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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH – CAMPUS IX


COLEGIADO DE ENGENHARIA AGRONÔMICA
DISC.: GESTÃO DE ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS
PROF.: MSc. RAFAEL FARIAS

Saulo Aguar ruas


Wellington silva de souza

FICHAMENTO DO LIVRO:

“O QUE É COOPERATIVISMO” - RIOS, Gilvando de Sá Leitão

Barreiras – BA
2019
RIOS, Gilvando Sá L. O que é Cooperativismo. São Paulo: Brasiliense, 2007. p. 09-72.

1. INTRODUÇÃO

“Cooperativismo é uma palavra muito importante que representa solução de diversos


problemas de diversos setores da sociedade reformista e socialista.” (RIOS, p.09)

As cooperativas estão ligadas de forma que é impossível evitar qualquer comparação


com o regime de reforma agraria. Essa referência encontra-se desde o presidente Kennedy da
Aliança para o Progresso ate a Revolução Cubana da década de 60. O método organizacional
do cooperativismo foi se espalhando pelo mudo graças a Aliança Cooperativista Internacional
que foi fundada em 1895 e possui sede em Londres.

Olhando ao menos a primeira vista da realidade brasileira é possível constatar que a


formula cooperativista é adotada nas mais variadas situações e classes. Assim o
cooperativas serve como intermediárias entre as atividades.( RIOS, p. 10)

O cooperativismo ganha mais força no campo brasileiro, seja no agronegócio onde


organiza seus latifúndios dessa forma, quanto á agricultura familiar que promove o seu
desenvolvimento. O cooperativismo brasileiro apresenta dupla face, de um lado se encontra
um cooperativismo dos empresários que se comportam como se o cooperativismo fosse
neutro, mais na verdade é um cooperativismo de negócios.

Do outro lado tem-se o cooperativismo solidário que vem em contraposição por


apresentar-se de maneira obvia sobre o interesse de classe e sobre o compromisso com os
princípios e também com a transformação da sociedade. Em termos, porém de seu conteúdo o
que diferencia o cooperativismo solidário do cooperativismo de negócios? Visualizo que pelo
menos dois aspectos: o primeiro, de cunho eminentemente sociológico, no que diz respeito a
configuração dos associados e, o segundo de cunho eminentemente ideológico no que diz
respeito aos mediadores.

Essa dupla face acontece devido a concentração de riquezas presente no Brasil,


portanto a maioria utiliza diversas forma para manutenção do controle econômico e de toda
sociedade. Para a sociedade não importa a identidade jurídica das cooperativas, o que está em
questão são as diversas incorporações econômicas e sociológicas que devem assumir um
papel do cooperativismo que venha para renovar.

No que diz respeito ao primeiro aspecto é desenhado um perfil sociológico


diferenciado em termos de associados e de classe, dois tipos de cooperativa se destacarão a
partir dos anos de 1980 no cenário econômico nacional: as cooperativas de trabalho no meio
urbano e as cooperativas de agricultura familiar no meio rural.

2. CONCEITUAÇÃO E CARACTERISTICAS BASICAS DA ORGAIZAÇÃO


COOPERATIVA

O cooperativismo como fruto do movimento operário resultou na criação de um


modelo de associação com as seguintes características: propriedade cooperativa que
significa associação de pessoas, gestão cooperativa que significa que o poder de
decisão é da assembleia de associados e não do capital e repartição cooperativa que
é a repartição das sobras financeiras ao fim de cada ao. A primeira significa que
estamos diante de uma associação de pessoas e não de capital. Isto é, a propriedade é
atribuída aos associados, independentemente das contribuições financeiras
individuais á constituição da sociedade. É o caso típico das cooperativas operarias
de produção industrial, ode os lucros originam da participação dos associados ou
seja dos usuários. ( RIOS, p. 17).

As características do cooperativismo são: propriedade cooperativa que significa a


associação de pessoas, gestão cooperativa que significa que o poder da decisão é da
assembleia de associados e não do capital e repartição cooperativa que é a repartição das
sobras financeiras ao fim de cada ano. As empresas cooperativas servem para viabilizar
economicamente muitas funções que não poderiam ser exercidas de forma individual. Disso
resulta da cooperativa de prestar serviço ao seu próprio associado/proprietário. Cooperativa é
uma associação de pessoas que tem um objetivo econômico comum, sendo que as pessoas são
livres para se associarem e se desligarem a qualquer momento e independente da sua parte na
cooperativa a lei vale é uma pessoa um voto.

As características especificas da empresa cooperativa (propriedade, gestão e


repartição cooperativas) determinam que ela possa ser concebida como parte integral
ou extensão das empresas individuais de seus associados. A cooperativa é, pois, um
meio pelo qual certas funções podem ser levadas a cabo mais efetiva e
economicamente, quando realizadas pelas empresas associadas e não
individualmente. ( RIOS, p. 19).

“As cooperativas são um tipo de empreendimento em que o motivo de serviço


substitui o de lucro e em que o grupo proprietário-usuário substitui o intermediário.” (RIOS,
p.20).

Pode-se definir cooperativa como uma associação voluntaria com fins econômicos,
podendo ela ingressar os que exercem uma mesma atividade. Ela é regulamentada
democraticamente à base de “um homem, um voto”, e cada membro contribui para
constituição do capital social, mas os benefícios não se distribuem segundo o capital
subscrito, mas na proporção do volume de negócios realizados entre a cooperativa e
cada associado. (RIOS, p. 20).
3. SURGIMENTO DO COOPERATIVISMO

3.1 COOPERATIVISMO COMO MOVIMENTO OPERÁRIO

No inicio da industrialização na Europa no século XVIII os camponeses tiveram uma


grande demanda de trabalho sob condições muito precárias de vida e sem nenhuma lei ou
garantias trabalhistas, nesta época, tinha muito trabalho escravo, infantil além disso, a carga
horaria de trabalho era muito grande. Neste contexto, de desenvolvimento do capitalismo
industrial, diversas iniciativas de associações com características de cooperativas e proibidas
na época surgiram para que os operários superassem as suas dificuldades, porem o que ficou
marcado na historia como o surgimento do cooperativismo foi a organização que cotinha 28
tecelões de Rochdale o no de 1844, uma cooperativa de consumo, que veio a ser a fonte do
cooperativismo.

“Nessa época não existia nenhum sistema previdenciário, nenhuma segurança no


emprego, ate se associar profissionalmente era proibido; proibição essa feita em nome da
liberdade do trabalho.“ (RIOS, p.23).

3.2 COOPERATIVISMO COMO INICIATIVA DAS ELITES

No Brasil a economia agroexportadora permitiu que a elite agraria promovesse e


controlasse as cooperativas de forma conservadora e reformista, tanto nos aspectos
socioeconômicos quanto jurídicos. Sobretudo as cooperativas de serviço inseridas no meio
rural é um modelo adequado à manutenção da concentração de terra nas mãos dos
latifundiários.

“A cooperativa presta serviços aos associados em razão de seus estabelecimentos


individuais, de maneira isolada. Trata-se de um modelo bem adequado à concentração da
propriedade fundiária.” (RIOS, p.27).

O desenvolvimento de caráter cíclico é uma característica do cooperativismo na


América Latina. A história do cooperativismo dessa região é confundido, então, com as crises
econômicas e politicas que ali acontecem. Portanto, de modo geral, as principais campanhas
de fomento ao cooperativismo se dão entre 1927-1936 (período de crise econômica), no
período da problemática do pós-guerra e seus ajustes econômicos, ou ainda para fazer a frente
à chamada “ameaça do comunismo” e ao impacto da Revolução Cubana que aconteceu na
década de 1960.
4. TIPOS DE COOPERATIVAS

A associação-empresa cooperativa, enquanto empreendimento compreende uma


grande variedade de tipos, de acordo com cada necessidade a ser atendida (capitalista ou
socialista). Essa gama de tipos de cooperativas (de consumo, trabalho, produção agrícola ou
industrial, pesca, crédito, etc.) pode unificá-las a um denominador comum das três
características básicas desse tipo de associação: propriedade, gestão e repartição de
cooperativas.

● Cooperativas de produção industrial e de trabalho

Esse tipo de cooperativas é constituída por trabalhadores que reúnem o capital


necessário para o funcionamento de uma empresa que eles possam gerir de forma
democrática, a partir de diversas modalidades. Esta, surgiu da vontade dos trabalhadores
escaparem da exploração por parte dos seus patrões ou superiores, e com essa finalidade os
grupo de trabalhadores passaram a criar suas próprias empresas ou assumirem a falência das
indústrias em que trabalharam como assalariados, se transformando em “produtores
associados” ao invés de desempregados, ou seja, tornaram-se seus próprios patrões e
assumiam funções de empresários.

A Assembleia Geral dos associados, escolhe por meio de votação, o seu conselho de
administração, e a distribuição das sobras no fim é feita de acordo com as horas de trabalho de
cada, assim como a da escala salarial.

Marx escreveu durante o primeiro Congresso de Associação Internacional dos


Trabalhadores:

Em O Capital, Marx demonstra seu interesse por esse tipo de associação:

As cooperativas de produção trazem a prova de que o capitalista tornou-se tão


supérfluo como agente da produção quanto o é o grande proprietário aos olhos do
capitalista evoluído. (RIOS, p. 31).

Marx também vê o cooperativismo com mudança global da sociedade:

Para que as massas trabalhadoras sejam libertadas, o cooperativismo deveria tomar


uma amplitude nacional e, por conseguinte, seria necessário favorecê-lo com meios
nacionais. Mas aqueles que reinam sobre a terra e sobre o capital usarão sempre de
seus privilégios políticos para defender e perpetuar seus monopólios econômicos.
(RIOS, p. 31).
De caráter militante, esse tipo de cooperativa teve surgimento na França, cuja história
é marcada por confrontos entre as classes, se expandindo também pela Itália.

O cooperativismo de produção demonstra que o patronato é dispensável que os


trabalhadores são totalmente capazes de organizar seu trabalho e manter disciplina, quando
dispõe de liberdade e responsabilidade. As cooperativas de trabalho congregam profissionais
de um mesmo setor, área ou especialização a fim de oferecer serviços em tal especialidade.
Uma das vantagens das cooperativas é que o trabalhador se apresenta coletivamente para o
mercado de trabalho. Está intermedeia oferta de mão-de-obra, não agindo como empresa de
terceirização, tem grande potencial de desenvolvimento tanto político quanto econômico.

Cooperativas de trabalho surgem pois no contexto pós fordista de abertura do mercado


nacional em função de interesses da globalização dos países centrais. assim, com a Terceira
Revolução Industrial, houve a desproletarização de trabalho fabril e industrial.

O cooperativismo da produção não pode ter a força, por seu próprio


desenvolvimento, de transformar toda a economia capitalista. Entretanto, no
contexto de uma economia democraticamente planejada, os trabalhadores poderiam
assumir a responsabilidade da organização do seu próprio trabalho. (RIOS, p. 36).

● Cooperativas de produção agrícola

Geralmente são confundidas com as cooperativas do setor agropecuário, porém se


tratam de níveis distintos

Afinal, uma coisa é uma associação de agricultores individuais para o atendimento


de um serviço isolado e, outra, a constituição de uma empresa de produção agrícola
coletiva, onde a terra, mesmo se cultivada em lotes individuais, tem o seu
aproveitamento planejado comunitariamente. (RIOS, p. 36).

As cooperativas de produção agrícola prestam serviços decorrentes da necessidade de


um planejamento comunitário integral, porém o fundamento desse tipo de associação é a
produção em comum. Da mesma forma que o que caracteriza uma cooperativa de produção
industrial é a sua produção em comum, o que vai caracterizar uma cooperativa agrícola é a
sua produção em comum de produtos do ramo agrícola.

Os exemplos de cooperativas desse gênero são muitos.

A Hungria foi o único país socialista onde a coletivização das terras provocou
aumento na produção, e isso graças ao sistema cooperativo. A agricultura tornou-se
um elemento que contribui com cerca de um quarto das exportações do país. Os
resultados positivos obtidos na agricultura são medidas não ortodoxas em relação
aos critérios tradicionais de planejamento socialista centralizado. (RIOS, p. 37).

De forma geral as cooperativas húngaras são unidades de produção muito dinâmicas e


inovadoras, capazes de diferenciar sua produção, participando em larga escala no
abastecimento de mercado interno e contribuem para as exportações agrícolas.

Um exemplo de cooperativismo agrícola que se destaque é o do Estado de Israel,


precedido de projetos de colonização agrícola cooperativista, e em que 40 anos antes da
fundação do Estado surgem os kibutzim, definidos como cooperativas de produção agrícola
comunitária onde não só a produção econômica e comercialização são organizados de forma
comunitária, mas a própria vida social também tem valores igualitários. Nos kibutz, os
campos de cultura não têm divisões e o trabalho é organizado coletivamente, a depender das
necessidades técnicas de lavouras e criações, assim como afinidades e aptidões dos membros
dessas cooperativas.

Chamados de “conventos socialistas” por seu espírito comunitário, esse movimento


sempre priorizou no topo da escala moral o trabalho produtivo. Os primeiros kibutzim foram
fundados em 1920 a 1930 e todos eles eram integrante de federações, que equivalem a
cooperativas centrais ou de segundo grau, e estas assumem a comercialização e a assistência
técnica da produção dos kibutzim, sendo administradas por quadros dos próprios, cada um
deles contribui com impostos. As federações filiam-se a partidos políticos de diversos matizes
ideológicos “indicado como esses empreendimentos econômicos, derivam de movimentos
sociais bem politizados.” (RIOS, p. 40).

Outro tipo de cooperativa agrícola é constituída por moshavsim, de aldeia cooperativa


regida por princípios igualitários, em que as compras e vendas dos produtos do trabalho ao
consumo familiar são feitas por intermediários de uma cooperativa mista, que também
administram a contabilidade de cada estabelecimento familiar.

Grande parte do equipamento agrícola é propriedade do moshav, que dispões de uma


estação de máquinas e de tratores para certos serviços comuns. A autonomia do
moshav é exercida por intermédio da assembleia geral de seus membros, que elege o
conselho de aldeia: este decide sobre a venda de benfeitorias dos estabelecimentos
agrícolas (no caso de desligamento de algum sócio), bem como sobre a admissão de
novos. (RIOS, p. 41).

A vida social do moshav é em torno da família, ao contrário do kibutz, que privilegia a


comunidade. Cada família possui uma residência em que o prédio pertence à comunidade, e a
renda a que lhes é atribuída depende do tamanho da família.
● Cooperativas de serviços agrícolas

É o tipo de cooperativa mais difundido no mundo, e no Brasil é conhecida como


cooperativa mista pelo fato de exercer vários tipos de serviços, desde a compra de insumos até
o beneficiamento e comercialização da produção. Os serviços são prestados em seções
especializadas como:

Cooperativas de transformação, conservação e vendas de produtos agrícolas;


Cooperativas de compras em comum, os agricultores se cotizam para conseguir
pelos menores custos os insumos de que necessitam, e; Cooperativas de utilização
de equipamento agrícola pesado (máquinas, tratores, colhedeiras, etc.), cujo custo de
amortização pode se revelar inviável em termos individuais. (RIOS, p. 42-43).

O objetivo dessas cooperativas é melhorar o empreendimento agrícola e


aumentar a renda de seus membros com a utilização de forma comum de certos meios e
serviços. “Primeiro, os agricultores escapam à dominação dos comerciantes e assim são mais
bem remunerados. Segundo, uma organização cooperativa permite distribuir as vendas ao
longo do ano, estocando, conservando, guardando os excedentes.”. (RIOS, p. 44).

● Cooperativas de consumo

São sociedades construídas a fim de vender seus objetos ou gêneros de necessidade


primária, adquiridos em grosso. Ou seja, consumidores criam uma empresa a fim de prestar
fornecimento de produtos de que necessitam. Nas cooperativas de produção, os trabalhadores
e sócios-proprietários abolem o patronato, já nas cooperativas de consumo os compradores,
como usuários-proprietários dispensam o papel do comerciante, e assim os resultados
financeiros de uma cooperativa de consumo não são lucros, e sim excedentes.

A constituição de uma cooperativa supões a subscrição de cotas-partes do capital


social pelos aderentes. Essas cotas-partes não equivalem a ações de uma sociedade
anônima, pois não geram dividendo, nem seu volume por sócio resulta em maior
poder de controle na sociedade. Isso porque, independentemente do número de
cotas-partes, cada associado só tem direito a um voto nas assembleias. (RIOS, p.
45).

● Cooperativas de pesca

Semelhantes às cooperativas de produção agrícola, as de pesca tanto podem ser


unifuncionais quanto polivalentes. Isto é, tanto podem ser uma associação empresa
especializada prestando apenas um determinado tipo de serviço como pode exercer
diversas funções simultaneamente. Eis algumas dessas: aquisição e utilização de
barcos de pesca, concessão de crédito aos pescadores, fornecimento de material para
pesca, comercialização do pescado, transporte, armazenagem e conservação
frigorífica, etc.. (RIOS, p. 47).

● Cooperativas de crédito

Nesse tipo de cooperativa, o crédito pode ser realizado por associações de


primeiro grau ou por seções especializadas em cooperativas mistas que, semelhante ao banco,
aceitam depósitos não só dos associados, mas de terceiros, e realizam empréstimos aos seus
membros a partir dos recursos recebidos e capital subscritos, e até para outros tipos de
cooperativas (como agrícolas, de pesca, artesanato, consumo, etc).

No Brasil, a política de concentração do capital financeiro estimulada pelos


governos militares extinguiu uma ativa rede municipal de cooperativas de crédito
rural, favorecendo a concentração bancária e burocrática em detrimento da
descentralização de caráter associativo. (RIOS, p. 48).

Com isso, cooperativas de crédito rural, extintas em favor do capitalismo bancário,


passaram a servir às elites agrárias locais, como instrumento de poder político, e econômico-
financeiro.

● Cooperativas de cooperativas

Ocorre quando várias cooperativas se associam para enfrentarem uma dificuldade em


comum, constitui-se a chamada cooperativa de segundo grau ou central. “As cooperativas
centrais, também denominadas federações, em geral, assumem a responsabilidade pelo
beneficiamento e pela comercialização da produção.” (RIOS, p. 49).

5. COOPERATIVISMO E IDEOLOGIA CONSERVADORA

5.1 COPERATIVISMO COMO “TRANSPLANTE” CULTURAL

O cooperativismo „decalcado‟, copiado do figurino formal europeu, não é


exatamente sua cópia, como toda imitação, é uma caricatura. Esse cooperativismo de
„macaqueação‟ compreende um aspecto aparentemente inofensivo e inócuo,
folclórico mesmo: a chamada „doutrina‟. Trata-se de mera transposição mecânica de
normas adotadas por uma única cooperativa de consumo inglesa. (RIOS, p. 51).

Toma-se da Inglaterra o pensamento das cooperativas de consumo do século XIX, da


Alemanha se importa a ideia das cooperativas de poupança e crédito, também do século XIX.
O modelo de cooperativas de serviço é selecionado devido a não intervir com a organização
social da produção.

Quem pensa em termos doutrinados, não pensa, não analisa; repete dogmas,
verdades indiscutidas e indiscutíveis. Doutrina é, pois, um conjunto de ideias que se
aprende e se transmite sem discussão para justificar uma determina prática. Ora, à
medida que se transforma uma experiência social divida em determinado contexto e
época em uma „doutrina‟, se „fossiliza‟ a experiência vivida. O fóssil imobiliza –
embora cópia fiel e testemunho histórico – o que foi a vida. (RIOS, p. 53).

A história das instituições latino-americanas está cheia de “transplantes culturais”, o


que prova ser o caso do cooperativismo apenas mais um exemplo.

5.2 “DOUTRINA COOPERATIVA” E PRAGMATISMO CONSERVADOR

“A „doutrina cooperativa‟ é habitualmente apresentada como „teoria‟. Ora isso não é


verdade, pois uma teoria é a cristalização interpretativa de observações e vivências.” (RIOS,
p. 54).

A teoria deriva, pois da prática dela enriquece, com ela se modifica e se transforma.
Ora, uma „doutrina‟ é exatamente o oposto disso, pois não deriva da observação
sistemática da prática, se impõe a ela. Não se adapta, é fixista. Não fertiliza a
prática, a esteriliza. Apesar disso é conveniente apresentar a „doutrina cooperativa‟
como „teoria‟, pois isso justifica e enobrece a prática ou as práticas do
cooperativismo. (RIOS, p. 54)

A “doutrina cooperativa” é uma falsa teoria, uma vez que consiste em um corpo de
princípios abstratos, sem referência a situações históricas concretas e de classe. Não interfere,
pois, com a “prática”, não a enriquece, nem a contesta.

5.3 COOPERATISVISMO ELITISTA

“As cooperativas rurais nordestinas, em sua maioria estão organizadas segundo uma
estrutura de classes.”. (RIOS, p.55)

As posições-chave são ocupadas, no interior delas, pelos proprietários de alta renda,


que assumem também as lideranças políticas locais e regionais. Essas camadas
superiores da população rural são as maiores beneficiárias dos serviços da
cooperativa, em termos de assistência técnica, empréstimos de equipamento e
crédito. É comum nessas cooperativas a figura do „dono da cooperativa‟, isto é, a
pessoa física que é identificada como se fora proprietária da sociedade cooperativa,
única definir a política desta, manter contatos com os bancos e órgãos de assistência
técnica, enfim, a clássica figura insubstituível. (RIOS, p. 55).
Dessa forma compreende-se a ideia de que o grande proprietário, pecuarista, precisava
de produção de algodão para servir de alimentação para seu rebanho. A desativação das usinas
tornaria isso inviável. Percebe-se aí o interesse do Estado na organização de cooperativas que
beneficiariam apenas os grandes proprietários.

“A recuperação do termo “cooperativa” pelos interesses das classes dominantes ocorre


até mesmo em projetos que, em princípio, se propõem a melhorar o nível de vida do
trabalhador rural sob o nome pomposo de Cooperativas Integrais de Reforma Agrária.”.
(RIOS, p.58).

Esses exemplos mostram como a aparentemente idealista e inofensiva “doutrina


cooperativa” pode ser manipulada para fins nada cooperativos.

Há um equívoco fundamental na maneira pela qual costuma ser incrementado o


cooperativismo. Este costuma ser apresentado como “tábua de salvação econômica”
de categorias de baixa renda, como pescadores artesanais, pequenos agricultores,
artesãos desempregados etc. O apelo à “solução” é operacionalizado por intermédio
dos postulados da “doutrina cooperativa” que reflete, por sua vez uma ideologia
liberal competitiva no sentido clássico do termo. (RIOS, p.60).

5.4 COOPERATIVISMO INFORMAL

Para se poder captar o papel transformador do cooperativismo, deve-se antes mais


nada distinguir a ação político-econômica cooperativa do enquadramento legal
cooperativo. Isto é, não deve confundir o continente com o conteúdo. Não se deve
considerar „cooperativa‟ uma instituição, apenas pelo simples fato de estar
enquadrada nos requisitos definidos em lei. A „casca‟ jurídica pode esconder uma
ilusão sob as aparências dos registros burocráticos. (RIOS, p.63).

O rotulo jurídico confunde, pois, mais do que identifica, o que é cooperativismo.


Sobretudo se se quiser distinguir o cooperativismo conservador do renovador. O
cooperativismo dos grandes daquele dos pequenos. O cooperativismo capitalista, do
de perfil socialista ou não capitalista. (RIOS, p.64).

5.5 COOPERATIVISMO E MOVIMENTOS SOCIAIS

A concepção comum de cooperativismo precisa ser ampliada. O interesse por


associações praticando outros métodos de ação coletiva se fundamenta na observação de
certos casos.

Trata-se de rejeitando o colonialismo intelectual e a manja de imitar – não


considerar o camponês e o assalariado latino-americano incapazes de criar modelos
próprios. O problema, então é estar aberto para experiencia criador a dos grupos que
estão comprometidos com as transformações estruturais. Buscar informação sobre os
esforços de cooperação real em nível popular, especialmente os que desafiam as
estruturas de dominação vigentes. (RIOS, p. 64-65).
5.6 COOPERATIVISMO E PERSPECTIVA SOCIALISTA

Existe um cooperativismo de elites e um cooperativismo de pés-no-chão; um


cooperativismo legalizado, letrado e financiado e um cooperativismo informal, “sem
lei e sem documento”, não-financiado e mesmo reprimido. O cooperativismo não
está, pois, “imune” à divisão da sociedade em classes. Isso é importante frisar,
porque muitas vezes o cooperativismo é apresentado como se fora “uma borracha”
que apagaria as diferenças de classe. (RIOS, p.70).

Comparando-se as características básicas da organização cooperativa (propriedade,


gestão e repartição comuns, é fácil comprovar como o cooperativismo pode servir a
um projeto socialista. Naturalmente, isso só se aplica a um cooperativismo
identificado com as aspirações e necessidades das classes menos favorecidas.
(RIOS, p.71).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

RIOS, Gilvando Sá L. O que é Cooperativismo. São Paulo: Brasiliense, 2007. p. 09-72.

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