Você está na página 1de 2

Filosofia

Professor Cristian Rodrigues

Psicanálise e a Diferença: o outro em perspectiva filosófica

Turma: 3° Termo EJA – Ensino Médio

Texto I - “Mal-estar na Civilização”


Evidentemente não é fácil, para os homens, renunciar à gratificação de seu pendor à agressividade;
não se sentem bem ao fazê-lo. Não é de menosprezar a vantagem que tem um grupamento cultural
menor, de permitir ao instinto um escape, através da hostilização dos que não pertencem a ele. Sempre
é possível ligar um grande número de pessoas pelo amor, desde que restem outras para que se
exteriorize a agressividade. Certa vez discuti o fenômeno de justamente comunidades vizinhas, e
também próximas em outros aspectos, andarem às turras e zombarem uma da outra, como os espanhóis
e os portugueses, os alemães do norte e os do sul, os ingleses e os escoceses etc. Dei a isso o nome de
“narcisismo das pequenas diferenças”, que não chega a contribuir muito para seu esclarecimento.
Percebe-se nele uma cômoda e relativamente inócua satisfação da agressividade, através da qual é
facilitada a coesão entre os membros da comunidade. O povo judeu, espalhado em toda parte,
conquistou desse modo louváveis méritos junto às culturas dos povos que o hospedaram. Infelizmente,
todos os massacres de judeus durante a Idade Média não bastaram para tornar a época mais pacífica e
segura para seus camaradas cristãos. Depois que o apóstolo Paulo fez do amor universal aos homens
o fundamento de sua congregação, a intolerância extrema do cristianismo ante os que permaneceram
de fora tornou-se uma consequência inevitável. (FREUD, S. Mal-Estar na Civilização. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000. p. 52). Destaque do professor.

Questão I – Sigmund Freud, no trecho destacado do ensaio Mal-estar na Civilização,


defende uma de suas teses sobre o
comportamento social. Para este autor,
os seres humanos teriam como
característica natural o impulso para a
violência e para a insubordinação,
privilegiando o prazer individual sobre
as obrigações externas. No
Torcedores do clube de futebol Palmeiras entram desenvolvimento dos vínculos
em conflito com a Polícia Militar nas imediações do
estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda (RJ), familiares, religiosos, militares,
antes de partida do time contra o Fluminense, em
2011. In:DA SILVA, Elio. CHAUÍ, Marilena. Iniciação à nacionais etc., são levados a reprimir a
filosofia: ensino médio, volume único. São Paulo:
Ática, 2013. p. 332.
agressividade com os membros do grupo de que fazem parte. Para Freud, essa repressão,
que torna viável a aliança com um grupo, gera a hostilidade para quem está fora dele. Os
membros de uma torcida de futebol, por exemplo, ignorariam as diferenças que têm entre
si, os conflitos e a hostilidade possíveis dentro do grupo e a externariam para aqueles fora
dele. Assim se desenvolve um narcisismo de pequenas diferenças, ou seja, uma
identificação do grupo gerada pela ampliação de pequenas diferenças (como de times de
futebol) entre indivíduos fora do grupo e aqueles dentro do grupo. Baseado no texto
selecionado e nas suas vivências anteriores, responda:

a) O conceito de “narcisismo das pequenas diferenças” poderia explicar uma desavença


entre torcedores num estádio de futebol?

b) Como você avalia e entende esse tipo de acontecimento?

Você também pode gostar