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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO

DIREITO
UNIVERSIDADE LUSÍADA DO NORTE-PORTO
PARTE 1ª/TÍTULO II/CAPÍTULOS I E II
ORDEM JURÍDICA, DIREITOS SUJECTIVOS,
FIGURAS AFINS (Temas 2 e 3)
 A. Santos JUSTO, Introdução ao Estudo do Direito, 7ª ed, 2015, pp. 30-64

Prof. Doutor J. Daniel Tavares da Silva


Introdução ao Estudo do Direito
1
ORDEM JURÍDICA
ORDEM JURÍDICA.
Características do Direito
 Necessidade (indispensável)
 Alteridade (regula relações com os semelhantes).
 Imperatividade/Obrigatoriedade (Função preventiva e
repressiva da sanção).
 Coercibilidade (susceptibilidade de recurso à força).
 Exterioridade (comportamentos exteriores).
 Estatalidade (criação e aplicação pelos órgãos do Estado.
Excepções).
 Sistematicidade (unidade, coerência)
Definição de Direito: Dificuldade do conceito
 Direito Objectivo vs Direito Subjectivo

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA/CARACTERÍSTICAS DO DIREITO
 Dificuldade/impossibilidade/não unanimidade de definição. (infra)
 Finalidade: realização da justiça.
 Necessidade – o Direito é indispensável, surge como resultado
imediato da natureza social do homem (ubi societas, ibi ius): o
homem só vive em sociedade, mas para conseguir viver em sociedade
necessita de regras de Direito.
 Alteridade – o Direito disciplina a conduta do homem em relação
com os seus semelhantes (em sociedade), para que reine a justiça e a
segurança entre os membros do grupo social.
 Imperatividade/Obrigatoriedade – o Direito, para ser eficaz e atingir
os seus fins primordiais, tem de ser obrigatório para todos os membros
da comunidade (≠ regras da moral e cortesia, que são meramente
facultativas).
 A ignorância da lei não escusa o seu cumprimento (6º do Codigo
Civil) – “ignorantia iuris neminem excusat”.
 654 – Código Visigótico (CV 2.1.3); 1241 – Fuero Juzgo.
 1255 – Foro Real de Afonso X (FR 1.5.4)
 1263 – Sete Partidas de Afonso X (P 1.1.20).

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA/CARACTERÍSTICAS/IMPERATIVIDADE
 O carácter obrigatório do Direito implica a sua natureza
sancionatória: para ser obrigatório tem que prever a aplicação de
sanções aos infractores:
 As sanções jurídicas têm que ser materiais, físicas (pena de
prisão, multa, indemnização, inibição de conduzir…) e aplicadas
em vida por uma autoridade social legitimamente investida de
poder sancionatório.
 “ninguém pode fazer justiça por suas próprias mãos” (≠
vindicta privada medieval) e “ninguém pode ser juiz em causa
própria”.
 Apesar da imperatividade, existem normas que atribuem um poder
ou faculdade e outras que não estabelecem qualquer sanção.

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA/CARACTERÍSTICAS/COERCIBILIDADE
 Coercibilidade – susceptibilidade de recurso à força (polícia, tribunais,
prisões), que deriva do carácter obrigatório e sancionatório do Direito. É
uma força espiritual que cumpre uma função pedagógica.
 ≠ coacção (força física ou psicológica que acompanha o direito). A
coacção falha quando as normas jurídicas são violadas (o direito
não teve força para se impor). É desnecessária porque na maioria
dos casos as normas jurídicas são respeitadas de forma espontânea.
 Sanção – é a imposição de uma medida jurídica desfavorável à
pessoa que violar a norma jurídica:
 V.g., quem matar outra pessoa é punido com pena de prisão de 8
a 16 anos / quem for apanhado a conduzir pela esquerda pagará
uma coima e ser-lhe-á apreendida a carta de condução.
 A sanção tem uma dupla função: preventiva e repressiva.
 O Direito, para ser eficaz, tem de ser obrigatório; e para ser
obrigatório tem de prever sanções – sem sanções não há Direito.
 Leges imperfectae – normas não dotadas de qualquer sanção (v.
g., 136º CRP).

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA/CARACTERÍSTICAS/COERCIBILIDADE
SERÁ A COERCIBILIDADE UMA CARACTERÍSTICA ESSENCIAL
DO DIREITO?
 Para o positivismo a coercibilidade é um elemento essencial do direito.
 No entanto, há sanções cuja aplicação não implica o uso da força (v.g.,
aplicação da suspensão, por um ano, da licença de condução);
 O direito depende da força na sua vigência, mas não na sua essência ou
conteúdo determinado em função da ideia de direito, do princípio da
justiça que o informa e lhe confere validade.
 Não sendo da essência da norma jurídica, pode recomendar-se em função
da Ordem Jurídica globalmente considerada, justificando-se com a função
do Poder de defender a ordem jurídica de elementos anti-sociais.
 A coercibilidade depende da juridicidade (validade) da norma, só sendo
legítima se a norma o for.
 Ao direito cabe legitimar e impor limites à força da qual pode depender a
sua existência.
 Normas jurídicas incoercíveis: obrigações naturais (402º)
 As normas de direito canónico são destituídas de coercibilidade.
Contém sanções insusceptíveis de ser impostas pela força. (v.g., a
pena espiritual de excomunhão);
 Os direitos supra e infra-estadual não têm mecanismos de recurso à
força para aplicação efectiva das sanções (v.g., FIFA, UEFA,,
associações de estudantes.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA/CARACTERÍSTICAS/COERCIBILIDADE
 No Direito Internacional Público (que rege as relações entre os Estados) a
coercibilidade não funciona por falta de um aparelho capaz de impor as
suas normas.
 Normas em que a coercibilidade é desnecessária: Normas em que a sanção
opera automaticamente (ex. ineficácia)
 Normas em que a coercibilidade não é possível (ex: normas reguladoras
dos poderes dos órgãos supremos do Estado).
(Freitas do AMARAL) – “a coercibilidade é um elemento essencial do
conceito de Direito estadual; mas não o é do conceito genérico de Direito,
porque falta (ou pode faltar) nos direitos não-estaduais”.
i. O poder necessita da força física e da coacção e de instrumentos para a
aplicar –MAQUIAVEL, O Príncipe: “não pode haver boas leis onde não
haja boas armas”;
ii. Se não basta a convicção para obedecer, terá que recorrer-se à força ou à
ameaça –“se não se avança com a persuasão de alcançar a cenoura,
avança-se com o recurso ao pau”;
iii. Mas o poder não se pode apoiar exclusivamente na coacção física ou
jurídica, é indispensável uma crença generalizada na legitimidade do poder,
caso contrário, um poder limitado à força e à coacção é um poder com pés
de barro.
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ORDEM JURÍDICA / CARACTERÍSTICAS DO DIREITO
 Exterioridade – disciplina comportamentos que se manifestam
exteriormente. (≠ Moral).
 Ao Direito não são indiferentes os motivos da actuação humana
(v. g., as diferentes formas de culpa – dolo, negligência – boa fé,
qualificação de crimes, etc…
 O Direito visa resolver, pacificamente, os conflitos de interesse
numa sociedade humana:
 Por via geral e abstracta – através das normas jurídicas;
 Por via de decisões individuais e concreta – através dos
tribunais, que aplicam as normas gerais e abstractas aos casos
individuais e concretos.
 Estatalidade – reduz a criação e aplicação do Direito ao Estado.
 Excepções:
 Normas não criadas pelos órgãos do Estado: Direito
Internacional, Direito Comunitário, Direito consuetudinário,
direito criado pelas autarquias locais.
 Normas não aplicadas pelos tribunais do Estado:
Tribunal Internacional de Justiça, Tribunal Penal
Internacional, Tribunal de Justiça da União Europeia,
tribunais desportivos.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA/CARACTERÍSTICAS/SISTEMATICIDADE
 Sistematicidade– O Direito é mais do que um conjunto (que pode ser
uma soma desarticulada, sem unidade) de normas, é um sistema de
normas ou sistema normativo.
 As normas estão articuladas em torno da ideia de Direito;
 A interpretação das normas jurídicas obedece a critérios lógicos e
técnicos (nomeadamente, elemento sistemático);
 As lacunas são integradas dentro do “espírito do sistema” (10º/3);
 As normas estão ligadas por princípios gerais, que funcionam
como traves-mestras de uma obra, dando-lhe consistência e
solidez;
 Vigora o princípio da unidade da ordem jurídica, que tende a
suprimir as contradições jurídicas;
 Vigora a princípio da plenitude da ordem jurídica – não podendo
nenhum tribunal “abster-se de julgar, invocando a falta ou
obscuridade da lei ou alegando dúvida insanável acerca dos factos
em litígio”, as chamadas decisões de non liquet (8º/1 Código
Civil).

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DEFINIÇÃO DE DIREITO
 Dificuldade do conceito de Direito:
 Não devem confundir-se os conceitos de Lei, Direito e Justiça, embora
sejam muito próximos;
 Uma coisa é o Direito (normas gerais e abstractas), outra a sua
aplicação aos casos concretos (sentenças judiciais).
 “até agora não houve um jurista nem um filósofo do Direito que tenha
acertado a formular uma definição unanimemente aceite” (Max E.
MAYER).
 Os juristas do Ius romanum eram adversos ao uso de conceitos.
 Algumas definições de Direito:
 “jus est ars boni et aequi” – o Direito é a arte do bom e do justo
(Celso, Ulpiano, Baldo);
 “jus est ipse res justa” – o Direito é a própria coisa justa (S. Tomás de
Aquino);
 “direito é tudo aquilo que tem especiais atinências com o iustum”
(Sebastião CRUZ).
 “a natureza do direito deve ser retirada da natureza humana” (Cícero)
 Direito positivo: “conjunto de normas necessárias à convivência
humana que se inspiram e fundamentam na ideia de justiça e têm na
coercibilidade uma importante condição de eficácia ”. (Prof. Doutor
Santos Justo).
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA:
DIREITO OBJECTIVO / DIREITO SUBJECTIVO
 Direito objectivo e Direitos subjectivos:
 Direito objectivo ou direito em sentido objectivo–sistema de regras de
conduta social, obrigatórias para todos os membros da comunidade, para
garantir a justiça e segurança, sob a ameaça de sanções, com a
coercibilidade como importante condição da sua eficácia.
 Direito subjectivo ou direito em sentido subjectivo – faculdades ou
poderes, reconhecidos pela ordem jurídica a cada pessoa, de exigir (817-
exigência judicial do cumprimento de obrigação não cumprida
voluntariamente//827-Entrega de coisa determinada//483-
responsabilidade por factos ilícitos//562-Reparação de dano-
reconstituição-1305-conteúdo do direito de propriedade: uso, fruição e
disposição) ou pretender (402-obrigações naturais-[não exigíveis
judicialmente] v. infra.) de outra um determinado comportamento
positivo ou negativo ou de, por acto da sua livre vontade, só de per si ou
integrado por um acto de autoridade pública (sentença), produzir
determinado efeito jurídico que, inevitavelmente, se impõe a outra
pessoa.
 Ao direito subjectivo de exigir corresponde um direito objectivo de
acesso aos tribunais.
 Ex’s. só de per si:
 Artº 2062º- 2067º - repúdio da herança (exercido sem sentença)
 Artº 2249º (repúdio de legado)
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ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS
 NATUREZA DOS DIREITOS SUBJECTIVOS:
Teoria da vontade (SAVIGNY e WINDSCHEID);
Teoria do interesse (IHERING);
Teoria normativista (KELSEN);
Teoria normativo-integrante (Castanheira NEVES);
Teoria de Orlando de CARVALHO.
 Afirmação dos direitos subjectivos:
 DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
Modalidades: Direito subjectivo em sentido estrito (ou
propriamente dito) vs Direito potestativo (Modalidades)
Classificação dos direitos subjectivos privados
Direitos de direcção, poderes-deveres ou poderes-funcionais
 DIREITOS SUBJECTIVOS PÚBLICOS
 FIGURAS AFINS AOS DIREITOS SUBJECTIVOS
Meros interesses jurídicos;
Faculdades em sentido estrito;
Direitos reflexos;
Expectativas jurídicas.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS
 Teoria da vontade (SAVIGNY e WINDSCHEID) – o direito subjectivo é
o poder da vontade reconhecido pela ordem jurídica – é a vontade
juridicamente protegida. Baseia-se na filosofia de Kant da autonomia da
vontade. Críticas:
 Os menores e os deficientes mentais carecem de vontade e, todavia
são titulares de direitos subjectivos.
 As pessoas colectivas, que não possuem vontade humana
(psicológica) também são titulares de direitos subjectivos.
 Há direitos, temporariamente, sem titular (v.g., a herança jacente-
aberta mas não aceita nem declarada vaga para o Estado 2046) e
há direitos cujo titular se aguarda que nasça (nascituros-2033).
 Pode um titular do direito subjectivo não querer exigir o seu
cumprimento, sem que por isso se extinga (crédito do trabalhador).
 Não se extingue um direito subjectivo se o seu titular o ignorar e,
portanto, faltar a vontade.
 Há direitos cuja renúncia não produz consequências (v.g., renúncia a
férias ou à greve).
 Reacção de Windscheid: Não é a vontade psicológica mas a vontade
normativa. (Positivismo normativista– subalterniza o direito
subjectivo).
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS
 Teoria do interesse (IHERING) – os direitos subjectivos como interesses
juridicamente protegidos.
 Elementos: Formal-Tutela da lei. Material: interesse
 Críticas:
 Confusão entre finalidade (interesse) e instrumento de o realizar (direito
subjectivo)
 O interesse é o fim do direito subjectivo, mas não se identifica totalmente
com este;
 Pode existir direito subjectivo sem interesse: se o credor não estiver
interessado em exigir o pagamento da obrigação contraída por um amigo
pobre, o seu direito não deixa de existir.
 Há interesses juridicamente protegidos a que não correspondem direitos
subjectivos – interesses reflexamente protegidos (vacinação obrigatória).
 O ordenamento jurídico pode proteger interesses, não através da
concessão de direitos, mas restringindo a capacidade dos indivíduos (artº
123) - incapacidade de exercício dos menores.
 Casos em que o interesse e o direito pertencem a titulares diferentes, v.g.,
contrato a favor de um terceiro (A promete a B pagar uma certa quantia a
C).
 Reacção de Ihering: O interesse não é do homem concreto mas do
homem médio (ideal). Não. O interesse do homem concreto pode não
coincidir do interesse do homem médio.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS
 Teoria normativista (Hans KELSEN) – tratamento científico do direito
(abstraindo de elementos não jurídicos – sociológicos, psicológicos,
ideológicos). O direito é a norma. O fundamento dos direitos subjectivos
seria a própria norma jurídica. Suprime a dualidade direito objectivo –
direito subjectivo que seria mero reflexo da norma (sem valor a se).
 Críticas:
Prevalência do formal sobre o material: Abdicação dos valores
(conteúdo da norma).
Intrumentalização do direito pelos detentores do poder
 Recusa dos direitos subjectivos (Karl Larenz) Base: o homem só tem
deveres. A comunidade nacional em que se integra determina a sua
capacidade jurídica. Efeito: desaparece o homem-pessoa e fica a
comunidade (de sangue, de raça, do proletariado…)
 Teoria normativo-integrante (Castanheira NEVES)– traduz o
entendimento da participação pessoal, mas convoca também a comunidade,
onde a autonomia individual se integra e realiza.
 Teoria de Orlando de Carvalho – o direito subjectivo como um
mecanismo de regulamentação, tutelado pelo Direito, que consiste na
concreta situação de poder que se reconhece a uma pessoa em sentido
jurídico de intervir autonomamente na esfera jurídica de outrem.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
DIREITOS SUBJECTIVOS - MODALIDADES
 Direito subjectivo em sentido estrito (ou propriamente dito):
faculdade ou poder, reconhecido pela ordem jurídica a uma pessoa, de
exigir (817 - direito de o credor exigir judicialmente o cumprimento
em caso de não cumprimento voluntário – 1305 – conteúdo do direito
de propriedade) ou pretender (402 - obrigações naturais) de outra um
determinado comportamento positivo (facere) ou negativo (non
facere).
O CONCEITO DE DIREITO SUBJECTIVO INTEGRA:
• O Direito Subjectivo em Sentido Estrito (faculdades ou poderes
reconhecidos pela Ordem Jurídica a uma pessoa de exigir ou pretender
de outra um determinado comportamento positivo ou negativo) e
• O Direito Potestativo (direito concedido a uma pessoa de - em certos
casos - impor determinado efeito jurídica a outra que fica sujeita a tal
efeito).

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
 Direito potestativo – direito concedido a uma pessoa de, por acto da
sua livre vontade, só de per si (artº 2062º-repúdio de herança ou de
legado-artº 2249. Cfr. artº 2050º-aceitação) ou integrado por um acto
de autoridade pública (decisão judicial), produzir determinado efeito
jurídico que, inevitavelmente, se impõe a outra pessoa interferindo,
portanto, com a esfera jurídica alheia. Exemplos infra ppt 21.
 Corresponde-lhe uma obrigação de sujeição da outra parte, i. é,
a necessidade (obrigatoriedade) de suportar as consequências do
exercício de tais direitos.
 No direito potestativo a vontade do sujeito passivo é desnecessária
para a satisfação integral do interesse do sujeito activo.
 O sujeito passivo é impotente para evitar a satisfação daquele
interesse.

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
DIREITO SUBJECTIVO PRIVADO
Direito subjectivo em sentido estrito Direito potestativo

Faculdade ou poder de exigir ou Faculdade ou poder de, por acto da sua


pretender de outrem um determinado livre vontade ou por decisão judicial,
comportamento positivo ou negativo. produzir determinado efeito jurídico na
Direito absoluto esfera jurídica alheia.
Direito relativo
Obrigações naturais

Contrapõe-se-lhe um estado de Contrapõe-se-lhe um estado de


cooperação sujeição/obrigatoriedade

O sujeito passivo tem a possibilidade O sujeito passivo tem,


de não cumprir, sofrendo a respectiva necessariamente, que suportar as
sanção legal consequências do direito.
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
DIREITO SUBJECTIVO
Direito subjectivo em sentido estrito Direito potestativo

poder de: exigir ou pretender poder de produzir determinado efeito


jurídico ou agir
Obrigações naturais • Direitos potestativos: (consoante o
Direitos absolutos efeito jurídico que tendam a
Direitos relativos produzir):
Constitutivos
Modificativos
Extintivos

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ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
EXTRA
CASOS PRÁTICOS
DIREITOS SUBJETIVOS PRIVADOS EM SENTIDO ESTRITO (OU
PROPRIAMENTE DITO)
COMPRA E VENDA
• A contrata com B a venda do telemóvel.
• Direito de propriedade.
• Forma do contrato
• Efeitos do contrato:
– Transmissão da propriedade do telemóvel
– Direito a receber o preço (A) vs obrigação de pagar (B)
– Direito a receber o telemóvel (B) vs obrigação de entregar (A)
• Modalidade:
– Direito subjectivo privado em sentido estrito
• Classificação: Direito não inato, não essencial, patrimonial, absoluto na
propriedade (1305), relativo (entre as partes) o direito de crédito, disponível,
simples (quanto à obrigação) complexo (quanto à propriedade)
OFENSA À INTEGRIDADE FÍSICA
• A dá uma estalada a B
• Modalidade:
– Direito subjectivo privado em sentido estrito
• Classificação: Direito pessoal inato erga omnes, essencial, pessoal,
indisponível, Prof. Doutor J. Daniel Tavares da Silva 20
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ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
EXTRA
O DIREITO E O TEMPO: DECURSO DO TEMPO (EFEITOS)
A deve € 1500 a B
• A não paga e B nada faz. ----PRESCRIÇÃO.
• Se A pagou após a prescrição, não pode invocar a prescrição para reaver o
dinheiro. (Não repetição do indevido. A dívida existia. Obrigação natural.
(402 + prazos prescrição)
• Prescrição: 298/1 + 304 (efeitos) + 309 (prazo geral), 316 e 317 (prazos
especiais)
Modalidade:
– Direito subjectivo privado em sentido estrito
Classificação: Direito não inato, não essencial, patrimonial, relativo (entre as
partes) disponível.
Prescrição (artigos acima em algumas normas para exemplos de direitos
subjectivos).
Não retroactividade (excepto lei penal mais favorável - 29/4 CRP) – infra tema
12
Trânsito em julgado
Se a lei da idade núbil passa dos 16 aos 18 anos, os celebrados c/16 são válidos.
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ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
ALGUMAS NORMAS PARA EXEMPLOS DE DIREITOS SUBJETIVOS
• Direito do credor exigir cumprimento: 817
• Conteúdo dos contratos: Liberdade contratual (405)
• Compra e venda: (noção: 874) - (efeitos: 879).
• Transmissão da propriedade: Imóvel:????
• Conteúdo do direito de propriedade (1305)
• Transmissão de direito reais sobre coisa determinada: (por mero efeito do
contrato:408/1+879/a). V. 1317/a-aquisição da propriedade)
• Forma do contrato: Liberdade de forma (219)
– Excepções: bens imóveis (875)
• Obrigação natural: Identificar o direito, não a solução
• Direito natural: 402
• NULIDADE E ANULABILIDADE:
– Disposição geral: 285 //// Efeitos: 288
– Nulidade: 286. Exemplo: 2190: Nulidade do testamento feito por incapaz.
Prazos para acção: 2308/1. -10 anos do conhecimento
– Anulabilidade: 287. Exemplos de anulabilidade: (prazo) ex: 877: vendas a
filhos ou netos: um ano a contar do conhecimento. 2199-(Testamento por
incapaz acidental). 2200 –(simulação). Prazo para acção: 2308/2- anos do
conhecimento
• Responsabilidade civil: 483 ss.
• Separação judicial de pessoas e bens: 1794º
• Água como bem imóvel: 204/b.
– Água bem imóvel quando para consumo: garrafa / torneira
– Furto (de móvel) 203 Cº Penal
– Represar ou desviar águas: 215 Cº Penal
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ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
SUJEITO ACTIVO»»DIREITO»»SUJEITO PASSIVO»»DEVER
COOPERAÇÃO»»»»SUJEIÇÃO
 Direito subjectivo em sentido estrito:
 Faculdade ou poder de EXIGIR – o titular do direito, em caso de
incumprimento da outra parte (dever jurídico), pode recorrer ao tribunal.
 Direito absoluto – efeito erga omnes.
 Direito relativo – efeito inter partes.
 Faculdade ou poder de PRETENDER – o titular não pode reagir em caso
de incumprimento. Relação obrigacional sem possibilidade de o credor
obter a cobrança coerciva através dos tribunais. Vinculo jurídico
imperfeito. Serão casos intermédios entre os meros deveres de ordem
moral ou social e os deveres jurídicos.
 Obrigação civil: Obrigação civil: O credor tem o direito de exigir
judicialmente o cumprimento. Sanção: estadual que consiste na
coercibilidade.
 OBRIGAÇÕES NATURAIS – o credor não pode exigir judicialmente o
seu cumprimento, mas, se o devedor pagar voluntariamente, não pode
reaver o que pagou (402º e 403º/1 CC – “Não pode ser repetido o que
for prestado espontaneamente em cumprimento de obrigação natural”):
 O incumprimento apenas terá como sanção a reprovação social;
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
SUJEITO ACTIVO»»DIREITO»»SUJEITO PASSIVO»»DEVER
COOPERAÇÃO »»»»SUJEIÇÃO
 Cfr. artº 397º - Noção de obrigação.
 As obrigações naturais estarão entre as normas jurídicas e as normas
morais; entre a obrigação moral e a obrigação jurídica. Existe o débito
mas não a obrigação de cumprir nem o poder de exigir. Têm uma tutela
jurídica reduzida, limitada, na prática, à soluti retentio em caso de
pagamento voluntário. É pagamento e não doação ou liberalidade. O que
o recebe não é colocado na situação de enriquecimento sem causa.
 As obrigações naturais estão sujeitas ao regime das obrigações civis em
tudo o que não se relacione com a realização coactiva da prestação,
salvas as disposições especiais da lei. (404º CC)
EXTRA
• Tranformação de obrigação natural em obrigação exigível (lege ferenda –
direito a constituir):
– Empregado que se inutilizou por 1 vida inteira de apoio ao patrão rico e
insensível que lhe nega assistência no fim da vida
– Agente poluidor obrigado a construir uma reserva natural ou entregar
dinheiro à autarquia.
– Condenado (pedagogicamente) por crime ambiental em indemnização
superior ao prejuízo causado à vítima, atribuindo-se a diferença a
associação de protecção da natureza;
• Compensar algum herdeiro pelo que fez gratuitamente em prol do autor da
sucessão, pelos sacrifícios que fez para manter ou aumentar o património??
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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
EXTRA
Cº Civil Anotado (Abílio Neto 1997)
• Se o devedor cumpre depois de completado o prazo prescricional, mas antes de
invocar a prescrição, há cumprimento da obrigação civil. (A: Varela, Obrig.
498)
• As obrigações naturais constituem casos intermédios entre os meros deveres de
ordem moral ou social e os deveres jurídicos. Os primeiros fundamentam
liberalidades, os últimos consubstanciam obrigações civis munidas de acção
(Almeida Costa, Obrigações, 3ª ed. 141).
• Para a existência de obrigação natural exige-se que o dever de uma pessoa
para com outra não respeite somente à consciência moral, mas algo mais, que
respeite também à consciência jurídica. Consistindo num simples dever de
caridade, de dedicação, de amor, que ainda que fundados na moral, traduzir-
se-à em liberalidade. (Almeida Costa, Obrigações, 4ª ed. 143).
• Se o devedor natural realiza a prestação sua sponte, o seu acto é irretratável e
a qualificação que lhe compete é a de pagamento e não de doação. São-lhe
aplicáveis as disposições sobre cumprimento das obrigações civis e não, quer
no aspecto do direito privado quer no aspecto do direito fiscal, as disposições
sobre liberalidades (Galvão Telles, Obrigações,3ª ed. 41).
• Se é feito um legado por meio de carta não nasce uma obrigação civil, mas uma
natural (Galvão Telles, Obrigações,3ª ed. 41). (forma do legado – escrita?)
• Nas zonas de jogo instituídas segundo o D.L. nº 4222/89 de 2/12, o jogo e a
aposta são contratos produtores de efeitos civis (RE,8-7-1980: BMJ, 302-329).

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Introdução ao Estudo do Direito
ORDEM JURÍDICA / DIREITOS SUBJECTIVOS PRIVADOS
EXTRA
Cº Civil Anotado (Abílio Neto 1997)
• O jogo e a aposta, sempre que lícitos e não concorrendo outro motivo de
invalidade nem fraude na sua execução, constituem fontes de obrigações
naturais (Almeida Costa, Noç. Dir. Civil, 1980, 31).
• As obrigações naturais caracterizam-se, no essencial, por terem uma tutela
reduzida, limitada, na prática, à soluti retentio.
• Para se detectarem as obrigações naturais, fora dos casos em que directa
ou acidentalmente estão referidos na lei, terá de atender-se às ideias,
conceitos e necessidades sociais predominantes que serão espacial e
temporalmente mutáveis. Um escrúpulo de consciência meramente
subjectivo não basta para justificar uma obrigação natural. Importa que
esse dever de consciência corresponda às concepções sociais, que se mostre
objectivamente aprovado e tido como normal (Almeida Costa, Obrigações,
4ª ed., 123).
• Pode surgir uma obrigação natural com base no artº 632/2 CC (Fiança –
anulação da obrigação principal por incapacidade ou por falta ou vício de
vontade do devedor (Almeida Costa, Obrigações, 4ª ed., 125 nota 1).
• O sistema português não impede que o herdeiro queira satisfazer
compromissos para além dos bens herdados. Tais débitos tornam-se
obrigações naturais (Galvão Telles, Sucessões, 5ª ed. 153).
Cº Civil Anotado (Abílio Neto 1997) Ver actuais na biblioteca
FIM
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• O direito subjectivo em sentido estrito:
• 1. Exclui a imposição que resulta do exercício do direito potestativo;
• 2. Inclui a faculdade de exigir um determinado comportamento. Exemplos:
• 2.1.Artº 817º CC: Possibilidade de exigir judicialmente de um terceiro o
cumprimento de uma obrigação que esse terceiro não cumpriu voluntariamente.
• 2.2.Artº 827 CC: Possibilidade de exigir judicialmente de um terceiro um
determinado comportamento. (ver infra 4.1.1)
• 2.3.Artºs 483º e 562º e seguintes do CC: Possibilidade de exigir judicialmente
uma indemnização por danos causados.
• 2.4.Artº 1207º CC: Contrato de empreitada: obrigação de realizar certa obra
mediante um preço. (O dono da obra tem o direito de exigir judicialmente ao
empreiteiro a realização da obra se este não cumprir voluntariamente. O
empreiteiro terá o direito a exigir judicialmente o pagamento se o dono da obra
não pagar voluntariamente).
• 3. Inclui, no caso das obrigações naturais, a faculdade de pretender do terceiro
determinado comportamento que não é exigível judicialmente. Artº 402º
(Exemplo: dívidas prescritas-cfr. artº 304º CC). Ver também artº 1245º CC
(jogo e aposta)
• 4. O cumprimento pode consistir num comportamento:
• 4.1.Positivo: Exemplos:
• 4.1.1. Artº 827º CC: O comportamento positivo (de facere – fazer –agir)
consiste na entrega pelo devedor ao credor de coisa determinada.
• 4.1.2. Artº 1311º CC: …idem …consiste na restituição do que pertence ao
proprietário.
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• 4.1.3. Artº 1129º CC - contrato de comodato: contrato gratuito pelo qual uma
das partes entrega à outra certa coisa, móvel ou imóvel, para que se sirva dela,
com a obrigação de a restituir.
• 4.1.4. Artº 1142º CC: contrato de mútuo: empréstimo com obrigação de
restituição de outro tanto do mesmo género e qualidade;
• 4.1.5. Artº 1185 CC: Contrato de depósito pelo qual uma das partes entrega à
outra uma coisa, móvel ou imóvel, para que a guarde, e a restitua quando for
exigida.
• 4.2.Negativo: Exemplos:
• 4.2.1. Artº 1305 CC: Conteúdo do direito de propriedade: O comportamento
negativo (de non facere, não agir, abstenção) consiste em não perturbar o
direito concedido pela ordem jurídica ao proprietário, de uso, fruição, etc.
• 4.2.2. Artº 398º CC: Conteúdo (negativo) da prestação: Se uma parte se obriga
no contrato, por exemplo (e por razões de concorrência), a não instalar
determinado comércio em determinado local ou durante certo período de tempo,
a sua obrigação (negativa) consiste em abster-se de o fazer.
• (dentro dos limites da lei: o conteúdo positivo ou negativo da prestação tem de
respeitar os limites fixados no artº 280º CC)
• Artigo 879º CC (Efeitos essenciais - da compra e venda)
• A compra e venda tem como efeitos essenciais:
• a) A transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito;
• b) A obrigação de entregar a coisa;
• c) A obrigação de pagar o preço.
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JURISPRUDÊNCIA: ACSTJ de 10072008-08A1471-Relator: GARCIA
CALEJO
• Descritores: CONCURSO TELEVISIVO DE ENTRETENIMENTO
• Nº do Documento: SJ200807100014711 - Data do Acordão: 10.07.2008
• Votação: UNANIMIDADE
• Decisão: CONCEDIDA PARCIALMENTE A REVISTA.
Televisão Jogo de fortuna e azar Prémio Obrigação natural
• I ‐O concurso “quem quer ser milionário” é um programa televisivo,
assente no factor conhecimento e também em circunstâncias de sorte ou
azar (derivados da dificuldade maior ou menor das perguntas em relação ao
saber do concorrente), constituindo um entretenimento, ou passatempo, com
o oferecimento de um prémio.
• II ‐ O concurso possui as características que permitem integrá‐lo
juridicamente nas modalidades de jogos de fortuna ou azar e outras formas
de jogo a que alude o art. 159.º da Lei do Jogo (DL n.º 422/89 de 02‐12).
• III ‐ Devendo ser considerado um jogo lícito, o concurso desencadeia ou
origina, tão só, obrigações naturais, como decorre do art. 1245.º do CC.
• IV ‐ Sendo fonte de obrigações naturais, não é judicialmente exigível o
cumprimento das respectivas obrigações, mas em caso de o devedor cumprir
espontaneamente, não lhe será permitido exigir a repetição do indevido. A
prestação pelo devedor efectuada em tais circunstâncias é juridicamente
reconhecida como um cumprimento de um dever social.
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JURISPRUDÊNCIA: ACSTJ de 10072008-08A1471-(cont.)
• V ‐ Não seria assim se o concurso em causa fosse regulado por lei especial e
nela se definissem as obrigações emergentes como civis. O art. 1247.º do CC
ressalva do regime acima definido, a legislação especial sobre a matéria,
pelo que, nessa circunstância, o regime aplicável seria o civil e não o
particular das obrigações naturais. Porém, no caso do concurso em causa,
não existe qualquer lei especial que regulamente e defina as obrigações dele
decorrente, como civis. Daí que não possamos fugir à natureza jurídica
definida na Lei do Jogo e, consequentemente, as obrigações dele
decorrentes, serão naturais.
• Revista n.º 1471/08 ‐1.ª Secção Garcia Calejo (Relator) * Mário Mendes
Sebastião Povoas
• Considerações:
• Não assume natureza civil a dívida da empresa do concurso.
• O premiado alega que respondeu certo e teria direito a um prémio muito
superior.
• Ainda que isto se provasse, o valor não seria judicialmente exigível.

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 As dívidas de jogo e aposta (quando lícitas) são fonte de obrigações
naturais (1245º do Código Civil). Fundamento para não ser exigível:
danosidade social do jogo. O empréstimo foi efectuado para fim contrário à
ordem pública e aos bons costumes. (as normas de direito do jogo são
normas de ordem pública (Artº 95/2 da Lei do Jogo: DL nº 42/89, de 02/12).
A inexigibilidade opera ab inítio (desde o momento inicial).
 O herdeiro pode satisfazer compromissos para além dos bens herdados. Tais
débitos tornam-se obrigações naturais
 Dívidas prescritas. Se o devedor efectuar de livre vontade o pagamento
após o prazo de prescrição, não goza do direito de repetição, i. é., não pode
exigir a devolução do que pagou.(403 CC).
 A lei dá ao credor o direito de reter o pagamento recebido porque a
dívida existia, embora o seu pagamento não fosse judicialmente exigível).
Fundamento para não ser exigível: a segurança e estabilidade jurídica
visados pelo instituto da prescrição. Se o devedor cumpre depois de
completado o prazo prescricional, mas antes de invocar a prescrição, há
cumprimento da obrigação civil.
 PRESCRIÇÃO: Noção: Artº 298º/1; Efeitos: Artº 304º; Prazos: Artºs: 309º-
Geral); 316º; 317º;
 Diferentemente, se a obrigação for inexistente: Aquele que recebeu é
obrigado a devolver (enriquecimento sem causa – 473 ss. CC).
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SUJEITO ACTIVO»»DIREITO POTESTATIVO»»SUJEITO
PASSIVO»»SUJEIÇÃO
 DIREITOS POTESTATIVOS - MODALIDADES:
 Constitutivos – criam uma nova relação jurídica.
 Servidão de passagem (1543º e 1550º) – acesso à via pública,
constituída a favor do prédio dominante através do prédio serviente;
 Comunhão forçada de parede e muro de meação (1370º)
 Direito de preferência: 822º (resultante da penhora) 1091º(do
arrendatário); 1380º (dos proprietários de terrenos confinantes):
2134º/2135º (preferências de classes de sucessíveis)
 Modificativos – modificam uma relação jurídica pré-existente.
 Mudança de servidão (1568)
 Simples separação judicial de bens, por má administração do outro
cônjuge (1767º do Código Civil). Mantém-se a relação conjugal, mas
altera-se o regime de bens. Efeitos (1770º)
 Extintivos – Extinguem uma relação jurídica anterior.
 Divórcio sem consentimento do outro cônjuge:
 Fundamentos (1781)
 Legitimidade para o pedir (1785)
 Efeitos: (1788). A relação conjugal dissolve-se.
 Exemplos de Direito potestativo (só de per si): Artºs 2062º - (Repúdio da
herança) 2249 (Repúdio de legado);
 Se existe o direito a anular um contrato: Dtº potestativo extintivo
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DIREITOS POTESTATIVOS
• SERVIDÃO DE PASSAGEM (LEGAL-1543 e 1550): está na esfera
jurídica daquele a quem é concedida.
• Se o outro constrói um muro (exercício): acção direta (se verificados os
pressupostos-ambulância/se houver morte, a omissão de auxílio é punida
como tal. Se há dever especial de auxílio –quem corre perigo é o filho-
homicídio..) ou tribunais.
• Modalidade:
– Direito potestativo CONSTITUTIVO
• Classificação (só para direitos subjectivos em sentido estrito):
• SIMPLES SEPARAÇÃO JUDICIAL DE BENS por má administração
(1767 a 1772)
• Modalidade:
– Direito potestativo MODIFICATIVO (mantém o casamento e altera o
regime de bens
• DIVÓRCIO: legitimidade (1785) fundamentos (1781) efeitos (1788)
• Modalidade:
– Direito potestativo EXTINTIVO (extingue relação jurídica anterior)
• Quando exista, o direito a anular um contrato, é potestativo extintivo.
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