Você está na página 1de 103

Resumão

Português

Este conteúdo pertence ao Descomplica. Está vedada a cópia ou a reprodução não autorizada
previamente e por escrito. Todos os direitos reservados.
Português

Fenômenos linguísticos: marcadores de pressuposição, polifonia

Resumo

Marcadores de pressuposição
Pressuposição vem de pressuposto, algo que está implícito. Dessa forma, como a expressão já indica, os
marcadores são elementos que reforçam uma pressuposição e permitem o entendimento de informações
secundárias, não explícitas nos enunciados. Observe o trecho abaixo da música “Não sou mais disso” de
Zeca Pagodinho:
Eu deixei de ser pé-de-cana
Eu deixei de ser vagabundo
Aumentei minha fé em Cristo
Sou bem quisto por todo mundo.
Os elementos destacados são marcadores de pressuposição, pois está implícito que se hoje ele deixou de
ser pé-de-cana e vagabundo é porque um dia ele já foi.

Observe os exemplos a seguir:


“Pedro está muito legal hoje”.

Podemos deduzir, a partir do advérbio “hoje”, que Pedro não costuma estar legal sempre.

As pessoas que se exercitam ficam menos doentes.

O emprego do relativo “que”, introduzindo a oração subordinada restritiva, deixa implícita a ideia de que
existem pessoas que não se exercitam.

Importante!
Existem marcas linguísticas que ajudam a identificar a pressuposição:
a) Verbos que indicam mudança, permanência, continuidade, como: “começar”, “deixar de”, “continuar”,
“conseguir”, entre outros.
b) Relativo introduzindo orações subordinadas adjetivas restritivas.
c) Advérbios e locuções adverbiais como: “hoje”, “agora”, “depois de”, “felizmente”, “finalmente”, entre outros.

Polifonia
A polifonia é a presença de mais de uma voz no texto. Toda construção textual possui um emissor, ainda
que, em alguns gêneros textuais – como a dissertação argumentativa – esse emissor esteja mais distante,
ele está presente. No entanto, em alguns casos, esse emissor “abre espaço” para outras vozes no texto.
Em textos narrativos, com diálogos, a polifonia é mais fácil de ser identificada. Porém, quando colocamos
uma citação na nossa redação, por exemplo, também temos um exemplo de polifonia. Veja os exemplos a
seguir:

1
Português

TEXTO I
“Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas “Memórias Póstumas” que não teve filhos
e não transmitiu a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. Talvez hoje ele percebesse acertada sua
decisão: a postura de empresários e anunciantes em relação à publicidade para crianças é uma das faces
mais perversas de uma sociedade que se despe de valores éticos em nome do estímulo ao consumo.
Reverter esse quadro sem ferir a liberdade de expressão – eis a missão de um país que se diz democrático.”

Disponível em: https://descomplica.com.br/artigo/and8220publicidade-infantil-em-questao-no-brasiland8221-veja-uma-redacao-


nota-1000-sobre-o-tema-de-redacao-do-enem-2014/45J/

Neste trecho de uma redação exemplar sobre o tema “Publicidade infantil em questão no Brasil”, notamos
a polifonia a partir da presença do enunciador (autor do texto) e de uma citação de Machado de Assis.

TEXTO II

Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL579986-5598,00-


GOVERNO+LANCA+NOVAS+IMAGENS+PARA+EMBALAGENS+DE+CIGARRO.html

Nessa campanha governamental, é possível notar duas vozes: a do Ministério da Saúde e a do emissor da
mensagem.

TEXTO III
O pai compra um robô detector de mentiras que dá tapas nas pessoas quando mentem. Decide testá-lo no
jantar.
- Filho, onde esteve hoje?
- Na escola, pai.
O robô dá um tapa no filho.

2
Português

- Ok, vi um DVD na casa do Zé!


- Que DVD?
- Toy Story.
O robô dá outro tapa no filho.
- Ok, era pornô – choraminga o filho.
- O que? Quando tinha a tua idade nem sabia o que era filme pornô! – diz o pai.
O robô dá um tapa no pai.
A mãe ri:
- Kkkkk! Só podia ser seu filho mesmo!
O robô dá um tapa na mãe.
Silêncio total.
Disponível em: https://www.pinterest.pt/pin/442900944605177555/

Na piada acima, é possível perceber que há a voz do narrador, a voz do pai, da mãe e do filho, configurando,
assim, um texto polifônico.

3
Português

Exercícios

1. Pressupostos são conteúdos implícitos que decorrem de uma palavra ou expressão presente no ato
de fala produzido. O pressuposto é indiscutível tanto para o falante quanto para o ouvinte, pois decorre,
necessariamente, de um marcador lingüístico, diferentemente de outros implícitos (os subentendidos),
que dependem do contexto, da situação de comunicação.
FIORIN, J. L. O dito pelo não dito. In: Língua Portuguesa, ano I, n. 6, 2006. p. 36-37. (Adaptado)

Observe este exemplo: “João parou de fumar”.


Nesse enunciado, é a presença da expressão “parar de” que instaura o pressuposto de que João
fumava antes.
Leia, agora, estas manchetes:
1. Petrobrás é vítima de novos furtos.
O tempo, Belo Horizonte, 8 mar. 2008.
2. Dengue vira risco de epidemia em BH
Estado de Minas, Belo Horizonte, 9 abr. 2008.

Com base nas informações dadas acima e considerando essas duas manchetes de jornal, indique
quais são os pressupostos que delas se depreendem.
a) Entende-se que a Petrobrás já havia sido furtada (na primeira manchete), enquanto na segunda
é possível entender que antes a dengue não era um risco de epidemia.
b) Na primeira manchete é possível entender que é a primeira vez que a Petrobrás corre risco de
furto, enquanto na segunda manchete a “dengue” volta a se tornar risco.
c) Entende-se, pela primeira manchete, que a Petrobrás é furtada pela primeira vez, enquanto na
segunda manchete é possível perceber que a dengue já se tornou uma epidemia.
d) Entende-se que a Petrobrás já havia sido furtada (na primeira manchete), enquanto na segunda
manchete entende-se que há uma probabilidade da dengue se tornar epidemia.

2. (ENEM)
Brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
– Sois cristão?
– Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
– Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
Oswald de Andrade
A polifonia, variedade de vozes, presente no poema resulta da manifestação do:
a) poeta e do colonizador apenas.
b) colonizador e do negro apenas.
c) negro e do índio apenas.
d) colonizador, do poeta e do negro apenas.
e) poeta, do colonizador, do índio e do negro.

4
Português

3. (Unifesp) Você conseguiria ficar 99 dias sem o Facebook?


Uma organização não-governamental holandesa está propondo um desafio que muitos poderão
considerar impossível: ficar 99 dias sem dar nem uma “olhadinha” no Facebook. O objetivo é medir o
grau de felicidade dos usuários longe da rede social.
O projeto também é uma resposta aos experimentos psicológicos realizados pelo próprio Facebook.
A diferença neste caso é que o teste é completamente voluntário.
Ironicamente, para poder participar, o usuário deve trocar a foto do perfil no Facebook e postar um
contador na rede social.
Os pesquisadores irão avaliar o grau de satisfação e felicidade dos participantes no 33º dia, no 66º e
no último dia da abstinência.
Os responsáveis apontam que os usuários do Facebook gastam em média 17 minutos por dia na rede
social. Em 99 dias sem acesso, a soma média seria equivalente a mais de 28 horas, que poderiam ser
utilizadas em “atividades emocionalmente mais realizadoras”.
(http://codigofonte.uol.com.br. Adaptado.)

De acordo com os pressupostos da campanha holandesa, o usuário do Facebook:


a) Supera as suas barreiras emocionais na rede social e garante uma existência com mais felicidade.
b) Vivencia experiências únicas na rede social e a tem como forma de ser mais equilibrado
emocionalmente.
c) Gasta tempo na rede social e deixa de se dedicar a momentos mais significativos em sua vida.
d) Emprega o seu tempo na rede social para trabalhar a emoção e entender melhor suas questões
de vida.
e) Dedica um tempo exíguo à rede social e tem pouca motivação para atividades mais realizadoras.

4. No poema “Sentimento do mundo”, que abre o livro homônimo de Carlos Drummond de Andrade, dizem
os versos iniciais:
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,

Considerando esses versos no contexto da obra a que pertencem, responda ao que se pede: Que
desejo do poeta fica pressuposto no verso “Tenho duas mãos”?
a) Entende-se que os males do mundo são maiores do que ele pode carregar.
b) É possível perceber que “as duas mãos” são capazes de enfrentar o “sentimento do mundo”.
c) O termo “apenas” reforça a simplicidade em lidar com as grandes batalhas da vida.
d) É compreendido que o “sentimento do mundo” é menor do que a capacidade do “ser”.

5
Português

5. Na coluna “De zero a dez”, de Rubem Tavares, publicada na revista Business Travell, 34, no primeiro
semestre de 2000, p. 13, encontram-se, entre outras, as seguintes notas, parcialmente adaptadas:
“Para os lunáticos que insistem em soltar balões de grande porte, causando incêndios e sérios riscos
à segurança dos voos: segundo o Controle de Tráfego Aéreo, em 1998 foram registradas 99
ocorrências em Guarulhos. Em todo o ano passado foram registradas 33 ocorrências e, neste ano, só
no período de janeiro a abril, já foram 31. As autoridades deveriam enquadrar os responsáveis por
crime inafiançável e trancafiá-los em presídios por longos anos.”.
“Não seria o caso de a Prefeitura pagar por cada nova pichação feita na cidade? É claro que sim. Se
todos entrassem com uma ação simultaneamente, com certeza o prefeito encontraria novas
atribuições para a Guarda Municipal. Vide sugestão na nota anterior que também poderia ser aplicada
nestes casos.”
Qual é a conclusão implícita na sequência “neste ano, só no período de janeiro a abril, já foram 31”,
que se encontra na primeira nota?
a) Compreende-se que aumentou o número de acidentes com balão e que, provavelmente, haverá
mais.
b) Entende-se que houve um decréscimo no número de acidentes no período de janeiro a abril.
c) É possível construir a ideia de que o número de acidentes é referente ao ano todo.
d) Pode-se entender que os números de acidentes foram maiores do que os anos anteriores.
e) Pode-se entender que não haverá mais acidentes de balões.

6
Português

6. (UERJ)

Apesar de enunciado em primeira pessoa, o texto inclui, implícita ou explicitamente, outras vozes.
Um exemplo da presença explícita da fala de outro personagem no texto é:

a) Que horror, Matilda. (l. 8)


b) A tecnologia de um país que, afinal, deu ao mundo a Revolução Industrial. (l. 10)
c) tem que matar esses vagabundos. (l. 25)
d) Lá ninguém usa casimira. (l. 31)

7
Português

7. (UERJ)

O personagem parece julgar quase todos que o rodeiam, mas não se exime de julgar também a si
mesmo. Um julgamento autocrítico de Isaías Caminha está melhor ilustrado no seguinte trecho:
a) Confesso que os leio, que os estudo, (l. 10)
b) Mas não é a ambição literária que me move (l. 11-12)
c) Entretanto, quantas dores, quantas angústias! (l. 17)
d) Imagino como um escritor hábil não saberia dizer o que eu senti (l. 37)

8
Português

8. (UERJ)

Claro, ao abrirmos a possibilidade de que vida extraterrestre inteligente exista, (l. 22)
No fragmento acima, o vocábulo claro projeta uma opinião do autor do texto sobre o que vai ser dito
em seguida.
Outro exemplo em que a palavra ou expressão sublinhada cumpre função semelhante é:
a) Desde então, ideias sobre a pluralidade dos mundos têm ocupado (l. 4)
b) Por mais de 40 anos, cientistas vasculham os céus (l. 28)
c) Infelizmente, até agora nada foi encontrado. (l. 29)
d) Nesse caso, quão diferentes seriam dos deuses (l. 38)

9
Português

9. Trabalhe, trabalhe, trabalhe.


Mas não se esqueça: vírgulas significam pausas.
Revista Língua Portuguesa, n.º 36, outubro de 2008, p. 30.

A publicidade utiliza recursos e elementos linguísticos e extralinguísticos para propagar sua


mensagem. O autor do texto publicitário acima, para construir seu sentido, baseia-se
a) na possibilidade de confundir o leitor quanto à sua rotina.
b) na criação de dúvida quanto à quantidade de trabalho.
c) na certeza de surpreender o leitor com efeitos de humor.
d) no duplo sentido da palavra pausas: pausa na escrita e pausa no trabalho.
e) no objetivo de irritar o leitor no que se refere à sua rotina de trabalho diária.

10.

A capa da revista Época de 12 de outubro de 2009 traz um anúncio sobre o lançamento do livro digital
no Brasil. Já o texto II traz informações referentes à abrangência de acessibilidade das tecnologias de
comunicação e informação nas diferentes regiões do país. A partir da leitura dos dois textos, infere-
se que o advento do livro digital no Brasil
a) possibilitará o acesso das diferentes regiões do país às informações antes restritas, uma vez que
eliminará as distâncias, por meio da distribuição virtual.
b) criará a expectativa de viabilizar a democratização da leitura, porém, esbarra na insuficiência do
acesso à internet por meio da telefonia celular, ainda deficiente no país.
c) fará com que os livros impressos tornem-se obsoletos, em razão da diminuição dos gastos com
os produtos digitais gratuitamente distribuídos pela internet.
d) garantirá a democratização dos usos da tecnologia no país, levando em consideração
ascaracterísticas de cada região no que se refere aos hábitos de leitura e acesso à informação.
e) impulsionará o crescimento da qualidade da leitura dos brasileiros, uma vez que as
características do produto permitem que a leitura aconteça a despeito das adversidades
geopolíticas.

10
Português

Gabarito

1. A
Na primeira manchete, é possível depreender o pressuposto de que a Petrobrás já havia sido vítima de
furtos anteriormente. Na segunda, o pressuposto é de que, antes, não havia risco de epidemia de dengue
em Belo Horizonte.

2. E
A voz poeta é denunciada pelo discurso indireto “O Zé Pereira chegou de caravela/E preguntou pro
guarani da mata virgem”, que logo em seguida ´se rompe e dá lugar ao discurso direto e há um diálogo
que, por inferência, entende-se que as vozes são do colonizador e do índio; por último, há a voz do negro
indicada tanto pela voz do poema quanto pela voz do próprio negro por meio do discurso direto.

3. C
“Os responsáveis apontam que os usuários do Facebook gastam em média 17 minutos por dia na rede
social. Em 99 dias sem acesso, a soma média seria equivalente a mais de 28 horas, que poderiam ser
utilizadas em “atividades emocionalmente mais realizadoras”.

4. A
O advérbio “apenas” sugere a limitação de recursos do eu-lírico para agir em relação ao “seu sentimento
do mundo”, pressupondo, assim, que o seu sentimento de enfrentar os males do mundo é maior do que
os recursos que possui para isso.

5. A
Podemos concluir, a partir da construção, que houve um aumento significativo de acidentes com balão
e que, provavelmente, haverá mais.

6. C
Na carta que escreve, o personagem lembra uma frase característica do pai de sua esposa, destinatária
da carta: “tem que matar esses vagabundos”. Essa frase explicita a fala de outro personagem no texto.

7. D
Ao imaginar como um escritor habilidoso sabe dizer melhor o que ele sentiu, o personagem deixa
implícito que não se considera um escritor tão talentoso quanto gostaria, deixando claro seu julgamento
autocrítico.

8. C
Modalizadores são palavras ou expressões que projetam um ponto de vista do enunciador acerca do
que está sendo enunciado, revelando diferentes intenções comunicativas. Com o uso de "infelizmente",
por exemplo, fica clara a expectativa do autor de que fosse encontrado sinal de vida extraterrena, assim
como a frustração dessa expectativa.

9. D
A ambiguidade do termo “vírgula”, empregado no anúncio publicitário, reflete em uma ambiguidade
gerada no campo linguístico e extralinguístico, uma vez que ela representa as pausas entre palavras e
orações, além de representar a necessidade de pausas ao longo da vida profissional.

10. B
Segundo a interpretação dos dois textos, pode ser pressuposto que a distribuição da internet sem fio
(das conexões, de modo geral) não é ampla para todo cenário nacional. Assim, é entendido que as
regiões sudeste e sul garantem melhor estabilidade da utilização virtual, tornando difícil o acesso à
leitura.

11
Português

Fenômenos linguísticos: indicadores modais e relações entre


palavras

Resumo

Indicadores modais
Os indicadores modais, também conhecidos como modalizadores, são palavras ou expressões que projetam
um ponto de vista do enunciador acerca do que está sendo anunciado, revelando diferentes intenções
comunicativas. Observe os anunciados a seguir:
1. Brasil terá crescimento inferior ao esperado nos próximos semestres devido à crise no exterior
2. É possível que o Brasil tenha crescimento inferior ao esperado nos próximos semestres devido à crise
no exterior.
No primeiro enunciado, o autor se responsabiliza pela afirmação e, caso sua ideia seja contestada por outros
especialistas, terá de sustentar sua opinião. No entanto, no segundo enunciado, o autor faz apenas uma
previsão, ou seja, não afirma corretamente, não assume a responsabilidade do erro. Embora seja também
uma afirmação, é uma maneira mais segura de afirmar. Alguns elementos linguísticos capazes de traduzir
esse fenômeno, por exemplo:
• Expressões cristalizadas (é provável, é possível, etc).
• Advérbios e locuções adverbiais (talvez, provavelmente, certamente, obrigatorimente, etc).
• Determinados verbos auxiliares (dever, poder, etc).

Relações semânticas entre palavras


A semântica é uma área que estuda o significado das palavras, das frases e das expressões em determinados
contextos. Muitas vezes, os significados podem receber diferentes interpretações por estarem em uma
determinada situação comunicativa. Assim, as relações de sentido podem ser estabelecidas a partir de alguns
fenômenos conhecidos como: sinonímia, antonímia, hiperonímia, hiponímia, paronímia, heteronímia e
homonímia.

FENÔMENO DEFINIÇÃO EXEMPLO


São palavras que possuem bonito x feio
Antonímia relação de significados opostos. bem x mal
bom x mau
São palavras que possuem uma casa = moradia, residência, lar,
Sinonímia relação de similaridade de etc.
significado.
É a relação entre duas ou mais gosto (substantivo) e gosto (1ª p.
palavras que tem significados sing. pres. Ind – verbo gostar);
Homonímia diferentes, mas possuem o cerrar (verbo) e serrar (verbo);
mesmo som. cedo (verbo) e cedo (advérbio).

1
Português

São palavras que designam seres


da mesma classe, mas que homem e mulher
Heteronímia possuem gêneros (masculino e bode e cabra
feminino) diferentes. genro e nora.

São palavras que possuem deferir (atender) e diferir


significados diferentes, mas são (divergir);
Paronímia parecidas na pronúncia e na descriminar (tirar a culpa) e
escrita. discriminar (distinguir).

É a relação que ocorre quando


uma palavra possui um sentido insetos
Hiperonímia amplo, que engloba um conjunto esporte
de outras palavras com sentido transporte
mais específico.
É a relação que ocorre quando borboleta, mosca, mosquito
Hiponímia uma palavra possui um sentido natação, futebol, vôlei
restrito. carro, avião, caminhão, moto

2
Português

Exercícios

1. As palavras classificadas como advérbios agregam noções diversas aos termos a que se ligam na frase,
demarcando posições, relativizando ou reforçando sentidos, por exemplo. O advérbio destacado é
empregado para relativizar o sentido da palavra a que se refere em:
a) Utilizá-las em história presumivelmente verdadeira?
b) Certamente me irão fazer falta,
c) Afirmarei que sejam absolutamente exatas?
d) Desenterrarmos pacientemente as condições que a determinaram.
e) (...) era a pior tortura que nos podiam infligir naquele ano terrível.

Leia o texto abaixo e responda às questões 2 e 3:

Astroteologia
Aparentemente, foi o filósofo grego Epicuro que sugeriu, já em torno de 270 a.C., que existem inúmeros
mundos espalhados pelo cosmo, alguns como o nosso e outros completamente diferentes, muitos
deles com criaturas e plantas. Desde então, ideias sobre a pluralidade dos mundos têm ocupado uma
fração significativa do debate entre ciência e religião. Em um exemplo dramático, o monge Giordano
Bruno foi queimado vivo pela Inquisição Romana em 1600 por pregar, dentre outras coisas, que cada
estrela é um Sol e que cada Sol tem seus planetas. (...)
Todos os animais e plantas terrestres estão aqui para nos servir. Ser inteligente é uma dádiva que nos
põe no topo da pirâmide da vida. O que ocorreria se travássemos contato com outra civilização
inteligente? Deixando de lado as inúmeras dificuldades de um contato dessa natureza – da raridade da
vida aos desafios tecnológicos de viagens interestelares – tudo depende do nível de inteligência dos
membros dessa civilização. Se são eles que vêm até aqui, não há dúvida de que são muito mais
desenvolvidos do que nós. (...)
Se fossem muito mais avançados do que nós, a ponto de haverem desenvolvido tecnologias que os
liberassem de seus corpos, esses seres teriam uma existência apenas espiritual. A essa altura, seria
difícil distingui-los de deuses. Por mais de 40 anos, cientistas vasculham os céus com seus
radiotelescópios tentando ouvir sinais de civilizações inteligentes. (...) Infelizmente, até agora nada foi
encontrado. Muitos cientistas acham essa busca uma imensa perda de tempo e de dinheiro. As
chances de que algo significativo venha a ser encontrado são extremamente remotas. (...) Nesse caso,
quão diferentes seriam dos deuses que tantos acreditam existir? Não é à toa que inúmeras seitas
modernas dirigem suas preces às estrelas e não aos altares.
Marcelo GleiserFolha de São Paulo, 01/03/2009

3
Português

2. “Claro, ao abrirmos a possibilidade de que vida extraterrestre inteligente exista.”


No fragmento acima, o vocábulo claro projeta uma opinião do autor do texto sobre o que vai ser dito
em seguida. Outro exemplo em que a palavra ou expressão sublinhada cumpre função semelhante é:
a) Desde então, ideias sobre a pluralidade dos mundos têm ocupado. (l.3)
b) Por mais de 40 anos, cientistas vasculham os céus (l.15)
c) Infelizmente, até agora nada foi encontrado (l.16)
d) Nesse caso, quão diferentes seriam dos deuses. (l.18)
e) Muitos cientistas acham essa busca uma imensa perda de tempo (l.16)

3. “Se são eles que vêm até aqui, não há dúvida de que são muito mais desenvolvidos do que nós” (l.11)
O vocábulo que melhor representa o sentido da expressão sublinhada é:
a) Certamente
b) Provavelmente
c) Prioritariamente
d) Fundamentalmente
e) Excepcionalmente

4. O sedutor médio
Vamos juntar
Nossas rendas e
expectativas de vida
querida,
o que me dizes?
Ter 2, 3 filhos
e ser meio felizes?
VERISSIMO, L. F. Poesia numa hora dessas?! Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

No poema “O sedutor médio”, é possível reconhecer a presença de posições críticas


a) nos três primeiros versos, em que “juntar expectativas de vida” significa que, juntos, os cônjuges
poderiam viver mais, o que faz do casamento uma convenção benéfica.
b) na mensagem veiculada pelo poema, em que os valores da sociedade são ironizados, o que é
acentuado pelo uso do adjetivo “médio” no título e do advérbio “meio” no verso final.
c) no verso “e ser meio felizes?”, em que “meio” é sinônimo de metade, ou seja, no casamento, apenas
um dos cônjuges se sentiria realizado.
d) nos dois primeiros versos, em que “juntar rendas” indica que o sujeito poético passa por
dificuldades financeiras e almeja os rendimentos da mulher.
e) no título, em que o adjetivo “médio” qualifica o sujeito poético como desinteressante ao sexo
oposto e inábil em termos de conquistas amorosas.

4
Português

5. Leia o seguinte texto, que faz parte de um anúncio de um produto alimentício:


Em respeito a sua natureza, só trabalhamos com o melhor da natureza
Selecionamos só o que a natureza tem de melhor para levar até a sua casa. Porque faz parte da
natureza dos nossos consumidores querer produtos saborosos, nutritivos e, acima de tudo, confiáveis.
Disponível em: www.destakjornal.com.br, 13/05/2013. Adaptado.
Procurando dar maior expressividade ao texto, seu autor
a) serve-se do procedimento textual de sinonímia.
b) recorre à reiteração de vocábulos homônimos.
c) explora o caráter polissêmico das palavras.
d) mescla as linguagens científica e jornalística.
e) emprega vocábulos iguais na forma, mas de sentido contrários.

6. Como se sabe, galinhas são aves. Assim, a relação que se estabelece, respectivamente, entre esses
dois termos é de
a) homonímia.
b) paronímia.
c) antonímia.
d) hiponímia.
e) hiperonímia.

7. Minha vida
Minha vida
não é tempo que corre
do meu natal
à minha morte

Minha vida é o meu dia de natal


- Dia da minha morte
In: COOPER, Jorge. Poesia completa. Maceió: Cepal, 2010, p.41.
No poema, aparecem os vocábulos “vida” e “morte”, que, sendo antônimos, contribuem para o desfecho
paradoxal expresso nos dois últimos versos. Quanto às relações semânticas dos pares de palavras
abaixo, qual das alternativas apresenta um erro?
a) extroversão / introversão – antonímia.
b) experto / esperto – homonímia.
c) ratificar / retificar – paronímia.
d) pelo (contração prepositiva) / pelo (substantivo) – homonímia.
e) concerto / ajuste – sinonímia.

5
Português

8. E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela
era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos
trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se
não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o
mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira,
a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele,
assanhando-lhe os desejos, acordando-lhes as fibras embombecidas pela saudade da terra, picando-
lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota
daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em
torno de Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.
(Aluísio Azevedo, O Cortiço.)
O conceito de hiperônimo (vocábulo de sentido mais genérico em relação a outro) aplica-se à palavra
“planta” em relação a “palmeira”, “trevos”, “baunilha” etc., todas presentes no texto. Tendo em vista a
relação que estabelece com outras palavras do texto, constitui também um hiperônimo a palavra
a) “alma”.
b) “impressões”.
c) “fazenda”.
d) “cobra”.
e) “saudade”.

9. O gosto da surpresa
Nada é melhor do que se surpreender, olhar o mundo com olhos de criança. Por isso as pessoas gostam
de viajar. (...) Agora, não é necessário se deslocar no espaço para se surpreender e se renovar. Olhar
atentamente uma flor, acompanhar o seu desenvolvimento, do botão à pétala caída, pode ser tão
enriquecedor quanto visitar um monumento histórico.
Tudo depende do olhar. A gente tanto pode olhar sem ver nada quanto se maravilhar, uma capacidade
natural na criança e que o adulto precisa conquistar, suspendendo a agitação da vida cotidiana e não
se deixando absorver por preocupações egocêntricas. (...)
Veja, Editora Abril, edição 2184 – ano 43 0 nº 39, 29/09/2010, p. 116

No trecho: “...suspendendo a agitação da vida cotidiana e não se deixando absorver por preocupações
egocêntricas”, as palavras grifadas mantêm, com os vocábulos “absolver” e “personalistas”, uma
relação de:
a) homonímia e sinonímia, respectivamente.
b) sinonímia e homonímia, respectivamente.
c) antonímia e paronímia, respectivamente.
d) antonímia e sinonímia, respectivamente.
e) paronímia e sinonímia, respectivamente.

6
Português

10. Observe as frases:


I. O paciente submeteu-se a sessões de sangria, utilizando-se sanguessugas.
II. Encontrou, na seção de remédios, o que provurava para o seu alívio.
O par de palavras sessão/seção relaciona-se ao estudo da:
a) homonímia.
b) sinonímia.
c) paronímia.
d) antonímia.
e) polissemia.

7
Português

Gabarito

1. A
O advérbio de modo “presumivelmente” demonstra que a história é possivelmente verdadeira. Dessa
forma, ele relativiza a informação, ao contrário das demais alternativas.

2. C
O vocábulo “ infelizmente” mostra o descontentamento do emissor em relação àquilo que está sendo dito.

3. A
A expressão “não há dúvida de que” indica uma certeza, podendo, então, ser substituída por “certamente”.

4. B
Apesar de a questão não resultar na alternativa que trata sobre sinônimos, há a necessidade de seu
conhecimento para que se chegue a uma resolução. “Sedutor médio” e “meio felizes” são claramente
utilizados de forma irônica para quebrar expectativas e, ao mesmo tempo, aproximar a ficção da realidade.

5. C
O autor uso o recurso da polissemia da palavra “natureza”, repetida quatro vezes no anúncio com dois
significados diferentes. Na primeira e na quarta aparições possui o significado de “o que compõe a
substância do ser; essência. Já na segunda e terceira aparições significa “conjunto de elementos do
mundo natural.

6. D
O vocábulo “galinhas” pertence a uma categoria mais amplia, chamada “aves”. Assim, pode-se dizer que
a relação entre os dois termos é de hiponímia.

7. E
A palavra “concerto” tem o significado de um conjunto de instrumentistas que realizam uma apresentação
musical. Já “conserto” seria o substantivo equivalente ao verbo “consertar”, com o mesmo sentido de
“ajuste”, de arrumar algo. Não há sinônimia entre “concerto” e “ajuste”, mas sim entre “conserto” e “ajuste”.

8. B
A palavra “impressões” é o hiperônimo das percepções de Jerônimo tinha em relação à Rita Baiana, por
exemplo, “Era era a luz (...), o calor (...), o aroma (...), a palmeira (...), entre outros.

9. E
A paronímia designa o fenômeno que ocorre com palavras semelhantes (mas não idênticas) quanto à
grafia ou a pronúncia, como em “absorver” e “absolver”. A sinonímia refere-se à relação semântica
estabelecida entre vocábulos de mesma categoria morfológica e sintática, por exemplo, que possuem
significados equivalentes, como “egocêntricas” e “personalistas”.

10. A
As palavras “Sessão” e “seção” são homônimas homófonas, isto é, têm a mesma pronuncia, apear de a
grafia ser diferente. Além disso, possuem, também, significados distintos, visto que sessão possui
sentido de reunião, enquanto seção tem sentido de separar, repartir.

8
Português

Fenômenos linguísticos: intertextualidade

Resumo

A intertextualidade é um fenômeno linguístico, no qual há influência de um texto sobre outro que o


toma como modelo ou ponto de partida. É importante ressaltar que essa referenciação é feita de
modo implícito, ou seja, não há indicação do autor e da obra original, pois pressupõe que o leitor
compartilhe um mesmo conjunto de informações a respeito de obras que compõem determinado
universo cultural. Os dados utilizados podem ser de textos literários, mitológicos, históricos e
culturais.
Veja abaixo um exemplo de intertextualidade:

O exemplo acima apresente duas figuras de diferentes finalidades: a primeira é um cartaz de


propaganda de um filme e o segundo, uma propaganda de um mercado chamado Hortifruti.
Logo, possuem finalidades diferentes. Além disso, é possível identificar uma intertextualidade entre
as imagens, porque há elementos semelhantes nos dois textos, por exemplo, a imagem do sapato
(um vermelho e o outro verde), o jogo de palavras entre “diabo” e “quiabo”.
É importante destacar, também, que a intertextualidade pode ser encontrada de diferentes formas.
Entre elas, as mais importantes são: a paráfrase, a paródia e a citação. Vamos ver cada uma delas?

Paráfrase
A paráfrase constitui em uma reescritura textual que ratifica, positivamente, a ideologia do texto
original. Significa dizer o mesmo que foi dito anteriormente, a partir de outras palavras.
Observe os exemplos a seguir.

1
Português

Nova Canção do Exílio Canção do exílio


Um sabiá Minha terra tem palmeiras,
na palmeira, longe. Onde canta o Sabiá;
Estas aves cantam As aves, que aqui gorjeiam,
um outro canto. Não gorjeiam como lá.

O céu cintila Nosso céu tem mais estrelas,


sobre flores úmidas. Nossas várzeas têm mais flores,
Vozes na mata, Nossos bosques têm mais vida,
e o maior amor. Nossa vida mais amores.

Só, na noite, Em cismar, sozinho, à noite,


seria feliz: Mais prazer encontro eu lá;
um sabiá, Minha terra tem palmeiras,
na palmeira, longe. Onde canta o Sabiá.

Onde é tudo belo Minha terra tem primores,


e fantástico, Que tais não encontro eu cá;
só, na noite, Em cismar — sozinho, à noite —
seria feliz. Mais prazer encontro eu lá;
(Um sabiá, Minha terra tem palmeiras,
na palmeira, longe.) Onde canta o Sabiá.

Ainda um grito de vida e voltar Não permita Deus que eu morra,


para onde é tudo belo Sem que eu volte para lá;
e fantástico: Sem que desfrute os primores
a palmeira, o sabiá, Que não encontro por cá;
o longe. Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Carlos Drummond de Andrade Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias

Você reconhece alguma semelhança entre os dois textos? Carlos Drummond de Andrade optou pela
paráfrase, isto é, o tipo de intertextualidade na qual retoma-se a ideia inicial e reproduz-se partes
do texto original com outras palavras. Quando o cara é gênio não tem medo, faz paráfrase.

Paródia
A paródia, diferentemente da paráfrase, consiste em um tipo de intertextualidade em que se
subverte ou distorce a ideologia do texto original, normalmente com objetivo irônico. Observe o
texto abaixo:

Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.

2
Português

A gente não pode dormir


com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Murilo Mendes

O texto acima também faz referência à “Canção do exílio” de Gonçalves Dias, mas Murilo Mendes,
poeta modernista, alterou o sentido do texto original, deu um tom mais crítico à poesia e colocou
uma pitada de ironia. Essas são características de uma paródia, que nada mais é que a
intertextualidade das diferenças.

Citação
De acordo com o dicionário Caldas Aulete, a citação “é uma frase ou passagem de obra escrita,
reproduzida geralmente com indicação do autor original, como complementação, exemplo,
ilustração, reforço ou abonação daquilo que quer dizer”. Assim, pode-se perceber que a citação é
uma intertextualidade que ocorre quando um autor transcreve um trecho de um texto de outro autor
no próprio texto. Geralmente, a citação é marcada pelo uso de aspas duplas. Observe o texto
abaixo:

3
Português

Exercícios

1. TEXTO A
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá; TEXTO B
As aves, que aqui gorjeiam, Canto de regresso à Pátria
Não gorjeiam como lá. Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Nosso céu tem mais estrelas, Os passarinhos daqui
Nossas várzeas tem mais flores, Não cantam como os de lá
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida mais amores. Minha terra tem mais rosas
[…] E quase tem mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem primores, Minha terra tem mais terra
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, a noite – Ouro terra amor e rosas
Mais prazer eu encontro la; Eu quero tudo de lá
Minha terra tem palmeiras Não permita
Onde canta o Sabiá. Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá; Não permita Deus que eu morra
Sem que desfrute os primores Sem que volte pra São Paulo
Que não encontro por cá; Sem que eu veja a rua 15
Sem qu’inda aviste as palmeiras E o progresso de São Paulo
ANDRADE, O. Cademos de poesia do aluno Oswald. São
Onde canta o Sabiá. Paulo: Cfrculo do Livro. s/d.
DIAS, G. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro:
Aguilar, 1998.

Os textos A e B, escritos em contextos históricos e culturais diversos, enfocam o mesmo


motivo poético: a paisagem brasileira entrevista a distância. Analisando-os, conclui-se que:
a) o ufanismo, atitude de quem se orgulha excessivamente do país em que nasceu, e o tom
de que se revestem os dois textos.
b) a exaltação da natureza é a principal característica do texto B, que valoriza a paisagem
tropical realçada no texto A.
c) o texto B aborda o tema da nação, como o texto A, mas sem perder a visão crítica da
realidade brasileira.
d) o texto B, em oposição ao texto A, revela distanciamento geográfico do poeta em relação
à pátria.
e) ambos os textos apresentam ironicamente a paisagem brasileira.

4
Português

2. TEXTO 1
No meio do caminho
No meio do caminho tinha
uma pedra
Tinha uma pedra no meio
do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha
uma pedra
ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro/ São Paulo: Record, 2000. (fragmento).
TEXTO 2

Questão de português do Enem 2009 (prova cancelada) (Foto: Reprodução/Enem)

A comparação entre os recursos expressivos que constituem os dois textos revela que

a) o texto 1 perde suas características de gênero poético ao ser vulgarizado por histórias
em quadrinho.
b) o texto 2 pertence ao gênero literário, porque as escolhas linguísticas o tornam uma
réplica do texto 1.
c) a escolha do tema, desenvolvido por frases semelhantes, caracteriza-os como
pertencentes ao mesmo gênero.
d) os textos são de gêneros diferentes porque, apesar da intertextualidade, foram
elaborados com finalidades distintas.
e) as linguagens que constroem significados nos dois textos permitem classificá-los como
pertencentes ao mesmo gênero.

3
Português

3.

Operários, 1933, óleo sobre tela, 150x205 cm, (P122), Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado
de São Paulo

Desiguais na fisionomia, na cor e na raça, o que lhes assegura identidade peculiar, são iguais
enquanto frente de trabalho. Num dos cantos, as chaminés das indústrias se alçam
verticalmente. No mais, em todo o quadro, rostos colados, um ao lado do outro, em pirâmide
que tende a se prolongar infinitamente, como mercadoria que se acumula, pelo quadro afora.
(Nádia Gotlib. Tarsila do Amaral, a modernista.)

O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema que também se encontra nos versos
transcritos em:
a) “Pensem nas meninas/ Cegas inexatas/ Pensem nas mulheres/ Rotas alteradas.”
(Vinícius de Moraes)
b) “Somos muitos severinos/ iguais em tudo e na sina:/ a de abrandar estas pedras/
suando-se muito em cima.” (João Cabral de Melo Neto)
c) “O funcionário público não cabe no poema/ com seu salário de fome/ sua vida fechada
em arquivos.” (Ferreira Gullar)
d) “Não sou nada./ Nunca serei nada./ Não posso querer ser nada./À parte isso, tenho em
mim todos os sonhos do mundo.” (Fernando Pessoa)
e) “Os inocentes do Leblon/ Não viram o navio entrar (...)/ Os inocentes, definitivamente
inocentes/ tudo ignoravam,/ mas a areia é quente, e há um óleo suave que eles passam
pelas costas, e aquecem.” (Carlos Drummond de Andrade)

4
Português

4. Ideologia
Meu partido O meu prazer
É um coração partido Agora é risco de vida
E as ilusões estão todas perdidas Meu sex and drugs não tem nenhum rock
Os meus sonhos foram todos vendidos 'n' roll
Tão barato que eu nem acredito Eu vou pagar a conta do analista
Eu nem acredito Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Que aquele garoto que ia mudar o mundo Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo) (Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do "Grand Agora assiste a tudo em cima do muro
Monde"
Meus heróis morreram de overdose
Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder
Meus inimigos estão no poder Ideologia
Ideologia Eu quero uma pra viver
Eu quero uma pra viver Ideologia
Ideologia Eu quero uma pra viver.
Eu quero uma pra viver
(Cazuza e Roberto Frejat - 1988)

E as ilusões estão todas perdidas (v. 3)


Esse verso pode ser lido como uma alusão a um livro intitulado Ilusões perdidas, de Honoré
de Balzac.
Tal procedimento constitui o que se chama de:
a) metáfora
b) pertinência
c) pressuposição
d) intertextualidade
e) metonímia

5. TEXTO I
Peixinho sem água, floresta sem mata TEXTO II
É o planeta assim sem você Avião sem asa
Rios poluídos, indústria do inimigo
É o planeta assim sem você Fogueira sem brasa
Disponível em: http://mataatlantica- Sou eu assim, sem você
pangea.blogspot.com.br/2009/10/parodia-meio-
ambiente_02.html Futebol sem bola
Piu-Piu sem Frajola
Sou eu assim, sem você
(Claudinho e Buchecha)

Os textos I e II apresentam intertextualidade, que, para Julia Kristeva, é um conjunto de


enunciados, tomados de outros textos, que se cruzam e se relacionam. Dessa forma, pode-
se dizer que o tipo de intertextualidade do texto I em relação ao texto II é
a) citação, porque há transcrição de um trecho do texto II ao longo do texto I.
b) paródia, pois a voz do texto II é retomada no texto I para transformar seu sentido, levando
a uma reflexão crítica.
c) epígrafe, pois o texto I recorre a trecho do texto II para introduzir o seu texto.

5
Português

d) paráfrase, porque apesar das mudanças das palavras no texto I, a ideia do texto II é
confirmada pelo novo texto.
e) alusão, porque faz referência, de modo implícito, ao texto II para servir de termo de
comparação.

6. TEXTO 1
IDEOLOGIA: EU QUERO UMA PRA VOTAR!
Rafael Sirangelo Belmonte de Abreu.

1
A cada dois anos, a sociedade brasileira depara com um grande dilema: o voto. Os
movimentos que começam a tomar forma no seio da política partidária dão conta de que
2

neste ano a inglória tarefa de escolher um representante não será diferente daquilo que
3

tem sido nas últimas eleições. Uma verdadeira salada de siglas agrupa-se de forma
aleatória, criando coligações não convencionais que aproximam históricos desafetos ou
4

opõem tradicionais aliados. As eleições deste ano, em razão do ambiente regional em que
5

se realizam, aprofundam esse esdrúxulo quadro.


6
Volta e meia, surgem partidos novos, “nem de direita nem de esquerda”, que, ao invés de
trazerem alento à sociedade, apenas escancaram a falta de ideologia, a ausência do
7

confronto de ideias, enfim, o abismo representativo que nos assola. Juntam-se todos à
8

turma dos “em cima do muro”, aliás, dos “em cima de cargos”, pois o muro, que se saiba,
caiu ainda na década de 80. Nem de longe se vislumbram tomadas de posição sobre
9

temas críticos, como o tamanho do Estado, por exemplo. Enfim, qual a medida de
10

liberdade que queremos para a nossa vida? 11

[…].

TEXTO 2

A intertextualidade é um elemento constituinte e constitutivo do processo de escrita/leitura


e estabelece relação entre dois ou mais textos. Portanto, podemos afirmar que há
intertextualidade entre os textos 1 e 2.

3
Português

A frase do texto que exemplifica a intertextualidade com a charge é:

a) A cada dois anos, a sociedade brasileira depara com um grande dilema: o voto. (Ref.1)
b) Os movimentos que começam a tomar forma no seio da política partidária dão conta de
que neste ano a inglória tarefa de escolher um representante não será diferente daquilo
que tem sido nas últimas eleições. (Refs.1 a 3)
c) Enfim, qual a medida de liberdade que queremos para a nossa vida? (Ref.10)
d) Volta e meia, surgem partidos novos, “nem de direita nem de esquerda”, que, ao invés de
trazerem alento à sociedade, apenas escancaram a falta de ideologia, a ausência do
confronto de ideias, enfim, o abismo representativo que nos assola. (Refs.6 a 8)
e) Nem de longe se vislumbram tomadas de posição sobre temas críticos, como o tamanho
do Estado, por exemplo. (Refs.9 e 10)

7.

Ao observarmos as imagens 1 e 2, percebemos uma relação dialógica entre elas, pois


a) as duas enfocam o ato de se autorretratar, porém, por meio de diferentes recursos
tecnológicos.
b) a imagem 2 retoma a 1 no intuito de satirizar a ação de se retratar em uma tela.
c) a imagem 2 estabelece com a 1 uma relação de paráfrase através de uma representação
irônica.
d) as duas estabelecem uma relação de intertextualidade explícita, já que a imagem 1 é a
fonte explícita da 2.
e) a imagem 2 é uma paródia, uma vez que se apropria da 1 para se opor a ela.

4
Português

8. Mar português Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Ó mar salgado, quanto do teu sal
Quem quer passar além do Bojador
São lágrimas de Portugal!
Tem que passar além da dor.
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Quantos filhos em vão rezaram!
Mas nele é que espelhou o céu.
Quantas noivas ficaram por casar PESSOA, Fernando. Mar Português. In: Antologia Poética.
Para que fosses nosso, ó mar! Organização Walmir Ayala. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2014. p. 15.

O sentido da tirinha é construído a partir da relação que estabelece com os famosos versos
de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena” (linhas 7-8). O modo
como esses dois textos se relacionam é chamado de
a) paráfrase
b) linearidade
c) metalinguagem
d) intencionalidade
e) intertextualidade

9.

No texto, empregam-se, de modo mais evidente, dois recursos de intertextualidade: um, o


próprio autor o torna explícito; o outro encontra-se em um dos trechos citados abaixo.
Indique-o.
a) “E você, bêbado.”
b) “Você é um horror!”

1
Português

c) ”Ilusão sua: amanhã, de ressaca, vai olhar no espelho e ver o alcoólatra machista de
sempre.”
d) “Vai repetir o porre até perder os amigos, o emprego, a família e o autorrespeito.”
e) “Perco a piada, mas não perco a ferroada!”

10.

O mercado publicitário tem implementado, sobretudo após o advento da informática, práticas


de linguagem bastante inovadoras. O texto se utiliza de duas modalidades de formas
linguísticas, mais especificamente de uma linguagem verbal e outra não verbal. Logo,
considerando que o público-alvo da campanha tenha o conhecimento de mundo necessário
para a compreensão do texto publicitário, conclui-se que seu objetivo basilar é
a) provocar um questionamento sobre a necessidade de uma dieta mais saudável.
b) fazer, indiretamente, a propaganda de um filme em cartaz nos cinemas.
c) combater o consumo desenfreado de alimentos com teor calórico muito alto.
d) influenciar a conduta do leitor através de um apelo visual e da intertextualidade.
e) democratizar o consumo de legumes entre a as classes sociais mais carentes.

11.

O texto acima é uma publicidade da empresa de cosméticos “O Boticário”, cuja construção


retoma o conhecido conto de fadas “Chapeuzinho Vermelho”. Esse processo é chamado de
a) alusão, uma vez que o texto fonte foi retomado para construir uma crítica baseada na
ironia.
b) paráfrase, pois reproduzem-se as ideias do texto fonte, mas com outras palavras.
c) paródia, já que o texfo fonte é reproduzido parcialmente.

7
Português

d) hibridismo, porque houve a subversão do texto fonte.


e) intertextualidade, porque retomou-se um texto já existente e conhecido para se construir
novo sentido.

12. Para responder à questão, considere a tela Guernica, de Pablo Picasso (figura 1), pintada em
protesto ao bombardeio a cidade espanhola de mesmo nome, e a imagem criada pelo
cartunista argentino, Quino (figura 2).

Figura 2
Figura 1

Na cena criada por Quino, está presente a


intertextualidade, pois
a) O humor surge em consequência da falta de
dedicação e de empenho da faxineira no momento
de realizar as tarefas da casa.
b) A dona da casa é uma pessoa que aprecia pintura
e possui várias obras de artistas cubistas em sua
residência.
c) As alterações realizadas pela faxineira na pintura de Picasso mantiveram a ideia original
da proposta pelo pintor para Guernica.
d) O cartunista reproduz a famosa pintura de Picasso, inserindo-a em um novo contexto
que é a sala em desordem de uma residência.
e) A faxineira irrita-se com a sujeita deixada pelos adolescentes da casa os quais
frequentemente realizam festas para os amigos.

8
Português

13. Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa
filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de
Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a
diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela
adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas
começou a botar as cartas, disse-me: “A senhora gosta de uma pessoa…” Confessei que sim,
e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha
medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade…
A Cartomante (Machado de Assis)
A intertextualidade é um recurso criativo utilizado na produção do texto. No conto, Machado
de Assis dialoga com o clássico “Hamlet” de Shakespeare com o fito de:
a) Revelar a ambiguidade própria da obra machadiana em Hamlet de William Shakespeare.
b) Ironizar o culto ao cientificismo da sociedade burguesa.
c) Reafirmar a crença no conhecimento científico para explicar as situações da vida
humana.
d) Discutir o conhecimento científico e o conhecimento místico na sociedade burguesa do
século XX.
e) Reconhecer a importância da espiritualidade na formação da sociedade burguesa do
século XIX.

9
Português

Gabarito

1. C
Embora a abordagem do tema seja a mesma, o segundo revisita o primeiro de uma forma
crítica, que é uma característica da paródia, deixando clara a intertextualidade.

2. D
A intertextualidade pode ocorrer entre textos de gêneros diferentes. Nesse caso, há uma
história em quadrinhos que revisita um poema de Drummond. O conhecimento do poema é
fundamental para compreensão da paródia realizada nos últimos quadrinhos. Desse modo, ao
passo que o texto I induz a uma reflexão de caráter existencial, o texto II tem um objetivo de
provocar humor.

3. B
No quadro Operários, de Tarsila do Amaral, a linguagem extralinguística sugere que a
diversidade do indivíduo é desconsiderada pelo conceito de igualdade de condição de trabalho
e, consequentemente, desconsiderada na vida. A mesma sugestão ocorre nos versos de João
Cabral de Melo Neto, pois na fala do protagonista fica clara a dissolução do caráter individual
dos nordestinos no trabalho de lavrar a terra.

4. D
O autor se apropriou do título do romance de Balzac para construir a ideia do desencantamento
em relação às expectativas de mudança. Trata-se de uma intertextualidade clara, já que faz
alude a outro texto, sem produzir o afastamento crítico ou irônico (que caracterizaria a
paródia).

5. B
A paródia objetiva retomar voz do texto original para levar seu leitor: a) ao reconhecimento do
texto original por meio do novo; b) conduzir o leitor a uma reflexão crítica e/ou; c0 produzir um
efeito de humor.

6. D
No período compreendido entre as referências 6 e 8, fica clara a ideia da morte de uma
ideologia tal qual ocorre no texto II.

7. A
Enquanto a primeira imagem apresenta Frida Khalo se autorretratando na pintura, a segunda
imagem apresenta a artista se autorretratando por meio de uma foto denominada “selfie”.
Assim, embora de maneiras distintas, as duas imagens apresentam o ato de autorretratar,
porém, é importante destacar o fenômeno linguístico da intertextualidade visto que há relação
entre as duas imagens.

8. E
A intertextualidade pode ocorrer entre textos de gêneros diferentes. Nesse caso, os textos estão
relacionados pelo famoso verso de Fernando Pessoa. Esse fenômeno é um recurso em que um
texto faz menção a outro, prévio, adotando elementos que identifiquem tais referências. É
importante destacar, também, que a paráfras é um tipo de intertextualidade, mas, nesse caso,
não há reescrita de enunciado por meio do emprego de sinônimos.

10
Português

9. E
A intertextualidade fica clara em “Perco a piada, mas não perco a ferroada”, que revisita o dito
popular “Perco o amigo, mas não perco a piada! ”.

10. D
A imagem apresentada é uma batata com acessórios de pirata, além de apresentar o nome
“batatas do caribe”, faz uma alusão ao filme da Disney chamado “Piratas do Caribe. É
estabelecido, portanto, uma relação entre dois textos que ocorre por meio da intertextualidade
entre a propaganda e o filme. Nesse sentido, o objetivo da publicidade é chamar atenção do
leitor a partir de uma tentativa de convencimento a partir do apelo visiaul e da intertextualidade.

11. E
A publicidade da empresa “O Boticário” é composta por uma intertextualidade, visto que temos
um texto (propaganda) que retoma outro texto (Conto da Chapeuzinho Vermelho) para construir
o seu próprio sentido.

12. D
A charge de Quino mostra uma mulher que mostra para a faxineira uma sala bagunçada e suja.
A empregada faz o serviço perfeitamente, pois, na imagem seguinte, não se encontra mais
nenhuma bagunça. A quebra de expectativa da cena ocorre porque há também a arrumação do
quadro cubista de Picasso que apresentava também uma desordem.

13. B
A intertextualidade é utilizada como recurso expressivo para enfatizar a ironia e a incredulidade
de Camilo para com história da bela Rita, que contava-lhe sobre sua visita à cartomante.

11
Português

Fenômenos linguísticos: polissemia e ambiguidade

Resumo

Polissemia
A polissemia consiste na pluralidade significativa de uma mesma palavra. Nesse sentido, um mesmo
vocábulo pode assumir várias significações, dependendo do contexto em que está. É importante destacar
que mesmo que haja uma alteração no significado, não ocorre mudança na classe gramatical.
Além disso, pode haver confusão entre uma palavra polissêmica e um homônimo perfeito. O fenômeno da
homonímia ocorre quando palavras possuem a mesma pronúncia e, muitas vezes, a mesma grafia), mas
significados diferentes. Nesse caso, a forma de diferenciá-los é identificar se há mudança na classe
gramatical, se houver, será um homônimo. Veja os exemplos abaixo:
1. Por favor, leve isso para ela.
2. O peso da mochila dela é leve.
O primeiro vocábulo é um verbo e o segundo, um adjetivo. Assim, classifica-se o vocábulo “leve” como um
caso de homonímia e não de polissemia.

Ambiguidade
A ambiguidade trata-se da duplicidade de
sentidos que pode haver em uma palavra, uma
expressão, uma frase ou até mesmo em um texto
inteiro. Abaixo, por exemplo, a ambiguidade
encontra-se na dupla interpretação do vocábulo
“vendo” referente aos verbos “ver” e “vender”.

Esse fenômeno pode ser provocado pode vários fatores. Entre eles:
● Mau uso do pronome: João e Maria vão desquitar-se.
(Um do outro ou de seus cônjuges?)
● Má colocação de palavras: A professora deixou a turma empolgada.
(Ela ou a turma?)
● Inversão sintática: Venceram os vascaínos os flamenguistas.
(Quem perdeu?)
● Polissemia: O xadrex está na moda.
(O jogo ou a roupa?)

Ademais, em relação ao aspecto semântico, a ambiguidade também


pode ser usada propositalmente com valor expressivo e criativo em
textos publicitários para persuadir o interlocutor.

1
Português

Exercícios

1. Nos dois primeiros versos, a palavra “partido” é empregada com significados diferentes.
Esta repetição produz, no texto, o seguinte sentido:
a) revela o nível de alienação do sujeito poético
b) reafirma a influência coletiva na esfera pessoal
c) acrescenta elementos pessoais a um tema social
d) projeta um sentimento de desencanto sobre a política

2. Na posição em que se encontram, as palavras assinaladas nas frases abaixo geram ambiguidade,
exceto em:
a) Pagar o FGTS já custa R$13,3 bi, diz o consultor.
b) Pais rejeitam menos crianças de proveta.
c) Consigo me divertir também aprendendo coisas antigas.
d) É um equívoco imaginar que a universidade do futuro será aquela que melhor lidar com as
máquinas.
e) Não se eliminará o crime com burocratas querendo satisfazer o apetite por sangue do público.

2
Português

3. Dentre as seguintes frases, assinale aquela que não contém ambiguidade:


a) Peguei o ônibus correndo.
b) Esta palavra pode ter mais de um sentido.
c) O menino viu o incêndio do prédio.
d) Deputado fala da reunião no Canal 2.
e) Vi um desfile andando pela cidade.

4.

O sentido da charge se constrói a partir da ambiguidade de determinado termo. O termo em questão


é:
a) Fora
b) Agora
c) Sistema
d) protestar
e) ar

5.

Para criticar a possível aprovação de um novo imposto pelos deputados, o cartunista adotou como
estratégias:
a) traços caricaturais e eufemismo.
b) paradoxo e repetição de palavras.
c) metonímia e círculo vicioso.
d) preterição e prosopopeia.
e) polissemia das palavras e onomatopeia.

3
Português

6. Hora do mergulho
Feche a porta, esqueça o barulho
feche os olhos, tome ar: é hora do mergulho
eu sou moço, seu moço, e o poço não é tão fundo
super-homem não supera a superfície
nós mortais viemos do fundo
eu sou velho, meu velho, tão velho quanto o mundo
eu quero paz:
uma trégua do lilás-neon-Las Vegas
profundidade: 20.000 léguas
"se queres paz, te prepara para a guerra"
"se não queres nada, descansa em paz"
"luz" - pediu o poeta
(últimas palavras, lucidez completa)
depois: silêncio
esqueça a luz... respire o fundo
eu sou um déspota esclarecido
nessa escura e profunda mediocracia.
(Engenheiros do Hawaii, composição de Humberto Gessinger)

Na letra da canção, Humberto Gessinger faz referência a um famoso provérbio latino: si uis pacem,
para bellum, cuja tradução é Se queres paz, te prepara para a guerra. Nesse tipo de citação,
encontramos o seguinte recurso:
a) intertextualidade explícita.
b) intertextualidade implícita.
c) intertextualidade implícita e explícita.
d) tradução.
e) referência e alusão.

7. O efeito de sentido da charge ao lado é provocado


pela combinação de informações visuais e recursos
linguísticos. No contexto da ilustração, a frase
proferida recorre à
a) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da
expressão “rede social” para transmitir a ideia
que pretende veicular.
b) ironia para conferir um novo significado ao
termo “outra coisa”.
c) homonímia para opor, a partir do advérbio de
lugar, o espaço da população pobre e o espaço
da população rica.
d) personificação para opor o mundo real pobre ao mundo virtual rico.
e) antonímia para comparar a rede mundial de computadores com a rede caseira de descanso da
família.

4
Português

8.

Disponível em: http://portalarquivos.saude.gov.br/images/campanhas. Acesso em: 12 set. 2017.


No anúncio, o slogan “É nessa fase que você fica mais forte”

a) relaciona a ideia de força à vulnerabilidade dos adolescentes para caracterizá-los como os


principais alvos das doenças.
b) explicita o interlocutor com a finalidade de compartilhar com os jovens a responsabilidade pelo
sucesso da campanha.
c) recorre à linguagem informal para divulgar uma política pública de saúde para a camada mais
jovem da sociedade.
d) utiliza a ambiguidade do termo ‘fase’ para associar a faixa etária do público-alvo ao contexto do
videogame.
e) busca persuadir o interlocutor a aderir à campanha de jogos e ao campeonato de video-game cujo
tema é relacionado à saúde.

9. Leia o texto e a charge de Alberto Montt para responder à questão.


Charles Baudelaire, poeta do século XIX, é autor do livro As Flores do Mal. Nele, seus poemas abordam
temas que questionam as convenções morais da sociedade francesa, sendo, por isso, tachado como
obsceno, como um insulto aos bons costumes da época. A partir dele, originaram-se na França os
chamados “poetas malditos”.

5
Português

O título da charge retoma o título da obra de Baudelaire, As Flores do Mal. O autor, para construir o
humor em seu texto, utiliza-se de
a) metalinguagem, na representação das flores, que recitam versos compostos pelo poeta ao próprio
Baudelaire.
b) saudosismo, nas falas das flores, pois elas representam costumes morais inerentes à sociedade
francesa do século XIX.
c) metáfora, na representação do poeta como flores que apenas dizem verdades, indiferentes às
regras morais da sociedade.
d) polissemia do substantivo “flores”, uma vez que podem se referir às próprias flores representadas
na charge ou aos desejos moralmente rejeitados pelo poeta.
e) ambiguidade na locução adjetiva “do mal”, pois, no título original, a locução representa a temática
dos poemas, mas, na charge, representa o conteúdo dos conselhos das flores.

10. Pra onde vai essa estrada?


— Sô Augusto, pra onde vai essa estrada?
O senhor Augusto:
— Eu moro aqui há 30 anos, ela nunca foi pra parte nenhuma, não.
— Sô Augusto, eu estou dizendo se a gente for andando aonde a gente vai?
O senhor Augusto:
— Vai sair até nas Oropas, se o mar der vau.

Vocabulário
Vau: Lugar do rio ou outra porção de água onde esta é pouco funda e, por isso, pode ser transposta a
pé ou a cavalo.
MAGALHÃES, L. L. A.; MACHADO, R. H. A. (Org.). Perdizes, suas histórias, sua gente, seu folclore. Perdizes: Prefeitura
Municipal, 2005.
As anedotas são narrativas, reais ou inventadas, estruturadas com a finalidade de provocar o riso. O
recurso expressivo que configura esse texto como uma anedota é o(a)
a) uso repetitivo da negação.
b) grafia do termo “Oropas”.
c) ambiguidade do verbo “ir”.
d) ironia das duas perguntas.
e) emprego de palavras coloquiais.

11. As frases abaixo apresentam ambiguidade, ou dupla leitura, exceto uma. Assinale-a:
a) Paternidade: o desafio para os pais que cuidam dos filhos sozinhos.
b) Ciências sem Fronteiras: verbas para estudantes atrasadas.
c) Dilma afirma que Petrobras é maior que seus problemas.
d) Mesmo sem revogar dogmas, Papa vira alvo dos conservadores.
e) Deputados insatisfeitos passaram a criticar abertamente erros do governo.

6
Português

12.

(TIRAS ARMANDINHO. 7 de agosto de 2015. Disponível em: https://www.facebook.com/tirasarmandinho/photos_stream/)

A tira é um gênero que apresenta linguagem verbal e não verbal e, geralmente, propõe uma reflexão
por meio do humor. No plano verbal, o humor da tira:
a) tem como foco principal a imagem do carro para ilustrar a situação econômica do pai do
personagem.
b) baseia-se na polissemia do termo “crise”, ora relacionado à situação econômica, ora a uma fase
da vida.
c) baseia-se na linguagem não verbal, que apresenta dois amigos assustados com o tamanho do
carro.
d) está centrado na hipérbole, observada na fala do personagem Armandinho, quando usa a palavra
“gigante”.
e) está centrado nos elementos pertencentes à linguagem verbal atrelada aos elementos não-
verbais presentes na tirinha.

13. TEXTO I
Criatividade em publicidade: teorias e reflexões
Resumo: O presente artigo aborda uma questão
primordial na publicidade: a criatividade. Apesar de
aclamada pelos departamentos de Criação das agências,
devemos ter a consciência de que nem todo anúncio é, de
fato, criativo. A partir do resgate teórico, no qual os
Conceitos são tratados à luz da publicidade, busca-se
estabelecer a compreensão dos temas. Para elucidar tais
questões, é analisada uma campanha impressa da marca
XXXX. As reflexões apontam que a publicidade criativa é
essencialmente simples e apresenta uma releitura do
cotidiano.
Depexe, S D. Travessias: Pesquisas em Educação, Cultura, Linguagem e
Artes, n. 2, 2008.

Os dois textos apresentados versam sobre o tema criatividade. O Texto I é um resumo de caráter
científico e o Texto II, uma homenagem promovida por um site de publicidade. De que maneira o Texto
II exemplifica o conceito de criatividade em publicidade apresentado no Texto I?
a) Fazendo menção ao difícil trabalho das mães em criar seus filhos.

7
Português

b) Promovendo uma leitura simplista do papel materno em seu trabalho de criar os filhos.
c) Explorando a polissemia do termo “criação”.
d) Recorrendo a uma estrutura linguística simples.
e) Utilizando recursos gráficos diversificados.

14.

Em termos verbais, o humor da tira é construído a partir da polissemia presente na palavra


a) engenheiro
b) resolvido
c) cadeira
d) grande
e) subir

8
Português

Gabarito

1. D
Os dois primeiros versos de Cazuza e Frejat, ao dizerem que "meu partido / é um coração partido", dão
significados diferentes à palavra “partido”. O substantivo "partido" refere-se a uma organização política,
enquanto o adjetivo "partido", relacionado a "coração", conota a sensação de tristeza ou desilusão.
Sendo assim, o sentido produzido nos versos pela exploração polissêmica pode ser entendido como
uma relação entre desencanto e política.

2. D
A palavra “melhor” refere-se somente ao verbo “lidar”, logo não existe ambiguidade. Nas outras
alternativas ocorrem palavras ou expressões que podem ser associadas a duas outras, pelo menos.

3. B
a) Peguei o ônibus correndo. (O sujeito estava correndo e pegou o ônibus ou o motorista estava
dirigindo o Ônibus rápido?; ambíguo.
b) Esta palavra pode ter mais de um sentido. Não há ambiguidade?
c) O guarda deteve o suspeito em sua casa (casa do guarda) ou na casa do suspeito? Há ambiguidade.
d) Ele viu o incêndio de um prédio? ou Do prédio (o local que ele viu). Há ambiguidade.
e) O deputado fala da reunião que ocorreu no canal 2 ou da reunião que ocorreu sobre o canal 2?

4. C
Na charge, como se trata de um protesto, pode-se inferir que os manifestantes usam o termo “sistema”
no sentido de “sistema sociopolítico”, ao passo que o funcionário que se dirige a eles utiliza o mesmo
termo, mas vinculado ao sentido de “sistema informático”. A ambiguidade possibilita a construção de
um sentido específico para o texto.

5. E
No primeiro quadrinho, o termo “saúde” se refere ao órgão público destinado às políticas públicas que
cuidam da saúde dos cidadãos; “tim-tim por tim-tim” é uma expressão popular que significa “detalhes”.
Já no segundo quadrinho, “saúde” é utilizado para indicar uma celebração e “tim-tim’ significa o tintilar
de taças brindando. Polissemia e onomatopeia são responsáveis pelo efeito de humor causado na
tirinha.

6. B
No texto há uma clara referência a um famoso provérbio latino: si uis pacem, para bellum, cuja tradução
é Se queres paz, te prepara para a guerra, exemplificando, assim, aquilo que chamamos de
intertextualidade implícita, pois citação do texto-fonte não foi feita.

7. A
A palavra “rede social” da charge é polissêmica, pois apresenta mais de um sentido, podendo ser uma
referência ao mundo virtual; no contexto da charge, a palavra “rede” também faz referência a um balanço
utilizado por várias pessoas, como ainda, apresenta, a partir do humor, uma crítica social àqueles que
não possuem boas condições financeiras.

8. E
No primeiro quadrinho, o termo “saúde” se refere ao órgão público destinado às políticas públicas que
cuidam da saúde dos cidadãos; “tim-tim por tim-tim” é uma expressão popular que significa “detalhes”.
Já no segundo quadrinho, “saúde” é utilizado para indicar uma celebração e “tim-tim’ significa o tintilar
de taças brindando. Polissemia e onomatopeia são responsáveis pelo efeito de humor causado na
tirinha.

9
Português

9. D
No anúncio, vemos uma estética bastante próxima à do videogame, com vírgus digitais e corações,
imagens típicas dos jogos. Tendo em vista que o anúncio destina-se aos jovens de 9 a 14, é possível
identificar uma ambiguidade no termo “fase”: refere-se tanto à “fase da vida”, isto é, faixa etária, quanto
a uma fase no jogo de videogame

10. E
Na charge, vemos uma ambiguidade da expressão “do mal”, já que, a princípio, ela se relacionaria ao
título de sua famosa obra “flores do mal”, em que o poema trata de temas que vão contra a moral
convencionada de sua época. No entanto, ao analisarmos a charge como um todo, vemos que “do mal”
faz referência a uma característica dos conselhos das flores, que são maldosas.

11. C
O humor instalado no diálogo entre Sô Augusto e seu interlocutor resulta da polissemia do verbo “ir”.
Enquanto este usa o termo com o sentido de determinar a direção da estrada, o primeiro entende-o como
ação de deslocar-se de um ponto para outro. A ambiguidade resulta em mais de uma interpretação de
significado para o mesmo termo.

12. D
As demais alternativas possuem ambiguidade, respectivamente, no adjetivo “sozinhos” que pode se
referir tanto aos “pais” quanto aos “filhos”; no adjetivo “atrasadas” pode se referir tanto às “estudantes”
quanto às “verbas”; no pronome possessivo “seu” pode se referir tanto à “Petrobrás” quanto à “Dilma” e,
na última alternativa, há ambiguidade uma vez que a locução adjetiva “do governo” pode ser associada
a “erros” e a “deputados”.

13. B
O humor da tira está relacionado aos significados da palavra crise: relacionada à situação econômica, seria
uma falha comprar um carro “gigante”, de acordo com o personagem Armandinho. No entanto,
considerando a “crise da meia-idade”, a compra do carro seria uma maneira de o pai de seu colega lidar
melhor com a própria autoestima.

14. C
Os dois textos falam sobre criatividade, entretanto, o texto II apresenta uma particularidade “13 de maio
– Dia das Mães”. Esse fator nos faz pensar sobre as possibilidades de significado da palavra “criação”
e nos leva a outra possível interpretação: “criação” também está relacionada à criação de um filho.
Portanto, o gabarito é letra C, pois a polissemia é um fenômeno linguístico que consiste na multiplicidade
de significados que podem ser assumidos por uma palavra.

15. D
A tirinha de Mafalta apresenta um jogo com os possíveis significados do adjetivo “grande”, que pode
apresentar tanto a característica de respeitabilidade de uma pessoa quanto se referir a sua estatura
elevada.

10
Português

Funções da Linguagem (fática, poética e referencial)

Resumo

Para nos comunicarmos com alguém, podemos utilizar vários recursos como gestos, imagens, símbolos,
palavras ou até mesmo expressões faciais e corporais. No entanto, a linguagem é a forma mais abrangente
e efetiva que possuímos e, dependendo de nossa mensagem, podemos fazer inúmeras associações e
descobrir o contexto ou a circunstância que aquela intenção comunicativa foi construída.
Existem dois tipos de linguagem, a verbal e a não-verbal. Na primeira, a comunicação é feita por meio da
escrita ou da fala, enquanto a segunda é feita por meio de sinais, gestos, movimentos, figuras, entre outros.
A linguagem assume várias funções, por isso, é muito importante saber as suas distintas características
discursivas e intencionais. Em primeiro lugar, devemos atentar para o fato de que, em qualquer situação
comunicacional plena, seis elementos estão presentes. Observe a imagem abaixo:

O emissor é o elemento responsável pela mensagem. É ele quem, como o próprio nome sugere, emite o
enunciado. Por outro lado, o receptor é o elemento a quem se direciona o que se deseja falar, é, portanto, o
destinatário ou ouvinte da mensagem.
Ademais, há outros elementos que compõem o quadro comunicativo, são eles: a mensagem, informação que
será transmitida; o contexto, também chamado de referente, é o assunto sobre o que se fala; o canal é o
meio pelo qual se transmite ou propaga a mensagem e o código é o tipo de linguagem que a mensagem é
produzida, por exemplo, no esquema acima é utilizada a Língua Portuguesa representada por meio da
linguagem verbal para se transmitir uma mensagem.
Cada uma das seis funções que a linguagem desempenha está centrada em um dos elementos acima, ou na
forma como alguns desses elementos se relacionam com os outros. Nesta aula, vamos focar em três delas,
veja a seguir:

1
Português

Função Fática
A função fática está centrada no canal, ou seja, no meio pelo qual se propaga ou transmite uma mensagem.
Nesse caso, a finalidade é testar, estabelecer, prolongar ou interromper o processo de comunicação entre o
emissor e o receptor. Veja o exemplo:
— Olá, como vai?
— Eu vou indo e você, tudo bem?
— Tudo bem...
A função fática envolve o contato entre o emissor e o receptor, seja para iniciar, prolongar, interromper ou
simplesmente testar a eficiência do canal de comunicação. Na língua escrita, qualquer recurso gráfico
utilizado para chamar atenção para o próprio canal (negrito, mudar o padrão de letra, criar imagem com a
distribuição das palavras na página em branco) constitui um exemplo de função fática. No exemplo acima,
as marcas linguísticas “Olá”, “como vai?” e “tudo bem?” são recursos utilizados para estabelecer a
comunicação.

Função Poética
A função poética está centrada na mensagem, ou seja, o que está em destaque é a forma como ela é
construída, de forma criativa. É, portanto, o trabalho poético realizado em um determinado contexto. Por
exemplo:

“De repente do riso fez-se o pranto


Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.”
(Vinícius de Morais)

Como destaca a própria mensagem, a função poética existe, predominantemente, em textos literários,
resultantes da elaboração da linguagem, por meio de vários recursos estilísticos que a língua oferece.
Contudo, é comum, hoje, observarmos textos técnicos que se utilizam de elementos literários para poder
evidenciar um determinado sentido. Cabe destacar, também, que essa função utiliza vários recursos
gramaticais, tais como: figuras de linguagem, conotação, neologismos, polissemia, etc.

Função Referencial
A função referencial, também conhecida como informativa ou denotativa, está centrada no contexto, ou seja,
no referente. O objetivo dessa função é transmitir o assunto da mensagem de maneira objetiva, direta e
impessoal. Veja o exemplo abaixo:
“Cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, anunciaram nesta segunda-feira (20) que, de acordo
com resultados preliminares, a vacina da universidade para a Covid-19 é segura e induziu resposta imune
no corpo dos voluntários. Os resultados, que já eram esperados pelos pesquisadores, se referem às duas
primeiras fases de testes da imunização. A terceira fase está ocorrendo no Brasil, entre outros países. O
efeito deve ser reforçado após uma segunda dose da vacina, segundo os cientistas.
Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/vacina/noticia/2020/07/20/vacina-de-oxford-para-covid-19-e-segura-e-induz-
resposta-imune-anunciam-cientistas.ghtml

Como a finalidade é destacar a mensagem, utiliza-se determinadas marcas gramaticais, tais como: o uso da
3ª pessoa, denotação, impessoalidade, predominância de frases declarativas e precisão. Essa função pode
ser encontrada em textos jornalísticos, científicos, didáticos, etc.

2
Português

Exercícios

1. Deficientes visuais já podem ir a algumas salas de cinema e teatros para curtir, em maior intensidade,
as atrações em cartaz. Quem ajuda na tarefa é o aplicativo Whatscine, recém-chegado ao Brasil e
disponível para os sistemas operacionais iOS (Apple) ou Android (Google). Ao ser conectado à rede
wi-fí de cinemas e teatros, o app sincroniza um áudio que descreve o que ocorre na tela ou no palco
com o espetáculo em andamento: o usuário, então, pode ouvir a narração em seu celular.O programa
foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Carlos III, em Madri. “Na Espanha, 200 salas de
cinema já oferecem o recurso e filmes de grandes estúdios já são exibidos com o recurso do
Whatscine!”, diz o brasileiro Luis Mauch, que trouxe a tecnologia para o país. “No Brasil, já fechamos
parceria com a São Paulo Companhia de Dança para adaptar os espetáculos deles! Isso já é um
avanço. Concorda?”
Disponível em: http://veja.abril.com.br. Acesso em: 25jun. 2014 (adaptado)

Por ser múltipla e apresentar peculiaridades de acordo com a intenção do emissor, a linguagem
apresenta funções diferentes. Nesse fragmento, predomina a função referencial da linguagem, porque
há a presença de elementos que:
a) buscam convencer o leitor, incitando o uso do aplicativo.
b) definem o aplicativo, revelando o ponto de vista da autora,.
c) evidenciam a subjetividade, explorando a entonação emotiva.
d) expõem dados sobre o aplicativo, usando linguagem denotativa.
e) objetivam manter um diálogo com o leitor, recorrendo a uma indagação.

2. Parece quase impossível existir algo tão complexo como o cérebro humano. Um neurocientista dedica
anos de estudo apenas para se familiarizar com as principais regiões deste órgão, e não é para menos
– são bilhões de células e trilhões de conexões. Por trás da fascinante estrutura neural, encontram-
se funções bastante simples em seu objetivo. O cérebro existe para que possamos perceber o mundo
e saber como reagir. É comum tratarmos a consciência como uma atividade passiva, mas não é bem
assim – consciência requer metas, expectativas, capacidade de filtrar informações.
Se a mente lhe parece um espaço ativo, preenchido com mais coisas do que costuma aparecer em
uma massa de circuitos, então você está certo ou certa. Você é a expressão física de uma história de
desenvolvimento social muito maior do que imaginou. Seu cérebro é uma delicada entidade num
constante frenesi de produção de conhecimento. A riqueza de suas vias reflete a riqueza de nossa
vida.
Adaptado de Como o cérebro funciona, de John McCrone
Assinale a alternativa correta.
a) A função expressiva evidencia-se como predominante no texto, marcada inclusive pelo uso
reiterado da primeira pessoa.
b) O texto está elaborado em torno da função referencial, uma vez que a transmissão objetiva de um
conteúdo é o interesse principal do autor.
c) Como todo texto científico, a exposição que se faz sobre o cérebro humano é estruturada em
torno do uso predominante da função fática.
d) O destaque que se dá, no texto, para o uso expressivo da língua e seus recursos conotativos
permite evidenciar a função poética como predominante.
e) A utilização de outros tipos de linguagem, além da verbal, permite que se reconheça no texto
como predominante uma função argumentativa.

3
Português

3. Pequeno concerto que virou canção


Não, não há por que mentir ou esconder
A dor que foi maior do que é capaz meu coração
Não, nem há por que seguir cantando só para explicar
Não vai nunca entender de amor quem nunca soube amar
Ah, eu vou voltar pra mim
Seguir sozinho assim
Até me consumir ou consumir toda essa dor
Até sentir de novo o coração capaz de amor
VANDRÉ, G. Disponível em: http://www.letras.terra.com.br. Acesso em: 29 jun. 2011.

Na canção de Geraldo Vandré, tem-se a manifestação da função poética da linguagem, que é


percebida na elaboração artística e criativa da mensagem, por meio de combinações sonoras e
rítmicas. Pela análise do texto, entretanto, percebe-se, também, a presença marcante da função
emotiva ou expressiva, por meio da qual o emissor
a) imprime à canção as marcas de sua atitude pessoal, seus sentimentos.
b) transmite informações objetivas sobre o tema de que trata a canção.
c) busca persuadir o receptor da canção a adotar um certo comportamento.
d) procura explicar a própria linguagem que utiliza para construir a canção.
e) objetiva verificar ou fortalecer a eficiência da mensagem veiculada.

4. Em uma famosa discussão entre profissionais das ciências biológicas, em 1959, C. P. Snow lançou
uma frase definitiva: “Não sei como era a vida antes do clorofórmio”. De modo parecido, hoje podemos
dizer que não sabemos como era a vida antes do computador. Hoje não é mais possível visualizar um
biólogo em atividade com apenas um microscópio diante de si; todos trabalham com o auxílio de
computadores. Lembramo-nos, obviamente, como era a vida sem computador pessoal. Mas não
sabemos como ela seria se ele não tivesse sido inventado.
PIZA, D. Como era a vida antes do computador? OceanAir em Revista, nº- 1, 2007 (adaptado).

Neste texto, a função da linguagem predominante é:


a) emotiva, porque o texto é escrito em primeira pessoa do plural.
b) referencial, porque o texto trata das ciências biológicas, em que elementos como o clorofórmio e
o computador impulsionaram o fazer científico.
c) metalinguística, porque há uma analogia entre dois mundos distintos: o das ciências biológicas
e o da tecnologia.
d) poética, porque o autor do texto tenta convencer seu leitor de que o clorofórmio é tão importante
para as ciências médicas quanto o computador para as exatas.
e) apelativa, porque, mesmo sem ser uma propaganda, o redator está tentando convencer o leitor
de que é impossível trabalhar sem computador, atualmente.

4
Português

5. Canção do vento e da minha vida


O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
[…]
O vento varria os sonhos
E varria as amizades…
O vento varria as mulheres…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos…
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.

Predomina no texto a função da linguagem:


a) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação.
b) metalinguística, porque há explicação do significado das expressões.
c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação.
d) referencial, já que são apresentadas informações sobre acontecimentos e fatos reais.
e) poética, pois chama-se a atenção para a elaboração especial e artística da estrutura do texto.

6. 14 coisas que você não deve jogar na privada


Nem no ralo. Elas poluem rios, lagos e mares, o que contamina o ambiente e os animais. Também
deixa mais difícil obter a água que nós mesmos usaremos. Alguns produtos podem causar
entupimentos:
• cotonete
• medicamento e preservativo;
• óleo de cozinha;
• ponta de cigarro;
• poeira de varrição de casa;
• fio de cabelo e pelo de animais;
• tinta que não seja à base de água;
• querosene, gasolina, solvente, tíner.

Jogue esses produtos no lixo comum. Alguns deles, como óleo de cozinha, medicamento e tinta,
podem ser levados a pontos de coleta especiais, que darão a destinação final adequada.
MORGADO, M.; EMASA. Manual de etiqueta. Planeta Sustentável, jul.-ago. 2013 (adaptado).

O texto tem objetivo educativo. Nesse sentido, além do foco no interlocutor, que caracteriza a função
conativa da linguagem, predomina também nele a função referencial, que busca
a) despertar no leitor sentimentos de amor pela natureza, induzindo-o a ter atitudes responsáveis
que beneficiarão a sustentabilidade do planeta.

5
Português

b) informar o leitor sobre as consequências da destinação inadequada do lixo, orientando-o sobre


como fazer o correto descarte de alguns dejetos.
c) transmitir uma mensagem de caráter subjetivo, mostrando exemplos de atitudes sustentáveis do
autor do texto em relação ao planeta.
d) estabelecer uma comunicação com o leitor, procurando certificar-se de que a mensagem sobre
ações de sustentabilidade está sendo compreendida.
e) explorar o uso da linguagem, conceituando detalhadamente os termos utilizados de forma a
proporcionar melhor compreensão do texto.

7. A biosfera, que reúne todos os ambientes onde se desenvolvem os seres vivos, se divide em unidades
menores chamadas ecossistemas, que podem ser uma tem múltiplos mecanismos que regulam o
número de organismos dentro dele, controlando sua reprodução, crescimento e migrações.
DUARTE, M. O guia dos curiosos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Predomina no texto a função da linguagem


a) emotiva, porque o autor expressa seu sentimento em relação à ecologia.
b) fática, porque o texto testa o funcionamento do canal de comunicação.
c) poética, porque o texto chama a atenção para os recursos de linguagem.
d) conativa, porque o texto procura orientar comportamentos do leitor.
e) referencial, porque o texto trata de noções e informações conceituais.

8. Oficina irritada
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,


não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro


há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,


cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 39.ed.Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 188)

Com base na leitura do poema de Carlos Drummond e nos seus conhecimentos acerca das funções
da linguagem, assinale a alternativa correta.
a) Estão presentes as funções poética e metalinguística da linguagem, uma vez que o texto chama a
atenção para o arranjo singular da mensagem e discute o código.
b) Estão presentes as funções fática e poética da linguagem, pois, no texto, há o teste do canal e um
arranjo singular da mensagem.

6
Português

c) Está presente apenas a função poética, já que o texto, sendo um poema, não permite a presença
de outra função da linguagem.
d) Estão presentes as funções referencial e poética, porque, no texto, a atenção recai tanto sobre o
referente quanto sobre a mensagem.
e) Estão presentes as funções poética e conativa, já que há uma centralidade, ao mesmo tempo, na
mensagem e no receptor.

9. Ave a raiva desta noite


A baita lasca fúria abrupta
Louca besta vaca solta
Ruiva luz que contra o dia
Tanto e tarde madrugada
LEMINSKI, P. Distraídos venceremos. São Paulo: Brasiliense, 2002 (fragmento).

No texto de Leminski, a linguagem produz efeitos sonoros e jogos de imagens. Esses jogos
caracterizam a função poética da linguagem, pois
a) objetivam convencer o leitor a praticar uma determinada ação.
b) transmitem informações, visando levar o leitor a adotar um determinado comportamento.
c) visam provocar ruídos para chamar a atenção do leitor.
d) apresentam uma discussão sobre a própria linguagem, explicando o sentido das palavras.
e) representam um uso artístico da linguagem, com o objetivo de provocar prazer estético no leitor.

10. A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética do racismo


Resumo: Este artigo tem por finalidade discutir a representação da população negra, especialmente
da mulher negra, em imagens de produtos de beleza presentes em comércios do nordeste goiano.
Evidencia-se que a presença de estereótipos negativos nessas imagens dissemina um imaginário
racista apresentado sob a forma de uma estética racista que camufla a exclusão e normaliza a
inferiorização sofrida pelos(as) negros(as) na sociedade brasileira. A análise do material imagético
aponta a desvalorização estética do negro, especialmente da mulher negra, e a idealização da beleza
e do branqueamento a serem alcançados por meio do uso dos produtos apresentados. O discurso
midiático-publicitário dos produtos de beleza rememora e legitima a prática de uma ética racista
construída e atuante no cotidiano. Frente a essa discussão, sugere-se que o trabalho antirracismo,
feito nos diversos espaços sociais, considere o uso de estratégias para uma “descolonização estética”
que empodere os sujeitos negros por meio de sua valorização estética e protagonismo na construção
de uma ética da diversidade.
Palavras-chave: Estética, racismo, mídia, educação, diversidade.
SANT’ANA, J. A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética do racismo. Dossiê: trabalho e educação
básica. Margens Interdisciplinar.Versão digital. Abaetetuba, n.16,jun. 2017 (adaptado).

O cumprimento da função referencial da linguagem é uma marca característica do gênero resumo de


artigo acadêmico. Na estrutura desse texto, essa função é estabelecida pela:
a) impessoalidade, na organização da objetividade das informações, como em “Este artigo tem por
finalidade” e “Evidencia-se”.
b) seleção lexical, no desenvolvimento sequencial do texto, como em “imaginário racista” e “estética
do negro”.
c) metaforização, relativa à construção dos sentidos figurados, como nas expressões
“descolonização estética” e “discurso midiático-publicitário”.

7
Português

d) nominalização, produzida por meio de processos derivacionais na formação de palavras, como


“inferiorização” e “desvalorização”.
e) adjetivação, organizada para criar uma terminologia antirracista, como em “ética da diversidade”
e “descolonização estética”.

8
Português

Gabarito

1. D
O fragmento retirado da Revista Veja informa sobre o aplicativo “Whatscine”, conectado à rede de wi-fi
de cinemas e teatros, descreve o que ocorre na tela ou no palco de modo que o usuário possa ouvir a
narração em seu celular. Assim, utiliza-se a linguagem denotativa para informar sobre essa nova criação,
sendo, portanto, predominante a função referencial da linguagem, visto que é centrado na necessidade
de transmitir dados sobre o aplicativo de maneira direta e objetiva.

2. B
A função referencial caracteriza-se pela objetividade e pelo compromisso com a informatividade da
mensagem a ser transmitida. Essas características são exigidas em textos de caráter científico como o
de John McCrone, por exemplo.

3. A
Na função emotiva prevalecem as marcas do emissor, ou seja, de quem produz a mensagem. Nesse
caso, a mensagem é centrada nas opiniões e emoções, por isso, evidencia-se a utilização da 1ª pessoa
do singular e recursos como interjeições ou frases que indiquem o estado de espírito do emissor, por
exemplo: “Ah, eu vou voltar para mim/Seguir sozinho assim”.

4. B
No texto, a função de linguagem característica é a referencial, uma vez que o elemento da comunicação
que ganha destaque é o referente, isto é, o objeto de que se fala. Em outros termos, a finalidade do artigo
é informar o leitor a respeito de algo: no caso, trata da importância tanto do clorofórmio quanto do
computador para o fazer científico.

5. E
Textos que privilegiam a função poética da linguagem põem em evidência a maneira de dizer, a fim de
obter efeitos expressivos. Por vezes, então, esses textos produzem significados não só por meio das
palavras que empregam, mas também por intermédio do modo como elas se combinam. No poema
Canção do vento e da minha vida, por exemplo, a repetição de estruturas de frase constrói um significado
não explícito: a recorrência das mudanças na vida do eu lírico.

6. B
A função referencial da linguagem destaca o referente da mensagem, ou seja, o contexto em que a
mensagem é veiculada. No exemplo em questão, o artigo publicado em “Planeta Sustentável” visa
informar o leitor sobre as consequências da destinação incorreta e inadequada do lixo.

7. E
Nota-se que a mensagem do texto está centrada em seu referente e ele é exterior à linguagem e ao
processo comunicativo, isto é, o texto trata de noções e informações conceituais. A função de linguagem
predominante nesse texto é a referencial.

8. A
A função metalinguística possui o foco da comunicação centrado no código, ou seja, tematiza o ato de
falar ou de escrever. O código, neste caso a linguagem, se torna objeto de análise do texto, pois
Drummond apresenta no poema as características de elaboração do seu poema. Além disso, o foco na
função poética diz respeito em relação à forma em que o poema foi produzido.

9. E
O poema de Leminski explora a função poética da linguagem, pois há uma preocupação com a estética,
preocupando com a forma que a mensagem será transmitida, de maneira subjetiva, e o uso de figuras
de linguagem como a assonância e a aliteração compondo uma maior sonoridade.

9
Português

10. A
A função referencial tem como foco o contexto de produção da mensagem, além de ter como forma a
objetividade da linguagem. O texto pode ser considerado referencial pelo uso da linguagem denotativa,
evitando o discurso literário e a predominância de adjetivações e figuras de linguagem.

10
Português

Figuras de Linguagem (ironia, eufemismo, hipérbole, antítese, paradoxo,


gradação)

Resumo

Figuras de pensamento
Ironia: Consiste em dizer o oposto do que se pretende falar.
Ex.: Ela não sabe escrever mesmo… Tirou 1000 na redação!
Rebeca era uma ótima filha: na primeira oportunidade que teve, pegou o dinheiro do pai.

Gradação: Enumeração gradativa (que aumenta ou diminui pouco a pouco) dentro de uma mesma ideia.
Ex.: De repente o problema se tornou menos alarmante, ficou menor, um grão, um cisco, um quase nada.
(decrescente)

Personificação (prosopopeia): É a atribuição de características de seres animados a seres não humanos.


Ex.: Hoje, ao abrir a janela, o sol sorriu para mim.
A natureza grita por socorro.

Hipérbole: É um exagero proposital nas ideias.


Ex.: “Eu nasci há 10 mil anos atrás
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba de mais”
Raul Seixas
Fazia séculos que não me ligava.

Antítese: É a utilização de termos que se opõem quanto ao seu sentido, ou seja, são palavras de sentidos
opostos.
Ex.: O calor e o frio vivem em meu peito.
O mundo está cheio de pessoas vazias.

Paradoxo: Trata-se da aproximação de ideias contraditórias.


Ex.: “Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente”
Luís de Camões

Eufemismo: É a suavização de uma ideia, de um fato.


Ex.: O governo procederá ao reajuste de taxas. (em vez de aumento)
Veja um exemplo de mapa mental:

1
Português

2
Português

Exercícios

1. “A novidade veio dar à praia


na qualidade rara de sereia
metade um busto de uma deusa maia
metade um grande rabo de baleia
a novidade era o máximo
do paradoxo estendido na areia
alguns a desejar seus beijos de deusa
outros a desejar seu rabo pra ceia
oh, mundo tão desigual
tudo tão desigual
de um lado este carnaval
do outro a fome total
e a novidade que seria um sonho
milagre risonho da sereia
virava um pesadelo tão medonho
ali naquela praia, ali na areia
a novidade era a guerra
entre o feliz poeta e o esfomeado
estraçalhando uma sereia bonita
despedaçando o sonho pra cada lado”
(Gilberto Gil – A Novidade)
Assinale a alternativa que ilustra a figura de linguagem destacada no texto:
a) “A novidade veio dar à praia/na qualidade rara de sereia”
b) “A novidade que seria um sonho/o milagre risonho da sereia/virava um pesadelo tão medonho”
c) “A novidade era a guerra/entre o feliz poeta e o esfomeado”
d) “Metade o busto de uma deusa maia/metade um grande rabo de baleia”
e) “A novidade era o máximo/do paradoxo estendido na areia”

2. I. "À custa de muitos trabalhos, de muitas fadigas, e sobretudo de muita paciência..."


II. "... se se queria que estivesse sério, desatava a rir..."
III. "... parece que uma mola oculta o impelia..."
IV. "... e isto (...) dava em resultado a mais refinada má-criação que se pode imaginar."

Quanto às figuras de linguagem, há neles, respectivamente,


a) gradação, antítese, comparação e hipérbole.
b) hipérbole, paradoxo, metáfora e gradação.
c) hipérbole, antítese, comparação e paradoxo.
d) gradação, antítese, metáfora e hipérbole.
e) gradação, paradoxo, comparação e hipérbole.

3
Português

3. Na expressão: “Faz dois anos que ele entregou a alma a Deus.” a figura de linguagem presente é:
a) pleonasmo
b) comparação
c) eufemismo
d) hipérbole
e) anáfora

4. "Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!" Há, nesses versos, uma convergência de
recursos expressivos, que se realizam por meio de:
I. metonímia;
II. pleonasmo;
III. apóstrofe;
IV. personificação.

Quanto às especificações anteriores, diz-se que:


a) todas estão corretas.
b) nenhuma está correta.
c) apenas I , II e III estão corretas.
d) apenas III e IV estão corretas.
e) apenas I está incorreta.

5. Cidade grande

Que beleza, Montes Claros.


Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
Carlos Drummond de Andrade

Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a


a) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.
b) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.
c) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.
d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.
e) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.

4
Português

6. Ainda que eu falasse a língua dos homens


e falasse a língua dos anjos,
sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor;
Que conhece o que é verdade;
O amor é bom, não quer o mal;
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua dos anjos,
sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade;
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem todos dormem, todos dormem;
Agora vejo em parte, mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor;
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua dos anjos,
sem amor eu nada seria.
(Monte Castelo, Renato Russo. Do álbum As quatro estações, Legião Urbana)

Analisando a letra da música Monte Castelo, pode-se afirmar que a figura de linguagem predominante
é:
a) Metonímia.
b) Paradoxo.
c) Antítese.
d) Prosopopeia.
e) Hipérbole.

7. Nos versos abaixo, uma figura se ergue graças co conflito de duas visões antagônicas:
“Saio do hotel com quatro olhos,
- Dois do presente,
- Dois do passado.”

Esta figura de linguagem recebe o nome de:


a) metonímia
b) catacrese
c) hipérbole
d) antítese
e) hipérbato

5
Português

8. Identifique a figura de linguagem empregada nos versos destacados:


“No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!”

a) antítese
b) anacoluto
c) hipérbole
d) limotes
e) paragoge

9. A figura de linguagem empregada nos versos em destaque é:


“Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável)
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!”
a) clímax
b) eufemismo
c) sínquise
d) catacrese
e) pleonasmo

10. Oxímoro (ou paradoxo) é uma construção textual que agrupa significados que se excluem
mutuamente. Para Garfield, a frase de saudação de Jon (tirinha abaixo) expressa o maior de todos os
oxímoros.

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.


Nas alternativas abaixo, estão transcritos versos retirados do poema “O operário em construção”.
Pode-se afirmar que ocorre um oxímoro em:
a) “Era ele que erguia casas

6
Português

Onde antes só havia chão.”

b) “… a casa que ele fazia


Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.”

c) “Naquela casa vazia


Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.”

d) “… o operário faz a coisa


E a coisa faz o operário.”

e) “Ele, um humilde operário


Um operário que sabia
Exercer a profissão.”
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

7
Português

Gabarito

1. B
“A novidade que seria um sonho/o milagre risonho da sereia/virava um pesadelo tão medonho”, há um
paradoxo expresso nas palavras sonho e pesadelo. Apesar de essas duas palavras apresentarem
significados distintos, estão fundidas em uma mesma enunciação.

2. D
Em I, as expressões se enriquecem mutuamente em progressão ascendente: trata-se de uma gradação;
Em II, há uma oposição de palavras “sério/rir”: trata-se de uma antítese; Em III, há uma comparação
implícita entre alguma coisa e uma mola oculta: trata-se de metáfora; Em IV, há o exagero em “a mais
refinada má-criação”: trata-se de uma hipérbole.

3. C
“Dar a alma a Deus” é uma forma amena de dizer “morrer”.

4. A
[Ó mar salgado] Invocação, logo, Apóstrofe; [mar salgado] repetição do óbvio: pleonasmo; [Portugal] o
termo está sendo utilizado para simbolizar o povo português todo, logo, metonímia; [lágrimas de
Portugal] Portugal está sendo personificado, afinal o país não chora: personificação.

5. C
Em uma primeira leitura, a impressão de que o poeta faz elogios ao progresso da cidade mineira de
Montes Claros é bem presente. Todavia, observando alguns elementos do texto, é possível verificar que
o autor utilizou como principal figura de linguagem a ironia, sobretudo quando sinaliza que a riqueza e
o progresso de Montes Claros indicam os crescimentos da miséria e da degradação social, situação
encontrada nas favelas cariocas. Dessa forma, fica claro que o elogio é, na verdade, uma crítica
construída por meio da ironia.

6. B
No paradoxo, há a coexistência de significados opostos. A música "Monte Castelo", do grupo Legião
Urbana, é um bom exemplo. O poema de Luís de Camões incorporado à música Monte Castelo carrega
elementos opostos ao falar de um “contentamento descontente”, “ferida que dói e não se sente”, “dor
que desatina sem doer”, “cuidar que se ganha em se perder” etc. Há quem confunda antítese com
paradoxo. A diferença mora, entretanto, no relacionamento desses opostos. Na antítese, há duas teses
contrárias, antônimas.

7. D
As ideias contrárias presentes no trecho do poema em análise são as ideias de “presente” e “passado”.
A figura de linguagem presente por causa da oposição destas duas ideias é a antítese.

8. C
Nos versos em destaque “Chorei bilhões de vezes com a canseira / De inexorabilíssimos trabalhos! ” há
uma figura de linguagem chamada HIPÉRBOLE, que consiste no emprego de uma ideia de maneira
exagerada, chegando ao ponto de não condizer com a realidade dos fatos. No caso, ela está presente
na afirmação “chorei bilhões de vezes”.

9. B
“Quando a indesejada das gentes chegar”, há o emprego de uma figura de linguagem chamada de
EUFEMISMO, que consiste no uso de palavras que suavizam uma ideia no texto, como é o caso da
palavra “indesejadas”.

8
Português

10. B
Nesta questão, você precisa estabelecer uma relação entre a linguagem do quadrinho e a do texto
poético. Observe que John diz “Feliz segunda-feira” e Garfield responde dizendo que essa frase é a mãe
de todos os oximoros. Como sabemos, oximoros são paradoxos, portanto, para Garfield, feliz e segunda-
feira são ideias opostas, paradoxais, como se fosse impossível existir uma segunda-feira feliz. Observe
que a Letra B traz duas ideias, aparentemente opostas, mas com total sentido dentro do contexto. A
casa era ao mesmo tempo liberdade e escravidão, temos aqui duas ideias que não teriam lógica ao
serem associadas em outro contexto, mas que, no poema, tornam-se expressivas. Você pode ficar na
dúvida com a letra D., entretanto, observe que o há é uma inversão e não um paradoxo.

9
Português

Figuras de Linguagem (metáfora e metonímia)

Resumo

Figuras de linguagem ou figuras de estilo são recursos expressivos de que se vale um autor para comunicar-
se com mais força, intensidade, originalidade e até subjetividade. Elas podem ser classificadas em: figuras
de palavra; figuras de construção; figuras de pensamento; e figuras sonoras. Seu estudo faz parte da
estilística, ramo da língua que estuda a língua em sua função expressiva, analisando os processos sintáticos,
fônicos, etc.

Metáfora
Essa figura de linguagem consiste na alteração do significado próprio de um palavra, advindo de uma
comparação mental ou característica comum entre dois seres ou fatos. Pode-se dizer que essa comparação
é feita de modo implícito, visto que não elemento que relacione diretamente os dois elementos.
Por exemplo:
1. “O pavão é um arco-íris de plumas” (Rubem Braga)
2. “Preste atenção, o mundo é um moinho/ Vai triturar teus sonhos” (Cartola)

Comparação
Diferentemente da metáfora, a comparação ocorre quando há um conectivo de valor comparativo
explicitando a relação entre os elementos relacionados.
Por exemplo:
1. “A Via láctea se desenrolava
Como um jorro de lágrimas ardentes”
Olavo Bilac

2. “De sua formosura


deixai-me que diga:
é tão belo como um sim
numa sala negativa.”
João Cabral de Melo Neto

ATENÇÃO! Não confunda a metáfora com a comparação. Nesta, os dois termos vêm expressos e unidos por
nexos comparativos, por exemplo: tal, qual, como, assim como, etc.
1. Joana é delicada como uma flor. (comparação)
2. Joana é uma monstro. (metáfora)

Metonímia
É uma figura de linguagem que consiste na utilização de uma palavra por outra, com a qual mantém
relação semântica. Cabe ressaltar, também, que essa troca não se dá por sinonímia, mas porque uma
palavra evoca ou alude a outra. A metonímia pode ocorrer de diversas maneiras, entre elas:
• Efeito pela causa: Vivo do suor do meu rosto [= trabalho]
• O autor pela obra: Adorava seu Van Gogh e lia Machado de Assis.
• O continente pelo conteúdo: O Brasil chorou a morte de Ayrton Senna.

1
Português

• O instrumento pela pessoa que o utiliza: Ele é um bom garfo. [= comilão]


• O sinal pela coisa significada: A solução para o país é a ascensão da Coroa.
[= governo monárquico]
• Lugar pelos seus habitantes ou produtos: A América reagiu negativamente ao novo presidente.
• O abstrato pelo concreto: A juventude acha que é onipotente. [= os jovens]
• A parte pelo todo: “O bonde passa cheio de pernas” (Carlos Drummond de Andrade)
[= pessoas]
• O singular pelo plural: O homem é corruptível. [= os homens]
• O indivíduo pela espécie ou classe: O Judas da classe [= o traidor]

Quer assistir um QQD sobre o tema e ainda baixar um mapa mental? Só clicar aqui!

2
Português

Exercícios

1. Leia um trecho da crônica “Inconfiáveis cupins”, de Moacyr Scliar, para responder à questão a seguir.

Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor desconhecido, pobre, atribuía todas suas
frustrações ao artista holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis girassóis, aquelas
estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu
instinto criador.
Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel, às telas de Van Gogh, onde quer que
estivessem. Começaria pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna de São Paulo.Seu plano
era de uma simplicidade diabólica. Não faria como outros destruidores de telas que entram num
museu armados de facas e atiram-se às obras, tentando destruí-las; tais insanos não apenas não
conseguem seu intento, como acabam na cadeia. Não, usaria um método científico, recorrendo a
aliados absolutamente insuspeitados: os cupins.
Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo de cupim que só queria comer Van Gogh. Para
ele era repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o que importava. (...)

Em “Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo de cupim que só queria comer Van Gogh.”, o
cronista recorre à figura de linguagem denominada:
a) metonímia.
b) hipérbole.
c) eufemismo.
d) personificação.
e) pleonasmo.

2.

Nessa tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas figuras de linguagem para
a) condenar a prática de exercícios físicos.
b) valorizar aspectos da vida moderna.
c) desestimular o uso das bicicletas.
d) caracterizar o diálogo entre gerações.
e) criticar a falta de perspectiva do pai.

3
Português

3. Mulher proletária
Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas,
salvar o teu proprietário.
LIMA Jorge de. Obra Completa (org. Afrânio Coutinho). Rio de Janeiro: Aguilar, 1958.

Analisando o verso do poema “forneces braços para o senhor burguês”, a figura de linguagem que aí
se destaca é
a) catacrese, uma vez que, como não há um termo específico para o poeta expressar, de forma
adequada, a ideia de “fornecer filhos”, ele se utiliza da expressão “fornecer braços”, lógica
semelhante ao que se costuma usar em termos como “braços da cadeira”.
b) metonímia, tendo em vista que o termo “braços” mantém com o termo “filhos” uma relação de
contiguidade da parte pelo todo para o poeta destacar que o que mulher proletária fabrica é só
uma parte do seu rebento, os “braços”, utilizados para proveito da atividade capitalista, e não
“filhos”, na sua completude como seres humanos, para estabelecer com estes uma relação afetiva.
c) hipérbole, já que o verso quer enfatizar a ideia de exagero de alguém fornecer inúmeros braços
para o trabalho da indústria mercantil.
d) prosopopeia, pois o poeta está personificando a máquina como se fosse uma mulher produtora
de filhos.
e) paradoxo, visto que há uma relação de posição de ideias entre os substantivos “braços” e
“senhor”.

4. Do velho ao jovem

Na face do velho o velho tempo


as rugas são letras, funde-se ao novo,
palavras escritas na carne, e as falas silenciadas
abecedário do viver.
explodem.
Na face do jovem
o frescor da pele O que os livros escondem,
e o brilho dos olhos as palavras ditas libertam.
são dúvidas. E não há quem ponha
um ponto final na história
Nas mãos entrelaçadas (...)
de ambos,
Texto de Conceição Evaristo publicado no livro Poemas da recordação e outros movimentos (Belo Horizonte: Nandyala, 2008).

4
Português

Em “as rugas são letras” (l.2), foi empregada como recurso estilístico a figura de linguagem
a) antítese.
b) hipérbole.
c) metáfora.
d) metonímia.
e) catacrese.

5. Assinale a única alternativa que contém a figura de linguagem presente no trecho sublinhado:
“As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,”
a) metonímia
b) eufemismo
c) ironia
d) anacoluto
e) polissíndeto

6. Metáfora
Gilberto Gil
Uma lata existe para conter algo, Na lata do poeta tudo nada cabe,
Mas quando o poeta diz: “Lata” Pois ao poeta cabe fazer
Pode estar querendo dizer o incontível
Com que na lata venha caber
Uma meta existe para ser um alvo, O incabível
Mas quando o poeta diz: “Meta”
Pode estar querendo dizer o inatingível Deixe a meta do poeta não discuta,
Deixe a sua meta fora da disputa Meta
Por isso não se meta a exigir do poeta dentro e fora, lata absoluta
Que determine o conteúdo em sua lata Deixe-a simplesmente metáfora.
Disponível em: http://www.letras.terra.com.br.
Acesso em: 5 fev. 2009.

A metáfora é a figura de linguagem identificada pela comparação subjetiva, pela semelhança ou


analogia entre elementos. O texto de Gilberto Gil brinca com a linguagem remetendo-nos a essa
conhecida figura. O trecho em que se identifica a metáfora é:
a) “Uma lata existe para conter algo”.
b) “Mas quando o poeta diz: ‘Lata'”.
c) “Uma meta existe para ser um alvo”.
d) “Por isso não se meta a exigir do poeta”.
e) “Que determine o conteúdo em sua lata”

2
Português

7. O Adeus
Rubem Braga

No oitavo dia sentimos que tudo conspirava contra nós. Que importa a uma grande cidade que
haja um apartamento fechado em alguns de seus milhares de edifícios; que importa que lá dentro não
haja ninguém, ou que um homem e uma mulher ali estejam, pálidos, se movendo na penumbra como
dentro de um sonho?
Entretanto a cidade, que durante uns dois ou três dias parecia nos haver esquecido, voltava
subitamente a atacar. O telefone tocava, batia dez, quinze vezes, calava-se alguns minutos, voltava a
chamar; e assim três, quatro vezes sucessivas.
Alguém vinha e apertava a campainha; esperava; apertava outra vez; experimentava a maçaneta
da porta; batia com os nós dos dedos, cada vez mais forte, como se tivesse certeza de que havia
alguém lá dentro. Ficávamos quietos, abraçados, até que o desconhecido se afastasse, voltasse para
a rua, para a sua vida, nos deixasse em nossa felicidade que fluía num encantamento constante. (...)
Texto extraído do livro "Figuras do Brasil – 80 autores em 80 anos de Folha", Publifolha – São Paulo, 2001, pág. 132.

Figuras de linguagem – por meio dos mais diferentes mecanismos – ampliam o significado de palavras
e expressões, conferindo novos sentidos ao texto em que são usadas. A alternativa que apresenta uma
figura de linguagem construída a partir da equivalência entre um todo e uma de suas partes é:
a) “que um homem e uma mulher ali estejam, pálidos, se movendo na penumbra como dentro de um
sonho?”
b) “Entretanto a cidade, que durante uns dois ou três dias parecia nos haver esquecido, voltava
subitamente a atacar.”
c) “batia com os nós dos dedos, cada vez mais forte, como se tivesse certeza de que havia alguém
lá dentro.”
d) “Mas naquela manhã ela se sentiu tonta, e senti também minha fraqueza;”
e) “Alguém vinha e apertava a campainha; esperava; apertava outra vez;”

8. A invasão dos blablablás

O planeta é dividido entre as pessoas que falam no cinema − e as que não falam. É uma divisão
recente. Por décadas, os falantes foram minoria. E uma minoria reprimida. Quando alguém abria a
boca na sala escura, recebia logo um shhhhhhhhhhhhh. E voltava ao estado silencioso de onde nunca
deveria ter saído. Todo pai ou mãe que honrava seu lugar de educador ensinava a seus filhos que o
cinema era um lugar de reverência. Sentados na poltrona, as luzes se apagavam, uma música solene
saía das caixas de som, as cortinas se abriam e um novo mundo começava. Sem sair do lugar,
vivíamos outras vidas, viajávamos por lugares desconhecidos, chorávamos, ríamos, nos
apaixonávamos. Sentados ao lado de desconhecidos, passávamos por todos os estados de alma de
uma vida inteira sem trocar uma palavra. Comungávamos em silêncio do mesmo encantamento. (...)
Percebi na sexta-feira que não ia ao cinema havia três meses. Não por falta de tempo, porque
trabalhar muito não é uma novidade para mim. Mas porque fui expulsa do cinema. Devagar, aos
poucos, mas expulsa. Pertenço, desde sempre, às fileiras dos silenciosos. Anos atrás, nem imaginava
que pudesse haver outro comportamento além do silêncio absoluto no cinema. Assim como não
imagino alguém cochichando em qualquer lugar onde entramos com o compromisso de escutar.
Não é uma questão de estilo, de gosto. Pertence ao campo do respeito, da ética. Cinema é a
experiência da escuta de uma vida outra, que fala à nossa, mas nós não falamos uns com os outros.

1
Português

No cinema, só quem fala são os atores do filme. Nós calamos para que eles possam falar. Nossa vida
cala para que outra fale.
Isso era cinema. Agora mudou. É estarrecedor, mas os blablablás venceram. Tomaram conta das
salas de cinema. E, sem nenhuma repressão, vão expulsando a todos que entram no cinema para
assistir ao filme sem importunar ninguém. (...)
Eliane Brum - revistaepoca.globo.com, 10/08/2009

No cinema, só quem fala são os atores do filme. Nós calamos para que eles possam falar. Nossa
vida cala para que outra fale. (l.17 e l. 18)

O trecho acima usa uma figura de linguagem chamada de:


a) Metáfora
b) Hipérbole
c) Eufemismo
d) Metonímia
e) Personificação

9.

A metáfora é uma figura de linguagem que se caracteriza por conter uma comparação implícita. O
cartum de Sizenando constrói uma metáfora, que pode ser observada na comparação entre:
a) o sentimento de desilusão e a floresta
b) a propaganda dos bancos e os artistas
c) a ironia do cartunista e a fala do personagem
d) o artista desiludido e o personagem cabisbaixo
e) a questão da desilusão e a fala do personagem

2
Português

10.

O texto é todo construído por meio do emprego de uma figura de estilo. Essa figura é denominada de:
a) elipse
b) metáfora
c) metonímia
d) personificação
e) hipérbole

3
Português

Gabarito

1. A
No período “Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo de cupim que só queria comer Van
Gogh”, Moacyr Scliar omite a palavra “obra”, recorrendo, então, à figura de linguagem metonímia como
fator estilístico na construção de sentido do texto. Essa figura de lingugam é baseada no uso de um
nome no lugar de outro, nesse caso, a substituição do nome do autor pelo nome da obra.

2. E
Para a personagem, a bicicleta que nunca sai do lugar estabelece um ponto de intersecção com o
comportamento do pai. O sentido da metáfora reside aí, pois o menino estabeleceu uma analogia entre
bicicleta e pai, que se esforça, mas parece não conseguir alcançar seus objetivos.

3. B
Trata-se de uma metonímia, visto que no verso destacado, o vocábulo “braços” representa os filhos da
mulher proletária, que são tornados como mão de obra pelo senhor burguês. Dessa forma, há uma
relação de parte pelo todo.

4. C
No texto de Conceição Evaristo, o verso “as rugas são letras” contém uma comparação implícita entre
os elementos “rugas” e “letras”. Configura-se, portanto, um caso de metáfora, visto que relaciona os
dois elementos sem nenhum conectivo de valor conclusivo.

5. A
O trecho destacado “da ocidental praia lusitana” caracteriza-se como uma figura de linguagem
denominada metonímia, a qual consiste em fazer referência a determinado objetivo por meio de outra
palavra. Nesse caso, há uma relação de parte pelo todos, visto que no poema, “praia” lusitana se refere
a todo o território português banhado pelo Oceano Atlântico, de onde saíam as caravelas portuguesas.

6. E
Observe que a letra (E) é a única alternativa em que a palavra “lata” não está no seu sentido literal. O
fato de o poeta não “determinar o conteúdo de sua lata” é justamente uma metáfora para as palavras
que poderão ser usadas em um poema e trabalhadas de maneira imprevisível. Você pode ficar na dúvida
com as letras C e D, mas observe que na letra (C) temos uma linguagem denotativa, pois alvo e meta
podem ser considerados sinônimos e na letra (D) temos a expressão coloquial “não se meta”, como
sinônimo de “não se atreva”. Portanto, em ambos os casos, temos uma linguagem denotativa. A
metáfora está justamente na letra E.

7. B
A metonímia aparece na palavra “cidade”, que representa as pessoas que apareciam para interromper
o momento do narrador. É um caso de singular pelo plural.

8. D
Os atores representam personagens que por sua vez representam os espectadores que assistem aos
filmes. Cada personagem está representando inumeráveis espectadores, cumprindo uma função da
metonímia de a parte (o personagem) representar o todo (todos os espectadores).

9. A
A imagem concretiza o conceito de metáfora, à proporção que o cartum constrói uma comparação entre
a floresta – que é um conjunto de árvores – e o sentimento de desilusão, expresso pela fala do
personagem. Ele alude, de fato, a todos os artistas que o decepcionaram, vendendo sua arte para o
mercado e para a propaganda de bancos.

4
Português

10. B
A metáfora é uma comparação subentendida, sem uma estrutura comparativa explícita. O poema
começa a construir uma metáfora no primeiro verso, ao dizer que "os poemas são pássaros", isto é, que
os poemas são como pássaros. Já no quarto verso, quando se diz que "eles alçam voo", "eles" refere-
se apenas aos pássaros, que no entanto encontram-se no lugar dos poemas.

5
Português

Funções da Linguagem (emotiva, apelativa, metalinguística)


Resumo

Você já deve saber que podemos utilizar vários recursos para nos comunicarmos com alguém, como gestos,
imagens, músicas ou olhares. No entanto, a linguagem é a forma mais abrangente e efetiva que possuímos
e, dependendo de nossa mensagem, podemos fazer inúmeras associações e descobrir o contexto ou a
circunstância que aquela intenção comunicativa foi construída.
Existem dois tipos de linguagem, a verbal e a não-verbal. Na primeira, a comunicação é feita por meio da
escrita ou da fala, enquanto a segunda é feita por meio de sinais, gestos, movimentos, figuras, entre outros.
A linguagem assume várias funções, por isso, é muito importante saber as suas distintas características
discursivas e intencionais. Em primeiro lugar, devemos atentar para o fato de que, em qualquer situação
comunicacional plena, seis elementos estão presentes:
• Emissor: É o responsável pela mensagem. É ele quem, como o próprio nome sugere, emite o enunciado.
• Receptor: A quem se direciona o que se deseja falar; o destinatário.
• Mensagem: O que será transmitido, a “tradução” de uma ideia.
• Referente: O assunto, também chamado de contexto.
• Canal: Meio pelo qual será transmitido a mensagem.
• Código: A forma que a linguagem é produzida.

Cada uma das seis funções que a linguagem desempenha está centrada em um dos elementos acima, ou na
forma como alguns desses elementos se relacionam com os outros. Veja a seguir três delas:

a) Emotiva: De forma simplista, pode-se dizer que expressa sentimentos, emoções e opiniões. Está centrada
no próprio emissor – e, por isso, aparece na primeira pessoa do discurso. Exemplo:
Que me resta, meu Deus? Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores.
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores.
(Álvares de Azevedo)

Aqui, devemos observar marcas de subjetividade do emissor, como seus sentimentos e impressões a
respeito de algo expressados pela ocorrência de verbos e pronomes na primeira pessoa, adjetivação
abundante, pontuação expressiva (exclamações e reticências), bem como interjeições.
Vejamos o trecho da música “Ai que saudade d´ocê”, de Geraldo Azevedo
(…)
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade d'ocê
(…)
Disponível em: https://www.letras.mus.br/geraldo-azevedo/277398/

1
Português

b) Conativa ou Apelativa: Procura influenciar o receptor da mensagem. É centrada na segunda pessoa do


discurso e bastante comum em propagandas. Exemplo:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
(Gregório de Matos)

Essa função encerra um apelo, uma intenção de atingir o comportamento do


receptor da mensagem ou chamar a sua atenção. Para identificá-la, devemos
observar o uso do vocativo, pronomes na segunda pessoa, ou pronomes de
tratamento, bem como verbos no modo imperativo.

Tente outra vez


(Raul Seixas)
Veja
Não diga que a canção está perdida
Tenha fé em Deus, tenha fé na vida
Tente outra vez

Beba
Pois a água viva ainda está na fonte
Você tem dois pés para cruzar a ponte
Nada acabou, não não não não
Disponível em: https://www.vagalume.com.br/raul-seixas/tente-outra-vez.html

Disponível em: https://www.cnm.org.br/index.php/comunicacao/noticias/campanha-da-cnm-orienta-municipios-no-enfrentamento-


ao-novo-coronavirus

exemplo, nos dicionários, em poemas que falam da própria poesia, em músicas que falam da própria música
c) Metalinguística: Refere-se ao próprio código. Por exemplo:
- A palavra “analisar” é escrita com “s” ou com “z”?
- “Analisar” se escreve com “s”, Marcelo.

2
Português

Consiste no uso do código para falar dele próprio, ou seja, o discurso faz menção a si mesmo. Pode ser
encontrada, por.
Veja outros exemplos:

Trecho da música “Meu novo mundo” da banda Charlie Brown Jr


(…)
Fiz essa canção pra dizer algumas coisas
Cuidado com o destino
Ele brinca com as pessoas
Tipo uma foto com sorriso inocente
Mas a vida tinha um plano e separou a gente
(…)
Disponível em: https://www.letras.mus.br/charlie-brown-jr/meu-novo-mundo/

Disponível em: https://www.instagram.com/p/CC3WTeZDwn9/?igshid=1lrr3a1wb5gbo

3
Português

IMPORANTE!
É muito comum que, em um mesmo texto, haja a manifestação de mais de uma função da linguagem.
Peguemos como parâmetro a própria canção utilizada para exemplificar a função emotiva da linguagem
neste material:

Não se admire se um dia


Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade d'ocê
(Geraldo Azevedo)

Percebemos que, nos 4 primeiros versos, o interlocutor é o foco da mensagem. Dessa forma, predomina a
função conativa. No entanto, nos versos que se seguem, notamos o predomínio da função emotiva (como já
tínhamos visto).
Fiquem tranquilos(as), pois uma questão jamais colocará nas alternativas duas funções que estejam
claramente evidentes no texto, a menos que ela destaque algum trecho específico. Veremos alguns
exemplos nas nossas listas dos próximos materiais.

4
Português

Exercícios

1. (ENEM) TEXTO I
Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja
linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o
uso idiomático estabilizou e consagrou.
(LIMA, C. H. R. Gramática normativa da língua portuguesa, Rio de Janeiro José Olympio, 1989)

TEXTO II
Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias
visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse
de nenhuma espécie – nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que
em mim Cria ritmos Verbais, ou os escuta de Outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho,
tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar
tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria
perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de
coisa movida.
(PESSOA, F. O livro do desassossego São Paulo Brasiliense, 1986)

A linguagem cumpre diferentes funções no processo de comunicação. A função que predomina nos
textos I e II
a) destaca o “como” se elabora a mensagem, Considerando-se a seleção, Combinação e sonoridade
do texto.
b) Coloca o foco no “Com o quê” se constrói a mensagem, sendo o código utilizado o seu próprio
objeto.
c) Focaliza o “quem” produz a mensagem, mostrando seu posicionamento e suas impressões
pessoais.
d) O orienta-se no “para quem” se dirige a mensagem, estimulando a mudança de seu
comportamento.
e) enfatiza sobre “o quê” versa a mensagem, apresentada com palavras precisas e objetivas.

5
Português

2. (ENEM)

Nessa campanha publicitária, para estimular a economia de água, o leitor é incitado a


a) adotar práticas de consumo consciente.
b) alterar hábitos de higienização pessoal e residencial.
c) contrapor-se a formas indiretas de exportação de água.
d) optar por vestuário produzido com matéria-prima reciclável.
e) conscientizar produtores rurais sobre os custos de produção.

6
Português

3. (ENEM) O exercício da crônica


Escrever crônica é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um
ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou
porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de uma máquina,
olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um assunto qualquer, de preferência colhido
no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com suas artimanhas peculiares, possa injetar um
sangue novo. Se nada houver, restar-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um
processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida
emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto
da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado.
(MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia das Letras, 1991).

Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui


a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista.
b) nos elementos que servem de inspiração ao cronista.
c) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica.
d) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica.
e) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica.

4. (ENEM) Desabafo
Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem
como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que
esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos.
Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado.
CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).

Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o
predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da
linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois
a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código.
b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito.
c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem.
d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais.
e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação.

7
Português

5. (ENEM) Aula de Português


A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.

Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas de variação de
usos da linguagem em
a) situações formais e informais.
b) diferentes regiões dos pais.
c) escolas literárias distintas.
d) textos técnicos e poéticos.
e) diferentes épocas.

6. Me devolva o Neruda (que você nem leu).


Quando o Chico Buarque escreveu o verso acima, ainda não tinha o “que você nem leu”. A palavra
Neruda - prêmio Nobel, chileno, de esquerda - era proibida no Brasil. Na sala da Censura Federal o
nosso poeta negociou a proibição. E a música foi liberada quando ele acrescentou o “que você nem
leu”, pois ficava parecendo que ninguém dava bola para o Neruda no Brasil. Como eram burros os
censores da ditadura militar! E coloca burro nisso!!!
Mas a frase me veio à cabeça agora, porque eu gosto demais dela. Imagine a cena. No meio de uma
separação, um dos cônjuges (me desculpe a palavra) me solta esta: me devolva o Neruda que você
nem leu! Pense nisso.
Pois eu pensei exatamente nisso quando comecei a escrever esta crônica, que não tem nada a ver
com o Chico, nem com o Neruda e, muito menos, com os militares.
É que eu estou aqui para dizer um tchau. Um tchau breve porque, se me aceitarem - você e o diretor
da revista -, eu volto daqui a dois anos. Vou até ali escrever uma novela na Globo (o patrão vai
continuar o mesmo) e depois eu volto. Esperando que você já tenha lido o Neruda.
Mas aí você vai dizer assim: pó, escrever duas crônicas por mês, fora a novela, o cara não consegue?
O que é uma crônica? Uma página e meia. Portanto, três páginas por mês e o cara me vem com esse
papo de Neruda? Preguiçoso, no mínimo.
Quando faço umas palestras por aí, sempre me perguntam o que é necessário para se tornar um
escritor. E eu sempre respondo: talento e sorte. Entre os 10 e 20 anos, recebia na minha casa O
Cruzeiro, Manchete e o jornal Última Hora. E lá dentro eu lia (me invejem): Paulo Mendes Campos,

8
Português

Rubem Braga, Fernando Sabino, Millôr Fernandes, Nelson Rodrigues, Stanislaw Ponte Preta, Carlos
Heitor Cony. E pensava, adolescentemente: quando eu crescer, vou ser cronista.
Bem ou mal, consegui meu espaço. E agora, ao pedir de volta o livro chileno, fico pensando em como
eu me sentiria se, um dia, um desses aí acima escrevesse que iria dar um tempo. Eu matava o cara!
Isso não se faz com o leitor (desculpe, minha amiga, não estou me colocando no mesmo nível deles,
não!)
E deixo aqui uns versinhos do Neruda para as minhas leitoras de 30 e 40 anos (e para todas): Escuchas
otras voces en mi voz dolorida
Llanto de viejas bocas, sangre de viejas súplicas,
Amame, compañera. No me abandones. Sigueme,
Sigueme, compañera, en esa ola de angústia.
Pero se van tiñendo con tu amor mis palabras
Todo lo ocupas tú, todo lo ocupas
Voy haciendo de todas un collar infinito
Para tus blancas manos, suaves como las uvas.
Desculpe o mau jeito: tchau!
(Prata, Mario. Revista Época. São Paulo. Editora Globo, Nº- 324, 02 de agosto de 2004, p. 99)

Relacione os fragmentos abaixo às funções da linguagem predominantes e assinale a alternativa


correta.
I. “Imagine a cena”.
II. “Sou um homem de sorte”.
III. “O que é uma crônica? Uma página e meia. Portanto, três páginas por mês e o cara me vem com
esse papo de Neruda?”.

a) Emotiva, poética e metalingüística, respectivamente.


b) Fática, emotiva e metalingüística, respectivamente.
c) Metalingüística, fática e apelativa, respectivamente.
d) Apelativa, emotiva e metalingüística, respectivamente.
e) Poética, fática e apelativa, respectivamente.

7. (UERJ)

9
Português

Pode-se definir “metalinguagem” como a linguagem que comenta a própria linguagem, fenômeno
presente na literatura e nas artes em geral.
O quadro A perspicácia, do belga René Magritte, é um exemplo de metalinguagem porque:
a) destaca a qualidade do traço artístico
b) mostra o pintor no momento da criação
c) implica a valorização da arte tradicional
d) indica a necessidade de inspiração concreta

8. (Ifal) Oficina irritada


Eu quero compor um soneto duro
Como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
Seco abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,


Não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
Ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro


Há de pungir, há de fazer sofrer,
Tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,


Cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
Claro enigma, se deixa surpreender.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Record, 1998. P. 188

Com base na leitura do poema de Carlos Drummond e nos seus conhecimentos acerca das funções
da linguagem, assinale a alternativa correta.
a) Estão presentes as funções poética e metalinguística da linguagem, uma vez que o texto chama
a atenção para o arranjo singular da mensagem e discute o código.
b) Estão presentes as funções fática e poética da linguagem, pois, no texto, há o teste do canal e um
arranjo singular da mensagem.
c) Está presente apenas a função poética, já que o texto, sendo um poema, não permite a presença
de outra função da linguagem.
d) Estão presentes as funções referencial e poética, porque, no texto, a atenção recai tanto sobre o
referente quanto sobre a mensagem.
e) Estão presentes as funções poética e conativa, já que há uma centralidade, ao mesmo tempo, na
mensagem e no receptor.

10
Português

9. Catar Feijão
1. 2.
Catar feijão se limita com escrever: Ora, nesse catar feijão entra um risco:
joga-se os grãos na água do alguidar o de que entre os grãos pesados entre
e as palavras na folha de papel; um grão qualquer, pedra ou indigesto,
e depois, joga-se fora o que boiar. um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo, toda palavra boiará no papel, Certo não, quando ao catar palavras:
água congelada, por chumbo seu verbo: a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
pois para catar esse feijão, soprar nele, obstrui a leitura fluviante, flutual,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco. açula a atenção, isca-a como o risco.

João Cabral de Melo Neto

O poema de João Cabral de Melo Neto compara o ato de catar feijão com a produção de um poema.
Nesse texto, qual é a função da linguagem que o autor predominantemente utiliza?
a) Metáfora
b) Comparação
c) Poética
d) Metalinguagem
e) Ironia

10. (UNIFESP) fora de si


eu fico louco
eu fico fora de si
eu fica assim
eu fica fora de mim
eu fico um pouco
depois eu saio daqui
eu vai embora
eu fico fora de si
eu fico oco
eu fica bem assim
eu fico sem ninguém em mim

A leitura do poema permite afirmar corretamente que o poeta explora a ideia de


a) buscar a completude no Outro, conforme atesta a função apelativa, reforçando que o Eu, quando
fora de si, necessariamente se funde com o Outro.
b) sair de sua criação artística, retratando, pela função poética, a contradição do fazer literário, que
não atinge o poeta.
c) perder a noção de si mesmo, e também perder a noção das outras pessoas, o que se mostra num
poema metaligüístico.
d) extravasar o seu sentimento, como denuncia a função emotiva, reafirmando a situação de
desencanto e desengano do poeta.
e) criar literariamente como brincar com as palavras, o que se pode comprovar pela função fática
da linguagem.

11
Português

Gabarito

1. B
A função que predomina nos dois textos é a metalinguística, visto que o primeiro texto foi extraído de
uma gramática que propõe reflexões sobre regras gramaticais. Já o segundo texto, escrito por um
famoso poeta, trata do seu gosto e do de outros autores pela palavra. Em suma, o elemento da
comunicação “código”, representado pela função metalinguística, encontra-se em destaque nos dois
textos.

2. A
Após informar a quantidade média de água gasta na produção de alguns produtos, a campanha afirma
que “economizar bens de consumo e evitar o desperdício também é poupar água”, incitando o leitor a
adotar práticas de consumo consciente.

3. E
Uma vez que a mensagem do texto é centrada em seu próprio código, a função da linguagem que
predomina é a metalinguística. No texto, o cronista apresenta, por meio de uma crônica, alguns entraves
encontrados por quem escreve esse gênero textual.

4. B
É possível observar que a atitude do emissor sobrepõe-se àquilo que está sendo dito, com
predominância da função emotiva da linguagem, visto que a mensagem está voltada para elementos
subjetivos do enunciador.

5. A
No texto, ao centrar a mensagem na expressão dos sentimentos do enunciador, Drummond utiliza a
função emotiva da linguagem. Com isso, explora o contraste entre as variações linguísticas em situações
formais e informais.

6. D
I - “Imagine a cena”. [ mensagem centrada no receptor, presença do verbo no imperativo – apelativa]
II - “Sou um homem de sorte”. [ subjetividade do enunciador deixando claro seu ponto de vista - emotiva]
III - “O que é uma crônica? Uma página e meia. Portanto, três páginas por mês e o cara me vem com
esse papo de Neruda?”.[ uma trecho de crônica definindo a crônica – metalinguagem]

7. B
O quadro de René Magritte mostra visualmente o fenômeno estético da metalinguagem, ao apresentar
uma pintura na qual um pintor se encontra no momento exato da criação de uma pintura

8. A
No poema “Oficina irritada”, naturalmente vemos a função poética, por se tratar de um soneto e, além
disso, vemos a presença da metalinguagem “Eu quero compor um soneto duro”, já que o eu lírico aborda,
no poema, a própria construção do poema.

9. D
O tema central do poema é a arte e os encantos e impasses de escrever um poema, é notável a presença
da metalinguagem em um poema que fala sobre escrever um poema.

10. C
O enunciador deixa clara sua subjetividade, seus julgamentos e etc., mas “perder-se de si é perder-se
dos outros” e utilizar sua voz para “perder-se de si” caracteriza a metalinguagem.

2
Português

Figuras de Linguagem (sonoras)

Resumo

As figuras de linguagens sonoras combinam elementos sonoros porque estão relacionadas aos aspectos
fonéticos e fonológicos da linguagem. Seus objetivos são o de explorar musicalidades possíveis com as
combinações das palavras e produzir efeitos sinestésicos. Na língua portuguesa, são elas: aliteração,
assonância, paronomásia e onomatopeia.

Aliteração
É a repetição de fonemas consonantais idênticos ou semelhantes para sugerir acusticamente algum
elemento, ato, fenômeno. Aparece como efeito estilístico em prosas poéticas ou poesias.

Exemplo:
“(...) Rato
Rato que rói a roupa
Que rói a rapa do rei do morro
Que rói a roda do carro
Que rói o carro, que rói o ferro
Que rói o barro, rói o morro
Rato que rói o rato
Ra-rato, ra-rato
Roto que ri do roto
Que rói o farrapo
Do esfarra-rapado
Que mete a ripa, arranca rabo
Rato ruim
Rato que rói a rosa
Rói o riso da moça
E ruma rua arriba
Em sua rota de rato (...)”.
(Chico Buarque)

Assonância
Segue o mesmo princípio que a aliteração, mas nesse caso as repetições sonoras são de fonemas vocálicos
idênticos ou semelhantes.

Exemplo:
“(...) A linha feminina é carimá
Moqueca, pititinga, caruru
Mingau de puba, e vinho de caju
Pisado num pilão de Piraguá.(...)”
(Gregório de Matos)

1
Português

Paronomásia
É a combinação e/ou o uso de palavras que apresentam semelhança fônica ou mórfica, mas possuem
sentidos diferentes.

Exemplo:
“(...) Berro pelo aterro
Pelo desterro
Berro por seu berro
Pelo seu erro
Quero que você ganhe
Que você me apanhe.
Sou o seu bezerro
Gritando mamãe (...)”.
(Caetano Veloso)

Onomatopeia
É uma figura de linguagem que busca reproduzir de forma aproximada palavras que representem um som
natural.

Exemplo:
Passa, tempo, tic-tac Já perdi
Tic-tac, passa, hora Toda a alegria
Chega logo, tic-tac De fazer
Tic-tac, e vai-te embora Meu tic-tac
Passa, tempo Dia e noite
Bem depressa Noite e dia
Não atrasa Tic-tac
Não demora Tic-tac
Que já estou Dia e noite
Muito cansado Noite e dia.
(Vinicius de Moraes)

2
Português

Exercícios

1. AS COUSAS DO MUNDO

Neste mundo é mais rico o que mais rapa:


Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa:


Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por tulipa;


Bengala hoje na mão, ontem garlopa,
Mais isento se mostra o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa


E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
(Gregório de Matos Guerra, Seleção de Obras Poéticas)

Em “Para a tropa do trapo vazo a tripa”, pode-se constatar que o poeta teve grande cuidado com a
seleção e disposição das palavras que compõem a sonoridade do verso, para salientar certos fonemas
que se repetem (principalmente os “pês” e os “tês”), utilizando, ao mesmo tempo, palavras que se
diferenciam por mudanças fonéticas mínimas (tropa/trapo/tripa). Os recursos estilísticos
empregados aí foram
a) personificação e alusão.
b) paralelismo e comparação.
c) aliteração e paronomásia.
d) assonância e preterição.
e) metáfora e metonímia.

2. A MENINA E A CANTIGA
... trarilarára... traríla...
A meninota esganiçada magriça com a sáia voejando por cima dos joelhos em nó vinha meia
dansando cantando no crepúsculo escuro. Batia compasso com a varinha na poeira da calçada.
... trarilarára... traríla...
De repente voltou-se prá negra velha que vinha trôpega atrás, enorme trouxa de roupas na cabeça:
- Qué mi dá, vó?
- Naão.
... trarilarára... traríla...
Mário de Andrade

De repente voltou-se prá negra velha que vinha trôpega atrás, enorme trouxa de roupas na cabeça.
O fragmento acima apresenta:
a) aliteração expressiva, que intensifica o modo de andar da personagem.

2
Português

b) antítese na caracterização da negra velha.


c) eufemismo na caracterização de trouxa de roupas.
d) uso de expressão irreverente na caracterização da avó.
e) tempo e modo verbais que expressam ações contínuas no passado.

3. É CARNAVAL

E então chegava o Carnaval, registrando-se grandes comemorações ao Festival de Besteira. Em


Goiânia o folião Cândido Teixeira de Lima brincava fantasiado de Papa Paulo VI e provava no salão
que não é tão cândido assim, pois aproveitava o mote da marcha Máscara Negra e beijava tudo que
era mulher que passasse dando sopa.
Um padre local, por volta da meia-noite, recebeu uma denúncia e foi para o baile, exigindo da Polícia
que o Papa de araque fosse preso. Em seguida, declarou: “Brincar o Carnaval já é um pecado grave.
Brincar fantasiado de Papa é uma blasfêmia terrível.”
O caso morreu aí e nunca mais se soube o que era mais blasfêmia: um cidadão se fantasiar de Papa
ou o piedoso sacerdote encanar o Sumo Pontífice.
E enquanto todos pulavam no salão, o dólar pulava no câmbio. Há coisas inexplicáveis! Até hoje não
se sabe por que foi durante o Carnaval que o Governo aumentou o dólar, fazendo muito rico ficar mais
rico. E, porque o Ministro do Planejamento e seus cúmplices, aliás, digo, seus auxiliares, aumentaram
o dólar e desvalorizaram o cruzeiro em pleno Carnaval, passaram a ser conhecidos por Acadêmicos
do Cruzeiro - numa homenagem também aos salgueirenses que, no Carnaval de 1967, entraram pelo
cano.
(PRETA, Stanislaw Ponte.FEBEAPÁ 2 - 2º- Festival de Besteira que Assola o País. 9ª- edição. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1993, p. 32)

Observe o enunciado: E enquanto todos pulavam no salão, o dólar pulava no câmbio.


O verbo “pular” está empregado no primeiro caso no sentido denotativo; no segundo, o sentido é
figurado. Também a palavra “dólar” é usada no sentido figurado. A figura de linguagem empregada no
caso de “dólar” é
a) antítese, porque, no enunciado, há ideias contrárias relacionadas aos seres representados.
b) eufemismo, porque, no enunciado, há ideias diminuídas relacionadas aos seres representados.
c) prosopopeia, porque, no enunciado, há a personificação de seres inanimados.
d) metonímia, porque, no enunciado, há relações de contiguidade entre os seres representados.
e) onomatopeia, porque, no enunciado, imitam-se as vozes dos seres representados.

3
Português

4. O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor,
não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente.
Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas
falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que
se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o
interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os
estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data
recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos santos. Quanto às amigas, algumas
datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam crer
nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é
cansativa.
Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos, aquela vida antiga
aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito
espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em verdade,
pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como
bem e não durmo mal.
Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me
escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças
necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios menos seca que as memórias do
padre Luís Gonçalves dos Santos relativas à cidade; era obra modesta, mas exigia documentos e datas
como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-
me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da
pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras,
como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras ?...
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Capítulo II, Rio de Janeiro: José Aguilar, 1971, v. 1,p. 810-11.

Assinale a opção em que os elementos grifados no texto exemplificam a figura de linguagem


apresentada.
a) Paronomásia é o emprego de palavras semelhantes no som, porém de sentido diferente./
“Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa.”
b) Eufemismo é uma substituição de um termo, pela qual se pode evitar usar expressões mais
diretas ou chocantes, para referir-se a determinados fatos. / “Os amigos que me restam são de
data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos santos.”
c) Anáfora é a repetição de uma ou mais palavras no princípio de duas ou mais frases, de membros
da mesma frase, ou de dois ou mais versos. / “Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por
exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro.”
d) Metonímia é a designação de um objeto por palavra designativa de outro objeto que tem com o
primeiro uma relação. / “O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na
barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno
não aguenta tinta.”
e) Onomatopeia é o emprego de palavra cuja pronúncia imita o som natural da coisa significada. /
“Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez
que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns.”

4
Português

5. DIONISOS DENDRITES

Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas


Ramos nascem de seu peito
Pés percutem a pedra enegrecida
Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.

Acorre o vento ao círculo demente


O vinho espuma nas taças incendiadas.
Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços
Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas
E o vaticínio do tumulto à Noite –
Chegada do inverno aos lares
Fim de guerra em campos estrangeiros.

As bocas mordem colos e flancos desnudados:


À sombra mergulham faces convulsivas
Corpos se avizinham à vida fria dos valados
Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.
Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos
Mergulham no vórtice da festa consagrada.

E quando o Sol o ingênuo olhar acende


Um secreto murmúrio ata num só feixe
O louro trigo nascido das encostas.
SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.

Considerando a leitura do poema e o uso dos recursos expressivos, em Dionisos Dendrites,

a) a aliteração no verso “Pés percutem a pedra enegrecida” indica um som reproduzido como o dos
tambores do verso subsequente.
b) a gradação em ‘bocas’, ‘faces’ e ‘corpos’, nos três primeiros versos da 3ª estrofe, aponta para a
opulência do ritual.
c) a metonímia em “seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas” revela o embate
estabelecido entre a vida e a morte.
d) a metáfora em ‘taças incendiadas’, no verso “o vinho espuma nas taças incendiadas”, denota o
sentimento de enfado dos presentes em relação ao ritual.

6. Em qual das opções há erro de identificação das figuras?


a) "Um dia hei de ir embora / Adormecer no derradeiro sono." (eufemismo)
b) "A neblina, roçando o chão, cicia, em prece. (prosopopeia)
c) Já não são tão frequentes os passeios noturnos na violenta Rio de Janeiro. (silepse de número)
d) "E fria, fluente, frouxa claridade / Flutua..." (aliteração)
e) "Oh sonora audição colorida do aroma." (sinestesia).

5
Português

7. O fragmento transcrito que possui um exemplo de onomatopeia é:


a) “– É mesmo? – respondeu ele. – PentiumII?”
b) “Mas tudo durou pouco, porque um certo escritor amigo meu me telefonou.”
c) “–Clic – fiz eu do outro lado.”
d) “– E como você fica aí, dando risada?”
e) “Bobagem, como logo se veria.”

8. Canção do vento e da minha vida


O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
[…]

O vento varria os sonhos


E varria as amizades…
O vento varria as mulheres…
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.

O vento varria os meses


E varria os teus sorrisos…

O vento varria tudo!


E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.
Na estruturação do texto, destaca-se
a) a construção de oposições semânticas.
b) a apresentação de ideias de forma objetiva.
c) o emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo.
d) a repetição de sons e de construções sintáticas semelhantes.
e) a inversão da ordem sintática das palavras.

6
Português

9. Nos versos:

“Bomba atômica que aterra


Pomba atômica da paz
Pomba tonta, bomba atômica...”

A repetição de determinados elementos fônicos é um recurso estilístico denominado:


a) Hiperbibasmo
b) Sinédoque
c) Metonímia
d) Aliteração
e) metáfora

10. Assinale a alternativa que apresenta as figuras de linguagem na ordem em que elas aparecem
respectivamente:
I. Vozes veladas, veludosas vozes Volúpia de violões, vozes veladas
II. "Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral.” (Caetano Veloso)
III. “a onda anda / aonde anda / a onda? (Manuel Bandeira)
IV. Tic-tac, Tic tac.
V. ”Esperando, parada, pregada na pedra do porto” (Chico Buarque)

a) Aliteração, Paronomásia, Onomatopeia, Onomatopeia, Aliteração


b) Aliteração, Assonância, Paronomásia, Onomatopeia, Aliteração
c) Onomatopeia, Assonância, Paronomásia, Aliteração, Assonância
d) Paronomásia, Aliteração, Assonância, Onomatopeia, Aliteração
e) Assonância, Onomatopeia, Paronomásia, Aliteração, Onomatopeia

2
Português

Gabarito

1. C
A aliteração é a repetição de sons consonantais iguais ou semelhantes e a paronomásia é a combinação
de palavras com sons e grafias parecidas.

2. A
Repetição de fonemas consonantais.

3. C
O termo “dólar” é inanimado e na oração apresenta capacidade de realizar ações humanas, “pular”.

4. B
“Estudar a geologia dos campos santos” é uma forma mais suave de dizer que os amigos morreram,
caracterizando um eufemismo.

5. A
A aliteração é uma figura sonora em que um som consonantal é repetido. Isso ocorre no verso destacado
por meio da ocorrência de /p/.

6. C
Não há concordância apenas com o plural ou com o singular de alguma palavra da oração.

7. C
“clic” é a representação escrita de um som, figura de linguagem conhecida como “onomatopeia”.

8. D
Há a predominância de aliteração, que, foneticamente é representada pela consoante “v”. Caracterizada
por meio dos versos: “O vento varria os sonhos, e varria as amizades, o vento varria as mulheres...”. As
construções sintáticas são as essenciais que compõem a oração: sujeito, verbo e complemento.

9. D
Repetição dos fonemas consonantais “r”, do “m”, que configuram uma aliteração.

10. B
I, Repetição de “v”; II. Repetição do fonema vocálico “a”; III. Palavras com a pronúncia parecida; IV.
Representação do som do relógio; V. Repetição do fonema consonantal “p”.

3
Português

Figuras de Linguagem (sintáticas)

Resumo

As figuras de linguagem são recursos característicos da conotação, de modo que utilizam-se de palavras de
uma forma criativa da linguagem. No entanto, essas figuras são divididas em grupos de acordo com funções
que elas desempenham. As figuras de sintaxe, também conhecidas como figuras de construção, podem ser
classificadas a partir das palavras que sofrem mudanças na ordem sintática comum dentro da oração para
provocar determinados efeitos de sentidos no textos. Vamos analisá-las?

Elipse
Consiste na omissão de um termo ou de uma expressão que pode ser facilimente identificada pelo contexto.
Por exemplo:
(Eles) Comemoraram ontem à noite.

ATENÇÃO! A zeugma é uma figura de linguagem facilmente confundida com a elipse. No entanto, em provas
de concurso, tal diferenciação não é frequentemente estabelecida. Mas vamos diferenciá-las para você!
Enquanto a elipse consiste em uma omissão que pode ser subentendida pelo contexto da frase, a zeugma,
por outro lado, é a supressão de um termo anteriomente expresso na frase. Por exemplo: João é muito
estudioso e a sua irmã também é (estudiosa).

Pleonasmo
Consiste na repetição de significados de um vocábulo ou de termos da oração. Por exemplo:

Chorou um choro de profundo lamento.

ATENÇÃO! Cabe ainda destacar o pleonasmo vicioso, que é uma repetição desnecessária de algum termo ou
ideia na frase. Nesse caso, não se configura como uma figura de linguagem, mas sim como um vício de
linguagem. É o caso, por exemplo, das expressões “subir para cima”, “descer para baixo”, “entrar para dentro”,
“sair para fora”, entre outras.

Hipérbato
Consiste na inversão da ordem direta das palavras na oração, ou da ordem das orações no período, com
finalidade expressiva.

Você conhece o personagem Yoda de “Star Wars”? Ele é muito famoso por inverter o termos dentro de uma
oração, de modo que garante uma finalidade expressiva às suas falas. Imagine a seguinte frase na ordem
direta: “Você ainda tem muito a aprender”. Quando proferida pelo personagem, seria totalmente diferente,
veja o exemplo abaixo:

1
Português

Polissíndeto
Consiste no emprego repetitivo de conjunções coordenativas, especialmente as aditivas. É importante
relacionar essa figura de linguagem a uma outra chamada assíndeto. Esta é estabelecida por um processo
oposto, ou seja, pela omissão de conectivos coordenativos. Veja os exemplos abaixo:

"Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se
espedaça, e morre."
(Olavo Bilac)

"Vim, vi, venci."


(Júlio César)

Silepse
Consiste na concordância que se faz não com a forma gramatical das palavras, mas com o seu sentido, ou
seja, com as ideias que elas expressam. É importante destacar que a concordância siléptica não é
considerada um erro em relação às normas gramaticais, visto que são estabelecidas com intenção estilística.
No entanto, devem ser utilizadas com respaldo e em situações de comunicação específicas, por exemplo,
em textos expressivos. Elas podem ser classificadas em:
• Gênero: Vossa excelência parece chateado.
• Número: O grupo não gostou da bronca, reagiram imediatamente.
• Pessoa: Os brasileiros somos lutadores.

Anáfora
Consiste na repetição de uma mesma palavra, ou várias, no começo de orações, períodos ou versos. Por
exemplo:

“Quando não tinha nada, eu quis


Quando tudo era ausência, esperei
Quando tive frio, tremi
Quando tive coragem, liguei”
(...)
(Daniela Mercury)

2
Português

Exercícios

1. Sempre desconfiei
Sempre desconfiei de narrativas de sonhos. Se já nos é difícil recordar o que vimos despertos e de
olhos bem abertos, imagine-se o que não será das coisas que vimos dormindo e de olhos fechados...
Com esse pouco que nos resta, fazemos reconstituições suspeitamente lógicas e pomos enredo, sem
querer, nas ocasionais variações de um calidoscópio. Me lembro de que, quando menino, minha gente
acusava-me de inventar os sonhos. O que me deixava indignado.
Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão.
Por outro lado, o que mais espantoso há nos sonhos é que não nos espantamos de nada. Sonhas, por
exemplo, que estás a conversar com o tio Juca. De repente, te lembras de que ele já morreu. E daí? A
conversa continua.
Com toda a naturalidade.
Já imaginaste que bom se pudesses manter essa imperturbável serenidade na vida propriamente dita?
(Mario Quintana, A vaca e o hipogrifo.São Paulo: Globo,1995)

Em “Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão”, o autor recorre a uma figura de construção,
que está corretamente explicada em
a) silepse, por haver uma concordância verbal ideológica.
b) elipse, por haver a omissão do objeto direto.
c) anacoluto, por haver uma ruptura na estrutura sintática da frase.
d) pleonasmo, por haver uma redundância proposital em “ambas as partes”.
e) hipérbato, por haver uma inversão da ordem natural e direta dos termos da oração.

2. Leia o excerto do livro “Quincas Borba” de Machado de Assis.

“Enquanto uma chora, uma ri; é a lei do mundo, meu rico senhor, é a perfeição universal. Tudo chorando
seria monótono; tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e
sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida...”

A supressão do verbo e o uso da vírgula em seu lugar justificam-se por meio do(a)
a) aliteração.
b) elipse.
c) assonância.
d) polissíndeto.
e) silepse.

3
Português

3. Pastora de nuvens, fui posta a serviço por uma campina tão desamparada que não principia nem
também termina, e onde nunca é noite e nunca madrugada.

(Pastores da terra, vós tendes sossego, que olhais para o sol e encontrais direção. Sabeis quando é
tarde, sabeis quando é cedo. Eu, não.)

Esse trecho faz parte de um poema de Cecília Meireles, intitulado Destino, uma espécie de profissão
de fé da autora. No último verso da 2ª- estrofe — Eu, não. — está presente a figura chamada de
a) ironia.
b) metáfora.
c) pleonasmo.
d) sinestesia.
e) zeugma.

4. Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente


Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante


Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinícius de Morais
Note na primeira estrofe a repetição sistemática da conjunção ‘’e’’, figura de linguagem a que
chamamos:
a) silepse
b) anacoluto
c) polissíndeto
d) metonímia
e) elipse

4
Português

5. Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre
línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe que disseminou pela Europa, além do vírus
propriamente dito, dois vocábulos virais: o italiano influenza e o francês grippe. O primeiro era um
termo derivado do latim medieval influentia, que significava “influência dos astros sobre os homens”.
O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se que fizesse
referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.
RODRIGUES. S. Sobre palavras. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.

Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor reconheça a ligação
entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela retomada de um
termo por outro e pelo uso da elipse. O fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:
a) “[...] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”
b) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe [...]”.
c) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava ‘influência dos
astros sobre os homens’.”
d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper [...]”.
e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo
infectado.”

6. O pleonasmo (do grego pleonasmós), que quer dizer abundância, excesso, amplificação) é uma
repetição de unidades linguísticas idênticas do ponto de vista semântico, o que implica que a repetição
é tautológica (redundante). No entanto, ela é uma extensão do enunciado com vistas a intensificar o
sentido.
(José Luiz Fiorin. Figuras de retórica, 2014. Adaptado).
Verifica-se a ocorrência de pleonasmo em:
a) “fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia os nomes dos peixes que ela dizia”.
b) “eu avançava no batelão velho; remava cansado, com um resto de sono”.
c) “ela deixou que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas tímida”.
d) “A princípio a olhei com espanto, quase desgosto”.
e) “Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus”.

7. Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado, um estilo tão
dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado toda a arte e a toda natureza? Boa razão é
também essa. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao
semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte (...) Não fez Deus o céu em
xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se uma parte está
branco, da outra há de estar negro (...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas
são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação, muito distinto e muito claro.
(Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira)

empeçado: com obstáculo, com empecilho.

A repetição da expressão “um estilo tão” e o uso da expressão “xadrez de palavras” compõem
respectivamente as figuras de linguagem:
a) anáfora e metáfora.
b) polissíndeto e metonímia.
c) pleonasmo e anacoluto.
d) metáfora e prosopopeia.
e) antonomásia e catacrese.

5
Português

8. Examine a tira do cartunista Quino para responder à questão a seguir.

Silepse é a concordância que se faz não com a forma gramatical das palavras, mas com o sentido,
com a ideia que elas expressam. A silepse é, pois, uma concordância mental.
(Celso Cunha. Gramática essencial, 2013).
Verifica-se a ocorrência de silepse
a) no primeiro quadrinho, apenas.
b) no segundo quadrinho, apenas.
c) no primeiro e no segundo quadrinhos.
d) no terceiro quadrinho, apenas.
e) no segundo e no terceiro quadrinhos.

6
Português

9. Poética
Estou farto do lirismo comedido Estou farto do lirismo namorador
Do lirismo bem comportado Político
Do lirismo funcionário público com livro de Raquítico
ponto expediente Sifilítico
protocolo e manifestações de apreço ao sr. De todo lirismo que capitula ao que quer
diretor. que seja
fora de si mesmo
Estou farto do lirismo que para e vai De resto não é lirismo
averiguar no dicionário Será contabilidade tabela de co-senos
o cunho vernáculo de um vocábulo. secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as
Abaixo os puristas diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Todas as palavras sobretudo os
barbarismos universais Quero antes o lirismo dos loucos
Todas as construções sobretudo as O lirismo dos bêbedos
sintaxes de exceção O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não
é libertação.
Manuel Bandeira, in: Libertinagem

A repetição de palavras no início do verso (“Estou farto”, “Todas”, “O lirismo”) e a omissão de termos
subentendidos do verso anterior (“Político”) caracterizam respectivamente:
a) Anáfora e zeugma.
b) Hipérbole e hipérbato.
c) Catacrese e antonomásia.
d) Epístrofe e elipse.
e) Anacoluto e perífrase.

10. O livro é de quem tem acesso às suas páginas e através delas consegue imaginar os personagens, os
cenários, a voz e o jeito com que movimentam. São do leitor as sensações provocadas, a tristeza, a
euforia, o medo, o espanto, tudo que é transmitido pelo autor, mas que reflete em quem lê de uma
forma muito pessoal. É do leitor o prazer. É do leitor a identificação. É do leitor o aprendizado. É do
leitor o livro. (...)
Martha Medeiros. Jornal ZERO HORA – 06/11/11. Revista O Globo, 25 de novembro de 2012.

No trecho “É do leitor o prazer.”, a autora usa uma figura de linguagem. Assinale a opção que identifica
corretamente essa figura.
a) Metáfora.
b) Elipse.
c) Metonímia.
d) Hipérbato.
e) Anacoluto.

7
Português

Gabarito

1. A
A ideia é de “nós” tínhamos razão. O verbo não concorda com o sujeito explícito, mas com a ideia da
oração.

2. B
No trecho “Tudo chorando seria monótono; tudo rindo, cansativo”, é possível subentender que a vírgula
entre “rindo” e “cansativo” está no lugar do verbo “seria”, assim, identifica-se a figura de linguagem
conhecida como elipse.

3. E
No último verso da segunda estrofe, há uma figura de linguagem conhecida como elipse, visto que há
uma supressão do verbo “saber”.

4. C
A repetição de conjunções é conhecida como polissíndeto, porque síndeto é o mesmo que conjunção.

5. E
A elipse é uma figura de linguagem que se dá a partir da omissão de um termo em uma sentença. Na
oração “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo
infectado”, a forma verbal “fizesse” alude ao termo “grippe”, que foi citado anteriormente no texto.

6. C
Os termos “adorasse” e “adoração” constituem unidades linguísticas idênticas do ponto de vista
semântico, o que constitui um pleonasmo.

7. A
A anáfora é uma figura de construção em que o termo ou expressão se repete no início de cada verso ou
oração. Já a metáfora é uma figura de pensamento em que dois conceitos são aproximados de modo
implícito, sem a utilização de um conectivo de valor comparativo.

8. D
A concordância ideológica está presente apenas no 3º quadrinho, em “toda a família somos um caso
patológico”. O termo “família” faz menção a um grupo de pessoas, no qual o enunciador está incluído.

9. A
A repetição de palavras ou expressões no início de frases ou versos (“Estou farto”, “Todas”, “O lirismo”)
é uma figura de sintaxe chamada anáfora. Já a omissão de termos subentendidos presentes no texto é
uma figura denominada zeugma.

10. D
No trecho, vemos uma inversão da ordem direta da frase. Ao invés de escrever “O prazer é do leitor”, a
autora optou por utilizar um hipérbato e escrever “É do leitor o prazer”.

Você também pode gostar