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23.Novembro.

2023
IMERSÃO PAES UEMA 2024

IMERSÃO PAES UEMA 2024

INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
PROFESSOR RAMON ARANTHES

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IMERSÃO PAES UEMA 2024

INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
PROFESSOR RAMON ARANTHES
Temáticas presentes nas obras:

✓ Extermínio da população indígena;


✓ Temática do saudosismo e do exílio;
✓ Valorização da memória ancestral e busca das raízes que formam miscigenação brasileira: indígena (protótipo do
brasileiro) em “Primeiros Cantos” e a afrodescendência em “Olhos D’água”;
✓ Influência do cenário: Primeiros cantos (Exaltação da “cor local” e natureza expressiva), “Mar morto” (regionalismo,
cenário do cais e do mar, caráter determinista) “Olhos D’água” (cenário como marca da marginalização social e o
caráter determinista);
✓ Sincretismo religioso: Cristianismo (caráter medieval) e os mitos indígenas em “Primeiros Cantos” e a presença de
religião de matriz africana em “Mar Morto”e “Olhos D’água”;
✓ Mulher ocupando espaços até então só ocupado pelos homens: Rosa Palmeirão e Lívia em “Mar Morto”, diálogo com o
protagonismo das figuras femininas em “Olhos D’água”,
✓ Fome, Pobreza, Opressão e Marginalização social denunciada nas vidas das pessoas humildes do cais em “Mar
morto” e dos personagens que vivem miseravelmente em “Olhos D’água”;
✓ Violência contra a mulher (feminicídio): Crime passional, caráter trágico “Soldado espanhol” e “O Trovador” (Primeiros
Cantos), assassinato de Esmeralda por Rufino (Mar Morto), assassinato de uma amante de Davenga, lixamento de
“Maria” (Olhos D’água);
✓ Temática da Prostituição: mãe de Guma em “Mar morto” e Duzu em “Olhos D’água”;
✓ Temática do Aborto, praticados por Dr. Rodrigo em “Mar Morto” e por Sá
✓ Temática da prostituição (mãe de Guma e Duzu-Querença)
✓ Temática do suicídio: praticado por Rufino em “Mar Morto” e presente nos contos “Os amores de Kimbá” e “Ei, Ardoca”
✓ Esperança de mudanças / Expectativa de uma realidade melhor: observada no desejo da professora D. Dulce de que
haja um milagre uma revolução que transforme a vida dos moradores do cais, bem como a possibilidade de mudança
observada em Querença (Duzu-Querença) e no nascimento de uma criança em “Ayoluwa, a alegria do nosso povo.”

RESOLUÇÃO DE QUESTÕES:
TEXTO I

Adeus

[...]
Porém quando algum dia o colorido
Das vivas ilusões, que inda conservo,
Sem força esmorecer -, e as tão viçosas
Esp'ranças, que eu educo, se afundarem
Em mar de desenganos; - a desgraça
Do naufrágio da vida há de arrojar-me
A praia tão querida, que ora deixo,
Tal parte o desterrado: um dia as vagas
Hão de os seus restos rejeitar na praia,
Donde tão novo se partira, e onde
Procura a cinza fria achar jazigo.
(Gonçalves Dias)

TEXTO II

“Assim está Guma que olha o bojo de prata das águas e ouve a música do negro que convida para a morte. Ele
diz que é doce morrer no mar, porque irão encontrar a mãe-d'água que é a mulher mais bonita do mundo todo.” [...] “o mar
é amigo, o mar é doce amigo para todos aqueles que vivem nele.”
(Amado, Jorge. Mar Morto)

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Questão 01. (R&R)

A leitura dos textos acima permite deduzir que o eu lírico do poema “Adeus” de Gonçalves Dias e o personagem Guma de
“Mar Morto” de Jorge Amado

A) almejam a morte no mar, representando regozijo.


B) apresentam a morte como uma evasão da realidade.
C) divergem quanto a percepção da ideia da morte no mar.
D) preveem o cabo de suas vidas em uma tragédia no mar.
E) enxergam, de forma diversa, a morte no mar de forma trágica.

Questão 02. (R&R)

Caxias

Quanto és bela, ó Caxias! - no deserto,


Entre montanhas, derramada em vale
De flores perenais,
És qual tênue vapor que a brisa espalha
No frescor da manhã meiga soprando
À flor de manso lago.

Tu és a flor que despontaste livre


Por entre os troncos de robustos cedros,
Forte - em gleba inculta;
És qual gazela, que o deserto educa,
No ardor da sesta debruçada exangue
À margem da corrente.

Em mole seda as graças não escondes,


Não cinges d'oiro a fronte que descansas
Na base da montanha;
És bela como a virgem das florestas,
Que no espelho das águas se contempla,
Firmada em tronco anoso.

Mas dia inda virá, em que te pejes


Dos, que ora trajas, símplices ornatos
E amável desalinho:
Da pompa e luxo amiga, hão de cair-te
Aos pés então - da poesia a c'roa
E da inocência o cinto.

Considerando a temática e a estrutura formal do poema “Caxias” é correto relacioná-lo com a produção lírica

A) Ode, pelo tom solene e pela regularidade formal.


B) Hino, pelo tom de exaltação e pela liberdade formal.
C) Elegia, pelo tom celebrante e pela flexibilidade formal.
D) Idílio, pelo caráter bucólico e pelo uso de versos brancos.
E) Écloga, pela valorização da natureza e pelo uso de decassílabos.

Questão 03. (R&R)

Com base na análise do poema “Caxias” é coerente concluir que

A) o poeta reveste a cidade de pompa como forma de enaltecer as belezas naturais de Caxias.
B) o poema tem sua expressividade apoiada em metáforas relacionadas aos elementos da natureza.
C) a cidade de Caxias ainda irá se orgulhar de suas belezas naturais e da forma afetada com que se traja.
D) a intertextualidade com o mito de Narciso reforça a presença da influência clássica na poética romântica.
E) o poeta prevê o crescimento da cidade rendendo-lhes pompa e luxo, bem como a perda da inocência e do
encantamento poético.

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Texto I

SEUS OLHOS

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,


De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,


Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, — mais doce que o nauta
De noite cantando, — mais doce que a frauta
Quebrando a solidão.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,


De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando


Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; — causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,


Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Às vezes vulcão!

Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,


Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece
Me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranquilo,


Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa — a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante,


Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto co’um véu.

Quer sejam saudades, quer sejam desejos


Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram sem causa
Um pranto sem dor.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,


De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia.
Com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,


Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.
(Dias, Gonçalves. PRIMEIROS CANTOS.)

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Texto II

Olhos D’água

Uma noite, há anos, acordei bruscamente e uma estranha pergunta explodiu de minha boca. De que cor eram os
olhos de minha mãe? Atordoada, custei reconhecer o quarto da nova casa em que eu estava morando e não conseguia
me lembrar de como havia chegado até ali. E a insistente pergunta martelando, martelando. De que cor eram os olhos de
minha mãe? Aquela indagação havia surgido há dias, há meses, posso dizer. Entre um afazer e outro, eu me pegava
pensando de que cor seriam os olhos de minha mãe. E o que a princípio tinha sido um mero pensamento interrogativo,
naquela noite, se transformou em uma dolorosa pergunta carregada de um tom acusativo. Então eu não sabia de que cor
eram os olhos de minha mãe?

[...]

E um dia desses me surpreendi com um gesto de minha menina. Quando nós duas estávamos nesse doce jogo,
ela tocou suavemente no meu rosto, me contemplando intensamente. E, enquanto jogava o olhar dela no meu, perguntou
baixinho, mas tão baixinho, como se fosse uma pergunta para ela mesma, ou como estivesse buscando e encontrando a
revelação de um mistério ou de um grande segredo. Eu escutei quando, sussurrando, minha filha falou:
— Mãe, qual é a cor tão úmida de seus olhos?

(Evaristo, Conceição. OLHOS D’ÁGUA.)

Questão 04. (R&R)

Considerando a ideia central dos dois textos é possível perceber como principal recurso expressivo

A) expressões eufêmicas.
B) linguagem metafórica.
C) contaminação lírica.
D) plasticidade verbal.
E) caráter anafórico.

Questão 05. (R&R)

A enfoque dado aos “olhos” nos dois textos pode ser contraposto, principalmente pelo (a)

A) tom memorialístico.
B) tempo da enunciação.
C) caráter contemplativo.
D) parcialidade da abordagem.
E) expressividade da linguagem.

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Questão 06. (R&R)

Analise a imagem e responda o que se pede:

A imagem acima dialoga de forma direta com o desfecho do conto ao qual pertence o seguinte fragmento:

A) “Duzu morou ali muitos anos e de lá partiu para outras zonas. Acostumou-se aos gritos das mulheres apanhando dos
homens, ao sangue das mulheres assassinadas.”
B) “Dias depois, a seguinte manchete aparecia nos jornais: “Filha de pastor apareceu nua e toda perfurada de balas.
Tinha ao lado do corpo uma Bíblia. A moça cultivava o hábito de visitar os presídios para levar a palavra de Deus.”
C) “Sá Praxedes comia criança! Natalina sabia disso. Ela também muitas vezes conseguia a obediência dos irmãos
menores trazendo a velha parteira até o medo deles.”
D) “Ela, ainda sem ouvir direito, adivinhou a fala dele: um abraço, um beijo, um carinho no filho. E logo após, levantou
rápido sacando a arma. Outro lá atrás gritou que era um assalto.”
E) No princípio a aprendizagem lhe custara muito. Acostumada ao amor em que tudo ou quase tudo pode ser gritado,
exibido aos quatro ventos, Salinda perdeu o chão.

Questão 07. (R&R)

Ideia de Deus

[...]

Oh! como é grande e bom o Deus que manda


Um sonho ao desgraçado,
Que vive agro viver entre misérias,
De ferros rodeado;

O Deus que manda ao infeliz que espere


Na sua providência;
Que o justo durma, descansado e forte
Na sua consciência!

Que o assassino de contínuo vele,


Que trema de morrer;
Enquanto lá nos céus, o que foi morto,
Desfruta outro viver!

Oh! como é grande o Senhor Deus, que rege


A máquina estrelada,
Que ao triste dá prazer; descanso e vida
À mente atribulada!
(Dias, Gonçalves. PRIMEIROS CANTOS.)

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O poema acima exorta o interlocutor a uma postura de

A) devoção.
B) resiliência.
C) veneração.
D) insurreição.
E) conformismo.

Questão 08.

Considerando as influências literárias, o estilo de época e os recursos expressivos que estão presentes na poética de
Goncalves Dias é perceptível no poema a presença de

A) alusão à adágios populares.


B) paródia com provérbios bíblicos.
C) interdiscursividade com gênesis.
D) intergenericidade com os salmos.
E) intertextualidade com os provérbios.

Questão 09. (R&R)

Texto I

“(...) Os homens da beira do cais só têm uma estrada na sua vida: a estrada do mar. Por ela entram, que seu destino é
esse. O mar é dono de todos eles. Do mar vem toda a alegria e toda a tristeza porque o mar é mistério que nem os
marinheiros mais velhos entendem, que nem entendem aqueles antigos mestres de saveiro que não viajam mais, e,
apenas, remendam velas e contam histórias.”
(Mar Morto, Jorge Amado)

Texto II

"(...) Era tentador. Deixar a favela. Deixar a miséria. Deixar a família. As rezas de Vó Lidumira lhe irritavam
profundamente. A velha rezava por tudo e por nada. E ele não via milagre algum. Não via nada de bom acontecer com ela
ou com a família. A avó nascera de mãe e de pai que foram escravizados. Ela já era filha do 'Ventre Livre', entretanto
vivera a maior parte de sua vida entregue aos trabalhos em uma fazenda. A mãe e as tias passaram a vida se gastando
nos tanques e nas cozinhas das madames. As irmãs iam por esses mesmos caminhos. E ele, ele mesmo, estava ali,
naquele esfrega-esfrega de chão de supermercado."
(Olhos d’água, Conceição Evaristo)

Os fragmentos acima são exemplos de uma abordagem literária recorrente na literatura brasileira a partir do século XX.
Assim, percebe-se em ambos os textos que

A) a linguagem afetiva aproxima os narradores dos personagens marginalizados.


B) a ironia marca o distanciamento dos narradores em relação aos personagens.
C) o espaço onde vivem os personagens é uma das marcas de sua exclusão.
D) o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem social.
E) a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta.

Questão 10. (R&R)

São características em comum às obras “Mar Morto” de Jorge Amado e “Olhos d’água” de Conceição Evaristo, exceto:

A) referências a religiosidade de matriz africana.


B) narrativa marcada pelo caráter autobiográfico.
C) ficcionalidade apoiada na observação do cotidiano.
D) abordagem da realidade pautada na verossimilhança.
E) presença de linguagem marcada pelo colorido poético.

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