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CARVALHO, Marília Gomes de. Tecnologia e Sociedade.

IN: BASTOS, João Augusto de Souza


Leão de Almeida. (org.). Tecnologia & Interação – Curitiba: CEFET-PR, 1998. (coletânea “Educação &
Tecnologia” CEFET-PR). pp. 89-102.

Sobre o autor:
Marília Gomes de Carvalho é graduada em Ciências Sociais e especialista em
Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Ciências Sociais
pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, doutora em Antropologia Social
pela Universidade de São Paulo (USP) e com pós-doutorado na Université de Technologie de
Compiègne, na França. Está aposentada como professora da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR), onde hoje é docente/pesquisadora voluntária do Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre Relações de Gênero e Tecnologia (Getec) do Programa de Pós-
Graduação em Tecnologia (PPGTE). Atua na área de dimensões sócio-culturais da tecnologia,
com foco nos temas de interculturalidade, gênero, tecnologia, educação e trabalho.

Objetivo do Texto:
O objetivo do texto é mostrar que existe uma interação entre o ser humano, a
sociedade e a tecnologia, fazendo uso de exemplos de diferentes contextos sociais e
analisando o momento histórico atual. O texto também chama a atenção para a importância
da visão interdisciplinar na formação de profissionais de tecnologia e como a educação
tecnológica contribui para essa formação.

Argumento do Texto:
A autora inicia explicitando os diversos tipos de determinismo relacionados a
fenômenos sociais, como o determinismo geográfico, biológico, econômico e tecnológico.
Um exemplo do geográfico seria as características do meio ambiente natural influenciando
na organização sócio-cultural, do biológico seria as diferenças de gênero fazendo o mesmo e
do econômico o reducionismo do materialismo histórico. Com relação ao determinismo
tecnológico, seria como se o desenvolvimento tecnológico por si só pudesse transformar a
sociedade levando a um progresso social, independente das outras dimensões. Mas o que
acontece é que os fenômenos geográficos, biológicos, culturais, políticos, econômicos,
ideológicos, religiosos, educacionais, jurídicos, tecnológicos, históricos, todos interagem
entre si na composição dos grupos sociais e auxiliam na compreensão da sociedade humana.
Essa fragmentação aparece nas escolas profissionais, que focam nas capacidades
técnicas sem tratar das implicações sociais e humanas do mundo técnico. Essa tendência
leva à alienação de ver uma tecnologia isolada das relações sociais e que não olha para os
agentes que a criam ou a utilizam ou a transformam.
A autora lembra que a tecnologia não é fundamental para algumas sociedades, como
no caso dos nômades, em que o acúmulo de bens atrapalha o processo de locomoção. Ela
traça então um panorama histórico até chegar à revolução industrial e o capitalismo, mas
aponta que esse processo de complexificação social não seria geral nem unilinear, pois há
povos que ainda vivem uma lógica diversa e há a difusão e o empréstimo de traços culturais
entre sociedades distintas o tempo todo.
Com relação ao capitalismo, o conflito fundamental dessa sociedade é de dois grupos
– proprietários de capital e trabalhadores – e a lógica desse modo de produção é a criação
ilimitada de necessidades. O controle da informação e do conhecimento passa a ser fator
decisivo no exercício do poder. A superioridade técnica, então, se torna fundamental para a
dominação, mas ela não é determinante, pois junto com ela se disseminaram valores,
relações sociais e ideologias que a justificavam. A pergunta que fica é se realmente é
necessário fazer parte de um Estado capitalista para poder usufruir dos recursos
tecnológicos disponíveis.
O trabalhador dessa sociedade precisa apresentar um novo perfil, e o desemprego se
torna a grande questão social. O conhecimento tecnológico atua como uma forma de
dominação. A concentração da riqueza cria um palco de conflitos, pois grupos diferentes de
pessoas convivem com a dificuldade de relacionamento que provém de preconceitos e
discriminações e culminam em violência.

Conceitos mais importantes e suas definições:


O determinismo tenta explicar de diversas formas as diferenças entre pessoas e
sociedades baseando-se em causas diferentes (geográfica, biológica, econômica, tecnológica
etc), como se houvesse uma linearidade entre um acontecimento/fator e o seu resultado.
A europeização é a expansão de um modo de vida europeu sobre outro, subordinado
e considerado inferior que, para se desenvolver, deve se espelhar na Europa. Esses povos
assumem características econômicas, sociais, políticas, religiosas, familiares dos grupos
dominadores, mas as condições locais transformam essas características em uma cultura
que poderia se chamar de híbrida.
As empresas saíram do modo de produção fordista/taylorista para o toyotista, que é
mais flexível e exige preparação para o desempenho das novas atividades. O mercado de
trabalho fica mais restrito à medida que as empresas atingem um maior desenvolvimento
tecnológico.

Conclusões do autor:
Compreender a coexistência em um mesmo espaço de mundos fragmentados,
justapostos ou superpostos, é um desafio para as ciências sociais, e analisar isso se baseando
no determinismo tecnológico é insuficiente e inadequado.
O mundo globalizado assiste a, de um lado, a resistência a mudanças por conta da
insegurança que representam e, de outro lado, a valorização da inovação que ameaça quem
não inovar a desaparecer. Como conciliar inovações permanentes com a necessidade
humana de viver em estabilidade social?
Para que a tecnologia seja realmente democrática e participativa, é necessária a
interação entre todos os sujeitos envolvidos na produção e no desenvolvimento tecnológico.
A questão tecnológica precisa atender às necessidades sociais mais amplas e ao bem-estar
de todos os seres humanos em vez de aos interesses de minorias econômicas.
A educação tecnológica pode desenvolver essa postura crítica ao formar uma
consciência da diversidade de interesses. Um ensino que perceba o funcionamento da
tecnologia com todas as dimensões sociais. Consequentemente, essa educação precisa ser
interdisciplinar.

CHRISTIANE BURLE DE OLIVEIRA

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