Você está na página 1de 29

O impacto da transformação digital sobre o futuro do trabalho

Resumo

O início do século XXI trouxe uma série de mudanças globais através das transformações digitais, a robótica,
telecomunicações, Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), impressão 3D, nanotecnologia,
biotecnologia, veículos autônomos, entre muitas outras, são algumas delas. Esta série de mudanças também
denominada de Quarta Revolução Industrial, está mudando drasticamente a forma como trabalhamos, nos
relacionamos e vivemos. Para nos prepararmos para o futuro, é fundamental nos anteciparmos aos acontecimentos,
por isso, este estudo apresenta uma análise de como as pessoas percebem e reagem a estas mudanças.

Realizamos uma pesquisa de campo para verificar qual a expectativa das pessoas, principalmente os jovens, em
relação às novas tecnologias. Os resultados obtidos, comparados a outros existentes, mostram que, tanto em nossa
amostra quanto nas demais, boa parte dos indivíduos ainda desconhecem ou conhecem superficialmente as
implicações das transformações digitais.

Mas, independentemente do grau de entendimento, ou de outras variáveis, as pessoas, no geral, assumem uma
postura bastante apreensiva em relação ao futuro, demonstrando incertezas acerca dos possíveis benefícios, e até uma
certa “fobia digital” frente às possíveis dificuldades futuras. Há um consenso entre os entrevistados de que as
mudanças irão ocorrer, de que será difícil encontrar empregos no mundo tecnológico, aumentando ainda mais a
desigualdade social.

Além disso, fica evidente nos resultados, que toda a sociedade, governos, empresas, escolas e indivíduos, têm grande
reponsabilidade para fazer com que as mudanças sejam inclusivas, e estejam ao alcance de todos.

Palavras-chave: transformação digital, futuro do trabalho, emprego, novas tecnologias, medo da automação.

1. Introdução

As revoluções industriais são períodos intensos de mudanças, principalmente dos sistemas


produtivos, mas que, de forma iterativa, acabam por modificar a sociedade como um todo. Em
todos esses períodos históricos, houve um sentimento das pessoas com relação ao que estava
ocorrendo e o que viria a ocorrer. Desde medo do desemprego tecnológico até esperança por uma
sociedade mais justa, os sentimentos ao longo da história foram os mais diversos e variaram de
acordo com o grupo social.
A Primeira Revolução Industrial foi um desses momentos, talvez o mais drástico, e não pode ser
resumida à invenção da máquina a vapor, ou à passagem do sistema de produção artesanal para a
produção fabril, porém, representa uma mudança completa da sociedade. No início do século
XVIII, a maior parte das sociedades baseava-se ainda numa economia de subsistência,
combinando a atividade agrícola com a extrativa e as atividades artesanais de manufatura.

Já nessa primeira revolução, a relação entre as pessoas e as mudanças tecnológicas surge de


maneira intensa. A Inglaterra foi, sem sombra de dúvidas, a pioneira no desenvolvimento
mecanicista da produção e o setor que primeiro aderiu às novas tecnologias foi o têxtil, nele
podemos avaliar o impacto causado pela introdução das novas ferramentas de fabricação no
mercado de trabalho. O setor têxtil que durante muito tempo foi um grande empregador de mão
de obra artesã, com a chegada das novas tecnologias da época, registrou uma drástica redução de
postos de trabalho e um forte agravamento de problemas sociais conforme o número de teares
mecânicos passou de 2.400 em 1813 para 224.000 em 1850, enquanto o número de tecelões
manuais, que se elevou até meados da década de 1820, chegando ao máximo de
aproximadamente 250.000, diminuiu para pouco mais de 100.000 no começo da década de 1840
e para pouco mais de 50.000 em 1850 (Hobsbawm, 2000). Essa situação fez com que um grande
contingente de pessoas deixasse a Europa e imigrassem para diversas partes do mundo à procura
de uma vida melhor; muitos seguiram para as Américas (Oliveira, 2004).

É nesse contexto que surge o movimento dos Ludditas que ofereceram resistência às mudanças
tecnológicas que ocorreram no período e mudaram de forma drástica o próprio estilo de vida
desses trabalhadores. Esse movimento, composto por um grupo de artesãos ingleses realizaram
uma série de protestos contra a automação das fabricas têxteis e chegaram a destruir as máquinas
que estavam destruindo seus empregos (Autor, 2015).

Ao longo das demais revoluções industriais, ocorreram uma série de disputas que partiram das
percepções com relação às mudanças tecnológicas de trabalhadores, políticos, empresários e de
outros grupos sociais relevantes.

Atualmente, a 4ª onda da Revolução Industrial conhecida no meio empresarial como Indústria


4.0, caracterizada pela integração e controle da produção a partir de sensores e equipamentos
conectados em rede e da “fusão do mundo real com o virtual” (CNI, 2016), vem ocorrendo de
forma acelerada, e com elas novos sentimentos surgem com relação ao futuro.
A COVID-19 foi um evento acelerador de mudanças no mundo do trabalho que levariam anos ou
até mesmo décadas para acontecer e algumas dessas transformações agravaram ainda mais a
situação do desemprego no Brasil e no mundo. Desde o início da pandemia, existe a percepção de
que a adoção das novas tecnologias avançaria de forma rápida por conta da necessidade de se
manter o funcionamento das empresas respeitando o distanciamento social e pela necessidade de
otimizar os custos das operações (Blit, 2020; Chernoff & Warman, 2020; Ding & Molina, 2020;
McKinsey Global Institute, 2020, p. 8; World Economic Forum, 2020).

Já existem alguns indicativos de que o processo de automação da produção tem se intensificado


durante o período da pandemia. Um levantamento recente do Fórum Econômico Mundial
demonstrou que 50% dos empregadores estão planejando acelerar a automação de tarefas como
uma resposta à COVID-19; número que chega à 68% no Brasil (World Economic Forum, 2020).
Um outro levantamento, esse feito pela McKinsey Global Institute com 800 executivos, mostrou
que um total de 67% das empresas respondentes estavam, desde o início da pandemia de COVID-
19, realizando a adoção da automação e da inteligência artificial de maneira significativamente
acelerada (20%) ou ligeiramente acelerada (47%).

Os efeitos da aceleração da automação já estão sendo percebidos, principalmente por


trabalhadores de serviços de atendimento presencial com um maior risco de transmissão viral que
têm sido substituídos pela automação para que as empresas não parem de prover seus serviços
(Chernoff & Warman, 2020). Regionalmente, o efeito da automação durante a pandemia está
sendo sentido como mostra, por exemplo, uma análise recente feita pelo Federal Reserve Bank da
Filadélfia (EUA) na qual demonstrou-se que os trabalhadores em ocupações mais automatizáveis
perderam mais seus empregos durante a pandemia do que aqueles que têm um menor risco de
automação (Ding & Molina, 2020).

O que a história nos ensinou até agora é que apesar de atividades desaparecerem, outras surgiram
e embora essas mudanças tenham causado problemas, com o passar do tempo, as novas
ocupações supriram as anteriores e o novo emprego nunca deixou de ser criado. Neste sentido, a
discussão sobre o emprego hoje, diante das mudanças em curso, talvez não seja se ele irá acabar
ou não, mas sim, se a sociedade está preparada para trabalhar e viver nesta nova realidade. E
ainda, sendo as mudanças inevitáveis e muito rápidas, como podemos tirar o melhor proveito
delas, de preferência um proveito que seja coletivo e não restritivo.
Embora haja grande interesse da ciência em saber quais possíveis impactos das novas tecnologias
no mercado de trabalho, estudos empíricos a esse respeito ainda são escassos. Um dos motivos
apontados para isso, é o fato de que os dados estatísticos sobre a I.A, robótica entre outras, ainda
são muito limitados e os estudos econômicos nesta área, ainda estão em estágio inicial. Assim
sendo, uma das possíveis abordagens para contornar a indisponibilidade de dados estatísticos, é
realizar pesquisas de campo com empresas ou indivíduos para coletar avaliações subjetivas destes
acerca do tema (Morikawa, 2017)

Dessa forma, o presente estudo apresenta um levantamento realizado com jovens do Brasil e de
Portugal que busca entender as suas percepções com relação à atual revolução industrial e seus
possíveis impactos sobre o futuro do trabalho.

O restante deste artigo está organizado da seguinte forma: o Capítulo 2 apresenta os trabalhos
relacionados que também procuraram de alguma forma entender a percepção das pessoas com
relação aos impactos das mudanças tecnológicas atualmente em curso; o Capítulo 3 apresentada a
metodologia utilizada para levantamento dos dados; o Capítulo 4 traz os resultados do
levantamento; o Capítulo 5 discute os resultados do levantamento à luz de trabalhos similares; o
Capítulo 6, por fim, apresenta algumas considerações finais.

2. Trabalhos relacionados

Procuramos identificar pesquisas recentes que abordassem a percepção de trabalhadores ou


futuros trabalhadores sobre os possíveis impactos das novas tecnologias sobre o mercado de
trabalho e o emprego.

O “medo tecnológico” pode ser constatado em diversos estudos realizados nos mais variados
países. Nos EUA, onde encontram-se a maioria deles, com os avanços tecnológicos em áreas
como a robótica, a IA, biotecnologia, entre outras, surge mais uma vez, a ameaça do desemprego
tecnológico, de acordo com (McClure, 2018) grande parte da sociedade americana, está
apreensiva e com medo do ritmo acelerado destas mudanças, em seu artigo o autor explora como
os “tecnofóbicos”, (pessoas que apresentam temores frente a tecnologia, o desemprego e os
problemas financeiros), reagem a estas mudanças, e quais implicações desta “fobia” para os
indivíduos.
Realizada em 2015, com 1.541 entrevistados maiores de 18 anos, a pesquisa aponta que os
“tecnofóbicos”, têm em média 52 anos, são do sexo feminino, têm formação superior, são
casados, vivem em áreas metropolitanas, e se identificam como conservadores na política. Os
dados também demonstram que mulheres, minorias não-brancas e pessoas com menor grau de
instrução, são as que mais relataram ter medos relacionados as tecnologias, também concluem
que esse medo está relacionado com a falta de conhecimento das pessoas sobre o tema. Entre os
efeitos da “tecnofobia”, aparecem problemas de saúde, relacionados à ansiedade, o medo do
desemprego, e a insegurança financeira.

Além disso, o estudo sugere que, conforme aumenta o nível educacional das pessoas, há uma
significativa redução frente aos temores tecnológicos, tal constatação já havia sido feita por
autores como: (Acemoglu & Autor, 2011), (Autor et al., 2003), (Acemoglu, 2003).

Outro estudo relevante sobre o tema, foi conduzido por (Dodel & Mesch, 2020), com base em
dados da Pew Research Center de 2017, nele os autores procuraram analisar a percepções dos
norte-americanos, em relação aos impactos da automação no local de trabalho. A partir da
hipótese de que indivíduos em posições mais elevadas no mercado de trabalho, são menos
propensos a sentir que seus empregos estão ameaçados e, portanto, têm visões mais otimistas em
relação as mudanças tecnológicas e o emprego. Os autores analisaram dados de 2.510
entrevistados, para avaliar quais são as características sociodemográficas e de trabalho,
relacionadas às visões positivas e negativas acerca das novas tecnologias sobre empregos e renda.

Os resultados mostraram que de fato, os trabalhadores mais velhos expressaram percepções mais
negativas sobre o impacto da nova tecnologia que os mais jovens; além disso, pessoas que
desenvolvem tarefas manuais ou físicas também são mais temerosas; em relação ao gênero,
não houve diferenças significativas entre a percepção dos homens e das mulheres, no entanto, o
maior grau de escolaridade e o nível de rendimentos, apontaram uma postura mais positiva diante
das novas tecnologias, corroborando com a hipótese inicial. Outra variável sensível, captada pelo
estudo foi que indivíduos brancos acreditam ter menos probabilidade de perda de emprego, que
os demais. No entanto o estudo conclui que apenas 4,6% dos entrevistados perderam o emprego
ou sofreram redução salarial por conta da automação, e apenas 16% acreditavam que as novas
tecnologias tiveram um impacto negativo em seu trabalho.
O estudo conclui que as novas tecnologias podem gerar ansiedades sociais, e que essas
ansiedades são mais acentuadas entre os setores mais vulneráveis da sociedade.

Também com base nos dados da Pew Research Center, (Wike & Stokes, 2018), comparam a
apreciação de pessoas em 10 países, sobre as transformações no mercado de trabalho, na
economia e nas relações sociais decorrentes da adoção de novas tecnologias nos diferentes países.

Com uma abordagem futura, o estudo verifica como as pessoas encaram os desafios das novas
tecnologias nos próximos 50 anos, abordando não apenas a possibilidade de substituição de mão
de obra humana por robôs e IA, mas também questões sobre o aumento da desigualdade, a
dificuldade em encontrar empregos, a eficiência econômica, a remuneração, a responsabilidade
das instituições e dos demais atores no desenvolvimento das habilidades e formação para alcançar
sucesso no futuro.

Os resultados apontam que a maioria dos entrevistados acreditam que as máquinas irão substituir
muito do trabalho que hoje é realizado por humanos, e, que isso irá acarretar maior desigualdade
social, dificuldade em arrumar empregos, redução salarial. Além disso, os entrevistados apontam
que governos, escolas, pessoas e empresa têm grande reponsabilidade pela qualificação dos
indivíduos para atuar na indústria 4.0.

Na União Europeia, (Dekker et al., 2017) analisaram dados do Eurobarometer Public Attitudes
towards Robots de 2012, para verificar se o medo dos robôs no trabalho é maior entre os
indivíduos que são mais propensos a serem afetados negativamente pela adoção de novas
tecnologias, tais como: desempregados, profissionais menos qualificados que executam
atividades rotineiras e repetitivas; além disso, os autores compararam se existem diferenças
significativas em relação ao receio da robótica entre países com políticas públicas de proteção ao
trabalho, como subsídios aos desempregados, ou sindicatos fortes, e os países onde tais medidas
sejam menos marcantes.

As hipóteses levantadas no estudo foram que trabalhadores mais escolarizados tenham menos
medo dos robôs do que, os menos escolarizados e os desempregados; que gestores profissionais
tenham menos medo dos robôs do que os trabalhadores manuais e do colarinho branco; que os
empresários tenham menos medo dos robôs do que os empregados; que a tecnologia robótica seja
percebida como uma ameaça maior em contextos de baixo crescimento econômico e altos níveis
de desemprego; que o medo dos robôs seja menor em países que têm maior proteção trabalhista e
benefícios em caso de desemprego, e maior força sindical.

Os resultados alcançados mostram que, as primeiras hipóteses, são verdadeiras, o medo dos robôs
cai à medida que aumenta o nível escolar, além disso, os desempregados demonstram ter mais
medo dos robôs no trabalho do que os trabalhadores empregados. Os trabalhadores de colarinho
branco (funcionários administrativos e de escritórios), demonstram níveis mais elevados de medo
dos robôs no trabalho do que seus pares, gestores profissionais.

Em relação aos empresários, o estudo mostra que, tanto os trabalhadores manuais quanto os do
colarinho branco, temem os robôs mais que empresários, já os gestores profissionais são
significativamente menos temerosos do que os empresários grandes ou pequenos, no entanto, o
medo dos robôs entre os proprietários de pequenas empresas não difere significativamente do dos
trabalhadores de colarinho branco. Outro dado interessante nesta pesquisa é que o medo de
automação entre as mulheres, é maior que dos homens.

A análise macro mostra que em países com altas taxas de desemprego ou com sindicatos fracos,
há maior medo de robôs no trabalho, no entanto, o crescimento do PIB, e a rigidez da legislação
trabalhista, não são estatisticamente significativos para explicar o medo da automação.

Outro estudo sobre como as pessoas reagem às novas tecnologias no mercado de trabalho, foi
conduzido na Bulgária por (Ivanov et al., 2020), nele, foram ouvidos 502 entrevistados búlgaros,
maiores de 18, residentes na Bulgária e em outros países.

Os resultados demonstram que o medo da substituição de seres humanos por máquinas é baixo
entre os entrevistados, embora presente em parte da amostra, este segmento não é
demograficamente definido. A variável sexo, não é determinante para aferir o receio em relação a
automação tecnológica entre os búlgaros. As variáveis renda, educação ou local de moradia, tão
pouco, entretanto, se tais variáveis não parecem condicionar a reação das pessoas frente as
mudanças tecnológicas, a idade acaba por ser uma determinante neste grupo, pois enquanto os
mais jovens demostram esperança e flexibilidade frente as transformações, os mais velhos estão
menos propensos a se requalificar para enfrentar os desafios do mercado de trabalho tecnológico.
Além disso, os resultados revelam que o pouco medo de automação na Bulgária, está associado a
percepção de desumanização da sociedade, e não da substituição de homens por máquinas.
O “medo tecnológico” é um tema que está sendo debatido em todo o mundo, no Japão
(Morikawa, 2017), realizou a análise de uma pesquisa conduzida com 10.000 indivíduos,
estratificados por sexo, idade e região, para checar os possíveis impactos da inteligência artificial
(IA) e da robótica no emprego. Este estudo avalia, do ponto de vista dos trabalhadores, quais os
que percebem maior risco de seus empregos serem substituídos pelas novas tecnologias.

A hipótese inicial do estudo é que, quanto maior o grau de qualificação de um indivíduo, maior
será sua percepção acerca dos impactos das novas tecnologias, além disso, o estudo avalia
também a aceitabilidade dos consumidores em relação aos robôs de serviço. Os resultados das
análises feitas mostram que cerca de 30% dos trabalhadores japoneses, principalmente os mais
jovens, têm medo de que seus empregos sejam substituídos por novas tecnologias no futuro. Por
outro lado, os resultados sugerem que serviços pessoais, como assistência infantil, assistência
médica e educação, são menos suscetíveis de serem substituídos por IA e robótica, porque os
consumidores preferem que estes serviços sejam prestados por humanos (Morikawa, 2017). 

Como pudemos constatar nos estudos apresentados, o “medo da automação” é consensual entre a
maioria dos trabalhadores nos diversos países, principalmente entre os mais vulneráveis, no
entanto, uma literatura experimental muito recente que tem vindo a testar até que ponto os
outputs individuais dependem não apenas das capabilidades dinâmicas de cada um, mas também
das suas crenças face a fatores externos e das suas expetativas face ao futuro. Níveis de confiança
individual demasiadamente elevados podem permitir comportamentos sub-ótimos no processo de
tomada de decisão (Heidhues et al., 2018); (Marray et al., 2020).

Não são ainda claros os mecanismos, intrigantes, que permitem compreender estas ligações,
aparentemente correlacionados com a resposta individual aos feedbacks gerados no próprio
processo de aprendizagem. Outros autores como (Hainguerlot et al., 2018), sublinham que, na
inexistência de feedbacks, os indivíduos usam o seu grau de confiança, a partir do conhecimento
do meio envolvente e dos seus desafios, como forma de fundamentar seu comportamento futuro.
Com base também num estudo de natureza experimental, estes autores concluem pela existência
de uma relação entre a capacidade para avaliar as capabilidades individuais e para aprender.
(Briel et al., 2020) abordam o impacto da confiança, melhor dizendo, sobre confiança, nos
salários que os estudantes universitários, prestes a entrar no mercado de trabalho, esperam vir a
ganhar; os autores do estudo partem de um inquérito lançado numa Universidade alemã,
constroem um índice de confiança e mostram que está relacionado com o gênero e com os
salários efetivos. Estudantes do sexo masculino, na amostra, revelam-se significativamente mais
confiantes. Da mesma forma, os feedbacks obtidos nos estudos supracitados, podem estar
“contaminados” por essas prerrogativas, no entanto, o fato de tais preocupações serem latentes
em diversos países, com características sociais e culturais tão distintas, deve ser motivo de
debates e avaliações mais aprofundadas.

Conforme pudemos observar há fatores convergentes nos diversos estudos relacionados


anteriormente, o “medo da automação” é mais recorrente entre trabalhadores nos níveis
hierárquicos mais baixos, entre mulheres, entre grupos étnicos historicamente marginalizados e
principalmente entre pessoas com menor grau de instrução, além disso, os dados apontam para
um aumento das desigualdades sociais a medida em que as novas tecnologias vão ganhando mais
espaço. Diante de tais constatações, nos cabe perguntar se em países como o Brasil ou mesmo
Portugal, onde a adoção de novas tecnologias, ainda não aconteceu de forma intensa, esta
tendência se mantém, ou se há diferenças significativas na percepção das pessoas sobre o tema.

3. Metodologia

Diante das evidências apontadas no capítulo anterior, buscamos levantar se tais questões estão
presentes na sociedade brasileira e portuguesa, para isso, optamos por conduzir uma pesquisa,
nos moldes daquela da Pew Research Center, da qual o Brasil havia participado em 2018. Nosso
objetivo com tal abordagem foi verificar se; primeiro, as tendências apontadas anteriormente não
sofreram alterações neste espaço de tempo, ou quando incluídos grupos mais jovens no universo
amostral; segundo, se existem diferenças significativas na apreciação de indivíduos do Brasil e de
Portugal na apreciação do tema.

Embora não nos tenha sido possível realizar um inquérito com amostragem do tipo probabilística,
por questões de prazo e de recursos, optamos por fazer uma pesquisa por amostragem não
probabilística por conveniência. Verificamos como grupos de estudantes de escolas de nível
secundário e superior, do Brasil, na região sudeste e de Portugal na região norte, da qual tivemos
acesso, avaliaram os possíveis impactos das transformações digitais e das novas tecnologias em
seus futuros profissionais.
Apesar de pesquisas com amostras não probabilísticas estarem sujeitas a críticas, porque nem
todos os elementos da população tenham a mesma probabilidade de serem selecionados, cada vez
mais pesquisas por amostragem não probabilística têm sido usadas, por questões de agilidade,
criatividade e, sobretudo, racionalidade em termos da relação custo-benefício. As amostras
voluntárias ou por conveniência, são aquelas que se disponibilizam voluntariamente para compor
a amostra, em função da disponibilidade e acessibilidade dos elementos da população (Morais,
2005).

A transformação digital promovida pela Quarta Revolução Industrial, e a Indústria 4.0, são
assuntos amplos e complexos, e, existem muitos aspectos importantes nestes temas que merecem
ser estudados. No entanto, para este estudo, as variáveis que procuramos colocar em foco foram:
a expectativas das pessoas em relação ao futuro; a adesão dos usuários às novas tecnologias; o
entendimento sobre os temas: Quarta Revolução Industrial e Industria 4.0; as expectativas das
pessoas em relação às mudanças no mercado de trabalho, a questão da desigualdade social, o grau
de reponsabilidade das instituições e dos demais atores na adequação às mudanças; os setores e
profissões em alta e os mais vulneráveis em relação às mudanças.

Para obter estes dados de forma eficaz, optamos por realizar uma pesquisa quantitativa, que é o
método utilizado para medir opiniões, reações, sensações, hábitos e atitudes etc., por meio de
uma amostra que represente de forma estatisticamente comprovada o universo a ser estudado
(Manzato & Santos, 2012) Neste sentido e em consonância com as variáveis mencionadas
anteriormente, decidimos utilizar um questionário já existente, que atendesse não somente aos
nossos interesses de pesquisa, mas que também estivesse de acordo com as normas para
elaboração de uma pesquisa quantitativa. Para isso procuramos seguir aquilo que sugere
(Manzato & Santos, 2012), que determina que uma pesquisa de campo seja feita por partes, sendo
a primeira onde se identifica o entrevistador, a segunda o entrevistado e seus dados
socioeconômicos, e por fim, o levantamento dos dados da pesquisa.

O estudo publicado pela Pew Research Center em 2018 atendia perfeitamente todos estes
requisitos, além disso, ao replicar um estudo de referência, evitamos a necessidade de efetuar pré-
testes amostral e minimizamos chances de erros estruturais. Embora tenhamos adaptado o
questionário e ampliado algumas questões que julgamos pertinentes ao tema, a essência da nossa
pesquisa é a mesma da Pew, o que nos permitiu comparar os resultados.
Abaixo apresentamos a estrutura e as questões usadas para este inquérito, que foi dividido em
cinco seções: 1 – título da pesquisa e descrição dos objetivos da mesma; 2 - dados sócio
econômicos, que permitem estratificar a amostra para comparar os resultados; 3 - questões
preliminares, que visam avaliar a sentimento dos entrevistados em relação à economia do país, as
mudanças e o futuro; 4 – avaliação de cenários, esta seção foi adaptada da pesquisa de referência
da Pew Research Center, as questões foram traduzidas e adequadas ao público alvo, nela
podemos verificar a perspectiva das pessoas sobre os possíveis impactos da robótica e dos
computadores no futuro do trabalho e quais os maiores responsáveis por adequar o trabalhador de
hoje para o mercado de trabalho futuro; 5 – avaliação das profissões, a última parte da pesquisa
procura identificar quais as profissões os entrevistados acreditam que estarão em alta e quais
tendem a desaparecer no futuro (para maiores detalhes, consultar apêndice, item 8.1).

Nossa pesquisa de campo foi realizada eletronicamente, através do Google Forms entre os dias 10
de março de 2020 e 18 de maio de 2020, neste intervalo colhemos a opinião de 420 entrevistados,
contendo pessoas de 15 a 94 anos, que residem no Brasil e em Portugal. As características
demográficas da nossa amostra são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1: Caracterização da amostra do estudo

Brasileiros Portugueses Total


(n=248) (n=172) (n=420)
Sexo
Feminino 152 130 282
Masculino 96 42 138
Grau de escolaridade
Fundamental incompleto 7 0 7
Graduação Completa 12 2 14
Graduação Completa 12 2 14
Médio incompleto 144 59 203
Médio completo 3 0 3
Pós-graduação Incompleta 42 43 85
Pós-graduação Completa 11 2 13
Faixa etária
15-19 anos 115 44 159
20-29 anos 55 99 154
30-39 anos 37 17 54
40-49 anos 22 6 28
≥50 anos 19 6 25

Conforme podemos observar na tabela acima, o perfil dos entrevistados é bastante heterogêneo,
no entanto, podemos destacar uma maior participação das mulheres, dos jovens entre 15 e 19
anos, com nível de instrução de ensino médio incompleto, tal preponderância deve-se
principalmente pelo fato de a pesquisa ter tido mais adesão no ambiente escolar.

4. Resultados

A base de dados da qual extraímos estas análises, permitem diversas observações, procuramos
focar naquelas que estivessem mais alinhadas aos objetivos deste estudo, que é o de avaliar a
expectativa das pessoas em relação aos possíveis impactos das transformações digitais em suas
vidas, e quais sentimento e reação essas mudanças causam.

A primeira tabela verificamos qual a expectativa das pessoas quanto ao futuro do trabalho frente
as novas tecnologias.

A primeira questão busca entender o quanto as pessoas acreditam que as tecnologias ligadas à
transformação digital serão capazes de fazer grande parte do trabalho que hoje é feito por seres
humanos. No geral, 44% dos respondentes indicaram que tem certeza de que isso irá ocorrer,
53% consideram provável que isso ocorra e apenas 3% acreditam que isso não acontecerá.
Comparando as respostas por nacionalidade do respondente, é interessante reparar que 47% dos
brasileiros têm certeza disso, já para os portugueses, apenas 39% pensam o mesmo.

Na figura 1, destacamos que à medida que aumenta a faixa etária, aumenta também a expectativa
de que as novas tecnologias possam vir a fazer grande parte do trabalho que hoje é feito por
humanos, a maioria dos indivíduos acima dos 40 anos, tem certeza de que isso poderá acontecer.
Figura 1: Respostas distribuídas por faixa etária para a questão: “Nos próximos 50 anos, você acredita que as novas tecnologias
serão capazes de fazer grande parte do trabalho que hoje é feito por seres humanos?”

A segunda pergunta do nosso questionário buscava entender se os entrevistados acham que as


pessoas com baixa qualificação teriam dificuldade para conseguir emprego num mundo altamente
tecnológico. Nessa questão não foram observadas diferenças significativas entre as duas
nacionalidades, mas podemos perceber, como indicado pela Figura 2, que, embora no geral a
apreensão seja alta em ambos os grupos, as mulheres são mais pessimistas que os homens
(94,33% x 88,41%) quanto à empregabilidade da mão de obra com baixa qualificação.

Figura 2: Respostas distribuídas por sexo para a questão: “Você acha que os trabalhadores com baixa qualificação teriam
dificuldade em conseguir emprego se as novas tecnologias fossem capazes de fazer grande parte do trabalho que atualmente é
feito por humanos?”

Na terceira pergunta, procuramos entender se os entrevistados acham que haveria melhoria na


eficiência econômica com as transformações digitais, os resultados revelam que de forma geral,
as repostas estão bem divididas quanto à essa possibilidade, com 34% acreditando que a
economia não seria mais eficiente, 35% que seria e 31% não sabem responder ou preferem não
opinar. Os brasileiros demonstraram mais pessimismo quanto à concretização dessa possibilidade
com 38% afirmando que isso não ocorreria e 33% que ocorreria. Já dentre os portugueses, 29%
não acreditam que a economia melhoraria e 38% acreditam que isso pode ocorrer.

Na quarta pergunta, a ideia era saber se os entrevistados achavam que existiriam novos empregos
e melhor remuneração com a adoção das novas tecnologias. Quase metade dos entrevistados
(49%) considera que não existirão novos empregos e melhor remuneração, enquanto 36%
acreditam que sim. Não houve diferença significativa entre os brasileiros e portugueses nesse
aspecto.

Ao discutir os desafios trazidos pelas mudanças tecnológicas, um ponto importante é avaliar o


processo de transição para esta nova realidade, saber se a sociedade está se preparando
adequadamente para o futuro é um fundamental para avaliar os acontecimentos e propor
soluções. Ao serem questionados sobre este aspecto, as pessoas desta amostra afirmam, em sua
maioria, estarem se preparando razoavelmente ou suficientemente bem para enfrentar as
mudanças, já um grupo pequeno de pessoas, independentemente do grau de instrução, não
acreditam que estejam se qualificando adequadamente para o futuro, é o que nos mostra a figura
3.

Figura 3: Respostas distribuídas por grau de escolaridade para a questão: “Você acredita estar se preparando adequadamente para
o mercado de trabalho do futuro?”
Quatro questões de nosso inquérito, tinham por objetivo detectar o nível de reponsabilidade dos
indivíduos e das demais instituições para a preparação e adequação dos trabalhadores no
enfrentamento das mudanças em curso.

Figura 4: Respostas para a questão: “Qual é a responsabilidade de ____ para garantir que o profissional tenha as habilidades e
educação necessárias para ser bem-sucedido no futuro?”

De acordo com os resultados apresentados, podemos concluir que todos estes agentes têm grande
reponsabilidade, no entanto, parece que as empresas são as menos cobradas quanto a isso.

5. Discussão

Podemos detectar o perfil dos “tecnofóbicos” na nossa amostra e comparar com McClure?
McClure conclui que o medo está relacionado com a falta de conhecimento das pessoas sobre o
tema.

Idade:

Para Ivanov; Dodel: + jovens – medo.

Para Morikawa: + jovens + medo, jovens têm mais conhecimento sobre o tema.

Educação:

Para McClure; Dodel; Dekker; Morikawa: + educação - medo; idem para (Acemoglu & Autor,
2011), (Autor et al., 2003), (Acemoglu, 2003).

Para Ivanov: não há correlação entre educação e medo;

Sexo:

McClure; Dekker, Morikawa: mulheres + medo

Ivanov; Dodel: A variável sexo, não tem grande relevância.

(1) um fato que nos chamou a atenção neste estudo, é o baixo grau de entendimento ou de
interesse das pessoas em relação às transformações digitais, conforme podemos observar, a
maioria dos entrevistados desconhecem ou conhecem apenas superficialmente o tema, mesmo
entre os mais jovens, há muitos que dizem nunca ter ouvido falar ou não saber bem do que se
trata estas mudanças. Estas constatações demonstram a importância e a necessidade de mais
pessoas e instituições dedicarem esforços em estudar e divulgar este fenômeno, pois, apesar da
grande importância, o assunto ainda é pouco debatido na sociedade como um todo.

(2) embora afirmem conhecer pouco, os entrevistados foram bastante coerentes ao avaliar os
possíveis impactos destas transformações, ao serem questionados sobre quais as áreas de trabalho
eles acreditam que serão mais impactadas pelas novas tecnologias, as respostas apontam que as
mudanças decorrentes da transformação digital, deverão afetar todas as áreas da empresa do chão
de fábrica ao alto escalão. Estes resultados estão alinhados aos de (Kaplan & Haenlein, 2019) que
afirmam que máquinas, robôs e sistemas de I.A, podem substituir desde atividades rotineiras, até
atividades que requeiram capacidade cognitiva mais aperfeiçoada.
(3) Ao tratar da probabilidade da substituição da mão de obra humana por máquinas, a maioria
dos entrevistados acreditam que isso poderá ocorrer nos próximos 50 anos. Para 44% dos
entrevistados, isso irá acontecer com certeza e para 53%, isso tem grandes chances de ocorrer,
estes resultados são ainda mais expressivos entre os maiores de 40 anos, onde 68% das pessoas
tem certeza dessas mudanças, no entanto, a certeza recua entre os portugueses (39%), contra
(47%) entre os brasileiros. Nossos resultados mostram uma diferença significativa daqueles
apresentados na pesquisa (Wike & Stokes, 2018) onde apenas 18% dos brasileiros afirmavam ter
certeza das mudanças, os que não acreditavam em tais mudanças, eram 10%, hoje somam apenas
3%, levando-nos a concluir que a expectativa das pessoas em relação ao potencial das novas
tecnologias sofreu alterações os últimos anos.

(4) entre as preocupações mais comuns com as transformações em curso, estão a questão da
empregabilidade, avaliamos a percepção dos entrevistados, quanto a possibilidade de criação de
novos empregos e melhorias salariais, com a adoção das novas tecnologias. Para a metade dos
respondentes, independentemente de qualquer outra variável analisada, a adoção das novas
tecnologias, não representa ganhos trabalhistas. No entanto, 36% acreditam que as
transformações digitais podem sim trazer novas oportunidades de emprego e melhores
remunerações. (5) Além disso, procuramos verificar a opinião das pessoas sobre a expectativa de
arrumar emprego no mundo tecnológico, para indivíduos com baixa qualificação. Os resultados
demonstram que a maioria das pessoas, (92%) acreditam que pessoas com pouca instrução devem
enfrentar dificuldades para conseguir emprego, com a transformação digital. No entanto, entre os
poucos que não acreditam que haverá dificuldades para pessoas com baixa qualificação
encontrarem empregos (5%), o destaque vai para os homens.

Os dados observados acima mantém certo alinhamento com aqueles obtidos por (Wike & Stokes,
2018) onde também a maioria dos brasileiros (58%), não acreditavam em novos empregos e
melhores salários, no entanto a ideia de que arrumar emprego no mundo tecnológico será mais
difícil para pessoas com baixa qualificação, aumentou de 83% em 2018, para 92% hoje.

(6) Outra questão levantada, foi a expectativa das pessoas em relação a melhoria da eficiência
econômica, frente a transformação digital e a adoção das novas tecnologias. Se analisarmos
isoladamente a questão, podemos afirmar que há equilíbrio entre os que acreditam, os que não
acreditam e os que não sabem se haveria ou não melhoria na economia com a adoção das novas
tecnologias, porém, quanto maior o grau de entendimento do entrevistado sobre o tema, maior é a
percepção de que haveria melhoria da eficiência econômica. Além disso, os brasileiros são menos
otimistas que os portugueses quanto aos ganhos econômicos. (recuperar os dados do
cruzamento e verificar se a afirmação está correta)

(7) Se no âmbito geral, não há muito otimismo em relação à emprego, renda e melhoria
econômica, do ponto de vista individual, a percepção muda. Ao serem indagados se as profissões
que os entrevistados exercem hoje ou virão a exercer no futuro, podem vir a ser totalmente feitas
por máquinas, robôs ou inteligência artificial, 55% acreditam que a chance das novas tecnologias
“roubarem” seu emprego, é baixa. Os resultados parecem corroborar com a teoria de Hainguerlot,
Vergnaud e Gardelle, (2018), pois quando verificamos o grau de confiança dos indivíduos que
têm mais conhecimento acerca do assunto, percebemos que estes, sentem-se mais propensos a
perder seus postos para a automação, enquanto os “leigos” sentem-se menos ameaçados. (cruzar
os dados com a Q13 para conferir esta afirmação). Além disso, os indivíduos que acreditam estar
se preparando adequadamente para o mercado de trabalho, são os que menos temem que suas
profissões venham a ser feitas por máquinas.

(8) Conforme vimos na questão 8, a maioria das pessoas acredita estar se qualificando
adequadamente para as mudanças em curso, mais de 73% dos entrevistados demonstram
otimismo ao avaliar sua preparação para o mercado de trabalho futuro, com destaque para 85%
dos jovens que não concluíram o ensino fundamental, mas tem grande segurança de que estão no
caminho certo para enfrentar os desafios futuros. (cruzar estes dados com a questão 13 para ver se
há alteração significativa)

(9,10,11,12) Para finalizar nosso estudo, procuramos verificar qual é a responsabilidade dos
indivíduos, dos governos, das escolas e das empresas, para garantir que os profissionais
desenvolvam as habilidades e educação necessárias para serem bem-sucedidos no futuro frente as
transformações em curso. Para os entrevistados, todos os atores sociais elencados, têm grande
responsabilidade no processo de adequação da sociedade para enfrentar tais mudanças, porém na
visão das pessoas, a iniciativa privada é o setor com menor reponsabilidade entre os demais, já as
escolas, são os maiores responsáveis por tal adequação, 79% atribuem muita responsabilidade a
ela, e ninguém acredita que as escolas não tenham nenhuma responsabilidade quanto a isso.
Comparando nossos resultados com (Wike & Stokes, 2018) não verificamos grandes
divergências, prevalece a ideia de que os indivíduos são os maiores responsáveis em se qualificar
para enfrentar as mudanças, seguidas pelos governos e as escolas, mantendo a ideia de que a
iniciativa privada tem menos responsabilidades que os demais.

6. Conclusão

Os resultados observados tanto em nossa pesquisa, como nas demais analisadas, revelam que,
independentemente de variáveis socioeconômicas, nacionalidade, entre outras, há um consenso
sobre os potenciais impactos das transformações digitais na vida das pessoas e para o futuro do
trabalho. Os resultados apontam que a “fobia digital” é relevante para uma parcela significativa
da sociedade, principalmente no que tange à empregabilidade.

Conforme apontou (McClure, 2018) as pessoas temem que as novas tecnologias possam roubar
seus empregos e trazer problemas financeiros. Já (Dodel & Mesch, 2020) defendem que as novas
tecnologias podem gerar ansiedades sociais, e que essas ansiedades são mais acentuadas entre os
setores mais vulneráveis da sociedade. Porém, em nossos resultados, assim como os de (McClure,
2018); (Dodel & Mesch, 2020); (Dekker et al., 2017); (Morikawa, 2017); (Acemoglu & Autor,
2011); (Autor et al., 2003), apontam que quanto maior o grau de instrução e o conhecimento
sobre o assunto, menor é expectativa de perder o próprio emprego para as novas tecnologias, e
portanto menor será a “fobia digital”.

Podemos que concluir então que para enfrentar a “fobia digital” é necessário investir na formação
e no conhecimento das pessoas, para que a Quarta Revolução Industrial seja inclusiva e
sustentável, para isso é necessário que os indivíduos busquem se qualificar e aprimorar suas
habilidades, e que governos, escolas, e a iniciativa privada, garantam às pessoas o acesso a estas
oportunidades.
Referências

Acemoglu, D. (2003). Technology and Inequality. 6.

Acemoglu, D., & Autor, D. (2011). Chapter 12 - Skills, Tasks and Technologies: Implications for

Employment and Earnings**We thank Amir Kermani for outstanding research assistance

and Melanie Wasserman for persistent, meticulous and ingenious work on all aspects of

the chapter. We are indebted to Arnaud Costinot for insightful comments and suggestions.

Autor acknowledges support from the National Science Foundation (CAREER award

SES-0239538). In D. Card & O. Ashenfelter (Eds.), Handbook of Labor Economics (Vol.

4, pp. 1043–1171). Elsevier. https://doi.org/10.1016/S0169-7218(11)02410-5

Autor, D. H. (2015). Why Are There Still So Many Jobs? The History and Future of Workplace

Automation. Journal of Economic Perspectives, 29(3), 3–30.

https://doi.org/10.1257/jep.29.3.3

Autor, D. H., Levy, F., & Murnane, R. J. (2003). The Skill Content of Recent Technological

Change: An Empirical Exploration. The Quarterly Journal of Economics, 118(4), 1279–

1333. https://doi.org/10.1162/003355303322552801

Blit, J. (2020). Automation and Reallocation: Will COVID-19 Usher in the Future of Work?

Canadian Public Policy, 46(S2), S192–S202. https://doi.org/10.3138/cpp.2020-065

Briel, S., Osikominu, A., Pfeifer, G., Reutter, M., & Satlukal, S. (2020). Overconfidence and

Gender Differences in Wage Expectations (SSRN Scholarly Paper ID 3661437). Social

Science Research Network. https://papers.ssrn.com/abstract=3661437

Chernoff, A., & Warman, C. (2020). COVID-19 and Implications for Automation (No. w27249;

p. w27249). National Bureau of Economic Research. https://doi.org/10.3386/w27249


CNI. (2016). Desafios para Indústria 4.0 no Brasil. Confederação Nacional da Indústria.

https://bucketgw- cni-static-cms-

si.s3.amazonaws.com/media/filer_public/d6/cb/d6cbfbba- 4d7e-43a0-9784-

86365061a366/desafios_para_industria_40_no_brasil.pdf

Dekker, F., Salomons, A., & Waal, J. van der. (2017). Fear of robots at work: The role of

economic self-interest. Socio-Economic Review, 15(3), 539–562.

https://doi.org/10.1093/ser/mwx005

Ding, L., & Molina, J. S. (2020). “Forced Automation” by COVID-19? Early Trends from

Current Population Survey Data (p. 29). Federal Reserve Bank of Philadelphia.

Dodel, M., & Mesch, G. S. (2020). Perceptions about the impact of automation in the workplace.

Information, Communication & Society, 23(5), 665–680.

https://doi.org/10.1080/1369118X.2020.1716043

Hainguerlot, M., Vergnaud, J.-C., & de Gardelle, V. (2018). Metacognitive ability predicts

learning cue-stimulus associations in the absence of external feedback. Scientific Reports,

8(1), 5602. https://doi.org/10.1038/s41598-018-23936-9

Heidhues, P., Kőszegi, B., & Strack, P. (2018). Unrealistic Expectations and Misguided

Learning. Econometrica, 86(4), 1159–1214. https://doi.org/10.3982/ECTA14084

Hobsbawm, E. (2000). Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Forense Universitária.

Ivanov, S., Kuyumdzhiev, M., & Webster, C. (2020). Automation fears: Drivers and solutions.

SocArXiv. https://doi.org/10.31235/osf.io/jze3u

Kaplan, A., & Haenlein, M. (2019). Siri, Siri, in my hand: Who’s the fairest in the land? On the

interpretations, illustrations, and implications of artificial intelligence. Business Horizons,

62(1), 15–25. https://doi.org/10.1016/j.bushor.2018.08.004


Manzato, A. J., & Santos, A. B. (2012). A elaboração de questionários na pesquisa quantitativa.

Departamento de Ciência de Computação e Estatística–IBILCE–UNESP, 1–17.

Marray, K., Krishna, N., & Tang, J. (2020). How Do Expectations Affect Learning About

Fundamentals? Some Experimental Evidence (SSRN Scholarly Paper ID 3542787).

Social Science Research Network. https://doi.org/10.2139/ssrn.3542787

McClure, P. K. (2018). “You’re Fired,” Says the Robot: The Rise of Automation in the

Workplace, Technophobes, and Fears of Unemployment. Social Science Computer

Review, 36(2), 139–156. https://doi.org/10.1177/0894439317698637

McKinsey Global Institute. (2020). What 800 executives envision for the pandemic workforce.

MGI. https://www.mckinsey.com/featured-insights/future-of-work/what-800-executives-

envision-for-the-postpandemic-workforce

Morais, C. (2005). Escalas de medida, estatística descritiva e inferência estatística

[WorkingPaper]. Instituto Politécnico de Bragança, Escola Superior de Educação.

https://bibliotecadigital.ipb.pt/handle/10198/7325

Morikawa, M. (2017). SSPJ Discussion Paper Series. “Who Are Afraid of Losing Their Jobs to

Artificial Intelligence and Robots? Evidence from a Survey,” 22.

Oliveira, E. M. (2004). TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO, DA

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL AOS NOSSOS DIAS / Word of work transformations—

From industrial revolution to our days. Caminhos de Geografia, 5(11).

http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/view/15327

Wike, R., & Stokes, B. (2018). In Advanced and Emerging Economies Alike, Worries About Job

Automation. 14.

World Economic Forum. (2020). Future of Jobs Report 2020. WEF.

http://www3.weforum.org/docs/WEF_Future_of_Jobs_2020.pdf
Apêndice
Seção 1 de 5

Pesquisa sobre a apreciação das "Novas Tecnologias" e os possíveis efeitos para a sociedade.

Estudo realizado no âmbito da Dissertação do Mestrado em Economia Social, pela Escola de


Economia e Gestão da Universidade do Minho.

O presente questionário tem como objetivo avaliar os possíveis impactos da Quarta Revolução
Industrial, da Indústria 4.0 e das "Novas Tecnologias" sobre o mercado de trabalho.

O questionário é anônimo, pelo que nunca lhe será pedido o nome durante o mesmo. É
importante salientar que não existem respostas certas ou erradas às perguntas deste questionário,
uma vez que aquilo que se pretende é conhecer a opinião de cada respondente sobre o tema.

Antecipadamente agradecemos a colaboração!

Duração: aproximadamente 10 minutos.

Seção 2 de 5 - Dados socioeconômicos:

Sexo:

( ) feminino;

( ) masculino.

Idade: ___

Nacionalidade:

( ) Brasileira

( ) Portuguesa

( ) Outras

Escolaridade:

( ) Fundamental / Básico
( ) Médio / Secundário

( ) Superior / Graduação

( ) Pós graduação / Mestrado / Doutorado

Seção 3 de 5 - Questões preliminares:

Quando você pensa sobre o futuro, você se sente:

( ) confiante, otimista e esperançoso;

( ) curioso, interessado e entusiasmado;

( ) inseguro, preocupado e assustado.

( ) não penso no futuro, nem me preocupo com ele.

Com relação às "mudanças", como você avalia:

( ) as mudanças estão apenas começando e elas irão mudar significativamente o mundo e a


sociedade;

( ) mudanças acontecem, mas não irão mudar significativamente o mundo e a sociedade;

( ) não está havendo mudanças, e o mundo e a sociedade continuarão iguais.

Quando você pensa no seu futuro, e no futuro da sociedade em geral, você acredita que:

( ) a vida será melhor e mais próspera para mim e para todos;

( ) a vida será pior e mais difícil para mim e para todos;

( ) a vida será praticamente igual, para mim e para todos.

Qual é a sua opinião sobre a economia do país?

*por "economia do país" considere, emprego, renda, acesso à produtos e serviços, nível de
endividamento das famílias etc.

( ) Eu acredito que a economia do país está melhorando, ou está bem;


( ) Eu acredito que a economia do país está piorando, ou está mal;

( ) Não sei, ou prefiro não responder.

Qual seu grau de entendimento sobre os temas: Quarta Revolução Industrial e " Industria 4.0"?

( ) Nunca ouvi falar;

( ) Já ouvi falar, mas não sei muito bem do que se trata;

( ) Tenho algum conhecimento sobre os temas;

( ) Tenho bom conhecimento sobre o tema, mas não sou especialista no assunto;

( ) Tenho muito conhecimento sobre os temas.

Em seu entendimento, se as empresas adotarem novas tecnologias, como robótica, Inteligência


Artificial, entre outras, isso poderá afetar quais áreas de trabalho dentro destas empresas?

( ) todas as áreas da empresa (alto, médio e baixo escalão);

( ) apenas as áreas intermediárias e operacionais (médio e baixo escalão);

( ) apenas a área operacional (produção, atendimento, prestação de serviços);

( ) apenas parte da área operacional (produção, atendimento, prestação de serviços);

( ) nenhuma área da empresa.

Seção 4 de 5 - Avaliação dos cenários:

*Estas questões foram adaptadas da pesquisa "In Advanced and Emerging Economies Alike,
Worries About Job Automation" feita pela Pew Research Center em nove países no ano de 2018.

Em sua opinião, qual a probabilidade de que, nos próximos 50 anos, as novas tecnologias (robôs,
computadores, Inteligência artificial etc.) podem vir a fazer muito do trabalho que hoje são feitos
por seres humanos?

( ) Tenho certeza de que isso irá acontecer;

( ) Acredito que provavelmente isso irá acontecer;


( ) Acredito que provavelmente isso NÃO irá acontecer;

( ) Tenho certeza de que isso NÃO irá acontecer;

( ) Não sei, ou não quero responder.

Se as novas tecnologias (robôs, computadores, Inteligência artificial etc.), fossem capazes de


fazer grande parte do trabalho que atualmente é feito por humanos, você acha que pessoas
comuns teriam dificuldade em conseguir emprego?

( ) Sim, provavelmente;

( ) Não, não é provável;

( ) Não sei, ou não quero responder.

Se as novas tecnologias (robôs, computadores, Inteligência artificial etc.) fossem capazes de fazer
grande parte do trabalho que atualmente é feito por humanos, você acha que a economia seria
muito mais eficiente?

( ) Sim, provavelmente;

( ) Não, não é provável;

( ) Não sei, ou não quero responder.

Se as novas tecnologias (robôs, computadores, Inteligência artificial etc.), fossem capazes de


fazer grande parte do trabalho atualmente é feito por humanos, você acha que haveria novos
empregos e melhor remuneração?

( ) Sim, provavelmente;

( ) Não, não é provável;

( ) Não sei, ou não quero responder.

Qual é a responsabilidade de cada indivíduo para garantir que o profissional tenha as habilidades
e educação necessárias para ser bem-sucedido no futuro?

( ) Muita responsabilidade;

( ) Alguma responsabilidade;
( ) Pouca responsabilidade;

( ) Nenhuma responsabilidade;

( ) Não sei, ou não quero responder.

Qual é a responsabilidade do governo para garantir que o profissional tenha as habilidades e


educação necessárias para ser bem-sucedido no futuro?

( ) Muita responsabilidade;

( ) Alguma responsabilidade;

( ) Pouca responsabilidade;

( ) Nenhuma responsabilidade;

( ) Não sei, ou não quero responder.

Qual é a responsabilidade das escolas para garantir que o profissional tenha as habilidades e
educação necessárias para ser bem-sucedido no futuro?

( ) Muita responsabilidade;

( ) Alguma responsabilidade;

( ) Pouca responsabilidade;

( ) Nenhuma responsabilidade;

( ) Não sei, ou não quero responder.

Qual é a responsabilidade das empresas para garantir que o profissional tenha as habilidades e
educação necessárias para ser bem-sucedido no futuro?

( ) Muita responsabilidade;

( ) Alguma responsabilidade;

( ) Pouca responsabilidade;

( ) Nenhuma responsabilidade;

( ) Não sei, ou não quero responder.


Seção 5 de 5 - Avaliação das profissões:

Você acredita que está se preparando adequadamente para o mercado de trabalho do futuro?

(escala de Likert onde 1 significa “nem um pouco” e 5 “totalmente”)

Em sua opinião, qual a probabilidade da profissão que você exerce hoje ou daquela que você irá
exercer no futuro, seja totalmente feita por máquinas, robôs ou inteligência artificial?

Você também pode gostar