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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO JORNALISMO

A ESPECIALIZAÇÃO NOS CURSOS DE


JORNALISMO DO RIO GRANDE DO SUL: O CASO
DO JORNALISMO ESPORTIVO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Laura Gheller

Santa Maria, RS, Brasil


2010
A ESPECIALIZAÇÃO NOS CURSOS DE JORNALISMO DO
RIO GRANDE DO SUL: O CASO DO JORNALISMO
ESPORTIVO

por

Laura Gheller

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da Universidade


Federal de Santa Maria, como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Comunicação Social

Orientadora: Prof. Dra. Marli Hatje Hammes

Santa Maria, RS, Brasil

2010
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Departamento de Ciências da Comunicação
Curso de Comunicação Social
Habilitação Jornalismo

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia de Graduação

A ESPECIALIZAÇÃO NOS CURSOS DE JORNALISMO DO RIO


GRANDE DO SUL: O CASO DO JORNALISMO ESPORTIVO

elaborada por
Laura Gheller

como requisito parcial para obtenção do grau de


Bacharel em Comunicação Social

COMISSÃO EXAMINADORA

Marli Hatje Hammes


(Presidente/Orientadora – UFSM)

Gilson Luiz Piber da Silva (UNIFRA)

Paula Bianchi (UNIPAMPA)

Santa Maria, 09 de dezembro de 2010.


Agradeço aos amigos e colegas do Radar Esportivo e da Rádio Universidade, que estiveram
presentes nos momentos de maior aprendizado desses quatro anos.

Agradeço à minha família. O apoio de meu pai, o incentivo de minha mãe, o companheirismo
de minha irmã, a parceria de meus primos e a sabedoria de minha avó foram fundamentais
nessa conquista.

Agradeço à Lari, pelos almoços, pelas jantas, pelas conversas, pela amizade e pela revisão.

Agradeço às pessoas que colaboraram com esse trabalho, seja com entrevistas, com dados ou
com materiais. Obrigada pela confiança, disponibilidade e atenção.

E agradeço à minha querida orientadora que acreditou e aceitou o desafio de me guiar nessa
tarefa. Obrigada por esse ano de intenso aprendizado e de amizade verdadeira.
“Quando o Mundial começou, pendurei na porta da minha casa um cartaz que dizia: Fechado
devido ao futebol.
Quando o retirei, um mês depois, eu já havia jogado sessenta e quatro jogos, de cerveja na
mão, sem me mover da minha poltrona preferida.
Essa proeza me deixou moído, com os músculos doloridos e a garganta arrebentada; mas já
estou sentindo saudades. Já começo a sentir falta da insuportável ladainha das vuvuzelas, da
emoção dos gols não recomendados para cardíacos, da beleza das melhores jogadas repetidas
em câmera lenta. E também da festa e do luto, porque às vezes o futebol é uma alegria que
dói, e a música que comemora alguma vitória dessas que fazem os mortos dançar soa muito
parecida ao clamoroso silêncio do estádio vazio, onde algum vencido, sozinho, incapaz de se
mover, espera sentado em meio às imensas arquibancadas sem ninguém.”
(Eduardo Galeano)
RESUMO

Monografia
Departamento de Ciências da Comunicação
Universidade Federal de Santa Maria

A ESPECIALIZAÇÃO NOS CURSOS DE JORNALISMO DO RIO


GRANDE DO SUL: O CASO DO JORNALISMO ESPORTIVO
Autora: Laura Gheller
Orientadora: Marli Hatje Hammes
Data e local da defesa: Santa Maria, 09 de dezembro de 2010.

Neste trabalho apresenta-se uma investigação acerca da presença do Jornalismo


Esportivo nos currículos dos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul. A pesquisa tem
como objetivo analisar se a formação em Jornalismo prepara o profissional para atuar em
editorias esportivas. Além disso, visa ressaltar a importância do ensino do jornalismo
segmentado nas escolas de comunicação gaúchas. A abordagem começa na revisão da
literatura e passa pela análise da matriz curricular de sete cursos de Jornalismo do Estado.
Entrevistas com professores e coordenadores também foram utilizadas, para destacar os
motivos da presença ou não das disciplinas especializadas na grade curricular dos respectivos
cursos. Com a análise do currículo e das entrevistas, em conjunto com o embasamento
teórico, espera-se compreender se as Universidades formam jornalistas para atuar na área do
esporte.

Palavras-chave: Jornalismo Especializado; Jornalismo Esportivo; Currículo; Formação


Profissional
ABSTRACT

Monografia
Departamento de Ciências da Comunicação
Universidade Federal de Santa Maria

THE SPECIALIZATION IN RIO GRANDE DO SUL`S JOURNALISM


COURSES: THE CASE OF SPORTS JOURNALISM
Author: Laura Gheller
Advisor: Marli Hatje Hammes
Santa Maria, december 9 2010.

This paper presents an investigation about the presence of the Sports Journalism in the
curriculum of Rio Grande do Sul`s Journalism Schools. The research aims to examine if
training in Journalism prepares professionals to work in editorial sports. Moreover, it aims to
highlight the importance of segmented journalism education in Rio Grande do Sul`s schools
of communication. The approach begins by reviewing the work involves analyzing and
curriculum of seven courses in Journalism from the State. Interviews with teachers and
coordinators were also used to highlight the reasons for the presence or absence of specialized
disciplines in the curriculum of these courses. With the analysis of curriculum and interviews,
together with the theoretical background, waiting to understand if universities make
journalists to work in the sport area.

Keywords: Specialized Journalism, Sports Journalism, Curriculum, Training


LISTA DE ANEXOS

ANEXO A – Ementa da Disciplina de Jornalismo Esportivo do Curso de Jornalismo da


Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS)...........................................................................................................85

ANEXO B – Ementa da Disciplina de Jornalismo Especializado do Curso de Jornalismo do


Centro de Educação e Comunicação (CEC) da Universidade Católica de Pelotas
(UCPel).....................................................................................................................................88

ANEXO C - Ementa da Disciplina Oficina de Jornalismo Esportivo do Curso de Jornalismo


do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA)......................................................................90
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10

1 CURRÍCULO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL ......................................................... 14


1.1 Currículo no ensino superior.......................................................................................... 14
1.2 Universidade e Formação profissional .......................................................................... 15

2 JORNALISMO ESPECIALIZADO ................................................................................ 17


2.1 Origem .............................................................................................................................. 17
2.2 Definições de Jornalismo Especializado e Información Periodística Especializada . 19
2.3 Jornalista Especialista x Jornalista Generalista ........................................................... 21
2.4 Funções do Jornalista Especializado ............................................................................. 23
2.4.1 Recolhimento de informações:................................................................................. 23

2.4.2 Elaboração da mensagem ......................................................................................... 25

2.4.3 Transmissão e recepção ........................................................................................... 25

2.5 Necessidade de formação especializada ......................................................................... 26


2.6 Conteúdos, seções ou gêneros ......................................................................................... 28

3 O ESPORTE E A MÍDIA ................................................................................................. 30


3.1 Esporte: origem e conceitos ............................................................................................ 30
3.2 Jornalismo Esportivo: origem ........................................................................................ 32
3.3 O jornalismo esportivo contemporâneo ........................................................................ 35
3.3.1 Ênfase na “falação esportiva” .................................................................................. 35

3.3.2 Monocultura esportiva ............................................................................................. 37

3.3.3 Sobrevalorização da forma em relação ao conteúdo ................................................ 39

3.3.4 Superficialidade ....................................................................................................... 40

3.3.5 Prevalência dos interesses econômicos .................................................................... 43

3.4 Formação do Jornalista Esportivo ................................................................................. 46


4 O ENSINO DO JORNALISMO ESPORTIVO .............................................................. 50
4.2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - Porto Alegre ...................... 52
4.3 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – Porto Alegre ... 54
4.4 Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Caxias do Sul ................................................ 57
4.5 Universidade Católica de Pelotas (UCPel) – Pelotas .................................................... 58
4.6 Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – Canoas................................................. 60
4.7 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – Santa Maria .................................. 63
4.8 Centro Universitário Franciscano (Unifra) – Santa Maria ......................................... 66

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................70

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................81

ANEXOS..................................................................................................................................84
10

INTRODUÇÃO

As novas necessidades do público consumidor das mídias impõem às empresas


jornalísticas a criação de uma nova figura no meio: a do jornalista especializado. O
profissional do mundo da informação precisa ter, além de sua formação como jornalista - que
o fará conhecer as regras próprias da área para uma boa comunicação -, uma formação
específica - que o levará a conhecer um universo particular sobre o qual irá comunicar.
Um jornalista especializado deve ser alguém que se especialize em determinadas
questões para poder tratá-las em profundidade. Dessa forma, poderá combater a
superficialidade da informação, a influência interessada de fontes, a fragmentação dos fatos e
a distância entre setores sociais especializados e a sociedade no conjunto. O jornalismo
especializado é tratado pelos autores que o estudam como o jornalismo do futuro.
Nesse contexto, surgem algumas dúvidas. Se em sua formação tradicional, na
graduação, o jornalista aprende as regras próprias da profissão como um todo, em sua
formação específica, o jornalista é um autodidata? Ou necessita de um nível formativo
adequado? Um jornalista recém-formado sai da Academia com a bagagem necessária para
atuar como jornalista especializado? E dentro do Jornalismo Esportivo, que é a maior
expressão da informação especializada na era moderna, como se configura o perfil do
profissional? Existe uma formação específica que contemple os aspectos que o jornalista
abordará dentro dessa área? Mais: os Cursos de Jornalismo preparam o profissional da área
esportiva para fazer a cobertura, por exemplo, de uma edição dos Jogos Olímpicos?
Já há algum tempo o tema “Jornalismo Especializado” vem sendo amplamente
discutido entre estudiosos da área da Comunicação como uma das saídas para a falta de
credibilidade e para o desgaste das empresas midiáticas. Ao mesmo tempo, decaem as idéias
generalistas e crescem as áreas específicas na prática do jornalismo - representadas
geralmente pelas “seções” e editorias dentro dos jornais - tanto no meio impresso como no
eletrônico.
Paralelo a isso, em um ritmo bem mais lento, quase estacionado, poucas alternativas
são criadas para o ensino do Jornalismo Especializado ainda dentro das Faculdades de
Ciências da Informação. É, no mínimo, questionador o fato de um novo segmento, que pode
alterar significativamente os rumos do jornalismo moderno, não ser discutido e aplicado
dentro do lugar de formação dos profissionais que lidarão com ele no futuro.
Como entusiasta do Jornalismo Esportivo, com o qual pude manter contato desde
cedo dentro da graduação, percebo o quanto é irrisória a abordagem da formação específica
11

dentro da Universidade. É difícil encontrar disciplinas dentro do currículo obrigatório que


segmentem o conteúdo (jornalismo esportivo, econômico, ambiental, cultural); apenas as
segmentações de meios (rádio, impresso, televisivo) são contempladas na maioria das
faculdades de comunicação brasileiras.
Dessa forma, considerei de suma relevância pesquisar sobre o porquê desses estudos
não serem aplicados da maneira como deveriam dentro das instituições de ensino superior, e
de que jeito a ausência do contato com o Jornalismo Especializado influencia na formação do
profissional, que enfrentará essa realidade fora da graduação. O próprio jornalismo esportivo,
hoje o mais popular dos segmentos jornalísticos, pode ter a sua tão criticada superficialidade
relacionada com a falta de experimentação e estudo do profissional ainda dentro da
Academia.
Por isso, neste trabalho, nos propomos a pesquisar como o jornalismo esportivo é
contemplado e tratado em 7 (sete) Cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul. Procurou-se
saber qual era a atenção dada a essa área específica nos currículos.
A metodologia compreendeu as seguintes etapas:
a) Na primeira etapa, foi realizada a pesquisa da bibliografia para a construção do
marco teórico, buscando literatura sobre jornalismo especializado, jornalismo esportivo,
currículo e formação profissional.
b) Ainda durante a pesquisa bibliográfica, iniciou-se a segunda etapa: a coleta de
dados, utilizando os currículos dos sete cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul. O critério
de escolha das Universidades seria estarem localizadas nas 5 (cinco) cidades com maior
estimativa populacional do Estado, segundo o IBGE1. Em cada uma dessas cidades, duas
instituições que contemplassem o curso de Jornalismo (como Comunicação Social –
Habilitação Jornalismo ou como Bacharelado em Jornalismo) deveriam ser selecionadas: uma
pública e uma privada2. Em cidades onde esse cenário não se configurava, escolhemos apenas
uma universidade privada. Em cidades onde havia mais de uma instituição privada com curso
de Jornalismo – caso de Porto Alegre -, optamos por analisar apenas uma delas – a maior, a
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Assim sendo, os Cursos de
Jornalismo selecionados para essa pesquisa foram os das seguintes Universidades, localizadas
nas seguintes cidades:
1
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Lista completa disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=rs. Acesso em 12 de novembro de 2010.
2
A cidade de Gravataí (que está no quinto lugar da lista do IBGE) não possui nenhuma universidade com curso
de Jornalismo, de acordo com o Portal Brasil (http://www.portalbrasil.net/universidades_rs.htm). Acesso em 12
de novembro de 2010. Em função disso, a cidade imediatamente abaixo – Santa Maria – foi selecionada.
12

Porto Alegre – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Pontifícia


Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Caxias do Sul – Universidade de Caxias do Sul (UCS)

Pelotas – Universidade Católica de Pelotas (UCPel)

Canoas – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Santa Maria – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Centro Universitário


Franciscano (UNIFRA)

c) Após, a análise dos currículos foi realizada atentando para os seguintes itens:
- Grade curricular (programas e ementas das disciplinas)
- Objetivos do Curso (objetivo geral e objetivos específicos)
- Perfil do Profissional (definição da profissão, descrição dos requisitos psicofísicos e
atribuições pessoais)
d) Complementando a análise curricular, foram realizadas entrevistas com professores
e coordenadores dos cursos de Jornalismo, como forma de individualizar os fatores
determinantes para a adoção ou não do Jornalismo Especializado nos currículos. De acordo
com Robert Farr (1982, apud GASKELL, 2002, p.65), essas entrevistas podem ser
caracterizadas como entrevistas qualitativas e são “essencialmente uma técnica, ou método,
para estabelecer ou descobrir que existem perspectivas, ou pontos de vista sobre os fatos,
além daqueles da pessoa que inicia a entrevista”. Em uma entrevista qualitativa, Gaskel
(2002) destaca que deve haver preparação e planejamento, atenção para a seleção dos
entrevistados e o uso de um tópico guia. “O tópico guia é parte vital do processo de pesquisa e
necessita atenção detalhada” (GASKELL, 2002, p.66). Entretanto, o pesquisador não pode se
tornar escravo desses tópicos e atribuir somente a ele o sucesso da investigação, pois como o
próprio nome já diz, serve como um guia. “O entrevistador deve usar sua imaginação social
cientifica para perceber quando temas considerados importantes e que não poderiam estar
presentes em um planejamento ou expectativa anterior, aparecerem na discussão”
(GASKELL, 2002, p.67). Neste trabalho, as entrevistas foram realizadas com o uso de
perguntas-base, mas que não consistiam em um questionário fechado. Nos sete cursos
analisados, conversamos com, pelo menos, um professor ou coordenador sobre as questões
currículo, formação e jornalismo esportivo. Apenas duas entrevistas foram realizadas por e-
13

mail – as com os coordenadores dos cursos da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e da


Universidade de Caxias do Sul (UCS) –, sendo as demais todas cumpridas presencialmente.
14

1 CURRÍCULO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

1.1 Currículo no ensino superior

Na chamada Sociedade da Informação ou do Conhecimento, a forma como os


conhecimentos são adquiridos assumem um papel de destaque e passam a exigir um
profissional crítico, criativo, com capacidades de aprender, de trabalhar em grupo e de se
conhecer como indivíduo. Ao estar inserido nessa sociedade em que o fluxo de informação é
constante e crescente, esse profissional tem uma visão geral sobre as diversas áreas do
conhecimento humano. Ao buscar o ensino dentro de uma Universidade, o indivíduo procura
o aprofundamento de seus conhecimentos em uma determinada ciência; dessa forma, o papel
dessa Universidade é de preparar o profissional.
O mercado de trabalho exige das universidades, como resultado do tempo
gasto nela, um conhecimento que conduza à competência no exercício profissional,
com um efetivo preparado para enfrentar situações inesperadas, imprevisíveis, tendo
condições de responder aos novos desafios profissionais propostos diariamente, de
modo original, criativo, sendo eficiente no processo e eficaz no produto ou serviço
oferecido, imaginativo, inovador, empreendedor e seguro em suas ações. (CUNHA,
2000, p.4).

Nesse contexto, visualizamos o currículo, que há muito tempo deixou de ser apenas
uma área apenas técnica. Pesquisas, estudos e trabalhos acerca desse conceito já consolidaram
uma tradição crítica do currículo, guiada por questões sociológicas, políticas e
epistemológicas.
O currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão
desinteressada do conhecimento social. O currículo transmite visões sociais
particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais
particulares. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal – ele tem
uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da
sociedade e da educação. (MOREIRA e SILVA, 2006, p.8).

As constantes reformulações de currículos de diversos graus de ensino comprovam a


importância que ele adquiriu ao longo dos anos. Hoje, o currículo constitui-se como um alvo
privilegiado das atenções de políticos, autoridades, professores. Seu papel como agente
incentivador de uma educação que postule a transformação da ordem social vigente justifica
sua importância, seu estudo e suas reformulações.
O currículo da Academia, no Brasil, é estabelecido geralmente por conteúdos que
desenvolvem e preparam o aluno para a descoberta de conhecimentos e disciplinas que
valorizam a especificidade de cada área da ciência estudada.
15

Neste trabalho, utilizou-se a concepção de currículo de Goodson (1995, p.31), como


referência:
o currículo formal, na sua expressão oficial ou o currículo escrito constitui-se em um
testemunho, uma fonte documental, um mapa variável do terreno [...], um dos
melhores guias oficiais sobre a estrutura institucionalizada da escolarização, mas
quando restrita ao rol de matérias e aos programas com análise isolada, torna-se
insuficiente e passível de distorções.

Dentro do nível de ensino acadêmico, a concepção positivista do conhecimento ainda


é muito presente e incide na prática pedagógica, incluindo o currículo (CUNHA, 2000). Isso
fica claro se analisarmos como é organizado o conhecimento dentro da universidade: “quase
sempre do geral para o particular, do teórico para o prático, do ciclo básico para o ciclo
profissionalizante” (CUNHA, 2000, p.40). Ou seja, primeiro o aluno precisa aprender a teoria,
dominá-la e depois colocá-la em prática. Como bem explica Cunha (2000, p.40):
ela tem definido a prática como comprovação da teoria e não como sua fonte
desafiadora, localizando-se, quase sempre, no final dos cursos, em forma de estágio.
Além disso, trabalha-se com o conhecimento do passado, com a informação que a
ciência já legitimou, nunca com os desafios do presente ou com o conhecimento
empírico que pode nos levar ao futuro.

Entretanto, as discussões sobre o papel do currículo e sua organização tradicional vêm


sendo debatidas constantemente no ensino superior.

1.2 Universidade e Formação profissional

A Universidade tem funções específicas no que tange a sua influência na formação


profissional do corpo discente. Contudo, há um descompasso entre o que a academia está
formando e a sociedade está exigindo, já que a realidade profissional dinâmica “limita a
compatibilização da oferta do mercado de trabalho e a formação do profissional” (CUNHA,
2000, p.64).
O ensino superior brasileiro vem sofrendo diversas alterações nos últimos anos,
principalmente com relação a sua infraestrutura. A expansão das universidades brasileiras,
impulsionada através do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais – REUNI, lançado pelo Governo Federal, deu um salto considerável
nos últimos tempos. O REUNI tem o objetivo de expandir, de forma significativa, as vagas
para estudantes de graduação no sistema federal de ensino superior. O problema é que essa
expansão parece estar se configurando mais como quantitativa do que como qualitativa. E isso
altera significativamente a formação profissional dos acadêmicos envolvidos neste processo.
16

O que se desenvolve como essencial é que o cuidado na decisão sobre o que é


relevante ensinar nos cursos de nível superior seja trabalhando minuciosamente, pois disso
depende o futuro desempenho dos egressos da academia. Para fazer esse planejamento de
forma eficaz, os responsáveis pela estruturação curricular devem ter clareza das habilidades e
competências necessárias à capacitação profissional. Cunha (2000, p.68) acredita que essa
constatação deve ser feita por meio da atuação dos profissionais formados. “Sem essa clareza,
o processo de formação tende a ser apenas transmissão de informações pelo professor e
acumulação de conhecimentos pelo aluno”.
A formação profissional universitária implica no desenvolvimento da habilidade de
utilizar a relação entre o conhecimento existente e a realidade, ou seja, um indivíduo precisa
ser capacitado a transformar informações em comportamentos concretos em sua realidade de
vida e trabalho.
Cunha (2002, p.74) completa:
Uma formação profissional eficaz precisa tornar o indivíduo capaz de integrar
conhecimentos de diferentes áreas no seu modo de agir a fim de que, desse modo,
ele contribua para a superação dos problemas relacionados aos modelos usuais de
interpretação da realidade, de ensino e de aprendizagem.
17

2 JORNALISMO ESPECIALIZADO

2.1 Origem
La premera conclusión a la que debemos llegar es que los especialistas no son
producto de esta época. Los especialistas nacieron com la humanidad. (ALCOBA,
1988, p. 53)

A citação acima, de Antonio Alcoba, um dos maiores estudiosos do Jornalismo


Especializado, resume bem a importância que a especialização nas áreas do conhecimento
humano tem desde o aparecimento do homem na Terra.
O ser humano não conseguiu contemplar toda a gama de necessidades aparecidas com
o passar dos anos e precisou recorrer à especialização. Alcoba (1988) cita a Bíblia como um
dos exemplos da primitiva segmentação do saber humano. Segundo ele, David apenas venceu
Golias graças a sua destreza no manejo da funda (espécie de estilingue). Assim, desde aquele
tempo a humanidade pode ver como o avanço e o progresso da sociedade podem ser
atribuídos, em grande parte, aos especialistas.
Da mesma forma, a comunicação se apropriou desse fenômeno ao longo do tempo e
permitiu uma mudança no processo informativo: os jornalistas especialistas surgiram para
facilitar a transmissão dos fatos e notícias.
Traçar um resgate histórico do início do Jornalismo Especializado não é tarefa fácil.
Entre os estudiosos, não há consenso sobre quais foram o primeiro jornal e o primeiro
jornalista a investir, de fato, no segmento da especialização. A origem do novo ramo, segundo
Alcoba (1988), acontece quando o produto informativo passa a interessar ao leitor e, a partir
daí, os “empresários jornalísticos” promovem um desapego do jornalismo literário-político
vigente até então, para investir em outros temas.
Antes da consolidação do fenômeno da especialização, a única temática que exigia um
pouco mais de segmentação nos diários da Europa era a Economia. Martínez Albertos
acredita, ainda em 1972, que
en los años finales de ese siglo [XIX] y en los primeros del XX hasta la I Guerra
mundial, se fue ampliando esta información especializada, extendiéndose a aspectos
menos financieros, comerciales o económicos, al mismo tiempo que surgían las
primeras revistas especializadas en economía. Pero el fenómeno del periodismo
especializado [...], pertenece a los últimos 25 años. (ALBERTOS, 1972 apud
MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 31)

Muñoz-Torres (1997) defende que, com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve um
crescimento da produção do conhecimento técnico e científico. Aliado a isso, o pós-guerra
18

gerou uma das maiores prosperidades econômicas da história. Esses dois fatos criaram uma
“sociedade do bem-estar”, também chamada de “sociedade do conhecimento”.
Próprias dos países pós-industriais, essas sociedades produziam, a todo momento,
grandes e heterogêneas trocas sociais, o que passou a abalar os meios de informação: novas
formas de fazer informação, novas profissões surgindo, maior segmentação das audiências,
elevação do nível cultural da demanda informativa e a crescente diversificação dos conteúdos
são fatores que contribuíram para a especialização da informação. (MUÑOZ-TORRES,
1997). Em resumo, “el progresso de la ciencia y de la técnica ha supuesto inexorablemente
una „profundización ramificada‟ del saber; es decir, una focalización creciente sobre objetos
de estudio cada vez más particulares” (MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 26).
A especialização dentro do jornalismo teve como um de seus primeiros interessados o
empresário e jornalista norteamericano Willian Randolph Hearst, dono do New York Journal.
Em 1895, com o objetivo de aumentar as vendas do seu diário, Willian convidou um grupo de
campeões esportivos - que atuariam como colaboradores - para tratar sobre o ambiente das
competições e apresentar seus pontos de vista de forma técnica, utilizando-se de suas opiniões
especializadas sobre tema.
Obviamente, nenhum dos esportistas era jornalista, e isso
demuestra que en el momento de producirse el auge de la venta del medio, éste no
tiene otra opción para ganar la batalla de la competencia y atraerse al cliente, que
acudir a los especialistas, aunque éstos no sean periodistas. (ALCOBA, 1988, p. 55)

A afirmação de Alcoba vai ao encontro do estudo de outro teórico, Pedro Ortiz


Simarro, que também acredita que o Jornalismo Especializado, “más que surgir de forma
espontánea, es impuesto a las empresas periodísticas por las nuevas necesidades de las
audiencias” (SIMARRO, 1997, p. 65).
Essas necessidades fazem surgir os chamados “colaboradores”. Esses profissionais
são, portanto, os precursores da especialização dentro do jornalismo, apesar de não
conhecerem a rotina da redação. Nas palavras de Simarro, “este especialista era tan experto en
su materia como ajeno a las técnicas periodísticas” (SIMARRO, 1997, p.65).
Ainda segundo Simarro (1997), a figura do colaborador começou a evoluir dentro das
redações. Surgiu o “experto” ou “perito”. Esse profissional era especialista, mas não
jornalista, e servia como uma espécie de fonte ao profissional da informação quando este
tinha dúvidas a respeito de uma determinada matéria. “La simbiosis entre el experto y el
redactor fue un avance respecto al colaborador: el primero pone su conocimiento al servicio
del segundo y éste lo interpreta para una audiencia masiva” (SIMARRO, 1997, p. 66). Essa
19

relação, porém, não correspondia aos interesses das empresas jornalísticas, pois se necessitava
de dois profissionais para executar o trabalho que um, só, poderia realizar.
Com o tempo, o jornalista foi adquirindo conhecimentos em determinados campos,
tanto pela sua experiência quanto pela convivência com os “expertos”. E começou a redigir
matérias com conteúdo específico por conta própria. Porém, o desafio maior dos profissionais
da informação era fazer com que a utilização dessa linguagem fosse compreensível para a
maioria dos receptores e, ao mesmo tempo, direcionada para um público cada vez mais
personalizado e interessado pelo tema. Para suprir essa demanda, ganhou espaço a figura do
jornalista especializado. Esse profissional, conforme Alcoba (1988), seria responsável por
traduzir, em uma linguagem inteligível, os tecnicismos, as regras, os estrangeirismos, etc, para
que as massas pudessem ter acesso a temáticas antes não compreendidas por elas.
Dessa forma, o Jornalismo Especializado passou a ser visto como uma atividade
profissional. Contribuíram para isso, além dos fatores exógenos – a especialização do
conhecimento como um todo -, fatores endógenos à profissão (MUÑOZ-TORRES, 1997).
Esteve Ramírez e Fernández del Moral classificam como os dois mais importantes a
segmentação das audiências e a “necesidad de los propios medios por alcanzar una mayor
calidad informativa y una mayor profundización en los contenidos” (ESTEVE RAMÍREZ e
FÉRNADEZ DEL MORAL apud MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 27).
Muñoz-Torres (1997) ainda crê que a especialização acentuou-se radicalmente muito
em função da revolução tecnológica. Através da segmentação de audiências e de conteúdos,
graças à possibilidade dos meios interativos, os conteúdos já são selecionados a la carte pelos
consumidores.
O que precisa ficar claro, é que a especialização sempre existiu, “mejor o peor
plasmada en la prensa, con manipulación o sin ella, por periodistas o colaboradores”
(ALCOBA, 1988, p. 62). A diferença é que, atualmente, é preciso desenvolvê-la por
verdadeiros jornalistas - profissionais capacitados que possam transmitir uma autêntica
credibilidade.

2.2 Definições de Jornalismo Especializado e Información Periodística Especializada

Há falta de bibliografia e de conceitos sobre a Informação Jornalística Especializada,


pois o estudo acerca do assunto ainda está na fase embrionária. Há também uma falta de
acordo no modo de denominação: Informação Especializada, Jornalismo Especializado ou
20

Imprensa Especializada. Muñoz-Torrez (1997) propõe a adoção do seguinte critério


terminológico:
usar la expresión Periodismo Especializado para referirse al ejercicio profesional del
periodista que informa sobre una determinada área del conocimiento humano; en
cambio, el descriptor Información Periodística Especializada podría quedar
reservado para denominar la disciplina académica que versa acerca de las cuestiones
implicadas en tal ejercicio, relativas a la divulgación del conocimiento especializado
a través de los medios, y sus implicaciones sociológicas (MUÑOZ-TORREZ, 1997,
p. 28).

Neste trabalho, também adotaremos a expressão IPE (Información Periodística


Especializada, de origem espanhola) para mencionar as reflexões teóricas desenvolvidas
acerca do Jornalismo Especializado, e Jornalismo Especializado para nos referirmos à
atuação profissional dentro de áreas específicas. Por vezes, os dois conceitos conversam entre
si e se sobrepõem.
A maioria dos autores que versam sobre a especialização no Jornalismo –
especialmente os de língua espanhola - prefere usar a expressão IPE para se referir aos
estudos na área. Logo, os conceitos por eles aqui propostos giram em torno das definições
para tal termo.
Em função do exposto, Muñoz-Torres considera válido o conceito de IPE sugerido por
Fernández del Moral:
aquella estructura informativa que penetra y analiza la realidad a través de las
distintas especialidades del saber, la coloca en un contexto amplio que ofrezca una
visión global al destinatario y elabora un mensaje periodístico que acomode el
código al nivel propio de cada audiencia atendiendo a sus intereses y necesidades.
(FÉRNADEZ DEL MORAL apud MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 40).

A IPE, portanto, analisa o contexto da notícia e não apenas o simples fato relatado,
utilizando-se das especializações do saber humano para alcançar os interesses de diversos
públicos e audiências, que são cada vez mais segmentados. Faz isso empregando os códigos
próprios do jornalismo - códigos que são aprendidos dentro de sala de aula e “traduzem” para
o receptor a notícia de um modo compreensível – para facilitar a inteligibilidade da
mensagem. Dessa forma, atende aos interesses de diversos públicos e audiências, que são
cada vez mais segmentados.
Quando nos referimos a uma área de Información Periodística Especializada, não
podemos aceitar qualquer denominação. Isso porque, inúmeras vezes, são atribuídos à IPE
textos que não são especializados, isto é, não reúnem os requisitos necessários para se
enquadrarem como tal. Para amenizar essa situação, Mar de Fontcuberta (1997), desenvolve
a respeito dos elementos que são necessários para uma IPE acontecer. Primeiramente, o autor
21

trata de uma coerência temática. Conforme Fontcuberta, se uma área de conteúdo jornalístico
especializado aborda parcelas da realidade, constrói, em conseqüência, uma temática
coerente. Em segundo lugar, um tratamento específico da informação implica em: a) textos
coerentes; b) fontes de informação específicas; c) coerência com o segmento de audiência ao
qual o texto se dirige e d) jornalistas especialistas no campo específico do qual a área trata,
capazes de “sistematizar la información y contextualizarla en un determinado ámbito del
discurso periodístico” (FONTCUBERTA, 1997, p.22).
O Jornalismo Especializado, por conseguinte, encontra seu aporte teórico dentro da
Universidade e das Faculdades através de uma disciplina específica, chamada de Información
Periodística Especializada (IPE). Muñoz-Torres, após investigar e absorver os conceitos de
diversos estudiosos, cunhou como ideal a sua própria definição de IPE:
disciplina que estudia la producción de mensajes informativos que divulgan las
distintas especialidades del saber humano, de manera compresible e interesante, al
mayor número posible de personas, con el fin de dotar de sentido a la realidad, a
través de los medios de comunicación. (MUÑOZ-TORRES, 1997, p.40-41)

A IPE é apontada pela maioria dos estudiosos da especialização do Jornalismo como


primordial para a formação de profissionais aptos a atenderam às demandas que a sociedade
inflige. Neste caso, demandas que remetem a informações jornalísticas segmentadas, com
conteúdos requeridos conforme os interesses dos receptores.

2.3 Jornalista Especialista x Jornalista Generalista

Em meio aos estudos sobre a origem e a necessidade de formação de jornalistas


especializados, uma questão parece ainda fazer parte das discussões: o “embate” entre
jornalistas que tratam de temas especializados e jornalistas que tratam de temas gerais.
A principal crítica ao chamado jornalismo generalista, mais antigo e mais tradicional,
reside no fato de as características dos profissionais resultarem ultrapassadas e insuficientes
para a realidade de hoje. Antigamente, os jornalistas que desejavam trabalhar na área
deveriam ser dotados de rapidez para guardar dados e transmiti-los com eficiência,
precisavam ter o chamado “faro jornalístico” e algumas qualidades físicas e psíquicas, como
habilidade e ousadia. Além disso, o profissional baseava-se muito em sua experiência própria
e na experiência advinda de seu antecessor, do qual herdava fontes e estilo (SIMARRO,
1997).
“La competencia de un periodista se medía […] por el número de páginas de su
agenda de teléfonos” (SIMARRO, 1997, p.62). Hoje, apenas uma agenda telefônica não é
22

suficiente para localizar a infinidade de fontes que necessita cada área do conhecimento. Isso
implica em um problema considerado grave dentro do exercício do jornalismo: a influência
das fontes, intencional ou não. O profissional que apenas conhece o básico, o superficial do
assunto o qual está tratando com seu entrevistado, não terá capacidade suficiente para detectar
se sua fonte está tentando indicar ou até mesmo implantar o que é e o que não é notícia.
Muitas vezes, o entrevistado repassa alguma informação incorreta apenas por
desconhecimento, não agindo com má-fé. Cabe ao jornalista investigar se os dados estão
precisos antes de plantar a notícia como verdadeira, e ele só poderá assim fazê-lo se estiver a
par de todas as questões que envolvem a temática da área. A crítica aos jornalistas
generalistas, portanto, gira em torno do conhecimento superficial da maioria dos conteúdos
que esses profissionais possuem. Conforme Simarro (1998) seriam jornalistas incapazes de
refletir a complexidade social e incompetentes para servir de instrumento de mediação. Em
outras palavras, uma condenação à famosa frase que sugere que “jornalista é um especialista
em generalidades”.
Por isso, frente à lacuna na formação dos chamados generalistas, estudiosos apontam
os especialistas como os jornalistas do nosso tempo “que cuenta com mayores conocimientos
de la temática a tratar y puede discernir mejor lo bueno, lo positivo, de lo malo, lo negativo”
(ALCOBA, 1988, p.74). Orive y Fagoaga (apud SIMARRO, 1997) condenam o que eles
denominam de “falhas” de um jornalista generalista: superficialidade, dispersão, rendimento
baixo pela falta de conhecimento e grau de desconfiança pequeno. Por outro lado, relacionam
as características consideradas ideais para o profissional de hoje:
concentración, serenidad, rigor científico, concreción, aprovechamiento óptimo de la
actividad, un grado de fiabilidad absoluto, mayor productividad, aguda capacidad
selectiva de los contenidos y una relación más personalizada con las fuentes en su
trabajo. (ORIVE y FAGOAGA apud SIMARRO, 1997, p.68)

O jornalista ideal para corresponder às demandas das diversas áreas, temas e


conteúdos solicitados por audiências segmentadas é, portanto, o jornalista especializado, “el
que se preocupe de conocer a fondo el tema, y sea capaz de emitir sus juicios, los juicios de
un periodista especializado” (FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1997, p.15).
O enfrentamento entre as duas categorias, na verdade, não pode ser levado dessa
forma: como bem diz Simarro (1997), a especialização não deve ser encarada como um
parcelamento nem como um recorte no saber do profissional, mas sim como um valor a mais
no seu domínio da profissão jornalística. Até porque, um jornalista especializado “es tan buen
periodista generalista como el mejor de los periodistas generalistas” (SIMARRO, 1997, p.68).
23

Por fim, precisamos levar em conta que jornalistas especializados são resultado da
própria especialização dos conhecimentos, dos saberes humanos. Logo,
se trata (…) de hacer posible al periodismo su penetración en el mundo de la
especialización, no para formar parte de ese mundo, no para convertir a nuestros
profesionales en falsos especialistas, no para obligar al periodismo a parcelarse, a
subdividirse, a compartimentarse, sino al contrario: para hacer de cada especialidad
algo comunicable, objeto de información periodística, susceptible de codificación
para mensajes universales (FERNÁNDEZ DEL MORAL y ESTEVE RAMÍREZ
apud MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 38).

Dessa forma, “resuelve así el falso enfrentamiento entre periodista generalista y


periodista especializado, porque este último jamás ha dejado de ser un profesional todoterreno
3
” (SIMARRO, 1997, p.68).
As características inerentes ao jornalista especializado – anteriormente citadas por si
só já são importantes para combater a superficialidade da informação, a influência interessada
de fontes, a fragmentação dos fatos e a distância entre setores sociais especializados e a
sociedade no conjunto. Fundamentais para contribuir com essa conjuntura, ainda se destacam
outras atividades desenvolvidas por esse profissional.

2.4 Funções do Jornalista Especializado

Entre as funções exercidas pelo jornalista do século XXI, que aqui se caracteriza como
jornalista especializado, Simarro (1997) realça as seguintes:

2.4.1 Recolhimento de informações:


Nas redações dos principais veículos jornalísticos chegam todos os dias, quantidades
abundantes de informações vindas dos mais diversos remetentes. São notícias de agências
internacionais, informações de leitores, releases produzidos por assessorias de imprensa e,
mais recentemente, a produção de conteúdos por redes sociais. Enfim, uma infinidade de
materiais que, obviamente, não podem ser publicados/exibidos na totalidade em função do
espaço limitado que o veículo dispõe. Conforme Alcoba,
se trata de información difícilmente almacenable para poder ser publicada en fechas
posteriores a la de su llegada al medio, lo cual obliga a despreciar unas veces por su
escasa originalidad y otras por su falta de espacio, a un considerable número de
información que ya nunca será utilizada. (ALCOBA, 1988, p.115)

3 todoterreno, em uma tradução livre para o português, significa o mesmo que 4x4, uma classificação que
trazem determinados carros, aptos a rodarem por todos os tipos de terrenos.
24

É neste momento que o jornalista especializado ocupa um de seus mais importantes


papéis dentro da redação. A superabundância informativa aliada à falta de espaço e tempo
exige que o jornalista seja um autêntico especialista em uma área informativa, capaz de
selecionar e valorar convenientemente as informações que devem ser publicadas.
Tuñón (apud MUÑOZ-TORRES, 1997) vai mais longe. Segundo ele
es el trabajo de selección el más importante en la profesión periodística hoy,
teniendo en cuenta la cantidad ingente de hechos actuales que se producen en un
universo progresivamente abundante y cambiante en informaciones. (TUÑÓN apud
MUÑOZ-TORRES, 1997, p.63)

Alcoba (1988) também acredita nisso ao citar Wilbur Schramm:


“El acto de selección es, con probabilidad, la parte más importante de
funcionamiento. […] Los medios de comunicación de masas están clasificados entre
los reguladores principales del flujo de la información a través de la sociedad.”
(SCHRAMM apud ALCOBA, 1988, p.116)

O trabalho de selecionador, dentro do Jornalismo, é chamado de gatekeeper4. Essa


função, quando realizada por um jornalista especializado em uma determinada área do
conhecimento, garante a imagem de independência e de credibilidade a um meio de
informação. Ao exercer o papel de filtro, esse profissional não precisará lidar com as
limitações clássicas da função que, segundo Simarro são: “la limitación de su
desconocimiento de los temas y la limitación de su incapacidad de valoración periodística de
la información” (SIMARRO, 1997, p.63).
Em suma, os especialistas reduzem as montanhas de informações vazias e sem
importância social com muito mais facilidade. E o melhor: fazendo isso, ainda economizam
espaço e dinheiro.
No caso da internet, os jornalistas especializados em determinadas áreas têm muito
mais habilidade para selecionar rapidamente o que deve ou não ir ao ar – correspondendo a
instantaneidade do meio. Além disso, em meio a tantas informações produzidas por pessoas
não formadas em Faculdades de Comunicação, que em grande parte o fazem sem investigação

4 “Esa función de gatekeepers fue tradicionalmente ejercida por la persona o las personas que tenían mayor
poder en los medios. Pero aquí se ha ido produciendo un cambio paulatino y constante. Del dueño o el grupo
de mayor poder en periódico, se pasó a la responsabilidad de los directores y más tarde de los redactores-jefe,
en los que aquellos delegaban. De esta manera se fue profesionalizando el criterio de selección. La
responsabilidad pasó por fin, recientemente, al periodista especializado, auténtico gatekeeper de su área, en el
que no interfiere ya ni su propio director, a no ser que se plantee un problema de interferencia grave con la
línea a los intereses del medio, aspecto éste que se produce más difícilmente ahora. De esa manera, la garantía
de independencia y veracidad se acrescienta” (FERNÁNDEZ DEL MORAL y ESTEVE RAMIREZ,
Fundamentos de la Información Periodística Especializada, Madrid: Síntesis, 1993, p.173).
25

e com conteúdo duvidoso, os usuários terão muito mais confiança no material produzido pelo
profissional especializado, que ainda desfruta de credibilidade perante aos receptores.

2.4.2 Elaboração da mensagem


Quando redige uma notícia, o jornalista não deve apenas se ater a “contar os fatos”. É
necessário interrelacionar, contextualizar e aprofundar as informações. Dessa forma, dá um
sentido ao que está sendo transmitido e, consequentemente, consegue explicar ao leitor o
significado da mensagem de forma eficaz (SIMARRO, 1997).
O modelo comunicacional de Berlo5, formado por seis linhas de condução de uma
mensagem, a saber: fonte – codificador – mensagem – canal – decodificador – receptor –
resume bem o papel fundamental que um jornalista especializado tem dentro do processo
comunicacional. Em determinadas áreas do conhecimento, o profissional deve usar códigos
diferenciados: “el que le ponga en comunicación con sus fuentes y el que le ponga en
comunicación con su audiencia. Si alguno de estos códigos falla, el proceso de comunicación
queda interrumpido” (SIMARRO, 1997, p.64).
Férnandez del Moral (apud MUÑOZ-TORRES, 1997) vai mais longe: ele acredita
que, ao conhecer os dois códigos, o jornalista consegue, por um lado, aumentar o grau de
credibilidade e influência do meio e, por outro – considerado o mais importante do ponto de
vista social – elevar o reconhecimento e a utilidade da ciência perante a sociedade.

2.4.3 Transmissão e recepção


O modelo antigo de jornalista ideal – e que ainda pode ser visto hoje em dia,
principalmente em cidades menores – vislumbra o profissional como contratado de um
determinado canal informativo (rádio, impresso, televisão) que informa sobre quase todos os
tipos de tema. Ou seja, o jornalista era especialista em um meio e generalista em conteúdos.
O panorama que se configura hoje desenvolve justamente o contrário: o profissional se
converte em um jornalista generalista em meios e especialista em conteúdos. Nesse sentido, é
capaz de transmitir sua mensagem com eficácia em qualquer meio de comunicação
(SIMARRO, 1997). Quem ganha com isso é o receptor, que recebe a informação através de
seu meio preferido, mas sem perdas na qualidade no conteúdo.

5 PERUZZOLO, Adair C. Elementos de Semiótica da Comunicação. Bauru, SP: EDUSC - Editora da


Universidade do Sagrado Coração, 2004. v. 1.
26

Como se vê, as funções do profissional do jornalismo vêm evoluindo com o passar


do tempo dentro das redações. Alguns jornalistas, é verdade, parecem não se conectar com as
necessidades do público. Alcoba (1988) aponta esse descaso como incapacidade profissional
e/ou imposição dos próprios meios em relação aos critérios que o jornalista deve seguir.
São duas situações que podem ser, pelo menos, amenizadas, com a presença do
jornalista especializado. Por um lado, são profissionais capacitados para “discernir sobre
cuales contenidos son los más apropiados para su público” (ALCOBA, 1988, p.73). Por outro,
conseguem efetuar melhor seu trabalho à margem das prescrições impostas por ideologias ou
posições que suas empresas seguem.
O jornalista especializado, assim sendo, somente acrescenta aos clientes dos
meios,
porque en él se ve al observador eficiente que no pasará por alto ningún aspecto
perjudicial para la sociedad; se convierte, para el receptor, en su máximo defensor, y
según sea su categoría expuesta públicamente en su trabajo, mayor o menor será la
credibilidad del cliente y, por tanto, del medio en el cual presta sus servicios.
(ALCOBA, 1998, p.118).

2.5 Necessidade de formação especializada

Após discutirmos como se dá a inserção e o constante crescimento do profissional


especializado no mercado, percebe-se que essa é uma configuração irreversível no jornalismo,
ou seja, cada vez mais será adotada como a configuração ideal. E cada vez vai exigir mais dos
estudantes recém-formados e até mesmo dos profissionais que se aventuram por áreas
especializadas. O processo de especialização dentro do jornalismo exige, por isso, uma
formação específica para cada temática do saber humano.
Somente com uma formação adequada ainda dentro das Faculdades e Universidades,
será possível forjar jornalistas capacitados e profundos conhecedores das diversas áreas nas
quais o jornalismo atua.
Obviamente que o conhecimento do jornalista especializado não precisa ser o mesmo
que possui um especialista na área. Mas deve ajudá-lo a perceber que tal saber pode ser objeto
de informação, de relevância social. Para isso (filtrar a informação e transmiti-la com eficácia)
é preciso que o jornalista conheça, ao menos, o mínimo da área que vai informar. E não existe
outra forma de concretizar isso que não se formando no campo no qual pretende atuar. É
importante ressaltar que essa formação deve ser feita de uma forma diferente da recebida pela
27

fonte especializada, já que “aunque ambos comparten el mismo objeto de interés, el punto de
vista desde el que lo contemplan es radicalmente diferente” (MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 38)
Ainda é importante considerar que uma grande parte dos estudantes de jornalismo que
passa pelas universidades deseja finalizar seus estudos com capacidade suficiente para
trabalhar o mais rápido possível em uma redação. E como vimos, os meios cada vez mais
primam por profissionais com certo grau de especialização. Como diz Alcoba (1988, p. 60)
“no se estudia simplemente para obtener unos conocimientos teóricos sobre la comunicación,
sino para poner en práctica esos conocimientos”.
Nesse sentido, há estudiosos que vão mais longe: propõem uma formação dupla para
os futuros jornalistas. Neste tipo de formação, o estudante passa por duas áreas de saberes: a
primeira, a própria formação em Jornalismo, e a segunda, uma formação específica dentro da
temática com a qual ele trabalhará. Simarro (1997, p. 61) defende e explica essa proposta:
una formación especializada en un campo científico, que le llevará a conocer el
universo específico que ha de comunicar, y una formación como periodista, que le
hará conocer las reglas propias del periodismo para lograr una buena comunicación.

Ou seja, sua preparação como especialista em uma determinada área vai permitir que o
jornalista possa compreender, aprofundar e valorar fatos que passariam despercebidos por
jornalistas que tratam de temas gerais. Essa formação ainda ajuda o profissional a
contextualizar os fatos e a relacioná-los com outros acontecimentos, já que nenhum episódio
acontece isolado da realidade social. Rabanillo (1997) ainda acrescenta que esse tipo de
preparação permite ao jornalista o controle dos códigos técnicos relacionados com uma
parcela do conhecimento especializado. Dessa forma, é muito mais fácil compreender o que
dizem as fontes e evitar que seja publicado apenas o que lhes apraz.
Por outro lado, sua formação como jornalista será necessária para dominar as técnicas
de divulgação da informação. O profissional estará cumprindo sua função de mediador entre
as fontes e os receptores, usando um código de entendimento comum entre ambos. Em outras
palavras, “traduziria” para o público as mensagens vindas das fontes em um produto
jornalístico, com todas as características próprias do jornalismo, desde a difusão até a
atualidade. Ou como bem explica Rabanillo (1997, p.51): “se trata de adecuar los mensajes
técnicos al grado de cualificación y comprensión propio de cada audiencia diferenciada”.

Como se vê, são muitos os autores que aderem a seus estudos à chamada dupla
formação. Alcoba (1988) é mais um deles. O espanhol acredita que é necessário que os
futuros jornalistas se preocupem em obter uma formação jornalística primeiro globalizada,
28

priorizando as teorias da informação e, mais tarde, “recibir la preparación específica del tema
o temas que más afines les sean, o que por vocación les atraen más” (ALCOBA, 1988, p.81).
Essa formação articulada entre duas áreas do conhecimento não é exclusiva ao
jornalismo especializado. Outros ramos da ciência também têm se unido em estudos
interdisciplinares, o que os ajuda a colocar em contato realidades sociais que pareciam
distantes até então. Alcoba completa: “actualmente las investigaciones interdisciplinarias son
más la regla que la excepción” (ALCOBA, 1988, p.66).
A preparação do jornalista especializado dentro da universidade, portanto, é
indubitável.
La duda existente es si las Facultades de Ciencias de la Información están
preparadas para ofrecer esa práctica necesaria destinada a ejercer la profesión y
ponerse en contacto con las funciones de los medios […]. Si […] carecen [as
faculdades] de los medios y profesores necesarios para llevar a efecto el cometido
para el cual fueran criadas. (ALCOBA, 1988, p.102)

2.6 Conteúdos, seções ou gêneros

Como vimos, desde os primórdios da humanidade o homem convive com a segmentação


dos saberes. A especialização de temas só fez crescer com o passar do tempo e o jornalismo
esteve presente acompanhando cada passo desse processo. Os gêneros específicos, então, são
resultado dos nichos que vão se criando na sociedade, da necessidade do homem em
acompanhar uma área particular do saber que lhe desperte interesse. “Los géneros específicos
aumentan cada día porque los temas a los que debe enfrentarse el hombre de hoy son multi-
disciplinarios” (ALCOBA, 1988, p.87).
Muitos são os termos adotados para distinguir os diferentes conteúdos reproduzidos
pelos meios e, até mesmo, a forma como são transmitidos. Alguns autores optam por chamar
as partes das publicações de seções ou blocos. Outros as denominam como gêneros
específicos. E há aqueles que ainda diferem as formas de expressão dos conteúdos (notícia,
reportagem, entrevista, crônica, artigo, coluna) e os chamam de gêneros linguísticos.
Neste estudo, usaremos a expressão gêneros jornalísticos específicos para denominar
os diferentes tipos de conteúdos reproduzidos pela mídia, que são seccionados em blocos
temáticos.
Há também divergências entre os autores sobre quais são as áreas de especialização
mais tratadas pelos meios de comunicação. Para Alcoba (1988), os gêneros específicos que
mais possuem espaço nos jornais de todo o mundo são os seguintes: Nacional, Internacional,
29

Esportes, Espetáculos, Economia, Sociedade, Cultura, Política e Fotografia. Para o mesmo


autor, configuram-se entre os mais importantes, Internacional, Nacional, Esportes e Eventos.
Já para Muñoz-Torres (1997), os gêneros específicos se dividem em seis grandes
blocos ou áreas de especialização:
1. Política: internacional, nacional e local (incluindo os assuntos relativos à segurança e
defesa do Estado).
2. Economia: macroeconomia, microeconomia, informação para consumo, finanças pessoais,
informações trabalhistas e sindicais.
3. Ciência e tecnologia: assuntos científico-técnicos, com inclusão de temas sanitários e
ambientais.
4. Cultural: assuntos relativos às artes plásticas, às letras e aos espetáculos.
5. Esportes: esportes praticados individualmente e em equipes.
6. “Sociedade”: à falta de melhor denominação, este bloco concentra informações sobre
assuntos relativos à situação social da mulher, à educação, à religião, aos eventos, à vida
privada de pessoas públicas, etc.

De fato, não há assentimento entre os dois autores quanto aos gêneros específicos.
Entretanto, ambos apostam na flexibilidade e nos desdobramentos dessas temáticas em outras,
os chamados subgêneros. Alcoba e Muñoz-Torres concordam que em muitas situações tais
temáticas podem se interrelacionar, devido aos desdobramentos de alguns fatos e às pessoas e
entidades envolvidos em seu contexto. Um exemplo disso é o esporte que, não raro, tem suas
competições influenciadas pelas relações políticas dos Estados.
O esporte, aliás, é uma das únicas seções ou um dos únicos gêneros jornalísticos que,
de forma consensual entre os autores, aparece nas páginas de jornais e nos noticiários
televisivos e jornalísticos de todo o mundo.
30

3 O ESPORTE E A MÍDIA

3.1 Esporte: origem e conceitos

O esporte, desde os primeiros tempos, fez parte da vida do ser humano. Ao


longo da história, seu conceito foi mudando e inúmeros estudiosos foram descobrindo
diferentes maneiras de apresentá-lo como um fenômeno social e econômico.
Nas primeiras eras como pensador consciente, ao mesmo tempo em que tentava
compreender os mistérios da vida e da morte, o homem também necessitava alimentar
seu espírito com outros tipos de atividades, que o fizessem ficar alheio, ao menos
momentaneamente, às suas preocupações. “En principio, tales manifestaciones eran de
carácter privado y personal como expresión de culto a los dioses o de desarrollo de un
ejercicio físico” (ESTEVE RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, p. 275).
Com o passar do tempo, no desenvolvimento dessas atividades, nasceu o jogo.
Primeiramente, o jogo foi considerado como uma atividade física individual e,
“después, a través de la competición, convertirse en actividad colectiva” (ALCOBA,
2001, p. 25).
O fato é que desde o início o jogo existiu com o objetivo de promover distração
ao ser humano. Quando essa atividade começou a romper a linha divisória entre
diversão e dedicação, passou a ser conceituada como esporte.
El deporte puede ser considerado como la magnificación del juego,
expresada por la constante repetición de los ejercicios, a fin de conseguir la
perfección física, técnica y táctica del jugador (ALCOBA, 2001, p. 20).

Uma vez que o jogador buscava atingir a perfeição de seu desempenho através
de exercícios e treinamentos, passou a querer colocar à prova seu melhor
condicionamento. Nesse momento, surgiu a competição dentro do esporte.
Essa competição, entretanto, não pode ser classificada somente como o embate
homem x homem. Ela está presente também quando o esportista luta contra o
cronômetro, contra a distância e, até mesmo, contra sua própria resistência. Por isso,
hoje, a definição mais simples e eficaz para esse fenômeno, segundo Alcoba (2001, p.
22), é: “deporte es la actividad física, individual o colectiva, practicada en forma
competitiva”.
Hébert pensa parecido com Alcoba:
31

deporte es todo género de ejercicio o actividad física que tenga como meta la
realización de una marca, y cuya ejecución se base esencialmente sobre la
idea de lucha contra un elemento definido: una distancia, un animal, un
adversario y por extensión uno mismo (HÉBERT, 1946 apud ESTEVE
RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, p. 280).

Esteve Ramírez e Fernández del Moral também apresentam a versão do Barão


de Coubertín, o impulsor dos Jogos Olímpicos da era moderna. Para Coubertín, esporte
é “el cultivo voluntario y habitual del ejercicio muscular, fundamentado en el deseo de
progreso y susceptible de llegar hasta el riesgo” (COUBERTÍN, 1973 apud ESTEVE
RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, p. 280).
Apesar dos diferentes contornos que o conceito de esporte toma ao longo do
tempo – e de suas diversas configurações nos dias de hoje -, é possível afirmar que o
esporte de competição desenhou-se a partir de uma nova era regida pela sociedade
industrial.
Educação, ócio e espetáculo são os três aspectos que, segundo Alcoba, foram
determinantes para transformar o jogo de simples distração à prática física com
componentes competitivos. Na Inglaterra, berço da Revolução Industrial, dos
enfrentamentos físicos entre os indivíduos, que prendiam a atenção das massas – por
motivos de diversão e por gosto às apostas –, evolui-se para uma atividade que interessa
ao lucro de algumas pessoas, aqueles que podem ser chamados de “os primeiros
promotores esportivos”. Nessa época, eles eram representados pelos amos ou senhores
dos habilidosos competidores (ALCOBA, 2001).
Pode-se dizer, dessa maneira, que a competição, muito mais do que a atividade
física educativa, “fue el motor para seducir a las multitudes necesitadas de un
espectáculo que ofreciese emoción, y eso fue lo que ofrecieron los enfrentamientos
entre personas” (ALCOBA, 2001, p.69). Um exemplo clássico dessa transformação é o
boxe que, inicialmente, era praticado entre amigos e aficionados, de forma amistosa, e
converteu-se em um espetáculo que premia seus vencedores.
Esse panorama espalhou-se por praticamente toda a Europa, chegando à
América do Norte em seguida, seguindo os rumos da Revolução Industrial pelo mundo.
Inglaterra, França, Itália, Estados Unidos: países adotando a competição em esportes
com os quais a população de cada local identificava-se. “El juego y el deporte con
mayor o menor rapidez, penetra en el tejido de la sociedad de cada país, en relación con
sus costumbres e idiosincrasia. En cualquier caso esa penetración fue imparable”
(ALCOBA, 2001, p.71).
32

Configurado esse cenário, nasce entre os praticantes do jogo-esporte a


necessidade de organizar enfrentamentos. Para isso, foi preciso criar equipes que
defendessem o orgulho de cada agrupamento. A partir desse momento, brotaram
competições entre povoados, vilas, cidades, instituições acadêmicas, que se estendiam
nacional e internacionalmente.
O problema era que, muitas vezes, as regras de um grupo colidiam com as do
outro, ou seja, todos tentavam impor suas próprias normas. Esse choque de interesses
desenvolve nos praticantes a tentativa de unificar as regras. Quando isso se concretiza, o
esporte é definitivamente globalizado e transforma-se neste fenômeno de massas que
visualizamos atualmente.
La reglamentación de los juego-deporte supone un avance […]
creándose un lenguaje unificador que es comprendido por personas de
diferentes idiomas y creencias, al traspasar el deporte las fronteras y
afianzarse como la mayor actividad humana del siglo XX (ALCOBA, 2001,
p.72).

3.2 Jornalismo Esportivo: origem

Por sua abrangência global, o esporte é um fenômeno das massas. Como bem
coloca Sergio Vilas Boas na apresentação do livro Formação e Informação Esportiva
(do qual é organizador):
O esporte é talvez o mais democrático dos temas. Atrai pessoas de todas as
idades, de todas as camadas sociais, de todos os cantos. Tornou-se um
fenômeno lucrativo considerável, negócio de proporções mundiais, motivo
para tendências e modismos (VILAS BOAS, 2005, p.9).

Alcoba faz coro às palavras do autor brasileiro: “el deporte ya tiene de por sí
suficiente „garra‟ para atraer a los más diversos sectores de la sociedad; desde las clases
más altas a las más humildes” (ALCOBA, 1980, p.43).
Dos estudos dos dois escritores é possível afirmar que, quando milhares de seres
se ocupam do esporte, incluem-no em sua vida de alguma forma, é incontestável que
essa atividade adquiriu tal importância ao longo do tempo que, hoje, se integra a todas
as facetas da sociedade moderna. Alcoba (1980, p.18) completa: “El fenómeno
deportivo, el cual sirve y del cuál se sirven todas las fuerzas que conforman la sociedad
en que vivimos, ha sido calificado como „el hecho social más determinante de nuestro
tiempo‟”.
33

Dentro desse contexto, também é impossível imaginar que, atualmente, alguma


competição esportiva de certa relevância não conte com a cobertura dos meios de
comunicação, seja esse evento local, regional, nacional ou internacional. É fato que o
esporte é uma das atividades que mais ocupa espaço dentro dos veículos e uma das que
mais desperta atenção dos receptores.
Os estudiosos do Jornalismo Esportivo, em sua grande maioria, concordam que
quem deu início à informação esportiva foi o grego Homero, com relatos nas obras
Ilíada e Odisséia. Seus textos sobre os jogos funerários foram o embrião da crônica
esportiva que se desenvolveria no futuro. As referências esportivas, entretanto, são
muito mais remotas:
Píndaro, nos dejó referencias de los grandes atletas griegos que competían en
los Juegos Olímpicos. Incluso San Pablo saca a relucir, en sus cartas a los
primeros cristianos, referencias deportivas para indicar que si triunfar en una
carrera es importante, más lo será triunfar en la carrera de la santidad.
También en los libros de caballerías nos encontramos con narraciones que
son crónicas deportivas. Con ello queremos dejar aclarado que el periodismo
deportivo no es un género periodístico actual, sino antiguo, muy antiguo
(ALCOBA, 2001, p. 143).

A retomada dos Jogos Olímpicos da era moderna, no final do século XIX,


marcou uma nova etapa no desenvolvimento do esporte como atividade de massas e foi,
por conseqüência, determinante para o surgimento de um novo modelo de tratamento da
informação esportiva. Os Jogos, “celebrados en 1896, fueron cubiertos
informativamente por redactores especializados enviados por los diarios Le Figaro y
Time” (ESTEVE RAMIREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, 276).
As primeiras publicações especializadas em esporte aparecem na Europa. Na
metade do século XIX, em Londres, é fundado o primeiro diário especializado na
temática de que se tem notícia. Chamando-se inicialmente Sportman, mudou o nome em
seguida para Sporting Life.
Mais tarde comprovou-se que “la información deportiva tiene igualmente una
fuerte presencia en el campo audiovisual” (ESTEVE RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL
MORAL, 199, p.279). No dia 2 de julho de 1921, a KDKA, uma das primeiras
empresas de rádio norteamericanas, conseguiu retransmitir, de forma direta - ainda que
clandestina – o último assalto da luta de boxe entre Dempsey e Carpentier. Foram
poucos minutos de transmissão, o suficiente para atingir mais de 200 mil pessoas ao
mesmo tempo.
O verdadeiro boom do jornalismo esportivo, entretanto, em matéria de
informação e transmissão, veio com o advento da televisão (ALCOBA, 1993). A
34

primeira experiência de transmissão ao vivo de uma competição aconteceu em 1936, na


cobertura dos Jogos Olímpicos de Berlim. Ainda que fosse em caráter experimental e,
por isso, em circuito fechado em salas especiais, a iniciativa fez 150 mil berlinenses
assistirem às Olimpíadas daquele ano pela televisão.
O jornalismo esportivo nasceu da demanda provocada por parcelas da sociedade,
que buscavam mais informações acerca do tema, combinado com a iniciativa de
algumas pessoas que perceberam a lucratividade que tais informações poderiam gerar.
“En sus comienzos la prensa deportiva era patrimonio de unos pocos entendidos y éstos
eran los encargados de proporcionar una visión particular del fenómeno que adquiría
cada vez más audiencia […]” (ALCOBA, 1980, p.135).
Os primeiros jornalistas esportivos foram pessoas aficionadas e apaixonadas
pelo tema. Alguns esportistas e ex-esportistas também passaram a produzir informações
específicas da área. Porém, conforme o número de esportes crescia e chegava aos mais
amplos setores da população, o interesse por esse tipo de informação também
aumentava. Inicialmente qualificado como uma categoria inferior, o esporte passou a ser
considerado um gênero específico do jornalismo em pouco tempo, quando os donos das
empresas jornalísticas perceberam o retorno financeiro provocado por essas
informações. Entretanto, as mesmas empresas sentiram a necessidade de obter pessoas
formadas para informar, com conhecimento de causa, a atividade esportiva.
“La buena acogida de la información deportiva por los lectores, no pasó
desapercibida para los empresarios periodísticos y comenzaron a dedicar al
tratamiento de los deportes un personal especializado” (ALCOBA, 2001,
p.143).

No início da atividade jornalística esportiva, as informações eram transmitidas


geralmente em forma de opinião. A maioria dos artigos, produzidos de forma literária
por intelectuais aficionados, entretanto, já não satisfazia mais o público, por tratarem o
esporte como reflexo de uma condição social. Os receptores exigiam uma informação
que estivesse mais de acordo com o contexto cultural vigente. Essa fase de comentários
deu lugar a um tratamento mais informativo dos esportes, inserindo, também, um novo
tipo de jornalista esportivo no mercado.
Em pouco tempo, esse gênero do jornalismo se converteu numa das estrelas dos
meios de comunicação (ALCOBA, 2001). O esporte-espetáculo ocupa, a cada dia, uma
parcela maior dos veículos de todo o mundo.
Las Empresas Periodísticas, al darse cuenta de los beneficios que les
reporta el deporte, realizan un impresionante despliegue para cubrir todos los
acontecimientos deportivos. Miles de periodistas de todo el mundo, a cuyo
35

servicio se han puesto los más modernos y sofisticados métodos de


comunicación, son los encargados de difundir este tipo de información en
forma muy superior a cualquier otro acontecimiento de interés mundial
(ALCOBA, 1980, p.42).

3.3 O jornalismo esportivo contemporâneo

A editoria de Esportes, hoje, ocupa o maior espaço dentre as seções de um jornal


se comparada a outras editorias como Política, Economia ou Polícia. Para Bourdieu
(1997, p.73), nos últimos anos, tanto a televisão quanto os jornais têm dado “o primeiro
lugar, quando não é todo o lugar, às variedades e às notícias esportivas”.
Por sua vez, o esporte-espetáculo tornou-se o carro chefe do jornalismo
esportivo contemporâneo. Entretanto, cabe destacar que o conceito de esporte é muito
mais amplo do que o destacado pela mídia e envolve inúmeros elementos que são
preteridos pelos meios de comunicação. Mauro Betti (2001) classifica esse fenômeno
como o esporte da mídia x esporte na mídia.
A rigor, não existe esporte na mídia, apenas esporte da mídia. Se a
mídia enfocasse o esporte como cooperação, auto-conhecimento,
sociabilização, etc., em vez da habitual ênfase no binômio vitória-derrota,
recompensa extrínseca, violência etc., ainda assim estaria fragmentando e
descontextualizando o fenômeno esportivo, pois a competição e uma certa
agressividade são a ele inerente. (BETTI, 2001, p.108)

O esporte enfocado pela mídia, ao qual Betti se refere, é aquele esporte dito
“formal”, que tem o aval e a instituição em federações e que, invariavelmente, torna-se
produto explorado pela televisão como espetáculo. Nas palavras do autor, o “esporte
telespetáculo” (BETTI, 2001, p.108).
Neste capítulo, destacaremos as principais características do tratamento dado ao
esporte da mídia. Adotaremos como base as classificações de Betti (2001),
corroborando suas ideias com pensamentos de autores que, ao longo de seus estudos,
também mapearem o jornalismo esportivo contemporâneo de forma semelhante.
Quais são, então, as características do jornalismo esportivo atualmente?
Segundo Betti (2001), são as seguintes:

3.3.1 Ênfase na “falação esportiva”


Autor fundamental para quem quiser compreender as definições do tratamento
do esporte na mídia contemporânea, Umberto Eco (1984) e sua “falação esportiva” são
citados por inúmeros estudiosos do assunto. Partindo-se do pressuposto que o esporte da
36

mídia não se limita à transmissão ao vivo do evento em si, BORELLI (2002), à luz do
pensamento de Eco (1984), interpreta que é a mídia quem reinventa, recria, recicla
discursos sobre o esporte, construindo, dessa forma, a falação. Para Eco, esporte é um
discurso sobre a mídia esportiva, ao passo que a imprensa “orquestra estas inúmeras
falas e, a partir delas, outras tantas são produzidas pelos sujeitos (o ciclo continua já que
socialmente circulam novos discursos a partir daqueles ofertados pelas mídias)”
(BORELLI, 2002, p.16).
Dessa forma, continua Borelli,
o esporte é deslocado de seu campo primordial (da prática do jogo) para o
campo da “falação”, onde a mídia é a principal mediadora entre estes
discursos sobre o esporte praticado e moldado para ser assistido. Para ECO
(1984, p.224), existe, assim, “a falação sobre a falação do esporte”, isto é, a
“falação sobre a falação da imprensa esportiva”. (BORELLI, 2002, p.16).

Betti (2001), acredita que a falação esportiva informa e atualiza, conta a história
das partidas (ou lutas, corridas), cria expectativas e faz previsões – e depois se explica e
justifica. Para o autor, a falação ainda promete, cria polêmicas e constrói rivalidades,
critica, elege ídolos e, por fim, dramatiza. Ou seja, os discursos presentes em
reportagens e comentários sobre quem ganhou o jogo, quem foi contratado e vendido,
quem se lesionou, qual jogador saiu na noite anterior, quem será convocado para a
Seleção, qual a culpa do árbitro, foi impedimento ou não, qual será o placar, qual é o
novo craque do esporte brasileiro, etc, passam todos pela análise da falação esportiva
defendida por Eco (1984).
O autor acredita que essa realidade se constrói em cima da própria imprensa
esportiva e suas ditas “regras”. Dentro desse campo, há um ritual pré-estabelecido, que
perpetua a falação verbal acima de tudo, utilizando-se de argumentos, avaliações,
ponderações, críticas, polêmicas, ou seja: falar o esporte. A prática da atividade em si
fica em segundo plano, dando lugar a esta “falação”. Como bem coloca Betting (2005,
p.24),
O debate tem que bater. Não interessa o que se fala, mas o que se grita e o
que não se deixa falar. A polêmica pela polêmica. Uma opinião abalizada,
equilibrada, que tenta entender o outro lado, que dá margem ao pensamento
contrário, que coloca fatos e deixa espaço para a opinião alheia, essa dever
combatida. Não agrada. Não dá Ibope.

Marli Hatje (2003) complementa:


A Falação geralmente é parcial, porque é fruto de opiniões pessoais, de
comentaristas ligados à modalidade esportiva em evidência e veiculada,
muitas vezes, sem o conteúdo necessário para que as informações sejam
37

absorvidas pela sociedade como algo que possa contribuir à formação social
e cultural. (HATJE, 2003, p.6)

Nesse sentido, a colocação de Betting (2005) sobre a imprensa esportiva parece


encontrar aporte teórico:
O jornalismo futebolístico a-do-ra discorrer sobre os placares consumados e
sobre as teses voláteis como um treinador de futebol em clube grande. Já
disse Daniel Passarella, zagueiro campeão do mundo pela Argentina, em
1978, e técnico da seleção. “Vocês, jornalistas, são „invictos‟”. Não
perdemos uma. Nunca erramos. (BETTING, 2005, p.14)

3.3.2 Monocultura esportiva


É de praxe que jornalistas que cobrem futebol no Brasil autodenominem-se
jornalistas “esportivos”, quando deveriam ser chamados, apenas, de jornalistas
“futebolísticos”. A maioria dos jornalistas que trabalham na cobertura desse esporte na
mídia brasileira dedica-se, somente, ao acompanhamento efetivo do futebol – e quando
necessitam transmitir, noticiar ou cobrir outro esporte, o fazem com um estudo
superficial sobre seus regramentos e especificidades. Essa falsa denominação de
jornalista “esportivo” acontece porque, no Brasil – e em muitos outros países - criou-se
uma situação onde o esporte, quando veiculado na mídia, é imediatamente relacionado
com o futebol.
Paulo Vinícius Coelho (2004) mostra como o futebol é a “menina dos olhos” das
editorias esportivas do Brasil:
Nas editorias de esporte, geralmente fica bem separada a equipe que se
dedica a futebol da que faz outras modalidades. Não quer dizer que quem se
dedica ao futebol não precise cobrir outro esporte. Cobre, sempre que a
ocasião exigir. Mas é mais clara a divisão nas outras modalidades. Quem faz
basquete também faz vôlei, atletismo, boxe, etc. Mesmo que se dedique com
mais afinco a um só esporte. (COELHO, 2004, p.36)

Já o jornalista, biógrafo e professor Elias Awad descreve a seguinte situação no


livro “Formação e Informação Esportiva”:
Muitos alunos me perguntam: “Por que o futebol tem muito mais espaço do
que os outros esportes na mídia?”. Acham até injusto e uma falta de respeito
dos meios de comunicação com os outros esportes. Concordo em parte.
Duvido que se o badminton, o golfe ou mesmo o hipismo – apenas como
exemplos hipotéticos – dessem mais ibope do que o futebol eles não teriam
seus torneios transmitidos pela TV Globo três vezes por semana em horários
nobres. (AWAD, 2005, p.48)

A culpa desse cenário, segundo Awad, não pode ser atribuída apenas ao
jornalista que cobre uma única modalidade. O profissional acompanha somente o
futebol porque o futebol é, de fato, o esporte que mais gera audiência, venda de
38

publicidade, repercussão, etc, e, portanto, tem o maior espaço na mídia especializada.


Essa é uma imposição histórica, principalmente quando o assunto é televisão.
Awad faz a defesa dos meios de comunicação quando acusa o receptor de
também ter parte da responsabilidade quando o assunto é o desprezo por outros esportes
na mídia.
O leitor-ouvinte-telespectador-internauta também deve ser incluído no
processo e responsabilizado. Será que a audiência de uma transmissão de
futebol ao vivo, pelo rádio ou TV, seria a mesma que entre duas equipes de
handebol, vôlei ou basquete? (AWAD, 2005, p.49)

O fato é que o futebol virou, sim, o carro-chefe da mídia esportiva. E isso é uma
“tendência que se acentuou nos últimos anos, provavelmente porque as empresas
descobriram naquela modalidade esportiva uma melhor relação custo-benefício para a
publicidade” (BETTI, 2001, p.109).
Alcoba (1980, p.191), concorda e acrescenta: “el deporte tratado con más
profusión es el fútbol, pero debe aclararse que este deporte no se trata por su exclusivo
sentido deportivo, sino por su aspecto de espectáculo”. Patrícia Rangel analisa essa
situação da mesma forma:
[o futebol] parece ser o parceiro preferencial da espetacularização na mídia
televisiva, porque oferece, em contrapartida, o show já pronto; possui
elementos fortes para esta parceria, porque ganha características de um show
de entretenimento. (RANGEL, 2008, p.64)

Pode-se inferir, então, que o futebol é o esporte eleito pela mídia porque, em sua
essência, corresponde perfeitamente à espetacularização. Mobiliza milhões de pessoas
todas as semanas, em todo o mundo, o que significa um expressivo público
acompanhando o esporte. A audiência em potencial, por sua vez, incita empresas a
investirem em publicidade. O fator comercial – ou seja, lucro –, por fim, incentiva os
meios de comunicação a transmitirem, falarem, enfim, priorizarem o esporte em suas
programações. Essa trama torna-se cíclica e só se reforça ao longo do tempo.
O futebol gera notícias extraordinárias, informações de vendas milionárias de
jogadores, a vida cada vez mais glamourosa destes, pautas sobre
superfaturamento de eventos esportivos, CPIs do futebol, e muito mais. Ou
seja, futebol dá visibilidade. E as tecnologias aliadas na constituição do
futebol espetáculo da atualidade como: transmissões via satélite, câmeras
cada vez mais potentes e detalhistas, computação gráfica, etc, nos colocam
numa condição de contempladores deste espetáculo. É como se não
tivéssemos mais contato com o verdadeiro esporte, fôssemos apenas
espectadores e não mais atores destes. (RANGEL, 2008, p.65).

Esse cenário, embora predominante, é alvo de inúmeras críticas por parte dos
estudiosos. Wilson da Costa Bueno (2005, p.20), analisa-o da seguinte forma:
39

Um olhar atento sobre a cobertura esportiva revela equívocos formidáveis.


Em primeiro lugar, há uma preocupação exclusiva com o futebol, como se
não existissem interessados e praticantes de outros esportes, ou ainda como
se o Brasil não tivesse competência explícita e reconhecida em muitas outras
áreas.

Bueno refere-se aos esportes praticados no Brasil que também são sinônimos de
títulos para o país. Um exemplo clássico é o voleibol. As seleções brasileiras –
masculina e feminina – representam, atualmente, as melhores esquadras do esporte no
mundo. Entretanto, o esporte, mesmo que passível da espetacularização (ainda que
menos do que o futebol), pré-requisito para o esporte da mídia, não tem o devido
reconhecimento em comparação ao esporte que mais mobiliza o público no país.

3.3.3 Sobrevalorização da forma em relação ao conteúdo


Essa é a característica mais marcante do esporte veiculado na televisão.
Aproveitando-se das inúmeras possibilidades que o meio audiovisual dispõe para o
discurso, o esporte da mídia valoriza, invariavelmente, a forma em relação ao conteúdo.
Betti (2001) destaca que a televisão tem a possibilidade de combinar imagem, som e
palavra, mas sempre vai dar mais ênfase na primeira.
As possibilidades do audiovisual são levadas cada vez mais adiante, em
decorrência dos avanços tecnológicos [...]. [...] mas também nas mídias
impressas (jornal, revista), as imagens vêm ganhando espaço em relação à
palavra – são fotos, gráficos e outros recursos produzidos com sofisticação e
qualidade cada vez maiores por conta dos avanços da
informática/computação. (BETTI, 2001, p.109)

Ou seja, dá-se mais importância à forma e às especificidades dos meios do que


ao conteúdo que é veiculado. Esse cenário pode ser tomado como exemplo de uma
situação que citamos no capítulo sobre Jornalismo Especializado, analisada por Simarro
(1997), de que os jornalistas configuram-se como especialistas em meios e generalistas
em conteúdos. No caso do esporte, o profissional pode até ter o conhecimento sobre o
que está veiculando, mas, na maioria das vezes, pretere esse conteúdo em nome da
forma que o meio lhe proporciona.
O resultado, somado à falação esportiva cunhada por Eco (1984) e à
espetacularização em torno do esporte é a fragmentação e descontextualização do
fenômeno esportivo (Betti, 2001). A divulgação dos fatos não é acompanhada por seus
contextos histórico, antropológico e sociológico. O evento só tem importância pela sua
factualidade e somente assim é desenhado pela mídia. “A experiência global do ser-
atleta é fragmentada” (BETTI, 2001, p.109).
40

3.3.4 Superficialidade
Aí está uma das características do jornalismo esportivo mais criticadas por
estudiosos, especialistas, atletas, técnicos, dirigentes e, até mesmo, pelo público. A
superficialidade com que os assuntos são tratados na imprensa esportiva, principalmente
a diária. Betti (2001) e Awad (2005) responsabilizam a própria cultura da mídia, que é
efêmera, por esse fator, que parece acentuar-se ainda mais quando os meios falam de
esporte. Betti (2001) lembra Santaella6 (1996), que diz que a cultura das mídias
caracteriza-se pelo breve, pelo descontínuo; é a cultura “dos eventos em oposição aos
processos”.
Awad culpa igualmente essa especificidade do trato informativo, a chamada
factualidade.
Acredito ser ele [o factual] o grande culpado ou vilão da mesmice do
jornalismo esportivo atual e das coberturas de futebol. A preocupação com o
passo-a-passo dos acontecimentos é tão grande que nos esquecemos de
empregar a qualidade na informação. Esquecemo-nos de dar subsídios aos
receptores para que participem do processo (AWAD, 2005, p.56).

O “maldito factual” a que se refere Awad não permite que a informação seja
tratada com plenitude, ou seja, com início, meio e fim. O autor destaca que é muito
comum que no jornalismo esportivo uma informação seja dada apenas no seu início,
esquecendo-se do meio e do fim. Em outras oportunidades, apenas o fim é noticiado.
Em outras, início e meio têm o seu espaço e o fim é descartado. O que acontece é que
“entre uma etapa e outra, o factual acaba por criar uma nova informação que se mostra
mais relevante naquele momento” (AWAD, 2005, p.56).
Bueno (2005, p.21) também acredita que “não há tempo nem espaço para
matérias de fôlego, porque o jornalismo esportivo vive em função apenas dos torneios e
das partidas”. E, num país em que o calendário é alucinante, com jogo dia sim, outro
também, o resto não interessa.
Além disso,
é cada dia mais comum ver técnicos, jogadores, preparadores físicos e
fisiologistas reclamando do desconhecimento de profissionais que atuam em
jornais em busca apenas da notícia. Que não buscam saber o que se passa
dentro de um centro de treinamento e das coisas que explicam esse ou aquele
procedimento (COELHO, 2004, p.42)

6 SANTAELLA, L. A cultura das mídias. São Paulo: Experimento, 1996, pg. 36.
41

A pouca profundidade no tratamento da informação esportiva é também da


responsabilidade do jornalista. É dele o papel de incentivar o leitor-ouvinte-
telespectador-internauta a refletir sobre o assunto e de enriquecer-se culturalmente. A
famosa pergunta “qual é sua expectativa para o jogo de hoje?”, tão criticada por quem
acompanha o esporte, é comumente realizada antes das competições em função da
característica factual que esse evento possui e, em parte considerável, por causa da
incapacidade do jornalista de aprofundar o sentido do discurso esportivo.
Esporte é muito mais do que apenas disputa. Inclusive, a importância que o tema
adquiriu ao longo dos séculos não pode ser creditada apenas à competição. Seria muita
ingenuidade (e ignorância) acreditar que esporte não é influenciado pela política, pela
tecnologia, pela economia – e vice-versa também. Vilas Boas (2005) confirma:
[esporte] envolve ciência, tecnologia, saúde, política, história,
comportamento, economia. Há inúmeras interfaces possíveis, polêmicas e
necessárias que o jornalista poderia costurar para não se ater somente à
questão da disputa. [...] não reduzir o entendimento do esporte apenas a
regras, vencedores e vencidos (VILAS BOAS, 2005, p.8).

É preciso muito mais do que apenas relatar os detalhes de uma negociação com
um atleta, o acompanhamento das lesões dos jogadores que estão no departamento
médico, o dia-a-dia da equipe que vai disputar o mundial de pádel. “Fazer retrospectos,
históricos, comparações, projeções, prospecções, falar de economia, geografia...
Informar e ensinar, para que as pessoas possam formar opinião própria” (AWAD, 2005,
p.56). Ou seja, dar subsídios para que o público tire suas conclusões e aproveite a mídia
e as informações que são veiculadas da melhor forma possível. O jornalista que lida
com esportes deve “ir além da simples descrição do esporte como espetáculo e
proporcionar informações técnicas sobre sua prática, estimulando a prática e o
conhecimento intelectual de seus leitores/aficionados” (HATJE, 1996, p.88).
O esporte não pode, sob nenhuma hipótese, ser visto como uma atividade imune
à ação de outros interesses ou aspectos (econômicos, sociais, culturais, políticos)
porque, com isso, ele se descontextualiza e, certamente, fica difícil entender por que
algumas coisas nele ocorrem. Denise Mirás (2005) ainda cita a influência da medicina,
da psicologia e da globalização no fenômeno esportivo:
Cada atleta está cercado por médicos, por notícias de doping, tratamentos
alternativos, preparação psicológica. E a globalização do esporte? Chineses
defendendo a Suíça, africanos competindo pela Dinamarca com a tal língua
franca entre todos, comunicando-se com palavras de seis idiomas ao mesmo
tempo. (MIRÁS, 2005, p.93)
42

Podemos citar ainda a Geografia, a História, a Matemática, a Filosofia, a


Psicologia, etc. como exemplo de áreas que, de alguma forma, interligam-se com a
cobertura esportiva – deveria, ao menos. Apenas o conhecimento técnico e tático dos
esportes que o profissional cobre, hoje, não satisfaz o interesse de um público que, cada
vez mais passa a procurar informações complementares às ditas “banais”. Muitos
jornalistas esportivos, porém, ainda não se deram conta dessa mudança. Outros
perceberam que essas alterações exigem novas mentalidades para acompanhar a
evolução do noticiário esportivo.
Há exemplos dos dois tipos de cobertura. Bueno (2005), por exemplo, cita os
trabalhos de Luciano Maluly e Vicente Higino de Moura7 para demonstrar como os
profissionais responsáveis por veicular o esporte na mídia não têm conhecimento em
assuntos inerentes às modalidades, como doping e lesões esportivas.
Por outro lado, é necessário reconhecer que há jornalistas e veículos que
procuram aproximar-se desse ideal tentando visualizar o esporte além das quatro linhas.
Algumas publicações especializadas podem aprofundar-se nos temas e investigá-los
com tempo hábil para cumprir seu papel. Principalmente nos anos 80, a revista Placar
denunciou a Máfia da Loteria Esportiva (em 1982), o caso Ivens Mendes (em 1983)8 e
contribuiu para os debates da CPI do futebol no país.
Outro exemplo de cobertura que consolidou alguns jornalistas esportivos foi o
das Olimpíadas de Munique, em 19729. No “Massacre de Munique”, como ficou
conhecido o episódio, o fator político foi determinante e interferiu diretamente na morte
de onze atletas israelenses. Logo após o ataque, quando os meios iniciaram a cobertura,
eram os jornalistas esportivos os responsáveis por transmitirem as primeiras
informações. E a maioria deles saiu-se muito bem. Por compreenderem a ligação que
esporte e política tinham naquele momento, buscaram o conhecimento sobre essas áreas

7 MALULY, Luciano Victor Barros. Doping: a notícia incompleta no jornalismo esportivo brasileiro. São
Paulo, ECA/USP, 2002 (tese de doutorado). MOURA, Vicente Higino de. Muito além das quatro
linhas: um estudo das ciências do futebol. São Bernardo do Campo, UMESP, 2000 (dissertação de
mestrado).
8 Escândalo de corrupção envolvendo o presidente da CONAF (Comissão Nacional de Arbitragem de
Futebol, Ivens Mendes).
9 O Massacre de Munique também conhecido como Tragédia de Munique teve lugar durante os Jogos
Olímpicos de Verão de 1972, em Munique, quando, a 5 de Setembro, 11 membros da equipe olímpica
de Israel foram tomados de reféns pelo grupo terrorista palestino denominado Setembro Negro. O
governo da República Federal da Alemanha (RFA), então liderado pelo primeiro-ministro Willy Brandt,
recusou-se a permitir a intervenção de uma equipe de operações especiais do Tzahal (as Forças de
Defesa de Israel), conforme proposta da premiê de Israel, Golda Meir. Os onze desportistas israelitas
acabaram sendo assassinados em vários momentos do seqüestro.
43

antecipadamente, proporcionando ao público explicações imediatas sobre as causas do


ocorrido (ALCOBA, 1980).
Na mesma situação encontramos o depoimento do jornalista Cláudio
Dienstmann concedido à Marli Hatje na ocasião de sua dissertação, em 1994:
“A Iugoslávia perdeu seu formato antigo, mas ela não desapareceu. Quando
se fala em ex-Iugoslávia se fala na antiga, da qual saíram a Bósnia-
Herzegovina, a Macedônia, por exemplo. Esse tipo de conhecimento é
indispensável ao jornalista para poder situar o leitor corretamente e contribuir
para sua formação”. (DIENSTMANN, 1994 apud HATJE, 1996, p.108)

Fica claro, então, que o profissional que atua na mídia esportiva e que se dedica
ao entendimento de outras áreas “passa a ser uma pessoa com ampla visão e longe de
ser um profissional encaixotado e envolto por uma embalagem de conhecimento
superficial” (HATJE, 1996, p.108).
Como bem descreve Betting (2005, p.41):
Um jornalista precisa saber se vai chover. Se o dólar vai baixar. Quem matou
quem na novela das oito. Se o Corinthians vai vencer. Se Guam é um país. Se
o presidente não vai exagerar na dose e expulsar um colega de ofício se ele
escrever umas bobagens. Não é fácil ser jornalista.

3.3.5 Prevalência dos interesses econômicos


Invariavelmente, a lógica das mídias, em última instância, atende a interesses
econômicos (BETTI, 2001). O esporte, por sua vez, impulsionado pela
espetacularização, tem essa situação potencializada.
Han favorecido esta política las campañas publicitarias de las principales
industrias multinacionales que han “sponsorizado”10 los deportes-espectáculo
como medio de difusión de sus productos. La conversión de los clubs
deportivos en sociedades anónimas viene a potenciar este concepto
mercantilista del deporte-espectáculo (ESTEVE RAMÍREZ y FERNÁNDEZ
DEL MORAL, 1999, p.34)

Com o mercado e os interesses econômicos agindo diretamente sobre as mídias,


cria-se um círculo vicioso:
Os produtores pressupõem o que o público (que é visto como homogêneo)
quer, e só lhe oferecem isso, portanto, não podem saber se o público deseja
outra coisa. Novidades aparecem, mas sempre sobre os mesmos temas e sob
as mesmas formas. Como não há opções, o público reafirma a audiência das
“fórmulas” tradicionais. Daí a mesmice da cobertura futebolística, por
exemplo (BETTI, 2001, p.110).

10
Do verbo inglês “to sponsor” – patrocinar, do substantivo inglês “sponsor” – patrocinador; do
substantivo inglês “sponsorship – patrocínio.
44

Essa lógica da indústria cultural, que sobressalta o mercado como definidor do


que é veiculado pela mídia, faz imperar um panorama perverso, que privilegia o
investimento em novidades que, dada sua facilidade e seu baixo custo, leva à crescente
degradação do gosto dos cidadãos.

Além dessas cinco características apontadas por Betti (2001) como formadores
do esporte da mídia, ressaltamos mais um item que deveria ser determinante na
cobertura esportiva midiática: a superespecialização.
É visível que, muitas vezes, o profissional que lida com o esporte na mídia não
possui formação adequada para fazer esse tipo de cobertura. O esporte que gera
interesse da mídia – o de competição – possui inúmeras nuances, inúmeras modalidades
e, por sua vez, inúmeros regramentos.
Como citamos anteriormente, o jornalista esportivo brasileiro, na verdade, é um
jornalista futebolístico, aquele que dedica-se a conhecer apenas a modalidade futebol e
que cobre, eventualmente outros esportes. Diante dessa situação, fica previsível que as
coberturas das outras modalidades, quando ocorrem, servem para demonstrar o
despreparo do profissional.
No entanto, para ficar somente a título de exemplo, a lista seguinte mostra os
desportos que serão executados nos Jogos Olímpicos de 2012, que serão realizados em
Londres, e o seu local de execução. O programa para os Jogos Olímpicos de 2012 é
composto por 39 modalidades de 26 esportes: Atletismo, Badminton, Basquetebol,
Boxe, Canoagem (Slalom e Velocidade), Ciclismo (Estrada, Pista, BMX e Mountain
Bike), Esgrima, Ginástica (Artística, Rítmica e Trampolim), Halterofilismo, Handebol,
Hipismo, Hóquei sobre a grama, Judô, Lutas, Nado sincronizado, Natação, Pentatlo
moderno, Pólo aquático, Remo, Saltos ornamentais, Taekwondo, Tênis, Tênis de mesa,
Tiro, Tiro com arco, Triatlo, Vela, Voleibol.
São 26 esportes somente nas Olimpíadas11. Se considerarmos os demais que não
fazem parte da lista do Comitê Olímpico Internacional (COI), como o futsal, teremos
mais de uma centena de esportes que são praticados mundo afora por milhares de
pessoas. Contudo, os profissionais que, em tese, precisariam trabalhar com apenas esses
26, nem isso o fazem. Claudia Coutinho (2005) resume em um exemplo essa situação

11 Fonte: http://premierbrasileventos.com.br/blog/modalidades-de-esportes-da-
olimp%C3%83%C2%ADada-2012-de-londres. Acesso em 9 de novembro de 2010.
45

que beira o comum. Aconteceu na cobertura esportiva dos Jogos de Atenas, realizados
de 13 a 29 de agosto de 2004, e mostrou a falta de preparo dos jornalistas escolhidos
para informar e comentar as competições:
Chegou a soar estranho a pergunta “o que é uma quilha?” feita ao especialista
em iatismo convidado de um canal fechado de televisão, que naquele instante
explicava as razões do bicampeonato olímpico de Torben Grael e de Marcelo
Ferreira, na classe Star. A vela se consolidou em Atenas como o esporte que
mais medalhas olímpicas deu ao Brasil – total de catorze, sendo seis de ouro,
duas de prata e seis de bronze – e o pessoal ainda faz perguntas básicas.
(COUTINHO, 2005, p.103)

Em algumas modalidades, todavia, a falta de preparo dos profissionais causou


mal-estar e alavancou uma especialização que mudou a cobertura do esporte. É o caso
da Fórmula 1.
Quem faz automobilismo tem bom nível de especialização. As corridas foram
ótimo aprendizado para jornalistas, especialmente depois dos títulos mundiais
de Émerson, Piquet e Senna. O fato de obrigar quem trabalha com o esporte a
conhecer coisas específicas – o motor, por exemplo – obriga maior nível de
dedicação. (COELHO, 2004, p.36)

Essa dedicação dos jornalistas esportivos que cobrem a Fórmula 1 deve-se muito
aos questionamentos do piloto brasileiro Nelson Piquet. Nos anos 80, ele ganhou
seguidas vezes o prêmio Limão, outorgado por jornalistas e oferecido ao esportista mais
antipático do circo da Fórmula 1. Isso porque Piquet seguidamente resmungava: “O que
eu não suporto é jornalista que não sabe do que está falando. Quem acompanha a
temporada inteira, entende o que acontece nos boxes, sabe o que se passa quando um
piloto está no cock-pit. A esses dedico total atenção. Não agüento é desembarcar num
Grande Prêmio Brasil e ouvir alguém me perguntando se faz diferença usar um tipo de
pneu ou outro ou qualquer outro tipo de pergunta imbecil”.
As especificidades da Fórmula 1 obrigaram os veículos de comunicação a
investirem na preparação dos profissionais que cobriam o esporte. Além disso, com a
participação e com os títulos de pilotos brasileiros, cresceram a audiência e o interesse
pelas corridas por parte do público, que queria saber como funcionava cada detalhe.
Tudo isso somado, incentivou a formação de jornalistas mais capacitados.
Explicar o resultado de uma corrida era tarefa mais difícil do que dizer que o
Flamengo ganhou do Vasco porque jogou melhor. Era preciso entender de
motores, pneus, estratégias, câmbios, conhecer o bastidores, os negócios, o
dinheiro envolvido, detectar tendências, imergir num mundo muito particular
em suas relações e interesses. (GOMES, 2005, p.146)

A Fórmula 1, então, foi um exemplo de especialização bem-sucedido, porém,


outros esportes ainda carecem de profissionais que saibam levar ao público as
características de cada um. Que não são poucas. O atletismo, por exemplo, possui tantas
46

ramificações que exige um nível de compreensão alto por parte do jornalista.. Alcoba
(2001, p. 144) mostra como esse esporte precisa de um estudo aprofundado por parte da
mídia:
Deporte: género específico del periodismo
Atletismo: subgénero específico del deporte
Pruebas atléticas: subgéneros específicos del atletismo
Carreras de velocidad: subgéneros específicos de la pruebas atléticas.

Denise Mirás (2005), complementa:


É imensa a quantidade de assuntos/pautas jornalísticas no atletismo. E, óbvio,
não estão restritas ao campo de visão de um jornalista dentro de um estádio
ou nas ruas. Estão em laboratórios, mesas de edição de imagens, nos arquivos
das casas dos técnicos, no contato direto com o público, os organizadores,
etc. (MIRÁS, 2005, p.84).

3.4 Formação do Jornalista Esportivo

As cinco características do esporte da mídia definidas por Betti (2001) mais a


superespecialização mostram como essa área é repleta de especificidades que vão muito
além do simples fazer jornalístico. A maioria das questões apontadas pelo autor
induzem reflexões de que o esporte pode ser muito mais do que o que apenas é
mostrado pela mídia. São características que expõem como o jornalismo esportivo está
preso a amarras que fazem com que essa área seja considerada por muitos como a
menos nobre dentre as editorias de um jornal.
Entretanto, apesar de algumas dessas amarras serem menos passíveis de um
bloqueio – como a prevalência do interesse econômico – estudiosos apontam a
formação do jornalista esportivo como uma das soluções para o melhoramento das
características do esporte da mídia.
Como diminuir a “falação esportiva” na cobertura dos esportes? Como procurar
ressaltar outras modalidades, atenuando a predileção pelo futebol como monocultura
esportiva? Como aumentar as pautas que tratem primeiro do conteúdo e depois da
forma? Como combater a superficialidade com que o esporte é veiculado, diminuindo o
enfoque apenas da disputa? Como minimizar os efeitos da prevalência dos interesses
econômicos na escolha das pautas?
47

A resposta para todas essas questões estaria na formação dos profissionais


responsáveis pela cobertura dos esportes nos veículos de comunicação. “La
transcendencia de la información deportiva se produce por la exigencia a los periodistas
dedicados a este género periodístico, de una preparación acorde con los contenidos a
difundir” (ALCOBA, 2001, p.142).
Hatje (1996, p.115) concorda e destaca a formação ligada à responsabilidade do
jornalista esportivo:
Somente com uma adequada capacitação o jornalista esportivo conseguirá
oferecer, em um curto espaço de tempo, juízos críticos sobre algo que acaba
de acontecer, sem disponibilidade de tempo para analisar detidamente os
acontecimentos presenciados.

Alguns estudiosos do Jornalismo Esportivo constroem análises sobre como


deveria ser o papel ideal de um jornalista esportivo. Para Esteve Ramírez e Fernández
del Moral (1999), as funções do jornalismo esportivo são: potencializar a prática do
esporte, fomentar o espírito desportivo (de participação, de exercício corporal), desterrar
as práticas violentas no esporte (com campanhas de conscientização e denúncias) e
possibilitar o diálogo e a comunicação entre povos, nações e raças.
Ainda segundo os mesmos autores, várias são as características necessárias a um
profissional do jornalismo esportivo. Dentre elas, destaca-se:
Conocimientos suficientes sobre legislación deportiva, dominio de los
reglamentos correspondientes al deporte sobre el que informa, historia del
deporte, etc. En definitiva, se requiere que el periodista deportivo sea un
verdadero profesional especializado evitando así la superficialidad […].
(ESTEVE RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, p. 45).

Ou seja, é possível compreender que o melhoramento no tratamento informativo


do esporte passa invariavelmente pelas mãos do jornalista esportivo. A formação desse
profissional, por conseguinte, passa a ser de suma importância para consolidar esse
contexto. Denise Mirás (2005) ainda acredita que há várias formas de mostrar o esporte
através dos meios de comunicação, não somente da maneira habitual: espetacularizado e
com ênfase na disputa. “O papel do jornalista esportivo também é dar essa possibilidade
de descobrimento, de cultura esportiva, de despertar no espectador no mínimo a
curiosidade pelo esporte, que pode ser um excelente meio de cuidar da própria saúde”
(MIRÁS, 2005, p.82).
Betti (2001), entretanto, alerta que o esporte-competição enfocado pela mídia
não deve ser barrado totalmente, pois esse tipo de abordagem também faz parte do
fenômeno esportivo:
48

Se a mídia enfocasse o esporte como cooperação, auto-conhecimento,


sociabilização, etc., em vez da habitual ênfase no binômio vitória-derrota,
recompensa extrínseca, violência etc., ainda assim estaria fragmentando e
descontextualizando o fenômeno esportivo, pois a competição e uma certa
agressividade são a ele inerente. (BETTI, 2001, p.108)

O mesmo autor ainda faz um compilado sobre como deveria ser a cobertura ideal
da esporte por parte da mídia. O cenário almejado seria o seguinte: além do futebol,
outros esportes e modalidades, inclusive as que ainda são predominantemente
amadores, teriam espaço nas programações de rádio e TV e nas páginas de jornais;
conteúdos científicos sobre a cultura esportiva (como os socioculturais, biológicos,
históricos, etc) teriam mais presença, assim como análises aprofundadas e críticas a
respeito dos fatos nas várias dimensões que envolvem o esporte atualmente (econômica,
administrativa, política, treinamento, tática); os atletas profissionais e amadores teriam
suas vozes colocadas enquanto seres humanos integrais, não apenas como máquinas de
rendimento; e os receptores seriam considerados indivíduos singulares, não apenas uma
massa homogênea, promovendo assim uma interação necessária para se chegar a um
ideal de comunicação (BETTI, 2001).
Todas essas situações expostas por diferentes autores podem ser mais bem
executadas se forem absorvidas por profissionais capacitados e com preparação para
atuarem na área do jornalismo esportivo. “Se os times passam a semana treinando,
aprimorando fundamentos, ensaiando lances, executando estratégias, estudando os
adversários, por que a imprensa não pode e não deve fazer o mesmo?” (BETTING,
2005, p.16).
Hatje (1996, p.110) lembra que jornalistas e espectadores são ambos
observadores do fenômeno esportivo,
a diferença deve estar na forma de julgar o acontecimento, pois o jornalista
tem a obrigação de estar preparado e capacitado para oferecer um ponto de
vista mais realista do que o do simples espectador, cujos interesses na
competição estão condicionados ao desejo de vitória de sua equipe.

Ou seja: não há dúvidas de que o jornalista esportivo deve ser preparado para
exercer sua função. Entretanto, os autores concordam que essa preparação vem
acontecendo por meio do autodidatismo dos profissionais, já que “muitas faculdades
não têm (ainda) um curso de jornalismo esportivo para adequar os princípios gerais do
jornalismo com o esporte. Uma falta grave.” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p.105).
Bueno (2005, p.18), também destaca a falta de oportunidades para a formação do
profissional.
49

Outra questão relevante é a capacitação do jornalista esportivo brasileiro,


quase sempre um autodidata, seja pela falta de investimento dos veículos,
seja pela omissão dos cursos de jornalismo e de entidades vinculadas ao
esporte (federações, clubes, patrocinadores, etc).

O autor madrileno Antonio Alcoba expõe que essa situação configura-se


praticamente da mesma forma em seu país. Sua crítica dá conta de que, na Espanha, as
Faculdades de Comunicação negam-se a determinar o Jornalismo Esportivo como uma
disciplina obrigatória, instaurando-a apenas como uma disciplina eletiva:
Desgraciadamente, las Facultades de Ciencias de la Información,
Comunicación o Periodismo, continúan siendo reacias a instaurar la
asignatura de Periodismo Deportivo, como materia troncal, y sólo lo hacen
por medio de una asignatura optativa de escasa duración, con seminarios o
cursos en los que se tratan aspectos concretos de la actividad periodística del
deporte y de la actividad deportiva, pero sin la estructura propia de una
materia tan importante. (ALCOBA, 2001, p.142)

Entretanto, o cenário que se desenha na Espanha ainda parece ser um pouco


mais desenvolvido que o brasileiro. Bueno (2005, p.19) acredita que “em geral, não há,
nas faculdades de Jornalismo, disciplinas ou mesmo cursos de extensão que prestigiem
o Jornalismo Esportivo, despertando os futuros profissionais de imprensa para a
realidade, o compromisso e os desafios desta área”.
A importância do fenômeno esportivo, contudo, cresce a olhos vistos. “Por el
beneficio o daño que sus opiniones y expresiones pueden causar, sorprende que el
estudio del periodismo deportivo sea tratado con indiferencia por las autoridades
académicas y los Gobiernos” (ALCOBA, 2001, p.142).
E no Rio Grande do Sul? Como é tratado o Jornalismo Esportivo dentro da
Academia? É o que veremos no capítulo seguinte.
50

4 O ENSINO DO JORNALISMO ESPORTIVO

Para analisarmos a presença do Jornalismo Esportivo nos Cursos de


Comunicação do Rio Grande do Sul, procedemos da seguinte forma:
Definimos como sendo 7 (sete) as instituições de ensino a terem seus currículos
analisados. O critério de escolha das Universidades seria estarem localizadas nas 5
(cinco) cidades com maior estimativa populacional do Estado (em 2009), segundo o
IBGE12:

1. Porto Alegre: 1.436.123


2. Caxias do Sul: 410.166
3. Pelotas: 345.181
4. Canoas: 332.056
5. Gravataí: 269.446
6. Santa Maria: 268.969
7. Viamão: 260.740
8. Novo Hamburgo: 257.746
9. Alvorada: 213.894
10. São Leopoldo: 211.663
11. Rio Grande: 196.337
12. Passo Fundo: 187.507

Em cada uma dessas cidades, duas instituições que contemplassem o curso de


Jornalismo (como Comunicação Social – Habilitação Jornalismo ou como Bacharelado
em Jornalismo) deveriam ser selecionadas: uma pública e uma privada13. Em cidades
onde esse cenário não se configurava, escolhemos apenas uma universidade privada.
Em cidades onde havia mais de uma instituição privada com curso de Jornalismo – caso

12 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Lista completa disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=rs. Acesso em 12 de novembro de 2010.
13 A cidade de Gravataí não possui nenhuma universidade com curso de Jornalismo, de acordo com o
Portal Brasil (http://www.portalbrasil.net/universidades_rs.htm). Acesso em 12 de novembro de 2010.
Em função disso, a cidade imediatamente abaixo – Santa Maria – foi selecionada.
51

de Porto Alegre -, optamos por analisarmos apenas uma delas – a maior, a Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)14.

Assim sendo, os Cursos de Jornalismo selecionados para essa pesquisa foram os


das seguintes Universidades, localizadas nas seguintes cidades:

Porto Alegre – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Caxias do Sul – Universidade de Caxias do Sul (UCS)

Pelotas – Universidade Católica de Pelotas (UCPel)

Canoas – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Santa Maria – Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Centro


Universitário Franciscano (UNIFRA)

Todas as Universidades foram contatadas inicialmente para a consulta da matriz


curricular e do perfil dos egressos ser feita através do Projeto Político-Pedagógico, que
contém todas as disciplinas disponíveis à graduação, bem como suas ementas. Após a
análise inicial dos PPPs, procurou-se conversar com os coordenadores (e professores)
de cada curso para saber, entre outros tópicos, se o Jornalismo Esportivo é abordado de
outras formas dentro de suas universidades e como se dá a criação das disciplinas
optativas em cada instituição.

Na análise dos currículos, constatou-se que apenas duas instituições


disponibilizavam a disciplina de Jornalismo Esportivo como uma disciplina eletiva do
currículo de Jornalismo: a Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), da
UFRGS, e o Curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano (Unifra). A
UCPel também abordava o esporte e a mídia, porém de maneira menos aprofundada: o
jornalismo esportivo estava presente dentro da disciplina de Jornalismo Especializado,
que também contemplava os jornalismos econômico, científico, cultural, entre outros.

14
A PUCRS possui cerca de 25 mil alunos, segundo dados atualizados em 2010, disponíveis em
http://www3.pucrs.br/portal/page/portal/pucrs/Capa/AdministracaoSuperior/ascom/SalaImprensa/siDad
os. Acesso em 22 de novembro de 2010.
52

Nas demais universidades pesquisadas, o Jornalismo Esportivo somente era abordado


em oficinas, cursos de extensão e seminários, não estando necessariamente ligado ao
currículo do curso de Jornalismo.

É importante salientar que todos os cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul


pesquisados desenvolvem seus currículos baseados na Lei de Diretrizes Curriculares
para a área de Comunicação Social e suas Habilitações (Parecer CNE/CES 492/2001).

Vejamos agora a análise individual de cada universidade, seguindo a ordem das


cidades mais populosas, apontadas pelo IBGE.

4.2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - Porto Alegre


O Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo da Faculdade de
Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), da UFRGS, é o único dentre as instituições
públicas do Rio Grande do Sul a oferecer a disciplina de Jornalismo Esportivo em sua
matriz curricular. O caráter da disciplina é optativo. Ela foi incorporada ao currículo
com a reforma curricular ocorrida em 2009. É ministrada pela professora Sandra de
Deus desde o primeiro semestre letivo de 2010. Entretanto, a proposta de inserir uma
disciplina denominada Jornalismo Esportivo no currículo do curso data de 1999. A
coordenadora do curso de Jornalismo da Fabico, professora Ana Taís Portanova Barros
(2010)15 explica que os docentes da Fabico têm liberdade para sugerir disciplinas que
contemplem suas áreas de atuação. Todos os professores do departamento, mesmo
aqueles que não estão envolvidos com a pós-graduação, realizam pesquisas. Nesse
sentido, a criação de disciplinas eletivas aparece como uma forma de interligar a
graduação com a pesquisa em áreas específicas:

a gente sempre quer arranjar uma maneira de integrar a graduação com a


pesquisa, e as disciplinas eletivas são como um canal pra gente poder fazer
isso, então nós podemos criar, a gente possui autonomia para apresentar uma
proposta de disciplinas eletivas. Claro que é avaliado, mas qualquer professor
pode apresentar uma sugestão de uma disciplina eletiva (BARROS, 2010).

No caso da disciplina de Jornalismo Esportivo, Barros (2010) explica que foi


criada principalmente pelo interesse da professora responsável, Sandra de Deus. “É uma
professora muito dedicada. Na verdade eu diria que essa oferta constante se deve à

15
Entrevista concedida à autora no dia 9 de novembro de 2010.
53

professora, é da personalidade dela”. O histórico da professora, com pesquisas na área


do jornalismo esportivo, contribuiu, então, para a criação da disciplina. “A professora
que ministra tem muito engajamento com essa disciplina” (BARROS, 2010).
Além disso, a professora Ana Taís destaca que a procura dos alunos por áreas
específicas também ajuda na criação de determinadas disciplinas. “[...] Quando a gente
percebe uma demanda dos alunos por uma especialização em certas áreas, também há
um movimento nesse sentido” (BARROS, 2010). Pode-se dizer que o interesse discente
pelo Jornalismo Esportivo na Fabico também contribuiu para a criação da disciplina. A
professora responsável pela matéria, Sandra de Deus, oferece 20 vagas por semestre aos
alunos. No entanto, o número de acadêmicos que tentam a inscrição varia entre 40 e 50
a cada semestre.
Os assuntos abordados nas aulas dizem respeito às várias especificidades que o
jornalismo esportivo possui. São feitas leituras das principais obras que tratam do tema
e análises de reportagens esportivas. A disciplina também promove o encontro dos
alunos com profissionais que trabalham na mídia esportiva ou que estejam envolvidos
em algum nível com ela. Entre os convidados para palestrarem nas aulas no segundo
semestre letivo de 2010, estavam o repórter esportivo da Rádio Gaúcha, Luciano Périco,
que falou sobre coberturas radiofônicas, o jornalista da Secretaria Extraordinária para a
Copa do Mundo 2014, Douglas Ceconello, falando sobre os preparativos de Porto
Alegre para receber o evento, o advogado do Grêmio Náutico União (GNU), Bruno
Scheidemandel Neto, que esteve presente duas vezes para falar sobre o direito esportivo
e sobre o direito de imagem no esporte, o professor Alexandre Nunes, da Escola
Superior de Educação Física da UFRGS (ESEF), para tratar sobre doping e recursos
ergogênicos no esporte, o jornalista do Globoesporte.com, Eduardo Cecconi, para falar
do jornalismo esportivo na internet, o professor Alberto Reppold, vice-diretor da ESEF,
para discorrer sobre as Modalidades Olímpicas e o impacto econômico e social dos
Jogos, além da presença do ex-técnico da Seleção Brasileira, Dunga, que comandou o
Brasil na Copa do Mundo da África do Sul em 201016. A disciplina ainda mantém um
blog na internet, onde os alunos divulgam as resenhas dos livros e artigos que leem
sobre o tema, e também postam reportagens esportivas17.

16
Ver Ementa e Cronograma completos da disciplina de Jornalismo Esportivo da Fabico nos Anexos
17
Disponível em: http://esportefabico.wordpress.com/. Acesso em 8 de novembro de 2010.
54

Os alunos que cursam Jornalismo na UFRGS ainda podem optar por


acompanhar disciplinas em outros cursos da Universidade.
Existem várias possibilidades para o aluno buscar especializações
nos campos de interesse que não estão contemplados no Jornalismo. Existe a
oferta de várias disciplinas eletivas que são ministradas por outros
departamentos (BARROS, 2010).

Dessa forma, o aluno que tiver maior interesse em trabalhar com o jornalismo
esportivo depois de formado, pode acompanhar matérias na Educação Física, por
exemplo, e aprender mais sobre o conteúdo que ele possivelmente estará veiculando
após deixar os bancos universitários.
A idéia desse novo currículo foi, justamente, tentar fazer com que o
aluno expanda o seu horizonte além do nosso currículo. Hoje em dia, cada
vez mais o profissional é chamado pra atender várias áreas, tem que ser
múltiplo. Então a alternativa foi de dar bastante liberdade para o aluno
construir o seu curso (BARROS, 2010).

A coordenadora do Curso de Jornalismo da Fabico ainda acredita que o


profissional que trabalhe com a área do esporte deve ter uma formação diferenciada. “A
relação, por exemplo, entre as fontes e o jornalista esportivo é totalmente diferente da
relação entre as fontes do jornalista econômico” (BARROS, 2010).
E complementa:
No jornalismo esportivo existe uma peculiaridade muito forte, bem
diferenciada, que está principalmente no futebol, que tem um circuito próprio
de geração de notícia, de como os seus jogadores vão dar entrevista. Então
você tem que ser um iniciado, tem muita coisa pra aprender [...]. (BARROS,
2010).

4.3 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – Porto


Alegre
O curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da
PUCRS, não possui em seu currículo uma disciplina que aborde o Jornalismo Esportivo.
Entretanto, algumas especializações são contempladas nas disciplinas eletivas do
próprio curso, quais sejam: Jornalismo Internacional, Jornalismo de Opinião, e
Jornalismo e Literatura. O coordenador do Curso de Jornalismo, professor Vitor
Necchi18, explica que a criação de novas disciplinas não é recorrente:

essas disciplinas [Jornalismo Internacional, Jornalismo de Opinião, e


Jornalismo e Literatura] foram criadas na última reforma curricular e desde
então são mantidas. Até poderíamos criar novas disciplinas, mas como essas

18
Entrevista concedida à autora em 12 de novembro de 2010.
55

acabaram dando certo, há uma boa procura dos alunos, há professores,


digamos, específicos, então nós acabamos ficando com essas disciplinas.
(NECCHI, 2010).

Além das eletivas, há a cadeira de Jornalismo Especializado, obrigatória para o


Nível V, que possui a seguinte ementa, retirada do site da Famecos19:
“Textos interpretativos nas várias especializações do jornalismo. Jornalismo
opinativo: coluna, artigo, editorial, crônica, artigo e crítica. Jornalismo de
entretenimento. A aproximação possível entre jornalismo e literatura”. (site
da Famecos, 2010).

Para os acadêmicos que sentirem necessidade de aprofundar-se em outros


conteúdos, existe a possibilidade de cursar disciplinas em qualquer departamento da
Universidade.
Em tese ele pode fazer qualquer disciplina da PUC, desde que não
haja um pré-requisito específico, como em Cirurgia III, por exemplo. Mas a
ideia é justamente de que o aluno transite por outros cursos, outras áreas, para
que tenha uma formação complementar. (NECCHI, 2010).

Essa busca pela formação complementar em outros cursos deverá ficar mais
acentuada após a próxima reforma curricular prevista para o curso. O professor Necchi
(2010) explica que o currículo será alterado de forma que todas as disciplinas oferecidas
pelo próprio curso de Jornalismo sejam obrigatórias, e que as optativas sejam feitas
somente em outros departamentos da PUCRS: “Tudo que for disciplina do Jornalismo
terá que compor o currículo obrigatório. Haverá, digamos assim, espaços para
disciplinas eletivas, mas que seriam de outros cursos necessariamente”.
Apesar da não-existência de uma disciplina que contemple, especificamente, o
Jornalismo Esportivo, a área desperta bastante interesse entre os acadêmicos da
Famecos. A solução encontrada pela coordenação do curso, então, foi a criação de
cursos de extensão que abordem um recorte mais específico de determinados temas.
Ao longo do ano são oferecidos vários, e nessa programação, aí sim,
nós procuramos contemplar interesses e manifestações de alunos, desde o
manuseio de algum software e até mesmo o curso de jornalismo esportivo,
por exemplo. Ou de cobertura de futebol. Ou de crítica musical. Ou de
jornalismo político. (NECCHI, 2010).

A grande procura dos acadêmicos de jornalismo pela área esportiva pode ser
constatada na 23ª edição do SET Universitário20, realizado de 21 a 23 de setembro de
2010, na Famecos. Em uma das palestras da segunda noite o tema abordado seria

19
http://www3.pucrs.br/portal/page/portal/famecosuni/famecosuniCapa. Acesso em 29 de outubro de
2010.
20
Realizado desde 1988 pela Famecos, o SET Universitário é um evento que promove palestras e oficinas
na área da Comunicação e que conta com a presença de acadêmicos da maior parte dos Cursos de
Comunicação do Rio Grande do Sul.
56

“Coberturas de Grandes Eventos Esportivos”, sendo os palestrantes os jornalistas


Marcelo Barreto (apresentador da SporTV) e José Alberto Andrade (repórter esportivo
da Rádio Gaúcha). A organização do evento, prevendo que o público da palestra seria
considerável, providenciou a maior sala disponível naquela noite para sediá-la.
Outro exemplo do interesse discente pelo jornalismo esportivo é o jornal Contra
Ataque, idealizado e produzido pelos acadêmicos de Jornalismo da Famecos. O
periódico é mensal e possui uma versão impressa e outra virtual21. A equipe conta com
14 estudantes da Famecos, que produzem o jornal paralelamente às atividades do curso
de Jornalismo.

Tem a ver com a Universidade porque surgiu no âmbito da


Universidade, mas ele [o projeto] é dissociado de alguma disciplina. É de
iniciativa particular deles [dos alunos]. Tiveram nosso apoio, circulam
livremente; nós demos todo o estímulo para divulgar, a assessoria que
necessitassem na elaboração do projeto. Mas não é um projeto da Faculdade;
é feito por alunos da Faculdade, mas numa perspectiva independente.
(NECCHI, 2010).

Segundo Necchi (2010), isso só “reflete o quanto há uma primazia dos esportes
no interesse dos alunos”. O coordenador do curso de Jornalismo da Famecos acredita
que a grande atração dos alunos pelo tema é resultado do destaque que o esporte possui
atualmente. Necchi (2010) lembra que na época em que cursou a faculdade, as áreas que
mais interessavam aos acadêmicos eram “jornalismo cultural ou jornalismo político,
porque [o país] vinha de uma fase de redemocratização”. E completa: “hoje, realmente,
me chama atenção o número expressivo de alunos que gostaria de trabalhar com o
jornalismo esportivo”.
Sobre a formação ideal do jornalista esportivo, Necchi (2010) acredita não haver
um modelo único. Mas ressalta:
É claro que um jornalista que faz curso de Letras com ênfase na Literatura
talvez tenha mais propriedade para escrever, discutir, analisar, noticiar temas
ligados a Literatura, assim como Economia, Política e assim por diante.
(NECCHI, 2010).

No entanto, o professor considera como fundamental que a graduação garanta a


qualidade de uma formação estrutural e básica.
As técnicas, as angulações, as questões éticas que permeiam o
trabalho jornalístico, eu acho que havendo uma garantia dessa questão
estrutural, [...] se houver uma formação específica, ótimo, mas eu ainda
acredito na busca por caminhos próprios, na formação de um repertório, no
desenvolvimento de um pensamento crítico. (NECCHI, 2010)

21
http://jornalcontraataque.com.br/
57

O professor ainda acrescenta que ficaria inviável contemplar todas as áreas


específicas do conteúdo jornalístico em um curso de graduação: “nós teríamos que
aprofundar política, economia, cultura, esporte, agora segurança, meteorologia,
planejamento urbano [...]. É realmente uma equação montar um currículo” (NECCHI,
2010).
Especificamente a respeito da área do jornalismo esportivo, o professor crê que,
principalmente no futebol, a cobertura tornou-se superficial e hoje transforma o esporte
apenas em entretenimento. “Acho que se perde a dimensão do futebol como notícia,
como fato noticiável” (NECCHI, 2010). O coordenador do Curso de Jornalismo da
PUCRS recorda de um fato que ocorreu quando trabalhava como repórter do jornal Zero
Hora, da capital:
lembro que quando eu estava no jornal e houve uma série de denúncias
contra a CBF, houve uma CPI da CBF, muitos repórteres do esporte não
tinham a menor idéia de como fazer essa cobertura, tanto que vieram
repórteres da política e da geral ajudá-los a fazer a cobertura. Então era o
reconhecimento de que não eram repórteres versáteis, preparados para uma
cobertura mais elaborada, mas adensada, afinal tinha-se que ir para os
meandros do Congresso e não ficar simplesmente fazendo a cobertura de um
jogo que está se desenvolvendo. (NECCHI, 2010).

A saída para situações como essa, segundo o professor Necchi (2010),


é garantir ao aluno a capacidade dele de identificar uma notícia, um
fenômeno, fazer uma apuração e depois transformar isso numa narrativa
jornalística. Agora, a questão específica do assunto, do conteúdo, o aluno que
desenvolver senso crítico, bom senso, faro, percepção dos acontecimentos e
aí depois a questão da especialização aí eu acredito muito que é um caminho
individual, de investimento individual. (NECCHI, 2010).

4.4 Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Caxias do Sul


O Curso de Comunicação Social – Jornalismo da UCS também não contempla
em seu currículo uma disciplina que aborde o Jornalismo Esportivo de forma particular.
Segundo o coordenador do curso de Jornalismo, professor Álvaro Benevenuto Junior22,
“não há direcionamento específico para o Jornalismo Esportivo nas disciplinas
curriculares. Tratamos o tema dentro dos estilos de jornalismo” (BENEVENUTO
JUNIOR, 2010).
A estrutura curricular do curso de Jornalismo da UCS é composta por um tronco
comum (com disciplinas de conteúdo integrado às demais habilitações do Curso de
Comunicação Social) e por conteúdos específicos do jornalismo. Entre as disciplinas
22
Entrevista concedida por e-mail à autora em 20 de novembro de 2010.
58

comuns é possível destacar: Filosofia, Realidade Brasileira, Psicologia, Política e


Comunicação e Fundamentos da Economia. Já na abordagem específica, as disciplinas
de Fotojornalismo, Jornalismo Impresso, Jornalismo On line, Telejornalismo,
Radiojornalismo e suas respectivas sequências estão presentes. E é dentro delas que o
jornalismo especializado é trabalhado – sendo o jornalismo esportivo também tratado.
Com relação às disciplinas optativas, o aluno de Jornalismo tem total liberdade
para construir sua formação complementar de acordo com a carreira que desejar seguir.
O estudante escolhe as disciplinas que quer cursar, respeitando as
obrigações fundamentais de cada carreira. Digo, com isso, que o profissional
se forma com o compromisso acadêmico fundamental e obrigatório da
carreira e escolhe o que fazer com as opções complementares ao currículo.
(BENEVENUTO JUNIOR, 2010).

O currículo do Jornalismo da UCS, no que se refere a disciplinas optativas,


compreende tanto cadeiras próprias da habilitação - ou nas demais do Curso de
Comunicação Social - como cadeiras em outros cursos da Universidade.
Quanto à criação de novas disciplinas próprias do curso de Jornalismo, de
acordo com o coordenador do curso, há vários fatores que interferem nesse processo.
“Há um conjunto de elementos que incluem interesse dos estudantes e disponibilidade
do professor em trabalhar com conteúdos específicos” (BENEVENUTO JUNIOR,
2010). No caso do interesse discente, o Diretório Acadêmico tem grande atuação, no
sentido de que concentra a demanda dos alunos por determinadas áreas, propõe e
realiza atividades sobre tais conteúdos específicos, como palestras, oficinas e cursos.
Em se tratando da formação ideal para o jornalista esportivo, o professor
Benevenuto Junior defende que apenas a graduação não seria suficiente para atender
todas as especificidades da área:
acredito que este é um tema a ser tratado numa atividade de pós-graduação,
pela especificidade e pela integração com outras carreiras. Não tem como
formar jornalistas esportivos sem a integração com disciplinas específicas da
Educação Física e do Direito (legislação desportiva). A exemplo do próprio
Direito, que criou um setor específico para decidir coisas dos esportes
(tribunais especiais para tal). (BENEVENUTO JUNIOR, 2010).

4.5 Universidade Católica de Pelotas (UCPel) – Pelotas


O curso de Jornalismo do Centro de Educação e Comunicação (CEC) da UCPel
também contempla o jornalismo esportivo, mas de uma forma mais geral e junto com
outras especializações jornalísticas, dentro da disciplina de Jornalismo Especializado. A
59

cadeira faz parte da carga horária obrigatória do currículo e existe desde 2006, com
34h/aula. Até 2008 era oferecida no quinto semestre da graduação; com a reforma
curricular, passou a ser ofertada no último semestre, o oitavo, permanecendo em caráter
obrigatório.
O professor responsável pela disciplina é Fábio Souza da Cruz. No conteúdo
programático da cadeira os acadêmicos conhecem os conceitos gerais sobre o
Jornalismo Especializado e as diferenças de apuração e produção de reportagens nos
gêneros específicos. Também discutem as inúmeras áreas de especialização em
seminários em sala de aula e analisam e produzem reportagens especializadas. A
bibliografia básica abrange livros da coleção da Editora Contexto de Jornalismo, como
“Jornalismo Esportivo”, “Jornalismo Econômico”, “Jornalismo Científico” e
“Jornalismo Cultural”23.
O diretor do Centro de Educação e Comunicação (CEC), professor Jairo
Sanguiné Jr24, constata que o jornalismo esportivo interessa a um grande número de
acadêmicos do Jornalismo. Além disso, Sanguiné Jr (2010) lembra que o tema ainda é
trabalhado de forma extracurricular, em projetos da TV UCPel:
[o jornalismo esportivo] atrai muitos alunos. Vejo isso nas minhas disciplinas
de redação e, também, porque a nossa TV UCPel tem um núcleo de esportes
que envolve cerca de 12 alunos. Eles fazem a cobertura de eventos esportivos
na cidade e apresentam um programa ao vivo, aos domingos à noite, com
debates e entrevistas. (SANGUINÉ JR, 2010).

O programa a que se refere Sanguiné Jr é o Toque Esportivo, que vai ao ar das


21h às 23h de domingo e aborda o esporte amador e profissional da região sul do
estado. Além de entrevistas e debates, o Toque Esportivo também veicula reportagens
sobre projetos ou instituições que promovam o esporte e a cidadania.
Apesar de a UCPel não ter o Curso de Educação Física entre seus cursos de
graduação, os acadêmicos do curso de Jornalismo têm a possibilidade de acompanhar
disciplinas de outros departamentos para complementarem sua formação: “todos os
cursos disponibilizam disciplinas que podem ser cursadas por alunos de qualquer curso.
Um exemplo são as disciplinas de fotografia, muito procuradas por estudantes de vários
cursos” (SANGUINÉ JR, 2010).

23
Ver ementa completa da disciplina em Anexos.
24
Entrevista concedida por e-mail, em 22 de novembro de 2010.
60

O diretor do CEC/UCPel acredita que a formação ideal do jornalista esportivo


passaria pela procura e interesse pessoal do próprio acadêmico, aliado ao suporte
oferecido pela instituição.
Acho que em qualquer área do jornalismo a que o estudante se
interessa, ele deve buscar por si o aprofundamento, evidentemente com o
apoio da universidade ao oferecer oportunidades para isso. Mas é importante
buscar também o conhecimento e a prática por si, na sua vida cotidiana.
(SANGUINÉ JR, 2010).

As especializações e os cursos técnicos, segundo Sanguiné Jr (2010), viriam


depois, como uma forma de aperfeiçoar e aprofundar o conhecimento do profissional
em sua área de atuação. O professor completa:
Mas acho que principalmente durante a graduação é que acontece a formação
básica para o desempenho profissional e, sobretudo, uma vivência com a área
de atuação escolhida, seja através de estágios, contatos com profissionais e
muita leitura especializada. (SANGUINÉ JR, 2010).

4.6 Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – Canoas


O Curso de Comunicação Social – Jornalismo da ULBRA não possui uma
disciplina que absorve o Jornalismo Esportivo em seu currículo. O coordenador do
curso de Jornalismo, professor Deivison Campos25, acredita que isso se deva ao fato de
a habilitação fazer parte do Curso de Comunicação Social, que contempla ainda os
cursos de Relações Públicas e Publicidade e Propaganda.
[No atual currículo] a exemplo de outras universidades, por estar
muito ligado a questão da Comunicação, ainda existe um compartilhamento
maior, o que impossibilita de alguma maneira que se trabalhe com as
especializações, com as editorias. Se trabalha mais a questão do jornalístico,
da construção daquela idéia do valor-notícia, de noticiabilidade, para pode
depois ser aplicada em diferentes editorias. Então é uma formação mais
generalista. (CAMPOS, 2010).

Apesar de não estar presente na matriz curricular do curso, o esporte é abordado


de outras formas dentro do Jornalismo da ULBRA. Há professores do curso que já
atuaram na área do jornalismo esportivo e que levam suas experiências para a sala de
aula. Até pouco tempo, a Agência Experimental de Comunicação promovia oficinas
periodicamente, contemplando o assunto. “Acho que dessa maneira, um pouco
transversal, de contrabando, o tema do jornalismo esportivo acabou entrando no curso,
mas não se tem uma disciplina dentro do currículo de formação” (CAMPOS, 2010).

25
Entrevista concedida à autora em 8 de novembro de 2010.
61

Quanto às disciplinas optativas, o curso de Jornalismo da ULBRA oferece tanto


as de outros cursos da universidade como as das outras duas habilitações da
Comunicação Social (Relações Públicas e Publicidade e Propaganda), já que a
habilitação de Jornalismo não possui disciplinas eletivas próprias. A coordenação oferta
certas disciplinas, seguindo alguns critérios, mas o acadêmico pode optar por outras não
disponibilizadas em um primeiro momento, desde que o coordenador seja comunicado
em seguida para que possa, assim, validá-la.
[...] Têm alunos que vão buscar em outras áreas. Na Educação
Física, por exemplo. Tenho vários alunos que fizeram futebol de campo,
algumas disciplinas - não práticas, mas teóricas - que, de alguma maneira, já
indica um interesse mais aprofundando sobre a questão do esportivo
(CAMPOS, 2010)

A ULBRA ainda possui um diferencial dentro de seu campus: uma vasta


estrutura física que permite o desenvolvimento de várias modalidades de esportes. É o
Complexo Esportivo da Ulbra. Até o dia 23 de outubro de 2009, o antigo Sport Club
Ulbra (ex-Universidade Sport Club, agora Canoas Sport Club) era ligado à
universidade, e utilizava o Complexo Esportivo para fazer os treinos e sediar os jogos
das competições as quais o clube disputava (em diversas modalidades, desde o futebol e
o vôlei até o atletismo e o basquete)26. O curso de Jornalismo beneficiava-se disso na
medida em que acadêmicos da habilitação estavam presentes no Departamento de
Comunicação, junto com outros alunos da Educação Física. Lá desenvolviam atividades
de assessoria e mantinham contato com o esporte e sua relação com a mídia. A partir do
momento em que a parceria com a Ulbra findou (o clube agora precisa alugar o
Complexo Esportivo para sediar competições), as relações entre os cursos de
Comunicação Social – Jornalismo e Educação Física ficaram mais distantes, sendo
retomadas somente agora, quando o curso de Jornalismo estará criando uma
especialização em Jornalismo Esportivo e contará com a parceria do curso de Educação
Física para as aulas de tática, técnica, regramentos e conceitos.

26
O Canoas Sport Club, com seus doze anos de fundação, é um dos clubes brasileiros que mais ganhou
títulos em diversas modalidades diferentes em pouco tempo de fundação. O clube é bicampeão mundial
de futsal (além do terceiro título em parceria com o Internacional), tricampeão da Liga Nacional de
Futsal (além do quarto título em parceria com o Internacional), Campeão da Superliga Nacional de
Futsal de 2008 (Copa do Brasil), tricampeão da Superliga Nacional de Vôlei, hendecacampeão (11
vezes) gaúcho de Vôlei, tricampeão paulista de vôlei, bicampeão dos Jogos Abertos-SP de vôlei, quatro
vezes consecutiva terceira melhor equipe de atletismo do Brasil, campeã brasileira de handebol
feminino, campeã sulamericana de voleibol feminino, campeão da Copa do Brasil NLB de basquete,
hexacampeã gaúcha de basquete, vice-campeã paulista de basquete, vice campeã gaúcha da primeira
divisão de futebol, campeã gaúcha da primeira e segunda divisão de futebol, além de outros diversos
títulos.
62

A especialização, inclusive, foi reflexo de uma demanda percebida nos alunos da


própria graduação em Jornalismo da Ulbra.
Nós já vínhamos discutindo há algum tempo novos cursos de
especialização, mas esse acabou ganhando prioridade porque, logo depois da
Copa do Mundo, o curso promoveu um evento chamado Papo de Redação, no
qual pessoas que estão atuando em redações vão até a Universidade para
fazer mais relato de experiências do que qualquer outra coisa. Logo depois da
Copa, então, nós fizemos um com os repórteres que estiveram na África do
Sul. Só que essa atividade nós já vínhamos promovendo há um ano e meio. E
esse Papo de Redação foi o que, tranquilamente, teve o maior número de
pessoas. Por outro lado, tem uma série de pessoas realizando seus trabalhos
de conclusão sobre a questão do jornalismo esportivo. Então isso demonstra
um interesse e, ao mesmo tempo, uma demanda para esse tipo de informação.
(CAMPOS, 2010).

O professor Deivison Campos acredita que a formação ideal do jornalista


esportivo passaria por uma graduação em jornalismo e, logo em seguida, uma formação
complementar. “Na graduação a gente fortalece o caule da árvore, digamos, para depois
pensar nos galhos” (CAMPOS, 2010). E completa:
não só no jornalismo esportivo, mas num sentido mais amplo, eu acredito que
uma formação complementar, no sentido de uma especialização ou curso de
aperfeiçoamento mesmo, seriam suficientes para formar alguém em um
determinado campo de conhecimento. Aliado, claro, a uma formação pessoal.
O Zé Alberto Andrade [José Alberto Andrade, repórter esportivo da Rádio
Gaúcha], por exemplo, é um cara que tem não só um conhecimento, mas
também uma memória esportiva que é processo de autoformação, do
interesse dele. Então, eu não acredito em receitas, na verdade. Vai depender
das necessidades de cada pessoa para buscar a sua melhor forma de conhecer
o tema. Para uns vai servir essa dupla formação. Outras pessoas vão se
satisfazer com a autoformação mesmo - não no sentido jornalístico, claro.
(CAMPOS, 2010)

Quanto ao contato com o Jornalismo Esportivo ainda no currículo da graduação,


o coordenador do curso de Jornalismo da ULBRA acredita ser inviável pelo fato de
existirem inúmeras editorias que também mereceriam atenção. Ele considera a
graduação como um curso mais formativo, sendo a especialização o caminho para o
aprofundamento em determinado tema. Campos (2010) ainda completa que o que faz
um bom jornalista “independente se ele é de redação, de assessoria, ou atuando em
qualquer outra área, é a solidez de identificar o que é uma notícia, os fatores de
noticiabilidade, de identificar o sujeito da notícia”.
O professor, entretanto, defende que uma formação mais sólida em jornalismo
esportivo serviria para combater a espetacularização em que foi transformado o esporte
midiático.
Eu tenho observado bastante as chamadas dos canais HD, que fazem
uma vinheta dizendo “o que antes era um detalhe, agora é um espetáculo”.
Isso leva a uma ideia das pessoas que vão para o jornalismo esportivo da
espetacularização da transmissão e, de alguma maneira, também leva a essa
63

superficialização, porque [o jornalista] fica mais preocupado com o que é


bonito e menos com o que está acontecendo. Então se a pessoa tem uma
formação mais consistente ela vai conseguir separar o momento em que o
“que bonito” é necessário e o momento em que uma análise mais consistente
é necessária. (CAMPOS, 2010).

4.7 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – Santa Maria


O currículo do curso de Comunicação Social – habilitação Jornalismo da
Faculdade de Comunicação (Facos) da UFSM não possui nenhuma disciplina que
contemple o Jornalismo Esportivo. O atual currículo está em vigor desde o ano de 2009,
e de acordo com a professora Márcia Franz Amaral 27, integrante da Comissão de
Reforma Curricular dos Cursos de Comunicação Social da UFSM e vice-coordenadora
do Curso de Jornalismo,
o currículo busca dar uma base teórico-prática ao aluno, de forma que ele se
sinta em condições de trabalhar em qualquer tipo de jornalismo. Inicia com
disciplinas como Apuração e Redação Jornalística (1º semestre), Entrevista
Jornalística (2º semestre). Posteriormente, propõe-se a formar o aluno para
as diferentes mídias (impresso, rádio, online e TV). Por outro lado, opta por
preparar este aluno para diversos níveis de complexidade, por isso cada
disciplina específica de uma mídia é oferecida em três semestres
subsequentes. (AMARAL, 2010).

A exemplo da matriz curricular da maioria das universidades, a do curso de


Jornalismo da UFSM também delineia a formação do aluno buscando a especificidade
dos meios (impressa, TV, rádio, online). De acordo com Amaral (2010), da mesma
forma que o jornalismo esportivo não é abrangido, outras especializações do jornalismo,
como o econômico, político, cultural também não são abordados de forma destacada em
disciplinas específicas.
Na UFSM, as disciplinas optativas são chamadas de Disciplinas
Complementares de Graduação (DCGs). No Curso de Comunicação Social, elas são
ofertadas de duas formas: DCGs do próprio Departamento de Comunicação e DCGs
que podem ser cursadas em outros departamentos. As optativas próprias do
Departamento são geralmente disciplinas das outras três habilitações – Produção
Editorial, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. Em algumas oportunidades, os
professores do Jornalismo criam disciplinas que contemplem sua área de atuação (ou
interesse). Entretanto, essas situações são menos comuns em função das atividades
27
Entrevista concedida à autora em 18 de novembro de 2010.
64

acumuladas pelos professores, que “normalmente tem muitos encargos de ensino,


pesquisa, extensão e pós-graduação” (AMARAL, 2010). Mesmo assim, há casos como
o da disciplina de Jornalismo Literário – de caráter eletivo – ministrada pelo professor
Paulo Roberto Araújo. A DCG foi proposta pelo discente, que possui interesse por essa
área do jornalismo. O mesmo professor também ministrava até pouco tempo a disciplina
de Jornalismo Ambiental, por também demonstrar interesse por esse campo do
conhecimento.
Com relação às disciplinas de outros cursos, há uma listagem - determinada pelo
colegiado – de cadeiras que podem ser cursadas em outros departamentos e aproveitadas
como DCGs pelos alunos do Jornalismo. Entre elas estão disciplinas do curso de
História como “História Econômica, Política e Social Geral” e do curso de Ciências
Econômicas, como “Fundamentos Econômicos para Comunicadores Sociais”. Nessa
lista, não há indicação para nenhuma DCG no curso de Educação Física, por exemplo –
que poderia ser aproveitada para complementar a formação de algum acadêmico
interessado na área esportiva. Todavia, se o aluno cursar alguma disciplina do currículo
da Educação Física (tanto Licenciatura quanto Bacharelado), poderá validá-la, desde
que corresponda aos requisitos solicitados pelo colegiado.
A despeito de o jornalismo esportivo não ser abordado diretamente no currículo
do Curso de Jornalismo da UFSM, o tema gera interesse de um número expressivo de
acadêmicos, como destaca a professora Márcia: “em cada turma há de 3 a 5 alunos
muito interessados no jornalismo esportivo” (AMARAL, 2010). Para poderem
desenvolver trabalhos relacionados a esse campo, muitos acadêmicos procuram
atividades extra-curriculares, como o programa da Rádio Universidade Radar Esportivo,
produzido e apresentado por acadêmicos da Comunicação Social28.
Paralelo ao curso de Jornalismo há estudos sobre a relação mídia-esporte,
principalmente no Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade. No
CEFD, além de linhas de pesquisa que enfocam no jornalismo esportivo, também há
disciplinas que abordam a questão e que são ofertadas aos alunos do curso de Educação

28
O Radar Esportivo é um dos programas mais antigos da Rádio Universidade e, desde que começou a
contar com a participação de acadêmicos do Jornalismo da UFSM, teve a coordenação e orientação do
jornalista da Coordenadoria de Comunicação Social e professor do Centro Universitário Franciscano
(Unifra) Gilson Piber. A partir do segundo semestre de 2010, o programa passou a integrar um projeto
maior, que foca na parceria entre a Coordenadoria de Comunicação Social, representada por Gilson
Piber, o Curso de Jornalismo da UFSM, representado pela professora Viviane Borelli e o Laboratório de
Análise de Cenários Esportivos na Mídia (Lacem), do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD),
representado por seu coordenador, professor Antônio Guilherme Schmitz Filho.
65

Física – Licenciatura. Exemplo disso é o núcleo de Estudos e Pesquisas em


Comunicação e Mídia na Educação Física e no Esporte (NEP/COMEFE), que foi criado
em 2007 e está vinculado ao Laboratório de Pesquisa e Ensino do Movimento Humano,
do CEFD/UFSM. O Núcleo surgiu a partir do grande interesse de alunos e profissionais
em estudar e pesquisar as temáticas que dão origem ao grupo e a partir dos novos
Projetos Pedagógicos dos cursos de Educação Física (Licenciatura e Bacharelado) do
CEFD, que contemplam a área com a disciplina de Educação Física e as Novas
Tecnologias de Informação e Comunicação. O NEP/COMEFE atua em projetos de
ensino, pesquisa e extensão envolvendo os cenários esportivos na mídia eletrônica,
impressa e tecnológica. Também promove grupos de discussões e oferta disciplinas e
atividades complementares de graduação (DCG e ACG) para acadêmicos da Educação
Física e áreas afins. Além disso, elabora artigos para publicação em revistas cientificas e
jornais e atua na orientação de trabalhos de conclusão de curso na graduação e pós-
graduação.
Os resultados são positivos: o NEP/COMEFE tem contribuído na formação e
atuação profissional, tanto na área de Educação Física quanto na Comunicação Social.
Aliado ao NEP-COMEFE - que teve sua origem em iniciativa pioneira no Brasil, com o
laboratório de Comunicação, Movimento e Mídia na Educação Física, no inicio da
década de 9029 - cabe destacar outra iniciativa importante nesse contexto, surgida no
CEFD nos últimos anos: a constituição do Laboratório de Análise dos Cenários
Esportivos na Mídia (LACEM). Além disso, após a iniciativa do CEFD, em 1991,
muitas outra surgiram no país.
Dessa forma, os acadêmicos de Jornalismo da UFSM que desejarem manter um
contato mais intenso com a área esportiva, invariavelmente, recorrem aos professores,
projetos e disciplinas do CEFD. É o que ocorre quando os alunos dos Cursos de
Comunicação que se interessam pelo tema decidem fazer seus trabalhos de conclusão de
curso sobre Jornalismo Esportivo, como explica a professora Márcia:

29
Criada em 1991, na Universidade Federal de Santa Maria, através do Programa de Pós-Graduação em
Ciência do Movimento Humano do Centro de Educação Física e Desportos, que ganhou uma nova linha
de pesquisa, na época, vinculada à subárea Pedagogia do Movimento, mas esta em agosto de 1995,
tornou-se efetiva como Subárea do Programa. A proposta de criação da Subárea partiu do entendimento
que desportos e meios de comunicação podem vir a ser um novo pensar-agir na Educação Física, e foi
uma alternativa encontrada para estudar e interpretar os fenômenos sociais esportivos veiculados pelos
meios de comunicação, suas interações e conseqüências na sociedade desde a ótica do educador físico, e
não a do comunicador. Está claro que nesta proposta, a interdisciplinaridade é fundamental, até porque
desde o início do século o esporte brasileiro desenvolveu-se em grande parte alicerçado pela divulgação
de suas modalidades nos meios de comunicação.
66

Quando o aluno está no final do curso e pretende estudar o Jornalismo


Esportivo, encaminhamos o aluno para professores do Centro de Educação
Física, alguns formados também em Jornalismo, que gentilmente abrigam
nossos alunos. (AMARAL, 2010).

A professora Márcia acredita que o currículo ideal para a graduação em


Jornalismo passa por “um núcleo básico e obrigatório em que, posteriormente, o aluno
tivesse a possibilidade de montar seu percurso, escolhendo a especificidade em que quer
atuar” (AMARAL, 2010). Nesse sentido, Amaral (2010) destaca que a possibilidade
que o acadêmico possui de cursar disciplinas em outros cursos e departamentos, serve
de complemento para sua formação em alguma área específica (Economia, Ciências
Sociais, Artes, etc). Por outro lado, quando se trata do acesso a essas cadeiras, o
caminho pode se tornar um pouco difícil, em função do escasso número de vagas
destinadas aos acadêmicos que procuram as disciplinas para cursá-las e validá-las como
DCGs.
O problema é que no esquema atual não há como assegurar ao aluno
todas as opções existentes hoje no mercado de trabalho. Até porque o aluno,
quando solicita a matrícula em disciplinas de outros cursos, depende da
existência de vaga. (AMARAL, 2010).

4.8 Centro Universitário Franciscano (Unifra) – Santa Maria


No Curso de Jornalismo da Unifra, a matriz curricular também contempla o
Jornalismo Esportivo. Há uma disciplina optativa, denominada Oficina de Jornalismo
Esportivo, ministrada pelo professor Gilson Luiz Piber da Silva. A cadeira existe desde
o segundo semestre de 2006. A coordenadora do curso de Jornalismo da Unifra,
professora Sione Gomes30, explica que a disciplina tem “a preocupação de aprofundar
um pouco mais, tanto do ponto de vista teórico do foco nesse segmento quanto na
possibilidade de prática no jornalismo esportivo” (GOMES, 2010).
Entre as questões que a cadeira Oficina de Jornalismo Esportivo se ocupa em
abordar estão a história do jornalismo esportivo, as funções do jornalista esportivo, a
linguagem esportiva, a pauta e a confecção de matérias esportivas e as coberturas
esportivas31. Para o professor responsável pela disciplina Oficina de Jornalismo
Esportivo, Gilson Luiz Piber da Silva32, “o jornalismo esportivo é um segmento

30
Entrevista concedida à autora em 18 de novembro de 2010.
31
Ver Bibliografia e ementa da disciplina em Anexos.
32
Entrevista concedida por e-mail em 22 de novembro de 2010.
67

importante do jornalismo e abra uma excelente possibilidade para ingresso no mercado


de trabalho e na pesquisa” (SILVA, 2010).
Embora esteja presente no Projeto Político-Pedagógico do curso desde 2006, a
disciplina não foi ofertada em todos os semestres letivos que se seguiram. Isso porque a
coordenação do curso da Unifra procura fazer uma alternância na oferta das disciplinas
optativas próprias da habilitação de Jornalismo. Os acadêmicos necessitam de 136h/aula
de cadeiras eletivas para concluírem a graduação; logo, a cada semestre são oferecidas
cerca de seis disciplinas com 34h/aula cada uma para que o estudante possa completar
sua grade complementar de horários. No segundo semestre de 2010 as cadeiras
disponíveis foram as seguintes: Jornalismo Cultural, Oficina de Produção Radiofônica,
Jornalismo Literário, Fotojornalismo II, Oficina de Multimídia e Produção Criativa de
Texto. A disciplina Oficina de Jornalismo Esportivo foi ofertada no primeiro semestre
letivo de 2010.
Nós procuramos sempre observar a alternância na oferta de
disciplinas optativas, para possibilitar que os alunos que se interessem por
esse segmento também possam ter oportunidade de outras escolhas e os
alunos que não se interessem tenham outras escolhas a fazer. (GOMES,
2010).

O professor Gilson Luiz Piber da Silva destaca que “a Oficina de Jornalismo


Esportivo não é permanente, mas já conquistou o seu espaço e tem demanda” (SILVA,
2010). A cadeira, quando ofertada, possui, em média, 20 alunos inscritos. Já houve,
entretanto, uma turma com 28 acadêmicos. “A demanda é positiva” (SILVA, 2010). A
coordenadora do curso complementa:
a gente vê que tem sempre uma procura bem regular. É um numero
interessante de alunos que busca [...]. A gente percebe que existe, sim, um
grupo significativo que se interessa, tanto pelo jornalismo esportivo,
propriamente, quanto pelo rádio, que é um dos principais veículos do
jornalismo esportivo. (GOMES, 2010).

Além da abordagem focada na disciplina Oficina do Jornalismo Esportivo, o


tema também é discutido de outras formas dentro do curso de Jornalismo da Unifra. Na
área do Radiojornalismo, o assunto é colocado em pauta principalmente na Rádioweb
Unifra33, um projeto dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Tendo o
professor Gilson Luiz Piber da Silva - que possui experiência nas áreas de Rádio e
Comunicação e Esportes -, como um dos professores responsáveis, a rádio leva ao ar,

33
http://www.radiounifra.org/
68

desde o dia 10 de setembro de 2010, o programa Titular da Rede, produzido e


apresentado por uma equipe de acadêmicos do curso de Jornalismo.
Ainda dentro da matriz curricular, nas disciplinas de caráter obrigatório
Jornalismo Especializado I, II e III, o jornalismo esportivo também é contemplado,
ainda que de forma menos aprofundada.
Nós temos três disciplinas de Jornalismo Especializado, sendo que a
primeira delas, Jornalismo Especializado I, se propõe a abarcar uma
pincelada de várias possibilidades. Uma delas, claro, é o jornalismo
esportivo. Nesse primeiro momento não existe um aprofundamento maior
numa ou noutra, a idéia é a constituição de um panorama das diversas
possibilidades de especialização. (GOMES, 2010).

A disciplina de Jornalismo Especializado I é obrigatória para o 5º semestre do


Curso de Jornalismo. Sua ementa resumida, retirada do site da Unifra34, possui a
seguinte descrição: “Segmentação no jornalismo especializado. Principais segmentos do
jornalismo especializado. Produção de jornal laboratório”. (Site da Unifra, 2010).
O Centro Universitário Franciscano não possui o Curso de Educação Física entre
suas graduações. Todavia, os acadêmicos que desejarem complementar sua formação
cursando disciplinas de outros departamentos, podem fazê-lo. A diferença para os
demais cursos analisados é que tais disciplinas serão validadas como Atividade
Complementar de Graduação (ACC), e não como disciplinas optativas.
[as ACCs] é onde podem se encaixar diversas atividades que o aluno
entenda como significativas para sua formação profissional. Nesse espaço ele
pode inserir qualquer disciplina de qualquer um dos cursos da instituição. Ele
tem essa possibilidade, de uma forma muito simples no seu processo de
matrícula, de buscar vaga em disciplinas de qualquer curso.
Automaticamente ela vai ser validada como ACC. (GOMES, 2010).

Entretanto, há a possibilidade de que as cadeiras cursadas em outros


departamentos possam ter a validade de uma disciplina optativa: “pode vir a ser
validada como disciplina optativa se ela for similar a uma das disciplinas já elencadas
como optativas do currículo do curso” (GOMES, 2010). A lista com as optativas possui
de 20 a 25 cadeiras pré-determinadas pela coordenação, entre disciplinas de Publicidade
e Propaganda e de outros cursos da instituição.
Com relação à formação ideal para o jornalista esportivo, a coordenadora do
curso de Jornalismo da Unifra acredita não haver uma “receita”. Para Gomes (2010), o
principal é que haja qualidade na formação do profissional.
Eu, como defensora da importância da formação do jornalista
enquanto essa especificidade da profissão jornalista, eu vejo que o primeiro

34
http://www.unifra.br/unifra.asp. Acesso em 22 de novembro de 2010.
69

passo está a graduação como jornalista, por entender que esse é um processo
muito mais de maturação do indivíduo do que propriamente nessa forma de
assimilação de conteúdo. Então é necessária a busca de conteúdos, é
necessário o domínio de algumas práticas, mas fundamentalmente é
necessário esse período de maturação em que ele se enxergue como agente
desse novo processo que é a profissão de jornalista. (GOMES, 2010)

Contudo, a professora acredita que, ainda no percurso da graduação, o futuro


jornalista pode ir evoluindo e identificando quais as áreas são de seu interesse.
[...] já de imediato ir agregando informações, ir agregando práticas,
por isso eu entendo que o caminho das disciplinas complementares, o
caminho dessas estratégias de informações complementares é muito válido,
porque possibilita que, no término dos quatro anos, esse jornalista já tenha
adquirido uma qualificação adequada para se especializar num determinado
segmento, numa determinada área, pode ser o esportivo, o cultural, o
econômico, o político. Eu vejo que esse acréscimo de informações pode vir a
ser feito já no decorrer da formação. (GOMES, 2010).
70

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise das matrizes curriculares, dos perfis e objetivos de cada curso e
da entrevista com os professores das sete instituições em questão, podemos inferir que o
Jornalismo Esportivo ainda é tratado com deficiência dentro dos Cursos de Jornalismo
do Rio Grande do Sul. O esporte, hoje, tem uma significativa importância para o campo
jornalístico, já que a cultura brasileira está permeada por ele. E a mídia tem uma
significativa importância para o esporte, já que é a responsável por veicular e divulgar
para o público esse fenômeno social de massas.
O esporte ocupa um tempo considerável da programação dos veículos,
principalmente em rádio e televisão. Da mesma forma, a influência da mídia no esporte
é tão forte que tem até mudado regras de algumas modalidades. Um dos grandes
exemplos é o voleibol, que para se tornar um esporte mais “atraente”, na verdade, mais
adequado para transmissões esportivas, teve suas regras bastante modificadas, com
vistas a diminuir o tempo das partidas, antes consideradas muito longas. No futebol, a
implantação da morte súbita é outro exemplo. No basquete, regras como o limite do
tempo de posse de bola (primeiro para 30 segundos e hoje em 24 segundos) e o
arremesso de três pontos, foram criadas para tornar o jogo mais excitante para o público,
especialmente as audiências televisivas. Datas e horários de jogos, em toda e qualquer
modalidade, são marcados de forma que favoreçam transmissões ao vivo e se encaixam
nas grades (programação) das televisões.
Todavia, a cobertura jornalístico-esportiva padece de defeitos que acabam por
conceituar o esporte apenas como um espetáculo de entretenimento para o público. “É
necessário que os profissionais do esporte compreendam estas situações e que atuem
interferindo no processo” (RANGEL, 2008, p.72). Como vimos no capítulo 2, a
“falação esportiva”, a ênfase no futebol, a falta de conteúdo, a superficialidade da
cobertura e a prevalência dos interesses econômicos são características que compõem o
cenário midiático-esportivo atual e contribuem para a aparição de apenas um conceito
de esporte: o esporte de rendimento.
Como sabemos (ou pelo menos deveriam saber os profissionais que veiculam
notícias esportivas), o esporte é muito mais abrangente e complexo para ser limitado
apenas a essa dimensão.
71

De acordo com Tubino (1999), em 1978, com a publicação da Carta


Internacional de Educação Física e Esporte pela UNESCO, passou a existir uma nova
visão de esporte no mundo. Neste documento estabeleceu-se que a atividade física ou
prática esportiva é um direito de todos, assim como a educação e a saúde. Atualmente as
dimensões sociais do esporte como um direito de todos, abrange três formas de
manifestação: esporte-educação (ou educacional), esporte-participação (ou
participativo) e esporte-rendimento (em que está incluído o esporte de alto nível).
O esporte educacional tem um caráter formativo, fundamentado em princípios
educacionais como participação, cooperação, co-educação, totalidade, regionalização e
integração. O esporte participativo visa a promover o bem-estar dos praticantes,
apoiando-se no prazer lúdico, no lazer e na utilização construtiva do tempo livre; é a
forma de manifestação de esporte que propicia a integração social, assim como a
promoção de saúde. O esporte-rendimento ou de alto nível equivale à forma de
manifestação do esporte que norteou o conceito de esporte até alguns anos atrás; é
pautado pelas regras e códigos específicos de cada modalidade esportiva,
institucionalizado, com organizações internacionais que regulamentam a prática
competitiva desta forma de manifestação esportiva.
Poucos são os profissionais que trabalham com o Jornalismo Esportivo que têm
conhecimento dessa visão ou dos conceitos antropológicos e sociológicos do esporte.
Assim como muitos são os que dizem entender de futebol e poucos são os que
conhecem os regramentos de outras modalidades. Da mesma forma, são muitos os que
só possuem conhecimento para tratar o esporte dentro de campo e poucos os que o
contextualizam e percebem a influência de outros fatores.
Entretanto, um jornalista não pode ser cobrado de conhecimento, se não tiver
acesso a ele. Este trabalho, então, se propôs a pesquisar o quanto a formação do
profissional jornalista esportivo influencia na maneira com que ele aborda o esporte na
mídia e como esta área é contemplada nos currículos dos Cursos de Jornalismo do Rio
Grande do Sul.
Partiu-se do princípio de que grande parte dos profissionais que atuam na área
esportiva são autodidatas, ou seja, seus conhecimentos sobre o esporte provêm de sua
trajetória pessoal, de suas experiências profissionais acumuladas e de sua procura
particular por bibliografias ligadas ao tema. Procurou-se saber, então, porque essa
situação se configurava dessa forma, se a editoria esportiva é uma das mais lidas,
ouvidas e assistidas pelo público atualmente. Mereceria ter, em tese, jornalistas
72

diferenciados e com conhecimento de causa suficiente para abordar um tema que possui
tanto impacto e influência na vida do brasileiro. “Percebe-se que o jornalista não tem a
dimensão, ou a preocupação com a repercussão e o impacto de sua matéria na
sociedade” (CAMARGO, 2005, p.9). Conforme Alcoba (2001, p.142) constata, “por el
beneficio o daño que sus opiniones y expresiones pueden causar, sorprende que el
estudio del periodismo deportivo sea tratado con indiferencia por las autoridades
académicas y los Gobiernos”.
O que se configura como ideal é que o profissional chegue às redações com, ao
menos, uma base científica, para poder tratar a notícia esportiva de uma forma
particular, afinal,
o jornalismo tem regras próprias para narrar, apresentar, expor, enfim,
tematizar o esporte. Neste sentido, LUSTOSA35 (1996, p. 113) confirma o
exposto ao estabelecer que cada editoria de jornal apresenta diferentes
codificações na formulação do texto da notícia. Isto é, cada seção tematiza,
cobre os assuntos de forma diversa. Para o autor, o jornalismo esportivo
“utiliza uma série de expressões próprias de cada modalidade esportiva”
(1996, p.137), por isso esta atividade exige conhecimentos específicos.
(BORELLI, 2002, p.4)

A autora vai mais longe e acredita que “a atividade de compreensão do esporte


só pode ser feita, primordialmente, pelos especialistas, na medida em que a tarefa de
construção é tão científica que só eles podem ter este entendimento” (BORELLI, 2002,
p.5). Ou seja, apenas especialistas teriam capacidade suficiente para “criar sentidos em
esporte”.
Seguindo essa linha de raciocínio de que o esporte é embasado cientificamente,
estudos de compreensão nessa área passam a ser fundamentais para o exercício da
atividade jornalístico-esportiva. E “a Academia tem um papel importante a
desempenhar neste sentido, já não seja pelo fato de o mercado, para o jornalista
esportivo, estar potencialmente em expansão.” (BUENO, 2005, p.19).
O ensino do Jornalismo Esportivo, portanto, configura-se como uma
necessidade. Contudo, a maioria dos autores que se dedica a analisar a forma como os
profissionais tomam conhecimento do esporte acredita que os cursos de Jornalismo
ainda deixam a desejar quando o assunto é a abordagem da temática em seus currículos.
El fomento de la actividad periodística deportiva, la popularidad de
sus figuras, la demanda de este tipo de información, aunque parezca extraño,
aún no ha conseguido en los centros académicos universitarios, ser
considerada y tratada como asignatura, cuando, curiosamente, los estudiantes
de periodismo la reclaman. (ALCOBA, 2001, p.142).

35
LUSTOSA, Elcias. O texto da notícia. Brasília: UNB, 1996.
73

Bueno (2005, p.19) também alerta para a necessidade do ensino do Jornalismo


Esportivo: “em geral, não há, nas faculdades de Jornalismo, disciplinas ou mesmo
cursos de extensão que prestigiem o Jornalismo Esportivo, despertando os futuros
profissionais de imprensa para a realidade, o compromisso e os desafios desta área”.
Na análise dos sete currículos que fizemos neste trabalho, constatou-se que
apenas um curso de Jornalismo ofertava, todos os semestres, a disciplina de Jornalismo
Esportivo, ainda que em caráter opcional: o curso da Fabico, da UFRGS. No Centro
Universitário Franciscano, a disciplina eletiva Oficina de Jornalismo Esportivo era
oferecida em semestres alternados. Essas foram as duas únicas universidades a
contemplarem o assunto de forma aprofundada em seus currículos, com cadeiras
específicas voltadas à área. Na UCPel, o jornalismo esportivo era tratado de maneira
mais geral na disciplina obrigatória de Jornalismo Especializado. Nas demais
universidades, não havia abordagem do assunto de forma científica nas matrizes
curriculares.
O objetivo deste trabalho não é concluir se essa é a única maneira (ou a mais
correta) de formar um jornalista qualificado para atuar na área esportiva, mas apresentar
como o tema é tratado e abordado nos cursos de Jornalismo do Rio Grande do Sul.
Procurou-se saber qual era a atenção dada a essa área específica nos currículos. Além
disso, tentou-se conhecer como se configurava a inserção de outras áreas, outros cursos
das universidades nos cursos de Jornalismo. Constatou-se que, geralmente, há a oferta
de disciplinas complementares para serem cursadas em outros departamentos. Em tese,
o acesso a elas não seria difícil, porém, em certos casos, o aluno fica impossibilitado de
cursar uma disciplina que consideraria importante pela falta de vagas para acadêmicos
que a cursam como optativa e pela incompatibilidade de horários (já que as cadeiras não
são pensadas para as necessidades dos estudantes de Jornalismo).
Em Universidades que possuem o curso de Educação Física, por exemplo, seria
essencial que o futuro jornalista esportivo acompanhasse disciplinas que abordassem
tanto as questões técnicas, táticas e regras dos esportes quanto disciplinas que
contemplassem a sociologia do esporte e sua importância antropológica. Aqui neste
ponto é necessário destacar que o interesse do próprio aluno pela sua formação também
é fundamental para melhorar a qualidade do jornalismo esportivo atual. A
responsabilidade não pode ser apenas atribuída aos cursos de Jornalismo e a sua
abordagem ou não à área esportiva. Há, dentro de algumas Universidades, diversas
74

maneiras de se buscar uma formação complementar, e que devem ser aproveitadas pelos
futuros jornalistas esportivos. Um exemplo é o curso de Educação Física do
CEFD/UFSM, que possui projetos como o NEP/COMEFE, já citados anteriormente.
Entretanto, há profissionais, professores e acadêmicos que não consideram a
Educação Física como uma área afim ao Jornalismo, principalmente quando se trata de
buscar uma formação complementar e interdisciplinar no estudo da relação mídia-
esporte.
Eu vejo que é uma possibilidade [a especialização] de lapidar ainda
mais essa formação, de solidificar esse processo. E penso que poderia ser na
busca específica da área de Educação Física, mas me parece que o trabalho
da Educação Física já é focado para a formação de um profissional que não é
o do jornalista. E eu vejo que o papel do jornalista esportivo é saber relatar
bem acerca do esporte e não necessariamente praticar bem ou dominar
processos de quem vai treinar atletas. (GOMES, 2010)

De certa forma, algumas visões equivocadas de profissionais da área da


Comunicação em relação ao papel da Educação Física também dificultam a
compreensão da importância do estudo do Jornalismo Esportivo.
O foco deste trabalho, todavia, é a atenção que o próprio curso de Jornalismo
remete à relação mídia-esporte, até porque dentro de uma disciplina de Jornalismo
Esportivo são discutidos, primordialmente, as pautas, as reportagens, os vieses e as
produções jornalísticas da área. Como é uma disciplina voltada a estudantes do
Jornalismo, permite que o primeiro passo – de aprofundamento e conhecimento das
especificidades e exigências da área – seja dado, para que, ao menos, o jornalista que
precisar redigir reportagens esportivas possa fazer isso com o mínimo de cultura
midiática-esportiva possível. Usamos “primeiro passo”, pois o jornalismo esportivo é
uma área tão ramificada e complexa que não seria possível, em apenas um semestre, por
exemplo, tomar conhecimento de todas as centenas modalidades esportivas que são
praticadas hoje em dia.
Nesse sentido, a disciplina pode incentivar a busca do discente pelo aprendizado
constante na área: com as orientações iniciais promovidas pela disciplina, o profissional
perceberá a importância do tema e terá uma espécie de “guia” para buscar mais livros,
bibliografias, especializações, cursos de aperfeiçoamento, enfim, evitará o
autodidatismo e o empirismo na cobertura esportiva, características que, como vimos no
decorrer de nosso estudo, contribuem para a falta de qualidade do noticiário de esportes.
Para realizar este trabalho, considerou-se como fundamental que uma aula da
disciplina de Jornalismo Esportivo da UFRGS (a única que é realizada em caráter
75

constante) fosse acompanhada. Na tarde do dia 11 de novembro de 2010, uma quinta-


feira, a professora responsável pela cadeira, Sandra de Deus, e os discentes, receberam o
advogado do Grêmio Náutico União (GNU), Bruno Scheidemandel Neto, convidado
para falar sobre o Direito de Imagem no esporte. Bruno já havia estado presente em
outra aula para palestrar sobre o Direito Esportivo. Durante duas horas, o advogado
mostrou como o Direito de Imagem é tratado nos contratos esportivos. O Direito de
Imagem é aquele direito personalíssimo do atleta, que em face de sua fama e
popularidade, utiliza-o com o intuito de captar recursos financeiros junto a
patrocinadores, consumidores e demais interessados em explorar sua marca
comercialmente. Nos contratos feitos entre clubes e atletas, o direito de imagem
geralmente constitui-se como parte do salário. Por exemplo, se o atleta ganha 200 mil
reais, um terço desse montante é considerado salário efetivamente e o restante – dois
terços – é valor referente ao direito de imagem, ou seja, o direito que o clube tem de
explorar a imagem do atleta. Essa é uma alternativa de contrato que os clubes utilizam,
já que o valor pago a título de licença de uso de imagem não constitui salário, ficando,
portanto, excluído da base de cálculo para a incidência de INSS, FGTS, Férias e 13°
Salário. Dessa forma, justifica-se parte da remuneração como sendo relativa à licença de
uso de imagem. O problema é que a exploração da imagem dos atletas pelos clubes
dificilmente vale o que é pago (no caso do exemplo, dois terços). Quer dizer, o clube
não utiliza a imagem do atleta de forma que valha tudo que lhe é pago com direito de
imagem. E isso se constitui como uma fraude, já que milhões de reais deixam de ser
arrecadados.
Este caso do Direito Esportivo, explicado em apenas uma das aulas da disciplina
de Jornalismo Esportivo já seria o suficiente para dimensionar a complexidade da
cobertura esportiva e mostrar que o repórter da editoria deve ter conhecimento sobre
todas as áreas que interferem no esporte para atuar nela. Com a formação como
jornalista, o repórter já tem, por excelência, a capacidade de identificar quais são os
critérios de noticiabilidade em qualquer editoria. Mas cabe perguntar: os jornalistas que
estão trabalhando como repórteres esportivos conhecem a forma como são feitos os
contratos dos atletas e sabem que esse assunto, em alguns casos – e se devidamente
apurado – pode representar uma reportagem investigativa e de denúncia? Uma resposta,
pelo menos, podemos inferir: os profissionais formados no Curso de Jornalismo da
Fabico que atuarem no jornalismo esportivo saberão.
76

Ainda dentro desse aspecto, partindo para a análise das entrevistas realizadas
com professores e coordenadores dos cursos de Jornalismo do RS, constatamos que a
maioria dos entrevistados acredita que a graduação é um período para o
amadurecimento do profissional. Por isso, para os professores, o basilar, antes de
conhecer de forma aprofundada o conteúdo que se vai veicular, é ter domínio das
técnicas de reportagem, dos critérios de noticiabilidade e de como trabalhar as questões
éticas do jornalismo. Conforme os entrevistados, absorvendo esses fundamentos do
jornalismo, o profissional poderá atuar em qualquer editoria.
De fato, jornalismo é jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social.
Sua natureza é única e está intimamente ligada às regras da ética e ao interesse público.
Porém, trabalhar com jornalismo esportivo tem suas especificidades. Por isso, é
importante considerar o exposto de Borelli (2002, p.10):
Assim como o trabalho jornalístico como um todo tem suas próprias regras,
com a cobertura esportiva não é diferente. Neste sentido, a cobertura
esportiva é realizada com ferramentas gerais, do próprio jornalismo, e com
ferramentas específicas do esporte. Isto é, as regras gerais (entrevistas com
fontes, formas de apreensão, construção do lead, apresentação do título, texto
claro e conciso, composição da página e outros valores exigidos pelos
manuais de redação) valem para todas as editorias. Porém, o jornalismo
acaba incorporando fatores característicos do esporte, como a descrição da
ficha técnica em jogos, o uso de expressões características do campo
competitivo (linguagem agonizante, de combate, mais despojada, em função
do campo ser, sobretudo, de entretenimento, etc).

O jornalismo esportivo, então, é um campo com ferramentas específicas que,


obviamente, precisam ser conhecidas pelos profissionais que nele atuarão. Quer-se dizer
que, além de aprender sobre o próprio jornalismo, o repórter da editoria esportiva ainda
precisa dominar os fatores que diferenciam essa cobertura das demais. O conhecimento
das especificidades esportivas revela-se tão importante quanto o domínio do fazer
jornalístico. Às vezes, as características próprias da abordagem esportiva até suplantam
alguns preceitos do Jornalismo, como bem explica Borelli:
As regras instituídas para a composição do lide, por exemplo, têm pouca
relevância na editoria de esportes porque nesta seção é permitida a criação, a
liberdade, a inovação, enfim, muitas estratégias são desenvolvidas para a
tematização do esporte. Pela própria pluralidade do campo esportivo, o
jornalista é levado a abandonar certas regras para incorporar novas formas
nas coberturas. Isto é, são desenvolvidas novas estratégias para aprimorar o
trabalho, se adequar a inovações e avanços tecnológicos e para aprender a
lidar com novos e diversos fatores que surgem a cada dia. (BORELLI, 2002,
p.10).

O campo esportivo afeta e é afetado por vários outros campos, como o das
ciências humanas, da saúde, da pedagogia, da comunicação, do movimento humano, do
77

direito, etc. Por isso, não pode ser compreendido de forma superficial, ou mesmo não
ser estudado e assimilado pelo jornalista que vai trabalhar com essa área.
É preciso entender que conhecer só o que se faz não basta. Uma
informação de outra área poderá interferir diretamente em seu trabalho.
Novidades que envolvam política, economia, entre outros assuntos,
provocam reações, causas e efeitos no esporte. Saber enxergar e interligar
essas mutações é fundamental. (AWAD, 2005, p.58)

Claudia Coutinho (2005, p.110) completa:


O esporte, independentemente da modalidade escolhida (nem sempre por
livre e espontânea vontade do jornalista), requer o domínio das regras básicas
do jogo, o conhecimento das fórmulas das competições (que, no Brasil,
costumam ser bastante mutáveis e, por vezes, bem complicadas) e a
nomenclatura, que vai desde o vocabulário de golpes até os sinais utilizados
pela arbitragem. Uma dose de conhecimento sobre doping e medicina
esportiva também é importante.

A deficiência no ensino do Jornalismo Esportivo preocupa, no que se refere à


qualidade da informação que está sendo oferecida para o público. São raras as pautas
abordando apreciações estruturais sobre a situação do esporte no país, reportagens
investigativas, as relações entre esporte e saúde, a capacidade social do esporte, etc. O
esporte midiático foi institucionalizado como entretenimento e como um espetáculo,
sendo que, “experiências como a que o Instituto Ayrton Senna desenvolve - que é a
educação pelo esporte - de alguma maneira já provam que o esporte não é só
entretenimento” (CAMPOS, 2010).
Além disso, em 2014 e 2016 o Brasil vai ser sede dos dois maiores eventos
esportivos do mundo: a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, respectivamente. É
pertinente nos questionarmos se os profissionais que estarão envolvidos na cobertura de
acontecimentos que serão acompanhados por grande parte da população mundial estão
preparados o suficiente para realizá-la.
No âmbito olímpico, inclusive, se torna ainda mais visível o despreparo dos
jornalistas. A maioria dos esportes só tem o acompanhamento dos profissionais da
imprensa esportiva justamente na Olimpíada, ou seja, de quatro em quatro anos. “Em
geral, a mídia só contempla determinados esportes no instante das grandes competições
internacionais (as Olimpiadas e os Jogos Pan-americanos) [...]” (BUENO, 2005, p.21).
A falta de conhecimento sobre as modalidades disputadas nos Jogos já protagonizou
diversas situações constrangedoras nas transmissões olímpicas. Capinussú (2005)
acredita que a necessidade de aprofundamento no conhecimento sobre o Movimento
Olímpico deve ser tratada a partir da superação de quatro aspectos básicos. Dentre eles,
está o seguinte:
78

Os Cursos de Jornalismo existentes nas Escolas de Comunicação não


preparam o jovem para encarar um mercado de trabalho atraente, como o
esportivo. Muito menos, fornecem informações substanciais sobre o
Olimpismo, a ponto do repórter não saber quem é Ademar Ferreira da Silva,
um dos poucos integrantes do seleto elenco ganhador de duas medalhas de
ouro em duas Olimpíadas consecutivas, em uma prova bastante difícil como
o salto triplo. (CAPINUSSÚ, 2005, p.53).

Para neutralizar esse aspecto negativo da cobertura jornalístico-esportiva, o autor


apresenta cinco recomendações, as quais consideramos como fundamentais para a
compreensão deste trabalho e reproduzimos na íntegra (CAPINUSSÚ, 2005, p.55):
1 - Inclusão, por parte das escolas superiores de comunicação, da disciplina
jornalismo esportivo (ou comunicação esportiva) em seus currículos de graduação, com
cargas horárias de no mínimo 30 h/aula.
2 - Realização de cursos de pós-graduação, em nível de especialização, na área
de comunicação esportiva, com aulas ministradas por professores ligados à
Comunicação e à Educação Física, portadores de formação em nível de mestrado e
doutorado, ou com titulação de notório saber. Nesta proposta, o curso de especialização
se dividiria em três setores:
INFORMAÇÃO E ESPORTE - Futebol de campo, futsal, voleibol, basquetebol,
natação, pólo-aquático, atletismo, ginástica artística, ginástica rítmica, tênis, remo,
iatismo,artes marciais e informação esportiva.
FUNDAMENTOS DO ESPORTE - Epistemologia do esporte; organização e
assessoramento nos esportes; sociologia do esporte; medicina esportiva.
JORNALISMO ESPORTIVO – Noticiário esportivo; crônica esportiva;
transmissão esportiva; imagem do esporte.
3 - Cursos de curta duração com a participação de especialistas no assunto, para
repórteres esportivos, versando sobre informações básicas a respeito do Olimpismo, em
sua parte filosófica e operacional (abordagem sobre esportes e Jogos Olímpicos de
Verão e Inverno).
4 - Publicação de periódicos capazes de resgatar a memória olímpica em todos
os seus aspectos, deixando de lado o noticiário e dando prioridade às raízes do
Movimento Olímpico, aproveitando tudo aquilo de belo que esta manifestação propicia.
5- Convém preservar a influência dos meios de comunicação em seu aspecto
esportivo, utilizando-os em campanhas benéficas que divulguem políticas corretas de
nutrição e da prática esportiva.
79

O jornalismo esportivo, como vemos, não pode e não deve ser ignorado pelas
escolas de Jornalismo. Para Alcoba (apud CAMARGO, 2005, p.4) a formação ideal do
jornalista deve compreender três anos de estudos referentes a sua atuação e dois anos de
especialização para atuar na área de sua preferência. “... A preparação de um jornalista
esportivo deveria estar diretamente ligado ao estudo. É essa a minha grande
preocupação com essa nova geração que esta querendo atuar nessa profissão e não quer
estudar...” (ALCOBA apud CAMARGO, 2005, p.4)

Há inúmeras razões para o jornalismo esportivo ser contemplado nas matrizes


curriculares dos cursos de Jornalismo. Além das que já citamos no decorrer do trabalho,
existe também o interesse do próprio aluno na temática. Nas entrevistas realizadas com
os professores e coordenadores para a realização desta pesquisa, constatamos que em
todas as instituições os entrevistados percebem que o assunto atrai um número
considerável de acadêmicos.
Em uma pesquisa realizada nas Universidades de Taubaté (UNITAU), de Mogi
das Cruzes (UMC) e na UniFIAM/FAAM, de São Paulo (SP), foram entrevistados 50
alunos de cada instituição sobre a inclusão da disciplina Jornalismo Esportivo na grade
curricular de suas Universidades36. O resultado foi que 115 dos 150 estudantes
entrevistados - 76% do total - têm interesse na temática esportiva.
O que se conclui é que mídia e esporte são fenômenos que se desenvolvem na
teia cultural da sociedade, portanto, não estão isolados, suas relações não se dão
unicamente na esfera de um e ou de outro, interligam-se e influenciam outros aspectos
sociais. Estão também na esfera política, econômica e no espaço das artes. Enfim, são
fenômenos da dimensão cultural do homem.
Nesse sentido, um dos agentes responsáveis pela construção mídia-esporte – o
jornalista – precisa estar cientes de seu papel e, sobretudo, ter conhecimento de todas as
variáveis possíveis antes de exercê-lo.
Considerando a força do esporte como fenômeno social, econômico e político e
a responsabilidade dos jornalistas esportivos frente a essa situação, Academia, Governo
e empresas jornalísticas devem incentivar o ensino do Jornalismo Esportivo. Dessa

36
Pesquisa disponível no artigo “Jornalismo Esportivo: uma nova disciplina para o curso de graduação
em Jornalismo”, de Fernando Ivo Antunes, disponível no site da Universidade do Futebol:
http://universidadedofutebol.com.br/2009/12/1,4421,JORNALISMO+ESPORTIVO+UMA+NOVA+DIS
CIPLINA+PARA+O+CURSO+DE+GRADUACAO+EM+JORNALISMO.aspx?p=2. Acesso em 22 de
novembro de 2010.
80

forma, a capacidade do profissional é maximizada, a qualidade da informação veiculada


aumenta, o público consome essa informação de forma ativa e benéfica e o Jornalismo
Esportivo pode cumprir, também, seu papel de ator na transformação social.
81

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MUÑOZ-TORRES, Juan Ramón. Aproximación al concepto de información


periodística especializada. In: ESTEVE RAMÍREZ, F. (Org.). Estudios sobre
Información Periodística Especializada. Valencia: Fundación Universitaria San Pablo
C.E.U, 1997. p. 25-41.
83

RABANILLO, Serafín Chimeno. Las fuentes en el proceso de la información


periodística especializada. In: ESTEVE RAMÍREZ, F. (Org.). Estudios sobre
Información Periodística Especializada. Valencia: Fundación Universitaria San Pablo
C.E.U, 1997. P. 43 – 60.

RANGEL, Patrícia. O Futebol Midiático: Uma reflexão crítica sobre o jornalismo


esportivo nos meios eletrônicos. Dissertação (Mestrado em Comunicação na
Contemporaneidade). Faculdade Cásper Líbero, Sào Paulo, 2008.

SIMARRO, Pedro Ortiz. La formación dual del periodista especializado. In: ESTEVE
RAMÍREZ, F. (Org.). Estudios sobre Información Periodística Especializada.
Valencia: Fundación Universitaria San Pablo C.E.U, 1997. P. 61 – 69.

TUBINO, Manoel José Gomes Tubino. O que é esporte. São Paulo: Brasiliense, 1999.

VILAS BOAS, Sérgio. Formação e Informação Esportiva, São Paulo: Summus


Editorial, 2005.
84

ANEXOS
85

ANEXO A - Ementa da Disciplina de Jornalismo Esportivo do Curso de


Jornalismo da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação


Departamento de Comunicação

Dados de identificação

Período Letivo: 2010/2


Professor Responsável: SANDRA DE FATIMA BATISTA DE DEUS
Disciplina: JORNALISMO ESPORTIVO
Sigla: BIB02119 Créditos: 4 Carga Horária: 60

Súmula
A especificidade do jornalismo esportivo. Limites entre informação jornalística e
espetáculo. A linguagem dos diferentes esportes. A crônica esportiva. Montagem de
equipes e outros procedimentos relativos à produção jornalística.

Currículos Etapa Natureza


Aconselhada
JORNALISMO Eletiva

Objetivos
- Buscar um melhor preparo dos estudantes que desejam seguir a especialização no
jornalismo,
- Aprofundar os conhecimentos teóricos em jornalismo esportivo
- Conhecer os diferentes teóricos do jornalismo esportivo,
- Analisar as práticas de jornalismo esportivo
- buscar terminologias apropriadas para a especialização no jornalismo que trata de
esportes.

Conteúdo Programático

Semana Título Conteúdo


1 a 18 Jornalismo esportivo: teoria - O jornalismo especializado e a complexidade do
e prática jornalismo esportivo
- O estado da arte nos estudos específicos sobre
jornalismo esportivo
- O jornalismo esportivo nos diferentes meios
- Conceitos e práticas do jornalismo esportivo
- O uso de medicamentos no esporte
- Modalidades esportivas e os eventos esportivos
86

-Respostas do corpo aos treinamentos


- A relação entre fontes e jornalistas.

Metodologia

- Aulas expositivas
-Seminários com convidados especialistas Carga Horária Teórica: 60 horas
Prática: 0 horas Experiências de Aprendizagem - Leituras especificas
- Preparação de seminários
- Realização de coberturas esportivas Critérios de Avaliação - Participação em aula
- Entrega de material analítico das coberturas Atividades de Recuperação Previstas -
Entrega de monografia sobre um tipo de cobertura esportiva.

Bibliografia
Básica Essencial
ALCOBA, Antonio - Deporte y comunicación - Editora Dirección de Deporte de la comunidad
Autónoma de Madrid
ALCOBA, Antonio - El periodismo deportivo em La sociedad moderna. - Editora Ed. Augusto
Pila Teleña
ALCOBA, Antonio - Periodismo Deportivo - Editora Sintesis (ISBN: 8497562739)

Básica
Andre Rezek e outros - 11 gols de placa - uma seleção de grandes reportagens sobre o nosso
futebol - Editora Record (ISBN: 9788501087621)
BARBEIRO, Heródoto e RANGEL, Patrícia - Manual de jornalismo Esportivo - Editora
Contexto (ISBN: xxxxx)
CLAUSO, Raúl - Cómo se construyen lãs noticias- los secretos de lãs técnicas periodísticas -
Editora La Crujía (ISBN: 9789876010337)
COELHO, Paulo Vinicius. - Jornalismo esportivo - Editora Contexto (ISBN: xxxxxxx)
Edileuza Soares - A bola no ar - Editora Summus (ISBN: 8532304613)

Complementar
CHARAUDEAU, Patrick - Discurso das mídias - Traduzido por Angela Correa - Editora
Contexto (ISBN: 8572443231)
LAGE, Nilson - A reportagem: Teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística - Editora
Record (ISBN: 9788501060907)

Outras Referências

Título Texto
A RELAÇÃO Projeto de pesquisa: A pesquisa aborda a relação entre as fontes e os
ENTRE jornalistas esportivos. A pesquisa bibliográfica permitirá tipificar e
JORNALISTAS E classificar as fontes de acordo com sua natureza, origem, duração e
FONTES NO legitimidade. O corpus da pesquisa é formado pela programação
JORNALISMO esportiva das emissoras que operam em Amplitude Modulada (AM), em
ESPORTIVO (estudo Porto Alegre. Esta delimitação será possível a partir de uma revisão nos
87

sobre radiojornalismo estudos sobre jornalismo esportivo e sobre emissoras de rádio no Rio
esportivo) Grande do Sul, especificamente em Porto Alegre. Posteriormente será
realizado o acompanhamento da programação e a classificação dos
programas com observação das rotinas de produção. Realização de
entrevistas com os responsáveis pelas emissoras e com os jornalistas
esportivos. A etapa seguinte, com base nas referências bibliográficas,
constituí-se de uma análise da programação para definir os programas
jornalísticos e qual a relação jornalista x fonte.
88

ANEXO B – Ementa da Disciplina de Jornalismo Especializado do Curso de


Jornalismo do Centro de Educação e Comunicação (CEC) da Universidade Católica de
Pelotas (UCPel)

Disciplina de Jornalismo Especializado (2006)

EMENTA
------
Conhecimento e compreensão dos diversos gêneros do jornalismo
especializado. Conceituação, segmentação, interfaces, estilos e possibilidades.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
---------------------
1. Conceitos de linguagem cotidiana e linguagem especializada
2. Produção no jornalismo especializado. Pauta e captação da informação. A
preparação do jornalista para reportagens especiais.
3. Áreas especializadas (economia, política, cultura, tecnologia, medicina,
esportes, etc.).
4. Seminários por área de especialização.
5. A especificidade da linguagem dirigida a públicos segmentados. Publicações
segmentadas.
6. Análise e produção de reportagens especializadas.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
-------------------
CALDAS, Suely. Jornalismo Econômico. São Paulo: Contexto, 2003.
COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2004.
OLIVEIRA, Fabíola. Jornalismo Científico. São Paulo: Contexto, 2002.
PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. São Paulo: Contexto, 2004.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
-------------------------
ARISTÓTELES. Arte Retórica. Arte Poética. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s.d.
89

BASILE, Sidnei. Elementos de Jornalismo Econômico. Rio de Janeiro:


Negócio/Campus, 2002.
BURKE, Peter; PORTER, Roy (Org.). Línguas e Jargões: contribuições para
uma história social da linguagem. São Paulo: Ed. Unesp, 1998.
BURKET, Warren. Jornalismo Científico. São Paulo: Forense Universitária,
1990.
CALDAS, Álvaro (Org.). Deu no Jornal - o jornalismo impresso na era da
Internet. Rio de Janeiro/ São Paulo: Ed. PUC-Rio/Loyola, 2002.
CAVALCANTI, Fabiane Gonçalves. Neologismos, empréstimos e erudição no
jornalismo científico. Portal do Jornalismo científico, acessado em 28 de março de
2002. (http://www.jornalismocientifico.com.br/artigofabianeneolo-gismos.htm).
COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2003.
ECO, Umberto. Lector in Fabula. São Paulo: Perspectiva, 1986.
ERBOLATO, M.. Jornalismo especializado: emissão de textos no jornalismo
impresso. São Paulo: Atlas, 1981.
FRIAS FILHO, Otávio. et alii. Seminário de Jornalismo. São Paulo, Folha de
São Paulo, 1986.
KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo Econômico. São Paulo: EDUSP, 1996.
LADEVÉZE, Luiz Nuñez; CASASUS, Josep Maria. Estilo y Géneros
Periodísticos. Barcelona: Ariel, 1991.
LAGE, Nilson. A Reportagem - teoria e técnica de entrevista e pesquisa
jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001.
LOPES, Boanerges; NASCIMENTO, Josias. Saúde e Imprensa - o público que
se dane! Rio de Janeiro: Mauad, 1996.
OLIVEIRA, Fabíola de.. Jornalismo Científico. São Paulo: Contexto, 2002.
PELTZER, Gonzalo. Jornalismo Iconográfico. Lisboa: Planeta, 1992.
REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Jornalismo Empresarial: teoria e
prática. São Paulo: Summus, 1984.
TRAVANCAS, Isabel. O Livro no Jornal - os suplementos literários dos jornais
franceses e brasileiros nos anos 90. Cotia: Ateliê Editorial, 2001.
VILLAS BOAS, Sérgio. O Estilo Magazine: o texto em revista. São Paulo:
Summus, 1996.
90

ANEXO C - Ementa da Disciplina Oficina de Jornalismo Esportivo do Curso


de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA)

Ementa da disciplina Oficina de Jornalismo Esportivo:

A história do jornalismo esportivo. Funções do jornalista esportivo. A linguagem


esportiva. A pauta e a confecção de matérias esportivas. As coberturas esportivas.

Carga horária - 34 horas/aula

Bibliografia

Bibliografia básica

BARBEIRO, Heródoto e LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de Radiojornalismo:


produção, ética e Internet. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2003.

FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre:


Sagra-Luzzatto, 2000.

JUNG, Milton. Jornalismo de Rádio. São Paulo: Contexto. 2004.

SCHINNER, Carlos Fernando. Manual dos Locutores Esportivos. São Paulo: Panda,
2004.

Bibliografia complementar

MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista, o diálogo possível. São Paulo: Ática, 1988.

McLEISH, Robert. Produção de Rádio: um guia abrangente de produção radiofônica.


São Paulo: Summus, 1999

PARADA, Marcelo. Rádio: 24 horas de jornalismo. São Paulo: Panda, 2000.

PORCHAT, Manual de Radiojornalismo da Jovem Pan. São Paulo: Ática, 1993.

RÁDIO GUAÍBA. Manual de Redação. http//www.radioguaiba.com.br/manual.htm.

Jornais diários, artigos e sites esportivos na Internet

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