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Revista Brasileira de Geografia Física 06 (2011) 1135-1150

Revista Brasileira de
Geografia Física
ISSN:1984-2295
Homepage: www.ufpe.br/rbgfe

Recursos Genéticos Vegetais da Caatinga para o Desenvolvimento


do Semiárido Brasileiro
Manoel Abílio de Queiroz1
1
Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais, DTCS/UNEB. E-mail: manoelabiliomaq @gmail.com

Artigo recebido em 10/11/2011 e aceito em 26/12/2011


RESUMO
O Semiárido brasileiro, caracterizado por uma precipitação abaixo de 800 mm por ano, grande taxa de evaporação e
elevado risco de seca, tem uma extensão aproximada de um milhão de quilômetros quadrados, que encerra 1.133
municípios de nove Estados e onde se insere o bioma caatinga. É uma região que apresenta grande variação ambiental e
dentro dos recursos naturais, a cobertura vegetal aliada ao conhecimento e inovação é a que apresenta maior chance de
manejo com vistas a criar potencialidades para serem integradas nas estratégias de desenvolvimento. O bioma caatinga
vem sendo estudado e mais de duas mil espécies foram identificadas, porém, umas 130 espécies endêmicas,
consideradas prioritárias, podem apresentar vários usos como forrageiras, madeireiras, ornamentais, frutíferas, apícolas,
plantas produtoras de fibra, ceras, óleos e taninos além de plantas medicinais, embora uma grande quantidade de
espécies sejam de usos múltiplos. No entanto, a quase totalidade dos estudos considera as espécies como se todos os
indivíduos fossem iguais, deixando de considerar a variação infraespecífica, onde se inserem os recursos genéticos
vegetais e que podem ser usados para os diversos fins. Algumas espécies, contudo, foram consideradas no que tange aos
recursos genéticos, porém, a grande maioria delas não tem coleções estabelecidas, e muito menos, estudadas. Dentro
das diversas espécies da caatinga, os mutantes sem espinhos poderão ser atrativos para diferentes usos. A caatinga
também pode ser objeto de estudo dos mecanismos de economia de uso de água e de nutrientes de fontes não
convencionais e os micro-organismos poderão ajudar nessa tarefa.
Palavras - chave: plantas da caatinga, cobertura vegetal, usos da vegetação.

Caatinga Plant Genetic Resources for the Development


of the Brazilian Semiarid
ABSTRACT
The Brazilian Semiarid, characterized by 800 mm or less of rainfall, very high evaporation and drought risk, comprises
one million square kilometers which encloses 1.133 counties, where the biome caatinga is inserted. It is a region that
presents great environmental variation but among its natural resources, the vegetation along with knowledge and
innovation presents the major potential to be managed as to generate potentialities and be integrated in development
strategies. The plants of this biome are currently being studied and more than two thousand species were identified, but,
only 130 endemic species are considered of priority for different uses as fodder, timber, ornamentals, fruit trees,
honeybee and medicinal plants and, also, plants for production of fibers, wax, oil, tannins, although many species are of
multiple uses. However, the large majority of the studies on plants of caatinga consider the species as if all plants of a
species were similar, without consideration to the infraspecific variation, and this is where the plant genetic resources of
caatinga are and can be used for different purposes. Some species, however, were considered as far as the plant genetic
resources is concerned, but, the great majority of species do not have germplasm collections, and even more, have not
been studied yet. Among several plant species of caatinga, the spineless mutants may have different uses. The plants of
caatinga can also be used to study the mechanisms of water economy, the nutrient supply from non
conventional sources and the soil microorganisms can help in this task.
Keywords: plants of caatinga, plant cover, plant uses.

1. Introdução área de cerca de 1,5 milhão km2 na qual está


O Nordeste brasileiro compreende uma inserido o bioma caatinga com cerca de 930

* E-mail para correspondência: manoelabiliomaq @gmail.com


(Queiroz, M. A.).
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mil km2 correspondendo à região designada mais de 100 unidades geoambientais as quais
de Semiárido, definido pelo Ministério da apresentam uma grande diferenciação
Integração Nacional como sendo a área que edafoclimática com reflexos na sua vegetação,
apresenta uma precipitação pluviométrica predominantemente caatinga, que embora já
média anual inferior a 800 mm, um índice de apresente uma degradação considerável ainda
aridez de até 0,5 (balanço entre precipitação e apresenta uma cobertura vegetal em 40% de
evapotranspiração potencial), com risco seca sua extensão.
acima de 60% (Valente Junior, 2010). É Assim, quando se considera o
formado por uma vegetação do tipo de mata desenvolvimento da região Semiárida, deve
seca e caducifólia, que cobre a maior parte do ter em pauta o grande contingente
Semiárido brasileiro, englobando 1.133 populacional existente na região, a grande
municípios em nove Estados, incluindo o diversidade ambiental com áreas de bons
Norte de Minas Gerais, com uma população solos e existência de água para irrigação, a
de cerca de 22 milhões de habitantes grande diversidade da cobertura vegetal que
considerando as populações urbana e rural poderá ter diversos usos além da
(IBGE, 2007) citado por Valente Junior infraestrutura de ensino e pesquisa da região
(2010). e, não menos importante, uma grande
Apesar das grandes limitações ainda diversidade cultural.
existentes na região Nordeste do Brasil, nas Dentro dos diversos elementos
últimas quatro décadas ocorreu um progresso característicos do Semiárido, a vegetação é
substancial, pois a mortalidade infantil caiu de um dos componentes de grande
154,9 por mil nascidos para 36; a taxa de potencialidade para o desenvolvimento da
analfabetismo foi reduzida de 59,3% para região desde que integrada aos demais
21% e a esperança de vida passou de 48 para elementos promotores do desenvolvimento.
70 anos, porém, esses avanços ocorreram De modo geral, as plantas do bioma
principalmente nas capitais e cidades de porte caatinga podem ser divididas em oito grupos
médio, sendo que nas áreas rurais e na grande distintos (plantas produtoras de cera, óleos e
maioria das cidades pequenas os índices taninos; forrageiras, frutíferas, apícolas,
continuam muito baixos (Valente Junior, ornamentais, produtoras de fibras, medicinais
2010). e madeireiras), embora diferentes espécies
No entanto, uma característica marcante podem apresentar usos múltiplos (Sampaio et
do Semiárido brasileiro é a grande variação al., 2006). Os autores encontraram uso de
que ocorre entre regiões, pois de acordo com cerca de mais de 2.300 espécies da caatinga
Silva et al. (2000) a região Semiárida desses diferentes grupos, embora, tenham
apresenta cerca de 20 unidades de paisagem e listado apenas 130 consideradas prioritárias,

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mas, uma grande maioria delas pertencendo a espécies nativas, pois o autor lista mais de
diferentes grupos. Por exemplo, aroeira 150 fruteiras nativas relacionando as mesmas
(Myracrodruon urundeuva), angico pelos nomes vulgares e, considerando, que
(Anadenanthera sp.), imburana de cheiro uma mesma espécie tem mais de um nome
(Amburana cearensis) e pau ferro vulgar, o numero de espécies é menor, mas,
(Ceasalpinia ferrea) estão listadas como seguramente mais de 100 espécies diferentes
prioritárias no grupo das madeireiras, podem produzir frutos comestíveis. Porém, o
medicinais e produtoras de ceras, óleos e trabalho não se limita apenas às espécies de
taninos. ocorrência no Semiárido. A literatura corrente
Dentro do grupo de forrageiras uma destaca quase que invariavelmente, o
espécie que se mostrou promissora para umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.)
elaboração de feno e silagem foi a maniçoba como a fruteira nativa líder nas citações de
(Manihot spp.) a qual foi longamente fruteiras nativas do Semiárido e em seguida
trabalhada na Embrapa Semiárido por vários aparece o maracujá do mato (Passiflora spp.).
anos, mostrando-se consistente na produção As demais espécies de fruteiras são quase que
de matéria seca de boa qualidade em negligenciadas. Giacometti (1993) destacou a
experimentos conduzidos por vários anos existência de vários centros de diversidade de
seguidos. Outra espécie da caatinga que tem fruteiras nativas do Brasil, alguns deles no
grande potencial de uso é o mororó (Bauhinia Semiárido brasileiro com a ocorrência de
sp.) além do gênero Stylosanthes spp. de muitas espécies frutíferas.
ocorrência em áreas de solos relativamente No conjunto das espécies medicinais se
degradados. No entanto, vale salientar que a destacam algumas espécies da caatinga que
vegetação da caatinga, com suas diferentes são amplamente utilizadas na medicina
espécies, constitui alimento para os animais popular pelas comunidades locais. Em um
durante a estação chuvosa, podendo muitas estudo realizado por Gomes et al. (2007)
espécies ser consumidas pelos animais, foram catalogadas 111 plantas, 53 espécies,
particularmente no estádio inicial com brotos 28 famílias e 50 gêneros em um estudo
novos logo após as primeiras chuvas como foi realizado nas feiras livres de Petrolina em
demonstrado em muitos estudos. Entretanto, Pernambuco e Juazeiro e Sento Sé na Bahia.
de grande importância é a necessidade de A família Leguminosae representou 19% das
alimento para o período seco e, é nesse amostras, com 10 espécies. As espécies
período que as espécies forrageiras tolerantes Erytrina sp. (mulungú), Bauhinia sp.
à seca se sobressaem. (mororó), Bowdichia virgilioides (sucupira),
Dentre as fruteiras nativas, Pinto (1993) Anadenanthera sp. (angico), Amburana
destaca a produção de frutos de muitas cearensis (umburana de cheiro) e

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Myracrodruon urundeuva (aroeira) foram abelhas além de apresentar constituintes


encontradas em todas as feiras livres, e por fitoquímicos (CNIP, 2005; Carvalho, 2007;
serem espécies nativas de alto potencial Nadia et al., 2007).
medicinal além de uso madeireiro, sua coleta No entanto, quando se analisa o uso de
de forma irracional pode provocar o plantas da caatinga os trabalhos relatam o uso
desaparecimento destas espécies na região. das mesmas como se todos os indivíduos de
De acordo com Sampaio et al. (2006), o uma determinada espécie fossem iguais,
extrativismo é a forma mais usual de uso das sendo que muito poucos estudos consideram a
espécies da caatinga sendo que para as variabilidade dentro das espécies, embora, na
espécies usadas como madeiras chegou a literatura, se encontre um alerta feito por
apresentar uma receita de R$ 235 milhões, Sampaio et al. (2006) quando destacam que as
sendo que outras espécies como o licurizeiro espécies da caatinga não foram alvo de
(Siagrus coronata) explorado para óleo e estudos de variabilidade genética e de
consumo do fruto in natura, em 2004, melhoramento, dando-se, quase sempre,
produziu uma receita de R$ 4,5 milhões, valor prioridade às espécies exóticas. Aliás, é o
esse em crescimento, pois em 1996, esse valor estudo da variabilidade dentro das espécies,
não chegava R$ 0,6 milhão. Várias espécies uma das condições essenciais para se
sofrem forte pressão como o angico que além considerar os recursos genéticos das mesmas
de medicinal, apícola e madeireira também é e, por conseguinte, analisar a vantagem de
explorada para obtenção de tanino e cujo possíveis variantes que possam ser
valor da produção, embora ainda modesto, encontrados, sendo, por conseguinte, uma das
vem crescendo, pois passou de R$ 0,01 condições fundamentais para que se processe
milhão em 1996 para R$ 0,44 milhão em a domesticação dessas espécies com vistas a
2004. torná-las mais apropriadas para uso nos
O juazeiro, uma espécie também de diversos fins a que se destinam.
múltiplo uso é utilizada localmente para
produção de lenha e carvão, além de possuir 2. Desenvolvimento
frutos comestíveis, os quais são explorados de 2.1. Alguns recursos genéticos de espécies da
forma extrativista, porém muito utilizados Caatinga
pelos animais. Por ser uma das poucas Deve ser mencionado, que para a
espécies da caatinga que conservam as folhas utilização dos recursos genéticos vegetais, é
sempre verdes, elas podem ser utilizadas na necessário que os mesmos sejam conservados
alimentação de caprinos e ovinos como um em formas vivas para que possam ser úteis às
recurso alternativo durante a época seca atividades agronômicas, o que difere
extrema. Suas flores são muito atraídas pelas totalmente das amostragens disponíveis em

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herbários, museus ou ecotecas (Walter et al., coleção é maior do que a massa média geral
2005). Segundo Santos (2007) um dos observada em outras coleções de acessos de
grandes desafios para a preservação dos umbuzeiro (Saturnino, 2008). De acordo com
recursos genéticos de espécies vegetais do o mesmo autor, já existem pomares
Semiárido brasileiro é a estratégia para definir comerciais na região.
locais de amostragem, tamanho das amostras No estado de Pernambuco tem uma
e formas de conservação, tanto in situ como coleção de 30 acessos provenientes de
ex situ. populações de umbuzeiros coletados em
Dentre as espécies da caatinga, o diferentes regiões do Semiárido, as quais se
umbuzeiro (Spondia tuberosa Arr. Cam.) é a encontram na Estação Experimental de Serra
que detém a maior atenção no que tange aos Talhada - PE, pertencente ao Instituto
recursos genéticos, pois tem uma Coleção de Agronômico de Pernambuco (Bezerra et al.,
Base depositada na Embrapa Recursos 1993). O principal uso de frutos de umbuzeiro
Genéticos e Biotecnologia, em temperatura tem sido a produção de polpa para diversos
subzero, representada por 1.360 indivíduos de fins, como sucos, doces e geléia com destaque
ocorrência espontânea em 17 diferentes no processamento de frutos em pequenas
ecorregiões do Semiárido, dos quais foram fábricas nos municípios de Curaçá, Uauá e
coletadas 40.800 sementes (Santos 1997; Canudos, cujos produtos já estão sendo
Santos et al., 1999). Além da Coleção de comercializados tanto no comércio interno
Base, os mesmos autores, descrevem a como para exportação (COOPERCUC, s/d).
existência de um Banco Ativo de Porém, os estudos com a caracterização
Germoplasma formado por mais de 70 do umbuzeiro também tem tido maior
acessos clonados de indivíduos com atenção, pois alguns estudos têm sido feitos,
características fenotípicas contrastantes, com acessos da coleção de germoplasma de
particularmente nos frutos, os quais estão umbuzeiro da Embrapa Semiárido
localizados na Embrapa Semiárido em procedentes de várias regiões do Semiárido
Petrolina-PE. (Dantas Junior, 2008) tendo encontrado
Uma coleção menor foi estabelecida variação para o caráter acidez titulável que
pela Empresa Agropecuária de Minas Gerais variou de 0,77 a 2,00 entre 32 acessos. Em
(EPAMIG) em Montes Claros-MG, a qual outro estudo, Almeida (2009) estudando 12
consta de 32 acessos coletados em diferentes acessos de umbuzeiro de diferentes
municípios do Norte de Minas Gerais (Lontra, localidades do município de Picos-PI, não
Porteirinha, Janaúba, Mamonas, Monte Azul, encontrou grande variação para vários
Jaíba e Verdelândia), sendo que a massa descritores morfológicos (massa,
média de frutos de alguns acessos dessa comprimento e diâmetro fruto, bem como,

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para percentagem de rendimento de polpa). BA contando com mais de 500 acessos de


No entanto, quando o mesmo autor estudou diferentes espécies (Ramos et al., 2008). No
princípios bioativos como açúcares redutores, entanto, é provável que a coleção de
açúcares solúveis, acidez titulável e pH, os Passiflora da UESC contenha várias espécies,
valores encontrados para os 12 acessos muitas delas não provenientes do Semiárido.
mostraram grande variação e, assim, o autor O maracujá do mato tem sido utilizado para
sugere que esses acessos que mostraram processamento de sucos e geléias, porém,
valores elevados para os diversos caracteres quando se consideram as diversas espécies
deverão ser resgatados, preferencialmente, também tem grande potencial ornamental,
utilizando-se clones das plantas nativas com o além de medicinal.
objetivo de se preservar esses genótipos para Os araçazeiros (Psidium spp.)
usos futuros. constituem o terceiro grupo de espécies que
Uma segunda espécie que também tem também foram considerados quanto aos
uma atenção no que tange aos recursos RGVs. O Instituto Agronômico de
genéticos é o maracujazeiro (Passiflora spp.), Pernambuco dispõe de uma coleção de 110
pois tem um banco de germoplasma acessos os quais estão localizados na Estação
conservado ex situ na Embrapa Semiárido o Experimental de Itapirema no município de
qual foi formado pela coleta de 55 acessos de Goiana-PE (Bezarra et al., 1993). Mais
P. cincinnata Mast em diferentes unidades recentemente, Santos (2011) relata uma coleta
geoambientais do Semiárido, porém, de araçazeiros (cerca de 100 acessos) feita em
inicialmente foram caracterizados 32 acessos alguns municípios do Semiárido baiano
(Araújo et al., 2008). A mesma coleção conta (Juazeiro, Uauá, Campo Formoso, Jaguarari,
também com uns poucos acessos das espécies Senhor do Bonfim e Morro de Chapéu), tendo
P. edulis f. flavicarpa Deg. (dois), P. encontrado uma grande freqüência de plantas
luetzeburgii Harms (dois), P. setacea DC com variação para tipo de folha, porte da
(quatro), P. alata Curtis (um), P. laurifolia L. planta, massa de fruto, porém, sempre em
(um), P. quadrangularis L. (um) e P. áreas de maior altitude. As sementes se
subrotunda Mast (um). Também existem encontram na câmara fria da Embrapa
acessos do Banco de Germoplasma de Semiárido em Petrolina-PE. Vale salientar
maracujazeiros na Embrapa Mandioca e que foram identificadas diferentes espécies de
Fruticultura, localizado em Cruz das Almas- Psidium, pois entre os acessos coletados se
BA, que conta com cerca de 136 acessos de destacaram as espécies P. schenckianum
diferentes espécies de Passiflora, sendo que a Kiarsk., P. guineense Sev. e P. grandifolium
maior coleção se encontra na Universidade Mart ex DC. Igualmente, foi feita uma coleta
Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus- de 20 acessos de araticum (Annona spp.) em

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municípios do Semiárido baiano (Juazeiro, de Tecnologia e Ciências Sócias, UNEB, em


Jaguarari e Uauá, todos na Bahia), porém, em Juazeiro. Para todas essas coleções torna-se
áreas de menor altitude onde se observa uma necessário maior estudo dos RGVs
freqüência relativamente grande de plantas. armazenados.
Foi encontrada variação para fruto (formato, Quando se consideram as plantas
tamanho, padrão da casca, cor da polpa) e medicinais também existem algumas poucas
porte de planta. Também houve uma grande coleções envolvendo diferentes espécies,
variação para acidez titulável e sólidos sendo uma na Universidade do Sudoeste da
solúveis. No entanto, para os araticuns, Bahia (UESB), outra na Universidade Federal
também há indicação de uma pequena coleção de Sergipe (UFS) e outra na Universidade
na Universidade Federal do Recôncavo Federal do Ceará (UFC) (Ramos et al., 2008),
Baiano (UFRB) contendo sete acessos porém, não se tem maiores informações sobre
(Ramos et al., 2008). os trabalhos de avaliação desse germplasma.
Dentre as forrageiras se conta com uma Assim, tendo em vista o numero de
coleção do gênero Manihot compreendendo espécies desses diferentes grupos de plantas
as espécies Manihot carthaginensis, M. que ocorrem no bioma caatinga, poucas são as
cearulensis, M. dichotoma, M. epruinosa, M. espécies que contam com as coleções de
glaziovii, M. janiphoides, M. januarensis, M. germoplasma e que estão sendo estudadas
maracasensis, totalizando 67 acessos os quais dentro do enfoque dos recursos genéticos
estão localizados na Embrapa Semiárido, em vegetais (Ramos et al., 2007). E, vale
Petrolina-PE e, é provável que na Embrapa salientar, que são os recursos genéticos dessas
Mandioca e Fruticultura também existam espécies da caatinga que indicam o grande
algumas dessas espécies no banco de potencial de uso dos diferentes tipos, dentro
germoplasma de Manihot spp. que está de cada espécie, e assim, determina a
localizado em Cruz das Almas-BA. Existe capacidade que cada um desses tipos tem para
também uma coleção de Bauhinia spp. em alavancar ações que permitam integrar o
Aracaju - SE (Ramos et al., 2008) e, mais elenco de atividades que possam promover o
recentemente, em uma parceria da Embrapa desenvolvimento da região Semiárida.
Semiárido/Universidade do Estado da Bahia
(UNEB) e Universidade Estadual de Feira de 2.2. Discussão
Santana (UEFS) foi feita uma coleção de A cobertura vegetal representa um dos
Stylosanthes spp. com cerca de 100 acessos maiores potenciais de desenvolvimento da
que foram coletados em vários municípios da região devido a grande quantidade de usos
região de Valente e da região de Juazeiro-BA, que essa cobertura poderá oferecer
os quais estão armazenados no Departamento principalmente se forem selecionados os tipos

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superiores dentro dos RGVs das diversas intensifica quando se tem área de reclusão,
espécies da caatinga. Entretanto, todas as uma vez que, nesses casos muitas espécies
espécies da caatinga sofrem grande pressão, aparecem. Mesmo considerando a degradação
pois como constatado por Queiroz et al. da caatinga, cerca de 40% do bioma ainda se
(1993) existem, pelo menos, quatro grandes encontra preservado e, poderá se manejado
demandas pelo desmatamento do bioma adequadamente, proporcionar uma grande
caatinga, a saber: um deles é o desmatamento riqueza para a exploração racional desse
para a formação de pastagens, uma vez que bioma no Semiárido brasileiro.
existe uma grande demanda pela formação de Uma das vertentes muito pouco
pastagens diversas, inclusive com o capim utilizadas é o potencial que a caatinga
buffel; uma segunda pressão vem dos projetos degradada pode apresentar para o seqüestro de
de irrigação, pois constantemente estão sendo carbono, e vale lembrar que cerca de 60% da
iniciados novos projetos de irrigação, com caatinga já foi devastada e é nessa parte que
cerca de mais de 700 mil hectares no algumas espécies perenes poderiam
Semiárido brasileiro, muitas vezes, agravados desempenhar um importante papel, uma vez
pela construção de grandes barragens, como a que algumas delas conseguem vegetar bem
barragem de Sobradinho na Bahia que como ocorre com as espécies pioneiras que
inundou 4,2 mil hectares; a terceira pressão colonizam áreas muito degradadas como, por
surge com o uso da vegetação para lenha exemplo, a jurema preta (Mimosa tenuiflora
demandada pelas olarias, padarias e (Willd.) Poir e o marmeleiro (Croton
calcinadoras, consumindo cerca de 30 mil sonderianus Muell. Arg.) muito comuns em
metros cúbicos de lenha por mês e, por fim, as áreas degradadas às margens de estradas.
queimadas diversas. Assim, grande parte da Muitas outras espécies também são pioneiras
variabilidade genética existente no bioma foi e poderão ser indicadas dentro desse processo.
erodida sem ter sido conhecida e, pior ainda, Tipos de crescimento mais rápido e de maior
sem ter sido resgatada para estudo e usos massa, nessas espécies, poderiam ser
futuros. Além dessas causas, o superpastejo preferidos.
também impõe perda de variabilidade, pois Contudo, os recursos genéticos da
como ocorre com o umbuzeiro, as plantas caatinga, de um modo geral, poderão ter duas
novas são pastejadas pelos animais e não vertentes de uso, sendo uma como
conseguem se estabelecer. No entanto, fornecedores de genes para os parentes
quando se visita o bioma caatinga ainda se cultivados nas áreas irrigadas, pois, como
observa a ocorrência de indivíduos novos em observado por Vavilov, a área de ocorrência
muitas espécies (Melocacactus sp.; Ziziphus de uma determinada espécie deve ter sido a
joazeiro entre outras), fenômeno que se área de ocorrência de seus patógenos

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(González, 1996). E outra vertente, de uso melhoramento mais demorado.


muito mais generalizado, para uso direto, No caso da goiabeira, os pomares do
onde tipos superiores poderão ser cultivados Submédio São Francisco, em sua grande
em condições de sequeiro, principalmente maioria formados com a variedade Paluma
aproveitando a grande tolerância à seca que desenvolvida em Jaboticabal-SP, são
esses indivíduos adquiriram ao longo de acometidos de ataque de Meloidogyne
séculos de evolução em ambiente de grande mayaguensis o que acarreta o declínio e morte
escassez de água e temperaturas elevadas em da planta precocemente. Uma possibilidade de
vários ambientes do Semiárido. Dentro do solução seria a busca de fonte de resistência
primeiro grupo dois exemplos mais em plantas de araçazeiros, um parente
significativos podem ser descritos. Em um silvestre da goiabeira (P. guineensis e de
deles considerando os parentes silvestres do outras espécies de ocorrência na caatinga),
maracujazeiro cultivado (Passiflora edulis f. especialmente aquelas de porte mais elevado
flavicarpa) e no outro a goiaba (Psidium que poderia ser usada como porta-enxerto da
guajava), pois esses cultivos apresentam goiabeira, embora, mesmo encontrando-se
sérios problemas de doenças radiculares, plantas resistentes ao patógeno, ainda
quando cultivadas em áreas irrigadas. No caso necessita-se analisar a compatibilidade do
do maracujazeiro, as plantas nas áreas porta-enxerto com a copa. Entretanto, ainda
cultivadas apresentam murcha precoce de faltam estudos para identificação precisa de
Fusarium solani (Saldanha, 2010) que fontes de resistência aos patógenos nas
apresenta sérios danos às culturas, reduzindo espécies consideradas, mas, como existem
drasticamente a produção a dois anos no bancos de germoplasma das duas espécies
máximo, quando uma cultura normal poderia (Araújo et al., 2008; Santos, 2011), apenas
ser conduzida por, pelo menos quatro ciclos. necessita-se de uma avaliação aprofundada
No entanto, existem várias espécies de dos acessos disponíveis para que se busquem
maracujá do mato na caatinga como a as respectivas fontes de resistência. No caso
Passiflora cicinnata, P. laurifolia, P. setacea do araçazeiro tem uma avaliação de cerca de
entre outras e é esperado que existam fontes 50 acessos para o nematóide de galha
de resistência a esse patógeno que poderá ser Meloidogyne mayaguensis dentro de uma
utilizada, primeiramente, como porta-enxerto parceria da Embrapa Semiárido com UNEB,
resistente, uma vez que já foram encontradas cujo experimento está em andamento. Por
plantas dessas espécies resistentes (Roncato et outro lado, como as coleções são
al., 2004). Outra possibilidade será a relativamente pequenas, no caso do
transferência da resistência para os tipos maracujazeiro o maior número de acessos é
cultivados, porém, em um processo de de P. cincinnata (outras espécies existem

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apenas poucos representantes) e no caso do variação para os atributos de fruto e planta


araçazeiro, tem poucos representantes de, (Santos, 2011) e, igualmente, poderão ser
apenas, três diferentes espécies (Santos, 2011) escolhidos acessos que tenham características
e é sabido da existência de mais espécies de que possam ser cultivados em condições de
ocorrência no bioma caatinga (Giacometti, sequeiro. Pois as plantas são bastante
1993). Contudo, na caatinga, existe uma tolerantes à seca e poderiam ser cultivadas
freqüência de plantas relativamente grande e para produção de frutos para processamento
dispersa dessas duas espécies e que ocorrem (sucos, polpa, entre outros), além, de fonte de
em muitos ambientes do Semiárido e uma vitamina C, uma vez que foram encontrados
coleta mais abrangente, tanto para os teores consideráveis nos estudos preliminares
maracujazeiros como para os araçazeiros, já realizados (Santos 2011).
poderá identificar indivíduos com a As espécies forrageiras da caatinga
resistência pretendida. também podem ter seu potencial aumentado
Outra vertente muito importante é o uso caso sejam identificados variantes com
direto de acessos da caatinga para fins vantagens como maniçobas com baixo teor de
diversos e nesse caso, o estudo que foi feito ácido cianídrico, plantas com teor elevado de
com a avaliação de acessos de P. cincinnata proteínas nas folhas e ramos novos ou outros
mostrou que existe uma grande variação para elementos importantes como teores de fibra,
vários descritores (Araujo2007; Araújo et al., gordura entre outros. Aliás, as forrageiras
2008), porém, a cor da polpa e, nativas ainda representam um grupo que tem
principalmente, o teor de açúcar e a acidez muito poucas coleções, sendo uma delas a
poderão fazer uma grande diferença, pois um coleção de espécies do gênero Manihot que se
acesso com essas características poderá ser localiza na Embrapa Semiárido e a outra é a
usado para cultivo em condições de sequeiro, coleção de Stylosanthes spp. também nativa
pois as plantas apresentam grande tolerância à do Semiárido, embora, só muito recentemente
seca. Ainda mais, os mesmos autores relatam foi objeto de estudos preliminares no que
que foi encontrado um acesso altamente tange ao estudo dos seus recursos genéticos.
produtivo e, caso essa habilidade se confirme Em ambas as situações a coleta necessita ser
nas áreas de produção dos agricultores o ampliada para que se tenha uma boa
mesmo poderá ser usado para processamento representatividade da variabilidade genética
que não tem maior exigência quanto à cor da existente no bioma caatinga para essas
polpa, teor de açúcar, acidez entre outros plantas.
atributos. As plantas medicinais representam
Igualmente, os estudos preliminares outro grupo muito significativo do bioma
com os araçazeiros também mostraram grande caatinga, mas não tem sido objeto de estudo

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no que tange aos recursos genéticos de modo utilizado na decoração de ambientes, inclusive
mais sistemático, pois poucas coleções têm utilizado para sombreamento, pois mantém a
sido estudadas dentro desse contexto. Os folhagem por longo período, mesmo em
trabalhos realizados na UESB têm mostrado épocas sem chuvas juntamente com a
variação, como aqueles que foram conduzidos macambira sem espinho e com as cactáceas
por Silva (2007) estudando a biologia poderiam constituir elementos de grande
reprodutiva e citogenética em alfavaca do expressão na decoração externa de praças,
campo (Ocimum campechianum Mill.) e por ruas e jardins diversos. Seriam ambientes
Almeida (2007) no estudo da biologia floral e decorados de forma harmoniosa e muito mais
reprodutiva da tulase (Ocimum sanctum L.). adequados para as condições do Semiárido,
Sabe-se que muitas espécies da caatinga são em contraposição aos jardins atualmente
utilizadas com fins terapêuticos, com utilizados que consomem grande quantidade
possibilidade de grande variação nos de água para manutenção de gramados verdes.
princípios ativos devido à forte interação na Um exame detalhado das plantas da
produção desses compostos com o ambiente. caatinga poderá revelar mutantes de grande
As plantas da caatinga também utilidade para usos os mais variados no
apresentam mutantes que são relevantes para Semiárido. No entanto, esses mutantes se
o uso, embora não sejam caracteres que encontram na natureza, sujeitos a todas as
apresentem vantagem seletiva em condições formas de erosão genética e, muito poucos
silvestres e, por essa razão, são de estão colocados em coleções de germoplasma,
aparecimento raro e, possivelmente em tendo-se alguns exemplares nas dependências
formas recessivas. Um deles é a ausência de da Universidade Federal Rural do Semiárido
espinhos na jurema preta (Mimosoidae (UFERSA) em Mossoró-RN e na Embrapa
tenuiflora), na macambira (Bromelia sp.), no Semiárido, na Estação Experimental de
sabiá (Ceasalpinia sp.) e no juazeiro (Ziziphus Bebedouro, Petrolina-PE, tem um pequeno
sp.), entre outras espécies. Tais mutantes bosque de sabiá sem espinho. No caso do
poderão ser selecionados para diferentes usos, juazeiro, Carvalho (2007) relata que em
pois a jurema poderá ser usada na ocupação Juazeiro do Norte, CE, em frente à Igreja
de áreas degradadas e na produção de Matriz, tem um juazeiro cantado em prosa e
forragem para os animais, devido à forte verso, e no cancioneiro popular, por ser o
tolerância à seca e a solos degradados. O único da espécie que não tem um só espinho.
sabiá poderá ser cultivado para a produção de O autor relata que a tradição popular afirma
estacas, uma vez que o uso extrativista poderá que o tal juazeiro teria sido plantado por
reduzir drasticamente a população dessa Padre Cícero Romão Batista, que ao plantar a
espécie na caatinga. O juazeiro poderia ser árvore sentenciara que por um milagre de

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Deus, ela não teria espinhos. Segundo os espessa que mantém a água no seu interior
céticos, o Padre Cícero era aficionado por como ocorre com as cactáceas, pois a
genética e seria o precursor em melhoramento transpiração cuticular nesse grupo de plantas é
da espécie. De fato, o juazeiro está lá e o Sr. ao redor de 0,05%, podendo chegar a 10% em
Francisco das Chagas Martins, um jornalista, outros tipos de plantas (Vieira et al., 2010).
pessoalmente visitou o tal juazeiro em 11 de De acordo com o mesmo autor, as
novembro de 1969, dia da inauguração da perdas de água são principalmente pela
gigantesca estátua de Padre Cícero. No transpiração estomática (cerca de 80 a 90% do
entanto, existem plantas de juazeiro sem total) e as cactáceas apresentam abertura
espinho em outras localidades, embora seja estomática pequena ou nula durante o dia,
um mutante raro. Pois na coleção de juazeiros quando as temperaturas são mais altas. Os
que existe nas dependências da UFERSA, em mecanismos gerais como a queda das folhas,
Mossoró-RN, tem uma planta que também o armazenamento de água no caule de acordo
não apresenta espinho, embora até o momento com a densidade da madeira (Lima, 2007), o
não se tenham feitos estudos mais detalhados armazenamento de água nos xilópodios e
sobre essa característica em plantas da outros mecanismos que permitem uma
caatinga. Particularmente para o juazeiro, economia de água de forma notável, poderão
mas, um exame detalhado poderá encontrar ser de grande significado dentro do estudo dos
várias plantas sem espinho de diferentes recursos genéticos de plantas da caatinga. O
espécies em diferentes regiões do Semiárido. fato mais significativo é o curto espaço de
Finalmente, um aspecto pouco estudado tempo que muitas espécies levam para se
é a fisiologia das plantas da caatinga no que revestir de folhagem e flores depois de uma
tange aos processos de economia de água, chuva, no início do período chuvoso, pois a
pois existem poucas informações. No entanto, fisionomia da vegetação, em um espaço de
é sabido que a vegetação da caatinga pouco mais de dez dias, é completamente
apresenta muitos mecanismos que permitem transformada, passando de uma cor cinza e
grande economia de uso de água. De acordo plantas completamente desfolhadas para
com Lima Filho (2008) o umbuzeiro plantas totalmente cobertas de folhas e flores,
apresenta xilopódios no sistema radicular, a na maioria delas. Ainda mais, o vigor
abscisão de folhas no início da estação seca e vegetativo das plantas e a cor verde intensa
o controle estomático do fluxo respiratório e não denotam nenhum sintoma de escassez de
esses mecanismos permitem que a planta de nutrientes e esse comportamento indica que as
umbuzeiro produza frutos dentro do ambiente plantas estão tendo acesso aos nutrientes de
Semiárido todos os anos, mesmo naqueles de que necessitam de fontes não convencionais,
seca severa. Outras plantas têm cutícula podendo inclusive terem ajuda de micro-

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organismos. De fato, Martins et al. (1995) de manter bom crescimento a 45°C e em


constataram a presença de uma grande concentrações de NaCl acima de 3%,
quantidade de bactérias fixadoras de evidenciando um material genético promissor
nitrogênio extraídas de solos do Semiárido. A para tolerar dois fatores abióticos
coleção hoje tem cerca de 1.300 isolados de predominantes da região (temperatura e
rizóbios obtidos a partir de amostras de solos salinidade do solo).
de áreas de agricultores, da caatinga e de mata
ciliar do Rio São Francisco. 3. Conclusão
A caracterização cultural dos isolados A região Semiárida brasileira apresenta
foi feita avaliando-se dentre outras os mais baixos índices de desenvolvimento do
características: tempo de crescimento (rápida país, embora tenha melhorado
– até três dias e lentas – seis dias ou mais), substancialmente nas últimas quatro décadas.
reação do pH do meio de cultura contendo É uma região de grande variação ambiental e
azul de bromotimol (ácida, neutra, alcalina), dentro dos recursos naturais, a cobertura
forma da colônia (circular ou irregular), vegetal é que apresenta o maior potencial para
elevação (sim ou não), tamanho da colônia ajudar no desenvolvimento da região. Existem
(puntiforme, 1 a 2 mm, >2 mm), borda e muitos estudos de espécies da caatinga, mas, a
transparência da colônia (opaca, translúcida quase totalidade considera as mesmas como
ou transparente), cor da colônia (amarela ou se elas fossem formadas por indivíduos
branca), presença de muco (sim ou não); semelhantes e, no entanto, existem muitos
quantidade (muito ou pouco), elasticidade variantes, que podem ser considerados os
(sim ou não) e tipo de muco apresentado recursos genéticos dessas espécies os quais
(viscoso, floculoso ou butírico). Foi poderão ser muito úteis para diversos usos,
encontrada uma alta diversidade de bactérias como por exemplo, os mutantes sem
com base em suas características de espinhos. Finalmente, as plantas da caatinga
morfologia de colônias e hábito de poderão ajudar nos estudos básicos dos
crescimento. Cerca de 70% destes isolados mecanismos de economia de uso de água, uso
mostraram crescimento rápido, embora mais de fontes não convencionais de nutrientes e os
freqüentes estes isolados demonstraram microrganismos poderão ser úteis nesses
menor riqueza e diversidade quando estudos.
comparados com os de crescimento lento
(pouco mais de 25%) que formaram mais 4. Referências
grupos morfológicos evidenciando possuir Almeida, A. S. (2009). Qualidade, compostos
uma base genética mais diversa. bioativos e atividade antioxidante total de
Representantes destes grupos foram capazes pedúnculos de cajuizeiros e frutos de

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