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Anos mais tarde visitei novamente essa empresa para iniciar a pesquisa que
daria lugar a minha dissertação de mestrado, depois de ter lido e estudado
a teoria do processo de trabalho capitalista, abordando os autores clássicos
e contemporâneos. Agora a realidade social da fábrica tinha se
transformado completamente a meus olhos. Podia ver que aquele
amontoado de homens que observei na minha primeira visita, em realidade
estavam organizados em linhas de montagem, distribuídos em função do
seguinte princípio: um trabalhador, um posto de trabalho, e que esse tipo
de organização do trabalho se denominava taylorismo-fordismo. Cada
trabalhador realizava pequenos gestos operatórios e o ritmo do trabalho
dependia da velocidade da esteira rolante. Capatazes vigiavam com
cronômetros o trabalho dos homens. Percebi que no curso do
desenvolvimento histórico do processo de trabalho capitalista, o velho
trabalho artesanal fora dividido à exaustão, e que se apresentava em
migalhas, que os trabalhadores artesãos foram expropriados do saber- fazer
que lhes permitia a realização de um trabalho completo, abarcando do
planejamento até a execução. Observei a divisão capitalista do trabalho, o
planejamento era realizado pelos técnicos e engenheiros da empresa, e a
execução do trabalho reduzida a gestos operatórios simples, por
trabalhadores desqualificados. Vi os trabalhadores procurando pausas para
fugir do trabalho maçante, rotineiro, os olhares atentos e preocupados dos
capatazes, as estratégias de recusa dos trabalhadores à realização do
trabalho em migalhas. Tinha perante meus olhos o resultado da
expropriação histórica do processo de trabalho artesanal pelos patrões
capitalistas, um trabalho completo, anteriormente realizado pelos mestres
de oficio. Observei nitidamente o controle sobre o processo de trabalho
assumido pela empresa, representada pelo seu corpo técnico e as
resistências da classe trabalhadora à rotina e ao controle sobre o trabalho,
dentre outros aspectos.