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ANEXO I – MODELO PARA ENVIO DE TRABALHOS

EIXO TEMÁTICO (assinalar X em apenas um):

( ) Políticas públicas e legislação ambiental

( ) Gestão integrada de resíduos sólidos

( ) Educação para a sustentabilidade

(X) Responsabilidade socioambiental

( ) Tecnologias limpas e inovadoras

( ) Poluição e degradação ambiental

PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE A COMPREENSÃO


E PRÁTICAS DA POPULAÇÃO RELATIVAS AO
DESCARTE DE MATERIAIS UTILIZADOS NA
PREVENÇÃO AO COVID-19

AZEVEDO, Anelise Martins de


Graduanda
Engenharia Civil/IFPE
liziemartins@gmail.com

SILVA, Mayza Gabriela Estevam da


Graduanda
Engenharia Civil/IFPE
mayzagabrielaes@gmail.com

AZEVEDO, Anielle Martins de


Mestranda
Engenharia Biomédica/UFPE
anieazevedo@gmail.com

MORAIS, Juliana Cardoso de


Doutora
Departamento Acadêmico de Infraestrutura e Construção Civil/IFPE
julianamorais@recife.ifpe.edu.br
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PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE A COMPREENSÃO


E PRÁTICAS DA POPULAÇÃO RELATIVAS AO
DESCARTE DE MATERIAIS UTILIZADOS NA
PREVENÇÃO AO COVID-19
RESUMO

A Indústria 4.0 e as transformações do mundo ressaltam como as relações são


complexas e a importância da discussão sobre resíduos sólidos que podem intervir no
crescimento econômico e gerar implicações sociais, ambientais e de ordem de saúde
pública. Em meio a pandemia de Covid-19, o mundo discute ações que possam
desacelerar a propagação da doença. É nesse cenário que a população passa a fazer uso
de materiais como máscaras e luvas cirúrgicas como medida de prevenção. Esse
material quando descartado de forma inadequada pode oferecer risco para quem
descarta e quem manuseia o lixo após o descarte. Sendo assim, o objetivo dessa
pesquisa foi avaliar a compreensão e as práticas da população sobre o descarte de
máscaras e luvas cirúrgicas em seu domicílio. Foram obtidas 347 respostas através de
questionário online e o resultado mostrou que o descarte dos RSS produzidos
domesticamente ainda gera dúvidas e insegurança por parte da população e nem
sempre é realizado de maneira apropriada.

PALAVRAS-CHAVE: COVID-19, Resíduos de Serviço de Saúde, Sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO

O mundo está diante de uma transformação que muda a forma de como as pessoas
vivem, trabalham e se relacionam (SCHWAB, 2016). A Indústria 4.0 traz a noção de
um mundo complexo, isto é, integrado e conectado. Essa integração está
principalmente relacionada a digitalização, a ligação entre o virtual e o real (AIRES;
KEMPNER-MOREIRA; FREIRE, 2017), mas vai além, muda a forma de olhar a
produção e traz à tona questões ambientais, econômicas e sociais como orgânicas e
interdependentes.

Esta premissa de relações complexas ressalta a importância da discussão sobre gestão


de resíduos sólidos buscando estabelecer estratégias para minimizar os danos causados
pela gestão inadequada (VALADARES et al., 2019), que associada à expansão da
escala de produção e intensificação da urbanização, pode intervir no crescimento
econômico e gerar implicações sociais e ambientais. Tais implicações podem refletir
na saúde, promovendo contaminação por meio do descarte e disposição de resíduos
contaminantes que podem contribuir para proliferação de patogênicos (MENDONÇA;
SAIANI; KUWAHARA, 2015).

Desde o início da pandemia, a discussão sobre formas de diminuição da velocidade de


contaminação de indivíduos com ações de enfrentamento a Covid-19, tem ocupado a
pauta de organizações e governos. Dentre as orientações, está o uso de materiais de
proteção como máscaras e luvas, antes usados apenas em ambiente hospitalar e
descartados perante fiscalização e em conformidade com a legislação, que passaram a
ser utilizados e descartados em ambiente domiciliar.
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É o caso de máscaras cirúrgicas que tem o uso recomendado pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) para profissionais da área da saúde e pessoas com sintomas
da doença. Para população em geral é recomendado a higienização das mãos, a prática
da etiqueta respiratória e o distanciamento social, como principais formas de combate
a disseminação do vírus, contudo, a Orientação Provisória da OMS de 06 de abril de
2020, alerta que as autoridades nacionais podem decidir pela recomendação do uso de
máscaras para população em geral, e sendo assim deve-se observar as melhores
práticas para o uso, remoção e descarte (OMS, 2020).

Em decorrência dessa orientação, o governo do estado de Pernambuco adotou por


meio do decreto nº. 49.017, de 11 de maio de 2020, o uso obrigatório de máscaras para
toda população que tenha necessidade de sair de casa e circular em vias públicas para
exercer atividades essenciais (PERNAMBUCO, 2020). A medida colabora para
aumentar ainda mais o uso deste material que junto com outros materiais hospitalares
já vinham sendo usados como medida de prevenção ao coronavírus.

Materiais hospitalares como máscaras cirúrgicas, luvas de látex e até máscaras


artesanais usadas integram, no momento, os resíduos gerados em residências. O
cuidado no manuseio e acondicionamento se faz necessário para evitar a contaminação
dentro e fora de casa, e colaborar para desacelerar o avanço do vírus. Entender como o
descarte está sendo feito nos domicílios e a percepção da população sobre a prática é
importante para a tomada decisões em relação ao gerenciamento de resíduos sólidos
visando mitigar riscos à saúde e ao ambiente (CHARLES; OLIVEIRA; SPANGHERO
2018).

Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a percepção da população em relação às


práticas adotadas para o descarte de materiais hospitalares, como máscaras e luvas
cirúrgicas, que estão sendo usados nas residências.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)

O manejo e gerenciamento eficiente dos resíduos gerados pela sociedade vem


demandando maior atenção desde a segunda metade do século XX, tendo em vista os
novos padrões de consumo que vieram junto ao processo de industrialização e fez com
que a quantidade de resíduos gerados fosse superior a capacidade de absorção da
natureza (ANVISA, 2006).

Instituída pela Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010, a Política Nacional de Resíduos


Sólidos (PNRS) foi resultado de lutas e demandas da sociedade civil e de profundos
debates entre o governo, legisladores, grupos empresariais envolvidos nas atividades
de limpeza urbana e representantes de catadores, estabelecendo metas arrojadas para a
ponderação dos problemas ambientais e sociais relacionados aos resíduos sólidos
urbanos (TEODÓSIO; DIAS; SANTOS, 2016).

A PNRS prevê o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e


ações adotados pelo Governo Federal, de forma isolada ou com a participação dos
Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, para que se atinja a gestão
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integrada e o gerenciamento ambientalmente correto dos resíduos sólidos (BRASIL,
2010).

Segundo a PNRS, os resíduos sólidos estão classificados, quanto a sua origem, em:
domiciliares; de limpeza urbana; sólidos urbanos; de estabelecimentos comerciais e
prestadores de serviços; dos serviços públicos de saneamento básico; industriais; de
serviços de saúde; da construção civil; agrossilvopastoris; de serviços de transportes e;
de mineração (BRASIL, 2010).

Tendo em vista os diversos atores envolvidos desde a geração dos resíduos sólidos até
o descarte desses materiais, a gestão integrada desse processo é de extrema
importância, onde entende-se por gestão integrada, conforme Lei 12.305/2010,
Capítulo II, Art. 3°, IV:

“o conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os


resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política,
econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a
premissa do desenvolvimento sustentável” (BRASIL, 2010).

A natureza integrada da gestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU) remete a


necessidade de políticas intersetoriais, assim como, à atenção aos aspectos ambientais,
sociais e econômicos que participam desse departamento do saneamento básico. Essa
abordagem integrativa se apresenta de maneira a minimizar os múltiplos impactos que
às falhas nesse processo podem gerar (MAIELLO; BRITTO; VALLE, 2018).

A existência da PNRS é determinante para estabelecer diretrizes relativas à gestão


integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos, isto
requer um aprofundamento técnico-científico para mensurar e qualificar as ações e
seus impactos (PIMENTEL et al., 2018). Esta investigação é fundamental para
disciplinar a gestão dos RSU e colaborar com a mudança do modelo de produção e
consumo no país, refletindo diretamente na melhoria da qualidade ambiental e
qualidade de vida da população (BRASIL, 2010).

2.2 Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde (RSS)

Os Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) são todos aqueles gerados em atividades


relacionadas com o atendimento à saúde humana ou animal e são classificados pela
Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) ANVISA n°. 306/2004 , que dispõem sobre
o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, em
cinco grupos: A - resíduos infectantes; B - resíduos químicos; C - rejeitos radioativos;
D - resíduos comuns e; E - materiais perfurocortantes. (ANVISA, 2004).
Alguns desse grupos são caracterizados pelo alto potencial periculoso, pois podem
possuir características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade,
patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, e, devido a
essas propriedades, tornam-se preocupantes quanto aos impactos que podem causar ao
meio ambiente e à saúde daqueles envolvidos no manejo dos RSS, desde a sua
concepção até o descarte (KNEIPP et al., 2011; ROSA e STEDILE, 2020).
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O gerenciamento dos RSS é instituído por um conjunto de procedimentos que são
planejados e implementados a partir da observação de bases científicas e técnicas,
normativa e legais, de modo que, pretende reduzir a produção de resíduos e
proporcionar aos que são gerados um encaminhamento seguro, de forma eficiente,
buscando a proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos
naturais e do meio ambiente (BRASIL, 2004).

As Resoluções RDC ANVISA 306/2004 e CONAMA 358/2005, dentre seus vários


pontos relevantes destacam a importância da segregação na fonte dos RSS.
Evidenciam ainda as orientações para àqueles que precisam de tratamento ou mesmo
uma solução diferenciada para disposição final, desde que aprovada pelos Órgãos de
Meio Ambiente, Limpeza Urbana e de Saúde (BRASIL, 2006).

No contexto vivido atualmente, com a pandemia desencadeada pelo novo coronavírus


(Sars-CoV-2), o uso, por parte da população comum, de máscaras cirúrgicas e luvas de
látex (classificados como RSS; Grupo A - resíduos infectantes) se desenvolveu,
trazendo a preocupação sobre a percepção da população quanto ao manejo desses
materiais. Tendo em vista que, o alinhamento entre o que é determinado pelas
legislações e normas e o que é realizado por aqueles envolvidos no processo de
geração dos RSS ainda é distante (GESSNER et al., 2013; SANTOS et al., 2019;
AGUIAR; GUARNIERI; CERQUEIRA-STREIT, 2020).

A educação ambiental é estabelecida como um instrumento da PNRS. Atuando na


conscientização direta da população, é uma ferramenta certamente eficaz para gestão
integrada e sustentável dos resíduos sólidos (REIS; REIS; LOPES, 2017;
CAVALCANTE; DAMACENA; XAVIER, 2018). Informações e dados sobre a
percepção e a prática da população ao lidar com resíduos sólidos, principalmente os
RSS, são fundamentais para desenvolver ações educacionais partindo da realidade do
público alvo e da resposta individual em frente aos problemas ambientais (SILVA
FILHO; NUNES, 2019).

3. METODOLOGIA

Este trabalho se caracteriza como pesquisa básica, com abordagem qualitativa e de


caráter descritivo e exploratório. Descritivo porque procurou descrever a percepção
dos indivíduos sobre o descarte de materiais contaminados em suas residências; e
exploratória, pois ainda que exista diversos trabalhos publicados sobre o descarte de
resíduos de serviço de saúde, não se verificou estudos que abordem especificamente o
descarte de máscaras e luvas em residências durante o período de pandemia.
A princípio foi realizado uma revisão de literatura sobre o tema que norteou a
elaboração do questionário aplicado. A coleta de dados foi realizada por meio de
formulário eletrônico e divulgada de forma online através de redes sociais e
aplicativos de mensagens.

O questionário contou com um total de 24 questões, sendo essas questões abertas,


questões de resposta única (sim/não), múltipla escolha, checkboxes e escala linear,
com o objetivo de caracterizar a amostra e descrever o uso de máscaras cirúrgicas,
luvas cirúrgicas e máscaras artesanais. Além de verificar a percepção dos indivíduos
sobre o descarte destes materiais.
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O método de amostragem utilizado foi o “bola de neve” (snowball sampling), onde os
participantes iniciais da pesquisa indicaram outros, e cada novo participante foi
chamado para indicar outros (BALDIN; MUNHOZ, 2011). Para encerrar o
recebimento de resposta, observou-se a diminuição da velocidade de entrada de novas
respostas e a redundância ou repetição dos dados obtidos, indicando uma saturação
teórica (FALQUETO; FARIAS, 2016).

Foi priorizada a distribuição entre a população de Pernambuco, sobretudo dos


municípios mais populosos da Região Metropolitana do Recife: Recife, Olinda,
Jaboatão dos Guararapes e Paulista. Já que por decreto supracitado, foi recomendado o
uso de máscaras por toda população do estado. Contudo, esse não foi um critério de
exclusão, tendo havido participação de indivíduos de outros estados.

Um esclarecimento por escrito do objetivo da pesquisa e da participação anônima e


voluntária foi colocado no início do questionário, de forma que cada participante
precisou concordar com a utilização das respostas na pesquisa. Após encerrada a
aplicação do questionário, os dados obtidos foram organizados e submetidos a análises
estatísticas e gráficas para promover a discussão acerca dos resultados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O uso de questionário online potencializa a coleta de dados e tem servido para auxiliar
diversas pesquisas de percepção e práticas (CLOCK; SGROTT; OLIVEIRA; KHOLS,
2017; CLOCK; OLIVEIRA, 2018; CAVALCANTE; DAMACENA; XAVIER, 2018;
SILVA; SOUZA, 2020). Para Faleiros et al. (2016) a possibilidade de coletar dados
dessa forma aumenta a efetividade, diminui custos e pode gerar respostas mais
completas.

O questionário ficou disponível entre 25 e 30 de abril de 2020, e obteve 343 respostas.


A maior prevalência de faixa etária foi registrada entre 25 e 35 anos, representando
33% da amostra e 19% das respostas da faixa de 18 a 25 anos, igualmente a 35 a 45 e
45 a 55 anos. Quanto a origem, 80% dos participantes eram dos municípios de Recife,
Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista, e 10% de outros municípios de
Pernambuco. As demais respostas foram do Rio de Janeiro (9) - RJ, Maceió (9) - AL,
Palmas (1) - TO, Salvador (2) - BA, Aracaju (1) - SE, Parauapebas (1) e Belém (1) -
PA, Natal (1) - RN.
A maior parte da amostra foi de pós graduados (44,3%), seguidos de pessoas com
graduação completa (24,8%) e incompleta (18,1%), concentrando 87,2% das respostas
advindas de pessoas com ensino superior. As áreas de atuação da população amostral
foram educação (24,8%), saúde (16,9%), construção civil (16,6%), serviços (12,2%),
comércio e indústria (3,8% cada) e outros (21,9%).

As primeiras questões tiveram o objetivo de esclarecer quanto ao uso de materiais


voltados para a prevenção do Covid-19 e apontaram que a maior parte da amostra faz
uso de máscaras de tecido, onde 80% dos participantes fazem uso de máscaras
reutilizáveis no seu dia a dia, conforme a orientação em vigor no estado de
Pernambuco. Ainda assim, 41,1% da amostra faz uso de máscaras cirúrgicas e 20,7%
têm usado luvas de látex no dia a dia (Figura 1). Dos que usam máscaras cirúrgicas,
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um percentual de 45,5% da população amostral utiliza 1 ou 2 máscaras por dia.
Quanto o uso de luvas, cerca de 15% faz uso de 1 ou 2 pares por dia (Figura 2).

Figura 1 - Distribuição da amostra em relação ao uso de materiais

Fonte: elaborado pelo autor

Figura 2 - Quantidade de materiais utilizados no dia a dia

Fonte: elaborado pelo autor

Sobre o descarte das máscaras e luvas cirúrgicas em casa, 42,3 % da amostra afirmou
colocar em um saco exclusivo antes de dispor em outro local, cerca de 11% afirmou
fazer uso do lixeiro do banheiro e 8,7% disse descartar em qualquer lixeiro da casa.
Para o descarte fora de casa, 45,5% afirmou colocar em um saco fechado para
descartar na sua residência e um percentual de 13,1% apontou dispor em qualquer
lixeira de rua.

Outras pesquisas sobre o descarte de RSS fora de ambiente hospitalar apontaram que é
comum que esse descarte seja feito em lixo comum. A pesquisa de Santos et al. (2019)
sobre o descarte de resíduos perfurocortantes em salões de beleza revelou que do
percentual de 42% da amostra que fazia uso de lâminas de barbear, cerca de 25% as
descartava em lixo comum. Já sobre o descarte de medicamentos, Alcântara e
Pimentel (2019) encontraram que 41% dos entrevistados fazem o descarte em lixo
comum, na pia ou no vaso sanitário.
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Nazari et al (2020) encontraram 36,23 Kg de resíduos perigosos após triagem em
cinco cooperativas localizadas na zona sul no Rio Grande do Sul. Segundo os autores
a separação incorreta por parte dos geradores fizeram com que resíduos perigosos
estivessem presentes junto com material reciclável. Resíduos de serviço de saúde
também foram encontrados em cooperativas no município de Caxias do Sul - RS na
pesquisa de Rosa e Stedile (2020). O estudo afirmou que a atividade de separação dos
materiais requer agilidade e por isso, muitas vezes existe a exposição e até mesmo
lesões, expondo os trabalhadores ao risco.

Esses resultados reforçam a presença do RSS no lixo comum e misturados com


materiais recicláveis, bem como a preocupação com a contaminação do meio ambiente
e com a cadeia de trabalhadores que têm contato com o resíduo. Sendo assim, os
voluntários foram questionados ainda se é feita a separação de material reciclável na
residência, se isolam o material contaminado em um saco antes de descartar e se fazem
uso de alguma identificação no lixo que contém o material contaminado (Figura 3).

Figura 3 - Distribuição da amostra em relação a práticas no descarte de material contaminado

Fonte: elaborado pelo autor

O recomendado é que o descarte seja feito tomando os devidos cuidados no manuseio


e que a máscara ou luva seja colocada dentro de um envelope plástico, que pode ser
uma garrafa ou saco (SECOM, 2020). Porém, apenas 41% dos participantes afirmou
utilizar de um saco exclusivo para o descarte desse material. O descarte inadequado
pode ser resultado da falta de informação, como na pesquisa de Alcântara e Pimentel
(2019) onde 42% dos entrevistados afirmou ter dificuldades com o descarte de RSS
devido à falta de informação sobre os riscos do descarte incorreto e sobre a forma
adequada de fazê-lo.

Para avaliar a percepção da população sobre o tema, optou-se pelo uso da escala de
likert ou escala linear, que consiste na apresentação de uma afirmação sobre o tema e
uma escala qualitativa para que o participante indique o grau de concordância ou
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discordância, associado a uma escala quantitativa para auxiliar a análise (BONICI;
ARAÚJO JUNIOR, 2011).

Foi utilizado a escala de cinco pontos que variam entre discordo totalmente (1),
discordo um pouco (2), indiferente (3), concordo um pouco (4) e concordo totalmente
(5). A análise foi feita com o modelo utilizado por Bonici (2011), cálculo do ranking
médio (RM), que consiste em atribuir valores às respostas e calcular a média
ponderada (MP) para cada item com base na frequência das respostas (Equação 1).
Para cada questão, foi calculado RM e quanto mais próximo de cinco valor, maior o
nível de concordância da amostra em relação a afirmação apresentada (Figura 4).

(Equação 1)

Onde:
fi = Frequência observada
Vi = Valor de cada resposta
A = Total da amostra

Figura 4 - Ranking médio de cada questão

Fonte: Elaborado pelo autor

A afirmação que obteve maior índice de concordância foi “Garis, coletores e catadores
podem se contaminar se tiverem contato com as máscaras e luvas descartadas no lixo
comum” com índice de 4,8, seguida por “É importante identificar o lixo que contém
material contaminado (máscaras e luvas)” com 4,7. Ainda assim, 68% da amostra
respondeu que não faz uso de identificação para esse tipo de material.

Tiveram menor concordância as afirmações “Eu me sinto seguro fazendo o descarte


desses materiais em casa” com índice de 3,1 e “Recebi informações suficientes para
descartar esses materiais com segurança”, com 3,5, o que reforça a necessidade de
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campanhas para informar a população sobre os riscos do descarte inapropriado e como
fazê-lo de forma correta.

4. CONCLUSÕES

Os RSS quando descartados de formas inadequadas têm o potencial de propagar


doenças no ambiente, sendo uma discussão pertinente em meio ao enfrentamento da
pandemia de Covid-19. Entender a percepção das pessoas sobre o uso, descarte e
riscos do descarte inadequado desses materiais que foram inseridos na sua rotina é
primordial para que ações possam ser direcionadas para educação e conscientização da
população de modo a não colaborar com o espalhamento da doença.

Existem obrigações legais para equipamentos de saúde, expressas em leis e normas


regulamentadoras, no entanto, para o ocasional gerador domiciliar que surge em meio
a pandemia, resta a conscientização para que o manejo e o descarte sejam feitos da
melhor forma, visando o bem estar integral da comunidade. Com base no que foi
apresentado pode-se entender que o descarte dos RSS produzidos domesticamente
ainda gera dúvidas e insegurança na população e nem sempre é feito da maneira mais
indicada. Demonstrando a necessidade de ações de educação ambiental e de saúde
pública para levar as informações necessárias à população.

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