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CACHOEIRA-BA 2020
Introdução
Além disso, essas escritas femininas negras dão ênfase às formas de luta e
resistências do povo negro frente a sistemas socioculturais excludentes. Nesse sentido,
a escola floresce como espaço propício para o trabalho com as narrativas que propõem
a resistência das mulheres negras, visto que se compreende esse lugar como um espaço
democrático. Para tanto, uma forma de inserir as referidas narrativas na sala de aula é
por meio da contação de histórias, uma vez que ela contribui para uma melhor
compreensão dos fatos e das ações humanas que se deram e se dão em variados tempos
e contextos, proporcionando aos educandos o entendimento de como eles são os
principais sujeitos da construção de suas próprias histórias.
Assim sendo, o material pedagógico a ser produzido será destinado aos alunos e
professores da EJA 1 e EJA 2 do colégio municipal 2 de Julho, localizado no bairro do
Trobogy, na zona periférica da cidade de Salvador. A EJA 1 refere-se ao Ensino
Fundamental 1 e formada por 3 TAPs (Tempo de aprendizagem) (TAP1, TAP2 e
TAP3), enquanto a EJA 2, ao ensino fundamental 2 e está dividida em 2 TAPs ( TAP IV
e TAPV). A maioria desse público é constituída por mulheres negras que trabalham
como domésticas, diaristas, costureiras e vendedoras de produtos cosméticos em
revistas; já outra parte do público, exerce o trabalho autônomo como comerciante.
Justificativa
Após a definição do público, vislumbramos a elaboração de um material didático
que partisse da realidade do público-alvo. Nesse pensar, o perfil de gênero e o perfil
étnico-racial dos estudantes são fatores que, também, motivou a escolha da temática,
levando-nos a produzir um suporte pedagógico que enfatize às narrativas de vida de
mulheres negras baianas que se destacaram pós- abolição, a partir do movimento de
resistência e valorização da cultura negra .
Nesse contexto, escolhemos as narrativas das vivências de três mulheres negras
e baianas (Tia Ciata, Mãe Menininha do Gantois e Jovina Souza) para compor o
material didático. É importante pontuar que um dos critérios utilizados para a escolha
desses nomes foi a significância do trabalho dessas mulheres para demarcar a
resistência da cultura afro-baiana em nosso Estado.
Outrossim, entendemos que é necessário trazer aqui uma breve biografia das
mulheres supracitadas. Comecemos por Hilária Batista de Almeida (Tia Ciata). Nascida
no dia 13 de janeiro de 1984, em Santo Amaro, no Recôncavo da Bahia. Aos 16 anos de
idade, já era membra da fundação da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira/Bahia. Foi
uma das responsáveis pela sedimentação do samba-carioca, tornou-se uma das primeiras
damas das comunidades negras da Pequena África. Tia Ciata, fez da sua vida um labor
cotidiano, passou a ser com as outras senhora baianas, a iniciadora da tradição das
baianas quituteiras no Rio de Janeiro, com suas vestimentas, colares e acessórios da
cultura afro-brasileira e baiana, nisso a presença da religiosidade de matriz africana era
clara. Além disso, Tia Ciata foi uma das grandes incentivadoras do Samba de roda, uma
vez que manteve essa prática quando ainda era proibida por lei. Dessa forma, ela
tornou-se, não somente, um símbolo de resistência da cultura negra baiana, mas
também brasileira.
Maria Escolástica da Conceição Nazaré (Mãe Menininha do Gantois) foi uma
mãe de santo baiana, nascida em Salvador no dia 10 de fevereiro de 1894, filha de
Oxum. É a mais famosa mãe de santo de todos os tempos, foi empossada como mãe de
santo aos 28 anos, em 18 de fevereiro de 1922 em Salvador/Bahia. Foi no Candomblé
de Ketu aos 8 anos de idade, foi a quarta mãe de santo do Terreiro do Gantois.
Historicamente, numa época de intensa perseguição policial às casas de Candomblé,
Mãe Menininha, permitiu que pesquisadores, intelectuais e personalidades
frequentassem o Terreiro do Gantois, fez amizades com religiosos, políticos e artistas
nacionais e internacionais. Assim, o legado deixado por Mãe Menininha representa a
sua luta pelo respeito às religiões de matriz africana , bem como pela difusão do
Candomblé na Bahia.
Continuando esse delinear biográfico, trazemos a professora Jovina Souza a
qual se define-se como uma poeta negra que usa a palavra como mais uma estratégia de
combate ao racismo. Nascida em Feira de Santana e atualmente residindo em Salvador,
Jovina é graduada em Letras Vernáculas pela UFBA, Mestra em Teoria e Crítica da
Literatura e da Cultura pela UFBA também. Além disso, possui longa trajetória como
criadora e professora de projetos identitários, destinados a elevar a auto estima de
negras e negros de todas as idades, formação de intelectuais negros e à preparação de
professores. A sua poética é toda perpassada pelo enfrentamento aos atos racistas e pela
constante demonstração da resistência do povo negro. Sendo assim, a representatividade
afro-baiana que perpassa as narrativas de Jovina Souza podem, certamente, promover a
autoidentificação dos alunos(as) negros(as) com as mesmas.
E para concluí a série de episódios selecionamos a biografia de Creuza de
Oliveira. Mulher negra, periférica, ativista política, sindicalista e presidente
da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD). Sua trajetória
está ligada a luta pelas conquistas dos direitos das empregadas domésticas. Foi através
do radinho de pilha que costumava escutar enquanto cuidava dos afazeres, que Creuza
Oliveira tomou conhecimento que haveria uma reunião de domésticas que buscavam
lutar pelos seus direitos, decidida a mudar sua realidade e a de várias outras
trabalhadoras domésticas, iniciou seu ativismo político participando do movimento
sindical e lutando pela melhoria das condições de trabalho, principalmente das mulheres
negras e domésticas.
Logo, a relevância de levar para a sala de aula as narrativas de resistência
como a dessas mulheres é imprescindível, posto que elas contribuem para que os
alunos(as) afrodescendentes se reconheçam nessas narrativas, fortalecendo o processo
de construção de uma identidade negra positiva.
Ademais, a abordagem dessas contações de forma oral, como é no podcast,
dialoga com a maneira a qual se dá o desenvolvimento da oralidade no segmento da
Educação de Jovens e Adultos, visto que ela se processa com base nos relatos da vida.
Elder - O que me motivou e o que me motiva, não é somente trazer as mulheres negras
como protagonistas da história, mas de apresentar ao público que as suas histórias de
vida, sobretudo as suas obras, que contam e recontam milhares de narrativas ofuscadas
pelo poder da colonização, precisam ser reconhecidas constantemente, seja por meio de
um aparato educacional, como o podcast, material que estamos propondo para esse
trabalho.
Objetivos
Geral
• Apresentar aos alunos narrativas afro-baianas produzidas por mulheres negras
como estratégia para motivar a inserção das pautas antirracistas no espaço
escolar.
Específicos
Metas de aprendizagem
As metas de aprendizagem serão quantificadas conforme a legenda abaixo.
Desse modo, o estágio de cada meta será considerado de acordo com o feedback dado
pelos educandos. Esses retornos se darão por meio de atividades e avaliações
processuais, tais como participação em debates, exposições orais, apresentações
individuais e em grupo, conforme será traçado no plano de ação.
Para tanto, a princípio, serão considerados os indicadores de resultados para
análise quantitativa do aprendizado do aluno.
· ·
Indicadores de resultados
Resultados esperados
Sabe expressar dúvidas quanto aos
conteúdos ou às atividades a serem
EP
realizadas.
Recontar narrativas, mantendo os Conta fatos e experiências cotidianas
sem omissão de partes essenciais;
elementos constitutivos do texto
Descreve lugares, pessoas, objetos e
trabalhado.
processos; EP
Reconta textos narrativos.
iconográficos, sonoros e
Edita - técnicas de Edição de áudio em
materiais.
plataforma anchor.
Reconhecer sua condição de Reconhece o bairro em que mora como EP
sujeito histórico-social, com base espaço geográfico, histórico e de participação
nas experiências individuais e social nas instituições comunitárias;
coletivas
Reconhece a si próprio e seus pares enquanto
portadores e construtores de cultura,
respeitando as diferenças socioculturais
presentes no grupo;
Descrição do material
Material do Aluno
Quanto aos conteúdos que podem ser abordados pelo professor, a partir da
temática do podcast, propomos os seguintes: História de vida, Contação de história,
História oral, Memória, Biografia, História local e regional, Identidade e Cultura.
Dimensões
Ao todo, o podcast conterá 3 episódios de 10 minutos cada, sendo que estará
organizado em um texto, produzido por nós, que seguirá a seguinte estrutura forma:
Cronograma
Jan Fev Mar Abr
Etapas de produção Ações
1-Planejamento Realizar Planejamento 25 a 01 a
31 19
Elaboração do pré-projeto 01 a
20
Apresentação 21
Produção do projeto 21
Revisão 01 24 a
a 23 28
Pesquisa biográfica 06 a
15
Seleção de textos 15 a
18
Gravação do áudio 26 a
30
Publicação criação de um 01
canal ou grupo de a 09
whattsap)
Custos
Prevemos como custo para a produção do podcast, o uso de um aparelho de
Smartphone conectado a uma rede de internet e com um dos aplicativos apropriados
para a agravação e edição do podcast. Ademais, será necessário a disponibilidade de
tempo dos sujeitos envolvidos na produção.
Currículo Resumido dos Envolvidos
Referências teóricas
Educação
CANDAU, Vera Maria Ferrão, OLIVEIRA, Luís Fernandes de. Pedagogia decolonial e
educação antirracista e intercultural no Brasil. In: Educação em Revista. V.26. N. 1.
Belo Horizonte: Faculdade de Educação da UFMG, abr. 2010.
COELHO, Maria Betty. Contar histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Editora Ática,
1991.
LIMA, Fabiana de Oliveira; SILVA, Marília Nilson Rogério da. O perfil dos alunos da
educação de jovens e adultos hoje: tempos de inclusão. UNESP/Marília, 2013. 12 pág.
História
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia
das Letras, 2019.
SANTOS, Joel Rufino dos. “Não tenho medo do racismo”. Entrevista concedida. In:
ANDRADE, Rosa Maria T. (Org.). Aprovados: cursinho pré-vestibular e população
negra. São Paulo: Selo Negro Edições, 2002.
Referência temática
EMONJÁ, Mãe Beata de. Caroço de dendê - a sabedoria dos terreiros: como ialorixás e
babalorixás passam conhecimentos a seus filhos. Rio de Janeiro: Pallas [1997] 2008.
NATÁLIA, Lívia. Água Negra e outras Águas. EPP Publicações e Publicidade, 2016.
SALES, Cristian Souza de. Lívia Natália: a poesia negra feminina de abébé nas mãos.
In:AUGUSTO, Jorge (org). Contemporaneidades periféricas. Salvador: Editora
Segundo Selo, 2018. p. 389-418.
Referência técnica
Barros, G. C.; Menta, E. (2007) Podcast: produções de áudio para educação de forma
crítica, criativa e cidadã. Revista de Economia Política de las Tecnologías de la
Información y Comunicación, IX, n. 1, pp. 74-89.
CARVALHO, Ana Amélia Amorim,& Moura, Adelina Maria Carneiro. Podcast:
Potencialidades na Educação. Disponível em: http://prisma.cetac.up.pt/artigospdf/5
-adelina-moura-e ana-amelia-carvalho-prisma.pdf. Acesso em 20/03/2021
Quibungo;
Realeza africana;
Comida de preto;
Histórias que não saem da nossa cabeça;
Nyagara Chena, um passeio entre Moçambique e Zimbábue;
O anel do rei;
Os três velhos e a sabedoria;
Cozinhando histórias;
Kianda e os encantos da kalunga;
Encantos da Bahia;
O casamento da princesa;
São Tomé e Príncipe;
Saco vazio não para em pé.
A árvore de baobá