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Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Programa de pós-graduação em Tecnologia e Sociedade


Disciplina: Fundamentos da interação
Jessica Fernandes Ventura

HALL, Stuart. A questão multicultural. IN: SOVIK. Liv (org.). Da Diáspora. Identidades e mediações
culturais – Stuart Hall. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no
Brasil, 2003. pp. 51-100.

1.1 Sobre o autor

Stuart Hall foi um acadêmico, escritor e professor jamaicano. Na juventude muda-se


para o Reino Unido após conseguir uma bolsa de estudos para cursar literatura na Merton
College, em Oxford. Em solo britânico torna-se um dos pioneiros em estudos culturais,
integra o famoso Birmingham Centre for Contemporary Cultural Studies. Além dos estudos
culturais desenvolve trabalhos em que discute raça, gênero, política e os impactos da
representação dentro dos meios de comunicação, em particular, na cultura popular. Destaca-
se, também, por seus estudos sobre o Thatcherismo.

1.2 Objetivos do texto

O objetivo de Stuart Hall é traçar um panorama acerca da questão multicultural, em


particular como ela se configura dentro da realidade britânica.

1.3 Argumentos do texto

Segundo Stuart Hall a questão multicultural é complexa dada a própria dificuldade


em estabelecer o que é multicultural e o multiculturalismo, pois os conceitos são
contraditórios entre si.

Assim, o entendimento da questão multicultural e dos diversos multiculturalismos


existentes esbarram com uma série de processos políticos e/ou doutrinas que ao longo da
história se ocuparam de modelos de dominação. Os projetos colonialistas, pós-colonialistas,
imperialistas e, posteriormente, a globalização, através dos seus processos de
transnacionalização e modernização falha, evidenciam a desigualdade estrutural presente em
sociedades culturalmente heterogêneas, isto é, multiculturais em sua essência.

Ademais, a globalização impulsionou também a criação de novas indústrias culturais


e a expansão de modelos de produção e consumo. A criação desse mercado global assume, no
entanto, novos formatos de desigualdade e instabilidade, novas negociações marcadas pela
différance. A différance estabelecida por um jogo de assimilação entre o global e o local.

Em seguida, Hall apresenta como se estruturam os sistemas de dominação dentro das


sociedades multiculturais. Revisa, então, os processos de racismo e etnicidade presentes no
acolhimento das diásporas, de origem afro-caribenha e asiática, no Reino Unido, como marcas
da experiência pós-moderna que integra os projetos urbanos de comunidades cosmopolitas, de
experiências híbridas.

Por fim, Hall expõe como a politica liberal e neoliberal atuam nessas comunidades
híbridas numa tentativa de homogeneizá-las. O pensamento liberal se articula para forjar uma
falsa identificação universal do que representa ser britânico.

1.4 Conceitos mais relevantes

 Multicultural - “é um termo qualitativo. Descreve as características sociais e os


problemas de governabilidade apresentados por qualquer sociedade na qual diferentes
comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida em comum, ao mesmo
tempo que retêm algo de sua identidade “original”.” P.52
 Multiculturalismo - “é substantivo. Refere-se às estratégias e políticas adotadas para
governar ou administrar problemas de diversidade e multiciplidade gerados pelas
sociedades multiculturais.” P. 52
 Différance - “ caracteriza um sistema em que “cada conceito [ou significado] está
inscrito em uma cadeia ou em um sistema, dentro do qual ele se refere ao outro e aos
outros conceitos [significados], através de um jogo sistemático de diferenças”
(Derrida,1972”. P. 60-61
 Raça – “é uma construção política e social. É a categoria discursiva em torno da qual
se organiza um sistema de poder socioecômico, de exploração e exclusão – ou seja, o
racismo.” P.69.
 Etnicidade – “gera um discurso em que a diferença se funda sob características
culturais e religiosas.”. p. 70.
1.5 Conclusões do autor

Enfim, Stuart Hall articula caminhos possíveis para a resolução das desigualdades
presentes em sociedades multiculturais. Para ele, a democracia e o pluralismo são respostas
capazes de mediar às trocas dadas dentro dessas comunidades. Sendo possível assim
condicionar uma identidade britânica mais ampla não condicionada a ser apenas britânico,
mas sim ser plural para além do racismo e da etnicidade como fatores excludentes.

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