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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 93.425 - DF (2017/0332913-0)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


RECORRENTE : JOEL FERREIRA DE ARAÚJO GOMES
ADVOGADOS : MARCELO ALMEIDA ALVES E OUTRO(S) - DF034265
DIEGO RODRIGO SERAFIM PEREIRA - DF042579
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
EMENTA
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS
CORPUS. COMPETÊNCIA. INSERÇÃO DE DADOS FALSOS
EM MULTAS DE TRÂNSITO LAVRADAS POR POLICIAL
MILITAR. CONDUTA QUE NÃO SE AMOLDA AO ART. 9º, II,
ALÍNEA “C”, DO CÓDIGO PENAL MILITAR E NEM AO ART.
312 DO CPM (FALSIDADE IDEOLÓGICA). COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL.
1. A competência da Justiça Militar para julgamento de delitos
praticados por militares contra civis tem por fundamento tanto o art.
125, § 4º, da CF quanto o art. 9º, II, “c” e “d”, do Código Penal
Militar (Decreto-Lei n. 1001/1969). Essa situação não se alterou
substancialmente com o advento da Lei 13.491, de 13/10/2017, que
deu nova redação ao inciso II do artigo 9º do Código Penal Militar.
Embora a Lei 13.491/2017 tenha ampliado a competência da Justiça
militar, passando a deslocar para a Justiça Castrense qualquer crime
previsto na Legislação Penal Comum (Código Penal e Leis Esparsas)
desde que praticado por militar em serviço, ou no exercício da função,
a alínea “c” do inciso II do art. 9º do CPM continua a exigir que a
função desempenhada pelo agente militar tenha natureza militar.
2. A função de controle, fiscalização e cobrança de multas impostas
em decorrência de infração de trânsito não é afeta nem às atividades
típicas dos militares que compõem os quadros das Forças Armadas,
tampouco às atividades típicas dos Policiais Militares.
O poder de fiscalização de trânsito urbano atribuído à Polícia Militar
deriva de delegação efetuada pelo Departamento Nacional de Trânsito
– DETRAN, com fundamento em autorização contida nos arts. 23, III,
e 25 do Código de Trânsito Brasileiro, que permitem a órgãos e
entidades executivos do Sistema Nacional de Trânsito a faculdade de
celebrar convênios delegando atividades a si atribuídas pelo CTB.
3. Ao lavrar autos de infração de trânsito contendo informações
inverídicas, o Policial Militar, estando ou não de folga, atua em razão
da função, mas desempenha atividade que não possui natureza militar,
não se podendo, portanto, caracterizar a conduta como delito de
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competência da Justiça Castrense, mas, sim, da Justiça Comum
Estadual.
4. A conduta também não se amolda ao delito descrito no art. 312 do
CPM, já que o tipo penal em questão exige que o fato atente contra a
administração ou o serviço militar, no entanto o ente prejudicado pela
inserção de dados falsos em multa de trânsito, no caso concreto, foi o
GDF.
5. Recurso ordinário provido, para reconhecer a competência da
Justiça Comum para processar e julgar a ação penal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar
provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ribeiro
Dantas, Joel Ilan Paciornik, Felix Fischer e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 15 de maio de 2018(Data do Julgamento)

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Presidente e Relator

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 93.425 - DF (2017/0332913-0)
RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA
RECORRENTE : JOEL FERREIRA DE ARAÚJO GOMES
ADVOGADOS : MARCELO ALMEIDA ALVES E OUTRO(S) - DF034265
DIEGO RODRIGO SERAFIM PEREIRA - DF042579
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):


Cuida-se de Recurso Ordinário em Habeas Corpus interposto por JOEL
FERREIRA DE ARAÚJO GOMES, impugnando acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e Territórios que denegou a ordem de habeas corpus por ele pleiteada e por meio da
qual pretendia fosse reconhecida a competência da Justiça Comum para o julgamento da
conduta a ele imputada, qual seja, a de, após ter se envolvido em discussão de trânsito com
motorista de caminhão e apontado sua arma de fogo na direção do caminhão, no dia
17/08/2015, algum tempo depois, por vingança, inserir em três documentos públicos
(notificações de trânsito) declarações falsas (1- dirigir ameaçando outros condutores [art. 170
CTB]; 2 – direção perigosa [art. 174, CTB] e 3 – transitar em acostamento [art. 193, CTB]),
com o intuito de prejudicar desafeto de trânsito. Referido acórdão recebeu a seguinte ementa:

Denúncia. Inépcia. Incompetência. Justiça Militar. Crime militar.


1 - Não é inepta denúncia que descreve fato, em tese, criminoso.
2 - Entre as hipóteses em que se admite habeas corpus insere-se a
de coação, ordenada por autoridade incompetente (CPP, art. 648,
III).
3 - É competente a Justiça Militar para processar e julgar conduta
de policial militar que lavra auto de infração de trânsito, inserindo
nele informações inverídicas, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar verdade sobre fato juridicamente relevante,
atentando contra a administração ou o serviço militar.
4 - Ordem denegada.
(HC n. 0022284-40.2017.8.07.0000, Rel. Desembargador JAIR
SOARES, julgado em 13/11/2017, DJe de 16/11/2017)
Inconformado, o recorrente, repisando argumentos já postos na petição
inicial, insiste em que, “Se a conduta praticada por um militar estadual não estiver relacionada à

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natureza militar, ela, de nenhuma maneira, pode ser enquadrada como crime militar, mas, sim,
como um crime comum” (e-STJ fl. 138). E, no caso dos autos, “o Recorrente estava de folga
(ainda que estivesse de serviço), em nenhum momento invocou sua condição de policial militar,
bem como os autos de notificação por ele preenchidos são de natureza civil, ou seja, não há
nada nos autos que ligue sua pessoa e/ou conduta para os valores tutelados pela Justiça
Militar” (e-STJ fl. 141).

Salienta que, “embora a Polícia Militar do DF esteja incluída no Sistema


Nacional de Trânsito, é indiscutível que o ato administrativo de fiscalização e trânsito é de
natureza civil, e não militar, tanto que diversas outras entidades também o realizam, tais como a
Polícia Rodoviária Federal e o DETRAN” (e-STJ fl. 3).

Pede, assim, “a) Seja deferido o pleito liminar, determinando a suspensão do


processo n° 2016.01.1.072607-8, em trâmite na Auditoria Militar do DF, até que sobrevenha
decisão final neste procedimento ou ordem judicial em sentido contrário; b) No mérito, seja
reconhecida a incompetência do juízo da Auditoria Militar do DF para processamento e
julgamento do feito ora em apreço e, por conseqüência, seja determinado o envio dos autos à
Justiça Comum para regular processamento;” (e-STJ fl. 140).

Em contrarrazões (e-STJ fls. 143/151), o MPDFT sustenta,


preliminarmente, a inviabilidade de utilizar-se a via do habeas corpus para discutir
competência, máxime quando o paciente pode se valer de incidentes, exceções e recursos
cabíveis, sem contar que o prosseguimento da ação penal não constitui ilegalidade quando
demonstrada a justa causa para a propositura da ação. No mérito, defende o acerto do voto
condutor do acórdão embargado que reputou competente a Justiça Militar para o julgamento
da ação, aos seguintes fundamentos:

Segundo a denúncia, o paciente, de folga, após discussão de


trânsito com um motorista de caminhão, apontou arma de fogo na
direção desse. Depois, fora de serviço, emitiu três notificações de
trânsito, consignando nessas que o motorista teria "ameaçado os
demais veículos", "transitado em acostamentos" e "promovido
demonstração de perícia em manobra de veículo" (fls. 12 e 33/5).
Os fatos, segundo a autuação, ocorreram na altura do km 25 da
DF 001, local que o caminhão sequer chegou a trafegar.
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O paciente, embora não estivesse em serviço, usou das atribuições
concedidas à corporação militar, pelo órgão de trânsito, para fazer
autuações de infrações de trânsito, inserindo nessas informações
falsas. A conduta dele, em tese, insere-se na hipótese descrita no
art. 9º, I, do CPM. É que o crime do art. 312 do CPM não possui
idêntica definição na lei penal comum, eis que em seu preceito
primário consta a elementar especializante "desde que o fato atente
contra a administração ou o serviço militar".
Irrelevante que o paciente não se encontrasse de serviço e em local
estranho à Administração Militar. Interessa que, para emitir os
autos de infração com informações inverídicas, se valeu da
condição de militar. Não fosse ele militar, sequer teria acesso a
autos de infração para fazer a autuação.
Apenas agentes de trânsito ou integrantes da polícia militar têm
atribuição para lavrar autos de infração de trânsito. A competência
é, pois, da Justiça Militar.
Às fls. 162/167, concedi liminar, para determinar a suspensão do processo
n° 2016.01.1.072607-8, em trâmite na Auditoria Militar do DF, até que sobrevenha decisão
final neste recurso, devendo o Juízo militar decidir, até o julgamento deste recurso, todas as
eventuais questões urgentes pendentes e supervenientes no processo.

Instado a se manifestar sobre a controvérsia, o órgão do Ministério Público


Federal que atua perante esta Corte opinou (e-STJ fls. 173/176) pelo provimento do recurso,
em parecer assim ementado:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FALSIDADE


IDEOLÓGICA. ALEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
COMUM. CRIME PRATICADO POR POLICIAL MILITAR FORA DE
SERVIÇO E SEM ATRIBUIÇÃO PARA O ATO. DELITO QUE NÃO
ATINGE O SERVIÇO MILITAR OU A ADMINISTRAÇÃO MILITAR.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. PRECEDENTES DO STJ.
PARECER PELO CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO
RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL.
É o relatório.

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RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 93.425 - DF (2017/0332913-0)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):


Tomo de empréstimo, para efetuar uma sucinta descrição da situação em
exame, parte do voto condutor do acórdão recorrido que assim narra os fatos:

O paciente foi denunciado por ter, no exercício de função militar,


inserido -- em três autos de infração de trânsito (fls. 33/5) –
declarações falsas, com o fim de prejudicar direito ou criar
obrigação para o autuado.
Segundo a denúncia, o paciente, de folga, após discussão de
trânsito com um motorista de caminhão, apontou arma de fogo na
direção desse.
Depois, fora de serviço, emitiu três notificações de trânsito,
consignando nessas que o motorista teria "ameaçado os demais
veículos", "transitado em acostamentos" e "promovido
demonstração de perícia em manobra de veículo" (fls. 12 e 33/5).
Os fatos, segundo a autuação, ocorreram na altura do km 25 da
DF 001, local que o caminhão sequer chegou a trafegar.
O paciente, embora não estivesse em serviço, usou das atribuições
concedidas à corporação militar, pelo órgão de trânsito, para fazer
autuações de infrações de trânsito, inserindo nessas informações
falsas.
(e-STJ fl. 129)
A denúncia imputou ao recorrente a prática do delito descrito no art. 312 do
Código Penal Militar, verbis:

Falsidade ideológica
Art. 312. Omitir, em documento público ou particular, declaração que
dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou
diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, desde
que o fato atente contra a administração ou o serviço militar:

Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é público;


reclusão, até três anos, se o documento é particular.
Como já havia mencionado no exame que fiz das alegações recursais, em
sede de liminar, a competência da Justiça Militar para julgamento de delitos praticados por
militares contra civis tem por fundamento tanto o art. 125, § 4º, da CF quanto o art. 9º, II, “c”

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e “d”, do Código Penal Militar (Decreto-Lei n. 1001/1969), que assim dispõem:

Art. 125 (...)


§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as
ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais
e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

Crimes militares em tempo de paz


Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo
diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que
seja o agente, salvo disposição especial;
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com
igual definição na lei penal comum, quando praticados:
(...)
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do
lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou
reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
(negritei)
Essa situação não se alterou substancialmente com o advento da Lei 13.491,
de 13/10/2017, que deu nova redação ao inciso II do artigo 9º do Código Penal Militar:

Crimes militares em tempo de paz


Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação
penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491, de
2017)
(...)
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do
lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou
reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)

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d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
(negritei)
Com efeito, a nova lei ampliou a competência da Justiça Militar, na medida
em que doravante não são apenas os crimes que sejam concomitantemente previstos no
Código Penal Militar e na legislação penal comum que, em virtude do princípio da prevalência
da lei especial sobre a lei geral, atrairão a competência da Justiça Militar. A Lei 13.491/2017
nitidamente desloca para a Justiça Castrense qualquer crime previsto na Legislação Penal
Comum (Código Penal e Leis Esparsas) desde que praticado por militar em serviço, ou no
exercício da função.

No entanto, como já sublinhava anteriormente a redação dada pela Lei


9.299/1996 à alínea “c” do inciso II do art. 9º do CPM, é necessário também que a função
desempenhada pelo agente militar tenha natureza militar.

Ora, é sabido que a função de controle, fiscalização e cobrança de multas


impostas em decorrência de infração de trânsito não é afeta nem às atividades típicas dos
militares que compõem os quadros das Forças Armadas, nem tampouco às atividades típicas
dos Policiais Militares.

O poder de fiscalização de trânsito urbano atribuído à Polícia Militar deriva


de delegação efetuada pelo Departamento Nacional de Trânsito – DETRAN, com fundamento
em autorização contida nos arts. 23, III, e 25 do Código de Trânsito Brasileiro, que permitem
a órgãos e entidades executivos do Sistema Nacional de Trânsito a faculdade de celebrar
convênios delegando atividades a si atribuídas pelo CTB.

Confira-se a letra da lei:

Art. 23. Compete às Polícias Militares dos Estados e do Distrito


Federal:
(...)
III - executar a fiscalização de trânsito, quando e conforme
convênio firmado, como agente do órgão ou entidade executivos de
trânsito ou executivos rodoviários, concomitantemente com os
demais agentes credenciados;

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Art. 25. Os órgãos e entidades executivos do Sistema Nacional de
Trânsito poderão celebrar convênio delegando as atividades
previstas neste Código, com vistas à maior eficiência e à segurança
para os usuários da via.
Parágrafo único. Os órgãos e entidades de trânsito poderão
prestar serviços de capacitação técnica, assessoria e
monitoramento das atividades relativas ao trânsito durante prazo a
ser estabelecido entre as partes, com ressarcimento dos custos
apropriados.
Por esse motivo, quando examinei o caso concreto, em sede de liminar,
entendi que, ao lavrar os autos de infração de trânsito contendo informações inverídicas, o
Policial Militar – que, estando ou não de folga, indubitavelmente atuou em razão da função –
não gerou prejuízo algum à administração militar ou ao serviço militar, mas, sim, à
administração pública do GDF, diretamente associada ao controle, fiscalização e cobrança de
multas impostas em decorrência de infração de trânsito.

Nessa mesma linha, é de se concluir que, embora atuando em razão da


função de Policial Militar, o réu não desempenhava função de natureza eminentemente militar.

Assim sendo, tem razão o recorrente quando aponta a incompetência da


Justiça Militar para o julgamento do feito. Examinando situações em que o réu era acusado da
prática do mesmo delito, esta Corte assim decidiu nos seguintes precedentes:

- COMPETÊNCIA. FALSIDADE IDEOLÓGICA. CRIME PREVISTO


NO CÓDIGO PENAL MILITAR.
- COMPETE À JUSTIÇA MILITAR PROCESSAR E JULGAR
EVENTUAL DELITO DE FALSIDADE IDEOLÓGICA, ASSIM
CAPITULADO NO ART. 312 DO CÓDIGO PENAL MILITAR.
- CONFLITO CONHECIDO.
(CC 11.185/MG, Rel. Ministro WILLIAM PATTERSON, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 22/05/1996, DJ 01/07/1996, p. 23979)

COMPETÊNCIA. CRIME MILITAR. INOCORRÊNCIA.


INEXISTINDO PROVA DE QUE A INFRAÇÃO ATINGIU O
PATRIMÔNIO OU A ADMINISTRAÇÃO MILITAR, COMPETE À
JUSTIÇA COMUM PROCESSAR E JULGAR O FEITO.
(CC 2.781/RS, Rel. Ministro JESUS COSTA LIMA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 25/06/1992, DJ 10/08/1992, p. 11941)

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Ante o exposto, dou provimento ao recurso para reconhecer a competência
da Justiça Comum para processar e julgar o presente feito.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2017/0332913-0 PROCESSO ELETRÔNICO RHC 93.425 / DF


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00214260920178070000 081902198341776 20160110726078 20170020214269


20170020214269RED 20170110726078 81902198341776

EM MESA JULGADO: 15/05/2018

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MÔNICA NICIDA GARCIA
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : JOEL FERREIRA DE ARAÚJO GOMES
ADVOGADOS : MARCELO ALMEIDA ALVES E OUTRO(S) - DF034265
DIEGO RODRIGO SERAFIM PEREIRA - DF042579
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes Militares

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik, Felix Fischer e Jorge Mussi
votaram com o Sr. Ministro Relator.

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