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4 circunstâncias que têm algo em comum:

- ter o período
- ter um tumor no cérebro
- comer imensa comida sem qualidade
- tomar esteroides anabólicos

Todos eles já serviram para sentenciar um assassino em tribunal de justiça.


Por vezes, o que nos corre no corpo pode influenciar dramaticamente o que se passa no nosso
cérebro. Da mesma forma que, por vezes, o que passa no nosso cérebro, influenciará o que se
passa no nosso corpo.

A interconexão entre a nossa fisiologia e o nosso comportamento; as nossas emoções,


pensamentos e as nossas memorias e a capacidade de cada um influenciar o outro sobre
qualquer circunstância.

Queremos entender o comportamento humano. Pior que isso, o comportamento social


humano. E pior que isso ainda, alguns comportamentos sociais anormais. E para entender isso,
temos um problema, porque é extremamente complicado tentar fazer sentido na biologia do
comportamento social humano. E como é complicado, para simplificarmos, todos temos uma
estratégia para tornar as coisas mais fáceis: nós pensamos nas coisas em categorias. Pegamos
em coisas que são continuas e partimo-las em categorias. E rotulamos essas categorias. E
fazemos isso em vários contextos porque pode ser extremamente útil. Ex: pensar na estimativa
do tamanho de um pau > imaginamos as dimensões de uma régua para nos guiarmos na
estimativa do tamanho (um continuum de tamanhos). Já se pensarmos num homem que
desenha muito bem com 11 cores diferentes, já não conseguimos categorizar porque não
classificamos qualidades ao longo dessas linhas contínuas.
Em alguns sítios no nosso cérebro nos dividimos coisas de um continuum em categorias
porque é mais fácil para nos para arrumar a informação. Invés de estarmos a memorizar as
características absolutas das coisas, nós simplesmente dizemos “é uma…. É um pau quase do
tamanho de uma régua”. Partir o continuum em categorias facilita-nos a lidar com factos.
Pensar em categorias torna tudo fácil para nós quando nos queremos relembrar das coisas e
quando queremos avaliar as coisas. (ex se virmos 4 formas, um triangulo, um quadrado, um
redondo e uma forma estranha para a qual não temos categorias para classificar, seremos
muito mais precisos com os primeiros 3 que com o 4º porque não temos um palavra para
aquilo, não temos uma categoria).
Esse é o tipo de resposta clássica que nós cognitivamente temos para complicar as coisas. Mas
há um grupo de problemas com o pensamento categórico: quando estamos prestando
demasiada atenção às categorias, não conseguimos diferenciar 2 factos que são da mesma
categoria. Ex: ansiedade durante os exame, em que parece haver uma enorme diferença entre
obter um 65 ou um 66 – não é particularmente diferente, mas como nós desenhamos estes
limites entre passar e falhar há esta dramática diferente que criamos. Quando colocamos
limites/fronteiras, temos um problema em ver o quão semelhantes as coisas são do outro
lado.
Outro problema é que quando prestamos demasiada atenção aos limites/fronteiras criados,
não conseguimos ver a fotografia toda. Tudo o que vemos, são categorias.
Quando pensamos em categorias, isso também ajuda-nos a saber qual a sequencia de
acontecimentos seguinte. Mas quando pensamos em categorias, subestimamos o quão
diferente 2 factos realmente são quando eles caem na mesma categoria.
Quando pensamos em categorias, superestimamos o quão diferentes eles são por ter um
limite/fronteira entre eles. E quando prestamos atenção aos limites/fronteiras categóricos, nós
vimos a imagem completa.

O mesmo acontece quando tentamos explicar o comportamento humano. Mas é preciso evitar
pensar nessas categorias quando nos referimos a isso. Quando dizemos que uma hormona
causa aquele comportamento (falamos em termos de endocrinologia), aquela hormona foi
codificada por um gene (já falamos em termos da genética); e se há um gene, ele foi sujeito a
seleção (já falamos em termos de evolução). Estes baldes que nós usamos para encaixar as
coisas, são baldes que a dada altura foram as formas mais convenientes de descrever todas as
influências que vieram antecipadamente. Portanto não há baldes. Isso tudo são plataformas
temporárias e cada plataforma é simplesmente a forma mais fácil e conveniente para
descrever os resultados de tudo o que veio antecipadamente começando nos milénios de
evolução.

Quando formos a pensar em comportamento humano e, em alguns casos, quando formos a


pensar em alguns dos mais assustadores, perturbados e avariados comportamentos, devemos
resistir à tentação de pensar dentro de um balde para encontrar a explicação. Não deverá
haver nem baldes temporários. Não há baldes! Falando em categorias no reino da ciência faz
estragos.
Antes pensemos em nós como uma espécie aborrecida tal e qual como as outras espécies no
mundo: como uma espécie que tem a mesma fisiologia mas usa isso de uma forma
irreconhecível; como uma espécie que faz algumas coisas simplesmente sem precedentes. E
constantemente lutando com “o que tem a biologia a ver com isso?”

Pensando em categorias/baldes é como consertamos relógios. Não é como consertamos


comportamentos.

wellesley effect

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