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Direito das Sucessões

 O que é a Sucessão?
Segundo o conceito romano, significa colocar-se na posição de outrem, ou seja, a
sucessão visava todas as situações nas quais, por morte, era necessário determinar quem
substituía o de cujus na titularidade do seu património. Isto significa que para os
romanos, o que se transmitiam não eram os direitos mas o objeto dos direitos (a res).
Por isso, inicialmente concebiam apenas a sucessão universal que consistia na
perspetiva do chamamento dos sucessores, e só mais tarde começaram a admitir a
sucessão singular que consistia na perspetiva da transmissão dos direitos constituídos.
Nesta dicotomia encontramos o primeiro problema do conceito de sucessão, esta visa
saber quem substitui o de cujus (falecido) na titularidade dos direitos ou determinar
como se transmitem os bens?

Ora bem, olhando para o código civil, e segundo Pires de Lima, baseamos na ideia do
chamamento de uma ou mais pessoas á titularidade das relações jurídico patrimonial de
uma pessoa morta. Já Galvão Telles refere que quando alguém falece, todos os seus
direitos e obrigações que não sejam intransmissíveis por morte se transferem a uma ou
mais pessoas, defendendo assim a transmissão.

 Tipos de Sucessão
 Sucessão Inter-vivos, em que existe apenas a transmissão ou modificação
subjetiva da relação, produz-se em vida do titular, como consequência de um
contrato ou de um outro ato jurídico.

 Sucessão mortis causa, em que a causa da transmissão é a morte, isto é, o


desaparecimento ou a inexistência superveniente do titular. É esta sucessão que
importa e é desta que provêm o conceito de sucessão do código civil: a sucessão
é o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações jurídicas
patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos bens que a
esta pertenciam (art. 2024º). Daqui resulta a natureza patrimonial da questão
sucessória, ou seja, o problema da substituição do titular nos direitos
patrimoniais, e também o esforço em acolher as perspetivas de Pires de Lima
(perspetiva do chamamento) e Galvão Telles (perspetiva da transmissão).

 Espécies de Sucessão
Segundo o código civil, a sucessão é deferida por lei, testamento ou contrato, e é destes
meios que surgem as várias tipologias de sucessão (art.2026º).

Tendo em conta o critério das fontes de vocação sucessória temos:


 Sucessão Legitimária, tem regime imperativo (art.2027º a 2156º)
 Sucessão legítima, tem regime supletivo (art.2027º a 2131º)

 Sucessão Testamentária, transmite-se através do testamento que é um negócio


jurídico unilateral (art.2179º), onde se tem que ter em atenção se o titular teve
uma vontade livre, esclarecida e ponderada.

 Sucessão Contratual, trata-se de um negócio jurídico bilateral (art.2028º e


1700º). Deve-se ter em atenção que tem carater excecional (art.2028º\2), está
ligado ao casamento por convenção antinupcial, é irrevogável após aceitação e o
doador não pode prejudicar o donatário por atos de disposição posteriores.

Deve-se ter em conta que o falecido só pode dispor da quota disponível e qualquer
disposição estabelecida pelas partes contra a lei será nula, nos termos do
art.2028º\2.

Tendo em conta o critério do objeto das sucessões temos:

 Herdeiro – sucede na totalidade ou numa quota do património do falecido


(sucessão universal mortis causa). Assim temos:
o Herdeiros legitimários – cônjuge, descendentes, ascendentes (2157º)
o Herdeiros Legítimos – cônjuge, descendentes, ascendentes, irmãos e seus
descendentes, outros colaterais e o Estado (2133º).
o Herdeiros Testamentários – são aqueles a favor de quem o de cujus
disponha para depois da sua morte (sart.2179º\1)
o Herdeiros Contratuais – quando admitidos excecionalmente
(art.1700º\1).
 Legatário – sucede em bens ou valores determinados. (sucessão singular mortis
causa)

 Partilha
A partilha no fundo significa acabar com a indivisão de bens ou de direitos, isto é, não é
obrigatório permanecer a contitularidade indivisa de uma coisa, por isso admite-se a sua
divisão (art.1412º). Por outro lado, como já vimos não pode existir bens “sem titular”.

 Direito de exigir a partilha

Distingue-se quanto à natureza como um direito irrenunciável (art. 2101º/2), mas pode
convencionar-se a manutenção da indivisão por períodos ≤ 5 anos.
Quanto ao âmbito do direito entende-se que, qualquer herdeiro ou cônjuge meeiro
(que é herdeiro) pode pedir a partilha da herança.
Os cônjuges têm de estar casados de acordo com o regime da comunhão de adquiridos
(art. 1721º ss) ou da comunhão geral (art. 1732º ss) pois, no regime da separação não há
cônjuge meeiro, uma vez que comunhão é diferente de compropriedade e neste caso há
lugar a uma acção de divisão de coisa comum.
Por fim, os herdeiros ou o cônjuge meeiro podem pedir a partilha quando lhes aprouver
(art. 2101º/1), ou seja, não há um prazo certo pois, não há prescrição extintiva (art.
298.º/1) por se entender que a lei isenta, por esta via.

 Modalidades da Partilha
 Partilha judicial, destina-se a pôr termo à comunhão hereditária ou, não
carecendo de se realizar a partilha, a relacionar os bens que constituem objeto da
sucessão e a servir de base à eventual liquidação da herança (art. 2º/1 - Lei
23/2013). Em que termos acontece a partilha judicial? Quando algum dos
interessados não aceitar a partilha extrajudicial (art. 2102º/1), quando algum dos
herdeiros não puder outorgar (art. 2102º/2) e quando o Ministério Público o
requerer (por entender haver interesse do incapaz). Qual é o objeto da partilha
judicial? Todo o inventário judicial tem um carácter divisório, pois visa a
partilha, ou seja, visa pôr termo à comunhão hereditária (art. 2º/1) através da
descrição de bens e eventual liquidação das dívidas da herança e/ou verificação
de inoficiosidades. Compete aos cartórios notariais sediados no município do
lugar da abertura o processamento dos actos (art. 3º/1) e ao tribunal de comarca
do cartório os actos da competência de juiz (art. 3º/7).

 Partilha extrajudicial, é realizada por escritura pública quando se trata de


imóveis (art. 875º e art. 80º cód. notário.) ou de quotas de sociedades de que
façam parte imóveis. Também pode ser realizada através da liberdade de forma
quando não havendo imóveis (a validade das declarações negociais não depende
da observância de forma 219º).

 O novo processo inventário da partilha


Em primeiro lugar, importa referir as diferenças mais significativas relativamente ao
regime anterior.
Desde logo, a principal diferença é (além de um esforço de simplificação) o facto de o
processo já não decorrer no tribunal.
Corre nos serviços de registo ou notariais escolhidos pelos interessados (art. 3º/2), mas
o juiz mantém o controlo do processo (art. 4º/1), intervindo na prática de alguns actos
(art. 4º/2). A representação de incapazes e ausentes faz-se por curador especial a nomear
pelo conservador/notário (art. 9º). O exercício do direito de preferência na venda de
quinhões (art. 17º).
Qual é o procedimento do novo inventário? Bem, este inicia-se com o requerimento
que tem referências essenciais (art. 21º), nomeadamente: identificação do autor da
sucessão, residência, data e o lugar falecimento. A identificação e moradas dos
interessados diretos na partilha. Relação dos bens e eventuais testamentos, convenções
antenupciais ou doações. De seguida procede-se à citação que deve ser feita por CRAR
ou edital (art. 25º). Tem-se uma eventual oposição e decisão dos herdeiros em relação
aos bens (art. 27º - art. 31º) e uma eventual avaliação arbitral em que, os herdeiros
estão de acordo com o valor dos bens ou em conflito e neste caso, o Tribunal atribui um
avaliador (art. 32º). A segunda fase do procedimento inicia-se com a conferência dos
interessados e aqui procede-se à composição dos quinhões (art. 34º/a) e art. 35º), à
aprovação do passivo (art. 34º/b) e art. 36º ss), às licitações (art. 34º/c) e art. 44º ss) aos
pedidos de adjudicação (art. 47º) e às reduções por inoficiosidade (art. 48º ss).
Por fim, a última fase inicia-se com a decisão da partilha (registada na conservatória
ou no notário e comunicada ao juiz (art. 54º e ss) e termina com a sentença
homologatória (art. 60º) que contem o apuramento do total das dívidas, legados e
encargos (art. 55º/1/a) determinação do montante de cada interessado, preenchimento de
cada quota (tendo em conta eventuais preferências (art. 17º) e adjudicação dos bens
licitados aos licitantes (art. 56º) e finalmente as tornas (art. 58º) que tem um regime
simplificado, mas exigente.

 O cálculo do valor total da herança


Após a morte do autor da sucessão deve-se proceder a algumas operações e assim
distingue-se: as operações preparatórias das operações de partilha. Em primeiro lugar
tem-se as operações preparatórias que consistem nas formalidades obrigatórias
subsequentes ao falecimento. Desde logo, a declaração do óbito no registo civil (48
horas) a participação do óbito nas finanças, com relação de bens (90 dias) e escritura de
habilitação de herdeiros (ato formal que identifica os herdeiros). Esta escritura leva ao
problema da determinação, descrição e avaliação dos bens, à liquidação dos
encargos da herança (saber o que se tem, ou não, de pagar) e remissão de direitos de
terceiro: se existirem direitos de terceiro, de natureza remível, sobre determinados bens
da herança, e houver nesta dinheiro suficiente, pode qualquer dos co-herdeiros ou o
cônjuge meeiro exigir que esses direitos sejam remidos antes de efetuada a partilha (art.
2099º).
Em segundo lugar tem-se as operações de partilha que tem em conta quatro
momentos: o primeiro corresponde ao cálculo do valor da herança partilhável e
procede-se à verificação da situação conjugal e eventual meação do cônjuge (nos bens e
encargos da herança: constituída pelos bens próprios, meação dos bens comuns, dívidas
próprias e meação das dívidas comuns. E confere-se a existência de herdeiros
legitimários, através da aplicação das regras imperativas do cálculo da legítima (2162º).
Se não existem herdeiros legitimários o poder de disposição do autor da sucessão é
total, pelo que basta deduzir os encargos da herança (2168º). Se existem herdeiros
legitimários procede-se à avaliação dos bens existentes à data da morte (relicta), à
dedução das dívidas da herança (2162º), ou seja, as do falecido mais outros encargos
dos legados, à adição dos bens doados, à adição de despesas sujeitas à colação (2110º
ss) e à redução de inoficiosidades (2168º ss).
O segundo momento corresponde à separação das meações: faz-se nos termos gerais
da partilha (determinação jurídica em abstrato e o preenchimento do quinhão)
salvaguardando-se o direito de ser encabeçado nos bens comuns que sejam instrumento
de trabalho (art. 1731º e art. 1734º) e as demais operações efetuam-se aquando da
partilha.
Ainda dentro das operações de partilha tem-se: a determinação jurídica e abstrata
das quotas que tem em conta o cálculo das frações e determinação do montante de cada
quota hereditária. Assim, deve-se ter em conta duas situações: a aferição das vocações
sucessórias prevalentes que estabelece que, o carácter imperativo da designação
legitimária torna primordial a conferência destes herdeiros, a fim de que, havendo-os, se
determine a legítima global (e a quota disponível). Na determinação do valor da herança
para efeito deste cálculo, importa ter presente as regras da imputação das liberalidades
do autor da sucessão (art. 2114º e art. 2165.º): imputação na legítima das doações
sujeitas e trazidas à colação; imputação na quota disponível das doações não sujeitas a
colação e conferindo-se a eventual inoficiosidade (art. 2168º e art. 2169º) seguindo-se a
ordem própria (art. 2171º a art. 2173º).
E a determinação (por título de vocação sucessória) dos herdeiros efetivamente
chamados e das quotas subjetivas que tem em conta os seguintes aspetos: o princípio
da preferência de classe (art. 2134º e art. 2157º); o princípio da preferência do grau de
parentesco mais próximo (art. 2135º e art. 2157º) na sucessão legal; o tratamento
sucessório mais favorável ao cônjuge sobrevivo (art. 2130º/A e art. 2130º/B);
atendimento da vontade (relevante) do autor da sucessão (determinação das quotas,
composição, criação e ordenação de categorias substitutivas).
O quarto momento das operações de partilha é o preenchimento dos quinhões que
pressupõe diferentes modalidades: a composição negociada dos quinhões; atribuições
preferenciais do cônjuge (art. 2103º/A); adjudicações judiciais de bens hereditários;
composição em dinheiro pelo produto da venda judicial de bens hereditários;
organização, sorteio e trocas de lotes; distribuição judicial proporcional dos bens;
adjudicação de verbas licitadas em excesso e tornas.

 Natureza e efeitos
Deve-se ter em conta vários aspetos, desde logo, tem-se o problema que consiste nas duas
operações muito distintas da sucessão, ou seja, há uma autonomia patrimonial. Então, a partilha
transfere a titularidade dos bens do de cujus para cada um dos herdeiros (segundo a composição
do respetivo quinhão) ou divide a herança que está em regime de compropriedade desde a
abertura da sucessão?
Por morte do de cujus, o seu património integra, primeiro, a herança (da qual são
comproprietários os herdeiros) que depois é partilhada, ou o património transfere-se diretamente
da esfera jurídica do de cujus para a dos herdeiros? Quais os efeitos da partilha? São
constitutivos (translativos) ou declarativos?
Depois deve-se ter em conta a evolução do regime em que, para os romanos a partilha tinha
efeitos translativos: os herdeiros, no seu conjunto, recebiam a totalidade da herança, tornando-se
comproprietários e a partilha operava a divisão da propriedade. Esta foi a visão que perdurou,
mas começou a ser questionada pelos jurisconsultos franceses no século XVII. O grande
inconveniente parece ser de natureza fiscal (havendo duas operações de transferência, poderiam
incidir impostos duas vezes). Todavia, o código napoleónico conferiu-lhe carácter declarativo.
Então, qual é a posição consagrada? Entende-se que é a posição translativa em que, cada um
dos herdeiros é considerado sucessor único dos bens, desde a abertura da herança, sem prejuízo
do disposto quanto a frutos (art. 2119º). No entanto, existe uma exceção, no regime dos frutos (a
articulação entre rendimentos e despesas) deve-se ter em conta que, os frutos percebidos até à
partilha fazem parte da herança (art. 2069º), os frutos (e bens deterioráveis) devem ser vendidos
para fazer face às despesas (art. 2090º), os herdeiros e o cônjuge meeiro podem exigir a
distribuição de metade dos rendimentos, salvo se forem necessários para satisfação dos encargos
(art. 2092º) e sobre essa matéria o cabeça de casal deve prestar contas anualmente (art. 2093º).

 Ineficácia da Partilha
1. Problema o problema da ineficácia é a validade do negócio jurídico, havendo negócios
nulos ou não nulos.
2. Tipos de ineficácia temos a inexistência, nulidade, anulabilidade e ineficácia strictu
sensu
3. Regime da ineficácia global, isto é, quando o vício se refere ou afeta todo o negócio.
Temos então a ineficácia da partilha extrajudicial (2121º) feita por via judicial (285º) e
impugnável nos termos gerais dos contratos, que declarará:
 A inexistência da partilha, temos o exemplo do art.245º\1 se for feita por
declarações não sérias, feitas na expectativa de que a falta de seriedade não seja
desconhecida, e o art.246º aquela feita por falta de consciência ou coação física.
 A nulidade da partilha, temos o exemplo do art.240º\2 simulação, 244º\2
reserva mental conhecida do declaratário, 280º\1 física\legalmente impossível,
indeterminável ou 281º contrária á lei, 220º falta de forma que tem que ser
escritura pública (875º cc)
 A anulação da partilha, incapacidade dos partilhantes (menoridade 125º,
interdição ou inabilitação 148º e 156º, incapacidade acidental 257º), erro (na
declaração 247º, na transmissão da declaração 250º, sobre a pessoa ou objeto
251º, sobre os motivos 252º), dolo 253º, coação moral 255º\256º, usura 282º
 A ineficácia strictu sensu, a falta ou irregularidade de circunstância extrínseca
(não ocorrência de efeito suspensivo, insolvência, falência do partilhante)

Temos também a ineficácia da partilha judicial, ou seja, a partilha decorre de decisão transitada
em julgado, que tendencialmente se substitui á vontade dos herdeiros. Esta ineficácia judicial
pode ser por via de revisão (771º) ou de aposição de terceiro (778º), mas tem regime especial, é
o caso da emenda por acordo, recurso interposto no prazo de 1 ano (64º), recurso de anulação
(65º) por preterição ou falta de intervenção do herdeiro.
4. Regime da ineficácia parcial, o que é essencial é a vontade de preservação da partilha,
a ineficácia de elementos essenciais ou acessórios que não determinam a invalidade de
toda a partilha, por isso há redução do negócio (292º e 2121º). Temos como exemplo a
partilha de bens não pertencentes á herança (2123º).

5. Partilha adicional, podemos fazer ou não várias partilhas consoante os bens que vão
surgindo? O legislador permite que isto aconteça. Se aparecerem novos bens não se
começa de novo, ou seja, não se fundem na massa partilhada mas geram nova partilha,
também com efeitos retroativos ao momento da abertura (2122º e 2119º)

6. Alteração convencional da partilha, a alteração da partilha por acordo é possível?


Não se permite, realizada a partilha extingue-se o património autónomo e a indivisão e a
partilha eficaz não pode ser revogada nem qualquer alteração poderá retroagir. Qualquer
acordo posterior assumirá outra natureza, como troca ou permuta.

 Colação
Presente no art. 2104º: é a restituição que os descendentes (ou os seus representantes)
pretendem (se não concorrerem ou não quiserem, conservam as liberalidades (que são,
todavia, redutíveis por inoficiosidade) entrar na sucessão do ascendente devem restituir
à massa da herança, para igualação da partilha, os bens ou valores (se não tiverem
perecido em vida do autor da sucessão por facto não imputável ao beneficiário (art.
2112º) que lhes foram doados por este (enquanto herdeiros legitimários presuntivos,
sem dispensa de colação expressa (art. 2113º) ou legal, conformes aos usos (art. 940º/2)
manuais (art. 947º/2), remuneratórias (art. 941º) e exceções do art. 2110º.

 Pressupostos
A colação pressupõe:
 Que o autor da sucessão tenha feito doações ou assumido despesas gratuitas a
favor de descendentes presuntivos herdeiros;
 Que tais liberalidades não estivessem dispensadas de colação (pela lei ou pelo
autor da sucessão);
 Que à sucessão concorram efetivamente diversos descendentes (nomeadamente
os beneficiados) ou seus representantes.
 Enquadramento
A razão principal da colação é o problema de antecipação do gozo, ou seja, existe uma
presunção de que o autor da sucessão apenas pretendeu antecipar o gozo desses bens aos
descendentes em causa e existe uma ideia da compropriedade familiar que impõe a igualação
dos herdeiros. Quem tem legitimidade para agir? A doutrina defende que apenas aqueles a
quem poderia ser exigida (e já não todos aqueles que dela possam beneficiar nomeadamente
legatários, e herdeiros testamentários que não sejam descendentes, ou mesmo credores da
herança) por visar apenas a igualação entre descendentes. De qualquer forma, por regra, em
caso de redução por inoficiosidade, as liberalidades em favor dos descendentes prevaleceriam
sobre outras.

 Forma
Deve-se ter em conta o respetivo valor que corresponde ao valor existente à data da
abertura da sucessão (art. 2109º) incluindo os frutos desde a abertura (art. 2111º) e o
valor das deteriorações culposamente causadas (art. 2116º), podendo ser excluídas as
benfeitorias úteis e necessárias, por ser considerado possuidor de boa-fé (art.
2115º/273º). E deve-se ter em conta (se os partilhantes autorizarem) a restituição dos
bens doados (colação em substância).

 Procedimento de igualação
Em primeiro lugar, as doações são imputadas na quota hereditária (art. 2108.º),
legitimária, qualquer quota hereditária e também em qualquer sucessão voluntária,
exceto se a doação foi feita com dispensa de colação. Havendo bens remanescentes faz-
se a igualação possível. Não havendo remanescente imputa-se na quota disponível. Não
cabendo nesta, reduz-se por inoficiosidade (art. 2173º).

Exemplo 1: um individuo tem como herança 300.000€ só que tinha dado de


adiantamento ao seu filho António outros 300.000€, o que dá o total de 600.000€.
Assim, tem-se como quota disponível 200.000€ e como quota indisponível de 400.000€.
Assim, António e Bernardo tinham direito a receber 200.000€ da quota indisponível e
100.000€ da quota disponível. Como o que António tinha a receber era 300.000€, já não
recebe por ter sido paga anteriormente.
Exemplo 2: imaginando agora a mesma situação só que a doação foi de 100.000€. Este
valor é chamado à colação e como não ultrapassa a quota disponível, retira-se daí e
assim, António recebe apenas os 200.000€ da quota indisponível e Bernardo recebe os
200.000€ da quota indisponível mais 100.000€ da quota disponível.

Exemplo 3: se a doação fosse de 500.000€, ia-se buscar à quota disponível os 200.000€


mais os 200.000€ da sua quota indisponível, como faltavam 100.000€ reduzia-se para os
400.000€ e Bernardo recebia os 200.000€ tendo direito a 100.000€ de tornas.

Exemplo 4: imaginando agora que, a doação foi de 250.000€. Da quota indisponível de


António retira-se os 200.000€ e vai-se buscar 50.000€ à quota disponível, enquanto isto,
Bernardo iguala para os 250.000€ e depois os 100.000€ restantes são repartidos pelos
dois.

Exemplo 5: se a doação fosse 350.000€, António recebia os 200.000€ da quota


indisponível e ia-se buscar 150.000€ à disponível e os restantes 50.000€ eram entregues
a Bernardo como forma de igualação possível.

 Regimes Especiais
Distingue-se o regime da colação absoluta que traduz-se nas doações por conta da
legítima; o autor da sucessão não pretende beneficiar o descendente; o excedente não se
integra na quota disponível, apenas na medida em que permita a igualação. Considera-se
que o art. 2108º tem carácter supletivo, nomeadamente quando o nº 2 limita a igualação,
pelo que o autor da sucessão pode afastar essa regra, impondo a mesma igualação.

O regime da dispensa de colação que é aferível enquanto matéria de facto; imputa-se


na quota disponível (art. 2114º/1) sem confirmação para igualação (art. 2113º/1),
reduzindo-se por inoficiosidade se exceder aquela (art. 2168º ss.), imputando-se o
excedente na legítima.

E por fim, o regime relativo ao cônjuge que estabelece que o problema surge com a
inclusão do cônjuge no leque dos herdeiros legitimários; a doutrina não converge e o
RCS vai no sentido da sujeição, mas a letra do art. 2104º parece excluir.
 Procedimento de Igualação

A igualação pode ser possível, impossível ou impossível com redução.


 Igualação possível por remanescente: imaginando que, António morre
deixando 2 filhos (Bernardo e Carlos) e deixa um património de 140.000€,
todavia, fizera em vida uma doação a Bernardo no valor de 100.000€ e deixa por
testamento deixa 40.000€ à SCM. Como se faz a partilha? Tem-se como valor
total da herança 240.000€ (relicta 140.000€ e donata 100.000€) e desse valor,
tem-se 140.000€ de quota indisponível e 80.000€ na quota disponível.

António deu 100.000€ em vida a Bernardo, pelo que, é chamada à colação e por isso,
deve-se proceder à igualação. Sendo assim, Bernardo tinha 80.000€ da sucessão
legitimária, faltam 20.000€ para completar a doação. Esses 20.000€ serão retirados da
quota disponível. Sem os 40.000€ para a SCM e esses 20.000€ da doação, sobram
outros 20.000€ e com esses, iguala-se a parte de Carlos fazendo o total de 100.000€.
NOTA: quando a relicta é insuficiente para as despesas tem-se uma questão de
insolvência (art. 2068º), ou seja, paga-se de acordo com uma ordem: despesa de funeral,
despesa testamentária, dívidas do autor da sucessão. Portanto, não há uma
proporcionalidade.

 Igualação impossível: supondo que, António morre deixando 2 filhos


(Bernardo e Carlos) e deixa um património de 120.000€ e fizera em vida uma
doação a Bernardo no valor de 120.000€ enquanto por testamento deixa 40.000€
à SCM. Em relação ao exemplo anterior o valor da herança mantém-se mas o
peso da doação aumenta. Como se faz a partilha?
Tem-se como valor total da herança 240.000€ (relicta 120.000€ e donata 120.000€) e
desse valor tem-se 160.000€ de quota indisponível e 80.000€ de quota disponível.
António deu 120.000€ em vida a Bernardo, pelo que, é chamada à colação e por isso,
deve-se proceder à igualação. Sendo assim, Bernardo tinha 80.000€ da sucessão
legitimária, faltam 40.000€ para completar o valor da doação. Tirando os 40.000€ da
sucessão testamentária, sobram outros 40.000€ que irão completar o valor da doação.
Desta forma, Bernardo absorve (com a SCM) a totalidade da quota disponível
impossibilitando a igualação através do remanescente.
 Igualação impossível com redução das liberalidades: supondo que, António
morre deixando 2 filhos (Bernardo e Carlos) e deixa um património de
100.000€, todavia, fizera em vida uma doação a Bernardo no valor de 140.000€.
Por testamento deixa 40.000€ à SCM. Comparando aos exemplos anteriores, o
valor da herança mantém-se mas o peso da doação aumenta, impossibilitando a
manutenção das liberalidades. Como se faz a partilha?
Tem-se como valor total da herança 240.000€ (relicta 100.000€ e donata 140.000€) e
desse valor tem-se 160.000€ de quota indisponível e 80.000€ de quota disponível.
António deu 140.000€ em vida a Bernardo, pelo que, é chamada à colação e por isso,
deve-se proceder à igualação. Sendo assim, Bernardo tinha 80.000€ da sucessão
legitimária, faltam 60.000€ para completar o valor da doação. Portanto, imputa-se o
valor que falta na quota disponível e sobram apenas 20.000€ que serão entregues à
SCM, logo há uma redução das liberalidades. Essa redução faz-se começando pelas
sucessões testamentárias (art. 2171º).

Supondo que, António morre deixando 2 filhos (Bernardo e Carlos) e deixa um


património de 60.000€, no entanto, fizera em vida uma doação a Bernardo no valor de
180.000€. Por testamento deixa 40.000€ à SCM. Comparado ao exemplo anterior, o
valor da herança mantém-se mas o peso da doação aumenta, obrigando à sua própria
redução. Como se faz a partilha?
Tem-se como valor total da herança 240.000€ (relicta 60.000€ e donata 180.000€) e
desse valor tem-se 160.000€ de quota indisponível e 80.000€ de quota disponível.
António deu 180.000€ em vida a Bernardo, pelo que, é chamada à colação e por isso,
deve-se proceder à igualação. Sendo assim, Bernardo tinha 80.000€ da sucessão
legitimária, faltam 100.000€ para completar o valor da doação. Portanto, imputa-se o
valor que falta na quota disponível, todavia, a quota disponível é integralmente afetada
pela doação feita a Bernardo, sendo insuficiente, a doação é reduzida (em 20.000€) por
inoficiosidade. O que acontece? Procede-se à redução automática da doação, passando a
valer (160.000€) e a SCM não recebe o legado.

 Designação Sucessória
É a indicação de quem são os sucessíveis, essa indicação ocorre antes da morte e é feita
pela lei.

A questão entronca com as espécies de sucessão segundo o critério das fontes, sendo
agora analisada segundo uma nova perspetiva, a predeterminação de pessoas ou
categorias de sucessíveis. A lei pretende evitar hiatos na transmissão dos bens, tornando
claros os critérios ou mecanismos através dos quais serão transmitidos os bens da
herança.

Qual o momento onde se fixa quem prevalece a quem? No momento da morte, só aí é


que se vai ver quem tem legitimidade para receber os bens (2031º e 2032º)

 Hierarquia dos sucessíveis


1º Sucessíveis legitimários, limitado á quota indisponível 2157º, prevalece sobre os outros
devido ao intuito social, para sublinhar o carater comunitário do património, e para limitar
caprichos ou influências circunstanciais. Não pode ser afastado por vontade do autor da
sucessão, pois tem carater imperativo. As faculdades concedidas aos herdeiros são as seguintes:
o Invocar nulidade do negócio jurídico por simulação 242º\2
o Requerer a interdição por prodigalidade 152º 156º 141º\1
o Impugnar a deserdação 2167º
o Recusar disposições testamentárias com encargos ou composições de legado 2163º
o Substituir legado de usufruto ou pensão por quota disponível 2164º

2º Sucessíveis contratuais prevalecem em relação aos testamentários porque possuem duas


declarações de vontade

3º Sucessíveis Testamentários prevalece sobre a legítima devido ao regime supletivo da


legítima, dentro do sucessível testamentário temos hierarquia, em primeiro surge as classes
criadas pelo autor da sucessão 2281º, depois legatários e depois herdeiros.

4º Sucessíveis legítimos tem carater supletivo 2131º, existe para as situações em que o autor da
sucessão não dispôs valida e eficazmente sobre a totalidade ou parte dos bens.

 Consistência das designações


Falar em consistência das designações é dizer até que ponto é que a designação é frágil, ou seja,
até que ponto o seu conteúdo pode ser afetado.
 Sucessão legitimária tem limitações decorrentes do seu caráter imperativo (2156º),
assim o autor da sucessão está impedido de:
o Alterar o elenco (2157º)
o Alterar a ordem (2133º)
o Modificar a porção
o Compor ou onerar a legitima (2163º)
Tem como fragilidade a deserdação (2166º) só se afasta o herdeiro legitimário em casos
extremos (se tiver atentado conta a vida e integridade física do autor da sucessão, tiver atentado
contra a honra ou não tiver prestado alimentos). A deserdação é diferente da indignidade
(2034º), a indignidade é para toda a sucessão, dá origem ao não chamamento, e pode ser
reabilitado, já a deserdação só é para a sucessão legitimária, é chamada, e não é reabilitado.
Como efeitos da consistência surge uma questão, a sucessão legitimária é direito ou expectativa
jurídica? A ideia deve ir para a expectativa jurídica, na medida em que só com a aceitação é que
se transfere o domínio dos bens (2050º\1) e a vocação sucessória se confere com a abertura da
sucessão (2032º\1).
 Sucessão contratual tem consistência acrescida devido ao sinalagma ou bilateralidade
+ favor matrimonii que impedem a revogação (1701º e 1705º). O pacto sucessório tem
limitações:
o Caducam se o casamento não se celebrar ou for anulado (1716º)
o Caducam com a pré-morte do donatário (1703º\1 e 1705º\4)
São mais consistentes as doações entre esposados, e menos consistentes as doações a terceiros
menores.
 Sucessão testamentária tem consistência enfraquecida e residual, uma vez que o autor
da sucessão pode revogar ou alterar a todo o tempo (2179º\1, 2311º) de forma tácita
(decorre inequivocamente de comportamentos) ou expressa (manifestado por uma
forma de expressão – é dito- que pode ser explícita ou implícita). Residual porque os
sucessíveis testamentários podem invocar vícios do testamento ou de disposições
testamentárias (2308º e 286º) mesmo em vida do autor (286º, 287º, 2308º),
nomeadamente por falta de forma (2204º, 220º).
 Sucessão legítima o carater supletivo torna-a dependente da vontade do autor da
sucessão, mantendo, todavia, a legitimidade, enquanto interessados para invocar causa
de nulidade ou anulabilidade (2308º)

 Modalidades
 Noção a determinação legal (imperativa - para o autor da sucessão - e inderrogável) de
categorias de pessoas sucessíveis numa determinada percentagem da herança.
 Origem e evolução Surge no direito romano clássico e pós clássico com a portio debita
evoluindo no período justinianeu com a portio legítima, que fixavam porções reservadas
aos sujeitos à potestas do de cujus.
O regime veio, no séc. III a consagrar mesmo uma tutela relativa às liberalidades inter
vivos.
Foi desenvolvido pelo direito germânico que consagrava um carácter coletivo da
propriedade, não acolhendo sequer a figura do testamento.
Só tardiamente reconheceu uma quota disponível -freiteil (parte livre), evoluindo para
perspectivas mais individualistas.
A figura da reserva legitimária surge no séc. XV, sendo consagrada nas ordenações
afonsinas e filipinas.
O CC 1867 fixa a legítima em 2/3 (regra geral).
A República desce-a para ½ - O CC 1966 eleva-a novamente para 2/3.
A CRP 76 alarga o âmbito ao cônjuge e filhos nascidos fora do casamento.
 Fundamento
o Proteção da família nuclear
o Entreajuda e solidariedade
o Garantias de mínimos de bens para a manutenção e desenvolvimento dos
membros
o [Controlo de tendências discriminatórias].
 Classes
a. (2157.º - 2133.º/1 a) Cônjuge, descendentes e adotados plenos (1986.º/1) e seus
descendentes
b. (2157.º - 2133.º/1 b) Cônjuge, ascendentes e adotantes plenos (1986.º/1) e seus
ascendentes.
Existindo preferência, a primeira prevalece sobre a segunda classe (2134º) e dentro de cada uma
prevalece os parentes com grau mais próximo (2135º).

 Designação Legitimária (a legítima)


 Noção, porção de bens de que o testador não pode dispor, por ser legalmente destinada
aos herdeiros legitimários (2156.º)
 Medida a regra geral é de 2\3 para cônjuge e descendentes com 1 filho ou mais filhos
(2159º\1) ou estirpes de descendestes (2160º); ou para quando há dois ou mais filhos
(2159º2) ou seus descendentes (2160º); ou para cônjuge e ascendentes (2161º\1).
Depois temos 1\2 quando existe herdeiro legitimário único (2158º e 2159º\2) ou sua
estirpe (2160º), quando só há pai ou pais (2161º\2 1ªparte).
Depois temos 1\3 para ascendentes de 2º grau e seguintes (2161º\2 2ªparte).~

 Natureza Depois de conferida (após a abertura da sucessão) não é simples crédito s/ a


herança (portio debita), mas um direito a parte dos bens (pars hereditatis). A partilha
visa pôr fim á indivisão.
 Cálculo já foi visto com a partilha.
 Proteção
o Limitações ao poder de alienação em vida
 Anulação de negócio simulado (240.º)
 Inabilitação por prodigalidade (152.º)
 Necessidade do consentimento dos descendentes na venda (877.º)
o Outras proteções
 Curadoria provisória (89º e ss) e definitiva (99º)
o Limitações no poder de disposição por morte

 Redução por inoficiosidade (2168.º, 2169.º)


 Proibição de encargos ou de composição da quota (2163.º)
 Cautela sociniana (2164.º) - substituição do usufruto ou pensão vitalícia
por quota disponível.

 Designação Contratual
 Carácter excecional dos pactos sucessórios
2028,º/2 - Os contratos sucessórios apenas são admitidos nos casos previstos na lei,
sendo nulos todos os demais …

 A conversão das doações mortis causa em disposições testamentárias


946.º (Doação por morte)
1. É proibida a doação por morte, salvo nos casos especialmente previstos na lei. 2.
Será, porém, havida como disposição testamentária a doação que houver de produzir os
seus efeitos por morte do doador, se tiverem sido observadas as formalidades dos
testamentos. 946.º (Doação por morte)
O cumprimento das formalidades confere-lhes natureza testamentária o que as torna
livremente revogáveis (2179.º, 2311.º)

 Designação Testamentária
 Noção de testamento
Ato unilateral e revogável, pelo qual uma pessoa dispõe, para depois da morte, de todos
os seus bens ou de parte deles (2179.º/1), no fundo, é um ato de disposição.
Também abrange disposições sem carater patrimonial (2179º\2), como por exemplo:
o Destino do cadáver (DL 41/98 30 XII, art. 3.º/1 a)
o Confissão extrajudicial (358.º/4)
o Perfilhação (1853.º b) - irrevogável (1858.º)
o Designação de tutor e respectiva revogação (1928.º/3)
o Disposições a favor da alma (2224.º) [Instituição de fundação (185.º/1)
[Testamentaria (2320.º].

 Caraterização
o Negócio jurídico, 2179 – ato jurídico, declaração de vontade que visa a
produção de efeitos jurídicos
o Unilateral, - é uma declaração de vontade singular. È pessoal (insusceptível de
ser efetuado por representante ou depender do arbítrio de outrem (2182.º/1). É
individual (nulidade dos testamentos por acordo - 2181.º, 294.º). Com tendência
subjetivista (2187.º prevalece a vontade real do testador sobre a objectividade
da declaração negocial)
o Mortis causa, pois apenas produz ou visa produzir efeitos depois da morte.
o Livre e revogável, 2179.º/1 (excepto quanto à perfilhação - 1858.º);
irrenunciável (2311.º)
o Não receptício, produz efeitos antes de ser levado ao conhecimento dos
interessados (é imediata/ válido; só a sua eficácia depende da morte e da
aceitação dos chamados)
o Formal, (2204.º, 2210.º ss.) - tem de revestir uma das formas típicas

 Condições de validade
o Capacidade dos sujeitos:
 Ativa – tem capacidade todos os indivíduos que a lei não declare
incapazes (2188.º), ou seja,exceptuam-se menores não
emancipados (2189.º a), 132.º, 1601.º e os interditos por anomalia
(2189.º b), 138.º). As condições aferem-se aquando da expressão
da vontade (na data do testamento) e não na abertura da sucessão,
obviamente que a falta de capacidade implica a nulidade (2190.º,
280.º ss.)
 Passiva - Âmbito muito alargado [que extravasa o princípio geral
art. 67.º] Exceções: as incapacidades e as indisponibilidades
testamentárias. Quanto às incapacidades temos, o regime da
indignidade sucessória (2034.º), e neste ponto devemos distinguir
indignidade de deserdação.
Indignidade Deserdação
Abrange todas as modalidades Surge apenas na sucessão
legitimária
Conferível antes da morte Por vontade do autor da
(2036º) sucessão (2166º)
Admite-se a reabilitação No testamento
Âmbito material mais alargado Âmbito mais restrito

Quanto às indisponibilidades, o chamamento de determinadas


pessoas é impedido por lei, dada a especial relação com o
testador, e por isso temos as seguintes:
 O interdito ou inabilitado a favor do tutor, curador ou
administrador (2192.º)
 O médico, enfermeiro ou sacerdote que preste assistência
durante a doença fatal (2194.º)
 Cúmplice do testador adúltero (2196.º)
 Notários ou outros intervenientes no testamento (2197.º)
o Licitude do objeto, é nula a disposição testamentária determinada por
fim contrário à lei, à ordem pública ou aos bons costumes (2186.º)
o Regularidade do consentimento
 Regularidade formal - Exigência de forma: formas admitidas e
não admitidas. Nas formas admitidas temos as formas comuns e
as formas especiais. Quanto às formas comuns:
 Testamento público - escrito por notário no seu livro de
notas (2205.º)
 Testamento cerrado - manuscrito, assinado pelo testador e
apresentado ao notário que o aprova [atesta a regularidade
formal] e lavra o respectivo instrumento (2206.º/1 e 4,
108.º/2 b CNot) logo após a assinatura lendo-o e
explicando-o. O testador pode conservá-lo em seu poder
(e inutilizá-lo - 2315.º, ou depositá-lo 2209.º/1) O
testamento cerrado tem de ser aberto no notário, lavrando-
se o respectivo instrumento (111.º ss CNot)
Quanto às formas especiais:
 T. militar (2210.º a 2213.º - público ou cerrado)
 T. marítimo (2214.º a 2218.º - semelhante do militar)
 T. a bordo de aeronave (2219.º - idem)
 Em caso de calamidade pública (2220.º - notário, juiz)
Agora as formas não admitidas temos:
 T. hológrafos (não aprovados p/ notários)
 T. nuncupativos (verbais, perante 6 testemunhas),
 Codicilos (disposições informais [sem instituição de
herdeiros], admitidas nas Ordenações Filipinas),
 T. particulares abertos (também. admitidos nas
Ordenações Filipinas)
 T. per relationem - 2184.º

 Regularidade Substancial – a inexistência de vícios de vontade.


 Simulação relativa (240.º, 2200.º - dado o carácter não
receptício)
 O negócio dissimulado poderá ser válido no termos do
241.º/1. Reserva mental (244.º/1) - anulável (por
interpretação extensiva do 2200.º)
 Declarações não sérias, falta de consciência, coacção
física - inexistência (245.º, 246.º), c/ eventual obrigação
de indemnizar (245.º/2, 246.º)
 Coação moral - anulável (2201.º)
 Estado de necessidade - anulável (282/1.º) - Dolo (sobre o
testador) incidindo sobre elemento essencial - anulável
2201.º
 Erro na declaração - anulável (1.ª parte 247.º) na
indicação da pessoa ou bens (2203.º, 251.º) - anulável
(2201.º) sobre os motivos - anulável (se resultar do pp
testamento que outra teria sido a disposição, conhecida a
verdade (2202.º)
 Interpretação
 O desvio subjetivista (dado o carácter unilateral, gratuito, revogável, não
recipiendo e de última vontade) a intenção do testador no contexto do testamento
 Pode utilizar-se prova complementar extrínseca (presunções, confissões,
documentos, prova pericial, inspeções, testemunhas, etc.), desde que no contexto
do testamento, com correspondência mínima aos termos deste (dado o seu
carácter formal) - 2187.º/2.
 Se nenhuma intenção se apura valerá a que seja mais razoável, dando-se às
palavras o sentido mais usual
 Deve preferir-se o sentido que confira exequibilidade à disposição

 Integração
Pode haver integração das lacunas reais, relativas a pontos omissos (239º). Quando
falamos em pontos omissos são sobre elementos não essenciais, ou seja, são elementos
acessórios, dado o caráter formal.

 Conteúdo do testamento
O que o testamento pode incluir?
 Disposições sem carácter patrimonial
 As que a lei prevê (destino do cadáver, confissão, perfilhação,
designação de tutor, etc.)
 Disposições relativas aos efeitos póstumos de direitos da
personalidade, como por exemplo, publicidade de memórias,
correspondência escritos (76.º, 77.º); Retratos, relatórios, etc.
(79.º). Revelação de factos privados (80.º); Realização de
homenagens ou imagens evocativas
 Disposições a título de herança
Âmbito - abrange benfeitorias (216.º), partes integrantes dos imóveis e os
frutos (2271.º)
 Disposições a título de legado
 De coisa onerada - mantém-se a oneração (2272.º)
 De coisa alheia ou inexistente - é nulo (2251.º, 2254.º), ou só
parcial (2252.º)
 Para pagamento de dívida (2259.º/1) - válido desde que o
legatário não fosse incapaz de o receber (por indignidade - 2034.º
- ou indisponibilidade relativa - 2192.º ss.)
 De créditos (2261.º) - válido sem necessidade de notificação do
devedor (notificação necessária p/ produção de efeitos, 583.º)
 De usufruto [simultâneo ou sucessivo] ou de prestação periódica -
válido (2030.º/4; tb. 1439.º)
 Pio (deixas testamentárias p/ fins religiosos ou p/ obras de
caridade) - válidos; regulado por lei especial
 Pré-legados (2264.º) - legado a favor de um dos co-herdeiros,
acrescendo à respectiva quota.
 Cláusulas acessórias
Podemos ter cláusulas acessórias gerais:
 Condição (2229.º)
 Termo (278.)
 Modo ou encargo
 Cláusulas penais
Podemos ter cláusulas acessórias especiais:
 Substituição direta (2281.º)
 Substituição fideicomissária (2286.º ss.)
 Substituição pupilar ou quase-pupilar (2297.º ss.)

 Relevância da revogação
O carácter livre e revogável (2179.º) como essencial A irrenunciabilidade da
revogabilidade (2311.º)

 Revogação testamentária e Formas de revogação


o Expressa 2312º
Se há uma declaração de revogação noutro testamento ou escritura pública [explícita].
Mas a revogação de testamento revogatório sem que sejam efetuadas novas disposições
não repristina o testamento revogado - cf. 2314.º/2: mantém-se a revogação se o
testador não dispuser diferentemente
o Tácita 2313º
Se torna inconciliável ou contraditória nova disposição com testamento anterior
[implícita]
Inclui actos de revogação tácita propriamente dita (revogação real): Inutilização do
testamento cerrado (2315.º), alienação da coisa legada ou sua transformação noutra
coisa (2316.º)
 Caducidade e invalidade do testamento

 Caducidade testamentária
Ao regime geral (298.º) e demais casos previsto na lei o 2137.º introduz circunstâncias
especiais cuja verificação determina a caducidade:
o Pré-falecimento do instituído ou nomeado (2317.º) sem direito de representação
(2039.º ss.) por não verificação da condição legal de sobrevivência - 2032.º/1]
o Falecimento do sucessor sem preenchimento de condição suspensiva (2317.º b)
o Incapacidade superveniente do instituído ou nomeado (2317.º c), 2032.º, por
indignidade - 2034.º, 2037.º; também por indisponibilidade
o Se o beneficiário era cônjuge entretanto divorciado, separado ou declarado nulo
(2317.º c) - podendo a sentença ser proferida posteriormente
o Se o beneficiário repudiar sem que haja representação 2317.º d)

 Inexistência
Não produz quaisquer efeitos (por falta de vontade de testar) ex. o testamento não sério
(245.º) ou realizado com coação física (246.º); pode haver obrigação de indemnizar
(245.º/2 e 246.º final)

 Nulidade
Pode produzir efeitos laterais ou secundários - 289.º/2 e 3, 291.º do testamento - p. ex.
2180.º (falta de expressão da vontade), 2190.º (incapacidade do testador); de
disposições testamentárias - p. ex. 2184.º (t. per relationem), 2186.º (ilicitude do objeto),
2194.º (indisponibilidade passiva - 2192.º ss)

 Anulabilidade
Pode produzir efeitos laterais ou secundários do testamento - p. ex. incapacidade
acidental (2199.º) ou de disposições testamentárias - (simulação 2200.º, erro, dolo ou
coação 2201.
 A Morte
O CC define sucessão como o chamamento à titularidade das relações jurídicas
patrimoniais de uma pessoa falecida (2014.º)
Especifica depois que a sucessão se abre no momento da morte (2031.º)
A demonstração de que a morte é pressuposto não oferece dificuldades, ou necessidade
de desenvolvimento.
 A morte física e a determinação exata da ocorrência
Temos várias aceções jurídicas de morte:
o Morte presumida 114º, regulada como forma de ausência
o Morte civil
o Morte de pessoas coletivas
Existe uma dificuldade de determinação do momento da morte:
o A morte enquanto processo, a colheita de tecidos \órgãos faz-se enquanto estes
estão vivos
o O critério legal, a cessação irreversível das funções do tronco cerebral
Quanto á relevância jurídica da morte, esta desencadeia inúmeros efeitos jurídicos,
como efeitos sucessórios, familiares, administrativos, penais, processuais e fiscais etc.
A lei impõe o registo da morte, necessita de identificação, data, hora, lugar e causa. O
registo da morte é requisito da invocação da qualidade de herdeiro.

 Comoriência (morte em conjunto)


È a morte conjunta no mesmo acontecimento.
O grande problema é os diferentes efeitos na transmissão de bens entre os falecidos.

 Morte Presumida
É a ausência, sem notícias, durante determinados períodos temporais:
 10 Anos
 5 Anos se> 80
 + De 5 sobre a maioridade
Também produz efeitos sucessórios (115º) e outros efeitos (decorrentes da morte,
quase-divórcio 116º)
Quanto ao procedimento, temos a curadoria provisória (89º), curadoria definitiva (99º) e
morte presumida (114º).
 Abertura da Sucessão
 Conceito
A morte gera a abertura da sucessão (2031º).
Corresponde ao início do processo tendente à devolução sucessória das relações
jurídicas transmissíveis do de cujus.
A vinculação mantém-se, aguardando o subingresso dos sucessíveis nas posições
jurídicas do de cujus, após o que a aceitação e partilha verão os seus efeitos retroagirem
ao momento da abertura da sucessão (aceitação - 2050.º/2; partilha - 2119.º), as relações
jurídicas não se extinguem com a cessação da personalidade jurídica [por morte, 68.º/1]
de um dos sujeitos (ativo ou passivo).

 Relevância da abertura
A vocação sucessória (o chamamento) tem lugar no momento da abertura da sucessão
(2032.º/1), altura em que têm de conferir-se os respectivos pressupostos (titularidade da
designação sucessória prevalente, personalidade jurídica, capacidade sucessória)
Os efeitos da aceitação (2050.º/2) da herança ou legado retroagem ao momento da
abertura, não podendo a mesma ocorrer antes do momento da abertura
Só depois da abertura podem os sucessores celebrar actos de alienação dos bens (2124.º
ss., 2062.º ss, 2249.º)
O valor dos bens é o do momento da abertura - para efeito do cálculo da legítima
(2162.º/1), para os bens doados sujeitos à colação (2109.º/1)
Os efeitos sucessórios são regulados pela lei vigente ao momento da abertura da
sucessão (12.º)

 Lugar da abertura
O lugar do último domicílio [voluntário geral] do autor da sucessão (2031.º),
corresponde ao lugar da sua residência habitual (82.º), relevante para efeitos da
determinação do tribunal competente.
 Vocação Sucessória

 Conceito de Vocação
Chamamento de herdeiros e legatários á titularidade das relações jurídicas
transmissíveis do falecido (2032º). É regulada em conjunto com a abertura por
normalmente coincidirem no tempo, embora a abertura anteceda ao chamamento.
A vocação sucessória surge por vezes a par ou como equivalente da devolução
sucessória (2024º 2032º).
Importa que saibamos as seguintes distinções:
 Morte – é a causa
 Abertura – resulta da necessidade do subingresso nas posições jurídicas do de
cujus
 Vocação – chamamento dos sucessíveis
 Aceitação
 Partilha
 Devolução
Isto significa que aberta a sucessão serão chamados á titularidade das relações jurídicas
do falecido, aqueles que gozam de prioridade na hierarquia dos sucessíveis, desde que
tenham necessária capacidade (2032º\1).
 Conteúdo
Consiste essencialmente do direito de aceitar ou repudiar a herança ou legado,
dependendo dessa decisão outros efeitos.

 Pressupostos
1º Titularidade da designação
O chamamento dirige-se aos designados com prioridade, segundo a lei e a vontade do
de cujus
2º Existência do chamado
A existência é condição do chamamento.
São chamados os designados que têm capacidade sucessória.
Assim podem ser chamados o Estado, todas as pessoas nascidas ou concebidas ao tempo
da abertura da sucessão, não excetuadas por lei (2033º\1).
3º Capacidade Sucessória
A capacidade sucessória é a regra, a incapacidade é exceção.
 Indignidade Sucessória (2034º)
É considerado indigno:
 Condenação por crime doloso contra a vida ou honra do autor da sucessão ou
sua família
 Afetação grave da liberdade de testar ou da expressão da vontade do autor da
sucessão
A indignação tem como efeitos:
 Torna inexistente a vocação
 O indigno é tido como possuidor de má-fé
 Há direito de representação e de acrescer
Portanto, o indigno não é chamado por carecer de capacidade, caso se habilite como
herdeiro será necessária uma declaração judicial para o afastar.
Mas pode haver reabilitação do indigno (2038º), que pode ser:
 Expressa por testamento ou escritura pública
 Tácita, conhecendo da indignidade o autor da sucessão contempla-o
beneficiando-o apenas dessa disposição
Como podemos ver a indignidade é diferente da deserdação, uma vez que a deserdação
é especial, por vontade do autor da sucessão e afasta o regime imperativo, por sua vez, a
indignidade é geral, constatação da inidoneidade.

 Modos de vocação
 Originária\subsequente – surge no momento da abertura da sucessão ou depois
(2032º\1\2). Há vocação subsequente se um chamado houver de ser substituído
com ou sem mudança de vocação (nos casos de repúdio, já que ocorre depois da
abertura da sucessão, e no caso da declaração de morte presumida após a
abertura).
 Pura\condicional ou a termo – se o chamamento depende ou não do
preenchimento de condições. Em geral são admissíveis condições ou termos,
mas subsistem limitações 2243º
 Simples\modal – se estiver sujeita a encargos ou cláusulas especiais. A sujeição
a encargos não pode ocorrer na sucessão legitimária, sendo genericamente
admitida nas restantes designações.
 Direta\indireta- se o sucessível é chamado em vez de sucessível que não pode ou
não quis aceitar a herança. Como formas de vocação indireta temos:

1. Direito de representação
Dá-se a representação sucessória quando a lei chama os descendentes de um herdeiro ou
legatário a ocupar a posição daquele que não pôde ou não quis aceitar a herança ou o
legado (2039º)
Na sucessão legal não surgem restrições significativas mas subsistem limites (2042º):
 Apenas descendentes do autor (filhos)
 No caso de não haver filhos, temos descendentes dos irmãos (sobrinhos)
Na sucessão testamentária apenas nos caso de pré-morte ou repúdio (2041º\1), e aqui
qualquer descendente pode representar (1582º\1), caso o de cujus não afastou a pessoa
ou nomeou substitutos.

2. Substituição Direta
O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro instituído para o caso de este não
poder ou não querer aceitar a herança (2281º\1).
Ocorre na sucessão testamentária por determinação do autor do testamento (2281º\1
2285º\1.
A substituição prevalece sobre o direito de representação e sobre o direito de acrescer.
Pode ser simples ou plural, conforme haja ou não vários substitutos ou substituídos
(2282º), recíproca ou não recíproca, se os co-herdeiros ou co-legatários se substituírem
reciprocamente.

3. Direito de Acrescer
É o direito do sucessível, chamado simultaneamente com outros, de adquirir o objeto
sucessório que outro ou outros não puderam ou não quiseram aceitar, verificados os
necessários pressupostos.
Dá-se na sucessão legal e voluntária, entre herdeiros e legatários.
Tem como pressupostos:
 Negativos – 2304º - não verificação de substituição direta, declaração de
vontade contrária do autor da sucessão, representação ou transmissão
 Positivos – existência de uma quota vaga por falta ou repúdio e a subsistência de
uma pluralidade de co-herdeiros ou legatários.

 Aquisição Sucessória
Ao chamamento sucede a resposta, no entanto, entre a morte e a aquisição (decorrente
da aceitação) pode distar um espaço de tempo considerável, a lei designa essa situação
de herança jacente.
 Herança jacente
É a herança aberta, mas ainda não aceite nem declarada vaga para o Estado (2046º).
A titularidade da herança não é do autor da sucessão nem dos sucessíveis enquanto a
não aceitarem.
A prática de atos urgentes é possível por qualquer dos sucessíveis, e aqui havendo
oposição dos outros sucessíveis segue-se a vontade da maioria até que seja determinado
o cabeça de casal (2079º). Não havendo sucessíveis disponíveis pode ser nomeado pelo
tribunal, a requerimento do MP ou de qualquer interessado, um curador da herança
jacente (2048º).

 Aceitação
A caducidade do direito de aceitação é de 10 anos (2059º) desde o conhecimento do
chamamento. Uma vez que o prazo é extenso, pode prejudicar os interesses de terceiros,
por essa razão, conhecido que seja o herdeiro pode o MP ou qualquer interessado,
decorridos quinze dias sobre a abertura, requerer a notificação para que aceite ou
repudie (2049º\1), valendo o silêncio como aceitação (nº2).
A aceitação é:
 Ato unilateral
 Não receptício
 Que sucede á abertura 2032º\1
 Irrevogável 2061º
 Com efeitos retroativos 2050º
Tem como modos:
 Expressa – declaração de aceitação ou assunção do título de herdeiro com
intenção de adquirir em documento
 Tácita – atos que com toda a probabilidade o revelam
Quanto aos efeitos:
 Leva á aquisição da herança

 Repúdio
O repúdio é:
 Ato unilateral
 Não receptício
 Que sucede á abertura 2032º\1
 Irrevogável 2066º
 Com efeitos retroativos 2062º

O repúdio está sujeito á forma exigida para a alienação da herança (2063º), ou seja,
escritura pública havendo imóveis, ou documento particular para móveis.
Quando quem repudia é casado, tem que obter o consentimento de ambos os cônjuges
(1683º\2), exceto no regime de separação de bens. Quando quem repudia for incapaz
depende de autorização do tribunal.
Tem como efeito o facto de quem repudia é considerado não chamado (2249º 2062º), e
no caso de repúdio há direito de representação para os descendentes do sucessível, há
direito de acrescer pelos co-sucessíveis, e chamam-se os outros sucessíveis com
prioridade.
Os credores do repudiante podem impugnar o repúdio até ao montante dos créditos,
num prazo de 6 meses (2067º).

 Aquisição pelo Estado


Na falta ou repúdio pelos outros sucessores, o Estado é chamado enquanto sucessor
legítimo (2133º\1 e).
Pretende-se evitar o abandono dos bens e\ou garantir herdeiro que processe a sucessão.
Não há aceitação nem repúdio por parte do Estado (2154º).

 A Petição e Reivindicação Sucessória


Visa o reconhecimento da qualidade sucessória e consequente devolução dos bens
(2075º\1). A lei prevê quando alguns dos bens da herança sejam possuídos por terceiros
a ação de petição de herança, esta ação é contra qualquer pessoa a favor das quais os
bens tenham sido alienados gratuita ou onerosamente.
Trata-se de uma modalidade de habilitação, e eventualmente de aceitação.
Qualquer um dos herdeiros tem legitimidade, e a ação segue forma de processo comum
declaratório, não tendo prazo (2075º\2), mas tendo em conta os 10 anos de aceitação e
das regras do usucapião.
O legatário pode reivindicar também a coisa legada de terceiro desde que certa e
determinada (2279º).

 A Administração da Herança
Tem legitimidade para administrar a herança o cabeça de casal (2080º):
 Cônjuge sobrevivo, se for herdeiro ou tiver meação nos bens do casal
 Ao testamenteiro, salvo declaração do testador em contrário
 Aos parentes que sejam herdeiros legais (os mais próximos em grau, por regra, o
herdeiro mais velho).
 Aos herdeiros testamentários
O cabeça de casal tem como poderes:
 Poderes de administração ordinária, que são atos e negócios jurídicos de
conservação e frutificação normal
 Poderes especialmente consagrados como:
o Obtenção bens da herança
o Cobrança de dívidas
o Satisfação das despesas do funeral
o Relacionar os bens da herança
o Requerer o inventário
o Vender os frutos ou outros bens deterioráveis
o Entregar aos herdeiros ou cônjuge até 1\2 dos rendimentos
o Prestar contas anuais e distribuir o saldo positivo
o Participar o óbito ás finanças.

 Alienação da Herança
A aceitação produz a aquisição do quinhão hereditário, cujo valor tende a ser
indeterminado. O gozo está prejudicado por se tratar de direitos em comum. Admite-se
que o herdeiro possa transmitir para outrem o direito á herança ou o quinhão hereditário.
Tem como prazo entre a aceitação e a partilha.
A forma depende dos bens em questão: imóveis escritura pública, móveis documento
particular.
Pode alienar a totalidade ou apenas parte da herança.

 Parte Prática
Caso Prático 1:
António morre, deixando bens no valor de 1.200€. Por testamento, deixa a Bernardo a
quota da herança de seu pai, Xavier, avaliada em 400€.
1. Seria diferente a partilha se Bernardo fosse, ou não, filho de António?
António deixou como herança 1200€ e deixou a Bernardo 400€ da herança de seu pai, Xavier.
Imaginando que, Bernardo é filho de António, sucessor legitimário, e por isso divide-se os
1200€ em metade que dá 600€. Bernardo é também chamado como legatário e assim, da quota
disponível recebe 400€ e recebe os restantes 200€ enquanto herdeiro legitimário.
Se Bernardo não fosse filho de António, ele era chamado apenas como sucessor testamentário e
por isso recebe apenas os 400€. Os restantes 800€ eram distribuídos pelas classes sucessórias
(art. 2133º), todavia, se não houvesse mais nenhum herdeiro, o Estado recebia os 800€.

2. Suponha que as despesas de funeral de António se elevaram a 300. Demonstre a


afetação da partilha resultante dessas despesas.
Quando há encargos na herança, esses são retirados do valor total da herança. Tem-se 1200€ e
as despesas são 300€, então o valor da herança é 900€. Assim, tem-se 450€ como quota
disponível e 450€ como quota indisponível (art. 2068º). Desta forma, Bernardo se fosse filho
ficava com os 400€ da herança do pai de António mais os 50€ restantes e ainda receberia a
herança legítima (450€). Se Bernardo não fosse filho de António, recebia apenas os 400€ e os
restantes 500€ seriam entregues para os sucessores legitimários (art. 2133º) e caso já não
houvesse mais nenhum herdeiro iria para o Estado.

3. Seria diferente a partilha se (na hipótese de existirem despesas de 300) em vez dos 400
da herança de Xavier, António tivesse estabelecido uma deixa testamentária a de 1/3 da
herança?
António, em vez de deixar 400€ a Bernardo, deixou 1/3 da herança. Se ele fosse filho, recebia
os 300€ (que corresponde a 1/3) mais o resto da herança. Se Bernardo não fosse filho recebia
apenas os 300€ e os herdeiros legitimários recebiam o valor restante. Agora, supondo que,
António lhe deixava 600€, como a quota disponível é 450€, Bernardo só recebia o valor
disponível, sendo a herança reduzida.

Caso Prático 2:
Francisco, viúvo com dois filhos (Guilherme e Henrique), morre, deixando bens no valor
de 900.000€. No seu testamento estipula que a legítima de Guilherme, seu filho mais velho,
deverá ser composta pela casa onde vivia, cujo valor se vem a apurar ser, à data da
abertura da sucessão, de 350.000€. Estipula ainda a favor de Henrique a sua quota na
herança, ainda indivisa, de seu pai, Zacarias, no valor de 40.000€. Quid iuris?
Guilherme e Henrique são herdeiros legitimários de Francisco (art. 2157º) e em caso de
concurso, a legitima dos filhos é de dois terços da herança (art. 2159º/2). Desta forma, tem-se
uma herança de valor de 900.000€ que como quota indisponível corresponde a 600.000€ e como
quota disponível tem-se o valor de 300.000€.
A herança de Guilherme foi composta pela casa onde o seu pai vivia e esta tinha o valor de
350.000€. Desta forma, Guilherme passa de herdeiro legitimário a legatário (art. 2165º/4) e
como o valor da casa é superior à quota indisponível deve-se imputar o restante do valor a partir
da quota disponível. Portanto, aos 300.000€ da quota indisponível acrescenta-se 50.000€ da
quota disponível, uma vez que, são compostas.
Francisco ainda dispõe do seu património uma herança ao seu filho Henrique. A herança é um
património autónomo e tem o valor de 40.000€. Portanto, recebe esse valor da quota disponível
e ainda sobra da mesma, 210.000€. O que sucede com este valor? Chama-se os herdeiros
legitimários (aplica-se o regime supletivo: art. 2133º/1/a), que são os mesmos e dessa forma, os
210.000€ são divididos em dois (105.000€ para cada um). Portanto, Guilherme irá receber
455.000€ e Henrique irá receber 445.000€.

1. E se Guilherme não aceitar a substituição da legitima?


Como era um valor superior, Guilherme devia aceitar a substituição mas se não aceitasse a casa,
os 50.000€ da quota disponível que recebeu eram juntados aos 210.000€ que sobraram que eram
divididos pelos herdeiros legitimários (130.000€).

2. E o que acontecia se Francisco dispõe de um valor superior aos 300.000€?


Supondo que, Francisco queria dar a casa a Guilherme em vez de compor na legítima, o que
acontecia? O valor a receber da casa era reduzido para 300.000€ e os outros 50.000€ seriam
colocados pela legítima como tornas, recebendo apenas a quantia de 250.000€ em bens.

Caso Prático 3:
António morre em 2010, sem deixar testamento, sobrevivendo-lhe a mulher (Berta, com
quem havia casado no regime da comunhão de adquiridos) e dois filhos, Carlos e Daniel.
Na prática havia vivido os últimos anos separado de facto de Berta, numa quinta que
havia herdado de seu pai Elói, que lhe deixara, além dessa propriedade, com o valor de
90.000 €, uma conta bancária com 10.000 €.
Berta havia ficado a morar na casa que o casal tinha adquirido poucos anos após o
casamento, que custara 10.000€, mas valeria, à data da morte de António, 60.000€, face
aos melhoramentos introduzidos e a valorização da própria propriedade. Tinha no banco
depósitos no valor de 90.000€.Quando ainda viviam em conjunto, António e Berta haviam
doado a cada filho 50.000€ para os ajudar no início de vida. Nestas circunstâncias, tendo
presente a matéria entretanto lecionada, responda às seguintes questões:
1. Explique quem poderia exigir a partilha da herança.
Pode exigir a partilha os herdeiros, Carlos e Daniel, e o cônjuge, Berta (art. 2101º cód. civil).
Um legatário não pode exigir a partilha da herança, apenas requerer o inventário, tal como os
credores pois daqui conclui-se se existe dinheiro ou bens para lhes pagar ou entregar.

2. Havendo acordo entre os herdeiros, será necessária a realização de uma escritura de


partilha?
O critério a analisar é os bens, ou seja, se há bens imoveis ou não. Neste caso, existe uma casa e
uma quinta logo, o acordo devia ser celebrado por escritura pública (art. 2102º cód. civil e art.
80º cód. not).

3. Se Daniel, solteiro, estivesse gravemente doente, em coma, essa situação afetaria os


termos da partilha?
Se Daniel, solteiro, não pudesse receber a herança por motivos de saúde, tal implicaria um
inventário e uma partilha judicial (art. 2102º/2/c).

4. Calcule o valor da herança a partilhar.


António deixou como herança uma quinta, no valor de 90.000€, que recebera do seu pai,
juntamente com 10.000€ deixados numa conta bancária. Para além disto, António deixou uma
casa que, inicialmente, valia 10.000€ e mais tarde é avaliada em 60.000€ e também um depósito
bancário no valor de 90.000€. É dito que, António e Berta, enquanto moravam juntos, doaram a
cada filho 50.000€ para os ajudar no início de vida.
Em primeiro lugar, deve-se fazer a meação dos bens e tratar dos encargos e dividas deixados
pelo falecido e ainda, verificar-se a existência de herdeiros legitimários. Sendo assim, não se vai
proceder à junção de todos os bens porque deve-se fazer a meação por causa do regime de bens
celebrado por António e Berta (art. 1722º/1/a/b). Então, como bens próprios de António tem-se
a quinta (90.000€) e o depósito bancário (10.000€). Os restantes bens eram comuns e portanto,
tem-se que dividi-los: os 60.000€ da casa são divididos em dois e 30.000€ são de Berta e os
outros 30.000€ deverão ser partilhados, o mesmo acontece com a conta bancária (45.000€) e
com a doação (50.000€). No total, tem-se uma herança de 225.000€.

5. Poderá Carlos exigir que a mobília do seu quarto de solteiro integre a sua quota
hereditária?
Existe o direito de preferência na partilha, todavia, ele destina-se ao cônjuge (art. 2103º/A). Ele
poderia pedir mas não exigir, pois Carlos não tem direito de preferência.

6. Calcule o valor da legítima objetiva e das legítimas subjetivas.


Genericamente, a legítima objetiva corresponde a 2/3 da herança (art. 2159º) e a subjetiva
corresponde a 1/3 da herança. Assim, tem-se como quota indisponível 150.000€ e como quota
disponível tem-se 75.000€ e desta forma, os 150.000€ devem ser divididos por Berta, Carlos e
Daniel em partes iguais o que corresponde a 50.000€ (art. 2157º/2ª – art. 2136º). A quota
disponível é partilhada da mesma forma.

7. Não tendo António feito qualquer disposição, como se distribui o valor da quota
disponível?
Quando o antigo sucessor não dispõe da quota disponível, divide-se o valor total por cada
cabeça dos seus herdeiros (art. 2136º), logo dá mais 25.000€ para cada um. Concluindo, na
sucessão legitimária cada um recebe 50.000€ e na sucessão legítima cada um recebe 25.000€,
dando o total da herança de 225.000€.

Caso Prático 4:
Francisco, viúvo com dois filhos (Guilherme e Henrique), morre em França, deixando
bens no valor de 1.000.000€. No seu testamento estipula que a legítima de Guilherme, seu
filho mais velho, deverá ser composta pela casa onde vivia, cujo valor se vem a apurar ser,
à data da abertura da sucessão, de 350.000€. Estipula ainda a favor de Henrique a sua
quota na herança, ainda indivisa, de seu pai, Zacarias, no valor de 100.000€. As despesas
com a transladação do corpo e o funeral elevaram-se a 100.000 €. Tendo presentes estes
dados, responda em termos fundamentados às questões seguintes.
1. Elabore o mapa da partilha de Francisco.
Francisco, viúvo com dois filhos (Guilherme e Henrique), deixa uma herança de 1.000.000€.
Antes demais deve-se pagar as despesas da translação do corpo e as despesas do funeral
(10.000€), desta forma, tem-se uma herança de 900.000€. Como se tem dois filhos a herança
será dividida em duas quotas, a disponível e a indisponível que, corresponde a 1/3 e a 2/3
respetivamente (art. 2159º/2/2ª). Ora, a quota indisponível tem o valor de 600.000€ e por isso,
cada um dos filhos recebe 300.000€ (art. 2136º).
Todavia, Francisco compôs na herança de Guilherme uma casa de valor de 350.000€ e portanto,
há uma substituição da legítima. Se ele aceitar, a diferença será imputada na quota disponível
(art. 2165º/). E deixou 100.000€ a Henrique, logo vai-se buscar esse valor à quota disponível e
sobrou 150.000€ que serão repartidos em partes iguais, 75.000€ (art. 2136º).
Desta forma, Guilherme e Henrique recebem da sucessão legitimária 300.000€, em relação à
sucessão testamentária, Guilherme recebe 50.000€ e Henrique 100.000€ e depois ambos
recebem 75.000€ da sucessão legítima. Portanto, Guilherme recebe 425.000€ e Henrique recebe
475.000€. Caso o Guilherme não tivesse aceite a substituição do legado, ele recebia 300.000€ e
depois só 100.000€ da quota disponível, dando o total de 400.000€. Já Henrique tinha uma
herança de 500.000€.
2. Se a casa com a qual Francisco pretendeu compor a legítima de Guilherme lhe tivesse
sido doada em vida (e, nesses termos o valor já não integrasse os relicta), isso alteraria o
mapa da partilha?
Se há uma doação em vida do autor da sucessão, está é chamada à colação e assim, começa-se
por imputar à quota indisponível (300.000€) e depois imputa-se o restante à quota disponível
(50.000€) de acordo com o regime da colação (art. 2162º). Há também uma disposição
testamentária a favor de Henrique (100.000€) e ainda sobra 150.000€. Os 600.000€ da
legitimária são divididos pelos irmãos (art. 2159º/2 + art. 2136º e art. 2157º). Deve-se proceder
à igualação (art. 2104º e art. 2108º) e por isso Henrique recebe mais 50.000€. Depois disto,
verifica-se que ainda sobre 100.000€ de remanescente que são divididos em partes iguais.
Portanto, Guilherme recebe 400.000€ e Henrique recebia 500.000€.

3. E se a casa com a qual Francisco pretendeu compor a legítima de Guilherme lhe tivesse
sido doada em vida com dispensa de colação?
Como não há lugar à colação, a doação é imputada na quota disponível (art. 2104º), todavia, o
valor da doação ultrapassa a quota disponível e por isso, deve-se proceder a uma redução. Como
se faz a redução? Deve-se proceder à ordem de redução (art. 2171º), que estabelece em primeiro
lugar as disposições testamentárias a título de herança, mas tal não se prevê e em segundo os
legados. Portanto, corta-se os 100.000€ de Henrique, ou seja, perde a quota da herança. Como
ainda falta 50.000€ para completar os 350.000€ e assim, como ainda se tinha a quota
indisponível, retira-se os 50.000€ daí (art. 2108º + art. 2169º). Portanto, Guilherme recebia
600.000€ e Henrique recebia 300.000€, tendo perdido o direito à sucessão testamentária.

4. E se a casa houvesse sido deixada em testamento?


A casa foi deixada em testamento a Guilherme e portanto, agora tem-se duas disposições
testamentárias, a casa (350.000€) e a quota de herança (100.000€), que ultrapassam o valor da
quota disponível, logo tem-se de proceder a uma redução. Portanto, utiliza-se a regra de três
simples para saber o valor a reduzir: (450 __ 350; 300 __ x) = 233.333€. O mesmo sucede com
a quota da herança (450 __ 100; 300 __ x) = 66, 666€. Portanto, Guilherme recebia da quota
disponível 233.000€ e Henrique recebia 67.000€. Assim, com a sucessão legitimária, Guilherme
recebia 533.000€ e Henrique recebia 367.000€.

5. Havendo doação da casa em vida (tal como se indica nas duas questões 2 e 3) poderia a
empresa funerária, para acautelar o pagamento das despesas de transladação do corpo e
do funeral, exigir a colação?
A funerária pretendia exigir a colação mas tal não era possível pois só podem exigir aqueles de
quem a beneficia. A funerária apenas podia requer o inventário porque tem interesse em saber o
valor dos bens para saber se há dinheiro para ser pago.
Caso Prático 5:
António morre, sobrevivendo-lhe a mulher, Belmira e dois filhos, Carlos e Diogo. Deixa
bens no montante de 125.000 €. A casa, onde vivia com Belmira, havia sido comprada com
um empréstimo ao banco, do qual faltava pagar 40.000 €. As despesas do funeral
elevaram-se a 10.000 €. Em vida, o casal (António e Belmira) havia feito uma doação a
Diogo e sua mulher Elvira, no valor de 80.000 €. No testamento, António deixava 30.000 €
a Carlos e o remanescente da herança para Belmira.
1. Elabore o mapa da partilha.
Para calcular o valor da herança partilhável deve-se ter em conta três verbas: a relicta,
correspondente 125.000€, a donata correspondente a 40.000€, que é a sua meação dos 80.000€
(art. 2162º) e as dívidas que correspondem a 30.000€ (art. 2068º). Portanto, como valor total da
herança partilhável tem-se 135.000€, uma vez que, se retira os 30.000€ das dívidas/encargos.
Agora, é importante calcular a quota indisponível e a quota disponível e desta forma, a primeira
corresponde a 2/3 (90.000€) e por isso, será 30.000€ para cada herdeiro (art. 2159º/1 e art. 2136º
+ art. 2157º) e a segunda corresponde a 1/3 e por isso, será 45.000€.
Em primeiro lugar, deve-se pegar na doação (40.000€) e tentar imputá-la. Ora, esta foi feita a
Diogo (presuntivo herdeiro) e a Elvira (mulher de Diogo), logo só é chamada à colação a parte
de Diogo (art. 2107º). Assim, o valor da donata será dividido em dois, e desta forma, 20.000€
(correspondentes à parte de Diogo) serão imputados na quota indisponível e a outra metade será
(correspondente à parte de Elvira) será imputada na quota disponível.
António deixa ainda 30.000€ para Carlos e o remanescente para Belmira da quota disponível.
Então, como se irá imputar estes valores se há um excesso? Há inoficiosidades porque
ultrapassa a quota disponível e afeta a quota indisponível, e por isso deve-se reduzir os valores
segundo uma ordem, mas qual? Ora, tudo depende da natureza das verbas, a disposição feita a
Belmira é a título de herança e a disposição feita a Carlos é a título de legado. Portanto, em
primeiro lugar corta-se a herança e só depois o legado. Como o excesso era 5.000€, Carlos só
recebe 25.000€ (art. 2171º). Deste modo, Carlos recebia 55.000€ (30+25), Belmira recebia
30.000€, Diogo recebia 30.000€ e Elvira recebia 20.000€.

2. Explique como são distribuídos os relicta.


A relicta é o património que o autor da sucessão deixa à data da sua morte, por isso corresponde
a 125.000€. Ora, Belmira recebia 30.000€, Diogo recebia 55.000€ e Diogo recebia 10.000€
porque já tinha recebido 20.000€ com a doação e Elvira não recebia nada. Isto dá um total de
95.000€ que juntando os 30€ das despesas, dá um total de 125.000€.

Caso Prático 6:
André morre em Janeiro de 2012. Deixa dois filhos maiores, Bernardo e Catarina, e a
viúva, Dora, com quem havia casado em 1980, sem que houvessem determinado o regime
de bens. No seu testamento estabeleceu as seguintes deixas: - 100.000 € à Santa Casa da
Misericórdia; - a quota da herança ainda não partilhada do seu pai Xavier, no valor de
500.000 €, aos seus filhos. A casa em que André viva com a sua família e que havia sido
comprada com o produto da herança de sua Mãe, Zaida, valia 450.000 €. Deixava ainda
500.000 € numa conta bancária, a prazo e uma propriedade no Algarve, avaliada em
400.000 €, adquirida dois anos antes, e da qual faltava pagar 100.000 € ao BCP que havia
concedido um empréstimo. Esta propriedade era usada por Dora e Bernardo que, em
conjunto, ali desenvolviam a sua actividade profissional de promoção de eventos. Aquando
do casamento da Catarina, alguns meses antes, André havia-lhe doado uma casa no valor
de 450.000 €, que era o remanescente da herança de Zaida. Tendo presentes estes
elementos, responda directamente às seguintes questões:
1. Elabore o mapa da partilha de André.
Em primeiro lugar deve-se começar por calcular os bens próprios e os bens comuns. Ora,
começando pelos bens próprios tem-se a quota da herança ainda não partilhada (500.000€) e a
casa comprada com a herança da mãe (450.000€), uma vez que, o que se troca pelo preço de
bens próprios é considerado bem próprio (art. 1722º e art. 1723º). Como bens comuns tem-se a
conta bancária (500.000€) e a casa do Algarve (400 – 100 = 300.000€). Como donata tem-se a
casa doada a Catarina (450.000€) que não entra nos bens comuns pois foi comprada com o
remanescente da herança de sua mãe. Portanto, o valor total da herança partilhável tem-se dos
bens próprios: 950.000€, dos bens comuns: 500 + 300 (400 – 100) = 800 : 2 = 400.000€ (sua
meação) e por fim da donata tem-se: 450.000€. O que dá um total de 1.800.000€.
Sendo assim, como quota indisponível tem-se 2/3 (1.200.000€) e como quota disponível tem-se
1/3 (600.000€). Importa dividir a quota indisponível entre os três herdeiros, o que dá o valor de
400.000€ a cada um (art. 2136º + 2157º e art. 2159º). Agora, chama-se à colação a doação feita
a Catarina e imputa-se na legítima, todavia, como excede irá-se buscar os restantes 50€ à quota
disponível.
André dispôs também de 100.000€ à SCM e depois os 500.000€ da quota da herança. Chega-se
à conclusão que há um excesso, logo há uma inoficiosidade e por isso, deve-se proceder a uma
redução (art. 2171º), todavia, como se faz a redução de dois legados? Deve-se proceder à
redução de 650.000€ e desta forma, onde se tem 600.000€ retira-se 50.000€ relativos à Catarina
que são fixos e dá 550.000€.
Assim, reduz-se os dois legados (600 __ 500 ; 550 __ X), ou seja, (550 x 500 = 275.000€ : 600
= 458.000€) e (600 __ 100 ; 550 __ X), ou seja, (100 x 550 = 55000 : 600 = 92.000€). Portanto,
a quota da herança reduzia para 458.000€, o que corresponde a 229.000€ para cada filho, e a
doação à SCM reduzia para 92.000€. Desta forma, Bernardo e Catarina recebiam 629.000€,
Dora recebia 400.000€ e a SCM recebia 92.000€.

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