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Prefeitura Municipal de Mesquita

Escola Municipal Ernesto Che Guevara Ano letivo: 2021


Ano de escolaridade: 9º Turno: Manhã / Tarde
Data da atividade: 22 de março de 2021 Carga horária diária: 4h
ATIVIDADE DIÁRIA
Aluno _______________________________________________________________ Turma ________

Língua Portuguesa

Interpretação de texto
TEXTO I
A fronteira da cultura (Mia Couto)
Durante anos, dei aulas em diferentes faculdades da Universidade Eduardo Mondlane. Os meus
colegas professores queixavam-se da progressiva falta de preparação dos estudantes. Eu notava algo que,
para mim, era ainda mais grave: uma cada vez maior distanciação desses jovens em relação ao seu próprio
país.
Quando eles saíam de Maputo em trabalhos de campo, esses jovens comportavam-se como se
estivessem emigrando para um universo estranho e adverso. Eles não sabiam as línguas, desconheciam
os códigos culturais, sentiam-se deslocados e com saudades de Maputo. Alguns sofriam dos mesmos
fantasmas dos exploradores coloniais: as feras, as cobras, os monstros invisíveis.
Aquelas zonas rurais eram, afinal, o espaço onde viveram os seus avós, e todos os seus antepassados. Mas
eles não se reconheciam como herdeiros desse patrimônio. O país deles era outro. Pior ainda: eles não
gostavam desta outra nação. E ainda mais grave: sentiam vergonha de a ela estarem ligados. A verdade é
simples: esses jovens estão mais à vontade dentro de um videoclipe de Michael Jackson do que no quintal
de um camponês moçambicano.
O que se passa, e isso parece inevitável, é que estamos criando cidadanias diversas dentro de
Moçambique. E existem várias categorias: há os urbanos, moradores da cidade alta, esses que foram mais
vezes a Nelspruit que aos arredores da sua própria cidade. Depois, há uns que moram na periferia, os da
chamada cidade baixa. E há ainda os rurais, os que são uma espécie de imagem desfocada do retrato
nacional. Essa gente parece condenada a não ter rosto e falar pela voz de outros.
Texto de Mia Couto adaptado do livro Pensatempos (Lisboa: Caminho, 2005).

Vocabulário:
Maputo – capital de Moçambique Moçambique – país africano onde nasceu o autor
Trabalhos de campo – trabalhos de pesquisa Nelspruit – cidade turística da África do Sul
realizados fora da universidade

TEXTO II

Meu lugar (Arlindo Cruz) Tem seus mitos e seres de luz


O meu lugar É bem perto de Osvaldo Cruz
É caminho de Ogum e Iansã Cascadura, Vaz Lobo e Irajá
Lá tem samba até de manhã
Uma ginga em cada andar O meu lugar
É sorriso é paz e prazer
O meu lugar O seu nome é doce dizer
É cercado de luta e suor Madureira, lá laiá, Madureira, lá laiá
Esperança num mundo melhor
E cerveja pra comemorar Ai meu lugar
A saudade me faz relembrar
O meu lugar Os amores que eu tive por lá
É difícil esquecer Em Madureira

Doce lugar E no Mercadão você pode comprar


Que é eterno no meu coração Por uma pechincha você vai levar
Que aos poetas traz inspiração Um dengo, um sonho pra quem quer sonhar
Pra cantar e escrever Em Madureira

Ai meu lugar E quem se habilita até pode chegar


Quem não viu Tia Eulália dançar Tem jogo de lona, caipira e bilhar
Vó Maria o terreiro benzer Buraco, sueca pro tempo passar
E ainda tem jongo à luz do luar Em Madureira

Ai que lugar E uma fezinha até posso fazer


Tem mil coisas pra gente dizer No grupo dezena, centena e milhar
O difícil é saber terminar Pelos sete lados eu vou te cercar
Madureira, lá laiá, Madureira, lá laiá Em Madureira

Em cada esquina um pagode num bar


Em Madureira
Império e Portela também são de lá

1. No Texto I, do escritor Mia Couto, e no Texto II, do compositor Arlindo Cruz, o lugar é apresentado
como espaço definidor de identidade cultural. Quanto às representações de Moçambique e Madureira
nos textos, é correto afirmar que ambas:
a) complementam-se, uma vez que o sentimento de pertencimento a esses locais é o mesmo.
b) anulam-se, pois não se pode comparar o pertencimento cultural entre locais de países diferentes.
c) diferenciam-se, porque no texto II há pleno sentimento de pertencimento cultural, oposto ao texto I.
d) assemelham-se, pois a relação entre identidade e pertencimento cultural é a mesma em ambos os
textos.
e) distinguem-se, uma vez que ambos tratam da relação com elementos culturais a partir da ideia de
apropriação e conhecimento da própria cultura.

2. O seguinte trecho foi extraído do texto I, de Mia Couto: “Depois, há uns que moram na periferia, os da
chamada cidade baixa. E há ainda os rurais, os que são uma espécie de imagem desfocada do retrato
nacional.”
A regra gramatical que justifica a concordância verbal expressa no trecho em questão diz que o verbo
haver é impessoal quando:
a) se refere a sujeitos na terceira pessoa do plural.
b) a ideia expressa pelo sujeito é singular.
c) determina tempo passado, decorrido.
d) expressa a ideia de plural.
e) é sinônimo de existir.

3. Em relação à canção composta por Arlindo Cruz, no texto II, é possível afirmar que a repetição do verso
inicial “O meu lugar”, nas quatro primeiras estrofes do texto, tem por finalidade:
a) explicitar as mazelas do lugar onde ele vive.
b) apresentar a cultura popular da região ao leitor.
c) mostrar a origem do samba e dos mitos do lugar.
d) enfatizar a experiência de pertencimento do eu lírico.
e) destacar a sonoridade presente na palavra Madureira.

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