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Os Lusíadas e Mensagem: o elogio épico e mítico da portugalidade

OS LUSÍADAS

O ELOGIO PÁTRIO

Camões celebra em Os Lusíadas  a acção grandiosa e heróica dos Portugueses que deram início
a um vasto Império que se estendeu pelos diversos continentes. Ao relatar a viagem à Índia,
entrecortando-a com episódios do passado e profecias do futuro, mostra a história de um
povo que teve a ousadia da aventura marítima, «dando novos mundos ao mundo».

Os Lusíadas surgem assim como uma epopeia das façanhas dos portugueses nos mares que os
levaram à Índia, trazendo ao conhecimento povos remotos, lugares ignorados e inóspitos,
unificando civilizacionalmente os cinco continentes.

É uma obra que celebra alegoricamente o direito à imortalidade dos nautas portugueses pelos
seus feitos históricos, mas recorda ainda fragmentos da história grandiosa de Portugal e
profetiza acontecimentos futuros, cuja visão os deuses são capazes de antecipar.

Os Lusíadas revelam ainda o espírito do homem da Renascença que acredita na experiência e


na razão. Por isso, a exploração marítima levada a cabo pelos Portugueses nada mais é do que
a afirmação do espírito empreendedor de um povo, cuja experiência, espírito de aventura e
vontade indómita conseguiram superar a fragilidade da sua condição humana.

A MITIFICAÇÃO DO HERÓI 

A intenção de exaltar os heróis portugueses que construíram e alargaram o Império levou


Camões a torná-los símbolos da capacidade de ultrapassar a «força humana» e de merecerem
um lugar entre os seres imortais.

Os navegantes, e em especial Vasco da Gama, ultrapassam a sua individualidade e assumem-se


como símbolos do heroísmo lusíada, do seu espírito de aventura e da sua acção humanística e
civilizacional. Deste modo, numa leitura simbólica, a viagem, mais do que a exploração dos
mares, exprime a passagem do desconhecido para o conhecimento, da realidade do Velho
Continente e dos seus mitos indefinidos para novas realidades de um planeta a descobrir.

REFLEXÕES DO POETA

Camões, ao longo da obra, faz diversas considerações, referindo, por um lado, os «grandes e
gravíssimos perigos» da aventura marítima, chamando a atenção para a tormenta e o dano do
mar, a guerra e o engano em terra, mas por outro também faz a apologia da expansão
territorial para divulgar a fé cristã, manifestando o seu patriotismo e exortando D. Sebastião a
dar continuidade à obra grandiosa do povo português.

 
Assim, se o poeta realça o valor das honras e glórias alcançadas por mérito próprio pelos
portugueses, lamenta que estes nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à
eloquência, destacando deste modo a importância das artes. Não deixa também de se queixar
de todos aqueles que pretendem atingir a imortalidade sem sacrifício, dizendo-lhes que a
cobiça, a ambição e a tirania são honras vãs que não dão verdadeiro valor ao homem.

MENSAGEM

A VISÃO PROFÉTICA DA HISTÓRIA

O poema épico-lírico de Pessoa canta, de forma fragmentária e introspectiva, um Portugal que


se encontra em declínio e a necessitar de uma nova força anímica. Depois de relembrar um
passado de heroísmo e grandezas, o poeta profetiza, numa perspectiva messiânica, um futuro
que cumpra Portugal, o surgimento de um novo império espiritual e civilizacional, que
identifica como o Quinto Império. Pessoa procura assim libertar a pátria de um passado que se
desmoronou e encontrar um novo heroísmo que exige grandeza de alma e capacidade de
sonhar.

A ESTRUTURA SIMBÓLICA

Os poemas da Mensagem agrupam-se em três partes, correspondentes às etapas da evolução


do Império português: Brasão (fundação da nacionalidade), Mar Português (realização do
sonho marítimo) e O Encoberto (dissolução do império). 

A inspiração da obra prende-se com o mito sebastianista, que exprime o drama de um país
moribundo, à «beira mágoa», a necessitar de acreditar de novo nas suas capacidades e valores
que antigamente lhe permitiram a conquista dos mares e a sua afirmação no mundo.

O rei desaparecido em Alcácer Quibir simboliza a ideia de um retomar do heroísmo pátrio que
se configura não no âmbito de um império territorial, mas espiritual. O Quinto Império seria,
para Fernando Pessoa, um novo império civilizacional, cultural e espiritual. Reavivando o mito
sebastianista, anunciando o Quinto Império, o Poeta procurou, tal como Camões, ser a voz da
consciência da identidade que Portugal necessitava.

HERÓIS

À semelhança de Os Lusíadas, Pessoa elogia todas as figuras que no passado engrandeceram o
nome de Portugal. Os heróis míticos surgem ligados à formação e consolidação da
nacionalidade, às descobertas e expansão imperial e como esperança de um novo império.

Estes heróis são inspirados por uma missão transcendente, cumprindo um dever individual e
pátrio e, por isso, alcançam a imortalidade. A sintonia entre a vontade divina e o sonho
humano funda uma atitude de incessante busca, representada pelo desejo de chegar mais
além, pela firmeza com que o Português combate o medo e vitoriosamente reclama o domínio
do mar e de mundos antes desconhecidos.

SIMBOLOGIA DAS OBRAS 

Os Lusíadas  de Camões são uma alegoria, com a intriga dos deuses mitológicos a darem
unidade à acção e a favorecerem o seu desenvolvimento, exprimindo as forças e dificuldades
que se apresentavam ao espírito humano na aventura marítima. Estes são seres efabulados
que mostram que os nautas e todos os heróis lusíadas merecem a imortalização.

A Mensagem de Fernando Pessoa é uma obra mítica e simbólica, dando conta do Portugal
erguido pelo esforço dos heróis e destinado a grandes feitos. No entanto, perante a
decadência e a desintegração do império, a obra apela a um novo ímpeto para superar um
presente de sofrimento e de mágoa, pois falta «cumprir-se Portugal», que ressurgirá em todo
o esplendor no Quinto Império.

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