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UNIVERSIDADE POLITÉCNICA

A POLITECNICA

Instituto Superior de Estudos Universitários de Nampula – ISEUNA


Licenciatura em: Psicologia Clínica - 1º Ano

Tema: Bases neuroendocrinas dos comportamentos. Fisiologia comportamental. Bases


neurofisiologicas do pensamento

Muaija A.I. Cardoso

Nampula
2020

1
Muaija A.I. Cardoso

Tema: Bases neuroendocrinas dos comportamentos. Fisiologia comportamental. Bases


neurofisiologicas do pensamento

Trabalho de caracter
avaliativo de cadeira de:
Neuroanatomia e
neurofisiologia humana
leccionado pelo Docente
Rogerio Mulumba

Docente Rogerio Mulumba

Nampula

2020

2
ÍNDICE

ABREVIATURA..............................................................................................................3
INTRODUÇÃO.................................................................................................................5
Objectivo Geral:................................................................................................................5
Objectivos específicos:......................................................................................................5
I. BASES NEUROENDROCRINAS DOS COMPORTAMENTOS............................7
II. 1 Hipotálamo.............................................................................................................8
II.2 Relações entre os sistemas nervoso e endócrino.....................................................8
II.3 O controle hipotalâmico dos comportamentos motivacionais e a sobrevivência
dos seres humanos.........................................................................................................9
II. FISIOLOGIA COMPORTAMENTAL..................................................................12
III. BASES NEUROFISIOLOGICAS DO PENSAMENTO......................................14
III.1 Fenômenos fundamentais da neurofisiologia......................................................20
A transmissão de sinais................................................................................................20
A plasticidade neural...................................................................................................20
A produção do liquor...................................................................................................21
O pensamento..............................................................................................................21
CONCLUSÃO.................................................................................................................22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................23

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ABREVIATURA

ADH - Vasopressina (hormona Antideuretica)

OT - Oxitocina

SNC - Sistema Nervoso Central

SNA - Sistema Nervoso Autónomo

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INTRODUÇÃO
Todo comportamento é observável e muitas reagimos a estímulos da maneira com que
fomos condicionados, o que não impede de desenvolvermos comportamentos
imprevisíveis diante de determinadas situações, cada pessoa ter sua personalidade e age
de acordo com os valores morais que lhe são repassados na cultura em que está inserida.
Como se sabe temos uma parte do cérebro que é responsável pelo nosso comportamento
e o funcionamento cerebral determinará a fisiologia deste comportamento.
A fisiologia do comportamento nos ajuda a compreender como acontecem as alterações
de memória, pensamento e cognição. Podemos citar ainda as pessoas portadoras de
alguma psicopatologia, estudos indicam que alterações cerebrais podem ser os
responsáveis por estas doenças que prejudicam tanto a mente do homem.

O desenvolvimento recente que as neurociências têm experimentado leva-nos a uma


aproximação, a passos largos, do conhecimento do funcionamento do cérebro. Embora
grande parte destes estudos tenha sido realizada em animais, as evidências obtidas têm
contribuido, sobremaneira, para o nosso entendimento das bases neuro-humorais do
comportamento humano. Nesse sentido, com base na literatura pertinente, este livro
constitui-se em uma abordagem objetiva dos principais tópicos da chamada
neurociência comportamental. Tendo em vista que o volume de informações nessa área
cresce a uma velocidade impressionante, os esforços para sistematizar os conhecimentos
adquiridos neste campo tornam-se cada vez mais necessários e importantes. Quais
circuitos neurais são ativados? Que alterações químicas ou humorais ocorrem em nosso
cérebro quando emitimos um determinado comportamento, quando sentimos medo, dor
ou prazer, ou ainda quando memorizamos uma informação? Como o nosso cérebro se
organizou ao longo da escala evolutiva, para determinar o nível de consciência que
possuímos? Esse livro apresenta, dentro do contexto científico, os resultados obtidos
nos principais estudos realizados para responder a essas e outras tantas questões dessa
natureza. Ao mesmo tempo destaca como foram feitas as decobertas relevantes de modo
a suscitar a análise crítica do estudante e encorajálo na carreira de pesquisador.

Objectivo Geral:
 Abordar sobre as bases neuroendocrinas dos comportamentos

Objectivos específicos:
 Explanar acerca da fisiologia comportamental;

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 Debruçar sobre as bases neurofisiologicas do pensamento

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I. BASES NEUROENDROCRINAS DOS COMPORTAMENTOS

Os comportamentos motivados são aqueles fundamentais para a sobrevivência do


indivíduo ou da espécie, e portanto acompanhados de alto grau motivacional, tais como,
os comportamentos alimentar, reprodutor e defensivo.

O desenvolvimento recente que as neurociências têm experimentado leva-nos a uma


aproximação, a passos largos, do conhecimento do funcionamento do cérebro. Embora
grande parte destes estudos tenha sido realizada em animais, as evidências obtidas têm
contribuido, sobremaneira, para o nosso entendimento das bases neuro-humorais do
comportamento humano.

Neuroendocrinologia
Tradicionalmente, o sistema endócrino tem sido distinguido do sistema nervoso pelo
facto deste último estar em contacto com os locais-alvo da sua acção através de células
muito especializadas (os neurónios). Estas células transportam e transmitem sinais
químicos às células sobre as quais actuam. O neurotransmissor, o qual medeia a
transmissão sináptica entre dois neurnios, é sintetizado no corpo celular (soma) do
neurónio e depois é transportado através do axónio onde é armazenado em vesículas e
libertado após despolarização da membrana.

A interacção entre os neurónios verifica-se na fenda sináptica, onde o neuro-transmissor


é libertado e se liga a receptores específicos na membrana pós-sináptica. Assim os
neurotransmissores não são transportados na circulação e actuam de uma forma
parácrina. Isto permite ao sistema nervoso libertar elevadas concentrações de
neurotransmissor para um alvo sem afectar outros loci.

A Neuroendocrinologia é a ciência cujo objecto de estudo é constituído pela interacção


entre os sistemas nervoso e endócrino. A mesma molécula pode ser um
neurotransmissor ou uma hormona; por exemplo, as catecolaminas quando libertadas
pela medula adrenal constituem hormonas e quando libertadas pelos terminais nervosos
constituem neurotransmissores. O próprio sistema nervoso central produz um certo
número de hormonas, como por exemplo: TRH, CRH, As interacções entre estes dois
importantes sistemas vão constituir o principal de regulação do comportamento
alimentar principalmente através do eixo hipotálamo-hipofisário.

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II. 1 Hipotálamo
O hipotálamo é a divisão do diencéfalo que se relaciona com as funções viscerais,
autónomas e endócrinas. Todas estas funções estão intimamente relacionadas com o
comportamento afectivo e emocional. A protrusão anterior do hipotálamo e o terceiro
recesso ventricular formam o infundíbulo.A porção mais distal do processo infundibular
é a neuro-hipófise.

O hipotálamo desempenha um importante papel na regulação da actividade do lobo


anterior da hipófise através do sistema porta-hipofisário, ou seja, os factores
hipofisotróficos libertados nos terminais neuronais na eminência media na são
transmitidos para a adeno-hipófise através de uma restrita rede vascular, determinando
assim a sua actividade.

II.2 Relações entre os sistemas nervoso e endócrino


A interface neuroendócrina é realizada, como já foi referido, entre o hipotálamo e a
hipófise. O hipotálamo é constituído por uma variedade de núcleos, que contêm grupos
de células especializados na produção de determinada(s) hormona(s). O hipotálamo
contém dois grandes grupos de células neurosecretoras que propagam potenciais de
acção, libertam hormonas, ereguladas pelas informações hormonais e nervosas que
chegam ao cérebro. Os axónios magnocelulaes libertam vasopressina (ADH) e oxitocina
(OT) através dos seus terminais nervosos directamente na porção posterior da hi-pófise,
neuro-hipófise.

O hipotálamo recebe uma projeção muito específica originada na retina, que termina no
núcleo supraquiasmático (ciclo dia-noite).

Hipotálamo - Temperatura Corporal

Nosso organismo trabalha o tempo todo para manter a temperatura corporal próxima a
37 °C.

Quando a temperatura ambiente é fria ou quente, sentimos uma sensação desconfortável


(estados motivacionais) e tomamos certas providências (comportamentos motivados).

Hipotálamo - Fome

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Déficit nutricional - estado motivacional chamado fome e leva o indivíduo a comer.
Presença de nutrientes em abundância saciedade e levaria a pessoa a parar de se
alimentar.

Regulação Alimentar

O hipotálamo recebe informações sobre a quantidade de nutrientes presentes no trato


gastrointestinal, na circulação sanguínea e daqueles acumulados nos tecidos de reserva.

Neurobiologia da Fome

A ingestão alimentar é estimulada quando os primeiros alimentos chegam à boca, e


inibida quando a absorção começa, no intestino.

Hormônio secretado pelas células do tecido adiposo \u2013 leptina - atua no hipotálamo
informando-o da quantidade de gordura acumulada no organismo.

II.3 O controle hipotalâmico dos comportamentos motivacionais e a sobrevivência


dos seres humanos
Motivação ou estado motivacional é um impulso interior que nos leva a
comportamentos que garantem a nossa sobrevivência, em primeira instância. Esse
estado corporal, em muitos casos, não está atrelado a funções cognitivas ou emocionais.
Eles nos levam a realizar tarefas que estão correlacionadas ao prazer e a homeostase
corporal. Suas funções executivas são conhecidas como comportamentos motivados,
pois são o resultado de uma motivação interna. Mas, qual a função do hipotálamo no
controle dos estados motivacionais na sobrevivência da espécie humana?

A fome, a sede, o frio e o calor são grandes exemplos de estados motivacionais que
funcionam como estados de alerta para os indivíduos. Todos esses sinais são gerados
com o objetivo de manter a homeostase corporal. Entende-se por homeostase a
capacidade que o corpo humano apresenta de manter o equilíbrio hidroeletrolítico e
térmico entre o meio intra e extracelular de forma a garantir a sobrevivência dos seres
vivos. Estes conjuntos de fenômenos fisiológicos são considerados estados
motivacionais elementares.

Entretanto, outros estados motivacionais não estão relacionados a motivações


elementares, mas podem ter relação com necessidades fisiológicas ou aspirações
subjetivas, como por exemplo, o sexo e o anseio por objetos materiais. Neste caso, a

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busca pelo prazer é considerada também uma motivação interna característica
principalmente da espécie humana. Portanto, o prazer também é um estado
motivacional.

Já os comportamentos motivados são gerados por um estado de alerta corporal que


levam a tomadas de decisões com o objetivo principal de reduzir a tensão inicial ou
gerar uma sensação de bem-estar. Eles são os resultados das ações dos estados
motivacionais. Logo, todas as necessidades internas humanas levam a comportamentos
cuja principal finalidade são: a homeostasia e a busca pelo prazer.

Dessa maneira, com o objetivo de explicar os fenômenos que estão associados aos
estados motivacionais e aos comportamentos motivados, neurocientistas realizaram um
série de estudos neurobiológicos que mostram a correlação com a ativação do
hipotálamo.

O hipotálamo é uma estrutura diencefálica que se localiza abaixo do tálamo. Formado


por um conjunto de núcleos e feixes, o hipotálamo se comunica com estruturas
importantes do sistema nervoso central (SNC), sistema nervoso autônomo (SNA) e o
sistema endócrino. Responsável pelo controle da temperatura corporal, da homeostase,
centro da fome e da sede, esta pequena região também secreta hormônios que controlam
diretamente a hipófise e indiretamente diversos órgãos vitais.

Estudos científicos revelam que lesões no hipotálamo podem levar a quadros de extrema
desmotivação, tais como, afagia (interrupção da ingestão de alimentos) e adipsia
(interrupção da ingestão de líquidos), ocasionando a perda ou inibição da motivação
interna. Em contrapartida, experimentos com estimulação elétrica cerebral ou infusão de

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neurotransmissores mostram que pequenas descargas elétricas na região hipotalâmica
estimulam o hipotálamo ocasionando a realização de comportamentos motivados.

Em estudos posteriores cientistas observaram que estados motivacionais de prazer


estariam associados ao sistema mesolímbico e as fibras feixe prosencefálico medial,
principalmente as vias dopaminérgicas.

Dessa maneira, os cientistas chegaram à conclusão que o hipotálamo é o centro


ordenador de comportamentos motivados ou o grande coordenador da homeostasia
corporal.Sua função é vital para regular os mecanismos de equilíbrio térmico e
hidroeletrolítico corporal, possibilitando as funções orgânicas que garantem a
sobrevivência dos indivíduos.

Comandos Neuroendócrinos

Na neuro-hipófise - secreta dois peptídeos - a vasopressina e a ocitocina, que atuam nos


rins (vasopressina) e na musculatura do útero (ocitocina).

Neumann (2007) constatou que liberações de ocitocina ocorrem no interior da amígdala


e do septo, regiões do sistema límbico, indicando relação do efeito da ocitocina sobre
determinadas emoções. Machado (2000) - corpo amigdaloide possui funções variadas:

 Comportamento alimentar ou atividade visceral;

Manifestações emocionais relacionadas à agressividade ou de natureza sexual, reações


de fuga ou de defesa ,Sentimento de medo.

Comandos Neuroendócrinos relacionado com os centros do prazer no cérebro;

Lesões no septo - hiperatividade emocional, ferocidade e raiva.

Esch e Stefano (2005) consideram o amor como um complexo neurobiológico baseado


no prazer e na recompensa, envolvendo necessariamente o sistema límbico.Envolve a
atuação da ocitocina, vasopressina, dopamina, sinalizadores serotonérgicos, além de
outros.

 Comportamentos Afiliativos

A cópula produz gravidez em todas as espécies animais, e pode provocar


comportamentos sociais chamados afiliativos (macho e fêmea formam um par
relativamente estável, preparando-se para receber o(s) filhote(s).

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Comportamentos afiliativos de formação de grupos parentais (casais, famílias) criam
também um conjunto de sentimentos prazerosos que contribuem para a manutenção
desses laços.

Estudos com animais mostram que há genes que produzem hormônios capazes de
influenciar circuitos neuronais específicos, que determinam a expressão de
comportamentos apetitivos de pineal ou epífise.

 Relógio epitalâmico e o ritmo das estações

A pineal é um marcapasso – infradiano (circanual) - comportamento reprodutor de


muitos animais, o fenômeno da hibernação e outros.

II. FISIOLOGIA COMPORTAMENTAL


A relação entre a análise do comportamento e sistemas diversos para a explicação do
comportamento humano pode ser abordada sob duas perspectivas, a princípio distintas.
A análise do comportamento pode ser confrontada com modelos tipicamente
psicológicos, mas claramente concorrentes, por exemplo, o cognitivismo (cf. Flora &
Kestner, 1995; Moore, 1975; 1981; Overskeid, 1994; Skinner, 1985, 1989c; Stemmer,
1995) e pode ser confrontada com disciplinas afins, mas independentes, como exemplo,
a fisiologia (cf. Baer, 1996; Bullock, 1996; Donahoe, 1996; Donahoe & Palmer, 1994;
Moore, 1997; Poling & Byrne, 1996; Reese, 1996a, 1996b). Pode-se supor que, no
primeiro caso, a questão é de opção entre perspectivas irreconciliáveis de análise,
enquanto, no segundo, o problema é meramente de demarcação de fronteiras. Esta
formulação pode ser insuficiente diante de versões do cognitivismo que se apropriam do
conhecimento construído no âmbito das neurociências, tornando-o parte de seus
recursos explicativos para o comportamento humano (cf. Skinner, 1990). Uma análise
do debate sobre as relações entre análise do comportamento e fisiologia mostra também
que a questão é polêmica, mesmo quando não se transita para o campo das teorias
cognitivistas (cf. Tourinho, 1999).

O tema dos eventos privados está entre aqueles que assumem certa centralidade quando
as relações entre análise do comportamento e fisiologia são discutidas, em parte devido
à freqüente definição skinneriana de privado como evento interno. Tourinho (1997)
aponta algumas dificuldades geradas por aquela definição, bem como sua insuficiência

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diante de princípios mais básicos que orientam a interpretação behaviorista radical para
o comportamento humano complexo. Uma vez que a identificação do privado com o
aparato anátomo-fisiológico se mostra problemática, especialmente porque pode
favorecer novas versões de internalismo, interditando as análises tipicamente
externalistas e relacionais que caracterizam o recorte de uma ciência do comportamento,
mostra-se ainda necessário esclarecer como se organiza a referência à fisiologia numa
interpretação behaviorista radical para os eventos privados.

Admitindo-se que as afirmações skinnerianas a respeito do assunto não são sempre


consistentes (cf. Hayes, 1994; Reese, 1996a; Tourinho, 1997), não se pretende reiterar
os problemas derivados da associação eventual entre privado e interno. O objetivo deste
trabalho foi identificar, em textos do próprio Skinner sobre eventos privados, elementos
para uma demarcação mais precisa das fronteiras entre análise do comportamento e
fisiologia. O estudo teve como base textos de Skinner (de 1945 a 1990) nos quais a
problemática dos eventos privados é abordada. As referências à fisiologia foram
categorizadas e analisadas em seis temas: as variáveis biológicas como constitutivas,
mas não definidoras do fenômeno comportamental privado; a autonomia do recorte
analítico-comportamental diante dos fatos biológicos/ fisiológicos; os limites do
controle do comportamento por eventos internos/fisiológicos; o comportamento privado
como comportamento do organismo como um todo; a distinção entre localização,
acesso, contato e conhecimento; e a preservação do recorte analíticocomportamental em
situação de análise aplicada do comportamento. Por meio da análise de como estes
temas se articulam no discurso skinneriano sobre eventos privados, pretende-se sugerir
tanto a possibilidade de uma leitura coerente da independência e complementaridade
entre análise do comportamento e fisiologia, quanto algumas condições para tal relação.

Três sistemas nervosos são apontados por Skinner (1974) como requeridos para o
contato dos indivíduos com o ambiente, inclusive suas condições corporais: o sistema
interoceptivo (através do qual o indivíduo entra em contato com estimulações derivadas
dos sistemas digestivo, respiratório e circulatório), o sistema proprioceptivo (através do
qual o indivíduo entra em contato com estimulações de músculos, tendões, juntas, etc.,
particularmente envolvido na discriminação da posição e movimento do corpo) e o
sistema exteroceptivo (através do qual o indivíduo entra em contato com estimulação
presente no ambiente circundante). Os estímulos que afetam o organismo através
daqueles sistemas são designados, correspondentemente, estímulos interoceptivos,

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proprioceptivos e exteroceptivos. Quando o indivíduo sente algo interno, segundo
Skinner, está reagindo discriminativamente a estímulos interoceptivos e
proprioceptivos. Dentre as coisas internas que são sentidas, há os estímulos
proprioceptivos e interoceptivos - Também sentimos o comportamento, incluindo o
comportamento muito fraco e as condições que precedem ou estão associadas com o
comportar-se (Skinner, 1963/1969, pp. 255-256). A análise das emoções pode basear-se
nesta interpretação. Por exemplo, respostas reflexas autonômicas a estímulos
condicionados estão entre as emoções sentidas por exemplo, a ‘ansiedade’ evocada por
um estímulo préaversivo (Skinner, 1963/1969, p.256).

III. BASES NEUROFISIOLOGICAS DO PENSAMENTO


O estudo das bases neurofisiológicas da atividade mnésica funda-se na compreensão da
unidade dialética dos aspectos psicológicos e fisiológicos no processo integral do
comportamento. Como observou Vygotski (1991, p. 99-100, tradução nossa), a psique
não está situada para além da natureza, mas é uma parte desta, “[...] ligada diretamente
às funções da matéria altamente organizada de nosso cérebro [...]”. Nesse sentido, a
psique não foi criada, mas despontou do processo de desenvolvimento:

[...] a psique não deve ser considerada como uma série de processos especiais
que existem em algum lugar na qualidade de complementos acima ou a parte
dos cerebrais, mas como expressão subjetiva desses mesmos processos, como
uma faceta especial, uma característica qualitativa especial das funções
superiores do cérebro. (VYGOTSKI, 1991, p. 100, tradução nossa).

O psicólogo bielo-russo esclarece que o reconhecimento da unidade do processo


psíquico e fisiológico significa que a psique surgiu em um dado nível de
desenvolvimento da matéria orgânica. Entretanto, isso não deve conduzir à identificação
entre o psíquico e o fisiológico, mas tão somente ao reconhecimento da unidade
dialética desses componentes na análise do fenômeno em sua totalidade (VYGOTSKI,
1991).

Nessa perspectiva, Luria destaca que a memória humana se ancora em um complexo


sistema de setores cerebrais que atuam em conjunto. O processo de impressão e
retenção de vestígios constitui uma função geral das células nervosas, porém o

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neuropsicólogo russo ressalta que “[...] isto não significa que a atividade mnésica,
complexamente estruturada, envolva todas as partes do cérebro por igual, nem que é
função de todo o córtex cerebral, considerado como um todo indivisível” (LURIA,
1980, p. 22, tradução nossa).

Leontiev (1978, p. 196) observa também que as funções psíquicas não se localizam em
um grupo isolado de células corticais, mas sim em “[...] um sistema cerebral complexo,
cujos elementos, dispostos em diversas zonas no cérebro, [...] formam todavia uma
constelação única”.

Em termos neurológicos, as memórias são produzidas pelas células nervosas


(neurônios) em um processo complexo de reações neuroquímicas em cadeia e circuitos
interligados de neurônios. De acordo com o neurocientista Iván Izquierdo (2011, p. 11),
a memória consiste na “[...] aquisição, formação, conservação e evocação de
informações”26. Já os neurocientistas estadunidenses Larry R. Squire e Eric R. Kandel
(2002, p. 10) salientam que “A memória é o processo pelo qual aquilo que aprendemos
perdura no tempo [...]”, aludindo à relação entre aprendizagem e memória.

Todavia, para compreendermos como esse processo se estabelece neurologicamente,


faz-se necessário a indicação de algumas noções sobre o funcionamento dos neurônios.
Squire e Kandel (2002) assinalam que as células nervosas constituintes do cérebro são
notáveis dispositivos de sinalização subjacentes a todos os aspectos relacionados à
nossa vida mental. Essa sinalização se faz possível porque as células nervosas (Figura 4)
têm prolongamentos a partir dos quais estabelecem as redes neuronais que armazenam,
evocam e modulam as memórias (IZQUIERDO, 2011).

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Figura 1: Célula Nervosa

(Fonte: SQUIRE; KANDEL, 2002, p. 40)

Cada neurônio contém quatro componentes: um corpo celular, um número de dendritos,


um axônio e um conjunto de terminações do axônio denominadas terminais pré-
sinápticos. O corpo celular contém o núcleo com o DNA que codifica os genes da célula
nervosa, situando-se na parte globular central do neurônio. Do corpo celular derivam-se
dois tipos de filamentos designados axônio e dendritos. O axônio, componente de saída
dos neurônios, constitui o prolongamento que emite informação por meio de sinais
elétricos aos dendritos, os quais são, por sua vez, ramificações de outros neurônios,
geralmente em forma de árvore, que atuam como receptores desses sinais elétricos. Em
sua extremidade, o axônio se divide em ramificações finas chamadas terminais pré-

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sinápticos e através do contato estabelecido por esses com as superfícies receptoras
especializadas de outras células, comumente situadas nos dendritos, ocorre a
transmissão de informações da célula nervosa (SQUIRE; KANDEL, 2002;
IZQUIERDO, 2011).

Para tanto, nas terminações do axônio, isto é, nos terminais présinápticos, há substâncias
químicas denominadas neurotransmissores que realizam essa “transferência” de
informação em virtude de os neurônios estarem separados pelas fendas sinápticas. Entre
os principais neurotransmissores envolvidos com os processos de memória estão: o
glutamato, o GABA (sigla em inglês para o ácido gama-aminobutírico), a dopamina, a
noradrenalina, a serotonina e a acetilcolina. Do lado dos dendritos, existem os
receptores, moléculas de proteínas específicas para cada neurotransmissor, que se
dividem em duas classes gerais: excitadores e inibidores. Como a corrente produzida
pelos sinais elétricos na célula pré-sináptica não pode transpor, de modo direto, a fenda
sináptica para ativar a célula-alvo, ocorre um processo de transformação dos sinais
elétricos em sinais químicos no neurônio pré-sináptico e dos sinais químicos em sinais
elétricos no neurônio pós-sináptico. Esses pontos de intercomunicação entre os
neurônios chamam-se sinapses, neles ocorre a maior aproximação entre as terminações
axônicas e dendríticas (SQUIRE; KANDEL, 2002; IZQUIERDO, 2011).

A força das ligações sinápticas não é fixa, mas sim plástica e sujeita a alterações pela
atividade neuronal. O processo de aprendizagem pode modificar os padrões e
intensidades dos sinais elétricos que geram a atividade cerebral e, como consequência
dessa modificação, os neurônios podem modular sua capacidade de comunicação entre
si. “A persistência destas alterações na comunicação sináptica básica – uma propriedade
funcional chamada plasticidade sináptica – pode fornecer os mecanismos elementares
para o armazenamento da memória” (SQUIRE; KANDEL, 2002, p. 44). Sobre esse
aspecto, destacamos que Vigotski (2009) também aponta a plasticidade da substância
nervosa como a base orgânica da atividade reprodutiva ou da memória.

O cérebro humano tem cerca de 80 bilhões de neurônios, “[...] os do córtex cerebral


recebem entre mil e 10 mil conexões – sinapses – procedentes de outras células
nervosas, e emitem prolongamentos que fazem conexão com outros dez a mil
neurônios” (IZQUIERDO, 2010, p. 23). Consequentemente, há muitas possibilidades de
intercomunicação entre os neurônios, sendo que cada uma delas pode compor
memórias. Além disso, cada sinapse pode participar de várias memórias distintas.
17
Uma das perspectivas da moderna biologia da memória é a descoberta de que a
ligação individual efectuada entre dois neurónios é uma unidade elementar de
armazenamento em memória. Desta forma, as 1014 ligações existentes no
cérebro humano fornecem-nos um indicador rudimentar da nossa capacidade
máxima de armazenamento em memória. (SQUIRE; KANDEL, 2002, p. 37).

Não obstante, Squire e Kandel (2002) assinalam que o desenvolvimento da


compreensão acerca dos mecanismos de armazenamento da memória, ou seja, das
alterações na sinalização entre os neurônios decorrentes das atividades das moléculas no
interior das células nervosas, beneficiou-se das descobertas realizadas pelas pesquisas
biológicas nas células do caracol marinho Aplysia (animal invertebrado simples), bem
como dos estudos genéticos na mosca da fruta Drosophila e em pequenos ratos. Outra
fonte significativa de dados acerca da estrutura e organização da memória
especificamente humana reside nas pesquisas sobre as perturbações ou alterações da
memória do homem, tais como as síndromes amnésicas e hipermnésicas27 .

Os neurocientistas estadunidenses destacam que não há apenas uma única região no


cérebro dedicada às memórias, visto que estas se encontram amplamente distribuídas,
contando com a participação de diferentes sistemas cerebrais. No entanto, regiões
cerebrais distintas possuem funções especializadas, contribuindo de maneira diversa
para o armazenamento das memórias; compreensão essa também expressa por Luria
(1980).

Squire e Kandel (2002) observam que ainda não é possível estabelecer exatamente
quantos sistemas de memória existem na mente e sua designação, porém há um
consenso sobre os principais sistemas de memória e as áreas cerebrais mais relevantes
para tais sistemas. Os vários esquemas de classificação de memória geralmente utilizam
termos diversos para a mesma distinção básica. Segundo Izquierdo (2010, 2011), as
principais classificações referem-se ao seu conteúdo, à sua função e ao seu tempo de
duração.

No que concerne ao seu conteúdo, as memórias classificam-se em declarativas e


procedurais. As memórias declarativas, também denominadas memórias explícitas ou
conscientes, consistem no registro de fatos, eventos, ideias ou conhecimentos a respeito
dos quais os seres humanos podem declarar sua existência e narrar como as adquiriram,
ou seja, podem ser convertidas “[...] em recordações conscientes sob a forma de
proposição verbal ou de imagem visual” (SQUIRE; KANDEL, 2002, p. 23).

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As memórias declarativas se subdividem em episódicas ou autobiográficas e
semânticas, a saber: as episódicas relacionam-se com eventos assistidos ou participados
pelo indivíduo, logo são todas autobiográficas. Além disso, registram marcos temporais
e espaciais relativos ao tempo e ao espaço em que o evento aconteceu, característica que
não aplica às memórias semânticas. Estas se referem a conhecimentos gerais e fatos e
não a eventos passados, como no caso das episódicas. As memórias episódicas são
consideradas caracteristicamente humanas, pois ainda não está claro até que ponto os
animais irracionais possuem a capacidade de criar esse tipo de memória, embora
consigam recordar-se de fatos (memória semântica) (SQUIRE; KANDEL, 2002;
IZQUIERDO, 2011).

A distinção entre memória de episódios (a memória para determinados tempos


e lugares) e a memória semântica (memória de factos) é útil. Pensa-se que o
conhecimento semântico seja acumulado em locais de armazenamento
corticais, simplesmente como consequência da experiência e apoio do lobo
temporal médio. Por outro lado, julga-se que a memória de episódios exija
estes locais corticais, em conjugação com os lobos temporais médios, para
trabalhar com os lobos frontais e armazenar o tempo e o lugar em que ocorreu
a experiência passada. (SQUIRE; KANDEL, 2002, p. 114).

De acordo com Izquierdo (2011), o hipocampo e o córtex entorrinal constituem as


principais estruturas nervosas do lobo temporal referentes às memórias declarativas
episódicas e semânticas, trabalhando de maneira associada e em interação com outras
regiões do córtex.

Squire e Kandel (2002) afirmam que diversos fatores influenciam a natureza e a


extensão da codificação das memórias declarativas no momento da aprendizagem,
determinando se algo percebido será depois lembrado ou não, tais como o número de
repetição de um fato ou evento, a sua relevância, em que medida é possível organizá-lo
e relacioná-lo com conhecimentos já adquiridos e até que ponto se ensaiou o material
desde sua primeira ocorrência. Dessa forma, quando a codificação é elaborada e
profunda, a memória será mais forte e duradoura do que aquela gerada por uma
codificação limitada e superficial. Embora esta conclusão seja evidente, ela revela um
princípio de aprendizagem amplo e fundamental:

Lembramo-nos melhor quanto mais completamente processamos uma nova


matéria. A memória é tanto melhor quanto melhor for a razão para estudarmos,
quanto mais gostarmos do que estudamos e quanto mais conseguirmos aplicar
da nossa personalidade no momento da aprendizagem. Mesmo quando a
aprendizagem parece não exigir qualquer esforço [...], não é tão automática
como parece ser. Determinadas imagens, cenas e momentos são lembrados

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porque nos interessam. Nestes casos, lembramo-nos de forma nítida porque
desencadeamos espontaneamente uma codificação profunda e elaborada, bem
como um ensaio, ou seja, recordamos inúmeras vezes o evento na nossa mente.
(SQUIRE; KANDEL, 2002, p. 79).

Quando não há um esforço para registrar experiências, a natureza e a força da memória


sofrem a influência de nossos interesses e preferências que direcionam nossa atenção,
determinando a quantidade e a qualidade da codificação. Por outro lado, no contexto de
uma aprendizagem intencional e não acidental, quando procuramos especificamente
lembrar, a probabilidade de obtermos uma memória forte e duradoura aumenta,
incluindo complexos processos de codificação. (SQUIRE; KANDEL, 2002).

III.1 Fenômenos fundamentais da neurofisiologia


Existem 4 fenômenos fundamentais da neurofisiologia que é Comunicar, adaptar,
sustentar e compreender

Mais representativos da funcionalidade do sistema nervoso, os fenômenos mentais,


psíquicos ou neurológicos, se preferir, ocorrem como parte de sua fisiologia natural.
Desde a produção do liquor, ao fenômeno da excitabilidade neuronal propriamente dito,
o pensamento, a plasticidade neural, as emoções, como raiva, medo, agressividade e
afetividade, os fenômenos cognitivos, os vários aspectos do comportamento, como um
músculo do corpo que se contrai respeitando uma ordem do pensamento. Os fenômenos
neurológicos são inúmeros e quatro deles, fundamentais, serão apresentados neste
artigo.

A transmissão de sinais
Quando um neurônio recebe um estímulo, se este é “forte” o suficiente, produzirá um
impulso nervoso. O impulso nervoso corresponde a uma corrente elétrica que percorre o
axônio até os botões sinápticos. O impulso nervoso precisa encontrar a membrana numa
condição denominada potencial de repouso (-70 mV); uma vez iniciado, se auto
propagará. Os potenciais capazes de gerar tal transmissão de sinal são denominados
potenciais de ação (> 15 mV). Os sinais elétricos que percorrem neurônios, sinapses,
órgãos receptores e efetores constituem a base da comunicação, em todas as suas
instâncias.

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A plasticidade neural
Esta é definida como a capacidade que o sistema nervoso tem de mudar em resposta às
exigências do ambiente em que se encontra. É um fenômeno que depende de mudanças
microestruturais nos próprios neurônios, morfológicas e fisiológicas. O termo também
pode ser definido, quando ocorre nas sinapses, de plasticidade sináptica. Especialmente
as sinapses ao sofrerem o fenômeno plástico, ou ficam “fortalecidas”, reforçadas pelo
fenômeno de potenciação, ou se desfazem pela retração e protrusão dendríticas. Sem a
plasticidade neural, não aprendemos, simplesmente não nos adaptamos.

A produção do liquor
O liquor sustenta e protege o cérebro contra eventuais choques mecânicos. Além disso,
também desempenha um papel imunológico, servindo como veículo para nutrientes e
agentes de defesa contra infecções. O liquor é produzido pelo plexo coroide e, após
circular pelo interior do cérebro, é absorvido pelo sistema de drenagem venoso. Cerca
de 100-150 ml são produzidos diariamente. Durante séculos se acreditou que o sistema
ventricular era onde a alma estava alojada. O estudo do sistema ventricular e da
neurofisiologia do liquor, tão importante para o sistema nervoso central, prova que a
absorção de impactos e a proteção são básicas para qualquer processo, por mais
complexo que ele seja.

O pensamento
Segundo Jolivet, o pensamento é a capacidade que tem o ser de, através de três
operações mentais distintas, a formação de ideias, o juízo sobre as relações de
conveniência entre essas ideias e o raciocínio, que estabelece relações entre os juízos,
compreender o significado das coisas concretas e das abstrações, bem como das
relações que elas guardam entre si. Filosofias à parte, é através do pensamento que o ser
humano dá conta de sua existência e do seu papel social.

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CONCLUSÃO
A definição das condições de independência e complementaridade entre análise do
comportamento e fisiologia tem se mostrado um assunto polêmico na literatura
behaviorista radical e parece demandar, para ser equacionada, uma elaboração teórica
consistente, como também (e, talvez, principalmente) pesquisa empírica sistemática,
especialmente na área de aplicação clínica, onde o modelo analítico-comportamental
apenas recentemente começou a ser explorado com maior intensidade (e onde as
práticas culturais também - favorecem fortemente recortes internalistas). É possível
dizer que a polêmica se alimenta parcialmente de afirmações de Skinner, que, como
reconhecido no início deste texto, não são sempre coerentes. Mas exatamente dos
escritos de Skinner é possível derivar elementos que orientem de forma coerente a
demarcação das fronteiras entre as duas ciências.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEONTYEV, A. N. The development of mind. Pacifica, CA: Marxists Internet Archive,
2009. Disponível em: . Acesso em: 02 nov. 2013.

LURIA, A. R. Curso de psicologia geral. Atenção e memória. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 1991. v. 3.

IZQUIERDO, I. A arte de esquecer: cérebro e memória. 2. ed. Rio de Janeiro: Vieira et


Lent, 2010.

SQUIRE, L. R.; KANDEL, E. R. Memória: da mente às moléculas. Porto: Porto


Editora, 2002.

VIGOTSKII, L. S. “Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar”. In:


_______; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2014.

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