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INSTITUTO FEDERAL

Mato Grosso do Sul


Centro de Referência
em Educação a Distância Cread

RESPONSABILIDADE
SOCIAL E AMBIENTAL
Willerson Lucas de Campos Silva
Presidência da República Federativa do Brasil

Ministério da Educação

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul

Reitoria
Luiz Simão Staszczak

Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distân-


cia (Cread)

Direção do Cread
Ubirajara Cecilio Garcia

Coordenação de Educação a Distância


Andre Kioshi da Silva Nakamura

Coordenação de Recursos Didáticos


Mario Angelo Werdemberg dos Santos

Revisão de Texto
Emerson Ribeiro da Silva do Nascimento

Projeto Gráfico e Diagramação


Viviane Naomi Kay dos Reis

Elaboração do Conteúdo
Willerson Lucas de Campos Silva
Willerson Lucas de Campos Silva

RESPONSABILIDADE
SOCIAL E AMBIENTAL

IFMS
2019
SILVA, Willerson Lucas de Campos.
Responsabilidade Social e Ambien-
tal. Willerson Lucas de Campos Silva.
Campo Grande: IFMS, 2019.

74 p.
Responsabilidade Social e Ambiental

Indicação de Ícones

Objetivos de Glossário
Aprendizagem

Subseções de Atenção!
Estudo

Fique de Olho Dica

Guarde Bem Isto Você Sabia?

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Vídeo/Áudio Para Refletir...

Leitura Exercícios
Complementar de Fixação

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Responsabilidade Social e Ambiental

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Responsabilidade Social e Ambiental

Sumário
Apresentação da Unidade Curricular...................................................... 9

Currículo do Professor.............................................................................. 11

Palavras do Professor................................................................................ 11

Seção 1 - Desenvolvimento Sustentável e Crescimento Econômico.... 13


1.1 Entendendo o que é Crescimento Econômico..................................................... 13
1.2 Entendendo o que é Desenvolvimento Sustentável........................................... 14
1.3 Breve Histórico do Desenvolvimento Sustentável.............................................. 15
1.4 Conhecendo os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.............................. 18
1.5 Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 ................................................. 21

Seção 2 - Gestão Social e Ambiental........................................................ 27


2.1 O Tripé da Sustentabilidade: Triple Bottom Line (TBL)......................................... 27
2.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos................................................................... 33
2.3 Logística Reversa..................................................................................................... 37
2.4 Análise do Ciclo de Vida do Produto..................................................................... 38
2.5 ISO 14001................................................................................................................. 40
2.6 Caso Votorantim: Transformando Riscos em Oportunidade............................ 41

Seção 3 - Políticas Ambientais e Sociais nas Organizações................... 45


3.1 Sustentabilidade em Pequenas e Médias Empresas (PMEs)............................. 45
3.2 Negócios de Impacto Social................................................................................... 53

Referências................................................................................................. 65

Referências de Figuras.............................................................................. 71

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Apresentação da Unidade Curricular

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ebater o tema responsabilidade social e ambiental é entender que
o mundo em que vivemos é limitado e ações devem ser tomadas
para que as gerações futuras possam usufruir de um planeta sau-
dável. Essa discussão não é recente, muito já foi feito, mas ainda há um
caminho longo a percorrer rumo ao desenvolvimento que seja de fato
sustentável ao considerar a realidade das comunidades locais, o impac-
to gerado no solo, na água e no ar, advindo de processos produtivos,
que seja justo o valor pago ao trabalhador, dentre tantos outros fatores
que permeiam a responsabilidade socioambiental.

Contudo, para que haja uma movimentação em âmbito mundial, faz-


se necessária uma organização em torno do tema, o estabelecimento
de metas e que o alcance dessas seja cobrado pelos diversos atores da
sociedade. A Organização das Nações Unidas tem tomado a frente ao
organizar tanto os Objetivos do Milênio quanto os atuais Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, que servem como guias norteadores para
países e instituições públicas e privadas. Já a cobrança fica sob respon-
sabilidade de todos nós cidadãos, que devemos conhecer os conceitos e
aplicá-los em nosso ambiente de trabalho, bem como cobrar as organi-
zações para que atuem corretamente, desde a extração da matéria-pri-
ma até o pós uso de seus produtos.

A atuação governamental é de extrema importância no desenvolvimen-


to de políticas públicas que cobrem das empresas o seu nível de respon-
sabilização socioambiental. Em complemento, destaca-se a importância
de inserir as dimensões da sustentabilidade nas pequenas e médias em-
presas, as quais, muitas vezes, são fornecedoras de empresas maiores,
podendo, assim, auxiliar na adoção de práticas sustentáveis desde o iní-
cio da cadeia de suprimentos.

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Responsabilidade Social e Ambiental

Todos esses aspectos, bem como a possibilidade de abrir um negócio


que considere igualmente relevante o impacto socioambiental e o retor-
no financeiro, serão discutidos nesta disciplina. Inspire-se com os casos
de sucesso, conheça as leis que permeiam as discussões do tema e as
ações empresariais, reflita sobre como tornar as empresas mais susten-
táveis, amplie seus conhecimentos e coloque em prática a sua responsa-
bilidade socioambiental.

Bons estudos.

Willerson Lucas de Campos Silva

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Currículo do Professor

Willerson Lucas de Campos Silva


Docente da área de Administração do Instituto Federal de Mato Grosso
do Sul (IFMS), Campus Dourados. Atualmente, faz parte do programa
de pós-graduação em nível de Doutorado em Engenharia de Produção
pela Universidade de São Paulo (Escola Politécnica da USP). Possui gra-
duação em Administração (2012) e mestrado em Administração (2015)
pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Em 2014,
participou do Projeto Casadinho - Missão de Estudo na Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP) como par-
te do programa de mestrado.

Como pesquisador, atua, principalmente, nos seguintes temas: Susten-


tabilidade, Responsabilidade Social Corporativa, Capacidades Dinâmicas
das Firmas, Redes de Organização, Inovação, Pequenas e Médias Empre-
sas e Análise quantitativa de dados aplicada à administração.

Palavras do Professor

A
s palavras de Paulo Freire são claras: não há saber mais ou saber
menos, há saberes diferentes. Dessa forma, que o diálogo e a in-
teração sejam base para a construção do seu conhecimento. O
aprender com o outro e com o mundo é parte integral da jornada pelo
conhecimento. Que a partir dessas leituras, você seja capaz de reconhe-
cer a importância das questões sociais e ambientais e, assim, fazer a
diferença onde você estiver.

Sendo assim, seja bem-vindo e boas leituras.

Willerson Lucas de Campos Silva

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Seção 1 - Desenvolvimento Sustentável e Crescimento


Econômico

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender os conceitos de desenvolvimento sustentável e
crescimento econômico, ressaltando as ações globais para apli-
cação prática de tais conceitos.

Subseções de Estudo
1.1 Entendendo o que é Crescimento Econômico
1.2 Entendendo o que é Desenvolvimento Sustentável
1.3 Breve Histórico do Desenvolvimento Sustentável
1.4 Conhecendo os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
1.5 Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030

Caro(a) estudante
Para darmos início aos estudos desta aula, é preciso, antes de mais nada,
entender o que é desenvolvimento sustentável e como ele se diferencia
do crescimento econômico. Você já deve ter ouvido falar sobre esses dois
assuntos. Ao refletir sobre eles, seria possível ter crescimento econômico
e desenvolvimento sustentável ao mesmo tempo?
Ainda nesta aula, você saberá como o mundo tem se organizado para
estabelecer objetivos e metas para alcance de um desenvolvimento sus-
tentável. Venha conosco e conheça mais sobre o assunto!
Boa aula.

1.1 Entendendo o que é Crescimento Econômico


Iniciaremos a aula apresentando o entendimento de crescimento eco-
nômico para Vasconcelos e Garcia (2004), o qual se refere ao aumento
contínuo do produto nacional, podendo ser medido, principalmente,
por meio do aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Também pode
ser utilizado como um indicador do crescimento o aumento da renda
per capita, o aumento da força de trabalho, ou ainda, o grau de aperfei-

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çoamento tecnológico. Dessa forma, pode-se considerar o crescimento


econômico como uma análise quantitativa do desempenho da econo-
mia (CAMPOS-SILVA; YASUNAKA; MELO, 2012).

É certo que, havendo crescimento econômico, haverá melhoria


na qualidade de vida? Pelo entendimento apresentado, o crescimen-
to econômico reflete o acúmulo de riquezas da sociedade, não sendo
considerado nenhum aspecto da qualidade de vida, assim não garan-
tindo que essa riqueza esteja distribuída com igualdade nem com jus-
tiça social (GIL, 2015, p. 29)

Como citado anteriormente, um dos principais indicadores do


crescimento econômico é o PIB, o qual Lanzana (2002) define como
“a somatória dos bens e serviços finais produzidos pela economia em
determinado período de tempo”. Em complemento, o PIB per capita
é o resultado da divisão do PIB de um país por sua população (GIL,
2015, p. 31). Teoricamente, esse índice mostra a divisão da riqueza de
uma sociedade entre os cidadãos.

Mas será que esses valores refletem realmente a riqueza de cada


cidadão? Na sociedade, não ocorre uma divisão igualitária da riqueza
produzida pela economia e o valor no PIB per capita está sujeito a não
representar a real divisão das riquezas, pois poucas pessoas estão de
posse de grande parte da riqueza, enquanto a outra parcela da socieda-
de dispõe de muito pouco.

1.2 Entendendo o que é Desenvolvimento Sustentável


De acordo com Gil (2015, p. 32), o entendimento de desenvolvi-
mento sustentável é mais abrangente porque, além de estar preocupado
com a geração de riquezas, também tem compromisso com a distribui-
ção dessa riqueza e a qualidade de vida da sociedade, sempre aliado à
proteção da qualidade do planeta (GIL, 2015, p. 25). Esse componente
ambiental do movimento do desenvolvimento sustentável tem sempre
em mente que a Terra é dotada de uma capacidade de carga, logo se essa
capacidade é superada certamente ocorrerão grandes catástrofes sociais
e ambientais (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016, p. 53).

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Também é de interesse de quem almeja o desenvolvimento sus-


tentável buscar o crescimento econômico, mas com um diferencial de
ser crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável (PLA-
TAFORMA AGENDA 2030, [201-]), buscando o emprego pleno e
produtivo e o trabalho decente para todos. O entendimento é de que
os prejuízos da desigualdade de renda e de oportunidades no cresci-
mento econômico será sentido no longo prazo.

1.3 Breve Histórico do Desenvolvimento Sustentável


Dias (2017) aponta que vem da Conferência de Estocolmo (Sué-
cia) de 1972 o conceito básico de desenvolvimento sustentável, deno-
minado à época com abordagem do ecodesenvolvimento, passando ali
a ser reconhecido internacionalmente. Nessa conferência, a questão
ambiental foi vinculada à ideia de desenvolvimento socioeconômico,
sendo essa uma das principais contribuições da conferência (BARBIE-
RI; CAJAZEIRA, 2016, p. 52; OECO, 2014).

Foi formada em 1983 a Comissão Mundial das Nações Unidas


sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, com o objetivo de in-
vestigar as preocupações levantadas nas décadas anteriores acerca dos
graves e negativos impactos das atividades humanas sobre o planeta,
e como os padrões de crescimento e desenvolvimento poderiam se
tornar insustentáveis caso os limites dos recursos naturais não fossem
respeitados (OECO, 2014).

Em abril de 1987, essa investigação resultou na publicação Título original


do Relatório “Nosso Futuro Comum”. Como quem presidiu a “Our Commom
Future”.
comissão foi a médica Gro Harlem Brundtland, o documento
ficou conhecido como Relatório Brundtland. Desse relatório Gro Harlem
Brundtland era
saiu o conceito formalizado de desenvolvimento sustentável e médica, mestre
o tornou conhecido do público, sendo assim, “o desenvolvi- em saúde públi-
ca e ex-Primeira
mento sustentável é o desenvolvimento que encontra as ne- Ministra da No-
ruega (NAÇÕES
cessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras UNIDAS BRASIL,
gerações de atender suas próprias necessidades.” (NAÇÕES [201-]).

UNIDAS BRASIL, [201-]).

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A partir desse conceito, é possível entender que ter um desenvol-


vimento sustentável “significa possibilitar que as pessoas, agora e no
futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e eco-
nómico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo,
um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os
habitats naturais” (GIL, 2015, p. 33).

Os principais acontecimentos relacionados com a perspectiva do


desenvolvimento sustentável são apresentados, de forma resumida, no
Quadro 1.1.
Quadro 1.1: Resumo dos principais acontecimentos relacionados com o desenvolvimento sustentável
(Continua)
Ano Acontecimento Observação
1962 Publicação do livro Livro publicado por Rachel Carson que teve
Primavera Silenciosa grande repercussão na opinião pública e
(Silent Spring) expunha os perigos do inseticida DDT.
1968 Criação do Clube de Organização informal cujo objetivo era
Roma promover o entendimento dos componentes
variados, mas interdependentes – econômicos,
políticos, naturais e sociais –, que formam o
sistema global.
1968 Conferência da Nessa reunião, em Paris, foram lançadas as
UNESCO sobre a bases para a criação do Programa: Homem e a
conservação e o uso Biosfera (MAB).
racional dos recursos
da biosfera
1971 Criação do Programa Programa de pesquisa no campo das Ciências
MAB da UNESCO Naturais e sociais para a conservação da
biodiversidade e para a melhoria das relações
entre o homem e o meio ambiente.
1972 Publicação do Informe apresentado pelo Clube de Roma no
livro Os limites do qual previa que as tendências que imperavam até
crescimento então conduziriam a uma escassez catastrófica
dos recursos naturais e a níveis perigosos de
contaminação num prazo de 100 anos.
1972 Conferência das A primeira manifestação dos governos de
Nações Unidas sobre todo o mundo com as consequências da
o Meio Ambiente economia sobre o meio ambiente. Participaram
Humano em 113 Estados-membros da ONU. Um dos
Estocolmo, Suécia resultados do evento foi a criação do Programa
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
(PNUMA).
1980 I Estratégia Mundial A IUCN, com a colaboração do PNUMA e do
para a Conservação World Wildlife Fund (WWF), adota um plano
de longo prazo para conservar os recursos
biológicos do planeta. No documento
aparece pela primeira vez o conceito de
“desenvolvimento sustentável”.

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Responsabilidade Social e Ambiental

(Continuação)
1983 É formada pela Presidida pela Primeira-Ministra da Noruega,
ONU a Comissão Gro Harlem Brundtland, tinha como objetivo
Mundial sobre o examinar as relações entre o meio ambiente
Meio Ambiente e o e o desenvolvimento e apresentar propostas
Desenvolvimento viáveis.
(CMMAD)
1987 É publicado o Um dos mais importantes sobre a questão
informe Brundtland, ambiental e o desenvolvimento. Vincula
da CMMAD, o “Nosso estreitamente economia e ecologia e estabelece
Futuro Comum” o eixo em torno do qual se deve discutir o
desenvolvimento, formalizando o conceito de
desenvolvimento sustentável.
1991 II Estratégia Mundial Documento conjunto do IUCN, PNUMA e
para a Conservação: WWF, mais abrangente que o formulado
“Cuidando da Terra” anteriormente; baseado no Informe
Brundtland, preconiza o reforço dos níveis
políticos e sociais para a construção de uma
sociedade mais sustentável.
1992 Conferência das Realizada no Rio de Janeiro, constitui-se no mais
Nações Unidas sobre importante foro mundial já realizado. Abordou
o Meio Ambiente e novas perspectivas globais e de integração da
Desenvolvimento, ou questão ambiental planetária e definiu mais
Cúpula da Terra concretamente o modelo de desenvolvimento
sustentável. Participaram 170 Estados, que
aprovaram a Declaração do Rio e mais quatro
documentos, entre os quais a Agenda 21.
1997 Rio+5 Realizado em New York, teve como objetivo
analisar a implementação do Programa da
Agenda 21.
2000 I Foro Mundial de Teve como resultado a aprovação da
âmbito Ministerial – Declaração de Malmö, que examina as novas
Malmö (Suécia) questões ambientais para o século XXI e
adota compromissos no sentido de contribuir
mais efetivamente para o desenvolvimento
sustentável.
2002 Cúpula Mundial Realizada em Johannesburgo, nos meses de
sobre o agosto e setembro, procurou examinar se
Desenvolvimento foram alcançadas as metas estabelecidas pela
Sustentável – Rio+10 Conferência do Rio-92 e serviu para que os
Estados reiterassem seu compromisso com os
princípios do Desenvolvimento Sustentável.
2005 Protocolo de Kyoto O Protocolo de Kyoto entra em vigor, obrigando
países desenvolvidos a reduzir os gases que
provocam o efeito estufa e estabelecendo o
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo para os
países em desenvolvimento.
2007 Relatório do Painel O Painel Intergovernamental sobre Mudança
das Mudanças Climática (IPCC) divulga seu mais bombástico
Climáticas relatório, apontando as consequências do
aquecimento global até 2100, caso os seres
humanos nada façam para impedi-lo.

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(Conclusão)
2010 ISO 26000 – No dia 1o de novembro, a International
Responsabilidade Organization for Standardization (ISO) divulga a
Social norma ISO 26000 para a responsabilidade social
e que terá grande impacto nas organizações,
tornando-as mais sensíveis ao engajamento
em projetos visando o desenvolvimento
sustentável.
2011 Rumo à economia Em fevereiro, o Programa das Nações Unidas
verde para o Meio Ambiente (PNUMA) divulga
o documento “Rumo à economia verde:
caminhos para o desenvolvimento sustentável
e a erradicação da pobreza – síntese para
tomadores de decisão”, considerado como uma
das contribuições-chave ao processo Rio+20
e ao objetivo geral de luta contra a pobreza e
promoção de um século XXI sustentável.
2012 Rio+20 – Conferência De 13 a 22 de junho ocorre a nova Conferência
das Nações da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável
Unidas sobre no Rio de Janeiro. O encontro gerou um
Desenvolvimento documento final: “O futuro que queremos” e
Sustentável tomou-se a decisão de formar um grupo de
trabalho aberto que elaborasse os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável que teriam como
meta o ano de 2030.
2014 Objetivos do Assembleia da ONU recebe o relatório do
Desenvolvimento grupo de trabalho que ficou encarregado
Sustentável (ODS) de estabelecer os ODS em substituição aos
Objetivos do Desenvolvimento do Milênio
(ODM).
Fonte: Dias (2017)

Guarde Bem Isto


O entendimento de desenvolvimento sustentável vem do Relató-
rio Brundtland e é “o desenvolvimento que procura satisfazer
as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade
das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”.
Em resumo, é o desenvolvimento que realizamos agora que não esgota
os recursos para o futuro.

1.4 Conhecendo os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio


Visando a criar e desenvolver um mundo melhor, o qual se preocu-
passe com a vertente social e ambiental, nos anos 2000, tendo apoio
de 191 nações, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu
as metas do milênio. Também conhecidas como Objetivos de Desen-
volvimento do Milênio (ODM), foram oito as metas definidas, con-
forme é apresentado na Figura 1.1.

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Figura 1.1: Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)


Fonte: Brasil. Disponível em: http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-milenio

1 - Acabar com a fome e a miséria


2 - Oferecer educação básica de qualidade para todos
3 - Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
4 - Reduzir a mortalidade infantil
5 - Melhorar a saúde das gestantes
6 - Combater a Aids, a malária e outras doenças
7 - Garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente
8 - Estabelecer parcerias para o desenvolvimento

Os dados advindos da relação entre o Brasil e os ODM, destaca-


ram que o país só conseguiu avançar no cumprimento dos Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio por conta da participação social e de
uma série de políticas públicas. Percebe-se a existência de indicadores
positivos à época, contudo, deve-se ponderar o quanto o país ainda
tinha a melhorar (BRASIL, [201-]).

Em relação ao 1º ODM (acabar com a fome e a miséria), destaca-


se a importância de programas de governo como “Brasil sem Miséria”,
do qual fazia parte a iniciativa “Brasil Carinhoso” que tendo o início
dos pagamentos em junho de 2012, reduziu a extrema pobreza total
em 40%.

A respeito do 2º ODM (educação básica de qualidade para todos)


o Brasil apresentou avanços significativos referentes ao acesso e rendi-
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mentos escolar, tendo 95,3% da faixa etária de 7 a 14 anos frequen-


tando o ensino fundamental em 2009, dado positivo, mas que ainda
carece de melhoria.

O 3º ODM (igualdade entre os sexos e valorização da mulher) o


Brasil alcançou as metas de acesso à educação onde meninas e mulhe-
res já são maioria em todos os níveis de ensino. Contudo, ainda há
desigualdade no mercado de trabalho, na remuneração e na política,
indicando que um assunto que deve ser constantemente debatido, a fim
de encontrar soluções. Para tal surgiram programas de governo que visa-
vam a inserção das mulheres no mercado de trabalho, defesa dos direitos
das mulheres, e atendimento às mulheres em situação de violência.

Os dados relativos ao 4º ODM (redução da mortalidade infantil)


são animadores, porém, ainda não suficientes. Observa-se que a taxa
de mortalidade infantil (menores de 1 ano) por mil nascidos vivos
passou de 29,7, em 2000, para 15,6, em 2010, sendo uma taxa menor
que a meta prevista para 2015, de 15,7 por mil nascidos vivos. Em
relação à taxa de mortalidade das crianças abaixo de cinco anos, houve
uma queda de 65% entre 1990 e 2010. Passou de 53,7 para 19 óbitos
o número de óbitos por mil nascidos vivos.

O 5º ODM (melhorar a saúde da gestante) é o que apresenta maior


nível de dificuldade de atendimento por parte do país, já que houve
melhora, mas não alcançou a meta de reduzir em ¾, entre 1990 e
2015, a razão da mortalidade materna. Novamente, as ações gover-
namentais como o “Saúde Mais Perto de Você” e o “Rede Cegonha”
auxiliaram no alcance da meta, mas não foram suficientes.

O Brasil tornou-se referência mundial no combate à epidemia de


HIV/Aids, destacando-se assim em relação ao 6º ODM (combater a
aids, a malária e outras doenças). A malária tem sido controlada e a
meta de redução da incidência de tuberculose foi alcançada.

O penúltimo ODM (7º - qualidade de vida e respeito ao meio


ambiente) reforça a importância de cuidarmos do ambiente onde vi-
vemos. Sobre isso, criou-se, em 2004, o Plano de Ação para a Preven-
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ção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, plano este que


demonstrou resultados com menores percentuais de área desmatadas
ao longo dos anos. Este fato auxilia o país no alcance das metas de
redução da emissão de gases de efeito estufa e unidades de conserva-
ção. Destaca-se que as metas relativas ao abastecimento de água e ao
esgotamento sanitário foram batidas.

Por fim, o 8º ODM (todo mundo trabalhando para o desenvolvi-


mento) reforça que o desenvolvimento sustentável é fruto do trabalho
nacional e internacional conjunto, em que o governo tem papel essen-
cial ao estabelecer políticas públicas visando tanto à preservação do
meio ambiente quanto à inclusão social.

1.5 Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030


Observa-se que as metas alcançadas com os ODM foram de extre-
ma importância para melhoria da vida na Terra, contudo, fica claro
que ainda há muito a avançar. Com base nisso, surge, em 2015, a
chamada Agenda 2030, ou como também é conhecida, os Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Novamente, a ONU compila um plano de ação para as pessoas, o


planeta e a prosperidade. Agora são 17 Objetivos de Desenvolvimen-
to Sustentável e 169 metas, que devem ser implementadas por todos
os países de forma colaborativa. Destaca-se que esses objetivos são
integrados e indivisíveis, e equilibram as três dimensões do desenvol-
vimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Os 17 ODS
são apresentados na Figura 1.2.

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Figura 1.2: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável


Fonte: Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil. Disponível em: https://nacoesunidas.
org/pos2015/agenda2030/

De acordo com o site das Nações Unidas Brasil (NAÇÕES UNI-


DAS BRASIL, [201-]), os Objetivos e metas estimularão a ação para
os próximos 15 anos em áreas de importância crucial para a humani-
dade e para o planeta:

Pessoas
Estamos determinados a acabar com a pobreza e a fome, em todas
as suas formas e dimensões, e garantir que todos os seres humanos
possam realizar o seu potencial em dignidade e igualdade, em um
ambiente saudável.

Planeta
Estamos determinados a proteger o planeta da degradação, sobre-
tudo por meio do consumo e da produção sustentáveis, da gestão sus-
tentável dos seus recursos naturais e tomando medidas urgentes sobre

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a mudança climática, para que ele possa suportar as necessidades das


gerações presentes e futuras.

Prosperidade
Estamos determinados a assegurar que todos os seres humanos
possam desfrutar de uma vida próspera e de plena realização pessoal, e
que o progresso econômico, social e tecnológico ocorra em harmonia
com a natureza.

Paz
Estamos determinados a promover sociedades pacíficas, justas e inclu-
sivas que estão livres do medo e da violência. Não pode haver desenvolvi-
mento sustentável sem paz e não há paz sem desenvolvimento sustentável.

Parceria
Estamos determinados a mobilizar os meios necessários para im-
plementar esta Agenda por meio de uma Parceria Global para o De-
senvolvimento Sustentável revitalizada, com base num espírito de so-
lidariedade global reforçada, concentrada em especial nas necessidades
dos mais pobres e mais vulneráveis e com a participação de todos os
países, todas as partes interessadas e todas as pessoas.

Os vínculos e a natureza integrada dos Objetivos de Desenvolvi-


mento Sustentável são de importância crucial para assegurar que o
propósito da nova Agenda seja realizado. Se realizarmos as nossas am-
bições em toda a extensão da Agenda, a vida de todos será profunda-
mente melhorada e nosso mundo será transformado para melhor.

Guarde Bem Isto

Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em


todos os lugares

Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melho-


ria da nutrição e promover a agricultura sustentável

Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para


todos, em todas as idades

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Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e


promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos

Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulhe-


res e meninas

Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e


saneamento para todos

Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço


acessível à energia para todos

Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e


sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos

Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrializa-


ção inclusiva e sustentável e fomentar a inovação

Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles

Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos,


seguros, resilientes e sustentáveis

Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis

Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima


e seus impactos

Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos
recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável

Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecos-


sistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a
desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de
biodiversidade

Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvol-


vimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e cons-
truir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis

Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria


global para o desenvolvimento sustentável

Retirado de: https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/

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Responsabilidade Social e Ambiental

Os ODS são de responsabilidade do governo, das empresas e das


pessoas, tendo em vista que os benefícios serão de todos. Para exempli-
ficar o uso do plano de ação determinado pelos ODS por uma empre-
sa, a seção Fique de Olho apresenta o caso da Natura, que ganhou, em
2016, o Prêmio Época Empresa Verde na categoria “Objetivos para o
Desenvolvimento Sustentável”.

Fique de Olho
NATURA: FRUTOS DA BIODIVERSIDADE
A ucuuba é uma árvore da Amazônia ameaçada de extinção por
um motivo nada nobre: ela é usada para fazer palito de churrasco. E
se encontrássemos uma forma de fazê-la valer mais em pé do que em
churrasqueiras? Foi isso que a Natura, vencedora do prêmio na catego-
ria “Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável”, fez.

A categoria ODS é uma nova categoria do prêmio. A ideia é premiar ini-


ciativas ambientais que causam impacto positivo para além da empresa,
se relacionando com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da
ONU – entre eles a erradicação da pobreza e a redução de desigualda-
des. A Natura conseguiu isso com a produção do Ekos Ucuuba, lançada
em 2015. Descobriu uma forma de preservar a floresta, gerar renda para
comunidades locais e lucro para a empresa, tudo ao mesmo tempo. “Nós
atuamos com 24 comunidades, com mais ou menos 2 mil famílias. É uma
relação de parceria”, diz Renata Puchala, gerente de sustentabilidade da
Natura. Segundo ela, as famílias ganham três vezes mais coletando e co-
mercializando o fruto da ucuuba do que cortando a árvore.

A empresa trabalha com a manteiga que fica dentro do fruto da ucuuba.


Essa manteiga é uma velha conhecida das comunidades tradicionais. O
que não se sabia – e que foi descoberto graças ao trabalho científico da
Natura – é que ela também tem propriedades hidratantes para cosméti-
cos. A criação de produtos que aproveitam a biodiversidade da Amazô-
nia sem destruí-la é o principal caminho para desenvolver a região.

Pesquisadores renomados, como o climatologista Carlos Nobre, defen-


dem que, com biotecnologia e a quarta revolução industrial, podemos
transformar a Amazônia em um polo tecnológico para grandes indús-
trias, como a farmacêutica e a de cosméticos, ao mesmo tempo man-
tendo a floresta que protege nosso clima e a incrível fauna e flora da
Amazônia. Investir na biodiversidade dá frutos, como a ucuuba.
Retirado de: https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/10/epoca-empresa-verde-2016-os-ga-
nhos-sao-ambientais.html

25
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Responsabilidade Social e Ambiental

Saiba Mais
Assista aos vídeos da série do IBGE Explica sobre os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Acesse a playlist em: https://www.youtube.com/playlist?list=PLAvMM-
JyHZEaFnbAHb_0limdkGL5Z_HBIi

Revisando...
Iniciamos o capítulo entendendo o conceito de crescimento eco-
nômico, o qual pode ser considerado como uma análise quan-
titativa do desempenho da economia. Ao compará-lo com o
desenvolvimento sustentável, vimos que este é mais abrangen-
te, pois, além de estar preocupado com a geração de riquezas,
também tem compromisso com a distribuição dessa riqueza e
a qualidade de vida da sociedade, sempre aliado à proteção da
qualidade do planeta.

Além de apresentar um breve histórico dos fatos relacionados


ao desenvolvimento sustentável, o capítulo trouxe o que foram
os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e os resultados
destes no cenário brasileiro. Na sequência, apresentaram-se os
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, conhecidos como
um plano de ação estabelecido pela ONU com foco nas pesso-
as, planeta e prosperidade e vimos como uma empresa pode
utilizar os ODS em sua estratégia empresarial.

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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Responsabilidade Social e Ambiental

Seção 2 - Gestão Social e Ambiental

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer as bases teóricas e históricas necessárias para faci-
litar a compreensão de desenvolvimento sustentável e cresci-
mento econômico.

Subseções de Estudo
2.1 O Tripé da Sustentabilidade: Triple Bottom Line (TBL)
2.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos
2.3 Logística Reversa
2.4 Análise do Ciclo de Vida do Produto
2.5 ISO 14001
2.6 Caso Votorantim: Transformando Riscos em Oportunidade

Caro estudante,
Imagine um banquinho de madeira com três pernas. Cada uma das per-
nas são representações das dimensões social, ambiental e econômica de
uma organização e é o que dá suporte ao assento, que é a sustentabilida-
de. Essa é uma das representações do tripé da sustentabilidade que você
conhecerá no decorrer desta aula.
Você verá ainda como é importante o papel do governo no estabeleci-
mento de políticas públicas que auxiliem as empresas a se organizarem
rumo ao desenvolvimento sustentável. Por fim, será apresentado o caso
da Votorantim. Já imaginou ganhar dinheiro com o que era visto como
lixo e ainda muito perigoso? Ficou curioso? Aproveite a aula e não deixe
de assistir aos vídeos.

2.1 O Tripé da Sustentabilidade: Triple Bottom Line (TBL)


A fim de tornar o conceito de desenvolvimento sustentável mais
aplicável para o mundo dos negócios, John Elkington, em seu livro
“Cannibals with forks: the triple bottom line of 21st century busi-
ness” (Canibais com garfo e faca: a tripla linha de base nos negócios

27
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Responsabilidade Social e Ambiental

do século XXI), publicado em 1997 (ELKINGTON, 1997), divul-


gou o termo triple bottom line (tripé da sustentabilidade), cunhado
pelo mesmo autor em 1994 (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016). Esse
tripé (apresentado na Figura 2.1) contempla as seguintes dimensões:
social, ambiental e econômica. Essas vertentes também são ilustra-
das pelos três Ps advindos do inglês: profit, people, planet (lucro, pes-
soas e planeta).

Dimensão econômica

Desenvolvimento
sustentável
Dimensão Dimensão
social ambiental

Figura 2.1: Dimensões da sustentabilidade organizacional


Fonte: Barbieri e Cajazeira (2016, p. 55).

Esse conceito ressalta que as empresas possuem responsabilidades


que vão além do lucro, mas não deixando este de lado. O tripé con-
sidera que deve ser dado atenção a comunidade onde a empresa está
inserida, bem como seus colaboradores e clientes (social); ao impacto
ambiental que a produção traz, desde a extração da matéria-prima
até o descarte do produto final (ambiental) e; o cuidado com fluxo
de caixa, afinal uma empresa que não está saudável em suas finanças,
não pode investir em ações socioambientais. A partir da perspectiva
do tripé da sustentabilidade, a Figura 2.2 apresenta as primeiras ações
que empresas podem tomar em direção à sustentabilidade.

28
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Responsabilidade Social e Ambiental

Figura 2.2: Primeiros passos para a sustentabilidade nos negócios na perspectiva do TBL
Fonte: Centro Sebrae de Sustentabilidade (2016).

As definições mais recentes do termo responsabilidade social cor-


porativa ressaltam que este se refere a um conjunto de ações voluntá-
rias que objetivam tanto o benefício social quanto a manutenção da
reputação e a competitividade da empresa. Observa-se que, com o
avanço da discussão a respeito da sustentabilidade, o próprio conceito
de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) incorporou o termo,
sendo que o trabalho de Wesselink et al., 2015 (p. 497 tradução nos-
sa) afirma que “a RSC se concentra na contribuição das empresas para
o alcance do objetivo da sustentabilidade, por exemplo, equilibrando
pessoas, planeta e lucro em suas práticas de negócios”.

29
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Responsabilidade Social e Ambiental

Nesse sentido, pode-se entender que a RSC é um processo em que


as empresas participantes integram as preocupações econômicas, so-
ciais e ambientais em suas atividades principais, exigindo a necessida-
de de reconhecer os múltiplos interesses de diversos stakeholders que
moldam esse processo, incluindo as empresas e os seus proprietários
(acionistas), trabalhadores, fornecedores, comunidades locais, as insti-
tuições locais e o estado (KNORRINGA; NADVI, 2016).

Glossário
Stakeholders “são indivíduos e organizações que estão ativamen-
te interessados em um projeto ou cujos interesses podem ser
positiva ou negativamente afetados pela execução ou conclusão do
projeto.“ (FREEMAN, 1984).
Em português, também chamados de “partes interessadas”, são grupos
que são impactados pelas ações da empresa. Como stakeholders primá-
rios temos os proprietários, clientes, fornecedores empregados e a con-
corrência. Stakeholders secundários podemos citar o governo, mídia, co-
munidade, organizações sem fins lucrativos, instituições financeiras, etc.

Destaca-se que as três vertentes devem estar presentes nas preocupa-


ções estratégicas do negócio, porém, são as características da operação
da empresa que definirão qual das vertentes deve ter mais atenção. Uma
empresa extrativista precisa dar muita atenção à vertente ambiental e
não deixar de lado todo o impacto que ela gera na comunidade local.
Diferente de uma empresa do setor financeiro que impacta muito me-
nos o meio ambiente de forma direta, mas deve se preocupar com as
questões socioambientais na concessão de crédito, por exemplo.

Dentre as três dimensões da sustentabilidade, a maioria dos estu-


dos se concentram na vertente ambiental, por ser a que apresenta um
maior número de leis e sistemas de controle e que impacta diretamen-
te na continuidade do negócio. Com isso, observa-se que para que
as organizações possam alcançar o valor sustentável ao integrar a sus-
tentabilidade na estratégia geral da empresa, a estratégia de operações
deve compreender a criação e utilização de tecnologias voltadas para a
proteção ambiental, onde estas não podem mais ser vistas como uma
opção, mas sim como um caminho inevitável (ALBERTI et al., 2000;
JABBOUR et al., 2013).

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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Responsabilidade Social e Ambiental

Com a análise da adaptação da cadeia de valor proposta por Porter


(1990) elaborada por Epstein e Roy (1998) a qual incluiu a vertente
ambiental nas operações, podem-se verificar formas de se ajustarem
as operações com a gestão estratégica sustentável. Essa adaptação é
apresentada na Figura 2.3, a qual demonstra formas de se observar
o impacto da inclusão de uma das vertentes da sustentabilidade na
cadeia de valor, a ambiental, auxiliando a tomada de decisão quanto
à sustentabilidade, que, segundo Epstein e Roy (1998), deve estar ali-
nhada com a estratégia ambiental da organização.

INFRAESTRUTURA DA EMPRESA
Contabilidade ambiental. Base de dados ambientais (ex. análise de ciclo de vida e
ATIVIDADES DE APOIO

requisitos legais).
GERÊNCIA DE RECURSOS HUMANOS
Desenvolvimento de cultura e consciência ambiental.
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA
Desenvolvimento de processos limpos. Projeto voltado ao meio ambiente natural.
AQUISIÇÃO
Menos uso de matérias-primas prejudiciais. Especificações voltadas ao meio

MARGEM
ambiente natural. Escolha de fornecedores com operações menos poluidoras.
LOGÍSTICA OPERAÇÕES LOGÍSTICA MARKETING E SERVIÇO
INTERNA Redução de EXTERNA VENDAS Taxa de
ATIVIDADES PRIMÁRIAS

Armazenamento. descarga de Procedimentos Promoção retorno de


Transporte. poluentes. de transporte. dos aspectos produto.
Minimização Armazenamento. ambientais Reciclagem.
de resíduos. Embalagem. do produto.
Redução da Imagem
quantidade corporativa.
de energia
exigida.
Figura 2.3: Cadeia de valor e gestão ambiental.
Fonte: adaptado de Epstein e Roy (1998).

Kleindorfer, Singhal e Wassenhove (2005, p. 484–485, tradução


nossa) apresentam quatro fatores que justificam o investimento na
gestão sustentável de operações:
1. Os custos de materiais e de energia continuarão a crescer à medida que a
economia mundial se expande e países com rápida industrialização, como
a China e a Índia, fazendo fortes exigências sobre esses recursos.
2. A pressão pública para o desempenho em meio ambiente, saúde e segu-
rança provavelmente se manterá forte, reforçando direitos de propriedade,
normas adicionais, acordos internacionais sobre controle de externalidades
negativas e preservação dos recursos e redução dos subsídios.
3. Aumentar a consciência nas questões do Triple Botton Line poderia au-
mentar a demanda dos consumidores por produtos feitos por empresas
que assimilam essas práticas.
4. Crescente antipatia popular para a globalização está levando a uma
forte atividade das ONGs em relação ao desempenho de sustentabilidade
das empresas.

31
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Responsabilidade Social e Ambiental

A inclusão da sustentabilidade de forma alinhada com toda a estra-


tégia empresarial representa, além dos itens supracitados, uma diminui-
ção direta na quantidade de dinheiro utilizado em multas ambientais
(HUNT; AUSTER, 1990) e, de forma complementar, a BM&FBO-
VESPA (2010, p. 9) sumariza em nove pontos as vantagens de se adotar
uma agenda de sustentabilidade incorporada à estratégia empresarial:
identificação de novas oportunidades de negócio; antecipação a pressões
legais e da sociedade; redução dos custos de produção, decorrente da dimi-
nuição de desperdícios e economia de insumos; maior atração e retenção de
talentos; facilidade no acesso ao capital; menor exposição a riscos; impacto
positivo na reputação (ativos intangíveis); fidelização de consumidores e;
melhor alinhamento interno com relação a práticas e políticas adotadas.

Assim, no cenário atual de constantes mudanças, e do conheci-


mento da escassez de recursos, os gestores são desafiados a posicionar
suas organizações de forma a gerar valor sustentável aos seus stakehol-
ders ao alinhar suas estratégias de operação com a gestão sustentável
(EPSTEIN; ROY, 1998). Este alinhamento auxiliará, de acordo com
(HART; MILSTEIN, 2004), as organizações a minimizarem as perdas
das operações, enquanto reorientam seus portfólios de competências
em direção a tecnologias e habilidades mais sustentáveis. Em comple-
mento, as organizações devem se engajar em uma ampla interação e
diálogo com os stakeholders externos, como forma de delinear a ma-
neira como poderiam desenvolver soluções economicamente interes-
santes para os problemas sociais e ambientais do futuro.

No Quadro 2.1, são descritas algumas das principais práticas de


gestão ambiental.
Quadro 2.1: Práticas de Gestão Ambiental
(Continua)
PRÁTICA CONCEITO AUTOR
Declaração precisa dos dirigentes
Política
empresariais sobre os principais aspectos e Boiral (2006)
ambiental
impactos ambientais gerados.
Treinamento ambiental para todos os
funcionários tem como finalidade divulgar a
Treinamento Daily e Huang
política ambiental e permitir conscientização
Ambiental (2001)
dos funcionários sobre os aspectos/impactos
ambientais de suas atividades.

32
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Responsabilidade Social e Ambiental
(Conclusão)
Envolvem Redução, Reuso e Reciclagem
aplicados em água, energia elétrica, papel Marcus e
3Rs
e outros insumos naturais, aumentando a Fremeth (2009)
produtividade empresarial.
Novos Desenvolvimento de produtos com menores
Sarkis (2001)
Produtos impactos ambientais.
Processo de Desenvolvimento de processo produtivo com
Sarkis (2001)
produção menores impactos ambientais.
Seleção de Seleção de fornecedores com base em Jabbour e
fornecedores critérios ambientais. Jabbour (2009)
ABNT NBR ISO
Sistema de Sistema de gestão ambiental, por exemplo, a 14001/2004
gestão ISO 14001, e/ou outros. (ASSOCIAÇÃO...,
2004)
Informações Divulgação voluntária de informações sobre o
Boiral (2006)
voluntárias desempenho ambiental.
Fonte: Jabbour et al. (2013)

2.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos


A gestão ambiental das empresas é fortemente influenciada por
Políticas Públicas. Mas antes de avançarmos, o que é gestão, afinal?

Gil (2015, p. 13) entende gestão como o “processo de gerencia-


mento, de administração de uma determinada instituição ou agrupa-
mento de pessoas que se relacionam em um determinado ambiente,
físico ou não, orientadas para um objetivo comum”.

Sendo assim, a gestão voltada ao meio ambiente integra as ativida-


des de gerenciar os recursos naturais, sejam elas atividades de planeja-
mento, execução ou controle.

Uma Política Pública voltada à gestão ambiental é o caso da Lei


nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS). Essa lei é bastante atual e contém instrumentos importan-
tes para permitir o avanço necessário ao País no enfrentamento dos
principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do
manejo inadequado dos resíduos sólidos.

De acordo com o exposto em Brasil (2010), essa lei prevê a preven-


ção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática

33
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Responsabilidade Social e Ambiental

de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos


para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resídu-
os sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou
reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos
(aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado).

Ela ainda institui a responsabilidade compartilhada dos geradores


de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comercian-
tes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos
urbanos na Logística Reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo
e pós-consumo. Abrindo, assim, possibilidades de novos negócios a
fim de atuar no retorno desses materiais.

Professor
A lei ainda cria metas importantes que contribuirão para
Titular da PO- a eliminação dos lixões e institui instrumentos de planeja-
LI-USP (Escola
Politécnica da mento nos níveis nacional, estadual, microrregional, inter-
Universidade de
São Paulo), no
municipal, metropolitano e municipal; além de impor que
Departamento os particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de
de Engenharia
de Produção. Resíduos Sólidos. Em complemento, a PNRS coloca o Brasil
Pós-doutor em
Economia e
em patamar de igualdade aos principais países desenvolvidos
Administração no que concerne ao marco legal e inova com a inclusão de
de Empresas
pela Università catadoras e catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis,
Ca Foscari di
Venezia (Itália).
tanto na Logística Reversa quando na Coleta Seletiva.
Especialista
em ISO 14.000
(Sistemas de A fim de analisar e ilustrar a importância dessa lei, o pro-
Gestão Ambien-
tal) pela Funda-
fessor João Amato Neto da Escola Politécnica da Universida-
ção Vanzolini e de de São Paulo elaborou o texto abaixo que serve de reflexão
coordenador da
Pós-graduação e fonte de estudo para nós.
em Administra-
ção Industrial
(CEAI) da Fun-
dação Vanzolini. Para Refletir...

Feitos para não durar: oportunidades jogadas fora


Meses atrás notei que o rádio do meu sistema de som au-
tomotivo não estava funcionando. Após uma cansativa pere-
grinação, que durou algumas semanas e muitas oficinas de
reparo (incluindo a da revendedora autorizada do veículo), fui
convencido a desistir da ideia de recuperação daquele apa-
relho, de vida finada então, posto que não se encontrava o
componente que havia sido danificado.
34
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Responsabilidade Social e Ambiental

Outro fato marcante ocorreu-me quando da aquisição de uma televisão


de tela plana. Questionado a respeito das garantias que deveriam acom-
panhar o aparelho, o atendente da loja surpreendeu-me com sua sinceri-
dade: “Hoje em dia os aparelhos de TV já são projetados para não durar
muito e, se houver algum defeito, pode jogar no lixo e comprar outro”.

Há alguns anos foi o caso do aparelho de celular. Fui a uma loja autori-
zada da operadora dos serviços de telefonia questionar o valor da conta
mensal dos serviços que, a meu ver, estava excessivamente elevado.
Mais uma surpresa: o vendedor explicou-me que eu poderia optar por
um plano mais econômico e ao mesmo tempo me ofereceu um novo
aparelho com algumas novas funcionalidades – para as quais, aliás, eu
não tinha qualquer necessidade.

Mas, em função das “explicações técnicas” do vendedor, fui convencido


a aceitar a promoção, pois aquele meu aparelho muito antigo (eu o ha-
via comprado há dois anos!) tornar-se-ia logo obsoleto.

Política Nacional de Resíduos Sólidos sinaliza negócios em soluções


ambientais, como a logística reversa
E o que dizer da produção de automóveis e aparelhos da linha branca
(geladeiras, máquinas de lavar, forno de micro-ondas)? Não fogem à re-
gra. Todos estes exemplos não devem ser entendidos como fenômenos
isolados da prática empresarial, mas sim manifestações de uma filosofia
de produção e consumo cuja mola propulsora é a obsolescência plane-
jada, inserida na própria concepção e projeto dos produtos. A lógica é
simples: encurtar a vida útil dos produtos para acelerar o ciclo “produ-
ção-consumo-descarte”.

Para isso, as empresas planejam um portfólio de lançamentos, provo-


cando de forma deliberada certo canibalismo dos seus próprios produ-
tos, com a consequente substituição por novos modelos. Se essa lógica
foi predominante sob o paradigma de produção em massa (fordismo)
e ainda se mantém sob o paradigma da produção enxuta (toyotismo), o
que dizer dos novos desafios dos modelos de produção e consumo sob
a lógica da sustentabilidade, a emergente filosofia da gestão e da produ-
ção e a mais séria das vantagens competitivas.

Eis um aspecto que acredito de fundamental importância para o futuro


da sociedade e que se origina de uma filosofia básica que norteia as
estratégias empresariais de grandes corporações, principalmente as do
setor de bens de consumo. Obsolescência planejada não é um termo
novo, muito menos uma realidade sem precedentes. Em 1990, passei

35
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Responsabilidade Social e Ambiental

um mês de pesquisas e estudos no Japão, ainda centro das atenções e


pujante berço de um “milagre” econômico cujo santo era a indústria ele-
troeletrônica. Berço também da Toyota, cuja planta fomos – uma equipe
de vários países- visitar, para conhecer de perto as inovadoras formas
de gestão lá implementadas: a base do paradigma de produção ágil,
enxuta e flexível.

Mas não foi necessário organizar uma visita técnica para conhecer uma
realidade talvez igualmente rica e para a qual a gestão e a produção
pouco costumam olhar: o lixo. No lixo japonês, já há mais de duas déca-
das, componentes microeletrônicos e computadores dividiam o espaço
com embalagens e outros materiais.

De lá para cá, porém, o Japão viria a se destacar como exemplo mun-


dial na gestão do lixo. Por intermédio da Japan International Cooperation
Agency (Jica), hoje o país lidera um programa internacional de várias fren-
tes, abrangendo o desenvolvimento institucional e a formação de pesso-
as, criando entre as diversas ilhas do Pacífico uma rede de cooperação
para a troca de experiências: casos como o de Shibushi, cidade localizada
em Kagoshima, no sul do Japão, cujo aterro, em 1998, recebia 14 mil to-
neladas de lixo e, nove anos depois, albergava pouco mais de 2 mil tone-
ladas, sendo as demais 8 mil recicladas, com uma redução de quase 4 mil
toneladas de lixo (reciclado e não reciclado) entre 1998 e 2007.

Em especial, a remanufatura de vários produtos – mecânicos e eletrôni-


cos, por exemplo – já pode ser considerada um campo de negócio rentá-
vel. Na realidade, são muitos os casos de empresas na Europa e América
do Norte que estão obtendo lucros significativos com a venda de produ-
tos e componentes remanufaturados, tais como telefones celulares e pe-
ças de automóveis, principalmente em mercados de países emergentes.

No Brasil, a Lei 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos, sinaliza para os novos nichos de negócios a serem explorados
na geração de soluções ambientais, como a logística reversa. A produ-
ção não é mais entendida como uma linha, mas como um ciclo, curva na
qual o produto que chega ao consumidor tem que voltar às empresas
para que lhe deem a destinação ambientalmente adequada. O lixo, afi-
nal, passa a ter valor. E a produção, da linha à curva, chega à rede: novas
empresas que podem especializar-se nesse setor e serem contratadas
pelas grandes para cooperarem nesse desafio.

Produtos e negócios para não durarem podem apressar-se. A sustenta-


bilidade veio para ficar.
Retirado de: https://vanzolini.org.br/weblog/2014/09/17/feitos-para-nao-durar-oportunidades-jo-
gadas-fora/

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Responsabilidade Social e Ambiental

2.3 Logística Reversa


De acordo com Demajorovic et al. (2012), a Logística Reversa (LR)
tem ganhado espaço cada vez maior no debate sobre gestão ambiental.
Trata-se da responsabilização das empresas em relação aos produtos
pós-consumo, assegurando que estes sejam recolhidos e encaminha-
dos para reaproveitamento ou destinação segura. Responsabilização
esta que vem das PNRS, que visa à gestão de seus resíduos. Porém, os
autores destacam que também existe um movimento voluntário de
empresas que adotam práticas de LR, ora estimuladas por suas polí-
ticas de responsabilidade socioambiental, ora por considerarem tam-
bém as vantagens competitivas geradas nesse processo.

A implantação da LR, no entanto, não é simples e traz consigo


muitos desafios, como:
• desenvolvimento de uma infraestrutura que possa assegurar o
recolhimento dos resíduos pós-consumo,
• identificação de alternativas para garantir o seu reaproveitamento
ou destino seguro, minimizando impactos socioambientais,
• complexa e custosa operacionalização,
• falta de coordenação dos diversos atores da cadeia produtiva
(clientes, intermediários ou consumidores finais).

Vídeo/Áudio
• Sabe o que acontece com o modem da Vivo que é coletado na
sua casa?
Assista ao vídeo e entenda melhor o processo de logística reversa da Vivo.
Acesse o vídeo no link: https://www.youtube.com/watch?v=7HewdciL9do

• Ambev Recicla é o programa que reúne todas as nossas iniciativas vol-


tadas ao descarte correto de resíduos e à reciclagem de embalagens
pós-consumo. Nesse vídeo você descobre como ele beneficia consumi-
dores, cooperativas, a sociedade e o meio-ambiente.
Acesse o vídeo no link: https://www.youtube.com/watch?v=wG5vPwphses

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2.4 Análise do Ciclo de Vida do Produto


De acordo com Coltro (2007), a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)
é uma ferramenta que permite avaliar o impacto ambiental potencial
associado a um produto ou atividade durante seu ciclo de vida. A
ACV também permite identificar quais estágios do ciclo de vida têm
contribuição mais significativa para o impacto ambiental do processo
ou produto estudado. Empregando a ACV, é possível avaliar a imple-
mentação de melhorias ou alternativas para produtos, processos ou
serviços. Os estudos de ACV tiveram início na década de 60, com a
crise do petróleo, que levou a sociedade a se questionar sobre o limite
da extração dos recursos naturais, especialmente de combustíveis fós-
seis e de recursos minerais.

Silva e Kulay (2006) apontam que a primeira atividade formal rela-


cionada à ACV, no Brasil, foi a criação, em 1994, do Grupo de Apoio
à Normalização (Gana) junto à Associação Brasileira de Normas Téc-
nicas (ABNT). Desse trabalho pioneiro, resultou a publicação, em
1998, do primeiro livro brasileiro sobre o tema. Os autores comple-
mentam apresentando que o primeiro estudo completo de ACV rea-
lizado no país, foi executado no Centro de Tecnologia de Embalagem
(Cetea) do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) em 1999 e ava-
liou diferentes materiais usados nas embalagens de alimentos.

Mas, de forma prática, para que serve uma ACV? As duas princi-
pais aplicações são:
• comparação do desempenho ambiental de produtos que cum-
prem uma mesma função e;
• identificação de oportunidades de melhoria de desempenho ambiental.

Essa análise auxilia a empresa no atendimento à PNRS e na elabo-


ração de estratégias de Logística Reversa, ao permitir um conhecimen-
to mais amplo de seus produtos desde a extração da matéria-prima até
o pós-consumo.

A análise do ciclo de vida também era, inicialmente, conhecida


como abordagem do berço ao túmulo (do inglês from cradel to grave)
mas, atualmente, a abordagem evoluiu para uma perspectiva do berço
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Responsabilidade Social e Ambiental

ao berço (cradle to cradel). Estes termos fazem uso da visão biológica


da vida na terra e representam o caminho dos produtos desde a ex-
tração da matéria-prima (berço) até o processo pós consumo, em que
os resíduos podem ser destinados muito além da disposição final (tú-
mulo), mas sim, servindo para a reciclagem, reuso e sendo utilizados
como insumos para novos materiais (berço novamente) (RIBEIRO;
GIANNETI; ALMEIDA, 2003).
Criada em 2002,
Um bom exemplo de ACV pode ser visto no caso da a Braskem é
uma empresa
Braskem que, desde 2005, utiliza a metodologia de ACV (Fi- do setor quími-
co e petroquí-
gura 2.4) para avaliar os aspectos relativos à sustentabilidade mico, focada
em sua cadeia de valor, em que as informações geradas pelos na produção
de resinas
estudos de ACV fornecem material para embasar as decisões polietileno (PE),
polipropileno
relativas ao negócio (BRASKEM, c2019). (PP) e policlo-
reto de vinila
(PVC), sendo a
maior produ-
Vídeo/Áudio tora de resinas
Por meio desse vídeo produzido pela Braskem, conhe- termoplásticas
ça a ferramenta que analisa os impactos ambientais nas Américas
(BRASKEM,
gerados pelos produtos ao longo de todo seu ciclo de vida c2019). Para sa-
Acesse o vídeo no link: https://www.youtube.com/watch?time_ ber mais acesse
continue=6&v=SkHE2clxv0U https://www.
braskem.com.
br/perfil

Figura 2.4: ACV da Braskem


Fonte: Braskem. Disponível em: https://www.braskem.com.br/avaliacao-de-ciclo-
de-vida
39
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Responsabilidade Social e Ambiental

2.5 ISO 14001


Avila e Paiva (2006) entendem o sistema de gestão ambiental como
uma estrutura padronizada, utilizada pelas empresas para, sistemati-
camente, gerenciar as atividades que afetam o meio ambiente natural
ao integrar os procedimentos e processos, envolvendo treinamento,
monitoramento e registros. Para que essas atividades aconteçam se faz
necessária a atuação de pessoas, instrumentos e ações com o propósito
de coletar e processar dados que possibilitem informações ambientais
para gerenciamento e tomada de decisão.

Como viemos debatendo ao longo do curso, é sabido que as de-


mandas de clientes e da sociedade relacionadas aos cuidados com o
meio ambiente têm feito com que as empresas direcionem esforços
para adequar seus processos no sentido de diminuir ou eliminar im-
pactos ambientais negativos. Práticas como as apresentadas no Qua-
dro 2.1 têm sido utilizados como ferramentas para contemplar tais
necessidades e a organização de todas essas ações têm tido como nome
“Sistema de Gestão Ambiental”, sendo que um dos meios atualmente
mais utilizados pelas organizações para obtenção e consecução de tal
sistema é a norma ISO 14001.

A ABNT NBR ISO 14001 é uma norma aceita internacionalmen-


te que define os requisitos para colocar um sistema da gestão ambien-
tal em vigor. Ela ajuda a melhorar o desempenho das empresas por
meio da utilização eficiente dos recursos e da redução da quantidade
de resíduos, ganhando assim vantagem competitiva e a confiança das
partes interessadas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2015).

A ISO 14001 tem sido difundida ao redor do mundo, desde a sua


introdução em 1996, fazendo com que as organizações, voluntariamen-
te, adotem e sigam seus requisitos. Esta adoção ocorre por meio de um
processo de certificação por organismos específicos credenciados.

A Norma ISO 14001 faz parte de um conjunto de normas volta-


das para sistemas de gestão ambiental chamado de Normas ISO Série
14000 sendo, neste conjunto de normas, a única na qual uma empresa
40
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Responsabilidade Social e Ambiental

pode obter certificação por organismos independentes (AVILA; PAI-


VA, 2006). A ISO 14001 provê um guia para os requisitos do sistema
de gestão tendo como base um modelo de melhoria contínua do tipo
planejar-executar-verificar-agir.

De acordo com Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)


(2015) existem inúmeros motivos para as empresas adotarem uma
abordagem estratégica a fim de melhorar o seu desempenho ambien-
tal e destacam que os usuários da norma relataram que a ABNT NBR
ISO 14001 ajuda a:
• Demonstrar conformidade com requisitos legais e regulamenta-
res atuais e futuros
• Aumentar o envolvimento da liderança e o comprometimento
dos funcionários
• Melhorar a reputação da empresa e a confiança das partes interes-
sadas mediante comunicação estratégica
• Alcançar os objetivos estratégicos de negócios através da incorpo-
ração de questões ambientais na gestão das empresas.
• Oferecer vantagem competitiva e financeira aumentando a efici-
ência e reduzindo custos
• Incentivar a melhoria do desempenho ambiental por parte de
fornecedores, integrando-os aos sistemas de negócios da empresa

2.6 Caso Votorantim: Transformando Riscos em Oportunidade


Assista ao vídeo “Apresentação de casos brasileiros: Votorantim”
que apresenta como a empresa Votorantim viu, nos riscos, oportuni-
dades por meio de um olhar diferente da sustentabilidade. O passo a
passo para sustentabilidade descrito pelo Gerente Geral Corporativo
de Sustentabilidade do Grupo Votorantim, David Canassa está repre-
sentado na Figura 2.5.

41
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Responsabilidade Social e Ambiental

Análise de riscos

Transformar risco em oportunidade

Criar uma área de pesquisa e inovação

Integração da parte estratégica e da parte sustentável

Traçar metas de sustentabilidade para todos

Reengenharia da fábrica

Criar indicadores (financeiros e não financeiros) para avaliar

Descentralizar a discussão do tema

Analisar os custos para transformá-los em oportunidade de ganho

Figura 2.5: Passo a passo para sustentabilidade seguido pela Votorantim


Fonte: elaborado pelo autor.

Vídeo/Áudio
A fala do Gerente Geral Corporativo de Sustentabilidade do Grupo
Votorantim, David Canassa, deu-se durante um evento realizado
pela Centro de Estudos em Competitividade Internacional da Fundação
Getúlio Vargas (FGV-CEI), juntamente com a Escola Politécnica da Univer-
sidade de São Paulo (Poli-USP), onde foram debatidos, dentre outros as-
suntos, iniciativas de empresas brasileiras que inseriram a sustentabilida-
de em suas estratégias de negócio.
Acesse o vídeo pelo link:
https://www.youtube.com/watch?v=xl8cAe53bb4&list=PLA-9yRoaATLxH-
GQrZJFL1kXKa8CMbpxwb&index=4

42
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Responsabilidade Social e Ambiental

Revisando...
Inicialmente, conhecemos o famoso tripé da sustentabilidade,
o qual entende como sendo de responsabilidade das empresas
as dimensões social, ambiental e econômica de sua atuação.
Mesmo sendo três as dimensões, destacou-se que a vertente
ambiental recebe mais atenção nos estudos e, com isso, foram
apresentados exemplos de como inseri-la na cadeia de valor.

Como as ações voltadas à sustentabilidade exigem sim um


apoio e uma pressão dos stakeholders, dentre eles o governo,
foram apresentadas ações públicas que têm auxiliado o desen-
volvimento sustentável, como a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, que traz consigo o conceito de Logística Reversa atra-
vés da responsabilização das empresas em relação aos produ-
tos pós-consumo. E, para que as empresas saibam agir no aten-
dimento dessas políticas, destacaram-se dois conceitos: análise
do ciclo de vida do produto, a qual permite avaliar o impacto
ambiental potencial associado a um produto ou atividade du-
rante seu ciclo de vida e a ISO 14001 que é uma norma aceita
internacionalmente que define os requisitos para colocar um
sistema da gestão ambiental em vigor.

Por fim, foi exposto o caso da Votorantim, onde foi possível en-
tender como transformar riscos advindos da gestão ambiental
em oportunidades, resumindo em alguns passos de como al-
cançar a sustentabilidade.

43
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Responsabilidade Social e Ambiental

44
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Responsabilidade Social e Ambiental

Seção 3 - Políticas Ambientais e Sociais nas Organizações

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer as especificidades da gestão sustentável no contex-
to das pequenas e médias empresas (PMEs)
• Apresentar o conceito de negócio de impacto social, bem
como o contexto em que ele está inserido e casos de sucesso.

Subseções de Estudo
3.1 Sustentabilidade em Pequenas e Médias Empresas (PMEs)
3.2 Negócios de Impacto Social

Caro(a) estudante
Agora que você já sabe da importância de inserir a sustentabilidade na
atuação das empresas eu te pergunto: como fazer isso? Nesta aula você
terá dicas de como alinhar as atividades das pequenas e médias empre-
sas com as práticas sustentáveis.
E, para fechar com chave de ouro, um modelo de fazer negócio atual,
mas ainda não muito difundido é apresentado: os negócios de impacto
social. Você verá que é possível ganhar dinheiro e mudar o mundo. Sim,
há desafios, mas também tem casos de sucesso para inspirá-lo. Quer
saber como? Aproveite o conteúdo que vem pela frente.
Boa aula.

3.1 Sustentabilidade em Pequenas e Médias Empresas (PMEs)


A determinação do porte das empresas brasileiras pode ser rea-
lizada utilizar como critérios o faturamento anual (ou receita bruta
anual) ou ainda número de pessoas ocupadas na empresa (SEBRAE,
2014). O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), por exemplo, utiliza como critério para classificar o porte
de uma empresa o faturamento anual. As faixas de valores considera-
dos pelo BNDES, que estão apresentados na Tabela 3.1, classificam
as empresas de microempresas até grande empresa. De forma aplica-
45
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Responsabilidade Social e Ambiental

das, essas faixas são utilizados para o enquadramento das condições


de suas linhas e programas de financiamento (BNDES, 2015, p. 6),
servindo tanto para indústria, como para comércio e serviços.
Tabela 3.1: Porte das empresas pela receita operacional bruta (faturamento)
anual de acordo com o BNDES

PORTE RECEITA ANUAL BRUTA ANUAL


Microempresa Até R$ 2,4 milhões
Pequena empresa Acima de R$ 2,4 milhões até R$ 16 milhões
Média empresa Acima de R$ 16 milhões até R$ 90 milhões
Empresa média-grande Acima de R$ 90 milhões até R$ 300 milhões
Grande empresa Acima de R$ 300 milhões
Fonte: BNDES (2015, p. 6)

Por outro lado, instituições como o Sebrae preferem a classificação


tendo como critério o número de pessoal ocupado, pelo fato de que
esses dados são divulgados por órgãos como IBGE e pelo Ministério
do Trabalho. A Tabela 3.2 apresenta a determinação do porte das em-
presas de acordo com o número de pessoas ocupadas.
Tabela 3.2: Porte das empresas pelo número de pessoas ocupadas de acordo com o IBGE

PORTE INDÚSTRIA COMÉRCIO E SERVIÇOS


Microempresa Até 19 pessoas ocupadas Até nove pessoas ocupadas
Pequena empresa De 20 a 99 pessoas ocupadas De 10 a 19 pessoas ocupadas
Média empresa De 100 a 499 pessoas ocupadas De 50 a 99 pessoas ocupadas
Grande empresa 500 pessoas ocupadas ou mais 100 pessoas ocupadas ou mais
Fonte: IBGE (2015).

Após entendermos o que é uma PME, é importante saber da di-


mensão que essas empresas têm no mundo. Cerca de 95% das empre-
sas ao redor do mundo são pequenas e médias, dado que destaca as
PMEs como direcionadoras do desenvolvimento econômico de paí-
ses desenvolvidos e em desenvolvimento (KACHLAMI; YAZDAN-
FAR, 2016). Segundo as estatísticas do Cadastro Central de Empresas
(CEMPRE) de 2013, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE), as pequenas e médias empresas represen-
tam 11,7% do total de empresas do Brasil (IBGE, 2015).

3.1.1 Qual a Dificuldade das PMEs?


Nas grandes empresas, existe um fator que facilitas as ações de res-
ponsabilidade socioambiental, que é a disponibilidade de recursos hu-

46
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS
Responsabilidade Social e Ambiental

manos e financeiros, no entanto, para a realidade das PMEs, existe uma


limitação desses recursos, significando que atuar com sustentabilidade
pode ser um alto custo financeiro e de tempo (UPSTILL-GODDARD
et al., 2016). Outro elemento que dificulta a ação das PMEs é a falsa
sensação de invisibilidade que elas possuem onde a falta de uma atuação
responsável não daria a elas problemas reputacionais. Digo falsa, pois
cabe destacar que, como as PMEs constituem mais de 90% de todas as
empresas em âmbito mundial, seus impactos socioambientais coletivos
estão cada vez mais sendo reconhecidos (BACK, 2015).

Como pode ser visto, dentre as barreiras para implementação da


mudança comportamental em PMEs, destacam-se alguns itens, deste
a falta de compreensão do seu impacto ambiental até à falta de tempo
e recursos. O Quadro 3.1 traz as barreiras de acordo com as caracterís-
ticas das PMEs e suas implicações correspondentes.
Quadro 3.1: Barreiras à implementação de mudanças ambientais e sociais nas PMEs

CARACTERÍSTICAS BARREIRAS PARA ACEITAÇÃO IMPLICAÇÕES


DAS PMES
Questões • Falta de entendimento da • Não vista como essencial
ambientais não legislação ambiental para sobrevivência da
vistas como • Suposição de pouco empresa
significante benefício na redução de • Redução de custo não
custo realizada
• Gestão de risco não • Aberto a litígios
considerada
Tamanho do • Pequeno número de • Difícil para identificar
negócio funcionários com pouca ou questões e soluções
nenhuma expertise • Perda de expertise
• Falta de recursos/tempo • Quantidade de
• Relação de trabalho próxima funcionários insuficiente
com proprietário ou gestor para se dedicar a gestões
ambientais ou sociais
• Dificuldade de manter
anonimato se questões
surgem
Diversidade de • Impactos e aspectos de • Dificuldade para
PMEs negócios são muito diversos providenciar ferramentas
adequadas e apropriadas
Restrições • Acumulação de • Soluções genéricas
financeiras conhecimento é muito cara implementadas a baixo
custo
Falta de sistemas • Considerado desnecessário • Falta de posicionamento
de gestão estratégico sem visão de
longo prazo
Fonte: Condon (2004, p. 59).

47
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Responsabilidade Social e Ambiental

É uma iniciativa
do Sebrae que,
perseguindo o
conceito de de- 3.1.2 Como Colocar a Sustentabilidade em Prática
senvolvimento
sustentável, é
nas PMEs?
referência para Após entender o que são as PMEs e as dificuldades que
empresários,
estudantes, ins- elas podem enfrentar para ter um comportamento susten-
tituições públi-
cas e privadas e
tável, o mais importante é saber como colocar a sustentabi-
governos e toda lidade em prática dentro dessas empresas e assim ajudar as
comunidade
para o estudo pessoas, o meio ambiente e ainda obter maior lucro. Para
sobre arquitetu-
ra sustentável,
tanto, esta seção foi preparada utilizando os materiais do
energias reno- Centro SEBRAE de Sustentabilidade (CSS), baseando-se
váveis e outras
práticas que em cartilhas, infográficos e vídeos.
geram econo-
mia e o bem-es-
tar do planeta. De forma específica, este tópico apresenta as 12 Dimen-
Para saber
mais sobre o sões da Sustentabilidade nos Pequenos Negócios desenvolvi-
CSS e conhecer
seus materiais,
dos pelo Centro Sebrae de Sustentabilidade, mostrando ati-
acesse http:// tudes e ações que podem ser colocadas em prática em cada
sustentabilida-
de.sebrae.com. área da empresa na busca pela sustentabilidade nas PMEs. A
br/sites/Susten-
tabilidade
Figura 3.1 apresenta essas 12 dimensões.

Figura 3.1: 12 Dimensões da Sustentabilidade nos Pequenos Negócios


Fonte: Centro Sebrae de Sustentabilidade (2016)

Essas são dimensões-chaves que, juntas, conduzirão o seu negócio


a uma postura socialmente responsável, ecoeficiente e muito mais
rentável. Na sequência, são apresentadas, de forma resumidas, as 12
dimensões da Sustentabilidade nos Pequenos Negócios.

48
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Responsabilidade Social e Ambiental

Fique de Olho

12 DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE NOS PEQUENOS NEGÓCIOS

1. Sustentabilidade no Planejamento Estratégico


Planejar é a base de todo negócio. É preciso traçar um direcionamen-
to, um caminho a ser percorrido, definindo posicionamento, mercado,
clientes e operações da empresa.

2. Liderança para a Sustentabilidade


Qual o papel do líder nos resultados da empresa? Quando o assunto é
sustentabilidade, ele ocupa uma posição ainda mais estratégica.

3. Sustentabilidade na Gestão Financeira


Para que um negócio cresça e se desenvolva, ele deve ser economica-
mente viável. Mas você sabia que essa também é uma das dimensões
da sustentabilidade empresarial?

4. Gestão da Qualidade
Gestão da Qualidade é uma estratégia das empresas que foca a qualida-
de máxima em todos os processos, produção e serviços. Ela passa por
todas as etapas do negócio, desde a administração, escolha da matéria
-prima, seleção de colaboradores qualificados, até métodos de produ-
ção com o mínimo desperdício.

5. Compras Sustentáveis
O compromisso com a sustentabilidade requer um olhar além da pró-
pria empresa. O caminho percorrido pelo produto ou serviço da sua
empresa, desde a etapa da matéria-prima até a concepção final, atende
aos princípios das boas práticas empresariais?

6. Sustentabilidade no Encadeamento Produtivo


O encadeamento produtivo é a participação dos pequenos negócios em
cadeias de produção das grandes empresas, gerando mais oportunida-
des para ambos. Para isso, muitas vezes é preciso adequar rotinas e
processos a requisitos de sustentabilidade.

7. Gestão de Pessoas
Você, com certeza, já ouviu falar da área de Recursos Humanos, certo?
Hoje, no entanto, quando falamos no papel das pessoas em uma em-
presa, falamos em Gestão de pessoas. O funcionário passou a ser reco-
nhecido como colaborador, parceiro para que a sua empresa alcance os
resultados pretendidos e uma dimensão estratégica da sustentabilidade.

8. Desenvolvimento Social
Os pequenos negócios possuem vínculos ainda mais fortes com as co-
munidades em que atuam, são mais próximos e, portanto, tem grandes
possibilidades de serem agentes de mudanças. Sua empresa pode me-

49
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Responsabilidade Social e Ambiental

lhorar a qualidade de vida da comunidade onde atua ao mesmo tempo


em que cresce lucrativa.

9. Gestão Ambiental
Todas as atividades humanas impactam no meio ambiente. A gestão
ambiental busca minimizar impactos no meio em que operam e desen-
volver atividades lucrativas, com alto valor social e utilizando de manei-
ra racional os recursos naturais, como água, energia e resíduos. Muitas
empresas descobrem novas oportunidades quando analisam seu pro-
cesso produtivo, ampliando lucros e reduzindo a pegada ambiental.

A água é recurso essencial para a vida, para o desenvolvimento social e


também econômico, de interesse de todos os cidadãos, empresas e ges-
tores públicos. Embora ela seja um recurso extremamente importante,
é também o que enfrenta maior escassez.

A energia é indispensável para as atividades do seu negócio. Mas como


utilizá-la de maneira eficiente, reduzindo impactos ambientais e a conta
no final do mês?

Com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, a correta destinação dos


resíduos (até então chamado de lixo) tornou-se lei, e o gerenciamento
passa a ser uma necessidade e uma solução. A palavra de ordem é RE-
DUZIR. E como a sua empresa deve proceder diante desse cenário?

10. Legislação, Normas e Certificações


Você conhece as leis e normas que regem o seu setor? Cumprir a legis-
lação é dever de toda empresa e estar em dia com elas é evitar multas e
imagens negativas no mercado. As certificações, por sua vez, são garan-
tias que podem ser utilizadas como vantagem para o seu cliente.

11. Mercado e Consumo Consciente


Todos os dias, milhares de novidades são lançadas no mercado. Ao mes-
mo tempo em que os consumidores são impulsionados ao consumo, um
novo tipo de cliente mais exigente começa a ganhar espaço. Embora a
escolha de produtos e serviços seja tarefa do consumidor, a sua empresa
também tem responsabilidade de estimular atitudes mais conscientes.

12. Marketing e Comunicação


A trilha para uma empresa mais sustentável também inclui comunicar
suas atitudes aos consumidores. Seu cliente conhece seus princípios e
suas práticas? Você tem incentivado a adoção dessas posturas?

13. Políticas Públicas


A sustentabilidade do país passa, necessariamente, pelo desenvolvi-
mento das economias locais. Cidades, bairros e comunidades podem
ter incentivos aos pequenos negócios, favorecendo quem possui práti-
cas mais sustentáveis.
Retirado de: http://sustentabilidade.sebrae.com.br/sites/Sustentabilidade/Para–sua–Empre-
sa/Publicacoes/Infograficos

50
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Responsabilidade Social e Ambiental

Saiba Mais
Assista aos vídeos dessa playlist preparada pelo Centro Sebrae
Sustentabilidade sobre as Dimensões da Sustentabilidade e
entenda mais sobre as práticas sustentáveis e rentáveis para os peque-
nos negócios.
Acesso os vídeo da playlist em https://www.youtube.com/playlist?lis-
t=PLyHgTEbwiDqos4H9oXs5LHSSzIXoL2ETT

Leitura Complementar
Leia o artigo “Pequenas que vão longe” de Paulo Durval Bran-
co, publicado em 2017 na Revista GV-Executivo na série SUSTEN-
TABILIDADE.
Acesse o texto por meio do link
https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/gv_0000ce9.pdf

3.1.3 Empreendedorismo Sustentável


Empreender vai muito além de abrir seu próprio negócio. Empre-
endedorismo é a habilidade de identificar oportunidades e assumir os
riscos de colocá-la em prática, executá-la ou ainda implantá-la. Den-
tre as características de um empreendedor de sucesso estão: iniciativa,
perseverança, coragem para correr riscos, capacidade de planejamen-
to, eficiência e qualidade, rede de contatos e liderança (PILLEGGI,
2014). Observa-se que existe um perfil empreendedor, onde este tem
papel essencial na sociedade, pois é o responsável por idealizar e dar
vida às inovações.

Para Refletir...
“Algumas poucas empresas têm começado a tratar a sustenta-
bilidade como uma oportunidade de negócios, abrindo caminho
para a diminuição de custos e riscos, ou até mesmo elevando seus ren-
dimentos e sua participação de mercado por meio da inovação.”
Retirado de: Hart e Milstein (2004, p. 66).

Quando se trata de empreendedorismo sustentável, tem-se um mo-


vimento de inquietude que vai além da criação de um novo negócio e a
paixão do empreendedor por aquela ideia. O empreendedor sustentável

51
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Responsabilidade Social e Ambiental
é alguém que considera os aspectos ambientais, econômicos e sociais em
seu core business, que entrega soluções inovadoras para o modo como bens
e serviços são consumidos e que propõe formatos de negócios que contri-
buam para a sustentabilidade da economia (EBERT, 2017).

O objetivo desse empreendedor vai além do lucro, mas sim, consi-


dera a maximização do valor ambiental criado por meio de suas ideias,
baseando-se em modelos de empreendimentos viáveis e efetivos.

Fique de Olho

6 TENDÊNCIAS DE SUSTENTABILIDADE PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

1. Empreendedorismo com propósito - Desenvolver seu próprio ne-


gócio tem se tornado não só uma alternativa para a realização de um
propósito pessoal ou a solução de preocupações relacionadas a desa-
fios socioambientais, mas também uma saída para profissionais que,
desestimulados pelas burocracias do mundo corporativo, optam por
criar suas empresas e conduzi-las de acordo com seus valores e crenças.

2. Diversidade como vantagem competitiva - As chamadas “minorias”,


que por muito tempo não foram percebidas como público consumidor
em potencial, começam a ver seus interesses contemplados em linhas
de produtos e serviços das grandes empresas, mas, principalmente, elas
mesmas vêm buscando satisfazer suas necessidades e demandas, ao
apostar no empreendedorismo como forma de expressão na sociedade
e também como fonte de geração de renda com maior possibilidade de
crescimento, uma vez que negros, mulheres, pessoas com deficiência
(PCDs), lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros
(LGBT) e outros grupos ainda enfrentam sérias restrições para ingressar
– e se desenvolver – no mercado.

3. Inovação e tecnologia em favor de negócios mais sustentáveis -


Diante da iminente escassez de recursos apontada por cientistas e pes-
quisadores internacionais, principalmente em razão das alterações no
clima, a inovação torna-se peça-chave para o desenvolvimento de pro-
dutos, serviços e tecnologias digitais menos impactantes ao meio am-
biente e à sociedade. Trata-se de um desafio complexo para as grandes
empresas, em razão do ritmo com que costumam responder a mudan-
ças, e de um campo amplo de possibilidades de novos negócios para
empreendedores, por sua agilidade e capacidade criativa.

4. Economia colaborativa como fonte de crescimento - Em um mun-


do cada vez mais conectado, com pessoas mais informadas, atentas ao
que ocorre no seu bairro e no planeta, cheias de vontade de criar novas
soluções e contribuir com a sociedade, as empresas precisam se rein-
ventar para corresponder às demandas desse novo cenário. Quando

52
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Responsabilidade Social e Ambiental

tudo está interligado, a colaboração se torna a chave para elevar negó-


cios a patamares de sucesso.

5. Economia circular como oportunidade de negócio - O planeta co-


meça a mostrar sinais de que não suportará por muitos anos o modelo
tradicional de produção do sistema capitalista. A sociedade compra e
descarta produtos em uma velocidade desenfreada e o meio ambiente
vem cobrando seu preço. É o momento de repensar modelos lineares e
adotar uma lógica mais responsável, ligada à economia circular.

6. Cidades sustentáveis, ambientes para o empreendedorismo - O de-


safio de solucionar questões socioambientais para tornar os espaços urba-
nos mais sustentáveis, como a manutenção da qualidade do ar e a garantia
dos direitos dos cidadãos, envolve não só governos e a sociedade civil, mas
também as empresas – especialmente pequenos negócios –, que podem
oferecer produtos e serviços específicos para a realidade local.
Retirado de: Centro Sebrae de Sustentabilidade (2018a, p. 4–6)

Leitura Complementar
Leia o artigo “Empreendedorismo Sustentável” de Marcelo
Ebert, publicado em 2017 na Revista GV-Executivo na série SUS-
TENTABILIDADE.
Acesse o texto por meio do link
https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/gv_v16n5_ce6.pdf

Guarde Bem Isto


Mas o que é um empreendedor sustentável?
É aquela pessoa que considera os aspectos ambientais, eco-
nômicos e sociais em seu core business, que entrega soluções ino-
vadoras para o modo como bens e serviços são consumidos e que
propõe formatos de negócios que contribuam para a sustentabili-
dade da economia.
Retirado de: Ebert (2017).

3.2 Negócios de Impacto Social

3.2.1 Trajetória dos Conceitos


Observa que a visão de ajuda ao próximo sempre existiu em âmbi-
to empresarial, tendo início nas características advindas da Caridade.
A Figura 3.2 mostra a trajetória do conceito de Investimento social

53
Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância - Cread
Responsabilidade Social e Ambiental

que se inicia com o entendimento de caridade. Contudo, havia um


distanciamento entre o montante doado e a proposta de valor da em-
presa, onde não era possível fazer uma ligação entre a atividade de
voluntariado para pintar uma escola e a venda de cosméticos que a
empresa tinha como atividade fim, por exemplo.

Caridade Filantropia Investimento


Organizada Social
Altruísmo
individual Fundações Foco em resultados
independentes
Paternalista Mobiliza recursos
Busca emancipação de maneira ampla
Doações em
dinheiro, Grants, voluntariado Sinergia com
voluntariado organizado negócio

Boas intenções, Insuficiente, Inserção na


mas... distante comunidade

Figura 3.2: Trajetória dos conceitos


Fonte: Cento de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor.
Disponível em: http://ceats.org.br/Paginas/Home.aspx

É neste contexto que começam a ser consideradas atividades mais


efetivas e que tivessem relação direta com a comunidade na qual a
empresa está inserida. A possibilidade de sinergia com o negócio é tão
grande que novos conceitos surgem, como veremos a seguir.

3.2.2 Negócios de Impacto Social: “entre ganhar dinheiro e


mudar o mundo, fique com os dois”
Quando os problemas socioambientais não possuem um claro re-
torno financeiro, estes são entendidos como de responsabilidade do
governo. Porém, o poder público não possui braço suficiente para sa-
nar todos os problemas de maneira eficaz e eficiente. Neste momento
é lembrado o papel das Organizações não governamentais (ONGs), as
quais sobrevivem de doações e voluntariado, os quais são flutuantes de
acordo com o cenário econômico do país.

Quando se coloca em discussão as ações sociais e ambientais de


uma empresa, há um distanciamento entre os benefícios socioambien-
tais e o retorno financeiro. Contudo, esses assuntos não precisam ser
54
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Responsabilidade Social e Ambiental

entendidos como incompatíveis e é neste sentido que surgem os cha-


mados negócios de impacto social.

De acordo com Fischer (2014)


Os negócios socioambientais são empreendimentos que se caracterizam por
seus propósitos sociais e/ou ambientais, com os quais buscam influenciar
transformações econômicas e sociais. Geralmente são iniciativas inovadoras,
seja por proporem uma solução original para o problema social ou ambiental
que pretendem mitigar, seja por também adotarem novos modelos organiza-
cionais e de gestão e empregarem formas criativas de captação de investimen-
tos e de arranjos societários. Embora tenham o objetivo de gerar impacto so-
cioambiental, estes negócios obedecem à lógica de mercado. Principalmente
no que concerne a autonomia financeira e rentabilidade.

Observa-se que estes negócios objetivam sim o lucro, mas não ape-
nas este. São empresas e empresários que entendem como tendo um
mesmo nível de importância o impacto socioambiental gerado com o
retorno financeiro obtido.

Os negócios sociais aproximam-se de negócios tradicionais em as-


pectos como produtos, serviços, clientes, mercados, custos e receitas,
porém difere no seu propósito principal que é servir à sociedade e
melhorar as condições de vida de populações de baixa renda. Tam-
bém se distingue de organizações não governamentais por buscar a
autossustentação de suas operações por meio da venda de produtos e
serviços ao invés de doações ou outras formas de captação de recursos
(YUNUS; MOINGEON; LEHMANN-ORTEGA, 2010 apud RO-
SELEN; TISCOSKI; COMINI, 2015).

Vários são os autores que caracterizam este modelo de A Artemisia


é uma orga-
negócio. Dentre eles, destacam-se os pontos elencados pela nização sem
fins lucrativos,
Artemisia (2015) a qual entende que esses modelos de negó- pioneira na
cio possuem as seguintes características principais: disseminação e
no fomento de
a) foco na baixa renda: são desenhados de acordo com as negócios de im-
pacto social no
necessidades e características da população de baixa renda; Brasil (ARTEMI-
b) intencionalidade: possuem missão explícita de causar SIA, 2019). Para
saber mais,
impacto social e são geridos por empreendedores éticos e res- acesse https://
artemisia.org.br
ponsáveis;
c) potencial de escala: podem ampliar seu alcance por
meio da expansão do próprio negócio; de sua replicação em

55
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Responsabilidade Social e Ambiental

outras regiões por outros atores; ou pela disseminação de elementos


inerentes ao negócio por outros empreendedores, organizações e polí-
ticas públicas;
d) rentabilidade: possuem um modelo robusto que garante a renta-
bilidade e não depende de doações ou subsídios;
e) impacto social relacionado à atividade principal: o produto ou
serviço oferecido diretamente gera impacto social, ou seja, não se trata
de um projeto ou iniciativa separada do negócio, e sim de sua ativida-
de principal;
f ) distribuição ou não de dividendos: um negócio pode ou não
distribuir dividendos a acionistas, não sendo, porém, esse, um critério
para definir negócios de impacto social.

Ao analisar as características propostas, é possível entender os ne-


gócios de impacto social como organizações híbridas, que faz uso de
aspectos do mercado tradicional juntamente com fins de organizações
não governamentais, na busca por fazer a diferencia local e globalmen-
te por meio da geração de renda.

3.2.3 Como Ter um Negócio de Impacto?


A revista Pequenas Empresas Grandes Negócios listou, em 2016, 5
dicas para criar um negócio de impacto (LIRA, 2016), são elas:

1. Apaixone-se pelo problema: você deve conhecer profunda-


mente seu problema antes de propor uma solução. Quem tem um
negócio de impacto social deve focar em melhorar a vida das pessoas e
não em fazer sucesso com um produto. “Estude. Entenda o problema
e apaixone-se por ele”. Nos momentos difíceis será esta paixão que
fará com que você não perca o foco.

2. Encarne o público-alvo: também é importante entender bem


as pessoas que se beneficiarão com sua solução. Elabore um mapa de
empatia, que elenca os sentimentos, dores, ações e objetivos de quem
será atingido por seu trabalho, e crie personas, um personagem que
seja um retrato do seu público-alvo e que ajuda o empreendedor a ver
o que se passa na cabeça de outras pessoas.

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3. Crie um modelo de negócio viável: não se deve esquecer que


um negócio de impacto social continua sendo um empreendimento.
Portanto, a empresa deve se sustentar sozinha. Não há problema em
contar com ajudas externas como o crowdfunding, por exemplo. “É
importante pensar em modelos de negócios com fontes de receitas
mais amplas. O que importa é que a receita seja recorrente”.

Glossário
O crowdfunding é um modelo de financiamento coletivo e segue
a dinâmica da vaquinha, ao partir do princípio de que pessoas
colaboram e, juntas, realizam o que antes não poderiam fazer sozinhas
(SEBRAE NACIONAL, 2018).

4. Valide suas hipóteses: a empatia é importante para que o em-


preendedor se coloque no lugar do seu público-alvo. Mas esse exer-
cício de empatia formula apenas hipóteses do comportamento e da
preferência de quem desfrutará de sua solução. O próximo passo é
validá-las.
Para isso, converse com seu público. Vá para a rua. “Não fique
planejando tudo de dentro do escritório. Construa uma solução junto
com seus usuários e não para eles. Esta é a melhor forma de validar
seu projeto”.

5. Não tenha medo de errar e mudar: na validação do negócio,


você perceberá que o exercício de empatia é eficaz, mas que pode ha-
ver erros. Nessa hora, não tenha medo de mudar seu projeto e criar
algo diferente. Lembre-se: o objetivo de um negócio de impacto so-
cial é solucionar um problema e não desenvolver uma solução. Aliás,
mesmo após lançar seu protótipo, correções poderão ser feitas e isso é
normal. “A fase inicial de uma startup é puro aprendizado. Não tenha
medo de mudar e tente outros caminhos”.

3.2.4 Casos de Sucesso


São vários os exemplos de negócios de impacto social que tem au-
xiliado o país a ser um lugar melhor. Dentre as diferentes áreas de
atuação de um negócio, é o setor da educação que se destaca, tendo

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mais iniciativas. Indo da Língua Portuguesa, com a Redação Online,


ao ensino de Inglês com a 4you2, do ensino infantil com o Kidint aos
jovens Geekie, a educação se mostra como um ramo sempre crescente
e em busca de formas de auxiliar o ensino e a aprendizagem.

Dentro desse setor, temos a 4you2, fundada por Gustavo Fuga (Fi-
gura 3.3). Esse caso será apresentado por meio de trecho retirado do
material do Centro Sebrae de Sustentabilidade (2018b) na seção “Fi-
que de Olho”.

Figura 3.3: Gustavo Fuga, fundador da 4you2


Fonte: Centro Sebrae de Sustentabilidade. Disponível em http://sustentabilidade.sebrae.com.br/
sites/Sustentabilidade/Para%E2%80%93sua%E2%80%93Empresa/Casos%E2%80%93de%E2%80%-
93sucesso/4Y2

Fique de Olho
Gustavo Fuga criou a startup 4you2 para atender as classes C,
D e E com o objetivo de democratizar o ensino do idioma no
Brasil, a partir de linha pedagógica inovadora, professores estrangeiros
e aplicativo.

Criar um curso de inglês com mensalidade de R$ 59, baseado em me-


todologia inovadora adaptada aos alunos das classes sociais C, D e E,
com aulas presenciais ministradas por professores estrangeiros, que
chegam como intercambistas ao país, e aplicativo para exercícios no lu-
gar de livros. Essa foi a solução que o economista Gustavo Fuga criou,
em 2012, e se tornou um negócio de impacto social de sucesso, quando
era calouro do curso de Economia na Universidade de São Paulo (USP).

A fórmula resolveu seu problema e de muitos brasileiros, sem acesso


ao ensino da língua inglesa de qualidade. O nome da escola inovadora

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criada por ele é 4YOU2, que corresponde à expressão falada em inglês


‘para você também’.

“Nossa maneira de ensinar vai muito além da gramática: acreditamos


que a troca que ocorre em sala de aula é fundamental para que o apren-
dizado do inglês ocorra de maneira dinâmica e divertida. Por isso, atra-
vés da nossa metodologia adaptativa e nossos professores estrangeiros,
conseguimos entregar uma maneira inovadora de ensino e que caiba no
seu bolso”, diz o banner do site www.4y2.org.
Retirado de: http://sustentabilidade.sebrae.com.br/sites/Sustentabilidade/Para%E2%80%93su-
a%E2%80%93Empresa/Casos%E2%80%93de%E2%80%93sucesso/4Y2

Outro caso de grande destaque em âmbito nacional é o do Pro-


grama Vivenda (Figura 3.4). O caso publicado por Meisler (2018) foi
inserido na seção “Fique de Olho”.

Figura 3.4: Fernando Assad, fundador da Vivenda


Fonte: Meisler. Disponível em http://revista.usereserva.com/2018/03/12/fernando-assad-programa-
vivenda/

Vídeo/Áudio
Conheça também sobre o negócio de Fernando Assad, a Viven-
da, assistindo a este vídeo no canal da Artemisia.
Acesso o vídeo em https://www.youtube.com/watch?v=odH2C_g_nMY

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Responsabilidade Social e Ambiental

Fique de Olho
O administrador Fernando Assad é um homem que se importa
com a beleza interior. Para ele, mais vale um banheiro bem azu-
lejado do que uma fachada bonitinha. E foi pensando nessas prioridades
que Fernando fundou, em 2013, o Programa Vivenda, uma empresa
social que busca melhorar a saúde e a qualidade de vida da população
de baixa renda através da realização de reformas habitacionais.

O negócio não poderia funcionar de maneira mais simples. O cliente vai a


uma das lojas do Programa – hoje são duas, uma no Jardim Ibirapuera, na
zona sul de São Paulo, e outra em São Miguel Paulista, na zona leste –, es-
colhe um dos quatro kits de reforma, que contemplam banheiro, cozinha,
área de serviço ou sala e quarto, e o modelo de financiamento da obra,
que pode ser parcelada em até 30 vezes a juros bem abaixo do mercado.

As entregas são feitas de maneira rápida, em até quinze dias, sob a su-
pervisão de um arquiteto e com preço fixado previamente. “A reforma na
Vivenda é planejada, o preço é fechado e nós assumimos todos os riscos,
supervisionando todas as etapas do processo”, diz Fernando. “Se eu te
digo que a obra vai custar R$ 3 mil, é isso que você vai pagar. Se ela acaba
custando R$ 5 mil, vou continuar te cobrando aqueles R$ 3 mil. A ideia é
que a pessoa não tenha dor de cabeça para reformar”. As obras geral-
mente são pequenas, como a impermeabilização de um banheiro, a apli-
cação de pisos na cozinha ou a abertura de janelas na sala, por exemplo.

A simplicidade das reformas, contudo, é inversamente proporcional ao


impacto social que provocam nas famílias que contratam os serviços da
Vivenda, garante Fernando. “Existem as coisas óbvias, como autoestima,
bem-estar, praticidade. Mas, às vezes, o impacto vem de coisas que não
prevíamos”, conta o empreendedor. “Uma das primeiras obras que fize-
mos foi em uma cozinha. Pela primeira vez aquela família pôde colocar
uma mesa lá. Aquela mesa significava relação familiar, pois eles pude-
ram fazer refeições em família. Significava educação, porque o filho não
precisava mais estudar na cama”.

“A casa é a fatia de baixo do bolo”, explica Fernando. “O que nossos an-


cestrais precisavam para sobreviver? Abrigo. É a necessidade mais bási-
ca. Morar bem é a fundação para podermos pensar em desenvolvimen-
to. Claro que educação e saúde, por exemplo, são coisas fundamentais.
Mas se você não morar bem todo o resto vai ser impactado negativa-
mente. A habitação é uma cola muito importante”.

Desde 2013, o Programa Vivenda já realizou mais de 700 reformas, im-


pactando cerca de 2500 pessoas. No ano passado, o faturamento da

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empresa foi da ordem de 1,5 milhão. “Nossa proposta é ser um business.


As pessoas não querem as coisas de graça, elas têm orgulho de falar
que conseguiram reformar a própria casa e isso é bonito”, explica. “Cla-
ro que existem famílias que realmente não possuem condições. Para
essas, conseguimos fazer doações com o lucro das outras obras”.

Parece óbvio oferecer planejamento, materiais, mão de obra e crédito


para moradores de favelas e bairros pobres, mas o mercado não estava
olhando para essas oportunidades. “Não havia nenhuma empresa fa-
zendo reformas estruturadas nesses lugares. Era o mundo da informali-
dade”, explica Fernando, que teve a ideia para o negócio após participar
de um projeto de urbanização realizado pela Companhia de Desenvol-
vimento Habitacional e Urbano (CDHU) em uma favela na zona leste de
São Paulo, em 2009.

“Asfaltavam as ruas, faziam obras de saneamento e construíam praças”,


lembra o administrador. “Mas eu entrava na casa das pessoas e pensa-
va: por que elas continuam tão ruins? O governo estava colocando cami-
nhões de dinheiro ali, mas as pessoas continuavam vivendo do mesmo
jeito. Você percebe que é uma pergunta de uma pessoa ignorante, que
não fazia ideia de como funcionava um programa de urbanização”. Mas
foi a partir desse questionamento que o Vivenda começou a tomar for-
ma, quatro anos depois, após a realização de muita pesquisa e de ser
até mesmo tema da dissertação de mestrado de Fernando na FEA-USP.
Tudo isso buscando responder a pergunta que ele se fazia. Por que as
casas continuavam ruins? “Não tive insight nenhum na verdade. Acho
que fui beneficiado pela minha ignorância”, diz Fernando.
Retirado de: http://revista.usereserva.com/2018/03/12/fernando-assad-programa-vivenda/

3.2.5 Ecossistema e Desafios


De acordo com Battilana et al. (2012)
As organizações híbridas exigirão inovações no estatuto jurídico, na forma-
ção profissional e no financiamento de capital, de modo que não precisem
fazer constantes trade-offs entre objetivos sociais e econômicos. Uma etapa
crítica será o desenvolvimento de sistemas de medição e de relatórios que
reconheçam o valor social e financeiro. O desenvolvimento deste ecossis-
tema não será obra de qualquer indivíduo ou organização heróica; em vez
disso, exigirá a criação de novos sistemas por funcionários eleitos, decisores
políticos, investidores de impacto social, educadores e consumidores que
levantem uma geração de organizações híbridas e seus gerentes.

Considerando alguns exemplos de negócios sociais, seus interme-


diários e organizações responsáveis pelas finanças sociais, pode-se fazer
um mapeamento das organizações que compõem o ecossistema de
negócios de impacto social no Brasil e no Mundo (Figura 3.5).

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Figura 3.5: Ecossistema dos negócios de impacto


Fonte: Comini (2016)

Ao se tratar de Negócio de Impacto Social, os empreendedores


enfrentam todos os desafios que qualquer empreendedor enfrenta, só
que de forma triplicada. O fato de se propor a resolver problemas
complexos obriga a sair da zona de conforto e ir onde o problema está
e, muito provavelmente, ele não estará na parte nobre da cidade.

Ter um negócio de impacto social leva o empreendedor à periferia,


tira o sono e faz pensar se de fato vale a pena ganhar tão menos que o
oferecido no mercado tradicional para pessoas com nível elevado de
formação. Sim, os empreendedores sociais são pessoas altamente qua-
lificadas, vindo de universidades renomadas, com grandes chances e,
muitas vezes, renunciando às oportunidades já alcançadas para fazer a
diferença no mundo.

Dentre os principais desafios está a dificuldade de encontrar inves-


timento, pois, para os empréstimos tradicionais, é feita uma análise de
risco e potencial de ganho com base nos cenários previamente estabe-
lecidos. Mas como fazer com que uma instituição financeira empreste
dinheiro quando o negócio é reformar casas na periferia a baixo custo
e parcelado, como fez a Vivenda?
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Existem programas específicos que visam a potencializar empre-


endedores que querem gerar mudanças positivas em nossa sociedade,
dentre eles existe a Aceleradora Estação Hack que é um programa
desenvolvido pelo Facebook e Artemisia. Na análise dessas empresas
são considerados, dentre outros, o potencial de mercado e o impacto
social, bem como a qual (is) Objetivos do Desenvolvimento Sustentá-
vel (ODS) ela se relaciona.

Vídeo/Áudio
Um Novo Capitalismo
Na Netflix está disponível o documentário “Um Novo Capita-
lismo”. Nele empreendedores de diversas partes do mundo exploram
alternativas ao capitalismo atual para viabilizar negócios lucrativos sem
abrir mão do combate à desigualdade social.

Conteúdo retirado de: https://www.netflix.com

Para Refletir...
Ter de fato uma responsabilidade social e ambiental vai muito
além da doação de uma quantia ao final do mês para uma enti-
dade carente. Esta atitude é válida? Com certeza. Porém, é possí-
vel fazer mais, tem mercado para isso, já há um ecossistema de negócios
sociais pronto para receber e apoiar novas ideias. O que falta ainda são
pessoas com o espírito empreendedor que aceite os inúmeros desafios
advindos dessa escolha de empreender socialmente e não desista em
prol de um bem maior. Por fim, devemos sempre lembrar que “entre
ganhar dinheiro e mudar o mundo, fique com os dois”.

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Vídeo/Áudio
EMPRESAS QUE GANHAM DINHEIRO ENQUANTO CRIAM IM-
PACTO SOCIAL SÃO CADA VEZ MAIS COMUNS.
Em agosto de 2017, a Globonews apresentou uma reportagem sobre os
negócios de impacto. Um negócio que gera lucro e também cria impacto
social, uma ação positiva na sociedade. Empreendimentos sociais exis-
tem em número cada vez maior no país.
Acesse o vídeo pelo link: http://g1.globo.com/globo-news/videos/t/to-
dos-os-videos/v/empresas-que-ganham-dinheiro-enquanto-criam-im-
pacto-social-sao-cada-vez-mais-comuns/6091067/

Revisando...
Considerando que agir com mais recursos financeiros e de pes-
soal seja possivelmente mais simples, o capítulo optou por trazer
a realidade da sustentabilidade nas pequenas e médias empre-
sas, as quais têm que lidar de forma mais recorrente com a es-
cassez de recursos. Após esclarecer como se identifica o tama-
nho de uma empresa e os desafios das PMEs, o capítulo trouxe
dicas de como colocar a sustentabilidade em prática nas PMEs e
tendências de sustentabilidade para pequenos negócios.

Na sequência, foi apresentado um conceito que, muitas vezes,


contradiz a visão do empresário quando este pensa na abertu-
ra e vivência de sua organização: o negócio de impacto social.
Esse tipo de negócio é composto por empresas e empresários
que entendem como tendo um mesmo nível de importância o
impacto socioambiental gerado com o retorno financeiro obti-
do. O capítulo trouxe ainda dicas de como ter um negócio de
impacto, seguido de casos de sucesso bem como os desafios
deste tipo de organização.

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Responsabilidade Social e Ambiental

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Fonte: adaptado de Epstein e Roy (1998).

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Fonte: Braskem. Disponível em: https://www.braskem.com.br/avalia-
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Figura 2.5: Passo a passo para sustentabilidade seguido pela Votorantim


Fonte: elaborado pelo autor.

Figura 3.1: 12 Dimensões da Sustentabilidade nos Pequenos Negócios


Fonte: Centro Sebrae de Sustentabilidade (2016)

Figura 3.2: Trajetória dos conceitos


Fonte: Cento de Empreendedorismo Social e Administração em Ter-
ceiro Setor. Disponível em: http://ceats.org.br/Paginas/Home.aspx

Figura 3.3: Gustavo Fuga, fundador da 4you2


Fonte: Centro Sebrae de Sustentabilidade. Disponível em: http://sus-
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Figura 3.4: Fernando Assad, fundador da Vivenda


Fonte: Meisler. Disponível em: http://revista.usereserva.com/2018/03/12/
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Figura 3.5: Ecossistema dos negócios de impacto


Fonte: Comini (2016)

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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul - IFMS

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