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MATÉRIA DE CAPA

Topografia sobre
rodas e em alta velocidade
Sistemas móveis de mapeamento são tendência na geomática
Por Eduardo Freitas

V ocê já deve ter visto, no próprio Google Earth ou em sites de curiosidades, que
algumas cidades do Brasil contam com o StreetView. Se teve sorte, pode até ter
visto algum dos carros do Google circulando pela sua cidade e fazendo imagens ao
móvel de escaneamento terrestre, com o
qual a empresa vem realizando demons-
trações para órgãos governamentais e
nível da rua. Muito além dos problemas de privacidade está a capacidade técnica empresas de engenharia. O equipamento
de realizar esse mapeamento e integrar todas as imagens dentro do globo virtual, fabricado pela Riegl Laser Measurement
oferecendo aos usuários de todo o mundo a possibilidade de navegar pelas ruas. Systems, da qual a CPE Tecnologia é re-
E o Google resolve muito bem esses problemas, gerando verdadeiras cópias de presentante no Brasil, tem alcance de
cidades inteiras. Outra empresa que utiliza muito esse tipo de solução é a Navteq, 500 metros, leitura de 125 mil pontos
que envia seus carros equipados com um conjunto de sensores para gerar bases de por segundo, acurácia de 10 milímetros
dados 2D e 3D. Levantamentos como esses têm utilidade para os setores de turismo, e precisão de apenas 5 milímetros. Além
varejo, geomarketing, LBS, entre outros. Mas você, leitor da InfoGNSS, pode estar se disso, possui campo de visão de 360° na
perguntando: como fica a precisão e a acurácia dessa “cartografia”? horizontal e 100° na vertical.
Já existem várias empresas e órgãos públicos utilizando sistemas móveis que A unidade de controle do sistema pos-
executam mapeamentos de alta precisão, embarcados em automóveis, aeronaves, sui as interfaces necessárias para integra-
barcos e até mesmo em mochilas. São esses sistemas que estão revolucionando a ção de um ou mais scanners com o IMU/
forma de mapear áreas urbanas, gerando modelos da realidade em três dimensões GNSS. Já os softwares para aquisição e
que podem ser facilmente manipulados em softwares de CAD, GIS, entre outros. processamento dos dados coletados pelo
De acordo com Luiz Dalbelo, gerente de vendas da área de topografia da laser scanner combinam as varreduras re-
Santiago&Cintra Geotecnologias, com um sistema desse tipo o trabalho pode ser alizadas com o sensor e a trajetória gera-
executado em muito menos tempo do que no modo convencional. “Tem- da pelo sistema inercial, fornecendo uma
se como resultado final uma densa nuvem de pontos, capaz de repre- nuvem de pontos georreferenciada que
sentar fielmente o comportamento e as feições cadastrais do terreno, pode ser exportada em vários tipos de
sendo possível atender aos mais variados tipos de interesses e usuários”. arquivos. Segundo Pedro Donizete Par-
As diversas soluções de mapeamento móvel disponíveis no merca- zzanini, engenheiro agrimensor da CPE,
do utilizam receptores de Sistemas Globais de Navegação por Satélite “a melhor alternativa para levantamentos
(GNSS), medição inercial (IMU), dispositivos para registro de velocidade de rodovias, hoje, é o laser scanner móvel
(DMI), câmeras digitais de alta resolução e lasers scanners. “Os sistemas terrestre”.
GNSS, IMU e DMI são utilizados para realizar o posicionamento das imagens Dentre as vantagens do sistema
coletadas, bem como das nuvens de pontos levantadas pelos scanners”, móvel de escaneamento terrestre, em
explica Dalbelo. relação a outros tipos de levantamento,
Em geral, os sistemas de mapeamento são construídos de forma modular, pode-se citar:
podendo ser montados de forma a atender às mais diversas aplicações. Comparação com o sistema de esca-
É possível compor sistemas que utilizam as ferramentas de posicio- neamento móvel aéreo:
namento em tempo real, associados a câmeras digitais, para • Precisão – enquanto um levantamen-
realizar medidas atingindo precisão sub-métrica, com to aéreo chega a aproximadamente
aplicações nas áreas de cadastro de ativos, registro 10 centímetros, o sistema terrestre
visual de mudanças, inspeções de qualidade de pode alcançar até 3 centímetros de
pavimento, entre outros. precisão;
Acreditando no potencial dessa • Coleta de informações - com o sis-
solução, a CPE Tecnologia ad- tema terrestre é possível coletar in-
quiriu, este ano, um sistema formações a respeito de elementos
verticais, não obtidas a partir do le-
vantamento aéreo;
• Flexibilidade de uso - o laser scanner
terrestre pode ser retirado do veículo

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para executar trabalhos no modo estático, em áreas não acessíveis;
• Custos de operação - no caso do sistema terrestre, são basicamente o motorista
e o combustível, cujos gastos são muito menores do que um avião.
Comparação com o sistema convencional de levantamento:
• Produção - o sistema de escaneamento pode levantar até 20 quilômetros de
rodovia por dia, contra 1,5 quilômetro na topografia convencional;
• Redução de custos operacionais - como o sistema móvel realiza trabalhos de
forma mais rápida, os custos operacionais são menores;
• Representação - o laser scanner gera aproximadamente 1 milhão de pontos por
Sistema Lynx
hectare, enquanto a topografia convencional chega a pouco mais de mil pontos;
• Método de levantamento - no modo convencional, normalmente é utilizado o
método por seções, no qual o comportamento do terreno é interpolado e pode
induzir a erros.
De acordo com Parzzanini, a qualidade do laser, associada aos sistemas de posi-
cionamento, pode gerar nuvens de pontos com precisão posicional de até 2 centí-
metros. “Este sistema pode ser instalado em um carro comum e é ideal para realizar
levantamentos de grandes áreas em intervalos de tempo extremamente curtos”.
Os sistemas podem ser configurados para realizar mapeamentos com velocidade
de até 100 quilômetros por hora. Segundo Dalbello, o sistema de mapeamento móvel
é extremamente eficaz e vem sendo utilizado nos mais diversos segmentos, entre eles
companhias de levantamentos e de energia, concessionárias de ferrovias e rodovias, Sistema Dynascan
mineração, projetistas, entre outros.
A Optech, fabricante canadense de sistemas de escaneamento a laser, e a por segundo, permitindo o mapeamento
Santiago&Cintra apresentaram recentemente ao mercado brasileiro de geotecnologia a velocidades de até 100 quilômetros por
o Lynx, um sistema de mapeamento móvel em 3D. Com o objetivo de demonstrar as hora, associado a imagens obtidas por câ-
funcionalidades dessa solução, foram realizados dois workshops em agosto, no Rio meras de 5 megapixel. Além disso, o Lynx
de Janeiro e São Paulo, que contaram com a presença de representantes de empresas permite realizar levantamentos durante
e de órgãos públicos. o dia e à noite.
A equipe técnica da Optech, que veio do Canadá especialmente para a demons- A Manfra traz para o mercado brasilei-
tração, apresentou aos participantes o processo de dirigir o carro com o sistema Lynx ro o Dynascan, sistema de laser scanner
e coletar dados em movimento. Após o levantamento, os dados gerados em campo terrestre móvel da MDL, empresa com
foram apresentados pela equipe técnica da Optech aos participantes. quase 30 anos de desenvolvimento em
Os scanners a laser que compõem o sistema Lynx podem levantar até 400 mil pontos Lidar. Composto por laser scanner, GPS
e sistema inercial, o Dynascan integra
todos os sensores em um um único
equipamento, para aplicações terrestres
e marítimas.
O pacote oferece um conjunto de
softwares para todas as aplicações, en-
quanto o hardware é adaptado em um
equipamento conectado a um único
cabo, que pode ser montado em máqui-
nas pesadas, veículos comuns, barcos e
até mesmo em quadriciclos. Adaptado a
embarcações de pequeno porte, o siste-
ma pode ser usado em levantamentos de
costas, portos e docas. Permite também
integração com equipamentos multi-be-
Laser scanner Riegl am, para levantamentos sub-aquáticos.

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Segundo José Gaspar dos Santos Lima, gerente de produ-
tos da Manfra, o sistema Dynascan dispensa a necessidade de
grandes montagens, calibrações e medições de offsets em
campo, minimizando erros sistemáticos e reduzindo o tempo
de mobilização para minutos. “Além disso, é um sistema de
altíssima performance a um preço acessível”.

RTK no Big Brother


Além do escaneamento a laser, receptores GNSS podem
ser adaptados em veículos para gerar o mapeamento de
áreas. Um exemplo é o método de posicionamento re-
lativo com a técnica RTK, que envia as observações da
Receptores RTK na prova do Anjo do BBB
portadora através de GSM/GPRS e possibilita a obtenção
de coordenadas com acurácia de até 1 centímetro no ma- Mochilão
peamento móvel. Mas não é só a fachada das edificações que pode ser mape-
Com essa técnica, permite-se ao profissional de agri- ada. Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley,
mensura e cartografia obter coordenadas precisas em nos Estados Unidos, criaram uma mochila que usa um sistema
tempo real, em pleno movimento, possibilitando assim a a laser para fazer mapas 3D de ambientes internos, criando
integração do receptor GNSS ao veículo, o qual realiza o modelos realísticos das construções.
mapeamento de forma ágil e precisa. A mochila de mape-
Em um estudo realizado recentemente pelo Laboratório amento gera dados em
de Topografia e Geodésia da Universidade de São Paulo, alta velocidade, enquan-
constatou-se que dentro da área de cobertura do serviço to o operador humano
GSM/GPRS foi possível realizar a comunicação entre re- anda em ritmo normal.
ceptor móvel e base com vetores de até 70 quilômetros, Os cientistas também
atingindo precisões de 1 centímetro. desenvolveram novos
No caso de mapeamento de vias urbanas e estradas, algoritmos de fusão dos
onde a grande circulação de carros e pessoas impede a dados das câmeras, rastre-
utilização de técnicas tradicionais, como a topografia clás- adores a laser e unidades
sica e o método de posicionamento pós-processado, esta de medição inercial, com
técnica demonstra-se uma boa alternativa . o objetivo de gerar um
Essa solução diminui significamente o custo do profissio- modelo 3D texturizado e
nal, o número de equipamentos utilizados, além da equipe fotorrealístico. Segundo
de campo. Hoje, existe uma nova linha de receptores GNSS os pesquisadores, o maior
que já permite a inserção do chip GPRS no próprio equipa- desafio foi operar sem o
mento. Segundo Marcos Guandalini, diretor comercial da uso da tecnologia de po- Mochila de mapeamento 3D
Alezi Teodolini, “estamos vivendo um novo paradigma nas sicionamento pelo GNSS, já que os receptores não funcionam
técnicas de posicionamento e o mercado deverá se preparar em ambientes internos.
para o uso dessa nova tecnologia”.
Em fevereiro de 2009, a Alezi Teodolini foi convidada
para participar da Prova do Anjo do Big Brother Brasil, rea-
lizada no autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, Os Conheça outras alternativas e veja mais informações
organizadores da prova precisavam de um equipamento sobre sistemas móveis de mapeamento, na versão
que enviasse o posicionamento, em tempo real, do carro online da revista InfoGNSS
do piloto Thiago Camilo para um simulador de corridas
dentro da casa do Big Brother, onde os participantes dis-
putavam virtualmente uma corrida contra o piloto. Ou Alguns leitores podem estar se perguntando: estes sistemas
seja, o carro de Thiago corria sozinho no autódromo, mas móveis vão gerar desemprego, já que substituem equipes in-
no simulador ele disputava uma corrida virtual com os teiras de topógrafos! Isso é verdade? Sim e não. Se por um lado,
participantes da prova. um carro equipado com sensores pode fazer o trabalho com
O engenheiro Danilo Rodrigues, gerente comercial da muito mais rapidez e precisão do que um time especializado
Alezi Teodolini, foi o responsável por instalar os receptores em topografia, por outro se abre um novo e vasto campo de tra-
Pro Mark 500 no carro e dar todos os esclarecimentos técni- balho. As aplicações são infinitas: realidade virtual, games e até
cos para a realização da prova. “Ocorreu da maneira espe- mesmo o Big Brother Brasil são exemplos de como a topografia
rada e atendeu todas as expectativas dos organizadores“. extrapolou o campo dos técnicos e especialistas e virou “pop”. ■

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