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Revisión bibliográfica / Literature review

Dengue, geoprocessamento e indicadores


socioeconômicos e ambientais:
um estudo de revisão
Regina Fernandes Flauzino,1 Reinaldo Souza-Santos 2
e Rosely Magalhães Oliveira 3

Como citar Flauzino RF, Souza-Santos R, Oliveira RM. Dengue, geoprocessamento e indicadores socioeconômicos
e ambientais: um estudo de revisão. Rev Panam Salud Publica. 2009;25(5):456–61.

RESUMO Objetivo. Analisar os estudos que abordaram o tema dengue e geoprocessamento junta-
mente com indicadores socioeconômicos e ambientais na busca de uma melhor compreensão do
comportamento da doença.
Método. Conduziu-se uma busca nas bases MEDLINE, SciELO, Lilacs e banco de teses
CAPES com os termos “dengue, sistema de informação geográfica, análise espacial, geopro-
cessamento, sensoriamento remoto e indicadores socioeconômicos e ambientais”. Também foi
conduzida uma busca manual de artigos selecionados das listas de referências. Foram incluí-
dos todos os trabalhos publicados nos idiomas inglês, português ou espanhol até dezembro de
2007 que abordaram o tema dengue e geoprocessamento e indicadores socioeconômicos e am-
bientais. Os estudos foram agrupados conforme tipo (inquérito sorológico ou estudo com dados
secundários) e unidade espacial de análise (município, distritos sanitários, bairros, regiões ad-
ministrativas, setores censitários e quarteirões).
Resultados. Foram avaliados 22 estudos, todos da América Latina (19 do Brasil). Seis eram
inquéritos sorológicos e 16 utilizaram dados secundários. Sistemas de informação geográfica
foram utilizados em um inquérito e em 11 estudos da outra categoria. A agregação espacial
utilizada foi semelhante em ambos os tipos. A pobreza não foi fator preponderante para o risco
da doença. A heterogeneidade espacial de condições de vida e incidência esteve presente em 15
dos 16 trabalhos com dados secundários.
Conclusões. Como a complexidade da dengue está intimamente relacionada com as carac-
terísticas ecológicas do ambiente, os estudos que utilizam agregados de unidades espaciais alia-
dos à análise das características ambientais locais fornecem uma visão mais completa da doença
e permitem a identificação de heterogeneidade espacial, que mostrou ser um aspecto importante
para o entendimento do desenrolar da epidemia de dengue.

Palavras-chave Dengue/epidemiologia, indicadores ambientais, indicadores sociais, vigilância epi-


demiológica, sistema de informação geográfica.

1 Universidade Federal Fluminense (UFF), Departa- A dengue é uma arbovirose que vem a umidade e a temperatura favorecem
mento de Epidemiologia. Correspondência: Rua preocupando as autoridades sanitárias a proliferação do mosquito vetor, Aedes
Professor Henrique Costa 296/204, Pechincha, CEP
22770-233, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Fone: +55-21- de todo o mundo em virtude de sua cir- aegypti (1).
2629.9352/+55-21-2425.6191; e-mail: rflauzino@ culação nos cinco continentes e do Entretanto, nem sempre os estudos
uol. com.br
2 Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de
grande potencial para o desenvolvi- que buscam associar a ocorrência da den-
Saúde Pública, Departamento de Endemias Samuel mento de formas graves e letais de gue com condições socioeconômicas e
Pessoa. E-mail: rssantos@ensp.fiocruz.br doença. Cerca de 2,5 bilhões de pessoas ambientais encontram resultados concor-
3 Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de
Saúde Pública, Departamento de Endemias encontram-se em risco de infecção, parti- dantes. Vários autores apontam uma re-
Samuel Pessoa. E-mail: rosely@ensp.fiocruz.br cularmente em países tropicais, onde lação proporcionalmente inversa entre a

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incidência da doença e as condições de contribui para uma melhor compreensão guês ou espanhol até dezembro de 2007
vida (2–6). Em oposição, outros apontam dos problemas atuais de saúde (13, 15). que abordaram o tema dengue e geopro-
uma relação positiva entre as condições Assim, este trabalho teve como obje- cessamento e indicadores socioeconômi-
de vida e a ocorrência da doença (7, 8). tivo analisar os estudos que abordaram o cos e ambientais (figura 1). O processo
Esses autores sugerem que as diferenças tema dengue e geoprocessamento e in- de seleção dos estudos foi realizado por
entre as associações encontradas em dife- dicadores socioeconômicos e ambientais um dos autores (RFF). Para a extração
rentes pesquisas podem estar relaciona- na busca de uma melhor compreensão dos dados, foi construído um formulá-
das ao tipo de unidade espacial utilizada do comportamento da doença. rio específico, onde foram registradas
(setor censitário, bairros, distritos e/ou as informações concernentes a autor e
municípios). Outra possibilidade seria MÉTODOS ano, ano de desenvolvimento do estudo,
uma limitação resultante da agregação idioma do país, cidade e área do estudo,
espacial, já que, dependendo do nível de A busca bibliográfica foi conduzida nas tipo e periódico de publicação, objetivo
agregação, a captação da realidade pode bases MEDLINE (http://www.ncbi.nlm. do estudo, tipo de agregação espacial, in-
não ser a ideal (9), ou seja: dependendo nih.gov/pubmed), SciELO (http:// www. dicadores socioeconômicos e atributos
do modo como as variáveis foram agre- scielo.org), Lilacs (http://bases.bireme. utilizados, tipos de software utilizados,
gadas para descrever grandes regiões, br) e banco de teses CAPES (http:// resultados e limitações.
podem produzir grande variação de www.capes.gov.br/servicos/banco-de- Os trabalhos selecionados foram divi-
resultados. Esse problema pode ser teses) utilizando-se a combinação dos ter- didos nas categorias inquéritos sorológi-
agravado quando existem desigualda- mos “dengue, sistema de informação cos e estudos que utilizavam dados se-
des socioeconômicas e infraestruturais. À geográfica, análise espacial, geoprocessa- cundários dos órgãos oficiais de saúde.
medida que aumenta a agregação, a in- mento, sensoriamento remoto, e indica- Tal divisão pretendeu buscar diferenças
formação das covariáveis poderá discri- dores socioeconômicos e ambientais” no padrão de análise entre estudos basea-
minar menos as regiões e, consequente- (em espanhol, dengue, sistema de infor- dos em dados primários ou secundários.
mente, os resultados poderão se tornar mación geográfica, análisis espacial, geo- Alguns autores declaram preferência por
enganosos (10). Sendo assim, estudar o procesamiento, teledetección, indicadores estudos baseados em inquéritos sorológi-
efeito de diferentes formas de agregação socio-ambientales; e em inglês, dengue, cos, uma vez que eles tendem a contribuir
dos dados no tempo e no espaço pode ser geographic information system, spatial para a diminuição de viés associado aos
relevante para os estudos da distribuição analysis, geoprocessing, remote sensing, dados de origem secundária (16).
dos riscos da doença (11). socio-environmental indicators). As unidades espaciais de análise fo-
Nesse contexto, Silveira (12) encon- Além disso, foi conduzida uma busca ram classificadas nos seguintes níveis:
trou “padrões complexos, que não corro- manual de publicações com base nas re- município, distritos sanitários, bairros,
boraram a expectativa baseada no senso ferências bibliográficas listadas nos arti- regiões administrativas, setores censitá-
comum, de uma relação linear entre den- gos identificados. rios e quarteirões. Agregado espacial,
gue e pobreza em Niterói, Estado do Rio Foram incluídos todos os trabalhos neste estudo, equivale a agregações dessas
de Janeiro. Os resultados encontrados não publicados nos idiomas inglês, portu- unidades espaciais.
pareceram consistentes com as hipóteses
mais comumente levantadas para expli-
car o comportamento da dengue”. Para o
autor, “as características socioambientais FIGURA 1. Fluxograma da seleção de estudos para inclusão no artigo de revisão sobre dengue,
particulares do município devem ser as geoprocessamento e indicadores socioeconômicos e ambientais
mais relevantes para compreender o com-
Publicações potencialmente relevantes
portamento do processo endêmico-epidê- identificadas para pesquisa e análise: 194
mico da doença” (p. 73).
Nessa linha, sabe-se, atualmente, que
uma das maneiras de se conhecer mais Artigos excluídos por não enfocarem a
detalhadamente as condições de saúde da especificidade do tema: 135
população é por intermédio de mapas
que permitam observar a distribuição es-
pacial de situações de risco e de proble-
mas de saúde, ou seja, mediante a utili- Estudos selecionados
sobre o tema: 59
zação de técnicas de geoprocessamento
(13). A abordagem espacial permite a in-
tegração de dados demográficos, socio- Artigos excluídos com base nos critérios de exclusão:
econômicos e ambientais, promovendo o • Abordagem do vetor: 12
• Estudos em área rural: 10
inter-relacionamento de informações ad- • Não envio do original: 10
vindas de diversos bancos de dados (14). • Tese e dissertação com artigo já publicado: 2
A utilização de agregados espaciais, em • Estudos que não utilizaram indicadores
especial com sistemas de informação geo- socioeconômicos: 3
gráfica (SIG), permite análises complexas,
com rápida formação e alternação de ce-
Estudos incluídos na revisão: 22
nários. Isso facilita a tomada de decisões e

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Os indicadores socioeconômicos utili- Seis eram inquéritos sorológicos e 16 uti- (34) e um na Argentina (35). Os indica-
zados foram os preconizados pela Rede lizaram dados secundários. Dos inqué- dores utilizados nos estudos com dados
Interagencial de Informações para a ritos sorológicos, somente um utilizou secundários foram: sexo, idade, densi-
Saúde (RIPSA) (17). Os indicadores am- SIG; dos estudos com dados secundá- dade demográfica, situação civil, razão
bientais foram relacionados à drenagem rios, 11 utilizaram SIG. de dependência (mede a participação re-
urbana, limpeza pública e pontos estraté- lativa da população potencialmente ina-
gicos para vigilância de Aedes aegypti, de Inquéritos sorológicos tiva, que deveria ser sustentado pela par-
acordo com o preconizado pela Fundação cela da população produtiva), razão de
Nacional de Saúde (FUNASA) (18). A uti- As variáveis “presença prévia da sexos (número de homens para 100 mu-
lização desses parâmetros teve como fina- doença” e “vacina contra febre amarela” lheres) e condições de moradia (de-
lidade obter um maior nível de compara- estiveram presentes em todos os artigos mográficos); instrução, renda, índice de
bilidade entre os estudos analisados. selecionados. Dentre eles, somente um pobreza e favelas (socioeconômicos); ins-
Foram identificados trabalhos que fa- (21) usou SIG. Os indicadores utilizados talação sanitária de água e esgoto, coleta
zem associação entre dengue e heteroge- em todos os estudos foram: sexo, idade, de lixo (de cobertura de serviços); índice
neidade espacial e, por isso, essa cate- densidade populacional, situação/es- de infestação e criadouros do vetor,
goria foi incluída. A heterogeneidade tado civil e condições de moradia (indi- borracharias, cemitérios, ferro-velho (am-
espacial foi definida neste estudo como cadores demográficos); instrução e renda bientais e operacionais); índice pluvio-
um espaço geográfico onde se encon- (socioeconômicos); instalação sanitária métrico, umidade relativa e temperatura
tram populações em diferentes estratos de água e esgoto, lixo (de cobertura se (climáticos/meteorológicos); e ano, mês e
socioeconômicos. Esse espaço pode ser serviços); e presença de inservíveis, ou estações climáticas no momento do es-
um agregado de unidades espaciais seja, detritos que não podem ser reutili- tudo (temporais).
como setores censitários, bairros e/ou zados (ambientais). Em relação ao nível de agregação, o es-
distritos sanitários. Por sua vez, a hetero- Em relação ao nível de agregação, foi tudo que utilizou o município como uni-
geneidade de incidência e/ou de distri- identificado apenas um estudo pautado dade de análise identificou como fatores
buição de casos está relacionada às dife- em cada uma das unidades espaciais de risco a faixa etária de 15 a 49 anos e a
rentes condições de vida dos diferentes descritas a seguir: município (22), dis- presença de criadouros; não encontrou,
estratos sociais que ocupam o espaço. A trito sanitário (7) e bairro (23). Três estu- todavia, diferença entre os sexos (26).
maneira como os espaços são ocupados dos utilizaram como unidade de análise Dos estudos que utilizaram bairros
por populações de diferentes estratos os setores censitários (16, 21, 24). como unidade de análise (9, 10, 12, 25,
socioeconômicos pode tornar tais es- No que tange aos fatores de risco, nos 27, 28, 33), três (9, 27, 28) identificaram o
paços vulneráveis e criar condições que estudos cujas unidades eram municípios sexo feminino como mais exposto ao
favoreçam a produção e a reprodução de e distritos sanitários, foi identificado risco de dengue. Os demais (10, 12, 25,
doenças (19, 20). Assim, no caso da den- risco na população de maior renda (7, 33) não encontraram diferença de risco
gue, quando nos referimos à heteroge- 22). Contudo, esses estudos não apresen- entre os sexos. A faixa etária na qual se
neidade espacial de distribuição de casos taram diferença estatística para risco em identificou maior risco foi aquela, se-
e/ou incidência, estamos nos referindo relação ao sexo, faixa etária e escolari- gundo Machado (27), considerada eco-
também à heterogeneidade espacial de dade. A presença de heterogeneidade es- nomicamente ativa, que variou de 20 a
condições de vida. Cada localidade pos- pacial na distribuição de casos foi detec- 29 anos no trabalho de Santos (25) até 20
sui uma historicidade própria, fruto de tada no estudo de Vasconcellos et al. (7), a 39 anos no trabalho de Ribeiro et al.
processos sociais e políticos singulares, que utilizaram como unidade os distritos (28). Risco para dengue foi também iden-
podendo ser, nesse nível, evidenciada a sanitários. Em relação ao estudo com tificado em áreas de maior concentração
particularidade dos processos de trans- bairros (23), foi identificado risco em de indivíduos, grande diversidade eco-
missão da doença em que a produção e mulheres, não havendo diferenciação nômica, forte adensamento populacio-
reprodução se concretizam (19). por faixa etária. Já os estudos com base nal, alta densidade domiciliar, alta den-
em setores censitários (21, 24, 25) identi- sidade de lotes vagos (terrenos baldios),
RESULTADOS ficaram risco nas faixas etárias mais ele- grande via de circulação de mercadorias
vadas e correlação positiva entre soropo- e pessoas, falta de oferta de emprego e
A busca resultou em 22 trabalhos que sitividade e escolaridade. Contudo, não áreas com deficiência no sistema de co-
atendiam os critérios utilizados. Em re- foi identificada diferença de risco entre leta de esgoto (25, 33).
lação ao país de origem, 100% foram pro- as diferentes condições de vida (aspectos A heterogeneidade espacial de in-
duzidos na América Latina, sendo 19 no socioeconômicos). O estudo que utilizou cidência de casos só não foi identificada
Brasil (5 dissertações de mestrado, 1 tese um indicador ambiental (24) identificou em um estudo (28). Considerando o uso
de doutorado e 13 artigos), um na Ar- risco em setores censitários que apresen- de SIG, todos os quatro estudos que uti-
gentina, um na Venezuela e um em taram presença de inservíveis. lizaram essa ferramenta identificaram
Cuba. Os estudos produzidos em outros heterogeneidade espacial (10, 12, 27, 33).
continentes, especialmente na Ásia, ver- Dados secundários Ainda em relação aos estudos com bair-
savam sobre o vetor ou estudavam va- ros e SIG, o estudo de Ferreira (10) de-
riáveis relacionadas ao ambiente rural, Dos 16 estudos com dados secundá- monstrou que a presença de criadouros
por isso foram excluídos deste estudo. rios pautados pela agregação espacial, 13 (borracharias, cemitérios, ferro-velho, ter-
Os artigos selecionados foram publica- foram produzidos no Brasil (2, 8–12, 26– reno baldio e caixas d’água descobertas)
dos em inglês, português ou espanhol. 32), um na Venezuela (33), um em Cuba foi um fator de risco para a doença.

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Ressalta-se que, nos estudos por bair- áreas de risco em agregados de quar- níveis de exposição dos diferentes seg-
ros, a pobreza não foi fator preponde- teirões onde havia forte intercâmbio de mentos da população foram semelhantes,
rante para risco da doença. O estudo de pessoas e presença de vetor. A heteroge- reforçando a tese de que a infecção não
Medronho (29) utilizou regiões adminis- neidade espacial de casos foi identifi- tem lugar particular para ocorrer, po-
trativas como unidade espacial e identi- cada nesses dois estudos. A elevada di- dendo se dar tanto nos domicílios como
ficou risco de ocorrência de dengue nas ferenciação entre os quarteirões sugere nas escolas ou locais de trabalho (7).
regiões onde havia maior percentual de diferenças na vulnerabilidade espacial
população favelada, maior densidade para a introdução e a transmissão da Bairros
demográfica, menor cobertura de água dengue, e a elevada associação estatís-
encanada, de instalação sanitária própria tica com a espacialidade dos casos no- A predominância do sexo feminino foi
e de iluminação elétrica. O desfecho di- tificados valida os resultados da estra- relatada tanto nos inquéritos sorológicos
fere dos demais estudos ao concluir que tificação espacial da vulnerabilidade da (23) quanto nos estudos com dados se-
a diminuição do risco está associada à dengue (34). cundários (9, 27, 28). Em relação à idade,
melhora dos parâmetros econômicos da no estudo sorológico (24) todas as fai-
população e que existe homogeneidade Foco na unidades espaciais: municípios xas foram atingidas; porém, os resulta-
espacial na distribuição da incidência dos dos dos estudos com dados secundários
casos. Tanto o estudo pautado em dados se- apontam para maior risco em faixas etá-
Os fatores de risco identificados pelo cundários (26) quanto o soroepidemioló- rias economicamente ativas (9, 10, 12, 25,
estudo que utilizou distritos sanitários gico (22) apresentaram resultados seme- 27, 28, 33).
como unidade espacial (30) foram: a lhantes ao evidenciar maior risco nas Sistemas de informações geográficas
faixa etária elevada, a presença de áreas faixas etárias mais elevadas e não regis- foram utilizados em quatro estudos com
densamente povoadas e a maior pro- trar diferenças entre os sexos. Torres (37) dados secundários (10, 27, 28, 33). Em
porção de população carente; porém o comenta que as populações afetadas pela todos a heterogeneidade espacial foi pre-
último fator, de acordo com Teixeira dengue em localidades antes indenes são sença marcante, demonstrando que a
(16), pode ser reflexo de viés de notifi- aquelas de faixas etárias mais elevadas, distribuição da incidência da doença não
cação, visto que essa população utiliza por serem mais suscetíveis, e as mulhe- foi uniforme no espaço. Os resultados
em maior volume os serviços públicos de res, por conta da característica domiciliar desses estudos apontam também para o
saúde, que são a principal fonte de noti- do vetor. No entanto, apesar de ambos maior risco em áreas de melhores con-
ficação de doenças e agravos à saúde. os estudos terem sido conduzidos em dições de vida, não sendo a pobreza um
Em relação aos estudos baseados em anos de epidemias recentes, a última ca- fator preponderante para o aumento ou
setores censitários, Paulino e Natal (2) racterística não foi observada nos estu- diminuição do risco de adquirir dengue.
utilizaram a estratificação de setores cen- dos que utilizaram a agregação por mu- Em relação aos indicadores ambientais
sitários como método de análise com a nicípio (22, 26). e de cobertura de serviços, a presença de
finalidade de caracterizar aglomerados O estudo de dados secundários que criadouros e de água não proveniente de
de setores com características socioam- utilizou variáveis ambientais (26) reve- rede geral de abastecimento são aponta-
bientais possivelmente homogêneas. Dos lou associação entre dengue e presença dos como fatores de risco para a doença
quatro estudos, todos associaram o risco de criadouros na localidade. (10, 25).
de contrair dengue aos setores com
maior renda, e três (31, 32, 36) identifica- Distritos sanitários Setores censitários
ram heterogeneidade espacial da distri-
buição de casos. Esses três estudos utili- A heterogeneidade espacial da distri- Neste nível de agregação espacial, a
zaram SIG. buição da doença foi ressaltada nos dois heterogeneidade espacial também se fez
Martinez et al. (34) e Bottinelli et al. tipos de estudo que utilizaram a agre- presente tanto em inquéritos como em
(35) utilizaram a metodologia de estratifi- gação por distritos sanitários (7, 30); di- estudo com dados secundários. Os resul-
cação de quarteirões, buscando identifi- vergem, entretanto, quanto aos indica- tados se diferenciam, contudo, em ter-
car agregados com características socio- dores socioeconômicos e demográficos mos dos indicadores socioeconômicos e
ambientais relativamente homogêneas, de risco. de cobertura de serviços.
estratificação espacial da vulnerabilidade Os resultados apresentados por Vas- Nos estudos com dados primários (16,
à dengue e identificação de áreas de concellos et al. (7), que se basearam em 24) não foi encontrada diferença de risco
risco. Em ambos foram utilizados SIG. dados primários, apontam para uma re- entre as condições de vida e os espaços
Na análise para fatores de risco, ficou lação de maior risco em áreas de maior ocupados; observou-se, todavia, maior
evidente que os agregados de quar- poder aquisitivo. Já o estudo de dados risco para as faixas etárias mais elevadas
teirões que apresentaram alta densidade secundários (30) aponta o risco em áreas e as com maior escolaridade.
populacional, presença de grandes cen- de grande diversidade econômica e po- O estudo de Barcellos et al. (36) mos-
tros comerciais e educacionais e pre- pulacional, podendo este fato estar dire- trou que a possibilidade de aquisição
sença de vetor foram os de maior risco tamente relacionado à heterogeneidade de dengue era maior nas áreas de po-
para a doença. As áreas com presença de espacial da distribuição da doença. pulação de maior renda. Contudo, esse
alojamentos para turistas e hotéis e com Não foram observadas diferenças sig- estudo analisou dados de casos impor-
presença do vetor também foram consi- nificativas na incidência de dengue em tados, pois a área, até o momento do es-
deradas de risco (34). De forma seme- relação às variáveis sexo, idade e esco- tudo, não tinha casos autóctones. Os es-
lhante, Bottinelli et al. (35) identificaram laridade nos dois tipos de estudo. Os tudos que estratificaram os setores com

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diferentes riscos (2, 32) encontraram re- agregados de quarteirões ao afirmar que ções espaciais e uso de SIG, embora re-
sultados semelhantes: nível de incidên- a estratégia permite estratificar espacial- centes na área de saúde, tornam-se aos
cia inversamente proporcional às con- mente a vulnerabilidade da dengue por poucos imprescindíveis para a análise da
dições de vida. As áreas de maior risco meio da identificação de áreas com dife- determinação das doenças. Esse tipo de
foram consideradas os agregados de se- rentes associações estatísticas dos casos estudo permite um importante resgate
tores censitários bem adensados, que notificados. do papel da atmosfera socioambiental na
possuíam população de menor renda e produção e reprodução da doença e tam-
escolaridade, habitações simples e com DISCUSSÃO bém, em última análise, mediante seus
carência de serviços básicos. Importante resultados, permite capacitar os serviços
ressaltar que tais estudos foram reali- Como mostrou a presente análise, os de saúde para o controle e a vigilância
zados durante ou após a ocorrência inquéritos e estudos com dados secundá- da doença (39). Além disso, constatamos
da primeira epidemia de dengue nessas rios que utilizaram o mesmo tipo de que, no caso da dengue, foi importante o
localidades. agregação espacial apresentaram resul- foco dos estudos com dados secundários
tados semelhantes. A heterogeneidade tanto na agregação de unidades espa-
Quarteirões foi identificada em cerca de 80% dos tra- ciais quanto nas características ambien-
balhos, sendo mais frequente em estudos tais, que são aspectos típicos de estudos
Neste nível de agregação foram selecio- realizados em regiões que sofreram mais ecológicos (39) — diferenciando-se dos
nados somente dois estudos com dados de uma epidemia da doença. Além disso, inquéritos sorológicos, que abordaram
secundários (33, 34). A estratificação de essa distribuição espacial da doença especialmente as características dos in-
quarteirões com a finalidade de repre- ficou evidente em estudos que utiliza- divíduos, sem preocupar-se com o ní-
sentar espacialmente a vulnerabilidade à ram SIG e níveis de agregação espacial vel ambiental. Como a complexidade da
dengue e identificar áreas de risco foi tes- de maior escala, tais como bairros, seto- dengue está intimamente relacionada
tada, sendo observada heterogeneidade res censitários e quarteirões. De acordo com as características ecológicas do am-
espacial de casos com a utilização de SIG. com Favier et al. (38), espera-se que, no biente (além das características do indi-
Os fatores de risco foram alta densidade futuro, os estudos levem em conside- víduo), os estudos que utilizam agrega-
populacional, presença de grandes cen- ração o grau de heterogeneidade exis- dos de unidades espaciais aliados à
tros comerciais e educacionais e presença tente, que pode afetar epidemias como análise das características ambientais lo-
de vetor. As áreas de agregados de quar- as de dengue. Além disso, estudos pau- cais permitem uma análise mais com-
teirões com presença de vetor concomi- tados em SIG podem permitir a análise pleta da doença e a identificação de he-
tantemente a alojamento para turistas e em nível regional a partir de dados cole- terogeneidade espacial nas localidades
hotéis (34) e em áreas com forte intercâm- tados em escalas locais. estudadas.
bio de pessoas (35) foram consideradas de Finalmente, é importante ressaltar que
risco. Os autores validam a utilização de os estudos com abordagens de localiza-

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ABSTRACT Objective. To further understand the disease behavior of dengue by analyzing studies
on dengue and geoprocessing, as well as socioeconomic and environmental indicators.
Method. MEDLINE, SciELO, and Lilacs databases, as well as the CAPES disserta-
Dengue, geoprocessing, and tion databank, were searched using the following key words: dengue, geographic in-
socioeconomic and formation system, spatial analysis, geoprocessing, remote sensing, and socioenviron-
environmental indicators: mental indicators. A manual search of the bibliographies of select articles was also
performed. All studies published in English, Portuguese, or Spanish, through De-
a review cember 2007, that focused on dengue, geoprocessing, and socioeconomic and envi-
ronmental indicators were included. The relevant articles were grouped according to
type (serologic surveys or secondary data analyses) and spatial analysis unit (munic-
ipality, health district, neighborhood, administrative region, census tracts, and city
blocks).
Results. Twenty-two studies from Latin America (19 from Brazil) were evaluated.
Six were serologic surveys and 16 employed secondary data. Geographic information
systems were employed in one survey, and 11 used secondary data analyses. Spatial
clustering was similar in both types of studies. Poverty was not a major risk factor for
the disease. Spatial heterogeneity of living conditions and incidence was reported by
15 of 16 studies with secondary data.
Conclusions. Since the complexity of dengue is closely tied to the ecological charac-
teristics of the environment, studies based on spatial clusters plus local environmen-
tal determinants provide a more comprehensive view of the disease. These studies
also allow for the identification of spatial heterogeneity, shown to be a key to under-
standing how dengue epidemics develop.

Key words Dengue, epidemiology; environmental indicators, social indicators, epidemiologic


surveillance, geographic information system.

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