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Novembro, 2001
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Documentos 108
Suplementação de Bovinos em
Pastejo
Luiz Roberto Lopes de S.Thiago
José Marques da Silva
Campo Grande, MS
2001
1a edição
1a impressão (2001): 1.000 exemplares
Resumo ..................................................................... 7
Abstract .................................................................... 9
Introdução ............................................................... 10
Ambiente ruminal e o suplemento ............................... 10
Suplementação na seca ............................................. 11
Suplementação na seca – vacas de cria ...................................... 12
Suplementação na seca – animais em recria ................................. 13
Suplementação na seca – animais em engorda (semiconfinamento) .. 15
Suplementação na chuva ........................................... 16
Suplementação na chuva – vacas de cria ..................................... 17
Suplementação na chuva – animais em recria e engorda ................. 17
Cálculo de um suplemento ......................................... 19
Discussão final ......................................................... 27
Referências bibliográficas .......................................... 27
Resumo
Abstract
Introdução
Uma tendência natural dos sistemas de produção de carne nos trópicos seria
explorar ao máximo o potencial de cada forragem durante o período favorável de
crescimento, isto é, primavera/verão. Nessa época, além da maior produtividade,
as pastagens poderiam ser consideradas como dietas completas, desde que
suplementadas com água e mistura mineral. O potencial forrageiro de cada
planta, associado com as práticas de manejo utilizadas, vai resultar em diferentes
desempenhos animais, com um valor médio de, aproximadamente, 400 g/
animal/dia. O uso do suplemento poderia ser uma opção para adicionar, ao
ganho citado, 100 ou 200 g/animal/dia. Já para o período da seca (outono/
inverno), caracterizado pela baixa produção e qualidade das pastagens, o
suplemento é um fator necessário para garantir, em algumas situações, a
mantença do animal, mas essencial para se alcançar ganho de peso. Na seca, o
nutriente mais limitante ao animal em pastejo é a proteína, que interfere na
digestibilidade e no consumo da pastagem, e, conseqüentemente, no desempe-
nho animal. Portanto, a suplementação e a melhoria das taxas de ganho de peso
podem ocorrer durante todo o ano, mas é no período da seca quando se alcança
a melhor eficiência alimentar (Hamilton & Dickie, 1988). O objetivo deste
trabalho é discutir os diversos aspectos da suplementação de bovinos em
pastejo, dentro de um enfoque prático e econômico.
Suplementação na seca
O maior problema no período da seca é o baixo desempenho dos bovinos em
pastejo, resultado de uma pastagem de baixo valor nutricional. As vacas de cria
não recuperam a condição corporal necessária para manter o ciclo reprodutivo e
as demais categorias animais apresentam baixas taxas de ganho de peso. O
baixo teor de proteína é o fator limitante das pastagens nessa época do ano, e
sua correção, normalmente, resulta em aumento no consumo e digestibilidade da
pastagem (Cochran et al., 1998). Isto porque as bactérias celulolíticas, responsá-
veis pela digestão da fibra, necessitam para o seu crescimento, de amônia (que
pode ser fornecida pela uréia), mas também de esqueletos carbônicos (fornecido
pelo carboidratos e proteína verdadeira). A fração protéica utilizada no rúmen é
denominada de Proteína Degradada no Rúmen (PDR) e sua exigência está
relacionada diretamente com os microorganismos do rúmen e não com o animal.
Essa exigência aumenta proporcionalmente à oferta de energia (NDT) ao animal,
e pode ser estimada usando-se a equação:
Milho triturado - 10 12
Farelo de soja - - 36
Uréia 30 30 10
Sulfato de amônio 5 5 2
Mistura mineral 65 55 20
PB, % na MS 91 92 50
NDT, % na MS 0 8 37
*MS = matéria natural
Milho triturado 15 62
Uréia 10 3,76
PB, % na MS 52 32
NDT, % na MS 43 76
*MN = matéria natural
**PV = peso vivo
Suplementação na chuva
Ao contrário do período da seca, animais em pastejo durante as águas, normal-
mente, alcançam ganhos de peso médios superiores a 400 g/animal/dia. Nessa
situação, qualquer tentativa de suplementação deve ser, exaustivamente,
analisada em termos da meta a ser alcançada dentro de um determinado sistema
de produção de carne. Entretanto, apesar do aparente alto custo do ganho
adicional a ser obtido com a suplementação das águas (entre 100 a 200 g por
animal/dia), isto vai resultar em uma redução no período de engorda do animal,
quer seja em pasto ou em confinamento, com possíveis retornos econômicos. A
suplementação nas águas pode ser feita com o uso de um sal protéico, em
situações de pastagens com baixos valores de PDR. Este pode ser o caso de
pastagens de braquiárias não adubadas com nitrogênio e estabelecidas em solos
de baixa fertilidade. Para outras situações, sugere-se o uso de um concentrado
energético-protéico, com ofertas entre 2,5 a 3 g/kg de PV/animal/dia, o que
pode adicionar cerca de 200 g no ganho normal da época de chuva. Seria
desejável que a fonte de PDR a ser utilizada no sal protéico fosse de degradação
lenta no rúmen, melhorando, assim, a síntese microbiana. A uréia disponível, no
mercado, não apresenta essas características, dando-se preferência a fontes de
PDR provenientes do farelo de soja, algodão, girassol e outras. Outra opção seria
o uso do caroço de algodão, que, em virtude de ser oferecido na forma integral,
passa pelo processo de ruminação, e com conseqüente maior tempo de perma-
nência no rúmen e liberação de nitrogênio. Entretanto, é um produto que não
apresenta características desejáveis para a confecção de misturas. Já para o
concentrado, a fonte protéica desejada deveria apresentar baixo valor de PDR e
Uréia - 1 2 3,95
Cálculo de um suplemento
Para se calcular um suplemento é necessário o conhecimento prévio de quatro
fatores:
Este valor deveria ser comparado com os valores calculados com outras fontes
de PB, tais como, farelo de amendoim, de algodão, de girassol etc.
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Tabela 5. Composição percentual de alimentos (base na MS).
NDT EM Elm Elg PB Degr.PB PDR Ca P Preço
MS
Ingredientes kg/kg
% Mcal/kg MS Mcal/kg MS % MS R$/kg
MS
Algodão, caroço 91 0,900 3,258 2,242 1,551 0,210 0,66 0,139 0,17 0,62 ...
Algodão, farelo 91 0,685 2,480 1,589 0,987 0,310 0,56 0,174 0,22 0,76 ...
Amendoim, farelo 89 0,770 2,787 1,854 1,220 0,520 0,65 0,338 0,14 0,79 ...
Arroz, farelo desengordurado 90 0,600 2,172 1,312 0,738 0,180 0,61 0,110 0,12 1,40 ...
Arroz, farelo integral 89 0,670 2,425 1,541 0,945 0,145 0,65 0,094 0,08 1,55 ...
20
Arroz, grão 89 0,750 2,715 1,792 1,167 0,080 0,65 0,052 0,04 0,25 ...
Aveia, feno 90 0,550 1,991 1,143 0,584 0,100 0,68 0,068 0,32 0,25 ...
Aveia, grão 89 0,750 2,715 1,792 1,167 0,130 0,68 0,088 0,07 0,38 ...
Bagaço cana hidrolizado 45 0,500 1,810 0,970 0,423 0,016 0,20 0,003 0,04 0,03 ...
Bagaço cana in natura 50 0,330 1,195 0,338 -0,181 0,016 0,31 0,005 0,04 0,03 ...
Suplementação de bovinos em pastejo
Calcário calcícito 100 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,00 0,000 37,70 0,21 0,15
Cama de frango 82 0,570 2,063 1,212 0,646 0,210 0,75 0,158 3,70 1,70 ...
Cana-de-açúcar 26 0,630 2,281 1,411 0,828 0,040 0,65 0,026 0,23 0,06 ...
Capim-elefante, 60 dias 20 0,580 2,100 1,245 0,677 0,085 0,75 0,064 0,60 0,20 ...
Girassol, farelo 90 0,680 2,462 1,573 0,973 0,460 0,70 0,322 0,45 0,96 ...
Levedura seca 89 0,800 2,896 1,945 1,299 0,340 0,53 0,180 0,12 0,83 ...
Levedura úmida 23 0,800 2,896 1,945 1,299 0,340 0,58 0,197 0,12 0,83 ...
Mandioca, raspa 90 0,800 2,896 1,945 1,299 0,040 0,55 0,022 0,15 0,07 ...
Melaço 74 0,750 2,715 1,792 1,167 0,055 0,85 0,047 1,00 0,11 ...
Melaço em pó 94 0,720 2,606 1,699 1,085 0,100 0,80 0,080 1,10 0,15 ...
Milho, farelo de gérmen 88 0,860 3,113 2,124 1,452 0,600 0,42 0,252 0,07 0,50 ...
10/9/2010, 10:55
Milho, gérmen (Refinazil) 88 0,750 2,715 1,792 1,167 0,230 0,70 0,161 0,30 0,70 ...
Milho, grão 88 0,850 3,077 2,95 1,427 0,095 0,45 0,043 0,03 0,30 ...
Milho, resíduo (quebradinho) 87 0,820 2,968 2,005 1,351 0,100 0,46 0,046 0,03 0,30 ...
Milho, rolão (MDPS) 88 0,770 2,787 1,854 1,220 0,085 0,50 0,043 0,06 0,23 ...
Continua...
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Tabela 5. Continuação
Milho, silagem 33 0,630 2,281 1,411 0,828 0,072 0,75 0,054 0,31 0,22 ...
Mistural mineral (4% de P) 100 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,00 0,000 5,10 4,00 ...
Mistura mineral (6% de P) 100 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,00 0,000 7,70 6,00 ...
Mistural mineral (8% de P) 100 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,00 0,000 10,20 8,00 ...
Pastagem boa (nov./dez./jan.) 20 0,630 2,281 1,411 0,828 0,115 0,70 0,081 0,30 0,17 ...
Pastagem média (fev./mar./abr.) 30 0,590 2,136 1,279 0,708 0,090 0,70 0,063 0,30 0,15 ...
Pastagem ruim (maio/jun./jul.) 40 0,550 1,991 1,143 0,584 0,065 0,68 0,044 0,30 0,13 ...
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Past. muito ruim (ago./set./out.) 50 0,510 1,846 1,005 0,455 0,040 0,65 0,026 0,30 0,11 ...
Polpa cítrica 91 0,790 2,860 1,915 1,273 0,065 0,65 0,042 1,90 0,12 ...
Polpa cítrica úmida 28 0,810 2,932 1,975 1,325 0,070 0,65 0,046 1,90 0,13 ...
Resíduo cervejaria 21 0,660 2,389 1,509 0,916 0,230 0,52 0,120 0,29 0,54 ...
Soja, casca 88 0,780 2,824 1,884 1,247 0,120 0,50 0,060 0,50 0,17 ...
Soja, farelo 90 0,820 2,968 2,005 1,351 0,460 0,65 0,299 0,40 0,71 ...
Soja, grão 89 0,910 3,294 2,271 1,576 0,380 0,70 0,266 0,25 0,55 ...
Sorgo, grão 88 0,820 2,968 2,005 1,351 0,106 0,50 0,053 0,03 0,30 ...
Sorgo, silagem 30 0,600 2,172 1,312 0,738 0,080 0,75 0,060 0,40 0,22 ...
Sulfato de amônio 99 0,000 0,000 0,000 0,000 1,250 0,80 1,000 0,00 0,00 ...
Trigo, farelo 88 0,710 2,570 1,668 1,057 0,170 0,73 0,124 0,13 1,20 ...
Triguilho 89 0,790 2,860 1,915 1,273 0,17 0,73 0,124 0,07 0,38 ...
Triticale 88 0,840 3,041 2,065 1,402 0,175 0,71 0,124 0,06 0,33 ...
Tyfton, feno médio 87 0,560 2,027 1,178 0,615 0,106 0,70 0,074 0,40 0,18 ...
Tyfton, feno bom 87 0,520 1,882 1,040 0,488 0,078 0,70 0,055 0,40 0,20 ...
Uréia (45% de nitrogênio) 99 0,000 0,000 0,000 0,000 2,810 0,80 2,248 0,00 0,00 ...
10/9/2010, 10:55
Uréia + sulfato de amônio1 99 0,000 0,000 0,000 0,000 2,600 0,80 2,080 0,00 0,00 ...
1
Mistura de 85% de uréia + 15% de sulfato de amônio.
MS = matéria seca; NDT = nutrientes digestíveis totais; EM = energia metabolizável; Elm = energia líquida de mantença; Elg = energia líquida de
Suplementação de bovinos em pastejo
crescimento; PB = proteína bruta; Degr. PB = degradação de proteína bruta; PDR = proteína degradada no rúmen; Ca = cálcio; P = fósforo;
21
22 Suplementação de bovinos em pastejo
1. Situação existente:
Pastagem de capim-marandu, época de seca.
7.Formulação do suplemento:
Deve-se iniciar com a PDR, por ser este um nutriente essencial para o bom
desempenho das bactérias ruminais e eficiência no processo de utilização da MS.
Do total de PDR necessário para fazer frente a ingestão de NDT (12% conforme
calculado acima), no caso, 553 gramas/animal/dia, usar-se-á 30% na forma de
nitrogênio não protéico (NNP), através da mistura uréia + sulfato de amônio.
Portanto, (553 x 30) ÷ 100 = 166 gramas/animal/dia de PDR na forma de
NNP. Na Tabela 5, o valor de PDR da mistura uréia + sulfato de amônio é de
208%. Para transformar 166 gramas de PDR no produto uréia + sulfato de
amônio, divide-se (166 ÷ 208) x 100 = 79,8 gramas. Este é o primeiro valor
quantitativo que será usado para a formulação do suplemento. Portanto, do
déficit determinado de 308 gramas de PDR, 166 gramas serão fornecidos
através de NNP. A diferença de 142 gramas/animal/dia de PDR (308 – 166 =
142 gramas), será fornecida na forma de farelo de soja. Entretanto, o componen-
te energético a ser usado neste suplemento, grão de milho, também apresenta
uma certa quantidade de PDR (no caso, 4,3%, ver Tabela 5) e isto precisa ser
levado em consideração nos cálculos. A diferença no teor de PDR entre farelo de
soja e milho é bastante alta, 29,9% e 4,3%, respectivamente. Já com respeito
ao NDT, esta diferença é extremamente pequena (82% e 85% de NDT para o
farelo de soja e milho, respectivamente). Portanto, o teor de NDT será o critério
para cálculo do suplemento por meio dos seguintes passos:
Usar o valor médio de NDT destes dois ingredientes, que é 83,5% (85
12,64
animal/dia.
deveria ficar entre 2:1 e 4:1. Para isto, é só calcular a ingestão total de Ca e de
P (tanto pela pastagem, como pelo concentrado), seguindo os passos já demons-
trados para PDR e NDT. No caso do suplemento formulado (supor uma mistura
mineral com 6% de P e 7,2% de Ca), esta relação ficou em 3:1.
Discussão final
A condição para a adoção da suplementação dentro dos sistemas de produção
de carne é que a mesma atenda a uma relação custo/benefício favorável. Essa
relação será diferente para cada produtor. Para determinar benefícios, é necessá-
rio conhecer o custo atual do suplemento (R$/kg) e compará-lo ao valor do
ganho de peso adicional correspondente (R$/arroba). Podem ocorrer situações
em que uma determinada suplementação não necessariamente pague o seu custo
(exemplo, suplementação nas águas), mas essa análise deveria ser feita dentro
de todo o sistema de produção de carne, com metas bem definidas, consideran-
do as vantagens indiretas da suplementação, tais como menor tempo de perma-
nência de animais no pasto, maior flexibilidade na taxa de lotação e novas
oportunidades de negócios. Finalmente, lembrar que a necessidade da
suplementação varia em função da expectativa de cada propriedade rural (meta),
da quantidade e qualidade da pastagem (nível de manejo) e da cooperação da
natureza (clima).
Referências bibliográficas
COCHRAN, R. C.; KÖSTER, H. H.; OLSON, K. C.; HELDT, J. S.; MATHIS, C.
P.; WOODS, B. C. Supplemental protein sources for grazing beef cattle. In:
ANNUAL FLORIDA RUMINANT NUTRITION SYMPOSIUM, 9., 1998, Florida.
Disponível em: http://www.dps.edu/Ruminant/>. Acesso em: 27 maio 1998.
HILL, D. H. The effects of climate on production. In: PAYNE, W.J.A. Cattle and
buffalo meat production in the tropics. London: Longman Scientific & Technical,
1988. p. 6-17.