caminho próprio para gando-os publicamente.
o comunismo chinês. Tudo aquilo que provinha do Ocidente – o jazz jazz,, o rock
rock,, a pintura • Concluir, que ao final da Re-
abstrata, por exemplo – foi condenado. O governo incentivou a produção de uma arte volução Cultural, Mao Tsé-
realista que valorizasse o povo. Estudantes e operários foram convocados a divulgar os -Tung saiu fortalecido no in-
pensamentos de Mao, contidos em um pequeno livro: O Livro Vermelho.. As universidades terior da estrutura do Parti-
foram fechadas, e milhões de estudantes foram trabalhar na agricultura. Parte deles cons- do Comunista Chinês (PCCh).
tituiu uma organização militar, a Guarda Vermelha.. Os guardas vermelhos espalharam-se
por todo o território, a fim de “reeducar” o povo, isto é, eliminar toda oposição a Mao.
Durante a Revolução Cultural, o governo de Mao não apenas fez uso da propaganda e do
convencimento mas também violentou pessoas comuns, intelectuais e políticos, além de prender
e castigar publicamente seus adversários, acusando-os de “traição aos ideais da Revolução”.
Assim, Mao conseguiu enfraquecer seus adversários
dentro do PCCh e fortalecer seu poder. Porém, ao estimular
estudantes e operários a se rebelarem, perdeu o controle
do pro cesso e decidiu recuar: ordenou que o Exército
Popular de Libertação desarmasse a Guarda Vermelha e
que os estudantes voltassem às escolas e universidades.
A partir de 1969, a disciplina e a hierarquia foram resta-
belecidas. Ao fim desse processo, Mao tinha conseguido
vencer seus adversários dentro do Partido Comunista.

Chineses de diferentes gerações erguem O Livro


Vermelho durante a Revolução Cultural (1966-1969).
ALAMY/FOTOARENA

185

13:25 Dica de áudio


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd 185 fev. 2021. Podcast. Disponível em:28/06/22
https://
13:25

anchor.fm/historia-fm/episodes/049-Revoluo-
Podcast com o professor de História da
Chinesa-do-nacionalismo-Revoluo-Cultural-
Ásia na UFPB, Fernando Pureza.
eq01ep. Acesso em: 29 jun. 2022.
• REVOLUÇÃO Chinesa: do nacionalismo à
Revolução Cultural. [S. l.]: História FM, 8

185

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP.indd 185 31/08/22 10:13


ENCAMINHAMENTO
• Mapear os conhecimentos
prévios dos estudantes sobre
Cuba e sua história. A Revolução Cubana
• Evidenciar a concentração
de riqueza da ilha em mãos Cuba, a maior ilha do Caribe, na América Central, está situada a apenas 170 quilô-
de poucos cubanos e estadu- metros do litoral dos Estados Unidos. Observe o mapa.
nidenses. Na primeira metade do século XX, Cuba sobrevivia principalmente da produção do
• Identificar a corrupção e açúcar que vendia para os Estados Unidos e do turismo. Grande parte da riqueza da ilha
a violência dos ditadores concentrava-se nas mãos de poucas famílias locais e de empresários estadunidenses.
cubanos na primeira metade Enquanto isso, a maioria
do século XX. Cuba da população alimentava-se
• Explicitar a vida de penúria

RENATO BASSANI
ESTADOS
UNIDOS mal, morava em cortiços ou
da maioria da população em cabanas de palha, sem
cubana sob a ditadura de Golfo do
México assistência médica, sem saber
Fulgêncio Batista. Miami
OCEANO ler e escrever e sobrevivia de
• Descrever a luta de Fidel Cas- ATLÂNTICO
Trópico de Câncer 170 km empregos temporários.
tro e seus companheiros nas Havana

matas de Sierra Maestra e o CUBA

Santiago
crescente apoio popular ob- MÉXICO de Cuba Guantánamo
REPÚBLICA Porto
tido por eles para explicar a HAITI DOMINICANA Rico
(EUA)
JAMAICA
vitória da Revolução Cuba- BELIZE

na, em 1959. GUATEMALA Mar do Caribe


HONDURAS Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO
0 255
DE ESTATÍSTICA E GEOGRAFIA.
EL SALVADOR
80° O 70° O Atlas geográfico escolar. 5. ed.
NICARÁGUA
Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 39.
TEXTO DE APOIO
A oposição ao governo
Batista A oposição à ditadura de Batista
[...] Na década de 1950, Batista Na primeira metade do século XX, Cuba foi governada, durante a maior parte do
será o principal fator detonante
tempo, por ditadores corruptos e violentos. Um deles, Fulgêncio Batista, desfechou um
de um movimento oposicionista
cujos desdobramentos inaugu- golpe de Estado, em 1952, e governou com o apoio de empresários que exploravam os
rarão uma nova fase da história cassinos e a prostituição, lucrando com o jogo e a comercialização do sexo.
política latino-americana. Opondo-se a essa situação, em 1953, o advogado cubano Fidel Castro e um grupo
A frustração das expectati- de 120 pessoas tentaram tomar o quartel de Moncada, na cidade de Santiago de Cuba,
vas dos setores que apostavam
com o objetivo de obter armas para derrubar a ditadura de Batista. Fidel Castro foi preso
na vitória eleitoral de junho de
1952 deu lugar rapidamente à e, dois anos depois, conseguiu fugir para o México.
organização de movimentos de Tempos depois, Fidel Castro desembarcou em Cuba com 82 homens, mas, em um
resistência, que passam a colo- confronto com as forças de Batista, perdeu a maioria deles; os 12 sobreviventes se embre-
car a luta armada como princi- nharam nas matas da Sierra Maestra,, a cadeia de montanhas mais alta de Cuba, e de
pal método de ação política. [...]
lá iniciaram uma guerra de guerrilhas contra o governo. Nesse grupo estava o médico
os atores de vanguarda virão da
universidade, que faz as primei- argentino Ernesto Che Guevara, que influenciou muitos jovens de sua geração em toda
ras manifestações contra o gol- a América Latina.
pe e se torna a fonte principal
de organizações clandestinas 186
[...] até os militantes do Partido
Ortodoxo, em que começa a des-
tacar-se a figura do jovem advo-
doD3_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd
estudantil num congresso em Bogotá, no momento em que se desenca-
EDITORA UNESP

gado Fidel Castro. 186 28/06/22 13:25 D3_


deia o chamado “bogotazo”, violenta reação popular contra o assassinato
Fidel nasceu em 13 de agos-
do líder do partido Liberal, Jorge Eliecer Gaitán. Em 1950, obtém o título de
to de 1923, em Birán, [...] e seu
advogado e, em 1952, assume uma das candidaturas a deputado pelo Parti-
pai era um rico fazendeiro. [...]
do Ortodoxo. A frustração e o desconserto provocados pelo golpe de Estado
em 1945 ingressa na faculdade
dão lugar à forte convicção de que o retorno da normalidade democrática
de Direito da Universidade de
passa necessariamente pela derrubada do regime de Batista.
Havana. Dois anos depois, en-
volve-se num movimento para AYERBE, Luis Fernando. A Revolução Cubana. São Paulo: Editora Unesp, 2004. p. 28-29.
derrubar o ditador Trujillo, da
República Dominicana, fato que
não chega a concretizar-se. [...]
Em 1948, participa como delega-
186

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP 186 26/08/2022 16:29


ENCAMINHAMENTO
• Compreender as medidas
adotadas por Fidel Castro,
Fidel chega ao poder assim que tomou o poder em
Cuba. Tais medidas conten-
Durante os dois anos de luta contra a ditadura de Batista, os “barbudos”, como os
taram a muitos cubanos, mas
rebeldes eram chamados, foram ganhando apoio popular e, em 1o de janeiro de 1959,
desagradaram aos Estados
Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos entraram em Havana, a capital do país, Unidos.
e conquistaram o poder. Fidel Castro afirmou que a revolução era nacionalista e tomou
• Descrever as tensões cres-
algumas medidas populares, tais como:
centes entre Cuba e Estados
• reforma agrária, com distribuição de terras para 200 mil famílias; Unidos, a partir de 1961,
• redução de 50% nos aluguéis residenciais, no preço dos medicamentos e nas tarifas quando Castro declarou que
telefônicas e de eletricidade; sua revolução era socialista.
• Contextualizar o rompimen-
• nacionalização de bancos e empresas consideradas estratégicas (refinarias de petróleo,
to de relações diplomáti-
companhias de eletricidade etc.), muitas delas estadunidenses.
cas dos Estados Unidos com
Essas medidas do líder cubano desagradaram aos Estados Unidos. Em 1961, a tensão Cuba, relacionando-o à lógi-
entre os dois países aumentou porque Castro declarou que sua revolução era socialista.. ca da Guerra Fria.
Os EUA, obedecendo à lógica da Guerra Fria, romperam as relações diplomáticas com Cuba • Discutir os efeitos do blo-
e promoveram uma invasão à ilha por exilados cubanos treinados pela Agência Central de queio imposto a Cuba pelos
Inteligência (CIA), mas as milícias populares cubanas resistiram e venceram os invasores. Estados Unidos, que, com
Em 1962, os Estados Unidos radica- pequenos ajustes, se estende
UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES

lizaram sua posição e impuseram um até o presente.


bloqueio econômico a Cuba. • Estimular o debate sobre as
várias faces do episódio co-
Agência Central de nhecido como crise dos mís-
Inteligência: serviço de
inteligência dos Estados
seis, um dos momentos mais
Unidos. “quentes” da Guerra Fria.
• Mostrar por meio de um
mapa a proximidade geo-
Fidel Castro, Osvaldo Dorticós e Che
Guevara (da esquerda para a direita).
gráfica entre Cuba e Estados
Havana (Cuba), 1960. Unidos para ajudar os estu-
dantes a dimensionarem o
significado da revolução cas-
A crise dos mísseis trista na geopolítica daquela
época.
Conforme as relações entre os Estados Unidos e Cuba pioravam, Fidel Castro fortalecia
sua aliança com a União Soviética, chegando a permitir que os soviéticos construíssem
uma base de lançamento de mísseis nucleares em território cubano.
O governo estadunidense reagiu impondo um bloqueio militar a Cuba e ameaçando
a União Soviética com armas nucleares. Ao fim de várias negociações, a União Soviética
concordou em retirar seus mísseis do território cubano, em troca da promessa de os Estados
Unidos respeitarem a soberania de Cuba. O episódio ficou conhecido como crise dos mísseis
(setembro a outubro de 1962) e foi um dos momentos mais tensos da Guerra Fria.

187

13:25 D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd 187 TEXTO DE APOIO do Pacto de Varsóvia,28/06/22


indicando
13:25 visível propósito de intimidar a
América Latina, colocando, pela primeira vez, todo o Caribe e norte
Mensagem de Roberto de Oliveira Campos, embaixador da América do Sul, atingindo Lima, Nordeste do Brasil, Colômbia e
brasileiro nos Estados Unidos Venezuela sob mira nuclear. Além disso, a pressão política interna
impediria Kennedy de qualquer atitude acomodatória [...] A situa-
Cabe-me informar, após a reunião no Departamento de Estado,
ção é perigosíssima, admitindo o Departamento de Estado a hipó-
que [Dean] Rusk assim justifica o rigor da reação americana à insta-
tese de guerra nuclear, conquanto espera que prevaleçam uma ou
lação de teleguiados de alcance médio e intermédio, detectada por
mais das seguintes hipóteses: A) recuo russo, determinando a volta
fotografia aérea, apenas em 14 [de outubro] último: 1) Cuba e URSS
dos navios; B) interceptação americana sem revide nuclear russo; C)
foram advertidas pelos Estados Unidos de que não tolerariam insta-
aumento da pressão russa nas outras áreas, sem conflito nuclear.
lações ofensivas; a inação norte-americana desmobilizaria a credi-
AVILA, Carlos Federico Domínguez. A crise dos mísseis soviéticos
bilidade do sistema de defesa ocidental; 2) os teleguiados fornecidos em Cuba (1962): um estudo das iniciativas brasileiras. Varia
a Cuba são de tipo jamais fornecidos sequer aos satélites membros Historia, Belo Horizonte, v. 28, n. 47, p. 361-389, jan./jun. 2012.
187

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP 187 26/08/2022 16:29


ENCAMINHAMENTO
• Acompanhar as flutuações a) O objetivo era enfraquecer a economia cubana, altamente dependente da exportação de açúcar para os Estados
nas relações entre Estados Unidos e, assim, derrubar o governo de Fidel Castro.
Unidos e Cuba, do rompi-
mento de relações diplomá-
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

ticas aos dias atuais. O bloqueio econômico imposto a Cuba em 1962 é um dos mais duradouros já
• Pesquisar as relações entre impostos por um país a outro. Veja, a seguir, a evolução desse bloqueio.
Estados Unidos e Cuba du-
rante o governo Joe Biden. O embargo estadunidense a Cuba
• Refletir sobre o reatamento 1961 Os dois países rompem relações diplomáticas.
Os Estados Unidos do presidente John Kennedy radicalizam sua posição e impõem um
de relações diplomáticas en- 1962
embargo econômico a Cuba.
tre Estados Unidos e Cuba,
1992 Os EUA reduzem em 700 mil toneladas a cota de açúcar importado de Cuba.
ocorrido durante o governo
Lei Helms-Burton: estabelece sanções para as empresas estrangeiras que negociarem com
Obama, com a mediação do 1996
Cuba.
papa Francisco. O presidente Bill Clinton ameniza o bloqueio, permitindo a venda de alimentos e medicamentos
2000
Para refletir. d) Comentar a Cuba por razões humanitárias.
que, apesar de sucessivas reso- O governo Bush intensifica a investigação e a punição aos estadunidenses que foram a Cuba
2006
através de outros países.
luções da ONU propondo a sus-
Com a mediação do papa Francisco, os Estados Unidos do presidente Barack Obama reatam
pensão do embargo econômico 2015 as relações diplomáticas com Cuba. Já a suspensão do bloqueio econômico à ilha aguarda a
imposto pelos Estados Unidos a aprovação do Parlamento dos Estados Unidos.
Cuba, a suspensão efetiva do A ONU aprova mais uma resolução que propõe a suspensão do embargo econômico imposto
bloqueio econômico à ilha con- 2017 pelos Estados Unidos contra Cuba. A resolução recebe 191 votos favoráveis; apenas Estados
Unidos e Israel se opuseram a ela.
tinua aguardando aprovação
do Parlamento estadunidense. a) Qual era o objetivo dos Estados Unidos ao impor um embargo econômico a Cuba?
Lembrar que o governo Trump
b) Como o governo cubano reagiu ao bloqueio econômico?
adotou uma política de distan-
ciamento em relação a Cuba. E c) Com base nos dados do quadro, responda: nos anos 1990 e no governo de Bush, o
que o governo Joe Biden, até rigor do embargo diminuiu ou aumentou? Justifique.
maio de 2022, não tomou ati- d) O que se pode dizer da relação entre os EUA e Cuba durante o governo Barack
tudes que pudessem facilitar Obama? b) Fidel Castro estreitou os
a aproximação entre Estados laços com a União Soviética,
GARY MILLER/FILMMAGIC

Unidos e Cuba. que passou a comprar o açúcar


cubano e a fornecer combus-
tíveis, máquinas e peças para
a ilha. Além disso, os cubanos
+ATIVIDADES recebiam dos soviéticos sub-
sídio de 4 bilhões de dólares
Em grupo. Propor uma pes- por ano.
quisa sobre a situação atual de Show dos Rolling Stones
Cuba, nos aspectos econômi- em Havana (Cuba), 2016.
co, social, político e cultural.
Cada grupo pode pesquisar
um desses aspectos. d) Durante o governo Obama,
Essa pesquisa em fontes com a mediação do papa, os
Estados Unidos e Cuba rea-
confiáveis deve servir para taram as relações diplomáticas.
reunir dados sobre indicado-
res econômicos, sociais, trans- c) No início dos anos 1990 e durante o governo de George W. Bush (2001-2009), o embargo econômico a
parência política, índice de 188 Cuba se intensificou, pois a Lei Helms-Burton impôs sanções às empresas estrangeiras que negociassem
com esse país.
qualidade de vida, entre ou-
tros. Dados que permitam ar-
gumentar, com base em fatos, gumentos baseados em
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd 188 fatos e, por outro, Dica de leitura 20/08/22 14:34 D3_

sobre a vida social, política, pratiquem a tolerância e o respeito mútuos. Artigo que discute o crescimento da pre-
econômica e cultural na ilha. Dessa forma, desenvolve-se as competências sença chinesa na América Latinha impulsio-
Ao final da pesquisa, criar gerais 7 e 9 e a promoção da cultura de paz. nado pela pandemia de covid-19.
um fórum para que os grupos • BARRIA, Cecília. China: os 3 pilares da
exponham e debatam as con- expansão do país na América Latina em 2
clusões a que chegaram. anos de pandemia de covid-19. BBC News
Durante os debates, re- Brasil, [s. l.], 23 jan. 2022. Disponível em:
forçar a necessidade de que https://www.bbc.com/portuguese/
os alunos exercitem, por um internacional-59946976. Acesso em:
lado, a formulação de ar- 29 jun. 2022.
188

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP.indd 188 31/08/22 10:14


ENCAMINHAMENTO
1. Os itens dessa ativida-
1. a) A China é representada em forma de uma de contribuem para estimu-

ATIVIDADES
pizza, que está sendo dividida entre as potências NÃO ESCREVA
lar uma leitura orientada da
da época. NO LIVRO.
charge e uma melhor compre-
1. b) Não, o chinês aparenta uma expressão de desespero diante ensão da crítica nela expressa.
da divisão de seu país pelas potências europeias, com as mãos para cima, os
olhos e a boca abertos, como se estivesse gritando “pare!”. A leitura da charge, em seus
1. c) Sim, essa rivalidade pode ser vista de forma mais clara entre os repre- aspectos internos e externos,
sentantes da Inglaterra e da Alemanha, que se encaram com expressão hostil. contribui para a construção do
I. Retomando 1. d) Ele criticou a divisão da China em áreas de influência, controladas pelas
potências estrangeiras, com o apoio do imperador e da elite chinesa, e o prejuízo
conceito de imperialismo, ten-
do como matéria-prima a cobi-
da população geral.
ça das grandes potências pelas
1 Analise a ilustração a seguir, produzida no século XIX. terras e riquezas da China.
a) Como a China está representada na charge? Essa leitura pode contribuir

LOOK AND LEARN/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


b) O chinês parece satisfeito com o que está também para a educação do
acontecendo? Justifique. olhar; notar que enquanto o
c) Na charge, é possível observar alguma rivali- chinês parece um vilão de his-
dade entre as potências à mesa? Justifique. tórias em quadrinhos (repare
d) Em sua opinião, o que o autor da charge o tamanho de suas unhas), a
buscou criticar? França é representada como
uma mulher meiga e de fei-
ções suaves.
2. Discutir as alternativas
Gravura que apresenta um chinês observando incorretas da atividade pode
a repartição da China pelos representantes contribuir para que os alunos
da Inglaterra, da Alemanha, da Rússia, da compreendam melhor o tema.
França e do Japão (da esquerda para a direita). Nesse exercício, favorecer as
Ilustração para Le Petit Journal, correções: b) As potências es-
16 de janeiro de 1898.
trangeiras exerciam sua do-
minação com o apoio do im-
perador Qing, que se deixava
corromper por elas, e da elite
chinesa liderada por notáveis
2 Avalie as afirmações e copie no caderno as alternativas corretas. e mandarins; c) A imposição
a) No início do século XX, o Império chinês era governado pela Dinastia Qing (1644-1912), mas de valores ocidentais e da re-
o seu território era dividido em áreas de influência de potências como a Inglaterra, a França, ligião cristã aos chineses está
a Alemanha, o Japão e os Estados Unidos. entre as razões pelas quais os
b) As potências estrangeiras exerciam sua dominação sem o apoio do imperador Qing e da elite camponeses promoveram uma
chinesa, que eram contrários ao imperialismo. grande rebelião em 1898 – a
c) A imposição de valores orientais e da religião budista aos chineses ajuda a explicar a grande Revolta dos Boxers.
revolta de 1898 – a Revolta dos Boxers.
d) O slogan dos rebeldes era “reviver Qing e destruir o estrangeiro”, pois eles acreditavam que
chineses cristãos iludiam o imperador, fazendo com que ele se voltasse contra o povo e as Mestres da Gravura. Um dos gra-
religiões da China. vadores mais conhecidos da his-
e) As potências imperialistas reprimiram os boxers invadindo a China em nome da “civilização” tória foi Albrecht Dürer, o prin-
e, depois de massacrar milhares de chineses, impuseram ao país um tratado humilhante, que cipal artista alemão do século
reforçava a subordinação chinesa ao Ocidente. XVI. Já no século XVII, o trabalho
2. Alternativas A, D e E. em gravura do pintor espanhol
189 Francisco de Goya ficou conheci-
do. No século XIX, a evolução da
comunicação resultou em maior
interesse por peças de arte. Nes-
14:34 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd 189 A história da gravura é mais antiga do que muita
28/06/22 13:25 se período, o francês Gustave
gente imagina. Ela foi particularmente impor- Doré criou gravuras considera-
O que é gravura tante no século II, quando os chineses, por meio das obras-primas da ilustração;
Gravura [...] é [...] uma linguagem visual que re- de pedras e madeiras, gravavam sua arte. No já no século XX, artistas como
presenta um tipo de arte, como pinturas e relevos. Ocidente, a gravura teve seu início junto com Andy Warhol utilizaram uma das
Com essa técnica, a imagem é obtida por meio da o surgimento do papel, no século XIV. Porém, mais famosas técnicas de gravu-
impressão de uma matriz, na qual um desenho foi em meados do século seguinte, na Alema- ra, a serigrafia, para compor suas
é gravado com uma ferramenta chamada buril. nha e na Itália, que a técnica começou a ganhar obras.
Trata-se de um modo de reprodução assinado fama. Desenvolvido por ourives, esse método GRAVURA, xilogravura e litografia.
Folha do Litoral, Paranaguá, 13 jun. 2020.
e numerado que conta com forte valor artístico. se propagou por toda a Europa. Desse período
Disponível em: https://folhadolitoral.com.br/
Afinal, por meio dessa técnica, o artista produz em diante, os artistas que utilizaram a gravu- colunistas/cultuando/gravura-xilogravura-e-
peças únicas e dispensa artifícios tecnológicos. ra no Ocidente começaram a ser chamados de litografia/. Acesso em: 29 jun. 2022.
189

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP 189 26/08/2022 16:29


ENCAMINHAMENTO
3. Explicar que em um go- 3. a) A imagem colorida mostra pessoas felizes, radiantes e com uma grande variedade de animais em sua frente.
verno autoritário e centrali- 3. b) A foto preto e branco mostra uma família camponesa debilitada, vítima da política do Grande Salto para a Frente.
zado, a exemplo do de Mao
Tsé-Tung, a manipulação de 3 Em 1958, o governo Mao lançou o Grande Salto para a Frente, um plano que prome-
dados torna-se mais fácil por tia desenvolver a China em apenas 15 anos. O plano, no entanto, fracassou e milhões
conta da ausência de organis- de pessoas morreram de fome. Observe as imagens a seguir.
mos de controle e do monito-

PICTURES FROM HISTORY/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

ALBUM/FOTOARENA
ramento feito por meios de
comunicação independentes.
Comentar que a política do
Grande Salto para a Frente es-
tabeleceu metas de produção
absolutamente inalcançáveis
com a tecnologia e mão de
obra disponíveis à época.
4. Para exercitar a construção
de argumentos e o diálogo res-
peitoso, de modo a contribuir
Família do meio rural durante o Grande Salto
para o desenvolvimento das
para Frente, na China.
competências gerais 7 e 9, su-
gerimos propor uma discussão
sobre a relação entre artistas e
Estado a partir do caso da China Cartaz de propaganda da política do Grande Salto
durante a Revolução Cultural. para a Frente (1958-1961). China, década de 1960.
Propor a seguinte pergunta 3. c) Enquanto o cartaz de propaganda do governo de Mao Tsé-Tung veiculava a ideia de prosperidade,
disparadora: o que você pensa fartura e satisfação popular, muitas famílias camponesas passavam fome. Esta, como se sabe, ceifou a
sobre o governo escolher um a) O que a imagem colorida mostra? vida de 30 milhões de pessoas na época da política do Grande
estilo artístico e considerá-lo o b) E a fotografia em preto e branco, o que mostra? Salto para a Frente.
único a ser seguido? Incentivar c) O que se pode concluir comparando uma imagem à outra?
os alunos a argumentarem de d) Durante a política do Grande Salto para a Frente, o governo de Mao Tsé-Tung manipulava as
forma coerente, bem como estatísticas a seu favor. E, hoje, há governos que utilizam essa prática? Se sim, pesquise e dê
escutar e respeitar posições um exemplo. 3. d) Respostas pessoais.
4. a) Os artistas recebiam um salário compatível ao de
divergentes. um operário, não havendo distinção de classes. Porém só
4 Leia o documento a seguir e responda. tinham trabalho caso apoiassem a revolução.
Ao insistir que tudo que fosse velho ou estrangeiro era “ruim”, a Revolução
TEXTO DE APOIO Cultural jogou na lata de lixo milhões de anos de cultura – tanto do próprio patri-
[...] mônio chinês, riquíssimo, como de toda a arte, literatura e filosofia europeias. [...]
As primeiras atividades agrícolas
Pinturas, balés, filmes, músicas e livros que não estivessem a serviço da revolução
da era comunista e a divulgação [cultural] eram considerados “ervas daninhas” que precisavam ser arrancadas e
de dados duvidosos chamaram queimadas. A única arte boa era a criada por um grupo, como os grandes murais ou
atenção pela sua ambiguidade. Em outdoors falando de temas revolucionários. […] Os criadores dessas obras recebiam
1959, por exemplo, o ex-chefe da salários iguais aos de operários ou camponeses e qualquer lucro que resultasse do
Organização para Alimentação e
seu trabalho ia para o Estado popular.
Agricultura, em uma declaração,
destacou a ausência de fome na ANGE, Zhang. Terra Vermelha, rio amarelo: uma história da Revolução Cultural. São Paulo: Edições SM, 2005. p. 61.
China, visto que houve um au- a) Qual era a posição social dos artistas chineses, em especial durante a Revolução Cultural?
mento na produção de alimentos, b) Qual foi o papel do Estado na divulgação da arte no período descrito no texto?
se comparado com a produção da 4. b) O Estado estabeleceu uma rígida censura à tradição cultural chinesa e às obras consideradas “bur-
Grã-Bretanha. No entanto, nesse
mesmo período, jornais ocidentais
190 guesas” ou inúteis à revolução, impedindo artistas de trabalharem livremente em temas de interesse
próprio, só sendo divulgadas obras com mensagens favoráveis ao comunismo.
perceberam a existência de notícias
sobre escassez de alimentos em
Cantão, Pequim e outras cidades deAV_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd
1961, era muito notável 190 por outros países. Juntamente com as políticas governamentais que 30/06/22 16:47 D3_

chinesas. Por se encontrar em um cenário de isolamento influenciaram a queda na produção de grãos, o incen-
Eram divulgados boletins de- político, era dificultosa uma avaliação externa tivo direto e indireto ao crescimento urbano ajudou
monstrando safras recordes no da real situação do país, no que tange ao pro- a agravar a situação. O período de 1949 a 1956 foi de
país. Em adição, notava-se uma blema da fome. A situação se agravou em 1960, grande migração da área rural para a urbana, passando
elevação contínua das exporta- quando a União Soviética retirou a assistência de cerca de 58 milhões de habitantes em 1949 para 99
ções e nenhuma importação de técnica e econômica fornecida à China, com milhões em 1957. A prioridade dada à industrialização
alimentos. Embora esses dados consequente piora nas questões econômicas. durante o Grande Salto contribuiu ainda mais para o
passassem uma ideia de produ- Com a perda de um importante aliado em um aumento da migração. [...]
BISPO, Scarlett Queen A.; MARTINS, Michelle Marcia V.; CECHIN,
ção excedente e demanda interna momento crítico, houve tentativas de ajuda ex-
Alicia. Evolução da agricultura chinesa: da fome às reformas
devidamente suprida, a existência terna, principalmente através da Cruz Vermelha de desenvolvimento do setor. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa
de fome severa na China, no início Internacional. [...] Econômica Aplicada, 2022. (Nota Técnica 45, p. 6-7).
190

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP 190 26/08/2022 16:29


ENCAMINHAMENTO
5. Informar aos estudantes
que Cuba esteve sob a domi-
nação colonial espanhola e,
5 Copie no caderno as alternativas corretas.
com a independência, tor-
a) No início do século XX, a produção econômica cubana estava voltada para a agroindústria
do café e a extração mineral. nou-se um país onde os esta-
b) A desigualdade social em Cuba era notória. Grande parte da riqueza concentrava-se nas mãos
dunidenses tinham riquezas
de poucas famílias e de empresários estadunidenses, enquanto a maior parte da população e privilégios. Cientes dessas
era mal alimentada, sem assistência médica e não alfabetizada. informações, os estudantes
c) O presidente Fulgêncio Batista instaurou um governo democrático, durante o qual lutou para estarão mais preparados para
acabar com a prostituição e os cassinos em Cuba. responder à atividade. Ou-
d) Fidel Castro opôs-se ao governo de Fulgêncio Batista, que, apoiado pelos Estados Unidos, deu tro elemento importante é a
um golpe militar e assumiu o poder como ditador. distância consideravelmente
e) Ao assumir o poder, Fidel Castro reduziu o preço dos aluguéis, dos medicamentos e das tarifas pequena (170 km) entre Cuba
telefônicas e de eletricidade, realizou a reforma agrária e nacionalizou empresas e bancos. e Estados Unidos, fato visto
5. Alternativas B e E. como perigoso pela superpo-
6 Observe a charge a seguir, que apresenta o presidente dos Estados Unidos John tência, levando-se em conta a
Kennedy e o líder soviético Nikita Kruschev, durante a crise dos mísseis em 1962.
6. b) Resposta pessoal. Na queda de braços, Kennedy leva uma pequena vantagem, e o líder da União Soviética, geopolítica da época.
Kruschev, está suando para 6. Recorremos, uma vez
reverter a situação, que lhe é mais, a uma imagem para
desfavorável. Ambos estão
com seus respectivos educar o olhar, construir con-
dedos indicadores da ceitos e estimular a produção
mão esquerda bem escrita por meio de uma ima-
perto dos botões
que, uma vez gem. Lembrar que a charge,
pressionados, em sua linguagem multimo-
detonam

FINE ART IMAGES/ALBUM/FOTOARENA


dal (verbal e não verbal), tem
as duas
bombas. enorme potencial pedagógico
e é muito apreciada pelos es-
tudantes da Educação Básica.

uma segunda-feira: evitariam a


Charge de Leslie Gilbert Illingworth, publicada no jornal britânico The Daily Mail,
invasão e utilizariam a “quaren-
em 29 de outubro de 1962.
tena”.
6. a) Kruschev está sentado sobre uma bomba H dos Estados Unidos, e Kennedy, sobre uma bomba H da União Soviética.
a) Onde cada um dos oponentes está sentado? Às 19 horas, o presidente
John Kennedy realizou um pro-
b) Em sua opinião, a “queda de braços” entre ambos, mostrada na charge, está em equilíbrio
nunciamento na televisão para
ou um dos líderes possui maior força?
“mais de 100 milhões de ame-
c) Por que a crise dos mísseis foi considerada um dos momentos de maior tensão na Guerra Fria? ricanos [...], a maior audiência
6. c) A crise dos mísseis foi considerada um dos momentos de maior tensão porque quase envolveu uma
para um pronunciamento pre-
guerra direta entre os Estados Unidos e a União Soviética.
191 sidencial até então”. O discurso
foi realizado em 17 minutos e
estava estruturado em 7 pontos
principais, em que se destacava
16:47 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd 191 prontos para disparo, poderiam explodir sobre
28/06/22 13:25
o ponto 3, no qual o presiden-
Washington em 13 minutos [...]”.
te ampliava a Doutrina Monroe
Os mísseis de outubro Essa informação foi passada ao presidente para os tempos da Guerra Fria:
Aviões U-2 sobrevoavam Cuba, como de cos- dos Estados Unidos no dia 16 de outubro – data “3. A política desta nação será
tume, em 14 de outubro de 1962. Porém, dessa que passou a ser conhecida como o “primeiro considerar qualquer lançamen-
vez, as fotografias tiradas pelos pilotos trouxe- dia da Crise dos Mísseis”. O presidente convo- to de projétil nuclear de Cuba
ram um elemento inesperado: foram descober- cou seus principais assessores para uma reu- contra qualquer nação do he-
tas diversas bases de mísseis nucleares sendo nião de emergência: a questão que se coloca é misfério ocidental como um
construídas em Cuba; “segundo a CIA, os mís- “o que fazer?”. As opções acabam se restringin- ataque da URSS contra os EUA,
seis tinham alcance de 1600 Km e tinham ca- do a duas alternativas: invadir Cuba ou realizar o que requer uma adequada
pacidade de atingir grande parte da orla marí- um bloqueio marítimo, denominado de “qua- resposta de represália contra a
tima oriental do país [EUA]. Uma vez armados e rentena”. A decisão só foi tomada no dia 22, URSS”.
191

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP 191 26/08/2022 16:29


ENCAMINHAMENTO
• Preparar os alunos para o a) Eles pleiteiam a suspensão das sanções econômicas, entre as quais uma que estabelece punições para as em-
debate, trabalhando, res- presas estrangeiras que negociarem com Cuba.
pectivamente com cada gru-
po, argumentos favoráveis e
II. Leitura e escrita em História b) A importância está no fato de que
boa parte da receita de Cuba tem ori-
gem no turismo, que gera empregos nos
contrários às sanções a Cuba Vozes do presente
transportes, na rede hoteleira e traz di-
visas para o país, em dólares, euros,
e ferramentas de mediação libras, reais etc.
de debate, como atribuição Empresários cubanos pedem a Biden que suspenda sanções econômicas
de falas e controle do tempo.
Centenas de empresários cubanos

NICOLAS ECONOMOU/NURPHOTO/AFP
• Ressaltar a necessidade de pediram, em carta ao presidente ame-
que o respeito e o diálogo se- ricano Joe Biden […], o levantamento
jam mantidos, mesmo dian- das sanções econômicas contra a ilha
te de divergências e discor- comunista, que "prejudicam de forma sig-
dâncias que possam ocorrer nificativa" suas atividades e suas famílias.
durante o debate. "Por meio de nossos negócios, estamos
trabalhando [...] para ter um trabalho gra-
tificante e prosperidade econômica". [...]
TEXTO DE APOIO "No entanto, a atual política dos
Estados Unidos em relação a Cuba afeta
(CONTINUAÇÃO)
em grande medida nossas operações Praia de Varadero. Cuba, 2021.
A Organização dos Estados comerciais diárias e freia nossa capacidade
Americanos (OEA) aceitou o ar-
de prosperar", acrescentaram, lamentando
gumento de expansão da Dou-
trina Monroe e apoiou a medida
que Biden mantenha, apesar de suas promessas de campanha, as 243 sanções impostas
de quarentena por unanimidade. por seu antecessor Donald Trump, que reforçaram o embargo em vigor desde 1962.
Debates na ONU foram realizados [...]
entre os representantes dos EUA "Urgimos que adotem as seguintes ações imediatas: 1) restabelecer um caminho
(Stevenson) e da URSS (Zorin). para remessas; 2) abrir as viagens para aqueles sujeitos à jurisdição dos EUA; 3) reabrir
Stevenson sagrou-se vencedor. a embaixada dos EUA em Havana; e 4) retirar Cuba de sua lista de países patrocina-
Em 26 de outubro, o primei- dores do terrorismo", diz a carta enviada a Biden.
ro-ministro da URSS enviou O setor privado cubano viveu um efêmero boom durante a reaproximação entre
uma carta ao presidente dos
os Estados Unidos e Cuba, entre 2014 e 2016, no governo Barack Obama.
EUA propondo a retirada do ar-
mamento nuclear de Cuba em "Sonhamos em voltar àqueles dias, quando a reaproximação era a política oficial
troca do compromisso esta- dos Estados Unidos, produzindo um boom econômico que beneficiava a todos", decla-
dunidense de não mais tentar raram os empresários.
invadir a ilha. Os americanos [...]
respiraram aliviados! Porém, EMPRESÁRIOS cubanos pedem a Biden que suspenda sanções econômicas. IstoÉ, [s. l.], 8 nov. 2021. Disponível em: https://
poucas horas após, mas já no www.istoedinheiro.com.br/empresarios-
dia 27, chega uma segunda car- cubanos-pedem-a-biden-que-suspenda-sancoes-economicas/. Acesso em: 22 mar. 2022.
ta de Krushev: a) O que os empresários cubanos pleiteiam e está explícito no texto da notícia?
Nós aceitamos retirar de Cuba b) Uma das reivindicações dos empresários cubanos é voltar a permitir as viagens de estaduni-
aqueles materiais que você qua- denses para Cuba. O que explica a importância dessa reivindicação?
lificou de ofensivos, e podemos c) Com base no texto, é possível inferir que a diplomacia afeta a economia? Como?
comprometer-nos a isso no seio d) Debate. Organizados em três grupos, preparem-se para debater sobre as sanções econômicas
das Nações Unidas. Em reciproci- impostas à Cuba. Um grupo deverá defender as sanções, o outro deverá falar a favor e o
dade, seus representantes farão terceiro fará a mediação.
uma declaração no sentido de c) Sim, pois em 2015, durante o governo de Barack Obama, os Estados Unidos reataram as relações di-
que os EUA, considerando as di-
ficuldades e a ansiedade do Esta-
192 plomáticas com Cuba, o que impulsionou a economia cubana.
d) Resposta pessoal.
do soviético, retirarão da Turquia
materiais ofensivos similares.
O que fazer frente à nova situa- a AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-LA-G24.indd
continuidade e pôr em 192 marcha esses compromissos – ao se- 30/06/22 16:47

ção? A guerra nuclear estava a um guinte: a) Levantar imediatamente as medidas de quarentena


passo de ter início. Os assessores em vigor; b) Dar segurança contra a invasão de Cuba. Confio
de Kennedy o aconselharam a em que as outras nações do hemisfério ocidental estão dis-
tentar negociar. Ele mandou uma postas a atuar do mesmo modo. O efeito de tal acordo sobre a
carta para Krushev nos seguintes tensão mundial nos permitirá continuar trabalhando acerca de
termos: um acordo geral referente a “outros armamentos”, como você
propõe em sua segunda carta que foi feito pública.
Nós, por nossa parte, esta-
mos dispostos – mediante o es- A Crise dos Mísseis, a fase mais quente da Guerra Fria, foi so-
tabelecimento dos adequados lucionada. [...]
acordos realizados através das DOMINGOS, Charles Sidarta Machado. 50 anos da Crise dos Mísseis: horror nuclear em
Nações Unidas para assegurar tempos presentes. Historiæ, Rio Grande, v. 4, n. 2, p. 79-90, 2013. p. 86-88.
192

181a192_HIS-F2-2111-V9-U3-C09-MP 192 26/08/2022 16:29


OBJETIVOS
• Estudar a noção de resistên-
CAPÍTULO cia pacífica proposta por

10
Gandhi.
NACIONALISMOS AFRICANO • Conhecer os processos de in-
dependência em alguns paí-
E ASIÁTICO ses africanos.
• Trabalhar os conceitos de
negritude e de pan-africa-
nismo para compreender o

KOSTADIN LUCHANSKY/ANGOLA IMAGE BANK/MOMENT OPEN/GETTY IMAGES


protagonismo africano nas
lutas pela independência.
• Estimular atitudes de re-
púdio ao racismo e à segre-
gação racial, usando como
exemplo a resistência ao
apartheid, na África do Sul.

Os objetivos possibilitam
ao aluno analisar os processos
de resistência ao colonialismo
e de descolonização da Ásia e
da África, desenvolvendo, as-
sim, as habilidades e compe-
tências propostas.

BNCC
• Competências gerais: 3, 4, 7
e 9.
• Competências específicas: 1,
2, 3 e 4.
• Habilidades: EF09HI14 e
EF09HI31.

Imagens em movimento
KEHINDE TEMITOPE ODUTAYO/SHUTTERSTOCK.COM IVANFOLIO/SHUTTERSTOCK.COM
Vídeo em que a romancista
nigeriana Chimamanda Ngozi
1. Você sabe onde ficam essas cidades? Com qual ou quais cidades brasileiras se parecem? Dica: essas Adichie fala sobre os estereó-
cidades ficam todas na África e por seus portos saíram ancestrais de milhões de brasileiros. tipos a respeito dos países
2. Se a África possui cidades prósperas, como essas que você vê nas fotografias, por que, então, na africanos e sobre como ela
televisão e no cinema é mostrada quase sempre como uma grande savana habitada por leões, girafas descobriu sua autêntica voz
e elefantes? Por que a mídia quase nunca mostra cidades africanas? O que isso pode significar? cultural.
Respostas pessoais.
193 • CHIMAMANDA Adichie: o pe-
rigo de uma única história.
2009. Vídeo (19min16s). Publi-
cado pelo canal TED. Disponí-
ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 193 torno da África e de sua rica história. Notar que
28/06/22 13:25
vel em: https://www.youtube.
a África quase nunca é associada às suas cida-
• Explicar que, na TV, a África é mostrada quase com/watch?v=D9Ihs241zeg.
des prósperas, como Luanda, em Angola; La-
sempre como uma grande savana habitada Acesso em: 9 ago. 2022.
gos, na Nigéria; e Maputo, em Moçambique,
por animais raros ou como um continente mostradas nas imagens desta abertura. Curio-
castigado pela fome e pelas doenças, o que samente, a palavra “cidade” vem do latim ci-
sugere uma visão estereotipada desse conti- vitas, que deu origem também ao termo “civi-
nente e acaba por reforçar uma perspectiva lização”. O objetivo aqui, no entanto, não foi
eurocêntrica da História. omitir nem ignorar a pobreza e as doenças que
• Questionar essa visão pode ser um bom come- atingem o continente africano, mas relativizar
ço para desconstruir os mitos que pairam em imagens estereotipadas que o estigmatizam.
193

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 193 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
• Caracterizar a dominação
europeia na África e na Ásia
como, geralmente, violenta
e, muitas vezes, irracional.
Independências
• Evidenciar a resistência afri-
Vimos que no século XIX os europeus se apossaram de grandes porções da Ásia e da
cana e asiática à dominação África e submeteram seus povos. A dominação europeia nesses continentes caracterizou-se
europeia. pela violência e, por vezes, pela irracionalidade; foram comuns práticas como o confisco
• Valorizar o protagonismo de terras, o uso de trabalho forçado, a cobrança de impostos abusivos e o racismo, que
dos próprios africanos e asiá- oprimia os africanos e os asiáticos em sua própria terra. Esses fatores ajudam a explicar a
ticos nas lutas pela indepen- resistência africana e asiática à dominação europeia. Nos 30 anos que se seguiram ao final
dência de seus países.
da Segunda Guerra (1945), a imensa maioria dos povos daqueles continentes conquistou
• Frisar que a Segunda Guerra sua independência. Vejamos como isso ocorreu.
causou grandes perdas para
as metrópoles europeias; es-
tas saíram da guerra exauridas Razões da independência
e passaram a concentrar seus Os principais fatores da independência dos povos africanos e asiáticos foram:
esforços na reconstrução na- a) a luta dos próprios africanos e dos asiáticos pela independência;
cional. Aproveitando-se disso, b) o enfraquecimento das potências colonialistas europeias por causa das perdas sofridas
os movimentos de libertação
durante a Segunda Guerra. No imediato pós-guerra, os europeus passaram a canalizar
afro-asiáticos intensificaram
seus esforços para a reconstrução de seus países. Isso facilitou a ação da resistência
as lutas pela independência.
africana e asiática ao colonialismo europeu;
• Evidenciar que o pan-africanis-
c) a força de movimentos como o pan-africanismo e a negritude.
mo possuía duas importantes
características: conferia voz ao O pan-africanismo foi um movimento político-ideológico

GRANGER/FOTOARENA
negro, visto como vítima de surgido na América Central e nos Estados Unidos no início
injustiça, violência e opressão; do século XX, que visava transformar a situação de todos os
e representava a África (espe- africanos e seus descendentes, chamados à época de “raça
cialmente Serra Leoa e Libéria) negra”. A intenção dos líderes do movimento era libertá-los
como um lugar mítico, “uma da pobreza e da opressão. Para os líderes do pan-africanismo,
pátria livre”, apta a receber raça era um fator capaz de unir e conferir identidade aos diver-
seus filhos e descendentes, sos povos negros da África na luta contra os dominadores.
independentemente do lugar Um importante pensador do pan-africanismo foi o jamai-
de onde viessem. cano Marcus Garvey.. Ele dizia que a África, berço de grandes
• É possível aprofundar o civilizações, era uma “pátria livre”, pronta para receber seus
assunto acessando o texto: filhos. E, como considerava a situação do negro na América e na
CATALICE, Tiago. Du Bois e Europa ruim, propunha o “retorno à África”. Considerando-se
o Pan-africa­nismo. Fundação um predestinado, ele próprio criou um organismo para promo-
Cultural Palmares. Brasília,
ver a volta dos negros da Jamaica para a Libéria,, considerada
DF, 24 fev. 2016. Disponível
a nação-mãe dos negros de todo o mundo. Seu objetivo maior
em: https://www.palmares.
era recuperar “a África para os africanos”.
gov.br/?p=40672. Acesso em:
9 ago. 2022.
Professor, o trabalho com
Pensador jamaicano Marcus Garvey, 1920.
o conteúdo desta página con-
tribui para o desenvolvimento 194
da habilidade EF09HI14.

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 194 primeiro passo para o entendimento da proeminência de Marcus 28/06/22 13:25 D3_

Garvey e da universalização do seu pensamento, pois ele conse-


[...] Exceto Silvester Williams, o precursor da ideologia pan-africana, guiu reunir em um único projeto todas as abordagens anteriores.
cada pensador optou por estratégias que, nos seus respectivos con- Garvey falará de um projeto universal, que pudesse reunir política,
textos, melhor pavimentariam o caminho para unidade pan-africana. educação, economia, religião, cultura, militarismo com o objetivo
Du Bois apostou na educação, T. Washington apropriou-se da eco- de construir os Estados Unidos da África. Dessa maneira, coube
nomia, Blynden optou pela religião, Nkruma e Padmore tentaram a Marcus Garvey a expansão, universalização e radicalização do
o socialismo, porém todos eles, a partir de suas análises conjun- projeto pan-africano
turais, forneceram contribuições para evolução do pensamento PAIM, Márcio Luís. Pan-africanismo: política, libertação e golpes de Estado. Revista
pan-africano no século XX. Essas estratégias apresentam-se como Tempo, Espaço e Linguagem, Irati, v. 7, n. 1, p. 207-229, jan./jun. 2016. p. 213.

194

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP.indd 194 29/08/22 13:40


TEXTO DE APOIO
[...] Conhecida como a “Jamaica
Brasileira”, a capital maranhense
ganhou este título ainda na década
PARA SABER MAIS de 1980 quando o ritmo já havia se
disseminado por todos os cantos
da cidade e se tornando uma febre
Os jamaicanos Garvey e Marley entre a população. [...]
O ideal de liberdade e unidade defendido por Garvey ganhou ritmo, melodia e letra O que chamou mais a atenção
com o também jamaicano Bob Marley, um ícone da música afro no mundo todo. Marley, do professor [Carlos Benedito] foi
que no Maranhão o que se ouvia
o “rei do reggae
reggae”,”, inspirou-se na mensagem pan-africanista para compor importantes era o reggae roots,
roots, ou o reggae tra-
músicas de seu repertório, como, por exemplo, “África, una-se”. dicional jamaicano. “Como que
uma população que não fala inglês
África, una-se criou essa identidade tão grande
com o reggae jamaicano? Então eu
África, una-se A África espera por seus criadores, descobri através de pesquisas que o
Porque estamos saindo da Babilônia a África espera por seus criadores Maranhão tem uma relação muito
grande com a Jamaica por conta
E estamos indo para a nossa pátria. [...] África, você é minha ancestral dos grupos étnicos semelhantes
Então África, una-se [fundamental da diáspora”, disse.
Una-se para o bem do seu povo [...] Una-se para os africanos que estão no Ou seja, o professor descobriu que
Una-se para o bem de meus filhos mundo, una-se pelos africanos distantes as pessoas que foram trazidas es-
cravizadas para o Maranhão e para
Una-se, pois é mais tarde do que você África, una-se! Jamaica pertenciam aos mesmos
[imagina grupos. [...]
AFRICA Unite. Intérprete: Bob Marley. Compositor: Bob Marley. In: SURVIVAL. “O reggae se tornou no Maranhão
ERIKA GOLDRING/GETTY IMAGES
Nova York: Island Records, 1979. Disco vinil, faixa 2. Tradução nossa. uma potência geradora de emprego
e renda. Um atrativo turístico tam-
bém que impacta direta e indireta-
mente milhares de pessoas. Além
disso, é uma expressão cultural tão
forte que jamaicanos passaram a vir
Ziggy Marley, filho de
para morar aqui para trabalhar com
Bob Marley, durante
apresentação em um
a música”, finalizou Fábio Araújo.
festival na Louisiana Assim como na Jamaica, o reggae
(EUA), 2019. em São Luís ganhou fama na peri-
feria para depois chegar ao centro
da cidade. Diz-se que o reggae ex-
pressa as angústias, sofrimentos e
alegrias do povo.
Na Jamaica, a música também tem
um conteúdo espiritual muito forte
A negritude,, movimento político-literário nascido no final dos anos 1930, também do rastafarianismo. Foi um ritmo
contribuiu com ideias que alimentaram as independências africanas. A negritude teve criado nas periferias jamaicanas.
entre seus principais representantes o senegalês Léopold Senghor, primeiro presidente do MACKAY, Joyce. São Luís se tornou a capital
do reggae na década de 80. G1. São Paulo,
Senegal (1960-1980), e Aimé Césaire, natural da Martinica, ambos escritores e poetas. 8 set. 2015. Disponível em: https://g1.globo.
Eles defendiam a valorização das culturas negras e rejeitavam radicalmente a dominação com/ma/maranhao/noticia/2015/09/sao-
luis-se-tornou-capital-do-reggae-na-decada-
colonialista. A ideia central desse movimento era que os africanos e seus descendentes de-80.html. Acesso em: 1 jul. 2022.
tinham um patrimônio cultural comum, daí a necessidade de estreitamento e trocas cul-
turais entre eles e de busca por uma vida melhor e independente. +ATIVIDADES
Selecionem uma letra de reggae
195 que tenha relação com o pan-afri-
canismo, principalmente no que
diz respeito à união e ao forta-
13:25 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 195 28/06/22 13:25
lecimento da identidade negra.
Professor, em data previa-
• Trazer para a sala de aula, se possível, uma gravação da música de Bob Marley, “Africa mente combinada, os alunos
unite” (em português, “África, una-se!”) para os alunos apreciarem a melodia, o ritmo e devem apresentar trechos da
analisarem a letra. música que justifiquem a relação
estabelecida.
• Propor uma pesquisa sobre a vida e a obra de Bob Marley.
Propor, ao final, uma discussão
• Conceituar negritude e analisar seu ideário. em roda para que os estudantes
• Temas contemporâneos transversais: a reflexão sobre a presença do reggae na cultura exponham de que modo as ex-
brasileira permite mobilizar o tema multiculturalismo. pressões de matriz afrobrasileira
fazem parte da cultura que eles
produzem e/ou consomem.
195

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP.indd 195 31/08/22 10:15


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que, além da luta
dos próprios africanos e asiá-
A revista Présence Africaine,, fundada em

AP PHOTO/IMAGEPLUS
ticos, e da situação crítica
das metrópoles europeias, as Paris, na França, em 1947, pelo filósofo sene-
independências africanas e galês Alioune Diop, teve um papel importante
asiáticas contaram também na difusão da história africana, da negritude e
com a solidariedade de paí- do pan-africanismo na Europa.
ses recém-libertos, expressa As lutas pela independência da África e da
enfaticamente na Conferên- Ásia também contaram com a solidariedade
cia de Bandung, em 1955. dos países recém-libertos. Na Conferência de
• Conceituar o significado de Bandung,, realizada na cidade de Bandung, na
Terceiro Mundo e, se consi- Indonésia, em 1955, 29 países independentes
derar conveniente, adiantar se autodenominaram Terceiro Mundo,
Mundo, decla-
a ideia de que essa expressão raram-se não alinhados,, ou seja, neutros
caiu em desuso. na Guerra Fria entre Estados Unidos e União
• Explicar o significado de não Soviética, e prometeram apoiar as indepen-
alinhamento e fornecer um dências na África e na Ásia.
exemplo histórico concreto:
Terceiro Mundo: expressão criada em 1952 pelo estudioso
a política externa adota- francês Alfred Sauvy, que definia os países pobres
da por Jânio Quadros, por independentes em contraste com as nações do
Léopold Sédar Senghor, então presidente
exemplo. Primeiro Mundo, lideradas pelos Estados Unidos,
e as do Segundo Mundo, lideradas pela União Soviética. do Senegal, na Academia de Letras de Paris
(França), 1983.

TEXTO DE APOIO
ULLSTEIN BILD/ULLSTEIN BILD/GETTY IMAGES

KEYSTONE-FRANCE/GAMMA-KEYSTONE/GETTY IMAGES

© HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS/CORBIS/GETTY IMAGES


A Conferência Afro-Asiática ou
Conferência de Bandung, como
também é conhecida, foi um
marco, uma referência e uma
inspiração no período da Guerra
Fria para povos e países do cha-
mado Terceiro Mundo. Aconte-
ceu em um momento em que a
solidariedade entre as nações
recém-independentes foi de
encontro aos conflitos bélicos
e diplomáticos da Guerra Fria,
desafiando o modus operandi de
atrito contínuo entre as superpo-
tências. Tratados assinados em
Vietnã, Laos e Camboja eram vis-
tos como ameaças pelos Estados
Unidos; a França amargava a der-
rota de Dien Bien Phu; e a Guerra
Três líderes dos países participantes da Conferência de Bandung. Da esquerda para a direita: Jawaharlal
da Coreia havia chegado ao fim
Nehru, primeiro-ministro da Índia, Ásia (fotografia de 1956); Josip Broz Tito, presidente da Iugoslávia,
sem os louros da vitória aguarda- Europa (fotografia de 1953); Gamal Abdel Nasser, presidente do Egito, África (fotografia de 1956).
dos pelos Estados Unidos.
[...] 196
Ao todo, compareceram a
Bandung 29 delegações oficiais.
Entre elas, 23 eram asiáticas e 6
cionais passava por profundas mudanças, não grandes potências. Mais do que isso, a noção de
eram africanas. Esses 29 países D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 196 28/06/22 13:25 AV_

reunidos compreendiam quase apenas pelos novos atores, mas pela nova ba- equilíbrio mundial ganhava força pela apropria-
metade do contingente da ONU lança de poder, ainda uma incógnita para todos, ção do vocabulário das Relações Internacionais,
no momento e congregavam em especialmente para as potências coloniais. Ao consagrado pela criação da ONU, em 1945. Em
suas populações, de acordo com longo das duas décadas seguintes, o poder de uma conjuntura posterior aos conflitos de 1939-
estimativas, 1,5 bilhão de pesso- intervenção asiático e africano aumentou na 1945, o temor dos grandes embates armados
as [...]. Do ponto de vista históri- proporção de suas independências, assim como era amplo, e os territórios chamados periféricos
co, com o fim da Segunda Guerra os sentidos de fazer política compartilhados emergiam como atores necessários à constru-
Mundial e o início das indepen- entre essas nações. De modo crescente, houve ção da paz.
dências na Ásia ainda na década a construção de um ponto de vista comum, no REIS, Raissa Brescia dos; RESENDE, Taciana Almeida Garrido.
de 1940, a configuração política qual se destaca a importância dos países peri- Bandung, 1955: ponto de encontro global. Esboços, Florianópolis,
do globo e das Relações Interna- féricos para a manutenção e a estabilidade das v. 26, n. 42, p. 309-332, maio/ago. 2019. p. 312-313.
196

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 196 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
• Ressaltar a importância ma-
terial da Índia para a Coroa

APIC/GETTY IMAGES
Ásia Britânica.
• Escutar dos estudantes sobre
Na Ásia, vamos acompanhar o movimento pela indepen- o que eles sabem a respei-
dência na Índia. to de Gandhi, personagem
amplamente divulgado em
revistas, filmes e histórias em
Índia quadrinho.
No século XIX, a Índia era conhecida como a joia mais • Conceituar a tática da resistên-
preciosa da Coroa Britânica, tal a grandeza do lucro obtido Gandhi faz a própria roupa. cia pacífica, vertebral nas lutas
pelos britânicos no país. No início do século XX, a resistência Era uma forma de dizer que pela independência da Índia.
indiana à dominação britânica passou a contar com a lide- os indianos não deveriam
comprar nem usar mais • Diferenciar “não violência” e
rança de Mohandas Gandhi, mais conhecido como Mahatma tecidos ingleses. Índia, desobediência civil de apatia
(“Grande Alma”). c. 1945. diante de uma situação de
injustiça.
• Refletir com os estudantes so-
ESCUTAR E FALAR bre o fato de que a não vio-
lência pode ser aplicada na
O texto a seguir foi escrito por Mahatma Gandhi. Leia-o com atenção, reflita e
resolução de conflitos da vida
prepare-se para falar em público sobre ele. cotidiana e na disseminação
A primeira coisa [...] é dizer-vos a vós mesmos: não aceitarei mais o papel de escravo. da cultura da paz.
Não obedecerei às ordens como tais, mas desobedecerei quando estiverem em conflito com
• Abrir espaço para o preen-
a minha consciência. O assim chamado patrão poderá surrar-vos e tentar forçar-vos
chimento da autoavaliação
a servi-lo. Direis: não, não vos servirei por vosso dinheiro ou sob ameaça. Isso poderá e para a escuta das falas dos
implicar sofrimentos. Vossa prontidão em sofrer acenderá a tocha da liberdade, que estudantes.
não pode jamais ser apagada.
Escutar e falar. c) Dá-se o
(GANDHI, [1920] apud CANÊDO, 1985, p. 45) nome de resistência pacífica,
que combina a não violência
a A quem Gandhi está se dirigindo? Leve em conta o emissor e sua filosofia, bem
com a desobediência civil: os in-
como o receptor. a) Ele está se dirigindo ao povo indiano.
dianos eram incentivados a não
b Explicite o conselho que ele dá a seus seguidores. pagar impostos, a não comprar
b) Ele aconselha os indianos a desobedecerem às ordens dos “patrões” (no caso, os britânicos e seus produtos ingleses e a desobede-
c Reflita e opine sobre a tática criada por ele. prepostos) sempre que elas cer às leis que os discriminavam
contrariarem o que dita a
c) Resposta pessoal. em sua própria terra.
Autoavaliação. Responda em seu caderno. consciência. Ele acrescenta
também que a disposição de
a Expressei minhas ideias com objetividade? resistir abrirá passagem para a
b Usei tom de voz e gestos adequados? libertação. Imagens em movimento
c Escutei meus colegas com atenção e respeito? O filme retrata a vida do
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes? líder indiano e as manifesta-
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado? ções não violentas na luta pela
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento? independência do país.
• GANDHI. Direção: Richard
Attenborought. Reino Uni-
197 do, Índia, EUA: Goldcrest Fil-
ms, 1982. Blu-ray (190 min).

13:25 TEXTO DE APOIO


AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 197 Se permanecemos não
04/07/22violentos,
18:08 o ódio ficará sem efeito, como
sucede às demais coisas, por falta de emprego.
Não violência – Gandhi A democracia só pode ser salva pela não violência, pois a de-
A não violência é a maior força e a mais ativa do mundo. Não mocracia, enquanto for sustentada pela violência, não pode pro-
se pode ser passivamente não violento… Uma pessoa que sabe ver a proteção dos fracos. Minha ideia sobre a democracia é que,
expressar ahimsa (não violência) em sua vida exerce uma força nesse regime, os mais fracos devem ter as mesmas oportunida-
superior a todas as forças da brutalidade. des que os mais fortes. Isso não pode jamais ocorrer senão pela
[…] A violência mental não é uma força e prejudica somente a pes- não violência […].
soa cujos pensamentos são violentos. Com a não violência mental, GANDHI, Mahatma. A não violência. In: MARQUES, Adhemar Martins; BERUTTI, Flávio
não ocorre o mesmo; possui um poder que o mundo ainda não co- Costa; FARIA, Ricardo Moura de. História do tempo presente. São Paulo: Contexto,
nhece. Ora, o que quero é a não violência em pensamentos e atos. 2007. (Textos e Documentos 7, p. 55-56).

197

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 197 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
• Destacar os esforços de
Gandhi para unir hindus e
muçulmanos na luta pela Para enfrentar a dominação inglesa, Gandhi propôs e liderou Desobediência civil:
desobediência dos
independência. a resistência pacífica,, tática baseada na não violência e na cidadãos às leis que os
• Evidenciar a relação entre a desobediência civil.
civil. Ou seja, os indianos eram incentivados a humilham ou discriminam
não usar nem comprar produtos ingleses, a desobedecer às leis que em sua própria terra.
herança deixada pelo colo-
os discriminavam dentro da própria Índia e a não pagar impostos Hindu: seguidor da
nialismo inglês e as tensões religião hinduísta.
e conflitos que acontecem como, por exemplo, o imposto sobre o sal. Natural ou habitante da
na região mostrada no mapa Nos anos 1930, o movimento de resistência pacífica alcançou Índia, indiano.
desta página; essa reflexão grande popularidade e reconhecimento internacional. Internamente,
pode contribuir para o de- Gandhi empenhou-se de várias formas (praticou inclusive a greve
senvolvimento da habilidade Dialogando
de fome) para unir hindus e muçulmanos (24% da população na
EF09HI14. Índia), em torno da luta pela independência. O movimento pela
• Trazer o debate sobre a in- independência
Pressionado pela resistência indiana e abalado pela crise
liderado por Gandhi
tolerância religiosa para o decorrente das perdas sofridas com a Segunda Guerra, o governo foi vitorioso. No
cenário brasileiro atual e es- britânico aceitou negociar a independência com os indianos. Mas entanto, o esforço
timular a reflexão sobre o optou pela divisão da Índia em dois países: dele para conciliar
potencial de violência contido hindus e muçulmanos
• República da Índia,, de maioria hindu;
em atitudes, frases e imagens atraiu o ódio de um
que expressem esse tipo de • República do Paquistão,, oriental e ocidental, de maioria mu- radical hindu, que
intolerância, e o quanto são çulmana. o assassinou em
Em 1971, o Paquistão Oriental constituiu um país separado, de 1948. O assassino
prejudiciais à cultura da paz.
o acusava de ser
• Ampliar o debate sobre de- nome Bangladesh.. Observe o mapa.
tolerante com os
savenças e conflitos na re- muçulmanos. O que
Índia: independência e partilha (1947)
gião, a partir das informações você pensa sobre a
90° L
RENATO BASSANI

presentes no texto de apoio intolerância religiosa?


Resposta pessoal.
sobre o estabelecimento das
AFEGANISTÃO CAXEMIRA
fronteiras por uma comissão
liderada pelo advogado bri- PUNJAB
CHINA
# DICA!
(Estado dos Sikhs)
tânico Cyril Radcliffe. PAQUISTÃO Trecho do filme
OCIDENTAL
• Trabalhar a leitura do mapa, (Atual PAQUISTÃO)
NEPAL
BUTÃO Gandhi, sobre a não
violência.
comentar que, após a divisão GANDHI:
territorial, a Inglaterra não se Trópico de Câncer
desobediência civil.
responsabilizou pela organi- Mar ÍNDIA BIRMÂNIA
Vídeo (3min49s).
Arábico PAQUISTÃO (Atual MIANMAR) Publicado pelo
zação do território e, rapida- ORIENTAL
(Atual BANGLADESH) canal: Dropps2005.
mente, deixou a região. Essa Disponível em:
situação acentuou diversos https://youtu.
be/RldYvKySvx8.
conflitos que duram até os Acesso em:
dias atuais. OCEANO 4 maio 2022.
Área contestada pela
• Ampliar o conhecimento dos Índia e pelo Paquistão
ÍNDICO
alunos acerca dos conflitos na Independências:
1947 – Índia e Paquistão
Fonte: A SOMBRA dos
CEILÃO 0 350 ditadores: 1925-1950. São
região, auxiliando na constru- 1948 – Sri Lanka
1971 – Bangladesh
(Atual SRI LANKA)
Paulo: Time-Life: Abril, 1993.
ção da visão crítica em relação (História em revista, p. 108).

ao colonialismo, colabora com


o desenvolvimento da habi- 198
lidade EF09HI14.
Dialogando. A atividade quer
estimular a reflexão sobre a TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 198 posto de duas partes separadas, o Paquistão Oci- 28/06/22 13:25 D3_

intolerância religiosa, um dos dental (atual Paquistão) e o Paquistão Oriental.


Políticas em torno da Partilha da Índia e Em 1971, com o apoio da então primeira minis-
importantes fatores da violên-
Paquistão tra indiana Indira Gandhi, o Paquistão Oriental
cia que assola o mundo atual. conquistou a independência, tornando-se Ban-
A Índia conquistou a Independência no dia 15
Pode-se aproveitar a seção para gladesh. Ainda que o Paquistão (oriental e oci-
de agosto de 1947, após uma luta nacionalista
divulgar a cultura da paz, tal de mais de três décadas. A região que estava sob dental) tenha celebrado sua independência no
como pretendido pela ONU. domínio britânico, British Raj, foi dividida em dia 14 de agosto de 1947, e a Índia no dia 15, as
dois Estados, a Índia e o Paquistão, no evento fronteiras dos novos Estados foram anunciadas
histórico conhecido por Partilha da Índia Britâ- no dia 17 de agosto de 1947. As fronteiras foram
nica. O Paquistão conquistou independência no estabelecidas por uma comissão liderada pelo
dia 14 de agosto de 1947, e a princípio era com- advogado britânico Cyrill Radcliffe, que pouco
198

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 198 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a atração que
as riquezas do Congo exer-
África ceram sobre os europeus no
século XIX.
• Explicar que o colonialismo
Em 1945, o número de países africanos independentes era muito reduzido. Nos 30 belga no Congo impôs aos
anos seguintes, a maior parte da África tinha conquistado sua independência. congoleses o trabalho for-
çado, o racismo e a falta ab-
soluta de direitos, inclusive
Congo o direito de estudar mais de
Com um território 80 vezes maior do que o da Bélgica e situado no coração da África, o
quatro anos. Essa situação
afetou duramente a identida-
Congo foi inicialmente propriedade particular do rei belga Leopoldo II (1865-1909); depois,
de e a vida daquelas pessoas.
passou à administração da Bélgica. Rico em cobre, zinco, manganês, urânio e diamante, • Valorizar a ação conjunta dos
o Congo atraiu poderosas companhias internacionais, como a Unilever e a Companhia congoleses na luta contra a
Mineira do Alto Katanga, que exploravam suas riquezas em troca de baixíssimos salários exploração econômica, opres-
pagos aos congoleses. são política e discriminação
A administração belga era autoritária e racista; os congoleses não tinham liberdade racial.
de expressão nem de representação, e só podiam frequentar a escola por quatro anos. • Dialogar sobre a conquista da
Para lutar contra a opressão e a discriminação racial, os congoleses criaram em 1956 a independência pelos congole-
Associação do Baixo Congo (Abako),, chefiada por Joseph Kasavubu e, no ano seguinte, ses, sob a liderança de Patrice
Lumumba.
o Movimento Nacional Congolês (MNC),, liderado por Patrice Lumumba.. Sob a lide-
• Explicitar as motivações que
rança de Lumumba, os congoleses organizaram uma série de manifestações de rua e
levaram ao malogro do proje-
greves pela independência. Pressionados pela resistência congolesa, os belgas se retiraram to de Lumumba de unir todos
e, em 30 de junho de 1960, o Congo tornou-se independente; o primeiro chefe de governo os congoleses em torno de um
foi o próprio Patrice Lumumba. único Estado Nacional.
Mas o projeto de Lumumba de • Mostrar os fios que ligam a
DALMAS/SIPA PRESS/AP IMAGES/IMAGEPLUS

unir os congoleses em torno de um guerra civil instalada no Congo,


Estado nacional não prosperou. Com no imediato pós-independência,
o apoio dos Estados Unidos, a rica à geopolítica mundial durante
a Guerra Fria.
província de Katanga moveu uma
• Destacar o papel da ONU ao
guerra separatista contra as forças
final da guerra civil que divi-
de Lumumba, que, por sua vez, diu os congoleses.
recebiam ajuda da União Soviética. • Aprofundar o assunto com a
A guerra civil terminou com a leitura do texto: NASCIMENTO,
vitória do coronel Joseph-Desiré Evelyn Rosa do. O manifesto
Mobutu, aliado dos estaduniden- ABAKO e o movimento de in-
ses, que assumiu o poder em 1961. dependência do Congo (RDC),
Lumumba foi preso e assassinado 1956-1969. In: XXVIII Simpósio
em circunstâncias misteriosas, o que Nacional de História, 2015,
levou a Organização das Nações Florianópolis. Anais [...]. Flo-
Unidas (ONU) a intervir no país para Congoleses celebram a independência. República rianópolis: UFSC; UDESC, 2015.
assegurar a independência. Democrática do Congo, 30 de junho de 1960.

199 Dica de leitura


Livro que discute questões
contemporâneas da África
Negra, com uma abordagem
13:25 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 199 28/06/22 13:25
reflexiva e a apresentação de
(CONTINUAÇÃO) documentos diversos, como
conhecia a região, utilizando-se de mapas e ma- mapas, dados estatísticos, bi-
teriais oriundos dos registros acumulados pelos bliografia complementar etc.
diversos censos demográficos organizados pe-
los britânicos. Comunidades, famílias e proprie- • M'BOKOLO, Elikia. África
dades foram cortadas ao meio na divisão, no Negra: história e civilizações.
que foi um período caracterizado por intensa Tomo II (Do século XIX aos
violência e deslocamento de pessoas. nossos dias). Salvador; São
ALVES, Mariana Faiad B. O legado da partilha da Índia e
Paquistão: violência contra muçulmanos na Índia pós-colonial. Paulo: EDUFBA; Casa das
Malala, São Paulo, v. 5, n. 8, p. 36-53, set. 2017. p. 37-38. Áfricas, 2011.
199

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 199 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
• Ressaltar as semelhanças no
tratamento dado aos africa-
nos entre os colonialismos Angola, Moçambique e Guiné-Bissau
europeus na África.
Na África sob domínio português, a vida dos africanos também era marcada por intensa
• Apresentar o sistema de con-
exploração. Os angolanos, por exemplo, trabalhavam para os portugueses nas plantações
trato como uma conquista
dos angolanos frente ao (de cana-de-açúcar, milho, café, amendoim), nas minas (de diamantes) e nas cidades, em
colonialismo português. E troca basicamente de roupa e comida, já que os melhores empregos eram reservados aos
apontar suas limitações por portugueses vindos da metrópole. Em 1930, angolanos pressionaram o governo português
conta do abuso de poder dos por melhores condições de trabalho e obtiveram uma conquista: o sistema de contrato..
colonos portugueses. Por meio dele, o governo português prometia pagar um salário aos trabalhadores africanos
• Evidenciar a violência da PIDE e respeitar seus costumes e valores. Mas, no interior, isso pouco adiantou, pois a autoridade
na repressão à resistência eram os próprios colonos portugueses. Além disso, a PIDE, polícia política do governo por-
angolana, sob a ditadura de tuguês, liderada pelo ditador António de Oliveira Salazar, reprimia à bala toda e qualquer
Salazar. manifestação popular angolana. A violência do governo português provocou um aumento
• Esclarecer que, durante mui- da consciência política e da resistência africana, dentro e fora da África.
to tempo, o Império portu- Em Lisboa (Portugal), em 1951, um grupo de universitários vindos da África fundou o
guês dependeu das suas co- Centro de Estudos Africanos.. Entre esses jovens estavam Amílcar Cabral (Guiné-Bissau),
lônias na América, na África Agostinho Neto e Mário Pinto de Andrade (Angola), Francisco Tenreiro (São Tomé
e no Oriente, de onde obti-
e Príncipe) e Noémia de Sousa (Moçambique). Essa geração de militantes africanos –
nha parte considerável de
conhecida como “geração de 50” – usou a poesia como arma de combate ao colonialismo.
sua riqueza. No século XIX,
com a independência po- Muitos deles continuaram a luta por seus
DON CARL STEFFEN/GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES

lítica do Brasil, o Império ideais nos movimentos de libertação que se


português tornou-se mais formaram em seus países. Entre esses movi-
dependente de suas colônias mentos estavam o Movimento Popular
africanas, como Angola, Mo- para a Libertação de Angola ((MPLA), ),
çambique e Guiné-Bissau. liderado por Agostinho Neto, a Frente para
• Conhecer o ativismo político a Libertação de Moçambique ((Frelimo), ),
do Centro de Estudos Africa- dirigida mais tarde por Samora Machel, e o
nos, fundado em Lisboa por Partido Africano para a Independência
jovens universitários vindos da Guiné e de Cabo Verde ((PAIGC), ), sob a
de diferentes partes da África. liderança de Amílcar Cabral.
• Identificar os principais movi- Durante anos, o governo salazarista
mentos de libertação da Áfri- enviou aviões e milhares de soldados
ca de dominação portuguesa
armados com metralhadoras para reprimir os
e conhecer seus líderes.
movimentos africanos pela independência, o
que adiou, mas não impediu a vitória desses
movimentos.

Agostinho Neto, primeiro Presidente da


República de Angola. Angola, c. 1970.

200

+ATIVIDADES
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 200 literário, com recitação de poesia ou leitura 28/06/22 13:25 AV_

de pequenos textos desses autores.


Interdisciplinaridade: é possível aprofundar Os colegas de classe vão comentar do ponto
as questões sobre os movimentos de libertação de vista da mensagem e do texto.
africana com o professor de Língua Portuguesa. Os professores de História e Língua Portu-
Tragam para a sala de aula textos em poesia guesa vão conduzir as apresentações, mediar
ou prosa de autores africanos da “geração de as apreciações dos outros estudantes e fazer
50”, a exemplo de Agostinho Neto (Angola), os comentários finais.
Mário Pinto de Andrade (Angola), Francisco Temas Contemporâneos Transversais: esta
Tenreiro (São Tomé e Príncipe) e Noémia de atividade contribui com a educação para a va-
Sousa (Moçambique), e promovam um sarau lorização do tema multiculturalismo.
200

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 200 26/08/2022 16:52


TEXTO DE APOIO
O que resta da Revolução
dos Cravos
A Revolução dos Cravos […] Os portugueses liberta-
ram-se sozinhos. O 25 de abril
Em Portugal, os gastos com a guerra na África (cerca de 40% do orçamento nacional)
de 1974, que ficou na história
e a morte de milhares de jovens soldados portugueses geraram forte descontentamento, como “Revolução dos Cravos”,
o que contribuiu para a eclosão da Revolução dos Cravos,, em 25 de abril de 1974. foi na realidade um golpe de
Liderada por jovens oficiais das Forças Armadas portuguesas e contando com amplo estado em sentido inverso, ao
apoio popular, a Revolução dos Cravos derrubou a ditadura salazarista, que vigorava contrário de todos aqueles co-
nhecidos: as Forças Armadas
em Portugal havia 42 anos. insurgiram-se contra um regime
Vitorioso, o novo governo português adotou o seguinte lema: “Democracia em totalitário para restabelecer a
nosso país, descolonização na África”. E, depois de dissolver a polícia política portuguesa, democracia, e esta foi a verda-
encaminhou o reconhecimento das independências africanas. Moçambique teve a deira revolução, politicamente
falando. Seguiu-se também uma
independência reconhecida em 25 de junho de 1974, sob a presidência de Samora
revolução popular, mas essa foi
Machel;; Angola, em 11 de novembro de 1975, sob a presidência de Agostinho Neto.. sobretudo uma adesão entusias-
ta, uma explosão de alegria cole-

JEAN-CLAUDE FRANCOLON/GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES


tiva, uma espécie de embriaguez
de liberdade por um povo que
tinha estado oprimido durante
quarenta e oito anos (o fascis-
mo português detém o recorde
de duração na Europa). A eufo-
ria desta revolução propagou-se
rapidamente, era contagiosa, e a
partir de Lisboa alcançou, num
abrir e fechar de olhos, todo
o país. Porque a opressão que
Portugal tinha sofrido não foi
só política: fora social, cultural,
antropológica, e tinha reduzi-

BERNARD BISSON/SYGMA/GETTY IMAGES


do os portugueses a um povo
triste e deprimido, deformando
a natureza de um povo espon-
taneamente alegre e afável. E
agora esta alegria que lhes fora
negada explodia numa festa co-
Multidão saiu às ruas durante a
letiva. Mas era também a festa
Revolução dos Cravos. Lisboa
pelo final de uma longa guerra
(Portugal), 25 de abril de 1974.
colonial que havia ensanguen-
tado o Portugal do Ultramar (as-
sim eram definidos Moçambi-
Admirador ostenta o retrato que, Angola e Guiné), que tinha
do então recém-falecido dizimado quase uma geração
presidente Samora Machel. de portugueses (a nascida nos
Moçambique, 1986. anos 40), que arrasara um país
reduzindo-o ao luto e miséria
pelo interesse dos poucos que
do Ultramar recolhiam/retira-
vam fortunas. […]
201
TABUCCHI, Antônio. O que resta da
Revolução dos Cravos. Revista Diacrítica,
Braga, v. 28, n. 2, p. 79-81, 2014. p. 80-81.

13:25 ENCAMINHAMENTO
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 201 30/06/22 16:48

• Informar que, indiferente aos apelos da ONU pelo fim da guerra na África, Portugal conti-
nuava enviando seus jovens para os campos de batalha. Em 1972, a maior parte dos 140 mil
homens que compunham seu Exército estava na África.
• Explicar as motivações da Revolução dos Cravos.
• Reforçar que o apoio popular dado à Revolução dos Cravos foi possível por conta de seus ob-
jetivos de pôr fim à ditadura salazarista em Portugal e ao colonialismo português na África.
• Chamar a atenção para o fato de que as lutas do PAIGC, do MPLA e da Frelimo contribuíram
tanto para a democratização de Portugal quanto para a libertação da África portuguesa.

201

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP.indd 201 31/08/22 10:16


ENCAMINHAMENTO
• Conceituar o apartheid, ofi-
cializado na África do Sul em
1948, e fornecer exemplos A luta contra o apartheid na África do Sul
de seu funcionamento.
Em alguns países africanos independentes, os nativos tiveram Segregacionista: regime
• Questionar os estudantes que adota a segregação
de lutar contra a opressão de regimes segregacionistas como o
sobre como se sentiriam se racial: isolamento de uma
da Rodésia e o da África do Sul. coletividade com base na
vivessem sob o apartheid na
No começo do século XX, a África do Sul, país rico em recursos cor da pele ou origem.
África do Sul.
minerais, era habitada por povos negros, como os bosquímanos, Pixley Ka: líder político
• Valorizar o protagonismo da etnia zulu.
os xosas e os zulus, e por descendentes de holandeses e ingleses
africano, evidenciando a Apartheid: palavra
(cerca de 15% da população). Essa minoria impôs à maioria negra
resistência ao apartheid, li- que em africâner
derado pelo CNA de Nelson uma série de leis segregacionistas em 1911. Diante disso, os negros, quer dizer separação.
liderados por Pixley Ka fundaram, no ano seguinte, um partido Africâner é o nome da
Mandela. língua desenvolvida
político para lutar por seus direitos, o Congresso Nacional pelos descendentes de
• Ler para os alunos o trecho a
seguir, retirado da autode- Africano ((CNA).). holandeses que foram
para a África do Sul no
fesa feita nos tribunais por Em 1948, a minoria branca decidiu oficializar o apartheid
apartheid::
século XVII interessados
Nelson Mandela. regime segregacionista que obrigava os negros a morar em lugares nas minas de ouro e
separados dos brancos, a frequentar escolas, praias e banheiros só diamantes da região.
para negros e a andar constantemente com um passe, de modo
que a polícia pudesse controlar seu deslocamento. Eram proibidos
TEXTO DE APOIO
também de possuírem terras em 87% do território nacional, apesar
A única cura consiste em mu-
de serem muito mais numerosos do que os brancos.
dar as condições nas quais os
africanos são forçados a viver, Reagindo a essa situação, o CNA promoveu várias manifesta-
atendendo às suas reivindi- ções contra o governo racista de seu país. Numa delas, em 1964, o
cações legítimas. Os africanos governo prendeu oito líderes do CNA, entre eles Nelson Mandela,
querem receber salários que
que foi condenado à prisão perpétua. Nas décadas seguintes, as
possibilitem a sobrevivência. Os
africanos querem fazer o traba- lutas pelo fim do racismo se intensificaram. Em junho de 1976,
lho do qual são capazes, e não o milhares de estudantes negros foram às ruas de Johanesburgo, a
trabalho do qual o governo os de- maior cidade do país, em protesto contra a imposição da língua
clara capazes. Queremos poder africâner nas escolas. A polícia
WILLIAM F. CAMPBELL/GETTY IMAGES

viver onde obtemos trabalho, e


atirou contra as crianças e
não ser impedidos de viver numa
área porque não nascemos [...]. os jovens que marchavam
[...] Queremos fazer parte da vestidos com seus uniformes
população geral, e não ser confi- escolares. Cento e setenta
nados em nossos guetos. Os ho- crianças foram mortas no
mens africanos querem ter suas episódio, que ficou conhecido
mulheres e seus filhos vivendo
como Massacre de Soweto..
com eles onde eles trabalham;
não querem ser forçados a viver
de modo antinatural em alber-
gues de homens. [...] Queremos Pessoas embarcando em um
ônibus em que lemos em inglês
uma participação justa na África
e africâner “Somente para não
do Sul como um todo; queremos
brancos”. África do Sul, 1982.
segurança e uma participação
na sociedade.
MANDELA, Nelson. Discurso de Mandela
202
no Julgamento de Rivônia (1964). Revista
Movimento. São Paulo, 5 dez. 2017.
Disponível em: https://movimentorevista.
com.br/2017/12/discurso-de-mandela-no- nais, a partir da reação
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 202 provocada pelo mas- para o desenvolvimento do tema cidadania 28/06/22 13:25 193
julgamento-de-rivonia-1964/. Acesso em:
1 jul. 2022.
sacre de Soweto. e civismo, com foco em educação em direitos
• Aprofundar o assunto com a leitura do tex- humanos.
• Refletir com os estudantes
sobre o direito dos povos de to: PEREIRA, Analúcia Danilevicz. A (Longa) • Chamar a atenção para o fato de que 1948,

falarem e estudarem em suas História da desigualdade na África do Sul. ano da oficialização do apartheid na África
próprias línguas, sem ter de Philia&Filia, Porto Alegre, v. 2, n. 1, jul./dez. do Sul, é também o ano da publicação da
estudar na língua de outrem. 2011. p. 118-148. Declaração Universal dos Direitos Humanos.
• Pensar na força da opinião • Temas Contemporâneos Transversais: a re-
pública internacional sobre flexão sobre abusos cometidos pelo colonia-
a política dos Estados Nacio- lismo europeu na Ásia e na África contribui
202

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 202 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
• Propor que reflitam sobre as
consequências do período do
O fato chocou a opinião pública mundial: alguns países passaram a boicotar econo- regime do apartheid na vida
micamente a África do Sul, e a ONU determinou a proibição da venda de armas ao país. da população nos dias atuais e
Sob forte pressão interna e externa, o governo sul-africano anulou as leis do apartheid em sobre outras formas de segre-
1990; Nelson Mandela foi libertado da prisão, o CNA recuperou a legalidade e os negros gação que podem ser percebi-
passaram a ter os mesmos direitos civis e políticos que os brancos. das no mundo atual. Permitir
que troquem informações e
Em 1994, ocorreram as primei-

GEORGES MERILLON/GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES


exponham as emoções rela-
ras eleições com a participação dos cionadas ao tema, que pode
negros na África do Sul. Mandela foi ser particularmente sensível
eleito presidente da República e, com para parte dos estudantes.
o apoio da maioria no Parlamento, • Imaginar o que pode ter re-
conseguiu mais uma conquista: presentado para os negros
aprovou a Lei de Direitos sobre sul-africanos a eleição de
a Terra, que restituiu às famílias Mandela para a presidência
negras as terras que lhes tinham sido da República na África do Sul.
usurpadas havia décadas. • Diferenciar “descolonização”
de “independência”, ressal-
tando que este último termo
Outdoor com a imagem de Nelson
sugere o ativismo africano e
Mandela em que lemos “Vote para a vitória sobre o colonialismo.
ter emprego, paz e liberdade”. • Trabalhar a leitura do mapa
África do Sul, 1994. das independências na África,
facilitando a percepção do
África: independências porquê o ano de 1960 é co-
nhecido como Ano Africano.
RENATO BASSANI
EUROPA

• Retomar com os alunos a im-


TUNÍSIA
I. da Madeira Mar Mediterrâneo
(POR) MARROCOS
Is. Canárias
(ESP)
ARGÉLIA
LÍBIA EGITO
portância da atuação de todos
Trópico de Câncer
SAARA OCIDENTAL
(MAR) na construção de uma socieda-
Ma
rV

de justa e com valorização da


erm

MAURITÂNIA
elh

MALI
NÍGER
diversidade, de modo que eles
o

CABO CHADE
ÁSIA
SENEGAL ERITREIA
VERDE
GÂMBIA BURKINA
GUINÉ-BISSAU GUINÉ FASO SUDÃO DJIBUTI
se entendam como agentes de
BENIN
TOGO

COSTA
GANA

SERRA LEOA NIGÉRIA REP. ETIÓPIA


DO
LIBÉRIA MARFIM CAMARÕES
CENTRO-
-AFRICANA
SOMÁLIA
transformação.
GUINÉ
Equador
EQUATORIAL
CONGO
UGANDA
QUÊNIA
• Interdisciplinaridade: o tema
SÃO TOMÉ E GABÃO 0º
PRÍNCIPE REPÚBLICA RUANDA
DEMOCRÁTICA BURUNDI
OCEANO
ÍNDICO
do apartheid pode ser explo-
DO CONGO
OCEANO
rado junto ao professor do
Meridiano de Greenwich

TANZÂNIA SEICHELES
ATLÂNTICO
ANGOLA
MALAUÍ
COMORES
componente de Geografia.
ZÂMBIA
0 899
MOÇAMBIQUE
Com o objetivo de propor
Trópico de Capricórnio
NAMÍBIA
ZIMBÁBUE

BOTSUANA
MADAGASCAR
MAURÍCIO
uma análise crítica em relação
Até 1945
SUAZILÂNDIA
à manutenção de estruturas
Década de 1950
Década de 1960
ÁFRICA
DO SUL
LESOTO racistas, mesmo após o fim do
A partir de 1970

regime de segregação, propor
Fontes: SERRYN, Pierre; BLASSELLE, René. Atlas Bordas Géographique et Historique. a organização dos alunos em
Paris: Bordas, 1993. p. 36-37; THE TIMES Atlas of World History.
Londres: Times Books Limited, 1990. p. 282-283.
pequenos grupos, para que
pesquisem dados atuais: eco-
203 nômicos, políticos e sociais na
África do Sul, comparando os
indicadores relativos à popula-
ção negra aos que dizem res-
13:25 193a208-HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 203 24/08/22 09:09
peito à branca, descendente
dos colonizadores. Ao final,
orientar a construção de um
relatório com as conclusões dos
grupos. Solicitar que utilizem
os dados encontrados para
sustentar seus argumentos;
desenvolve-se assim a compe-
tência geral 7 e a competência
específica 1.

203

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 203 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
1. Explicar que a roupa e os
apetrechos dos que estão sendo
1. a) Vemos uma pessoa negra retratada varrendo os colonizadores do

ATIVIDADES
varridos são semelhantes aos continente africano. Note que a roupa e os NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
dos aventureiros europeus que apetrechos dos que estão sendo varridos são
adentraram a África no século semelhantes aos dos aventureiros europeus que adentraram a África no
século XIX. O traje usado pelo personagem faz referência ao líder ganense
XIX. Explicar, também, que o Kwamw Nkrumah, que o adotou como
chapéu usado pelo persona-

ARCHIVES CHARMET/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


símbolo da identidade africana.
gem é semelhante ao do líder
ganense Kwame Nkrumah. I. Retomando
3. Os alunos podem apresen-
tar, como justificativa, o fato
de que uma das razões para
1 Observe a charge a seguir.
a) O que vemos na charge?
as independências da África e
b) Como a charge interpreta os processos de inde-
da Ásia é a solidariedade dos
pendência das colônias africanas?
países africanos e asiáticos
c) Quais movimentos contribuíram para as inde-
recém-libertados. pendências africanas?
1. b) Interpreta como uma ação realizada pelos próprios africanos
para expulsar os exploradores europeus de seu território. Repre-
Imagens em movimento senta as independências no continente africano ocorridas a partir
do fim da Segunda Guerra Mundial.
Vídeo da UFRGS que aborda 1. c) A negritude e o pan-africanismo,
Intenso outono de limpeza,
o tema da negritude. que buscavam afirmar a identida- de Szego Gizi,
de africana. outubro de 1960.
• A B D I A S
Nascimento –
Entre a negritude e o 2 Avalie as afirmações a seguir.
Pan-Africanismo. 2018. I. O pan-africanismo foi um movimento político-ideológico surgido como forma de resistência,
Vídeo (9min26s). Publicado que visava transformar a situação da “raça negra”, libertando-a da pobreza e da opressão.
pelo canal Ilea UFRGS . II. Um importante pensador do pan-africanismo foi o jamaicano Marcus Garvey. Garvey dizia
Disponível em: https://www. que a África era o berço de grandes civilizações, como Egito, Núbia e Etiópia; um lugar mítico,
youtube.com/watch?v=- “uma pátria livre” a qual os afro-americanos deveriam ajudar economicamente.
MHtL5wOjVQ. Acesso em: 1 III. Considerando-se um predestinado, Garvey criou um organismo para promover a volta dos
jul. 2022. negros da Jamaica para a Libéria, considerada a nação-mãe dos negros de todo o mundo.
Seu objetivo maior era recuperar “a África para os africanos”.
IV. A negritude, movimento político-literário nascido no final dos anos 1930, também contribuiu
com ideias que alimentaram as independências africanas.

Indique no caderno a alternativa correta, sendo V para as verdadeiras e F para as falsas.


a) V, F, V, F b) V, F, V, V c) F, V, F, F d) V, V, F, F
2. Alternativa B.
3 Copie no caderno as alternativas corretas e justifique sua escolha. Sobre as razões
das independências da África e da Ásia, cabe citar:
a) a luta dos nativos da África e da Ásia contra os dominadores europeus.
b) o enfraquecimento das potências europeias por causa das perdas sofridas durante a Segunda
Guerra Mundial; várias delas tinham colônias na Ásia e na África.
c) a falta de acordo entre os países africanos e asiáticos tendo em vista um objetivo comum.
d) movimentos como o pan-africanismo e a resistência pacífica, que também contribuíram para
as independências africanas e asiáticas.
3. Alternativas A, B e D.
204

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 204


A palavra négritude
négritude,, em francês, deriva de nègre
nègre,, termo que no 28/06/22 13:26 AV_
início do século XX tinha um caráter pejorativo, utilizado, nor-
O termo negritude, nos últimos anos, vem adquirindo diversos
malmente, para ofender ou desqualificar o negro, em contraposi-
“usos e sentidos”. Com a maior visibilidade da “questão étnica”, no
ção a noir
noir,, outra palavra para designar negro, mas que tinha um
plano internacional, e do movimento de afirmação racial no Brasil,
sentido respeitoso. A intenção do movimento foi justamente in-
negritude passou a ser um conceito dinâmico, o qual tem um cará-
verter o sentido da palavra négritude ao pólo oposto, impingindo-
ter político, ideológico e cultural. No terreno político, negritude serve
-lhe uma conotação positiva, de afirmação e orgulho racial. Nessa
de subsídio para a ação do movimento negro organizado. No campo
perspectiva, a tática foi de desmobilizar o inimigo em um de seus
ideológico, negritude pode ser entendida como processo de aquisi-
principais instrumentos de dominação racial: a linguagem. [...]
ção de uma consciência racial. Já na esfera cultural, negritude é a
tendência de valorização de toda manifestação cultural de matriz DOMINGUES, Petrônio José. Movimento da negritude: uma breve reconstrução
histórica. África, São Paulo, n. 24-26, p. 193-210, 2009. p. 194,196, 197.
africana. Portanto, negritude é um conceito multifacetado, que pre-
cisa ser compreendido à luz dos diversos contextos históricos.[...]
204

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 204 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
Professor, no desenvolvi-
4. c) O 8o princípio, que propõe a negociação entre as partes como solução para os litígios. mento da atividade 4, explicar
que a Conferência de Ban-
4 Ao final da Conferência de Bandung, seus participantes formularam dez princípios.
Apresentamos alguns deles a seguir. Leia-os com atenção e depois responda. dung, realizada entre 18 e 24
1o respeito aos Direitos do Homem [...] e à Carta
de abril de 1955, na Indonésia,

EDITORA SELO NEGRO EDIÇÕES


afirmou que o imperialismo e
das Nações Unidas [...]
o racismo são crimes e defen-
3o não ingerência nos assuntos internos de outros
deu importantes princípios,
países; [...]
tais como: o “não alinhamen-
5o abstenção de recorrer a acordos [...] que tenham to” com as superpotências
em vista servir aos interesses [...] de uma grande (Estados Unidos e União So-
potência; [...] viética), sendo empregada
7o não recurso à força contra outro país; a expressão Terceiro Mundo
8o resolução negociada dos problemas em litígio para designar o bloco dos pa-
e cooperação; íses não alinhados; o respei-
9o respeito pela justiça; [...] to à soberania e integridade
HERNANDEZ, Leila M. G. Leite. A África na sala de aula: visita à história territorial de todas as nações;
contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 167. a cooperação entre os países
a) Localize e aponte o princípio que incorpora as conquis- do Terceiro Mundo; a solução
tas obtidas com a Revolução Francesa e com o fim da de todos os conflitos interna-
Segunda Guerra. 4. a) O 1o princípio. Fac-símile da capa do livro A África
na sala de aula: visita à história
cionais por meios pacíficos
b) Qual princípio demonstra uma evidente preocupação (negociações e conciliações,
contemporânea, de Leila Leite
com abusos decorrentes de acordos favoráveis aos
Hernandez. arbitragens por tribunais in-
mais fortes? Justifique. 4. b) O 5o princípio, que repudia os acordos favorecendo às grandes potências.
ternacionais), de acordo com
c) Qual dos princípios propõe o diálogo como solução Litígio: falta de acordo entre pessoas
para os problemas entre pessoas e países? Justifique. sobre determinado ponto.
a Carta da ONU.
d) Em dupla. As resoluções da Conferência de Bandung
4. d) Por um lado, há hoje tri-
(1955) reafirmavam a liberdade e a igualdade entre os povos como elementos decisivos à bunais especializados em arbi-
preservação da paz. O que se pode fazer para termos um mundo com mais igualdade? trar litígios entre países, como,
4. d) Resposta pessoal. por exemplo, o Tribunal Inter-
5 Copie no caderno as alternativas corretas e justifique sua escolha. Quais fatos a nacional de Justiça, o principal
seguir caracterizam como foi o processo de independência indiano? 5. Alternativas A, B e C. órgão judiciário da Organi-
a) Os indianos passaram a desrespeitar leis que os dis- zação das Nações Unidas, res-
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

criminavam dentro de seu próprio país. ponsável por julgar as disputas


b) Os indianos se uniram e pararam de comprar pro- territoriais e marítimas entre
dutos dos britânicos, bem como pagar as taxas
países e os desacordos sobre
impostas por eles.
atividades armadas. Por ou-
c) Os indianos adotaram a resistência pacífica, tática
tro, o modelo de globalização
baseada na não violência e na desobediência civil.
excludente agrava o quadro
d) Os indianos destruíram lojas e sedes do governo
britânico, a fim de mostrar que não aceitariam mais
de injustiça e desigualdade
a dominação estrangeira. social, e isto, somado a outros
fatores, como os interesses da
superlucrativa indústria bélica,
Mahatma Gandhi. Índia, c. 1940.
contribui para soluções violen-
tas nas disputas entre grupos e
países.
205 5. Os alunos podem apresen-
tar a seguinte justificativa: o
líder indiano Mahatma Gan-
13:26 TEXTO DE APOIO
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 205 consecução do objetivo maior, a independência,
30/06/22 16:48 dhi pregava a resistência pací-
se dissolvesse em protestos isolados. Assim, fica, a não violência. Com base
A Conferência de Bandung estava posta a questão dos caminhos, decisiva nela, os indianos resistiram ao
[…] A luta por soberania implicou a escolha para os países africanos, no pós-Segunda Guer- domínio britânico sem, no en-
ra Mundial, quando ganhou prevalência o tema
de estratégias eficazes definidas pelas elites tanto, atacar as lojas e as sedes
culturais e políticas africanas em fóruns inter- da autodeterminação, mas também os da coo-
do governo que os oprimiam.
nacionais, com o objetivo de superar uma sé- peração e da integração dos países do “Terceiro
rie de impasses para que se constituíssem os Mundo”.
Estados Nacionais. […] Tratava-se, portanto, de HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula:
estabelecer ações comuns em torno dos mes- visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005.
mos interesses como forma de impedir que a p. 166-167.

205

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 205 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
6. A alternativa a) está in-
correta porque, durante um
longo tempo, o Congo foi pro-
priedade particular do rei da
6 Leia as afirmações abaixo referentes ao processo de independência do Congo, iden-
tifique as alternativas corretas e justifique sua escolha.
Bélgica, Leopoldo II, até que,
a) Durante um longo tempo, o Congo foi propriedade particular do rei da Bélgica, Leopoldo II,
em 1960, sob a liderança de
e ainda hoje depende da Bélgica politicamente.
Patrice Lumumba, o Congo con-
b) A administração belga era autoritária e racista. Os congoleses só podiam frequentar a escola
quistou sua independência.  A
por quatro anos e não havia liberdade de expressão nem direito de participação política.
alternativa c) está incorreta
c) O MPLA, liderado por Agostinho Neto, foi decisivo nas lutas pela independência do Congo.
porque a Abako, Associação
do Baixo Congo, e o Movimen- d) Liderados por Patrice Lumumba, os congoleses organizaram uma série de manifestações de
rua e greves pela independência. Pressionados, os belgas se retiraram do Congo e o país se
to Nacional Congolês (MNC)
tornou independente.
foram decisivos nas lutas pela
e) Após a independência, o Congo viveu uma longa guerra civil. Parte das forças era apoiada
independência do Congo. 
pelos Estados Unidos e a outra, pela União Soviética. Esse conflito culminou com a vitória do
7. Ao propor a atividade, coronel Mobutu, aliado dos Estados Unidos.
permitir que os alunos com- 6. Alternativas B, D e E.
partilhem a interpretação que 7 Leia o trecho do poema de Agostinho Neto.
fizeram do poema antes de Não basta que seja pura e justa a nossa causa
responder às questões. Para É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.
ampliar o desenvolvimento da […]
competência geral 4, pedir que Lutar pra nós é ver aquilo que o povo quer realizado.
tragam poemas ou músicas que É ter a terra onde nascemos. 7. a) Na primeira estrofe, o poeta chama atenção para a ne-
façam parte do cotidiano deles É sermos livres pra trabalhar.
cessidade de uma reforma interior para se defender a causa da
e que potencialize sentimentos independência. O poema acredita na mudança do mundo, mas
É ter para nós o que criamos. para isso o ser humano tem de mudar internamente. “É neces-
de justiça e esperança, dialo- Lutar para nós é um destino. sário que a pureza e a justiça / existam dentro de nós.”
gando com as manifestações
É uma ponte entre a descrença 7. b) Para ter a própria terra, os frutos da terra e a liberdade.
da arte na expressão de senti- 7. c) O poeta transmite esperança ao afirmar que a luta “é uma
e a certeza do mundo novo.
mentos e ideias. ponte entre a descrença / e a certeza de um mundo novo”.
AGOSTINHO NETO. Do povo buscamos a força. Revista Raça, [s. l.], n. 191, out. 2016.
8. As alternativas b) e d) es-
tão incorretas, pois a situação a) Interprete. Qual é a mensagem do poeta na primeira estrofe?
dos angolanos não melhorou; b) De acordo com o poema, lutar para quê? Quais foram os objetivos da guerra da independência
mesmo com o sistema de con- angolana?
trato, as autoridades portu- c) O poeta transmite esperança ou descrença na possibilidade de mudar o mundo? Justifique.
guesas continuaram exercendo
seu poder ante a população. A 8 Por meio de pressões populares, os angolanos conquistaram o sistema de contrato.
O governo português prometeu pagar salários aos trabalhadores e respeitar seus
situação também não piorou
costumes e valores. Como ficou a situação da população após essa conquista?
devido a essa conquista, pois
Copie em seu caderno a alternativa correta.
os portugueses apenas conti-
a) No interior, isso pouco adiantou, pois os colonos portugueses não mudaram o seu compor-
nuaram agindo como antes,
tamento, além de a PIDE reprimir com violência os protestos angolanos.
o que torna a alternativa c)
b) Melhorou, pois os colonos portugueses não podiam mais explorar os trabalhadores, porém
também incorreta.
ainda eram racistas e não se importavam com os costumes da população.
c) Piorou, pois os colonos não gostaram de ser intimados pelo governo português e intensificaram
a exploração da população nativa.
TEXTO DE APOIO d) Melhorou, pois os angolanos passaram a exercer cargos públicos de prestígio e bem remune-
rados, apesar de ainda enfrentarem uma grande resistência dos portugueses.
A literatura de Agostinho 8. Alternativa A.
Neto: intenção poética
206
Muito se tem discutido sobre a
configuração do intelectual nos
países africanos de língua por-
tuguesa e sobre como os escri- gestos que legitimam os206saberes de sua cultura,
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd literatura produzida por ele tem um forte apelo 20/08/22 12:36 D3_

tores desses países assumiram permite que o seu trabalho seja uma forma de humanista e revolucionário. Essas característi-
– e por vezes assumem – uma acesso aos significantes que por vezes só circu- cas mostram-se em poemas do escritor angola-
fala pública que, via literatura, lam no domínio da oralidade. Assim, o escritor no Agostinho Neto e demonstram faces do seu
expressa os anseios de gran- de vários espaços africanos pode ocupar o lu- projeto literário.
de parte da população. Como gar do intelectual pois considera os conflitos do FONSECA, Maria Nazareth Soares. A literatura de Agostinho
criador, o escritor trabalha com seu tempo, defende as ideias em que acredita Neto: intenção poética e política. Literafro. Belo Horizonte, 1
possibilidades de tornar crível o porque elas têm como fundamento o bem-estar jul. 2021. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/
literafricas/literatura-angolana/1503-maria-nazareth-soares-fon-
que inventa no plano da ficção da humanidade. Comprometido com a trans-
seca-a-literatura-de-agostinho-neto-intencao-poetica-e-politi-
e, ao expor em seu processo de formação da realidade vivida, o escritor escre- ca#:~:text=A%20fun%C3%A7%C3%A3o%20da%20litera-
criação uma intenção declara- ve para conclamar a participação daqueles que tura%2C%20escrita,que%20se%20acentuam%20em%20
da de trazer para o seu texto os comungam o mesmo ideal e, nesse sentido, a %C3%81frica. Acesso em: 1 jul. 2022.
206

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 206 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
9. a) O golpe militar que depôs o regime salazarista ficou conhecido como Revolução dos Cravos, pois não houve 9. c) A música “Grândola, Vila
conflitos armados e teve como símbolo o cravo, flor que os soldados rebelados colocavam nos canos dos seus fuzis. Morena” apresenta temáticas
9 Leia o texto a seguir com atenção. contrárias à ideologia da dita-
dura salazarista, como “demo-
Revolução dos Cravos cracia – O povo é quem mais
Há [mais de] 40 anos o mundo presenciou uma das revoluções mais impor- ordena; justiça social – Terra da
tantes do século XX. Do outro lado do Atlântico, Portugal amanhecia para o golpe fraternidade e Em cada rosto,
[...] que deporia 48 anos de ditadura salazarista. [...] igualdade”. Na forma, por sua
Foi um golpe peculiar. [...] Em vez de tiros, flores. Os tais cravos se tornaram
vez, ouvem-se sons como os de
passos ordenados, inicialmente
um capítulo à parte na história do acontecimento. A versão oficial conta que uma
fracos e que vão ficando cada
moça que trabalhava em um restaurante perto do Terreiro do Paço, onde os capi-
vez mais fortes. O cantor inicia
tães do MFA, liderados pelo general António de Spínola, entravam em formação,
um verso, cujo final é repetido
foi a responsável pela distribuição das flores. Ela levava cravos para casa quando
por outro cantor. Em seguida,
um soldado pediu-lhe um cigarro. Ela não tinha e no lugar disso deu-lhe a flor. um coro repete todo o verso.
O jovem colocou o cravo no cano de seu fuzil, ato repetido por outros colegas e, Assim, seria possível imaginar
depois, pela tropa rebelde. um cenário de homens e mu-
Os símbolos de delicadeza romantizaram a memória da Revolução de 25 de lheres em marcha a caminho da
abril não só em Portugal, mas em todos os países onde floresciam movimentos luta, tendo essa canção como
pró-democracia. Pensar que um regime que mantinha centenas de presos políticos símbolo ou música de protesto.
em colônias penais, censurava as artes e a imprensa e oprimia o povo podia ser Explicar que outras músicas
derrubado de forma pacífica encheu o mundo de esperança. [...] também retrataram a Revolu-
PAULINO, Mariana. Os 40 anos da Revolução dos Cravos. ção dos Cravos, como a escrita
Desafios do desenvolvimento, Brasília, DF, ano 11, ed. 81, 5 outubro 2014.
pelo compositor Chico Buarque,
a) Explique por que o movimento que depôs o regime salazarista, que governou Portugal por chamada “Tanto mar”. Comentar
mais de quatro décadas, ficou conhecido como Revolução dos Cravos.
que à época do lançamento, em
b) Além do motivo pelo qual ficou conhecido como Revolução dos Cravos, por qual outra razão 1975, a letra foi censurada no
é possível dizer que o golpe que derrubou a ditadura salazarista foi “peculiar”?
Brasil, restando apenas a gra-
c) Com seus colegas e o professor, ouçam a música "Grândola, Vila Morena", de José Afonso,
vação instrumental. A música
e discutam por que ela teria sido censurada pelo regime. 9. c) Resposta pessoal.
completa, que havia sido lançada
apenas em Portugal, só foi lança-
II. Leitura e escrita em História da no Brasil em 1978. Reproduzir
a música para os alunos, se pos-
Vozes do presente sível, e propor a análise da letra
diante do contexto histórico,
mobilizando as competências
O trecho a seguir é de Mia Couto, escritor, poeta e jornalista moçambicano que
gerais 3 e 4.
acompanhou o processo de independência de seu país. Leia-o com atenção.
Professor, ao desenvolver
Nasci e cresci numa pequena cidade colonial, num mundo que já morreu. Desde diferentes propostas de ativi-
cedo, aprendi que devia viver contra o meu próprio tempo. A realidade colonial estava dades, tais como discursivas, de
ali, no quotidiano, arrumando os homens pela raça, empurrando os africanos para alternativas ou de reflexão em
além dos subúrbios. Eu mesmo, privilegiado pela minha cor da pele, era tido como grupo, é possível reorganizar a
um “branco de segunda categoria”. Todos os dias me confrontava com a humilhação turma de modo que diferentes
dos negros descalços e obrigados a sentarem-se no banco de trás dos autocarros, no habilidades possam ser avalia-
9. b) Além de não ter havido derramamento de sangue, a Revolução dos Cravos foi peculiar, pois foi um das. Incentivar a oralidade após
movimento iniciado por militares, a fim de restabelecer a democracia no país. Diferente de outros países,
cujos civis lutavam para restabelecer a democracia e derrubar ditaduras lideradas por militares. 207 as reflexões feitas em pequenos
grupos, por diferentes inte-
grantes, somadas aos registros
que aquela revolução pacífica ocorreu. Pedir escritos, podem ser importantes
12:36 +ATIVIDADE 
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 207 28/06/22 13:26
ferramentas de avaliação. A
Distribuir cópias da letra da música “Grân- a um estudante que toca algum instrumento
participação e organização de
dola, Vila Morena”, de José Afonso aos estu- de harmonia (violão, órgão etc.), para acom- cada estudante em atividades
dantes e pedir que ensaiem para cantar em panhar a classe e garantir que se mantenha em duplas ou pequenos grupos
um dia combinado por você, professor. No o tom e a afinação. A música pode ser tocada também podem ser utilizadas
dia da cantoria, os alunos podem distribuir em dó ou ré maior, ou o que for mais ade- para valorizar diferentes com-
cravos uns para os outros e darem os braços, quado à maioria. Pedir, também, que façam petências.
a fim de se recriar o clima e o contexto em um glossário com as palavras desconhecidas. 

207

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP 207 26/08/2022 16:52


ENCAMINHAMENTO
• Orientar que os alunos rea- a) O país africano que também praticava esse tipo de discriminação racial era a África do Sul. Lá, a minoria
lizem a leitura individual e, branca oficializou o apartheid, um regime segregacionista que durou até 1990.
em seguida, discutam em banco de trás da Vida. Na minha casa vivíamos paredes-meias com o medo, perante
grupo os principais pontos a ameaça de prisão que pesava sobre o meu pai, que era jornalista e nos ensinava
do texto. a não baixar os olhos perante a injustiça. A independência nacional era para mim o
• Pedir que as duplas exponham final desse universo de injustiças. Foi por isso que abracei a causa revolucionária como
os pontos que levantaram se fosse uma predestinação. Cedo me tornei um membro da Frente de Libertação de
e, se necessário, propor que Moçambique e a minha vida foi, durante um tempo, guiada por um sentimento épico
reflitam sobre que privilégios de estarmos criando uma sociedade nova.
Mia Couto poderia ter em No dia da Independência de Moçambique eu tinha 19 anos.
razão da cor de sua pele em Alimentava, então, a expectativa de ver subir num mastro uma
Moçambique. bandeira para o meu país. Eu acreditava, assim, que o sonho de

LACAZ RUIZ/FUTURA PRESS


• Perguntar se na realidade um povo se poderia traduzir numa simples bandeira. Em 1975,
brasileira esses privilégios se eu era jornalista, o mundo era minha igreja, os homens
mantiveram, mesmo após a a minha religião. E tudo ainda era possível.
abolição da escravidão. Pro- Na noite de 24 de Junho, juntei-me a milhares de
por que pensem sobre duas outros moçambicanos no Estádio da Machava para
formas de opressão que ope- assistir à proclamação da Independência Nacional,
ravam simultaneamente: a que seria anunciada na voz rouca de Samora Moisés
condição de colônia e o ra- Machel. O anúncio estava previsto para a meia-
cismo. No caso da população -noite em ponto. Nascia o dia, alvorecia um país. [...] Mia Couto, São José dos Campos (SP), 2019.
negra, as opressões sentidas
COUTO, Mia. Moçambique – 30 anos de independência: no passado, o futuro era melhor?
vinham das duas formas. Revista Via Atlântica, São Paulo, v. 1, n. 8, p. 191-204, 2005.

a) Mia Couto afirma que presenciou, em Moçambique, “negros descalços e obrigados a sentarem-
Vozes do presente
-se no banco de trás dos ônibus”. Em que outro país africano essa prática discriminatória era
c) Mia Couto quis dizer que comum? Que política tornava essa discriminação oficial?
tinha uma crença profunda b) Havia censura à imprensa em Moçambique durante o período colonial? Justifique utilizando
nos seres humanos e na sua um trecho do texto.
capacidade de mudar os acon- c) Interprete. O que Mia Couto quis dizer com a frase: “os homens [eram] a minha religião”?
tecimentos. c) Resposta pessoal.
Escutar e falar. Antes de pro-
por a autoavaliação, discutir ESCUTAR E FALAR
os critérios com a turma, de
Em dupla.
dupla. Pesquisem e se preparem para falar sobre a vida e a obra de Mia Couto,
modo que possam fazer uma
um dos principais escritores africanos da atualidade.
avaliação mais aprofundada.
Se julgar pertinente, é possível Autoavaliação. Responda em seu caderno.
acrescentar outros critérios, de a Expressei minhas ideias com objetividade?
acordo com o perfil dos alunos b Usei tom de voz e gestos adequados?
e combinados com eles. c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
Lembrá-los de que a auto- d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
avaliação não consiste em um
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
fim em si mesmo, ela é uma
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?
ferramenta para que eles pos-
sam exercer protagonismo e b) Sim. Mia Couto nos fornece o seguinte testemunho sobre o assunto: “Na minha casa vivíamos paredes-
autonomia durante o processo 208 meias com o medo, perante a ameaça de prisão que pesava sobre o meu pai, que era jornalista e nos
ensinava a não baixar os olhos perante a injustiça”.
de aprendizagem.

Imagens em movimento +ATIVIDADES


AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-LA-G24.indd 208 04/07/22 18:08

Entrevista com o escritor mo- Produza uma biografia do escritor Mia Couto. Para realizar a atividade, pesquise informa-
çambicano no programa Roda ções sobre a história de vida do autor, a temática e o legado de suas obras.
Viva, da TV Cultura. Sugestão de sites para pesquisa:
• MIA Couto – 05/11/2012. 2015. • FRAZÃO, Dilva. Mia Couto. eBiografia. [S. l.],
2022. Disponível em: https://www.ebiografia.
Vídeo (1h23min10s). Publicado com/mia_couto/. Acesso em: 15 jul. 2022.
pelo canal Roda Viva. Disponí- • BIOGRAFIA, bibliografia e premiações. Mia Couto. [S. l.], [202-]. Disponível em:https://
vel em: https://www.youtube. www.miacouto.org/biografia-bibliografia-e-premiacoes/. Acesso em: 15 jul. 2022.
com/watch?v=6v3buePuzbU.
Acesso em: 15 jul. 2022.
208

193a208_HIS-F2-2111-V9-U3-C10-MP.indd 208 29/08/22 13:45


OBJETIVOS
• Compreender a política ex-
CAPÍTULO terna independente de Jâ-

11
nio Quadros e propor uma
interpretação para sua re-
BRASIL: UMA EXPERIÊNCIA núncia.
DEMOCRÁTICA (1945 A 1964) • Caracterizar o nacionalismo
reformista adotado por João
Goulart.
• Conhecer o Plano de Metas
de JK e seus desdobramentos.
REVISTA O CRUZEIRO

ARQUIVO/AGÊNCIA ESTADO/AE
• Desvelar a importância dos
trabalhadores vindos de ou-
tros estados na construção
de Brasília.

À esquerda, Juscelino
Os objetivos visam con-
Kubitschek em capa da revista tribuir para que os alunos
O Cruzeiro, de 7 de maio possam descrever e analisar
de 1960. À direita, o cantor a democracia brasileira do
e violonista João Gilberto,
considerado um dos criadores
pós-Segunda Guerra Mun-
do ritmo Bossa Nova. São Paulo dial até o golpe de 1964, de-
(SP), 1965. senvolvendo as habilidades
e competências listadas.
Entre 1945 e 1964, ocorreram muitas novidades no cenário brasileiro, como a cons-
trução de Brasília (1960); o surgimento de um novo estilo musical, a “Bossa Nova”; o
BNCC
brilhantismo da Seleção Brasileira, especialmente de jogadores como Didi, Pelé, Bellini e
Garrincha. Tudo isso marcou os brasileiros que viveram aqueles tempos. Você gosta de • Competências gerais: 1 e 9.
futebol? E de música? Você acha Brasília uma cidade interessante? Sabe quem a projetou? • Competências específicas:
O que mais você sabe sobre aqueles tempos? Respostas pessoais. 1 e 3.
• Habilidades: EF09HI06,
EF09HI17, EF09HI18 e EF09Hl19.
PICTORIAL PARADE/ARCHIVE PHOTOS/GETTY IMAGES

AP PHOTO/IMAGEPLUS

ENCAMINHAMENTO
• Aprofundar o assunto com a
leitura dos textos: MÁXIMO,
João. Memórias do futebol
brasileiro. Estudos Avança-
dos, São Paulo, v. 13, n. 37,
O técnico Vicente Feola segura a taça Jules Rimet ao p. 179-188, 1999; BARBOSA,
lado do capitão Hideraldo Luiz Bellini (à esquerda) e do Camila Cornutti. A Bossa
goleiro Gilmar dos Santos Neves (à direita), após o Brasil Nova, seus documentos e
Pelé e Garrincha. Brasil, 1968. vencer a Copa do Mundo de 1958. Estocolmo, Suécia.
articulações: um movimento
para além da música. Disser-
209 tação (Mestrado em Ciências
da Comunicação) – Univer-
sidade do Vale do Rio Sinos,
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 209 28/06/22 13:26 São Leopoldo, 2008.

209

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 209 26/08/2022 17:07


ENCAMINHAMENTO
• Estimular a reflexão sobre a
expressão “experiência demo-
Segundo o historiador Jorge Ferreira, de

CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA/GRUPO RECORD EDITORIAL


crática”, cunhada por Jorge
Ferreira para se referir ao pe- 1945 a 1964 o Brasil viveu uma experiência
ríodo de 1945 a 1964. democrática.. Com a volta da liberdade de
democrática
imprensa e da livre manifestação de ideias,
• Refletir sobre o fato de que
os grupos organizados da sociedade civil
toda democracia tem limita-
formularam dois grandes projetos de nação,
ções/imperfeições, mas é um
que disputaram entre si a preferência dos
regime em que os cidadãos
têm espaço para lutarem por eleitores brasileiros.
seus direitos e exprimirem suas
opiniões. Essa reflexão pode
Experiência democrática: a democracia é um regime
contribuir para o desenvolvi- em que os cidadãos podem manter e ampliar seus
mento da competência geral 1. direitos. Uma democracia pode ter limitações, mas ela
garante a liberdade para lutar contra essas limitações,
• Comentar que em uma demo-
para as pessoas exprimirem opiniões e para que as
cracia há a preocupação de que diferenças de ideias, religião, cor e gênero convivam.
o convívio com as diferenças A democracia anda junto com a liberdade e a tolerância.
seja respeitoso e saudável.
• Temas Contemporâneos Trans-
versais: A reflexão proposta Fac-símile da capa do livro
acima, aplicada ao caso bra- O Brasil republicano, de Jorge
sileiro, pode contribuir para Ferreira e Lucília Delgado.
o desenvolvimento do tema
multiculturalismo. Um desses projetos era o nacionalista. Seus defensores estavam reunidos em torno
• Aprofundar o assunto com a do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), fundado por Getúlio Vargas. O outro projeto era
leitura do texto: FERREIRA, Jor- liberal no campo da economia e conservador na política. Os defensores desse projeto
ge. 1946-1964: a experiência eram moralistas, anticomunistas e antigetulistas. Seu principal defensor era Carlos Lacerda,
democrática no Brasil. Tempo, líder da União Democrática Nacional (UDN). Conheça os principais pontos desses projetos
Niterói, v. 14, n. 28, p. 11-18, observando o quadro.
jun. 2010.
Projeto nacionalista X Projeto liberal
Líder: Getúlio Vargas Líder: Carlos Lacerda
TEXTO DE APOIO 1. O Estado devia intervir na economia, investindo
1. A economia devia caminhar com a menor
interferência possível do Estado, devendo ser
em áreas estratégicas, como petróleo, siderurgia e regulada pelas “leis do mercado”. O desenvolvimento
Nacionalistas – transporte, e incentivando os investimentos privados. devia apoiar-se nas empresas privadas nacionais e
“entreguistas” estrangeiras.
O período de quase duas déca-
2. A entrada do capital estrangeiro devia ser controlada 2. Os capitais e as empresas estrangeiras deviam
das compreendido entre o fim do pelo Estado, que também devia regular as remessas ter liberdade para atuar no Brasil, inclusive quanto
Estado Novo, em 1945, e o golpe de lucros para o exterior. à remessa de lucros.
militar de 1964 se caracterizou
pela disputa (permeada de avan- 3. O governo devia manter uma posição de 3. O governo brasileiro devia se aliar aos Estados
ços e recuos) entre dois projetos, independência em relação aos Estados Unidos Unidos de forma incondicional, ajudando-os
os nacionalistas e os “entreguis- da América. a combater o comunismo.
tas”. O primeiro grupo, inspirado
na CEPAL (Comissão Econômica
para a América Latina da ONU) 210
e catalisado pelo ISEB (Instituto
Superior de Estudos Brasileiros),
buscava certa imagem de autono- Inimigos dos nacionalistas, foram por eles
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 210 20/08/22 14:36 D3_
mia frente aos EUA para impulsio- caricaturizados como “entreguistas” (porque
nar o projeto de desenvolvimento desejavam “entregar” o país aos yankees). Nes-
industrial, calcado em certa pers- te contexto, a tentativa de autonomizar a ação
pectiva de reforma social. internacional do Brasil acabou sendo percebida
O segundo, apoiando-se nas por Washington como algo inaceitável, espe-
fronteiras ideológicas definidas cialmente após a Revolução Cubana [1959].
pela Escola Superior de Guerra
VIZENTINI, Paulo G. Fagundes. Do nacional-desenvolventismo
(ESG) e no liberalismo econô-
à política externa independente (1945-1964). In: FERREIRA,
mico, destacava as vantagens Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). O tempo
comparativas da agricultura e a da experiência democrática: da democratização de 1945
agenda de segurança defendida ao golpe civil-militar de 1964. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização
pelos EUA na Guerra Fria. Brasileira, 2011. (O Brasil republicano, v. 3, p. 197).
210

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 210 26/08/2022 17:07


TEXTO DE APOIO
A Constituição de 1946 e a

JAMES WHITMORE/THE LIFE IMAGES COLLECTION/SHUTTERSTOCK.COM


democracia
Governo Dutra A Constituição de 1946 manteve
as conquistas sociais obtidas des-
de a década de 1930, mas repôs a
Com a deposição de Vargas, em 1945, os bra- exigência da democracia e do exer-
sileiros, incluindo-se aí as mulheres, exerceram pela cício dos direitos políticos como
condições incontornáveis para a
primeira vez o voto direto e secreto em eleições para
vida pública brasileira. Seu texto
presidente da República. O vencedor nessas eleições previa uma rotina democrática para
foi o general Eurico Gaspar Dutra. as instituições republicanas, com
O governo Dutra (1946-1950) coincidiu com o eleições diretas para os postos de
O presidente Eurico Gaspar Dutra governo no âmbito do Executivo
início da Guerra Fria, que, como vimos, colocou em (à esquerda) em visita ao presidente e do Legislativo e nas três esferas
lados opostos os Estados Unidos e a União Soviética. dos Estados Unidos, Harry Truman, da federação – União, estados e
Dutra optou por aliar-se declaradamente aos Washington, D.C. (EUA), 1949. municípios. Também garantia a
Estados Unidos; por isso, rompeu relações diplomáticas com a União Soviética e, com a liberdade de imprensa e de opi-
nião, reconhecia a importância
aprovação do Poder Legislativo, cassou o registro do Partido Comunista do Brasil (PCB) e os
dos partidos políticos e ampliava
mandatos dos políticos eleitos por esse partido, como o renomado escritor Jorge Amado. o escopo democrático da Repúbli-
Durante o governo Dutra também foi discutida, votada e aprovada uma nova ca, incorporando, como eleitores,
Constituição, a quinta do Brasil. mais de um quarto da população
com idade a partir de dezoito anos.
[...] Mas não há solução fácil no
horizonte da democracia. Ainda
A Constituição de 1946 hoje, as interpretações mais di-
A Constituição de 18 de setembro de 1946: fundidas, embora reconheçam a
inequívoca vocação democrática
• definia o Brasil como uma República Federativa Presidencialista; da Constituição de 1946, sublinham
• garantia ampla liberdade de pensamento, de expressão e de associação; suas limitações e sua incidência
sobre aquilo que consideram ser a
• concedia grande autonomia a cada um dos três poderes; fragilidade da experiência demo-
• permitia o direito de voto a todos os brasileiros maiores de 18 anos de idade, de ambos os crática brasileira nesse período:
sexos, mas mantinha a restrição aos não alfabetizados (metade da população brasileira); a exclusão do direito do voto aos
analfabetos – um contingente ex-
• garantia aos trabalhadores o direito de greve, mas proibia as greves em “atividades pressivo da população adulta –, a
essenciais”, como transporte, saúde, segurança etc. restrição do direito de greve, a não
Na economia, o governo Dutra adotou inicialmente o liberalismo econômico, faci- incorporação dos trabalhadores do
campo à legislação trabalhista e a
litando a livre importação de mercadorias.. O Brasil passou, então, a importar uma
interferência cada vez maior dos
grande quantidade de bens de consumo, como cigarros, chicletes, perfumes, carros, gela- militares nos negócios da Repú-
deiras etc. Com isso, em apenas um ano e meio esgotou quase todas as reservas que blica. [...] Se o Brasil andava mais
tinha acumulado durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, Dutra restabeleceu democrático, o mundo estava mais
maniqueísta, intolerante e pola-
o controle sobre as importações: dificultou a entrada de bens de consumo e incentivou a
rizado. Os anos seguintes ao fim
compra de produtos, como máquinas e equipamentos, necessários à indústria nacional. da Segunda Guerra sepultaram
Ao mesmo tempo, houve um aumento do preço do café no Reserva: poupança em moeda
impérios, redesenharam o mapa-
exterior; assim, a economia brasileira voltou a crescer. Os salá- estrangeira, normalmente o -múndi e criaram um novo enredo
dólar, utilizada para realizar para orientar as relações políticas
rios, porém, não acompanharam a alta dos preços, fato que
transações no exterior. mundiais – a Guerra Fria.
prejudicava os mais pobres. SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloísa
Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo:
211 Companhia das Letras, 2018. p. 396-397.

Imagens em movimento
Vídeo produzido pelo De-
14:36
ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 211 • Retomar as características do Projeto28/06/22
Liberal,
13:26
partamento Nacional de Infor-
visto anteriormente, para compreender a mação, em 1945, sobre como
• Pensar o governo Dutra no contexto da
adoção do liberalismo econômico pelo go- votar nas eleições daquele ano.
Guerra Fria para melhor compreender seu
verno Dutra.
alinhamento aos Estados Unidos e os des- • COMO votar nas eleições de 2
• Explicar a guinada na política econômica
dobramentos desse alinhamento no Brasil. de dezembro de 1945. 2013.
de Dutra para evitar a sangria que vinha
• Compreender as características da Constituição Vídeo (3min16s). Publicado
acontecendo nas reservas acumuladas pelo
de 1946, com destaque para a extensão do di- pelo canal TRE São Paulo. Dis-
Brasil durante a Segunda Guerra.
reito de voto a todos os brasileiros maiores de ponível em: https://youtu.be/
18 anos, com exceção dos não alfabetizados. Q5cyzya8raA. Acesso em: 5
jul. 2022.
211

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP.indd 211 29/08/22 13:49


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que a eleição de
Vargas ocorreu em um con- a) A fotografia mostra Getúlio (ao centro, de terno claro)
texto politicamente contur-
bado, e no qual o operariado
As eleições de 1950 desfilando em carro aberto durante a campanha eleitoral de
1950, um indício da enorme popularidade de que ele desfrutava.
ocupava o espaço público
No início de 1950, o clima de insatisfação popular com o governo Dutra era grande.
para exigir melhores condi-
Os operários se mobilizavam no chão das fábricas para exigir melhores condições de tra-
ções de trabalho.
balho e de vida. Nesse ambiente conturbado, ocorreu uma nova campanha eleitoral para
• Destacar a relação entre as
a presidência da República. Os comícios voltaram a lotar as praças do país. Defendendo a
promessas de Vargas duran-
ampliação das leis trabalhistas e os investimentos na indústria de base, e prometendo que
te a campanha e sua vitória
o povo subiria com ele os degraus do Palácio do Catete, Getúlio Vargas obteve 48,7%
com 48,7% dos votos nas
eleições presidenciais de dos votos, vencendo as eleições presidenciais de 1950.
1950.

ACERVO ICONOGRAPHIA
• Compreender o aumento Dialogando
da rivalidade entre naciona-
Observe a imagem com
listas e liberais em torno da
atenção.
questão do petróleo.
• Contextualizar a criação da
a O que está ocorrendo
na cena?
Petrobras (e sua importância
atual) como desdobramen- b O que explica o fato de
tos das disputas entre nacio- um “ditador” continuar
nalistas e liberais. sendo tão popular?
c Já assistiu a uma
campanha política
TEXTO DE APOIO ou participou dela?
c) Resposta pessoal.
Novidades da década de
Getúlio Vargas durante a
1950 campanha eleitoral de 1950.
Duas grandes novidades da
década de 1950, que mudaram
decisivamente os hábitos dos bra- O segundo governo Vargas
sileiros nos anos seguintes foram
No segundo governo Vargas, a rivalidade entre os nacionalistas e os liberais se intensi-
a televisão e o supermercado. A TV
Tupi, dos Diários e Emissoras Asso- ficou em razão da questão do petróleo. Os nacionalistas, liderados por Vargas, propunham
ciados de Assis Chateaubriand, foi que a exploração e o refino do petróleo fossem feitos pela indústria brasileira. Já os liberais,
a primeira emissora de televisão encabeçados pela União Democrática Nacional (UDN), eram favoráveis a que fossem feitos
instalada no país, primeiro em São por empresas estrangeiras que já atuavam no Brasil, como Esso, Texaco, Shell etc.
Paulo, em 1950, e em seguida no
Rio de Janeiro, em 1951. [...] Os pro- Para defender sua posição, os nacionalistas organizaram uma campanha nacional com
gramas eram transmitidos ao vivo, o slogan “ “O petróleo é nosso”. ”. A vitória nessa disputa coube aos nacionalistas. Em 3 de
inclusive a propaganda comer- outubro de 1953, foi criada a Petrobras, empresa estatal que tinha o monopólio da extração,
cial, e as emissões se limitavam do refino e do transporte marítimo do petróleo brasileiro. Levando adiante seu nacionalismo,
a uma parte do dia, com longos
Vargas propôs também uma lei que limitava a remessa para o exterior
intervalos entre as atrações – seja
Monopólio: dos lucros das empresas estrangeiras instaladas no Brasil. Dessa vez,
porque os equipamentos entravam
exclusividade, controle.
em pane, seja porque os estúdios porém, a oposição venceu e a lei foi barrada no Congresso.
precisavam ser preparados entre b) As conquistas concretas – a exemplo das leis trabalhistas – obtidas pelos trabalhadores
um programa e outro. 212 durante seu governo (1930-1945); a propaganda intensiva de suas realizações, entre outros.
Em 1951, a programação da TV
Tupi do Rio incluía transmissões
ao vivo de ópera no Teatro Mu-
nicipal, jogo de futebol no Mara-
dado certo no rádio: os212 mesmos formatos de
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd Dialogando. Explorar a alternativa c), que 28/06/22 13:26 D3_
programas, os técnicos e os artistas de sucesso. permite aos alunos trocarem experiências e
canã, corrida de cavalo no Jockey
[...] É claro que a programação era toda em preto
Club, parada militar no 7 de Se- posicionamentos sobre campanhas políticas
e branco, a primeira transmissão a cores tendo
tembro e missa solene na igreja
ocorrido no Brasil apenas em 1972 (o que não e partidos que conhecem. Essa troca feita
da Glória. Ao longo da década quer dizer, evidentemente, que todas as pessoas com respeito entre os colegas estimula o
surgiram mais emissoras em São tivessem então em casa receptores em cor). convívio social republicano, importante na
Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife
ALBERTI, Verena. O século do moderno: modos de vida construção de uma sociedade democrática,
e Curitiba. As atrações incluíam e consumo na República. In: GOMES, Angela de Castro;
teatro, programas de auditório, PANDOLFI, Dulce Chaves; ALBERTI, Verena (org.). A República
contribuindo assim para o desenvolvimento
programas infantis e humorís- no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: CPDOC, 2002. da competência geral 1.
p. 302-305.
ticos, reproduzindo em muitos
casos, as fórmulas que já haviam
212

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 212 26/08/2022 17:07


ENCAMINHAMENTO
• Retomar e consolidar o con-
ceito de trabalhismo.
Trabalhismo e radicalização política • Compreender que a mola pro-
pulsora das grandes greves de
Durante seu segundo governo, Vargas con-

ACERVO ICONOGRAPHIA
1953 foi a perda do poder de
tinuou a adotar o trabalhismo, seja dirigindo-se
compra dos trabalhadores.
aos trabalhadores pelo rádio, com intimidade e
• Informar que de acordo com
frequência, seja promovendo “encontros pessoais” a Fundação Instituto de Pes-
com eles em grandes comícios. Neles, Vargas pro- quisas Econômicas, em 2022,
metia ampliar os benefícios da legislação trabalhista o poder de compra do brasi-
sistematizada e aprovada em seu governo. Mas, leiro diminuiu em aproxima-
na época, a insatisfação entre os trabalhadores damente 21%. Para muitas
era grande, pois os salários não acompanhavam famílias, os gastos com ali-
o aumento do preço dos alimentos, das roupas mentação comprometiam a
e dos aluguéis. Ou seja, o poder aquisitivo do maior parte da renda.
trabalhador vinha diminuindo. Por isso, em 1953, • Trabalhar as divergências en-

explodiram greves por aumentos de salário em tre a política de Jango à fren-


te do Ministério do Trabalho
todo o país.
e o posicionamento da UDN,
Para enfrentar essa situação, Vargas nomeou de Carlos Lacerda, frente a
para o Ministério do Trabalho o político gaúcho essa política trabalhista.
João Goulart, mais conhecido como Jango. À • Refletir sobre o atentado da
frente do Ministério do Trabalho, Jango negociou Rua Tonelero e seus desdo-
com os grevistas e prometeu aumentar o salário bramentos políticos e sociais.
mínimo em 100%. Isso, porém, irritou a UDN e
Carlos Lacerda após
seus aliados nos meios militares. Eles passaram a exigir a renún- o atentado da Rua
cia de Jango, acusando-o de proximidade com os comunistas. Tonelero. Rio de Dica de leitura
Pressionado por eles, Jango deixou o Ministério. Em compensação, Janeiro (RJ), 1954. Entrevista com o jornalista e
no dia 1o de maio de 1954, Vargas autorizou o aumento de 100% escritor Lira Neto, biógrafo de
no salário mínimo. Getúlio Vargas, sobre o aten-
Usando o aumento do salário como argumento, o jornalista tado na rua Tonelero, que dei-
Carlos Lacerda, com o apoio dos grandes jornais, intensificou a xou uma vítima e feriu o jor-
nalista Carlos Lacerda.
campanha difamatória contra Getúlio Vargas. No final de seus dis-
cursos inflamados ou em entrevistas à grande imprensa, Lacerda • GETÚLIO Vargas: Carlos La-
exigia a renúncia do presidente. cerda e o crime da rua Tone-
lero. 2014. Vídeo (4min19s).
Nesse ambiente de radicalização política, DICA! # Publicado pelo canal EBC na
ocorreu um fato novo: Carlos Lacerda foi vítima de
Reportagem sobre o atentado contra Rede. Disponível em: https://
um atentado à bala, o atentado da Rua Tonelero;; Carlos Lacerda. www.youtube.com/watch?
ele escapou com vida, mas seu segurança, o major A LIGAÇÃO entre o atentado a Carlos v=nhUz-95oxK0. Acesso em:
Lacerda e o Palácio do Catete. 2011.
da Aeronáutica Rubens Vaz, morreu. Ao investigar 5 jul. 2022.
Vídeo (10min52s). Publicado pelo canal
o caso, os oficiais da Aeronáutica descobriram que Estudos Históricos. Disponível em:
Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de https://youtu.be/uYcxvD_uTr0.
Acesso em: 22 mar. 2022.
Vargas, era o mandante do crime.
difundia e manejava imagens
213 que procuravam, ao mesmo
tempo, desqualificar o governo
e indignar e mobilizar contra ele
a população. Caudilho, corrupto,
13:26 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 213 à frente, até tornar-se uma decisão irreversível
28/06/22 13:26
ambicioso, desonesto, violento,
a partir de 1953.
imoral, entre outras imagens
Oposição a Vargas Assim, nos meses que antecederam a crise, os extremamente negativas, assim
Os liberais-conservadores não se conforma- parlamentares udenistas, bem como a grande im- os conservadores se esforçavam
vam com Vargas na presidência da República. prensa, atuaram como fatores de desestabilização para desmerecer o presidente.
Por duas vezes derrotada com seu candidato, do regime. A questão central era tirar Vargas da
FERREIRA, Jorge. Crises da República:
[...] em 1945 e em 1950, a UDN, mostrando-se presidência da República, não importando os cus- 1954, 1955 e 1961. In: FERREIRA, Jorge;
incapaz de concorrer com a aliança PTB-PSD, tos. Com grande acesso aos meios de comunica- DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.).
escolheu a estratégia de desqualificar Vargas ção, a oposição conservadora a Vargas elaborou e O tempo da experiência democrática:
da democratização de 1945 ao golpe
para escamotear seu próprio infortúnio político. difundiu um conjunto de símbolos que apontava
civil-militar de 1964. 4. ed. Rio de Janeiro:
[...] A opção pelo golpe [...] vai sendo amadure- para uma situação de impasse político. [...] Com Civilização Brasileira, 2011. (O Brasil
cida pelos grupos conservadores, tendo a UDN grande espaço em toda a imprensa, a oposição republicano, v. 3, p. 306-307).
213

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 213 26/08/2022 17:07


ENCAMINHAMENTO
• Identificar as forças favorá-
veis à renúncia ou deposição
de Vargas por meio de um O suicídio de Vargas
golpe militar.
• Explicar que a leitura da car- Grandes jornais, como O Estado de S. Paulo e O Globo,, do Rio de Janeiro, redo-
ta de Getúlio pelo rádio cau- bravam seus ataques ao presidente Vargas. Carlos Lacerda, por sua vez, defendia o golpe
sou um misto de dor e revolta militar: pedia aos generais que derrubassem Getúlio para pôr fim ao “mar de lama”. No
por todo o país. Uma multi- dia 22 de agosto, oficiais da Aeronáutica lançaram um manifesto exigindo a renúncia de
dão enfurecida invadiu e de- Vargas. No dia seguinte, os generais do Exército fizeram a mesma exigência. Sob forte
predou rádios, redações de pressão, Vargas escreveu uma carta ao povo e, em seguida, matou-se com um tiro no
jornais da oposição, atacou e coração.
apedrejou a embaixada dos Quando o locutor do telejornal Repórter Esso informou que Vargas tinha se suicidado,
Estados Unidos. Carlos Lacer- em 24 de agosto de 1954, uma onda de dor e indignação percorreu o país. O comércio
da teve de fugir do Brasil, e o
e a indústria fecharam as portas. Uma multidão enfurecida tombou e incendiou os cami-
golpe que estava sendo arti-
culado para depor Vargas foi nhões de entrega de jornais da oposição. A embaixada dos Estados Unidos foi atacada e
sustado. Diante disso, histo- apedrejada por populares. Os principais adversários de Vargas, entre eles Carlos Lacerda,
riadores especializados no fugiram do país, com medo da fúria popular.
assunto entendem o suicídio
de Vargas como um ato po-
lítico que retardou o golpe Lott garante a posse de JK
civil militar em dez anos.
• Aprofundar o assunto com a
No ano seguinte ao da morte de Getúlio Vargas,

ESTADÃO CONTEÚDO
leitura dos textos: WESTIN,
em 1955, o povo brasileiro elegeu Juscelino Kubitschek
Ricardo. Documentos do
de Oliveira como presidente da República e João
Senado registram reação ao
suicídio de Getúlio Vargas. Goulart como vice-presidente.
Senado Notícias, 4 ago. A UDN não se conformou com a derrota nas
2014. Disponível em: https:// eleições; Carlos Lacerda, seu principal líder, queria
www12.senado.leg.br/ depor o presidente legitimamente eleito com base
noticias/especiais/arquivo-s/ na Constituição de 1946. E, por isso, passou a dizer
documentos-do-senado- que os eleitos não tinham a maioria absoluta (50%
registram-reacao-ao-suicidio- mais um), que eram apoiados pelos comunistas e que
de-getulio-vargas. Acesso era necessário um golpe militar para impedir a posse
em: 10 ago. 2022; SÁ, Celso
de Juscelino e Jango. Mas o golpe não aconteceu: o
Pereira de et al. A memória
general legalista Henrique Teixeira Lott colocou seus
histórica de Getúlio Vargas e
o Palácio do Catete. Estudos soldados nas ruas do Rio de Janeiro e obrigou os gol-
de Psicologia, Natal, v. 13, n. pistas a fugirem. Com isso, ele Legalista: favorável ao
cumprimento da lei;
1, 2008. p. 49-56. garantiu a posse de Juscelino
da Constituição.
Kubitschek.

TEXTO DE APOIO
Getúlio Vargas foi, ao longo
longo de Pessoas saúdam o candidato Juscelino Kubitschek
quase vinte anos (embora não durante comício em São Paulo (SP), 1955.
consecutivos), um chefe de Es-
tado ditatorial (1930-34 e 1937- 214
45), mas também um presidente
eleito: primeiro, por uma As-
sembleia Nacional Constituinte
(1934-37) e, depois, diretamente um mártir, a despeito de quaisquer defeitos ou
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 214 ganda, combinado a políticas públicas inova- 28/06/22 13:26 AV_

pelo povo (1951-54). E foi exa- culpas que seus adversários tenham querido ou doras, especialmente nos campos social e cul-
tamente nessa última condição ainda queiram lhe imputar. Nesse sentido, ne- tural. Ou seja, assinalar a duração e o impacto
que ele cometeu suicídio, ofere- nhum presidente da República, no Brasil, apro- da figura de Vargas na história contemporânea
xima-se de Vargas, no que se refere à duração do Brasil significa procurar compreender por
cendo ritualmente seu corpo fí-
de tempo em que esteve no poder ou às condi- que seu discurso e suas políticas, construídas
sico e político ao país e ao povo,
no marco do pensamento autoritário dos anos
em defesa da soberania e da ções dramáticas em que o abandonou.
1920-40, encontraram condições tão favoráveis
democracia. Lance político in- Porém, a memória positiva do nome e do tem-
para se estabelecer e, sobretudo, para se trans-
dubitavelmente arriscado e ra- po de Vargas não se deve apenas a fatores do formar e perdurar na memória nacional.
dical, que obteve surpreendente porte dos nomeados acima. Há questões mais
GOMES, Ângela de Castro. Autoritarismo e corporativismo no
sucesso imediato e que demar- complexas, que remontam à implementação de Brasil: o legado de Vargas. REVISTA USP, São Paulo, n. 65, p.
cou a figura de Vargas como a de um sistemático e sofisticado esforço de propa- 105-119, mar./maio 2005. p. 106-107.
214

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 214 26/08/2022 17:07


ENCAMINHAMENTO
• Caracterizar o desenvolvi-
mentismo adotado por JK, e
Governo Juscelino: “50 anos em 5” sua proposta de atração de
capitais estrangeiros e facili-
Juscelino Kubitschek, conhecido como JK, elegeu-se prometendo que faria o Brasil
dades às multinacionais aqui
progredir 50 anos em 5 (tempo de duração de seu mandato). Sua política de desenvol-
instaladas.
vimento, conhecida como desenvolvimentismo,, defendia a industrialização acelerada
• Conhecer o Plano de Metas
como forma de desenvolver e modernizar o país. Mas, enquanto para Vargas o governo
de JK e a prioridade dada aos
devia controlar a entrada de capital estrangeiro, para Juscelino o governo devia atrair setores de energia, transpor-
capitais estrangeiros, facilitando às empresas multinacionais aqui instaladas a importação te e indústria.
de equipamentos e concedendo a elas isenção de impostos por vários anos. • Considerar o contexto em que
Com estilo otimista e arrojado, os alunos estão inseridos e,

ACERVO ICONOGRAPHIA
Juscelino iniciou seu mandato apresen- se necessário, explicar que o
tando ao país seu Plano de Metas:: ABCD Paulista é uma região
um plano de governo que previa inves- formada por cidades do esta-
timentos públicos em cinco grandes do de São Paulo tradicional-
áreas: energia,, transporte,, indús- mente industriais, como Santo
tria,, alimentação e educação.. André, São Bernardo do Cam-
O governo JK ofereceu facilidades e po, São Caetano e Diadema.
incentivos a empresas multinacionais • Estimular os estudantes a
que, com isso, instalaram fábricas no elaborarem hipóteses e a
Brasil para produzir bens de consumo.
consumo. refletirem sobre as conse-
Entre essas empresas estavam fábricas quências dos baixos investi-
de veículos do ABCD Paulista,
Paulista, como mentos em educação para
a população e o desenvol-
a Willys Overland, a Ford, a General Juscelino Kubitschek visita a fábrica de veículos vimento econômico e social
Motors e a Volkswagen. Volkswagen. São Bernardo do Campo (SP), 1959.
do país, mobilizando assim a
competência específica 3.
Brasil: distribuição de verbas
públicas por setor durante o governo Multinacional: grande empresa
Juscelino (1956-1960) com sede em um país, mas que Dica de leitura
atua em diversos países, em busca
Este livro trata da História
EDITORIA DE ARTE

de mercado consumidor, matéria-


-prima e mão de obra barata. política do Brasil entre 1930 e
Bem de consumo: bem voltado 1964, incluindo o governo JK.
Energia Transporte para o consumo individual;
29% • MORITZ,Lilia Schwarcz; GO-
44% pode ser classificado em bem
de consumo imediato, como MES, Angela de Castro. His-
alimentos, e bem de consumo tória do Brasil nação: 1808-
durável, como automóveis, fogões, 2010. Rio de janeiro: Editora
Alimentação
Indústria televisores etc.
3% Objetiva, 2013. (Olhando
20%
ABCD Paulista: região do estado
de São Paulo formada pelos para dentro: 1930-1964, v. 4).
Educação
centros industriais de Santo André,
4%
São Bernardo do Campo,
Fonte: MARANHÃO, Ricardo. O governo de Juscelino Kubitschek. São Caetano do Sul e Diadema. radas prioritárias pelo governo:
São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 85.
indústria automobilística, trans-
portes aéreos e estradas de ferro,
215 eletricidade e aço.
A expressão nacional-desenvol-
vimentismo, em vez de naciona-
TEXTO DE APOIO torizava as empresas a importar equipamentos lismo, sintetiza, pois, uma política
13:26 AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 215 30/06/22 16:49

estrangeiros sem cobertura cambial, ou seja, sem econômica que tratava de combi-
Política econômica nacionalista x nar o Estado, a empresa privada
depositar moeda estrangeira para pagamento
nacional desenvolvimentismo nacional e o capital estrangeiro
dessas importações. A condição para gozar da
para promover o desenvolvimento,
O governo JK promoveu uma ampla atividade do regalia era possuir, no exterior, os equipamentos
com ênfase na industrialização.
Estado tanto no setor de infraestrutura como no a serem transferidos para o Brasil ou recursos Sob esse aspecto, o governo JK
incentivo direto à industrialização, mas assumiu para pagá-los. As empresas estrangeiras, que prenunciou os rumos da política
também abertamente a necessidade de atrair ca- podiam preencher esses requisitos com facilidade, econômica realizada, em outro
pitais estrangeiros. [...] Assim, o governo permitiu ficaram em condições vantajosas para transferir contexto, pelos governos militares
uma larga utilização da Instrução 113 da Sumoc equipamentos de suas matrizes e integrá-los a após 1964.
[Superintendência da Moeda e do Crédito], bai- seu capital no Brasil. A Instrução 113 facilitou os FAUSTO, Boris. História do Brasil. São
xada no governo Café Filho. Essa instrução au- investimentos estrangeiros em áreas conside- Paulo: Edusp, 2015. p. 427.
215

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 215 26/08/2022 17:07


ENCAMINHAMENTO
• Diferenciar indústria de base
de indústria de bens de con-
sumo duráveis. Brasília: a metassíntese
• Avaliar o Plano de Metas, de
Indústria de base: Coerente com seu plano, o governo investiu milhões na indús-
JK, com ênfase nos seus resul- indústria que fabrica tria de base construindo siderúrgicas, como Usiminas e Cosipa;
tados, e adiantar um diálogo matérias-primas e demais
produtos necessários a hidrelétricas, como Três Marias e Furnas; portos e mais de 20 mil
sobre “as impressões” que os
outras indústrias, como quilômetros de estradas de rodagem.
estudantes têm de Brasília. aço, máquinas, motores, Durante o governo de JK, a produção industrial cresceu 80%.
• Aprofundar a história de energia etc.
Em termos empresariais, a indústria automobilística foi um sucesso.
Brasília com a leitura dos
Puxada pelo setor industrial, a economia brasileira cresceu a uma
textos: CEBALLOS, Viviane
Gomes de. “E a história se taxa média anual de 8,1%, indício de que, no geral, o Plano de
fez cidade...”: a construção Metas foi bem-sucedido. Muitas de suas metas foram alcançadas,
histórica e historiográfica de inclusive a construção de Brasília, conhecida como meta-síntese..
Brasília. Dissertação (Mestra- A ideia da construção de Brasília não era nova. Há muito se
do em História) – Instituto de pensava em mudar a capital para o interior do país. Coube, no
Filosofia e Ciências Humanas entanto, ao governo Juscelino a glória dessa obra, planejada pelo
da Universidade Estadual de arquiteto Oscar Niemeyer e pelo urbanista Lúcio Costa. Mas, para
Campinas, Campinas, 2005; que essa ideia se transformasse em realidade, foi necessário que
SANTOS, Michelle dos. A cons- milhares de pessoas humildes e desconhecidas, vindas de vários
trução de Brasília nas tramas cantos do país, trabalhassem muito durante três anos consecutivos.
de imagens e memórias pela Por meio do trabalho dessas pessoas – chamadas de candangos –,
imprensa escrita (1956-1960). Juscelino pôde inaugurar Brasília em 21 de abril de 1960.
Dissertação (Mestrado em His-
tória Cultural) – Universidade
MARCEL GAUTHEROT/IMS

de Brasília, Brasília, DF, 2008.


• Interdisciplinaridade: é pos-
sível desenvolver o tema do
movimento populacional para
a construção de Brasília junto
ao professor de Geografia.
De acordo com o Censo ex-
perimental realizado pelo
IBGE, em 1959, a população
de Brasília atingiu enorme
crescimento em pouco tem-
po. Estima-se que em 1956
cerca de 200 trabalhadores
migraram para a futura capi-
tal, número que ultrapassou
28 mil, em 1958. Trabalhadores constroem
um dos prédios do
Congresso Nacional.
Brasília (DF), c. 1958.
Imagens em movimento
Vídeo do Senado Federal 216
sobre a construção de Brasília.
• ARQUIVO S: O Congresso
Nacional na construção de Dica de leitura
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 216
+ATIVIDADES 30/06/22 16:49 AV_

Brasília. 2015. Vídeo (9min5s). Neste livro, Conceição Freitas apresenta Pesquisar sobre as origens e a importância
Publicado pelo canal do Se- 58 histórias de pessoas que participaram da dos trabalhadores que construíram Brasília,
nado Federal. Disponível em: construção de Brasília, tais como engenhei- os chamados candangos. E, também, sobre
https://www.youtube.com/ ros, arquitetos, mestres de obras, carpintei- suas condições de trabalho e de vida em uma
watch?v=l94nruulrrM. Acesso ros etc. cidade que começava a ser construída.
em: 6 jul. 2022.
• FREITAS, Conceição. Bravos candangos.
Brasília: Edição do autor, 2018.

216

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 216 26/08/2022 17:07


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre a opção do go-
verno JK pela “civilização do
Crescimento industrial e desigualdades regionais automóvel” e a dependên-
cia crescente que o transpor-
O governo JK conseguiu promover uma arrancada industrial. A meta 27 (indústria
te de mercadorias e pessoas
automobilística) foi totalmente alcançada. Porém, essa opção do governo JK pela “civili-
passou a ter das estradas de
zação do automóvel” desconsiderou a necessidade de ampliação dos meios de transporte rodagem, do petróleo e seus
coletivo; as ferrovias foram praticamente abandonadas, e o transporte de pessoas e mer- derivados.
cadorias passou a depender cada vez mais das estradas de rodagem, do petróleo e de • Compreender que o cres-
seus derivados. cimento econômico no go-
O crescimento econômico no governo JK criou um clima de otimismo e gerou muitos verno JK aumentou a desi-
empregos, mas não beneficiou igualmente todas as regiões brasileiras. As indústrias gualdade entre as regiões
recém-criadas concentraram-se no Centro-Sul, o que aumentou ainda mais as diferenças do país, impulsionando uma
socioeconômicas entre as regiões do país. Ocorreu forte migração para o Cen-
então uma forte migração para o Centro-Sul; tro-Sul.
milhares de nordestinos e de mineiros (do inte- • Temas Contemporâneos
rior do estado) deixaram sua terra natal e se Transversais: os temas en-
mudaram para São Paulo, Rio de volvendo migrações internas
Janeiro e Belo Horizonte são especialmente proveitosos
em busca de emprego para discutir a valorização
na indústria. da diversidade e combater
violências, incluindo discursos
de ódio e intimidação siste-
mática. É na escola que as
crianças e adolescentes se de-
Migrantes nordestinos param com a diversidade que
chegam à cidade extrapola o ambiente familiar
de São Paulo em
e têm oportunidade de con-
caminhão do
Rodoviário Recifense. viver com a diferença. A for-
São Paulo (SP), 1960. ma como a família e a escola
tratam as diferenças contribui
para as percepções da criança
JORGE CUNHA/ACERVO UH/FOLHAPRESS
a respeito da diversidade na
sociedade. Explorar com os
Pontos positivos do governo JK Pontos negativos do governo JK alunos vivências familiares
Democracia política Inflação alta de migração, sejam atuais,
Crescimento industrial Aumento das desigualdades sociais e regionais sejam de gerações anteriores,
aumentando a compreensão
Ao final do mandato de JK, em 1960, ocorreram eleições presidenciais, vencidas deles sobre o movimento de
pelo advogado e professor Jânio da Silva Quadros, candidato apoiado pela UDN. Para pessoas no mundo. Promover
vice-presidente venceu novamente João Goulart (PTB coligado ao PSD), adversário político um ambiente acolhedor para
de Jânio Quadros. Isso foi possível porque, na época, permitia-se que o eleitor votasse no que os alunos possam trazer
candidato de uma chapa para presidente e no de outra chapa para vice-presidente.
os sentimentos associados a
práticas de discriminação,
217 dando atenção às práticas
desrespeitosas e estar atento
para mediá-las, trabalhando
para desfazer estereótipos. O
16:49 Dica de leitura
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 217 20/08/22 14:38
assunto, que deve ser retoma-
Neste artigo, a autora trata do desenvolvimentismo de JK, do movimento nacionalista, do em outras oportunidades e
além do projeto ruralista e a expansão do modelo oligárquico de apropriação territorial. trabalhado continuadamente,
Vânia Losada Moreira defende que o projeto nacional-desenvolvimentista de JK convergia contribui para o desenvol-
com os interesses das oligarquias rurais conservadoras. vimento do tema cidadania
• MOREIRA, Vânia Maria Losada. Os anos JK: industrialização e modelo oligárquico de desen- e civismo e a competência
volvimento rural. In: FERREIRA, Jorge; Lucilia de Almeida Neves Delgado (org.). O tempo da geral 9.
experiência democrática: da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964: Terceira
República (1945-1964). Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2011. (O Brasil republicano, v. 3).

217

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 217 26/08/2022 17:07


ENCAMINHAMENTO
• Retomar com os alunos a im-
portância da propaganda na
política; nesse caso, na cons-
trução da imagem de Jânio
Governo Jânio Quadros
como um político que varre-
Quando Jânio assumiu o governo, em 1961, a inflação e a
ria a corrupção.
dívida externa brasileira estavam altas. O governo Jânio decidiu,
• Questionar se os estudantes

GE
então, restringir o gastos do governo. Para isto:

OR
GE
conhecem outros exemplos

TO
RO
K/
de políticos que construíram

O
CR
1o

UZ
Diminuiu o crédito aos empresários.

EI
suas campanhas presiden-

RO
/E
M
/D
o
ciais em torno do combate à 2 Congelou salários.

A .
PR
ES
S
corrupção. Cortou a ajuda governamental às importações de trigo e de petróleo,
• Compreender a política fi- 3o o que provocou um aumento de 100% nos preços do pão e dos
combustíveis.
nanceira de Quadros e seu
corte de gastos em setores
antes subsidiados pelo go- Com essa política, o governo ganhou a confiança
verno, a exemplo do trigo e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e conseguiu
do petróleo. renegociar a dívida externa, mas descontentou
• Refletir sobre o cargo de pre- a população brasileira e perdeu popularidade.
sidente da República, suas Outro fator de desgaste de Jânio Quadros
atribuições e responsabilida- foi seu envolvimento com questões incom-
des a partir do envolvimento patíveis com o cargo de presidente
de Quadros em questões in- da República: a proibição do uso de
compatíveis com o cargo de biquíni nas praias e das brigas de galo
presidente. em todo o território nacional.
• A p r o f u n d a r o a s s u n t o
acessando o texto: MUNIZ, Para ganhar votos,

FPG/HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES


BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

Jânio prometia que,


Camille Bezerra de Aguiar
se eleito, iria “varrer
(org.). Discursos selecionados a corrupção” no
do presidente Jânio Quadros. governo. E, para
Brasília, DF: Fundação reforçar essa imagem
Alexandre de Gusmão, 2009. de honestidade,
usava uma vassoura
Disponível em: http://funag. como símbolo de sua
gov.br/loja/download/677- campanha. O jingle da
Discursos_janio_quadros.pdf. campanha de Jânio
Acesso em: 10 ago. 2022. tinha versinhos muito
repetidos na época:
“Varre, varre [...],
vassourinha/varre,
Imagens em movimento. varre a bandalheira/que
o povo já tá cansado/
Vídeo da TV Senado sobre a
de sofrer dessa
renúncia de Jânio Quadros. maneira”. Fotografia da O maiô de duas peças (biquíni) havia substituído o maiô tradicional
• HISTÓRIAS do Brasil – A campanha presidencial (de uma peça só). Jânio considerou o biquíni ofensivo aos “bons
de 1960. costumes”, por isso proibiu seu uso nas praias. Início dos anos 1960.
Renúncia de Jânio Quadros.
2017. Vídeo (5min52s).
Publicado no canal TV Senado.
218
Disponível em: https://
w w w. y o u t u b e . c o m /
watch?v=XOXJdN-AePA. TEXTO DE APOIO
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 218 20/08/22 14:38 D3_

Acesso em: 5 jul. 2022. [....] é importante pontuar que o governo Jânio Quadros foi marcado pela dicotomia entre uma
política interna de viés conservador e uma política externa de caráter progressista. No campo
econômico interno, o novo governo adotou uma política de estabilização econômico-financeira,
visando controlar a inflação, diminuir a dívida externa e retomar o crescimento equilibrado da
economia. Ainda na política interna, tomou providências de moralização dos costumes e da ad-
ministração pública, com o disciplinamento do funcionalismo, a proibição do uso de biquínis nas
praias, dos jogos de azar, das brigas de galo e do lança-perfume, bem como a instauração de sindi-
câncias na tentativa de combater a corrupção governamental.

218

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 218 26/08/2022 17:07


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a política ex-
terna de Jânio Quadros e
A política externa independente abrir um debate sobre ela.
• Comparar a política externa do
Externamente, o governo Jânio negou-se a manter o alinhamento do Brasil aos Estados
governo Jânio Quadros à de ali-
Unidos e iniciou conversações para reatar relações diplomáticas com a União Soviética e
nhamento aos Estados Unidos
com a China comunista. Além disso, Quadros colocou-se contra a invasão de Cuba pelos
adotada pelo governo Dutra.
Estados Unidos e declarou seu apoio aos países africanos que lutavam para se tornar
• Perceber que a política ex-
independentes de Portugal. Essa política externa independente descontentou profun-
terna de Jânio Quadros acir-
damente os Estados Unidos, boa parte dos chefes militares brasileiros e os líderes da UDN,
rou os ânimos da oposição
entre os quais estava Carlos Lacerda. Sem se importar com isso, em 19 de agosto de 1961,
civil e militar ao seu governo,
Jânio condecorou o ministro cubano e ex-guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara com a mais que passou a ser acusado de
alta honraria da nação brasileira: a Ordem do Cruzeiro do Sul. aliado de comunistas.
• Apreender como a historio-
grafia interpreta a renúncia
A renúncia de Jânio Jânio Quadros: uma tentativa
Depois da homenagem a “Che”, militares de golpe, com vistas a retornar

APPE
pró-EUA e civis liderados por Carlos Lacerda ao poder com amplos poderes.
passaram a acusar Jânio de ser aliado dos comu-
nistas e de pretender instalar uma ditadura no
Dialogando. O artista ironi-
Brasil. Em 25 de agosto de 1961, Jânio surpreen-
za a crença de Jânio de que o
deu tanto seus eleitores quanto seus opositores:
povo o reconduziria ao poder;
renunciou à presidência da República e deixou
mas, como representado na
uma carta para ser entregue ao Congresso. charge, o povo o abandonou.
Para os historiadores, a renúncia de Jânio
Quadros foi uma tentativa de golpe; Jânio apos-
tava que seria reconduzido ao poder nos braços
do povo e teria poderes para governar sem dar Brasil no cenário internacional,
satisfações ao Congresso. Se essa foi a intenção apesar de fazerem oposição ao
dele, o golpe falhou: o Congresso aceitou seu presidente. [...] podemos balizar a
política externa independente em
pedido de renúncia e a população não reagiu. uma base principiológica composta
Jânio tinha adversários poderosos: a maioria no de cinco diretrizes centrais para
Congresso era da oposição (PSD e PTB); muitos seu desenvolvimento, são elas: 1
empresários e chefes militares eram contrários à – ampliação do mercado externo
dos produtos primários; 2 – for-
sua política externa independente; e as camadas mulação autônoma dos planos
populares estavam insatisfeitas com a compres- Charge de Appe publicada na revista de desenvolvimento econômico e
são dos salários e a alta da inflação. O Cruzeiro em 7 de outubro de 1961. a prestação e aceitação de ajuda
internacional nos marcos destes
planos; 3 – manutenção da paz por
Dialogando meio da coexistência pacífica entre
os Estados; 4 – não intervenção nos
O personagem que pula do prédio em que está escrito “presidência” é Jânio Quadros. Observe a assuntos internos de outros paí-
cena com atenção. O que o artista quis ironizar nessa charge? ses, autodeterminação dos povos
O artista ironiza a crença de Jânio de que o povo o reconduziria ao poder; mas, como representado na e o primado absoluto do Direito
charge, o povo o abandonou.
219 Internacional na resolução dos
conflitos e problemas internacio-
nais; 5 – emancipação completa
dos territórios não autônomos. A
partir disso, o Brasil buscaria, por
14:38 TEXTO DE APOIO (CONTINUAÇÃO)
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 219 estabelecido com os EUA durante décadas. 28/06/22 Essa
13:26
meio da ampliação e do uso efetivo
nova perspectiva de ação internacional do Brasil
Por outro lado, no campo da política externa, o gerou posicionamentos contrários aos interesses do campo diplomático, a busca
novo governo inaugura, o que para muitos é um norte-americanos, o que consequentemente sus- do desenvolvimento econômico,
com a consequente retomada do
novo paradigma das relações exteriores do Brasil, citou acalorados debates internos de setores da
crescimento.
e rompe com a tradição diplomática até então política nacional, como a UDN, que apoiou Jânio
BENTO, Guilherme Gonzaga. A política
existente desde os tempos da chancelaria do Barão nas eleições e tinha em seus quadros o Ministro externa do governo Jânio Quadros sob
do Rio Branco, pautada no alinhamento, muitas das Relações Exteriores, Afonso Arinos, mas que a ótica do Jornal Lavoura e Comércio
vezes incondicional e automático, aos Estados se posicionou contra as ações de política externa (1960-1961). Dissertação (Mestrado
do novo governo, e, por outro lado, setores nacio- Acadêmico em História) – Programa de
Unidos. A PEI, nesse sentido, buscava ampliar seus
Pós-Graduação em História, Universidade
laços diplomáticos e comerciais com outros paí- nalistas, representados por alas do PTB e até do Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2020.
ses, fora do tradicional eixo de relação prioritária PCB, que aplaudiam o novo posicionamento do p. 19-22.
219

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 219 26/08/2022 17:08


ENCAMINHAMENTO
• Diferenciar as forças contrá-
rias à posse de João Goulart
das que se colocavam como
favoráveis a ela.
Governo João Goulart
• Compreender o movimento Com a renúncia do presidente, o vice-presidente João Goulart devia assumir o governo.
feito pelo governador Leo- Era isso o que dizia a Constituição. Mas nem todos eram favoráveis à posse de Jango.
nel Brizola para garantir a UDN, ministros militares alinhados aos Estados Unidos, grandes empresários nacionais
posse de João Goulart, a for- e estrangeiros eram contrários à posse de Jango, a quem acusavam de ligação com o
ça e o alcance da Rede da Le-
comunismo internacional.
galidade.
Líderes de movimentos sindicais e estudantis, entre outros, e alguns governadores de
• Comentar que Leonel Bri-
estado – especialmente o do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola – eram favoráveis à posse
zola foi o único político da de Jango. E, por quererem o cumprimento da Constituição, eram chamados de legalistas.
história brasileira a ser elei-
ACERVO ICONOGRAPHIA
to para governar dois esta-
dos diferentes: Rio Grande PARA SABER MAIS
do Sul e Rio de Janeiro. Sua
carreira política foi marcada Rede da Legalidade
por discursos que defendiam [...] No Rio de Janeiro, o marechal
a reforma agrária e a distri- Lott expressou a divisão nas Forças
buição de renda no Brasil. Armadas e lançou um manifesto à
• Aprofundar o assunto com a nação, pela defesa da ordem constitu-
leitura do texto: FERREIRA, cional. E então, no Rio Grande do Sul,
Jorge. História e biografia: o governador Leonel Brizola decidiu
as escolhas de João Goulart.
que era hora de agir. Sua intenção era
Cadernos AEL, Campinas, v.
trazer Goulart a Porto Alegre e garantir
17, n. 19, p. 269-290, 2010.
a posse a todo custo. Brizola era a prin-
Brizola falando para a Rede da Legalidade.
cipal liderança da ala mais à esquerda Porto Alegre (RS), 1961.
do PTB, além de cunhado de Jango. [...]
TEXTO DE APOIO [...] O governador pôs em ação a poderosa Brigada Militar gaúcha e determinou
A força da ideia de a transferência dos estúdios da Rádio Guaíba para o subsolo do Palácio Piratini. Ato
legalidade contínuo, postou um destacamento da Guarda de Choque com três metralhadoras
[...] a legalidade invocada es- pesadas protegendo a antena transmissora e a torre, na ilha da Pintada, a doze
taria “acima” da Constituição. quilômetros de Porto Alegre. Fez o teste e mandou o locutor anunciar: “Esta é a
Todavia, a legalidade constitu- Rádio da Legalidade, transmitindo dos porões do Palácio Piratini, na capital do Rio
cional também receberia inter-
Grande do Sul”. Com o microfone na mão, Brizola sublevou o estado e mobilizou o
pretações para justificar as ações
contrárias à posse de João Gou- resto do país a agir em defesa da Constituição. A Rádio da Legalidade transmitia
lart. Após a confirmação efetiva 24 horas, por ondas curtas, centralizava as transmissões de aproximadamente 150
do veto militar a imediata posse outras rádios, e era ouvida em todo o Brasil e no exterior. Brizola sabia bem o risco
do vice-presidente surgiu, além que estava correndo. Armou a população para a resistência, convocou uma multidão
[de] inúmeras proclamações que
a ocupar a praça da Matriz, defronte ao palácio [...].
afirmavam a sua ilegalidade,
uma imediata rejeição no Con- SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 434-435.
gresso ao golpe. A fundamenta-
ção desta rejeição nos princípios
constitucionais fez com que os
220
partidários do veto também ten-
tassem incorporar a proteção da
legalidade constitucional a seus legitimidade, se não estiver
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 220 protegida pela lei. questão se arriscava a sustentar seu ponto de 28/06/22 13:26 AV_

argumentos. Contudo, diferentes significados foram atribuí- vista sem a tentativa de incorporação da ideia
Naquele momento a questão dos ao conceito de legalidade que, por vezes, foi de legalidade e de sua carga significativa.
da legalidade assumiu o primei- entendido como estritamente positivo, vincula-
MIRANDA, Mario Angelo Brandão de Oliveira. A questão
ro plano dos debates e se fez do à letra da Constituição, outras como ligado a
da legalidade no contexto das crises políticas de 1955 a
presente na maioria das man- um conjunto de leis fundamentais que regiam
1964 no Brasil. Dissertação (Mestrado em História Social da
chetes dos jornais. [...] A força os costumes e os valores da sociedade brasilei- Cultura) – Programa de Pós-Graduação em História Social da
aglutinadora e o poder de con- ra, ou mesmo como vínculo à vontade sobera- Cultura, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio
vencimento deste argumento se na e legítima do povo. Estas definições, como de Janeiro, 2010. p. 96-97.
apresentou como garantia cen- pretendemos demonstrar, por vezes também
tral para a manutenção do regi- apareciam combinadas no discurso dos diver-
me. Qualquer atitude perde sua sos atores políticos [...]. Nenhum dos lados em
220

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 220 26/08/2022 17:08


ENCAMINHAMENTO
• Compreender o motivo pelo
COLEÇÃO PARTICULAR qual o Congresso brasileiro
O país caminhava em direção a uma propôs a solução parlamen-
guerra civil quando o Congresso propôs tarista para a crise que se
uma solução política para a crise. João abriu com a renúncia de Jâ-
Goulart poderia assumir a presidência da nio Quadros.
República, desde que aceitasse o parla- • Questionar os estudantes
mentarismo, sistema em que o chefe do sobre a diferença entre par-
governo é o primeiro-ministro e não o lamentarismo e presidencia-
presidente da República. Jango aceitou; lismo.
mas logo que tomou posse, em setembro • Diferenciar plebiscito de re-
de 1961, começou a articular a volta do ferendo.
presidencialismo. A Constituição previa a • Comentar a vitória expressi-
realização de um plebiscito para ver se o va de João Goulart no plebis-
povo queria o parlamentarismo ou o pre- cito de 1963.
sidencialismo. Em 6 de janeiro de 1963,
mais de 80% dos eleitores disseram não
ao parlamentarismo,, devolvendo a +ATIVIDADES
chefia do governo a João Goulart. Em grupo. Entrevistem fami-
Primeiro-ministro: político escolhido pela maioria liares que tenham tido experi-
do parlamento para ser chefe do governo. ência com a cédula de papel,
Plebiscito: consulta à população. perguntando que diferenças
percebem entre ela e a urna
Cartaz do plebiscito de 1963 eletrônica. Durante a exposição
contra o parlamentarismo e a dos resultados das pesquisas le-
favor da volta do presidencialismo.
vem imagens que demonstrem
como ocorria a contagem de
votos. Explicar que, na cédula
ESCUTAR E FALAR em papel, muitas vezes a po-
pulação, ao invés de marcar
Pesquise e descubra qual dos meios é mais
sua opção, utilizava o espaço
seguro: a cédula em papel ou a urna eletrônica.
para escrever recados para os
Prepare-se para expor aos colegas a conclu- candidatos, anulando o voto.
são a que você chegou. Questionar se os alunos pos-
OM
HUTTERSTOCK.C
SHAPERSTOCK/S
Autoavaliação. Responda em seu caderno. PHOTO VE
TEROK/
M
suem dúvidas em relação a qual
TOCK.CO
SHUTTERS
meio é preferível, a urna eletrô-
a Expressei minhas ideias com objetividade? nica ou a cédula de papel, pode
b Usei tom de voz e gestos adequados? ser um momento interessante
c Escutei meus colegas com atenção e respeito? para refletir sobre os direitos e
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes? deveres da população e sobre o
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado? sistema eleitoral vigente.
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento? Debater pontos utilizados na
autoavaliação, de modo que
possam se preparar também para
221 trabalhar esses aspectos.

13:26 TEXTO DE APOIO


AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 221
de eleitores, 9,5 milhões votaram a favor do país — e a disputa seguiu seu curso sem
04/07/22 18:09
retorno do regime presidencialista. Goulart disposição e sem capacidade de se resolver
No final de 1962, [...] os acontecimentos entendeu a enxurrada de votos como uma dentro das regras democráticas. Faltava ao
pareciam se precipitar, e a solução parla- nova eleição, e não estava de todo errado. governo habilidade de convencimento, e
mentarista mostrava desgaste — graças, Faltou, porém, considerar outro aspecto: sobrava radicalismo às forças políticas que
inclusive, à indisfarçada colaboração do a vitória foi sua, mas os votos eram pelo atuavam dentro e fora do Congresso Na-
próprio presidente. presidencialismo, e diversos partidos e li- cional.
Jango assumiu seus poderes presiden- deranças políticas que se empenharam em SCHWARCZ, Lilia M. STARLING, Heloisa M. Brasil: uma
ciais, logo após o plebiscito aprovado em consegui-los, simplesmente estavam de biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
setembro de 1962 e realizado em 6 de janei- olho nas eleições presidenciais de 1965. [...] p. 441-443.
ro de 1963, para que os brasileiros se ma- Em 1963, existiam duas agendas polí-
nifestassem sobre a forma de governo. O ticas, à esquerda e à direita, disputando
resultado foi indiscutível: dos 11,5 milhões para se transformar num projeto para o
221

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 221 26/08/2022 17:08


ENCAMINHAMENTO
• Conhecer as Reformas de
Base propostas pelo governo
João Goulart. Reforma eleitoral: Como chefe de governo, Jango prometeu realizar as Reformas
previa a concessão
• Diferenciar os grupos e os do voto aos não
de Base:: agrária, administrativa, bancária, tributária, eleitoral e
interesses contrários às Re- alfabetizados. Houve educacional. Com isso, buscava se aproximar das camadas populares
grande reação. Achava-se e de setores das camadas médias favoráveis à mudança social. Mas
formas de Base daqueles que que era parte de um
eram favoráveis a elas. golpe político,
a sociedade brasileira logo se dividiu em relação a essas reformas.
• Compreender a atuação e os pois os não alfabetizados Eram contrários às Reformas de Base:: grandes empresá-
votariam em Jango. rios; parte do alto clero e dos oficiais das Forças Armadas; grandes
propósitos do Comando Ge-
Ligas Camponesas:
ral dos Trabalhadores (CGT) jornais, como O Estado de S. Paulo e a Tribuna da Imprensa (de
associações de defesa
e das Ligas Camponesas, li- dos trabalhadores rurais Carlos Lacerda); e organizações como o Instituto Brasileiro de Ação
deradas por Francisco Julião. surgidas em Pernambuco. Democrática (Ibad)
( ) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais
Elas também se
fizeram presentes em
(Ipes),
), ambos mantidos com o dinheiro de empresários brasileiros
vários outros estados e estadunidenses. Essas organizações investiram milhões de dólares
Dica de leitura brasileiros. Seu principal em propaganda contra o governo Jango.
líder foi Francisco Julião
Neste artigo, Antônio Tor- e seu lema era: “Reforma Eram favoráveis às Reformas de Base:: os movimentos
res Montenegro reconstituiu agrária na lei ou na sociais organizados. No meio estudantil, destacava-se a União
a experiência das Ligas Cam- marra”. Nacional dos Estudantes (UNE),
( ), que reivindicava justiça social e
ponesas a partir do cotidiano o fim do analfabetismo. No meio católico, as organizações mais
regional e da memória oral de importantes eram a Juventude Operária Católica (JOC)
( ) e a Juventude
sujeitos históricos envolvidos. Universitária Católica (JUC).
( ). Já
• MONTENEGRO, Antônio entre os trabalhadores urbanos,
Torres. Ligas Camponesas e sobressaiu-se o Comando Geral dos
sindicatos rurais em tempo Trabalhadores (CGT),
( ), fundado em
de revolução. In: FERREIRA, 1962. No campo, destacaram-se as
Jorge; Lucilia de Almeida Ne- Ligas Camponesas,
Camponesas, lideradas pelo
ves Delgado (org.). O tempo advogado pernambucano Francisco
da experiência democráti- Julião. Ele defendia a aplicação dos
ca: da democratização de
direitos trabalhistas no campo; a
1945 ao golpe civil-militar
sindicalização do trabalhador rural;
de 1964: Terceira República
e uma reforma agrária que limitasse
(1945-1964). Rio de Janeiro:
Civilização brasileira, 2011. a quantidade de terras que cada
(O Brasil republicano, v. 3). pessoa podia possuir.

TEXTO DE APOIO
A Marcha da Família com O deputado Francisco Julião discursa
Deus pela Liberdade durante comício pela campanha
No dia [...] de São José, padroeiro “Um trator para as Ligas Camponesas”,
realizado na Praça da Sé, São Paulo
da família, foi realizado, na cidade
(SP), em 1961. A primeira Liga
de São Paulo, um ato que mereceu Camponesa foi fundada em 1954,
o desprezo das esquerdas, mas em Vitória de Santo Antão (PE).
que foi, no entanto, profundamen- ACERVO UH/FOLHAPRESS

te significativo, demonstrando a
divisão e a radicalização política
222
do país: a Marcha da Família com
Deus pela Liberdade. Os discursos
contra Goulart foram a tônica do Segundo, pelo caráter religioso
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 222 do movimento, Estado-Maior do Exército, fez um pronunciamento, 28/06/22 13:26 AV_

comício que se seguiu. Cálculos algo merecedor de desprezo. denunciando “as agitações generalizadas do ilegal
falam em 500 mil pessoas pre- Nos dois dias que antecederam a Semana Santa, poder do CGT”. Deveriam, perguntou, as Forças
sentes à Marcha. Outros, consi- Goulart e seus aliados de esquerda continuaram Armadas apoiar uma revolução “para garantir
derando os que assistiram nas avançando na estratégia adotada para implementar a plenitude de um grupo pseudossindical, cuja
ruas de acesso, chegaram à cifra as reformas. A programação dos novos comícios foi cúpula vive na agitação subversiva cada vez mais
de 800 mil [...]. As esquerdas, no fechada, todos para abril: dia 3 em Santos; 10 em onerosa aos cofres públicos? Para talvez submeter
entanto, não levaram o ato a sério Santo André; 11 em Salvador; 17 em Ribeirão Preto; a nação ao comunismo de Moscou?” [...].
por dois motivos. Primeiro, por 19, homenageando Vargas, em Belo Horizonte; 21 FERREIRA, Jorge. O governo Goulart e o golpe civil-militar de 1964.
In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.).
tratar-se de uma manifestação de em Brasília. O último, marcado não casualmente O tempo da experiência democrática: da democratização de
classe média. “Isto não é povo”, para 1o de maio, seria na capital paulista. No mesmo 1945 ao golpe civil-militar de 1964.Rio de Janeiro: Civilização
disseram alguns com irreverência. dia, contudo, o general Castelo Branco, chefe do Brasileira, 2003. (O Brasil republicano, v. 3, p. 386-387).
222

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 222 26/08/2022 17:08


ENCAMINHAMENTO
• Compreender o clima de ra-
dicalização política que opôs
As posições se radicalizavam: os movimentos sociais exigiam as Reformas de Base que as forças contrárias às forças
Goulart havia prometido; a oposição acusava o presidente de ter perdido a autoridade e favoráveis às Reformas de
de ser cúmplice do comunismo internacional. João Goulart tentou aprovar as Reformas de Base.
Base, mas não conseguiu. Sem o apoio do Parlamento, Goulart optou por se aproximar • Refletir sobre o impacto dos
dos movimentos sociais. decretos assinados por João
Nesse contexto conflituoso, em 13 Goulart no comício pelas Re-

ARQUIVO O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS


de março de 1964, Jango liderou um formas de Base.
gigantesco comício pelas Reformas • Identificar as motivações e
de Base em frente à estação da os objetivos da Marcha da
Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Família com Deus pela liber-
Diante de cerca de 200 mil a 250 mil dade.
pessoas, o presidente assinou dois • Explicar que há controvér-
decretos de grande impacto popular. sias sobre o número de parti-
Um deles nacionalizava as refinarias de cipantes da Marcha da Famí-
petróleo particulares. O outro desapro- lia com Deus pela Liberdade.
priava para fins de reforma agrária as Alguns historiadores falam
terras com mais de 100 hectares situa- em 300 mil; outros, em 500
João Goulart, acompanhado pela primeira-dama, mil.
das em uma faixa de dez quilômetros Maria Tereza Goulart, discursa durante o comício pelas
às margens das rodovias e ferrovias Reformas de Base, em frente à Central do Brasil.
federais. Rio de Janeiro (RJ), 1964.

A resposta ao comício do dia 13 não se fez esperar: seis dias depois (19 de março),
Dica de leitura
autoridades civis e religiosas promoveram, no centro da capital paulista, uma gigantesca Neste artigo, a fim de com-
passeata contra as reformas de João Goulart: a Marcha da Família com Deus pela preender o governo Jango e a
crise política que culminou em
Liberdade.. Segundo o historiador Sergio Lamarão, a marcha paulista contou com a par-
sua deposição, Jorge Ferreira
ticipação de 300 mil pessoas.
reconstitui os projetos políti-
cos e as posturas tomadas pe-
ACERVO UH/FOLHAPRESS

los atores individuais e coleti-


vos envolvidos nos conflitos so-
ciais que marcaram o período.
• FERREIRA, Jorge. O governo
Goulart e o golpe civil-mi-
litar de 1964. In: FERREIRA,
Jorge; DELGADO, Lucilia de
Almeida Neves (org.). O tem-
po da experiência democrá-
Mulheres com
tica: da democratização de
bandeiras e cartazes
durante Marcha da 1945 ao golpe civil-militar de
Família com Deus 1964. Rio de Janeiro: Civiliza-
pela Liberdade. ção brasileira, 2011. (O Brasil
São Paulo (SP), 1964. republicano, v. 3).
223

13:26 Imagens em movimento


AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 223
+ATIVIDADES 30/06/22 16:49

Vídeo da Univesp sobre a Marcha da famí- Em 2014 houve uma nova versão da Mar-
lia com Deus pela liberdade. cha da Família com Deus pela Liberdade. Or-
• 1964: CRONOLOGIA | Marcha da família ganizados em grupo, comparem essas duas
com Deus pela liberdade. 2014. Vídeo edições quanto às motivações, à participa-
(4min07s). Publicado pelo canal Univesp. ção popular, e ao objetivo político dos par-
Disponível em: https://www.youtube.com/ ticipantes. A atividade permite mobilizar a
watch?v=dzOENN8WiJY. Acesso em: 5 jul. competência específica 3.
2022.

223

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 223 26/08/2022 17:08


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de gol-
pe civil-militar distinguindo-
-o de golpe militar. O golpe civil-militar de 1964
• Refletir sobre o episódio
Na semana seguinte à marcha ocorrida em São Paulo, um episódio ajudou a colocar
considerado pela cúpula das mais lenha na fogueira: um grupo de fuzileiros navais enviados para prender os mais de
Forças Armadas de “quebra
mil marinheiros que promoviam uma manifestação no Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio
da disciplina e da hierarquia
de Janeiro, solidarizou-se com os manifestantes. O governo Goulart pôs fim à rebelião,
militar”
mas não puniu os rebeldes. Foi a gota-d’água. Oficiais das Forças Armadas consideraram
• Retomar e aprofundar as ra-
essa atitude um incentivo à quebra da disciplina e da hierarquia militar.
zões que levaram os historia-
Em 31 de março de 1964, as tropas do general Olímpio Mourão Filho, vindas de Minas
dores a chamar a deposição
Gerais, marcharam em direção ao Rio de Janeiro e receberam o apoio do comandante do
de João Goulart de golpe
civil-militar. Pensar também II Exército (São Paulo) e de alguns governadores civis. Juntos, civis e militares desfecharam
no conceito de ditadura ci- o golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart, em abril de 1964.
vil-militar para denominar o Segundo historiadores especializados no assunto, não foram apenas os militares, mas
período de 1964 a 1985. também os civis, que deram o golpe de 1964. O governador de Minas Gerais, Magalhães
• Evidenciar o caráter incons- Pinto, autorizou a movimentação de tropas com Goulart ainda em território brasileiro, o
titucional atribuindo ao fato presidente do Congresso Nacional, Auro de Moura Andrade, declarou vago o cargo de
de Auro de Moura Andrade presidente e deu posse ao presidente da Câmara dos Deputados,, Ranieri Mazzilli.
ter declarado o cargo de pre- Ocorreram passeatas em vários pontos do país a favor do golpe civil-militar. Uma delas
sidente vago, com João Gou- no Rio de Janeiro, em 2 de abril, para comemorar o golpe.
lart presente em território A vacância anunciada por Auro de Moura Andrade em 1o de abril de 1964 foi incons-
nacional. titucional, pois o presidente João Goulart estava em território brasileiro, onde permaneceu
• Explorar a fotografia que até o dia 4 de abril.
mostra João Goulart e Auro Os historiadores não
JEAN SOLARI/O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS

de Moura Andrade durante usam mais a expressão


a posse para que os alunos “golpe militar”, mas sim
discutam sobre as alianças e “golpe civil-militar”. Os
quebras de alianças que po- militares e seus aliados
dem ocorrer ao longo de um civis assumiram o poder
governo. afirmando que salvavam
• Comentar com os alunos que o país da anarquia e do
o dia do golpe é motivo de comunismo. Era o fim da
disputa até os dias atuais. O
experiência democrática
início da movimentação das
iniciada no governo de
tropas se iniciou em 31 de
Eurico Gaspar Dutra.
março, entretanto, de acor-
do com historiadores, o gol-
pe só foi concretizado no dia
seguinte. Pelo fato de o dia O presidente João Goulart,
1o de abril ser tido como Dia à esquerda, e o senador Auro de
da Mentira, os defensores do Moura Andrade durante cerimônia
golpe o comemoram no dia de posse. Brasília (DF), 1961.
31 de março.
224

TEXTO DE APOIO bui para a compreensão da História recente do religiosas, e tradicionais entidades da socieda-
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 224 28/06/22 13:26 AV_

O golpe de 1964 país e da ditadura em particular. de civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil
Tornou-se lugar-comum de- É inútil esconder a participação de amplos (OAB) e a Conferência Nacional dos Bispos do
nominar o regime político que segmentos da população no movimento que le- Brasil (CNBB), “as direitas”. [...] é impossível não
existiu de 1964 a 1979 de “dita- vou à instauração da ditadura em 1964. É como ver as multidões – civis – que apoiaram ativa-
dura militar”. Trata-se de um tapar o sol com a peneira. As Marchas da Fa- mente a instauração da ditadura.
exercício de memória, em con- mília com Deus pela Liberdade mobilizaram [...] A ampla frente política e social que apoiou o
tradição com numerosas evi- pessoas de todas as classes sociais, contra o go- golpe era bastante heterogênea.
dências, e que só se mantém verno de João Goulart. REIS, Daniel Aarão. 1964: golpe militar ou civil? In: FIGUEIREDO,
graças a poderosos e diferentes [...] Luciano (org.). História do Brasil para ocupados. Rio de
interesses [...]. O problema é que No Brasil, estiveram com as Marchas a maioria Janeiro: Casa da Palavra, 2013. p. 197-199.
essa memória em nada contri- dos partidos, lideranças empresariais, políticas,
224

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 224 26/08/2022 17:08


ENCAMINHAMENTO
1. a) Getúlio Vargas e Eurico Gaspar Dutra, presidentes brasileiros.
1. b) No primeiro quadro, Dutra expulsa Vargas, que sai com suas malas, no mês de • Promover um momento para
outubro. No segundo quadro, no mês de novembro, Vargas aparece com cartazes e correção coletiva de modo

ATIVIDADES megafone fazendo campanha para Dutra, que ob-


serva pela janela.
NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

1. c) O autor critica o fato de, inicialmente, Dutra ser responsável pela


que as dúvidas e respostas
possam ser compartilhadas.
deposição de Vargas e, em seguida, utilizá-lo como seu cabo eleitoral na campanha Professor, as atividades
presidencial de 1945. propostas permitem organi-
2. a) Comparando o ano de 1930 ao de 1945, no tocante à porcentagem de eleitores
sobre o total da população, percebe-se que o número de eleitores mais do que do- zar a sala de diferentes manei-
I. Retomando brou; passou de 5,7% para 13,4%. ras, de acordo com a quanti-
2. b) Apesar de ter aumentado mais do que o dobro, a porcentagem de dade e perfil dos estudantes.
eleitores em relação ao total da população em 1945 ainda era pequena. Entre elas, estão atividades de
1 Observe a charge. leitura, de interpretação, dis-
sertativas e de múltiplas alter-
nativas, que permitem a orga-
FOLHA DA MANHÃ/FOLHAPRESS

nização em pequenos grupos,


duplas ou individuais.

das informações, explicitamente


enunciadas, há outras que podem
ser pressupostas e, consequente-
mente, inferidas pelo leitor. [...]. Isso
significa que o leitor deve descobrir
Charge publicada no jornal os pressupostos (que podem ocul-
Folha da Manhã. São Paulo tar uma intenção maliciosa e os
(SP), 27 de dezembro de subentendidos).
1945. [...]
Identificar o tema. O tema é o
a) Quais são as personalidades históricas representadas na charge?
eixo sobre o qual o texto se estru-
b) O que está acontecendo em cada um dos quadros? tura. A percepção do tema responde
c) Quais são as “coisas ‘esquisitas’” que o autor da charge critica? a uma questão essencial para a
leitura: o texto trata do quê? Em
2 Leia a tabela a seguir. muitos textos, o tema não vem ex-
plicitamente marcado, mas deve ser
Brasil: eleições para a presidência da República (1930-1945) percebido pelo leitor, quando este
Porcentagem sobre identifica a função dos recursos
Ano Número de eleitores utilizados, como o uso de figuras
o total da população
1930 1,9 milhão 5,7% de linguagem, de exemplos, de uma
determinada organização argu-
1945 6,2 milhões 13,4%
mentativa, entre outros. Espera-se
Fonte: FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1998. p. 398.
verificar a capacidade do aluno de
a) O que se pode concluir comparando a porcentagem de eleitores sobre o total da população construir o tema do texto a partir da
em 1930 e em 1945? interpretação que faz dos recursos
b) Comente sobre a porcentagem de eleitores em relação ao total da população, em 1945. utilizados pelo autor.
[...]
3 Segundo o historiador Jorge Ferreira, entre 1945 e 1964, dois projetos de Nação Perceber os efeitos de ironia e
disputaram a preferência do eleitorado brasileiro. Indique N para as frases que dizem humor. O humor e a ironia cos-
humor.
respeito ao projeto nacionalista e L para o que for relativo ao projeto liberal. Depois, tumam ser comuns em vários
escolha a alternativa correta. gêneros de texto, mas nem sempre
são facilmente compreendidos
225 pelo leitor, pois, muitas vezes,
exigem o conhecimento de situa-
ções que não são mencionadas no
texto. A dificuldade apresentada
13:26 TEXTO DE APOIO
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 225 Onde? Como? Quando? Qual? Para quê? Pretende-
20/08/22 14:39 nessa habilidade pode revelar a
-se, portanto, verificar a capacidade de os leitores pouca familiaridade do aluno com
Leitura de charge localizarem uma ou mais informações objetivas a situação e o assunto tratados,
marcadas no texto. ou seja, ausência de conhecimen-
[...] to prévio. A percepção da ironia
[...]
Na leitura da charge, observa-se que é necessário pode ser mais difícil do que a do
Inferir informação implícita.
implícita. Quando a tarefa humor, uma vez que ela costuma
conjugar uma série de habilidades ou compe-
do leitor for inferir uma informação implícita, ser apresentada de forma mais
tências. [...]
pretende-se verificar se ele é capaz de chegar às sutil nos textos.
Localizar informações. Quando leitor é solicitado informações que não estão presentes claramente
SOUZA, Cláudia Mara de. Leitura de
a localizar informações, espera-se que ele, a partir na base textual, mas que podem ser construídas charge: uma experiência, um desafio. Via
das marcas textuais presentes na superfície do por meio da realização de inferências, sugeridas Litterae, Anápolis, v. 3, n. 2, p. 247-259,
texto, responda às questões do tipo: O quê? Quem? pelas marcas textuais ou pistas textuais. Além jul./dez. 2011. p. 251-253.
225

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 225 26/08/2022 17:08


ENCAMINHAMENTO
• Promover correções coletivas
trabalhando, também, as al-
ternativas incorretas. a) O Estado devia intervir na economia, investindo em áreas estratégicas, como petróleo, side-
rurgia e transportes, e incentivando os investimentos privados.
• Incentivar os alunos que ti-
b) A economia devia caminhar com a menor interferência possível do Estado, devendo ser
verem dúvidas a comparti- regulada pelas “leis do mercado”. O desenvolvimento devia apoiar-se nas empresas privadas
lhar outros entendimentos nacionais e estrangeiras.
que tiveram. c) O governo devia manter uma posição de independência em relação aos Estados Unidos da
Professor, atividades de América.
múltipla escolha muitas vezes d) Os capitais e as empresas estrangeiras deviam ter liberdade para atuar no Brasil, inclusive
causam dúvidas nos alunos, quanto à remessa de lucros.
uma vez que detalhes nas al- e) A entrada do capital estrangeiro devia ser controlada pelo Estado, que também deveria regular
ternativas podem torná-las as remessas de lucros para o exterior.
incorretas. f) O governo brasileiro devia se aliar aos Estados Unidos de forma incondicional, ajudando-o a
4. A alternativa a) está incorre- combater o comunismo.
ta, pois a Constituição de 1946
A sequência correta de respostas é: 3. Alternativa C.
concedeu o direito de voto
para todas as mulheres alfa- a) N, L, N, L, N, N. c) N, L, N, L, N, L.
betizadas maiores de 18 anos. b) L, N, L, N, L, N. d) L, N, N, L, N, L.
A alternativa c) está incorreta,
pois a Constituição fixou a ida-
4 Copie no caderno a alternativa correta. Em relação ao voto, a Constituição de 1946
estabeleceu:
de mínima de 18 anos para ter
a) A proibição do voto feminino e dos menores de 18 anos de idade.
direito ao voto. A alternativa
b) A extensão do direito de voto aos brasileiros maiores de 18 anos, exceto os não alfabetizados.
d) está incorreta, pois o voto
era obrigatório. A alternativa c) O aumento para 21 anos na idade mínima para votar.
e) está incorreta, pois a Consti- d) O voto facultativo para todos os cidadãos.
tuição de 1946 proibiu o voto e) O direito de voto a todos os brasileiros maiores de 18 anos, inclusive aos não alfabetizados.
ao não alfabetizado. 4. Alternativa B.
5 Copie no caderno a alternativa correta sobre o trabalhismo na Era Vargas.
5. As alternativas a), b) e d) a) Ao adotar o trabalhismo, Vargas tentou aproximar-se da classe média brasileira, oferecendo
estão incorretas, pois não res- uma diminuição dos impostos.
pondem o que significou o b) O trabalhismo surgiu como solução para as dificuldades econômicas em que se encontravam
trabalhismo posto em prática os empresários brasileiros.
por Vargas, política que con- c) Com o trabalhismo, Vargas despertou nos trabalhadores sentimentos de gratidão e retribuição.
sistia em conceder benefícios d) Com o trabalhismo, Vargas tentou favorecer as empresas estrangeiras, diminuindo as reivin-
aos trabalhadores, propagan- dicações dos trabalhadores.
dear o feito e despertar ne- 5. Alternativas C.
les sentimentos de gratidão 6 Leia o texto a seguir com atenção.
e retribuição. Esta atividade A última cartada
quer contribuir para o de-
senvolvimento da habilidade O segundo governo Vargas (1950-1954) não transcorreu em clima de tranqui-
EF09HI06. lidade, tendo o presidente sofrido, sistematicamente, a oposição da maioria da
imprensa e de grande parte de setores políticos e militares. Mas, em agosto de
1954, uma grave crise se instalara com o atentado ao jornalista Carlos Lacerda,
Imagens em movimento desencadeando um impasse [...], onde se opunham um presidente eleito, gozando
O documentário retrata a
história do Brasil entre 1945- 226
1964, com a participação do
historiador Boris Fausto.
• HISTÓRIA do Brasil por Boris Dicas de leitura
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 226 Texto completo da Constituição de 1946. 28/06/22 13:26 D3_

Fausto: República Populista Artigo que discute as políticas econômicas • BRASIL. Constituição dos Estados Uni-
(1945-1964). Produção: TV Es- adotadas no pós-guerra, no Brasil. dos do Brasil, decretada pela Assembleia
cola. [S. l.: s. n.: 2012]. Vídeo Constituinte. Brasília, DF: Presidência da
• SARETTA, Fausto. A política econômica
(28min). República, [1946]. Disponível em: https://
brasileira. Revista de Sociologia e Política,
www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/
Curitiba, n. 4-5, p. 113-129, 1995. Disponí-
1940-1949/constituicao-1946-18-julho-1946-
vel em: https://revistas.ufpr.br/rsp/article/
365199-publicacaooriginal-1-pl.html.
view/39363. Acesso em: 10 ago. 2022.
Acesso em: 5 jul. 2022.

226

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP.indd 226 29/08/22 13:56


+ATIVIDADES
7. a) Desenvolvimentismo era uma política econômica que defendia a industrialização como forma de desenvolver A imagem é de uma charge
e modernizar o país. 7. b) Plano de governo que previa investimentos públicos em cinco setores principais: ener-
gia, transportes, indústria, alimentação e educação. de Théo, publicada na Revista
ainda de grande popularidade, e uma ferrenha [...] Careta. Observe-a com atenção.

EDITORA VERA CRUZ

THÉO
oposição civil e militar, que acusava o governo, espe-
cificamente o próprio Vargas, de estar envolvido em
um “mar de lama”. [...]
A tensão chegou a tal ponto que a renúncia do
presidente foi pedida, ficando claro que, se ele não
se afastasse, seria deposto mais uma vez. Foi nessas
circunstâncias que Vargas se matou, num derradeiro
golpe político que visava reverter uma situação que
vinha beneficiando os antigetulistas. Lançando sobre
eles seu cadáver, Vargas, como escreveu na carta-
-testamento, oferecia seu corpo em defesa do povo e
Fac-símile da capa da Revista
da pátria, saindo da vida para entrar na História. [...] Nossa História, agosto de 2004. JK: Tenho apelado para o
patriotismo dos dois, Jeca, êles
GOMES, Ângela de Castro. A última cartada.
Revista Nossa História, ano 1, n. 10, p. 14-17, ago. 2004. p. 14-15.
porém não se entendem!

Avalie as afirmações a seguir:


a) O que cada um dos animais
mostrados na imagem repre-
I. No seu segundo governo, Vargas sofreu forte oposição de civis e de militares.
senta?
II. O atentado da Rua Tonelero forneceu combustível para a oposição emparedar o presidente.
b) O leão parece estar querendo
III. O suicídio de Vargas foi um golpe político da oposição ao seu governo.
engolir o cachorrinho; o que
Estão corretas as afirmações: 6. Alternativa B. o artista quis dizer com isso?
a) I e III. b) I e II. c) II e III. d) I e II. c) Como você interpreta a frase
atribuída a JK na legenda?
7 Os termos a seguir ajudam a compreender o governo de Juscelino Kubitschek.
d) A imagem é de 1960. Em que
Conceitue-os. 7. c) Bens de consumo são bens voltados ao consumo individual e podem ser contexto político e econômico
a) Desenvolvimentismo. classificados em: bens de consumo imediato, como alimentos; e bens de con- ela foi produzida?
b) Plano de Metas. sumo duráveis, como automóveis, fogões, televisores etc.
7. d) Multinacionais são grandes empresas que têm sua sede principal em um Respostas:
c) Bens de consumo. país, mas atuam em vários lugares do mundo em busca de mercados consumi- a) O leão representa os preços
d) Multinacionais. dores, matérias-primas e mão de obra barata. em alta; já o cachorrinho repre-
senta os salários.
8 Identifique e copie no caderno as alternativas corretas. Depois, justifique sua
escolha.
b) Quis dizer que a alta dos
preços ameaçava o poder de
a) No governo JK, a economia cresceu cerca de 8% ao ano, puxada principalmente pela
compra dos salários, represen-
indústria.
tado pelo cachorrinho.
b) A industrialização verificada no governo JK gerou muitos empregos e criou um clima de
otimismo. c) JK está dizendo que os
c) Os investimentos de dinheiro público na construção de Brasília frearam o crescimento da
trabalhadores (que recebem
economia. salários) e os capitalistas que
têm o poder de definir preços
d) A industrialização ocorrida no período JK concentrou-se sobretudo no Centro-Sul, agravando
as desigualdades entre as diferentes regiões do país.
preocupam-se mais consigo
mesmos do que com o Brasil.
e) A concentração de indústrias no Centro-Sul contribuiu para que muitas pessoas deixassem
as cidades e migrassem para o campo em busca de qualidade de vida. d) Ela foi produzida num con-
8. Alternativas A, B e D. texto marcado pela explosão
227 inflacionária resultante de fa-
tores como emissão de moeda;
aumento do crédito a empresas
e ao consumidor, crescimento
13:26 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 227 28/06/22 13:26
extraordinário do gasto públi-
co, entre outros.
8. c) Os investimentos de dinheiro público na construção de Brasília também contribuíram
Professor, a imagem foi publi-
para dinamizar a economia.
cada em 23 de abril de 1960,
8. e) A concentração de indústrias no Centro-Sul contribuiu para que muitas pessoas deixas- sob o número 2 704, ano LII, e
sem o campo e migrassem para a cidade em busca de emprego. pode ser encontrada em: HEME-
ROTECA DIGITAL BRASILEIRA.
Brasília, DF, [20--]. Site. Dispo-
nível em: http://memoria.bn.br/
hdb/periodico.aspx. Acesso em:
10 ago. 2022.
227

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP.indd 227 29/08/22 14:01


ENCAMINHAMENTO
9. c) A charge está relacionada ao plebiscito de 1962, que tinha o objetivo de consultar os brasileiros sobre qual
9. a) Orientar que o aluno re- sistema de governo deveria vigorar no Brasil. O Brasil estava, então, sob o regime parlamentarista, no qual o primeiro-
pare que sob a pescoço da co- -ministro, escolhido pela maioria no parlamento, tem mais força que o presidente, que à época era João Goulart.
bra há uma urna eleitoral. 9 Observe a charge de Augusto Bandeira, publicada no Correio da Manhã em 8 de
julho de 1962. 9. d) Se considerarmos que a cabeça da cobra representa o parlamentarismo,
a) Descreva a charge. podemos dizer que sim: ele era favorável ao presidencialismo.
Dica de leitura b) O que a figura da cobra e a do machado representam?
Uma nova visão sobre a c) Contextualize a imagem relacionando-a ao evento histórico que ela representa.
República brasileira, com um d) O autor da charge está se posicionando politicamente?
conteúdo ricamente ilustra- 9. b) Uma parte da cobra re-
presenta o parlamentarismo e a
do e documentado, destacan- outra, o presidencialismo; já o ma-
do personagens, aconteci- chado representa o plebiscito.
mentos e processos históricos
ocorridos da Proclamação da
República até meados da dé-
cada de 1990.
• GOMES, Angela de Castro;
PANDOLFI, Dulce Chaves;
ACERVO CORREIO DA MANHÃ

ALBERTI, Verena. A Repú-


blica no Brasil. Rio de Janei-
ro: Nova Fronteira: CPDOC,
2002.

Imagens em movimento
Vídeo do Arquivo Nacional
da visita oficial do presidente
João Goulart aos Estados Uni-
dos da América em 1962.
• JOÃO Goulart visita John Ke-
nnedy. 2019. Vídeo (7min10s). 10 Associe corretamente as colunas e copie em seu caderno a alternativa correta sobre
Publicado pelo canal Institu- os episódios do governo João Goulart.
to San Tiago Dantas Direito 1. Marcha da Família com I – Mudanças nas áreas agrária, administrativa, bancária,
e Economia. Disponível em: Deus Pela Liberdade tributária, eleitoral e educacional.
https://www.youtube.com/ II – Movimento a favor da posse de João Goulart como
2. Comício da Central do Brasil
watch?v=bLwWtGy114Y. Aces- presidente após a renúncia de Jânio Quadros.
so em: 6 jul. 2022. III – Ato que buscava influenciar a opinião pública contra as
3. Reformas de Base
medidas tomadas por João Goulart.

4. Campanha da Legalidade IV – Ato que buscava apoio popular às Reformas de Base.

9. a) À esquerda, vemos uma cobra com duas cabeças, uma dela própria e, a ou-
a) 1-IV; 2-III; 3-I; 4-II. tra, de João Goulart. À direita, vemos Juscelino Kubitschek com um machado em
b) 1-II; 2-IV; 3-I; 4-III. mãos, no qual está escrito “plebiscito”. No corpo da cobra, próximo à cabeça,
lê-se “parlamentarismo”, e próximo de João Goulart, lê-se “presidencialismo”. Re-
c) 1-III; 2-IV; 3-I; 4-II.
pare que sob a pescoço da cobra há uma urna eleitoral.
d) 1-II; 2-III; 3-I; 4-IV.
10. Alternativa C.
228

AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 228 20/08/22 14:41

228

209a228_HIS-F2-2111-V9-U3-C11-MP 228 26/08/2022 17:08


OBJETIVOS
• Conhecer os conceitos de ato
CAPÍTULO institucional e estado de sítio.

12
1. O menino à esquerda está segurando a
imagem de D. Pedro I, porque, na visão dos • Diferenciar os militares cas-
DITADURAS NA militares que governavam o Brasil, ele foi o
herói fundador da Nação.
telistas dos da “linha-dura”.
• Conhecer as práticas autori-
AMÉRICA LATINA 2. As imagens dos meios de transporte (car-
ro de corrida, avião, motocicleta) dão a ideia tárias e os instrumentos de
de modernidade e de progresso acelerado, força aplicados pela ditadu-
e remetem à frase impressa no alto: “Brasil, ra civil-militar.
um país que vai pra frente”.
3., 4. e 5. Respostas pessoais. • Refletir sobre o papel da pro-
dução cultural engajada na
Durante os 21 anos que estiveram no poder, os militares brasileiros não usaram apenas a oposição à ditadura.
censura para preservar sua imagem, construíram também uma imagem positiva do governo
em vídeos, filmes, jornais, revistas e até em álbuns de figurinhas. Por meio desses objeti-
vos, procura-se discutir as
1. O menino à esquerda está características da ditadura
IDÉIA EDITORIAL

segurando a imagem de civil-militar e os processos


um personagem histórico; de resistência a esse regime,
quem é ele? Por que será de modo a desenvolver as
que ele foi escolhido?
competências e habilidades
2. Que ideia o navio, o avião, relacionadas.
a motocicleta e o carro de
corrida ajudam a transmitir?
3. Que relação há entre a BNCC
imagem da capa do álbum
e a frase “Brasil: um país • Competências gerais: 1, 2, 3,
que vai pra frente!”? 4, 5, 7, 9 e 10.
4. Você já ouviu falar do • Competências específicas:
“milagre brasileiro”? 1, 2, 3, 4, 5 e 6.
Que relação pode haver • Habilidades: EF09HI19,
entre o título desse
álbum de figurinhas e o
EF09HI20, EF09HI21, EF09HI29,
crescimento econômico EF09HI30 e EF09HI34.
observado no governo do
general Médici?
5. O que diferenciou o ENCAMINHAMENTO
governo militar brasileiro Professor, o menino à es-
dos demais da mesma querda está segurando a ima-
época? Ao final da leitura
deste capítulo, tente
gem de D. Pedro I, porque,
responder a essa pergunta. na visão dos militares que
governavam o Brasil, ele foi o
herói fundador da nação. As
Capa de um álbum de
imagens dos meios de trans-
figurinhas de propaganda do
governo Emílio Garrastazu porte (carro de corrida, avião,
Médici. Década de 1970. motocicleta) dão a ideia de
modernidade e de progresso
229 acelerado, e remetem à frase
impressa no alto: “Brasil, um
país que vai pra frente!”.
TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 229 Desafio, pois a construção da democracia
28/06/22 tem
13:26
O capítulo fornece subsídios
encontrado inúmeros focos de resistência que para responder à última per-
Análises e interpretações relativas à história do se manifestam sob diferentes formas de com- gunta. Merece especial aten-
Brasil republicano têm, na maior parte das vezes, portamento político autoritário, destacando-se
destacado uma questão recorrente: a de que a
ção o estudo comparativo das
os períodos ditatoriais, tanto o do Estado Novo
construção e consolidação da cidadania e da de- quanto o do regime militar, além das antigas, ditaduras latino-americanas
mocracia são, simultaneamente, dilema e desafio mas ainda usuais, práticas de mandonismo lo- que vem sendo desenvolvido
que perpassam o cotidiano nacional brasileiro. cal, que teimam em persistir, mesmo que no pelo professor Rodrigo Patto
Dilema, pois a herança do passado colonial/ alvorecer de um novo milênio possam parecer Sá Mota, da UFMG.
patrimonial persiste sob diferentes formas e ultrapassados.
graus ao longo da trajetória republicana, repro- FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.).
duzindo manifestações de práticas autoritárias, O Brasil republicano: o tempo da ditadura. Rio de Janeiro:
tanto na esfera privada quanto na pública. Civilização Brasileira, 2009. v. 4, p. 7.
229

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 229 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a Doutrina
de Segurança Nacional, ges-
tada por militares estaduni-
denses.
A Doutrina de Segurança Nacional
• Refletir sobre a noção de ini- Após a Segunda Guerra Mundial e no contexto da Guerra Fria, estrategistas dos
migo interno e sua associa- Estados Unidos criaram a Doutrina de Segurança Nacional e a transmitiram aos militares
ção ao termo “subversivo”. da América Latina, com quem contavam para colocá-la em prática.
• Considerar o apoio dado aos Segundo a Doutrina de Segurança Nacional, para um país se desenvolver é preciso
militares sul-americanos pe- garantir sua segurança,, e a maior ameaça à segurança de um país são seus inimigos
los militares estadunidenses internos;; ou seja, aqueles que propagam o comunismo, os “subversivos”.
como um elemento impor-
Essa doutrina era aprendida pelos militares latino-americanos em cursos de treina-
tante para as ditaduras ins-
mento especializado nos Estados Unidos e fora deles, nos quais aprendiam também
taladas na América Latina.
técnicas militares de repressão e combate à expansão do comunismo em seus países.
Esses treinamentos tornaram-se mais intensos após o alinhamento de Cuba ao bloco
Dica de leitura socialista em 1961.
O volume 4 da obra O Brasil

ROBERT NICKELSBERG/GETTY IMAGES


republicano aborda o Regime
Militar e os movimentos so-
ciais. Seus autores são historia-
dores com larga experiência
no tema e que possuem legi-
timidade acadêmica. Por isso,
conseguem oferecer à leitura
interpretações e fatos inédi-
tos e importantes para com-
preender aspectos decisivos
do período, como a Doutrina
da Segurança Nacional (Nil-
son Borges da UFSC); cultura
e política (Marcelo Ridenti da
Unicamp); “milagre” brasilei-
ro (Luis Carlos Delorme Prado
da IE-UFRJ e Fábio Sá Earp da
IE-UFRJ); abertura política Exército salvadorenho em treinamento. El Salvador, 1982.
(Francisco Carlos Teixeira da
UFRJ), entre outros. A análise Após esses treinamentos, os militares sul-americanos convenceram-se de que eram
é rigorosa, as fontes são ricas e capazes de lidar não apenas com a segurança interna de seus países, mas também com a
a escrita, fluente. política, a economia e a cultura. Esse convívio entre militares estadunidenses e sul-americanos
• FERREIRA, Jorge; DELGADO, desdobrou-se no apoio material, técnico e estratégico dos Estados Unidos aos golpes de
Lucilia de Almeida Neves Estado que levaram os militares sul-americanos ao poder durante os anos 1960 e 1970.
(org.). O Brasil republicano: A seguir, vamos apresentar três estudos de caso: as ditaduras brasileira, chilena e
o tempo da ditadura. Rio de argentina.
Janeiro: Civilização Brasilei-
ra, 2009. v. 4. 230

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 230 28/06/22 13:26 D3_

Os fundamentos da Doutrina de Segurança Nacional


A rigor, os fundamentos da Doutrina de Segurança Nacional têm suas origens na noção de segurança coletiva que se inscreve na
concepção de uma segurança hemisférica enunciada pela Doutrina Monroe, de 1823. Esta segurança coletiva se afirmou, sobretu-
do, em face da ameaça comunista, o que obrigou os norte-americanos a promover uma aliança interamericana de defesa contra a
subversão inimiga. Na esteira dessa aliança, os Estados Unidos enviaram, a partir de 1942, missões militares para diversos países da
América Latina, inclusive o Brasil, e lançaram um programa de assistência militar. Assim, desde aí, a segurança dos Estados Unidos
esteve ligada à segurança do bloco ocidental, uma vez que, com o clima permanente de guerra fria, um sistema de segurança isolado
não era mais admissível no mundo capitalista. [...]
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). O Brasil republicano: o tempo da ditadura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. v. 4, p. 24.

230

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 230 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Evidenciar que, com o golpe
civil-militar de 1964, estu-
Ditadura civil-militar no Brasil dantes e jornalistas foram
duramente atingidos: vá-
rios deles foram presos sob
Dizendo ser necessário livrar o país da ameaça comunista e restabelecer a hierarquia e a acusação de “subversivos”
a ordem, um grupo formado por civis e militares derrubou o presidente João Goulart entre (nome que o governo dava
março e abril de 1964 e colocou no poder o general Humberto de Alencar Castelo Branco. aos que discordavam dele);
Tinha início, assim, a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985). Logo nos primeiros dias de o prédio da União Nacio-
abril, o regime perseguiu e prendeu estudantes, jornalistas e políticos ligados ao governo ante- nal dos Estudantes (UNE),
na praia do Flamengo, foi
rior e atacou organizações que o apoiavam, como a União Nacional dos Estudantes (UNE). ( ).
incendiado; e o prédio do
jornal Última Hora (o único
DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

jornal da grande imprensa


que apoiava João Goulart)
foi invadido e depredado.
• Explicar que os 100 cidadãos
que tiveram seus nomes di-
vulgados sofreram suspensão
Tanque do Exército de seus direitos políticos; hou-
circulando pelas ruas ve a cassação de mandatos
de São Paulo (SP), em
parlamentares e a transferên-
1 o de abril de 1964.
cia de militares para a reserva.
• Compreender que o gover-
no civil-militar combinou o
uso da violência com a decre-
tação de Atos Institucionais
que visavam manter uma
aparência de legalidade.
• Conceituar Ato Institucional
Ao mesmo tempo que faziam uso da violência, os militares e compreender as determi-
procuravam dar uma aparência de legalidade ao novo regime por nações do AI-1.
meio de Atos Institucionais.
Institucionais.
O Ato Institucional de 9 de abril de 1964, mais tarde chamado
de AI-1:: Dica de leitura
• permitia ao presidente suspender os direitos políticos de qualquer Compilação dos Atos Insti-
cidadão por dez anos; Ato institucional:
tucionais editados entre 1964
medida, com força de lei, e 1969, acompanhada de um
• autorizava cassar mandatos parlamentares;
imposta por um governo resumo do conteúdo de cada
• estabelecia que as eleições para presidente da República seriam sem que a população,
um deles.
indiretas. o poder Legislativo e o
Judiciário tenham sido • BRASIL. Atos Institucionais.
No dia seguinte, os militares divulgaram a lista dos 100 primeiros consultados.
Brasília, DF: Presidência da
cidadãos que tiveram seus direitos políticos suspensos, entre os quais Cassar: retirar do
indivíduo seus direitos
República, [20--]. Disponível
estavam os ex-presidentes Jânio Quadros e João Goulart, o governador
políticos ou de cidadão. em: http://www4.planalto.
de Pernambuco Miguel Arraes e o deputado federal Leonel Brizola.
gov.br/legislacao/portal-
legis/legislacao-historica/
231 atos-institucionais. Acesso
em: 7 jul. 2022.
13:26 D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 231 TEXTO DE APOIO daqueles que perderiam28/06/22 seus
13:26 mandatos eleitorais e teriam cas-
sados seus direitos políticos. O general Castelo Branco, primeiro
Ato Institucional presidente pós-64, assumiu a presidência da República sob novas
bases jurídicas. A Operação Limpeza, como ficaram conhecidas as
Em 9 de abril, logo após o golpe de 1964, os novos donos do primeiras medidas provocadas pelo AI-1, promoveu expurgos nas
poder publicaram o Ato Institucional no 1, cujo preâmbulo dei- burocracias civil e militar e valeu-se de Inquéritos Policiais Mili-
xava claro as intenções do regime que estava sendo implantado. tares (IPMs) para neutralizar qualquer cidadão que pretendesse
Deixava claro que a revolução não buscaria no Parlamento a sua opor-se organizadamente a políticas em aplicação […].
legitimação, como também limitava drasticamente seus poderes.
BORGES, Nilson. A Doutrina da Segurança Nacional e os governos militares.
O controle do Judiciário e a suspensão dos direitos fundamentais
In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.).
foram uma forma de abrir caminho para a implantação da Dou- O Brasil republicano: o tempo da ditadura. Rio de Janeiro:
trina de Segurança Nacional. O referido ato já trazia uma lista Civilização Brasileira, 2009. v. 4, p. 39.

231

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 231 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Compreender o alinhamen-
to do governo de Castelo
Branco aos Estados Unidos O governo Castelo Branco
associando-o à Guerra Fria.
Com uma parte dos parlamentares apenas (pois muitos deles tinham sido cassados),
• Explicar que a política eco-
o Congresso Nacional elegeu como presidente o general Castelo Branco (1964-1967).
nômica de Castelo Branco
Muitos acreditavam que em pouco tempo ele devolveria o poder aos civis, mas não foi
conseguiu derrubar a infla-
o que aconteceu: líderes sindicais e estudantis foram presos, funcionários públicos foram
ção e equilibrar as contas
demitidos e políticos de vários partidos, inclusive da União Democrática Nacional (UDN),
públicas, mas isso exigiu
uma cota de sacrifício que que apoiou o golpe, foram cassados.
coube em grande parte aos Na política externa, Castelo Branco obedeceu à lógica da Guerra Fria: aliou-se aos
assalariados. Estados Unidos e rompeu relações diplomáticas com Cuba.
Professor, o discurso do Na área econômica, tomou as seguintes medidas:
presidente Castelo Branco, • cortou gastos;
contido na seção Texto de • aumentou os impostos;
apoio, pode ser lido para os • contraiu empréstimos dos Estados Unidos;
estudantes e interrogado de
• comprimiu os salários dos trabalhadores;
modo a dar início a uma aula
dialogada. Entre as pergun- • eliminou a estabilidade de emprego após dez anos e criou, em seu lugar, o Fundo de
tas que podem ser feitas cabe Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
destacar: o que se pode inferir Com o corte nos gastos públicos e o

ARQUIVO/AGÊNCIA O GLOBO
da fala do presidente no as- aumento da arrecadação, a inflação caiu e o
pecto político? Espera-se que governo começou a equilibrar suas contas.
os estudantes infiram que ele Mas os sacrifícios impostos à sociedade,
declara a intenção de “restau- especialmente aos assalariados, elevaram
rar a legalidade, promover o a impopularidade de Castelo Branco e
progresso e a justiça social”. influenciaram o resultado das eleições para
governador, em 1965: políticos da oposição
à ditadura civil-militar foram eleitos gover-
TEXTO DE APOIO nadores nos estados da Guanabara e de
Minas Gerais.
11 de abril de 1964 – Pelo
Rádio e através da TV,
Castelo Branco discursa Estado da Guanabara (GB): foi formado
após ter sido eleito em 1960 e correspondia à cidade do Rio
Presidente da República de Janeiro. Isso ocorreu em razão da
pelo Congresso Nacional transferência da capital brasileira da cidade
do Rio de Janeiro para Brasília. Em 1975,
[…] o Estado da Guanabara foi extinto.
Minha eleição pelo Congresso
Nacional, em expressiva vota-
ção, traduz, sobremaneira, o pe- Promovido de general a marechal da reserva
sado fardo das responsabilida- no dia anterior, Humberto Alencar Castelo
des que sabia já haver assumido, Branco recebe a faixa de presidente da
ao aceitar a indicação de minha República. Brasília (DF), 15 de abril de 1964.
candidatura à Presidência da
República por forças políticas
ponderáveis, sob a liderança de
232
vários governadores de Estado.
O calor da opinião pública,
através de autênticas manifes- ças Armadas, na mesma232
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd aspiração de restaurar a Ao Congresso Nacional, com todo o meu res- 28/06/22 13:26 D3_

tações populares e de numero- legalidade, revigorar a democracia, restabelecer peito de brasileiro e de Presidente eleito da
sas entidades de classe, estimu- a paz e promover o progresso e a justiça social. República, apresento nesta oportunidade, de
lou-me a essa atitude. Espero, também, em me ajudando o espírito modo muito especial, as minhas saudações.
Agora, espero em Deus corres- de colaboração de todos os brasileiros e o sen- BRASIL. 11 de abril de 1964: pelo Rádio e através
timento da gravidade da hora presente, possa da TV, saudando o povo brasileiro após ter sido
ponder às esperanças de meus
eleito Presidente da República pelo Congresso Nacional.
compatriotas, nesta hora tão entregar, ao iniciar-se o ano de 1966, ao meu Biblioteca da Presidência da República. Brasília, DF, [20--].
decisiva dos destinos do Brasil, sucessor legitimamente eleito pelo povo, em Disponível em: www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/
cumprindo plenamente os ele- eleições livres, uma nação coesa e ainda mais ex-presidentes/castello-branco/discursos/1964-1/01.pdf/view.
vados objetivos do movimento confiante em seu futuro, a que não mais assal- Acesso em: 4 jul. 2022.
vitorioso de abril, no qual se ir- tem os temores e os angustiosos problemas do
manaram o povo inteiro e as For- momento atual.
232

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 232 29/08/22 14:05


ENCAMINHAMENTO
• Compreender o Ato Institu-
cional no 2 (AI-2) em um con-
O governo endurece: Lei de Imprensa e Lei de Segurança Nacional texto de endurecimento do
O governo de Castelo Branco, então, endureceu, promulgando o Ato Institucional no 2 governo Castelo Branco.
(AI-2),
), que extinguia todos os partidos políticos; formaram-se, então, dois únicos partidos: • Frisar que o Ato Institucional
a Aliança Renovadora Nacional ((Arena), ), para dar apoio ao governo, e o Movimento no 2 (AI-2) permitia ao presi-
Democrático Brasileiro (MDB), ), para fazer oposição. dente da República gover-
No ano seguinte, o governo limitou ainda mais a participação dos cidadãos, decretando nar por meio de decretos-leis
e extinguia todos os partidos
o Ato Institucional no 3 (AI-3), ), que estabelecia eleições indiretas para governadores.
políticos. Nesse contexto for-
Estes, por sua vez, nomeariam os prefeitos das capitais. Assim, os cidadãos perdiam o
maram-se dois únicos parti-
direito de escolher seus governantes, fato que limitou ainda mais a cidadania no país.
dos: Arena e MDB.
Preocupado em manter a aparência de legalidade, o governo promulgou o AI-4,, por meio
• Apresentar de modo esque-
do qual reabriu o Congresso para que aprovasse uma nova Constituição, publicada em 24
mático, na forma de uma
de janeiro de 1967. Essa Constituição ampliava os poderes do presidente da República e
tabela, por exemplo, os Atos
restringia o direito de greve. Com seus poderes ampliados, Castelo Branco decretou duas Institucionais 3 e 4.
leis autoritárias: a Lei de Imprensa,, que intensificou a censura aos jornais e revistas, e a
• Comentar que a Constitui-
Lei de Segurança Nacional,, que dava à Justiça Militar o direito de julgar os crimes de
ção de 1967 ampliou os po-
“subversão” (comícios, reuniões políticas etc.). deres dos presidentes da Re-
pública.
Dialogando • Explorar a charge de Fortuna
O que o autor critica que ironiza a censura gover-
nesta charge? namental a jornais e revistas.
O autor critica a censura • Perceber que a Lei de Segu-
imposta pelo governo an-
tecipando o que estaria rança Nacional fornecia am-
por vir. paro legal para que os opo-
sitores do governo fossem
FORTUNA/BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

julgados pela Justiça Militar.


# DICA!
Características do
governo de Castelo
Branco (1964-1967).
CONHECENDO os
presidentes – Ep. 23:
Castelo Branco. 2014.
Vídeo (2min30s).
Publicado pelo Canal
Futura. Disponível
em: https://youtu.be/
Charge de Fortuna publicada no Correio da Manhã
K7a1RArMqto. Acesso Constituição de 1946 e já pro-
meses antes de o governo decretar a Lei de Imprensa, em: 18 abr. 2022.
em 7 de outubro de 1966. moveu algumas modificações:
a eleição indireta do Presidente
da República e do Vice-Presiden-
Castelo Branco foi substituído por outro militar, o general Arthur da Costa e Silva, que te da República, pelo Congres-
tomou posse em 15 de março de 1967. so Nacional; a suspensão das
garantias de postos vitalícios e
233 de estabilidade; a possibilidade
de demissão, licenciamento ou
aposentadoria dos funcionários
federais, estaduais e municipais;
13:26 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 233 do país. Os “Atos Institucionais” (AI) ocuparam
28/06/22 13:26
a possibilidade de suspensão
o lugar central, como pode ser ilustrado pelo dos direitos políticos durante
Constituição de 1967 artigo 10 do Ato Institucional n. 5: “no interes- dez anos e a revogação dos man-
se da paz e da honra nacional, e sem as limi- datos parlamentares federais,
A Constituição de 1946 foi oficialmente subs- tações previstas na Constituição, os chefes da
tituída pela Constituição de 1967. No entanto, estaduais e municipais. [...]
revolução, que estabelecem o presente ato […]”.
desde o golpe militar, em 31 de março de 1964, Os Atos Institucionais de n. 2, 3
Somente a Emenda Constitucional n. 11/78 é
tinha-se encerrado o ciclo constitucional capi- e 4 […] mais tarde […] foram in-
que revogou os Atos Institucionais e Comple-
taneado pela Constituição de 1946. [...] cluídos na Constituição de 1967.
mentares “no que contrariassem a Constituição
Os militares […] mantiveram formalmente a Federal”. GROFF, Paulo Vargas. Direitos fundamentais
nas constituições brasileiras. Revista de
Constituição de 1946. Contudo, a Constituição O primeiro desses documentos, o Ato Insti- Informação Legislativa, Brasília, DF, v. 45,
não tinha mais a supremacia na ordem jurídica tucional n. 1, de 9 de Abril de 1964, manteve a n. 178, p. 105-129, abr./jun. 2008. p. 120.
233

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 233 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Durante os 21 anos de dura-
ção da ditadura civil-militar
no Brasil, houve variadas O Show Opinião e a resistência cultural
formas de resistência em di- O Show Opinião, que estreou no Rio de Janeiro, no final de 1964, sob produção do
ferentes campos da vida so- Teatro de Arena de São Paulo e com a casa lotada, foi o primeiro marco da resistência ao
cial, sendo o Show Opinião
governo.
uma das manifestações pio-
Dirigido por Augusto Boal, o Show Opinião mesclava teatro, música e poesia e repre-
neiras e mais emblemáticas
sentava um esforço de intelectuais e artistas populares para denunciar a injustiça social e a
do período.
opressão. Nesse espetáculo, contracenavam o compositor carioca Zé Keti (samba de raiz);
• Trazer para a sala de aula
o compositor maranhense João do Vale, que criava canções ambientadas no sertão do
algumas das canções inter-
Nordeste; e a cantora Nara Leão, moça da classe média carioca, que interpretava músicas
pretadas no Show Opinião
pode ajudar os estudantes que falavam das dores e angústias da população pobre.
a conhecerem seus intérpre- Um dos pontos altos do espetáculo foi
tes e autores, além de recriar “Carcará”, canção de João do Vale e José
o clima e o tom de rebeldia Cândido sobre o drama da fome no sertão.
que presidia o espetáculo. Para interpretá-la, Nara Leão convidou a
cantora baiana Maria Bethânia, que logo
cativou o público com sua voz rouca e
Imagens em movimento dramática. Ganhava força, assim, a “canção
Apresentação musical e re- de protesto”, que, nos anos seguintes, cons-
leitura do Teatro Opinião, 50 tituiria-se em uma das principais formas de
anos depois. resistência à ditadura.
• SHOW Opinião, 50 anos de- Os palcos do Show Opinião
pois. 2014. Vídeo (49min47s). e de outros espetáculos que
Publicado pelo canal imo- mesclavam teatro e música,
reirasalles. Disponível em: como Arena canta Zumbi
https://www.youtube.com/ e Morte e vida severina,,
watch?v=ZUaBG-VwqLM. realizados entre 1964 e
Acesso em: 7 jul. 2022. 1966, transformaram-se
em espaços de valori-
zação do popular na
cultura e de resis-
tência democrática.

Da esquerda para a
direita, Zé Keti, Nara Leão
e João do Vale durante
ensaio do Show Opinião.
Rio de Janeiro (RJ), 1965.

ACERVO ICONOGRAPHIA

234

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 234 sica que visava alfinetar a consciência do público. O repertório, 28/06/22 13:26 D3_

embora fosse assinado por compositores de estilos diversificados,


Show Opinião percorria uma linha homogênea de contextos regionais, conce-
[...] não só a junção de música e teatro tornou o Opinião uma dendo-se amplo destaque a gêneros musicais como o baião e o
referência. [...] chama atenção a configuração geral do espetáculo samba. As canções cantadas – por sinal, várias delas marcaram os
que, em forma de arena, não dispunha de cenários, somente de anos 1960 a ponto de frequentarem inclusive a parada de suces-
um tablado onde três “atores” encarnavam situações corriqueiras so – exprimiam uma fala alternativa e ilustrativa no musical. [...]
daquele período, como a perseguição aos comunistas, a trágica PARANHOS, Kátia Rodrigues. Engajamento e intervenção sonora no Brasil no pós-1964:
vida dos nordestinos e a batalha pela ascensão social dos que vi- a ditadura militar e os sentidos plurais do show Opinião. Pitágoras 500,
viam nas favelas cariocas, tudo isso, acrescente-se, regado a mú- Campinas, v. 2, n.1, p. 73-82, 2012. p. 74.

234

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 234 26/08/2022 17:34


TEXTO DE APOIO
No dia 26 de junho de 1968,
numa quarta-feira, por volta das
A linha-dura no poder 10 horas da manhã, o Brasil assis-

SCHMIDT-LUCHS/INTERFOTO/FOTOARENA
tiu cerca de cem mil pessoas se
Com a ascensão de Costa e Silva, os mili- aglomerarem nas ruas do centro
tares da linha-dura assumiram o governo. da cidade do Rio de Janeiro para
uma manifestação pública contra
Todos os militares que lideraram o golpe
o governo ditatorial militar; even-
de 1964 eram adeptos da Doutrina da to mais tarde conhecido como
Segurança Nacional e, portanto, contrários Passeata dos Cem Mil. [...]
ao comunismo. Mas tinham divergências entre Entre os manifestantes, encon-
si, o que nos permite dividi-los em dois grupos: travam-se artistas, professores,
o castelista e o linha-dura. O grupo castelista estudantes, mães de alunos, re-
presentantes do clero, freiras,
era integrado por generais como Golbery do jornalistas, servidores públicos,
Couto e Silva, Ernesto Geisel e Castelo Branco advogados, políticos cassados etc.
(daí o nome do grupo). Na oposição a ele Viam-se, no decorrer da passeata,
estava o grupo da linha-dura, que considerava [cartazes] de mobilização coleti-
va que condensavam os anseios
os castelistas “moderados” e defendia a radi-
e aspirações desses diferentes
calização constante da luta contra o inimigo segmentos sociais, estampados
interno, chamado por eles de “subversivo”. A Ernesto Geisel, então presidente do Brasil. em faixas como: “Liberdade para
Brasília (DF), 1977. os presos”, “Abaixo a repressão”,
linha-dura era formada por generais menos
teóricos e mais pragmáticos, como Costa e “Mataram um estudante, pode-
ria ser seu filho”, “Liberdade aos
Silva e Garrastazu Médici. artistas”, “Contra a Censura”;
“Liberdade”; “Bancários contra a
repressão”; “Universidade para o
A resistência democrática
ACERVO ICONOGRAPHIA

povo”; “As mães em defesa dos


Com o aumento da opressão cresceu filhos”; “Soltem meu filho”, “Inte-
também a resistência democrática à ditadura, lectuais, clero, mães e pais com os
estudantes”, “Jornalistas contra a
na qual se destacaram o movimento estudantil,
ditadura”, entre outros.
o movimento operário, diversos artistas e inte-
[...] A Passeata dos Cem Mil re-
lectuais e uma parte dos políticos. presentou o auge de um ciclo de
Em 1968, cresceu o movimento estudantil confrontos curto, que marcou a
em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. inflexão das diferentes deman-
Em uma manifestação ocorrida em março do das dos segmentos sociais de
oposição à ditadura. [...] A gran-
mesmo ano, no Rio de Janeiro, contra a má de diversidade de segmentos
qualidade da alimentação fornecida aos estu- sociais envolvidos na passeata e
dantes no restaurante universitário Calabouço, os interesses distintos que ali se
o paraense Edson Luís Lima Souto, de 18 aglutinavam tornaram latente
a força das redes de relaciona-
anos, foi morto pela polícia, o que provocou
mento que deram coesão a um
uma onda de protestos; o maior deles foi a movimento social tão hetero-
Passeata dos Cem Mil,, na qual estudantes, Passeata dos Cem Mil. Ao centro, vemos o
gêneo, construindo uma identi-
compositor Chico Buarque; à direita, ao fundo,
políticos, artistas e trabalhadores saíram às ruas dade coletiva capaz de superar
o poeta Vinícius de Morais. Rio de Janeiro (RJ),
para protestar contra a ditadura civil-militar. 1968. demandas tão díspares entre os
agentes envolvidos.
235 SOUZA, Lucas Marcelo Tomaz de. Abaixo a
ditadura: movimentos sociais no Brasil em
1968. Teoria e Cultura, Juiz de Fora, v. 13,
n. 1, p. 179-194, jun. 2018. p. 183-184.

13:26 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 235 28/06/22 13:26

• Diferenciar os generais castelistas, como Castelo Branco e Geisel, dos defensores da linha-
-dura, a exemplo de Costa e Silva e Ernesto Geisel.
• Compreender o conceito de resistência democrática, nome dado às ações do conjunto de
forças sociais e políticas que se opuseram à ditadura civil-militar.
• Ressaltar que a Passeata dos Cem Mil, em 26 de junho de 1968, assinalou a radicalização do
movimento estudantil. Os estudantes e seus aliados não restringiam seus protestos ao cam-
po educacional; lutavam, sobretudo, em favor da democratização do regime.

235

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 235 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Estimular a reflexão sobre a
charge de Ziraldo, com foco
na ironia presente na fala do Em outubro de 1968, os estudantes desafiaram o
soldado: “O ministro quer governo mais uma vez realizando, em Ibiúna, no interior
dialogar com você.”. de São Paulo, o 30o Congresso da UNE. Mas a polícia

ZIRALDO
• Evidenciar a participação do invadiu o local e prendeu cerca de 700 estudantes que
movimento estudantil (Con- participavam do Congresso.
gresso de Ibiúna, interior de Nesse mesmo ano, o movimento operário também
São Paulo), do Movimento mostrou sua disposição de luta em duas grandes greves
Operário (greve no municí- por aumento de salários: uma em Contagem, perto de
pio paulista de Osasco e no Belo Horizonte (MG), envolvendo cerca de 15 mil traba-
município de Contagem, em lhadores, e outra em Osasco, na Grande São Paulo, que
Minas Gerais) e de políticos, também contou com a participação de milhares de tra-
como o deputado Márcio balhadores. Esta última foi reprimida com muita violência,
Moreira Alves na resistência
com a invasão do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco
democrática à ditadura.
e a prisão de 400 trabalhadores por tropas do Exército.
• Estudar o Ato Institucional
Nesse contexto, o deputado do MDB Márcio Moreira
no 5 (AI-5) e suas consequên-
Alves fez um discurso, em 1968, no qual conclamava a
cias imediatas.
população a não ir à parada militar para comemorar o 7
• Conceituar estado de sítio e
de Setembro e pedia às mulheres para não namorarem
habeas corpus.
oficiais que participavam da repressão. O discurso de
• Problematizar com os es-
Moreira Alves serviu de pretexto para que o governo
tudantes as manifestações
Costa e Silva decretasse o Ato Institucional no 5 ((AI-5),),
ocorridas em 2020, em que
o mais opressivo de todos os atos da ditadura civil-militar.
havia cartazes pedindo a vol-
ta do AI-5. À luz do que foi Pelo AI-5, o presidente da República passava a ter
discutido sobre a história da o poder de:
Estado de sítio:
ditadura, questionar quais • fechar o Congresso Nacional;
situação na qual
poderiam ser os motivos • fazer leis e ordenar a interven- são estabelecidas
para essa demanda e que im- ção nos estados e municípios; restrições à liberdade
pactos a reedição dessa me- dos cidadãos, por
• cassar políticos eleitos pelo povo; meio da suspensão
dida poderia trazer. de alguns direitos
• demitir, transferir e aposentar constitucionais.
funcionários públicos; Habeas corpus:
Imagens em movimento • decretar estado de sítio;
sítio; recurso jurídico que
protege o cidadão de
Vídeo da Univesp sobre o • suspender o direito de habeas ser preso ou agredido
AI-5. corpus aos acusados de “crime em razão de abuso de
poder ou ilegalidade.
• 1964:Reportagem especial contra a segurança nacional”.
– O governo Costa e Silva Com base no AI-5, o governo militar fechou o
e o AI-5. 2014. Vídeo Essa charge de Ziraldo, publicada Congresso, cassou o mandato de centenas de políticos
(29min50s). Publicado pelo em 23 de junho de 1968 no
Correio da Manhã, ironiza a e prendeu milhares de pessoas de oposição em todo
canal Univesp. Disponível
truculência da ditadura. o país.
em: https://www.youtube.
com/watch?v=pMgTjvBDi74.
Acesso em: 4 jul. 2022.
236

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 236


calendário das datas nacionais”. Mas mesmo no estrato de pesso-
28/06/22 13:26 AV_
as com 60 anos ou mais (indivíduos que tinham ao menos 20 anos
Oito em cada dez brasileiros nunca ouviram falar do AI-5 quando o AI-5 foi editado), só 26% dizem ter ouvido falar dele.
Editado há 40 anos pelo general Costa e Silva, o AI-5 […] é to- […] a historiadora Denise Rollemberg, da UFF, diz tratar-se de
talmente ignorado por 82% dos brasileiros a partir dos 16 anos. E, um processo que envolve esquecimento e reconstrução da histó-
dos 18% que ouviram falar algo sobre ele, apenas um terço (32%) ria: “No Brasil pós-abertura política, quando a democracia passa
respondeu corretamente que a sigla se referia ao Ato Institucio- a ser valorizada, há uma reconstrução do passado a partir do pre-
nal no 5. […] sente. Nessa reconstrução esquece-se o que houve para esquecer-
-se do aval dado”.
Passados quase 30 anos de sua extinção, a lembrança do AI-5
PULS, Maurício; PAIVA, Natália. Oito em cada dez brasileiros nunca ouviram falar do AI-5.
vem se desvanecendo. Como observa o cientista político Marcus Folha de S. Paulo, São Paulo, 13 dez. 2008. Disponível em: https://m.folha.uol.com.br/
Figueiredo, do Iuperj, isso resulta do fato de que boa parte da po- poder/2008/12/478933-oito-em-cada-dez-brasileiros-nunca-ouviram-falar-do-ai-5.shtml.
pulação nasceu após 1968: “O fato tem 40 anos e não faz parte do Acesso em: 4 jul. 2022.
236

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 236 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Valorizar o protagonismo dos
movimentos sociais (negro,
Demandas quilombolas durante indígena, de mulheres, entre

MEC/SECAD
outros) nas lutas pela demo-
a ditadura cratização do país.
Nos anos de 1970, o movimento de resistência • Conhecer as demandas das co-
democrática à ditadura civil-militar contou com o apoio munidades autoidentificadas
de diferentes movimentos sociais de várias partes do país. como quilombolas diante do
Naquela década, as demandas quilombolas foram modelo desenvolvimentista
da ditatura e sua ideologia,
ganhando visibilidade no espaço público.
segundo a qual o Brasil era
As comunidades negras foram, pouco a pouco, uma democracia racial.
autoidentificando-se como comunidades quilombolas. • Reforçar que os indígenas
Passaram a reconhecer e assumir sua ancestralidade e quilombolas que denun-
com base em histórias contadas pelos mais velhos da ciavam a exclusão, a discri-
comunidade: pais, avós, bisavós, entre outros. minação e o racismo eram
Nesse cenário, afloraram as principais deman- duramente perseguidos.
das dessas comunidades autoidentificadas como • Destacar que a demanda qui-
Fac-símile da capa do livro lombola pela regulamentação
quilombolas: Quilombos: espaço de resistência e redistribuição das terras no
• o combate ao racismo; de homens e mulheres negros.
país era uma contestação ao
• a redistribuição e a regulamentação das terras no país, vista por elas como motivo modelo desenvolvimentista
principal da desigualdade no acesso à terra. da ditadura.
Professor, o conteúdo traba-
Leia o texto a seguir: lhado na página busca eviden-
As comunidades quilombolas mantêm, ainda hoje, práticas centenárias trazidas ciar a origem e as demandas do
por seus ancestrais do continente africano. [...] movimento quilombola e quer
[...] Para essas comunidades, a terra é o bem fundamental, pois é dela que são contribuir para o desenvolvi-
retirados os produtos para subsistência do grupo familiar, além de ser o espaço de mento da habilidade EF09HI21.
trabalho e de vivência. A terra é “o elemento unificador do grupo social, no qual se
constrói a história cotidiana de homens e de mulheres, dotando-se de significados a Dica de leitura
vida e o mundo dessas comunidades negras”. Artigo em que o autor re-
[...] toma as articulações de popu-
As comunidades remanescentes lações negras e indígenas ao
SERGIO AMARAL/OLHAR IMAGEM

de quilombo se caracterizam em sua longo da ditadura e no perío-


maioria pelo grande vínculo com o meio do da Constituinte que redi-
que ocupam, observando-se grande grau
giu a Carta de 1988 para ga-
rantir seus direitos territoriais.
de preservação da biodiversidade.
• RIBEIRO, David William Apa-
SILVA, Jesiel Souza; FERRAZ, José Maria Gusman.
Questão fundiária: a terra como necessidade social e recido. Histórias de luta e
econômica para reprodução quilombola. GeoTextos, resistência: mediações qui-
v. 8, n. 1, p. 73-96, jul. 2012.
lombolas e indígenas do
patrimônio. In: ENCONTRO
Estufa de hortaliças da Associação ESTADUAL DE HISTÓRIA, 14.,
de Mulheres Quilombolas de
2018, Porto Alegre. Anais
Biritinga (BA). Fotografia de 2014.
[...]. Porto Alegre: Pontifícia
Universidade Católica do Rio
237 Grande do Sul, 2018.

13:26 TEXTO DE APOIO


AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 237 intelectuais, artistas e agitadores culturais. No
04/07/22 14:56 anos 1970, na explosão da “black
mundo acadêmico, sociólogos como Florestan music”, artistas como Tim Maia
Luta cultural e política Fernandes desenvolveram críticas sofisticadas e Toni Tornado colocaram em
e aprofundadas à ideia de “democracia racial”, pauta explicitamente a questão
A luta dos negros brasileiros durante a ditadu- demonstrando como os negros foram integra- da luta contra a discriminação.
ra pode ser pensada em dois campos que, por dos à sociedade industrial e urbana, com a ma- No ano de 1974, na cidade de
sua vez, se conectavam: o cultural e o político. nutenção da uma situação de dupla exclusão, Salvador, o bloco Ilê Aiyê sur-
No campo cultural, a valorização do negro social e racial. giu com a proposta de celebrar
dentro da cultura brasileira começou a desen- No samba, por exemplo, incrementou-se um o carnaval sem esquecer o pro-
volver um espaço próprio. As velhas teorias da processo de valorização das raízes negras e testo contra o racismo, cantan-
mestiçagem e a ideologia da “democracia ra- africanas, ainda que o gênero fosse símbolo de do “É o mundo negro que viemos
cial” começaram a ser duramente criticadas por brasilidade. No final dos anos 1960 e início dos mostrar a você”. Nas periferias,
237

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 237 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Aproveitar o depoimento de a) Na visão dele, o movimento quilombo começou quando os grupos de escravizados fugiam das propriedades de
Benedito Alves da Silva, o Di- seus donos e formavam comunidades quilombolas.
tão, para refletir sobre ativismo
negro nos anos de 1970. PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

• Evidenciar na fala de Ditão, a


O texto a seguir é um trecho de um depoimento de Benedito Alves da Silva, o Ditão.
relação entre educação escolar
e conhecimento dos direitos ci- Leia-o com atenção.
vis, políticos e sociais por parte O movimento quilombo

CESAR DINIZ/PULSAR IMAGENS


dos cidadãos e capacidade de é antigo. Aqui começou há
lutar por eles. 400 anos, quando o negro não
• Temas Contemporâneos aceitou o trabalho escravo,
Transversais: ao tratar das fugiu e formou grupos de
reivindicações da população pessoas livres. Por muito
quilombola, a seção Para re- tempo foi um movimento
fletir aborda um dos temas
escondido, devido à repressão.
contemporâneos transversais,
o multiculturalismo, especi- Digo por mim. Nos anos [19]70
ficamente a educação para a a gente ia lá pra São Paulo
valorização do multicultura- lutar com os grupos de consci-
lismo nas matrizes históricas e ência negra. O padre escondia
culturais brasileiras. A leitura a gente na igreja e fechava a
do depoimento de Benedito porta porque ninguém podia
Alves da Silva contribui para Escola Estadual Quilombola Professora Tereza Conceição
saber. Era a época da dita-
valorizar a população qui- de Arruda. Quilombo Mata Cavalo, Nossa Senhora do
lombola, mostrando que esse Livramento (MT), 2020. dura. Em [19]75 já tinha luta
segmento possui aspirações – tímida, mas tinha. [...]
comuns a outros grupos, como [...] a gente sabe que no Rio, São Paulo, Bahia, nas cidades, havia um movimento,
garantir aos mais jovens o direi- as pessoas estavam no rádio, na televisão. E tinha a música. Muitos foram reprimi-
to a estudar e contribuir com a dos. Existia uma luta para garantir o direito do negro no futuro.
sociedade. Colabora também [...]
para a implementação da lei no
[...] Todos diziam que se não centralizássemos a luta para melhorar a escola,
10.639 de 2003 na sala de aula.
tanto no nosso local, como fora, demoraria muito mais pra gente ser atendido porque
Para refletir. As atividades
o povo não sabia como buscar seus direitos, não sabia por onde começar.
querem contribuir para o de-
senvolvimento da habilidade [...]
EF09HI21, já que os alunos são [...] Direcionamos a força da Associação para buscar curso pré-vestibular, escola
levados a tomar contato com quilombola. Temos nossa faculdade, desde 2001, para os jovens estudar e contribuir
a história e as reivindicações não só para o quilombo, mas pra todo o Vale do Ribeira que é isto que conhecemos.
da população quilombola. Na SILVA, Benedito Alves da. Entrevista com Ditão. Quilombo do Ivaporunduva. [Entrevista cedida a] Anna Volochko e Gabriela
alternativa a) comentar que, Segarra Duas. In: VOLOCHKO, Anna; BATISTA, Luís Eduardo (org.). Saúde nos Quilombos. São Paulo: Instituto de Saúde:
enquanto houve escravidão, GTAE, 2009. (Temas Saúde Coletiva, v. 9, p. 60-61).

houve resistência. a) O que o Sr. Benedito quis dizer com “o movimento quilombola é antigo”?
b) Com base na leitura de texto, identifique uma demanda dos quilombolas nos anos de 1970.
c) Que relação o Sr. Benedito estabelece entre melhorar a escola e a busca por direitos?
TEXTO DE APOIO
b) Direito à educação, à instrução pública e, inclusive, acesso ao Ensino Superior.
(CONTINUAÇÃO) c) Ele e outros participantes do movimento quilombola, à época, acreditavam que, por meio da educação
começou a surgir uma nova
238 formal, podiam conhecer seus direitos e lutar por eles.
consciência entre jovens e ado-
lescentes cujo foco era a valori-
zação da “identidade racial” e a ção Racial (MNU), [...] que
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 238 a questão racial e o [...] O Programa de Ação do MNU era compos- 30/06/22 16:50 D3_
percepção do preconceito explí- discurso marxista foram mais intimamente to por 16 itens, entre eles, a realização de uma
cito ou disfarçado que marcava conectados, a partir de um ativismo no qual reforma agrária radical, a proteção dos acampa-
a sociedade brasileira. Apesar os militantes negros de formação universitária mentos dos sem-terra, o direito de sindicaliza-
disso, o “racismo cordial” à bra- eram os principais protagonistas. ção dos trabalhadores e uma reforma geral do
sileira ainda era frequente, e a ensino. [...]
O MNU foi fundado num ato público que reu-
população negra era a mais mar- Além disso, o MNU encampou as lutas espe-
niu 2 mil pessoas, no dia 7 de julho daquele ano,
ginalizada. cíficas das mulheres negras, duplamente discri-
nas escadarias do Teatro Municipal de São Pau-
[...] minadas, por serem negras e mulheres, numa
lo. O ato era uma resposta à discriminação sofri-
sociedade racista e machista.
[...] Mas foi em 1978, com a da por quatro jovens atletas negros num clube
MOVIMENTOS Negros. Memórias da Ditadura. [S. l.],
fundação do Movimento Negro esportivo de São Paulo, além de outros eventos [20--]. Disponível em: https://memoriasdaditadura.org.br/
Unificado Contra a Discrimina- de violência policial contra os negros. [...] movimentosnegros/. Acesso em: 7 jul. 2022.
238

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 238 26/08/2022 17:34


cepcionar aqueles que espera-
vam a revogação dos atos insti-
tucionais. [...]
Na mesma data de sua posse,
Os anos de chumbo a nova Constituição brasileira
entrou em vigor, estabelecendo
em seu artigo 182 a continuida-
Nesse clima de grande tensão, Costa e Silva foi vítima de um AVC – acidente vascular de da vigência do AI-5 até deci-
cerebral e afastou-se da presidência. Por lei, devia assumir o vice-presidente, o civil Pedro são em contrário do presidente
Aleixo. Mas uma Junta Militar desrespeitou a Constituição e ocupou o governo do país da República. [...]
por quase dois meses: de agosto a outubro de 1969. Nesse período, aprovou a Emenda Nos primeiros meses do go-
verno Médici, a Oban (Operação
Constitucional de 1969,, que ampliava os poderes do presidente da República e incorpo-
Bandeirantes) foi instituciona-
rava à Constituição a pena de morte, a pena de banimento e a prisão perpétua em caso lizada através de uma circular
de “subversão”. secreta intitulada “Instruções
sobre segurança interna”, pas-
sando a se chamar Centro de
Governo Médici (1969-1974) Operações para a Defesa Interna
(CODI). Outros CODIs foram tam-
Em outubro de 1969, o Congresso foi reaberto apenas para aprovar a indicação de bém criados no I, III, e IV exérci-
outro general à presidência da República: Emílio Garrastazu Médici, cujo governo foi o tos. Tal como a Oban, os CODIs
mais repressivo da história brasileira. tinham a função de “coordenar
as atividades dos diversos ór-
Por meio de seu aparato repressivo, o governo Médici invadiu universidades; perseguiu
gãos encarregados da repressão
e prendeu professores, jornalistas, artistas, estudantes, religiosos e militares contrários à à subversão e ao terrorismo”. [...]
ditadura que se instalara no país. Aperfeiçoou os órgãos de repressão, como o Serviço o CODI podia coordenar as ativi-
Nacional de Informações (SNI),
( ), as Delegacias de Ordem Política e Social (DOPS)
( ) e o dades de um (ou de vários) De-
Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operação de Defesa Interna partamento de Operações Inter-
nas (DOI), seu braço executivo.
(DOI-Codi).). Seus agentes praticavam espancamentos, afogamentos, choques elétricos [...] a Oban, apesar de seu caráter
e outras formas de tortura. Qualquer quase autônomo, recebia grande
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

cidadão suspeito de ser “subversivo” quantidade de informações da


podia ser detido, torturado e morto, Guanabara, onde se localizava o
cérebro das ações antiterroristas
sem que a família soubesse de seu
[...]. O SNI (Serviço Nacional de
paradeiro. Informações) surgiria como su-
Com o aumento da repres- porte de todos esses órgãos.
são, cresceu também a resistência Ainda em 1969, quando o cli-
democrática à ditadura, por meio de ma era de “guerra revolucioná-
abaixo-assinados, protestos de rua, ria” e a imprensa, fortemente
censurada, desencadeava uma
oposição parlamentar, jornais, espe-
verdadeira ofensiva contra a
táculos teatrais e festivais de música “subversão”, os órgãos policiais,
popular brasileira. preparando-se para a luta aber-
ta, tiveram seus equipamentos
modernizados e seus efetivos
Emílio Garrastazu Médici, então presidente do aumentados. Segundo fontes
Brasil, discursa na Organização dos Estados militares, qualquer guerrilha
Americanos (OEA). Washington, D. C., (EUA), 1971. descoberta em qualquer ponto
do país poderia ser atacada ma-
ciçamente em 48 horas. O então
chefe do EME (Estado-Maior do
239 Exército), general Antônio Car-
los Murici, revelava: “As forças
armadas já escolheram o cami-
nho da antiguerrilha muito an-
16:50 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 239 di, bem como suas práticas TEXTO DE APOIO 28/06/22 13:26 tes daqueles que se propõem a
violentas contra qualquer deflagrar a luta armada para a
Em 25 de outubro de 1969, com
• Compreender o governo suspeito de “subversão”. tomada do poder”. [...]
239 votos a favor e 76 absten-
Médici como expressão da • Acompanhar as ações da ções — do MDB —, Médici foi MÉDICI, Emílio Garrastazzu. In: DIAS,
linha-dura. Sônia. Dicionário histórico-biográfico
resistência democrática du- eleito pelo Congresso presidente
brasileiro. Rio de Janeiro: Fundação
• Identificar os órgãos de da República, tendo como vice-
rante o governo Médici, o Getúlio Vargas, c2009. Disponível em:
presidente o almirante Augusto http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/
repressão, a exemplo do mais repressivo da história Rademaker. [...] verbete-biografico/medici-emilio-
SNI, do DOPS e do DOI-Co- republicana brasileira. garrastazzu. Acesso em: 7 jul. 2022.
Iniciado com promessas de
democratização, o governo do
general Médici logo viria de-

239

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 239 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Ressaltar que, em um am-
biente de radicalização cres-
cente, ocorreu o recrudesci- A luta armada
mento da luta armada. Gru- A luta armada no Brasil não nasceu como resistência ao golpe civil-militar de 1964;
pos guerrilheiros praticaram é anterior a ele. Mas, durante os governos militares, ela se intensificou: surgiram várias
ações como assaltos a ban-
organizações armadas cujo projeto era implantar o socialismo (ditadura do proletariado) por
cos, para conseguir dinheiro,
meio da guerrilha. Já o projeto do Partido Comunista Brasileiro (PCB) era outro; para esse
e sequestro de diplomatas
partido, a revolução socialista se faria por meio da aliança do operariado com a burguesia.
estrangeiros, para trocar por
prisioneiros políticos. Durante a ditadura civil-militar, os principais representantes da luta armada foram:
a Ação Libertadora Nacional (ALN),
( ), liderada pelo ex-deputado Carlos Marighella, a
• Conhecer os principais re-
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR),( ), liderada pelo ex-capitão Carlos Lamarca, e o
presentantes da luta armada
e suas práticas. Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). ( ).
Essas organizações praticavam assaltos a bancos para conseguir dinheiro para suas
• Evidenciar a forte repressão
lutas e sequestros de diplomatas estrangeiros para trocá-los por presos políticos. Em
do governo Médici às orga-
nizações de luta armada, in- 1969, por exemplo, os guerrilheiros sequestraram o embaixador estadunidense Charles
cluindo-se nesse universo a Burke Elbrick e o trocaram por 15 presos políticos.
Guerrilha do Araguaia. O governo Médici moveu uma guerra sem tréguas contra as organizações armadas. Em
• Debater as propostas de re- 1974, os focos guerrilheiros tinham sido destruídos e seus integrantes, presos ou mortos.
organização da sociedade As várias organizações guerrilheiras que atuaram à época tinham alguns pontos em
dos grupos guerrilheiros comum:
durante o governo Médici, • criticavam a via legal para chegar

FATOS & FOTOS


contribuindo assim para o ao poder e implantar o socialismo;
desenvolvimento da habili- • defendiam, em sua maioria, princí-
dade EF09HI20. pios marxistas e leninistas, segundo
os quais a classe revolucionária era o
operariado;
• acreditavam ser um grupo de
vanguarda, de elite, que guiaria as
massas, despertando a classe ope-
rária para o papel que lhe cabia na
revolução socialista.

Fac-símile da capa da revista


Fatos & Fotos, 1969. Em destaque,
o embaixador estadunidense
no Brasil à época, Charles Elbrick.

240

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 240 Quanto à resistência [...], no presente caso também se pode con- 28/06/22 13:26 229
ceituar resistência como conjunto de atos de recusa coletiva ao
A resistência à ditadura militar nas universidades poder instituído, que podem se expressar de diferentes maneiras.
Nos espaços universitários houve inúmeras ações de resistência,
[…] O golpe de 1964 não derivou de derrota e ocupação estran- na maioria protagonizadas pelos estudantes, como passeatas, pa-
geira, ainda que o apoio da potência norte-americana tenha ralisações de aulas e divulgação de produtos culturais censura-
sido essencial. Ele foi um levante liderado pelas forças de direi- dos; e também atos mais agudos, como as ocupações de edifícios,
ta que contou com apoio de parte da sociedade (especialmente sem esquecer que muitos estudantes foram recrutados por orga-
nas classes média e alta), em luta contra processo de mudanças nizações armadas (embora com atuação fora dos campi ).
campi).
sociais de viés esquerdista que estava acontecendo durante o MOTTA, Rodrigo Patto Sá. A estratégia de acomodação na ditadura brasileira e a influência da
governo de João Goulart. […] cultura política. Revista Páginas, Rosário (Argentina), v. 8, n. 17, p. 9-25, 2016. p. 13-14.

240

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 240 26/08/2022 17:34


TEXTO DE APOIO
Aquela corrente para frente
[…]
A propaganda de massa À medida que a Copa de 1970
Além da violência, o governo Médici se aproximava, as possibilida-

ASSESSORIA ESPECIAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS (AERP)/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


recorreu também à propaganda, repetindo des da interação futebol-poder
se ampliavam. Ainda em 1969,
por meio da TV slogans como “Ninguém
apresentou-se uma oportunida-
mais segura este país”. de sem igual para o governo: a
Em 1970, os brasileiros puderam assistir, festa comemorativa em torno do
pela primeira vez, a uma Copa do Mundo de milésimo gol do Pelé, conquista-
futebol ao vivo e em cores. Com a vitória na do pelo craque em novembro,
no Maracanã, em partida contra
Copa de 1970, a Seleção Brasileira trouxe defi- o Vasco. Nos dias seguintes ao
nitivamente para o Brasil a taça Jules Rimet. seu feito sensacional, Pelé desfi-
O próprio presidente Médici se apresen- lou em carro aberto em Brasília,
tava como um homem do povo, apaixonado sendo recebido pelo presidente
Médici, que lhe concedeu a me-
por futebol e torcedor número um da Seleção
dalha de mérito nacional e o tí-
Brasileira. A conquista do tricampeonato de tulo de comendado. […]
futebol pela seleção “canarinho” foi apresen- Cabelos cortados no estilo
tada por Médici como mais uma vitória de da caserna, preparação física
seu governo. coordenada por militares, con-
Nessa época, além da propaganda traditoriamente a Seleção se
transformaria, dentro de cam-
oficial, outro fator ajudou Médici a conseguir
po, em paradigma do verdadei-
apoio de parte da população: o crescimento Fac-símile do cartaz Ninguém mais segura ro futebol-arte, de que tanto se
da economia. este país, do governo Médici (1969-1974). fala desde então. A cada vitória,
uma aclamação popular que
parecia legitimar o próprio regi-
ROBERTO STUCKERT/FOLHAPRESS

me. Tudo indica que a Presidên-


cia fez questão de aproveitar
o embalo da seleção brasileira
para anunciar à nação o projeto
da Transamazônica em junho
de 1970 […]. Consumada a vi-
tória, o governo explorou o tri-
campeonato de todas as formas
Ao lado do então possíveis, procurando potencia-
presidente Emílio lizar o futebol como um fator
Garrastazu Médici capaz de promover a “unidade
(à direita), Pelé levanta na diversidade”. […]
a taça, conquistada
AGOSTINO, Gilberto. Aquela corrente para
no México. Brasília (DF), frente. Revista Nossa História, São Paulo,
junho de 1970. ano 2, n. 14, p. 1-98, dez. 2004. p. 15-17.

Imagens em movimento
Vídeo da TV Brasil sobre o
uso político do futebol duran-
te a ditadura.
241 • SÉRIEdo RB mostra como a
ditadura interferiu no futebol.
2014. Vídeo (5min1s). Publicado
pelo canal TV Brasil. Disponível
13:26 ENCAMINHAMENTO
229a263-HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 241 24/08/22 09:10
em: https://www.youtube.
• Trabalhar a força da propaganda como instrumento de legitimação e de busca por apoio com/watch?v=zOKiED1QCeQ.
durante o governo Médici. Acesso em: 4 jul. 2022.
• Perceber o uso político do futebol pelo governo Médici: o presidente se colocava como tor-
cedor número 1 da Seleção Brasileira e apresentava a vitória na Copa de 1970 como sendo
do seu governo!
• Comentar que o uso intensivo da propaganda de massa colaborou para que o governo Mé-
dici conseguisse o apoio de parte da sociedade brasileira, mas outro fator também ajuda a
explicar esse apoio: o crescimento da economia.

241

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 241 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Conceituar o “milagre eco-
nômico” brasileiro.
• Detalhar para os estudantes Milagre econômico: a expressão “milagre
Propaganda e “milagre econômico”
que a taxa média de cresci- econômico” foi usada pela primeira vez para O chamado “milagre econômico” brasileiro,
mento do PIB de 11% ao ano descrever a rápida recuperação da Alemanha
Ocidental na década de 1950, após o final
ocorrido no governo Médici, caracterizou-se pela
é bastante alta. da Segunda Guerra Mundial. Na década combinação de três fatores conjugados: crescimento
Na frase o “relativamente” seguinte, a mesma expressão foi usada para da economia a uma taxa média de cerca de 11%
caracterizar o crescimento japonês. Na década
se refere aos índices de infla- ao ano, índices de inflação relativamente baixos e
de 1970, a expressão passou a ser aplicada
ção experimentados anterior- como sinônimo de grande crescimento expansão do comércio exterior em mais de três vezes.
mente. econômico – e também como instrumento de Essa combinação interessante recebeu o nome de
• Trabalhar a leitura de tabela, propaganda do governo brasileiro.
“milagre econômico”.
econômico”. Observe a tabela a seguir.
chamando a atenção para o
significado de “relativamen-
O “milagre” brasileiro
te baixos” para caracterizar
os índices de inflação. Exportações Importações Dívida externa
Crescimento
Ano Inflação (%) (em bilhões (em bilhões (em bilhões
• Notar que a tabela permite do PIB (%)
de dólares) de dólares) de dólares)
também perceber o cresci-
mento constante da dívida 1968 10 27 1,9 1,9 3,8
externa brasileira.
1969 10 20 2,3 2 4,4
• Explicitar cada um dos fato-
res internos e externos, que 1970 10 16 2,7 2,5 5,3
propiciaram a ocorrência do
1971 11 20 2,9 3,2 6,6
“milagre econômico”.
• Diferenciar bens de consumo 1972 12 20 4 4,2 9,5
duráveis (como automóveis,
fogões e geladeiras) de bens 1973 14 23 6,2 6,2 12,6

consumo imediato, como ali- Fonte: PRADO, Luiz C. D.; SÁ, Fábio. O “milagre” brasileiro: crescimento acelerado, integração internacional e concentração
de renda (1967-1973). In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida N. O tempo da ditadura: regime militar e
mentos, por exemplo. movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. v. 4, p. 223.

Imagens em movimento O que explica o “milagre econômico”?


Reportagem da TV Brasil so- A maioria dos historiadores concorda que o “milagre” ocorreu em razão de fatores
bre a economia no período de externos e internos. Externamente,, a conjuntura era favorável (entre 1961 e 1973, a
ditadura no Brasil. economia estadunidense cresceu a uma taxa média de 4,5% ao ano; o Japão, a uma taxa
• IMPACTOS da ditadura na de 9,4%; a Alemanha, a 4,3%; e a Itália, a 4,9%). Internamente,, o governo adotou uma
economia brasileira. 2014. política de incentivos fiscais para atrair investidores nacionais e estrangeiros, concedendo-
Vídeo (3min21s). Publicado -lhes facilidades para atuar no Brasil; uma política trabalhista que comprimia os salários dos
pelo canal TV Brasil. Disponível trabalhadores de baixa renda, diminuindo o custo da mão de obra; além disso, por meio
em: https://www.youtube.com/ de uma série de ajustes, conseguiu um razoável equilíbrio nas contas públicas.
watch?v=AKomtoVyG4Q. O capital acumulado por esses meios alimentou um extraordinário crescimento da
Acesso em: 4 jul. 2022. indústria, especialmente a de bens de consumo duráveis,, como eletrodomésticos e
automóveis.

242

TEXTO DE APOIO AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 242 As exportações foram estimuladas com isenções de impostos e 20/08/22 14:45 D3_
crédito abundante. O Brasil começou a exportar produtos manu-
O “milagre econômico” faturados, como têxteis, calçados e até motores, algo impensável
nas décadas anteriores durante as quais o país dependia da mo-
[…] De fato, entre 1968 e 1973, o PIB cresceu em média 11,2%,
nocultura exportadora de café. […]
alcançando 14% em 1973. O crescimento havia sido bem modesto
nos anos anteriores: 2,4% em 1965 e 4,2% em 1967, por exemplo. Houve grande crescimento industrial centrado na produção de
O saneamento financeiro promovido durante o governo Castelo bens de consumo duráveis, com grande benefício para a indústria
Branco havia resultado em recessão, mas a credibilidade externa automobilística. […] O crédito ao consumidor também foi ampliado,
foi restaurada e, com o razoável equilíbrio das contas públicas, com prazos de financiamentos amplos, permitindo que uma parce-
os governos seguintes puderam adotar políticas de subsídios e la maior da população adquirisse automóveis e eletrodomésticos.
incentivos fiscais. […] FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo. São Paulo: Contexto, 2016. p. 80-81.

242

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 242 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Conhecer o investimento
dos governos militares em

OSWALDO PALERMO/AGÊNCIA ESTADO/AE


grandes obras públicas, cha-
madas pelos seus críticos de
“faraônicas”.
• Debater a importância da
hidrelétrica de Itaipu, cons-
truída durante os governos
militares.
• Compreender os fatores exter-
nos e internos que explicam o
fim do “milagre econômico”.
• Perceber a dependência que
o Brasil tinha do petróleo e o
forte impacto causado pelo
aumento extraordinário do
Carro modelo Simca preço do barril de petróleo
Incentivadas pelo governo e por uma situação externa favorável, Chambord. São Paulo sobre a economia brasileira.
as exportações brasileiras também cresceram. O governo aprovei- (SP), 1986.
• Comentar que, apesar do cres-
tou-se do crescimento da economia para investir na realização de cimento econômico, houve
grandes obras, como a hidrelétrica de Itaipu, as usinas nucleares e compressão dos salários, o
a ponte Rio-Niterói. que contribuiu para uma
acentuada concentração da
O fim do “milagre” renda e o aumento da desi-
Em 1973, último ano do governo Médici, por motivos inter- gualdade social.
nos e externos o “milagre econômico” começou a dar sinais de
esgotamento.
Externamente,, após a guerra de 1973 entre árabes e israelen-
ses, os países árabes quadruplicaram o preço do barril de petróleo,
o que provocou um forte abalo na economia brasileira, já que
cerca de 80% do petróleo que o país consumia era importado.
Para pagar esse petróleo, o Brasil gastava quase a metade do que
ganhava com suas exportações. Internamente,, por causa dos
baixos salários, a maioria da população já não conseguia comprar
o que as empresas produziam. Ao mesmo tempo, o PIB começou
a declinar e a inflação voltou a crescer.
Indicador social:
A dívida externa e a diferença entre os mais ricos e os mais dado estatístico sobre
pobres também aumentaram. Ao final do governo Médici, o Brasil os vários aspectos da
vida de um povo, como
tinha se tornado a décima potência capitalista do mundo, mas seus mortalidade infantil,
indicadores sociais continuavam ruins. O próprio general Médici expectativa de vida,
reconheceu a desigualdade social existente no país, ao dizer: “A taxa de analfabetismo,
entre outros.
economia vai bem, mas o povo ainda vai mal”.

243

14:45 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 243
O “milagre”, entretanto, durou pouco. A inflação voltaria a cres-
28/06/22 13:26
cer a partir de 1973 e a dívida externa acabaria por se tornar um
Muitos recursos foram destinados ao Sistema Financeiro de
problema: ela passou de US$ 4,5 bilhões em 1966 para US$ 12,6
Habitação (SFH) para a construção de moradias. A indústria de
bilhões em 1973. Doravante, o Brasil teria de desembolsar cada
construção também foi beneficiada pelas obras de infraestrutura
vez mais dólares com o “serviço da dívida” – o pagamento de juros
do governo, que afetaram positivamente a produção de cimento,
e amortizações.
de materiais de construção e assim por diante. Obras de impacto,
como a rodovia Transamazônica ou a ponte Rio-Niterói, pareciam As negociações salariais eram restritas em todo o período e as
indicar que o Brasil realmente se tornaria uma “grande potência”. greves, muito limitadas pelo caráter autoritário do regime. Entre
Durante a fase do chamado “milagre brasileiro”, o regime mili- 1964 e 1974, houve perda do poder aquisitivo. O salário mínimo
tar recorreu amplamente ao endividamento externo, pois havia não cresceu e houve forte concentração da renda. […]
oferta abundante de recursos nos mercados financeiros interna- FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo.
cionais. […] São Paulo: Contexto, 2016. p. 80-81.
243

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 243 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre o posiciona-
mento do pajé yanomami
Davi Kopenawa ao projeto Resistência indígena e negra durante a ditadura civil-militar
desenvolvimentista da di- No texto a seguir, o yanomami Davi Kopenawa expressa a visão de um indígena sobre
tadura, contribuindo assim
o projeto dos governos militares de ocupação estratégica da Região Amazônica.
para o desenvolvimento da
habilidade EF09HI21. Funai: Fundação Nacional [...] Eu tinha ouvido gente da Funai contar que,
do Índio, criada em 1967.
• Conhecer o Programa de para abrir o trecho que liga Manaus a Boa Vista,
Ação do Movimento Negro os soldados tinham atirado nos Waimiri-Atroari e

COMPANHIA DAS LETRAS


Unificado e seu posiciona- jogado bombas em sua floresta. Eles eram guerreiros
mento de crítica às políticas valorosos. Não queriam que a estrada atravessasse
e visões da ditadura. Merece suas terras. Atacaram os postos da Funai para que os
menção aqui a proposta do brancos não entrassem onde eles viviam. Foi isso que
MNU de desmistificação da deixou os militares enfurecidos. [...] Muitos foram [...]
existência no Brasil de uma as mulheres, crianças e velhos que morreram entre
democracia racial defendida
nós por causa da estrada. Não foram mortos pelos
pelos governos militares.
soldados, é verdade. Mas foram as fumaças de epide-
• Perceber que a lei no 10.639/03
mia trazidas pelos operários que os devoraram. [...]
foi, em grande parte, o resul-
“Esse caminho dos brancos é muito ruim! Os seres
tado de lutas históricas do
da epidemia xawarari vêm seguindo por ele, atrás das
Movimento Negro.
máquinas e dos caminhões. [...] Terão aberto a estrada
• Destacar que o projeto de
para silenciar a floresta de nossa presença? Para aqui
integração nacional e de-
Fac-símile da capa do livro construir suas casas, sobre os rastros das nossas? [...]”.
senvolvimento econômico A queda do céu, de Davi KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã
do Brasil levado a cabo pelos Kopenawa e Bruce Albert. yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 306.
governos militares dizimou
milhares de indígenas, que O Movimento Negro também se engajou na defesa da democracia e por melhores
tiveram seus territórios inva- condições de vida. Numa manifestação ocorrida em 1978, vários grupos negros reuniram-se
didos e morreram resistindo nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo para protestar, entre outras reinvindica-
ou em razão das doenças ções, contra a discriminação sofrida por quatro atletas juvenis negros, expulsos do Clube
contra as quais seus corpos de Regatas Tietê, em São Paulo, sem nenhuma justificativa. Durante esse ato público,
não tinham defesa. ocorreu a unificação das várias organizações negras, nascendo assim o Movimento Negro
Professor, os textos desta Unificado (MNU), ), cujo programa de ação defendia:
página pretendem ajudar no
[...] desmistificação da democracia racial brasileira; organização política da
desenvolvimento da habilida-
população negra; [...] formação de um amplo leque de alianças na luta contra o
de EF09HI21.
racismo [...]; organização nos sindicatos e partidos políticos; luta pela introdução
da História da África e do Negro no Brasil nos currículos escolares [...].
Dica de leitura DOMINGUES, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos.
Tempo, Niterói, v. 12, n. 23, p. 100-122, 2007. p. 114.
Este livro é fruto da parce-
ria e da convivência de déca- Essas reivindicações do MNU são uma prova de que as lutas da comunidade negra
das entre o líder yanomami foram decisivas para as conquistas posteriores como a Lei no 10.639/03, que estabelece a
Davi Kopenawa e o etnólogo obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira no Ensino Básico.
e escritor Bruce Albert. A par-
tir de narrativas do primeiro, 244
o segundo descreveu, entre
outros assuntos, os prejuízos
para os indígenas resultantes
do modelo desenvolvimentis-
TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 244 com o objetivo de ocupar estrategicamente a 28/06/22 13:26 D3_
região amazônica, não deixar despovoado ne-
ta da ditadura civil-militar no Ditadura civil-militar e populações nhum espaço do território nacional e tamponar
Brasil dos anos 1960 e 1970. indígenas a área de fronteiras. [...] as populações indíge-
[...] Os militares tinham um projeto de desen- nas estavam posicionadas entre os militares
• KOPENAWA, Davi; ALBERT,
volvimento em grande escala que articulava o e a realização do maior projeto estratégico de
Bruce. A queda do céu: pa- ocupação do território brasileiro. Pagaram um
programa econômico concebido no IPES e as di-
lavras de um xamã yanoma- retrizes de segurança interna desenvolvida pela preço altíssimo em dor e quase foram extermi-
mi. São Paulo: Companhia ESG e que pretendia realizar a integração com- nadas por isso.
das Letras, 2017. pleta do território nacional. Isso incluía um am- STARLING, Heloisa. Ditadura militar e populações
indígenas. Brasil Doc. [S. l.], [20--]. Disponível em:
bicioso programa de colonização que implicava https://www.ufmg.br/brasildoc/temas/5-ditadura-militar-e-
o deslocamento de quase 1 milhão de pessoas populacoes-indigenas/. Acesso em: 4 jul. 2022.
244

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 244 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Informar que o general Er-
nesto Geisel (1974-1979) era
Governo Geisel: abertura lenta, filho de um pastor luterano,

EVANDRO TEXEIRA/AP PHOTO/GLOW IMAGES


ex-presidente da Petrobras
gradativa e segura e foi o quarto presidente do
regime militar. Sua posse na
O general Ernesto Geisel, presidente do Brasil entre 1974 e Presidência da República, em
1979, era considerado moderado (castelista); diferenciava-se, por- março de 1974, representou
tanto, dos dois generais da linha-dura que o antecederam, Costa uma vitória dos castelistas
e Silva e Médici. sobre os militares da linha-
-dura. Para a chefia da Casa
Civil, Geisel nomeou o gene-
Economia ral Golbery do Couto e Silva,
O governo Geisel lançou o II Plano Nacional de Desenvolvimento que também era castelista.
(PND), cujos objetivos principais eram: manter altas taxas de cresci- • Conhecer os principais obje-

mento econômico; conseguir autonomia na produção de bens de


tivos do governo Geisel na
economia e seu empenho
capital – como máquinas e equipamentos pesados – e de insumos em fazer com que a econo-
básicos – como petróleo e energia elétrica –, considerados essenciais mia continuasse crescendo,
Posse do presidente
à industrialização acelerada. Para enfrentar o problema energético, a despeito do sacrifício que
Ernesto Geisel. Brasília
o governo Geisel investiu na substituição parcial da gasolina pelo (DF), 1974. isso pudesse custar ao país.
álcool e na construção de hidrelétricas, cujos exemplos mais expres- • Explicitar a solução dada por
sivos foram Itaipu (PR), Sobradinho (BA) e Tucuruí (PA). Geisel dava, Geisel para o problema ener-
assim, continuidade à tendência dos governos militares de estatizar Insumo: elemento
gético, que consistiu na subs-
que entra no processo tituição parcial da gasolina
setores-chave da economia, como petróleo, energia elétrica, side-
de produção de bens por álcool e na construção de
rurgia, telefonia e petroquímica, entre outros. e serviços, como hidrelétricas.
Quando Geisel assumiu o poder, os países ricos reagiam à crise petróleo, energia • Perceber o processo de esta-
do petróleo (1973), elevando fortemente os juros sobre o dinheiro que elétrica, aço, alumínio,
fertilizantes, cobre etc.
tização de setores-chave da
emprestavam. Apesar disso, Geisel continuou tomando empréstimos economia verificado duran-
dos bancos internacionais em dólares e ofereceu facilidade aos inves- te o governo Geisel.
tidores estrangeiros. Estimulada por capitais externos, a economia Barragem da usina • Estudar os efeitos do aumen-
brasileira continuou a crescer (cerca de 7% ao ano); em compensação, hidrelétrica de Tucuruí, to do financiamento externo
a inflação voltou a subir e a dívida externa aumentou mais de três vezes.
no Rio Tocantins. da economia adotado no go-
Tucuruí (PA), 2017. verno Geisel.
LUCIANA WHITAKER/OLHAR IMAGEM

Dica de leitura
Este livro apresenta uma ex-
tensa entrevista concedida por
Ernesto Geisel aos autores en-
tre os anos de 1992 e 1993.
• D’ARAUJO, Maria Celina;
CASTRO, Celso (org.). Ernesto
Geisel. Rio de Janeiro: FGV
Editora; Santa Maria: Editora
245 UFSM, 2021.

13:26 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 245 O discurso na reunião
28/06/22do Ministério, em 19 de março de 1974,
13:26
definiu o “gradualismo” como estratégia de distensão. Nas pa-
“A democracia relativa”: os anos Geisel lavras de Geisel, o governo esperava um “gradual, mas seguro
aperfeiçoamento democrático, empenhando um diálogo hones-
Ao contrário de Castelo, Costa e Silva e Médici, Geisel não falou
to e estimulando maior participação das elites responsáveis e do
em volta à democracia em seu discurso de posse. Em pronun-
povo em geral”. Mas avisou que os “instrumentos excepcionais”
ciamento econômico, fez muitos elogios à “Revolução” e às suas
para manter a segurança continuariam como “potencial de ação
realizações econômicas e políticas, reconhecendo que foi “dra-
repressiva” para evitar desvios à rota traçada.
maticamente nascida de um dissenso dilacerador”, mas que era
hora de perseguir um “generoso consenso nacional”. Nada mais, NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto,
portanto, do que uma vã esperança apoiada em palavras vagas. 2014. p. 237-239.
Mas não demorou muito que o tema da “distensão” se consolidas-
se, ainda que carecesse de uma efetiva agenda política.
245

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 245 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a proposta de
Geisel de uma abertura lenta,
gradual e segura. Política
• Refletir sobre os avanços e O presidente Geisel mostrou-se favorável à abertura política. Na visão dele, porém,
retrocessos do processo de essa abertura política deveria ser lenta,, gradativa e segura.. Mas, para garantir que os
abertura de Geisel. militares devolvessem o poder aos civis e voltassem aos quartéis, era necessário controlar
• Temas Contemporâneos tanto a oposição democrática quanto os generais da linha-dura.
Transversais: debater sobre Geisel iniciou o processo de abertura permitindo a propaganda eleitoral gratuita no rádio
a morte do jornalista Vladimir e na televisão para as eleições parlamentares de 1974. Mas, ao contrário do que o governo
Herzog e do operário Manoel esperava, as eleições daquele ano foram vencidas pelo MDB, partido de oposição. Os mili-
Fiel Filho contribui para se tares da linha-dura, contrários à abertura, acusaram o MDB de ter ganho aquelas eleições
pensar sobre educação em
com os votos dos comunistas e iniciaram uma violenta perseguição aos militantes do PCB.
direitos humanos, item do
Em outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura,
tema cidadania e civismo.
foi chamado a depor em um quartel do II Exército, em São Paulo (SP), sobre sua ligação
• Explorar a ironia a respeito da
com o Partido Comunista. Ele se dirigiu ao local e, no dia seguinte, apareceu morto numa
Lei Falcão, contida na charge
cela, enforcado. O comando do II Exército disse que ele cometera suicídio, mas a maioria
do cartunista Ziraldo, cuja
dos cidadãos não acreditou nessa versão. A notícia da morte do jornalista indignou a
produção sobre o período da
ditadura civil-militar merece sociedade brasileira.
especial atenção. Apesar das reações da sociedade civil, no início de 1976, o operário Manoel Fiel Filho
foi torturado e morto no mesmo quartel onde Herzog morrera. O presidente Geisel reagiu
demitindo o comandante do II Exército, Ednardo D’Ávila Mello, e nomeando em seu lugar
TEXTO DE APOIO um general de sua confiança.

Rumo à democracia
[…] Abertura “lenta, gradual e
Dois passos atrás no processo de abertura
segura” – como a frase acabou O projeto de abertura do governo Geisel foi marcado por avanços e recuos. Um
por se tornar conhecida: esse era desses recuos foi a Lei Falcão (1976), que proibia o debate político ao vivo na imprensa
o projeto Geisel. Sua proposta era
um aprimoramento do antigo
e só permitia mostrar na televisão a fotografia do candidato, acompanhada de algumas
projeto de “institucionalização” poucas informações sobre ele e seu partido.
do regime, que já se manifesta-
ZIRALDO

ra quando o marechal Costa e


Silva, segundo o seu secretário
de imprensa, Carlos Chagas, ten-
tou acabar com o AI-5 e reabrir
o Congresso Nacional, fechado
desde a edição do ato. […] Mas
a ideia de institucionalização
do regime sempre foi cogitada
por diversos militares. O gene-
ral Geisel delineou um processo
paulatino de institucionaliza-
ção — que objetivava incorporar
“salvaguardas” na Constituição
no lugar do AI-5, cujo fim ele de- Charge do cartunista Ziraldo ironizando a Lei Falcão, 1976.
cretou em outubro de 1978, para
valer a partir de janeiro de 1979.
As terríveis penas de morte, de
246
prisão perpétua e de banimento,
estabelecidas pela Junta Militar,
também foram extintas em ou- Dica de leitura
EDITORA CONTEXTO

D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 246 28/06/22 13:26 229


tubro de 1978. Alguns dos siste-
mas que integravam o aparato O livro apresenta uma análise panorâmi-
de repressão política deveriam ca social, política e econômica dos principais
ser igualmente eliminados, so- acontecimentos da História contemporânea do
bretudo o Sistema DOI-Codi. Mas Brasil, desde o suicídio de Vargas, em 1954, até
o Sistema CGI também deveria
o governo Lula, com destaque para o período
acabar, bem como a censura de-
veria ser abrandada, com o fim JK, a renúncia de Jânio Quadros, a ditadura mi-
da censura prévia. […] litar e a redemocratização.
FICO, Carlos. História do Brasil • FICO, Carlos. História do Brasil contemporâ-
contemporâneo. São Paulo: Contexto,
2016. p. 95. neo. São Paulo: Contexto, 2016.
246

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 246 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Perceber os avanços e os re-
cuos do governo Geisel: por
Outro passo atrás no processo de abertura foi dado em 1977 quando, ciente de que um lado, o chamado Pacote
o MDB venceria as eleições que se aproximavam, Geisel fechou o Congresso e impôs de Abril, por outro, a extin-
medidas autoritárias conhecidas como Pacote de Abril.. Entre elas, cabe citar: ção dos atos institucionais,
• um terço dos senadores seria escolhido pelo governo; tais senadores ficaram conhecidos entre os quais o AI-5.
como senadores biônicos, isto é, “fabricados” e não eleitos pelo voto popular; • Refletir sobre a extinção do
• o mandato do próximo presidente da República passava de 5 para 6 anos. AI-5 para as pessoas que vi-
Mas, depois, o presidente Geisel deu prosseguimento à sua proposta de abertura extin- veram aqueles tempos em
guindo, em 1978, os atos institucionais – inclusive o AI-5. geral e para as que participa-
Com a extinção do AI-5, os cidadãos reconquistaram parte importante de seus direitos,
ram da resistência democrá-
tica, em particular.
como o habeas corpus.
corpus.
• Pensar sobre a Lei da Anistia,
que anistiou tanto os exila-
Participação popular e a anistia dos e cassados por motivos
Na comemoração de 1o de Maio, Dia do Trabalho, de 1979, depois de uma missa no paço políticos quanto os respon-
municipal de São Bernardo do Campo (SP), cerca de 150 mil pessoas se dirigiram ao Estádio sáveis por violação dos di-
da Vila Euclides e lá realizaram um grande ato público pela democratização do país. Além de reitos humanos, a exemplo
operários, estudantes, artistas, líderes comunitários, religiosos e políticos de várias tendências, dos agentes da repressão aos
opositores da ditadura.
também esteve presente às comemorações
• Temas Contemporâneos
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E MEMÓRIA DA UNESP-CEDEM

daquele 1o de Maio o Comitê Brasileiro pela


Anistia (CBA), que liderava a campanha pela
Transversais: a reflexão sobre
a Lei da Anistia contribui para o
“anistia ampla, geral e irrestrita”.
desenvolvimento da habilida-
Ainda em 1979, a proposta de anistia
de EF09HI19 e o trabalho com
do governo foi aprovada pelo Congresso
o tema cidadania e civismo,
Nacional e, com isso, muitos brasileiros sobretudo no que tange à edu-
que estavam no exílio por motivos polí- cação em direitos humanos.
ticos puderam regressar ao Brasil, e os • Ressaltar que a Lei da Anistia
cassados readquiriram o seu direito à impediu que os violadores dos
cidadania. Note que essa Lei da Anistia direitos humanos pudessem
também anistiou os responsáveis por vio- ser julgados por seus crimes.
lações dos direitos humanos, a exemplo • Acrescentar que a partir de
dos militares que usaram de violência 2012 foi criada a Comissão
contra os opositores do regime. Nacional da Verdade para
apurar as graves violações de
direitos humanos cometidas
Dialogando a) Um rosto encoberto pela ditadura.
pela metade.
a Qual é o detalhe do cartaz que dá a ideia
Congresso fez modificações na
de “liberdade pela metade”? proposta original, mas nada que
Fac-símile do cartaz produzido para o III Encontro
Nacional das Entidades de Anistia, que ocorreu no b O que os autores queriam dizer com “Não chegasse a descaracterizá-la.
Rio de Janeiro (RJ), em 1979. queremos liberdade pela metade”? — Repetidas vezes afirmou o
b) O cartaz defende a anistia de todos os envolvidos na luta contra o regime militar, com a imediata libertação dos presos
presidente Figueiredo: “Lugar
políticos e o retorno dos exilados (aqueles que foram obrigados a deixar o país por discordarem do regime).
247 de brasileiro é no Brasil”. Com a
anistia, aquela sentença deixou
de ser uma frase para se trans-
formar numa realidade [...]. Ma-
13:26 229a263-HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 247 TEXTO DE APOIO ram para o Brasil, clandestinos deixaram de09:11
24/08/22 se
ridos, pais, filhos, irmãos, noivos
esconder da polícia, réus tiveram os processos
e entes queridos que se encon-
[...] Quando assinou a histórica norma, em 28 nos tribunais militares anulados, presos foram
travam apartados do convívio
de agosto de 1979, o presidente João Baptista libertados de presídios e delegacias.
familiar passaram a ter a oportu-
Figueiredo concedeu o perdão aos perseguidos O projeto que deu origem à Lei da Anistia foi nidade de retornar aos seus lares
políticos (que a ditadura militar chamava de redigido pela equipe do general Figueiredo. O e reinaugurar as suas vidas [...].
subversivos) e, dessa forma, pavimentou o ca- Congresso Nacional o discutiu e [o] aprovou
minho para a redemocratização do Brasil. WESTIN, Ricardo. Há 40 anos, Lei da Anistia
em apenas três semanas. preparou caminho para fim da ditadura.
Foram anistiados tanto os que haviam pegado Documentos de 1979 sob a guarda do Arquivo Senado Federal. Brasília, DF, 5 ago. 2019.
em armas contra o regime quanto os que sim- do Senado, em Brasília, mostram que os sena- Disponível em: https://www12.senado.leg.
br/noticias/especiais/arquivo-s/ha-40-anos-
plesmente haviam feito críticas públicas aos dores e deputados da Arena (partido governis- lei-de-anistia-preparou-caminho-para-fim-
militares. Graças à lei, exilados e banidos volta- ta) ficaram satisfeitos com a anistia aprovada. O da-ditadura. Acesso em: 4 jul. 2022.
247

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 247 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a Unidade
Popular, representada por
Salvador Allende, como uma
coalisão entre os socialistas
O caso do Chile
e os movimentos sociais que
No governo do democrata cristão Eduardo Frei (1964-1970), o Chile viveu em uma
tinham se fortalecido sob o
democracia. Nesses anos, os movimentos populares do campo e da cidade tornaram-se
governo do democrata cris-
mais organizados e atuantes. Assim, nas eleições de 1970, esses movimentos uniram suas
tão Eduardo Frei.
forças à dos partidos de orientação socialista e formaram a Unidade Popular (UP), que
• Refletir sobre a crença de
lançou a candidatura do médico socialista Salvador Allende à presidência da República.
Salvador Allende na cons-
trução do socialismo por via
democrática, e não por meio
da tomada do poder pelo
O governo de Allende (1970-1973)
proletariado. Eleito presidente da República em 1970, Allende acreditava ser possível construir o socia-
• Apresentar de maneira es- lismo por via democrática, pacífica. Segundo o historiador Alberto Aggio, para Allende e boa
quemática as medidas do parte de seus seguidores, o socialismo significava poder popular e a estatização da economia.
presidente Salvador Allende E assim ele agiu na presidência da República; por meio de decretos presidenciais, implementou:
após sua chegada ao poder • a reforma agrária (80% das terras agricultáveis, que estavam nas mãos dos grandes
por meio de eleições livres proprietários, foram expropriadas e repartidas entre as famílias camponesas);
que se baseavam em maior • a reforma na saúde com o objetivo de criar um serviço unificado de todos os programas
poder ao povo e estatização
médicos e assistenciais que atendesse a toda a população, suprimindo a diferença entre
da economia.
pacientes de primeira e de segunda classe existente no país à época;
• Perceber os interesses inter-
• a nacionalização das minas de cobre e das telecomunicações, que até então estavam
nos e externos que dificul-
tavam a implementação do nas mãos de empresas estadunidenses;
programa de Salvador Allen- • um programa de alfabetização em massa.
de e contribuíam para deses- Com essas medidas, o

MICHAEL MAUNEY/THE LIFE IMAGES COLLECTION/SHUTTERSTOCK.COM


tabilizar seu governo. governo Allende atraiu fortes
• Destacar que o governo de inimigos. De um lado, organi-
Allende se desenrolou no zações como o Movimiento de
contexto da Guerra Fria, no Izquierda Revolucionaria (MIR),
qual os Estados Unidos es-
que pressionavam o governo
forçavam-se para barrar a
para acelerar as mudanças e
penetração do socialismo na
chegar ao socialismo mais rapi-
América Latina.
damente. De outro, os Estados
Professor, a estratégia ado-
Unidos e parte dos empresários
tada pelo governo do presi-
chilenos inconformados com
dente Nixon ficou conhecida
como modus vivendi, que ti- as medidas governamentais,
nha por objetivo “conviver” que, diante disso, diminuíram
com o resultado da eleição os investimentos na produção,
chilena e desestruturar o go- O então presidente Salvador Allende, ao centro e de óculos, provocando a queda na taxa de
verno chileno por meio do rodeado por crianças e adultos. Chile, 1971. emprego e a alta da inflação.
apoio à oposição, sem que fi-
casse evidente a tentativa de 248
intervenção militar estaduni-
dense no Chile. Entretanto, o
assessor de Nixon, Kissinger, +ATIVIDADES
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 248 Professor, esses elementos são apenas in- 28/06/22 13:26 D3_

alertava sistematicamente so- dícios das posições e visões políticas de cada


bre os riscos de permitir a con- As fotografias são importantes fontes his- um deles; não podem ser consideradas provas
tinuidade do governo Allende tóricas. Comparem a fotografia de Allende de que um era democrata e outro, ditador.
e incentivava o intervencionis- à de Pinochet e respondam que impressões Comentar com os estudantes que a imagem
mo dos EUA. elas causam a vocês. Registrem essas impres- possui um efeito de realidade, ou seja, a ca-
sões por escrito. pacidade de parecer o que não é. O manuseio
Resposta: de outras fontes históricas e o cruzamento
Essas fotografias sugerem posturas e vi- dessas fontes à luz do método histórico é
sões de mundo diferentes e, possivelmente, que nos permitem dizer que Allende era, de
divergentes. fato, um democrata, e Pinochet, um ditador.
248

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 248 26/08/2022 17:34


TEXTO DE APOIO
Outras ditaduras na América
do Sul: o cerco se fecha
A ditadura do general Pinochet (1973-1990) O golpe militar contra o gover-
no de Salvador Allende no fatí-
Nesse ambiente, ocorreu

SANTIAGO LLANQUIN/AP PHOTO/IMAGEPLUS


dico de 11 de setembro de 1973
uma radicalização ideológica e foi provavelmente o mais brutal
o governo de Allende perdeu o de todos nas ações para consoli-
controle do processo político; dar seu êxito. Nos primeiros dias
após o bombardeio do palácio La
apesar disso, manteve a legali-
Moneda, milhares de pessoas
dade. Dessa forma, em 11 de foram levadas ao Estádio Nacio-
setembro de 1973, com apoio nal, em Santiago do Chile, sub-
dos Estados Unidos, forças mili- metidas a interrogatórios, surras
e toda sorte de arbitrariedade.
tares chilenas bombardearam
Cerca de mil detidos foram su-
e invadiram o Palácio de La mariamente executados. Os di-
Moneda, derrubando Allende, reitos civis foram suspensos e a
morto no bombardeio, e colo- população devia obedecer ao to-
cando em seu lugar o general que de recolher, enquanto casas
eram invadidas e os suspeitos
Augusto Pinochet. de contrariar a nova ordem, le-
O projeto da ditadura vados na calada da noite, muitas
Pinochet era fundar uma nova vezes para nunca mais voltar.
ordem política, econômica e O escritor chileno Ariel Dorf-
social. Para isso, montou um man cristalizou na obra O lon-
go adeus a Pinochet – original-
aparato repressivo sofisticado
mente publicada em 2002, com
que intimidou, matou ou exilou título Más allá del miedo: el lar-
seus adversários. Durante seus go adiós a Pinochet – a imagem
17 anos de governo, Pinochet do ditador inescrutável que co-
aplicou o Terror de Estado.
Estado. mandava o massacre com frieza
e cinismo, negando obstinada-
No campo econômico, mente que os desaparecidos es-
a ditadura chilena adotou o tivessem. Dele se via apenas as
neoliberalismo: O ditador chileno
luvas brancas acenando, quan-
do transitava pelas ruas com
a) privatizou empresas, serviços de saúde e a previdência social; Augusto Pinochet
(ao centro) e militares apenas uma fresta aberta da ja-
b) atraiu capitais e empresas estrangeiras; apoiadores. Santiago nela do carro que o conduzia.
c) estimulou as exportações; (Chile), 1988. Augusto Pinochet Ugarte es-
tava determinado a erradicar
d) suprimiu o controle de preços;
o contagioso vírus comunista,
e) abriu o país ao comércio internacional. não somente no Chile, mas tam-
Ao mesmo tempo que adotou essa política neoliberal, buscou Terror de Estado: bém fora dele. Por isso, foi um
disseminar valores que estimulavam a sociedade a se tornar mais segundo definição dos principais responsáveis pela
de Luigi Bonanate, é montagem da chamada Opera-
individualista, consumista e despolitizada. um instrumento de ção Condor, valendo-se da me-
Durante seu governo, Pinochet sofreu atentados e teve de emergência a que um táfora do pássaro andino que se
enfrentar também rebeliões populares (las(las protestas)
protestas) em 1983 e governo recorre para alimenta de carniça. Entre 1973 e
manter-se no poder. 1980, a Operação Condor buscou
1986, mas todas essas ações foram rapidamente sufocadas.
estabelecer a cooperação entre
249 os regimes ditatórios na América
do Sul, para investigar, informar e
combater os focos de “subversão”.
PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela.
História da América Latina. São Paulo:
13:26 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 249 28/06/22 13:26
Contexto, 2014. p. 179-180.

• Evidenciar que, no Chile, o 11 de setembro de 1973 foi um golpe militar com o apoio dos Es-
tados Unidos, das grandes indústrias e dos comerciantes chilenos que promoviam boicotes
para desgastar a presidência de Salvador Allende.
• Destacar a violência do golpe que matou Allende e pôs Pinochet em seu lugar, bem como os
assassinatos das vozes discordantes.
• Compreender os principais pontos da política econômica neoliberal aplicada no governo
de Augusto Pinochet.

249

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 249 31/08/22 10:17


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que o uso extre-
mo da força por parte da di-
tadura chilena de Augusto O “Não” ao ditador chileno
Pinochet levou muitos chine- Em 1980, Pinochet outorgou uma Constituição que previa um ple- Plebiscito: consulta
los a pedirem asilo nos países ao povo.
biscito a realizar-se em 1988; seu objetivo com esse plebiscito era de que
vizinhos, inclusive no Brasil.
o povo lhe concedesse mais oito anos de governo. Para sua surpresa, o povo se mobilizou e
• Temas Contemporâneos votou contra a prorrogação de seu mandato. O “Não” (No (No,, em espanhol) ao ditador chileno
Transversais: conscientizar obteve 56% dos votos válidos, enquanto o “Sim” recebeu 44%. Os partidos políticos de
os estudantes a respeito das
oposição se uniram em uma frente chamada Concertación de los Partidos por la Democracia..
intensas violações aos direi-
Pinochet reagiu conseguindo um pacto com a oposição e aprovou no Parlamento leis que
tos humanos praticadas pelas
impediam qualquer mudança significativa nas instituições do país. A transição para a demo-
ditaduras latino-americanas,
reafirmando a importância cracia, no entanto, prosseguiu. A Concertación reuniu os partidos de oposição e venceu as
da democracia enquanto va- eleições contra a Alianza por Chile,, que representava as forças conservadoras. A vitória de
lor, contribui para a educa- Patricio Aylwin nas eleições de 1989 marcou a volta da democracia no Chile.
ção em direitos humanos do A frente democrática que derrubou Pinochet conseguiu eleger os quatro presidentes
tema cidadania e civismo. seguintes. Os governos da Concertación (1990-2010) modernizaram o país: alavancaram
• Refletir sobre a vitória do a produção agroindustrial voltada para a exportação e o setor de serviços, adotaram
“Não” ao ditador chileno no programas de despoluição e inovação tecnológica e conseguiram o crescimento contínuo
plebiscito realizado no Chile da economia nesses anos. Além disso, as políticas públicas, esquecidas durante a ditadura,
em 1988. foram retomadas.
• Compreender que a Concer- b) Foi evitar o ataque ao ditador e focar no prazer da liberdade, na libertação dos conflitos políticos e ideológicos,
tación, que reunia os parti- além da busca pelo aumento de consumo para todos.
dos de oposição democrática,
venceram as eleições de 1989
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
c) Eles conseguiram que 56% dos eleitores dissessem “Não”
à pretensão do ditador de continuar no poder por mais
e implementaram políticas oito anos.
que conseguiram fazer o Chi- Da revolução à democracia
le crescer economicamente e, O sociólogo Eugenio Tironi conta que o óbvio era que o espaço na TV para a
ao mesmo tempo, ter políti- defesa do “No” fosse preenchido pela denúncia das atrocidades ditatoriais. Mas um
cas públicas que haviam sido grupo "propôs o contrário: dar uma mensagem positiva, alegre. [...] o adversário
esquecidas pela ditadura. não era Pinochet [...]". Como nos comerciais de refrigerante, o produto oferecido
tornou-se coadjuvante diante do que verdadeiramente se vendeu: a felicidade. Pela
democracia, a campanha pelo “No” não associou o ódio a Pinochet, Coadjuvante: que
Imagens em movimento mas o prazer da liberdade, de livrar-se dos conflitos políticos e desempenha papel
Vídeo educativo apresen- secundário.
ideológicos e, claro, de estender o deleite do consumo à maior parte
tado pela professora Gabriela da população.
Pellegrino Soares, da Univer-
(DAHÁS, [19--] apud AGGIO, 2013, p. 39).
sidade de São Paulo (USP), so-
bre a política chilena. a) Segundo Eugenio Tironi, o que se esperava dos defensores do “Não” a Pinochet no horário de
• DEMOCRACIA propaganda gratuita na TV?
e revolu-
ção no Chile. 2017. Vídeo b) Qual foi a estratégia usada pelos adversários de Pinochet?
(23min2s). Publicado pelo c) O que eles conseguiram com essa estratégia?
Canal USP. Disponível em:
a) Esperava-se que os defensores do “Não” denunciassem os crimes contra a humanidade praticados pela ditadura.
https://www.youtube.com/
watch?v=B8nxtbqevYg. 250
Acesso em: 4 jul. 2022.

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 250 mocracia era hora de reescrever novamente a história, principal- 28/06/22 13:26 AV_
mente o significado do 11 de setembro de 1973. A saída pensada
Ensino no Chile durante e depois de Pinochet pela Concertación, que gerou insatisfação em vários setores da
sociedade, foi tratar o golpe como “inevitável” dentro do acirra-
[…] no Chile, a reforma curricular ocupou boa parte dos debates mento de debates políticos no país. Os defensores do ponto de
nos anos de 1990. A ditadura pinochetista (1973-1990) teve uma vista do grupo que chegou ao poder com o fim da ditadura procu-
espécie de historiador oficial, Gonzalo Vial Correa, responsável raram mostrar que a política de reconciliação […] estava em curso
por “reescrever” a história chilena. Nos textos de Vial Correa, o pe- no país e, também, os desafios enfrentados pelo novo governo ao
ríodo da Unidade Popular (1970-1973) era tratado como momento lidar com o passado recente.
de caos e de exceção na trajetória do país, um rompimento na
QUADRAT, Samantha Viz. Páginas da História: o ensino das ditaduras do Cone Sul.
cultura política chilena, enquanto na ditadura teria sido estabe- In: MOTTA, Rodrigo Patto Sá (org.). Ditaduras militares: Brasil, Argentina,
lecida a ordem e o destino natural do Chile. Com o retorno da de- Chile e Uruguai. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015. p. 282.

250

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 250 31/08/22 10:18


ENCAMINHAMENTO
• Comparar o Brasil ao Chi-
le no período da ditadura:
Comparação entre Brasil e Chile quanto à política econômica enquanto aqui o governo
ampliou o tamanho do Es-
Política econômica tado e sua interferência em
Brasil Chile setores-chave da economia,
no Chile, o governo adotava
Duração 1964-1985 1973-1990
a política neoliberal, com a
Política
econômica Desenvolvimentismo Neoliberalismo defesa do Estado mínimo e a
• O governo militar brasileiro ampliou o tamanho • O governo militar chileno diminuiu o tamanho venda de empresas estatais a
do Estado e sua interferência na economia. do Estado e sua interferência na economia. particulares.
• Investiu em setores-chave da economia, como • Privatizou as empresas estatais, isto é,
energia, transportes e indústrias de bens de vendeu-as a particulares.
capital (bens que servem para a produção de • Abriu o mercado nacional às mercadorias
outros bens – máquinas, equipamentos etc.), com e aos capitais estrangeiros. Professor, a atividade 1 con-
o objetivo de conseguir autonomia nesse setor. • Diminuiu os gastos estatais tendo em vista o tribui para o desenvolvimento
Características • Investiu em infraestrutura (estradas, portos etc.). equilíbrio das contas públicas.
• Contraiu empréstimos externos visando manter • Privatizou a educação superior e a previdência da habilidade EF09HI30.
altas taxas anuais de crescimento da economia. social. Sobre a atividade 2, é interes-
• Manteve a educação e a previdência • Incentivou as exportações chilenas, inserindo sante que alunos de posiciona-
social públicas. o Chile no mercado internacional como um
• Adotou uma política trabalhista de compressão grande exportador de alimentos, com mentos diversos participem do
dos salários dos trabalhadores de baixa renda. destaque para salmão, frutas (uvas e mesmo grupo, de modo que a
ameixas) e vinho. construção coletiva do conhe-
cimento passe pelo respeito
Concluindo: enquanto o regime militar brasileiro deu continuidade ao modelo adotado às opiniões, à ciência e ao co-
na Era Vargas, o regime militar chileno adotou uma política econômica neoliberal, diminuindo nhecimento historicamente
o tamanho do Estado por meio de uma política de privatização de empresas que haviam construído em torno do tema.
sido estatizadas, ou seja, substituiu o modelo adotado no governo anterior por outro, que Na apresentação dos resultados,
hoje é responsável, em parte, pelo modo de inserção do Chile na economia internacional. os alunos podem desenvolver
a capacidade argumentativa,
já que devem se basear nos
A ditadura na Argentina (1976-1983) documentos e dados encon-
trados para construir a análise.
Na história recente da Argentina, os militares tiveram uma presença constante na Acompanhar os alunos duran-
política. De 1930 e 1976 ocorreram seis golpes militares no país. No início dos anos 1970, te o processo, verificando as
o ambiente político na Argentina era de crescente violência e radicalização política. Boa fontes consultadas e os pontos
parte do povo argentino pedia o retorno do ex-presidente Juan Domingo Perón, que se relacionados para argumen-
encontrava exilado na Espanha. tação. Explicar que entre os
documentos possíveis de serem
analisados estão fotografias,
O peronismo no poder relatos, entrevistas, notícias de
jornal e documentos oficiais
Em março de 1973, ocorreram eleições livres para presidente da República, que foram
dos governos. A atividade pro-
vencidas pelo peronista Héctor Cámpora. Em junho do mesmo ano, Cámpora renunciou move o desenvolvimento das
para que fossem realizadas novas eleições presidenciais e Juan Domingo Perón assumisse competências gerais 1, 2 e 7
a presidência da Argentina. E foi o que de fato aconteceu. e competências específicas
1 e 3.
251 • Interdisciplinaridade: a ati-
vidade 3 pode ser desenvol-
vida em conjunto com o pro-
13:26 +ATIVIDADES
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 251 interpretação a respeito da letra da canção.
20/08/22 14:48
fessor de Arte. Como produ-
1. Compare de modo breve a política econô- Respostas: to final, as canções pesquisa-
mica de Augusto Pinochet à do presidente 1. A política econômica de Pinochet era li- das vão compor uma playlist,
Ernesto Geisel. beral e buscou privatizar empresas, serviços que poderá ser compartilha-
2. Em grupo. Escolham o período ditatorial em de saúde e previdência social; já a política da com o restante da comu-
um país da América Latina para uma análise de Geisel era estatizante, ou seja, manteve nidade escolar. Desse modo,
documental. o controle dos setores-chave da economia a proposta pode contribuir
(energia, petróleo) nas mãos do Estado. com o desenvolvimento da
3. Em dupla. Pesquisem sobre canções de pro-
testo compostas durante o período da dita- 2. Resposta pessoal. competência geral 5.
dura. Escolham uma delas e apresentem uma 3. Resposta pessoal.
251

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 251 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre a força do pe-
ronismo na Argentina, no
No ano seguinte, porém, Perón faleceu

ROLLS PRESS/POPPERFOTO/GETTY IMAGES


passado e no presente, lem-
brando que Perón sempre se e o poder passou às mãos de sua esposa e
apresentou como represen- vice-presidente Isabelita Perón. Seu governo,
tante dos interesses popula- no entanto, não conseguiu o apoio da
res e nacionais. maioria da população; ela era criticada,
• Informar que Eva Perón, se- inclusive, por parte dos peronistas. Além
gunda esposa do presidente, disso, não conseguiu alavancar a economia
conhecida por Evita, teve for- do país. Esses fatores somados abriram o
te atuação política e até hoje caminho para um novo golpe de Estado,
é reverenciada por parte da
desfechado em 24 de março de 1976. Uma
população argentina. Vista
junta militar formada por comandantes das
como símbolo de luta ao lado
da população mais pobre, três armas e presidida pelo general Jorge
Evita foi peça central da pro- Rafael Videla assumiu o poder (1976-1981).
paganda peronista até falecer Assim como ocorreu em outros países
em decorrência de um câncer sul-americanos, o golpe teve apoio de uma
aos 33 anos. A morte precoce parte da sociedade e dos maiores meios
contribuiu ainda mais para a de comunicação (grande imprensa). A jus-
“santificação” de Evita. tificativa para o golpe era a mesma dada
• Comparar o golpe de Estado pelos militares brasileiros e chilenos: com-
desfechado pela junta mi- bater o inimigo interno, os “subversivos”,
litar presidida pelo general libertar a sociedade da desordem e do
Jorge Videla na Argentina
Juan Perón e sua esposa María Estela Martínez de comunismo e conduzir o país ao destino
aos desfechados no Chile e
Perón (Isabelita). Buenos Aires (Argentina), 1972. de grande nação.
no Brasil, quanto às justifi-
cativas dadas: combate ao
comunismo, à subversão (ini-
migo interno) e à desordem.
Estado de terror e resistência
• Explicar que, assim como No plano econômico, o regime militar argentino estimulou as exportações, facilitou
ocorreu no Brasil, o golpe de a especulação financeira e inibiu os investimentos no setor fabril, gerando o que os espe-
Jorge Videla e seu grupo teve cialistas chamam de desindustrialização.. Com isso, a economia entrou em declínio,
apoio de parte da sociedade enquanto a inflação e as taxas de desemprego subiam consideravelmente.
civil e da grande imprensa. A falta de habilidade na condução da economia contrastava com a violência e a
• Comentar que, assim como eficiência da repressão militar. O governo Videla perseguiu e prendeu seus opositores (tra-
ocorreu no Chile, na Argen- balhadores, estudantes, empresários, religiosos, militares legalistas, políticos) e os conduziu
tina também milhares de aos centros especializados em tortura e campos clandestinos de extermínio; e,
pessoas consideradas “sub- ali mesmo, destruiu-os. As organizações armadas de orientação socialista também foram
versivas” pela ditadura foram
desmanteladas, e os opositores desapareceram, foram exilados ou engajaram-se na luta
eliminadas nos campos clan-
pacífica por direitos humanos e redemocratização.
destinos de extermínio.
A ditadura argentina tinha uma dupla face: uma pública, submetida às leis, e outra
• Refletir sobre a desindustria-
clandestina, à margem da legalidade.
lização e o estímulo à espe-
culação financeira durante a
ditadura do general Videla.
252

TEXTO DE APOIO tado no país, liderado 252


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd por militares autoritá- país, que durante a guerra foi um dos principais 28/06/22 13:26 D3_

rios e anticomunistas, simpatizantes do Eixo fornecedores de alimentos para a Europa. Como


República de Perón (Alemanha, Itália e Japão) na Segunda Guerra consequência, Juan Perón ganhou o apoio de
O peronismo é um fenômeno Mundial. Juan Domingo Perón (1895-1974) era parte expressiva dos trabalhadores.
cultural na Argentina, e até hoje general e foi um dos líderes do golpe. Na dita- Com o fim da guerra e a derrota do Eixo, o am-
influencia os rumos da política dura militar instaurada, acumulou os cargos de biente mudou. Aumentaram as pressões inter-
nacional. […] Mas o que explica vice-presidente, ministro da Guerra e secretário nas e externas pelo fim da ditadura argentina e
tão duradoura permanência na do Trabalho. Nesta última função, implantou pela democratização do país. Devido ao acúmu-
política e no imaginário dos ar- vários avanços na legislação trabalhista, como lo de poderes, Perón foi um dos principais alvos
gentinos? férias remuneradas e o aguinaldo – o décimo ter- dos protestos […]. Renunciou aos cargos em 9
A resposta começa em 1943, ceiro salário dos argentinos. As medidas foram de outubro de 1945, mas as pressões continua-
quando houve um golpe de Es- possíveis graças à boa situação econômica do ram e, quatro dias depois, o general foi preso.
252

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 252 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Explicar que, assim como no
Brasil, na Argentina as oposi-
As Mães da Praça de Maio ções à ditadura organizaram
Na resistência à ditadura militar argentina, merecem especial destaque as Mães da
e promoveram uma resistên-
cia democrática, movimen-
Praça de Maio;; mães cujos filhos tinham desaparecido circulavam pela Praça de Maio
to no qual se destacaram as
em silêncio e com um lenço branco na cabeça, como se estivessem procurando por
Mães da Praça de Maio.
seus filhos. Assim, as “Loucas da Praça de Maio”, como as denominavam os militares,
• Explorar a imagem das Mães
chamavam a atenção do mundo para os crimes que vinham sendo cometidos pela
da Praça de Maio depositan-
ditadura em seu país. do flores em homenagem à lí-
der Azucena Villaflor, que tra-
DANIEL GARCIA/AFP

vou um combate incansável


contra a violação dos direitos
humanos na Argentina.
• Informar que quando o presi-
Mães da Praça de Maio dente Raúl Alfonsín assumiu
depositam flores em
o poder da Argentina, mon-
um monumento em
homenagem a Azucena tou uma comissão para julgar
Villaflor, fundadora da os crimes cometidos pelos mi-
Associação de Direitos litares. Na ocasião, a Comis-
Humanos à qual são Nacional de Desapareci-
pertencem. Buenos
mento de Pessoas apresen-
Aires (Argentina), 1997.
tou mais de 150 mil páginas
de denúncias, contendo re-
latos de mais de mil pessoas,
as formas de tortura e o assas-
sinato de desaparecidos. No
documento ainda estavam
descritos mais de 300 centros
de detenção clandestina.
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
• Ampliar os conhecimentos
dos estudantes, pedindo que
Comparação entre a ditadura brasileira e a argentina convidem pessoas da comuni-
O texto a seguir faz parte de uma entrevista com o professor titular da Universidade dade que viveram os tempos
Federal de Minas Gerais (UFMG), Rodrigo Patto Sá Motta. da ditadura para fornecer re-
Tenho proposto [...] o conceito de cultura política para explicar as diferenças latos daqueles tempos, sobre-
entre Brasil, Argentina e Chile. [...] Uma reflexão que estou desenvolvendo [...] é a tudo no tocante à liberdade
de expressão e ao engajamen-
de que a cultura política brasileira tem um traço-chave: a busca da negociação, da
to político. Criar um ambiente
conciliação e de arranjos que evitem rupturas. Na política brasileira é muito forte o
propício à escuta e ao diálogo
apelo por moderação. Há momentos agudos, como no pré-64, quando entrevistados
respeitoso com o visitante.
dizem haver sentido um clima de guerra civil e que a expectativa era de um con-
flito tremendo; e os golpistas pediram ajuda norte-americana porque acharam que
haveria uma guerra longa. Mas daí vem um golpe sem sangue [...]. Você compara os

253

13:26 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 253 tou-se como defensor dos interesses populares
28/06/22 13:26e O presidente se apresentava
nacionais – dois pilares do discurso peronista até como o continuador de San Martín
(CONTINUAÇÃO) hoje – e prometeu consolidar e ampliar benefícios (1778-1850), o “herói” da indepen-
sociais e trabalhistas. […] Em fevereiro de 1946, dência argentina. Enquanto San
[…] no dia 17, milhares de simpatizantes de Perón saí- Martín garantira a independên-
venceu as eleições.
ram às ruas de Buenos Aires para pedir sua libertação. cia política, ele afirmava ser o
Nos primeiros anos de governo a economia con-
O apelo foi atendido, e o governo ainda foi forçado responsável pela independência
tinuou bem, e o novo presidente pôde nacionalizar
a convocar eleições para presidente e governadores econômica do país. […]
ferrovias e serviços, como o fornecimento de gás,
e a reabrir o Congresso. Os partidos políticos, que
energia elétrica e telefonia. Em 1949, uma reforma SILVA, Paulo Renato. República de Perón.
haviam sido dissolvidos, voltaram a se organizar. constitucional nacionalizou também os recursos Revista de História da Biblioteca Nacional,
Rio de Janeiro, ano 8, n. 91, p. 60-63,
Fortalecido, Juan Perón decidiu concorrer à Pre- naturais do país. Consolidava-se a imagem de Perón abr. 2013. p. 60.
sidência do país. Durante a campanha, apresen- como líder nacionalista e anti-imperialista. […]
253

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 253 31/08/22 10:18


ENCAMINHAMENTO
Para refletir. d) O importan-
te é estimular no alunado a ca-
pacidade de argumentar em
golpes argentinos e brasileiros [...] entre as décadas de 1940 e 1960 e percebe uma
defesa de um ponto de vista e
de contestar contra-argumen- nítida diferença na manifestação da violência política. No Brasil tivemos uma série
tações. Pode-se relativizar a de golpes: a retirada de Getúlio do poder em [...] 1945, o episódio da crise de 1954,
diferença estabelecida pelo [...] a posse de Juscelino Kubitschek [...] e o golpe [...] em 1964. Muitos desses golpes
autor citando os centros de não provocaram sangue. Se a gente observa os golpes argentinos desse período,
tortura da ditadura brasileira, todos terminaram em sangue. O caso mais [...] chocante é o golpe de 1955, um dos
a exemplo dos DOI-Codi, para episódios para a derrubada de Perón. Aviões bombardearam a Plaza de Mayo e [...]
onde, por vezes, os prisionei-
houve centenas de mortes entre os que estavam ali concentrados para defender
ros eram levados.
Perón. [...] Na Argentina havia um clima de violência política entre facções que
• Comentar que a política de aguçava o conflito e o ódio, o que não era resolvido na saliva, como no Brasil. Não
privatizações chilena é res-
há este histórico no Brasil e isso estimulou os atores políticos à moderação e à
ponsável, em parte, pelo
modo de inserção do Chile autocontenção. Por que pensar em fuzilar o Miguel Arraes, preso em Pernambuco,
na economia mundial. se isso não tinha paralelo na história recente? Por que inaugurar uma violência
• Discutir sobre as exigências desse tipo, que no futuro pode trazer implicações? No Brasil atuavam forças e
dos órgãos financeiros inter- tradições que estimulavam a moderação, enquanto na Argentina o estímulo era
nacionais, a exemplo do FMI para a violência. [...]
e do Banco Mundial, para CAMPOS, Emerson César; FALCÃO, Luiz Felipe; LOHN, Reinaldo Lindolfo.
que os países latino-ameri- Tempo presente brasileiro: cultura política, ditaduras e historiografia da perspectiva de Rodrigo Patto Sá Motta.
Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 245-264, 2011. p. 253-254.
canos renegociassem suas
dívidas externas no final dos a) Qual foi o conceito usado pelo autor do texto para explicar as diferenças entre o Brasil e a
anos de 1980. Argentina no tocante à violência política? a) O autor do texto propõe explicar as diferenças usando o
conceito de cultura política.
• Explicar que o Chile foi pio- b) Como o autor caracteriza a cultura política brasileira?
neiro nas implementações
c) Que diferença o autor estabelece entre Brasil e Argentina sobre o uso da violência política?
neoliberais na América La-
tina, incluindo-se nesse uni- d) Em grupo. Com base no texto e no que vocês estudaram sobre as ditaduras argentina e
verso as reformas na previ- brasileira, vocês concordam com o autor em relação à diferença entre essas ditaduras quanto
dência social e na saúde que, ao uso da violência política? Justifiquem. d) Resposta pessoal.
após o golpe de 1973, foram b) Segundo o autor, a cultura política brasileira tem um traço-chave: a busca da negociação, da conciliação.
privatizadas. c) Ele afirma que no Brasil atuavam as forças e tradições que estimulavam a moderação, enquanto na Argentina
o estímulo era para a violência.
Professor, no Chile, a pri-
vatização da previdência au- Motivações e impactos das políticas
mentou a desigualdade social.
Assim, no segundo governo
adotadas na América Latina
de Bachelet, em 2017, a po-
pulação chilena votou em um No final de 1980, muitos países, entre os quais os da América Latina, encontravam-
plebiscito no qual 96% dos -se endividados.
eleitores foram favoráveis ao Nesse contexto, órgãos financeiros internacionais, a exemplo do Fundo Monetário
retorno do sistema de previ- Internacional (FMI) e do Banco Mundial, decidiram que, para obter novos empréstimos, os
dência por repartição. Apesar países devedores tinham de obedecer aos princípios do neoliberalismo, ou seja: diminuir a
disso, as desigualdades provo-
cadas por mais de duas déca- intervenção do Estado na economia; reduzir gastos públicos; privatizar empresas estatais,
das do sistema previdenciário isto é, vendê-las a particulares; eliminar barreiras ao comércio internacional e criar um
privado continuam impactan- ambiente favorável a investimentos externos.
do a vida dos chilenos.
254

+ATIVIDADES lítica econômica do governo


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 254 FHC, mas dife- ram forçados pelo FMI e pelo Banco Mundial 28/06/22 13:26 D3_

1. Caracterize a política eco- renciou-se dele no campo das políticas públi- a adotar políticas neoliberais como condição
nômica neoliberal usando cas. Pesquise e explique essa diferença. para renegociar suas dívidas externas. No
suas palavras. Respostas: Brasil, a virada neoliberal ocorreu com Fer-
2. Em que contexto os países 1. O neoliberalismo defende o Estado míni- nando Collor de Melo (1989-1993) e ganhou
latino-americanos aderiram mo com a redução do gasto público, a priva- impulso com FHC (1994-2002).
ao neoliberalismo, nas déca- tização das empresas estatais a particulares 3. O governo Lula adotou uma série de po-
das de 1980 e 1990? e o fim do protecionismo comercial. líticas públicas combinadas, que levaram à
3. Na economia, o governo 2. No contexto de crescente endividamento diminuição da pobreza extrema e à diminui-
Lula deu continuidade à po- externo, os países latino-americanos se vi- ção da fome no país.
254

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 254 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Retomar e consolidar o con-
ceito de neoliberalismo com
Assim, nas décadas de 1980 e 1990,

WILSON PEDROSA/AGÊNCIA ESTADO/AE


base em sua adoção pelos
a maioria dos países latino-americanos países latino-americanos
aderiu à política econômica neoliberal nos anos de 1980 e 1990. No
a fim de renegociar suas dívidas. Essa Brasil, o ideário neoliberal
virada em direção ao neoliberalismo ganha força a partir do go-
aconteceu com força com Carlos verno Collor de Melo, eleito
Menem, na Argentina; Alberto Fujimori, em 1989.
no Peru; Carlos Salinas, no México e • Conhecer as políticas neolibe-
Fernando Collor de Melo e Fernando rais adotadas no México, de
Henrique Cardoso (FHC), no Brasil. Salinas; no Peru, de Fujimori;
Esses países, no entanto, não con- e na Argentina, de Menem.
seguiram o crescimento econômico • Refletir sobre os efeitos das
esperado. Em vez disso, conheceram a políticas neoliberais nos países
queda da renda per capita,
capita, graves crises citados.
Pedestres caminham ao lado de muro com dizeres
econômicas, concentração da riqueza, contrários à venda da Telebrás: “A Telebrás é do • Reconhecer que a adoção
aumento da desigualdade e crescimento povo!!!”. Brasília (DF), 1998. de políticas neoliberais na
da pobreza. América Latina acabou por
Em 2005, o Banco Mundial publicou um relatório reconhecendo que a Índia tinha aumentar a desigualdade so-
apresentado crescimento econômico e redução da pobreza extrema, sem privatizar empre- cial, contribuindo para que a
sas ou aderir a outros princípios neoliberais. A “receita” neoliberal não era, portanto, a população reagisse elegendo
única via para o crescimento econômico sustentável. líderes de oposição que pro-
Na América Latina, a reação popular aos efeitos da política neoliberal foi eleger moveram políticas focadas
líderes que prometiam políticas públicas voltadas aos mais pobres e aos grupos discrimi- nos mais pobres.
nados. Entre esses líderes estavam Evo Morales (na Bolívia), Néstor e Cristina Kirchner (na Professor, os conteúdos
Argentina), Tabaré Vázquez (no Uruguai), Rafael Correa (no Equador), Michelle Bachelet e as atividades desta página
(no Chile), Fernando Lugo (no Paraguai) e Luiz Inácio Lula da Silva (no Brasil); já o México, pretendem contribuir para o
a Colômbia e o Peru, mantiveram-se com governos neoliberais conservadores. desenvolvimento da habilida-
de EF09HI34.
Os novos governantes atenderam – ainda que parcialmente – às demandas das
camadas populares por melhores condições de vida e adotaram políticas inclusivas que
contemplavam as populações marginalizadas (negras, indígenas, mulheres, LGBTQIA+,
autocensura entre professores e
ribeirinhos, entre outros). E, com esse olhar para a realidade, os governos populares con- pesquisadores.
seguiram também a redução da pobreza extrema em seus respectivos países.
[…]
Em 2008, no entanto, uma crise econômica, tendo como epicentro os Estados Unidos,
Considerando os três casos, a
impactou fortemente o mundo e contribuiu para a queda de governos populares e as influência liberal (ou neoliberal)
vitórias eleitorais de Mauricio Macri, na Argentina, em 2015; de Lenín Moreno, no Equador, foi mais marcante no Chile e, em
em 2016; de Sebastián Piñera, no Chile, em 2017; e de Jair Bolsonaro, no Brasil, em 2018. seguida, na Argentina. Em ambos
A adoção de políticas neoliberais por esses governos conservadores, somada às con- foram aprovadas medidas para
reduzir o papel do Estado no fi-
sequências dramáticas da pandemia da covid-19 sobre a economia mundial, acabou por
nanciamento à educação supe-
provocar maior concentração de renda, elevadas taxas de desemprego e aumento do rior, com a cobrança de taxas dos
trabalho informal e da pobreza extrema. alunos. […] No caso brasileiro,
chegou a ser planejada a cobran-
255 ça de taxas dos alunos, princípio
que foi incluído na Constituição
elaborada pelo primeiro governo
militar, em 1967, alterando dis-
13:26 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 255 docentes eram vistos como potencialmente 28/06/22 sus-
13:26 posição anterior que garantia a
peitos, já que os grupos e as ideias de esquerda gratuidade. No entanto, o projeto
Brasil, Argentina e Chile: uma análise tinham facilidade para circular nesses espaços. foi abandonado por decisão polí-
comparativa […] Por isso, também, a ênfase no controle da tica do comando militar, que não
Consideremos inicialmente os pontos comuns vida universitária e escolar, e as iniciativas rea- desejava oferecer às lideranças
às três ditaduras. Primeiro, os grupos que os mi- lizadas, notadamente no Brasil e na Argentina, estudantis uma poderosa ban-
litares (e seus aliados civis) percebiam como ini- para divulgar valores conservadores entre os jo- deira de luta. […]
migos eram, essencialmente, os mesmos, o que, vens, em especial o patriotismo autoritário e a MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As políticas
a propósito, criou condições para o estabeleci- moralidade cristã. De maneira assemelhada, os universitárias das ditaduras militares do Brasil,
três Estados censuraram ideias e publicações, da Argentina e do Chile. In: MOTTA, Rodrigo
mento de colaboração entre os respectivos apa-
Patto Sá (org.). Ditaduras militares: Brasil,
ratos repressivos. Do ponto de vista da repressão, criando ambiente de insegurança que deses- Argentina, Chile e Uruguai. Belo Horizonte:
as instituições universitárias, os estudantes e os timulou o trabalho investigativo e fomentou a Editora UFMG, 2015. p. 53-55.
255

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 255 31/08/22 10:21


ENCAMINHAMENTO
• Reservar um tempo para com-
partilhar os comentários dos 1. a) Queriam dizer que era necessário livrar o Brasil do comunismo.

ATIVIDADES
1. b) Uma medida, com força de lei, impos-
alunos sobre o golpe de 1964 ta por um governo sem que a população ou
NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

e mediar eventuais conflitos os poderes Legislativo e Judiciário tenham si-


relacionados a possíveis di- do consultados.
vergências de ponto de vista. 1. c) Sim, pois ao eleger o comunismo como inimigo no 1 da nação,
o governo Castelo Branco declarou sua opção pelo bloco capitalis-
Professor, as atividades desta ta, liderado então pelos Estados Unidos.
página favorecem o desenvolvi-
I. Retomando

AGÊNCIA O GLOBO
mento da habilidade EF09HI19,
na medida em que facilitam a
percepção do processo que re-
sultou na ditadura e os mecanis-
1 Leia a manchete do
jornal O Globo, de 7 de
mos de que ela se utilizou para
abril de 1964.
legitimar seu poder (a exemplo
a) O que os militares
dos Atos Institucionais). queriam dizer com “des-
comunizar” o país?
b) O que significa a expres-
2. Retomar com os estudantes são “Ato Institucional”?
o perfil civil-militar do golpe de c) Essa manchete do jornal
1964. Diz-se civil-militar por- O Globo pode ser con-
que contou com a participação siderada um indício do
de governadores de Estado, a alinhamento do governo
exemplo de Magalhães Pinto Castelo Branco a uma
(MG), que autorizou o movi- das superpotências da
mento de tropas, e de Ademar época? Justifique.
de Barros, que declarou seu
apoio ao golpe; do presidente
2 Leia o texto a seguir com atenção.

do Congresso Nacional, Auro de Os civis e militares que derrubaram João Goulart, em 1964, impuseram-se pela força,
Moura Andrade, que declarou mas procuraram fazer com que seu poder parecesse legítimo, por meio de atos
vago o cargo de presidente, institucionais. O primeiro Ato Institucional (AI-1) permitia ao presidente suspender
embora João Goulart estivesse direitos políticos por dez anos e cassar mandatos de parlamentares.
em território brasileiro, onde a) Com base no texto, qual o significado de: 2. a) Direitos políticos: direito de votar e ser vota-
permaneceu até 4 de abril. do. Cassação de mandatos parlamentares: retirar
• direitos políticos; dos parlamentares seus direitos políticos.
Vale mencionar também, as • cassação de mandatos parlamentares. 2. b) Resposta pessoal.
Marchas da Família com Deus b) Elabore um comentário sobre o golpe de 1964, aplicando esses dois conceitos.
pela Liberdade ocorridas em
várias cidades brasileiras e que 3 Copie no caderno a alternativa correta sobre a política econômica de Castelo
mobilizaram pessoas de dife- Branco. 3. Alternativa B.
rentes grupos sociais. a) Cortou os gastos públicos, aumentou a arrecadação e beneficiou os assalariados.
b) Cortou os gastos públicos, diminuiu a inflação, mas sacrificou os assalariados.
c) Aumentou os gastos públicos e a inflação, desequilibrando as contas do governo.
d) Não influenciou o resultado das eleições de 1965.
e) Influenciou o resultado das eleições, dando a vitória ao governo.

256

D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 256 28/06/22 13:26 D3_

256

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 256 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
4. a) A Passeata dos Cem Mil foi uma manifestação popular contra a ditadura civil-militar brasileira e foi or- Professor, as atividades
ganizada pelo movimento estudantil. Ocorreu em 26 de junho de 1968, na cidade do Rio de Janeiro, e contou desta página permitem o de-
com a participação de estudantes, artistas, intelectuais, entre outros setores da sociedade brasileira.
senvolvimento da habilidade
4 Observe a imagem da Passeata dos Cem Mil, ocorrida no Rio de Janeiro em 1968.
EF09HI20, pois possibilitam
conhecer e debater uma das

CPDOC JB/FOLHAPRESS
manifestações mais emble-
máticas da resistência demo-
crática, a Passeata dos Cem
Mil, e destaca a participação
das mulheres nessa luta e suas
principais reivindicações à
época.
A mensagem principal da
canção “Pra frente, Brasil” é
a união de todos em torno da
Seleção Brasileira, e seus feitos
(Copa de 1970), que, por meio
As mulheres que aparecem de mãos dadas em primeiro plano, da esquerda para a direita, são as atrizes de uma campanha publicitária
Eva Tudor, Tônia Carrero, Eva Wilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Benguell. Rio de Janeiro (RJ), 1968.
ufanista, Médici buscou trans-
a) Qual era o objetivo da Passeata dos Cem Mil? Quem participou? formar em uma vitória de seu
b) A participação das mulheres foi tão importante para a resistência democrática que o cartunista governo. A música contribuiu,
Ziraldo usou a expressão “Mulheres do meu tempo” em tom elogioso. Por quais motivos elas assim, para implementar a
lutavam? 4. b) As mulheres daqueles tempos lutavam por espaço no mercado de estratégia oficial do governo
trabalho, na política, pela liberdade de ser o que quisessem, de se vestir Médici: a união de todos os
5 Leia a letra da música. a seu modo, de ir e brasileiros – sem divisões e/ou
“Noventa milhões em ação de vir. Nessa pas-

GRAVADORA RGE
seata lutavam pela divergências ou contestações
Pra Frente, Brasil liberdade, pela de- em torno de suas propostas e
Do meu coração mocracia e pelo práticas.
fim da censura. Por
Todos juntos, vamos isso, Ziraldo mani- A música de Miguel Gusta-
Pra Frente, Brasil festou orgulho por vo, que acompanhou a vitória
essas mulheres. da Seleção Brasileira de Fute-
Salve a Seleção!
De repente é aquela corrente pra frente bol em 1970, ultrapassou as
Parece que todo o Brasil deu a mão barreiras do tempo e possivel-
Todos ligados na mesma emoção mente é conhecida por uma
Tudo é um só coração!
parte dos estudantes. Reto-
mar com a turma símbolos na-
Todos juntos, vamos
cionais que promovem o senti-
Pra frente Brasil, Brasil
mento de identidade e união,
Salve a Seleção!”
e destacar o papel da música
GUSTAVO, Miguel. “Pra frente, Brasil”. In: AQUINO, Rubim
Santos Leão de. Futebol: uma paixão nacional. Fac-símile da capa do disco Pra frente, Brasil, como propaganda política.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 94. produzido para a Copa de 1982. Comentar com os estudantes
a) Qual a mensagem principal explícita na letra da música? outro exemplo da época: “Eu
b) Em que contexto essa canção foi composta? te amo, meu Brasil”, da dupla
c) Por que muitos jovens aderiram à luta armada contra a ditadura e como eles agiam? Don e Ravel, que também foi
5. a) A canção apresenta elementos que indicam a integração nacional: “Noventa milhões em ação” (a população estima- utilizada pelo governo Médici
da do país à época); “Todos juntos”; “corrente”; “Todo o Brasil deu a mão”; “Todos ligados na mesma emoção”.
5. b) e c) Respostas no Manual do Professor.
257 para fins políticos.

13:26 5. b) O país vivia a euforia do ”milagre econômico” e o título


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 257 5. c) Os grupos de guerrilha
28/06/22 13:26 acreditavam que conseguiriam
mundial contribuiu para aumentar o orgulho patriótico. As reunir forças para derrotar a ditadura pelas armas e implan-
altas taxas de crescimento econômico e as campanhas publi- tar o regime socialista no Brasil. Eles assaltavam bancos para
citárias do governo mostravam à população um Brasil prós- financiar sua luta. Os guerrilheiros julgavam que teriam o
pero e que possuía uma das maiores economias do mundo. apoio dos trabalhadores para os seus fins. Porém, isso não
Ao mesmo tempo, o governo Médici intensificava o uso da aconteceu e o governo saiu vitorioso. Muitos guerrilheiros
violência; censurava todas as formas de manifestação cultu- foram mortos, outros foram presos, e outros foram exila-
ral e política contrárias ao governo. Muitos artistas, políticos, dos. Em 1973, a guerrilha tinha sido extinta do território
estudantes eram forçados a deixar o país para fugir da perse- nacional.
guição da ditadura.

257

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 257 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
6. Após a análise da tabela, 6. b) Internamente, uma política de incentivos fiscais que atraía os investidores, concedendo-lhes facilidades para
atuar no Brasil; e uma política trabalhista que comprimia os salários dos trabalhadores de baixa renda. Externamen-
relembrar os alunos que o te, o crescimento da economia dos países desenvolvidos com os quais o Brasil mantinha comércio, por exemplo,
crescimento do PIB não se tra- 6 Observe a tabela com atenção. os Estados Unidos, progrediu a uma taxa média de 4,5% ao ano.
duz, necessariamente, em me- 7. b) Porque Chico Buarque era um compositor visado pela censura da ditadura civil-militar e já tinha tido problemas com ela. Era, en-
fim, uma maneira de fazer a letra passar pela censura. O “milagre” brasileiro
lhoria na qualidade de vida,
principalmente em países com Exportações Importações Dívida externa
Crescimento
Ano Inflação (%) (em bilhões (em bilhões (em bilhões
estruturas desiguais de dis- do PIB (%)
de dólares) de dólares) de dólares)
tribuição de renda, como é o
caso do Brasil. 1968 10 27 1,9 1,9 3,8
1969 10 20 2,3 2 4,4
7. c) Comentar que na indús-
tria os salários dos técnicos, 1970 10 16 2,7 2,5 5,3

profissionais administrativos e 1971 11 20 2,9 3,2 6,6


da gerência cresciam, já os dos 1972 12 20 4 4,2 9,5
trabalhadores das linhas de 1973 14 23 6,2 6,2 12,6
produção permaneciam com- Fonte: PRADO, Luiz C. D.; SÁ, Fábio. O “milagre” brasileiro: crescimento acelerado, integração internacional e concentração
de renda (1967-1973). In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida N. O tempo da ditadura: regime militar e
primidos. movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. v. 4, p. 223.

a) De acordo com a tabela e seus conhecimentos sobre o assunto, pode-se afirmar que o milagre
econômico foi uma combinação de: 6. a) Alternativa I.
+ATIVIDADES I. um crescimento da economia em cerca de 11% ao ano, uma inflação relativamente baixa
O compositor Chico Buar- e um aumento considerável do comércio exterior.
que possui um vasto repertó- II. um crescimento da economia menor do que 10%, uma inflação relativamente baixa e uma
rio de canções que de alguma diminuição do comércio exterior.
forma contestam e relatam III. um crescimento da economia em torno de 11%, uma inflação estratosférica e uma balança
diferentes aspectos da vida comercial negativa.
social naquele período. Trazer IV. um crescimento da economia por volta de 11%, taxas de inflação reduzidas e quedas
constantes no comércio exterior.
para a sala de aula a canção
b) A maioria dos historiadores concorda que o milagre econômico ocorreu por fatores internos
“Apesar de você” e promover
e externos. Quais foram esses fatores?
uma análise coletiva da letra 6. c) A indústria de bens de consumo duráveis.
c) Qual foi o setor da indústria que mais cresceu durante o chamado “milagre econômico”?
e do contexto no qual foi es-
d) Diferencie indústria de bens de consumo duráveis de indústria de bens de capital.
crita. Lembrar a turma que,
muitas vezes, a crítica não era 7 Leia um trecho do samba “Milagre brasileiro”, de Julinho da Adelaide (pseudônimo
feita de forma explícita. de Chico Buarque), e responda: 7. c) O crescimento da economia brasileira na épo-
7. a) O artista usou ca do “milagre econômico”
Cadê o meu, ó meu? linguagem colo- É o verdadeiro boom não beneficiou as camadas
TEXTO DE APOIO Dizem que você se defendeu quial que, por ser Tu tá no bem bom mais pobres e assalariadas
É o milagre brasileiro de fácil compreen- Mas eu vivo sem nenhum da população.
O “milagre” brasileiro são, poderia atingir
Quanto mais trabalho um maior número [...]
O milagre econômico foi pro-
Menos vejo dinheiro de pessoas. Exemplo: “Cadê o meu, ó meu?” (dinheiro); “Tu tá no bem bom”
duto de uma confluência histó- (situação favorável); “Mas eu vivo sem nenhum” (dinheiro).
rica, em que condições externas MILAGRE brasileiro. Intérprete: Miúcha. Compositor: Julinho da Adelaide. In: MIÚCHA - 1980.
favoráveis reforçaram espaços Produção: Miúcha, Piii e Novelli. [S. l.]: RCA Victor, 1980. 1 LP, faixa 6.

de crescimento abertos pelas re- a) Que linguagem o compositor usou nessa canção? Cite versos que expressem isso.
formas conservadoras no governo b) Por que Chico Buarque assinou a música como Julinho da Adelaide?
Castelo Branco. Mas foram a ideia c) Interprete o trecho “Tu tá no bem bom / Mas eu vivo sem nenhum”, tendo por base a economia.
da legitimação pela eficácia, con- 6. d) Indústria de bens de consumo duráveis: bens que podem ser usados muitas vezes e por um longo
cepção positivista que permeava
o imaginário dos militares e seus
258 período de tempo, a exemplo de eletrodomésticos e automóveis. Indústria de bens de capital: bens que
servem para a produção de outros, como máquinas, equipamentos etc.
aliados, e, ainda, o nacionalismo
das Forças Armadas brasileiras que
fizeram inevitável a opção pelo doAV_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd
grande boom de 25 anos 258 do pós-guerra, que inclusive o poderoso Delfim Neto. O novo governo 20/08/22 14:51 D3_

crescimento, em lugar da constru- seria substituído por um longo período em que a navegaria em um mundo mais turbulento e seria
ção de uma ordem liberal, como economia mundial se manteve muito mais hostil obrigado a voltar a escolher entre estabilização
fazia a vizinha Argentina. […] ao crescimento de países em desenvolvimento, e crescimento […] capitalista. […]
Em fins de 1973, depois de um como o Brasil.  EARP, Fábio Sá; PRADO, Luiz Carlos Delorme. O “milagre”
conflito árabe-israelense no Orien- Apesar do excepcional desempenho econômico, brasileiro: crescimento acelerado, integração internacional
e concentração de renda (1767-1973). In: FERREIRA,
te Médio, a Organização dos Países Médici não fez seu sucessor. Mas também seu Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). O Brasil
Produtores de Petróleo (Opep) reta- governo, que se encerrou no alvorecer da crise republicano: o tempo da ditadura. Rio de Janeiro: Civilização
liou os EUA e os países europeus, internacional, não foi obrigado a tomar decisões Brasileira, 2009. v. 4. p. 233-235.
que teriam apoiado Israel, quadru- difíceis. O novo presidente, Ernesto Geisel, era
plicando o preço do petróleo. Esses um aliado do grupo castelista e substituiu os
acontecimentos marcaram o fim mais importantes ministros da era do milagre,
258

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 258 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
8. c) Os lenços brancos que
as Mães da Praça de Maio uti-
lizavam na cabeça representa-
8 Observe a fotografia a seguir, das Mães da Praça de Maio.
vam as fraldas de seus filhos e
filhas desaparecidos.

STF/AFP
Imagens em movimento
Reportagem sobre as Mães
da Praça de Maio.
• MÃES da Praça de Maio com-
pletam 40 anos. 2017. Vídeo
(1min41s). Publicado pelo ca-
nal AFP Português. Disponível
em: https://www.youtube.
com/watch?v=G8-t8jDiAUs.
Acesso em: 4 jul. 2022.
Conferência de imprensa
com Estela Carlotto, uma das
Avós da Praça de Maio que
acabara de encontrar seu neto
Membros da organização de direitos humanos Mães da Praça de Maio seguram uma faixa
reivindicando seus filhos e filhas desaparecidos antes de marchar do Congresso para o Palácio
desaparecido.
Presidencial. Buenos Aires (Argentina), 28 de outubro de 1982. • ARGENTINA: Avó da Praça
8. a) As Mães da Praça de Maio eram mulheres argentinas que, de Maio encontra neto desa-
a) Quem eram as Mães da Praça de Maio? inicialmente, circulavam pela Praça de Maio, com lenço branco
parecido durante a ditadura.
b) Qual era o objetivo dessas mães? na cabeça, em protesto contra o desaparecimento de seus filhos.
2014. Vídeo (1min21s). Pu-
c) Um símbolo importante entre as Mães da Praça de Maio é o lenço branco amarrado na cabeça. blicado pelo canal euronews
Em sua opinião, o que esse lenço representava? 8. c) Resposta pessoal.
(em português). Disponível
9 Em relação às ditaduras militares na América do Sul, como a da Argentina, avalie as em: https://www.youtube.
afirmações a seguir. com/watch?v=EAGGlU7-P-
I. Em 1973, Juan Perón foi eleito e, no ano seguinte, veio a falecer. Sua esposa, Isabelita Perón, Vs. Acesso em: 4 jul. 2022.
não conseguiu alavancar a economia do país nem conquistar o apoio popular que o esposo Reportagem sobre a histó-
tinha, fato que abriu o caminho para um novo golpe de Estado; assumiu o poder, então, uma ria política da Argentina.
junta presidida pelo general Jorge Rafael Videla.
• ARGENTINA: história polí-
II. Na Argentina, Juan Domingo Perón estava no poder quando sofreu um golpe de Estado e
foi substituído pela ditadura do general Jorge Rafael Videla. tica. 2010. Vídeo (3min40s).
III. A ditadura argentina do general Videla foi uma das mais violentas e repressoras. Foram
Publicado pelo canal Jorna-
formados centros especializados em tortura e campos de extermínio. Na resistência à dita- lismo TV Cultura. Disponível
dura militar, estavam as Mães da Praça de Maio, movimento social das mães cujos filhos em: https://www.youtube.
estavam desaparecidos. c o m / w a t c h ? v = a X x X We -
Vl3iQ. Acesso em: 5 jul. 2022.
Copie no caderno a alternativa correta, sendo V para as verdadeiras e F para as falsas.
a) V, F, V 9. Alternativa A. c) F, V, F Dica de leitura
b) V, V, V d) F, V, V Resumo dos antecedentes e
8. b) Elas reivindicavam pela vida dos detentos políticos e por notícias de seus filhos desapareci-
das principais características e
dos por ação do governo militar argentino.
259 fatos históricos que marcaram
a ditadura civil-militar na Ar-
gentina (1976-1983).
14:51 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 259 raptadas ainda grávidas ou com bebês28/06/22
recém-
13:26
• HISTÓRICO da ditadura civil-
-nascidos. Com o tempo, outras mulheres que
militar argentina. Memória e
As avós da Praça de Maio passavam por semelhante situação aderiram ao
grupo, até se firmarem como uma organização Resistência na América Latina.
As “Avós da Praça de Maio” constituem uma São Paulo, [20--]. Disponível
proativa e com objetivos delimitados: as Abue-
organização não governamental fundada na em: https://paineira.usp.br/
las de Plaza de Mayo. Suas investigações cons-
Argentina em 1977, um ano após o golpe de memresist/?page_id=239.
tataram que, dentre as mais de 30.000 pessoas
Estado liderado pelo então general Jorge Rafael
desaparecidas, 500 eram crianças [...]. Acesso em: 4 jul 2022.
Videla. [...]
SALIGNAC, Luana Gonçalves. Justiça de transição: as “Avós da
Em 22 de outubro de 1977, 12 mães reuniram- Praça de Maio” como instrumentos do direito à identidade e à
-se pela primeira vez na Praça de Maio, em Bue- verdade histórica argentina. Revista Transgressões, Natal, v. 5,
nos Aires, alegando que suas filhas haviam sido n. 2, p. 53-68, out. 2017. p. 54.
259

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 259 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Debater com os alunos a
existência da censura prévia
durante a ditadura civil-mi-
litar; peças teatrais, filmes,
II. Leitura e escrita em História
canções tinham de passar pela
censura.
Vozes do passado
• Reforçar que a censura era Leia o trecho de um depoimento do produtor cultural Tutti Maravilha.
local e variava com o humor e Na época a gente estava em ditadura. [...]. Então tinha aquela história de o roteiro do
o entendimento dos censores show, o que ia tocar, ser cantado; o texto, quando era teatro, tinha que passar pela censura
de cada estado. Daí o exem- local, então eu levava isso na censura, eles carimbavam, liberado, ia para o teatro, tinha
plo citado no texto: no Rio, o que fazer o ensaio. A coisa chata da ditadura, que eu vi nessa época de produção, era isso:
trecho de Os três vinténs, do que a gente tinha que fazer o show de tarde, antes da estreia, para os censores – que eram
dramaturgo Bertold Brecht, dois, era uma mulher e um outro – ficavam sentados com a plateia vazia e você tinha que
pôde ser interpretado por Ma- fazer o show inteirinho. Era assim. [...] Eu lembro, teve um caso... foi Marília Pêra [...]. Bom,
rília Pêra; em São Paulo, não. ela cantava "Os três vinténs", de Brecht, um pedacinho, você acredita que

FOLHAPRESS/FOLHAPRESS
eles cortaram? É. Não podia cantar no show. Ela falou: “O que é isso?”.
E assim... Cada local tinha uma Censura, ela falava: “Tutti, eu estou
Vozes do passado cantando, cantei isso no Rio, já fiz esse show no Rio”. Aqui não podia.
MACHADO, Ailton José (Tutti Maravilha). Um suspeito censor. [Entrevista cedida a] Lucas Torigoe.
b) Professor, orientar os estu- Museu da Pessoa. Belo Horizonte, 23 set. 2019. Disponível em: https://acervo.museudapessoa.org/pt/
conteudo/historia/um-suspeito-censor-166732. Acesso em: 19 abr. 2022.
dantes ao longo da discussão,
estimulando-os a justificarem
suas opiniões. É importante Artistas usam as escadas do Theatro Municipal de São Paulo como palco
que a turma compreenda que do protesto da classe teatral contra a censura. São Paulo (SP), 1968.
as censuras prévias são contrá-
a) Tomando-se por base a leitura do texto, o que se pode inferir sobre a liberdade de criação e
rias à democracia, cujo ideário
expressão durante os tempos da ditadura?
é pautado na liberdade de ex-
b) Em dupla. Reflitam, debatam e opinem sobre a existência de uma censura prévia aos shows
pressão e de opinião. musicais, filmes e espetáculos teatrais em uma sociedade. b) Resposta pessoal.
Escutar e falar. A proposta
desta atividade é levar o es-
ESCUTAR E FALAR
tudante a se colocar no lugar
daqueles que viveram sob a Imagine que você vivesse em um uma época em que suas mensagens pelo celular
ditadura e os efeitos desse ins- sofressem censura prévia e na qual os conteúdos em plataformas de streaming também
trumento de cerceamento da fossem controlados por censores. Como você se sentiria?
liberdade de expressão sobre Ensaie e prepare-se para falar sobre esse assunto para os colegas e o professor.
suas vidas. Esse esforço ima- a) Pode-se inferir que havia severa
Autoavaliação. Responda em seu caderno. censura a canções em geral e a tex-
ginativo de como seria haver tos para teatro. Nessa arte, a peça
censura prévia às mensagens a Expressei minhas ideias com objetividade? era apresentada aos censores antes
vinculadas na atualidade pelo b Usei tom de voz e gestos adequados? da apresentação ao público. Além
disso, a censura variava de um lu-
celular – dispositivo móvel que c Escutei meus colegas com atenção e respeito? gar a outro, conforme o humor e o
os estudantes usam com mui- d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes? entendimento dos censores.
ta frequência e cotidianamen- e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
te –, pode ajudar no desen- f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?
volvimento da competência
específica 1, que estimula o
posicionamento do estudante 260
no mundo contemporâneo, e
da competência específica 3,
que incentiva o exercício da Dica de leitura
229a263-HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 260 +ATIVIDADES 24/08/22 09:12 D3_

empatia; ou seja, o colocar-se


Parte do acervo dos processos de censura Em grupo. Segundo o Ministério da Justiça
no lugar dos que viveram sob e a Secretaria de Direitos Humanos, os crimes
a censura prévia imposta pela prévia do teatro de São Paulo da hemerote-
ca Miroel Silveira. cometidos pelo Estado brasileiro durante a
ditadura. ditadura civil-militar não podiam ser absolvidos
• ARQUIVO Miroel Silveira. Observatório de pela Lei da Anistia. O que vocês pensam sobre
Comunicação, Liberdade de Expressão e o assunto? Produzam um pequeno texto com
Censura. São Paulo, c2018. Disponível em: a conclusão a que vocês chegaram.
• Temas Contemporâneos Transversais: esta
http://obcom.nap.usp.br/arquivo-miroelm.
atividade contribui para mobilizar o tema
php. Acesso em: 7 jul. 2022. cidadania e civismo, com foco em educação
em direitos humanos.
260

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 260 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre as descobertas
feitas pela Comissão Nacional
Vozes do presente da Verdade (CNV) instalada
pelo governo brasileiro em
2011 para apurar as violações
A Comissão da Verdade no Brasil dos direitos humanos pratica-
Em 18 de novembro de das sob a ditadura civil-militar.

ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA
2011, o governo brasileiro • Atentar para as fontes usa-
criou a Comissão Nacional das para a apuração dos fa-
da Verdade (CNV), com o tos: documentos escritos,
objetivo de apurar as res- atestados de antecedentes.
ponsabilidades pelos crimes • Lembrar aos alunos a im-
de tortura, assassinato e portância de usar diferentes
desaparecimento forçado fontes e crivá-las à luz do mé-
cometidos pelo Estado todo histórico para conse-
brasileiro contra seus opo- guir produzir uma versão da
sitores durante a ditadura história que seja crível.
civil-militar que vigorou no Professor, os fatos descri-
Brasil entre 1964-1985. tos pela Comissão Nacional
O objetivo era promo- da Verdade encontram-se na
ver a apuração das violações memória de muitos brasileiros
dos direitos humanos prati- Ato em memória aos presos políticos, mortos e desaparecidos que têm hoje mais de 60 anos.
cadas durante a ditadura no antigo DOI-Codi. São Paulo (SP), 2019. Memória pode ser entendida
para efetivar o direito à
como o modo como as pesso-
as se lembram ou se esquecem
memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.
dos fatos. Já a História pode
Em 2014, o relatório entregue pela CNV listou 377 pessoas como responsáveis pelas
ser vista como a crítica da me-
práticas de tortura e assassinatos durante a ditadura civil-militar brasileira. A apuração foi
mória. O relatório produzido
feita com base em documentos escritos, atestados de antecedentes, fichas individuais de pela CNV pode ser considera-
presos políticos, depoimentos de vítimas e testemunhas, incluindo policiais e militares que do um exercício semelhante
atuaram na repressão. A Comissão identificou os responsáveis, mas não tinha poder de ao fazer histórico.
puni-los. a) Resposta pessoal
a) Explique com suas palavras por que a Comissão Nacional da Verdade foi criada.
b) Identifique e comente os tipos de fonte utilizados pela CNV, mencionados no texto. https://www.youtube.com/
c) Em grupo. Convidem uma pessoa da comunidade que tenha entre 65 e 70 anos e façam watch?v=IopYU9RQID4.
uma entrevista com ela para descobrir como era viver nos tempos da ditadura. Acesso em: 11 jul. 2022.
c) Resposta pessoal Começar perguntando nome,
Sugestão de pauta da entrevista.
• Política: Quem escolhia os governantes? Havia manifestações populares nas ruas? idade, cidade em que nasceu,
• Cultura: Como eram as programações de TV da época? Soube de alguma obra (cinema, grau de escolaridade, onde es-
música, teatro) que foi censurada? Qual? Por quê? tudou ou lecionou, quais discipli-
• Economia: Como era a situação econômica da maioria da população? nas eram ministradas na escola.
• Educação: Como era composta a disciplina de Estudos Sociais criada à época? Essa disciplina Gravar a entrevista em áudio ou
ainda existe? Como era lecionar naquela época? vídeo; depois, transcrevê-la de
b) Depoimento de vítimas e testemunhas, incluindo militares e policiais; atestado de antecedentes políticos e modo mais fiel possível e com
sociais e fichas individuais de presos políticos nos órgãos de segurança, a exemplo do DOPS e do DOI-Codi.
261 respeito a fala do entrevistado.
Ao final, promover uma roda
de conversa para que os grupos
civil-militar não poderiam ser absolvidos apresentem seus trabalhos, e pe-
09:12 Vozes do presente
D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 261 28/06/22pela
13:26
dir aos alunos que se concentrem
Lei da Anistia.
a) A CNV foi criada em 18 de novembro de nas semelhanças e diferenças
c) Antes da realização da entrevista pelos entre as falas dos entrevistados.
2011 pelo governo brasileiro a fim de apu- estudantes, comentar sobre os cuidados ne-
rar as violações dos direitos humanos e seus Por fim, pedir à turma para que
cessários à realização de uma entrevista. Se exponha como foi a experiência
responsáveis durante a ditadura civil-militar. considerar pertinente, apresentar à turma
Segundo o entendimento da Secretaria dos de realizar tal atividade.
o vídeo:
Direitos Humanos e do Ministério da Justiça, • Interdisciplinaridade: essa
os crimes de assassinato, tortura e desapa- • COMUNICAÇÃO oral: gênero entrevista. atividade pode ser trabalhada
recimento cometidos pelo Estado brasileiro 2010. Vídeo (5min35s). Publicado pelo com a participação do profes-
contra seus opositores durante a ditadura canal Nova Escola. Disponível em: sor de Língua Portuguesa.
261

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 261 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
• Temas Contemporâneos
Transversais: o desenvolvi-
mento da seção permite apro-
fundar os temas cidadania e
#JOVENS NA Análise
civismo e multiculturalismo,
à medida que reconhece a
HISTÓRIA docume
ntal
importância da educação para
valorização das matrizes bra-
sileiras e trabalha o direito PASSO 1 Ler

UNICEF
da criança e do adolescente.
O direito às raízes
• Incentivar a pesquisa para que
O tewte pendurado no pescoço e o vipuki no
os alunos conheçam os direi- rosto de Rosane Martins, de 16 anos, reafirmam
tos que possuem enquanto suas origens. “Fui eu mesma que fiz, sou uma das
cidadãos que, entre muitos artesãs da aldeia”, fala com orgulho. A adolescente
outros, estão a liberdade de é parte do povo indígena puyanawa, que significa
escolher a própria religião e gente do sapo grande, situado a 17 km do município
manifestar sua cultura, ainda de Mâncio Lima, no Acre. “Nosso povo foi sofrido
no passado. Tivemos nossa cultura praticamente
eu seja minoritária no lugar
destruída e hoje estamos tentando resgatá-la”,
onde vivem. conta. Com apenas 16 anos, Rosane busca reviver
• Aproveitar o tema para refor- a história de seu povo e levar esse legado para
çar o papel de toda sociedade outros adolescentes da própria comunidade.
na garantia desses direitos, Como protagonista na aldeia, foi uma dos
o que passa pela necessida- 53 adolescentes selecionados em todo o Brasil
para construir um manifesto em celebração aos
de de inibir intimidações em Fac-símile da capa do livro 30 anos
30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança, da Convenção sobre os Direitos da
ambiente escolar. e foi até Brasília para representar as crianças Criança: avanços e desafios para
indígenas. meninas e meninos no Brasil.
[...]
[...] Filha de um dos líderes, cresceu com o direito à sua cultura latente na família.
Imagens em movimento Seus pais estão entre as primeiras pessoas que tiveram o pensamento de resgatar a
Reportagem sobre os 30 anos cultura puyanawa por meio da espiritualidade, trabalhando para resgatar a música, a
da Convenção dos Direitos da história e a arte do passado.
Criança. Tanto assim que é moradora da única casa de palha da comunidade, mantida por
seu pai, que almeja manter a tradição.
• DIREITO sem Fronteiras – Cursando o 2o ano do ensino médio, Rosane estudou a vida inteira na escola
Os 30 anos da Convenção indígena da sua comunidade. Para ela, a sua escola é bastante representativa da
dos Direitos da Criança. cultura do povo puyanawa, começando por ter “estrutura de desenho indígena e ser
2020. Vídeo (27min20s). toda de tábua”, como descreve. [...]
Publicado pelo canal TV [...] é assim que Txukukayti [nome indígena de Rosane] luta e se dedica a mostrar
Justiça Oficial. Disponível para outros adolescentes a importância de manter a cultura de seu Tewte: colar,
povo. E essa representatividade a levou longe: foi da aldeia à capital na língua
em: https://www.youtube. indígena
federal.
com/watch?v=l93mD5rbQ7k. [...] puyanawa.
Acesso em: 5 jul. 2022. Fora do Acre pela primeira vez, a adolescente viajou a Brasília Vipuki: nome
da pintura
Vídeo da Unicef sobre a representando sua cultura, suas tradições e para dizer: crianças indí-
feita no rosto.
participação de adolescentes genas também têm voz.
brasileiros na convenção sobre
os Direitos da Criança. 262
• MANIFESTO Carta de Brasília
nos 30 anos da Convenção
sobre os Direitos da Criança. TEXTO DE APOIO
AV_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 262 30/06/22 16:51 D3_

2019. Vídeo (2min44s).


A Convenção sobre os Direitos da Criança é o tratado mais amplamente aceito na história uni-
Publicado pelo canal Unicef versal. Também é o mais abrangente de todos os instrumentos legais em favor da promoção e da
Brasil. Disponível em: proteção da criança. Sua aprovação pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro
https://www.youtube.com/ de 1989, impactou legislações, programas e políticas no mundo todo, mudando a vida de milhões de
watch?v=1i5rm-UMmz4. crianças e adolescentes. Este livro analisa como sua adoção alterou o dia a dia da população brasilei-
ra, relata os avanços e discute os desafios que ainda precisam ser enfrentados. [...]
Acesso em: 5 jul. 2022.
Ao longo dos últimos 30 anos, a Convenção sobre os Direitos da Criança mudou o modo como
a criança é vista e tratada em todas as partes do mundo. Também gerou impacto em legislações
nacionais e internacionais e em programas e políticas.
30 ANOS da Convenção sobre os Direitos da Criança: avanços e desafios para meninas e meninos no Brasil. São Paulo: Fundo das
Nações Unidas para a Infância, 2019. p. 5, 7.
262

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 262 26/08/2022 17:34


ENCAMINHAMENTO
d) A jovem Txukukayti
(nome de Rosane na língua
Chegar à capital foi uma surpresa. “Tudo é diferente daqui pra lá. Barulho de puyanawa, que significa flor
carros, clima diferente, conhecimento novo e gente nova”, diz. Apesar das diferen-
de jardim) está reivindican-
ças, Rosane estava motivada em participar do encontro promovido pelo Unicef com
53 adolescentes do Brasil inteiro. Cada um levou sua voz para construir a Carta
do o direito às suas raízes, ou
de Brasília, manifesto resultado de três dias de imersão, que celebra os 30 anos da seja, ao modo de viver e estar
Convenção sobre os Direitos da Criança, mas também lembra dos desafios que ainda no mundo dos puyanawa.
devem ser enfrentados. e) Orientar a turma no mo-
[...] mento da pesquisa. Se necessá-
rio, fazer algum recorte no do-
O DIREITO às raízes. Unicef Brasil. Brasília, DF, 20 nov. 2019.
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/historias/o-direito-as-raizes. Acesso em: 23 mar. 2022. cumento, selecionando alguns
artigos para conduzir a análise
a) Ela é uma jovem pertencente ao povo puyanawa, nativo do Acre. documental. O que importa
PASSO 2 Questionar b) Ela exibe com orgulho elementos da cultura material do seu po- nesta atividade é fazer com
vo, a pintura (vipuki) e o tewte, um colar que traz no pescoço e que os grupos possam associar
a) Quem é Rosane Martins ou Txukukayti? foi feito por ela. A menina orgulha-se de ser artesã de seu grupo.
o sentido do documento em
b) Que elementos permitem inferir que a jovem puyanawa se identifica como indígena?
relação à proteção dos direitos
c) Por que a jovem foi escolhida para ir a Brasília representar as crianças indígenas na elaboração de um humanos com marcos históri-
manifesto? c) Por seu propósito de resgatar e divulgar a his-
tória, a música e a cultura material e imaterial do cos da época em que foi criado:
d) Você considerou o título do texto adequado? Justifique. queda do Muro de Berlim em
povo puyanawa, ao qual ela própria pertence.
d) Resposta pessoal.
1989 (Alemanha), a promulga-
PASSO 3 Pesquisar e agir Respostas pessoais. ção da Constituição da Repú-
blica de 1988 (Brasil, conside-
e) Em grupo. Pesquisem sobre A Convenção dos Direitos da Criança e sobre o documento de comemoração rada a Constituição Cidadã),
dos 30 anos dessa Convenção. Façam um levantamento sobre as seguintes informações: quem produziu ambos marcando o início de
os dois documentos? Para quem a Convenção foi escrita? Em que contexto? Quais são as palavras mais processos políticos democrá-
encontradas no documento? Quais são os objetivos da Convenção? Ela contribuiu para um maior respeito ticos pelo mundo, com forte
aos direitos da criança? A Convenção tem mais de 30 anos. Ela ainda é importante nos dias de hoje? Se
prevalência da proteção dos
sim, por quê?
direitos humanos, liberdade e
f) Em seguida, organizem as respostas e elaborem um relatório analisando e comparando os documentos dignidade da pessoa humana.
citados. Considerem as informações que vocês já possuem e as novas informações encontradas nos
documentos. Orientar os grupos a com-
pararem os dois documentos
e verificar se eles são capazes
PASSO 4 Apresentar e publicar Resposta pessoal. de identificar os avanços e/ou
retrocessos da Convenção nos
g) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais e marquem a postagem com a #jovensnahistória.
tempos atuais.
f) Orientar os alunos a esta-
PASSO 5 Avaliar Respostas pessoais. belecerem relações entre as
informações encontradas no
h) Realizei as tarefas a que me propus? documento ou externas, com
i) Cumpri os prazos combinados? o auxílio das explicações do
j) Expressei minhas ideias com objetividade? professor ou de outras obras
k) Escutei meus colegas com atenção e respeito? de consulta. Retomar o texto
l) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes? para uma última leitura para
m) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento? que os alunos possam verificar
as mudanças ocorridas duran-
263 te o percurso da atividade até
o resultado final.

16:51 Sugestão de materiais para pesquisa


D3_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-LA-G24.indd 263 • O DIREITO às raízes. Unicef
28/06/22 13:26 Brasil. Brasília, DF, 20 nov. 2019.
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/historias/o-direito-
• 30 ANOS da Convenção sobre os Direitos da Criança: avanços
as-raizes. Acesso em: 7 jul 2022.
e desafios para meninas e meninos no Brasil. São Paulo: Fundo
das Nações Unidas para a Infância, 2019. Disponível em: https:// • GALVÃO, Priscila Kelida Assis; SILVEIRA, Telma Aparecida
www.unicef.org/brazil/media/6276/file/30-anos-da-convencao- Teles Martins; BARBOSA, Ivone Garcia. A conquista do direito
sobre-os-direitos-da-crianca.pdf. Acesso em: 7 jul. 2022. das crianças à educação: da proposição à materialização.
• CONVENÇÃO dos Direitos da Criança. Unicef. [S. l.], 1989. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação,
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/convencao- Goiânia, v. 36, n. 3, p. 990-1009, set./dez. 2020.
sobre-os-direitos-da-crianca. Acesso em: 7 jul. 2022.

263

229a263_HIS-F2-2111-V9-U3-C12-MP.indd 263 31/08/22 10:21


INTRODUÇÃO
À UNIDADE
Quando lemos a Agenda 2030 UNIDADE

4
para o desenvolvimento susten-
tável, com seus objetivos e me-
tas, é inevitável pensar na soma
enorme de questões e desafios O MUNDO
que temos pela frente, individu-
almente e como humanidade. CONTEMPORÂNEO
Para se ter uma ideia da di-
mensão desses desafios, cha-
mamos a atenção para alguns
dos maiores: a redução das de-
sigualdades; saúde e bem-estar;
educação de qualidade; paz, No mundo atual, sob o nome de República (res = coisa; publica = do povo) há repú-
blicas que conservam práticas autoritárias e outras que abrem espaço para o exercício
justiça e instituições eficazes.
da cidadania.
No tocante às metas, vale No Brasil, desde quando foi proclamada, em 1889, a República conheceu alguns
ressaltar a educação em direitos períodos de autoritarismo e outros de maior participação popular. Independentemente
humanos, tema contemporâ- dessas oscilações, as lutas populares pela conquista e ampliação de direitos atraves-
neo transversal da macroárea saram toda a história republicana. Esse processo, porém, não foi progressivo, mas sim
cidadania e civismo; cultura entremeado por avanços e recuos, rupturas e permanências, como mostram as imagens
da paz e não violência; valori- desta abertura de unidade.
zação da diversidade cultural;
ambientes de aprendizagem

CASSANDRA CURY/PULSAR IMAGENS


não violentos e a eliminação
da violência contra a mulher
e de práticas discriminatórias.
Esses objetivos e metas podem
ser melhor compreendidos e de-
batidos em sala de aula, em cone-
xão com os temas desta unidade
que tratam da história do Brasil
e do mundo contemporâneo.
Nas páginas de abertura de
unidade, vamos citar exemplos
da articulação entre objetivos, Mulheres kayapó participam da 2a Marcha Nacional das Mulheres Indígenas. Brasília (DF), setembro de 2021.
habilidades e competências,
por acreditar que, ao longo Manifestação pelo Dia

ROBERTO SUNGI/FUTURA PRESS


da coleção, esse procedimento da Consciência Negra
na Avenida Paulista.
contribuirá para o importante
São Paulo (SP), 2021.
propósito de “transformar a
história em ferramenta a servi-
ço de um discernimento maior
sobre as experiências humanas
e as sociedades em que se vive”,
conforme sugere a BNCC (BRA-
SIL, 2018, p. 401).
Desenvolver as habilidades
EF09HI22, EF09HI23, EF09HI24,
264
EF09HI25, EF09HI26, EF09HI27,
EF09HI32, EF09HI33, EF09HI34,
EF09HI35 e EF09HI36 a partir século XX e a questão do
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 264 terrorismo; o debate Objetivo: conhecer o Plano Real e seus des- 20/08/22 15:03 D3_

de temas como: a ditadura sobre pluralidades e diversidades identitárias dobramentos econômicos, sociais e políticos.
civil-militar e os processos de na atualidade; as pautas dos povos indígenas Este objetivo, e sua justificativa, articulam-se
resistência; questões indígena no século XXI; o combate a qualquer forma de às habilidades EF09HI24, EF09HI25 e EF09HI27,
e negra e a ditadura; o pro- preconceito e violência. às competências gerais 1, 2, 6 e 7 e às com-
cesso de redemocratização; a O desenvolvimento das habilidades é feito petências específicas 1,2, 3 e 6.
inserção do Brasil na era da de modo articulado ao das competências Objetivo: debater sobre os protestos contra
globalização. Além de temas gerais 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 e ao das a globalização. Este objetivo e sua justifica-
da história mundial, como: as competências específicas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7. tiva, articulam-se às habilidades EF09HI32 e
independências africanas; o fim Vejamos agora dois exemplos dessa arti- EF09HI33, às competências gerais 1, 2, 4, 6 e 7
da Guerra Fria, os conflitos do culação. e às competências específicas 1, 2, 3, 4, 6 e 7.
264

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 264 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Temas Contemporâneos
Transversais: o trabalho com
esta abertura de unidade mo-
biliza a macroárea temática
cidadania e civismo.

Imagens em movimento
Vídeo sobre os direitos das
mulheres.
• EMPODERAMENTO das mu-
lheres. 2016. Vídeo (2min37s).
Publicado pelo canal ONU
Mulheres Brasil. Disponível
em: https://www.youtube.
com/watch?v=6RSc_XYezig.

ANGYALOSI BEATA/SHUTTERSTOCK.COM
Acesso em: 25 jul. 2022.

Manifestação em defesa dos direitos da comunidade LGBTQIA+. Estados Unidos, 2020.

CHICO SANTIAGO/PREFEITURA DE OLINDA

vimentos da sociedade civil e o


desenvolvimento de marcos in-
ternacionais de direitos huma-
nos) têm implicações importan-
tes para a cidadania global. Vale
ressaltar que existem diferentes
abordagens ao conceito de cida-
Campanha pelo fim da violência doméstica contra as mulheres. Olinda (PE), 2009. dania global, como em que me-
dida ela amplia e complementa
265 a cidadania tradicional, defini-
da em termos de Estado-nação,
ou em que medida ela compete
com a cidadania tradicional.
15:03 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 265 sociais. Atualmente, as noções de cidadania na-
28/06/22 13:20
A cidadania global refere-se
cional variam de país para país, refletindo, as-
sim, diferenças de contexto político e histórico, ao sentimento de pertencer a
Educação para a cidadania global? uma comunidade mais ampla e
entre outros fatores.
O conceito de cidadania tem evoluído ao lon- a uma humanidade comum. Ela
Um mundo cada vez mais globalizado levanta enfatiza a interdependência e a
go do tempo. Historicamente, a cidadania não
questões sobre o que constitui uma cidadania interconexão política, econômi-
se estendia a todos – por exemplo, apenas ho-
significativa e suas dimensões globais. Embora ca, social e cultural entre os ní-
mens ou quem possuía propriedades podiam a noção de cidadania para além do Estado-na- veis local, nacional e global.
ser cidadãos. Durante o século passado, pas- ção não seja nova, as mudanças no contexto
sou-se gradualmente a uma compreensão mais ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS.
global (como o estabelecimento de convenções
Educação para a cidadania global:
abrangente da cidadania, sob a influência do e tratados internacionais; o crescimento de tópicos e objetivos de aprendizagem.
desenvolvimento dos direitos civis, políticos e organizações, empresas transnacionais e mo- Brasília, DF: UNESCO, 2016. p. 14.
265

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 265 26/08/2022 18:00


OBJETIVOS
• Refletir sobre a campanha
das Diretas Já e a prática da
CAPÍTULO

13
cidadania ativa na história
recente do Brasil.
• Discutir as políticas econômi-
BRASIL
cas do governo Sarney. CONTEMPORÂNEO
• Conhecer alguns tópicos
importantes da atual Cons-
tituição brasileira e refletir
sobre eles.
• Analisar criticamente o Pla-

BIA ALVES/FOTOARENA
no Collor.
• Debater ética na política.
• Conhecer o Plano Real e seus
desdobramentos econômi-
cos, sociais e políticos.
• Elaborar um balanço do go-
verno FHC e discutir o pro-
cesso de privatização.
• Analisar o governo Lula e de-
bater suas políticas sociais.
• Conhecer as propostas de
governo da presidenta Dil-
ma Rousseff.
• Compreender as razões das
manifestações de junho de
2013.
• Evidenciar o protagonismo
dos povos indígenas nas con-
quistas obtidas por eles no
presente.
• Analisar o governo de Mi-
chel Temer. Instalação artística produzida no dia da votação da Lei da Ficha Limpa. A fotografia mostra a praia de
Copacabana com vassouras, baldes, rodos e panos de chão. Rio de Janeiro (RJ), novembro de 2011.
• Refletir sobre o governo de
Jair Bolsonaro. 1. Qual é a relação dessa fotografia com a votação da Lei da Ficha Limpa?

Este capítulo tem o ob- 2. Você já ouviu falar dessa lei? Sabia que ela foi criada por meio de iniciativa popular?
jetivo de estimular a refle- 3. Sabia que ela teve a seu favor 1 milhão e 300 mil assinaturas de cidadãos de todo o Brasil?
xão dos estudantes sobre a 4. Sabia que ela impede a candidatura daqueles que foram condenados por compra de votos ou por corrupção?
história recente do Brasil e
Neste capítulo, você vai ter contato com a história recente do Brasil e com os desafios
os desafios a serem enfren-
tados, contribuindo, assim, que temos pela frente, inclusive o de enfrentar o “fantasma” da corrupção, presente há
para o desenvolvimento das muito tempo na vida social brasileira. Respostas pessoais.
competências e habilidades
propostas. 266

BNCC ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 266 que tem suscitado interesse e contribui para 28/06/22 13:20 AV_

o desenvolvimento do TCT cidadania e civis-


• Competências gerais: 1, 2, 3, A intenção é estimular a reflexão sobre
mo. A imagem ajuda-nos também a traba-
4, 5, 6, 7, 9 e 10. a corrupção, uma das maiores mazelas da
lhar a participação popular na gestação e
• Competências específicas: 1, história da República no Brasil. A Lei da Fi-
aprovação da Lei da Ficha Limpa.
2, 3, 4 e 7. cha Limpa, que entrou em vigor em outubro
de 2012, pode ser vista como um marco no • Comentar que a organização responsável
• Habilidades: EF09HI22,
combate à corrupção enraizada na cultura pela instalação retratada na fotografia
EF09HI23, EF09HI24, EF09HI25,
política brasileira. Essa reflexão inicial pode costuma utilizar esse tipo de intervenção
EF09HI26, EF09HI27, EF09HI34 e
ajudar a historiar e contextualizar o debate para debater temas políticos contempo-
EF09HI36.
em torno da falta de ética na política, tema râneos.
266

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 266 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Comentar que o cenário em
que o general Figueiredo
Governo João Figueiredo assumiu o governo era de
crise econômica, de inten-
sificação do movimento de
Em 1979, o presidente Ernesto Geisel indicou, como candidato da Arena à presidência,
resistência democrática e de
o general João Baptista de Oliveira Figueiredo, que foi então eleito presidente da República
reavivamento do movimen-
por meio de eleições indiretas.
to operário, tendo à frente
O presidente João Figueiredo, que

GOVERNO FEDERAL/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


o Sindicato dos Metalúrgicos
governou de 1979 a 1985, assumiu o de São Bernardo e Diadema.
poder em um momento em que o país
• Trabalhar com os estudantes
enfrentava grave crise econômica e as a noção de pluripartidaris-
manifestações de resistência ao regime mo e a formação dos novos
se intensificavam. Uma delas foi a greve partidos, a maioria dos quais
dos metalúrgicos do ABCD Paulista, que continuam presentes na po-
começou em 13 de março de 1979, lítica nacional.
dois dias antes da posse do presidente Professor, o sindicato que
Figueiredo. Inicialmente, os operários dirigiu as greves iniciadas em
exigiam reajustes de salários; mas, com 1979 tinha uma característica
a evolução do movimento, passaram a nova: não era nem subordina-
exigir também liberdades democráticas. A do ao Ministério do Trabalho,
liderança dessa greve coube ao Sindicato nem liderado por comunistas
dos Metalúrgicos de São Bernardo do ou pelos chamados pelegos
Campo e Diadema, presidido à época (agentes do governo que se
por Luiz Inácio da Silva, o Lula. infiltram nos sindicatos e fin-
Em 1979, no mês de novembro, o gem defender os interesses
governo Figueiredo aprovou o fim do
Fotografia oficial de João Figueiredo, dos trabalhadores). Seus di-
presidente do Brasil entre 1979 e 1985. rigentes tinham sido eleitos
bipartidarismo. Com isso, a Arena e
pelos próprios operários. Por
o MDB foram extintos e formaram-se novos partidos. Da Arena se formou o Partido
isso, esse movimento sindical,
Democrático Social (PDS);; o MDB deu origem a quatro novos partidos: o Partido do
nascido no ABCD Paulista, no
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB),, liderado por Ulysses Guimarães; o Partido final dos anos 1970, foi cha-
Popular (PP),, encabeçado por Tancredo Neves; o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB),, mado de “sindicalismo autô-
liderado por Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio Vargas; e o Partido Democrático nomo”.
Trabalhista (PDT),, fundado por Leonel Brizola. Em 1980, foi fundado também o Partido
dos Trabalhadores (PT),, que reunia sindicalistas, intelectuais e militantes de movimentos
sociais e era liderado por Lula. Imagens em movimento
No ano seguinte, dando continuidade à abertura “lenta e gradativa”, o governo resta- Documentário mostra de
beleceu as eleições diretas para governador. Em 1982, em meio à crescente impopularidade perto as greves dos metalúrgi-
da ditadura civil-militar, a oposição venceu as eleições para governador em estados como cos do ABC em 1979.
São Paulo (Franco Montoro – PMDB), Minas Gerais (Tancredo Neves – PMDB), Paraná (José • ABCda Greve. Direção: Leon
Richa – PMDB) e Rio de Janeiro (Leonel Brizola – PDT). E, a oposição, animada com esse Hirszman. São Paulo: Cine-
resultado, fortaleceu seu ideal de votar para presidente. mateca Brasileira, 1990. DVD
(86 min).
267

13:20 TEXTO DE APOIO


AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 267 Este relato, de um 30/06/22
dos participantes
16:52 da greve, explica o início
da paralisação na fábrica da Scania de São Bernardo do Campo,
“A greve nasceu de uma decisão espontânea do pessoal do diur-
em maio de 1978. Reivindicando um índice maior de reajuste e
no da ferramentaria. O pessoal do noturno estava saindo, quando
revoltados com a diminuição do número de horas pagas naquele
o turno do dia entrou e não ligou as máquinas. Ninguém começou
mês, os operários daquela empresa deram início a uma sequência
a trabalhar. Não se ouvia o menor barulho na fábrica... Das sete
até as oito horas nós ficamos de braços cruzados do lado das má- de greves que atingiu as diversas fábricas da área, todas seguindo
quinas sem fazer nada. Às oito horas chegou o gerente geral. Pelo modelo similar de paralisação e tendo como principal ponto de
que eu fiquei sabendo, ele olhou, viu que tinha luz, que os cartões pauta a elevação em 20% do índice de reajuste concedido pela
estavam marcados, mas que ninguém estava trabalhando. Achou Justiça do Trabalho, de 39%.
estranho, mas não pensou que era uma paralisação. Foi uma sur- MATTOS, Marcelo Badaró. O sindicalismo brasileiro após 1930.
presa!” Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 61-62.

267

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 267 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Contextualizar a emenda
Dante de Oliveira como parte
Em março de 1983, o deputado pelo Mato

CYNTHIA BRITO/OLHAR IMAGEM


da participação de políticos
no movimento de resistência Grosso, Dante de Oliveira, do PMDB, propôs
democrática à ditadura. uma emenda constitucional que estabelecia
• Trazer para sala de aula ima- eleições diretas para presidente da República.
gens da campanha das Dire- A Emenda Dante de Oliveira logo ganhou
tas Já, de modo a ajudar o grande popularidade e inspirou a campanha
alunado a ter uma noção da das Diretas Já,, a mais popular da República.
grandiosidade dessa campa- Um comício realizado em São Paulo,
nha, nas grandes e também em 27 de novembro de 1983, alavancou a
nas pequenas cidades do in- campanha por eleições diretas para presi-
terior brasileiro. dente da República. A campanha das Diretas
• Ressaltar a importância dos Já logo se espalhou pelo país, animada por
movimentos sociais na con- shows..
comícios-shows
comícios-
quista por direitos, eviden-
ciando que o acesso às leis
trabalhistas foram fruto de # DICA!
luta popular.
Reportagem sobre as Diretas Já.
• Propor que reflitam sobre o
SÉRIE sobre as Diretas Já relembra votação da emenda
trabalho de divulgação por Manifestação por eleições Dante de Oliveira. 2014. Vídeo (5min22s). Publicado
meio de jornais, panfletos diretas no Congresso Nacional.
pelo canal TV Brasil. Disponível em: https://youtu.be/
JkwJBUJWizk. Acesso em: 11 abr. 2022.
e cartilhas, em um período Brasília (DF), 1984.
em que não havia o acesso
às tecnologias digitais, redes
sociais etc.
O protagonismo da sociedade brasileira
• Destacar a força dos movi- Nas décadas de 1970 e 1980, os movimentos sociais mostraram sua força, ocuparam
mentos sociais e discutir o e participaram ativamente do processo de abertura política.
protagonismo da sociedade As organizações populares que representavam mulheres, negros, homossexuais, entre
brasileira no final do período outros, articularam-se com os partidos políticos, com o objetivo de fortalecer sua atuação
ditatorial até a Constituição no cenário político.
de 1988, contribuindo assim Uma das conquistas dessas organizações foi a inclu-
INSTITUTO HENFIL

para o desenvolvimento da são das “emendas populares” no regimento interno da


habilidade EF09HI22. Assembleia. As emendas, para serem aceitas, deveriam
• Valorizar as emendas populares conter 30 mil assinaturas. Ao longo da Constituinte
com os pleitos da sociedade ci- foram enviadas 122 emendas populares contendo 12
vil, organizada para o processo milhões de assinaturas! Nesse contexto, um dos movi-
de redemocratização. mentos mais atuantes foi o Plenário Pró-Participação
Popular na Constituinte. Seu lema era “Constituinte
sem povo não cria nada de novo”.
TEXTO DE APOIO
A campanha Diretas Já Fac-símile do cartaz elaborado pelo cartunista Henfil para
A campanha das Diretas Já ti- o Plenário Pró-Participação Popular na Constituinte, 1987.
nha dimensão cívica, natureza
republicana e jeito de festa. [...] 268
O palanque [dos] comícios reu-
nia as principais lideranças da
frente suprapartidária – Ulysses da264a304-HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd
Viola, Juca de Oliveira, Fernanda Montenegro e
Guimarães, Leonel Brizola, Lula,
268 Imagens em movimento 24/08/22 09:13 D3_
Fafá de Belém foi decisivo para difundir as repre-
Tancredo Neves, Fernando Henri- sentações e os ideais de um projeto democrático. Reportagem em que os pesquisadores
que Cardoso, Franco Montoro –, e A campanha era tão grandiosa que acendeu na Brasílio Sallum Jr., Cícero Araújo e Marcos
os discursos eram acompanhados população a esperança de vitória. Napolitano analisam o movimento que ficou
por uma multidão eufórica e co-
movida. Por outro lado, o engaja- Mas, se o governo dos militares havia se des- conhecido como Diretas Já.
mento de intelectuais do porte de gastado, sua base de apoio político ainda não • 1985 – 30 ANOS de democracia: Diretas já.
Antonio Candido, Lygia Fagundes se desagregara, e as Forças Armadas estavam
dispostas a agir para evitar o rompimento das
2015. Vídeo (14min50s). Publicado pelo ca-
Telles e Celso Furtado, de jogado-
res de futebol como Sócrates e regras do jogo sucessório. nal Univesp. Disponível em: https://www.
Reinaldo, e de artistas como Chico SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma youtube.com/watch?v=d8O5jTahTXo.
Buarque, Maria Bethânia, Paulinho biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 483-484. Acesso em: 13 jul. 2022.
268

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 268 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Dialogar sobre as principais
demandas do Movimento
Os movimentos de trabalhadores se fortaleceram com a criação de centrais sindicais e Negro, do Movimento Indí-
movimentos sociais, a exemplo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1983, e do gena e do Movimento das
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em 1984. Eles também participaram Mulheres facilita a compre-
ativamente do movimento Diretas Já! ensão das conquistas obti-
Os movimentos populares lançaram jornais, folhetos, manifestos, cartas abertas à das por eles na Constituição
população e cartilhas para divulgar suas propostas a um público mais amplo. Além disso, de 1988.
fizeram marchas rumo à Brasília com a intenção de pressionar os deputados constituintes • Destacar que um marco da
a introduzirem na Constituição suas demandas. luta feminina por direitos foi
Os trabalhos da Constituinte também foram acom- a criação do Conselho Esta-

EDITORA THOTH
panhados por órgãos da Igreja, como a Confederação dual da Condição Feminina,
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); e da sociedade cuja missão é contribuir para
civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); a elaboração de políticas
o Movimento Negro que tinha entre suas demandas o públicas e fiscalização de cri-
combate ao racismo e a inclusão da história da África e mes contra a mulher.
dos afrodescendentes nos currículos escolares; e por orga-
nizações indígenas, como a União das Nações Indígenas Dialogando. a) Professor, pro-
(UNI), que pleiteavam a substituição da ideia de “assimila- por aos alunos que consultem
ção” pelo “direito à diferença”. artigos da Constituição que
O movimento estudantil também se fez presente fazem menção às populações
por meio da União Nacional dos Estudantes (UNE) e das negras e indígenas, e às mu-
Uniões Estaduais dos Estudantes (UEES) e ocupou audi- lheres.
tórios e teatros das universidades para debater sobre o b) Espera-se que os alunos ar-
momento político que o país vivia. gumentem em defesa de seu
As mulheres, por sua vez, também se engajaram no
ponto de vista e que concluam
Fac-símile da capa do livro que os artigos foram conquis-
movimento pela redemocratização. O Movimento de Luta
30 anos da Constituição Cidadã: tados graças à mobilização de
por Creches surgiu no 1 Congresso da Mulher Paulista.
o
desafios e perspectivas. diferentes movimentos sociais
Com isso, movimentos de união de mulheres começaram e políticos, bem como de or-
a aparecer por todo o país. ganizações da sociedade civil.
Em 1983, em São Paulo, foi criado o Conselho Estadual Dialogando
da Condição Feminina, a fim de contribuir para a elaboração
a Por que a Constituição de
de políticas públicas e fiscalização de crimes contra a mulher. 1988 (a atual constituição
Abriam-se, assim, por todo país, canais de discussão sobre os brasileira) ficou conhecida
direitos das mulheres na nova Constituição. como “Constituição
Enfim, movimentos populares e entidades da socie- Cidadã”?
dade civil apresentavam suas demandas em um momento b Em grupo. Debatam,
de intensos debates na Constituinte, debates estes que reflitam e respondam:
os artigos que dizem
antecederam a aprovação da Constituição de 1988 e a respeito à cidadania na
marcaram profundamente. Daí o apelido dado a ela de Constituição de 1988 foram
“Constituição Cidadã”. doados ou conquistados?
a) Porque ela apresentou ganhos significativos para o avanço da cidadania no Brasil; b) Resposta pessoal.
os artigos referentes aos povos indígenas e à comunidade negra são exemplos disso.
269

09:13 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 269
sessorar o Poder Executivo, emitindo pareceres e acompanhando
28/06/22 13:20
a elaboração de programas de Governo nos âmbitos federal, es-
O Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo tadual e municipal em questões relativas a mulher, tendo como
[...] Na década de 80 [...] ganha força a proposta de criação de objetivo defender seus direitos e interesses; desenvolver estudos,
um órgão institucional composto por mulheres com a missão de debates e pesquisas sobre a problemática da mulher, de acordo
elaborar políticas públicas destinadas a eliminar a discriminação com o Decreto nº 20.892, de 4 de abril de 1983, regido pela Lei
sofrida pelo segmento feminino da população: o Conselho Esta- nº 5.447, de 19 de dezembro de 1986, ambos do Estado de São Paulo.
dual da Condição Feminina de São Paulo. O Conselho é deliberativo e se renova a cada 4 anos.
Entre as atribuições do Conselho estão formular diretrizes e
CONSELHOS – Condição Feminina. Secretaria da Justiça e Cidadania. São Paulo,
promover atividades que visam à defesa dos direitos da mulher, 2021 Disponível em: https://justica.sp.gov.br/index.php/conselhos/condicao_feminina/
à eliminação das discriminações que as atingem, bem como a #:~:text=Entre%20as%20atribui%C3%A7%C3%B5es%20do%20Conselho,
plena integração na vida socioeconômico e político-cultural; as- emitindo%20pareceres%20e%20acompanhando%20a. Acesso em: 06 jun. 2022.
269

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 269 29/08/22 14:16


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre o fato de a
morte de Tancredo Neves
ter se consumado em 21 de Apesar de sua enorme popularidade, a Emenda Dante de Oliveira
abril, feriado nacional em não conseguiu os dois terços de votos no Congresso Nacional, exi-
homenagem a Tiradentes, gidos para a sua aprovação, o que resultou em frustração para a
personagem eleito pela Re- maioria dos brasileiros. Com isso, a eleição para a presidência da
pública como herói nacional. República continuou sendo indireta. Em 1985, a presidência foi dispu-
• Compreender o alcance das tada por Paulo Maluf, candidato da situação (PDS), e Tancredo Neves,
medidas adotadas por Sar- Aliança Democrática:
candidato da Aliança Democrática.
Democrática. Tancredo Neves venceu com
ney, com destaque para a ex- frente formada pela grande folga (480 votos contra 180), mas não chegou a assumir, pois
tensão do direito de voto aos aliança do PMDB com foi hospitalizado em 14 de março, véspera da posse, e, em razão de
uma parte do PDS.
não alfabetizados. complicações posteriores, morreu em 21 de abril de 1985.
• Questionar os estudantes so-
bre qual é a importância de Dialogando
possibilitar o direito de voto
Após a morte de Tancredo, ele foi tratado como herói pela mídia. O caixão com
aos não alfabetizados. seu corpo foi levado até o Palácio do Planalto. Seu nome foi escrito no Livro de
• Trabalhar com os estudan- Aço do Panteão da Pátria e da Liberdade. Por que será que Tancredo Neves foi
tes o Plano Cruzado, com transformado em herói nacional? Resposta pessoal.
destaque para a noção de
congelamento de preços, Governo José Sarney
tarifas e serviços e seus im-
pactos sociais. Com a morte de Tancredo, o vice José Sarney assumiu
JUCA MARTINS/OLHAR IMAGEM
a presidência da República. Ele tinha sido homem de
confiança da ditadura civil-militar, por isso era visto com
Imagens em movimento
reserva pelos setores democráticos. Com o objetivo de
A segunda reportagem da ganhar a confiança desses setores, Sarney restabeleceu
série especial 1985: 30 anos
eleições diretas para a presidência da República, estendeu
de democracia trata do gover-
o direito de voto aos não alfabetizados e prometeu ao
no do presidente José Sarney
país uma nova Constituição. O lema de seu governo era:
(1985-1990).
“Tudo pelo social”.
• 1985 – 30 ANOS de democra-
Sarney assumiu o poder em um momento em que
cia: Governo Sarney - Parte 1.
a inflação crescia em média 18% ao mês, corroendo os
2015. Vídeo (12min16s). Pu-
salários e gerando uma grande insatisfação social. Para
blicado pelo canal Univesp.
enfrentar essa situação, em 1986, o governo Sarney lançou
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=5eluLa o Plano Cruzado, o qual previa:
th8Ok. Acesso em: 13 jul. 2022. • a criação de uma nova moeda, o cruzado, para substituir
• 1985 – 30 ANOS de democra- o cruzeiro (cada cruzado correspondia a 1 000 cruzeiros);
cia: Governo Sarney - Parte 2. • o congelamento de preços, tarifas e serviços;
2015. Vídeo: (13min23s). Pu- • o reajuste automático dos salários sempre que a inflação
blicado pelo canal Univesp. Presidente José Sarney
acumulada atingisse 20%;
Disponível em: https://www. no Palácio do Planalto.
Brasília (DF), 1985. • a criação do seguro-desemprego.
youtube.com/watch?v=
as-EYfpSUlM. Acesso em: 13
270
jul. 2022.

TEXTO DE APOIO D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 270 os candidatos, no lugar do nome por extenso que devia ser escrito 28/06/22 13:20 264

na cédula eleitoral. Isso se deve ao fato de que é mais fácil para


O processo eleitoral brasileiro é tido como um dos mais univer-
uma pessoa iletrada decorar uma sequência de números do que
sais do mundo. O dever constitucional do voto garante que todos
letras, o que preserva a integridade e autonomia do seu voto. A
os cidadãos com mais de 18 anos e com menos de 70 anos com-
identificação de candidatos e partidos por numerais acabou por
pareçam às urnas a cada pleito, independentemente de classe
servir de base para o advento do sistema da urna eletrônica, que
social, raça, sexo ou grau de instrução. Mas nem sempre isso foi
é utilizada no Brasil desde 1996.
assim. Até 1985, quando foi promulgada a Emenda Constitucional
nº 25 à Constituição de 1967, os analfabetos não tinham o direito EMENDA Constitucional de 1985 garantiu o direito ao voto aos eleitores analfabetos.
de votar, vivendo à margem da democracia no país. Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Brasília, DF, 21 nov. 2016.
Disponível em: https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2016/Novembro/
A primeira mudança que o voto do analfabeto trouxe para o constituicao-de-1985-garantiu-o-direito-ao-voto-aos-eleitores-analfabetos.
sistema eleitoral foi o advento do uso de números para identificar Acesso em: 13 jul. 2022.

270

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 270 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre as consequên-
cias da implementação do
JOSÉ ROSENBERG/ABRIL COMUNICAÇÕES S/ABRIL CONTEÚDO

ALEXANDRE TOKITAKA/FOLHAPRESS
Plano Cruzado para o consu-
mo e para a popularidade do
governo Sarney.
• Discutir sobre a falta de ética
por parte dos empresários
que começaram a especular
para obter vantagens finan-
ceiras, valendo-se do aumen-
to desenfreado do consumo
resultante do Plano Cruzado.
• Pensar sobre o uso eleitoreiro
que o governo Sarney fez do
Plano Cruzado e a liberação de
preços imediatamente após a
vitória nas eleições de 1986.
• Comparar o Plano Cruzado,
do governo Sarney, ao Plano
Austral, do governo de Raúl
Alfonsín, na Argentina, com
atenção às semelhanças.
• Aprofundar o assunto com a
leitura do artigo: MACARINI,
À esquerda, bótons usados pelos “fiscais do Sarney”. À direita, consumidora no papel de fiscal confere José Pedro. A política econô-
o preço de um produto na tabela de preços da Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab). mica do Governo Sarney: os
São Paulo (SP), 1986.
Planos Cruzado (1986) e Bres-
ser (1987). Texto para Discus-
Nos primeiros meses do plano, a inflação caiu bastante e a popularidade do governo
são. IE/UNICAMP, Campinas,
cresceu. Mas, com o congelamento dos preços, ocorreu uma corrida ao consumo. Com
n. 157, p. 1-63, mar. 2009.
isso, começaram a faltar mercadorias nos supermercados, algumas de primeira necessi-
dade. Aproveitando-se dessa situação, muitos empresários passaram a praticar o ágio
– cobrança acima da tabela. Então, o governo acionou a Polícia Federal e descobriu que
Imagens em movimento
havia “boi gordo no pasto”, isto é, havia fazendeiros que se negavam a abater o gado; Entrevista com Raúl Alfon-
por isso, começou a faltar carne para a população. sín no Programa Roda Viva,
em que se discutem vários as-
Apesar disso, o governo manteve o congelamento de preços e, com isso, venceu
pectos da história argentina,
as eleições parlamentares e para os governos estaduais, ocorridas em 1986. O PMDB,
como as políticas econômicas
do presidente Sarney, elegeu a maioria dos governadores, senadores e deputados.
e seus impactos sociais, além
Vencidas as eleições, o governo Sarney reajustou os preços das tarifas públicas (água, da ética na vida pública.
luz e gás), da gasolina, do álcool. Esses reajustes foram muito mal-recebidos pela
• RAÚLAlfonsín - 21/05/2001.
população, que se sentiu enganada pelo governo. Ao mesmo tempo, com a liberação
2015. Vídeo (90min51s). Pu-
dos preços, a inflação disparou, corroendo os salários dos trabalhadores e gerando
blicado pelo canal Roda Viva.
grande instabilidade social.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=GqT
271 preKRiAU. Acesso em: 13 jul.
2022.

13:20 264a304-HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 271


TEXTO DE APOIO cortou três zeros do peso, criando uma Em 1989, a Argentina teve sua primeira
24/08/22 09:14

nova moeda, o austral. Cada austral equi- hiperinflação, que chegou a 4 923,6%. A
Inflações e hiperinflações valia a 1 000 pesos prévios. O plano foi um espiral inflacionária levou os argentinos à
[...] predecessor do Plano Cruzado brasileiro pobreza. [...]
Raúl Alfonsín (1983-1989), o primeiro e contou com a concordância do FMI [...]. Seu sucessor, Carlos Menem (1989-1999),
presidente civil eleito com a volta da de- Problemas financeiros externos e políticos tentou de forma errática diversas fórmulas
mocracia, herdou dos militares uma pesa- internos colocaram o plano em risco. Em econômicas. O resultado foi um segundo
da inflação. Seis meses antes de sua posse, 1988, o governo Alfonsín tentou salvar o período hiperinflacionário, que chegou a
os militares haviam cortado quatro zeros austral com o Plano Primavera. Mas o de- 1 343,9% em 1990.
do peso (cada peso novo equivalia a 10 mil sejo de levar o governo até as eleições pre-
PALACIOS, Ariel. Os argentinos.
pesos prévios). [...] Em junho de 1985, Al- sidenciais de 1989 com a economia mais São Paulo: Contexto, 2013.
fonsín implementou o Plano Austral, que ou menos equilibrada também fracassou. p. 74-75.
271

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 271 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Retomar e consolidar a ideia
da importância da atuação
dos movimentos sociais para
os avanços presentes na Cons-
A Constituição Federal de 1988
tituição Federal de 1988.
Enquanto isso, deputados e senadores, reunidos no Congresso, discutiam uma nova
• Relacionar os direitos presen-
constituição para o país. Os movimentos sociais (negro, indígena, operário, feminista, entre
tes na Constituição de 1988 às
lutas dos movimentos sociais. outros) participaram intensamente dessas discussões, reivindicando direitos e exercendo
• Questionar os estudantes
sua cidadania. Em virtude dessa intensa participação popular, a Constituição de 1988
se eles pretendem votar ao incorporou importantes avanços sociais.
completarem 16 anos e pe- a) Forma e regime de governo:: república federativa e presidencialista. Previa-se,
dir para que justifiquem seu para 1993, a realização de um plebiscito para escolher entre o presidencialismo e o
posicionamento. parlamentarismo.
• Debater com os estudantes b) Eleições:: ficavam estabelecidas eleições diretas para presidente, governadores e prefei-
sobre as conquistas dos po- tos de cidades com mais de 200 mil eleitores. Caso nenhum dos candidatos obtivesse
vos indígenas, do movimen- a maioria absoluta (50% + 1) dos votos no primeiro turno, haveria um segundo turno.
to negro e dos trabalhado- O mandato presidencial foi reduzido para quatro anos.
res, presentes na Constitui-
c) Voto:: os não alfabetizados ganharam o direito de votar. O voto tornou-se obrigatório
ção de 1988.
para os brasileiros maiores de 18 e menores de 70 anos de idade, e facultativo para
• Temas Contemporâneos
os maiores de 70 anos e para os jovens com 16 ou 17 anos de idade.
Transversais: prosseguir com
a discussão sobre o conceito d) Legislação de trabalho:: a jornada semanal passou de 48 horas para 44 horas; o
de direitos sociais abre possi- trabalhador com registro em carteira obteve o direito a um abono ao sair de férias;
bilidade de se discutir direitos foram garantidos o seguro-desemprego e o 13o salário para os trabalhadores; a pessoa
da criança e do adolescente, demitida sem justa causa obteve o direito de receber o correspondente a 40% de saldo
no âmbito do tema cidadania e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); a licença-maternidade passou para
civismo, pois a Constituição de 120 dias; e criou-se a licença-paternidade, de 5 dias.
1988 é o marco fundamental e) Povos indígenas:: a participação dos indígenas nos traba-
para a conquista dessas garan- Inafiançável: quando o acusado
lhos da Constituinte foi vitoriosa. O artigo 231 reconheceu
não tem o direito de pagar fiança
tias. Precisamente no artigo 6o aos indígenas os direitos originários sobre as terras que
para responder ao processo em
da Carta, que versa sobre os liberdade; fiança é o depósito tradicionalmente ocupam; ao governo caberia demarcá-las.
direitos sociais, está registrada de um valor em dinheiro feito
f) Relações raciais:: o movimento negro também obteve con-
a proteção da infância como pelo acusado (ou em seu nome)
com o objetivo de conseguir a quistas; o artigo 5o da Constituição definiu o racismo como
uma das garantias elementares liberdade.
para a população brasileira. De crime inafiançável e imprescritível
imprescritível,, sujeito a reclusão, nos
Imprescritível: significa que
maneira similar ao que ocorreu termos da lei.
a qualquer momento o Estado
com os direitos conquistados pode processar o acusado, g) Liberdades civis:: garantiu a liberdade de expressão e a
pelas populações indígenas puni-lo e executar a pena dada iniciativa popular para proposição de novas leis e proibiu a
a ele.
e pelo movimento negro, a censura.
inserção da proteção à infância SALOMON CYTRYNOWICZ/OLHAR IMAGEM
Comemoração do
também foi uma conquista dos
aniversário de um ano da
movimentos sociais. Organiza- instalação da Assembleia
ções como o Movimento dos Constituinte. Brasília
Meninos e Meninas de Rua (DF), 1988.
e a Confederação Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) 272
foram fundamentais para que
a infância fosse contemplada
na Constituição e, dois anos tutela sobre uma parcela
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 272 das crianças e dos recolhidos em instituições que os privavam 28/06/22 13:20 AV_

depois, para a elaboração do adolescentes, o que é chamado de doutri- da liberdade.


Estatuto da Criança e do Ado- na da situação irregular, na qual o Estado O ECA rompe com a doutrina da situação
lescente (ECA). possuía o direito de intervir na vida de irregular e coloca uma ênfase nos direitos e
Professor, o ECA foi pro- crianças e adolescentes, majoritariamen- garantias atribuídos a crianças e adolescentes,
mulgado em 1990 para regu- te pobres e racializados. Enquadrados em como o direito à escolarização, lazer e alimen-
lamentar o direito à prote- uma vasta gama de condutas e contextos tação. Por isso, especialistas afirmam que o ECA
ção da infância, que consta – que poderiam ser desde infrações penais, inaugura no Brasil a doutrina da proteção in-
no artigo 6o da Constituição. passando por indisciplina doméstica, até tegral, cujo foco não está em punir ou recolher
Nas legislações anteriores so- situações de abandono – crianças e adoles- crianças e adolescentes, mas em oferecer ga-
bre o assunto, prevaleceu a centes em “situação irregular” acabavam rantias básicas para o bem-estar desses sujeitos.
272

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 272 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Atualizar dados sobre a po-
pulação indígena em fontes
Lutas e conquistas indígenas confiáveis, a exemplo do IBGE.
• Debater sobre a distância
Segundo o IBGE, em 2019, a população indígena brasileira
era de 896 917 pessoas. Destas, a maioria vivia em terras indíge- entre os direitos indígenas
presentes na Carta Magna e
nas e uma parte menor vivia fora dessas terras, no campo ou na
o exercício desses direitos na
cidade. Eram 305 povos e 274 línguas indígenas Amazônia Legal:
prática.

RENATO SOARES/PULSAR IMAGENS


das quais somente metade era de fato conhe- é composta de nove
estados. • Temas Contemporâneos
cida. A maior parte das terras indígenas está na
Transversais: dialogar com
Amazônia Legal.
Legal.
os estudantes sobre a impor-
As lutas indígenas por direitos vêm de muito tempo. No século
tância do legado dos povos in-
XX, as organizações indígenas e de seus aliados deram impulso a
Indígena da etnia waurá
dígenas e o direito à diferen-
essa luta e, em virtude de seu protagonismo, a Constituição brasileira
da aldeia Piyulaga com ça, presente na Constituição
de 5 de outubro de 1988 reconheceu três importantes direitos: o pintura corporal e cabelo de1988, pode contribuir para
direito à diferença; o direito originário sobre as terras que tradicio- pintado com urucum. o tema multiculturalismo, já
nalmente ocupam; o direito a um Ensino Fundamental regular em Parque Indígena do Xingu
que os povos originários for-
(MT), 2019.
Língua Portuguesa e ao uso de suas línguas maternas e de processos neceram uma das mais impor-
próprios de aprendizagem.

ANDRE DIB/PULSAR IMAGENS


tantes matrizes históricas e
Em 1999, o Ministério da Educação fixou normas de funcio- culturais brasileiras.
namento das escolas indígenas e o direito ao estudo bilíngue da • Questionar e debater as
história e da ciência indígenas. Em 2008, a Lei no 11.645 fixou a principais demandas dos po-
obrigatoriedade do estudo da história e da cultura afro-brasileira vos indígenas na atualidade,
e indígena. sobretudo, o item: “Respeito
Apesar dessas conquistas, são muitos os desafios enfrentados na prática, aos direitos reco-
pelos povos indígenas hoje. Suas principais demandas na atualidade nhecidos na lei”.
são: direito à terra: indispensável para sua reprodução física e cultural; Professor, o conhecimento
autodeterminação: decidir sobre o seu desenvolvimento econômico, sobre as demandas dos povos
social e cultural; reconhecimento de sua indianidade e suas identi- indígenas contribui para: a
Indígena da etnia kisêdjê
dades; recusa à assimilação forçada e à destruição de suas culturas; da aldeia Khikatxi
construção da cidadania, o re-
respeito, na prática, aos direitos reconhecidos na lei. fazendo fios de algodão. conhecimento da importância
Ou, como disse a advogada e primeira deputada federal indí- Querência (MT), 2021. dos indígenas e suas culturas
gena eleita Joênia Wapichana: na nossa sociedade, o respei-
FABIO COLOMBINI

[…] Nós estamos lutando pelos direitos que já são reco- to ao outro e o fortalecimento
nhecidos. [...] Para que não sejam violados, para que não sejam da autoestima e das identida-
desrespeitados e para que haja um avanço nisso. des das pessoas indígenas.
WAPICHANA, Joênia. O Brasil imagina que o indígena é uma questão só de pintura e
vestimenta. [Entrevista cedida a] ONU News, [s. l.], 20 dez. 2018. Disponível em: https://
news.un.org/pt/interview/2018/12/1652611#:~:text=Muitas%20vezes%20n%C3%A3o%20 nalmente, tido acesso para suas
entendem%20o,outros%20falam%20as%20l%C3%ADnguas%20pr%C3%B3prias. atividades e subsistência.
Acesso em: 23 mar. 2022.
[...]
Para manter sua cultura e tra-
Jovens e crianças em dança de roda e cantos em dições e ter o direito de ser como
aldeia indígena xavante. Campinápolis (MT), 2021. são, os indígenas travam inces-
santes lutas por direitos e, após
séculos de exploração, têm con-
273 seguido afirmar alguns direitos
que só foram possíveis graças a
sua organização, principalmente
a partir da década de 1970, onde
13:20 TEXTO DE APOIO
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 273 nhecendo os seus direitos sobre as terras
30/06/22 que
16:52
passaram a se organizar em as-
tradicionalmente ocupa [...].
Pensar a cidadania sob a ótica do historica- sociações, o que lhes deu ainda
mente dominado exige volver o olhar para um No plano internacional, quanto ao direito à maior força e presença no cená-
novo tipo de conhecimento, que se produz [...] terra, a Convenção no 169 da Organização Inter- rio nacional e internacional, ao
ancorado nas experiências de resistência de nacional do Trabalho sobre povos indígenas [...] ponto desses indígenas influen-
grupos sociais que até então são vítimas de in- (OIT, 1989), reconhece o direito de posse da terra ciarem, inclusive, na elaboração
justiças sociais e da negação de direitos, mesmo ou território que os indígenas ocupam coletiva- da Constituição Federal de 1988.
que este direito já esteja positivado na Consti- mente ou utilizam de alguma forma, conclaman- SILVA, Messias Furtado; DINIZ, Renato Eugênio
tuição e nas leis. do os governos dos países signatários a promover da Silva; ALENCAR, Joelma Cristina Parente
Monteiro. A questão da cidadania sob o
A CRFB/88 assegura o direito do indígena de medidas para salvaguardar esse direito, inclusive
olhar dos indígenas na Terra Indígena Cobra
permanecer com suas formas de organização sobre terras que não sejam exclusivamente ocu- Grande, Santarém/PA. Educação e Pesquisa,
social e convivências próprias, inclusive reco- padas por eles, mas às quais tenham, tradicio- São Paulo, v. 47, p. 1-19, 2021. p. 2-11.
273

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 273 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre a prática da
corrupção enraizada na cul-
Eleições de 1989

RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS


tura da política brasileira,
como um fenômeno inscrito
na longa duração. No último ano do governo Sarney, o povo
• Dialogar sobre as origens so- brasileiro se encontrava bastante insatisfeito,
ciais e as propostas dos prin- em razão das seguidas denúncias de corrup-
cipais candidatos na corrida ção envolvendo membros do governo e à crise
presidencial de 1989. econômica, e manifestava sua insatisfação por
• Compreender os principais meio de protestos, greves e saques às lojas e aos
pontos do Plano Collor e seus supermercados. Nesse ambiente conturbado se
efeitos sobre a vida da popu- iniciou a campanha presidencial de 1989.
lação brasileira. Um dos candidatos era o então governador
• Conversar com as pessoas mais de Alagoas, Fernando Collor de Mello, do Partido
velhas que sentiram os efeitos da Reconstrução Nacional (PRN). Ele era membro
do bloqueio, por 18 meses, de uma família tradicional e criticava duramente
de todo o dinheiro acima de a corrupção, apresentando-se como “caçador de
50 mil cruzados novos depo- marajás”
marajás “descamisados”.
” e protetor dos “descamisados ”.
sitados em contas bancárias Fernando Collor de Mello em campanha Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, o principal adver-
de pessoas e empresas. Co- eleitoral na Rocinha, Rio de Janeiro (RJ), sário de Collor, tinha origem operária e defendia a
lher esses depoimentos pode em 1989. Na relação com o público, ele se
saía bem: seus gestos eram inflamados; reforma agrária, o fim da pobreza e a suspensão
ajudar a conhecer os casos
suas promessas, mirabolantes. imediata do pagamento da dívida externa brasileira.
em que esse bloqueio afetou
negativamente não só os ne-
gócios, mas também a saúde
Marajá: funcionário
público com altos Governo Collor
das pessoas. salários e que tinha
suas despesas Quando Collor assumiu o poder, em 15 de março de 1990, a
• Comentar sobre o papel do particulares pagas
último debate entre os candi- pelo governo, o inflação acumulada em 12 meses tinha atingido o alarmante índice de
datos Lula e Collor, realizado que caracteriza 1 764,8% ao ano. Prometendo que resolveria o problema da inflação
corrupção.
em 13 de dezembro de 1989. “com um só tiro”, o novo presidente lançou o Plano Collor, que:
Descamisado:
Dado a importância da tele- pessoa que vivia a) bloqueou, por 18 meses, todo o dinheiro acima de 50 mil cru-
visão como principal meio de abaixo da linha da zados novos que estava depositado em contas bancárias de
comunicação à época, muito pobreza; excluído.
pessoas e empresas;
se discute sobre a interferên-
b) congelou os preços, demitiu funcionários públicos e elevou os
cia das empresas de mídia nes-
impostos;
se debate, o último antes das
eleições. Em entrevista rea- c) elevou os juros, com o objetivo de diminuir o consumo;
lizada em 2011, o diretor de d) iniciou um processo de privatização, isto é, venda de empresas
uma das maiores empresas de estatais para particulares;
comunicação do país admitiu e) eliminou vários impostos sobre as importações, ocasionando a
ter ajudado na produção da entrada de uma enxurrada de produtos estrangeiros no Brasil,
imagem do candidato Collor. de brinquedos a automóveis.
Para maiores informações so-
bre esse episódio, consultar: 274
SOUSA, Alana; HENRIQUE,
Leonardo; COELHO, Penélo-
pe. Lula X Collor: como a mí-
TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 274 A possibilidade de vitória de Lula gerou 28/06/22 13:20 D3_
dia influenciou as eleições de grande temor entre empresários e grupos
1989. Aventuras na História. Eleições de 1989 conservadores – sem falar nos militares,
[...] a campanha presidencial de 1989 foi vivida em que viam no PT a ameaça do temido “revan-
São Paulo, 20 out. 2019. Dis-
clima de grande acirramento de posições. Foram chismo”. Foi emblemática essa eleição. [...]
ponível em: https://aventu lançadas 22 candidaturas. O Partido dos Trabalha-
rasnahistoria.uol.com.br/ dores (PT) lançou Lula como candidato e defendeu [...] Se Lula parecia novo em função das
propostas radicais do PT, Fernando Collor
noticias/reportagem/lula-x- um programa radical. Dizia, por exemplo, que a dívi-
da externa não seria paga com o sacrifício da classe parecia ousado pela imagem que conse-
collor-como-midia-influen guiu consolidar de “caçador de marajás”.
trabalhadora. As críticas que o PT fazia ao governo
ciou-eleicoes-de-1989.phtml. Sarney e a imagem de uma autêntica ruptura com o FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo: da
Acesso em: 13 jul. 2022. passado embalaram muitas esperanças na esquerda morte de Vargas aos dias atuais. São Paulo: Contexto,
e em setores sofridos da população. 2016. p. 115-116.
274

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 274 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de re-
cessão e retomar e consoli-
Retirando o dinheiro de circulação, freando o consumo, abrindo o mercado brasileiro às dar o conceito de PIB.
importações e forçando a queda nos preços dos produtos nacionais, o governo conseguiu • Refletir sobre a abertura do
diminuir a inflação para 10% ao mês. Em compensação, as vendas no comércio e a pro- mercado aos produtos estran-
dução industrial caíram muito. Muitas empresas faliram; outras, reduziram os salários e/ou geiros iniciada no governo
despediram funcionários, ocasionando um aumento do desemprego. A economia entrou Collor e questionar os estu-
em recessão
recessão.. dantes sobre a presença des-
ses produtos em suas vidas.
• Pensar sobre a falta de ética
A luta pela ética na política na política a partir da vasta
A insatisfação popular com a economia Recessão: crise econômica persistente, caracterizada por rede de corrupção liderada
aumentou ainda mais com a explosão de queda no produto interno bruto (PIB) durante seis meses pelo empresário PC Farias.
consecutivos, com redução na quantidade de bens e
um grande escândalo, descoberto em 13 de serviços produzidos e com aumento do desemprego. • Destacar o protagonismo
maio de 1992, o Esquema PC:: uma vasta Impeachment: ato do Poder Legislativo destinado a dos jovens – os caras-pinta-
rede de corrupção liderada pelo empresário destituir uma alta autoridade de um cargo, por exemplo das – no movimento pelo im-
o presidente da República, com base em uma denúncia peachment de Collor.
Paulo César Farias, amigo e tesoureiro da de crime de responsabilidade.
campanha de Collor. Comprovou-se que Professor, hoje encontra-
PC Farias recebia de grandes empresários mos, em lojas ou em barracas

JUCA MARTINS/OLHAR IMAGEM


altas somas em dinheiro para liberar verbas de camelôs espalhadas por
todo o país, produtos de várias
do governo. Parte desse dinheiro ia para
partes do mundo: brinquedos
contas-fantasmas e era usada para pagar as
da China, roupas da Índia, ba-
despesas pessoais do presidente, de familia-
terias elétricas das Filipinas,
res e amigos. entre outros. Essa abertura do
A população brasileira reagiu às notícias mercado nacional começou
promovendo grandes manifestações públicas no governo Collor.
e exigindo o impeachment de Collor e o fim
da corrupção. Entre os manifestantes havia
um grande número de “caras-pintadas”: +ATIVIDADES
jovens que pintavam o rosto com as cores Realizar uma entrevista
da bandeira nacional, protestando contra a qualitativa com avós, vizinhos
falta de ética na política. e membros da comunidade
que tenham vivido no gover-
Sob forte pressão da sociedade civil, em
no Collor.
setembro de 1992, a maioria dos deputados
Sugestão de material para
votou a favor da abertura do processo de pesquisa:
impeachment.. Caberia ao Senado julgar
impeachment • SILVA, Grazielle Roberta Frei-
o presidente. Ao perceber que iria ser tas et al. Entrevista como téc-
derrotado no Senado, Collor renunciou à nica de pesquisa qualitativa.
presidência da República. Mesmo assim, foi Online Brazilian Journal of
Estudante “cara-pintada” em manifestação
condenado pelo Senado a ficar sem direitos pelo impeachment do presidente Collor. Nursing, Niterói, v. 5, n. 2, p.
políticos por oito anos. São Paulo (SP), 1992. 246-257, 2006.

275

13:20 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 275 A acusação era politicamente
28/06/22 13:20 gravíssima, pois o presidente não
tinha uma base parlamentar sólida e, agora, estava ameaçado de
As denúncias contra Fernando Collor perder seu alicerce simbólico, de inimigo intransigente da corrup-
ção, de “caçador de marajás”, o que colocava em xeque sua autori-
Foi nessa posição política pouco sólida, a despeito da exaltação
dade moral para exercer a Presidência da República. Com isso, tor-
de uma parte dos meios de comunicação de massa, que o presi-
nava-se mais difícil assegurar a lealdade da base governista, pois
dente foi atingido por acusações do seu irmão mais jovem, Pedro
os custos políticos dessa adesão tendiam a se elevar.
Collor, em duas entrevistas publicadas, nos dias 10 e 24 de maio,
SALLUM JR., Brasilio. O governo e o impeachment de Fernando Collor de Mello.
pela revista Veja. Ele acusou o irmão presidente de ser o respon- In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.).
sável e maior beneficiário das atividades suspeitas do tesoureiro O tempo da Nova República: da transição democrática à crise política de 2016.
de sua campanha eleitoral, PC Farias. [...] Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. (O Brasil republicano, v. 5, p. 181).

275

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 275 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Dar continuidade ao traba-
lho com a falta de ética na
política a partir do escândalo
dos Anões do Orçamento.
Governo Itamar Franco
• Contextualizar o lançamento Com a renúncia de Collor, o vice-presidente Itamar Franco,

ANTONIO SCORZA/AFP
do Plano Real pelo Ministério do Partido Popular Socialista (PPS), assumiu a presidência.
da Economia, sob a chefia de Buscando parecer conciliador e independente, escolheu políticos
Fernando Henrique Cardoso. de diferentes partidos, sobretudo do PMDB e do PSDB (Partido da
• Conhecer os principais pon- Social-Democracia Brasileira), para compor seu governo.
tos do Plano Real e seus efei- Durante seu mandato, explodiu outro grave caso de corrup-
tos sobre a inflação. ção: o desvio de 100 milhões de dólares do orçamento nacional,
o que comprova o enraizamento da corrupção na cultura política
brasileira. O caso ficou conhecido como “Escândalo dos Anões do
Imagens em movimento Orçamento”. Dos 25 parlamentares envolvidos, apenas seis foram
Vídeo que explica como o cassados.
Plano Real controlou a infla-
ção na década de 1990.
• 20 ANOS de Plano Real. 2014. O Plano Real
Vídeo (3min35s). Publicado Itamar Franco assumiu o governo num momento em que a
pelo canal Estadão. Disponível inflação de 30% ao mês corroía os salários e empobrecia os traba-
em: https://www.youtube. lhadores. Para combatê-la, convidou para o Ministério da Fazenda o
com/watch?v=jIRzw5ChqJ0. sociólogo Fernando Henrique Cardoso, também chamado de FHC.
Acesso em: 13 jul. 2022. Fernando Henrique e sua equipe lançaram, então, o Plano Real,,
Presidente Itamar
que entrou em vigor em julho de 1994. O Plano Real:
Franco no Palácio
TEXTO DE APOIO do Planalto. Brasília a) não congelou os preços, foi submetido à aprovação do Congresso
(DF), 1992. e teve apoio popular;
O Plano Real
A equipe liderada por FHC b) previa a criação de uma nova moeda, o real (R$), e estabelecia
baseou-se nas experiências an- a paridade entre a moeda brasileira e o dólar estadunidense; ou
teriores, mas propôs algo inova- seja, em 1o de julho de 1994, 1 real equivalia a 1 dólar;
dor. Ela não criou imediatamen-
c) defendia um forte controle dos gastos públicos. Com esse propósito, naquele mesmo
te uma nova moeda, mas um
“padrão de valor monetário”: ano, FHC elevou os impostos federais em cerca de 5% e promoveu amplos cortes no
a Unidade Real de Valor (URV). orçamento, inclusive nas áreas da Saúde e da Educação.
Não existia concretamente, era Em julho de 1994, a moeda nacional passou a ser o real, e o plano entrou em vigor.
apenas uma cotação diária que O efeito do Plano Real sobre a inflação foi imediato. Observe a tabela.
indicava a equivalência entre
uma URV e os “cruzeiros reais”.
Quando foi anunciada, no dia 1o Brasil: taxa de inflação (junho a dezembro de 1994)
de março de 1994, a URV valia Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
647,50 cruzeiros reais. A inflação
49,10% 32,45% 49,10% 1,46% 2,65% 3,11% 1,11%
afetava a moeda, os cruzeiros
Fonte: SINGER, Paul. O processo econômico. In: REIS, Daniel Aarão (coord.).
reais, mas a URV permanecia Modernização, ditadura e democracia: 1964-2010. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.
fixa. Os preços dos produtos, (História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 5, p. 223).
por exemplo, eram exibidos em
cruzeiros reais e em URVs. Os 276
salários foram convertidos pela
média da inflação dos quatro
meses anteriores. A nova moeda
viria depois e a data de sua im- internas de ajustes (como
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 276 o abandono da “ân- 28/06/22 13:20 D3_

plantação era conhecida: 1o de cora cambial”, que tentava manter o real em


julho de 1994. Era o real. A po- patamar próximo à equivalência de um dólar,
pulação, mais uma vez, compre- o chamado “câmbio fixo”, abandonado em ja-
endeu como deveria se adaptar. neiro de 1999, com inesperada desvalorização
Adotou com entusiasmo a nova do real, em favor de metas de inflação) e crises
moeda. A inflação caiu e ficou internacionais muito sérias (como a que afetou
sob controle. Dito assim, sim- o México, em 1995, a Ásia, em 1997, e a Rússia,
plificadamente, parece ter sido em 1998). Mas, em termos gerais, desde o Plano
fácil. Na verdade, desde então o Real a inflação permanece sob controle.
Brasil enfrentou graves proble- FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo: da morte de
mas econômicos, necessidades Vargas aos dias atuais. São Paulo: Contexto, 2016. p. 129-130.
276

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 276 26/08/2022 18:00


TEXTO DE APOIO
A diplomacia de Fernando
Henrique Cardoso: o
Com a queda da inflação, as pessoas recuperaram parte do poder de compra de seus projeto inicial (1995-1998)
salários e passaram a consumir mais, desde bolachas e iogurtes até televisores, máquinas O caráter da política externa
de lavar e veículos. desenvolvida no governo de FHC
Conforme a inflação diminuía, a popularidade de Fernando Henrique aumentava. sinalizava para a instauração de
Ajudado pela mídia, que o batizara de “pai do Real”, ele deixou o Ministério da Fazenda novos projetos e parcerias, sem
definir claramente o paradigma
e se lançou na disputa pela presidência da República no ano de 1994, pelo Partido da
estratégico pelo qual estava se
Social-Democracia Brasileira (PSBD), em aliança com o Partido da Frente Liberal (PFL). A orientando. FHC, como ministro
campanha de Fernando Henrique veiculava imagens que sugeriam modernidade e prospe- das Relações Exteriores (outubro
ridade; já a de seu principal opositor, Lula da Silva, mostrava cenas de pobreza e exclusão de 1992 a maio de 1993), deu iní-
social; as urnas deram a vitória a Fernando Henrique já no primeiro turno, com 55,22% cio à substituição da ênfase na
América Latina pela América
dos votos válidos; Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), ficou em segundo lugar com do Sul, delimitando uma nova
39,97%. esfera geográfica da política
regionalista. Essa diretriz teve
uma dimensão prática muito
Governo Fernando Henrique importante na agenda diplomá-
tica sul-americana e o Mercosul
Fernando Henrique Cardoso assumiu a presi- passou a ser o núcleo desta es-
ANTONIO SCORZA/AFP

tratégia.
dência em 1995, com o compromisso de manter
Em 1994, o Mercosul adquiriu
a estabilidade do real, de reduzir os gastos públi-
personalidade jurídico-institu-
cos e o tamanho do Estado. Em vez do Estado cional como união aduaneira
interventor e empreendedor da Era Vargas, ele para os países-membros e sua
defendia o Estado mínimo, ou seja, um Estado que vertente política passou a bus-
transferisse para a iniciativa privada a produção car novos parceiros. No período
1991-1997, o comércio intrazona
de bens e serviços e se voltasse, principalmente, apresentou taxas aceleradas de
para as áreas da Educação, Saúde, Segurança e crescimento, afirmando a di-
Saneamento básico. mensão econômico-comercial
A fim de reduzir o tamanho do Estado, o do bloco, mas também avançou
no caráter político-estratégico,
governo FHC acelerou o programa de privati- Presidente Fernando Henrique
Cardoso em discurso no Palácio do para aprofundar os mecanismos
zação, iniciado pelo governo Collor. Para isso, de reparos e decisões conjuntas
Planalto. Brasília (DF), 1999.
conseguiu aprovar no Congresso mudanças na (destacando-se a “cláusula de-
Constituição, entre as quais a quebra do monopólio estatal do Monopólio estatal: mocrática” do bloco, decisiva na
petróleo e das telecomunicações. O governo FHC autorizou a venda nesse contexto, refere-se consolidação dos regimes demo-
ao fato de que, desde cráticos na região, sobretudo nas
de muitas empresas estatais, como a Vale do Rio Doce, uma das 1953, só a Petrobras crises paraguaias). [...]
líderes mundiais na área de mineração, e a Companhia Siderúrgica poderia explorar o
petróleo no Brasil. VIZENTINI, Paulo Fagundes. De FHC a Lula:
Nacional, de Volta Redonda. Segundo dados oficiais, entre 1991 e uma década de política externa (1995-
2002 (mandatos de Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso), o 2005). Civitas – Revista de Ciências
Sociais, Porto Alegre, v. 5. n. 2,
governo arrecadou 30 bilhões de dólares com a venda de empresas p. 381-397, jul./dez. 2005. p. 383.
estatais. Durante as vendas das estatais brasileiras, o debate sobre
a privatização esquentou, ganhando espaço na imprensa, nas uni-
versidades, no Congresso e entre a população.

277

13:20 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 277 • Retomar o conceito de 13:20
28/06/22 neoliberalismo para compreender a
política econômica adotada por FHC.
• Refletirsobre os efeitos perversos da inflação, sobretudo, • Debater sobre o significado (e o impacto para a população)
para os mais pobres. da quebra do monopólio estatal do petróleo e das teleco-
• Relacionar o sucesso do Plano Real ao crescimento da popula- municações.
ridade de FHC e sua vitória nas eleições presidenciais. • Retomar o debate sobre privatização que precedeu a venda
• Compreender a diferença entre o Estado interventor/em- da Companhia Vale do Rio Doce, uma das maiores empresas
preendedor da Era Vargas e o Estado mínimo, defendido de mineração do mundo.
por Fernando Henrique Cardoso.

277

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 277 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
Professor, a intenção desta
página é fornecer aos estu-
dantes subsídios mínimos para
debater a privatização, um PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

tema de grande importância,


que tem dividido a sociedade Debatendo a privatização
brasileira nas últimas décadas.
Argumentos a favor das privatizações

HOMERO SÉRGIO/FOLHAPRESS
A ideia também é estimular os
estudantes a argumentar em a) O dinheiro obtido com a venda das
defesa de um ponto de vista, estatais seria usado para diminuir a
mobilizando a competência dívida pública, que é paga por todos os
geral 7 e a competência espe- cidadãos por meio dos impostos.
cífica 4. b) Nas empresas estatais, os partidos políti-
cos é que indicam os diretores, gerando
corrupção e troca de favores.
+ATIVIDADES
c) A função do Estado não é administrar
Em grupos. Analisem as siderúrgicas, ferrovias e empresas de
privatizações ocorridas entre O ministro José Serra, de terno claro; o aviação, mas cuidar da Educação, da
1989 e 2002. Pesquisem em governador do Rio de Janeiro, Marcello
Saúde e da Segurança pública.
livros, jornais, revistas, sites Alencar, à esquerda; e o presidente da Bolsa
de diferentes tendências, in- de Valores do Rio de Janeiro, Fernando Opitz, d) Nas mãos da iniciativa privada, as empresas
ao centro, batem o martelo encerrando o se tornariam mais eficientes e consegui-
clusive divergentes. Para ope- leilão de privatização de uma empresa do
racionalizar a atividade, cada setor elétrico, a Escelsa, realizado na Bolsa riam oferecer à população bens e serviços
grupo deve levantar determi- de Valores do Rio de Janeiro (RJ), 1995. de melhor qualidade.
nadas informações, como o
Argumentos contra as privatizações
valor de venda da empresa,
quem foram os compradores e a) O dinheiro das privatizações não serviu para

ROSANE MARINHO/FOLHAPRESS
se houve melhora nos serviços diminuir a dívida pública. Durante o governo
oferecidos à população e/ou FHC, a dívida pública aumentou.
maior produtividade. b) Com as privatizações, as tarifas dos serviços
Professor, observar a diver- públicos (água, luz etc.) aumentaram, preju-
sidade de perfis de alunos nos dicando o consumidor.
grupos, de modo que possam
c) A venda das estatais liquida parte preciosa do
existir trocas entre aqueles
com maior e menor afinidade patrimônio brasileiro, provoca a desnacionali-
com este tema, componente zação da economia e a perda de soberania.
ou área do conhecimento. d) Com a privatização de empresas estra-
Manifestação de estudantes contrários
Como finalização da ativi- tégicas, serviços como os de telefonia e
à venda da mineradora Vale do Rio
dade, solicitar que os grupos de fornecimento de energia pioraram e Doce durante o leilão de privatização da
apresentem para a sala os re- ficaram mais caros. companhia. Rio de Janeiro (RJ), 1997.
sultados de suas pesquisas.
• Converse com pessoas que viveram na década de 1990 sobre a privatização de serviços
em áreas como as de telefonia e energia elétrica e responda: quais argumentos você
achou mais convincentes? E você, o que pensa sobre esse assunto? Respostas pessoais.
Dica de leitura
Tese que discute as privati-
zações ocorridas durante os 278
governos de Fernando Collor
e de Fernando Henrique Car-
doso. D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 278 28/06/22 13:20 D3_

• ALMEIDA, Monica Piccolo. Re-


formas Neoliberais no Brasil:
a privatização nos governos
Fernando Collor e Fernan-
do Henrique Cardoso. Tese
(Doutorado em História So-
cial) – Universidade Federal
Fluminense, Niterói, 2010.

278

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 278 26/08/2022 18:00


TEXTO DE APOIO
No ano de 1997, FHC alcançou
aprovação à emenda da reelei-
ção e obteve vitória para presi-
O segundo mandato de FHC dente no primeiro turno sobre
Lula com 53,06% dos votos [...].
[...] o segundo mandato de FHC
Fernando Henrique também conseguiu aprovar no Congresso, em 1997, a emenda começa sob a crise do Plano Real
constitucional que permitia a reeleição do presidente da República, de governadores e de e do Mercosul em 1999, implican-
prefeitos. E apoiado na aliança com o Partido da Frente Liberal (PFL), de Antônio Carlos do na crise do modelo econômi-
co e de inserção internacional e
Magalhães, Fernando Henrique obteve 55% dos votos nas eleições presidenciais de 1998,
as ações da política externa bra-
vencendo Lula pela segunda vez. sileira para esse fim.
No seu segundo mandato, FHC continuou adotando uma política neoliberal de aber- [...] o colapso [...] provocou mu-
tura às importações, dando continuidade ao programa de privatizações e de juros altos, a tações no discurso do governo e
fim de atrair capitais estrangeiros. Com os juros altos, as empresas nacionais diminuíram ganhou seu apogeu de crise do
modelo neoliberal da inserção in-
seus investimentos na produção e demitiram funcionários, o que aumentou o desemprego.
ternacional do Brasil surgido no
Os efeitos da crise – especialmente a falta de empregos – elevaram a insatisfação popular princípio da década de 1990. Os in-
e engrossaram a oposição ao governo FHC, tanto no Congresso quanto nas ruas. vestidores, atemorizados, arreba-
taram bilhões de dólares do Brasil.
[...]

JUCA MARTINS/OLHAR IMAGEM


Consecutivamente quando
ocorre crise, o capital especula-
tivo procura segurança, aproxi-
mando-se dos países desenvol-
vidos. Sempre que o momento
se configura sem turbulências, os
referidos ativos vão à busca de lu-
cro, direcionando seu alvo, sobre-
tudo para os países emergentes
que, ansiosos por recursos, ofere-
cem juros e lucros maiores do que
a dos países desenvolvidos.
O revide da crise instalada no
Brasil não foi diferente: sem suces-
so em conservar a paridade Dólar/
Real, o governo foi compelido a de-
preciar o real e igualmente apelar
ao FMI. Com os empréstimos do
FMI em mãos, FHC se viu obrigado
a adotar um severo controle sobre
Fila de pessoas desempregadas na Secretaria do Trabalho e Ação Social. Palmas (TO), 2000.
os gastos públicos, amortecer in-
vestimentos públicos e alçar ainda
O governo FHC teve de enfrentar também a oposição de: governadores (a exemplo mais as taxas de juros.
de Itamar Franco, de Minas Gerais), que queriam renegociar a dívida de seus estados com [...]
o governo federal; partidos como PT, PCdoB (Partido Comunista do Brasil), PDT e PSB A justificativa do governo para
(Partido Socialista Brasileiro), que geralmente votavam contra o governo no Congresso e a crise instalada no Brasil era de
que a mesma era exclusivamen-
de movimentos sociais como o MST, que defendia a reforma agrária imediata.
te externa.
Apesar disso, ao longo de oito anos, o governo FHC promoveu importantes avanços, ANDRADE, Antonia Costa. Os governos
sobretudo nas áreas da Educação, da Saúde e no controle do gasto público. FHC e Lula e a ressignificação do
neodesenvolvimentismo: o Reuni. Tese
de doutorado (Programa de Pós-graduação
279 em Educação) - Universidade Federal de
Uberlândia, Uberlândia, 2013.

13:20
ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 279 28/06/22 13:20

• Retomar uma vez mais o conceito de neoliberalismo e identificar os pontos da política eco-
nômica que se fundem nesse ideário.
• Refletir sobre os prejuízos de taxas elevadas de desemprego para as pessoas e para a eco-
nomia do país.
• Investigar a taxa de desemprego no país no momento em que este livro está sendo usado.
• Comentar que, desde 1997, existem denúncias de compra de votos para aprovação da
emenda constitucional que permitiu a reeleição no Brasil.

279

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 279 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Conhecer os avanços do go-
verno Fernando Henrique
Cardoso, a exemplo do au- Educação, gasto público e Saúde
mento do número de crian-
Na Educação ocorreu um grande aumento do número de crianças na escola: em 1994,
ças na escola, diminuição do
analfabetismo e aprovação a porcentagem de crianças de 7 a 14 anos de idade fora da sala de aula era de 12%; em
da LDB. 2002, passou a ser de 3%. A taxa de analfabetismo entre brasileiros com mais de 10 anos
• Pesquisar as mudanças intro- de idade, que era de 15% em 1995, caiu para 11%, em 2001. Foi aprovada também a Lei
duzidas pela LDB que me- de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), em 1996, que introduziu importantes
lhoraram o nível de ensino. mudanças no sistema educacional brasileiro, de modo a elevar sua qualidade.
Material para a pesquisa: Em 1995, sob a inspiração do professor Cristovam Buarque, governador do Distrito
BRASIL. Senado Federal. Co- Federal, foi gestado o programa Bolsa Escola, que provia o pagamento de uma renda
ordenação de Edições Técni- mínima a famílias pobres que garantissem a frequência das crianças na escola. Em 2001,
cas. LDB: Lei de diretrizes e o programa foi adotado pelo governo FHC, que, por meio dele, beneficiou mais de 5
bases da educação nacional. milhões de famílias.
Brasília, DF: Coordenação de
Edições Técnicas, 2017. Dis-

GERALDO MAGELA/FOLHAPRESS
ponível em: https://www2.
senado.leg.br/bdsf/bitstream/
handle/id/529732/lei_de_di- À direita, o governador
retrizes_e_bases_1ed.pdf. do Distrito Federal
Acesso em: 13 jul. 2022. Cristovam Buarque,
durante lançamento do
• Ponderar, em conjunto com
programa Bolsa Escola,
os alunos, o fato de que o go- na cidade-satélite de
verno FHC, além dos avanços Paranoá (DF), 1995.
na política educacional, foi
responsável pela adoção de
programas sociais que bene-
ficiavam famílias pobres.
Aids: sigla em inglês Em relação ao controle do gasto público, uma importante ini-
• Reconhecer a importância
da síndrome da
da Lei de Responsabilidade imunodeficiência adquirida, ciativa do governo FHC foi a aprovação, no ano 2000, da Lei de
Fiscal para a saúde financei- causada pelo vírus HIV, Responsabilidade Fiscal.. Essa lei proíbe o administrador público
ra dos municípios, dos esta- que pode ser contraída por (prefeito, governador ou presidente) de gastar mais do que o arre-
meio de relações sexuais
dos e do país. com pessoas soropositivas cadado. O desrespeito a essa lei prevê graves punições, que vão
• Relacionar a queda do índi- sem o uso de preservativo, desde a perda dos direitos políticos até o pagamento de multas e
ce de mortalidade infantil à pela transfusão de sangue
prisão dos infratores.
contaminado ou por
melhoria no saneamento bá- compartilhamento de Na Saúde, o programa de combate à aids adotado pelo
sico e ao aumento dos níveis objetos contaminados que governo tornou-se referência mundial. O índice de mortalidade
de escolarização e de renda perfuram ou cortam a pele.
infantil caiu significativamente: em 1994, era de 38,4 mortes por
das famílias. Índice de mortalidade
infantil: número de mil nascimentos; em 2001, passou a ser de 28,6 mortes por mil
• Efetuar leitura compartilha-
mortes de menores de nascimentos. No campo social, o total de famílias sem-terra assen-
da do texto de apoio, para ter um ano de idade por mil tadas, em 1994, era de 218 mil; ao final dos oito anos do governo
uma visão mais consistente nascidos vivos.
FHC, tinha subido para 688 mil.
da educação no governo FHC.
280
Dica de leitura
Artigo que analisa as políti-
cas educacionais implementa- TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 280 presidente abriu exceção à diretriz de usar os 28/06/22 13:20 D3_
recursos arrecadados com a privatização para
das no governo de Fernando A educação no governo FHC o abatimento da dívida pública. Contra o voto
Henrique Cardoso, com foco da oposição, aprovou-se o Fundo de Manuten-
Assim como na saúde, na na educação cria- ção do Ensino Fundamental e Valorização do
nas mudanças efetuadas no ram-se políticas para ampliar a escolariza- Magistério (Fundef), que redistribui recursos
Ensino Superior. ção, especialmente deficiente entre os mais em favor dos municípios com maior número
• DURHAM, Eunice Ribeiro. pobres. Embora não tenha contado com uma de matrículas e assegurou um gasto mínimo
nova fonte de recursos, à diferença da saúde por aluno, com o complemento do governo fe-
A educação no governo de [para a qual criou-se uma contribuição espe- deral onde necessário. O Fundef estimulou os
Fernando Henrique Cardoso. cífica, a CPMF], o ensino fundamental bene- municípios a ampliar as matrículas no ensino
Tempo Social, São Paulo, v. 11, ficiou-se da receita extraordinária resultante fundamental e permitiu o aumento do salá-
n. 2, p. 231-254, out. 1999. dos leilões da telefonia celular, caso em que o rio dos professores nas regiões menos desen-
280

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 280 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Refletir
sobre a relação en-
tre a abertura política e eco-
nômica experimentada na
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
década de 1990 e a diversifi-
cação dos gêneros musicais
Anos 90: uma década conectada então praticados no Brasil,

SONY BMG MUSIC ENTERTAINMENT


Leia o texto a seguir com atenção. para evidenciar o valor de
[…] os anos [19]90 derrubaram principal- cada estilo e ritmo e, dessa
mente o autoritarismo estético. Na música, o forma, combater preconcei-
tos e positivar a diversidade.
cenário foi democrático. Todos tiveram vez: axé
music, pagode romântico, sertanejo, lambada,
boy bands, grunge, funk melody e até figuras inu- Dica de leitura
sitadas como Tiririca e Mamonas Assassinas. Texto em que a psicanalista
– Deixou-se de marginalizar certos estilos [...]. Maria Rita Kehl busca inter-
A cantora Fernanda Abreu, [...] destaque da pretar o surgimento do grupo
geração pela junção de samba e funk, conta que de rap Racionais Mc’s, no final
nessa época surgiram as misturas mais criativas: da década de 1990.
“Foi uma década privilegiada em termos de novos • KEHL, Maria Rita. Radicais,
talentos musicais, revelando artistas incríveis. Fac-símile da capa do disco Raciais, Racionais, a grande
A fusão da linguagem pop internacional com os Afrociberdelia, de Chico Science e fratria do rap na periferia
Nação Zumbi, de 1996. de São Paulo. São Paulo em
ritmos brasileiros deu o tom. Marcelo D2 misturou
samba com hip-hop, Carlinhos Brown mesclou MPB, samba e reggae, já Chico Science e Perspectiva, São Paulo, v. 13,
Nação Zumbi juntaram rock e música eletrônica com ritmos regionais, como maracatu p. 95-106, 1999.
e coco-de-roda.” […].
O acesso à informação trouxe a possibilidade de se recombinar o que já existia. +ATIVIDADES
“Com a tecnologia, passou-se a ter acesso a obras do passado, podendo ver, rever e Organizar, na escola, um
misturar referências […]” afirma [Silvio] Essinger [jornalista e ex-aluno da PUC que festival de música dos anos
lançou o Almanaque Anos 90]. 1990. Cada pessoa ou grupo
Na era da tecnologia, as ideologias são deixadas de lado, já que, com a queda do vai interpretar um sucesso da
Muro de Berlim, caíram por terra os conceitos de esquerda e direita, que marcavam época, nacional ou internacio-
as identidades dos jovens, de 16 a 24 anos, até então. “Houve um certo desencanto nal, e de diferentes estilos.
Caso o grupo prefira, pode
com a política. Os partidos se fecham para novas ideias e o que passa a ser mais
trazer para a sala de aula o
importante é a imagem do candidato, definida pelo marketeiro, desde a cor da
áudio ou vídeo de uma música
gravata ao abraço em um popular”, afirma o […] professor Ricardo Ismael.
interpretada por um profis-
O jovem de qualquer época se motiva a se envolver nas questões públicas pela sional e informar aos demais
possibilidade de transformação. Na última década do século XX, a juventude per- sobre o estilo e o contexto de
cebeu que, ao não influenciar nas decisões dos partidos, a saída era se engajar em produção da obra escolhida.
movimentos culturais e sociais, como o Greenpeace. […] Esta proposta de atividade
LEMOS, Sarah. Anos 90: uma década conectada. Jornal da PUC/RIO, Rio de Janeiro, 15 maio 2008. pretende estimular os estu-
Disponível em: http://jornaldapuc.vrc.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=888&sid=22&tpl=printerview. dantes a valorizarem o fruir
Acesso em: 23 mar. 2022.
de diversas manifestações
artísticas e culturais, locais e
281 mundiais, que floresceram
nos anos de 1990. E, com isso,
contribuir para o desenvolvi-
13:20 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 281 28/06/22 13:20 mento da competência geral 3.
(CONTINUAÇÃO) A atividade quer contri-
buir, também, para o desen-
volvidas do país. Por outro lado, institui-se o volvimento da habilidade
programa Bolsa Escola, com a oferta de ajuda EF09HI27, pois busca facilitar
financeira às famílias pobres com filhos entre aos estudantes a percepção da
sete e catorze anos, desde que frequentando a
escola. A soma dessas políticas levou a que se
relação entre mudanças cultu-
atingisse o objetivo de colocar “todas as crian- rais no Brasil no contexto da
ças na escola”. globalização.
FAUSTO, Boris. História do Brasil.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998. p. 505.

281

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 281 31/08/22 10:22


ENCAMINHAMENTO
a) No campo estético, os anos 1990 derrubaram o autoritarismo, democratizando o campo da música, no qual se viram
• Conhecer uma importante diversos estilos musicais surgindo e sendo aceitos. No campo político, houve certa desilusão; os partidos se fecharam para
bandeira do governo Lula, o novas ideias e o marketing do candidato passou a ser mais importante que a sua plataforma política, ou seja, “suas ideias”.
Programa Fome Zero, e o seu a) Com base na leitura do texto, compare os anos 1990 e o período da ditadura civil-
principal objetivo. -militar no campo estético e político.
• Interpretar a tabela intitula-
b) Que vantagem a existência da internet e a globalização trouxeram para o campo
da Brasil: índice de pobreza
da música na última década do século XX?
(1993-2008) e comentar que
a fonte de onde foi extraída c) Em grupo. Pesquisem sobre mudanças culturais (estilos musicais, estilos de roupa,
é confiável. expressões na língua portuguesa, estilos de dança) ocorridas no Brasil na década de
1990 e relacionadas ao processo de globalização. c) Resposta pessoal.
Para refletir. c) Sugestões de b) A existência da internet permitiu tanto o acesso às obras do passado quanto recombinar estilos
sites para a pesquisa: diferentes, sobretudo nacionais com internacionais.
Governo Lula

RICARDO STUCKERT/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.


• CURCIO Camila; OHANA
Eduardo; IZZO Matheus. O
sucesso meteórico do grunge Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva, da coligação lide-
e da música alternativa nos rada pelo PT, venceu as eleições com 61,27% dos votos
anos 90. Rocknbold. [S.l.], válidos, enquanto José Serra, do PSDB, obteve 38,73%.
17 jul. 2020. Disponível Ao assumir o governo, Lula anunciou como prio-
em: https://rocknbold. ridade de seu governo o Programa Fome Zero,, cujo
com/2020/07/o-sucesso- objetivo era garantir a todos os brasileiros uma alimen-
meteorico-do-grunge-e- tação adequada em termos de qualidade, quantidade e
da-musica-alternativa-nos- regularidade.
anos-90/. Acesso em: 13 jul. O programa combinava políticas estruturais, como a
2022.
intensificação da reforma agrária, com políticas específi-
• CERINI, Marianna. Moda dos
cas, como a melhoria da merenda escolar, e o Programa
anos 90: uma breve história do Bolsa Família.. Implantado em 2004, o Bolsa Família é
que vestimos. CNN Brasil. São
o resultado da unificação de quatro outros programas
Paulo, 1 mai. 2020. Disponível
criados no governo FHC: Cartão Alimentação, Bolsa
em: https://www.cnnbrasil.
Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio Gás. Lula ampliou
com.br/estilo/moda-dos-
anos-90-uma-breve- consideravelmente as iniciativas anteriores, conseguindo,
historia-do-que-vestimos/. assim, diminuir substancialmente o índice de pobreza
Acesso em: 13 jul. 2022. no Brasil. Foi essa a principal marca de seu governo.
Observe a tabela.
Fotografia oficial
TEXTO DE APOIO do presidente da
República, Luiz Inácio Brasil: índice de pobreza (1993-2008)
Lula e o novo Lula da Silva.
protagonismo brasileiro Brasília (DF), 2003. Ano Índice de pobreza (%)
1993 47
O governo Lula da Silva (2003-
2010) foi marcado por uma reto- 1995 38
mada vigorosa do crescimento 2008 25
econômico, acompanhado, desta
Fonte: FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo.
feita, por amplos programas de São Paulo: Contexto, 2016. p. 135.
distribuição de renda e inclusão
social. Tais elementos legitima-
ram e incentivaram uma ação in-
282
ternacional do Brasil mais ativa e
propositiva, que foi denominada
“novo protagonismo mundial”. O cenários de um banco, 282
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd acabou assumindo um a condenação dos subsídios norte-americanos 20/08/22 14:52 D3_

processo de globalização, no qual papel político crescente, ao ponto de o Bric or- para o açúcar, o algodão e a soja.
o Brasil buscou vantagens com- ganizar conferências internacionais regulares SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. O Brasil no mundo.
petitivas, favoreceu imensamen- e mesmo votos comuns na ONU. In: REIS, Daniel Aarão (coord.).
te tais ações. Modernização, ditadura e democracia:
A política externa brasileira praticada pelo
1964-2010. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.
Sua melhor expressão é a atu- presidente Lula da Silva e pelo Itamaraty – em (História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 5, p. 160,163).
al presença do Brasil no grupo especial sob a direção doutrinária do secretá-
dos principais países emergen- rio-geral do ministério, embaixador Samuel
tes, o chamado Bric (Brasil, Rús- Pinheiro Guimarães, e pelo chanceler Celso
sia, Índia e China). Aos poucos, Amorim – levou a alguns resultados bastante
uma associação apenas “esta- importantes, como repetidas vitórias do país na
tística”, originada na análise de Organização Mundial do Comércio (OMC), com
282

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 282 26/08/2022 18:00


TEXTO DE APOIO
Os impactos do Programa
Bolsa Família na educação
Programa Bolsa Família

INACIO TEIXEIRA/PULSAR IMAGENS


[...] Os impactos do benefício
[Programa Bolsa Família – PBF]
O Bolsa Família foi um programa de
foram investigados na matrícu-
transferência de renda que beneficiava la escolar, que é uma condicio-
famílias pobres ou extremamente pobres. nalidade do programa, e tam-
Desde sua criação, a polêmica em torno do bém na progressão, repetência
Bolsa Família ainda divide tanto os espe- e evasão escolar. [...] Quanto
aos efeitos do programa sobre a
cialistas quanto o restante da população. matrícula escolar, os resultados
Apresentamos, a seguir, alguns argu- mostraram que o PBF aumenta
mentos desse debate. a probabilidade das crianças be-
neficiárias de se matricularem
nas regiões Norte/Centro-Oeste
e Nordeste, especialmente nas
áreas rurais. [...]
Mulher segura cartão do Bolsa Família em [...] Na área rural da região Nor-
frente à sua casa. Poções (BA), 2016. te/Centro-Oeste, o PBF diminuiu
em aproximadamente 98% a
probabilidade de evasão escolar
para as crianças de todas as ida-
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
des. [...]
[...] Nas áreas urbanas, o PBF
Bolsa Família em debate demonstra não estar cumprindo
com seu objetivo de aumentar
Os defensores do programa argumentam que o Bolsa Família: acumulação de capital humano
a) é o maior programa de transferência de renda já posto em prática no Brasil; entre as crianças mais pobres,
reduzindo assim a transmissão
b) ajudou a dinamizar a economia dos municípios, possibilitando o aumento das vendas intergeracional da pobreza.
em mercearias, lojas e supermercados;
Uma pesquisa realizada com
c) contribuiu para diminuir o número de pessoas que viviam em situação de pobreza e beneficiários do PBF [...] con-
significou um avanço na obtenção de direitos sociais por parte de milhões de brasileiros; clui que o benefício é de grande
ajuda para as famílias e que a
d) no Brasil, pela primeira vez em muitos anos, houve melhoria na distribuição de
maior parte do subsídio é gasto
renda, o que se deve, em parte, ao Bolsa Família. em alimentação.
Os críticos do Bolsa Família argumentam que: KERN, Ana Paula; VIEIRA, Marcel de Toledo;
a) o programa é assistencialista e eleitoreiro; dá esmolas quando, na verdade, deveria FREGLUGLIA, Ricardo da Silva. Impactos do
Programa Bolsa Família na educação das
oferecer trabalho; crianças. In: ENCONTRO NACIONAL DE
ECONOMIA, 45, 2017, Natal. Anais [...].
b) o programa incentiva o ócio e ajuda quem não “gosta de trabalhar”; Natal: Associação Nacional dos Centros
c) manter as crianças na escola e vacinadas é obrigação das famílias e não do Estado brasileiro; de Pós-Graduação em Economia (Anpec),
2017.
d) não há fiscalização do programa; muitas pessoas recebem o Bolsa Família sem, de
fato, precisar dele para suas necessidades básicas. Imagens em movimento
A pesquisadora Ana Paula
• Reflita, debata e opine: quais argumentos você considerou mais convincentes?
Bortoletto discute o impacto
Por quê? Resposta pessoal.
do Programa Bolsa Família so-
bre a aquisição de alimentos
283 por famílias de baixa renda.
• FALA,Doutor - Ana Paula
Bortoletto: Impacto do
14:52 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 283 Professor, a intenção pedagógica desta
28/06/22 13:20 Programa Bolsa Família.
página é oferecer aos estudantes argumen- 2013. Vídeo (27min26s).
• Reconhecer que o Programa Bolsa Família, tos favoráveis e contrários ao Bolsa Família, Publicado pelo canal
implantado em 2004, é o resultado da uni- levando-os a conhecer os debates que em- Univesp. Disponível em:
ficação e ampliação dos programas sociais polgam os cidadãos, e preparando-os para https://www.youtube.com/
implementados no governo FHC. o exercício da cidadania. Queremos assim watch?v=SNerUN5KjK4.
• Perguntar aos alunos se conhecem famílias contribuir para o desenvolvimento da com- Acesso em: 14 jul. 2022.
que se valem do Bolsa Família e quais são os petência geral 7.
efeitos desse benefício na vida delas.

283

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 283 26/08/2022 18:00


TEXTO DE APOIO
Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC)
Como se fosse um progra- Política econômica
ma de governo para o segundo Argumentando que era necessário atrair a confiança
mandato de Luís Inácio Lula da
dos investidores externos e buscar o desenvolvimento sus-
Silva na Presidência da Repú-
tentável, o governo Lula adotou uma política econômica

ADRIANO KIRIHARA/PULSAR IMAGENS


blica, o Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) foi lança- neoliberal: renovou os acordos com o Fundo Monetário
do em cerimônia no Palácio do Internacional (FMI); concordou em atingir o superávit pri-
Planalto, no dia 22 de janeiro de mário fixado por aquele órgão; baixou a taxa básica de
2007. [...] juros e interveio no mercado, forçando a baixa do dólar.
O PAC engloba um conjunto de No entanto, para seguir essa receita, o governo reduziu
medidas destinadas a desonerar Vista aérea do Complexo
Industrial Portuário Governador os investimentos públicos, o que fez com que em 2003 o
e incentivar o investimento pri-
vado, aumentar o investimento Eraldo Gueiros. Ipojuca (PE), produto interno bruto (PIB) crescesse apenas 0,5%. Apesar
público e aperfeiçoar a política 2015. disso, puxada por saldos positivos na balança comercial, a
fiscal, promovendo o cresci- economia manteve-se aquecida e, com isso, em 2004, o
mento acelerado do país com Superávit primário: economia PIB cresceu 5,2% – o melhor resultado em dez anos.
diminuição das desigualdades de recursos do governo destinada
a equilibrar suas contas. Alguns
Além disso, a inflação cedeu, e o risco-país, que era de
de renda e entre regiões, preser-
vando, entretanto, o equilíbrio analistas criticam o fato de que, para 2 400 pontos no início do governo Lula, caiu para menos
atingir o superávit, o governo corta de 400. Risco-país é um índice que indica a possibilidade
fiscal e monetário e reduzin-
gastos em áreas sociais, como Saúde,
do a dívida e a vulnerabilidade Educação e combate à pobreza. de um país “dar calote” em sua dívida externa: quanto
externa. No discurso em que mais baixa a taxa de risco, maiores as facilidades de o
Taxa básica de juros: também
anunciou o Programa, o presi- chamada de Selic, é usada nas país obter empréstimos estrangeiros e maior o número de
dente da República fez questão transações feitas entre bancos e o
de mencionar que o PAC se am- Banco Central, e serve de referência
investidores dispostos a manter seu capital nele.
pliaria e desdobraria em várias para as demais operações, como Enquanto isso, o emprego crescia nas seis maiores
etapas, mas que inicialmente empréstimos de dinheiro a indivíduos regiões metropolitanas do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro,
abarcaria cinco blocos: medidas ou empresas por parte dos bancos.
Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre.
de investimento em infra-estru-
tura, inclusive de infra-estrutura
social, como habitação, sane-
amento básico e transporte de PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

massa, além de determinados


programas de água e eletricida-
de, como o Luz para Todos, que
Corrupção: o “cupim da República”
representam, de forma direta, Durante os debates que precederam a Constituição de 1988, o deputado Ulysses
melhoria da qualidade de vida Guimarães afirmou que a corrupção era o “cupim da República”. Essa sua frase anteci-
da população de baixa renda;
pou o que iria ocorrer: todos os governos eleitos depois de ele ter pronunciado a frase,
medidas de estímulo ao crédito
e ao financiamento; medidas de de Collor a Temer, sofreram acusações de corrupção.
desenvolvimento institucional; No governo Fernando Henrique Cardoso, ocorreram acusações de compra de votos
medidas de desoneração e ad- de parlamentares para que aprovassem a emenda que instituiu o direito à reeleição do
ministração tributária; e medi- presidente da República; a aprovação da emenda possibilitou a reeleição de FHC para
das fiscais de longo prazo.
novo mandato. O caso não sofreu investigação e acabou arquivado, o que abalou a
Resgatando a presença do Es- imagem do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
tado na definição de estratégias
e de investimentos, através de
um conjunto de medidas estru- 284
turantes, o PAC é um programa
de incentivo ao desenvolvimen-
to instituído para promover o
crescimento econômico, a gera- ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 284 28/06/22 13:20 264

ção de empregos e a melhoria


• Perceber que a política econômica de Lula foi, em princípio, uma continuidade do governo
das condições de vida da popu-
lação brasileira. [...] de FHC.
PROGRAMA de Aceleração do Crescimento • Trabalhar os conceitos de superávit primário, taxa básica de juros e retomar e aprofundar
(PAC). In: MORAES, Gloria. Dicionário o conceito de PIB.
histórico-biográfico brasileiro. Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas/CPDOC, • Retomar a ideia de que a corrupção é uma prática antiga na cultura política brasileira.
c2009. Disponível em: https://www.fgv.br/ • Refletir sobre práticas como nepotismo, compra de votos, favorecimento de aliados políti-
cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/
programa-de-aceleracao-do-crescimento-pac. cos, venda e compras superfaturadas, obras fantasmas, entre outras.
Acesso em: 15 jul. 2022.

284

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 284 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Ressaltar os fatores que au-
xiliaram na alavancagem da
No governo Lula, ocorreram, em 2005, várias denúncias de corrupção envolvendo economia no segundo go-
dirigentes do PT, entre os quais o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. A verno Lula.
denúncia mais grave foi o pagamento de um valor mensal a deputados para garantir que • Temas Contemporâneos
votassem a favor do governo na Câmara dos Deputados. Essa compra de votos ficou Transversais: o texto de apoio
conhecida como “mensalão”. permite ampliar o debate so-
Sete anos depois, os envolvidos no “mensalão” foram julgados pelo Supremo bre corrupção e mobilizar o
Tribunal Federal (STF) e, entre os condenados à prisão, estavam importantes lideranças tema cidadania e civismo.
de vários partidos, inclusive do PT. O episódio abalou a confiança de parte considerável Para refletir. c) Estimular o po-
de seus eleitores. sicionamento dos estudantes
A popularidade do presidente Lula, porém, continuou alta, o que sugere que as ante esse importante deba-
políticas sociais adotadas por seu governo tiveram um peso enorme na avaliação dos te do nosso tempo. Lembrar
que eram beneficiados por elas. a) Não. Comentar que ela está enraizada que a história não adivinha o
na cultura política brasileira. futuro, não faz predições; ela
a) Segundo o texto, a corrupção é um

ELIO RIZZO/FUTURA PRESS


fenômeno associado a um deter- ajuda na compreensão do pas-
minado governo ou partido? sado e do presente e nas rela-
b) Com base no texto, pode-se dizer ções entre um e outro.
que todos os políticos são iguais?
c) Você concorda com a afirmação
contida no título? c) Resposta pessoal.
Manifestantes em frente ao Supremo Tribunal Federal d) Em dupla. Reflitam e opinem: nós
durante sessão que analisou os processos que venceremos a corrupção no Brasil?
definiriam a validade da Lei da Ficha Limpa para as Justifiquem. d) Respostas pessoais.
eleições municipais de 2012. Brasília (DF), 2011.
b) Não. O que se pode dizer é que houve acusações de prática de corrupção em todos os governos, de Collor a Temer.

O segundo governo Lula oportunidades, que quando se


está diante de um alto grau de
Nas eleições de 2006, Lula reelegeu-se presidente da República com mais de 60% corrupção, os estados não con-
dos votos válidos; o segundo colocado foi Geraldo Alckmin, do PSDB. seguem fazer valer suas obri-
No segundo governo Lula, merecem destaque os campos da economia e da política gações em matéria de direitos
externa. Na economia,, o governo Lula foi favorecido por um fator interno e outro externo. humanos. Inclusive, a entidade
sugeriu que o fenômeno em
Internamente, beneficiou-se da estabilidade gerada pelo Plano Real e, externamente, da
questão fosse tratado como “cri-
expansão do comércio mundial, em parte por causa do bom desempenho da China. me contra a humanidade” pelos
Aproveitando-se dessa conjuntura favorável, o governo incentivou as exportações e conse- países-membros, elevando-o à
guiu sucessivos saldos positivos na balança comercial. Em 2007, Lula lançou o Programa de categoria de delitos como geno-
Aceleração do Crescimento (PAC), que previa investimentos em saneamento básico, portos, cídio e tortura [...].
estradas, urbanização, entre outros. O PAC, o controle da inflação, os sucessivos saldos [...] a corrupção corrói os prin-
cípios da igualdade e da não
positivos na balança comercial e a confiança no governo contribuíram para o crescimento discriminação, valores funda-
da economia. Observe o comportamento da economia brasileira entre 2006 e 2010. mentais para a organização
democrática de um estado, ao
impactar sobre pessoas que per-
285 tencem a grupos em situação de
discriminação, como imigrantes,
pobres, povos indígenas, refu-
giados etc. Percebe-se que estes
13:20 TEXTO DE APOIO
264a304-HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 285 [...] no âmbito internacional, a Convenção das
24/08/22 09:16 não usufruem dos seus direitos
Nações Unidas contra a Corrupção demonstra do mesmo modo que o resto da
Corrupção e violação a direitos preocupação com as ameaças trazidas pela cor- sociedade, muito disso em razão
humanos rupção, haja vista que a mesma promove inse- da adaptação à língua e práticas
Partindo da noção de corrupção como mode- gurança social e o desmonte das instituições sociais sendo, portanto, vítimas
lo operacional baseado na escolha racional do democráticas, além de comprometer o desen- fáceis de atos corruptos.
agente em subverter o interesse da coletivida- volvimento do Estado de direito. Igualmente, o
FERNANDES, João Marcelo Negreiros.
de, com a certeza de que obterá vantagem ilíci- Conselho da Europa vê no fenômeno da corrup- Corrupção e violação a direitos humanos:
ta, não há dúvida sobre o impacto negativo em ção a lesão ao governo, à justiça, à economia e obstáculos ao desenvolvimento brasileiro
relação à cláusula constitucional do Estado so- ao aparelhamento da burocracia estatal. no século XXI. Revista Acadêmica Escola
Superior do Ministério Público do
cial de direito, colocando em sério risco direitos Cumpre recordar que a Organização das Na- Ceará, Fortaleza, v. 11, n. 1, p. 107-128,
humanos. [...] ções Unidas (ONU) tem reafirmado, em várias 21 jun. 2019. p. 113-117.
285

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 285 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Interpretar os dados da ta-
bela e observar a respeitabi-
lidade da fonte utilizada. Brasil: população e PIB (2006-2010)
• Associar o desempenho do Ano População (em milhões) PIB (em bilhões de reais) Crescimento anual (%)
PIB de 2009 à grave crise ini- 2006 185 564 2 409 4,0
ciada nos Estados Unidos em 2007 187 642 2 720 6,1
2008.
2008 189 613 3 109 5,1
• Perceber a rápida recupera-
ção da economia brasileira, 2009 191 481 3 333 -0,1

observando o desempenho 2010 193 252 3 885 847 7,5


do PIB brasileiro em 2010. Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Em 2010, PIB varia 7,5% e fica em R$ 3,675 trilhões.
IBGE. Brasília, DF, 3 mar. 2011. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo.html?busca=1&id=1&id
• Interpretar as variações das noticia=1830&t=2010-pib-varia-7-5-fica-r-3-675-trilhoes&view=noticia#:~:text=Assim%2C%20segundo%20as%20
taxas de desemprego nas re- informa%C3%A7%C3%B5es%20das,2009%20(R%24%2016.634). Acesso em: 12 abr. 2022.

giões metropolitanas e ava-


liar o impacto disto nas vidas Dialogando
das pessoas e na economia Observando a tabela, pode-se afirmar que a crise iniciada nos Estados Unidos, em 2008, afetou a
do país como um todo. economia brasileira? Não. Se em 2009, em razão da crise, o PIB brasileiro apresentou uma taxa negativa, no
• Conhecer os elementos que ano seguinte voltou a crescer 7,5%.
permitem considerar o Bra- Brasil: taxa média anual de desocupação em regiões metropolitanas (2006-2010)
sil como um país emergente, Ano Desemprego (%)
o que lhe valeu o ingresso 2006 10,0
no G20.
2007 9,3

2008 7,9
Imagens em movimento 2009 8,1
Breve explicação do Repór- 2010 6,7
ter Brasil sobre o que significa
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa mensal de emprego. IBGE. Brasília, DF, c2022. Disponível
o Produto Interno Bruto (PIB). em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9180-pesquisa-mensal-de-emprego.html?=&t=series-historicas.
Acesso em: 23 mar. 2022.
• REPÓRTER Brasil explica: você
sabe o que é PIB? 2015. Vídeo Esse crescimento da economia contribuiu também para o aumento considerável no
(59s). Publicado pelo canal TV número de trabalhadores com carteira assinada. Observe a queda do desemprego nesse
Brasil. Disponível em: https:// mesmo período.
www.youtube.com/watch?-
v=PlmksH22uIM&t=19s. Aces-
so em 14 jul. 2022. O Brasil amplia sua visibilidade externa
Valendo-se de exemplos Por possuir características como território extenso, população grande, recursos natu-
simples e acompanhados de rais abundantes e uma economia que vinha apresentando altas taxas de crescimento, o
imagens, neste vídeo, o IBGE Brasil foi considerado um país emergente. A condição de país emergente valeu ao Brasil
explica como o Produto Inter- o ingresso no G20, grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União
no Bruto (PIB) é calculado. Europeia. O grupo foi criado em 1999, e os países que o integram respondem por 85% da
• PIB:o que é, para que serve produção mundial e abrigam dois terços da população do planeta. O G20 tem a missão
e como é calculado - IBGE Ex- de contribuir para o aprimoramento da governança global.
plica. 2017. Vídeo (4min46s).
Publicado pelo canal IBGE. 286
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=lV-
jPv33T0hk. Acesso em: 14
Sugestão de texto para pesquisa: O QUE
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 286 20/08/22 14:53 D3_
jul.2022.
É o PIB. Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. Rio de Janeiro, [202-]. Disponível
+ATIVIDADES
em: https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php.
Em grupo. Pesquisem sobre
Acesso em: 14 jul. 2022.
o PIB brasileiro no ano de uso
deste livro e as razões desse
desempenho. Apresentem
um pequeno relatório sobre
o assunto.
286

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 286 29/08/22 14:22


ENCAMINHAMENTO
• Destacar que a política ex-
terna do governo Lula abriu
Em 2006, os países emergentes compu- espaço para a maior coope-

CARLOS HUMBERTO/LATINCONTENT/GETTY IMAGES


seram o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China); ração do Brasil com outros
em 2011, a África do Sul (em inglês, South países. Isso representa uma
Africa)) ingressou oficialmente no grupo dos
Africa mudança de padrão históri-
emergentes. A sigla usada para denominá- co de alinhamento aos Esta-
-los ganhou então um “S”: BRICS BRICS.. dos Unidos.
• Retomar o debate sobre a
Além disso, o governo Lula criticou a
concentração de poder em escala mundial
concentração de poder do
Conselho de Segurança da
e, em razão disso, pleiteou para o Brasil
ONU nas mãos de apenas cin-
um assento permanente no Conselho de co potências: Estados Unidos,
Líderes das nações do BRICS: da esquerda para a
Segurança da ONU, ONU, contribuindo para direita, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, Rússia, China, Reino Unido e
dar maior visibilidade internacional ao o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o França.
Brasil e contribuindo para a elevação da presidente da China, Hu Jintao, o primeiro-ministro
da Índia, Manmohan Singh. Brasília, (DF), 2010. • Discutir sobre a importância
autoestima dos brasileiros. do pleito do governo Lula,
No campo educacional ocorreu o cres- de um assento permanente

LUCIANA WHITAKER/PULSAR IMAGENS


cimento dos níveis de escolarização, que já para o Brasil no Conselho de
vinham aumentando desde o governo FHC, Segurança da ONU e seus im-
e a criação do Programa Universidade para pactos para o país e para os
(Prouni),), que concedia bolsas de estudo
Todos (Prouni brasileiros.
a jovens de famílias de baixa renda, permitindo • Compreender o funcionamen-

que eles cursassem a universidade. to do Prouni e sua importân-


cia para os jovens que, além
Lula terminou seu mandato com mais
de estudar, precisam ajudar
de 80% de aprovação, conseguindo com
no sustento de suas famílias.
isso influenciar as eleições presidenciais
• Reconhecer que, no governo
de 2010, que deram a vitória à candidata
Lula, além do mencionado
apoiada por ele, Dilma Rousseff, do PT. Ela Prouni, houve uma expan-
obteve 56,05% dos votos válidos, contra são de vagas nas universida-
43,95% obtidos por José Serra, do PSDB. des federais e ampliação do
Fies, programa de financia-
Conselho de Segurança da ONU: atualmente, apenas mento da educação superior
Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China têm em instituições privadas.
assento permanente e poder de veto no Conselho de • Explicar que as altas taxas de
Segurança.
aprovação de Lula, no último
Prouni: programa do Ministério da Educação, criado
em 2004, que oferece bolsas de estudos em instituições ano de seu mandato, podem
privadas de ensino superior a estudantes pobres ser atribuídas ao crescimen-
interessados em cursar a universidade. to econômico combinado
com políticas de acesso ao
crédito, distribuição de ren-
Plataforma de produção de petróleo no campo da e expansão do sistema
de Tupi, reserva do pré-sal da Bacia de Santos.
Litoral do Rio de Janeiro (RJ), 2010.
educacional superior, conse-
guindo, com isso, contribuir
287 para a eleição de sua candi-
data à sucessão presidencial.

14:53 TEXTO DE APOIO


D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 287
câmbio cultural, tecnológico, econômico e as potências mundiais, busca formar alian-
28/06/22 13:20
financeiro; 4) evitar acordos que pudessem ças com os países em desenvolvimento,
[...] durante o primeiro mandato de Lula, comprometer o desenvolvimento nacional com parceiros não tradicionais e alianças
a política externa brasileira seguiu algumas em longo prazo. Ainda segundo os autores, regionais, priorizando o diálogo Sul-Sul.
diretrizes, que se desdobraram no segundo a política externa brasileira, durante o Go- Na América do Sul, o Brasil seguiu ten-
período. Foram elas: 1) contribuir para a bus- verno Lula, adotou a estratégia de “autono- tando fortalecer a integração regional. Um
ca de maior equilíbrio internacional, como mia pela diversificação”, que se aprofun- exemplo nesse sentido foi a criação da
forma de atenuar o unilateralismo; 2) for- dou no segundo mandato do Presidente; e Unidade de Nações Sul-Americanas [...].
talecer as relações bilaterais e multilaterais as mudanças decorrentes dessa forma de
OLIVEIRA NETO, João Batista de. A Política Externa Brasileira
para aumentar o peso do país nas negocia- inserção internacional também foram mais de Lula (2007-2010) e de Dilma (2011- 2014): Da Ascensão
ções políticas e econômicas internacionais; importantes neste período. Por “autonomia ao Declínio Internacional. Artigo (Especialização em Relações
3) aprofundar as relações diplomáticas para pela diversificação”, entende-se que o país, Internacionais) - Programa de Pós-Graduação em Relações
aproveitar as possibilidades de maior inter- para reduzir assimetrias nas relações com Internacionais, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2016.
287

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 287 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Enfatizar a importância so-
cial da eleição da primeira
mulher ao cargo mais alto da
República.
Governo Dilma Rousseff
• Refletir sobre as medidas do Ao tomar posse, em janeiro de

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE


governo Dilma, visando com- 2011, a presidente prometeu manter a
pensar as perdas resultantes inflação controlada, estabilizar a eco-
da crise externa e alavancar a
nomia e aumentar os investimentos no
economia, com destaque para
PAC, que previa a realização de obras
a ampliação dos parceiros co-
de infraestrutura (aeroportos, portos,
merciais e para as concessões
de portos, aeroportos, rodo- estradas etc.).
vias e ferrovias. No campo social, prometeu que seu
governo forneceria bolsas de estudo para
Professor, é possível que o
programa Minha Casa, Minha jovens que cursavam o Ensino Médio
Vida seja de conhecimento profissionalizante; e que investiria no
dos alunos e que na sua co- Programa Minha Casa Minha Vida. Vida.
munidade existam famílias No início do mandato de Dilma, a
beneficiadas. Pedir para que crise externa iniciada nos Estados Unidos,
expliquem o que sabem sobre em 2008, atingiu também a União
o programa e de que modo a Europeia, diminuindo o mercado para
casa própria pode influenciar os produtos brasileiros. Internamente, a
na qualidade de vida de uma falta de investimentos em portos, estra-
pessoa ou família. Cerimônia de posse da presidente eleita Dilma das e aeroportos brasileiros dificultava o
Rousseff. Brasília (DF), 2011.
crescimento da economia.
Dica de leitura As crises externa e interna se refletiam nos números do governo
Dilma. Nos dois primeiros anos de seu governo, o crescimento do
Relação das principais pro- Minha Casa Minha
postas de campanha de Dilma Vida: programa do PIB foi tímido: 2,7%, em 2011, e 1,0%, em 2012. Para compensar
governo federal com as perdas decorrentes da crise externa e aquecer a economia, o
Rousseff nas eleições de 2010. o objetivo de ajudar
os mais pobres a governo Dilma tomou uma série de medidas:
• CONHEÇA as principais
conseguirem a casa a) aumentou os investimentos no PAC;
propostas de campanha própria. As prestações
de Dilma Rousseff. G1. São pagas durante o b) desonerou o setor produtivo, especialmente o automobilístico,
Paulo, 1 nov. 2010. Disponível financiamento desses a fim de estimular a produção, a venda e o emprego nesse setor;
imóveis são divididas
em: https://g1.globo.com/ de acordo com o c) promoveu várias diminuições nas taxas de juros Selic, que em
especiais/eleicoes-2010/ rendimento familiar. Para março de 2013 chegaram a 7,5%;
noticia/2010/11/conheca- as famílias com renda
familiar de até 1800 d) ampliou e diversificou seus parceiros comerciais; enquanto dimi-
principais-propostas-de-
reais, as prestações não nuíam as exportações brasileiras para os Estados Unidos e a
campanha-de-dilma-rousseff. podem ultrapassar 10%
União Europeia, cresciam as destinadas à China e ao Mercosul;
html. Acesso em: 14 jul. 2022. da renda do comprador.
Desonerar: livrar o e) iniciou um programa de concessões para empresas privadas em
setor de pagar parte aeroportos, rodovias, ferrovias e portos, em meados de 2012,
TEXTO DE APOIO dos impostos.
com o objetivo de melhorar a qualidade dos serviços.
O que é taxa Selic
A taxa Selic representa os ju- 288
ros básicos da economia brasi-
leira. Os movimentos da Selic
influenciam todas as taxas de feitas diariamente nesse sistema equivale à do país em adotar medidas para manter a infla-
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 288 28/06/22 13:20 264
juros praticadas no país – sejam taxa Selic. ção dentro de uma faixa fixada periodicamente
as que um banco cobra ao con-
Mas de que tipo de operações estamos falan- pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), com-
ceder um empréstimo, sejam as
que um investidor recebe ao rea­ do? São empréstimos de curtíssimo prazo – com posto pelos ministros e o presidente do Banco
lizar uma aplicação financeira. vencimento em apenas um dia – realizados en- Central. O objetivo é assegurar a estabilidade da
tre as instituições financeiras, que têm títulos economia e evitar descontroles de preço como
A Selic tem esse nome por públicos federais dados como garantia.
conta do Sistema Especial de Li- os que o país já viveu em décadas passadas, que
quidação e de Custódia, um sis- [...] causam a perda do poder de compra da moeda.
tema administrado pelo Banco A Selic é um dos elementos centrais da estra- TAXA Selic: O que é, para que serve e como influencia seus
Central em que são negociados tégia de política monetária no Brasil, que está investimentos. InfoMoney. São Paulo, c2020-2022. Disponível
títulos públicos federais. A taxa baseada em um sistema de metas de inflação. em: https://www.infomoney.com.br/guias/taxa-selic/.
média registrada nas operações Criado em 1999, ele estabelece o compromisso Acesso em: 14 jul. 2022.
288

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 288 26/08/2022 18:00


Imagens em movimento
Vídeo da Folha de S.Paulo
sobre os protestos de junho de
2013.
As manifestações de 2013: a voz das ruas
• VEJA imagens aéreas de
Apesar dessas medidas, o terceiro ano do governo Dilma iniciou com queda na ati-
protesto em SP. 2013. Vídeo
vidade econômica. Para agravar a situação, a presidente tinha dificuldade de negociar
(2min55s). Publicado pelo ca-
com os líderes dos diferentes partidos e, por isso, não conseguia aprovar seus projetos no nal Folha de S.Paulo. Disponí-
Congresso Nacional. Nesse contexto crítico, em junho de 2013, o Brasil sediou a Copa das vel em: https://www.youtube.
Confederações. Os gastos com essa Copa e com a Copa do Mundo, programada para o com/watch?v=LZuvwDgzj_M.
ano seguinte, geraram protestos contra o governo; os manifestantes reclamavam da falta Acesso em: 14 jul. 2022.
de investimento na Educação. Saíam com cartazes com dizeres como: “Me chama de
Copa e investe em mim!”.
Nesse mesmo ano, os protestos iniciados na cidade de São Paulo contra o aumento
TEXTO DE APOIO
da passagem de ônibus se transformaram em uma onda gigante de manifestações que Concomitantemente à discus-
se espalhou pelo país todo. No dia 17 de junho, aconteceram protestos em várias capitais são nacional do Marco Civil, em
2013, aconteceram as Jornadas
e na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. de Junho. Com o descontenta-
Com o crescimento do movi- mento geral da população, o
ALF RIBEIRO/SHUTTERSTOCK.COM

mento, os manifestantes aprofundaram discurso inicial daquelas mani-


e diversificaram suas reivindicações, festações — que contestavam o
aumento na tarifa dos transpor-
passando a criticar os baixos inves-
tes públicos em São Paulo —, se
timentos em Saúde e Educação, a deturpou, abrindo espaço para
violência policial, a corrupção e os um desfile das mais diversas
gastos governamentais com a Copa do causas: contra a corrupção, por
Mundo. Os manifestantes propunham, melhores serviços públicos e até
mesmo em favor da aprovação
entre outras coisas, a “democratização
do Marco Civil da Internet.
da política”. Segundo estudiosos, os
Os protestos de 2013 estão in-
protestos populares de junho de 2013 trinsecamente relacionados à
no Brasil revelaram algumas caracterís- internet — basta lembrar os car-
ticas importantes, como: tazes anunciando frases como
“Saímos do Facebook”. Mais do
a) a ausência de grandes partidos e
que isso, as manifestações da-
sindicatos; quele ano consagraram no país
b) o uso intensivo de redes sociais uma modalidade de cobertura
na mobilização e organização dos eventos ao vivo pela inter-
net. Essa prática já havia sido
dos protestos;
utilizada em outras manifesta-
c) a presença significativa de jovens ções [...], mas foi a partir de ju-
entre os manifestantes, que- nho de 2013 que essas transmis-
brando o mito do desinteresse sões se tornaram fundamentais.
da juventude pela política; O uso da câmera do celular
propiciou uma nova forma de
d) a capacidade de esses movi- comunicação pela rede. Esse
mentos reunirem pessoas de Manifestação do Movimento Passe Livre na Avenida período, em que havia a possi-
diferentes camadas sociais. Paulista. São Paulo (SP), 2013. bilidade de transmitir os acon-
tecimentos em tempo real e
289 de se comunicar diretamente
com os usuários, ficou marcado
por essa estética e prenunciou
o papel crucial que a internet
13:20 ENCAMINHAMENTO
264a304-HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 289 24/08/22 09:17 iria desempenhar nos proces-
sos eleitorais subsequentes de
• Dar início a uma aula dialogada, mapeando o conhecimento dos alunos sobre os protes- 2014 e 2018. O poder da internet
tos de 2013 por meio de perguntas, como: vocês já ouviram falar desses protestos? Sabem como ferramenta de mobiliza-
como eles começaram? Como vocês imaginam que um protesto que começou em uma cida- ção e persuasão foi aos poucos
de possa ter se espalhado pelo país? ocupando o primeiro plano do
debate político.
• Debater os protestos contra o governo Dilma e as principais críticas à sua administração.
LEMOS, Ronaldo. República digital. In:
• Debater sobre o uso das redes sociais no campo da política (movimentos populares, elei- SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa
ções, entre outros). Murgel (org.). Dicionário da República:
51 textos críticos. São Paulo: Companhia
das Letras, 2019. p. 311.

289

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 289 26/08/2022 18:00


TEXTO DE APOIO
Com o foco na agenda econô-
mica, que procura conciliar cres-
cimento do PIB e estabilidade
Operação Lava Jato e

RODOLFO BUHRER/LA IMAGEM/FOTOARENA


macroeconômica, o Governo Dil-
ma manteve, em linhas gerais, as
diretrizes adotadas pelo Governo eleições presidenciais
Lula no tocante à profissionali- Em março de 2014, a Polícia Federal
zação da administração pública
e às relações com a sociedade. deflagrou a operação Lava Jato e desco-
No entanto, enfrentando um am- briu um grande esquema de lavagem e
biente político-institucional de desvio de dinheiro envolvendo a empresa
crescente turbulência, marcado Petrobras, políticos e grandes empreiteiras.
pelas denominadas “jornadas de
junho de 2013” e pelo início das
As delações premiadas do ex-diretor de
operações da Lava Jato em 2014, abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto
pouco avançou no sentido da Costa, e do doleiro Alberto Youssef alimen-
adoção de iniciativas reformistas taram as investigações. Ambos assinaram,
de maior envergadura nas estru-
no Ministério Público Federal, a delação
turas e na forma de atuação do
Estado [...]. premiada, e Paulo Roberto informou que
[...] No segundo Governo Dil- as grandes empreiteiras pagavam propina
ma, novos ministérios, como o Sede da Polícia Federal em Curitiba (PR), 2015. para vencer a concorrência em obras da
da Igualdade Racial, de Políti- Petrobras, e que o dinheiro desviado era
cas para as Mulheres e dos Di-
CPI: Comissão Parlamentar transferido para as contas de executivos e de membros de par-
reitos Humanos e o Ministério
de Inquérito, grupo da tidos políticos.
do Desenvolvimento Agrário,
Câmara, do Senado ou
não tiveram apoio suficiente e misto (quando é integrado
Foram criadas duas CPIs: uma exclusiva no Senado e outra
condições orçamentárias para por parlamentares das duas mista. Após meses de investigação, a CPI mista aprovou o rela-
implementação de suas políti- casas do poder Legislativo), tório do deputado Marco Maia, do PT, que pediu o indiciamento
cas. No contexto da crise fiscal formada para investigar
e política, foi realizada uma re- possíveis infrações ou crimes de 52 pessoas. Vários executivos de empreiteiras e três políticos
forma tendo em vista reduzir o cometidos por políticos ou foram presos; inúmeros outros foram indiciados. Com isso, as
número de ministérios e de se- por funcionários do governo.
ações da Petrobras na Bolsa de Valores sofreram forte queda.
cretarias com status ministerial,
como as secretarias de Políticas
para as Mulheres, de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial e
Reeleição de Dilma
de Direitos Humanos, que foram
inseridas no novo Ministério No final de 2014, teve início a corrida presidencial, que foi tumultuada pela morte
das Mulheres, da Juventude, da inesperada, em um acidente aéreo, do candidato do PSB, Eduardo Campos, terceiro colo-
Igualdade Racial e dos Direitos
cado nas pesquisas de intenção de voto. A disputa presidencial entre Dilma, da coligação
Humanos (MMJIRDH), enquanto
os ministérios do Trabalho e da Com a Força do Povo (PT e aliados), e Aécio Neves, da coligação Muda Brasil (PSDB e
Previdência Social foram reuni- aliados), foi acirrada, com acusações de ambos os lados. Dilma venceu por uma diferença
dos no novo Ministério do Traba- relativamente pequena: obteve 51,64% dos votos válidos contra 48,36% de Aécio Neves.
lho e da Previdência Social.
No início de 2015, a equipe econômica chefiada pelo Ministro da Fazenda, Joaquim
CARNEIRO, Ricardo; BRASIL, Flávia de Paula Levy, disposta a reduzir o gasto público e equilibrar as contas do governo, esforçava-se
Duque. O Papel do Estado e as reformas
na administração pública: da Constituição em vão para aprovar um pacote fiscal no Congresso visando à retomada do crescimento
Federal de 1988 ao contexto pós-pandemia.
Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz
econômico e à geração de empregos.
(FIOCRUZ), 2021. (Saúde Amanhã - Textos
para discussão, n. 49, p. 20-21). 290

Imagens em movimento Vídeo do canal MPF, que explica o


D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 290 ENCAMINHAMENTO 28/06/22 13:20 D3_

funcionamento da “Delação premiada”.


Vídeo do Jornalismo da TV Cultura • Considerar os prós e contras da Opera-
sobre o resultado das eleições de 2014. • ENTENDA o que é Delação Premiada.
ção Lava Jato e avaliar seus resultados.
• PRESIDENTE
2016. Vídeo (1min6s). Publicado pelo
Dilma venceu em 15 es- • Compreender o significado de delação
canal MPF. Disponível em: https://www.
tados, enquanto Aécio Neves foi vi- premiada e de CPI.
youtube.com/watch?v=Dj-NTqQayNA.
torioso em 11. 2014. Vídeo (1min3s). • Demonstrar a divisão da população
Acesso em 14 jul. 2022.
Publicado pelo canal Jornalismo TV brasileira no tocante à reeleição de Dil-
Cultura. Disponível em: https://www. ma, com base na vitória apertada obti-
youtube.com/watch?v=CVUlCQaDqJs. da por ela em 2014.
Acesso em: 14 jul. 2022.
290

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 290 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a relação en-
tre economia e política, fa-
O impeachment de Dilma cilitando aos estudantes a
percepção de que o PIB, os
No decorrer de 2015, a situação se agravou: o Brasil apresentou
preços dos alimentos e dos
um PIB negativo (– 3,8%). Os preços dos alimentos e dos aluguéis
aluguéis e as taxas de desem-
aumentavam, enquanto o número de empregos com carteira assi- prego influenciam as avalia-
nada diminuía. ções que a população faz do
No Congresso, a presidente perdia aliados e não conseguia Crime de governo e podem compro-
aprovar seus projetos. Em um clima de crise econômica e política, no responsabilidade:
segundo o relatório da
meter sua estabilidade.
final daquele ano, a oposição deu entrada no pedido de impeachment
impeachment,, Câmara, em 2015, Dilma • Evidenciar o fato de que, no
acusando a presidente de crime de responsabilidade.
responsabilidade. A sociedade editou decretos de créditos presidencialismo brasilei-
suplementares sem a
se dividiu: de um lado estavam os manifestantes favoráveis ao ro, o governo depende da
autorização do Congresso
impeachment da presidente; de outro, os que defendiam sua (Câmara dos Deputados maioria no Congresso para
permanência no governo. e Senado Federal). aprovar seus projetos, e a
Nesse ambiente conflituoso, em abril de 2016, 367 deputados presidente Dilma tinha difi-
votaram a favor da abertura do processo de impeachment da presi- culdade de negociar com os
dente, e 137 foram contrários. Em seguida, o Senado Federal julgou parlamentares e, portanto,
o caso e, por 55 votos a 22, declarou-se favorável à abertura do pro- de aprovar os projetos.
cesso contra a presidente. Dilma, então, • Debater se houve ou não
ALEXANDRE TOKITAKA/PULSAR IMAGENS

foi impedida de continuar exercendo o crime de responsabilidade


cargo, e o vice-presidente Michel Temer, fiscal por parte do governo
do PMDB, assumiu a presidência da Dilma. Em caso afirmativo,
República. pode-se dizer que foi isto
que moveu os que defen-
Em agosto de 2016, o processo foi
deram seu impedimento da
julgado pelo Senado e, com 61 votos
Presidência.
favoráveis e 20 contrários, Dilma teve o
• Compreender que os resulta-
mandato cassado de forma definitiva.
dos negativos na economia,
o desgaste político causado
ALICE VERGUEIRO/FOLHAPRESS

pelos protestos de junho de


2013 e a dificuldade de nego-
Manifestação pró-impeachment
ciação com o Congresso pro-
da presidente Dilma na Avenida vocaram seu impedimento.
Paulista. São Paulo (SP), 2016. • Aprofundar o debate sobre o
impedimento de Dilma, com
base na leitura do texto de
apoio assinado pelo profes-
sor Rodrigo Patto Sá Mota.
Manifestação contra o
impeachment da presidente
Dilma na Avenida Paulista. Imagens em movimento
São Paulo (SP), 2016. Vídeo da TV Brasil que ex-
plica o crime de responsabi-
291 lidade.
• O
QUE É o crime de respon-
sabilidade? O Repórter
13:20 D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 291 TEXTO DE APOIO A razão principal para o desmonte 28/06/22
da base
13:20
Brasil explica. 2016. Vídeo
parlamentar não foi a falta de diálogo de Rou-
[...] Rousseff nada fez para impedir as inves- sseff e sim [...] a crescente pressão da opinião
(3min34s). Publicado pelo
tigações; ao contrário, os governos petistas ao direitista (conservadora e liberal) e antipetista, canal TV Brasil. Disponível
longo dos anos ampliaram a autonomia do Mi- a grave crise econômica e o medo de parte das em: https://www.youtube.
nistério Público e da Polícia Federal, com base lideranças políticas quanto aos resultados da com/watch?v=l5Orud7R0qs.
em convicções republicanas. No entanto, havia Lava Jato. Acesso em: 14 jul. 2022.
uma contradição grave: o comando do governo
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. O lulismo e os governos do PT:
apostava no fortalecimento das instituições re- ascensão e queda. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia
publicanas, mas, ao mesmo tempo, dependia de de Almeida Neves (org.). O tempo da Nova República: da
alianças políticas corruptas e fisiológicas para transição democrática à crise política de 2016. Rio de Janeiro:
governar. [...] Civilização Brasileira, 2018. (O Brasil republicano, v.5, p. 440).

291

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 291 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
Professor, os conteúdos des- b) Não, pois as mulheres, além de serem mais da metade da população, constituem uma maioria submetida a
ta página querem estimular o uma minoria que tem o poder de decisão.
estudo das causas da minoriza-
ção das mulheres que, embora PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

constituam a maioria da po-


pulação, são subalternizadas São as mulheres uma minoria?
pela presença do machismo, […] as mulheres, no Brasil, são mais da metade da população (51,4%). Fui buscar
sexismo e do patriarcado na um esclarecimento no dicionário Aurélio para entender o significado atribuído à
sociedade brasileira. Por isso,
palavra – minoria. Li que há dois sentidos: minoria é um substantivo feminino que
os movimentos femininos vêm
significa uma “inferioridade numérica”; ou, pode ser “a parte menos numerosa duma
travando lutas por igualdade
de direitos desde antes mesmo corporação deliberativa e que sustenta ideias contrárias às do maior número”. Ora,
da Proclamação da República. não somos numericamente inferiores. E, também, não somos uma parte menor de
uma corporação que delibera, ao contrário, constituímos uma maioria submetida a
uma minoria que tem o poder de decisão.
Para refletir. c) As mulheres são No imaginário brasileiro, as mulheres são tidas como pessoas incapazes de
vistas como frágeis, incapazes
decidir, incompetentes, frágeis, infantis. Resta analisar como e por que a imagem
de decidir, incompetentes, in-
da mulher é desqualificada.
fantis e sua imagem é desqua-
lificada. A imagem negativa As mulheres constituem uma camada heterogênea, complexa, composta de
da mulher está presente em pessoas de todas as etnias, cores, orientações sexuais, classes sociais, nível educa-
frases e piadas machistas, que cional etc. Não há uma mulher, há mulheres.
refletem uma postura precon- Uma rápida observação sociodemográfica mostra que no Brasil um terço dos
ceituosa sobre elas. São exem- lares são chefiados por mulheres sem a participação masculina, são apenas elas e
plos dessas frases: “só podia ser seus filhos. As mulheres, sozinhas, cuidam econômica e socialmente das famílias.
mulher”; “também vestida des- A carência masculina nos grupos familiares tão consistente é ocultada através de
se jeito, o que você queria?”. piadinhas machistas que reduzem, desumanizam as mulheres: estão sozinhas, são
d) O texto foi escrito por uma mal-amadas, são mães solteiras, além de expressões mais vulgares.
mulher. Um trecho que pode Ideologia: crenças, Piadas refletem modos de pensar, escancaram ideologias,
ser destacado é: “Ora, não so- tradições, princípios e valores, e no caso, a versão machista da subjetividade, repro-
mos numericamente inferiores. mitos que se interligam duzem falsas verdades. Basta ver as propagandas da cerveja,
E, também, não somos uma e são sustentados por
do Carnaval, para observar que não se vendem bebidas, mas
um determinado grupo
parte menor de uma corpora-
social para defender seus os seios ou partes íntimas do corpo de uma mulher. Rindo
ção que delibera, ao contrário, interesses. encobrimos problemas. […]
constituímos uma maioria sub-
metida a uma minoria que tem BLAY, Eva Alterman. Minorias, política e violência. Revista de Cultura e Extensão USP,
São Paulo, v. 15, p. 51-57, 2016. p. 51-52.
o poder de decisão”, em que a
a) Quais são os sentidos atribuídos à palavra “minoria” presentes no dicionário Aurélio, segundo
autora se coloca entre as mu-
o texto?
lheres, sobre quem ela fala.
b) De acordo com o texto, as mulheres podem ser classificadas como “minoria”?
e) Organizar um debate com a
c) Como as mulheres são vistas no imaginário brasileiro? Apresente uma razão que justifique essa
participação da turma, estimu-
imagem. c) Resposta pessoal.
lando os estudantes a apresen-
d) O texto foi escrito por um homem ou uma mulher? Apresente um trecho do texto que justifica
tarem as principais conquistas
sua resposta. d) Resposta pessoal.
das mulheres do início do sécu-
e) Faça uma pesquisa sobre as conquistas femininas a partir do início do século XX. Depois, apre-
lo XX aos dias atuais. Estimular
sente o resultado da pesquisa para a turma. e) Resposta pessoal.
os alunos a refletirem sobre os
problemas que as mulheres a) A palavra “minoria” possui dois sentidos: o primeiro é de “inferioridade numérica” e o segundo é de “a
ainda hoje enfrentam e a pro- 292 parte menos numerosa duma corporação deliberativa e que sustenta ideias contrárias às do maior número”.
porem sugestões para o enca-
minhamento desses problemas
enfrentados por elas. É impor- Disponível em: https://www.futura.org.br/
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 292 Dica de leitura 28/06/22 13:20 D3_
tante que os alunos, durante a as-conquistas-das-mulheres-ao-longo-da-
atividade discursiva, não repro- Livro que reúne artigos de importantes
historia/. Acesso em 14 jul. 2022.
duzam estereótipos, preconcei- estudiosas e ajuda o leitor a ter uma visão
• PINHEIRO, Tata. As principais conquistas do protagonismo feminino – em diferentes
tos e nem discursos de ódio.
das mulheres na história. Nova Escola. tempos e espaços.
Indicação de materiais para São Paulo, 1 mar. 2019. Disponível em:
pesquisa: • PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Ma-
https://novaescola.org.br/conteudo/16047/
as-principais-conquistas-das-mulheres-na- ria (orgs.). Nova História das mulheres. São
• B E R N A R D E S ,
Thaís. As
historia. Acesso em: 14 jul. 2022. Paulo: Contexto, 2012.
conquistas das mulheres ao
longo da história. Futura. Estas atividades querem contribuir para
São Paulo, 10 mar. 2021. o desenvolvimento da habilidade EF09HI26.
292

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 292 26/08/2022 18:00


TEXTO DE APOIO
Uma das principais medidas to-
madas pelo governo do presidente
da República Michel Temer foi a re-
Governo Michel Temer forma trabalhista (Lei 13.467/2017),
o mais profundo conjunto de al-

FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS


terações já realizado nos dispo-
No campo econômico, nos dois anos seguintes, a taxa
sitivos da Consolidação das Leis
básica de juros da economia, a Selic, caiu de 14,25% para do Trabalho (CLT). Promulgada
6,50%. No mesmo período, a inflação caiu de 9,32% para em julho de 2017, a reforma foi
2,76%. A intenção, dizia o governo, era facilitar o crédito, programada para entrar em vigor
Michel Temer e Marcela Temer 120 dias depois. [...]
incentivar a produção e contribuir para o crescimento durante cerimônia de posse.
econômico. Brasília (DF), 2019. Apresentada pelo Executivo
No campo político, o governo Temer conseguiu aprovar no em dezembro de 2016, a reforma
Congresso – em dezembro de 2016 – a chamada PEC do Teto de foi aprovada [...] pelo Congresso:
foram quatro meses na Câmara
Gastos, que limita por 20 anos o crescimento das despesas dos três PEC: Proposta de
Emenda à Constituição.
dos Deputados e menos de três
Poderes. Se um dos órgãos furar o teto de gastos, fica proibido de no Senado. Na Câmara o texto
aumentar salários, contratar pessoal, fazer concurso público e ter novos recebeu 850 emendas, das quais
gastos até adequar-se. mais de 400 foram incorporadas
Dialogando pelo relator, deputado Rogério
Para Temer e seus apoiadores, a aprovação da PEC foi positiva, pois:
Quais argumentos Marinho (PSDB-RN).
• reequilibra as contas públicas, uma vez que os gastos vinham
você considera mais Uma das críticas da oposição
crescendo continuamente; convincentes? foi que o projeto não passou pe-
• permite a redução da taxa de juros e cria um ambiente propício Resposta pessoal. las comissões temáticas: em vez
à retomada de crescimento econômico. disso, foi analisado apenas por
Já a oposição criticou e promoveu manifestações contra a PEC do Teto de Gastos por uma comissão especial. O mo-
todo o país. Seus principais argumentos foram que a PEC: tivo para isso foi que a Mesa da
Câmara entendeu que a reforma
• impede investimentos públicos, agrava a crise econômica e diminui a geração de dizia respeito às competências
emprego e renda; de quatro comissões. Em casos
• impõe cortes de verbas para áreas como Educação e Saúde, e prejudica, sobretudo, os assim, o Regimento Interno per-
mais pobres. mite ao presidente constituir
uma comissão especial.
Em julho de 2017, o governo Temer aprovou a Reforma Trabalhista que, ao entrar em
No Senado foi diferente. A re-
vigor, alterou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em dezenas de pontos, três deles com
forma foi direcionada, a prin-
grande impacto social: cípio, para as comissões de
• introduziu o “banco de horas” por acordo individual escrito; Assuntos Econômicos (CAE) e
• definiu que o trabalhador poderá fazer horas extras além do limite legal, não havendo de Assuntos Sociais (CAS), e a
oposição conseguiu incluir no
necessidade de autorização por convenção ou acordo coletivo de trabalho;
trajeto a Comissão de Constitui-
• tornou facultativo o pagamento do imposto sindical; antes obrigatório. O imposto sin- ção, Justiça e Cidadania (CCJ). No
dical só poderá ser cobrado mediante a autorização prévia do trabalhador. total, foram três pareceres: dois
A Reforma colocou empresários e trabalhadores em lados opostos. favoráveis, dos senadores Ricar-
Para os representantes dos empresários, a Reforma significou um avanço, pois: do Ferraço (PSDB-ES) na CAE e
Romero Jucá (MDB-RR) na CCJ, e
• modernizou a legislação brasileira; um contrário do senador Paulo
• facilitou a negociação direta entre empregado e empregador, eliminando a intermedia- Paim (PT-RS) na CAS.
ção do Estado; A reforma recebeu dos sena-
• diminuiu os encargos sociais, podendo, com isso, gerar mais empregos. dores ainda mais sugestões de
emendas: 864. No entanto, nenhu-
293 ma modificação foi feita. A base do
governo articulou uma aprovação
sem nenhuma alteração para que
o texto não precisasse retornar
13:20 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 293 +ATIVIDADES 28/06/22 13:20 para uma nova análise dos de-
Organizar a turma em três grupos para putados. Diante dos protestos da
• Conhecer a política financeira do governo oposição, o governo se comprome-
debater a PEC do Teto de Gastos. Um dos
Temer e retomar os conceitos de taxa Selic e teu a vetar os pontos mais polêmi-
grupos defende os argumentos do governo
inflação para melhor compreendê-la. cos antes da sanção.
Temer e seus apoiadores; o outro, defende
• Compreender os principais pontos da re- os argumentos contrários a essa política. Um REFORMA trabalhista completa um ano
sob questionamentos e sem desfecho.
forma trabalhista e debater se esta reforma terceiro grupo fará a avaliação de desempe- Agência Senado. Brasília, DF, 9 nov. 2018.
favoreceu um dos lados ou se contribuiu nho dos debatedores, ficando a conclusão e Disponível em: https://www12.senado.
para a alavancagem da economia nacional. as considerações finais para o professor. leg.br/noticias/materias/2018/11/09/
reforma-trabalhista-completa-um-ano-sob-
Esta atividade contribui para o desenvol- questionamentos-e-sem-desfecho. Acesso
vimento da competência geral 7. em: 14 jul. 2022.
293

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 293 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Introduzir uma aula dialo-
gada sobre o tema, pergun-
tando aos estudantes: como Já para os representantes dos trabalhadores, a reforma trabalhista foi um retrocesso, pois:
as redes sociais podem im- • retirou direitos que os trabalhadores haviam conquistado com muito esforço ao longo
pactar em resultados de elei- de décadas;
ções? Vocês conhecem pes- • em vez de aumentar, diminuiu o emprego formal no país,
soas que recebem notícias • a maior parte das vagas criadas com a Reforma são de empregos temporários.
sobre política por aplicativos
de mensagens e repassam
sem refletir sobre elas? Governo Jair Bolsonaro
• Discutir o peso das redes sociais
Jair Messias Bolsonaro fez uma

ALAN SANTOS/PR
no resultado de uma eleição
campanha focada na comunicação
presidencial nos dias atuais.
com seus eleitores por meio das redes
• Debater as propostas de go-
sociais. Seu discurso da campanha
verno de Jair Bolsonaro nos
prometeu:
diversos campos da vida social.
a) co
combater
mbater a corrupção e a violência;
b) m
melhorar
elhorar a Segurança, o que, para
o can
candidato
didato,, significava armar mais
+ATIVIDADES
as polícias;
Por meio de um questio-
c) d
defen
efender
der a pátria e a família e barrar
nário, pergunte a pessoas de
o que ele afirmava ser a tentativa do
diferentes idades e ocupa-
ções quais meios elas utilizam PT de voltar
voltar ao poder.
como fonte de informação. Jair Bolsonaro venceu as eleições
com 55,1% dos votos válidos, contra
Redes Sites de 47% de Fernando Haddad, do PT, seu
Televisão
sociais notícias principal adversário político.
Em seu discurso de posse,
Bolsonaro disse que aquele era o dia
• Interdisciplinaridade: a con- em que o povo começava a se libertar
solidação dos dados recolhi-
da esquerda, da inversão de valores,
dos nos questionários pode Foto oficial do presidente da República,
do gigantismo estatal e do “politica-
ser realizada em conjunto Jair Bolsonaro. Brasília (DF), 2019.
mente correto”.
com o professor de Mate-
mática. Retomar o conceito Eis algumas das principais propostas do governo Bolsonaro por setor.
de média aritmética, para Na economia, seguindo a orientação neoliberal do Ministro Paulo Guedes, o governo
que seja possível analisar as prometeu acelerar as privatizações (venda de estatais); unificar impostos e simplificar o
notas atribuídas pelos entre- sistema de arrecadação fiscal.
vistados. Os questionários Na Saúde, prometeu eficiência na gestão e respeito à vida das pessoas e, além
podem ser tabulados em disso, adotar o Prontuário Eletrônico Nacional, interligando postos, ambulatórios e
um banco de dados digital, hospitais para reduzir os custos, e facilitar o atendimento futuro por outros médicos
com o uso de computador em diferentes unidades de saúde, bem como permitir cobrar maior desempenho dos
e software editor de plani- gestores locais.
lhas. Na impossibilidade de
utilização desses recursos, é 294
possível fazer os cálculos ma-
nualmente.
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 294 04/07/22 18:10 AV_
informações vistas em alguma rede social. E a indicaram que sempre recorrem à televisão e 49%
TEXTO DE APOIO principal fonte de informação do brasileiro hoje sempre se informam pelo YouTube. [...]
Uma pesquisa de opinião do é o aplicativo de troca de mensagens WhatsA- Com relação às eleições, as redes sociais que
Instituto DataSenado aponta a pp, segundo o levantamento. Das 2,4 mil pesso- tiveram maior impacto nas eleições foram o
influência crescente das redes as entrevistadas, 79% disseram sempre utilizar Facebook (31%), o WhatsApp (29%), o YouTube
sociais como fonte de informa- essa rede social para se informar. (26%), o Instagram (19%) e o Twitter (10%).
ção para o eleitor, o que pode em
parte explicar as escolhas dos [...] BAPTISTA, Rodrigo. Redes sociais influenciam voto de 45% da
cidadãos nas eleições de 2018. Quanto à frequência com que meios de comu- população, indica pesquisa do DataSenado. Agência Senado.
Brasília, DF, 12 dez. 2019. Disponível em:
Quase metade dos entrevistados nicação e redes sociais são usados como fonte de
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/12/12/
(45%) afirmaram ter decidido o informação, 79% dos entrevistados responderam redes-sociais-influenciam-voto-de-45-da-populacao-indica-
voto levando em consideração que sempre utilizam o WhatsApp, enquanto 50% pesquisa-do-datasenado. Acesso em: 14 jul. 2022.
294

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 294 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a proposta
do governo Bolsonaro para
Quanto ao meio ambiente, Bolsonaro propunha flexibilizar a legislação que regula a o meio ambiente e a agri-
exploração econômica de áreas preservadas, inclusive na Amazônia, e não conceder novos cultura.
territórios para indígenas e quilombolas. • Refletir sobre a educação à
Na agricultura, a proposta era defender a segurança no campo, vista como solução para distância como solução para
a questão agrária e políticas específicas para consolidar e abrir novos mercados externos. o Ensino Fundamental em
Na educação, priorizava o período que vai da Educação Infantil ao Ensino Médio. áreas rurais, onde as grandes
Defendia a educação a distância para o Ensino Fundamental como alternativa para áreas distâncias dificultam ou im-
rurais, onde as grandes distâncias dificultam ou impedem aulas presenciais. Para o Ensino pedem aulas presenciais.
Superior, Bolsonaro propunha parcerias e pesquisas com a iniciativa privada.
Na ciência e tecnologia, defendia a aliança entre universidades e iniciativa privada
para transformar ideias em produtos. Os programas de mestrado e doutorado deveriam +ATIVIDADES
ser feitos de acordo com as necessidades das empresas. Em grupo. Debatam sobre o
Na política externa, Bolsonaro adotou o retorno à tradição americanista, ou seja, o que é mais interessante para
alinhamento aos Estados Unidos, e a busca pela exclusão da Venezuela do Mercosul. o Brasil na política externa: o
O governo alegava ser necessário incrementar o comércio exterior com países que agre- alinhamento aos Estados Uni-
gavam valor econômico e tecnológico ao Brasil, como os Estados Unidos, e a integração com dos e a busca pela exclusão da
países latino-americanos livres de “ditadura” (referência à Venezuela) e sem viés ideológico, Venezuela ou a postura uni-
isto é, sem ligação com ideias socialistas. versalista e de diversificação
No 14o encontro do G20, reunião das 20 maiores economias mundiais, em 2019, em de parceiros, focada na coo-
Osaka, no Japão, a então primeira-ministra alemã, Ângela Merkel, e o presidente francês, peração Sul-Sul.
Emmanuel Macron, mostraram preocupação com a falta de atenção do governo Bolsonaro Um grupo defende a polí-
à questão ambiental e ao aumento da devastação da Amazônia brasileira. Alemanha tica externa americanista; o
é um dos principais
outro, a universalista; e o ter-
JESS KRAFT/SHUTTERSTOCK.COM

ceiro grupo comenta o desem-


financiadores do Fundo
penho dos dois outros, ava-
Amazônia,, responsável
liando a capacidade de cada
por investimentos e ações
um deles de argumentar com
ambientais no Brasil. base em fatos, dados e infor-
mações confiáveis.
Professor, fazer a mediação
e as considerações finais do
debate. Esta atividade pode
contribuir para o desenvolvi-
mento da competência geral 7.
Floresta Amazônica, 2020. Materiais para pesquisa:
• RIBEIRO, Cláudio Oliveira.
Autonomia e universalismo
como condicionantes da po-
lítica externa brasileira. Re-
vista de Informação Legisla-
tiva, Brasília, DF, a. 43, n. 171,
p. 133-153, jul./set. 2006.
295
• AHISTÓRIA e os princípios
da política externa brasileira.
Guia do Estudante. São Paulo,
18:10 Dica de leitura
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 295 04/07/22 15:06
24 fev. 2017. Disponível em:
Avaliação do status das promessas registradas no Tribunal Superior Eleitoral por Jair Bol- https://guiadoestudante.abril.
sonaro durante a campanha presidencial. com.br/coluna/atualidades-
• AS PROMESSAS de Bolsonaro. G1. São Paulo, 5 jan. 2022. Disponível em: https://especiais. vestibular/a-historia-e-os-
g1.globo.com/politica/2019/as-promessas-de-bolsonaro/#/3-anos. Acesso em: 14 jul. 2022. principios-da-politica-externa-
brasileira/. Acesso em 14 jul.
2022

295

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 295 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Reconhecer que acompanhar
o programa de governo, que
foi ou está sendo implementa- Na economia, privatizações e cortes
do, seja qual for o presidente,
é um exercício de cidadania. de gastos não viram realidade
• Levantar os conhecimentos Entre as principais promessas feitas pelo ministro da Economia
prévios dos estudantes sobre Paulo Guedes estavam as privatizações e os cortes de gastos públicos.
previdência social, pois, na Ao final do terceiro ano de governo, nenhuma grande estatal tinha
unidade 3, o tema foi tan- sido vendida; e as propostas para reduzir os gastos públicos continua-
genciado nas discussões a res- ram tramitando no Congresso.
peito da implementação de
Segundo analistas, a falta de apoio do presidente à agenda
medidas neoliberais no Chile.
econômica neoliberal de Paulo Guedes levou muitos profissionais da
• Pedir que leiam no quadro as
equipe desse ministro a pedir demissão de seus cargos. Eles deixaram
mudanças nas regras para a
aposentadoria. o governo alegando que as privatizações não estavam acontecendo,
• Ressaltar que mudanças como a reforma administrativa não estava avançando e que, por isso, pre-
a Reforma da Previdência te- feriam sair.
rão impactos na vida futura
daqueles que, hoje em dia, A reforma na Previdência
ainda são jovens.
• Explicar que acompanhar as
No final de 2019, o governo Bolsonaro aprovou a Reforma da
discussões e transformações Previdência. Observe no quadro a seguir algumas mudanças importantes.
na política previdenciária
possibilita o posicionamen- Aposentadoria antes da Reforma Aposentadoria depois da Reforma
to cidadão e democrático
Mulheres: pelo menos 60 anos de idade Mulheres: pelo menos 62 anos de idade
dos alunos a respeito de um Trabalhadores e 15 anos de contribuição. e 15 anos de contribuição.
importante debate público, da iniciativa
mas também é uma necessi- privada Homens: pelo menos 65 anos de idade Homens: pelo menos 65 anos de idade
e 15 anos de contribuição. e 20 anos de contribuição.
dade individual, pois diz res-
peito à vida profissional de
cada um deles e à qualidade Ao atingir a idade e o tempo mínimos de contribuição, os tra-
de vida na terceira idade. balhadores poderão se aposentar com 60% da média de todas as
• Avaliar o gráfico sobre a contribuições desde julho de 1994. A cada ano a mais de contribuição
evolução da taxa de desem- além do mínimo exigido, serão acrescidos dois pontos percentuais
prego, alertando para o aos 60%. Desse modo, para ter direito à aposentadoria no valor de
fato de que o termo “evo-
100% da média de contribuições, as mulheres terão de contribuir
lução” pode significar que
determinado processo ou por 35 anos e, os homens, por 40 anos.
episódio evoluiu positiva- O valor das aposentadorias não será inferior a um salário mínimo
mente ou negativamente. nem poderá ultrapassar o teto (que hoje é de R$ 5 839,45 por mês).
Professor, a discussão sobre Quanto à pensão por morte, o pagamento será de 50% do valor
Reforma da Previdência abre da aposentadoria com mais 10% para cada dependente. Assim, se
espaço para que os alunos re- tiver um dependente, este receberá 60% da aposentadoria do fale-
flitam sobre o projeto de vida cido. E assim por diante.
e para que se mobilize a com-
petência geral 6. 296

Dica de áudio AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 296 Dica de leitura 20/08/22 14:54 AV_

O economista Eduardo Moreira, contrário à Matéria jornalística comenta as mudanças na Previdência im-
Reforma da Previdência, dialoga com pessoas plementadas em cada um dos governos da Nova República, já
favoráveis a essa medida. que todos, sem exceção, fizeram modificações na formulação
• MUDE minha ideia: Reforma da previdência: original presente na Constituição de 1988.
qual é a sua opinião? Entrevistador: Eduardo • DE FHC a Bolsonaro, previdência passou por várias mudanças.
Moreira. [S. l.]: Mude minha ideia, nov. 2019. UOL Economia. São Paulo, 23 out. 2019. Disponível em: https://
Podcast. Disponível em: https://open.spotify. economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2019/10/23/
com/episode/0K6tJL8xgXAdb83ojai7L8?si= de-fhc-a-bolsonaro-previdencia-passou-por-varias-mudancas.
fbd6aa9f5d724c5d. Acesso em: 14 jul. 2022. html. Acesso em: 14 jul. 2022.
296

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 296 29/08/22 14:29


ENCAMINHAMENTO
• Valorizar o esforço feito por
gestores e, sobretudo, por
Desemprego, um dos Brasil: Evolução da taxa de professores, que, de uma
desemprego (2021-2022) hora para outra, tiveram de
maiores desafios do produzir materiais para mi-

SONIA VAZ
Índice no
trimestre

governo Bolsonaro em 2022 (%)


15
14,5 14,6 14,9 14,8 14,7 14,2
nistrar aulas à distância.
13,7
13,1 • Evidenciar as técnicas e os sa-
Segundo o economista da Fundação 12,6
12,1
11,6
10
11,1 11,2 11,2
beres adquiridos durante o
Getúlio Vargas (FGV), Luiz Guilherme
processo de distanciamento
Schymura, a pandemia atingiu os empregos 5 social.
quando o mercado de trabalho começava a
• Refletir sobre as defasa-
se recuperar da recessão que atingiu o país. 0
gens deixadas na aprendi-

21

. -m 1

21

21

. -o 1

2
Segundo o IBGE, no trimestre encerrado

ev 0-2

/2

./2

/2

ag o./2

./2

./2

/2

./2

/2

./2
0-

o/

l./
-m ar.

n.

v.

n.
zagem dos estudantes pe-

.-a abr

et

ut

ez

ev
-ju
ai
./2

./2

no
ju

a
ag

-s

no v.-d

-f
de z.-j
ab r.-m

o-

n.
.-
z.- jan

ev

t.-
l.-

n.
o.
ar

et
ju
ai

e
-ju

ja
ou
-f

no
.-

o-

-d
-s
m
em fevereiro de 2022, a taxa de desemprego

z.-
n.

-f
ez

n.

l.-

t.-

t.-
o.
r.-

ai

v.
ja

n.
los dois anos de pandemia

v.

ju
-d

ju
ar

ag

se

ou
ja

fe
v.

m
de
no
ficou em 11,2% (12 milhões de pessoas Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
da covid-19.
ESTATÍSTICA. Indicadores IBGE. Pesquisa Nacional por
desempregadas). Amostra de Domicílios Contínua. Brasília, DF: IBGE, 2022. • Pensar nos cuidados que de-
p. 4. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/
Um destaque positivo é que, nesse visualizacao/periodicos/3086/pnacm_2022_fev.pdf. vemos ter uns com os outros,
período, o número de trabalhadores por conta Acesso em: 5 maio 2022.
para facilitar a readaptação
própria caiu 1,9%, enquanto o de emprega- à vida escolar na volta às au-
RAFAPRESS/SHUTTERSTOCK.COM

dos com carteira assinada cresceu 1,1%. las presenciais, lembrando


Com a pandemia da covid-19, o Con- que a escola é um importan-
gresso aprovou uma emenda constitucional te ambiente de socialização
que permitia ao governo elevar as despe- e de trocas de saberes e práti-
sas para enfrentar a crise na Saúde e na cas entre todos que frequen-
Economia. O governo Bolsonaro, então, tam o ambiente escolar.
concedeu o auxílio emergencial (inicialmente • Sugerir que os alunos com-
de R$ 600 e, depois, reduzido para R$ 300). partilhem com a turma ex-
periências bem-sucedidas no
ensino remoto, de modo que
Letramento digital Aplicativo oficial do auxílio emergencial.
possam construir um repertó-
rio compartilhado de modos
e trabalho durante São Paulo (SP), 2020.
de lidar com essa nova manei-
a pandemia ra de aprender e ensinar.
GERSON GERLOFF/PULSAR IMAGENS

• Informar que a conjunção


Durante a pandemia, a necessidade de
entre pandemia e tecnolo-
adaptação às tecnologias de informação e
gia permitiu que 8,2 milhões
aos recursos digitais acelerou o letramento
de trabalhadores seguissem
digital de professores e alunos. com suas atividades profis-
sionais no regime de home
office, enquanto 1,4 milhão
trabalhavam com transporte
Professor lecionando de casa.
de passageiros e entrega de
Santa Maria (RS), 2021. alimentos por meio de apli-
cativos, segundo Instituto de
297 Pesquisa Econômica Aplica-
da (IPEA).

Dica de leitura que seguiram trabalhando em


14:54 AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 297
+ATIVIDADES 30/06/22 16:52

home office após a ampliação


Artigo que discute os efeitos do trabalho Roda de conversa. Discutir com os alunos da vacinação? Como a tecno-
remoto sobre os trabalhadores durante a sobre o uso de tecnologias digitais durante logia permitiu a muitos traba-
pandemia de covid-19. a pandemia, a partir das seguintes questões: lhadores exercerem seu traba-
• DURÃES, Bruno; BRIDI, Maria Aparecida quais foram as principais dificuldades en- lho à distância?
da Cruz; DUTRA, Renata Queiroz. O frentadas por vocês durante o período de Esta atividade contribui para
teletrabalho na pandemia da covid-19: ensino remoto? Foi possível contorná-las? o desenvolvimento da compe-
uma nova armadilha do capital? Revista Como? Você considera que o impacto do tência específica 7.
Sociedade e Estado, Brasília, DF, v. 36, n. 3, ensino à distância foi o mesmo para todos
set./dez. 2021. os grupos sociais? Vocês conhecem pessoas
297

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 297 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Conhecer as iniciativas soli-
dárias de importantes artis-
tas brasileiros, a exemplo de O esforço feito por professores e gestores para que os estudantes tivessem aulas a
Chitãozinho e Xororó e de distância foi grande, tanto nas escolas públicas quanto nas escolas particulares. Tanto
Emicida. alunos quanto professores tiveram de conviver e aprenderam muito com o distanciamento
• Pesquisar sobre o trabalho social; adquiriram saberes e técnicas específicos.
desenvolvido pelas ONGs Ajudadas pelo aumento da vacinação, as aulas presenciais voltaram no início de 2022.
CUFA (Central Única das Fa- Um dos desafios é enfrentar as defasagens na aprendizagem deixadas por dois longos
velas), Mães da Favela, Ami- anos de isolamento social.
gos do Bem e pelo Hospital No campo do trabalho, muitas empresas adotaram, durante a pandemia, o home office.
office.
do Amor de Barretos. No início de 2022, muitas delas voltaram ao modelo presencial, outras optaram pelo modelo
híbrido e outras, ainda, adotaram o home office como seu único modelo de trabalho.

Imagens em movimento
Lives e pandemia
Vídeo do Jornalismo SBT
sobre o serviço voluntário du- Durante a pandemia, a ascensão das lives foi significativa. Segundo o psicólogo Pablo
rante a pandemia. Constantino, isto pode ser explicado pelo fato de a pandemia ter trazido muita pressão
psicológica e as lives atuarem como válvula de escape, ajudando a amenizar a solidão
• ONG faz adaptação ao
causada pela falta de contato humano.
trabalho dos voluntários em
Além disso, as lives em plataformas digitais foram importantes fontes de arrecadação
tempos de pandemia. 2020.
Vídeo (3min35s). Publicado de recursos para trabalho solidário, estimularam artistas a se engajarem e aproximaram a
pelo canal Jornalismo sociedade civil das ONGs e suas causas.
VTV SBT. Disponível em: Entre os artistas que mais conseguiram recursos estão Anitta que, com uma live no
https://www.youtube.com/ Dia das Mães, levantou 1 milhão de reais voltados ao programa social “Mães da Favela”,
watch?v=VJ93Esu3WyY. realizado pela Central Única das Favelas (Cufa). Outra arrecadação expressiva foi obtida pela
Acesso em 14 jul. 2022. dupla Sandy e Júnior, em 21 de abril. A verba foi destinada ao projeto “Mesa Brasil” de
distribuição de alimentos no país; a dupla arrecadou 5 milhões de reais. O show “Amigos”,
TEXTO DE APOIO quinteto formado por Chitãozinho e Xororó, Zezé de Camargo e Luciano, e Leonardo,
Com o isolamento social e a
levantou 1 milhão e setecentos mil reais, doados, principalmente, ao Hospital do Amor de
queda na renda do brasileiro, os Barretos e à ONG Amigos do Bem.
grupos vulneráveis ficaram em A live do Emicida, em 10 de
uma situação ainda mais difícil: maio, também voltada ao
idosos, profissionais autôno-
mos, pessoas em situação de rua programa “Mães da Favela”,
e cada vez mais pessoas abaixo arrecadou 807 mil reais.
da linha da pobreza. Para ajudar,
o voluntariado buscou formas
de ajudar sem correr riscos.
O especialista Marcelo No-
nohay [...] avalia como a pan- A Associação Brasileira de
demia mudou a forma de se Captação de Recursos (ABCR)
dedicar ao trabalho voluntário. informou que os artistas
“Temos acompanhado movi- brasileiros que mais arrecadaram
mentos recordes de captação de com suas lives foram Sandy e
recursos. Tendo em vista a gravi- Júnior, Amigos, Anitta e Emicida.
REPRODUÇÃO/EMICIDA - LIVE TRANSMITIDA EM 10 DE MAI. DE 2020

dade dos impactos imediatos da


pandemia, a resposta de empre- 298
sas e indivíduos foi realmente
formidável, quando comparado
com o nosso histórico na filan-
tropia”, destaca. O voluntário tem a oportunidade
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 298 de desenvol- cestas básicas para pessoas em situação de vul- 04/07/22 18:11 D3_

ver novos olhares sobre o uso dos canais digitais nerabilidade social; divulgar contatos de orga-
[...]
para a prática de boas ações com potencial de nizações sociais que precisam de ajuda; com-
No voluntariado online, dife- gerar grandes impactos, aprimorar a capacidade partilhar boas ações em suas redes sociais para
rente de trabalhar presencial- de trabalhar à distância e estabelecer contato estimular que seus familiares e amigos façam
mente em uma ONG, os horários com diferentes pessoas e culturas. A experiência o mesmo.
podem ser flexíveis, moldados à
pode ser incluída no currículo quando atrelada PAIVA, Luisa. Dia do Voluntariado: a pandemia foi um
sua rotina, e não tem custo de
ao que o voluntário faz profissionalmente. catalisador de boas ações e mudou a forma de contribuir.
transporte até a organização.
Estadão. São Paulo, 28 ago. 2021. Disponível em:
Além disso, a internet tem um Existem muitas formas de ajudar, além de
https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,dia-do-
grande poder mobilizador para trabalhar diretamente para uma organização: voluntariado-a-pandemia-foi-um-catalisador-de-boas-acoes-e-
conseguir mais ajuda e atingir estimular os pequenos produtores e comércios mudou-a-forma-de-contribuir,70003823441.
mais pessoas beneficiadas. locais; divulgar campanhas de arrecadação de Acesso em: 14 jul. 2022.
298

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 298 26/08/2022 18:00


• Interdisciplinaridade: Suge-
rimos que após trabalhar a
leitura da imagem, suas in-
formações internas e exter-
ATIVIDADES 3. d) A cena ocorreu no contexto da popular campanha das Diretas Já.
NÃO ESCREVA
NO LIVRO. nas, pedir que o estudante,
ele próprio, escreva uma le-
3. e) O autor quis criticar o fato de a ditadura civil-militar não querer renunciar às eleições in-
genda para a imagem. Esta
diretas, fato que pode ser observado na fala repressora do militar: “O povo é ilegal!”. Já os proposta estimula a interfa-
textos e as faixas expressam o clamor da multidão por eleições diretas para presidente. ce com a Língua Portugue-
sa, já que legenda é um dos
I. Retomando gêneros textuais trabalhado
por essa disciplina
1 O presidente Figueiredo sofreu, durante seu período de governo (1979-1985), uma 1. A alternativa a) está incorre-
forte oposição. Copie no caderno a alternativa correta sobre ela. 1. Alternativa B. ta, pois a oposição lutava pelo
a) Defendia o governo Figueiredo e a abertura política. fim do regime militar, por de-
b) Lutava pela redemocratização do Brasil e por melhores condições de vida. mocracia e por melhores con-
c) Desejava a deposição imediata do então presidente da República. dições de vida. A alternativa c)
d) Pleiteava participação política apenas na esfera municipal.
está incorreta, pois a oposição
desejava eleições diretas. A al-
2 Avalie as afirmativas a seguir. ternativa d) está errada, pois o
I. Tancredo Neves, presidente eleito do Brasil por voto indireto, morreu antes de ser empossado. movimento oposicionista plei-
II. José Sarney substituiu o presidente Tancredo Neves, uma vez que foi o segundo colocado nas teava participação política em
eleições presidenciais. todas as esferas do Estado.
III. Apesar da baixa inflação e do crescimento econômico, José Sarney lançou o Plano Cruzado 2. II. José Sarney substituiu o
para recuperar a economia. presidente Tancredo Neves
IV. Durante o governo José Sarney, foi convocada uma Assembleia Constituinte para discutir e porque era vice dele na chapa
aprovar uma nova constituição. que venceu as eleições indire-
Estão corretas as afirmativas: 2. Alternativa B. tas. III. Com as altas taxas de
a) I, II e III. c) II e IV.
inflação e o baixo crescimento
econômico, José Sarney lan-
b) I e IV. d) III e IV.
çou o Plano Cruzado para re-
3 Observe a charge atentamente. cuperar a economia.
INSTITUTO HENFIL

3. a) Resposta pessoal. 3. a) A legenda é um texto para


Com base em suas observações, res-
a imagem ou sobre ela. Nesse
ponda às questões a seguir.
caso, estamos usando a ima-
a) Crie uma legenda para a imagem.
gem como fonte para constru-
b) O que há em comum nas frases con-
ção do saber histórico escolar.
tidas nos cartazes?
c) Quem ou o que o homem que fala ao c) Ele está caracterizado pelo
megafone está representando? capacete, pelas botas e por
d) Em que contexto a cena mostrada expressar a voz do poder es-
ocorreu? tabelecido. No caso do militar,
e) O que o autor da charge pretendeu percebemos que o texto sai
criticar? do megafone usado por ele.
3. c) O homem que fala ao microfone está representando um militar. E, por sua boca escancarada e
Charge de Henfil publicada na revista IstoÉ, em 1984.
olhar agressivo, percebemos
3. b) Nos cartazes, todos os populares pleiteiam eleições diretas para presidente da República, uma
que ele está berrando.
vez que os generais-presidentes eram escolhidos, na época, pelo colégio eleitoral. 299 d) Para indicar a popularidade
dessa campanha, Henfil inse-
riu faixas de duas das maiores
18:11 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 299 28/06/22 13:20
torcidas do país: a do Flamen-
• Solicitar que os estudantes resolvam individualmente as atividades 1 e 2. Realizar a corre- go e a do Corinthians.
ção coletivamente, abrindo espaço para que eles justifiquem suas respostas e, caso tenham
dúvida, vejam os comentários da correção das atividades..
• Iniciar a leitura da charge com os alunos, na atividade 3, coletando interpretações de alguns
deles sobre a imagem, os cartazes e a fala do homem que fala ao megafone.
• Considerar que a charge é um registro privilegiado quando o que se quer é estreitar a co-
municação com pessoas da faixa etária a que a obra se destina e, além disto, buscar atingir
três objetivos pedagógicos: a educação do olhar; a construção de conceitos; o estímulo à
produção escrita a partir da imagem.
299

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 299 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Retomar e consolidar co-
nhecimentos sobre o Plano
Cruzado. 4 As medidas do Plano Cruzado foram anunciadas pelo presidente Sarney em seu
• Ler e interpretar uma impor- discurso de 28 de fevereiro de 1986. Leia a seguir um trecho do discurso.
tante fonte escrita (o discurso 4. b) Justificou dizendo que o Plano Cru-
de um presidente, que fala, O anúncio do Plano Cruzado zado não era dele, mas sim do Brasil.
portanto, de um lugar de […] Cada brasileiro ou brasileira será, e deverá

JUCA MARTINS/OLHAR IMAGEM


poder).
ser, um fiscal dos preços. E aí posso me dirigir a
• Refletir sobre os artigos conti-
você, brasileiro ou brasileira, para investi-lo num
dos na Carta Magna de 1988,
fiscal do presidente, para a execução fiel desse
com foco no artigo 5o e nos
direitos trabalhistas regula- programa, em todos os cantos deste Brasil.
mentados por ela. Ninguém poderá, a partir de hoje, praticar
• Compreender a importân- a indústria da remarcação. O estabelecimento
cia de se tipificar o racismo que o fizer poderá ser fechado, [e] ensejar a
como crime inafiançável e im- prisão dos responsáveis.
prescritível e trabalhar esses […] Convoco o povo brasileiro para viver este
dois termos para uma melhor grande momento. Este programa não é um pro-
compreensão do artigo 5o da grama meu. Ele é do Brasil. É pelo Brasil que nós
Constituição. estamos lutando. [...]
SARNEY, José. Discurso do presidente José Sarney. In: CARVALHO, Marisa;
4. Caso considere pertinente, GARDENALLI, Geraldo. Plano de Estabilização Econômica. Revista de O presidente da República,
Economia Política, São Paulo, v. 6, n. 3, p. 109-120, jul./set. 1986. p. 113. José Sarney. Brasília (DF), 1985.
antes que os estudantes ela-
borem as respostas individual- a) Que estratégia Sarney usou em seu discurso para envolver o povo?
mente, em diálogo com a tur- b) Como Sarney justificou a sua estratégia? 4. a) Ele convocou cada brasileiro ou bra-
ma, relembrar as principais sileira para ser um “fiscal do presidente”.
c) O que você entende por indústria da remarcação?
características da economia
d) O Plano Cruzado interessava de fato a todos os brasileiros, como disse Sarney? Justifique.
brasileira no governo Sarney. 4. c) Resposta pessoal.
c) A indústria da remarcação foi 5 Sobre a Carta Magna (Constituição federal) de 1988, considere as afirmações a seguir.
o nome dado à prática, adota- I. Os indígenas e remanescentes de quilombos passaram a ter direito à terra, mesmo que não
da por alguns empresários, de vivessem nelas há décadas.
aumentar indevidamente os II. O voto tornou-se obrigatório para maiores de 16 e menores de 70 anos e instituiu-se eleição
preços dos produtos, remarcan- em dois turnos para os cargos do Legislativo.
do-os para obter mais lucro. III. O regime de governo do Brasil atual é a república federativa parlamentarista.
5. Caso os estudantes encon- IV. O artigo 5o da Constituição considera o racismo crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
trem dificuldade em identifi- reclusão nos termos da lei.
car as afirmativas certas, traba- V. O trabalhador ganhou o direito de receber como abono um terço de seu salário ao sair de
lhar com todo o grupo, lendo férias, a licença-maternidade foi aumentada para 120 dias e criou-se a licença-paternidade,
cada afirmação e estimulando de 5 dias.
a apontarem os motivos que as
Podemos afirmar que: Alternativa D.
tornam corretas ou incorretas.
Visto que alguns alunos podem a) I, II e III estão corretas. d) IV e V estão corretas.
não se sentir à vontade para b) II, III e V estão corretas. e) I e V estão incorretas.
expor suas dúvidas diante do c) III, IV e V estão corretas.
grupo, passar pelas carteiras 4. d) Não. O Plano Cruzado pode ser visto como um choque econômico para derrubar a inflação e con-
oferecendo ajuda individual 300 quistar o apoio popular.

a quem possa precisar.

cional”, vendo-os como 300


D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd uma categoria étnica e só em termos de habitação, mas também em 28/06/22 13:20 AV_

TEXTO DE APOIO social transitória, fadada ao desaparecimento. relação ao processo produtivo, à preservação do
Com a aprovação do novo texto constitucional, meio ambiente e à reprodução física e cultural
Direitos indígenas na os índios não só deixaram de ser considerados dos índios. [...]
Constituição de 1988 uma espécie em vias de extinção, como passa- Outra inovação importante da atual Consti-
ram a ter assegurado o direito à diferença cultu- tuição foi a de garantir aos índios, a suas comu-
O maior saldo da Constituição ral, isto é, o direito de ser índios e de permanecer
de 1988, que rompeu com uma nidades e organizações, capacidade processual
como tal. para entrar na Justiça em defesa de seus direi-
tradição da legislação brasileira,
diz respeito ao abandono da pos- [...] tos e interesses.
tura integracionista que sempre A Constituição reconhece aos índios “os direi- GRUPIONI, Luís Donisete (org.). As leis e a educação escolar
procurou incorporar e assimilar tos originários sobre as terras que tradicional- indígena. Brasília, DF: Ministério da Educação; Secretaria de
os índios à “comunidade na- mente ocupam”, definindo essa ocupação não Educação Fundamental, 2002. p. 14.
300

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 300 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
6. b) Em março de 1989, começaram os programas eleitorais gratuitos nas emissoras de rádio e televisão. Então, Collor,
que conhecia o poder da TV, e sabia utilizá-la a seu favor, começou a subir nas pesquisas. O próprio presidente da Re- 6. A partir da proposta con-
de Globo, Roberto Marinho, admitiu que sua emissora promoveu a candidatura de Collor contribuindo, assim, para a
sua vitória; e se justificou dizendo acreditar que ele faria um excelente governo. tida nesta atividade, sugerir
6 A imagem a seguir que, em todas as eleições, os

FERNANDO PEREIRA/AGÊNCIA O GLOBO.


é do último debate eleitores investiguem o perfil
do 2o turno da de cada candidato, atentos a
eleição presiden- sua origem, experiência, for-
cial de 1989. mação, propostas de governo
À esquerda, Fernando
e realizações. Relembrar aos
Collor de Mello; ao centro, estudantes que, com 16 anos,
o apresentador Boris eles já podem votar.
Casoy; e à direita, Luiz
Inácio Lula da Silva. 1989.
b) Discutir a influência da mí-
dia tradicional no resultado
a) Sobre esse assunto, preencha no caderno o quadro a seguir. das eleições à época e levantar
NÃO ESCREVA
hipóteses sobre essa influên-
NO LIVRO. Fernando Collor de Mello Luiz Inácio Lula da Silva cia nos dias atuais. Lembrar os
alunos de que no segundo tur-
Partido político no das eleições, geralmente,
ocorre um embate entre pro-
Origem social gramas políticos divergentes.
7. a) O cordel dirige uma críti-
Propostas de governo ca ao Plano Collor, afirmando
que ele castiga os trabalhado-
res, mas mantém o privilégio
b) Os meios de comunicação de massas (rádio, televisão, jornais, revistas etc.) estavam consolidados dos parlamentares, funcioná-
entre a população e eram os principais veículos de informação e lazer de milhões de brasileiros,
rios do Executivo e do poder
quando se iniciou a disputa da campanha presidencial de 1989. Até março daquele ano, eram
poucos os eleitores que apostavam em Collor de Mello. A partir daquele mês, no entanto, ele
Judiciário.
começou a liderar as pesquisas de intenções de voto. O que ajuda a explicar essa virada? b) Utilizar a lousa para escre-
ver a palavra “Cruzélia” e pe-
7 Leia o cordel de Raimundo Santa Helena com atenção. dir para que os alunos façam
6. a) Fernando Collor de Mello: partido O Plano Collor-Cruzélia 6. a) Luiz Inácio Lula da uma “tempestade de ideias”
político: PRN; origem social: família Silva: partido político: PT;
tradicional formada por empresários e Pune rico e operário, origem social: operária, associada a essa palavra, infor-
políticos; propostas de governo: acabar Federais e estatais, tornou-se líder popular nas mando que se trata da junção
com a corrupção e proteger as pessoas Mas não corta o salário greves do ABCD paulista; de dois substantivos.
abaixo da linha da pobreza. propostas de governo:
Dos nobres legislativos, realizar a reforma agrária, c) A remuneração mensal de
Dos demais Executivos acabar com a pobreza e um deputado federal no ano
suspender o pagamento da
E nem do Judiciário... […]. dívida externa brasileira. de 2022 era de R$ 33 763,00.
SANTA HELENA, Raimundo. Plano cruzélia. Literatura de Cordel para criança. De acordo com a Constituição,
7. a) Resposta pessoal. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1990. o valor do subsídio é o mes-
a) O que a leitura desse cordel permite concluir? mo para deputados federais
b) O que o poeta quis dizer com “Plano Collor-Cruzélia”? e senadores. Esse valor, que
c) O poeta dirige uma crítica direta aos altos salários dos parlamentares no Brasil. Pesquise corresponde ao salário dos mi-
os salários atuais de deputados federais e senadores, reflita e responda: você os considera nistros do Supremo Tribunal
elevados demais para o padrão brasileiro? Justifique sua resposta. Federal, é o teto constitucio-
7. c) Resposta pessoal. 7. b) Ele juntou a palavra cruzado (moeda corrente da época) com
nal do funcionalismo, mas há
o nome da então ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello;
daí o apelido Cruzélia.
301 parlamentares que acumulam
aposentadorias, extrapolan-
do o teto constitucional.
13:20 TEXTO DE APOIO
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 301 exemplos mais notórios e visíveis foram os 15:40
20/08/22 ca-
Material para pesquisa:
sos do leite e da carne bovina. [...] As insistentes
Os primeiros tropeços do Plano Cruzado ameaças do governo, seguidas de efetiva desa- • GASTOS parlamentares. Câ-
[...] O fato é que desde o segundo semestre propriação, inicialmente de 2 mil bois no mês mara dos Deputados - Portal
de 1985 o consumo vinha se expandindo cele- de outubro, acabaram garantindo o abate de 20 da Transparência. Brasília, DF,
remente devido ao aumento dos salários reais mil bois/dia no país, o que era a meta estabe- 2022. Disponível em: https://
obtidos pelos trabalhadores e à expansão do lecida pelas autoridades governamentais que www.camara.leg.br/transpa-
emprego. [...] Essa exacerbação do consumo, pretendem regularizar o abastecimento interno rencia/gastos-parlamenta-
numa situação de quase rigidez da oferta no com o aumento das importações. res. Acesso em: 14 jul. 2022.
curto prazo, acabou se traduzindo em grandes OLIVEIRA, Fabrício Augusto de. O Plano Cruzado: balanço e
filas nos supermercados, cobranças de ágios perspectivas. Lua Nova, São Paulo, v. 3, n. 3, p. 13-19,
sobre os preços, escassez de produtos onde os mar. 1987.
301

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 301 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
• Interdisciplinaridade: a ati- 8. a) O Plano Real não congelou preços nem veio sob a forma de “pacote-surpresa”. Foi submetido à discussão pú-
vidade 8 pode ser feita em blica e à aprovação pelo Parlamento. Nesse sentido, teve caráter democrático e contou com o apoio da sociedade.
interface com o componen- 8 Em 1994, tendo Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda, foi lançado
te curricular Matemática, de o Plano Real. Leia o que um economista diz sobre esse assunto.
modo a otimizar a explora- O Plano Real não congelou preços nem veio sob a forma de “pacote-surpresa”. Foi
ção de seu potencial peda- submetido à discussão pública e à aprovação pelo Parlamento. Nesse sentido, teve
gógico. caráter democrático e contou com o apoio da sociedade. Em julho de 1994, a moeda
8. b) Orientar os estudantes nacional passou a ser o real, e o plano entrou em vigor. O efeito sobre a inflação foi
que tiverem dificuldades na imediato. Em abril, 45,57%; maio, 43,77%; junho, 49,10%. Já em julho, a inflação desceu
elaboração do gráfico de co- a 32,45%; em agosto, despencou para 2,60%; em setembro, para 1,46%, subindo em
lunas. Pedir que seja utilizada
outubro para 2,65%; em novembro, 3,11%; e, em dezembro, caiu para 1,11%.
uma régua para a composição
SINGER, Paul. O processo econômico. In: REIS, Daniel Aarão (coord.). Modernização, ditadura e democracia: 1964-2010.
do gráfico, em que o eixo x Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. (História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 5, p. 223).
indicará os meses do ano e o a) No aspecto político, o que diferencia o Plano Real dos anteriores?
eixo y a taxa de inflação. b) Em uma folha de sulfite, faça um gráfico de colunas apresentando a inflação entre os meses
c) A inflação, no mês de abril, de abril e dezembro de 1994. 8. b) Resposta pessoal.
chegou a 45,57%, apresentan- c) De acordo com o texto e o gráfico que você produziu, como foi o movimento da inflação nos
do uma pequena queda em meses do ano de 1993? 8. c) Resposta pessoal.
maio e, novamente, uma alta d) Pergunte a um ou mais membros de sua família que era jovem ou já adulto entre o final dos
em junho, aproximando-se dos anos de 1980 e início dos anos 1990 como era viver naquela época sob o impacto da inflação.
50%. A partir de julho, com a Depois, com base no relato e nos estudos do capítulo, escreva um texto dissertativo sobre o
tema “o impacto da alta inflação na vida das pessoas”. 8. d) Resposta pessoal.
implantação da nova moeda,
o real, a inflação teve queda 9 Avalie as afirmações a seguir sobre o Plano Real e informe as corretas. 9. Alternativa C.
constante até outubro e no- I. Previa a criação de uma nova moeda, o real, e estabelecia a paridade entre essa moeda e o
vembro, quando apresentou dólar estadunidense, ou seja, em 1o de julho de 1994, 1 real equivalia a 1 dólar.
um pequeno aumento, caindo II. O Plano Real conseguiu derrubar a inflação e aumentar o poder de compra dos salários, o que
novamente em dezembro e fe- elevou enormemente a popularidade de FHC, este então lançou sua candidatura à presidência
chando o mês com 1,11%. da República.
d) Segundo os economistas, III. O Plano Real previa uma elevação dos gastos públicos, sobretudo no campo da Saúde e
a inflação - que pode ser de- da Educação.
finida como alta generalizada a) Apenas a alternativa I está correta.
dos preços - atinge e prejudica b) Apenas a alternativa II está correta.
mais as famílias pobres, já que c) As alternativas I e II estão corretas.
os salários de seus membros d) As alternativas II e III estão corretas.
não costumam acompanhar e) As alternativas I e III estão corretas.
o ritmo de alta dos preços,
gerando dificuldades de com- 10 Copie no caderno a alternativa correta.
prar alimentos, pagar as con- No ano 2000 foi aprovada a Lei de Responsabilidade Fiscal, que tornou obrigatório
tas de água, luz e gás. aos administradores públicos: 10. Alternativa B.
9. O Plano Real impacta o nos- a) gastar livremente, desde que de forma justificada e em projetos populares.
so cotidiano até hoje, daí a b) controlar os gastos, pois a Lei proibia gastar mais do que o arrecadado no ano.
importância de compreender c) ampliar o gasto público sempre que necessário, sem consentimento do Poder Legislativo.
seus impactos à época e na d) elaborar projetos que permitissem gastar além do que era permitido pelo orçamento anual.
atualidade.
10. As alternativas a), c) e d) 302
estão incorretas, pois contra-
dizem o verdadeiro sentido
da Lei de Responsabilidade D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 302 28/06/22 13:20 AV_

Fiscal, que era de obrigar o ad-


ministrador público (prefeito,
governador ou presidente) a
gastar de acordo com a arre-
cadação.

302

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 302 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
Professor, estamos finalizan-
do este livro nos primeiros meses
do último ano do governo Bol-
11 Sobre o primeiro governo Lula (2003-2006), leia as afirmações a seguir e informe as
sonaro, daí a impossibilidade de
corretas. 11. Alternativas A e D.
fazer um balanço histórico qua-
a) Lula foi favorecido, no plano interno, pelos resultados positivos do Plano Real, que estabi-
lificado a respeito do seu gover-
lizaram a economia, permitindo a queda da inflação e o crescimento do poder de compra
no. Comentar com os estudantes
dos salários.
que a análise histórica supõe um
b) Buscando conter gastos, o governo Lula suprimiu ministérios e secretarias, como a de Políticas
distanciamento temporal e um
para as Mulheres e a de Promoção da Igualdade Racial.
mergulho em fontes históricas
c) O Programa Fome Zero pretendia doar a todos os brasileiros uma alimentação adequada em
sobre o período que se quer
termos de qualidade, quantidade e regularidade
estudar. É necessário também
d) A principal marca do governo Lula foi a redução do índice de pobreza.
contar com uma historiografia
12 Sobre o governo Dilma Rousseff são corretas as afirmações. produzida por profissionais de
Ciências Humanas, e, como se
a) Desonerou o setor produtivo, especialmente o automobilístico, a fim de incentivar esse impor-
tante setor da economia.
sabe, por enquanto, não temos
um acúmulo de pesquisa para
b) Direcionou as exportações brasileiras sobretudo para os Estados Unidos e a Europa, seguindo
a linha do governo anterior.
a realização do trabalho que
cabe a um livro escolar.
c) A presidente Dilma mostrou dificuldade de negociar com os líderes dos diferentes partidos e,
por isso, não conseguia aprovar seus projetos no Congresso Nacional.
12. A alternativa b) está incor-
reta, pois o Brasil ampliou seus
d) Os gastos com a Copa das Confederações, com a Copa do Mundo (2014) e o aumento das
passagens de ônibus receberam críticas discretas por parte dos parlamentares.
parceiros comerciais aumentan-
do as exportações brasileiras
e) O debate em torno do impeachment da presidente Dilma dividiu opiniões e levou para as ruas
milhares de manifestantes; parte deles contrários, e outra parte a favor da sua permanência
para a China e o Mercosul. A
no governo. alternativa d) está incorreta,
12. São corretas as afirmações A, C e E. pois os gastos com a Copa das
13 A Reforma Trabalhista aprovada no governo Temer foi e continua sendo objeto de Confederações, com a Copa do
debate. Essa Reforma alterou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em qual dos Mundo (2014) e o aumento das
seguintes pontos? 13. Alternativas B e D. passagens de ônibus geraram
a) Eliminou a existência do salário mínimo. protestos por todo país.
b) Introduziu o “banco de horas” por acordo individual escrito. 14. Economia: orientação
c) Suspendeu a jornada de 8 horas de trabalho, importante conquista dos trabalhadores. neoliberal; acelerar as priva-
d) Tornou facultativo o pagamento do imposto sindical.
tizações, unificar impostos e
simplificar o sistema de arre-
e) Proibiu o trabalhador de fazer horas extras além do limite legal.
cadação fiscal.
14 No caderno, monte um quadro e preencha-a com informações sobre propostas do Meio ambiente: flexibilizar a
governo Jair Bolsonaro por setor. NÃO ESCREVA
legislação que regula a explora-
NO LIVRO.
ção econômica de áreas preser-
vadas, inclusive na Amazônia.
Economia
Ciência e Tecnologia: aliança
Meio ambiente
entre as universidades e a inicia-
tiva privada para transformar
Ciência e Tecnologia ideias em produtos.
Política externa: retorno à
Política externa tradição americanista; alinha-
mento aos Estados Unidos e
14. Sugestões de resposta no Manual do Professor. busca pela exclusão da Vene-
303 zuela do Mercosul.

13:20 TEXTO DE APOIO


AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 303 são fragmentada do conhecimento e interferir
20/08/22 15:41 afeta suas produções de senti-
nas produções de sentidos subjetivos dos alu- dos subjetivos na aprendizagem
[...] os fatos históricos são construídos por su-
nos nos processos de aprendizagem da própria da História.
jeitos que, ao construí-los, também se constro-
História. SCOZ, Beatriz Judith Lima; RODRIGUES,
em no processo histórico. [...]
Também é comum o estudo da História ater- Vilma Nardes Silva. Aula de história:
Não obstante, nas aulas de História perce- -se a apenas alguns fatos marcantes presentes subjetividade e memória na aprendizagem
be-se com frequência que o conhecimento é de alunos. Revista Quadrimestral da
na memória coletiva da humanidade, que os Associação Brasileira de Psicologia
compreendido como algo exterior ao aluno e alunos frequentemente reproduzem de for- Escolar e Educacional, São Paulo, v. 19, n.
que este precisa compartimentar os saberes ma mecânica – portanto, sem reflexão. Desse 1, p. 79-86, jan./abr. 2015. p. 80.
produzidos por outros. [...] A História, se com- modo, os alunos não são considerados como
preendida como unidade desconexa do sujeito seres portadores de uma historicidade carrega-
e da totalidade, pode contribuir para uma vi- da de memórias coletivas e individuais, o que
303

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 303 26/08/2022 18:00


ENCAMINHAMENTO
Vozes do presente
Propor a leitura individual
do texto, para ser debatido em II. Leitura e escrita em História
seguida. Pedir exemplos do que
c) I. A mensagem da campanha apresenta o sentido de que cada indivíduo ou
consideram crimes de ódio e se Vozes do presente grupo social possui uma história e uma cultura que precisam ser respeitadas.
já presenciaram a ocorrência
de algum deles. Por colocar em
Crimes de ódio: o que são, por que ocorrem e como combatê-los
pauta reflexões sobre as causas
e formas de violência contra ne- Mesmo sem tipificação legal, os crimes de ódio […] se caracterizam pela “dis-
gros e população LGBTQIA+, a criminação ou intolerância contra uma coletividade ou referências a elementos
atividade contribui para o de- específicos de raça, cor, religião, procedência nacional e etnia, de maneira tal que
senvolvimento da habilidade ofendam a dignidade humana, e não somente determinado indivíduo”. [...]
EF09HI26. O tema proporciona
Quais as causas do crime de ódio?
uma abertura para que seja tra-
tada a prática do bullying, visto Os crimes de ódio, segundo a antropóloga Adriana Dias, que há anos estuda o
que a intimidação sistemática tema, ocorrem por meio do que ela chama de “culto e cultivo ao ódio”. A especialista
na escola pode ter conexões enumera três formas de cultivá-lo no Brasil atual.
com preconceitos contra pes- A primeira é uma noção equivocada e superficial de meritocracia, pela qual alguns
soas pertencentes a populações indivíduos passam a acreditar que são melhores do que outros ou mais merecedores.
historicamente oprimidas. Em segundo, está a formação de um “sujeito conveniente”, que recebe a culpa pelos
a) Espera-se que os alunos res- fracassos de outros. “Nesse caso, quem odeia pensa: A culpa não é minha por estar
pondam que os crimes de ódio nessa situação. É do judeu, do negro, do gay, do nordestino. Você constrói o objeto de
se caracterizam pela discrimi- ódio e um motivo para odiá-lo”, explica Dias.
nação ou intolerância direcio-
A terceira forma, completa, é o culto à masculinidade […]. E com todos esses
nadas a um grupo, por moti-
fatores, o ódio só tende a crescer”, avalia a antropóloga.
vos de etnia, raça, cor, religião
ou procedência nacional. CRIMES de ódio: o que são, por que ocorrem e como combatê-los. TV Assembleia, Teresina, 23 set. 2009. Disponível em:
http://www.tvassembleia.org/noticiasConteudo_inc.php?idNoticia=16208. Acesso em: 23 mar. 2022.
a) Resposta pessoal.
c) II. A imagem da página a) Com base no texto, explique com suas palavras o que são os crimes de ódio.
apresenta uma mulher negra b) Apresente os três fatores que, segundo a antropóloga Adriana Dias, são as causas dos crimes
com o turbante, representan- de ódio.

PREFEITURA DE FORTALEZA
do a população negra que, c) Observe uma página da campanha Ceará
ainda hoje, sofre com o ra- sem racismo. Respeite a minha his-
cismo. Aproveitar a questão tória, respeite minha diversidade,
para apresentar aos alunos lançada pela Secretaria da Proteção
o conceito de racismo estru- Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e
tural desenvolvido por Sílvio Direitos Humanos (SPS) do Governo
do Estado do Ceará em parceria com
Luiz de Almeida: “o racismo
a Prefeitura de Fortaleza, em 2019. Em
é uma decorrência da pró- seguida, responda às questões.
pria estrutura social, ou seja,
I. Qual é o sentido que a mensagem da
do modo ‘normal’ com que campanha apresenta?
Ialorixá Mãe Menininha do Gantois. Campanha contra
se constituem as relações po- II. Observe a imagem e relacione-a ao obje- o racismo chamada “Ceará sem racismo. Respeite a
líticas, econômicas, jurídicas tivo da campanha. c) II. Resposta pessoal. minha história, respeite minha diversidade". 2019.
e até familiares, não sendo b) As causas dos crimes de ódio são a noção equivocada de meritocracia, que faz com que alguns indivídu-
uma patologia social e nem 304 os pensem que são melhores ou mais merecedores do que outros; a construção de um sujeito conveniente,
sobre o qual recai a culpa pelo fracasso de outrem; e o culto à masculinidade.
um desarranjo institucional. O
racismo é estrutural”. (ALMEI-
DA, Sílvio Luiz de. Racismo es- D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 304 28/06/22 13:20
trutural. São Paulo: Jandaíra,
Vídeo (2min7s). Publicado pelo canal youtube.com/watch?v=dXWmSE9iewE.
2019. p. 38.).
ONU Brasil. Disponível em: https://www. Acesso em: 14 jul. 2022.
youtube.com/watch?v=oW3tkrDTsRw. Vídeo da TV UFMG sobre o preconceito e a
Acesso em: 14 jul. 2022. violência contra os povos indígenas.
Imagens em movimento Reportagem com estatísticas sobre a vio- • QUEM É indígena? 2017. Vídeo (2min26s).
Vídeo da ONU sobre os di- lência no Brasil. Publicado pelo canal TV UFMG.
reitos das mulheres. • NEGROS são maiores vítimas da violência. Disponível em: https://www.youtube.com/
• ONU pelo fim da violência 2013. Vídeo (3min22s). Publicado pelo ca- watch?v=0W0IY3TS1k4. Acesso em: 14 jul.
contra as mulheres. 2016. nal TV Brasil. Disponível em: https://www. 2022.
304

264a304_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-MP.indd 304 26/08/2022 18:00


OBJETIVOS
• Apontar as principais razões
CAPÍTULO da crise soviética iniciada nos

14
anos de 1970.
FIM DA GUERRA FRIA • Compreender e contextualizar
a perestroika e a glasnost, pro-
E GLOBALIZAÇÃO postas por Gorbachev.
• Conhecer o processo que
conduziu à desintegração da
União Soviética e ao fim da
Guerra Fria.
• Debater as revoltas iniciadas
COWARDLION/SHUTTERSTOCK.COM

IMAGE SOURCE/GETTY IMAGES


em 2010 no Norte da África,
com destaque para o papel
das redes sociais na organi-
zação e na divulgação desses
movimentos sociais.
• Debater sobre protestos con-
tra a globalização.
• Refletir sobre a questão da
Palestina.

Os objetivos propostos
propiciam a realização de
análises sobre eventos his-
tóricos que impactam dire-
1. Você é capaz de adivinhar de que tamente a contemporanei-
FG TRADE/GETTY IMAGES

país ou região são as pessoas dade. Também permitem


dessas fotografias? articular leituras sobre o
2. Já reparou que pessoas de diversas mundo globalizado, desen-
partes do mundo consomem as volvendo as competências e
mesmas bebidas, as mesmas habilidades relacionadas.
roupas e os mesmos celulares e têm
comportamentos bem parecidos?
Efeitos da globalização, dizem alguns BNCC
analistas.
• Competências gerais: 4, 6,
3. Mas, afinal, o que é a globalização? 7, 8, 9 e 10.
4. O que vem à sua mente quando • Competências específicas:
você lê ou ouve essa palavra? 1, 4 e 7.
5. Será que é um fenômeno recente • Habilidades: EF09HI32,
ou antigo?
EF09HI133, EF09HI35 e
6. Será um processo excludente, como EF09HI36.
dizem alguns, ou inclusivo, como
sugerem outros? Respostas pessoais.

305 TEXTO DE APOIO


Globalização e Integração
Nos anos 1980, e especialmen-
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 305 ENCAMINHAMENTO 28/06/22 13:20 te após o fim da Guerra Fria, o
sistema internacional baseado
Professor, buscamos evidenciar as semelhanças nos comportamentos de pessoas de dife- na lógica da bipolaridade de-
rentes partes do mundo, para estimular o interesse pelo estudo da globalização e de seus sintegrou-se dando lugar a uma
múltiplos efeitos sobre as pessoas e os Estados nacionais; a partir das imagens, pode-se pen- nova ordem mundial.
sar também sobre a formação de uma cultura global de massas, que pode ser observada [...] com o fim da bipolaridade, as
no comportamento de jovens de várias partes do mundo, que usam os mesmos cortes de organizações internacionais ganha-
cabelo, estilos de roupa, enfeites corporais, e se interessam pelos mesmos programas de TV, ram maior importância, assim como
alimentos e músicas. As questões iniciais visam estimular o alunado a trazer para a sala de as iniciativas de cooperação entre
os países (entre elas os processos
aula seu conhecimento sobre o assunto. de integração regional); os Estados
Unidos tornaram-se o principal
305

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 305 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Destacar que, nas décadas de
1950 e 1960, a União Sovié-
Gorbachev: reconstrução

BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES


tica apresentou resultados
satisfatórios tanto nas áreas
econômica (sobretudo no
e transparência
campo da indústria pesada),
militar, científica e esportiva, Mikhail Gorbachev assumiu o posto de
como na área de serviços, que secretário-geral do Partido Comunista da União
o Estado oferecia nos campos Soviética em 1985. E herdou uma crise profunda,
da educação, saúde e segu- que vinha se arrastando desde o governo anterior.
rança. Mas, a partir da déca- Entre as principais razões dessa crise, cabe citar:
da de 1970, a URSS viveu uma a) os crescentes gastos do governo soviético
crise econômica prolongada. com o pagamento de forças policiais, usadas
• Informar que, ao longo da para conter a oposição interna, e a corrida
Mikhail Gorbachev (líder do Partido
década de 1980, a crise se armamentista; com isso, sobrava menos
Comunista soviético) e sua esposa,
acentuou provocando cares- Raisa Gorbachev, primeira à direita, dinheiro para investir na produção, na edu-
tia, aumento do desempre- sendo recebidos na chegada a Kiev
cação e na saúde. Nos anos 1980, com o
go e queda da qualidade dos (Ucrânia), 1985.
aprofundamento da crise, começaram a faltar
serviços de educação e saúde
oferecidos pelo Estado. A moradias e gêneros de primeira necessidade,
crise tinha também um as- Produtividade: capacidade de produzir; como roupas, calçados e alimentos, o que
pecto moral – valores como rendimento. gerou enorme insatisfação social. A qualidade
cooperação e solidariedade, Burocracia: grupos de funcionários dos serviços de educação, saúde e transporte
encarregados da administração pública.
presentes nos discursos das caiu;
autoridades, não eram ob- b) a baixa produtividade da agricultura e da
servados na prática; o alco- pecuária: a produção de cereais, carne e
olismo tornou-se um grave leite tornou-se insuficiente para alimentar
problema social; aumentou
a população soviética; o país, que era um
ANDRE DURAND/AFP

o consumo de bebidas alco-


dos maiores produtores de grãos, passou a
ólicas entre homens e mu-
lheres e o crime organizado importá-los;
ampliou seu raio de ação. c) a falta de investimentos em tecnologia,
sobretudo no campo da informática, das
telecomunicações e da microeletrônica, o que
levou a URSS a ficar muito atrás das potências
TEXTO DE APOIO capitalistas nessas áreas. Os soviéticos passa-
(CONTINUAÇÃO ram a perceber que seu padrão de vida era
ator do sistema internacional – inferior ao das camadas médias dos Estados
embora no final dos anos 1980 Unidos, do Japão e da Alemanha Ocidental;
ainda não fosse possível avaliar
a extensão de seu papel hege- Moscovitas fazem fila em uma d) a ineficiência e a corrupção da burocracia
mercearia para comprar comida para soviética, que dirigia o Estado e que vinha
mônico – e as relações entre os
as comemorações de Ano-Novo durante
Estados seriam influenciadas pelo a crise econômica. Moscou (Rússia), dos quadros do Partido Comunista da União
fenômeno da globalização. 29 de dezembro de 1990. Soviética, o único com permissão para funcionar.
A globalização é um conceito
que gerou intenso debate, desde 306
que não há um consenso quan-
to ao seu significado e impactos.
Alguns autores preferem anali-
sar esse fenômeno a partir dos nia e legitimidade adquirem
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 306 novos significados, Imagens em movimento 28/06/22 13:20 D3_

chamados aspectos materiais: uma vez que o Estado perde a capacidade de


fluxos de comércio, de capital responder isoladamente aos desafios do siste- Vídeo do canal History sobre Gorbachev e
e de pessoas facilitados por um ma internacional, assim como a de prover bens suas negociações políticas.
contexto de avanço na comuni- e serviços à sua população sem contar com a • COMO a chegada de Gorbachev afetou
cação eletrônica que parece su- cooperação internacional [...].
relação com EUA | Mundo Louco | History.
primir as limitações da distân- MARIANO, Karina Pasquariello. Globalização, integração e o
2018. Vídeo (3min23s). Publicado pelo ca-
cia e do tempo na organização e Estado. Lua Nova, São Paulo, n. 71, p. 123-168, 2007. p. 123-124.
na interação social. [...] nal History Brasil. Disponível em: https://
youtu.be/pAugue2oYsU. Acesso em 14 jul.
Neste cenário globalizado, o
Estado-nação ganha novos con- 2022.
tornos e os conceitos de sobera-
306

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 306 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre a crise ética que
vivemos na atualidade, e o
Reformas de Gorbachev risco de indivíduos e socie-
dades perderem seus valores
Disposto a tirar seu país da crise, Gorbachev propôs um amplo programa de reformas
mais elevados e mergulharem
econômicas (a perestroika) e políticas (a glasnost).
no vácuo.
A perestroika (reestruturação, em russo) adotou medidas como:
• Compreender que a perda de
a) corte nos gastos com armas e soldados e retirada das tropas soviéticas do Afeganistão valores mais caros à dignidade
(cuja ocupação vinha consumindo vidas e altas somas de dinheiro); humana costuma acompa-
b) estímulo à renovação tecnológica e à competitividade entre as empresas; nhar períodos de recessão
c) fim do monopólio estatal sobre alguns setores, como o de alimentos; econômica.
• Trabalhar o conceito de
d) permissão para a abertura de lojas comerciais;
perestroika e compreender
e) liberdade para a entrada de empresas estrangeiras no país.
as principais medidas imple-
A glasnost (transparência, em russo) consistia em uma abertura política efetiva. mentadas por essa reforma
O governo Gorbachev: econômica.
a) libertou os presos políticos; • Conhecer o conceito de glasnost
b) demitiu funcionários corruptos; e refletir sobre a importância
c) pôs fim à censura de jornais, livros e revistas e liberou o direito à greve; da transparência na política,
no passado e no presente,
d) substituiu o sistema de partido único (o Partido Comunista da União Soviética) pelo
e em diferentes espaços, de
pluripartidarismo..
pluripartidarismo
modo a contribuir para o de-
A perestroika e a glasnost de Gorbachev, porém, não surtiram o Pluripartidarismo: senvolvimento da competência
efeito esperado; de um lado, em razão das dificuldades próprias da sistema caracterizado
pela existência de específica 1.
passagem de uma economia comunista (apoiada no planejamento diferentes partidos • Compreender a substituição
centralizado) para uma economia capitalista (baseada na livre- políticos, com ampla
do monopartidarismo pelo
-iniciativa); de outro, pela dupla oposição feita ao seu governo – liberdade para
atuar publicamente. pluripartidarismo e sua im-
em um extremo estava a “velha guarda” do Partido Comunista, portância para a construção
que queria impedir as mudanças; em outro, a ala liderada por Boris da cidadania em um país.
Yeltsin, que exigia o aprofunda-
mento das mudanças.

Cena do filme Doutor Jivago, de 1965. O livro


Doutor Jivago, do soviético Boris Pasternak,
surpreendente, mas ao lado
foi levado para o Ocidente às escondidas e
publicado em 1957. Ele ganhou várias edições desses triunfos científicos e
e foi adaptado para o cinema. Apesar disso, tecnológicos existe uma ine-
nunca tinha sido editado em seu país de ficiência óbvia para aplicar
origem. No final dos anos 1980, à sombra nossas conquistas científicas
das reformas em curso na URSS, essa obra, às necessidades econômicas,
até então proibidíssima, pôde finalmente ser e muitos dos eletrodomésti-
conhecida pelo povo soviético. cos na URSS apresentam uma
qualidade sofrível. Infelizmen-
te, isso não é tudo. Iniciou-se
EVERETT COLLECTION/EASYPIX BRASIL uma gradual erosão de valores
ideológicos e morais de nosso
307 povo. [...] Começou a decadência
da moral pública [...]. O alcoolis-
mo, o consumo de drogas e o cri-
me aumentavam [...]. Em alguns
13:20 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 307 fértil para uma grave crise social, econômica
28/06/22 13:20
níveis da administração surgiu o
e política. [...]
A Perestroika segundo o seu criador desrespeito pela lei e o encora-
Estava se desenvolvendo uma situação ab-
jamento de trapaças e suborno,
A Perestroika é uma necessidade urgente surda: a URSS, o maior produtor mundial de
servilismo e glorificação. [...] Um
que surgiu da profundidade dos processos aço, matérias-primas, combustíveis e energia,
exame imparcial e honesto le-
de desenvolvimento em nossa sociedade apresentava escassez de tais recursos devi-
vou-nos à única conclusão lógica:
socialista. Esta encontra-se pronta para ser do ao uso ineficiente ou desperdício. Apesar
o país estava à beira de uma crise.
mudada e há muito tempo que anseia por de ser um dos maiores produtores de grãos
mudanças. Qualquer demora para implantar para alimentação, tinha de comprar milhões GORBACHEV, Mikhail. A Perestroika. In:
MARQUES, Ademar; BERUTTI, Flávio;
a perestroika poderia levar, num futuro próxi- de toneladas por ano para forragem. [...] Nos-
FARIA, Ricardo. História do tempo
mo, a uma situação interna exacerbada que, sos foguetes conseguem encontrar o cometa presente. São Paulo: Contexto, 2007.
em termos claros, constituiria um terreno de Halley e atingir Vênus com uma precisão (Textos e Documentos, v.7, p. 91-93).
307

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 307 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Evidenciar que as reformas
propostas por Gorbachev,
para “salvar” o socialismo so-
viético, abriram as portas para
A extinção da URSS e a formação da CEI
forças políticas que levaram à Em meados de 1991, um grupo da “velha guarda” comunista deu um golpe militar
sua extinção: a “velha guar-
e afastou Gorbachev. Mas o povo russo saiu às ruas, liderado por Yeltsin, e venceu os
da” do Partido Comunista
golpistas, recolocando Gorbachev no poder.
tentava impedir as mudanças;
Gorbachev reassumiu, mas já não era possível controlar o processo de reformas que ele
já as forças lideradas por Boris
mesmo iniciara. Dias depois, as repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia) declararam
Yeltsin pressionavam para que
sua independência e, posteriormente, foram imitadas por outras repúblicas soviéticas.
fossem aprofundadas.
Em 8 de dezembro de 1991, Yeltsin proclamou a criação da Comunidade dos Estados
• Compreender o processo his-
Independentes (CEI),, formada pela Federação Russa, Ucrânia e Belarus, às quais se jun-
tórico que marcou a emer- taram depois outras repúblicas. Com a criação da CEI, a União Soviética, que existiu por
gência da CEI e a extinção
69 anos, foi extinta. Esse episódio marca o fim da ordem mundial bipolarizada, uma das
da URSS, em 1991, marco
principais características da Guerra Fria.
do fim da ordem mundial
bipolarizada.
União Soviética: desmembramento (1991)
• Retomar o conceito de demo-
ALLMAPS

cratização e fornecer exem- OCEANO GLACIAL ÁRTICO

tic o
r Ár
plos desse processo no Leste

la
Po
Europeu . OPA

ulo
Mar de
EUR Barents

rc
Mar de


Mar de
RUS. ESTÔNIA
Kara Bering
50º

LITUÂNIA
LETÔNIA
N

BELARUS
Moscou

Imagens em movimento MOLDÁVIA


UCRÂNIA
OCEANO
PACÍFICO
Reportagem da Band Jor- Mar
FEDERAÇÃO RUSSA

nalismo sobre a extinção da Negro

GEÓRGIA

URSS. ARMÊNIA
AZERBAIJÃO
Mar CASAQUISTÃO
Mar de Aral
UZ

• AS RAZÕES do colapso do
TU

Cáspio
BE

Fonte: DUBY, Georges.


RC

QU
O

ÁSIA
império da União Soviética.
IST

Atlas historique mondial.


ME

0 810
ÃO

QUIRGUISTÃO
NI

Paris: Larousse, 2011.


ST

TADJIQUISTÃO
2021. Vídeo (6min51s). 100° L
ÃO

p. 261.
Publicado pelo canal Band
Jornalismo. Disponível em: Democratização no Leste Europeu
https://youtu.be/p3B9t_bnsu4.
Países do Leste Desde o final da Segunda Guerra, em 1945, os países do Leste
Acesso em: 14 jul. 2022. Europeu: Polônia,
Iugoslávia,
Europeu giravam na órbita da União Soviética; daí serem chamados
de países-satélites.. Assim como a União Soviética, todos esses países
TEXTO DE APOIO Tchecoslováquia,
Hungria, Romênia,eram governados por um único partido – o Partido Comunista –, que
As Repúblicas bálticas da União Bulgária, Albânia e
adotava uma economia controlada pelo Estado e mantinha os meios
Soviética – Estônia, Letônia e Lituâ- Alemanha Oriental.
de comunicação sob rigorosa censura.
nia – eram diferentes sob [alguns]
aspectos. [...] ficavam expostas ao
Com as reformas de Gorbachev, a União Soviética relaxou o controle sobre os países
Ocidente mais do que qualquer ou- do Leste Europeu, facilitando a atuação de movimentos populares que lutavam pela demo-
tra região soviética. Os estonianos, cratização desses países. Na Alemanha e na Tchecoslováquia, esse processo foi pacífico. Na
principalmente, tinham contato Romênia e na Iugoslávia ocorreram revoltas e conflitos armados.
com a Escandinávia, assistindo à
televisão finlandesa desde a década
de 1970, sempre conscientes do
308
contraste entre a sua condição e a
dos prósperos vizinhos. Os lituanos,
cuja maior afinidade histórica e industrializados — vagões
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 308 ferroviários, aparelhos E em 18 de dezembro o Partido Comunista da 28/06/22 13:20 D3_

geográfica era com a vizinha Po- de rádio, derivados do papel —, e eram também Lituânia se dividiu, com a grande maioria se
lônia, não podiam deixar de notar fontes importantes da atividade pesqueira, da declarando favorável à independência imediata.
que, mesmo sob o comunismo, os produção de laticínios e algodão. A julgar pelas Agora Gorbatchev já não podia se calar. Em 11 de
poloneses eram decididamente mercadorias que produziam e as que passavam janeiro de 1990, viajou até Vilnius, com o intuito de
mais livres e prósperos do que eles. por seus portos, estonianos, letões e lituanos ao desaconselhar a separação pretendida, instando
[...] apesar das comparações des- menos conheciam um estilo e um padrão de vida “moderação”. [..]
favoráveis com os vizinhos, os Es- com os quais grande parte do restante da União Depois de seis meses agitados, em que prati-
tados do Báltico, para os padrões Soviética apenas sonhava. camente todas as demais Repúblicas soviéticas
da União Soviética, eram próspe- [...] Os movimentos de independência do Bál- importantes declararam a sua “soberania”, se
ros. Eram os maiores produtores tico fizeram o máximo de pressão durante todo não (ainda) a independência total, a posição de
soviéticos de diversos produtos o ano de 1989. [...] Gorbatchev se tornava insustentável. Seu empenho
308

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 308 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Explicar que, nas duas primei-

AP PHOTO/IMAGEPLUS
ras décadas de sua existência,
O caso da Alemanha a República Federal da Ale-
manha (Alemanha Ocidental)
No final dos anos 1980, incentivados pelas viveu um período de extraordi-
reformas de Gorbachev na URSS, os habitantes da nária prosperidade, conhecido
Alemanha Oriental organizaram um movimento como milagre alemão, o qual
popular exigindo melhor qualidade de vida e se deveu: a uma política de
democracia. O lema do movimento era Wir sind estímulo à livre concorrência
das Volk (“Nós somos o povo”). Pouco a pouco, o entre as empresas e de com-
bate aos trustes e cartéis que
movimento foi ganhando corpo e força, até que,
dominaram a economia alemã
em 9 de novembro de 1989, o povo alemão derru- durante os 12 anos de ditadu-
bou o Muro de Berlim, um dos principais símbolos ra nazista; à ajuda financeira
da Guerra Fria. recebida dos Estados Unidos
Após a queda do muro, Mikhail Gorbachev Alemães orientais entram em Berlim por meio do Plano Marshall;
concordou em retirar da Alemanha Oriental as Ocidental pouco antes da derrubada do e à adoção de uma legisla-
muro. Berlim (Alemanha), 1989.
tropas de ocupação soviéticas que controlavam o ção trabalhista atualizada,
país havia 45 anos. Em julho de 1990, realizou-se a união monetária e econômica entre que reduziu enormemente os
conflitos entre empregados e
as duas Alemanhas, tendo o marco como moeda; em outubro, a Alemanha voltava a ser
patrões.
um só país. A data da queda do Muro de Berlim (9 de novembro de 1989) é um marco
• Destacar que, impulsionada
histórico no processo que levou ao fim da ordem mundial bipolarizada. Os custos da
por esses fatores, a Alemanha
unificação foram altos. Apesar disso, a Alemanha conseguiu superar esse desafio e hoje Ocidental cresceu cerca de
é uma potência econômica com elevado índice de qualidade de vida. 10% ao ano, no período en-
tre 1950 e 1955, e 6,3%, nos
cinco anos seguintes. Além
Globalização disso, apresentou, nesse pe-
ríodo, taxas decrescentes de
A globalização pode ser definida como um processo histórico Automação: sistema desemprego e de inflação,
de crescente interligação política, econômica, social e cultural entre automático pelo tornando-se, assim, uma po-
qual os mecanismos tência econômica.
os diferentes povos e países. controlam seu próprio
Para alguns historiadores, a globalização teve sua origem nas funcionamento, com • Comentar que, segundo alguns
Grandes Navegações europeias dos séculos XV e XVI, ganhou pouca interferência historiadores, a queda do Muro
impulso no século XVIII com a Primeira Revolução Industrial e inten-
humana. de Berlim marca o fim da ordem
Revolução mundial bipolarizada, caracteri-
sificou-se no século seguinte com a Segunda Revolução Industrial. Técnico-Científico- zada pela disputa da hegemo-
No século XX, as inovações tecnológicas ocorreram durante todo o -Informacional:
nia mundial entre capitalistas
conceito formulado
tempo e em diferentes regiões do planeta. A partir dos anos 1970, e comunistas.
pelo geógrafo Milton
a dinâmica capitalista e os investimentos em ciência e tecnologia Santos para explicar, • Introduzir o tema da globa-
conduziram à automação dos processos produtivos e à descoberta entre outros aspectos, lização, questionando os es-
a revolução na produção
de novas tecnologias em diversas áreas. Essa série de inovações
e a circulação de
tudantes sobre o modo como
ocorrida nos anos 1970 é denominada Revolução Técnico- mercadorias iniciada percebem a participação de
-Científico-Informacional,, ou Terceira Revolução Industrial; a
-Científico-Informacional na década de 1970 e outras culturas e economias
fotografia a seguir mostra um dos aspectos dessa Revolução.
ainda em curso. no cotidiano deles, por meio
de músicas, filmes, séries, ali-
309 mentos e roupas que conso-
mem.
• Historiar o processo de glo-
balização.
TEXTO DE APOIO
EDITORA OBJETIVA

13:20 D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 309 28/06/22 13:20


• Aprofundar o assunto com a
(CONTINUAÇÃO) leitura do texto: HAAG, Car-
para conter as iniciativas no Báltico havia em muito
los. Um estrondo que ainda
ecoa duas décadas depois:
debilitado a sua imagem de “reformador”, e a incapa-
discussão sobre aniversário
cidade do líder de impedir discursos de autonomia,
da queda do Muro de Ber-
soberania e independência provocava indignação
lim revela o seu impacto na
entre seus companheiros e — o que era mais peri-
atual crise mundial. Revista
goso — entre o Exército e as forças de segurança.
Pesquisa FAPESP, São Paulo,
JUDT, Tony. Pós-guerra: uma história da n. 164, p. 90-93, out. 2009.
Europa desde 1945. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. p. 638-640.
309

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 309 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
Resposta pessoal. Há um grande número de inovações tecnológicas recentes, sobretudo no campo da comunicação
• Conceituar Revolução Técni- (exemplo: reuniões virtuais) e da informática, que estão incorporadas ao dia a dia dos alunos (exemplos: relógios
co-Científico-Informacional. conectados aos smartphones e jogos

WALTRAUD GRUBITZSCH/PICTURE ALLIANCE/GETTY IMAGES


de realidade aumentada).
• Considerar a existência de
um grande número de ino-
vações tecnológicas recen-
tes, sobretudo no campo da O robô “Thea”, programado
comunicação (exemplo: reu- para orientar idosos
niões virtuais) e da informá- a fazerem atividades
físicas. Na imagem, estão
tica, que estão incorporadas
presentes, também, um
ao dia a dia do aluno (exem- médico (à direita com
plos: relógios conectados ao máscara azul), uma
smartphone e jogos de reali- assistente de enfermagem
dade aumentada). e um especialista em
informática (atrás do robô).
• Questionar os estudantes so- Halle (Alemanha), 2021.
bre suas eventuais escolhas
profissionais e sobre as no- Segundo o historiador Nicolau Sevcenko:
Dialogando
vas profissões surgidas com O que distinguiu particularmente o século XX, em comparação
o desenvolvimento tecnoló- Você seria
com qualquer outro período precedente, foi uma tendência contínua
gico acelerado que estamos capaz de dar
alguns exemplos e acelerada de mudança tecnológica, com efeitos multiplicativos [...]
vivendo. Este diálogo pode
de mudanças sobre praticamente todos os campos da experiência humana [...].
ajudar o alunado a entender
tecnológicas SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa.
as relações próprias do mun- recentes? São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 23.
do do trabalho e fazer esco-
lhas alinhadas ao seu Projeto
de Vida, mobilizando assim a Efeitos da globalização sobre o emprego
competência geral 6. A Revolução Técnico-Científico-Informacional e a crescente globalização trouxeram
• Perceber as vantagens e des- algumas vantagens, como:
vantagens resultantes da a) a disponibilidade de uma grande variedade de produtos a preços relativamente mais
Revolução Técnico-Científi- baixos;
co-Informacional e da cres-
b) a velocidade com que as informações circulam e a eficiência dos meios para obtê-las;
cente globalização.
c) a livre circulação de mercadorias e capitais entre os países de um mesmo bloco eco-
nômico, entre outras.
Dialogando. Aproveitar a Mas essa revolução em um mundo cada vez mais globalizado trouxe também des-
proposta para aproximar o vantagens; a maior delas, talvez, seja o crescimento do desemprego.
conceito de globalização à A automação da produção industrial vem eliminando muitos postos de trabalho,
realidade dos alunos. direta ou indiretamente. Diretamente, as empresas vêm substituindo homens e mulheres
por máquinas inteligentes e robôs. Indiretamente, as indústrias dos países pobres ou em
desenvolvimento perdem, com frequência, a concorrência para as dos países ricos; como
resultado, têm dificuldade para se manter e, por vezes, acabam falindo e levando muitos ao
TEXTOS DE APOIO
desemprego. Esse desemprego resultante da revolução tecnológica em curso é chamado
Globalização: do que se de desemprego estrutural,
estrutural, porque os trabalhadores perdem seus empregos e a volta ao
trata afinal? mercado de trabalho é mais demorada.
[...] Nas palavras de Held e
outros, globalização é “[...] um 310
processo (ou uma gama de pro-
cessos) que incorporam uma
transformação na organização
quanto de comunidades inteiras em outras indústria de ponta, na terceira revolução indus-
espacial das relações sociais e D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 310 28/06/22 13:20 D3_
partes do globo. trial, na introdução dos microcomputadores, na
das transações” [...]. Em outras
palavras, isso reflete o fato do RAMOS, Leonardo César Souza. A sociedade civil em tempos difusão de bens eletrônicos e capitais flexíveis,
mundo estar sendo rapida- de globalização: uma perspectiva neogramsciana. Dissertação na modernização das telecomunicações, e no
(Mestrado em Relações Internacionais) - PUC-Rio, Rio de Janeiro, surgimento da robótica e da biotecnologia, além
mente moldado em um espaço
2005. p. 102.
social compartilhado por for- de mudanças em escala global das mídias, das
ças tecnológicas e econômicas, televisões, representando um novo sistema de
o que faz com que os desen- O período da informação e comunicação, no controle de massa. [...]
volvimentos em uma região do Meio Técnico, Científico e Informacional, tem
NASCIMENTO, Giovana Oliveira do; FERNANDEZ, Pablo
mundo possam ter profundas seu surgimento a partir de 1980, na revolução Sebastian Moreira. O meio técnico científico e informacional e
consequências para as chan- científico-técnica e no avanço tecnológico, mo- a cultura tecnológica: perspectivas para o ensino de geografia.
ces de vida tanto de indivíduos mento de crescimento dos setores da chamada Prometeu, Natal, v. 5, n. 1, p. 1-18, 2019.
310

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 310 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Trabalhar o conceito de desem-
prego estrutural e, se conside-
rar oportuno, refletir sobre os
PARA SABER MAIS efeitos disto na vida do traba-
lhador e de sua família.
Argumentos críticos às políticas globais • Refletir sobre os argumentos
a) A flexibilização da legislação trabalhista retira direitos sociais dos trabalhadores. dos críticos às políticas globais,
pedindo aos estudantes exem-
b) O uso da terceirização e da subcontratação pelas empresas provoca a diminuição
plos dos efeitos da imposição
no número de empregos com carteira assinada.
de uma cultura única na sua
c) O controle das políticas econômicas dos países mais pobres e emergentes por organis- região ou comunidade.
mos internacionais (Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial) acaba levando • Debater sobre os argumentos
esses países a reduzir investimentos em saúde, educação e segurança pública. favoráveis às políticas globais e
d) A imposição de uma solicitar aos alunos que reflitam
KEINY ANDRADE/FOLHAPRESS

cultura única ameaça a sobre seus limites, levantando,


diversidade e os valores por exemplo, o problema da
culturais locais e regionais. exclusão digital, que atinge
parte significativa da popula-
e) A prioridade dada ao
ção mundial.
crescimento econômico
tem causado a degra-
dação ambiental – ar,
terra e água.
+ATIVIDADES
Em dupla. Vimos que a glo-
Vitrine de loja em shopping. balização envolve mudanças
Jundiaí (SP), 2017. e permanências que afetam
significativamente a vida das
Argumentos favoráveis às políticas globais pessoas. E que esse processo
divide opiniões. Analisem essas
a) Aumentam a concorrência entre as empresas
DIEGO GAZOLA

mudanças e permanências na
e diminuem os preços das mercadorias.
sua comunidade e se posicio-
b) Possibilitam a um número maior de pessoas nem sobre o tema por meio
o acesso a bens de consumo com tecnologia de um texto, um podcast ou
avançada, como celulares, smart TVs etc. um vídeo.
c) Favorecem a integração de povos e culturas Professor, essa atividade con-
pela internet e pelas redes sociais. tribui para o desenvolvimento
da habilidade EF09HI32 e pode
d) Permitem-nos saber o que ocorre ao redor do
colaborar também para a com-
mundo em tempo real.
petência geral 4.
e) Ampliam os mercados e favorecem um aumento
do comércio mundial, o que beneficia a todos. Contra: Ernst-Ulrich von Wei-
zsäcker. Sr. Weizsäcker, quais as
Praia de Mangue Seco, Jandaíra (BA), 2007. Na placa, lê-se: chances e riscos que oferece a
“Nós falamos: inglês, francês, italiano, espanhol e brasileiro!”. globalização?
“Ela é uma faca de dois gumes,
311 há vencedores e perdedores des-
se processo. Por um lado, nos pro-
porciona uma gigantesca gama
de mercadorias, porém a diversi-
13:20 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 311 Direitos Humanos. Globalização não 28/06/22
significa
13:20 dade de sementes e plantas úteis
apenas que bens, mercadorias e serviços circu- reduziu-se dramaticamente. Exis-
Globalização: prós e contras lam pelo mundo inteiro; acima de tudo, ela im- tem espigas de milho amarelas,
plica o intercâmbio das melhores ideias.” vermelhas e cor de laranja, mas
Dois pontos de vista extremos sobre a globali-
todas provêm do mesmo campo.
zação: o empresário Hans-Olaf Henkel a defende “Via de regra, dá-se demasiada ênfase a seus
No todo, o fato é que os fracos
com euforia, Ernst-Ulrich von Weizsäcker, pesqui- riscos [...]. As vantagens são o que eu chama- pouco levam da globalização, e os
sador e político social [...] enumera seus perigos. ria de triângulo mágico: democracia, direitos fortes lucram com ela”.
A favor: Hans-Olaf Henkel Sr. Henkel, o que humanos e economia social de mercado”. [...] [...]
significa globalização para o senhor? Todo Estado tem de garantir que as pessoas
GLOBALIZAÇÃO: prós e contras. DW. Bonn;
“Para mim, é a melhor notícia para a huma- possam compartilhar da globalização e com Berlim, 8 ago. 2002. Disponível em: https://p.
nidade, desde o Iluminismo e a Declaração dos ela lucrar. [...]”. dw.com/p/2Xjh. Acesso em: 14 jul. 2022.
311

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 311 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Compreender o Fórum So-
cial Mundial como espaço de
debate e de sugestões sobre Protestos contra a globalização
soluções alternativas ao mo-
Nas duas últimas décadas, ocorreram vários protestos contra
delo de globalização vigente.
a globalização; os principais alvos dos ativistas são as empresas
• Refletir sobre as razões que
transnacionais, os dirigentes de países ricos, e órgãos internacio-
levam os críticos da globaliza-
nais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização
ção a considerar esse proces-
Mundial do Comércio (OMC). Durante esse tempo, por iniciativa
so prejudicial aos países em
dos movimentos sociais, o debate sobre a globalização e seus
desenvolvimento, a exemplo
do Brasil. efeitos ganhou um novo espaço: o Fórum Social Mundial (FSM).
Fórum Social
Mundial: evento criado Segundo seus organizadores, o FSM é um espaço de produção
• Temas Contemporâneos
para fazer frente ao de alternativas ao modelo de globalização a serviço dos interesses
Transversais: estimular a re- Fórum Econômico
flexão sobre a democracia das grandes corporações e instituições internacionais, a exemplo
Mundial – encontro de
enquanto valor e sua impor- grandes empresários, do FMI e do Banco Mundial. Para os críticos da globalização, esse
tância para o respeito à diver- economistas e processo é desfavorável aos países em desenvolvimento pelos
líderes mundiais.
sidade cultural e aos direitos seguintes motivos:
humanos, mobilizando assim a) a destruição de empregos e o aumento da
as macroáreas multicultura- exclusão social;
lismo e cidadania e civismo. b) o aprofundamento das desigualdades sociais no
Professor, em meio à ascen- interior das nações e entre elas;
são de ideias, partidos e regi-
c) a instabilidade econômica e as crises causadas
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

mes autoritários ao redor do


pela ação de capitais especulativos ao redor do
mundo, o Fórum Social Mundial
mundo;
de 2022 buscou discutir o tema
justiça e democracia. d) os ajustes exigidos pelo FMI, que obrigam países em
desenvolvimento a cortar gastos no setor social e
com políticas inclusivas.
TEXTO DE APOIO Em 2022, a sede do Fórum Social Mundial foi
O avanço do neoliberalismo Logotipo do Fórum Social Mundial a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e
no mundo, no fim do século ocorrido em Porto Alegre (RS), 2022. teve como tema “Justiça e Democracia”.
XX – estimulado pelos gover- [...]
nos Thatcher, no Reino Unido, O fórum pretende mobilizar a sociedade civil internacional e os profissionais do
e Regan, nos Estados Unidos, e
direito para discutir medidas que possam resguardar o funcionamento do estado
pela queda do muro de Berlim –,
provocou inúmeras reações de democrático de direito em todos os países do mundo.
organizações da sociedade ci- Tem como foco principal a articulação de todas as organizações e movimentos
vil, entidades sindicais e mo- sociais internacionais interessados em denunciar as práticas antidemocráticas [...] que
vimentos sociais em países do têm sido usadas na América Latina e em outras partes do mundo para subverter a
norte, com amplas mobilizações
democracia e suas instituições e Estado.
iniciadas em Seattle (Estados
Unidos), principalmente contra BRASIL. Ministério da Saúde. Justiça e Democracia serão temas de Fórum Social Mundial em 2022.
Conselho Nacional de Saúde. Brasília, DF, 2021. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/
as entidades multilaterais cria- 2096-justica-e-democracia-serao-temas-de-forum-social-mundial-em-2022.
das pelo sistema Bretton Woods Acesso em: 13 abr. 2022.
(Banco Mundial e Fundo Mone-
tário Internacional) e a Organi- 312
zação Mundial do Comércio. De
modo crescente, cidades como
Washington (Estados Unidos),
Québec (Canadá), Praga (Repú- também trocar e propor alternativas
305a336-HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 312 ao modelo res, ativistas dos movimentos negro e LGBT, ju- 24/08/22 09:18 D3_

blica Tcheca), Londres (Ingla- econômico vigente, que vinha produzindo gra- ventudes e profissionais de universidades. [...]
terra), Davos (Suíça) e Gênova ves consequências sociais. Esse fórum reuniu Dado o caráter inovador e inclusivo da sua
(Itália), em sequência, sediaram em um mesmo espaço lideranças e ativistas na- organização, o FSM ganhou relevância em um
novos protestos, chamados an- cionais e internacionais. Discutia-se outro mo- curto espaço de tempo, dando continuidade
tiglobalização. Como desdobra- delo de globalização, baseado na justiça social e às características dos movimentos anteriores:
mento, e em diálogo com tais na democracia participativa. [...] uma iniciativa da sociedade civil, independen-
movimentos, em Porto Alegre, [...] para surpresa dos organizadores, aproxi- temente de governos e partidos, constituída
no Brasil, nasceu o Fórum Social madamente 20 mil pessoas ocuparam o espaço como rede, sem representantes ou porta-vozes.
Mundial (FSM), em 2001, com a do FSM, representando uma diversidade de mo- HADDAD, Sérgio. O Fórum Social Mundial como um espaço
intenção de não apenas con- vimentos, organizações não governamentais, educador. Educação & Sociedade, Campinas, v. 41, e233928,
frontar o neoliberalismo, mas representantes de pastorais, grupos de mulhe- p. 1-15, 2020. p. 2-4.
312

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 312 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Compreender os princípios
da doutrina liberal e associá-
-la a governos brasileiros que
PARA SABER MAIS adotaram tais princípios.
• Refletir sobre os argumentos
O neoliberalismo dos que são favoráveis e dos
O neoliberalismo é uma doutrina favorável à não intervenção do Estado na economia. que são contrários ao neoli-
Segundo o neoliberalismo, o Estado deve: beralismo.
• estimular a livre concorrência entre empresas e países; • Levar em conta que os favo-
ráveis ao neoliberalismo de-
• promover a privatização, isto é, a venda de empresas estatais a particulares;
fendem o enxugamento do
• favorecer a abertura do mercado nacional às mercadorias e aos capitais estrangeiros; Estado, afirmando que, com
• diminuir os gastos públicos para manter o equilíbrio entre o que se arrecada com isso, sobram recursos para in-
impostos e o que se gasta. vestir em educação, saúde e
O neoliberalismo foi aplicado inicialmente no Reino Unido da primeira-ministra segurança pública. Já os que
Margaret Thatcher, entre 1979 e 1990; nos Estados Unidos do presidente Ronald são contrários, argumentam
Reagan, entre 1981 e 1989; e na Alemanha do chanceler Helmut Kohl, entre 1982 e que a política neoliberal tem
1988. No Brasil, foi posto em prática a partir do governo Collor, entre 1990 e 1992, cortado gastos em educação,
que criou facilidades para a entrada de produtos estrangeiros e iniciou um processo saúde e segurança, e aumen-
de venda das empresas estatais (privatização). tado a desigualdade social.
• Mediar as situações de con-
flito durante o debate e
RON BENNETT/BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

RÉGIS BOSSU/SYGMA/GETTY IMAGES


retomar a importância da
argumentação pautada nos
direitos humanos e respeito
às diferentes opiniões, pro-
movendo a cultura de paz.

Dica de Leitura
Texto sobre os desafios e as
vantagens trazidos pelo mo-
delo capitalista à Alemanha
Da esquerda para a direita, Ronald Reagan (EUA, 1988), Margaret Thatcher (EUA, 1989) e Helmut Kohl
unificada.
(Alemanha, 1988).
• GUIMARÃES, Alexandre
Segundo os defensores do neoliberalismo, a abertura do
Dialogando Queiroz et. al. Alemanha: o
mercado à concorrência internacional obrigaria os fabricantes modelo de capitalismo social
nacionais a melhorar a qualidade dos produtos e a diminuir seus Com qual e os desafios no limiar do sé-
dos dois culo XXI. Revista de Sociolo-
preços, e quem sairia ganhando com isso seria o consumidor. Já pontos de
os críticos do neoliberalismo argumentam que a abertura do gia e Política, Curitiba, v. 22,
vista você
mercado nacional aos capitais e produtos estrangeiros prejudica a concorda? n. 51, p. 55-75, set. 2014.
indústria nacional, gera desemprego e favorece as multinacionais. Por quê?
Respostas pessoais.

313

09:18 +ATIVIDADES
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 313 28/06/22 13:20

Em grupo. Solicitar aos estudantes para fazerem uma revisão bibliográfica sobre o neoli-
beralismo no Brasil. Passos para a realização do trabalho: acessar fontes confiáveis, resenhar
os textos lidos e citá-los de acordo com a ABNT. Outra possibilidade de trabalho é realizar a
pré-seleção de publicações favoráveis e contrárias à aplicação do neoliberalismo no Brasil,
para que os estudantes possam realizar a leitura em sala. Selecionar textos com linguagem
compreensível e realizar a leitura de forma coletiva ou em pequenos grupos, para sanar
possíveis dúvidas em relação ao vocabulário e aos conceitos. Propor que citem textos que
colaborem com a construção de seus pontos de vista.

313

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 313 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Estimular a reflexão sobre os
graves problemas sociais, am-
Conflitos e tensões

CHRISTOPHER FURLONG/GETTY IMAGES


bientais e éticos com os quais
convivemos e para os quais
precisamos buscar soluções no mundo atual
urgentes, dada a gravidade e
o impacto deles para a huma- Vivemos em um mundo dividido pela
nidade como um todo. enorme distância entre pobres e ricos, casti-
• Interdisciplinaridade: diante gado por desastres ambientais e abalado por
do volume e da intensidade outros sérios problemas, como o tráfico de
dos problemas ambientais, drogas, o terrorismo, a exclusão digital, os
a exemplo do aquecimento preconceitos motivados por origem, religião
global, das chuvas ácidas, do ou orientação sexual e os conflitos armados
Pessoas reunidas para homenagear as vítimas de
aumento do buraco na cama- um atentado terrorista na Manchester Arena na em várias partes do globo. Tais problemas
da de ozônio, consideramos noite de 22 de maio de 2017, no qual 22 pessoas afetam a todos nós, direta ou indiretamente.
oportuno um diálogo perma- foram mortas e 59 ficaram feridas. Manchester
nente com os professores de (Inglaterra), 2017.
Ciências e de Geografia. A Questão Palestina
• Temas Contemporâneos Oriente Médio: área geográfica que abriga países como Para melhor entender a Questão Pales-
Transversais: tendo em vista Egito, Líbia e Argélia (na África), Turquia (na Europa
tina, vamos recuar no tempo.
os fatores colocados acima, e Ásia) e Síria, Líbano, Israel, Arábia Saudita, Kuwait,
Iraque, Irã e Afeganistão (na Ásia). Por produzir cerca de Durante a Primeira Guerra Mundial
trabalhar com a educação 25% do petróleo extraído no mundo, o Oriente Médio (1914-1918), os interesses da Grã-Bretanha
ambiental, item da macroá- atraiu e atrai a cobiça das grandes potências do Ocidente.
e da França contribuíram para aumentar a
rea meio ambiente.
tensão no Oriente Médio.
Médio.
• Iniciar uma aula dialogada so-
Oriente Médio: divisão pela Liga das Nações (1922) Inicialmente, a Grã-Bretanha
bre a Questão Palestina, ques-
SELMA CAPARROZ

tionando o que sabem sobre Mar Negro 40° L


ora pendia para os árabes,
esse assunto, tão presente em ora para os judeus. Depois,
manchetes de jornais, revistas, 0 195
com o objetivo de atrair
TURQUIA
filmes, vídeos e até mesmo em a poderosa comunidade
histórias em quadrinhos. judaica, a Grã-Bretanha
• Evidenciar os conflitos de in- assinou, em 1917, a
teresses das grandes potên- PÉRSIA Declaração de Balfour,,
(Atual IRÃ)
cias vencedoras da Primeira CHIPRE SÍRIA pela qual prometia apoiar
Guerra, observando o mapa Mar
Mediterrâneo
LÍBANO a formação de um Estado
desta página. IRAQUE
judeu na Palestina. Com a
• Refletir sobre a Declaração vitória na Primeira Guerra,
PALESTINA
de Balfour. a Grã-Bretanha e a França
TRANSJORDÂNIA
• Aprofundar o assunto com dividiram entre si o controle
30° N
a leitura do texto: AGUIAR, EGITO
ARÁBIA
Golfo
das terras do Oriente Médio.
SAUDITA
Hugo Hortêncio de. Estado Território sob mandato francês
Pérsico

Palestino: perspectivas. Re- Território sob mandato britânico Fonte: ATLAS da história do mundo.
São Paulo: Folha de S.Paulo, 1995. p. 257.
vista de Informação Legisla- Repare que a Síria e o Líbano ficaram sob o controle da França; já a
tiva, Brasília , DF, a. 43, n. 171, Palestina, a Transjordânia e o Iraque ficaram sob o mandato britânico.
p. 229-246, jul./set. 2006.
314
TEXTO DE APOIO
forte imigração judaica, alimentada por as-
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 314
nacionalistas árabes e sionistas que acabou 28/06/22 13:20 D3_

Como o conflito começou? pirações sionistas, começou a gerar resis- em confrontos entre grupos paramilitares
tência entre as comunidades locais. judeus e árabes.
O movimento sionista, que procurava criar
Após a desintegração do Império Otoma- Depois da Segunda Guerra Mundial e do
um Estado para os judeus, ganhou força no
no na Primeira Guerra Mundial, o Reino Holocausto, aumentou a pressão pelo estabe-
início do século 20, incentivado pelo antisse- Unido recebeu um mandato da Liga das
mitismo sofrido por judeus na Europa. lecimento de um Estado judeu. O plano origi-
Nações para administrar o território da Pa- nal previa a partilha do território controlado
Naquele tempo, a região da Palestina, en- lestina. Mas, antes e durante a guerra, os
tre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, con- pelos britânicos entre judeus e palestinos.
britânicos fizeram várias promessas para
DEZ PERGUNTAS para entender o conflito entre
siderada sagrada para muçulmanos, judeus os árabes e os judeus que não se cumpri- israelenses e palestinos. BBC News Brasil. São Paulo,
e católicos, pertencia ao Império Otomano e riam, entre outras razões, porque eles já ti- 17 out. 2015. Disponível em: https://www.bbc.com/
era ocupada, principalmente, por muçulma- nham dividido o Oriente Médio com a Fran- portuguese/noticias/2015/10/151015_gaza_entenda_
nos e outras comunidades árabes. Mas uma ça. Isso provocou um clima de tensão entre atualiza_cc. Acesso em: 14 jul. 2022.
314

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 314 26/08/2022 19:16


TEXTO DE APOIO
A ideia de um Estado
binacional na Palestina
Nos anos de 1930 e 1940, para fugir à perseguição nazista na Europa, dezenas de histórica
milhares de judeus foram para a Palestina. Com o aumento da população judaica na “Dois Estados para dois povos.”
Palestina, começaram a ocorrer sérios atritos entre os judeus e os árabes ali residentes. Eis a posição quase consensual
Naquelas décadas, as companhias inglesas e estadunidenses passaram a disputar entre si internacionalmente, desde 1947,
a prospecção, o refino e a comercialização do petróleo do Oriente Médio. Ainda hoje, a quando se trata de propor uma
solução para o conflito israelo-
prospecção, o refino e a comercialização do produto nessa área são feitos, em boa parte,
-palestino. [...].
por companhias inglesas e estadunidenses. O caminho para a solução de
dois Estados, entretanto, não
representa os anseios de todos
O plano de partilha da ONU e Estado de Israel os palestinos e israelenses. Para
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), veio à tona o Holocausto, isto é, o exter- muitos deles (hoje, aparentemente
mínio sistemático de cerca de 6 milhões de judeus pelos nazistas na Europa. Ao mesmo mais palestinos que israelenses), a
criação de um Estado binacional,
tempo, a Grã-Bretanha anunciou que retiraria suas tropas da Palestina. Nesse contexto, em ao mesmo tempo árabe e judeu, é
1947, a Organização das Nações Unidas (ONU), presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, a solução efetiva para um conflito
aprovou um Plano de partilha da Palestina em dois Estados: um judeu e outro árabe. que já perdura por décadas. [...]
questões cruciais, como a questão
Palestina: partilha proposta pela ONU (1947) dos refugiados palestinos, o status
34° L de Jerusalém, os assentamentos is-
SELMA CAPARROZ

LÍBANO raelenses nos territórios palestinos


ocupados e a defesa do futuro Esta-
SÍRIA do palestino, para muitos parecem
não ter solução – o que reforça o
De acordo com argumento do campo da proposta
o Plano da ONU, de um Estado binacional. Por um
lado, os últimos governos conser-
Rio Jordão

56,5% do território
Mar palestino caberia vadores israelenses [...] alegam não
Mediterrâneo
aos 700 mil abrir mão de uma Jerusalém una e
Jerusalém judeus, enquanto indivisível como capital do Estado
42,9% ficariam judeu, ampliam as políticas de as-
Mar nas mãos dos sentamentos na Cisjordânia e não
Morto 1 milhão e aceitam um futuro Estado palestino
250 mil árabes. com plenas capacidades militares
Jerusalém, cidade
31° N de autodefesa; por outro, as forças
ISRAEL considerada
políticas palestinas implicadas nas
TRANSJORDÂNIA sagrada por
(atual JORDÂNIA) muçulmanos, negociações exigem a retirada dos
judeus e assentamentos judaicos nos territó-
cristãos, ficaria rios ocupados, não estão dispostas
EGITO a aceitar as propostas israelenses
sob controle
internacional. de trocas territoriais, exigem Jerusa-
lém/al-Quds Oriental como capital
de seu futuro Estado, assim como
Estado árabe ARÁBIA autonomia para gerir sua defesa.
Estado de Israel SAUDITA
Jerusalém (área internacional)
0 35 Ainda para alguns partidários do
Estado árabe-judeu na Palestina, a
Fonte: FERREIRA, Graça Maria de Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. instituição de um Estado binacional
São Paulo: Moderna, 2000. p. 62.
na região é apenas a formalização
do que já existe de fato desde o
315 fim da Guerra dos Seis Dias, de
1967, e a única solução possível
para um território pouco extenso
com tamanha complexidade na
13:20 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 315 28/06/22 13:20
repartição de sua população.
• Retomar os conhecimentos sobre o antissemitismo praticado pela ditadura nazista na Eu- BASSI, Danilo Martins Guiral. A ideia de
um Estado binacional na Palestina
ropa e relacioná-lo à fuga de judeus para a Palestina, o que aumentou os atritos com os histórica: conceitos, evolução histórica
árabes ali residentes. e perspectivas na atualidade. Dissertação
(Mestrado em História Social) - Faculdade
• Compreender que as disputas pela prospecção, refino e comercialização do petróleo do de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Oriente Médio continuam contribuindo para aumentar as tensões naquela região. Universidade de São Paulo, São Paulo,
2016. p. 13-14.
• Refletir sobre o Plano de partilha da Palestina, aprovado quando a ONU era presidida pelo
brasileiro Osvaldo Aranha.

315

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 315 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Compreender a fundação do
Estado de Israel no contexto
da ordem internacional bipo- Nesse contexto, em 14 de maio de 1948,

BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES


larizada. os judeus, liderados por David Ben-Gurion,
• Refletir sobre o drama dos re- fundaram o Estado de Israel, que foi imediata-
fugiados palestinos no passado mente reconhecido pelos Estados Unidos.
e no presente.
Os países árabes, no entanto, reagiram à
• Contextualizar as guerras entre
criação do Estado de Israel atacando-o militar-
judeus e palestinos, além da
participação das superpotên- mente. Israel revidou e, com a ajuda externa,
cias nesses conflitos durante a venceu a guerra, ocupando, então, cerca de
Guerra Fria. 25% do território reservado aos árabes no
• Debater com os estudantes plano de partilha da ONU.
sobre as principais razões dos Com a derrota na guerra de 1948, cerca
conflitos entre árabes e judeus, de 750 mil palestinos deixaram a terra em que
destacando a importância da
viviam e passaram a viver como refugiados
disputa por água e terras cul-
tiváveis na região. na Faixa de Gaza e nos países árabes vizi-
• Investigar sobre o sionismo, nhos. Tinha início, assim, a chamada Questão
Fundação do Estado Palestina.. O Oriente Médio tornou-se palco
sua origem e seus propósitos. de Israel. Tel Aviv
(Israel), 14 de maio de consecutivas guerras entre judeus e árabes; tais guerras ocor-
Sugestões de materiais para
de 1948. No alto, reram no contexto da Guerra Fria, com Israel sendo ajudado pelos
pesquisa: atrás de Ben-Gurion, Estados Unidos, e os árabes, pela União Soviética.
• G1 EXPLICA: o que são a fotografia do
Os principais motivos desses

PHOTOQUEST/GETTY IMAGES
sionismo, judaísmo e jornalista húngaro
Theodor Herzl, criador intermináveis conflitos são:
antissemitismo? G1. São Paulo,
do sionismo. a) a disputa das terras cultiváveis
31 jul. 2014. Disponível em:
https://g1.globo.com/mundo/ e dos recursos hídricos em
noticia/2014/07/g1-explica-o- uma região onde a posse da
que-e-sionismo-judaismo-e- água é fundamental;
antissemitismo.html. Acesso
em 14 jul. 2022. b) o controle das áreas petrolíferas
Refugiado: nesse e os interesses das grandes
• MILGRAM, Avraham. Reflexões contexto, toda pessoa
sobre o sionismo e Israel. Web- que, no momento do
indústrias do Ocidente, que
Mosaica, Porto Alegre, v.1, n.1, conflito de 1948, morava lucram com a guerra;
p. 8-14, jan/jun. 2009. na Palestina pelo menos
c) as divergências entre islâmi-
há dois anos e que,
• Temas Contemporâneos Trans- por causa da guerra, cos e judeus, aguçadas por
versais: pesquisar o número de perdeu sua moradia seguidores radicais das duas
refugiados ao redor do mundo e seu meio de vida.
religiões.
e refletir sobre percalços vivi-
dos por essas populações à luz
do item educação em direitos
humanos, pertencente à ma-
croárea cidadania e civismo.
Refugiada palestina com seu filho. Região de
Ramallah, perto de Jerusalém (Israel), 1948.

316

TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 316 as Colinas de Golã, anexadas formalmente por 28/06/22 13:20 AV_
Israel respectivamente em 1967 e 1981, também
As violações impunes de direitos são enquadradas na condição de “territórios
humanos e humanitários dos palestinos ocupados”. Quanto à Faixa de Gaza, apesar da
retirada unilateral dos colonos e militares isra-
Em resoluções e relatórios de órgãos e comis- elenses em 2005, Israel também continua a ser
sões da ONU e de diferentes ONGs fundados no considerado como potência ocupante, mesmo
direito internacional, humanitário e humanos que “a distância”. A duradoura ocupação militar
consta que a “ocupação israelense” se mantém desses territórios, agora colonizados por cente-
até os dias de hoje, pois o país exerce o contro- nas de milhares de civis israelenses, constitui-se
le de fato das fronteiras e do território mesmo em foco de tensão constante. [...] Nesse cenário,
após a criação da Autoridade Palestina com os cuja beligerância já se estende por mais de um
Acordos de Oslo, em 1993. Jerusalém Oriental e século, os civis são os maiores prejudicados,
316

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 316 31/08/22 10:25


ENCAMINHAMENTO
Professor, um dos mapas
mais importantes para se com-
Guerras Árabe-Israelenses preender a situação atual dos
conflitos entre árabes e ju-
Guerras Países Resumo deus é o mapa que resultou da
Guerra dos Seis Dias. Copiar,
O presidente do Egito, Gamal A. Nasser, adepto do nacionalismo ler e interpretar este mapa
árabe, nacionaliza o Canal de Suez (pertencente à Grã-Bretanha),
Guerra de
Israel, França
contrariando os interesses das potências ocidentais e gerando pode ajudar nas permanentes
e Inglaterra ×
Suez (1956)
Egito
inúmeras tensões. Com o apoio dos britânicos e dos franceses, o tensões e conflitos presentes
exército israelense atacou as forças egípcias. O Sinai foi ocupado em na região hoje.
poucos dias e ficou sob controle israelense até março de 1957.

Guerra dos Na Guerra dos Seis Dias, alegando a necessidade de se defender de


Israel × Egito,
Seis Dias seus adversários, Israel ataca o Egito, a Síria, a Jordânia e ocupa
Jordânia e Síria
(1967) o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e as colinas de Golã.
TEXTO DE APOIO
A Guerra de Yom Kippur foi iniciada pelo Egito e pela Síria. Israel
Guerra do
Yom Kippur
venceu mais uma vez. A Organização dos Países Exportadores de Diálogo não oficial no
Egito e Petróleo (Opep) – formada inicialmente por Arábia Saudita, Kuwait, Irã,
(Dia do
Síria × Israel Venezuela e Iraque – respondeu parando de vender óleo cru para os
conflito israelo-palestino
Perdão)
(1973)
aliados de Israel e provocando, com isso, um extraordinário aumento Daniel Bar-Tal, [...] abordando os
do preço do petróleo com graves repercussões internacionais. elementos subjetivos dos conflitos
Israel lança a operação Paz na Galileia, atacando os palestinos no contemporâneos e tendo como re-
Guerra no Israel × ferência o conflito israelo-palestino,
Líbano (1982)
Líbano. Depois de sitiar a capital libanesa por dez semanas, o exército
palestinos
israelense se retira da cidade, mas permanece no sul do país. descreve os conflitos prolongados
como “conflitos intratáveis”. Eles
são duradouros, violentos, com
natureza de soma zero e as par-
A Guerra dos Seis Dias (1967) tes envolvidas são interessadas
35° L em sua continuidade. São ainda

SELMA CAPARROZ
exigentes, estressantes, dolorosos,
LÍBANO exaustivos e custosos [...]. Fogem
da lógica política de resolução por
SÍRIA
meio de concessões ou de esforços
Mar diplomáticos. Nessas disputas, as
GOLÃ
A Guerra dos Seis Dias mudou Mediterrâneo
consideravelmente o mapa reivindicações vão para além das
Telavive
da região. Depois de vencer questões territoriais, de água, solo,
CISJORDÂNIA
essa guerra, o Estado de Israel Jerusalém óleo, etc., questões mais facilmente
GAZA Mar
anexou imensos territórios: a Morto reconciliáveis. Elas se formam a
Canal de ISRAEL
Península do Sinai e a Faixa de Suez partir de crenças relacionadas a
Gaza, pertencentes ao Egito; JORDÂNIA identidade nacional e direitos a
30° N
a Cisjordânia, controlada pela um território específico, as quais
SINAI
Jordânia; e as colinas de Golã, são enraizados na história antiga
sob o domínio da Síria. EGITO Elat dos grupos, na memória que pos-
Go

suem sobre a guerra e na narrativa


a
lfo

ARÁBIA
qab
de

SAUDITA nacional a respeito dela. Juntos,



S
uez

esses elementos são resistentes


lfo
Go

0 85
Avanço das tropas de Israel e, por vezes, irreconciliáveis. [...]
Mar Territórios anexados por Israel
Vermelho
BONAN, Eliceli Katia. Diálogo não oficial
Fonte: DUBY, Georges. Grand atlas historique.
no conflito israelo-palestino: os desafios
Paris: Larousse, 2001. p. 218.
do movimento pela paz após o colapso das
negociações de Oslo. Dissertação (Mestrado
317 em Ciências) – Instituto de Relações
Internacionais, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2017. p. 22-23.

13:20 TEXTO DE APOIO


AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 317 +ATIVIDADES 20/08/22 14:57

(CONTINUAÇÃO) Em grupo. Cada grupo deverá pesquisar


destacando-se a desumanização e a desapro- uma das guerras citadas no quadro, atento
priação secular dos palestinos, inferiorizados aos motivos, eclosão e desfecho. Depois, em
aos olhos de seu opressor e violentados como um dia combinado com o professor, será fei-
qualquer outra população em situação colonial. to um seminário sobre o assunto, no qual as
SAHD, Fabio Bacila. As violações impunes de direitos guerras serão apresentadas em ordem cro-
humanos e humanitários dos palestinos vivendo sob a nológica.
ocupação israelense: possíveis interpretações. Tese (Doutorado
em Ciências) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. p. 2-3.
317

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 317 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Conhecer a formação da OLP
e seus principais objetivos.
Um dos efeitos dessas guerras foi o aumento do número de

AP PHOTO/IMAGEPLUS
• Acompanhar a trajetória de
Yasser Arafat e perceber a palestinos que deixaram (ou perderam) suas moradias em busca
importância de seu gesto de de refúgio. Vivendo em campos de refugiados, em condições
reconhecimento do Estado precárias, eles organizaram vários grupos de resistência armada,
de Israel para pavimentar a sendo o principal deles o Al Fatah,
Fatah, liderado pelo ativista Yasser
estrada que leva à paz. Arafat. Em 1964, esses diferentes grupos do movimento palestino
• Aproveitar o estudo das guer- se juntaram na Organização para a Libertação da Palestina (OLP),
ras árabe-israelenses para cujo objetivo era combater Israel e reconquistar as terras perdidas.
lembrar que elas já deixa-
ram dezenas de milhares de
mortos, mutilados e órfãos, O líder palestino Yasser Arafat, em 1987. Arafat nasceu em Jerusalém, formou-se
considerando que há estudos em engenharia e, desde cedo, abraçou a luta para a formação de um Estado
comprovando que os maiores palestino. Em 1969, assumiu a presidência da Organização para Libertação
prejudicados em uma guerra Palestina (OLP). Em 1988, a OLP reconheceu o Estado de Israel e abriu caminho
são as crianças, seja por terem para formação de um Estado palestino. Em 1995, Arafat dividiu com o estadista
judeu Yitzhak Rabin o Prêmio Nobel da Paz.
menos condições de resistir,
seja porque, muitas vezes, fi-
cam sem seus pais. Para quando a paz?
Al Fatah: palavra que
• Propor aos estudantes que re- pode ser traduzida Desde a Guerra dos Seis Dias, o clima na Faixa de Gaza e
flitam sobre as suas infâncias como “reconquista”. na Cisjordânia (principais áreas palestinas ocupadas por Israel) era
e o impacto que uma guerra, Intifada: palavra que, de permanente tensão. Em 1987, os civis palestinos que viviam
em árabe, significa
como o medo constante e as “sobressalto”.
nessas áreas (jovens e mulheres, geralmente) atacaram soldados
cenas de destruição e morte A intifada é conhecida israelenses com paus e pedras e, como estes revidaram com tiros,
podem agir sobre a construção também como “guerra muitos acabaram mortos. Esse tipo de revolta popular palestina é
e a visão de mundo das crian- das pedras”.
chamado de intifada
intifada..
ças. Perguntar: o que será que
o tanque de guerra ocupando Reprodução de desenho feito
ALAMY/FOTOARENA

o lugar dos soldados pode estar por crianças tratadas no Centro


representando? E se o dese- de Saúde Mental de Gaza.
Psicólogos que trabalham
nho fosse feito por crianças lá solicitaram que crianças
israelenses, como será que os palestinas desenhassem a
árabes seriam representados? intifada. Para surpresa deles,
A intenção pedagógica aqui é as crianças não desenharam
contribuir para o desenvolvi- soldados israelenses. Mostraram
os palestinos atirando paus,
mento das competências gerais pedras e garrafas; já os seus
8 e 9, com foco no exercício da adversários, no desenho, são
empatia. dois tanques de guerra. Isso nos
• Sensibilizar o alunado para a faz refletir a respeito do impacto
das guerras sobre as crianças,
importância de se disseminar independentemente do povo
a cultura da paz. a que pertençam. Faixa de
• Aprofundar o assunto com a Gaza (Oriente Médio), entre
2008 e 2009.
leitura do texto: ENTENDA o
que é a Intifada palestina, “a
revolta das pedras”. ISTOÉ. São 318
Paulo, 8 dez. 2017. Disponível
em: https://istoe.com.br/
entenda-o-que-e-a-intifada- TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 318 O que precisamos é de um compromisso do- 28/06/22 13:20 D3_
loroso. Porque ambos os povos amam o país [...].
palestina-a-revolta-das-pedras/. O texto a seguir é do intelectual judeu Se há algo a esperar, isso é um divórcio justo e
Acesso em: 14 jul. 2022. Amós Oz. razoável entre Israel e Palestina. E os divórcios
nunca são felizes, mesmo quando são justos.
O caminho para a paz Mas melhor do que o inferno vivo que todos es-
tão enfrentando agora naquele país amado.
+ATIVIDADES Os palestinos estão na Palestina porque esta é
a sua terra, e a única terra natal do povo pales- MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras.
Em grupo. Imaginem e fa- tino [...]. Os judeus israelenses estão em Israel São Paulo: Contexto, 2006. p. 449-450.
çam o desenho de uma cena porque não há nenhum outro país no mundo
de guerra do ponto de vista de a que os judeus, como povo, poderiam chamar
uma criança. seu lar. [...]
318

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 318 31/08/22 10:26


ENCAMINHAMENTO
• Conhecer e refletir sobre o
Acordo de Oslo , em 1993,
Em setembro de 1993, Yasser Arafat, da OLP, e o primeiro-ministro israelense, Yitzhak que, à época, foi recebido
Rabin, assinaram o Acordo de Oslo,, que teve a mediação do então presidente dos Estados pela comunidade internacio-
Unidos, Bill Clinton. Por esse acordo de paz, os palestinos reconheciam o Estado de Israel nal como um avanço significa-
e os israelenses consideravam os palestinos com direito a um Estado próprio. Esse acordo tivo, pois tanto os palestinos
propiciou a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP), governo autorizado a quanto os israelenses reconhe-
negociar com outros governos. Mas esse acordo logo foi desrespeitado; os conflitos se ciam que cada um deles tinha
direito a um Estado próprio.
agravaram e, em 2000, explodiu a segunda intifada. Israel reagiu reocupando as áreas
Isto possibilitou a criação da
sob controle da Autoridade Palestina e atacando a cidade de Ramallah, sede da ANP na Autoridade Nacional Palestina
Cisjordânia. Outros acordos de paz foram celebrados, mas também fracassaram. (ANP), que tinha poder para
Com a morte de Yasser Arafat, em 2004, Mahmoud Abbas, do negociar com outros governos
Al Fatah (o mesmo grupo de Arafat), venceu as eleições para a pre- em nome dos palestinos.
sidência da Autoridade Palestina; já as eleições para o parlamento • Compreender as principais
palestino, em 2006, foram vencidas pelo HamasHamas,, grupo radical Hamas: organização razões dos “intermináveis”
extremista islâmica conflitos e atritos que têm
contrário à negociação com Israel, cujos líderes também teimam
criada em 1987
em não negociar. Diante disso, continua o impasse. Apesar de mais com o objetivo de impedido o estabelecimento
de cem países, inclusive o Brasil, reconhecerem a legitimidade de estabelecer um Estado da paz na região.
palestino islâmico. • Retomar e consolidar o con-
um Estado palestino, ele continua apenas no papel. Atualmente, a
violência entre palestinos e judeus parece não ter fim. ceito de fundamentalismo.
Entre os principais obstáculos à paz estão: • Aprofundar o assunto com
a leitura do texto: AGUIAR
a) o fundamentalismo de grupos islâmicos que

RICKI ROSEN
Maicon Roberto Poli de. O
promovem atentados terroristas contra civis Oriente Médio através de
israelenses e se recusam a aceitar o Estado outras lentes: uma narrati-
de Israel; va audiovisual para refletir
b) o radicalismo de lideranças judias, que não as representações sobre a
admitem a existência de um Estado palestino; região em sala de aula. Dis-
sertação (Mestrado em Ensino
c) a construção de novos assentamentos judeus
de História) – Universidade
na parte oriental de Jerusalém, reivindicada do Estado de Santa Catarina,
pelos palestinos como sua capital; Florianópolis, 2017.
d) a existência de um muro construído pelo
governo de Israel para a proteção dos colonos
israelenses na Cisjordânia. +ATIVIDADES
Tudo isso tem dificultado o caminho para a paz.
Roda de conversa. Organi-
zados em duplas ou pequenos
Cena do documentário Promessas de um novo mundo (2001), grupos, pesquisem e sugiram
de Justine Shapiro, B. Z. Goldberg e Carlos Bolado. medidas necessárias ao estabe-
A cena mostra uma criança árabe e outra palestina, lecimento de uma paz duradou-
respectivamente, abraçando-se no campo de refugiados
ra entre árabes e israelenses.
de Daheishe (Cisjordânia), 2001.
Preparem-se para falar em pú-
blico, justificando os pontos que
vocês consideram relevantes.
319 Esta atividade contribui
para o desenvolvimento das
competências gerais 7 e 9.
13:20 TEXTO DE APOIO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 319
-americano acene com a necessidade de se discutir a criação do
28/06/22 13:20
Estado Palestino. [...]
Israel e Palestina: da “terra santa” a um território Ao que tudo indica, o futuro dessas negociações depende de
em conflito uma série de fatores, dentre os quais a intransigência dos seto-
O diálogo entre Israel e Palestina é sempre truncado pela eclo- res radicais de ambos os lados, que são contrários ao avanço no
são de alguma violência a qualquer momento, seja de um indi- caminho da paz, a questão dos assentamentos de colonos ju-
víduo ou de um grupo extremista islâmico. O conceito de “terra deus em áreas palestinas, além da delicada questão do controle
pela paz” está muito longe. [...]. A cada nova rodada de negocia- das fontes de água existente na Cisjordânia.
ções de paz, expõe-se a causa palestina como “símbolo maior SILVA, João Ubiratan de Lima; PHILIPPINI, Ruth Aparecida Sales. Israel e Palestina:
da luta islamista” internacionalmente, que se confronta com o da “Terra Santa” a um território em conflito. Revista Ciência Contemporânea,
nem sempre explícito “apoio automático” dos Estados Unidos da Guaratinguetá, v. 2, n. 1, p. 163-180, jun./dez. 2017. p. 177-179.
América do Norte ao Estado de Israel, embora o governo norte-
319

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 319 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Perguntar aos alunos o que
conhecem sobre o ataque às
torres gêmeas, promovendo O ataque às torres gêmeas
uma aula dialogada e contri- Fundamentalismo:
buindo para a educação em Em um contexto de crescimento do fundamentalismo islâmico,
radicalismo religioso e
direitos humanos. alguns grupos, a exemplo do talibã, demonizaram os Estados Unidos
político que defende o
• Temas Contemporâneos Trans-
e tornaram sua influência política e cultural um alvo a ser combatido.
retorno a raízes religiosas,
étnicas ou culturais. Em 11 de setembro de 2001, um desses grupos fundamen-
versais: incentivar que os alu-
nos reflitam sobre a vida dos talistas, a Al-Qaeda, agiu de forma violentíssima e inesperada,
civis atingidos pelo ataque às sequestrando e lançando dois aviões comerciais contra as torres gêmeas do World Trade
torres gêmeas e aproveitar Center,, de 110 andares, em Nova York, e um terceiro contra o prédio do Pentágono, em
Center
para discutir a violação de di- Washington. Foram atingidos, assim, dois grandes símbolos do poderio estadunidense
reitos humanos, de modo a (econômico e militar, respectivamente).
mobilizar a macroárea temática Com o apoio de boa parte da sociedade estadunidense, o governo Bush convocou
cidadania e civismo. seus aliados, entre os quais o Reino Unido, para um combate sem tréguas ao terrorismo.
• Chamar atenção para o fato Bush propôs também a guerra preventiva, teoria segundo a qual a melhor maneira de se
de que a intervenção do Oci- defender de um possível ataque é atacar antes. Em 7 de outubro do mesmo ano, forças
dente em países acusados anglo-americanas e seus aliados desfecharam um violento ataque ao Afeganistão, cujo
de ferir os direitos humanos governo dava guarida à Al-Qaeda, de Bin Laden.
acaba atingindo duramente
As perdas materiais e humanas foram enormes. O Talibã foi deposto, e um novo
a população civil, causando
governo composto de representantes de etnias afegãs rivais assumiu o poder, mas o país
sofrimento, violência física e
psicológica, além do aumento continuou ocupado por forças militares estadunidenses. Osama bin Laden foi perseguido
do número de refugiados. e morto por forças estadunidenses em maio de 2011. O Pentágono justificou a presença
• Ponderar que, ao revidar o
das tropas no país como um meio de evitar novos ataques terroristas, como os de 11
ataque às torres gêmeas, in- de setembro.
vadindo o Afeganistão sob a BRAD RICKERBY/REUTERS/FOTOARENA

alegação de que era preciso


atacar o inimigo antes que ele
atacasse (guerra preventiva),
o Ocidente também violou os
direitos humanos dos civis afe- Milhares de pessoas de
gãos e perpetuou o sofrimento diferentes nacionalidades,
inclusive brasileiras, que
e o aumento do número de trabalhavam no World Trade
refugiados. Center, desapareceram
Professor, a maioria dos es- nas chamas. O número
tudantes nasceu cerca de uma de mortos nos atentados
de 11 de setembro foi por
década após o ataque às torres volta de 2 800 pessoas.
gêmeas. Entretanto, por ter Nova York (EUA), 2001.
sido um evento marcante do
início do século, é possível que
tenham conhecimento sobre o
assunto por meio do relato de
familiares, documentários ou
outros meios.
320

TEXTO DE APOIO vimento nos ataques de 11 de setembro, e ignorou pedidos para


D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 320 28/06/22 13:20 305

Estados Unidos e a guerra contra o Afeganistão destruir células terroristas em seu território e entregar outros sus-
“Guerra do Afeganistão” é como se batizou o conflito iniciado peitos além de Bin Laden. Vale lembrar que, à é poca, a Al-Qaeda
coma invasão dos Estados Unidos da América (EUA) ao Afeganis- ainda não havia assumido publicamente a autoria dos ataques.
tão depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. [...] [...] A partir disso, foi lançada em 7 de outubro de 2001 a Ope-
O presidente dos Estados Unidos à é poca, o republicano George ração “Liberdade Duradoura”, em conjunto como Reino Unido e
W. Bush, exigiu que o Talibã entregasse Osama bin Laden, líder da com apoio de outros Estados, posteriormente.
Al-Qaeda, tida como autora dos episódios do 11/09, que era procu- Os EUA e seus aliados conseguiram remover o Talibã do poder
rado pela ONU desde 1999, e promovesse a expulsão da Al-Qaeda em pouco tempo e construíram bases militares próximo às maio-
do país. O Talibã, porém, se negou a extraditá-lo, afirmando que o res cidades em todo o país.
terrorista iria ser submetido a uma corte islâmica afegã a menos FELÍCIO, Luís Felipe Mendes et al. Afeganistão: a continuidade do grande jogo.
que fossem apresentadas evidências convincentes de seu envol- Observatório de conflitos internacionais, São Paulo, v. 4, n. 4, p. 1-7, ago. 2017. p. 1.
320

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 320 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Refletir sobre a permanência
dos Estados Unidos no Afe-
Após ocupar o Afeganistão militarmente

WAKIL KOHSAR/AFP
ganistão durante 20 anos e
por 20 anos, os Estados Unidos de Joe Biden o que significou, para a po-
retiraram suas tropas do país em agosto de pulação afegã, viver em um
2021. Com isso, o grupo armado Talibã retornou país sob dominação estran-
ao poder. Na ocasião, segundo a ONU, metade geira.
dos 38 milhões de afegãos sofriam com a fome. • Pensar sobre o que pode ter
O governo do Talibã tem tentado apagar significado a retirada das
as mulheres e meninas da vida pública. Negam tropas estadunidenses e a
a elas educação secundária e superior, exigem volta do Talibã ao poder no
que se vistam de modo a cobrir quase todo o Afeganistão.
corpo, permitem a exploração delas por meio • Orientar a leitura individual
do trabalho e do casamento forçado. Além da seção Para saber mais e,
disso, limitam sua liberdade de movimento, em seguida, questionar os
expressão e associação, o que contribui ainda alunos sobre o que significa
mais para a marginalização da mulher na vida dizer que não houve vence-
Mulher afegã vestida com burca. Cabul
pública. (Afeganistão), 2021. dores.
• Questionar os estudantes a
respeito da visão da autora
sobre o viver da população
PARA SABER MAIS afegã durante a ocupação
estadunidense.
A professora da Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo (FD/UPF),
• Reconhecer a localização
Patrícia Grazziotin Noschang, doutora em Direito e Relações Internacionais, responde a
geográfica estratégica do
algumas questões sobre o Afeganistão. Afeganistão, fato que aguça
O que a retirada das tropas dos Estados Unidos (EUA) do Afeganistão significa? os interesses das grandes po-
[...] É possível fazer uma avaliação desses 20 anos que os EUA estiveram por lá? tências pelo país.
A avaliação que se pode fazer é que o “investimento” não deu retorno e custou
muito caro [...]. Olhando para trás pode-se entender que a decisão de invadir o
Afeganistão tomada logo após o ataque de 11 de setembro foi equivocada, conside-
rando que o objetivo principal a ser alcançado, que era encontrar Osama Bin Laden,
levou 10 anos, e o enfraquecimento do Talibã não aconteceu, uma vez que o primeiro
movimento de retirada das tropas americanas depois de 20 anos fez com que o grupo
retomasse o comando do país.
[...]
É possível dizer quem venceu a Guerra do Afeganistão: EUA ou os Talibãs? [...]
Penso que não se pode falar em vencedores, mas sim em uma população que
sofre com um conflito que dura 20 anos e que causou um deslocamento forçado,
segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), da segunda maior população
de refugiados, atrás somente dos sírios. [...] estima-se que 3 milhões de afegãos
deixaram o seu país desde a invasão da União Soviética em 1978. [...]

321

13:20 +ATIVIDADES
305a336-HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 321 Dica de leitura 24/08/22 09:18

1. A partir da opressão sofrida por mulheres e Texto sobre a Era Talibã, apontando a glo-
meninas sob o governo do Talibã, escreva um balização do radicalismo islâmico por meio de
texto, em verso ou prosa, sobre a importância ações terroristas da Al Qaeda.
da participação da mulher na vida pública, • AMORIM, Alexandre Santos de. A globali-
seja no Oriente, seja no Ocidente. zação do radicalismo islâmico: um estado
de caso da Al Qaeda sobre a luz do cho-
Professor, esta atividade pode contribuir para
que de civilizações. Dissertação (Mestrado
o desenvolvimento da competência especifica em Relações Internacionais) – Instituto de
4 e competência geral 10. Relações Internacionais, Universidade de
Brasília, Brasília, DF, 2008.
321

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 321 31/08/22 15:36


ENCAMINHAMENTO
• Compreender as razões dos
levantes populares que sacu-
diram o norte da África e os Por que há um interesse mundial pelo Afeganistão?
países do Oriente Médio de [...] O Afeganistão faz fronteira com países [...] importantes como a China, Paquistão
língua árabe. (que protegeu muitos membros do Talibã), Índia e Irã. Além da questão geopolítica, [...] o
• Estudar as quedas das dita- Afeganistão possui uma riqueza mineral com extensas reservas de cobre, lítio, cobalto,
duras nesses países e esco- ferro, ouro, que permaneceram relativamente intocadas nas últimas décadas [...]. Assim,
lher um deles para aprofun- o Talibã tem nas mãos uma riqueza mineral estimada em algo entre US$ 1 trilhão e
dar a compreensão do pro- US$ 3 trilhões [...]. A disputa num futuro próximo será pela

APU GOMES/AFP
cesso histórico, com suas idas autorização de exploração [...] destas riquezas minerais [...].
e vindas. NOSCHANG, Patricia Grazziotin. A volta do Talibã ao poder: motivos e impactos.
[Entrevista cedida a] Universidade de Passo Fundo. Universidade de Passo Fundo.
• Questionar os alunos sobre Passo Fundo, 23 ago. 2021. Disponível em: https://www.upf.br/noticia/upf-entrevista-
os papéis que as mídias digi- a-volta-do-taliba-ao-poder-motivos-e-impactos. Acesso em: 23 mar. 2022.

tais ocupam em seus cotidia-


O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursa sobre
nos, e se consomem notícias a saída de suas tropas do Afeganistão. Califórnia (EUA), 2021.
políticas veiculadas pela in-
ternet.
• Facilitar a compreensão da
importância dos meios digi- Levantes populares na África e no Oriente Médio
tais para democratização da
informação. No final de 2010, teve início, na Tunísia, uma série de levantes populares contra
• Reconhecer a importância ditadores de países de língua árabe do norte da África e do Oriente Médio, muitos deles
das mídias digitais para a or- apoiados pelas potências ocidentais, como Estados Unidos e Reino Unido. As revoltas
ganização de manifestações começaram no norte da África e se espalharam rapidamente pelo Oriente Médio.
de protesto contra regimes O estopim desses levantes foi a decisão do tunisiano Mohamed
autoritários. Dialogando Bouazizi, de 26 anos, de atear fogo ao próprio corpo em protesto
• Conhecer e questionar os contra o desemprego e a corrupção existentes em seu país. Sua
De que forma as
meios usados pelas ditadu- tecnologias digitais morte foi o ponto de partida de uma onda de protestos, com efeito
ras no norte da África e do de informação dominó: em janeiro de 2011, a revolta popular derrubou o ditador
Oriente Médio, para coi- e comunicação da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali; em fevereiro do mesmo ano, caía
bir ou reprimir a Primavera afetaram a esfera no Egito o ditador Hosni Mubarak; em outubro, na Líbia, Muamar
Árabe: censura na internet, política durante a
Primavera Árabe?
Kadafi era liquidado; e, em novembro, Ali Abdullah Saleh, do
grampo telefônico e alta Resposta pessoal. Iêmen, fugia do país pressionado por meses de protestos populares.
dose de violência. Nesses levantes ocorridos na África do norte e no Oriente
Primavera Árabe: termo
criado pela imprensa Médio, a mobilização popular contou com a ajuda das redes
para traduzir o despertar
sociais, da telefonia móvel e da TV Al Jazira, sediada em Doha,
dos povos árabes
contra as condições no Catar. Os governos ditatoriais, por sua vez, usaram a censura
socioeconômicas em que à internet e o grampo telefônico, além de uma violência indis-
viviam; é também uma
alusão às revoluções
criminada, para reprimir os manifestantes. Apesar disso, esses
de 1848 na Europa, movimentos, chamados pela imprensa de Primavera Árabe, Árabe, con-
conhecidas como tinuaram sacudindo países como Bahrein, Kuwait, Omã, Jordânia,
Primavera dos Povos.
Argélia, Marrocos e Síria.

322

TEXTO DE APOIO 305a336-HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 322 hoje em processo de colisão, ocasionando uma nova cultura da 24/08/22 09:20 D3_
convergência [...]. Os recentes acontecimentos no norte da África
Redes sociais nos protestos do Oriente Médio nos fazem perceber que essa tecnologia tem sim a capacidade
de ajudar um povo a mudar a história de seu país. Ademais, é
As mídias tradicionais são conhecidas pela chamada comuni- importante observar que a preservação dos canais de informação
cação de massas, na qual a característica básica é a comunicação será fundamental para a construção de Estados democráticos de
unilateral, ou seja, de poucos para muitos, como na televisão. A direito, em substituição às monarquias absolutistas e às repúbli-
internet, por outro lado, nos permite falar de todos para todos, so- cas ditatoriais do norte da África e do Oriente Médio [...].
bre qualquer assunto, em qualquer lugar. Permite dar voz àqueles
COSTA, Débora Alves da; SOUZA, Rogério Martins de. A revolta digital: impacto das
que não possuem e propicia aos cidadãos o direito de expressar redes sociais da internet nos protestos de rua dos países árabes em 2011. Cadernos
sua opinião. [...] essas mídias – a tradicional e a digital – estão UniFOA, Volta Redonda, n. 19, p. 37-44, ago. 2012. p. 41.

322

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 322 26/08/2022 19:16


TEXTO DE APOIO
Rebeldes no conflito da
Síria
Entre as razões desses levantes populares no

JEFF J MITCHELL/GETTY IMAGES


O conflito sírio é caracteri-
norte da África e no Oriente Médio, podemos citar: zado por ser descentralizado
a) a enorme desigualdade social e econômica e com muitas frentes e grupos
vigente nesses países; envolvidos, no qual não se apli-
caria a definição clássica de
b) as elevadas taxas de desemprego e a falta de guerra. Há ainda quem o chame
uma política para a juventude; o de “nova Guerra Fria” ou “mi-
c) a opressão à mulher e a censura aos meios de niguerra mundial”. [...]
comunicação; Egípcios em comício na Praça Tahrir [...] Com relação aos grupos
para marcar o aniversário de um ano do rebeldes, não há um grupo re-
d) a existência de ditadores corruptos que se per- levante popular que derrubou o ditador belde unificado com liderança
petuavam no poder por meio da violência. Hosni Mubarak. Cairo (Egito), 2012. e comando único definido. Os
rebeldes são diluídos por todo
o território do país, contudo em
Egito e Síria: retrocessos e violência sua maioria os grupos carregam
o objetivo comum de remover o
Os levantes populares iniciados em 2010 no norte da África e estendidos ao Oriente
governo do presidente Assad do
Médio no ano seguinte alimentaram a esperança de que o caminho para a construção da poder. [...]
democracia estava aberto. Passados alguns anos do início da Primavera Árabe, o cenário [...] A atuação do Estado Islâ-
em muitos dos países em que ela aconteceu é desolador. mico no cenário da guerra civil
No Egito, um golpe militar ocorrido em julho de 2013 depôs o presidente Mohammed síria ganhou projeção em 2014,
Morsi, eleito democraticamente após a queda de Hosni Mubarak. Os militares assumiram quando o grupo se aproveitou
o poder e suas disputas com a oposição têm envolvido atos de extrema brutalidade, do caos e tomou controle de
grandes áreas na Síria e no Ira-
resultando em um aumento extraordinário da violência no país.
que, proclamando a criação de
Na Síria, as lutas populares iniciadas em 2011 para conquistar direitos e liberdade de um califado. O principal objetivo
expressão desembocaram em uma violenta guerra civil. A oposição ao governo de Bashar do grupo era expandir o califado,
al-Assad encontra-se dividida em grupos rivais, entre os quais está a organização extremista para assim manter a sua capaci-
muçulmana denominada Estado Islâmico (EI). Essa organização atua recrutando jovens na dade de operar no território sírio.
No ápice do avanço territorial, o
Europa, aproveita-se da guerra para ganhar terreno na Síria e atua também no Iraque, onde
grupo chegou a controlar uma
tem cometido atos de terrorismo e crimes contra o patrimônio cultural da humanidade. área que englobava cerca de 10
Após 11 anos de guerra na Síria, completados em 11 de março de 2022, o balanço milhões de pessoas. A cidade de
da situação no país é trágico. Nessa data, bairros inteiros de importantes cidades Raqqa foi escolhida como sede
encontravam-se em ruínas. Dos 22 milhões de habitantes registrados antes da guerra, do autoproclamado califado. As
14,6 milhões precisavam de assistência humanitária – desses, 5 milhões estavam em estado coalizões internacionais, lidera-
das principalmente por Rússia e
de pobreza extrema; além disso, meio milhão de crianças padecia de desnutrição crônica.
Estados Unidos, com o apoio de
A moeda síria perdeu grande parte de seu valor, e os preços de alimentos, roupas e diversos países como Turquia,
remédios dispararam. Egito, Emirados Árabes Unidos,
A Síria foi um dos países do Oriente Médio mais fortemente atingidos pela pandemia da França, Espanha, dentre outros
covid-19. Em março de 2022, apenas 7,4% da população havia sido vacinada, e o número de iniciaram diversas operações
mortes crescia. contra o grupo. Apesar de apoia-
rem lados diferentes na guerra
Grande parte do legado cultural sírio também foi destruído. Extremistas do Estado
civil, tinham o comum objetivo
Islâmico danificaram seis locais considerados Patrimônios Mundiais pela Unesco. de destruir o Estado Islâmico.
Em outubro de 2017, Raqqa, a
323 capital do califado, foi retoma-
da dos militantes, bem como a
cidade de Mosul, o maior reduto
dos extremistas no Iraque, dei-
09:20 ENCAMINHAMENTO
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 323 28/06/22 13:20
xando sob o controle do grupo
• Perceber que, no Oriente Médio, o sonho de que as ditaduras fossem substituídas por de-
apenas vilarejos à margem do
Rio Eufrates. Tais conquistas re-
mocracias com ampla participação popular se desvaneceu rapidamente. presentaram o final derradeiro
• Refletir sobre a situação da maioria da população Síria após 11 anos de guerra, completa- da luta contra o grupo, apesar
dos em março de 2022. dele ainda manter certa capaci-
• Discutir os impactos das práticas terroristas sobre os patrimônios mundiais localizados na dade de operação.
Síria e no Iraque, de modo a dar continuidades à educação patrimonial iniciada nos Anos SOARES, João Victor Scomparim. A
Guerra Civil na Síria: atores, interesses
Iniciais do Ensino FundamentaI. e desdobramentos. Observatório de
conflitos internacionais, São Paulo, v. 5,
n. 1, p. 1-8, fev. 2018. p. 1-3.
323

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 323 31/08/22 10:27


ENCAMINHAMENTO
• Conhecer, com o auxílio do
mapa, as principais forças
envolvidas na guerra civil da Os ataques feitos pela Rússia e
Síria: quem a controla? (2021)
Síria. pelo próprio governo da Síria deixaram

SONIA VAZ
40° L

• Temas Contemporâneos Trans- TURQUIA apenas metade dos hospitais do país


versais: informar que, hoje, funcionando adequadamente. Nesse
os sírios constituem a maior cenário, um número crescente de famí-
população de refugiados do lias busca refúgio nos países vizinhos, e
mundo. Muitos foram aco- também no Brasil.
lhidos pelo Brasil. O diálogo Mar
Mediterrâneo
O governo de Bashar al-Assad recon-
sobre a imigração síria no S Í RI A 35º N
quistou as maiores cidades da Síria, mas
Brasil, nos últimos anos, pode parte do país ainda está sob o controle
contribuir para o desenvolvi- LÍBANO
de forças de oposição ao governo sírio.
mento da macroárea temática IRAQUE Uma solução militar para a guerra
multiculturalismo. na Síria parece distante; resta o acordo,
ISRAEL
0 85
mas este depende de vontade política.
JORDÂNIA

+ATIVIDADES Forças curdas


Governo da Síria
Outros grupos extremistas
Rebeldes sírios
Rebeldes sírios
Áreas disputadas
Fonte: POR QUE a guerra da Síria continua após 11 anos?.
Estado Islâmico apoiados pela Turquia BBC News, [s. l.], 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/
Em grupo. Pesquisem e refli- portuguese/internacional-56378202. Acesso em: 13 abr. 2022.

tam sobre cada um dos seis desa-


fios que a humanidade tem pela
frente, que se encontram lista-
dos nesta página. A seguir, pro- Seis grandes desafios
duzam um conjunto de slides,
um podcast ou um vídeo sobre Entre os vários desafios que a humanidade tem pela frente, seis merecem especial
o desafio escolhido. Posto isto, atenção:
elaborem, de modo sintético, a) a desigualdade social existente no mundo, inclusive em países em desenvolvimento,
propostas para enfrentar esse como Brasil, Índia e África do Sul;
desafio, considerando a impor-
tância do protagonismo da so- b) a existência de 1 bilhão de habitantes do planeta vivendo abaixo da linha da pobreza,
ciedade civil. o que contribui para o aumento do desrespeito ao outro, da criminalidade e da
Professor, auxiliar os alunos insegurança;
em todas as etapas, principal- c) a violência presente nos conflitos ao redor do mundo, nas ações das organizações
mente na seleção das fontes criminosas que traficam drogas, na prática do terrorismo e também no cotidiano
de informações. Orientar o das pessoas na atualidade;
compartilhamento dos slides,
do podcast ou dos vídeos em d) o desenvolvimento e o uso de tecnologias e produtos em escala mundial sem antes
um grupo virtual da turma ou conhecermos seus efeitos sobre o meio ambiente ou sobre nós;
nas redes sociais da escola, para e) a perda de parte da credibilidade do Conselho de Segurança da ONU, cuja missão é
que mais pessoas tenham acesso mediar os conflitos, de modo a conseguir consenso e concórdia;
às produções. O tema permite
f) a questão ambiental, que afeta fortemente a qualidade da vida na Terra e vem
desenvolver a competência geral
ganhando dimensões alarmantes, com a ocorrência de desastres ecológicos jamais
e específica 7.
vistos, a exemplo do ocorrido em Mariana, Minas Gerais.
Dica de leitura
Texto sobre a Lei de Crimes 324
Ambientais, que, ao unificar
leis esparsas em um único do-
cumento, tornou mais efetiva AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 324 30/06/22 16:53 AV_

a proteção ao meio ambiente.


• O QUE É a Lei de Crimes Am-
bientais. ((o))eco. São Paulo,
8 maio 2014. Disponível em:
https://oeco.org.br/diciona-
rio-ambiental/28289-enten-
da-a-lei-de-crimes-ambien-
tais/. Acesso em 14 jul. 2022.

324

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 324 29/08/22 14:34


ENCAMINHAMENTO
Escutar e falar. Os momen-
tos destinados à autoavaliação
devem ter significado para os

ILANA LANSKY
ESCUTAR E FALAR estudantes, sem que sejam vis-
tos como obrigação a cumprir.
Muito se tem debatido a respeito desses seis
Dedicar um tempo para con-
grandes desafios. Escolha um deles e prepare-se para versar individualmente com os
falar com a classe sobre ele. alunos, principalmente com os
Respostas pessoais.
que possam apresentar mais
Autoavaliação. Responda em seu caderno.
pontos a serem trabalhados.
a Expressei minhas ideias com objetividade? Valorizar os avanços conquista-
b Usei tom de voz e gestos adequados? dos, como forma de estimular
c Escutei meus colegas com atenção e respeito? os estudantes a continuarem se
dedicando e vendo a si próprios
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
como sujeitos da construção do
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado? conhecimento.
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?
• Ler e refletir sobre a Agenda
2030 para o Desenvolvimen-
to Sustentável.
Desastre ambiental: rompimento da barragem da • Discutir o objetivo 16 e a sua
empresa Samarco. Mariana (MG), 2015. Repare na relevância para a sociedade
altura da camada de lama em primeiro plano. brasileira.
• Selecionar e eleger um obje-
tivo que seja especialmente
PARA SABER MAIS importante para a comuni-
dade ou município onde fica
Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável a escola, e justificar o porquê
da escolha.
Em setembro de 2015, chefes

ONU
• Temas Contemporâneos
de Estado, reunidos na ONU, Transversais: relacionar o
definiram a Agenda 2030 para o objetivo 3 da Agenda à ma-
Desenvolvimento Sustentável, com croárea temática saúde e à
dezessete objetivos e 169 metas. [...] competência geral 8, com
[...]
destaque para o estudan-
te conhecer-se, apreciar-se
Essa nova agenda inovou [...] por
e cuidar de sua saúde físi-
trazer, entre os dezessete objetivos, ca e emocional. Relacionar
um diretamente relacionado à violên- o objetivo 12 da Agenda à
cia e à pacificação social: o objetivo macroárea temática meio
16, “Promover sociedades pacíficas e inclusivas [...], proporcionar o acesso à justiça para ambiente, destacando a im-
todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis”. portância da educação para
o consumo.
Destacam-se ainda algumas metas [...] que podem ser relacionadas a aspectos relevan-
tes para a prevenção à violência: educação em direitos humanos; [...] cultura de paz e não
violência e valorização da diversidade cultural; ambientes de aprendizagem não violentos;
[...] eliminar a violência contra a mulher; [...] e eliminação de práticas discriminatórias.
Dica de leitura
Texto que explora os 17 Ob-
CERQUEIRA, Daniel (coord.). Atlas da violência 2018. Rio de Janeiro: Ipea, 2018. p. 82, 86.
jetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), com o in-
325 tuito de trazer mudanças posi-
tivas sociais, econômicas e am-
bientais para toda a sociedade.
16:53 Imagens em movimento
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 325 04/07/22 18:12
• CONSELHO DE ARQUITETURA
E URBANISMO DE MINAS
Animação da ONU sobre os Objetivos Glo-
GERAIS. Os Objetivos de
bais. Desenvolvimento Sustentável
• OBJETIVOS Globais da ONU: a maior lição do – Perguntas e Respostas. Belo
mundo. 2015. Vídeo (2min59s). Publicado Horizonte: CAU/MG, [2016?].
pelo canal ONU Brasil. Disponível em: Disponível em: https://www.
https://youtu.be/MKH97nZXRys. Acesso em: caumg.gov.br/wp-content/
14 jul. 2022. uploads/2016/06/Os_
Objetivos_Desenvolvimento_
Sustentavel-FAQ.pdf. Acesso
em: 21 ago. 2022.
325

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 325 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Interdisciplinaridade: é pos-
sível desenvolver o tema so-
bre migrações recentes para
o Brasil junto ao professor
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

do componente de Geogra- Leia o texto a seguir com atenção.


fia. A oportunidade permi-
te retomar os conceitos de Venezuelanos passam noite nas ruas e enfrentam longas filas por
emigrante, imigrante e mi- regularização no Brasil
grante. É interessante que os
Dormindo nas ruas ao relento e enfrentando, de pé, longas e demoradas filas.
alunos reconheçam os movi-
mentos migratórios nas his- Essa é a realidade de migrantes venezuelanos em Pacaraima, no Norte de Roraima,
tórias das próprias famílias. fronteira com a Venezuela, que chegam ao Brasil e tentam regularização no país
[…].
Para refletir. a) A dificuldade
São famílias inteiras dormindo em pedaços de papelão, cheias de bagagens nas
para a travessia da fronteira se
mãos, enquanto aguardam a vez para o atendimento no posto de atendimento da
deve, muitas vezes, à utilização
de rotas clandestinas e, depois, Operação Acolhida, uma força-tarefa do Exército que atende imigrantes e refugiados
à espera e à falta de abrigo até venezuelanos no país.
a regularização da situação no No grupo que enfrenta as dificuldades de atravessar a fronteira, também há
Brasil. Crianças, idosos e pesso- pessoas com deficiência, idosos e crianças expostos à insalubridade e ao perigo das
as com necessidades especiais ruas lotadas de gente em Pacaraima. A maioria não usa máscaras ou qualquer outro
não têm acesso a comida, abri- item de proteção à covid-19.
go e medicamentos. Espera‑se NACHO DOCE/REUTERS/FOTOARENA

que os alunos produzam um


texto descritivo, que também
é importante na escrita de His-
tória.
b) Imigrante é aquele que
chega a um lugar vindo de
outro país. Segundo a ONU
(2019), atualmente, são 271,6
milhões em todo mundo: são
apanhadores de frutas, enfer-
meiros, refugiados, operários,
acadêmicos, engenheiros, re-
ligiosos, executivos, entre ou-
tros, demonstrando que são
muitas as variáveis que pres-
sionam a mobilidade demo-
gráfica.
Refugiado é aquele que se
torna obrigado a sair de seu
lugar de origem, especial-
mente por causa de conflitos, Venezuelanos atravessam a fronteira da Venezuela para a cidade brasileira de Pacaraima (RR), 2017.

perseguição política, guerras


civis, distúrbio ambiental, po- 326
breza, violação aos direitos
humanos.
Em tese, o imigrante decide opção, quase sempre porque
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 326 sua vida pode c2001-2022. Disponível em: https://www. 28/06/22 13:20 AV_

sair de seu lugar de origem em estar em risco. A principal organização que acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/.
busca de melhores condições acompanha o movimento dos refugiados é o Acesso em: 18 jul. 2022.
em outro país, enquanto o c) Ambos os depoimentos nos permitem
Alto Comissário das Nações Unidas (ACNUR),
refugiado é obrigado a sair conhecer alguns motivos que levaram os
que apontou, em seu relatório divulgado em
por algum dos motivos citados venezuelanos a emigrarem para o Brasil, bem
anteriormente. Igualmente, 2021, que atualmente são 82,4 milhões de
como a dificuldade para a regularização da sua
o imigrante tem direito ao refugiados ao redor do mundo. Para conferir situação no país. Aproveitar a questão para
retorno, podendo voltar ao esse e outros dados, acessar o material: comentar com os alunos que, em História, a
seu lugar de origem, enquanto DADOS sobre o Refúgio. Alto Comissário explicação é geralmente multifatorial: a busca
o refugiado não tem essa das Nações Unidas (ACNUR). Brasília, DF, por trabalho, remédio de uso permanente,
326

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 326 26/08/2022 19:16


Dicas de leitura
Reportagem sobre a pesqui-
sa da ONU, intitulada “Limites
e desafios à integração local de
[…]
refugiadas, refugiados e pes-
A grande maioria que entrou no Brasil veio pelas “trochas”, nome dado às rotas
soas migrantes da Venezuela
clandestinas usadas pelos migrantes na travessia entre os dois países. interiorizadas durante a pan-
Milagros Componce, de 33 anos, trabalhava como professora no estado venezue- demia de Covid-19”, divulgada
lano de Anzoátegui. Chegou ao Brasil […] junto com a mãe, o esposo, quatro filhos em dezembro de 2021.
e um sobrinho com necessidades especiais. […] • PESQUISA realizada por
[…] agências da ONU demonstra
“Deixamos nosso país com a esperança de crescer, de poder dar uma educa- que pessoas refugiadas e
ção aos nossos filhos, uma alimentação balanceada para eles já que, na Venezuela, migrantes vindas da Venezuela
mesmo sendo um país tão rico, hoje posso dizer que é o país mais pobre do mundo
tem maior acesso a emprego
e renda após a adesão à
[…]”, diz Componce.
estratégia de interiorização.
[…] UFNPA Brasil. Brasília, DF, 8
“Passamos todas as noites caminhando para poder chegar aqui. […]. Meu esposo dez. 2021. Disponível em:
também é professor, agricultor e quer trabalhar. Como chegamos hoje pela manhã, https://brazil.unfpa.org/pt-
estamos procurando um lugar para deixar as crianças”. br/news/pesquisa-realizada-
Mortimer Jose, de 58 anos, tem necessidades especiais. Anda com a ajuda de uma por-ag%C3%AAncias-da-
onu-demonstra-que-pessoas-
bengala e, no momento da entrevista, estava há "muito tempo" sem as medicações
refugiadas-e-migrantes-vindas-
necessárias para o tratamento da diabetes, doença [com] que ele convive há 20 anos.
da. Acesso em: 18 jul. 2022.
“O mundo precisa fazer algo por nós, venezuelanos. […] Estamos aqui por motivos Análise das recentes migra-
de saúde, comida e por todos os outros motivos que nós venezuelanos estamos ções venezuelanas para o Brasil,
passando. Fiz um enorme sacrifício para chegar aqui e me dói, de verdade, ter que com destaque para o papel do
abandonar minha mãe, meus irmãos, meus amigos. É desastroso o que estamos Estado brasileiro na gestão des-
vivendo, é uma situação dramática”, resume.
ses fluxos migratórios.
RODRIGUES, Caíque. Venezuelanos passam noite nas ruas e enfrentam longas filas por • BAENINGER, Rosana; DEMÉ-
regularização no Brasil. G1, Boa Vista, 25 jul. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/rr/ TRIO, Natália Belmonte; DO-
roraima/noticia/2021/07/25/venezuelanos-passam-noite-nas-ruas-e-enfrentam-longas-filas-por-
regularizacao-no-brasil-desastroso.ghtml. Acesso em: 23 mar. 2022. MENICONI, Jóice de Oliveira
Santos. Migrações dirigidas: es-
a) Como o autor do texto descreve a situação dos imigrantes venezuelanos chegados no estado tado e migrações venezuelanas
de Roraima? a) Dormindo nas ruas ao relento e enfrentando, de pé, longas e demoradas filas. no Brasil. RELAB, Cuernavaca,
b) Pesquise e diferencie imigrantes de refugiados. b), c) e d) Respostas pessoais. v. 16, 2021.
c) O que é possível inferir dos depoimentos dos imigrantes venezuelanos?
d) Em países como Chile, Equador, Brasil, Peru e Colômbia há pessoas que rotulam os venezuelanos
de “venecos” e os responsabilizam pela insegurança, aumento da criminalidade, problemas nos
hospitais e no mundo do trabalho.
I) Em dupla. Avaliem e opinem sobre o termo “veneco” usado para denominar os venezuelanos.
II) Pesquisem, debatam e opinem sobre manifestações de xenofobia e violência contra imigrantes
e refugiados e os choques entre diferentes grupos e culturas.

327

13:20 educação e alimentação desejáveis para os


AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 327 que responsabilizar os venezuelanos por
30/06/22tudo
16:53

filhos estão entre as razões que fizeram os de ruim que acontecia nas áreas de destino
venezuelanos imigrarem. Chamar a atenção é praticar xenofobia e, consequentemente,
para a fala da venezuelana Milagros Com- desrespeito aos direitos humanos, além de ser
ponce, quando ela diz que a Venezuela é preocupante a disseminação desse discurso
um país rico. de ódio aos venezuelanos na América Latina.
d) I. Espera-se que os alunos percebam que II. Estas atividades querem contribuir para o
“veneco” é um termo pejorativo, o qual dimi- desenvolvimento das habilidades EF09HI35
nui a população venezuelana, e compreendam e EF09HI36.

327

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 327 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
1. Possibilitar que os alunos 1. d) Porque Mikhail Gorbachev propôs um programa de reformas
políticas (a glasnost) que representava uma abertura política de
exponham as avaliações que fato e um conjunto de reformas econômicas (a perestroika) que

ATIVIDADES
fizeram para a turma. desengessava a economia soviética. NÃO ESCREVA
NO LIVRO.
2. A intenção pedagógica des-
ta atividade é estimular a re- 1. b) Mikhail Gorbachev foi representado como a
flexão sobre a passagem do Estátua da Liberdade dos Estados Unidos.
autoritarismo (decorrente de 1. d) Na mão direita, ele segura a tocha
da liberdade (nomeada como glasnost);
um sistema de partido único)
I. Retomando na esquerda, o que parece ser um livro-

KJELL NILSSON-MAKI/CARTOONSTOCK
para um sistema democrático, -caixa, que tem na capa a palavra perestroika.
que possibilita a expressão de
diferentes grupos sociais, vi-
sões de mundo e ideologias 1 Observe a charge com atenção e, depois, res-
ponda às questões. 1. a) O personagem é Mikhail Gorbachev.
políticas, e que, além disso,
estimula o debate e a práti- a) Quem é o personagem histórico representado?
ca da cidadania. Lembrar aos b) De que maneira o personagem foi representado?
estudantes que democracia e c) O que o personagem segura nas mãos?
cidadania não são conceitos d) Por que o chargista representou o personagem
estanques: eles possuem his- dessa maneira?
toricidade, variando, portan- 2 Em dupla. O programa de reformas políticas de Gorbachev incluiu a substituição do
to, no tempo e no espaço. sistema de partido único (o Partido Comunista) pelo pluripartidarismo. Avaliem e
3. Se necessário, retomar o con- comentem os possíveis impactos dessa reforma sobre um país, seja ele qual for.
texto da criação do Muro de 2. Resposta pessoal.
Berlim. Reservar um momento 3 Sobre o Muro de Berlim é correto afirmar.
para correção coletiva, privile- I. Após a queda do muro, Mikhail Gorbachev concordou em retirar da Alemanha Oriental as
tropas de ocupação soviéticas que controlavam o país havia 45 anos.
giando que os próprios alunos
II. A queda do Muro de Berlim foi um marco no processo de reunificação alemã, até então
tentem a esclarecer as dúvidas
dividida entre Alemanha Ocidental (capitalista) e Alemanha Oriental (socialista).
dos demais em relação às al-
III. O Muro não teve a importância que se atribui a ele, pois foi apenas um símbolo da Guerra Fria.
ternativas incorretas. Orientar
IV. O movimento bem-sucedido que levou à derrubada do Muro de Berlim tinha como lema Wir
que façam as correções neces-
sind das Volk (“Nós somos o povo”).
sárias nas alternativas para que
V. A data da queda do Muro de Berlim, 9 de novembro de 1989, é um marco histórico no
fiquem corretas, evitando, en- processo que deu início à ordem mundial bipolarizada.
tretanto, que apenas mudem
a) I, II e III. d) II, III e IV.
a frase para a forma negativa.
b) I, III e IV. e) II, IV e V.
Estimular nos estudantes a ca-
c) I, II e IV. 3. Alternativa C.
pacidade de interpretar.
Professor, as atividades de 4 Leia o texto com atenção.
múltipla escolha são importan-
tes para que os alunos prati- É uma doutrina favorável à livre concorrência, à privatização de empresas estatais,
à abertura do mercado nacional aos capitais estrangeiros, entre outras.
quem o formato utilizado em
várias provas oficiais. Entre- Trata-se do:
tanto, é importante orientar a) Mercantilismo. d) Social-democracia.
que a atenção a todos os itens b) Nacional-estatismo. e) Nacional-capitalismo.
e a leitura integral e detida c) Neoliberalismo. 4. Alternativa C.
das afirmações sejam práticas
constantes nesse formato de 328
questão, uma vez que uma al-
ternativa parcialmente correta
torna a resposta incorreta, di- do Muro. 2020. Vídeo (10min13s).
305a336-HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 328 Publica- testemunhas oculares daquele momento. Esti- 24/08/22 09:20 D3_
ferentemente do que ocorre do no canal Destino: Berlim. Disponível em: veram em Berlim quando o muro era derruba-
com questões dissertativas. https://youtu.be/WV5rfGJeNEc. Acesso em: do. Eles conversaram com a equipe da Agência
Brasil sobre o 9 de novembro de 1989, quando
14 jul. 2022.
mudou o mundo para sempre.
Imagens em movimento A queda da barreira de cimento, ferro no meio
Documentário sobre o TEXTO DE APOIO de Berlim representou o colapso do socialismo
Muro de Berlim. real sob a liderança da extinta União Soviéti-
Queda do Muro de Berlim faz 30 anos: ca (formada pela Rússia, Armênia, Azerbaijão,
• MURO de Berlim: Como fun- veja relatos de quem esteve lá Bielorrússia, Cazaquistão, Estónia, Geórgia, Li-
cionava o controle no Muro O geógrafo Telmo Amand Ribeiro e o jornalis- tuânia, Letônia, Moldávia e Ucrânia) e também
de Berlim? Série Por Dentro ta Silvio Queiroz, moradores de Brasília, foram implementado pela Bulgária, Hungria, Polônia,
328

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 328 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
5. b) Não, os países menos desenvolvidos são mais atingidos, pois a eliminação de postos de trabalho ocorre, Comentários às questões da
geralmente, nesses países, numa velocidade maior do que a da criação de novos empregos. página 330.
5 Nos últimos anos, com a Revolução Técnico-Científico-Informacional, muitos trabalha- 8. b) Comentar com os estu-
dores foram substituídos por máquinas inteligentes e robôs, ficando sem emprego dantes que é comum os palesti-
por um longo tempo. nos serem obrigados a permane-
a) Que nome se dá a esse tipo de desemprego? 5. a) Desemprego estrutural. cer em suas casas durante longos
b) Todos os países são igualmente atingidos por esse tipo de desemprego? períodos de toque de recolher,
c) Pesquise e cite exemplos de setores da economia em que vêm surgindo novos empregos.
que são suspensos por um tempo
curto, o suficiente apenas para
6 Quais das afirmações a seguir são argumentos dos críticos às políticas globais? eles comprarem comida e retor-
I. Essas políticas geram aumentos das desigualdades socioeconômicas. narem às suas casas.
II. As políticas econômicas dos países mais pobres são controladas por organismos ligados aos 9. Outra modalidade de
países ricos. terrorismo é o “terrorismo de
III. Os cortes de gastos nos orçamentos dos Estados nacionais resultam, geralmente, em altos Estado”, aquele praticado pelo
investimentos em saúde e educação. Estado contra sua própria popu-
IV. A imposição de uma cultura única ameaça a diversidade e os valores culturais locais e regionais. lação, seus opositores ou contra
V. A liberalização dos mercados estimula a especulação e o enriquecimento dos mais ricos. os considerados estrangeiros. O
a) I, II, IV e V. Alternativa A. c) I, II, III e V. e) II, III e V.
modelo clássico de terrorismo
de Estado foi o nazismo, que
b) I, II, III e IV. d) II, III e IV.
7. A Questão Palestina teve sua origem na derrota praticou uma política de terror,
7 Explique como se originou a Questão Palestina.árabe perante Israel na guerra de 1948. Em conse- perseguição e morte aos judeus
quência dessa derrota, 750 mil palestinos tiveram e a seus opositores políticos.
de deixar sua terra para viver como refugiados.
8 Observe o mapa e responda às questões. Outro exemplo de terrorismo
de Estado também foi o sta-
Israel após a Guerra dos Seis Dias (1967) linismo, que usou a violência
5. c) Algumas áreas nas para enfraquecer, prender e
ALLMAPS

LÍBANO quais vêm surgindo novos assassinar opositores.


empregos são: informática, 10. a) A Primavera Árabe foi
SÍRIA turismo, marketing, telefo-
GOLÃ um movimento de caráter de-
nia, finanças, entre outras.
Mar Me dite rrân e o mocrático que se alastrou por
diversos países de língua árabe
CISJORDÂNIA
e de religião islâmica, iniciado
FAIXA Jerusalém a partir de 2010, e teve como
DE GAZA Mar
Morto objetivo a contestação de go-
EGITO vernos corruptos e ditatoriais,
dos altos níveis de pobreza e
JORDÂNIA de desemprego, das injustiças
Suez
e dos desrespeitos aos direitos
humanos.
SINAI
b) A Primavera Árabe teve
início em Sibi Bouzid, na Tuní-
Golfo d

Israel (1949-1967) sia, após Mohamed Bouazizi,


a

um vendedor ambulante, atear


cab
eS

Ocupação militar
ue

israelense
ARÁBIA SAUDITA fogo em seu próprio corpo de-
de
z

(junho de 1967)
lfo

pois que seus produtos de tra-


Go

Jerusalém ocupada
Fonte: NATKIEL, Richard.
Campos de Atlas of 20th century warfare. balho foram confiscados pelas
refugiados
palestinos
Mar
V e rm e l h o
0 80
Nova York: Gallery Books, 1982. autoridades, em 2010. Em seu
p. 201.
funeral, compareceram cerca
de 5 mil pessoas, marcando o
329 início das manifestações, que se
ampliaram com a indignação da
população com as corrupções
09:20 Romênia e Tchecoslováquia, além da Alema-
D3_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 329 Silvio Queiroz, então repórter de Veja28/06/22
(hoje13:21
no do governo do ditador Ben Ali,
nha Oriental – países que formavam a cortina Correio Braziliense), rememora as diferenças e o qual acabou renunciando
de ferro que separava o mundo capitalista e o desconfianças entre os alemães do ocidente e depois de décadas no poder. A
mundo socialista. os alemães do oriente no início da reunificação, partir daí, o movimento alas-
O fim da matriz europeia do socialismo é a e as dificuldades para a Alemanha se tornar o trou-se para outros países.
antessala do século 21. Um tempo sem Guerra país de “um só povo” como [...] o governo ado-
Fria entre americanos e soviéticos, mas com ou- tou como lema.
tros riscos a paz e outros muros – maiores e até COSTA, Gilberto. Queda do Muro de Berlim faz 30 anos:
veja relatos de quem esteve lá. Agência Brasil. Brasília, DF,
menos transponíveis do que o Muro de Berlim,
9 nov. 2019. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/
como lembra Telmo Amand Ribeiro. internacional/noticia/2019-11/queda-do-muro-de-berlim-faz-30-
anos-veja-relatos-de-quem-esteve-la. Acesso em: 14 jul. 2022.

329

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 329 26/08/2022 19:16


c) Na pesquisa, orientar os
grupos que escolham países
diferentes, a fim de ampliar 8. a) A Península do Sinai e a Faixa de Gaza, pertencentes ao Egito; a Cisjordânia, controlada pela Jordânia; e as
colinas de Golã, que estavam sob o domínio da Síria.
o conhecimento de todos a a) Quais foram os territórios conquistados por Israel após a Guerra dos Seis Dias?
respeito da situação atual desses
b) Os ícones de pequenas barracas vistos no mapa representam campos de refugiados palestinos.
países. Inicie pesquisando dados Como é a vida nesses campos? 8. c) Eles se uniram para fun-
geográficos sobre os países para dar a OLP, a fim de combater
c) Como os palestinos reagiram à derrota na Guerra dos Seis Dias? os israelenses e reconquistar
melhor identificá-los, como: em as terras perdidas na Guerra
que continente se localizam, 9 Conceitue o termo terrorismo e dê um exemplo dessa prática. dos Seis Dias. O principal lí-
qual ou quais línguas oficiais der palestino nas lutas que
falam, sua população atual, 10 Leia o texto com atenção. 10. a), b) e c) Respostas pessoais. se seguiram foi o engenhei-
ro Yasser Arafat.
religião etc. Esses dados podem Uma série de protestos ocorridos nos países árabes do Norte da África e no Oriente
ser obtidos no site a seguir:. Médio [...] contra os altos níveis de desemprego, pobreza, corrupção, injustiça e desres-
PAÍSES. Rio de Janeiro, [20--]. peito aos Direitos Humanos ficou conhecida no Brasil como Primavera Árabe.
Site. Disponível em: https:// BAZZAN, Denise. Primavera árabe: a força da disseminação da informação pelo meio digital e sua forma
paises.ibge.gov.br/#/. Acesso em: de construção de sentido. 2014. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. p. 37.
14 jul. 2022. Depois pesquisar:
a) Resuma, com suas palavras, o que foi a Primavera Árabe.
quando se iniciou a revolta no
b) Explique como se deu o início da Primavera Árabe.
país escolhido? O que motivou
c) Em grupo. Escolham um dos países em que ocorreu a Primavera Árabe e façam uma pesquisa
o movimento? O movimento para saber a situação atual desse país. 8. b) Os campos são formados por moradias precárias e super-
conseguiu derrubar o governo? lotadas, e a maioria de seus moradores quase não tem acesso
Após a mudança de governo, 11 Leia a notícia a seguir com atenção. à saúde e à educação.
ocorreram também retrocessos? O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou na quinta-feira, 13 de junho [de
Sugestões de materiais para 2019], que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero passe a ser
pesquisa: considerada um crime.

OAB/PE
• SIMÕES, Rogério. O que foi e [...] os ministros determinaram que a
como terminou a Primavera conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo
Árabe? BBC News Brasil. (7716/89), que hoje prevê crimes de discrimina-
São Paulo, 20 fev. 2021. ção ou preconceito por “raça, cor, etnia, religião
Disponível em: https:// e procedência nacional”. [...]
www.bbc.com/portuguese/ O racismo é um crime inafiançável e
internacional-55379502. imprescritível segundo o texto constitucional
Acesso em 18 jul. 2022 e pode ser punido com um a cinco anos de
• GIOVANAZ, Daniel. Da euforia prisão [...].
à realidade: os descaminhos BARIFOUSE, Rafael. STF aprova a criminalização da homofobia. BBC
Brasil, São Paulo, 12 fev. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/
da Primavera Árabe, dez anos portuguese/brasil-47206924. Acesso em: 12 maio 2022.
depois. Brasil de Fato. São • Roda de conversa. Reflitam, debatam e
Paulo, 24 fev. 2021. Disponível opinem sobre a discriminação e a violência
em: https://www.brasildefato. sofridas por pessoas que fazem parte da comu-
com.br/2021/02/24/da-euforia- nidade LGBTQIA+
LGBTQIA+.
Fac-símile da capa do livro Debates e
Resposta pessoal.
a-realidade-os-descaminhos- reflexões sobre direitos da diversidade
da-primavera-arabe-dez-anos- LGBTQIA+: movimento civil e social que defende a aceitação
sexual e de gênero, publicado pela
Comissão da Diversidade Sexual e de
depois. Acesso em: 18 jul. 2022. dos grupos representados por cada uma dessas letras na
sociedade, além da busca por mais respeito à diversidade. Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil,
Auxiliar os alunos a monta- seccional de Pernambuco (OAB/PE).
rem um seminário para apre- 9. É a ação armada contra civis; a violência usada para fins políticos. Um exemplo clássico de terrorismo
sentar os dados levantados na 330 foi o ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, pelo grupo Al-Qaeda.
pesquisa. As apresentações
podem ter como suporte car-
tazes, slides, áudios, vídeos, pessoas LGBTQIA+. Durante
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 330 o debate, é im- disso, se considerar pertinente, promover 30/06/22 16:53 AV_

entre outros. portante estimular também a reflexão sobre outras atividades sobre o tema, como um
11. Organizar os estudantes a homofobia e transfobia, apresentando da- “Dia contra a homofobia e transfobia na
para uma roda de conversa. dos sobre o Brasil e outros países do mundo escola”, orientando os estudantes a criarem
Explicar que, por não haver acerca do tema. Por exemplo, a aceitação da cartazes, slogans, broches ou canções cuja
uma lei específica relacionada à homossexualidade pelos brasileiros passou de mensagem seja de repúdio a qualquer tipo de
homofobia, o STF decidiu pela 63% em 2013 para 67% em 2019. Procurar, discriminação e violência contra pessoas que
aplicação da Lei do Racismo (no também, desconstruir afirmações sem base na se identificam como LGBTQIA+. Esta atividade
7.716/1989) para julgar como realidade, como a de que a homossexualidade quer contribuir para o desenvolvimento da
crime de racismo os casos de é uma doença ou desvio de comportamento, habilidade EF09HI36.
ódio e discriminação contra como foi vista durante muito tempo. Além
330

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 330 26/08/2022 19:16


Vozes do presente
b) Por meio da informação acelerada e deliberada de fake news; do uso da in-
teligência artificial durante as campanhas eleitorais, suscitando muitas vezes a) Sim, o desenvolvimento
sentimentos de ódio; do emprego de algoritmos para ampliar a brutalização do
comportamento social, no ambiente virtual ou físico.
das TICs tem afetado as rela-
II. Leitura e escrita em História ções políticas locais e globais.
Chamar a atenção para o fato
de que o verbo “interferir” é
Vozes do presente neutro; assim sendo, as TICs
interferem na política local e

TORIA/SHUTTERSTOCK.COM
O desenvolvimento das TICs tem interferido nas
global, seja negativamente,
relações políticas locais e globais? seja positivamente.
[...] as TICs permitiram uma difusão acelerada e deli- d) A proposta deste item per-
berada de informações falsas ( fake news) em dimensões mite que os alunos analisem
A imagem sugere o mundo
assustadoras, por meio de redes sociais e também de conectado no qual vivemos. relações políticas locais e glo-
contas autônomas programadas (conhecidas por bots) para bais e atuem na transformação
espalhar mensagens, manipulando a opinião pública. de uma realidade próxima. O
Tropas cibernéticas passaram a utilizar inteligência artificial durante campanhas nono ano é um importante en-
eleitorais, com o objetivo de moldar o discurso público, muitas vezes suscitando sen- cerramento de ciclos. Sugerimos
timentos de ódio. estimular os estudantes a refle-
[...] tirem sobre o que viveram nessa
Os efeitos negativos das tecnologias têm ameaçado as democracias, como aponta a etapa do ensino e perceber as
MIT Technology Review. No entanto, olhando para os aspectos positivos, Archon Fung, habilidades e competências que
da Universidade de Harvard, propõe que as TICs interferem na dinâmica democrática puderam desenvolver. Além dis-
de diversas maneiras, por exemplo, ao: so, permite aos alunos entender
• acelerar o fluxo das comunicações, possibilitando a comunicação de muitos para muitos o protagonismo de pessoas e
e diminuindo o custo de aquisição de informações, ou seja, tornando a esfera pública organizações da sociedade ci-
mais acessível e menos concentrada (empoderamento da esfera pública); vil, com vista à transformação
• criar conexões diretas entre cidadãos, por um lado, e políticos e formuladores de social.
políticas, por outro (democracia digital direta e participativa); Sugere-se que os estudan-
[...] tes possam escolher de quais
Em outros termos, tecnologias digitais como as redes sociais permitem que cada atividades querem participar,
vez mais indivíduos possam expressar suas preferências sobre um amplo número de respeitando as opções e o tem-
assuntos, fenômeno difícil de ser imaginado na realidade puramente analógica. No po de aprendizado de cada um.
entanto, redes sociais não tiveram em seu design a preocupação de estruturar dados Sugestões de materiais para
de modo a serem inputs para o processo democrático. pesquisa:
CHIARINI, Tulio; SILVA, Victo. Inovações tecnológicas permitem maior participação política? Ipea. Brasília, DF, 23 jun. 2021. • PACHECO, Daniela Paiva de
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/artigos/artigos/267-inovacoes-tecnologicas-permitem-maior-
participacao-politica. Acesso em: 12 maio 2022. Almeida; RODRIGUES, Wallace
Faustino da Rocha. As trans-
Responda com base na leitura do texto. formações nas campanhas
a) Como você responde à pergunta contida no título dado ao texto? a) Resposta pessoal. eleitorais: uma reflexão sobre
b) De que forma o desenvolvimento das TICs permite maior manipulação na política? o papel dos partidos políticos
c) O desenvolvimento das TICs também afeta as relações políticas positivamente? De que forma e do impacto das novas fer-
isto se dá?
d) Resposta pessoal. ramentas de comunicação.
d) Fórum de debate. Organizados em grupo, pesquisem sobre os efeitos do desenvolvimento Lumina, Juiz de Fora, v. 15,
das TICs nas relações políticas locais e globais nos dias de hoje. Filmem, gravem, fotografem n. 1, p. 108-123, 2021.
as apresentações e postem esses produtos nas redes oficiais da escola. c) As TICs afetam a política posi-
tivamente: acelerando o fluxo de comunicações (de muitos para muitos), diminuindo o custo de compra de informações, e tornando • CASTANHO, Maria Augusta
a esfera pública mais acessível e menos concentrada; criando conexões diretas entre cidadãos, por um lado, e polí-
ticos formuladores de políticas públicas, de outro; reunindo muitos e variados dados e informações sobre assuntos 331 Ferreira da Silva. O proces-
de interesse público e possibilitando sua divulgação entre os membros da sociedade civil. so eleitoral na era da inter-
net: as novas tecnologias e o
exercício da cidadania. Tese
16:53 ENCAMINHAMENTO
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 331 01/07/22 17:12
(Doutorado em Direito do Es-
Professor, como forma de trazer a temática para o universo da turma, é possível explicar tado) – Faculdade de Direito,
que as torcidas organizadas de times de futebol têm usado as redes sociais para provocar e Universidade de São Paulo,
marcar encontros físicos entre elas que, frequentemente, resultam em atos de violência com São Paulo, 2014.
muitos feridos e até mortos. Comentar também que toda essa violência seja na política, seja
no esporte, representa uma ameaça à democracia. As atividades desta seção querem contri-
buir para o desenvolvimento da habilidade EF09HI33.

331

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 331 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
• Temas Contemporâneos
Transversais: o desenvol-
vimento da seção permite
aprofundar macroárea te-
#JOVENS NA NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

mática cidadania e civismo e


à medida que os estudantes
HISTÓRIA Constru
ção
e uso de
nários
reconhecem a importância questio
da educação como um direito
da criança e do adolescente. PASSO 1 Ler
Aproveitar o tema para refor-
Leia o texto a seguir com atenção.
çar o papel de toda a socieda-
de na garantia desses direito.
Maranhense de 12 anos cria escolinha com materiais encontrados em lixão
“Uma menina de 12 anos querendo educar outras crianças”. A fala é de orgulho e
Imagens em movimento foi dita por Maria Donizete, 59, sobre a filha Érica, que colocou de pé a Escolinha da
Vídeo da CNN Brasil sobre Esperança, em Coelho Neto, vilarejo no interior do Maranhão, a 400km de São Luís.
os impactos da pandemia de [...] Sagaz e cheia de iniciativa, [Érica] decidiu usar o que tem a seu alcance em
covid-19 na educação no Brasil. prol da comunidade. No ano passado, a menina, que hoje cursa o 6o ano do ensino
• EXCLUSÃO escolar: entenda fundamental, decidiu ajudar os colegas que sofriam com as paralisações escolares
os impactos da pandemia devido à pandemia. Com retalhos [...], como lona e papelão, improvisaram um espaço
na educação. 2021. Vídeo para receber os alunos.
(5min19s). Publicado pelo canal “Ela me dizia assim: ‘mãe, eu quero construir uma escolinha, porque as crianças
CNN Brasil Business. Disponível estão andando para cima e para baixo”, conta Donizete [...].
https://www.youtube.com/ [...] “Nunca sonhei em ser professora, mas, no ano passado, minhas aulas tinham
watch?v=u5KkyBu_iU4. Acesso parado e eu resolvi ajudar os meus colegas e criei um espaço na base da brincadeira,
em: 19 jul. 2022. mas foi mais do que eu imaginava”, conta Érica, com brilho nos olhos.
Ao lado das irmãs de 23 e 26 anos, Érica recebe os alunos e ensina regras grama-
ticais, faz leitura e os ajuda a escrever. Ela também não abre mão da matemática [...].
TEXTO DE APOIO [...] [Érica] é motivo de orgulho para Donizete, que não sabe ler ou escrever.
[...] é possível formar ou desen- [...] “É muito estranho, porque também tem outras crianças que a gente precisa se
volver a empatia, a solidariedade
esforçar mais. Uma criança de seis anos que, às vezes,
e outros elementos da moralida-
de humana, mesmo que os seres só estudou em escola pública já sabe ler e escrever,
humanos já possuam, desde o mas tem criança de nove anos, também aluna da
nascimento, certas capacidades rede pública, que não escreve o próprio nome”,
ou comportamentos pró-sociais.
Ou seja, entende-se que a edu- afirma a jovem [...].
cação possui papel fundamental Érica também tem aproveitado o projeto
para a formação das novas gera- para ajudar a alfabetizar a mãe e, quem
ções intelectual e moralmente. sabe, ajudá-la a ter mais oportunidades no
Por educação, compreende-se a
formação ampla do ser humano, futuro [...].
na forma de um processo de hu- [...] No ano passado, quando foi inaugu-
manização, que ocorre formal e rada, a escola ocupava um espaço ao lado de
informalmente por meio de pro- SEMILETAVA HANNA/
sua casa, improvisado, em um barraco [...]. SHUTTERSTOCK.COM
cessos de aprendizagem no seio
da família, no ambiente escolar
e na vida social. 332
[...] um ambiente que favore-
ça variadas possibilidades de
experimentação e de expressão infância, nos mais variados contextos, inician-
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 332 30/06/22 18:31 AV_
de emoções dos mais diversos do-se pela família, especialmente por meio das
tipos, satisfazendo às necessi- condutas parentais, estendendo-se à família
dades físicas e emocionais da extensa, à escola e à comunidade como um
criança, desestimula uma pos-
todo. [...]
tura autocentrada, de preocupa-
ção excessiva consigo mesma. [...] a empatia traduz-se em uma competência
Isso parece facilitar a abertura fundamental à convivência humana, à manu-
para a alteridade e para o desen- tenção da sociedade e ao cuidado com a vida, [...].
volvimento de atitudes empáti-
MOITOSO, Gisele Schmidt; CASAGRANDE, Cledes Antonio. A
cas. [...]
gênese e o desenvolvimento da empatia: fatores formativos
Deduz-se que [...] deve a em- implicados. Educação Por Escrito, Porto Alegre, v. 8, n. 2, p.
patia ser promovida durante a 209-224, jul./dez. 2017. p. 219-222.
332

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 332 26/08/2022 19:16


ENCAMINHAMENTO
Jovens na História. c) Respos-
a) O problema identificado por ela foi o fato de crianças ficarem sem aprender o que se ensina na escola e
“andando para cima e para baixo” durante a pandemia de covid-19. ta pessoal. Sugestões de sites
A escola movimentou as redes sociais e conseguiu levantar R$ 150 mil em um finan- para pesquisa:
ciamento coletivo. [...] a prefeitura [...] decidiu investir no espaço [...] [e hoje] uma nova • TORRENTE, Andrea. Aposen-
casa está sendo construída, de concreto e com a estrutura de que os alunos precisam. tado de 88 anos oferece
LIMA, Carol Fiacadori. Maranhense de 12 anos cria escolinha com materiais encontrados em lixão. Ecoa UOL, aulas gratuitas de inglês:
São Paulo, 10 jun. 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2021/06/10/maranhense-de-12-anos-
cria-escolinha-com-materiais-encontrados-em-lixao.htm. Acesso em: 27 abr. 2022. “Quero compartilhar meu
conhecimento”. Plural. Curitiba,
13 mar. 2022. Disponível em:
PASSO 2 Questionar b) Elas improvisaram um espaço, construído com lo-
https://www.plural.jor.br/
na e papelão, para receber os estudantes e ajudá-los
a) Qual foi o problema identificado pela menina Érica? na aquisição de leitura e escrita, e em Matemática. noticias/vizinhanca/aposentado-
b) Qual foi a solução que Érica, suas irmãs e sua mãe deram para o problema? aulas-gratis-ingles-curitiba/.
Acesso em: 18 jul. 2022.
PASSO 3 Pesquisar e agir • ALUNO com cegueira congê-
nita inspira projeto de alfa-
c) Em grupo. Partindo da ideia de ajudar outras crianças da escola de vocês, elaborem um questionário que
betização em braille em
busque compreender quais foram as dificuldades encontradas por elas durante a pandemia. Para isso,
definam o objetivo da pesquisa, ou seja, o que vocês querem responder ao final dos trabalhos. Uma sugestão
escola de Boa Vista. G1. Boa
é: como a paralisação das aulas, durante a pandemia da covid-19, afetou a aprendizagem das crianças? Vista, 9 abr. 2022. Disponível
d) Com o objetivo definido, comecem a elaborar as questões que serão respondidas. Lembre-se de que um em: https://g1.globo.com/rr/
questionário muito extenso poderá não ser respondido totalmente e isso poderá comprometer o resultado. roraima/noticia/2022/04/09/
Vocês podem perguntar: aluno-com-cegueira-
• Onde você passou o tempo de isolamento durante a pandemia? congenita-inspira-projeto-
• Você sentiu falta da escola? de-alfabetizacao-em-braille-
• Você estudou sozinho? em-escola-de-boa-vista.ghtml.
• Teve apoio de alguém durante essa fase? Acesso em: 18 jul. 2022.
• Você considera que esse período trouxe algum prejuízo para a sua aprendizagem? d) Orientar os estudantes a
e) Em seguida, definam o local e o horário em que o questionário será aplicado. Estipulem, também, o organizarem o questionário.
número de pessoas que responderão às questões. Para auxiliar no momento da
f) Com o questionário respondido, chegou o momento de analisar e interpretar as respostas para a conclusão aplicação, as respostas poderão
da pesquisa. Discutam se a pergunta feita no item c pôde ser respondida. Caso o objetivo da pesquisa ser pré-definidas, com respostas
não tenha sido satisfatório, avaliem sobre o que contribuiu para esse resultado. fechadas como sim e não, com
g) Ao final, elaborem um relatório para apresentar o resultado da pesquisa aos colegas. exceção da primeira questão,
que é aberta.
PASSO 4 Apresentar e publicar Respostas pessoais. f) Essa etapa poderá ser rea-
lizada com toda a turma. Ao
h) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais e marquem a postagem com #jovensnahistória.
final dos trabalhos, haverá um
relatório único.
PASSO 5 Avaliar
i) Realizei as tarefas a que me propus?
j) Cumpri os prazos determinados?
Dica de leitura
k) Expressei minhas ideias com objetividade? Reportagem do Correio Bra-
l) Escutei meus colegas com atenção e respeito? ziliense sobre histórias de pes-
m) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes? soas que fizeram do trabalho
n) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento? voluntário uma prioridade de
vida.
333 • CALCAGNO, Luiz; LUZ, Jéssica.
Conheça histórias de pessoas
que dedicam a vida a ajudar o
18:31 Imagens em movimento
AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 333 30/06/22 16:54 próximo. Correio Braziliense.
Brasília, DF, 25 dez. 2017.
Vídeo no qual o filósofo Mario Sérgio Cortella explica o conceito de solidariedade.
Disponível em: https://
• PROF. MARIO Sergio Cortella fala sobre solidariedade. 2017. Vídeo (8min19s). Publicado pelo www.correiobraziliense.
canal COEP Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Yt2BLIeKtdE. Acesso com.br/app/noticia/
em: 10 jun. 2022. cidades/2017/12/25/interna_
cidadesdf,649770/conheca-
historias-de-pessoas-que-
dedicam-a-vida-a-ajudar-o-
proximo.shtml. Acesso em:
18 jul. 2022.
333

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 333 26/08/2022 19:16


CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o
Bibliografia imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia
ABULAFIA, David. O grande mar: uma história humana do das Letras, 2017.
Mediterrâneo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. O autor analisa os símbolos que ajudaram a construir a identi-
Livro que trata das atividades humanas em torno do mar dade nacional durante o período de constituição da República.
Mediterrâneo, de 3 500 a.C. até os dias atuais.
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de
AGGIO, Alberto. Socialismo legal. Revista de História da Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 8, n. 96, p. 36- das Letras, 1987.
40, set. 2013. O autor reconstrói, de forma original, a partir do imaginário
Artigo sobre a experiência do governo de Salvador Allende e do cotidiano político nacional, os impasses de uma repú-
no Chile. blica em surgimento.
ALBUQUERQUE, Wlamyra R.; FRAGA, Walter. Uma histó- CASTRO, Celso. A Proclamação da República. Rio de Ja-
ria da cultura afrobrasileira. São Paulo: Moderna, 2009. neiro: Zahar, 2000.
Livro que trata da formação da cultura afro-brasileira em O autor busca compreender os motivos que levaram à Pro-
seus diversos aspectos. clamação da República e retrata os principais personagens
que participaram desse processo histórico.
ALMOND, Mark. O livro de ouro das revoluções: mo-
vimentos políticos que mudaram o mundo. Rio de Janeiro: COMPARATO, Fábio Konder. A civilização capitalista:
Harper Collins, 2018. para compreender o mundo em que vivemos. São Paulo:
O autor analisa revoluções ao redor do mundo e a conexão Saraiva, 2014.
entre elas, de 1585 até o início do século XX. Obra que trata das diversas dimensões da formação e con-
solidação do capitalismo.
ALVES, Tiago João José. Quando ouvi falar de Stálin pela
primeira vez, pensei que fosse um encontro de fadas: Stá- COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: mo-
lin no imaginário dos comunistas brasileiros. Aedos, Porto mentos decisivos. 6. ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1999.
Alegre, n. 13, v. 5, p. 173-193, ago./dez. 2013. A autora analisa o processo que conduziu à República e de
Artigo sobre como a figura de Stálin era vista pelos comu- que maneira o novo sistema político manteve a exclusão de
nistas brasileiros. grande parcela da população.

AYERBE, Luís Fernando. A Revolução Cubana. São Paulo: D’ANGELIS, Wilmar. Contestado: a revolta dos sem-terra.
Editora da Unesp, 2004. São Paulo: FTD, 1991. (Cinco séculos de resistência).
Livro que trata do processo histórico da Revolução Cubana Livro que enfoca as características de luta pela posse da ter-
e suas diferentes facetas, e as razões que o tornaram um ra no Contestado
dos eventos mais importantes da Guerra Fria. D’ARAUJO, Maria Celina Soares. O Estado Novo. Rio de
BARBOSA, Alexandre de Freitas. O mundo globalizado: Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
política, sociedade e economia. São Paulo: Contexto, 2001. A autora faz um panorama do período ditadura do Estado
O autor se propõe a esclarecer distorções sobre a ideia de Novo.
globalização e mostrar que ela não é simplesmente econô- DARÓZ, Carlos. O Brasil na Primeira Guerra Mundial: a
mica, tendo consequências na política e na cultura. longa travessia. São Paulo: Contexto, 2017.
BARROS, Edgard Luiz de. A Guerra Fria. 2. ed. São Paulo: Especialista em História militar, o autor analisa a participa-
Atual; Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1985. ção do Brasil na Primeira Guerra Mundial.
(Discutindo a História). DEL PRIORE, Mary. Documentos de história do Brasil: de
A obra aborda as origens da Guerra Fria, as alianças e os con- Cabral aos anos 90. São Paulo: Scipione, 1997.
flitos deste contexto. A autora selecionou, apresentou e contextualizou 87 docu-
mentos históricos, do período colonial até o final do século XX.
BRENER, Jayme. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo:
Ática, 2000. (Retrospectiva do século XX). DOLHNIKOFF, Mirian. História do Brasil Império. São
O autor busca reconstituir o processo histórico que levou à Paulo: Contexto, 2017.
guerra, bem como as consequências do conflito. A autora investiga as rupturas e permanências do processo
de transformação da América portuguesa em nação inde-
CANÊDO, Letícia Bicalho. A descolonização da África e
pendente.
da Ásia. Atual; Campinas: Universidade Estadual de Cam-
pinas, 1985. (Discutindo a História). DOMINGUES, Petrônio. A nova abolição. São Paulo: Selo
O livro expõe o processo de ocupação colonial, as transfor- Negro, 2008.
mações sociais nas colônias e os processos de libertação. O livro trata da resistência dos afrodescendentes após a
abolição, destacando o papel da da imprensa negra paulis-
CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em cena: pro-
ta e a luta pela conquista da cidadania.
paganda política no varguismo e no peronismo. São Paulo:
Editora da Unesp, 2009. DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: uma mulher à
O livro mostra como o poder costuma utilizar meios espe- frente do seu tempo. Brasília, DF: Mercado Cultural, 2006.
taculares para marcar sua entrada na história, analisando os Livro com ensaio da pesquisadora Constância Duarte e tex-
casos do varguismo no Brasil e do peronismo na Argentina. tos autorais de Nísia Floresta.

334

AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 334 20/08/22 12:58 AV

334

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 334 26/08/2022 19:16


FAIRBANK, John King. China: uma nova história. Porto Ale- GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de Ja-
gre: L&PM, 2008. neiro: Nova Fronteira, 2006.
Estudo que faz um panorama da história da China, da pré- História do mundo bipolar surgido após a Segunda Guerra
-história ao início do século XXI. Mundial, considerando seus conflitos efetivos e a ameaça
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2015. de aniquilação global que o arsenal das duas grandes po-
Obra de referência sobre a história do Brasil, do período co- tências permitia imaginar.
lonial aos dias atuais. GARFIELD, Seth. As raízes de uma planta que hoje é o Bra-
FERRAZ, Francisco César. Os brasileiros e a Segunda sil: os índios e o Estado-Nação na era Vargas. Revista Bra-
Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. sileira de História, São Paulo, v. 20, n. 39, p. 15-42, 2000.
Obra que trata do contexto de entrada do Brasil na guerra e Análise da construção, durante o Estado Novo, de uma
as consequências desse evento. imagem de indígena brasileiro.
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). GILBERT, Martin. A história do século XX. São Paulo: Pla-
O tempo da Nova República: da transição democrática à neta, 2016.
crise política de 2016: Quinta República (1985-2016). Rio de Narrado ano a ano, aborda acontecimentos importantes do
Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. mundo no século XX.
Obra de referência, em 5 volumes, que aborda os principais
temas da história republicana brasileira, desde 1889. O 5o GIOVANELLA, Ligia et al (org.). Políticas e sistema de
volume trata do período que vai de 1930 até 2016. saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012.
Um livro sobre a saúde no Brasil e a consolidação do SUS
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O (Sistema Único de Saúde).
tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da
República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização GOMES, Angela de Castro. A última cartada. Revista Nossa
Brasileira, 2006. História, São Paulo, ano 1, n. 10, p. 14-19, ago. 2004.
Obra de referência, em 5 volumes, que aborda os principais Neste artigo convincente, a historiadora defende a tese de
temas da história republicana brasileira, desde 1889. O 1o que o suicídio de Vargas foi sua última, e bem-sucedida,
volume trata do período que vai de 1889 até 1930. cartada política.
FERREIRA, Jorge. Crises da República: 1954, 1955 e 1961. In: GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o Brasil: passado,
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). presente e futuro. São Paulo: Contexto, 2017.
O tempo da experiência democrática: da democratiza-
Obra de referência deste autor, que já presidiu a Funai, so-
ção de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de Janeiro:
bre os povos indígenas no Brasil.
Civilização Brasileira, 2003. (O Brasil republicano, v. 3).
Obra de referência, em 5 volumes, que aborda os principais GOODY, Jack. Renascimentos: um ou muitos? São Paulo:
temas da história republicana brasileira, desde 1889. O 2o Editoria da Unesp, 2011.
volume trata do período que vai de 1930 a 1945. Neste livro inovador, o pesquisador inglês Jack Goody ex-
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves põe suas conclusões sobre os muitos Renascimentos euro-
(org.). O tempo do nacional-estatismo: do início da dé- peus e a influência da Ásia nestas experiências.
cada de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro:
GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História mundial:
Civilização Brasileira, 2011.
jornadas do passado ao presente. Porto Alegre: Penso,
Obra de referência, em 5 volumes, que aborda os principais
2011.
temas da história republicana brasileira, desde 1889. O 3o
volume trata do período que vai de 1945 a 1964. A escolha para esta obra foi destacar temas centrais da expe-
riência humana, como migração, tecnologia, religião e famí-
FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo. São lia, por exemplo, para compor um amplo quadro histórico.
Paulo: Contexto, 2016.
Obra de referência que aborda os processos históricos des- HERNÁNDEZ, Jesús. Histórias curiosas da Segunda
de o suicídio de Vargas, em 1954, até os dias atuais. Guerra Mundial: os fatos mais singulares e surpreenden-
tes do conflito bélico que abalou a humanidade. São Paulo:
FIGUEIREDO, Luciano. História do Brasil para ocupados. Madras, 2014.
Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. Obra que enfoca aspectos mais cotidianos e menos conhe-
Livro que busca inovar na forma e no conteúdo, trazendo
cidos da Segunda Guerra Mundial.
textos que abordam a História do Brasil por meio de perso-
nagens que o autor considerou relevantes. HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à
FITZPATRICK, Sheila. A Revolução Russa. São Paulo: To- história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005.
davia, 2017. Um trabalho amplo sobre a África contemporânea, consi-
A autora australiana, especialista no tema, expõe nesta obra derando sua diversidade, experiências contestatórias e for-
as principais conclusões de seus vários anos de pesquisa. mação de estados nacionais.

FUNARI, Pedro Paulo; PIÑÓN, Ana. A temática indígena HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX
na escola: subsídios para os professores. São Paulo: Con- (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
texto, 2014. Obra de referência do historiador inglês que analisa o sé-
Orientações e propostas para o estudo da temática indíge- culo XX desde o início da Primeira Guerra Mundial até a
na na escola. dissolução da União Soviética.

335

12:58 AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 335 20/08/22 12:58

335

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 335 26/08/2022 19:16


HORSLEY, William. Fifty years of fraternal rivalry. BBC News, PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo:
[s. l.], 19 mar. 2007. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/2/ Paz e Terra, 2007.
hi/europe/6453889.stm. Acesso em: 21 mar. 2022. O autor examina o fascismo em ação, considerando suas
Reportagem sobre as rivalidades entre rivalidades e alianças características reais e as preocupantes possibilidades de ma-
entre países europeus. nifestação contemporânea deste fenômeno.
LEMOS, Renato (org.). Uma história do Brasil através da PINSKY, Carla Bassanezi. Mulheres dos Anos Dourados.
caricatura. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2001. São Paulo: Contexto, 2014.
Nesta obra, o aprendizado da história é ilustrado por cari- No período de 1945 a 1964, alguns padrões estabeleci-
caturas que revelam contradições e experiências marcantes dos para o comportamento das mulheres começaram a ser
do Brasil. questionados. Este livro analisa mudanças e permanências
MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. São legadas por esta época.
Paulo: Contexto, 2006.
PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana M. (org.). Nova his-
Livro analisa quinze momentos, desde a antiguidade até
tória das mulheres. São Paulo: Contexto, 2012.
dias recentes, nos quais a guerra ocupou o espaço central
Livro de referência sobre a história das mulheres das mulhe-
da política.
res no Brasil dos séculos XX e XXI.
MARQUES, Adhemar; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo.
História Contemporânea através de textos. São Paulo: SCHWARCZ, Lilia Moritz (dir.). História do Brasil nação:
Contexto, 1994. 1808-2010. Madrid: Fundación Mapfre: Objetiva, 2012.
Fontes históricas relevantes para a compreensão do mundo Coleção composta por seis volumes na qual especialistas
contemporâneo. em vários temas e períodos históricos montam um painel
amplo da História do Brasil.
M’BOKOLO, Elikia. África negra: história e civilizações. São
Paulo: Casa das Áfricas, 2011. SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio. Dicionário da
Obra do pesquisador congolês Elikia M’bokolo, em dois to- escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Le-
mos na edição brasileira, que faz um amplo panorama da tras, 2018.
história africana. Reunião de verbetes essenciais para se compreender a es-
cravidão no Brasil e suas consequências até os dias de hoje.
MORAES, Luís Edmundo. História contemporânea: da
Revolução Francesa à Primeira Guerra Mundial. São Paulo: SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus
Contexto, 2017. filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012.
Neste livro, são narrados acontecimentos e mudanças im- A diversidade do continente africano e suas relações com o
portantes na Europa do período que se inicia com a Revo- Brasil são postas em foco pelo autor, referência nos estudos
lução Francesa até a primeira grande guerra do século XX. culturais sobre a África.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá (org.). Ditaduras militares: Bra- SILVA, Jessicka Dayane Ferreira da. A narrativa da histó-
sil, Argentina, Chile e Uruguai. Belo Horizonte: Editora da
ria escolar e a produção de sentidos: discursos sobre
UFMG, 2015.
mulheres em livros didáticos. 2017. Dissertação (Mestrado
A obra reúne estudos analíticos e comparativos sobre expe-
em História Social da Cultura) – Programa de Pós-Gradua-
riências ditatoriais na América do Sul.
ção em História Social da Cultura, Pontifícia Universidade
MUNANGA, Kabengele; SERRANO, Carlos. A revolta dos Católica, Rio de Janeiro, 2017.
colonizados: o processo de descolonização e as indepen- Estudo sobre a presença das mulheres em livros escolares.
dências da África e da Ásia. São Paulo: Atual, 1995.
Obra bastante rigorosa e acessível sobre os processos de des- SOUSA, Cláudio Barbosa. Marinheiros em luta: a Revolta
colonização e independência na África e Ásia do século XX. da Chibata e suas representações. 2012. Dissertação (Mes-
trado em Ciências Sociais) – Instituto de Ciências Sociais,
NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar bra- Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2012.
sileiro. São Paulo: Contexto, 2014. Estudo sobre as representações dos marinheiros revoltosos
História do período que compreende o golpe civil-militar de de 1910.
1964 até a redemocratização do país nos anos 1980.
TREVISAN, Claudia. Os chineses. São Paulo: Contexto,
NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massi-
2009.
ficação (1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001.
As características da China e sua população são trabalhadas
Um retrato abrangente da vida cultural brasileira entre 1950
nesta obra em seus aspectos culturais, políticos e econômicos.
e 1980.
NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil República: da TRINDADE, José Damião de Lima. História social dos di-
queda da Monarquia ao fim do Estado Novo. São Paulo: reitos humanos. São Paulo: Peirópolis, 2002.
Contexto, 2016. Obra que analisa processos históricos em diferentes países e
O historiador narra a história republicana desde 1889 ao que apresenta a noção de direitos humanos como resulta-
fim do Estado Novo em 1945. do de embates políticos, econômicos e sociais.
OLIVEIRA, Lucia Lippi. O Brasil dos imigrantes. Rio de Ja- VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil imperial
neiro: Jorge Zahar, 2001. (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
Estudo sobre a cultura brasileira e as interações com as cul- Livro de referência com verbetes essenciais para o estudo
turas de imigrantes vindos ao Brasil nos séculos XIX e XX. do período imperial no Brasil.

336

AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-LA-G24.indd 336 20/08/22 12:58

336

305a336_HIS-F2-2111-V9-U4-C14-MP.indd 336 26/08/2022 19:16


9

História

ISBN 978-85-96-03556-9

9 788596 035569

D1_PNLD24_2111_CAPA_Hist_Boulos_V9_MP.indd 1 15/08/22 14:21

Você também pode gostar