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Cartografia Sistemática

Book · September 2007

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Antonio Carlos Campos


Universidade Federal de Sergipe
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Cartografia Sistemática

Antônio Carlos Campos

São Cristóvão/SE
2007
Presidente da República Reitor
Luiz Inácio Lula da Silva Josué Modesto dos Passos Subrinho

Ministro da Educação Vice-Reitor


Fernando Haddad Angelo Roberto Antoniolli

Secretário de Educação a Distância Pró-Reitor de graduação


Carlos Eduardo Bielschowsky Antônio Ponciano Bezerra

Governador do Estado de Sergipe Coordenadora Cesad


Marcelo Déda Chagas Lilian Cristina Monteiro França

Secretário de Estado da Educação Vice-Coordenador


José Fernandes Lima Itamar Freitas

Coordenador do Curso de Licenciatura


em Geografia
Hélio Mário de Araújo

Elaboração de Conteúdo
Antônio Carlos Campos

Copidesque Ilustração
Lara Angélica Vieira de Aguiar Henry Hudson Fontes Passos
Fabíola Oliveira Criscuolo Melo Gerry Sherlock Araújo

Projeto Gráfico Capa


Hermeson Alves de Menezes Hermeson Alves de Menezes
Leo Antonio Perrucho Mittaraquis
Tatiane Heinemann Böhmer Foto Capa
Isa Janny
Diagramação
Lucílio do Nascimento Freitas
Igor Bento Lino

Copyright © 2007, Universidade Federal de Sergipe / CESAD


Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer
meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização por escrito da UFS.

FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Campos, Antônio Carlos


N198c Cartografia sistemática/ Antônio Carlos Campos. -- São
Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2007.

1. Cartografia. 2. Mapas. I. Título.

CDU 528.9
Assessoria de Comunicação Coordenação Pedagógica
Guilherme Borba Gouy Maria Neide Sobral da Silva (Coordenadora)
Hérica dos Santos Matos
Coordenação Gráfica
Giselda Barros Coordenação de Pólos
Flora Alves Ruiz (Coordenadora)
Coordenação de Material Jussara Maria Poerschke
Didático Digital
Jean Fábio Borba Cerqueira (Coordenador) Coordenação de Tecnologia da
Daniel Rouvier Dória Informação
Evandro Barbosa Dias Filho Manuel B. Lino Salvador (Coordenador)
Jéssica Gonçalves de Andrade André Santos Sabânia
Luzileide Silva Santos Daniel Silva Curvello
Márcio Venâncio Gustavo Almeida Melo
Heribaldo Machado Junior
Luana Farias Oliveira
Rafael Silva Curvello

COORDENAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO

Itamar Freitas (Coordenador) Helder Andrade dos Santos


Alysson Prado dos Santos Hermeson Alves de Menezes
Arlan Clecio dos Santos Lara Angélica Vieira de Aguiar
Christianne de Menezes Gally Lucílio do Nascimento Freitas
Clara Suzana Santana Manuel Messias de Albuquerque Neto
Edgar Pereira Santos Neto Péricles Andrade
Edvar Freire Caetano Silvania Couto da Conceição
Fabíola Oliveira Criscuolo Melo Taís Cristina Somoura de Figueiredo
Gerri Sherlock Araújo Tatiane Heinemann Böhmer

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos”
Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze
CEP 49100-000 São Cristóvão - SE
Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105 - 6474
Sumário

AULA 1
Cartografia e geografia: a importância dos mapas na construção do conhecimento
geográfico. ...................................................................................................................... 07

AULA 2
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade ...................... 21

AULA 3
Cartografia: ciência, arte ou técnica? Definições e campos de atuação .................... 45

AULA 4
Documentos cartográficos: definições, classificações e usos gerais ........................ 63

AULA 5
Noções básicas de Geodésia e Astronomia de Posição .................................. 77

AULA 6
O uso da bússola e a declinação magnética da Terra ................................................ 91

AULA 7
Redes geográficas e coordenadas geográficas ........................................................... 109

AULA 8
A questão da escala no ensino de Geografia ........................................................... 127

AULA 9
Escala gráfica ................................................................................................................. 147

AULA 10
Medições planimétricas: precisão e generalização .................................................... 165

AULA 11
Projeção cartográfica ..................................................................................................... 183
AULA 12
O sistema UTM, a carta internacional ao milionésimo e o desdobramento das
folhas topograficas ....................................................................................................... 207

AULA 13
Coordenadas UTM ..................................................................................................... 223

AULA 14
Fusos horários: conceitos e determinações ............................................................. 237

AULA 15
Símbolos e conveções cartográficas ........................................................................... 253

AULA 16
Planimetria: os elementos de representação terrestre ............................................. 269

AULA 17
Representação do relevo nas cartas topográficas ..................................................... 285

AULA 18
Perfil topográfico: tipos de relevo ............................................................................. 311

AULA 19
Tendências da cartografia: noções de geodésia ........................................................ 327

AULA 20
Noções de SIG: características e seus usos ............................................................... 339
CARTOGRAFIA E GEOGRAFIA: 1
A IMPORTÂNCIA DOS MAPAS NA CONSTRUÇÃO
DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO aula
MET
METAA
Apresentar a importância da
Cartografia na construção
do conhecimento
geográfico.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno
deverá:
identificar a importância do
processo de construção do
conteúdo geográfico a partir
do uso dos mapas;
compreender a relação
entre Cartografia e
Geografia na formação do
leitor e do usuário dos
mapas; e estabelecer o
processo de alfabetização
cartográfica e sua
importância para a
representação gráfica do
mundo real.
Cartografia Sistemática

B
em-vindo, caro aluno, a esta disciplina! Através dela, você,
futuro professor de Geografia, terá acesso às noções bási-
cas da Cartografia Topográfica ou Sistemática, como ela tam-
bém é conhecida, além de uma breve apresentação sobre a sua
evolução para que possa compreender a im-
portância dessa disciplina na formulação do
INTRODUÇÃO
conteúdo geográfico. Assim, inicialmente,
precisamos discutir algumas questões bási-
cas da educação cartográfica, como por exemplo: qual a impor-
tância de estudar os mapas? Para que serve o estudo da cartogra-
fia? O que conhecemos a respeito da alfabetização cartográfica?

Mapa Mundi (Fonte: http://www.dmb.com.br).

8
Cartografia e Geografia: a importância dos mapas...

I magine que você se encontra numa situação em que precisa


chegar a um lugar desconhecido e necessita utilizar um mapa
ou consultar um guia de ruas para traçar um bom caminho. É
uma tortura para muita gente. Embora essas ações pareçam ba-
1
aula
aula
nais, realizá-las com desenvoltura requer
uma série de conhecimentos que só são ad-
MAPAS
quiridos num processo de alfabetização di-
ferente que não envolve letras, palavras e
pontuação, mas linhas, cores e formas, ou seja, um sistema
de signos, redução da realidade e projeção do real sobre o
papel. É a aprendizagem da linguagem cartográfica que se
impõe desde a leitura banal do cotidiano até as mais sofistica-
das formas estratégicas de controlar o espaço.
Uma parte significativa do interesse do ser humano se centra no
que o rodeia e no desejo de representar adequadamente a organiza- Cognitivo
ção espacial das coisas. Particularmente, os que formam o meio am-
Referente à cognição
biente parecem tão normais como respirar. Sua forma pode ser sim- (percepção, conheci-
ples e elementar, como no momento em que nos interessamos por mento), ou conjunto
de unidades de saber
nossas relações básicas, isto é, a situação interior/exterior, dentro/ da consciência que se
fora, acima/abaixo, ao lado, perto/ longe, em frente/atrás. Ou pode baseiam em experiên-
cias sensoriais, repre-
ser muito mais sofisticada quando introduzimos conceitos abstratos, sentações, pensamen-
como a distribuição de determinada população, ou mesmo se quiser- tos e lembranças.

mos compreender a poluição atmosférica do planeta. Uma mostra


desse desenvolvimento cognitivo é refletida se observarmos como
os animais e as crianças constroem seu raio de atuação a partir do
mundo visível (imagens espaciais) e das situações vivenciadas no
cotidiano, enquanto que, obviamente, os adultos são capazes de
produzir construções espaciais muito mais elaboradas. Estas ima-
gens que se formam em nosso cérebro centram seu interesse nas
relações espaciais existentes entre coisas e idéias, e em formas es-
paciais de distribuições completas.
Coloque-se numa situação em que, ao transitar pelas ruas, você
queira informar a localização de um lugar específico a quem te per-
gunta. Comunicar descrevendo verbalmente as relações entre os

9
Cartografia Sistemática

objetos (lugares) e as idéias que você tem sobre estes mesmos luga-
res caberia tão só esperar que sua descrição evocasse uma imagem
mais ou menos semelhante ao que você gostaria de informar se to-
das as condições fossem favoráveis. De qualquer maneira, a comuni-
cação seria muito mais fácil com uma representação visual da ima-
gem. Esta representação gráfica de relações e formas espaciais cons-
titui o que denominamos de mapa, e a Cartografia é, simplesmente, a
Grafismos
realização e o estudo dos mapas, em todos os seus aspectos.
Estilo característico do Assim como a linguagem falada e escrita nos permite desen-
conjunto de signos grá-
ficos (linhas, curvas, volver idéias e conceitos, empregando-os numa variedade de for-
traços, pinceladas etc.). mas que envolvem os mais diversos gêneros textuais capazes de
manipular, analisar, expressar e comunicar diversos tipos de pen-
Plantas samentos e crenças, a representação gráfica também é um modo
Desenhos que repre- de comunicação de conceitos e relações que se baseiam em uma
sentam a projeção ho- variedade de métodos representativos de imagens gráficas. Esses
rizontal de um objeto
qualquer em escala métodos incluem desde grafismos e pinturas até a elaboração
grande. mais detalhada de plantas e diagramas. Portanto, a Cartografia
se caracteriza como um ramo importante do grafismo, já que é uma
Diagramas
forma extremadamente eficaz de manipular, analisar e expressar
Representação gráfi- idéias, formas e relações espaciais, sociais, econômicas e culturais
ca, por meio de figu-
ras geométricas (pon- em um plano bidimensional ou tridimensional.
tos, linhas, áreas etc.), Em um sentido amplo, a Cartografia inclui qualquer atividade
de fatos, fenômenos,
grandezas, ou das re- em que a representação e a utilização de mapas tenham um interesse
lações entre eles; grá- básico. Ela abrange desde o ensino das habilidades básicas na utiliza-
fico, esquema.
ção dos mapas, o estudo da história da Cartografia, a manutenção
das coleções de mapas com as atividades associadas de catalogação e
Atlas
bibliografia e o levantamento, a comparação e a manipulação de
Livro composto por dados até o desenho e a preparação de mapas, plantas e Atlas.
uma coleção de mapas
ou cartas geográficas Embora cada uma destas atividades possa solicitar procedimentos
(atlas geográfico). altamente especializados e requerer um treinamento especial, to-
das elas se relacionam com os mapas e com o caráter único desses,
como objeto intelectual central, o que une cartógrafos, geógrafos,
biólogos, economistas, sociólogos, historiadores e todos os profis-
sionais que trabalham com as representações gráficas.

10
Cartografia e Geografia: a importância dos mapas...

POR QUE ESTUDAR CARTOGRAFIA


1
Mas você pode estar se perguntando sobre o porquê da Car- aula
aula
tografia. Siga o meu raciocínio e irá encontrar uma resposta para
o seu questionamento.
Essencial para o ensino de Geografia, a Cartografia tornou-
se importante na educação contemporânea, tanto para o aluno
atender às necessidades do seu cotidiano quanto para estudar o
ambiente em que vive. Aprendendo as características físicas, eco-
nômicas, sociais e humanas do ambiente, ele pode entender as
transformações causadas pela ação do homem e dos fenômenos
naturais ao longo do tempo.
Este interesse pela representação do espaço geográfico, que
tem crescido nas últimas décadas, também se relaciona ao au-
mento da importância da representação espacial na sociedade
contemporânea. Isto porque os produtos cartográficos, em suas
variadas possibilidades de informar o conteúdo geográfico do
espaço terrestre em forma gráfica, permitem ao leitor visualizar
a organização desse espaço de forma ampla e integrada.
Devemos considerar, também, conforme alertam vários au-
tores, que o conhecimento do espaço geográfico é tão impor-
tante quanto o matemático ou o das demais "ciências", pois, além
de trabalhar com a observação da realidade em si, leva o educan-
do a ter contato com novas idéias e interpretá-las à luz da sua
realidade específica, trabalhando, portanto, com os processos
específicos da inteligência humana. Neste contexto, torna-se fun-
damental o ensino das noções gerais de Cartografia, uma vez
que para a compreensão do espaço geográfico é necessário o
desenvolvimento de habilidades de observação, percepção,
visualização e representação do espaço, o que engloba as no-
ções de escala, ponto de vista, projeção, localização e orientação.
O desenvolvimento dessas aptidões permite ao educando não só o
conhecimento do espaço e da vida dos homens sobre a Terra, mas tam-
bém se situar nesse espaço, compreendendo seu papel para o equilíbrio

11
Cartografia Sistemática

ou desequilíbrio da sociedade e do ambiente, de forma que reflita


conscientemente sobre este mesmo meio. Assim, um leitor crítico
do espaço, no caso o professor de Geografia, deve ser capaz de
“ler” o espaço real e a sua representação - o mapa – compreen-
dendo, através dessa leitura, os problemas do meio e, ao mesmo
tempo, conseguir pensar as transformações possíveis para ele. A
partir dessa constatação, é fácil compreender a importância cada
vez maior de se formar indivíduos que tenham desenvolvido sua
capacidade de ler e entender as diversas formas de representação
do espaço geográfico. E onde mais o cidadão deveria adquirir es-
ses conhecimentos senão no ambiente escolar?!
Agora você pode estar com outro questionamento: por que essa
leitura da realidade não é apresentada na fase escolar? É uma boa
pergunta. Acompanhe-me novamente e verá, caro aluno, que há
vários problemas que envolvem o ensino de Geografia.
Sabemos que esta leitura da realidade deveria ser apresentada na
fase escolar, como uma verdadeira alfabetização cartográfica de ma-
neira a dar aos educandos a oportunidade de explorarem e desenvol-
verem suas múltiplas habilidades e inteligência. No entanto, diante
das diversas crises políticas pelas quais têm passado o ensino em
geral, e particularmente o de Geografia no Brasil, nas últimas déca-
das, a aquisição e a apropri-
ação de conhecimentos ge-
ográficos, e mais especifi-
camente cartográficos, não
têm sido adequadas
(MENGUETE, 1996). Tal
fato tem ocorrido, principal-
mente, em função das difi-
culdades enfrentadas pelos
professores de Geografia
em relação à aplicação dos
conceitos cartográficos em
Rosa dos ventos sala de aula.

12
Cartografia e Geografia: a importância dos mapas...

O alfabeto cartográfico e sua dimensão


1
Grafismos Representação Dimensão Exemplo
aula
aula
Ponto . . Υ Β
0

Linha 1

Superficie, área 2
ou zona

AFINAL, POR ONDE COMEÇAR A


ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA?

Este é outro questionamento que você pode estar se fazen-


do, caro aluno. Veja como ocorre este processo.
De acordo com as professoras Rosangela Doin de Almeida
e Elza Y. Passini, “ler mapas é um processo que começa com a
decodificação, envolvendo algumas etapas metodológicas as
quais devem ser respeitadas para que a leitura seja eficaz”
(Almeida & Passini,1989, p.15). Conhecer a alfabetização
cartográfica significa adquirir boa parte do suporte necessário
para a construção do conhecimento.
A educação cartográfica ou alfabetização cartográfica supõe
o desenvolvimento das noções de
• Visão oblíqua e visão vertical;
• Imagem tridimensional, imagem bidimensional;
• Alfabeto cartográfico: ponto, linha e área;
• Construção da noção de legenda;
• Proporção e escala;
• Lateralidade/ referências, orientação.

13
Cartografia Sistemática

Torna-se necessário, portanto, trabalhar na perspectiva do pró-


prio aluno. Mas, para que ele se torne um “produtor de mapas” cons-
ciente, deve ser levado a desenvolver atividades como a construção
de mapas mentais, plantas da casa onde mora e da escola onde estu-
da, maquetes da sala de aula, e não somente pintar e copiar contor-
nos. Assim, no processo de alfabetização, o aluno deve ser treinado e
estimulado a codificar, através de significados atribuídos às coisas da
sua vivência e da sua imaginação. As ações envolvidas nos processos
de codificação e decodificação de mapas devem ser propostas de
forma a respeitar o desenvolvimento cognitivo da criança, os estági-
os e evolução da sua percepção espacial (SIMIELLI, 1999, p. 98).
Ou seja, essa alfabetização deve ser trabalhada nas séries iniciais do
ensino fundamental ou para faixas etárias de 6 a 12 anos.

Visão oblíqua Imagem tridimensional Alfabeto cartográfico:


e Visão vertical Imagem bidimensional ponto, linha e área

COGNIÇÃO

Lateralidade
Construção da noção Proporção
Referências
de legenda escala
Orientação

Cartografia como meio


Desmistificação da de Comunicação
Cartografia Desenho Representações
Gráficas

Esquema 1. Alfabetização cartográfica.

14
Cartografia e Geografia: a importância dos mapas...

Já para as demais séries do ensino fundamental e do médio,


pode-se trabalhar com dois eixos de percepção e ação, que po-
1
dem estar paralelos ou seqüenciados de acordo com os objeti- aula
aula
vos temáticos e com a responsabilidade do professor-educa-
dor. No primeiro eixo, trabalha-se com produto cartográfico
já elaborado, cujo objetivo é a formação de um leitor crítico
no final do processo, e não simplesmente um leitor que usa o
mapa para localizar fenômenos. No segundo eixo, o aluno é
participante efetivo do processo de construção do mapa, re-
sultando na formação de um mapeador consciente.
Aquele professor que optar por trabalhar os mapas já elabo-
rados com sua classe poderá seguir os três níveis de compreessão
propostos. Entretanto, é claro que a utilização desse material no
ensino de Geografia não ocorre de maneira uniforme, cada caso é
um caso. Pois é fato que nem todas as escolas adotam a alfabetiza-
ção cartográfica nas suas séries iniciais, tornando mais difícil o
trabalho com mapas em sala de aula, tanto
para o professor como para o aluno. Assim,
poderemos ter turmas de 5° ou mesmo de 8°
anos necessitando de uma alfabetização
cartográfica. Muitas vezes, os próprios alu-
nos de ensino médio e iniciantes em gradua-
ção sentem dificuldade em fazer uma leitura
e uma boa interpretação dos mapas.
Preste atenção, agora, aos níveis propos-
tos para se desenvolver um trabalho em sala
de aula com produtos já elaborados.
a) Localização e Análise: indicado para
ser trabalhado nas 5° e 6° anos. Nesse nível
o aluno localiza e analisa um determinado
fenômeno no mapa;
b) Correlação: indicado para ser desen-
volvido nos 7°, 8° e 9° anos. Ele correlaciona
duas, três ou mais ocorrências;

15
Cartografia Sistemática

c) Síntese: indicado aos alunos do Ensino Médio. É um nível que


permite ao aluno analisar, correlacionar diferentes fenômenos num
determinado espaço e fazer uma determinada síntese de tudo.

Representações
Cartografia Mapas mentais
Gráficas

Mapas Maquetes Croquis


Cartas (representação (representação
Plantas tridimensional) bidimensional)

Rigor nas Maior liberdade nas


representações representações (cognição
(símbolo e convenções percepção individual e
cartográficas) criatividade)

Usuário: Usuário:
localização e análise entendimento e participação
correlação síntese no processo de confecção

Aluno Aluno
mapeador
leitor crítico consciente

Esquema 2: Cartografia para o ensino de Geografia. Fonte: Adaptado de Simielli, M.E. R., 1994.

Como já foi dito anteriormente, esses níveis são indicados


para um trabalho com diferentes séries, mas, na prática, é funda-
mental que você, futuro professor de Geografia, confira se a tur-
ma está apta a trabalhar determinado nível. Outra observação
importante diz respeito à ligação entre os níveis. À medida que
esses vão evoluindo, devemos acrescentar o anterior ao atual.
Ou seja, se você for trabalhar com o nível da correlação, deverá
incluir a localização e análise em suas aulas.

16
Cartografia e Geografia: a importância dos mapas...

V ocê pode perguntar por que estamos evidenciando este


assunto logo no início do Curso de Geografia?! Mas, na
verdade, nunca se sabe como e qual é a sua compreensão de
Cartografia quando você chega à Universidade, como também
1
aula
aula
se você se questiona acerca da utilização do
conhecimento cartográfico na formação do
CONCLUSÃO
professor de Geografia. A alfabetização
cartográfica visa, assim, aprimorar e transfor-
mar a prática docente, em função das dificuldades, preconceitos
e mitos difundidos ao longo do tempo. Para que esta tarefa te-
nha êxito, não poderíamos começar o conteúdo programático
da disciplina sem refletir sobre este tema fundamental. A partir
de agora, vamos estruturar os conteúdos de forma a interligar
um eixo metodológico que valorize e estimule a docência de
Cartografia nos segmentos do ensino médio e do fundamental
de Geografia.

RESUMO

Nesta aula nos deparamos com questões elementares no ca-


minho da formação do professor de Geografia. A Cartogra-
fia, que para muitos era somente o ato de fazer mapas,
toma novas proporções e graus de importância, principalmen-
te pelo fato de que o entendimento da alfabetização cartográfica
e o uso dos mapas devem, a partir de agora, seguir alinhados
aos avanços e às necessidades da própria ciência geográfica. Pois
ela se constitui numa ferramenta indispensável à formulação
do discurso geográfico, seja no momento da leitura ou mesmo
da elaboração de documentos que tentam representar de for-
ma bidimensional a realidade.

17
Cartografia Sistemática

ATIVIDADES

1. Elabore uma representação em folha de papel de algum dos espaços


físicos conhecidos, como a casa, a escola e/ou o bairro. Reflita se ou-
tras pessoas poderiam identificar o que você elaborou.
2. Crie símbolos e legendas para sua representação anterior. Sem
utilizar letras ou palavras identificadoras.
3. Vamos utilizar a Internet, acessando o site http://
www.wikimapia.org ou http://www.ibge.gov.br, para tentar locali-
zar a imagem que corresponde ao seu desenho (sua realidade) com o
objetivo de comparar e avaliar como foram utilizados os referenciais
de localização, relação, proximidade e percepção geográfica. É claro
que não vamos levar em consideração o seu domínio cognitivo, des-
treza e beleza do desenho.
4. Como a utilização do alfabeto cartográfico (pontos, linhas e áre-
as) pode se transformar num meio de comunicação? Comente algu-
ma experiência que torna imprescindível o uso de mapas.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES


Tarefa inicial do curso de Geografia (disciplina Cartografia
Sistemática) que nos dá um diagnóstico da percepção espacial
dos alunos e nos conduz para explicações mais aprimoradas
sobre a importância da Cartografia e sua relação com a própria
Geografia. A utilização de mapas ou simplesmente croquis (um
desenho genérico) deve possibilitar a apreensão da realidade
conhecida ou a ser descoberta. É um processo de ir e vir, do
concreto ao abstrato, da imagem que se tem das coisas e dos
lugares para o significado que elas representam para o leitor do
mapa ou do croqui. É um trabalho que se desenvolve desde a
etapa de representação dos espaços em que vivemos,
conhecemos e experimentamos até a interpretação de
realidades não conhecidas e que exigem maior abstração. Nas

18
Cartografia e Geografia: a importância dos mapas...

tarefas indicadas acima você poderá experimentar sua percepção 1


e comentar com outras pessoas sobre a importância que os
mapas desempenham na construção do nosso conhecimento.
aula
aula
Esse é um primeiro momento em que irá se perguntar: por que
é preciso desenhar mapas? Mas lembre-se de que o simples
desenho de um mapa requer uma organização prévia e
principalmente referências conhecidas por todos os leitores.

PRÓXIMA AULA

Nas próximas aulas evidenciaremos um breve histó-


rico da Cartografia e os seus campos de atuação, as-
sim como os conceitos mais elaborados e as noções
de posicionamento de que tratamos já na primeira
aula. É certo que trabalharemos com documentos já elabora-
dos, principalmente os documentos topográficos. Para este
tipo de atividade, durante todo o curso de cartografia vamos
necessitar de régua de 30 cm, de transferidor de 360º, de fo-
lhas de papel milimetrado e de uma calculadora comum para
que possamos medir, comparar, relacionar e generalizar os
vários elementos constantes nos documentos oficiais e nos
outros documentos que poderemos, ao longo da disciplina,
elaborar. Ânimo e boas vindas!

19
Cartografia Sistemática

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Rosângela D.; PASSINI, Elza Y. O espaço geográfi-


co: ensino e representação. São Paulo: Contexto, 1989.
FADEL, J. E. Utilizando mapas no ensino da Geografia. Dispo-
nível em <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/geo-
grafia/geo08a.htm>. Acessado em 11/02/2007, publicado origi-
nalmente em: Boletim de Geografia. Ano 19. n. 2. Universidade
Estadual de Maringá, 2001.
ABREU, Paulo Roberto F. de; CARNEIRO, Andrea F. T. A educação
cartográfica na formação do professor de Geografia em Pernambuco.
Revista Brasileira de Cartografia. n. 58/01, Abril, 2006.
MENEGUETTE, Arlete A. C. Educação Cartográfica e Exer-
cício de Cidadania. In: Anais do Simpósio Internacional so-
bre Novas Tecnologias Digitais em Geografia e Cartogra-
fia: Aplicações no Ensino e no Planejamento Ambiental
(Geodigital’ 96). São Paulo: Departamento de Geografia/
FFLCH/USP, novembro de 1996.
SIMIELLI, M. E. R. Cartografia no ensino fundamental e mé-
dio. In: CARLOS, Ana. (Org.). A Geografia na sala de aula.
São Paulo: Contexto, 1999. p. 93-108.

20
UMA BREVE EVOLUÇÃO
DA CARTOGRAFIA NA
2
HISTÓRIA DA SOCIEDADE
aula
MET
METAA
Apresentar a evolução histórica
da Cartografia e suas principais
contribuições para a ciência
moderna.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno deverá:
identificar a importância de cada
momento histórico no processo de
construção do conteúdo dos
mapas das diversas sociedades;
comparar os processos de
construção cartográfica ao longo
do tempo, relacionando com as
bases científicas que
proporcionaram sua evolução; e
identificar os principais avanços
técnicos que auxiliaram na
definição das características
atuais da cartografia.

PRÉ-REQUISITOS
A importância dos mapas na
construção do conhecimento
geográfico.
(Fonte: http://www.neto-sapien.blogger.com.br).
Cartografia Sistemática

O lá! Estamos aqui novamente para dar continuidade


aos estudos da nossa primeira aula. Está preparado
para seguir em frente? Então vamos lá.
Na aula passada, você conheceu um pouco sobre a Cartografia e
já pôde verificar a importância desta ciência
para a Geografia. Nesta aula, abordaremos a
INTRODUÇÃO
importância da Cartografia, tanto no âmbito
mundial quanto no nacional. Neste sentido,
a história da Cartografia é um aspecto que nos ajuda a entender
como a ciência, as técnicas e a arte contribuíram para que esta
ciência se estruturasse como a conhecemos hoje. A História tam-
bém nos permite identificar e compreender que direção a Carto-
grafia poderá seguir e quais seus principais usos na atualidade.
Ligada à história da Cartografia está a Cartografia Histórica, em
que os velhos mapas e cartas são estudados para entender melhor
o passado e compreender como nossos antepassados delimitavam
seu espaço vital e conquistaram “novos mundos”.

Cognitio Causarum (detalhe). Afresco de Rafael Sanzio. Ptolomeu de Alexandria está de


costas, segurando um globo terrestre (Fonte: http://www.dm.ufscar.br).

22
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

“A arte de desenhar mapas é mais antiga que a escrita”


(Erwin Raisz, 1969). 2
O
aula
aula
desenvolvimento da Cartografia, desde épocas
remotas até o século em que
vivemos, tem acompanhado o próprio pro- HISTÓRIA
gresso da civilização. Esta ciência apareceu no
seu estágio mais elementar sob a forma de mapas de itinerários
rupestres, feitos pelas populações nômades primitivas que, par-
Mesopotâmia
tindo dos princípios da observação e da necessidade de localiza-
ção dos domínios, registravam fatos geográficos, locais de caça, Região do Oriente Mé-
dio, delimitada pelos
localização de aldeias, de povos, rotas de viagens, de guerras, entre vales dos rios Tigre e
outros elementos. Eufrates, no atual ter-
ritório do Iraque e ter-
Desta forma, a Cartografia já se caracterizava como uma for- ras próximas.
ma de poder e de saber sobre o local. A História reputa aos
babilônios a confecção do mapa mais antigo até então encon- Bagdad (Bagdá)
trado. Trata-se de um mapa esculpido em uma placa de bar-
Capital e maior cidade
ro cozido desenhado por volta de 2.500 anos a.C., e que foi do Iraque e segunda
maior cidade do sudo-
encontrado nas ruínas da cidade de Ga-Sur, cerca de 300 qui-
este asiático. Situada
lômetros ao norte da Babilônia, na baixa Mesopotâmia (hoje no centro do país, nas
margens do rio Tigre.
território iraquiano de Babil, ao sul de Bagdad). Esse mapa
Outrora centro da ci-
mostra o vale do rio Eufrates cercado por montanhas, além da vilização islâmica, foi
ocupada pelos EUA
indicação de postos de localização como pontos cardeais.
em 2003 durante a in-
tervenção de uma co-
ligação internacional
no país.

Eufrates

Rio da antiga Meso-


potâmia, atual Iraque,
com cerca de 2.780 km
de extensão. No Sul do
Iraque se une ao rio
Tigre para formar o rio
Shatt al-Arab, que vai
desaguar no Golfo
Pérsico.
(Fonte: http://www.henry-davis.com).

23
Cartografia Sistemática

Posteriormente, com o advento do comércio entre os po-


Biblos
vos e com o conseqüente aparecimento dos primeiros explora-
dores e navegadores que descobriram novas terras e novas ri-
Nome grego da cidade
Fenícia Gebal. Aparen- quezas, ampliando o horizonte geográfico conhecido, o homem
temente, os gregos cha- sentiu necessidade de conhecer novas rotas e se localizar sobre a
maram-lhe Biblos devi-
do ao fato de ser atra- superfície da Terra. Há indícios de que os egípcios, em 2.300
vés de Gebal que o a.C., já navegavam para Biblos, na Fenícia, de onde voltavam
byblos ("o papiro Egíp-
cio") era importado para carregados de madeira de cedro. Estabeleceu-se, portanto, o
a Grécia. Situa-se na marco inicial da Cartografia como ciência da localização.
costa mediterrânica do
atual Líbano, a 42 qui- Sua evolução foi incrementada pelas guerras, descobertas ci-
lômetros de Beirute. entíficas, pelo desenvolvimento das artes e das ciências, e pelos
movimentos históricos que possibilitaram e exigiram maior pre-
cisão na representação gráfica da superfície da Terra. Desta for-
ma, dividimos este estudo em marcos históricos reconhecidos
pela sociedade moderna para que possamos compreender me-
lhor as contribuições das diversas sociedades.

OS MAPAS DA ANTIGUIDADE

Nesta etapa da aula, veremos como as diferentes sociedades


contribuíram para criação das bases científicas, técnicas e artísti-
cas da Cartografia.

CHINESES E EGÍPCIOS

Este período corresponde à construção das bases


epistemológicas da representação da Terra. Tanto na Antiguidade
como no século em que vivemos, as regras sobre as formas de dese-
nhar mapas – ou cartas, como também são chamadas – ainda con-
tinuam sendo ditadas pelas necessidade dos seres humanos. Os chi-
neses, por exemplo, utilizavam os mapas não somente para orien-
tação e localização, mas também como ferramenta para que os ad-
ministradores pudessem demarcar fronteiras e fixar impostos, e os

24
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

militares os utilizavam como arma estratégica. De acordo com a datação


dos primeiros achados de documentos, os estudos cartográficos desen-
2
volvidos na China surgem por volta do século IV a. C., representando, aula
aula
de forma detalhada, suas terras e suas águas.
A construção de mapas pelos egípcios também remonta à An-
tiguidade, em função de eles já conhecerem e dominarem as técni-
cas da triangulação, que consiste na determinação de distâncias ba-
seadas na Matemática, e seriam utilizadas, posteriormente, por Triangulação

muitos outros povos. A triangulação utiliza


Os egípcios determinavam, assim, uma base para se chegar às um princípio da
trigonometria: se um
distancias desejadas. Eles também utilizavam um instrumento cha- lado e dois ângulos de
mado nível (uma armação em forma de A com um pêndulo amarra- um triângulo são co-
nhecidos, é possível
do no topo), que servia para medir áreas de terras. “A medição era calcular o terceiro ân-
quase vital para os faraós e sacerdotes, já que suas riquezas eram ga- gulo e os dois lados
restantes.
rantidas basicamente pelos impostos cobrados sobre a terra, pagos
em cereais, ouro, lã e outras especiarias.” (LUCÍRIO E HEYMANN, Agrimensura
1992 p,35) Com essa prática, os egípcios desenvolveram a agrimen- Medição de terras,
sura, o cadastro e o mapeamento das minas de ouro, portanto, são os campos etc.; arte ou
técnica dessa medi-
responsáveis pela elaboração dos primeiros mapas temáticos. ção; agrimensão.

OS GREGOS

Mas quem achou o mapa do tesouro da Cartografia foram os


gregos. “Eles foram os primeiros a ter comprovadamente bases ci-
entíficas de observação” (LUCÍRIO E HEYMANN, 1992 p,35.)
Na Grécia Antiga, os primeiros fundamentos da ciência cartográfica
foram lançados quando Anaximandro (610 a 546 a. C.) e Hecataeus
(c. 550 a 475 a.C), ambos da cidade de Mileto, tentaram representar
a Terra como um disco flutuante, onde um oceano circundava os
três continentes conhecidos: Europa, Ásia e África.
“Ainda no século VI a.C., “na escola de Pitágoras desenvolveu a
tese da Terra esférica. Esta suposição tinha base em observações prá-
ticas, como a sombra projetada por um eclipse, e considerações filo-
sóficas, como o fato de a esfera ser a forma geométrica mais perfeita.

25
Cartografia Sistemática

Contudo, somente por volta de 350 a. C., com as teorias do filósofo


grego Aristóteles, a esfericidade da Terra passou a ser aceita pelos ho-
mens da ciência”. (LUCÍRIO E HEYMANN, 1992 op.cit, 35)

Eratóstenes

Matemático, geógrafo
e astrónomo grego
(194 - 276 a. C.). Apeli-
dado de “Beta” por
seus contemporâ-
neos, porque o consi-
deravam o segundo
melhor do mundo em
vários aspectos. Foi
diretor da Biblioteca de
Alexandria.

O mundo de acordo com Hecataeus e Anaximandro de Mileto (Fonte: http://


www.henry-davis.com).

Dicearco de Messena
Durante a Antiguidade, os gregos começaram a
Historiador e geógrafo
representar a Terra como um disco flutuante. Esta
grego, natural de Mes-
sina (Messena), Sicília concepção ficou conhecida como a Teoria do Prato e foi
(350-290 a.C.). Suas in- representada pelos primeiros mapas-múndi de
vestigações mais notó- Anaximandro de Mileto (610 a 546 a.C). A quebra deste
rias estão na área da paradigma só acontece com as comprovações
política, história literá-
matemáticas e astronômicas de esfericidade da Terra
ria, geografia. Criou um
planisfério em que a elaboradas por Pitágoras (c. 582 a.C). A idéia de
posição de cada região esfericidade é comprovada também por Aristóteles (384 -
geográfica era estabe- 322 a.C), que além de formular os argumentos de
lecida em relação a dis- obliqüidade do eixo, conceito de linha do Equador, de
tância que a separava
trópicos e de zonas, também desenvolveu o conceito
de uma linha imaginá-
ria orientada de leste filosófico de esfericidade com base na comparação
para oeste, chamada de teológica da esfera como forma geométrica mais perfeita
diafragma. e a obra prima dos deuses – a morada do homem.

26
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

Nos trabalhos de Heródoto (484 a 425 a.C) e Demócrito (460


a 360 a.C), a descrição dos lugares e a concepção da oikounene ou
2
ecúmeno alongada (terra habitada ou mundo conhecido) também aula
aula
contribuíram para desenvolver os conceitos iniciais de latitude e
longitude. Um século mais tarde, Dicearco de Messena (350 a
290 a.C) passou do círculo a uma forma mais alongada da Terra,
incluindo as ilhas Britânicas e a península Indiana, com a ilha
Taprobana (atual Sri Lanka, antigo Ceilão).

Heródoto

Historiador grego, nas-


cido em Halicarnasso
(hoje Bodrum, na Tur-
quia) (485?-420 a. C.).
Autor da história da
invasão persa da Gré-
cia nos princípios do
século V a.C., conhe-
cida como “As históri-
as de Heródoto”.

Mapa de Dicearco de Messena, 300 a.C. (Fonte: http://www.henry-davis.com).

No entanto, a questão da forma da Terra ainda perdurava como


um desafio aos estudiosos da Antiguidade. Coube ao astrônomo e
filosofo Eratóstenes (276 a 194 a.C.), guardião da biblioteca de
Alexandria, a tarefa de medir a circunferência de nosso planeta. Demócrito
Também conhecedor da Matemática, este astrônomo utilizou a
Filósofo grego(460-
trigonometria para observar que, nos dias 20 e 21 de junho, o ângu- 370 a.C.). Considerado
pré-socrático, porém,
lo que os raios do Sol fazia com a superfície da Terra, na cidade de
contemporâneo de
Siena (hoje Aswãn), era de 90º(graus). Nesses mesmos dias, esse ângu- Sócrates. Foi o maior
expoente da teoria atô-
lo era de 7º(graus) em Alexandria. Por meio de relatos de viajantes, ele
mica ou do atomismo.
sabia que a distância entre as duas cidades era de 5.000 estádios, ou

27
Cartografia Sistemática

826.650 metros. Mais uma vez, usando a trigonometria, ele foi capaz
de calcular a circunferência da Terra, chegando ao resultado de 42.513
km, muito próximo dos reais 40.076 km na linha do Equador.

Medição de Eratóstenes

Hiparco de Nicéia Seguindo esta linha de raciocínio, Hiparco de Nicéia (160-


125 a.C.) utilizou, pela primeira vez, métodos astronômicos para
Astrônomo, constru- a determinação de posições na superfície da Terra e deu início
tor, cartógrafo e ma-
temático grego da es- ao estudo do sistema de coordenadas geográficas, criando os
cola de Alexandria métodos de cálculos de latitude e longitude.
(190-126 a. C.). Hoje
é considerado o fun- Baseando-se nos 360º da esfericidade da Terra, deduziu cor-
dador da astronomia retamente a direção dos pólos celestes, a rotação de nosso plane-
científica e também
chamado de pai da tri- ta e determinou a duração do dia em 24 horas, de acordo com o
gonometria. aparecimento e a repetição da sombra do Sol sobre a mesma
porção da Terra. Determinou, também, que 1 hora teria uma
distancia de 15º de longitude, como hoje conhecemos. Hiparco
de Nicéia foi o precursor do desenvolvimento da superfície da Ter-

28
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

ra sobre um plano, idealizando a projeção cônica e utilizando o


astrolábio para auxiliar na navegação.
2
Outra contribuição cartográfica significativa para a socieda- aula
aula
de moderna foi a idéia desenvolvida por Crates (180 a 150 a.C )
que, baseado no princípio de esfericidade da Terra, antecipou a
existência de outros continentes: Periecos (N), Antípodas (S) e
Antecos em oposição ao Ecúmeno existente.

Estrabão de Amásia

Historiador, geógrafo
e filósofo grego (63 ou
64 a.C.-cerca 24 d.C.).
Foi o autor da monu-
mental Geographia,
Representação do globo terrestre. (Fonte: http://www.henry-davis.com/MAPS/ um tratado de 17 livros
AncientWebPages/113.html). contendo a história e
descrições de povos e
locais de todo o mun-
Estrabão de Amásia (64 d.C. a 20 d.C.) representou da me-
do que lhe era conhe-
lhor maneira possível a superfície esférica em um plano, com cido à época.
linhas retas paralelas, correspondendo aos paralelos, e linhas per-
pendiculares, representando os meridianos.

Reconstrução de Mapa Mundial, de acordo com Estrabão. (Fonte: http://www.henry-


davis.com).

29
Cartografia Sistemática

Todo o conhecimento geográfico e cartográfico da Grécia


Antiga está idealizado na obra “Tratado de Geografia” ou
“Guia da Geografia” do astrônomo, geógrafo e cartógrafo
grego Claudius Ptolomeu de Alexandria. Sua extraordinária
obra, em oito volumes, ensina os princípios da Cartografia Ma-
temática, das projeções e dos métodos de observação astronô-
mica, além de instruções para preparação de mapas-múndi e
Ptolomeu
cartas de 8.000 lugares devidamente calculados.
Cientista grego (90- Essa monumental contribuição da Grécia Antiga à ciência
168 d.C.). Desenvolveu
trabalhos em Matemá- cartográfica foi ignorada durante toda a Idade Média e só foi re-
tica, Astrologia, Astro- tomada no século XV, quando passou a exercer grande influên-
nomia, Geografia e
Cartografia. Escreveu cia sobre o pensamento geográfico da época, com o chamado
o Almagesto, tratado Renascimento de Ptolomeu.
de Astronomia que re-
úne todo o conheci- Ptolomeu concebeu o universo como Aristóteles: planeta
mento astronômico ba- esférico, parado e os demais corpos movimentando-se ao seu
bilônico e grego. Nele
se basearam os árabes, redor. Elaborou o mapa-múndi com projeção cônica e mar-
indianos e europeus cou o ponto culminante da Cartografia na Antiguidade, em
até o aparecimento da
teoria heliocêntrica de que se distingue uma Geografia humana (descrição) de uma
Copérnico. Geografia matemática (cálculos e geodésica).

Mapa Mundi de Ptolomeu. (Fonte: http://www.mundogeo.com.br).

30
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

OS ROMANOS
2
Menos preocupados com o caráter científico da Cartografia aula
aula
e mais voltados para suas utilidades práticas, os romanos
elaboravam mapas com fins administrativos e militares, pois
eram utilizados para cobrança de impostos e para o aumento
do seu império. Eles não davam importância à visão esférica Projeção cônica
que os gregos tinham da Terra, pois os mapas gregos antigos
Projeção cartográfica
já lhes serviam para traçar rotas e delimitar os territórios
que utiliza um cone
conquistados. Neste tipo de carta, chamado Orbis terrarum – como superfície de
ou mundo inteiro - os três grandes continentes conhecidos projeção e que apre-
senta os paralelos cir-
aparecem dispostos de forma simétrica (LUCÍRIO E
culares e concêntri-
HEYMANN, 1992, p. 36). cos, e os meridianos
retilíneos e concor-
rentes no vértice, fa-
Os romanos realizavam extensos levantamentos de seu império, zendo entre si ângu-
usando instrumentos gregos, como o astrolábio, um instrumento los inferiores às res-
óptico capaz de determinar a localização de pontos da Terra por pectivas diferenças
de longitude.
meio de observação de fenômenos celestes. Eles também eram
adeptos de mapas de itinerários (que mostram caminhos), como
a Tábua de Peutinger. Útil representação para os navegantes da
época, esta tábua media mais de 6 metros de comprimento por
30 centímetros de largura e servia, basicamente, para traçar rotas
de viagens (LUCÍRIO E HEYMANN, 1992, p. 37).

Naquele período histórico, a


Geografia buscava resolver o pro-
blema da localização, mas era for-
temente ligada à astronomia e à
geometria.

Mapa Romano - Orbis Terrarum. (Fonte: http://


www.celtiberia.net).

31
Cartografia Sistemática

OS MAPAS MEDIEVAIS

A Idade Média foi um período dominado pelo sentido cristão


do sobrenatural e do divino. Toda maré de descobertas que inun-
dou os estudos cartográficos durante a Antiguidade Clássica re-
trocedeu com o início deste período histórico, pelo menos na Eu-
ropa. A Igreja Católica, por
quase dez séculos, influenciou
todos os campos do conheci-
mento, interferindo também na
forma de desenhar mapas. Vol-
tou-se a usar o Orbis Terrarum,
mas com tal número de modi-
ficações que perdeu a exatidão
sobre os lugares. Os mapas
mais característicos dessa épo-
ca são os chamados T no O,
que consistiam num círculo
com um “T” representando os
Mapa de Isidore Século I d.C. (Fonte: http://upload.wikimedia.org). rios e marés e dividindo o “O”
em três continentes: Europa,
Ásia e África. São cartas que representam a interpretação do mundo
de acordo com o catolicismo, pois somente compreendiam as re-
giões mencionadas na Bíblia.
Durante aquele período, os grandes guardiões da cultura
cartográfica foram os árabes, que recolheram e desenvolve-
ram o que o ocidente já havia descoberto e esquecido. A obri-
gação religiosa de peregrinação até Meca, cidade sagrada do
Islamismo, levava-os a conhecer muitos lugares e a traçar ca-
minhos para a correta orientação dos peregrinos. A conquis-
ta de novos territórios, como a Mesopotâmia (atual Iraque), a
Pérsia (atual Irã) e o Egito, também foi fundamental para
ampliar os conhecimentos cartográficos desse povo, pois era
necessário conhecê-los para poder governá-los.

32
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

Ainda na Idade Média, no século XIII, surgiu na Europa um


tipo de mapa próprio para a navegação, as Cartas Portulanas,
2
idealizadas provavelmente por almirantes e capitães das frotas aula
aula
expedicionárias. Isto foi possível graças ao uso da bússola, ins-
trumento trazido do extremo oriente para o ocidente pelos ára-
bes no século XII. Esses mapas se caracterizam pelo minucioso
sistema de rosa-dos-ventos e riqueza de detalhes do litoral dos
lugares e portos. Com essas cartas, os navegantes determinavam
a sua localização e o ângulo em relação ao norte magnético, en-
contrando assim, a direção a ser a seguida.

Mapa Árabe do séc. XIII (Al-Idrisi). (Fonte: http:// Carta de Abraham Cresques (“Atlas Catalán”)
www.arikah.net). (Fonte:http://www.mappinginteractivo.com).

A CARTOGRAFIA NO RENASCIMENTO

O Renascimento (séc. XIV ao séc. XVI) foi um período mar-


cado pela redescoberta dos clássicos pelos europeus. Os estu-
dos de Ptolomeu vieram à luz, fornecendo informação e ins-
piração aos que começavam a se aventurar em mares mais
distantes. Os navegadores já contavam com os grandes
inventos, como a caravela, o astrolábio e a bússola. A evo-
lução das técnicas de gravação em pranchas de papel permitiu
ao homem se aventurar em viagens mais longas em alto-mar.

33
Cartografia Sistemática

Primeiro, começaram a explorar a costa ocidental da África,


depois, em 1492, os cartógrafos - fazedores de mapas – ganharam
Voce poder Consul- um continente novinho em folha para mapear: a América. E muito
tar na WEB do que se fez naquele tempo foi fruto da imaginação para justificar
(http://www.henry-
o investimento nas expedições e encorajar financiamentos nas ter-
davis.com/MAPS/
Rem/Rem1/ ras recém-descobertas. As cartas européias se fartavam de atribuir
346.html) às “terras virgens” fabulosas riquezas minerais.
Planisfério de Várias expedições desceram pela costa destes continentes
Diego Ribeiro mapeando suas formas e tentando calcular a distância e o tempo
que navegavam para o norte ou para o sul, chegando, assim, a um
contorno do continente. O mapa-múndi de Juan de La Cosa (1460
a 1510), membro da expedição de Cristóvão Colombo, é o pri-
meiro a representar o descobrimento da América.
Também nesta linha de raciocínio, Diego Ribeiro elaborou, em
1527, o primeiro planisfério, e Martim Behaim (1459 a 1507) cons-
truiu o primeiro globo terrestre. A primeira tentativa de localização
geográfica do Brasil aconteceu poucos dias após a chegada dos por-
tugueses. João Emenelaus, tripulante de uma das caravelas da frota
de Pedro Álvares Cabral, desceu à terra firme e, munido de um
astrolábio, descobriu a latitude onde se encontra o país.

Sobre a conquista da
América, sugerimos ESSA HISTÓRIA ESTÁ FICANDO LONGA...
que você assita ao
filme 1492 - A con- Por volta do século XVI, quem tinha o mundo em suas mãos
quista do paraíso eram os holandeses, pois dispunham de grandes escolas de
(1492: Conquest of navegação e suas cidades comerciais eram passagem de
Paradise, Esp/Fra/
mercadores e navegantes de todas as nações, com
Ing, 1992) (Direção:
Ridley Scott. 150 informações novas sobre o além-mar. Neste período de
min, Vídeo Arte.) grandes viagens e descobertas, viveu Gerardus Mercator
(1512 – 1594), cartógrafo que recolheu em suas viagens todos
os materiais existentes sobre a representação terrestre: mapas
antigos, crônicas de navegantes e descrições matemáticas e
filosóficas. Considerado o pai da Cartografia moderna, criou,

34
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

em 1569, um mapa-múndi com uma projeção que leva o


seu nome, corrigindo as distorções produzidas anteriormente 2
(LUCÍRIO E HEYMANN, 1992 p.39). aula
aula
As bases do sistema de projeção criado por Mercator ainda
são utilizadas, na medida em que facilitam a localização dos ru-
mos a serem seguidos em longas distâncias, pois as coordenadas
de latitude e longitude são mostradas em linhas retas.

ATIVIDADES
Gerardus Mercator
Assista a um filme épico de sua escolha e, em seguida, aponte as for-
Geógrafo e cartógrafo
mas de obtenção das informações, explicando a importância dos ma-
flamengo (1512 a 1594).
pas para cada grupo social presente nesse filme. Apresentou em 1569 a
"Projeção de Merca-
tor", através de um
grande planisfério com
COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES dimensões 202 x 124
cm, composto por de-
zoito folhas impressas.
Você deve ter observado no filme a que assistiu que, O nome e as explicações
fornecidas por Merca-
geralmente, há uma disputa entre dois reinos ou povos distintos, tor no seu planisfério
ou mesmo um romance com a presença de um herói. Dentro mostram que este foi
expressamente conce-
dessa lógica, você deve ter percebido as formas como alguns bido para uso da nave-
povos conseguem encontrar as potencialidades e fraquezas gação marítima.

dos seus oponentes. Veja como são travadas as batalhas e


quais as funções dos guardiões ou sacerdotes e como os
mapas são elaborados e utilizados.

35
Cartografia Sistemática

CARTOGRAFIA NA REFORMA
E NO ILUMINISMO

Cronologicamente, o período compreendido entre a Reforma


Voce poder Consul-
tar na Web: e o Iluminismo corresponde ao final do século XVII e todo o sécu-
http://www.henry- lo XVIII e foi marcado pelo desenvolvimento das escolas de Carto-
davis.com/MAPS/ grafia e navegação e por avanços tecnológicos a partir da medição
Rem/Rem1/
do arco do meridiano do Peru (1728). Principalmente na Europa,
406.html.
Mapa-Mundi de cresceu a preocupação com o rigor científico dos levantamentos
Gerardus Mercator. topográficos – representação do terreno com todos os seus aciden-
tes geográficos. Os mapas passaram a ser mais detalhados e as re-
presentações dos mapas-múndi incluem a malha de pontos
geodésicos, retirando, finalmente, as figuras imaginárias e monstros
marinhos que estampavam as cartas de períodos anteriores.

CARTOGRAFIA NO SÉCULO XIX

Antes conhecida como Cosmografia, que significa astronomia


descritiva, a palavra Cartografia foi criada pelo historiador portu-
guês Francisco Carvalhosa (Visconde de Santarém, 1791 - 1856),
em carta escrita em Paris, em 8 de dezembro de 1839, e dirigida ao
colega brasileiro Adolfo Varnhagem (Visconde de Porto Seguro),
que vivia em Lisboa. Termo consagrado desde aquela época, a lite-
ratura mundial a utilizou como um ramo da história da Geografia
indispensável em qualquer estudo sobre o passado do homem, re-
velando sua atuação no espaço.
Em decorrência dos levantamentos elaborados nos sécu-
los anteriores, os cartógrafos começaram a acrescentar infor-
mações sobre população, clima e tipos de solos nas bases to-
pográficas, criando, assim, os mapas temáticos. O desenvolvi-
mento da Cartografia Temática ocorreu com o surgimento dos
mapas de Geologia e Oceanografia que representavam exigên-
cias da própria Revolução Industrial.

36
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

Neste contexto, Carl Ritter começou a elaborar os primeiros Atlas


escolares descritivos. Ritter, em parceria com Alexander von Humboldt,
2
foi um dos precursores da Geografia moderna, assim como fundador da aula
aula
Sociedade Geográfica de Berlim. Os trabalhos de Ritter e Humboldt
surgiram no período em que o conhecimento geográfico acumulado so-
bre o mundo já permitia separar a “realidade da fantasia”, uma vez que a
Geografia moderna, com o auxílio da Cartografia, já havia estudado e
mapeado toda a superfície terrestre.
Diante disto, inaugura-se na
Geografia o princípio da Analogia
ou Geografia Geral. Desenvolvi-
do por Carl Ritter, esse princípio
visava comparar diversas paisagens
da Terra, chamando atenção para
as suas semelhanças e diferenças.
O século XIX merece desta-
que especial na história da Carto-
grafia náutica do Brasil, porque
nesse século teve início o levanta-
mento hidrográfico do litoral bra-
sileiro. Hidrógrafos franceses,
como Roussin, Barral, Tardy de
Montravel e principalmente
Mouchez (Amédé Erest
Barthélemy), efetuaram o levanta-
mento da costa do Brasil, possibi-
litando a construção de cartas ná-
uticas de todo o litoral brasileiro.
Neste mesmo século, em 1857, Manoel António Vital de Oliveira
(1829- 1867), no comando do iate “Paraibano”, marcou o início
das Campanhas Hidrográficas da Marinha do Brasil, levantando no
período de 1857 a 1859, o trecho do litoral desde a foz do Rio
Mossoró, no Rio Grande do Norte, até a foz do Rio São Francisco,
no limite sul de Alagoas.

37
Cartografia Sistemática

ATIVIDADES

Faça uma busca em livros de História que você possuir em sua casa
ou consulte algum na biblioteca mais próxima para comparar as
informações contidas nos mapas históricos com o período relatado
pelo autor. Esta comparação tem como objetivo localizar as bases
científicas presentes ou possíveis de cada época. Se for convenien-
te, comente a respeito desta busca no fórum sobre esta aula, na
plataforma da UAB.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Os livros de História normalmente trazem gravuras e


mapas de diversas situações. Um exemplo disto é a partilha
da América do Sul pelos espanhóis e portugueses. Como
eles teriam proposto tal divisão? Quais eram os
conhecimentos que eles já tinham? Como se decidiu a
partilha, por exemplo, da colônia portuguesa em capitanias
hereditárias? Quais acidentes geográficos as demarcavam?
Você deve buscar, também, mapas antigos na Web, para
visualizar alguns desses fatos históricos que estão
relacionados com os avanços das técnicas.

CARTOGRAFIA NO SÉCULO XX

A partir da utilização dos balões e com a invenção da fotogra-


fia, da impressão em cores e do incremento das técnicas estatísti-
cas, o uso das fotografias aéreas revolucionou as técnicas
cartográficas, incluindo formas de levantamentos de informações
baseadas na reprodução foto-mecânica de imagens em escala de
detalhes tão precisos que, em muitos casos, substituíram o penoso
trabalho do técnico topógrafo com seu teodolito.

38
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

A invenção do avião também foi significante para a Cartogra-


fia. A junção das técnicas fotográficas ao avião, principalmente após
2
a Segunda Guerra Mundial, tornou possível o desenvolvimento da aula
aula
fotogrametria, ciência e técnica que permite o rápido mapeamento
de grandes áreas, através de fotografias aéreas, gerando mapas mais
precisos, a custos menores que o mapeamento tradicional. Desen-
volvem-se técnicas de apoio que incrementam a sua utilização.
Nesta técnica, a região a ser mapeada é fotografada de um avião.
Teodolito
As fotos são enviadas para um aparelho chamado Restituidor, respon-
sável pela leitura das imagens e por enviá-las a uma máquina chama- Instrumento óptico
da pantógrafo, que desenha o mapa. Com os avanços tecnológicos, a que mede ângulos
verticais e horizontais.
utilização do papel tem sido substituída pelo armazenamento das ima-
gens em computadores.

39
Cartografia Sistemática

Aliada ao desenvolvimento da aviação, a utilização dos satélites


possibilitou uma ampliação da visão geral atualizada de várias regi-
ões do planeta. Nos satélites há aparelhos que registram a intensida-
de da radiação emitida de acordo com as características do solo em
análise, como temperatura, presença ou ausência de vegetação, entre
outros aspectos. As imagens – informações são enviadas para a Terra
e convertidas em mapas, convencionalmente chamadas de Carta -
Imagem ou, simplesmente, de imagens orbitais.

Estrutura do Sistema de Informação Geográfica (Fonte: Fator Gis on-line, 2003).

A utilização de outros tipos de plataformas imageadoras para a


obtenção da informação cartográfica, tais como radares (RADAM,
SLAR), satélites artificiais imageadores (LANDSAT, TM e SPOT),
satélites RADAR (RADARSAT), vem revolucionando as técnicas de
obtenção da informação cartográfica para o mapeamento, abrindo
novos e promissores horizontes, através de documentos confiáveis e
de rápida confecção.
A introdução de computadores, navegadores, satélites, te-
lescópios e de sistemas de informações geográficas, sistemas
de vetorização CAD´s (Desenho Assistido por Computador)
e a aplicação do uso dos imageadores via Web(internet) têm

40
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

modernizado tanto o processo de elaboração de documentos


cartográficos, como tem propiciado a geração de novos tipos de
2
documentos ou materiais. As análises desses documentos ou aula
aula
materiais e as possibilidades de uso, tanto para a educação e
pesquisa, quanto apoio para tomada de decisões, nos diversos
níveis governamentais e privados, caracterizam o mapa como
uma ferramenta indispensável nos processos de gestão territorial
de qualquer lugar da superfície terrestre.
Um mapa atual é construído através de um processo com-
plexo e envolve a Geodésia, a Fotogrametria, o Sensoriamento
Geodésia
Remoto, as bases cartográficas e, principalmente, os bancos de
dados gerados por profissionais de diversas áreas, com o objeti- Cência que se ocupa
do estudo da forma e
vo de solucionar questões, analisar problemas ou apenas pro-
dimensões da Terra.
por sugestões de gerenciamento espacial do território.

Exemplo de Utilização cartográfica computadorizada. (Fonte: CAMARA, Gilberto, 1998).

ATIVIDADES

Faça uma análise dos mapas mais importantes de cada período his-
tórico e estabeleças as suas diferenças, mediante os avanços técni-
cos e tecnológicos utilizados.

41
Cartografia Sistemática

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES


Você deve buscar mapas antigos na Web para visualizar fatos
históricos e objetos geográficos dispostos de acordo com
os objetivos de quem os elaborou. As mudanças tecnológicas
estão relacionadas com os aparelhos utilizados, informações
mapeadas e até mesmo com o tipo de informação descrita.

A o longo de toda a História, o homem tem buscado


desenvolver as mais variadas formas e meios de
comunicação com os demais membros do seu grupo social. Entre
os meios de expressão da leitura e representação do mundo real,
encontram-se os mapas, desde os mais remo-
tos de que se tem notícia até os mais recentes
CONCLUSÃO
mapas virtuais (armazenados em formato di-
gital e exibidos em um monitor de computa-
dor). Entretanto, a Cartografia é muito mais antiga do que se pos-
sa depreender da análise de provas documentais, como pinturas
em rochas e gravuras pictóricas em cavernas, pois sempre envol-
veu a necessidade constante de o homem compreender seu meio
ambiente (físico, social, cultural), dominar o espaço e registrar as
estruturas em algum meio de representação.
Assim, a história dos mapas se confunde com a própria história
da humanidade, se considerarmos que os mapas são representantes
das formas de percepção e produção do conhecimento sobre a rea-
lidade e inerentes a cada cultura ao longo do seu desenvolvimento.

42
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

RESUMO
2
A Cartografia pode ser considerada como a linguagem uni- aula
aula
versal de todas as civilizações, como meio de intercâmbio
cultural e como forma de poder e saber, empregada para se
fazer declarações ideológicas sobre o mundo de acordo com as
necessidades impostas pelo próprio conhecimento e pelo saber.
De acordo com os avanços nos processos de obtenção das infor-
mações que compõem os mapas, e de acordo com as mudanças
tecnológicas e sócio-econômicas, os mapas que antes foram os
principais instrumentos utilizados para garantir o poder e a domi-
nação de nações inteiras, hoje continuam exercendo um papel im-
portantíssimo no planejamento de diversas atividades do ser hu-
mano. Os elementares passos dados pelos nossos antepassados
na construção das bases científicas da Cartografia e da localiza-
ção dos lugares na superfície terrestre, a ampliação do uso dos
mapas, aliada aos recursos cartográficos disseminados desde a
Grécia Antiga até os dias de hoje, favoreceram o surgimento de
sistemas de informações geográficas que integram informações
espaciais (mapas, imagens de satélite, fotografias aéreas) e descri-
tivas, como cadastros, censos e tabelas. Estas informações pro-
porcionam a geração de novos documentos capazes de subsidiar
desde as mais simples tomadas de decisões até a localização de
um futuro conglomerado de empresas, tipo de cultivo agrícola,
parque temático ou mesmo um shopping center em lugares remo-
tos da superfície da Terra. Os mapas atuais são cada vez mais
determinados pelos usuários, pois com o advento da informática,
passaram a integrar dados (informações) a lugares específicos, uti-
lizando-se de novas metodologias e, sobretudo, de novas formas
de modelagem da paisagem, seja ela real ou virtual.

43
Cartografia Sistemática

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula trabalharemos com os conceitos e cam-


po de atração da cartografia, assim como as noções de
posicionamento, localização e relação de que tratamos já
na primeira aula.

REFERÊNCIAS

DREYER-EIMBKER, O. O descobrimento da terra. São Pau-


lo: Melhoramentos, 1992.
LUCÍRIO, Ivonete de e HEYMANN, Gisela. O mundo na
palma das mãos. Superinteressante. São Paulo, v. 56, mai, 1992.
Disponível em <http://super.abril.com.br/superarquivo/1992/
conteudo_113048.shtml>.
OLIVEIRA, Cêurio. Dicionário cartográfico. 2ª ed. Rio de
Janeiro: IBGE, 1983.
RAIZ, Erwin. Cartografia Geral. Rio de Janeiro: Científica, 1969

44
Uma breve evolução da Cartografia na história da sociedade

CARTOGRAFIA: 3
aula
CIÊNCIA, ARTE OU TÉCNICA? DEFINIÇÕES
E CAMPOS DE ATUAÇÃO

MET
METAA
Apresentar as principais
concepções e conceitos que
norteiam a disciplina e sua
utilização na geografia e nas
ciências sociais.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno
deverá:
identificar os principais
conceitos que norteiam a
ciência cartográfica;
estabelecer os campos de
atuação da Cartografia nas
ciências sociais aplicadas,
considerando-se os objetivos
da efetiva comunicação
dos mapas;
distinguir a divisão da
Cartografia de acordo com os
objetos de análise presentes
nos documentos e os usos que
são propostos; e discutir a
importância da comunicação
cartográfica na definição de
elementos de representação
que visem a uma melhor
interpretação do mundo real.

PRÉ-REQUISITOS
Leitura das aulas Cartografia e
Geografia “Uma breve evolução
da Cartografia na história (Fonte: http://e-geo.ineti.pt).
da sociedade”.
Cartografia Sistemática

C aro aluno, já estudamos até aqui sobre a importância


dos mapas na construção do conhecimento geográfico e
sobre a evolução histórica da Cartografia e suas principais contribui-
ções para a ciência moderna. Apesar de falarmos acerca da Cartogra-
fia, ainda não a definimos. O que significa a
palavra Cartografia?
INTRODUÇÃO
Etimologicamente, Cartografia é uma palavra
derivada do grego graphein, que significa escri-
ta ou descrita e do latim charta, com o significado de papel, mos-
trando, portanto, uma estreita ligação com a apresentação gráfica
da informação, através da sua descrição em papel. Criada em 1839
pelo historiador português Visconde de Santarém, como vimos na
Mapas
aula anterior, a despeito de seu significado etimológico, a sua con-
Desenho ou repre- cepção inicial continha a idéia do traçado de mapas. No primeiro
sentação visual que
mostra diversos luga- estágio da evolução o vocábulo passou a significar a arte do traça-
res e seus relaciona- do de mapas para, em seguida, conter a ciência, a técnica e a arte de
mentos. Um mapa tam-
bém simboliza as fei- representar a superfície terrestre.
ções e condições des- Nesta aula vamos aprender alguns conceitos relacionados
ses lugares.
aos estudos da Cartografia. Vamos lá!

(Fonte: http://www.bl.uk).

46
Cartografia: ciência, arte ou técnica?..

A 3
s principais definições e diferenciações aplicadas ao estu-
do da Cartografia se relacionam com a própria evolu-
aula
aula
ção e utilizações específicas de técnicas, procedimentos artísticos
e normas científicas. Assim, a Organização das Nações Unidas
estabeleceu a Cartografia como “ciência que
trata da concepção, estudo, produção e uti-
lização de mapas” (ONU, 1949). Outras de-
CARTOGRAFIA
finições, mais complexas e mais atualizadas,
fornecem uma visão mais profunda dos elementos, funções e proces-
sos que a compõem, tais como a estabelecida pela Associação
Cartográfica Internacional (ICA), em 1973, que a apresenta como:
“A arte, ciência e tecnologia de construção de mapas, juntamente
com seus estudos como documentação científica e trabalhos de
arte”. Dentre as definições dos principais estudiosos brasileiros,
Cêurio de Oliveira (1988) designa a Cartografia não como uma
ciência (a exemplo da Geografia, da Geologia etc.), mas como um
método científico que se destina a expressar fatos e fenômenos
observados na superfície da Terra e, por extensão, na de outros
astros como a Lua, Marte etc. através de simbologia própria.
O professor Paulo Araújo, em 1988, definiu a Cartografia como
o conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas
com base nos resultados de observação direta ou de análise de docu-
mentação, visando à elaboração de mapas que representem a su-
perfície da Terra. (cf. ARAÚJO, 1988, p. 22). Assim, no instante
em que procura um apoio metodológico e sistemático para alcan-
çar a exatidão das diversas formas de expressão gráfica, desponta
como Ciência; ao subordinar-se às leis estéticas da simplicidade,
clareza e harmonia, caracteriza-se como arte.
Neste contexto, considerando como produtos
cartográficos todos os tipos de documentos que representam
a Terra ou qualquer outro corpo celeste. A mesma ICA, em
1991, apresentou uma nova definição, nos termos seguintes:
“ciência que trata da organização, apresentação, comunica-
ção e utilização da geoinformação, sob uma forma que pode

47
Cartografia Sistemática

ser visual, numérica ou tátil, incluindo todos os processos de


elaboração, após a preparação dos dados, bem como o estu-
do e utilização dos mapas ou meios de representação em to-
das as suas formas” .
Esta é uma das definições mais atualizadas, incorporando con-
ceitos que não eram citados anteriormente, mas nos dias atuais pra-
ticamente já estão diretamente associados à Cartografia. Ela
extrapola o conceito da apresentação cartográfica, devido à evo-
lução dos meios de apresentação para todos os demais compatí-
veis com as modernas estruturas de representação da informa-
ção. Apresenta o termo geoinformação, caracterizando um as-
pecto relativamente novo para a Cartografia em concepção, mas
não em utilização, pois é uma abordagem diretamente associada
à representação e armazenamento de informações.
Assim, a Cartografia tem por objetivo o estudo de todas as
formas de elaboração, produção e utilização da representação da
informação geográfica. Assim, continua a caracterizar a impor-
tância do mapa como uma das principais formas de representação
da informação geográfica, incluindo outras formas de representa-
ção e aspectos de armazenamento
A Geoinformação trata de associar a da informação cartográfica, prin-
Cartografia como uma ciência de tratamento cipalmente os definidos por mei-
da informação, mais especificamente de os computacionais.
informações gráficas, que estejam vinculadas
A utilização de mapas e cartas
à superfície terrestre, sejam elas de natureza
física, biológica ou humana. Desta forma, a é um aspecto bastante desconside-
informação geográfica sempre será a rado pelos usuários da Cartografia,
principal informação contida nos apesar de a maioria deles utilizar
documentos cartográficos.
mapas e cartas sem conhecimentos
cartográficos suficientes para ob-
tenção de um rendimento aceitável que o documento poderia ofe-
recer. Geralmente, um guia de utilização é desenvolvido, através
de manuais distintos ou legendas específicas e detalhadas, destina-
dos a usuários que têm uma formação cartográfica limitada.

48
Cartografia: ciência, arte ou técnica?..

Ao usuário, no entanto, cabe uma boa parcela do sucesso de


um documento cartográfico, podendo a divulgação e a utilização
3
de um documento cartográfico ser equiparada a um livro. Um do- aula
aula
cumento escrito sem leitores pode perder inteiramente a finalidade
de sua existência e, da mesma forma, isto pode ser estendido para
um mapa, ou seja, um mapa mal lido ou mal interpretado pode
induzir a informações erradas sobre os temas apresentados. Carta

É a representação de
uma porção da super-
A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA fície terrestre no plano,
geralmente em escala
média ou grande, ofe-
A Cartografia é, em princípio, um meio de comunicação grá- recendo-se a diversos
usos, como por exem-
fica que exige, como qualquer outro meio de comunicação (es-
plo, a avaliação pre-
crita ou oral), um mínimo de conhecimentos por parte daqueles cisa de distâncias, di-
reções e localização
que o utilizam. A linguagem cartográfica é praticamente univer-
geográfica dos as-
sal: um usuário com uma boa base de conhecimentos será capaz pectos naturais e ar-
tificiais, podendo ser
de traduzir, satisfatoriamente, qualquer documento cartográfico,
substituída em folhas,
independente de sua forma de apresentação. de forma sistemática
em consonância a um
Considerando-se a Cartografia como um sistema de comu-
plano nacional ou in-
nicação, pode-se verificar que a fonte de informações é o mundo ternacional.
real, codificado através do simbolismo do mapa, sendo que o
vetor entre a fonte e o mapa é caracterizado pelo padrão gráfico
bidimensional estabelecido pelos símbolos.

Figura 1 – Comunicação cartográfica

49
Cartografia Sistemática

A comunicação ocorre quando a informação representada é apro-


priadamente entendida pelo usuário. Essa situação está representada
na figura 1 pela sobreposição das realidades do cartógrafo e do usuário.
O que é denominado de “realidade” na figura é o mundo que nos ro-
deia. Como parte dessa realidade encontram-se a “realidade do
cartógrafo” e a “realidade do usuário”, que representam o conhecimen-
to do cartógrafo e do usuário sobre o mundo. A sobreposição dessas
realidades ocorre quando existe um conhecimento do mundo que é
comum, tanto ao cartógrafo quanto ao usuário. Essa sobreposição é
essencial para que a comunicação aconteça, isto é, para que o mapa
criado pelo cartógrafo seja corretamente entendido pelo usuário.
E como fazer para que essas realidades se sobreponham? Gerar a
sobreposição é tarefa do cartógrafo que, para tanto, deve conhecer
quem é o usuário do mapa que está sendo projetado e qual a sua neces-
sidade em relação a este material, em que define o propósito do mapa.
Conseqüentemente, a primeira tarefa de um projeto cartográfico é de-
finir o propósito do mapa. Na realidade, de uma forma simplificada,
o sistema de informação está restrito ao mundo real, ao elaborador
do mapa e ao usuário, gerando três realidades distintas como se fos-
sem conjuntos separados. Quanto maior a interseção dessas três rea-
lidades, mais se aproxima o mapa ideal para a representação de um
espaço geográfico em qualquer dos seus aspectos.
O modelo de comunicação cartográfica envolve então, em uma
forma simplista, quatro elementos distintos: a concepção do
elaborador, o mapa juntamente com o tema e o usuário. Uma per-
gunta pode descrever todo este modelo como um todo: “Como eu
posso descrever o que
para quem?”. Eu me refi-
ro ao cartógrafo
(elaborador), como ao
mapa, o que ao tema e
para quem ao usuário. O
modelo pode ser apreci-
Figura 2. Modelo simples de comunicação cartográfica. ado pela figura 2 abaixo.

50
Cartografia: ciência, arte ou técnica?..

Por outro lado, podem ser descritos, segundo esses concei-


tos, os ciclos de comunicação da informação cartográfica que
3
podem ser alcançados no processo: aula
aula

Figura 3. Ciclo da comunicação cartográfica.

Aqui o cartógrafo faz a leitura e interpretação do mundo


real, codificando as informações para o documento de comu-
nicação, o mapa. O usuário por sua vez, sem contato com o
mundo real, apenas com o documento, vai fazer a leitura e
interpretação das informações contidas no mapa, para que
ao decodificá-las, possa reconstituir o mundo real. Este tipo
de ciclo não é alcançado na maioria das vezes. Consegue-se
uma aproximação através de foto-mapa ou ortofotocartas, de-
pendendo ainda do tipo de informação que se vai veicular.

CARTOGRAFIA E GEOGRAFIA: OS
DIFERENTES CAMPOS DE ATUAÇÃO

Cartografia apresenta-se funcionalmente como uma ferramenta


de apoio a Geografia, permitindo, por seu intermédio, a espacialização
de todo e qualquer tipo de informação geográfica. Desta forma, para
o geógrafo e o professor de geografia, é imprescindível o conheci-

51
Cartografia Sistemática

mento dos aspectos básicos da cartografia bem como dos fundamen-


tos impressos nos diversos documentos cartográficos, pois a sua re-
presentação pode ser considerada ao mesmo tempo como ferramen-
ta e produto do geógrafo.
O profissional da Geografia, assim como o cartógrafo, deve per-
ceber a perspectiva espacial do ambiente físico, econômico, biológi-
co e cultural, tendo a habilidade de abstrair e simbolizá-los.
De acordo com a seleção correta da projeção e compreensão
das relações de áreas, como também conhecimentos da importân-
Escala cia da escala na representação final de dados e informações.
Por outro lado, deve ter a capacidade, devido à intimidade
Relação entre dimen-
sões dos elementos
com a abstração da realidade e sua representação, de avaliar e
representados em um revisar o processo, visando facilitar o entendimento por par-
mapa, carta, fotografia
ou imagem e as cor-
te do usuário final. É fundamental a sua participação no projeto e
respondentes dimen- produção de mapas, associando também a representação de ou-
sões no terreno.
tros tipos de informações, tais como imagens de sensores remo-
tos, dados sensoriais localizados e até mesmo fotografias comuns.
Hoje em dia a maior parte dos países possui organizações gover-
namentais dedicadas à construção de cartas, mapas e demais docu-
mentos cartográficos com as mais diversas finalidades. Existem ou-
tras organizações, públicas e privadas, com finalidades semelhantes,
para atuação cartográfica apenas nas suas áreas específicas.
Os avanços técnicos nos processos de construção de ma-
pas, a necessidade crescente de informação georreferenciada,
tanto para a educação, pesquisa, como apoio para tomada
de decisões, em nível governamental ou não, caracteriza o mapa
como uma ferramenta importante, tanto para análise de infor-
mações, como para a sua divulgação, em quaisquer áreas que
trabalhem com a informação distribuída sobre a superfície ter-
restre. É certo que uma tabela oferece uma visão quantitativa
do fenômeno enquanto que o mapa oferece tanto esta visão,
como a distribuição espacial, permitindo cruzamento de ou-
tros tipos de informações e a conseqüente análise deste cruza-
mento. Como exemplo da aplicação do cruzamento de dados

52
Cartografia: ciência, arte ou técnica?..

estatísticos e lugares mapeados podem ser: ocorrência de águas


poluídas, ocorrência de consumo de pescado, ocorrência de fa-
3
velas e ocorrência e tamanho de processos migratórios etc. aula
aula
Em cada categoria de profissio-
nais, existe uma considerável espe-
cialização, podendo ocorrer nas fa-
ses de levantamento, projeto, dese-
nho e reprodução de um documento
topográfico, ou mesmo que represen-
ta um tema específico. Uma primeira
categoria de especialistas trabalha,
inicialmente, com base em dados ob-
tidos por levantamentos de campo ou
hidrográficos, por métodos
fotogramétricos ou de sensores remo-
tos. São fundamentais as considera-
ções sobre a forma da Terra, nível do
mar, cota de elevações, distâncias
precisas e informações locais deta-
lhadas. Para isto, utilizam-se instru-
mentos eletrônicos e fotogramétricos
complexos e o sensoriamento remo-
to tem peso importante na elabora-
ção dos mapas. Este grupo inclui as Microrregiões, Área Total
2
(km )
organizações governamentais de le-
1. Agreste de Itabaiana 1.101,4
vantamento. No Brasil, essas organi- 2. Agreste de Lagarto 1.485,0
zações são as seguintes: 3. Aracaju 856,0
4. Baixo Cotinguiba 734,2
5. Boquim 1.889,0
-Fundação IBGE. 6. Carira 1.875,4
7. Cotinguiba 755,3
-Diretoria de Serviço Geográfico. 8. Estância 2.046,4
9. Japaratuba 1.458,8
-Diretoria de Hidrografia e Navegação.
10. Nossa Senhora das Dores 1.264,6
-Instituto de Cartografia Aeronáutica. 11. Propriá 1.010,9
12. Sergipana do Sertão do São Francisco 5.433,9
Outra categoria de profissionais res- 13. Tobias Barreto 2.052,4
ponsável pela elaboração de documen- Fonte: IBGE, 2001.

53
Cartografia Sistemática

tos cartográficos trabalha basicamente com os mapas elaborados pelo


Sensoriamento remoto
primeiro grupo, porém, está mais interessada com os aspectos de co-
Conjunto bastante municação da informação geral e com a delineação gráfica efetiva
complexo de técnicas
que utiliza sensores na dos relacionamentos, generalizações e conceitos geográficos. São os
captação e no registro chamados mapas temáticos cujo domínio específico do assunto pode
da energia refletida ou
emitida pela superfície ser extraído da História, Economia, Planejamento Urbano e Rural,
da Terra, com o objeti-
vo de obter informa- Sociologia, Engenharias e outras tantas áreas das ciências físicas e
ções, imagens e/ou si- sociais, bastando existir um georeferenciamento, ou seja, uma refe-
nais elétricos, para o
estudo do ambiente rência espacial para a representação do fenômeno. Os órgãos brasi-
terrestre. As informa-
ções disponíveis no
leiros que se dedicam à elaboração de mapas temáticos são:
mercado - LANDSAT,
SPOT, entre outras -
são obtidas por meio - Fundação IBGE
de sensores a bordo de - DNPM / CPRM - Mapas geológicos
satélites, que reco-
brem a Terra perio- - EMBRAPA – solos, uso de solos, pedologia;
dicamente.
- Institutos de Terras (INCRA) - planejamento rural;
- Governos Estaduais e Municipais;
- DNER - mapas rodoviários.

(Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/).

54
Cartografia: ciência, arte ou técnica?..

ATIVIDADES
3
Listar em sua cidade ou município os principais órgãos que utili- aula
aula
zam a Cartografia ou os mapas gerais e específicos de acordo com
os objetivos de cada atividade desenvolvida. Após a listagem, en-
treviste algum profissional desses órgãos sobre sua formação e, prin-
cipalmente, sobre que tipos de documentos cartográficos são utili-
zados por ele.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Em órgãos públicos, como prefeitura, empresa de forneci-


mento de água, energia e até mesmo as várias secretarias mu-
nicipais, sempre são utilizados os documentos cartográficos
com alguma finalidade, uma vez que o planejamento e a ges-
tão do território precisam ser espacializados e distribuídos.

DIVISÃO DA CARTOGRAFIA

Dividir a Cartografia em áreas de aplicação é tão difícil quanto


classificar os tipos de cartas e mapas. Normalmente, caracterizam-
se duas classes de operações para a Cartografia:
- preparação de mapas gerais, utilizados para referência bási-
ca e uso operacional. Esta categoria inclui mapas topográficos
em grande escala, cartas aeronáuticas hidrográficas.
- preparação de mapas usados para referência geral e propó-
sitos educacionais e de pesquisa. Esta categoria inclui os mapas
temáticos de pequena escala, Atlas, mapas rodoviários, mapas
para uso em livros, jornais e revistas e mapas de planejamento.
O primeiro grupo geral ou de referência trata da Cartografia
definida pela precisão das medições para confecção dos mapas,

55
Cartografia Sistemática

também chamada de Cartografia de base. Procura representar


Mapa temático
com perfeição todas as feições de interesse sobre a superfície
Ver mapas temáticos na terrestre, ressalvando a escala de representação
página da disciplina na
plataforma moodle (proporcionalidade). Tem por base um levantamento preciso e
normalmente utilizam como apoio a fotogrametria, a geodésia
e a topografia. Seus produtos são denominados mapas gerais,
de base ou de referência.
O segundo grupo de atividades de mapeamento é denomina-
do de mapas temáticos. Nesta categoria se enquadram mapas
de ensino, de pesquisa, Atlas e mapas temáticos, bem como ma-
pas de emprego especial. Os mapas temáticos podem representar
também feições terrestres e lugares, mas não são definidos direta-
mente dos trabalhos de levantamentos básicos. São compilados
de mapas já existentes (bases cartográficas), que servirão de apoio
a todas as representações. Distinguem-se essencialmente dos ma-
pas de base por representarem quaisquer fenômenos, incluindo os
geograficamente distribuídos, discretos ou contínuos sobre a su-
perfície terrestre. Estes fenômenos podem ser ou de natureza físi-
ca, como por exemplo, a média anual de temperatura ou precipi-
tação sobre uma área; ou de natureza abstrata, humana ou de ou-
tra característica qualquer, como a taxa de natalidade de um país,
condição social, distribuição de doenças, entre outros. Esses ma-
pas dependem de dados reunidos através de fontes diversas, que
podem ser informações censitárias, publicações industriais, da-
dos governamentais e pesquisa local.
A principal exigência para que um fenômeno qualquer possa
ser representado em um mapa é a associação da distribuição
espacial ou geográfica. Em outras palavras, deve ser conheci-
da e perfeitamente definida a sua ocorrência sobre a superfí-
cie terrestre. Este é o elo entre o fenômeno e o mapa. Assim,
qualquer fenômeno que seja espacialmente distribuído é pas-
sível de ter representada a sua ocorrência sobre a superfície ter-
restre através de um mapa. Um fenômeno com estas caracterís-
ticas é reconhecido como georreferenciado.

56
Cartografia: ciência, arte ou técnica?..

A Topografia se propõe a representar os aspectos físicos da


superfície terrestre, enquadrando-se, neste caso, todas as cartas to-
3
pográficas. Normalmente, serve de base a múltiplos usuários, in- aula
aula
cluindo todo o mapeamento sistemático, identificando-se com os
mapas de propósito gerais ou de referência.
A Cartografia Temática de caráter especial é destinada a ob-
jetivos específicos, servindo, praticamente, a um único tipo de
usuário. Por exemplo, a definida por mapas e cartas náuticas,
aeronáuticas, de pesca entre outras.

Figura 5. Quadro Comparativo dos Campos da Cartografia.

57
Cartografia Sistemática

ATIVIDADES

1. Com base na observação dos diferentes documentos presentes nos


Atlas escolares, classifique os de caráter topográfico, temático e espe-
cial, explicando os objetos de análise constantes destes materiais e os
usos que poderiam ser propostos para eles.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES


Você pode ter encontrado alguns mapas em Atlas, revistas e até
mesmo em livros didáticos dos ensinos fundamental e médio.
Cada um deles tem algum objetivo específico a mostrar e se
dirige a um público ou usuário específico. É esse usuário do
mapa que, muitas vezes, dará uso amplo ao documento e, a partir
dele, poderá compreender melhor certa realidade.

2. De acordo com a atividade proposta na Aula 1, em que você


elaborou um croqui ou planta de sua realidade mais próxima, expli-
que qual a importância dos símbolos e referências (comunicação
cartográfica) utilizados para a definição dos elementos de represen-
tação e como as outras pessoas da sua família ou amigos interpreta-
ram o seu mundo.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Aqui você vai relembrar e justificar os porquês de ter colocado


este ou aquele símbolo e como sua percepção de mundo difere
ou se assemelha a percepção das outras pessoas, demonstrando
quais as convenções e artifícios que você utilizou.

58
Cartografia: ciência, arte ou técnica?..

P ara que a Cartografia tenha consistência, seja a topográ


fica ou a temática, deve ser composta de elementos funda-
mentais mínimos, como simbolismo ou convenções que permi-
tam ao usuário o necessário entendimento da representação gráfi-
3
aula
aula
ca proposta. Nas cartas topográficas, que são
objeto de estudo nesta disciplina, podemos
destacar como conteúdos essenciais: CONCLUSÃO

a) o sistema de referência geográfica: meridianos e paralelos;


b) a possibilidade de localização geográfica: latitude, longitu-
de e altitude;
c) o reconhecimento dos elementos espaciais, físicos, sociais, po-
líticos e econômicos;
d) a definição dimensional da representação por escala de redu-
ção preestabelecida;
e) a identificação possível de variáveis temporais através da re-
presentação de fenômenos dinâmicos.

Neste livro texto, destinado ao estudo das bases cartográficas


para formação de professores de Geografia, destacaremos as
partes mais significativas deste assunto com o intuito de facilitar
o entendimento das questões específicas apresentadas nos docu-
mentos de referência ou topográficos. Já nos documentos
temáticos, é necessário que o elaborador do mapeamento
temático considere os seguintes aspectos:
a) conhecimento dos princípios que fundamentam a apresenta-
ção da informação e o projeto da composição gráfica efetiva;
b) ter um forte sentido de lógica visual e uma habilidade especial
para escolher as palavras corretas que descreverão o gráfico, o
mapa ou o cartograma;
c) conhecimento do assunto a ser mapeado ou disponibilidade
de uma equipe multidisciplinar.
Assim, para que qualquer documento cartográfico seja a re-
presentação mais fiel possível da realidade, deve manter uma es-
treita relação com o elaborador, o objetivo e o usuário através
dos símbolos ou convenções e escalas utilizados.

59
Cartografia Sistemática

RESUMO

Os rumos da Cartografia e o desenvolvimento de novas


tecnologias da comunicação e da informação proporcio-
naram uma nova definição de Cartografia pela Associação
Cartográfica Internacional, em 1991, na qual ela passou a ser con-
siderada como a disciplina que trata da concepção, produção, dis-
seminação e estudo de mapas. De forma muito sucinta, esta defi-
nição coloca a Cartografia como uma disciplina. A mesma que foi
definida no início do século XX como ciência e arte, nos anos
noventa não é mais ciência e nem arte; é uma disciplina.
No entanto, as constantes mudanças de definições não provoca-
ram alterações significativas no modo de pensar dos cartógrafos. Ainda
persistem as grandes questões quanto a natureza da cartografia como
arte e ciência, ciência e técnica, e revela diferenças que formam opiniões
diversas. É interessante observar que apesar dos autores apresentados
pertencerem a um mesmo momento histórico de desenvolvimento da
Cartografia, foi muito diverso nas definições aplicadas a disciplina.
Entre os autores brasileiros, podemos destacar ainda duas
contribuições importantes: Barbosa (1967), que define a Carto-
grafia como uma área auxiliar para as ciências e Sanchez (1981),
que define a cartografia como uma ciência entre as ciências e ao
mesmo tempo, um instrumento das ciências que direta, ou indi-
retamente, se preocupam com distribuições espaciais.
As concepções apresentadas sobre a definição de Cartografia re-
tratam, sobretudo, posturas teóricas e metodológicas diferentes. Verifi-
camos ao longo do tempo - principalmente nos últimos anos sob a
influência de novos recursos tecnológicos - que o conceito passou a
considerar a possibilidade de elaboração dos mapas e de outros docu-
mentos cartográficos, não somente na forma analógica, mas também
digital. Isto deu origem à utilização de uma nova linguagem como com-
putação gráfica, cartografia automatizada ou cartografia digital. No en-
tanto, os princípios básicos da Cartografia permanecem válidos e a sua
divisão em dois campos - sistemática e temática, continua valendo.

60
Cartografia: ciência, arte ou técnica?..

O campo da cartografia sistemática é bem definido, pois por ra-


zões históricas constitui-se, segundo Rosa (1996), na ciência respon-
3
sável pela representação genérica da superfície tridimensional da Terra aula
aula
no plano. Utiliza convenções e escalas específicas, contemplando à
execução dos mapeamentos básicos que buscam o equilíbrio da re-
presentação altimétrica e planimétrica dos acidentes naturais e cultu-
rais, visando a melhor percepção das feições gerais da superfície re-
presentada. Enquanto que a Cartografia Temática aborda a Carto-
grafia como um instrumento de expressão dos resultados adquiridos
pela Geografia e pelas demais ciências que têm necessidade de se
expressar na forma gráfica.
Mesmo considerando essa diferença básica entre os dois cam-
pos da Cartografia, César Sanchez (1981) afirmou ser impossí-
vel estabelecer uma linha divisória entre a cartografia sistemática
e a temática, pois, em muitos casos, as diferenças são sutis. Exis-
tem áreas de interpretações nas quais a superposição de mapas
temáticos e mapas de base são inevitáveis, dependendo dos obje-
tivos e usos que serão dados aos documentos.

PRÓXIMA AULA

Os caminhos a serem seguidos após esta aula nos condu-


zirão à classificação e ao entendimento dos diversos do-
cumentos cartográficos que iremos trabalhar nessa disci-
plina. De antemão, torna-se necessário estabelecer a di-
ferenciação entre mapa e os demais documentos, para a partir daí,
adentrarmos nos horizontes específicos da cartografia sistemática
com suas regras e códigos que permearão todos os documentos de
referência ou de base. É certo que não nos aprofundaremos nos
documentos temáticos porque estes serão objeto de nosso estudo
somente no próximo semestre, quando teremos as ferramentas e o
conhecimento básico sobre como controlar e apresentar temas e
informações específicas.

61
Cartografia Sistemática

REFERÊNCIAS

ARCHELA, R. S. Cartografia Sistemática e Cartografia


Temática. Disponível em http://br.geocities.com/
cartografiatematica/textos/Sistemat.htm
FRIEDMANN, R. M. P. Fundamentos de orientação, carto-
grafia e navegação terrestre. Pro Books Editora. Curitiba,
Paraná, Brasil. 2003.365p.
LIBAULT. André. GeoCartografia. São Paulo: Edusp, 1975.
OLIVEIRA, Céurio de. Curso de Cartografia Moderna. Rio de
Janeiro: IBGE, 1989.
TAYLOR, D. R. Frase. Uma base conceitual para a Cartogra-
fia: novas direções para a era da informação. Caderno de Textos -
São Paulo, Geografia - USP. v. 1, n.1, p.11-24, ago. 1994.

62
DOCUMENTOS 4
CARTOGRÁFICOS:
DEFINIÇÕES, CLASSIFICAÇÕES E USOS GERAIS
aula
MET
METAA
Apresentar as distintas
definições e classificações dos
principais documentos
cartográficos e seus
respectivos usos.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno
deverá:
identificar as principais
definições das representações
cartográficas;
diferenciar as características
dos mapas e cartas de acordo
com a forma de representação
e usos específicos; e
identificar a importância do
processo de construção do
conteúdo geográfico presente
nos documentos topográficos.

PRÉ-REQUISITOS
Conhecimento sobre a
utilidade da Cartografia na
Geografia e Ciências Sociais.

Mapa de universidades medievais (Fonte: http://www.arikah.net).


Cartografia Sistemática

C aro aluno, saiba que é difícil estabelecer uma separação


definitiva entre os significados das palavras mapa e car-
ta. Portanto, não existe uma diferença rígida entre os conceitos
dessas designações.
A palavra mapa, por exemplo, teve ori-
gem na Idade Média, quando era empregada
INTRODUÇÃO exclusivamente para designar as representa-
ções terrestres. Depois do século XIV, os
mapas marítimos passaram a ser denominados cartas, como as
chamadas “cartas de náuticas” dos navegadores europeus.
Ao longo dos séculos, de acordo com o desenvolvimento
da própria ciência cartográfica, o uso da palavra carta generali-
zou-se e passou a designar não só as cartas marítimas, mas tam-
bém, uma série de outras modalidades de representação da su-
perfície da Terra, causando certa confusão.
Dessa forma, a distinção entre mapa e carta se tornou um tanto
convencional e subordinada à idéia da escala (tamanho da representa-
ção), notando-se certa preferência pelo uso da palavra mapa. Na reali-
dade, o mapa é apenas uma representação ilustrativa e generalizada
que, de acordo com os povos de língua inglesa, inclui perfeitamente
todas as denominações de documentos cartográficos. Entretanto, en-
tre os engenheiros cartógrafos brasileiros observa-se o contrário, isto
é, há o predomínio do emprego da palavra carta. Apesar dessas dife-
renças, quase todos concordam com as definições formais existentes.

64
Documentos cartográficos...

V amos relembrar da primeira aula quando discutimos a


importância de se estudar os mapas. Mas, afinal, todos os
4
documentos podem ser chamados de mapas ou existe uma regra geral? aula
aula
De forma geral, o MAPA consiste numa representação dos
aspetos geográficos - naturais ou artificiais
da Terra - destinada a fins culturais,
ilustrativos ou científicos. MAPA OU CARTA?
De acordo com a definição do Dicionário
Cartográfico (Oliveira, 1980, pag 233), mapa é: Representação gráfica,
em geral uma superfície plana e numa determinada escala, com a re-
presentação de acidentes físicos e culturais da superfície da Terra, ou
de um planeta ou satélite. As posições dos acidentes devem ser preci-
sas, de acordo, geralmente, com um sistema de coordenadas. Serve
igualmente para denominar parte ou toda a superfície da esfera celeste.
O mapa, portanto, pode ou não ter caráter científico especi-
alizado e é frequentemente construído em escala pequena, cobrin-
do um território mais ou menos extenso, destinado aos mais varia-
dos usos, temáticos, culturais e ilustrativos. Enquanto que a CAR-
TA é uma representação precisa da Terra, permitindo a medição de
distâncias, direções e a localização de pontos.
Neste caso, de acordo com a definição do Dicionário Cartográfico
(Oliveira, 1980, pag 57): A CARTA consiste numa representação dos
aspectos naturais e artificiais da Terra destinada para fins práticos da
atividade humana, principalmente para avaliação precisa das distâncias,
direções e a localização geográfica de pontos, áreas e detalhes; represen-
tação plana, geralmente em média ou grande escala, de uma superfície da
Terra, subdividida em folhas, de forma sistemática, obedecendo a um
plano nacional ou internacional.
Nome tradicionalmente empregado na designação do documento
cartográfico de âmbito naval. Em muitos casos, no Brasil, é empre-
gado também como sinônimo de mapa. Assim, a carta é comumente
considerada como uma representação similar ao mapa, mas de cará-
ter especializado construído com uma finalidade específica e geral-
mente em escala média ou grande; De 1: 1.000.000 ou maior.

65
Cartografia Sistemática

A definição de carta chama a atenção para a diferença


entre precisão cartográfica e conteúdo cartográfico. A
precisão depende das normas de posição planimétrica e
altimétrica que determinam onde cada acidente está
localizado na carta. Desta forma, ela reflete o controle
aplicado na confecção dos vários documentos ou
produtos como também são chamados. O conteúdo
destes produtos cartográficos está altamente
condicionado pela escala e pela época da confecção. Aliás,
uma carta topográfica com apenas três pequenas ilhas tem
muita precisão e pouco conteúdo, enquanto um mapa de
uma área urbana pode ter pouca precisão e muito
conteúdo (portanto, não é uma carta). O tema também
tem influência. Por exemplo, uma rua, construída depois
da confecção da carta topográfica, não diminui a precisão,
mas afeta o seu conteúdo, que fica desatualizado.

Portanto, a indagação “O que é um mapa?” não é uma pergunta


trivial. As características que distinguem mapas de outras representa-
ções gráficas como desenhos, aquarelas e fotografias não são evidentes
nos sinônimos comuns: planta, gráfico e diagrama. As plantas baixas de
construções não necessitam mostrar localidade relativa a outras cons-
truções e não tomam conta da curvatura do planeta. Os gráficos têm
dois eixos não geográficos (x, y), como os desenhos para ilustrar tendên-
cias econômicas. E os diagramas que não precisam de uma base geográ-
fica. Portanto, o que distingue um mapa de outros produtos gráficos? São
os três atributos imprescindíveis:
* Escala
* Projeção
* Simbolização
Todas as vantagens e limitações dos mapas derivam do grau
pelo quais os mapas reduzem e generalizam a realidade (escala),
comprimem ou expandem formas e distâncias por projeção e
apresentam fenômenos selecionados através de sinais que, sem
necessariamente possuírem semelhanças com a realidade, comuni-
cam as características visíveis ou invisíveis da paisagem.

66
Documentos cartográficos...

A elaboração de qualquer documento cartográfico deve con-


siderar os três atributos imprescindíveis e interdependentes. A
4
escala influencia na quantidade de detalhes que pode ser mostra- aula
aula
da, e também determina um tipo particular de símbolo que estará
efetivamente visível ou não. Nas próximas aulas veremos como
os atributos podem influenciar mais diretamente na especificação
dos documentos ou produtos cartográficos. Por enquanto, nosso
interesse reside nos aspectos mais gerais da Cartografia, como as
classificações e usos das cartas topográficas.

AS CLASSIFICAÇÕES DAS
REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS

Existem muitas classificações e subdivisões dos produtos


cartográficos, sejam eles cartas ou mapas. Uma delas é a que os
divide em especiais e sistemáticos. Os especiais são mapas avul-
sos ou de uma pequena série, como os de um Atlas, e, geralmente,
de escalas pequenas. Os sistemáticos são os que, de forma orga-
nizada, cobrem um país ou uma região através de dezenas ou até
milhares de cartas produzidas.

Escala varia de ponto para ponto no mapa e o grau desta


variação (às vezes não notável) depende da projeção
empregada. A expressão gráfica da projeção, por sua vez,
é controlada por símbolos usados para representar linhas
costeiras, meridianos e paralelos, divisões políticas, e
traços que ajudam o usuário como referencial para a
localização. Porém, a respeito desta interdependência, o
elaborador de mapas tem uma liberdade considerável na
escolha de uma projeção, de uma escala e de um jogo de
símbolos. Cada um destes três atributos requer uma
decisão separada. E ainda mais, cada decisão, se não for
bem feita, poderá causar um menor uso do mapa.

67
Cartografia Sistemática

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FORMA DE


REPRESENTAÇÃO

a) Forma por traço: acidentes naturais e artificiais representados


por pontos, linhas e áreas. São eles:
Globos - representação cartográfica sobre uma superfície es-
férica, em escala pequena, dos aspectos naturais e artificiais de
uma figura planetária, com finalidade cultural e ilustrativa.
Mapa - representação plana, geralmente em escala pequena,
com área delimitada por acidentes naturais (bacias, planaltos,
chapadas), político-administrativos e destinação para fins
temáticos, culturais ou ilustrativos.
Carta - representação plana, em escala média ou grande,
perfazendo o desdobramento em folhas articuladas de maneira
sistemática contendo limites das folhas constituídos por linhas
convencionais, destinadas à
avaliação precisa de direções,
distâncias e localização de pon-
tos, áreas e detalhes.
Planta - a planta é um caso
particular de carta. A represen-
tação se restringe a uma área
muito limitada e a escala é gran-
de, conseqüentemente, o núme-
ro de detalhes é bem maior.
Atlas - coleção ordenada de
mapas com a finalidade de repre-
sentar um dado espaço e expor
um ou vários temas, podendo
vir acompanhado de diagramas
e textos explicativos e figuras pic-
tóricas, como por exemplo, o
Atlas (mitologia): condenado a
Atlas geográfico escolar do IBGE (Fonte: http://www.plens.com.br).
sustentar o céu com os ombros.

68
Documentos cartográficos...

b) Forma por imagem – nestes documentos os acidentes natu-


rais e artificiais são representados por uma imagem (fotografia aé-
4
rea, imagem de satélite ou imagem de radar). Neste conjunto são aula
aula
representados como principais produtos cartográficos os denomi-
nados de:
- Mosaico: imagens recortadas e montadas de maneira que o
conjunto assemelhe-se a uma única imagem.
- Controlado: montagem com delimitação de coordenadas geo-
gráficas.
- Não Controlado: montagem sim-
ples de imagens sem indicação das co-
ordenadas da área.
- Fotocarta - é um mosaico con-
trolado, sobre o qual é realizado um
tratamento cartográfico (planimétrico).
- Ortofotocarta: fotocarta execu-
tada mediante a montagem de
ortofotografias (fotografias com algu-
mas distorções corrigidas
complementadas com símbolos, co-
Fotoindice. (Fonte: http://www.aerosat.com.br).
ordenadas e toponímia, compatíveis
com a escala). A depender da escala,
pode ser denominada também de ortofotoplanta.
- Fotoíndice - montagem por superposição das fotografias, geral-
mente em escala reduzida. É a primeira imagem cartográfica da re- Toponímia
gião. O foto-índice é insumo necessário para controle de qualidade Estudo da origem e
de aerolevantamentos utilizados na produção de cartas através do significação dos no-
mes próprios de um
método fotogramétrico. Normalmente, a escala do foto-índice é re- lugar. Relação dos no-
duzida de 3 a 4 vezes em relação a escala de vôo. mes de lugar (topôni-
mos) de um país, esta-
- Carta Imagem: imagem de radar ou de satélite (com ou sem do, região etc.
superposição de canais) também com algumas distorções corrigidas
complementadas por coordenadas, símbolos e tonalidades de cor
(colorido ou preto e branco). A ortofotocarta poderia ser consi-
derada uma carta imagem, sendo as imagens ortofotografias.

69
Cartografia Sistemática

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TEMA DA


REPRESENTAÇÃO

Os documentos sistemáticos podem ser subdivididos em to-


pográficos e temáticos. Os topográficos, como expressos na fi-
gura 6 da aula anterior, são os mais conhecidos e usados. Já os
mapas temáticos apresentam temas como a geologia, rotas de
navegação, a vegetação etc., de uma forma sistematizada, fre-
quentemente através do uso das cartas topográficas como base
cartográfica.

Trecho da carta topográfica de São José dos Campos – Folha SF-23-Y-D-II-1, IBGE 1973. (Fonte: http://
www.uff.br).

No Brasil, diferentemente dos países de língua inglesa, a di-


visão mais comum é em cartas topográficas, temáticas e especi-
ais; porém, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
elaborou uma listagem que utiliza um critério geral de classifi-
cação por tema, que é dividido em:

70
Documentos cartográficos...

Cartas Topográficas: representação fiel e precisa dos aspec-


tos naturais (hidrografia, relevo) e artificiais (estradas,
4
edificações, localidades) da superfície terrestre: aula
aula
Cartas Topográficas Planimétricas: representam apenas os
elementos planimétricos: hidrografia, estradas, edificações, lo-
calidades;
Cartas Topográficas Planialtimétrica: representam os anteriores mais
os elementos altimétricos (relevo: curvas de nível, altitudes);
Carta Temática: representação de um tema específico (geologia,
uso do solo, hipsometria, clima, vegetação etc.)
Carta Especial: assunto com objetivo imediato ou específico (carta
náutica, aeronáutica e outras).

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ESCALA E


TIPO DE REPRESENTAÇÃO

Planta (escala grande) – 1: 10.000 e maiores: representações de


pequenas áreas;
Carta (escala média) – de 1: 10.000 a 1: 1.000.000: representa-
ções de áreas médias;
Mapa (escala pequena) – menores que 1: 1.000.000: representa-
ção de grandes áreas.

CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O


CONCEITO DE CARTA EM SENTIDO
ABRANGENTE

Carta cadastral: 1: 500 a 1: 10.000


Carta topográfica: 1: 25.000 a 1: 250.000
Carta geográfica: 1: 500.000 e menores

71
Cartografia Sistemática

ATIVIDADES

Quais os documentos você conhece e como eles se classificam?


Justifique sua reposta com base nas diferentes classificações apre-
sentadas até esta aula.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Se você já observou uma planta baixa de sua casa, que pode


ser rabiscada por você mesmo de forma genérica, devemos
levar em consideração os objetivos pelos quais ela foi
elaborada, o grau de precisão em relação à realidade e às
convenções utilizadas. Somente depois disso, saberemos que
tipo de documento é aplicado nesse caso.

OS ELEMENTOS DAS CARTAS


TOPOGRÁFICAS

Como a carta topográfica se constitui no objeto principal


dessa disciplina, você pode perguntar por que estamos evidenci-
ando tantos assuntos e classificações.
É claro que no início do curso de Geografia o aluno pen-
sa que irá trabalhar com os mesmos mapas ou documentos
que sempre viram no ensino médio ou fundamental, mas para
se debruçar sobre o conteúdo e as finalidades dos mapas ge-
rais, se torna necessário compreender, de acordo com seu
próprio contexto social, os elementos presentes nos docu-
mentos básicos e suas utilidades práticas.
As cartas topográficas, como já vimos anteriormente, são
representações exatas e detalhadas da superfície da Terra com
relação à POSIÇÃO, FORMA, DIMENSÕES E IDENTIFI-
CAÇÃO dos acidentes do terreno, assim como dos objetos
de caráter permanente.

72
Documentos cartográficos...

A seguir, podemos perceber um exemplo de Carta Topográfica


com seus elementos externos identificadores, que auxiliam o leitor a
4
descrever e analisar os mais variados acidentes geográficos, localiza- aula
aula
ções e até mesmo efetuar medições. Os elementos externos estão iden-
tificados como:
1. Órgão executor do projeto da carta;
2. Toponímia que dá nome a carta, ou simplesmente, nome do prin-
cipal elemento representado;
3. Nomenclatura da folha, ou seja, localizador e identificador da
área e de que documentos esta carta faz parte;
4. Legendas ordinal e nominal;
5. Articulação da folha, localização da folha, entre outras adjacentes;
6. Indica a projeção, a escala gráfica e o histórico do processo de
elaboração da carta;
7. Legenda dos elementos físicos, comum em todas as cartas;
8. Divisão administrativa presente na área representada;
9. Declinação magnética do centro da folha da carta, entre outras
informações.

73
Cartografia Sistemática

Você sabe quais são as etapas de construção de uma


carta topográfica?
1. Vôo Fotogramétrico; 2. Apoio de Campo: Transporte
de Coordenadas Geográficas ou UTM por Métodos
Geodésicos Terrestres ou por Satélites e Determinação
de pontos de apoio suplementar por Levantamento
Geodésico ou Topográfico; 3. Aerotriangulação;
4. Restituição Fotogramétrica: transformação
(interpretação corrigida) das informações contidas nas
fotografias aéreas em mapas; 5. Reambulação: coleta
da toponímia, ou seja, dos nomes dos lugares e
acidentes geográficos contidos na área. 6. Desenho
Final: apresentação padronizada (desenho
convencional, foto-gravura, digital).

ATIVIDADES

Vamos entrar no Fórum da Plataforma do Curso sobre documentos


cartográficos e fazer o download de uma carta topográfica onde
vocês identificarão elementos internos e externos que compõem a
folha fazendo uma lista por ordem de importância.. No Fórum es-
pecífico podemos disponibilizar outros documentos de áreas relati-
vas aos seus municípios para que se possa conhecer de forma tópi-
ca a representação de sua região.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Lembre-se que os elementos sempre estão presentes nos


documentos, como a nomenclatura da folha, as legendas
ordinal e nominal, entre outros.

74
Documentos cartográficos...

E nfim, um mapa é uma representação dos aspectos geográ-


ficos da Terra e tem como finalidade o esclarecimento em
meios culturais, ilustrativos ou científicos. Já a carta, que tam-
bém é uma representação dos aspectos geográficos da Terra, é desti-
4
aula
aula
nada para fins práticos, geralmente para localiza-
ção plana de pontos, áreas e detalhes. Todos os
CONCLUSÃO
produtos cartográficos possuem classificações e
subdivisões, separados como especiais e sistemá-
ticos. E ainda carregam elementos internos e externos que ajudam a
identificar localizações. Conclui-se que uma representação cartográfica
dos tipos acima mencionados é de extrema importância para o
direcionamento espacial aqui na Terra.

RESUMO

Nesta aula vimos as principais diferenças entre carta e ma-


pas, além de podermos classificar os mais variados docu-
mentos de acordo com o tema, forma, escala e projeção, e
quanto ao sentido geral do conceito de carta. Foram inseridas
novas nomenclaturas e elementos indispensáveis na elaboração
de qualquer documento cartográfico sistemático, como a escala, a
projeção e a simbologia. Estes três elementos devem possibilitar a
leitura dos fenômenos visíveis na paisagem, além de proporcio-
nar medições e determinar direções e distâncias na área repre-
sentada. A carta topográfica como documento sistemático ou
de base se apresenta como ferramenta básica do trabalho dos
geógrafos e outros estudiosos para que se possa efetuar novos
mapeamentos e identificação de elementos presentes na paisa-
gem. Feita sob exigência de normas internacionais, a carta topo-
gráfica se caracteriza por ser uma representação exata e detalha-
da da superfície da Terra e para isso exige especialistas de campo e
de laboratório no seu processo de elaboração.

75
Cartografia Sistemática

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula iniciaremos pelas noções de


posicionamento a partir da rosa dos ventos para que pos-
samos medir, comparar, relacionar e generalizar os vários elemen-
tos constantes nos documentos oficiais e nos outros documentos.
Ânimo, só estamos começando!

REFERÊNCIAS

DUARTE, Paulo A. Fundamentos de Cartografia.


Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1994.
IBGE. Bibliografia das bibliografias existentes na biblioteca
central do IBGE. Rio de Janeiro, 1984.
OLIVEIRA, Cêurio. Dicionário Cartográfico. Rio de Janeiro:
IBGE, 1993.

76
NOÇÕES BÁSICAS DE 5
GEODÉSIA E ASTRONOMIA aula
DE POSIÇÃO

MET
METAA
Mostrar as normas básicas de
posicionamento e direção
terrestre e apresentar formas de
orientação que auxiliam na
localização.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno deverá:
identificar a importância dos
elementos de localização para
confecção dos mapas;
determinar a direção e o sentido
a partir da medição dos graus de
Rumos e Azimutes; e
fazer relações entre objetos
localizados em posições
diferentes de um mapa ou carta.
(Fonte: http://www.plenarinho.gov.br).

PRÉ-REQUISITOS
Conhecimento sobre as
características dos
documentos
cartográficos.

(Fonte: http://www.museudavida.fiocruz.br).
Cartografia Sistemática

P rezado aluno, o simples ato de olhar para o céu noturno,


em uma noite sem nuvens e longe das luzes da cidade, e nele
identificar o grande número de estrelas de variados brilhos e cores, se
constitui em uma forma primitiva de praticar a Astronomia de Posição.
Quem não teve a experiência de ver uma "estrela
cadente", ou presenciar subitamente algum fenô-
INTRODUÇÃO
meno no céu (passagem de um satélite, balão
meteorológico ou mesmo um avião, aparente mu-
dança de brilho de uma estrela etc) e tentar descrever, a outra pessoa, em
que posição do céu isso aconteceu? Em geral, para o leigo, este tipo de
experiência leva ao uso das mãos: a primeira reação é apontarmos para a
direção onde se deu o fenômeno. Já outras pessoas podem tentar usar
estrelas vizinhas ao ponto ou região do céu em questão. O fato é que a
necessidade de localizar e identificar objetos no céu acompanha a civili-
zação humana desde o seu início.
Na verdade, a posição de um astro no céu pode ser estabelecida
por meio de um sistema de coordenadas. Este sistema, assim como
os demais que veremos adiante, são todos de um mesmo tipo: a
posição de uma estrela no céu pode ser definida pela especificação
do valor de dois ângulos, um deles contado ao longo de um plano
de referência, variando de 0° a 360°, e o outro contado a partir
deste mesmo plano, variando de -90° a 90°. Estes sistemas são
chamados de sistemas de coordenadas esféricas.

Fonte: http://osoldosmeussonhos.blogs.sapo.pt).

78
Noções básicas de Geodésia e Astronomia de Posição

A figura abaixo ilustra o sistema de coordenadas horizon-


tais. Na figura vemos a metade da abóboda celeste (=
5
esfera celeste) visível ao observador situado em O. A posição da aula
aula
estrela está marcada por E. O zênite do observador é indicado por
Z. O zênite é o ponto da esfera celeste acima da
cabeça do observador. De maneira mais técnica
GEODÉSIA
podemos defini-lo como sendo o ponto da esfe-
ra celeste que resulta da extensão ad infinitum da
vertical do observador. Assim sendo, a direção de Z é perpendicular ao
plano horizontal do observador, no qual se situam os pontos cardeais:
norte (N), leste (E), sul (S) e oeste (W).
O plano que contém tanto os pontos cardeais N e S quanto o
zênite Z é o plano meridiano, cuja intersecção com a esfera celeste
define o meridiano astronômico do observador. Este último, por
vezes chamado de linha meridiana, divide a esfera celeste ao meio,
sendo, portanto, um grande círculo. Analogamente, a intersecção
do plano horizontal do observador com a esfera celeste é o hori-
zonte do observador, novamente um círculo máximo da esfera ce-
leste. As duas metades da esfera celeste definidas pelo horizonte são
o hemisfério visível (acima do horizonte e que contém o zênite) e o
hemisfério invisível (abaixo do horizonte). A figura abaixo, como
já dissemos, representa apenas a metade visível da esfera celeste.
Como o meridiano astronômico não é todo disponível à observa-
ção, alguns autores preferem definir como
meridiano astronômico apenas o semicírcu-
lo meridiano situado acima do horizonte. Ou-
tros fazem referência a este último como sen-
do o meridiano superior, ou ainda,
semimeridiano superior.
O plano que contém o observador O,
o zênite Z e a estrela E é chamado de verti-
cal da estrela. A intersecção do vertical da
estrela com a esfera celeste define o círculo
vertical da mesma.

79
Cartografia Sistemática

Pois bem, podemos situar qualquer ponto na esfera celeste com


Esfera celeste duas coordenadas. No caso do sistema horizontal, essas coordenadas
Um modelo de céu pelo são a altura h e o azimute A. Pela figura vemos que a altura é o
qual o consideramos a ângulo entre a direção à estrela (segmento de reta OE) e o plano do
superfície de uma esfera
centrada em nós. Todos horizonte. A altura é arbitrada como sendo positiva para pontos da
os astros (Sol, Lua, pla- esfera celeste situados acima do horizonte e negativa para aqueles
netas, estrelas, cometas
etc) estão localizados so- abaixo do horizonte. Já o azimute é o ângulo, contado ao longo do
bre a esfera celeste. plano horizontal, entre o plano meridiano e o vertical da estrela. A
Direção vertical
origem da contagem de A (ou seja, A=0°) é, em geral, arbitrada como
sendo o ponto cardeal norte (N); mas alguns autores preferem usar o
A direção diretamente aci- ponto cardeal sul (S). É comum também substituir-se a altura h pela
ma ou abaixo de um ob-
servador. De forma mais distância zenital z; esta última é o ângulo entre a direção vertical (ou
precisa, direção da acelera- seja, OZ) e a direção à estrela. Fica claro, tanto pelas definições quanto
ção gravitacional no pon-
to da superfície terrestre pela figura, que a altura e a distância zenital são ângulos complemen-
onde ele se encontra. tares, ou seja:
Plano horizontal h + z = 90°
Azimute e altura geralmente são definidos de forma que seus
Plano perpendicular à
direção vertical de um valores possam variar dentro dos seguintes domínios:
observador e que con- 0° =< A =< 360°
tenha o mesmo.
-90° =< h =< +90°
0° =< z =< 180°
Portanto, no plano da superfície a ser representada nos mapas,
a orientação, o posicionamento e a direção são imprescindíveis para
Horizonte
determinar as relações entre os objetos, fenômenos ou elementos
O círculo máximo que concretos presentes numa determinada área. Por isso, para se deter-
resulta do prolongamen-
to do plano horizontal minar a localização relativa de uma ocorrência qualquer sobre a
do observador até encon- superfície da Terra, deve-se sempre conhecer alguns elementos bá-
trar a esfera celeste; é a
intersecção entre a esfera sicos, que podem ser definidos por duas perguntas simples: onde
celeste e o plano perpen- ocorre e como chegar-se até ele? Assim, necessitamos nos orientar,
dicular à vertical do ob-
servador. ou seja, saber qual a direção em que se encontra o lugar buscado.
A direção por definição só pode ser determinada com referência
(relação) a alguma coisa. O ponto de referência pode estar perto ou
longe, pode ser concreto ou abstracto. Esse ponto de referência esta-
belece uma linha de referência baseada entre o observador e ele. Para

80
Noções básicas de Geodésia e Astronomia de Posição

isso, utilizamos os pontos de referência na superfície representados pelos


pontos cardeais, que são pontos de orientação fundamentais: Norte, Sul,
5
Leste e Oeste. Correspondem ao círculo do horizonte, aos extremos de aula
aula
duas linhas que se cortam em ângulo reto.
– Pontos Cardeais: N - S - E - W (4)
N (North) ou setentrional (septentrion – as sete estrelas da Ursa
Maior que ficam no N);
S (South) ou meridional (meridionalis,
de meridis – sul);
E (East) ou oriente ou levante (oriens
– surgir, elevar-se; lado onde o sol se levan-
ta);
W (West) ou ocidente ou poente
(occidens – tombar; lado onde o sol se tom-
ba, põe).
– Pontos Colaterais ou intermediários:
NE - SE - NW - SW (4)
– Pontos Subcolaterais (entre os carde-
ais e os colaterais) (8)
– Pontos Subsubcolaterais (entre os
colaterais e os subcolaterais) (16)
Os 32 pontos acima configuram a ROSA DOS VENTOS.
Meridiano astronômico

Neste caso, utilizamos a idéia de Horizonte Visual, que é o O grande círculo que
passa pelo zênite do
lugar onde ocorre a junção aparente do céu com a superfície observador e pelos pon-
terrestre; também chamado de horizonte físico ou visível para tos cardeais.

determinar as direções. Plano vertical

Qualquer plano perpen-


dicular ao plano hori-
Direção: a posição de um ponto em relação a outro, sem ser zontal. Plano vertical de
considerada a distância entre eles. A direção pode ser um astro é o plano que
tridimensional ou bidimensional, sendo a direção contém o círculo vertical
horizontal o plano habitual desta última direção. A direção do mesmo.
é, em geral, indicada em termos de seu ângulo a partir de
uma direção de referência. (Dicionário Cartográfico)

81
Cartografia Sistemática

ATIVIDADES

1. Construa a Rosa dos Ventos (pontos cardeais, colaterais e sub-


colaterais).
2. Na carta hipotética abaixo, descreva a direção predominante dos
segmentos indicados na rede de drenagem, de acordo com a Rosa
dos Ventos do ex. 1:

AB CD EF GH
IJ KL MN OP

3. A partir da tabela acima, obtenha as direções inversas.


BA DC FE HG
JI LK NM PO

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES


Naturalmente quando desejamos nos deslocar para algum lugar
nunca pensamos nos trajetos que devemos fazer, mas em
Cartografia as direções sempre começam num ponto de partida
e tem seu final em algum ponto determinado. Assim,
necessitamos ter alguma referencia quer seja o norte verdadeiro
indicado no mapas ou simplesmente a parte superior da folha.

82
Noções básicas de Geodésia e Astronomia de Posição

RUMOS E AZIMUTES TERRESTRES


5
Também muito utilizada na navegação, a direção entre dois aula
aula
pontos pode ser definida por rumos ou por azimutes, ou seja, dire-
ções angulares em relação ao norte de referência.
O rumo é definido como o menor ângulo que o alinhamento faz
com a direção norte-sul, sendo contado a partir da ponta norte ou da
Azimute (A)
ponta sul como origem, com contagem de 0 a 90º. Os rumos podem
ser: NE (nordeste), NW (noroeste), SE (sudeste) e SW (sudoeste). São Outra coordenada ho-
rizontal. É o ângulo,
contados à direita ou à esquerda conforme o alinhamento se encontre contado ao longo do
mais próximo do E (este) ou do W (oeste). Somente quando coincidem horizonte, entre a di-
reção norte e a base
com os pontos cardeais, os rumos assumem a direção destes, ou seja, do círculo vertical do
N, S, E ou W, conforme é mostrado na figura abaixo. Os rumos podem astro. Outra forma de
defini-lo é como sen-
ser magnéticos (em relação ao norte magnético), verdadeiros (em rela- do o ângulo entre o
ção ao norte verdadeiro ou geográfico) ou assumidos (em relação a um plano meridiano do
observador e o verti-
alinhamento arbitrário); este assunto será tratado adiante. cal do astro. É geral-
Para efeito didático, convencionamos que todo documento mente contado no
sentido norte-leste-
cartográfico possui um norte (norte da quadrícula) como sendo a sul-oeste. A=0°: pon-
parte superior da folha, e que sua variação em relação ao Norte to cardeal norte;
A=90°: ponto cardeal
Convencional (Norte Verdadeiro) e ao Norte Magnético (otido com leste; A=180°: ponto
ajuda da bússola) pode ser expressa tanto graficamente, quanto em cardeal sul; A=270°:
ponto cardeal oeste.
valores de graus.
De acordo com a finalidade, definimos que o posicionamento
geral dos elementos contidos numa carta pode assumir uma posição
conforme pode se verificar nos quadrantes localizados abaixo. Nesse
caso, os rumos medidos entre objetos devem ser medidos com
tranferidor de 360º e nomeados com o ponto colateral direcionado.

Quadrantes: Rumos (exemplos): 0º N

83
Cartografia Sistemática

Já a medição do Azimute: é o ângulo que o alinhamento forma


com a direção norte-sul a partir da ponta norte como origem. São
contados de 0 a 360º e são chamados de azimutes à direita quando
contados para a direita do norte (sentido horário) e azimutes à es-
querda quando contados para a esquerda do norte (sentido anti-horá-
rio). Os azimutes à direita são mais utilizados e quando se diz
“azimute” subentende-se “azimute à direita”.

Como o azimute é contado a


partir de uma única ponta, não é
necessário acrescentar qualquer
outra informação adicional,
relativa à direção como N, S etc.

ATIVIDADES

1. Na carta hipotética do exercício anterior, fornecer os rumos e os


azimutes aproximados para os mesmos segmentos.

C E
A

F D H
G
J
B P
L
N M

O K
I

84
Noções básicas de Geodésia e Astronomia de Posição

5
aula
aula

Normalmente utilizamos a conversão de rumos (R) em Altura (h)


azimutes (Az) e vice-versa. Para esta tarefa, usamos as seguintes
Trata-se de uma das co-
fórmulas. ordenadas do sistema
horizontal (a outra é o
Az = R Az = 180º – R Az = 180º + R Az = 360º – R
azimute). A altura de
R = Az R = 180º – Az R = Az - 180º R = 360º – Az um objeto é o ângulo
entre a direção ao obje-
to e a horizontal, ângu-
lo este contado ao lon-
go do círculo vertical
COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES que contém o astro. A
altura pode ser tanto
O Azimute de um alinhamento é o ângulo formado no sentido positiva (h > 0°, astro
horário, entre a linha Norte-Sul e um alinhamento qualquer, acima do horizonte)
quanto negativa (h < 0°,
com variação entre 0º e 360º. Já o Rumo de um alinhamento é astro invisível, abaixo
o menor ângulo formado entre a linha Norte-Sul e um do horizonte). A altura
do zênite é h = 90° e a
alinhamento qualquer, com variação de 0º a 90º, devendo ser do nadir é h = -90°.
indicado o quadrante. Normalmente colocamos o centro do
transferidor de 360º no ponto de origem da direção para
obtermos uma reta de sentido, respeitando o sentido norte
indicado no mapa.

85
Cartografia Sistemática

Casos especiais (pontos cardeais):

ATIVIDADES

Indicar em cada quadrante os arcos R e Az, conforme a fórmula:

1º Quadrante 2º Quadrante 3º Quadrante 4º Quadrante

86
Noções básicas de Geodésia e Astronomia de Posição

Transforme os seguintes rumos em azimutes:


5
a) 45º NW
c) 10º SE
b) 20º NE
d) 70º SE aula
aula
e) 0º N f) 0º S
g) 90º E h) 90º W

Transforme os seguintes azimutes em rumos: Pólos celestes

São os pontos da es-


a) 200º b) 37º fera celeste que resul-
c) 300º d) 150º tam do prolongamen-
e) 0º f) 180º to do eixo de rotação
g) 90º h) 270º da Terra. Os pólos ce-
lestes norte e sul são
pontos fixos da esfera
celeste, ou seja, não se
movem no céu de um
COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES observador durante a
noite. Para um obser-
vador situado em um
Este é um exercício de contagem simples que você pode utilizar
dos pólos geográficos
em casa. Quando colocamos o transferidor de 360º na nossa da Terra, o pólo celes-
te correspondente co-
frente com o 0º (zero grau) direcionado para frente podemos
incide com o zênite.
dizer que este é o nosso norte, que pode mudar se mudamos
de posição. E os ângulos formados entre o nosso norte
hipotético e os objetos ao redor podem facilitar a apreensão
dos rumos e azimutes, que de acordo com a fórmula de
conversão torna-se natural a indicação de azimutes ou de rumos
seguidos do ponto colateral (NE, SE, SO e NO).

87
Cartografia Sistemática

A definição de azimute entre dois pontos é estabelecida


como sendo o ângulo formado entre a direção do Norte
passando pelo ponto estação e a direção considerada entre este e o
outro ponto, sempre contada em sentido horário.

N
CONCLUSÃO
Θ
Considerando-se o norte magnéti- B

co como direção base, o azimute será


magnético. Com o norte geográfico, o
azimute pode ser o azimute geográfico
ou geodésico ou verdadeiro. Já o norte da quadrícula é definido
sempre pela direção das linhas de coordenadas paralelas ao meridiano
central, ou seja, das linhas verticais que estabelecem as coordena-
das. O norte geográfico ou verdadeiro é o ponto de convergência
de todos os meridianos. E o norte magnético é a direção determina-
da pela agulha magnética da bússola, livre de influência de massas
metálicas. Portanto, a
utilização de medidas
angulares nas cartas
pode determinar po-
sições e direções e
também serve como
base para medidas de
disntâncias, muito
utilizada em navega-
ções e na determina-
ção de rotas aéreas.

88
Noções básicas de Geodésia e Astronomia de Posição

RESUMO
5
A orientação, a localização e a relação entre dois ou aula
aula
mais elementos contidos numa representação devem partir
do posicionamento que estes se encontram. Na Geografia o
posicionamento e a relação marcadamente efetuada com o auxílio
dos pontos cardeais e colaterais revelam possibilidades de análi-
ses e interpretações que, aliados aos médotos de medição de dis-
tância, podem favorecer a determinação relativa e absoluta de
objetos ou fenômenos. A localização relativa ou a posição como
costumamos evidenciar em Geografia leva em consideração tanto
o quadrante quanto as medidas de rumo e azimutes entre dois ou
mais pontos de referência na carta. Assim, a determinação do rumo
ou do azimute ser ve para desenvolver noções básicas de
posicionamento e localização.

PRÓXIMA AULA

A orientação e a localização relativa devem ser


complementadas com o uso da bússola e a determinação
de pontos de referência magnéticos. A esse respeito nos
aproximaremos logo mais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEGRE, Marcos. Localização do ponto à superfície da Terra.


Boletim de Geografia, Maringá, v. 3, n.3, p.31-43, jan 1985.
DUARTE, Paulo A. Cartografia básica. Florianópolis: Universi-
dade Federal de Santa Catarina, 1986.

89
O USO DA BÚSSOLA E A 6
DECLINAÇÃO MAGNÉTICA DA aula
TERRA

MET
METAA
Explorar o uso da bússola no
processo de localização,
posicionamento e relação entre
objetos que possam ser
representados graficamente.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno
deverá:
localizar elementos na
paisagem, determinando as
relações angulares entre eles;
identificar os avanços técnicos
que auxiliaram na definição da
localização, utilizando a bússola
como instrumento de base;
determinar a declinação
magnética e a localização de
elementos em carta
topográfica, observando as
descrições estabelecidas no
momento da confecção do
documento.

PRÉ-REQUISITOS
Conhecimento das normas
(Fonte: http://bp0.blogger.com).
básicas de posicionamento e
direção terrestre.
Cartografia Sistemática

C aro aluno, vimos na aula anterior que a relação entre os


elementos de uma representação é feita de acordo com
o posicionamento em que eles se encontram. Portanto, por meio
de diversas análises sobre o posicionamento dos elementos é que
a Geografia chega a algumas conclusões.
Nesta aula, você conhecerá a história da
INTRODUÇÃO
bússola, instrumento usado para determi-
nar direções horizontais, além de diferen-
ciar os pólos magnéticos dos pólos geográficos.

92
O uso da bússola e a declinação magnética da terra

N ão se sabe ao certo quem teve primeiro a idéia de deixar


uma pedra de minério de ferro ionizado indicar o Norte.
6
Estudosos acreditam que os chineses foram os primeiros aula
a explorar o fenômeno. “Si Nan” é considerada como a primeira
bússola e significa “O Governador do Sul”.
Ela é simbolizada por uma concha cuja pega
BÚSSOLA
aponta para o Sul.
Como a concha era bastante imprecisa, os
chineses começaram a magnetizar agulhas de modo a ganhar mais pre-
cisão e estabilidade. De acordo com alguns escritos chineses, as pri-
meiras bússolas foram utilizadas no mar por volta do ano 850. A in-
venção foi então espalhada pelo mundo por astrônomos e cartógrafos
para o ocidente até aos indianos, muçulmanos e europeus.
A bússola foi desenvolvida através dos séculos, e um avanço con-
siderável foi conseguido quando se descobriu que uma fina peça de
metal podia ser magnetizada, esfregando-a com minério de ferro.
O passo seguinte foi conseguir envolver e encerrar a agulha num
invólucro cheio de ar e transparente, o chamado invólucro da bússo-
la. E desta forma a agulha estava protegida. Inicialmente, as agulhas
das bússolas “dançavam” bastante e demoravam muito tempo a es-
tabilizar. As bússolas modernas são instrumentos de precisão, e a sua
agulha, geralmente encerrada num invólucro cheio de líquido, rapi-
damente se posiciona na direção norte-sul.
A bússola atual é uma caixinha circular (cápsula) de material trans-
parente. A agulha encontra-se equilibrada sobre um pino e tem livre
movimento horizontal, permitindo que dê voltas de 360 graus. Como
a agulha é imantada, ela aponta para o norte e para o sul magnético.
Ela possui uma das pontas diferenciada, pintada, por exemplo; esta
ponta da agulha lhe indicará o norte. Nas boas bússolas, o interior da
cápsula está cheio de um líquido viscoso, destinado a diminuir a
“tremedeira” da agulha. As bússolas destinadas a serem sobrepostas
aos mapas são feitas em acrílico transparente.
Porém, sabe-se que pólos opostos se atraem. Sabendo disso,
não é muito difícil deduzirmos que o pólo sul magnético fique no

93
Cartografia Sistemática

norte, e o pólo norte magnético fique no sul. Isso explica uma bús-
sola apontar para o norte. Na verdade, ela aponta para o sul magné-
tico, que se encontra ao norte.
Em torno da cápsula, está um anel giratório graduado deno-
minado limbo. No fundo da cápsula há uma série de linhas para-
lelas. As linhas mais finas servem para alinhar a bússola (ou a
cápsula) às linhas norte-sul da grade de coordenadas do mapa.
As duas linhas mais centrais são enfatizadas (mais grossas, cor
diferente, ou um desenho especial). A faixa entre estas linhas
internas chama-se “seta-guia”. A seta-guia normalmente está em
perfeito alinhamento com o 0 (zero) ou “N” do limbo. Mas al-
guns modelos de bússola permitem que a seta-guia seja ligeira-
mente desviada, para compensar a declinação magnética. Sobre
a placa-base da bússola, partindo da cápsula há uma seta apon-
tando para a extremidade mais distante: esta é a Linha-de-Fé.
O limbo, dependendo do tamanho da bússola, é graduado
de grau em grau ou de 2 em 2 graus, ou mesmo mais. Quanto
menor o diâmetro do limbo, mais graus haverá entre cada par de
marcas. Assim, comprar uma bússola muito pequena é desne-
cessário. Também é preciso evitar comprar uma bússola que não
tenha um limbo giratório.
Normalmente a escala do limbo é em graus. Esta escala vai de
0º a 360º (ou a marca N, no limbo), começando e terminando no
mesmo ponto, denominado norte-do-limbo. Os valores lidos no
limbo são chamados de “azimutes magnéticos”.

(Fonte: http://saladeaula.terapad.com).

94
O uso da bússola e a declinação magnética da terra

William Gilbert foi quem propôs que a origem da orientação das


bússolas com o norte tinha sua origem no fato de que a própria Terra se
6
comporta como um ímã. Essa idéia é muito estimulante, mas para Gilbert aula
isso não era suficiente: ele fez suas afirmações com base em fatos expe-
rimentais, que apresentaremos a seguir. É importante saber que embora
se possa até questionar a validade dos argumentos de Gilbert, sua preo-
cupação de embasar a teoria em fatos significa um grande passo na for-
mação de uma verdadeira metodologia científica. A obra de Gilbert in-
fluenciou significativamente Galileu, que aproveitou a metodologia do
trabalho e acrescentou, além da experimentação controlada, uma segun-
William Gilbert
da ferramenta crucial para a física: as medidas matemáticas.
William Gilbert (1540-
1603). Médico inglês,
Magnetização espontânea após aquecimento e resfriamento natural de Colchester,
(Septentrio significa Norte e Auster significa Sul) no Essex. Revolucio-
nou a ciência do mag-
netismo, com a publica-
As duas experiências serviram como base para a afirmação de que ção da obra De Magne-
te, Magneticisque Cor-
a Terra se comporta como um ímã. A primeira delas é a magnetização
poribus et de Magno
espontânea, já conhecida pelos chineses muitos séculos antes. Esse é Magnete Tellure - Phy-
siologia Nova (1618),
um fenômeno que acontece, por exemplo, com estruturas metálicas de
onde conclui que a Ter-
construções que estejam orientadas na direção norte-sul. Gilbert des- ra era magnética e por
isso as bússolas apon-
creveu a magnetização provocada após o aquecimento e posterior
tam para o norte.
resfriamento de uma barra de ferro orientada na dire-
ção norte-sul. Pancadas na barra de ferro também pro-
duzem o efeito. A gravura acima, de seu livro De
Magnete, ilustra exatamente isso (Septentrio signifi-
ca Norte e Auster significa Sul).
Para Gilbert, isso era um indício de que a Terra
se comporta como um ímã. Por quê? Simplesmente
porque um ímã comum provoca exatamente os mes-
mos efeitos em uma barra de ferro. O que poderia
estar magnetizando esse ferro em resfriamento, sem-
pre que orientado na direção norte-sul?
Antiga bússola francesa (Fonte: http://
Outro fato que Gilbert analisou foi a questão www.scite.pro.br).
da inclinação da agulha da bússola em relação à

95
Cartografia Sistemática

horizontal. Esse ângulo é chamado de inclinação magnética. Para


ver na prática o que isso significa, você precisa ter uma bússola em
mãos. Observe qual extremidade da agulha aponta para o norte. Você
deverá virar o estojo da bússola de 90 graus de forma que a agulha
continue apontando para o norte e o mostrador fique na vertical. Você
verá que a agulha não fica na horizontal. A foto da página anterior
mostra uma antiga bússola francesa, datada de 1840, especialmente
construída para determinar a inclinação magnética.
Fazendo essa experiência na região sudeste do Brasil, deve-se
obter um valor em torno de 20 graus. A bússola da foto parece
indicar algo próximo de 45 graus. Pois bem. Gilbert encontrou uma
explicação genial para este fenômeno. Para isso, ele construiu um
ímã em forma de esfera, que denominou terrella (pequena Terra) e
verificou em que direção uma agulha apontaria quando estivesse
próxima à superfície.

Imagens da terrella de Gilbert, com as agulhas magnéticas.


Note que o equador terrestre está posicionado na vertical.

O comportamento da agulha magnética ao redor da terrella tem


uma semelhança muito grande com o que ocorre com a inclinação
magnética na Terra: no equador, a inclinação é zero, ou seja, a agu-
lha fica paralela ao horizonte. Nos pólos a inclinação é 90 graus: a
agulha aponta para o chão. No hemisfério norte, a extremidade da
bússola que aponta para o norte aponta também para baixo. E quanto

96
O uso da bússola e a declinação magnética da terra

mais ao norte se estiver, mais próximo de 90 graus é esse ângulo de


inclinação. O oposto ocorre no hemisfério sul. Tudo isso podia ser
6
perfeitamente verificado na terrella. aula
Para Gilbert, esse fato, somado ao fenômeno da magnetização
espontânea, constituía evidência muito forte de que a Terra em
si era um grande ímã.

PÓLOS MAGNÉTICOS VERSUS


PÓLOS GEOGRÁFICOS

Talvez você já tenha ouvido falar que os pólos magnéticos da


Terra são invertidos em relação aos geográficos, ou alguma frase
estranha do tipo. Que confusão é essa? A his-
tória na verdade é simples e não passa de um
pequeno problema na escolha de nomes. Veja
bem: antes de Gilbert ninguém tinha idéia de
que a orientação da bússola ocorria porque a
Terra age como um ímã. Uma ponta indicava
o norte e pronto.
Alguém achou que seria uma boa idéia
dar um nome para distinguir os dois pólos do
ímã, um que apontava para o norte e outro
que apontava para o sul. Se ele fosse um fran-
cês, como Peter Peregrinus (que inventou essa história dos pólos),
poderia ter chamado o primeiro de “dinamarquês” e o outro de “afri-
cano”, já que um apontava para a Dinamarca e o outro para a Áfri-
ca, ou algo assim. Obviamente mais simples foi chamar de pólo
norte a ponta que indica o norte e pólo sul aquela que aponta para
o sul. Assim esses nomes ficaram.
Acontece que, se a Terra é um grande ímã, e pólos diferen-
tes se atraem, tudo fica estranho: o pólo norte do ímã deve ser
atraído pelo pólo sul do ímã-terra, mas alguém definiu que o
pólo que aponta para o norte seria chamado de pólo norte. Al-

97
Cartografia Sistemática

guma coisa tem que ser feita! Mudar o nome dos pólos do ímã
seria uma alternativa óbvia, mas alguém propôs que mudásse-
mos o nome dos pólos da Terra! O pólo magnético do ímã-
terra que fica ao norte foi denominado “pólo sul magnético da
Terra” e vice-versa. Assim, os pólos não estão “invertidos”:
apenas alguém fez uma péssima escolha de nomes e assim fi-
cou estabelecido.

MODO DE SEGURAR UMA BÚSSOLA

Ao usar a bússola, deve sempre colocá-la o mais


na horizontal possível. Se fizer leituras com a bús-
sola inclinada estará cometendo erros. O polegar
deve estar corretamente encaixado na respectiva ar-
gola, com o indicador dobrado debaixo da bússola,
suportando-a numa posição nivelada.

NOMENCLATURA DE UMA BÚSSOLA

Nunca se devem fazer leituras com a bússo-


la perto de objetos metálicos ou de circuitos elé-
tricos.
Abaixo você poderá alguns exemplos de ob-
jetos e respectivas distâncias que devemos res-
peitar quando quisermos fazer uma leitura com
a bússola.
Distâncias mínimas de utilização da bússola
Objetos Distância
linhas de alta tensão 60 m
fios telefônicos 10 m
arame farpado 10 m
carro 10 m
machado 1,5 m

98
O uso da bússola e a declinação magnética da terra

DECLINAÇÃO MAGNÉTICA (DM)


6
A declinação magnética consiste no ângulo formado entre a aula
direção do norte magnético e a do norte verdadeiro (geográfico).
Podemos dizer que a declinação magnética é ocidental, ou positiva,
quando a ponta norte da agulha imantada se volta para o oeste e
oriental, ou negativa, quando para leste.
As primeiras observações foram feitas na França, em 1580.
Em Paris, nessa época a declinação era de 9º E e foi diminuindo
até chegar a um valor 0º em 1660. Daí por diante, passou a ser
W (oeste) até 1814, tendo atingido o valor de 22º30’, voltando
novamente para E (leste). No Brasil, as observações mais anti-
gas datam de 1770 em Cabo Frio; nessa época a declinação era
de 13º E e foi diminuindo até chegar a 0º em 1850. A partir daí
passou a ser W (oeste), atingindo 14º 20’ em 1942 e atualmente
continua para W (oeste).
A declinação não é igual para todos os pontos da Terra nem
mesmo é constante em um mesmo lugar. As variações podem ser
diárias, mensais, anuais e seculares. Existem pontos que possuem
a mesma variação anual de declinação magnética. As linhas que
ligam esses pontos são chamadas curvas isopóricas. As linhas que
ligam pontos de mesma declinação são chamadas isogônicas. As
cartas isogônicas fornecidas pelos anuários dos observatórios as-
tronômicos nos permitem determinar a declinação magnética para
uma determinada localidade, desde que se conheçam as coorde-
nadas geográficas (latitude e longitude) do lugar desejado.

99
Cartografia Sistemática

1) Azimute magnético: quando medido a partir do norte mag-


nético (indicado pela bússola);
2) Azimute geográfico: quando medido a partir do g (direção
do Pólo Norte)
3) Azimute cartográfico: quando medido a partir do norte
cartográfico (direção das linhas verticais das quadrículas na carta).

COMO DETERMINAR O AZIMUTE


MAGNÉTICO DE UM ALVO

Querendo-se determinar o azimute


magnético de um alvo usando uma bússola
há que, primeiro, alinhar a fenda de ponta-
ria com a linha de pontaria e com o alvo.
Depois deste alinhamento, espreita-se pela
ocular para o mostrador e lê-se a medida
junto ao ponto de referência.
Todo este processo deve ser feito sem
deslocar a bússola, porque assim alteraria
a medida. O polegar deve estar corretamente encaixado na respec-
tiva argola, com o indicador dobrado debaixo da bússola, suportan-
do-a numa posição nivelada.

COMO APONTAR UM AZIMUTE


MAGNÉTICO

Querendo apontar um azimute magnético no terreno, para se


seguir um percurso nessa direção, por exemplo, começa-se por ro-
dar a bússola, constantemente nivelada, de modo a que o ponto de
referência coincida com o azimute pretendido. Isto é feito mirando
através da ocular para o mostrador. Uma vez que o ponto de refe-
rência esteja no azimute, espreita-se pela fenda de pontaria e pela

100
O uso da bússola e a declinação magnética da terra

linha de pontaria, fazendo coincidir as duas, e procura-se ao longe,


um ponto do terreno que possa servir de referência. Caso não haja
6
um bom ponto de referência no terreno, pode servir bastão da pa- aula
trulha que, entretanto, se deslocou para a frente do azimute e se
colocou na sua direção.

COMO MARCAR UM AZIMUTE


NUMA CARTA

Para marcar um azimute numa carta, basta usar um transferi-


dor. Coloca-se a base do transferidor (linha 0º - 180º) paralela às
linhas verticais das quadrículas da carta e o ponto de referência
sobre o ponto a partir do qual pretendemos traçar o azimute. De
seguida faz-se uma marca na carta mesmo junto ao ponto de gradu-
ação do transferidor correspondente ao ângulo do azimute que pre-
tendemos traçar. Por fim, traçamos uma linha a unir o nosso ponto
de partida e a marca do azimute.

Exemplo para marcar um azimute de 55º a partir de uma igreja

A igreja, a partir da qual se O transferidor alinhado com O azimute de 55º tra-


pretende marcar um as linhas verticais das qua- çado a partir da igreja e
Azimute de 55º. drículas, e com o ponto de passando pela marca cor-
referência sobre a igreja. respondente aos 55º graus.

101
Cartografia Sistemática

AZIMUTE INVERSO

O azimute inverso é o azimute de direção oposta.


Por exemplo, o azimute inverso de 90º (Este) é o de 270º (Oeste).

Para calcular, basta somar ou subtrair 180º ao azimute em


causa, consoante este é, respectivamente, menor ou maior do
que 180º.

Exemplos: Como calcular o azimute inverso de 65º e de 310º

(Fonte: http://nautilus.fis.uc.pt).

102
O uso da bússola e a declinação magnética da terra

ATIVIDADES
6
1. Sabendo-se que a declinação magnética da área onde foram to- aula
madas as medidas abaixo é de 6ºW, converter os rumos e azimutes
magnéticos em azimutes verdadeiros.
a) 30º NW ___________ b) 120º____________c) 85º______________
d) 144º _____________e) 45º NW ________f) 230º____________

2. Determine o azimute verdadeiro a partir de O para os seguintes


pontos:
NV A:_________
NM B:_________
+A C:_________
+B D:_________
O

+C
+D

3. Quais os rumos magnéticos dos segmentos indicados no exercí-


cio anterior?

a) OA: _____________ b) OB: ______________


c) OC: _____________ d) OD: ______________

4. Sabendo-se que o azimute verdadeiro para um determinado


ponto é 300º e o rumo magnético é 55º NW, qual o valor da
declinação magnética? Apresente o raciocínio espacial e os cál-
culos ordenados.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Aqui você pode usar seu transferidor de 360º mais uma vez.
Veja que agora além do NV (norte verdadeiro), temos a indicação
do NM (norte magnético) e o ângulo medido entre os dois se
constitui no que chamamos de Declinação Magnética.

103
Cartografia Sistemática

MÉTODO DA TRIANGULAÇÃO PARA


DETERMINAR A NOSSA POSIÇÃO NUMA CARTA

Este método nos permite loca-


lizar, com bastante precisão, a nossa
posição numa carta.
Segue-se um exemplo de como
utilizar este método. Começa-se por
identificar, no terreno e na carta,
dois pontos à vista. Neste caso es-
colheu-se um marco geodésico e um
cruzamento, pois ambos estão à
vista do observador e são facilmen-
te identificáveis na carta através
dos seus símbolos.
De seguida, com a bússola de-
terminam-se os azimutes dos dois
pontos, 340º e 30º, respectivamente, para o marco geodésico e para
o cruzamento.
Conhecidos os azimutes, passamos a calcular os azimutes
inversos respectivos: 160º é
o azimute inverso de 340º e
210º o de 30º.
Na carta, e com o auxí-
lio de um transferidor, tra-
çam-se os azimutes inversos
a partir de cada um dos pon-
tos (160º para o marco
geodésico e 210º para o cru-
zamento).
O ponto onde as linhas
dos dois azimutes inversos
se cruzam corresponde à
nossa localização.

104
O uso da bússola e a declinação magnética da terra

MÉTODO DA TRIANGULAÇÃO PARA


IDENTIFICAR UM PONTO DO 6
TERRENO NA CARTA aula
Este método nos permite, com bastante preci-
são, identificar um determinado ponto do terreno
à nossa frente na carta.
O seguinte exemplo usa a mesma localização
que o anterior. Desta vez, pretende-se localizar na
carta o ponto onde está o Totem de Patrulha.
É preciso que um escoteiro vá até aos dois pon-
tos com uma bússola e meça os azimutes desses
pontos para o totem. Depois disso, não é preciso cal-
cular os azimutes inversos, porque basta usar os mes-
mos azimutes para traçar as linhas na carta e obter
os pontos (tal como na figura do exemplo anterior).

ATIVIDADES

Com o auxílio de uma bússola simples e sabendo-se que a representa-


ção do local (carta em anexo) deve corresponder a uma escala pro-
porcional, cada passo medindo 0,4 m, determine:

1. O norte verdadeiro e magnético da Carta;


2. A declinação magnética da Carta;
3. Escolha 5 (cinco) pontos de referência e construa um polígono
dos pontos escolhidos, determinando:
a) Azimute verdadeiro e magnético;
b) As direções magnéticas efetuadas entre os pontos;
c) Os rumos magnéticos;
d) Ângulos dos pontos de referência em relação ao ponto seguinte;
4. Localização relativa do polígono na Carta.

105
Cartografia Sistemática

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Nos trabalhos com cartas topográficas se exige um senso de


observação ampla no sentido de apreender os detalhes contidos na
legenda da carta (elementos externos) e nos elementos localizados
na área de cobertura da representação (elementos internos). Neste
momento, o uso do transferidor e a determinação do norte geográfico
correspondente com a posição que você se encontra sentado em
frente a carta são decisivos, pois nem sempre nos posicionamos de
forma correta apara representar o norte geográfico (NG). Antes de
começar a atividade, faça um exercício lógico para saber onde são
os pontos cardeais de sua cidade. Lembre-se que o “sol não nasce”
e “sim a terra gira de oeste para leste”. No nordeste do Brasil
convencionamos dizer que o sol aparece ao amanhecer a leste, daí
sempre nos posicionamos em direção a um ângulo de 90º entre o
leste e o norte para determinamos o norte verdadeiro ou geográfico.
Com o uso da bússola comum, o local onde ela aponta será o norte
magnético e a diferença entre estes dois nortes se constitui na
declinação magnética do lugar.

A s possibilidades de localização e determinação da declina-


ção magnética a partir do uso da bússola subsidiaram a
delimitação dos documentos cartográficos com correção e precisão
das representações. As referência de norte verdadeiro (NV) ou norte
geográfico (NG), norte da quadrícula (NQ) e o
CONCLUSÃO norte magnético (NM) nos documentos
cartográficos sistemáticos são convenções que
devem ser escolhidas para determinar o posicionamento de qualquer
objeto na superfície terrestre. É certo que qualquer representação
sistemática da Terra deve apresentar pelo menos algum sistema de
referência, que seguido do valor de sua declinação magnética e sua

106
O uso da bússola e a declinação magnética da terra

respectiva variação anual possibilita a conversão e o ajustamento


magnético utilizado pelos organismos internacionais de localização,
6
ou seja, toda e qualquer representação sistemática segue um conjun- aula
to de normas técnicas para que os documentos cartográficos possam
ser utilizados como base de estudos específicos.

107
Cartografia Sistemática

RESUMO

Perder-se, hoje, é mais difícil que encontrar o caminho, tal o


grande número de mapas e guias que apresentam os mais
diferentes roteiros a seguir para chegar a qualquer cidade da
Terra, por menor ou mais distante que ela seja. Nos céus ou no
mar, o radar, o rádio e outros instrumentos evitam que mesmo o
piloto mais inábil se desvie da rota. Orientar-se pode vir a ser um
problema só em algumas regiões desabitadas, como as florestas e
desertos. Naqueles tempos, os meios para resolver esse importan-
tíssimo problema eram certamente muito escassos: limitavam-se,
na prática, a um bom senso de observação, que permitisse distin-
guir e reconhecer os principais pontos de referência em terra e no
mar, como montanhas, rios, vales, enseadas, ilhas ou promontóri-
os. Mas isso não bastava para uma orientação segura.
A bússola se tornou, sem dúvida, um dos instrumentos de navegação
mais importantes a bordo das expedições e atualmente funciona como
objeto de controle e posicionamento utilizado para os mais variados
fins, que vão desde a triangulação para determinação de posições no
terreno, até a função de guia para navegação marítima e terrestre.

PRÓXIMA AULA
Na próxima aula nos aprofundaremos na localização de ele-
mentos contidos nas cartas.

REFERÊNCIAS
Rover Net - Geografia. <http://planetaterra.com.br/educacao/
rover/geografia.htm>, Brasil, 2001.
GILBERT, W. De Magnete. <http://www.educeng.ufjf.br>. IX En-
contro Educação em Engenharia, UFF, Brasil, 2003.

108
REDES GEOGRÁFICAS E 7
COORDENADAS GEOGRÁFICAS aula
MET
METAA
Apresentar a rede geográfica,
discutir os referenciais de
localização utilizados no
ensino de Geografia e mostrar
elementos em cartas
topográficas utilizando a rede
de coordenadas geográficas.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno
deverá:
estabelecer a importância da
rede geográfica e dos
referenciais de localização no
ensino de geografia;
distinguir o funcionamento do
sistema de coordenadas
geográficas no processo de
localização absoluta de
fenômenos; e
determinar a localização de
fenômenos através da rede de
coordenadas presentes nos
mapas.

(Fonte: http://www.pplware.com).

PRÉ-REQUISITOS
A aula 6, que contém a
explicação sobre o uso da
bússola como instrumento
base na localização de um
elemento no espaço.
Cartografia Sistemática

P rezado aluno, na aula anterior você viu a importância


da bússola para definir a localização de objetos na Terra
e de elementos em carta topográfica. Agora chegou o momento
de avançar neste assunto, porque o conhecimento destes ele-
mentos será obtido a partir da utilização da
rede de coordenadas geográficas. No inces-
INTRODUÇÃO
sante processo de tentar localizar de forma
absoluta um determinado elemento na super-
fície terrestre, a instituição de um sistema de coordenadas se tor-
nou um método bastante conveniente de registro. Portanto, qual-
quer posição, seja em qual dimensão for, terá apenas uma única
representação no espaço, vez que, dois pontos não podem ocu-
par o mesmo lugar no espaço.

LEVANTANDO ALGUMAS QUESTÕES

Em um espaço unidimensional, onde só se percebe uma dimensão,


por exemplo, um comprimento ou uma distância entre dois pontos, neces-
sita-se apenas de um ponto origem, e uma escala de unidade que permita,
através dessa origem e a quantidade de unidades medida na escala, esta-
belecer o posicionamento de um ponto a outro. Neste caso, a coordenada
é definida pela distância da origem até o ponto, em unidades especificadas.

Origem
O P
Figura 1 - Coordenada unidimensional

Existindo um plano, define-se um sistema bidimensional, onde a sua


definição é dada por duas dimensões, estabelecendo uma origem única para
cada dimensão. Utiliza-se um sistema de coordenadas, que permita, portan-

110
Redes geográficas e coordenadas geográficas

to, a locação conjunta dessas duas dimensões. Em termos de um 7


mapa, isto será possível pela definição de uma grade de referência.
Um sistema de coordenadas genérico compreende conjun-
aula
aula
tos ou famílias de linhas que se interceptam umas às outras,
formando uma rede ou malha quando desenhada.

Figura 2. Exemplo de grade

A posição de um ponto no espaço é definida apenas por


duas coordenadas. Duas retas que se interceptam defi-
nem um plano, que também é definido por uma reta
e um ponto, dois ou três pontos. Portanto, por coor-
denada entende-se qualquer conjunto que determi-
REDES
na unicamente a posição de um ponto no espaço. A
coordenada pode ser uma distância, um ân-
gulo, uma velocidade, um momento
etc, baseada numa rede geográfica ou
grade de referência.
Entende-se por rede geográfica
o conjunto formado por paralelos e
meridianos, ou seja, pelas linhas
de referência que cobrem o glo-
bo terrestre com a finalidade de
permitir a localização absoluta de qual-
quer ponto sobre sua superfície, bem como orientar a confec-
ção de mapas. Existe uma infinidade de maneiras de se referenciar

111
Cartografia Sistemática

pontos sobre um plano, entre si. Algumas são mais apropriadas ou mais
simples, adaptando-se melhor aos propósitos de localização a que se
prestam. Dentre eles, o mais usual é o das coordenadas geográficas
(latitude e longitude).

SISTEMA DE COORDENADAS GEOGRÁFICAS

Esse sistema de coordenadas é artificial; e foi organizado para


atender às necessidades do homem. As suas bases utilizadas são a
geometria esférica e o eixo de rotação da Terra. Os pólos são defi-
nidos como pontos de interseção entre o eixo de rotação da Terra e
a superfície da esfera. Portanto, as medidas básicas das coordena-
das são feitas através de observações astronômicas que estabele-
cem a latitude e a longitude. Sem dúvida, o sistema de coordenadas
não é plotado nem visível no terreno.
Na esfera o raio vetor é constante, logo, qual-
quer ponto na superfície poderá ser então locali-
zado pela definição apenas dos dois ângulos
vetoriais. São escolhidos para isto dois planos
ortogonais que se interceptam no centro da esfe-
ra, considerados então como origem.
Um plano já foi definido e é o plano do
Equador. O Equador é utilizado como origem
para as medições do ângulo vetorial conheci-
do como latitude. O outro plano é um plano
arbitrário, definido pelo meridiano que passa
pelo centro ótico da luneta do Observatório
de Greenwich, utilizado para as medições do ângulo vetorial deno-
minado de longitude.
Formalmente define-se a latitude de um lugar como o ângulo
vetorial entre o Equador e o lugar, medido sobre o meridiano que o
contém, ângulo AÔQ. É positiva se for medida do Equador para o
norte e negativa se medida em direção ao pólo Sul. A latitude é

112
Redes geográficas e coordenadas geográficas

expressa em unidades sexagesimais, ou seja, graus, minutos e se-


gundos. É notada pela letra grega ϕ (fi). 7
Para qualquer valor de latitude j, existirá uma infinidade de pontos aula
aula
na superfície terrestre, que fazem este mesmo ângulo com o Equador.
O lugar geométrico desses pontos é a circunferência de círculo, cujo
plano é paralelo ao Equador. Assim, essa circunferência é chamada de
paralelo de latitude ou simplesmente paralelo.
Assim, os planos de todos os paralelos são paralelos ao Equa-
dor e compartilham o mesmo eixo. Segue-se que qualquer paralelo
será um pequeno círculo, porque o Equador é um círculo máximo.
A longitude é o ângulo vetorial definido pelo plano do
meridiano origem e o plano do meridiano passante pelo lugar,
medido sobre qualquer paralelo ao Equador, uma vez que este
ângulo é esférico. A escolha de um meridiano origem é arbitrá-
ria. Porém, é mundialmente aceita a definição do meridiano que
passa pelo eixo da luneta do Observatório de Greenwich, na
Inglaterra, como meridiano origem para as medições de longi-
tude. Existem, no entanto, países que ainda adotam outros
meridianos como origem de suas coordenadas, exceto para na-
vegação, devido a ser padronizado internacionalmente.
Será positiva se estiver a este de Greenwich e negativa se
estiver a oeste. É notada pela letra grega λ (lâmbda), sendo tam-
bém medida em unidades sexagesimais.

Meridiano Origem

φ+ φ+
λ− λ+

φ− Equador
φ−
λ− λ+

A definição de coordenadas de um ponto sobre a superfície


terrestre será dada então pela dupla (ϕ,λ).

113
Cartografia Sistemática

A malha resultante de paralelos e meridianos define o sistema de


coordenadas geográficas conhecidas como gratícula, seja com refe-
rência à superfície terrestre, seja em relação à sua representação em
um plano através de uma projeção cartográfica. Uma interseção de
gratícula define um ponto na superfície de coordenadas geográficas
(ϕ, λ). Esta convenção é internacionalmente aceita.
As coordenadas geográficas constituem a forma mais eficiente
de prover uma referência de posicionamento unívoco em Geogra-
fia, navegação e outras ciências afins.
A rede de paralelos e meridianos (gratícula) efetua o contro-
le geométrico para o uso de um mapa, reconhecida universal-
mente a diferentes níveis de utilização.

ALGUNS TERMOS TÉCNICOS NECESSÁRIOS


NO ESTUDO DAS LONGITUDES
E DAS LATITUDES

Meridiano superior refere-se à linha norte-sul da rede geográfi-


ca que passa pelo local ao qual estivermos fazendo qualquer refe-
rência; é aquele que contém o zênite de um lugar. É, na realidade, a
linha que chamamos de meridiano.
Pontos da Vertical do Lugar: o ponto (Z = ZÊNITE) se encontra
no infinito superior, e o ponto (Z’ = NADIR) no infinito inferior da
vertical do lugar. Estes pontos são importantes na definição de alguns

114
Redes geográficas e coordenadas geográficas

equipamentos topográficos, como os teodolitos, que têm a medida dos


ângulos verticais com origem em Z ou em Z’. 7
Meridiano inferior é o meridiano que se encontra diametralmente aula
aula
aposto ao meridiano superior; é aquele que contém o Nadir. Hoje
em dia, prefere-se chamá-lo anti-meridiano. Fica sempre no hemis-
fério contrário ao do meridiano superior.
Meridiano origem é aquele tomado como
base para determinação dos hemisférios orien-
tal e ocidental da Terra. A partir dele temos 180
graus tanto para leste como para oeste. O seu
anti-meridiano (180 graus) serve como base
para o traçado da Linha Internacional da Mu-
dança de Data.
Também com relação às latitudes existem alguns paralelos que rece-
bem nomes especiais, sendo definidos a partir de situações estratégicas
como o movimento de rotação da Terra (define a posição do eixo) e o
movimento de translação (que demarca o plano da eclíptica).
Equador é o paralelo cujo plano é perpendicular ao eixo da Terra e
está eqüidistante dos pólos geográficos, dividindo o globo terrestre em
dois hemisférios: norte e sul. Além do Equador, existem outros paralelos
que ocupam posições geograficamente estratégicas, recebendo também
nomes especiais. São eles: Trópico de Câncer, Trópico de Capricórnio,
Círculo Polar Ártico e Círculo Polar Antártico.
O critério para determinação da posição desses paralelos está
relacionado com o movimento de ro-
tação da Terra, com a inclinação do
eixo do planeta e ainda com o movi-
mento de translação, o qual determina
o plano de eclíptica. O movimento de
rotação determina o surgimento do
eixo, cujas extremidades são os pó-
los geográficos. Por sua vez, a incli-
nação do eixo em relação ao plano da
eclíptica tem relação com um dos mo-

115
Cartografia Sistemática

vimentos da Terra que faz variar esta inclinação em 40 mil anos, deter-
Latitude geográfica minando a posição dos paralelos especiais.
Pela figura ao lado podemos observar que o eixo da Terra
Consiste no arco con-
tado sobre o meridiano (diâmetro em torno do qual nosso planeta gira, cujas extremida-
do lugar e que vai do
des são os pólos norte e sul) é perpendicular ao plano do Equa-
Equador até o lugar
considerado. dor e que o eixo da eclíptica é igualmente perpendicular ao pla-
A latitude, quando
no da eclíptica. Os dois eixos formam um ângulo de 23 graus e
medida no sentido do
pólo Norte, é chamada 27 minutos entre si, o mesmo ocorrendo com os planos do Equa-
Latitude Norte ou Po-
dor e da eclíptica. O plano da eclíptica é aquele que contém o
sitiva. Quando medida
no sentido Sul é cha- círculo da esfera celeste delimitado pela eclíptica (círculo máxi-
mada Latitude Sul ou
mo da esfera celeste que corresponde à órbita da Terra em volta
Negativa. Sua varia-
ção é de 0º a 90º N ou do Sol), sendo que o ponto em que ele toca a superfície terrestre
0º a + 90º; 0º a 90º S ou
determina a posição dos trópicos de Câncer e de Capricórnio.
0º a- 90º
O ponto em que o eixo da eclíptica toca a superfície terrestre
determina a posição dos círculos polares: Ártico e Antártico.

DETERMINAÇÃO DA LATITUDE

O Equador é um círculo imaginário (EE‘) determinado, na su-


perfície terrestre, por um plano (R) perpendicular ao eixo de rota-
ção (a linha PNPS entre os pólos) e que passa pelo centro da Terra
(ponto “C”) (ver a figura ao lado). Um outro
plano qualquer paralelo ao do Equador de-
terminará uma outra linha (S-S) circular que
será chamada de paralelo de latitude. Os pa-
ralelos de latitude, ou simplesmente parale-
los, são todos os círculos determinados por
planos paralelos ao plano do Equador.
Entre o Equador e cada pólo temos 90
graus de latitude e podemos constatar isso
através da medição do ângulo E-C-P (Equador - Centro - Pólo) que
está na figura 3. A linha curva entre E e PN, seguindo a superfície da
Terra, é um arco de um meridiano. A latitude é contada de 0º a 90º a

116
Redes geográficas e coordenadas geográficas

partir do Equador em direção aos pólos, sendo positiva para o norte e


negativa para o sul. Normalmente, se indica a letra N (norte) ou S (sul) 7
em vez de dizer “positiva” ou “negativa”, respectivamente. Cada grau aula
aula
é subdividido em 60 minutos, e cada minuto em 60 segundos. Portan-
to, no exemplo da figura acima, o ponto “P” tem as seguintes coorde-
nadas: 50 graus de latitude norte e 110 graus de longitude leste.

CÁLCULO DA LATITUDE

Para calcular a latitude de um ponto compreendido entre


duas latitudes conhecidas, é evidente seguir as seguintes instru-
ções, tomando muito cuidado com as frações de graus, as quais
devem ser expressas em minutos.
1- Observar qual dos paralelos possui o menor valor e qual é a
direção de aumento (para baixo no hemisfério sul, ou para cima
no hemisfério norte); A direção do aumento é para cima, portanto,
a zona está no hemisfério norte;
2- Subtrair o menor valor ou maior, obtendo a diferença total
(DT) em graus (ou em minutos); 20°-10°=10°
3- Medir perpendicularmente a distância entre dois paralelos para
obter a medida total (MT); 4 cm
4- Medir perpendicularmente a distância entre o paralelo menor e
o ponto do qual se deseja calcular a latitude, isto dá a medida par-
cial (MP); Do paralelo menor para o ponto A, a distância é de 2,4 cm;
5- Armar uma regra de três para calcular a diferença parcial (MP);

MT DT MP X DT
----- = ----- ou ------------- = DP
MP DP MT

Ou seja, 10º - 4 X = 2,4 X 10 = 6°


X – 2,4 4

117
Cartografia Sistemática

6- Somar o resultado obtido (DT) com o valor do menor paralelo.


10° + 6° = 16° N (porque a latitude cresce para o norte).

DETERMINAÇÃO DA LONGITUDE
Longitude geográfica
É o arco contado so-
Perpendiculares ao plano do Equador existem os planos lon-
bre o Equador e que
vai de Greenwich até o gitudinais, os quais também passam pelos pólos e centro da Ter-
meridiano do referido
ra (veja a Figura 4). O primeiro plano, por convenção, é aquele
lugar.
A longitude pode ser que também passa pelo telescópio astronômico da cidade de
contada no sentido
Greenwich na Inglaterra. Todos os outros planos formam um
oeste, quando é cha-
mada Longitude Oes- ângulo com o plano de Greenwich, ao longo do eixo polar.
te de Greenwich (W
A linha curva onde um plano longitudinal toca a superfície da
Gr.) ou Negativa. Se
contada no sentido Terra forma um círculo composto de dois semicírculos denomina-
Este (leste), é chama-
dos “linhas de longitude” ou “meridianos”. Portanto, cada meridiano
da Longitude Este de
Greenwich (E Gr.) ou tem um “anti-meridiano”, que está composto na esfera, e com o
Positiva.
A Longitude varia de:
qual completa o chamado “círculo máximo” (a linha do Equador tam-
0º a 180º W Gr. ou 0º a - bém é um círculo máximo, porém as outras paralelas não são). O
180º; 0º a 180º E Gr. ou
0º a + 180º.
meridiano de Greenwich recebe, por convenção, o valor de zero grau
(0º), portanto, seu anti-meridiano é a longitude de 180º (sendo que
360º completa um círculo).

Figura 10 – Meridianos de longitude.

A longitude é contada de 0º a 180º a partir do meridiano de


origem, positivamente para o leste e negativamente para o oeste.
A longitude pode ser expressa em tempo, pois é determinada, em

118
Redes geográficas e coordenadas geográficas

Astronomia, pelo intervalo de tempo que medeia entre a passa-


gem de um astro qualquer pelo meridiano de origem e pelo 7
meridiano considerado, em conseqüência do movimento da Terra aula
aula
em torno do seu eixo.
A partir dessas explicações, torna-se mais fácil o entendimento
da definição da longitude: o arco do Equador compreendido entre o
meridiano de um lugar e o primeiro meridiano (Greenwich). Como Geóide
exemplo, ver a figura 4 e figura 2 e observar o ângulo formado por P.
Superfície equipoten-
Na realidade, a Terra não é uma esfera, e sim uma superfície de cial do campo gravi-
revolução, chamada geóide, achatada nos pólos e um pouco mais métrico da Terra que
coincide com o nível
dilatada no Equador. Para a cartografia de precisão são necessários médio do mar e que se
os trabalhos de geodésia, os quais desenvolvem cálculos de com- estende por todos os
continentes, sem in-
pensação para estas deformações. Algumas medidas importantes terrupção.
estão na tabela 1.
O comprimento de grau de latitude (medida norte-sul ou sul-
norte) é de 110.573 km no Equador; nos pólos esta medida aumen-
ta para 111.697 km. A diferença de 1.124 km em uma
distância de 10.000 km (Equador-Pólo) é importan-
te para a geodésia, porém pouco relevante para a
grande maioria dos usuários de cartas. Para es-
tes, o maior cuidado deverá ser nas me-
dições realizadas com réguas co-
muns, as quais apresentam mai-
or probabilidade de erro.
Portanto, nesta publicação
a superfície da Terra será con-
siderada esférica, sobre a qual
um grau de latitude equivalerá
111 km em qualquer parte do globo,
indistintamente. No Equador um grau de
longitude também equivale a 111 km. Porém, de-
vido à convergência nos pólos, o comprimento de um
grau de longitude fora da linha do Equador será pro-
porcional ao cosseno da latitude do lugar (tabela 2).

119
Cartografia Sistemática

Observa-se que um grau de longitude não é constante e que a


variação é maior quanto mais próximo dos pólos. Este fato difi-
culta em muito o uso das coordenadas geográficas para medidas co-
muns.
Os próximos parágrafos e a figura 8 mostram, de forma
simplificada, como calcular as coordenadas geográficas de qual-
quer ponto de uma carta topográfica.

Comprimento de um grau de longitude = cosseno da latitude do


lugar X 111 km
Tabela 1 - Dimensões básicas da Terra

CÁLCULO DA LONGITUDE

A longitude utiliza a mesma metodologia aplicada na latitude,


só que agora na direção horizontal. A única diferença é que a medi-
da total (MT) - entre os dois meridianos - deve ser calculada à
altura do ponto do qual desejamos saber a longitude (C). Isto é
porque a convergência dos meridianos resulta em medidas totais
(MT) diferentes quando feitas na latitude superior, inferior ou
na latitude do ponto (C). Ver a próxima figura.

120
Redes geográficas e coordenadas geográficas

7
aula
aula
30’ - 4 X = 2,3 X 30 = 17’
X – 2,3 4

A longitude do ponto C =50°17' E (porque a longitude,


neste caso, cresce para leste).

ATIVIDADES

1. Determinação de coordenadas geográficas sobre cartas.

70º 60º Cálculos:


C
z 10º

zB

zA

Dz Ez

zF 20º

2. Lançamento (plotagem) de coordenadas geográficas sobre cartas:


Lançar o ponto G de latitude 12º30’S e longitude 62º30’W.

121
Cartografia Sistemática

3. Sabendo que na carta abaixo as latitudes e longitudes da qua-


drícula do documento estão expressas na borda, calcule as co-
ordenadas geográficas das três povoações representadas
(Jatiuna, Itajuru e Aiquara).

122
Redes geográficas e coordenadas geográficas

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 7


Observe que você pode traçar linhas de referência e medir
aula
aula
distância em centímetros e depois fazer uma regra de três para
comparar quantos centímetros equivalem a quantos graus, ou
no caso, minutos de grau. A título de recordação das séries iniciais,
lembre-se que 1º (um grau) equivale a 60’ (sessenta minutos) e
que 1’ (um minuto) equivale a 60’’ (sessenta segundos de grau).

A localização através das coordenadas geográficas tem


seu uso intensificado principalmente com objetivos es-
tratégicos, de controle espacial e atém mesmo nos momentos de guer-
ra. Algumas mostras do conhecimento das coordenadas foram realiza-
das durante as últimas guerras ou ataque norte-
americanos no Iraque e no Afeganistão. CONCLUSÃO
Durante a Guerra do Golfo em 1991, o que
chamou atenção foi a precisão com que os pilotos dos caças a jato
destruíam pontes, pistas de pousos, centrais de energia elétrica, cen-
tros de telecomunicações, enfraquecendo o Iraque. Mais recentemen-
te, na guerra contra o Afeganistão, os
americanos atingiam os pontos estra-
tégicos com precisão.
Agora imagine você e mais um
grupo de pessoas, em um navio,
navegando pelo Oceano Atlântico
em direção a África. De repente
ocorre um defeito nos motores do
navio. O comandante tem que pe-
dir socorro. Como ele fará para
que o navio seja localizado na
(Fonte: http://br.geocities.com).
imensidão do Oceano Atlântico? O

123
Cartografia Sistemática

que estes fatos têm em comum, é que todos eles requerem conheci-
mentos sobre Coordenadas Geográficas (latitude e longitude).
Atualmente, um aparelho do tamanho de uma calculadora de bol-
so se transformou no grande recurso para se localizar um ponto na
superfície da Terra. É o GPS, sigla em inglês para sistema de
posicionamento global, que já está sendo utilizado em carros de
passeio. No mostrador do aparelho aparecem as coordenadas e a
altitude do local, obtidas através de sinais enviados por um conjun-
to de satélites (24 satélites). É esse sistema acoplado aos aviões de
combate que permite atingir o alvo desejado com grande precisão, como
por exemplo, na guerra dos EUA, contra o Afeganistão. No Brasil este
sistema é utilizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística), para orientação aérea e marítima.

RESUMO

Nos mapas, paralelos e meridianos apresentam-se como li-


nhas retas ou curvas, dependendo do sistema de projeção
adotado (assunto que veremos mais tarde). De modo geral,
os paralelos mantêm uma disposição horizontal, enquanto que
os meridianos dispõem-se no sentido vertical. Dessa forma, eles
formam a grade ou rede
geográfica pela qual po-
demos obter a localização
absoluta de um determi-
nado objeto na superfície
terrestre. As coordenadas
geográficas ou planas,
azimutais e cartesianas
são os pontos de amarra-
ção de um documento
Fundação do Observatório Astronômico de Greenwich, meridiano padrão de
cartográfico.
longitude (1672-1678) (Fonte: http://www.observatorio.ufmg.br).

124
Redes geográficas e coordenadas geográficas

PRÓXIMA AULA
7
Mais adiante você verá as representações da realidade nos aula
aula
mapas e cartas.

REFERÊNCIA

ANDERSON, Paul S. et all. Princípios de Cartografia Básica. v.


1. Illinois State University.
ZIMBACK, Célia R.L. Apostila de Cartografia. Botucatu: FCA,
Unesp, 2003.

125
A QUESTÃO DA ESCALA NO 8
ENSINO DE GEOGRAFIA aula
META
Apresentar questões que
envolvem as diferentes
grandezas de representação da
realidade por meio de mapas e
cartas.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno deverá:
estabelecer a diferença entre
escala de análise e escalas de
medidas;
determinar distâncias lineares a
partir de lugares específicos nos
mapas e suas representações
no terreno; e aplicar processos
de redução e ampliação de
escala das representações.

PRÉ-REQUISITOS
Conhecimento sobre as redes e
coordenadas geográficas
expostas na aula 7.
Cartografia Sistemática

C
aro aluno, na aula passada você conheceu a rede geográfi-
ca, além dos referenciais de localização utilizados no ensi-
no de Geografia. Agora você já sabe como encontrar elementos
em cartas topográficas através da rede de coordenadas geográficas.
Percebe-se, então, que o mapa representa, de
forma reduzida, o espaço geográfico. E para
INTRODUÇÃO
representar corretamente o que existe na rea-
lidade, torna-se necessária a escolha da pro-
porção correta, escala de redução, para podermos avaliar distâncias
e obter medidas entre os elementos da paisagem.

(Fonte: http://www.hts-net.com.br).

128
A questão da escala no ensino de Geografia

O conceito de escala em termos cartográficos é essencial


para qualquer tipo de representação espacial, uma vez 8
que qualquer visualização gráfica é elaborada segundo uma redu- aula
ção do mundo real. Como recurso fundamental da Cartografia, a esca-
la também reflete possibilidades de explicitação,
além de uma perspectiva puramente matemáti-
ESCALA
ca. Na Geografia, o raciocínio analógico entre
escala cartográfica e escala geográfica explica di-
ferentes modos de percepção e concepção do real.
Geralmente usamos estes dois tipos de escalas nos estudos ge-
ográficos. Um primeiro estudo cartográfico no sentido da medida
de proporcionalidade da representação gráfica dos elementos/ob-
jetos no território, podendo ser identificado como escala de medida
ou escala de mensuração. E um outro tipo, que se refere ao nível de
Pesquisador
apreensão do estudo geográfico, também chamado de escala geo-
gráfica de análise, que pode ser local, regional, nacional ou global. A esse respeito, ver o
capítulo sobre o pro-
A escala de análise enfrenta o problema básico do tamanho, que blema da escala, de Iná
varia do local ao planetário, assumindo nos estudos geográficos as ex- Elias de Castro no livro
Geografia: Conceitos e
pressões de realidade próxima ou ampla/distante e, até mesmo, o geral Temas, Rio de Janeiro:
ou global para designações de outras ordens de grandezas que fogem ao Bertrand Brasil, 1995.
controle da observação e classificação dos detalhes pelo pesquisador.
Já a escala de mensuração ou de medidas refere-se às formas
de medições presentes e possíveis nos documentos cartográficos,
que possibilitam auxiliar nas análises geográficas. As escalas de
medidas são:
Escala nominal ou escala classificadora – é expressa por
números isolados, símbolos e nomes que marcam a presença de
algum elemento importante. Geralmente representa a qualidade do
elemento, que pode ser reconhecido na legenda do documento ou
simplesmente ser de conhecimento geral baseado em convenção
internacional, como por exemplo, a cor azul sempre representará
água e, logicamente, as linhas azuis representam rios num docu-
mento cartográfico qualquer.

129
Cartografia Sistemática

Escala ordinal ou escala por postos - também presente na


legenda dos documentos cartográficos, dá idéia de grandezas clas-
sificadas, como rodovias, cidades, cursos d’água etc.

Escala intervalar - utilizada para medir distâncias entre dois


pontos, onde são utilizadas grandezas de qualquer outra escala, em
que há necessidade de conversão de medidas de acordo com a
proporcionalidade e o sistema de medida.
Ex.:
Km hm dam m dm cm mm
1 10 100 1.000 10.000 100.000 1.000.000

Escala de razão ou proporcional - lida com a junção de duas ou


mais infor mações inter valares transpostas do real. É a
representatividade do real (D) convertida para o papel (desenho),
que é dada numa relação fracionada.
Ex.: 1: 50.000 significam: 1 cm do
mapa (desenho) representa 50.000
centímetros na realidade, ou seja,
500 metros ou mesmo 0,5 km.
A escala é, portanto, a razão
(quociente) constante entre a
medida do segmento que, na car-
ta, une dois pontos quaisquer, e
a distância real (no terreno) en-
tre os mesmos pontos, expressas
na mesma unidade de medida.
Assim, uma escala 1/25.000
(também representada por 1:25.000) significa que 1 milímetro, 1 cen-
tímetro, 1 decímetro, medido na carta, corresponde, respectivamen-
te, a 25.000 milímetros (ou seja, 25 metros), 25.000 centímetros (=
250 metros), 25.000 decímetros (= 2.500 metros), no terreno.
Uma regra de três simples permite, facilmente, calcular, numa
escala determinada, o valor de qualquer distância, considerada na
carta, e a correspondente medida no terreno e vice-versa:

130
A questão da escala no ensino de Geografia

Por exemplo: Numa carta à escala 1:50.000 onde dois pontos dis-
tam 32 mm, medidos com uma régua, teríamos: 8
Se 1 mm (na carta) corresponde a 50.000 mm (no terreno) aula
32 mm (na carta) corresponderão a x mm (no terreno)
x = 32x50.000 mm = 1.600.000 mm = 1.600 metros
Portanto, a distância real entre esses pontos é de 1.600 metros.

Quadro representativo das escalas na Geografia

131
Cartografia Sistemática

Simbolos cartográficos utilizados de acordo


com as escalas de mensuração

(Fonte: Gerardi e Silva, 1990).

OUTRAS DEFINIÇÕES DE ESCALA


DE MEDIDAS

1. Relação entre as dimensões dos elementos representados


num mapa e as correspondentes dimensões na natureza.
(Dicionário Cartográfico - IBGE)
2. Razão ou relação de semelhança entre o desenho e o objeto
por ele representado. (Manual de Cartografia - Ministério do
Exército)
3. Relação constante que existe entre as distâncias lineares
medidas sobre o mapa e as distâncias lineares
correspondentes, medidas sobre o terreno. (A Cartografia -
Fernand Joly)
4. Relação das dimensões ou distâncias marcadas sobre um
plano com as dimensões ou distâncias reais. (Dicionário
Básico da Língua Portuguesa - Aurélio Buarque de Holanda)

132
A questão da escala no ensino de Geografia

Numa carta a escala pode apresentar-se de forma numérica


(também denominada métrica), gráfica ou em “centímetro 8
por quilômetro”. Nesta aula, nos debruçaremos sobre as aula
escalas numéricas e expressas, obtendo cálculos lineares e
suas transformações. Nas próximas aulas trabalharemos com
escalas gráficas e medição de área.

Escala Numérica é a escala que representa, sob forma de fração,


a relação entre um comprimento de um segmento na carta (nume-
rador) e seu correspondente no terreno (denominador). Para maior
comodidade, utilizamos sempre escalas cujo numerador é a unida-
de, ou seja, o nº 1. Assim, uma escala de 1:50.000 ou 1/50.000 ou
1 indica que 1 unidade da planta, carta ou mapa representa
50.000 50.000 unidades do terreno. Se chamarmos:

E = escala numérica
e = denominador da escala numérica
d = distância gráfica ou comprimento gráfico ou distância na carta
D = distância no terreno ou distância real ou distância natural

Então: E = _1_ = _d_


e D

UNIDADES MÉTRICAS (EM CARTOGRAFIA)

d - A distância gráfica é normalmente medida em cm ou mm,


devido às dimensões das cartas, sensivelmente reduzidas em rela-
ção às dimensões reais.
D - A distância no terreno é normalmente medida ou apresen-
tada em km ou m, devido às dimensões, sensivelmente ampliadas
em relação às medidas gráficas.
E - A escala, por ser uma fração ou relação entre dois valores com
o mesmo tipo de unidade de medida (comprimento), após a simplifica-
ção, torna-se adimensional, ou seja, não tem unidade métrica definida.

133
Cartografia Sistemática

e - O denominador da escala, por consequência, é também


adimensional.
1 - O numerador da escala, por consequência, é também
adimensional.

Deve-se lembrar que para que uma fração tenha seu valor
corretamente calculado, tanto o numerador quanto o deno-
minador devem ter a mesma unidade métrica. É mais
prático, no trabalho de cartas, trabalhar com os valores na
menor unidade, deixando as transformações para o final.

EXEMPLOS PRÁTICOS

a) A distância entre dois povoados medida sobre um mapa é de 10


cm. A distância real correspondente é de 20 km. Qual a escala do
mapa?

E = d / D = 10 cm / 20 km = 10 cm / 2.000.000 cm = 1 / 200.000 Þ E = 1/200.000

Então: E = _1_ = _d_ = 10 cm_ = 10 cm_____ = 1___ => E = 1/200.000


e D 20 km 2.000.000 cm 200.000

b) Numa carta na escala 1:100.000, com quantos centímetros será


mostrada a distância de 10 km, correspondente a dois entronca-
mentos de rodovias?
E = d / D => d = E . D = D / e = 10 km / 100.000 =
1.000.000 cm / 100.000 = 10 cm => d = 10 cm

134
A questão da escala no ensino de Geografia

ATIVIDADES
8
1. Sendo d = distância gráfica e D = distância no terreno e E = aula
escala métrica, calcular pelas fórmulas ou por “regra de três” as
incógnitas solicitadas:

A) Calcular “E” (Em caso de resultado decimal, apresentar o valor


até a “unidade”).

a) d = 10 cm / D = 50 km b) d = 65,5 cm / D = 1048 km

c) d = 180 mm / D = 900 km d) d = 10 cm / D = 125 km

e) d = 30 cm / D = 18 km f) d = 80 mm / D = 118 km

B) Calcular “d” (Apresentar o valor em cm; em caso de resultado


decimal, apresentar o valor até o décimo, ou seja, primeira casa
decimal).

a) E = 1:25.000 / D = 4,5 km b) E = 1: 25.000 / D = 18 km

c) E = 1:10.000 / D = 1.400 m d) E = 1:50.000 / D = 8,5 km

e) E = 1:500.000 / D = 54 km f) E = 1:150.000 / D = 11 km

C) Calcular “D” (Apresentar o valor em km; em caso de resultado


decimal, apresentar o valor no máximo até o milésimo, ou seja, ter-
ceira casa decimal).

a) E = 1:50.000 / d = 15 cm b) E= 1:100.000 / d = 2,2 cm

c) E = 1:250.000 / d = 4,4 cm d) E = 1:15.000 / d = 21 cm

e) E = 1:25.000 / d = 17,5 cm f) E = 1:10.000 / d = 16,7 cm

135
Cartografia Sistemática

2. Sobre um mapa foi medida a distância de 2 cm entre dois pontos.


A escala deste mapa era 1:50.000. Qual a distância real entre os
pontos?
3. Um trecho de 100 m de uma estrada é mostrado com 30 mm
sobre um mapa. Em que escala se apresenta este mapa?
4. Um mapa está na escala 1:25.000. Com quantos milímetros será
mostrada uma dimensão real de 20 km?

5. Qual a escala dos mapas onde:


a) 30 cm = 20 km_________ b) 2,0 cm = 30 km________

c) 50 cm = 100 km________ d) 50 cm = 1.000 km______

e) 50 mm = 10 km________ f) 20,0 cm = 10 km________

g) 5 cm = 25.000 m_______ g) 1,5 cm = 10.000 m______

6. Qual a distância gráfica entre dois pontos, sabendo-se que a es-


cala do mapa é 1:200.000 e a distância real é de:
a) 10 km ________ b) 50 km ________

c) 240 km ________ d) 900 km ________

7. Uma certa montanha mede 200 m de altitude. Esta dimensão foi


representada numa maquete, com 4 cm. Em que escala vertical
apresenta-se esta maquete?
8. Um mapa está na escala 1:50.000. Com quantos centímetros será
mostrada uma dimensão no terreno de 10 km?
9. Um trecho de 10 km de uma ferrovia é mostrado com 10 cm
sobre uma carta. Qual a escala da carta?
10. Sobre um mapa foi medida a distância de 4 cm entre duas
localidades. A escala deste mapa era 1:100.000. Qual a distân-
cia real entre as localidades?

136
A questão da escala no ensino de Geografia

11. Em um mapa de escala 1:30.000, com quantos centímetros


será mostrada a distância de 40 km entre duas cidades?
8
12. Um distrito industrial é representado na escala 1:50.000 aula
por um quadrilátero de 1 cm x 2 cm. Quais as dimensões reais
deste distrito?
13. Numa carta na escala 1:100.000, uma área de irrigação em
forma de quadrilátero com as dimensões reais de 5 km x 7,5
km será representada em quais dimensões?
14. Um trecho de 800 m de uma estrada é mostrado com 25 mm
sobre um mapa. Em que escala se apresenta este mapa?
15. Sobre um mapa, foi medida a distância de 2 cm entre duas
capitais de países. A escala deste mapa era 1:20.000.000. Qual
a distância real entre estas duas cidades?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Normalmente em sala de aula nós usamos a regra de três


para resolvermos todos os problemas em cartografia. E
também se invertermos a fórmula E=D , teremos mais
1 d
facilidade para aplicar qualquer operação com escalas.

ESCALA “CENTÍMETRO POR QUILÔMETRO”

Indicam o número de unidades do terreno (reais) que


correspondem a uma unidade gráfica, normalmente medidas sobre
mapas em escalas pequenas. Como normalmente as medidas gráfi-
cas sobre estes mapas são apresentadas em “cm” e as reais em “km”,
este tipo de representação de escala é conhecido como “cm por
km” no Brasil, porém depende do padrão oficial das unidades mé-
tricas de cada país.

Escala: 1 cm por 5 km ou 1 cm = 5 km

137
Cartografia Sistemática

Deve-se estar atento para mapas ou cartas antigas, principal-


mente oriundas de países que adotavam o sistema inglês. Nos Esta-
dos Unidos e Inglaterra, por exemplo, representa-se “polegada por
milha”, assim: 1 polegada por 4 milhas. Para se comparar os valo-
res, é necessário pesquisar numa tabela de conversão. Neste caso: 1
cm = 2,54 polegadas e 1 milha (terrestre) = 1,609 km.
Por exemplo, a expressão de
1 m = 1 milha, fornece um fator de 1 / 63.360.
1 / 2 = 1 milha = 1 / 253.440
4’’ = 1 milha = 1 / 15.840
Recordando: 1’’ = 2,54 cm
1 mi n = 1.852 m
Polegadas
1 ft = 30,48 cm
Medida inglesa de
1 yd = 1,093613 m
comprimento que
equivale a 25,4 mm ou
2,54cm do sistema
A tabela abaixo mostra as escalas mais comuns e equivalências:
métrico decimal.
Escala 1 cm 1 km 1 in (pol) 1 mi
1:2.000 20 m 50 cm
1:5.000 50 m 20 cm
1:10.000 0,1 km (100 m) 10 cm
1:20.000 0,2 km 5 cm
1:25.000 0,25 km 4 cm
1:31.680 0,317 km 3,16 cm 0,5 m 2
1:50.000 0,5 km 2,0 cm
1:63.360 0,634 km 1,58 cm 1,0 1
1:100.000 1.0 km 1 cm
1:250.000 2,5 km 4 mm
1:500.000 5,0 km 2 mm
1:1.000.000 10 km 1 mm

Pode-se verificar que quanto maior o número da escala, menor


será a escala, e inversamente; quanto menor o número da escala,
maior a escala. Uma escala maior acarreta, portanto, um maior grau
de detalhamento dos objetos cartografados, sendo aplicada em áre-
as menores e vice-versa.

138
A questão da escala no ensino de Geografia

ATIVIDADES
8
1. Determinar a escala numérica a partir das escalas “centímetro aula
por quilômetro”:

a) 1 cm = 10 km b) 1 cm por 600 m
c) 1 cm por 80 km d) 1 cm = 2500 m

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Aqui você irá simplesmente recordar o sistema métrico decimal


e equiparar os valores numa mesma unidade. Desta forma,
dizemos que está feita a leitura da escala. E uma boa leitura é
responsável pela medida exata e uma análise mais detalhada e
mais rica em termos geográficos.

TRANSFORMAÇÃO DE ESCALA DE MAPA

Frequentemente é necessário alterar o tamanho de um mapa,


isto é, reduzi-lo ou ampliá-lo. Uma ampliação acarretará também uma
ampliação dos erros existentes. O problema é, então, passar de um
fator de escala para outro. Uma vez determinado o novo fator, basta
efetuar a transformação de todas as medidas para a nova unidade.

Exemplo:
E1 = 1 / 25.000 E2 = 1 / 125.000

E1 1 / 25.000 125.000
FR = = = =5
E 2 1 / 125.000 25.000

FR = fator de redução igual a 5 vezes

139
Cartografia Sistemática

As transformações podem ser efetuadas também por processos


mecânicos ou instrumentos óptico-mecânicos, por exemplo, com a utili-
zação de pantógrafos, fotocópia de redução, projeção óptica e fotogra-
fia. Outro processo gráfico de uso bastante comum é o gradeamento do
desenho original e o desenho de uma grade com o fator de escala defini-
do, passando-se o desenho de um para outro.

Pantógrafos

Instrumento destina-
do a copiar mecanica-
mente desenhos,
quer em escala redu-
zida, quer em escala
ampliada.

Na prática, a ampliação e redução de escalas numéricas


podem ser efetuadas da seguinte forma:

Sendo k = fator de ampliação ou redução:

1. Para ampliar, multiplicamos a escala (E) por k, ou seja:

Escala ampliada = E k = (1/e) k = k / e

Obs: a) A escala ampliada será maior que a original.


b) O novo denominador será menor.
Ex: Ampliar 2 vezes a escala 1/50.000:

1 . 2= 2 = 1___
50.000 50.000 25.000

Portanto, a escala ampliada é 1:25.000, sendo maior que a ori-


ginal, porém com o denominador menor.

140
A questão da escala no ensino de Geografia

2. Para reduzir, dividimos a escala por k, ou seja:


8
Escala reduzida = E = 1/ (k . e) aula
k
Obs: a) A escala reduzida será menor que a original.
b) O novo denominador será maior.

Ex: Reduzir 2 vezes a escala 1/50.000:

(1 / 50.000) / 2 = 1 / (2 x 50000) = 1/ 100.000

Portanto, a escala reduzida é 1:100.000, sendo menor que a


original, porém com o denominador maior.

REGRA PRÁTICA para encontrar o “DENOMINADOR”


da escala ampliada ou reduzida:

a) AMPLIAÇÃO: divide-se o denominador da escala original pelo


fator de ampliação;
b) REDUÇÃO: multiplica-se o denominador da escala original pelo
fator de redução.

ATIVIDADES

1. Ampliar as escalas a seguir, segundo os respectivos fatores de


ampliação entre parênteses:

a) 1:1.000 (5) b) 1:5.000 (2) c) 1:100.000 (4)


d) 1:500.000 (2) e) 1:250.000 (2,5) f) 1:1.000.000 (10)

2. Reduzir as escalas a seguir, segundo os respectivos fatores de


redução:

141
Cartografia Sistemática

a) 1:200 (5) b) 1:2.500 (2) c) 1:25.000 (4)


d) 1:250.000 (2) e) 1:100.000 (2,5) f) 1:100.000 (10)

3. Uma ferrovia corta um município numa extensão de 25 km.


Numa carta 1:25.000, este trecho será representado em que di-
mensão? Se esta carta for reduzida 4 vezes, qual a nova dimen-
são gráfica?
4. A Prefeitura Municipal de Lagarto solicitou a você um mapa do
município na escala 1:20.000. Pesquisando o material cartográfico
disponível, você constatou que somente possui cartas 1:5.000 abran-
gendo a região solicitada. Como fará para apresentar o trabalho na
escala solicitada?
5. Na representação de uma usina hidrelétrica na escala 1:2.000,
o comprimento da barragem possui 15 cm. Qual o comprimento
desta barragem no terreno? Se esta mesma barragem fosse dese-
nhada num mapa na escala 1:20.000, qual seria a nova medida
gráfica? Qual o fator de redução ou ampliação deste novo mapa
em relação ao primeiro?
6. Possuímos dois mapas. Num deles (mapa A) temos que d =
40 cm e D = 2,5 km; no outro (mapa B), temos que d = 1 cm e
D = 250 m.
a) As escalas são as mesmas?
b) Qual o fator de redução/ampliação do mapa A em relação ao B
e vice-versa?
c) Se as escalas não forem iguais, que valor deveria ter D no mapa A
para que houvesse igualdade de escala em relação ao B?
7 ) Dado um mapa na escala 1:100.000, desenhado numa quadrícu-
la de 40 x 35 cm, resolva:
a) Quais as dimensões reais abrangidas?
b) Reduzindo o mapa 5 vezes, quais serão as novas dimensões grá-
ficas? E as reais?
c) Ampliando o mapa 2 vezes, quais serão as novas dimensões grá-
ficas? E as reais?

142
A questão da escala no ensino de Geografia

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 8


Nesta lista de exercícios você deve perceber o que significa aula
reduzir ou ampliar a escala e para isso torna-se necesário
comparar um escala de referência e o que se quer fazer.
Uma escala grande é aquela em que o denominador é
menor (mapas cadastrais, plantas e algumas cartas
topográficas, comumente produzidas em escalas que
variam de 1:25.000 a 1:1.000. Deve-se levar em
consideração que a cobertura espacial é pequena
representando o maior número de detalhes. Já uma escala
pequena é aquela em que o denominador é grande, como
os mapas-mundi e mapas escolares, geralmente
produzidos em escalas que variam de 1:1.000.000 a
1:30.000.000. Nesses documentos, a localização das
fronteiras e acidentes geográficos não é precisa, dando a
idéia genérica de posição e representando uma cobertura
espacial muitas vezes continental ou planisférica.

143
Cartografia Sistemática

N a cartografia, deve-se estabelecer a escala de um mapa


antes de sua elaboração, levando-se em conta os objeti-
vos de sua utilização. Quanto maior for o espaço representado,
mais genéricas serão as informações. Em
CONCLUSÃO contrapartida, quanto mais reduzido o es-
paço representado, mais particularizadas se-
rão as informações.
Mapas em diferentes escalas servem para diferentes tipos de
necessidades:
mapas em pequena escala (como 1:25.000.000) proporcionam uma
visão geral de um grande espaço, como um país ou um continente;
mapas em grande escala (como 1:10.000) fornecem detalhes de um
espaço geográfico de dimensões regionais ou locais.
Por exemplo, em um mapa de uma parte do Brasil na escala
1:1.000.000, qualquer cidade será representada apenas por um
ponto, ao passo que numa carta de 1:50.000 aparecerão detalhes
do sítio urbano, como ruas e avenidas, além dos principais acessos
e construções mais importantes.

RESUMO

Quando se fala de escala em geografia, deve-se fazer uma dis-


tinção entre escala de medida cartográfica e escala de análise
geográfica, pois a primeira, resultado matemático da propor-
ção do real para o desenho, nem sempre resolve os problemas analíti-
cos de classificação e generalização dos estudos geográficos.
A escala em que um mapa é desenhado é o fator mais importante de
influência na quantidade e na precisão dos detalhes mostrados. De
maneira suscinta, define-se escala (E) como sendo a proporção entre
uma medição feita no mapa (d) e a sua dimensão real correspondente
no terreno (D).

144
A questão da escala no ensino de Geografia

Por convenção, a medição no mapa é colocada antes da dimensão


real (exemplo: 1cm igual a 1km ou quando a escala é dada numa 8
fração representativa 1/1.000.000). aula
Todas as cartas são construídas fazendo uso de uma escala. Uma
excessão é dos mapas esboços ou croquis, onde a maior preocupação
é fornecer a noção do comportamento espacial dos fatos (sua dimen-
são relativa), e não o seu tamanho (dimensão absoluta).
Não existem mapas em escala real, ou seja, em que cada medida
feita no mapa corresponda à mesma medida no terreno.
Se um desenho fosse tão grande a ponto de sua escala ser de 1 por
1, seria mais adequado chamá-lo de “planta”, ou apenas um dese-
nho. Por exemplo, desenhistas de peças mecânicas muitas vezes
fazem desenhos da dimensão normal do objeto ou maior (amplia-
do). Contudo, esses desenhos não são mapas.
Nos mapas e cartas, a escala é geralmente apresentada de acordo
com uma das três formas: 1. Escala Expressa ou Explícita; 2. Escala
Númerica ou Fração Representativa; 3. Escala Gráfica.

Croqui de Brasília, desenhado por Oscar Niemeyer. (Fonte: http://


www.plenarinho.gov.br).

145
Cartografia Sistemática

PRÓXIMA AULA

Mais adiante você conhecerá as formas de medição de


distância por meio de escalas gráficas.

REFERÊNCIAS

ALEGRE, Marcos. Localização do ponto à superfície da Terra.


Boletim de Geografia, Maringá, v. 3, n. 3, p. 31-43, jan.1985.
LE SANN, Janine G. A noção de escala em Cartografia. Revista
Geografia e Ensino, Belo Horizonte, v. 2, n. 5, p. 56-66, jun. 1984.
OLIVEIRA, Cêurio. Dicionário Cartográfico. Rio de Janeiro:
IBGE, 1993.

146
ESCALA GRÁFICA 9
aula
MET
METAA
Apresentar as formas de
medição da proporcionalidade
entre o mundo real e os mapas
através das escalas gráficas.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno
deverá:
estabelecer formas de medição
de distâncias utilizando as
escalas gráficas;
construir escalas gráficas a
partir de referências de escalas
numéricas;e identificar a
representação da escala
gráfica para diferentes tipos e
tamanhos de documentos
cartográficos.

PRÉ-REQUISITOS
A importância da escala
abordada na aula 8.
(Fonte: http://www.geografia.ufrj.br).
Cartografia Sistemática

N a aula anterior você ficou sabendo que o mapa repre-


senta um espaço geográfico qualquer e que para
representá-lo corretamente, este mesmo mapa deve conter al-
gumas escalas de medição. Assim, é possível avaliar distâncias
em um determinado terreno. Nesta aula
você aprenderá que ao utilizar as escalas
INTRODUÇÃO
gráficas, torna-se possível conhecer formas
de medição de distâncias. A escala gráfica é
a representação gráfica de várias distâncias do terreno sobre
uma linha reta graduada subdividida em partes iguais, a propor-
ção entre as distâncias reais e as representadas no mapa.

Escala gráfica no AutoCad.

148
Escala gráfica

A escala gráfica nos permite realizar as transformações de


dimensões gráficas em dimensões reais sem efetuarmos 9
c á l c u - los. A escala gráfica é expressa graficamente por meio aula
de um segmento de reta. Exemplos:

ESCALA GRÁFICA

1 0 1 2 3 4 5km
Escala

0 500 km
Escala

Além de sua utilidade normal, esta escala tem a vantagem de


não se alterar quando o mapa for ampliado ou reduzido por
métodos fotográficos, digitais ou outros, pois sempre irá apre-
sentar a proporção verdadeira, o que não ocorre com a escala
numérica que se altera nestes casos.
As escalas podem ser simples ou duplas, isto é, calibradas
em mais de um sistema de medida linear, conforme podemos
observar nos exemplos que se seguem.

a)

b)

c)

149
Cartografia Sistemática

Mais adiante veremos que em nenhum mapa é verdadeira a


escala em todas as direções. Nos mapas de escala grande (mapas
grandes de pequenas áreas) a deformação da escala é pouco apre-
ciável, mas nos mapas de escala reduzida, como são os de nações
e continentes, a escala pode fornecer resultados completamente
falsos, especialmente nos cantos dos mapas.

As escalas devem representar sempre um número inteiro de qui-


lômetros ou metros. A subdivisão de uma escala pode ser conseguida
por um processo gráfico, segundo os procedimentos abaixo.

PROCEDIMENTO PRÁTICO

1. Pela escala numérica, determinar o


valor correspondente à medida gráfica de
1 cm. Caso o resultado forneça um valor
inteiro, proceder ao item 2; caso não, de-
terminar o valor correspondente a 1 uni-
dade real e encontrar a respectiva medi-
da gráfica, de forma que a escala gráfica
não contenha valores fracionários;
2. Determinar o tamanho da escala grá-
fica (fora o talão);
3. Dividir a escala em partes iguais (mé-
todo das paralelas eqüidistantes ou pela régua);
4. Realizar o trabalho de “arte” sobre a escala gráfica, se desejado.
A escala gráfica é sempre apresentada em preto e branco, jamais
colorida. Este tipo de escala permite que as medidas lineares obtidas
na carta sejam comparadas diretamente na escala, já se estabelecendo
o valor no terreno, utilizando-se das seguintes operações:
1º - Tomamos na carta a distância que pretendemos medir.
2º - Transportamos essa distância para a escala gráfica.
3º - Lemos o resultado obtido.

150
Escala gráfica

9
aula

O TALÃO DA ESCALA

Normalmente a escala gráfica apresenta-se dividida em duas


partes, a partir da origem: a escala propriamente dita e o talão
(parte menor), sendo que o talão é subdividido em intervalos
menores da maior graduação da escala, para permitir uma medi-
ção mais precisa.
Em alguns mapas, uma das porções da escala (talão) está dividi-
da em décimos para poder medir as distâncias com mais precisão.
Nos mapas de escala reduzida é inadequado o uso deste segmento
subdividido, pois daria a impressão de que se poderia medir com
toda a exatidão qualquer distância que fosse tomada sobre o mapa.
A escala propriamente dita inicia do zero para a direita e
o talão do zero para a esquerda. O tamanho do talão
corresponde a uma unidade da escala. A escala gráfica, por
razões de espaço e funcionalidade, não deve ter menos do
que 6 divisões e no máximo 12 divisões (incluindo o talão),
dependendo da escala que está representando.

151
Cartografia Sistemática

NA CONSTRUÇÃO DO TALÃO DA ESCALA


GRÁFICA DEVEM-SE OBSERVAR OS
SEGUINTES PONTOS:

a) o comprimento total da reta deverá ser proporcional ao conjunto


do mapa;
b) o talão é uma divisão principal comumente deslocada para a esquerda,
mas que pode, também, ser desenhado no corpo da escala;
d) o número de partes a figurar no talão não é o mesmo que compõe
o corpo da escala, utilizam-se múltiplos do valor de uma divisão
principal. Ex: em uma escala com divisões representando 20 km, o
talão será uma dessas divisões subdivididas em 4 ou 5 partes, re-
presentando 5 ou 4 km, respectivamente; caso uma divisão princi-
pal represente 30 km, no talão poderão existir divisões represen-
tando 10, 6 ou 5 km;
e) por convenção, não se expressa números decimais na escala grá-
fica. Além de só conterem números inteiros.
f) é aconselhável definir primeiramente o segmento de reta que re-
presentará a escala, para depois subdividi-lo e, se necessário, recor-
rer ao método gráfico.

EXEMPLOS PRÁTICOS

a) Seja a escala 1:125.000 onde 1 cm representa 1,25 km. Não é possível


passar diretamente para a construção da escala visto que 1,25 é número
fracionário. Define-se que a escala representará 5 km. Procura-se conhe-
cer a distância gráfica que, nesta escala, corresponda a 5 km. (d=? Sendo
E = 1:125.000 e D = 5 km ) Þ d = 4 cm. Dividindo a escala gráfica em
cinco partes iguais, cada parte terá 0,4 cm = 4 mm, equivalente a 1 km
real. Dividindo o talão em 4 partes de 1 mm, teremos subdivisões que
correspondem a 250 m no terreno.

152
Escala gráfica

b) Seja construir a escala gráfica de valor numérico 1:63.360 onde


1 cm = 633,6 m. Define-se que a escala terá cinco divisões repre- 9
sentando 1 km cada, logo o comprimento total da reta será corres- aula
pondente a 5 km, equivalendo a aproximadamente 7,9 cm de dis-
tância gráfica. Recorre-se ao método gráfico para subdividir a reta
da escala. (Construir a escala gráfica)

Neste exemplo, tomando-se 5 km como a unidade da escala,


com a divisão do talão em 100 m, o comprimento da unidade
será dada por

E= D, onde d = D/E = 500000/63360 = 7,89 cm = aproximado para 7,9 cm


1 d

- Marcar este comprimento total na folha de papel, sem se


preocupar em dividir pelas unidades.
______________________________________________

- Traçar uma linha auxiliar por uma das extremidades da reta,


e sem compromisso de comprimento correto, dividi-la com o
auxílio do compasso, no número de divisões que se divide a es-
cala (5 no exemplo):

- Unindo-se a extremidade da última divisão marcada com a


extremidade da reta da escala, traçam-se paralelas a esta reta, pe-
las marcações das demais divisões da reta auxiliar, determinan-
do-se então as divisões corretas da escala.

153
Cartografia Sistemática

- O talão é dividido, de forma semelhante, no número de divi-


sões que o caracterizará.
No exemplo, em dez divisões, cada uma delas representan-
do 100 m.

- Apagam-se as linhas auxiliares para evitar confusão com a


escala.

ATIVIDADES

1) Construir as escalas gráficas para as seguintes escalas numéricas:


a) 1:1.000 / 1:10.000 / 1:100.000 / 1:1.000.000
b) 1:2.000 / 1:20.000 / 1:200.000 / 1:2.000.000
c) 1:2.500 / 1:25.000 / 1:250.000 / 1:2.500.000
d) 1:5.000 / 1:50.000 / 1:500.000 / 1:5.000.000

2) Dadas as escalas gráficas, determinar a escalas numéricas:

154
Escala gráfica

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 9


A escala gráfica ou de barra é forma de apresentação da escala aula
linear, sendo apresentada por uma linha, normalmente fazendo
parte da legenda da carta, dividida em partes, mostrando os
comprimentos na carta, diretamente em termos de unidades
do terreno. Então, o valor do comprimento total linear da escala
deve ser verificado e calculado segundo a formula E=D/d
(observando-se as unidades), para que se possa estabelecer o
real valor da proporcionalidade.

ERRO E PRECISÃO GRÁFICA

A escala de representação está ligada


a um conceito de evolução espacial e pre-
cisão de observação.
O olho humano permite distinguir
uma medida linear de aproximadamente
0,1 mm. Um ponto, porém, só será per-
ceptível com valores em torno de 0,2 mm
de diâmetro em termos médios. Este va-
lor de 0,2 mm é adotado como a preci- (Fonte: http://populo.weblog.com.pt).
são gráfica percebida pela maioria dos
usuários e caracteriza o erro gráfico vinculado à escala de re-
presentação. Dessa forma, a precisão gráfica de um mapa está
diretamente ligada a este valor fixo de 0,2 mm, estabelecendo-
se assim, em função direta da escala, a precisão das medidas da
carta, por exemplo:

E = 1: 20.000 ———— 0.2mm = 4.000 mm = 4m


E = 1: 10.000 ———— 0,2mm = 2.000 mm = 2m
E = 1: 40.000 ———— 1,2mm = 8.000 mm = 8m
E = 1: 100.000 ——— 0,2mm = 20.000 mm = 20 m

155
Cartografia Sistemática

Em observações lineares, estas são as precisões alcançadas


pelas escalas mostradas. Quanto menor a observação, maior o
erro relativo associado.
Em geral, quando se parte para a representação de uma par-
te da superfície terrestre, entende-se que a escala a ser aplicada à
área será uma escala de redução, ou seja, a superfície a represen-
tar será reduzida de forma a estar contida na área do mapa.
Esta redução traz o erro gráfico aplicado à escala de represen-
tação. Tome-se que o erro gráfico já é o componente final de to-
dos os erros inerentes ao processo de construção do mapa. Desta
forma, todas as medições e observações estarão com precisões
inerentes às propagações de erros de todas as fases da construção
de uma carta: Trabalho de campo, Aerotriangulação, Restituição,
Gravação e Impressão.

ESCOLHA DA ESCALA

As condicionantes básicas para a escolha de uma escala de


representação são:

- dimensões da área do terreno que será mapeado;


- tamanho do papel no qual será traçado o mapa;
- a orientação da área;
- erro gráfico;
- precisão do levantamento e/ou das informações a serem plotadas
no mapa.

Pelas dimensões do terreno e do tamanho do papel, pode-se


fazer uma primeira aproximação para a escolha da escala ideal
de representação. Desta primeira aproximação deve-se então ar-
redondar a escala para que fique a mais inteira possível.
Devem-se considerar em relação ao papel, locais para a co-
locação de margem e legendas para o mapa. Isto fará com que a
área do papel seja menor que as dimensões iniciais.

156
Escala gráfica

Suponha que se deseje editar um mapa do Estado de Sergipe


em tamanho A4. Para se definir a escala ideal de representação, 9
devem ser seguidos os seguintes passos: aula
a) Tamanho do papel
A4 - 21,03 x 29,71 cm
b) Dimensões do Estado

± 230 km na linha de maior comprimento


c) Tomando-se uma margem de 1 cm por borda, a área útil será dimi-
nuída para 19,03cm x 27,71cm » 18cm x 26cm (margem de segu-
rança)

Área útil

157
Cartografia Sistemática

d) Orientando de forma que a área fique com a base voltada


para a margem inferior, desenvolvem-se os seguintes cálculos
para a determinação das escalas

Então a escala aproximada será 1: 900.000, ou seja, nessa


escala 1 cm do mapa corresponderá a 9 km na realidade. O dese-
nho deverá apresentar aproximadamente medidas onde 26 cm
representarão 230 km e 160 km poderá ser representado por 17
cm. Assim, o mapa pode ser apresentado com precisão.

DETERMINAÇÃO DE ESCALA DE UM MAPA

Quando por algum motivo não é fornecida a escala de um


mapa, pode-se obter uma escala aproximada, através da medição
do comprimento de um arco de meridiano entre dois paralelos.
Sabendo-se que o comprimento médio de um arco de meridiano
é de 111,111 km, basta então dividir a distância encontrada no
mapa por este valor, conforme exemplo abaixo.

158
Escala gráfica

A 9
cartografia trabalha somente com uma escala de redução,
ou seja, as dimensões naturais sempre se apresentam nos
mapas de forma reduzida. Você vai encontrar nos mapas doisaula
tipos de escalas: escala numérica e escala gráfica.
A escala gráfica apresenta a vantagem de
permitir uma interpretação visual e direta das
CONCLUSÃO
informações, pois graficamente apresenta
segmentos de retas com divisões de 1 centí-
metro acompanhado do respectivo valor em quilômetros.
As escalas gráficas na verdade são representações dos valo-
res das escalas numéricas que facilitam a leitura da proporção.

Globo invertido (Fonte: http://www.esteio.com.br).

159
Cartografia Sistemática

ATIVIDADES

De acordo com a representação de parte do Estado de Sergipe,


pesquise as distâncias reais entre lugares de seu conhecimento e
logo após apresente os cálculos e a escala gráfica para o desenho
com o talão.

(Fonte: DNIT/DER).

160
Escala gráfica

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 9


Para descobrir as distâncias entre as principais localidades do aula
Estado recorremos sempre ao site do DNIT, DER, ou mesmo,
as secretarias de transporte dos municípios. Lembre-se: esta é
uma generalização de parte do Estado de Sergipe e as curvas
das rodovias mascaram as verdadeiras distâncias. Neste
exercício você irá utilizar régua e uma boa dose de imaginação,
técnica e base científica lógica (matemática).

RESUMO

A escala gráfica é constituída por um segmento de reta gradu-


ado, a partir de uma marca zero que ainda indica o valor das
distâncias terrestres correspondentes às medidas no mapa.
Esta graduação normalmente aparece em partes iguais, po-
dendo ainda ter o primeiro intervalo subdividido em valores meno-
res que os dos intervalos normais.
Quando esta subdivisão está à esquerda de zero é denominada
“talão”.

1 0 1 2 3 4 5 km

Quando a dimensão do objeto representado é menor que o objeto


real, tem-se uma escala de redução. O contrário estabelece uma
escala de ampliação.

E = 1/20000 Redução (uma unidade linear equivale a 20.000


unidades lineares no terreno)
E = 20/1 Ampliação (20 unidades lineares na carta equivalem a
uma unidade linear no terreno)

161
Cartografia Sistemática

Este tipo de escala é mais rápido e prático entre os três possíveis, por
permitir que leia diretamente na escala a distância do terreno no mapa,
dispensando assim, os cálculos, por vezes trabalhosos, de uma fração
representativa. Além disso, possui uma propriedade de se adaptar a
variações nas dimensões do mapa, mantendo invariável o valor da es-
cala numérica que nelas está implícita.
A partir do uso da escala gráfica e do conhecimento de distâncias reais,
qualquer pessoa pode elaborar uma representação gráfica seguindo as
idéias gerais de proporcionalidade entre o real e o desenho, guardando as
especificidades dos objetos representados e as referências de localização,
como já foi estudado nas aulas anteriores.

Normalmente os professores de Geografia, nas séries


iniciais, trabalham com aplicação de exercícios de obser-
vação da lateralidade, da tentativa de visão oblíqua (visão
de cima) e as idéias de proporção (escala) para represen-
tar lugares conhecidos pelos alunos. Assim, o desenvolvi-
mento cognitivo torna-se fundamental no processo de
aprendizagem de crianças e jovens.

PRÓXIMA AULA

A partir de agora você poderá estabelecer medidas de áre-


as e descobrir os segredos do processo de generalização
dos mapas. Logo mais você conhecerá os métodos de me-
didas planimétricas.

162
Escala gráfica

REFERÊNCIAS
9
ALEGRE, Marcos. Localização do ponto à superfície da Terra. aula
Boletim de Geografia, Maringá, v. 3, n. 3, p.31-43, jan. 1985.
LE SANN, Janine G. A noção de escala em Cartografia. Re-
vista Geografia e Ensino, Belo Horizonte, v. 2, n. 5, p. 56-66,
jun. 1984.
OLIVEIRA, Cêurio. Dicionário Cartográfico. Rio de Janeiro:
IBGE, 1993.

163
MEDIÇÕES PLANIMÉTRICAS:
10
PRECISÃO E GENERALIZAÇÃO aula
MET
METAA
Explorar medidas de áreas
utilizando os métodos
adequados para a
compreensão da
proporcionalidade entre a
realidade e o desenho do
mapa.

OBJETIVOS
Ao final da aula, o aluno
deverá:
estabelecer formas de medição
de áreas utilizando os
diferentes métodos de medidas
planimétricas; e identificar os
principais problemas que
envolvem a generalização na
construção dos documentos
cartográficos.

PRÉ-REQUISITOS
A utilização da escala gráfica
abordada na aula 9.

Levantamento topográfico planimétrico da área do Campus Universitá-


rio da UFS.
Cartografia Sistemática

A s medições planimétricas visam o cálculo de comprimen-


tos lineares unidimensionais de áreas (bi-dimensional).
As medidas feitas diretamente no terreno (real) (escala 1:1) são
de interesse dos geógrafos, agrônomos, engenheiros e são estu-
dadas dentro do grande componente da car-
tografia chamado “topografia geodésia e tra-
INTRODUÇÃO
balho de campo”. Porém, os bons profissi-
onais sabem que é normalmente mais fácil,
conveniente e (dentro dos limites) razoavelmente exato fazer
medições em cartas, mapas e plantas, aproveitando a escala des-
sas representações.
Nas aulas anteriores foi discutido que a escala permite fazer
medições lineares simplesmente usando régua (ou mesmo um
fio) e uma escala gráfica. Também é possível medir distâncias
aplicando uma regra de três sabendo-se quanto equivale um grau
de latitude ou longitude e a rede de coordenadas geográficas que
cobre uma determinada área. A partir de agora, acumulando os
conhecimentos anteriores, podemos aplicar o uso da cartografia
para minimizar os custos dos trabalhos de campo para calcular
áreas de fazendas, zonas urbanas, terrenos edificáveis etc.

(Fonte: http://brasil.indymedia.org).

166
Medições planimétricas: precisão e generalização

N os trabalhos de cartografia é comum o uso de docu-


mentos em escalas grandes para o estabelecimento de 10
aula
medidas de litígio ou mesmo para o planejamento. Para tanto, se tor-
na indispensável entender a natureza da área real e como ela aparece
quando é desenhada em diferentes escalas.
No mundo inteiro existem dezenas de MEDIDAS
unidades de medição de áreas (hectares, BIDIMENSIONAIS
alqueires goianos, alqueires paulistas, tare-
fas, acres, quadrados de medidas lineares [cm², m², km², pé² etc.] e
muitas outras usadas na Ásia, na África etc.). Cada uma destas uni-
dades de medida tem sua particular aplicação e todas elas são bem
entendidas pelos agricultores e técnicos das várias regiões do glo-
bo. As conversões de um sistema para outro são lentas e difíceis
para aqueles que não estejam acostumados, e se tornam mais com-
plicadas ainda quando se considera também a escala do mapa. Afor-
tunadamente, o mundo está adotando cada vez mais o hectare como
a unidade espacial básica do sistema métrico.
Nas séries iniciais do ensino fundamental, todos os alunos me-
morizam que um hectare (ha) equivale a 10.000 metros quadrados,
mas poucos sabem quantos metros mede cada lado de um hectare.
Supondo que ele esteja numa forma geométrica quadrada, a res-
posta é “a raiz quadrada de 10.000 m² =10.000 m² =1000 metros”.
E quanto é isto no campo?
Um hectare equivale aproximadamente a dois campos de fute-
bol lado a lado (um campo oficial mede em torno de 100 por 60
metros), ou seja, 3,3 tarefas no Estado de Sergipe.

No Brasil, os estabelecimentos denominados de


minifúndios medem menos que 20 hectares, porém no
país, cerca de 400.000 estabelecimentos agrícolas me-
dem menos que um hectare.

Se um hectare (em forma quadrada) mede 100 metros de um


lado, são necessários dez desses segmentos alinhados para se ter
uma faixa com o comprimento de um quilômetro (e com a largura

167
Cartografia Sistemática

de 100m). Se a largura também for de 1000 metros, tem-se um


quilômetro quadrado, que contém 100 hectares. Assim, uma fazen-
da com 100 hectares tem 1 km² de superfície; uma outra com 382
hectares tem 3,82 km² e uma com 10.000 hectares tem 100 km²
(ou seja, 10 por 10 km se a fazenda for um quadrado). Esses são
valores de medidas reais no terreno.

Figura 1. Relação entre escala linear e área (ANDERSON, P. 1989: 06).

Existem basicamente três métodos para cálculo de áreas (super-


fície) que são utilizados nos documentos cartográficos. São eles:
1. Método Gráfico
- Decomposição de figuras geométricas
- Quadrículas totais e parciais (papel milimetrado)
2. Métodos Analíticos
- Coordenadas
- Digital
3. Método Mecânico
- Planímetro
A medida realizada no mapa é denominada de área gráfica (a); a
sua correspondente real ou no terreno é denominada área real (A).

OS MÉTODOS GRÁFICOS

Quando se trabalha com áreas geométricas, como quadrados,


retângulos e outras, sobre mapas é aconselhável transformar os valo-

168
Medições planimétricas: precisão e generalização

res dos relativos lados de tais figuras geométricas em valores reais em


metros ou quilômetros, para depois calcular a respectiva área. Proce- 10
dendo-se de forma diferente, é possível ter à frente uma complicação aula
matemática: se a escala muda de um fator “X”, a mesma área do papel
necessário para o novo mapa muda por fator “X²”. Por exemplo, uma
área que mede 12 por 8 cm num mapa de escala qualquer, mede 6 por
4 cm num outro mapa construído com a metade da escala; isto é mais
fácil de perceber do que dizer que 96 cm² no primeiro mapa será ape-
nas 24 cm² no segundo que possui escala reduzida pela metade.
Diminuindo a escala pela metade, essa segunda carta ocupa
uma quarta parte, e assim em diante: 1/3-1/9; 1/4-1/16; 1/10-1/
100; 3-9; 5-25 etc.

a) Decomposição de figuras geométricas - Quando no mapa


a superfície formar uma figura geométrica plana, podemos uti-
lizar as fórmulas específicas para cálculos de área, sendo as
mais comuns:

- quadrado: l2 ou l x l - triângulo: b x h / 2

- retângulo: b x h - trapézio: (B+b) x h / 2

- paralelogramo: b x h - círculo: ð x R2

Tendo em vista que algumas formas geométricas podem ser subdi-


vididas em triângulos, podemos utilizar somente a fórmula do triângulo
e fazer o somatório das áreas parciais. Para o círculo, a formula é especí-
fica, porém a maneira de calcular depende de cada um.

169
Cartografia Sistemática

3 4 6

b) Quadrículas totais e parciais (Processo do papel milimetrado).

Utilizado no caso de pequenas áreas. Dispondo-se de um


papel milimetrado vegetal, ajusta-se da melhor maneira possível
a área a medir. A área é calculada pela fórmula:

O resultado é multiplicado pelo número da escala ao quadrado.

Figura 2 - Cálculo de área pelo papel milimetrado

170
Medições planimétricas: precisão e generalização

Exemplo
Para a escala 1: 25.000 foram encontrados em uma área os seguin- 10
tes valores: aula
235 quadrados de 1 mm de lado inteiros e 138 quadrados não intei-
ros.
138
S = 235 + = 304 quadrados de 1 mm
2
S mm = 304 mm2 na carta
S = 304 x 25.0002 = 190.000.000.000 mm2 = 190.000 m2

ATIVIDADES

1. Calcular as seguintes áreas:

1:25.000 1:50.000 1:10.000

1:20.000 1:5.000 1:100.000

171
Cartografia Sistemática

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

As medidas lineares são em centímetros, portanto, o resultado


será em centímetros quadrados (cm²). Para o trabalho com
cartas, é aconselhável transformar logo as medidas lineares em
quilômetros (ou metros), antes de fazer os cálculos da área.

MÉTODOS ANALÍTICOS

a) coordenadas - através da medição do comprimento de um


arco de meridiano entre dois paralelos, basta então transformar
os graus, minutos e segundos em distâncias longitudinais e
latitudinais para encontrar a sua referência em km2 ou metro qua-
drado. Sabendo-se que o comprimento médio de um arco de
meridiano é de 111,111 km,

o
21

A = 111,11 km X 111,11 km = X km2


22o

Desejando-se valores mais precisos, pode-se consultar uma


tabela de valores de arco meridiano para as diversas latitudes, sa-
bendo-se que 1’ (um) minuto de grau equivale a 1.852 metros line-
ares e 1” (um) segundo de grau corresponde a 32 metros lineares.

172
Medições planimétricas: precisão e generalização

b) o método digital – normalmente nos softwares CAD e nos sis-


temas de informações geográficas que lidam com imagens 10
digitalizadas ou rasters, cada ponto ou linha desenhada no compu- aula
tador se refere a um valor. Então, dependendo do programa utiliza-
do, torna-se necessário somente selecionar o polígono desejado e
obter as medidas lineares ou mesmo a área completa em diversos
sistemas de medidas. Para isso, o usuário deve primeiro converter a
memória do programa utilizado no sistema métrico de seu país.

O MÉTODO MECÂNICO

a) o uso do planímetro
Os planímetros são instrumentos usados para a medição de
áreas principalmente irregulares representadas, por exemplo, em
um mapa ou fotografia aérea vertical. Eles são de vários tipos:
eletrônicos, mecânicos e de pontos.
Os planímetros eletrônicos são uma ex-
tensão de computadores com digitação atra-
vés de um marcador eletrônico. Trata-se de um
perímetro da área a ser conhecida, que está
contida num mapa. Esse mapa deve estar fi-
xado numa mesa espacial, a qual fornece dire-
tamente ao computador as coordenadas de
cada seguimento da linha (margem) da área.
Os planímetros mecânicos são de dois
Planímetro digital (Fonte: http://www.ingenieria.unam.
tipos: polar ou rolante (Figura 3). A um ex- mx).
tremo do aparelho está um apontador (fre-
quentemente com uma lupa para melhorar a visão com a qual se
contorna a área cuja medida é desejada). No mecanismo da medi-
ção (no modelo polar isto está na articulação), existe uma roda que
gira no plano com o movimento do aparelho e serve para determi-
nar a área percorrida. Com isso, adapta-se a medida à escala e ob-
tém-se o tamanho da área.

173
Cartografia Sistemática

Figura 3. Planímetro mecânico

O planímetro de pontos é um instrumento de precisão para


medir áreas em mapas, fotografias aéreas ou em qualquer outro
objeto plano em qualquer escala, seja redução, tamanho natural
ou ampliação. O instrumento consiste de uma lâmina transpa-
rente com uma malha de pontos impressa contendo um mesmo
número de pontos por centímetro quadrado. Para a grande mai-
oria das ampliações, uma malha de 25 pontos por centímetro
quadrado, assim como a deste modelo, é considerada ótima.

O USO DO PLANÍMETRO DE PONTOS

Coloca-se a malha de pontos aleatoriamente e conta-se cada


ponto que está dentro da área de interesse. Se um ponto está exata-
mente na divisa, é contado como meio ponto; isto não acontecerá
muito se as divisas das áreas forem finas. Cada ponto equivale a
certa medida quadrada no planímetro. Por exemplo, esta malha tem
25 pontos por centímetro quadrado, ou 100 pontos por 4 cm² (2 X
2 cm). Portanto, cada ponto equivale a 0,04 cm² no planímetro.
Dependendo da escala do mapa, se transforma o número de pon-

174
Medições planimétricas: precisão e generalização

tos em área do terreno. Os valores de conversão para as escalas princi-


pais estão impressos no planímetro, junto com a forma de derivação 10
que serve para qualquer outra escala. Multiplica-se o número de pon- aula
tos contados pelo valor de cada ponto para obter o tamanho da área. A
malha dos pontos será dividida em quadrados de 2 X 2 cm, com cem
(100) pontos, para facilitar a contagem quando as áreas são grandes.
As linhas que separam os quadrados não têm outra utilidade e não
devem ser usadas para alinhar a malha com as divisas das áreas, porque
o alinhamento pode causar um erro sistemático para mais ou para me-
nos ns medidas da área.
Os planímetros de pontos são “instrumentos” de precisão justa-
mente do que é possível se conseguir com máquinas de fotocópias de
transparências. Isto é, fotocópias comuns de planímetros de pon-
tos não servem para medições de boa precisão. Observa-se tam-
bém que a malha é dividida em grandes quadrículas que contêm
múltiplos convenientes de pontos (Figura 4: cada quadrado contém
100 pontos). Considerando isto, às vezes é mais fácil contar quantos
pontos estão fora de uma quadrícula subtraindo-os do total.

Figura 4. Exemplo de medição de uma área com planímetro de pontos.

175
Cartografia Sistemática

ATIVIDADES

Calcular as áreas acima pelos métodos gráficos possíveis e compa-


rar a diferença dos resultados em percentuais.

176
Medições planimétricas: precisão e generalização

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 10


Em geral, existem várias maneiras de medir áreas irregulares aula
dos mapas. A partir do conhecimento do resultado da contagem
de quadrados inteiros e parciais, ou mesmo, a partir da contagem
dos pontos das imagens, devem se relacionar com o tamanho
dos quadrados e a escala do mapa para que a medida real seja
conhecida. Obviamente a metodologia mais correta refere-se
à aplicação quando o contorno da área está traçado em papel
milimetrado (o que se pode fazer através de uma mesa luminosa
ou fixando o mapa numa janela).

GENERALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO
DOS MAPAS

Devido à redução feita através da escala, o tamanho dos ob-


jetos mapeados fica muito pequeno, tanto que, às vezes, tem-se
que exagerá-los para serem visíveis, ou separá-los para que não
fiquem um em cima do outro.
Esta “mudança de realidade” é chamada de generalização. Pode-
se medir qualquer distância numa carta e convertê-la à distância
real do terreno.
Existem três principais fontes de erro em tais direções:
1. As distorções provenientes da projeção que são mínimas e
calculáveis.
2. As imprecisões resultantes do erro do usuário do mapa nas
medições de comprimento de linhas; estas são muito comuns.
3. O erro do mapeador no posicionamento dos símbolos no
mapa. Esta última dificuldade, que inclui a influência da genera-
lização, é regulamentada pelos órgãos cartográficos federais de
cada país. No Brasil, os principais órgãos são: a Diretoria do
Serviço Geográfico (DSG) do Exército e a Fundação IBGE, que
publicam os Manuais de Normas Técnicas.

177
Cartografia Sistemática

Essas normas reconhecem que os mapas de escalas menores


(portanto, menos detalhados), os símbolos que representam os
fenômenos físicos e sociais quase sempre ocupam proporcio-
nalmente mais espaço para que sejam visíveis do que se eles fos-
sem desenhados na escala verdadeira. Assim, devido à escala, os
mapas generalizam os seus símbolos.
Os exemplos a seguir demonstram como são produzidas as
generalizações para a efetiva elaboração dos documentos
cartográficos.
a) Se uma linha azul simbolizando a drenagem, uma linha vermelha
indicando a estrada e uma linha preta representando a estrada de
ferro não podem se sobrepor no mapa sem causar uma mancha de
tinta preta feia e incompreensível. Uma maneira de evitar isso é
manter a precisão normal para a drenagem, mas compensar as rotas
de transporte e as curvas de nível tanto quanto for necessário, pre-
venindo o acúmulo excessivo. A precisão planimétrica de algumas
linhas será um pouco sacrificada, porém a da precisão relativa dos
fenômenos do conjunto será preservada (figura 5).

Figura 5. Exemplo de Generalização.

178
Medições planimétricas: precisão e generalização

O 10
processo de generalização envolve a seleção tanto dos
detalhes mais significativos quanto dos fenômenos mais
relevantes. Quanto menor for a escala do mapa, menor será o aula
número e os tipos de fenômenos que poderão ser apresentados.
O grau de generalização necessário para
uma representação clara depende principal-
mente da escala, complexidade dos fenôme-
CONCLUSÃO
nos representados e do tema ou objetivo do
mapa. Para evitar grandes confusões, somente devem ser incluí-
dos os itens imprescindíveis e os detalhes verdadeiramente rele-
vantes. Uma carta topográfica de escala grande, por exemplo,
não é um bom guia rodoviário, pois somente as principais vias
são classificadas com seus nomes. De outra forma, um mapa
com objetivo de localizar cruzamentos de ruas não se preocupa-
rá com relevo, cobertura vegetal ou residências individuais. Ca-
sas e outros prédios são pontos de referência úteis em áreas sem
feições para mapear. Eles podem ser indicados como estruturas
separadas em cartas topográficas. Mas, o agrupamento de resi-
dências e prédios comerciais em vilas e cidades obriga o uso de
uma cobertura de tinta uniforme (geralmente na cor rosa) para
as áreas urbanizadas, enquanto somente as escolas, igrejas e pré-
dios especiais são desenhados como pontos de referências.

179
Cartografia Sistemática

ATIVIDADES

De acordo com a representação abaixo. Explique quais foram as


estratégias utilizadas pelo autor para conseguir colocar o maior nú-
mero possível de informações.

180
Medições planimétricas: precisão e generalização

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES 10


A leitura das formas dos elementos internos da carta expressa aula
generalizações possíveis e adequações para obter uma
harmonia entre técnica, arte e ciência.

RESUMO
Para a determinação da área de um terreno, dois procedimentos
distintos são normalmente adotados: por meio de medição reali-
zada diretamente sobre o terreno, sendo a área calculada analiti-
camente, ou através do uso das grandezas gráficas medidas nas
plantas topográficas, convenientemente transformadas em valores
naturais mediante a aplicação da correspondente escala do desenho.
Diversos são os processos empregados para a avaliação das áreas; de-
pendendo do maior ou menor rigor exigido, citam-se os seguintes:
· Processo geométrico
· Processo analítico
· Processo mecânico
Após as medições pertinentes, um outro grande problema que reside
na representação é a sua generalização ou simplificação. Um mapa
sempre representará uma área em uma escala menor que a sua cor-
respondente sobre a superfície terrestre. A informação contida nele é
restrita ao que pode ser representada na escala considerada.
A transformação que a informação geográfica sofre, através de pro-
cessos de seleção, classificação, esquematização e harmonização, para
reconstituir em um mapa o mundo real, seja em relação à superfície
do terreno ou à distribuição espacial que se deseja representar, por
seus traços essenciais, denomina-se generalização cartográfica.
No processo de generalização existirá sempre um problema de per-
da de informação, pois a divisão de um fenômeno contínuo em
intervalos de representação junta elementos distintos em um grupo
de mesmas características. Toda generalização a ser efetuada deve
seguir princípios bem definidos, para que não se percam a qualida-
de, clareza e precisão do documento a representar.

181
Cartografia Sistemática

FIM DA LINHA
Chegamos ao final destas dez aulas e com isso devemos ter
em mente normalmente os mapas que sempre trabalhamos no
ensino fundamental e médio que são muito mais genéricos do
que estes que apresentam informações e conteúdos mais
específicos. As diversas possibilidades de medições e
fundamentos da cartografia de base até agora pôde nos auxiliar na
conceituação correta dos documentos e na exatidão da
representação dos fenômenos. Assim, nas próximas aulas
verificaremos como se comportam os mapas, o que eles realmente
contêm de sistemáticos e como analisá-los e, principalmente,
utilizarmos no nosso dia-a-dia em sala de aula. Estas são tarefas
que não serão respondidas de imediato, mas como futuros professores
de Geografia, vocês já podem experimentar novas oportunidades
de manuseio e leitura destes documentos básicos, precisos e tão
complexos. Na próxima unidade vamos nos ater às linhas, pontos
e polígonos e suas representações no mundo real.

REFERÊNCIAS

BRANDALIZE, Maria Cecília; FREITAS, Cíntia Obladen. En-


sinando Topografia e Geoprocessamento. Disponível em
<http://www.fatorgis.com.br>.
DE BIASI, Mário. Medidas gráficas em cartas topográficas. Cader-
no de Ciências da Terra, Geografia-USP, São Paulo, n. 35, 1973.
DUARTE, Paulo A. Escala: fundamentos. Florianópolis: Uni-
versidade Federal de Santa Catarina, 1989.
POPP, Elisabeth Victória. Ensino a distância de Cartogra-
fia para professores de Geografia do ensino fundamental.
Disponível em <http://www.abed.org.br/congresso2000/
texto17.htm>. Acesso em 17/10/2007.

182
PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS: 11
CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS
aula
MET
METAA
Apresentar as projeções
cartográficas e os objetivos
relacionados às suas utilizações.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá:
identificar os principais tipos de
projeções cartográficas utilizadas
no ensino da geografia; e
estabelecer os objetivos e as
características das principais
formas de projeção da esfera
terrestre.
Cartografia Sistemática

N a Geografia e demais estudos geodésicos o assunto


das projeções tem grande importância, pois se confi-
gura, junto com a problemática da escala e da simbolização, como
“um dos três atributos imprescindíveis das cartas e dos mapas”
(Anderson, P. et all, 1982). Porém, hoje em
INTRODUÇÃO dia, a grande maioria dos usuários leigos e
profissionais não precisa se preocupar com
as distorções devido às projeções nas cartas de escalas maiores
(mais detalhadas) que 1: 1.000.000. Isso porque as complexida-
des teóricas, matemáticas e práticas das projeções estão fora da
abrangência dos estudos gerais do ensino da geografia fundamen-
tal. Como introdução, nesta aula, é suficiente lembrar que nas
cartas e mapas sempre existem deformações, mas que a maioria
das cartas não apresenta distorções importantes para o usuário
não especializado. Em geral, as dificuldades e os “erros” de medi-
da, devido à escala, generalizações e a simbolização, são maiores
que os de projeção.

(Fonte: http://www.cartografia.eng.br).

184
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

N a verdade, projeção cartográfica é a transformação de


uma esfera celeste (planeta, lua, etc.) em um desenho
plano, normalmente numa escala menor. É claro que nenhuma
11
aula
folha de papel plano pode representar sem distorções uma esfe-
ra; portanto, é inevitável que todos os ma-
pas sejam projeções. PROJEÇÕES
Sem projeções cartográficas, todas as
representações da Terra, com a exceção das de escala grande e de
pequenas regiões (que possuem curvatura negligenciável), teri-
am que ser globos ou segmentos curvos de globos, os quais são
volumosos, dispendiosos, e de difícil produção e comercialização
em massa. Além disso, a fim de examinar uma distribuição espa-
cial do mundo inteiro, os usuários do globo precisam girar e
possivelmente inclinar o globo tão bem quanto mover os seus
olhos. Porém, para transformar num plano as superfícies cur-
vas, como as da Terra, Lua, de Marte, ou de uma “cabeça” esfé-
rica (Figura 1) é preciso usar projeções, as quais sempre causam
distorções nas formas e nas relações de distância.

Figura 1. Projeções ortográfica, estereográfica e de Mercator.

Podemos dizer que todas as representações de superfícies cur-


vas em um plano envolvem: “extensões” ou “contrações” que re-
sultam em distorções ou “rasgos”. Diferentes técnicas de represen-
tação são aplicadas no sentido de se alcançar resultados que possu-
am certas propriedades favoráveis para um propósito específico.
A construção de um sistema de projeção será escolhida de
maneira que a carta venha a possuir propriedades que satisfa-
çam as finalidades impostas pela sua utilização.

185
Cartografia Sistemática

O ideal seria construir uma carta que reunisse todas as


propriedades, representando uma superfície rigorosamen-
te semelhante à superfície da Terra. Esta carta deveria pos-
suir as seguintes propriedades:
1. Manutenção da verdadeira forma das áreas a serem re-
presentadas (conformidade).
2. Inalterabilidades das áreas (equivalência).
3. Constância das relações entre as distâncias dos pontos
representados e as distâncias dos seus correspondentes
(eqüidistância).
Essas propriedades seriam facilmente conseguidas se a
superfície da Terra fosse plana ou uma superfície
desenvolvível. Como tal não ocorre, torna-se impossível a
construção da carta ideal, isto é, da carta que reunisse to-
das as condições desejadas.
A solução será, portanto, construir uma carta que, sem
possuir todas as condições ideais, possua aquelas que satis-
façam a determinado objetivo. Assim, é necessário ao se
fixar o sistema de projeção escolhida considerar a finalida-
de da carta que se quer construir.
Resumindo...
As representações cartográficas são efetuadas, na sua
maioria, sobre uma superfície plana (Plano de Representa-
ção onde se desenha o mapa). O problema básico consiste
em relacionar pontos da superfície terrestre ao plano de
representação. Isto compreende as seguintes etapas:
1. Adoção de um modelo matemático da terra simplifi-
cado (Geóide). Em geral, esfera ou elipsóide de revolução;
A forma da Terra comumente utilizada nos meios aca-
dêmicos é o geóide, a figura que mais se aproxima da ver-
dadeira forma terrestre. Geóide seria uma figura onde, em
todos os pontos da superfície terrestre, a direção da gravi-
dade é exatamente perpendicular à superfície determinada
pelo nível médio e inalterado dos mares (Figura 2).

186
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

O elipsóide de revolução é uma figura matemática que


se aproxima bastante da forma do geóide, é a superfície
mais utilizada pela ciência geodésica para a realização dos
11
aula
levantamentos e medições.

superficie N
topográfica
elipsóide
b

geóide

S
a=semi-eixo maior
b=semi-eixo menor paralelo ao eixo de rotação da Terra
Figura 2. Distorções entre superfície terrestre (geóide) e o elipsóide de revolução.

2. Projetar todos os elementos da superfície terrestre sobre o


modelo escolhido. (Atenção: tudo o que se vê num mapa
corresponde à superfície terrestre projetada sobre o nível do
mar aproximadamente);
3. Relacionar por processo projetivo ou analítico pontos do
modelo matemático com o plano de representação escolhen-
do-se uma escala e sistema de coordenadas específico.
Normalmente, no ensino de Geografia as representa-
ções do globo terrestre são apresentadas em forma de ma-
pas-múndi, que mostram em escala muito pequena os prin-
cipais elementos da superfície terrestre. É bom que fique
claro que toda representação no plano atende a objetivos
específicos de quem o fez.

187
Cartografia Sistemática

Você sabia que é a partir de uma projeção que se tem da Terra


que todos os outros mapas são elaborados? E que muitos deles
apresentam distorções em relação aos outros simplesmente
porque a base da projeção é outra diferente da utilizada? Por
isso, quando mapeamos um litoral e enxergamos como perfeito,
talvez não seja bem essa a idéia, mas que de acordo com a projeção
utilizada o desenho pode se aproximar do real ou não.

CLASSIFICAÇÃO DAS PROJEÇÕES


CARTOGRÁFICAS

As projeções cartográficas podem ser classificadas segundo


diversos tipos de características que as tornam possíveis de se-
rem transportadas para o papel. É certo que muitos autores, en-
genheiros cartógrafos e navegadores utilizam as projeções de
acordo com seus objetivos e perspectivas. Assim como cada fi-
lósofo grego determinava os ângulos de medidas de distâncias e
prediziam a existência de outros continentes, como vimos na
aula 2, hoje os sistemas de referência de localização orientados
por satélites, que são responsáveis por mapear a Terra ou mes-
mo guiar veículos e pessoas na superfície, utilizam certos tipos
de projeções mais adequadas às suas realidades.
Inicialmente, vamos entender a classificação segundo as pro-
priedades para que possamos visualizar como nossos mapas es-
colares foram e são produzidos.

QUANTO ÀS PROPRIEDADES

Na impossibilidade de se desenvolver uma superfície esférica


ou elipsóidica sobre um plano sem deformações, na prática, bus-
cam-se projeções tais que permitam diminuir ou eliminar parte das
deformações conforme a aplicação desejada. Assim, destacam-se:
a) Projeções Equivalentes - Têm a propriedade de não alterarem as áreas,
conservando assim, uma relação constante com as suas correspondentes

188
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

na superfície da Terra. Seja qual for a porção representada num mapa, ela
conserva a mesma relação com a área de todo o mapa. 11
aula

Figura 3. A figura acima ilustra o mapa-múndi desenhado sobre a projeção de Aitoff.


O centro da projeção é o único ponto sem deformação, isto é, onde os ângulos são
retos.

b) Conformes - Representam sem deformação, todos os ângu-


los em torno de quaisquer pontos, e decorrentes dessa proprie-
dade, não deformam pequenas regiões. Outra particularidade
desse tipo de projeção é a escala, que em qualquer ponto, é a
mesma, seja na direção que for. Embora, por outro lado, mude
de um ponto para outro, e permaneça independente do azimute
em todos os pontos do mapa.

Figura 4. Planisfério traçado na projeção conforme de Mercator.

189
Cartografia Sistemática

c) Eqüidistantes - As que não apresentam deformações lineares


para algumas linhas em especial, isto é, os comprimentos são
representados em escala uniforme.

Figura 5. A projeção azimutal (ou zenital) eqüidistante do mundo, com o centro em


Brasília. Todas as distâncias radiais, a partir do centro, para qualquer parte da Terra,
são corretas.

d) Afiláticas - Não possui nenhuma das propriedades dos outros


tipos, isto é, equivalência, conformidade e eqüidistância, ou seja,
as projeções em que as áreas, os ângulos e os comprimentos não
são conservados.
Nenhuma dessas propriedades pode coexistir, por serem
incompatíveis entre si. Uma projeção terá uma e somente uma
dessas propriedades. A partir dessas propriedades podemos rela-
cionar com outros métodos para conseguir uma melhor repre-
sentação do planisfério.

190
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

QUANTO AO TIPO DE CONTATO ENTRE


AS SUPERFÍCIES DE PROJEÇÃO E
REFERÊNCIAS
11
aula
Aqui a superfície de projeção é a figura geométrica que estabe-
lecerá a projeção plana do mapa, podendo ser tangente ou secante.

Figura 6. Tipos de superfície de projeção.

a) Projeções Tangentes - A superfície de projeção é tangente à de


referência (plano - um ponto; cone e cilindro - uma linha).

Figura 7. Superfícies de projeção tangentes.

b) Secantes - A superfície de projeção secciona a superfície de


referência (plano uma linha; cone - duas linhas desiguais; cilin-
dro - duas linhas iguais).

191
Cartografia Sistemática

Figura 8. Superfícies de projeção secantes.

De acordo com a figura geométrica estabelecida a partir do contato


com a superfície de projeção, as projeções tangentes e secantes podem
assumir outro caráter de referência, como:
Projeções Planas ou Azimutais: Quando a superfície for um plano. Este
tipo de superfície pode assumir três posições básicas em relação à
superfície de referência: polar, equatorial ou transversa e oblíqua (ou
horizontal).

Projeções Cônicas: Quando a superfície for um cone. Ela pode


ser desenvolvida em um plano sem que haja distorções, e funcio-
na como superfície auxiliar na obtenção de uma representação.

192
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

Projeções Cilíndricas: Quando a superfície for um cilindro. A


superfície de projeção que utiliza o cilindro pode ser desenvolvi-
da em um plano e suas possíveis posições em relação à superfí-
11
aula
cie de referência podem ser: equatorial, transversal e oblíqua (ou
horizontal).

Projeções Poli-Superficiais - Se caracterizam pelo emprego de


mais do que uma superfície de projeção (do mesmo tipo) para
aumentar o contato com a superfície de referência e, portanto,
diminuir as deformações (plano-poliédrica; cone-policônica; ci-
lindro - policilíndrica).

QUANTO AO MÉTODO DE ELABORAÇÃO


DO TRAÇADO

a) Geométricas - Baseiam-se em princípios geométricos projetivos.


Podem ser obtidos pela interseção, sobre a superfície de projeção,
do feixe de retas que passa por pontos da superfície de referência
partindo de um centro perspectivo (ponto de vista).
Conforme a posição do ponto de vista, podem ser ainda mais
uma vez subdivididas em:

Figura 9 - Posição do ponto de vista.

193
Cartografia Sistemática

Projeção Gnomônica: O ponto de vista está no centro da Terra.


Projeções Estereográficas: O ponto de vista está no ponto
diametralmente oposto à tangência do plano de projeção.
Projeções Ortográficas: O ponto de vista está no infinito.
b) Analíticas: Baseiam-se em formulação matemática obtida com
o objetivo de se atender condições (características) previamente
estabelecidas (é o caso da maior parte das projeções existentes).
Podem ser traçadas com o auxílio de cálculo adicional, tabelas
ou ába-cos e desenho geométrico próprio.
c) Convencionais: São as que só podem ser traçadas com o auxí-
lio de cálculo e tabelas.

ATIVIDADES

Analisando as principais referências de mapas-múndi existentes


nas escolas, uma coisa nos chama a atenção. A maioria dos
planisférios apresenta a Europa como centro do mundo. Expli-
que as razões que levaram a essa concepção.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

A centralidade dos pontos de referência na explanação da


ordem mundial em muitos casos está impregnada de
conteúdos ideológicos que figuram na forma de ensinar
(alienar) a sociedade em função da manutenção do status
ou de uma lógica determinista.
DICA para os futuros professores...
Nunca privilegie os contornos dos mapas, mas sim o seu
conteúdo e os símbolos e signos utilizados para qualificar
os objetos estudados.

194
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

PRINCIPAIS PROJEÇÕES E SUAS


CARACTERÍSTICAS DE UTILIZAÇÕES 11
aula
Principais projeções planas ou azimutais

a) Ortográficas - O ponto de perspectiva para a projeção orto-


gráfica está situado no infinito, sendo os paralelos e meridianos
projetados sobre o plano tangente através de linhas de projeção
paralelas.

Figura 10. Perspectiva da projeção orto-


gráfica no aspecto polar.

Utilização - Foi popular durante a 2º Guerra Mundial. Com os


vôos espaciais foi rebuscada, pois lembra a fotografia dos cor-
pos celestes.
b) Estereográficas - É a única projeção perspectiva verdadeira
conforme. Seu ponto de projeção está na superfície da esfera,
no lado diametralmente oposto ao ponto de tangência do plano
ou do centro de projeção.

Figura 11. Aspecto Projetivo Estereográfico.

195
Cartografia Sistemática

Utilização - O aspecto oblíquo tem sido usado para pro-


jeção planimétrica de corpos celestes: Lua, Marte, Mer-
cúrio, Vênus.
O aspecto polar elipsóidico tem sido usado para
mapear as regiões polares (Ártico e Antártico).
A projeção UTM é complementada pela projeção
UPS (Universal polar estereográfica) acima de 84° e abai-
xo de - 80°.
Em 1962 a porção polar da carta ao milionésimo do
mundo foi modificada da projeção policônica para a po-
lar estereográfica, nos mesmos moldes da UPS.
c) Projeção Azimutal Equivalente de Lambert - Não é
perspectiva, podendo ser chamada de “sintética”, por ter
sido desenvolvida para apresentar a característica de equi-
valência.
O aspecto polar tem as mesmas características das de-
mais azimutais. Círculos concêntricos para os paralelos
nos pólos e meridianos irradiados. Mostra o esquema de
distorção da projeção, para a esfera, podendo este es-
quema ser colocado sobre os demais casos, para se defi-
nir as regiões de deformação e distorção da escala.
O espaçamento dos paralelos diminui conforme au-
menta a distância do pólo.

Figura 12. Projeções polares, equatoriais e oblíquas.

196
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

Utilização - É bastante utilizada em Atlas comercial e mapas que


necessitem de relações de equivalência entre as formas. Serve de
base para mapas geológicos, tectônicos e de energia; mapas co-
11
aula
merciais e mapas geográficos (físicos políticos e econômicos).
d) Projeção Azimutal Eqüidistante - Não é uma projeção pers-
pectiva, porém como eqüidistante tem a característica especial
de todas as distâncias estarem em uma escala real quando medi-
das do centro até qualquer outro ponto do mapa.

Figura 13. Projeções Azimutais Eqüidistantes.

Utilização - No aspecto polar para mapas mundiais e mapas de


hemisférios polares, e no aspecto oblíquo utilizado para Atlas
de continentes e mapas de aviação e uso de rádio.
• Utilização regular em Atlas, mapas continentais e comerciais
tomando-se o centro de projeção em cidades importantes.
• Cartas polares;
• Navegação aérea e marítima;
• Rádio comunicações (orientação de antenas) e rádio-engenharia;
• Cartas celestes tendo a Terra como ponto central.

PRINCIPAIS PROJEÇÕES CILÍNDRICAS

As projeções cilíndricas correspondem às projeções que


têm um cilindro como superfície de projeção. O desenvolvimento
da superfície do cilindro em um plano se apresenta como um
retângulo em todos os casos considerados.

197
Cartografia Sistemática

Figura 14. Superfície de projeção cilíndrica.

a) Projeção de Mercator - Os meridianos da projeção de Mercator


são retas verticais paralelas, igualmente espaçadas, cortadas
ortogonalmente por linhas retas representando os paralelos, que
por sua vez são espaçados a intervalos maiores, à medida que se
aproxima dos pólos. Este espaçamento é tal que permita a confor-
midade, e é inversamente proporcional ao co-seno da latitude.

Figura 15. Projeção de Mercator e sua principal distorção.

A grande distorção de área de projeção pode levar a concepções erra-


das por leigos em Cartografia. A comparação clássica é estabelecida
entre a América do Sul e a Groelândia. Esta aparece maior, apesar de
realmente ser 1/8 do tamanho da América do Sul.
Utilização - É ainda bastante empregada em Atlas e cartas que neces-
sitem mostrar direções (cartas magnéticas e geológicas). Praticamente
todos os mapas de fusos horários são impressas nesta projeção.
b) Projeção Transversa de Mercator - Os meridianos e paralelos
são curvas complexas, exceção ao Equador, ao meridiano cen-
tral e cada meridiano afastado de 90°, que são retas. A forma

198
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

esférica é conforme e o erro da escala é apenas função de distân-


cia do meridiano central, como é função da distância do Equa-
dor na projeção de Mercator regular.
11
aula

Figura 16. Projeção Transversa de Mercator.

Utilização - Mapeamentos topográficos e base para a projeção


UTM (Universal Transversa de Mercator).
c) Projeção Cilíndrica Equivalente de Lambert - É uma projeção
cilíndrica, equivalente e equatorial, isso quer dizer que o
espaçamento dos paralelos diminui à medida que se aproxima
dos pólos, indicando uma redução de escala.

Figura 17. Projeção Equivalente de Lambert.

Utilização - Apropriada para cartas equivalentes em baixas lati-


tudes e mapas mundiais de baixas latitudes.

PRINCIPAIS PROJEÇÕES CÔNICAS

Enquanto as projeções cilíndricas são usadas para representar


mapas mundiais, ou uma faixa estreita ao longo do Equador,
meridiano ou círculo máximo, as projeções cônicas são utiliza-

199
Cartografia Sistemática

das para mostrar uma região que se estenda de este para oeste
em zonas temperadas.
a) Projeção Policônica - Utilizam como superfície intermediária
de projeção diversos cones tangentes em vez de apenas um.
Não é conforme nem equivalente (só tem essas características
próximas ao Meridiano Central).
O Meridiano Central e o Equador são as únicas retas da proje-
ção. O MC é dividido em partes iguais pelos paralelos e não
apresenta deformações.
Os paralelos são círculos não concêntricos (cada cone tem seu
próprio ápice) e não apresentam deformações.
Os meridianos são curvas que cortam os paralelos em partes
iguais.
Apresenta pequena deformação próxima ao centro do sistema,
mas aumenta rapidamente para a periferia.

Figura 18. Projeções policônicas.

Utilização/ Aplicações: Apropriada para uso em países ou regi-


ões de extensão predominantemente Norte-Sul e reduzida exten-
são Este-Oeste. É muito popular devido à simplicidade de seu cál-
culo, pois existem tabelas completas para sua construção. É am-
plamente utilizada nos EUA. No BRASIL são utilizados em série
de mapas do Brasil, regionais, estaduais e temáticos.

200
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

b) Projeções Equivalentes de Albers - Os paralelos são arcos de


círculos concêntricos desigualmente espaçados. Estão mais apro-
ximados nas bordas norte e sul do mapa, pois o cone é secante;
11
aula
Os meridianos são raios de um mesmo círculo cortando os
paralelos ortogonalmente, não havendo distorção ao longo do
paralelo padrão (tangência) ou dos paralelos padrões (secância);
Os pólos são arcos de círculo;

Figura 19. Aparência da projeção cônica equivalente de Albers.

Utilização/ Aplicação - Utilizada para mapas equivalentes de regi-


ões que se estendem no sentido leste-oeste.
c) Projeção Cônica Conforme de Lambert - É uma projeção con-
forme, porém em altas latitudes, a propriedade não é válida, devi-
do às grandes deformações introduzidas. As linhas retas entre
pontos próximos aproximam-se de arcos de círculos máximos.

Figura 20. Aparência da projeção cônica conforme de Lambert.

Utilização - Aplicação em regiões com pequena diferença de lati-


tude (um paralelo padrão). Manutenção das formas das áreas e
precisão de escala satisfatória. Mapeamento de utilização geral.
Com dois paralelos padrões tem ampla aplicação:

201
Cartografia Sistemática

a) pela Organização Internacional da Aviação Civil (OIAC): Car-


tas Aeronáuticas na escala de 1:1.000.000;
b) estudo de fenômenos meteorológicos (Organização Mundial
de Meteorologia);
c) cartas sinóticas (meteorológicas);
d) Atlas;
e) Carta Internacional do mundo na escala 1:1.000.000.

ATIVIDADES

Após a classificação das projeções, pôde-se verificar que a quan-


tidade de formas de representação da Terra é muito grande e
diversa. Uma pergunta pode então ser feita: “Como reconhecer
uma projeção?”

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Em geral, existem várias maneiras de diagnóstico, sob os


quais deverão ser examinadas as projeções. A Terra está
mapeada como uma feição contínua ou existem
descontinuidades no mapa? Que tipo de figura geométrica
é formado pelo limite do mapa, seja ele do mundo ou do
hemisfério? Retângulo, círculo, elipse ou figuras mais
complicadas. Como estão os continentes e oceanos
dispostos em relação aos limites e eixos do mapa?
Isto é uma verificação da convenção do Equador e meridiano
de Greenwich e localização dos pólos. O espaçamento entre
os meridianos sucessivos é uniforme ou variável? Se for
variável, o espaçamento dos paralelos aumenta ou diminui
do Equador para os Pólos? Em relação aos meridianos,
aumenta ou diminui do centro do mapa para as bordas?
Todas essas variáveis podem ajudar a identificar uma
projeção e maior parte delas pode ser usada de alguma forma
para verificar a sua classificação.

202
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

D e modo geral, os globos são as representações mais


fiéis da Terra no que diz respeito à forma do planeta,
forma e dimensões dos acidentes geográficos, além da distribui-
11
aula
ção das terras e águas. Os mapas, no entanto, ao reproduzirem
numa superfície plana (o papel) aquilo que
na realidade é curvo (a superfície terrestre), CONCLUSÃO
sempre apresentam distorções. Não existe
o mapa perfeito. Mesmo assim, dá-se preferência pelo seu uso
em lugar dos globos, tendo em vista uma série de vantagens que
eles apresentam, conforme vimos anteriormente. Por isso é que
se faz necessário um estudo das projeções cartográficas, para que
se possa entender sua relação com os mapas e o importante pa-
pel que elas representam na Cartografia.
Assim, no ensino de Geografia nos deparamos com uma série
de projeções que levam os nomes dos seus idealizadores, como
Peters, Mercator, Lambert, Robinson, entre outros, mas certa-
mente que todas estas se enquadram numa das classificações apre-
sentadas nesta aula.

RESUMO

Conforme se pôde verificar, a história dos mapas reflete a


preocupação que o homem sempre teve em representar a
superfície terrestre, utilizando técnicas de acordo com o es-
tágio de seus conhecimentos. Com o passar do tempo, impõe-se
a preocupação em obter resultados cartográficos com o maior
rigor científico possível, tendo-se duas formas principais de re-
presentar a superfície terrestre: globos e mapas.
Os globos geográficos constituem-se no modo mais fiel de
representar a Terra, mesmo sabendo-se que nosso planeta não é
uma esfera perfeita.
Para conseguir uma representação mais fiel da Terra, deve-
mos nos basear nas seguintes propriedades:

203
Cartografia Sistemática

Conformidade; Eqüidistância e Equivalência. A partir des-


sas propriedades os sistemas de projeções passam a se caracteri-
zar pelos atributos que conferem pontos de vistas, superfícies
de contato e formas do traçado que sejam responsáveis por re-
presentar de forma mais precisa o globo ou mesmo uma parte
da terra num plano.
As aplicações dos diversos tipos de projeções servem para
apresentar formas distintas de representação do globo terrestre
em planisférios (mapas planos do mundo), além de ser alvo de
objetivação de diversos governos e países ora para controlar suas
fronteiras e instituir sistemas de medidas de distâncias espaciais,
ora para calcular gastos de rotas comerciais, e até mesmo fazer a
guerra, como já dizia Yves Lacoste em seu livro sobre a
geopolítica do mundo contemporâneo.

No site da UFF tem uma página muito interessante que


permite visualizar as distorções impostas pelas projeções
geográficas. Lá o usuário seleciona uma projeção e um
ponto no mapa e o um programa em java mostra como
ficaria o mapa. O site tem instruções de uso em
português. Dica: na aba projeções ligue a opção exibir
indicatrizes de Tissot, que desenha círculos de tamanho
uniforme sobre o globo terrestre. Estes círculos serão
projetados usando o sistema de projeção escolhido e com
isto ficam evidentes as distorções de área e forma que
algumas projeções produzem. O link é: http://
www.uff.br/mapprojections/mp_br.html

204
Projeções cartograficas: classificações e caracteristicas

ATIVIDADES

Identifique e caracterize o sistema de projeção representado na figura


11
aula
a seguir, apontando vantagens e desvantagens de sua utilização.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Essa projeção constituiu um notável progresso na cartografia


náutica do século XVI (vide aula número 2), contudo,
apareceu porventura antes de tempo, já que as limitações
inerentes aos métodos de navegação então praticados
impediam o seu uso efetivo. Tal como em todas as projeções
cilíndricas, os meridianos e paralelos são representados por
segmentos de reta perpendiculares entre si, e os meridianos
são eqüidistantes. Essa geometria faz com que a superfície
da Terra seja deformada na direção leste-oeste, tanto mais
quanto maior for a latitude.

REFERÊNCIAS

ANDERSON, Paul S. Princípios de Cartografia Básica. v. 1.


Illinois State University, 1982.
BRANDALIZE, Maria Cecília; FREITAS, Cíntia Obladen. En-
sinando Topografia e Geoprocessamento. Disponível:
www.fatorgis.com.br.

205
O SISTEMA UTM, A CARTA
INTERNACIONAL AO
MILIONÉSIMO E O 12
DESDOBRAMENTO DAS aula
FOLHAS TOPOGRÁFICAS

MET
METAA
Apresentar o sistema UTM como
forma de localização dos
elementos terrestres e a
composição das folhas
topográficas de diversas escalas,
além do mapeamento geral do
mundo ao milionésimo.

OBJETIVOS
A partir desta aula, o aluno
deverá: estabelecer a localização
dos documentos cartográficos de
escalas específicas de acordo com
o posicionamento destes no
sistema UTM; e identificar os tipos
de documentos cartográficos
sistemáticos em relação à área de
abrangência, dimensão e
aplicabilidades na Geografia.

(Fonte: http//www.gd4caminhos.com).
Cartografia Sistemática

C omo vimos na aula anterior, as projeções possuem inú-


meras classificações, regras e utilizações. Dentre elas,
destacamos a Projeção Universal Transversa de Mercator que
desempenha fundamental importância na sistematização do
mapeamento cartográfico mundial a partir
INTRODUÇÃO da criação do sistema de determinação das
coordenadas retangulares nas cartas milita-
res de escala grande, em todo o mundo. Idealizada no século
XVIII, o sistema UTM somente teve sua utilização iniciada em
1947, após a Segunda Guerra Mundial, quando foi adotado pelo
exército norte americano.
O nome Universal se deve à utilização do elipsóide de Hayford
(1924), que era conhecido como elipsóide Universal, como mo-
delo matemático de representação do globo terrestre. Transver-
sa é o nome dado à posição ortogonal do eixo do cilindro em
relação ao eixo menor do elipsóide. E de Mercator (1512-1594),
porque foi o idealizador da projeção que apresenta os paralelos
como retas horizontais e os meridianos como retas verticais.
No Brasil, a Diretoria do Serviço Geográfico do Exército
passou a utilizar o sistema UTM em 1955 como recomendações
da UGGI (União Geodésica e Geofísica Internacional).
Adotada por muitas agências de cartografia nacionais e in-
ternacionais, inclusive a OTAN, é comumente usado em carto-
grafia topográfica e temática, para referenciamento de imagens
de satélite e como sistema de coordenadas para bases cartográficas
para Sistemas de Informação Geográfica.

208
O sistema UTM, a carta internacional ao milionésimo...

O Sistema UTM é dividido em 60 fusos de 6 graus de


amplitude em longitude. Cada fuso também é cha
mado de Zona UTM. Os fusos são numerados de 1 (um) a 60
12
aula
(sessenta) começando no fuso 180º a 174º W de Greenwich,
seguindo de oeste a leste para fechar no mes-
mo ponto de origem. Cada um destes fusos é SISTEMA UTM
gerado a partir de uma rotação do cilindro de
forma que o meridiano de tangência divide o fuso em duas par-
tes iguais de 3º de amplitude (Figura 1).

Figura 1. Os fusos do sistema UTM (Anderson, Paul S. et all, 1982: 42).

Para compreender como a Projeção UTM é desenvolvida,


imagine a Terra como uma laranja, com pólos, linha do
equador, paralelos e meridianos desenhados sobre ela. Imagine
usar uma faca e retirar dois pequenos círculos no pólo norte
e no pólo sul. Fazendo um corte na casca da laranja na direção
norte-sul e repetindo este corte norte-sul a intervalos iguais,
obter 60 zonas ou fusos destacados.
Cada uma destes fusos formará a base de uma projeção de
um mapa. O achatamento necessário para projetar a superfície
curva da casca da laranja em uma superfície plana pode ser
visualizado forçando esta tira de casca laranja nesta superfície.

209
Cartografia Sistemática

Comprimindo seu centro, podemos forçar a casca a ficar plana


até tocar totalmente a superfície lisa. Esta ação resulta em uma
distorção leve das características geográficas dentro deste fuso.
Mas, sendo o fuso relativamente estreito, a distorção é pequena
e pode ser ignorada pela maioria dos usuários de mapas.

Em cada fuso as medidas quilométricas têm origem na


intersecção do meridiano central com o equador. No sen-
tido da longitude o valor 500 km foi arbitrado para identi-
ficar o meridiano central de cada fuso e, a partir dele, os
valores crescem para leste e decrescem para oeste do
meridiano central, i. e. as distâncias quadriculares longitu-
dinais variam de 166,5 a 167 km a oeste do meridiano cen-
tral do fuso UTM, passa pelo meridiano central que repre-
senta 500 km e distancia-se até 833 km, aproximadamente,
aumentado de oeste para leste (Figura 2).
O sistema UTM é usado entre as latitudes 84º
N e 80º S. Cada faixa compreende 4º de latitu-
de, que são indicadas por letras A, B, C, D, E...,
crescentes a partir do Equador, tanto para o nor-
te quanto para o sul.
Sabe-se que 1º (um grau) de longitude e lati-
tude apresenta valor aproximado de 111,11 km e
que no sentido da latitude têm-se valores decres-
centes saindo do Equador para o sul. O Equador
representa 10.000 km, ou 10.000 000 m, e o Pólo
Sul corresponde a 0 km. Já no hemisfério norte
os valores crescem do Equador para o Norte
(Equador = 0 km, pólo - 10.000 km); assim, o
paralelo de 4° de latitude no hemisfério sul
corresponde à diferença de 10.000 - (4 x 111) =
9.556 km, no hemisfério norte corresponde a 4
x 111 = 444 km.

210
O sistema UTM, a carta internacional ao milionésimo...

Esses valores quilométricos constituem-se na coorde-


nada N do sistema UTM. O referencial para indicar o he-
misfério ou a latitude norte ou sul é, respectivamente, o
12
aula
sinal N e S.

A CARTA INTERNACIONAL DO MUNDO


AO MILIONÉSIMO – CIM

De acordo com o Departamento de Cartografia do


IBGE, a Carta Internacional ao Milionésimo “fornece sub-
sídios para a execução de estudos e análises de aspectos
gerais e estratégicos, no nível continental” (IBGE, 1998:47).
É uma representação de toda a superfície terrestre, na pro-
jeção cônica conforme de LAMBERT (com dois paralelos
padrões) na escala de 1:1. 000.000 (Figura 3).
Como o leitor já deve ter observado, a divisão em fu-
sos aqui apresentada é a mesma adotada nas especificações
do sistema UTM. Na verdade, o estabelecimento de suas
especificações é pautado nas características da CIM.
A distribuição geográfica das folhas ao milionésimo foi
obtida com a divisão do planeta (representado aqui por um
modelo esférico), em que cada uma das folhas ao milioné-
simo pode ser acessada por um conjunto de três caracteres:
1. letra N ou S - indica se a folha está localizada ao Norte
ou a Sul do Equador.
2. letras A até U - cada uma destas letras se associa a um
intervalo de 4º de latitude se desenvolvendo a Norte e a
Sul do Equador e se prestam à indicação da latitude limite
da folha. Além das zonas de A a U, temos mais duas que
abrangem os paralelos de 84º a 90º. A saber: a zona V que
é limitada pelos paralelos 84º e 88º e a zona Z, ou polar,
que vai deste último até 90º.
3. números de 1 a 60 - indicam o número de cada fuso que
contém a folha.

211
Cartografia Sistemática

Figura 3. Carta Internacional do Mundo ao Milionésimo

212
O sistema UTM, a carta internacional ao milionésimo...

Embora cada país decida o conjunto de escalas para a série de


cartas, existe concordância entre as nações sobre a área coberta
por uma carta topográfica, na escala de 1: 1.000.000, chamada de
12
aula
Carta Internacional ao Milionésimo - CIM
e que tem uma amplitude de quatro graus
de latitude por seis graus de longitude.
No Brasil, o IBGE (Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatística) e o Exér-
cito brasileiro, através da DSG (Direto-
ria do Serviço Geográfico), são, consti-
tucionalmente, responsáveis pelo
mapeamento topográfico sistemático.
Devido, principalmente, às dimensões
nacionais e aos custos elevados para a
produção deste tipo de mapeamento, Figura 4. – Área do Brasil coberta pelas Cartas
Internacionais ao Milionésimo
tem-se que este mapeamento topográfi-
co sistemático está restrito às escalas de 1: 1.000.000, 1: 500.000,
1: 250.000, 1: 100.000, 1: 50.000 e 1: 25.000 para cobrir todo o
território nacional (Figura 4).
A carta do Brasil na escala 1: 1.000.000 é constituída por 46
folhas de formato 6º X 4º. A área representada por uma folha
topográfica na escala ao milionésimo tende a necessitar de um
número crescente de folhas à medida que aumenta a escala As-
sim, uma folha ao milionésimo é decomposta em 4 folhas na
escala 1:500.000, 16 folhas na escala 1:250 000, 96 folhas na es-
cala 1:100 000 e 384 na escala 1:50 000.

Escala Dimensões nº. de folhas


1:1.000.000 6º 00´ x 4º 01
1:500.000 3º 00´ x 2 04 (1 x 04)
1:250.000 1º30´ x 1º 16 (04 x 04)
1:100.000 30´ x 30´ 96 (06 x 16)
1:50.000 15´ x 15´ 384 (04 x 96)

213
Cartografia Sistemática

Exemplo: Uma área situada entre 08º e 12º S recebe as le-


tras SC. Outra entre 60º e 64º N receberá as letras NP. Assim,
as folhas citadas acima representando áreas situadas entre as lon-
gitudes 36°W/42°W e 156°W/162°W têm índice SC-24 e NP-
04, respectivamente.
Para determinar as longitudes delimitadoras de cada fuso
procede-se a multiplicação do número do fuso por 6, em segui-
da subtrai-se do produto encontrado o valor 180. Verifica-se que
pode resultar em um número positivo ou negativo. Quando o
número encontrado for negativo significa que se trata de longi-
tude ocidental e corresponde ao limite inferior do fuso, logo, é
suficiente somar mais 6 para obter o limite superior do referido
fuso. Quando o número for positivo, significa que se trata de
longitude oriental e, nesse caso, o número encontrado
corresponde ao limite superior do fuso. Subtraindo-se 6 desse
número encontra-se o respectivo limite inferior do fuso.
Ex. Determinar as longitudes extremas do fuso numero 5 e
do 45 (quadragésimo quinto) fuso UTM.
Solução 1. 5 x 6 = 30.........30 - l80 = - l50 logo, longi-
tude W e limite inferior do fuso
Longitudes extremas = 150ºW/ 156ºW.
Solução 2. 45 x 6 = 270 .. 270 - 180 = 90 logo, longi-
tude E e limite superior do fuso.
Longitudes extremas = 84º E / 90°E.
Determina-se a latitude de cada zona UTM verificando o
número correspondente a cada letra indicadora da faixa e multi-
plicando-se esse número por 4. O produto dessa operação indi-
ca o limite superior da zona, devendo–se subtrair desse valor 4º
com a finalidade de se conhecer o respectivo limite inferior.
A. 1 x 4 = 4 - 4 = 0...............0º/ 4º N ou S
B. 2 x 4 = 8 - 4 = 4...............4º/ 8º N ou S
M. 13 x 4 = 54 -4 = 48 ...........48º/52º N ou S
K. 11 x 4 = 44 - 4 = 40...........40º/ 44º N ou S

214
O sistema UTM, a carta internacional ao milionésimo...

ATIVIDADES

1. Identifique os fusos cartográficos localizados nas seguintes


12
aula
faixas longitudinais.

2. Identifique as letras relacionadas às seguintes faixas latitudinais;

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

É importante observar a rede geral de distribuição da CIM e


exercitar a operacionalização da localização absoluta. Para
aqueles que já são professores, uma boa estratégia para
despertar o interesse do aluno é explicar as metas de um
jogo tipo “Batalha Naval”, que se assemelham às normas
utilizadas para o mapeamento sistemático global.

215
Cartografia Sistemática

NOMENCLATURA E ARTICULAÇÃO/
DESDOBRAMENTO DAS FOLHAS

Este desdobramento tem origem nas folhas ao milionésimo,


e se aplica a denominação de todas as folhas de cartas do
mapeamento sistemático que vão desde as escalas de 1: 1.000.000
até a escala de 1: 25.000.
A decomposição sucessiva das folhas topográficas baseada
na CIM conduz aos índices de referência formados por 5 ou 6
indicadores, como por exemplo: SC-24-V-A-IV-2.
Cada carta topográfica é identificada por um nome, que se
refere à localidade, ou ao acidente geográfico de “maior impor-
tância”, que está contido pela carta. Por exemplo, a carta topo-
gráfica ao milionésimo, que tem para o canto inferior esquerdo
latitude e longitude, respectivamente, latitude = 12ºS e longitu-
de =-42ºW e para o canto superior direto latitude =8ºS e longi-
tude =36ºW é denominada “Aracaju” (Figura 5). Se alguém de-
sejar adquirir uma carta topográfica, pode fazê-lo usando como
referência o nome da carta e a escala desejada.
Entretanto, nem sempre se conhece a priori o nome de uma
carta. Dessa forma, é mais comum fazer esta solicitação usando
a nomenclatura da carta ao invés do nome da carta. A nomen-
clatura de uma carta topográfica ao milionésimo fica determina-
da por três códigos alfanuméricos. O primeiro identifica o he-
misfério em que a carta está se ao sul, código S e se ao Norte,
código N. O segundo código identifica a zona em se encontra a
carta. Quando se considera o hemisfério sul, a primeira zona
está compreendida entre os paralelos de zero grau sul e quatro
graus sul. Esta zona recebe como código a letra A. A segunda
zona esta compreendida entre os paralelos de quatro graus sul e
oito graus sul e recebe o código B.
As zonas seguintes recebem as letras subseqüentes, sendo
que a última zona está compreendida entre os paralelos de oiten-
ta e oitenta e quatro graus sul. O último código identifica o fuso

216
O sistema UTM, a carta internacional ao milionésimo...

que contém a carta. No exemplo da carta “Aracaju” a sua no-


menclatura é então SC-24, ou seja, esta carta está no hemisfério
sul, na zona C e no fuso 24. Na Figura 5 é apresentado o forma-
12
aula
to da carta ao milionésimo com as informações marginais relati-
vas ao nome e nomenclatura da carta.

Figura 5. Carta de Aracaju ao Milionésimo.

A partir de cada carta ao milionésimo é feita a sua articula-


ção (ou decomposição) visando identificar as outras cartas to-
pográficas em escalas maiores. A forma de particionamento para
cada uma das cartas topográficas em escalas maiores foi
estabelecida por convenção nacional que envolve a FIBGE -
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; a DSG -
Diretoria do Serviço Geográfico (Exército); a DHN - Diretoria
de Hidrografia e Navegação (Marinha); e o ICA - Instituto de
Cartografia Aeronáutica (Aeronáutica).
No sistema de indicação de nomenclatura atual, as cartas de
1:1.000.000 são divididas em 4 retângulos (VXYZ) de 3 por 2
graus na escala 1:500.000. Cada uma destas é dividida em 4 par-
tes (A, B, C, D) de 1grau e 30 minutos por 1 grau, tal como a
figura acima. Por sua vez, o retângulo correspondente a cada
uma dessas letras é dividido em seis quadrados de 30 minutos, os
quais são numerados com algarismos romanos de I a VI da es-

217
Cartografia Sistemática

querda para a direita, a escala da folha em destaque (IV) é de 1:


100.000, e o seu índice de nomenclatura é SC-24-X-D-IV, que é
o da folha de Pão de Açúcar no estado de Alagoas. Figura 6.

Figura 6. Decomposição/ articulação da CIM SC-24

A partir desse nível de classificação (escala 1: 100.000), o siste-


ma “UTM Atual” subdivide as folhas em quatro partes. Estas car-
tas são denominadas com os algarismos 1, 2, 3, e 4, e têm formato
de 15' por 15' na escala de 1: 50.000. As cartas de 1: 50.000 tam-
bém são divididas em quatro partes, segundo as direções NO, NE,
SO, SE da mesma forma que as anteriores. A folha em destaque
na Figura 4.16c tem formato de 7, 5' X 7,5' na escala de 1: 25.000,
e seu índice de nomenclatura é: SC-24-X-D-IV-3-NE.
As organizações responsáveis pelo mapeamento topográfi-
co sistemático brasileiro consideram que a escala de 1: 25.000 é a

218
O sistema UTM, a carta internacional ao milionésimo...

maior escala de carta a ser produzida. Entretanto, existe uma


enorme demanda por mapeamento topográfico em escalas mai-
ores do que 1: 25.000, que são as escalas 1: 20.000, 1: 10.000, 1:
12
aula
5.000, 1: 2.000, podendo incluir também as escalas de 1: 1.000 e
1: 500. No Brasil é comum usar-se a denominação de Carta
Cadastral para fazer referência às cartas topográficas com esca-
las maiores do que 1: 25.000 (Figura 7). Normalmente, as
especificações para este tipo de produto cartográfico são
estabelecidas por Institutos Estaduais de Cartografia ou então a
partir de consenso entre contratante e contratada.

Figura 7 - Fragmento da carta topográfica 1: 50.000 produzida pelo IBGE.

219
Cartografia Sistemática

O sistema de nomenclatura utilizado para as folhas to-


pográficas e geográficas é baseado no sistema da Car-
ta do Brasil ao Milionésimo, descrito a seguir.
A Carta do Brasil ao Milionésimo faz
CONCLUSÃO parte da Carta Internacional do Mundo CIM,
na escala 1: 1.000.000, para a qual foi adota-
da a Projeção Cônica Conforme de Lambert, até as latitudes de
84º N e 80º S. Para as folhas das regiões polares foi utilizada a
Projeção Estereográfica Polar.
As especificações estabelecidas para a CIM tiveram as seguin-
tes finalidades:
a) Fornecer, por meio de uma carta de uso geral, um documento
que permitisse uma visão de conjunto do mundo para estudos pre-
liminares de investimentos, planejamentos de desenvolvimento eco-
nômico e, também, para satisfazer às diversas necessidades dos es-
pecialistas de variadas ciências.
b) Oferecer uma carta básica que permitisse preparar séries de car-
tas temáticas. Estas cartas constituem elementos fundamentais para
a eficaz execução de estudos e análises.

RESUMO

No sistema UTM, a terra é dividida em 60 fusos de 6 graus de


longitude, com início no anti-meridiano de Greenwich e se-
guindo de oeste para leste. Em relação à latitude, a divisão
consiste em zonas de 4 graus e isso está vinculado ao tamanho da
Carta de 1: 1.000.000 que também é chamada de CIM.
Para calcular a zona UTM para uma dada longitude, adicione
180º à longitude inicial da zona e divida por 6. Por exemplo, a
zona do Rio de Janeiro está entre as longitudes -42º e -48º; para
descobrirmos a zona UTM, fazemos a operação (180-42) / 6, cujo
resultado é 23 e, como estamos ao sul do Equador, a zona é 23 S.
A distorção de escala na direção Norte-Sul paralela ao
meridiano central é constante. No entanto, a distorção aumenta

220
O sistema UTM, a carta internacional ao milionésimo...

nas duas direções se afastando do meridiano central. Para


equalizar a distorção do mapa ao longo da zona UTM, é aplica-
do um fator de escala de 0.9996 para todas as medidas de distân-
12
aula
cia dentro da zona. A distorção nos limites da zona, distantes 3
graus do meridiano central, é de aproximadamente 1%.
No Brasil, é utilizado o sistema UTM para os mapas com
escalas até 1: 25 000 pelos principais órgãos de pesquisa e con-
trole do espaço brasileiro, como IBGE e DSG (Exército).
Pelos conceitos já definidos, as cartas das escalas de
mapeamento sistemático são divididas em folhas e cada folha
representa a cobertura topográfica de uma área, sob a projeção
cartográfica escolhida para a representação terrestre.

ATIVIDADES

1. Identifique as escalas das cartas cujas folhas recebem as


titulações abaixo:
a) SD-22-Y-B-II
b) SB-21-Z-C-IV-3
c) NF-18-X-D-V-2-NW
2. Explicar o enquadramento da folha SD 21-Y-B-IV, citando as
coordenadas geográficas inferiores e superiores dos paralelos,
fuso e a escala da referência.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Aqui você irá perceber de acordo com a denominação dos


códigos de nomenclatura, quais as escalas dos documentos
apresentados e quais as possibilidades de identificação dos
documentos necessários a determinados estudos, de acordo
com o seu objetivo.

221
Cartografia Sistemática

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula vamos trabalhar com determinação


das coordenadas UTM usando os conhecimentos ad-
quiridos a partir de agora.

REFERÊNCIAS

ANDERSON, Paul S. et all. Princípios de Cartografia Básica.


Vol. 1. Illinois State University, 1982.
FUNDAÇÃO IBGE. Noções Básicas de Cartografia. Disponí-
vel em <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia.>
Acesso em 12/07/2006.
Duarte, Paulo Araújo. Fundamentos de Cartografia. Série Didá-
tica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1994.

222
COORDENADAS UTM 13
aula
MET
METAA
Apresentar a localização de
elementos em cartas topográficas
de acordo com o sistema UTM.

OBJETIVOS
A partir desta aula, o aluno
deverá:estabelecer medidas de
distâncias por coordenadas UTM
comparando com as coordenadas
geográficas presentes nas
extremidades dos documentos; e
determinar os referenciais
externos das folhas topográficas
com vistas a reconhecer distâncias
em quilômetros ou em metros
entre elementos localizados
internamente na área de
cobertura da carta.

PRÉ-REQUISITOS
Aula 12 – O sistema UTM.

(Fonte: http://www.elgps.com).
Cartografia Sistemática

C aros alunos, além das coordenadas geográficas, a maio-


ria das cartas de grandes e médias escalas, em nosso
país, também são construídas com coordenadas plano-retangula-
res. Estas coordenadas formam um quadriculado relacionado à Pro-
jeção Universal Transversa de Mercator (UTM).
Como vimos na aula anterior, os com-
INTRODUÇÃO primentos dos graus de latitude variam do
equador para o norte ou para o sul, mas no
sistema UTM a faixa de latitude de 0º a 4º corresponde a 444
km. Enquanto que no sentido longitudinal as medidas são ex-
pressas pelo afastamento do Meridiano Central (MC) de cada
Fuso da Carta internacional ao Milionésimo que por sua vez
possui um tamanho de 6º (graus), ou seja, 666 km de compri-
mento.
Normalmente as coordenadas UTM são expressas em
metros. O eixo E (Easting) representa a coordenada no sentido
leste-oeste e o eixo N (Northing) representa a coordenada no
sentido norte-sul.
Para evitar coordenadas negativas, é atribuído o valor 500.000
m ao meridiano central. Assim, para os 6° de amplitude do fuso,
o eixo E varia de aproximadamente 166.000 m até 833.000 m
para cada fuso.
Para o eixo N, a referência é o equador e o valor atribuído
depende de hemisfério. Quando tratamos de regiões no hemis-
fério norte, o equador tem um valor de N igual a 0 m. No he-
misfério sul, o equador tem um valor N igual a 10.000.000 m
(figura 1). Assim, por exemplo: A zona SD delimitada por 12º/
16ºS tem como coordenada N (norte UTM) 8.668 km e 8.224
km S (sul UTM).
111 x 12 = 1.332 km................10.000 – 1.332 = 8.668km
111 x 16 = 1.776 km ............10.000 – 1.776 = 8.224 km
Portanto, o posicionamento de um ponto em coordenadas UTM
é dado pelo par coordenado E e N, correspondentes ao afastamento
do meridiano central (E) e do Equador (N), como por exemplo:

224
Coordenadas UTM

Ponto P (E,N) = P (362.422,00 m; 7.389.901,38 m)


Ponto Q (713.901,38 m; 8.728.773,83 m) 13
aula

Figura 1. Fuso completo

225
Cartografia Sistemática

N as quadrículas de uma faixa de UTM a linha limite do


lado oeste tem o valor zero no sistema métrico deci-
mal. Todas as medidas na direção leste são positivas e chamadas
de abscissas, isto é, são medidas feitas na dire-
AS BASES ção leste a partir da linha zero. Na realidade
essa linha zero nunca aparece numa carta
topográfica, porque ela extrapola a folha; os lugares terrestres
mapeados em cada faixa nunca vão além de 333 quilômetros do
meridiano central (Figura 1). Segundo Paul Anderson, “é impor-
tante lembrar que cada uma das sessenta faixas do sistema UTM
tem sua própria linha zero” (ANDERSON, 1982:122).
As abscissas (numerações a leste da linha zero) estão anota-
das nas margens horizontais das cartas. Estes são os números
pequenos que ficam no alto à esquerda que significam as cente-
nas de quilômetros de separação entre aquele ponto específico e
a linha zero, que está no extremo oeste; eles geralmente não são
usados quando se esta referindo somente às coordenadas conti-
das em uma carta. Porém, o leitor mais atento deve perceber que
os números sempre variam em torno de 500 km ou 500.000
metros, conforme podemos observar na figura abaixo.

Figura 2. Estrutura das coordenadas UTM.

Para as medidas de coordenadas norte-sul do sistema UTM,


a linha zero do hemisfério sul está perto do pólo sul; porém, ela
nunca aparece numa carta porque as regiões polares têm um

226
Coordenadas UTM

sistema especial de coordenadas (projeção estereográfica polar),


que substitui as do UTM. Todos os valores de coordenadas são
positivos e medidos na direção do norte; eles são chamados de
13
aula
ordenadas.
Combinando a abscissas com a ordenada, cada ponto da su-
perfície da Terra tem seu par de coordenadas, dentro de uma faixa
UTM. Esta quadrícula de coordenadas pode ser subdividida quantas
vezes se queiram para obter uma precisão de centenas ou dezenas
de metros, e até frações deste, se a carta está numa escala adequada
para tanta precisão (op. cit, 122).
Por convenção, sempre se escreve primeiro a abscissa e de-
pois a ordenada. As letras GR (Grade de Referência) indicam que
as coordenadas se referem a um ponto específico.
A determinação de um ponto na carta, mediante as suas coor-
denadas planas E e N ou a sua latitude e longitude, é um processo
usado no sentido de situar um detalhe cartográfico, como o cru-
zamento de estradas, a foz de um rio, a torre de uma igreja, etc.
No caso de se ter os valores das coordenadas e quando se
precisa marcá-lo na carta, é necessário em primeiro lugar, verifi-
car, de acordo com os valores das coordenadas em questão, quais
os dois pares do grid (UTM) ou paralelos e meridianos (geográ-
ficas) que abrangem o ponto a ser determinado.
Para fazermos as medições, escolhemos preferencialmente
uma extensão em centímetros (ou milímetros) que corresponda
a um múltiplo do valor encontrado no intervalo entre os pares
do grid (metros) ou paralelos e meridianos (graus, minutos, se-
gundos) e que exceda a medida entre eles.
O espaço entre as linhas do quadriculado UTM é conhecido
como eqüidistância do quadriculado e será maior ou menor de
acordo com a escala da carta.
Para encontrar as coordenadas de pontos que não estejam
sobrepostas às linhas impressas, precisa-se uma régua milimetrada
para medir perpendicularmente às linhas, certo segmento a leste
e o outro a norte do ponto de interesse. (ver a Figura 3) Desta

227
Cartografia Sistemática

forma não é necessário escrever as letras “E” e “N” deixando,


por exemplo, as coordenadas GR4384 para o ponto onde cru-
zam as linhas 43 E e 84 N. Esse ponto também pode ser identifi-
cado como GR 439 840, ou GR 43906 84053, sempre com o
mesmo número de cifras para a abscissa e a ordenada, usando as
centenas da notação seria Gr 43906 84053. Deixar um pequeno
espaço entre as duas “metades” é opcional.
Com o sistema de coordenadas UTM é fácil identificar rapi-
damente qualquer ponto numa carta com o quadriculado im-
presso, basta somar os valores da grade de referência.

Figura 3. Coordenadas UTM em uma carta topográfica

228
Coordenadas UTM

MEDIÇÃO DAS COORDENADAS EM UTM:


PROCEDIMENTOS PRÁTICOS 13
aula
1. Verificar que, nas cartas de escala 1: 100.000, as linhas impres-
sas do sistema UTM se distanciam umas das outras de dois em
dois quilômetros e nas cartas de 1: 50.000 esse afastamento con-
tinua sendo de dois em dois quilômetros, mas o distanciamento
na carta é quatro centímetros.
2. Localizar na carta o ponto do qual se quer achar as coordenadas.
3. Anotar o valor, em quilômetros, da distância entre o ponto e
a linha da abscissa impressa mais próxima, que se encontra a
oeste do ponto. Fazer o mesmo com a linha da ordenada mais
próxima ao sul, em relação ao ponto.
4. Colocar a “Régua para medir coordenadas UTM” sobre uma
carta com o seu respectivo canto (onde está o ângulo reto) vol-
tada para a direção NE, e com cada um de seus lados paralelos às
linhas impressas das quadrículas UTM. Posicionar a régua com
o canto de ângulo reto exatamente indicando o ponto do qual se
quer determinar as coordenadas UTM.
5. Ler os valores de décimos de quilômetros indicados onde as
marcas da régua cruzam as linhas UTM impressas no mapa. O
valor da medida Leste (“E” na margem superior) está indicado
pela linha UTM norte-sul. Soma-se este valor de décimos com o
da abscissa (em quilômetros) notado na etapa 3.
6. De maneira semelhante, ler o valor da medida para norte e so-
mar com o valor da ordenada da linha a identificada na etapa 3.

OBTENÇÃO DE COORDENADAS UTM NA


CARTA

O problema é prático, devendo-se inicialmente ser verificada


a escala da carta de onde serão obtidas as coordenadas. As coor-
denadas serão obtidas por interpolação linear, dentro da quadrí-
cula que contém o ponto de interesse, sendo, portanto, essenci-

229
Cartografia Sistemática

al a sua identificação, através dos valores de coordenadas E e N


que a limita. Assim, a exemplo para a escala 1: 50.000, a quadrí-
cula é definida pelos limites de coordenadas inferiores e à es-
querda. No caso P.1 (672, 7536), lembrando que as quadrículas
sempre serão referenciadas em quilômetros.
São medidos na carta, os afastamentos de cada uma das li-
nhas de coordenadas limite, que corresponderão às diferenças
de coordenadas, a partir do início da quadrícula. Para a obten-
ção de coordenadas, basta multiplicar o valor de dE ou dN obti-
dos na carta, pela Escala do mapa:

dE X Escala = m e dNn X Escala = m

Sendo
ÄEC = afastamento total da quadrícula Leste na Carta
ÄET = afastamento total da quadrícula Leste no Terreno
ÄNC = afastamento total da quadrícula Norte na Carta
ÄNT = afastamento total da quadrícula Norte na Carta
dE = diferença de coordenada Leste em (cm)
dN = diferença de coordenada Norte em (cm)
E = fator da Escala ou simplesmente Escala

Figura 4. Composição da localização em UTM

230
Coordenadas UTM

Estes dados obtidos devem ser somados às coordenadas in-


feriores da quadrícula: 672.000 para E e 7.536.000 para N, dan-
do as coordenadas do ponto considerado:
13
aula
dE = 2,84 cm x 50.000 = 1.420 m
dN = 2,93 cm x 50.000 = 1.465 m
EP = 672.000 + 1.420 = 673.420 m
NP = 7.536.000 + 1.465 = 7.537.465 m, formando a grade
de referencia GR 673420 7537465.
O problema maior de se localizar utilizando qualquer siste-
ma de coordenadas é a necessidade de se possuir parâmetros in-
ternacionais de posicionamento e medição que sejam únicos ou
sejam aceitos como marcos de referência geral para um país ou
região, e que a partir dessa referência se possa construir todo
material cartográfico utilizado no país ou região. Para isso, se
utiliza o DATUM como fonte referencial, seja horizontal para
orientar o posicionamento das longitudes e latitudes ou vertical
que orienta as altitudes de determinada região.

DATUM

Datum é um ponto de amarração da carta em relação ao


terreno. Para caracterizar um Datum utiliza-se uma superfície
de referência e uma superfície de nível. Uma superfície de refe-
rência (datum horizontal) consiste em cinco valores: a latitude e
longitude de um ponto inicial, o azimute de uma linha que parte
deste ponto e duas constantes necessárias para definir o elipsóide
de referência. Assim, forma-se a base para o cálculo dos levanta-
mentos de controle horizontal no qual se considera a curvatura
da Terra.
A superfície de nível (datum vertical) refere-se às altitudes.
Para a definição do datum escolhe-se um ponto mais ou menos
central em relação à área de abrangência do datum.
Para o Brasil, nos mapas mais antigos adota-se o Datum de
Córrego Alegre - MG, e mais recentemente, o Datum SAD 69

231
Cartografia Sistemática

(Datum Sul Americano de 1969), porém existem mapas feitos


em ambos e até mesmo com Datum locais.
Córrego Alegre - MG
- Latitude: 19º 45' 41.34"S
- Longitude: 48º 06' 07.08"W
SAD 69
- Latitude: 19º 45' 41.6527"S
- Longitude: 48º 06' 04.0639"W
- Azimute de Uberaba: 271º 30’ 04.05".
O sistema de referência do GPS (Sistema de Posicionamento
Global) é o WGS 84. Como as cartas do território brasileiro são
referenciadas ao SAD 69 (e em alguns casos são referenciadas ao
sistema mais antigo – Córrego Alegre), algumas normas devem
ser adotadas para que os resultados obtidos com o GPS possam
ser utilizados para fins de mapeamento, ou outras atividades que
necessitem de informação georreferenciada.
A rede de pontos levantados com GPS terá suas coordena-
das referenciadas ao WGS 84, devendo sofrer uma transforma-
ção para o SAD 69. Assumindo-se que os dois sistemas são para-
lelos e com mesma escala, no Brasil, os parâmetros oficiais de
transformação de WGS 84 para SAD 69 são os seguintes.
Para x ’! WGS 84 + 66,87m = SAD 69;
Para y ’! WGS 84 + 4,37m = SAD 69;
Para z ’! WGS 84 + 38,52m = SAD 69.

(Fonte: http://www.ambitojuridico.com.br).

232
Coordenadas UTM

C 13
onforme explicamos na aula nº. 7, a localização abso-
luta resulta de medições em relação a referências já
aula
conhecidas, portanto, o reconhecimento das linhas de grade que
estão presentes nos documentos sistemáticos tem um papel im-
portante na amarração e exatidão dos obje-
tos localizados. Vez que estas linhas de gra- CONCLUSÃO
de ou grid como os especialistas chamam,
sempre estão ligados a algum elipsóide de referência que deve ser
registrado no documento com o nome de DATUM.
Entretanto, o processo de leitura das coordenadas de um
ponto qualquer em uma carta ou mapa é o mesmo das coor-
denadas geográficas, apenas encontramos a distância da refe-
rência (linhas do grid ou paralelos e meridianos) até o ponto
desejado e calcularemos em metros estas distâncias que de-
pois serão adicionadas aos valores de referência que estão nas
bordas do documento.

233
Cartografia Sistemática

RESUMO

O posicionamento de um ponto em coordenadas UTM é dado


pelo par coordenado E e N, correspondentes ao afastamento
do meridiano central (E) e do Equador (N). O problema de se
obter as coordenadas UTM em uma carta topográfica e a sua
plotagem está ligado à escala da carta e ao erro gráfico de percep-
ção.
As coordenadas N (norte) crescem de S para N e são acrescidas
de 10.000.000 (metros) para não se ter valores negativos ao sul do
Equador que é a referência de origem; já as coordenadas E (leste)
crescem de W para E, acrescidas de 500.000 (metros) para não se
ter valores negativos a oeste do meridiano central.
Observamos que enquanto o sistema de coordenadas geográficas,
angulares, em graus, minutos e segundos é de uso geral para
referenciar qualquer ponto da Terra, o sistema UTM, alem de limi-
tado pelos paralelos 80o S e 84o N, deve contar com a indicação da
Zona UTM, pois as mesmas coordenadas métricas N e E repetem-
se em todas as 60 zonas.
As projeções de linhas meridianas geográficas em mapas pró-
ximos das bordas das zonas (múltiplas de 6o de longitude) mos-
tram ângulo com as linhas cartesianas do sistema UTM. Exem-
plo de coordenadas UTM: Zona 23, N 8.569.300, E 645.750, o
que significa que o ponto referenciado acha-se entre 36 e 48o W
(zona 23), 145.750 m a leste do meridiano central (no caso 39o
W) e 1.430.700 m a sul do Equador.

234
Coordenadas UTM

ATIVIDADES

1. Qual a coordenada UTM, aproximada, dos pontos centrais


13
aula
das cidades localizadas na carta abaixo?

235
Cartografia Sistemática

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

O processo de plotagem das coordenadas UTM remete a


aplicação da lógica matemática e da precisão milimétrica para
elaboração de cálculos utilizando uma régua ou efetuando
medidas a partir dos pontos de referência Leste e Norte da
referida carta. Observe que o reconhecimento das
coordenadas geográficas pode auxiliar na conversão desta
para o sistema UTM.

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula vamos trabalhar com a idéia de Fuso ho-


rário e determinação das horas em diferentes lugares. Con-
ceito que é muito utilizado na escola para que os alunos
compreendam como se processa o movimento da terra.

REFERÊNCIAS

ANDERSON, Paul S. Princípios de Cartografia Básica. v. 1.


Illinois State University, 1982.
FUNDAÇÃO IBGE. Noções Básicas de Cartografia. Disponí-
vel em <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia.>
Acesso em 12/07/2006.
Paulo Araújo. Fundamentos de Cartografia. Florianópolis: Edi-
tora da UFSC, 1994. Série Didática.

236
FUSOS HORÁRIOS: 14
CONCEITOS E DETERMINAÇÕES
aula
MET
METAA
Apresentar as diferenças
horárias entre lugares.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o
aluno deverá: estabelecer
as diferenças horárias do
globo;
identificar as formas de
contagem de tempo
relacionando com a
posição longitudinal dos
diversos países e cidades;
e determinar o significado
da utilização do Horário
de Verão.

(Fonte: http://www.feiradeciencias.com.br).
PRÉ-REQUISITOS
Aulas 11 e 12, que
contêm as projeções
cartográficas e o sistema
UTM.
Cartografia Sistemática

N
oção de tempo e fusos horários, o sol não nasce; a
terra gira. Por causa do movimento de rotação do
nosso planeta, a Terra apresenta dias e noites. Como
conseqüência, vários pontos da superfície apresentam diferen-
ças de horários.
INTRODUÇÃO De fato, se em um determinado local o Sol
encontra-se próximo à posição do meio-dia,
a oeste dessa posição, o Sol ainda não alcançou esta posição,
enquanto que a leste, ela já foi ultrapassada. Se dois lugares
estiverem alinhados ao longo de um mesmo meridiano, terão a
mesma hora solar, pois estarão vendo o Sol sob o mesmo ân-
gulo horário com a posição do meio-dia, como podemos ob-
servar na figura 1, as referências entre os pontos M e L onde
também será meio-dia, pois estão situados sobre o mesmo
meridiano MN.
Tomando como exemplo essa mesma figura, podemos abs-
trair o movimento da terra de Leste (E) para Oeste (W) em que
a Terra, observada pelo pólo norte, é ilumi-
nada pelo Sol (S). Os raios solares atingem a
superfície terrestre paralelamente, devido à
distância Terra - Sol. A seta curva mostra a
direção contrária da rotação terrestre, uma
vez que se está considerando a Terra fixa. O
Sol está alinhado com a direção do meridiano
(MN) e o ponto M indica a passagem do Sol
pelo meridiano (meio-dia). Em E, a leste são
3 horas, havendo um ângulo horário de + 3
horas, definido pelas direções MN e NA, di-
reção do meridiano local. Similarmente, exis-
tirá um ângulo horário de – 3 horas, em re-
lação ao meridiano BN, em W.

238
Fusos horários: conceitos e determinações

S
obre a medida do tempo no passado, quando mesmo os
pequenos deslocamentos apresentavam-se com a duração
de vários dias, apenas os astrônomos podiam compreen-
14
aula
der que o tempo solar, no mesmo momento, era variável, em
diferentes lugares. Vide aula nº 02 (Hiparco
de Nicéia).
FUSOS HORÁRIOS
MEDIDAS DE TEMPO

O tempo e sua medida é algo que é amplamente conhe-


Tempo
cido e vivido por cada ser humano. Porém, o que é tempo?
Qual o seu significado real? Como é medido e sentido so- O dicionário Houaiss
bre a superfície terrestre? define tempo como “o
período de duração re-
O conceito antigo de tempo definia o dia como a uni- lativa das coisas que cria
dade básica, estabelecida como o período de luz solar, se- no ser humano a idéia de
presente, passado e fu-
guido pela noite, consistindo de dois períodos de 12 horas, turo”. Também é defini-
num total de 24 horas. do como período contí-
nuo e indefinido no qual
Uma hora é dividida em 60 minutos, que por sua vez subdi- os eventos se sucedem.
vide-se em 60 segundos, estabelecendo assim um sistema
sexagesimal. Os segundos por sua vez são subdivididos no siste-
ma decimal, em décimos, centésimos, milésimos de segundo.
Modernamente o tempo é definido tendo por base o segun-
do. Um dia possui 86.400 segundos e um segundo é oficialmen-
te definido como 9.192.631.770 oscilações do átomo do Césio-
133 em um relógio atômico.
Existem ainda outros sistemas de tempo, principalmen-
te voltados para aplicações astronômicas e satélites (GPS),
como por exemplo:
Tempo Dinâmico: considera o tempo definido pelo movimento
orbital da Terra no Sistema Solar.
Tempo Universal (UT): baseado na rotação terrestre em rela-
ção às estrelas (Tempo sideral).
Tempo Sideral – A medida de tempo definida pelo movi-
mento diurno aparente do ponto vernal; portanto, uma medida

239
Cartografia Sistemática

da rotação da Terra com respeito à malha de referência relacio-


nada com as estrelas ao invés do Sol.
Tempo Atômico Internacional (TAI): consiste numa escala de
tempo atômico baseada em dados provenientes de um conjunto
mundial de relógios atômicos. O TAI se constitui por acordo
internacional aceito como referência de tempo em conformida-
de com a definição do segundo, a unidade fundamental de tem-
po atômico no Sistema Internacional de Unidades (SI). É defini-
da como a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação cor-
respondente a transição entre dois níveis hiper-finos dos áto-
mos de césio 133 em seu estado básico.
O TAI é mantido pelo Bureau International des Poids et
Mesures (BIPM) na França desde julho de 1955, embora tenha
sido oficializado em janeiro de 1972.
Tempo Terrestre (TT): a nova denominação do Tempo das
Efemérides, definida pela União Astronômica Internacional em
1991. Em janeiro, 01, 1997, TT = TAI + 32, 184 segundos, e a
duração do segundo foi escolhida em concordância com o Siste-
ma Internacional (SI) sobre o Geóide. A
escala TT difere do antigo Tempo das
Efemérides em sua definição conceitual.
Todavia, na prática é materializado pelo
Tempo Atômico Internacional (TAI).
Greenwich Mean Time (GMT): Hora
Média de Greenwich - Um sistema de 24
Horas baseado na hora Solar média mais
12 horas em Greenwich, Inglaterra. A
Hora Média de Greenwich pode ser con-
siderada aproximadamente equivalente
ao Tempo Universal Coordenado
(UTC), o qual é disseminado por todas
(Fonte: http://www.jazevedo.portaisbr).
as emissoras de rádio de tempo e fre-
qüência. Entretanto, GMT é um termo
obsoleto e foi substituído por UTC. Por acordos internacio-

240
Fusos horários: conceitos e determinações

nais, a grande maioria das informações de tempo é relacionada


ao Tempo Universal Coordenado (UTC).
Tempo Civil (TC): é o tempo solar médio acrescido de 12 ho-
14
aula
ras, isto é, usa como origem do dia o instante em que o sol mé-
dio passa pelo meridiano inferior do lugar. A razão da insti-
tuição do tempo civil é não mudar a data durante as horas
de maior atividade da humanidade nos ramos financeiros,
comerciais e industriais, o que acarretaria inúmeros proble-
mas de ordem prática.
Hora legal: é o tempo determinado pela posição do
meridiano do lugar.
Note que os tempos acima são locais, dependendo do ângulo
horário do Sol, verdadeiro ou médio. Se medirmos diretamente
o tempo solar, este vai provavelmente ser diferente daquele que
o relógio marca, pois não se usa o tempo local na vida diária,
mas o tempo do fuso horário mais próximo.

FUSOS HORÁRIOS

Considerando o movimento de rotação terrestre, é impossí-


vel o Sol estar cruzando o meridiano de dois lugares exatamente
ao meio-dia, exceto se esses lugares estiverem sobre o mesmo
meridiano. Como a Terra gira 360° em 24 horas, é fácil verificar
que a cada hora ela gira em 15°. Surge assim o conceito de divi-
são da Terra em fusos horários, com a amplitude desses mesmos
15°, estabelecendo-se assim 24 fusos de uma hora cada.
Todos os fusos foram definidos a partir do meridiano de
Greenwich, por acordo internacional estabelecido em 1884, por
ser o mesmo meridiano já considerado origem para alguns
dossistemas de posicionamento terrestre, que passa pelo cruzamento
dos fios da luneta do antigo Observatório Real. Este meridiano é
definido como o meridiano central do fuso, dessa forma cada fuso
tem a longitude do meridiano central divisível por 15. A hora em
cada fuso é assumida pela hora do meridiano central.

241
Cartografia Sistemática

Figura 2 – Fusos horários – O mundo em fusos de 15°.

A Linha Internacional de Mudança de Data é uma linha ima-


ginária posicionada próximo ao meridiano 180°, cortando o
oceano Pacífico. O cruzamento desta linha, para oeste, faz com
que a data do calendário seja adiantada de um dia. Se cruzada em
sentido contrário (para leste), a data observada será um dia atra-
sada em relação ao oeste da linha.
Esta divisão, bem caracterizada, define a hora civil em cada
ponto da superfície terrestre. O fuso de Greenwich recebe a
denominação de Z ou ZULU, sendo a hora em Greenwich cha-
mada de hora Zulu. Aos demais fusos são também atribuídas
letras. O fuso que abrange a Linha Internacional de Mudança de
Data possui duas designações: a oeste M e a este Y,
correspondendo à data adiantada e atrasada respectivamente.

242
Fusos horários: conceitos e determinações

Para acomodar as divisões políticas, alguns países têm modi-


ficado seus fusos, criando contornos que melhor enquadram as
suas necessidades, conforme pode ser visto na figura 3.
14
aula

Figura 3 – Fusos horários adaptados.

Na página dos objetos de aprendizagem virtual do MEC você


pode fazer o download de uma animação que será muito útil na
sua sala de aula. http://rived.mec.gov.br/atividades/geografia/
fusos/fusos.swf

FUSOS NO BRASIL

De acordo com a Lei N° 11.662, de 24/04/2008, foi modifi-


cada a quantidade de fusos horários no Brasil.
O território brasileiro está localizado a oeste do meridiano
de Greenwich (fuso zero), abrangendo o fuso -2, fuso -3 e fuso -
4 (não existe mais o fuso -5), isto quer dizer que em virtude da
sua grande extensão territorial, em vez de quatro fusos, agora

243
Cartografia Sistemática

passa a ter a partir desse decreto 3 fusos horários. O primeiro


fuso (-2 horas GMT) sobre as ilhas oceânicas e mais 2 fusos (-3 e
-4 horas em relação a GMT) sobre o território brasileiro. O ho-
rário de Brasília (horário oficial brasileiro) continua -3 horas em
relação ao GMT. Portanto, todo horário sob território brasilei-
ro é atrasado em relação à hora GMT ou UTC. A imagem mos-
tra a nova configuração dos fusos sobre o território brasileiro
de acordo com a nova legislação.

DETERMINAÇÃO DA HORA

Como se pode determinar a hora em cada local da superfície


terrestre? Inicialmente, pelas explicações dadas, este problema
está intimamente ligado à determinação da longitude do lugar,
uma vez que pelo seu conhecimento será possível estabelecer a
diferença em relação a Greenwich.
Em função das divisões apresentadas, algumas definições
sobre tempo podem ser agora firmadas.
Hora legal: é a hora civil do fuso para a área geográfica
considerada.

244
Fusos horários: conceitos e determinações

Hora oficial: normalmente considerada em cada país, como a


hora legal da sua capital.
Hora universal local: hora determinada pelo meridiano passante
14
aula
pelo lugar em relação a Greenwich.

HORA CIVIL

De posse de um mapa de fusos horários, verificar qual a dife-


rença horária (UT ± f, onde f é o fuso do lugar) em relação a
Greenwich. Observar que neste tipo de mapa, conforme pode ser
visto na figura 3, todos os horários estão reduzidos ao fuso origem.
Assim serão também obtidos horários relacionados a este fuso. Sa-
bendo-se a hora de Greenwich, basta somar ou subtrair os valores.
Para a determinação de um horário em relação a outro ponto
terrestre, deve-se reduzir um dos pontos como origem, estabelecen-
do-se o diferencial em relação aos dois pontos.
Exemplos:
1. Qual a hora em Nova York, sabendo-se que são 14 horas em
Greenwich?
Pelo mapa, NY está no fuso Q, correspondendo a UT – 4, ou seja,
quatro horas a menos que em Greenwich, logo
HNY = HG (UT) –4 = 14: 00 – 4 = 10: 00
2. Tendo-se 18 horas em Rio Branco, Acre, qual a hora em
Greenwich?
Fuso do Acre = UT –4
HAC = UT –4 18:00 = UT –4 ∴ UT = 18:00 + 4 = 22:00
Deve-se ficar atento para o problema de mudança de data. Por exem-
plo, se fossem 22 horas em Rio Branco, a hora de Greenwich seri-
am 22 horas + 4 = 26 horas, porém, já extrapolado para 24 horas,
a hora correta é 2 horas do dia seguinte ao dia em Greenwich.
3. Determinar a hora em Moscou, quando forem 11 horas no Rio
de Janeiro.
Fuso do Rio de Janeiro UT –3
Fuso de Moscou UT + 3, logo

245
Cartografia Sistemática

HRJ = UT –3 e HM = UT + 3
Considerando então que UT =
HM = (HRJ + 3) + 3, portanto, HM = HRJ + 6, assim a hora em
Moscou será 17 horas do mesmo dia.
4. Considerando-se ser 21 horas em São Paulo, determinar a hora
em Tóquio.
Fuso de São Paulo UT –3 (P)
Fuso de Tóquio UT + 9, logo pelas mesmas considerações do
exercício anterior
HT = (HSP + 3) + 9, assim
HM = (21: 00 + 3) + 9 = 33: 00 ultrapassando as 24 horas, que
subtraídas fornecem o valor de 9 horas.
Verificando-se então que houve transposição da linha de mu-
dança de data, caracterizando a data do dia D+1 em relação ao
dia em São Paulo.

HORA LEGAL

A hora legal sempre será determinada pela diferença de lon-


gitude entre os dois lugares considerados. Dividindo-se a dife-
rença de longitude pelo valor uni-
tário de 1 hora (15°), obtém-se a
diferença horária entre os dois
meridianos. Este valor obtido deve
ser somado ou subtraído, confor-
me a posição do ponto desejado
estar a leste ou oeste do ponto ori-
gem.
O cálculo é semelhante à de-
terminação da diferença de longi-
tude entre dois pontos
(Fonte: http://geografiauesc.blogspot.com)
Δλ12 = λ2 - λ1 , Δh12 = (Δλ12)/ 15°
Δh12 = h2 - h1

246
Fusos horários: conceitos e determinações

h2 = Δh12 + h1 determinando-se então a hora civil no local


desejado.
Exemplos
14
aula
1. Determinar a hora na cidade de Estocolmo, de longitude igual
a 18° 17′22″, sabendo-se que são 17′ 22″ na cidade de Salvador,
Brasil, cuja longitude é igual a -38° 18′ 42″.
ΔλSE = λE - λS ΔλSE = 18° 17′ 22″ -(-38° 18′ 42″) = 56° 36′ 04″
ΔλSE = 56,6011111 (graus decimais)
Determinação da diferença horária
Δh12 = (Δλ12)/ 15° = 56,6011111/ 15° = 3,773407407 (hora
decimal) = 3h 46m 24s
Como Estocolmo está a leste de Salvador, esta diferença será
positiva, logo a hora em Estocolmo será dada por
HE = 17h 22m + 3h 46m 24s = 21h 08m 24s
Evidentemente esta hora não será a hora legal em Estocol-
mo, pois Salvador está no fuso P, UT –3 e Estocolmo está no
fuso A UT + 1, sendo portanto a diferença de fuso, dada por HS
+ 4, logo a hora legal em Estocolmo será
HLE = 17h 22m + 4 = 21h 22m.

O QUE SIGNIFICA O HORÁRIO DE VERÃO

DST - Daylight Saving Time ou Summer Time - Horário de


verão - geralmente uma hora a mais que o tempo padrão (há
registros de uso de adiantamentos de 20 ou 40 minutos e de duas
horas). No dia marcado para o seu início, em cada país que o
adota, os relógios são adiantados geralmente em uma hora, vol-
tando ao horário normal (com o correspondente atraso nos re-
lógios) ao término do período especificado. A alteração nos re-
lógios geralmente é feita no início da madrugada. Assim, o pri-
meiro dia do ciclo tem 23 horas e o último, 25 horas. O método
foi sugerido em 1784 por Benjamin Franklin e adotado pela pri-
meira vez em países europeus em 1916, durante a I Guerra Mun-
dial. Nos EUA, com o nome de War Time, foi usado de forma

247
Cartografia Sistemática

contínua desde 3/2/1942 até 30/9/1945, na II Guerra. Atual-


mente, é usado principalmente entre março e setembro no He-
misfério Norte e de outubro a fevereiro no Hemisfério Sul.
O Horário de Verão é adotado por um grande número de
países, como medida de economia de eletricidade, durante parte
da primavera e verão, onde os dias são maiores que as noites. A
idéia é ajustar as horas de claridade o mais próximo possível das
horas de atividade humana, havendo com isso uma razoável eco-
nomia. Normalmente é definida por decretos, com datas de iní-
cio e término variáveis, adiantando-se os relógios em uma hora,
quando começa e atrasando-se ao seu final.

(Fonte: http://www.sacrahome.net)

248
Fusos horários: conceitos e determinações

ATIVIDADES
14
aula
1. Às 9 horas um indivíduo telefona da cidade A, para um amigo
que reside na cidade B, onde o relógio marca 5 horas, no mo-
mento em que a ligação é atendida. Assinale as afirmativas ver-
dadeiras e as afirmativas falsas.
a) A e B não podem estar situadas no mesmo continente.
b) É possível que A e B sejam cidades de um mesmo país.
c) A e B se situam em hemisférios distintos.
d) A fica a oeste de B.
e) B fica a oeste de A.
2. Um avião sai do Rio de Janeiro - 45°W, às 14 horas, com
destino a Fernando de Noronha - 30°W. O Vôo é de 3 horas.
Que horas serão na ilha quando esse avião aterrissar:
a) 16 horas b) 17 horas
c) 18 horas d) 19 horas
e) 20 horas
3. Em Londres, capital da Inglaterra, situada a 0° de longitude é
meio-dia (12 horas). Em São Paulo, que está a 45 graus de longi-
tude ocidental, são:
a) 3 horas da manhã b) 3 horas da tarde
c) 9 horas da manhã d) 9 horas da noite

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Utilizando as formas de observação e o conhecimento


adquirido sobre as longitudes e o sistema de rotação da Terra
você poderá perceber os fusos horários de seu país e se
posicionar em relação aos demais lugares do mundo. Estas
são tarefas que geralmente utilizamos no caso de viagens de
longas distâncias longitudinais, internacionais ou para que
o aluno perceba as diferenças horárias dos demais países.

249
Cartografia Sistemática

C
om o avanço da Ciência e da Tecnologia, junto com o
aumento da velocidade dos transportes e das comuni
cações, acabou sendo imposta a necessidade de unifi-
cação da hora em todo o mundo. Para tanto, na Conferência
Internacional do Meridiano ocorrida em Wa-
CONCLUSÃO shington em 1884, foi proposto e aceito pe-
los representantes de 25 países, inclusive o
Brasil, o Sistema de Fusos Horários. Os fusos horários foram
criados para pôr ordem no horário mundial e atender a todos os
segmentos da sociedade, como empresas, comércio, comunica-
ções, investidores. Dessa forma passou a ser possível saber que
horas são em determinado lugar neste exato momento.
No site http://www.calculoexato.com.br/adel/viagem/fu-
sos/index.asp você pode calcular a diferença horária entre as
principais capitais do mundo.

RESUMO

As zonas horárias ou fusos horários são cada uma das vinte


e quatro áreas em que se divide a Terra e que seguem a mes-
ma definição de tempo. Anteriormente, usava-se o tempo
solar aparente, de forma que a hora do dia se diferenciava ligeira-
mente de uma cidade para outra. Os fusos horários corrigiram
em parte o problema ao colocar os relógios de cada região no
mesmo tempo solar médio. Os fusos horários geralmente estão
centrados nos meridianos das longitudes que são múltiplos de
15°; no entanto, como se vê no mapa anexo, as formas dos fu-
sos horários podem ser bastante irregulares devido às fronteiras
nacionais dos vários países ou devido a questões políticas (caso
da China, que poderia abranger algo como 4 fusos horários, mas
obriga todo o país a utilizar o horário de Pequim com evidentes
distorções no oeste chinês, onde quando não é inverno o sol
nasce por volta das nove horas da manhã).

250
Fusos horários: conceitos e determinações

Todos os fusos horários são definidos em relação ao Tempo


Universal Coordenado (UTC), o fuso horário que contém Lon-
dres quando esta cidade não está no horário de verão onde se
14
aula
localiza o meridiano de Greenwich, o qual divide o fuso horário.

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula você vai observar os elementos de


representação contidos nas cartas topográficas. Para
isso, torna-se necessário tê-la em mãos para dar prosse-
guimento ao reconhecimento, análise e descrição des-
se documento essencial nos estudos geográficos.

REFERÊNCIAS

DUARTE, Paulo Araújo. Fundamentos de Cartografia.


Florianópolis: Editora da UFSC, 1994.

251
SÍMBOLOS E CONVENÇÕES
CARTOGRÁFICAS
15
aula
MET
METAA
Apresentar as convenções
cartográficas utilizadas nos
diversos tipos de documentos
cartográficos.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá:
identificar as formas de
simbologia específica utilizadas
nas cartas topográficas;
verificar as convenções
universais que são comuns aos
documentos topográficos;
e distinguir as variações de
representação do alfabeto
cartográfico levando-se em
consideração as escalas de
conhecimento do documento
cartográfico.

PRÉ-REQUISITOS
As diferenças horárias da Terra,
apresentadas na aula 14.

(Fonte: http://static.hsw.com.br)
Cartografia Sistemática

A
simbolização ou a definição dos símbolos e conven-
ções cartográficas que representarão as informações
geográficas em um mapa ou carta é a última das transfor-
mações cognitivas que serão submetidas à informação geográfica.
Uma das grandes vantagens de um documento cartográfico é a
sua universalidade. Na realidade ele não preci-
INTRODUÇÃO saria ter uma linguagem escrita padronizada para
que possa ser analisado e interpretado, ou seja,
a interpretação de um mapa pode ser realizada, em princípio, sem
que se conheça totalmente a linguagem escrita, apenas reconhecen-
do a linguagem gráfica associada.
Como já vimos em aulas anteriores, o mapa fornece uma visão
global generalizada de uma região, facilitando a sua memorização e
entendimento, uma vez que a linguagem peculiar de comunicação
permite a comunicação de informações distintas e associadas que
geram os símbolos locacionais qualitativo ou quantitativo de deter-
minado fenômeno.
Qualquer linguagem (e especificamente é uma linguagem gráfi-
ca) utiliza símbolos para poder traduzir uma idéia ou um determi-
nado fenômeno. Assim, pela associação de símbolos, chega-se per-
feitamente a uma analogia e mesmo a comparação de fenômenos
que permitirá a sua sintetização, visando facilitar a comunicação
visual.
Desta forma o mapa registra o fenômeno e em conseqüência a
informação que o traduz, logo pode ser considerado um inventário
dos fenômenos representados. Por ser um documento informativo
tem que ser completo, ou seja, tem que ser fiel àquilo que se deseja
representar. Isto pode, de certa forma, prejudicar a legibilidade do
objeto a ser representado.
Logo, a informação deve ser tratada para poder representar o
fenômeno de acordo com essas características. Não deve apenas
registrá-lo, sob pena de não representar o fenômeno de forma coe-
rente, criando-se uma simbolização ou convenções que traduzam
com fidelidade a informação cartográfica representada no mapa.

254
Simbolos e convenções cartograficas

A comunicação com o usuário deve ser clara, legível e nítida.


Uma boa carta pode até ser lida sem legendas, porém necessita da
legenda para uma interpretação mais aprofundada.
15
aula
Existem diversas formas de simbolizar ou codificar dados
geográficos, seus conceitos e relacionamentos podem atribuir
um significado específico aos vários tipos de símbolos, suas vari-
ações e suas combinações são apenas os primeiros passos de um
projeto gráfico. Num segundo momento, a disposição dos sím-
bolos e códigos pode gerar a atribuição de significados próprios
a uma determinada área.
Pode-se então estabelecer que símbolos e convenções
cartográficas são os elementos que se dispõe para representar
cartograficamente a informação geográfica, dentro de uma lin-
guagem gráfica pré-estabelecida.

(Fonte: http://www.mappinginteractivo.com)

255
Cartografia Sistemática

A
s informações geográficas possuem características que
podem ser assumidas como qualitativas ou quantitati-
vas. Por informação qualitativa deve ser entendida
como a informação que tem caráter de apresentar a tipificação
da informação, ou seja, a sua qualificação. Por exemplo, uma
igreja, uma estrada, um rio, uma área de ve-
INFORMAÇÕES getação, uma ocorrência de determinado
tipo de solo, um tipo específico de cobertu-
ra vegetal. A simbologia adotada irá apenas qualificar o tipo de
ocorrência, juntamente com o seu posicionamento geográfico,
sendo estes os seus principais atributos. Não existe associação
com nenhum tipo de hierarquização ou quantificação de valo-
res.
Já as informações quantitativas são caracterizadas por repre-
sentar um valor mensurável para o fenômeno ou à sua ocorrên-
cia. Também podem dar uma idéia de hierarquia ou de priorização
de elementos, ou podem associar valores quantificáveis para a
representação do fenômeno.
Por exemplo, a ocorrência de estradas, distintas por classes (auto-
estrada, 1a classe, federal, estadual, pista simples, pista dupla, etc),
que fornecem uma idéia de hierarquia, ordenação ou prioridade. A
associação às estradas de dados de fluxo de veículos, capacidade de
escoamento de carga, capacidade de suporte de veículos, são típicas
de quantificação por valores mensuráveis sobre o fenômeno.

ESCALAS OU CLASSES DE OBSERVAÇÃO

As escalas de observação (neste caso, o termo escala representa


a forma de associação às informações qualitativas e quantitativas e
não ao conceito clássico espacial de razão/ proporção da realidade)
são denominadas como: nominais, ordinais, intervalos e razão.
A classe nominal traduz as informações qualitativas, possu-
indo, portanto, todas as suas características. A classe ordinal as-
socia-se às distribuições quantitativas que não são representadas

256
Simbolos e convenções cartograficas

por valores dimensionais, mas por uma hierarquização de impor-


tância ou priorização apropriada. As classes de intervalo e razão
associam-se às informações quantitativas valoradas, sendo as de
15
aula
intervalo traduzidas por valores dentro de uma faixa contínua de
ocorrência e a de razão, que são representadas por valores obtidos
de associações ou relacionamentos entre dois ou mais elementos.
Por exemplo, a representação de altitudes por curvas de nível são
intervaladas e a densidade demográfica associa-se às representa-
ções por razão - habitantes/km2.

CLASSES DE SÍMBOLOS

Existe uma variedade ilimitada de dados espaciais que podem


ser mapeados e todos devem ser representados por símbolos.
De forma a considerar as maneiras pelas quais os sinais con-
vencionais (ou convenções) podem ser empregados, é útil
classificá-las através de sua geometria. Define-se 3 tipos de clas-
ses de símbolos, quanto às suas características gráficas: pontos,
linhas e áreas. Podendo-se ainda estabelecer outra classe, defini-
da por uma característica volumétrica.
a) Símbolos Pontuais
São convenções individuais, tais como pontos, triângulos etc.,
usados para representar um lugar ou dados de posição, tais como
uma cidade, uma cota altimetrica, o centro de uma distribuição,
ou um volume conceitual, como a população de uma cidade.
Mesmo que a convenção possa cobrir uma pequena área do
mapa, pode ser considerado um símbolo pontual quando
conceitualmente refere-se a uma posição geográfica de ocorrência.
b) Símbolos Lineares
São convenções lineares para representar elementos que têm carac-
terísticas de linhas, tais como cursos d’água, rodovias, fluxos, limites etc.
Não significa que representem só elementos lineares, por
exemplo, a representação de curvas de nível permite que se ex-
traiam informações de volume.

257
Cartografia Sistemática

c) Símbolos Zonais, de Área ou Planares


São convenções que se estendem no mapa, caracterizando que
a área de ocorrência tem um atributo comum, por exemplo: água,
jurisdição administrativa, tipo de solo ou vegetação. Usado desta
forma, uma convenção de área é graficamente uniforme e cobre
toda área de representação do fenômeno.

Figura 1 – Classificação por classes de observações e por características gráficas.

AS CONVENÇÕES CARTOGRÁFICAS

Para a cartografia de base, mapeamentos sistemáticos são


codificados em manuais de instruções, como por exemplo, os
Manuais T 34 - 700 - Convenções Cartográficas, do EME e Nor-
mas para a Carta Internacional do Mundo - IBGE, incluindo

258
Simbolos e convenções cartograficas

além dos sinais convencionais, tipos de letras e outras informa-


ções necessárias.
Por outro lado, todas as convenções utilizadas em um mapa
15
aula
ou uma folha isolada devem, em princípio, constar na legenda
como um dado marginal do mapa ou carta.
Em termos de Cartografia Temática, não existe uma padro-
nização de convenções, devido à diversidade de fenômenos que
podem ser veiculados e mapeados. Assim, a criação de símbo-
los, o seu planejamento, distribuição e visualização são de res-
ponsabilidade exclusiva do elaborador do documento, devendo
constar obrigatoriamente da legenda do mapa, bem como, quan-
do necessário a elaboração de descritores que permitam a tradu-
ção do mapa ao leigo.

A ESCOLHA DE CONVENÇÕES

A escolha das convenções deve ser guiada através de uma


análise criteriosa dos fatores apresentados, bem como sobre a
escala do documento cartográfico. Para os fenômenos pontuais,
os símbolos devem sempre que possível conservar os limites e
as formas. Não sendo possível, deve pelo menos ter uma forma
que lembre estes limites.
Para os fenômenos lineares, conserva-se sempre que possí-
vel o alinhamento original, variando-se a largura da convenção e
a espessura do traço.
Para os fenômenos zonais, a convenção irá recair em estru-
tura e textura, seja de cor ou de padronagem gráfica que repre-
sente a área que o fenômeno cobre.
Felizmente, as convenções cartográficas facilitam esse entendimento,
especialmente no caso da carta topográfica que está quase mundial-
mente padronizada. As convenções estão divididas em dois tipos:
formas. Não sendo possível, deve pelo menos ter uma for-
ma que lembre estes limites.

259
Cartografia Sistemática

Para os fenômenos lineares, conserva-se sempre que possí-


vel o alinhamento original, variando-se a largura da convenção e
a espessura do traço.
Para os fenômenos zonais, a convenção irá recair em estru-
tura e textura, seja de cor ou de padronagem gráfica que repre-
sente a área que o fenômeno cobre.
Felizmente, as convenções cartográficas facilitam esse enten-
dimento, especialmente no caso da carta topográfica que está
quase mundialmente padronizada. As convenções estão dividi-
das em dois tipos:
a) Inscrições marginais da Carta Topográfica;
b) Sinais Convencionais para a representação de uma área
mapeada.

INSCRIÇÕES MARGINAIS DA CARTA


TOPOGRÁFICA

Conforme já vimos na aula nº 04, as inscrições marginais


representam a legenda de amarração e controle da área de estu-
do representada. Desta forma, apresentaremos apenas as figuras
das mais importantes inscrições marginais que asseguram o re-
conhecimento e a leitura da área de estudo.
As principais inscrições marginais são:
1. Nome da folha: Geralmente, a carta é nominada pelo seu aci-
dente cultural ou fisiográfico mais notável; quando possível, é
usado o nome da maior cidade ou do maior povoado da folha.
2. Escala: A escala da carta é um fator importantíssimo e nor-
malmente apresentado em forma numérica ou gráfica.
3. Índice das Folhas Adjacentes: Este índice facilita a identificação
das cartas em torno da região em foco.
4. Número da Folha: O número da folha é um número de refe-
rência, designado para cada folha com base em um sistema de co-
ordenadas arbitrárias.
5. Situação da Folha no Estado: A localização da folha no estado é
indicada por um diagrama simples.
260
Simbolos e convenções cartograficas

6. Coordenadas geográficas: A latitude e a longitude de cada extre-


midade (“canto”) da área mapeada são fornecidas. (ver aula 07)
7. Nota sobre a Quadrícula de Coordenadas UTM: O sistema de
15
aula
coordenadas quadriculadas impresso na carta é explicado no rodapé
da folha (ver também as aulas 11 e 12)
8. Sinais convencionais: Cada carta é apresenta a uma legenda dos
símbolos mais comuns.
9. Declinação Magnética: A diferença angular entre o norte mag-
nético e o norte verdadeiro (geográfico).
10. Intervalo de Eqüidistância das Curvas de Nível: A diferença
vertical entre as curvas de nível desenhadas é fornecida na área de
cobertura.
11. Índice de Cobertura: Essa informação indica as fontes de in-
formações (fotográficas áreas, cartas em outras escalas, etc.) utili-
zadas nas confecções daquela carta.

Figura 2a. Inscrições marginais das cartas topográficas

261
Cartografia Sistemática

Figura 2b. Cobertura, localização e articulação da Folha.

SINAIS CONVENCIONAIS DA CARTA


TOPOGRÁFICA

O total dos sinais convencionais existentes e utilizados em


cada carta é muito maior do que o número que é impresso no
rodapé da carta como podemos ver na figura 3.
As normas e convenções dos sinais são tão importantes que
os órgãos mapeadores responsáveis publicam livros e fascículos
para informação dos cartógrafos e leitores de mapas. Alguns exem-
plos de sinais utilizados para vias e estradas estão na Figura 4.

Figura 3. Sinais convencionais.

262
Simbolos e convenções cartograficas

15
aula

Figura 4. Convenções de rodovias e caminhos.

Para facilitar a identificação dos fenômenos mapeados, os


símbolos são geralmente impressos em cores nas cartas topográ-
ficas, sendo que cada cor representa um tipo de fenômeno. As
cores mais usadas estão apresentadas a seguir, juntamente com a
indicação do que elas representam.
a) Azul: fenômeno hidrográfico como lagos, rios, pântanos, etc.
b) Verde: vegetação em geral, tal com florestas, pomares e plantações;
c) Marrom: todos os fenômenos de relevo, tais como curvas de
nível, cortes e aterros;

263
Cartografia Sistemática

d) Preto: a maioria dos fenômenos culturais ou construções humanas;


e) Vermelho: rodovias;
f) Rosa: áreas urbanizadas.
Ocasionalmente outras cores podem ser usadas para mos-
trar informações especiais e devem ser indicadas nas informa-
ções da margem de folha.
Numa situação ideal, todos os objetos apareceriam num
mapa através de símbolos com seus verdadeiros tamanhos, por-
ções e formas originadas de uma vista ortogonal (de cima). Po-
rém, a generalização exigida pela escala torna isto impossível,
fazendo com que sejam obedecidos os limites da percepção, di-
ferenciação e separação dos objetos mapeados.

LIMITES DE PERCEPÇÃO, DIFERENCIAÇÃO


E SEPARAÇÃO

Um dos problemas que logo se apresentam para a apresenta-


ção do que será representado no mapa, está ligado ao tamanho da
sua representação, ou seja, até que dimensões reais na carta, um
objeto será percebido, e como será essa interação com o usuário.
Em princípio, nada que possua menos que 0,2 mm na escala
do mapa será representado, mas se o for, devido a sua importân-
cia relativa, como fazê-lo de modo que a sua percepção seja
estabelecida através da sua ponderação em relação aos demais?
Podem-se estabelecer três limites em uma série de símbolos
de tamanho variados:
limite de percepção: o nível de presença que possa discernir o símbolo;
limite de diferenciação: o reconhecimento claro da diferença de formas;
limite de separação: a diferenciação por incremento de alguma
dimensão do símbolo.
A aplicação desses limites no conjunto permite estabelecer
não só uma melhor diferenciação para os símbolos, mas tam-
bém impor uma estética e clareza, baseada em uma hierarquia de
peso e classificação qualitativa e quantitativa dos objetos.

264
Simbolos e convenções cartograficas

N
esta aula você viu a representação dos acidentes na
15
turais e artificiais destinados à confecção de cartas
aula
topográficas e similares nas escalas 1:25.000, 1:50.000,
1:100.000 e 1:250.000.
Como as convenções cartográficas são
de uso obrigatório, estas devem explicitar
quais feições devem ser representadas nas car- CONCLUSÃO
tas topográficas, ou seja, quais feições com-
põem o que denominamos de acidentes artificiais e naturais; como
estas feições estão agrupadas em classes e subclasses; e para cada
feição, a sua definição. Além disso, podemos encontrar, nas con-
venções cartográficas, soluções para diferentes situações nas quais a
feição ocorre. As feições incluídas em acidentes artificiais são: siste-
ma de transporte, infra-estrutura, edificações, limites, pontos de re-
ferência e localidades. Como acidentes naturais constam: hidrografia,
altimetria e vegetação.

(Fonte: blogdaruanove.blogs.sapo.pt).

265
Cartografia Sistemática

RESUMO

Um símbolo cartográfico - é preciso que não deixemos conside-


rar - mesmo na representação topográfica da carta de hoje, não
pode abdicar inteiramente do seu caráter figurativo-associativo,
em favor do símbolo geométrico puro, como: o ponto, a linha e a
área. Um mapa não é - não se pode permitir que seja - um diagrama
meramente geométrico, em que as distâncias e as relações horizontais
estejam corretas; deve, até certo ponto, sugerir a aparência do assun-
to, como este é visto pelo observador no terreno.
De acordo com Erwin Raiz, “um símbolo é o que pode ser reco-
nhecido sem a legenda”. Deve-se também perceber a conexão entre o
homem e o seu ambiente terrestre imediato.
Outro aspecto que deve ser fixado, no que diz respeito à
simbologia cartográfica, é que se o símbolo seja ele qual for, ge-
ométrico ou não, é indispensável em qualquer tipo de represen-
tação cartográfica, a sua variedade ou a sua quantidade acha-se,
sempre, em função da escala do mapa.
A não ser o caso das plantas em escala muito grande, em que
as suas dimensões reais são reduzidas à escala, onde, portanto, a
simbologia é mínima e muito mais simples, à proporção que a
escala diminui, aumentam os símbolos. Então, se um mapa é a
representação, numa simples folha de papel, dos aspectos físi-
cos e naturais da superfície da Terra, toda esta representação só
pode ser convencional, isto é, mediante o ponto, o círculo, o
traço, a cor, etc.

266
Simbolos e convenções cartograficas

ATIVIDADES

1. De posse de um documento cartográfico de escala 1: 100.000,


15
aula
proceda a leitura das inscrições marginais e sinais convencionais
com o objetivo de contextualizar, localizar e descrever a situa-
ção cartografada.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Este referencial lhes proporcionará um exercício de


reconhecimento de aspectos essenciais das cartas
topográficas, que ajudarão na leitura e interpretação dos
objetos/ fenômenos representados.

267
Cartografia Sistemática

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula você estudará os aspectos


planimétricos, ou seja, o que realmente pode ser repre-
sentado nos documentos topográficos, para somente
depois de uma leitura específica partir para estudar o
relevo e a cobertura vegetal da representação.

REFERÊNCIAS

Ministério do Exército. Convenções Cartográficas Manual Téc-


nico T 34-700. Brasília, 1975.
Fundação IBGE. Manual de normas, especificações e proce-
dimentos técnicos para a Carta Internacional do Mundo ao
Milionésimo, 1993.

268
PLANIMETRIA: 16
OS ELEMENTOS DE REPRESENTAÇÃO TERRESTRE
aula
MET
METAA
Apresentar os principais elementos
que podem figurar nas cartas
topográficas.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá:
identificar através de simbologia
específica os elementos
representados nas cartas
topográficas;
e determinar os diferentes
fenômenos geográficos e suas
distribuições espaciais.

PRÉ-REQUISITOS
As convenções cartográficas
apresentadas na aula 15.

(Fonte:http://upload.wikimedia.org).
(Fonte: http://upload.wikimedia.org).
Cartografia Sistemática

A
Planimetria é a parte da Topografia que estuda os mé-
todos e procedimentos que serão utilizados na repre-
sentação do terreno. Adotando-se uma escala adequa-
da, todos os pontos de interesse são projetados ortogonalmente
sobre um plano (plano horizontal de refe-
INTRODUÇÃO rência), sem a preocupação com o relevo.
A representação planimétrica pode ser
dividida em duas partes, de acordo com os elementos que co-
brem a superfície do solo, ou seja, os denominados de meio físi-
co ou natural e o meio humano ou artificiais.
O meio físico pode ser definido, segundo Keates (1973), como
“composto dos elementos naturais ou dependentes destes, mesmo
quando modificados ou influenciados pelo homem”. Portanto, são
representadas as características da superfície terrestre, tais como re-
levo, hidrografia, cobertura vegetal, solos, rochas, etc. O meio hu-
mano, também chamado de feições culturais ou cultura, é definido
por Keates como “composto de todas as feições construídas pelo
homem, como parte de sua ocupação no terreno, incluindo a loca-
lização das fronteiras importantes” (1973, p. 122).
Por representar a ocupação do homem na superfície terres-
tre, as feições classificadas como meio humano são as mais im-
portantes nas representações topográficas. Assim, são a partir
destas feições que são definidas as escalas em mapeamentos sis-
temáticos. Pela sua importância, uma das decisões essenciais em
projeto cartográfico de cartas topográficas são quais feições do
meio humano representar? Segundo a definição de topografia,
devem ser as feições visíveis no meio. Por isso, na definição de
meio humano está explícita a inclusão das fronteiras importan-
tes. Além das fronteiras deve ser representada a toponímia por
ser um elemento essencial na representação das referências es-
paciais. Por serem elementos abstratos e não evidentes na paisa-
gem, são tratados separadamente no projeto cartográfico.
Pode-se definir a toponímia como o estudo lingüístico ou
histórico dos topônimos, ou a relação dos nomes de um lugar

270
Planimetria: os elementos de representação terrestre

ou região. Portanto, a toponímia de uma carta corresponde aos no-


mes que caracterizam os acidentes naturais ou não corresponden-
tes de uma carta topográfica. Além dos nomes de localidades (cida-
16
aula
des, vilas, municípios, províncias, países etc.), a toponímia estuda
os hidrônimos, nomes de rios e outros cursos d’água; os limnônimos,
nomes de lagos; os orônimos, nomes dos montes e outros relevos;
os corônimos, nomes de subdivisões administrativas e de estradas,
entre muitos outros.
A toponímia é um elemento
essencial para as cartas ou mapas,
pois permite fazer a associação en-
tre nomes e posição geográfica, ou
seja, a identificação da área de
ocorrência do acidente e dele pró-
prio pelo seu nome associado ao
mapa.
Por essas razões, a toponímia
correta apresentada em um mapa
é de extrema importância, pois
ajuda não só na orientação, medi-
ante referência aos elementos re-
presentados, como também for-
nece informações essenciais que
não podem ser representadas de
forma adequada unicamente por
símbolos.

(Fonte: http://www.rummeld.de).

271
Cartografia Sistemática

A representação dos elementos hidrográficos é feita, sem


pre que possível, associando-se os elementos a símbo
los que caracterizem a água, tendo sido o azul a cor escolhida
para representar a hidrografia, alagados (man-
HIDROGRAFIA gue, brejo e área sujeita a inundação), etc.

Figura 1. Elementos hidrográficos (Carta topográfica esc. 1:1 00.000).

VEGETAÇÃO

Como não poderia deixar de ser, a cor verde é universal-


mente usada para representar a cobertura vegetal do solo. Na
folha 1:50.000, por exemplo, as matas e florestas são representa-
das pelo verde claro. O cerrado e caatinga, o verde reticulado, e
as culturas permanentes e temporárias são apresentados com
outros tipos de simbologia sobrepostas com toque figurativo e
até mesmo o nome do cultivo (Figura 2).

Figura 2. Elementos de vegetação (Carta Topográfica Escala 1:100.000).

272
Planimetria: os elementos de representação terrestre

ELEMENTOS DE REPRESENTAÇÃO
ARTIFICIAIS: O MEIO HUMANO
UNIDADES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS
16
aula
O território brasileiro é subdividido em Unidades Político-
Administrativas abrangendo os diversos níveis
de administração: Federal, Estadual e Municipal.
A esta divisão denomina-se Divisão Político-Ad-
ministrativa - DPA.
Essas unidades são criadas através de legisla-
ção própria (lei federais, estaduais e municipais),
na qual estão discriminadas sua denominação e in-
formações que definem o perímetro da unidade.
A Divisão Político-Administrativa é repre-
sentada nas cartas e mapas por meio de linhas
convencionais (limites) que são corresponden-
tes a situação das Unidades da Federação e Mu-
nicípios no ano da edição do documento
cartográfico. Consta no rodapé das cartas topo-
gráficas a referida divisão, em representação
Figura 3. Elementos político-administrati-
esquemática. vos (Carta topográfica escala 1:50.000).
Nas escalas pequenas, para a representação
de áreas político-administrativas, ou áreas com limites físicos (ba-
cias) e operacionais (setores censitários, bairros, etc.), a forma
usada para realçar e diferenciar essas divisões é a impressão sob
diversas cores.
Nos mapas estaduais, por exemplo, divididos em municípi-
os, a utilização de cores auxilia a identificação, a forma e a exten-
são das áreas municipais. Podem-se utilizar também estreitas tarjas,
igualmente em cores, a partir da linha limite de cada área, tor-
nando mais leve a apresentação.
De acordo com a escala de representação, as divisões políti-
co-administrativas podem figurar nos documentos cartográficos
com diferentes denominações. A seguir esclarecemos alguns ter-

273
Cartografia Sistemática

mos utilizados na denominação das divisões político-administra-


tivas presentes no território brasileiro de forma hierárquica.

GRANDES REGIÕES

Conjunto de Unidades da Federação com a finalidade básica


de viabilizar a preparação e a divulgação de dados estatísticos. A
última divisão regional, elaborada em 1970 e vigente até o mo-
mento atual, é a constituída pelas regiões: Norte, Nordeste, Su-
deste, Sul e Centro-Oeste.

UNIDADES DA FEDERAÇÃO (UF)

São as Unidades de maior hierarquia dentro da organização


político-administrativa no Brasil, criadas através de leis emana-
das no Congresso Nacional e sancionadas pelo presidente da
República. São elas: Estados, Territórios e Distrito Federal.

MUNICÍPIOS

São as unidades de menor hierarquia dentro da organização


político-administrativa do Brasil, criadas através de leis ordinári-
as das Assembléias Legislativas de cada Unidade da Federação e
sancionadas pelo governador. No caso dos territórios, a criação
dos municípios se dá através de lei da Presidência da República.

DISTRITOS

São as unidades administrativas dos municípios. Têm sua


criação norteada pelas Leis Orgânicas dos Municípios.
Regiões administrativas; sub-distritos e zonas
São unidades administrativas municipais, normalmente
estabelecidas nas grandes cidades, citadas através de leis ordinári-
as das Câmaras Municipais e sancionadas pelo prefeito.

274
Planimetria: os elementos de representação terrestre

ÁREA URBANA

Área interna ao perímetro urbano de uma cidade ou vila,


16
aula
definida por lei municipal que no Brasil contempla a sede admi-
nistrativa do município.

ÁREA RURAL

Área de um município que é externa ao perímetro urbano.


Área Urbana Isolada
Área definida per lei municipal e separada da sede municipal
ou distrital por área rural ou por outro limite legal.
Setor Censitário
É a unidade territorial de coleta, formada por área contínua,
situada em um único Quadro Urbano ou Rural, com dimen-
sões e número de domicílio ou de estabelecimentos que permi-
tam o levantamento das informações por um único agente
credenciado. Seus limites devem respeitar os limites territoriais
legalmente definidos e os estabelecidos pelo IBGE para fins esta-
tísticos.
A atividade de atualizar
a DPA em vigor consiste em
transcrevê-la para o
mapeamento topográfico e
censitário. Para documentar
a DPA se constituiu o Ar-
quivo Gráfico Municipal -
AGM, que é composto pe-
las cartas, em escala topográ-
fica, onde são lançados/ re-
presentados os limites se-
gundo as leis de criação ou
de alteração das Unidades
Político-Administrativas. Figura 4. Grandes Regiões do Brasil.

275
Cartografia Sistemática

LOCALIDADES OU LUGARES HABITADOS

Localidade é conceituada como sendo todo lugar do território


nacional onde exista um aglomerado permanente de habitantes. Na
representação cartográfica sua simbologia obedece a escala ordinal,
onde a variação do tamanho da mancha ou mesmo do tamanho das
letras representativas dão a idéia hierárquica de importância na dis-
tribuição espacial. Os lugares habitados ou localidades se classifi-
cam de acordo com sua definição e seu tamanho, como:

CAPITAL FEDERAL

Localidade onde se situa a sede do Governo Federal com os


seus poderes executivo, legislativo e judiciário.

CAPITAL

Localidade onde se situa a sede do Governo de Unidade


Política da Federação, excluído o Distrito Federal.

CIDADE

Localidade com o mesmo nome


do Município a que pertence (sede
municipal) e onde está sediada a res-
pectiva prefeitura, excluídos os mu-
nicípios das capitais.

VILA

Localidade com o mesmo nome


Figura 5: Unidades da Federação do Distrito a que pertence (sede
distrital) e onde está sediada a autoridade distrital, excluídos os
distritos das sedes municipais.

276
Planimetria: os elementos de representação terrestre

AGLOMERADO RURAL

Localidade situada em área não definida legalmente como


16
aula
urbana e caracterizada por um conjunto de edificações perma-
nentes e adjacentes, formando área continuamente construída,
com arruamentos reconhecíveis e disposta ao longo de uma via
de comunicação.
Aglomerado Rural de extensão urbana - Localidade que tem
as características definidoras de Aglomerado Rural e está locali-
zada a menos de 1 Km de distância da área urbana de uma Cida-
de ou Vila. Constitui simples extensão da área urbana legalmen-
te definida.
Aglomerado Rural isolado - Localidade que tem as característi-
cas definidoras de Aglomerado Rural e está localizada a uma dis-
tância igual ou superior a 1 km da área urbana de uma Cidade,
Vila ou de um Aglomerado Rural já definido como de extensão
urbana.
Povoado - Localidade que tem a característica definidora de Aglo-
merado Rural Isolado e possui pelo menos 1 (um) estabeleci-
mento comercial de bens de consumo freqüente e 2 (dois) dos
seguintes serviços ou equipamentos: 1 (um) estabelecimento de
ensino de 1º grau em funcionamento regular, 1 (um) posto de
saúde com atendimento regular e 1 (um) templo religioso de
qualquer credo. Corresponde a um aglomerado sem caráter pri-
vado ou empresarial ou que não está vinculado a um único pro-
prietário do solo, cujos moradores exercem atividades econômi-
cas quer primárias, terciárias ou, mesmo secundárias, na própria
localidade ou fora dela.
Núcleo - Localidade que tem a característica definidora de Aglo-
merado Rural Isolado e possui caráter privado ou empresarial,
estando vinculado a um único proprietário do solo (empresas
agrícolas, indústrias, usinas, etc.).
Lugarejo - Localidade sem caráter privado ou empresarial que
possui característica definidora de Aglomerado Rural Isolado e

277
Cartografia Sistemática

não dispõe, no todo ou em parte, dos serviços ou equipamentos


enunciados para povoado.

PROPRIEDADE RURAL

Todo lugar em que se encontre a sede de propriedade rural,


excluídas as já classificadas como Núcleo.

LOCAL

Todo lugar que não se enquadre em nenhum dos tipos referi-


dos anteriormente e que possua nome pelo qual seja conhecido.

ALDEIA

Localidade habitada por indígenas.


Conforme já enunciamos, os lugares habitados são repre-
sentados conforme a quantidade de habitantes em nº absolutos
pelo seguinte esquema:
Variando de acordo com a área, o centro urbano é represen-
tado pela forma generalizada
dos quarteirões, que compõem
a área urbanizada construída.
A área edificada, que é repre-
sentada na carta topográfica
pela cor rosa, dá lugar, fora da
área edificada, a pequenos sím-
bolos quadrados em preto, re-
presentando o casario. Na re-
alidade, um símbolo tanto
pode representar uma casa
como um grupo de casas.
Figura 6. Localidades (Carta topográfica escala 1:250.000).
Deve-se observar a escala da re-
presentação.

278
Planimetria: os elementos de representação terrestre

Na carta topográfica, dentro da área edificada, é representa-


do todo edifício de notável significação local como prefeitura,
escolas, igrejas, hospitais, etc., independentemente da escala.
16
aula
Conforme a escala, representa-se a área edificada por
simbologia correspondente. Outras construções como barragem,
ponte, aeroporto, farol, etc., têm símbolos especiais quase sem-
pre associativos.

Figura 7. (a, b, c, d): Uma mesma localidade representada em várias escalas.

A REPRESENTAÇÃO DAS ÁREAS ESPECIAIS

Área especial é a área legalmente definida subordinada a um


órgão público ou privado, responsável pela sua manutenção,
onde se objetiva a conservação ou preservação da fauna, flora

279
Cartografia Sistemática

ou de monumentos culturais, a preservação do meio ambiente e


das comunidades indígenas. A representação das áreas especiais
sempre é demarcada com linhas verdes e identificada com o tipo
e sua toponímia. Os principais tipos de áreas especiais:
• Parques Nacional, Estadual e Municipal
• Reservas Ecológicas e Biológicas
• Estações Ecológicas
• Reservas Florestais ou Reservas de Recursos
• Áreas de Relevante Interesse Ecológico
• Áreas de Proteção Ambiental
• Áreas de Preservação Permanente
• Monumentos Naturais e Culturais
• Áreas, Colônias, Reservas, Parques e Terras Indígenas

REPRESENTAÇÃO DO SISTEMA VIÁRIO

No caso particular das rodovias, sua representação em carta


não traduz sua largura real, uma vez que a mesma rodovia deve-
rá ser representada em todas as cartas topográficas desde a escala
1:250.000 até 1:25.000 com a utilização de uma convenção. As-
sim sendo, a rodovia será representada por símbolos que tradu-
zem o seu tipo, independente de sua largura física.
As rodovias são representadas por traços e/ou cores e são
classificadas de acordo com o
tráfego e a pavimentação. Essa
classificação é fornecida pelo
DNER e DER’s, seguindo o
Plano Nacional de Viação
(PNV).
No caso da ferrovia é defi-
nida como sendo qualquer tipo
Figura 8: Vias de Circulação (Carta topográfica esc. 1:100.000). de estrada permanente, provi-

da de trilhos, destinada ao transporte de passageiros ou carga.


Devem ser representadas tantas informações ferroviárias quan-

280
Planimetria: os elementos de representação terrestre

to o permita a escala do mapa, devendo ser classificadas todas as


linhas férreas principais. As linhas férreas são representadas na
cor preta e a distinção entre elas é feita quanto à bitola. São re-
16
aula
presentados ainda, os caminhos e trilhas.
As rodovias e ferrovias são classificadas da seguinte forma:

LINHAS DE COMUNICAÇÃO E OUTROS


ELEMENTOS PLANIMÉTRICOS

As linhas de comunicação resumem-se à linha telegráfica ou


telefônica e às linhas de energia elétrica (de alta ou baixa tensão).
No rodapé das cartas topográficas constam ainda outros elemen-
tos como igrejas, escolas, minas, moinhos de vento, campos de
pouso, farol e etc.

Figura 9. Linhas de comunicação e outros elementos planimétricos (Car-


ta topográfica escala 1:100.000).

LINHAS DE LIMITE

Em uma carta topográfica é de grande necessidade a represen-


tação das divisas interestaduais e intermunicipais, uma vez que se
trata de cartas de grande utilidade principalmente para uso rural.
Na carta em 1:25.000 é possível a representação de divisas distritais,
o que não acontece nas demais escalas topográficas.

281
Cartografia Sistemática

Numa carta geográfica, a CIM, por exemplo, só há possibi-


lidade do traçado dos limites internacionais e interestaduais.
Dependendo da escala, as linhas também obedecerão a uma or-
dem específica.

Figura 10. Linhas de Limites (Carta topográfica escala 1: 250.000).

ATIVIDADES

De posse de uma carta topográfica de 1:100.000 ou 1:50.000,


proceda a descrição dos principais elementos representados de
forma que se possa estabelecer uma leitura individualizada e as-
sociada de cada elemento planimétrico.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

A leitura da carta topográfica sugere que se aprofunde no


exercício de observar os elementos representados de forma
separada, iniciando pela toponímia e depois atentando para
as localidades ou lugares habitados. Em seguida verificam-
se os elementos do meio físico, como recobrimento
hidrográfico e da vegetação para somente depois verificar a
rede de comunicação, limites e sistema viário.

282
Planimetria: os elementos de representação terrestre

A leitura e interpretação dos documentos cartográficos


é um processo de decodificação, que envolve algumas
etapas metodológicas básicas. Inicia-se pela observação do título e seu
16
aula
significado topônimo, as existências das convenções universais e pela
representação distribuída espacialmente na área
representada. A planimetria ou disposição espa- CONCLUSÃO
cial dos fenômenos mapeados também são apre-
sentadas numa legenda, mas o reconhecimento dos limites, tipos de
cultivos, vegetação, formas urbanas e as mais variadas redes de comuni-
cação presente no documento topográfico somente será interpretado
mediante a decodificação dos elementos essenciais como escala e toda
simbologia que a envolve.
As informações constantes no documento devem conduzir o lei-
tor a interpretar a legenda ou a decodificação propriamente dita, relaci-
onar os significantes e significados espalhados no mapa. Só então será
possível refletir sobre aquela distribuição e/ou organização.

RESUMO

O objetivo nessa aula foi o de prepará-lo para a identificação e


leitura dos elementos e ou fenômenos distribuídos. Como você
pôde notar, nesta aula não adentramos na altimetria (represen-
tação do relevo) que se constitui elemento planimétrico de extrema
importância nas cartas topográficas, pois a topografia refere-se à dis-
posição do relevo.
Em cima da base mais graficamente matemática da carta, que é a
rede geográfica ou a rede plano-retangular, incluindo os pontos de
origem geodésica, as coordenadas, etc., assenta-se todo um conjunto
de variados detalhes e de rígidas posições, representado pelos elemen-
tos naturais ou físicos, e artificiais ou culturais. Os primeiros
correspondem, principalmente, aos aspectos hidrográficos e vegetais,
e os outros aspectos decorrentes da ocupação humana, como locali-
dades, redes de comunicações, sistemas viários e localização das uni-
dades político-administrativas, com seus respectivos limites.

283
Cartografia Sistemática

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, você estudará a representação gráfi-


ca do relevo nas cartas topográficas.

REFERÊNCIAS

IBGE – Mapeamento Topográfico. Disponível <http://


www.ibge.gov.br> . Acesso em maio de 2008.
KEATES, J. Cartographic design and production. Nova York:
Longman, 1973.

284
REPRESENTAÇÃO DO RELEVO
NAS CARTAS TOPOGRÁFICAS
17
aula
MET
METAA
Mostrar a representação gráfica
das diversas formas de relevo
existentes na carta topográfica.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá: identificar as altitudes e
formas de relevo nas cartas
topográficas.

PRÉ-REQUISITOS
Os elementos que figuram nas
cartas topográficas, definidos na
aula 16.

(Fonte: http://www.dge.uem.br).
Cartografia Sistemática

C aro aluno, pela sua importância e complexidade, a re-


presentação do relevo é, usualmente, tratada separada
mente, em estudos sobre cartas topográficas. As características
do relevo que devem ser representadas em mapas são:
tridimensionalidade e continuidade. Estas duas características, ser
tridimensional e ser contínuo, definem os
INTRODUÇÃO dois elementos principais do relevo: altitu-
de e declividade, que tem que ser reduzida a
duas dimensões para que possa ser representada em uma carta
topográfica.
A superfície contínua é expressa em termos de elevações so-
bre uma superfície de referência, ou profundidade sob essa super-
fície. Quaisquer superfícies contínuas para uma representação pla-
na têm um comportamento assemelhado, de forma que o que for
definido para a representação do relevo pode ser estendido para a
representação dos demais fenômenos contínuos sobre a superfí-
cie terrestre, assim como: temperatura, pressão, anomalias mag-
néticas, força da gravidade, potencial gravitacional, etc.
A variação em relevo afeta as observações de quase todas as
demais feições cartografadas, pois todas têm que ser projetadas
em um plano de referência, para serem representadas na carta.
Por outro lado, não é possível representar a 3a dimensão com-
pletamente em um mapa bidimensional. Ela só pode ser indicada
seletivamente, caso contrário, por ser contínua, ocuparia toda a
área do mapa.
Ocupando uma área então, é um fenômeno zonal ou de
área, devendo, portanto ter também uma representação
zonal. Existem, porém, pontos e linhas importantes do rele-
vo que devem ser representados, como por exemplo: cumes,
divisores de água, linhas de declividade, ruptura de declive
etc., concluindo-se que a representação do relevo tem ele-
mentos isolados pontuais, lineares e zonais, devendo-se
combiná-los de forma que a representação como um todo
seja tanto precisa como visualmente fiel.

286
Representação do relevo nas cartas topográficas

A precisão é absolutamente necessária para a utilização


da carta como um instrumento científico de trabalho,
onde se necessita de valores precisos e coerentes com a escala de
17
aula
representação.
A visualização está de acordo com a precisão. A observação
na carta tem que permitir visualizar o que
existe no terreno, com as limitações da car- RELEVO
ta. Em conseqüência da representação sele-
tiva, o problema cartográfico de representação do relevo deve
fornecer informações suficientes, sem interferir em outros ele-
mentos cartográficos.
O relevo compreende dois
elementos principais:
Altitude
Declividade
A Altitude é o resultado da di-
ferença vertical entre um ponto
de referência (normalmente o ní-
vel de mar) e outro ponto objeti-
vo. Isto fornece a cota de ponto,
ou seja, sua altitude acima do ní-
vel do mar.
Altitude e cota são indepen-
dentes da geomorfologia; portan-
to, uma cota de 800 metros tanto
pode ocorrer numa zona plana
(Fonte: http://geografia.igeo.uerj.br).
ou inclinada, num vale ou num
cume. O que importa é a distan-
cia vertical até o nível do mar. O mapeamento de altitudes é uma
das principais preocupações dos cartógrafos.
É difícil a representação de declividade sem a obtenção de
informações de altitude, a não ser de uma forma aproximada,
porque a declividade é obtida pelo relacionamento da diferença
de altitude com a distância plana.

287
Cartografia Sistemática

Na representação do relevo, são utilizados 3 diferentes


métodos, que denominamos: pontos altimétricos, curvas de
nível e cores hipsométricas. Neste texto nós descreveremos
sobre pontos altimétricos e curvas de nível, uma vez que es-
tas são as representações adequadas ao mapeamento siste-
mático, e a qualquer carta sobre a qual serão realizadas
análises quantitativas que exijam precisão nos resultados
das medidas.

PONTOS ALTIMÉTRICOS

Na representação por pontos altimétricos são utilizados


símbolos pontuais, que representam a localização geográfi-
ca da qual se conhece a altitude. A altitude, que é o atributo
representado do relevo, é indicada por um texto adjacente
ao símbolo pontual (Figura 1). Portanto, na representação
por pontos altimétricos, o relevo é classificado pela varia-
ção em altitude, não sendo incluída a declividade.

Figura 1. Exemplos de pontos altimétricos da carta topográfica.

288
Representação do relevo nas cartas topográficas

Devido aos pontos altimétricos representarem apenas


a altitude, e pela indicação desta (texto adjacente ao sím-
bolo pontual) ocupar um espaço na carta não relaciona-
17
aula
do ao ponto representado, este método é indicado para
pontos notáveis no terreno, tais como, pontos altos, pi-
cos, desfiladeiros, povoados, depressões. Além disso, este
método é útil quando combinado com os outros méto-
dos: curvas de nível ou cores hipsométricas. A representa-
ção do relevo por pontos altimétricos é importante em car-
tas náuticas, cartas aeronáuticas e representações topo-
gráficas em escalas grandes.

CURVAS DE NÍVEL

A representação do relevo por curvas de nível o des-


creve em função de seus dois elementos principais, altitu-
de e declividade. As variações em altitude e declividade são
representadas por intervalos verticais constantes. Assim,
a seleção dos intervalos verticais é a decisão fundamental
na representação plana do relevo por curvas de nível, a
qual deve considerar (KEATES, 1973):
A natureza do terreno;
A escala do mapa;
As exigências de uso do mapa;
As dificuldades de coletar os dados.
A natureza do terreno diz respeito às variações em
declividade da região mapeada. Se as variações em
declividade são grandes, ou seja, numa mesma carta (ou
série de cartas) devemos representar regiões de terreno
acidentado e regiões de terreno suave, podemos adotar
duas diferentes soluções (KEATES, 1973): diferentes in-
tervalos para as diferentes classes de declividade, solução
possível para mapas em escalas pequenas; curvas suple-
mentares para áreas de relevo suave.

289
Cartografia Sistemática

A escala da carta é definida a partir das exigências de uso


do mapa. Para cartas utilizadas em projetos de engenharia,
é necessário definirmos o menor intervalo vertical possí-
vel, o que exige mapeamento em escala grande. Para esca-
las menores, devemos analisar os custos e as dificuldades para
coletar os dados sobre o relevo, além da consideração do
efeito visual da representação das curvas de nível sobre os
demais símbolos cartográficos do mapa (KEATES, 1973).
Após definida a classificação do relevo, ou seja, os in-
tervalos verticais que serão representados, devemos deci-
dir sobre a apresentação gráfica propriamente dita. Na re-
presentação do relevo por curvas de nível, uma superfície
tridimensional, ou seja, um fenômeno cuja dimensão espa-
cial é volume, é representado pela primitiva gráfica linha.
A apresentação gráfica das linhas é conseqüente da variá-
vel visual adotada. Segundo Keates (1973), a decisão sobre
as variáveis visuais depende:
Da natureza da informação;
Da necessidade do usuário;
Da qualidade dos dados coletados;
Do efeito visual sobre os demais símbolos.
A natureza da informação define a variável visual tom
de cor. Na maioria das cartas topográficas, as curvas de ní-
vel são representadas em sépia (Figura 2), sendo esta deci-
são baseada na associação de cor do sépia com solo expos-
to. Além da associação de cor, o tom de cor sépia permite
um contraste adequado com o branco ou fundo claro e um
equilíbrio visual com o azul da drenagem.
Em geral são numeradas algumas curvas de nível, chama-
das de curvas mestras, sendo a numeração das demais de-
pendente da necessidade do usuário da carta. As curvas
mestras são representadas a intervalos verticais constan-
tes, tendo-se como resultado um número também constan-
te de curvas de nível, chamadas de curvas padrão, entre as

290
Representação do relevo nas cartas topográficas

curvas mestras. Tanto a qualidade dos dados coletados,


como a classificação das curvas, em curva de nível mestra e
curva de nível padrão, são diferenciadas na representação
17
aula
cartográfica pelas variáveis visuais: tamanho e luminosidade
(linhas contínuas e linhas tracejadas) (Figura 3). Segundo
Keates (1973), considerando a adoção do tom de cor sépia,
o tamanho (espessura) mínimo de 0,15mm é adequado por
resultar em contraste de cor suficiente para permitir a dis-
criminação visual das linhas. Assim tem-se:
Curva de nível mestra: contínua e mais espessa;
Curva de nível padrão medida: contínua e mais delgada que as
curvas mestras;
Curva de nível suplementar: contínua e mais delgada que as cur-
vas padrão;
Curva de nível interpolada: tracejada.

Figura 2. Exemplos de pontos altimétricos da carta topográfica.

291
Cartografia Sistemática

Figura 3. Simbologia para as curvas de nível.

CORES HIPSOMÉTRICAS

As cores hipsométricas são usadas para a representação do


relevo por classes de altitudes. Em se tratando de relevo subma-
rino, passam a chamar-se cores batimétricas.
O problema da representação do relevo através de cores é
basicamente a definição número de intervalos de altitude (inter-
valos de classe) entre as altitudes extremas, que serão representa-
das pelas cores e a escolha das próprias cores que representarão
cada intervalo de classe.
A representação hipsométrica por cores é uma das possibili-
dades de representação de uma distribuição contínua de um fe-
nômeno sobre a superfície terrestre. Pode-se de uma maneira
geral representar qualquer ocorrência de distribuição contínua
por este processo.

292
Representação do relevo nas cartas topográficas

17
aula

Figura 4. Hipsometria.

A cor, antes de mais nada, é um fenômeno psicológico. Luz


é a sensação visual despertada pelo estímulo de receptores
(bastonetes) no olho humano, por uma porção do espectro ele-
tromagnético.
O espectro eletromagnético contém desde os comprimen-
tos de onda pequenos dos raios X e gama, até os grandes com-
primentos usados pelo radar.

Figura 5. Espectro eletromagnético.

293
Cartografia Sistemática

Apenas uma pequena porção do espectro é visível, estando


os comprimentos de onda entre 400 e 700 mm. (1 mm = 10-9 m).
Nessa faixa, conforme se pode verificar na figura, está todo
o espectro visível da luz, correspondendo à emissão da luz bran-
ca, que emite todos os comprimentos de onda do visível. De-
composta por um prisma, fornece a gama de cores que a com-
põe.
A reprodução de qualquer documento a cores é diretamente
proporcional ao número de cores que deva ser representada, ou
quanto mais cores mais onerosa será a sua reprodução.
Pela prática, não devem ser escolhidas mais de 10 cores para
a representação de um documento, ficando a escolha ideal entre
6 e 8 cores.
A cor azul e os seus matizes serão sempre reservados para a
representação batimétrica, podendo-se chegar até a violeta.
Para representação altimétrica ou hipsométrica, a evolução
da representação, desde o século XIX, estabeleceu que as cores
seriam escolhidas do intervalo mais baixo para o mais alto, se-
guindo o espectro eletromagnético, a partir do verde até o ver-
melho e em seus diversos matizes, conforme o universo de clas-
ses a representar. Em geral o vermelho puro não é atingido, pois
possui outra representação genérica, substituído por matizes de
marrom.
Para a representação de geleiras, foi decidida a utilização do
branco.

FORMAS DE REPRESENTAÇÃO DO RELEVO

Existem duas formas de representação do relevo:


qualitativa - onde se busca mais o aspecto artístico (representação
visual), devendo ser legível o bastante para ser reconhecida por qual-
quer usuário;
quantitativa - representação científica, dando preferência ao aspecto
precisão, em detrimento muitas vezes da representação visual.

294
Representação do relevo nas cartas topográficas

PROCESSO QUALITATIVO

A representação qualitativa teve início com Leonardo da


17
aula
Vinci, que foi o primeiro a tentar uma representação do relevo
em mapas.
Sua representação era uma perspectiva simbólica, que mos-
trava algumas colinas em plano. Não havia nenhuma precisão.

Figura 6. Relevo desenhado por Leonardo da Vinci.

No decorrer do século XIX houve alguma preocupação da


representação qualitativa (visual), com algumas características
quantitativas.

HACHURAS

Foi o primeiro processo de representação da altimetria na


Cartografia de base. Hoje em dia é pouco usado devido à impre-
cisão do processo. Surgiu nas cartas da França em 1889, sendo
utilizada até meados da década de 50.

295
Cartografia Sistemática

As hachuras são pequenas linhas traçadas no sentido de maior


declividade do terreno, devendo obedecer as seguintes conside-
rações:
devem ser dispostas em filas e não serem desenhadas em toda a
extensão das encostas;
o comprimento e o intervalo entre elas são tanto menor quanto
maior for a declividade.
as hachuras apóiam-se em curvas de nível e devem ser exatamen-
te perpendiculares a elas.

Figura 7. Apreciação do espaçamento, intervalo e comprimento das hachuras.

Os processos de traçado fazem com que haja um efeito


plástico, dando uma gradação de escurecimento, quanto
mais forte for a declividade, por exemplo, variando a es-
pessura, o comprimento e a direção do traçado.

296
Representação do relevo nas cartas topográficas

Todo o processo de hachuras é desenvolvido por dese-


nho a mão livre. 17
aula

Figura 8. Mapa de relevo por hachuras.

REPRESENTAÇÃO SOMBREADA

Dentro do mesmo tipo de representação qualitativa é defini-


da a representação sombreada do relevo. Em princípio o som-
breado não tem nenhum valor científico. Possui apenas um va-
lor estético e sua principal vantagem sobre as hachuras é não
sobrecarregar a carta, fornecendo um melhor efeito plástico.
Existem dois processos:
manual
automático

297
Cartografia Sistemática

Figura 9. Relevo sombreado.

O processo automático trabalha com softwares espe-


cíficos e necessita da geração de um modelo digital de
terreno, que permita efetuar o sombreamento. Exige téc-
nicas avançadas de programação em computação gráfi-
ca, já existindo, porém, pacotes gráficos que executam
esse tipo de trabalho.
Em ambos os processos, o trabalho exige a definição
de uma fonte de luz sobre o modelo que vai definir a
área de sombra. No processo manual, o desenhista não
tem o modelo e sim a carta em desenho bidimensional, e
a sua abstração é exatamente criar o modelo na imagina-
ção, para que a sombreada saia coerente, daí a subjetivi-
dade do sombreado.

298
Representação do relevo nas cartas topográficas

17
aula

Figura 10. Relevo sombreado automático.

PROCESSO QUANTITATIVO

O processo quantitativo de representação da altimetria


é uma forma moderna e científica de representação da
altimetria.
Existem três formas básicas de representação, poden-
do uma ser decorrente da outra:
curvas de nível, curvas hipsométricas ou isohipsas (curvas
batimétricas);
representação por perfis;
representação por traçado perspectivo.
Qualquer um dos processos permite que se faça medi-
ções sobre a representação, obtendo-se valores de altitude
ou profundidade, compatíveis com a escala de representa-
ção, o que não era possível com os métodos qualitativos.

REPRESENTAÇÃO POR
CURVAS DE NÍVEL

Imagina-se o relevo sendo cortado por planos horizontais


paralelos entre si.

299
Cartografia Sistemática

Figura 11. Curvas de nível.

Como já vimos anteriormente, as curvas de nível


correspondem as linhas de interseção do relevo com os planos
horizontais, projetados ortogonalmente no plano da carta topo-
gráfica.
Este é o sistema de representação permite uma melhor to-
mada de medidas até hoje desenvolvido. Os contornos são as
isarítmas, ou linhas que são obtidas pela intercessão dos planos
paralelos cortando a superfície tridimensional da forma terres-
tre, projetadas ortogonalmente na carta.
Uma linha de contorno é, portanto, uma linha de igual alti-
tude a partir de uma superfície de referência, denominada “datum
vertical”, que indica a cota origem das altitudes, na superfície do
geóide.
As observações não são efetuadas no elipsóide, são determi-
nadas no geóide e podem ser reduzidas ao elipsóide, desde que se

300
Representação do relevo nas cartas topográficas

conheça a diferença de nível entre o geóide e o elipsóide, o desní-


vel geoidal.
O problema está em estabelecer a posição horizontal sobre
17
aula
a superfície e a elevação vertical acima da superfície, de um gran-
de número de pontos na superfície física.
Quando se dispõe de posições suficientes e a superfície cur-
va do plano origem foi transformada em uma superfície plana
por meio de um sistema de projeção, o mapa pode ser traçado.
Em conseqüência o leitor vê a superfície da Terra
ortogonalmente.

Figura 12. Visão do usuário para o mapa.

A representação por curvas de nível é um sistema de repre-


sentação artificial, que tem pouca correspondência na natureza,
ou seja, os planos não são vistos cortando a superfície terrestre,
sendo, portanto, um exercício de visualização para a maior par-
te das pessoas.
As figuras abaixo representam o relevo em uma carta topo-
gráfica, e uma representação em luz e sombra, que é o que nor-
malmente se vê, e a comparação com a representação de contor-
nos.
As curvas de nível são os símbolos mais notáveis em uma
carta topográfica, se eles forem corretamente locados e o inter-
valo entre eles for constante e relativamente pequeno.

301
Cartografia Sistemática

Figura 13. Trecho de uma carta topográfica com curvas de nível.

EQÜIDISTÂNCIAS DAS CURVAS DE NÍVEIS

Na representação cartográfica, sistematicamente, a


eqüidistância entre uma determinada curva e outra tem que ser
constante.
Eqüidistância é o espaçamento, ou seja, a distância vertical
entre as curvas de nível. Essa eqüidistância varia de acordo com a
escala da carta com o relevo e com a precisão do levantamento.
Somente deve haver numa mesma escala, duas alterações
quanto à eqüidistância. A primeira é quando, numa área predo-
minantemente plana, por exemplo, a Amazônia, precisa-se res-
saltar pequenas altitudes, que ali são de grande importância. Es-
tas são as curvas auxiliares. No segundo caso, quando o detalhe

302
Representação do relevo nas cartas topográficas

é muito escarpado, deixa-se de representar uma curva ou outra


porque além de sobrecarregar a área, dificulta a leitura.
Imprescindível na representação altimétrica em curvas de
17
aula
nível é a colocação dos valores quantitativos das curvas mestras.

ESCALA DA CARTA EQÜIDISTÂNCIA CURVAS MESTRAS


1:25.000 10 m 50 m
1:25.0000 20 m 100
1:100.000 50 m 250 m
1:250.000 100 m 500 m
1:1.000.000 100 m 500 m

Sugere-se para escalas maiores:


1:1.000/2.000 —— 1 m
1:5.000 —— 2/5 m
1:10.000 —— 5/10 m

As curvas de nível são numeradas a intervalos regulares, para


não prejudicar a clareza das cartas. Por convenção, a cada 5 cur-
vas será traçada mais grossa e numerada.

Figura 14. Curvas mestres e espaçamento entre as curvas.

303
Cartografia Sistemática

Assim, as curvas numeradas sempre serão:


1:25.000 —— múltiplo de 50 m
1:50.000 —— múltiplo de 100 m
1:100.000 —— múltiplo de 250 m
1:250.000 —— múltiplo de 500 m.

Deve-se verificar sempre a eqüidistância definida nas cartas,


pois existem cartas antigas com eqüidistâncias de 40 m para a
escala de 1/100.000.
O relevo acidentado apresenta intervalo entre as curvas de
nível menor, indicando a existência de uma maior declividade.
Exige um maior número de curvas que o relevo plano, para que
se possa ter uma melhor visualização da topografia.
Se o relevo for muito acidentado e íngreme, pode ocorrer o
fenômeno de coalescência, que não permite a representação de
todas as curvas de nível, sendo então simplificada a representa-
ção para as curvas mestras.
A combinação de processos quantitativos e qualitativos per-
mite reunir os aspectos científicos com os estético-plásticos.
Podem-se citar as seguintes combinações:
• sombras e curvas
• cores hipsométricas, sombras e curvas (denominado mise à l’effet)

Figura 15 - Coalescência

304
Representação do relevo nas cartas topográficas

MEDIDAS DE ALTITUDE

A medida de uma altitude na carta é desenvolvida através da


17
aula
medição direta dos espaçamentos entre duas curvas de nível, que
será a observação da distância horizontal entre as duas curvas de
nível. Através de uma regra de três, interpola-se linearmente os
valores.
A observação deve ser tomada o mais perpendicular as duas
curvas de nível que estão sendo consideradas para a medida. Pode-
se realizar uma interpolação e excepcionalmente uma
extrapolação.
A interpolação leva em consideração o intervalo existente
entre as curvas de nível, ou seja, observações reais do mapa, en-
quanto que na extrapolação admite-se que no trecho exterior às
informações existentes, mantenham-se as características do ter-
reno em termos de declividade. Na figura 16, pode-se verificar
os processos de interpolação e extrapolação para a determina-
ção de altitudes intermediárias às curvas de nível.

Figura 16. Determinação de altitudes por extrapolação e interpolação.

305
Cartografia Sistemática

Compdet × Equid
H d et =
Compmapa

Onde Compmapa = comprimento entre as duas curvas de nível


consideradas (unidades do mapa)
Compdet = comprimento da curva de cota mais baixa até o pon-
to a determinar (unidades do mapa)
Equid = equidistância entre as curvas de nível (unidades do terreno)
Hdet = Altitude a determinar (unidades do terreno)
Esta formulação é válida tanto para interpolação como para
extrapolação. O resultado já é apresentado em unidades do terreno.
Exemplos:
a) Interpolação
Eqüidistância = 20 m Cota de A = 500 m Cota de B = 520 m
Comprimento no mapa entre A e B = 18,5 mm
Comprimento no mapa ao ponto a determinar (a partir da curva
mais baixa) = 3,7 mm
Aplicando a formulação

Compdet × Equid 3, 7 × 20
H d et = ∴ H det = = 4m
Compmapa 18 ,5

Cota = 500 + 4 = 524 m


b) Extrapolação
Equidistância = 20 m Cota de A = 520 m Cota de B =
540 m
Comprimento no mapa entre A e B = 20,7 mm
Comprimento no mapa ao ponto a determinar (a partir da cur-
va mais baixa) = 28,0 mm
Aplicando a formulação

∴ H det = 28, 0 × 20 = 27 , 05 m
20 ,7

Cota = 520 + 27,05 = 547,05 m

306
Representação do relevo nas cartas topográficas

ATIVIDADES

Utilizando a mesma carta topográfica da leitura da aula anterior,


17
aula
proceda a visualização das curvas de níveis, e de acordo com a
localização das cotas altimétricas, determine a posição das cotas
mais elevadas e mais baixas, o que deve proporcionar a
visualização da declividade média da carta.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Normalmente percebemos as altitudes em cada porção da


carta e escolhemos certa quantidade para estabelecer a média
de cada porção da carta. Em seguida, verificamos as
diferenças e, conseqüentemente, a direção da declividade.

(Fonte: http://pwp.netcabo.pt).

307
Cartografia Sistemática

O relevo de uma determinada área pode ser representa


do das seguintes maneiras: curvas de nível, perfis to
pográficos, relevo sombreado, cores hipsométricas, etc.
As cartas topográficas apresentam pon-
CONCLUSÃO tos de controle vertical e pontos de controle
vertical e horizontal, cota comprovada e cota
não comprovada, entre outros.

Figura 16. Elementos altimétricos (Carta topográfica esc. 1:100.000).

Ponto Trigonométrico - Vértice de Figura cuja posição é deter-


minada com o levantamento geodésico.
Referência de nível - Ponto de controle vertical, estabelecido num
marco de caráter permanente, cuja altitude foi determinada em
relação a um DATUM vertical. É em geral constituído com o
nome, o nº. da RN, a altitude e o nome do órgão responsável.
Ponto Astronômico - O que tem determinadas as latitudes, longitudes
e o azimute de uma direção e que poderá ser de 1ª, 2ª ou 3ª ordens.
Ponto Barométrico - Tem a altitude determinada através do uso
de altímetro.
Cota não Comprovada - Determinada por métodos de levanta-
mento terrestres não comprovados. É igualmente uma altitude
determinada por leitura fotogramétrica repetida.
Cota Comprovada - Altitude estabelecida no campo, através de
nivelamento geométrico de precisão, ou qualquer método que
assegure a precisão obtida.

308
Representação do relevo nas cartas topográficas

RESUMO

Numa carta topográfica, além da representação das parti-


17
aula
cularidades naturais ou artificiais que existem na superfície
do terreno e que constituem a planimetria, considera-se ain-
da, separadamente, a configuração do relevo - a altimetria.
O relevo é figurado por intermédio de curvas de nível, li-
nhas que correspondem à projeção vertical das intersecções de
hipotéticos planos horizontais, eqüidistantes e paralelos, com a
superfície do terreno. Cada curva de nível é definida pela sua
cota que indica a sua altura em relação ao nível médio das águas
do mar (altitude). A distância entre estes hipotéticos planos ho-
rizontais chama-se eqüidistância natural e ao valor desta distân-
cia, à escala, corresponde à eqüidistância gráfica.

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula você construirá perfis topográficos


para compreender a disposição do relevo.

REFERÊNCIAS

IBGE - Mapeamento Topográfico. Disponivel < http://


www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_nocoes
elementos_representacao.html>. Acesso em 18 de agosto de 2008.
KEATES, J. Cartographic design and production. Nova York:
Longman,1973.
Fundação IBGE. Manual Técnico de Noções Básicas de Car-
tografia. 1989.

309
PERFIL TOPOGRÁFICO: 18
TIPOS DE RELEVO
aula
MET
METAA
Apresentar perfis topográficos,
mostrando as principais formas
geomorfológicas.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá:
identificar os principais tipos de
relevo a partir da visualização das
curvas de níveis e da construção
de perfis topográficos.

PRÉ-REQUISITOS
As formas de relevo demonstradas
na aula 17.

(Fonte: http://geoportal.no.sapo.pt).
Cartografia Sistemática

C
aro aluno, na última aula você pôde conhecer a impor-
tância da representação do relevo. Agora é a vez de
conhecer os principais tipos de relevo por meio de um perfil,
que é a representação cartográfica de uma seção vertical da su-
perfície terrestre. Inicialmente precisam-se
INTRODUÇÃO conhecer as altitudes de um determinado
número de pontos e a distância entre eles.
O primeiro passo para o desenho de um
perfil é traçar uma linha de corte, na direção onde se deseja
representá-lo. Em seguida, marcam-se todas as interseções das
curvas de nível com a linha básica, as cotas de altitude, os rios,
picos e outros pontos definidos. (figura 1).
A construção do perfil
topográfico consiste em
uma forma de se represen-
tar o terreno, porém restri-
ta apenas a uma direção de-
terminada.
O emprego de perfis do
terreno se dá particular-
mente nas áreas de engenha-
ria (vias de transporte), te-
lecomunicações, geografia,
urbanismo etc.
A construção de um
perfil permite apreciar com
clareza a possibilidade de
progressão no terreno,
montagem de postos de ob-
servação, determinação de
áreas de visibilidade.

Figura 1 - Perfil topográfico.

312
Perfil topografico: tipos de relevo

A análise da figura permite deduzir como se constrói o


perfil. As fases serão ordenadas para uma melhor assi-
milação do processo.
18
aula
DESENHO

Em um papel milimetrado traça-se uma PERFIL


linha básica e transferem-se com precisão os TOPOGRÁFICO
sinais para essa linha.
Levantam-se perpendiculares no princípio e no fim dessa
linha e determina-se uma escala vertical.
Quer seguindo-se as linhas verticais do milimetrado, quer
levantando-se perpendiculares dos sinais da linha-base, marca-se
a posição de cada ponto correspondente na escala vertical. Em
seguida, todos os pontos serão unidos com uma linha, evitando-
se traços retos.
Alguns cuidados devem ser tomados na representação do perfil:
Iniciar e terminar com altitude exata.
Distinguir entre subida e descida quando existir duas curvas de igual
valor.
Desenhar cuidadosamente o contorno dos picos, se achatados ou
pontiagudos.
Estabelecer a escala vertical a ser utilizada.

Figura 2. Perfil topográfico entre dois pontos.

313
Cartografia Sistemática

Figura 3. Construção de perfil topográfico.

ESCALAS

Tanto a escala horizontal como a vertical serão escolhidas


em função do uso que se fará do perfil e da possibilidade de
representá-lo (tamanho do papel disponível).
A escala vertical deverá ser muito maior que a horizontal,
do contrário, as variações ao longo do perfil dificilmente serão
perceptíveis, por outro lado, sendo a escala vertical muito gran-
de, o relevo ficaria demasiadamente exagerado, descaracterizando-
o. A relação entre as escalas horizontal e vertical é conhecida
como exagero vertical.
Para uma boa representação do perfil, pode-se adotar para a
escala vertical um número 5 a 10 vezes maior que a escala hori-
zontal.
Assim, se a escala da carta Horizontal = 50.000 e a escala
vertical V = 10.000, o exagero vertical será igual a 5. Uma vez

314
Perfil topografico: tipos de relevo

que se procede a ampliação da escala horizontal para se ter uma


boa escala vertical.
Se a escala vertical for igual à escala horizontal, o perfil é
18
aula
dito normal. Se a escala vertical for menor que a escala horizon-
tal, o perfil é denominado rebaixado e, se for maior, é dito eleva-
do. O que determina um perfil ser normal rebaixado ou elevado
é a visualização dos desníveis na escala considerada.
Para escalas menores, devem-se adotar perfis elevados, em
torno de 2 até no máximo 6x de ampliação, dependendo do tipo
de terreno:
terreno plano ou para melhor observar e apreciar o terreno -
elevado
terreno montanhoso - perfil rebaixado

PERFIL TOPOGRÁFICO SEGUNDO A-B

O PERFIL TOPOGRÁFICO ANTERIOR


SOBRELEVADO 4 VEZES

Figura 4. Perfil normal e exagerado.

315
Cartografia Sistemática

A representação de um perfil em que a escala dos valores


cotados é igual à escala da carta mostra-nos o relevo real. Este,
nas regiões pouco acidentadas (com pouca densidade de cur-
vas de nível), aparece-nos, no perfil, bastante esbatido. Para
dar realce ao relevo costuma multiplicar-se a escala dos valo-
res cotados por 4, 5, ... 10, o que corresponde a sobrelevar o
perfil 4, 5, ... 10 vezes.

PROCESSOS ESPECIAIS DE
REPRESENTAÇÃO DO RELEVO

a) Curvas intermediárias
Utilizadas para representação de rupturas de declividade en-
tre as curvas de níveis. Não há necessidade de ser traçada por
completo, apenas na região em que a ruptura ocorre.

Figura 5. Curvas intermediárias.

b) Representação por perfis


O segundo método de visualizar uma superfície contínua é
definido através da utilização de perfis. Um perfil é o resultado
da interseção de um plano perpendicular ao plano de origem
XY, com a superfície contínua. No caso do terreno, com a su-
perfície física do terreno.

316
Perfil topografico: tipos de relevo

18
aula

Figura 6. Perfil de uma linha.

Um perfil não se constitui num mapa, porém uma série de


perfis em seqüência pode fazer uma boa visualização do terreno.

Figura 7. Série de perfis.

c) Representação por traços perspectivos


Um dos primeiros métodos cartográficos a serem programa-
dos para tirar vantagem da abordagem computacional, foi o cál-
culo de plotagem automática de traços perspectivos. É a represen-
tação usual para visualizar modelos digitais de terreno (MDT).

317
Cartografia Sistemática

O traçado automático permite normalmente a possibilidade de


se alterar os seguintes elementos:
- O ângulo de rotação entre o eixo vertical e a superfície;
- A alteração da distância de visada;
- Alteração no ângulo de elevação j.

Figura 8. Representação por traços perspectivos.

Os traços podem ser efetuados ao longo de cada um dos


eixos X e Y ou em ambos, para devidamente suavizado, dar a
impressão da forma da superfície.

NOMENCLATURA DO TERRENO

Figura 9. Nomenclatura do terreno.

318
Perfil topografico: tipos de relevo

A natureza da topografia do terreno determina as formas


das curvas de nível. Assim, estas devem expressar com toda fide-
lidade o tipo do terreno a ser representado.
18
aula
As curvas de nível vão indicar se o terreno é plano,
ondulado, montanhoso ou se o mesmo é liso, íngreme ou
de declive suave.
Inicialmente são necessárias algumas definições sobre a con-
figuração do relevo.
Linha de Crista: linha formada pela interseção de 2 planos
das vertentes (vertente e contra-vertente). É um divisor de
águas natural.
Vertentes ou Encostas: plano de declividade; são as superfícies
com aclives, as contra-encostas ou contra-vertentes são as su-
perfícies com declive em relação às encostas.
Interflúvio: é um divisor de águas sem a forma de crista.
Talvegue: é a linha de interseção de uma encosta e uma contra-
encosta no plano inferior. Corresponde ao leito dos rios.
Ruptura de declive: mudança brusca da direção de uma vertente.
Regra geral de representação das curvas de nível: para uma
eqüidistância constante, em qualquer caso, vertente ou
talvegue, o intervalo entre as curvas de nível é tanto maior
quanto o declive for menor e vice-versa. Para um declive cons-
tante, o intervalo é constante.
a) Representação dos talvegues
O declive cresce de jusante para montante, assim para um
talvegue as curvas de nível serão mais afastadas para jusante e
mais próximas para montante.

Figura 10. Estrutura de curvas em talvegue.

319
Cartografia Sistemática

Figura 11. Estrutura de curvas em talvegue em equilíbrio.

Se o rio tiver um traçado reto, as curvas que o acompanham


serão também retas. Se o rio for sinuoso, as curvas também o serão.

Figura 12. Curvas em traçado reto e sinuoso.

Em relação à confluência de rios, o rio afluente tem como


nível de base, o nível do rio principal, tendo uma declividade
maior que o rio principal, ocorrendo então que as curvas de
nível são mais próximas no rio afluente que no principal.

Figura 12. Confluência de rios.

O declive no talvegue é sempre inferior ao declive das ver-


tentes, assim o intervalo entre as curvas de nível será sempre
maior que em qualquer outro lugar.

b) Representação de vertentes
A vertente é o plano da superfície que liga a linha de
crista ao talvegue, assim o talvegue influencia o traçado no
sopé da vertente e a linha de crista no topo. Haverá sem-
pre uma reentrância da curva de nível, indicando a existên-
cia de um talvegue.

320
Perfil topografico: tipos de relevo

18
aula
Figura 13. Curvas em vertentes.

As vertentes podem ser:


regulares - apresentam intervalos iguais entre as curvas em todo
o conjunto.
convexas - as curvas são próximas na base e afastadas no topo.
côncavas - as curvas são afastadas na base e próximas no topo.

Figura 14. Vertentes convexas e côncavas.

c) Interpretação do fundo de vale


A tendência geral é a modelagem de um vale em forma de Vale
Simétrico - Se o terreno for homogêneo, haverá simetria em re-
lação a um eixo.

Figura 15. Vale simétrico

Vale Assimétrico - Caso o terreno não seja homogêneo.

Figura 16. Vale de fundo assimétrico.

321
Cartografia Sistemática

Vale de fundo chato

Figura 17. Vale de fundo chato.

• Vale de fundo convexo

Figura 18. Vale de fundo convexo.

• Vale de fundo côncavo

Figura 19. Vale de fundo côncavo.

• Vale transverso

Figura 20. Vale transverso.

• Vale meandrítico

Figura 21. Vale meandrítico.

d) Representação dos divisores d’água

Figura 22. Divisor de águas.

322
Perfil topografico: tipos de relevo

A linha poderá ser deslocada se existir um rio com uma


declividade maior que outro, para o de maior declividade. 18
aula

Figura 23. Deslocamento de um divisor.

C urva de nível e outras isolinhas são uns dos símbolos


mais úteis e utilizados na cartografia. A grande maioria
das linhas traçadas em cartas topográficas são curvas de nível, im-
pressos em cor Sépia (Marron). São estas linhas
que dão a marca característica das cartas topo-
gráficas, mostrando precisamente a topografia
CONCLUSÃO
(altitudes e relevo) que é tão importante para
fins de planejamento agrícola, militar, de transporte e infra-estrutu-
ra e para pesquisas científicas. São úteis para fazer perfis e para com-
binar com outros métodos de representar o relevo.
Neste curso experimentamos todas as possibilidades técnicas
do uso do alfabeto cartográfico. Apesar das simetrias e cálculos
freqüentes, a formação de um usuário e leitor crítico dos docu-
mentos cartográficos deve levar em consideração a simbologia, a
escala e a utilidade da projeção cartográfica que o discurso geográ-
fico imprime e se cristaliza com o mapa. Retornar ao croqui inici-
al da primeira aula é um exercício que todos devemos fazer para
perceber o crescimento ao final do curso de cartografia.

323
Cartografia Sistemática

RESUMO

Perfil topográfico é uma representação ortográfica nos pla-


nos cartesianos de um corte vertical do terreno segundo
uma direção de um corte previamente escolhido, de tal for-
ma que seja possível representar intuitivamente os desníveis e a
topografia do terreno.
Um dos processos para construir um perfil topográfico é o seguinte:
Sobre o mapa topográfico traça uma reta, que corresponde à
secção transversal l, cujo perfil pretendemos construir.
Orienta sobre o mapa uma folha de papel milimétrico ou qua-
driculado de maneira que o eixo horizontal sobre o qual se vai
construir o perfil seja paralelo à linha reta que traçaste no mapa.
Projeta-se sobre o eixo horizontal a intersecção de cada curva de nível
com a linha reta, tendo em conta a cota de altitude correspondente.
Traça um eixo vertical, que representa a altitude ou cotas.
Recorrendo ao eixo vertical localiza e marca o valor de cada cur-
va de nível projetada.
Depois de marcados todos os pontos correspondentes às curvas de
nível projetadas, unem-se dando origem a um perfil topográfico.
É importante indicar na planta topográfica o norte verdadeiro,
para que seja possivel calcular o azimute verdadeiro (ou topográfi-
co), de tal forma que seja possível orientar todas as projeções na
direções N (norte) e E (leste ou east). A precisão do procedimento
é indicado pela inter-relação com a distância a ser precisada.

324
Perfil topografico: tipos de relevo

ATIVIDADES

1. De acordo com a figura abaixo, determine o perfil topográfi-


18
aula
co do segmento assinalado.

(Fonte: http://www.ma.fc.up.pt).

2. De acordo com as informações assinaladas durante a discipli-


na, faça uma redução da carta topográfica que disponibilizaremos
na plataforma, apresentando um croqui de aproximadamente
15 cm X 15 cm contendo toda legenda e aspectos importantes
do documento original.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

A construção do perfil topográfico nos auxilia a compreender


a disposição dos fenômenos representados numa carta
topográfica. A escolha dos pontos iniciais e finais e a justa
escala vertical revelam as formas geomorfológicas presentes.

325
Cartografia Sistemática

PRÓXIMA AULA

As duas aulas seguintes revelam as perspectivas da


automação cartográfica e a aplicação de instrumentais
eletrônicos que simplifica o trabalho do cartógrafo e
usuário dos mapas.

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, Cêurio de. Curso de Cartografia Moderna. Fun-


dação IBGE, 1988.
IBGE Mapeamento Topográfico. Disponivel <http://
www.ibge.gov.br> . Acesso em maio de 2008
KEATES, J. Cartographic design and production. Nova York:
Longman, 1973.

326
TENDÊNCIAS DA CARTOGRAFIA: 19
NOÇÕES DE GEODÉSIA
aula
MET
METAA
Apresentar as tendências e
perspectivas atuais da cartografia.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá:
determinar o GPS de navegação
relacionando com os métodos de
localização anteriores;
e identificar as informações
obtidas com o GPS e sua
transposição para o ambiente
digital.

PRÉ-REQUISITOS
Os tipos de relevos apresentados
na aula 18.

(Fonte: http://www.ma.fc.up.pt).
Cartografia Sistemática

O GPS (Global Positioning System) é um sofisticado


sistema eletrônico de navegação, baseado em uma
rede de satélites que permite localização instantânea em qual-
quer ponto da Terra.
Com o advento da era espacial, mar-
cado pelo lançamento do satélite
INTRODUÇÃO
Sputnik pelos Russos (1957) e logo após
com o lançamento do satélite Vanguard
pelos Americanos (1958), teve início a utilização dos saté-
lites para posicionamento geodésico. Assim como a I e II
Grande Guerra foram as grandes responsáveis no desen-
volvimento do sensoriamento re-
moto, a Guerra Fria financiou o
início do desenvolvimento do Sis-
tema de Posicionamento Global
(GPS) em 1973.
O GPS foi desenvolvido pelo
Departamento de Defesa dos Esta-
dos Unidos da América, originalmen-
te para fins militares, liberado com
restrições para uso civil em 1977, e
desde então vem sendo aprimorado,
(Fonte: http://www.malima.com.br). principalmente ao que diz respeito
aos aparelhos eletrônicos e programas computacionais.
O sistema GPS foi projetado para se obter o posicionamento
instantâneo, bem como a velocidade de um ponto na superfície
da Terra ou próximo a ela.
Representa atualmente uma nova ferramenta para cartogra-
fia e ciência afins, tendo o uso do GPS crescido significativamen-
te nas atividades agrícolas. O Brasil é um país de extensão
territorial e carente em informação georeferenciada, sendo o uso
do GPS uma ferramenta promissora. Porém, a falta de conheci-
mento sobre o sistema pode vir a gerar dados georeferenciados
com baixa precisão e de forma errônea.

328
Tendências da cartografia: noções de Geodésia

O
s satélites foram construídos em vários blocos, cada
um com características particulares, incorporando
novas mudanças ou desenvolvimento de equipamentos.
19
aula
Bloco I: os satélites foram desativados em 1995, operavam com
autonomia de 3,5 dias, possuíam sensores que
detectavam explosões nucleares ocorridas na
atmosfera ou no espaço, além de realizar o
SATÉLITES GPS
posicionamento na Terra.
Bloco II e IIA: são compostos por 28 satélites, os quais se refe-
rem à primeira e segunda geração de satélites GPS. Os satélites
do Bloco IIA apresentam comunicação recíproca e maior capa-
cidade de armazenamento de dados de navegação.
Bloco IIR: terceira geração de satélites GPS vem substituindo os
satélites do bloco IIA. A principal mudança é a capacidade de
medir distâncias e calcular as efemérides no próprio satélite trans-
mitindo estas informações entre os satélites e para o sistema de
controle da Terra. Esses satélites carregam padrões de freqüên-
cia altamente estáveis oriundos dos osciladores atômicos de césio
e rubídio. Começaram a ser lançados em 1997 (atualmente com
8 satélites em órbita).
Bloco IIF: quarta geração de satélites GPS, deverá substituir a
IIR e será composta de 33 satélites, sendo que estes poderão car-
regar osciladores máster de hidrogênio considerados até o mo-
mento como sendo os melhores, além de outras modernizações.
Lançamentos programados para 2007.

CARACTERÍSTICAS DO SINAL GPS

Os sinais emitidos pelos satélites são transmitidos através de


ondas (portadoras), sendo:
L1: com freqüência 1575.42 MHz e 19 cm de comprimento de
onda.
L2: com freqüência de 1227.60 MHz e 24 cm de comprimento de
onda.

329
Cartografia Sistemática

As ondas portadoras são moduladas a uma freqüência de


pulsos:
Código P: (precision code) com freqüência de 10.23 MHz, esse
código se repete a cada 267 dias.
Código C/A: (coarsel /aquisition code) com freqüência de
1.023MHz e repetida a cada milisegundo.
Código Y ou AS: (anti spoofing) gerada a partir de uma equação
secreta e tem função de controlar o uso do sistema.
Alem do código Y ou AS, o departamento de defesa dos
EUA incluía um erro proposital na mensagem enviada pelo
satélite conhecida como “selective Avaitabili” ou S/A. Esse
erro proposital foi retirado em 1999, pelo presidente ameri-
cano Bill Clinton.
Dessa forma, a portadora L1 é modulada com os códigos C/
A, P. Sendo a L2 apenas com devido código P.
Devido à freqüência mais alta (10.23MHz), o código P for-
nece uma maior precisão na determinação das coordenadas, sendo
seu uso restritivo para fins militares.
A portadora L2 tem a principal função de corrigir o clock do
satélite melhorando assim os cálculos do posicionamento.

SEGMENTO DO SISTEMA GPS

O GPS consiste de três segmentos principais, o espacial, de


controle e de usuários.

SEGMENTO ESPACIAL

É composto por uma constelação de 24 satélites mais 4, que


orbitam ao redor da Terra a uma altitude de 20.200 km. Os saté-
lites são distribuídos em 6 planos orbitais, sendo que cada plano
tem 4 satélites. Os planos orbitais apresentam uma inclinação
de 55o em relação ao equador, com um período de revolução de
12h siderais.

330
Tendências da cartografia: noções de Geodésia

Essa configuração garante que, no mínimo, quatro satélites


GPS sejam visíveis em qualquer lugar da superfície terrestre ou
acima dela a qualquer hora do dia ou da noite.
19
aula

Figura 1. Satélites

SEGMENTO DE CONTROLE

Monitoram continuamente a posição e a trajetória da cons-


telação de satélites, recalculando novos parâmetros orbitais em
intervalos regulares várias vezes por dia, além de introduzir no
sistema informações adicionais, como condições da ionosfera,
por exemplo. Além da atualização das efemérides (parâmetros
definidores da posição do satélite em um determinado instante),
o segmento de controle calcula parâmetros para correção dos
efeitos ionosféricos, correções dos relógios dos satélites atestam
a saúde dos satélites validando suas mensagens e comanda as
manobras de reposicionamento dos satélites periodicamente em
suas próprias órbitas. A MCS situa-se na base aérea de Schriever
em Colorado Springs, Colorado, EUA.
Tem como principais tarefas:
Manter e controlar continuamente o sistema de satélites
Controlar o tempo GPS
Calcular as correções dos relógios dos satélites

331
Cartografia Sistemática

Predizer as efemérides dos satélites


Atualizar periodicamente as mensagens de navegação
dos satélites
Controle de degradação do sinal
Lançamento de novos satélites

SEGMENTO DOS USUÁRIOS

Pode ser dividido em civil e militar, sendo que para uso civil
existe restrição quanto à precisão.
Uso militar: posição e deslocamento de tropas, navegação em
geral, lançamento de mísseis em alvos inimigos, entre outros.
Uso civil: navegação nos meios de transporte, caminhamentos,
movimentos de placas tectônicas, esportes radicais, correção geo-
métricas de aerofotos e imagens de satélites, levantamentos topo-
gráficos, estudos geodésicos, agricultura de precisão, entre outros.

PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO

De uma forma resumida pode-se dizer que o posicionamento


GPS é realizado por meio de uma triangulação entre os satélites
e o receptor GPS (Figura 2).

Figura 2. Sistema de Recepção.

332
Tendências da cartografia: noções de Geodésia

O cálculo da posição de um ponto de coordenadas x, y e z,


através do GPS, inicia-se pela determinação das distâncias (D)
entre o receptor e pelo menos três satélites (posição X e Y ape-
19
aula
nas). Como o posicionamento exato dos satélites no espaço é
conhecido e monitorado, temos todas as distâncias (d) entre os
satélites. Dessa forma é possível realizar a triangulação, onde essa
situação reduz a apenas duas as possibilidades das coordenadas
do ponto onde está o receptor. Através de programação
computacional os receptores distinguem entre essas duas coor-
denadas qual é a posição correta, uma vez que uma das posições
é normalmente absurda.
Como existe uma defasagem entre o relógio do receptor
(quartzo) - menor precisão- e o relógio do satélite (atômico) -
maior precisão, a sincronia do sinal não é perfeita, sendo neces-
sários pelo menos quatro satélites para a determinação das coor-
denadas x, y e z.
Para que seja possível se realizar a triangulação, o sistema
determina a distância do satélite ao receptor através da diferença
de tempo que um sinal de rádio (L1, L2 e código) leva ao sair do
satélite e chegar ao receptor e do receptor ao satélite, a qual é
possível através da geração simultânea e sincronizada dos sinais
idênticos pelo satélite e pelo receptor GPS.

POSICIONAMENTO

O posicionamento necessita da recepção simultânea de pelo


menos quatro satélites, de cujos sinais e mensagens se pode ob-
ter parâmetros e equações que permitem resolver as incógnitas
e, ou seja, as três coordenadas espaciais (local da antena do usu-
ário) e mais o tempo (ou instante do sinal recebido).
O ponto de partida é o conhecimento preciso da distância
que separa o receptor de cada um dos satélites em órbita, que é
obtida pela mensuração do tempo gasto pelo sinal para viajar do
satélite ao receptor. Isto é possível graças aos relógios atômicos

333
Cartografia Sistemática

existentes em cada satélite, que emitem apurados sinais de tem-


po e aos relógios de quartzo embutidos nos receptores. Em ou-
tras palavras, conhecendo-se o momento exato em que o sinal
foi emitido pelo satélite e o momento em que ele chegou ao re-
ceptor, tem-se o tempo de viagem do sinal. Sabendo que o sinal
viaja à velocidade da luz, de aproximadamente 300.000 km/s,
pode-se calcular a distância do satélite ao receptor.
Sabendo a distância do receptor a um único satélite e, saben-
do a posição do satélite, que é enviada no sinal GPS, o conjunto
de possíveis localizações do receptor em torno do satélite descre-
ve uma esfera no espaço. Conhecendo a distância do receptor a
um segundo satélite, as possibilidades de localização do receptor
se restringem a uma circunferência, que é a interseção das duas
esferas que possuem, cada uma, um satélite em seu centro.
Já com um terceiro satélite, é possível restringir a possibili-
dade de localização do receptor a apenas dois pontos, sendo um
deles a real localização do receptor, e o outro um ponto fora da
superfície da Terra. É necessário um quarto satélite para confir-
mar a posição do receptor, já que a in-
terseção entre quatro esferas secantes
define um único ponto. O calculo da
posição é realizada pelos processadores
e softwares dos receptores, de forma
que o usuário recebe diretamente a sua
posição em coordenadas.
A possibilidade de determinar dire-
tamente as coordenadas de um local tor-
nou o GPS um recurso inestimável para
a obtenção de dados para mapeamento,
pois os dados são automaticamente
georeferenciados. São úteis em ativida-
(Fonte: http://www.portalppc.com). des de monitoramento ambiental e ela-
boração de cartas temáticas, bem como atualização de bases
cartográficas. Como os dados GPS são obtidos já em meio digi-

334
Tendências da cartografia: noções de Geodésia

tal, podem ser facilmente transferidos para computador. Exis-


tem inúmeros softwares para descarregar e carregar dados de re-
ceptores GPS.
19
aula
DADOS EM GPS

O cálculo de posição no receptor GPS é automático, atuali-


zado uma vez por segundo. A única preocupação que precisa-
mos ter é com o uso e armazenamento destes dados. Cada posi-
ção é expressa por quatro coordenadas: três espaciais e uma tem-
poral. As espaciais são a longitude, a latitude e a altitude. Já a
coordenada temporal é a data e hora da obtenção da posição.
Esses dados podem ser armazenados na memória do receptor de
diversas formas:
Waypoint: é uma posição (x,y,z,t), associada a um nome. O
armazenamento do waypoint é comumente chamado de “mar-
car um ponto”.
Trackpoint: é uma posição armazenada em memória, mas
sem qualquer nome ou outra referência, apenas as coordenadas
x, y, z e t.
Tracklog: é um conjunto de trackpoints ordenados em fun-
ção da coordenada t, ou seja, é uma “trilha” percorrida pelo re-
ceptor, onde os pontos estão na mesma ordem em que foram
calculados. Alguns receptores podem armazenar um único
tracklog, enquanto outros armazenam até uma dezena ou mais.
Route: é um conjunto de waypoints escolhidos pelo usuário.

TRANSFERÊNCIA DE DADOS GPS PARA


COMPUTADOR

Os dados armazenados no receptor podem ser transfe-


ridos para um computador ou do computador para o re-
ceptor com o uso de cabo. No computador estes dados
podem ser usados como entrada em Sistemas de Informa-

335
Cartografia Sistemática

ção Geográfica ou programas de cartografia, bem como ser


armazenados e posteriormente copiados para um receptor.
Também é possível copiar para o receptor dados obtidos
de outras fontes.

NAVEGAÇÃO COM GPS

Sabendo apenas a posição atual, já é possível calcular um


rumo para determinada posição. No entanto, os receptores GPS
trazem embutidas algumas funções muito úteis para a navega-
ção. Uma destas funções é a possibilidade de introduzir um
waypoint sem estar na sua posição, mas lendo uma coordenada
em carta, por exemplo. Assim, é possível calcular automatica-
mente um rumo para determinado waypoint com a função go to
ou ir para. Este rumo é atualizado automaticamente a cada se-
gundo.
Outra função importante é o trackback, ou trilha inversa,
que consiste em percorrer determinada trajetória anteriormente
armazenada, tanto no sentido inverso como direto.
Como a posição e a hora são calculadas a cada segundo, é
possível derivar uma série de outras informações, como proa,
velocidade atual, velocidade média, velocidade máxima, tempo
de caminhamento, distância percorrida, tempo estimado de che-
gada, hora de alvorada e ocaso.

336
Tendências da cartografia: noções de Geodésia

T odos os dados imagináveis que ocupem uma posição


no espaço na Terra podem ser georeferenciados, com
aparelhos GPS. Aos pontos georeferenciados podem-se associ-
19
aula
ar vários atributos, os quais podem ser colocados em planos de
informações diferenciados. Dessa forma, inicia-se a montagem
de um banco de dados em um Sistema de
Informações Geográficas. O GPS promo- CONCLUSÃO
ve a interação dos dados na superfície ter-
restre e o SIG.

RESUMO

O GPS (Global Positioning System) é um sofisticado siste-


ma eletrônico de navegação, baseado em uma rede de satéli-
tes que permite localização instantânea em qualquer ponto
da Terra, com uma precisão quase perfeita. O sistema consiste
basicamente em três partes: segmento espacial, complexo siste-
ma de satélites orbitando ao redor da Terra, estações rastreadoras
localizadas em diferentes pontos do globo terrestre e receptores
GPS nas mãos dos usuários.
O segmento espacial, responsável pelo lançamento dos saté-
lites e geração de sinais; segmento de Controle Terrestre, res-
ponsável pelo monitoramento dos satélites e suas correções; seg-
mento do usuário que corresponde aos equipamentos recepto-
res e o processamento das informações.
Atualmente, o sistema GPS possui em órbita um constela-
ção de 24 satélites distribuídos em 6 planos orbitais. Cada plano
possui uma inclinação de 55º em relação ao plano do equador.
Essa configuração permite visibilidade de, no mínimo, 4 satélites
em qualquer ponto da Terra. Os satélites estão em uma altitude
20.200 km e completam uma revolução em torno da Terra em
aproximadamente 11 horas e 58 minutos.

337
Cartografia Sistemática

ATIVIDADES

De posse de um aparelho de GPS, vamos refazer a atividade da


aula 6 para comparar os métodos de aquisição das informações
espaciais.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

O uso de GPS está cada vez mais adentrando na nossa vida


doméstica. Com isso, torna-se necessário o desenvolvimento
de conceitos espaciais de localização e relação para que
possamos entender melhor o contexto que nos cerca.

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula você estudará mais aprofundadamente


o significado dos sistemas de informações geográficas.

REFERÊNCIAS

FITZ P. R. Cartografia básica. Canoas: La Salle, 2000.


MÔNICO. Posicionamento pelo NAVSTAR-GPS: descrição,
fundamentos e aplicações. São Paulo: UNESP, 2000.
IBGE. Noções básicas de Cartografia. Manuais Técnicos em
Geociência. n.8, 1989.

338
NOÇÕES DE SIG: 20
CARACTERÍSTICAS E SEUS USOS
aula
MET
METAA
Apresentar as características e os
principais usos dos Sistemas de
Informações Geográficas.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá: reconhecer a atual
tecnologia de representação
cartográfica.

PRÉ-REQUISITOS
As tendências atuais da
cartografia, expostas na aula 19.

(Fonte: http://www.reallifelog.com)
Cartografia Sistemática

C aros alunos, a última aula da disciplina Cartografia Sis-


temática inicia apresentando as novas tecnologias de
representação cartográfica.
Durante muito tempo os cartógrafos dedicaram estudos no
sentido de desenvolver técnicas que permi-
INTRODUÇÃO tissem gerar as representações cartográficas
de um modo mais rápido e com menores
custos. O advento do computador permitiu mudanças tanto
qualitativas quanto quantitativas na produção de mapas e cartas.
Qualitativamente é possível interagir com a representação em
tempo real enquanto que quantitativamente é possível gerar um
maior número de mapas em menor tempo (TAYLOR, 1994).
O início da utilização do computador em cartografia ocor-
reu por volta de 1960, nos Estados Unidos. Nesta época a ênfa-
se estava na criação de algoritmos que reproduzissem tarefas
muito dispendiosas ma-
nualmente, como, por
exemplo, o traçado de
curvas de nível e de ma-
lhas transformadas de
paralelos e meridianos
segundo certa projeção
cartográfica (CLARKE,
1990). Durante os anos
60 fez-se muito esforço
para implementar
algoritmos que reprodu-
(Fonte: http://www.edumedeiros.com) zissem as tarefas manu-
ais, sendo que em 1968 foi lançado o SYMAP, um dos primeiros
pacotes gráficos para cartografia.
Juntamente com o desenvolvimento dos algoritmos que re-
produziam as tarefas antes executadas manualmente, ocorreu o
desenvolvimento dos dispositivos para entrada, visualização e

340
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

saída das informações. Com o desenvolvimento dos dispositivos


para visualização, o aumento da capacidade de processamento dos
computadores e a diversidade de métodos de captura de dados,
20
aula
houve um grande avanço também no desenvolvimento dos
softwares para tratar a informação cartográfica.
Inicialmente, os softwares de cartografia digital apenas
automatizaram as tarefas que antes eram executadas manualmen-
te, com a utilização de mecanismos que “imitavam” o trabalho
humano. Assim, os mapas continuavam a ser produzidos em
papel, apenas com o auxílio do computador. Com o passar do
tempo, os usuários da nova tecnologia perceberam que ela po-
deria proporcionar muito mais do que simplesmente reproduzir
as tarefas manuais, e deste modo, foram desenvolvidas novas
funções para o tratamento da informação geográfica.
Paralelamente ao desenvolvimento dos métodos e técnicas
para produção, armazenamento e tratamento da informação
geográfica, percebeu-se que a informação poderia ser utilizada
para outras atividades além da reprodução de mapas. A
sobreposição das informações armazenadas permitia que fossem
feitas análises sobre os dados, gerando nova informação. Com
isso, surgiram os Sistemas de Informação Geográfica (SIG).
Os SIGs são sistemas cujas principais características são: “in-
tegrar, numa única base de dados, informações espaciais prove-
nientes de dados cartográficos, dados de censo e de cadastro ur-
bano e rural, imagens de satélites, redes, dados e modelos numé-
ricos de terrenos; combinar as várias informações, através de
algoritmos de manipulação, para gerar mapeamentos derivados;
consultar, recuperar, visualizar e plotar o conteúdo da base de
dados geocodificados” (CÂMARA, 1996).
Com a evolução e a popularização dos Sistemas de Informação
Geográfica, cada vez mais estes sistemas são utilizados para apoiar
os tomadores de decisão. Entretanto, para isto é necessário se dis-
por de uma base de dados espaciais e de informações associadas
que possam ser utilizadas no processo de análise espacial. Hoje os

341
Cartografia Sistemática

softwares para produção de mapas, denominados de CAC (Computer


Aided Cartography), continuam produzindo bases de dados geográfi-
cas, e alimentam as aplicações realizadas com os Sistemas de Infor-
mações Geográficas.
Por meio dos métodos atuais de levantamento é possível
coletar dados espaciais diretamente num formato digital. Entre-
tanto, quase sempre os dados coletados em formato digital não
estão adequadamente estruturados para aplicações em sistemas
de informação geográfica e necessitam, portanto, ser
reestruturados. Em algumas situações não é necessário e nem
vantajoso coletar diretamente os dados espaciais para alguma
aplicação temática. Uma alternativa neste caso é digitalizar as
cartas topográficas existentes para gerar a base de informações
espaciais sobre a qual serão sobrepostas as informações temáticas.
Nas duas situações apresentadas anteriormente é necessário que
se utilize um programa específico que permita no primeiro caso
a estruturação dos dados espaciais, e no segundo caso a
digitalização e estruturação dos dados digitais.
Deve-ser levar em consideração que a tecnologia
computacional modificou o modo de criar os mapas, entretan-
to, a base teórica envolvida para a produção dos mapas perma-
nece inalterado.

(Fonte: http://www.ma.fc.up.pt)

342
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

O
s programas computacionais destinados à digitalização
de cartas e à estruturação de dados espaciais são mais
especializados do que os programas normalmente volta-
20
aula
dos para fazer desenhos e projetos auxiliados por computador, que
são chamados de CAD (Computer Aided Design).
Um programa para CAD apresenta, em geral,
CAD X CAC X SIG
uma representação simbólica mais simples e
só é capaz de lidar com coordenadas referidas
a um sistema cartesiano. Por outro lado, um programa destinado à
digitalização e estruturação de dados espaciais deve apresentar mais
recursos para representação simbólica e projeto de símbolos, deve
ser capaz de lidar com coordenadas geodésicas, com diferentes su-
perfícies de referência (datum) e diferentes projeções cartográficas.
Os programas com estas características são conhecidos pela sigla
CAC (Computer Aided Cartography). Embora um programa para CAC
possa ser utilizado como um CAD, o inverso não é verdade, e, se
não forem tomados os devidos cuidados, isto pode levar à geração
de resultados inapropriados.
Para entender a diferença básica entre um CAC e um SIG é
preciso entender os conceitos de informação espacial e informa-
ção não espacial.
A informação espacial (também denominada base de dados
cartográficos ou informação geográfica) é a informação que se
refere a algum elemento natural ou artificial que está sobre a
superfície terrestre e que tem a sua posição definida em relação a
algum referencial geodésico. Tradicionalmente, a informação
espacial é representada sob a forma de cartas, imagens de satélite
ou fotografias aéreas (Figura 1).
A informação não espacial (também chamada de atributo) é a
informação dita semântica porque está relacionada com o signifi-
cado do que é levantado. Esta informação pode ser qualitativa ou
quantitativa. Um sistema de informação comercial manipula so-
mente informação semântica, como, por exemplo, um sistema ban-
cário. Tomando por base a Tabela 1, em que estão apresentadas

343
Cartografia Sistemática

informações sobre o cadastro de clientes de um banco, é possível


acessar diretamente os vários itens apresentados para cada cliente
e obter respostas para uma série de consultas diretas, como por
exemplo, nome, sobrenome, sexo, etc. Além disto, é possível tam-
bém realizar consultas mais sofisticadas, em que sejam relaciona-
dos alguns dos diferentes itens. Por exemplo, quais são os clientes
do sexo feminino, que têm saldo médio acima de certo valor? Neste
caso, a quinta coluna e a sétima coluna seriam utilizadas para obter
a resposta desejada.

Carta topográfica Foto aérea Imagem de satélite

Figura 1. Exemplos de informação espacial.

Renda Endereço
Reg Id Nome Sobrenome Sexo Idade Média Comercial
1 #1234 João Souza M 53 5000,00 Rua Euclides, 96
2 #1234 Pedro Mattos M 36 500,00 Av. Clara, 123
3 #1234 Maria Carmo F 67 1200,00 Rua XV, 12
Conjunto de informações semânticas, ou não espaciais

Deste modo, pode-se afirmar que um SIG, além de manipu-


lar dados semânticos (incluem-se nestes os dados estatísticos),
manipula também dados espaciais, que são mais complexos, tanto
na forma de organização, como nos tipos de algoritmos para sua

344
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

manipulação. Com os dados espaciais é possível se responder per-


guntas diretas envolvendo atributos e localização, bem como rea-
lizar análises cruzando informações semânticas com dados espaci-
20
aula
ais. Mas para que isto seja possível é necessário que estes dados
descrevam tanto propriedades semânticas como espaciais, lembran-
do que estas últimas são relativas à localização de cada fenômeno,
sobre a superfície terrestre, e a sua própria forma.
Tomando como base o exemplo da Tabela 1, com a utiliza-
ção de um SIG se poderia questionar “ONDE moram os clien-
tes do sexo feminino que possuem saldo médio acima de um
determinado valor?”. Como resposta, seria obtida não apenas a
tabela com as informações do cliente, mas também um mapa
com a localização da residência de um dos clientes, como
exemplificado na Figura 2.

Figura 2. Resultado de consulta espacial.

A capacidade com que um SIG pode manipular dados se-


mânticos e dados espaciais é a grande diferença em relação a um
programa do tipo CAC. Um CAC permite armazenar a geome-
tria das informações e associar a informação semântica por meio
da representação gráfica. Isso significa que em um CAC, para se
informar que uma rodovia é estadual ou federal, é necessário

345
Cartografia Sistemática

alterar a sua forma de representação, por exemplo, com uma


espessura de traço diferente.
Assim, podem-se distinguir duas diferentes aplicações: aque-
las que utilizam programas do tipo CAC e têm como objetivo
automatizar os processos de produção cartográfica, e aquelas
que utilizam programas do tipo SIG e que têm como objetivo
realizar análises em que estão envolvidos dados espaciais e de
atributo.

CARACTERÍSTICAS DOS PROGRAMAS CAC

Os programas CAC caracterizam-se por armazenar as in-


formações em níveis de informação, utilizando a estrutura de
dados vetorial. Além disso, permitem intercâmbio de informa-
ções com outros programas, através de algum formato de dados
padrão.

NÍVEIS DE INFORMAÇÃO

Um programa para cartografia digital, denominado de CAC,


é uma tecnologia voltada para a produção de mapas como uma
alternativa que visa substituir o processo de produção
cartográfica tradicional (plástica-gravura). Os dados são organi-
zados em níveis tendo a finalidade de agrupar os elementos que
têm afinidade entre si, separando-os por níveis de informação
(ou planos de informação). Com isto, tem-se uma forma seletiva
que pode ser usada tanto para a análise como para a visualização
dos dados. A seletividade da informação é obtida ativando-se os
níveis (tornando-os disponíveis) ou desativando-os (tornando-
os não disponíveis).
Cada nível de informação agrupa um conjunto de feições
que têm correlação. Em cada nível as informações estão
posicionalmente relacionadas a outros níveis através de um sis-
tema de coordenadas comum. A organização utilizando ní-

346
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

veis de informação é realizada de acordo com a finalidade


estabelecida para a carta. Os níveis de informação podem
ser definidos de acordo com o tema representado, por exem-
20
aula
plo: hidrografia, limites de municípios, divisas de proprie-
dades, cobertura vegetal etc. (Na Figura 3).

Figura 3. Organização das informações em níveis.

A organização das informações em níveis permite


maior flexibilidade e eficiência no acesso aos dados. Nes-
ta organização, cada nível assumirá determinadas carac-
terísticas, que permitem identificar os elementos que es-
tão sendo representados. Para cada nível de informação
podem ser definidos os seguintes elementos: cor, espes-
sura e tipo de traço, para o caso de símbolos lineares.
Para os símbolos de área: o tipo de traço e o tipo de pre-
enchimento, ou textura.

347
Cartografia Sistemática

ESTRUTURAS DE DADOS

Uma estrutura de dados permite que se possa representar


computacionalmente a informação espacial. As duas principais
formas para representar as informações espaciais em meio digi-
tal são as estruturas de dados vetoriais e matriciais.
A escolha da estrutura de dados está diretamente relaciona-
da aos tipos de manipulações que serão realizadas sobre os da-
dos geográficos. Além disso, está relacionada ao objetivo pre-
tendido para a carta, ou seja, o usuário observa a realidade e
define quais são os elementos importantes para a sua aplicação e
como devem ser representados.
Durante muito tempo utilizou-se mais a estrutura vetorial
porque os métodos digitais eram similares aos métodos tradicio-
nais e os principais dispositivos de entrada e de reprodução que
existiam eram do tipo vetorial. O tamanho dos arquivos digitais
com a estrutura vetorial também era muito menor quando com-
parados com os seus correspondentes na estrutura matricial.
Devido ao tipo de aplicação a ser desenvolvida neste cur-
so, será dada ênfase à estrutura vetorial, visto que para a
representação da planta de um imóvel rural esta estrutura é
mais adequada. Deste modo, a estrutura matricial será abor-
dada de maneira informativa.

ESTRUTURA VETORIAL

Na estrutura vetorial admite-se que o espaço é contínuo e


coordenado. Cada fenômeno inserido neste espaço fica localiza-
do por um par (X, Y) ou terno (X, Y, Z) de coordenadas, respec-
tivamente nos casos 2D e 3D. Tais coordenadas são referidas em
relação à origem do sistema coordenado. Embora todos os fenô-
menos tenham dimensão 3D, é possível se considerar que os
fenômenos podem assumir uma representação: pontual, linear
ou de área, em função da aplicação que se tem em mente. Na

348
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

Figura 4 são apresentados exemplos de fenômenos topográ-


ficos, tais como: marco, córrego e imóvel rural. Para estes
fenômenos é possível se adotar, respectivamente, uma re-
20
aula
presentação pontual, linear e de área e, no caso 2D, tais re-
presentações se fazem por meio de um código e um par de
coordenadas para o marco. Um código e uma seqüência de
coordenadas para o córrego e um código e uma seqüência
de coordenadas de modo que o primeiro ponto e o último
ponto tenham as mesmas coordenadas.
Na Figura 5 é apresentado um exemplo de representação
digital segundo a estrutura vetorial, em que as posições são refe-
ridas como coordenadas UTM. São destacadas duas feições to-
pográficas uma árvore e uma edificação. A árvore é codificada
como um símbolo pontual (código S – símbolo) e sua posição é
expressa pelas coordenadas (273165,10; 7506282,50; 0,00), en-
quanto que a edificação é codificada como um elemento de área
(código P – polígono) e espacialmente por 5 pontos expressos
por suas coordenadas UTM. Deve-se observar neste caso que o
primeiro e o último ponto têm as mesmas coordenadas.

Figura 4. Representação 2D de fenômenos numa estrutura vetorial.

349
Cartografia Sistemática

Figura 5. Exemplo da representação de feições na estrutura vetorial.

ESTRUTURA MATRICIAL

Na estrutura matricial o espaço é tido como discreto e re-


presentado como uma matriz P(m, n), em que m é o número de
colunas e n o número de linhas. A localização de um objeto
geográfico é definida pela posição que este ocupa na matriz P.
Cada célula da matriz é chamada de Pixel – Picture Element – e
armazena um valor correspondente ao atributo estudado. As-
sim, o mundo real representado na Figura 6 quando representa-
do por uma estrutura matricial é subdividido numa matriz de
células. Cada célula assume um Código e uma seqüência de co-
ordenadas (X1, Y1),...(Xn= X1, Yn= Y1), valor que representa
o objeto geográfico no mundo real. Por exemplo, as células com
cor azul representam as feições da hidrografia enquanto as célu-
las em verde representam as feições de vegetação.

350
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

20
aula

Figura 6. Representação dos elementos na estrutura matricial.

O tamanho da célula define a resolução espacial da matriz,


que é a relação entre a área da célula na matriz e a área represen-
tada no terreno. Quanto maior o tamanho da célula, menor será
a resolução espacial e vice-versa.
Na estrutura matricial a representação dos elementos pon-
to, linha e área ocorrem em termos das células da matriz. Por
exemplo, a representação de uma feição pontual pode ser feita
por uma única célula, ou por um conjunto de células, depen-
dendo da resolução da matriz. As feições lineares são represen-
tadas por um conjunto de células agrupadas segundo uma deter-
minada direção. A representação de elementos de área é feita
por um aglomerado de células que têm o mesmo atributo.
No caso das feições lineares e dos polígonos, a resolução da
imagem introduz um “serrilhado” na imagem, como pode ser
observado na Figura 7. Nesta Figura, ilustra-se um elemento do
mundo real, sobre o qual é colocada a matriz de células. Nesta
matriz, nas posições onde existe informação, o pixel é represen-
tado em preto, enquanto que as células sem informação são re-
presentadas em branco.

351
Cartografia Sistemática

Figura 7. Representação na estrutura matricial.


(Fonte: Adaptado de Burrough (1986)).

Pode-se então, fazer a comparação da representação de um


mesmo elemento nas duas estruturas, como se mostra na Figura 8.

FORMAS DE AQUISIÇÃO DA
INFORMAÇÃO

Os programas CAC dispõem de várias formas para coletar a


informação geográfica. As mais usuais são a digitalização de mapas, a
importação de arquivos existentes e a entrada de dados via teclado.

352
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

DIGITALIZAÇÃO

Quando os dados espaciais estão representados em car-


20
aula
tas topográficas, sobre suporte de papel, para que estes pos-
sam ser utilizados em sistemas de informação geográfica é
preciso, primeiramente, convertê-los e estruturá-los segun-
do algum formato digital. Devido à enorme quantidade de
cartas topográficas existentes, ainda hoje, a Divisão de Car-
tografia do IBGE e a Diretoria de Serviço Geográfico do
Exército vêm conduzindo as tarefas de digitalização do
mapeamento topográfico sistemático. Entretanto, nem sem-
pre o que certo usuário necessita é apropriado ou está dis-
ponível para aquisição. Assim, o usuário tem que contratar
uma empresa especializada em digitalização, ou então, o pró-
prio usuário tem que se capacitar para realizá-la. O proces-
so de conversão dos dados representados nas cartas topo-
gráficas para um formato digital é chamado de digitalização
e existem três métodos: digitalização manual; digitalização
semi-automática; e escaneamento de imagens (scanning).

DIGITALIZAÇÃO MANUAL

Provavelmente, a digitalização manual é o processo


mais aplicado para conversão de cartas em suporte de pa-
pel, para um formato digital. O dispositivo de digitalização
usado é a mesa de digitalização, que é um equipamento re-
lativamente barato. A mesa de digitalização é composta por
duas partes principais: a estrutura plana de digitalização e
o cursor de digitalização. Para ser operada deve estar
conectada a um computador e neste deve haver um pro-
grama do tipo CAC que oriente o processo de digitalização.
A estrutura plana de digitalização é constituída, inter-
namente, por uma malha fina de fios que é capaz de criar
um campo elétrico-magnético. O cursor da mesa também

353
Cartografia Sistemática

produz um campo eletromagnético. A interação entre es-


tes campos permite determinar a posição do cursor a cada
instante, que se traduz em termos de coordenadas retangu-
lares. Esta estrutura plana de digitalização pode ser encon-
trada em tamanhos distintos, mas a área útil para
digitalização segue, normalmente, os padrões A0, A1, A2 e
A3. Na Figura 9 estão representadas mesas de digitalização,
com um detalhe esquemático dos fios internos.

Figura 9. Mesa digitalizadora.

O cursor de digitalização permite também que sejam


introduzidos comandos através de um conjunto de teclas
próprias do cursor. Por exemplo, estes comandos são para
informar ao programa CAC que está se iniciando ou ter-
minando um processo de digitalização, ou então, para in-
formar ao programa CAC que grave uma feição digitalizada.

354
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

Estes comandos podem ser também introduzidos atra-


vés do teclado do computador. Além disso, o cursor pos-
sui um visor com pontaria para seguir as feições a serem
20
aula
digitalizadas. Na Figura 10 ilustra-se o cursor da mesa com
a indicação da função dos botões.

Figura 10. Cursor da mesa digitalizadora.

Para realizar a digitalização de uma carta, inicialmente deve-


se fixá-la sobre a estrutura plana de digitalização, o que deve ser
feito com o auxílio de alguma fita adesiva. É importante que esta
etapa seja conduzida com todo cuidado possível para evitar, prin-
cipalmente, a formação de dobras sobre a carta. No programa
CAC é criado o arquivo digital que receberá as informações a
partir da digitalização. Nesta etapa deve ser informada a escala
da carta, o sistema de coordenadas, a projeção cartográfica, as
coordenadas do limite da área da carta, e devem ser criados os
níveis de informação que serão necessários para digitalização das
feições topográficas.

355
Cartografia Sistemática

O passo seguinte é fazer a orientação da carta, que consiste


em estabelecer os parâmetros (ou coeficientes) que transformam
as posições medidas com a mesa de digitalização, que estão no
sistema de coordenadas planas da mesa, para posições referidas
a algum sistema de coordenadas terrestres. Para isto, medem-se
sobre a carta ao menos 4 pontos cujas coordenadas terrestres
sejam conhecidas. É comum nesta operação se utilizar alguns
dos pontos da malha de coordenadas da carta, porque estes são
facilmente identificados e têm coordenadas terrestres conheci-
das. Na Figura 11 apresenta-se esquematicamente este procedi-
mento. Os pontos P1, P2, P3 e P4 são os pontos de orientação,
ou seja, pontos que possuem coordenadas conhecidas em am-
bos os referenciais. A partir deste procedimento, para toda posi-
ção ocupada pelo cursor sobre a carta corresponderá uma posi-
ção no referencial terrestre. Realizada a operação de orientação
da carta, então é possível digitalizar as feições representadas so-
bre esta, como é ilustrado na Figura 12.

Figura 11. Esquema para orientação do mapa sobre a mesa digitalizadora.

356
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

Todas as feições digitalizadas são armazenadas sob a forma de


pontos, linhas e áreas. Os pontos receberão um símbolo próprio,
de modo a identificá-los com a feição correspondente do mundo
20
aula
real, como postes, árvores, marcos, etc. As feições lineares serão
representadas por seqüências de pontos que se conectam, com
uma cor específica, espessura e tipo de traço. As áreas serão defi-
nidas por um polígono fechado com ou sem um preenchimento
simbólico, uma textura própria.
Para a entrada dos dados por meio da mesa digitalizadora exis-
tem dois métodos: digitalização ponto a ponto e digitalização por
fluxo contínuo. No primeiro caso, o operador segue com o cursor
a feição a ser digitalizada e insere os pontos clicando sobre o cursor
o botão de gravar. Deste modo, são armazenados apenas os pon-
tos relevantes das feições, que são escolhidos pelo operador.

Figura 12. Digitalização de uma carta topográfica com mesa de digitalização.

No caso da digitalização por fluxo contínuo o operador se-


gue com o cursor a feição a ser digitalizada e o programa armaze-
na as coordenadas dos pontos à medida que o cursor se desloca
de um certo valor do último ponto digitalizado. O valor da dis-

357
Cartografia Sistemática

tância entre os pontos digitalizados pode ser arbitrado pelo ope-


rador, mas deve ser compatível com o objetivo da carta que está
sendo digitalizada. Este modo de digitalização é mais apropriado
quando as feições lineares que serão digitalizadas são irregulares
(por exemplo, curso de um rio ou curvas de nível).

ERROS DE DIGITALIZAÇÃO MANUAL

É normal que durante o processo de digitalização se come-


tam alguns erros, sendo os mais comuns: digitalização duplicada
da mesma feição; conexão inapropriada de feições lineares que
se bifurcam; feições lineares que são contínuas, mas que estão
segmentadas; e feições lineares que deveriam se conectar suave-
mente, mas não se conectam. Outros tipos de erros que podem
ocorrer estão relacionados com a capacidade do operador de
manter o cursor sobre a feição digitalizada. Entretanto, este é
mais difícil de detectar e quase sempre é negligenciado. O impor-
tante é tentar eliminar os possíveis erros durante o processo de
aquisição dos dados, porque, posteriormente, isto se torna mui-
to mais difícil, tanto para detectar, como para corrigir.
a) Digitalização duplicada da mesma feição:
É possível que durante o processo de digitalização manual,
alguma feição, ou parte desta, seja
digitalizada duas ou mais vezes,
como exemplificado na Figura 13.
Isto pode ser detectado quando se faz
uma avaliação visual detalhada no
próprio monitor, ou então sobre
uma impressão produzida para este
fim. Existe uma alternativa que é
usar um programa para detectar fei-
ções duplicadas.
FIGURA 13 - Digitalização duplicada da mes-
ma feição.

358
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

b) Conexão inapropriada de feições lineares que se bifurcam:


Este tipo de erro ocorre quando existe uma conexão exata en-
tre dois ou mais elementos lineares. Entretanto, durante a digitalização
20
aula
o operador não consegue parar exatamente no ponto de conexão,
ou seja, o último ponto digitalizado fica aquém ou além do ponto
de conexão, como é mostrado nas Figuras 14a e 14b.

Figura 14. Conexão inapropriada para feições que são bifurcadas.

c) Feições lineares que são contínuas, mas que estão segmentadas


Este tipo de erro é comum quando a feição a ser digitalizada
é extensa e o operador durante o processo de digitalização tem
de iniciar várias vezes a sua digitalização. O operador, visual-
mente, não consegue detectar este tipo de erro, mas com o auxí-
lio de alguma função para selecionar e destacar uma feição, so-
bre o monitor, isto é facilmente identificado e corrigido. Somen-
te para poder exemplificar este tipo de erro, fez-se um realce
representando as partes segmentadas da mesma feição com es-
pessuras que se alternam, na Figura 15.

Figura 15. Feição que está segmentada, mas que deve ser contínua.

359
Cartografia Sistemática

d) Feições lineares que deveriam se conectar suavemente


Este tipo de erro ocorre principalmente nas regiões de limi-
tes entre cartas adjacentes, mas que foram digitalizadas separada-
mente, como exemplificadas na Figura 16.
No caso de feições que são representadas como elemen-
tos de áreas, é necessário que estas áreas estejam realmente
fechadas e, para isto, tem-se que forçar que o ponto inicial e o
ponto final da área tenham as mesmas coordenadas. Normal-
mente, os programas CAC têm funções específicas para rea-
lizar esta operação, assim como as operações de edição para
corrigir os erros de digitalização.

Figura 16. Feições lineares que deveriam se conectar suavemente, mas que estão
deslocadas.

Figura 17. Exemplo de plotter usado para impressão da carta topográfica.

360
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

ATIVIDADES

Através da tarefa on-line de acesso a mapas da web com o auxí-


lio das ferramentas do explorador de mapas que você está usan-
20
aula
do para visualizar os mapas eletrônicos, faça uma listagem dos
dados relacionados às imagens que foram visualizadas. Exem-
plo: http://mapas.ibge.gov.br/

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Na web estão disponíveis para download alguns softwares


livres (gratuitos) que contém as ferramentas básicas
necessárias para se iniciar o processamento de informações
geográficas. No caso dos iniciantes, um bom caminho é Sprin
ou terraView, que podem ser acessados a partir do Site de
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (http://
www.dpi.inpe.br/spring/ ou http://www.dpi.inpe.br/
terraview/index.php).

361
Cartografia Sistemática

A coleta de informações sobre a distribuição geográfica


de recursos minerais, propriedades, animais e plantas
sempre foi uma parte importante das atividades das sociedades
organizadas. Até recentemente, no entanto, isto era feito apenas
em documentos e mapas em papel; isto im-
CONCLUSÃO pedia uma análise que combinasse diversos
mapas e dados. Com o desenvolvimento
simultâneo, na segunda metade deste século, da tecnologia
de informática, tornou-se possível armazenar e representar
tais informações em ambiente computacional, abrindo es-
paço para o aparecimento dos sistemas de informações geo-
gráficas e seu processamento.
Nesse contexto, o termo Geoprocessamento denota a disci-
plina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e com-
putacionais para o tratamento da informação geográfica e que
vem influenciando de maneira crescente as áreas de Cartografia,
Análise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicações,
Energia e Planejamento Urbano e Regional. As ferramentas com-
putacionais para Geoprocessamento, chamadas de Sistemas de
Informação Geográfica (SIG), permitem realizar análises com-
plexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de
dados georeferenciados. Tornam ainda possível automatizar a
produção de documentos cartográficos.
Pode-se dizer, de forma genérica, “Se onde é importante para
seu negócio, então Geoprocessamento é sua ferramenta de tra-
balho”. Sempre que o onde aparece, dentre as questões e pro-
blemas que precisam ser resolvidos por um sistema informatizado,
haverá uma oportunidade para considerar a adoção de um SIG.
Devido a sua ampla gama de aplicações, que inclui temas
como agricultura, floresta, cartografia, cadastro urbano e redes
de concessionárias (água, energia e telefonia), há pelo menos três
grandes maneiras de utilizar um SIG:
Como ferramenta para produção de mapas - geração e
visualização de dados espaciais;

362
Noções de SIG: caracteriscas e seus usos

Como suporte para análise espacial de fenômenos - combina-


ção de informações espaciais;
Como um banco de dados geográficos - com funções de
20
aula
armazenamento e recuperação de informação espacial.
Estas três visões do SIG são antes convergentes que
conflitantes e refletem a importância relativa do tratamento da
informação geográfica na pesquisa e na gestão.

RESUMO

SIG é uma das muitas tecnologias da informação que vem


transformando o modo dos geógrafos conduzirem a pes-
quisa e oferecerem contribuições à sociedade. Nas últimas
duas décadas, estas tecnologias da informação causaram efeitos
formidáveis nas técnicas de pesquisas específicas à disciplina, bem
como nos modos gerais nos quais os geógrafos se comunicam e
colaboram.
SIG é uma base de dados digitais de propósito especial no
qual um sistema de coordenadas espaciais comum é o meio pri-
mário de referência. Um SIG requer recursos de:
1. Entrada dos dados a partir de mapas, fotografias aéreas, ima-
gens de satélites, levantamentos de campo, e outras fontes;
2. Armazenamento, recuperação e busca de dados;
3. Transformação de dados, análise e modelagem, incluindo es-
tatística espacial;
4. Comunicação dos dados, através de mapas, relatórios e planos.
Três observações deveriam ser feitas sobre esta definição:
Primeiro - SIG são relacionados a outras aplicações de ban-
co de dados, mas com uma diferença importante. Toda a infor-
mação em um SIG é vinculada a um sistema de referência espaci-
al. Outras bases de dados podem conter informação locacional
(como endereços de rua ou códigos de endereçamento postal),
mas uma base de dados de SIG usa georeferências como o meio
primário de armazenar e acessar a informação.

363
Cartografia Sistemática

Segundo - SIG integra tecnologia. Entretanto, enquanto outras


tecnologias só poderiam ser usadas para analisar fotografias aé-
reas e imagens de satélite, para criar modelos estatísticos ou para
traçar mapas, todas estas capacidades são todas oferecidas con-
juntamente no SIG.
Terceiro - SIG, com seu conjunto de funções, deveria ser visto
como um processo ao invés de simplesmente como software e
hardware. SIGs servem para tomada de decisão. O modo no qual
os dados são inseridos, armazenados e analisados dentro de um
SIG deve refletir a maneira pela qual a informação será usada
para uma pesquisa específica ou tarefa de tomada de decisão.
Ver o SIG como somente um software ou sistema de hardware
é perder de vista o papel crucial que ele pode desempenhar em
um processo amplo de tomada de decisão.

REFERÊNCIAS

CÂMARA, G. et al. Anatomia de Sistemas de Informação


Geográfica. Campinas, São Paulo. Instituto de Computação,
UNICAMP. 1996.
CLARKE, K. C. Analytical and computer cartography.
Englewood Clifs: Prentice-Hall, 1990.
FFUVIROMENT SYSTES RESEARCH INSTITIVE. ARC/View
User´s Guide. Map. Projetctions and Coordinate Setemeo. 2001.
TAYLOR, F. Perpectives on visualization and modern cartography.
In: MACEACHREN, A; TAYLOR, F. Modern Cartography:
visualization in modern cartography. v. 2. Oxford: Pergamon Press, 1994.
VIEIRA, Antônio José Berutti et al. Módulo III – Cartografia e
ajustamento de observações. Curitiba: CREA-PR / Departamen-
to de Geomática da Universidade Federal do Paraná, 2004.

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