Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O que é a Sucessão?
Segundo o conceito romano, significa colocar-se na posição de outrem, ou seja, a
sucessão visava todas as situações nas quais, por morte, era necessário determinar quem
substituía o de cujus na titularidade do seu património. Isto significa que para os
romanos, o que se transmitiam não eram os direitos mas o objeto dos direitos (a res).
Por isso, inicialmente concebiam apenas a sucessão universal que consistia na
perspetiva do chamamento dos sucessores, e só mais tarde começaram a admitir a
sucessão singular que consistia na perspetiva da transmissão dos direitos constituídos.
Nesta dicotomia encontramos o primeiro problema do conceito de sucessão, esta visa
saber quem substitui o de cujus (falecido) na titularidade dos direitos ou determinar
como se transmitem os bens?
Ora bem, olhando para o código civil, e segundo Pires de Lima, baseamos na ideia do
chamamento de uma ou mais pessoas á titularidade das relações jurídico patrimonial de
uma pessoa morta. Já Galvão Telles refere que quando alguém falece, todos os seus
direitos e obrigações que não sejam intransmissíveis por morte se transferem a uma ou
mais pessoas, defendendo assim a transmissão.
Tipos de Sucessão
Sucessão Inter-vivos, em que existe apenas a transmissão ou modificação
subjetiva da relação, produz-se em vida do titular, como consequência de um
contrato ou de um outro ato jurídico.
Espécies de Sucessão
Segundo o código civil, a sucessão é deferida por lei, testamento ou contrato, e é destes
meios que surgem as várias tipologias de sucessão (art.2026º).
Deve-se ter em conta que o falecido só pode dispor da quota disponível e qualquer
disposição estabelecida pelas partes contra a lei será nula, nos termos do
art.2028º\2.
Partilha
A partilha no fundo significa acabar com a indivisão de bens ou de direitos, isto é, não é
obrigatório permanecer a contitularidade indivisa de uma coisa, por isso admite-se a sua
divisão (art.1412º). Por outro lado, como já vimos não pode existir bens “sem titular”.
Distingue-se quanto à natureza como um direito irrenunciável (art. 2101º/2), mas pode
convencionar-se a manutenção da indivisão por períodos ≤ 5 anos.
Quanto ao âmbito do direito entende-se que, qualquer herdeiro ou cônjuge meeiro
(que é herdeiro) pode pedir a partilha da herança.
Os cônjuges têm de estar casados de acordo com o regime da comunhão de adquiridos
(art. 1721º ss) ou da comunhão geral (art. 1732º ss) pois, no regime da separação não há
cônjuge meeiro, uma vez que comunhão é diferente de compropriedade e neste caso há
lugar a uma acção de divisão de coisa comum.
Por fim, os herdeiros ou o cônjuge meeiro podem pedir a partilha quando lhes aprouver
(art. 2101º/1), ou seja, não há um prazo certo pois, não há prescrição extintiva (art.
298.º/1) por se entender que a lei isenta, por esta via.
Modalidades da Partilha
Partilha judicial, destina-se a pôr termo à comunhão hereditária ou, não
carecendo de se realizar a partilha, a relacionar os bens que constituem objeto da
sucessão e a servir de base à eventual liquidação da herança (art. 2º/1 - Lei
23/2013). Em que termos acontece a partilha judicial? Quando algum dos
interessados não aceitar a partilha extrajudicial (art. 2102º/1), quando algum dos
herdeiros não puder outorgar (art. 2102º/2) e quando o Ministério Público o
requerer (por entender haver interesse do incapaz). Qual é o objeto da partilha
judicial? Todo o inventário judicial tem um carácter divisório, pois visa a
partilha, ou seja, visa pôr termo à comunhão hereditária (art. 2º/1) através da
descrição de bens e eventual liquidação das dívidas da herança e/ou verificação
de inoficiosidades. Compete aos cartórios notariais sediados no município do
lugar da abertura o processamento dos actos (art. 3º/1) e ao tribunal de comarca
do cartório os actos da competência de juiz (art. 3º/7).
Natureza e efeitos
Deve-se ter em conta vários aspetos, desde logo, tem-se o problema que consiste nas duas
operações muito distintas da sucessão, ou seja, há uma autonomia patrimonial. Então, a partilha
transfere a titularidade dos bens do de cujus para cada um dos herdeiros (segundo a composição
do respetivo quinhão) ou divide a herança que está em regime de compropriedade desde a
abertura da sucessão?
Por morte do de cujus, o seu património integra, primeiro, a herança (da qual são
comproprietários os herdeiros) que depois é partilhada, ou o património transfere-se diretamente
da esfera jurídica do de cujus para a dos herdeiros? Quais os efeitos da partilha? São
constitutivos (translativos) ou declarativos?
Depois deve-se ter em conta a evolução do regime em que, para os romanos a partilha tinha
efeitos translativos: os herdeiros, no seu conjunto, recebiam a totalidade da herança, tornando-se
comproprietários e a partilha operava a divisão da propriedade. Esta foi a visão que perdurou,
mas começou a ser questionada pelos jurisconsultos franceses no século XVII. O grande
inconveniente parece ser de natureza fiscal (havendo duas operações de transferência, poderiam
incidir impostos duas vezes). Todavia, o código napoleónico conferiu-lhe carácter declarativo.
Então, qual é a posição consagrada? Entende-se que é a posição translativa em que, cada um
dos herdeiros é considerado sucessor único dos bens, desde a abertura da herança, sem prejuízo
do disposto quanto a frutos (art. 2119º). No entanto, existe uma exceção, no regime dos frutos (a
articulação entre rendimentos e despesas) deve-se ter em conta que, os frutos percebidos até à
partilha fazem parte da herança (art. 2069º), os frutos (e bens deterioráveis) devem ser vendidos
para fazer face às despesas (art. 2090º), os herdeiros e o cônjuge meeiro podem exigir a
distribuição de metade dos rendimentos, salvo se forem necessários para satisfação dos encargos
(art. 2092º) e sobre essa matéria o cabeça de casal deve prestar contas anualmente (art. 2093º).
Ineficácia da Partilha
1. Problema o problema da ineficácia é a validade do negócio jurídico, havendo negócios
nulos ou não nulos.
2. Tipos de ineficácia temos a inexistência, nulidade, anulabilidade e ineficácia strictu
sensu
3. Regime da ineficácia global, isto é, quando o vício se refere ou afeta todo o negócio.
Temos então a ineficácia da partilha extrajudicial (2121º) feita por via judicial (285º) e
impugnável nos termos gerais dos contratos, que declarará:
A inexistência da partilha, temos o exemplo do art.245º\1 se for feita por
declarações não sérias, feitas na expectativa de que a falta de seriedade não seja
desconhecida, e o art.246º aquela feita por falta de consciência ou coação física.
A nulidade da partilha, temos o exemplo do art.240º\2 simulação, 244º\2
reserva mental conhecida do declaratário, 280º\1 física\legalmente impossível,
indeterminável ou 281º contrária á lei, 220º falta de forma que tem que ser
escritura pública (875º cc)
A anulação da partilha, incapacidade dos partilhantes (menoridade 125º,
interdição ou inabilitação 148º e 156º, incapacidade acidental 257º), erro (na
declaração 247º, na transmissão da declaração 250º, sobre a pessoa ou objeto
251º, sobre os motivos 252º), dolo 253º, coação moral 255º\256º, usura 282º
A ineficácia strictu sensu, a falta ou irregularidade de circunstância extrínseca
(não ocorrência de efeito suspensivo, insolvência, falência do partilhante)
Temos também a ineficácia da partilha judicial, ou seja, a partilha decorre de decisão transitada
em julgado, que tendencialmente se substitui á vontade dos herdeiros. Esta ineficácia judicial
pode ser por via de revisão (771º) ou de aposição de terceiro (778º), mas tem regime especial, é
o caso da emenda por acordo, recurso interposto no prazo de 1 ano (64º), recurso de anulação
(65º) por preterição ou falta de intervenção do herdeiro.
4. Regime da ineficácia parcial, o que é essencial é a vontade de preservação da partilha,
a ineficácia de elementos essenciais ou acessórios que não determinam a invalidade de
toda a partilha, por isso há redução do negócio (292º e 2121º). Temos como exemplo a
partilha de bens não pertencentes á herança (2123º).
5. Partilha adicional, podemos fazer ou não várias partilhas consoante os bens que vão
surgindo? O legislador permite que isto aconteça. Se aparecerem novos bens não se
começa de novo, ou seja, não se fundem na massa partilhada mas geram nova partilha,
também com efeitos retroativos ao momento da abertura (2122º e 2119º)
Colação
Presente no art. 2104º: é a restituição que os descendentes (ou os seus representantes)
pretendem (se não concorrerem ou não quiserem, conservam as liberalidades (que são,
todavia, redutíveis por inoficiosidade) entrar na sucessão do ascendente devem restituir
à massa da herança, para igualação da partilha, os bens ou valores (se não tiverem
perecido em vida do autor da sucessão por facto não imputável ao beneficiário (art.
2112º) que lhes foram doados por este (enquanto herdeiros legitimários presuntivos,
sem dispensa de colação expressa (art. 2113º) ou legal, conformes aos usos (art. 940º/2)
manuais (art. 947º/2), remuneratórias (art. 941º) e exceções do art. 2110º.
Pressupostos
A colação pressupõe:
Que o autor da sucessão tenha feito doações ou assumido despesas gratuitas a
favor de descendentes presuntivos herdeiros;
Que tais liberalidades não estivessem dispensadas de colação (pela lei ou pelo
autor da sucessão);
Que à sucessão concorram efetivamente diversos descendentes (nomeadamente
os beneficiados) ou seus representantes.
Enquadramento
A razão principal da colação é o problema de antecipação do gozo, ou seja, existe uma
presunção de que o autor da sucessão apenas pretendeu antecipar o gozo desses bens aos
descendentes em causa e existe uma ideia da compropriedade familiar que impõe a igualação
dos herdeiros. Quem tem legitimidade para agir? A doutrina defende que apenas aqueles a
quem poderia ser exigida (e já não todos aqueles que dela possam beneficiar nomeadamente
legatários, e herdeiros testamentários que não sejam descendentes, ou mesmo credores da
herança) por visar apenas a igualação entre descendentes. De qualquer forma, por regra, em
caso de redução por inoficiosidade, as liberalidades em favor dos descendentes prevaleceriam
sobre outras.
Forma
Deve-se ter em conta o respetivo valor que corresponde ao valor existente à data da
abertura da sucessão (art. 2109º) incluindo os frutos desde a abertura (art. 2111º) e o
valor das deteriorações culposamente causadas (art. 2116º), podendo ser excluídas as
benfeitorias úteis e necessárias, por ser considerado possuidor de boa-fé (art.
2115º/273º). E deve-se ter em conta (se os partilhantes autorizarem) a restituição dos
bens doados (colação em substância).
Procedimento de igualação
Em primeiro lugar, as doações são imputadas na quota hereditária (art. 2108.º),
legitimária, qualquer quota hereditária e também em qualquer sucessão voluntária,
exceto se a doação foi feita com dispensa de colação. Havendo bens remanescentes faz-
se a igualação possível. Não havendo remanescente imputa-se na quota disponível. Não
cabendo nesta, reduz-se por inoficiosidade (art. 2173º).
Regimes Especiais
Distingue-se o regime da colação absoluta que traduz-se nas doações por conta da
legítima; o autor da sucessão não pretende beneficiar o descendente; o excedente não se
integra na quota disponível, apenas na medida em que permita a igualação. Considera-se
que o art. 2108º tem carácter supletivo, nomeadamente quando o nº 2 limita a igualação,
pelo que o autor da sucessão pode afastar essa regra, impondo a mesma igualação.
E por fim, o regime relativo ao cônjuge que estabelece que o problema surge com a
inclusão do cônjuge no leque dos herdeiros legitimários; a doutrina não converge e o
RCS vai no sentido da sujeição, mas a letra do art. 2104º parece excluir.
Procedimento de Igualação
António deu 100.000€ em vida a Bernardo, pelo que, é chamada à colação e por isso,
deve-se proceder à igualação. Sendo assim, Bernardo tinha 80.000€ da sucessão
legitimária, faltam 20.000€ para completar a doação. Esses 20.000€ serão retirados da
quota disponível. Sem os 40.000€ para a SCM e esses 20.000€ da doação, sobram
outros 20.000€ e com esses, iguala-se a parte de Carlos fazendo o total de 100.000€.
NOTA: quando a relicta é insuficiente para as despesas tem-se uma questão de
insolvência (art. 2068º), ou seja, paga-se de acordo com uma ordem: despesa de funeral,
despesa testamentária, dívidas do autor da sucessão. Portanto, não há uma
proporcionalidade.
Designação Sucessória
É a indicação de quem são os sucessíveis, essa indicação ocorre antes da morte e é feita
pela lei.
A questão entronca com as espécies de sucessão segundo o critério das fontes, sendo
agora analisada segundo uma nova perspetiva, a predeterminação de pessoas ou
categorias de sucessíveis. A lei pretende evitar hiatos na transmissão dos bens, tornando
claros os critérios ou mecanismos através dos quais serão transmitidos os bens da
herança.
4º Sucessíveis legítimos tem carater supletivo 2131º, existe para as situações em que o autor da
sucessão não dispôs valida e eficazmente sobre a totalidade ou parte dos bens.
Modalidades
Noção a determinação legal (imperativa - para o autor da sucessão - e inderrogável) de
categorias de pessoas sucessíveis numa determinada percentagem da herança.
Origem e evolução Surge no direito romano clássico e pós clássico com a portio debita
evoluindo no período justinianeu com a portio legítima, que fixavam porções reservadas
aos sujeitos à potestas do de cujus.
O regime veio, no séc. III a consagrar mesmo uma tutela relativa às liberalidades inter
vivos.
Foi desenvolvido pelo direito germânico que consagrava um carácter coletivo da
propriedade, não acolhendo sequer a figura do testamento.
Só tardiamente reconheceu uma quota disponível -freiteil (parte livre), evoluindo para
perspectivas mais individualistas.
A figura da reserva legitimária surge no séc. XV, sendo consagrada nas ordenações
afonsinas e filipinas.
O CC 1867 fixa a legítima em 2/3 (regra geral).
A República desce-a para ½ - O CC 1966 eleva-a novamente para 2/3.
A CRP 76 alarga o âmbito ao cônjuge e filhos nascidos fora do casamento.
Fundamento
o Proteção da família nuclear
o Entreajuda e solidariedade
o Garantias de mínimos de bens para a manutenção e desenvolvimento dos
membros
o [Controlo de tendências discriminatórias].
Classes
a. (2157.º - 2133.º/1 a) Cônjuge, descendentes e adotados plenos (1986.º/1) e seus
descendentes
b. (2157.º - 2133.º/1 b) Cônjuge, ascendentes e adotantes plenos (1986.º/1) e seus
ascendentes.
Existindo preferência, a primeira prevalece sobre a segunda classe (2134º) e dentro de cada uma
prevalece os parentes com grau mais próximo (2135º).
Designação Contratual
Carácter excecional dos pactos sucessórios
2028,º/2 - Os contratos sucessórios apenas são admitidos nos casos previstos na lei,
sendo nulos todos os demais …
Designação Testamentária
Noção de testamento
Ato unilateral e revogável, pelo qual uma pessoa dispõe, para depois da morte, de todos
os seus bens ou de parte deles (2179.º/1), no fundo, é um ato de disposição.
Também abrange disposições sem carater patrimonial (2179º\2), como por exemplo:
o Destino do cadáver (DL 41/98 30 XII, art. 3.º/1 a)
o Confissão extrajudicial (358.º/4)
o Perfilhação (1853.º b) - irrevogável (1858.º)
o Designação de tutor e respectiva revogação (1928.º/3)
o Disposições a favor da alma (2224.º) [Instituição de fundação (185.º/1)
[Testamentaria (2320.º].
Caraterização
o Negócio jurídico, 2179 – ato jurídico, declaração de vontade que visa a
produção de efeitos jurídicos
o Unilateral, - é uma declaração de vontade singular. È pessoal (insusceptível de
ser efetuado por representante ou depender do arbítrio de outrem (2182.º/1). É
individual (nulidade dos testamentos por acordo - 2181.º, 294.º). Com tendência
subjetivista (2187.º prevalece a vontade real do testador sobre a objectividade
da declaração negocial)
o Mortis causa, pois apenas produz ou visa produzir efeitos depois da morte.
o Livre e revogável, 2179.º/1 (excepto quanto à perfilhação - 1858.º);
irrenunciável (2311.º)
o Não receptício, produz efeitos antes de ser levado ao conhecimento dos
interessados (é imediata/ válido; só a sua eficácia depende da morte e da
aceitação dos chamados)
o Formal, (2204.º, 2210.º ss.) - tem de revestir uma das formas típicas
Condições de validade
o Capacidade dos sujeitos:
Ativa – tem capacidade todos os indivíduos que a lei não declare
incapazes (2188.º), ou seja,exceptuam-se menores não
emancipados (2189.º a), 132.º, 1601.º e os interditos por anomalia
(2189.º b), 138.º). As condições aferem-se aquando da expressão
da vontade (na data do testamento) e não na abertura da sucessão,
obviamente que a falta de capacidade implica a nulidade (2190.º,
280.º ss.)
Passiva - Âmbito muito alargado [que extravasa o princípio geral
art. 67.º] Exceções: as incapacidades e as indisponibilidades
testamentárias. Quanto às incapacidades temos, o regime da
indignidade sucessória (2034.º), e neste ponto devemos distinguir
indignidade de deserdação.
Indignidade Deserdação
Abrange todas as modalidades Surge apenas na sucessão
legitimária
Conferível antes da morte Por vontade do autor da
(2036º) sucessão (2166º)
Admite-se a reabilitação No testamento
Âmbito material mais alargado Âmbito mais restrito
Integração
Pode haver integração das lacunas reais, relativas a pontos omissos (239º). Quando
falamos em pontos omissos são sobre elementos não essenciais, ou seja, são elementos
acessórios, dado o caráter formal.
Conteúdo do testamento
O que o testamento pode incluir?
Disposições sem carácter patrimonial
As que a lei prevê (destino do cadáver, confissão, perfilhação,
designação de tutor, etc.)
Disposições relativas aos efeitos póstumos de direitos da
personalidade, como por exemplo, publicidade de memórias,
correspondência escritos (76.º, 77.º); Retratos, relatórios, etc.
(79.º). Revelação de factos privados (80.º); Realização de
homenagens ou imagens evocativas
Disposições a título de herança
Âmbito - abrange benfeitorias (216.º), partes integrantes dos imóveis e os
frutos (2271.º)
Disposições a título de legado
De coisa onerada - mantém-se a oneração (2272.º)
De coisa alheia ou inexistente - é nulo (2251.º, 2254.º), ou só
parcial (2252.º)
Para pagamento de dívida (2259.º/1) - válido desde que o
legatário não fosse incapaz de o receber (por indignidade - 2034.º
- ou indisponibilidade relativa - 2192.º ss.)
De créditos (2261.º) - válido sem necessidade de notificação do
devedor (notificação necessária p/ produção de efeitos, 583.º)
De usufruto [simultâneo ou sucessivo] ou de prestação periódica -
válido (2030.º/4; tb. 1439.º)
Pio (deixas testamentárias p/ fins religiosos ou p/ obras de
caridade) - válidos; regulado por lei especial
Pré-legados (2264.º) - legado a favor de um dos co-herdeiros,
acrescendo à respectiva quota.
Cláusulas acessórias
Podemos ter cláusulas acessórias gerais:
Condição (2229.º)
Termo (278.)
Modo ou encargo
Cláusulas penais
Podemos ter cláusulas acessórias especiais:
Substituição direta (2281.º)
Substituição fideicomissária (2286.º ss.)
Substituição pupilar ou quase-pupilar (2297.º ss.)
Relevância da revogação
O carácter livre e revogável (2179.º) como essencial A irrenunciabilidade da
revogabilidade (2311.º)
Caducidade testamentária
Ao regime geral (298.º) e demais casos previsto na lei o 2137.º introduz circunstâncias
especiais cuja verificação determina a caducidade:
o Pré-falecimento do instituído ou nomeado (2317.º) sem direito de representação
(2039.º ss.) por não verificação da condição legal de sobrevivência - 2032.º/1]
o Falecimento do sucessor sem preenchimento de condição suspensiva (2317.º b)
o Incapacidade superveniente do instituído ou nomeado (2317.º c), 2032.º, por
indignidade - 2034.º, 2037.º; também por indisponibilidade
o Se o beneficiário era cônjuge entretanto divorciado, separado ou declarado nulo
(2317.º c) - podendo a sentença ser proferida posteriormente
o Se o beneficiário repudiar sem que haja representação 2317.º d)
Inexistência
Não produz quaisquer efeitos (por falta de vontade de testar) ex. o testamento não sério
(245.º) ou realizado com coação física (246.º); pode haver obrigação de indemnizar
(245.º/2 e 246.º final)
Nulidade
Pode produzir efeitos laterais ou secundários - 289.º/2 e 3, 291.º do testamento - p. ex.
2180.º (falta de expressão da vontade), 2190.º (incapacidade do testador); de
disposições testamentárias - p. ex. 2184.º (t. per relationem), 2186.º (ilicitude do objeto),
2194.º (indisponibilidade passiva - 2192.º ss)
Anulabilidade
Pode produzir efeitos laterais ou secundários do testamento - p. ex. incapacidade
acidental (2199.º) ou de disposições testamentárias - (simulação 2200.º, erro, dolo ou
coação 2201.
A Morte
O CC define sucessão como o chamamento à titularidade das relações jurídicas
patrimoniais de uma pessoa falecida (2014.º)
Especifica depois que a sucessão se abre no momento da morte (2031.º)
A demonstração de que a morte é pressuposto não oferece dificuldades, ou necessidade
de desenvolvimento.
A morte física e a determinação exata da ocorrência
Temos várias aceções jurídicas de morte:
o Morte presumida 114º, regulada como forma de ausência
o Morte civil
o Morte de pessoas coletivas
Existe uma dificuldade de determinação do momento da morte:
o A morte enquanto processo, a colheita de tecidos \órgãos faz-se enquanto estes
estão vivos
o O critério legal, a cessação irreversível das funções do tronco cerebral
Quanto á relevância jurídica da morte, esta desencadeia inúmeros efeitos jurídicos,
como efeitos sucessórios, familiares, administrativos, penais, processuais e fiscais etc.
A lei impõe o registo da morte, necessita de identificação, data, hora, lugar e causa. O
registo da morte é requisito da invocação da qualidade de herdeiro.
Morte Presumida
É a ausência, sem notícias, durante determinados períodos temporais:
10 Anos
5 Anos se> 80
+ De 5 sobre a maioridade
Também produz efeitos sucessórios (115º) e outros efeitos (decorrentes da morte,
quase-divórcio 116º)
Quanto ao procedimento, temos a curadoria provisória (89º), curadoria definitiva (99º) e
morte presumida (114º).
Abertura da Sucessão
Conceito
A morte gera a abertura da sucessão (2031º).
Corresponde ao início do processo tendente à devolução sucessória das relações
jurídicas transmissíveis do de cujus.
A vinculação mantém-se, aguardando o subingresso dos sucessíveis nas posições
jurídicas do de cujus, após o que a aceitação e partilha verão os seus efeitos retroagirem
ao momento da abertura da sucessão (aceitação - 2050.º/2; partilha - 2119.º), as relações
jurídicas não se extinguem com a cessação da personalidade jurídica [por morte, 68.º/1]
de um dos sujeitos (ativo ou passivo).
Relevância da abertura
A vocação sucessória (o chamamento) tem lugar no momento da abertura da sucessão
(2032.º/1), altura em que têm de conferir-se os respectivos pressupostos (titularidade da
designação sucessória prevalente, personalidade jurídica, capacidade sucessória)
Os efeitos da aceitação (2050.º/2) da herança ou legado retroagem ao momento da
abertura, não podendo a mesma ocorrer antes do momento da abertura
Só depois da abertura podem os sucessores celebrar actos de alienação dos bens (2124.º
ss., 2062.º ss, 2249.º)
O valor dos bens é o do momento da abertura - para efeito do cálculo da legítima
(2162.º/1), para os bens doados sujeitos à colação (2109.º/1)
Os efeitos sucessórios são regulados pela lei vigente ao momento da abertura da
sucessão (12.º)
Lugar da abertura
O lugar do último domicílio [voluntário geral] do autor da sucessão (2031.º),
corresponde ao lugar da sua residência habitual (82.º), relevante para efeitos da
determinação do tribunal competente.
Vocação Sucessória
Conceito de Vocação
Chamamento de herdeiros e legatários á titularidade das relações jurídicas
transmissíveis do falecido (2032º). É regulada em conjunto com a abertura por
normalmente coincidirem no tempo, embora a abertura anteceda ao chamamento.
A vocação sucessória surge por vezes a par ou como equivalente da devolução
sucessória (2024º 2032º).
Importa que saibamos as seguintes distinções:
Morte – é a causa
Abertura – resulta da necessidade do subingresso nas posições jurídicas do de
cujus
Vocação – chamamento dos sucessíveis
Aceitação
Partilha
Devolução
Isto significa que aberta a sucessão serão chamados á titularidade das relações jurídicas
do falecido, aqueles que gozam de prioridade na hierarquia dos sucessíveis, desde que
tenham necessária capacidade (2032º\1).
Conteúdo
Consiste essencialmente do direito de aceitar ou repudiar a herança ou legado,
dependendo dessa decisão outros efeitos.
Pressupostos
1º Titularidade da designação
O chamamento dirige-se aos designados com prioridade, segundo a lei e a vontade do
de cujus
2º Existência do chamado
A existência é condição do chamamento.
São chamados os designados que têm capacidade sucessória.
Assim podem ser chamados o Estado, todas as pessoas nascidas ou concebidas ao tempo
da abertura da sucessão, não excetuadas por lei (2033º\1).
3º Capacidade Sucessória
A capacidade sucessória é a regra, a incapacidade é exceção.
Indignidade Sucessória (2034º)
É considerado indigno:
Condenação por crime doloso contra a vida ou honra do autor da sucessão ou
sua família
Afetação grave da liberdade de testar ou da expressão da vontade do autor da
sucessão
A indignação tem como efeitos:
Torna inexistente a vocação
O indigno é tido como possuidor de má-fé
Há direito de representação e de acrescer
Portanto, o indigno não é chamado por carecer de capacidade, caso se habilite como
herdeiro será necessária uma declaração judicial para o afastar.
Mas pode haver reabilitação do indigno (2038º), que pode ser:
Expressa por testamento ou escritura pública
Tácita, conhecendo da indignidade o autor da sucessão contempla-o
beneficiando-o apenas dessa disposição
Como podemos ver a indignidade é diferente da deserdação, uma vez que a deserdação
é especial, por vontade do autor da sucessão e afasta o regime imperativo, por sua vez, a
indignidade é geral, constatação da inidoneidade.
Modos de vocação
Originária\subsequente – surge no momento da abertura da sucessão ou depois
(2032º\1\2). Há vocação subsequente se um chamado houver de ser substituído
com ou sem mudança de vocação (nos casos de repúdio, já que ocorre depois da
abertura da sucessão, e no caso da declaração de morte presumida após a
abertura).
Pura\condicional ou a termo – se o chamamento depende ou não do
preenchimento de condições. Em geral são admissíveis condições ou termos,
mas subsistem limitações 2243º
Simples\modal – se estiver sujeita a encargos ou cláusulas especiais. A sujeição
a encargos não pode ocorrer na sucessão legitimária, sendo genericamente
admitida nas restantes designações.
Direta\indireta- se o sucessível é chamado em vez de sucessível que não pode ou
não quis aceitar a herança. Como formas de vocação indireta temos:
1. Direito de representação
Dá-se a representação sucessória quando a lei chama os descendentes de um herdeiro ou
legatário a ocupar a posição daquele que não pôde ou não quis aceitar a herança ou o
legado (2039º)
Na sucessão legal não surgem restrições significativas mas subsistem limites (2042º):
Apenas descendentes do autor (filhos)
No caso de não haver filhos, temos descendentes dos irmãos (sobrinhos)
Na sucessão testamentária apenas nos caso de pré-morte ou repúdio (2041º\1), e aqui
qualquer descendente pode representar (1582º\1), caso o de cujus não afastou a pessoa
ou nomeou substitutos.
2. Substituição Direta
O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro instituído para o caso de este não
poder ou não querer aceitar a herança (2281º\1).
Ocorre na sucessão testamentária por determinação do autor do testamento (2281º\1
2285º\1.
A substituição prevalece sobre o direito de representação e sobre o direito de acrescer.
Pode ser simples ou plural, conforme haja ou não vários substitutos ou substituídos
(2282º), recíproca ou não recíproca, se os co-herdeiros ou co-legatários se substituírem
reciprocamente.
3. Direito de Acrescer
É o direito do sucessível, chamado simultaneamente com outros, de adquirir o objeto
sucessório que outro ou outros não puderam ou não quiseram aceitar, verificados os
necessários pressupostos.
Dá-se na sucessão legal e voluntária, entre herdeiros e legatários.
Tem como pressupostos:
Negativos – 2304º - não verificação de substituição direta, declaração de
vontade contrária do autor da sucessão, representação ou transmissão
Positivos – existência de uma quota vaga por falta ou repúdio e a subsistência de
uma pluralidade de co-herdeiros ou legatários.
Aquisição Sucessória
Ao chamamento sucede a resposta, no entanto, entre a morte e a aquisição (decorrente
da aceitação) pode distar um espaço de tempo considerável, a lei designa essa situação
de herança jacente.
Herança jacente
É a herança aberta, mas ainda não aceite nem declarada vaga para o Estado (2046º).
A titularidade da herança não é do autor da sucessão nem dos sucessíveis enquanto a
não aceitarem.
A prática de atos urgentes é possível por qualquer dos sucessíveis, e aqui havendo
oposição dos outros sucessíveis segue-se a vontade da maioria até que seja determinado
o cabeça de casal (2079º). Não havendo sucessíveis disponíveis pode ser nomeado pelo
tribunal, a requerimento do MP ou de qualquer interessado, um curador da herança
jacente (2048º).
Aceitação
A caducidade do direito de aceitação é de 10 anos (2059º) desde o conhecimento do
chamamento. Uma vez que o prazo é extenso, pode prejudicar os interesses de terceiros,
por essa razão, conhecido que seja o herdeiro pode o MP ou qualquer interessado,
decorridos quinze dias sobre a abertura, requerer a notificação para que aceite ou
repudie (2049º\1), valendo o silêncio como aceitação (nº2).
A aceitação é:
Ato unilateral
Não receptício
Que sucede á abertura 2032º\1
Irrevogável 2061º
Com efeitos retroativos 2050º
Tem como modos:
Expressa – declaração de aceitação ou assunção do título de herdeiro com
intenção de adquirir em documento
Tácita – atos que com toda a probabilidade o revelam
Quanto aos efeitos:
Leva á aquisição da herança
Repúdio
O repúdio é:
Ato unilateral
Não receptício
Que sucede á abertura 2032º\1
Irrevogável 2066º
Com efeitos retroativos 2062º
O repúdio está sujeito á forma exigida para a alienação da herança (2063º), ou seja,
escritura pública havendo imóveis, ou documento particular para móveis.
Quando quem repudia é casado, tem que obter o consentimento de ambos os cônjuges
(1683º\2), exceto no regime de separação de bens. Quando quem repudia for incapaz
depende de autorização do tribunal.
Tem como efeito o facto de quem repudia é considerado não chamado (2249º 2062º), e
no caso de repúdio há direito de representação para os descendentes do sucessível, há
direito de acrescer pelos co-sucessíveis, e chamam-se os outros sucessíveis com
prioridade.
Os credores do repudiante podem impugnar o repúdio até ao montante dos créditos,
num prazo de 6 meses (2067º).
A Administração da Herança
Tem legitimidade para administrar a herança o cabeça de casal (2080º):
Cônjuge sobrevivo, se for herdeiro ou tiver meação nos bens do casal
Ao testamenteiro, salvo declaração do testador em contrário
Aos parentes que sejam herdeiros legais (os mais próximos em grau, por regra, o
herdeiro mais velho).
Aos herdeiros testamentários
O cabeça de casal tem como poderes:
Poderes de administração ordinária, que são atos e negócios jurídicos de
conservação e frutificação normal
Poderes especialmente consagrados como:
o Obtenção bens da herança
o Cobrança de dívidas
o Satisfação das despesas do funeral
o Relacionar os bens da herança
o Requerer o inventário
o Vender os frutos ou outros bens deterioráveis
o Entregar aos herdeiros ou cônjuge até 1\2 dos rendimentos
o Prestar contas anuais e distribuir o saldo positivo
o Participar o óbito ás finanças.
Alienação da Herança
A aceitação produz a aquisição do quinhão hereditário, cujo valor tende a ser
indeterminado. O gozo está prejudicado por se tratar de direitos em comum. Admite-se
que o herdeiro possa transmitir para outrem o direito á herança ou o quinhão hereditário.
Tem como prazo entre a aceitação e a partilha.
A forma depende dos bens em questão: imóveis escritura pública, móveis documento
particular.
Pode alienar a totalidade ou apenas parte da herança.
Parte Prática
Caso Prático 1:
António morre, deixando bens no valor de 1.200€. Por testamento, deixa a Bernardo a
quota da herança de seu pai, Xavier, avaliada em 400€.
1. Seria diferente a partilha se Bernardo fosse, ou não, filho de António?
António deixou como herança 1200€ e deixou a Bernardo 400€ da herança de seu pai, Xavier.
Imaginando que, Bernardo é filho de António, sucessor legitimário, e por isso divide-se os
1200€ em metade que dá 600€. Bernardo é também chamado como legatário e assim, da quota
disponível recebe 400€ e recebe os restantes 200€ enquanto herdeiro legitimário.
Se Bernardo não fosse filho de António, ele era chamado apenas como sucessor testamentário e
por isso recebe apenas os 400€. Os restantes 800€ eram distribuídos pelas classes sucessórias
(art. 2133º), todavia, se não houvesse mais nenhum herdeiro, o Estado recebia os 800€.
3. Seria diferente a partilha se (na hipótese de existirem despesas de 300) em vez dos 400
da herança de Xavier, António tivesse estabelecido uma deixa testamentária a de 1/3 da
herança?
António, em vez de deixar 400€ a Bernardo, deixou 1/3 da herança. Se ele fosse filho, recebia
os 300€ (que corresponde a 1/3) mais o resto da herança. Se Bernardo não fosse filho recebia
apenas os 300€ e os herdeiros legitimários recebiam o valor restante. Agora, supondo que,
António lhe deixava 600€, como a quota disponível é 450€, Bernardo só recebia o valor
disponível, sendo a herança reduzida.
Caso Prático 2:
Francisco, viúvo com dois filhos (Guilherme e Henrique), morre, deixando bens no valor
de 900.000€. No seu testamento estipula que a legítima de Guilherme, seu filho mais velho,
deverá ser composta pela casa onde vivia, cujo valor se vem a apurar ser, à data da
abertura da sucessão, de 350.000€. Estipula ainda a favor de Henrique a sua quota na
herança, ainda indivisa, de seu pai, Zacarias, no valor de 40.000€. Quid iuris?
Guilherme e Henrique são herdeiros legitimários de Francisco (art. 2157º) e em caso de
concurso, a legitima dos filhos é de dois terços da herança (art. 2159º/2). Desta forma, tem-se
uma herança de valor de 900.000€ que como quota indisponível corresponde a 600.000€ e como
quota disponível tem-se o valor de 300.000€.
A herança de Guilherme foi composta pela casa onde o seu pai vivia e esta tinha o valor de
350.000€. Desta forma, Guilherme passa de herdeiro legitimário a legatário (art. 2165º/4) e
como o valor da casa é superior à quota indisponível deve-se imputar o restante do valor a partir
da quota disponível. Portanto, aos 300.000€ da quota indisponível acrescenta-se 50.000€ da
quota disponível, uma vez que, são compostas.
Francisco ainda dispõe do seu património uma herança ao seu filho Henrique. A herança é um
património autónomo e tem o valor de 40.000€. Portanto, recebe esse valor da quota disponível
e ainda sobra da mesma, 210.000€. O que sucede com este valor? Chama-se os herdeiros
legitimários (aplica-se o regime supletivo: art. 2133º/1/a), que são os mesmos e dessa forma, os
210.000€ são divididos em dois (105.000€ para cada um). Portanto, Guilherme irá receber
455.000€ e Henrique irá receber 445.000€.
Caso Prático 3:
António morre em 2010, sem deixar testamento, sobrevivendo-lhe a mulher (Berta, com
quem havia casado no regime da comunhão de adquiridos) e dois filhos, Carlos e Daniel.
Na prática havia vivido os últimos anos separado de facto de Berta, numa quinta que
havia herdado de seu pai Elói, que lhe deixara, além dessa propriedade, com o valor de
90.000 €, uma conta bancária com 10.000 €.
Berta havia ficado a morar na casa que o casal tinha adquirido poucos anos após o
casamento, que custara 10.000€, mas valeria, à data da morte de António, 60.000€, face
aos melhoramentos introduzidos e a valorização da própria propriedade. Tinha no banco
depósitos no valor de 90.000€.Quando ainda viviam em conjunto, António e Berta haviam
doado a cada filho 50.000€ para os ajudar no início de vida. Nestas circunstâncias, tendo
presente a matéria entretanto lecionada, responda às seguintes questões:
1. Explique quem poderia exigir a partilha da herança.
Pode exigir a partilha os herdeiros, Carlos e Daniel, e o cônjuge, Berta (art. 2101º cód. civil).
Um legatário não pode exigir a partilha da herança, apenas requerer o inventário, tal como os
credores pois daqui conclui-se se existe dinheiro ou bens para lhes pagar ou entregar.
5. Poderá Carlos exigir que a mobília do seu quarto de solteiro integre a sua quota
hereditária?
Existe o direito de preferência na partilha, todavia, ele destina-se ao cônjuge (art. 2103º/A). Ele
poderia pedir mas não exigir, pois Carlos não tem direito de preferência.
7. Não tendo António feito qualquer disposição, como se distribui o valor da quota
disponível?
Quando o antigo sucessor não dispõe da quota disponível, divide-se o valor total por cada
cabeça dos seus herdeiros (art. 2136º), logo dá mais 25.000€ para cada um. Concluindo, na
sucessão legitimária cada um recebe 50.000€ e na sucessão legítima cada um recebe 25.000€,
dando o total da herança de 225.000€.
Caso Prático 4:
Francisco, viúvo com dois filhos (Guilherme e Henrique), morre em França, deixando
bens no valor de 1.000.000€. No seu testamento estipula que a legítima de Guilherme, seu
filho mais velho, deverá ser composta pela casa onde vivia, cujo valor se vem a apurar ser,
à data da abertura da sucessão, de 350.000€. Estipula ainda a favor de Henrique a sua
quota na herança, ainda indivisa, de seu pai, Zacarias, no valor de 100.000€. As despesas
com a transladação do corpo e o funeral elevaram-se a 100.000 €. Tendo presentes estes
dados, responda em termos fundamentados às questões seguintes.
1. Elabore o mapa da partilha de Francisco.
Francisco, viúvo com dois filhos (Guilherme e Henrique), deixa uma herança de 1.000.000€.
Antes demais deve-se pagar as despesas da translação do corpo e as despesas do funeral
(10.000€), desta forma, tem-se uma herança de 900.000€. Como se tem dois filhos a herança
será dividida em duas quotas, a disponível e a indisponível que, corresponde a 1/3 e a 2/3
respetivamente (art. 2159º/2/2ª). Ora, a quota indisponível tem o valor de 600.000€ e por isso,
cada um dos filhos recebe 300.000€ (art. 2136º).
Todavia, Francisco compôs na herança de Guilherme uma casa de valor de 350.000€ e portanto,
há uma substituição da legítima. Se ele aceitar, a diferença será imputada na quota disponível
(art. 2165º/). E deixou 100.000€ a Henrique, logo vai-se buscar esse valor à quota disponível e
sobrou 150.000€ que serão repartidos em partes iguais, 75.000€ (art. 2136º).
Desta forma, Guilherme e Henrique recebem da sucessão legitimária 300.000€, em relação à
sucessão testamentária, Guilherme recebe 50.000€ e Henrique 100.000€ e depois ambos
recebem 75.000€ da sucessão legítima. Portanto, Guilherme recebe 425.000€ e Henrique recebe
475.000€. Caso o Guilherme não tivesse aceite a substituição do legado, ele recebia 300.000€ e
depois só 100.000€ da quota disponível, dando o total de 400.000€. Já Henrique tinha uma
herança de 500.000€.
2. Se a casa com a qual Francisco pretendeu compor a legítima de Guilherme lhe tivesse
sido doada em vida (e, nesses termos o valor já não integrasse os relicta), isso alteraria o
mapa da partilha?
Se há uma doação em vida do autor da sucessão, está é chamada à colação e assim, começa-se
por imputar à quota indisponível (300.000€) e depois imputa-se o restante à quota disponível
(50.000€) de acordo com o regime da colação (art. 2162º). Há também uma disposição
testamentária a favor de Henrique (100.000€) e ainda sobra 150.000€. Os 600.000€ da
legitimária são divididos pelos irmãos (art. 2159º/2 + art. 2136º e art. 2157º). Deve-se proceder
à igualação (art. 2104º e art. 2108º) e por isso Henrique recebe mais 50.000€. Depois disto,
verifica-se que ainda sobre 100.000€ de remanescente que são divididos em partes iguais.
Portanto, Guilherme recebe 400.000€ e Henrique recebia 500.000€.
3. E se a casa com a qual Francisco pretendeu compor a legítima de Guilherme lhe tivesse
sido doada em vida com dispensa de colação?
Como não há lugar à colação, a doação é imputada na quota disponível (art. 2104º), todavia, o
valor da doação ultrapassa a quota disponível e por isso, deve-se proceder a uma redução. Como
se faz a redução? Deve-se proceder à ordem de redução (art. 2171º), que estabelece em primeiro
lugar as disposições testamentárias a título de herança, mas tal não se prevê e em segundo os
legados. Portanto, corta-se os 100.000€ de Henrique, ou seja, perde a quota da herança. Como
ainda falta 50.000€ para completar os 350.000€ e assim, como ainda se tinha a quota
indisponível, retira-se os 50.000€ daí (art. 2108º + art. 2169º). Portanto, Guilherme recebia
600.000€ e Henrique recebia 300.000€, tendo perdido o direito à sucessão testamentária.
5. Havendo doação da casa em vida (tal como se indica nas duas questões 2 e 3) poderia a
empresa funerária, para acautelar o pagamento das despesas de transladação do corpo e
do funeral, exigir a colação?
A funerária pretendia exigir a colação mas tal não era possível pois só podem exigir aqueles de
quem a beneficia. A funerária apenas podia requer o inventário porque tem interesse em saber o
valor dos bens para saber se há dinheiro para ser pago.
Caso Prático 5:
António morre, sobrevivendo-lhe a mulher, Belmira e dois filhos, Carlos e Diogo. Deixa
bens no montante de 125.000 €. A casa, onde vivia com Belmira, havia sido comprada com
um empréstimo ao banco, do qual faltava pagar 40.000 €. As despesas do funeral
elevaram-se a 10.000 €. Em vida, o casal (António e Belmira) havia feito uma doação a
Diogo e sua mulher Elvira, no valor de 80.000 €. No testamento, António deixava 30.000 €
a Carlos e o remanescente da herança para Belmira.
1. Elabore o mapa da partilha.
Para calcular o valor da herança partilhável deve-se ter em conta três verbas: a relicta,
correspondente 125.000€, a donata correspondente a 40.000€, que é a sua meação dos 80.000€
(art. 2162º) e as dívidas que correspondem a 30.000€ (art. 2068º). Portanto, como valor total da
herança partilhável tem-se 135.000€, uma vez que, se retira os 30.000€ das dívidas/encargos.
Agora, é importante calcular a quota indisponível e a quota disponível e desta forma, a primeira
corresponde a 2/3 (90.000€) e por isso, será 30.000€ para cada herdeiro (art. 2159º/1 e art. 2136º
+ art. 2157º) e a segunda corresponde a 1/3 e por isso, será 45.000€.
Em primeiro lugar, deve-se pegar na doação (40.000€) e tentar imputá-la. Ora, esta foi feita a
Diogo (presuntivo herdeiro) e a Elvira (mulher de Diogo), logo só é chamada à colação a parte
de Diogo (art. 2107º). Assim, o valor da donata será dividido em dois, e desta forma, 20.000€
(correspondentes à parte de Diogo) serão imputados na quota indisponível e a outra metade será
(correspondente à parte de Elvira) será imputada na quota disponível.
António deixa ainda 30.000€ para Carlos e o remanescente para Belmira da quota disponível.
Então, como se irá imputar estes valores se há um excesso? Há inoficiosidades porque
ultrapassa a quota disponível e afeta a quota indisponível, e por isso deve-se reduzir os valores
segundo uma ordem, mas qual? Ora, tudo depende da natureza das verbas, a disposição feita a
Belmira é a título de herança e a disposição feita a Carlos é a título de legado. Portanto, em
primeiro lugar corta-se a herança e só depois o legado. Como o excesso era 5.000€, Carlos só
recebe 25.000€ (art. 2171º). Deste modo, Carlos recebia 55.000€ (30+25), Belmira recebia
30.000€, Diogo recebia 30.000€ e Elvira recebia 20.000€.
Caso Prático 6:
André morre em Janeiro de 2012. Deixa dois filhos maiores, Bernardo e Catarina, e a
viúva, Dora, com quem havia casado em 1980, sem que houvessem determinado o regime
de bens. No seu testamento estabeleceu as seguintes deixas: - 100.000 € à Santa Casa da
Misericórdia; - a quota da herança ainda não partilhada do seu pai Xavier, no valor de
500.000 €, aos seus filhos. A casa em que André viva com a sua família e que havia sido
comprada com o produto da herança de sua Mãe, Zaida, valia 450.000 €. Deixava ainda
500.000 € numa conta bancária, a prazo e uma propriedade no Algarve, avaliada em
400.000 €, adquirida dois anos antes, e da qual faltava pagar 100.000 € ao BCP que havia
concedido um empréstimo. Esta propriedade era usada por Dora e Bernardo que, em
conjunto, ali desenvolviam a sua actividade profissional de promoção de eventos. Aquando
do casamento da Catarina, alguns meses antes, André havia-lhe doado uma casa no valor
de 450.000 €, que era o remanescente da herança de Zaida. Tendo presentes estes
elementos, responda directamente às seguintes questões:
1. Elabore o mapa da partilha de André.
Em primeiro lugar deve-se começar por calcular os bens próprios e os bens comuns. Ora,
começando pelos bens próprios tem-se a quota da herança ainda não partilhada (500.000€) e a
casa comprada com a herança da mãe (450.000€), uma vez que, o que se troca pelo preço de
bens próprios é considerado bem próprio (art. 1722º e art. 1723º). Como bens comuns tem-se a
conta bancária (500.000€) e a casa do Algarve (400 – 100 = 300.000€). Como donata tem-se a
casa doada a Catarina (450.000€) que não entra nos bens comuns pois foi comprada com o
remanescente da herança de sua mãe. Portanto, o valor total da herança partilhável tem-se dos
bens próprios: 950.000€, dos bens comuns: 500 + 300 (400 – 100) = 800 : 2 = 400.000€ (sua
meação) e por fim da donata tem-se: 450.000€. O que dá um total de 1.800.000€.
Sendo assim, como quota indisponível tem-se 2/3 (1.200.000€) e como quota disponível tem-se
1/3 (600.000€). Importa dividir a quota indisponível entre os três herdeiros, o que dá o valor de
400.000€ a cada um (art. 2136º + 2157º e art. 2159º). Agora, chama-se à colação a doação feita
a Catarina e imputa-se na legítima, todavia, como excede irá-se buscar os restantes 50€ à quota
disponível.
André dispôs também de 100.000€ à SCM e depois os 500.000€ da quota da herança. Chega-se
à conclusão que há um excesso, logo há uma inoficiosidade e por isso, deve-se proceder a uma
redução (art. 2171º), todavia, como se faz a redução de dois legados? Deve-se proceder à
redução de 650.000€ e desta forma, onde se tem 600.000€ retira-se 50.000€ relativos à Catarina
que são fixos e dá 550.000€.
Assim, reduz-se os dois legados (600 __ 500 ; 550 __ X), ou seja, (550 x 500 = 275.000€ : 600
= 458.000€) e (600 __ 100 ; 550 __ X), ou seja, (100 x 550 = 55000 : 600 = 92.000€). Portanto,
a quota da herança reduzia para 458.000€, o que corresponde a 229.000€ para cada filho, e a
doação à SCM reduzia para 92.000€. Desta forma, Bernardo e Catarina recebiam 629.000€,
Dora recebia 400.000€ e a SCM recebia 92.000€.