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RESUMO
O presente artigo apresenta e analisa aspectos da situação do ensino de Filosofia no Brasil
na pós-graduação, graduação e educação básica. Mapeia desafios, perspectivas e apresenta
um diagnóstico do crescimento da pós-graduação em Filosofia no Brasil nos últimos anos,
bem como de iniciativas como a Especialização em Ensino de Filosofia promovidas pela
CAPES/UAB, também ofertada por diferentes universidades, além do recém-criado
Mestrado Profissional em Filosofia, coordenado pela Universidade Federal do Paraná.
Ainda na pós-graduação, um desafio que merece destaque é a disparidade da presença
entre mulheres e homens na pesquisa em Filosofia. Na graduação, uma análise da
licenciatura, particularmente quanto ao papel do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência (PIBID) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). Em relação ao ensino de Filosofia no Ensino Médio, buscou-se analisar
dois temas: aspectos relacionados ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que
está em sua terceira edição para o componente curricular Filosofia; e destacar os desafios
decorrentes da reforma do Ensino Médio, em curso, patrocinada pelo Governo Federal,
sobretudo pelas indefinições e riscos ao Ensino Médio como um todo e, especificamente,
quanto ao ensino de Filosofia.
Palavras-chaves: ensino de Filosofia. Pós-graduação. Educação básica.
1
Licenciado em Filosofia pela PUC-MG. Doutorado em Educação pela UNICAMP. Professor do
Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília, do Programa de Pós-Graduação em Metafísica da
Universidade de Brasília e do Mestrado Profissional em Filosofia – PROF-FILO, núcleo da Universidade
Federal de Tocantins. Coordenaa também o PIBID Filosofia na UnB. Contato: pgontijo@unb.br
2. A PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA
2.1. Crescimento da Pós-graduação em Filosofia no Brasil
Conforme dados em artigo do professor Marcelo Carvalho 4, ex-presidente da
Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (ANPOF) por quatro anos, 2012 e
2016, o crescimento da pós-graduação em Filosofia no Brasil é resultado de um processo
errático, pois não foi planejado em nenhuma instância. Seria resultado do movimento dos
docentes em diferentes universidades, sobretudo as federais, interessados em inserir-se de
forma mais consistente no campo da pesquisa e da formação de pesquisadores e
pesquisadoras em Filosofia.
Alguns dados sobre o crescimento da Pós-graduação em Filosofia: de 1998 a 2014
triplicou-se a quantidade de dissertações e quadruplicou-se o número de teses de
doutorado. Em relação ao crescimento dos programas: 24 novos mestrados (140% de
crescimento); e 15 novos doutorados (200% de crescimento). De 1998 a 2014 houve a
defesa de 1508 teses de doutorado (passando de 35 em 1998 para quase a 140 em 2014); e
3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.htm#art1
4
Marcelo Carvalho. Notas a lápis sobre a pesquisa em filosofia no Brasil:Expansão, Internacionalização e
Consolidação da Pós-Graduação em Filosofia. Domingues, I.; Carvalho, M. Pesquisa e Pós-Graduação em
Filosofia no Brasil - Debates ANPOF de Políticas Acadêmicas. ANPOF, p. 103-119, 2015.
5
Disponível em <http://anpof.org/portal/images/Documentos/ARAUJOCarolina_Artigo_2016.pdf>. Acesso
em 28.março.2017.
Nesse âmbito outro destaque foi a criação do Grupo de Trabalho (GT) Gênero e
Filosofia na ANPOF, em 2016. Nesse GT, além dos variados assuntos que pesquisadoras e
pesquisadores investigam, é possível agregar essa temática que ainda não tinha um espaço
ou GT específico para mobilizar, agregar e impulsionar o debate. Carolina Araújo aponta,
no artigo acima citado, algumas ações que podem contribuir para fortalecer a presença
feminina na pós-graduação em Filosofia, todavia é um desafio que precisa encarado pelos
colegiados de cada programa para buscar saídas locais que revertam esse quadro.
6
Disponível em: <http://anpof.org/portal/index.php/en/comunidade/community-forum-
pack073a51/item/131-a-anpof-e-o-ensino-medio/311-da-anpof-em-ao-prof-da-filosofia-uma-mobilizacao-
em-vias-de-atingir-a-pos-graduacao>. Acesso em 28.maio.2017.
7
Informações sobre o Mestrado profissionalizante podem ser encontradas em
http://www.humanas.ufpr.br/portal/prof-filo/prof-filo/
8
http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacaotrienal/Docs_de_area/Filosofia_Teologia_doc_a
rea_e_comiss%C3%A3o.pdf
9
Disponível em: <http://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens-tpe/30096/483-dos-professores-ensino-
medio-tem-licenciatura-na-disciplina-que-ministram>. Acesso em 29.maio.2017.
10
GONTIJO, P. 2015a, págs.139-140.
11
https://projetopaideia.wordpress.com/
12
O PNLD é o Programa do Ministério da Educação para distribuição de livros didáticos para todas as séries
da educação básica no ensino regular e para Educação de Jovens e Adultos.
13
GASPARI, E. A página esquecida da cultura brasileira. Folha de São Paulo. 16/06/2013 .
14
Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-dados-estatisticos>.
Acesso em 24.maio.17.
15
Títulos e nº de exemplares adquiridos pelo FNDE: Filosofando – Introdução à Filosofia - 1.991.720,
Fundamentos de Filosofia - 1.826.885, Filosofia: Experiência do Pensamento - 1.709.916, Iniciação à
Filosofia - 1.534.464, Filosofia: Por uma Inteligência da Complexidade - 493.090
16
GONTIJO, P. 2015b. págs. 41-54.
"O que é a filosofia senão um modo de refletir, não tanto sobre aquilo
que é verdadeiro e aquilo que é falso, mas sobre a nossa relação com a verdade?
[...] A filosofia é o movimento pelo qual nos libertamos – com esforços,
hesitações, sonhos e ilusões – daquilo que passa por verdadeiro, a fim de buscar
outras regras do jogo. A filosofia é o deslocamento e a transformação das
molduras de pensamento, a modificação dos valores estabelecidos, e todo o
trabalho que se faz para pensar diferentemente, para fazer diversamente, para
tornar-se outro do que se é." (FOUCAULT, 2008 p.305)
A Filosofia, nessa compreensão, não seria uma busca pela verdade, mas uma
relação com aquilo que é tido como verdadeiro. Ela modifica valores, desloca e transforma
o pensamento. Pais e comunidade escolar ganham na medida em que adolescentes são
confrontados com diferentes tradições de pensamento e estendem seu repertório para um
protagonismo na construção de suas convicções.
5. CONCLUSÃO
Em diferentes níveis, há um processo de ampliação da presença da Filosofia nas
últimas décadas. Entretanto, novas ameaças rondam o ensino da Filosofia, sobretudo na
Educação Básica. Essas ameaças, uma vez confirmadas, podem repercutir nos demais
níveis onde avanços foram alcançados. Sem a Filosofia no Ensino Médio ou com uma
presença inexpressiva, abre-se espaço para questionamentos de políticas como PNLD,
PIBID, de licenciaturas, Mestrado Profissional em Filosofia e outras iniciativas.
A Reforma do Ensino Médio, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) em fevereiro deste ano, revela um campo ainda obscuro dos desafios que
se tem pela frente, pois não há uma definição a respeito da data de conclusão e
implementação da reforma. Existe uma definição de que o Ensino Médio deverá
progressivamente ampliar a carga horária anual, chegando a mil e quatrocentas horas. O
Ensino Médio terá duas etapas: a primeira, comum a todas as escolas com currículo
definido pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC); e outra, de formação, no que é
denominada como “itinerários formativos”, em diferentes arranjos curriculares. Serão
cinco itinerários: Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências
FÁVERO, A.A., CEPPAS, F., GONTIJO, PG, GALLO, S. and KOHAN, W.O. O ensino
da filosofia no Brasil: um mapa das condições atuais. Cadernos Cedes 24, no. 64
(2004): 257-284. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v24n64/22830>.
Acesso em 29.maio.2017.