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A DOENÇA DE PARKINSON
1. INTRODUÇÃO
A doença de Parkinson (DP), descrita por James Parkinson em 1817, é uma das
doenças neurológicas mais comuns e intrigantes dos dias de hoje. É uma doença de
distribuição universal e atinge todos os grupos étnicos e classes sócio-econômicas. Estima-se
uma prevalência de 100 a 200 casos por 100.000 habitantes. Sua incidência e prevalência
aumentam com a idade. A prevalência da DP no Brasil não é conhecida.
Do ponto de vista patológico, a DP é uma doença degenerativa caracterizada por
morte de neurônios dopaminérgicos da substância nigra e por inclusões intracitoplasmáticas
destes neurônios, conhecidas como corpúsculos de Lewy. As manifestações clínicas da DP
incluem tremor de repouso, bradicinesia, rigidez roda denteada e anormalidades posturais.
Como é uma doença progressiva, que usualmente acarreta incapacidade severa após 10 a
15 anos, o impacto social e financeiro é elevado, particularmente na população mais idosa.
É estimado que o custo anual mundial com medicamentos antiparkinsonianos esteja em
torno de 11 bilhões de dólares, sendo cerca de 3 a 4 vezes mais caro para os pacientes na
fase avançada da doença.
Foi somente na década de 60, após a identificação das alterações patológicas e
bioquímicas no cérebro de pacientes com DP, que surgiu o primeiro tratamento com sucesso,
abrindo caminho para o desenvolvimento de novas terapias efetivas. A introdução da
levodopa representou o maior avanço terapêutico na DP, produzindo benefícios clínicos
para praticamente todos os pacientes e reduzindo a mortalidade por esta doença. No entanto,
logo após a introdução da mesma, se tornou evidente que o tratamento por longo prazo
era complicado pelo desenvolvimento de efeitos adversos que incluem flutuações motoras,
discinesia e complicações neuropsiquiátricas. Além disso, com a progressão da doença, os
pacientes passam a apresentar manifestações que não respondem adequadamente à terapia
com levodopa, tais como episódios de congelamento, instabilidade postural, disfunções
autonômicas e demência.
As manifestações motoras da DP podem ser explicadas de uma maneira simplificada
pelo modelo no qual o estriado possui um papel chave dentro das vias motoras cerebrais.
O processo de degeneração de neurônios dopaminérgicos nigroestriatais leva a uma
redução da modulação da dopamina estriatal e conseqüentemente, a alterações motoras.
Esse modelo prediz que, aumentando-se a estimulação dopaminérgica ou reduzindo-se a
estimulação colinérgica ou glutamatérgica, os sintomas melhoram. Deste modo, existem
atualmente vários modos de intervenção farmacológica sintomática:
• Levodopa standard ou com formulações de liberação controlada, associados com
inibidor da dopadecarboxilase (carbidopa ou benserazida);
• Agonistas dopaminérgicos;
• Inibidores da monoamino oxidase B (MAO-B): selegilina;
• Inibidores da catecol-O-metiltransferase (COMT): tolcapone e entacapone;
• Anticolinérgicos;
• Antiglutamatérgicos: amantadina.
Idealmente, se uma droga fosse disponível, o objetivo inicial do tratamento da DP deveria
ser reduzir a progressão dos sintomas. Uma vez que o tratamento sintomático seja requerido, os
medicamentos devem produzir melhora funcional com um mínimo de efeitos adversos e sem
induzirem o aparecimento de complicações futuras. Este protocolo não pretende propor uma
maneira única de tratamento dos pacientes com a DP, mas, sim, servir de diretriz apontando para
vantagens e desvantagens de diferentes opções terapêuticas. Estas diretrizes foram baseadas em
estudos analisados pelo nível de evidência (Tabela 1).
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2. CLASSIFICAÇÃO CID 10
3. DIAGNÓSTICO
• Pelo menos 2 manifestações do grupo A* estarem presentes e pelo menos 1 delas ser
tremor ou bradicinesia
• Nenhuma das manifestações do grupo B* estar presente ou
Sintomas estarem presentes por menos de 3 anos, e nenhuma das manifestações do
grupo B* estar presente até o momento
• Significativa e mantida resposta a levodopa ou a um agonista dopaminérgico seja documentada
ou
Pacientes sem adequado tratamento com levodopa ou agonista dopaminérgico
Com base em várias vias bioquímicas que poderiam ter participação na morte neuronal,
várias drogas são potenciais candidatas ao papel de neuroprotetor. No entanto, ensaios clínicos
controlados e randomizados para mostrar neuroproteção na DP são controversos. Não existem
maneiras de medir diretamente a perda neuronal in vivo, e não se tem claro como a sintomatologia
se correlaciona com a morte neuronal. Além disso, é difícil separar clinicamente efeito sintomático
de efeito protetor. Um desfecho clínico comumente utilizado, por exemplo, é o momento em que o
paciente virgem de tratamento apresenta piora funcional e necessita da introdução de levodopa.
Selegilina e vitamina E foram estudadas com este desfecho e observou-se que a selegilina
retardava a necessidade de levodopa quando comparada com o placebo, resultado inicialmente
interpretado como neuroproteção. Entretanto, foi subseqüentemente observado que quando o
tratamento com selegilina era interrompido esta diferença desaparecia, indicando que a droga tinha
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um efeito leve e não sustentado, que era, porém, grande o suficiente para retardar o início da
levodopa. Nos estudos randomizados controlados, realizados para testar a neuroproteção na DP
com medicamentos tais como vitamina E, selegilina, ou bromocriptina, observou-se que nenhum
deles produziu evidências definitivas para neuroproteção.
Em resumo, neuroproteção na DP é uma meta ainda não atingida até o momento e
nenhum medicamento pode ter recomendação na prática clínica com este propósito.
O tratamento sintomático deve ser instituído para pacientes com incapacidade funcional
causada pelos sintomas parkinsonianos. A definição de incapacidade funcional deve ser
considerada com bases individuais, pois existirão distintas implicações funcionais para diferentes
indivíduos.
A escolha do medicamento mais adequado deverá levar em consideração fatores tais
como o estágio da doença, a sintomatologia presente, a ocorrência de paraefeitos, a e idade do
paciente, as medicações em uso e o custo das mesmas.
Embora não haja evidências clínicas de efeito neuroprotetor com a selegilina, o tratamento
inicial com esta droga visando obter benefícios sintomáticos em pacientes com sintomas leves
antes da instituição de terapia dopaminérgica pode ser considerado (evidência nível II). Da mesma
forma, a amantadina tem efeito sintomático modesto e é bem tolerada, podendo ser utilizada com o
objetivo de retardar a terapia dopaminérgica.
Anticolinérgicos também podem ser utilizados como terapia inicial, especialmente nos
casos em que o tremor é a manifestação predominante (evidência nível II), embora possuam vários
efeitos colaterais especialmente nos indivíduos mais velhos.
6.1.2. Discinesias
Amantadina é a única droga comprovadamente eficaz em controlar discinesias.
7. CENTROS DE REFERÊNCIA
8. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
9. CASOS ESPECIAIS
10. TRATAMENTO
• Levodopa padrão
Controle sintomático do parkinsonismo:
Apesar de não haver estudos de nível I placebo-controlado para levodopa, sua eficácia no
controle sintomático da DP está claramente estabelecida.
eficácia da levodopa de liberação lenta comparada à levodopa padrão no controle das flutuações
motoras. No entanto, o uso da levodopa de liberação lenta em dose única antes de dormir é útil
clinicamente pois pode melhorar a incapacidade noturna e ao despertar.
10.2. Bromocriptina
10.2.1. Uso clínico
É absorvida parcialmente pelo trato gastrointestinal após administração por via oral,
alcançando nível sérico máximo em 70 a 100 min e apresentando uma biodisponibilidade inferior a
10%, já que 90% da droga sofre metabolismo de primeira passagem no figado. Cerca de 90% da
droga está ligada a proteínas plasmáticas. Tem uma meia-vida de 6 a 8h. A dose recomendada é
de 7,5 a 70 mg/dia e deve ser aumentada conforme resposta clínica e tolerabilidade.
10.3. Pergolida
Melhora sintomática inicial quando usada em monoterapia ou quando associada a levodopa nos
casos de DP avançada ou com flutuações motoras.
10.4. Pramipexol
É absorvido rapidamente após a administração via oral alcançando nível sérico máximo em
1-3h. Não se liga às proteínas plasmáticas e tem uma biodisponibilidade acima de 90%. A meia-
vida é de aproximadamente 10 h. Somente 10% da droga é metabolizada e a principal via de
excreção é renal. A dose recomendada é 2-4,5 mg/dia divididos em três tomadas diárias.
Recomenda-se o aumento gradual da dose.
Iniciar com 0,125 mg 3 vezes ao dia e aumentar a cada 5-7 dias sucessivamente para 0,75
mg/dia; 1,5 mg/dia; 2,25 mg/dia; 3 mg/dia; 3,75 mg/dia; 4,5 mg/dia.
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10.5. Cabergolina
É absorvida pelo trato gastrintestinal após administração por via oral, alcançando nível
sérico máximo em 2,5 h. Tem uma meia-vida de 65 h, o que permite um regime de tratamento de
uma dose diária. É metabolizada em vários metabólitos, e sua excreção é principalmente por via
fecal. A dose recomendada é de 2-5 mg/dia.
10.6. Amantadina
O mecanismo de ação exato ainda não está esclarecido. A maioria dos estudos propõe
que a amantadina atue na fenda pré-sináptica aumentando a liberação das catecolaminas
armazenadas dos terminais dopaminérgicos intactos e inibindo o processo de recaptação desses
neurotransmissores.
Também tem sido sugerido que a amantadina exerce efeito direto nos receptores
da dopamina na fenda pós-sináptica, produzindo alterações de afinidade dos receptores da
dopamina.
Suas propriedades não-dopaminérgicas, incluindo ação anticolinérgica e bloqueio dos
receptores NMDA, estão sendo estudadas.
Controle sintomático do parkinsonismo: amantadina é considerada possivelmente eficaz no
controle sintomático da doença tanto em monoterapia (estudos nível I) quanto associada a
anticolinérgicos ou levodopa. Os estudos, entretanto, apresentam qualidade metodológica
moderada e não avaliam a dimensão dos efeitos nem a duração dos benefícios.
Controle das complicações motoras: baseado em três estudos nível I, a amantadina é
considerada eficaz na redução das discinesias a curto prazo, sendo os dados inadequados para
avaliação desse benefício a longo prazo. Em relação à diminuição das flutuações motoras, não há
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O mecanismo preciso ainda não está esclarecido, mas acredita-se que eles antagonizem
os efeitos excitatórios da acetilcolina no estriado através do bloqueio de receptores muscarínicos.
Controle sintomático do parkinsonismo: estudos nível I e II demonstraram que os anticolinérgicos
são capazes de produzir diminuição do tremor, da bradicinesia, da rigidez e da sialorréia, assim
como melhora da fala e da marcha. No entanto, devido à elevada incidência de efeitos adversos,
são recomendados em pacientes mais jovens em que o sintoma predominante seja tremor.
São absorvidos pelo trato gastrointestinal e por serem lipofílicos atravessam a barreira
hematoencefálica facilmente. O triexifenidil atinge a concentração sérica máxima em 2 a 3 h e tem
uma duração de ação de 1 a 12 h. Sugere-se que o tratamento com triexifenidil inicie com doses
de 0,5 a 1 mg/dia podendo ser aumentada até 15 mg/dia. A dose terapêutica do biperideno situa-
se entre 2 e 8mg/dia. O tratamento com anticolinérgico não deve ser interrompido abruptamente
devido ao rico de efeito rebote e piora do parkinsonismo.
Tolcapone é absorvida pelo trato gastrointestinal alcançando nível sérico máximo em 1,4 a
1,8 h. Cerca de 20% da droga é perdida no metabolismo de primeira passagem, e o restante liga-
se às proteínas plasmáticas. É completamente metabolizada antes da sua excreção renal. A dose
de tolcapone recomendada é de 100 mg 3 vezes ao dia, sendo a dose máxima recomendada de
600 mg.
Entacapone é absorvida rapidamente pelo trato gastrointestinal e atinge nível sérico
máximo em 0,4 a 0,9h. A maior parte da droga (98%) circula ligada a proteínas plasmáticas. Tem
meia-vida de 1 a 4h. É metabolizada no fígado e excretada através das fezes (80-90%) e urina. A
dose recomendada é de 200 mg 4 a 10 vezes ao dia.