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Laura Gheller
por
Laura Gheller
2010
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Departamento de Ciências da Comunicação
Curso de Comunicação Social
Habilitação Jornalismo
elaborada por
Laura Gheller
COMISSÃO EXAMINADORA
Agradeço à minha família. O apoio de meu pai, o incentivo de minha mãe, o companheirismo
de minha irmã, a parceria de meus primos e a sabedoria de minha avó foram fundamentais
nessa conquista.
Agradeço à Lari, pelos almoços, pelas jantas, pelas conversas, pela amizade e pela revisão.
Agradeço às pessoas que colaboraram com esse trabalho, seja com entrevistas, com dados ou
com materiais. Obrigada pela confiança, disponibilidade e atenção.
E agradeço à minha querida orientadora que acreditou e aceitou o desafio de me guiar nessa
tarefa. Obrigada por esse ano de intenso aprendizado e de amizade verdadeira.
“Quando o Mundial começou, pendurei na porta da minha casa um cartaz que dizia: Fechado
devido ao futebol.
Quando o retirei, um mês depois, eu já havia jogado sessenta e quatro jogos, de cerveja na
mão, sem me mover da minha poltrona preferida.
Essa proeza me deixou moído, com os músculos doloridos e a garganta arrebentada; mas já
estou sentindo saudades. Já começo a sentir falta da insuportável ladainha das vuvuzelas, da
emoção dos gols não recomendados para cardíacos, da beleza das melhores jogadas repetidas
em câmera lenta. E também da festa e do luto, porque às vezes o futebol é uma alegria que
dói, e a música que comemora alguma vitória dessas que fazem os mortos dançar soa muito
parecida ao clamoroso silêncio do estádio vazio, onde algum vencido, sozinho, incapaz de se
mover, espera sentado em meio às imensas arquibancadas sem ninguém.”
(Eduardo Galeano)
RESUMO
Monografia
Departamento de Ciências da Comunicação
Universidade Federal de Santa Maria
Monografia
Departamento de Ciências da Comunicação
Universidade Federal de Santa Maria
This paper presents an investigation about the presence of the Sports Journalism in the
curriculum of Rio Grande do Sul`s Journalism Schools. The research aims to examine if
training in Journalism prepares professionals to work in editorial sports. Moreover, it aims to
highlight the importance of segmented journalism education in Rio Grande do Sul`s schools
of communication. The approach begins by reviewing the work involves analyzing and
curriculum of seven courses in Journalism from the State. Interviews with teachers and
coordinators were also used to highlight the reasons for the presence or absence of specialized
disciplines in the curriculum of these courses. With the analysis of curriculum and interviews,
together with the theoretical background, waiting to understand if universities make
journalists to work in the sport area.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................81
ANEXOS..................................................................................................................................84
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INTRODUÇÃO
c) Após, a análise dos currículos foi realizada atentando para os seguintes itens:
- Grade curricular (programas e ementas das disciplinas)
- Objetivos do Curso (objetivo geral e objetivos específicos)
- Perfil do Profissional (definição da profissão, descrição dos requisitos psicofísicos e
atribuições pessoais)
d) Complementando a análise curricular, foram realizadas entrevistas com professores
e coordenadores dos cursos de Jornalismo, como forma de individualizar os fatores
determinantes para a adoção ou não do Jornalismo Especializado nos currículos. De acordo
com Robert Farr (1982, apud GASKELL, 2002, p.65), essas entrevistas podem ser
caracterizadas como entrevistas qualitativas e são “essencialmente uma técnica, ou método,
para estabelecer ou descobrir que existem perspectivas, ou pontos de vista sobre os fatos,
além daqueles da pessoa que inicia a entrevista”. Em uma entrevista qualitativa, Gaskel
(2002) destaca que deve haver preparação e planejamento, atenção para a seleção dos
entrevistados e o uso de um tópico guia. “O tópico guia é parte vital do processo de pesquisa e
necessita atenção detalhada” (GASKELL, 2002, p.66). Entretanto, o pesquisador não pode se
tornar escravo desses tópicos e atribuir somente a ele o sucesso da investigação, pois como o
próprio nome já diz, serve como um guia. “O entrevistador deve usar sua imaginação social
cientifica para perceber quando temas considerados importantes e que não poderiam estar
presentes em um planejamento ou expectativa anterior, aparecerem na discussão”
(GASKELL, 2002, p.67). Neste trabalho, as entrevistas foram realizadas com o uso de
perguntas-base, mas que não consistiam em um questionário fechado. Nos sete cursos
analisados, conversamos com, pelo menos, um professor ou coordenador sobre as questões
currículo, formação e jornalismo esportivo. Apenas duas entrevistas foram realizadas por e-
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Nesse contexto, visualizamos o currículo, que há muito tempo deixou de ser apenas
uma área apenas técnica. Pesquisas, estudos e trabalhos acerca desse conceito já consolidaram
uma tradição crítica do currículo, guiada por questões sociológicas, políticas e
epistemológicas.
O currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão
desinteressada do conhecimento social. O currículo transmite visões sociais
particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais
particulares. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal – ele tem
uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da
sociedade e da educação. (MOREIRA e SILVA, 2006, p.8).
2 JORNALISMO ESPECIALIZADO
2.1 Origem
La premera conclusión a la que debemos llegar es que los especialistas no son
producto de esta época. Los especialistas nacieron com la humanidad. (ALCOBA,
1988, p. 53)
Muñoz-Torres (1997) defende que, com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve um
crescimento da produção do conhecimento técnico e científico. Aliado a isso, o pós-guerra
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gerou uma das maiores prosperidades econômicas da história. Esses dois fatos criaram uma
“sociedade do bem-estar”, também chamada de “sociedade do conhecimento”.
Próprias dos países pós-industriais, essas sociedades produziam, a todo momento,
grandes e heterogêneas trocas sociais, o que passou a abalar os meios de informação: novas
formas de fazer informação, novas profissões surgindo, maior segmentação das audiências,
elevação do nível cultural da demanda informativa e a crescente diversificação dos conteúdos
são fatores que contribuíram para a especialização da informação. (MUÑOZ-TORRES,
1997). Em resumo, “el progresso de la ciencia y de la técnica ha supuesto inexorablemente
una „profundización ramificada‟ del saber; es decir, una focalización creciente sobre objetos
de estudio cada vez más particulares” (MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 26).
A especialização dentro do jornalismo teve como um de seus primeiros interessados o
empresário e jornalista norteamericano Willian Randolph Hearst, dono do New York Journal.
Em 1895, com o objetivo de aumentar as vendas do seu diário, Willian convidou um grupo de
campeões esportivos - que atuariam como colaboradores - para tratar sobre o ambiente das
competições e apresentar seus pontos de vista de forma técnica, utilizando-se de suas opiniões
especializadas sobre tema.
Obviamente, nenhum dos esportistas era jornalista, e isso
demuestra que en el momento de producirse el auge de la venta del medio, éste no
tiene otra opción para ganar la batalla de la competencia y atraerse al cliente, que
acudir a los especialistas, aunque éstos no sean periodistas. (ALCOBA, 1988, p. 55)
relação, porém, não correspondia aos interesses das empresas jornalísticas, pois se necessitava
de dois profissionais para executar o trabalho que um, só, poderia realizar.
Com o tempo, o jornalista foi adquirindo conhecimentos em determinados campos,
tanto pela sua experiência quanto pela convivência com os “expertos”. E começou a redigir
matérias com conteúdo específico por conta própria. Porém, o desafio maior dos profissionais
da informação era fazer com que a utilização dessa linguagem fosse compreensível para a
maioria dos receptores e, ao mesmo tempo, direcionada para um público cada vez mais
personalizado e interessado pelo tema. Para suprir essa demanda, ganhou espaço a figura do
jornalista especializado. Esse profissional, conforme Alcoba (1988), seria responsável por
traduzir, em uma linguagem inteligível, os tecnicismos, as regras, os estrangeirismos, etc, para
que as massas pudessem ter acesso a temáticas antes não compreendidas por elas.
Dessa forma, o Jornalismo Especializado passou a ser visto como uma atividade
profissional. Contribuíram para isso, além dos fatores exógenos – a especialização do
conhecimento como um todo -, fatores endógenos à profissão (MUÑOZ-TORRES, 1997).
Esteve Ramírez e Fernández del Moral classificam como os dois mais importantes a
segmentação das audiências e a “necesidad de los propios medios por alcanzar una mayor
calidad informativa y una mayor profundización en los contenidos” (ESTEVE RAMÍREZ e
FÉRNADEZ DEL MORAL apud MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 27).
Muñoz-Torres (1997) ainda crê que a especialização acentuou-se radicalmente muito
em função da revolução tecnológica. Através da segmentação de audiências e de conteúdos,
graças à possibilidade dos meios interativos, os conteúdos já são selecionados a la carte pelos
consumidores.
O que precisa ficar claro, é que a especialização sempre existiu, “mejor o peor
plasmada en la prensa, con manipulación o sin ella, por periodistas o colaboradores”
(ALCOBA, 1988, p. 62). A diferença é que, atualmente, é preciso desenvolvê-la por
verdadeiros jornalistas - profissionais capacitados que possam transmitir uma autêntica
credibilidade.
A IPE, portanto, analisa o contexto da notícia e não apenas o simples fato relatado,
utilizando-se das especializações do saber humano para alcançar os interesses de diversos
públicos e audiências, que são cada vez mais segmentados. Faz isso empregando os códigos
próprios do jornalismo - códigos que são aprendidos dentro de sala de aula e “traduzem” para
o receptor a notícia de um modo compreensível – para facilitar a inteligibilidade da
mensagem. Dessa forma, atende aos interesses de diversos públicos e audiências, que são
cada vez mais segmentados.
Quando nos referimos a uma área de Información Periodística Especializada, não
podemos aceitar qualquer denominação. Isso porque, inúmeras vezes, são atribuídos à IPE
textos que não são especializados, isto é, não reúnem os requisitos necessários para se
enquadrarem como tal. Para amenizar essa situação, Mar de Fontcuberta (1997), desenvolve
a respeito dos elementos que são necessários para uma IPE acontecer. Primeiramente, o autor
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trata de uma coerência temática. Conforme Fontcuberta, se uma área de conteúdo jornalístico
especializado aborda parcelas da realidade, constrói, em conseqüência, uma temática
coerente. Em segundo lugar, um tratamento específico da informação implica em: a) textos
coerentes; b) fontes de informação específicas; c) coerência com o segmento de audiência ao
qual o texto se dirige e d) jornalistas especialistas no campo específico do qual a área trata,
capazes de “sistematizar la información y contextualizarla en un determinado ámbito del
discurso periodístico” (FONTCUBERTA, 1997, p.22).
O Jornalismo Especializado, por conseguinte, encontra seu aporte teórico dentro da
Universidade e das Faculdades através de uma disciplina específica, chamada de Información
Periodística Especializada (IPE). Muñoz-Torres, após investigar e absorver os conceitos de
diversos estudiosos, cunhou como ideal a sua própria definição de IPE:
disciplina que estudia la producción de mensajes informativos que divulgan las
distintas especialidades del saber humano, de manera compresible e interesante, al
mayor número posible de personas, con el fin de dotar de sentido a la realidad, a
través de los medios de comunicación. (MUÑOZ-TORRES, 1997, p.40-41)
suficiente para localizar a infinidade de fontes que necessita cada área do conhecimento. Isso
implica em um problema considerado grave dentro do exercício do jornalismo: a influência
das fontes, intencional ou não. O profissional que apenas conhece o básico, o superficial do
assunto o qual está tratando com seu entrevistado, não terá capacidade suficiente para detectar
se sua fonte está tentando indicar ou até mesmo implantar o que é e o que não é notícia.
Muitas vezes, o entrevistado repassa alguma informação incorreta apenas por
desconhecimento, não agindo com má-fé. Cabe ao jornalista investigar se os dados estão
precisos antes de plantar a notícia como verdadeira, e ele só poderá assim fazê-lo se estiver a
par de todas as questões que envolvem a temática da área. A crítica aos jornalistas
generalistas, portanto, gira em torno do conhecimento superficial da maioria dos conteúdos
que esses profissionais possuem. Conforme Simarro (1998) seriam jornalistas incapazes de
refletir a complexidade social e incompetentes para servir de instrumento de mediação. Em
outras palavras, uma condenação à famosa frase que sugere que “jornalista é um especialista
em generalidades”.
Por isso, frente à lacuna na formação dos chamados generalistas, estudiosos apontam
os especialistas como os jornalistas do nosso tempo “que cuenta com mayores conocimientos
de la temática a tratar y puede discernir mejor lo bueno, lo positivo, de lo malo, lo negativo”
(ALCOBA, 1988, p.74). Orive y Fagoaga (apud SIMARRO, 1997) condenam o que eles
denominam de “falhas” de um jornalista generalista: superficialidade, dispersão, rendimento
baixo pela falta de conhecimento e grau de desconfiança pequeno. Por outro lado, relacionam
as características consideradas ideais para o profissional de hoje:
concentración, serenidad, rigor científico, concreción, aprovechamiento óptimo de la
actividad, un grado de fiabilidad absoluto, mayor productividad, aguda capacidad
selectiva de los contenidos y una relación más personalizada con las fuentes en su
trabajo. (ORIVE y FAGOAGA apud SIMARRO, 1997, p.68)
Por fim, precisamos levar em conta que jornalistas especializados são resultado da
própria especialização dos conhecimentos, dos saberes humanos. Logo,
se trata (…) de hacer posible al periodismo su penetración en el mundo de la
especialización, no para formar parte de ese mundo, no para convertir a nuestros
profesionales en falsos especialistas, no para obligar al periodismo a parcelarse, a
subdividirse, a compartimentarse, sino al contrario: para hacer de cada especialidad
algo comunicable, objeto de información periodística, susceptible de codificación
para mensajes universales (FERNÁNDEZ DEL MORAL y ESTEVE RAMÍREZ
apud MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 38).
Entre as funções exercidas pelo jornalista do século XXI, que aqui se caracteriza como
jornalista especializado, Simarro (1997) realça as seguintes:
3 todoterreno, em uma tradução livre para o português, significa o mesmo que 4x4, uma classificação que
trazem determinados carros, aptos a rodarem por todos os tipos de terrenos.
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4 “Esa función de gatekeepers fue tradicionalmente ejercida por la persona o las personas que tenían mayor
poder en los medios. Pero aquí se ha ido produciendo un cambio paulatino y constante. Del dueño o el grupo
de mayor poder en periódico, se pasó a la responsabilidad de los directores y más tarde de los redactores-jefe,
en los que aquellos delegaban. De esta manera se fue profesionalizando el criterio de selección. La
responsabilidad pasó por fin, recientemente, al periodista especializado, auténtico gatekeeper de su área, en el
que no interfiere ya ni su propio director, a no ser que se plantee un problema de interferencia grave con la
línea a los intereses del medio, aspecto éste que se produce más difícilmente ahora. De esa manera, la garantía
de independencia y veracidad se acrescienta” (FERNÁNDEZ DEL MORAL y ESTEVE RAMIREZ,
Fundamentos de la Información Periodística Especializada, Madrid: Síntesis, 1993, p.173).
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e com conteúdo duvidoso, os usuários terão muito mais confiança no material produzido pelo
profissional especializado, que ainda desfruta de credibilidade perante aos receptores.
fonte especializada, já que “aunque ambos comparten el mismo objeto de interés, el punto de
vista desde el que lo contemplan es radicalmente diferente” (MUÑOZ-TORRES, 1997, p. 38)
Ainda é importante considerar que uma grande parte dos estudantes de jornalismo que
passa pelas universidades deseja finalizar seus estudos com capacidade suficiente para
trabalhar o mais rápido possível em uma redação. E como vimos, os meios cada vez mais
primam por profissionais com certo grau de especialização. Como diz Alcoba (1988, p. 60)
“no se estudia simplemente para obtener unos conocimientos teóricos sobre la comunicación,
sino para poner en práctica esos conocimientos”.
Nesse sentido, há estudiosos que vão mais longe: propõem uma formação dupla para
os futuros jornalistas. Neste tipo de formação, o estudante passa por duas áreas de saberes: a
primeira, a própria formação em Jornalismo, e a segunda, uma formação específica dentro da
temática com a qual ele trabalhará. Simarro (1997, p. 61) defende e explica essa proposta:
una formación especializada en un campo científico, que le llevará a conocer el
universo específico que ha de comunicar, y una formación como periodista, que le
hará conocer las reglas propias del periodismo para lograr una buena comunicación.
Ou seja, sua preparação como especialista em uma determinada área vai permitir que o
jornalista possa compreender, aprofundar e valorar fatos que passariam despercebidos por
jornalistas que tratam de temas gerais. Essa formação ainda ajuda o profissional a
contextualizar os fatos e a relacioná-los com outros acontecimentos, já que nenhum episódio
acontece isolado da realidade social. Rabanillo (1997) ainda acrescenta que esse tipo de
preparação permite ao jornalista o controle dos códigos técnicos relacionados com uma
parcela do conhecimento especializado. Dessa forma, é muito mais fácil compreender o que
dizem as fontes e evitar que seja publicado apenas o que lhes apraz.
Por outro lado, sua formação como jornalista será necessária para dominar as técnicas
de divulgação da informação. O profissional estará cumprindo sua função de mediador entre
as fontes e os receptores, usando um código de entendimento comum entre ambos. Em outras
palavras, “traduziria” para o público as mensagens vindas das fontes em um produto
jornalístico, com todas as características próprias do jornalismo, desde a difusão até a
atualidade. Ou como bem explica Rabanillo (1997, p.51): “se trata de adecuar los mensajes
técnicos al grado de cualificación y comprensión propio de cada audiencia diferenciada”.
Como se vê, são muitos os autores que aderem a seus estudos à chamada dupla
formação. Alcoba (1988) é mais um deles. O espanhol acredita que é necessário que os
futuros jornalistas se preocupem em obter uma formação jornalística primeiro globalizada,
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priorizando as teorias da informação e, mais tarde, “recibir la preparación específica del tema
o temas que más afines les sean, o que por vocación les atraen más” (ALCOBA, 1988, p.81).
Essa formação articulada entre duas áreas do conhecimento não é exclusiva ao
jornalismo especializado. Outros ramos da ciência também têm se unido em estudos
interdisciplinares, o que os ajuda a colocar em contato realidades sociais que pareciam
distantes até então. Alcoba completa: “actualmente las investigaciones interdisciplinarias son
más la regla que la excepción” (ALCOBA, 1988, p.66).
A preparação do jornalista especializado dentro da universidade, portanto, é
indubitável.
La duda existente es si las Facultades de Ciencias de la Información están
preparadas para ofrecer esa práctica necesaria destinada a ejercer la profesión y
ponerse en contacto con las funciones de los medios […]. Si […] carecen [as
faculdades] de los medios y profesores necesarios para llevar a efecto el cometido
para el cual fueran criadas. (ALCOBA, 1988, p.102)
De fato, não há assentimento entre os dois autores quanto aos gêneros específicos.
Entretanto, ambos apostam na flexibilidade e nos desdobramentos dessas temáticas em outras,
os chamados subgêneros. Alcoba e Muñoz-Torres concordam que em muitas situações tais
temáticas podem se interrelacionar, devido aos desdobramentos de alguns fatos e às pessoas e
entidades envolvidos em seu contexto. Um exemplo disso é o esporte que, não raro, tem suas
competições influenciadas pelas relações políticas dos Estados.
O esporte, aliás, é uma das únicas seções ou um dos únicos gêneros jornalísticos que,
de forma consensual entre os autores, aparece nas páginas de jornais e nos noticiários
televisivos e jornalísticos de todo o mundo.
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3 O ESPORTE E A MÍDIA
Uma vez que o jogador buscava atingir a perfeição de seu desempenho através
de exercícios e treinamentos, passou a querer colocar à prova seu melhor
condicionamento. Nesse momento, surgiu a competição dentro do esporte.
Essa competição, entretanto, não pode ser classificada somente como o embate
homem x homem. Ela está presente também quando o esportista luta contra o
cronômetro, contra a distância e, até mesmo, contra sua própria resistência. Por isso,
hoje, a definição mais simples e eficaz para esse fenômeno, segundo Alcoba (2001, p.
22), é: “deporte es la actividad física, individual o colectiva, practicada en forma
competitiva”.
Hébert pensa parecido com Alcoba:
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deporte es todo género de ejercicio o actividad física que tenga como meta la
realización de una marca, y cuya ejecución se base esencialmente sobre la
idea de lucha contra un elemento definido: una distancia, un animal, un
adversario y por extensión uno mismo (HÉBERT, 1946 apud ESTEVE
RAMÍREZ y FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1999, p. 280).
Por sua abrangência global, o esporte é um fenômeno das massas. Como bem
coloca Sergio Vilas Boas na apresentação do livro Formação e Informação Esportiva
(do qual é organizador):
O esporte é talvez o mais democrático dos temas. Atrai pessoas de todas as
idades, de todas as camadas sociais, de todos os cantos. Tornou-se um
fenômeno lucrativo considerável, negócio de proporções mundiais, motivo
para tendências e modismos (VILAS BOAS, 2005, p.9).
Alcoba faz coro às palavras do autor brasileiro: “el deporte ya tiene de por sí
suficiente „garra‟ para atraer a los más diversos sectores de la sociedad; desde las clases
más altas a las más humildes” (ALCOBA, 1980, p.43).
Dos estudos dos dois escritores é possível afirmar que, quando milhares de seres
se ocupam do esporte, incluem-no em sua vida de alguma forma, é incontestável que
essa atividade adquiriu tal importância ao longo do tempo que, hoje, se integra a todas
as facetas da sociedade moderna. Alcoba (1980, p.18) completa: “El fenómeno
deportivo, el cual sirve y del cuál se sirven todas las fuerzas que conforman la sociedad
en que vivimos, ha sido calificado como „el hecho social más determinante de nuestro
tiempo‟”.
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O esporte enfocado pela mídia, ao qual Betti se refere, é aquele esporte dito
“formal”, que tem o aval e a instituição em federações e que, invariavelmente, torna-se
produto explorado pela televisão como espetáculo. Nas palavras do autor, o “esporte
telespetáculo” (BETTI, 2001, p.108).
Neste capítulo, destacaremos as principais características do tratamento dado ao
esporte da mídia. Adotaremos como base as classificações de Betti (2001),
corroborando suas ideias com pensamentos de autores que, ao longo de seus estudos,
também mapearem o jornalismo esportivo contemporâneo de forma semelhante.
Quais são, então, as características do jornalismo esportivo atualmente?
Segundo Betti (2001), são as seguintes:
mídia não se limita à transmissão ao vivo do evento em si, BORELLI (2002), à luz do
pensamento de Eco (1984), interpreta que é a mídia quem reinventa, recria, recicla
discursos sobre o esporte, construindo, dessa forma, a falação. Para Eco, esporte é um
discurso sobre a mídia esportiva, ao passo que a imprensa “orquestra estas inúmeras
falas e, a partir delas, outras tantas são produzidas pelos sujeitos (o ciclo continua já que
socialmente circulam novos discursos a partir daqueles ofertados pelas mídias)”
(BORELLI, 2002, p.16).
Dessa forma, continua Borelli,
o esporte é deslocado de seu campo primordial (da prática do jogo) para o
campo da “falação”, onde a mídia é a principal mediadora entre estes
discursos sobre o esporte praticado e moldado para ser assistido. Para ECO
(1984, p.224), existe, assim, “a falação sobre a falação do esporte”, isto é, a
“falação sobre a falação da imprensa esportiva”. (BORELLI, 2002, p.16).
Betti (2001), acredita que a falação esportiva informa e atualiza, conta a história
das partidas (ou lutas, corridas), cria expectativas e faz previsões – e depois se explica e
justifica. Para o autor, a falação ainda promete, cria polêmicas e constrói rivalidades,
critica, elege ídolos e, por fim, dramatiza. Ou seja, os discursos presentes em
reportagens e comentários sobre quem ganhou o jogo, quem foi contratado e vendido,
quem se lesionou, qual jogador saiu na noite anterior, quem será convocado para a
Seleção, qual a culpa do árbitro, foi impedimento ou não, qual será o placar, qual é o
novo craque do esporte brasileiro, etc, passam todos pela análise da falação esportiva
defendida por Eco (1984).
O autor acredita que essa realidade se constrói em cima da própria imprensa
esportiva e suas ditas “regras”. Dentro desse campo, há um ritual pré-estabelecido, que
perpetua a falação verbal acima de tudo, utilizando-se de argumentos, avaliações,
ponderações, críticas, polêmicas, ou seja: falar o esporte. A prática da atividade em si
fica em segundo plano, dando lugar a esta “falação”. Como bem coloca Betting (2005,
p.24),
O debate tem que bater. Não interessa o que se fala, mas o que se grita e o
que não se deixa falar. A polêmica pela polêmica. Uma opinião abalizada,
equilibrada, que tenta entender o outro lado, que dá margem ao pensamento
contrário, que coloca fatos e deixa espaço para a opinião alheia, essa dever
combatida. Não agrada. Não dá Ibope.
absorvidas pela sociedade como algo que possa contribuir à formação social
e cultural. (HATJE, 2003, p.6)
A culpa desse cenário, segundo Awad, não pode ser atribuída apenas ao
jornalista que cobre uma única modalidade. O profissional acompanha somente o
futebol porque o futebol é, de fato, o esporte que mais gera audiência, venda de
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O fato é que o futebol virou, sim, o carro-chefe da mídia esportiva. E isso é uma
“tendência que se acentuou nos últimos anos, provavelmente porque as empresas
descobriram naquela modalidade esportiva uma melhor relação custo-benefício para a
publicidade” (BETTI, 2001, p.109).
Alcoba (1980, p.191), concorda e acrescenta: “el deporte tratado con más
profusión es el fútbol, pero debe aclararse que este deporte no se trata por su exclusivo
sentido deportivo, sino por su aspecto de espectáculo”. Patrícia Rangel analisa essa
situação da mesma forma:
[o futebol] parece ser o parceiro preferencial da espetacularização na mídia
televisiva, porque oferece, em contrapartida, o show já pronto; possui
elementos fortes para esta parceria, porque ganha características de um show
de entretenimento. (RANGEL, 2008, p.64)
Pode-se inferir, então, que o futebol é o esporte eleito pela mídia porque, em sua
essência, corresponde perfeitamente à espetacularização. Mobiliza milhões de pessoas
todas as semanas, em todo o mundo, o que significa um expressivo público
acompanhando o esporte. A audiência em potencial, por sua vez, incita empresas a
investirem em publicidade. O fator comercial – ou seja, lucro –, por fim, incentiva os
meios de comunicação a transmitirem, falarem, enfim, priorizarem o esporte em suas
programações. Essa trama torna-se cíclica e só se reforça ao longo do tempo.
O futebol gera notícias extraordinárias, informações de vendas milionárias de
jogadores, a vida cada vez mais glamourosa destes, pautas sobre
superfaturamento de eventos esportivos, CPIs do futebol, e muito mais. Ou
seja, futebol dá visibilidade. E as tecnologias aliadas na constituição do
futebol espetáculo da atualidade como: transmissões via satélite, câmeras
cada vez mais potentes e detalhistas, computação gráfica, etc, nos colocam
numa condição de contempladores deste espetáculo. É como se não
tivéssemos mais contato com o verdadeiro esporte, fôssemos apenas
espectadores e não mais atores destes. (RANGEL, 2008, p.65).
Esse cenário, embora predominante, é alvo de inúmeras críticas por parte dos
estudiosos. Wilson da Costa Bueno (2005, p.20), analisa-o da seguinte forma:
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Bueno refere-se aos esportes praticados no Brasil que também são sinônimos de
títulos para o país. Um exemplo clássico é o voleibol. As seleções brasileiras –
masculina e feminina – representam, atualmente, as melhores esquadras do esporte no
mundo. Entretanto, o esporte, mesmo que passível da espetacularização (ainda que
menos do que o futebol), pré-requisito para o esporte da mídia, não tem o devido
reconhecimento em comparação ao esporte que mais mobiliza o público no país.
3.3.4 Superficialidade
Aí está uma das características do jornalismo esportivo mais criticadas por
estudiosos, especialistas, atletas, técnicos, dirigentes e, até mesmo, pelo público. A
superficialidade com que os assuntos são tratados na imprensa esportiva, principalmente
a diária. Betti (2001) e Awad (2005) responsabilizam a própria cultura da mídia, que é
efêmera, por esse fator, que parece acentuar-se ainda mais quando os meios falam de
esporte. Betti (2001) lembra Santaella6 (1996), que diz que a cultura das mídias
caracteriza-se pelo breve, pelo descontínuo; é a cultura “dos eventos em oposição aos
processos”.
Awad culpa igualmente essa especificidade do trato informativo, a chamada
factualidade.
Acredito ser ele [o factual] o grande culpado ou vilão da mesmice do
jornalismo esportivo atual e das coberturas de futebol. A preocupação com o
passo-a-passo dos acontecimentos é tão grande que nos esquecemos de
empregar a qualidade na informação. Esquecemo-nos de dar subsídios aos
receptores para que participem do processo (AWAD, 2005, p.56).
O “maldito factual” a que se refere Awad não permite que a informação seja
tratada com plenitude, ou seja, com início, meio e fim. O autor destaca que é muito
comum que no jornalismo esportivo uma informação seja dada apenas no seu início,
esquecendo-se do meio e do fim. Em outras oportunidades, apenas o fim é noticiado.
Em outras, início e meio têm o seu espaço e o fim é descartado. O que acontece é que
“entre uma etapa e outra, o factual acaba por criar uma nova informação que se mostra
mais relevante naquele momento” (AWAD, 2005, p.56).
Bueno (2005, p.21) também acredita que “não há tempo nem espaço para
matérias de fôlego, porque o jornalismo esportivo vive em função apenas dos torneios e
das partidas”. E, num país em que o calendário é alucinante, com jogo dia sim, outro
também, o resto não interessa.
Além disso,
é cada dia mais comum ver técnicos, jogadores, preparadores físicos e
fisiologistas reclamando do desconhecimento de profissionais que atuam em
jornais em busca apenas da notícia. Que não buscam saber o que se passa
dentro de um centro de treinamento e das coisas que explicam esse ou aquele
procedimento (COELHO, 2004, p.42)
6 SANTAELLA, L. A cultura das mídias. São Paulo: Experimento, 1996, pg. 36.
41
É preciso muito mais do que apenas relatar os detalhes de uma negociação com
um atleta, o acompanhamento das lesões dos jogadores que estão no departamento
médico, o dia-a-dia da equipe que vai disputar o mundial de pádel. “Fazer retrospectos,
históricos, comparações, projeções, prospecções, falar de economia, geografia...
Informar e ensinar, para que as pessoas possam formar opinião própria” (AWAD, 2005,
p.56). Ou seja, dar subsídios para que o público tire suas conclusões e aproveite a mídia
e as informações que são veiculadas da melhor forma possível. O jornalista que lida
com esportes deve “ir além da simples descrição do esporte como espetáculo e
proporcionar informações técnicas sobre sua prática, estimulando a prática e o
conhecimento intelectual de seus leitores/aficionados” (HATJE, 1996, p.88).
O esporte não pode, sob nenhuma hipótese, ser visto como uma atividade imune
à ação de outros interesses ou aspectos (econômicos, sociais, culturais, políticos)
porque, com isso, ele se descontextualiza e, certamente, fica difícil entender por que
algumas coisas nele ocorrem. Denise Mirás (2005) ainda cita a influência da medicina,
da psicologia e da globalização no fenômeno esportivo:
Cada atleta está cercado por médicos, por notícias de doping, tratamentos
alternativos, preparação psicológica. E a globalização do esporte? Chineses
defendendo a Suíça, africanos competindo pela Dinamarca com a tal língua
franca entre todos, comunicando-se com palavras de seis idiomas ao mesmo
tempo. (MIRÁS, 2005, p.93)
42
7 MALULY, Luciano Victor Barros. Doping: a notícia incompleta no jornalismo esportivo brasileiro. São
Paulo, ECA/USP, 2002 (tese de doutorado). MOURA, Vicente Higino de. Muito além das quatro
linhas: um estudo das ciências do futebol. São Bernardo do Campo, UMESP, 2000 (dissertação de
mestrado).
8 Escândalo de corrupção envolvendo o presidente da CONAF (Comissão Nacional de Arbitragem de
Futebol, Ivens Mendes).
9 O Massacre de Munique também conhecido como Tragédia de Munique teve lugar durante os Jogos
Olímpicos de Verão de 1972, em Munique, quando, a 5 de Setembro, 11 membros da equipe olímpica
de Israel foram tomados de reféns pelo grupo terrorista palestino denominado Setembro Negro. O
governo da República Federal da Alemanha (RFA), então liderado pelo primeiro-ministro Willy Brandt,
recusou-se a permitir a intervenção de uma equipe de operações especiais do Tzahal (as Forças de
Defesa de Israel), conforme proposta da premiê de Israel, Golda Meir. Os onze desportistas israelitas
acabaram sendo assassinados em vários momentos do seqüestro.
43
Fica claro, então, que o profissional que atua na mídia esportiva e que se dedica
ao entendimento de outras áreas “passa a ser uma pessoa com ampla visão e longe de
ser um profissional encaixotado e envolto por uma embalagem de conhecimento
superficial” (HATJE, 1996, p.108).
Como bem descreve Betting (2005, p.41):
Um jornalista precisa saber se vai chover. Se o dólar vai baixar. Quem matou
quem na novela das oito. Se o Corinthians vai vencer. Se Guam é um país. Se
o presidente não vai exagerar na dose e expulsar um colega de ofício se ele
escrever umas bobagens. Não é fácil ser jornalista.
10
Do verbo inglês “to sponsor” – patrocinar, do substantivo inglês “sponsor” – patrocinador; do
substantivo inglês “sponsorship – patrocínio.
44
Além dessas cinco características apontadas por Betti (2001) como formadores
do esporte da mídia, ressaltamos mais um item que deveria ser determinante na
cobertura esportiva midiática: a superespecialização.
É visível que, muitas vezes, o profissional que lida com o esporte na mídia não
possui formação adequada para fazer esse tipo de cobertura. O esporte que gera
interesse da mídia – o de competição – possui inúmeras nuances, inúmeras modalidades
e, por sua vez, inúmeros regramentos.
Como citamos anteriormente, o jornalista esportivo brasileiro, na verdade, é um
jornalista futebolístico, aquele que dedica-se a conhecer apenas a modalidade futebol e
que cobre, eventualmente outros esportes. Diante dessa situação, fica previsível que as
coberturas das outras modalidades, quando ocorrem, servem para demonstrar o
despreparo do profissional.
No entanto, para ficar somente a título de exemplo, a lista seguinte mostra os
desportos que serão executados nos Jogos Olímpicos de 2012, que serão realizados em
Londres, e o seu local de execução. O programa para os Jogos Olímpicos de 2012 é
composto por 39 modalidades de 26 esportes: Atletismo, Badminton, Basquetebol,
Boxe, Canoagem (Slalom e Velocidade), Ciclismo (Estrada, Pista, BMX e Mountain
Bike), Esgrima, Ginástica (Artística, Rítmica e Trampolim), Halterofilismo, Handebol,
Hipismo, Hóquei sobre a grama, Judô, Lutas, Nado sincronizado, Natação, Pentatlo
moderno, Pólo aquático, Remo, Saltos ornamentais, Taekwondo, Tênis, Tênis de mesa,
Tiro, Tiro com arco, Triatlo, Vela, Voleibol.
São 26 esportes somente nas Olimpíadas11. Se considerarmos os demais que não
fazem parte da lista do Comitê Olímpico Internacional (COI), como o futsal, teremos
mais de uma centena de esportes que são praticados mundo afora por milhares de
pessoas. Contudo, os profissionais que, em tese, precisariam trabalhar com apenas esses
26, nem isso o fazem. Claudia Coutinho (2005) resume em um exemplo essa situação
11 Fonte: http://premierbrasileventos.com.br/blog/modalidades-de-esportes-da-
olimp%C3%83%C2%ADada-2012-de-londres. Acesso em 9 de novembro de 2010.
45
que beira o comum. Aconteceu na cobertura esportiva dos Jogos de Atenas, realizados
de 13 a 29 de agosto de 2004, e mostrou a falta de preparo dos jornalistas escolhidos
para informar e comentar as competições:
Chegou a soar estranho a pergunta “o que é uma quilha?” feita ao especialista
em iatismo convidado de um canal fechado de televisão, que naquele instante
explicava as razões do bicampeonato olímpico de Torben Grael e de Marcelo
Ferreira, na classe Star. A vela se consolidou em Atenas como o esporte que
mais medalhas olímpicas deu ao Brasil – total de catorze, sendo seis de ouro,
duas de prata e seis de bronze – e o pessoal ainda faz perguntas básicas.
(COUTINHO, 2005, p.103)
Essa dedicação dos jornalistas esportivos que cobrem a Fórmula 1 deve-se muito
aos questionamentos do piloto brasileiro Nelson Piquet. Nos anos 80, ele ganhou
seguidas vezes o prêmio Limão, outorgado por jornalistas e oferecido ao esportista mais
antipático do circo da Fórmula 1. Isso porque Piquet seguidamente resmungava: “O que
eu não suporto é jornalista que não sabe do que está falando. Quem acompanha a
temporada inteira, entende o que acontece nos boxes, sabe o que se passa quando um
piloto está no cock-pit. A esses dedico total atenção. Não agüento é desembarcar num
Grande Prêmio Brasil e ouvir alguém me perguntando se faz diferença usar um tipo de
pneu ou outro ou qualquer outro tipo de pergunta imbecil”.
As especificidades da Fórmula 1 obrigaram os veículos de comunicação a
investirem na preparação dos profissionais que cobriam o esporte. Além disso, com a
participação e com os títulos de pilotos brasileiros, cresceram a audiência e o interesse
pelas corridas por parte do público, que queria saber como funcionava cada detalhe.
Tudo isso somado, incentivou a formação de jornalistas mais capacitados.
Explicar o resultado de uma corrida era tarefa mais difícil do que dizer que o
Flamengo ganhou do Vasco porque jogou melhor. Era preciso entender de
motores, pneus, estratégias, câmbios, conhecer o bastidores, os negócios, o
dinheiro envolvido, detectar tendências, imergir num mundo muito particular
em suas relações e interesses. (GOMES, 2005, p.146)
ramificações que exige um nível de compreensão alto por parte do jornalista.. Alcoba
(2001, p. 144) mostra como esse esporte precisa de um estudo aprofundado por parte da
mídia:
Deporte: género específico del periodismo
Atletismo: subgénero específico del deporte
Pruebas atléticas: subgéneros específicos del atletismo
Carreras de velocidad: subgéneros específicos de la pruebas atléticas.
O mesmo autor ainda faz um compilado sobre como deveria ser a cobertura ideal
da esporte por parte da mídia. O cenário almejado seria o seguinte: além do futebol,
outros esportes e modalidades, inclusive as que ainda são predominantemente
amadores, teriam espaço nas programações de rádio e TV e nas páginas de jornais;
conteúdos científicos sobre a cultura esportiva (como os socioculturais, biológicos,
históricos, etc) teriam mais presença, assim como análises aprofundadas e críticas a
respeito dos fatos nas várias dimensões que envolvem o esporte atualmente (econômica,
administrativa, política, treinamento, tática); os atletas profissionais e amadores teriam
suas vozes colocadas enquanto seres humanos integrais, não apenas como máquinas de
rendimento; e os receptores seriam considerados indivíduos singulares, não apenas uma
massa homogênea, promovendo assim uma interação necessária para se chegar a um
ideal de comunicação (BETTI, 2001).
Todas essas situações expostas por diferentes autores podem ser mais bem
executadas se forem absorvidas por profissionais capacitados e com preparação para
atuarem na área do jornalismo esportivo. “Se os times passam a semana treinando,
aprimorando fundamentos, ensaiando lances, executando estratégias, estudando os
adversários, por que a imprensa não pode e não deve fazer o mesmo?” (BETTING,
2005, p.16).
Hatje (1996, p.110) lembra que jornalistas e espectadores são ambos
observadores do fenômeno esportivo,
a diferença deve estar na forma de julgar o acontecimento, pois o jornalista
tem a obrigação de estar preparado e capacitado para oferecer um ponto de
vista mais realista do que o do simples espectador, cujos interesses na
competição estão condicionados ao desejo de vitória de sua equipe.
Ou seja: não há dúvidas de que o jornalista esportivo deve ser preparado para
exercer sua função. Entretanto, os autores concordam que essa preparação vem
acontecendo por meio do autodidatismo dos profissionais, já que “muitas faculdades
não têm (ainda) um curso de jornalismo esportivo para adequar os princípios gerais do
jornalismo com o esporte. Uma falta grave.” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p.105).
Bueno (2005, p.18), também destaca a falta de oportunidades para a formação do
profissional.
49
12 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Lista completa disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=rs. Acesso em 12 de novembro de 2010.
13 A cidade de Gravataí não possui nenhuma universidade com curso de Jornalismo, de acordo com o
Portal Brasil (http://www.portalbrasil.net/universidades_rs.htm). Acesso em 12 de novembro de 2010.
Em função disso, a cidade imediatamente abaixo – Santa Maria – foi selecionada.
51
de Porto Alegre -, optamos por analisarmos apenas uma delas – a maior, a Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)14.
14
A PUCRS possui cerca de 25 mil alunos, segundo dados atualizados em 2010, disponíveis em
http://www3.pucrs.br/portal/page/portal/pucrs/Capa/AdministracaoSuperior/ascom/SalaImprensa/siDad
os. Acesso em 22 de novembro de 2010.
52
15
Entrevista concedida à autora no dia 9 de novembro de 2010.
53
16
Ver Ementa e Cronograma completos da disciplina de Jornalismo Esportivo da Fabico nos Anexos
17
Disponível em: http://esportefabico.wordpress.com/. Acesso em 8 de novembro de 2010.
54
Dessa forma, o aluno que tiver maior interesse em trabalhar com o jornalismo
esportivo depois de formado, pode acompanhar matérias na Educação Física, por
exemplo, e aprender mais sobre o conteúdo que ele possivelmente estará veiculando
após deixar os bancos universitários.
A idéia desse novo currículo foi, justamente, tentar fazer com que o
aluno expanda o seu horizonte além do nosso currículo. Hoje em dia, cada
vez mais o profissional é chamado pra atender várias áreas, tem que ser
múltiplo. Então a alternativa foi de dar bastante liberdade para o aluno
construir o seu curso (BARROS, 2010).
18
Entrevista concedida à autora em 12 de novembro de 2010.
55
Essa busca pela formação complementar em outros cursos deverá ficar mais
acentuada após a próxima reforma curricular prevista para o curso. O professor Necchi
(2010) explica que o currículo será alterado de forma que todas as disciplinas oferecidas
pelo próprio curso de Jornalismo sejam obrigatórias, e que as optativas sejam feitas
somente em outros departamentos da PUCRS: “Tudo que for disciplina do Jornalismo
terá que compor o currículo obrigatório. Haverá, digamos assim, espaços para
disciplinas eletivas, mas que seriam de outros cursos necessariamente”.
Apesar da não-existência de uma disciplina que contemple, especificamente, o
Jornalismo Esportivo, a área desperta bastante interesse entre os acadêmicos da
Famecos. A solução encontrada pela coordenação do curso, então, foi a criação de
cursos de extensão que abordem um recorte mais específico de determinados temas.
Ao longo do ano são oferecidos vários, e nessa programação, aí sim,
nós procuramos contemplar interesses e manifestações de alunos, desde o
manuseio de algum software e até mesmo o curso de jornalismo esportivo,
por exemplo. Ou de cobertura de futebol. Ou de crítica musical. Ou de
jornalismo político. (NECCHI, 2010).
A grande procura dos acadêmicos de jornalismo pela área esportiva pode ser
constatada na 23ª edição do SET Universitário20, realizado de 21 a 23 de setembro de
2010, na Famecos. Em uma das palestras da segunda noite o tema abordado seria
19
http://www3.pucrs.br/portal/page/portal/famecosuni/famecosuniCapa. Acesso em 29 de outubro de
2010.
20
Realizado desde 1988 pela Famecos, o SET Universitário é um evento que promove palestras e oficinas
na área da Comunicação e que conta com a presença de acadêmicos da maior parte dos Cursos de
Comunicação do Rio Grande do Sul.
56
Segundo Necchi (2010), isso só “reflete o quanto há uma primazia dos esportes
no interesse dos alunos”. O coordenador do curso de Jornalismo da Famecos acredita
que a grande atração dos alunos pelo tema é resultado do destaque que o esporte possui
atualmente. Necchi (2010) lembra que na época em que cursou a faculdade, as áreas que
mais interessavam aos acadêmicos eram “jornalismo cultural ou jornalismo político,
porque [o país] vinha de uma fase de redemocratização”. E completa: “hoje, realmente,
me chama atenção o número expressivo de alunos que gostaria de trabalhar com o
jornalismo esportivo”.
Sobre a formação ideal do jornalista esportivo, Necchi (2010) acredita não haver
um modelo único. Mas ressalta:
É claro que um jornalista que faz curso de Letras com ênfase na Literatura
talvez tenha mais propriedade para escrever, discutir, analisar, noticiar temas
ligados a Literatura, assim como Economia, Política e assim por diante.
(NECCHI, 2010).
21
http://jornalcontraataque.com.br/
57
cadeira faz parte da carga horária obrigatória do currículo e existe desde 2006, com
34h/aula. Até 2008 era oferecida no quinto semestre da graduação; com a reforma
curricular, passou a ser ofertada no último semestre, o oitavo, permanecendo em caráter
obrigatório.
O professor responsável pela disciplina é Fábio Souza da Cruz. No conteúdo
programático da cadeira os acadêmicos conhecem os conceitos gerais sobre o
Jornalismo Especializado e as diferenças de apuração e produção de reportagens nos
gêneros específicos. Também discutem as inúmeras áreas de especialização em
seminários em sala de aula e analisam e produzem reportagens especializadas. A
bibliografia básica abrange livros da coleção da Editora Contexto de Jornalismo, como
“Jornalismo Esportivo”, “Jornalismo Econômico”, “Jornalismo Científico” e
“Jornalismo Cultural”23.
O diretor do Centro de Educação e Comunicação (CEC), professor Jairo
Sanguiné Jr24, constata que o jornalismo esportivo interessa a um grande número de
acadêmicos do Jornalismo. Além disso, Sanguiné Jr (2010) lembra que o tema ainda é
trabalhado de forma extracurricular, em projetos da TV UCPel:
[o jornalismo esportivo] atrai muitos alunos. Vejo isso nas minhas disciplinas
de redação e, também, porque a nossa TV UCPel tem um núcleo de esportes
que envolve cerca de 12 alunos. Eles fazem a cobertura de eventos esportivos
na cidade e apresentam um programa ao vivo, aos domingos à noite, com
debates e entrevistas. (SANGUINÉ JR, 2010).
23
Ver ementa completa da disciplina em Anexos.
24
Entrevista concedida por e-mail, em 22 de novembro de 2010.
60
25
Entrevista concedida à autora em 8 de novembro de 2010.
61
26
O Canoas Sport Club, com seus doze anos de fundação, é um dos clubes brasileiros que mais ganhou
títulos em diversas modalidades diferentes em pouco tempo de fundação. O clube é bicampeão mundial
de futsal (além do terceiro título em parceria com o Internacional), tricampeão da Liga Nacional de
Futsal (além do quarto título em parceria com o Internacional), Campeão da Superliga Nacional de
Futsal de 2008 (Copa do Brasil), tricampeão da Superliga Nacional de Vôlei, hendecacampeão (11
vezes) gaúcho de Vôlei, tricampeão paulista de vôlei, bicampeão dos Jogos Abertos-SP de vôlei, quatro
vezes consecutiva terceira melhor equipe de atletismo do Brasil, campeã brasileira de handebol
feminino, campeã sulamericana de voleibol feminino, campeão da Copa do Brasil NLB de basquete,
hexacampeã gaúcha de basquete, vice-campeã paulista de basquete, vice campeã gaúcha da primeira
divisão de futebol, campeã gaúcha da primeira e segunda divisão de futebol, além de outros diversos
títulos.
62
28
O Radar Esportivo é um dos programas mais antigos da Rádio Universidade e, desde que começou a
contar com a participação de acadêmicos do Jornalismo da UFSM, teve a coordenação e orientação do
jornalista da Coordenadoria de Comunicação Social e professor do Centro Universitário Franciscano
(Unifra) Gilson Piber. A partir do segundo semestre de 2010, o programa passou a integrar um projeto
maior, que foca na parceria entre a Coordenadoria de Comunicação Social, representada por Gilson
Piber, o Curso de Jornalismo da UFSM, representado pela professora Viviane Borelli e o Laboratório de
Análise de Cenários Esportivos na Mídia (Lacem), do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD),
representado por seu coordenador, professor Antônio Guilherme Schmitz Filho.
65
29
Criada em 1991, na Universidade Federal de Santa Maria, através do Programa de Pós-Graduação em
Ciência do Movimento Humano do Centro de Educação Física e Desportos, que ganhou uma nova linha
de pesquisa, na época, vinculada à subárea Pedagogia do Movimento, mas esta em agosto de 1995,
tornou-se efetiva como Subárea do Programa. A proposta de criação da Subárea partiu do entendimento
que desportos e meios de comunicação podem vir a ser um novo pensar-agir na Educação Física, e foi
uma alternativa encontrada para estudar e interpretar os fenômenos sociais esportivos veiculados pelos
meios de comunicação, suas interações e conseqüências na sociedade desde a ótica do educador físico, e
não a do comunicador. Está claro que nesta proposta, a interdisciplinaridade é fundamental, até porque
desde o início do século o esporte brasileiro desenvolveu-se em grande parte alicerçado pela divulgação
de suas modalidades nos meios de comunicação.
66
30
Entrevista concedida à autora em 18 de novembro de 2010.
31
Ver Bibliografia e ementa da disciplina em Anexos.
32
Entrevista concedida por e-mail em 22 de novembro de 2010.
67
33
http://www.radiounifra.org/
68
34
http://www.unifra.br/unifra.asp. Acesso em 22 de novembro de 2010.
69
passo está a graduação como jornalista, por entender que esse é um processo
muito mais de maturação do indivíduo do que propriamente nessa forma de
assimilação de conteúdo. Então é necessária a busca de conteúdos, é
necessário o domínio de algumas práticas, mas fundamentalmente é
necessário esse período de maturação em que ele se enxergue como agente
desse novo processo que é a profissão de jornalista. (GOMES, 2010)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise das matrizes curriculares, dos perfis e objetivos de cada curso e
da entrevista com os professores das sete instituições em questão, podemos inferir que o
Jornalismo Esportivo ainda é tratado com deficiência dentro dos Cursos de Jornalismo
do Rio Grande do Sul. O esporte, hoje, tem uma significativa importância para o campo
jornalístico, já que a cultura brasileira está permeada por ele. E a mídia tem uma
significativa importância para o esporte, já que é a responsável por veicular e divulgar
para o público esse fenômeno social de massas.
O esporte ocupa um tempo considerável da programação dos veículos,
principalmente em rádio e televisão. Da mesma forma, a influência da mídia no esporte
é tão forte que tem até mudado regras de algumas modalidades. Um dos grandes
exemplos é o voleibol, que para se tornar um esporte mais “atraente”, na verdade, mais
adequado para transmissões esportivas, teve suas regras bastante modificadas, com
vistas a diminuir o tempo das partidas, antes consideradas muito longas. No futebol, a
implantação da morte súbita é outro exemplo. No basquete, regras como o limite do
tempo de posse de bola (primeiro para 30 segundos e hoje em 24 segundos) e o
arremesso de três pontos, foram criadas para tornar o jogo mais excitante para o público,
especialmente as audiências televisivas. Datas e horários de jogos, em toda e qualquer
modalidade, são marcados de forma que favoreçam transmissões ao vivo e se encaixam
nas grades (programação) das televisões.
Todavia, a cobertura jornalístico-esportiva padece de defeitos que acabam por
conceituar o esporte apenas como um espetáculo de entretenimento para o público. “É
necessário que os profissionais do esporte compreendam estas situações e que atuem
interferindo no processo” (RANGEL, 2008, p.72). Como vimos no capítulo 2, a
“falação esportiva”, a ênfase no futebol, a falta de conteúdo, a superficialidade da
cobertura e a prevalência dos interesses econômicos são características que compõem o
cenário midiático-esportivo atual e contribuem para a aparição de apenas um conceito
de esporte: o esporte de rendimento.
Como sabemos (ou pelo menos deveriam saber os profissionais que veiculam
notícias esportivas), o esporte é muito mais abrangente e complexo para ser limitado
apenas a essa dimensão.
71
diferenciados e com conhecimento de causa suficiente para abordar um tema que possui
tanto impacto e influência na vida do brasileiro. “Percebe-se que o jornalista não tem a
dimensão, ou a preocupação com a repercussão e o impacto de sua matéria na
sociedade” (CAMARGO, 2005, p.9). Conforme Alcoba (2001, p.142) constata, “por el
beneficio o daño que sus opiniones y expresiones pueden causar, sorprende que el
estudio del periodismo deportivo sea tratado con indiferencia por las autoridades
académicas y los Gobiernos”.
O que se configura como ideal é que o profissional chegue às redações com, ao
menos, uma base científica, para poder tratar a notícia esportiva de uma forma
particular, afinal,
o jornalismo tem regras próprias para narrar, apresentar, expor, enfim,
tematizar o esporte. Neste sentido, LUSTOSA35 (1996, p. 113) confirma o
exposto ao estabelecer que cada editoria de jornal apresenta diferentes
codificações na formulação do texto da notícia. Isto é, cada seção tematiza,
cobre os assuntos de forma diversa. Para o autor, o jornalismo esportivo
“utiliza uma série de expressões próprias de cada modalidade esportiva”
(1996, p.137), por isso esta atividade exige conhecimentos específicos.
(BORELLI, 2002, p.4)
35
LUSTOSA, Elcias. O texto da notícia. Brasília: UNB, 1996.
73
maneiras de se buscar uma formação complementar, e que devem ser aproveitadas pelos
futuros jornalistas esportivos. Um exemplo é o curso de Educação Física do
CEFD/UFSM, que possui projetos como o NEP/COMEFE, já citados anteriormente.
Entretanto, há profissionais, professores e acadêmicos que não consideram a
Educação Física como uma área afim ao Jornalismo, principalmente quando se trata de
buscar uma formação complementar e interdisciplinar no estudo da relação mídia-
esporte.
Eu vejo que é uma possibilidade [a especialização] de lapidar ainda
mais essa formação, de solidificar esse processo. E penso que poderia ser na
busca específica da área de Educação Física, mas me parece que o trabalho
da Educação Física já é focado para a formação de um profissional que não é
o do jornalista. E eu vejo que o papel do jornalista esportivo é saber relatar
bem acerca do esporte e não necessariamente praticar bem ou dominar
processos de quem vai treinar atletas. (GOMES, 2010)
Ainda dentro desse aspecto, partindo para a análise das entrevistas realizadas
com professores e coordenadores dos cursos de Jornalismo do RS, constatamos que a
maioria dos entrevistados acredita que a graduação é um período para o
amadurecimento do profissional. Por isso, para os professores, o basilar, antes de
conhecer de forma aprofundada o conteúdo que se vai veicular, é ter domínio das
técnicas de reportagem, dos critérios de noticiabilidade e de como trabalhar as questões
éticas do jornalismo. Conforme os entrevistados, absorvendo esses fundamentos do
jornalismo, o profissional poderá atuar em qualquer editoria.
De fato, jornalismo é jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social.
Sua natureza é única e está intimamente ligada às regras da ética e ao interesse público.
Porém, trabalhar com jornalismo esportivo tem suas especificidades. Por isso, é
importante considerar o exposto de Borelli (2002, p.10):
Assim como o trabalho jornalístico como um todo tem suas próprias regras,
com a cobertura esportiva não é diferente. Neste sentido, a cobertura
esportiva é realizada com ferramentas gerais, do próprio jornalismo, e com
ferramentas específicas do esporte. Isto é, as regras gerais (entrevistas com
fontes, formas de apreensão, construção do lead, apresentação do título, texto
claro e conciso, composição da página e outros valores exigidos pelos
manuais de redação) valem para todas as editorias. Porém, o jornalismo
acaba incorporando fatores característicos do esporte, como a descrição da
ficha técnica em jogos, o uso de expressões características do campo
competitivo (linguagem agonizante, de combate, mais despojada, em função
do campo ser, sobretudo, de entretenimento, etc).
O campo esportivo afeta e é afetado por vários outros campos, como o das
ciências humanas, da saúde, da pedagogia, da comunicação, do movimento humano, do
77
direito, etc. Por isso, não pode ser compreendido de forma superficial, ou mesmo não
ser estudado e assimilado pelo jornalista que vai trabalhar com essa área.
É preciso entender que conhecer só o que se faz não basta. Uma
informação de outra área poderá interferir diretamente em seu trabalho.
Novidades que envolvam política, economia, entre outros assuntos,
provocam reações, causas e efeitos no esporte. Saber enxergar e interligar
essas mutações é fundamental. (AWAD, 2005, p.58)
O jornalismo esportivo, como vemos, não pode e não deve ser ignorado pelas
escolas de Jornalismo. Para Alcoba (apud CAMARGO, 2005, p.4) a formação ideal do
jornalista deve compreender três anos de estudos referentes a sua atuação e dois anos de
especialização para atuar na área de sua preferência. “... A preparação de um jornalista
esportivo deveria estar diretamente ligado ao estudo. É essa a minha grande
preocupação com essa nova geração que esta querendo atuar nessa profissão e não quer
estudar...” (ALCOBA apud CAMARGO, 2005, p.4)
36
Pesquisa disponível no artigo “Jornalismo Esportivo: uma nova disciplina para o curso de graduação
em Jornalismo”, de Fernando Ivo Antunes, disponível no site da Universidade do Futebol:
http://universidadedofutebol.com.br/2009/12/1,4421,JORNALISMO+ESPORTIVO+UMA+NOVA+DIS
CIPLINA+PARA+O+CURSO+DE+GRADUACAO+EM+JORNALISMO.aspx?p=2. Acesso em 22 de
novembro de 2010.
80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Informação Esportiva, São Paulo: Summus Editorial, 2005.
BAUER, Martin W.; Bauer, GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto,
imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002.
BETTI, Mauro. Esporte na mídia ou esporte da mídia? Motrivivência, S.l, ano XII, n.
17, p. 107 – 111, set, 2001.
BETTING, Mauro. Pago para ver. In: VILAS BOAS, Sérgio (org.). Formação e
Informação Esportiva, São Paulo: Summus Editorial, 2005.
GOMES, Flávio. De máquinas e homens. In: VILAS BOAS, Sérgio (org.). Formação e
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MIRÁS, Denise. Personagens e Personas. In: VILAS BOAS, Sérgio (org.). Formação e
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SIMARRO, Pedro Ortiz. La formación dual del periodista especializado. In: ESTEVE
RAMÍREZ, F. (Org.). Estudios sobre Información Periodística Especializada.
Valencia: Fundación Universitaria San Pablo C.E.U, 1997. P. 61 – 69.
TUBINO, Manoel José Gomes Tubino. O que é esporte. São Paulo: Brasiliense, 1999.
ANEXOS
85
Dados de identificação
Súmula
A especificidade do jornalismo esportivo. Limites entre informação jornalística e
espetáculo. A linguagem dos diferentes esportes. A crônica esportiva. Montagem de
equipes e outros procedimentos relativos à produção jornalística.
Objetivos
- Buscar um melhor preparo dos estudantes que desejam seguir a especialização no
jornalismo,
- Aprofundar os conhecimentos teóricos em jornalismo esportivo
- Conhecer os diferentes teóricos do jornalismo esportivo,
- Analisar as práticas de jornalismo esportivo
- buscar terminologias apropriadas para a especialização no jornalismo que trata de
esportes.
Conteúdo Programático
Metodologia
- Aulas expositivas
-Seminários com convidados especialistas Carga Horária Teórica: 60 horas
Prática: 0 horas Experiências de Aprendizagem - Leituras especificas
- Preparação de seminários
- Realização de coberturas esportivas Critérios de Avaliação - Participação em aula
- Entrega de material analítico das coberturas Atividades de Recuperação Previstas -
Entrega de monografia sobre um tipo de cobertura esportiva.
Bibliografia
Básica Essencial
ALCOBA, Antonio - Deporte y comunicación - Editora Dirección de Deporte de la comunidad
Autónoma de Madrid
ALCOBA, Antonio - El periodismo deportivo em La sociedad moderna. - Editora Ed. Augusto
Pila Teleña
ALCOBA, Antonio - Periodismo Deportivo - Editora Sintesis (ISBN: 8497562739)
Básica
Andre Rezek e outros - 11 gols de placa - uma seleção de grandes reportagens sobre o nosso
futebol - Editora Record (ISBN: 9788501087621)
BARBEIRO, Heródoto e RANGEL, Patrícia - Manual de jornalismo Esportivo - Editora
Contexto (ISBN: xxxxx)
CLAUSO, Raúl - Cómo se construyen lãs noticias- los secretos de lãs técnicas periodísticas -
Editora La Crujía (ISBN: 9789876010337)
COELHO, Paulo Vinicius. - Jornalismo esportivo - Editora Contexto (ISBN: xxxxxxx)
Edileuza Soares - A bola no ar - Editora Summus (ISBN: 8532304613)
Complementar
CHARAUDEAU, Patrick - Discurso das mídias - Traduzido por Angela Correa - Editora
Contexto (ISBN: 8572443231)
LAGE, Nilson - A reportagem: Teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística - Editora
Record (ISBN: 9788501060907)
Outras Referências
Título Texto
A RELAÇÃO Projeto de pesquisa: A pesquisa aborda a relação entre as fontes e os
ENTRE jornalistas esportivos. A pesquisa bibliográfica permitirá tipificar e
JORNALISTAS E classificar as fontes de acordo com sua natureza, origem, duração e
FONTES NO legitimidade. O corpus da pesquisa é formado pela programação
JORNALISMO esportiva das emissoras que operam em Amplitude Modulada (AM), em
ESPORTIVO (estudo Porto Alegre. Esta delimitação será possível a partir de uma revisão nos
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sobre radiojornalismo estudos sobre jornalismo esportivo e sobre emissoras de rádio no Rio
esportivo) Grande do Sul, especificamente em Porto Alegre. Posteriormente será
realizado o acompanhamento da programação e a classificação dos
programas com observação das rotinas de produção. Realização de
entrevistas com os responsáveis pelas emissoras e com os jornalistas
esportivos. A etapa seguinte, com base nas referências bibliográficas,
constituí-se de uma análise da programação para definir os programas
jornalísticos e qual a relação jornalista x fonte.
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EMENTA
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Conhecimento e compreensão dos diversos gêneros do jornalismo
especializado. Conceituação, segmentação, interfaces, estilos e possibilidades.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
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1. Conceitos de linguagem cotidiana e linguagem especializada
2. Produção no jornalismo especializado. Pauta e captação da informação. A
preparação do jornalista para reportagens especiais.
3. Áreas especializadas (economia, política, cultura, tecnologia, medicina,
esportes, etc.).
4. Seminários por área de especialização.
5. A especificidade da linguagem dirigida a públicos segmentados. Publicações
segmentadas.
6. Análise e produção de reportagens especializadas.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
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CALDAS, Suely. Jornalismo Econômico. São Paulo: Contexto, 2003.
COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2004.
OLIVEIRA, Fabíola. Jornalismo Científico. São Paulo: Contexto, 2002.
PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. São Paulo: Contexto, 2004.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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ARISTÓTELES. Arte Retórica. Arte Poética. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s.d.
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Bibliografia
Bibliografia básica
SCHINNER, Carlos Fernando. Manual dos Locutores Esportivos. São Paulo: Panda,
2004.
Bibliografia complementar
MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista, o diálogo possível. São Paulo: Ática, 1988.