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História

COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA


9
ALFREDO BOULOS JÚNIOR
Doutor em Educação (área de concentração: História da Educação)
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Mestre em Ciências (área de concentração: História Social) pela Universidade de São Paulo.
Lecionou nas redes pública e particular e em cursinhos pré-vestibulares.
É autor de coleções paradidáticas.
Assessorou a diretoria técnica da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – São Paulo.

1a edição
São Paulo ∙ 2022

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História Sociedade & Cidadania
História – 9o ano (Ensino Fundamental – Anos Finais)
Copyright © Alfredo Boulos Júnior, 2022

Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira


Direção de conteúdo e negócios Cayube Galas
Direção editorial adjunta Luiz Tonolli
Gerência editorial Roberto Henrique Lopes da Silva
Edição João Carlos Ribeiro Junior (coord.), André Amano, Barbara Berges, Beatriz Montagnoli,
Carolina Bussolaro Marciano, Maiza Garcia Barrientos Agunzi, Simone Alves dos Santos
Assessoria Adriana Carneiro Marinho, Layza Real
Preparação e revisão de textos Maria Clara de Oliveira Paes (coord.), Carolina Machado,
Beatriz Spinelli Gobbes, Fernanda Rodrigues, Kelly Rodrigues, Thalita Martins Milczvski
Gerente de produção e arte Ricardo Borges
Design Andréa Dellamagna (coord.), Sergio Cândido
Projeto de capa Andréa Dellamagna
Foto de capa Paula Montenegro/iStock/Getty Images
Arte e produção Vinicius Fernandes dos Santos (coord.), André Gomes Vitale, Jacqueline Nataly Ortolan (assist.)
Diagramação Estúdio Lótus
Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga
Licenciamento de textos Erica Brambila
Iconografia Jonathan Santos, Emerson de Lima (trat. imagens)
Ilustrações Manzi
Cartografia Allmaps, Maps World, Selma Caparroz, Renato Bassani, Sonia Vaz

Imagem de capa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Boulos Júnior, Alfredo
   História sociedade & cidadania : 9o ano : ensino
fundamental : anos finais / Alfredo Boulos Júnior. --
1. ed. -- São Paulo : FTD, 2022.
  
   Componente curricular: História.
   ISBN 978-85-96-03555-2 (aluno)
   ISBN 978-85-96-03556-9 (professor)

   1. História (Ensino fundamental) I. Título.

22-115040 CDD-372.89
Índices para catálogo sistemático:
1. História : Ensino fundamental 372.89
Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, Patrimônio
Cultural Imaterial. Olinda, Pernambuco, 07/2018. Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

Em respeito ao meio ambiente, as folhas


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de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à obtidas de árvores de florestas plantadas,
com origem certificada.
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APRESENTAÇÃO
Caro aluno, cara aluna,

Quero lhe dizer algo que para mim é importante e, por isso, gostaria que você
soubesse: para que este livro chegasse às suas mãos, foram necessários o tra-
balho e a dedicação de muitas pessoas: os profissionais do mundo do livro.
O autor é um deles. Sua tarefa é pesquisar e escrever o texto e as atividades,
além de sugerir as imagens que ele gostaria que entrassem no livro. A essas pági-
nas produzidas pelo autor damos o nome de originais.
O editor e seus assistentes leem e avaliam os originais. Em seguida, solicitam ao
autor que melhore ou corrija o que é preciso no texto. Por vezes, pedem ao autor que
refaça uma ou outra parte. Daí entram em cena outros trabalhadores do mundo do
livro: os profissionais da Iconografia, da Arte, da Revisão, do Jurídico, entre outros.
Os profissionais da Iconografia pesquisam, selecionam, tratam e negociam
as imagens (fotografias, desenhos, gravuras, pinturas etc.) que serão aplicadas
no livro. Algumas dessas imagens são os mapas, elaborados por especialistas, os
cartógrafos, e desenhos baseados em pesquisas históricas, feitos por profissionais
denominados ilustradores.
Os profissionais da Arte criam um projeto gráfico (planejamento visual da obra),
preparam e tratam as imagens e diagramam o livro, isto é, distribuem textos e
imagens pelas páginas para que a leitura se torne mais compreensível e agradável.
Os profissionais da Preparação e Revisão corrigem palavras e frases, ajustam
e padronizam o texto.
A equipe do Jurídico solicita a autorização legal para o uso de textos de outros
autores e das imagens que irão compor o livro.
Todo esse trabalho é acompanhado pela Diretoria e Gerência Editorial.
Em seguida, esse material todo, que é um arquivo digital, segue para a gráfica,
onde é transformado em livro por técnicos especializados do setor Gráfico. Depois
de pronto, o livro chega às mãos dos consultores comerciais e educacionais, que
o apresenta aos professores, profissionais que dão vida ao livro, objeto ao mesmo
tempo material e cultural.
Meu muito obrigado, do fundo do coração, a todos esses profissionais, sem os
quais esta Coleção não existiria! Por fim, agradeço à minha equipe e, também, a
você, leitor, motivo de nossa existência.
O autor

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SUMÁRIO
UNIDADE 1 Os indígenas na República....................................... 49
Estado brasileiro, povos indígenas
REPÚBLICA E CIDADANIA........................................8 e o marechal Rondon............................................... 49
O movimento operário................................................ 50
CAPÍTULO 1 Ideologias do movimento operário....................... 50
A proclamação da República A luta pelas 8 horas.....................................................51
A greve de 1917..............................................................51
e seus desdobramentos...............................................10
O modernismo................................................................. 53
O processo que conduziu à República................11 Atividades.............................................................................. 55
A Questão religiosa......................................................12
A Questão militar..........................................................13 CAPÍTULO 3
A Proclamação da República...................................15
A Era Vargas........................................................................ 59
Governo Deodoro da Fonseca..................................15
Governo Floriano Peixoto...........................................18 O tenentismo antes de 1930................................... 60
Os negros no pós-Abolição...................................... 20 O primeiro 5 de Julho................................................. 60
Associativismo negro..................................................21 O segundo 5 de Julho..................................................61
Imprensa negra............................................................ 22 A Coluna Prestes...........................................................61
Atividades.............................................................................. 23 1930: um marco na história do Brasil.............. 62
O primeiro governo Vargas...................................... 63
CAPÍTULO 2 Governo provisório...................................................... 64
Primeira República: dominação A oposição paulista..................................................... 64
e resistência.........................................................................27 Movimento de mulheres.............................................67
A pesquisadora paulista Bertha Lutz.................. 68
Oligarquias no poder................................................... 28 A escritora catarinense Antonieta de Barros........ 68
O coronelismo............................................................... 28
Frente Negra Brasileira............................................. 69
A política dos governadores.................................... 29
Os indígenas na Era Vargas.....................................70
Café com leite ou café com política?.................. 30
O café continuou na frente.......................................31 O governo constitucional de Vargas...................73
A borracha da Amazônia........................................... 33 Os integralistas..............................................................73
Cacau............................................................................... 34 Os aliancistas.................................................................74
A diversificação econômica.................................... 34 O Estado Novo..................................................................75
Indústria e operários na O trabalhismo.................................................................76
O DIP e a propaganda varguista..............................78
Primeira República.................................................... 35
Economia: indústria e agricultura......................... 80
Modernização e urbanização.................................. 36
O fim do Estado Novo e o “queremismo”.............81
Imigrantes no Brasil.................................................... 38
Debate sobre diversidade......................................... 39 Atividades................................................................... 82
Contestações e dinâmicas da vida #JovensnaHistória.............................................. 86
cultural na Primeira República....................41
A Guerra de Canudos............................................41
A Guerra do Contestado.....................................43
ALINARI ARCHIVES, FLORENCE/

A Revolta da Vacina.............................................46
BRIDGEMAN/FOTOARENA

A Revolta da Chibata...........................................48

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UNIDADE 2 CAPÍTULO 6
A grande depressão,
GUERRA, PROPAGANDA o fascismo e o nazismo............................................. 125
E POLÍTICA DE MASSAS......................................... 88 Os “anos felizes”.......................................................... 126
CAPÍTULO 4 A Grande Depressão...................................................127
A quebra da bolsa de valores.................................127
A Primeira Guerra Mundial....................................... 90 Razões da Grande Depressão............................... 128
Rivalidades imperialistas.........................................91 Desdobramentos da Grande Depressão........... 129
A luta dos sérvios pela “Grande Sérvia”............. 92 O New Deal........................................................................131
A paz armada................................................................... 93 A ascensão dos fascismos..................................... 132
A gota-d'água................................................................ 93 O fascismo italiano................................................... 132
As fases da guerra...................................................... 93 O nazismo na Alemanha.......................................... 135
A entrada dos EUA e a saída da Rússia.............. 96 A ascensão dos nazistas........................................ 136
O saldo trágico da Primeira Guerra.................... 98 Hitler no poder............................................................ 136
A paz dos vencedores................................................ 99 Atividades............................................................................ 139
Atividades............................................................................ 102
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 5 A Segunda Guerra Mundial..................................... 143
A Revolução Russa....................................................... 109 Céu de nuvens carregadas.................................... 144
A Rússia czarista..........................................................110 O imperialismo japonês........................................... 144
A modernização e a indústria................................ 111 O expansionismo italiano....................................... 144
O socialismo.................................................................... 111 O nazismo alemão mostra suas garras............ 145
O socialismo na Rússia.............................................112 A ofensiva nazista na Europa............................... 146
O processo revolucionário......................................115 A resistência soviética ao nazismo.................... 148
O governo provisório..................................................115 A guerra no Oriente.................................................... 149
O governo bolchevique de Vladimir Lênin.........116 A ofensiva dos Aliados............................................. 152
A formação da URSS................................................. 117 O Dia D na França e a derrota da Alemanha........153
A disputa entre Stalin e Trotsky............................118 Bombas sobre o Japão............................................ 153
A ditadura stalinista..................................................119 O Holocausto.................................................................. 154
Desdobramentos da Revolução Russa............. 120 Atividades...................................................................... 156

SHUTTERSTOCK.COM
Atividades.............................................................................121 #JovensnaHistória................................................. 160

MARCO RUBINO/

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CAPÍTULO 10
Nacionalismos africano e asiático................... 193
Independências............................................................ 194
UNIDADE 3 Razões da independência....................................... 194
Ásia.......................................................................................197
Índia.................................................................................197
O MUNDO NA GUERRA FRIA.............................. 162
África.................................................................................. 199
CAPÍTULO 8 Congo............................................................................. 199
Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.................200
A Guerra Fria..................................................................... 164 A Revolução dos Cravos.......................................... 201
O mundo dividido......................................................... 165 A luta contra o apartheid na África do Sul........202
Encontros entre os vencedores.......................... 166 Atividades............................................................................204
A Organização das Nações Unidas......................167
A Declaração Universal CAPÍTULO 11
dos Direitos Humanos............................................170 Brasil: uma experiência
Um mundo bipolarizado........................................... 171 democrática (1945 a 1964)...................................209
O Plano Marshall e o Bloqueio de Berlim............172 Governo Dutra................................................................211
Otan versus Pacto de Varsóvia..............................174 A Constituição de 1946............................................211
Perseguições e crimes As eleições de 1950................................................... 212
contra a humanidade.............................................175 O segundo governo Vargas.................................... 212
A corrida armamentista e a espacial..................176 Trabalhismo e radicalização política.................. 213
Atividades.............................................................................178 O suicídio de Vargas.................................................. 214
Lott garante a posse de JK.................................... 214
CAPÍTULO 9 Governo Juscelino: “50 anos em 5”.................... 215
Revoluções socialistas: China e Cuba............181 Brasília: a metassíntese......................................... 216
Crescimento industrial e
Dominação e resistência........................................ 182 desigualdades regionais.........................................217
O fim do Império e a proclamação Governo Jânio Quadros............................................ 218
da República na China.......................................... 183 A política externa independente.......................... 219
A República Popular da China............................. 183 A renúncia de Jânio.................................................. 219
O governo de Mao Tsé-Tung................................... 184 Governo João Goulart...............................................220
A Revolução Cubana.................................................. 186 O golpe civil-militar de 1964..................................224
A oposição à ditadura de Batista........................ 186 Atividades............................................................................225
Fidel chega ao poder.................................................187
A crise dos mísseis....................................................187 CAPÍTULO 12
Atividades............................................................................ 189 Ditaduras na América Latina...............................229
A Doutrina de Segurança Nacional...................230
Ditadura civil-militar no Brasil........................... 231
O governo Castelo Branco......................................232
A linha-dura no poder...............................................235
Os anos de chumbo....................................................239
Governo Médici (1969-1974)..................................239
HUNG CHUNG CHIH/SHUTTERSTOCK.COM

Governo Geisel: abertura lenta,


gradativa e segura.................................................245
O caso do Chile..............................................................248
O governo de Allende (1970-1973).......................248
A ditadura do general Pinochet (1973-1990).....249
Comparação entre Brasil e Chile
quanto à política econômica.............................. 251
A ditadura na Argentina (1976-1983)............. 251
O peronismo no poder.............................................. 251
Estado de terror e resistência..............................252
Motivações e impactos das políticas
adotadas na América Latina............................. 254
Atividades......................................................................256
#JovensnaHistória.................................................262

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UNIDADE 4 CAPÍTULO 14
Fim da Guerra Fria e globalização....................305
O MUNDO CONTEMPORÂNEO...........................264 Gorbachev: reconstrução e transparência.....306
Reformas de Gorbachev.........................................307
CAPÍTULO 13
A extinção da URSS e a formação da CEI.....308
Brasil contemporâneo...............................................266 Democratização no Leste Europeu.....................308
Governo João Figueiredo........................................267 Globalização...................................................................309
O protagonismo da sociedade brasileira............268 Efeitos da globalização sobre o emprego........ 310
Governo José Sarney.................................................270 Protestos contra a globalização.......................... 312
A Constituição Federal de 1988.........................272 Conflitos e tensões no mundo atual................ 314
Lutas e conquistas indígenas...............................273 A Questão Palestina................................................. 314
O plano de partilha da ONU e Estado de Israel.... 315
Eleições de 1989.......................................................... 274
O ataque às torres gêmeas....................................320
Governo Collor............................................................... 274
Levantes populares na África
A luta pela ética na política...................................275
e no Oriente Médio....................................................322
Governo Itamar Franco............................................276 Egito e Síria: retrocesso e violência...................323
O Plano Real.................................................................276
Seis grandes desafios..............................................324
Governo Fernando Henrique................................. 277 Atividades......................................................................328
O segundo mandato de FHC..................................279 #JovensnaHistória.................................................332
Educação, gasto público e Saúde.......................280
Governo Lula..................................................................282 Bibliografia......................................................................334
Programa Bolsa Família..........................................283
Política econômica...................................................284
O segundo governo Lula..........................................285
O Brasil amplia sua visibilidade externa...........286
Governo Dilma Rousseff.........................................288
As manifestações de 2013:
a voz das ruas..........................................................289
Operação Lava Jato e eleições presidenciais.......290

RICKI ROSEN
Reeleição de Dilma.....................................................290
O impeachment de Dilma........................................ 291
Governo Michel Temer...............................................293
Governo Jair Bolsonaro...........................................294
Na economia, privatizações e cortes
de gastos não viram realidade..........................296
A reforma na Previdência.......................................296
Desemprego, um dos maiores desafios
do governo Bolsonaro em 2022........................297
Letramento digital e trabalho durante
a pandemia................................................................297
Atividades......................................................................299

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UNIDADE

1 REPÚBLICA
E CIDADANIA
ACERVO ARQUIVO NACIONAL, RIO DE JANEIRO

Na imagem, vemos as quinze primeiras eleitoras do Brasil, todas de Natal (RN), 1928.

Censitário: direito Com a Proclamação da República, em 1889, a maior parte da população


ao voto dependia da continuou excluída do direito ao voto. O voto deixou de ser censitário,
renda do eleitor. como era nos tempos da Monarquia, mas continuou restrito a uma minoria.
A primeira constituição republicana, de 1891, dizia que só tinham direito
de votar os cidadãos maiores de 21 anos que fossem alfabetizados. Apenas
isto. As mulheres não foram citadas; nem incluídas, nem excluídas. A
questão ficava em aberto.

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As mulheres votaram pela primeira vez no Rio Grande do Norte, em 1926, mas não tiveram seus votos compu-
tados. As mulheres só votaram e tiveram seus votos computados em 1933, ou seja, 44 anos após a Proclamação
da República no Brasil. A ausência de mulheres eleitoras ajuda a explicar o pequeno número de votantes durante
os 41 anos de duração da Primeira República (1889-1930).
Observe a tabela.

Brasil: eleições presidenciais (1894-1930)


No de votantes Votantes sobre Votos do vencedor sobre
Candidato vencedor
(mil) a população (%) total de votantes (%)
Prudente de Morais (1894) 345 2,2 84,3

Campos Sales (1898) 462 2,7 90,9

Rodrigues Alves (1902) 645 3,4 91,7

Afonso Pena (1906) 294 1,4 97,9

Hermes da Fonseca (1910) 698 3,0 57,9

Venceslau Brás (1914) 580 2,4 91,6

Rodrigues Alves (1918) 390 1,5 99,1

Epitácio Pessoa (1919) 403 1,5 71,0

Artur Bernardes (1922) 833 2,9 56,0

Washington Luís (1926) 702 2,3 98,0

Júlio Prestes (1930) 1 890 5,6 57,7


Fonte: CARVALHO, José Murilo de. Os três povos da República. Revista USP, São Paulo, n. 59, p. 96-115, 2003. p. 104.

Considerando que o direito de votar e ser votado é essencial ao exercício da ci-


dadania, responda oralmente:
1. Em que ano a porcentagem de votantes foi menor?
2. Em que ano essa porcentagem foi maior?
3. O caminho da construção da cidadania no Brasil republicano foi fácil ou difícil?
Rápido ou demorado?
4. Para o historiador José Murilo de Carvalho, a Proclamação da República, em
1889, desconsiderou a ampliação da cidadania. E hoje, as cidadãs e cidadãos
brasileiros conquistaram a cidadania plena?

RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK.COM

CIDADANIA
9

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CAPÍTULO

1 A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
E SEUS DESDOBRAMENTOS

Observe a cena com atenção.


A alegoria é um modo de expressão ou interpretação que consiste em representar
pensamentos, ideias, qualidades sob forma figurada. Na obra ao lado, a imagem da mulher
representa a República.
1. Como esta mulher-república
COLEÇÃO PARTICULAR

está vestida?
2. O que ela tem nas mãos?
3. O que está sob os pés dela?
4. O que essa representação
sugere a você?
5. Que outro título você daria
a essa obra?

Alegoria da República,
de Frederico Antônio Steckel,
1898.

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O processo que conduziu
à República
Na segunda metade do século XIX, um processo histórico impor- República: forma
de governo em que
tante foi o que conduziu à implantação da República no Brasil.
o Presidente é eleito
A ideia de República não era nova no país; antes e depois pelos cidadãos, ou
da Independência, o território brasileiro foi palco de várias rebe- seus representantes,
e governa por tempo
liões republicanas, a exemplo da Cabanagem (1835-1840), no limitado. Na república,
Grão-Pará, e da Farroupilha (1835-1845), no Rio Grande do Sul e o dirigente representa o
em Santa Catarina. Mas a Monarquia conseguiu reprimir esses conjunto da população
e é o responsável
movimentos, em parte, devido aos recursos obtidos com as expor- pela “coisa pública”
tações de café. (res pública).
No Segundo Reinado, os dois principais partidos, o Liberal e Monarquia: forma
de governo em que,
o Conservador, controlavam o poder enquanto a imensa maioria
geralmente, o rei recebe
da população continuava excluída do direito à cidadania. Com o o cargo como herança
objetivo de ampliar seu espaço na política, um grupo formado por e governa por toda a
vida. Na monarquia, o
fazendeiros e por profissionais liberais (advogados, médicos, pro- soberano é tido como
fessores, engenheiros, jornalistas) lançou, em 1870, o Manifesto alguém que sabe o
Republicano,, que defendia o federalismo e a república.. O que é melhor para seus
súditos e, por vezes,
Manifesto afirmava: “Somos da América e queremos ser america- a legitimidade de seu
nos”; ou seja, somos favoráveis a que o Brasil adote a república, poder deriva de uma
assim como os demais países da América. Esse manifesto inspirou divindade.
Federalismo: autonomia
o surgimento de diversos jornais, clubes e partidos republicanos.
para as províncias
Três anos depois de seu lançamento, foi fundado em Itu, interior ou estados fazerem
paulista, o Partido Republicano Paulista (PRP). suas próprias leis,
elegerem seus próprios
representantes e,
MUSEU REPUBLICANO DE ITU, SÃO PAULO

principalmente, disporem
de recursos para a sua
própria manutenção.

A Convenção de Itu,
de Jonas de Barros,
1921. Nessa reunião
foi fundado o Partido
Republicano Paulista
(PRP), em 1873. Dos
133 fundadores do
PRP, 78 eram grandes
cafeicultores.

11

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O movimento republicano daquela época estava dividido em
# DICA! três grupos; um deles era liderado pelo jornalista Quintino Bocaiuva,
que propunha chegar à República por via eleitoral (por meio da
Matéria sobre o
caricaturista que eleição de um grande número de deputados republicanos). Outro
retratou o Brasil dos grupo, liderado pelo advogado Antônio da Silva Jardim, defendia a
séculos XIX e XX.
passagem para a República por meio de um movimento popular. E
ANGELO Agostini. 2014.
Vídeo (10min46s). um terceiro grupo, formado em torno do major Benjamin Constant,
Publicado pelo canal TV importante líder militar, defendia a instalação de uma república
Senado. Disponível em:
https://youtu.be/pmi- com um governo forte.
PQzL7Ig. Acesso em: Durante o processo que conduziu à República no Brasil, duas
28 maio 2022.
questões colocaram o imperador D. Pedro II em conflito com a Igreja
e o Exército. Elas contribuíram para acelerar a queda do Império.

A Questão religiosa
Com a Constituição de 1824, o Império passou a controlar a
Bula papal: carta Igreja por meio do beneplácito e do padroado. O beneplácito era o
expedida pelo papa direito que o imperador tinha de aprovar ou não as bulas do papa
contendo orientações em terras brasileiras. Ou seja, uma orientação do papa só entraria em
aos católicos.
vigor no Brasil se tivesse a concordância do imperador. O padroado
era o direito que o imperador tinha de nomear
ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

os bispos. Estes, além de serem nomeados, eram


também remunerados pelo governo, como qual-
quer outro funcionário público.
Em 1864, o papa Pio IX proibiu os católi-
cos de fazerem parte da maçonaria. D. Pedro II,
porém, não deu seu beneplácito à bula papal,
pois ele mantinha relações estreitas com a
maçonaria. Seu pai, D. Pedro I, havia ocupado o
posto máximo dessa organização. Já o bispo de
Olinda, D. Vital de Oliveira, e o bispo de Belém
do Pará, D. Antônio de Macedo Costa, optaram
por obedecer ao papa e exigiram que as irman-
dades religiosas expulsassem seus membros
maçons.

Fac-símile da capa da Revista Illustrada, 1876.


Nessa caricatura da época, feita por Angelo
Agostini, o bispo D. Vital é mostrado tentando
impedir um padre de realizar o casamento.

12

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Reagindo a isso e com base na Constituição brasileira, D. Pedro II abriu uma ação
contra os bispos, que foram julgados e condenados a quatro anos de prisão. Um ano
depois, D. Pedro II entrou em acordo com o papa e suspendeu a punição dada aos bispos,
que já tinham cumprido um ano de prisão.
Mas os republicanos aproveitaram-se da Questão religiosa para acusar o imperador
de se intrometer em assuntos da Igreja e de não dar liberdade religiosa aos brasileiros.
Esse fato contribuiu para enfraquecer a Monarquia.
Nos anos 1880, o movimento republicano ganhou força; centenas de clubes e dezenas
de jornais republicanos foram fundados por todo o país; os comícios de Silva Jardim atraíam
um número cada vez maior de pessoas. Foi quando a Questão militar acelerou ainda
mais o processo que conduziu à República.

A Questão militar
Questão militar é o nome dado a uma série de atritos entre o Mocidade militar:
Exército e o governo do Império. A principal razão desses conflitos jovens estudantes
de escolas militares,
foi a punição do tenente-coronel Sena Madureira e do coronel não necessariamente
Cunha Matos. Esses oficiais foram punidos por denunciar casos de graduados, que
corrupção pela imprensa e por se manifestar publicamente a favor valorizavam o estudo das
ciências exatas.
da Abolição. O marechal Deodoro da Fonseca se negou a punir
Sena Madureira e, por isso, foi demitido do cargo de
ACERVO ARQUIVO NACIONAL, RIO DE JANEIRO

comandante de armas e presidente da província do Rio


Grande do Sul. Deodoro e Sena Madureira decidiram,
então, viajar para o Rio de Janeiro, onde foram recebidos
festivamente por outros oficiais. Entre eles estava o major
Benjamin Constant, líder da mocidade militar.
militar.
No dia 9 de novembro de 1889, o major Constant
discursou no Clube Militar, pedindo poderes para mudar
a situação dos militares, e recebeu total apoio da moci-
dade militar ali presente.

Benjamin Constant era um professor de Matemática respeitado e


muito querido pelos alunos da Escola Militar. O major era também
abolicionista e convenceu Deodoro a seguir seus passos. Em
1887, o Clube Militar comunicava à nação: “O Exército não
perseguirá mais escravos fugidos!”. Fotografia de 1889.

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PARA SABER MAIS
Positivismo
O positivismo é um conjunto de ideias sistematizado pelo francês Auguste Comte.
No Brasil, o major Benjamin Constant foi um grande divulgador dessas ideias entre os
jovens oficiais.
O positivismo é uma teoria que manifesta uma crença radical na ciência e na
razão. Segundo essa teoria, a história das sociedades humanas é regida por leis
imutáveis, científicas ou positivas, sendo a evolução a principal delas. A descoberta
dessas leis, por meio de métodos científicos, possibilitaria a compreensão e a solução
de problemas sociais. Apesar das diferenças entre os positivistas, todos eles eram
contrários à escravidão e favoráveis à república, pois este seria um regime mais
“científico” do que a monarquia. Proclamar a República era, então, uma forma de
acelerar o progresso do país.
No Brasil, os positivistas defendiam: a implantação de uma ditadura republicana;
a ideia de que o progresso depende da ordem; a crença de que somente os militares
poderiam salvar o país das mãos corruptas dos civis.
Enfim, defendiam a necessidade de uma república com um governo forte, cujo lema
fosse “Ordem e Progresso”.
ÓLEO SOBRE TELA, 278 CM X 190 CM. MUSEU DA REPÚBLICA, RIO DE JANEIRO

Dialogando
a O que esta
pintura retrata?
b Quem ou o
que a pintura
homenageia?
c Como as crianças
são mostradas na
pintura? O que
isso sugere?
d Como a bandeira
é mostrada na
cena?
e Há um retrato
A pátria, de Pedro Bruno, 1919. Note que a bandeira republicana, elemento de Tiradentes
central do quadro, é mostrada como objeto de amor e devoção: ela é na parede; o
abraçada, ela protege, ela abriga seus filhos. Auguste Comte, o idealizador que isso pode
do positivismo, acreditava que só a ordem poderia conduzir ao progresso. significar?

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A Proclamação da República

ÓLEO SOBRE TELA, 230 CM X 120 CM. MUSEU DE ARTE DA BAHIA, SALVADOR
Com a Lei Áurea, em 1888, a insatisfação com
a Monarquia aumentou; muitos fazendeiros do
Vale do Paraíba e do Nordeste sentiram-se traídos
por terem sido obrigados a libertar seus escravos
sem receber nada em troca. Os fazendeiros do
Oeste Paulista, por sua vez, tinham ingressado no
Partido Republicano Paulista. As camadas médias
pleiteavam maior participação política. Os militares,
depois de punidos pelo governo de D. Pedro II,
aproximaram-se dos ideais republicanos. Nesse
clima de grande insatisfação, o marechal Deodoro
da Fonseca encontrou-se com um líder republicano,
Quintino Bocaiuva, e, juntos, combinaram a derru-
bada da Monarquia. Em 15 de novembro de 1889, o
golpe foi dado: Deodoro da Fonseca e seus soldados A República, de Manoel Lopes
Rodrigues, 1896. Nesse quadro,
depuseram D. Pedro II, pondo fim à Monarquia e a República está representada como
dando início à República no Brasil. uma mulher com os louros da vitória.

PRACHAYA ROEKDEETHAWEESAB/SHUTTERSTOCK.COM
Governo Deodoro
da Fonseca
Os dois primeiros presidentes do Brasil
foram militares e governaram entre 1889
e 1894, por isso esse período é conhecido
como República da Espada.. O primeiro
presidente militar do Brasil foi o marechal
Deodoro da Fonseca, que é lembrado
Detalhe de cédula de 1986 que traz a imagem
pela reforma financeira e pela aprovação de Rui Barbosa, baseada na pintura de Lucílio
da primeira Constituição da República. Albuquerque, de 1916. A crise da reforma
financeira de Rui Barbosa foi apelidada por
seus adversários de encilhamento. Duramente
A reforma e a crise financeira criticado, Rui Barbosa deixou o cargo.

Com o objetivo de expandir o crédito


Encilhar: colocar arreios no cavalo, preparando-o para a
para conceder empréstimos àqueles que
corrida. No jóquei, os guichês de apostas ficavam ao lado do
desejassem abrir uma empresa, o então local onde os cavalos eram encilhados. E a barulheira que se
ministro da Fazenda, Rui Barbosa, auto- ouvia nesse local era idêntica à que acontecia na Bolsa de
Valores. Por isso, a crise foi apelidada de “encilhamento”.
rizou quatro bancos a emitirem dinheiro.

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Especulação: prática que Essa reforma financeira, porém, não teve o sucesso espe-
consiste em criar uma
rado; muitos usavam o dinheiro emprestado para fundar empresas
procura ou oferta artificial
fantasmas (que só existiam no papel). Em seguida, mandavam
de um bem ou mercadoria,
visando obter lucro com o
imprimir ações dessas falsas empresas e vendiam-nas na Bolsa de
comportamento futuro do
mercado.
Valores.. Passando de mão em mão, as ações subiam de preço e
enriqueciam os que praticavam a especulação
especulação..
No entanto, quando os acionistas percebiam que tinham investido em empresas fan-
tasmas, corriam para vender suas ações e aí descobriam que o que tinham nas mãos era
um “maço de papel” sem nenhum valor. Resultado: os preços das ações despencaram,
os pequenos investidores perderam seu dinheiro para os especuladores e muitas firmas
antigas faliram. O aumento do dinheiro em circulação sem um crescimento proporcional da
produção de mercadorias provocou também uma alta generalizada dos preços (inflação).

PARA SABER MAIS


DRSERG/SHUTTERSTOCK.COM

TEXTO 1

O que é Bolsa de Valores?


Quando alguém quer comprar ou vender ações de
uma empresa, entre outros investimentos, precisa ir à
bolsa de valores. [...]
A bolsa é a instituição que organiza o mercado de
ações. Quando uma empresa quer levantar dinheiro
vendendo ações, elas são disponibilizadas aos investi-
dores por meio da bolsa de valores. O mesmo vale para
I nterior da Bolsa de Valores de quando investidores têm interesse em comprar ações
Moscou (Rússia), janeiro de 2018. de alguma empresa.
TREVIZAN, Karina. O que é a bolsa de valores e para que ela serve? G1, [s. l.], 25 jul. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/
economia/educacao-financeira/noticia/2018/07/25/o-que-e-a-bolsa-de-valores-e-para-que-ela-serve.ghtml. Acesso em: 16 jun. 2022.

TEXTO 2

O que é uma ação?


[...] De forma resumida, ela constitui um “pedaço” da empresa, que é colocada à
venda por meio de um processo de abertura de capital [...].
As empresas optam por abrir capital para, por meio da venda de papéis, arrecadar
valores para investirem em suas estratégias, com novos produtos, comprando outras
empresas, realizando melhorias nas soluções que já existem, entre outras atividades.
SILVA, Mônica Wanderley da. Bolsa de valores: qual é a diferença entre ações ordinárias e prioritárias?
E-Investidor, São Paulo, 24 jun. 2021. Disponível em: https://einvestidor.estadao.com.br/
mercado/bolsa-de-valores-qual-e-a-diferenca-entre-acoes-ordinarias-e-prioritarias. Acesso em: 4 mar. 2022.

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A primeira Constituição da República
A primeira Constituição republicana foi aprovada por uma
Assembleia Constituinte, em 24 de fevereiro de 1891. Conheça
suas principais características:
a) Federalismo:: princípio segundo o qual os estados (antigas pro- Dialogando
víncias) passaram a ter grande autonomia; cada estado podia
 ompare, quanto
C
contrair empréstimos no exterior; ter forças militares próprias; ao voto, esta
criar e cobrar impostos; eleger o governador; fazer leis etc. Constituição
b) O Brasil tornava-se República federativa presidencialista com três republicana, de
1891, à do Império,
poderes: Executivo – liderado pelo presidente da República,
outorgada em 1824.
por um período de quatro anos; Legislativo – exercido pelo
Congresso Nacional, formado pela Câmara dos Deputados
e pelo Senado; Judiciário – exercido por juízes, parte deles
nomeada pelo presidente da República e tinha como órgão
máximo o Supremo Tribunal Federal.
c) A Igreja católica foi separada do Estado e os brasileiros pas-
saram a ter liberdade de culto. Além disso, criou-se o registro
civil para nascimento, casamento e óbito.
d) Direito ao voto para maiores de 21 anos, brasileiros e alfabe-
tizados. Já os soldados ou membros do clero regular, como
monges e frades, mesmo brasileiros e maiores de 21 anos, não
podiam votar. Na época, 75% da população era analfabeta.
Eleição indireta:
No Brasil, a primeira eleição para presidente foi indireta
indireta..
eleição realizada
Deodoro da Fonseca foi eleito com uma vantagem de apenas 32 por representantes
votos sobre o adversário, Prudente de Morais; já o vice-presidente dos eleitores, e não
diretamente por eles.
eleito, Floriano Peixoto, era da chapa da oposição e venceu seu
adversário, Saldanha REVISTA DOM QUIXOTE

Marinho, por uma


diferença de 96 votos.

A charge de 1891 mostra


os deputados constituintes
que elegeram Deodoro
da Fonseca e Floriano
Peixoto (ao centro) para a
presidência e a vice-
-presidência da República,
respectivamente. As figuras
femininas representam os
estados da República.

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Eleito, Deodoro da Fonseca formou um ministério com pessoas de diferentes ten-
dências republicanas: o Ministério da Guerra foi entregue ao major Benjamin Constant e
o Ministério da Fazenda, ao intelectual baiano Rui Barbosa.
No poder, Deodoro teve de enfrentar dificuldades: o vice era da oposição e muitos
parlamentares o responsabilizavam pelo “encilhamento”. Esses parlamentares aprovaram
um projeto que limitava o seu poder como presidente da República. Deodoro reagiu de
modo autoritário mandando fechar o Congresso (novembro de 1891).
Diante disso, os militares da Marinha ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro caso
Deodoro não renunciasse; esse episódio é conhecido como Primeira Revolta da Armada.
Armada.
Pressionado, Deodoro da Fonseca renunciou e a presidência foi ocupada por seu vice.

Governo Floriano Peixoto


Floriano Peixoto reabriu
ART COLLECTION/ALAMY/FOTOARENA

o Congresso e formou os
ministérios com seus aliados.
Durante sua gestão, reduziu
os aluguéis e tabelou o preço
de alguns alimentos, como
carne, feijão, pão e batata. E,
com essas medidas, Floriano
Peixoto conquistou grande
popularidade.
Mas os seus adver-
Marechal Floriano Peixoto e a Revolta da Armada, em arte sários, entre os quais esta-
de Angelo Agostini para o jornal Don Quixote, 1895. vam vários generais do
Exército, iniciaram uma
campanha exigindo sua renúncia. Floriano Peixoto reagiu aposen-
tando os generais. Os militares da Marinha, por sua vez, também se
levantaram contra o governo e, desta vez, chegaram a bombardear
o Rio de Janeiro com tiros de canhão, para exigir a renúncia do
presidente; o episódio ficou conhecido como Segunda Revolta
da Armada (1893).
Florianismo: forte Floriano Peixoto, porém, conseguiu dinheiro junto aos cafei-
adesão popular ao cultores paulistas, comprou navios no exterior e, com o apoio
governo de Floriano
dos soldados do Exército, venceu a revolta liderada pela Marinha.
Peixoto e a relação de
absoluta fidelidade a ele Para defender o presidente Floriano, o “Marechal de Ferro”,
por parte da população formaram-se batalhões populares em um movimento conhecido
pobre das cidades.
como florianismo
florianismo..

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A Revolução Federalista
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul explodia uma guerra civil motivada pela disputa
entre o Partido Republicano Rio-Grandense, liderado pelo positivista Júlio de Castilhos,
e o Partido Federalista, liderado por Gaspar de Silveira Martins. Os seguidores de Júlio
de Castilhos tinham o apelido de pica-paus e recebiam o apoio de Floriano Peixoto.
Já os seus adversários tinham o apelido de maragatos e eram apoiados pelos membros
da Marinha que faziam oposição a Floriano.
Essa guerra civil atingiu os estados de Santa Catarina e Paraná, Castilhismo: filosofia
causou a morte de milhares de pessoas e só terminou em 1895, política positivista
que guiava o Partido
com a vitória dos pica-paus; com essa vitória, o castilhismo con- Republicano
solidou-se como uma corrente política que influenciou a história do Rio-Grandense (PRR),
Rio Grande do Sul por décadas. que tinha como
principal liderança
Quando Floriano Peixoto deixou a presidência, seus opositores Júlio de Castilhos.
tinham sido vencidos e um modelo autoritário e excludente de
República se impunha ao país.
ZIG KOCH/NATUREZA BRASILEIRA

Canhão usado como


armamento durante a
Revolução Federalista.
Centro histórico da
cidade de Lapa (PR),
2021.

Leia o que um historiador comentou sobre o final do governo


Floriano Peixoto.
[...] Floriano enfrentou com vigor as revoltas que ameaçavam
Dialogando
a estabilidade do regime, como a Revolta Federalista no Sul e a
Revolta Armada [...]. Por trás do seu poder estava o apoio político  ual o significado
Q
da oligarquia paulista, ciente de que a sobrevivência do novo de “Condomínio
de Fazendeiros”
regime era a garantia do seu poder na política nacional.
no texto citado?
No final do seu governo, Floriano passou o poder sem
maiores sustos para Prudente de Morais, líder republicano pau-
lista e expressão dos valores [...] oligárquicos [...]. A “República
da Espada” se transformava no “Condomínio de Fazendeiros”.
NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil República: da queda da Monarquia ao fim do
Estado Novo. São Paulo: Contexto, 2016. p. 26.

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Os negros no pós-Abolição
A luta pela Abolição foi grande e contou com a resistência dos próprios escravizados
e do movimento abolicionista. Esse processo foi concluído em 13 de maio de 1888, com
a aprovação da Lei Áurea, que declarou extinta a escravidão no Brasil. Essa lei foi come-
morada em todo país com missas campais, comícios e festas. A Abolição, no entanto, não
previu nenhum processo de proteção social aos libertos que, em sua grande maioria, não
tinham tido acesso ao sistema educacional.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

Os libertos no meio rural


Passada a festa, os ex-escravizados procuraram distanciar-se do passado de escra-
vidão negando-se a se comportar como os antigos cativos. Em diversos engenhos do
Nordeste, negaram-se […] a trabalhar sem remuneração. Muitos ex-escravizados per-
maneceram nas localidades em que haviam nascido. [...] Mas decidir ficar não significou
concordar em se submeter às mesmas condições de trabalho do regime anterior. […]
Grande parte dessa indisposição para
COLEÇÃO LUNARA/ARQUIVO DO PROJETO MONUMENTA

negociar estava relacionada aos desejos dos


ex-escravizados de terem acesso à terra e de
não serem mais tratados como cativos. Na
região açucareira do Recôncavo, os libertos
reivindicaram a diminuição das horas de
trabalho e dos dias que deveriam dedicar à
grande lavoura de cana. Exigiram também
o direito de continuar a ocupar as antigas
roças e dispor livremente do produto de
Escravizados recém-libertos em suas plantações. Nos dias imediatos ao 13
Porto Alegre (RS), c. 1900. de maio, ocuparam terras […] de engenhos
abandonados e iniciaram o cultivo de mandioca e a criação de animais. Isso mostra
sua percepção de que a condição de liberdade só seria possível se pudessem garantir
a própria subsistência e definir quando, como e onde deveriam trabalhar.
FRAGA, Walter; ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. Uma história da cultura afro-brasileira. São Paulo: Moderna, 2009. p. 79-80.
a) Segundo o texto, qual foi a atitude dos libertos no imediato pós-Abolição?
b) N
 o campo, muitos libertos negociaram suas condições para permanecer nas fazendas onde
viviam. Quais eram suas demandas nessas fazendas?
c) Escreva uma frase ou período relacionando liberdade, sobrevivência e trabalho.

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Nas cidades, os ex-escravizados trabalhavam arru- Segregação socioespacial:
segundo Lana Cavalcanti e
mando casas, cozinhando, lavando, passando, limpando Manoel Araujo, é um processo
ruas, transportando cargas, vendendo alimentos, flores, que fragmenta as classes
jornais, entre outros. sociais em espaços distintos
da cidade. Nesse sentido, o
Com baixos salários, tinham de morar em casa de cômodos, cotidiano das pessoas que
cortiços e nas periferias de cidades, como São Paulo, e em habitam esses lugares é marcado
favelas situadas nos morros de cidades como Rio de Janeiro. por insegurança, violência,
moradias precárias, falta de
Portanto, ocorreu também uma segregação socioespacial.
socioespacial. infraestrutura e de acesso aos
serviços básicos e ao lazer.
Dialogando
a Caracterize o trabalho feito pelos libertos nas cidades no pós-Abolição.
b Pesquise se esses espaços continuam a ser habitados por grande número de negros.
c Pesquise se na capital do estado onde você habita ocorre segregação socioespacial.

Associativismo negro
Além de lutarem por emprego, moradia e salário, os libertos tinham de enfrentar o
racismo e a violência policial, que os inibia de circular livremente pelas ruas ou praticar
suas religiões.
Nesse contexto, muitos libertos buscaram compensar os trabalhos, geralmente cansativos
e mal remunerados, reunindo-se em associações, como clubes sociais, associações beneficentes
e recreativas. Essas iniciativas são chamadas pelos estudiosos de associativismo negro..
Na época, os salões de baile e clubes, por exemplo, não permitiam a entrada de negros.
Eles, então, encontravam-se em salões alugados para bailes, onde exibiam suas danças, ele-
gância de gestos e modos que deviam ser convenientes socialmente. Esses espaços de lazer
atraíam e uniam a comunidade negra, e contribuíam para que se percebessem como negros
numa sociedade que criava barreiras à
ACERVO PARTICULAR DE ALCIONE FLORES DO AMARAL

sua inserção e ascensão.


Em São Paulo, os primeiros clubes
para negros surgiram por volta de 1915.
Mas, no Rio de Janeiro, as associações
beneficentes negras datam do final do
século XIX, assim como no Rio Grande
do Sul.

Criado em 1896, o Clube União Familiar foi o mais


antigo clube social negro, com sede em Santa
Maria (RS). Foi criado e administrado por mulheres
e homens negros. Fotografia da década de 1940.

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Imprensa negra
Antes e depois da Abolição, a comunidade negra também lutou por direitos criando
jornais próprios: a chamada imprensa negra..
Segundo o historiador Flávio Gomes, os primeiros periódicos editados por negros são
do final do século XIX. O Treze de Maio (1888), A Pátria (1889), O Exemplo (1892), que
circulou em Porto Alegre, foram alguns deles. Depois vieram vários outros jornais, como O
Baluarte (Campinas, 1903), A Pérola (São Paulo, 1911), O Menelick (1915), O Kosmos
(1922) e O Clarim da Alvorada (1924).
Desde a década de 1880, esses

REPRODUÇÃO/O CLARIM
jornais foram publicados em vários
estados brasileiros, desde o Rio Grande
do Sul até o Maranhão. Eles visavam
dialogar com os negros e também com
outros setores da população. Como
observa o historiador Flávio Gomes, o
formato e o estilo desses jornais basea-
ram-se nos combativos jornais operários
da mesma época. Os jornais da imprensa
negra geralmente duravam pouco tempo
e circulavam com interrupções, princi-
palmente por falta de recursos materiais.

Redação do jornal O Clarim da


Alvorada, década de 1920.

PARA SABER MAIS


ZAHAR

Leia o que disse sobre o assunto o historiador Flávio Gomes.

No final do século XIX e principalmente nas primeiras


décadas do seguinte, [...] uma multiplicidade de periódicos
surgiu com o mesmo propósito: denunciar as condições de vida,
a segregação, a falta de oportunidades, o cotidiano do racismo e
a violência experimentada pelas populações negras, sobretudo
nas cidades. No período que se seguiu à abolição, a maior parte
dessas questões esteve ausente do foco da grande imprensa. [...]
[...] Isso mostra que tal tarefa coube principalmente aos
Fac-símile da capa
próprios negros e as suas organizações. do livro Negros e
GOMES, Flávio dos Santos. Negros e política (1888-1937). política, de Flávio dos
Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p. 32-33. Santos Gomes.

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Leia um trecho do Manifesto Republicano e responda às questões a seguir.

Manifesto Republicano
A centralização, tal qual existe [...], comprime a liberdade,
constrange o cidadão [...], suga a riqueza [...] das províncias, Constranger:
oprimir.
constituindo-as satélites [...] do grande astro da corte – centro
absorvente que tudo corrompe e tudo concentra em si [...].
O regime de federação baseado [...] na independência recíproca
das províncias, elevando-as à categoria de Estados [...] unicamente
ligados pelo vínculo da mesma nacionalidade [...], é aquele que
adotamos no nosso programa [...].

EDITORA SCIPIONE
Somos da América e quere-
mos ser americanos.
MANIFESTO Republicano. In: DEL PRIORE, Mary.
Documentos de história do Brasil:
de Cabral aos anos 90. São Paulo:
Scipione, 1997. p. 67.

a) Quem eram seus principais autores?


b) O que o Manifesto está criticando?
c) 
O que eles defendem nesse
Manifesto?
d) 
Q ual o significado de “Somos
da América e queremos ser
americanos”?

Fac-símile da capa do livro Documentos


de história do Brasil, de Mary Del Priore.

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2 O major Benjamin Constant foi um dos maiores incentivadores do republicanismo
entre os militares brasileiros. Sob forte influência do positivismo de Auguste Comte,
defendia, entre outras ideias, que o sistema republicano aceleraria o progresso na-
cional, que, por sua vez, depende da ordem. Por isso o lema, adotado posteriormente
pelos republicanos e exibido na bandeira nacional, “Ordem e Progresso”.

Sobre o pensamento positivista e sua relação com a República, avalie as afirmações


a seguir:
I. Os positivistas brasileiros defendiam que o sistema republicano contribuiria para o progresso,
que seria alcançado independentemente de outro fator qualquer.
II. Os positivistas brasileiros defendiam que somente os militares poderiam salvar o país dos civis
corruptos.
III. A maioria dos positivistas brasileiros, apesar de uma ou outra divergência, eram favoráveis à
abolição da escravidão.

Estão corretas:
a) Todas.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.

3 Rui Barbosa foi o primeiro ministro da Fazenda do governo republicano de marechal


Deodoro da Fonseca. O ministro realizou uma reforma financeira por meio da qual
os bancos foram autorizados a emitir dinheiro para emprestar a quem quisesse abrir
novas empresas. Tal medida, porém, não obteve o sucesso esperado, acarretando
uma crise financeira que abalou o país.
a) Por que tais medidas não obtiveram sucesso?
b) Por que a reforma do ministro Rui Barbosa ganhou o apelido de política do “encilhamento”?

4 Após a renúncia de Deodoro da Fonseca, em 1891, o seu vice, Floriano Peixoto, assumiu
a presidência. Sobre o governo de Floriano e seus desdobramentos, identifique as
alternativas corretas e, depois, justifique sua escolha.
a) Atuando no sentido de conter a crise estabelecida, Floriano ganhou popularidade ao promover
a redução do valor dos aluguéis e tabelar preços de alimentos.
b) Os militares da Marinha também se levantaram contra o governo de Floriano. Exigiram sua
renúncia e chegaram a bombardear o Rio de Janeiro no episódio que ficou conhecido como
Segunda Revolta da Armada, em 1893.
c) Floriano ficou conhecido pelo apelido de “Marechal de Ferro” por fechar o Congresso
Nacional e não ceder às pressões dos cafeicultores paulistas, que também exigiam a sua
saída do cargo.
d) D urante o mandato de Floriano, eclodiu no Rio Grande do Sul uma guerra civil conhecida
como Revolução Federalista, que se espalhou pelos estados de Santa Catarina e do
Paraná.

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II. Leitura e escrita em História
Vozes do presente
Leia o texto a seguir com atenção.

Bestializados ou bilontras?
O povo assistiu bestializado à proclamação Tribofe: gíria da época que
da República, segundo Aristides Lobo [...]. significa trapaça, enganação,
engodo.
[...] Havia tribofe na política, na bolsa, no
Bilontra: gíria da época que
câmbio, na imprensa, no teatro, nos bondes, significa esperto.
nos aluguéis, no amor. Não se obedecia nem à
lei dos homens, nem à de Deus. [...]
O povo sabia que o formal não era sério. Não
havia caminhos de participação, a República não

COMPANHIA DAS LETRAS


era para valer. Nessa perspectiva, o bestializado
era quem levasse a política a sério, era o que
se prestasse à manipulação. Num sentido [...], a
política era tribofe. Quem apenas assistia, como
fazia o povo do Rio por ocasião das grandes
transformações realizadas a sua revelia, estava
longe de ser bestializado. Era bilontra.
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados:
o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987. p. 140, 158, 160.

Fac-símile da capa do livro Os bestializados:


o Rio de Janeiro e a República que não foi,
de José Murilo de Carvalho.

a) O
 autor concorda com a afirmação de Aristides Lobo segundo a qual o povo assistiu à
Proclamação da República “bestializado”? Por quê?
b) Como o autor caracteriza a política da Primeira República?
c) No estado ou no município em que você mora, as pessoas costumam se interessar por
assuntos políticos? Se sim, de que forma isso acontece?
d) Você sabe o que é representante de classe? Representantes de classe são estudantes que
têm como função ajudar o professor quando necessário e intermediar a comunicação entre
professores e gerência e os demais estudantes da turma. Com o professor e os colegas, faça
uma eleição para eleger um representante e um vice-representante de sua classe.

25

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Cruzando fontes
FONTE 1

[...] O golpe de 1889 – ou a “Proclamação da República”, como passou à História –


foi um momento-chave no surgimento dos militares como protagonistas no cenário
político brasileiro. [...] Havia muitos republicanos civis no final do Império, mas eles
estiveram praticamente ausentes da conspiração. O golpe republicano foi militar, em
sua organização e execução. [...]
Todas as fontes disponíveis destacam a liderança que Benjamin Constant [...]
exercia sobre a “mocidade militar” formada na Escola Militar da Praia Vermelha. Ele
seria o [...] “líder” [...] ou “apóstolo” desses militares. [...] Minha perspectiva, no entanto,
focaliza não o “líder” [...], mas seus pretensos “liderados” [...]. Ao invés de assistirmos
a Benjamin Constant catequizando os jovens da Escola Militar, encontraremos jus-
tamente a “mocidade militar” seduzindo-o e convertendo-o para o ideal republicano.
Atribuo à “mocidade militar”, portanto, o papel de protagonista da conspiração repu-
blicana no interior do Exército. [...]
CASTRO, Celso. A Proclamação da República. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
(Descobrindo o Brasil, p. 8-10).

FONTE 2

[...] Em 15 de novembro de 1889, a Monarquia era derrubada por golpe militar e


proclamava-se a República.
O movimento resultou da conjugação de três forças: uma parcela do Exército,
fazendeiros do Oeste Paulista e representantes das classes médias urbanas que, para a
obtenção dos seus desígnios, contaram indiretamente com o desprestígio da Monarquia
e o enfraquecimento das oligarquias tradicionais. [...]
[...] O ano de 1889 não significou uma ruptura do processo histórico brasileiro. As
condições de vida dos trabalhadores rurais continuaram as mesmas; permaneceram
o sistema de produção e o caráter colonial da economia, a dependência em relação aos
mercados e capitais estrangeiros. [...]
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos.
6. ed. São Paulo: Editora Unesp, 1999. p. 489-490.
a) Como Celso Castro vê a Proclamação da República?
b) N
 o texto, Celso Castro minimiza o papel de oficiais como o major Benjamin Constant na
Proclamação da República. Justifique.
c) C
 ompare a visão do autor da fonte 1 à da autora da fonte 2 sobre a Proclamação da
República.
d) Em dupla. Qual das versões vocês consideram mais convincente? Justifiquem.

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CAPÍTULO

2 PRIMEIRA REPÚBLICA:
DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA

Observe a charge a seguir com atenção.

ARIONAURO

Charge de Arionauro, 2021.

A charge é contemporânea e foi feita pelo artista Arionauro da Silva Santos.


1. Quem são os personagens representados na charge?
2. O que está acontecendo na cena?
3. A charge ironiza a existência da troca de favores na cultura política brasileira. Esse fenômeno é antigo
ou atual?
4. Você sabia que essa prática foi muito comum na Primeira República (1889-1930)?
É esse período que vamos estudar agora!

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Oligarquias no poder
Durante o Império, o governo central impunha seu poder às
províncias, nomeando quem iria governá-las. Com o estabeleci-
mento da República, porém, a situação mudou: as famílias mais
poderosas de cada estado, isto é, as oligarquias estaduais, pas-
saram a ter um enorme poder político. Vejamos como isso se deu.

O coronelismo
Oligarquia: palavra Para conquistar e manter o poder, os políticos saídos das famí-
de origem grega que
significa governo
lias mais poderosas de cada estado induziam os eleitores a votar
exercido por poucos nos candidatos por eles indicados. Muitos desses políticos eram
indivíduos ou por grandes fazendeiros e coronéis da Guarda Nacional;
Nacional; daí serem
famílias poderosas.
chamados de “coronéis”.
Guarda Nacional: força
composta de cidadãos Quase sempre, o coronel conseguia o voto do eleitor por
armados e fardados meio da troca de favores:: ele oferecia “favores”, como uma
não pertencentes ao
Exército. Foi criada
sacola de alimentos, remédio, proteção ou emprego. Em troca
em 1831 pelo regente desses “favores”, exigia que votassem nos candidatos indicados
Feijó para manter a por ele. Esse voto controlado pelo coronel é chamado de voto de
ordem nas províncias.
cabresto.. Na época, a fraude eleitoral era generalizada: falsifica-
ção de resultados, roubo de urnas, inclusão de voto de crianças, de
defuntos e de pessoas inexis-
COLEÇÃO PARTICULAR

tentes eram práticas comuns


nas eleições. Era assim que os
poderosos de cada localidade
ou estado se perpetuavam no
poder.

Essa charge de 1918 ironiza o


processo eleitoral durante a Primeira
República. Como sugere o artista,
na época até pessoas mortas
votavam. O defunto pede para o
transeunte validar seu título de eleitor;
e ele, sem dizer nada, responde com
uma expressão que aparenta uma
mistura de espanto e indignação.

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ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

O coronel cearense Floro Bartolomeu


(1876-1926), de calça clara e paletó
escuro, no centro, aparece sentado
entre deputados cearenses, em
1914. Ele foi um dos mais poderosos
coronéis da Primeira República.

Os coronéis mais poderosos de cada região faziam alianças entre si e elegiam o pre-
sidente do estado (cargo equivalente hoje ao de governador). Este, por sua vez, retribuía
o “favor” enviando verbas para a construção de escolas, praças, igrejas etc., nas cidades
controladas por aqueles coronéis.

A política dos governadores


Usando as mesmas práticas (troca de favores e corrupção eleitoral), as oligarquias
estaduais ajudavam a eleger deputados e senadores favoráveis ao presidente da República.
Este, por sua vez, retribuía o “favor” liberando verbas, benefícios e dando apoio político a
elas. Esse esquema político que ligava os governos estaduais ao presidente da República
recebeu o nome de política dos governadores e foi aplicado pelo então presidente
Campos Sales, que governou entre 1898 e 1902.
Assim, por meio de alianças e trocas de favores que uniam municípios, estados e
governo federal, as oligarquias mantiveram-se no poder durante a maior parte da Primeira
República. Observe o esquema a seguir.

O poder das oligarquias estaduais


EDITORIA DE ARTE

Governo federal Poder federal As oligarquias


estaduais
Apoio político mantinham-se no
e financeiro
poder por meio
Votos
de alianças e
favores que uniam
Governo estadual Poder estadual municípios, estados
e governo federal.
Verbas e O coronelismo era
benefícios a coluna mestra
Votos desse edifício
baseado na
Coronéis Poder municipal fraude eleitoral
e na corrupção.

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Café com leite ou café com política?
Durante muito tempo se acreditou que a aliança entre São Paulo (grande produtor de
café) e Minas Gerais (grande produtor de leite), os estados mais ricos e mais populosos na
época, teria permitido às oligarquias desses dois estados o controle exclusivo do poder na
Primeira República. Estudos recentes mostram, no entanto, que não foi bem assim. Veja
o que a historiadora Cláudia Viscardi diz sobre o assunto.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

ACERVO PESSOAL
Café com política
Análises recentes das sucessões presidenciais
na Primeira República (1889-1930) mostram que
a famosa aliança entre Minas Gerais e São Paulo,
chamada de política do “café com leite”, não contro-
lou de forma exclusiva o regime republicano. Havia
outros quatros estados, pelo menos, com acentuada
importância no cenário político: Rio Grande do Sul,
Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Os seis, para
garantirem sua hegemonia, possuíam uma forte
economia e (ou) uma elite política [...] bem represen-
tada no Parlamento. E, juntos Cláudia Viscardi é professora
Hegemonia: liderança.
titular do Programa de Pós-
Parlamento: Congresso ou separados, participaram
-Graduação em História na
Nacional, isto é, ativamente de todas as suces-
Câmara dos Deputados Universidade Federal de Juiz
sões presidenciais ocorridas no de Fora (UFJF). Fotografia de
Federais e o Senado.
período. [...] 2016.
O poder de Minas Gerais nesse período é explicado não pela força econômica do
gado de leite, mas pela sua projeção política garantida pela bancada de 37 deputados,
a maior do país. E a influência de Minas, também derivada da forte cafeicultura, já
que foi o segundo maior produtor de café do Brasil até o final da década de 1920, sendo
responsável por 20% em média. [...] A expressão mais adequada para a pressuposta
aliança Minas Gerais-São Paulo seria, então, “café com café” e não “café com leite”. [...]
VISCARDI, Cláudia M. R. Aliança “Café com política”. Nossa História, São Paulo, ano 2, n. 19, p. 44-47, maio 2005.

a) P
 ara a autora do texto, a tese de que São Paulo e Minas Gerais dominaram a política
na Primeira República não se justifica. Quais argumentos ela usa para derrubar a
tese do “café com leite”?
b) Segundo o texto, o que explica a força de Minas Gerais na política nacional?
c) Você considerou os argumentos da historiadora convincentes?

30

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O café continuou na frente
ÓLEO SOBRE TELA, COLEÇÃO PARTICULAR

Terreiro de café, de Rosalbino Santoro, 1903. A pintura mostra a presença conjunta de trabalhadores
nacionais e imigrantes. Na época, o café era, de longe, o produto mais vendido pelo Brasil.

Na Primeira República, o café continuou liderando as exportações brasileiras.


Animados com os lucros obtidos com as vendas de café para os Estados Unidos e a
Europa, os cafeicultores brasileiros investiam em novas plantações. Com isso, em pouco
tempo, o Brasil passou a produzir muito mais café do que a quantidade que os países
estrangeiros estavam interessados em comprar; assim, milhões de sacas de café ficaram
estocadas nos armazéns brasileiros. Acompanhe na tabela a seguir a evolução do preço
do café entre 1893 e 1899.

Dialogando Preço da saca de café (60 kg) (1893-1899)

 que se pode
O Ano Preço
concluir observando
1893 4,09 libras
a tabela?
1896 2,91 libras

1899 1,48 libras


Fonte: MONTEIRO, Hamilton de Mattos. Da República Velha ao Estado Novo. In: LINHARES,
Maria Yedda (org.). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1990. p. 305.

Mas, apesar disso, os cafeicultores continuaram aumentando sua produção; em


1905, o excedente de café nos armazéns brasileiros era de aproximadamente 11 milhões
de sacas!

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O Convênio de Taubaté
GUILHERME GAENSLY/COLEÇÃO PARTICULAR

Fazenda de café,
de Vicente D. Motta
Macedo, século XIX.

Preocupados com a queda de seus lucros, os cafeicultores


pediram ajuda ao governo. Os governantes dos estados de São
Taubaté: cidade do Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – os três maiores produtores de
interior paulista. café – responderam assinando o Convênio de Taubaté
Taubaté,, em 1906.
Com o acordo, os governos desses estados comprometiam-se a
comprar e armazenar as sacas de café excedentes, por meio de
Plantação de algodão.
empréstimos obtidos no exterior.
Brasil, 2021.
A compra do café excedente regu-
CARLOS RUDINEI A MATTOSO/SHUTTERSTOCK.COM

lava a oferta e forçava a valorização


do produto brasileiro no exterior. Essa
política atendia aos interesses dos
cafeicultores. Diante do apoio recebido,
muitos cafeicultores continuaram inves-
tindo em cafezais. Parte deles, porém,
procurou diversificar seus investimen-
tos, aplicando capitais também em
indústrias.
Além do café, a borracha, o
algodão, carnes e o cacau também
se destacaram entre os produtos agrí-
colas exportados pelo Brasil durante a
Primeira República.

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A borracha da Amazônia
Com a aceleração da industrialização na Europa e nos Estados Bicicleta: nos anos 1890,
Unidos na segunda metade do século XIX, surgiram novos tipos a bicicleta se tornou uma
verdadeira febre entre
de indústria, como a automobilística, a de bicicletas e a de adultos e crianças. Assim
pneus. A borracha, matéria-prima essencial para essas indústrias, como hoje, era usada
como fonte de lazer e
passou então a ser muito cobiçada no exterior, e o grande vale
meio de transporte.
amazônico, o hábitat da seringueira
seringueira,, ganhou uma importância Seringueira: árvore da
jamais vista. qual se extrai a borracha.
Em busca de trabalho, um grande número de nordestinos
migrou para a Amazônia. Muitos deles eram cearenses e fugiam da
seca que castigava o Ceará periodicamente. Esses trabalhadores –
os seringueiros –, moradores de cabanas rústicas na beira dos rios,
andavam muitos quilômetros todos os dias para extrair o látex, com
o qual faziam as bolas de borracha que seriam vendidas para o exte-
rior. Eles recebiam muito pouco pelo seu trabalho. Já os seringalistas
e os envolvidos no comércio da borracha amazônica enriqueceram.
No Brasil, o esplendor da economia gomífera ocorreu entre
1898 e 1910, quando a borracha correspondeu a 25,7% do valor
das exportações brasileiras, ficando atrás apenas do café. Durante
esses anos, a borracha enriqueceu as elites dos estados do Pará e
do Amazonas e os empresários europeus e estadunidenses, que
obtinham a borracha a preços relativamente baixos e vendiam em
território brasileiro os produtos industrializados.

Mulher defumando
MARCEL GAUTHEROT/ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES

látex. Ilha de Marajó


(PA), c. 1967. Em muitos
lugares da região Norte,
o processo de produção
da borracha continua
sendo como era antes.

33

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Com a riqueza dos tempos

MATYAS REHAK/SHUTTERSTOCK.COM
áureos da borracha, foram
construídos belíssimos teatros.
O boom da borracha ama-
zônica, porém, não durou muito
tempo; ingleses e holandeses
levaram mudas da seringueira
para suas colônias na Ásia,
onde passaram a produzir uma
borracha que logo desbancou
a brasileira. A reviravolta foi
rápida: em 1910, a borracha
asiática respondia por cerca de
Vista interna do Teatro Amazonas durante concerto.
Manaus (AM), julho de 2015. O Teatro foi construído 13% da produção mundial; em
em 1896 durante o ciclo da borracha. 1915, chegava a 68%!

Cacau
Durante o auge da economia da borracha, o

EDITORA RECORD
cacau plantado no sul da Bahia tornou-se impor-
tante produto nacional e a principal mercadoria da
economia baiana. Usado principalmente para fazer
chocolate, o fruto do cacaueiro se mostrou bastante
lucrativo e fez a fortuna de muitas famílias de coro-
néis do interior baiano. O escritor Jorge Amado criou
e imortalizou personagens, baseados nas histórias da
região cacaueira, como Sinhô Badaró e Juca Badaró,
na obra Terras do sem-fim,, publicada em 1943.

A diversificação econômica
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, os imi-
grantes instalados na serra gaúcha (nordeste do
estado) plantavam arroz, milho, feijão e fumo para
consumo próprio e para o mercado interno. Nas Fac-símile da capa do livro
cidades gaúchas, eram fundadas fábricas de tecidos Terras do sem-fim, de Jorge Amado.
e de bebidas (especialmente de vinho). O Rio Grande
do Sul, portanto, se desenvolveu produzindo para o
mercado interno.

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Indústria e operários na Primeira República
Durante a Primeira República ocorreu um crescimento constante do número de indús-
trias no Brasil. Em 1889, ano da Proclamação da República, o Brasil possuía 636 indústrias
e cerca de 54 mil operários.
Observe a tabela a seguir e veja como essa situação se alterou ao longo do tempo.

Brasil: quantidade de indústrias e operários (1907-1920)


Ano Indústrias Operários
1907 3 258 149 018

1920 13 336 275 512


Fonte: DE DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. Indústria, trabalho e cotidiano:
Brasil (1889-1930). São Paulo: Atual, 1991. (História em documentos, p. 24).

Perceba que, entre 1907 e 1920, o número de empresas cresceu por volta de quatro
vezes, enquanto o número de operários empregados quase duplicou.
Durante muito tempo se disse que esse crescimento se deveu em grande parte aos
efeitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) sobre nossa economia, quando o país foi
forçado a fabricar o que antes importava. Estudos recentes, no entanto, demonstram que
a industrialização brasileira foi estimulada por quatro fatores principais: capitais nacionais
(acumulados com as exportações agrícolas, sobretudo de café); disponibilidade de matéria-
-prima; grande oferta de mão de obra barata; um sistema de transportes ligado aos portos.
São Paulo tornou-se o estado mais industrializado do país. As maiores fábricas pau-
listas foram montadas por fazendeiros de café, como Antônio Álvares Penteado, e por
imigrantes, como Francesco Matarazzo. Os principais ramos industriais da época, em ordem
de importância, foram o têxtil, o de alimentação –
incluindo bebidas – e o de vestuário. COL
EÇÃ
OP
ART
ICU
Os processos de industrialização e LAR

urbanização variaram bastante de uma


região para outra. A região Sudeste,
sobretudo São Paulo, recebeu os
maiores investimentos, liderando
a corrida industrial no país.

Conde Francesco Matarazzo,


ao centro, sentado, com
a família, c. 1910.

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Modernização e urbanização
Os processos de industrialização e modernização ocorreram ao mesmo tempo em
várias cidades. Vejamos o caso de São Paulo.
Até 1850, São Paulo era uma cidade pequena, provinciana e politicamente pouco
importante para o Império. Sua área mais urbanizada era formada pelas ruas Direita,
XV de Novembro e São Bento. Com o boom da economia cafeeira, a cidade ganhou uma
extensa rede ferroviária, comercial e financeira. Na década de 1870, passou a crescer em
um ritmo acelerado. Com o crescimento da cidade, o centro antigo de São Paulo deixou
de ser desejado como área residencial.
A lógica do crescimento urbano de São Paulo empurrou a população pobre para
regiões onde os terrenos eram mais baratos e as linhas ferroviárias, com várias estações,
ajudavam no transporte de pessoas. Alinhadas a essa rede ferroviária, ergueram-se também
indústrias que, à época, tornaram-se um elemento característico da paisagem paulistana.
A elite paulistana buscou áreas onde havia chácaras, como Vila Buarque, Santa
Cecília e Campos Elíseos, e ali construiu bairros nobres residenciais, como Higienópolis e
Pacaembu. Na parte mais
GUILHERME GAENSLY/ACERVO FES/SP

alta da cidade, ergueu-


-se a Avenida Paulista, o
símbolo mais visível do
poder dos cafeicultores.
Um dos marcos deci-
sivos na cidade de São
Paulo no processo de
modernização foi a cons-
tituição da Light (The São
Paulo Tramway, Light &
Power), em 1889, empresa
com sede em Toronto, no
Canadá. Depois de obter,
mediante compra, o direito
de explorar o serviço de
transporte, a Light passou
a investir também na distri-
buição de energia elétrica
na cidade.

Estação da Luz, marco


ferroviário da cidade de
São Paulo (SP), c. 1900.

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Outro marco importante na modernização de São Paulo foi a estreia do bonde elétrico,
em 1900. A substituição do bonde puxado por burros pelo bonde elétrico contribuiu para
aumentar a velocidade e diminuir o tempo do transporte, além de melhorar a higiene
pública, já que evitava o enxame de moscas que rondavam as fezes dos animais.
A energia elétrica e os transportes impulsionaram a indústria, o comércio, os serviços e
também o lazer (ler após o entardecer, por exemplo). Os bondes elétricos ligavam o centro
da cidade aos bairros servindo, sobretudo, ao transporte de trabalhadores e estudantes e
estimulando a ocupação de espaços vazios e a formação de novos bairros. Exemplo disso
são as linhas que passavam por bairros como Penha, Santana, Jabaquara, Santo Amaro
e Pinheiros.
Nos anos 1920, enquanto o centro de São Paulo se verticalizava com a construção
de inúmeros prédios, a periferia da cidade se expandia com a formação de novos bairros.
Nesse período, a população de São Paulo saltou de 580 mil para 888 mil habitantes,
crescimento de mais de 50%. Referindo-se a esse crescimento vertiginoso da cidade, o
poeta Mário de Andrade chamou-a de “Pauliceia desvairada”.
Entre 1890 e 1920,

GUILHERME GAENSLY/ACERVO FES/SP


outras impor tantes
cidades também cres-
ceram: a população do
Rio de Janeiro passou de
522 mil para 1,1 milhão
de habitantes; e a de
Salvador, de 175 mil para
285 mil habitantes.

Dialogando
F aça uma pesquisa rápida:
nessa época, a capital do
estado em que você vive
também passou por um
processo de modernização
e urbanização?

Rua dos Imigrantes (atual Rua


José Paulino) e Rua Florêncio de
Abreu. São Paulo (SP), c. 1900.

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Imigrantes no Brasil
Na Primeira República, a industrialização e a urbanização estiveram estreitamente
associadas à imigração. Entre 1890 e 1930, cerca de 3,2 milhões de imigrantes vieram
para o Brasil.
O salto populacional na cidade de São Paulo deveu-se em parte ao afluxo de imigran-
tes estrangeiros e também de pessoas que saíram do interior do estado e de outras partes
do país em busca de uma vida melhor. Partiam dispostas a trabalhar em profissões liberais,
no funcionalismo público, no comércio, no artesanato, nas fábricas, na construção civil etc.
O estado de São Paulo, sozinho, recebeu 57,7% do total de imigrantes, pois oferecia
bons atrativos: pagava as passagens, dava alojamento e oferecia oportunidades de trabalho.
Por serem de cor branca e católicos, italianos, portugueses e espanhóis foram os imigrantes
preferidos das autoridades e dos fazendeiros brasileiros. Em 1911, o médico João Baptista
de Lacerda, representante brasileiro no Congresso Mundial das Raças, em Londres, na
Inglaterra, afirmou que, em 100 anos, os negros e os indígenas desapareceriam por conta
da miscigenação, e, com isso, ocorreria o branqueamento da população brasileira. Assim,
segundo essa teoria, o país teria acesso ao conjunto das nações “civilizadas”.
ÓLEO SOBRE TELA, 166 CM X 199 CM, MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, RIO DE JANEIRO

Dialogando
a O que ocorre na cena
representada?
b Qual é a mensagem transmitida
pelo artista?
c Essa obra realiza visualmente
a teoria do branqueamento.
Em que consistia essa teoria?

A redenção de Cam (ou A marca de


Caim), de Modesto Brocos y Gomez,
1895.

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Debate sobre diversidade
O debate sobre a diversidade étnica no Brasil foi intenso e importante. Na Europa,
no século XIX, foram produzidas teorias de que existem raças e que a raça branca
é superior à negra, à amarela e aos mestiços. Essas teorias racistas também tiveram
acolhida no Brasil.
Em 1881, por exemplo, os deputados paulistas, dizendo que era preciso “melhorar
a raça”, incentivaram a entrada de europeus brancos e católicos e escreveram projetos
de leis barrando a entrada de negros e asiáticos. Segundo essa visão, que desqualificava
a população afro-brasileira, negros e mestiços eram raças inferiores, e a “raça branca”
era a única capaz de criar a civilização. Essa visão persistiu nas primeiras décadas do
século XX.
Para o médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues, autor da obra Os africanos
no Brasil,, publicada em 1932, a miscigenação era razão do atraso do Brasil. A solução
para esse suposto problema era o branqueamento da população brasileira.
Outro estudioso brasileiro, o pernambucano Gilberto Freyre, em seu livro Casa-grande
& senzala,, de 1933, discordou de que o atraso do Brasil se devia à miscigenação da popu-
lação brasileira. Para o autor, a miscigenação “corrigiu” a distância social entre brancos e
negros que, de outro modo, continuaria
a ser enorme! Freyre mudou o modo

GLOBAL EDITORA
de ver a diversidade étnica e cultural
existente no Brasil em dois pontos
importantes: primeiro, a miscigenação
para Freyre era algo positivo,, e não
sinal de inferioridade racial do povo bra-
sileiro; segundo, o negro desempenhou
um papel importante na formação da
língua, da culinária, das crenças e da
sociabilidade do brasileiro.
Assim, para Freyre, teria predo-
minado uma certa “harmonia” entre
brancos, indígenas e negros, o que à
época levou o país a ser visto como um
"paraíso racial".

Fac-símile da capa do livro


Casa-grande & senzala,
de Gilberto Freyre.

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O debate sobre a diversidade étnica e cultural existente no Brasil se ampliou com o
sociólogo paulista Florestan Fernandes. Em sua pesquisa para o Programa sobre Relações
Raciais no Brasil, financiada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco) na década de 1950, ele chegou a uma conclusão diversa
da apresentada por Gilberto Freyre: concluiu que o convívio entres brancos, indígenas e
negros era tenso e conflituoso; e que indígenas e negros eram vítimas de preconceito e
de discriminação racial.
Florestan Fernandes concluiu, ainda, que o preconceito racial era condenado na teoria,
mas ocorria de forma dissimulada no dia a dia dos brasileiros, isto é, na prática.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

a) C
 ompare a visão do médico Nina Rodrigues com a do sociólogo Gilberto Freyre quanto
à miscigenação.
b) D
 e que forma a visão de Florestan Fernandes enriqueceu o debate sobre a diversidade
existente no Brasil?
c) E
 m grupo. Pesquisem, reflitam, debatam e opinem sobre a diversidade étnica existente no
Brasil de hoje. Tentem responder:
• Ela pode ser considerada uma característica do povo brasileiro?
d) De que forma a diversidade pode ser relacionada à construção da cidadania no Brasil?
DANIEL M ERNST/SHUTTERSTOCK.COM

Em todo o país, jovens se organizam para combater o racismo por meio das redes sociais, nos bairros,
escolas e universidades. Fotografia de 2019.

40

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Contestações e dinâmicas da vida
cultural na Primeira República

A Guerra de Canudos
Nas últimas décadas do século XIX, o autori- Sertão: durante o período colonial, sertão
era considerado todo o território que não
tarismo e o descaso dos governantes da República
estava no litoral, região onde predominou
com a maioria da população contribuíram para vários a ocupação dos colonizadores. Atualmente,
movimentos de contestação e rebeliões na Primeira chama-se, comumente, de sertão a região
semiárida do Nordeste que fica afastada
República. No sertão
sertão,, as secas constantes agravavam dos principais centros urbanos.
a situação e tornavam a vida da maioria dos habitantes Beato: devoto religioso que prega e faz
quase insuportável. profecias.
Nesse cenário, surgiu no sertão nordestino, em Mutirão: trabalho coletivo realizado
gratuitamente em benefício de uma ou
1870, um líder religioso chamado Antônio Vicente mais pessoas.
Mendes Maciel, o “Conselheiro”. Nascido em
Quixeramobim, no Ceará, Antônio Conselheiro exerceu
na juventude várias ocupações, entre elas a de profes-
sor. Certo dia, abalado por dissabores

RITA BARRETO/FOTOARENA
na vida pessoal, deixou o Ceará e
iniciou sua vida de beato
beato.. Andava pelo
sertão afora pregando de cidade em
cidade e promovendo mutirões para
ajudar pequenos agricultores, refor-
mando igrejas e erguendo muros de
cemitérios. Aos poucos, foi reunindo
um grande número de seguidores.

Dialogando
 ocê já presenciou
V
um mutirão
no lugar onde
você mora?

Estátua de Antônio Conselheiro e,


ao fundo, Museu Histórico de
Canudos. Canudos (BA), 2019.

41

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Em 1893, o Conselheiro e sua gente se estabeleceram no sertão baiano, às
margens do Rio Vaza-Barris, nas terras de uma antiga fazenda chamada Canudos. Ali
começaram a construir um povoado, chamado inicialmente de Belo Monte e, depois,
de Canudos. Os habitantes do arraial eram, em sua maioria, sertanejos pobres que
fugiam dos desmandos dos coronéis e do desemprego, em busca de conforto material
e espiritual. Mas havia também negociantes, enfermeiros, soldados, artesãos, minera-
dores e professores.
Em Canudos, os sertanejos cultivavam milho, feijão, batata e criavam cavalos
e bodes, cujo couro era usado para fazer vestimentas, calçados e chapéus e para
comerciar com as vilas e cidades da região. A autonomia da comunidade de Canudos,
sua decisão de viver conforme a leitura da Bíblia feita por Conselheiro e, sobretudo, a
decisão de não pagar impostos lançados pela República foram vistas pelas autoridades
como uma ameaça. Os senhores da República passaram a dizer que Canudos era um
reduto de monarquistas fanáticos e perigosos.
Foi o que bastou para que o governo enviasse várias expe-
Emboscada: tática que dições militares contra Canudos. Nos confrontos, os sertanejos
consiste em esperar o
inimigo às escondidas saíam da mata fechada gritando vivas a Bom Jesus e a Antônio
para atacá-lo de Conselheiro e atacavam os inimigos com armas de fogo, facas
surpresa.
e facões. As três primeiras expedições foram vencidas pelos ser-
tanejos por meio da tática de emboscadas
emboscadas..
A imprensa oficial transformou as lideranças de Canudos – Conselheiro, João
Abade e Pajeú – nos maiores inimigos da República. O então presidente da República,
Prudente de Morais, enviou a Canudos uma nova expedição com mais de 6 mil solda-
dos que, com dinamite e balas de canhão, arrasou o arraial. Em 5 de outubro de 1897,
as casas de Canudos tinham sido incendiadas e sua população, massacrada. Antônio
Conselheiro foi preso e decapitado.
ACERVO ICONOGRAPHIA

Soldados da repressão
em meio às ruínas de
Canudos (BA), c. 1897.

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A Guerra do Contestado
Entre Santa Catarina e Paraná, em uma área contestada
(disputada) por esses dois estados, ocorreu outro movimento de
sertanejos pobres e muito religiosos. Observe o mapa.

A região da Guerra do Contestado (1911)

SELMA CAPARROZ
50° O
Rio Igu
aç PARANÁ
u
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União da São Francisco


ó Vitória do Sul
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Rio U Rio Canoas


rugu
ai Campos SANTA ATLÂNTICO
Novos CATARINA
RIO GRANDE Florianópolis
Lages
DO SUL
Posseiro: pequeno
Área do Paraná pretendida por Santa Catarina proprietário que ocupou
Área de Santa Catarina pretendida pelo Paraná uma terra inexplorada e
Região da Guerra do Contestado a cultivou durante anos,
Ferrovia 0 60 ganhando o direito de
Terras da Lumber posse sobre ela.
Fonte: AFONSO, Eduardo José. O Contestado. 2. ed. São Paulo: Ática, 1998. p. 20.

No começo do século XX, reinava um clima de forte tensão


social na região do Contestado, pois os coronéis locais expandiam Funcionários da Lumber
suas fazendas de gado e de erva-mate tomando à força terras dos carregando toras de
indígenas e dos posseiros
posseiros.. A tensão aumentou ainda mais quando araucárias, madeira
o então presidente Afonso Pena, que governou entre 1906 e 1910, comum na região e
de alto valor. Santa
contratou uma empresa estadunidense, a Brazil Railway Company, Catarina, c. 1915.
para construir um trecho da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande A Lumber dedicava-se
do Sul. E, como parte do pagamento, cedeu a ela uma faixa de 15 à extração de pinho
e imbuia.
quilômetros de cada lado da ferrovia.
Em 1911, esta empresa criou uma
COLEÇÃO PARTICULAR

outra – a Lumber – que se comprometeu


a colonizar a região com famílias vindas
da Europa. O interesse da Lumber, porém,
não era colonizar, mas explorar o pinho
e a imbuia da rica floresta nativa. Os diri-
gentes da empresa estadunidense, então,
arregimentaram capangas para expulsar os
sertanejos daquela área e instalaram em
Três Barras (SC) o maior complexo madei-
reiro da América do Sul na época.

43

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Expulsos de suas terras, os sertanejos do Contestado passaram a se aconselhar e a
seguir o monge José Maria. Pouco tempo depois, ergueram povoados na área de Santa
Catarina pretendida pelo Paraná.

ÓLEO SOBRE TELA, 100 CM X 150 CM, COLEÇÃO PARTICULAR


O monge João Maria
curando doentes,
de Willy Zumblick,
1953. Na imagem, o
artista representou
uma cena comum no
Contestado: o monge
José Maria benzendo e
confortando sertanejos.

Os fazendeiros e a imprensa do Paraná passaram a dizer que os


Dialogando
sertanejos do Contestado eram monarquistas fanáticos e inimigos
É correto dizer da República (as mesmas palavras usadas para criticar os sertanejos
que a Guerra do
Contestado faz
de Canudos). Mas, na realidade, os sertanejos do planalto catari-
parte da longa nense reagiam à perda de suas terras, à penetração do capitalismo
história da luta pela no campo e ao desrespeito aos seus costumes e às suas tradições.
terra no Brasil? O governo do Paraná enviou forças militares contra o Contestado
e, durante a luta que então se travou, o monge José Maria e o
comandante adversário morreram. Inconformados, os sertanejos
passaram a dizer que o monge José Maria ia retornar à Terra para
fazer valer a “lei da coroa do céu”; o movimento ganhou novos
Vilas santas: nome “vilas santas”
integrantes e o número de “vilas santas” cresceu.
que os sertanejos do Durante um confronto com forças militares locais, os sertanejos
Contestado davam a
seus povoados. incendiaram a sede da empresa estadunidense que os havia expul-
sado de suas terras. Diante disso, o presidente Hermes da Fonseca,
que governou entre 1910 e 1914, lançou contra o Contestado cerca
de 6 mil soldados armados de canhões e metralhadoras e apoiados
por aviões. Em nome da República e do progresso, as “vilas santas”
foram arrasadas e os camponeses, fuzilados ou queimados. Com
o fim do Contestado, em 1916, os governos do Paraná e de Santa
Catarina chegaram a um acordo, acertando os limites entre os dois
estados.

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PARA SABER MAIS
A modernização do Rio na Belle Époque
Na passagem do século XIX para o século XX, várias Cinematógrafo: o primeiro
cidades europeias, especialmente Paris, na França, tinham cres- aparelho que permitiu gravar
os movimentos e reprojetá-los
cido e se modernizado em ritmo acelerado. Esse crescimento foi foi o cinematógrafo inventado
acompanhado pelo desenvolvimento tecnológico marcado pelo em 1892, por Léon Bouly. No
advento da luz elétrica, em 1879; pelo uso do cinematógrafo entanto, Bouly não registrou sua
invenção, o que deixou o caminho
para projetar filmes, em 1895; pela invenção do aparelho de
aberto para, posteriormente,
raios X, naquele mesmo ano; e pela primeira transmissão do em 1895, na França, os
telégrafo sem fio, em 1901; entre outros inventos. Esse período irmãos Auguste Lumière e
de modernização acelerada ficou conhecido como Belle Époque Louis Lumière patentearem
e melhorarem a criação.
(expressão francesa que significa “bela época”).
A invenção do cinema e a primeira exibição de um filme em Paris impressionaram
fortemente as pessoas. Uma sequência de imagens de um trem avançando em direção
à plateia provocou sustos, gritos e desmaios. Essas reações eram uma resposta ao medo
de que o trem as atropelasse.
Paris, com sua recém-construída Torre
Eiffel, tornara-se o cartão postal da civili-
zação europeia, a capital da ciência e das
artes, uma cidade a ser imitada por todas
as outras.
Para a maioria dos cientistas,
engenheiros, médicos e pesquisadores
brasileiros do início do século XX, moder-
Torre Eiffel,
nizar era trazer a “civilização” da Europa
construída entre
os anos de 1887 para o Brasil, isto é, modernizar as nossas
e 1889. Paris cidades promovendo reformas urbanas, a
(França), 1900. exemplo das feitas em Paris.
ALINARI ARCHIVES, FLORENCE/BRIDGEMAN/FOTOARENA

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A Revolta da Vacina
Em 1902, Rodrigues Alves, um representante da oligarquia cafeeira, assumiu a pre-
sidência da República decidido a modernizar o Rio de Janeiro, eliminando os cortiços e
embelezando a área central da cidade. Ele confiou essa tarefa ao engenheiro Pereira Passos,
o prefeito do Rio de Janeiro (capital federal à época).
O projeto de modernização era inspirado no parisiense e deveria ser posto em prática de
cima para baixo, isto é, sem consultar a população. E assim foi feito. Para construir a Avenida
Central (hoje Avenida Rio Branco) no centro da cidade, o prefeito autorizou a demolição
de casas e casebres habitados pela população humilde. Aos gritos de “Bota abaixo!”, os
funcionários da prefeitura demoliram quarteirões inteiros, desabrigando cerca de 14 mil
pessoas. Em 7 de setembro de 1904, a Avenida Central foi inaugurada. Observe a imagem.

REPRODUÇÃO/CASA STAFFA
Movimento de
pedestres e
automóveis na
Avenida Central,
atual Avenida Rio
Branco. Rio de
Janeiro (RJ), 1912.

Expulsos de suas casas, os antigos moradores do centro foram viver na periferia


ou subiram os morros, onde construíram barracos de tábuas cobertos com latas de
querosene abertas. Enquanto isso, o médico sanitarista Oswaldo Cruz foi indicado pelo
governo para combater a febre amarela, a varíola e a peste bubônica, doenças que
vinham matando milhares de pessoas na cidade do Rio de Janeiro. Em 1904, um projeto
de lei que defendia a obrigatoriedade da vacina contra a varíola agitou e dividiu a socie-
dade. Veja o quadro a seguir.

Argumentos a favor da obrigatoriedade Argumentos contra a obrigatoriedade


da vacina da vacina
• A varíola matava mais de 4 mil pessoas todos • Cada pessoa deveria ter o direito de escolher se queria
os anos no Rio e Janeiro. ser vacinada ou não.
• A vacinação obrigatória tinha sido adotada com • Os soros e os funcionários da saúde não eram
sucesso confiáveis;
na Europa. os policiais usariam a força para vacinar as pessoas.

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Convencido pelo médico Oswaldo

LEÔNIDAS, REVISTA O MALHO


Cruz, o Congresso aprovou, em 1904, a
Lei da Vacina Obrigatória,, que autori-
zava os funcionários da área da saúde a
vacinarem contra a varíola todos os brasi-
leiros a partir de seis meses de idade. Os
funcionários desobedientes eram ameaça-
dos com multas e demissões.
A obrigatoriedade da vacina, as
demolições no centro da cidade, o custo
de vida elevado... Tudo isso levou a uma
revolta popular, conhecida como Revolta Revolta da Vacina. “Guerra vaccino-obrigateza!...
da Vacina.
Vacina. De 10 a 16 de novembro de Espetáculo para breve nas ruas”. Charge de
Leônidas, publicada na revista O Malho, em 1904.
1904, ocorreram intensos conflitos de
rua no Rio de Janeiro; armados de paus,
pedras e pedaços de ferro, as pessoas enfrentaram a polícia em vários pontos da cidade.
Incendiaram bondes, arrancaram trilhos, depredaram lojas, além de cercar o Palácio do
Catete, sede do governo, para protestar contra a vacinação obrigatória e a violência policial.
O governo ordenou que seus navios de guerra bombardeassem os bairros situados
na orla litorânea e, ao mesmo tempo, suspendeu a obrigatoriedade da vacina contra a
varíola; a Revolta foi desarticulada e seus líderes foram lançados aos porões de um navio
e enviados ao Acre, região que tinha sido incorporada ao Brasil em 1903. Políticos de
oposição ao governo também participaram da Revolta, mas não foram punidos.

ESCUTAR E FALAR
Vimos que, em 1904, os cariocas tinham opiniões divergentes a respeito da vaci-
nação contra a varíola. Releia o quadro da página anterior, com os argumentos a favor
e contra a vacinação. Agora, responda: quais argumentos você considerou mais perti-
nentes? Por quê? Prepare-se para falar em público.

Autoavaliação. Responda em seu caderno.


a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

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A Revolta da Chibata
No mar, também ocorreu um episódio de resistência popular.
Os navios da Marinha brasileira estavam entre os mais mo-
dernos da época, mas o Código Disciplinar da Marinha lembrava
os tempos da escravidão: faltas leves eram punidas com a prisão
Solitária: local de “solitária”
na “solitária ” por três dias; faltas leves repetidas, com prisão por
uma prisão em que o
prisioneiro fica separado seis dias; faltas consideradas graves, com 25 chibatadas.
dos outros. Havia um grande número de afrodescendentes entre os mari-
Soldo: salário de nheiros; por isso, para historiadores especializados no tema, a
soldado.
presença de castigo físico no Código Disciplinar da Marinha era
Anistia: decisão do
poder público que anula uma manifestação de racismo. Lembre-se de que os oficiais da
punições e concede Marinha pertenciam em sua maior parte a famílias ricas, brancas
perdão a alguém por e poderosas, que tinham tido a seu serviço negros e mestiços na
atos considerados ilegais.
condição de escravizados e libertos.
Em novembro de 1910, um dia após a posse do presidente
COLEÇÃO PARTICULAR

Hermes da Fonseca, o marinheiro negro Marcelino Rodrigues


Menezes foi condenado a 250 chibatadas, embora o regulamento
permitisse 25, no máximo. O castigo foi dado no interior de um navio
e aos olhos de toda a tripulação. E, apesar de ele ter desmaiado
durante o castigo, continuou a ser chicoteado. Era o que faltava para
a explosão da revolta. Através de manobras rápidas, os marinheiros,
liderados por João Cândido,, dominaram os oficiais e assumiram
o comando dos principais navios de guerra ancorados no Rio de
Janeiro: o Minas Gerais e o São Paulo. Apontando seus canhões
para a cidade, os rebeldes exigiram o fim do castigo da chibata, o
aumento dos soldos e a anistia para os marinheiros rebelados.
Sem forças para enfrentar a rebelião, o governo concordou em
proibir os castigos corporais na Marinha e em anistiar os rebeldes. Os
marinheiros cumpriram sua parte no acordo e devolveram os navios
aos oficiais. O governo, porém, quebrou o acordo e partiu para a
João Cândido,
vingança: baixou um decreto que permitia expulsar da Marinha os
apelidado por
um jornalista de elementos “indesejáveis” e mandou prender os líderes da revolta.
“Almirante Negro”, Dezesseis marinheiros revoltosos morreram no presídio da Ilha
morreu em 1969,
das Cobras, na cidade do Rio de Janeiro, nove foram fuzilados na
sem patente e
aposentadoria, viagem para a Amazônia e dezenas foram condenados ao traba-
vendendo peixes que lho forçado nos seringais dessa região. O líder maior da revolta,
ele próprio pescava o marinheiro João Cândido, foi internado como "louco". Mas, em
no cais de uma praia
do Rio de Janeiro. virtude de sua luta e de seus companheiros, aboliram-se os castigos
Fotografia de 1910. corporais na Marinha brasileira.

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Os indígenas na República
Para a maioria dos pensadores do início do século XX, a questão indígena era um pro-
blema nacional e precisava ser resolvida. Nos debates que se seguiram, surgiram diferentes
propostas; uma delas foi a criação pelo governo do Serviço de Proteção aos Índios (SPI),
em 1910, cuja função era prestar assistência aos indígenas. Era a primeira vez que o governo
brasileiro interferia na questão indígena.

Estado brasileiro, povos indígenas e o marechal Rondon


Por sua habilidade no trato com os povos

ARQUIVO O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS


indígenas do Mato Grosso, o marechal Cândido
Rondon foi convidado para dirigir o SPI. A prin-
cipal meta do SPI era a integração total dos
indígenas à nação brasileira. E, para tal, Rondon
propunha os seguintes passos: atração,, pacifi-
cação e civilização..
Essa visão esteve presente também no
Código Civil de 1916, que definia os indígenas
como incapazes. Mas o marco legal da questão
indígena na Primeira República foi a lei no 5.484,
de 1928, que colocava os indígenas sob a tutela
do Estado.. Eles foram classificados por essa
lei em: nômades, aldeados, incorporados aos
centros agrícolas e reunidos em povoações indí-
genas. Os nômades e os aldeados eram vistos Marechal Rondon mostra o funcionamento
como incapazes de responder por seus atos. E, de um relógio a um grupo de indígenas.
por isso, se cometessem alguma infração, só Parque Indígena do Xingu (MT), 1957.
poderiam ser presos com a permissão do SPI.
Os inspetores do SPI adotavam a técnica de
contato desenvolvida por Rondon, que consistia Dialogando
em manter uma atitude defensiva em relação
a Qual era o objetivo do SPI?
aos indígenas até que o relacionamento com
eles fosse estabelecido. Depois buscavam, junto b O que as autoridades do SPI entendiam
por “integração total do índio à
aos governos estaduais, garantir uma terra para
sociedade brasileira”?
o grupo. O SPI atuou em áreas de colonização
c A lei no 5.484, de 1928, colocou o
como São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Mato
indígena sob a tutela do Estado.
Grosso, entre outras. Nessas áreas foram ins- Reflita e opine. Qual é o significado
taladas equipes de atração e postos indígenas. do termo “tutelado”?

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O movimento operário
No início do século XX, o

ACERVO ICONOGRAPHIA
ambiente das fábricas era insa-
lubre, mal iluminado e sem
ventilação adequada; os operários
trabalhavam de 14 a 16 horas por
dia por salários que não acompa-
nhavam o aumento do custo de
vida; além disso, não havia direito
a férias nem a aposentadoria.
Em 1920, em São Paulo, 51%
dos operários eram estrangeiros,
enquanto no Rio de Janeiro estes
somavam 35%; a maioria do ope-
rariado era formada de italianos,
portugueses e espanhóis.
Operários da Fábrica
Sol Levante, das
Indústrias Matarazzo.
Grande parte Ideologias do movimento operário
desses trabalhados
As doutrinas que tinham maior penetração no movimento
era formada de
imigrantes. São operário eram o anarquismo e o socialismo.
Paulo (SP), c. 1900. O socialismo propõe a criação de uma sociedade igualitária e,
portanto, sem classes sociais. Para se chegar a essa sociedade, os
socialistas propunham a tomada do poder e o controle do Estado
pelos trabalhadores até que as desigualdades sociais fossem elimi-
nadas. Os anarquistas,, por sua vez, também defendiam a criação
de uma sociedade igualitária, mas, diferentemente dos socialistas,
almejavam a destruição do Estado, pois, por princípio, eram contrá-
rios à existência de qualquer tipo de governo. Esses ideais entraram
no Brasil com os imigrantes europeus.
Para divulgar seus ideais, os anarquistas produziram e lançaram
importantes jornais operários, a exemplo do Avanti! (1901), O
Libertário (1904), Terra Livre (1905), A Voz do Trabalhador
e A Plebe (1917). Entre os líderes anarquistas, estavam Edgard
Leuenroth, Everardo Dias e José Oiticica. Divulgando suas ideias e
convencendo seus companheiros, os anarquistas esperavam chegar
ao seu objetivo maior, uma “greve geral” revolucionária, que poria
fim ao Estado e ao capitalismo.

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A luta pelas 8 horas
Apesar das frequentes rivalidades entre brasileiros e estrangeiros, assistiu-se na
Primeira República à formação de um movimento operário combativo e atuante. Em 1906,
o operariado realizou, no Rio de Janeiro, o 1o Congresso Operário Brasileiro,, reunindo
trabalhadores de várias partes do Brasil. Esse Congresso foi conduzido, principalmente,
por lideranças anarquistas e ficou decidido que a luta seria pela jornada de 8 horas de
trabalho e pela regulamentação do trabalho feminino. No ano seguinte, a partir do dia
1o de maio, os operários fizeram várias greves com esse objetivo.
O governo reagiu, reprimindo e prendendo trabalhadores. Além disso, aprovou, em
1907, a Lei Adolfo Gordo,, que permitia expulsar do Brasil os imigrantes que participassem
de greves. Mais de uma centena de operários estrangeiros acusados de “grevistas” foi
expulsa do Brasil. Apesar disso, as lutas operárias continuaram intensas.

A greve de 1917
O movimento iniciou-se com a paralisação de algumas fábricas da Mooca e do Ipiranga
(bairros da capital paulista) e logo se alastrou. Em uma das manifestações dos trabalha-
dores – às portas de uma fábrica de tecidos do grupo Matarazzo –, a polícia abriu fogo
contra os manifestantes, baleando o operário anarquista Francisco Martinez,, que morreu
no dia seguinte.

COLEÇÃO PARTICULAR

Trabalhadores em frente a uma fábrica têxtil no bairro da Mooca, em São Paulo (SP), 1917.

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O enterro do jovem operário foi o estopim de uma greve geral em São Paulo. Para
voltar ao trabalho, os trabalhadores exigiam:
• jornada de 8 horas e aumentos salariais;
• abolição do trabalho noturno para mulheres e menores de 18 anos;
• pagamento pontual;
• diminuição dos aluguéis e congelamento dos preços dos alimentos.
O movimento grevista se alastrou para os estados do Rio de Janeiro, da Paraíba, de
Minas Gerais e do Rio Grande do Sul e foi o maior já ocorrido na Primeira República.
Em São Paulo, os patrões concordaram em aumentar os salários em 20% e prome-
teram não dispensar nenhum grevista, libertar os grevistas presos e fazer esforços para
melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Diante disso, o operariado paulista voltou
ao trabalho. Terminada a greve, porém, os empresários passaram a perseguir e a demitir
os principais líderes do movimento.

ACERVO ICONOGRAPHIA
Trabalhadores ocupam
bonde da Light durante a
greve de 1917. São Paulo
(SP), julho de 1917.

Marxismo: teoria e
filosofia criadas pelo
Nos anos seguintes à greve geral, as lutas operárias por melhores
condições de vida e de trabalho prosseguiram. Nesse contexto, um
filósofo alemão Karl
Marx e por Friedrich
grupo composto de operários e intelectuais anarquistas e marxistas
Engels. A ideia central
fundou, em março de 1922, o Partido Comunista do Brasil (PCB). Os
do marxismo é que a
comunistas, ao contrário dos anarquistas, possuíam uma organização
história das sociedades
humanas é a história
centralizada e nacional e eram favoráveis a participar das eleições, pois,
da luta de classes.
por meio delas, esperavam transformar a sociedade.
A mobilização do movimento operário continuou intensa. Em 1926, o PCB lançou uma
frente eleitoral denominada Bloco Operário (BO), que depois passou a se chamar Bloco
Operário e Camponês (BOC). Na campanha para presidente da República de 1930, o BOC
lançou um candidato próprio, o marmorista Minervino de Oliveira.

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O modernismo
Em 1922, ano da fundação do PCB, e em sintonia com as mudanças que vinham
ocorrendo no Brasil e na Europa, um grupo de intelectuais e artistas brasileiros lançou um
movimento cultural conhecido como modernismo. Buscar respostas para perguntas como
“Quem somos nós?” e “O que é ser brasileiro?”, reelaborar as culturas vindas do exterior
e valorizar a cultura popular eram algumas de suas principais palavras de ordem.
O movimento modernista teve início na Semana de Arte Moderna, evento realizado
no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922. A exposição
contou com obras de pintores, como Di Cavalcanti e Anita Malfatti, e de escritores e
poetas, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Na ocasião, além da mostra de
arte, houve também a declamação de poesias, palestras acerca das ideias modernistas e
apresentações de música e dança.
O modernismo teve grande importância na história brasileira e pode ser dividido
em dois momentos distintos. No primeiro, que se iniciou em 1922, o importante era o
processo de atualização e de modernização da cultura e o combate a quaisquer formas
de culto ao passado. A partir de 1924, o essencial passou a ser a produção de uma arte
inteiramente própria.
No contexto desse segundo momento é que o sociólogo Gilberto Freyre publicou Casa-
-grande & senzala,, em 1933, e o historiador Sérgio Buarque de Holanda produziu Raízes
do Brasil,, em 1936, obras que expressam o esforço dos intelectuais modernistas de pensar
o país com base no que ele é, ou seja, “brasileirar o Brasil”, na feliz expressão de Mário
de Andrade.
© TARSILA DO AMARAL EMPREENDIMENTOS LTDA. FOTO: GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Imagem da projeção
de obras de arte em
comemoração aos 100
anos da Semana de Arte
Moderna. Palácio dos
Bandeirantes, São Paulo
(SP), fevereiro de 2022.

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Na literatura, os autores brasileiros inovaram no conteúdo e na forma, criando poemas
com versos livres, sem rima, e textos que ousavam quebrar as regras gramaticais.
Leia o exemplo a seguir, de um poema publicado em 1925.

Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
ANDRADE, Oswald de. O santeiro do mangue e outros poemas.
São Paulo: Globo: Secretaria do Estado da Cultura, 1991.
p. 95. © Oswald de Andrade.

O movimento iniciado em São Paulo se


MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO – SP – BRASIL

propagou pelo país. Várias revistas moder-


nistas, com artigos sobre pintura, escultura,
literatura e história, foram lançadas em dife-
rentes estados.
COLEÇÃO PARTICULAR/ © TARSILA DO AMARAL EMPREENDIMENTOS LTDA.

A arte modernista buscava inspiração em temas populares, alguns desses extraídos do folclore.
Acima, à esquerda, Gazo, obra de Tarsila do Amaral, 1924; acima, à direita, As cinco moças de
Guaratinguetá, pintura de Di Cavalcanti, 1930. Ambos foram importantes pintores modernistas.

54

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Leia um trecho de Os bruzundangas,

ACERVO DA EDITORA
obra do escritor Lima Barreto, que
se utiliza da sátira e da alegoria para
falar sobre o período da Primeira
República.
Os deputados não deviam ter
opinião alguma, senão aquelas
dos governadores das províncias
que os elegiam. As províncias não
poderiam escolher livremente os
seus governantes; as populações
tinham que os escolher entre certas
e determinadas famílias, aparen-
tadas pelo sangue ou por afinidade.
BARRETO, Lima. Os bruzundangas.
Domínio Público. [S. l.], [2004?]. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
bv000149.pdf. Acesso em: 17 mar. 2022.

Fac-símile da capa do livro


Os bruzundangas,
de Lima Barreto.

Sátira: na literatura latina, composição livre e


Nesse texto, o autor está se referindo à: irônica contra instituições, costumes e ideias da
época.
a) política dos mandonismos.
Alegoria: modo de expressão ou interpretação
b) política dos prefeitos. que consiste em representar pensamentos,
c) política dos governadores. ideias, qualidades sob forma figurada.
d) política do voto secreto. Província: o mesmo que estado, a partir da
Constituição de 1891.
e) política da cidadania.

55

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2 Com base no esquema a seguir, explique o modo como as oligarquias se mantiveram
no poder durante a maior parte da Primeira República.

O poder das oligarquias


EDITORIAL DE ARTE

Governo federal Poder federal

Apoio político
e financeiro
Votos

Governo estadual Poder estadual

Verbas e
benefícios
Votos

Coronéis Poder municipal

3 Analise a tabela a seguir.

Brasil: população total e população estrangeira (1872-1920)


População Proporção de
População total
Censo estrangeira estrangeiros na
(em mil habitantes)
(em mil habitantes) população total (%)
1872 10 112 383 3,7

1890 14 334 714 4,9

1900 17 436 1 296 7,4

1920 30 636 1 631 5,3


Elaborado com base em: SCHWARCZ, Lilia Moritz. A abertura para o mundo (1889-1930).
Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. v. 3, p. 42.

a) N
 a tabela, o que se pode constatar em relação aos números da população total, entre o
período de 1872 a 1920?
b) O
 que se pode dizer sobre a porcentagem de estrangeiros da população no período entre
1872 e 1920?
c) Qual cidade brasileira recebeu o maior número de imigrantes e de brasileiros em busca de
uma vida melhor? Por quê?

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4 Avalie as afirmações a seguir.
I. O crescimento da indústria brasileira durante a Primeira Guerra Mundial deveu-se a múltiplos
fatores, entre os quais cabe citar: acumulação interna de capitais, disponibilidade de mão de
obra barata e de matérias-primas e a existência de um sistema de transportes que possibilitava
o escoamento de mercadorias até os portos.
II. Os mais importantes ramos da indústria, na época, eram o têxtil, o de alimentação, o de
bebidas e o de vestuário.
III. Com a industrialização verificada na Primeira República, a população das cidades cresceu,
sendo esse crescimento maior no Rio de Janeiro do que em São Paulo.
IV. Durante a Primeira República, todas as cidades cresceram, mas o salto mais espetacular se
deu na capital do estado de São Paulo.

Identifique a alternativa que descreve corretamente se as afirmações são verdadeiras (V)


ou falsas (F).
a) V, V, F, V.
b) F, F, V, F.
c) V, V, V, F.
d) V, V, F, V.

5 Observe o mapa com atenção.

Região de Canudos (1893-1897)


40º O ALLMAPS

PARÁ

MARANHÃO CEARÁ RIO GRANDE


DO NORTE

PIAUÍ PARAÍBA
OCEANO
Cabrobó
PERNAMBUCO ATLÂNTICO
Canudos ALAGOAS
co MonteV R Jeremoabo
Santo a io
10º S
is

SERGIPE
nc

za
Fra

-B
a
Rio São

rri

GOIÁS
s

BAHIA
Salvador

0 260
MINAS
GERAIS
Fonte: SAGA: a grande história do Brasil.
São Paulo: Abril Cultural, 1981. p. 173.

a) Onde Canudos estava localizado?


b) O
 que motivou as pessoas a se fixarem em Canudos?
c) O que os moradores de Canudos faziam para sobreviver?

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6 O texto a seguir é uma mensagem deixada por um dos líderes do Contestado. Leia-a
com atenção.

Nós estava em Taquaruçu tratando da nossa devoção e não matava e nem


roubava. O Hermes mandou suas forças covardemente nos bombardear, onde
mataram mulheres e crianças. Portanto, o causante de tudo isto é o bandido do
Hermes e, portanto, nós queremos a lei de Deus, que é a Monarquia. O governo da
República toca os filhos brasileiros dos terrenos que pertencem à nação e vende
para o estrangeiro, nós agora estamos dispostos a fazer prevalecer os nossos
direitos.
PEREIRA, Paulino apud D’ANGELIS, Wilmar.
Contestado: a revolta dos sem-terra. São Paulo: FTD, 1991.
(Cinco séculos de resistência, p. 20).

a) Q
 uem está sendo responsabilizado pela destruição da comunidade sertaneja do Contestado?
Explique.
b) C
 om base nesse trecho, é possível pensar que no centro das lutas sertanejas do Contestado
estava a questão da terra?

7 O texto a seguir é trecho de uma matéria do jornal New York Times, publicado em
24 de novembro de 1910.

Um motim no Rio de Janeiro bombardeou a cidade. Todos os negócios foram


suspensos. [...]. Os marinheiros reclamavam [...] abolição dos castigos corporais,
salário maior e diminuição da jornada de trabalho. A Grã-Bretanha pressionou o
ministro de Relações Exteriores para não bombardear o encouraçado São Paulo por
força da presença de engenheiros britânicos que vieram na primeira viagem dos
navios e estavam a bordo [...]. A cidade ficou três dias à mercê dos foras da lei. [...]
O governo cedeu frente à Marinha amotinada enquanto os amotinados miravam
suas armas para a cidade. E a anistia acabou por ser aprovada no Congresso em
meio a combate de socos.
MUTINY on warships at Brazil’s capital: crew holds at least one dreadnought and bombardment of Rio is reported.
The New York Times, 24 nov. 1910 apud SOUSA, Cláudio Barbosa.
Marinheiros em luta: a Revolta da Chibata e suas representações.
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Instituto de Ciências Sociais,
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2012. p. 45.

a) Com base no que você estudou no capítulo, quais eram as principais demandas dos marinheiros?
b) E
 m dupla. Converse com o colega, reflitam e opinem: como vocês veem a pressão da Grã-
-Bretanha para que o ministério das Relações Exteriores do Brasil impedisse o bombardeio do
encouraçado São Paulo?
c) A
 valiem, debatam e opinem: o jornal tomou partido de um dos lados no episódio conhecido
como Revolta da Chibata? Justifiquem.

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CAPÍTULO

3 A ERA VARGAS

Getúlio Vargas é, talvez, a figura mais polê-

UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UIG/BRIDGEMAN/FOTOARENA


mica da história do Brasil. Para uns, ele foi um
ditador a serviço das elites; para outros, um esta-
dista preocupado com os mais pobres.

1. Você já ouviu falar do presidente Vargas?


2. Você sabia que, em 1954, ele se suicidou com um tiro
no coração?
3. Por que será que tanta gente foi ao seu enterro?
4. Por que a população se abalou tanto com a morte
dele?
5. Sabe-se que seu governo usou intensamente os
meios de comunicação de massa (rádio, cinema etc.)
para fazer propaganda. Mas por que será que essa
propaganda foi tão bem recebida pela população?
6. Por que ele se tornou uma figura tão querida pelo
povo?

Getúlio Vargas, 1945.


ACERVO ICONOGRAPHIA

Comemoração do 1o de
Maio, no campo do Vasco
da Gama, durante o
governo Vargas. Rio de
Janeiro (RJ), 1942.

59

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O tenentismo antes de 1930
Tenentismo: nome que
Nos anos 1920, as oligarquias no Brasil continuavam a fazer uso se deve ao fato de seus
da corrupção e da violência para chegar ao poder e nele permanecer. líderes serem jovens
Essa situação opressiva contribuiu, como vimos, para gerar revoltas no oficiais do Exército
(capitães e tenentes),
campo e na cidade, além de uma grande insatisfação social. As Forças chamados genericamente
Armadas também estavam descontentes com o tratamento que rece- de tenentes.
biam das oligarquias. Expressando esse descontentamento, um grupo Venal: que se corrompe
por dinheiro; corrupto.
de militares liderou um movimento conhecido como tenentismo
tenentismo..

O primeiro 5 de julho
O estopim da primeira revolta tenentista foi a publicação, por um jornal carioca, de
cartas falsas atribuídas a Artur Bernardes, candidato do governo à Presidência da República
“venais”,
nas eleições de 1922. Essas cartas ofendiam os militares, dizendo que eles eram “venais ”,
e chamavam o presidente do Clube Militar, marechal Hermes da Fonseca, de “sargentão
sem compostura”.
O clima de hostilidade aumentou quando Artur Bernardes foi eleito presidente e mandou
prender o marechal Hermes da Fonseca, acusando-o de agitador. Foi a gota-d'água.
Em 5 de julho de 1922, os tenentes do Forte de Copacabana pegaram em armas contra
o governo dizendo-se dispostos a “salvar a honra do Exército”, a moralizar a política do país
e exigindo a deposição de Bernardes. A revolta teve focos em outras regiões do país.
O governo interveio e obrigou
LUCAS NASCIMENTO/FOTOARENA

os revoltosos a se renderem. A
maioria deles se rendeu. Dezessete
militares e um civil, porém, saíram
pela Avenida Atlântica, na cidade
do Rio de Janeiro, dispostos a tudo.
Na troca de tiros com as forças do
governo, apenas dois tenentes esca-
param com vida: Siqueira Campos e
Eduardo Gomes. Os revoltosos foram
punidos com prisões e transferências
forçadas para outras regiões do país.

Monumento aos 18 do Forte de Copacabana,


em homenagem aos 17 militares e um civil
que morreram no movimento de 1922.
Praça dos Girassóis, Palmas (TO), 2019.

60

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O segundo 5 de julho
Dois anos depois, explodiu outro levante tenentista; só que dessa vez em São Paulo.
Esse levante, ao contrário do primeiro, tinha objetivos bem definidos; os tenentes exigiam:
a deposição do presidente Artur Bernardes e a sua substituição por outro oligarca mineiro,
Wenceslau Brás; o voto secreto; o combate à fraude eleitoral; a liberdade de pensamento e
imprensa; e o ensino primário obrigatório.
Liderados pelo general Isidoro Dias Lopes e pelo major Miguel Costa, os militares
rebeldes tentaram conquistar a cidade de São Paulo. Com forças mais numerosas e o
apoio da aviação militar, o governo venceu os tenentes. Eles, porém, não desistiram: cerca
de mil soldados formaram a coluna paulista e deixaram São Paulo em direção à Foz do
Iguaçu, no Paraná. Os rebeldes sulistas, por sua vez, comandados pelo capitão Luís Carlos
Prestes, formaram a coluna gaúcha e marcharam até Foz do Iguaçu a fim de se unirem
aos paulistas. Da junção da coluna paulista à gaúcha nasceu a Coluna Prestes..

A Coluna Prestes
Com cerca de 1 500 homens, a Coluna Prestes partiu para a Guerra de Movimento:
saiu pelo interior do Brasil buscando apoio do povo para sua luta contra o governo. Nos
locais onde eram bem-recebidos, os
A marcha da Coluna Prestes (1924-1927) rebeldes queimavam os registros de
cobrança de impostos dizendo que,
SELMA CAPARROZ

PARÁ MARANHÃO Teresina


CEARÁ RIO GRANDE
assim, livravam o povo dos abusos
PIAUÍ Iguatu DO NORTE
do governo. Movimentando-se com
Uruçuí
Picos Piancó PARAÍBA
Floriano
PERNAMBUCO rapidez, conseguindo munição e
Pedro Remanso
Afonso Sento Sé ALAGOAS armamento do próprio inimigo e evi-
Porto SERGIPE
Nacional BAHIA
Taguatinga Lençóis tando as grandes cidades, a Coluna
MATO GROSSO GOIÁS
Niquelândia Posse
Rio de Contas Prestes percorreu 25 mil km através
Cuiabá de 12 estados brasileiros. E, nos com-
Goiás
Anápolis
OCEANO
San Martín
Jataí
ATLÂNTICO bates que travou, manteve-se invicta.
BOLÍVIA Coxim MINAS
Camaquã GERAIS ESPÍRITO SANTO
No início de 1927, os 600 homens
Campo
Grande
que ainda integravam a Coluna, já
Ponta Porã SÃO PAULO
PARAGUAI
RIO DE JANEIRO bastante abatidos, decidiram se refu-
Rio de Janeiro Trópico de C
São apricór
Foz do Iguaçu
PARANÁ Paulo (Distrito Federal) ni o giar na Bolívia e no Paraguai.
SANTA
ARGENTINA CATARINA
Santo
São Luís Ângelo
Gonzaga Coluna Paulista (1924)
RIO GRANDE Coluna Gaúcha (1924-1925)
DO SUL Porto
Alegre Coluna Prestes
Do Paraná à Bahia
URUGUAI (dezembro de 1924 a abril de 1925)
0 325 Da Bahia à Bolívia Fonte: CAMPOS, Flavio de; DOLHNIKOFF, Miriam.
(abril de 1926 a fevereiro de 1927) Atlas de História do Brasil. São Paulo: Scipione,
50º O
1997. p. 47.

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1930: um marco na história do Brasil
Em um ambiente de grande insatisfação social, o então presidente Washington Luís,
que tinha sido indicado pelo estado de São Paulo, decidiu indicar como seu sucessor o
paulista Júlio Prestes. O governador de Minas Gerais, Antônio Carlos, que esperava ser
o escolhido, reagiu à atitude do presidente e aliou-se às oligarquias do Rio Grande do
Sul e da Paraíba, formando com elas a Aliança Liberal.
Para disputar as eleições de 1930, a Aliança Liberal lançou o gaúcho Getúlio Vargas
para presidente e o paraibano João Pessoa para vice-presidente. Em seus discursos, Getúlio
prometia:
• voto secreto;
• incentivo à indústria nacional;
• leis trabalhistas;
• e anistia aos “tenentes” rebelados.
Com essas promessas, Vargas foi se tornando cada vez mais popular. Em meio à
campanha presidencial, a grande crise econômica de 1929 atingiu fortemente o Brasil.
O país produziu, naquele ano, cerca de 29 milhões de sacas de café, mas só conseguiu
vender a metade e por um preço reduzido. A crise arruinou cafeicultores e deixou muitos
trabalhadores sem emprego, o que contribuiu para aumentar a insatisfação com o governo
de Washington Luís e elevar a
ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

popularidade de Vargas.
Nas eleições, tanto a situação
quanto a oposição usaram fraude
e violência. No Rio Grande do
Sul, por exemplo, Vargas obteve
quase 100% dos votos; mas a
vitória coube ao candidato gover-
nista, Júlio Prestes.

Caricatura de J. Carlos na capa da revista


O Malho, de 17 de agosto de 1929.
A candidatura de Vargas era apoiada por
parte da imprensa. Essa caricatura, por
exemplo, sugere que a vitória de Júlio
Prestes significaria o triunfo dos velhos
“caciques” que mandavam na política.
A campanha para as eleições de 1930 foi
agitada. Vargas era bastante aplaudido
nos comícios que realizava nas grandes
cidades do Sudeste.

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A oposição não se conformou com a derrota nas urnas e,
com o apoio de “ex-tenentes”, começou a conspirar contra o
governo. Nesse clima tenso, o governador de Minas Gerais, Antônio
Carlos, teria dito: “Façamos a Revolução, antes que o povo a faça”.
Chegada de Vargas a
Um fato novo acelerou os acontecimentos: em julho de 1930, João
Ponta Grossa (PR), em
Pessoa, candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas, outubro de 1930, durante
foi assassinado, a mando de um rival seu na política da Paraíba. a marcha rumo ao Rio de
Aproveitando-se desse fato, em 3 de outubro de 1930, rebeldes Janeiro (RJ), capital da
República na época. Com
liderados por Vargas partiram do Rio Grande do Sul em direção ao a vitória do movimento
Rio de Janeiro, dispostos a derrubar o governo. Mas, antes que de 1930, Vargas foi
chegassem à capital, uma junta militar depôs Washington Luís e elevado à posição
de chefe do governo
entregou o poder a Getúlio Vargas, o líder civil do movimento. provisório.

CPDOC-FGV

O primeiro governo Vargas


Durante o primeiro governo Vargas, que se deu entre 1930 e
1945, o Brasil mudou bastante: a industrialização, que já estava
em curso desde o fim da Primeira Guerra Mundial, avançou e Voto indireto: os
as cidades cresceram; o Estado se fortaleceu, interveio na eco- eleitores votavam
nos deputados da
nomia e estabeleceu uma nova relação com os trabalhadores. Assembleia Nacional
Nesses 15 anos, Vargas foi chefe de um governo provisório Constituinte, e estes
(1930-1934), presidente eleito por voto indireto (1934-1937) e elegiam o presidente
da República.
ditador (1937-1945).

63

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Governo provisório
No discurso de posse, Getúlio disse que seu governo era provisório. Mas, assim que
assumiu o poder, pôs em prática um projeto de centralização do poder. Inicialmente,
visando enfraquecer as oligarquias estaduais, afastou os governadores e, para ocupar o
lugar deles, nomeou interventores de sua confiança.

A oposição paulista
Ao impor interventores aos estados, Getúlio desagradou às elites estaduais. Para São
Paulo, por exemplo, o presidente nomeou o tenente João Alberto. A elite paulista, no
entanto, reagiu à nomeação, formando a Frente Única Paulista (FUP), que exigia: uma
nova Constituição para o Brasil e a nomeação de um interventor civil e paulista para o
governo de São Paulo.
Pressionado, Vargas nomeou o paulista Pedro de Toledo para o cargo. Apesar disso,
os paulistas continuaram fazendo oposição ao presidente.
Foi quando ocorreu uma tra­ -

ACERVO MEMORIAL'32 - CENTRO DE ESTUDOS JOSÉ CELESTINO BOURROUL, SÃO PAULO, SP.
­gédia em São Paulo: quatro estudantes
( Martins,, Miragaia,, Dráusio e
Camargo)) foram mortos quando ata-
cavam a sede de um jornal pró-Vargas.
As iniciais dos nomes dos estudantes,
MMDC, passaram a ser a sigla e o
símbolo da reação paulista. Em 9 de
julho de 1932, liderados pelo general
Isidoro Dias Lopes e o civil Pedro de
Toledo, os paulistas pegaram em armas
contra o governo federal. O episódio
é conhecido, em São Paulo, como
Revolução Constitucionalista e, em
outros estados brasileiros, como Guerra
Paulista.

Cartaz do movimento MMDC promovendo


o alistamento durante a Revolução
Constitucionalista de 1932. São Paulo (SP), 1932.

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Muitos jovens, de classe média em sua maioria,

CPDOC-FGV
alistaram-se para lutar no exército constitucionalista;
os industriais paulistas, sob a liderança de Roberto
Simonsen, também se engajaram na luta produzindo
armas e munições. Além disso, os paulistas lançaram
a campanha “Ouro para o bem de São Paulo”, em
que joias, alianças, relógios, crucifixos e outros objetos,
poderiam ser doados para financiar a luta.

Dialogando
Esse cartaz foi produzido em São Paulo, na década
de 1930. Observe-o com atenção e responda:
a Quem são os personagens principais do cartaz?
b O que está acontecendo na cena?
c O que os autores do cartaz querem dizer com
“Abaixo a dictadura”?

Na guerra contra as tropas federais, os paulistas


foram apoiados apenas por Mato Grosso. O governo
Cartaz do Movimento Constitucionalista.
federal, por sua vez, tinha navios, mais soldados –
São Paulo (SP), 1932.
vindos de vários estados do Brasil, especialmente do
Norte – e maior poder de fogo. Por isso venceu os paulistas em poucos meses. Embora
derrotados militarmente, os paulistas tiveram a sua principal demanda atendida: o governo
convocou uma Assembleia Constituinte que, em 1934, votou e aprovou a terceira Constituição
do Brasil.
Na Assembleia Constituinte
COLEÇÃO PARTICULAR

que elaborou a Constituição


de 1934, via-se, entre os
homens, uma única mulher.
Seu nome era Carlota
Pereira de Queirós. Ela foi
a primeira mulher a ocupar
o cargo de deputada no
Brasil. Sua eleição foi fruto
da luta das mulheres pelo
voto feminino durante a
Primeira República.
Rio de Janeiro (RJ),
16 de julho de 1934.

65

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A Constituição de 1934 regulamentou:
• o voto secreto,
• o voto feminino,
• a justiça eleitoral.
As três conquistas já constavam no Código eleitoral de
1932. Além disso, a nova Carta determinou: o ensino pri-
mário gratuito, de frequência obrigatória; a nacionalização
progressiva de minas, jazidas minerais e quedas-d’água,
julgadas essenciais ao país; e a criação da Justiça do
Trabalho. Reconheceu direitos trabalhistas como: jornada
de trabalho de 8 horas, descanso semanal remunerado,
indenização por dispensa sem justa causa, proteção aos
Dialogando
menores de idade e às mulheres, férias anuais remunera-
Tente responder: os direitos das, estabilidade às gestantes etc.
trabalhistas presentes na
A Constituição previa também que o próximo pre-
Constituição podem ser vistos
como doação do governo sidente seria escolhido por meio de eleições indiretas. A
Vargas ou como conquista vitória nessas eleições coube a Getúlio Vargas e foi comen-
do movimento operário? tada na imprensa. Observe a imagem a seguir.

BELMONTE

Charge de Belmonte publicada na Folha da Noite, em 20 de julho de 1934.

Dialogando
a O que a imagem mostra?
b O que o autor da charge critica?
c Como você chegou a essa conclusão?

66

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Movimento de mulheres
Desde antes do advento da República, as aspirações das mulheres vinham mudando.
Leia o texto a seguir, sobre Nísia Floresta.

CORTEZ EDITORA
PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Nísia Floresta: precursora


do feminismo
O ano de 1831 foi o ano da estreia de Nísia
Floresta nas letras. […] As reflexões sobre a condi-
ção feminina estavam, […] entre as primeiras que
motivaram e levaram Nísia Floresta a escrever. […]
Em 1832, vem a público Direitos das mulheres
e injustiça dos homens, assinado com o nome que
tornará famosa a norte-rio-grandense: Nísia Floresta
Brasileira Augusta […]. Fac-símile da capa do livro
Direitos das mulheres e injustiça dos homens Direito das mulheres e injustiça
dos homens, de Nísia Floresta
foi inspirado na obra de Mary Wollstonecraft – […]
Brasileira Augusta.
[Reivindicação dos direitos da mulher] – de 1792 –,
conforme ela mesma declarou […]. A novidade é que, ao invés de simplesmente fazer
uma tradução, Nísia […] escreve um livro denunciando os preconceitos existentes no
Brasil contra a mulher e desmistificando a ideia dominante da superioridade masculina.
Ao mesmo tempo em que constrói a defesa [...] [do ser feminino], ela denuncia e
desmascara os artifícios masculinos de dominação. E indaga:
Se este sexo altivo quer fazer-nos acreditar que tem sobre nós um direito natural de supe-
rioridade, por que não nos prova o privilégio, que para isso recebeu da Natureza […]?
DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo.
Brasília, DF: Cultural, 2006. p. 19.

a) O título do texto tem relação com o seu conteúdo? Justifique.


b) O
 nome real da escritora potiguar era Dionísia Pinto Lisboa. Pesquise. Por que será
que ela teria assinado seu romance com o nome de Nísia Floresta Brasileira Augusta?
c) Interprete. O que Nísia Floresta quis dizer com a última frase do texto?

Após a Proclamação da República, as mulheres intensificaram sua luta por acesso


pleno à educação e pelo direito de votar e de ser eleita, elementos tidos como indispen-
sáveis para a emancipação feminina.

67

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A pesquisadora paulista

ARQUIVO/UN PHOTO
Bertha Lutz
Em 1918, a feminista Bertha Lutz
chegou da Europa disposta a lutar pela
emancipação da mulher no Brasil. Sua prio-
ridade era a conquista do voto feminino.
Tão logo chegou ao Rio de Janeiro,
Bertha escreveu uma carta à Revista da
Semana pleiteando a emancipação da
mulher. Nela, defendia o direito de as mu-
lheres trabalharem em diferentes ocupações,
a fim de se livrarem de uma dependência
“humilhante para elas” e prejudicial aos
homens.
Livres para estudar e trabalhar, as
mulheres se transformariam em fator de
progresso do Brasil, afirmava Bertha. Com
esse discurso, atraiu muitas seguidoras em
pouco tempo. Ela e suas companheiras
escreveram artigos para os jornais, conce-
deram entrevistas, promoveram debates
Bertha Lutz, na Conferência de São Francisco,
que deu origem à ONU. São Francisco (EUA),
públicos, organizaram-se em associações e
1945. conseguiram apoio de lideranças políticas e
da opinião pública.
O ativismo dessas e de outras mulheres de diferentes partes do país foi decisivo para
o novo Código Eleitoral, aprovado em 1932, que estabeleceu o voto feminino. Dois anos
depois, graças à luta das próprias mulheres, a Constituição de 1934 estendeu à mulher o
direito de votar e ser votada.

A escritora catarinense Antonieta de Barros


Outra importante líder feminina brasileira foi Antonieta de Barros, uma mulher negra
e de origem humilde.
No pós-Abolição, as mulheres afrodescendentes tinham poucas opções: lavar, cozinhar,
limpar ou vender quitutes pelas ruas e praças. Antonieta ousou trilhar outro caminho.
Cursou a escola normal e transformou sua casa, em Florianópolis (SC), em uma escola
particular que levava seu nome. Ali, ela recebia crianças em fase de alfabetização e adultos
para os cursos preparatórios.

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Antonieta escrevia também para jornais e revistas

MANUELA MARUJO/REVISTA AMAR


defendendo o aumento do número de escolas, de vagas
para professores com base no mérito, não no privilégio, e de
bolsas para alunos carentes.
Em 1934, Antonieta foi eleita como a primeira depu-
tada estadual de Santa Catarina, tornando-se a primeira
afrodescendente a ocupar um cargo eletivo no Brasil. No
ano seguinte, publicou o livro chamado Farrapos de ideias,,
em que defende a educação e o trabalho como meio de
ascensão social e conquista da cidadania pelas mulheres.

Frente Negra Brasileira


Durante o governo Vargas, a comunidade afrodescen-
dente continuou se organizando para lutar por seus direitos.
Em 1931, Francisco Lucrécio, Raul Joviano e José Correia Leite,
todos negros, fundaram a Frente Negra Brasileira (FNB),
( ), um
movimento nacional de luta contra o racismo.
Os afrodescendentes procuravam a FNB para pedir ajuda
em problemas como moradia, emprego e “preconceito de cor”,
como se dizia à época. Os recursos da FNB vinham das contri-
buições dos associados e da venda do jornal A Voz da Raça..
A FNB criou departamentos importantes, como:
Departamento de Instrução, que oferecia curso de alfabe-
tização de adultos, primário e de formação racial, além de
biblioteca; Departamento de Imprensa, que era responsável
por publicar A Voz da Raça;; Departamento Jurídico-Social,
que prestava assistência aos associados para resolver pro-
blemas resultantes do desrespeito aos direitos da população
afro-brasileira.
Havia ainda o Departamento Musical, o Departamento
Esportivo, o Departamento Médico e uma Caixa Beneficente,
que fornecia assistência hospitalar e funerária aos
frente-negrinos.
Uma das maiores vitórias dessa entidade na luta contra  ural produzido pelos artistas
M
o racismo foi ter conseguido colocar 400 afrodescendentes Thiago Valdi, Tuane Ferreira
e Gugie em homenagem
na Força Pública de São Paulo, que, até então, nunca tinha a Antonieta de Barros.
aceitado negros em seus pelotões. Florianópolis (SC), 2021.

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A FNB atraiu milhares de pessoas, especialmente jovens afrodescendentes de diversas
partes do país. Aos domingos, a FNB promovia palestras – as famosas domingueiras – com
o objetivo de desenvolver nas pessoas negras a autoestima, evidenciando sua importância,
e de estimular a luta da comunidade pela conquista da cidadania.
Os seus dirigentes resolveram então transformá-la em partido político. Em 1936,
os frente-negrinos tiveram o seu pedido aprovado. Não chegaram, porém, a disputar
eleições. É que, em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas instalou no país uma ditadura,
mandando fechar todos os partidos políticos, entre eles a Frente Negra Brasileira.
ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

Integrantes da Delegação da Frente Negra Brasileira em fotografia diante da sede da organização em


São Paulo (SP), entre 1931 e 1937.

Os indígenas na Era Vargas


Na década de 1930, o debate sobre a diversidade étnica e cultural brasileira esquentou.
Passou a predominar a tese de que o Brasil se formou com base no convívio harmonioso
e equilibrado entre indígenas, brancos e afrodescendentes.
Na nova identidade nacional que estava sendo construída, os indígenas ganharam
papel de destaque pelo reconhecimento de suas contribuições para a formação histórica e
cultural do Brasil. Passaram, então, a ser vistos como “as verdadeiras raízes da brasilidade”,
“primeiros cidadãos” do Brasil.

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Nesse ambiente, em 1943, Getúlio Vargas instituiu a data de 19 de abril como
o Dia do Índio,, ao mesmo tempo que incentivava a exibição de exposições, pro-
gramas de rádio e filmes sobre as populações indígenas. No entanto, essa valorização
simbólica da população indígena entrou em contradição com um projeto do governo
Vargas chamado Marcha para o Oeste (1937-1945), que visava ocupar e desenvolver
o interior do Brasil.
Com a Marcha para o Oeste, o governo Vargas procurou redefinir as fronteiras
dos territórios indígenas. Estima-se que, à época, havia aproximadamente 200 grupos
indígenas com línguas e culturas próprias; mas o Estado reduziu-os a uma só palavra:
“índios”.
Os xavante, que chamavam a si próprios de “as pessoas” e tinham recordações dolo-
rosas do contato com os colonizadores, recusaram-se a aceitar a Marcha para o Oeste.
Uma tentativa de contato com os Xavante feita por uma equipe do Serviço de Proteção
ao Índio (SPI) acabou na morte do chefe da equipe e de cinco de seus assistentes. Dessa
forma, os Xavante diziam NÃO à Marcha para o Oeste.
Donos de um extenso território no norte do Mato Grosso, os Xavante precisavam dele
para praticar a caça de animais e a coleta de frutas, babaçu e raízes e, por isso, combatiam
qualquer pessoa ou grupo que tentasse invadi-lo.
CESAR DINIZ/PULSAR IMAGENS

Indígenas da etnia xavante, na Aldeia Aldeiona, na corrida de revezamento com tora de buriti na cerimônia
de escolha de padrinho por adolescentes. Campinápolis (MT), outubro de 2020.

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Já os indígenas karajá e xerente, que viviam rodeados por colonos
brancos, aceitaram colaborar com o projeto de integração de Vargas
pensando em conseguir ajuda e proteção do Estado brasileiro.
Esse também foi o caso dos indígenas da etnia tembé. Interessante
notar, no entanto, que mesmo aceitando colaborar com o governo,
os indígenas tembé teceram críticas duras ao SPI.
Leia o trecho da carta escrita, em 1945, por Lírio Arlindo do Valle,
um indígena tembé, cujo objetivo era ser nomeado inspetor do SPI no
Pará, cargo ocupado à época por um branco.
[…] “o SPI ultimamente não se enteressa [sic] pelos índios, porque
lá só trabalham brancos e os brancos não se enteressa [sic] pelos
índios”. […]
(VALLE, 1945 apud GARFIELD, 2000, p. 30).

Lírio Arlindo do Valle argumentava que, se ele fosse nomeado


juntamente com outros “índios competentes e civilizados” para a
diretoria do SPI, faria a “verdadeira integração dos povos indígenas”.

Dialogando
a Apresente exemplos de ações que buscavam valorizar a cultura indígena durante o governo Vargas.
b Por que a utilização do termo “índio” é problemática?
c Como foi a recepção da equipe do SPI pelos diferentes povos indígenas?
d Qual era a opinião do indígena Lírio Arlindo do Valle sobre o SPI?

ESCUTAR E FALAR
Em dupla.. Debatam, reflitam e opinem. O discurso de que o Brasil se formou a
partir do convívio harmonioso e equilibrado entre indígenas, brancos e afrodescendentes
inspirou a tese de que somos uma democracia racial, ou seja, um país onde não há
racismo. O que você pensa dessa tese?

Autoavaliação. Responda em seu caderno.


a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

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O governo constitucional de Vargas
Vargas assumiu o governo no momento em que o Brasil sofria ainda os efeitos da
Grande Depressão (1929-1933). As falências de empresas, o desemprego e a inflação em
alta elevavam a tensão social; esse contexto conturbado facilitou a entrada de ideias auto-
ritárias vindas da Europa e a radicalização política. Nesse contexto, surgiram no Brasil dois
agrupamentos políticos rivais: os integralistas e os aliancistas.

ACERVO ICONOGRAPHIA
Raimundo Padilha, um dos fundadores da AIB em Niterói (RJ), discursando. À sua esquerda, Plínio Salgado,
fundador da AIB. 1937.

Os integralistas
Os integralistas, liderados pelo escritor Plínio Salgado, seguiam os princípios do fas-
cismo de Benito Mussolini. Em 1932, os integralistas fundaram a Ação Integralista
Brasileira (AIB),, uma organização política que tinha por lema Deus, Pátria e Família e
que defendia:
• um governo autoritário dirigido por um chefe e um partido único;
• o predomínio dos interesses da nação sobre os dos indivíduos;
• a censura aos meios de comunicação.
Assim como os fascistas, os integralistas faziam uso da violência contra adversários
políticos, principalmente contra os comunistas. Apelando para um nacionalismo agressivo,
a AIB conseguiu o apoio de membros das camadas médias, do alto clero, do empresariado
e das Forças Armadas. A AIB chegou a possuir mais de 100 mil filiados e mais de mil
núcleos espalhados pelo país.

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Os aliancistas
Em oposição aos integralistas, foi fundada no Brasil, em 1935, a Aliança Nacional
Libertadora (ANL),, uma frente popular liderada pelos comunistas, chefiada pelo ex-capitão
Luís Carlos Prestes. Os principais pontos do programa da ANL eram: o anti-imperialismo; o
não pagamento da dívida externa brasileira; a nacionalização das empresas estrangeiras;
a reforma agrária; e a formação de um governo popular.

O levante comunista
Em 5 de julho de 1935, o líder comunista Luís Carlos Prestes lançou um manifesto
que propunha a derrubada do governo Vargas e a formação de um governo popular
revolucionário. O governo Vargas reagiu ao manifesto fechando a sede da ANL, bem como
a maioria dos núcleos que ela tinha pelo país.
Diante disso, um grupo de sargentos, cabos e soldados comunistas das cidades de
Natal, Recife e Rio de Janeiro promoveram um levante armado contra o governo, rotulado
à época de Intentona Comunista. Agindo com rapidez, o governo Vargas sufocou os
levantes e passou a prender e a torturar os simpatizantes da ANL, comunistas ou não.
As cadeias das principais cidades brasileiras encheram-se de presos
Intentona: ação políticos, entre os quais estavam o escritor alagoano Graciliano Ramos
louca, insensata.
e a ativista alemã Olga Benário, esposa de Prestes.
ACERVO UH/FOLHAPRESS

GLOBO FILMES E LUMIÈRE PICTURES

À esquerda, o escritor Graciliano Ramos com a neta, 1953. À direita, fac-símile do cartaz do filme brasileiro
Olga, de 2005, baseado no romance homônimo de Fernando de Morais.

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O Estado Novo
As eleições para a Presidência da República estavam marcadas para o início de 1938.
Vargas, no entanto, não estava disposto a deixar o poder. Por isso, ele anunciou pelo
rádio que havia descoberto o Plano Cohen,, segundo o qual os comunistas iriam provocar
greves, incêndios em igrejas e o assassinato do presidente.
KEYSTONE-FRANCE/GAMMA-KEYSTONE/GETTY IMAGES

Vargas lendo em cadeia


nacional de rádio as
razões que o levaram
a desfechar o golpe de
1937, definido por ele
como o início de uma
revolução que mudaria
o Brasil. Rio de Janeiro
(RJ), 10 de novembro
de 1937.

Na realidade, o Plano Cohen era falso, mas serviu de pretexto para que, em 10 de
novembro de 1937, Vargas desse um golpe e implantasse uma ditadura, o Estado Novo..
Naquele mesmo dia, ele fechou o Congresso Nacional e impôs ao país a Constituição de
1937, que permitia ao presidente governar por decretos-leis (leis impostas). As eleições
presidenciais foram suspensas; as greves, proibidas; e os sindicatos passaram a ser ainda
mais controlados pelo governo.
Vargas iniciou seu novo governo decretando a extinção de todos os partidos políticos.
Inconformados, os integralistas atacaram o Palácio Guanabara, residência do presidente,
em maio de 1938. Ajudado por sua guarda pessoal, Vargas resistiu ao golpe à bala; em
seguida, aproveitou-se do episódio para mandar prender seus adversários. Mas Vargas
não se manteve no poder só por meio da violência; ele adotou também um conjunto
de políticas públicas nas áreas do trabalho, da educação e da saúde e uma cuidadosa
propaganda para exercer sua dominação.

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O trabalhismo
Uma característica fundamental da política de Vargas foi o trabalhismo,, que consistia
em conceder benefícios reais aos trabalhadores e, ao mesmo tempo, fazer propaganda
do que foi concedido, com a intenção de divulgá-los e de despertar nos trabalhadores
sentimentos de gratidão e retribuição.
Durante o Estado Novo, a partir de 1942, Vargas divulgou amplamente os direitos
trabalhistas, usando os jornais, o rádio e as comemorações cívicas. Exemplo disso foi o
anúncio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), (CLT), na festa de 1o de maio de 1943.
Os “encontros” de Vargas com os “trabalhadores do Brasil” no dia 1o de maio (Dia do
Consolidação das Leis Trabalho) eram organizados pelo Ministério do Trabalho. Eles incluíam
do Trabalho (CLT): desfiles escolares, operários e militares, apresentações de bandas
sistematizava a legislação e torneios esportivos. No auge da festa, Vargas discursava. Ele
trabalhista já existente
e regulamentava a começava seus discursos sempre com a mesma frase: “Trabalhadores
atividade sindical. do Brasil…” e, em dado momento, anunciava uma medida que
Pela CLT, os sindicatos
arrancava aplausos da multidão. Exemplos disso são o salário mínimo
ficavam vinculados ao
Ministério do Trabalho e a CLT. O trabalhismo buscava estabelecer um vínculo político
e se tornavam, assim, entre o presidente e os trabalhadores. Estes deviam ser produtivos e
dependentes do Estado.
ordeiros e trabalhar para o progresso do Brasil.
ACERVO ICONOGRAPHIA

Concentração trabalhista em homenagem a Getúlio Vargas no estádio do Vasco da Gama, Rio Janeiro (RJ),
1942. Na faixa lê-se os dizeres: “Salve Getúlio Vargas, creador da grande siderurgia”. O Estado Novo fez um
grande investimento em propaganda com o objetivo de transformar Getúlio Vargas em um mito.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Leia o texto a seguir com atenção e, em

ACERVO FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO


seguida, responda às questões..
Analisando correspondências envia-
das a Getúlio Vargas enquanto presidente
nas décadas de 1930 e 1940, Jorge Ferreira
comprovou que pessoas comuns se apre-
sentavam como pobres e [...] faziam críticas
e exigências [ao presidente]. O mito do
“Pai dos pobres” foi utilizado com frequ-
ência para pedir ajuda ou proteção, o que
qualquer pai não recusaria a seus filhos.
Outras cartas eram enviadas para expres-
sar gratidão pelo reconhecimento de suas Getúlio Vargas recebe os jangadeiros no
necessidades, uma verdadeira demonstra Palácio do Catete, dez anos depois da saga de
1941. Rio de Janeiro (RJ), dezembro de 1951.
ção de carinho ao presidente. Mais interes-
sante ainda era a prática, criada pelo Estado, de respondê-las, mostrando mais uma
vez o canal de comunicação que foi aberto entre essa esfera de poder e o povo.
Nessa mesma linha de raciocínio, Berenice Abreu de Castro Neves Saga:
conta a saga realizada em 1941 por quatro trabalhadores de uma história longa
e movimentada.
colônia de pesca que navegaram de Fortaleza ao Rio de Janeiro em
uma jangada. O objetivo era denunciar ao presidente suas péssimas condições de
vida e de trabalho [...]. O episódio mostrou o quanto eles confiavam na justiça do
presidente e acreditavam que iriam ser contemplados. E foram. Três dias depois, o
governo incluiu os jangadeiros no Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos
e estabeleceu, para essa categoria de trabalhadores, um salário-base não inferior ao
salário-mínimo local.
MACEDO, Michelle Reis. Recusa do passado, disputa no presente: esquerdas revolucionárias e a reconstrução
do trabalhismo no contexto da redemocratização brasileira (décadas de 1970-1980). Tese (Doutorado em História) –
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2012. p. 32-33.

a) Q
 ual era a tática usada pelas pessoas comuns para conseguir o que queriam junto
ao presidente Vargas?
b) Imagine e descreva a reação de uma pessoa comum ao receber uma carta do presidente
Vargas.
c) O
 que se pode inferir a respeito do trabalhismo de Vargas com base na ação dos jan-
gadeiros que navegaram de Fortaleza ao Rio de Janeiro? E da reação da Presidência
da República a seus pedidos?

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O DIP e a propaganda varguista
Como vimos, o governo Vargas regulamentou leis trabalhistas, como salário mínimo,
férias, limitação de horas de trabalho, segurança, carteira de trabalho e justiça do trabalho,
entre outras. Ao mesmo tempo, propagandeou esses benefícios a fim de despertar no
trabalhador sentimentos de gratidão e retribuição ao presidente. Em 1939, Vargas criou
o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão encarregado de fazer a
propaganda e a censura, subordinado diretamente ao presidente da República. Inspirado
nas técnicas de propaganda fascistas, o DIP buscava identificar Vargas ao povo e ao Brasil.
Com esse fim, produzia programas de rádio, documentários cinematográficos, cartazes,
folhetos e cartilhas que mostravam o presidente cumprimentando crianças, dando esmolas
ou exaltando o trabalho e o patriotismo.

CPDOC/FGV
“A capoeira é o
único esporte
verdadeiramente
nacional”, disse
Getúlio Vargas, em
1953, ao presenciar
apresentação de
Mestre Bimba em
Salvador (BA).

Mas, além disso, o DIP também exercia severa censura sobre


jornais, revistas, rádio, cinema e demais manifestações culturais. O
controle sobre os meios de comunicação era tão grande que, a partir
de 1940, o DIP negou o registro a 420 jornais e 346 revistas. Além
disso, cassou o registro daqueles que faziam críticas ao governo.
Os meios de comunicação de massa mais usados pelo governo
Hora do Brasil:
programa Vargas foram o jornal e o rádio. Por meio do rádio, o presidente fazia
radiofônico sua voz chegar à casa do trabalhador que, com a sua família, esperava
criado em 1938
a Hora do Brasil para ouvi-lo. A propaganda oficial de Vargas fez
e transmitido
diariamente por uso também de manifestações culturais com fortes raízes populares,
todas as estações como o samba e a capoeira, que foram transformados à época em
de rádio.
símbolos nacionais.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Os afrodescendentes também lutaram por sua inser-

CARLOS/FUNARTE/CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO
ção no mundo da cultura. Em 1944, foi fundado, no Rio
de Janeiro, o Teatro Experimental do Negro (TEN).
Leia a seguir o que diz um historiador.
[...] Para seus fundadores (Abdias do Nascimento,
Aguinaldo Camargo e Sebastião Rodrigues Alves), o
TEN significou um ato de protesto pela ausência do
negro nos palcos brasileiros – na época era comum
Cena da peça Anjo negro,
pintar o rosto do ator branco com camadas de maquia- Rio de Janeiro (RJ), 1948.
gem preta para representar personagens negros nos Com a pele escurecida, o ator
espetáculos teatrais [...]. Assim, a proposta original era branco Orlando Guy faz o
papel de Ismael, um médico
formar um grupo teatral constituído apenas por atores
negro bem-sucedido, que traz
negros, dedicado a encenar peças nas quais esses atores estampado no rosto o drama
pudessem revelar todo o seu potencial artístico. [...] vivido por ele na sociedade
[…] O grupo só conseguiu se apresentar no pres- brasileira da época.

tigiado Teatro Municipal devido à intervenção do [...]


Vargas. Durante um encontro do presidente [...] Abdias do Nascimento teria feito
um discurso acusando o Teatro Municipal de “fortaleza do racismo”. Sensibilizado,
Getúlio Vargas deu ordens que permitiram a apresentação do TEN no local [...].
[...] em 1948, [o TEN] iniciou a publicação do jornal Quilombo, que funcionava como
veículo de divulgação das ideias do grupo [...] que visava a:
a) Trabalhar pela valorização do negro brasileiro em todos os setores: social, cultural,
educacional, político, econômico e artístico.
Para atingir esses objetivos, o Quilombo propõe-se a:
b) Lutar para que, enquanto não for tornado gratuito o ensino em todos os graus,
sejam admitidos estudantes negros, como pensionistas do Estado, em todos os
estabelecimentos particulares e oficiais de ensino secundário e superior do país,
inclusive nos estabelecimentos militares.
c) Combater os preconceitos de cor e de raça e as discriminações que por esses motivos
se praticam, atentando contra a civilização cristã, as leis e a nossa constituição.
DOMINGUES, Petrônio. A nova abolição. São Paulo: Selo Negro, 2008. p. 69-71.

a) Em que contexto o ator, escritor e pintor negro Abdias do Nascimento e seus colegas
criaram o Teatro Experimental Negro?
b) A leitura do texto permite inferir o protagonismo do ativista Abdias do Nascimento
na história do TEN?
c) Compare as demandas do jornal Quilombo com as dos jornais da imprensa negra
das primeiras décadas do século XX.

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Economia: indústria e agricultura
Durante a Primeira República, a agricultura ocupou um papel de destaque na econo-
mia nacional. Durante o governo Vargas, a indústria assumiu a posição de liderança que
antes cabia à agricultura. Observe a tabela.

Brasil: taxas anuais de crescimento (1920-1945)


Período Agricultura Indústria
1920-1929 4,1% 2,8%
1933-1939 1,7% 11,2%
1939-1945 1,7% 5,4%
Fonte: MENDONÇA, Sônia Regina de. As bases do desenvolvimento capitalista dependente: da industrialização restringida à
internacionalização. In: LINHARES, Maria Yedda (org.). História Geral do Brasil. São Paulo: GEN LTC, 2016. p. 331.

A industrialização ocorrida durante o governo Vargas


RICARDO FUNARI/BRAZIL PHOTOS/LIGHTROCKET/GETTY IMAGES

se deveu, por um lado, à Segunda Guerra Mundial, pois,


com seus parceiros comerciais em guerra, o Brasil teve de
fabricar o que antes importava. Esse processo é conhecido
como industrialização por substituição de importações..
Por sua vez, o crescimento industrial desse período deveu-se
à decisão de Vargas fazer empréstimos à indústria a juros
reduzidos, diminuir impostos sobre bens e equipamentos
industriais, abolir impostos interestaduais (facilitando a
circulação de matérias-primas para a indústria) e fixar o
salário mínimo (1940), fato que amenizava os conflitos entre
empresários e trabalhadores, além de aumentar o poder de
compra, o que, por sua vez, favorecia as próprias indústrias.
O governo Vargas criou também o Conselho Nacional
do Petróleo,, em 1938; no ano seguinte, perfurava-se em
Lobato, na Bahia, o primeiro poço de petróleo produtivo do
Brasil. Além disso, para estimular a industrialização, o governo
investiu na criação de grandes empresas dos ramos de:
a) siderurgia:: Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
em 1941, iniciando naquele mesmo ano a construção
A Companhia Siderúrgica
Nacional é a maior produtora
da Usina de Volta Redonda, no Rio de Janeiro;
de aço do Brasil e uma das b) extração de minérios:: Companhia Vale do Rio
maiores da América do Sul, Doce,, em 1942, em Minas Gerais, que explorava o
em termos de produção de
aço bruto. Volta Redonda minério de ferro, usado como matéria-prima na in-
(RJ), 2015. dústria siderúrgica;

80

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c) geração de energia:: Companhia Hidrelétrica do São Francisco,, criada em 1945,
para produzir energia a partir da queda de água da cachoeira de Paulo Afonso, no rio
São Francisco, entre os estados de Alagoas e da Bahia. Foi a primeira empresa pública
de geração de energia elétrica do país.
O governo Vargas saiu também em defesa da agricultura. Para defender o preço do
café, mandou queimar ou lançar ao mar 30 milhões de sacas de 60 quilos, entre 1931 e
1939, com o objetivo de diminuir a oferta e obter melhores preços no mercado; e criou um
imposto por pés de café, a fim de inibir novos plantios. Regulando a oferta e protegendo
os preços do café, o governo garantia recursos para a importação de máquinas e equipa-
mentos. Ao mesmo tempo, Vargas optou pela diversificação da agricultura, incentivando
a produção de algodão, açúcar, borracha, cacau e mate. Assim, o café foi deixando de
ser o único produto importante na lista de exportações do país.

O fim do Estado Novo e o “queremismo”


A participação brasileira na Segunda Guerra Mundial contra as ditaduras fascistas e
nazista contribuiu para aumentar as críticas ao governo Vargas. No Brasil, muitos passaram
a dizer que era preciso combater também a “ditadura varguista”. Em outubro de 1943, os
políticos de Minas Gerais lançaram o Manifesto dos Mineiros,, exigindo a democratização
do país. Nesse mesmo ano, estudantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) saíram
em passeata contra o governo.
Percebendo que a oposição ao seu governo se fortalecia, Vargas decidiu, ele próprio,
liderar o processo de democratização do país. No início de 1945, anistiou os condenados
políticos e marcou as eleições presidenciais para dezembro daquele ano. Getúlio, porém,
fazia jogo duplo: em público, apoiava a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra, às
escondidas, incentivava o queremismo,, movimento popular que, aos gritos de “Queremos
Getúlio”, pedia para ele continuar no poder.
Assustados com a enorme populari-
ACERVO ICONOGRAPHIA

dade do ditador, as oposições militares e


civis uniram-se para derrubá-lo. Em 29 de
outubro de 1945, tropas lideradas pelo
general Góis Monteiro forçaram Vargas a
renunciar. O Estado Novo chegava ao fim.

Comício queremista no Largo da Carioca. Rio de


Janeiro (RJ), 1945. Nos cartazes carregados pelas
pessoas é possível ler: “Queremos Getúlio”, “Os
operários com Getúlio” e “Salve presidente Vargas”.

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ATIVIDADES

AUTORIA DESCONHECIDA. 1930. ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO


NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Sobre as eleições e o movimento de 1930, responda:
a) O que mostra a charge?
b) No caderno, monte um quadro sobre as eleições de 1930
com as seguintes informações: qual era o programa de Charge da Revista Careta,
Vargas; como Vargas reagiu à vitória da situação; qual foi de 1930, sobre a disputa entre
o desfecho do movimento de 1930. Getúlio Vargas e Julio Prestes.

2 Observe a fotografia ao lado.


ACERVO ICONOGRAPHIA

a) Descreva o que você vê na imagem.


Por que será que Almerinda está
sorrindo?
b) E screva um pequeno texto rela-
cionando a luta das mulheres por
direitos à Constituição de 1934.
c) Pergunte a seus pais ou responsáveis
sobre a maneira como eles partici-
pam das eleições. Converse com os
colegas e o professor sobre o que
você descobriu.
d) Em dupla. Pesquisem sobre a quan-
tidade de mulheres no parlamento
brasileiro. Em seguida, conversem e
opinem sobre o assunto. Almerinda Faria Gama, advogada, líder sindical e do
movimento feminino, depositando o voto na urna para
3 Identifique as alternativas corretas. a escolha de deputados que integrariam a Assembleia
Nacional Constituinte. Rio de Janeiro (RJ), 1933.
A Constituição de 1934 regulamen-
tou, criou e/ou reconheceu:
a) o voto aberto para maiores de 21 anos, o que dificultava bastante a prática da corrupção
eleitoral, tão comum nas décadas anteriores;
b) o voto feminino: ganhando o direito de voto, as mulheres passaram a ter importância cada
vez maior na política;
c) a justiça eleitoral: tinha como objetivo zelar pelas eleições;
d) o ensino primário gratuito, de frequência obrigatória;
e) os direitos trabalhistas: foram reconhecidos direitos como jornada de trabalho de 8 horas,
descanso semanal remunerado, férias anuais remuneradas, entre outros.

82

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4 Leia o trecho da entrevista de Getúlio Vargas concedida durante o Estado Novo, em
uma de suas viagens a Berlim, na Alemanha.
O combate ao comunismo, como a todas as doutrinas e organizações de caráter
internacional que atentem contra a unidade da nação e a sua estrutura política e
social, é, agora, muito mais efetivo e organizado, tanto pelos meios próprios de que se
investiu o Estado para realizá-lo quanto pelo sentido ideológico do regime, que apenas
admite um partido nacional, [...] e exclui qualquer atividade política com finalidades
contrárias ou inadaptáveis à ordem instituída.
SILVA, Hélio. Vargas: uma biografia política. Porto Alegre: L&M, 2004. p. 63-64.

Sobre o Estado Novo, responda:


a) Como Getúlio Vargas via o comunismo?
b) Que argumento Vargas usa na entrevista para justificar a necessidade de combater o
comunismo?
c) Faça uma pesquisa para saber quais partidos políticos existiam em 1937 e que foram dissol-
vidos com o início do Estado Novo.

5 Ao longo das primeiras décadas do século XX, a comunidade negra se uniu para criar
clubes, jornais e associações que a ajudasse a lutar pelos seus direitos. Sobre essas
diferentes ações, identifique as alternativas corretas e justifique sua escolha.
a) Para lutar por seus direitos, os jornais impressos divulgavam atos de racismo e de violência
sofridos pela população negra, além de matérias estimulando sua autoestima e valorizando
suas formas de associação e participação política.
b) Sendo tradicionalmente um dos setores mais conservadores da sociedade, a imprensa foi o
único segmento em que os negros não conseguiram atingir nenhum destaque.
c) A Frente Negra Brasileira (movimento nacional contra o racismo) promovia cursos de alfabe-
tização de adultos como forma de garantir à comunidade o acesso à educação.
d) Como muitos clubes não permitiam a entrada de negros, os membros da comunidade negra
alugavam salões para promover suas próprias festas e bailes.

6 Leia o quadro a seguir.

Principais medidas de proteção ao índio (1910-1979)


Ano Evento Contexto
Criação do Serviço de
1910 O Estado republicano tutelou os indígenas.
Proteção aos Índios (SPI)
Rondon criou o projeto do
1952 Objetivo era criar uma área de proteção aos indígenas.
Parque Nacional do Xingu
Criação da Fundação
1967 Substituiu o extinto SPI na administração das questões indígenas.
Nacional do Índio (Funai)
Criação da União das Primeira tentativa de defesa da cultura indígena, importante para
1979
Nações Indígenas a consagração dos direitos indígenas na Constituição de 1988.
Fonte: TERRITÓRIO brasileiro e povoamento. IBGE. Rio de Janeiro, c2022. Disponível em: https://brasil500anos.ibge.gov.br/
territoriobrasileiro-e-povoamento/historia-indigena/politica-indigenista-do-seculo-xvi-ao-seculo-xx.html. Acesso em: 18 mar. 2022.

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Com base no quadro da página anterior, copie em seu caderno a alternativa correta.
a) O Serviço de Proteção aos Índios (SPI), criado em 1910, existe ainda hoje.
b) Já nas primeiras décadas do século XX, foram propostos projetos de criação de uma área de
proteção aos indígenas.
c) Getúlio Vargas demonstrou grande preocupação para com os povos indígenas ao criar o SPI
durante seu governo.
d) Na Primeira República, a criação do SPI representou o objetivo do Estado de tutelar os povos
indígenas, indicando que os nativos não poderiam ser responsáveis por si próprios.

7 Observe a charge a seguir.


BELMONTE/FOLHAPRESS

1 2 3 4 5

6 7 8 9 10

Charge de
Belmonte, c. 1930.
a) O que está acontecendo nos quadrinhos de 1 a 5?
b) Com base nos quadrinhos 6 e 7, explique como as pessoas reagiram ao ver o prédio pegando fogo?
c) Como terminou essa história (quadrinhos 8, 9 e 10)?
d) Que relação há entre os quadrinhos e o golpe dado por Vargas, em 1937, que resultou na
instalação do Estado Novo?

8 Observe o gráfico com atenção.


Brasil: taxa de crescimento da
a) O que se pode concluir pela leitura do agricultura e da indústria (1920-1945)
gráfico?
SONIA VAZ
b) Que fatores ajudam a explicar o fenô- 12
11,2%
meno mostrado no gráfico?
10

6 5,4%
4,1%
4
2,8%
2 1,7% 1,7%

0
Fonte: MENDONÇA, Sônia Regina de. As bases do Agricultura Indústria
desenvolvimento capitalista dependente: da industrialização
restringida à internacionalização. In: LINHARES, Maria Yedda (org.). 1920-1929 1933-1939 1939-1945
História Geral do Brasil. São Paulo: GEN LTC, 2016. p. 331.

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II. Leitura e escrita em História
Vozes do presente

O texto a seguir é da professora doutora Michelle Reis de Macedo. Leia-o com atenção.
[…] como provedor do bem-estar do povo, o Estado deveria ser retribuído.
Forjou-se, a partir daí, a noção de pacto social e, como todo pacto, os dois elementos
envolvidos teriam deveres a cumprir. O Estado como doador de benefícios sociais
comprometer-se-ia a satisfazer as demandas do povo, que, por sua vez, retribuiria
com gratidão. Nessa troca entre Estado e classes populares, o reconhecimento foi
mútuo: o primeiro obteve apoio do segundo, cuja antiga vontade de ser respeitado e
considerado relevante para a sociedade foi realizada.
Todo esse conjunto […] que compunha a ideologia do trabalhismo e sustentava o
projeto político do Estado Novo, foi propagado por eficientes mecanismos de propa-
ganda política. Nesse processo, o ministro do Trabalho Marcondes Filho revelou-se
como peça-chave. Por meio de transmissões radiofônicas, assumiu o papel de minis-
trar palestras, cujo tema principal era a legislação trabalhista. Num tom pedagógico,
Marcondes Filho divulgava as realizações do Estado, atribuindo-as ao caráter bondoso
do presidente Getúlio Vargas, sujeito de todas as ações. […].
[…] Configurou-se o mito Vargas, elemento essencial do trabalhismo. Para Raoul
Girardet, o mito é uma fabulação, deformação ou interpretação do real, o que não
significa ser uma formulação falsa ou mentirosa. Para vigorar, o mito precisa ter fun-
damentos reais. O mito Vargas foi bem-sucedido porque, de alguma forma, o presidente
e suas políticas públicas fizeram a diferença na vida das pessoas. […]
MACEDO, Michelle Reis de. Recusa no passado, disputa no presente: esquerdas revolucionárias e a reconstrução
do trabalhismo no contexto da redemocratização brasileira (décadas de 1970 e 1980). Tese (Doutorado em História) –
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2012. p. 30-31.

a) R
 epresente por meio de um esquema a noção de pacto social estabelecido entre o governo
Vargas e o povo.
b) C
 om base em seus conhecimentos e na leitura desse e de outros textos, apresente e avalie os
meios usados pela propaganda varguista.
c) Escreva no caderno as alternativas corretas.
I. No Brasil, o trabalhismo está associado ao Estado Novo, às políticas econômicas, sociais e
culturais de Vargas.
II. O trabalhismo contou com o apoio de instituições democráticas, como partidos políticos
e eleições livres.
III. O trabalhismo de Vargas foi recusado pelos trabalhadores que pleiteavam maior participa-
ção política e ganhos sociais.
IV. Apesar de viver sob um governo autoritário, os trabalhadores usaram o trabalhismo em
seu favor.

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#JOVENS NA s ta
HISTÓRIA Entrevi

Práticas sustentáveis na comunidade


PASSO 1 Ler
Leia o texto com atenção.

“Temos direito a um futuro”: quem é a menina brasileira que protestou


com Greta Thunberg na ONU
Catarina Lorenzo, de 12 anos, nunca tinha ficado diante de tantas câmeras como
[...] quando subiu ao palco de um salão da sede do Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef), em Nova York.
Mas a jovem surfista de Salvador, na Bahia, não se deixou intimidar. “Eu pensei:
‘Vim aqui para mudar o mundo. Estou aqui para representar todas as crianças do
mundo e fazer algo para acabar com as mudanças climáticas. [...]’”, diz Catarina [...].
A brasileira foi porta-voz — junto com outras 15 crianças e adolescentes de 12
países, entre elas a sueca Greta Thunberg, de 16 anos — de uma reclamação formal
contra a postura de Alemanha, Argentina, Brasil, França e Turquia no combate às
mudanças climáticas.
ACERVO PESSOAL

Catarina Lorenzo em
evento da Unicef.
Nova York (EUA), 2019.

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[...] A petição apresentada ao Comitê de Direitos das Crianças da Organização das
Nações Unidas (ONU) aponta que estes cinco países não estão cumprindo compro-
missos assumidos para reduzir suas emissões de CO2. […]
“Estou aqui para exigir que todos os líderes do mundo nos ouçam e nos ajudem a
parar as mudanças climáticas”, disse Catarina, em inglês, diante da plateia no Unicef.
[…]
BARIFOUSE, Rafael. “Temos direito a um futuro”: quem é a menina brasileira que protestou com Greta Thunberg na ONU.
BBC News Brasil, 24 set. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49805605. Acesso em: 7 mar. 2022.

PASSO 2 Questionar
Depois de ler o texto, responda:
a) Qual o problema identificado por Catarina?
b) Qual a solução encontrada por Catarina e outros 15 adolescentes para ajudar no enfrentamento desse problema?

PASSO 3 Pesquisar e agir


c) Em grupo. Identifiquem na sua cidade, bairro ou nome e idade do entrevistado; profissão; qual o
no entorno de sua escola, um problema ambiental trabalho realizado com as questões ambientais;
como poluição de um rio, emissão de poluente por como e por que a pessoa se envolveu nessa
fábrica, sujeira nas praias, descarte de resíduos atividade.
sólidos em lugares impróprios, entre outros. f) Para a realização da entrevista, lembrem-se de
d) Pesquisem exemplos de ações como as de combinar local e horário com a pessoa entre-
Catarina Lorenzo voltadas a soluções de vistada, levar gravador, papel para anotações e
questões ambientais ou ações voltadas para estar acompanhados de um adulto responsável.
a educação ambiental em sua comunidade, g) Com a entrevista realizada, vocês deverão
bairro ou cidade. transcrevê-la, caso ela tenha sido gravada,
e) Feita a pesquisa, escolham uma pessoa que ou passar a limpo as anotações que fizeram.
chamou a atenção de vocês para ser entrevis- Escrevam uma introdução contendo os prin-
tada. Elaborem um roteiro com as perguntas cipais pontos da entrevista, apresentando o
que pretendem fazer. No roteiro, registrem: entrevistado e o trabalho a que ele se dedica.

PASSO 4 Apresentar e publicar


h) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais da escola e marquem a postagem com
#jovensnahistória.

PASSO 5 Avaliar
i) Realizei as tarefas a que me propus?
j) Cumpri os prazos combinados?
k) Expressei minhas ideias com objetividade?
l) E scutei meus colegas com atenção e respeito?
m) C
 ontribuí com sugestões e perguntas inte­ressantes?
n) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

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UNIDADE

2 GUERRA, PROPAGANDA
E POLÍTICA DE MASSAS

FONTE 1
HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES

Adolph Hitler saudando membros de seu partido. Nuremberg (Alemanha), agosto de 1927.

FONTE 2

Nos regimes autoritários que se fundamentam na política de massas, a teatrali-


zação tem papel mais importante: o mito da unidade e a imagem do líder atrelado às
massas tornam o cenário teatral especialmente adequado para o convencimento. [...]
CAPELATO, Maria Helena. Multidões em cena: propaganda política no varguismo e no peronismo.
São Paulo: Editora Unesp, 2009. p. 67.

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FONTE 3

[...] Em qualquer regime, a propaganda é estratégica para o exercício do poder,


mas adquire uma força muito maior naqueles em que o Estado, graças à censura ou
monopólio dos meios de comunicação, exerce rigoroso controle sobre o conteúdo das
mensagens, procurando bloquear toda atividade espontânea ou contrária à ideologia
oficial. [...]
PEREIRA, Wagner Pinheiro. Cinema e propaganda política no fascismo, nazismo, salazarismo e franquismo.
História: Questões & Debates, Curitiba, n. 38, p. 101-131, 2003. p. 102.

FONTE 4

IMAGNO/GETTY IMAGES

Professora alemã despedindo-se de seus alunos. Alemanha, c. 1933.

O personagem principal da página à esquerda é bastante conhecido. Quem já não


viu o ditador Adolf Hitler na TV ou no cinema, poderosos meios de comunicação de
massa? Na fonte 4, vemos uma professora se despedindo dos seus alunos com a
saudação nazista. Isto pode ser visto como uma forma de difusão do nazismo entre
as crianças. Que relação podemos estabelecer entre a fonte 2 e a fonte 1? E entre
as fontes 2 e 3? A propaganda pode ter ajudado na atitude das crianças mostradas
na fonte 4? Que relação se pode estabelecer entre o monopólio dos meios de comu-
nicação e a força da propaganda nos regimes totalitários?

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CAPÍTULO

4 A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Observe a imagem com atenção.


FOTOTECA GILARDI/GETTY IMAGES

Postal de propaganda Esporte bélico 1914. Milão (Itália), 1914.

1. O que vemos na imagem?


2. Que países esses homens representam? Como podemos saber disso?
3. Por que será que o artista representou a Itália no papel de juiz?
4. O que será que explica essa rivalidade intensa entre os países representados na
imagem?

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Rivalidades imperialistas
A corrida imperialista por territórios e mercados durante todo o
século XIX gerou violentas rivalidades entre as potências europeias,
pois cada país, como a Grã-Bretanha, a Alemanha e a França,
# DICA!
Documentário
buscava conservar ou ampliar seu império colonial. Essas riva-
sobre a Primeira
lidades entre os países imperialistas são uma das principais razões Guerra Mundial.
da Primeira Grande Guerra (1914-1918), um conflito mundial e total A DISPUTA entre
primos que
(uma vez que incluía também alvos civis, e não apenas militares).
desencadeou a
Após sua unificação, em 1871, a Alemanha de Otto von Primeira Guerra
Bismarck progrediu a passos largos. Na política externa, Bismarck Mundial. 2021.
Vídeo (6min38s).
adotava o sistema de alianças defensivas, que consistia em con- Publicado pelo
seguir aliados fortes a fim de evitar o isolamento da Alemanha canal BBC News
Brasil. Disponível
em caso de guerra. Por isso, a Alemanha aliou-se ao Império em: https://youtu.
Austro-Húngaro e, depois, à Itália, dando origem, assim, à Tríplice be/Mq2KBUr2SPE.
Aliança (1882). Acesso em:
25 mar. 2022.
Em 1890, porém, o kaiser Guilherme II demitiu Bismarck e
adotou uma nova política externa: a política de “expansão
“ à
força”.”. Seu objetivo era pressionar a Grã-Bretanha a lhe ceder
uma “fatia” maior da África e da Ásia e vencer o país na disputa
pela liderança marítimo-comercial.
A Grã-Bretanha, por sua vez, GRANGER/FOTOARENA

possuía o maior império colonial


na época e não estava disposta a
dividi-lo. Já a França queria uma
revanche contra a Alemanha para
recuperar a região da Alsácia-
-Lorena, perdida na Guerra Franco-
-Prussiana (1870-1871). Em vista
disso, a Grã-Bretanha, a França
e, depois, a Rússia formaram a
Tríplice Entente.
Entente.

Essa charge inglesa é intitulada Dedos do


destino e engrandece a força da Tríplice
Entente. Em cada dedo, lê-se o nome de um
dos países da Tríplice Entente e, na manga,
está escrito “a grande ofensiva”. Já o inimigo,
que está sendo esmagado, é o imperador
Guilherme II da Alemanha, a principal
adversária deles. Frank Holland, 1916.

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Assim, com o objetivo de unir forças e isolar rivais, as nações
europeias fizeram vários acordos e alianças entre si, de tal modo
que, em 1907, a Europa estava dividida em dois blocos militares
antagônicos: Tríplice Aliança (Alemanha, Itália e Império Austro-
-Húngaro) x Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia).

Europa: blocos rivais da Primeira Guerra

SELMA CAPARROZ

GRÃ-BRETANHA Mar do
Mar Báltico
Norte

RÚSSIA
ALEMANHA
Observe que, no decorrer wich

da guerra, a Itália mudou OCEANO


reen

de lado e, em 1915, ATLÂNTICO


de G

aliou-se à Tríplice FRANÇA IMPÉRIO


AUSTRO-HÚNGARO
iano

Entente. Esperava com


Merid

isso obter parte das

Mar Negro
colônias alemãs na África

M
que a Grã-Bretanha ITÁLIA

ar
40°
N

Ad
lhe havia prometido. Córsega

riá
tic
o
Mar
Sardenha
Tirreno
Potências centrais (1882)
Mar Mediterrâneo Tríplice Entente (1907)
Maio de 1915 – Itália entra
0 270 Sicília na guerra, mas ao lado da
Tríplice Entente

Fonte: BARRACLOUGH, Geoffrey. Atlas da história do mundo.


São Paulo: Folha de S.Paulo: Times Book, 1995. p. 248.

A luta dos sérvios pela “Grande Sérvia”


Nação eslava: nação
habitada por povos A Sérvia era uma nação eslava independente que lutava para
pertencentes ao grupo libertar os territórios habitados por eslavos na região dos Bálcãs, a
linguístico eslavo, tais
como os servo-croatas,
fim de formar a “Grande Sérvia”. Ocorre que uma parte dos eslavos
os russos, os poloneses, estava sob o domínio do Império Austro-Húngaro, e a outra sob o
os tchecos, os eslovacos, controle do Império Turco. Para enfrentar austríacos e turcos, a Sérvia
os búlgaros e os
ucranianos. buscou a ajuda da Rússia, que na época defendia o pan-eslavismo
Pan-eslavismo: e ambicionava expandir suas fronteiras.
movimento contrário à Além das rivalidades imperialistas e da política de alianças,
penetração das ideias
outro fator que contribuiu para o início da guerra foi a ascensão
ocidentais e defensor da
originalidade da história do Japão e dos Estados Unidos como potências regionais com
e dos valores culturais pretensões expansionistas; somava-se a tudo isso, ainda, a corrida
eslavos.
armamentista, também conhecida como “paz armada”.

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A paz armada
Desde a vitória dos alemães contra os franceses, em 1871, até o Corrida armamentista:
processo pelo qual
início da guerra, em 1914, a Europa conheceu um período de paz.
os países investem
Mas era uma “paz armada”. As potências europeias lançaram-se considerável parte de
numa corrida armamentista.
armamentista. A maioria das nações europeias seus recursos na área
militar, objetivando a
adotou o serviço militar obrigatório e passou a fabricar armamentos preparação para a guerra
e munições em quantidades cada vez maiores. e a intimidação das
nações rivais.
Gavrilo Princip: patriota
A gota-d'água sérvio que desejava
libertar seu país do
Como as principais potências estavam unidas por compromis- domínio austro-húngaro.
sos de ajuda mútua (tratados de alianças) em caso de um conflito, Frente Ocidental: frente
na qual os alemães
um simples incidente poderia detonar uma guerra de graves pro- combatiam os franceses,
porções. O incidente aconteceu em 28 de junho de 1914: o estudante os ingleses e os belgas;
já na Frente Oriental,
Gavrilo Princip matou a tiros de revólver o arquiduque Francisco eles combatiam os
Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, e foi imediatamente russos.
preso. O Império Austro-Húngaro responsabilizou o governo sérvio
pelo atentado e, um mês depois, declarou guerra à Sérvia. A partir
daí, houve uma reação em cadeia; em apenas sete dias, as prin-
cipais potências tinham se engajado na guerra. Tinha início, assim,
a Grande Guerra, chamada depois de Primeira Guerra Mundial.

As fases da guerra
BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL

Os anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) podem


ser divididos em três fases.

1a) A Guerra de Movimento


A primeira fase durou de agosto a novembro de
1914 e foi marcada por um intenso movimento de tropas.
Inicialmente, os alemães marcharam contra a Bélgica e,
apesar da resistência belga, chegaram às vizinhanças de
Paris, na França. Os franceses, porém, com a ajuda dos
ingleses, conseguiram contra-atacar e deter o avanço
alemão na Batalha do Marne.. Como nenhum dos lados
 Assassinato do arquiduque
conseguiu vitórias decisivas nessa batalha, a guerra na Francisco Ferdinando,
Frente Ocidental estacionou. de Clive Uptton, século XX.

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2a) A Guerra de Trincheiras
Com a estabilização das forças em luta,
iniciou-se uma nova fase da guerra: a Guerra
de Trincheiras.. Os exércitos da Inglaterra e
da França de um lado, e o da Alemanha de
outro lado, cavaram 640 km de trincheiras,
que se estendiam desde o Mar do Norte até
a fronteira da França com a Suíça. E, com o
corpo enfiado na terra, os soldados lutavam
dia e noite.
MANZI

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Fonte: O’CONNELL, Robert L. História da guerra: armas e homens. Lisboa: Teorema, 1989.

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A entrada dos EUA e a saída da Rússia

WORLD HISTORY/ALAMY/FOTOARENA
Em 1915, a Itália rompeu com a Alemanha e aliou-se à Tríplice
Entente. E, enquanto milhares de jovens morriam nas trincheiras,
outros países entravam na guerra: Itália, Romênia e Grécia, ao lado
da Grã-Bretanha; Bulgária e Império Turco-Otomano, ao lado da
Alemanha. No início de 1917, a Alemanha decidiu adotar a guerra
submarina, passando a bombardear qualquer navio encontrado em
águas inimigas. O afundamento do navio estadunidense Lusitânia,
pelos alemães, foi um dos motivos da entrada dos Estados Unidos
na guerra naquele mesmo ano.
Seguindo os Estados Unidos, outros países americanos, inclusive
o Brasil (que também teve o navio Paraná afundado pelos alemães),
Fac-símile de cartaz
engajaram-se no conflito ao lado da Tríplice Entente.
estadunidense, no
qual Joana d’Arc é Enquanto isso, triunfava na Rússia a Revolução Socialista (1917),
representada com liderada por Vladimir Lênin. Argumentando que a Primeira Guerra
uma espada erguida era um conflito imperialista e que a Rússia se encontrava esgotada,
na mão direita.
Ilustração de Haskell o líder russo assinou com a Alemanha um tratado de paz em sepa-
Coffin, 1918. rado. E, assim, a Rússia saiu da guerra.

Dialogando
Observe o cartaz e responda:
a Você sabe quem foi Joana d’Arc?
b Você consegue traduzir o que está escrito no cartaz? Se necessário, recorra a um dicionário de
inglês-português.
c Por que o cartaz diz que Joana d’Arc salvou a França?

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

O texto a seguir é de um especialista na participação do Brasil na Grande Guerra,


chamada depois de Primeira Guerra Mundial. Leia-o com atenção.

O Brasil na Guerra
Em 1914, os Estados Unidos já eram a maior potência econômica mundial e maior
parceiro comercial do Brasil, permanecendo os britânicos como grandes investidores
em estradas de ferro, usinas elétricas e indústria manufatureira. [...]
[...]
O café respondia por mais de 60% de nossas exportações, seguido de longe por
minerais e produtos diversos. [...]

96

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ANN RONAN PICTURE LIBRARY/PHOTO12/AFP
Em 3 de abril de 1917, um navio mercante americano é
torpedeado e os Estados Unidos rompem relações diplomáticas
com a Alemanha. Nesse mesmo dia, outro navio mercante,
este brasileiro, é torpedeado no canal da Mancha. Uma
semana depois, o presidente Wenceslau Braz rompeu relações
com a Alemanha, em solidariedade aos Estados Unidos [...].
A 26 de outubro de 1917, [...] o presidente sanciona resolução
proclamando a existência de um estado de guerra entre o Brasil
e o Império Alemão. [...]
A participação brasileira na guerra [...] estendeu-se além da
facilitação do uso de nossos portos por embarcações aliadas e a
cessão à França de 30 navios alemães apreendidos. A 7 de maio
de 1918, zarpou para Gibraltar, onde se reuniria à esquadra
britânica, para participar da guerra anti-submarina, a Divisão Fac-símile de cartaz
mostrando duas
Naval de Operações de Guerra, composta de dois cruzadores enfermeiras da
e cinco contratorpedeiros, um navio auxiliar e um rebocador, Cruz Vermelha: uma
sob o comando do contra-almirante Pedro Max Fernando de delas, uma figura de
Madonna, embala
Frontin. A Divisão só chegou a Gibraltar em novembro de 1918, em seus braços um
retida que foi na costa africana pela terrível pandemia que foi soldado ferido em
a gripe espanhola. uma maca, entre as
bandeiras do Brasil e
Aviadores brasileiros combateram ao lado dos pilotos
dos Estados Unidos.
britânicos e franceses. Oficiais do Exército serviram na Frente c. 1915.
Ocidental, em unidades do Exército Francês. [...] Oitenta e seis
médicos, incluindo dezessete professores de Medicina [...] inte-
graram a Missão Médica que partiu do Brasil a 18 de agosto
de 1918 e até o fim da guerra trabalhou no hospital Franco- Cruzador: navio de
guerra de grande porte.
-Brasileiro, mantido pelos brasileiros residentes em Paris.
[...]
[...] Antes mesmo de terminar, a Grande Guerra influenciou o Brasil no campo
militar. O poeta, escritor e jornalista Olavo Bilac despertou o sentimento cívico e
patriótico nacional, liderando a campanha que resultou na instituição do serviço
militar obrigatório.
ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. In: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. 3. ed. São Paulo:
Contexto, 2006. p. 341-343.

a) E xplique em poucas linhas as razões da entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial.


b) C
 om base no texto, o que se pode dizer sobre a participação do Brasil na Primeira Guerra?
c) Em dupla. No contexto do final da guerra, o poeta Olavo Bilac liderou uma campanha vitoriosa
que resultou na instituição do serviço militar brasileiro. Debatam, reflitam e opinem: vocês são
favoráveis ou contrários à obrigatoriedade de o jovem servir o Exército? Justifiquem.

97

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3a) Uma nova Guerra de Movimento
No início de 1918, depois de selar a paz com os russos, os alemães se deslocaram para
a Frente Ocidental e lançaram uma forte ofensiva apoiada pela aviação e pela artilharia
pesada.
Recomeçava a Guerra de Movimento. Mas os países da Entente conseguiram reagir e,
valendo-se de aviões e tanques mais eficientes, venceram as forças alemãs na Segunda
Batalha do Marne.. O passo seguinte seria invadir o território alemão.
Nesse meio-tempo, no entanto, uma rebelião popular sacudiu a Alemanha, forçando
o imperador Guilherme II a renunciar. Em novembro de 1918, o novo governo proclamou
a República e assinou a rendição, que, finalmente, pôs fim à guerra.
COURTESY EVERETT COLLECTION/FOTOARENA

Pessoas de diferentes países celebram o armistício que pôs fim às operações militares entre os dois blocos,
11 de novembro de 1918.

O saldo trágico da Primeira Guerra


Ao final da Primeira Guerra, ficou provado que o uso de aviação militar, canhões,
tanques e gases venenosos tinha contribuído para um aumento extraordinário da capa-
cidade de matar e destruir; o conflito deixou cerca de 9 milhões e 200 mil mortos,
20 milhões de mutilados e dezenas de milhares de órfãos e refugiados.

98

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A paz dos vencedores
Próximo ao fim da guerra, o então presidente estadunidense Woodrow Wilson propôs
um acordo de paz. Esse acordo, conhecido como os “14 pontos” de Wilson, defendia
“uma paz sem vencedores” e o direito de cada povo escolher o próprio destino.
Mas esse acordo não foi aprovado. O que acabou vigorando foi a paz imposta pelos
vencedores por meio de vários tratados, entre os quais o Tratado de Versalhes (1919),
que obrigava a Alemanha a devolver a região da Alsácia-Lorena para a França; ceder
aos vencedores todos os seus direitos sobre as colônias ultramarinas; entregar à França a
propriedade e o direito total de exploração das minas de carvão situadas na bacia do rio
Sarre; pagar a seus adversários uma indenização de guerra bilionária: cerca de 33 bilhões
de dólares.
Por esse tratado, ainda, a Alemanha foi proibida de ter aviação militar, canhões
pesados e submarinos e teve de entregar aos vencedores parte de seus navios mercantes;
seu exército poderia ter no máximo 100 mil homens.
BRIDGEMAN/EASYPIX BRASIL

Dialogando
a De quem é a mão
que esmaga o
homem?
b Quem ou o que a
pessoa esmagada
representa?
c E o maço de
papel que força
as costas do
agricultor para
baixo, o que é?

Desenho colorido de
Schilling, 1931.

99

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Participando ao lado dos
Europa: antes da Primeira Guerra Mundial (1914)
vencedores, o Japão conquis-
SELMA CAPARROZ

NORUEGA
SUÉCIA
tou várias colônias alemãs na

ich nw
Mar do

Gree

co
Norte
Ásia e consolidou-se como po-

álti
REINO UNIDO

B
o de
DINAMARCA

ar
M
tência regional. Os vencedores
dian
PAÍSES IMPÉRIO

Meri
BAIXOS RUSSO
IMPÉRIO
ALEMÃO
também impuseram acordos de
OCEANO BÉLGICA
ATLÂNTICO paz aos aliados da Alemanha e,
FRANÇA
SUÍÇA
IMPÉRIO
AUSTRO-HÚNGARO por meio desses acordos, rede-
40°
N M ar
BÓSNIA
ROMÊNIA Mar Negro
senharam o mapa da Europa,
PORTUGAL ITÁLIA riá
Ad
ESPANHA
Córsega
tic
o
SÉRVIA
MONTENEGRO BULGÁRIA
originando novos Estados, como
Mar
Baleares
Sardenha
Tirreno
ALBÂNIA

GRÉCIA IMPÉRIO
a Tchecoslováquia, a Áustria, a
Sicília OTOMANO
M a
r
M
e
Hungria e a Iugoslávia.
d
i t
e
r r
â n Creta
Chipre
Os Estados Unidos saíram
0 ÁFRICA e o
475 ÁSIA
da Primeira Guerra Mundial

Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. como uma das grandes po-
Paris: Larousse, 2001. p. 88. tências do mundo. Em 1919, por
sugestão do presidente estadu-
nidense Woodrow Wilson, foi
Europa: depois da Primeira Guerra Mundial (1919) criada a Liga das Nações.. Com
SELMA CAPARROZ

NORUEGA
SUÉCIA
FINLÂNDIA
sede na cidade de Genebra, na
ESTÔNIA
Mar do
Suíça, essa organização deveria
tico

Norte LETÔNIA
B ál

IRLANDA DINAMARCA
LITUÂNIA servir como árbitro nos con-
ar

REINO
M

UNIDO
PAÍSES
BAIXOS
ALEMANHA
UNIÃO flitos internacionais e garantir a
POLÔNIA SOVIÉTICA
BÉLGICA
OCEANO paz mundial. No entanto, por
ATLÂNTICO LUXEMBURGO TCHEC
OSLOVÁ

FRANÇA SUÍÇA ÁUSTRIA HUNGRIA


QUIA
motivos diversos, os Estados
40°
N
ROMÊNIA Unidos, a Alemanha e a Rússia
Mar Negro
IUGOSLÁVIA
estiveram ausentes da Liga das
M

PORTUGAL
ar

ITÁLIA
ESPANHA BULGÁRIA
Ad

Córsega
riá

Nações, que, com isso, mostrou-


wich

tic

Sardenha
Mar ALBÂNIA
o

Baleares Tirreno TURQUIA


Green

M a r Sicília
GRÉCIA -se bastante enfraquecida.
M
o de

e
d
i t Quando, em 1931, por exemplo,
n

e
r r
Meridia

Chipre
0 475 ÁFRICA â n e Creta
o ÁSIA o Japão invadiu a província

chinesa da Manchúria, a Liga
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial.
Paris: Larousse, 2001. p. 90-91. não conseguiu impedi-lo.

Dialogando
O historiador Eric Hobsbawm afirmou que o término da Primeira Guerra significou o fim da Era dos Impérios.
a Comparando os mapas desta página, é possível compreender o que ele disse?
b Que países surgiram com o desmembramento do Império Austro-Húngaro ao final da Guerra?

100

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Uma paz sem vencidos nem vencedores

THE BILLY IRELAND CARTOON LIBRARY & MUSEUM AT OHIO STATE UNIVERSITY
Leia o texto com atenção.

14 pontos de Wilson
1. Abolição da diplomacia secreta;
2. Liberdade dos mares;
3. Eliminação das barreiras econômicas entre
as nações;
4. Redução dos armamentos nacionais;
5. Redefinição da política colonialista, levando
em consideração o interesse dos povos
colonizados;
6. 
Retirada dos exércitos de ocupação da
Rússia;
7. Restauração da independência da Bélgica;
Presidente Woodrow Wilson anuncia
8. Restituição da Alsácia-Lorena à França; seu plano de 14 pontos. George M.
9. Reformulação das fronteiras italianas; Adams, 1919.
10. Reconhecimento do direito ao desenvolvimento autônomo dos povos da
Áustria-Hungria;
11. Restauração da Romênia, da Sérvia e de Montenegro e direito de acesso ao mar
para a Sérvia;
12. Reconhecimento do direito ao desenvolvimento autônomo do povo da Turquia
e abertura permanente dos estreitos que ligam o Mar Negro ao Mediterrâneo;
13. Independência da Polônia;
14. Criação da Liga das Nações, ou Sociedade das Nações.
VOILLIARD, Odette et al. Documentos de História. In: FREITAS, Gustavo de.
900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, 1977. v. 3. p. 273.

a) E xplique com suas palavras o sentido da frase “paz sem vencidos nem vencedores”.
b) O
 terceiro ponto dos 14 pontos de Wilson diz respeito a qual dos princípios citados a seguir?
I. Intervencionismo II. Liberalismo III. Autonomismo IV. Fordismo
c) Em dupla. Reflitam, debatam e tentem responder: o que provavelmente mais incomodou os ven-
cedores nos 14 pontos propostos por Wilson? Quais são as consequências disso para o mundo?
d) Q
 ue pontos propostos por Wilson poderiam ter evitado a Primeira Guerra Mundial, caso tivessem
sido adotados antes? Justifique.
e) R
 esponda oralmente. Aponte dois ou três desses pontos que você considera mais importante
para construir “uma paz duradoura”. Justifique sua escolha.

101

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Observe o mapa e depois responda.

África até 1914



ALLMAPS

EUROPA M a r

e
M
MARROCOS d
i t e
ESPANHOL TUNÍSIA r r â n e o
Madeira Canal de Suez
MARROCOS
Canárias IFNI
LÍBIA
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ARGÉLIA
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Trópico de Câncer RIO DO

Ma
OURO

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Cabo SUDÃO

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ORIAL FRANCESA

MAURITÂNIA NÍGER

o
Verde FRANCÊS
SOMÁLIA
(POR) ERITREIA
SENEGAL SUDÃO FRANCESA
ÁF RIC A OC I D ENT A L FR A NC ES A
GÂMBIA ALTO ANGLO-EGÍPCIO
GUINÉ GUINÉ VOLTA SOMÁLIA
DAOMÉ

PORTUGUESA NIGÉRIA BRITÂNICA


TOGO

COSTA ABISSÍNIA
SERRA LEOA
DO CHADE (ETIÓPIA)
LIBÉRIA MARFIM
UAT

CAMARÕES SOMÁLIA
COSTA ÁFRICA ITALIANA
RIO MUNI
EQ

DO UGANDA
Equador ORIENTAL
OURO 0°
SÃO TOMÉ GABÃO
A

BRITÂNICA
IC

CONGO
E PRÍNCIPE OCEANO
FR

BELGA
Á

(POR) ÁFRICA ÍNDICO


Meridiano de Greenwich

OCEANO ORIENTAL
Seychelles
ATLÂNTICO ALEMÃ
(RUN)
Comores
ANGOLA NIASSALÂNDIA (FRA)
RODÉSIA
UE

DO NORTE
IQ

Território sob controle de


CA
MB

ÁFRICA DO RODÉSIA Maurício


países europeus antes de 1914
AS
ÇA

SUDOESTE DO SUL (RUN)


MO

AG

Alemanha ALEMÃ
Trópico de Capricórnio
D

BECHUANALÂNDIA
MA

Bélgica
TRANSVAAL
Espanha SUAZILÂNDIA
França
Inglaterra UNIÃO DA BASUTOLÂNDIA
ÁFRICA
Itália DO SUL
Portugal 0 777

Países independentes km

Fonte: VICENTINO, Claudio. Atlas histórico. São Paulo: Scipione, 2011. p. 137.

a) Quais países europeus tinham o maior número de colônias na África?


b) O mapa mostra as fronteiras até 1914. Qual evento histórico ocorreu nessa data?
c) Qual relação pode ser feita entre o assunto tratado no mapa e o evento ocorrido em 1914?
d) Até 1914, a Alemanha era um dos países que tinham menos colônias na África. Ainda na
década de 1890, o kaiser Guilherme II adotou uma nova política externa. Explique qual foi
essa política e qual o objetivo dela.

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2 Na Europa, o período entre o final da Guerra Franco-Prussiana e o início da Primeira
Guerra Mundial ficou conhecido como o da “paz armada”. Sobre esse período, é
correto afirmar que:
a) a paz era falsa, pois os países europeus travaram guerras entre si pela posse de territórios na
África e na América.
b) os países investiram em armamentos, aumentaram seu poder bélico e criaram o serviço militar
obrigatório.
c) iniciaram-se guerras civis em alguns países europeus, pois grande parte da população era
contra as políticas expansionistas dos seus governos.
d) criaram-se alianças entre os países europeus e a população das colônias dos países rivais, o
que gerou conflitos em território africano.

3 Leia o texto e depois responda.


A eclosão da guerra em 1914 não é um drama [...], no fim do qual vamos
descobrir o culpado sobre um cadáver na estufa, com uma pistola fumegante.
Não há armas fumegantes nesta história; ou melhor, há uma nas mãos de
cada personagem importante. Vista sob essa luz, a eclosão da guerra foi uma
tragédia, não um crime. Reconhecê-lo não significa que devamos minimizar
a beligerância e a paranoia imperialista dos líderes austríacos e alemães [...].
Porém os alemães não eram os únicos imperialistas, nem foram os únicos a
sucumbir à paranoia.
CLARK, Christopher. Os sonâmbulos: como eclodiu a Primeira Guerra Mundial.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 483.

Segundo o texto, quem foi o culpado da Primeira Guerra Mundial?

4 Leia o texto e observe a imagem.

FONTE 1 FONTE 2
HISTORICA GRAPHICA COLLECTION/HERITAGE IMAGES/GETTY IMAGES
O livro Jornada de três dias narra a história
de dois amigos, Xavier e Elijah, índios canadenses
que, ainda jovens, deixam sua terra natal para
lutar nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
Recrutados como atiradores de elite, logo con-
quistaram o respeito dos soldados e ganham fama
como perseguidores implacáveis do inimigo. Mas
a guerra cobra um preço alto demais. Quando
Xavier finalmente retorna ao Canadá, ferido e
traumatizado, dificilmente reencontrará a paz e
a felicidade da infância.
BOYDEN, Joseph. Jornada de três dias. Tradução: Otacílio Nunes. Soldados durante a Primeira
Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. [Orelha do livro]. Guerra Mundial, c. 1916.

103

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a) A que conclusão a leitura da fonte 1 permite chegar e está explícita?
b) O texto fala das consequências da guerra na vida de um soldado; pesquise dados sobre mortos
e feridos na Primeira Guerra Mundial e comente-os.
c) O que a fonte 2 mostra?
d) Copie no caderno o quadro a seguir e preencha-o com dados sobre as trincheiras e a vida no
interior delas.
Trincheiras
NÃO
ESCREVA
NO LIVRO.
Extensão
Localização
Quem as cavou
O dia a dia nas trincheiras

5 Conforme o conflito foi se alastrando, novas armas fizeram sua estreia na Primeira
Grande Guerra. Leia o que diz um historiador.
A Grande Guerra foi travada no ambiente resultante do salto tecnológico. [...]
O desenvolvimento do motor a explosão e do motor elétrico respondem pelo apareci-
mento do automóvel, do avião e do tanque, o carro de combate na terminologia militar.
[...] O Grosse Bertha (Grande Bertha), “delicada” homenagem a Fräulein Bertha, filha do
famoso fabricante de canhões Krupp, bombardeou Paris de uma distância de 100 km [...].
A metralhadora [...] surgiu na Guerra de Secessão [...]. Na Grande Guerra, [...] já auto-
máticas, com grande velocidade de tiro [...] se fizeram eficientes máquinas de moer
carne. O desenvolvimento da indústria química levou à produção dos gases de combate,
que fizeram sua estreia em Ypres, em 1915, eficientes no matar e causar sofrimento. [...]
O tanque [...] fez sua entrada [...] em novembro de 1917 [...]. Algo semelhante acon-
teceu com o avião. Em 1914, as missões, que eram de observação, ampliaram-se para
[...] o apoio às forças de terra, até o bombardeio estratégico. [...]
© GALERIE BILDERWELT/BRIDGEMAN/FOTOARENA

ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial.


In: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras.
3. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 324-327.

a) Qual é o assunto principal do texto?


b) Interprete. O que o autor quis dizer com “’deli-
cada’ homenagem a Fräulein Bertha”?
c) Qual é o significado de “eficientes máquinas
de moer carne” no texto?
d) Em grupo. Debatam, reflitam e opinem: o que
fazer para que líderes políticos coloquem a tecno-
logia a serviço da humanidade, e não da guerra?

Soldados franceses manuseando uma metralhadora


durante a Batalha do Aisne. Paris (França), 1917.

104

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6 Em 1917, dois acontecimentos mudaram o equilíbrio de forças entre os blocos com-
batentes. Que acontecimentos foram esses e o que provocaram?

7 A charge a seguir, do cartunista William Allen Rogers, foi produzida após a Primeira
Guerra Mundial.
BIBLIOTECA DO CONGRESSO. WASHINGTON. EUA

Na charge, o general
francês Ferdinand Foch
apresenta a um soldado
alemão os termos do
Tratado de Versalhes,
com a seguinte
mensagem: “O povo
alemão deve pagar por
todo o dano aos civis –
na terra, no mar ou no
ar.”. William A. Rogers,
c. 1918.

a) Quem são os personagens da charge? Analise as características e os gestos de cada um


deles.
b) Com base na charge, pode-se afirmar que a Alemanha teve escolha ou possuía condições
de cumprir com as exigências do Tratado de Versalhes? Justifique.
c) Discuta com a turma sobre as possíveis consequências de acordos para paz em que os
vencedores impõem pesadas exigências aos vencidos.

105

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II. Leitura e escrita em História
Cruzando fontes
Observe as imagens. Elas mostram a atuação de mulheres durante a Primeira Guerra
Mundial.

FONTE 1 FONTE 2
CHRONICLE OF WORLD HISTORY/ALAMY/FOTOARENA

G P LEWIS/ IWM/GETTY IMAGES


Pôster de recrutamento Mulheres trabalhando em fábrica de cartuchos de armas.
para a guerra, 1914. Londres (Inglaterra), 1918.

FONTE 3

Leia o trecho a seguir e responda no caderno ao que se pede.


À medida que os homens morriam nas trincheiras, aos milhares, as mulheres
precisavam substituí-los. [...] A substituição dos homens não ocorreu só nas fábricas de
munições: [as mulheres] conduziam o metrô de Paris e os ônibus de Londres; executa-
vam reparos nos navios [...]. Atuavam como eletricistas, encanadoras, empreiteiras. [...]
(LOUISE, 1974 apud SILVA, 2017, p. 121).
a) Com a ajuda do professor de Língua Inglesa, escreva o significado dos dizeres contidos no pôster.
b) O que se vê na fotografia (fonte 2)?
c) Que relação se pode estabelecer entre o que está representado no pôster e o que está repre-
sentado na fotografia?
d) Quais argumentos estabelecidos pela autora do texto (fonte 3) podem ser confirmados pela
fotografia (fonte 2)?
e) Além das atividades representadas nas imagens, que outras funções as mulheres assumiram
durante a Primeira Guerra?

106

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III. Integrando com Ciências
O texto a seguir foi escrito por pesquisadores de uma importante instituição bra-
sileira de pesquisa, a Fiocruz. Leia o texto e responda ao que se pede com base nele.
Abrigados em trincheiras, os soldados

PHOTOQUEST/GETTY IMAGES
enfrentavam, além de um inimigo sem rosto,
chuvas, lama, piolhos e ratos. Eram vitimados
por doenças [...] quando não caíam mortos por
tiros e gases venenosos.
Parece bem ruim, não é mesmo? Era. Mas
a situação naquela Europa transformada em
campo de batalha da Primeira [...] Guerra
Mundial pioraria ainda mais em 1918. Tropas
inteiras griparam-se, mas as dores de cabeça,
a febre e a falta de ar eram muito graves e,
em poucos dias, o doente morria incapaz de
respirar e com os pulmões cheios de líquido.
[...]
A gripe espanhola – como ficou conhe-
Paciente sendo tratada da gripe espanhola
cida devido ao grande número de mortos na em hospital do Exército dos Estados Unidos.
Espanha – apareceu em duas ondas diferentes Nova York, (EUA), 1918.
durante 1918. [...]
Enquanto a primeira onda de gripe atingiu especialmente os Estados Unidos e a
Europa, a segunda devastou o mundo inteiro: também caíram doentes as populações
da Índia, Sudeste Asiático, Japão, China e Américas Central e do Sul.
O mal chega ao Brasil
No Brasil, a epidemia chegou ao final de setembro de 1918 [...].
As autoridades brasileiras ouviram com descaso as notícias vindas de Portugal
sobre os sofrimentos provocados pela pandemia de gripe na Europa. Acreditava-se que
o oceano impediria a chegada do mal ao país. Mas essa aposta se revelou rapidamente
um engano.
Tinha-se medo de sair à rua. Em São Paulo, especialmente, quem tinha condições
deixou a cidade, refugiando-se no interior, onde a gripe não tinha aparecido. [...]
[...] Pense nos jogos de futebol. Mas, ao invés de estádios cheios, imagine os joga-
dores exibindo suas habilidades em campo para arquibancadas vazias. Pois, durante a
pandemia de 1918, as cidades ficaram exatamente assim: bancos, repartições públicas,
teatros, bares e tantos outros estabelecimentos fecharam as portas ou por falta de
funcionários ou por falta de clientes.

107

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[...]

ACERVO BIBLIOTECA GUITA E JOSÉ MINDLIN


Estima-se que entre outubro e
dezembro de 1918, período oficialmente
reconhecido como pandêmico, 65% da
população adoeceu. Só no Rio de Janeiro,
foram registradas 14 348 mortes. Em São
Paulo, outras 2 000 pessoas morreram.
[...]
As estimativas do número de mortos
em todo o mundo durante a pandemia
de gripe em 1918-1919 variam entre 20 e
40 milhões. Para você ter uma ideia nem
os combates da primeira Grande Guerra
Mundial mataram tanto. Cerca de 9
milhões e 200 mil pessoas morreram nos
Enfermaria do Hospital provisório Benjamin campos de batalha da Primeira Grande
Constant. Rio de Janeiro (RJ), 1918. Guerra (1914-1918).
ROCHA, Juliana. Pandemia de gripe de 1918. Invivo. Rio de Janeiro, 16 jun. 2006.
Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br/historia/pandemia-de-gripe-de-1918/. Acesso em: 21 mar. 2022.

a) De que forma as autoridades brasileiras reagiram às notícias de que a gripe assolara a Europa?
Por quê?
b) A gripe atingiu igualmente todas as pessoas? Exemplifique.
c) O texto permite concluir que a gripe espanhola afetou a economia brasileira?
d) Copie a tabela a seguir no caderno comparando o número de mortes na Primeira Guerra
Mundial ao número de mortos em razão da gripe espanhola. NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Tabela comparativa
Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

Gripe espanhola (1918-1919)

e) O que se pode concluir com base na tabela elaborada no item anterior? (Leve em conta o
número de pessoas e o tempo).
f) Copie o quadro a seguir no caderno e compare a epidemia da gripe espanhola à da covid-19.

Gripe espanhola Covid-19


Sintomas

Letalidade

Modos de combater a doença

108

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CAPÍTULO

5 A REVOLUÇÃO RUSSA

1. Você já tinha ouvido falar do


Museu Hermitage?
2. Sabia que esse museu surgiu do
Palácio de Inverno, residência da
maioria dos czares russos?
3. Já ouviu falar do czarismo?
E dessa revolução que dá título
ao capítulo, você já tinha ouvido
falar?
4. Que relação ela pode ter com a
história de outros povos e lugares?

OM
Ao lado, vista interna (2020) e,

K.C
OC
ST
abaixo, vista externa (2014)

ER
TT
do Museu Hermitage. São

HU
71/S
Petersburgo (Rússia).

AV
ISL
AN
ST

MARCO RUBINO/SHUTTERSTOCK.COM

109

D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C05-LA-G24.indd 109 28/06/22 13:24


A Rússia czarista
No final do século XIX, o Império Russo era o maior país do
mundo (22 milhões de km2) e abrigava uma população de cerca
de 160 milhões de habitantes, composta de dezenas de povos com
línguas e costumes próprios.
O regime político era a monarquia absolutista, e todo o poder
Czar: soberano tido se concentrava nas mãos do czar czar.. Ele nomeava e demitia ministros
como eleito por Deus e conforme sua vontade, censurava jornais e revistas e decidia em
que, além disso, tinha
o título de autokrator, nome da nação. De 1613 a 1917, o Império Russo foi governado
isto é, “chefe do pelos czares da dinastia Romanov. O czar e sua família, a nobreza
exército”. A palavra czar
(os boiardos) e o clero ortodoxo possuíam enormes privilégios e
vem do latim caesar.
eram donos da maior parte das terras russas.
A maioria da população do império vivia no campo. Uma parte
desses camponeses era formada por arrendatários; já a maioria
deles, os mujiques, era explorada por seus senhores, pagava altos
impostos ao governo pelo uso da terra e, por isso, vivia pobremente.
Eram eles os mais atingidos pelo analfabetismo, pelas doenças e
pelas crises de fome que assolavam o país com frequência.
Por isso, na história da Rússia imperial ocorreram várias rebeliões
camponesas. A maior delas foi a Rebelião Pugachev (1773-1775),
que só foi derrotada pelo exército czarista depois de muita luta.

PAVEL LISITSYN/SPUTNIK/AP PHOTO/IMAGEPLUS


Mulher beijando um ícone
em homenagem ao
czar Nicolau II, o último
imperador da Rússia.
Ecaterimburgo (Rússia),
2020. Na tradição cristã,
ícones são imagens
pintadas ou esculpidas
de Cristo, da Virgem e
dos santos. No “ícone”
dessa foto, ao centro, o
último imperador russo,
Nicolau II, e sua família
estão representados
como figuras sagradas
que lembram, na
expressão e nos gestos,
Jesus, a Virgem Maria e
os santos.

110

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A modernização e a indústria
Outra resposta dos camponeses à pobreza e à opressão
czarista foi migrar do campo para as cidades. Entre 1863 e 1914,
a população urbana da Rússia mais que triplicou: passou de 6 milhões
para 18,3 milhões de habitantes. Nas cidades, os trabalhadores bus-
cavam emprego nas indústrias nascentes.
Na segunda metade do século XIX, o Império Russo estava se
industrializando por causa da entrada de capitais estrangeiros (alemães,
franceses e belgas) e da mão de obra farta e barata vinda do campo. Transiberiana:
A industrialização era impulsionada também pela exploração do petró- ferrovia que atravessa
grande parte do
leo, pela produção de aço e pela construção de ferrovias, entre as território russo, de
quais a Transiberiana
Transiberiana.. No governo do czar Nicolau II (1894-1917), Moscou à Manchúria,
o capitalismo russo continuou se desenvolvendo, e surgiram centros e era, na época
de sua construção
industriais em cidades como São Petersburgo, Moscou e Kiev. (1891-1916), a maior
Nas fábricas, porém, os salários eram muito baixos, os riscos de do mundo.
acidentes, altos, e a jornada de trabalho chegava a 14 horas por
dia. Reagindo a isso, o operariado russo promovia greves e pas-
seatas; essas manifestações, no entanto, eram reprimidas com muita
violência pela polícia czarista, a Okhrana. Esse contexto opressivo faci-
litou a entrada de ideias socialistas nos meios operários e intelectuais
da Rússia.

SPATULETAIL/SHUTTERSTOCK.COM
O socialismo
No século XIX, em meio às lutas do opera-
riado europeu por melhores condições de trabalho
e de vida, dois pensadores alemães, Karl Marx e
Friedrich Engels, criaram uma corrente dentro do
socialismo à qual eles próprios deram o nome de
socialismo científico. As principais ideias dessa dou-
trina, também conhecida como marxismo, estão
contidas em duas obras: O capital e O manifesto
comunista..
A doutrina marxista propõe a transformação da
sociedade visando à repartição da riqueza e à igual-
dade social. Opõe-se ao liberalismo, critica a injustiça
Retrato de Karl Marx em selo
social e propõe o advento de uma sociedade sem postal que circulou na União
classes. Soviética em 1968.

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Em O manifesto comunista,, Marx e Engels afirmavam
que o motor da história é a luta de classes. Na Roma antiga,
diziam eles, o que moveu a história foi a luta entre patrícios e
plebeus. Na sociedade industrial capitalista do século XIX, a
luta era entre a classe burguesa e o proletariado
proletariado.. Este faria
Proletariado: conjunto
a revolução, derrubaria a burguesia do poder e instalaria uma
de trabalhadores ditadura. Nesse novo governo, os bens individuais, como terras,
assalariados do campo e fábricas e máquinas, seriam estatizados, isto é, passariam ao
da cidade.
controle do Estado.
Por meio do lema “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos”,
Marx e Engels incentivavam operários do mundo inteiro a se orga-
nizarem em partidos e sindicatos para lutar pelo fim do capitalismo
e pela construção do socialismo.

O socialismo na Rússia
O ambiente de grande revolta e pobreza e as traduções das obras de Marx para
o russo facilitaram a penetração do socialismo no país. Com base nelas, intelectuais e
operários russos organizaram vários grupos políticos de tendência socialista, que em
1898 se juntaram para formar o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR).
Esse partido foi duramente perseguido, sendo logo desmantelado pela polícia do czar,
que prendeu vários de seus membros. Porém, seus principais líderes, Vladimir Ulianov,
o Lênin,, e Lev Bronstein, o Trotsky,, deixaram a Rússia e voltaram a se organizar no
exterior.
Havia, no entanto, divergências internas entre os socialistas russos; essas divergências
ficaram evidentes durante um Congresso do Partido Operário Social-Democrata Russo
realizado em 1903. Observe o quadro a seguir.

Propostas dos líderes do POSDR (1903)


Líder
Estratégia Objetivo
principal
Confiar a luta revolucionária a um partido
Conquistar o poder por meio da revolução
Lênin centralizado, disciplinado, que unisse
socialista.
soldados, operários e camponeses.
Promover uma revolução burguesa contra Aliar-se à burguesia para chegar ao poder
Martov o czarismo e, depois, chegar ao socialismo e depois evoluir para o socialismo por meio
pela via eleitoral. de eleições.

A maioria dos presentes votou nas teses de Lênin e, por isso, foram chamados de
bolcheviques (de “maioria”, em russo). Já seus opositores ficaram conhecidos como
mencheviques (de “minoria”, em russo).

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A rebelião popular de 1905
Indiferente à situação de penúria de seu povo, o governo da Manchúria: região rica
Rússia se envolvia em disputas imperialistas. Em 1904, entrou em em minérios, situada no
nordeste da China.
guerra contra o Japão pelo controle da Manchúria
Manchúria.. Os efeitos do
conflito sobre os mais pobres e os baixos salários pagos aos trabalhadores levaram à explo-
são de uma revolta operária em São Petersburgo. Em um domingo de 1905, operários em
greve e suas famílias caminharam desarmados pelas ruas de São Petersburgo cobertas de
neve em direção ao Palácio de Inverno, sede do governo czarista, com um abaixo-assinado
para ser entregue ao czar. Leia-o com atenção.
Majestade. Nós, trabalhadores e habitantes de São Petersburgo, nossas mulheres,
nossos filhos e nossos parentes velhos e desamparados, vimos à vossa presença, majes-
tade, buscar verdade, justiça e proteção. Fomos transformados em pedintes, somos
oprimidos, estamos à beira da morte. […] Paramos o trabalho e dissemos aos nossos
patrões que não recomeçaremos enquanto não aceitarem nossas reivindicações. Não
pedimos muito: a redução da jornada de trabalho para oito horas, o estabelecimento
de um salário-mínimo de um rublo por dia e a abolição do trabalho extraordinário.
Os oficiais levaram o país à ruína completa e o envolveram numa guerra vergo-
nhosa. […]
Estas coisas, majestade, trouxeram-nos diante de vosso palácio. […] Não recusai
ajuda a vosso povo. Destruí o muro que se levanta entre vós e vosso povo […].
VALLADARES, Eduardo; BERBEL, Márcia. Revoluções do século XX. São Paulo: Scipione, 1994. p. 24.

O documento não chegou a ser entregue ao czar, pois ele mandou que seus soldados
atirassem contra a multidão à queima-roupa. Muitos manifestantes foram mortos, e mi-
lhares deles ficaram feridos.
SOVFOTO/UIG/GETTY IMAGES

O episódio ficou conhecido


como Domingo Sangrento..

Domingo Sangrento, pintura de


Ivan Vladimirov que representa o
massacre dos trabalhadores pelas
tropas do governo czarista em
frente ao Palácio de Inverno. São
Petersburgo (Rússia), 1905.

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Encouraçado: navio destinado Populares reagiram ao Domingo Sangrento promovendo
ao combate, armado de
canhões e revestido por uma série de greves e revoltas. A mais famosa delas foi a
grossas couraças. revolta dos marinheiros do encouraçado Potemkin contra
Soviete: conselho de
deputados eleitos por
os castigos corporais e a fome a que eram submetidos na
operários, camponeses e marinha czarista. A onda de rebeldia culminou com levantes
soldados.
populares organizados pelos sovietes
sovietes..
BUYENLARGE/GETTY IMAGES

Fac-símile de cartaz dos designers russos Georgii Stenberg e Vladimir Stenberg. Repare na ideia de
movimento e no uso alternativo das cores na criação desses dois artistas, c. 1925.

Enquanto isso, a Rússia era derrotada na guerra contra o Japão, e o czarismo saía
do conflito desmoralizado. Pressionado pelo povo, o czar convocou a Duma, uma assem-
bleia composta de deputados eleitos pela população. Mas, logo em seguida, vendo-se
fortalecido, dissolveu a Duma e voltou a governar de forma autoritária.
Em 1914, decidida a controlar o acesso ao Mar Mediterrâneo pelo Mar Negro, a
Rússia czarista entrou na Primeira Guerra Mundial. O Império Russo lançou cerca de 13
milhões de soldados contra os alemães, mas esse exército numeroso carecia de fuzis,
botas, cobertores e, sobretudo, treinamento adequado. O resultado foi trágico: em
pouco tempo, cerca de 3 milhões de soldados foram mortos. A população civil também
foi fortemente atingida pelo desemprego, pela inflação e pela fome.

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O processo revolucionário Calendário juliano:
a Rússia adotava o
calendário juliano, criado
em 45 a.C. com a reforma
O povo culpava o czar Nicolau II pelas sucessivas derrotas e introduzida pelo general
pela permanência da Rússia na Primeira Guerra. Uma onda de pro- romano Júlio César. Este
testos, com saques a armazéns e lojas, alastrou-se pelo país. Em 23 calendário tem uma
diferença de 13 dias em
de fevereiro de 1917 no calendário juliano,
juliano, tecelãs e operários relação ao calendário
de São Petersburgo marcharam em direção ao prédio do governo. gregoriano, adotado pelo
Ocidente com a reforma
Muitos soldados do exército czarista também se juntaram aos re-
introduzida pelo papa
beldes e, unidos a eles, invadiram o Palácio de Inverno, derrubaram Gregório XIII. Assim, o dia
o imperador e proclamaram a República. Formou-se, então, um 23 de fevereiro na Rússia
correspondia ao dia 8 de
governo provisório.
março no Ocidente.

O governo provisório RAILW


AY FX/S
HUTTE
O governo provisório, liderado por políticos moderados, como RSTOC
K

o advogado Alexander Kerenski, procurou diminuir a insatisfação


popular libertando os presos políticos, concedendo liberdade de
imprensa e permitindo a volta dos exilados. Mas contrariou os
anseios do povo ao declarar que a Rússia continuaria na guerra.

PICTURELUX/THE HOLLYWOOD ARCHIVE/ALAMY/FOTOARENA


O líder bolchevique Vladimir Lênin, que se encontrava exilado,
retornou à Rússia em abril de 1917 e passou a defender a der-
rubada do governo provisório, a saída da Rússia da guerra e a
repartição de terras entre os camponeses. Os lemas defendidos
por Lênin eram: “Paz, terra e pão” e “Todo poder aos sovietes”.
Naquele contexto, paz significava a saída imediata da Rússia da
Primeira Guerra Mundial; terra significava a necessidade de uma
reforma agrária que possibilitasse o acesso à terra a um número
maior de camponeses; pão significava o fim da carestia e da fome. Vladimir Lênin discursa
Com o agravamento da situação social provocada pela permanên- na Praça Vermelha,
durante a Revolução
cia da Rússia na guerra, as ideias de Lênin foram ganhando força
Bolchevique. Moscou,
entre a população. 1917. Na bandeira
No dia 24 de outubro de 1917, tinha início a Revolução: os comunista, a foice
bolcheviques, liderados por Lênin e Trotsky (comandante da e o martelo juntos
representam a aliança
Guarda Vermelha),
Vermelha), ocuparam os prédios públicos da cidade de entre os camponeses e
São Petersburgo, inclusive o Palácio de Inverno, e no dia seguinte os operários.
assumiram o poder. O governo da Rússia passou às mãos dos bol-
cheviques, sob a liderança de Lênin, no cargo de presidente do Guarda Vermelha: força
Conselho de Comissários do Povo. A bandeira comunista foi has- militar composta de
trabalhadores e soldados.
teada no Palácio de Inverno pela primeira vez.

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O governo bolchevique de Vladimir Lênin
O governo bolchevique, liderado por Lênin, adotou várias medidas de grande reper-
cussão social:
• propôs a paz aos alemães: em 3 de março de 1918, a Rússia saía da guerra, assinando
com a Alemanha o Tratado de Brest-Litovsk;
• confiscou as terras da família real, dos nobres e da Igreja Ortodoxa e distribuiu-as entre
os camponeses;
• estatizou a economia: indústrias, bancos e estradas de ferro passaram a ser dirigidos
pelo governo russo;
• estabeleceu a igualdade de direitos entre homens e mulheres.

A guerra civil
Essas medidas foram mal-recebidas por monarquistas, men-
Exército Vermelho:
cheviques e liberais, que, com a ajuda das potências capitalistas
organização que teve
sua origem na Guarda (Inglaterra, Estados Unidos e Japão), formaram o Exército Branco
Vermelha. Trotsky para combater a Revolução de Outubro.
organizou, disciplinou
e ampliou os efetivos
Seus opositores, os bolcheviques, organizaram o Exército
da Guarda Vermelha, Vermelho,, comandado por Trotsky. Teve início, então, uma san-
Vermelho
formando, assim, o grenta guerra civil entre os dois exércitos, que se estendeu por três
Exército Vermelho.
longos anos (1918-1921).
Durante a guerra civil, o governo bolchevique:
• adotou o comunismo de guerra,, ou seja,
COLEÇÃO PARTICULAR. FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

manteve um rígido controle sobre a pro-


dução industrial e agrícola e o comércio;
• confiscou a produção agrícola dos cam-
poneses para manter o esforço de guerra;
• criou tribunais que condenavam sem
julgamento todos aqueles que eram
considerados inimigos da Revolução; na
ocasião, o czar e sua família foram con-
denados e mortos.
A guerra civil terminou com a vitória
dos bolcheviques. Ao fim do conflito,
Desembarque do exército estadunidense em porém, a economia encontrava-se total-
Vladivostok (Rússia), como parte de um esforço mente arrasada e o povo russo, esgotado
maior das potências ocidentais e do Japão para
apoiar o Exército Branco contra os bolcheviques e empobrecido. A fome tirou a vida de
durante a guerra civil (1918-1921). milhões de pessoas.

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A NEP: Nova Política Econômica

AKG-IMAGES/ALBUM/FOTOARENA
Diante dessa situação de penúria, o governo de Lênin adotou
medidas capitalistas ao lado das socialistas. Combinavam-se, assim,
princípios socialistas com práticas capitalistas. Essa “Nova Política
Econômica”, conhecida como NEP:
a) incentivou o comércio e a formação de pequenas e médias
empresas privadas, dando origem a um grupo de empreende-
dores que apoiavam o governo socialista;
b) permitiu aos camponeses vender o excedente de suas colheitas
no mercado interno; A manufatura que
c) liberou a entrada de capitais estrangeiros na Rússia sob a forma você vê na fotografia
é resultado do
de empréstimos e investimentos. incentivo dado pela
A NEP conseguiu que a agricultura russa se recuperasse, mas a NEP de Lênin. URSS,
indústria e o comércio continuaram em uma situação difícil. 1926.

A formação da URSS
A flexibilidade na economia, porém, não correspondeu a uma abertura na política.
Ao contrário, implantou-se uma ditadura do Partido Comunista, novo nome do grupo
bolchevique: suprimiu-se a liberdade de pensamento e de imprensa e os sindicatos e
os sovietes foram obrigados a obedecer a ordens. Em dezembro de 1922, um grande
congresso reunindo os diferentes povos que habitavam o território russo fundou a União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Formou-se um go­­verno composto de
representantes das várias repúblicas, sendo a Rússia a principal delas.

União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS (1922) Dialogando


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TADJIQUISTÃO histórico do mundo. Colônia:
IRÃ 90° L
Köneman, 1999. p. 204.

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A disputa entre Stalin
e Trotsky
Mesmo com a oposição sob controle,
o autoritarismo do Partido Comunista,
o único permitido na União Soviética,
agigantou-se. O Estado tornou-se ainda
mais poderoso em 1922, com a ascensão
de Josef Stalin ao posto de secretário-ge-
ral do partido, o mais alto cargo político
LASKI DIFFUSION/GETTY IMAGES

da União Soviética. Stalin se aproveitou


do cargo para afastar, prender ou elimi-
nar seus opositores e nomear para os
postos mais importantes homens de sua
confiança.
Com a morte de Lênin em 1924,
acirraram-se as disputas pelo poder. A
principal delas opôs Stalin a Trotsky, que
ocupava o cargo de Comissário de Defesa.
Lênin. Moscou (URSS), 1921. Enquanto comandante do Exército
Vermelho, Trotsky era visto como o mais
provável sucessor de Lênin. Segundo ele, o meio mais eficiente de proteger a União
Soviética era estender a revolução socialista a outros países. Portanto, o ideal trotskista
era o de uma revolução permanente..
Já Stalin julgava que, primeiramente, era
necessário consolidar o socialismo na
União Soviética para depois ajudar
a fazer a revolução socialista
em outros países. Atribuiu-se
UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES

a ele o lema: “O socialismo


em um só país”.
Por meio de manobras polí-
ticas, Stalin expulsou Trotsky do
UNDERWOOD ARCHIVES/GETTY IMAGES

Partido Comunista em 1927 e, pouco


depois, do país. Posteriormente,
mandou assassinar Trotsky,
que na ocasião estava
exilado no México.
Stalin. URSS, década de 1920. Trotsky. URSS, c. 1924.

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A ditadura stalinista
No governo, como maior autoridade do Partido Comunista da URSS, Stalin implantou
uma ditadura brutal que perdurou até 1953, ano de sua morte. Essa sangrenta ditadura,
conhecida como stalinismo,, tinha as seguintes características:
• sistema de partido único:: não se admitia nenhum tipo de oposição, e uma simples
suspeita era suficiente para que o cidadão fosse mandado para os campos de trabalho
forçado, os gulags
gulags,, muitos deles na Sibéria;
• opressão às nacionalidades:: o governo stalinista obrigou os povos não russos, como,
por exemplo, os ucranianos, a adotarem o idioma russo e a viverem de acordo com as
regras ditadas pelo governo;
• burocratização do Estado:: a cúpula do Partido Comunista, os militares de alta patente,
os funcionários públicos e os técnicos graduados constituíram uma elite poderosa,
conhecida como nomenklatura
nomenklatura.. Essa elite tinha uma série de privilégios e benefícios
concedidos pelo Estado;
• supressão da liberdade de imprensa e de pensamento:: a propaganda tornou Stalin
conhecido pelos comunistas do mundo todo como “grande irmão”, “pai do povo” e
“melhor amigo das crianças”.
• julgamentos forjados:: os adversários eram obrigados a confessar, sob tortura, que
eram “traidores da pátria”, sendo, em seguida, fuzilados.
SOVFOTO/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES

LASKI DIFFUSION/GETTY IMAGES

À esquerda, festival esportivo na URSS, em 1937. Ao fundo,


imagem de Josef Stalin com a menina Engelsina Markizova.
Acima, prisioneiros de um campo de trabalho forçado
soviético empenhados na construção do canal Mar Branco-
-Báltico. Milhares de trabalhadores morreram durante a
construção desse canal. URSS, entre 1931 e 1933.

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Desdobramentos da Revolução Russa
Entre os principais desdobramentos da Revolução Russa, podemos citar:
a) apresentou aos cidadãos e às nações a possibilidade de opção por outro sistema
político-social;
b) garantiu igualdade de direitos às mulheres. A Constituição de 1918 garantia à mulher
o direito ao divórcio, à herança, à educação e à formação profissional, o mesmo salário
que o homem para empregos iguais, acesso a todos os postos de trabalho e direitos
políticos iguais;

SOVFOTO/UIG/BRIDGEMAN/FOTOARENA
Pilotas soviéticas em
frente a uma aeronave
Tupolev. Sibéria (URSS),
24 de setembro de 1938.

c) estimulou governantes europeus a cederem aos trabalhadores condições de vida mais


saudáveis e mais dignas, até mesmo para evitar a propagação das ideias vindas da
URSS. Entre esses direitos, podemos citar a assistência social e a previdência;
d) favoreceu as lutas pelas independências em vários países da África e da Ásia. Vários
partidos políticos africanos que conduziram os processos de independência de seus
países aderiram aos ideais socialistas vindos da URSS;
e) influenciou os movimentos operários de várias partes do mundo, inclusive do Brasil.
Vários líderes operários brasileiros da Primeira República (1889-1930) aderiram ao
comunismo.

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Observe a imagem com atenção e
responda no caderno: o que a foto e
a legenda informam sobre as relações
entre as famílias reais europeias
naquela época?

À esquerda, veem-se o último czar russo,


Nicolau II, sua esposa, Alexandra Feodorovna,
e sua filha, Olga. Ao centro, sentada, está
a rainha Vitória da Grã-Bretanha, avó da
czarina; atrás dela, à direita, Eduardo,
príncipe de Gales. Balmoral (Escócia), 1896.
© HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS/CORBIS/GETTY IMAGES

2 Nesta imagem, é possível observar


uma representação de como ocorreu a
construção da Ferrovia Transiberiana.
A qual processo histórico, iniciado a
partir da segunda metade do século
XIX no Império Russo, relaciona-se a
construção dessa ferrovia? Justifique.

Prisioneiros do Império Russo


trabalhando na construção da ferrovia
Transiberiana. Rússia, 1897.
BIBLIOTECA AMBROSIANA/DE AGOSTINI/AGEFOTOSTOCK/EASYPIX BRASIL

3 No caderno, copie as alternativas verdadeiras e, em seguida, corrija a(s) falsa(s).


a) Durante o período da industrialização russa, ainda no século XIX, a vida dos trabalhadores
era extremamente precária, as jornadas de trabalho eram longas, e os salários, baixos.
b) As condições precárias de vida e trabalho dos operários na Rússia facilitaram a entrada das
ideias socialistas no país.
c) O socialismo é uma doutrina que propõe a transformação da sociedade, visando à repartição
da riqueza e à igualdade social (coletivização dos meios de produção). Também se opõe ao
liberalismo, critica a injustiça social e propõe o advento de uma sociedade sem classes.
d) Apesar das péssimas condições de vida e trabalho, os operários russos não se manifestavam
e, mesmo assim, eram perseguidos pela polícia czarista, a Okhrana.
e) O socialismo, chamado por Karl Marx de científico, manteve-se restrito à Rússia.

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4

GOSKINO FILMS
Observe a imagem com atenção e responda
às questões a seguir.
a) Descreva o que você vê no cartaz.
b) Com base no que você estudou, no título do
filme e na imagem do cartaz, explique a história
contada no filme.
c) Em dupla. Conversem e identifiquem as
semelhanças entre a revolta ocorrida no Brasil
em 1910 e a que serve de tema para o filme
soviético.

Fac-símile do cartaz do filme


Encouraçado Potemkin, dirigido pelo
cineasta Sergei Eisenstein, de 1925.

5 Em outubro de 1917, os bolcheviques derrubaram o governo provisório e, sob a


liderança de Vladimir Lênin, tomaram o poder.
a) Quais foram as primeiras medidas importantes do governo de Lênin?
b) Essas medidas dividiram a sociedade russa, o que acabou provocando uma sangrenta guerra
civil. Elabore um pequeno texto sobre quem lutava contra quem na guerra civil russa e informe
qual foi o desfecho.

6 Observe as duas imagens com atenção: que diferenças você encontra entre elas?
Saberia dizer quem é o homem que está discursando? E os homens que usam quepe
à direita do palanque, na foto da esquerda, quem seriam eles? Com base em suas
observações, crie uma legenda única para as duas imagens.

UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES) PHOTO12/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES

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7

COLEÇÃO PARTICULAR
Leia o trecho a seguir.

Estimativas [...] mostram que


cerca de 25 milhões de pessoas foram
reprimidas pelo regime soviético
entre 1928, quanto Stálin assumiu
o controle da liderança do partido,
e 1953, quando o ditador morreu e
seu reino de horror, se não o sistema
que desenvolvera em um quarto
de século, chegou ao fim. Esses 25
milhões – pessoas mortas por esqua-
drões de execuções, prisioneiros do
gulag, [...] trabalhadores escravos de
vários tipos e membros de naciona-
lidades deportadas – representam
cerca de um oitavo da população
soviética, que em 1941 era de apro-
ximadamente 200 milhões, ou, em
média, uma pessoa para cada 1,5 mil
família na União Soviética.
(FIGES, 2010 apud ALVES, 2013, p. 176)

Copie no caderno as alternativas corretas e justifique sua "A bondade de Stalin


ilumina o futuro de
escolha.
nossas crianças!",
a) No período denominado “Grande Terror”, ocorreram delações, 1947.
conspirações e acusações estimuladas por Stalin, com o objetivo de
punir qualquer um que se opusesse aos seus propósitos, inclusive
seus companheiros de partido.
b) Stalin utilizou estratégias de propaganda para angariar apoio ao seu
regime, que apresentavam o ditador como o “grande irmão”, um
líder favorável ao seu povo.
c) Os opositores de Stalin eram considerados “inimigos do povo”,
“traidores” e “contrarrevolucionários”, e deveriam ser punidos de
acordo com as regras do regime.
d) A oposição a Stalin se manifestou por meio dos jornais, das revistas
e das passeatas de protesto; e foi duradoura, mantendo-se viva e
atuante até o momento da morte do ditador, em 1953.
e) Stalin estruturou o sistema de poder conhecido como stalinismo,
inspirado nas ideias dos filósofos iluministas.

123

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II. Leitura e escrita em História
Vozes do presente

Bolcheviques versus mencheviques


Os bolcheviques resumiam seus objetivos no poder
EDITORA TODAVIA

como “a construção do socialismo”. […] eles tinham


uma ideia clara de que a chave para “construir o
socialismo” era o desenvolvimento econômico e a
modernização. Como pré-requisitos para o socialismo,
a Rússia precisava de mais fábricas, ferrovias, maqui-
nários e tecnologia. Precisava também de urbanização,
[...] de uma classe operaria muito maior e permanente.
Precisava de um índice maior de alfabetização, de mais
escolas, de mais trabalhadores qualificados e engenhei-
ros. Construir o socialismo significava transformar a
Rússia em uma sociedade industrial moderna.
Os bolcheviques tinham uma imagem clara dessa
transformação porque era a transformação empreen-
Fac-símile da capa do livro dida pelo capitalismo nos países mais avançados do
A Revolução Russa, Ocidente. Mas os bolcheviques haviam tomado o
de Sheila Fitzpatrick.
poder “prematuramente” […]. Os mencheviques consi-
deravam isso arriscado na prática e muito duvidoso na teoria. Os próprios bolcheviques
não sabiam muito bem como isso seria levado a cabo. Nos primeiros anos depois da
Revolução de Outubro, eles frequentemente sugeriam que a Rússia precisaria da ajuda
da Europa Ocidental industrializada [...] para avançar rumo ao socialismo. Todavia, o
movimento revolucionário na Europa ruiu, deixando os bolcheviques ainda sem saber
como proceder, mas determinados a construir de algum modo seu caminho. Em 1923,
rememorando a velha discussão sobre a revolução prematura, Lênin continuava a
julgar as objeções dos mencheviques como “infinitamente banais”. […] Os bolcheviques
tinham assumido o risco e, concluía Lênin, não poderia agora – seis anos depois – haver
dúvida de que “no conjunto” eles tinham sido bem-sucedidos.
FITZPATRICK, Sheila. A Revolução Russa. São Paulo: Todavia, 2017. p. 165-166.
a) Para os bolcheviques o que era necessário para constituir o socialismo?
b) Qual a referência dos bolcheviques para desejar a transformação da Rússia em uma sociedade
industrial moderna?
c) Qual era a posição dos mencheviques perante o projeto bolchevique?
d) Que divergências explicam as disputas entre bolcheviques e mencheviques?

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CAPÍTULO

6 A GRANDE DEPRESSÃO,
O FASCISMO E O NAZISMO

Observe a imagem e leia o texto. Ambos foram retirados do filme O grande ditador
(1940), de Charles Chaplin.

Sinto muito, mas não pretendo ser um

© LEONARD DE SELVA. ALL RIGHTS RESERVED 2022/BRIDGEMAN/FOTOARENA


imperador. [...] Não pretendo governar ou
conquistar quem quer que seja. Gostaria
de ajudar – se possível – judeus, o gentio...
negros... brancos. [...]
[...] Neste mesmo instante a minha voz
chega a milhares de pessoas pelo mundo
afora... milhões de desesperados, homens,
mulheres, criancinhas... vítimas de um
sistema que tortura seres humanos e encar-
cera inocentes. [...]
Soldados! Não vos entregueis a esses
brutais... que vos desprezam... [...] que ditam
os vossos atos, as vossas ideias e os vossos
sentimentos! Que vos fazem marchar no
mesmo passo [...], que vos tratam como gado
Fac-símile do cartaz do filme estadunidense
humano e que vos utilizam como bucha de O grande ditador, de Charles Chaplin, de 1940.
canhão! Não sois máquina! Homens é que Artista desconhecido (século XX). Na base do
sois! [...] cartaz, lemos: O ditador.

[...] Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar
o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência.
Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam
à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
YASHINISHI, Bruno. O discurso final do filme “O grande ditador” (1940). Canto dos Clássicos. [S. l.], 11 set. 2016.
Disponível em: https://www.cantodosclassicos.com/o-discurso-final-do-filme-o-grande-ditador-1940/.
Acesso em: 5 abr. 2022.

1. O traje e o bigode do personagem fotografado lembram os de um ditador; você sabe quem é ele?
Conhece suas ideias?
2. Que parte do discurso chamou mais a sua atenção? Algumas das ideias desse discurso são aplicáveis
aos dias de hoje? Quais? Por quê?

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A Europa – o principal palco da Primeira Guerra Mundial – foi a região mais atingida
por esse conflito. Já os Estados Unidos não foram palco da guerra;; além disso, saíram
dela prestigiados e enriquecidos. Prestigiados porque sua participação foi decisiva para
a vitória da Tríplice Entente. Enriquecidos porque forneceram armas e alimentos a várias
nações europeias. Os capitais acumulados durante a guerra e as leis estadunidenses que
aumentavam os impostos sobre os produtos estrangeiros favoreceram a arrancada dos
Estados Unidos nos anos que se seguiram ao conflito.

Os “anos felizes”
Na década de 1920, a produção industrial estadunidense aumentou 64%. Os altos
investimentos em pesquisa científica, o uso de novas fontes de energia e a produção em
larga escala ajudam a explicar esse excelente desempenho. Os Estados Unidos tornaram-se,
de longe, a maior economia do mundo. Para boa parte da população do país, aqueles
tempos foram de prosperidade e otimismo. Por isso, os anos 1920 ficaram conhecidos
como “anos felizes”. A confiança nessa prosperidade e a força da propaganda que chegava
aos lares pelo rádio levaram as pessoas a consumirem cada vez mais.
Nos Estados Unidos, os meios de comunicação de massa da época (rádio e cinema)
incentivavam o consumo, anunciando que consumir ajudaria o país a continuar cres-
cendo. Possuir o último modelo de carro, geladeira, fogão, rádio, aspirador de pó etc.
passou a ser o ideal das
famílias estaduniden-
ses. Consumir sempre
e cada vez mais passou
a ser um estilo de vida
( American way
no país (American
of life).
life).

Propaganda para a Premier


Engraving Company, Estados
Unidos, 1927. A nova “ética”
estimulava o consumo
desenfreado. Em 1929,
o país respondia por 45%
da produção industrial do
planeta e um em cada seis
estadunidenses tinha carro.

TRANSCENDENTAL GRAPHICS/GETTY IMAGES

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A Grande Depressão
Nos anos 1920, os Estados Unidos tinham se tornado a maior
economia do mundo e viviam uma época de prosperidade e oti-
mismo. Essa prosperidade vinha acompanhada de uma febre de Bolsa de valores: local
investimentos na bolsa de valores de Nova York. As pessoas com- onde são negociados
determinados papéis de
pravam ações, esperavam algumas semanas e então as vendiam empresas e do governo.
com grande lucro. Quem aplicou 100 dólares, em março de 1928, Os papéis do governo são
chamados de títulos, e os
nas ações da General Electric (empresa de eletrodomésticos), em
das empresas, de ações.
setembro do ano seguinte as vendeu por 300 dólares. Atraídos
pelo lucro fácil, muitos empresários aumentavam artificialmente os
preços das ações de suas empresas na bolsa, isto é, especulavam.

A quebra da bolsa de valores


Com altas constantes, no final dos anos 1920 o preço das ações já não correspondia
à situação real das empresas. Até que, em um dado momento, uma grande empresa
inglesa faliu, provocando a desconfiança dos investidores. Em 24 de outubro de 1929,
uma quinta-feira, muitos correram para vender suas ações e descobriram que não havia
compradores para elas. Os preços das ações começaram a despencar, o que levou ao
crash (quebra) da bolsa de valores de Nova York na semana seguinte. Iniciava-se, assim, a
Grande Depressão (1929-1933).
GRANGER/EASYPIX BRASIL

Na fotografia, um
acionista coloca
seu carro à
venda, em 1929.
No cartaz, lê-se:
“Por 100 dólares,
você compra
este carro. Perdi
tudo na bolsa de
valores”. Nova
York (Estados
Unidos), 30 de
outubro de 1929.

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Razões da Grande Depressão
Com a quebra da bolsa, milhares de industriais faliram; outros diminuíram a produção
e demitiram trabalhadores. Ocorreu então uma explosão do desemprego nas cidades. No
campo, os agricultores começaram a perder suas terras por não ter como pagar as dívidas
com os bancos, o que colaborou para que muitos se arruinassem.
As principais razões da Grande Depressão foram:
a) a concentração de riquezas nas mãos de poucos.. Em 1929, 13% da população
dos Estados Unidos possuía 90% da riqueza nacional, enquanto 21% dela recebia 83
dólares por mês, quantia insuficiente para atender às necessidades mínimas de um
indivíduo. Além disso, durante a década de 1920 os salários dos trabalhadores da
indústria e do comércio se mantiveram comprimidos, diminuindo seu poder de compra
e gerando acúmulo de estoques;
b) a crise agrícola.. A prosperidade dos anos 1920 estava ligada à indústria, e não à
agricultura, que esteve em crise durante toda a década. Com a mecanização e a ele-
trificação ocorridas no campo, produzia-se muito acima da capacidade de consumo.
Assim, os preços dos produtos agrícolas mantinham-se baixos, e os agricultores eram
obrigados a pedir dinheiro aos bancos. E, não podendo pagar suas dívidas, perdiam
as terras que haviam dado como garantia do dinheiro emprestado;
c) a concorrência que a Europa passou a fazer aos Estados Unidos no mercado
mundial.. A partir de 1924, os países europeus começaram a se recuperar e voltaram
a produzir o que antes importavam dos Estados Unidos. Além disso, passaram a
concorrer com os estadunidenses no mercado mundial.
Resumindo:: a concen-

BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES


tração de riqueza, os baixos
salários, a crise agrícola e a
concorrência europeia con-
tribuíram para que houvesse
muito mais mercadorias do
que pessoas com dinheiro
para comprá-las; configurava-
-se, assim, uma crise de
superprodução..

Homens consumindo
alimento gratuito durante a
Grande Depressão. Estados
Unidos, c. 1930.

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Desdobramentos da Grande Depressão
Nos Estados Unidos, a crise atingiu a muitos. Leia o texto a seguir com atenção.

PARA SABER MAIS


A grande depressão nos Estados Unidos
[...] Em 1929, 1 548 707 clientes tinham contas nas 29 bolsas de valores ameri-
canas. Numa população de 120 milhões de pessoas, quase 30 milhões de famílias
tinham uma associação ativa com a bolsa, e um milhão de investidores poderiam
ser considerados especuladores. [...]
[...] Não havia razão para a recessão de 1929 ter demorado mais, porque a eco-
nomia americana era fundamentalmente sólida. [...]
[...] o mercado de ações se tornou um motor de destruição, levando a nação inteira
à ruína e, em sua crista, o mundo. Em 8 de julho de 1932, o índice de tendências
da indústria do New York Times tinha caído de 224, ao fim do pânico inicial, para
58. A U.S. Steel, a maior e mais eficiente siderúrgica do mundo, que estava em 262
pontos antes de o mercado quebrar em 1929, agora estava em apenas 22. A General
Motors, que já era um dos grupos industriais de maior sucesso e mais bem geridos
do mundo, tinha caído de 73 para 8. Essas quedas calamitosas foram gradualmente
refletidas na economia real. A produção da indústria, que estava em 114 em agosto
de 1929, estava em 54 em março de 1933, uma queda de mais da metade, enquanto
os bens duráveis caíram 77%, quase quatro quintos. O setor de construção caiu de
US$ 8,7 bilhões em 1929 para US$ 1,4 bilhão em 1933.
No mesmo período, o desemprego cresceu de meros 3,2% para 24,9% em 1933,
e 26,7% no ano seguinte. Houve um momento em que 34 milhões de homens, mu-
lheres e crianças não tinham renda nenhuma, e essa cifra excluía as famílias rurais,
que também sofreram um golpe duríssimo. As rendas urbanas desabaram, escolas
e universidades fecharam ou faliram,
UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL IMAGES GROUP/
GETTY IMAGES

e a subnutrição subiu 20%, algo que


nunca havia acontecido antes na his-
tória dos Estados Unidos – nem nas
épocas difíceis dos pioneiros.
[...] Foi a pior queda da história
humana, e a mais prolongada. [...]
ROTHBARD, Murray N. A grande depressão
americana. Tradução: Pedro Sette-Câmara. São Paulo:
Instituto Ludwig von Mises, 2012. p. 17-19. Disponível
em: https://rothbardbrasil.com/wp-content/uploads/
arquivos/MisesBrasil_Grande%20Depressao_Brochura.pdf. Condições precárias de moradia durante a Grande
Acesso em: 20 abr. 2022. Depressão. Pensilvânia (EUA), 1938.

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Nos Estados Unidos, a crise não atingiu a todos igualmente. Os mais pobres foram
os mais prejudicados. Os discos de jazz
jazz,, por exemplo, que na época eram consumidos
sobretudo por afrodescendentes, praticamente deixaram de ser fabricados.
Reagindo à crise, o governo estadunidense dimi-
nuiu ao máximo suas compras do exterior, cortou os
investimentos externos e parou de conceder emprés-
timos. Com isso, a crise se propagou, atingindo a
Europa e o restante da América, inclusive o Brasil.

Nessa fotografia, vemos o músico Louis Armstrong, um dos


maiores trompetistas e intérpretes de jazz de todos os tempos.
Nova York (EUA), 1967. Os anos 1920 ficaram conhecidos
também como a era do jazz. Assim como o rap, o jazz é um
gênero musical surgido entre a comunidade negra e pobre
dos Estados Unidos. Muitas das letras do jazz eram inspiradas
nas experiências sociais dos seus compositores e intérpretes:
negros pobres que buscavam na música canais de expressão
de sua humanidade, nem sempre reconhecida.
DAVID REDFERN/REDFERNS/GETTY IMAGES

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

Veja o que um historiador diz sobre o desemprego na Europa:


No pior período da Depressão (1932-1933), 22% a
AP PHOTO/IMAGEPLUS

23% da força de trabalho britânica e belga, 24% da


sueca, 27% da americana, 29% da austríaca, 31%
da norueguesa, 32% da dinamarquesa e nada menos
que 44% da alemã não tinham emprego. [...]
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991).
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 97.

No ano da crise, o Brasil produziu cerca de 29 milhões


de sacas de café, mas só conseguiu vender metade delas.
É que os Estados Unidos, o nosso maior comprador de
café, diminuíram muito suas compras. As sacas de café se
acumularam nos armazéns e os preços despencaram, arrui-
Sacos de café estocados
nando cafeicultores e deixando milhares de trabalhadores em um armazém.
sem emprego. Brasil, 1939.
a) O que se pode saber sobre a Europa do início dos anos 1930 com base nesses dados?
b) Por que a Alemanha foi o país europeu mais atingido pela crise?
c) Qual lei ajuda a explicar a queda dos preços internacionais do café brasileiro?

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O New Deal

GRANGER/EASYPIX BRASIL
Enquanto a crise se alastrava
pelo mundo, nos Estados Unidos, em
1932, o líder do Partido Democrata,,
Franklin Delano Roosevelt, foi eleito
presidente da República. Sua equipe
econômica adotou então as ideias do
economista britânico John Maynard
Keynes, que tinha previsto a crise e
propunha soluções para enfrentá-la.
O presidente
Keynes defendia a intervenção do Estado na economia, fazendo Roosevelt e sua
investimentos maciços e planejando-a de modo a garantir o emprego. esposa, Eleanor,
Assim, no início de seu governo, Roosevelt lançou o New Deal ((Novo visitam um projeto
para converter
Acordo),), um plano econômico que previa:
um lixão em um
• o investimento maciço em obras públicas,, tendo o governo parque. Des Moines,
investido 4 bilhões de dólares na construção de usinas hidre- Iowa (EUA), 1936.
létricas, barragens, pontes, hospitais, escolas, aeroportos etc. Tais
obras geraram milhões de novos empregos;
• a destruição dos estoques de gêneros agrícolas como algodão, trigo e milho, a
fim de conter a queda de seus preços;
• o controle sobre a produção para evitar a superprodução na agricultura e na indústria
e a consequente queda nos preços;
• a diminuição da jornada de trabalho com o objetivo de abrir novos postos de
trabalho. Além disso, fixou-se o salário mínimo e foram criados o seguro-desemprego
e o seguro-velhice (para os maiores de 65 anos de idade).
Com essas medidas, o desemprego diminuiu, a indústria e a agricultura recuperara-se
parcialmente, os salários pararam de cair e, a partir de 1934, a renda nacional voltou a
crescer. Observe a tabela.

Estados Unidos: renda nacional em bilhões de dólares (1929-1940)


1929 87,4 1935 56,8
1930 75 1936 64,7
1931 58,9 1937 73,6
1932 41,7 1938 67,4
1933 39,6 1939 72,5
1934 48,6 1940 81,3
Fonte: NIVEAU, Maurice. História dos fatos econômicos contemporâneos. São Paulo: Difel, 1969. p. 227.

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A ascensão dos fascismos
O desemprego e a falta de esperança decorrentes da Grande Depressão favoreceram
o surgimento, em diversos países, de políticos e partidos autoritários que acusavam as
democracias liberais de serem incapazes de resolver os problemas da população. Para esses,
a solução era um governo forte, dirigido por um líder único que fosse uma espécie de
“salvador da pátria”. Esse ambiente, como observou o historiador Robert Paxton, favoreceu
o surgimento de vários fascismos, a exemplo do italiano e do alemão. Conheça as principais
ideias fascistas segundo esse historiador:
a) o grupo é prioritário e o indivíduo deve subordinar-se a ele;
b) a comunidade é vítima e qualquer ação sem limites legais ou morais contra seus
inimigos é válida;
c) a rejeição à democracia, ao liberalismo e ao socialismo;
d) os chefes, sempre do sexo masculino, conduzem a comunidade rumo a seu destino;
e) a violência pode ser bela e a vontade, eficiente, se o objetivo é o êxito da comunidade;
f) um povo pode dominar os demais, independentemente de lei humana ou divina.

O fascismo italiano
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

Após o fim da Primeira Guerra, a Itália amargava


grandes perdas materiais e humanas e devia somas ele-
vadas aos vencedores. O desemprego, já alto, aumentou
ainda mais com a volta para casa de 2 milhões de sol-
dados; além disso, muitos italianos reclamavam do fato de
seu país não ter ganhado territórios, apesar de ter lutado
na guerra ao lado dos vencedores.
Nesse contexto, o ex-combatente italiano Benito
Mussolini se lançou na política. Mussolini foi professor pri-
Para conquistar corações e mário, jornalista e defensor do socialismo, chegando a ser
mentes, Mussolini utilizava perseguido por suas ideias. Porém, ao voltar da Primeira
slogans como: “Acreditar,
obedecer e combater”.
Guerra, abandonou o ideal socialista e fundou, em 1919,
Itália, 1940. os Fasci Italiani di Combattimento – organização que
deu origem ao movimento e ao partido fascistas.
Fasci Italiani di Combattimento: Defendendo um nacionalismo extremado, a subor-
movimento nacionalista e antiliberal
que atuava por meio de esquadrões
dinação do indivíduo ao Estado e devotando ódio às
armados liderados por ex-oficiais democracias e ao comunismo, Mussolini prometia que,
e integrados por jovens ricos e por sob seu governo, a Itália reviveria as glórias do Império
desempregados.
Romano.

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A Marcha sobre Roma
O fascismo italiano cresceu rapidamente com base no apoio de grandes empresários,
assustados com o crescimento dos socialistas e comunistas nas eleições parlamentares
italianas. Esses empresários começaram a ver no movimento fascista o único meio de
manter a ordem social que os favorecia. O fascismo italiano recebeu também o apoio
de pessoas de diferentes origens sociais: desde ex-combatentes e desempregados até
pequenos camponeses e professores universitários. O que os unia eram valores tais
como: desprezo pelos socialistas e comunistas, nacionalismo extremado e a atração pelo
uso da violência.
Fortalecido, o movimento fascista italiano transformou-se em um partido político,
o Partido Nacional Fascista (1921), que, em poucos meses, já contava com 300 mil
integrantes obedientes ao duce (chefe) Benito Mussolini.
No ano seguinte, aproveitando-se de uma greve geral deflagrada por comunistas e
socialistas, Mussolini ameaçou: ou o governo italiano restabelecia a ordem ou os fascistas
o fariam. Percebendo que o rei da Itália, Vittorio Emanuele III, fraquejava, Mussolini
planejou e comandou o assalto ao poder. Em 1922, liderou a Marcha sobre Roma::
à frente de milhares de fascistas (os camisas-negras) vindos de várias partes da Itália,
invadiu a capital para exigir o poder.
O rei Vittorio Emanuele III cedeu à pressão fascista e convidou Mussolini para ser
primeiro-ministro; Mussolini se tornou, então, chefe de governo da Itália.
STEFANO BIANCHETTI/CORBIS/GETTY IMAGES

Ditador Benito Mussolini


e líderes fascistas
caminham em direção
à capital italiana, no
episódio conhecido
como Marcha sobre
Roma, em 1922.

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O governo de Mussolini
No poder, Mussolini incentivava o vale-tudo e impunha o Estado totalitário. Em 1924,
por exemplo, os fascistas venceram as eleições espancando pessoas e roubando urnas.
Apesar disso, o rei da Itália continuava apoiando Mussolini. Depois, Mussolini implantou
uma brutal ditadura: fechou jornais; criou uma polícia secreta, a Organização para a
Vigilância e a Repressão do Antifascismo (Ovra), que prendia e assassinava os adver-
sários; suprimiu todos os partidos de oposição, conservando apenas o Partido Nacional
Fascista.
Mas os fascistas não usaram apenas a força – recorreram também à aliança com a
Igreja Católica para ampliar sua base de apoio. Em 1929, Mussolini assinou um acordo
com o papa Pio XI, o Tratado de Latrão,, pelo qual reconhecia o Vaticano como Estado
independente. Em compensação, a Igreja reconhecia que o governo fascista era legítimo.
Situado dentro da cidade de Roma, o Estado do Vaticano possui apenas cerca de 0,5 km2
e é dirigido pela Igreja Católica.

PARA SABER MAIS


Propaganda e educação sob o fascismo
O governo de Mussolini também usou a educação para divulgar suas ideias. As
escolas da Itália fascista ensinavam, além das disciplinas tradicionais, temas como a vida
de Mussolini e suas “grandes” realizações. Toda criança entre 8 e 14 anos de idade
tinha de decorar uma oração em que, em vez de dizer “Creio em Deus”, dizia: “Creio no
gênio de Mussolini”. Os professores que se negavam a ensinar as ideias fascistas eram
perseguidos e demitidos de seus cargos.
O fascismo usou ainda o cinema e o rádio para converter as pessoas aos seus
ideais. Através do rádio, o duce “falava de perto” aos italianos; já o cinema era usado
para fabricar e divulgar imagens
LIBRERIA DELLO STATO, ROMA.
FOTO: BRIDGEMAN/FOTOARENA

que mostravam uma Itália sem


fome, sem conflitos e com uma
população satisfeita, saudável e
voltada para o esporte.

Página de um livro escolar de 1941.


Um dos desenhos representa uma
criança que oferece um buquê de flores
a Mussolini. Museu dos brinquedos e
das crianças. Milão (Itália).

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O nazismo na Alemanha
Vimos que os vencedores da Primeira Guerra obrigaram a Marco: antiga moeda
Alemanha a assinar o Tratado de Versalhes,, em 1919, pelo alemã. Atualmente, a
moeda da Alemanha
qual ela teve de ceder territórios (incluindo a rica região da é o euro.
Alsácia-Lorena) e pagar aos vencedores uma indenização de
132 bilhões de marcos (33 bilhões de dólares na época)! Essa

© CORBIS/CORBIS/GETTY IMAGES
dívida gigantesca contribuiu para uma crise de graves propor-
ções na Alemanha: a inflação e a dívida externa dispararam,
enquanto a oferta de emprego diminuiu assustadoramente.
O aprofundamento da crise favoreceu o crescimento
de socialistas e comunistas nas eleições e abriu caminho
para o fortalecimento de partidos que prometiam soluções
“mágicas”. Um desses partidos era o Partido Nacional Socialista
dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), também chamado de
Partido Nazista,, fundado em 1919, ano em que admitiu em
suas fileiras o ex-cabo Adolf Hitler.
Falando ao público, Hitler culpava as democracias libe-
rais pela derrota da Alemanha na guerra e pelas condições
humilhantes impostas ao país pelo Tratado de Versalhes. Dizia
também que o povo alemão tinha sido a principal vítima da Mulher usa cédulas de
guerra e estava “entregue aos pontapés do resto do mundo”. marco alemão para
Com o orgulho ferido, milhares de alemães foram “arrastados” acender o seu forno,
de tão desvalorizado que
por esse discurso. Adotando um nacionalismo extremado e estava a moeda à época.
devotando ódio aos judeus e aos comunistas, Hitler tornou-se, Alemanha, 1923.
em pouco tempo, o líder absoluto dos nazistas.
Em 1920, o Partido Nazista criou as Seções de Assalto (SAs),, grupos paramilitares
encarregados de eliminar fisicamente seus adversários. Três anos depois, em meio ao
agravamento da crise econômica e social, Hitler tentou tomar o poder por meio de um
golpe de Estado na cidade alemã de Munique, mas fracassou e foi preso. Na cadeia, ele
produziu boa parte de um livro chamado Minha luta,, que continha os princípios básicos
do nazismo. São eles:
• a superioridade da raça ariana.. Para Hitler, existiria uma raça pura (a ariana), superior
a todas as outras e da qual provinham os alemães;
• a necessidade de um espaço vital.. Tese segundo a qual os alemães precisavam
conquistar territórios a fim de se realizar plenamente como povo;
• o antissemitismo.. Os nazistas justificavam seu ódio aos judeus dizendo que eles haviam
contaminado a “raça ariana”. Assim, para salvar a Alemanha e purificar a raça ariana,
os judeus deviam ser eliminados.

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A ascensão dos nazistas
A partir de 1924, ajudada por capitais estadunidenses e ingleses, a Alemanha voltou
a crescer. Esse crescimento econômico contribuiu para fortalecer a democracia e diminuir
o prestígio de líderes radicais, a exemplo de Hitler. Berlim, a capital do país, tornara-se
palco de intensa atividade artística e cultural.
Mas, com a crise de 1929, a situação se alterou profundamente. Na Alemanha, a
produção caiu, a inflação disparou e o desemprego trouxe consigo a fome, a humilhação
e a falta de esperança. Entre 1929 e 1932, o número de desempregados na Alemanha
saltou de 2,85 para 6,04 milhões (quase um terço do total de trabalhadores do país). Nesse
cenário deprimente, Hitler voltou a se apresentar como “salvador da pátria” e conquistou a
simpatia de muitos alemães, entre os quais militares de alta patente e grandes industriais.
Em janeiro de 1933, o presidente da República nomeou Hitler chanceler (chefe de governo)
da Alemanha.

Hitler no poder
No início de 1933, os nazistas atearam fogo ao Parlamento alemão e culparam os
comunistas pelo atentado. Esse fato interferiu no resultado das eleições parlamentares
de março daquele ano. Os nazistas obtiveram quase 44% do total de votos (nas eleições
anteriores, ocorridas em 1929, eles haviam obtido apenas 3% das cadeiras). Os nazistas
tinham agora a maioria no Parlamento.
HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES

# DICA!
Cena final do filme
O grande ditador, de
Charles Chaplin.
CHARLIE Chaplin –
Discurso final do filme
“O grande ditador”.
2016. Vídeo (3min36s).
Publicado pelo canal
Charles Chaplin.
Disponível em: https://
youtu.be/J7GY1Xg6X20.
Acesso em: 5 abr. 2022.

Adolf Hitler, chanceler


da Alemanha, é recebido
por simpatizantes
em Nuremberg
(Alemanha), 1933.

136

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No poder, Adolf Hitler implantou uma das mais cruéis ditaduras da história da huma-
nidade: fechou jornais e sindicatos, dissolveu os partidos políticos, ordenou a queima de
livros, demitiu democratas e comunistas de seus empregos e perseguiu os judeus.
Em 1933, Hermann Goering, chefe das SAs, criou a Polícia
Secreta do Estado (Gestapo). Em 1934, com a morte de Paul von Reforma agrária:
Hindenburg, Hitler assumiu a presidência com o título de Führer conjunto de medidas
jurídicas e econômicas
(guia, condutor). No campo econômico, desenvolveu as indústrias de que visam melhorar a
base (ferro, aço, máquinas), investiu em obras públicas e estimulou distribuição das terras
cultiváveis, tornando a
as fábricas de armas, diminuindo, com isso, o desemprego. Mas, ao
propriedade, a posse e
mesmo tempo, não cumpriu nenhuma de suas promessas ao povo: o uso da terra acessíveis
os salários foram congelados, a reforma agrária não saiu do papel a um número maior de
pessoas ou famílias.
e os trustes
trustes,, como o do grupo Krupp, ganharam maior liberdade
para agir.

O antissemitismo nazista
Sob o comando de Hitler, o Estado nazista tomou
uma série de medidas discriminatórias contra os judeus. ALBUM/AKG-IMAGES/FOTOARENA

• 1933 – o namoro e o casamento entre judeus e


“arianos” foram proibidos por lei; os funcionários
públicos judeus foram aposentados e proibidos de
trabalhar na imprensa, nos tribunais e na saúde; e
os estudantes judeus foram obrigados a usar um
número de identificação para entrar nas escolas e
nas universidades;
• 1936 – os judeus foram expulsos do Exército;
• 1938 – os judeus foram obrigados a usar docu-
mento de identidade e passaporte especiais; e seu Propaganda antissemita veiculada na
patrimônio (bens e capitais) foi bloqueado. Alemanha nazista, em 1936. À direita,
vê-se um garoto, representado como
Em 9 de novembro de 1938, militares nazistas ves- judeu, puxando as tranças de uma
tidos à paisana promoveram um ataque violento aos menina loura; à esquerda e ao centro,
crianças alemãs zombam e fazem
judeus e às suas lojas, que ficou conhecido como Noite caretas para crianças judias, que,
dos Cristais,, por causa da destruição de um grande sentindo-se constrangidas, deixam a
número de vitrines e vidraças. Além disso, centenas de escola acompanhadas de um adulto,
que também é judeu (note o quipá em
sinagogas foram incendiadas e milhares de judeus foram sua cabeça).
presos e mandados para os campos de concentração.
Quipá: pequena boina que os judeus
Dialogando usam no alto da cabeça como símbolo
da sua religião.
O que essa imagem expressa? Com que objetivo?

137

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PARA SABER MAIS
As Olimpíadas de 1936: esporte e racismo
Em 1936, os Jogos Olímpicos foram organizados em Berlim. Disposto a impressionar
o resto do mundo e a comprovar a superioridade alemã, Hitler mandou construir um
estádio para 100 mil pessoas; gastou cerca de 30 milhões de dólares para erguer a Vila
Olímpica, onde seriam recebidos 4 mil atletas de todos os continentes; e encomendou
a uma consagrada cineasta alemã, Leni Riefenstahl, a direção do filme oficial da com-
petição, que deveria ser um louvor aos ideais nazistas.
No entanto, nem tudo saiu do jeito que Hitler desejava.
Inicialmente, ele foi obrigado a aceitar na equipe da Alemanha duas atletas alemãs
de origem judia (elas não eram, na visão de Hitler, “alemãs puras”): Gretel Bergmann,
atleta de salto em altura, e Helene Mayer, esgrimista que havia ganhado uma medalha
de ouro nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã (Países Baixos). O Comitê Olímpico
Internacional pressionou as autoridades nazistas com uma ameaça: se elas fossem proi-
bidas de participar, a Alemanha não sediaria os Jogos.
Porém, quem mais brilhou naqueles jogos não foi nenhum “ariano puro”, de cabelos
loiros e olhos azuis, mas sim os atletas negros estadunidenses, que ganharam todas as
provas de atletismo, como as corridas de 100 metros e 800 metros, salto em distância e
salto em altura. Entre eles estava um neto de escravizados, o corredor Jesse Owens, que
ganhou quatro medalhas de ouro. No salto em distância, atingiu 8,06 metros, recorde
olímpico por 24 anos.
Hitler estava presente no estádio, mas saiu antes que a prova de salto terminasse.
A “estrela da festa” foi mesmo Jesse Owens, cuja vitória é até hoje lembrada como
evidência de que as ideias racistas de Hitler não tinham fundamento.
KEYSTONE/GETTY IMAGES

O estadunidense Jesse
Owens (à frente) cruza
a linha de chegada,
conquistando a medalha
de ouro na corrida
dos 100 metros nas
Olimpíadas de 1936.
Ele ganhou outras três
medalhas de ouro:
nos 200 metros, no
revezamento 4 3 100 m
e no salto em distância.
Berlim (Alemanha).

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Observe a imagem com atenção.
a) Que relação se pode esta-

BRIDGEMAN/FOTOARENA
belecer entre a imagem
e o American way of life
adotado nos Estados
Unidos em 1920?
b) Qual era o argumento
usado pelos meios de
comunicação de massa
para incentivar o consumo
na época do American
way of life?
c) Você já comprou algo sem
que tivesse necessidade?
Por quê?

2 A Grande Depre s s ão
eclodiu em um mundo Propaganda do American way of life nos Estados Unidos.
otimista que parecia cami-
nhar na direção de uma prosperidade permanente. Ela iniciou-se com a quebra da
bolsa de valores de Nova York em outubro de 1929, afetando todas as atividades
econômicas dos Estados Unidos e se propagando por todo o mundo.
a) Caracterize a Grande Depressão e indique o motivo pelo qual seus efeitos foram sentidos em
todo o mundo.
b) Por que a crise atingiu tão fortemente o Brasil?
c) Quais foram os efeitos da crise no Brasil?

3 Avalie as afirmações a seguir e identifique quais delas representam ideias fascistas.


a) A comunidade é vítima e qualquer ação sem limites legais ou morais contra seus inimigos é
válida.
b) Aprovação à democracia, ao liberalismo e ao socialismo.
c) Os chefes, sempre do sexo masculino, conduzem a comunidade rumo a seu destino.
d) A violência pode ser bela e a vontade, eficiente, se o objetivo é o êxito da comunidade.
e) Um povo pode dominar os demais independentemente do êxito do chefe.

139

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4 Observe a tabela a seguir.

Alemanha: resultado das eleições para o Parlamento


Grupos políticos 1919 1924 1928 1930 1932 1933
Moderados e conservadores 54% 58% 55% 44% 27% 26%
Socialistas e comunistas 46% 35% 42% 38% 35% 30%
Nazistas - 7% 3% 18% 38% 44%
Fonte: SCHIMDT, Heinz Dieter. Fragen an die Geschichte. Frankfurt: Hirschgraben-Verlag, 1979.

a) Qual grupo mais cresceu no período? Aponte uma razão para isso.
b) No modelo parlamentarista, como o do governo alemão, o partido político que obtém o
maior número de assentos no Parlamento tem o direito de formar o governo. Relacione essa
informação com a chegada de Adolf Hitler ao poder.
c) Copie no caderno a alternativa correta. A observação atenta dos dados da tabela permite
perceber que:
I. os grupos que mais cresceram no período foram o dos nazistas e o dos moderados e
conservadores.
II. não há relação entre os efeitos da crise de 1929 e as eleições alemãs, já que os comunistas
também vinham crescendo desde 1919.
III. os nazistas participaram das eleições de 1933 por acreditar na democracia e por meio do
convencimento pacífico.
IV. os nazistas cresceram muito eleitoralmente a partir da crise de 1929, quando o desemprego
na Alemanha chegou a atingir 44% da população.
V. os efeitos da Grande Depressão foram sentidos pelos nazistas, uma vez que, a partir da
crise de 1929, apenas os socialistas cresceram politicamente.

II. Leitura e escrita em História


Cruzando fontes

FONTE 1

Número de crianças investidoras aumenta 65% em um ano na Bolsa


De olho no futuro das crianças, pais e responsáveis estão deixando de lado a
tradicional poupança para fazer o pé-de-meia de seus filhos e migrando para a
Bolsa de Valores. Em um ano, o número de investidores com até 15 anos de idade
cadastrados na B3 aumentou 65,5%.
O número passou de 13 070 – 7 347 (homens) e 5 723 (mulheres) –, em outubro
de 2020, para 21 630 – 12 082 (homens) e 9 548 (mulheres) –, em outubro [de 2021].
[...]

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[André] Braz [economista do IBRE-FGV] ressalta que abrir uma conta para
menor de idade na Bolsa de Valores é burocrático e exige a autorização dos pais a
cada investimento que será feito.
“Se houver parceria e os pais forem os responsáveis legais pelos investimentos
e souberem orientar os filhos, é muito legal”, frisa.
RODRIGUES, Márcia. Número de crianças investidoras aumenta 65% em um ano na Bolsa. R7, São Paulo, 11 out. 2021.
Disponível em: https://noticias.r7.com/economia/economize/numero-de-criancas-investidoras-aumenta-65-em-um-ano-na-
bolsa-11102021. Acesso em: 5 abr. 2022.

FONTE 2

A tabela a seguir traz estatísticas sobre as bolsas de valores publicadas em 2021.


Principais bolsas de valores do mundo (2021)
Valor de mercado Empresas/
Bolsa Localização
(em trilhões de dólares) ações listadas ˜

NYSE EUA 21 2 700
Nasdaq EUA 10 3 000
Euronext Europa 4 1 800
SSE China 6 1 700
TSE Japão 5,7 2 000
B3 Brasil 1,3 400
Elaborado com base em: ISMAR, Bruno. 5 principais bolsas do mundo que vale a pena conhecer.
Renova Invest. São Paulo. 4 out. 2021. Disponível em: https://renovainvest.com.br/blog/5-principais-
bolsas-do-mundo-que-vale-a-pena-conhecer/. Acesso em: 11 maio 2022.

a) Em seu entendimento, quais razões explicam o fato de os pais deixarem de lado a tradicional
poupança e buscarem “fazer o pé-de-meia” de seus filhos na bolsa de valores?
b) Em dupla. Discutam por que, na opinião de vocês, em outubro de 2020 a maioria dos
investidores com até 15 anos de idade era do sexo masculino.
c) Pesquise e preencha no caderno o quadro a seguir com informações sobre a bolsa de valores
de São Paulo (B3).
Bolsa de valores B3
Nome original Nome atual Ano de fundação Local de fundação

Principal índice Empresas listadas Valor de mercado Exemplos de empresas

d) De acordo com a fonte 2, as seis principais bolsas de valores do mundo têm, juntas, qual valor
de mercado?
e) De acordo com a fonte 2, qual bolsa de valores tem a maior quantidade de empresas listadas?
E qual tem o maior valor de mercado?
f) De acordo com a fonte 2, é possível afirmar que o valor de mercado das bolsas de valores
estadunidenses somado corresponde a cerca de dois terços do valor de mercado total das
principais bolsas de valores do mundo?

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Vozes do presente
Leia o texto a seguir, extraído do site do Museu do Holocausto dos Estados Unidos.

A disseminação da informação jornalística nazista


Quando Hitler subiu ao poder em 1933, a

ULLSTEIN BILD/ULLSTEIN BILD/GETTY IMAGES


Alemanha tinha uma infraestrutura de comunica-
ções bem desenvolvida: mais de 4 700 jornais diários
e semanais, com uma circulação total de 25 milhões
de exemplares, eram publicados anualmente naquele
país, mais do que em qualquer outro país indus-
trializado. [...] A indústria do cinema da Alemanha
estava entre as maiores do mundo; seus filmes eram
aclamados mundialmente, e os alemães foram os pio-
neiros no desenvolvimento do rádio e da televisão. [...]
[...] A eliminação de sistema político multiparti-
Roland Strunk, correspondente dário não apenas levou ao fim de centenas de jornais
especial do jornal do Partido
Nazista Völkischer Beobachter produzidos pelos partidos destituídos, mas também
(Observador Nacional). Alemanha, permitiu que o estado confiscasse gráficas e equipa-
1936. mento dos partidos Comunista e Social-Democrata,
que com frequência criticavam diretamente o Partido Nazista. Nos meses seguin-
tes, os nazistas estabeleceram o controle e passaram a exercer influência sobre
os órgãos da imprensa independente. Nas primeiras semanas de 1933, o regime
nazista posicionou o rádio, a imprensa e os curtas-metragens para provocar o medo
da iminente “ascensão dos comunistas” e depois canalizou a ansiedade do povo
através de medidas políticas que erradicavam a liberdade civil e a democracia.
UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM. A disseminação da informação jornalística nazista.
Enciclopédia do Holocausto. Washington, DC, [1 out. 2013]. Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/
content/pt-br/article/writing-the-news. Acesso em: 22 mar. 2022.

a) Descreva, com suas palavras, a situação dos meios de comunicação alemães no momento da
ascensão dos nazistas ao poder.
b) Explique em que sentido o fim do multipartidarismo beneficiou as atividades de propaganda
do Partido Nazista.
c) Em dupla. Reflitam sobre o porquê de, em países em que vigoram regimes ditatoriais, ser
comum haver a censura e a proibição da circulação de jornais de oposição. Em sua resposta,
destaquem o papel da imprensa como formadora de opiniões.
d) Em diversos locais e épocas, embora pessoas tivessem sido proibidas de escrever jornais
contra os governos, isso não as impedia de criar e fazer circular inscritos injuriosos atacando
autoridades constituídas no poder. Esses escritos, fixados em locais públicos, de caráter quase
sempre anônimo e de tom humorístico, receberam o nome de pasquim. Em grupo. Criem
um pasquim, isto é, um folheto de caráter jocoso, a respeito da política nazista e seu plano
de criação de um espaço vital.

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CAPÍTULO

7 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Observe a
MARVEL COMICS/ADVERTISING ARCHIVES/EASYPIX BRASIL

imagem com
atenção.

1. Você conhece esses


personagens?
2. Quem é o herói?
E quem é o vilão?
3. O que está
acontecendo
na cena?

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Céu de nuvens carregadas
Ascendendo ao poder em 1933, o Führer

CORBIS/GETTY IMAGES
começou a militarizar a Alemanha, afrontando
abertamente as imposições feitas pela França
e pela Inglaterra no Tratado de Versalhes.
A Itália de Mussolini também nutria fortes res-
sentimentos em relação à Inglaterra e à França,
pois participara da Primeira Guerra ao lado
desses países e não obtivera as compensações
territoriais que lhe foram prometidas. O Japão,
por sua vez, industrializava-se rapidamente e
ambicionava ampliar seus mercados e áreas de
influência no continente asiático.
Desafiando a ordem internacional vigente
na década de 1930, o Japão,, a Itália e a
Líderes das potências do Eixo dividindo o Alemanha adotaram uma política declarada-
mundo. Estados Unidos, século XX. mente imperialista.

Dialogando
O imperialismo japonês
a Quem são os
No início do século XX, o Japão era uma potência industrial, a
personagens
mostrados na única de toda a Ásia. Tinha deixado de ser vítima do imperialismo
imagem? para tornar-se, ele próprio, um país imperialista. Em 1931, o Japão
b O que está ocupou a Manchúria, província chinesa rica em minérios e solos
acontecendo na férteis. A Liga das Nações, que era controlada pela Inglaterra e pela
cena? França, nada fez para socorrer a China. Em 1937, o Japão atacou
e ocupou outra parte do território chinês.

O expansionismo italiano
Em outubro de 1935, a Itália de Mussolini afirmou seu imperialismo invadindo a
região onde hoje é a Etiópia, no nordeste da África. Diante disso, a Liga das Nações,
orientada pela Inglaterra, proibiu os países-membros de comerciar com a Itália. Essa
proibição, porém, não afetou a economia italiana porque nações fortes, como os Estados
Unidos e a Alemanha, que não faziam parte da Liga, continuaram a vender aos italianos
matérias-primas essenciais, como petróleo e carvão. A conquista da Etiópia pela Itália
se consumou em 1936; com isso, ficava provado que a Liga das Nações era incapaz de
assegurar a paz mundial.

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O nazismo alemão mostra suas garras
Afirmando que os alemães precisavam de espaço vital Política de
apaziguamento: política
(Lebensraum
Lebensraum,, em alemão), em 1935, Hitler rearmou a Alemanha que consistia em ceder
e reintroduziu o serviço militar obrigatório. No ano seguinte, mili- territórios à Alemanha
tarizou a Renânia, região próxima à fronteira com a França. Tudo a fim de evitar a guerra.
O principal motivo dessa
isso tinha sido proibido pelo Tratado de Versalhes, mas a França e a política é que muitos
Inglaterra nada fizeram para deter Hitler. Encorajado, Hitler aliou-se dirigentes franceses
a Mussolini em 1936 e, juntos, entraram com suas tropas na Guerra e ingleses viam em
Hitler um guardião do
Civil Espanhola (1936-1939), ao lado do general Francisco Franco, capitalismo na luta
com o objetivo de derrubar o governo republicano, que tinha sido contra o comunismo
soviético; ou seja, um
eleito democraticamente.
mal menor do que o
Em seguida, Hitler e Mussolini solidificaram sua aliança, for- “perigo comunista”.
mando o Eixo Roma-Berlim,, bloco político e militar que, com a
entrada do Japão, constituiria o Eixo Roma-Berlim-Tóquio.. Em
março de 1938, a Alemanha hitlerista anexou a Áustria; essa ane-
xação foi aprovada por 90% dos eleitores austríacos, o que mostra
a popularidade do nazismo no país. Hitler, então, passou a exigir
os Sudetos, região da Tchecoslováquia (atuais República Tcheca
e Eslováquia) habitada por 3 milhões de alemães. Para resolver a
questão, Hitler, Mussolini (Itália), Neville Chamberlain (Inglaterra)
e Édouard Daladier (França)
reuniram-se na Conferência

GRANGER/FOTOARENA
de Munique e decidiram que
a Alemanha podia ocupar os
Sudetos. A principal interes-
sada – a Tchecoslováquia – não
foi convidada para a reunião.
Inglaterra e França punham
em prática, assim, a política
de apaziguamento do inglês
Chamberlain.

O cavalheiro e os gângsters. Charge


de A. R. Charlet que representa Neville
Chamberlain (primeiro-ministro britânico)
cumprimentando Hitler, que segura uma
arma escondida atrás das costas. Por trás
de Chamberlain estão Benito Mussolini
e Hirohito. Revista Cyrano, 1939. Na
legenda, lê-se: “Honestamente, sr. Hitler,
onde o senhor vê alguém encurralado?”.

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No ano seguinte, os nazistas anexaram a Tchecoslováquia inteira, desrespeitando
o que havia sido combinado em Munique. Depois, Hitler assinou um pacto de não
agressão com seu adversário político, o líder comunista Josef Stalin, da União Soviética.
Secretamente, decidiram também ocupar e dividir a Polônia. Com esse acordo, em caso
de guerra, a Alemanha não teria de lutar em duas frentes.
BELMONTE

Dialogando
Essa charge é de 21 de março de 1939 e foi criada
por Benedito Bastos Barreto, o Belmonte. Observe-a
com atenção e responda às questões a seguir.
a Quem é a figura central e quem são as
mulheres à sua volta?
b Como esses personagens estão representados?
c Quem é o personagem vestido de preto e do
que ele está reclamando?
Charge de Belmonte, 1939. No balão, se lê: “Eh! Moço!
O senhor está me pisando no calo!!”. d Belmonte faz duas duras críticas nessa charge;
quais são elas?

Em 1o de setembro de 1939, os alemães invadiram


o oeste da Polônia; dias depois, os soviéticos aboca-
nharam o leste. A Inglaterra reagiu, declarando guerra
à Alemanha. Era 3 de setembro de 1939; para os euro-
peus, o início da Segunda Grande Guerra.

A ocupação nazista da França


A ofensiva nazista na Europa
ALLMAPS

Território ocupado pelo Mar do Norte


Eixo depois de set./1939
Governo de Vichy, 1940-1944 PAÍSES No início da Segunda Guerra, Guerra-relâmpago:
Avanço do Eixo,1940 BAIXOS
Linha Maginot
0 220 os nazistas adotaram a tática da tática na qual os
REINO UNIDO aviões começavam
Rio

Dunquerque BÉLGICA
ncha guerra-relâmpago e, entre 9 o bombardeio; em
Re

a Ma
no

a l d
50º N Can
Le Havre LUX.

Paris
Metz
ALEMANHA
de abril e 14 de junho de 1940, seguida, os tanques
invadiram e conquistaram cinco avançavam, abrindo
FRANÇA caminho para a
SUÍÇA países: Dinamarca, Noruega, infantaria, que
OCEANO
ATLÂNTICO
Vichy
Lyon ITÁLIA
Holanda, Bélgica e França. Após ocupava o território
Bordeaux
FRANÇA
DE a ocupação nazista, a França foi inimigo rapidamente.
VICHY

Marselha
dividida: uma parte, ao norte,
Meridiano de
Greenwich

ANDORRA Mar
I.Córsega
(FRA) ficou sob o domínio direto da Alemanha; a outra,
Mediterrâneo
ESPANHA ao sul, foi entregue a um militar francês, o marechal
Fonte: DUBY, Georges. Grand Atlas historique: Pétain, que concordou em colaborar com os nazistas.
l’histoire du monde en 520 cartes.
Paris: Larousse, 2011. p. 99. Observe o mapa.

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HULTON-DEUTSCH/HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS/GETTY IMAGES

PARA SABER MAIS


A resistência aos nazistas
Por toda a Europa, muitos civis resistiram
à ocupação nazista com armas simples, muitas
vezes obtidas em pequenas batalhas contra os
inimigos. Esses grupos de cidadãos armados,
chamados de partisans ou maquis
maquis,, foram impor-
tantes no combate ao nazismo na França, na
Itália, na Iugoslávia, na Noruega e na União Combatentes franceses contra a ocupação
Soviética. nazista na França. Paris (França), 1944.

Na França, eles organizaram um movimento de resistência armada ao nazismo


conhecido como França Livre. Seu líder, o general Charles de Gaulle, os comandava pelo
rádio a partir de Londres.

Após a ocupação da França, os nazistas miraram a Inglaterra e iniciaram bombardeios


aéreos aos portos e cidades do país, inclusive Londres. Liderados por Winston Churchill,
os ingleses resistiram aos bombardeios aéreos sobre Londres. No ar, a aviação inglesa, a
RAF ((Royal Air Force),
), enfrentou a aviação alemã, a Luftwaffe,, na Batalha da Inglaterra
(1940). Nessa batalha, a perícia dos pilotos britânicos e a liderança de Churchill detiveram
os nazistas e os forçaram a adiar a invasão da Grã-Bretanha. Em homenagem ao desem-
penho dos pilotos ingleses nessa batalha, disse Churchill: “Nunca [...] tantos deveram tanto
a tão poucos”.
Quando a tentativa de conquistar a Inglaterra falhou, os nazistas voltaram-se para o
leste, visando agora à União Soviética.
MASPIX/ALAMY/FOTOARENA

Um Spitfire da RAF
ataca um Stuka
alemão. Ilustração
com base em
pesquisa de um
aspecto da Batalha
da Inglaterra.

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A resistência soviética ao nazismo
Interessado nas riquezas soviéticas (petróleo, minérios e
cereais) e devotando ódio ao comunismo, Hitler traiu o pacto
de não agressão firmado com Stalin e ordenou a invasão da
União Soviética, em junho de 1941.
Em apenas 20 dias, os nazistas avançaram 750 km em territó-
rio soviético e foram deixando atrás de si centenas de milhares de
cadáveres. Acuados, os soviéticos recuavam, mas antes destruíam
tudo que pudesse ser útil ao adversário: fábricas, hospitais, plan-
tações. Era a tática da terra arrasada,, que consistia em ceder
espaço para ganhar tempo. Os nazistas, então, avançaram
sobre a cidade de Stalingrado, onde travaram com os
soviéticos a maior batalha terrestre da Segunda Guerra:
a Batalha de Stalingrado (de novembro
de 1942 a fevereiro de
1943). Durante essa
batalha, a tempera-
tura de 40 °C abaixo
de zero e a disposição de luta do povo
SHUSHONOK/SHUTTERSTOCK.COM

soviético deram a vitória à URSS. Estava


quebrado, assim, o mito da invencibili-
dade nazista.
Depois da vitória de Stalingrado, os
soviéticos passaram ao ataque e obrigaram os
nazistas a marchar de volta para a Alemanha.
Durante a marcha, os soviéticos foram
tomando dos nazistas os países ocupados
por eles: Bulgária, Romênia, Hungria,
Polônia e Tchecoslováquia.

Monumento Mãe Pátria Chama.


Volgogrado (Rússia), 2021.

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A guerra no Oriente
Enquanto a guerra prosseguia no Ocidente, no Oriente o Japão e os Estados Unidos
disputavam entre si territórios e áreas de influência, o que levou ao choque entre eles.
Em 7 de dezembro de 1941, o governo japonês desfechou um ataque-surpresa à base
militar estadunidense de Pearl Harbor,, no Havaí, destruindo boa parte dessa pode-
rosa frota. Os Estados Unidos reagiram declarando guerra ao Japão. Em 1942, o Brasil
alinhou-se aos Estados Unidos e, após ter vários navios afundados pelos alemães, declarou
guerra ao Eixo.

Expansionismo japonês no Oriente


MAPS WORLD

Sacalina
Is. Aleutas
s
ila
Manchúria Kur
ÁSIA Is.
0 1 780
Pequim
COREIA
Midway
JAPÃO 1942

Nanquim Tóquio O objetivo do Império


Xangai
Ryukyu
japonês era o mesmo
FORMOSA Okinawa Pearl Harbor

Is. Marianas
7/12/1941 Trópico de Câncer que o dos imperialistas
BIRMÂNIA Hong Kong

TAILÂNDIA Manila
Havaí europeus: dominar,
Guam Ilhas
Bangcoc
VIETNÃ FILIPINAS
Marshall
OCEANO conquistar, submeter
Is. Carolinas
Mindanao PACÍFICO povos e territórios.
Cingapura
Bornéu
Equador Celebes
0° Ilhas Limites máximos da expansão
Sumatra NOVA GUINÉ Gilbert japonesa até julho de 1942
Guadalcanal
OCEANO Is. 1942 Território do Japão e áreas
ÍNDICO TIMOR Salomão
ocupadas até 1942
Is. Cocos Java
Mar de Coral
1942 Ataques japoneses
80° L AUSTRÁLIA 160° L

Fonte: SERRYN, Pierre. Atlas Bordas Historique et Géographique. Paris: Bordas, 1998.

Enquanto isso, o Japão partiu para a

GRANGER/FOTOARENA
conquista das colônias europeias e estadu-
nidenses no Extremo Oriente (Campanha
do Pacífico). Nessa campanha, iniciada em
1941, os japoneses conquistaram Hong
Kong (na China), Cingapura (na Malásia), as
Índias Orientais Holandesas, toda a Birmânia
(atual Mianmar) e quase todo o arquipélago
das Filipinas, que em 1898 era controlado
pelos estadunidenses.

“Delícias da estação/amarelo... pão.”


Charge francesa sobre o imperialismo japonês. c. 1941.

149

143a161-HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 149 24/08/22 09:05


PARA SABER MAIS
O Brasil na guerra
No início da guerra, o então presidente Getúlio Vargas, um político hábil e acos-
tumado a tirar proveito das situações de conflito, manteve o Brasil neutro e conservou
relações comerciais tanto com os alemães quanto com os estadunidenses. Aos poucos,
no entanto, foi se tornando cada vez mais difícil, para o Brasil, manter a neutralidade.
Em maio de 1941, o Brasil conseguiu que os Estados Unidos se comprometessem
a financiar parte da construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda (RJ), essencial
ao crescimento da economia brasileira. Em troca, o Brasil daria permissão para que os
Estados Unidos instalassem bases aeronavais no Nordeste.
Em janeiro de 1942, o Brasil de Vargas declarou-se a favor de uma união das
Américas contra o Eixo. O governo da Alemanha reagiu, mandando seus submarinos tor-
pedearem seis navios mercantes brasileiros, causando a morte de centenas de pessoas.
Inconformados com a violência nazista, milhares de brasileiros saíram às ruas nas prin-
cipais cidades do país, exigindo que o Brasil entrasse na guerra ao lado dos Aliados.
As pressões populares e do governo estadunidense fizeram que Vargas declarasse
guerra ao Eixo em 22 de agosto de 1942. Para lutar contra os fascismos, o Brasil treinou
e enviou para a Itália a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Formada por 25 334
homens e comandada pelo general Mascarenhas de Morais, a FEB venceu batalhas
importantes, como as de Monte Castelo, Castelnuovo e Montese. Morreram, na Itália,
457 soldados da FEB, e milhares ficaram feridos.
ACERVO ICONOGRAPHIA

Pracinha
(soldado da FEB)
despedindo-se
do filho antes da
partida para a
guerra, 1944.

150

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Segunda Guerra: teatro das operações
Cí r 0º
cu

ALLMAPS
lo
Po
Território alemão em 1/9/1939 lar
Árt Narvik

D3_HIS-F2-2111-V9-U2-C07-LA-G24.indd 151
Território italiano em 1/9/1939 ico
ISLÂNDIA
Estados aliados do
Eixo Roma-Berlim
0 365
Estados neutros
Namsos
Grã-Bretanha e territórios

o
sob seu controle

ltic

OCEANO SUÉCIA

r
Territórios ocupados
pela Alemanha FINLÂNDIA

Ma
ATLÂNTICO
em 1939
NORUEGA Helsinque
em 1940 Oslo Estocolmo Leningrado
Tallin
UNIÃO
em 1941
ESTÔNIA SOVIÉTICA
em 1942 Mar do
Norte Riga
Avanço das forças aliadas Memel
LETÔNIA Moscou
contra o Eixo sob o comando DINAMARCA
IRLANDA Copenhague
LITUÂNIA
anglo-americano soviético Vilna
Dantzig
1943 GRÃ-BRETANHA PAÍSES Minsk
Londres BAIXOS PRÚSSIA
1944 Kursk
Roterdã Berlim
1945 Poznan Stalingrado

1944
Dunquerque Torgau
Brest BÉLGICA ALEMANHA Varsóvia Kiev
Linha de contato entre
ocidentais e soviéticos 45
Paris LUXEMBURGO
Cracóvia POLÔNIA
em 1945 º N Nuremberg TCH Rostov
Estrasburgo ECO
Desembarque aliado FRANÇA Munique SLOV
Á Q M
vitorioso Viena UIA ar
Bordeaux C
SUÍÇAÁUSTRIAHUNGRIA Budapeste Odessa ás
Vichy Milão Trieste ROMÊNIA pi
o

IU
Belgrado Ialta
PORTUGAL Bucareste

GO
Ravena

S
4

L
4 Mar Negro
19 ITÁLIA

ÁV
I
ESPANHA I. Córsega Sófia
A
3
194 Roma BULGÁRIA
Tirana Ancara
Nápoles Tarento

19
I. Sardenha ALBÂNIA

19

42
TURQUIA

42
GRÉCIA
Atenas IRÃ

1943
Argel I. Sicília
Bône Túnis
1943 SÍRIA
I. Chipre IRAQUE
TUNÍSIA I. Creta
LÍBANO Damasco

nwich
Mar
ARGÉLIA Trípoli
Medit
errâneo 19
44 PALESTINA
Jerusalém

e Gree
TRANSJORDÂNIA Golfo Pérsico
El Alamein Alexandria

iano d
Cairo Suez ÁRABIA
EGITO

Merid
LÍBIA

Fonte: SERRYN, Pierre. Atlas Bordas Historique et Géographique. Paris: Bordas, 1988. p. 33.

151

28/06/22 13:25
A ofensiva dos Aliados
A partir de 1943, o exército soviético começou a marchar em direção a Berlim, capital
da Alemanha, conhecida como a primeira frente de luta dos Aliados contra o Eixo.
No Pacífico, os Estados Unidos, que já tinham vencido o Japão na Batalha de Midway,
Midway,
assumiam a ofensiva na guerra. Então, uma parte das tropas anglo-americanas partiu para
a contraofensiva na Ásia, e a outra foi para o norte da África, onde, depois de muitos
combates, conseguiu libertar a região da ocupação nazista.
Estabelecidos no norte da África, os Aliados reassumiram o controle do Mediterrâneo
e puderam, então, abrir uma segunda frente de luta contra o Eixo: saindo do norte da
África, desembarcaram na ilha da Sicília, na Itália, e partiram para a libertação do país.
Conforme as forças anglo-americanas avançavam, parte dos fascistas italianos assinou
um acordo de paz com os Aliados. Mussolini, porém, não se deu por vencido; com a ajuda
dos alemães, organizou um governo fascista no norte do país. Esse governo, porém, durou
pouco: os próprios italianos, com a ajuda dos Aliados, libertaram Roma e, em abril de 1945,
venceram os fascistas no norte da Itália. Mussolini e sua companheira foram capturados
e mortos pela resistência popular italiana.

LT. C H PARNALL/IMPERIAL WAR MUSEUMS VIA GETTY IMAGES

Desembarque de soldados aliados nas praias da Sicília (Itália), 1943.

152

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O Dia D na França e a derrota da Alemanha
Após a libertação da capital da Itália, em 4 de junho de 1944, os Aliados abriram a
terceira frente de luta contra os nazistas, desembarcando na Normandia (no noroeste
da França). O dia escolhido para o desembarque, 6 de junho de 1944, foi chamado de
Dia D, em código, para que os alemães não pudessem identificar a data nas transmissões
por rádio.
Os alemães foram pegos de surpresa, e o avanço anglo-americano tornou-se irresis-
tível: em agosto de 1944, os Aliados libertaram Paris das mãos dos nazistas. Em seguida,
marcharam em direção a Berlim, que passou a ser bombardeada, ao mesmo tempo, por
anglo-americanos de um lado e soviéticos de outro. Combatendo em várias frentes, o
Terceiro Reich estava com os dias contados.
Hitler exigiu, então, que todos os alemães entrassem na luta: idosos, mulheres e
crianças receberam armas para lutar até a morte. Mas foi em vão; os soviéticos tomaram
Berlim e obrigaram os nazistas a se render incondicionalmente. Era 8 de maio de 1945;
chegava ao fim a guerra na Europa.

Europa: mortos na Segunda Guerra Mundial nos principais países


População
País Total de mortos Militares mortos Civis mortos
antes da guerra (%)
França 810 000 1,9 340 000 470 000
Reino Unido 388 000 0,8 326 000 62 000
Bélgica 88 000 1,1 76 000 12 000
Itália 410 000 0,9 330 000 80 000
Alemanha 6 850 000 9,5 3 250 000 3 600 000
URSS 20 600 000 10,4 13 600 000 7 000 000
Polônia 6 123 000 17,2 123 000 6 000 000
Iugoslávia 1 706 000 10,9 N/A N/A
Total 36 975 000 18 045 000 17 224 000
Fonte: COGGIOLA, Osvaldo. A Segunda Guerra Mundial: causas, estrutura, consequências.
São Paulo: Livraria da Física, 2015. p. 12.

Bombas sobre o Japão


No Extremo Oriente, entretanto, o Japão continuava resistindo ao avanço dos Estados
Unidos das mais variadas formas. Uma delas assombrou o mundo: seus pilotos suicidas – os
kamikazes – atiravam-se sobre os navios estadunidenses em aviões carregados de explosivos.
Com o objetivo de apressar a rendição japonesa e demonstrar ao mundo o seu
enorme poderio bélico, os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre o Japão:
a primeira em Hiroshima,, em 6 de agosto de 1945, e a segunda em Nagasaki,, em 9 de
agosto do mesmo ano.

153

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O Holocausto
Em 20 de novembro de 1945, começou o julgamento dos dirigentes nazistas no
Tribunal de Nuremberg, instalado na Alemanha. Um dos piores crimes que o Tribunal de
Nuremberg comprovou ter sido cometido pelos nazistas foi o extermínio de milhões
de judeus.
Em janeiro de 1942, os líderes nazistas decidiram que matariam todos os judeus que
pudessem em campos de extermínio, especialmente construídos para essa finalidade. Os
nazistas chamaram seu plano de “Solução final”.
BUYENLARGE ARCHIVE/UIG/
BRIDGEMAN/FOTOARENA

Crianças e adultos
a caminho de
Auschwitz.
Alemanha, 1944.

Os campos de extermínio eram autênticas “fábricas de morte”. Assim que chegavam


a esses campos, idosos, doentes e crianças eram enfileirados e mandados imediatamente
para as câmaras de gás, sem que soubessem disso; os carrascos nazistas diziam que a
fila era para os prisioneiros tomarem banho de chuveiro. Antes de a guerra terminar,
as notícias sobre o extermínio cometido nesses campos eram vistas como “exagero”
ou “invenção” da propaganda dos Aliados. Mas, com o fim da guerra, vieram à tona
inúmeras provas desse crime contra a humanidade, e não foi mais possível esconder o
horror. Calcula-se que nesses campos foram mortos cerca de 6 milhões de judeus, 300 mil
ciganos e centenas de milhares de soviéticos, homossexuais, pessoas com deficiência,
padres e pastores que pregavam contra a guerra. Esse extermínio sistemático ficou
conhecido como Holocausto..

154

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PARA REFLETIR
NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Mulheres na resistência ao nazismo


Os nazistas classificavam as mulheres judias grávidas ou mães com bebês como
“incapacitadas para o trabalho” e as enviavam para os campos de concentração. Mas
as mulheres judias não se calaram. Leia o texto a seguir.
[...]
As mulheres tiveram papel importante em várias ativida- Sionista: referente ao
des da resistência ao nazismo. Este foi o caso das mulheres que, sionismo, movimento
político cultural
previamente à guerra, eram membros de movimentos juvenis concebido pelo
socialistas [...] ou sionistas. Na Polônia, as mulheres serviam jornalista húngaro
como mensageiras que levavam informações para os guetos. Theodor Herzl, que
defendia a criação de
Muitas mulheres conseguiram escapar escondendo-se nas flo-
um Estado judeu na
restas no leste da Polônia e da União Soviética, e servindo nas Palestina.
unidades armadas dos partisans. Na resistência francesa, da Partisan: grupo de
qual muitas judias participaram, a atuação das mulheres não civis armados que
lutavam contra o
foi menos importante. Sophie Scholl, uma estudante alemã da
nazismo.
universidade de Munique, e membro do grupo de resistência
White Rose, foi presa e executada em fevereiro de 1943 por

© TALLANDIER/BRIDGEMAN/FOTOARENA
divulgar propaganda antinazista. [...]
Outras mulheres participaram ativamente das operações
de resgate e socorro aos judeus na parte da Europa ocupada
pelos alemães. Entre elas estavam as judias Hannah Szenes,
paraquedista, e a ativista sionista Gisi Fleischmann Szenes,
que vivia na área do Mandato Britânico na Palestina, saltou de
paraquedas na Hungria, em 1944, para ajudar os judeus [...].
Milhões de mulheres foram perseguidas e assassinadas
durante o Holocausto. No entanto, para todos os efeitos, foi o A jovem de 18 anos
Simone Segouin
enquadramento na hierarquia racista do nazismo ou a postura
ajudou a capturar e
religiosa ou política dessas mulheres que as tornaram alvos, e prender nazistas na
não o seu sexo. França. Na imagem,
a vemos empunhando
UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM. As mulheres durante o Holocausto.
Enciclopédia do Holocausto. Washington, D.C., [2008]. Disponível em: https://encyclopedia. uma metralhadora.
ushmm.org/content/pt-br/article/women-during-the-holocaust. Acesso em: 21 mar. 2022. França, 1944.

a) A
 s mulheres que resistiram ao nazismo eram de uma mesma região e tinham a mesma orientação
política e/ou religiosa?
b) O
 texto permite inferir que na luta contra o nazismo as mulheres foram coadjuvantes ou prota-
gonistas? Justifique.
 presente outro exemplo na história em que as mulheres atuaram com o objetivo de lutar contra
c) A
a opressão ou a violência de que eram vítimas.

155

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Com relação à política de apaziguamento, observe a charge a seguir e responda.
BELMONTE

a) O que o artista procurou


satirizar na imagem?
b) O que estabelecia a polí-
tica de apaziguamento?
c) O que ficou estabele-
cido na Conferência de
Munique?

Charge de 1938 que mostra


Neville Chamberlain, primeiro-
-ministro do Reino Unido
(1937-1940), e Adolf Hitler,
líder da Alemanha (1933-1945).

2 Copie no caderno a alternativa correta.

Após anexar a Áustria ao seu território, a Alemanha de Hitler passou a exigir os


Sudetos. Por que França e Inglaterra aceitaram os termos da Conferência de Munique,
em que foi ratificada a ocupação?
a) Porque chegaram ao consenso de que as punições impostas pelo Tratado de Versalhes foram
muito severas.
b) Porque, apesar de não temerem o poderio militar alemão, temiam o início de uma nova guerra.
c) Porque, na Conferência de Munique, fizeram um acordo comercial com a Tchecoslováquia
que permitiu a anexação dessa região pela Alemanha.
d) Porque Hitler representava um guardião do capitalismo diante do avanço do comunismo
soviético.

156

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3 Leia as afirmações a seguir sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial
e depois copie a alternativa correta em seu caderno.
I. No início da guerra, o Brasil manteve a neutralidade e manteve relações comerciais tanto com
os Aliados quanto com os países do Eixo.
II. Por conta do grande número de imigrantes alemães, italianos e japoneses, o governo brasileiro
se viu pressionado a apoiar o Eixo.
III. O Brasil declarou apoio aos Aliados em troca do investimento dos Estados Unidos na cons-
trução da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda.
IV. A única participação militar brasileira na guerra foi durante um combate marítimo, no qual
submarinos nazistas destruíram navios brasileiros.
a) Estão corretas as afirmações I, II e IV.
b) Estão corretas as afirmações II e III.
c) Estão corretas as afirmações II, III e IV.
d) Estão corretas as afirmações I e III.

4 Sobre o fim da Segunda Guerra Mundial, é correto afirmar:


a) Com a dominação da Itália pelas tropas anglo-americanas, Mussolini assinou a rendição após
ter sido atingido por arma de fogo.
b) O ataque do Dia D pegou os alemães de surpresa e foi o único responsável pelo recuo das
tropas alemãs.
c) Com suas tropas encurraladas, Hitler pediu que mulheres, idosos e crianças se rendessem para
minimizar os efeitos da derrota.
d) Para demonstrar sua força, os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre Hiroshima
e Nagasaki, no Japão.

5 Esta fotografia foi feita nos Estados


HAROLD M. LAMBERT/LAMBERT/GETTY IMAGES

Unidos em 1943. Observe-a aten-


tamente e depois responda.
a) O que se vê na imagem?
b) Com base na fotografia e nos seus
conhecimentos, é possível saber em
que contexto ela foi produzida?

Mulheres estadunidenses trabalhando na


produção de aviões durante a Segunda
Guerra Mundial. Mulheres que foram
trabalhar nas fábricas para ajudar o esforço
de guerra tornaram-se conhecidas como
“Rosie, a rebitadeira”. 1943.

157

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6

BELMONTE
Observe a charge e responda.
a) O que a charge mostra?
b) A Batalha de Stalingrado é considerada um
divisor de águas, permitindo que a Segunda
Guerra Mundial tomasse uma nova direção.
Justifique.

Charge de Belmonte Uma pedra na estrada,


1942. Ne pedra está escrito “Stalingrado”.

7 Observe o infográ- Bomba atômica na cidade de Nagasaki, no Japão


fico a seguir sobre

MARIO KANNO
Extensões aproximadas para
cada zona. Os efeitos podem 8,7 km2
os efeitos da bomba variar por causa do terreno Os edifícios
acidentado de Nagasaki. residenciais ruíram
atômica na cidade de
Nagasaki, no Japão.
0,36 km2
Destruição quase total

11 km2
Marco zero As pessoas
Fonte: SERRANO, Carlos. soferam
queimaduras de
Hiroshima e Nagasaki: como foi terceiro grau por
o “inferno” no qual morreram causa da radiação
milhares por causa das bombas térmica
atômicas. BBC News Brasil,
São Paulo, 6 ago. 2020.
Disponível em: https://www.
bbc.com/portuguese/resources/ 4,5 km2
idt-a05a8804-1912-4654-ae8a- Cerca de 50% dos
500 m sobreviventes morreram
27a56f1c2b8a. Acesso em:
por exposição à radiação
21 mar. 2022.
Fonte: SERRANO, Carlos. Hiroshima e Nagasaki: como foi o "inferno" no qual morreram milhares por causa das bombas atômicas. BBC News Brasil, 6 ago. 2020.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-a05a8804-1912-4654-ae8a-27a56f1c2b8a. Acesso em: 21 mar. 2022.

Com base nas informações apresentadas no infográfico e em seus conhecimentos


sobre a Segunda Guerra Mundial, copie no caderno as alternativas corretas.
a) As bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki tinham como objetivo único fazer o
Japão se render.
b) Do marco zero, isto é, do local em que a bomba caiu, a um raio de 0,36 km2, a destruição
foi quase total.
c) Do marco zero, isto é, do local em que a bomba caiu, a um raio de 4,5 quilômetros, cerca de
50% dos sobreviventes pereceram.
d) Os efeitos da bomba atômica atingiram tanto construções quanto pessoas, que morreram por
causa da exposição à radiação ou tiveram queimaduras graves.

158

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II. Leitura e escrita em História
Vozes do passado

BRIDGEMAN/FOTOARENA
O texto a seguir é um trecho de uma
carta de Mahatma Gandhi a Adolph
Hitler.
Caro amigo,
O fato de eu me dirigir a você
como amigo não é nenhuma formali-
dade. Eu não possuo inimigos. [...]
Mas seus próprios escritos e pro-
nunciamentos não deixam margem a
dúvidas de que muitos dos seus atos
são monstruosos e incompatíveis com
a dignidade humana, especialmente
em relação a homens como eu, que
acreditam na amizade universal. [...]
Eu estou ciente de que a sua pers-
Mahatma Gandhi. Índia, 1930.
pectiva de vida vê tais espoliações
como atos virtuosos. Mas nós temos sido ensinados desde a infância a considerá-
-los atos de degradação da humanidade. Por isso, nós não podemos desejar sucesso
aos seus empreendimentos.
[...] Nós encontramos na não violência uma força que, se organizada, pode,
sem dúvidas, unir-se contra as forças mais violentas do mundo. Dentro da técnica
da não violência, como eu disse, não existe a derrota. Trata-se de um “viver ou
morrer” sem matar ou ferir. [...]
PEREIRA, Joseane. As cartas que Gandhi escreveu para Hitler. Aventuras na História,
São Paulo, 25 nov. 2019. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/
noticias/almanaque/cartas-que-gandhi-escreveu-para-hitler.phtml. Acesso em: 30 maio 2022.

a) Sabendo-se que essa carta de Gandhi é do final de 1940; qual era o contexto político-militar
europeu quando ela foi escrita?
b) Se Gandhi tinha um pensamento tão contrário ao de Hitler para a solução dos problemas
humanos, com base no texto podemos inferir que, ao chamar Hitler de amigo, Gandhi usou de
ironia, figura de linguagem por meio da qual se diz o contrário do que se quer transmitir?
c) Gandhi enuncia dois conceitos importantes de seu pensamento e, à luz deles, avalia as ideias
e atitudes de Hitler. O que se pode saber sobre esses dois conceitos que estão no texto?
d) Em grupo. Reúnam-se para pesquisar alguns pontos da carta de Gandhi para Hitler. Em
seguida, compartilhem os resultados com o restante da turma em um fórum de debates.
Na pesquisa, vocês devem considerar os pontos a seguir: O contexto de escrita da carta;
os conceitos que Gandhi enuncia; as ideias e práticas de Hitler para justificar as invasões e
conquistas de terras e povos (espaço vital); o significado de “ciência da destruição”.

159

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bibliográfica

#JOVENS NA Revisão da ar te)


(estado

HISTÓRIA

UNIVERSITY OF SOUTH CAROLINA PRESS


PASSO 1 Ler
Leia o texto a seguir com atenção.
Katie Stagliano
Um repolho gigante foi a inspiração
de Katie Stagliano [...] para ajudar a ali-
mentar quem passa fome.
Na época, ela tinha apenas 9 anos
e plantou uma semente de repolho no
quintal para um projeto escolar, em
Summerville, nos EUA.
Ele cresceu tanto que passou dos
18 kg. “Meu irmão tinha quatro anos na
Fac-símile da capa do livro Katie’s Cabbage,
época e meu repolho era maior do que
de Katie Stagliano.
ele”, lembra Katie Stagliano.
Sempre consciente do desperdício de comida, a família dela
decidiu fazer algo para ajudar.
O vegetal foi colhido, virou sopa e Katie participou da distribui-
ção que alimentou 300 pessoas.
[...]
Incentivada pela sua experiência em cozinha de sopa,

KATIE STAGLIANO/KATIE'S KROPS/ACERVO PESSOAL


em 2008 ela lançou o Krops de Katie [Hortas da Katie].
Ela comprou um lote de terra e começou a cultivar
verduras que são oferecidas aos necessitados.
O próximo passo foi captar recursos para ofere-
cer subsídios a crianças em todo o país para que
elas pudessem fazer o mesmo.
Hoje, há aproximadamente 100 jardins
Katie’s Krops cultivados em escolas e comunida-
des nos EUA, incluindo Austin, Chicago, Filadélfia
e Nova York.
Há jardins no campo e em cidades. Eles ficam
em playgrounds da escola e até mesmo nos telhados. Katie Stagliano, 2018.
Só no ano passado, quase 18 mil quilos de comida foram
doados a cozinhas, abrigos e bancos de alimentos e, nos últimos sete anos, milhares
de voluntários ajudaram a preparar e servir mais de 17 000 refeições saudáveis – [...]
usando produtos cultivados nos jardins.
JOVEM inspirada em repolho gigante alimenta milhares de pessoas. Só Notícia Boa. Brasília, DF, 2 out. 2018.
Disponível em: https://www.sonoticiaboa.com.br/2018/10/02/jovem-inspirada-em-repolho-gigante-alimenta-milhares-pessoas.
Acesso em: 17 maio 2022.

160

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PASSO 2 Questionar
a) Qual o problema identificado por Katie Stagliano?
b) Qual a solução encontrada por Katie e sua família para o problema?

PASSO 3 Pesquisar e agir


c) Em grupo. Pesquisem iniciativas como a de Katie no seu estado, região ou comunidade
nos últimos anos e descubram de que maneira as pessoas estão mobilizadas para tentar
ajudar quem passa fome. Para isso, vocês podem escolher vários tipos de fonte histórica
como jornais, revistas, artigos de especialistas, livros etc.
d) Em seguida, reúnam os materiais pesquisados pertinentes ao tema e realizem uma pri-
meira leitura, anotando as palavras que vocês não conhecem. Consultem um dicionário
e escrevam o significado dessas palavras. Depois, façam uma nova leitura dos materiais
e identifiquem o nome do autor, a data de publicação, o tipo de fonte, ou seja, o seu
suporte material e um pequeno texto com as ideias mais importantes de cada parágrafo.
Para essa tarefa, vocês podem fazer o levantamento das palavras-chave.
e) Analisem as informações coletadas nesses materiais e elaborem uma lista das ações rea-
lizadas para combater a fome. Procurem identificar semelhanças e diferenças entre as
ações propostas, considerando elementos como: quem são as pessoas que organizam as
ações; o local e o período nos quais elas ocorrem; e como essas iniciativas, campanhas e
projetos são feitos.
f) Concluam o relatório com a organização dos resultados encontrados: a quantidade de
materiais levantados, os períodos e os locais de publicação e as possíveis contribuições
dessa pesquisa para ajudar as pessoas do seu estado, região ou comunidade a combater
a fome.

PASSO 4 Apresentar e publicar


g) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais da escola e marquem a postagem
com #jovensnahistória.

PASSO 5 Avaliar
h) Realizei as tarefas a que me propus?
i) Cumpri os prazos combinados?
j) Expressei minhas ideias com objetividade?
k) Escutei meus colegas com atenção e respeito?
l) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
m) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

161

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UNIDADE

3 O MUNDO NA
GUERRA FRIA

FONTE 1

Os jovens dos anos


1960 rebelaram-se contra o
autoritarismo, a burocracia
e os valores impostos
pelos mais velhos, tanto no
mundo capitalista quanto no
comunista. A rebeldia jovem
foi política, social, sexual e
também contra o modelo
de educação então vigente.
O tema do valor da vida, do
desapego aos bens materiais e
da resistência à guerra inspirou
muitas letras de músicas.
Enquanto os Estados
Unidos investiam fábulas
em armas nucleares e
em segurança, o cantor e
compositor estadunidense
Bob Dylan liderava uma
verdadeira revolução na
música popular, denunciando
o racismo e a corrida
armamentista presentes no
país.
© KOBRA, EDUARDO/AUTVIS, BRASIL, 2022.
FOTO: RAYMOND BOYD/GETTY IMAGES

Bob Dylan, mural do


artista Eduardo Kobra.
Minnesota (EUA), 2018.

162

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ZAGORY/SHUTTERSTOCK.COM
FONTE 2

O trecho a seguir é de uma


letra de música composta por
Bob Dylan e gravada em 1963.

Soprando no vento
Quantas estradas um homem precisa atravessar
Até que possa enfim ser chamado de homem?
Quantos mares uma pomba branca precisa cruzar
Até que ela possa descansar na areia?
Sim, e quantas vezes as balas de canhão precisam voar
Até que sejam para sempre banidas?
BLOWIN’ in the wind. Intérprete: Bob Dylan. Compositor: Bob Dylan. In: The Freewheelin’ Bob Dylan.
Nova York: Columbia Records, 1963. 1 disco vinil, faixa 1. Tradução nossa.

FONTE 3 DOVGALIUK IGOR/


SHUTTERSTOCK.COM

1. Você já ouviu Bob Dylan?


2. Na fonte 2, é possível perceber uma crítica ao belicismo?
Belicismo: defesa
Justifique.
ou adoção de uma
3. Observe a fonte 3 com atenção. Que mensagens se podem política voltada
perceber nessa ilustração atual? para a guerra e o
4. Que relações podemos estabelecer entre as fontes 2 e 3? armamentismo.
5. A letra da música citada foi composta no contexto da Guerra Fria;
você já ouviu a expressão “Guerra Fria”? Sabe o que significa?

163

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CAPÍTULO

8 A GUERRA FRIA

Observe as imagens e leia a legenda com atenção; reparou que elas são da mesma
década? Como você interpreta a imagem da esquerda? E a da direita? O que elas têm em
comum e em que divergem? Qual delas você achou mais criativa? Que relação podem
ter com o tema deste capítulo? Você considera que os autores das imagens conseguiram
passar a mensagem pretendida?

Revista The red iceberg que mostra a versão


BRIDGEMAN/FOTOARENA

estadunidense do comunismo, EUA, década


de 1960.

BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

Visão soviética do capitalismo britânico


e estadunidense. Rússia, 1951.

164

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O mundo dividido
Guerra Fria? Estranho, não é mesmo?
Quando ouvimos a palavra “guerra”, geralmente nos vêm Guerra Fria: período
à cabeça bombas, gritos desesperados, fogo e fumaça – uma que vai do final da
Segunda Guerra
série de imagens muito “quentes”. Então, o que terá sido essa Mundial, em 1945,
tal Guerra Fria?
Fria? até o desmembramento
da União Soviética,
A Guerra Fria consistiu em um conflito permanente entre os
em 1991.
Estados Unidos e a União Soviética, no qual os dois lados evitavam
o confronto militar direto, temendo que o uso de armas nucleares
levasse à destruição de ambos. Mas, para defender seus interesses,
ajudar seus aliados e expandir suas áreas de influência, os dois lados
usaram a propaganda, a espionagem e a violência.
Leia o que um historiador diz sobre o assunto.
A peculiaridade da Guerra Fria era a de que [...] os gover-
nos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de
forças [...]. A URSS controlava uma parte do globo, ou sobre ela
exercia predominante influência [...] e não tentava ampliá-la com
o uso de força militar. Os EUA exerciam controle e predomi-
nância sobre o resto do mundo capitalista, além do hemisfério
norte e oceanos [...]. Em troca, não intervinham na zona aceita
de hegemonia soviética.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve
século XX. São Paulo: Companhia das Letras,
2008. p. 224.

A Guerra Fria foi


também uma guerra
de ideologias, de
imagens e palavras:
durante esse período,
HERALDODELSUR/GETTY IMAGES

produziram-se muitos
livros, revistas, gibis e
filmes para criticar ou
ridicularizar o lado
oposto.

A luta pela supremacia


mundial. Urso russo e águia
estadunidense brigam pelo
controle do mundo.

165

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Encontros entre os vencedores
Em fevereiro de 1945, antes mesmo do final da Segunda Guerra Mundial, três grandes
líderes dos países vencedores – Churchill, da Inglaterra;; Roosevelt, dos Estados Unidos;;
e Stalin, da União Soviética – reuniram-se na Conferência de Yalta,, na União Soviética,
para discutir os rumos do mundo. Nela, os países ocidentais concordaram em ceder uma
parte da Polônia para a União Soviética e permitir o aumento da influência soviética nos
países do Leste Europeu, como Tchecoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária, libertados
do domínio nazista com a ajuda das tropas soviéticas.
HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES
E isso foi feito sem que esses países fossem ouvidos.
Meses depois, com a Alemanha já vencida, os
Aliados reuniram-se novamente; dessa vez em Berlim,
na Conferência de Potsdam.. Nessa Conferência, os
Aliados tomaram uma série de medidas: a destruição
de todos os símbolos, livros e monumentos nazistas
(desnazificação da Alemanha); a criação do Tribunal
de Nuremberg, para julgar os criminosos de guerra; a
divisão da Alemanha em quatro setores de ocupação:
estadunidense, soviético, inglês e francês. A capital
da Alemanha, Berlim, também foi dividida entre os
vencedores. Observe o mapa.
Da esquerda para
a direita, Winston
Churchill, Franklin Alemanha: divisão e ocupação (1949)
Delano Roosevelt 10° L

RENATO BASSANI
© IMAGEM CRÉDITO
Ocupação quadripartite
DINAMARCA SUÉCIA
e Josef Stalin Estadunidense Mar
Soviética Báltico
na Conferência
Britânica
de Yalta. URSS, Francesa
Mar do
Norte
1945. POLÔNIA

Berlim 0 10

PAÍSES REPÚBLICA
BAIXOS Hannover DEMOCRÁTICA
ALEMÃ BERLIM
(7/10/1949) BERLIM ORIENTAL
REPÚBLICA OCIDENTAL
Bonn FEDERAL DA
BÉLGICA ALEMANHA
50° N (23/5/1949)
Frankfurt
LUXEMBURGO
Mainz

TCHECOSLOVÁQUIA
Setores de ocupação
FRANÇA
Território integrado à Soviético
Alemanha Oriental em 1949
Munique Territórios integrados Estadunidense
Fonte: SERRYN, Pierre; à Alemanha Ocidental Britânico
BLASSELLE, René. Atlas em 1949
ÁUSTRIA Francês
Bordas Géographique SUÍÇA
0 100 Muro de Berlim
et Historique. Paris: (1961-1989)
Bordas, 1998. p. 38.

166

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A Organização das Nações Unidas
A destruição material e humana causada pela Segunda Guerra Mundial foi a maior
já ocorrida na história até então. Palco da maior parte dos conflitos, o continente mais
prejudicado foi, com certeza, a Europa. Veja o que o líder britânico Winston Churchill disse
sobre a Europa quando findou o conflito.
“[O que é agora a Europa?] um monte de destroços, uma pilha de ossos, um terreno
fértil para a peste e para o ódio”. [...]
(CHURCHILL, [1950?] apud HORSLEY, 2007, tradução nossa).

A guerra tinha deixado também nas mentes e nos corações a certeza de que o uso
indiscriminado da força não era a solução para os problemas humanos. Nesse contexto,
aflorou a preocupação com a paz mundial, e representantes de 50 nações reuniram-se
na Conferência de São Francisco (Estados Unidos), em 1945, na qual aprovaram a Carta
das Nações Unidas.. Em 24 de outubro desse mesmo ano, criaram a Organização das
Nações Unidas (ONU)..
Os principais objetivos dessa organização eram (e continuam a ser):
1. M anter a paz e a segurança internacionais [...];
2. D esenvolver relações de amizade entre as nações [...];
3. Realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas internacionais
[...], promovendo [...] o respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fun-
damentais [...];
4. [...] harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas e o Estatuto da Tribunal Internacional de Justiça.
Nova York: Departamento de Informação Pública, 1945. Disponível em: https://unric.org/pt/wp-content/uploads/sites/9/2009/10/
Carta-das-Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas.pdf. Acesso em: 28 mar. 2022.

Com sede em Nova York


LEV RADIN/SHUTTERSTOCK.COM

(Estados Unidos), a ONU é,


ainda hoje, o principal orga-
nismo internacional.

Reunião do Conselho de Segurança das


Nações Unidas sobre Mulheres, Paz e
Segurança. Nova York (EUA), 2019.

167

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Os seis principais órgãos da ONU são o Conselho de Segurança,
a Assembleia Geral, o Secretariado, o Conselho Econômico e Social,
o Conselho de Tutela e a Corte Internacional de Justiça.
Direito de intervir: a O Conselho de Segurança é responsável pela manutenção
intervenção precisa obter da paz e da segurança internacional e tem o direito de intervir
a maioria dos votos dos
em qualquer disputa ou confronto entre dois ou mais países-
membros do Conselho
e não ser vetada por -membros. O Conselho é formado por 15 membros: dez eleitos
nenhum dos membros para um período de dois anos, e cinco permanentes (Estados (
permanentes.
Unidos,, Rússia,, China,, Reino Unido e França). ).
Os membros permanentes do Conselho de Segurança têm
direito de veto sobre as decisões do Conselho. Por vezes, esse
direito de veto de cada um dos “cinco grandes” impediu o Conselho
de Segurança de manter a paz. Em 1963, por exemplo, membros
desse Conselho propuseram que os Estados Unidos
não interviessem na Guerra do Vietnã. Os Estados
JOEL ROBINE/AFP/GETTY IMAGES

Unidos usaram seu direito de veto e entraram


na guerra. Por isso, analistas de várias partes
do mundo criticam o enorme poder
dos “cinco grandes” na ONU.
Ao Conselho de Segurança
cabe também prestar ajuda
humanitária em caso de
catástrofes naturais.

Um soldado da ONU carrega uma idosa


ferida. Bósnia e Herzegovina, 1995.

168

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

A ONU tem falhado em seu principal propósito?


Em 23 de março de 2020, durante o avanço

EUROPANEWSWIRE/GADO/GETTY IMAGES
da pandemia da covid-19, o secretário-geral da
ONU emitiu por escrito um pedido de cessar-
-fogo global, alegando que a maior batalha de
nossas vidas era o combate à doença.
Dos 43 países onde ocorriam combates
violentos desde o início da pandemia, apenas
dez reconheceram o chamado cessar-fogo,
porém não diminuíram os conflitos. Os
outros países não responderam ao pedido do
secretário-geral da ONU.
Segundo analistas internacionais, uma
António Manuel de Oliveira Guterres,
das principais razões desse não atendimento secretário-geral da ONU, durante coletiva
a um pedido da ONU é responsabilidade do de imprensa na cúpula do G20, nas Nações
próprio órgão. O xis da questão é: somente Unidas. Nova York (EUA), 2020.

cinco países são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e cada um


deles tem poder de vetar uma decisão da maioria. As tensões crescentes entre Estados
Unidos e China fizeram com que essas duas potências não chegassem a um acordo e,
por isso, as resoluções envolvendo o cessar-fogo foram vetadas por elas.
Ao não concordar com o pedido de cessar-fogo, por causa dos vetos da China e dos
Estados Unidos, o Conselho de Segurança Nacional da ONU levantou uma desconfiança
quanto a sua capacidade de interferir em favor da paz, seu principal propósito.
Além disso, os próprios membros perma-
nentes têm manipulado o órgão a seu favor. Dialogando
Um exemplo marcante disso ocorreu em 2003: Em 2022, os países-membros do
França, Rússia e China votaram pela não Conselho de Segurança da ONU
invasão do Iraque. Mas, valendo-se do seu votaram uma resolução condenando a
invasão da Ucrânia pela Rússia. Por que
poder de veto, Estados Unidos e Reino Unido
essa resolução não foi aprovada?
invadiram o Iraque conjuntamente.

a) Como o secretário-geral da ONU justificou seu pedido de cessar-fogo global?


b) C
 omo o texto explica o não atendimento do pedido de cessar-fogo do secretário-geral
da ONU? Explique.
c) E
 m dupla. Com base no conhecimento de vocês e na leitura do texto, tentem res-
ponder à pergunta feita no título do texto.

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A Declaração Universal dos Direitos Humanos
Expressando a preocupação com a questão da paz e dos direitos humanos, em 1948,
representantes de diversos países reunidos na ONU escreveram um importante documento:
a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Conheça alguns de seus principais artigos.
Artigo 1
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito
de fraternidade. [...]
Artigo 4
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de
escravos serão proibidos em todas as suas formas. [...]
Artigo 11
[...] Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em jul-
gamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias
à sua defesa. [...]
DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Humanos. Unicef. [S. l.], 2019.
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 4 abr. 2022.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

O texto a seguir é sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Leia-o com atenção.
[...] A DUDH é vista, universalmente, como um guia para se alcançar uma sociedade
harmônica em que todos sejam tratados igualmente. [...]
São direitos e garantias individuais (à liberdade de expressão, de locomoção
e de pensamento), sociais (à saúde, educação, moradia, previdência, segurança) e
econômicos (ter um emprego e remuneração justa). O artigo segundo da DUDH
garante que "todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades, sem
distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião,
de opinião política, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de
qualquer outra situação". [...]
CASTRO, Rebeca de. Nem sempre respeitada, a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 70 anos.
Revista PUC Minas, Belo Horizonte, n. 17, 2018.

a) C
 omo estão agrupados os direitos dos cidadãos contidos na Declaração dos Direitos
Humanos de 1948? Explique.
b) C
 ite e comente um exemplo de agentes que violaram os princípios da Declaração
Universal de 1948.

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Um mundo bipolarizado
Ao final da guerra, vencido o nazismo, as rivalidades entre comunistas e liberais vol-
taram a se acirrar.
Nesse contexto, em 1946, o líder britânico Winston Churchill fez um discurso que é
considerado o marco inicial da Guerra Fria. Eis o que ele disse:
[...] Ninguém sabe o que a Rússia Soviética e sua organização internacional comu-
nista pretendem fazer no futuro imediato, ou quais são os limites, se é que os há, para
as suas tendências expansionistas [...]. De Stettin, no [Mar] Báltico, a Trieste, no [Mar]
Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre o continente. [...]
(CHURCHILL, 1946 apud BARROS, 1985, p. 19).

Depois, Churchill afirmou que era preciso impedir, a qualquer custo, o avanço do
comunismo para além daquela “cortina de ferro” que dividia e opunha a Europa. A seguir,
convocou o Ocidente para uma grande cruzada contra o comunismo. No ano seguinte, o
presidente estadunidense Harry Truman também se posicionou contra a União Soviética,
dizendo que os Estados Unidos dariam apoio total (leia-se militar e financeiro) à luta dos
povos contra o comunismo em todo o mundo. Era a chamada Doutrina Truman,, que
influenciou fortemente as re-
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

lações entre os Estados Unidos


e a América Latina. O mundo
se dividia, assim, em dois
blocos rivais: o capitalista,
liderado pelos Estados Unidos,
e o comunista, comandado
pela União Soviética. Daí se
dizer que, com base nisso,
se estabeleceu uma ordem
internacional bipolarizada..

O presidente estadunidense Harry


Truman, à direita, apresenta ao
público Winston Churchill, que no
ano anterior era primeiro-ministro da
Grã-Bretanha, antes de seu discurso
no Westminster College, em Fulton,
Missouri (EUA), 1946. O discurso que
ele fez na ocasião seria lembrado
pela expressão “cortina de ferro”.

171

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O Plano Marshall e o Bloqueio de Berlim
Ao perceber que os partidos comunistas da Itália, da Inglaterra e da França vinham
crescendo, o governo dos Estados Unidos pôs em prática o Plano Marshall,, que consistia
em um vasto programa de ajuda econômica aos países capitalistas da Europa mais atingidos
pela Segunda Guerra Mundial. A ajuda dos Estados Unidos incluía empréstimos a longo
prazo e juros reduzidos, concessão de tecnologia e investimentos volumosos. Em um
tempo relativamente curto, o Plano Marshall atingiu seus objetivos e possibilitou a rápida
recuperação econômica de países como a Inglaterra, a Alemanha Ocidental e a França.
Além disso, estimulou as exportações estadunidenses para a Europa, fortaleceu a liderança
mundial dos Estados Unidos e diminuiu a força do comunismo no continente europeu.
A resposta da União Soviética não se fez esperar: sob a liderança de Stalin, criou-se o
Comecon (Conselho para Assistência Econômica Mútua), conselho que visava promover o
desenvolvimento econômico dos países do bloco socialista.
Um dos momentos mais “quentes” da Guerra Fria foi o Bloqueio de Berlim
(1948-1949), nome pelo qual ficou conhecida a tentativa de Stalin de sufocar economi-
camente Berlim Ocidental. Ele bloqueou todos os acessos rodoviários e ferroviários
à cidade. Seu objetivo era impedir que alimentos e produtos essenciais, como carvão,
chegassem àquela parte da cidade.
Mas estadunidenses, ingleses e franceses responderam ao bloqueio soviético mon-
tando uma ponte aérea e abastecendo Berlim Ocidental por meio de voos diários. Stalin,
então, foi obrigado a suspender o bloqueio. A propaganda ocidental divulgou o fato,
conseguindo com isso apoio de pessoas de várias partes do mundo. Observe a fotografia.

Habitantes de Berlim Ocidental


(vítimas do bloqueio imposto por Stalin)
E & O/ULLSTEIN BILD/GETTY IMAGES

assistem à aproximação de um avião


com alimentos para eles. Tempelhof,
Berlim (Alemanha Ocidental), 1948.

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Uma das consequências dessa crise foi a decisão tomada pelos Estados Unidos e pela
União Soviética de dividir o território alemão em dois países. Assim, em 1949, nasciam:
a República Federal da Alemanha (Alemanha
( Ocidental),
), de regime capitalista, com
capital em Bonn (área de influência dos Estados Unidos), e a República Democrática Alemã
(Alemanha Oriental), ), de regime comunista, com capital em Berlim Oriental (área de
influência da União Soviética). A cidade de Berlim também foi dividida em duas: Berlim
Oriental (comunista) e Berlim Ocidental (capitalista).

O Muro de Berlim
Na década seguinte, em virtude da ajuda econômica estadunidense, a Alemanha
Ocidental recuperou-se rapidamente e passou por um processo de intenso crescimento
econômico (“milagre alemão”). Atraídos pelo desenvolvimento econômico de Berlim
Ocidental e inconformados com a opressão a que eram submetidos, muitos habitantes
da Berlim Oriental começaram a fugir para o outro lado da cidade em busca de uma vida
melhor. Para impedir a fuga dos alemães orientais, em 1961 o governo da Alemanha
comunista construiu o Muro de Berlim,, separando fisicamente as duas partes da cidade,
e fechou as fronteiras entre os dois países.
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

Berlinense ocidental
acenando para
berlinenses orientais
usando um carro como
apoio. Berlim Ocidental
(Alemanha Ocidental),
7 de setembro de 1961.

173

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Otan versus Pacto de Varsóvia
Nesse contexto de ânimos exaltados, em 1949 os Estados Unidos, o Canadá e vários
países da Europa Ocidental firmaram uma aliança militar denominada Organização do
Tratado do Atlântico Norte (Otan).
). A aliança previa a ajuda mútua no caso de uma agres-
são por parte de uma força externa. O ataque a um dos países-membros da Otan seria
considerado um ataque a todos.
Em resposta à criação da Otan, em 1955, a União Soviética firmou com os países de
sua esfera de influência o Pacto de Varsóvia,, uma aliança militar destinada a garantir a
segurança do bloco comunista. Observe o mapa.

A Europa dividida: Otan versus Pacto de Varsóvia (1955)

RENATO BASSANI
ico
ar Árt
Pol
ISLÂNDIA ulo
Círc
Gree no de

Países capitalistas
h

membros da Otan
nwic
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Países europeus capitalistas


não membros da Otan
Mer

FINLÂNDIA
Países comunistas membros SUÉCIA
do Pacto de Varsóvia
NORUEGA
Países europeus comunistas
não membros do Pacto de
Varsóvia

Mar do
Norte UNIÃO SOVIÉTICA
ltico

IRLANDA REINO DINAMARCA


ar

UNIDO M

PAÍSES REPÚBLICA
BAIXOS DEMOCRÁTICA
OCEANO BÉLGICA ALEMÃ
POLÔNIA
ATLÂNTICO REPÚBLICA
LUXEMBURGO
FEDERAL
TCHECOSLOVÁQUIA
DA
ALEMANHA
FRANÇA SUÍÇA ÁUSTRIA HUNGRIA

ROMÊNIA
40°
N M
ar IUGOSLÁVIA Mar Negro
Ad
PORTUGAL riá BULGÁRIA
ESPANHA Córsega ITÁLIA tic
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ALBÂNIA TURQUIA
Sardenha (parte europeia)
Mar
M a r M e
d i Tirreno GRÉCIA ÁSIA
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ÁFRICA o
Creta

Fonte: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 1999. p. 32.

As tensões da Guerra Fria levaram à formação de alianças militares lideradas pelas grandes
potências. Os países capitalistas criaram a Otan (1949), sob a liderança dos Estados Unidos.
Os países comunistas formaram o Pacto de Varsóvia (1955), sob a liderança da União
Soviética, de Josef Stalin.

174

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Perseguições e crimes contra a humanidade
Tanto nos Estados Unidos quanto na União Soviética, as pessoas suspeitas de simpati-
zar com o país adversário eram perseguidas e duramente reprimidas. Nos Estados Unidos
dos anos 1950, o líder da “caça aos comunistas” era o senador Joseph McCarthy. O
macarthismo – movimento que recebeu esse nome por ter sido liderado por McCarthy –
perseguiu e levou à prisão cientistas, escritores,

MONDADORI PORTFOLIO/GETTY IMAGES


artistas, professores e funcionários do governo.
Até mesmo Charles Chaplin foi perseguido
pelo macarthismo e obrigado a se exilar. Essa
campanha anticomunista ocorreu entre 1950
e 1954, período durante o qual McCarthy
dirigiu o Comitê de Atividades Antiamericanas
do Senado.
Na União Soviética, o ódio à superpo-
tência rival também era alimentado por
perseguições, queimas de livros, prisões arbi-
trárias e execuções. Só que, no caso da União
Soviética, o líder da repressão era o próprio
chefe de Estado soviético, Josef Stalin. O
stalinismo também reprimia brutalmente
cidadãos do Leste Europeu. Stalin organizou
julgamentos forjados, internou seus oposi-
tores em hospitais psiquiátricos, promoveu
fuzilamentos em massa e enviou para campos
( gulags)) e para o exílio
de trabalho forçado (gulags
na Sibéria todos aqueles que considerava
adversários.
Cena do filme estadunidense O garoto,
de Charles Chaplin, de 1921. Ator, diretor,
LASKI DIFFUSION/GETTY IMAGES

roteirista, um verdadeiro gênio do cinema,


o criador de Carlitos foi perseguido pelo
macarthismo. Em 1952, sentindo sua
segurança pessoal ameaçada, Chaplin
deixou os Estados Unidos e foi viver na
Suíça.

Prisioneiro de um gulag trabalha na construção do Canal Mar


Branco-Mar Báltico. Segundo registros oficiais, dezenas de
milhares de trabalhadores morreram durante a construção
desse canal. União Soviética, 1933.

175

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A corrida armamentista

SHEL HERSHORN/GETTY IMAGES


e a espacial
A competição entre os Estados Unidos e a União
Soviética por áreas de influência, o medo que uma
potência tinha da outra e os interesses da superlu-
crativa indústria bélica desencadearam uma corrida
armamentista..
Em 1949, as duas superpotências possuíam a
bomba atômica e investiam quantias cada vez maiores
em armas nucleares. No final de 1952, os Estados
Unidos descobriram o modo de fazer a bomba de
hidrogênio e a testaram no Oceano Pacífico. Ela tinha
uma potência 4 mil vezes superior à da bomba atômica.
Três anos depois, era a vez de a URSS testar sua bomba.
Mulher em abrigo nuclear construído Essa corrida exigia altos investimentos do Estado, pro-
para proteger pessoas de bombas.
Texas (EUA), 1961.
vocando o aumento de impostos pagos pelos cidadãos,
além de causar sérios prejuízos ao meio ambiente.
Cientes de que não era possível resolver a disputa
militarmente, em razão do enorme poder de destruição
SNEGIREV IGOR/SPUTNIK/AFP

de suas armas nucleares, os Estados Unidos e a União


Soviética passaram a investir na exploração do espaço, a
fim de demonstrar ao mundo qual deles tinha o melhor
sistema socioeconômico. Na corrida espacial,, a URSS
saiu na frente; em 1957, lançou dois satélites artificiais,
o Sputnik 1 e o Sputnik 2 (que tinha a bordo uma
cadela chamada de Laika). Quatro anos depois, a URSS
lançava a primeira nave pilotada por um ser humano:
o russo Yuri Gagarin.
A população soviética saiu às ruas para comemorar
e Gagarin foi transformado em herói nacional. Os esta-
dunidenses redobraram, então,
SPACE FRONTIERS/GETTY IMAGES

seus investimentos em pesquisa


espacial. Em 20 de julho de
Acima, Yuri Gagarin,
1961. Ao lado, Neil 1969, viajando a bordo da nave
Armstrong, 1969. Apolo 11, o astronauta estadu-
nidense Neil Armstrong foi o
primeiro a colocar o pé em solo
lunar, onde fincou também a
bandeira dos Estados Unidos.

176

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Movimento hippie
A juventude dos anos 1960 também manifestou sua
insatisfação com o “sistema” por meio de movimentos paci-
fistas, como o movimento hippie
hippie,, cujo lema era “Paz e amor”.
Os hippies usavam cabelos compridos, sandálias, chapéus extra-
vagantes e roupas indianas, elementos esses que chocavam
a sociedade da época. Geralmente, eles pertenciam à classe
média e tinham conforto em casa, mas rejeitavam radicalmente
a hierarquia, a disciplina e a obediência que caracterizavam

S
AGE
o modo de vida de seus pais. Defendiam o convívio com a

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“natureza”, o consumo de comida vegetariana e a prática do

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amor livre (isto é, relações sexuais livres).

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Muitos hippies abandonavam seus lares e iam viver no

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campo, em comunidades alternativas, onde cultivavam a terra,
Janis Joplin se
criavam animais e cuidavam dos filhos em grupo e em total liber- apresenta no Madison
dade. Os hippies adotavam certas ideias da Índia, especialmente Square Garden.
as de Mahatma Gandhi, líder pacifista favorável à resistência não Nova York (EUA), 1969.
violenta. Por isso, os hippies estadunidenses
HOWARD ARNOLD COLLECTION/GETTY IMAGES

fizeram muitos protestos pacíficos contra a


Guerra do Vietnã, ostentando cartazes com
os dizeres “Faça amor, não faça guerra!”.
Ao final de suas passeatas, eles ofereciam,
com um sorriso nos lábios, flores para as
pessoas.
Em pouco tempo, as grandes empresas
incorporaram as mensagens e os símbolos
hippies aos seus produtos. Exemplo disso é
o slogan usado para aumentar a venda de
Multidão no Festival de Música e Arte de
jeans:: “Liberdade é uma calça velha, azul
jeans Woodstock, de que Janis Joplin também
e desbotada”. participou. Nova York (EUA), 1969.

a) Qual é a característica principal do movimento hippie e contra o que lutava?

b) O que os hippies propunham como alternativa ao modo de vida de seus pais?

c) Pode-se dizer que os hippies também fizeram política?

 m dupla. Debatam, reflitam e respondam: ideias condensadas no lema hippie “Faça


d) E
amor, não faça guerra!” são aplicáveis ao mundo atual?

177

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Sobre a Guerra Fria, responda:
a) O que foi?
b) Que países lideraram e quais eram os sistemas socioeconômicos rivais?
c) Pesquise e responda: a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, pode ser con-
siderada o renascimento da Guerra Fria?

2 Sobre a Organização das Nações Unidas:


a) Em que contexto foi criada?
b) Quais são seus principais objetivos?
c) Em dupla. Na avaliação de vocês, a ONU tem conseguido cumprir seu principal objetivo?

3 O texto a seguir foi escrito por um historiador especializado em Guerra Fria. Leia-o
com atenção.
A vitória na Segunda Guerra Mundial [...] não gerou qualquer sensação de segu-
rança nos vencedores. Em fins de 1950, nem os Estados Unidos, nem [...] tampouco a
União Soviética podiam considerar que as vidas e os recursos despendidos para derrotar
Alemanha e Japão os tinham tornado mais seguros: os membros da Grande Aliança eram
agora adversários na Guerra Fria. Os interesses [...] eram incompatíveis; as ideologias
se conservavam no mínimo tão polarizadoras quanto antes da guerra; temores de um
ataque de surpresa continuavam a inquietar os militares em Washington [...] e Moscou. [...]
GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 44.

a) O que explica a sensação de insegurança mencionada no texto?


b) S egundo o autor, os interesses de membros da Grande Aliança eram incompatíveis. Qual era
essa incompatibilidade?

4 Leia as afirmações a seguir e indique as corretas.


I. “Cortina de ferro” é uma expressão usada para dizer que algo muito forte dividia e opunha
os europeus.
II. A ordem bipolarizada estabeleceu-se com a divisão do mundo em dois blocos rivais, o capi-
talista e a república.
III. A Doutrina Truman defendia o combate sem tréguas ao capitalismo.
IV. Capitalismo e comunismo são sistemas socioeconômicos rivais.
V. Estados Unidos e União Soviética eram os líderes dos blocos rivais na Guerra Fria.

178

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5 Leia o texto a seguir com atenção.
O maior representante dessa

KEYSTONE-FRANCE/GAMMA-KEYSTONE/GETTY IMAGES
cruzada [...] foi, sem dúvida, o
senador republicano de Wisconsin,
Joseph McCarthy. Entre 1952 e
1956, McCarthy liderou o fami-
gerado Comitê de Atividades
Antiamericanas, em que obrigou
centenas de americanos a deporem
sobre supostas atividades de espiona-
gem e subversão para os comunistas.
Explorando o temor vermelho,
McCarthy [...] [submeteu] os “sus- Ator e diretor Charles Chaplin, sua esposa e seus quatro
peitos” a insinuações ou acusações filhos chegando a Cherbourg. França (Paris), 1952. Chaplin foi
um dos perseguidos pelo macarthismo.
abertas, na maioria jamais compro-
vadas, cineastas, escritores, atores, diretores, músicos, jornalistas, advogados, membros
do próprio governo e das forças armadas foram intimados aos bancos do comitê.
Na “caça às bruxas”, de Joseph McCarthy não havia qualquer meio de defesa além
da 5a Emenda, que protegia o cidadão americano contra abusos do poder do Estado,
mas [...] [as] acusações eram praticamente

ARCHIV GERSTENBERG/ULLSTEIN BILD/GETTY IMAGES


invariáveis; bastava qualquer suspeita
de ligação com a esquerda socialista. [...]
Aqueles que se recusavam a depor tinham
seus nomes publicados nas “listas negras”
do Comitê, levando-os a uma cruel desmo-
ralização [...].
TOTA, Antonio Pedro. Os americanos.
São Paulo: Contexto, 2009. p. 191-192.

a) O que foi o macarthismo?


b) Q
 uem eram as pessoas acusadas de comu-
nismo nos Estados Unidos?
c) Como funcionava a defesa dos cidadãos
acusados?

6 Observe a imagem com atenção.


a) A que plano esse cartaz de 1950 se refere?
b) O que foi esse plano?
c) Qual foi seu resultado?

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7
GÜNTER BRATKE/PICTURE ALLIANCE/GETTY IMAGES

Observe a fotografia a seguir.


a) O que você vê na imagem?
b) Por que o Muro de Berlim foi
construído?
c) Escreva um texto apresentando
três consequências que a cons-
trução do Muro de Berlim teve
na vida das pessoas.

Muro de Berlim. Alemanha, 1961.

8 A Guerra Fria também influenciou o esporte. Observe a tabela a seguir com atenção
e responda às questões.

Quantidade de medalhas em Olímpiadas, EUA e URSS (1960-1988)


Cidade Ano Estados Unidos União Soviética
Roma 1960 71 103

Tóquio 1964 90 96

Cidade do México 1968 107 91

Munique 1972 94 99

Montreal 1976 94 125

Moscou 1980 - 195

Los Angeles 1984 174 -

Seul 1988 94 132


Elaborado com base em: ROMA, 1960. UOL, São Paulo, jan. 2016.
Disponível em: http://olimpiadas.uol.com.br/historia-das-olimpiadas/roma-1960/.
Acesso em: 22 mar. 2022.

a) O que se pode concluir lendo a tabela?


b) P or que será que os Estados Unidos não ganharam nenhuma medalha em 1980, o mesmo
acontecendo com a União Soviética quatro anos depois?
c) Que relação se pode estabelecer entre esporte e política nos tempos da Guerra Fria?

180

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CAPÍTULO

9 REVOLUÇÕES SOCIALISTAS:
CHINA E CUBA

HUNG CHUNG CHIH/SHUTTERSTOCK.COM


A China tem uma longa história e uma cultura rica e
variada. Por ter exercido grande influência sobre os vizinhos
com sua escrita, suas técnicas, suas filosofias e suas artes,
é considerada pelos historiadores como a matriz cultural do
Extremo Oriente.
No século XIX, a China foi obrigada pela Grã-Bretanha
a abrir cinco de seus portos aos mercadores britânicos. Dois
anos depois, Estados Unidos, França e Japão conseguiram Guerreiros chineses de
terracota. Xian (China), 2014.
os mesmos privilégios. Observe o mapa.
No início do século
China: portos abertos pelo Tratado de Nanquim (1842)
XX, o Império chinês

ALLMAPS
110° L
era governado pela
dinastia Qing (1644-
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1912), mas o seu Ro ng-He
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território era dividido HENAN
Yangzhou
em áreas de influência RoH

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Inglaterra, a França, a Z H E J I A N G Ningbo
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Alemanha, o Japão e Chongqing


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os Estados Unidos. China
G U I Z H O U
HUNAN Fuzhou Oriental
FUJIAN 0 230
Xiamen
(Amoy)
Os portos chineses abertos Trópico de Câncer
Capital
aos ocidentais foram: GUANGDONG
Taiwan
Cantão Cidade
Xangai, Ningbo, Fuzhou, Hong Kong
Macau Portos
Xiamen e Cantão.
Fonte: SPENCE, Jonathan D. Em busca da China moderna: quatro séculos de
história. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 170.

1. Como será que os chineses reagiram à dominação estrangeira?


2. Como se deu o processo que levou a China a se tornar um país socialista?
3. E, hoje, qual é o regime político adotado na China? Ele é bem-aceito pela maioria da população chinesa?
4. O que mais você sabe sobre a China atual?

181

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Dominação e resistência
Notável: funcionário As potências estrangeiras exerciam sua dominação com o
público graduado. apoio do imperador da China, que se deixava corromper por elas,
Mandarim: indivíduo
e da elite chinesa, liderada por notáveis e mandarins
mandarins.. A maioria
letrado e admitido ao
serviço público por meio da população era formada de camponeses que viviam sobrecarre-
de concurso. gados de impostos e que sustentavam com seu trabalho a Corte
imperial, as elites e os estrangeiros. Essa situação gerava grande
insatisfação popular. Além disso, estadunidenses e alemães ten-
tavam impor suas religiões aos chineses, desrespeitando as religiões
e os cultos tradicionais, o que aumentava ainda mais a insatisfação
popular. Nesse contexto, os camponeses promoveram uma grande
rebelião em 1898, a Revolta dos Boxers.. Os ocidentais chamaram
os rebeldes de boxers (“os que lutam com os punhos”), daí o nome
da revolta. O slogan dos rebeldes era “reviver Qing e destruir o
GRANGER/FOTOARENA estrangeiro”, pois eles acreditavam
que chineses cristãos tinham iludido
o imperador, colocando-o contra o
povo e as religiões da China.
A Revolta dos Boxers chegou
a Pequim, capital do Império, e
muitos estrangeiros que ali residiam
foram mortos pelos rebeldes. Dali
o movimento rebelde se espalhou
rapidamente e recebeu o apoio da
família imperial. Mas as potências
imperialistas uniram forças e revi-
daram, invadindo a China em nome
da “civilização” e, depois de massa-
crar milhares de chineses, impuseram
ao país um tratado humilhante, que
reforçava a subordinação chinesa ao
Ocidente.

Boxers levando estrangeiros


capturados para julgamento.
Cartaz chinês, 1900.

182

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O fim do Império e a proclamação da República na China
Disposto a combater a dominação estrangeira e a corrupção na Corte chinesa, em
1900 um grupo de nacionalistas e republicanos liderados pelo médico Sun Yat-Sen fundou
o Partido Nacional do Povo,, o Kuomintang. Os nacionalistas estimulavam a criação de
sociedades secretas, a publicação de textos críticos ao Império e atos de rebeldia, como o
uso de roupas ocidentais e o corte da trança (sinal de reverência ao imperador). Em 1911,
esse partido conseguiu derrubar o Império chinês e proclamar a República.
Em um ambiente de grande desigualdade e insatisfação social, o marxismo entrou na
China e se propagou por intermédio de intelectuais como Li Dazhao, professor da Universidade
de Pequim e tradutor das obras de Karl Marx e Friedrich Engels. Os chineses convertidos ao
marxismo passaram a defender a destruição da antiga cultura, baseada na hierarquia, na
obediência e na submissão da mulher. Em 1921, fundaram o Partido Comunista Chinês
(PCCh), que tinha como principal líder Mao Tsé-Tung.

APIC/GETTY IMAGES
Nascido no interior de uma família camponesa, Mao for-
mulou uma tese original. Discordando de Marx, afirmou que
seriam os camponeses, e não os operários, a principal força no
processo que levaria à revolução socialista na China.
Com a morte do presidente Sun Yat-Sen, em 1925, abriu-se
uma luta pelo poder, vencida pelo general Chiang Kai-Shek,
que rompeu com o Partido Comunista Chinês e colocou-o na
ilegalidade. Com isso, teve início uma prolongada guerra entre os
chineses de 1927 a 1949: de um lado, estavam os nacionalistas,,
liderados por Chiang Kai-Shek, e de outro, os comunistas,, Mao Tsé-Tung, presidente
do Partido Comunista
encabeçados por Mao Tsé-Tung. Um dos episódios marcantes Chinês, no campo.
dessa guerra foi a “Longa Marcha”. China, c. 1958.

A República Popular da China


Em 1937, enquanto os chineses guerreavam entre si, o Japão lançou um violento
ataque à China, saqueando e humilhando a população chinesa.
Os nacionalistas e os comunistas chineses decidiram, então, interromper a guerra
entre eles e lutar contra os japoneses. Porém, após serem derrotados na Segunda Guerra,
em 1945, os japoneses deixaram a China; foi o que bastou para que os comunistas e
os nacionalistas chineses recomeçassem a guerra entre eles. Liderando a resistência aos
japoneses, Mao conquistou um grande número de seguidores. E, por meio da guerra de
guerrilha, o Exército Popular de Libertação (EPL), liderado por Mao, venceu os nacio-
nalistas. Em 1949, Mao proclamou em Pequim a República Popular da China,, governo
marxista presidido por ele.

183

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O governo de Mao Tsé-Tung
NICK LEDGER/ALAMY/
FOTOARENA Nos primeiros anos de seu governo, Mao
Tsé-Tung adotou um conjunto de medidas:
a) estatizou as grandes empresas; b) expropriou
e distribuiu terras aos camponeses; c) imple-

GRANGER/FOTOARENA
mentou a industrialização com a ajuda da
União Soviética; d) concedeu às mulheres direi-
tos iguais aos dos homens. Com os incentivos
governamentais, a economia chinesa passou a
apresentar altas taxas de crescimento.

Multidão dá as boas-vindas às tropas comandadas por


Mao Tsé-Tung e comemora a vitória da revolução liderada
por ele. A capital da República passou a ser Pequim;
sua bandeira (no detalhe) é vermelha, cor que simboliza
o comunismo. A estrela grande representa o Partido
Comunista Chinês e as quatro menores, o povo chinês.
A disposição das cinco estrelas simboliza a união do povo
com o PCCh. Pequim (China), janeiro de 1949.

Tensões entre China e União Soviética


Nos anos 1960, ocorreram tensões entre a China e a URSS, com acusações e críticas
de lado a lado. O principal ponto de tensão entre esses dois países gigantes foi a disputa
pela supremacia no campo socialista. Eles divergiam quanto ao modelo de socialismo a
ser seguido. A União Soviética vivia sob o marxismo-leninismo e era esse modelo que ela
queria impor ao mundo socialista. Já Mao Tsé-Tung defendia, à época, a teoria da “revo-
lução contínua”. Para ele, as revoluções socialistas ao redor do mundo não se fariam mais
segundo o modelo soviético, mas com a força do campesinato e sob a liderança chinesa.
Nesse contexto, em 1960, o líder da União Soviética, Nikita
ALAMY/FOTOARENA

Kruschev, ordenou o retorno a Moscou de todos os técnicos russos


enviados à China e o abandono dos projetos em andamento.
No ano seguinte, Mao revidou, fornecendo equipamentos para
fábricas, usinas e metalúrgicas da Albânia e emprestando 112,5
milhões de rublos para aquele país socialista, que vivia na órbita
soviética, o que foi visto por Kruschev como uma provocação.

Charge ironiza as tensões entre URSS e China, 1963. Cada


um dos personagens, Kruschev (esquerda) e Mao (direita)
seguram um cachorro. O cachorro de Kruschev traz os dizeres
“coexistência” enquanto o de Mao traz “guerra inevitável”.

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Outro ponto de tensão, ainda, foi a recusa de Mao em aceitar a Coexistência pacífica:
política de compromisso
política de coexistência pacífica acordada entre a União Soviética
entre URSS e EUA
e os Estados Unidos; Mao via a coexistência com o capitalismo visando assegurar a paz
como um desvio da doutrina marxista. Kruschev, por sua vez, criti- mundial.
cava a política do Grande Salto implementada por Mao.
Esse aumento crescente das tensões entre China e URSS levou ao rompimento de
relações entre os dois países em 1962. A URSS concorria agora não apenas com os EUA,
mas também com a China, cujo modelo de socialismo era uma alternativa para outros
povos. Com o rompimento, a URSS, com quem a China tinha enorme fronteira, deixava
de ser aliada e passava a ser rival.

A Revolução Cultural chinesa


O fracasso da política do Grande Salto, a desorganização da economia e os privilégios
dados aos altos funcionários do PCCh geravam grande insatisfação social. Os estudantes,
por sua vez, engrossavam a oposição popular exigindo a renovação dos métodos de ensino
nas universidades e o combate aos “quatro velhos”: velhos hábitos, velha cultura, velhas
ideias e velhos costumes.
Nesse contexto, Mao canalizou a insatisfação popular propondo, em 1966, a Revolução
Cultural,, movimento que defendia o igualitarismo e a busca de um caminho próprio para
o comunismo chinês. Tudo aquilo que provinha do Ocidente – o jazz jazz,, o rock
rock,, a pintura
abstrata, por exemplo – foi condenado. O governo incentivou a produção de uma arte
realista que valorizasse o povo. Estudantes e operários foram convocados a divulgar os
pensamentos de Mao, contidos em um pequeno livro: O Livro Vermelho.. As universidades
foram fechadas, e milhões de estudantes foram trabalhar na agricultura. Parte deles cons-
tituiu uma organização militar, a Guarda Vermelha.. Os guardas vermelhos espalharam-se
por todo o território, a fim de “reeducar” o povo, isto é, eliminar toda oposição a Mao.
Durante a Revolução Cultural, o governo de Mao não apenas fez uso da propaganda e do
convencimento mas também violentou pessoas comuns, intelectuais e políticos, além de prender
e castigar publicamente seus adversários, acusando-os de “traição aos ideais da Revolução”.
Assim, Mao conseguiu enfraquecer seus adversários
dentro do PCCh e fortalecer seu poder. Porém, ao estimular
estudantes e operários a se rebelarem, perdeu o controle
do pro cesso e decidiu recuar: ordenou que o Exército
Popular de Libertação desarmasse a Guarda Vermelha e
que os estudantes voltassem às escolas e universidades.
A partir de 1969, a disciplina e a hierarquia foram resta-
belecidas. Ao fim desse processo, Mao tinha conseguido
vencer seus adversários dentro do Partido Comunista.

Chineses de diferentes gerações erguem O Livro


Vermelho durante a Revolução Cultural (1966-1969).
ALAMY/FOTOARENA

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A Revolução Cubana
Cuba, a maior ilha do Caribe, na América Central, está situada a apenas 170 quilô-
metros do litoral dos Estados Unidos. Observe o mapa.
Na primeira metade do século XX, Cuba sobrevivia principalmente da produção do
açúcar que vendia para os Estados Unidos e do turismo. Grande parte da riqueza da ilha
concentrava-se nas mãos de poucas famílias locais e de empresários estadunidenses.
Enquanto isso, a maioria
Cuba da população alimentava-se
RENATO BASSANI

ESTADOS
UNIDOS mal, morava em cortiços ou
em cabanas de palha, sem
Golfo do
México assistência médica, sem saber
Miami
OCEANO ler e escrever e sobrevivia de
ATLÂNTICO
Trópico de Câncer
Havana
170 km empregos temporários.
CUBA

Santiago
MÉXICO de Cuba Guantánamo
REPÚBLICA Porto
HAITI DOMINICANA Rico
(EUA)
JAMAICA
BELIZE

GUATEMALA Mar do Caribe


HONDURAS Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO
0 255
DE ESTATÍSTICA E GEOGRAFIA.
EL SALVADOR
80° O 70° O Atlas geográfico escolar. 5. ed.
NICARÁGUA
Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 39.

A oposição à ditadura de Batista


Na primeira metade do século XX, Cuba foi governada, durante a maior parte do
tempo, por ditadores corruptos e violentos. Um deles, Fulgêncio Batista, desfechou um
golpe de Estado, em 1952, e governou com o apoio de empresários que exploravam os
cassinos e a prostituição, lucrando com o jogo e a comercialização do sexo.
Opondo-se a essa situação, em 1953, o advogado cubano Fidel Castro e um grupo
de 120 pessoas tentaram tomar o quartel de Moncada, na cidade de Santiago de Cuba,
com o objetivo de obter armas para derrubar a ditadura de Batista. Fidel Castro foi preso
e, dois anos depois, conseguiu fugir para o México.
Tempos depois, Fidel Castro desembarcou em Cuba com 82 homens, mas, em um
confronto com as forças de Batista, perdeu a maioria deles; os 12 sobreviventes se embre-
nharam nas matas da Sierra Maestra,, a cadeia de montanhas mais alta de Cuba, e de
lá iniciaram uma guerra de guerrilhas contra o governo. Nesse grupo estava o médico
argentino Ernesto Che Guevara, que influenciou muitos jovens de sua geração em toda
a América Latina.

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Fidel chega ao poder
Durante os dois anos de luta contra a ditadura de Batista, os “barbudos”, como os
rebeldes eram chamados, foram ganhando apoio popular e, em 1o de janeiro de 1959,
Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos entraram em Havana, a capital do país,
e conquistaram o poder. Fidel Castro afirmou que a revolução era nacionalista e tomou
algumas medidas populares, tais como:
• reforma agrária, com distribuição de terras para 200 mil famílias;
• redução de 50% nos aluguéis residenciais, no preço dos medicamentos e nas tarifas
telefônicas e de eletricidade;
• nacionalização de bancos e empresas consideradas estratégicas (refinarias de petróleo,
companhias de eletricidade etc.), muitas delas estadunidenses.
Essas medidas do líder cubano desagradaram aos Estados Unidos. Em 1961, a tensão
entre os dois países aumentou porque Castro declarou que sua revolução era socialista..
Os EUA, obedecendo à lógica da Guerra Fria, romperam as relações diplomáticas com Cuba
e promoveram uma invasão à ilha por exilados cubanos treinados pela Agência Central de
Inteligência (CIA), mas as milícias populares cubanas resistiram e venceram os invasores.
Em 1962, os Estados Unidos radica-
UNIVERSAL HISTORY ARCHIVE/UNIVERSAL IMAGES GROUP/GETTY IMAGES

lizaram sua posição e impuseram um


bloqueio econômico a Cuba.

Agência Central de
Inteligência: serviço de
inteligência dos Estados
Unidos.

Fidel Castro, Osvaldo Dorticós e Che


Guevara (da esquerda para a direita).
Havana (Cuba), 1960.

A crise dos mísseis


Conforme as relações entre os Estados Unidos e Cuba pioravam, Fidel Castro fortalecia
sua aliança com a União Soviética, chegando a permitir que os soviéticos construíssem
uma base de lançamento de mísseis nucleares em território cubano.
O governo estadunidense reagiu impondo um bloqueio militar a Cuba e ameaçando
a União Soviética com armas nucleares. Ao fim de várias negociações, a União Soviética
concordou em retirar seus mísseis do território cubano, em troca da promessa de os Estados
Unidos respeitarem a soberania de Cuba. O episódio ficou conhecido como crise dos mísseis
(setembro a outubro de 1962) e foi um dos momentos mais tensos da Guerra Fria.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

O bloqueio econômico imposto a Cuba em 1962 é um dos mais duradouros já


impostos por um país a outro. Veja, a seguir, a evolução desse bloqueio.

O embargo estadunidense a Cuba


1961 Os dois países rompem relações diplomáticas.
Os Estados Unidos do presidente John Kennedy radicalizam sua posição e impõem um
1962
embargo econômico a Cuba.
1992 Os EUA reduzem em 700 mil toneladas a cota de açúcar importado de Cuba.
Lei Helms-Burton: estabelece sanções para as empresas estrangeiras que negociarem com
1996
Cuba.
O presidente Bill Clinton ameniza o bloqueio, permitindo a venda de alimentos e medicamentos
2000
a Cuba por razões humanitárias.
O governo Bush intensifica a investigação e a punição aos estadunidenses que foram a Cuba
2006
através de outros países.
Com a mediação do papa Francisco, os Estados Unidos do presidente Barack Obama reatam
2015 as relações diplomáticas com Cuba. Já a suspensão do bloqueio econômico à ilha aguarda a
aprovação do Parlamento dos Estados Unidos.
A ONU aprova mais uma resolução que propõe a suspensão do embargo econômico imposto
2017 pelos Estados Unidos contra Cuba. A resolução recebe 191 votos favoráveis; apenas Estados
Unidos e Israel se opuseram a ela.

a) Qual era o objetivo dos Estados Unidos ao impor um embargo econômico a Cuba?
b) Como o governo cubano reagiu ao bloqueio econômico?
c) Com base nos dados do quadro, responda: nos anos 1990 e no governo de Bush, o
rigor do embargo diminuiu ou aumentou? Justifique.
d) O
 que se pode dizer da relação entre os EUA e Cuba durante o governo Barack
Obama?
GARY MILLER/FILMMAGIC

Show dos Rolling Stones


em Havana (Cuba), 2016.

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Analise a ilustração a seguir, produzida no século XIX.
a) Como a China está representada na charge?

LOOK AND LEARN/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


b) O chinês parece satisfeito com o que está
acontecendo? Justifique.
c) Na charge, é possível observar alguma rivali-
dade entre as potências à mesa? Justifique.
d) Em sua opinião, o que o autor da charge
buscou criticar?

Gravura que apresenta um chinês observando


a repartição da China pelos representantes
da Inglaterra, da Alemanha, da Rússia, da
França e do Japão (da esquerda para a direita).
Ilustração para Le Petit Journal,
16 de janeiro de 1898.

2 Avalie as afirmações e copie no caderno as alternativas corretas.


a) No início do século XX, o Império chinês era governado pela Dinastia Qing (1644-1912), mas
o seu território era dividido em áreas de influência de potências como a Inglaterra, a França,
a Alemanha, o Japão e os Estados Unidos.
b) As potências estrangeiras exerciam sua dominação sem o apoio do imperador Qing e da elite
chinesa, que eram contrários ao imperialismo.
c) A imposição de valores orientais e da religião budista aos chineses ajuda a explicar a grande
revolta de 1898 – a Revolta dos Boxers.
d) O slogan dos rebeldes era “reviver Qing e destruir o estrangeiro”, pois eles acreditavam que
chineses cristãos iludiam o imperador, fazendo com que ele se voltasse contra o povo e as
religiões da China.
e) As potências imperialistas reprimiram os boxers invadindo a China em nome da “civilização”
e, depois de massacrar milhares de chineses, impuseram ao país um tratado humilhante, que
reforçava a subordinação chinesa ao Ocidente.

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3 Em 1958, o governo Mao lançou o Grande Salto para a Frente, um plano que prome-
tia desenvolver a China em apenas 15 anos. O plano, no entanto, fracassou e milhões
de pessoas morreram de fome. Observe as imagens a seguir.
PICTURES FROM HISTORY/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

ALBUM/FOTOARENA
Família do meio rural durante o Grande Salto
para Frente, na China.

Cartaz de propaganda da política do Grande Salto


para a Frente (1958-1961). China, década de 1960.

a) O que a imagem colorida mostra?


b) E a fotografia em preto e branco, o que mostra?
c) O que se pode concluir comparando uma imagem à outra?
d) Durante a política do Grande Salto para a Frente, o governo de Mao Tsé-Tung manipulava as
estatísticas a seu favor. E, hoje, há governos que utilizam essa prática? Se sim, pesquise e dê
um exemplo.

4 Leia o documento a seguir e responda.


Ao insistir que tudo que fosse velho ou estrangeiro era “ruim”, a Revolução
Cultural jogou na lata de lixo milhões de anos de cultura – tanto do próprio patri-
mônio chinês, riquíssimo, como de toda a arte, literatura e filosofia europeias. [...]
Pinturas, balés, filmes, músicas e livros que não estivessem a serviço da revolução
[cultural] eram considerados “ervas daninhas” que precisavam ser arrancadas e
queimadas. A única arte boa era a criada por um grupo, como os grandes murais ou
outdoors falando de temas revolucionários. […] Os criadores dessas obras recebiam
salários iguais aos de operários ou camponeses e qualquer lucro que resultasse do
seu trabalho ia para o Estado popular.
ANGE, Zhang. Terra Vermelha, rio amarelo: uma história da Revolução Cultural. São Paulo: Edições SM, 2005. p. 61.
a) Qual era a posição social dos artistas chineses, em especial durante a Revolução Cultural?
b) Qual foi o papel do Estado na divulgação da arte no período descrito no texto?

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5 Copie no caderno as alternativas corretas.
a) No início do século XX, a produção econômica cubana estava voltada para a agroindústria
do café e a extração mineral.
b) A desigualdade social em Cuba era notória. Grande parte da riqueza concentrava-se nas mãos
de poucas famílias e de empresários estadunidenses, enquanto a maior parte da população
era mal alimentada, sem assistência médica e não alfabetizada.
c) O presidente Fulgêncio Batista instaurou um governo democrático, durante o qual lutou para
acabar com a prostituição e os cassinos em Cuba.
d) Fidel Castro opôs-se ao governo de Fulgêncio Batista, que, apoiado pelos Estados Unidos, deu
um golpe militar e assumiu o poder como ditador.
e) Ao assumir o poder, Fidel Castro reduziu o preço dos aluguéis, dos medicamentos e das tarifas
telefônicas e de eletricidade, realizou a reforma agrária e nacionalizou empresas e bancos.

6 Observe a charge a seguir, que apresenta o presidente dos Estados Unidos John
Kennedy e o líder soviético Nikita Kruschev, durante a crise dos mísseis em 1962.

FINE ART IMAGES/ALBUM/FOTOARENA

Charge de Leslie Gilbert Illingworth, publicada no jornal britânico The Daily Mail,
em 29 de outubro de 1962.

a) Onde cada um dos oponentes está sentado?


b) Em sua opinião, a “queda de braços” entre ambos, mostrada na charge, está em equilíbrio
ou um dos líderes possui maior força?
c) Por que a crise dos mísseis foi considerada um dos momentos de maior tensão na Guerra Fria?

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II. Leitura e escrita em História
Vozes do presente
Empresários cubanos pedem a Biden que suspenda sanções econômicas
Centenas de empresários cubanos

NICOLAS ECONOMOU/NURPHOTO/AFP
pediram, em carta ao presidente ame-
ricano Joe Biden […], o levantamento
das sanções econômicas contra a ilha
comunista, que "prejudicam de forma sig-
nificativa" suas atividades e suas famílias.
"Por meio de nossos negócios, estamos
trabalhando [...] para ter um trabalho gra-
tificante e prosperidade econômica". [...]
"No entanto, a atual política dos
Estados Unidos em relação a Cuba afeta
em grande medida nossas operações Praia de Varadero. Cuba, 2021.
comerciais diárias e freia nossa capacidade
de prosperar", acrescentaram, lamentando
que Biden mantenha, apesar de suas promessas de campanha, as 243 sanções impostas
por seu antecessor Donald Trump, que reforçaram o embargo em vigor desde 1962.
[...]
"Urgimos que adotem as seguintes ações imediatas: 1) restabelecer um caminho
para remessas; 2) abrir as viagens para aqueles sujeitos à jurisdição dos EUA; 3) reabrir
a embaixada dos EUA em Havana; e 4) retirar Cuba de sua lista de países patrocina-
dores do terrorismo", diz a carta enviada a Biden.
O setor privado cubano viveu um efêmero boom durante a reaproximação entre
os Estados Unidos e Cuba, entre 2014 e 2016, no governo Barack Obama.
"Sonhamos em voltar àqueles dias, quando a reaproximação era a política oficial
dos Estados Unidos, produzindo um boom econômico que beneficiava a todos", decla-
raram os empresários.
[...]
EMPRESÁRIOS cubanos pedem a Biden que suspenda sanções econômicas. IstoÉ, [s. l.], 8 nov. 2021. Disponível em: https://
www.istoedinheiro.com.br/empresarios-
cubanos-pedem-a-biden-que-suspenda-sancoes-economicas/. Acesso em: 22 mar. 2022.
a) O que os empresários cubanos pleiteiam e está explícito no texto da notícia?
b) Uma das reivindicações dos empresários cubanos é voltar a permitir as viagens de estaduni-
denses para Cuba. O que explica a importância dessa reivindicação?
c) Com base no texto, é possível inferir que a diplomacia afeta a economia? Como?
d) Debate. Organizados em três grupos, preparem-se para debater sobre as sanções econômicas
impostas à Cuba. Um grupo deverá defender as sanções, o outro deverá falar a favor e o
terceiro fará a mediação.

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CAPÍTULO

10 NACIONALISMOS AFRICANO
E ASIÁTICO

KOSTADIN LUCHANSKY/ANGOLA IMAGE BANK/MOMENT OPEN/GETTY IMAGES

KEHINDE TEMITOPE ODUTAYO/SHUTTERSTOCK.COM IVANFOLIO/SHUTTERSTOCK.COM

1. Você sabe onde ficam essas cidades? Com qual ou quais cidades brasileiras se parecem? Dica: essas
cidades ficam todas na África e por seus portos saíram ancestrais de milhões de brasileiros.
2. Se a África possui cidades prósperas, como essas que você vê nas fotografias, por que, então, na
televisão e no cinema é mostrada quase sempre como uma grande savana habitada por leões, girafas
e elefantes? Por que a mídia quase nunca mostra cidades africanas? O que isso pode significar?

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Independências
Vimos que no século XIX os europeus se apossaram de grandes porções da Ásia e da
África e submeteram seus povos. A dominação europeia nesses continentes caracterizou-se
pela violência e, por vezes, pela irracionalidade; foram comuns práticas como o confisco
de terras, o uso de trabalho forçado, a cobrança de impostos abusivos e o racismo, que
oprimia os africanos e os asiáticos em sua própria terra. Esses fatores ajudam a explicar a
resistência africana e asiática à dominação europeia. Nos 30 anos que se seguiram ao final
da Segunda Guerra (1945), a imensa maioria dos povos daqueles continentes conquistou
sua independência. Vejamos como isso ocorreu.

Razões da independência
Os principais fatores da independência dos povos africanos e asiáticos foram:
a) a luta dos próprios africanos e dos asiáticos pela independência;
b) o enfraquecimento das potências colonialistas europeias por causa das perdas sofridas
durante a Segunda Guerra. No imediato pós-guerra, os europeus passaram a canalizar
seus esforços para a reconstrução de seus países. Isso facilitou a ação da resistência
africana e asiática ao colonialismo europeu;
c) a força de movimentos como o pan-africanismo e a negritude.
O pan-africanismo foi um movimento político-ideológico

GRANGER/FOTOARENA
surgido na América Central e nos Estados Unidos no início
do século XX, que visava transformar a situação de todos os
africanos e seus descendentes, chamados à época de “raça
negra”. A intenção dos líderes do movimento era libertá-los
da pobreza e da opressão. Para os líderes do pan-africanismo,
raça era um fator capaz de unir e conferir identidade aos diver-
sos povos negros da África na luta contra os dominadores.
Um importante pensador do pan-africanismo foi o jamai-
cano Marcus Garvey.. Ele dizia que a África, berço de grandes
civilizações, era uma “pátria livre”, pronta para receber seus
filhos. E, como considerava a situação do negro na América e na
Europa ruim, propunha o “retorno à África”. Considerando-se
um predestinado, ele próprio criou um organismo para promo-
ver a volta dos negros da Jamaica para a Libéria,, considerada
a nação-mãe dos negros de todo o mundo. Seu objetivo maior
era recuperar “a África para os africanos”.

Pensador jamaicano Marcus Garvey, 1920.

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PARA SABER MAIS
Os jamaicanos Garvey e Marley
O ideal de liberdade e unidade defendido por Garvey ganhou ritmo, melodia e letra
com o também jamaicano Bob Marley, um ícone da música afro no mundo todo. Marley,
o “rei do reggae
reggae”,”, inspirou-se na mensagem pan-africanista para compor importantes
músicas de seu repertório, como, por exemplo, “África, una-se”.

África, una-se
África, una-se A África espera por seus criadores,
Porque estamos saindo da Babilônia a África espera por seus criadores
E estamos indo para a nossa pátria. [...] África, você é minha ancestral
Então África, una-se [fundamental
Una-se para o bem do seu povo [...] Una-se para os africanos que estão no
Una-se para o bem de meus filhos mundo, una-se pelos africanos distantes
Una-se, pois é mais tarde do que você África, una-se!
[imagina
AFRICA Unite. Intérprete: Bob Marley. Compositor: Bob Marley. In: SURVIVAL.
Nova York: Island Records, 1979. Disco vinil, faixa 2. Tradução nossa.
ERIKA GOLDRING/GETTY IMAGES

Ziggy Marley, filho de


Bob Marley, durante
apresentação em um
festival na Louisiana
(EUA), 2019.

A negritude,, movimento político-literário nascido no final dos anos 1930, também


contribuiu com ideias que alimentaram as independências africanas. A negritude teve
entre seus principais representantes o senegalês Léopold Senghor, primeiro presidente do
Senegal (1960-1980), e Aimé Césaire, natural da Martinica, ambos escritores e poetas.
Eles defendiam a valorização das culturas negras e rejeitavam radicalmente a dominação
colonialista. A ideia central desse movimento era que os africanos e seus descendentes
tinham um patrimônio cultural comum, daí a necessidade de estreitamento e trocas cul-
turais entre eles e de busca por uma vida melhor e independente.

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A revista Présence Africaine,, fundada em

AP PHOTO/IMAGEPLUS
Paris, na França, em 1947, pelo filósofo sene-
galês Alioune Diop, teve um papel importante
na difusão da história africana, da negritude e
do pan-africanismo na Europa.
As lutas pela independência da África e da
Ásia também contaram com a solidariedade
dos países recém-libertos. Na Conferência de
Bandung,, realizada na cidade de Bandung, na
Indonésia, em 1955, 29 países independentes
se autodenominaram Terceiro Mundo,
Mundo, decla-
raram-se não alinhados,, ou seja, neutros
na Guerra Fria entre Estados Unidos e União
Soviética, e prometeram apoiar as indepen-
dências na África e na Ásia.
Terceiro Mundo: expressão criada em 1952 pelo estudioso
francês Alfred Sauvy, que definia os países pobres
independentes em contraste com as nações do
Primeiro Mundo, lideradas pelos Estados Unidos, Léopold Sédar Senghor, então presidente
e as do Segundo Mundo, lideradas pela União Soviética. do Senegal, na Academia de Letras de Paris
(França), 1983.
ULLSTEIN BILD/ULLSTEIN BILD/GETTY IMAGES

KEYSTONE-FRANCE/GAMMA-KEYSTONE/GETTY IMAGES

© HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS/CORBIS/GETTY IMAGES

Três líderes dos países participantes da Conferência de Bandung. Da esquerda para a direita: Jawaharlal
Nehru, primeiro-ministro da Índia, Ásia (fotografia de 1956); Josip Broz Tito, presidente da Iugoslávia,
Europa (fotografia de 1953); Gamal Abdel Nasser, presidente do Egito, África (fotografia de 1956).

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APIC/GETTY IMAGES
Ásia
Na Ásia, vamos acompanhar o movimento pela indepen-
dência na Índia.

Índia
No século XIX, a Índia era conhecida como a joia mais
preciosa da Coroa Britânica, tal a grandeza do lucro obtido Gandhi faz a própria roupa.
pelos britânicos no país. No início do século XX, a resistência Era uma forma de dizer que
indiana à dominação britânica passou a contar com a lide- os indianos não deveriam
comprar nem usar mais
rança de Mohandas Gandhi, mais conhecido como Mahatma tecidos ingleses. Índia,
(“Grande Alma”). c. 1945.

ESCUTAR E FALAR
O texto a seguir foi escrito por Mahatma Gandhi. Leia-o com atenção, reflita e
prepare-se para falar em público sobre ele.
A primeira coisa [...] é dizer-vos a vós mesmos: não aceitarei mais o papel de escravo.
Não obedecerei às ordens como tais, mas desobedecerei quando estiverem em conflito com
a minha consciência. O assim chamado patrão poderá surrar-vos e tentar forçar-vos
a servi-lo. Direis: não, não vos servirei por vosso dinheiro ou sob ameaça. Isso poderá
implicar sofrimentos. Vossa prontidão em sofrer acenderá a tocha da liberdade, que
não pode jamais ser apagada.
(GANDHI, [1920] apud CANÊDO, 1985, p. 45)

a A quem Gandhi está se dirigindo? Leve em conta o emissor e sua filosofia, bem
como o receptor.

b Explicite o conselho que ele dá a seus seguidores.

c Reflita e opine sobre a tática criada por ele.


Autoavaliação. Responda em seu caderno.
a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

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Para enfrentar a dominação inglesa, Gandhi propôs e liderou Desobediência civil:
desobediência dos
a resistência pacífica,, tática baseada na não violência e na cidadãos às leis que os
desobediência civil.
civil. Ou seja, os indianos eram incentivados a humilham ou discriminam
não usar nem comprar produtos ingleses, a desobedecer às leis que em sua própria terra.
os discriminavam dentro da própria Índia e a não pagar impostos Hindu: seguidor da
religião hinduísta.
como, por exemplo, o imposto sobre o sal. Natural ou habitante da
Nos anos 1930, o movimento de resistência pacífica alcançou Índia, indiano.
grande popularidade e reconhecimento internacional. Internamente,
Gandhi empenhou-se de várias formas (praticou inclusive a greve
Dialogando
de fome) para unir hindus e muçulmanos (24% da população na
Índia), em torno da luta pela independência. O movimento pela

independência
Pressionado pela resistência indiana e abalado pela crise
liderado por Gandhi
decorrente das perdas sofridas com a Segunda Guerra, o governo foi vitorioso. No
britânico aceitou negociar a independência com os indianos. Mas entanto, o esforço
optou pela divisão da Índia em dois países: dele para conciliar
hindus e muçulmanos
• República da Índia,, de maioria hindu;
atraiu o ódio de um
• República do Paquistão,, oriental e ocidental, de maioria mu­- radical hindu, que
çulmana. o assassinou em
Em 1971, o Paquistão Oriental constituiu um país separado, de 1948. O assassino
o acusava de ser
nome Bangladesh.. Observe o mapa.
tolerante com os
muçulmanos. O que
Índia: independência e partilha (1947) você pensa sobre a
90° L
RENATO BASSANI

intolerância religiosa?

AFEGANISTÃO CAXEMIRA

PUNJAB
CHINA
# DICA!
(Estado dos Sikhs)
PAQUISTÃO Trecho do filme
OCIDENTAL
(Atual PAQUISTÃO)
NEPAL
BUTÃO Gandhi, sobre a não
violência.
GANDHI:
Trópico de Câncer
desobediência civil.
Mar ÍNDIA BIRMÂNIA
Vídeo (3min49s).
Arábico PAQUISTÃO (Atual MIANMAR) Publicado pelo
ORIENTAL
(Atual BANGLADESH) canal: Dropps2005.
Disponível em:
https://youtu.
be/RldYvKySvx8.
Acesso em:
OCEANO 4 maio 2022.
Área contestada pela
Índia e pelo Paquistão
ÍNDICO
Independências: Fonte: A SOMBRA dos
1947 – Índia e Paquistão CEILÃO 0 350
1948 – Sri Lanka
ditadores: 1925-1950. São
(Atual SRI LANKA)
1971 – Bangladesh Paulo: Time-Life: Abril, 1993.
(História em revista, p. 108).

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África
Em 1945, o número de países africanos independentes era muito reduzido. Nos 30
anos seguintes, a maior parte da África tinha conquistado sua independência.

Congo
Com um território 80 vezes maior do que o da Bélgica e situado no coração da África, o
Congo foi inicialmente propriedade particular do rei belga Leopoldo II (1865-1909); depois,
passou à administração da Bélgica. Rico em cobre, zinco, manganês, urânio e diamante,
o Congo atraiu poderosas companhias internacionais, como a Unilever e a Companhia
Mineira do Alto Katanga, que exploravam suas riquezas em troca de baixíssimos salários
pagos aos congoleses.
A administração belga era autoritária e racista; os congoleses não tinham liberdade
de expressão nem de representação, e só podiam frequentar a escola por quatro anos.
Para lutar contra a opressão e a discriminação racial, os congoleses criaram em 1956 a
Associação do Baixo Congo (Abako),, chefiada por Joseph Kasavubu e, no ano seguinte,
o Movimento Nacional Congolês (MNC),, liderado por Patrice Lumumba.. Sob a lide-
rança de Lumumba, os congoleses organizaram uma série de manifestações de rua e
greves pela independência. Pressionados pela resistência congolesa, os belgas se retiraram
e, em 30 de junho de 1960, o Congo tornou-se independente; o primeiro chefe de governo
foi o próprio Patrice Lumumba.
Mas o projeto de Lumumba de
DALMAS/SIPA PRESS/AP IMAGES/IMAGEPLUS

unir os congoleses em torno de um


Estado nacional não prosperou. Com
o apoio dos Estados Unidos, a rica
província de Katanga moveu uma
guerra separatista contra as forças
de Lumumba, que, por sua vez,
recebiam ajuda da União Soviética.
A guerra civil terminou com a
vitória do coronel Joseph-Desiré
Mobutu, aliado dos estaduniden-
ses, que assumiu o poder em 1961.
Lumumba foi preso e assassinado
em circunstâncias misteriosas, o que
levou a Organização das Nações
Unidas (ONU) a intervir no país para Congoleses celebram a independência. República
assegurar a independência. Democrática do Congo, 30 de junho de 1960.

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Angola, Moçambique e Guiné-Bissau
Na África sob domínio português, a vida dos africanos também era marcada por intensa
exploração. Os angolanos, por exemplo, trabalhavam para os portugueses nas plantações
(de cana-de-açúcar, milho, café, amendoim), nas minas (de diamantes) e nas cidades, em
troca basicamente de roupa e comida, já que os melhores empregos eram reservados aos
portugueses vindos da metrópole. Em 1930, angolanos pressionaram o governo português
por melhores condições de trabalho e obtiveram uma conquista: o sistema de contrato..
Por meio dele, o governo português prometia pagar um salário aos trabalhadores africanos
e respeitar seus costumes e valores. Mas, no interior, isso pouco adiantou, pois a autoridade
eram os próprios colonos portugueses. Além disso, a PIDE, polícia política do governo por-
tuguês, liderada pelo ditador António de Oliveira Salazar, reprimia à bala toda e qualquer
manifestação popular angolana. A violência do governo português provocou um aumento
da consciência política e da resistência africana, dentro e fora da África.
Em Lisboa (Portugal), em 1951, um grupo de universitários vindos da África fundou o
Centro de Estudos Africanos.. Entre esses jovens estavam Amílcar Cabral (Guiné-Bissau),
Agostinho Neto e Mário Pinto de Andrade (Angola), Francisco Tenreiro (São Tomé
e Príncipe) e Noémia de Sousa (Moçambique). Essa geração de militantes africanos –
conhecida como “geração de 50” – usou a poesia como arma de combate ao colonialismo.
Muitos deles continuaram a luta por seus
DON CARL STEFFEN/GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES

ideais nos movimentos de libertação que se


formaram em seus países. Entre esses movi-
mentos estavam o Movimento Popular
para a Libertação de Angola ((MPLA), ),
liderado por Agostinho Neto, a Frente para
a Libertação de Moçambique ((Frelimo), ),
dirigida mais tarde por Samora Machel, e o
Partido Africano para a Independência
da Guiné e de Cabo Verde ((PAIGC), ), sob a
liderança de Amílcar Cabral.
Durante anos, o governo salazarista
enviou aviões e milhares de soldados
armados com metralhadoras para reprimir os
movimentos africanos pela independência, o
que adiou, mas não impediu a vitória desses
movimentos.

Agostinho Neto, primeiro Presidente da


República de Angola. Angola, c. 1970.

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A Revolução dos Cravos
Em Portugal, os gastos com a guerra na África (cerca de 40% do orçamento nacional)
e a morte de milhares de jovens soldados portugueses geraram forte descontentamento,
o que contribuiu para a eclosão da Revolução dos Cravos,, em 25 de abril de 1974.
Liderada por jovens oficiais das Forças Armadas portuguesas e contando com amplo
apoio popular, a Revolução dos Cravos derrubou a ditadura salazarista, que vigorava
em Portugal havia 42 anos.
Vitorioso, o novo governo português adotou o seguinte lema: “Democracia em
nosso país, descolonização na África”. E, depois de dissolver a polícia política portuguesa,
encaminhou o reconhecimento das independências africanas. Moçambique teve a
independência reconhecida em 25 de junho de 1974, sob a presidência de Samora
Machel;; Angola, em 11 de novembro de 1975, sob a presidência de Agostinho Neto..

JEAN-CLAUDE FRANCOLON/GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES

BERNARD BISSON/SYGMA/GETTY IMAGES

Multidão saiu às ruas durante a


Revolução dos Cravos. Lisboa
(Portugal), 25 de abril de 1974.

Admirador ostenta o retrato


do então recém-falecido
presidente Samora Machel.
Moçambique, 1986.

201

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A luta contra o apartheid na África do Sul
Em alguns países africanos independentes, os nativos tiveram Segregacionista: regime
de lutar contra a opressão de regimes segregacionistas como o que adota a segregação
racial: isolamento de uma
da Rodésia e o da África do Sul. coletividade com base na
No começo do século XX, a África do Sul, país rico em recursos cor da pele ou origem.
minerais, era habitada por povos negros, como os bosquímanos, Pixley Ka: líder político
da etnia zulu.
os xosas e os zulus, e por descendentes de holandeses e ingleses
Apartheid: palavra
(cerca de 15% da população). Essa minoria impôs à maioria negra que em africâner
uma série de leis segregacionistas em 1911. Diante disso, os negros, quer dizer separação.
liderados por Pixley Ka fundaram, no ano seguinte, um partido Africâner é o nome da
língua desenvolvida
político para lutar por seus direitos, o Congresso Nacional pelos descendentes de
Africano ((CNA).). holandeses que foram
para a África do Sul no
Em 1948, a minoria branca decidiu oficializar o apartheid
apartheid::
século XVII interessados
regime segregacionista que obrigava os negros a morar em lugares nas minas de ouro e
separados dos brancos, a frequentar escolas, praias e banheiros só diamantes da região.
para negros e a andar constantemente com um passe, de modo
que a polícia pudesse controlar seu deslocamento. Eram proibidos
também de possuírem terras em 87% do território nacional, apesar
de serem muito mais numerosos do que os brancos.
Reagindo a essa situação, o CNA promoveu várias manifesta-
ções contra o governo racista de seu país. Numa delas, em 1964, o
governo prendeu oito líderes do CNA, entre eles Nelson Mandela,
que foi condenado à prisão perpétua. Nas décadas seguintes, as
lutas pelo fim do racismo se intensificaram. Em junho de 1976,
milhares de estudantes negros foram às ruas de Johanesburgo, a
maior cidade do país, em protesto contra a imposição da língua
africâner nas escolas. A polícia
WILLIAM F. CAMPBELL/GETTY IMAGES

atirou contra as crianças e


os jovens que marchavam
vestidos com seus uniformes
escolares. Cento e setenta
crianças foram mortas no
episódio, que ficou conhecido
como Massacre de Soweto..

Pessoas embarcando em um
ônibus em que lemos em inglês
e africâner “Somente para não
brancos”. África do Sul, 1982.

202

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O fato chocou a opinião pública mundial: alguns países passaram a boicotar econo-
micamente a África do Sul, e a ONU determinou a proibição da venda de armas ao país.
Sob forte pressão interna e externa, o governo sul-africano anulou as leis do apartheid em
1990; Nelson Mandela foi libertado da prisão, o CNA recuperou a legalidade e os negros
passaram a ter os mesmos direitos civis e políticos que os brancos.
Em 1994, ocorreram as primei-

GEORGES MERILLON/GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES


ras eleições com a participação dos
negros na África do Sul. Mandela foi
eleito presidente da República e, com
o apoio da maioria no Parlamento,
conseguiu mais uma conquista:
aprovou a Lei de Direitos sobre
a Terra, que restituiu às famílias
negras as terras que lhes tinham sido
usurpadas havia décadas.

Outdoor com a imagem de Nelson


Mandela em que lemos “Vote para
ter emprego, paz e liberdade”.
África do Sul, 1994.

África: independências

RENATO BASSANI
EUROPA
TUNÍSIA
I. da Madeira Mar Mediterrâneo
(POR) MARROCOS
Is. Canárias ARGÉLIA
(ESP)
LÍBIA EGITO
SAARA OCIDENTAL
Trópico de Câncer (MAR)
Ma
rV
erm

MAURITÂNIA
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MALI
NÍGER
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CABO CHADE
ÁSIA
SENEGAL ERITREIA
VERDE
GÂMBIA BURKINA
GUINÉ-BISSAU GUINÉ FASO SUDÃO DJIBUTI
BENIN
TOGO

COSTA
GANA

SERRA LEOA NIGÉRIA REP. ETIÓPIA


DO
CENTRO-
LIBÉRIA MARFIM CAMARÕES -AFRICANA
SOMÁLIA
GUINÉ
EQUATORIAL UGANDA
Equador CONGO
GABÃO QUÊNIA 0º
SÃO TOMÉ E
PRÍNCIPE REPÚBLICA RUANDA OCEANO
DEMOCRÁTICA BURUNDI
DO CONGO ÍNDICO
OCEANO
Meridiano de Greenwich

TANZÂNIA SEICHELES
ATLÂNTICO
ANGOLA COMORES
MALAUÍ
ZÂMBIA
0 899
MOÇAMBIQUE
ZIMBÁBUE MADAGASCAR
NAMÍBIA
Trópico de Capricórnio BOTSUANA MAURÍCIO
Até 1945
SUAZILÂNDIA
Década de 1950
ÁFRICA LESOTO
Década de 1960 DO SUL

A partir de 1970

Fontes: SERRYN, Pierre; BLASSELLE, René. Atlas Bordas Géographique et Historique.


Paris: Bordas, 1993. p. 36-37; THE TIMES Atlas of World History.
Londres: Times Books Limited, 1990. p. 282-283.

203

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

ARCHIVES CHARMET/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA


I. Retomando
1 Observe a charge a seguir.
a) O que vemos na charge?
b) Como a charge interpreta os processos de inde-
pendência das colônias africanas?
c) Quais movimentos contribuíram para as inde-
pendências africanas?

Intenso outono de limpeza,


de Szego Gizi,
outubro de 1960.

2 Avalie as afirmações a seguir.


I. O pan-africanismo foi um movimento político-ideológico surgido como forma de resistência,
que visava transformar a situação da “raça negra”, libertando-a da pobreza e da opressão.
II. Um importante pensador do pan-africanismo foi o jamaicano Marcus Garvey. Garvey dizia
que a África era o berço de grandes civilizações, como Egito, Núbia e Etiópia; um lugar mítico,
“uma pátria livre” a qual os afro-americanos deveriam ajudar economicamente.
III. Considerando-se um predestinado, Garvey criou um organismo para promover a volta dos
negros da Jamaica para a Libéria, considerada a nação-mãe dos negros de todo o mundo.
Seu objetivo maior era recuperar “a África para os africanos”.
IV. A negritude, movimento político-literário nascido no final dos anos 1930, também contribuiu
com ideias que alimentaram as independências africanas.

Indique no caderno a alternativa correta, sendo V para as verdadeiras e F para as falsas.


a) V, F, V, F b) V, F, V, V c) F, V, F, F d) V, V, F, F

3 Copie no caderno as alternativas corretas e justifique sua escolha. Sobre as razões


das independências da África e da Ásia, cabe citar:
a) a luta dos nativos da África e da Ásia contra os dominadores europeus.
b) o enfraquecimento das potências europeias por causa das perdas sofridas durante a Segunda
Guerra Mundial; várias delas tinham colônias na Ásia e na África.
c) a falta de acordo entre os países africanos e asiáticos tendo em vista um objetivo comum.
d) movimentos como o pan-africanismo e a resistência pacífica, que também contribuíram para
as independências africanas e asiáticas.

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4 Ao final da Conferência de Bandung, seus participantes formularam dez princípios.
Apresentamos alguns deles a seguir. Leia-os com atenção e depois responda.
1o respeito aos Direitos do Homem [...] e à Carta

EDITORA SELO NEGRO EDIÇÕES


das Nações Unidas [...]
3o não ingerência nos assuntos internos de outros
países; [...]
5o abstenção de recorrer a acordos [...] que tenham
em vista servir aos interesses [...] de uma grande
potência; [...]
7o não recurso à força contra outro país;
8o resolução negociada dos problemas em litígio
e cooperação;
9o respeito pela justiça; [...]
HERNANDEZ, Leila M. G. Leite. A África na sala de aula: visita à história
contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 167.
a) Localize e aponte o princípio que incorpora as conquis-
tas obtidas com a Revolução Francesa e com o fim da
Segunda Guerra. Fac-símile da capa do livro A África
b) Qual princípio demonstra uma evidente preocupação na sala de aula: visita à história
contemporânea, de Leila Leite
com abusos decorrentes de acordos favoráveis aos
Hernandez.
mais fortes? Justifique.
c) Qual dos princípios propõe o diálogo como solução Litígio: falta de acordo entre pessoas
para os problemas entre pessoas e países? Justifique. sobre determinado ponto.
d) Em dupla. As resoluções da Conferência de Bandung
(1955) reafirmavam a liberdade e a igualdade entre os povos como elementos decisivos à
preservação da paz. O que se pode fazer para termos um mundo com mais igualdade?

5 Copie no caderno as alternativas corretas e justifique sua escolha. Quais fatos a


seguir caracterizam como foi o processo de independência indiano?
a) Os indianos passaram a desrespeitar leis que os dis- BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES
criminavam dentro de seu próprio país.
b) Os indianos se uniram e pararam de comprar pro-
dutos dos britânicos, bem como pagar as taxas
impostas por eles.
c) Os indianos adotaram a resistência pacífica, tática
baseada na não violência e na desobediência civil.
d) Os indianos destruíram lojas e sedes do governo
britânico, a fim de mostrar que não aceitariam mais
a dominação estrangeira.

Mahatma Gandhi. Índia, c. 1940.

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6 Leia as afirmações abaixo referentes ao processo de independência do Congo, iden-
tifique as alternativas corretas e justifique sua escolha.
a) Durante um longo tempo, o Congo foi propriedade particular do rei da Bélgica, Leopoldo II,
e ainda hoje depende da Bélgica politicamente.
b) A administração belga era autoritária e racista. Os congoleses só podiam frequentar a escola
por quatro anos e não havia liberdade de expressão nem direito de participação política.
c) O MPLA, liderado por Agostinho Neto, foi decisivo nas lutas pela independência do Congo.
d) Liderados por Patrice Lumumba, os congoleses organizaram uma série de manifestações de
rua e greves pela independência. Pressionados, os belgas se retiraram do Congo e o país se
tornou independente.
e) Após a independência, o Congo viveu uma longa guerra civil. Parte das forças era apoiada
pelos Estados Unidos e a outra, pela União Soviética. Esse conflito culminou com a vitória do
coronel Mobutu, aliado dos Estados Unidos.

7 Leia o trecho do poema de Agostinho Neto.


Não basta que seja pura e justa a nossa causa
É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.
[…]
Lutar pra nós é ver aquilo que o povo quer realizado.
É ter a terra onde nascemos.
É sermos livres pra trabalhar.
É ter para nós o que criamos.
Lutar para nós é um destino.
É uma ponte entre a descrença
e a certeza do mundo novo.
AGOSTINHO NETO. Do povo buscamos a força. Revista Raça, [s. l.], n. 191, out. 2016.
a) Interprete. Qual é a mensagem do poeta na primeira estrofe?
b) De acordo com o poema, lutar para quê? Quais foram os objetivos da guerra da independência
angolana?
c) O poeta transmite esperança ou descrença na possibilidade de mudar o mundo? Justifique.

8 Por meio de pressões populares, os angolanos conquistaram o sistema de contrato.


O governo português prometeu pagar salários aos trabalhadores e respeitar seus
costumes e valores. Como ficou a situação da população após essa conquista?
Copie em seu caderno a alternativa correta.
a) No interior, isso pouco adiantou, pois os colonos portugueses não mudaram o seu compor-
tamento, além de a PIDE reprimir com violência os protestos angolanos.
b) Melhorou, pois os colonos portugueses não podiam mais explorar os trabalhadores, porém
ainda eram racistas e não se importavam com os costumes da população.
c) Piorou, pois os colonos não gostaram de ser intimados pelo governo português e intensificaram
a exploração da população nativa.
d) Melhorou, pois os angolanos passaram a exercer cargos públicos de prestígio e bem remune-
rados, apesar de ainda enfrentarem uma grande resistência dos portugueses.

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9 Leia o texto a seguir com atenção.

Revolução dos Cravos


Há [mais de] 40 anos o mundo presenciou uma das revoluções mais impor-
tantes do século XX. Do outro lado do Atlântico, Portugal amanhecia para o golpe
[...] que deporia 48 anos de ditadura salazarista. [...]
Foi um golpe peculiar. [...] Em vez de tiros, flores. Os tais cravos se tornaram
um capítulo à parte na história do acontecimento. A versão oficial conta que uma
moça que trabalhava em um restaurante perto do Terreiro do Paço, onde os capi-
tães do MFA, liderados pelo general António de Spínola, entravam em formação,
foi a responsável pela distribuição das flores. Ela levava cravos para casa quando
um soldado pediu-lhe um cigarro. Ela não tinha e no lugar disso deu-lhe a flor.
O jovem colocou o cravo no cano de seu fuzil, ato repetido por outros colegas e,
depois, pela tropa rebelde.
Os símbolos de delicadeza romantizaram a memória da Revolução de 25 de
abril não só em Portugal, mas em todos os países onde floresciam movimentos
pró-democracia. Pensar que um regime que mantinha centenas de presos políticos
em colônias penais, censurava as artes e a imprensa e oprimia o povo podia ser
derrubado de forma pacífica encheu o mundo de esperança. [...]
PAULINO, Mariana. Os 40 anos da Revolução dos Cravos.
Desafios do desenvolvimento, Brasília, DF, ano 11, ed. 81, 5 outubro 2014.
a) Explique por que o movimento que depôs o regime salazarista, que governou Portugal por
mais de quatro décadas, ficou conhecido como Revolução dos Cravos.
b) Além do motivo pelo qual ficou conhecido como Revolução dos Cravos, por qual outra razão
é possível dizer que o golpe que derrubou a ditadura salazarista foi “peculiar”?
c) Com seus colegas e o professor, ouçam a música "Grândola, Vila Morena", de José Afonso,
e discutam por que ela teria sido censurada pelo regime.

II. Leitura e escrita em História


Vozes do presente

O trecho a seguir é de Mia Couto, escritor, poeta e jornalista moçambicano que


acompanhou o processo de independência de seu país. Leia-o com atenção.
Nasci e cresci numa pequena cidade colonial, num mundo que já morreu. Desde
cedo, aprendi que devia viver contra o meu próprio tempo. A realidade colonial estava
ali, no quotidiano, arrumando os homens pela raça, empurrando os africanos para
além dos subúrbios. Eu mesmo, privilegiado pela minha cor da pele, era tido como
um “branco de segunda categoria”. Todos os dias me confrontava com a humilhação
dos negros descalços e obrigados a sentarem-se no banco de trás dos autocarros, no

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banco de trás da Vida. Na minha casa vivíamos paredes-meias com o medo, perante
a ameaça de prisão que pesava sobre o meu pai, que era jornalista e nos ensinava
a não baixar os olhos perante a injustiça. A independência nacional era para mim o
final desse universo de injustiças. Foi por isso que abracei a causa revolucionária como
se fosse uma predestinação. Cedo me tornei um membro da Frente de Libertação de
Moçambique e a minha vida foi, durante um tempo, guiada por um sentimento épico
de estarmos criando uma sociedade nova.
No dia da Independência de Moçambique eu tinha 19 anos.
Alimentava, então, a expectativa de ver subir num mastro uma
bandeira para o meu país. Eu acreditava, assim, que o sonho de

LACAZ RUIZ/FUTURA PRESS


um povo se poderia traduzir numa simples bandeira. Em 1975,
eu era jornalista, o mundo era minha igreja, os homens
a minha religião. E tudo ainda era possível.
Na noite de 24 de Junho, juntei-me a milhares de
outros moçambicanos no Estádio da Machava para
assistir à proclamação da Independência Nacional,
que seria anunciada na voz rouca de Samora Moisés
Machel. O anúncio estava previsto para a meia-
-noite em ponto. Nascia o dia, alvorecia um país. [...] Mia Couto, São José dos Campos (SP), 2019.
COUTO, Mia. Moçambique – 30 anos de independência: no passado, o futuro era melhor?
Revista Via Atlântica, São Paulo, v. 1, n. 8, p. 191-204, 2005.

a) Mia Couto afirma que presenciou, em Moçambique, “negros descalços e obrigados a sentarem-
-se no banco de trás dos ônibus”. Em que outro país africano essa prática discriminatória era
comum? Que política tornava essa discriminação oficial?
b) Havia censura à imprensa em Moçambique durante o período colonial? Justifique utilizando
um trecho do texto.
c) Interprete. O que Mia Couto quis dizer com a frase: “os homens [eram] a minha religião”?

ESCUTAR E FALAR
Em dupla.
dupla. Pesquisem e se preparem para falar sobre a vida e a obra de Mia Couto,
um dos principais escritores africanos da atualidade.
Autoavaliação. Responda em seu caderno.
a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

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CAPÍTULO

11 BRASIL: UMA EXPERIÊNCIA


DEMOCRÁTICA (1945 A 1964)

REVISTA O CRUZEIRO

ARQUIVO/AGÊNCIA ESTADO/AE
À esquerda, Juscelino
Kubitschek em capa da revista
O Cruzeiro, de 7 de maio
de 1960. À direita, o cantor
e violonista João Gilberto,
considerado um dos criadores
do ritmo Bossa Nova. São Paulo
(SP), 1965.

Entre 1945 e 1964, ocorreram muitas novidades no cenário brasileiro, como a cons-
trução de Brasília (1960); o surgimento de um novo estilo musical, a “Bossa Nova”; o
brilhantismo da Seleção Brasileira, especialmente de jogadores como Didi, Pelé, Bellini e
Garrincha. Tudo isso marcou os brasileiros que viveram aqueles tempos. Você gosta de
futebol? E de música? Você acha Brasília uma cidade interessante? Sabe quem a projetou?
O que mais você sabe sobre aqueles tempos?
PICTORIAL PARADE/ARCHIVE PHOTOS/GETTY IMAGES

AP PHOTO/IMAGEPLUS

O técnico Vicente Feola segura a taça Jules Rimet ao


lado do capitão Hideraldo Luiz Bellini (à esquerda) e do
goleiro Gilmar dos Santos Neves (à direita), após o Brasil
Pelé e Garrincha. Brasil, 1968. vencer a Copa do Mundo de 1958. Estocolmo, Suécia.

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Segundo o historiador Jorge Ferreira, de
CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA/GRUPO RECORD EDITORIAL

1945 a 1964 o Brasil viveu uma experiência


democrática.. Com a volta da liberdade de
democrática
imprensa e da livre manifestação de ideias,
os grupos organizados da sociedade civil
formularam dois grandes projetos de nação,
que disputaram entre si a preferência dos
eleitores brasileiros.

Experiência democrática: a democracia é um regime


em que os cidadãos podem manter e ampliar seus
direitos. Uma democracia pode ter limitações, mas ela
garante a liberdade para lutar contra essas limitações,
para as pessoas exprimirem opiniões e para que as
diferenças de ideias, religião, cor e gênero convivam.
A democracia anda junto com a liberdade e a tolerância.

Fac-símile da capa do livro


O Brasil republicano, de Jorge
Ferreira e Lucília Delgado.

Um desses projetos era o nacionalista. Seus defensores estavam reunidos em torno


do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), fundado por Getúlio Vargas. O outro projeto era
liberal no campo da economia e conservador na política. Os defensores desse projeto
eram moralistas, anticomunistas e antigetulistas. Seu principal defensor era Carlos Lacerda,
líder da União Democrática Nacional (UDN). Conheça os principais pontos desses projetos
observando o quadro.

Projeto nacionalista X Projeto liberal


Líder: Getúlio Vargas Líder: Carlos Lacerda
1. A economia devia caminhar com a menor
1. O Estado devia intervir na economia, investindo interferência possível do Estado, devendo ser
em áreas estratégicas, como petróleo, siderurgia e regulada pelas “leis do mercado”. O desenvolvimento
transporte, e incentivando os investimentos privados. devia apoiar-se nas empresas privadas nacionais e
estrangeiras.

2. A entrada do capital estrangeiro devia ser controlada 2. Os capitais e as empresas estrangeiras deviam
pelo Estado, que também devia regular as remessas ter liberdade para atuar no Brasil, inclusive quanto
de lucros para o exterior. à remessa de lucros.

3. O governo devia manter uma posição de 3. O governo brasileiro devia se aliar aos Estados
independência em relação aos Estados Unidos Unidos de forma incondicional, ajudando-os
da América. a combater o comunismo.

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JAMES WHITMORE/THE LIFE IMAGES COLLECTION/SHUTTERSTOCK.COM
Governo Dutra
Com a deposição de Vargas, em 1945, os bra-
sileiros, incluindo-se aí as mulheres, exerceram pela
primeira vez o voto direto e secreto em eleições para
presidente da República. O vencedor nessas eleições
foi o general Eurico Gaspar Dutra.
O governo Dutra (1946-1950) coincidiu com o
O presidente Eurico Gaspar Dutra
início da Guerra Fria, que, como vimos, colocou em (à esquerda) em visita ao presidente
lados opostos os Estados Unidos e a União Soviética. dos Estados Unidos, Harry Truman,
Dutra optou por aliar-se declaradamente aos Washington, D.C. (EUA), 1949.

Estados Unidos; por isso, rompeu relações diplomáticas com a União Soviética e, com a
aprovação do Poder Legislativo, cassou o registro do Partido Comunista do Brasil (PCB) e os
mandatos dos políticos eleitos por esse partido, como o renomado escritor Jorge Amado.
Durante o governo Dutra também foi discutida, votada e aprovada uma nova
Constituição, a quinta do Brasil.

A Constituição de 1946
A Constituição de 18 de setembro de 1946:
• definia o Brasil como uma República Federativa Presidencialista;
• garantia ampla liberdade de pensamento, de expressão e de associação;
• concedia grande autonomia a cada um dos três poderes;
• permitia o direito de voto a todos os brasileiros maiores de 18 anos de idade, de ambos os
sexos, mas mantinha a restrição aos não alfabetizados (metade da população brasileira);
• garantia aos trabalhadores o direito de greve, mas proibia as greves em “atividades
essenciais”, como transporte, saúde, segurança etc.
Na economia, o governo Dutra adotou inicialmente o liberalismo econômico, faci-
litando a livre importação de mercadorias.. O Brasil passou, então, a importar uma
grande quantidade de bens de consumo, como cigarros, chicletes, perfumes, carros, gela-
deiras etc. Com isso, em apenas um ano e meio esgotou quase todas as reservas que
tinha acumulado durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, Dutra restabeleceu
o controle sobre as importações: dificultou a entrada de bens de consumo e incentivou a
compra de produtos, como máquinas e equipamentos, necessários à indústria nacional.
Ao mesmo tempo, houve um aumento do preço do café no Reserva: poupança em moeda
exterior; assim, a economia brasileira voltou a crescer. Os salá- estrangeira, normalmente o
rios, porém, não acompanharam a alta dos preços, fato que dólar, utilizada para realizar
transações no exterior.
prejudicava os mais pobres.

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As eleições de 1950
No início de 1950, o clima de insatisfação popular com o governo Dutra era grande.
Os operários se mobilizavam no chão das fábricas para exigir melhores condições de tra-
balho e de vida. Nesse ambiente conturbado, ocorreu uma nova campanha eleitoral para
a presidência da República. Os comícios voltaram a lotar as praças do país. Defendendo a
ampliação das leis trabalhistas e os investimentos na indústria de base, e prometendo que
o povo subiria com ele os degraus do Palácio do Catete, Getúlio Vargas obteve 48,7%
dos votos, vencendo as eleições presidenciais de 1950.

ACERVO ICONOGRAPHIA
Dialogando
Observe a imagem com

atenção.
a O que está ocorrendo
na cena?
b O que explica o fato de
um “ditador” continuar
sendo tão popular?
c Já assistiu a uma
campanha política
ou participou dela?

Getúlio Vargas durante a


campanha eleitoral de 1950.

O segundo governo Vargas


No segundo governo Vargas, a rivalidade entre os nacionalistas e os liberais se intensi-
ficou em razão da questão do petróleo. Os nacionalistas, liderados por Vargas, propunham
que a exploração e o refino do petróleo fossem feitos pela indústria brasileira. Já os liberais,
encabeçados pela União Democrática Nacional (UDN), eram favoráveis a que fossem feitos
por empresas estrangeiras que já atuavam no Brasil, como Esso, Texaco, Shell etc.
Para defender sua posição, os nacionalistas organizaram uma campanha nacional com
o slogan “ “O petróleo é nosso”. ”. A vitória nessa disputa coube aos nacionalistas. Em 3 de
outubro de 1953, foi criada a Petrobras, empresa estatal que tinha o monopólio da extração,
do refino e do transporte marítimo do petróleo brasileiro. Levando adiante seu nacionalismo,
Vargas propôs também uma lei que limitava a remessa para o exterior
Monopólio: dos lucros das empresas estrangeiras instaladas no Brasil. Dessa vez,
exclusividade, controle.
porém, a oposição venceu e a lei foi barrada no Congresso.

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Trabalhismo e radicalização política
Durante seu segundo governo, Vargas con-

ACERVO ICONOGRAPHIA
tinuou a adotar o trabalhismo, seja dirigindo-se
aos trabalhadores pelo rádio, com intimidade e
frequência, seja promovendo “encontros pessoais”
com eles em grandes comícios. Neles, Vargas pro-
metia ampliar os benefícios da legislação trabalhista
sistematizada e aprovada em seu governo. Mas,
na época, a insatisfação entre os trabalhadores
era grande, pois os salários não acompanhavam
o aumento do preço dos alimentos, das roupas
e dos aluguéis. Ou seja, o poder aquisitivo do
trabalhador vinha diminuindo. Por isso, em 1953,
explodiram greves por aumentos de salário em
todo o país.
Para enfrentar essa situação, Vargas nomeou
para o Ministério do Trabalho o político gaúcho
João Goulart, mais conhecido como Jango. À
frente do Ministério do Trabalho, Jango negociou
com os grevistas e prometeu aumentar o salário
mínimo em 100%. Isso, porém, irritou a UDN e
Carlos Lacerda após
seus aliados nos meios militares. Eles passaram a exigir a renún- o atentado da Rua
cia de Jango, acusando-o de proximidade com os comunistas. Tonelero. Rio de
Pressionado por eles, Jango deixou o Ministério. Em compensação, Janeiro (RJ), 1954.
o
no dia 1 de maio de 1954, Vargas autorizou o aumento de 100%
no salário mínimo.
Usando o aumento do salário como argumento, o jornalista
Carlos Lacerda, com o apoio dos grandes jornais, intensificou a
campanha difamatória contra Getúlio Vargas. No final de seus dis-
cursos inflamados ou em entrevistas à grande imprensa, Lacerda
exigia a renúncia do presidente.
Nesse ambiente de radicalização política, DICA! #
ocorreu um fato novo: Carlos Lacerda foi vítima de
Reportagem sobre o atentado contra
um atentado à bala, o atentado da Rua Tonelero;; Carlos Lacerda.
ele escapou com vida, mas seu segurança, o major A LIGAÇÃO entre o atentado a Carlos
Lacerda e o Palácio do Catete. 2011.
da Aeronáutica Rubens Vaz, morreu. Ao investigar
Vídeo (10min52s). Publicado pelo canal
o caso, os oficiais da Aeronáutica descobriram que Estudos Históricos. Disponível em:
Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de https://youtu.be/uYcxvD_uTr0.
Acesso em: 22 mar. 2022.
Vargas, era o mandante do crime.

213

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O suicídio de Vargas
Grandes jornais, como O Estado de S. Paulo e O Globo,, do Rio de Janeiro, redo-
bravam seus ataques ao presidente Vargas. Carlos Lacerda, por sua vez, defendia o golpe
militar: pedia aos generais que derrubassem Getúlio para pôr fim ao “mar de lama”. No
dia 22 de agosto, oficiais da Aeronáutica lançaram um manifesto exigindo a renúncia de
Vargas. No dia seguinte, os generais do Exército fizeram a mesma exigência. Sob forte
pressão, Vargas escreveu uma carta ao povo e, em seguida, matou-se com um tiro no
coração.
Quando o locutor do telejornal Repórter Esso informou que Vargas tinha se suicidado,
em 24 de agosto de 1954, uma onda de dor e indignação percorreu o país. O comércio
e a indústria fecharam as portas. Uma multidão enfurecida tombou e incendiou os cami-
nhões de entrega de jornais da oposição. A embaixada dos Estados Unidos foi atacada e
apedrejada por populares. Os principais adversários de Vargas, entre eles Carlos Lacerda,
fugiram do país, com medo da fúria popular.

Lott garante a posse de JK


No ano seguinte ao da morte de Getúlio Vargas,
ESTADÃO CONTEÚDO

em 1955, o povo brasileiro elegeu Juscelino Kubitschek


de Oliveira como presidente da República e João
Goulart como vice-presidente.
A UDN não se conformou com a derrota nas
eleições; Carlos Lacerda, seu principal líder, queria
depor o presidente legitimamente eleito com base
na Constituição de 1946. E, por isso, passou a dizer
que os eleitos não tinham a maioria absoluta (50%
mais um), que eram apoiados pelos comunistas e que
era necessário um golpe militar para impedir a posse
de Juscelino e Jango. Mas o golpe não aconteceu: o
general legalista Henrique Teixeira Lott colocou seus
soldados nas ruas do Rio de Janeiro e obrigou os gol-
pistas a fugirem. Com isso, ele Legalista: favorável ao
cumprimento da lei;
garantiu a posse de Juscelino
da Constituição.
Kubitschek.

Pessoas saúdam o candidato Juscelino Kubitschek


durante comício em São Paulo (SP), 1955.

214

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Governo Juscelino: “50 anos em 5”
Juscelino Kubitschek, conhecido como JK, elegeu-se prometendo que faria o Brasil
progredir 50 anos em 5 (tempo de duração de seu mandato). Sua política de desenvol-
vimento, conhecida como desenvolvimentismo,, defendia a industrialização acelerada
como forma de desenvolver e modernizar o país. Mas, enquanto para Vargas o governo
devia controlar a entrada de capital estrangeiro, para Juscelino o governo devia atrair
capitais estrangeiros, facilitando às empresas multinacionais aqui instaladas a importação
de equipamentos e concedendo a elas isenção de impostos por vários anos.
Com estilo otimista e arrojado,

ACERVO ICONOGRAPHIA
Juscelino iniciou seu mandato apresen-
tando ao país seu Plano de Metas::
um plano de governo que previa inves-
timentos públicos em cinco grandes
áreas: energia,, transporte,, indús-
tria,, alimentação e educação..
O governo JK ofereceu facilidades e
incentivos a empresas multinacionais
que, com isso, instalaram fábricas no
Brasil para produzir bens de consumo.
consumo.
Entre essas empresas estavam fábricas
de veículos do ABCD Paulista,
Paulista, como
a Willys Overland, a Ford, a General Juscelino Kubitschek visita a fábrica de veículos
Motors e a Volkswagen. Volkswagen. São Bernardo do Campo (SP), 1959.

Brasil: distribuição de verbas


públicas por setor durante o governo Multinacional: grande empresa
com sede em um país, mas que
Juscelino (1956-1960)
atua em diversos países, em busca
EDITORIA DE ARTE

de mercado consumidor, matéria-


-prima e mão de obra barata.
Bem de consumo: bem voltado
Energia Transporte para o consumo individual;
44% 29% pode ser classificado em bem
de consumo imediato, como
alimentos, e bem de consumo
durável, como automóveis, fogões,
Alimentação
Indústria televisores etc.
3%
20%
ABCD Paulista: região do estado
de São Paulo formada pelos
Educação
centros industriais de Santo André,
4%
São Bernardo do Campo,
Fonte: MARANHÃO, Ricardo. O governo de Juscelino Kubitschek. São Caetano do Sul e Diadema.
São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 85.

215

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Brasília: a metassíntese
Indústria de base: Coerente com seu plano, o governo investiu milhões na indús-
indústria que fabrica tria de base construindo siderúrgicas, como Usiminas e Cosipa;
matérias-primas e demais
produtos necessários a hidrelétricas, como Três Marias e Furnas; portos e mais de 20 mil
outras indústrias, como quilômetros de estradas de rodagem.
aço, máquinas, motores, Durante o governo de JK, a produção industrial cresceu 80%.
energia etc.
Em termos empresariais, a indústria automobilística foi um sucesso.
Puxada pelo setor industrial, a economia brasileira cresceu a uma
taxa média anual de 8,1%, indício de que, no geral, o Plano de
Metas foi bem-sucedido. Muitas de suas metas foram alcançadas,
inclusive a construção de Brasília, conhecida como meta-síntese..
A ideia da construção de Brasília não era nova. Há muito se
pensava em mudar a capital para o interior do país. Coube, no
entanto, ao governo Juscelino a glória dessa obra, planejada pelo
arquiteto Oscar Niemeyer e pelo urbanista Lúcio Costa. Mas, para
que essa ideia se transformasse em realidade, foi necessário que
milhares de pessoas humildes e desconhecidas, vindas de vários
cantos do país, trabalhassem muito durante três anos consecutivos.
Por meio do trabalho dessas pessoas – chamadas de candangos –,
Juscelino pôde inaugurar Brasília em 21 de abril de 1960.
MARCEL GAUTHEROT/IMS

Trabalhadores constroem
um dos prédios do
Congresso Nacional.
Brasília (DF), c. 1958.

216

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Crescimento industrial e desigualdades regionais
O governo JK conseguiu promover uma arrancada industrial. A meta 27 (indústria
automobilística) foi totalmente alcançada. Porém, essa opção do governo JK pela “civili-
zação do automóvel” desconsiderou a necessidade de ampliação dos meios de transporte
coletivo; as ferrovias foram praticamente abandonadas, e o transporte de pessoas e mer-
cadorias passou a depender cada vez mais das estradas de rodagem, do petróleo e de
seus derivados.
O crescimento econômico no governo JK criou um clima de otimismo e gerou muitos
empregos, mas não beneficiou igualmente todas as regiões brasileiras. As indústrias
recém-criadas concentraram-se no Centro-Sul, o que aumentou ainda mais as diferenças
socioeconômicas entre as regiões do país. Ocorreu
então uma forte migração para o Centro-Sul;
milhares de nordestinos e de mineiros (do inte-
rior do estado) deixaram sua terra natal e se
mudaram para São Paulo, Rio de
Janeiro e Belo Horizonte
em busca de emprego
na indústria.

Migrantes nordestinos
chegam à cidade
de São Paulo em
caminhão do
Rodoviário Recifense.
São Paulo (SP), 1960.

JORGE CUNHA/ACERVO UH/FOLHAPRESS

Pontos positivos do governo JK Pontos negativos do governo JK


Democracia política Inflação alta
Crescimento industrial Aumento das desigualdades sociais e regionais

Ao final do mandato de JK, em 1960, ocorreram eleições presidenciais, vencidas


pelo advogado e professor Jânio da Silva Quadros, candidato apoiado pela UDN. Para
vice-presidente venceu novamente João Goulart (PTB coligado ao PSD), adversário político
de Jânio Quadros. Isso foi possível porque, na época, permitia-se que o eleitor votasse no
candidato de uma chapa para presidente e no de outra chapa para vice-presidente.

217

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Governo Jânio Quadros
Quando Jânio assumiu o governo, em 1961, a inflação e a
dívida externa brasileira estavam altas. O governo Jânio decidiu,
GE

então, restringir o gastos do governo. Para isto:


OR
GE
TO
R
OK
/O
CR

1o
UZ

Diminuiu o crédito aos empresários.


EI
RO
/E
M
/D

2o Congelou salários.
A .
PR
ES
S

Cortou a ajuda governamental às importações de trigo e de petróleo,


3o o que provocou um aumento de 100% nos preços do pão e dos
combustíveis.

Com essa política, o governo ganhou a confiança


do Fundo Monetário Internacional (FMI) e conseguiu
renegociar a dívida externa, mas descontentou
a população brasileira e perdeu popularidade.
Outro fator de desgaste de Jânio Quadros
foi seu envolvimento com questões incom-
patíveis com o cargo de presidente
da República: a proibição do uso de
biquíni nas praias e das brigas de galo
em todo o território nacional.

Para ganhar votos,


FPG/HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

Jânio prometia que,


se eleito, iria “varrer
a corrupção” no
governo. E, para
reforçar essa imagem
de honestidade,
usava uma vassoura
como símbolo de sua
campanha. O jingle da
campanha de Jânio
tinha versinhos muito
repetidos na época:
“Varre, varre [...],
vassourinha/varre,
varre a bandalheira/que
o povo já tá cansado/
de sofrer dessa
maneira”. Fotografia da O maiô de duas peças (biquíni) havia substituído o maiô tradicional
campanha presidencial (de uma peça só). Jânio considerou o biquíni ofensivo aos “bons
de 1960. costumes”, por isso proibiu seu uso nas praias. Início dos anos 1960.

218

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A política externa independente
Externamente, o governo Jânio negou-se a manter o alinhamento do Brasil aos Estados
Unidos e iniciou conversações para reatar relações diplomáticas com a União Soviética e
com a China comunista. Além disso, Quadros colocou-se contra a invasão de Cuba pelos
Estados Unidos e declarou seu apoio aos países africanos que lutavam para se tornar
independentes de Portugal. Essa política externa independente descontentou profun-
damente os Estados Unidos, boa parte dos chefes militares brasileiros e os líderes da UDN,
entre os quais estava Carlos Lacerda. Sem se importar com isso, em 19 de agosto de 1961,
Jânio condecorou o ministro cubano e ex-guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara com a mais
alta honraria da nação brasileira: a Ordem do Cruzeiro do Sul.

A renúncia de Jânio
Depois da homenagem a “Che”, militares

APPE
pró-EUA e civis liderados por Carlos Lacerda
passaram a acusar Jânio de ser aliado dos comu-
nistas e de pretender instalar uma ditadura no
Brasil. Em 25 de agosto de 1961, Jânio surpreen-
deu tanto seus eleitores quanto seus opositores:
renunciou à presidência da República e deixou
uma carta para ser entregue ao Congresso.
Para os historiadores, a renúncia de Jânio
Quadros foi uma tentativa de golpe; Jânio apos-
tava que seria reconduzido ao poder nos braços
do povo e teria poderes para governar sem dar
satisfações ao Congresso. Se essa foi a intenção
dele, o golpe falhou: o Congresso aceitou seu
pedido de renúncia e a população não reagiu.
Jânio tinha adversários poderosos: a maioria no
Congresso era da oposição (PSD e PTB); muitos
empresários e chefes militares eram contrários à
sua política externa independente; e as camadas
populares estavam insatisfeitas com a compres- Charge de Appe publicada na revista
são dos salários e a alta da inflação. O Cruzeiro em 7 de outubro de 1961.

Dialogando
O personagem que pula do prédio em que está escrito “presidência” é Jânio Quadros. Observe a

cena com atenção. O que o artista quis ironizar nessa charge?

219

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Governo João Goulart
Com a renúncia do presidente, o vice-presidente João Goulart devia assumir o governo.
Era isso o que dizia a Constituição. Mas nem todos eram favoráveis à posse de Jango.
UDN, ministros militares alinhados aos Estados Unidos, grandes empresários nacionais
e estrangeiros eram contrários à posse de Jango, a quem acusavam de ligação com o
comunismo internacional.
Líderes de movimentos sindicais e estudantis, entre outros, e alguns governadores de
estado – especialmente o do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola – eram favoráveis à posse
de Jango. E, por quererem o cumprimento da Constituição, eram chamados de legalistas.
ACERVO ICONOGRAPHIA

PARA SABER MAIS


Rede da Legalidade
[...] No Rio de Janeiro, o marechal
Lott expressou a divisão nas Forças
Armadas e lançou um manifesto à
nação, pela defesa da ordem constitu-
cional. E então, no Rio Grande do Sul,
o governador Leonel Brizola decidiu
que era hora de agir. Sua intenção era
trazer Goulart a Porto Alegre e garantir
a posse a todo custo. Brizola era a prin-
Brizola falando para a Rede da Legalidade.
cipal liderança da ala mais à esquerda Porto Alegre (RS), 1961.
do PTB, além de cunhado de Jango. [...]
[...] O governador pôs em ação a poderosa Brigada Militar gaúcha e determinou
a transferência dos estúdios da Rádio Guaíba para o subsolo do Palácio Piratini. Ato
contínuo, postou um destacamento da Guarda de Choque com três metralhadoras
pesadas protegendo a antena transmissora e a torre, na ilha da Pintada, a doze
quilômetros de Porto Alegre. Fez o teste e mandou o locutor anunciar: “Esta é a
Rádio da Legalidade, transmitindo dos porões do Palácio Piratini, na capital do Rio
Grande do Sul”. Com o microfone na mão, Brizola sublevou o estado e mobilizou o
resto do país a agir em defesa da Constituição. A Rádio da Legalidade transmitia
24 horas, por ondas curtas, centralizava as transmissões de aproximadamente 150
outras rádios, e era ouvida em todo o Brasil e no exterior. Brizola sabia bem o risco
que estava correndo. Armou a população para a resistência, convocou uma multidão
a ocupar a praça da Matriz, defronte ao palácio [...].
SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 434-435.

220

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COLEÇÃO PARTICULAR

O país caminhava em direção a uma


guerra civil quando o Congresso propôs
uma solução política para a crise. João
Goulart poderia assumir a presidência da
República, desde que aceitasse o parla-
mentarismo, sistema em que o chefe do
governo é o primeiro-ministro e não o
presidente da República. Jango aceitou;
mas logo que tomou posse, em setembro
de 1961, começou a articular a volta do
presidencialismo. A Constituição previa a
realização de um plebiscito para ver se o
povo queria o parlamentarismo ou o pre-
sidencialismo. Em 6 de janeiro de 1963,
mais de 80% dos eleitores disseram não
ao parlamentarismo,, devolvendo a
chefia do governo a João Goulart.
Primeiro-ministro: político escolhido pela maioria
do parlamento para ser chefe do governo.
Plebiscito: consulta à população.

Cartaz do plebiscito de 1963


contra o parlamentarismo e a
favor da volta do presidencialismo.

ESCUTAR E FALAR

Pesquise e descubra qual dos meios é mais


seguro: a cédula em papel ou a urna eletrônica.
Prepare-se para expor aos colegas a conclu-
são a que você chegou.
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Autoavaliação. Responda em seu caderno. PHOTO VE
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a Expressei minhas ideias com objetividade?


b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

221

209a228-HIS-F2-2111-V9-U3-C11-LA-G24.indd 221 03/09/22 22:33


Reforma eleitoral: Como chefe de governo, Jango prometeu realizar as Reformas
previa a concessão
do voto aos não
de Base:: agrária, administrativa, bancária, tributária, eleitoral e
alfabetizados. Houve educacional. Com isso, buscava se aproximar das camadas populares
grande reação. Achava-se e de setores das camadas médias favoráveis à mudança social. Mas
que era parte de um
golpe político,
a sociedade brasileira logo se dividiu em relação a essas reformas.
pois os não alfabetizados Eram contrários às Reformas de Base:: grandes empresá-
votariam em Jango. rios; parte do alto clero e dos oficiais das Forças Armadas; grandes
Ligas Camponesas:
jornais, como O Estado de S. Paulo e a Tribuna da Imprensa (de
associações de defesa
dos trabalhadores rurais Carlos Lacerda); e organizações como o Instituto Brasileiro de Ação
surgidas em Pernambuco. Democrática (Ibad)
( ) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais
Elas também se
fizeram presentes em
(Ipes),
), ambos mantidos com o dinheiro de empresários brasileiros
vários outros estados e estadunidenses. Essas organizações investiram milhões de dólares
brasileiros. Seu principal em propaganda contra o governo Jango.
líder foi Francisco Julião
e seu lema era: “Reforma Eram favoráveis às Reformas de Base:: os movimentos
agrária na lei ou na sociais organizados. No meio estudantil, destacava-se a União
marra”. Nacional dos Estudantes (UNE),
( ), que reivindicava justiça social e
o fim do analfabetismo. No meio católico, as organizações mais
importantes eram a Juventude Operária Católica (JOC)
( ) e a Juventude
Universitária Católica (JUC).
( ). Já
entre os trabalhadores urbanos,
sobressaiu-se o Comando Geral dos
Trabalhadores (CGT),
( ), fundado em
1962. No campo, destacaram-se as
Ligas Camponesas,
Camponesas, lideradas pelo
advogado pernambucano Francisco
Julião. Ele defendia a aplicação dos
direitos trabalhistas no campo; a
sindicalização do trabalhador rural;
e uma reforma agrária que limitasse
a quantidade de terras que cada
pessoa podia possuir.

O deputado Francisco Julião discursa


durante comício pela campanha
“Um trator para as Ligas Camponesas”,
realizado na Praça da Sé, São Paulo
(SP), em 1961. A primeira Liga
Camponesa foi fundada em 1954,
em Vitória de Santo Antão (PE).
ACERVO UH/FOLHAPRESS

222

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As posições se radicalizavam: os movimentos sociais exigiam as Reformas de Base que
Goulart havia prometido; a oposição acusava o presidente de ter perdido a autoridade e
de ser cúmplice do comunismo internacional. João Goulart tentou aprovar as Reformas de
Base, mas não conseguiu. Sem o apoio do Parlamento, Goulart optou por se aproximar
dos movimentos sociais.
Nesse contexto conflituoso, em 13

ARQUIVO O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS


de março de 1964, Jango liderou um
gigantesco comício pelas Reformas
de Base em frente à estação da
Central do Brasil, no Rio de Janeiro.
Diante de cerca de 200 mil a 250 mil
pessoas, o presidente assinou dois
decretos de grande impacto popular.
Um deles nacionalizava as refinarias de
petróleo particulares. O outro desapro-
priava para fins de reforma agrária as
terras com mais de 100 hectares situa-
João Goulart, acompanhado pela primeira-dama,
das em uma faixa de dez quilômetros Maria Tereza Goulart, discursa durante o comício pelas
às margens das rodovias e ferrovias Reformas de Base, em frente à Central do Brasil.
federais. Rio de Janeiro (RJ), 1964.

A resposta ao comício do dia 13 não se fez esperar: seis dias depois (19 de março),
autoridades civis e religiosas promoveram, no centro da capital paulista, uma gigantesca
passeata contra as reformas de João Goulart: a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade.. Segundo o historiador Sergio Lamarão, a marcha paulista contou com a par-
ticipação de 300 mil pessoas.
ACERVO UH/FOLHAPRESS

Mulheres com
bandeiras e cartazes
durante Marcha da
Família com Deus
pela Liberdade.
São Paulo (SP), 1964.

223

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O golpe civil-militar de 1964
Na semana seguinte à marcha ocorrida em São Paulo, um episódio ajudou a colocar
mais lenha na fogueira: um grupo de fuzileiros navais enviados para prender os mais de
mil marinheiros que promoviam uma manifestação no Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio
de Janeiro, solidarizou-se com os manifestantes. O governo Goulart pôs fim à rebelião,
mas não puniu os rebeldes. Foi a gota-d’água. Oficiais das Forças Armadas consideraram
essa atitude um incentivo à quebra da disciplina e da hierarquia militar.
Em 31 de março de 1964, as tropas do general Olímpio Mourão Filho, vindas de Minas
Gerais, marcharam em direção ao Rio de Janeiro e receberam o apoio do comandante do
II Exército (São Paulo) e de alguns governadores civis. Juntos, civis e militares desfecharam
o golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart, em abril de 1964.
Segundo historiadores especializados no assunto, não foram apenas os militares, mas
também os civis, que deram o golpe de 1964. O governador de Minas Gerais, Magalhães
Pinto, autorizou a movimentação de tropas com Goulart ainda em território brasileiro, o
presidente do Congresso Nacional, Auro de Moura Andrade, declarou vago o cargo de
presidente e deu posse ao presidente da Câmara dos Deputados,, Ranieri Mazzilli.
Ocorreram passeatas em vários pontos do país a favor do golpe civil-militar. Uma delas
no Rio de Janeiro, em 2 de abril, para comemorar o golpe.
A vacância anunciada por Auro de Moura Andrade em 1o de abril de 1964 foi incons-
titucional, pois o presidente João Goulart estava em território brasileiro, onde permaneceu
até o dia 4 de abril.
Os historiadores não
JEAN SOLARI/O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS

usam mais a expressão


“golpe militar”, mas sim
“golpe civil-militar”. Os
militares e seus aliados
civis assumiram o poder
afirmando que salvavam
o país da anarquia e do
comunismo. Era o fim da
experiência democrática
iniciada no governo de
Eurico Gaspar Dutra.

O presidente João Goulart,


à esquerda, e o senador Auro de
Moura Andrade durante cerimônia
de posse. Brasília (DF), 1961.

224

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 Observe a charge.
FOLHA DA MANHÃ/FOLHAPRESS

Charge publicada no jornal


Folha da Manhã. São Paulo
(SP), 27 de dezembro de
1945.

a) Quais são as personalidades históricas representadas na charge?


b) O que está acontecendo em cada um dos quadros?
c) Quais são as “coisas ‘esquisitas’” que o autor da charge critica?

2 Leia a tabela a seguir.

Brasil: eleições para a presidência da República (1930-1945)


Porcentagem sobre
Ano Número de eleitores
o total da população
1930 1,9 milhão 5,7%
1945 6,2 milhões 13,4%
Fonte: FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1998. p. 398.

a) O que se pode concluir comparando a porcentagem de eleitores sobre o total da população


em 1930 e em 1945?
b) Comente sobre a porcentagem de eleitores em relação ao total da população, em 1945.

3 Segundo o historiador Jorge Ferreira, entre 1945 e 1964, dois projetos de Nação
disputaram a preferência do eleitorado brasileiro. Indique N para as frases que dizem
respeito ao projeto nacionalista e L para o que for relativo ao projeto liberal. Depois,
escolha a alternativa correta.

225

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a) O Estado devia intervir na economia, investindo em áreas estratégicas, como petróleo, side-
rurgia e transportes, e incentivando os investimentos privados.
b) A economia devia caminhar com a menor interferência possível do Estado, devendo ser
regulada pelas “leis do mercado”. O desenvolvimento devia apoiar-se nas empresas privadas
nacionais e estrangeiras.
c) O governo devia manter uma posição de independência em relação aos Estados Unidos da
América.
d) Os capitais e as empresas estrangeiras deviam ter liberdade para atuar no Brasil, inclusive
quanto à remessa de lucros.
e) A entrada do capital estrangeiro devia ser controlada pelo Estado, que também deveria regular
as remessas de lucros para o exterior.
f) O governo brasileiro devia se aliar aos Estados Unidos de forma incondicional, ajudando-o a
combater o comunismo.

A sequência correta de respostas é:


a) N, L, N, L, N, N. c) N, L, N, L, N, L.
b) L, N, L, N, L, N. d) L, N, N, L, N, L.

4 Copie no caderno a alternativa correta. Em relação ao voto, a Constituição de 1946


estabeleceu:
a) A proibição do voto feminino e dos menores de 18 anos de idade.
b) A extensão do direito de voto aos brasileiros maiores de 18 anos, exceto os não alfabetizados.
c) O aumento para 21 anos na idade mínima para votar.
d) O voto facultativo para todos os cidadãos.
e) O direito de voto a todos os brasileiros maiores de 18 anos, inclusive aos não alfabetizados.

5 Copie no caderno a alternativa correta sobre o trabalhismo na Era Vargas.


a) Ao adotar o trabalhismo, Vargas tentou aproximar-se da classe média brasileira, oferecendo
uma diminuição dos impostos.
b) O trabalhismo surgiu como solução para as dificuldades econômicas em que se encontravam
os empresários brasileiros.
c) Com o trabalhismo, Vargas despertou nos trabalhadores sentimentos de gratidão e retribuição.
d) Com o trabalhismo, Vargas tentou favorecer as empresas estrangeiras, diminuindo as reivin-
dicações dos trabalhadores.

6 Leia o texto a seguir com atenção.


A última cartada
O segundo governo Vargas (1950-1954) não transcorreu em clima de tranqui-
lidade, tendo o presidente sofrido, sistematicamente, a oposição da maioria da
imprensa e de grande parte de setores políticos e militares. Mas, em agosto de
1954, uma grave crise se instalara com o atentado ao jornalista Carlos Lacerda,
desencadeando um impasse [...], onde se opunham um presidente eleito, gozando

226

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ainda de grande popularidade, e uma ferrenha [...]

EDITORA VERA CRUZ


oposição civil e militar, que acusava o governo, espe-
cificamente o próprio Vargas, de estar envolvido em
um “mar de lama”. [...]
A tensão chegou a tal ponto que a renúncia do
presidente foi pedida, ficando claro que, se ele não
se afastasse, seria deposto mais uma vez. Foi nessas
circunstâncias que Vargas se matou, num derradeiro
golpe político que visava reverter uma situação que
vinha beneficiando os antigetulistas. Lançando sobre
eles seu cadáver, Vargas, como escreveu na carta-
-testamento, oferecia seu corpo em defesa do povo e
Fac-símile da capa da Revista
da pátria, saindo da vida para entrar na História. [...] Nossa História, agosto de 2004.
GOMES, Ângela de Castro. A última cartada.
Revista Nossa História, ano 1, n. 10, p. 14-17, ago. 2004. p. 14-15.

Avalie as afirmações a seguir:


I. No seu segundo governo, Vargas sofreu forte oposição de civis e de militares.
II. O atentado da Rua Tonelero forneceu combustível para a oposição emparedar o presidente.
III. O suicídio de Vargas foi um golpe político da oposição ao seu governo.

Estão corretas as afirmações:


a) I e III. b) I e II. c) II e III. d) I e II.

7 Os termos a seguir ajudam a compreender o governo de Juscelino Kubitschek.


Conceitue-os.
a) Desenvolvimentismo.
b) Plano de Metas.
c) Bens de consumo.
d) Multinacionais.

8 Identifique e copie no caderno as alternativas corretas. Depois, justifique sua


escolha.
a) No governo JK, a economia cresceu cerca de 8% ao ano, puxada principalmente pela
indústria.
b) A industrialização verificada no governo JK gerou muitos empregos e criou um clima de
otimismo.
c) Os investimentos de dinheiro público na construção de Brasília frearam o crescimento da
economia.
d) A industrialização ocorrida no período JK concentrou-se sobretudo no Centro-Sul, agravando
as desigualdades entre as diferentes regiões do país.
e) A concentração de indústrias no Centro-Sul contribuiu para que muitas pessoas deixassem
as cidades e migrassem para o campo em busca de qualidade de vida.

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9 Observe a charge de Augusto Bandeira, publicada no Correio da Manhã em 8 de
julho de 1962.
a) Descreva a charge.
b) O que a figura da cobra e a do machado representam?
c) Contextualize a imagem relacionando-a ao evento histórico que ela representa.
d) O autor da charge está se posicionando politicamente?
ACERVO CORREIO DA MANHÃ

10 Associe corretamente as colunas e copie em seu caderno a alternativa correta sobre


os episódios do governo João Goulart.

1. Marcha da Família com I – Mudanças nas áreas agrária, administrativa, bancária,


Deus Pela Liberdade tributária, eleitoral e educacional.
II – Movimento a favor da posse de João Goulart como
2. Comício da Central do Brasil
presidente após a renúncia de Jânio Quadros.
III – Ato que buscava influenciar a opinião pública contra as
3. Reformas de Base
medidas tomadas por João Goulart.

4. Campanha da Legalidade IV – Ato que buscava apoio popular às Reformas de Base.

a) 1-IV; 2-III; 3-I; 4-II.


b) 1-II; 2-IV; 3-I; 4-III.
c) 1-III; 2-IV; 3-I; 4-II.
d) 1-II; 2-III; 3-I; 4-IV.

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CAPÍTULO

12 DITADURAS NA
AMÉRICA LATINA

Durante os 21 anos que estiveram no poder, os militares brasileiros não usaram apenas a
censura para preservar sua imagem, construíram também uma imagem positiva do governo
em vídeos, filmes, jornais, revistas e até em álbuns de figurinhas.

1. O menino à esquerda está


IDÉIA EDITORIAL

segurando a imagem de
um personagem histórico;
quem é ele? Por que será
que ele foi escolhido?
2. Que ideia o navio, o avião,
a motocicleta e o carro de
corrida ajudam a transmitir?
3. Que relação há entre a
imagem da capa do álbum
e a frase “Brasil: um país
que vai pra frente!”?
4. Você já ouviu falar do
“milagre brasileiro”?
Que relação pode haver
entre o título desse
álbum de figurinhas e o
crescimento econômico
observado no governo do
general Médici?
5. O que diferenciou o
governo militar brasileiro
dos demais da mesma
época? Ao final da leitura
deste capítulo, tente
responder a essa pergunta.

Capa de um álbum de
figurinhas de propaganda do
governo Emílio Garrastazu
Médici. Década de 1970.

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A Doutrina de Segurança Nacional
Após a Segunda Guerra Mundial e no contexto da Guerra Fria, estrategistas dos
Estados Unidos criaram a Doutrina de Segurança Nacional e a transmitiram aos militares
da América Latina, com quem contavam para colocá-la em prática.
Segundo a Doutrina de Segurança Nacional, para um país se desenvolver é preciso
garantir sua segurança,, e a maior ameaça à segurança de um país são seus inimigos
internos;; ou seja, aqueles que propagam o comunismo, os “subversivos”.
Essa doutrina era aprendida pelos militares latino-americanos em cursos de treina-
mento especializado nos Estados Unidos e fora deles, nos quais aprendiam também
técnicas militares de repressão e combate à expansão do comunismo em seus países.
Esses treinamentos tornaram-se mais intensos após o alinhamento de Cuba ao bloco
socialista em 1961.

ROBERT NICKELSBERG/GETTY IMAGES

Exército salvadorenho em treinamento. El Salvador, 1982.

Após esses treinamentos, os militares sul-americanos convenceram-se de que eram


capazes de lidar não apenas com a segurança interna de seus países, mas também com a
política, a economia e a cultura. Esse convívio entre militares estadunidenses e sul-americanos
desdobrou-se no apoio material, técnico e estratégico dos Estados Unidos aos golpes de
Estado que levaram os militares sul-americanos ao poder durante os anos 1960 e 1970.
A seguir, vamos apresentar três estudos de caso: as ditaduras brasileira, chilena e
argentina.

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Ditadura civil-militar no Brasil
Dizendo ser necessário livrar o país da ameaça comunista e restabelecer a hierarquia e
a ordem, um grupo formado por civis e militares derrubou o presidente João Goulart entre
março e abril de 1964 e colocou no poder o general Humberto de Alencar Castelo Branco.
Tinha início, assim, a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985). Logo nos primeiros dias de
abril, o regime perseguiu e prendeu estudantes, jornalistas e políticos ligados ao governo ante-
rior e atacou organizações que o apoiavam, como a União Nacional dos Estudantes (UNE). ( ).
DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

Tanque do Exército
circulando pelas ruas
de São Paulo (SP), em
1 o de abril de 1964.

Ao mesmo tempo que faziam uso da violência, os militares


procuravam dar uma aparência de legalidade ao novo regime por
meio de Atos Institucionais.
Institucionais.
O Ato Institucional de 9 de abril de 1964, mais tarde chamado
de AI-1::
• permitia ao presidente suspender os direitos políticos de qualquer
cidadão por dez anos; Ato institucional:
medida, com força de lei,
• autorizava cassar mandatos parlamentares;
imposta por um governo
• estabelecia que as eleições para presidente da República seriam sem que a população,
indiretas. o poder Legislativo e o
Judiciário tenham sido
No dia seguinte, os militares divulgaram a lista dos 100 primeiros consultados.
cidadãos que tiveram seus direitos políticos suspensos, entre os quais Cassar: retirar do
estavam os ex-presidentes Jânio Quadros e João Goulart, o governador indivíduo seus direitos
políticos ou de cidadão.
de Pernambuco Miguel Arraes e o deputado federal Leonel Brizola.

231

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O governo Castelo Branco
Com uma parte dos parlamentares apenas (pois muitos deles tinham sido cassados),
o Congresso Nacional elegeu como presidente o general Castelo Branco (1964-1967).
Muitos acreditavam que em pouco tempo ele devolveria o poder aos civis, mas não foi
o que aconteceu: líderes sindicais e estudantis foram presos, funcionários públicos foram
demitidos e políticos de vários partidos, inclusive da União Democrática Nacional (UDN),
que apoiou o golpe, foram cassados.
Na política externa, Castelo Branco obedeceu à lógica da Guerra Fria: aliou-se aos
Estados Unidos e rompeu relações diplomáticas com Cuba.
Na área econômica, tomou as seguintes medidas:
• cortou gastos;
• aumentou os impostos;
• contraiu empréstimos dos Estados Unidos;
• comprimiu os salários dos trabalhadores;
• eliminou a estabilidade de emprego após dez anos e criou, em seu lugar, o Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Com o corte nos gastos públicos e o
ARQUIVO/AGÊNCIA O GLOBO

aumento da arrecadação, a inflação caiu e o


governo começou a equilibrar suas contas.
Mas os sacrifícios impostos à sociedade,
especialmente aos assalariados, elevaram
a impopularidade de Castelo Branco e
influenciaram o resultado das eleições para
governador, em 1965: políticos da oposição
à ditadura civil-militar foram eleitos gover-
nadores nos estados da Guanabara e de
Minas Gerais.

Estado da Guanabara (GB): foi formado


em 1960 e correspondia à cidade do Rio
de Janeiro. Isso ocorreu em razão da
transferência da capital brasileira da cidade
do Rio de Janeiro para Brasília. Em 1975,
o Estado da Guanabara foi extinto.

Promovido de general a marechal da reserva


no dia anterior, Humberto Alencar Castelo
Branco recebe a faixa de presidente da
República. Brasília (DF), 15 de abril de 1964.

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O governo endurece: Lei de Imprensa e Lei de Segurança Nacional
O governo de Castelo Branco, então, endureceu, promulgando o Ato Institucional no 2
(AI-2),
), que extinguia todos os partidos políticos; formaram-se, então, dois únicos partidos:
a Aliança Renovadora Nacional ((Arena), ), para dar apoio ao governo, e o Movimento
Democrático Brasileiro (MDB), ), para fazer oposição.
No ano seguinte, o governo limitou ainda mais a participação dos cidadãos, decretando
o Ato Institucional no 3 (AI-3), ), que estabelecia eleições indiretas para governadores.
Estes, por sua vez, nomeariam os prefeitos das capitais. Assim, os cidadãos perdiam o
direito de escolher seus governantes, fato que limitou ainda mais a cidadania no país.
Preocupado em manter a aparência de legalidade, o governo promulgou o AI-4,, por meio
do qual reabriu o Congresso para que aprovasse uma nova Constituição, publicada em 24
de janeiro de 1967. Essa Constituição ampliava os poderes do presidente da República e
restringia o direito de greve. Com seus poderes ampliados, Castelo Branco decretou duas
leis autoritárias: a Lei de Imprensa,, que intensificou a censura aos jornais e revistas, e a
Lei de Segurança Nacional,, que dava à Justiça Militar o direito de julgar os crimes de
“subversão” (comícios, reuniões políticas etc.).

Dialogando
O que o autor critica
nesta charge?
FORTUNA/BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

# DICA!
Características do
governo de Castelo
Branco (1964-1967).
CONHECENDO os
presidentes – Ep. 23:
Castelo Branco. 2014.
Vídeo (2min30s).
Publicado pelo Canal
Futura. Disponível
em: https://youtu.be/
Charge de Fortuna publicada no Correio da Manhã
K7a1RArMqto. Acesso
meses antes de o governo decretar a Lei de Imprensa, em: 18 abr. 2022.
em 7 de outubro de 1966.

Castelo Branco foi substituído por outro militar, o general Arthur da Costa e Silva, que
tomou posse em 15 de março de 1967.

233

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O Show Opinião e a resistência cultural
O Show Opinião, que estreou no Rio de Janeiro, no final de 1964, sob produção do
Teatro de Arena de São Paulo e com a casa lotada, foi o primeiro marco da resistência ao
governo.
Dirigido por Augusto Boal, o Show Opinião mesclava teatro, música e poesia e repre-
sentava um esforço de intelectuais e artistas populares para denunciar a injustiça social e a
opressão. Nesse espetáculo, contracenavam o compositor carioca Zé Keti (samba de raiz);
o compositor maranhense João do Vale, que criava canções ambientadas no sertão do
Nordeste; e a cantora Nara Leão, moça da classe média carioca, que interpretava músicas
que falavam das dores e angústias da população pobre.
Um dos pontos altos do espetáculo foi
“Carcará”, canção de João do Vale e José
Cândido sobre o drama da fome no sertão.
Para interpretá-la, Nara Leão convidou a
cantora baiana Maria Bethânia, que logo
cativou o público com sua voz rouca e
dramática. Ganhava força, assim, a “canção
de protesto”, que, nos anos seguintes, cons-
tituiria-se em uma das principais formas de
resistência à ditadura.
Os palcos do Show Opinião
e de outros espetáculos que
mesclavam teatro e música,
como Arena canta Zumbi
e Morte e vida severina,,
realizados entre 1964 e
1966, transformaram-se
em espaços de valori-
zação do popular na
cultura e de resis-
tência democrática.

Da esquerda para a
direita, Zé Keti, Nara Leão
e João do Vale durante
ensaio do Show Opinião.
Rio de Janeiro (RJ), 1965.

ACERVO ICONOGRAPHIA

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A linha-dura no poder

SCHMIDT-LUCHS/INTERFOTO/FOTOARENA
Com a ascensão de Costa e Silva, os mili-
tares da linha-dura assumiram o governo.
Todos os militares que lideraram o golpe
de 1964 eram adeptos da Doutrina da
Segurança Nacional e, portanto, contrários
ao comunismo. Mas tinham divergências entre
si, o que nos permite dividi-los em dois grupos:
o castelista e o linha-dura. O grupo castelista
era integrado por generais como Golbery do
Couto e Silva, Ernesto Geisel e Castelo Branco
(daí o nome do grupo). Na oposição a ele
estava o grupo da linha-dura, que considerava
os castelistas “moderados” e defendia a radi-
calização constante da luta contra o inimigo
interno, chamado por eles de “subversivo”. A Ernesto Geisel, então presidente do Brasil.
Brasília (DF), 1977.
linha-dura era formada por generais menos
teóricos e mais pragmáticos, como Costa e
Silva e Garrastazu Médici.

A resistência democrática
ACERVO ICONOGRAPHIA

Com o aumento da opressão cresceu


também a resistência democrática à ditadura,
na qual se destacaram o movimento estudantil,
o movimento operário, diversos artistas e inte-
lectuais e uma parte dos políticos.
Em 1968, cresceu o movimento estudantil
em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.
Em uma manifestação ocorrida em março do
mesmo ano, no Rio de Janeiro, contra a má
qualidade da alimentação fornecida aos estu-
dantes no restaurante universitário Calabouço,
o paraense Edson Luís Lima Souto, de 18
anos, foi morto pela polícia, o que provocou
uma onda de protestos; o maior deles foi a
Passeata dos Cem Mil,, na qual estudantes, Passeata dos Cem Mil. Ao centro, vemos o
compositor Chico Buarque; à direita, ao fundo,
políticos, artistas e trabalhadores saíram às ruas o poeta Vinícius de Morais. Rio de Janeiro (RJ),
para protestar contra a ditadura civil-militar. 1968.

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Em outubro de 1968, os estudantes desafiaram o
governo mais uma vez realizando, em Ibiúna, no interior
de São Paulo, o 30o Congresso da UNE. Mas a polícia
ZIRALDO

invadiu o local e prendeu cerca de 700 estudantes que


participavam do Congresso.
Nesse mesmo ano, o movimento operário também
mostrou sua disposição de luta em duas grandes greves
por aumento de salários: uma em Contagem, perto de
Belo Horizonte (MG), envolvendo cerca de 15 mil traba-
lhadores, e outra em Osasco, na Grande São Paulo, que
também contou com a participação de milhares de tra-
balhadores. Esta última foi reprimida com muita violência,
com a invasão do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco
e a prisão de 400 trabalhadores por tropas do Exército.
Nesse contexto, o deputado do MDB Márcio Moreira
Alves fez um discurso, em 1968, no qual conclamava a
população a não ir à parada militar para comemorar o 7
de Setembro e pedia às mulheres para não namorarem
oficiais que participavam da repressão. O discurso de
Moreira Alves serviu de pretexto para que o governo
Costa e Silva decretasse o Ato Institucional no 5 ((AI-5),),
o mais opressivo de todos os atos da ditadura civil-militar.
Pelo AI-5, o presidente da República passava a ter
o poder de:
Estado de sítio:
• fechar o Congresso Nacional;
situação na qual
• fazer leis e ordenar a interven- são estabelecidas
restrições à liberdade
ção nos estados e municípios;
dos cidadãos, por
• cassar políticos eleitos pelo povo; meio da suspensão
de alguns direitos
• demitir, transferir e aposentar constitucionais.
funcionários públicos; Habeas corpus:
• decretar estado de sítio;
sítio; recurso jurídico que
protege o cidadão de
• suspender o direito de habeas ser preso ou agredido
corpus aos acusados de “crime em razão de abuso de
poder ou ilegalidade.
contra a segurança nacional”.
Com base no AI-5, o governo militar fechou o
Essa charge de Ziraldo, publicada Congresso, cassou o mandato de centenas de políticos
em 23 de junho de 1968 no
Correio da Manhã, ironiza a e prendeu milhares de pessoas de oposição em todo
truculência da ditadura. o país.

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Demandas quilombolas durante

MEC/SECAD
a ditadura
Nos anos de 1970, o movimento de resistência
democrática à ditadura civil-militar contou com o apoio
de diferentes movimentos sociais de várias partes do país.
Naquela década, as demandas quilombolas foram
ganhando visibilidade no espaço público.
As comunidades negras foram, pouco a pouco,
autoidentificando-se como comunidades quilombolas.
Passaram a reconhecer e assumir sua ancestralidade
com base em histórias contadas pelos mais velhos da
comunidade: pais, avós, bisavós, entre outros.
Nesse cenário, afloraram as principais deman-
das dessas comunidades autoidentificadas como
Fac-símile da capa do livro
quilombolas: Quilombos: espaço de resistência
• o combate ao racismo; de homens e mulheres negros.

• a redistribuição e a regulamentação das terras no país, vista por elas como motivo
principal da desigualdade no acesso à terra.
Leia o texto a seguir:
As comunidades quilombolas mantêm, ainda hoje, práticas centenárias trazidas
por seus ancestrais do continente africano. [...]
[...] Para essas comunidades, a terra é o bem fundamental, pois é dela que são
retirados os produtos para subsistência do grupo familiar, além de ser o espaço de
trabalho e de vivência. A terra é “o elemento unificador do grupo social, no qual se
constrói a história cotidiana de homens e de mulheres, dotando-se de significados a
vida e o mundo dessas comunidades negras”.
[...]
As comunidades remanescentes
SERGIO AMARAL/OLHAR IMAGEM

de quilombo se caracterizam em sua


maioria pelo grande vínculo com o meio
que ocupam, observando-se grande grau
de preservação da biodiversidade.
SILVA, Jesiel Souza; FERRAZ, José Maria Gusman.
Questão fundiária: a terra como necessidade social e
econômica para reprodução quilombola. GeoTextos,
v. 8, n. 1, p. 73-96, jul. 2012.

Estufa de hortaliças da Associação


de Mulheres Quilombolas de
Biritinga (BA). Fotografia de 2014.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

O texto a seguir é um trecho de um depoimento de Benedito Alves da Silva, o Ditão.


Leia-o com atenção.
O movimento quilombo

CESAR DINIZ/PULSAR IMAGENS


é antigo. Aqui começou há
400 anos, quando o negro não
aceitou o trabalho escravo,
fugiu e formou grupos de
pessoas livres. Por muito
tempo foi um movimento
escondido, devido à repressão.
Digo por mim. Nos anos [19]70
a gente ia lá pra São Paulo
lutar com os grupos de consci-
ência negra. O padre escondia
a gente na igreja e fechava a
porta porque ninguém podia
Escola Estadual Quilombola Professora Tereza Conceição
de Arruda. Quilombo Mata Cavalo, Nossa Senhora do
saber. Era a época da dita-
Livramento (MT), 2020. dura. Em [19]75 já tinha luta
– tímida, mas tinha. [...]
[...] a gente sabe que no Rio, São Paulo, Bahia, nas cidades, havia um movimento,
as pessoas estavam no rádio, na televisão. E tinha a música. Muitos foram reprimi-
dos. Existia uma luta para garantir o direito do negro no futuro.
[...]
[...] Todos diziam que se não centralizássemos a luta para melhorar a escola,
tanto no nosso local, como fora, demoraria muito mais pra gente ser atendido porque
o povo não sabia como buscar seus direitos, não sabia por onde começar.
[...]
[...] Direcionamos a força da Associação para buscar curso pré-vestibular, escola
quilombola. Temos nossa faculdade, desde 2001, para os jovens estudar e contribuir
não só para o quilombo, mas pra todo o Vale do Ribeira que é isto que conhecemos.
SILVA, Benedito Alves da. Entrevista com Ditão. Quilombo do Ivaporunduva. [Entrevista cedida a] Anna Volochko e Gabriela
Segarra Duas. In: VOLOCHKO, Anna; BATISTA, Luís Eduardo (org.). Saúde nos Quilombos. São Paulo: Instituto de Saúde:
GTAE, 2009. (Temas Saúde Coletiva, v. 9, p. 60-61).

a) O
 que o Sr. Benedito quis dizer com “o movimento quilombola é antigo”?
b) Com base na leitura de texto, identifique uma demanda dos quilombolas nos anos de 1970.
c) Que relação o Sr. Benedito estabelece entre melhorar a escola e a busca por direitos?

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Os anos de chumbo
Nesse clima de grande tensão, Costa e Silva foi vítima de um AVC – acidente vascular
cerebral e afastou-se da presidência. Por lei, devia assumir o vice-presidente, o civil Pedro
Aleixo. Mas uma Junta Militar desrespeitou a Constituição e ocupou o governo do país
por quase dois meses: de agosto a outubro de 1969. Nesse período, aprovou a Emenda
Constitucional de 1969,, que ampliava os poderes do presidente da República e incorpo-
rava à Constituição a pena de morte, a pena de banimento e a prisão perpétua em caso
de “subversão”.

Governo Médici (1969-1974)


Em outubro de 1969, o Congresso foi reaberto apenas para aprovar a indicação de
outro general à presidência da República: Emílio Garrastazu Médici, cujo governo foi o
mais repressivo da história brasileira.
Por meio de seu aparato repressivo, o governo Médici invadiu universidades; perseguiu
e prendeu professores, jornalistas, artistas, estudantes, religiosos e militares contrários à
ditadura que se instalara no país. Aperfeiçoou os órgãos de repressão, como o Serviço
Nacional de Informações (SNI),
( ), as Delegacias de Ordem Política e Social (DOPS)
( ) e o
Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operação de Defesa Interna
(DOI-Codi).). Seus agentes praticavam espancamentos, afogamentos, choques elétricos
e outras formas de tortura. Qualquer
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

cidadão suspeito de ser “subversivo”


podia ser detido, torturado e morto,
sem que a família soubesse de seu
paradeiro.
Com o aumento da repres-
são, cresceu também a resistência
democrática à ditadura, por meio de
abaixo-assinados, protestos de rua,
oposição parlamentar, jornais, espe-
táculos teatrais e festivais de música
popular brasileira.

Emílio Garrastazu Médici, então presidente do


Brasil, discursa na Organização dos Estados
Americanos (OEA). Washington, D. C., (EUA), 1971.

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A luta armada
A luta armada no Brasil não nasceu como resistência ao golpe civil-militar de 1964;
é anterior a ele. Mas, durante os governos militares, ela se intensificou: surgiram várias
organizações armadas cujo projeto era implantar o socialismo (ditadura do proletariado) por
meio da guerrilha. Já o projeto do Partido Comunista Brasileiro (PCB) era outro; para esse
partido, a revolução socialista se faria por meio da aliança do operariado com a burguesia.
Durante a ditadura civil-militar, os principais representantes da luta armada foram:
a Ação Libertadora Nacional (ALN),
( ), liderada pelo ex-deputado Carlos Marighella, a
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR),( ), liderada pelo ex-capitão Carlos Lamarca, e o
Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). ( ).
Essas organizações praticavam assaltos a bancos para conseguir dinheiro para suas
lutas e sequestros de diplomatas estrangeiros para trocá-los por presos políticos. Em
1969, por exemplo, os guerrilheiros sequestraram o embaixador estadunidense Charles
Burke Elbrick e o trocaram por 15 presos políticos.
O governo Médici moveu uma guerra sem tréguas contra as organizações armadas. Em
1974, os focos guerrilheiros tinham sido destruídos e seus integrantes, presos ou mortos.
As várias organizações guerrilheiras que atuaram à época tinham alguns pontos em
comum:
• criticavam a via legal para chegar

FATOS & FOTOS


ao poder e implantar o socialismo;
• defendiam, em sua maioria, princí-
pios marxistas e leninistas, segundo
os quais a classe revolucionária era o
operariado;
• acreditavam ser um grupo de
vanguarda, de elite, que guiaria as
massas, despertando a classe ope-
rária para o papel que lhe cabia na
revolução socialista.

Fac-símile da capa da revista


Fatos & Fotos, 1969. Em destaque,
o embaixador estadunidense
no Brasil à época, Charles Elbrick.

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A propaganda de massa
Além da violência, o governo Médici

ASSESSORIA ESPECIAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS (AERP)/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


recorreu também à propaganda, repetindo
por meio da TV slogans como “Ninguém
mais segura este país”.
Em 1970, os brasileiros puderam assistir,
pela primeira vez, a uma Copa do Mundo de
futebol ao vivo e em cores. Com a vitória na
Copa de 1970, a Seleção Brasileira trouxe defi-
nitivamente para o Brasil a taça Jules Rimet.
O próprio presidente Médici se apresen-
tava como um homem do povo, apaixonado
por futebol e torcedor número um da Seleção
Brasileira. A conquista do tricampeonato de
futebol pela seleção “canarinho” foi apresen-
tada por Médici como mais uma vitória de
seu governo.
Nessa época, além da propaganda
oficial, outro fator ajudou Médici a conseguir
apoio de parte da população: o crescimento Fac-símile do cartaz Ninguém mais segura
da economia. este país, do governo Médici (1969-1974).
ROBERTO STUCKERT/FOLHAPRESS

Ao lado do então


presidente Emílio
Garrastazu Médici
(à direita), Pelé levanta
a taça, conquistada
no México. Brasília (DF),
junho de 1970.

241

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Milagre econômico: a expressão “milagre
Propaganda e “milagre econômico”
econômico” foi usada pela primeira vez para O chamado “milagre econômico” brasileiro,
descrever a rápida recuperação da Alemanha
Ocidental na década de 1950, após o final
ocorrido no governo Médici, caracterizou-se pela
da Segunda Guerra Mundial. Na década combinação de três fatores conjugados: crescimento
seguinte, a mesma expressão foi usada para da economia a uma taxa média de cerca de 11%
caracterizar o crescimento japonês. Na década
de 1970, a expressão passou a ser aplicada ao ano, índices de inflação relativamente baixos e
como sinônimo de grande crescimento expansão do comércio exterior em mais de três vezes.
econômico – e também como instrumento de Essa combinação interessante recebeu o nome de
propaganda do governo brasileiro.
“milagre econômico”.
econômico”. Observe a tabela a seguir.

O “milagre” brasileiro
Exportações Importações Dívida externa
Crescimento
Ano Inflação (%) (em bilhões (em bilhões (em bilhões
do PIB (%)
de dólares) de dólares) de dólares)
1968 10 27 1,9 1,9 3,8

1969 10 20 2,3 2 4,4

1970 10 16 2,7 2,5 5,3

1971 11 20 2,9 3,2 6,6

1972 12 20 4 4,2 9,5

1973 14 23 6,2 6,2 12,6


Fonte: PRADO, Luiz C. D.; SÁ, Fábio. O “milagre” brasileiro: crescimento acelerado, integração internacional e concentração
de renda (1967-1973). In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida N. O tempo da ditadura: regime militar e
movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. v. 4, p. 223.

O que explica o “milagre econômico”?


A maioria dos historiadores concorda que o “milagre” ocorreu em razão de fatores
externos e internos. Externamente,, a conjuntura era favorável (entre 1961 e 1973, a
economia estadunidense cresceu a uma taxa média de 4,5% ao ano; o Japão, a uma taxa
de 9,4%; a Alemanha, a 4,3%; e a Itália, a 4,9%). Internamente,, o governo adotou uma
política de incentivos fiscais para atrair investidores nacionais e estrangeiros, concedendo-
-lhes facilidades para atuar no Brasil; uma política trabalhista que comprimia os salários dos
trabalhadores de baixa renda, diminuindo o custo da mão de obra; além disso, por meio
de uma série de ajustes, conseguiu um razoável equilíbrio nas contas públicas.
O capital acumulado por esses meios alimentou um extraordinário crescimento da
indústria, especialmente a de bens de consumo duráveis,, como eletrodomésticos e
automóveis.

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OSWALDO PALERMO/AGÊNCIA ESTADO/AE
Carro modelo Simca
Incentivadas pelo governo e por uma situação externa favorável, Chambord. São Paulo
as exportações brasileiras também cresceram. O governo aprovei- (SP), 1986.
tou-se do crescimento da economia para investir na realização de
grandes obras, como a hidrelétrica de Itaipu, as usinas nucleares e
a ponte Rio-Niterói.

O fim do “milagre”
Em 1973, último ano do governo Médici, por motivos inter-
nos e externos o “milagre econômico” começou a dar sinais de
esgotamento.
Externamente,, após a guerra de 1973 entre árabes e israelen-
ses, os países árabes quadruplicaram o preço do barril de petróleo,
o que provocou um forte abalo na economia brasileira, já que
cerca de 80% do petróleo que o país consumia era importado.
Para pagar esse petróleo, o Brasil gastava quase a metade do que
ganhava com suas exportações. Internamente,, por causa dos
baixos salários, a maioria da população já não conseguia comprar
o que as empresas produziam. Ao mesmo tempo, o PIB começou
a declinar e a inflação voltou a crescer.
Indicador social:
A dívida externa e a diferença entre os mais ricos e os mais dado estatístico sobre
pobres também aumentaram. Ao final do governo Médici, o Brasil os vários aspectos da
vida de um povo, como
tinha se tornado a décima potência capitalista do mundo, mas seus mortalidade infantil,
indicadores sociais continuavam ruins. O próprio general Médici expectativa de vida,
reconheceu a desigualdade social existente no país, ao dizer: “A taxa de analfabetismo,
entre outros.
economia vai bem, mas o povo ainda vai mal”.

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Resistência indígena e negra durante a ditadura civil-militar
No texto a seguir, o yanomami Davi Kopenawa expressa a visão de um indígena sobre
o projeto dos governos militares de ocupação estratégica da Região Amazônica.
Funai: Fundação Nacional [...] Eu tinha ouvido gente da Funai contar que,
do Índio, criada em 1967.
para abrir o trecho que liga Manaus a Boa Vista,
os soldados tinham atirado nos Waimiri-Atroari e
COMPANHIA DAS LETRAS

jogado bombas em sua floresta. Eles eram guerreiros


valorosos. Não queriam que a estrada atravessasse
suas terras. Atacaram os postos da Funai para que os
brancos não entrassem onde eles viviam. Foi isso que
deixou os militares enfurecidos. [...] Muitos foram [...]
as mulheres, crianças e velhos que morreram entre
nós por causa da estrada. Não foram mortos pelos
soldados, é verdade. Mas foram as fumaças de epide-
mia trazidas pelos operários que os devoraram. [...]
“Esse caminho dos brancos é muito ruim! Os seres
da epidemia xawarari vêm seguindo por ele, atrás das
máquinas e dos caminhões. [...] Terão aberto a estrada
para silenciar a floresta de nossa presença? Para aqui
Fac-símile da capa do livro construir suas casas, sobre os rastros das nossas? [...]”.
A queda do céu, de Davi KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã
Kopenawa e Bruce Albert. yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 306.

O Movimento Negro também se engajou na defesa da democracia e por melhores


condições de vida. Numa manifestação ocorrida em 1978, vários grupos negros reuniram-se
nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo para protestar, entre outras reinvindica-
ções, contra a discriminação sofrida por quatro atletas juvenis negros, expulsos do Clube
de Regatas Tietê, em São Paulo, sem nenhuma justificativa. Durante esse ato público,
ocorreu a unificação das várias organizações negras, nascendo assim o Movimento Negro
Unificado (MNU), ), cujo programa de ação defendia:
[...] desmistificação da democracia racial brasileira; organização política da
população negra; [...] formação de um amplo leque de alianças na luta contra o
racismo [...]; organização nos sindicatos e partidos políticos; luta pela introdução
da História da África e do Negro no Brasil nos currículos escolares [...].
DOMINGUES, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos.
Tempo, Niterói, v. 12, n. 23, p. 100-122, 2007. p. 114.

Essas reivindicações do MNU são uma prova de que as lutas da comunidade negra
foram decisivas para as conquistas posteriores como a Lei no 10.639/03, que estabelece a
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira no Ensino Básico.

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Governo Geisel: abertura lenta,

EVANDRO TEXEIRA/AP PHOTO/GLOW IMAGES


gradativa e segura
O general Ernesto Geisel, presidente do Brasil entre 1974 e
1979, era considerado moderado (castelista); diferenciava-se, por-
tanto, dos dois generais da linha-dura que o antecederam, Costa
e Silva e Médici.

Economia
O governo Geisel lançou o II Plano Nacional de Desenvolvimento
(PND), cujos objetivos principais eram: manter altas taxas de cresci-
mento econômico; conseguir autonomia na produção de bens de
capital – como máquinas e equipamentos pesados – e de insumos
básicos – como petróleo e energia elétrica –, considerados essenciais
Posse do presidente
à industrialização acelerada. Para enfrentar o problema energético,
Ernesto Geisel. Brasília
o governo Geisel investiu na substituição parcial da gasolina pelo (DF), 1974.
álcool e na construção de hidrelétricas, cujos exemplos mais expres-
sivos foram Itaipu (PR), Sobradinho (BA) e Tucuruí (PA). Geisel dava,
assim, continuidade à tendência dos governos militares de estatizar Insumo: elemento
setores-chave da economia, como petróleo, energia elétrica, side- que entra no processo
de produção de bens
rurgia, telefonia e petroquímica, entre outros. e serviços, como
Quando Geisel assumiu o poder, os países ricos reagiam à crise petróleo, energia
do petróleo (1973), elevando fortemente os juros sobre o dinheiro que elétrica, aço, alumínio,
fertilizantes, cobre etc.
emprestavam. Apesar disso, Geisel continuou tomando empréstimos
dos bancos internacionais em dólares e ofereceu facilidade aos inves-
tidores estrangeiros. Estimulada por capitais externos, a economia Barragem da usina
brasileira continuou a crescer (cerca de 7% ao ano); em compensação, hidrelétrica de Tucuruí,
no Rio Tocantins.
a inflação voltou a subir e a dívida externa aumentou mais de três vezes. Tucuruí (PA), 2017.
LUCIANA WHITAKER/OLHAR IMAGEM

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Política
O presidente Geisel mostrou-se favorável à abertura política. Na visão dele, porém,
essa abertura política deveria ser lenta,, gradativa e segura.. Mas, para garantir que os
militares devolvessem o poder aos civis e voltassem aos quartéis, era necessário controlar
tanto a oposição democrática quanto os generais da linha-dura.
Geisel iniciou o processo de abertura permitindo a propaganda eleitoral gratuita no rádio
e na televisão para as eleições parlamentares de 1974. Mas, ao contrário do que o governo
esperava, as eleições daquele ano foram vencidas pelo MDB, partido de oposição. Os mili-
tares da linha-dura, contrários à abertura, acusaram o MDB de ter ganho aquelas eleições
com os votos dos comunistas e iniciaram uma violenta perseguição aos militantes do PCB.
Em outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura,
foi chamado a depor em um quartel do II Exército, em São Paulo (SP), sobre sua ligação
com o Partido Comunista. Ele se dirigiu ao local e, no dia seguinte, apareceu morto numa
cela, enforcado. O comando do II Exército disse que ele cometera suicídio, mas a maioria
dos cidadãos não acreditou nessa versão. A notícia da morte do jornalista indignou a
sociedade brasileira.
Apesar das reações da sociedade civil, no início de 1976, o operário Manoel Fiel Filho
foi torturado e morto no mesmo quartel onde Herzog morrera. O presidente Geisel reagiu
demitindo o comandante do II Exército, Ednardo D’Ávila Mello, e nomeando em seu lugar
um general de sua confiança.

Dois passos atrás no processo de abertura


O projeto de abertura do governo Geisel foi marcado por avanços e recuos. Um
desses recuos foi a Lei Falcão (1976), que proibia o debate político ao vivo na imprensa
e só permitia mostrar na televisão a fotografia do candidato, acompanhada de algumas
poucas informações sobre ele e seu partido.
ZIRALDO

Charge do cartunista Ziraldo ironizando a Lei Falcão, 1976.

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Outro passo atrás no processo de abertura foi dado em 1977 quando, ciente de que
o MDB venceria as eleições que se aproximavam, Geisel fechou o Congresso e impôs
medidas autoritárias conhecidas como Pacote de Abril.. Entre elas, cabe citar:
• um terço dos senadores seria escolhido pelo governo; tais senadores ficaram conhecidos
como senadores biônicos, isto é, “fabricados” e não eleitos pelo voto popular;
• o mandato do próximo presidente da República passava de 5 para 6 anos.
Mas, depois, o presidente Geisel deu prosseguimento à sua proposta de abertura extin-
guindo, em 1978, os atos institucionais – inclusive o AI-5.
Com a extinção do AI-5, os cidadãos reconquistaram parte importante de seus direitos,
como o habeas corpus.
corpus.

Participação popular e a anistia


Na comemoração de 1o de Maio, Dia do Trabalho, de 1979, depois de uma missa no paço
municipal de São Bernardo do Campo (SP), cerca de 150 mil pessoas se dirigiram ao Estádio
da Vila Euclides e lá realizaram um grande ato público pela democratização do país. Além de
operários, estudantes, artistas, líderes comunitários, religiosos e políticos de várias tendências,
também esteve presente às comemorações
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E MEMÓRIA DA UNESP-CEDEM

daquele 1o de Maio o Comitê Brasileiro pela


Anistia (CBA), que liderava a campanha pela
“anistia ampla, geral e irrestrita”.
Ainda em 1979, a proposta de anistia
do governo foi aprovada pelo Congresso
Nacional e, com isso, muitos brasileiros
que estavam no exílio por motivos polí-
ticos puderam regressar ao Brasil, e os
cassados readquiriram o seu direito à
cidadania. Note que essa Lei da Anistia
também anistiou os responsáveis por vio-
lações dos direitos humanos, a exemplo
dos militares que usaram de violência
contra os opositores do regime.

Dialogando
a Qual é o detalhe do cartaz que dá a ideia
de “liberdade pela metade”?
Fac-símile do cartaz produzido para o III Encontro
Nacional das Entidades de Anistia, que ocorreu no b O que os autores queriam dizer com “Não
Rio de Janeiro (RJ), em 1979. queremos liberdade pela metade”?

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O caso do Chile
No governo do democrata cristão Eduardo Frei (1964-1970), o Chile viveu em uma
democracia. Nesses anos, os movimentos populares do campo e da cidade tornaram-se
mais organizados e atuantes. Assim, nas eleições de 1970, esses movimentos uniram suas
forças à dos partidos de orientação socialista e formaram a Unidade Popular (UP), que
lançou a candidatura do médico socialista Salvador Allende à presidência da República.

O governo de Allende (1970-1973)


Eleito presidente da República em 1970, Allende acreditava ser possível construir o socia-
lismo por via democrática, pacífica. Segundo o historiador Alberto Aggio, para Allende e boa
parte de seus seguidores, o socialismo significava poder popular e a estatização da economia.
E assim ele agiu na presidência da República; por meio de decretos presidenciais, implementou:
• a reforma agrária (80% das terras agricultáveis, que estavam nas mãos dos grandes
proprietários, foram expropriadas e repartidas entre as famílias camponesas);
• a reforma na saúde com o objetivo de criar um serviço unificado de todos os programas
médicos e assistenciais que atendesse a toda a população, suprimindo a diferença entre
pacientes de primeira e de segunda classe existente no país à época;
• a nacionalização das minas de cobre e das telecomunicações, que até então estavam
nas mãos de empresas estadunidenses;
• um programa de alfabetização em massa.
Com essas medidas, o
MICHAEL MAUNEY/THE LIFE IMAGES COLLECTION/SHUTTERSTOCK.COM

governo Allende atraiu fortes


inimigos. De um lado, organi-
zações como o Movimiento de
Izquierda Revolucionaria (MIR),
que pressionavam o governo
para acelerar as mudanças e
chegar ao socialismo mais rapi-
damente. De outro, os Estados
Unidos e parte dos empresários
chilenos inconformados com
as medidas governamentais,
que, diante disso, diminuíram
os investimentos na produção,
O então presidente Salvador Allende, ao centro e de óculos, provocando a queda na taxa de
rodeado por crianças e adultos. Chile, 1971. emprego e a alta da inflação.

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A ditadura do general Pinochet (1973-1990)
Nesse ambiente, ocorreu

SANTIAGO LLANQUIN/AP PHOTO/IMAGEPLUS


uma radicalização ideológica e
o governo de Allende perdeu o
controle do processo político;
apesar disso, manteve a legali-
dade. Dessa forma, em 11 de
setembro de 1973, com apoio
dos Estados Unidos, forças mili-
tares chilenas bombardearam
e invadiram o Palácio de La
Moneda, derrubando Allende,
morto no bombardeio, e colo-
cando em seu lugar o general
Augusto Pinochet.
O projeto da ditadura
Pinochet era fundar uma nova
ordem política, econômica e
social. Para isso, montou um
aparato repressivo sofisticado
que intimidou, matou ou exilou
seus adversários. Durante seus
17 anos de governo, Pinochet
aplicou o Terror de Estado.
Estado.
No campo econômico,
a ditadura chilena adotou o
neoliberalismo: O ditador chileno
a) privatizou empresas, serviços de saúde e a previdência social; Augusto Pinochet
(ao centro) e militares
b) atraiu capitais e empresas estrangeiras; apoiadores. Santiago
c) estimulou as exportações; (Chile), 1988.

d) suprimiu o controle de preços;


e) abriu o país ao comércio internacional.
Ao mesmo tempo que adotou essa política neoliberal, buscou Terror de Estado:
disseminar valores que estimulavam a sociedade a se tornar mais segundo definição
de Luigi Bonanate, é
individualista, consumista e despolitizada. um instrumento de
Durante seu governo, Pinochet sofreu atentados e teve de emergência a que um
enfrentar também rebeliões populares (las(las protestas)
protestas) em 1983 e governo recorre para
manter-se no poder.
1986, mas todas essas ações foram rapidamente sufocadas.

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O “Não” ao ditador chileno
Em 1980, Pinochet outorgou uma Constituição que previa um ple- Plebiscito: consulta
ao povo.
biscito a realizar-se em 1988; seu objetivo com esse plebiscito era de que
o povo lhe concedesse mais oito anos de governo. Para sua surpresa, o povo se mobilizou e
votou contra a prorrogação de seu mandato. O “Não” (No (No,, em espanhol) ao ditador chileno
obteve 56% dos votos válidos, enquanto o “Sim” recebeu 44%. Os partidos políticos de
oposição se uniram em uma frente chamada Concertación de los Partidos por la Democracia..
Pinochet reagiu conseguindo um pacto com a oposição e aprovou no Parlamento leis que
impediam qualquer mudança significativa nas instituições do país. A transição para a demo-
cracia, no entanto, prosseguiu. A Concertación reuniu os partidos de oposição e venceu as
eleições contra a Alianza por Chile,, que representava as forças conservadoras. A vitória de
Patricio Aylwin nas eleições de 1989 marcou a volta da democracia no Chile.
A frente democrática que derrubou Pinochet conseguiu eleger os quatro presidentes
seguintes. Os governos da Concertación (1990-2010) modernizaram o país: alavancaram
a produção agroindustrial voltada para a exportação e o setor de serviços, adotaram
programas de despoluição e inovação tecnológica e conseguiram o crescimento contínuo
da economia nesses anos. Além disso, as políticas públicas, esquecidas durante a ditadura,
foram retomadas.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

Da revolução à democracia
O sociólogo Eugenio Tironi conta que o óbvio era que o espaço na TV para a
defesa do “No” fosse preenchido pela denúncia das atrocidades ditatoriais. Mas um
grupo "propôs o contrário: dar uma mensagem positiva, alegre. [...] o adversário
não era Pinochet [...]". Como nos comerciais de refrigerante, o produto oferecido
tornou-se coadjuvante diante do que verdadeiramente se vendeu: a felicidade. Pela
democracia, a campanha pelo “No” não associou o ódio a Pinochet, Coadjuvante: que
mas o prazer da liberdade, de livrar-se dos conflitos políticos e desempenha papel
secundário.
ideológicos e, claro, de estender o deleite do consumo à maior parte
da população.
(DAHÁS, [19--] apud AGGIO, 2013, p. 39).

a) S egundo Eugenio Tironi, o que se esperava dos defensores do “Não” a Pinochet no horário de
propaganda gratuita na TV?
b) Q
 ual foi a estratégia usada pelos adversários de Pinochet?
c) O que eles conseguiram com essa estratégia?

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Comparação entre Brasil e Chile quanto à política econômica
Política econômica
Brasil Chile
Duração 1964-1985 1973-1990
Política Desenvolvimentismo Neoliberalismo
econômica
• O governo militar brasileiro ampliou o tamanho • O governo militar chileno diminuiu o tamanho
do Estado e sua interferência na economia. do Estado e sua interferência na economia.
• Investiu em setores-chave da economia, como • Privatizou as empresas estatais, isto é,
energia, transportes e indústrias de bens de vendeu-as a particulares.
capital (bens que servem para a produção de • Abriu o mercado nacional às mercadorias
outros bens – máquinas, equipamentos etc.), com e aos capitais estrangeiros.
o objetivo de conseguir autonomia nesse setor. • Diminuiu os gastos estatais tendo em vista o
Características • Investiu em infraestrutura (estradas, portos etc.). equilíbrio das contas públicas.
• Contraiu empréstimos externos visando manter • Privatizou a educação superior e a previdência
altas taxas anuais de crescimento da economia. social.
• Manteve a educação e a previdência • Incentivou as exportações chilenas, inserindo
social públicas. o Chile no mercado internacional como um
• Adotou uma política trabalhista de compressão grande exportador de alimentos, com
dos salários dos trabalhadores de baixa renda. destaque para salmão, frutas (uvas e
ameixas) e vinho.

Concluindo: enquanto o regime militar brasileiro deu continuidade ao modelo adotado


na Era Vargas, o regime militar chileno adotou uma política econômica neoliberal, diminuindo
o tamanho do Estado por meio de uma política de privatização de empresas que haviam
sido estatizadas, ou seja, substituiu o modelo adotado no governo anterior por outro, que
hoje é responsável, em parte, pelo modo de inserção do Chile na economia internacional.

A ditadura na Argentina (1976-1983)


Na história recente da Argentina, os militares tiveram uma presença constante na
política. De 1930 e 1976 ocorreram seis golpes militares no país. No início dos anos 1970,
o ambiente político na Argentina era de crescente violência e radicalização política. Boa
parte do povo argentino pedia o retorno do ex-presidente Juan Domingo Perón, que se
encontrava exilado na Espanha.

O peronismo no poder
Em março de 1973, ocorreram eleições livres para presidente da República, que foram
vencidas pelo peronista Héctor Cámpora. Em junho do mesmo ano, Cámpora renunciou
para que fossem realizadas novas eleições presidenciais e Juan Domingo Perón assumisse
a presidência da Argentina. E foi o que de fato aconteceu.

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No ano seguinte, porém, Perón faleceu

ROLLS PRESS/POPPERFOTO/GETTY IMAGES


e o poder passou às mãos de sua esposa e
vice-presidente Isabelita Perón. Seu governo,
no entanto, não conseguiu o apoio da
maioria da população; ela era criticada,
inclusive, por parte dos peronistas. Além
disso, não conseguiu alavancar a economia
do país. Esses fatores somados abriram o
caminho para um novo golpe de Estado,
desfechado em 24 de março de 1976. Uma
junta militar formada por comandantes das
três armas e presidida pelo general Jorge
Rafael Videla assumiu o poder (1976-1981).
Assim como ocorreu em outros países
sul-americanos, o golpe teve apoio de uma
parte da sociedade e dos maiores meios
de comunicação (grande imprensa). A jus-
tificativa para o golpe era a mesma dada
pelos militares brasileiros e chilenos: com-
bater o inimigo interno, os “subversivos”,
libertar a sociedade da desordem e do
Juan Perón e sua esposa María Estela Martínez de comunismo e conduzir o país ao destino
Perón (Isabelita). Buenos Aires (Argentina), 1972. de grande nação.

Estado de terror e resistência


No plano econômico, o regime militar argentino estimulou as exportações, facilitou
a especulação financeira e inibiu os investimentos no setor fabril, gerando o que os espe-
cialistas chamam de desindustrialização.. Com isso, a economia entrou em declínio,
enquanto a inflação e as taxas de desemprego subiam consideravelmente.
A falta de habilidade na condução da economia contrastava com a violência e a
eficiência da repressão militar. O governo Videla perseguiu e prendeu seus opositores (tra-
balhadores, estudantes, empresários, religiosos, militares legalistas, políticos) e os conduziu
aos centros especializados em tortura e campos clandestinos de extermínio; e,
ali mesmo, destruiu-os. As organizações armadas de orientação socialista também foram
desmanteladas, e os opositores desapareceram, foram exilados ou engajaram-se na luta
pacífica por direitos humanos e redemocratização.
A ditadura argentina tinha uma dupla face: uma pública, submetida às leis, e outra
clandestina, à margem da legalidade.

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As Mães da Praça de Maio
Na resistência à ditadura militar argentina, merecem especial destaque as Mães da
Praça de Maio;; mães cujos filhos tinham desaparecido circulavam pela Praça de Maio
em silêncio e com um lenço branco na cabeça, como se estivessem procurando por
seus filhos. Assim, as “Loucas da Praça de Maio”, como as denominavam os militares,
chamavam a atenção do mundo para os crimes que vinham sendo cometidos pela
ditadura em seu país.
DANIEL GARCIA/AFP

Mães da Praça de Maio


depositam flores em
um monumento em
homenagem a Azucena
Villaflor, fundadora da
Associação de Direitos
Humanos à qual
pertencem. Buenos
Aires (Argentina), 1997.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

Comparação entre a ditadura brasileira e a argentina


O texto a seguir faz parte de uma entrevista com o professor titular da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), Rodrigo Patto Sá Motta.
Tenho proposto [...] o conceito de cultura política para explicar as diferenças
entre Brasil, Argentina e Chile. [...] Uma reflexão que estou desenvolvendo [...] é a
de que a cultura política brasileira tem um traço-chave: a busca da negociação, da
conciliação e de arranjos que evitem rupturas. Na política brasileira é muito forte o
apelo por moderação. Há momentos agudos, como no pré-64, quando entrevistados
dizem haver sentido um clima de guerra civil e que a expectativa era de um con-
flito tremendo; e os golpistas pediram ajuda norte-americana porque acharam que
haveria uma guerra longa. Mas daí vem um golpe sem sangue [...]. Você compara os

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golpes argentinos e brasileiros [...] entre as décadas de 1940 e 1960 e percebe uma
nítida diferença na manifestação da violência política. No Brasil tivemos uma série
de golpes: a retirada de Getúlio do poder em [...] 1945, o episódio da crise de 1954,
[...] a posse de Juscelino Kubitschek [...] e o golpe [...] em 1964. Muitos desses golpes
não provocaram sangue. Se a gente observa os golpes argentinos desse período,
todos terminaram em sangue. O caso mais [...] chocante é o golpe de 1955, um dos
episódios para a derrubada de Perón. Aviões bombardearam a Plaza de Mayo e [...]
houve centenas de mortes entre os que estavam ali concentrados para defender
Perón. [...] Na Argentina havia um clima de violência política entre facções que
aguçava o conflito e o ódio, o que não era resolvido na saliva, como no Brasil. Não
há este histórico no Brasil e isso estimulou os atores políticos à moderação e à
autocontenção. Por que pensar em fuzilar o Miguel Arraes, preso em Pernambuco,
se isso não tinha paralelo na história recente? Por que inaugurar uma violência
desse tipo, que no futuro pode trazer implicações? No Brasil atuavam forças e
tradições que estimulavam a moderação, enquanto na Argentina o estímulo era
para a violência. [...]
CAMPOS, Emerson César; FALCÃO, Luiz Felipe; LOHN, Reinaldo Lindolfo.
Tempo presente brasileiro: cultura política, ditaduras e historiografia da perspectiva de Rodrigo Patto Sá Motta.
Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 245-264, 2011. p. 253-254.

a) Qual foi o conceito usado pelo autor do texto para explicar as diferenças entre o Brasil e a
Argentina no tocante à violência política?
b) Como o autor caracteriza a cultura política brasileira?
c) Que diferença o autor estabelece entre Brasil e Argentina sobre o uso da violência política?
d) Em grupo. Com base no texto e no que vocês estudaram sobre as ditaduras argentina e
brasileira, vocês concordam com o autor em relação à diferença entre essas ditaduras quanto
ao uso da violência política? Justifiquem.

Motivações e impactos das políticas


adotadas na América Latina
No final de 1980, muitos países, entre os quais os da América Latina, encontravam-
-se endividados.
Nesse contexto, órgãos financeiros internacionais, a exemplo do Fundo Monetário
Internacional (FMI) e do Banco Mundial, decidiram que, para obter novos empréstimos, os
países devedores tinham de obedecer aos princípios do neoliberalismo, ou seja: diminuir a
intervenção do Estado na economia; reduzir gastos públicos; privatizar empresas estatais,
isto é, vendê-las a particulares; eliminar barreiras ao comércio internacional e criar um
ambiente favorável a investimentos externos.

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Assim, nas décadas de 1980 e 1990,

WILSON PEDROSA/AGÊNCIA ESTADO/AE


a maioria dos países latino-americanos
aderiu à política econômica neoliberal
a fim de renegociar suas dívidas. Essa
virada em direção ao neoliberalismo
aconteceu com força com Carlos
Menem, na Argentina; Alberto Fujimori,
no Peru; Carlos Salinas, no México e
Fernando Collor de Melo e Fernando
Henrique Cardoso (FHC), no Brasil.
Esses países, no entanto, não con-
seguiram o crescimento econômico
esperado. Em vez disso, conheceram a
queda da renda per capita,
capita, graves crises
Pedestres caminham ao lado de muro com dizeres
econômicas, concentração da riqueza, contrários à venda da Telebrás: “A Telebrás é do
aumento da desigualdade e crescimento povo!!!”. Brasília (DF), 1998.
da pobreza.
Em 2005, o Banco Mundial publicou um relatório reconhecendo que a Índia tinha
apresentado crescimento econômico e redução da pobreza extrema, sem privatizar empre-
sas ou aderir a outros princípios neoliberais. A “receita” neoliberal não era, portanto, a
única via para o crescimento econômico sustentável.
Na América Latina, a reação popular aos efeitos da política neoliberal foi eleger
líderes que prometiam políticas públicas voltadas aos mais pobres e aos grupos discrimi-
nados. Entre esses líderes estavam Evo Morales (na Bolívia), Néstor e Cristina Kirchner (na
Argentina), Tabaré Vázquez (no Uruguai), Rafael Correa (no Equador), Michelle Bachelet
(no Chile), Fernando Lugo (no Paraguai) e Luiz Inácio Lula da Silva (no Brasil); já o México,
a Colômbia e o Peru, mantiveram-se com governos neoliberais conservadores.
Os novos governantes atenderam – ainda que parcialmente – às demandas das
camadas populares por melhores condições de vida e adotaram políticas inclusivas que
contemplavam as populações marginalizadas (negras, indígenas, mulheres, LGBTQIA+,
ribeirinhos, entre outros). E, com esse olhar para a realidade, os governos populares con-
seguiram também a redução da pobreza extrema em seus respectivos países.
Em 2008, no entanto, uma crise econômica, tendo como epicentro os Estados Unidos,
impactou fortemente o mundo e contribuiu para a queda de governos populares e as
vitórias eleitorais de Mauricio Macri, na Argentina, em 2015; de Lenín Moreno, no Equador,
em 2016; de Sebastián Piñera, no Chile, em 2017; e de Jair Bolsonaro, no Brasil, em 2018.
A adoção de políticas neoliberais por esses governos conservadores, somada às con-
sequências dramáticas da pandemia da covid-19 sobre a economia mundial, acabou por
provocar maior concentração de renda, elevadas taxas de desemprego e aumento do
trabalho informal e da pobreza extrema.

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando

AGÊNCIA O GLOBO
1 Leia a manchete do
jornal O Globo, de 7 de
abril de 1964.
a) 
O que os militares
queriam dizer com “des-
comunizar” o país?
b) O
 que significa a expres-
são “Ato Institucional”?
c) Essa manchete do jornal
O Globo pode ser con-
siderada um indício do
alinhamento do governo
Castelo Branco a uma
das superpotências da
época? Justifique.

2 Leia o texto a seguir com atenção.

Os civis e militares que derrubaram João Goulart, em 1964, impuseram-se pela força,
mas procuraram fazer com que seu poder parecesse legítimo, por meio de atos
institucionais. O primeiro Ato Institucional (AI-1) permitia ao presidente suspender
direitos políticos por dez anos e cassar mandatos de parlamentares.
a) Com base no texto, qual o significado de:
• direitos políticos;
• cassação de mandatos parlamentares.
b) Elabore um comentário sobre o golpe de 1964, aplicando esses dois conceitos.

3 Copie no caderno a alternativa correta sobre a política econômica de Castelo


Branco.
a) Cortou os gastos públicos, aumentou a arrecadação e beneficiou os assalariados.
b) Cortou os gastos públicos, diminuiu a inflação, mas sacrificou os assalariados.
c) Aumentou os gastos públicos e a inflação, desequilibrando as contas do governo.
d) Não influenciou o resultado das eleições de 1965.
e) Influenciou o resultado das eleições, dando a vitória ao governo.

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4 Observe a imagem da Passeata dos Cem Mil, ocorrida no Rio de Janeiro em 1968.

CPDOC JB/FOLHAPRESS
As mulheres que aparecem de mãos dadas em primeiro plano, da esquerda para a direita, são as atrizes
Eva Tudor, Tônia Carrero, Eva Wilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Benguell. Rio de Janeiro (RJ), 1968.

a) Qual era o objetivo da Passeata dos Cem Mil? Quem participou?


b) A
 participação das mulheres foi tão importante para a resistência democrática que o cartunista
Ziraldo usou a expressão “Mulheres do meu tempo” em tom elogioso. Por quais motivos elas
lutavam?

5 Leia a letra da música.


“Noventa milhões em ação

GRAVADORA RGE
Pra Frente, Brasil
Do meu coração
Todos juntos, vamos
Pra Frente, Brasil
Salve a Seleção!
De repente é aquela corrente pra frente
Parece que todo o Brasil deu a mão
Todos ligados na mesma emoção
Tudo é um só coração!
Todos juntos, vamos
Pra frente Brasil, Brasil
Salve a Seleção!”
GUSTAVO, Miguel. “Pra frente, Brasil”. In: AQUINO, Rubim
Santos Leão de. Futebol: uma paixão nacional. Fac-símile da capa do disco Pra frente, Brasil,
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 94. produzido para a Copa de 1982.
a) Qual a mensagem principal explícita na letra da música?
b) Em que contexto essa canção foi composta?
c) Por que muitos jovens aderiram à luta armada contra a ditadura e como eles agiam?

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6 Observe a tabela com atenção.

O “milagre” brasileiro
Exportações Importações Dívida externa
Crescimento
Ano Inflação (%) (em bilhões (em bilhões (em bilhões
do PIB (%)
de dólares) de dólares) de dólares)
1968 10 27 1,9 1,9 3,8
1969 10 20 2,3 2 4,4
1970 10 16 2,7 2,5 5,3
1971 11 20 2,9 3,2 6,6
1972 12 20 4 4,2 9,5
1973 14 23 6,2 6,2 12,6
Fonte: PRADO, Luiz C. D.; SÁ, Fábio. O “milagre” brasileiro: crescimento acelerado, integração internacional e concentração
de renda (1967-1973). In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida N. O tempo da ditadura: regime militar e
movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. v. 4, p. 223.

a) D
 e acordo com a tabela e seus conhecimentos sobre o assunto, pode-se afirmar que o milagre
econômico foi uma combinação de:
I. um crescimento da economia em cerca de 11% ao ano, uma inflação relativamente baixa
e um aumento considerável do comércio exterior.
II. um crescimento da economia menor do que 10%, uma inflação relativamente baixa e uma
diminuição do comércio exterior.
III. um crescimento da economia em torno de 11%, uma inflação estratosférica e uma balança
comercial negativa.
IV. um crescimento da economia por volta de 11%, taxas de inflação reduzidas e quedas
constantes no comércio exterior.
b) A
 maioria dos historiadores concorda que o milagre econômico ocorreu por fatores internos
e externos. Quais foram esses fatores?
c) Qual foi o setor da indústria que mais cresceu durante o chamado “milagre econômico”?
d) Diferencie indústria de bens de consumo duráveis de indústria de bens de capital.

7 Leia um trecho do samba “Milagre brasileiro”, de Julinho da Adelaide (pseudônimo


de Chico Buarque), e responda:
Cadê o meu, ó meu? É o verdadeiro boom
Dizem que você se defendeu Tu tá no bem bom
É o milagre brasileiro Mas eu vivo sem nenhum
Quanto mais trabalho [...]
Menos vejo dinheiro
MILAGRE brasileiro. Intérprete: Miúcha. Compositor: Julinho da Adelaide. In: MIÚCHA - 1980.
Produção: Miúcha, Piii e Novelli. [S. l.]: RCA Victor, 1980. 1 LP, faixa 6.
a) Que linguagem o compositor usou nessa canção? Cite versos que expressem isso.
b) Por que Chico Buarque assinou a música como Julinho da Adelaide?
c) Interprete o trecho “Tu tá no bem bom / Mas eu vivo sem nenhum”, tendo por base a economia.

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8 Observe a fotografia a seguir, das Mães da Praça de Maio.

STF/AFP
Membros da organização de direitos humanos Mães da Praça de Maio seguram uma faixa
reivindicando seus filhos e filhas desaparecidos antes de marchar do Congresso para o Palácio
Presidencial. Buenos Aires (Argentina), 28 de outubro de 1982.

a) Quem eram as Mães da Praça de Maio?


b) Qual era o objetivo dessas mães?
c) Um símbolo importante entre as Mães da Praça de Maio é o lenço branco amarrado na cabeça.
Em sua opinião, o que esse lenço representava?

9 Em relação às ditaduras militares na América do Sul, como a da Argentina, avalie as


afirmações a seguir.
I. Em 1973, Juan Perón foi eleito e, no ano seguinte, veio a falecer. Sua esposa, Isabelita Perón,
não conseguiu alavancar a economia do país nem conquistar o apoio popular que o esposo
tinha, fato que abriu o caminho para um novo golpe de Estado; assumiu o poder, então, uma
junta presidida pelo general Jorge Rafael Videla.
II. Na Argentina, Juan Domingo Perón estava no poder quando sofreu um golpe de Estado e
foi substituído pela ditadura do general Jorge Rafael Videla.
III. A ditadura argentina do general Videla foi uma das mais violentas e repressoras. Foram
formados centros especializados em tortura e campos de extermínio. Na resistência à dita-
dura militar, estavam as Mães da Praça de Maio, movimento social das mães cujos filhos
estavam desaparecidos.

Copie no caderno a alternativa correta, sendo V para as verdadeiras e F para as falsas.


a) V, F, V c) F, V, F
b) V, V, V d) F, V, V

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II. Leitura e escrita em História
Vozes do passado
Leia o trecho de um depoimento do produtor cultural Tutti Maravilha.
Na época a gente estava em ditadura. [...]. Então tinha aquela história de o roteiro do
show, o que ia tocar, ser cantado; o texto, quando era teatro, tinha que passar pela censura
local, então eu levava isso na censura, eles carimbavam, liberado, ia para o teatro, tinha
que fazer o ensaio. A coisa chata da ditadura, que eu vi nessa época de produção, era isso:
que a gente tinha que fazer o show de tarde, antes da estreia, para os censores – que eram
dois, era uma mulher e um outro – ficavam sentados com a plateia vazia e você tinha que
fazer o show inteirinho. Era assim. [...] Eu lembro, teve um caso... foi Marília Pêra [...]. Bom,
ela cantava "Os três vinténs", de Brecht, um pedacinho, você acredita que
FOLHAPRESS/FOLHAPRESS

eles cortaram? É. Não podia cantar no show. Ela falou: “O que é isso?”.
E assim... Cada local tinha uma Censura, ela falava: “Tutti, eu estou
cantando, cantei isso no Rio, já fiz esse show no Rio”. Aqui não podia.
MACHADO, Ailton José (Tutti Maravilha). Um suspeito censor. [Entrevista cedida a] Lucas Torigoe.
Museu da Pessoa. Belo Horizonte, 23 set. 2019. Disponível em: https://acervo.museudapessoa.org/pt/
conteudo/historia/um-suspeito-censor-166732. Acesso em: 19 abr. 2022.

Artistas usam as escadas do Theatro Municipal de São Paulo como palco


do protesto da classe teatral contra a censura. São Paulo (SP), 1968.

a) T omando-se por base a leitura do texto, o que se pode inferir sobre a liberdade de criação e
expressão durante os tempos da ditadura?
b) E
 m dupla. Reflitam, debatam e opinem sobre a existência de uma censura prévia aos shows
musicais, filmes e espetáculos teatrais em uma sociedade.

ESCUTAR E FALAR
Imagine que você vivesse em um uma época em que suas mensagens pelo celular
sofressem censura prévia e na qual os conteúdos em plataformas de streaming também
fossem controlados por censores. Como você se sentiria?
Ensaie e prepare-se para falar sobre esse assunto para os colegas e o professor.
Autoavaliação. Responda em seu caderno.
a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

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Vozes do presente

A Comissão da Verdade no Brasil


Em 18 de novembro de

ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA
2011, o governo brasileiro
criou a Comissão Nacional
da Verdade (CNV), com o
objetivo de apurar as res-
ponsabilidades pelos crimes
de tortura, assassinato e
desaparecimento forçado
cometidos pelo Estado
brasileiro contra seus opo-
sitores durante a ditadura
civil-militar que vigorou no
Brasil entre 1964-1985.
O objetivo era promo-
ver a apuração das violações
dos direitos humanos prati- Ato em memória aos presos políticos, mortos e desaparecidos
no antigo DOI-Codi. São Paulo (SP), 2019.
cadas durante a ditadura
para efetivar o direito à
memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.
Em 2014, o relatório entregue pela CNV listou 377 pessoas como responsáveis pelas
práticas de tortura e assassinatos durante a ditadura civil-militar brasileira. A apuração foi
feita com base em documentos escritos, atestados de antecedentes, fichas individuais de
presos políticos, depoimentos de vítimas e testemunhas, incluindo policiais e militares que
atuaram na repressão. A Comissão identificou os responsáveis, mas não tinha poder de
puni-los.
a) Explique com suas palavras por que a Comissão Nacional da Verdade foi criada.
b) Identifique e comente os tipos de fonte utilizados pela CNV, mencionados no texto.
c) Em grupo. Convidem uma pessoa da comunidade que tenha entre 65 e 70 anos e façam
uma entrevista com ela para descobrir como era viver nos tempos da ditadura.
Sugestão de pauta da entrevista.
• Política: Quem escolhia os governantes? Havia manifestações populares nas ruas?
• Cultura: Como eram as programações de TV da época? Soube de alguma obra (cinema,
música, teatro) que foi censurada? Qual? Por quê?
• Economia: Como era a situação econômica da maioria da população?
• Educação: Como era composta a disciplina de Estudos Sociais criada à época? Essa disciplina
ainda existe? Como era lecionar naquela época?

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#JOVENS NA Análise
HISTÓRIA docume
ntal

PASSO 1 Ler

UNICEF
O direito às raízes
O tewte pendurado no pescoço e o vipuki no
rosto de Rosane Martins, de 16 anos, reafirmam
suas origens. “Fui eu mesma que fiz, sou uma das
artesãs da aldeia”, fala com orgulho. A adolescente
é parte do povo indígena puyanawa, que significa
gente do sapo grande, situado a 17 km do município
de Mâncio Lima, no Acre. “Nosso povo foi sofrido
no passado. Tivemos nossa cultura praticamente
destruída e hoje estamos tentando resgatá-la”,
conta. Com apenas 16 anos, Rosane busca reviver
a história de seu povo e levar esse legado para
outros adolescentes da própria comunidade.
Como protagonista na aldeia, foi uma dos
53 adolescentes selecionados em todo o Brasil
para construir um manifesto em celebração aos Fac-símile da capa do livro 30 anos
30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança, da Convenção sobre os Direitos da
e foi até Brasília para representar as crianças Criança: avanços e desafios para
indígenas. meninas e meninos no Brasil.
[...]
[...] Filha de um dos líderes, cresceu com o direito à sua cultura latente na família.
Seus pais estão entre as primeiras pessoas que tiveram o pensamento de resgatar a
cultura puyanawa por meio da espiritualidade, trabalhando para resgatar a música, a
história e a arte do passado.
Tanto assim que é moradora da única casa de palha da comunidade, mantida por
seu pai, que almeja manter a tradição.
Cursando o 2o ano do ensino médio, Rosane estudou a vida inteira na escola
indígena da sua comunidade. Para ela, a sua escola é bastante representativa da
cultura do povo puyanawa, começando por ter “estrutura de desenho indígena e ser
toda de tábua”, como descreve. [...]
[...] é assim que Txukukayti [nome indígena de Rosane] luta e se dedica a mostrar
para outros adolescentes a importância de manter a cultura de seu Tewte: colar,
povo. E essa representatividade a levou longe: foi da aldeia à capital na língua
federal. indígena
[...] puyanawa.

Fora do Acre pela primeira vez, a adolescente viajou a Brasília Vipuki: nome
da pintura
representando sua cultura, suas tradições e para dizer: crianças indí-
feita no rosto.
genas também têm voz.

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Chegar à capital foi uma surpresa. “Tudo é diferente daqui pra lá. Barulho de
carros, clima diferente, conhecimento novo e gente nova”, diz. Apesar das diferen-
ças, Rosane estava motivada em participar do encontro promovido pelo Unicef com
53 adolescentes do Brasil inteiro. Cada um levou sua voz para construir a Carta
de Brasília, manifesto resultado de três dias de imersão, que celebra os 30 anos da
Convenção sobre os Direitos da Criança, mas também lembra dos desafios que ainda
devem ser enfrentados.
[...]
O DIREITO às raízes. Unicef Brasil. Brasília, DF, 20 nov. 2019.
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/historias/o-direito-as-raizes. Acesso em: 23 mar. 2022.

PASSO 2 Questionar
a) Quem é Rosane Martins ou Txukukayti?
b) Que elementos permitem inferir que a jovem puyanawa se identifica como indígena?
c) Por que a jovem foi escolhida para ir a Brasília representar as crianças indígenas na elaboração de um
manifesto?
d) Você considerou o título do texto adequado? Justifique.

PASSO 3 Pesquisar e agir


e) Em grupo. Pesquisem sobre A Convenção dos Direitos da Criança e sobre o documento de comemoração
dos 30 anos dessa Convenção. Façam um levantamento sobre as seguintes informações: quem produziu
os dois documentos? Para quem a Convenção foi escrita? Em que contexto? Quais são as palavras mais
encontradas no documento? Quais são os objetivos da Convenção? Ela contribuiu para um maior respeito
aos direitos da criança? A Convenção tem mais de 30 anos. Ela ainda é importante nos dias de hoje? Se
sim, por quê?
f) Em seguida, organizem as respostas e elaborem um relatório analisando e comparando os documentos
citados. Considerem as informações que vocês já possuem e as novas informações encontradas nos
documentos.

PASSO 4 Apresentar e publicar


g) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais e marquem a postagem com a #jovensnahistória.

PASSO 5 Avaliar
h) Realizei as tarefas a que me propus?
i) Cumpri os prazos combinados?
j) Expressei minhas ideias com objetividade?
k) Escutei meus colegas com atenção e respeito?
l) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
m) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

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UNIDADE

4 O MUNDO
CONTEMPORÂNEO

No mundo atual, sob o nome de República (res = coisa; publica = do povo) há repú-
blicas que conservam práticas autoritárias e outras que abrem espaço para o exercício
da cidadania.
No Brasil, desde quando foi proclamada, em 1889, a República conheceu alguns
períodos de autoritarismo e outros de maior participação popular. Independentemente
dessas oscilações, as lutas populares pela conquista e ampliação de direitos atraves-
saram toda a história republicana. Esse processo, porém, não foi progressivo, mas sim
entremeado por avanços e recuos, rupturas e permanências, como mostram as imagens
desta abertura de unidade.

CASSANDRA CURY/PULSAR IMAGENS

Mulheres kayapó participam da 2a Marcha Nacional das Mulheres Indígenas. Brasília (DF), setembro de 2021.

Manifestação pelo Dia


ROBERTO SUNGI/FUTURA PRESS

da Consciência Negra
na Avenida Paulista.
São Paulo (SP), 2021.

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ANGYALOSI BEATA/SHUTTERSTOCK.COM
Manifestação em defesa dos direitos da comunidade LGBTQIA+. Estados Unidos, 2020.

CHICO SANTIAGO/PREFEITURA DE OLINDA

Campanha pelo fim da violência doméstica contra as mulheres. Olinda (PE), 2009.

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CAPÍTULO

13 BRASIL
CONTEMPORÂNEO
BIA ALVES/FOTOARENA

Instalação artística produzida no dia da votação da Lei da Ficha Limpa. A fotografia mostra a praia de
Copacabana com vassouras, baldes, rodos e panos de chão. Rio de Janeiro (RJ), novembro de 2011.

1. Qual é a relação dessa fotografia com a votação da Lei da Ficha Limpa?


2. Você já ouviu falar dessa lei? Sabia que ela foi criada por meio de iniciativa popular?
3. Sabia que ela teve a seu favor 1 milhão e 300 mil assinaturas de cidadãos de todo o Brasil?
4. Sabia que ela impede a candidatura daqueles que foram condenados por compra de votos ou por corrupção?
Neste capítulo, você vai ter contato com a história recente do Brasil e com os desafios
que temos pela frente, inclusive o de enfrentar o “fantasma” da corrupção, presente há
muito tempo na vida social brasileira.

266

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Governo João Figueiredo
Em 1979, o presidente Ernesto Geisel indicou, como candidato da Arena à presidência,
o general João Baptista de Oliveira Figueiredo, que foi então eleito presidente da República
por meio de eleições indiretas.
O presidente João Figueiredo, que

GOVERNO FEDERAL/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA


governou de 1979 a 1985, assumiu o
poder em um momento em que o país
enfrentava grave crise econômica e as
manifestações de resistência ao regime
se intensificavam. Uma delas foi a greve
dos metalúrgicos do ABCD Paulista, que
começou em 13 de março de 1979,
dois dias antes da posse do presidente
Figueiredo. Inicialmente, os operários
exigiam reajustes de salários; mas, com
a evolução do movimento, passaram a
exigir também liberdades democráticas. A
liderança dessa greve coube ao Sindicato
dos Metalúrgicos de São Bernardo do
Campo e Diadema, presidido à época
por Luiz Inácio da Silva, o Lula.
Em 1979, no mês de novembro, o
Fotografia oficial de João Figueiredo,
governo Figueiredo aprovou o fim do presidente do Brasil entre 1979 e 1985.
bipartidarismo. Com isso, a Arena e
o MDB foram extintos e formaram-se novos partidos. Da Arena se formou o Partido
Democrático Social (PDS);; o MDB deu origem a quatro novos partidos: o Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB),, liderado por Ulysses Guimarães; o Partido
Popular (PP),, encabeçado por Tancredo Neves; o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB),,
liderado por Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio Vargas; e o Partido Democrático
Trabalhista (PDT),, fundado por Leonel Brizola. Em 1980, foi fundado também o Partido
dos Trabalhadores (PT),, que reunia sindicalistas, intelectuais e militantes de movimentos
sociais e era liderado por Lula.
No ano seguinte, dando continuidade à abertura “lenta e gradativa”, o governo resta-
beleceu as eleições diretas para governador. Em 1982, em meio à crescente impopularidade
da ditadura civil-militar, a oposição venceu as eleições para governador em estados como
São Paulo (Franco Montoro – PMDB), Minas Gerais (Tancredo Neves – PMDB), Paraná (José
Richa – PMDB) e Rio de Janeiro (Leonel Brizola – PDT). E, a oposição, animada com esse
resultado, fortaleceu seu ideal de votar para presidente.

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Em março de 1983, o deputado pelo Mato

CYNTHIA BRITO/OLHAR IMAGEM


Grosso, Dante de Oliveira, do PMDB, propôs
uma emenda constitucional que estabelecia
eleições diretas para presidente da República.
A Emenda Dante de Oliveira logo ganhou
grande popularidade e inspirou a campanha
das Diretas Já,, a mais popular da República.
Um comício realizado em São Paulo,
em 27 de novembro de 1983, alavancou a
campanha por eleições diretas para presi-
dente da República. A campanha das Diretas
Já logo se espalhou pelo país, animada por
shows..
comícios-shows
comícios-

# DICA!
Reportagem sobre as Diretas Já.
SÉRIE sobre as Diretas Já relembra votação da emenda
Manifestação por eleições Dante de Oliveira. 2014. Vídeo (5min22s). Publicado
pelo canal TV Brasil. Disponível em: https://youtu.be/
diretas no Congresso Nacional.
JkwJBUJWizk. Acesso em: 11 abr. 2022.
Brasília (DF), 1984.

O protagonismo da sociedade brasileira


Nas décadas de 1970 e 1980, os movimentos sociais mostraram sua força, ocuparam
e participaram ativamente do processo de abertura política.
As organizações populares que representavam mulheres, negros, homossexuais, entre
outros, articularam-se com os partidos políticos, com o objetivo de fortalecer sua atuação
no cenário político.
Uma das conquistas dessas organizações foi a inclu-
INSTITUTO HENFIL

são das “emendas populares” no regimento interno da


Assembleia. As emendas, para serem aceitas, deveriam
conter 30 mil assinaturas. Ao longo da Constituinte
foram enviadas 122 emendas populares contendo 12
milhões de assinaturas! Nesse contexto, um dos movi-
mentos mais atuantes foi o Plenário Pró-Participação
Popular na Constituinte. Seu lema era “Constituinte
sem povo não cria nada de novo”.

Fac-símile do cartaz elaborado pelo cartunista Henfil para


o Plenário Pró-Participação Popular na Constituinte, 1987.

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Os movimentos de trabalhadores se fortaleceram com a criação de centrais sindicais e
movimentos sociais, a exemplo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1983, e do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em 1984. Eles também participaram
ativamente do movimento Diretas Já!
Os movimentos populares lançaram jornais, folhetos, manifestos, cartas abertas à
população e cartilhas para divulgar suas propostas a um público mais amplo. Além disso,
fizeram marchas rumo à Brasília com a intenção de pressionar os deputados constituintes
a introduzirem na Constituição suas demandas.
Os trabalhos da Constituinte também foram acom-

EDITORA THOTH
panhados por órgãos da Igreja, como a Confederação
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); e da sociedade
civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);
o Movimento Negro que tinha entre suas demandas o
combate ao racismo e a inclusão da história da África e
dos afrodescendentes nos currículos escolares; e por orga-
nizações indígenas, como a União das Nações Indígenas
(UNI), que pleiteavam a substituição da ideia de “assimila-
ção” pelo “direito à diferença”.
O movimento estudantil também se fez presente
por meio da União Nacional dos Estudantes (UNE) e das
Uniões Estaduais dos Estudantes (UEES) e ocupou audi-
tórios e teatros das universidades para debater sobre o
momento político que o país vivia.
As mulheres, por sua vez, também se engajaram no
movimento pela redemocratização. O Movimento de Luta Fac-símile da capa do livro
30 anos da Constituição Cidadã:
por Creches surgiu no 1o Congresso da Mulher Paulista. desafios e perspectivas.
Com isso, movimentos de união de mulheres começaram
a aparecer por todo o país.
Em 1983, em São Paulo, foi criado o Conselho Estadual Dialogando
da Condição Feminina, a fim de contribuir para a elaboração
a Por que a Constituição de
de políticas públicas e fiscalização de crimes contra a mulher. 1988 (a atual constituição
Abriam-se, assim, por todo país, canais de discussão sobre os brasileira) ficou conhecida
direitos das mulheres na nova Constituição. como “Constituição
Enfim, movimentos populares e entidades da socie- Cidadã”?
dade civil apresentavam suas demandas em um momento b Em grupo. Debatam,
de intensos debates na Constituinte, debates estes que reflitam e respondam:
os artigos que dizem
antecederam a aprovação da Constituição de 1988 e a respeito à cidadania na
marcaram profundamente. Daí o apelido dado a ela de Constituição de 1988 foram
“Constituição Cidadã”. doados ou conquistados?

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Apesar de sua enorme popularidade, a Emenda Dante de Oliveira
não conseguiu os dois terços de votos no Congresso Nacional, exi-
gidos para a sua aprovação, o que resultou em frustração para a
maioria dos brasileiros. Com isso, a eleição para a presidência da
República continuou sendo indireta. Em 1985, a presidência foi dispu-
tada por Paulo Maluf, candidato da situação (PDS), e Tancredo Neves,
Aliança Democrática:
candidato da Aliança Democrática.
Democrática. Tancredo Neves venceu com
frente formada pela grande folga (480 votos contra 180), mas não chegou a assumir, pois
aliança do PMDB com foi hospitalizado em 14 de março, véspera da posse, e, em razão de
uma parte do PDS.
complicações posteriores, morreu em 21 de abril de 1985.

Dialogando
Após a morte de Tancredo, ele foi tratado como herói pela mídia. O caixão com
seu corpo foi levado até o Palácio do Planalto. Seu nome foi escrito no Livro de
Aço do Panteão da Pátria e da Liberdade. Por que será que Tancredo Neves foi
transformado em herói nacional?

Governo José Sarney


Com a morte de Tancredo, o vice José Sarney assumiu
JUCA MARTINS/OLHAR IMAGEM

a presidência da República. Ele tinha sido homem de


confiança da ditadura civil-militar, por isso era visto com
reserva pelos setores democráticos. Com o objetivo de
ganhar a confiança desses setores, Sarney restabeleceu
eleições diretas para a presidência da República, estendeu
o direito de voto aos não alfabetizados e prometeu ao
país uma nova Constituição. O lema de seu governo era:
“Tudo pelo social”.
Sarney assumiu o poder em um momento em que
a inflação crescia em média 18% ao mês, corroendo os
salários e gerando uma grande insatisfação social. Para
enfrentar essa situação, em 1986, o governo Sarney lançou
o Plano Cruzado, o qual previa:
• a criação de uma nova moeda, o cruzado, para substituir
o cruzeiro (cada cruzado correspondia a 1 000 cruzeiros);
• o congelamento de preços, tarifas e serviços;
• o reajuste automático dos salários sempre que a inflação
Presidente José Sarney
acumulada atingisse 20%;
no Palácio do Planalto.
Brasília (DF), 1985. • a criação do seguro-desemprego.

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JOSÉ ROSENBERG/ABRIL COMUNICAÇÕES S/ABRIL CONTEÚDO

ALEXANDRE TOKITAKA/FOLHAPRESS
À esquerda, bótons usados pelos “fiscais do Sarney”. À direita, consumidora no papel de fiscal confere
o preço de um produto na tabela de preços da Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab).
São Paulo (SP), 1986.

Nos primeiros meses do plano, a inflação caiu bastante e a popularidade do governo


cresceu. Mas, com o congelamento dos preços, ocorreu uma corrida ao consumo. Com
isso, começaram a faltar mercadorias nos supermercados, algumas de primeira necessi-
dade. Aproveitando-se dessa situação, muitos empresários passaram a praticar o ágio
– cobrança acima da tabela. Então, o governo acionou a Polícia Federal e descobriu que
havia “boi gordo no pasto”, isto é, havia fazendeiros que se negavam a abater o gado;
por isso, começou a faltar carne para a população.
Apesar disso, o governo manteve o congelamento de preços e, com isso, venceu
as eleições parlamentares e para os governos estaduais, ocorridas em 1986. O PMDB,
do presidente Sarney, elegeu a maioria dos governadores, senadores e deputados.
Vencidas as eleições, o governo Sarney reajustou os preços das tarifas públicas (água,
luz e gás), da gasolina, do álcool. Esses reajustes foram muito mal-recebidos pela
população, que se sentiu enganada pelo governo. Ao mesmo tempo, com a liberação
dos preços, a inflação disparou, corroendo os salários dos trabalhadores e gerando
grande instabilidade social.

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A Constituição Federal de 1988
Enquanto isso, deputados e senadores, reunidos no Congresso, discutiam uma nova
constituição para o país. Os movimentos sociais (negro, indígena, operário, feminista, entre
outros) participaram intensamente dessas discussões, reivindicando direitos e exercendo
sua cidadania. Em virtude dessa intensa participação popular, a Constituição de 1988
incorporou importantes avanços sociais.
a) Forma e regime de governo:: república federativa e presidencialista. Previa-se,
para 1993, a realização de um plebiscito para escolher entre o presidencialismo e o
parlamentarismo.
b) Eleições:: ficavam estabelecidas eleições diretas para presidente, governadores e prefei-
tos de cidades com mais de 200 mil eleitores. Caso nenhum dos candidatos obtivesse
a maioria absoluta (50% + 1) dos votos no primeiro turno, haveria um segundo turno.
O mandato presidencial foi reduzido para quatro anos.
c) Voto:: os não alfabetizados ganharam o direito de votar. O voto tornou-se obrigatório
para os brasileiros maiores de 18 e menores de 70 anos de idade, e facultativo para
os maiores de 70 anos e para os jovens com 16 ou 17 anos de idade.
d) Legislação de trabalho:: a jornada semanal passou de 48 horas para 44 horas; o
trabalhador com registro em carteira obteve o direito a um abono ao sair de férias;
foram garantidos o seguro-desemprego e o 13o salário para os trabalhadores; a pessoa
demitida sem justa causa obteve o direito de receber o correspondente a 40% de saldo
do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); a licença-maternidade passou para
120 dias; e criou-se a licença-paternidade, de 5 dias.
e) Povos indígenas:: a participação dos indígenas nos traba-
Inafiançável: quando o acusado
lhos da Constituinte foi vitoriosa. O artigo 231 reconheceu
não tem o direito de pagar fiança
para responder ao processo em aos indígenas os direitos originários sobre as terras que
liberdade; fiança é o depósito tradicionalmente ocupam; ao governo caberia demarcá-las.
de um valor em dinheiro feito
pelo acusado (ou em seu nome) f) R
 elações raciais:: o movimento negro também obteve con-
com o objetivo de conseguir a quistas; o artigo 5o da Constituição definiu o racismo como
liberdade. crime inafiançável e imprescritível
imprescritível,, sujeito a reclusão, nos
Imprescritível: significa que
termos da lei.
a qualquer momento o Estado
pode processar o acusado, g) Liberdades civis:: garantiu a liberdade de expressão e a
puni-lo e executar a pena dada iniciativa popular para proposição de novas leis e proibiu a
a ele.
censura.
SALOMON CYTRYNOWICZ/OLHAR IMAGEM
Comemoração do
aniversário de um ano da
instalação da Assembleia
Constituinte. Brasília
(DF), 1988.

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Lutas e conquistas indígenas
Segundo o IBGE, em 2019, a população indígena brasileira
era de 896 917 pessoas. Destas, a maioria vivia em terras indíge-
nas e uma parte menor vivia fora dessas terras, no campo ou na
cidade. Eram 305 povos e 274 línguas indígenas Amazônia Legal:

RENATO SOARES/PULSAR IMAGENS


das quais somente metade era de fato conhe- é composta de nove
estados.
cida. A maior parte das terras indígenas está na
Amazônia Legal.
Legal.
As lutas indígenas por direitos vêm de muito tempo. No século
XX, as organizações indígenas e de seus aliados deram impulso a
essa luta e, em virtude de seu protagonismo, a Constituição brasileira Indígena da etnia waurá
da aldeia Piyulaga com
de 5 de outubro de 1988 reconheceu três importantes direitos: o pintura corporal e cabelo
direito à diferença; o direito originário sobre as terras que tradicio- pintado com urucum.
nalmente ocupam; o direito a um Ensino Fundamental regular em Parque Indígena do Xingu
(MT), 2019.
Língua Portuguesa e ao uso de suas línguas maternas e de processos
próprios de aprendizagem.

ANDRE DIB/PULSAR IMAGENS


Em 1999, o Ministério da Educação fixou normas de funcio-
namento das escolas indígenas e o direito ao estudo bilíngue da
história e da ciência indígenas. Em 2008, a Lei no 11.645 fixou a
obrigatoriedade do estudo da história e da cultura afro-brasileira
e indígena.
Apesar dessas conquistas, são muitos os desafios enfrentados
pelos povos indígenas hoje. Suas principais demandas na atualidade
são: direito à terra: indispensável para sua reprodução física e cultural;
autodeterminação: decidir sobre o seu desenvolvimento econômico,
social e cultural; reconhecimento de sua indianidade e suas identi-
Indígena da etnia kisêdjê
dades; recusa à assimilação forçada e à destruição de suas culturas; da aldeia Khikatxi
respeito, na prática, aos direitos reconhecidos na lei. fazendo fios de algodão.
Ou, como disse a advogada e primeira deputada federal indí- Querência (MT), 2021.
gena eleita Joênia Wapichana:
FABIO COLOMBINI

[…] Nós estamos lutando pelos direitos que já são reco-


nhecidos. [...] Para que não sejam violados, para que não sejam
desrespeitados e para que haja um avanço nisso.
WAPICHANA, Joênia. O Brasil imagina que o indígena é uma questão só de pintura e
vestimenta. [Entrevista cedida a] ONU News, [s. l.], 20 dez. 2018. Disponível em: https://
news.un.org/pt/interview/2018/12/1652611#:~:text=Muitas%20vezes%20n%C3%A3o%20
entendem%20o,outros%20falam%20as%20l%C3%ADnguas%20pr%C3%B3prias.
Acesso em: 23 mar. 2022.

Jovens e crianças em dança de roda e cantos em


aldeia indígena xavante. Campinápolis (MT), 2021.

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Eleições de 1989

RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS


No último ano do governo Sarney, o povo
brasileiro se encontrava bastante insatisfeito,
em razão das seguidas denúncias de corrup-
ção envolvendo membros do governo e à crise
econômica, e manifestava sua insatisfação por
meio de protestos, greves e saques às lojas e aos
supermercados. Nesse ambiente conturbado se
iniciou a campanha presidencial de 1989.
Um dos candidatos era o então governador
de Alagoas, Fernando Collor de Mello, do Partido
da Reconstrução Nacional (PRN). Ele era membro
de uma família tradicional e criticava duramente
a corrupção, apresentando-se como “caçador de
marajás”
marajás “descamisados”.
” e protetor dos “descamisados ”.
Fernando Collor de Mello em campanha Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, o principal adver-
eleitoral na Rocinha, Rio de Janeiro (RJ), sário de Collor, tinha origem operária e defendia a
em 1989. Na relação com o público, ele se
saía bem: seus gestos eram inflamados; reforma agrária, o fim da pobreza e a suspensão
suas promessas, mirabolantes. imediata do pagamento da dívida externa brasileira.

Marajá: funcionário
público com altos Governo Collor
salários e que tinha
suas despesas Quando Collor assumiu o poder, em 15 de março de 1990, a
particulares pagas
pelo governo, o inflação acumulada em 12 meses tinha atingido o alarmante índice de
que caracteriza 1 764,8% ao ano. Prometendo que resolveria o problema da inflação
corrupção.
“com um só tiro”, o novo presidente lançou o Plano Collor, que:
Descamisado:
pessoa que vivia a) bloqueou, por 18 meses, todo o dinheiro acima de 50 mil cru-
abaixo da linha da zados novos que estava depositado em contas bancárias de
pobreza; excluído.
pessoas e empresas;
b) congelou os preços, demitiu funcionários públicos e elevou os
impostos;
c) elevou os juros, com o objetivo de diminuir o consumo;
d) iniciou um processo de privatização, isto é, venda de empresas
estatais para particulares;
e) eliminou vários impostos sobre as importações, ocasionando a
entrada de uma enxurrada de produtos estrangeiros no Brasil,
de brinquedos a automóveis.

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Retirando o dinheiro de circulação, freando o consumo, abrindo o mercado brasileiro às
importações e forçando a queda nos preços dos produtos nacionais, o governo conseguiu
diminuir a inflação para 10% ao mês. Em compensação, as vendas no comércio e a pro-
dução industrial caíram muito. Muitas empresas faliram; outras, reduziram os salários e/ou
despediram funcionários, ocasionando um aumento do desemprego. A economia entrou
em recessão
recessão..

A luta pela ética na política


A insatisfação popular com a economia Recessão: crise econômica persistente, caracterizada por
aumentou ainda mais com a explosão de queda no produto interno bruto (PIB) durante seis meses
consecutivos, com redução na quantidade de bens e
um grande escândalo, descoberto em 13 de serviços produzidos e com aumento do desemprego.
maio de 1992, o Esquema PC:: uma vasta Impeachment: ato do Poder Legislativo destinado a
rede de corrupção liderada pelo empresário destituir uma alta autoridade de um cargo, por exemplo
o presidente da República, com base em uma denúncia
Paulo César Farias, amigo e tesoureiro da de crime de responsabilidade.
campanha de Collor. Comprovou-se que
PC Farias recebia de grandes empresários

JUCA MARTINS/OLHAR IMAGEM


altas somas em dinheiro para liberar verbas
do governo. Parte desse dinheiro ia para
contas-fantasmas e era usada para pagar as
despesas pessoais do presidente, de familia-
res e amigos.
A população brasileira reagiu às notícias
promovendo grandes manifestações públicas
e exigindo o impeachment de Collor e o fim
da corrupção. Entre os manifestantes havia
um grande número de “caras-pintadas”:
jovens que pintavam o rosto com as cores
da bandeira nacional, protestando contra a
falta de ética na política.
Sob forte pressão da sociedade civil, em
setembro de 1992, a maioria dos deputados
votou a favor da abertura do processo de
impeachment.. Caberia ao Senado julgar
impeachment
o presidente. Ao perceber que iria ser
derrotado no Senado, Collor renunciou à
presidência da República. Mesmo assim, foi
Estudante “cara-pintada” em manifestação
condenado pelo Senado a ficar sem direitos pelo impeachment do presidente Collor.
políticos por oito anos. São Paulo (SP), 1992.

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Governo Itamar Franco
Com a renúncia de Collor, o vice-presidente Itamar Franco,

ANTONIO SCORZA/AFP
do Partido Popular Socialista (PPS), assumiu a presidência.
Buscando parecer conciliador e independente, escolheu políticos
de diferentes partidos, sobretudo do PMDB e do PSDB (Partido da
Social-Democracia Brasileira), para compor seu governo.
Durante seu mandato, explodiu outro grave caso de corrup-
ção: o desvio de 100 milhões de dólares do orçamento nacional,
o que comprova o enraizamento da corrupção na cultura política
brasileira. O caso ficou conhecido como “Escândalo dos Anões do
Orçamento”. Dos 25 parlamentares envolvidos, apenas seis foram
cassados.

O Plano Real
Itamar Franco assumiu o governo num momento em que a
inflação de 30% ao mês corroía os salários e empobrecia os traba-
lhadores. Para combatê-la, convidou para o Ministério da Fazenda o
sociólogo Fernando Henrique Cardoso, também chamado de FHC.
Fernando Henrique e sua equipe lançaram, então, o Plano Real,,
Presidente Itamar
que entrou em vigor em julho de 1994. O Plano Real:
Franco no Palácio
do Planalto. Brasília a) n
 ão congelou os preços, foi submetido à aprovação do Congresso
(DF), 1992. e teve apoio popular;
b) p
 revia a criação de uma nova moeda, o real (R$), e estabelecia
a paridade entre a moeda brasileira e o dólar estadunidense; ou
seja, em 1o de julho de 1994, 1 real equivalia a 1 dólar;
c) d
 efendia um forte controle dos gastos públicos. Com esse propósito, naquele mesmo
ano, FHC elevou os impostos federais em cerca de 5% e promoveu amplos cortes no
orçamento, inclusive nas áreas da Saúde e da Educação.
Em julho de 1994, a moeda nacional passou a ser o real, e o plano entrou em vigor.
O efeito do Plano Real sobre a inflação foi imediato. Observe a tabela.

Brasil: taxa de inflação (junho a dezembro de 1994)


Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
49,10% 32,45% 49,10% 1,46% 2,65% 3,11% 1,11%
Fonte: SINGER, Paul. O processo econômico. In: REIS, Daniel Aarão (coord.).
Modernização, ditadura e democracia: 1964-2010. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.
(História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 5, p. 223).

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Com a queda da inflação, as pessoas recuperaram parte do poder de compra de seus
salários e passaram a consumir mais, desde bolachas e iogurtes até televisores, máquinas
de lavar e veículos.
Conforme a inflação diminuía, a popularidade de Fernando Henrique aumentava.
Ajudado pela mídia, que o batizara de “pai do Real”, ele deixou o Ministério da Fazenda
e se lançou na disputa pela presidência da República no ano de 1994, pelo Partido da
Social-Democracia Brasileira (PSBD), em aliança com o Partido da Frente Liberal (PFL). A
campanha de Fernando Henrique veiculava imagens que sugeriam modernidade e prospe-
ridade; já a de seu principal opositor, Lula da Silva, mostrava cenas de pobreza e exclusão
social; as urnas deram a vitória a Fernando Henrique já no primeiro turno, com 55,22%
dos votos válidos; Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), ficou em segundo lugar com
39,97%.

Governo Fernando Henrique


Fernando Henrique Cardoso assumiu a presi- ANTONIO SCORZA/AFP

dência em 1995, com o compromisso de manter


a estabilidade do real, de reduzir os gastos públi-
cos e o tamanho do Estado. Em vez do Estado
interventor e empreendedor da Era Vargas, ele
defendia o Estado mínimo, ou seja, um Estado que
transferisse para a iniciativa privada a produção
de bens e serviços e se voltasse, principalmente,
para as áreas da Educação, Saúde, Segurança e
Saneamento básico.
A fim de reduzir o tamanho do Estado, o
governo FHC acelerou o programa de privati- Presidente Fernando Henrique
zação, iniciado pelo governo Collor. Para isso, Cardoso em discurso no Palácio do
Planalto. Brasília (DF), 1999.
conseguiu aprovar no Congresso mudanças na
Constituição, entre as quais a quebra do monopólio estatal do Monopólio estatal:
petróleo e das telecomunicações. O governo FHC autorizou a venda nesse contexto, refere-se
ao fato de que, desde
de muitas empresas estatais, como a Vale do Rio Doce, uma das 1953, só a Petrobras
líderes mundiais na área de mineração, e a Companhia Siderúrgica poderia explorar o
Nacional, de Volta Redonda. Segundo dados oficiais, entre 1991 e petróleo no Brasil.

2002 (mandatos de Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso), o


governo arrecadou 30 bilhões de dólares com a venda de empresas
estatais. Durante as vendas das estatais brasileiras, o debate sobre
a privatização esquentou, ganhando espaço na imprensa, nas uni-
versidades, no Congresso e entre a população.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Debatendo a privatização
Argumentos a favor das privatizações

HOMERO SÉRGIO/FOLHAPRESS
a) O dinheiro obtido com a venda das
estatais seria usado para diminuir a
dívida pública, que é paga por todos os
cidadãos por meio dos impostos.
b) Nas empresas estatais, os partidos políti-
cos é que indicam os diretores, gerando
corrupção e troca de favores.
c) A função do Estado não é administrar
siderúrgicas, ferrovias e empresas de
O ministro José Serra, de terno claro; o aviação, mas cuidar da Educação, da
governador do Rio de Janeiro, Marcello
Saúde e da Segurança pública.
Alencar, à esquerda; e o presidente da Bolsa
de Valores do Rio de Janeiro, Fernando Opitz, d) Nas mãos da iniciativa privada, as empresas
ao centro, batem o martelo encerrando o se tornariam mais eficientes e consegui-
leilão de privatização de uma empresa do
setor elétrico, a Escelsa, realizado na Bolsa riam oferecer à população bens e serviços
de Valores do Rio de Janeiro (RJ), 1995. de melhor qualidade.

Argumentos contra as privatizações


a) O dinheiro das privatizações não serviu para
ROSANE MARINHO/FOLHAPRESS

diminuir a dívida pública. Durante o governo


FHC, a dívida pública aumentou.
b) Com as privatizações, as tarifas dos serviços
públicos (água, luz etc.) aumentaram, preju-
dicando o consumidor.
c) A venda das estatais liquida parte preciosa do
patrimônio brasileiro, provoca a desnacionali-
zação da economia e a perda de soberania.
d) Com a privatização de empresas estra-
tégicas, serviços como os de telefonia e Manifestação de estudantes contrários
à venda da mineradora Vale do Rio
de fornecimento de energia pioraram e Doce durante o leilão de privatização da
ficaram mais caros. companhia. Rio de Janeiro (RJ), 1997.

• Converse com pessoas que viveram na década de 1990 sobre a privatização de serviços
em áreas como as de telefonia e energia elétrica e responda: quais argumentos você
achou mais convincentes? E você, o que pensa sobre esse assunto?

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O segundo mandato de FHC
Fernando Henrique também conseguiu aprovar no Congresso, em 1997, a emenda
constitucional que permitia a reeleição do presidente da República, de governadores e de
prefeitos. E apoiado na aliança com o Partido da Frente Liberal (PFL), de Antônio Carlos
Magalhães, Fernando Henrique obteve 55% dos votos nas eleições presidenciais de 1998,
vencendo Lula pela segunda vez.
No seu segundo mandato, FHC continuou adotando uma política neoliberal de aber-
tura às importações, dando continuidade ao programa de privatizações e de juros altos, a
fim de atrair capitais estrangeiros. Com os juros altos, as empresas nacionais diminuíram
seus investimentos na produção e demitiram funcionários, o que aumentou o desemprego.
Os efeitos da crise – especialmente a falta de empregos – elevaram a insatisfação popular
e engrossaram a oposição ao governo FHC, tanto no Congresso quanto nas ruas.

JUCA MARTINS/OLHAR IMAGEM

Fila de pessoas desempregadas na Secretaria do Trabalho e Ação Social. Palmas (TO), 2000.

O governo FHC teve de enfrentar também a oposição de: governadores (a exemplo


de Itamar Franco, de Minas Gerais), que queriam renegociar a dívida de seus estados com
o governo federal; partidos como PT, PCdoB (Partido Comunista do Brasil), PDT e PSB
(Partido Socialista Brasileiro), que geralmente votavam contra o governo no Congresso e
de movimentos sociais como o MST, que defendia a reforma agrária imediata.
Apesar disso, ao longo de oito anos, o governo FHC promoveu importantes avanços,
sobretudo nas áreas da Educação, da Saúde e no controle do gasto público.

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Educação, gasto público e Saúde
Na Educação ocorreu um grande aumento do número de crianças na escola: em 1994,
a porcentagem de crianças de 7 a 14 anos de idade fora da sala de aula era de 12%; em
2002, passou a ser de 3%. A taxa de analfabetismo entre brasileiros com mais de 10 anos
de idade, que era de 15% em 1995, caiu para 11%, em 2001. Foi aprovada também a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), em 1996, que introduziu importantes
mudanças no sistema educacional brasileiro, de modo a elevar sua qualidade.
Em 1995, sob a inspiração do professor Cristovam Buarque, governador do Distrito
Federal, foi gestado o programa Bolsa Escola, que provia o pagamento de uma renda
mínima a famílias pobres que garantissem a frequência das crianças na escola. Em 2001,
o programa foi adotado pelo governo FHC, que, por meio dele, beneficiou mais de 5
milhões de famílias.

GERALDO MAGELA/FOLHAPRESS
À direita, o governador
do Distrito Federal
Cristovam Buarque,
durante lançamento do
programa Bolsa Escola,
na cidade-satélite de
Paranoá (DF), 1995.

Aids: sigla em inglês Em relação ao controle do gasto público, uma importante ini-
da síndrome da
imunodeficiência adquirida, ciativa do governo FHC foi a aprovação, no ano 2000, da Lei de
causada pelo vírus HIV, Responsabilidade Fiscal.. Essa lei proíbe o administrador público
que pode ser contraída por (prefeito, governador ou presidente) de gastar mais do que o arre-
meio de relações sexuais
com pessoas soropositivas cadado. O desrespeito a essa lei prevê graves punições, que vão
sem o uso de preservativo, desde a perda dos direitos políticos até o pagamento de multas e
pela transfusão de sangue
prisão dos infratores.
contaminado ou por
compartilhamento de Na Saúde, o programa de combate à aids adotado pelo
objetos contaminados que governo tornou-se referência mundial. O índice de mortalidade
perfuram ou cortam a pele.
infantil caiu significativamente: em 1994, era de 38,4 mortes por
Índice de mortalidade
infantil: número de mil nascimentos; em 2001, passou a ser de 28,6 mortes por mil
mortes de menores de nascimentos. No campo social, o total de famílias sem-terra assen-
um ano de idade por mil tadas, em 1994, era de 218 mil; ao final dos oito anos do governo
nascidos vivos.
FHC, tinha subido para 688 mil.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Anos 90: uma década conectada

SONY BMG MUSIC ENTERTAINMENT


Leia o texto a seguir com atenção.
[…] os anos [19]90 derrubaram principal-
mente o autoritarismo estético. Na música, o
cenário foi democrático. Todos tiveram vez: axé
music, pagode romântico, sertanejo, lambada,
boy bands, grunge, funk melody e até figuras inu-
sitadas como Tiririca e Mamonas Assassinas.
– Deixou-se de marginalizar certos estilos [...].
A cantora Fernanda Abreu, [...] destaque da
geração pela junção de samba e funk, conta que
nessa época surgiram as misturas mais criativas:
“Foi uma década privilegiada em termos de novos
talentos musicais, revelando artistas incríveis. Fac-símile da capa do disco
A fusão da linguagem pop internacional com os Afrociberdelia, de Chico Science e
Nação Zumbi, de 1996.
ritmos brasileiros deu o tom. Marcelo D2 misturou
samba com hip-hop, Carlinhos Brown mesclou MPB, samba e reggae, já Chico Science e
Nação Zumbi juntaram rock e música eletrônica com ritmos regionais, como maracatu
e coco-de-roda.” […].
O acesso à informação trouxe a possibilidade de se recombinar o que já existia.
“Com a tecnologia, passou-se a ter acesso a obras do passado, podendo ver, rever e
misturar referências […]” afirma [Silvio] Essinger [jornalista e ex-aluno da PUC que
lançou o Almanaque Anos 90].
Na era da tecnologia, as ideologias são deixadas de lado, já que, com a queda do
Muro de Berlim, caíram por terra os conceitos de esquerda e direita, que marcavam
as identidades dos jovens, de 16 a 24 anos, até então. “Houve um certo desencanto
com a política. Os partidos se fecham para novas ideias e o que passa a ser mais
importante é a imagem do candidato, definida pelo marketeiro, desde a cor da
gravata ao abraço em um popular”, afirma o […] professor Ricardo Ismael.
O jovem de qualquer época se motiva a se envolver nas questões públicas pela
possibilidade de transformação. Na última década do século XX, a juventude per-
cebeu que, ao não influenciar nas decisões dos partidos, a saída era se engajar em
movimentos culturais e sociais, como o Greenpeace. […]
LEMOS, Sarah. Anos 90: uma década conectada. Jornal da PUC/RIO, Rio de Janeiro, 15 maio 2008.
Disponível em: http://jornaldapuc.vrc.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=888&sid=22&tpl=printerview.
Acesso em: 23 mar. 2022.

281

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a) C
 om base na leitura do texto, compare os anos 1990 e o período da ditadura civil-
-militar no campo estético e político.

b) Q
 ue vantagem a existência da internet e a globalização trouxeram para o campo
da música na última década do século XX?

c) E
 m grupo. Pesquisem sobre mudanças culturais (estilos musicais, estilos de roupa,
expressões na língua portuguesa, estilos de dança) ocorridas no Brasil na década de
1990 e relacionadas ao processo de globalização.

Governo Lula
RICARDO STUCKERT/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.

Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva, da coligação lide-


rada pelo PT, venceu as eleições com 61,27% dos votos
válidos, enquanto José Serra, do PSDB, obteve 38,73%.
Ao assumir o governo, Lula anunciou como prio-
ridade de seu governo o Programa Fome Zero,, cujo
objetivo era garantir a todos os brasileiros uma alimen-
tação adequada em termos de qualidade, quantidade e
regularidade.
O programa combinava políticas estruturais, como a
intensificação da reforma agrária, com políticas específi-
cas, como a melhoria da merenda escolar, e o Programa
Bolsa Família.. Implantado em 2004, o Bolsa Família é
o resultado da unificação de quatro outros programas
criados no governo FHC: Cartão Alimentação, Bolsa
Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio Gás. Lula ampliou
consideravelmente as iniciativas anteriores, conseguindo,
assim, diminuir substancialmente o índice de pobreza
no Brasil. Foi essa a principal marca de seu governo.
Observe a tabela.
Fotografia oficial
do presidente da
República, Luiz Inácio Brasil: índice de pobreza (1993-2008)
Lula da Silva.
Brasília (DF), 2003. Ano Índice de pobreza (%)
1993 47
1995 38
2008 25
Fonte: FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo.
São Paulo: Contexto, 2016. p. 135.

282

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Programa Bolsa Família

INACIO TEIXEIRA/PULSAR IMAGENS


O Bolsa Família foi um programa de
transferência de renda que beneficiava
famílias pobres ou extremamente pobres.
Desde sua criação, a polêmica em torno do
Bolsa Família ainda divide tanto os espe-
cialistas quanto o restante da população.
Apresentamos, a seguir, alguns argu-
mentos desse debate.

Mulher segura cartão do Bolsa Família em


frente à sua casa. Poções (BA), 2016.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

Bolsa Família em debate


Os defensores do programa argumentam que o Bolsa Família:
a) é o maior programa de transferência de renda já posto em prática no Brasil;
b) ajudou a dinamizar a economia dos municípios, possibilitando o aumento das vendas
em mercearias, lojas e supermercados;
c) contribuiu para diminuir o número de pessoas que viviam em situação de pobreza e
significou um avanço na obtenção de direitos sociais por parte de milhões de brasileiros;
d) no Brasil, pela primeira vez em muitos anos, houve melhoria na distribuição de
renda, o que se deve, em parte, ao Bolsa Família.
Os críticos do Bolsa Família argumentam que:
a) o programa é assistencialista e eleitoreiro; dá esmolas quando, na verdade, deveria
oferecer trabalho;
b) o programa incentiva o ócio e ajuda quem não “gosta de trabalhar”;
c) manter as crianças na escola e vacinadas é obrigação das famílias e não do Estado brasileiro;
d) não há fiscalização do programa; muitas pessoas recebem o Bolsa Família sem, de
fato, precisar dele para suas necessidades básicas.

• Reflita, debata e opine: quais argumentos você considerou mais convincentes?


Por quê?

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Política econômica
Argumentando que era necessário atrair a confiança
dos investidores externos e buscar o desenvolvimento sus-
tentável, o governo Lula adotou uma política econômica

ADRIANO KIRIHARA/PULSAR IMAGENS


neoliberal: renovou os acordos com o Fundo Monetário
Internacional (FMI); concordou em atingir o superávit pri-
mário fixado por aquele órgão; baixou a taxa básica de
juros e interveio no mercado, forçando a baixa do dólar.
No entanto, para seguir essa receita, o governo reduziu
Vista aérea do Complexo
Industrial Portuário Governador os investimentos públicos, o que fez com que em 2003 o
Eraldo Gueiros. Ipojuca (PE), produto interno bruto (PIB) crescesse apenas 0,5%. Apesar
2015. disso, puxada por saldos positivos na balança comercial, a
economia manteve-se aquecida e, com isso, em 2004, o
Superávit primário: economia PIB cresceu 5,2% – o melhor resultado em dez anos.
de recursos do governo destinada
a equilibrar suas contas. Alguns
Além disso, a inflação cedeu, e o risco-país, que era de
analistas criticam o fato de que, para 2 400 pontos no início do governo Lula, caiu para menos
atingir o superávit, o governo corta de 400. Risco-país é um índice que indica a possibilidade
gastos em áreas sociais, como Saúde,
Educação e combate à pobreza. de um país “dar calote” em sua dívida externa: quanto
Taxa básica de juros: também mais baixa a taxa de risco, maiores as facilidades de o
chamada de Selic, é usada nas país obter empréstimos estrangeiros e maior o número de
transações feitas entre bancos e o
Banco Central, e serve de referência
investidores dispostos a manter seu capital nele.
para as demais operações, como Enquanto isso, o emprego crescia nas seis maiores
empréstimos de dinheiro a indivíduos regiões metropolitanas do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro,
ou empresas por parte dos bancos.
Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre.

PARA REFLETIR NÃO ESCREVA


NO LIVRO.

Corrupção: o “cupim da República”


Durante os debates que precederam a Constituição de 1988, o deputado Ulysses
Guimarães afirmou que a corrupção era o “cupim da República”. Essa sua frase anteci-
pou o que iria ocorrer: todos os governos eleitos depois de ele ter pronunciado a frase,
de Collor a Temer, sofreram acusações de corrupção.
No governo Fernando Henrique Cardoso, ocorreram acusações de compra de votos
de parlamentares para que aprovassem a emenda que instituiu o direito à reeleição do
presidente da República; a aprovação da emenda possibilitou a reeleição de FHC para
novo mandato. O caso não sofreu investigação e acabou arquivado, o que abalou a
imagem do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

284

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No governo Lula, ocorreram, em 2005, várias denúncias de corrupção envolvendo
dirigentes do PT, entre os quais o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. A
denúncia mais grave foi o pagamento de um valor mensal a deputados para garantir que
votassem a favor do governo na Câmara dos Deputados. Essa compra de votos ficou
conhecida como “mensalão”.
Sete anos depois, os envolvidos no “mensalão” foram julgados pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) e, entre os condenados à prisão, estavam importantes lideranças
de vários partidos, inclusive do PT. O episódio abalou a confiança de parte considerável
de seus eleitores.
A popularidade do presidente Lula, porém, continuou alta, o que sugere que as
políticas sociais adotadas por seu governo tiveram um peso enorme na avaliação dos
que eram beneficiados por elas.
a) S egundo o texto, a corrupção é um

ELIO RIZZO/FUTURA PRESS


fenômeno associado a um deter-
minado governo ou partido?
b) C
 om base no texto, pode-se dizer
que todos os políticos são iguais?
c) V
 ocê concorda com a afirmação
contida no título?
Manifestantes em frente ao Supremo Tribunal Federal d) E
 m dupla. Reflitam e opinem: nós
durante sessão que analisou os processos que venceremos a corrupção no Brasil?
definiriam a validade da Lei da Ficha Limpa para as Justifiquem.
eleições municipais de 2012. Brasília (DF), 2011.

O segundo governo Lula


Nas eleições de 2006, Lula reelegeu-se presidente da República com mais de 60%
dos votos válidos; o segundo colocado foi Geraldo Alckmin, do PSDB.
No segundo governo Lula, merecem destaque os campos da economia e da política
externa. Na economia,, o governo Lula foi favorecido por um fator interno e outro externo.
Internamente, beneficiou-se da estabilidade gerada pelo Plano Real e, externamente, da
expansão do comércio mundial, em parte por causa do bom desempenho da China.
Aproveitando-se dessa conjuntura favorável, o governo incentivou as exportações e conse-
guiu sucessivos saldos positivos na balança comercial. Em 2007, Lula lançou o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), que previa investimentos em saneamento básico, portos,
estradas, urbanização, entre outros. O PAC, o controle da inflação, os sucessivos saldos
positivos na balança comercial e a confiança no governo contribuíram para o crescimento
da economia. Observe o comportamento da economia brasileira entre 2006 e 2010.

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Brasil: população e PIB (2006-2010)
Ano População (em milhões) PIB (em bilhões de reais) Crescimento anual (%)
2006 185 564 2 409 4,0

2007 187 642 2 720 6,1

2008 189 613 3 109 5,1

2009 191 481 3 333 -0,1

2010 193 252 3 885 847 7,5


Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Em 2010, PIB varia 7,5% e fica em R$ 3,675 trilhões.
IBGE. Brasília, DF, 3 mar. 2011. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo.html?busca=1&id=1&id
noticia=1830&t=2010-pib-varia-7-5-fica-r-3-675-trilhoes&view=noticia#:~:text=Assim%2C%20segundo%20as%20
informa%C3%A7%C3%B5es%20das,2009%20(R%24%2016.634). Acesso em: 12 abr. 2022.

Dialogando
Observando a tabela, pode-se afirmar que a crise iniciada nos Estados Unidos, em 2008, afetou a
economia brasileira?

Brasil: taxa média anual de desocupação em regiões metropolitanas (2006-2010)


Ano Desemprego (%)
2006 10,0

2007 9,3

2008 7,9

2009 8,1

2010 6,7
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa mensal de emprego. IBGE. Brasília, DF, c2022. Disponível
em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9180-pesquisa-mensal-de-emprego.html?=&t=series-historicas.
Acesso em: 23 mar. 2022.

Esse crescimento da economia contribuiu também para o aumento considerável no


número de trabalhadores com carteira assinada. Observe a queda do desemprego nesse
mesmo período.

O Brasil amplia sua visibilidade externa


Por possuir características como território extenso, população grande, recursos natu-
rais abundantes e uma economia que vinha apresentando altas taxas de crescimento, o
Brasil foi considerado um país emergente. A condição de país emergente valeu ao Brasil
o ingresso no G20, grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União
Europeia. O grupo foi criado em 1999, e os países que o integram respondem por 85% da
produção mundial e abrigam dois terços da população do planeta. O G20 tem a missão
de contribuir para o aprimoramento da governança global.

286

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Em 2006, os países emergentes compu-

CARLOS HUMBERTO/LATINCONTENT/GETTY IMAGES


seram o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China);
em 2011, a África do Sul (em inglês, South
Africa)) ingressou oficialmente no grupo dos
Africa
emergentes. A sigla usada para denominá-
-los ganhou então um “S”: BRICS BRICS..
Além disso, o governo Lula criticou a
concentração de poder em escala mundial
e, em razão disso, pleiteou para o Brasil
um assento permanente no Conselho de
Líderes das nações do BRICS: da esquerda para a
Segurança da ONU, ONU, contribuindo para direita, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev,
dar maior visibilidade internacional ao o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o
Brasil e contribuindo para a elevação da presidente da China, Hu Jintao, o primeiro-ministro
da Índia, Manmohan Singh. Brasília, (DF), 2010.
autoestima dos brasileiros.
No campo educacional ocorreu o cres-

LUCIANA WHITAKER/PULSAR IMAGENS


cimento dos níveis de escolarização, que já
vinham aumentando desde o governo FHC,
e a criação do Programa Universidade para
(Prouni),), que concedia bolsas de estudo
Todos (Prouni
a jovens de famílias de baixa renda, permitindo
que eles cursassem a universidade.
Lula terminou seu mandato com mais
de 80% de aprovação, conseguindo com
isso influenciar as eleições presidenciais
de 2010, que deram a vitória à candidata
apoiada por ele, Dilma Rousseff, do PT. Ela
obteve 56,05% dos votos válidos, contra
43,95% obtidos por José Serra, do PSDB.

Conselho de Segurança da ONU: atualmente, apenas


Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China têm
assento permanente e poder de veto no Conselho de
Segurança.
Prouni: programa do Ministério da Educação, criado
em 2004, que oferece bolsas de estudos em instituições
privadas de ensino superior a estudantes pobres
interessados em cursar a universidade.

Plataforma de produção de petróleo no campo


de Tupi, reserva do pré-sal da Bacia de Santos.
Litoral do Rio de Janeiro (RJ), 2010.

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Governo Dilma Rousseff
Ao tomar posse, em janeiro de

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE


2011, a presidente prometeu manter a
inflação controlada, estabilizar a eco-
nomia e aumentar os investimentos no
PAC, que previa a realização de obras
de infraestrutura (aeroportos, portos,
estradas etc.).
No campo social, prometeu que seu
governo forneceria bolsas de estudo para
jovens que cursavam o Ensino Médio
profissionalizante; e que investiria no
Programa Minha Casa Minha Vida. Vida.
No início do mandato de Dilma, a
crise externa iniciada nos Estados Unidos,
em 2008, atingiu também a União
Europeia, diminuindo o mercado para
os produtos brasileiros. Internamente, a
falta de investimentos em portos, estra-
Cerimônia de posse da presidente eleita Dilma das e aeroportos brasileiros dificultava o
Rousseff. Brasília (DF), 2011.
crescimento da economia.
As crises externa e interna se refletiam nos números do governo
Minha Casa Minha
Dilma. Nos dois primeiros anos de seu governo, o crescimento do
Vida: programa do PIB foi tímido: 2,7%, em 2011, e 1,0%, em 2012. Para compensar
governo federal com as perdas decorrentes da crise externa e aquecer a economia, o
o objetivo de ajudar
os mais pobres a governo Dilma tomou uma série de medidas:
conseguirem a casa a) aumentou os investimentos no PAC;
própria. As prestações
pagas durante o b) desonerou o setor produtivo, especialmente o automobilístico,
financiamento desses a fim de estimular a produção, a venda e o emprego nesse setor;
imóveis são divididas
de acordo com o c) promoveu várias diminuições nas taxas de juros Selic, que em
rendimento familiar. Para março de 2013 chegaram a 7,5%;
as famílias com renda
familiar de até 1800 d) ampliou e diversificou seus parceiros comerciais; enquanto dimi-
reais, as prestações não nuíam as exportações brasileiras para os Estados Unidos e a
podem ultrapassar 10%
da renda do comprador.
União Europeia, cresciam as destinadas à China e ao Mercosul;
Desonerar: livrar o e) iniciou um programa de concessões para empresas privadas em
setor de pagar parte aeroportos, rodovias, ferrovias e portos, em meados de 2012,
dos impostos.
com o objetivo de melhorar a qualidade dos serviços.

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As manifestações de 2013: a voz das ruas
Apesar dessas medidas, o terceiro ano do governo Dilma iniciou com queda na ati-
vidade econômica. Para agravar a situação, a presidente tinha dificuldade de negociar
com os líderes dos diferentes partidos e, por isso, não conseguia aprovar seus projetos no
Congresso Nacional. Nesse contexto crítico, em junho de 2013, o Brasil sediou a Copa das
Confederações. Os gastos com essa Copa e com a Copa do Mundo, programada para o
ano seguinte, geraram protestos contra o governo; os manifestantes reclamavam da falta
de investimento na Educação. Saíam com cartazes com dizeres como: “Me chama de
Copa e investe em mim!”.
Nesse mesmo ano, os protestos iniciados na cidade de São Paulo contra o aumento
da passagem de ônibus se transformaram em uma onda gigante de manifestações que
se espalhou pelo país todo. No dia 17 de junho, aconteceram protestos em várias capitais
e na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Com o crescimento do movi-
ALF RIBEIRO/SHUTTERSTOCK.COM

mento, os manifestantes aprofundaram


e diversificaram suas reivindicações,
passando a criticar os baixos inves-
timentos em Saúde e Educação, a
violência policial, a corrupção e os
gastos governamentais com a Copa do
Mundo. Os manifestantes propunham,
entre outras coisas, a “democratização
da política”. Segundo estudiosos, os
protestos populares de junho de 2013
no Brasil revelaram algumas caracterís-
ticas importantes, como:
a) a ausência de grandes partidos e
sindicatos;
b) o uso intensivo de redes sociais
na mobilização e organização
dos protestos;
c) a presença significativa de jovens
entre os manifestantes, que-
brando o mito do desinteresse
da juventude pela política;
d) a capacidade de esses movi-
mentos reunirem pessoas de Manifestação do Movimento Passe Livre na Avenida
diferentes camadas sociais. Paulista. São Paulo (SP), 2013.

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Operação Lava Jato e

RODOLFO BUHRER/LA IMAGEM/FOTOARENA


eleições presidenciais
Em março de 2014, a Polícia Federal
deflagrou a operação Lava Jato e desco-
briu um grande esquema de lavagem e
desvio de dinheiro envolvendo a empresa
Petrobras, políticos e grandes empreiteiras.
As delações premiadas do ex-diretor de
abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto
Costa, e do doleiro Alberto Youssef alimen-
taram as investigações. Ambos assinaram,
no Ministério Público Federal, a delação
premiada, e Paulo Roberto informou que
as grandes empreiteiras pagavam propina
Sede da Polícia Federal em Curitiba (PR), 2015. para vencer a concorrência em obras da
Petrobras, e que o dinheiro desviado era
CPI: Comissão Parlamentar transferido para as contas de executivos e de membros de par-
de Inquérito, grupo da tidos políticos.
Câmara, do Senado ou
misto (quando é integrado
Foram criadas duas CPIs: uma exclusiva no Senado e outra
por parlamentares das duas mista. Após meses de investigação, a CPI mista aprovou o rela-
casas do poder Legislativo), tório do deputado Marco Maia, do PT, que pediu o indiciamento
formada para investigar
possíveis infrações ou crimes de 52 pessoas. Vários executivos de empreiteiras e três políticos
cometidos por políticos ou foram presos; inúmeros outros foram indiciados. Com isso, as
por funcionários do governo.
ações da Petrobras na Bolsa de Valores sofreram forte queda.

Reeleição de Dilma
No final de 2014, teve início a corrida presidencial, que foi tumultuada pela morte
inesperada, em um acidente aéreo, do candidato do PSB, Eduardo Campos, terceiro colo-
cado nas pesquisas de intenção de voto. A disputa presidencial entre Dilma, da coligação
Com a Força do Povo (PT e aliados), e Aécio Neves, da coligação Muda Brasil (PSDB e
aliados), foi acirrada, com acusações de ambos os lados. Dilma venceu por uma diferença
relativamente pequena: obteve 51,64% dos votos válidos contra 48,36% de Aécio Neves.
No início de 2015, a equipe econômica chefiada pelo Ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, disposta a reduzir o gasto público e equilibrar as contas do governo, esforçava-se
em vão para aprovar um pacote fiscal no Congresso visando à retomada do crescimento
econômico e à geração de empregos.

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O impeachment de Dilma
No decorrer de 2015, a situação se agravou: o Brasil apresentou
um PIB negativo (– 3,8%). Os preços dos alimentos e dos aluguéis
aumentavam, enquanto o número de empregos com carteira assi-
nada diminuía.
No Congresso, a presidente perdia aliados e não conseguia Crime de
aprovar seus projetos. Em um clima de crise econômica e política, no responsabilidade:
segundo o relatório da
final daquele ano, a oposição deu entrada no pedido de impeachment
impeachment,, Câmara, em 2015, Dilma
acusando a presidente de crime de responsabilidade.
responsabilidade. A sociedade editou decretos de créditos
suplementares sem a
se dividiu: de um lado estavam os manifestantes favoráveis ao
autorização do Congresso
impeachment da presidente; de outro, os que defendiam sua (Câmara dos Deputados
permanência no governo. e Senado Federal).
Nesse ambiente conflituoso, em abril de 2016, 367 deputados
votaram a favor da abertura do processo de impeachment da presi-
dente, e 137 foram contrários. Em seguida, o Senado Federal julgou
o caso e, por 55 votos a 22, declarou-se favorável à abertura do pro-
cesso contra a presidente. Dilma, então,
ALEXANDRE TOKITAKA/PULSAR IMAGENS

foi impedida de continuar exercendo o


cargo, e o vice-presidente Michel Temer,
do PMDB, assumiu a presidência da
República.
Em agosto de 2016, o processo foi
julgado pelo Senado e, com 61 votos
favoráveis e 20 contrários, Dilma teve o
mandato cassado de forma definitiva.
ALICE VERGUEIRO/FOLHAPRESS

Manifestação pró-impeachment
da presidente Dilma na Avenida
Paulista. São Paulo (SP), 2016.

Manifestação contra o
impeachment da presidente
Dilma na Avenida Paulista.
São Paulo (SP), 2016.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

São as mulheres uma minoria?


[…] as mulheres, no Brasil, são mais da metade da população (51,4%). Fui buscar
um esclarecimento no dicionário Aurélio para entender o significado atribuído à
palavra – minoria. Li que há dois sentidos: minoria é um substantivo feminino que
significa uma “inferioridade numérica”; ou, pode ser “a parte menos numerosa duma
corporação deliberativa e que sustenta ideias contrárias às do maior número”. Ora,
não somos numericamente inferiores. E, também, não somos uma parte menor de
uma corporação que delibera, ao contrário, constituímos uma maioria submetida a
uma minoria que tem o poder de decisão.
No imaginário brasileiro, as mulheres são tidas como pessoas incapazes de
decidir, incompetentes, frágeis, infantis. Resta analisar como e por que a imagem
da mulher é desqualificada.
As mulheres constituem uma camada heterogênea, complexa, composta de
pessoas de todas as etnias, cores, orientações sexuais, classes sociais, nível educa-
cional etc. Não há uma mulher, há mulheres.
Uma rápida observação sociodemográfica mostra que no Brasil um terço dos
lares são chefiados por mulheres sem a participação masculina, são apenas elas e
seus filhos. As mulheres, sozinhas, cuidam econômica e socialmente das famílias.
A carência masculina nos grupos familiares tão consistente é ocultada através de
piadinhas machistas que reduzem, desumanizam as mulheres: estão sozinhas, são
mal-amadas, são mães solteiras, além de expressões mais vulgares.
Ideologia: crenças, Piadas refletem modos de pensar, escancaram ideologias,
tradições, princípios e valores, e no caso, a versão machista da subjetividade, repro-
mitos que se interligam duzem falsas verdades. Basta ver as propagandas da cerveja,
e são sustentados por
um determinado grupo do Carnaval, para observar que não se vendem bebidas, mas
social para defender seus os seios ou partes íntimas do corpo de uma mulher. Rindo
interesses. encobrimos problemas. […]
BLAY, Eva Alterman. Minorias, política e violência. Revista de Cultura e Extensão USP,
São Paulo, v. 15, p. 51-57, 2016. p. 51-52.

a) Quais são os sentidos atribuídos à palavra “minoria” presentes no dicionário Aurélio, segundo
o texto?
b) De acordo com o texto, as mulheres podem ser classificadas como “minoria”?
c) Como as mulheres são vistas no imaginário brasileiro? Apresente uma razão que justifique essa
imagem.
d) O texto foi escrito por um homem ou uma mulher? Apresente um trecho do texto que justifica
sua resposta.
e) Faça uma pesquisa sobre as conquistas femininas a partir do início do século XX. Depois, apre-
sente o resultado da pesquisa para a turma.

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Governo Michel Temer

FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS


No campo econômico, nos dois anos seguintes, a taxa
básica de juros da economia, a Selic, caiu de 14,25% para
6,50%. No mesmo período, a inflação caiu de 9,32% para
2,76%. A intenção, dizia o governo, era facilitar o crédito,
Michel Temer e Marcela Temer
incentivar a produção e contribuir para o crescimento durante cerimônia de posse.
econômico. Brasília (DF), 2019.
No campo político, o governo Temer conseguiu aprovar no
Congresso – em dezembro de 2016 – a chamada PEC do Teto de
Gastos, que limita por 20 anos o crescimento das despesas dos três PEC: Proposta de
Poderes. Se um dos órgãos furar o teto de gastos, fica proibido de Emenda à Constituição.

aumentar salários, contratar pessoal, fazer concurso público e ter novos


gastos até adequar-se.
Dialogando
Para Temer e seus apoiadores, a aprovação da PEC foi positiva, pois:
Quais argumentos
• reequilibra as contas públicas, uma vez que os gastos vinham
você considera mais
crescendo continuamente; convincentes?
• permite a redução da taxa de juros e cria um ambiente propício
à retomada de crescimento econômico.
Já a oposição criticou e promoveu manifestações contra a PEC do Teto de Gastos por
todo o país. Seus principais argumentos foram que a PEC:
• impede investimentos públicos, agrava a crise econômica e diminui a geração de
emprego e renda;
• impõe cortes de verbas para áreas como Educação e Saúde, e prejudica, sobretudo, os
mais pobres.
Em julho de 2017, o governo Temer aprovou a Reforma Trabalhista que, ao entrar em
vigor, alterou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em dezenas de pontos, três deles com
grande impacto social:
• introduziu o “banco de horas” por acordo individual escrito;
• definiu que o trabalhador poderá fazer horas extras além do limite legal, não havendo
necessidade de autorização por convenção ou acordo coletivo de trabalho;
• tornou facultativo o pagamento do imposto sindical; antes obrigatório. O imposto sin-
dical só poderá ser cobrado mediante a autorização prévia do trabalhador.
A Reforma colocou empresários e trabalhadores em lados opostos.
Para os representantes dos empresários, a Reforma significou um avanço, pois:
• modernizou a legislação brasileira;
• facilitou a negociação direta entre empregado e empregador, eliminando a intermedia-
ção do Estado;
• diminuiu os encargos sociais, podendo, com isso, gerar mais empregos.

293

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Já para os representantes dos trabalhadores, a reforma trabalhista foi um retrocesso, pois:
• retirou direitos que os trabalhadores haviam conquistado com muito esforço ao longo
de décadas;
• em vez de aumentar, diminuiu o emprego formal no país,
• a maior parte das vagas criadas com a Reforma são de empregos temporários.

Governo Jair Bolsonaro


Jair Messias Bolsonaro fez uma
ALAN SANTOS/PR

campanha focada na comunicação


com seus eleitores por meio das redes
sociais. Seu discurso da campanha
prometeu:
a) co
combater
mbater a corrupção e a violência;
b) melhorar a Segurança, o que, para
o can
candidato
didato,, significava armar mais
as polícias;
c) defen
efender
der a pátria e a família e barrar
o que ele afirmava ser a tentativa do
PT de voltar
voltar ao poder.
Jair Bolsonaro venceu as eleições
com 55,1% dos votos válidos, contra
47% de Fernando Haddad, do PT, seu
principal adversário político.
Em seu discurso de posse,
Bolsonaro disse que aquele era o dia
em que o povo começava a se libertar
da esquerda, da inversão de valores,
Foto oficial do presidente da República,
Jair Bolsonaro. Brasília (DF), 2019.
do gigantismo estatal e do “politica-
mente correto”.
Eis algumas das principais propostas do governo Bolsonaro por setor.
Na economia, seguindo a orientação neoliberal do Ministro Paulo Guedes, o governo
prometeu acelerar as privatizações (venda de estatais); unificar impostos e simplificar o
sistema de arrecadação fiscal.
Na Saúde, prometeu eficiência na gestão e respeito à vida das pessoas e, além
disso, adotar o Prontuário Eletrônico Nacional, interligando postos, ambulatórios e
hospitais para reduzir os custos, e facilitar o atendimento futuro por outros médicos
em diferentes unidades de saúde, bem como permitir cobrar maior desempenho dos
gestores locais.

294

AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 294 04/07/22 18:10


Quanto ao meio ambiente, Bolsonaro propunha flexibilizar a legislação que regula a
exploração econômica de áreas preservadas, inclusive na Amazônia, e não conceder novos
territórios para indígenas e quilombolas.
Na agricultura, a proposta era defender a segurança no campo, vista como solução para
a questão agrária e políticas específicas para consolidar e abrir novos mercados externos.
Na educação, priorizava o período que vai da Educação Infantil ao Ensino Médio.
Defendia a educação a distância para o Ensino Fundamental como alternativa para áreas
rurais, onde as grandes distâncias dificultam ou impedem aulas presenciais. Para o Ensino
Superior, Bolsonaro propunha parcerias e pesquisas com a iniciativa privada.
Na ciência e tecnologia, defendia a aliança entre universidades e iniciativa privada
para transformar ideias em produtos. Os programas de mestrado e doutorado deveriam
ser feitos de acordo com as necessidades das empresas.
Na política externa, Bolsonaro adotou o retorno à tradição americanista, ou seja, o
alinhamento aos Estados Unidos, e a busca pela exclusão da Venezuela do Mercosul.
O governo alegava ser necessário incrementar o comércio exterior com países que agre-
gavam valor econômico e tecnológico ao Brasil, como os Estados Unidos, e a integração com
países latino-americanos livres de “ditadura” (referência à Venezuela) e sem viés ideológico,
isto é, sem ligação com ideias socialistas.
No 14o encontro do G20, reunião das 20 maiores economias mundiais, em 2019, em
Osaka, no Japão, a então primeira-ministra alemã, Ângela Merkel, e o presidente francês,
Emmanuel Macron, mostraram preocupação com a falta de atenção do governo Bolsonaro
à questão ambiental e ao aumento da devastação da Amazônia brasileira. Alemanha
é um dos principais
JESS KRAFT/SHUTTERSTOCK.COM

financiadores do Fundo
Amazônia,, responsável
por investimentos e ações
ambientais no Brasil.

Floresta Amazônica, 2020.

295

AV_HIS-F2-2111-V9-U4-C13-LA-G24.indd 295 04/07/22 15:06


Na economia, privatizações e cortes
de gastos não viram realidade
Entre as principais promessas feitas pelo ministro da Economia
Paulo Guedes estavam as privatizações e os cortes de gastos públicos.
Ao final do terceiro ano de governo, nenhuma grande estatal tinha
sido vendida; e as propostas para reduzir os gastos públicos continua-
ram tramitando no Congresso.
Segundo analistas, a falta de apoio do presidente à agenda
econômica neoliberal de Paulo Guedes levou muitos profissionais da
equipe desse ministro a pedir demissão de seus cargos. Eles deixaram
o governo alegando que as privatizações não estavam acontecendo,
a reforma administrativa não estava avançando e que, por isso, pre-
feriam sair.

A reforma na Previdência
No final de 2019, o governo Bolsonaro aprovou a Reforma da
Previdência. Observe no quadro a seguir algumas mudanças importantes.

Aposentadoria antes da Reforma Aposentadoria depois da Reforma


Mulheres: pelo menos 60 anos de idade Mulheres: pelo menos 62 anos de idade
Trabalhadores e 15 anos de contribuição. e 15 anos de contribuição.
da iniciativa
privada Homens: pelo menos 65 anos de idade Homens: pelo menos 65 anos de idade
e 15 anos de contribuição. e 20 anos de contribuição.

Ao atingir a idade e o tempo mínimos de contribuição, os tra-


balhadores poderão se aposentar com 60% da média de todas as
contribuições desde julho de 1994. A cada ano a mais de contribuição
além do mínimo exigido, serão acrescidos dois pontos percentuais
aos 60%. Desse modo, para ter direito à aposentadoria no valor de
100% da média de contribuições, as mulheres terão de contribuir
por 35 anos e, os homens, por 40 anos.
O valor das aposentadorias não será inferior a um salário mínimo
nem poderá ultrapassar o teto (que hoje é de R$ 5 839,45 por mês).
Quanto à pensão por morte, o pagamento será de 50% do valor
da aposentadoria com mais 10% para cada dependente. Assim, se
tiver um dependente, este receberá 60% da aposentadoria do fale-
cido. E assim por diante.

296

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Desemprego, um dos Brasil: Evolução da taxa de
desemprego (2021-2022)
maiores desafios do

SONIA VAZ
Índice no
trimestre

governo Bolsonaro em 2022 (%)


15
14,5 14,6 14,9 14,8 14,7 14,2
13,7
13,1
Segundo o economista da Fundação 12,6
12,1
11,6
11,1 11,2 11,2
10
Getúlio Vargas (FGV), Luiz Guilherme
Schymura, a pandemia atingiu os empregos 5

quando o mercado de trabalho começava a


se recuperar da recessão que atingiu o país. 0

21

21

21

21

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2
Segundo o IBGE, no trimestre encerrado

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ja
ou
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-d
-m

-s
m
em fevereiro de 2022, a taxa de desemprego

n.

-f
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l.-

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o.
r.-

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v.
ja

n.

v.

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ju
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se

ou
z.-

ja

fe
v.

m
de
no
ficou em 11,2% (12 milhões de pessoas Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA. Indicadores IBGE. Pesquisa Nacional por
desempregadas). Amostra de Domicílios Contínua. Brasília, DF: IBGE, 2022.
p. 4. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/
Um destaque positivo é que, nesse visualizacao/periodicos/3086/pnacm_2022_fev.pdf.
período, o número de trabalhadores por conta Acesso em: 5 maio 2022.

própria caiu 1,9%, enquanto o de emprega-


RAFAPRESS/SHUTTERSTOCK.COM

dos com carteira assinada cresceu 1,1%.


Com a pandemia da covid-19, o Con-
gresso aprovou uma emenda constitucional
que permitia ao governo elevar as despe-
sas para enfrentar a crise na Saúde e na
Economia. O governo Bolsonaro, então,
concedeu o auxílio emergencial (inicialmente
de R$ 600 e, depois, reduzido para R$ 300).

Letramento digital  plicativo oficial do auxílio emergencial.


A
e trabalho durante São Paulo (SP), 2020.

a pandemia
GERSON GERLOFF/PULSAR IMAGENS

Durante a pandemia, a necessidade de


adaptação às tecnologias de informação e
aos recursos digitais acelerou o letramento
digital de professores e alunos.

Professor lecionando de casa.


Santa Maria (RS), 2021.

297

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O esforço feito por professores e gestores para que os estudantes tivessem aulas a
distância foi grande, tanto nas escolas públicas quanto nas escolas particulares. Tanto
alunos quanto professores tiveram de conviver e aprenderam muito com o distanciamento
social; adquiriram saberes e técnicas específicos.
Ajudadas pelo aumento da vacinação, as aulas presenciais voltaram no início de 2022.
Um dos desafios é enfrentar as defasagens na aprendizagem deixadas por dois longos
anos de isolamento social.
No campo do trabalho, muitas empresas adotaram, durante a pandemia, o home office.
office.
No início de 2022, muitas delas voltaram ao modelo presencial, outras optaram pelo modelo
híbrido e outras, ainda, adotaram o home office como seu único modelo de trabalho.

Lives e pandemia
Durante a pandemia, a ascensão das lives foi significativa. Segundo o psicólogo Pablo
Constantino, isto pode ser explicado pelo fato de a pandemia ter trazido muita pressão
psicológica e as lives atuarem como válvula de escape, ajudando a amenizar a solidão
causada pela falta de contato humano.
Além disso, as lives em plataformas digitais foram importantes fontes de arrecadação
de recursos para trabalho solidário, estimularam artistas a se engajarem e aproximaram a
sociedade civil das ONGs e suas causas.
Entre os artistas que mais conseguiram recursos estão Anitta que, com uma live no
Dia das Mães, levantou 1 milhão de reais voltados ao programa social “Mães da Favela”,
realizado pela Central Única das Favelas (Cufa). Outra arrecadação expressiva foi obtida pela
dupla Sandy e Júnior, em 21 de abril. A verba foi destinada ao projeto “Mesa Brasil” de
distribuição de alimentos no país; a dupla arrecadou 5 milhões de reais. O show “Amigos”,
quinteto formado por Chitãozinho e Xororó, Zezé de Camargo e Luciano, e Leonardo,
levantou 1 milhão e setecentos mil reais, doados, principalmente, ao Hospital do Amor de
Barretos e à ONG Amigos do Bem.
A live do Emicida, em 10 de
maio, também voltada ao
programa “Mães da Favela”,
arrecadou 807 mil reais.

A Associação Brasileira de
Captação de Recursos (ABCR)
informou que os artistas
brasileiros que mais arrecadaram
com suas lives foram Sandy e
Júnior, Amigos, Anitta e Emicida.
REPRODUÇÃO/EMICIDA - LIVE TRANSMITIDA EM 10 DE MAI. DE 2020

298

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando
1 O presidente Figueiredo sofreu, durante seu período de governo (1979-1985), uma
forte oposição. Copie no caderno a alternativa correta sobre ela.
a) Defendia o governo Figueiredo e a abertura política.
b) Lutava pela redemocratização do Brasil e por melhores condições de vida.
c) Desejava a deposição imediata do então presidente da República.
d) Pleiteava participação política apenas na esfera municipal.

2 Avalie as afirmativas a seguir.


I. Tancredo Neves, presidente eleito do Brasil por voto indireto, morreu antes de ser empossado.
II. José Sarney substituiu o presidente Tancredo Neves, uma vez que foi o segundo colocado nas
eleições presidenciais.
III. Apesar da baixa inflação e do crescimento econômico, José Sarney lançou o Plano Cruzado
para recuperar a economia.
IV. Durante o governo José Sarney, foi convocada uma Assembleia Constituinte para discutir e
aprovar uma nova constituição.

Estão corretas as afirmativas:


a) I, II e III. c) II e IV.
b) I e IV. d) III e IV.

3 Observe a charge atentamente.


INSTITUTO HENFIL

Com base em suas observações, res-


ponda às questões a seguir.
a) Crie uma legenda para a imagem.
b) O que há em comum nas frases con-
tidas nos cartazes?
c) Quem ou o que o homem que fala ao
megafone está representando?
d) Em que contexto a cena mostrada
ocorreu?
e) O que o autor da charge pretendeu
criticar?

Charge de Henfil publicada na revista IstoÉ, em 1984.

299

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4 As medidas do Plano Cruzado foram anunciadas pelo presidente Sarney em seu
discurso de 28 de fevereiro de 1986. Leia a seguir um trecho do discurso.

O anúncio do Plano Cruzado


[…] Cada brasileiro ou brasileira será, e deverá

JUCA MARTINS/OLHAR IMAGEM


ser, um fiscal dos preços. E aí posso me dirigir a
você, brasileiro ou brasileira, para investi-lo num
fiscal do presidente, para a execução fiel desse
programa, em todos os cantos deste Brasil.
Ninguém poderá, a partir de hoje, praticar
a indústria da remarcação. O estabelecimento
que o fizer poderá ser fechado, [e] ensejar a
prisão dos responsáveis.
[…] Convoco o povo brasileiro para viver este
grande momento. Este programa não é um pro-
grama meu. Ele é do Brasil. É pelo Brasil que nós
estamos lutando. [...]
SARNEY, José. Discurso do presidente José Sarney. In: CARVALHO, Marisa;
GARDENALLI, Geraldo. Plano de Estabilização Econômica. Revista de O presidente da República,
Economia Política, São Paulo, v. 6, n. 3, p. 109-120, jul./set. 1986. p. 113. José Sarney. Brasília (DF), 1985.

a) Que estratégia Sarney usou em seu discurso para envolver o povo?


b) Como Sarney justificou a sua estratégia?
c) O que você entende por indústria da remarcação?
d) O Plano Cruzado interessava de fato a todos os brasileiros, como disse Sarney? Justifique.

5 Sobre a Carta Magna (Constituição federal) de 1988, considere as afirmações a seguir.


I. Os indígenas e remanescentes de quilombos passaram a ter direito à terra, mesmo que não
vivessem nelas há décadas.
II. O voto tornou-se obrigatório para maiores de 16 e menores de 70 anos e instituiu-se eleição
em dois turnos para os cargos do Legislativo.
III. O regime de governo do Brasil atual é a república federativa parlamentarista.
IV. O artigo 5o da Constituição considera o racismo crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
reclusão nos termos da lei.
V. O trabalhador ganhou o direito de receber como abono um terço de seu salário ao sair de
férias, a licença-maternidade foi aumentada para 120 dias e criou-se a licença-paternidade,
de 5 dias.

Podemos afirmar que:


a) I, II e III estão corretas. d) IV e V estão corretas.
b) II, III e V estão corretas. e) I e V estão incorretas.
c) III, IV e V estão corretas.

300

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6 A imagem a seguir

FERNANDO PEREIRA/AGÊNCIA O GLOBO.


é do último debate
do 2o turno da
eleição presiden-
cial de 1989.

À esquerda, Fernando
Collor de Mello; ao centro,
o apresentador Boris
Casoy; e à direita, Luiz
Inácio Lula da Silva. 1989.

a) Sobre esse assunto, preencha no caderno o quadro a seguir.


NÃO ESCREVA
NO LIVRO. Fernando Collor de Mello Luiz Inácio Lula da Silva

Partido político

Origem social

Propostas de governo

b) O
 s meios de comunicação de massas (rádio, televisão, jornais, revistas etc.) estavam consolidados
entre a população e eram os principais veículos de informação e lazer de milhões de brasileiros,
quando se iniciou a disputa da campanha presidencial de 1989. Até março daquele ano, eram
poucos os eleitores que apostavam em Collor de Mello. A partir daquele mês, no entanto, ele
começou a liderar as pesquisas de intenções de voto. O que ajuda a explicar essa virada?

7 Leia o cordel de Raimundo Santa Helena com atenção.


O Plano Collor-Cruzélia
Pune rico e operário,
Federais e estatais,
Mas não corta o salário
Dos nobres legislativos,
Dos demais Executivos
E nem do Judiciário... […].
SANTA HELENA, Raimundo. Plano cruzélia. Literatura de Cordel para criança.
Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1990.
a) O que a leitura desse cordel permite concluir?
b) O que o poeta quis dizer com “Plano Collor-Cruzélia”?
c) O
 poeta dirige uma crítica direta aos altos salários dos parlamentares no Brasil. Pesquise
os salários atuais de deputados federais e senadores, reflita e responda: você os considera
elevados demais para o padrão brasileiro? Justifique sua resposta.

301

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8 Em 1994, tendo Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda, foi lançado
o Plano Real. Leia o que um economista diz sobre esse assunto.
O Plano Real não congelou preços nem veio sob a forma de “pacote-surpresa”. Foi
submetido à discussão pública e à aprovação pelo Parlamento. Nesse sentido, teve
caráter democrático e contou com o apoio da sociedade. Em julho de 1994, a moeda
nacional passou a ser o real, e o plano entrou em vigor. O efeito sobre a inflação foi
imediato. Em abril, 45,57%; maio, 43,77%; junho, 49,10%. Já em julho, a inflação desceu
a 32,45%; em agosto, despencou para 2,60%; em setembro, para 1,46%, subindo em
outubro para 2,65%; em novembro, 3,11%; e, em dezembro, caiu para 1,11%.
SINGER, Paul. O processo econômico. In: REIS, Daniel Aarão (coord.). Modernização, ditadura e democracia: 1964-2010.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. (História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 5, p. 223).
a) No aspecto político, o que diferencia o Plano Real dos anteriores?
b) E m uma folha de sulfite, faça um gráfico de colunas apresentando a inflação entre os meses
de abril e dezembro de 1994.
c) De acordo com o texto e o gráfico que você produziu, como foi o movimento da inflação nos
meses do ano de 1993?
d) Pergunte a um ou mais membros de sua família que era jovem ou já adulto entre o final dos
anos de 1980 e início dos anos 1990 como era viver naquela época sob o impacto da inflação.
Depois, com base no relato e nos estudos do capítulo, escreva um texto dissertativo sobre o
tema “o impacto da alta inflação na vida das pessoas”.

9 Avalie as afirmações a seguir sobre o Plano Real e informe as corretas.


I. Previa a criação de uma nova moeda, o real, e estabelecia a paridade entre essa moeda e o
dólar estadunidense, ou seja, em 1o de julho de 1994, 1 real equivalia a 1 dólar.
II. O Plano Real conseguiu derrubar a inflação e aumentar o poder de compra dos salários, o que
elevou enormemente a popularidade de FHC, este então lançou sua candidatura à presidência
da República.
III. O Plano Real previa uma elevação dos gastos públicos, sobretudo no campo da Saúde e
da Educação.
a) A penas a alternativa I está correta.
b) A penas a alternativa II está correta.
c) As alternativas I e II estão corretas.
d) As alternativas II e III estão corretas.
e) As alternativas I e III estão corretas.

10 Copie no caderno a alternativa correta.


No ano 2000 foi aprovada a Lei de Responsabilidade Fiscal, que tornou obrigatório
aos administradores públicos:
a) gastar livremente, desde que de forma justificada e em projetos populares.
b) controlar os gastos, pois a Lei proibia gastar mais do que o arrecadado no ano.
c) ampliar o gasto público sempre que necessário, sem consentimento do Poder Legislativo.
d) elaborar projetos que permitissem gastar além do que era permitido pelo orçamento anual.

302

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11 Sobre o primeiro governo Lula (2003-2006), leia as afirmações a seguir e informe as
corretas.
a) Lula foi favorecido, no plano interno, pelos resultados positivos do Plano Real, que estabi-
lizaram a economia, permitindo a queda da inflação e o crescimento do poder de compra
dos salários.
b) Buscando conter gastos, o governo Lula suprimiu ministérios e secretarias, como a de Políticas
para as Mulheres e a de Promoção da Igualdade Racial.
c) O Programa Fome Zero pretendia doar a todos os brasileiros uma alimentação adequada em
termos de qualidade, quantidade e regularidade
d) A principal marca do governo Lula foi a redução do índice de pobreza.

12 Sobre o governo Dilma Rousseff são corretas as afirmações.


a) D
 esonerou o setor produtivo, especialmente o automobilístico, a fim de incentivar esse impor-
tante setor da economia.
b) D
 irecionou as exportações brasileiras sobretudo para os Estados Unidos e a Europa, seguindo
a linha do governo anterior.
c) A presidente Dilma mostrou dificuldade de negociar com os líderes dos diferentes partidos e,
por isso, não conseguia aprovar seus projetos no Congresso Nacional.
d) Os gastos com a Copa das Confederações, com a Copa do Mundo (2014) e o aumento das
passagens de ônibus receberam críticas discretas por parte dos parlamentares.
e) O
 debate em torno do impeachment da presidente Dilma dividiu opiniões e levou para as ruas
milhares de manifestantes; parte deles contrários, e outra parte a favor da sua permanência
no governo.

13 A Reforma Trabalhista aprovada no governo Temer foi e continua sendo objeto de


debate. Essa Reforma alterou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em qual dos
seguintes pontos?
a) Eliminou a existência do salário mínimo.
b) Introduziu o “banco de horas” por acordo individual escrito.
c) Suspendeu a jornada de 8 horas de trabalho, importante conquista dos trabalhadores.
d) Tornou facultativo o pagamento do imposto sindical.
e) Proibiu o trabalhador de fazer horas extras além do limite legal.

14 No caderno, monte um quadro e preencha-a com informações sobre propostas do


governo Jair Bolsonaro por setor. NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Economia

Meio ambiente

Ciência e Tecnologia

Política externa

303

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II. Leitura e escrita em História
Vozes do presente

Crimes de ódio: o que são, por que ocorrem e como combatê-los


Mesmo sem tipificação legal, os crimes de ódio […] se caracterizam pela “dis-
criminação ou intolerância contra uma coletividade ou referências a elementos
específicos de raça, cor, religião, procedência nacional e etnia, de maneira tal que
ofendam a dignidade humana, e não somente determinado indivíduo”. [...]
Quais as causas do crime de ódio?
Os crimes de ódio, segundo a antropóloga Adriana Dias, que há anos estuda o
tema, ocorrem por meio do que ela chama de “culto e cultivo ao ódio”. A especialista
enumera três formas de cultivá-lo no Brasil atual.
A primeira é uma noção equivocada e superficial de meritocracia, pela qual alguns
indivíduos passam a acreditar que são melhores do que outros ou mais merecedores.
Em segundo, está a formação de um “sujeito conveniente”, que recebe a culpa pelos
fracassos de outros. “Nesse caso, quem odeia pensa: A culpa não é minha por estar
nessa situação. É do judeu, do negro, do gay, do nordestino. Você constrói o objeto de
ódio e um motivo para odiá-lo”, explica Dias.
A terceira forma, completa, é o culto à masculinidade […]. E com todos esses
fatores, o ódio só tende a crescer”, avalia a antropóloga.
CRIMES de ódio: o que são, por que ocorrem e como combatê-los. TV Assembleia, Teresina, 23 set. 2009. Disponível em:
http://www.tvassembleia.org/noticiasConteudo_inc.php?idNoticia=16208. Acesso em: 23 mar. 2022.

a) Com base no texto, explique com suas palavras o que são os crimes de ódio.
b) A
 presente os três fatores que, segundo a antropóloga Adriana Dias, são as causas dos crimes
de ódio. PREFEITURA DE FORTALEZA

c) Observe uma página da campanha Ceará


sem racismo. Respeite a minha his-
tória, respeite minha diversidade,
lançada pela Secretaria da Proteção
Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e
Direitos Humanos (SPS) do Governo
do Estado do Ceará em parceria com
a Prefeitura de Fortaleza, em 2019. Em
seguida, responda às questões.
I. Qual é o sentido que a mensagem da
campanha apresenta?
Ialorixá Mãe Menininha do Gantois. Campanha contra
II. Observe a imagem e relacione-a ao obje- o racismo chamada “Ceará sem racismo. Respeite a
tivo da campanha. minha história, respeite minha diversidade". 2019.

304

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CAPÍTULO

14 FIM DA GUERRA FRIA


E GLOBALIZAÇÃO
COWARDLION/SHUTTERSTOCK.COM

IMAGE SOURCE/GETTY IMAGES

1. Você é capaz de adivinhar de que


FG TRADE/GETTY IMAGES

país ou região são as pessoas


dessas fotografias?
2. Já reparou que pessoas de diversas
partes do mundo consomem as
mesmas bebidas, as mesmas
roupas e os mesmos celulares e têm
comportamentos bem parecidos?
Efeitos da globalização, dizem alguns
analistas.
3. Mas, afinal, o que é a globalização?
4. O que vem à sua mente quando
você lê ou ouve essa palavra?
5. Será que é um fenômeno recente
ou antigo?
6. Será um processo excludente, como
dizem alguns, ou inclusivo, como
sugerem outros?

305

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Gorbachev: reconstrução

BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES


e transparência
Mikhail Gorbachev assumiu o posto de
secretário-geral do Partido Comunista da União
Soviética em 1985. E herdou uma crise profunda,
que vinha se arrastando desde o governo anterior.
Entre as principais razões dessa crise, cabe citar:
a) os crescentes gastos do governo soviético
com o pagamento de forças policiais, usadas
Mikhail Gorbachev (líder do Partido
para conter a oposição interna, e a corrida
Comunista soviético) e sua esposa, armamentista; com isso, sobrava menos
Raisa Gorbachev, primeira à direita, dinheiro para investir na produção, na edu-
sendo recebidos na chegada a Kiev
cação e na saúde. Nos anos 1980, com o
(Ucrânia), 1985.
aprofundamento da crise, começaram a faltar
moradias e gêneros de primeira necessidade,
Produtividade: capacidade de produzir; como roupas, calçados e alimentos, o que
rendimento. gerou enorme insatisfação social. A qualidade
Burocracia: grupos de funcionários dos serviços de educação, saúde e transporte
encarregados da administração pública.
caiu;
b) a baixa produtividade da agricultura e da
pecuária: a produção de cereais, carne e
leite tornou-se insuficiente para alimentar
a população soviética; o país, que era um
ANDRE DURAND/AFP

dos maiores produtores de grãos, passou a


importá-los;
c) a falta de investimentos em tecnologia,
sobretudo no campo da informática, das
telecomunicações e da microeletrônica, o que
levou a URSS a ficar muito atrás das potências
capitalistas nessas áreas. Os soviéticos passa-
ram a perceber que seu padrão de vida era
inferior ao das camadas médias dos Estados
Unidos, do Japão e da Alemanha Ocidental;
Moscovitas fazem fila em uma d) a ineficiência e a corrupção da burocracia
mercearia para comprar comida para soviética, que dirigia o Estado e que vinha
as comemorações de Ano-Novo durante
a crise econômica. Moscou (Rússia), dos quadros do Partido Comunista da União
29 de dezembro de 1990. Soviética, o único com permissão para funcionar.

306

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Reformas de Gorbachev
Disposto a tirar seu país da crise, Gorbachev propôs um amplo programa de reformas
econômicas (a perestroika) e políticas (a glasnost).
A perestroika (reestruturação, em russo) adotou medidas como:
a) corte nos gastos com armas e soldados e retirada das tropas soviéticas do Afeganistão
(cuja ocupação vinha consumindo vidas e altas somas de dinheiro);
b) estímulo à renovação tecnológica e à competitividade entre as empresas;
c) fim do monopólio estatal sobre alguns setores, como o de alimentos;
d) permissão para a abertura de lojas comerciais;
e) liberdade para a entrada de empresas estrangeiras no país.
A glasnost (transparência, em russo) consistia em uma abertura política efetiva.
O governo Gorbachev:
a) libertou os presos políticos;
b) demitiu funcionários corruptos;
c) pôs fim à censura de jornais, livros e revistas e liberou o direito à greve;
d) substituiu o sistema de partido único (o Partido Comunista da União Soviética) pelo
pluripartidarismo..
pluripartidarismo
A perestroika e a glasnost de Gorbachev, porém, não surtiram o Pluripartidarismo:
efeito esperado; de um lado, em razão das dificuldades próprias da sistema caracterizado
pela existência de
passagem de uma economia comunista (apoiada no planejamento diferentes partidos
centralizado) para uma economia capitalista (baseada na livre- políticos, com ampla
-iniciativa); de outro, pela dupla oposição feita ao seu governo – liberdade para
atuar publicamente.
em um extremo estava a “velha guarda” do Partido Comunista,
que queria impedir as mudanças; em outro, a ala liderada por Boris
Yeltsin, que exigia o aprofunda-
mento das mudanças.

Cena do filme Doutor Jivago, de 1965. O livro


Doutor Jivago, do soviético Boris Pasternak,
foi levado para o Ocidente às escondidas e
publicado em 1957. Ele ganhou várias edições
e foi adaptado para o cinema. Apesar disso,
nunca tinha sido editado em seu país de
origem. No final dos anos 1980, à sombra
das reformas em curso na URSS, essa obra,
até então proibidíssima, pôde finalmente ser
conhecida pelo povo soviético.

EVERETT COLLECTION/EASYPIX BRASIL

307

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A extinção da URSS e a formação da CEI
Em meados de 1991, um grupo da “velha guarda” comunista deu um golpe militar
e afastou Gorbachev. Mas o povo russo saiu às ruas, liderado por Yeltsin, e venceu os
golpistas, recolocando Gorbachev no poder.
Gorbachev reassumiu, mas já não era possível controlar o processo de reformas que ele
mesmo iniciara. Dias depois, as repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia) declararam
sua independência e, posteriormente, foram imitadas por outras repúblicas soviéticas.
Em 8 de dezembro de 1991, Yeltsin proclamou a criação da Comunidade dos Estados
Independentes (CEI),, formada pela Federação Russa, Ucrânia e Belarus, às quais se jun-
taram depois outras repúblicas. Com a criação da CEI, a União Soviética, que existiu por
69 anos, foi extinta. Esse episódio marca o fim da ordem mundial bipolarizada, uma das
principais características da Guerra Fria.

União Soviética: desmembramento (1991)


ALLMAPS

OCEANO GLACIAL ÁRTICO


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RUS. ESTÔNIA
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FEDERAÇÃO RUSSA PACÍFICO
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ARMÊNIA
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Mar de Aral
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Fonte: DUBY, Georges.


RC

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ÁSIA
IST

0 810 Atlas historique mondial.


EN

ÃO

QUIRGUISTÃO
Paris: Larousse, 2011.
IST

TADJIQUISTÃO
100° L
ÃO

p. 261.

Democratização no Leste Europeu


Países do Leste Desde o final da Segunda Guerra, em 1945, os países do Leste
Europeu: Polônia,
Iugoslávia,
Europeu giravam na órbita da União Soviética; daí serem chamados
Tchecoslováquia, de países-satélites.. Assim como a União Soviética, todos esses países
Hungria, Romênia,eram governados por um único partido – o Partido Comunista –, que
Bulgária, Albânia e
adotava uma economia controlada pelo Estado e mantinha os meios
Alemanha Oriental.
de comunicação sob rigorosa censura.
Com as reformas de Gorbachev, a União Soviética relaxou o controle sobre os países
do Leste Europeu, facilitando a atuação de movimentos populares que lutavam pela demo-
cratização desses países. Na Alemanha e na Tchecoslováquia, esse processo foi pacífico. Na
Romênia e na Iugoslávia ocorreram revoltas e conflitos armados.

308

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AP PHOTO/IMAGEPLUS
O caso da Alemanha
No final dos anos 1980, incentivados pelas
reformas de Gorbachev na URSS, os habitantes da
Alemanha Oriental organizaram um movimento
popular exigindo melhor qualidade de vida e
democracia. O lema do movimento era Wir sind
das Volk (“Nós somos o povo”). Pouco a pouco, o
movimento foi ganhando corpo e força, até que,
em 9 de novembro de 1989, o povo alemão derru-
bou o Muro de Berlim, um dos principais símbolos
da Guerra Fria.
Após a queda do muro, Mikhail Gorbachev Alemães orientais entram em Berlim
concordou em retirar da Alemanha Oriental as Ocidental pouco antes da derrubada do
muro. Berlim (Alemanha), 1989.
tropas de ocupação soviéticas que controlavam o
país havia 45 anos. Em julho de 1990, realizou-se a união monetária e econômica entre
as duas Alemanhas, tendo o marco como moeda; em outubro, a Alemanha voltava a ser
um só país. A data da queda do Muro de Berlim (9 de novembro de 1989) é um marco
histórico no processo que levou ao fim da ordem mundial bipolarizada. Os custos da
unificação foram altos. Apesar disso, a Alemanha conseguiu superar esse desafio e hoje
é uma potência econômica com elevado índice de qualidade de vida.

Globalização
A globalização pode ser definida como um processo histórico Automação: sistema
de crescente interligação política, econômica, social e cultural entre automático pelo
qual os mecanismos
os diferentes povos e países. controlam seu próprio
Para alguns historiadores, a globalização teve sua origem nas funcionamento, com
Grandes Navegações europeias dos séculos XV e XVI, ganhou pouca interferência
humana.
impulso no século XVIII com a Primeira Revolução Industrial e inten-
Revolução
sificou-se no século seguinte com a Segunda Revolução Industrial. Técnico-Científico-
No século XX, as inovações tecnológicas ocorreram durante todo o -Informacional:
conceito formulado
tempo e em diferentes regiões do planeta. A partir dos anos 1970,
pelo geógrafo Milton
a dinâmica capitalista e os investimentos em ciência e tecnologia Santos para explicar,
conduziram à automação dos processos produtivos e à descoberta entre outros aspectos,
a revolução na produção
de novas tecnologias em diversas áreas. Essa série de inovações
e a circulação de
ocorrida nos anos 1970 é denominada Revolução Técnico- mercadorias iniciada
-Científico-Informacional,, ou Terceira Revolução Industrial; a
-Científico-Informacional na década de 1970 e
ainda em curso.
fotografia a seguir mostra um dos aspectos dessa Revolução.

309

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WALTRAUD GRUBITZSCH/PICTURE ALLIANCE/GETTY IMAGES
O robô “Thea”, programado
para orientar idosos
a fazerem atividades
físicas. Na imagem, estão
presentes, também, um
médico (à direita com
máscara azul), uma
assistente de enfermagem
e um especialista em
informática (atrás do robô).
Halle (Alemanha), 2021.

Segundo o historiador Nicolau Sevcenko:


Dialogando
O que distinguiu particularmente o século XX, em comparação
Você seria
com qualquer outro período precedente, foi uma tendência contínua
capaz de dar
alguns exemplos e acelerada de mudança tecnológica, com efeitos multiplicativos [...]
de mudanças sobre praticamente todos os campos da experiência humana [...].
tecnológicas SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa.
recentes? São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 23.

Efeitos da globalização sobre o emprego


A Revolução Técnico-Científico-Informacional e a crescente globalização trouxeram
algumas vantagens, como:
a) a disponibilidade de uma grande variedade de produtos a preços relativamente mais
baixos;
b) a velocidade com que as informações circulam e a eficiência dos meios para obtê-las;
c) a livre circulação de mercadorias e capitais entre os países de um mesmo bloco eco-
nômico, entre outras.
Mas essa revolução em um mundo cada vez mais globalizado trouxe também des-
vantagens; a maior delas, talvez, seja o crescimento do desemprego.
A automação da produção industrial vem eliminando muitos postos de trabalho,
direta ou indiretamente. Diretamente, as empresas vêm substituindo homens e mulheres
por máquinas inteligentes e robôs. Indiretamente, as indústrias dos países pobres ou em
desenvolvimento perdem, com frequência, a concorrência para as dos países ricos; como
resultado, têm dificuldade para se manter e, por vezes, acabam falindo e levando muitos ao
desemprego. Esse desemprego resultante da revolução tecnológica em curso é chamado
de desemprego estrutural,
estrutural, porque os trabalhadores perdem seus empregos e a volta ao
mercado de trabalho é mais demorada.

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PARA SABER MAIS
Argumentos críticos às políticas globais
a) A flexibilização da legislação trabalhista retira direitos sociais dos trabalhadores.
b) O uso da terceirização e da subcontratação pelas empresas provoca a diminuição
no número de empregos com carteira assinada.
c) O controle das políticas econômicas dos países mais pobres e emergentes por organis-
mos internacionais (Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial) acaba levando
esses países a reduzir investimentos em saúde, educação e segurança pública.
d) A imposição de uma
KEINY ANDRADE/FOLHAPRESS

cultura única ameaça a


diversidade e os valores
culturais locais e regionais.
e) A prioridade dada ao
crescimento econômico
tem causado a degra-
dação ambiental – ar,
terra e água.

Vitrine de loja em shopping.


Jundiaí (SP), 2017.

Argumentos favoráveis às políticas globais


a) Aumentam a concorrência entre as empresas
DIEGO GAZOLA

e diminuem os preços das mercadorias.


b) Possibilitam a um número maior de pessoas
o acesso a bens de consumo com tecnologia
avançada, como celulares, smart TVs etc.
c) Favorecem a integração de povos e culturas
pela internet e pelas redes sociais.
d) Permitem-nos saber o que ocorre ao redor do
mundo em tempo real.
e) Ampliam os mercados e favorecem um aumento
do comércio mundial, o que beneficia a todos.

Praia de Mangue Seco, Jandaíra (BA), 2007. Na placa, lê-se:


“Nós falamos: inglês, francês, italiano, espanhol e brasileiro!”.

311

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Protestos contra a globalização
Nas duas últimas décadas, ocorreram vários protestos contra
a globalização; os principais alvos dos ativistas são as empresas
transnacionais, os dirigentes de países ricos, e órgãos internacio-
nais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização
Mundial do Comércio (OMC). Durante esse tempo, por iniciativa
dos movimentos sociais, o debate sobre a globalização e seus
efeitos ganhou um novo espaço: o Fórum Social Mundial (FSM).
Fórum Social
Mundial: evento criado Segundo seus organizadores, o FSM é um espaço de produção
para fazer frente ao de alternativas ao modelo de globalização a serviço dos interesses
Fórum Econômico das grandes corporações e instituições internacionais, a exemplo
Mundial – encontro de
grandes empresários, do FMI e do Banco Mundial. Para os críticos da globalização, esse
economistas e processo é desfavorável aos países em desenvolvimento pelos
líderes mundiais.
seguintes motivos:
a) a destruição de empregos e o aumento da
exclusão social;
b) o aprofundamento das desigualdades sociais no
interior das nações e entre elas;
c) a instabilidade econômica e as crises causadas
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

pela ação de capitais especulativos ao redor do


mundo;
d) os ajustes exigidos pelo FMI, que obrigam países em
desenvolvimento a cortar gastos no setor social e
com políticas inclusivas.
Em 2022, a sede do Fórum Social Mundial foi
Logotipo do Fórum Social Mundial a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e
ocorrido em Porto Alegre (RS), 2022. teve como tema “Justiça e Democracia”.
[...]
O fórum pretende mobilizar a sociedade civil internacional e os profissionais do
direito para discutir medidas que possam resguardar o funcionamento do estado
democrático de direito em todos os países do mundo.
Tem como foco principal a articulação de todas as organizações e movimentos
sociais internacionais interessados em denunciar as práticas antidemocráticas [...] que
têm sido usadas na América Latina e em outras partes do mundo para subverter a
democracia e suas instituições e Estado.
BRASIL. Ministério da Saúde. Justiça e Democracia serão temas de Fórum Social Mundial em 2022.
Conselho Nacional de Saúde. Brasília, DF, 2021. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/
2096-justica-e-democracia-serao-temas-de-forum-social-mundial-em-2022.
Acesso em: 13 abr. 2022.

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PARA SABER MAIS
O neoliberalismo
O neoliberalismo é uma doutrina favorável à não intervenção do Estado na economia.
Segundo o neoliberalismo, o Estado deve:
• estimular a livre concorrência entre empresas e países;
• promover a privatização, isto é, a venda de empresas estatais a particulares;
• favorecer a abertura do mercado nacional às mercadorias e aos capitais estrangeiros;
• diminuir os gastos públicos para manter o equilíbrio entre o que se arrecada com
impostos e o que se gasta.
O neoliberalismo foi aplicado inicialmente no Reino Unido da primeira-ministra
Margaret Thatcher, entre 1979 e 1990; nos Estados Unidos do presidente Ronald
Reagan, entre 1981 e 1989; e na Alemanha do chanceler Helmut Kohl, entre 1982 e
1988. No Brasil, foi posto em prática a partir do governo Collor, entre 1990 e 1992,
que criou facilidades para a entrada de produtos estrangeiros e iniciou um processo
de venda das empresas estatais (privatização).
RON BENNETT/BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

RÉGIS BOSSU/SYGMA/GETTY IMAGES

Da esquerda para a direita, Ronald Reagan (EUA, 1988), Margaret Thatcher (EUA, 1989) e Helmut Kohl
(Alemanha, 1988).

Segundo os defensores do neoliberalismo, a abertura do


Dialogando
mercado à concorrência internacional obrigaria os fabricantes
nacionais a melhorar a qualidade dos produtos e a diminuir seus Com qual
dos dois
preços, e quem sairia ganhando com isso seria o consumidor. Já pontos de
os críticos do neoliberalismo argumentam que a abertura do vista você
mercado nacional aos capitais e produtos estrangeiros prejudica a concorda?
indústria nacional, gera desemprego e favorece as multinacionais. Por quê?

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Conflitos e tensões

CHRISTOPHER FURLONG/GETTY IMAGES


no mundo atual
Vivemos em um mundo dividido pela
enorme distância entre pobres e ricos, casti-
gado por desastres ambientais e abalado por
outros sérios problemas, como o tráfico de
drogas, o terrorismo, a exclusão digital, os
preconceitos motivados por origem, religião
Pessoas reunidas para homenagear as vítimas de ou orientação sexual e os conflitos armados
um atentado terrorista na Manchester Arena na em várias partes do globo. Tais problemas
noite de 22 de maio de 2017, no qual 22 pessoas afetam a todos nós, direta ou indiretamente.
foram mortas e 59 ficaram feridas. Manchester
(Inglaterra), 2017.
A Questão Palestina
Oriente Médio: área geográfica que abriga países como Para melhor entender a Questão Pales-
Egito, Líbia e Argélia (na África), Turquia (na Europa
e Ásia) e Síria, Líbano, Israel, Arábia Saudita, Kuwait, tina, vamos recuar no tempo.
Iraque, Irã e Afeganistão (na Ásia). Por produzir cerca de Durante a Primeira Guerra Mundial
25% do petróleo extraído no mundo, o Oriente Médio (1914-1918), os interesses da Grã-Bretanha
atraiu e atrai a cobiça das grandes potências do Ocidente.
e da França contribuíram para aumentar a
tensão no Oriente Médio.
Médio.
Oriente Médio: divisão pela Liga das Nações (1922) Inicialmente, a Grã-Bretanha
SELMA CAPARROZ

Mar Negro 40° L


ora pendia para os árabes,
ora para os judeus. Depois,
0 195
com o objetivo de atrair
TURQUIA
a poderosa comunidade
judaica, a Grã-Bretanha
assinou, em 1917, a
PÉRSIA Declaração de Balfour,,
(Atual IRÃ)
CHIPRE SÍRIA pela qual prometia apoiar
Mar
Mediterrâneo
LÍBANO a formação de um Estado
IRAQUE
judeu na Palestina. Com a
vitória na Primeira Guerra,
PALESTINA
a Grã-Bretanha e a França
TRANSJORDÂNIA
dividiram entre si o controle
30° N

EGITO
ARÁBIA
Golfo
das terras do Oriente Médio.
SAUDITA Pérsico
Território sob mandato francês
Território sob mandato britânico Fonte: ATLAS da história do mundo.
São Paulo: Folha de S.Paulo, 1995. p. 257.
Repare que a Síria e o Líbano ficaram sob o controle da França; já a
Palestina, a Transjordânia e o Iraque ficaram sob o mandato britânico.

314

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Nos anos de 1930 e 1940, para fugir à perseguição nazista na Europa, dezenas de
milhares de judeus foram para a Palestina. Com o aumento da população judaica na
Palestina, começaram a ocorrer sérios atritos entre os judeus e os árabes ali residentes.
Naquelas décadas, as companhias inglesas e estadunidenses passaram a disputar entre si
a prospecção, o refino e a comercialização do petróleo do Oriente Médio. Ainda hoje, a
prospecção, o refino e a comercialização do produto nessa área são feitos, em boa parte,
por companhias inglesas e estadunidenses.

O plano de partilha da ONU e Estado de Israel


Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), veio à tona o Holocausto, isto é, o exter-
mínio sistemático de cerca de 6 milhões de judeus pelos nazistas na Europa. Ao mesmo
tempo, a Grã-Bretanha anunciou que retiraria suas tropas da Palestina. Nesse contexto, em
1947, a Organização das Nações Unidas (ONU), presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha,
aprovou um Plano de partilha da Palestina em dois Estados: um judeu e outro árabe.

Palestina: partilha proposta pela ONU (1947)


34° L
SELMA CAPARROZ

LÍBANO

SÍRIA

De acordo com
o Plano da ONU,
Rio Jordão

56,5% do território
Mar palestino caberia
Mediterrâneo
aos 700 mil
Jerusalém judeus, enquanto
42,9% ficariam
Mar nas mãos dos
Morto 1 milhão e
250 mil árabes.
Jerusalém, cidade
31° N
ISRAEL considerada
TRANSJORDÂNIA sagrada por
(atual JORDÂNIA) muçulmanos,
judeus e
cristãos, ficaria
EGITO
sob controle
internacional.

Estado árabe ARÁBIA


Estado de Israel SAUDITA
0 35
Jerusalém (área internacional)

Fonte: FERREIRA, Graça Maria de Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial.


São Paulo: Moderna, 2000. p. 62.

315

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Nesse contexto, em 14 de maio de 1948,
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

os judeus, liderados por David Ben-Gurion,


fundaram o Estado de Israel, que foi imediata-
mente reconhecido pelos Estados Unidos.
Os países árabes, no entanto, reagiram à
criação do Estado de Israel atacando-o militar-
mente. Israel revidou e, com a ajuda externa,
venceu a guerra, ocupando, então, cerca de
25% do território reservado aos árabes no
plano de partilha da ONU.
Com a derrota na guerra de 1948, cerca
de 750 mil palestinos deixaram a terra em que
viviam e passaram a viver como refugiados
na Faixa de Gaza e nos países árabes vizi-
nhos. Tinha início, assim, a chamada Questão
Fundação do Estado Palestina.. O Oriente Médio tornou-se palco
de Israel. Tel Aviv
(Israel), 14 de maio de consecutivas guerras entre judeus e árabes; tais guerras ocor-
de 1948. No alto, reram no contexto da Guerra Fria, com Israel sendo ajudado pelos
atrás de Ben-Gurion, Estados Unidos, e os árabes, pela União Soviética.
a fotografia do
Os principais motivos desses
PHOTOQUEST/GETTY IMAGES

jornalista húngaro
Theodor Herzl, criador intermináveis conflitos são:
do sionismo. a) a disputa das terras cultiváveis
e dos recursos hídricos em
uma região onde a posse da
água é fundamental;
b) o controle das áreas petrolíferas
Refugiado: nesse e os interesses das grandes
contexto, toda pessoa
que, no momento do
indústrias do Ocidente, que
conflito de 1948, morava lucram com a guerra;
na Palestina pelo menos
c) as divergências entre islâmi-
há dois anos e que,
por causa da guerra, cos e judeus, aguçadas por
perdeu sua moradia seguidores radicais das duas
e seu meio de vida.
religiões.

Refugiada palestina com seu filho. Região de


Ramallah, perto de Jerusalém (Israel), 1948.

316

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Guerras Árabe-Israelenses

Guerras Países Resumo


O presidente do Egito, Gamal A. Nasser, adepto do nacionalismo
árabe, nacionaliza o Canal de Suez (pertencente à Grã-Bretanha),
Israel, França
Guerra de contrariando os interesses das potências ocidentais e gerando
e Inglaterra ×
Suez (1956) inúmeras tensões. Com o apoio dos britânicos e dos franceses, o
Egito
exército israelense atacou as forças egípcias. O Sinai foi ocupado em
poucos dias e ficou sob controle israelense até março de 1957.

Guerra dos Na Guerra dos Seis Dias, alegando a necessidade de se defender de


Israel × Egito,
Seis Dias seus adversários, Israel ataca o Egito, a Síria, a Jordânia e ocupa
Jordânia e Síria
(1967) o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e as colinas de Golã.

A Guerra de Yom Kippur foi iniciada pelo Egito e pela Síria. Israel
Guerra do
venceu mais uma vez. A Organização dos Países Exportadores de
Yom Kippur
Egito e Petróleo (Opep) – formada inicialmente por Arábia Saudita, Kuwait, Irã,
(Dia do
Síria × Israel Venezuela e Iraque – respondeu parando de vender óleo cru para os
Perdão)
aliados de Israel e provocando, com isso, um extraordinário aumento
(1973)
do preço do petróleo com graves repercussões internacionais.

Israel lança a operação Paz na Galileia, atacando os palestinos no


Guerra no Israel ×
Líbano (1982)
Líbano. Depois de sitiar a capital libanesa por dez semanas, o exército
palestinos
israelense se retira da cidade, mas permanece no sul do país.

A Guerra dos Seis Dias (1967)


35° L

SELMA CAPARROZ
LÍBANO

SÍRIA
Mar
GOLÃ
A Guerra dos Seis Dias mudou Mediterrâneo
consideravelmente o mapa Telavive
da região. Depois de vencer CISJORDÂNIA
Jerusalém
essa guerra, o Estado de Israel GAZA Mar
Morto
anexou imensos territórios: a
Canal de ISRAEL
Península do Sinai e a Faixa de Suez

Gaza, pertencentes ao Egito; JORDÂNIA


30° N
a Cisjordânia, controlada pela
SINAI
Jordânia; e as colinas de Golã,
sob o domínio da Síria. EGITO Elat
Go

a
lfo

ARÁBIA
b
Áqa
de

SAUDITA
Su

de
ez

lfo
Go

Avanço das tropas de Israel


0 85
Mar Territórios anexados por Israel
Vermelho

Fonte: DUBY, Georges. Grand atlas historique.


Paris: Larousse, 2001. p. 218.

317

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Um dos efeitos dessas guerras foi o aumento do número de

AP PHOTO/IMAGEPLUS
palestinos que deixaram (ou perderam) suas moradias em busca
de refúgio. Vivendo em campos de refugiados, em condições
precárias, eles organizaram vários grupos de resistência armada,
sendo o principal deles o Al Fatah,
Fatah, liderado pelo ativista Yasser
Arafat. Em 1964, esses diferentes grupos do movimento palestino
se juntaram na Organização para a Libertação da Palestina (OLP),
cujo objetivo era combater Israel e reconquistar as terras perdidas.

O líder palestino Yasser Arafat, em 1987. Arafat nasceu em Jerusalém, formou-se


em engenharia e, desde cedo, abraçou a luta para a formação de um Estado
palestino. Em 1969, assumiu a presidência da Organização para Libertação
Palestina (OLP). Em 1988, a OLP reconheceu o Estado de Israel e abriu caminho
para formação de um Estado palestino. Em 1995, Arafat dividiu com o estadista
judeu Yitzhak Rabin o Prêmio Nobel da Paz.

Para quando a paz?


Al Fatah: palavra que
pode ser traduzida Desde a Guerra dos Seis Dias, o clima na Faixa de Gaza e
como “reconquista”. na Cisjordânia (principais áreas palestinas ocupadas por Israel) era
Intifada: palavra que, de permanente tensão. Em 1987, os civis palestinos que viviam
em árabe, significa
“sobressalto”.
nessas áreas (jovens e mulheres, geralmente) atacaram soldados
A intifada é conhecida israelenses com paus e pedras e, como estes revidaram com tiros,
também como “guerra muitos acabaram mortos. Esse tipo de revolta popular palestina é
das pedras”.
chamado de intifada
intifada..

Reprodução de desenho feito


ALAMY/FOTOARENA

por crianças tratadas no Centro


de Saúde Mental de Gaza.
Psicólogos que trabalham
lá solicitaram que crianças
palestinas desenhassem a
intifada. Para surpresa deles,
as crianças não desenharam
soldados israelenses. Mostraram
os palestinos atirando paus,
pedras e garrafas; já os seus
adversários, no desenho, são
dois tanques de guerra. Isso nos
faz refletir a respeito do impacto
das guerras sobre as crianças,
independentemente do povo
a que pertençam. Faixa de
Gaza (Oriente Médio), entre
2008 e 2009.

318

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Em setembro de 1993, Yasser Arafat, da OLP, e o primeiro-ministro israelense, Yitzhak
Rabin, assinaram o Acordo de Oslo,, que teve a mediação do então presidente dos Estados
Unidos, Bill Clinton. Por esse acordo de paz, os palestinos reconheciam o Estado de Israel
e os israelenses consideravam os palestinos com direito a um Estado próprio. Esse acordo
propiciou a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP), governo autorizado a
negociar com outros governos. Mas esse acordo logo foi desrespeitado; os conflitos se
agravaram e, em 2000, explodiu a segunda intifada. Israel reagiu reocupando as áreas
sob controle da Autoridade Palestina e atacando a cidade de Ramallah, sede da ANP na
Cisjordânia. Outros acordos de paz foram celebrados, mas também fracassaram.
Com a morte de Yasser Arafat, em 2004, Mahmoud Abbas, do
Al Fatah (o mesmo grupo de Arafat), venceu as eleições para a pre-
sidência da Autoridade Palestina; já as eleições para o parlamento
palestino, em 2006, foram vencidas pelo HamasHamas,, grupo radical Hamas: organização
extremista islâmica
contrário à negociação com Israel, cujos líderes também teimam
criada em 1987
em não negociar. Diante disso, continua o impasse. Apesar de mais com o objetivo de
de cem países, inclusive o Brasil, reconhecerem a legitimidade de estabelecer um Estado
palestino islâmico.
um Estado palestino, ele continua apenas no papel. Atualmente, a
violência entre palestinos e judeus parece não ter fim.
Entre os principais obstáculos à paz estão:
a) o fundamentalismo de grupos islâmicos que

RICKI ROSEN
promovem atentados terroristas contra civis
israelenses e se recusam a aceitar o Estado
de Israel;
b) o radicalismo de lideranças judias, que não
admitem a existência de um Estado palestino;
c) a construção de novos assentamentos judeus
na parte oriental de Jerusalém, reivindicada
pelos palestinos como sua capital;
d) a existência de um muro construído pelo
governo de Israel para a proteção dos colonos
israelenses na Cisjordânia.
Tudo isso tem dificultado o caminho para a paz.

Cena do documentário Promessas de um novo mundo (2001),


de Justine Shapiro, B. Z. Goldberg e Carlos Bolado.
A cena mostra uma criança árabe e outra palestina,
respectivamente, abraçando-se no campo de refugiados
de Daheishe (Cisjordânia), 2001.

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O ataque às torres gêmeas
Fundamentalismo: Em um contexto de crescimento do fundamentalismo islâmico,
radicalismo religioso e
alguns grupos, a exemplo do talibã, demonizaram os Estados Unidos
político que defende o
e tornaram sua influência política e cultural um alvo a ser combatido.
retorno a raízes religiosas,
étnicas ou culturais. Em 11 de setembro de 2001, um desses grupos fundamen-
talistas, a Al-Qaeda, agiu de forma violentíssima e inesperada,
sequestrando e lançando dois aviões comerciais contra as torres gêmeas do World Trade
Center,, de 110 andares, em Nova York, e um terceiro contra o prédio do Pentágono, em
Center
Washington. Foram atingidos, assim, dois grandes símbolos do poderio estadunidense
(econômico e militar, respectivamente).
Com o apoio de boa parte da sociedade estadunidense, o governo Bush convocou
seus aliados, entre os quais o Reino Unido, para um combate sem tréguas ao terrorismo.
Bush propôs também a guerra preventiva, teoria segundo a qual a melhor maneira de se
defender de um possível ataque é atacar antes. Em 7 de outubro do mesmo ano, forças
anglo-americanas e seus aliados desfecharam um violento ataque ao Afeganistão, cujo
governo dava guarida à Al-Qaeda, de Bin Laden.
As perdas materiais e humanas foram enormes. O Talibã foi deposto, e um novo
governo composto de representantes de etnias afegãs rivais assumiu o poder, mas o país
continuou ocupado por forças militares estadunidenses. Osama bin Laden foi perseguido
e morto por forças estadunidenses em maio de 2011. O Pentágono justificou a presença
das tropas no país como um meio de evitar novos ataques terroristas, como os de 11
de setembro.
BRAD RICKERBY/REUTERS/FOTOARENA

Milhares de pessoas de
diferentes nacionalidades,
inclusive brasileiras, que
trabalhavam no World Trade
Center, desapareceram
nas chamas. O número
de mortos nos atentados
de 11 de setembro foi por
volta de 2 800 pessoas.
Nova York (EUA), 2001.

320

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Após ocupar o Afeganistão militarmente

WAKIL KOHSAR/AFP
por 20 anos, os Estados Unidos de Joe Biden
retiraram suas tropas do país em agosto de
2021. Com isso, o grupo armado Talibã retornou
ao poder. Na ocasião, segundo a ONU, metade
dos 38 milhões de afegãos sofriam com a fome.
O governo do Talibã tem tentado apagar
as mulheres e meninas da vida pública. Negam
a elas educação secundária e superior, exigem
que se vistam de modo a cobrir quase todo o
corpo, permitem a exploração delas por meio
do trabalho e do casamento forçado. Além
disso, limitam sua liberdade de movimento,
expressão e associação, o que contribui ainda
mais para a marginalização da mulher na vida Mulher afegã vestida com burca. Cabul
pública. (Afeganistão), 2021.

PARA SABER MAIS


A professora da Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo (FD/UPF),
Patrícia Grazziotin Noschang, doutora em Direito e Relações Internacionais, responde a
algumas questões sobre o Afeganistão.
O que a retirada das tropas dos Estados Unidos (EUA) do Afeganistão significa?
[...] É possível fazer uma avaliação desses 20 anos que os EUA estiveram por lá?
A avaliação que se pode fazer é que o “investimento” não deu retorno e custou
muito caro [...]. Olhando para trás pode-se entender que a decisão de invadir o
Afeganistão tomada logo após o ataque de 11 de setembro foi equivocada, conside-
rando que o objetivo principal a ser alcançado, que era encontrar Osama Bin Laden,
levou 10 anos, e o enfraquecimento do Talibã não aconteceu, uma vez que o primeiro
movimento de retirada das tropas americanas depois de 20 anos fez com que o grupo
retomasse o comando do país.
[...]
É possível dizer quem venceu a Guerra do Afeganistão: EUA ou os Talibãs? [...]
Penso que não se pode falar em vencedores, mas sim em uma população que
sofre com um conflito que dura 20 anos e que causou um deslocamento forçado,
segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), da segunda maior população
de refugiados, atrás somente dos sírios. [...] estima-se que 3 milhões de afegãos
deixaram o seu país desde a invasão da União Soviética em 1978. [...]

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Por que há um interesse mundial pelo Afeganistão?
[...] O Afeganistão faz fronteira com países [...] importantes como a China, Paquistão
(que protegeu muitos membros do Talibã), Índia e Irã. Além da questão geopolítica, [...] o
Afeganistão possui uma riqueza mineral com extensas reservas de cobre, lítio, cobalto,
ferro, ouro, que permaneceram relativamente intocadas nas últimas décadas [...]. Assim,
o Talibã tem nas mãos uma riqueza mineral estimada em algo entre US$ 1 trilhão e
US$ 3 trilhões [...]. A disputa num futuro próximo será pela
APU GOMES/AFP

autorização de exploração [...] destas riquezas minerais [...].


NOSCHANG, Patricia Grazziotin. A volta do Talibã ao poder: motivos e impactos.
[Entrevista cedida a] Universidade de Passo Fundo. Universidade de Passo Fundo.
Passo Fundo, 23 ago. 2021. Disponível em: https://www.upf.br/noticia/upf-entrevista-
a-volta-do-taliba-ao-poder-motivos-e-impactos. Acesso em: 23 mar. 2022.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, discursa sobre


a saída de suas tropas do Afeganistão. Califórnia (EUA), 2021.

Levantes populares na África e no Oriente Médio


No final de 2010, teve início, na Tunísia, uma série de levantes populares contra
ditadores de países de língua árabe do norte da África e do Oriente Médio, muitos deles
apoiados pelas potências ocidentais, como Estados Unidos e Reino Unido. As revoltas
começaram no norte da África e se espalharam rapidamente pelo Oriente Médio.
O estopim desses levantes foi a decisão do tunisiano Mohamed
Dialogando Bouazizi, de 26 anos, de atear fogo ao próprio corpo em protesto
contra o desemprego e a corrupção existentes em seu país. Sua
De que forma as
tecnologias digitais morte foi o ponto de partida de uma onda de protestos, com efeito
de informação dominó: em janeiro de 2011, a revolta popular derrubou o ditador
e comunicação da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali; em fevereiro do mesmo ano, caía
afetaram a esfera no Egito o ditador Hosni Mubarak; em outubro, na Líbia, Muamar
política durante a
Primavera Árabe?
Kadafi era liquidado; e, em novembro, Ali Abdullah Saleh, do
Iêmen, fugia do país pressionado por meses de protestos populares.
Primavera Árabe: termo Nesses levantes ocorridos na África do norte e no Oriente
criado pela imprensa Médio, a mobilização popular contou com a ajuda das redes
para traduzir o despertar
sociais, da telefonia móvel e da TV Al Jazira, sediada em Doha,
dos povos árabes
contra as condições no Catar. Os governos ditatoriais, por sua vez, usaram a censura
socioeconômicas em que à internet e o grampo telefônico, além de uma violência indis-
viviam; é também uma
alusão às revoluções
criminada, para reprimir os manifestantes. Apesar disso, esses
de 1848 na Europa, movimentos, chamados pela imprensa de Primavera Árabe, Árabe, con-
conhecidas como tinuaram sacudindo países como Bahrein, Kuwait, Omã, Jordânia,
Primavera dos Povos.
Argélia, Marrocos e Síria.

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Entre as razões desses levantes populares no

JEFF J MITCHELL/GETTY IMAGES


norte da África e no Oriente Médio, podemos citar:
a) a enorme desigualdade social e econômica
vigente nesses países;
b) aass elevadas taxas de desemprego e a falta de
uma política para a juventude;
c) a opressão à mulher e a censura aos meios de
comunicação; Egípcios em comício na Praça Tahrir
para marcar o aniversário de um ano do
d) a existência de ditadores corruptos que se per- levante popular que derrubou o ditador
petuavam no poder por meio da violência. Hosni Mubarak. Cairo (Egito), 2012.

Egito e Síria: retrocessos e violência


Os levantes populares iniciados em 2010 no norte da África e estendidos ao Oriente
Médio no ano seguinte alimentaram a esperança de que o caminho para a construção da
democracia estava aberto. Passados alguns anos do início da Primavera Árabe, o cenário
em muitos dos países em que ela aconteceu é desolador.
No Egito, um golpe militar ocorrido em julho de 2013 depôs o presidente Mohammed
Morsi, eleito democraticamente após a queda de Hosni Mubarak. Os militares assumiram
o poder e suas disputas com a oposição têm envolvido atos de extrema brutalidade,
resultando em um aumento extraordinário da violência no país.
Na Síria, as lutas populares iniciadas em 2011 para conquistar direitos e liberdade de
expressão desembocaram em uma violenta guerra civil. A oposição ao governo de Bashar
al-Assad encontra-se dividida em grupos rivais, entre os quais está a organização extremista
muçulmana denominada Estado Islâmico (EI). Essa organização atua recrutando jovens na
Europa, aproveita-se da guerra para ganhar terreno na Síria e atua também no Iraque, onde
tem cometido atos de terrorismo e crimes contra o patrimônio cultural da humanidade.
Após 11 anos de guerra na Síria, completados em 11 de março de 2022, o balanço
da situação no país é trágico. Nessa data, bairros inteiros de importantes cidades
encontravam-se em ruínas. Dos 22 milhões de habitantes registrados antes da guerra,
14,6 milhões precisavam de assistência humanitária – desses, 5 milhões estavam em estado
de pobreza extrema; além disso, meio milhão de crianças padecia de desnutrição crônica.
A moeda síria perdeu grande parte de seu valor, e os preços de alimentos, roupas e
remédios dispararam.
A Síria foi um dos países do Oriente Médio mais fortemente atingidos pela pandemia da
covid-19. Em março de 2022, apenas 7,4% da população havia sido vacinada, e o número de
mortes crescia.
Grande parte do legado cultural sírio também foi destruído. Extremistas do Estado
Islâmico danificaram seis locais considerados Patrimônios Mundiais pela Unesco.

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Os ataques feitos pela Rússia e
Síria: quem a controla? (2021)
pelo próprio governo da Síria deixaram
SONIA VAZ

40° L

TURQUIA apenas metade dos hospitais do país


funcionando adequadamente. Nesse
cenário, um número crescente de famí-
lias busca refúgio nos países vizinhos, e
também no Brasil.
Mar
Mediterrâneo
O governo de Bashar al-Assad recon-
S ÍR IA 35º N
quistou as maiores cidades da Síria, mas
parte do país ainda está sob o controle
LÍBANO
de forças de oposição ao governo sírio.
IRAQUE Uma solução militar para a guerra
na Síria parece distante; resta o acordo,
ISRAEL
0 85
mas este depende de vontade política.
JORDÂNIA

Forças curdas Outros grupos extremistas Rebeldes sírios


Governo da Síria Rebeldes sírios Áreas disputadas
Fonte: POR QUE a guerra da Síria continua após 11 anos?.
Estado Islâmico apoiados pela Turquia BBC News, [s. l.], 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/
portuguese/internacional-56378202. Acesso em: 13 abr. 2022.

Seis grandes desafios


Entre os vários desafios que a humanidade tem pela frente, seis merecem especial
atenção:
a) a desigualdade social existente no mundo, inclusive em países em desenvolvimento,
como Brasil, Índia e África do Sul;
b) a existência de 1 bilhão de habitantes do planeta vivendo abaixo da linha da pobreza,
o que contribui para o aumento do desrespeito ao outro, da criminalidade e da
insegurança;
c) a violência presente nos conflitos ao redor do mundo, nas ações das organizações
criminosas que traficam drogas, na prática do terrorismo e também no cotidiano
das pessoas na atualidade;
d) o desenvolvimento e o uso de tecnologias e produtos em escala mundial sem antes
conhecermos seus efeitos sobre o meio ambiente ou sobre nós;
e) a perda de parte da credibilidade do Conselho de Segurança da ONU, cuja missão é
mediar os conflitos, de modo a conseguir consenso e concórdia;
f) a questão ambiental, que afeta fortemente a qualidade da vida na Terra e vem
ganhando dimensões alarmantes, com a ocorrência de desastres ecológicos jamais
vistos, a exemplo do ocorrido em Mariana, Minas Gerais.

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ILANA LANSKY
ESCUTAR E FALAR
Muito se tem debatido a respeito desses seis
grandes desafios. Escolha um deles e prepare-se para
falar com a classe sobre ele.

Autoavaliação. Responda em seu caderno.


a Expressei minhas ideias com objetividade?
b Usei tom de voz e gestos adequados?
c Escutei meus colegas com atenção e respeito?
d Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
e Demonstrei interesse pelo assunto tratado?
f Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

Desastre ambiental: rompimento da barragem da


empresa Samarco. Mariana (MG), 2015. Repare na
altura da camada de lama em primeiro plano.

PARA SABER MAIS


Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável
Em setembro de 2015, chefes

ONU
de Estado, reunidos na ONU,
definiram a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável, com
dezessete objetivos e 169 metas. [...]
[...]
Essa nova agenda inovou [...] por
trazer, entre os dezessete objetivos,
um diretamente relacionado à violên-
cia e à pacificação social: o objetivo
16, “Promover sociedades pacíficas e inclusivas [...], proporcionar o acesso à justiça para
todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis”.
Destacam-se ainda algumas metas [...] que podem ser relacionadas a aspectos relevan-
tes para a prevenção à violência: educação em direitos humanos; [...] cultura de paz e não
violência e valorização da diversidade cultural; ambientes de aprendizagem não violentos;
[...] eliminar a violência contra a mulher; [...] e eliminação de práticas discriminatórias.
CERQUEIRA, Daniel (coord.). Atlas da violência 2018. Rio de Janeiro: Ipea, 2018. p. 82, 86.

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PARA REFLETIR NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

Leia o texto a seguir com atenção.

Venezuelanos passam noite nas ruas e enfrentam longas filas por


regularização no Brasil
Dormindo nas ruas ao relento e enfrentando, de pé, longas e demoradas filas.
Essa é a realidade de migrantes venezuelanos em Pacaraima, no Norte de Roraima,
fronteira com a Venezuela, que chegam ao Brasil e tentam regularização no país
[…].
São famílias inteiras dormindo em pedaços de papelão, cheias de bagagens nas
mãos, enquanto aguardam a vez para o atendimento no posto de atendimento da
Operação Acolhida, uma força-tarefa do Exército que atende imigrantes e refugiados
venezuelanos no país.
No grupo que enfrenta as dificuldades de atravessar a fronteira, também há
pessoas com deficiência, idosos e crianças expostos à insalubridade e ao perigo das
ruas lotadas de gente em Pacaraima. A maioria não usa máscaras ou qualquer outro
item de proteção à covid-19.
NACHO DOCE/REUTERS/FOTOARENA

Venezuelanos atravessam a fronteira da Venezuela para a cidade brasileira de Pacaraima (RR), 2017.

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[…]
A grande maioria que entrou no Brasil veio pelas “trochas”, nome dado às rotas
clandestinas usadas pelos migrantes na travessia entre os dois países.
Milagros Componce, de 33 anos, trabalhava como professora no estado venezue-
lano de Anzoátegui. Chegou ao Brasil […] junto com a mãe, o esposo, quatro filhos
e um sobrinho com necessidades especiais. […]
[…]
“Deixamos nosso país com a esperança de crescer, de poder dar uma educa-
ção aos nossos filhos, uma alimentação balanceada para eles já que, na Venezuela,
mesmo sendo um país tão rico, hoje posso dizer que é o país mais pobre do mundo
[…]”, diz Componce.
[…]
“Passamos todas as noites caminhando para poder chegar aqui. […]. Meu esposo
também é professor, agricultor e quer trabalhar. Como chegamos hoje pela manhã,
estamos procurando um lugar para deixar as crianças”.
Mortimer Jose, de 58 anos, tem necessidades especiais. Anda com a ajuda de uma
bengala e, no momento da entrevista, estava há "muito tempo" sem as medicações
necessárias para o tratamento da diabetes, doença [com] que ele convive há 20 anos.
“O mundo precisa fazer algo por nós, venezuelanos. […] Estamos aqui por motivos
de saúde, comida e por todos os outros motivos que nós venezuelanos estamos
passando. Fiz um enorme sacrifício para chegar aqui e me dói, de verdade, ter que
abandonar minha mãe, meus irmãos, meus amigos. É desastroso o que estamos
vivendo, é uma situação dramática”, resume.
RODRIGUES, Caíque. Venezuelanos passam noite nas ruas e enfrentam longas filas por
regularização no Brasil. G1, Boa Vista, 25 jul. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/rr/
roraima/noticia/2021/07/25/venezuelanos-passam-noite-nas-ruas-e-enfrentam-longas-filas-por-
regularizacao-no-brasil-desastroso.ghtml. Acesso em: 23 mar. 2022.

a) C
 omo o autor do texto descreve a situação dos imigrantes venezuelanos chegados no estado
de Roraima?
b) Pesquise e diferencie imigrantes de refugiados.
c) O que é possível inferir dos depoimentos dos imigrantes venezuelanos?
d) E m países como Chile, Equador, Brasil, Peru e Colômbia há pessoas que rotulam os venezuelanos
de “venecos” e os responsabilizam pela insegurança, aumento da criminalidade, problemas nos
hospitais e no mundo do trabalho.
I) Em dupla. Avaliem e opinem sobre o termo “veneco” usado para denominar os venezuelanos.
II) P esquisem, debatam e opinem sobre manifestações de xenofobia e violência contra imigrantes
e refugiados e os choques entre diferentes grupos e culturas.

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ATIVIDADES NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

I. Retomando

KJELL NILSSON-MAKI/CARTOONSTOCK
1 Observe a charge com atenção e, depois, res-
ponda às questões.
a) Quem é o personagem histórico representado?
b) De que maneira o personagem foi representado?
c) O que o personagem segura nas mãos?
d) Por que o chargista representou o personagem
dessa maneira?

2 Em dupla. O programa de reformas políticas de Gorbachev incluiu a substituição do


sistema de partido único (o Partido Comunista) pelo pluripartidarismo. Avaliem e
comentem os possíveis impactos dessa reforma sobre um país, seja ele qual for.

3 Sobre o Muro de Berlim é correto afirmar.


I. Após a queda do muro, Mikhail Gorbachev concordou em retirar da Alemanha Oriental as
tropas de ocupação soviéticas que controlavam o país havia 45 anos.
II. A queda do Muro de Berlim foi um marco no processo de reunificação alemã, até então
dividida entre Alemanha Ocidental (capitalista) e Alemanha Oriental (socialista).
III. O Muro não teve a importância que se atribui a ele, pois foi apenas um símbolo da Guerra Fria.
IV. O movimento bem-sucedido que levou à derrubada do Muro de Berlim tinha como lema Wir
sind das Volk (“Nós somos o povo”).
V. A data da queda do Muro de Berlim, 9 de novembro de 1989, é um marco histórico no
processo que deu início à ordem mundial bipolarizada.
a) I, II e III. d) II, III e IV.
b) I, III e IV. e) II, IV e V.
c) I, II e IV.

4 Leia o texto com atenção.

É uma doutrina favorável à livre concorrência, à privatização de empresas estatais,


à abertura do mercado nacional aos capitais estrangeiros, entre outras.

Trata-se do:
a) Mercantilismo. d) Social-democracia.
b) Nacional-estatismo. e) N
 acional-capitalismo.
c) Neoliberalismo.

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5 Nos últimos anos, com a Revolução Técnico-Científico-Informacional, muitos trabalha-
dores foram substituídos por máquinas inteligentes e robôs, ficando sem emprego
por um longo tempo.
a) Que nome se dá a esse tipo de desemprego?
b) Todos os países são igualmente atingidos por esse tipo de desemprego?
c) Pesquise e cite exemplos de setores da economia em que vêm surgindo novos empregos.

6 Quais das afirmações a seguir são argumentos dos críticos às políticas globais?
I. Essas políticas geram aumentos das desigualdades socioeconômicas.
II. As políticas econômicas dos países mais pobres são controladas por organismos ligados aos
países ricos.
III. Os cortes de gastos nos orçamentos dos Estados nacionais resultam, geralmente, em altos
investimentos em saúde e educação.
IV. A imposição de uma cultura única ameaça a diversidade e os valores culturais locais e regionais.
V. A liberalização dos mercados estimula a especulação e o enriquecimento dos mais ricos.
a) I, II, IV e V. c) I, II, III e V. e) II, III e V.
b) I, II, III e IV. d) II, III e IV.

7 Explique como se originou a Questão Palestina.

8 Observe o mapa e responda às questões.

Israel após a Guerra dos Seis Dias (1967)


ALLMAPS

LÍBANO

SÍRIA
GOLÃ

M a r M e d i te rr â n e o

CISJORDÂNIA

FAIXA Jerusalém
DE GAZA Mar
Morto

EGITO

JORDÂNIA

Suez

SINAI
Golfo d

Israel (1949-1967)
a
cab
eS

Ocupação militar
ue

israelense
ARÁBIA SAUDITA
de
z

(junho de 1967)
lfo
Go

Jerusalém ocupada
Fonte: NATKIEL, Richard.
Campos de Atlas of 20th century warfare.
refugiados 0 80
palestinos
Mar Nova York: Gallery Books, 1982.
V ermelho
p. 201.

329

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a) Quais foram os territórios conquistados por Israel após a Guerra dos Seis Dias?
b) O
 s ícones de pequenas barracas vistos no mapa representam campos de refugiados palestinos.
Como é a vida nesses campos?
c) Como os palestinos reagiram à derrota na Guerra dos Seis Dias?

9 Conceitue o termo terrorismo e dê um exemplo dessa prática.

10 Leia o texto com atenção.


Uma série de protestos ocorridos nos países árabes do Norte da África e no Oriente
Médio [...] contra os altos níveis de desemprego, pobreza, corrupção, injustiça e desres-
peito aos Direitos Humanos ficou conhecida no Brasil como Primavera Árabe.
BAZZAN, Denise. Primavera árabe: a força da disseminação da informação pelo meio digital e sua forma
de construção de sentido. 2014. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. p. 37.
a) R esuma, com suas palavras, o que foi a Primavera Árabe.
b) Explique como se deu o início da Primavera Árabe.
c) Em grupo. Escolham um dos países em que ocorreu a Primavera Árabe e façam uma pesquisa
para saber a situação atual desse país.

11 Leia a notícia a seguir com atenção.


O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou na quinta-feira, 13 de junho [de
2019], que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero passe a ser
considerada um crime.

OAB/PE
[...] os ministros determinaram que a
conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo
(7716/89), que hoje prevê crimes de discrimina-
ção ou preconceito por “raça, cor, etnia, religião
e procedência nacional”. [...]
O racismo é um crime inafiançável e
imprescritível segundo o texto constitucional
e pode ser punido com um a cinco anos de
prisão [...].
BARIFOUSE, Rafael. STF aprova a criminalização da homofobia. BBC
Brasil, São Paulo, 12 fev. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/
portuguese/brasil-47206924. Acesso em: 12 maio 2022.
• Roda de conversa. Reflitam, debatam e
opinem sobre a discriminação e a violência
sofridas por pessoas que fazem parte da comu-
nidade LGBTQIA+
LGBTQIA+.
Fac-símile da capa do livro Debates e
reflexões sobre direitos da diversidade
sexual e de gênero, publicado pela
LGBTQIA+: movimento civil e social que defende a aceitação
dos grupos representados por cada uma dessas letras na Comissão da Diversidade Sexual e de
sociedade, além da busca por mais respeito à diversidade. Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil,
seccional de Pernambuco (OAB/PE).

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II. Leitura e escrita em História
Vozes do presente

TORIA/SHUTTERSTOCK.COM
O desenvolvimento das TICs tem interferido nas
relações políticas locais e globais?
[...] as TICs permitiram uma difusão acelerada e deli-
berada de informações falsas ( fake news) em dimensões
A imagem sugere o mundo
assustadoras, por meio de redes sociais e também de conectado no qual vivemos.
contas autônomas programadas (conhecidas por bots) para
espalhar mensagens, manipulando a opinião pública.
Tropas cibernéticas passaram a utilizar inteligência artificial durante campanhas
eleitorais, com o objetivo de moldar o discurso público, muitas vezes suscitando sen-
timentos de ódio.
[...]
Os efeitos negativos das tecnologias têm ameaçado as democracias, como aponta a
MIT Technology Review. No entanto, olhando para os aspectos positivos, Archon Fung,
da Universidade de Harvard, propõe que as TICs interferem na dinâmica democrática
de diversas maneiras, por exemplo, ao:
• acelerar o fluxo das comunicações, possibilitando a comunicação de muitos para muitos
e diminuindo o custo de aquisição de informações, ou seja, tornando a esfera pública
mais acessível e menos concentrada (empoderamento da esfera pública);
• criar conexões diretas entre cidadãos, por um lado, e políticos e formuladores de
políticas, por outro (democracia digital direta e participativa);
[...]
Em outros termos, tecnologias digitais como as redes sociais permitem que cada
vez mais indivíduos possam expressar suas preferências sobre um amplo número de
assuntos, fenômeno difícil de ser imaginado na realidade puramente analógica. No
entanto, redes sociais não tiveram em seu design a preocupação de estruturar dados
de modo a serem inputs para o processo democrático.
CHIARINI, Tulio; SILVA, Victo. Inovações tecnológicas permitem maior participação política? Ipea. Brasília, DF, 23 jun. 2021.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/artigos/artigos/267-inovacoes-tecnologicas-permitem-maior-
participacao-politica. Acesso em: 12 maio 2022.

Responda com base na leitura do texto.


a) Como você responde à pergunta contida no título dado ao texto?
b) De que forma o desenvolvimento das TICs permite maior manipulação na política?
c) O desenvolvimento das TICs também afeta as relações políticas positivamente? De que forma
isto se dá?
d) Fórum de debate. Organizados em grupo, pesquisem sobre os efeitos do desenvolvimento
das TICs nas relações políticas locais e globais nos dias de hoje. Filmem, gravem, fotografem
as apresentações e postem esses produtos nas redes oficiais da escola.

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#JOVENS NA NÃO ESCREVA
NO LIVRO.

HISTÓRIA Constru
e uso de
ção

ue s t ionários
q
PASSO 1 Ler
Leia o texto a seguir com atenção.

Maranhense de 12 anos cria escolinha com materiais encontrados em lixão


“Uma menina de 12 anos querendo educar outras crianças”. A fala é de orgulho e
foi dita por Maria Donizete, 59, sobre a filha Érica, que colocou de pé a Escolinha da
Esperança, em Coelho Neto, vilarejo no interior do Maranhão, a 400km de São Luís.
[...] Sagaz e cheia de iniciativa, [Érica] decidiu usar o que tem a seu alcance em
prol da comunidade. No ano passado, a menina, que hoje cursa o 6o ano do ensino
fundamental, decidiu ajudar os colegas que sofriam com as paralisações escolares
devido à pandemia. Com retalhos [...], como lona e papelão, improvisaram um espaço
para receber os alunos.
“Ela me dizia assim: ‘mãe, eu quero construir uma escolinha, porque as crianças
estão andando para cima e para baixo”, conta Donizete [...].
[...] “Nunca sonhei em ser professora, mas, no ano passado, minhas aulas tinham
parado e eu resolvi ajudar os meus colegas e criei um espaço na base da brincadeira,
mas foi mais do que eu imaginava”, conta Érica, com brilho nos olhos.
Ao lado das irmãs de 23 e 26 anos, Érica recebe os alunos e ensina regras grama-
ticais, faz leitura e os ajuda a escrever. Ela também não abre mão da matemática [...].
[...] [Érica] é motivo de orgulho para Donizete, que não sabe ler ou escrever.
[...] “É muito estranho, porque também tem outras crianças que a gente precisa se
esforçar mais. Uma criança de seis anos que, às vezes,
só estudou em escola pública já sabe ler e escrever,
mas tem criança de nove anos, também aluna da
rede pública, que não escreve o próprio nome”,
afirma a jovem [...].
Érica também tem aproveitado o projeto
para ajudar a alfabetizar a mãe e, quem
sabe, ajudá-la a ter mais oportunidades no
futuro [...].
[...] No ano passado, quando foi inaugu-
rada, a escola ocupava um espaço ao lado de
SEMILETAVA HANNA/
sua casa, improvisado, em um barraco [...]. SHUTTERSTOCK.COM

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A escola movimentou as redes sociais e conseguiu levantar R$ 150 mil em um finan-
ciamento coletivo. [...] a prefeitura [...] decidiu investir no espaço [...] [e hoje] uma nova
casa está sendo construída, de concreto e com a estrutura de que os alunos precisam.
LIMA, Carol Fiacadori. Maranhense de 12 anos cria escolinha com materiais encontrados em lixão. Ecoa UOL,
São Paulo, 10 jun. 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2021/06/10/maranhense-de-12-anos-
cria-escolinha-com-materiais-encontrados-em-lixao.htm. Acesso em: 27 abr. 2022.

PASSO 2 Questionar
a) Qual foi o problema identificado pela menina Érica?
b) Qual foi a solução que Érica, suas irmãs e sua mãe deram para o problema?

PASSO 3 Pesquisar e agir


c) Em grupo. Partindo da ideia de ajudar outras crianças da escola de vocês, elaborem um questionário que
busque compreender quais foram as dificuldades encontradas por elas durante a pandemia. Para isso,
definam o objetivo da pesquisa, ou seja, o que vocês querem responder ao final dos trabalhos. Uma sugestão
é: como a paralisação das aulas, durante a pandemia da covid-19, afetou a aprendizagem das crianças?
d) Com o objetivo definido, comecem a elaborar as questões que serão respondidas. Lembre-se de que um
questionário muito extenso poderá não ser respondido totalmente e isso poderá comprometer o resultado.
Vocês podem perguntar:
• Onde você passou o tempo de isolamento durante a pandemia?
• Você sentiu falta da escola?
• Você estudou sozinho?
• Teve apoio de alguém durante essa fase?
• Você considera que esse período trouxe algum prejuízo para a sua aprendizagem?
e) Em seguida, definam o local e o horário em que o questionário será aplicado. Estipulem, também, o
número de pessoas que responderão às questões.
f) Com o questionário respondido, chegou o momento de analisar e interpretar as respostas para a conclusão
da pesquisa. Discutam se a pergunta feita no item c pôde ser respondida. Caso o objetivo da pesquisa
não tenha sido satisfatório, avaliem sobre o que contribuiu para esse resultado.
g) Ao final, elaborem um relatório para apresentar o resultado da pesquisa aos colegas.

PASSO 4 Apresentar e publicar


h) Publiquem o resultado deste trabalho nas redes sociais e marquem a postagem com #jovensnahistória.

PASSO 5 Avaliar
i) Realizei as tarefas a que me propus?
j) Cumpri os prazos determinados?
k) Expressei minhas ideias com objetividade?
l) Escutei meus colegas com atenção e respeito?
m) Contribuí com sugestões e perguntas interessantes?
n) Aceitei críticas aos meus argumentos e comportamento?

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CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o
Bibliografia imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia
ABULAFIA, David. O grande mar: uma história humana do das Letras, 2017.
Mediterrâneo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. O autor analisa os símbolos que ajudaram a construir a identi-
Livro que trata das atividades humanas em torno do mar dade nacional durante o período de constituição da República.
Mediterrâneo, de 3 500 a.C. até os dias atuais.
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de
AGGIO, Alberto. Socialismo legal. Revista de História da Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano 8, n. 96, p. 36- das Letras, 1987.
40, set. 2013. O autor reconstrói, de forma original, a partir do imaginário
Artigo sobre a experiência do governo de Salvador Allende e do cotidiano político nacional, os impasses de uma repú-
no Chile. blica em surgimento.
ALBUQUERQUE, Wlamyra R.; FRAGA, Walter. Uma histó- CASTRO, Celso. A Proclamação da República. Rio de Ja-
ria da cultura afrobrasileira. São Paulo: Moderna, 2009. neiro: Zahar, 2000.
Livro que trata da formação da cultura afro-brasileira em O autor busca compreender os motivos que levaram à Pro-
seus diversos aspectos. clamação da República e retrata os principais personagens
que participaram desse processo histórico.
ALMOND, Mark. O livro de ouro das revoluções: mo-
vimentos políticos que mudaram o mundo. Rio de Janeiro: COMPARATO, Fábio Konder. A civilização capitalista:
Harper Collins, 2018. para compreender o mundo em que vivemos. São Paulo:
O autor analisa revoluções ao redor do mundo e a conexão Saraiva, 2014.
entre elas, de 1585 até o início do século XX. Obra que trata das diversas dimensões da formação e con-
solidação do capitalismo.
ALVES, Tiago João José. Quando ouvi falar de Stálin pela
primeira vez, pensei que fosse um encontro de fadas: Stá- COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: mo-
lin no imaginário dos comunistas brasileiros. Aedos, Porto mentos decisivos. 6. ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1999.
Alegre, n. 13, v. 5, p. 173-193, ago./dez. 2013. A autora analisa o processo que conduziu à República e de
Artigo sobre como a figura de Stálin era vista pelos comu- que maneira o novo sistema político manteve a exclusão de
nistas brasileiros. grande parcela da população.

AYERBE, Luís Fernando. A Revolução Cubana. São Paulo: D’ANGELIS, Wilmar. Contestado: a revolta dos sem-terra.
Editora da Unesp, 2004. São Paulo: FTD, 1991. (Cinco séculos de resistência).
Livro que trata do processo histórico da Revolução Cubana Livro que enfoca as características de luta pela posse da ter-
e suas diferentes facetas, e as razões que o tornaram um ra no Contestado
dos eventos mais importantes da Guerra Fria. D’ARAUJO, Maria Celina Soares. O Estado Novo. Rio de
BARBOSA, Alexandre de Freitas. O mundo globalizado: Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
política, sociedade e economia. São Paulo: Contexto, 2001. A autora faz um panorama do período ditadura do Estado
O autor se propõe a esclarecer distorções sobre a ideia de Novo.
globalização e mostrar que ela não é simplesmente econô- DARÓZ, Carlos. O Brasil na Primeira Guerra Mundial: a
mica, tendo consequências na política e na cultura. longa travessia. São Paulo: Contexto, 2017.
BARROS, Edgard Luiz de. A Guerra Fria. 2. ed. São Paulo: Especialista em História militar, o autor analisa a participa-
Atual; Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1985. ção do Brasil na Primeira Guerra Mundial.
(Discutindo a História). DEL PRIORE, Mary. Documentos de história do Brasil: de
A obra aborda as origens da Guerra Fria, as alianças e os con- Cabral aos anos 90. São Paulo: Scipione, 1997.
flitos deste contexto. A autora selecionou, apresentou e contextualizou 87 docu-
mentos históricos, do período colonial até o final do século XX.
BRENER, Jayme. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo:
Ática, 2000. (Retrospectiva do século XX). DOLHNIKOFF, Mirian. História do Brasil Império. São
O autor busca reconstituir o processo histórico que levou à Paulo: Contexto, 2017.
guerra, bem como as consequências do conflito. A autora investiga as rupturas e permanências do processo
de transformação da América portuguesa em nação inde-
CANÊDO, Letícia Bicalho. A descolonização da África e
pendente.
da Ásia. Atual; Campinas: Universidade Estadual de Cam-
pinas, 1985. (Discutindo a História). DOMINGUES, Petrônio. A nova abolição. São Paulo: Selo
O livro expõe o processo de ocupação colonial, as transfor- Negro, 2008.
mações sociais nas colônias e os processos de libertação. O livro trata da resistência dos afrodescendentes após a
abolição, destacando o papel da da imprensa negra paulis-
CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em cena: pro-
ta e a luta pela conquista da cidadania.
paganda política no varguismo e no peronismo. São Paulo:
Editora da Unesp, 2009. DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta: uma mulher à
O livro mostra como o poder costuma utilizar meios espe- frente do seu tempo. Brasília, DF: Mercado Cultural, 2006.
taculares para marcar sua entrada na história, analisando os Livro com ensaio da pesquisadora Constância Duarte e tex-
casos do varguismo no Brasil e do peronismo na Argentina. tos autorais de Nísia Floresta.

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FAIRBANK, John King. China: uma nova história. Porto Ale- GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de Ja-
gre: L&PM, 2008. neiro: Nova Fronteira, 2006.
Estudo que faz um panorama da história da China, da pré- História do mundo bipolar surgido após a Segunda Guerra
-história ao início do século XXI. Mundial, considerando seus conflitos efetivos e a ameaça
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2015. de aniquilação global que o arsenal das duas grandes po-
Obra de referência sobre a história do Brasil, do período co- tências permitia imaginar.
lonial aos dias atuais. GARFIELD, Seth. As raízes de uma planta que hoje é o Bra-
FERRAZ, Francisco César. Os brasileiros e a Segunda sil: os índios e o Estado-Nação na era Vargas. Revista Bra-
Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. sileira de História, São Paulo, v. 20, n. 39, p. 15-42, 2000.
Obra que trata do contexto de entrada do Brasil na guerra e Análise da construção, durante o Estado Novo, de uma
as consequências desse evento. imagem de indígena brasileiro.
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). GILBERT, Martin. A história do século XX. São Paulo: Pla-
O tempo da Nova República: da transição democrática à neta, 2016.
crise política de 2016: Quinta República (1985-2016). Rio de Narrado ano a ano, aborda acontecimentos importantes do
Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. mundo no século XX.
Obra de referência, em 5 volumes, que aborda os principais
temas da história republicana brasileira, desde 1889. O 5o GIOVANELLA, Ligia et al (org.). Políticas e sistema de
volume trata do período que vai de 1930 até 2016. saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012.
Um livro sobre a saúde no Brasil e a consolidação do SUS
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O (Sistema Único de Saúde).
tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da
República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização GOMES, Angela de Castro. A última cartada. Revista Nossa
Brasileira, 2006. História, São Paulo, ano 1, n. 10, p. 14-19, ago. 2004.
Obra de referência, em 5 volumes, que aborda os principais Neste artigo convincente, a historiadora defende a tese de
temas da história republicana brasileira, desde 1889. O 1o que o suicídio de Vargas foi sua última, e bem-sucedida,
volume trata do período que vai de 1889 até 1930. cartada política.
FERREIRA, Jorge. Crises da República: 1954, 1955 e 1961. In: GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o Brasil: passado,
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). presente e futuro. São Paulo: Contexto, 2017.
O tempo da experiência democrática: da democratiza-
Obra de referência deste autor, que já presidiu a Funai, so-
ção de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de Janeiro:
bre os povos indígenas no Brasil.
Civilização Brasileira, 2003. (O Brasil republicano, v. 3).
Obra de referência, em 5 volumes, que aborda os principais GOODY, Jack. Renascimentos: um ou muitos? São Paulo:
temas da história republicana brasileira, desde 1889. O 2o Editoria da Unesp, 2011.
volume trata do período que vai de 1930 a 1945. Neste livro inovador, o pesquisador inglês Jack Goody ex-
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves põe suas conclusões sobre os muitos Renascimentos euro-
(org.). O tempo do nacional-estatismo: do início da dé- peus e a influência da Ásia nestas experiências.
cada de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro:
GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História mundial:
Civilização Brasileira, 2011.
jornadas do passado ao presente. Porto Alegre: Penso,
Obra de referência, em 5 volumes, que aborda os principais
2011.
temas da história republicana brasileira, desde 1889. O 3o
volume trata do período que vai de 1945 a 1964. A escolha para esta obra foi destacar temas centrais da expe-
riência humana, como migração, tecnologia, religião e famí-
FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo. São lia, por exemplo, para compor um amplo quadro histórico.
Paulo: Contexto, 2016.
Obra de referência que aborda os processos históricos des- HERNÁNDEZ, Jesús. Histórias curiosas da Segunda
de o suicídio de Vargas, em 1954, até os dias atuais. Guerra Mundial: os fatos mais singulares e surpreenden-
tes do conflito bélico que abalou a humanidade. São Paulo:
FIGUEIREDO, Luciano. História do Brasil para ocupados. Madras, 2014.
Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. Obra que enfoca aspectos mais cotidianos e menos conhe-
Livro que busca inovar na forma e no conteúdo, trazendo
cidos da Segunda Guerra Mundial.
textos que abordam a História do Brasil por meio de perso-
nagens que o autor considerou relevantes. HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à
FITZPATRICK, Sheila. A Revolução Russa. São Paulo: To- história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005.
davia, 2017. Um trabalho amplo sobre a África contemporânea, consi-
A autora australiana, especialista no tema, expõe nesta obra derando sua diversidade, experiências contestatórias e for-
as principais conclusões de seus vários anos de pesquisa. mação de estados nacionais.

FUNARI, Pedro Paulo; PIÑÓN, Ana. A temática indígena HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX
na escola: subsídios para os professores. São Paulo: Con- (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
texto, 2014. Obra de referência do historiador inglês que analisa o sé-
Orientações e propostas para o estudo da temática indíge- culo XX desde o início da Primeira Guerra Mundial até a
na na escola. dissolução da União Soviética.

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HORSLEY, William. Fifty years of fraternal rivalry. BBC News, PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo:
[s. l.], 19 mar. 2007. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/2/ Paz e Terra, 2007.
hi/europe/6453889.stm. Acesso em: 21 mar. 2022. O autor examina o fascismo em ação, considerando suas
Reportagem sobre as rivalidades entre rivalidades e alianças características reais e as preocupantes possibilidades de ma-
entre países europeus. nifestação contemporânea deste fenômeno.
LEMOS, Renato (org.). Uma história do Brasil através da PINSKY, Carla Bassanezi. Mulheres dos Anos Dourados.
caricatura. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2001. São Paulo: Contexto, 2014.
Nesta obra, o aprendizado da história é ilustrado por cari- No período de 1945 a 1964, alguns padrões estabeleci-
caturas que revelam contradições e experiências marcantes dos para o comportamento das mulheres começaram a ser
do Brasil. questionados. Este livro analisa mudanças e permanências
MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. São legadas por esta época.
Paulo: Contexto, 2006.
PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana M. (org.). Nova his-
Livro analisa quinze momentos, desde a antiguidade até
tória das mulheres. São Paulo: Contexto, 2012.
dias recentes, nos quais a guerra ocupou o espaço central
Livro de referência sobre a história das mulheres das mulhe-
da política.
res no Brasil dos séculos XX e XXI.
MARQUES, Adhemar; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo.
História Contemporânea através de textos. São Paulo: SCHWARCZ, Lilia Moritz (dir.). História do Brasil nação:
Contexto, 1994. 1808-2010. Madrid: Fundación Mapfre: Objetiva, 2012.
Fontes históricas relevantes para a compreensão do mundo Coleção composta por seis volumes na qual especialistas
contemporâneo. em vários temas e períodos históricos montam um painel
amplo da História do Brasil.
M’BOKOLO, Elikia. África negra: história e civilizações. São
Paulo: Casa das Áfricas, 2011. SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio. Dicionário da
Obra do pesquisador congolês Elikia M’bokolo, em dois to- escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Le-
mos na edição brasileira, que faz um amplo panorama da tras, 2018.
história africana. Reunião de verbetes essenciais para se compreender a es-
cravidão no Brasil e suas consequências até os dias de hoje.
MORAES, Luís Edmundo. História contemporânea: da
Revolução Francesa à Primeira Guerra Mundial. São Paulo: SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus
Contexto, 2017. filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2012.
Neste livro, são narrados acontecimentos e mudanças im- A diversidade do continente africano e suas relações com o
portantes na Europa do período que se inicia com a Revo- Brasil são postas em foco pelo autor, referência nos estudos
lução Francesa até a primeira grande guerra do século XX. culturais sobre a África.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá (org.). Ditaduras militares: Bra- SILVA, Jessicka Dayane Ferreira da. A narrativa da histó-
sil, Argentina, Chile e Uruguai. Belo Horizonte: Editora da
ria escolar e a produção de sentidos: discursos sobre
UFMG, 2015.
mulheres em livros didáticos. 2017. Dissertação (Mestrado
A obra reúne estudos analíticos e comparativos sobre expe-
em História Social da Cultura) – Programa de Pós-Gradua-
riências ditatoriais na América do Sul.
ção em História Social da Cultura, Pontifícia Universidade
MUNANGA, Kabengele; SERRANO, Carlos. A revolta dos Católica, Rio de Janeiro, 2017.
colonizados: o processo de descolonização e as indepen- Estudo sobre a presença das mulheres em livros escolares.
dências da África e da Ásia. São Paulo: Atual, 1995.
Obra bastante rigorosa e acessível sobre os processos de des- SOUSA, Cláudio Barbosa. Marinheiros em luta: a Revolta
colonização e independência na África e Ásia do século XX. da Chibata e suas representações. 2012. Dissertação (Mes-
trado em Ciências Sociais) – Instituto de Ciências Sociais,
NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar bra- Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2012.
sileiro. São Paulo: Contexto, 2014. Estudo sobre as representações dos marinheiros revoltosos
História do período que compreende o golpe civil-militar de de 1910.
1964 até a redemocratização do país nos anos 1980.
TREVISAN, Claudia. Os chineses. São Paulo: Contexto,
NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massi-
2009.
ficação (1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001.
As características da China e sua população são trabalhadas
Um retrato abrangente da vida cultural brasileira entre 1950
nesta obra em seus aspectos culturais, políticos e econômicos.
e 1980.
NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil República: da TRINDADE, José Damião de Lima. História social dos di-
queda da Monarquia ao fim do Estado Novo. São Paulo: reitos humanos. São Paulo: Peirópolis, 2002.
Contexto, 2016. Obra que analisa processos históricos em diferentes países e
O historiador narra a história republicana desde 1889 ao que apresenta a noção de direitos humanos como resulta-
fim do Estado Novo em 1945. do de embates políticos, econômicos e sociais.
OLIVEIRA, Lucia Lippi. O Brasil dos imigrantes. Rio de Ja- VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil imperial
neiro: Jorge Zahar, 2001. (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
Estudo sobre a cultura brasileira e as interações com as cul- Livro de referência com verbetes essenciais para o estudo
turas de imigrantes vindos ao Brasil nos séculos XIX e XX. do período imperial no Brasil.

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História
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